UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI CURSO DE NATUROLOGIA FERNANDA DE SOUZA VENDRAME A CONTRIBUIÇAO PARA A NATUROLOGIA DO ESTUDO DOS DOSHAS E SEUS DESEQUILIBRIOS São Paulo 2012 UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI CURSO DE NATUROLOGIA FERNANDA DE SOUZA VENDRAME A CONTRIBUIÇAO PARA A NATUROLOGIA DO ESTUDO DOS DOSHAS E SEUS DESEQUILIBRIOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de Naturologia da Universidade Anhembi Morumbi sob orientação da Prof.º Marcele Souza Lima Machado e Co-orientação da Prof.ª Ma. Luciana Auad. São Paulo 2012 V569c Vendrame, Fernanda de Souza A contribuição para a naturologia do estudo dos doshas e seus desequilíbrios / Fernanda de Souza Vendrame. – 2012. 86f: il.; 30 cm. Orientador: Marcelle Souza Lima Machado Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Naturologia) – Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2012. Bibliografia: f.83-86. 1. Naturologia. 2. Ayurveda. 3. Doshas. 4. Saúde. 5. Desequilíbrios. I. Título. CDD 615.82 FERNANDA DE SOUZA VENDRAME A CONTRIBUIÇÃO PARA A NATUROLOGIA DO ESTUDO DOS DOSHAS E SEUS DESEQUILÍBRIOS Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção de título de Bacharel em Naturologia, do curso de Naturologia da Universidade Anhembi Morumbi. Aprovado em: _________________________________ Profª. Marcele Souza Lima Machado Universidade Anhembi Morumbi _________________________________ Prof. Carlos Torro Universidade Anhembi Morumbi ___________________________________ Profª. Ma. Michelly Eggert Paschuino Universidade Anhembi Morumbi São Paulo 2012 “O que for a profundeza do teu ser, assim será o teu desejo. O que for teu desejo, assim será tua vontade. O que for a tua vontade, assim serão teus atos. O que forem os teus atos, assim será o teu destino”. (Brihadaranyaka Upanishad IV, 4.5) AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por todos os dons e condições que me foram concedidos para que eu chegasse até aqui. Por cada dia de vida, cada de dia convivência e aprendizado e por todas as situações que fizeram com que eu me tornasse o que sou hoje. À minha família amada, por acreditar em mim, pelo incentivo e apoio durante todos estes anos morando longe da casa. Aos meus pais, pelo amor incondicional e pela educação. Á minha querida irmã Camilla, por ser minha amiga, minha companheira, e meu espelho invertido. Ao meu companheiro Romulo, pelo amor, pela paciência, e por me incentivar diariamente a ter calma e não desistir dos meus objetivos. As minhas amigas Gabi e Helo, que se tornaram irmãs durante estes anos de curso. Aos professores que dedicam suas vidas e seu tempo a este lindo ofício, que é ensinar. Aos colegas da Naturologia, pessoas tão sensíveis a amáveis, que acreditam em um mundo diferente e melhor. Que se dedicam a aprender, a ensinar, e principalmente, a cuidar das almas. A todos que de alguma forma fizeram parte desta linda caminhada em direção á minha formação, e principalmente, em direção á minha evolução. Fernanda de Souza Vendrame RESUMO No desenvolvimento da história humana sempre houve a preocupação em criar métodos de reestabelecimento e manutenção da saúde, como indica a criação de sistemas de saúde nas diversas culturas que existem e existiram ao longo do tempo. A Naturologia, como estudo da natureza aplicado à saúde, tem como principal característica o uso de terapias naturais para buscar reestabelecer o equilíbrio físico, emocional e mental do ser humano. É uma ciência que se baseia nos recursos naturais de tratamento e tem foco na recuperação e promoção da saúde através da visão integral do homem. É também sob esta ótica que atua a Medicina Ayurveda, que se define como um completo sistema oriental de racionalidade médica indiana. Dentre as definições constitutivas do homem segundo a visão do Ayurveda, está a teoria de constituição dos doshas (vata, pitta e kapha), que são formados pelos cinco grandes elementos (éter, ar, fogo, água e terra), que permeiam todo o organismo humano e que são os elementos funcionais responsáveis por todos os fenômenos físico-químicos e fisiológicos do organismo. Em desequilíbrio, os doshas causam diversas alterações nocivas á saúde humana. Para tratar esses desequilíbrios, o naturólogo em sua prática clínica possui três ferramentas fundamentais para que se reestabeleça novamente o estado de normalidade. Essas ferramentas de tratamento são: alimentação, fitoterapia e massagem ayurvédica. Palavras-chave: Ayurveda. Desequilíbrios. Doshas. Naturologia. Saúde. ABSTRACT During the development of the human history there was always a concernment in creating healing and health maintaining methods, as indicated by the creation of health systems among the different cultures that exists and have existed over the time. The Naturology, as a study of nature applied to healthcare, has as main feature the use of natural therapies to seek restore the physical, emotional and mental health balance of human beings. It is a science that relies on natural resources of treatment and focuses on retrieval and health promotion through the vision of the whole man. It is also in this same sight that acts the Ayurvedic medicine, which is defined as a complete system of eastern Indian medical rationality. Among the constituent definitions of man according to the Ayurveda’s vision, there is the theory of the constitution of the doshas (vata, pitta and kapha), which are formed by the five great elements (ether, air, fire, water and earth), that permeate all the entire human organism and are the functional elements that are responsible for all the physicochemical and physiological phenomena of the body. If unbalanced, the doshas may cause a variety of harmful alterations to the human health. To treat these unbalances, the naturologist in their clinical practice has three fundamental tools to reestablish again the state of normality. These treatment tools are: food, herbal and ayurvedic massage. Keywords: Ayurveda. Unbalances. Doshas. Naturology. Health LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Os Cinco Grandes Elementos – Pancha Mahabhutas .............................25 Tabela 2 - Propriedades e Qualidades dos Cinco Grandes Elementos.....................27 Tabela 3 - Formação e qualidades físicas dos doshas..............................................30 Tabela 4 - A formação dos sabores com base nos cinco grandes elementos.........41 Tabela 5 - Alimentos que pacificam vata...................................................................45 Tabela 6 - Alimentos que aumentam vata..................................................................47 Tabela 7 - Alimentos que pacificam pitta...................................................................49 Tabela 8 - Alimentos que aumentam pitta..................................................................51 Tabela 9 - Alimentos que pacificam kapha................................................................53 Tabela 10 - Alimentos que aumentam kapha.............................................................56 Tabela 11 – Plantas medicinais e suas utilizações no Ayurveda...............................60 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Formação dos doshas á partir dos Cinco Grandes Elementos.................29 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................11 2 OBJETIVOS.....................................................................................................14 2.1 Objetivo Geral.................................................................................................14 2.2 Objetivos Específicos....................................................................................14 3 METODOLOGIA..............................................................................................15 4 NATUROLOGIA...............................................................................................16 5 FUNDAMENTOS DO AYURVEDA..................................................................20 5.1 Os oito ramos do Ayurveda..........................................................................22 6 PANCHA MAHABHUTA – OS CINCO ELEMENTOS....................................25 7 A CONSTITUIÇÃO DOS DOSHAS.................................................................28 7.1 A função dos doshas.....................................................................................30 7.1.1 Vata..................................................................................................................31 7.1.2 Pitta..................................................................................................................32 7.1.3 Kapha..............................................................................................................34 7.2 Localização dos doshas................................................................................35 8 OS DOSHAS E SEUS PRINCIPAIS DESEQUILÍBRIOS................................36 8.1 Os sintomas de agravação............................................................................38 9 TRATAMENTOS..............................................................................................40 9.1 Dietas Alimentares.........................................................................................40 9.1.1 As características dos seis sabores............................................................41 9.1.2 As ações dos sabores...................................................................................42 9.1.3 Os alimentos e os doshas.............................................................................44 9.1.4 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha vata................................45 9.1.5 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha pitta................................49 9.1.6 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha kapha.............................53 9.2 Fitoterapia.......................................................................................................58 9.2.1 Preparações para uso interno.......................................................................59 9.3 Massagem Ayurvédica...................................................................................73 9.3.1 Massagem para as pessoas de tipo vata.....................................................75 9.3.2 Massagem para as pessoas de tipo pitta.....................................................75 9.3.3 Massagem para as pessoas de tipo kapha..................................................76 9.3.4 Massagem com oleação................................................................................76 10 DISCUSSÃO....................................................................................................79 11 CONCLUSÃO..................................................................................................82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................83 12 1 INTRODUÇÃO O modelo de Medicina praticado atualmente compreende e tem a sua prática fundamentada na perspectiva fragmentadora do homem dividida em especialidades, tornando mais frágil e menos abrangedora a forma do profissional da saúde de analisar e intervir nos quadros de patologias e desequilíbrios físicos e emocionais do ser humano, não sabendo inter-relacionar estes dois aspectos e fazendo assim, com que haja uma dificuldade de se obter resultados e tratamentos mais amplos e eficazes. No desenvolvimento da história humana sempre houve a preocupação em criar métodos de reestabelecimento e manutenção da saúde, como indica a criação de sistemas de saúde nas diversas culturas que existem e existiram ao longo do tempo. A tendência que o ser humano tem de buscar alternativas de tratamento para suas doenças parece ser tão antiga quanto a sua própria existência. Eficazes ou não, o homem sempre desempenhou esta busca através de diversas maneiras. Não há desmerecimento, quando analisamos todo o avanço e resultados obtidos com a evolução na área médica e tecnológica da saúde, mas diante do cenário atual podemos identificar que esse modelo que entende o homem em “partes” torna-se cada vez mais ineficaz na sua totalidade. (LUZ, 1997). Neste contexto social, de uma procura cada vez maior por tratamentos que se preocupem não apenas com a ausência de doenças, mas também com o bem estar integral do Ser, surge a Naturologia, uma ciência que estuda métodos naturais, antigos, tradicionais e modernos de tratamentos, utilizando-se destes para a prevenção de doenças, recuperação e manutenção da saúde, visando qualidade de vida e equilíbrio do ser humano com o meio em que vive. (VARELA, 2005). A Naturologia aplicada compreende, em seus princípios, a concepção sistêmica da vida, que se baseia na inter-relação e interdependência de todos os fenômenos – físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Através dessa visão integradora, o próprio conceito de saúde depende essencialmente da relação entre o indivíduo e suas amplas relações com o meio ambiente, em contínua atividade e mudança, como resposta criativa do organismo aos “desafios” da vida. A 13 saúde caracteriza-se por ser um fenômeno multifatorial, que envolve todos os aspectos interdependentes acima citados (HELLMAN, WEDEKIN, 2008). Esta ciência de práticas e estudos do ser integral busca promover o equilíbrio total do homem, sem fragmentações, atuando em conjunto nos corpos físico, mental, emocional, social e sutil do interagente, pois entende-se que a saúde e o bem estar dependem de uma interação harmônica destes aspectos, e quando essa interação acontece, ocorre um ganho no bem estar e na qualidade de vida. Possibilitando a integração de todos os aspectos pertinentes (biopsicossocial, energético e espiritual) que proporcionam ao homem ser saudável, atuando de maneira complementar as demais profissões da área da saúde, a Naturologia possibilita resultados mais eficazes no tratamento das doenças, favorecendo o ser humano ao atingir o bem-estar de maneira mais ampla, conforme determina a Organização Mundial da Saúde – OMS (2002), que define saúde como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez”. A visão biopsicossocial parte do princípio que o comportamento humano ocorre de modo simultâneo nas dimensões biológica, psicológica e social, com ênfase em um dos aspectos, mas com impacto simultâneo nas três dimensões sempre, em qualquer situação (LIMONGI-FRANÇA, 2008). De acordo com França (2010), a palavra biopsicossocial origina-se da medicina psicossomática, que também propõe uma visão integral do ser humano em contraposição á visão cartesiana que o divide em partes. Assim, toda pessoa possui potencialidades biológicas, psicológicas, sociais e espirituais que respondem simultaneamente, ás condições de vida, o que o torna um ser complexo e único. Diante desta afirmação, é possível concluir que as condições de vida e tudo o que isto envolve, reflete diretamente na saúde física e emocional do homem. Má alimentação, exposição a agentes nocivos á saúde, falta de tempo, agentes causadores de stress que causam reações fisiológicas diversas e nocivas á saúde entre outros fatores, desencadeiam o que pode ser chamar de desequilíbrio ou agravamento de um dosha, afirmação esta que será fundamentada pelas bases da Medicina Ayurveda neste estudo. Dentro das diversas possibilidades de tratamento oferecidas pela Naturologia, estão alguns tratamentos da Medicina Ayurveda. A definição ayurvédica de saúde distancia-se dos conceitos mecanicistas ou meramente técnicos que muitas vezes 14 são encontrados nas ciências materialistas. Segundo a filosofia do Ayurveda, saúde é uma combinação de diversos aspectos vitais do ser humano; além do equilíbrio global do organismo em seu aspecto físico, que inclui também ordenação e harmonia mental, emocional e espiritual. Por esses motivos, o Ayurveda fundamenta que uma pessoa saudável é aquela que apresenta equilíbrio dos princípios vitais (Doshas), das enzimas digestivas e metabólicas (agnis), além do funcionamento correto dos tecidos (dhatus), dos produtos secundários do metabolismo (catabólitos) e das excretas orgânicas (malas). Por mais que esse conceito de saúde apresente-se como um modelo distante da realidade a ser atingida pelo ser humano, a sua contribuição para a compreensão e identificação de como deve ser considerado um indivíduo saudável, se faz de suma importância, por abranger aspectos pertinentes e determinantes á vida humana e sua relação com o meio ao qual está inserido. Esse conceito introduz uma nova perspectiva sobre a representação do que significa ser saudável, suscitando a necessidade do profissional da área da saúde em identificar outros aspectos intrínsecos e determinantes a saúde humana, assim como se abrir para novas perspectivas que podem estar influenciando a sua vida (GERBER, 2002). 