Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura
São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.
ISSN: 2175-4128
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O DIÁRIO COMO FORMA DE SOBREVIVÊNCIA:
HOSPÍCIO É DEUS, DE MAURA LOPES CANÇADO
Louise Bastos Corrêa (UFRJ)
Segundo o filósofo Michel Foucault em História da loucura, não é de surpreender que as casas de internamento tenham o aspecto de prisões, que as duas instituições sejam mesmo confundidas a ponto de se dividir os loucos indistintamente entre
umas e outras. Neste livro o autor nos coloca diante da trajetória dos excluídos, que
tem início na Idade Média com os leprosos, mendigos e portadores de doenças venéreas, até meados do século XIX com a institucionalização do conceito de loucura. O
filósofo define como o espaço asilar foi construído e de que forma isso refletiu nos
perfis dos internos. A partir dessa definição – a construção do espaço geográfico da
instituição – far-se-á uma ponte entre o espaço físico do hospício e a construção ficcional do mesmo, tendo como suporte o texto literário.
Para tal investigação utilizaremos uma obra da Literatura Brasileira: Hospício
é Deus, de Maura Lopes Cançado, escrito em 1959 e publicado em 1968 enquanto a
autora esteve internada pela segunda vez no Centro psiquiátrico Pedro II. Atualmente, Instituto Municipal Nise da Silveira, localizado no bairro do Engenho de Dentro,
na cidade do Rio de Janeiro. O presente trabalho visa mostrar como em um espaço de
clausura e sufocamento foi possível arranjar mecanismos de sobrevivência: a escrita.
Maura Lopes Cançado escreveu o romance durante o período em que esteve
internada pela segunda vez no hospital psiquiátrico do Engenho de Dentro, por conta de ter sido diagnosticada como esquizofrênica. Ao iniciarmos a leitura, somos advertidos pelo prefacio de Reynaldo Jardim que nos alerta sobre o teor do texto:
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Mais que um prefácio isto é uma advertência: este é um livro perigoso, feito para comprometer irremediavelmente sua consciência. A
tranquilidade dos que se julgam impunes e lúcidos, dos que ainda
não sabem, porque ainda não olharam para dentro de si mesmos, que
Deus também pode ser o inferno, ou o hospício. (CANÇADO, 1979,
p.10)
Afirmação que nos assegura da profundidade e da complexidade do material
que teremos em mãos.
O texto apresenta um discurso que segue o fluxo de consciência, narrandonos o dia-a-dia nessa instituição tão aterrorizante que é o manicômio. Nesse livro, a
autora nos apresenta um documento de vida trágica e sofrida, cuja autenticidade é
capaz de provocar grande mal estar até mesmo entre aqueles que não se interessam
por esse tipo de conflito. Por isso, ao se deparar com essa ferida social que é a loucura, o leitor corre o risco de ser inteiramente absorvido pela narrativa, podendo assim,
comover-se com as angústias da protagonista. Abaixo podemos observar no trecho
do livro Literatura e loucura, de Monique Plaza, o que me refiro quanto ao estranhamento que a loucura nos causa:
A onda lírica esbatia-se em nós à vista de uma realidade dura e chocante. A ênfase deslocava-se da loucura-viagem, da loucuramensagem, para as complexas misérias do hospital psiquiátrico; mais
ainda, centrava-se sobre a incompreensão “dos que estão de fora”, ou
seja, também na nossa. Hesitávamos entre duas temáticas contraditórias. A primeira insistia na selvageria da repressão sofrida pelo louco,
na arbitrariedade dos critérios da loucura, na loucura do mundo; A
segunda afirmativa: a violação dos limites por parte do louco atrai em
resposta uma violência de que é preciso realçar a tristeza e admitir o
caráter inevitável. Estamos dilacerados entre estas duas posições, identificando-nos simultaneamente com o louco que se queixa do
mundo e com o mundo que se queixa do louco. (PLAZA, 1986, p.12)
De uma maneira um pouco ingênua, é possível então, acreditar que com a
leitura, somos capazes de resgatar das trevas aquela voz por detrás do texto, trazen-
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do-a de volta ao universo protegido da lei e dos direitos do qual o autor do livro foi
privado. O autor sobrevive através da palavra escrita, se a mesma não conseguisse
reproduzir parte de seus pensamentos e sensações em um papel ela seria apenas
mais uma interna que talvez nem tomássemos conhecimento. A loucura, segundo
Monique Plaza, evocaria um mundo confuso os sobressaltos de um pensamento que
perde os seus limites e ri demais ou desespera sem motivos
Escrever um diário, aqui, seria uma tentativa – não uma solução – de salvaguardar uma identidade perdida desde o momento em que se despiu a roupa de cidadão e vestiu-se o uniforme desbotado dos doentes do hospício, pois a loucura estaria marcada na impossibilidade de toda partilha e de todo encontro. Por isso, como
uma maneira de proteger-se da ameaça de estilhaçamento provocado pelo internamento e pela loucura, para que fosse possível sustentar um mínimo de dignidade,
Maura Lopes Cançado decide escrever. E mais uma vez nas palavras de Monique
Plaza, podemos dizer que um texto está sempre cheio de promessas. Sempre esperaremos dele o enunciado do sentido, num duplo registro. Por isso, podemos dizer que
um texto exprime, revela, organiza o pensamento do autor.
