Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Comunicação, consumo e imagem no Instagram: estudos contemporâneos1 Daniela Ferreira Lima de Paula2 Wilton Garcia3 Resumo: Este trabalho propõe um olhar crítico acerca de comunicação, consumo e imagem a partir do aplicativo Instagram. Ao relacionar comunicação e práticas socioculturais, pretende-se refletir acerca das dinâmicas de inserção e atualização de conteúdo do usuário-interator, no enlace dos enunciados (parcial, provisório, efêmero e inacabado) da sociedade atual. Nesse caso, os estudos contemporâneos – no diálogo dos estudos culturais com as tecnologias emergentes – compreendem a dimensão teóricometodológica, ao equacionar observação, descrição e discussão sobre o álbum de fotografias do Instagram, delineado por um fluxo visual contínuo, instantâneo e sem esgotamento. Os resultados demonstram desfechos intrigantes que elencam recursos técnicos, estéticos e éticos da fotografia nas redes sociais on-line, considerando alguns aspectos econômicos, identitários, socioculturais e/ou políticos. Palavras-chave: Comunicação; Tecnologias emergentes; Estudos contemporâneos; Fotografia; Instagram. Abstratc: This paper proposes a critical look at communication, consumption and image from the Instagram app. Relate to communication and cultural practices, is intended to reflect on the dynamic insertion and updating content user-interactor, the link of utterances (partial, temporary, ephemeral and incomplete) of the current society. In this case, contemporary studies – in dialogue of the cultural studies with emerging technologies – understand the theoretical and methodological dimension when considering remark, description and discussion of the photo album Instagram, delineated by a continuous, instantaneous visual flow and without exhaustion. The results show intriguing outcomes that we list technical, aesthetic and ethical resources of photography in social networking online, considering some economic, identity, sociocultural and/or political aspects. Keywords: Communication; Emerging Technologies; Contemporary studies; Photography; Instagram. 1 2 3 Trabalho apresentado no GT 7- Fotografia, do Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem – ENCOI. Mestranda em Comunicação e Cultura pela Universidade de Sorocaba (UNISO). Graduada em Administração de Empresas pela ESAMC. Fotógrafa. E-mail: [email protected] Artista visual e pesquisador. Professor de comunicação da Fatec-Itaquá e do Programa de PósGraduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (UNISO). Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Autor de Feito aos poucos_anotações de blog (2013), entre outros. E-mail: [email protected] 1 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Introdução O contemporâneo é um terreno movediço permeado por acontecimentos, que se (re)configuram a partir da intersecção do sujeito com as tecnologias emergentes. Práticas comunicacionais e socioculturais atualizam-se no contexto hipermidiático, em que valores são subvertidos da lógica do sistema hegemônico, na medida do possível. Ao relacionar a fotografia com as condições da sociedade atual, Rouillé (2009) aponta para que mediante a imagem digital, novas redes de produção e circulação imagéticas surgem, com formas de consumo e interação atualizados. Ou seja, emergem “novos/outros” usos, linguagens, produtores e espectadores. Essa proposição, em consonância com os enunciados contemporâneos, permite olhar o aplicativo Instagram como objeto de discussão do presente texto, ao elencar aspectos econômicos, identitários, socioculturais e/ou políticos relacionados à comunicação e à cultura. Tais aspectos (re)alinham-se às tecnologias emergentes, ao oferecer novas potencialidades visuais para os atos cotidianos. O contemporâneo O viver atual, cada vez mais, é tecnológico e permeado por dispositivos eletrônicos – máquinas e sistemas computacionais – que facilitam tarefas, como, por exemplo, fotografar. As tecnologias emergentes tendem a se relacionar com as práticas socioculturais contemporâneas. Expor emoções, afetos, memórias, fotografias, vídeos e opiniões através de ferramentas tecnológicas fazem parte da agenda dessas práticas contemporâneas. Feldman (2013) acredita não ser apenas uma exposição da intimidade, mas uma