15 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral O objetivo do presente estudo é fazer uma interação entre o conhecimento da constituição física, mental e espiritual do ser humano, segundo as bases do Ayurveda, para que o Naturólogo em sua prática clínica possa utilizar deste conhecimento no tratamento de desequilíbrios, vendo o individuo como uma constituição e tratando o desequilíbrio com base nas deficiências e excessos que esta determinada constituição (prakrti) apresenta. 2.2 Objetivo Específico • Expor os conceitos básicos, porém fundamentais da Medicina Ayurveda para que o Naturólogo se inteire do conhecimento e busque aplicar estes conceitos em sua prática clínica; • Avaliar formas de tratamento adequadas para cada tipo de constituição segundo o Ayurveda; • Apresentar com maior profundidade alguns dos muitos fundamentos que regem a Medicina Ayurveda sobre a constituição do ser humano. 16 3 METODOLOGIA Revisão bibliográfica de acordo com as Diretrizes e Normas para apresentação de trabalhos acadêmicos, dissertações e teses da Universidade Anhembi Morumbi: NBR 14724/2002, em livros e textos científicos específicos sobre os assuntos discutidos no estudo. 17 4 NATUROLOGIA A Naturologia caracteriza-se por ser uma ciência que visa promover, manter e recuperar a saúde, através de métodos naturais antigos, tradicionais e modernos de cuidado, que permitem ao ser humano um maior contato consigo mesmo, possibilitando uma melhoria em sua qualidade de vida, harmonia e equilíbrio com ele mesmo, com os outros e com o meio em que vive. Caracteriza-se também por ser uma ciência que cuida do ser humano como um todo, não apenas no nível físico, mas sim o entendendo de forma integral, considerando também os aspectos emocional, mental e espiritual (DE LUCA, 2007). Em um mundo no qual os fatos acontecem cada vez mais rápido e a velocidade das informações ultrapassa os sentidos humanos, as percepções do homem acabam por anestesiá-lo, fazendo com que ele muitas vezes perca o contato consigo mesmo. Atualmente vive-se um momento em que muitas vezes os fatos cotidianos obrigam-nos a estarmos voltados para fora, acompanhando o frenesi dos acontecimentos externos, de maneira automática e inconsciente, sem que se perceba o mundo que acontece a partir da pele para dentro do corpo (CORTELLA, 2008). Tamanha desconexão do ser humano com sua própria natureza tem feito com que ele fique cada vez mais distante de si, pois deixa de se escutar, de se perceber e de ser, em troca do ter. verifica-se a perda de valores humanos milenares nos planos da ética, da política, da convivência social e mesmo da sexualidade, em proveito da valorização do individualismo, do consumismo, da busca do poder sobre o outro e do prazer imediato a qualquer preço como fontes privilegiadas de consideração e status social (LUZ, 2005, p. 149). Vive-se um tipo de ilusão em que quanto mais se tem, mais se cresce perante a sociedade, porém, mais se enfraquece diante de si mesmo. Temos que dar um basta, antes que a natureza dê. E ela costuma dar. Via saúde, nos fazendo rever nossos valores através de uma doença, por exemplo, ou via loucura. (CORTELLA, 2008). Esse contexto parece ser uma dos descomedimentos da sociedade atual, que se percebe muitas vezes apenas quando chega a seu limite de sobrevivência e que 18 escuta a si mesmo quando seu corpo, já em desequilíbrio, manifesta uma série de sinais e sintomas para que possa ser notado. Essa desconexão do ser humano com seu próprio corpo, suas sensações e emoções vêm gerando uma série de doenças, como a depressão, os transtornos obsessivos compulsivos, o câncer, a hipertensão, entre muitas outras patologias que têm aparecido cada vez com mais frequência na sociedade moderna. Ao contrário do que se acreditava há algum tempo, os sintomas físicos que aparecem no corpo doente não são o início da doença, mas sim um sinal de que o corpo já está em desequilíbrio, pois qualquer doença começa bem antes de seus sintomas aparecerem, sendo eles apenas uma conseqüência da maneira como o indivíduo se relaciona consigo mesmo, com os outros e com o mundo a sua volta. Sendo assim, manter-se saudável torna-se não apenas uma questão de não estar doente, mas principalmente uma questão de ser capaz de escutar, perceber e ter consciência acerca de si mesmo (DAHLKE, 2012). A linguagem do corpo – da qual a linguagem dos sintomas aparece apenas como uma dentre as importantes subformas linguísticas – tornou-se possivelmente a mais falada de todas as línguas. Todos a falam, mesmo que nem sempre o façam conscientemente e que muitos jamais cheguem a compreender o que lhes diz o próprio corpo (DAHLKE, 2010). Deste modo, a Naturologia como ciência tem grande importância, pois surge em um momento no qual o ser humano precisa do contato consigo, aprendendo realmente a sentir, para que cada vez mais deixe de ter e possa realmente ser. Com esta finalidade, utiliza diversos recursos, como massoterapia, fitoterapia, terapia floral, hidroterapia, iridologia, reflexologia, arte integrativa entre outros. Essas técnicas não só promovem um bem-estar físico imediato, mas também melhoram as percepções do indivíduo acerca de si e do mundo, através de sua sensibilização e introspecção (DIAS, 2007). A Naturologia se destaca das demais ciências da área da saúde porque trabalha focada no equilíbrio do indivíduo, ou seja, orienta a utilização das terapias naturais para promover o bem-estar e qualidade de vida de forma integral. Como uma Medicina Complementar, ao invés de intervir no sentido de impedir certas manifestações sintomáticas, as percebe como “sintomas necessários” de causas mais profundas, que abrangem o individuo e o seu modo de vida em sua totalidade (QUEIROZ, 2000.) 19 Esta ciência denominada Naturologia, incorpora novas tendências e novos paradigmas como a transdisciplinariedade, a complexidade e a promoção de saúde, que juntas buscam novas literaturas científicas e propõem uma religação de novos saberes. A Naturologia se correlaciona com estes princípios refletindo no resgate do ser humano, e propondo uma nova visão no campo da saúde (DIAS, 2007). Entende-se desta forma, que as práticas desta ciência propiciam um conhecimento mais profundo do indivíduo em relação a si mesmo, a seu corpo e ao complexo conjunto de fatores que formam sua estrutura física, psicológica e emocional, com uma consequente busca de maior aprendizagem e autoconhecimento diante do seu processo de adoecimento, criando em si uma motivação para a reconstrução da própria saúde. O resultado é uma melhora generalizada, tanto no plano físico, quanto no mental, energético, social e psíquico. Segundo Silva (2008), uma das propostas da Naturologia é a de estabelecer uma correlação entre os dois principais polos de diversidade cultural e de concepções filosóficas: oriente e ocidente. Sua contribuição assemelha-se a proposta de dialogia moraniana, princípio que permite manter a dualidade no seio da unidade ao associar dois termos ao mesmo tempo complementares e antagônicos como razão e emoção. O parâmetro cartesiano-racionalista separa e opõe os dois, na Naturologia estariam em constante diálogo ajudando a estabelecer as bases para o bem estar e qualidade de vida. O tratamento naturológico inspira-se por diversas metas, entre elas estão: oferecer um tratamento que seja natural, integrado e que promova o bem estar (BRATMAN, 1998). Segundo Kroeger (2003) existem contextos que podem tanto limitar quanto potencializar o processo de desenvolvimento do ser humano, na sua relação com o outro e com o mundo, na busca da felicidade e prazer de viver. O que buscamos com as práticas naturais, é ampliar o processo de auto-conhecimento, desenvolvimento e bem estar no meio em que se vive. É sob esta perspectiva que atua também a Medicina Ayurveda. Algumas das terapias por ela utilizadas podem fazer parte da prática clínica do Naturólogo e correm no sentido de possibilitar que, cada vez mais, o indivíduo compreenda a si mesmo em toda a sua complexidade. Com isso, ele desenvolve a capacidade de cuidar de si integralmente, a começar por estabelecer hábitos mais saudáveis e 20 compatíveis com sua estrutura física e emocional, entendendo sua constituição natal (prakriti) e reduzindo significativamente a incidência de doenças e desequilíbrios. Sem consciência de si, não há como saber o que lhe faz bem ou mal, não possibilitando mudanças em direção ao seu próprio bem-estar e melhora da qualidade de vida (ANTONIO, 2007). 21 5 FUNDAMENTOS DO AYURVEDA Uma das mais marcantes características dos povos orientais antigos era a consciência que tinham das suas potencialidades e habilidades para curar a si mesmos, baseada no respeito á relação harmônica entre o homem e a natureza (ANTÔNIO, 1998). De acordo com a história da Índia antiga, a tradição do Ayurveda, iniciada com o próprio Brahma (Criador), foi por ele repassada integralmente, por meio de Dasa Prajapati e do deus Indra, aos sábios Bharadwaja e Atri. Esses entregaram toda a ciência nas mãos do sábio Atreya. Por isso, o Ayurveda até Indra é uma tradição divina, e foram os sábios Bharadwaja e Atri que a trouxeram para o plano terreno (CARNEIRO, 2009). Situar historicamente o Ayurveda torna-se uma tarefa bem complexa, considerando-se os calendários utilizados na atualidade; contudo, de acordo com os registros encontrados na literatura pesquisada, pode-se afirmar que o sábio Atreya teria vivido por volta do ano de 1.000 a.C., o que já indica mais de três mil anos de história. Muitas outras datas e números são encontrados na literatura e na tradição da cultura indiana, mas poucas são fundamentadas em termos de registros históricos válidos. Não se sabe por quanto tempo o conhecimento sobre o Ayurveda permaneceu sendo estudado antes de ser entregue a Atreya. Por isso talvez tenha fundamento a afirmação amplamente difusa de que o Ayurveda vem sendo praticado na Índia há mais de cinco mil anos. O termo Ayurveda, que define um completo sistema oriental de racionalidade médica tradicional indiana, é composto por dois radicais: ayus e veda. Ayus significa vida, e veda pode ser traduzido como ciência ou conhecimento. São encontradas na literatura algumas outras traduções para esse termo, tais como ciência da vida, ciência da longevidade ou conhecimento da vida. Definições mais complexas fundamentam também que o termo Ayurveda pode ser definido como sendo o conhecimento do ciclo da vida. A vida (ayus), segundo o Ayurveda, é uma manifestação complexa e deve ser definida como a combinação de corpo (sarira), sentidos (indriajas), mente (sattwa) e espírito (atma), que é o princípio vivente, eterno. 22 O Ayurveda afirma que o corpo, quando desprovido dos sentidos, da mente e do espírito, está morto e não pode ser definido como vida, pois falta-lhe o princípio anímico ou espiritual (CARNEIRO, 2009). O conhecimento Ayurvedico é tido também como a profunda ciência do viver e relaciona a vida do indivíduo à vida do Universo. De acordo com ela, todo indivíduo é, ao mesmo tempo, uma criação das energias cósmicas e um fenômeno único, uma personalidade única. Essa ciência ensina que cada um possui uma constituição singular, uma “maquiagem” bio-psíquica individual. Tal constituição é criada pela energia do éter, do ar, do fogo, da água e da terra, que se integram de diferentes maneiras no momento da concepção, formando os três doshas que compõem os seres humanos, conhecidos como Vata, Pitta e Kapha (TIRTHA, 2007). Uma das bases desta ciência é a compreensão das energias existentes no corpo e na mente humana. Estas energias também existem no mundo ao nosso redor, no tempo e no espaço. Estas energias primordiais são chamadas de doshas, que constituem nossos corpos e estão presentes no universo físico. Na mente elas assumem formas mais sutis e passam a se chamar prana, tejas e ojas. Compreender a relação entre estas formas de energia é um dos caminhos para o entendimento de como a doença física pode ser causada pela mente (doença psicossomática) e de como as condições do corpo podem perturbar a mente, tal como encontramos nas desordens provindas do estresse nos dias atuais (D’ANGELO, CÔRTES, 2008). Os princípios do Ayurveda, provêm dos Veda, particularmente do Rig e Atharva Veda, que são textos clássicos indianos que remontam há aproximadamente 3.500 anos atrás (ZIMMER, 2005). Porém, são nos grandes tratados do Ayurveda, Charaka Samhita e Sushruta Samhita, datando de 600 d.C., que a Medicina Ayurveda se constrói formalmente (TIWARI, 2003). O Charaka Samhita foca na clínica médica, enquanto o Sushruta Samhita trata da cirurgia, campo do Ayurveda que acabou por se perder no tempo (TIWARI, 2003). Há também o Ashtanga Hridayam, uma compilação mais concisa dos outros dois. Através desses tratados, conhecido como “os três grandes”, o Ayurveda consolidou-se de maneira científica como um sistema médico reprodutível e confiável, deixando a aura divina para trás (TIRTHA, 2004). Segundo Chopra (2005), o Ayurveda atingiu algo profundo na natureza. Seus conhecimentos não são baseados na tecnologia, e sim, na sabedoria, no que se 23 pode definir como a compreensão segura do organismo humano, adquirido através de muitos séculos. O crescimento mundial da aceitação da filosofia e das práticas de saúde ayurvédicas, deve-se principalmente a dois fatores importantes. O primeiro deles é a sua história de quase cinco mil anos de tradição, que rompe as barreiras impostas pelo tempo e pelas fronteiras culturais, sobrepondo-se a todas as transformações sociais, políticas e científicas. O Ayurveda consegue não apenas manter-se vivo em seu local de origem, mas também expandir-se, introduzindo-se naturalmente na vida de pessoas dos mais diversos países e culturas. Em segundo lugar, a difusão e aceitação mundial deste conhecimento, podem ser atribuídas á evolução do Ayurveda nos aspectos científicos e de pesquisa, bem como, a sua inserção no meio acadêmico, o que constitui uma vitória sobre os preconceitos que existiam e ainda existem sobre a veracidade de teorias e eficácia dos tratamentos. A fundamentação científica é de extrema importância para que a ciência moderna quebre as inúmeras barreiras impostas sobre as formas de saber tradicionais. 