UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
CURSO DE NATUROLOGIA
FERNANDA DE SOUZA VENDRAME
A CONTRIBUIÇAO PARA A NATUROLOGIA DO ESTUDO DOS
DOSHAS E SEUS DESEQUILIBRIOS
São Paulo
2012
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
CURSO DE NATUROLOGIA
FERNANDA DE SOUZA VENDRAME
A CONTRIBUIÇAO PARA A NATUROLOGIA DO ESTUDO DOS
DOSHAS E SEUS DESEQUILIBRIOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito parcial para conclusão do curso
de Naturologia da Universidade Anhembi
Morumbi sob orientação da Prof.º Marcele
Souza Lima Machado e Co-orientação da Prof.ª
Ma. Luciana Auad.
São Paulo
2012
V569c
Vendrame, Fernanda de Souza
A contribuição para a naturologia do estudo dos doshas e
seus desequilíbrios / Fernanda de Souza Vendrame. – 2012.
86f: il.; 30 cm.
Orientador: Marcelle Souza Lima Machado
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Naturologia) – Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo,
2012.
Bibliografia: f.83-86.
1.
Naturologia. 2. Ayurveda. 3. Doshas. 4. Saúde. 5.
Desequilíbrios. I. Título.
CDD 615.82
FERNANDA DE SOUZA VENDRAME
A CONTRIBUIÇÃO PARA A NATUROLOGIA DO ESTUDO DOS
DOSHAS E SEUS DESEQUILÍBRIOS
Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
exigência parcial para obtenção de título de Bacharel em
Naturologia, do curso de Naturologia da Universidade Anhembi
Morumbi.
Aprovado em:
_________________________________
Profª. Marcele Souza Lima Machado
Universidade Anhembi Morumbi
_________________________________
Prof. Carlos Torro
Universidade Anhembi Morumbi
___________________________________
Profª. Ma. Michelly Eggert Paschuino
Universidade Anhembi Morumbi
São Paulo
2012
“O que for a profundeza do teu ser, assim será o teu desejo.
O que for teu desejo, assim será tua vontade.
O que for a tua vontade, assim serão teus atos.
O que forem os teus atos, assim será o teu destino”.
(Brihadaranyaka Upanishad IV, 4.5)
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por todos os dons e condições que me foram
concedidos para que eu chegasse até aqui. Por cada dia de vida, cada de dia
convivência e aprendizado e por todas as situações que fizeram com que eu me
tornasse o que sou hoje.
À minha família amada, por acreditar em mim, pelo incentivo e apoio durante
todos estes anos morando longe da casa. Aos meus pais, pelo amor incondicional e
pela educação. Á minha querida irmã Camilla, por ser minha amiga, minha
companheira, e meu espelho invertido.
Ao meu companheiro Romulo, pelo amor, pela paciência, e por me incentivar
diariamente a ter calma e não desistir dos meus objetivos.
As minhas amigas Gabi e Helo, que se tornaram irmãs durante estes anos de
curso.
Aos professores que dedicam suas vidas e seu tempo a este lindo ofício, que
é ensinar.
Aos colegas da Naturologia, pessoas tão sensíveis a amáveis, que acreditam
em um mundo diferente e melhor. Que se dedicam a aprender, a ensinar, e
principalmente, a cuidar das almas.
A todos que de alguma forma fizeram parte desta linda caminhada em direção
á minha formação, e principalmente, em direção á minha evolução.
Fernanda de Souza Vendrame
RESUMO
No desenvolvimento da história humana sempre houve a preocupação em criar
métodos de reestabelecimento e manutenção da saúde, como indica a criação de
sistemas de saúde nas diversas culturas que existem e existiram ao longo do tempo.
A Naturologia, como estudo da natureza aplicado à saúde, tem como principal
característica o uso de terapias naturais para buscar reestabelecer o equilíbrio físico,
emocional e mental do ser humano. É uma ciência que se baseia nos recursos
naturais de tratamento e tem foco na recuperação e promoção da saúde através da
visão integral do homem. É também sob esta ótica que atua a Medicina Ayurveda,
que se define como um completo sistema oriental de racionalidade médica indiana.
Dentre as definições constitutivas do homem segundo a visão do Ayurveda, está a
teoria de constituição dos doshas (vata, pitta e kapha), que são formados pelos
cinco grandes elementos (éter, ar, fogo, água e terra), que permeiam todo o
organismo humano e que são os elementos funcionais responsáveis por todos os
fenômenos físico-químicos e fisiológicos do organismo. Em desequilíbrio, os doshas
causam diversas alterações nocivas á saúde humana. Para tratar esses
desequilíbrios, o naturólogo em sua prática clínica possui três ferramentas
fundamentais para que se reestabeleça novamente o estado de normalidade. Essas
ferramentas de tratamento são: alimentação, fitoterapia e massagem ayurvédica.