A entrada no hospício, a nudez imposta nesta passagem para o mundo isento
das ameaças do fora, retira também qualquer possibilidade de afirmação ou de legitimidade das vozes que de dentro dele emergem. Mas como proteger-se agora da
paralisia daqueles que não tem nome, nem lugar? Como podemos observar no trecho
abaixo, a interna-autora descreve de forma breve, porém com extrema intensidade o
que significa para mesma tal espaço de clausura:
Estou de novo aqui, e isto é ____________ Por que não dizer? Dói. Será por isto que venho? – Estou no Hospício, deus. E hospício é este
branco sem fim, onde nos arrancam o coração a cada instante, trazem-no de volta, e o recebemos: trêmulo, exangue – e sempre outro.
Hospício são as flores frias que se colocam em nossas cabeças perdidas em escadarias de mármore antigo, subitamente futuro – como o
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que não se pode ainda compreender. São mãos longas levando-nos
para não sei onde – paradas bruscas, corpos sacudidos se elevando
incomensuráveis: Hospício é não se sabe o que, porque Hospício é
deu. (CANÇADO, 1979, p. 29-30)
O mundo do manicômio será o mundo do confinamento, da reeducação para
o bom funcionamento da sociedade além dos muros, e, esses teriam como função,
separar o mundo de dentro do mundo de fora.
Em Maura Lopes Cançado, a ficção se apóia em sua própria experiência, ela
percorre caminhos tidos como mais realistas. Apresentar-se-á o dia-a-dia dessa instituição de forma conturbada, apontando os horrores aos quais são submetidos os doentes: eletrochoque e clausura, por exemplo. Para ela não há mais esperança e sua
única forma de sobrevivência é a escrita do diário, pois assim não naufragará em sua
eternidade, como ela mesma irá narrar:
Meu diário é o que há de mais importante para mim. Levanto-me da
cama para escrever a qualquer hora, escrevo páginas e páginas – depois rasgo mais da metade, respeitando apenas, quase sempre, aquelas em que registro fatos ou minhas relações com as pessoas. Justamente nestas relações está contida toda minha pobreza e superficialidade. (pag. 132)
Ainda segundo Foucault, no livro A ordem do discurso, ao longo da historia, o
louco nunca teve sua fala considerada e era através de suas palavras que se reconheciam os desvarios do louco. Ou seja, o espaço literário passou a ser legitimado como
uma das formas de se expressar ou de falar sobre aquilo que tanto incomoda a sociedade: os excluídos, nesse caso, os loucos. A loucura propriamente não causa pânico,
mas sim, essa sensação de eternidade, uma infinita ansiedade por algo que estaria
por vir:
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De novo: o que me assombra na loucura é a eternidade/ Ou: a eternidade é loucura/ Ser louco para mim é chegar lá/ Onde? – pergunto
vendo dona Marina/ As coisas absolutas, os mundos impenetráveis.
Estas mulheres, comemos juntas. Não as conheço. Acaso alguém tocou o abstrato? (pag. 29)
E, assim, a autora constrói sua narrativa seguindo o fluxo de suas angustias
e medos.
Maura Lopes Cançado nasceu em São Gonçalo de Abaeté, no interior do estado de Minas Gerais, em 1930. De uma numerosa e tradicional família mineira, era a
oitava filha de um rico fazendeiro e de uma dona de casa. Aos catorze anos, com a
total desaprovação da família e principalmente do pai, ela se casa com um jovem de
dezesseis anos. Seu casamento durou doze meses, pois ela logo deixou o esposo, interrompendo assim o matrimônio. Mas desse breve casamento nasceu Cesarion Praxedes, que desde pequeno ficou sob os cuidados da avó.
Empobrecida, Maura decide se mudar, em 1952, para o Rio de Janeiro levando a mãe e o filho juntos. É neste novo ambiente que se dará a sua iniciação literária
e, ao mesmo tempo, suas internações psiquiátricas, que refletiam o seu total descompasso social, a sua inadequação aos padrões estabelecidos. As entradas em manicômios foram muitas. Maura, às vezes, se refugiava por vontade própria, outras, no
entanto, decorreram de ordens judiciais. Durante as internações, surgiram algumas
hipóteses de homicídios. O primeiro teria ocorrido no final dos anos 60 ou início dos
70, durante sua internação na Casa de Saúde Dr. Eiras, lugar em que teria assassinado uma colega de reclusão que estava grávida.