5.1 Os oito ramos do Ayurveda O Ayurveda tradicional, como é descrito nos textos clássicos, está dividido em oito ramos: • Kaya chikitsa, que cuida dos desequilíbrios internos do corpo; • Bala chikitsa, que aborda de forma especial as doenças que acometem as crianças; • Graha chikitsa, que versa sobre as doenças mentais e emocionais; • Vurdwanga chikitsa, que enfoca doenças que se localizam na cabeça e no pescoço; • Salya chikitsa, que se dedica ás doenças de natureza cirúrgica; • Damsta ou agada chikitsa, que trata dos aspectos relativos á toxicologia; 24 • Jara chikitsa ou rasayana, que se destina á promoção da longevidade e também é chamada de ciência do rejuvenescimento; • Vrusha ou vajeekara chikitsa, que consagra os tônicos e revigorantes, sendo também denominada ciência dos afrodisíacos. Esses ramos não são divisões como as especialidades ocidentais, como a pediatria, ginecologia ou neurologia, uma vez que o profissional com uma visão ayurvédica não se dedica a apenas uma destas áreas, deixando as outras sete para outros especialistas. Estas “sub-divisões” correspondem ás diferentes áreas que formam o compêndio de conhecimento clínico do Ayurveda e, em conjunto, dão ao profissional um entendimento geral da arte, da ciência e da constituição e dos mecanismos funcionais do ser humano. Três destes ramos descritos acima demandam uma explicação maior, uma vez que os demais se explicam por sua própria definição. O ramo denominado kaya chikitsa, geralmente traduzido nos textos clássicos como medicina interna, é um dos mais importantes e abrangentes, pois lida com a recuperação dos tecidos orgânicos em geral, quando danificados por disfunções ou doenças. O Ayurveda define o kaya chikitsa como aquele que trata das doenças causadas pela irregularidade ou suspensão do agni, ou “fogo digestivo”. Kaya em sânscrito significa digestivo, e chikitsa, terapia. Descrevendo simplificadamente, esta especialidade denominada de medicina interna, cuida basicamente de equilibrar o “fogo digestivo”, que corresponde a todos os processos metabólicos do organismo. O ramo denominado jara chikitsa, a ciência do rejuvenescimento, consiste em uma série de técnicas e medidas aplicadas pelo Ayurveda com o objetivo de aumentar o vigor do corpo e a resistência orgânica, conferindo mais vitalidade e melhor função aos órgãos dos sentidos, aos tecidos do corpo, aos dentes, ossos, pele e cabelos. Esse ramo do Ayurveda aplica métodos que visam promover o intelecto, a memória e as diversas funções sutis do sistema nervoso, contribuindo para uma longevidade com saúde e bem estar. Muitas vezes o termo “rejuvenescimento” vem sendo usado sem o devido critério, podendo passar a falsa impressão de que o Ayurveda promete transformar pessoas senis em jovens vigorosos. Mas rejuvenescimento não se trata disso, pelo menos na visão do Ayurveda. O objetivo do jara chikitsa, consiste em retardar o processo de envelhecimento natural e 25 combater sintomas de envelhecimento precoce em pessoas muito desgastadas e esgotadas pelo estresse físico e mental ou por doenças degenerativas (CARNEIRO, 2009). O ramo denominado Vajeekara chikitsa, a ciência dos afrodisíacos, tem também muitas vezes os seus conceitos mal interpretados. De acordo com o conceito ayurvédico, afrodisíaco não significa apenas um remédio ou produto que aumenta o desempenho sexual ou desperta o desejo. Trata-se também de uma ciência que inclui todos os fatores responsáveis pela normalidade das funções reprodutivas em geral. Do sânscrito, o termo vaja significa alimento e vajee, derivado do primeiro, significa sêmen. Assim o sêmen é descrito no Ayurveda como o último tecido corporal, a essência final da transformação dos nutrientes. A palavra vajeekarana, por sua vez, pode ser traduzida como os fatores que promovem a excelência do sêmen. Desse modo, vajeekara chikitsa é a terapia que trata dos fatores responsáveis pelo aumento da quantidade, da purificação, acumulação, nutrição e ejaculação do sémen, quer ele esteja reduzido, contaminado ou diminuído. Contudo esse ramo do Ayurveda pode ser aplicado também a pessoas normais que desejam manter ou aperfeiçoar as funções do seu sistema reprodutivo (CARNEIRO, 2009). 26 6 PANCHA MAHABHUTAS - OS CINCO ELEMENTOS Segundo o conceito ayurvédico, toda a criação constitui-se pelos cinco elementos, incluindo os seres humanos, sendo que o mundo inanimado compõe-se apenas por eles. Esses elementos caracterizam-se por ser aspecto mais sutil da natureza humana, anteriores aos níveis molecular, atômico ou subatômico. Eles simbolizam especificamente as qualidades e padrões de fluxo fundamentais do universo. No momento em que estes cinco elementos, a base de toda a matéria, estiverem em equilíbrio, automaticamente o indivíduo também estará em equilíbrio (TIRTHA, 2003). De acordo ainda com os conceitos do Ayurveda, os cinco elementos são a base material e o fundamento de toda criação física. Os elementos formam todo e qualquer tipo de manifestação material existente no universo e todos os corpos animados ou inanimados. No sânscrito original, eles são denominados Pancha mahabhutas: Pancha significa cinco; maha significa grande e bhutas pode ser traduzido como elemento ou substância. (EDDE, 2002). Os cinco elementos básicos da natureza segundo a filosofia ayurvédica são: éter, ar, fogo, água e terra. Relacionam-se abaixo os seus nomes originais em sânscrito: Tabela 1- Os Cinco Grandes Elementos – Pancha Mahabhutas Céu, também chamado de éter e espaço (kha ou akasha); Ar (vayu); Fogo (agni ou tejas); Água (ambu, apa ou jala); Terra (ksma ou prithvi). Fonte: (CARNEIRO, 2009). Os termos em português nem sempre têm uma tradução correta e abrangente de todas as implicações dos termos originais em sânscrito. Segundo Carneiro (2009), a água comum não equivale ao grande elemento jala apenas. Ela em sua totalidade, como água comum, é composta por todos os cinco grandes elementos. Na realidade, o fator característico do grande elemento água (jaha mahabhuta) é a 27 força de coesão ou o poder de atração inerente á água comum. Similarmente, o ar comum não é o grande elemento vayu apenas. Esse ar comum, que nós respiramos e que forma o vento e a brisa contêm em si os outros quatro grandes elementos. Ao realizarmos uma análise mais aprofundada sobre a teoria dos cinco elementos, podemos entender que qualquer matéria ou manifestação material é criada através da combinação dos cinco elementos. Há certo desconforto em concordamos com esta teoria se pararmos para analisar: Se tudo é formado á partir destes elementos, como podemos então ter uma variedade tão grande de matérias com aspectos e qualidades tão distintos? Segundo esta teoria, as diferentes qualidades (gunas) são formadas através da predominância de um ou mais elemento, e as diferenças são marcadas pela predominância de uma ou mais propriedades específicas de cada elemento. Podemos exemplificar a afirmação acima fazendo uma análise sobre o metal. Os metais, assim como as pedras contêm em sua formação o predomínio do elemento terra (prithvi) e por isso suas características mais notáveis são: densidade, estabilidade e dureza, ou rigidez. As flores por sua vez são formadas predominantemente pelo elemento água (jala) e ar (vayu). Dentre as características mais notáveis das flores, podemos destacar que são leves, maleáveis, macias e delicadas. Características estas que são determinadas pela presença dos dois principais elementos. A teoria dos cinco elementos torna-se de fundamental importância pra o entendimento do Ayurveda, pois segundo este conhecimento, os cinco elementos estão presentes na formação dos climas e das estações, além de estarem presentes nas matérias e manifestações materiais, inclusive nos alimentos que ingerimos e nas composições medicamentosas que são usadas para os tratamentos dos desequilíbrios dos doshas, que são determinados pela junção predominantemente de dois dos cinco elementos, como será discutido mais amplamente no próximo capítulo do presente estudo. A tabela a seguir exemplifica que cada uma das substâncias materiais são representações das qualidades dos elementos que as compõem. 28 Tabela 2 – Propriedades e qualidades dos cinco grandes elementos. Mahabhuta Propriedades específicas (gunas) Macio, leve, frio, sutil, seco, delicado Akasha (éter, céu ou espaço) e volátil. Áspero, leve, frio, sutil, seco, móvel, Vayu (ar) instável e insidioso. Leve, quente, sutil, seco, picante, Tejas (fogo) agudo. Macio, líquido, frio, oleoso, letárgico, Água (jala) escorregadio. Duro, frio, estável, pesado, denso, Prithvi (terra) grosseiro, letárgico. Fonte: (CARNEIRO, 2011). Lad (2007) nos dá outro exemplo de que os cinco elementos básicos estão presentes em toda matéria utilizando o elemento água: o estado sólido da Água, o gelo, é uma manifestação do princípio Terra. O calor latente (Fogo) liquefaz o gelo, manifestando o princípio da Água, e então, finalmente transforma-se em vapor expressando o princípio do Ar. O vapor desaparece no Éter, ou Espaço. Assim, os cinco elementos básicos – Éter, Ar, Fogo, Água e Terra – estão presentes em uma única substância. Todos os cinco originaram-se na energia que flui da Consciência Cósmica; todos os cinco estão presentes nas matérias no universo. Portanto energia e matéria são uma só. 29 7 A CONSTITUIÇÃO DOS DOSHAS De acordo com Carneiro (2009), é preferível que a palavra ou termo dosha permaneça na forma original, sem ser traduzida, pois define dois aspectos em um só conceito: pode ser traduzido com princípio vital, princípio governante ou princípio funcional, mas também pode, em algumas circunstâncias, significar toxinas ou impurezas. O ayurveda ensina que os doshas, quando estão em equilíbrio ou normalidade, mantém todo o equilíbrio da fisiologia, mas, quando em desequilíbrio ou desordem, podem destruir a saúde do indivíduo. Ainda segundo Carneiro (2009), os cinco grandes elementos, componentes básicos de toda a criação física, manifestam-se na fisiologia humana sob a forma de três princípios governantes fundamentais, ou três princípios vitais – vata, pitta e kapha – que são os elementos funcionais responsáveis por todos os fenômenos físico-químicos e fisiológicos do organismo. O conceito de fisiologia orgânica introduzido pelo sistema trisdosha baseia-se na concepção de que o organismo é formado pelos elementos da natureza e, portanto, é parte integrante dela. Neste conceito tridosha, o Ayurveda atribui ao próprio indivíduo a responsabilidade pela condução do seu organismo no caminho do equilíbrio ou do desequilíbrio, ou seja, no caminho da saúde ou da doença. O conhecimento deste sistema funcional que comanda a saúde, a doença e a cura, faz com que o indivíduo seja consciente de suas atitudes e escolhas, e desta forma, faz com que ele se torne capaz de optar pelo equilíbrio e pela longevidade. Os doshas governam a criação, a manutenção e a destruição dos tecidos corporais, a eliminação dos resíduos do corpo, além de serem responsáveis pelos fenômenos psicológicos. Assim, a constituição humana básica é determinada a partir dos três doshas que são energias ou humores que governam o funcionamento de todo o corpo (ANTONIO, 2007). Chopra (2011) argumenta que o desequilíbrio dos doshas é o primeiro sinal de que mente e corpo não estão perfeitamente coordenados. E para facilitar o entendimento de tal afirmação ele exemplifica: É por essa razão que um poeta brilhante como Keats morre de tuberculose aos 26 anos de idade e um gênio como Mozart sucumbe a uma doença dos rins aos 35 anos apenas. A mente do gênio não estava suficientemente alinhada ao corpo. Por outro lado, ao restaurarmos os 30 doshas criamos a possibilidade de manter um sistema mente-corpo sempre equilibrado, saudável e em evolução constante. Os três doshas se formam á partir da combinação dos cinco elementos dentro do corpo. Vale lembrar que todos os constituintes do corpo são derivados dos cinco elementos. Todavia, as combinações em proporções diferentes das qualidades desses cinco elementos em um dosha específico conferem a ele as qualidades específicas e individuais deste determinado dosha. Sendo assim, o dosha Vata é determinado pela predominância dos elementos ar e éter; o dosha Pitta é determinado pelo predomínio do elemento fogo, com uma participação do elemento água, já o dosha Kapha é constituído predominantemente pelos elementos água e terra. Figura 1: Formação dos doshas á partir dos Cinco Grandes Elementos Fonte: (CHOPRA, 2011). Por ser resultado da combinação de dois elementos (ar + éter), o dosha Vata apresenta em si as qualidades provenientes destes elementos como: leveza, frieza, delicadeza, secura, maciez, mobilidade, insiosidade etc. Já o dosha Pitta resultando da combinação dos elementos (fogo + determinada quantidade do elemento água), apresenta as seguintes qualidades: leveza, sutileza, calor, secura, ardência etc. E por fim, o dosha Kapha, sendo resultante da combinação (água + terra), apresenta as características pertencentes a estes dois elementos como: liquidez, frieza, oleosidade, letargia, densidade etc. 31 Tabela 3 – Formação e qualidades físicas dos doshas. Doshas Formação pelos Cinco Qualidades Físicas elementos Maciez, leveza, frieza, sutileza, secura, Vata Éter + ar delicadeza, volatilidade, aspereza, mobilidade, instabilidade, insiosidade. Leveza, calor, sutileza, secura, ardência, leve Pitta Fogo + água untuosidade, agudeza, profunda penetração. Maciez, liquidez, frieza, oleosidade, letargia, Kapha Água + terra viscosidade, dureza, estabilidade, peso, grossura, densidade etc. Fonte: (CARNEIRO, 2011). 7.1 A função dos doshas Os doshas apresentam suas próprias quantidades, qualidades e funções. Quando em equilíbrio, eles contribuem para que o funcionamento do corpo seja harmônico. No entanto, quando em desequilíbrio, tanto pelo aumento quanto pela diminuição de suas quantidades, eles se tornam anormais, e então ocorre a alteração de seus sítios de ação, ou seja, ocorre a alteração dos tecidos orgânicos (dhatus). É por conta desta ação que a palavra dosha em algumas situações também pode ser sinônimo de toxina. O Ayurveda ensina que os doshas sempre trabalham em conjunto, formando o sistema denominado tridosha, sendo que cada um deles governa uma área e uma função específica da fisiologia. 32 7.1.1 Vata O termo Vata deriva do radical va, que significa movimento e sensação de estímulo. Sendo assim, vata é o fator responsável pelos movimentos, percepções e sensações do corpo humano. Segundo Carneiro (2011), o termo vata é às vezes equivocadamente traduzido como ar, vento. Algumas pessoas se enganam com essas traduções e acreditam que os flatos ou gases acumulados nos intestinos são o vata descrito no Ayurveda. Na realidade, os flatos são totalmente diferentes do conceito de vayu ou vata. Este dosha caracteriza-se por ser o mais facilmente perturbável, por sua leveza e sutileza constitucionais. Tem como funções originar toda espécie de ação do corpo, incluindo os movimentos das musculaturas lisa e esquelética, movimento voluntário e involuntário, respiração, circulação sanguínea e do plasma, fala, eliminações e secreções (evacuação, micção, menstruação, movimento do sêmen). É responsável, também, pelo reconhecimento consciente da posição do corpo e pelas associações (MURTHY, 2007 e TIWARI, 2003). Vata promove um saudável equilíbrio entre o pensamento e a emoção e faz surgir à criatividade, a atividade e a compreensão clara. Pelo fato de vata regular o processo nervoso, o seu distúrbio pode muitas vezes ter consequências de grande alcance (DASH,1978). No aspecto psicológico, vata tem uma memória curta, mas sua compreensão mental é ágil. Tem pouca força de vontade, tendência para a instabilidade mental e pouca tolerância. Seu poder de raciocínio é muitas vezes é fraco e em desequilíbrio podem ser pessoas nervosas, medrosas e ansiosas (TIWARI, 1998). Vata é tido como mais poderoso dos três doshas, pois controla o funcionamento dos outros dois (pitta e kapha). Existe um ditado védico que diz: “ Sem vata, os outros doshas são mancos”. Características do tipo Vata: • Estrutura esguia e leve; • Rapidez nas atividades; • Fome e digestão irregulares; • Sono leve e interrompido; 33 • Entusiasmo, vivacidade e imaginação; • Excitabilidade, mudanças de humor; • Rapidez ao adquirir novas informações e esquecê-las; • Tendência á preocupação; • Tendência á prisão de ventre; • Cansaço fácil, tendência á exaustão; • Energia mental e física em explosões repentinas. Fonte: (CHOPRA, 2011). Comportamentos típicos de Vata: • Ter fome a qualquer hora do dia e da noite; • Gostar de animação e mudanças constantes; • Adormecer em horários diferentes, pular refeições e manter hábitos irregulares em geral; • Ter boa digestão em um dia e má no seguinte; • Ter explosões de emoção que duram pouco e são logo esquecidas; • Andar com passos rápidos. Fonte: (CHOPRA, 2011). 