criação da intimidade, que visa o público: a autora a denomina como “extimidade”. Nessa criação, as expressões não são espontâneas, mas construídas para o olhar do outro. A internet, nesse panorama, é ferramenta tecnológica fundamental na qual se insere fazeres contemporâneos em um tempo de conexões móveis, sem fio e 2 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR simultâneas. Isso se inscreve como meio de comunicação universal (CASTELLS, 2000) utilizado amplamente por diversas culturas e povos dos mais variados fins. Nesse cenário, as caraterísticas de mudança estão presentes em um esforço de atualização e inovação. Os enunciados contemporâneos da sociedade são parcial, inacabada, efêmera, deslizante, portanto, multidimensional. O tempo é o presente, não apenas como questão temporal, mas sim um território de reflexões e desafios. Dessa forma, fundamentos e conceitos são (re)vistos, (re)pensados, (re)feitos, e esta instabilidade do repensar das ações. Associa-se a uma condição adaptativa – não linear, fragmentada, descontínua, simultânea, acelerada e incompleta. Experimentar é a ordem das coisas, devem ser tocadas. Eminentemente, as experiências ficam, cada vez mais, superficiais e instáveis (GARCIA, 2011, p. 50). No contemporâneo, as coisas alteram-se – de modo instantâneo, imediato – sem necessariamente operacionalizarem uma síntese de pensamento (teórico) ou realização (prática) de algum desfecho. Há mudanças. Torna-se quase impossível haver apenas um ponto de vista exclusivo, fixo para uma resposta concreta. As coisas padecem de ser agenciáveis, negociáveis: nada de esgotamento! Tais mudanças vorazes nas práticas culturais refletem os enunciados do contemporâneo. Atualizar e inovar são expectativas poéticas do contemporâneo. Para a inovação, a ordem é criar ou ainda, recriar, reinventar, inovar. Já, atualizar, é alcançar um patamar além do criar e incorporar ao discurso mudanças ocorridas pelas ideias em deslocamento. A ordem é o imediato. A hipermídia No contexto do ciberespaço e da cultura digital, a mídia adapta-se às novas condições tecnológicas e culturais e passa a se chamar hipermídia, ou, ainda, convergência midiática (JENKINS, 2009). As relações comunicacionais que ocorrem nesse novo ambiente midiático pertencem ao universo hipermidiático. A popularização das tecnologias digitais pode ser apontada como protagonista das rápidas mudanças culturais observadas na sociedade contemporânea. O 3 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR ambiente hipermidiático integrado e interativo promove novas condições, como o acesso simultâneo a diferentes telas (PEREZ; SATO, 2013). As tecnologias emergentes permitem a fruição de um mesmo conteúdo por vários canais de mídia, com o conteúdo adaptado a cada um. Jenkins, (2009) nomeia esse fenômeno como cultura da convergência. O autor ressalta que as mudanças observadas não são apenas tecnológicas, mas culturais, com alteração das relações existentes na indústria midiática e a forma de produção e consumo dos meios. Tais refeituras ocorrem nos consumidores e nas suas relações sociais ao promover uma transformação cultural na medida em que os sujeitos são impelidos a participar. Atenta-se para a hipermídia não ser uma condição tecnológica imposta por aparelhos, mas uma transformação cultural, promovida pelo usuários-interatores, com suas apropriações, consumo e relações sociais delineadas pelos conteúdos midiáticos. Logo, isso flui com maior agilidade e rapidez. Essas relações culturais atualizam-se constantemente. Não há um ponto privilegiado para observar os fenômenos e descrevê-los com precisão mediante as variantes. (JENKINS, 2009). A convergência midiática, para Jenkins (2009), seria, talvez, uma metáfora para compreender os meios de comunicação como sistemas culturais. As tecnologias alteram-se no tempo, mas os meios de comunicação solidificam-se e os velhos padrões convivem com os emergentes. Os conteúdos midiáticos se convergem, porém os dispositivos tecnológicos tendem a se diversificar, não havendo um que dê conta das diferentes demandas comunicacionais. Garcia (2013b) relaciona o campo contemporâneo da comunicação e cultura como propulsor de uma nova condição: a (hiper)midiática. O usuário-interator adaptado à cena tecnológica pode compartilhar suas subjetividades através de textos, imagens e sons como discursos efervescentes, que contribuem para uma constante atualização e inovação. As tecnologias emergentes, em plena euforia, contribuem para mudanças no cotidiano da comunicação digital, promovendo novos e outros saberes, assim como outras maneiras de ser e estar virtual. No contemporâneo, pode-se auferir ao aparelho de telefonia celular como propulsor de mudanças observações nas práticas culturais midiáticas, sendo esse, mais que um sistema de comunicação (JENKINS, 2009). 