Maura se dirige ao Rio de Janeiro com a grande esperança de que lá seria o
lugar ideal de sua aceitação social, de liberdade e de reconhecimento intelectual por
parte da elite literária. A escritora surge em um cenário de efervescente transformação. Faz-se necessário definir as estratégias que garantiriam essa empreitada ficcional. Até mesmo a escolha de um espaço como o hospício contribui para a característi-
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ca ficcional da obra, uma vez que sugere uma grande proliferação de signos alusivos
à imaginação.
Para os internos de um hospital psiquiátrico o espaço é claustrofóbico e constantemente comparado à prisão, lugar onde a ordem e a previsibilidade do cotidiano
não permitem surpresas. A cura neste espaço sombrio, cujos uniformes cinzas contribuem para a construção de um cenário depressivo só será possível se o doente descobrir artimanhas para fugir dessa eternidade que é a loucura. E segundo Monique
Plaza:
A loucura pode penetrar na escrita sem suscitar a rejeição do leitor,
quando é posta à distância, aclimatada. Um autor tem duas possibilidades para produzir um texto sobre a loucura que não seja julgado
louco: pode testemunhar a sua própria loucura, dar conta, de forma
crítica, das divagações e dos prazeres que ela lhe trouxe, ou construir
uma ficção literária onde a aventura da loucura se instala e se desenrola. (PLAZA,1986, p.113)
Na escrita de seu diário, em que traça a trajetória de sua loucura e assume a
identidade da louca, a autora exercita a liberdade da palavra literária, e então linguagem artística e linguagem da loucura se infiltra uma na outra. Nas páginas iniciais de
Hospício é Deus, a autora-narradora apresenta um mergulho no passado, no qual o
medo e a insegurança ocupam papel central, e atribui à sua remota infância, de onde
recompõe sua formação psicológica, a gênese de sua loucura:
O autor foi louco: isso, ele reconhece. Mas a loucura representa para
ele qualquer coisa de ambíguo. Por um lado, ela é uma experiência
vivida, mas que, enquanto ele a vivia, teve todos os sentidos menos o
de loucura. Por outro lado, ela é uma noção organizadora, que ele
deve, custe o que custar, integrar. A loucura é, pois, para um autor
um estado fora da lei, e um campo de significação obrigatório. (PLAZA, 1986, p.116)
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Debatendo-se entre seu mundo particular – a partir do qual extraem seus
parâmetros de elocução – e a consciência das deficiências desse mundo, a visão que a
narradora constrói do hospício coloca a maioria daquelas personagens em perversa
situação de inferioridade: “As mulheres são geralmente burras e sou inteligente” (p.
149). A discriminação continua na divisão das internas em doentes mentais e loucas
e, a partir disso, da formulação de seu próprio conceito de loucura.
Pertencente a um mundo letrado, Maura Lopes Cançado já detém a palavra
silenciada, o que leva a se expressar com preconceito quando representa sua loucura
como um desajuste psíquico, ou doença mental, uma vez que a verdadeira loucura,
que ela tanto glamouriza, vista na realidade do pátio das loucas enche-a de asco e
leva-a ao desespero como podemos observar:
Não sei exatamente o número. Mais ou menos trezentas mulheres.
Mal se entra no refeitório se sente o cheiro. Cheiro de gente, gente
sem se lavar. Algumas mulheres denunciam nos vestidos manchados
de sangue a higiene exigida e desprezada aqui. E o cheiro. Cheiro de
mulheres. Mulheres menstruadas e sem asseio. Procuro comer as
pressas, sem mastigar, os olhos baixos evitando ver. Geralmente é
quase infalível, há uma ou mais brigas. Voa tudo pelos ares: pratos,
colheres, copos de leite. Algumas doentes sobem nas mesas, metem
os pés nos pratos das outras. Comidas pelo chão, guardas gritando.
Arrrrrr. Sempre aparecem homens, guardas ou doentes, seguram as
doentes mais agitadas, torcem-lhes os braços para trás, dão-lhes gravatas, deixando-as roxas, sem respiração. As guardas andam tontas,
soltando guinchos e berros. Mas quando a doente está presa, puxamlhes os cabelos, ajudando a empurrá-la para o quarto-forte. (CANÇADO, 1979, p.50)
A partir da escrita de Maura, percebemos que o encarceramento a que está
submetida, não diz respeito somente à internação concreta em um hospital psiquiátrico, mas a uma experiência primeira e subjetiva.