7.1.2 Pitta O termo pitta deriva do radical tap, que pode significar santapa (produzir calor), daha (queimar, digerir, metabolizar) ou aisvarya (dotar com elevadas atividades mentais). Em um sentido mais amplo, a função digestiva de pitta inclui todas as transformações químicas e metabólicas no corpo, e está associada aos processos que promovem a produção de calor. Pitta também governa a nossa habilidade para digerir idéias e impressões e, por isso, geralmente tem boa compreensão (LAD, 2007). Frequentemente, o termo pitta vem sendo traduzido erroneamente como bile, termo que corresponde apenas a uma fração do seu conceito. Suas principais funções consistem em governar todas as transformações ocorridas no processo vital, e todas as fases da digestão e do metabolismo (CARNEIRO, 2011). Pitta é muitas vezes visto como “fogo” dentro do corpo. O antigo texto 34 Charaka Samhita ensina que pitta atua na digestão, na produção de calor, providência cor ao sangue, visão e lustro à pele. As pessoas de temperamento pitta apresentam uma disposição para suor constantemente (TIWARI, 1998). Embora constituído predominantemente pelo elemento fogo, vale ressaltar que pitta e fogo não são a mesma coisa, pois há a presença, mesmo que singela, do elemento água (MURTHY, 2007 e TIWARI, 2003). Psicologicamente, os indivíduos pitta tem boa compreensão, são muito inteligentes e perspicazes e costumam ser bons oradores. São inclinados a sentirem ódio, raiva e ciúme (LAD, 2007). Características do tipo Pitta • Constituição mediana; • Vigor e resistência mediana; • Temperamento empreendedor, gosto por desafios; • Inteligência aguçada; • Muita fome, sede e boa digestão; • Tendência á raiva e á irritabilidade sob tensão; • Pele clara, rosada e frequentemente sardenta; • Aversão ao sol e ao calor; • Discurso preciso e articulado; • Aversão a pular refeições; • Cabelo louro; castanho claro ou ruivo (tons avermelhados). Fonte: (CHOPRA, 2011). Comportamentos típicos de Pitta • Sentir fome voraz diante do atraso das refeições; • Consultar frequentemente o relógio e ressentir-se pela perda de tempo; • Acordar durante a noite sentindo calor e sede; • Assumir o controle de uma situação ou sentir que deveria; • Perceber que ás vezes é considerado exigente, sarcástico ou crítico demais; • Andar com passos determinados. Fonte: (CHOPRA, 2011). 35 7.1.3 Kapha O termo Kapha deriva da palavra sânscrita shlish que significa “aquele que mantém as coisas juntas, coerente”. Kapha provê força, estabilidade e resistência em todos os aspectos. É descrito como a forma anabólica presente no corpo que governa a formação de neuropeptídios, revestimento estomacal e todas as novas células e tecidos do corpo (TIWARI, 1998). A água e a terra formam o dosha Kapha, a energia da estrutura e da lubrificação. Este dosha é responsável tanto por manter as células unidas quanto por fornecer o líquido necessário para a sobrevivência delas e dos sistemas corporais. Kapha lubrifica as articulações, umedece a pele, ajuda na cicatrização de ferimentos e faz a manutenção da imunidade, dando força, vigor e estabilidade ao organismo (CHOPRA, 2011). O dosha kapha auxilia na coesão e adesão dos diferentes órgãos do corpo. O catarro (fleuma) que é eliminado pelos distúrbios respiratórios também é chamado de kapha, embora seja diferente: é apenas uma excreção e não auxilia nas atividades fisiológicas do corpo, como faz o dosha kapha (CARNEIRO, 2011). Psicologicamente costumam ser pessoas tolerantes, calmas, compreensivas e amorosas. No entanto, em desequilíbrio podem mostrar traços de cobiça, apego, inveja e possessividade. Sua capacidade de compreensão costuma ser lenta, mas depois que entende alguma coisa essa informação fica registrada (LAD, 2007). Características do tipo Kapha • Constituição forte e sólida, grande energia e resistência física; • Energia constante, gestos vagarosos e graciosos; • Personalidade calma e tranquila: lentidão para se enfurecer; • Pele fria, macia, grossa, pálida e geralmente oleosa; • Lentidão para adquirir novas informações, mas boa memória; • Tendência á obesidade; • Digestão vagarosa, fome moderada; • Afeição, tolerância, generosidade; • Tendência á possessividade, complacência. Fonte: (CHOPRA, 2011). 36 Comportamentos típicos de Kapha • Meditar muito tempo antes de tomar uma decisão; • Acordar vagarosamente, ficar na cama e precisar de café ao levantar; • Ser feliz com a situação existente e preservá-la; • Conciliar os que estão por perto; • Respeitar os sentimentos dos outros, mesmo sentindo profunda empatia; • Buscar consolo emocional nos alimentos; • Ter movimentos graciosos, olhos brilhantes e andar leve mesmo com excesso de peso. Fonte: (CHOPRA, 2011). 7.2 Localização dos Doshas Os três doshas permeiam todo o organismo, mas se concentram em maior quantidade naqueles tecidos em que são particularmente exigidos. Determinados órgãos e componentes do corpo geralmente armazenam concentrações maiores de cada um dos doshas. Quando se divide o corpo em três partes – superior, mediana e inferior – dizse que kapha localiza-se principalmente na parte superior, acima da região correspondente ao coração, incluindo o tórax e pulmão. Pitta situa-se preferencialmente na parte intermediária, entre a região do coração e a linha do umbigo, incluindo o abdômen e órgãos digestivos. Vatta localiza-se predominantemente na parte inferior do corpo, correspondente á região situada abaixo do umbigo, incluindo o intestino grosso, a região pélvica e bexiga urinária (LAD, 2007). Na infância, o elemento Kapha predomina, já que esse é o período de maior crescimento físico. No período adulto, o metabolismo e o elemento Pitta são mais aparentes, pois nesse estágio o corpo está mais amadurecido e estável. Na terceira idade, Vata fica mais evidente que os demais, pois o corpo começa a deteriorar-se (TIRTHA, 1998). 37 8 OS DOSHAS E SEUS PRINCIPAIS DESEQUILÍBRIOS O desequilíbrio de um dosha pode ocorrer por diversos fatores como mudanças climáticas, mudanças das estações do ano, localização geográfica em que o indivíduo se encontra, idade, tipo de alimentação, distúrbios emocionais, entre outros fatores da nossa existência. Estes fatores externos podem aumentar ou diminuir qualquer um dos princípios vitais em diferentes graus. A constituição básica do indivíduo permanece inalterada durante a sua vida, pois está geneticamente determinada. A combinação de elementos presentes por ocasião do nascimento permanece constante. No entanto, a combinação dos elementos que governam as contínuas mudanças fisiopatológicas do corpo alterase, como resposta ás mudanças do ambiente (LAD, 2007). . Modos de agravação de vata: • Situações de preocupação, ansiedade, medo e tensão nervosa; • Exercícios físicos ou sustentação de pesos excessivos, corridas; • Jejum prolongado; • Noites não dormidas; • Climas frios e secos, exposição excessiva a ambientes e ventos frios; • Permanência na água fria por muito tempo; • Ingestão de alimentos de sabor picante, adstringente e amargo, alimentos secos e de potência fria; • Ingestão de alimentos dessecados e grãos secos; • Ingestão de alimentos em horários irregulares; • Ingestão de bebidas e alimentos gelados; • Atividade sexual excessiva; • Quedas e traumatismos, pressões e ferimentos no corpo; • Viagens longas; • Supressão de necessidades fisiológicas (urinar, defecar, dormir). Fonte: (CARNEIRO, 2009) 38 Modos de agravação de pitta • Situações de raiva, sofrimento profundo, pesar, medo, esforços excessivos; • Jejum e ingestão de alimentos que conduzam á formação de ácido no estômago; • Climas quentes e secos, exposição excessiva ao calor; • Pitta se agrava durante a atividade sexual; • Ingestão de alimentos de sabor picante, ácido, salgado, e azedo, alimentos leves e de potência quente; • Ingestão de óleo de gergelim, carnes vermelhas, peixes, preparações alcoólicas e frutas ácidas; • No verão; • Durante a digestão. Fonte: (CARNEIRO, 2009) Modos de agravação de kapha • Ato de dormir durante o dia; • Falta de exercícios físicos, preguiça; • Ingestão de alimentos de sabor doce, ácido e salgado, alimentos untuosos, pesados e de potência fria; • Climas frios e úmidos, exposição excessiva ao frio e a água fria; • Alimentos que obstruem os canais de circulação; • Ingestão de coalhadas, leite, derivados de cana-de-açúcar, carnes de animais aquáticos e pantaneiros, gorduras e frutas doces; • Ingestão excessiva de comida, • Agrava-se especialmente no clima frio do inverno, na primavera, no início da manhã e início da noite; • Imediatamente após a ingestão da refeição. Fonte: (CARNEIRO, 2009) 39 8.1 Os sintomas da agravação Um dos principais métodos que o naturólogo pode utilizar para diagnosticar qual dosha está agravado é a observação dos sinais e sintomas que as suas agravações provocam no corpo. Cada dosha tem os seus próprios sintomas quando está agravado, aumentado ou deficiente. A palavra dosha, como citado anteriormente no estudo, tem também o significado de toxina, pois quando em desequilíbrio, eles se tornam toxinas que acabam causando desequilíbrios físicos e mentais no indivíduo. Sintomas de agravação de Vata Em seu estado normal, vata protege o corpo, promovendo entusiasmo, ímpeto e iniciativa, produzindo a expiração e inspiração, a fala e todas as atividades do corpo e da mente, além de ser o começo e o fim dos impulsos de evacuar, urinar, etc. Como o líder dos doshas, mantém todos os tecidos e os principais componentes do corpo funcionando normal e adequadamente (LAD, 2007). Em seu estado de desequilíbrio ou agravação, vata pode produzir muitos sintomas patológicos que denunciam a necessidade de se reequilibrá-lo. Os Principais são: secura excessiva do corpo (pele, cabelos), ressecamento e constipação intestinal, flatulência e distensão abdominal, perda de peso, dores no corpo, dificuldade nas articulações ou perda de movimentos, rigidez articular, tremores, astenia, fraqueza, perda de energia, dilatação, dor cortante, perda dos sentidos, perda das funções sensoriais, fala desconexa, dor contínua, sensação de esmagamento, contrações, espasmos, zumbido nos ouvidos, sede excessiva, rouquidão, cavitações, palpitações, arritmia cardíaca, curvaturas, arqueamento em espiral, gosto adstringente na boca. Do ponto de vista mental ou psicológico, observam-se ansiedade, inquietação, medos, preocupação excessiva, fobias, astenia mental, insônia e timidez (CARNEIRO, 2009). Sintomas de agravação de Pitta Em seu estado normal, pitta responde pela digestão, pela conservação da temperatura do corpo, pela visão, sensações de fome e sede, maciez da pele, coragem, calor e elasticidade do corpo. 40 Quando em desequilíbrio, pode gerar sensação de queimação em diversas partes do corpo (pele, estômago, intestino, uretra etc.). Pode manifestar também manchas avermelhadas, ondas de calor, aumento da pressão arterial, hemorragias, digestão excessivamente rápida, fome aumentada, secreções e excreções de cor amarelada ou avermelhada, ulcerações, transpiração excessiva, umidade, exsudação, putrefação (gangrena), debilidade, desmaio, toxidez, gosto ácido e amargo na boca, coloração em geral amarelada ou avermelhada. No aspecto psicológico ou emocional, pode gerar irritabilidade exagerada e reações como ira, raiva, cólera, agitação psíquica e motora (CARNEIRO, 2009) Sintomas da agravação de Kapha Em seu estado normal, kapha confere estabilidade, lubrificação, firmeza nas articulações, capacidade de resistir ou conter as emoções. Quando em desequilíbrio, os efeitos patológicos podem ser obesidade, acúmulo de secreções em vias respiratórias e digestivas, flacidez nas partes do corpo, dispneia, tosse, excesso de sono, oleosidade da pele e do suor, formação de tumores (em casos mais graves), sensações de prurido, de frio e de peso, obstrução dos canais, perda de movimento, indigestão, lentidão digestiva, letargia, indolência, secreções e excreções com coloração branca, experiência de paladar doce e salgado. No aspecto psicológico ou emocional, kapha agravado pode provocar depressão, falta de iniciativa, preguiça, apego excessivo e resistência a mudanças e transformações (CARNEIRO, 2009). 41 9 TRATAMENTOS 9.1 Dietas alimentares Somos resultado daquilo que comemos. Os alimentos têm a dupla função de nutrir e desintoxicar o organismo. Segundo Edde (2002), Na terapêutica baseada na Medicina Ayurvedica, que tem um olhar atento sobre o indivíduo doente e sua saúde e foca não somente a doença, mas também todos os aspectos que a envolvem, as dietas representam um papel central e, muitas vezes, definidoras do curso do tratamento. A ação dos alimentos no organismo humano é um processo absolutamente individual. A finalidade última do organismo é atingir a plenitude, a realização completa. Cada uma de suas partes deve funcionar da melhor maneira possível para que o espírito possa crescer, evoluir e expressar-se em toda a sua totalidade. Aliados, o corpo perfeito e o espírito sadio apresentam maiores condições de receber a energia cósmica, permitindo o seu fluxo normal (BONARDI, 1981). O corpo – morada do espírito – é contudo bastante sensível, e se não se souber empregar adequadamente suas energias intrínsecas, elas deixarão de fluir livremente, ocasionando doenças (BRENNAN, 2008). Antigamente, o homem se servia com maior constância de alimentos em estado natural. Com o processo tecnológico, sobretudo depois da 1ª Guerra Mundial, começou-se no entanto a se supervalorizar os alimentos “puros” (farinha e açúcares brancos, sal comum, etc.), assim como aqueles ricos em proteínas e as gorduras animais. Na dieta alimentar de todos os dias passaram a predominar os pães e massas brancas, as batatas cozidas e sem cascas, os doces concentrados e os produtos industriais carregados de conservantes e estabilizantes, em detrimento das verduras, frutas, cereais e vegetais frescos (GONZALEZ, 2009). Como consequência dessas profundas alterações nos hábitos alimentares, acompanhadas ou precedidas por mudanças do modo de vida em geral, não poucas foram poucas as doenças e dores crônicas que principiaram a se manifestar, sendo observadas com atenção por médicos e especialistas de diversas áreas. Em decorrência desses problemas e do interesse crescente que passaram a despertar, 42 surgiu o estudo da alimentação em bases científicas, visto que empiricamente existia já há muitos séculos, e o próprio Hipócrates teria dito em seu tempo: “Que teu alimento seja o teu medicamento” Na dietética Ayurvedica, os alimentos ou medicamentos são divididos de acordo com suas propriedades, da seguinte forma: • Rasas: São sabores presentes nas substâncias terapêuticas ; • Gunas: São as qualidades físicas das substâncias; • Virya: É a potência de ação da substância; • Vipaka: É caracterizado como o efeito pós digestivo, ou os sabores que emergem após a digestão; • Prabhava: São as ações específicas e individuais de algumas substâncias medicamentosas. Na teoria ayurvédica, os sabores são divididos em seis (doce, ácido, salgado, picante, amargo e adstringente) e são formados com base nos cinco grandes elementos, que são o ponto de partida para o estudo das qualidades e propriedades dos alimentos, como demonstra a tabela abaixo: Tabela 4 – A formação dos sabores com base nos cinco grandes elementos. Mahabhutas Rasas Terra + Água Doce (Madhura) Fogo + Terra Ácido (Amla) Água + Fogo Salgado (Lavana) Fogo + Ar Picante (Katu) Éter + Ar Amargo (Tikta) Terra + Ar Adstringente (Kashaya) Fonte: (CARNEIRO, 2009). 