Palavras-chave: Ayurveda. Desequilíbrios. Doshas. Naturologia. Saúde.
ABSTRACT
During the development of the human history there was always a concernment in
creating healing and health maintaining methods, as indicated by the creation of
health systems among the different cultures that exists and have existed over the
time. The Naturology, as a study of nature applied to healthcare, has as main feature
the use of natural therapies to seek restore the physical, emotional and mental health
balance of human beings. It is a science that relies on natural resources of treatment
and focuses on retrieval and health promotion through the vision of the whole man. It
is also in this same sight that acts the Ayurvedic medicine, which is defined as a
complete system of eastern Indian medical rationality. Among the constituent
definitions of man according to the Ayurveda’s vision, there is the theory of the
constitution of the doshas (vata, pitta and kapha), which are formed by the five great
elements (ether, air, fire, water and earth), that permeate all the entire human
organism and are the functional elements that are responsible for all the physicochemical and physiological phenomena of the body. If unbalanced, the doshas may
cause a variety of harmful alterations to the human health. To treat these
unbalances, the naturologist in their clinical practice has three fundamental tools to
reestablish again the state of normality. These treatment tools are: food, herbal and
ayurvedic massage.
Keywords: Ayurveda. Unbalances. Doshas. Naturology. Health
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Os Cinco Grandes Elementos – Pancha Mahabhutas .............................25
Tabela 2 - Propriedades e Qualidades dos Cinco Grandes Elementos.....................27
Tabela 3 - Formação e qualidades físicas dos doshas..............................................30
Tabela 4 - A formação dos sabores com base nos cinco grandes elementos.........41
Tabela 5 - Alimentos que pacificam vata...................................................................45
Tabela 6 - Alimentos que aumentam vata..................................................................47
Tabela 7 - Alimentos que pacificam pitta...................................................................49
Tabela 8 - Alimentos que aumentam pitta..................................................................51
Tabela 9 - Alimentos que pacificam kapha................................................................53
Tabela 10 - Alimentos que aumentam kapha.............................................................56
Tabela 11 – Plantas medicinais e suas utilizações no Ayurveda...............................60
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Formação dos doshas á partir dos Cinco Grandes Elementos.................29
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO.................................................................................................11
2
OBJETIVOS.....................................................................................................14
2.1
Objetivo Geral.................................................................................................14
2.2
Objetivos Específicos....................................................................................14
3
METODOLOGIA..............................................................................................15
4
NATUROLOGIA...............................................................................................16
5
FUNDAMENTOS DO AYURVEDA..................................................................20
5.1
Os oito ramos do Ayurveda..........................................................................22
6
PANCHA MAHABHUTA – OS CINCO ELEMENTOS....................................25
7
A CONSTITUIÇÃO DOS DOSHAS.................................................................28
7.1
A função dos doshas.....................................................................................30
7.1.1 Vata..................................................................................................................31
7.1.2 Pitta..................................................................................................................32
7.1.3 Kapha..............................................................................................................34
7.2
Localização dos doshas................................................................................35
8
OS DOSHAS E SEUS PRINCIPAIS DESEQUILÍBRIOS................................36
8.1
Os sintomas de agravação............................................................................38
9
TRATAMENTOS..............................................................................................40
9.1
Dietas Alimentares.........................................................................................40
9.1.1 As características dos seis sabores............................................................41
9.1.2 As ações dos sabores...................................................................................42
9.1.3 Os alimentos e os doshas.............................................................................44
9.1.4 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha vata................................45
9.1.5 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha pitta................................49
9.1.6 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha kapha.............................53
9.2
Fitoterapia.......................................................................................................58
9.2.1 Preparações para uso interno.......................................................................59
9.3
Massagem Ayurvédica...................................................................................73
9.3.1 Massagem para as pessoas de tipo vata.....................................................75
9.3.2 Massagem para as pessoas de tipo pitta.....................................................75
9.3.3 Massagem para as pessoas de tipo kapha..................................................76
9.3.4 Massagem com oleação................................................................................76
10
DISCUSSÃO....................................................................................................79
11
CONCLUSÃO..................................................................................................82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................83
12
1 INTRODUÇÃO
O modelo de Medicina praticado atualmente compreende e tem a sua prática
fundamentada na perspectiva fragmentadora do homem dividida em especialidades,
tornando mais frágil e menos abrangedora a forma do profissional da saúde de
analisar e intervir nos quadros de patologias e desequilíbrios físicos e emocionais do
ser humano, não sabendo inter-relacionar estes dois aspectos e fazendo assim, com
que haja uma dificuldade de se obter resultados e tratamentos mais amplos e
eficazes.