A experiência de confinamento é a marca preponderante da escrita de Maura
Lopes Cançado. Passando grande parte da sua vida internada em hospícios e Casas
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de Saúde Mental – desde os dezoito anos, até o seu falecimento, em 1993 -, é impossível falar em Maura Lopes Cançado sem associar seu nome a essa experiência de
internamento. Pouco se sabe sobre a sua vida fora dos muros do manicômio e livre
dos diagnósticos psiquiátricos. Por isso, o nome “Hospício-é-Deus”, não teria como
fugir dessa sociedade de controle que é o manicômio, e assim como Deus é onipotente, onipresente e onisciente. O Hospício toma conta de tudo e de todos, não teria como escapar.
No entanto, sua escrita não pára de se afirmar como o lugar onde é possível
encontrar modos de fuga para este aprisionamento que a sufoca desde muito cedo. É
através da escrita que julga poder encontrar uma maneira de fazer com que as suas
palavras ultrapassem estes muros altos que a cercam.
Torna-se necessário, portanto, o questionamento do lugar do leitor diante
desta escrita que, apesar de autobiográfica, exige a presença do outro para que possa
existir. Aproximar-se do diário dela para conhecer melhor a biografia da escritora,
estabelecendo uma conexão causal entre vida e escrita, dificulta a entrada do leitor
como participante do seu projeto de evasão. Isto porque, como veremos tanto a biografia, quanto a sua escrita, impedem que se possa distinguir com clareza um percurso linear no qual as fronteiras entre experiência vivida e narrativa possam ser facilmente delimitadas.
Maurice Blanchot exerceu grande influência em todo o pensamento literário
do século XX. Em sua definição de “Espaço Literário” este aparece como o espaço do
impessoal, onde reina a ausência de tempo e onde já não é possível falar em uma
primeira pessoa. Para Blanchot, escrever uma obra literária é justamente “quebrar o
vínculo que une a palavra ao eu”, colocando em questão a própria idéia da literatura
como o espaço da revelação da interioridade de um sujeito, propondo justamente o
inverso. O escritor é aquele que se coloca em um lugar solitário.
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Diante desta perspectiva, a escrita de diários íntimos, prática comum entre
muitos escritores, é entendida por Blanchot como uma forma de resolver a repugnância que estes têm em abandonar a si mesmo e ingressar no domínio da ausência
de tempo que é a literatura. O diário funcionaria como um memorial que o escritor
mantém para não se perder totalmente.
O hospício ocupava, portanto, a dupla função de impedir a livre circulação
do louco no espaço urbano e de criar um espaço onde estes poderiam ser medicalizados; onde a doença seria neutralizada, sendo possível a sua reintegração. Como
podemos observar no trecho abaixo:
Hoje, no meu diário, vou dirigir-me a mim mesma, falando como se o
fizesse com outra pessoa. É divertido. Muito mais divertido do que
conversar com outrem. Poderei chorar de pena da gente, ou meter
coisas nesta cabeça rebelde, Maura. Chorar de pena da gente. Isto tem
acontecido muitas vezes, mas sempre vejo a menina, e não sou mais
uma menina (CANÇADO, 1979, p. 123).
A inserção de elementos autobiográficos no corpus textual/ficcional de Maura suscita questionamentos, inicialmente pela identidade entre o sujeito Maura Lopes
Cançado e os vários “eus” que vemos serem desdobrados em sua obra. Apesar dos
variados disfarces narrativos, os mais diversos papéis são assumidos pela autora durante a cena ficcional, o que nos leva a dizer que o sujeito uno, na obra, é destruído.
Quando tudo leva a acreditar que somente a escrita autobiográfica de Maura
perfaz o intuito ficcional, a autora usa a loucura como principal subterfúgio narrativo. E na presença da loucura, a autora desliga-se das normas sociais, e dá vazão a
uma incansável voz que cisma em acompanhá-la ao longo de sua temporada no manicômio. Essa voz seria o diferencial de Maura para as demais internas: transformar a
experiência aparentemente vivida em uma criação literária.
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REFERÊNCIAS:
BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
CANÇADO, Maura Lopes. Hospício é Deus. Rio de Janeiro: Record, 1979.
FERNANDES, Mariana Patrício. “Vida surgida rápida, logo apagada – extinta. A criação de estratégias de fuga do hospício na escrita de Maura Lopes Cançado.” Dissertação de Mestrado. PUC-RIO.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2002.
_________________ História da loucura. São Paulo: Perspectiva 2008.
PLAZA, Monique. A escrita e a loucura. Coleção Margens. Estampa: Lisboa, 1986.
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