9.1.1 As características dos seis sabores É muito raro encontrar uma substância que tenha apenas um sabor, pois cada substância é composta por diversos elementos, sendo muito natural que através de várias permutações e combinações dos cinco grandes elementos, diferentes 43 sabores sejam produzidos e contidos nas substâncias. O que define o sabor de uma substância é o grau de predominância de certos sabores. As principais características dos seis sabores são: • Sabor doce (Madhura rasa): é percebido por sua aderência á mucosa da boca quando entra em contato com ela, promovendo uma sensação de prazer ao corpo e conforto aos órgãos dos sentidos; • Sabor ácido (Amla rasa): por promover salivação, esse sabor enche de água a boca. Provoca arrepios, formigamento nos dentes e leva a pessoa a fechar os olhos e as sobrancelhas; • Sabor salgado (Lavana rasa): provoca mais umidade na boca, aumenta a salivação e promove a sensação de queimação nas bochechas e na garganta. • Sabor picante (Katu rasa): excita (estimula) o topo da língua, causa irritação, leva á eliminação de secreção dos olhos, nariz, boca e causa a sensação de queimação nas gengivas. • Sabor amargo (Tikta rasa): limpa a boca e elimina a ação dos órgãos dos sentidos (torna impossível a percepção dos outros sabores); • Sabor adstringente (Kashaya rasa): inativa a língua, diminuindo a capacidade de percepção do paladar e causando dificuldade de passagem através da garganta. Fonte: (CARNEIRO, 2009); (LAD, 2007). 9.1.2 As ações dos sabores Segundo Carneiro (2009), as principais ações dos sabores são: • Sabor doce: é benéfico para os tecidos, cabelos e órgãos dos sentidos, auxilia na vitalidade do corpo, pode aumentar a quantidade de leite materno e em casos de fratura de ossos, auxilia na união das estruturas. Geralmente, não é facilmente digerido e causa letargia ao corpo. Auxilia nas atividades cotidianas, pois promove mais energia ao corpo. É untuoso, alivia pitta e vata, 44 porém seu uso excessivo costuma provocar doenças originadas do acúmulo de gorduras e de kapha, como obesidade, dispepsia e diabetes. • Sabor ácido: Este sabor é conhecido por estimular a atividade digestiva. É untuoso, tem potência quente e costuma ser benéfico para o coração. É frio ao tato, reconfortante e costuma também produzir sensação de saciedade. Em excesso, agrava os doshas pitta e kapha, além de poder causar lentidão no corpo, perda da força, vertigens, pruridos, palidez, edemas, sede e até febre. • Sabor salgado: Auxilia na limpeza dos canais e poros obstruídos do corpo, potencializa a atividade digestiva, lubrifica, aumenta a sudorese, aumenta o paladar e pode causar lacerações e erupções. Quando utilizado em excesso, promove agravação do dosha vata, e pode também provocar calvice, sede, afecções na pele, além de em alguns casos intoxicar e diminuir as forças do corpo. • Sabor amargo: É de potência fria e de fácil digestão. Auxilia no combate á anorexia e no combate a parasitas (bactérias e vermes intestinais), trata afecções na pele, diminui a sensação de sede e auxilia na desintoxicação do corpo, em náuseas, febres e sensações de queimação. Alivia os doshas pitta e kapha, auxilia na redução da gordura corporal, pode causar secura e ressecamento. Usado em excesso pode originar desequilíbrio no dosha vata. • Sabor picante: Este sabor pode auxiliar no tratamento das afecções da garganta, edemas e outros distúrbios da pele. Auxilia a reduzir o inchaço das úlceras, aumenta a fome por ser digestivo, ajuda na eliminação das toxinas e alivia o aumento do dosha kapha. Quando utilizado em excesso, pode causar sede, depleção do sémen e das forças do corpo, além de desmaios, tremores e dores musculares. • Sabor adstringente: O sabor adstringente é de potência fria e costuma ser de difícil digestão. Ele alivia o aumento de pitta e kapha, ajuda a purificar o sangue, auxilia na cicatrização das úlceras, tende a tornar lenta a digestão dos alimentos, absorve água do trato digestivo causando obstipação intestinal, pode provocar secura e remover excessivamente as gorduras da pele. Quando utilizado em excesso, pode causar acúmulo de alimentos não digeridos, flatulência, sede, perda da vitalidade e constipação intestinal. 45 9.1.3 Os alimentos e os doshas De acordo com as propriedades e potenciais de ação dos alimentos, o Ayurveda classifica-os quanto á potência (virya), ás qualidades (gunas), aos sabores (rasas) e quanto á ação sobre os doshas. Quanto à potência, os alimentos podem ser de potência fria ou quente. Quanto ás qualidades, eles podem ser leves ou pesados, untuosos (oleosos) ou secos, agudos ou letárgicos. Com respeito aos seis sabores, os alimentos podem conter um ou mais deles, No que diz respeito á ação sobre os doshas, os alimentos podem ser agravadores ou pacificadores destes, ou ainda ter ações sobre os três doshas ao mesmo tempo. Segundo Carneiro (2009), a ação dos alimentos sobre nosso corpo e nossa fisiologia deve ser explicada de acordo com as características de cada alimento. Desta forma, os alimentos de potência quente agravam o dosha quente (pitta) e reduzem ou pacificam os doshas frios (vata e kapha). De modo oposto, os alimentos de potência fria pacificam o dosha quente e agravam os doshas frios. Quanto ás qualidades, os alimentos leves, secos e agudos agravam vata e pitta, doshas de qualidades semelhantes, e pacificam kapha, que tem qualidades opostas. Os alimentos pesados, untuosos e letárgicos agravam kapha, dosha de qualidades idênticas, e pacificam vata e pitta, que têm qualidades contrárias. Ainda de acordo com Carneiro (2009), quanto aos sabores, os alimentos de sabor doce, ácido e salgado pacificam vata e agravam kapha; os de sabores picante, amargo e adstringente fazem o contrário: agravam vata e pacificam kapha. Já os alimentos de sabor doce, amargo e adstringente pacificam pitta, enquanto os picantes, ácidos e salgados o agravam. A dieta ayurvédica deve ser escolhida para seguir a constituição individual. Quando se compreende a constituição do indivíduo, e a relação desta constituição com as diversas qualidades dos alimentos, é possível determinar uma dieta adequada (LAD, 2007). Ao fazer uma indicação terapêutica de alimentação para equilíbrio dos doshas que estão em estado de agravamento, o naturólogo, após observar cuidadosamente a constituição (prakriti) e identificar o desequilíbrio (vikriti), deve levar em consideração as indicações contidas nas tabelas das páginas seguintes. 46 9.1.4 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha Vata. Na tabela abaixo, está descrita a relação dos alimentos e condimentos que atum pacificando o dosha vata. Tabela 5 – Alimentos que pacificam vata Adoçantes: Açúcar mascavo, mel, rapadura, frutose, estévia. Carnes vermelhas, carnes brancas, ovos, peixes de água doce, búfalo, pato, frango Alimentos de origem animal: e peru (partes escuras). Salmão, sardinha, frutos do mar, camarão e atum. Leite de amêndoas, suco de Aloe, néctar de pêssego natural, suco de cenoura, leite Bebidas não alcoólicas: de soja quente e condimentado, leite de vaca fervido com canela, suco de manga, suco natural de frutas vermelhas, chá de gengibre e Chai. Apenas Bebidas com teor alcoólico: doses preparações terapêuticas fermentadas naturais de do Ayurveda (Ásvas ou Arista), feitas com ervas indicadas para vata. Amêndoas, Castanhas: avelãs, castanha-do-pará, castanha-de-cajú, coco, nozes, noz preta, noz-de-macadâmia, noz-pecâ, pinha e pistache (todas com moderação). Arroz integral, arroz bem cozido, aveia Cereais: cozida, milho cozido, quinua cozida e trigo integral. Alimentos cozidos, mornos e úmidos; de sabor doce, ácido ou salgado. Alimentos Diversos: frescos, preparados na hora, alimentos orgânicos. Tahini e pão essênio. 47 Frutas doces e frutas ácidas em geral são boas para ameixas vata. Abacate, abacaxi, (frescas), amoras, bananas, cerejas, coco, damasco (fresco e doce), Frutas: figo, framboesa, laranja, limão maçã (cozida), mamão, manga, melão, pêssego, tâmara e uvas. Todas as frutas cozidas são indicadas. Feijão azuki, feijão mung, lentilhas (vermelhas e pretas). Soja (tofu), missô Grãos: (sopa de soja), leite de soja quente e condimentado com temperos indicados para vata. Leite de vaca integral ou leite de cabra, sempre morno e separado das refeições; soro de leite. Coalhada caseira, iogurte Laticínios: natural diluído e preparado com especiarias (Lassi). Ghee, nata, manteiga de leite. Queijo cottage ou ricota, queijo de cabra. Óleos: Azeites, óleos em geral (especialmente de gergelim e rícino). Gergelim, mostarda, girassol, abóbora, Sementes: linhaça e semente de aipo. Halawa (doce de gergelim) e tahine. Alecrim, alga marinha, assafétida, canela, cardamomo, cebola coentro (sementes Temperos e condimentos: e alho cozidos, e folhas frescas), cominho, cravo-da-índia, cúrcuma (açafrão em pequenas quantidades), anis, fenogrego, funcho, gengibre fresco, gergelim com sal, pimenta preta, pimenta cumari, pimenta da Jamaica e sal marinho. 48 Vegetais cozidos al dente: abóbora verde (abobrinha), abóbora, agrião, alho poró, alho, aspargos, azeitonas pretas, batata doce, beterraba, cará, cebola (cozida), cenoura, Verduras e legumes (cozidos): couve-flor, ervilha cozida, espinafre, feijão verde, inhame, mandioca, mostarda, nabo, pepino, pimentão verde, quiabo, rabanete, repolho, tomate cozido (ocasionalmente), vagem. Quanto ás verduras folhosas, essas só devem ser consumidas por vata quando regadas com azeite e de preferência passadas ao vapor. Fonte: (CARNEIRO, 2009). Em contraponto a tabela acima, segue abaixo a tabela detalhada dos alimentos que agravam o dosha vata. Tabela 6 – Alimentos que aumentam vata. Adoçantes: Açúcar branco. Carnes Alimentos de origem animal: secas, envelhecidas ou em conserva. Carne de cordeiro, carneiro, cervo, porco, coelho e veado. Chá preto, chá mate, refrigerantes em geral, café, achocolatados, chás gelados Bebidas não alcoólicas: ou estimulantes. Suco de maçã, bebidas lácteas geladas e industrializadas e sucos feitos de frutas que agravam vata. Bebidas alcoólicas: Em geral, todas agravam vata. Castanhas: Castanhas envelhecidas ou ressecadas. Milho seco, farinha de milho, cevada, farinha de aveia, centeio, farinha de Cereais: centeio, farinha de trigo refinada, paniço, massas refinadas, polenta, bolinho de 49 arroz, centeio, soja (seca), farinhas de Cereais: cereais, granola seca crua, tapioca, cuscuz, biscoitos e bolachas salgadas. Diversos: Alimentos gelados em geral, alimentos secos, leves e ásperos. Maçã verde, maçãs cruas, caqui com predomínio do sabor adstringente, goiaba, melão que não que não esteja bem doce ou maduro ou melancia, romã. Evitar Frutas: frutas secas, frutas ainda imaturas e frutas adstringentes. Evitar também comer ao natural frutas leves e secas, como pera, frutas vermelhas, kiwi, lima, figo (seco), ameixa (seca), uva passa, amora verde, tâmara seca. Feijões secos em geral: feijão preto, feijão fradinho, feijão comum, feijão verde seco, Grãos: feijão branco, feijão mulatinho. Grão de bico, lentilha, ervilha seca, farinha de soja, grãos secos em geral, farelo de soja, feijão soja (seco). Leite em pó (de vaca ou de cabra). Queijos curados, duros ou envelhecidos. Laticínios: Iogurtes industrializados ou naturais gelados com ou iogurtes frutas. Margarinas. Temperos: Pimentas vermelhas, temperos picantes em excesso e açafrão em excesso. Os alimentos de sabor picante, amargo ou adstringente e os vegetais, hortaliças e folhas cruas em geral aumentam vata. Verduras e legumes: Brócolis, aipo, pimentão, couve, berinjela, moranga, cogumelos, batata-inglesa, alcachofra, azeitonas verdes, berinjela (crua), brotos (crus), cebola (crua), couve- 50 de-bruxelas, couve-flor (crua), couve- rábano, ervilhas secas, espinafre cru, folhas de beterraba, folhas de dente-deVerduras e legumes: leão, folhas de nabo, folhas verdes em geral, nabo. Pimentas vermelhas, rabanete (cru), raiz de bardana, repolho (cru) e tomate em excesso. Fonte: (CARNEIRO, 2009). 9.1.5 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha Pitta. Na tabela abaixo, segue e relação dos alimentos que pacificam o dosha Pitta: Tabela 7 – Alimentos que pacificam pitta Adoçantes: Estévia natural, frutose natural e açúcar mascavo fino. Carnes brancas: coelho, frango (partes brancas), peru (partes brancas), peixe de Alimentos de origem animal: escamas, peixe de água doce. Clara de ovo. Carne de búfalo, cervo, camarão (fresco e em pequena quantidade). Água de coco, suco de uva doce, de manga, de aloe vera e maçã. Sucos verdes feitos com as frutas e verduras Bebidas não alcoólicas: permitidas para pitta. Chás amargos e não tão quentes. Suco de damasco, suco de frutas doces, néctar de pêssego, suco de pera, suco de romã, suco de ameixa, leite de arroz e leite de soja. Bebidas com teor alcoólico: Todas agravam pitta Amêndoas, coco e castanha-do-pará em Castanhas: pequena quantidade. 51 Arroz branco, arroz basmati, aveia cozida, Cereais: cevada cozida, trigo cozido. secos, cuscuz, biscoito e Cereais bolachas integrais, granola, farelo de aveia, farelo de trigo, massas integrais, bolinhos de arroz, pão essênio e tapioca. Alimentos frios, frescos, puros e naturais; Diversos: alimentos orgânicos; alimentos de sabor amargo, doce e adstringente. Frutas doces e adstringentes em geral são boas para pitta. Abacate, abacaxi doce, ameixa doce, ameixa seca, bananas, cereja fresca, coco, damasco doce, figo Frutas: (fresco), frutas vermelhas doces, goiaba, laranja doce, laranja lima, maçã, mamão, manga (madura), melancia, melão, pera, pêssego, romã doce, tâmara, uvas doces (vermelha, preta e roxa) e uvas passas. Feijão-comum, feijão mung, feijão branco, feijão mulatinho, feijão-de-corda, feijão azuki, feijão preto, grão-de-bico, ervilha, Grãos: lentilha (marrom e vermelha), feijão-desoja, tofu, farinha de soja, leite de soja, soja em pó. Leite de vaca ou de cabra (sempre levemente mornos ou com ervas indicadas para pitta), ghee, queijo fresco (minas, Laticínios: frescal), queijo de leite de cabra (macio, sem sal), ricota, manteiga de leite sem sal (com moderação). Coalhada caseira fresca, diluída com água e temperada com ervas indicadas – lassi. Óleo de coco, de soja e de girassol. Azeite Óleos: de oliva, ghee e óleo de prímula. 52 Sementes: De abóbora e girassol. Todas as especiarias alcalinas, de potência fria ou que criam frescor: Alhoporó (cozido, em pequena quantidade), baunilha, Temperos e condimentos: folhas de canela (pequena quantidade), cardamomo, casca de laranja ralada, cebola cozida, coentro fresco, cominho (fresco), endro, erva-doce (anis), funcho, gengibre fresco (pequena quantidade), hortelã e salsa. Vegetais doces, amargos e adstringentes em geral. Abobrinha, abóbora, agrião, aipo, alcachofra, alface, almeirão, aspargos, azeitonas pretas, batatas doce e inglesa, beterraba (cozida), brócolis, brotos e germinados em geral, cebola Verduras e legumes: cozida, cenoura (cozida), chuchu, cogumelos, couve, couve-flor, dente de leão, ervilha, espinafre (folhas cozidas), folhas verdes em geral (de preferência amargas), nabo japonês, pepino, pimentão verde, quiabo, rabanete (cozido) e repolho. Fonte: (CARNEIRO, 2009). E como complemento, os alimentos que agravam o estado do dosha pitta: Tabela 8 – Alimentos que aumentam pitta Adoçantes: Rapadura, mel, melado Carnes vermelhas, carneiro, cordeiro, peixes de couro, peixes marinhos (salmão, Alimentos de origem animal: sardinha, atum), frutos do mar, gema de ovos, frango, pato e peru (parte escura). 