4 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Compreende-se o aparelho de telefonia celular como dispositivo midiático ao relacionar tecnologias, linguagens e práticas sociais que se configuram como espaços e modos de interação e circulação de conteúdos. Aparelhos de telefonia celulares são pessoais e estão ligados a um único indivíduo. A singularidade do individuo com seu dispositivo particular acrescenta especificidades a seu uso. As fotografias (imagens) geradas por esses aparelhos tendem a apresentar conteúdo visual singular e pessoal. Em oposição a câmeras fotográficas digitais, o celular está sempre disponível ao uso. O sujeito contemporâneo tem em suas mãos as ferramentas necessárias para criar audiovisualmente histórias, por meio de fotografias e vídeos e torná-las públicas quando desejar. As subjetividades mediadas por dispositivos inauguram na era da convergência midiática as novas formas de visualidades contemporâneas que se desenham no ciberespaço. Mídias sociais A compreensão da fotografia no contexto da sociedade atual conduz singularidades, ao (re)pensar sobre estatutos e regimes imagéticos na contemporaneidade. A tecnologia digital promove a aproximação da fotografia ao cotidiano. Isso facilita o uso e democratiza o acesso às formas de produção audiovisual através de dispositivos como o aparelho celular. O sujeito contemporâneo pode apertar os botões e gerar suas próprias lembranças, sem pretensões com a técnica ou qualidade das imagens. Os fatos memoráveis aptos ao registro fotográfico não tem uma pré-condição. Fotografar é o fato e o cotidiano entra em pauta (as refeições, o trânsito, a roupa do dia, um olhar). Não há limitações para a fotografia. Essa mudança cultural observada a partir da inclusão da fotografia em mídias sociais amparada pela facilidade de acesso aos dispositivos eletrônicos apresenta novas potências ao ato fotográfico. A fotografia caminha para a libertação de ser apenas o registro da memória. (FONTCUBERTA, 2012). O importante são as experiências, o experimentar e vivenciar. Ao atuar no tempo presente, vinculada ao entretenimento, espetáculo, 5 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR exibição de si, as fotografias digitais ganham novos contornos e missões além de suas antecessoras analógicas. Serve ao propósito de comunicar, interagir e divertir, como na citação abaixo: Definitivamente, as fotos não servem para tanto para armazenar lembranças, nem são feitas para ser guardadas. Servem como exclamações da vitalidade, como extensões de certas vivências, que se transmitem, compartilham e desaparecem, mental ou fisicamente. (...) Transmitir e compartilhar fotos funciona então como novo sistema de comunicação social, de etiqueta e cortesia. Entre estas normas, a primeira estabelece que o fluxo de imagens é um indicador de energia vital, o que nos devolve ao argumento ontológico inicial do “fotografo, logo existo” (FONTCUBERTA, 2012, p. 32-33). O Instagram O aplicativo Instagram é idealizado pelos fundadores para o uso de dispositivos móveis (aparelhos celulares e tablets digitais). Foi criado pelo americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Michel Krieger, em outubro de 2010, com a intenção de um aplicativo simples e divertido com objetivo de ser a próxima rede social com base em comunicação visual e uso por dispositivos móveis4. Hoje, o Instagram tem mais de 200 milhões de usuários ativos, postando 50 milhões de fotos diariamente, em um crescente de 20 bilhões de fotos já postadas na rede em seus 4 anos de vida on-line. A principal forma de comunicação no Instagram é interação pela imagem fotográfica. Cada dia, um novo presente e instante e, portanto, uma nova foto. Ao apontar os enunciados contemporâneos baseados na cultura digital, Garcia (2013a) discorre sobre a condição inacabada, deslizante, efêmera e fugaz. Nesse sentido, as fotografias do Instagram – relacionadas ao tempo presente, o cotidiano e o instante – tornam-se contemporâneas. O Instagram oferece mobilidade à fotografia na medida em que os conteúdos são gerados e compartilhados em trânsito. Na rua, ao caminhar, pode-se fotografar, editar e com acesso a internet compartilhar no mesmo instante. 