53 Café, bebidas com cafeína, limonada, suco de tomate, achocolatados. Suco de frutas vermelhas (de sabor ácido), suco de Bebidas não alcoólicas: cenoura, cereja, amora, laranja, mamão, abacaxi, sucos de sabor ácido em geral. Chás gelados, bebidas geladas em geral, bebidas gasosas. Sopa de missô e sucos feitos de frutas que agravam o dosha pitta. Bebidas alcoólicas: Todas agravam pitta Amendoim, Castanhas: avelã, castanha-de-cajú, macadâmia, noz pecã, noz preta, nozes, pinha e pistache. Arroz Cereais: integral, aveia seca, centeio, milhete, milho, pães com fermento, paniço, quinua e trigo-sarraceno. Diversos: Cerveja, café, vinho e chocolate. Frutas de sabor ácido. Abacaxi ácido, ameixa, amora, banana, caqui, damasco, framboesa, frutas vermelhas ácidas, kiwi, Frutas: laranja, limão, maçã verde, mamão comum, mamão papaya, manga (imatura), mexerica, morango, pêssego (ácido), tamarindo e uvas (ácidas). Grãos: Laticínios: Lentilhas, amendoim e derivados de soja. Queijos, leite ácidas, iogurte fermentado, com industrializados, creme de frutas, manteigas leite azedo, coalhadas iogurtes salgadas, queijos envelhecidos e amarelos, soro de leite. Óleo de gergelim e de milho. Óleo de Óleos: açafrão. Sementes: Gergelim. Tahine 54 Condimentos picantes, ácidos e fermentados em geral. Açafrão, alecrim, alho poró (cru), assafétida, catchup, cebola crua, cebolinha, cravo-da-índia, estragão, feno-grego, gengibre (seco), Temperos e condimentos: limão, maionese, manjerona, molho de soja, mostarda, noz moscada, páprica, picles em geral, pimentas em geral (todas), raiz forte, sal (em excesso), sálvia, semente de mostarda, sementes de papoula, tomilho e vinagres. Vegetais de sabor ácido, salgado e picante em geral agravam pitta. Azeitonas verdes, cenoura (crua), espinafre cru, Verduras e legumes: folha de beterraba crua, folhas de mostarda cruas, folhas de nabo cruas, nabo, pimentão, rabanete, rúcula e tomate. Fonte: (CARNEIRO, 2009) 9.1.6 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha Kapha. Na tabela a seguir, está descrita a relação dos alimentos e condimentos que atuam pacificando o dosha kapha: Tabela 9 – Alimentos que pacificam Kapha Mel puro e natural. Estévia natural. Sucos de frutas concentrados. O mel não deve Adoçantes: ser cozido, pois o calor o transforma em uma substância difícil de ser digerida pelo corpo. Peru, frango, coelho (partes brancas), Alimentos de origem animal: cervo, frutos do mar, peixes de escamas, camarão. Clara de ovos cozida. 55 Suco de Aloe vera. Suco de cenoura, suco de uva, suco de pera, romã, ameixa, maçã, damasco, pêssego, frutas vermelhas e amora. Chá verde, chá Bebidas não alcoólicas: branco, chá vermelho e chá preto com especiarias; chás quentes e estimulantes. Café sem açúcar. Sucos verdes de vegetais. Leite de soja (com temperos picantes). Caldo de vegetais com temperos picantes, sem óleo e com pouco sal. Vinho tinto seco de boa qualidade, no máximo uma taça pequena duas vezes ao Bebidas alcoólicas: dia. Aristas e ásavas preparadas com ervas indicadas para kapha, usados em doses terapêuticas. Castanhas: Amêndoas (descascadas e moídas). Todos os cereais em geral, secos ou hidratados, desde que usados com pouco sal. Aveia seca, farelo de aveia, cevada, centeio, paniço, milho, milhete, pipoca ou cuscuz (sem sal ou manteiga). Bolachas e Cereais: biscoitos leves e secos, desde que sejam pouco salgados. Granola, pão essênio, farelo de trigo. Pequena quantidade de arroz selvagem ou basmati, tapioca, trigosarraceno. Alimentos de sabor picante, amargo e Diversos: adstringente; alimentos leves e secos. Alimentos orgânicos e naturais. Água mineral com gás e café. Frutas secas e adstringentes em geral são boas para kapha. Ameixa seca, amora, Frutas: caqui, cereja, damasco, figo seco, framboesa, frutas vermelhas, limão, maçã, 56 purê de maçã, morango, pera, pêssego, Frutas: romã, uva-passa. Ervilhas, feijão-azuki, feijão preto, lentilha, Grãos: missô, leite de soja, proteína texturizada de soja (carne de soja). Leite de cabra em pequenas quantidades. Leite de vaca, somente em pequena quantidade quando o dosha kapha estiver em harmonia, sempre quente e ferver Laticínios: antes com gengibre e/ou açafrão. Iogurte caseiro diluído e temperado com as ervas permitidas para kapha (leitelho, lassi). Queijo cottage de cabra. O mínimo possível; apenas pequenas quantidades de azeite de oliva cru ou mínimas quantidades de óleo de girassol, Óleos: de milho ou de mostarda. Óleo de alho, óleo de salmão e óleo de linhaça são medicinais para kapha, porém em doses terapêuticas. Sementes: De abóbora, girassol, linhaça, mostarda e papoula. Açafrão (cúrcuma), alecrim, alfavaca, alho, assafétida, canela, cardamomo, casca de laranja ralada, cebola, cebolinha, coentro (sementes ou folhas), cominho, cravo-daíndia, endro, erva doce (anis), estragão, funcho, Temperos e condimentos: gengibre, hortelã, louro, manjericão, manjerona, menta, mostarda (sem vinagre), noz moscada, orégano, páprica, pimenta cumari, pimenta da Jamaica, pimenta caiena, pimenta do reino, pimenta malagueta, pimenta verde, raiz forte, salsa, sálvia, tomilho. 57 Verduras de sabor amargo, adstringente ou picante em geral são boas para kapha. Abobrinha, agrião, aipo, alcachofra, alho, alho Verduras e legumes: poró, aspargos, batata branca, berinjela, brócolis, brotos de trigo, brotos e germinados em geral, cebola, cenoura, chuchu, cogumelos, couve, couve-de- bruxelas, couve-flor, espinafre, folhas em geral (folhas de beterraba, de coentro, de dente-de-leão e de nabo), grãos de mostarda, milho, nabo sueco, pimentão, rabanete, repolho, salsa, tomate (cozido) e vagem. Fonte: (CARNEIRO, 2009). E por fim, a relação dos alimentos, bebidas e condimentos que possuem a ação de agravar o dosha Kapha: Tabela 10 – Alimentos que aumentam Kapha. Adoçantes: Rapadura, açúcares, sorvetes, achocolatados, xaropes e melado. Carnes vermelhas (bovino, búfalo, suíno, carneiro e cordeiro), peixe de couro, peixe Alimentos de origem animal: de água salgada (salmão, sardinha, atum). Partes escuras das carnes de frango, peru e pato. Achocolatados e café com açúcar ou com leite; refrigerantes. Bebidas lácteas em geral, laticínios gelados, leite de soja gelado, leite de vaca, sucos ácidos em Bebidas não alcoólicas: geral. Bebidas gasosas e geladas em geral. Sopa de missô, leite de arroz, suco de tomate. Sucos feitos de frutas que agravam o dosha kapha. 58 Bebidas alcoólicas: Cerveja, bebidas fortes, vinho doce. Castanhas e nozes especialmente Castanhas: em geral, amendoim, avelã, castanha-de-cajú, castanha-do-pará, coco, noz de macadâmia, noz pecã, noz preta, nozes, pinhão e pistache. Arroz (integral ou branco), aveia cozida, Cereais: quinua, trigo novo. Macarrão e massas em geral. Pães com fermento, bolos de arroz. Diversos: Excesso de bebidas alcoólicas. Frutas de sabor doce ou ácido, frutas de textura Frutas: abacaxi, fresco, oleosa ou ameixa, kiwi, pesada. banana, laranjas, Abacate, coco, limão, figo mamão, manga, melancia, melão, tâmara e uva. Feijão-roxo, feijão-comum, feijão mung, Grãos: lentilha preta, feijão-de-soja, grão-de-bico, amendoim. Farinha de soja, soja em pó. Ghee, leite frio, coalhada, iogurtes, queijos e manteigas em geral. Sorvetes, soro de Laticínios: leite puro, queijos em geral, creme de leite. Excesso de óleos em geral. Óleo de Óleos: gergelim, azeite de oliva cozido ou frito, canola e soja. Sementes: Gergelim. Tahine Temperos e condimentos: Catchup, chocolate, lima, limão, maionese, molho de soja, picles, sal e vinagre. Vegetais ácidos ou suculentos. Vegetais de guna pesada e fria. Azeitonas verdes Verduras e legumes: ou pretas, batata-doce, cará, inhame, mandioca, pepino, quiabo, tomate cru. Fonte: (CARNEIRO, 2009) 59 9.2 Fitoterapia A arte de tratar através do uso de plantas medicinais é uma técnica muito antiga: estudiosos consideram que desde a existência do ser humano, o uso de plantas medicinais era empregado visando a manutenção e recuperação da saúde. No Egito, o papiro de Ebers (1500 AC) continha formulações complexas e a descrição de plantas como babosa, hortelã e mirra (FERRO, 2006, FETROW; AVILA, 2000). De todos os métodos da medicina natural a fitoterapia é sem dúvida o mais antigo. Dele já lançava mão o homem pré- histórico, que aprendeu, como os animais, a distinguir as plantas comestíveis daquelas que podiam ajudá-lo a sanar seus desconfortos e desequilíbrios (ANTÔNIO, 1998). As informações relacionadas ás plantas e suas utilizações curativas, foram repassadas de forma oral entre as gerações, e aos poucos este conhecimento foi sendo enriquecido com a introdução contínua de novos conhecimentos e formas de aplicação e utilização, que foram adquiridos através da experimentação prática guiada principalmente pela intuição. Na antiguidade, chineses, egípcios, hindus, gregos e romanos já dispunham de informações mais detalhadas sobre as ervas medicinais, pois com o tempo elas acabaram sendo classificadas e catalogadas, de acordo com critérios que levavam em conta tanto sua forma, cor, sabor, aroma, e em alguns casos, suas ligações com os astros (ANTÔNIO, 1998). Com a evolução da científica e o aperfeiçoamento das pesquisas e instrumentos de análise, as plantas medicinais começaram a ser pesquisadas e estudadas do ponto de vista de químico, para identificar sua composição, procurando-se isolar seus princípios ativos para verificar que efeitos eles exerciam quando entravam em contato com o organismo animal e humano (WANG, 2007). Conforme dados da OMS (1978), oitenta por cento da população mundial utiliza plantas medicinais em benefício da saúde. No Brasil, existe a utilização tradicional por parte dos índios, com sua Medicina Indígena Tradicional e o uso da população geral. Além disso, o Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, mostrando-se uma terapêutica em expansão, necessitando consolidar o conhecimento tradicional e o científico para a evolução da terapêutica (HELLMAN, WEDEKIN, 2008). 60 Segundo Ferro (2006), a fitoterapia é a utilização dos princípios ativos extraídos das plantas medicinais, sem o uso de substâncias ativas isoladas, com aplicações internas e externas, na forma de chás, cápsulas, tinturas, cataplasmas e emplastros. Na fitoterapia ayurvédica não é diferente. As preparações podem ser feitas de diversas formas. Existe uma infinidade muito grande de plantas, e cada uma, com diversos efeitos e funções sobre os sistemas do organismo. De acordo com Edde (2002), na fitoterapia ayurvédica o conhecimento apenas das propriedades terapêuticas de uma planta não é o suficiente, pois é necessário conhecer todos os aspectos dela, como suas propriedades, sua energia, seu sabor, sua preparação correta, a dosagem eficaz, sua ação sobre os doshas, entre outros aspectos. O naturólogo possui um conhecimento prático e científico da fitoterapia, e desta forma, está habilitado a fazer a análise de cada planta, da forma de atuação no organismo e assim, uma indicação de forma a reestabelecer o equilíbrio físico e energético de seu interagente. 9.2.1 Preparações para uso interno: São as preparações usadas para ingestão por via oral. Quando se utilizam plantas medicinais por via oral, o cálculo da dose deve ser feito cuidadosamente para evitar a superdosagem e suas consequências negativas. Existem várias maneiras de se preparar as plantas medicinais para uso por via oral. Neste estudo, serão abordadas duas delas: a infusão e a decocção. Infusão: A infusão é o tradicional chá que as pessoas costumam preparar em casa. A preparação é feita com a colocação de água fervente num recipiente onde estão as plantas medicinais; depois espera-se de 5 a 10 minutos. Em geral, utilizase uma xícara, que tem cerca de 150 ml. O infuso (chá) é então bebido diretamente (BOTSARIS, 2008). Decocção: A decocção é o processo de cozimento das plantas medicinais. A preparação é feita com a colocação das plantas em uma panela adequada (com revestimento ou de material não-metálico), e com água suficiente para cobrir as 61 plantas, deixando-as sob fogo brando por 15 a 20 minutos. Neste período, a decocção não pode ferver. Ás vezes pode ser necessário colocar a decocção em banho-maria para evitar a fervura que, caso ocorra, degradará os princípios ativos das plantas, prejudicando assim sua ação. Ao fim do cozimento, o decocto (líquido de cozimento das plantas) deve ser coado e bebido logo em seguida (BOTSARIS, 2008). De acordo com informações encontradas nas literaturas de Carneiro (2009) e Lad (2007) está descrito adiante uma tabela com 15 plantas medicinais, suas ações e indicações segundo o ayurveda, para que o naturólogo possa identificar a utilização da fitoterapia ayurvédica como forma de tratamento. Tabela 11- Plantas Medicinais e suas utilizações no Ayurveda. Nome Popular: Açafrão Nome Científico: Curcuma longa L.* Sânscrito: Haridra Partes Utilizadas: Tubérculos (rizoma, bulbo) Preparações e doses: Infusão: 2 a 3 g do pó seco da raiz em 100 ml de água fervente. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Decocção: 3 a 4 g da raiz fresca picada ou 2 a 3 g do pó da raiz seca para 100 ml de água. Tomar 100 ml 2 a 3 vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: amargo, adstringente e picante. Virya: quente Vipaka: picante Ação nos doshas: Pacifica Kapha e em excesso aumenta pitta e vata. Ações: Digestiva, anti-inflamatória, estimulante, antialérgica e cicatrizante. 62 Indicações: Distúrbios respiratórios, digestão fraca, baixa imunidade e má circulação. Contraindicações: Contraindicado na gestação. Nome Popular: Alcaçuz Nome Científico: Glycyrrhiza glabra L. Sânscrito: Yashti-madhu Partes Utilizadas: Raiz. Preparações e doses: Decocção: 2 a 3 g de pó da raiz em 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: doce e amargo Virya: fria Vipaka: doce Ação nos doshas: Pacifica vata e pitta e aumenta kapha. Ações: Tônico, expectorante, digestivo, laxativo suave. Indicações: Inflamações das vias aéreas, expectorante, coadjuvante no tratamento de úlceras, gastrites e hiperacidez estomacal. É contraindicado no período gestacional, Contraindicações: bem como para indivíduos com retenção de líquidos, hipertensos ou que estejam fazendo uso de corticosteroides. Nome Popular: Canela Nome Científico: Cinnamomum zeylanicum Blume. 63 Sânscrito: Twak, dalchini Partes Utilizadas: Casca e folhas Preparações e doses: Infusão: 2 a 3 g da casca para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Decocção: 2 g (casca) ou 3 g (folhas) para 100 ml de água, de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: picante, doce e adstringente Virya: quente. Vipaka: doce Ação nos doshas: Pacifica vata e kapha e aumenta pitta. Ações: Carminativa, digestiva, antidiarréica, ação tônica do coração, expectorante, diurética e analgésica. Indicações: Auxilia nos desconfortos gastrointestinais, tonifica o agni, fortalece o coração, tem efeito analgésico sobre as dores articulares e é um ótimo coadjuvante no tratamento das afecções das vias aéreas. Contraindicações: Contraindicado durante gestacional. Nome Popular: Cavalinha Nome Científico: Equisentum arvense L. Partes Utilizadas: Partes aéreas o período 64 Preparações e doses: Infusão ou decocção: 2 a 3 g para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a cinco vezes ao dia (200 a 500 ml ao dia). Características ayurvédicas: Rasa: amargo e doce Virya: fria Vipaka: picante Ação nos doshas: Pacifica pitta e kapha e aumenta vata. Ações: Diurética, remineralizante, cicatrizante, anti-inflamatória e hemostática. Indicações: Auxilia na depuração do sangue e das vias urinárias. Tem efeito diurético e auxilia no tratamento de cálculos renais, edemas, cistites e hemorragia uterina. Contraindicações: Contraindicado durante o período gestacional. Nome Popular: Erva de Santa Maria Nome científico: Chenopodium ambrosioides L. Sânscrito: Sugandha vastuka Partes Utilizadas: Folhas e sementes. Preparações e doses: Infusão: 2 a 3 g (erva seca) para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: picante e amargo Virya: quente Vipaka: picante Ação nos doshas: Pacifica os três doshas. 65 Ações: Anti-helmíntica, antiespasmódica e emenagoga. Estimula agni (fogo digestivo) e elimina ama (toxinas). Indicações: Seu uso é indicado para o tratamento de verminoses e nos acúmulos de ama (toxinas) nos intestinos e no sangue. Também é indicado como laxativo leve e coadjuvante no tratamento de hemorroidas. Contraindicações: Contraindicado durante o período gestacional. Nome Popular: Feno-grego Nome Científico: Trigonella foenum-graceum L. Sânscrito: Methi, medika. Partes Utilizadas: Sementes, vagens, folhas e sumidades floridas. Preparações e doses: Decocção: de 3 a 5 g da planta para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: amargo, picante, doce Virya: quente Vipaka: picante Ação nos doshas: Pacifica vata e kapha, e aumenta pitta. Ações: Tônico, revitalizante e imunizante. Tem ação carminativa, aperiente, emenagoga, expectorante e diurética. 66 Indicações: Indicado para organismos debilitados e convalescentes. tratamentos Coadjuvante de ácido úrico nos elevado, diabetes, cólicas intestinais e flatulências e afecções respiratórias. Contraindicações: Seu uso é contraindicado no período gestacional. Nome Popular: Funcho Nome Científico: Foeniculum vulgare Miller. Sânscrito: Shatapushpa Partes Utilizadas: Frutos (sementes) Preparações e doses: Infusões: de 3 a 5 g para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Decocções: de 2 a 3 g para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: doce e picante Virya: levemente fria Vipaka: doce Ação nos doshas: Pacifica o sistema tridosha, principalmente vata e pitta. Ações: Ação digestiva, carminativa, tônica do estômago, antiespasmódica, anti- helmíntica, diurética e levemente laxativa. Indicações: Auxilia a fortalecer a digestão fraca e fortalecer agni sem agravar pitta. Alivia cólicas e desconfortos abdominais. Tem ação diurética e por sua ação no sistema 67 nervoso é indicado como leve calmante. Contraindicações: Seu uso é contraindicado durante o período gestacional. Nome Popular: Gengibre Nome Científico: Zingiber Officinalle Roscoe. Sânscrito: Ardrak (fresco) ou Shunti (seco) Partes Utilizadas: Rizomas Preparações e doses: Infusão: 2 a 3 g (raiz seca) ou 3 a 5 g (raiz fresca) para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: picante e doce Virya: quente Vipaka: doce Ação nos doshas: Pacifica vata e kapha, mas não agrava pitta. Ações: Ação anti-inflamatória, analgésica, imunizante, anti-reumática, estimulante, diaforética, expectorante, digestiva, carminativa e antiemética. Indicações: Disfunções no sistema respiratório como resfriados, Tratamento gripes de e dispepsias, bronquites. náuseas, vômitos, dores abdominais, inapetência, tratamento de artrites e dores musculares. Contraindicações: Seu uso é contraindicado durante o período gestacional. 68 Nome Popular: Hibisco Nome Científico: Hibiscus rosa-sinensis L. Sânscrito: Japapushpa Partes Utilizadas: Flores Preparações e doses: Infusão (fria ou quente): 2 a 3 g (flores secas) para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: adstringente e doce Virya: fria Vipaka: doce Ação nos doshas: Pacifica pitta e kapha e aumenta vata. Ações: Hemostática, anti-hemorrágica, levemente sedativa e antiespasmódica. Indicações: Cólicas menstruais, principalmente em fluxos excessivos, hemorragias uterinas, leucorréias e cistites. É indicado também como coadjuvante no tratamento de hipertensão arterial com predomínio de sintomas pitta. Contraindicações: Seu uso é contraindicado durante o período gestacional. Nome Popular: Hortelã Nome Científico: Mentha x pipperita L. Sânscrito: Phudina Partes Utilizadas: Toda a planta, inclusive as sumidades floridas. 69 Preparações e doses: Infusão: de 2 a 3 g de folhas secas ou 4 a 5 g de folhas frescas para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: picante Virya: levemente fria Vipaka: picante Ação nos doshas: Pacifica pitta e kapha e em excesso aumenta vata. Ações: Ação digestiva, tônica, carminativa, vermífuga, broncodilatadora e estimulante. Indicações: Indicado nas atonias digestivas, gases, dores estomacais, disfunções hepáticas, tratamento contra parasitas intestinais e distúrbios respiratórios em geral. Contraindicações: Contraindicado durante o período gestacional. Nome Popular: Melão de São Caetano Nome Científico: Momordica charantia L. Sânscrito: Karella Partes Utilizadas: Folhas, frutos e sementes Preparações e doses: Infusão: de 2 a 3 g (planta seca) ou 3 a 5 g (planta fresca) para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: amargo e picante Virya: quente Vipaka: picante 70 Ação nos doshas: pacifica kapha e pitta. Ações: Estimulante de agni (fogo digestivo), desobstruente, hipoglicemiante, antiviral e imunomoduladora. Indicações: É indicado como digestivo, tônico hepático e imunológico para o tratamento de diabetes tipo II. Auxilia no tratamento de parasitas intestinais, obstipação, auxilia também no tratamento de doenças respiratórias, leucorréia e dismenorreias. Contraindicações: É contraindicado durante o período gestacional. Nome Popular: Noz Moscada Nome Científico: Myristica fragrans Houttuyn Sânscrito: Jatiphala Partes Utilizadas: Fruto (semente) Preparações e doses: Infusão: de 1 a 2 g do pó do fruto para 100 ml de água. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: picante Virya: quente Vipaka: picante Ação nos doshas: Pacifica vata e kapha e aumenta pitta. Ações: Produz efeito digestivo, carminativo, adstringente, estimulante, anti-diarréico e sedativo. 71 Indicações: Indicada nos casos de digestão fraca, má absorção intestinal, flatulência, diarréias e disenterias. É útil também para o tratamento de insônia, tensões nervosas e cefaléias. Contraindicações: Contraindicado durante o período gestacional. Nome Popular: Pata de Vaca Nome Científico: Bauhinia variegata L. Sânscrito: Kanchanara Partes Utilizadas: Folhas, casca e flores. Preparações e doses: Decocção: de 2 a 3 g (partes secas) ou 4 a 6 g (partes frescas) para 100 ml de água. Tomar de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: adstringente Virya: fria Vipaka: picante Ação nos doshas: Pacifica pitta e kapha. Ações: Hipoglicemiante, diurética e redutora dos níveis de colesterol. Possui também ação anti-inflamatória, cicatrizante, antisséptica e antialérgica. Indicações: Indicado tratamentos como de coadjuvante diabetes tipo nos II e obesidade. Indicado também para tratar eczemas alérgicos e dermatites, auxiliando em estados alérgicos em geral. 72 Contraindicações: Contraindicado durante o período gestacional. Nome Popular: Quebra-pedra Nome Científico: Phyllanthus niruri L. Sânscrito: Bhumiamalaki Partes Utilizadas: Folhas e raízes Preparações e doses: Infusão ou decocção: 20 a 30 g (planta seca) ou 40 a 50 g (planta fresca) para 1 litro de água. Tomar de 200 a 400 ml de três a quatro vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: amargo Virya: fria Vipaka: doce Ação nos doshas: Pacifica pitta e kapha. Em excesso pode aumentar vata. Ações: Antiespasmódica, analgésica, diurética, hipoglicemiante, broncodilatadora e hepatoprotetora. Indicações: Indicado pra tratar distúrbios hepáticos, litíase urinária, cistites e cálculos renais. Indicado também como coadjuvante no tratamento de diabetes do tipo II por sua ação hipoglicemiante, além de ser útil nos tratamentos de bronquites e asma brônquica. Contraindicações: Contraindicado gestacional. durante o período 73 Nome Popular: Romã Nome Científico: Punica granatum L. Sânscrito: Dadima Partes Utilizadas: Fruto (casca, sementes ou polpa) e casca da raiz. Preparações e doses: Decocção: de 2 a 3 g (parte seca) ou 4 a 5 g (parte fresca) para 100 ml. Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia. Características ayurvédicas: Rasa: adstringente, amargo (casca do fruto e da raiz), doce e ácido (fruto e sementes) Virya: fria Vipaka: doce Ação nos doshas: A casca do fruto, as sementes ou a casca da raiz aliviam os três doshas. O fruto e as sementes da variedade mais ácida podem agravar pitta. Ações: Adstringente, cicatrizante, anti-inflamatória e hemostática, além de tônico digestivo. Indicações: Por ser adstringente e protetora das mucosas é indicada para tratar dores de garganta, amigdalites úlceras gástricas e colites. Auxilia também no tratamento de bronquites e leucorréias. Contraindicações: Contraindicado gestacional. Fonte: (CARNEIRO, 2009); (LAD, 2007). durante o período 74 9.3 Massagem Ayurvedica A massagem figura como uma das mais antigas técnicas naturais para reestabelecer o equilíbrio físico e psíquico, tendo sido empregada por diversos povos desde épocas remotas (ANTÔNIO, 1998). Na Índia, onde teve início a tradição ayurvédica, a massagem costuma ser realizada não somente por profissionais, mas também por amigos e indivíduos de uma mesma família, tornando-se parte de uma tradição familiar, tamanha a sua importância nesta cultura (VERMA, 2003). De forma geral, os benefícios da massagem oriental são: melhora da percepção e sensibilidade corporal, além de relaxamento e bem estar, pois o cuidado ofertado durante a sessão de massagem gera maior confiança e sensações de acolhimento. De forma específica a massagem ajuda na melhora da imunidade: a estimulação da pele produz ativação dos linfócitos T no organismo (MONTAGU, 1998); tem efeito calmante: o toque terapêutico diminui a ansiedade (MONTAGU, 1998). Pisani (1985) faz referência de que quando se atua sobre o sistema nervoso autônomo, acalmam-se as emoções e um dos benefícios é a reabsorção de edemas. Segundo Leduc (2000) a massagem facilita a circulação de retorno onde esta se encontrar lenta ou estagnada. Já segundo Jacquemay (2000), esta prática auxilia na reabsorção de diversas toxinas e reativa a circulação de proteínas do meio intersticial. Reduz a estafa e ajuda a aliviar os efeitos do estresse como a hipertensão, úlceras, indigestão, doenças infecciosas, distúrbios gastrointestinais, insônia, dores de cabeça, ansiedade e depressão, além da liberação de endorfinas (DOUGANS, 2001). A massagem ayurvédica, que foi desenvolvida há pelo menos 5.000 anos, tem comprovado durante este tempo sua eficácia na liberação das toxinas do corpo, no seu rejuvenescimento e no combate ao stress e agitação mental. De acordo com Cardim (1999), a massagem ayurvédica tem a possibilidade de criar durante o tratamento, um processo liberador de fluidos corporais que começa a se ativar durante a prática e passa a reequilibrar o funcionamento das células do corpo e órgãos, além de melhorar a circulação energética corporal. 75 Um dos primeiros benefícios verificados se dá na circulação sanguínea, que é ativada naturalmente. De acordo ainda com Cadim (1999), A massagem ayurvédica não fabrica células sanguíneas, mas direciona-as por todo o corpo, renovando-o intensamente. A ativação da corrente sanguínea e energética irriga os tecidos, além de produzir um efeito analgésico natural, pois o que dói, geralmente passa a doer menos. Outro fator positivo que ocorre durante o procedimento é o aumento do fluxo sanguíneo, mas sem esforço direto do coração. Desta forma, o pulso (frequência cardíaca) baixa e o coração passa a funcionar mais lentamente, proporcionando ao indivíduo um descanso natural. A massagem com óleos é uma das mais praticadas na terapia ayurvédica. O óleo faz com que a massagem seja mais flexível e profunda, além disso, o corpo quando é massageado seco, pode gerar certos desconfortos a quem recebe a prática, além de agravar o dosha vata. O óleo utilizado na massagem elimina a secura da pele e lubrifica os tecidos, o que ajuda a retardar também o processo de envelhecimento (EDDE, 2002). Alguns óleos aromáticos apresentam uma ação de equilíbrio sobre a mente e ajudam na harmonia dos três doshas. Determinados óleos ajudam também a purificar as emoções negativas e aumentam as emoções positivas, melhorando assim nossa capacidade de recepção e percepção (FRAWLEY, 2008). Segundo Verma, (2003), a massagem terapêutica ayurvédica pode ser feita não apenas para trazer benefícios físicos ao paciente, mas também, para trazer a liberação de emoções e outras impressões latentes que nos atrapalham a vida. Desta forma, na massagem é importante que o naturólogo conheça a constituição e o desequilíbrio do paciente. Existem diversos tipos de massagens na terapia ayurvédica, cada uma delas com suas próprias manobras e indicações para reestabelecer diversos desequilíbrios. Neste estudo a prática que será abordada com profundidade, será a massagem com óleo, pois além dos benefícios físicos e psicológicos descritos acima, essa massagem possui uma importante função no reequilíbrio dos doshas, principalmente vata e pitta. 76 9.3.1 Massagem para as pessoas do tipo Vata Para os indivíduos com predomínio do dosha vata, é recomendado que se realize uma massagem leve e nutritiva, pois estes indivíduos são mais sensíveis e sua estrutura óssea costuma ser mais frágil. É recomendado que se use bastante óleo. Os óleos acrescidos de ervas medicinais são importantes para este tipo de constituição. A pressão exercida deve ser sempre suave e harmonizante, e deve ser aplicada quando o paciente estiver relaxado. Recomenda-se também aquecer os óleos e ervas, que devem ser aplicados mornos ou quentes (sem, porém, ferir o paciente). Se for constatada alguma irregularidade na estrutura óssea, é importante que o terapeuta realize o procedimento com maior cuidado. É especialmente importante também massagear as sedes de vata no corpo: intestino grosso, pelve e o tronco (ATREYA, 2000). Os melhores óleos para vata são: gergelim, amêndoa, rícino e mostarda. Já os melhores óleos essenciais para utilizar nas massagens para este tipo de constituição são: sândalo, almíscar, mirra e gualtéria (ATIKNSON, 2000). 9.3.2 Massagem para as pessoas do tipo Pitta. Os indivíduos com predominância do dosha pitta geralmente precisam de uma massagem que nutra e solte os tecidos. Movimentos muito rápidos podem irritar os tipos pitta se forem aplicados em demasia. A massagem deve começar com uma técnica de harmonização, recomenda-se também que seja feita uma técnica de massagem dos tecidos mais profundos, para soltar as tensões e as impressões latentes, desde que o paciente seja bem preparado e avisado de antemão. Os óleos e ervas frias são os melhores para este tipo constitucional, e devem ser aplicados mornos no inverno e frios no verão. Usa-se uma quantidade moderada de óleo, pois a constituição pitta já é um pouco oleoso por natureza. É especialmente importante massagear o abdômen, que é a sede do humor pitta (ATREYA, 2000). Os melhores óleos para pitta são: oliva, coco, girassol e ghee. Já os melhores óleos essenciais são: sândalo, rosas, alfazema e jasmin (ATIKNSON, 2000). 77 9.3.3 Massagem para as pessoas do tipo Kapha Os indivíduos do tipo kapha precisam de um misto de técnicas de ativação e liberação. Indivíduos com predominância desta constituição precisam de muito menos óleo e, depois da massagem com óleo, deve-se aplicar pó de ervas para secar a pele e criar fricção. Com isso, o corpo e a circulação são estimulados ainda mais. Os movimentos rápidos e vigorosos são necessários e são os mais apropriados para este tipo de constituição. É nestes movimentos que se deve aplicar o óleo. É necessário que se penetre os níveis mais profundos dos tecidos, além de combater a estagnação nos sistemas orgânicos do corpo. Recomenda-se que se dê uma atenção especial ás articulações, ao peito e á região do estômago. A massagem vigorosa do plexo solar é muito boa para intensificar agni, o fogo digestivo (ATREYA, 2000). Os melhores óleos para kapha são: mostarda, girassol, milho e gergelim. Já os melhores óleos essenciais são: almíscar, cedro, mirra e eucalipto. Lembrando sempre de aplicar em pequenas quantidades e na temperatura quente ou morno, pois este dosha é oleoso e frio (ATIKNSON, 2000). 9.3.4 Massagem com oleação A massagem com oleação é realizada aplicando-se um pouco de óleo ou gordura animal na extensão corporal. Para cada tipo constitucional existem algumas qualidades de óleos vegetais e essenciais e uma quantidade determinada que deve ser aplicada, para que ao invés da harmonização, não se agrave o desequilíbrio. Quando houver a identificação da constituição do indivíduo e a identificação do eventual desequilíbrio, os procedimentos abaixo podem ser efetuados, de acordo com as particularidades e indicações específicas de cada constituição, no intuito de reequilibrar e trazer bem estar físico e psicológico. 