4 Fonte: Entrevista com o fundador do instagram. Disponível em: http://tecnologia.uol.com.br/ultimasnoticias/redacao/2011/10/27/brasileiro-criador-do-instagram-diz-que-aplicativo-pop-do-iphone-nao-dalucro.jhtm. 6 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Pelo aplicativo Instagram, os conteúdos fluem para outras mídias sociais. Jenkins (2009) discorre a respeito da convergência midiática, onde um mesmo conteúdo fluiria por diversos canais de mídia, com os meios de comunicação integrados. A participação do usuário-interator, para o autor, é um dos pontos que promovem essa transformação cultural. Estes colaboram com a convergência ao inserir conteúdos privados nas mídias sociais. Com um perfil, criado a partir de uma conta com inserção de dados pessoais como nome de usuário-interator, foto de perfil e pequena biografia pode-se inserir conteúdo, seguir e ser seguido por qualquer usuário da rede, além de curtir e comentar fotografias. A navegação pelas funcionalidades do aplicativo é simples e guiada por ícones acessados através do toque na tela dos dispositivos. As fotografias características do aplicativo são formatadas para exibição em formato quadrado, referenciando as fotografias tiradas com a máquina Polaroid, o que reitera a ideia do instantâneo. Os 16 filtros disponíveis para edição das imagens compartilhadas no Instagram, cada um a sua característica disfarçam os defeitos provenientes da câmera do aparelho celular, que, em geral, produz imagens com baixa qualidade. Adiciona cor, contraste, temperatura, desfoque, atenuam linhas. Os efeitos são pré-concebidos e lúdicos. O objetivo não é substituir softwares de edição, mas criar imagens bonitas e divertidas. Além dos filtros, outras ferramentas de edição estão disponíveis. Os filtros podem ser editados e a intensidade do efeito controlada. Diversas intervenções na imagem, com ajustes de brilho, contraste, temperatura, saturação, áreas claras e escuras, adição de vinheta, desfoque, controle de nitidez e alteração do balanço de brancos estão disponíveis. As hashtags (#) utilizadas no aplicativo, adicionadas a uma foto tem grande relevância para organizar o conteúdo imagético. Uma espécie de álbum de fotografias colaborativo que permite observar os conteúdos imagéticos e comunicacionais que surgem. Etiquetam os assuntos da imagem e facilitam buscas, organização e interações. 7 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR As facilidades tecnológicas permitem ao usuário-interator tornar-se transmissor de si. Expõe publicamente intimidades, subjetividades e imagens. Com efeito, “ser” passa a esfera do “ser percebido”, pois quem não é notado, curtido e compartilhado, “não é”. Türcke (2010) ressalta a compulsão em emitir do sujeito contemporâneo como ânsia para estar sempre disponível e on-line nas mídias sociais. O Instagram, portanto, pode ser compreendido como metáfora da sociedade contemporânea e das (re)inscrições promovidas pela tecnologia. São referências da cultura digital – inacabada, efêmera, deslizante, multidimensional provisória e parcial – a serem observadas pelas práticas de inserção e atualização de conteúdo do usuário-interator, no Instagram. Um território movediço, em que conceitos são (re)vistos, (re)feitos e promovem instabilidade. Este (re)pensar de ações associam-se a condição contemporânea não linear, fragmentada, descontínua e simultânea, incompleta e acelerada. A ordem do contemporâneo é o imediato, e o tempo presente, que se renova em outro presente, com forma de percepção do tempo alterada. Em outras palavras, podemos auferir ao Instagram, características que o diferem das demais mídias sociais e contribuem para as inscrições contemporâneas. O álbum de fotos segue um fluxo visual contínuo, sem esgotamento. Não há limitações quanto ao número de fotografias inseridas. Com efeito, essa característica reverbera na noção de inacabado, incompleto. A narrativa aponta ao futuro e, ao mesmo tempo, assinala um tempo presente. Somente um álbum está disponível, sem a possibilidade de separação por temas ou datas. O álbum não tem fim, nem vinculação. Essa única linha do tempo reforça as ideias do instante e presente, assim como as condições inacabadas. Como narrativa em desenvolvimento dos instantes vividos. 