1. A massagem com óleo deve ser iniciada na região central do corpo, entre o abdômen e o tórax. Essa região é chamada de hrdya ou plexo solar. Segundo o ayurveda, esta região é o local de manifestação do fogo corporal, ou 78 sistema de distribuição energética, e por isso, quando há o estímulo, ocorre o relaxamento instantâneo. 2. Após a primeira manobra, peça para que a pessoa se deite de costas em uma posição relaxada. Pegue um pouco de óleo e aplique suavemente com os dedos na região descrita anteriormente. Continue a massagear com delicadeza com os dedos de ambas as mãos de maneira ritmada. 3. Certifique-se de que a pessoa já esteja completamente relaxada e tente não passar tensão ou insegurança para a mesma. 4. Gradualmente, vá para a parte abdominal inferior e massageie-a bem e com suavidade. É indicado não massagear esta área casa a pessoa esteja com vontade de evacuar. 5. Continue a aplicar o óleo, pois isto não somente ajuda os dedos a deslizarem com maior facilidade, mas também penetra na pele, auxiliando a reestabelecer o dosha agravado, principalmente vata. 6. Enquanto massagear a parte abdominal, pressione suavemente com as mãos para verificar se existe alguma rigidez ou dor nas partes internas. Se houver algum desconforto causado pela pressão, isso pode indicar algum dano interno como inflamação ou constipação. 7. Massageie bem as partes abaixo do umbigo, pois trata-se da área urináriagenital. 8. Massageie a região do peito e dos ombros e depois trabalhe lentamente nos braços, um de cada vez. 9. Massageie os pulsos, polegares e articulações dos dedos. 10. Depois, comece a massagear á partir dos pés, dando maior atenção aos dedos. Segundo o ayurveda, a massagem nos dedos promove a visão. Massageie também cada espaço entre os dedos, fazendo movimentos para dentro. 11. O tornozelo deve ser massageado em todas as direções e a região acima do calcanhar deve ser especialmente atendida. 12. Enquanto massagear as pernas, trabalhe a região lateral da projeção central da fíbula. Efetue movimentos lineares de baixo para cima nesta região deslizando os dedos junto ao osso. 13. No joelho, faça os movimentos da massagem em duas direções opostas – primeiro no sentido horário, e depois, no sentido anti-horário. 79 14. Massageie bem todas as partes das coxas e use as palmas das mãos para aplicar um pouco mais de força nesta região. Massageie desta forma também a região lombar. 15. Após massagear a região lombar, peça para que o paciente se vire e massageie as costas. 16. Massageie os quadris e a parte inferior das costas acima dos quadris prestando atenção á musculatura e aplicando a pressão devida. 17. Continue a subir de ambos os lados da coluna vertebral na direção dos ombros. Massageie o pescoço com uma das mãos e tomando-o entre os seus dedos e o polegar. 18. Comece a massagear a coluna vertebral á partir da extremidade inferior. Existem três canais de energia nesta região. Um corre ao longo da coluna vertebral e representa sattva. Do lado esquerdo e direito da coluna dois canais representam tamas e rajas respectivamente. A massagem nesta região é de muita importância na terapêutica ayurvédica. 19. Massageie a base da coluna vertebral (próximo da última vértebra), primeiramente realizando movimentos circulares em ambas as direções. Prossiga lentamente para a região do pescoço. Depois comece novamente de baixo iniciando do centro. Realize movimentos da mesma maneira colocando a mão sobre cada vértebra. 20. Após finalizada a região das costas, peça ao paciente que se deite de costas mais uma vez e realize uma massagem suave com óleo sobre a testa. Aplique um pouco de óleo e coloque os dedos de ambas as mãos no meio da testa com os polegares lateralmente dispostos. Deslize-os na direção oposta ás têmporas. Repita o movimento diversas vezes. 21. Finalize a massagem e após o término, o paciente deve repousar por algum tempo e se possível, tomar uma ducha morna ou quente depois. 80 10 DISCUSSÃO O presente trabalho resume diversas literaturas conceituadas com o objetivo de incentivar o naturólogo a buscar um conhecimento mais profundo sobre a medicina ayurveda, e salientar a importância deste conhecimento, servindo como uma compilação de conceitos e podendo ser utilizada como instrumento para que ele possa inserir determinadas práticas na sua rotina de atendimentos, caso seja de sua escolha. Não se trata apenas de mostrar alguns determinados conceitos sobre esta filosofia oriental, mas também criar uma relação entre o que é aprendido durante todo o ciclo acadêmico da naturologia e relacionar este aprendizado a filosofia ayurvédica. Um dos aspectos mais interessantes da Naturologia, é que esta ciência não visa aplicar apenas uma determinada técnica ou conceito. Existe uma transdisciplinaridade de técnicas, práticas e conceitos, de diversas filosofias diferentes, mas que buscam o mesmo resultado: ver o ser humano como um ser único e complexo, entendê-lo de forma integral e assim buscar trata-lo de forma individual e integral também. Compreender a teoria milenar dos doshas pode auxiliar para que o tratamento se torne ao mesmo tempo mais amplo, em suas possibilidades, e desta forma, com maiores possibilidades de sucesso em seu objetivo, que é reestabelecer a saúde e proporcionar bem estar ao indivíduo. Á partir do momento em que o naturólogo identifica em seu paciente uma constituição, formada pela predominância de dois elementos da natureza, o entendimento do que está ocorrendo com o indivíduo pode se tornar mais claro e amplo. Uma constituição tem características e particularidades que o indivíduo que a possui carrega consigo. Desta forma, cada constituição possui comportamentos típicos e suscetibilidades. Para que o equilíbrio mental e físico desta pessoa seja preservado ou reestabelecido, é necessário que ele evite certos hábitos e condutas e cultive outros, e este é um dos motivos que fundamentam a importância do conhecimento da teoria dos doshas por parte do profissional da naturologia. Desta forma, á partir do conhecimento desta teoria, é possível que o naturólogo insira em seu atendimento aspectos que fortaleçam determinada 81 constituição que precisa ser fortalecida, e da mesma forma, permite que ele conscientize seu paciente a deixar de lado outros hábitos que o enfraquecem e são nocivos a ele, como por exemplo, o consumo de determinados alimentos. A saúde é uma responsabilidade individual. Este é um conceito muito explorado tanto na Naturologia, quanto na medicina ayurveda. O naturólogo não é o único responsável por promover saúde a seu interagente, ele apenas viabiliza meios para que isso ocorra. Desta forma, naturólogo e paciente não podem andar em direções opostas, é fundamental para o sucesso do tratamento que as práticas de ambas as partes estejam em sintonia. O naturólogo pode efetuar diversas propostas e práticas terapêuticas em seu consultório, mas se o paciente não estiver disposto a adotar hábitos saudáveis e entrar em um processo de auto-conhecimento e entendimento do seu processo de adoecimento, os resultados tendem a não ser tão satisfatórios. Exemplificando o conceito acima, sabe-se que o dosha Kapha é formado pelos elementos água e terra. Sendo assim, possui suscetibilidades decorrentes desta formação, como tendência á letargia, acúmulo de fleuma, distúrbios respiratórios, formação excessiva de muco e obesidade. O naturólogo pode tratá-lo de diversas formas com massagem, fitoterapia e orientações alimentares entre outras técnicas, mas se este paciente não deixar de consumir determinados alimentos que foram listados no trabalho, e deixar de ter certos hábitos e condutas, ele pode agravar cada dia mais seu estado, não conseguindo sair deste ciclo de acúmulos. O mesmo conceito se aplica aos outros dois doshas, vata e pitta. O naturólogo pode utilizar-se de várias práticas ayurvédicas com o intuito de reestabelecer a saúde, mas no presente estudo foram discutidas três práticas que muitas vezes já fazem parte da sua rotina de tratamento, que são: alimentação, fitoterapia e massagem, mas com os conhecimentos do ayurveda, ele pode utilizarse destas práticas analisando-as de forma diferente. Na alimentação ele pode orientar seu paciente a consumir determinados alimentos e deixar de consumir outros, o que pode tornar o tratamento mais efetivo. Na fitoterapia á partir dos conceitos ayurvédicos, ele pode analisar a planta não apenas baseado em suas características químicas e efeitos sobre o organismo, mas pode vê-la como algo mais complexo, analisando, seu sabor, sua potência, sua ação sobre os doshas, e assim, utilizar-se das plantas para promover o equilíbrio de uma forma mais direcionada para aquela constituição. 82 Nas práticas de massagem, á partir do momento em que o naturólogo identifica em seu paciente a predominância de um dosha, o ayurveda proporciona a ele a possibilidade de escolher determinados óleos, aconselha a não fazer determinados movimentos e a fazer outros, e desta forma, a massagem ganha uma nova abordagem e uma visão diferente. Diante de todas as referencias citadas ao longo do estudo, pode-se perceber que os conceitos da naturologia como ciência, e da medicina ayurveda possuem muitas semelhanças. Cada técnica que é aplicada na naturologia é de muita importância, e desta forma, em conjunto com as outras técnicas a medicina ayurveda e a sua história de mais de 5.000 anos pode agregar muitos aspectos positivos ao tratamento naturológico, e sendo aborado e aplicado de forma correta, tem a possibilidade de proporcionar resultados mais efetivos na promoção do bem estar e reequilíbrio da saúde. 83 11 CONCLUSÃO A Naturologia propicia um conhecimento profundo do indivíduo em relação a si mesmo, a seu corpo e ao complexo conjunto de fatores que formam sua estrutura física, psicológica e emocional. Desta forma, diante do processo de adoecimento, que envolve vários fatores, o naturólogo pode promover ao seu interagente uma oportunidade de auto-conhecimento e entendimento do que aquela doença ou desequilíbrio está fazendo com ele, o porquê daquele processo estar ocorrendo, criando assim uma motivação para a reconstrução da própria saúde. O resultado pode ser uma melhora generalizada, tanto no plano físico, quanto no mental, energético, social e psíquico. O resgate da sabedoria e de conceitos tão antigos, como os conceitos orientais ayurvédicos abordados neste estudo, pode ser de muita importância para o naturólogo em sua prática clínica, pois saber identificar a constituição natal do indivíduo (prakriti) e os desequilíbrios que o mesmo vem sofrendo (vikriti), auxiliam para que possa haver um tratamento mais amplo e direcionado, respeitando as particularidades do mesmo. Entender os doshas e suas particularidades, nos auxilia a entender todo um sistema complexo de que somos formados. Á partir do entendimento, é possível que se identifique o desequilíbrio, e se reestabeleça o equilíbrio através de três pilares importantes de tratamento abordados neste estudo, que são: alimentação, fitoterapia e massagem ayurvédica, aliados a outras práticas propostas pela naturologia. 84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTÔNIO, J.; CÉSAR, P.; CORDEIRO, R.; HOTOSHI, M.; MIADAIRA.; MIELNICK, N.; YWATA, C. A cura está na natureza: Medicina Natural. São Paulo: Editora Brasil, 1998. ATKISON, M. A arte da massagem indiana. São Paulo: Manole, 2000. ATREYA. Os segredos da massagem indiana. São Paulo: Pensamento, 2000. AZEVEDO, E. Trofoterapia e Nutracêutica; dietas e orientações nutricionais com base nas medicinas tradicional e complementar. Blumenau: Nova letra, 2007. BONARDI, H. Receitas da Cozinha Natural. São Paulo: Martins Fontes, 1981. BOTSARIS, A. Fitoterapia Ayurvédica e Medicina Tradicional Chinesa: diferenças e semelhanças. 3 ed. São Paulo: Vozes, 2008. BRATMAN, S. Guia Prático de Medicina Alternativa: uma avaliação realista dos métodos alternativos de cura. Rio de Janeiro: Campus: 1998. BRENNAN, B. A. Mãos de Luz: Um Guia para Cura através do Campo de Energia Humana. 24ª ed. São Paulo: Editora Pensamento, 2008. CARDIM, V. Massagem Ayurvédica: Manual Prático é teórico. 2ª ed. São Paulo: Madras, 1999. CARNEIRO, D. M. Ayurveda: saúde e longevidade na tradição milenar da Índia. Goiânia: UFG, 2009. CHOPRA, D. A cura quântica: o poder da mente e da consciência na busca da saúde integral. 42ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2005. CHOPRA, D. Saúde Perfeita: cura, rejuvenescimento e bem-estar com a medicina indiana. São Paulo: Viva livros, 2011. 85 CORTELLA, M. S. A Escola e o Conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 12ed. São Paulo: Cortez, 2008. D’ANGELO, E.; CÔRTES, J. R. Ayurveda: a ciência da longa vida. São Paulo: Madras, 2008. DAHLKE, R; DETHLEFSEN, T. A doença como caminho: Uma visão nova da cura como Ponto de Mutação em que um Mal se deixa transformar em Bem. 17ª ed. São Paulo: Cultrix, 2012. DAHLKE, R. A doença como símbolo: Pequena enciclopédia de psicossomática. 9ª ed. São Paulo: Cultrix, 2010. DE LUCA, M. Ayurveda: a cultura de bem viver. São Paulo: Cultura, 2007. DOUGANS, I.; ELLIS, S. Um guia passo a passo para a aplicação da Reflexologia. 10ª ed. São Paulo: Cultrix, 2001. EDDE, G. A medicina Ayur-védica: como tratar a si mesmo pelas terapias tradicionais da Índia. 3 ed. São Paulo: IBRASA, 2002. FERRO, D. Fitoterapia: conceitos clínicos. São Paulo: Atheneu, 2006. FETROW, C. V.; AVILA J. R. Manual de medicina alternativa para o profissional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. FRANÇA, A. C. L. Práticas de Recursos Humanos: conceitos, ferramentas e procedimentos. São Paulo: Atlas, 2010. FRAWLEY, D. Uma visão ayurvédica da mente: a cura consciente. 9ª ed. São Paulo: Editora Pensamento, 2008. GERBER, R. Um guia prático de medicina vibracional. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 2002. 86 GONZALEZ, A. P. Lugar de médico é na cozinha: Cura e saúde pela alimentação viva. 3ª ed. São Paulo: Editora Alaúde, 2009. HELLMAN, F.; WEDEKIN, L. M. O livro das interagências: estudos de casos em naturologia. Tubarão: Unisul, 2008. JACQUEMAY, D. A drenagem-vitalidade: a drenagem linfática associada á energética chinesa. São Paulo: Manole, 2000. KROEGER, M. I. B. Fatores que influem no trabalho do terapeuta natural durante o atendimento de trabalhadores com depressão. Florianópolis: UFSC, 2003. LAD, V. Ayurveda: a ciência da auto cura. 2ª ed. São Paulo: Ground, 2007. LEDUC, O.; LEDUC, A. Drenagem linfática Teoria e prática. 2º ed. São Paulo: Manole, 2000. LIMONGI-FRANÇA, A.C. Psicologia no trabalho – Psicossomática, valores e práticas organizacionais. São Paulo: Saraiva, 2008. LUZ, M. T. Racionalidades médicas e terapêuticas alternativas. Series Estudos em Saúde Coletiva. Rio de Janeiro: Instituto de Medicina Social da UERJ, 2005. MONTAGU, A. Tocar: o significado humano da pele. 5ª ed. São Paulo: Summus, 1998. MURTHY, K. R. Vaghbata´s 2007. Astanga Hrdayam. Varanasi: Chowkamba Press, PISANI, E. at. al. Psicologia Geral. 5º ed. Porto Alegre: Vozes, 1985. SILVA, A. A Naturologia no Brasil: prática médica, saberes e complexidade. In: Anais da V jornada de Investigación em Antropologia Social. Buenos Aires. SeansoICA-FFYL-UBA. ISSN 1850-1834, 2008. 87 TIRTHA, B. S. Spiritual Warrior II: Transforming Lust into Love. Largo, MD: HariNama Press, 1998. TIRTHA, B.S. Reflections on Sacred Teachings Volume II: Madhurya-Kadambini. Washington, D.C: Hari-Nama Press, 2003. TIRTHA, S. S. The Ayurveda Encyclopedia. 4ª ed. Brayville: Ayurveda Holistic Press Center Press, 2004. TIWARI, M. Ayurveda: uma vida de equilíbrio. 1 ed. Delhi: Brijbasi Art Press, 2003. VARELLA, D. M. Estudo sobre a Naturologia no Brasil e no Mundo. 2005. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Naturologia). Universidade Anhembi Morumbi. São Paulo, 2005. VERMA, V. Ayurveda: a medicina indiana que promove a saúde integral. Rio de Janeiro: Nova Era, 2003. WANG, L. Medicina China Caseira: La sabiduría tradicional puesta al servicio de la curación. Barcelona: Robin Book, 2007. ZIMMER, H. Filosofias da Índia. 3 ed. São Paulo: Palas Athena, 2005.