8 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR Figura 1: Fragmento do álbum do Instagram do perfil @noriakijunior. Fonte: www.twitter.com/noriakijunior. Nas outras redes sociais (RECUERO, 2009), como o Facebook, por exemplo, as fotografias podem ser organizadas em diversos álbuns temáticos. Tais álbuns, em certo nível possuem coesão e completitude. O usuário-interator ao abrir um álbum sobre um tema, por exemplo, um aniversário, insere imagens que pertencem a determinado evento; e o álbum está pronto e acabado. Vincula-se, assim, ao caráter da fotografia como suporte da memória. Gumbrecht (1998) associa três categorias que contribuem para observar o mundo, que não está mais centrado no sujeito, mas com o sentido, numa condição de futuro incerto. Tais categorias são destemporalização, destotalização e desreferencialização. A destemporalização, para esse autor, indica um colapso do tempo que não é mais visto pelas noções de passado, presente e futuro. O futuro, mesmo que 9 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR aberto, encontra-se bloqueado pela sua imprevisibilidade. O presente é o tempo do contemporâneo, que se faz em uma condição onipresente. Vive-se na sensação do presente estendido, bem como no álbum do Instagram que sempre é completado com o presente. O passado e o futuro não podem ser capturados. Ainda que o usuário-interator compartilhe uma foto pertencente ao passado, como prática cultural das quintas-feiras, que através da hashtag #tbt (through back Thursday), libera fotos do passado devidamente assinaladas. Tal ato pertence ao presente e se insere na narrativa contínua. Como diz Gumbrecht (1998, p. 138), “o presente parece invadido por passados artificiais”. No conceito de destotalização, o álbum do Instagram instaura-se por nunca ter esgotamento. Não se pode construir nada que abranja a humanidade, assim como, durante a vida do usuário-interator seria impossível mensurar ou compartilhar um total de fotografia, sem a expectativa de uma totalidade. Já a desreferencialização refere-se a um sujeito que se move em um espaço povoado por representações que não são referências seguras do mundo externo. Tendo como base a fotografia, O Instagram inscreve-se como espaço de ficcão, cujos usuários-interatores, em certa medida, simulam um viver bem que tende a ser bonito e feliz. Considerações finais No contemporâneo, as ideias deslizantes e atualizadas no tempo presente, que se refaz a cada instante. Os fenômenos inscrevem-se no cotidiano em um refazer paulatino. Contudo, retorna-se ao pensamento proposto por Rouillé (2009), em que mediante a imagem digital, novas redes de produção e circulação da informação seriam criadas, formas de consumo e interação fotográfica com valores atualizados, ou seja, atualizações. O consumo e a interação, a partir da imagem, atualizam-se com essas novas facilidades tecnológicas. Tais processos simplificam-se e estão disponíveis 10 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicação e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 • Londrina, PR na ponta do dedo, ao toque. Assim, a fotografia se atualiza. Serve a novos propósitos, aliada a diversão e entretenimento, cada vez mais, pertencente à esfera da comunicação com linguagens e conteúdos nas redes sociais, novos produtores e espectadores, ambos, em um sujeito: o usuário-interator. Referências CASTELLS, M. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 2000. FELDMAN, Ilana. O trabalho do amador. In: BRASIL, Andre; MORETTIN, Eduardo; LISSOVSKY, Mauricio (org). Visualidades hoje. Salvador: EDUFBA. Brasilia. Compos, 2013. FONTCUBERTA, Joan. A câmera de Pandora: a fotografi@ depois da fotografia. São Paulo: G. Gilli. 2012. GARCIA, Wilton. . O metrossexual no Brasil: estudos contemporâneos. São Paulo: Factash Editora. 2011. ______. Uma condição (hiper)midiática. Sorocaba. 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