No desenvolvimento da história humana sempre houve a preocupação em
criar métodos de reestabelecimento e manutenção da saúde, como indica a
criação de sistemas de saúde nas diversas culturas que existem e existiram ao
longo do tempo. A tendência que o ser humano tem de buscar alternativas de
tratamento para suas doenças parece ser tão antiga quanto a sua própria existência.
Eficazes ou não, o homem sempre desempenhou esta busca através de diversas
maneiras.
Não há desmerecimento, quando analisamos todo o avanço e resultados
obtidos com a evolução na área médica e tecnológica da saúde, mas diante do
cenário atual podemos identificar que esse modelo que entende o homem em
“partes” torna-se cada vez mais ineficaz na sua totalidade. (LUZ, 1997).
Neste contexto social, de uma procura cada vez maior por tratamentos que se
preocupem não apenas com a ausência de doenças, mas também com o bem estar
integral do Ser, surge a Naturologia, uma ciência que estuda métodos naturais,
antigos, tradicionais e modernos de tratamentos, utilizando-se destes para a
prevenção de doenças, recuperação e manutenção da saúde, visando qualidade de
vida e equilíbrio do ser humano com o meio em que vive. (VARELA, 2005).
A Naturologia aplicada compreende, em seus princípios, a concepção
sistêmica da vida, que se baseia na inter-relação e interdependência de todos os
fenômenos – físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Através dessa
visão integradora, o próprio conceito de saúde depende essencialmente da relação
entre o indivíduo e suas amplas relações com o meio ambiente, em contínua
atividade e mudança, como resposta criativa do organismo aos “desafios” da vida. A
13
saúde caracteriza-se por ser um fenômeno multifatorial, que envolve todos os
aspectos interdependentes acima citados (HELLMAN, WEDEKIN, 2008).
Esta ciência de práticas e estudos do ser integral busca promover o equilíbrio
total do homem, sem fragmentações, atuando em conjunto nos corpos físico, mental,
emocional, social e sutil do interagente, pois entende-se que a saúde e o bem estar
dependem de uma interação harmônica destes aspectos, e quando essa interação
acontece, ocorre um ganho no bem estar e na qualidade de vida.
Possibilitando a integração de todos os aspectos pertinentes (biopsicossocial,
energético e espiritual) que proporcionam ao homem ser saudável, atuando de
maneira complementar as demais profissões da área da saúde, a Naturologia
possibilita resultados mais eficazes no tratamento das doenças, favorecendo o ser
humano ao atingir o bem-estar de maneira mais ampla, conforme determina a
Organização Mundial da Saúde – OMS (2002), que define saúde como um “estado
de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de
enfermidade ou invalidez”.
A visão biopsicossocial parte do princípio que o comportamento humano
ocorre de modo simultâneo nas dimensões biológica, psicológica e social, com
ênfase em um dos aspectos, mas com impacto simultâneo nas três dimensões
sempre, em qualquer situação (LIMONGI-FRANÇA, 2008).
De acordo com França (2010), a palavra biopsicossocial origina-se da
medicina psicossomática, que também propõe uma visão integral do ser humano em
contraposição á visão cartesiana que o divide em partes. Assim, toda pessoa possui
potencialidades biológicas, psicológicas, sociais e espirituais que respondem
simultaneamente, ás condições de vida, o que o torna um ser complexo e único.
Diante desta afirmação, é possível concluir que as condições de vida e tudo o
que isto envolve, reflete diretamente na saúde física e emocional do homem. Má
alimentação, exposição a agentes nocivos á saúde, falta de tempo, agentes
causadores de stress que causam reações fisiológicas diversas e nocivas á saúde
entre outros fatores, desencadeiam o que pode ser chamar de desequilíbrio ou
agravamento de um dosha, afirmação esta que será fundamentada pelas bases da
Medicina Ayurveda neste estudo.
Dentro das diversas possibilidades de tratamento oferecidas pela Naturologia,
estão alguns tratamentos da Medicina Ayurveda. A definição ayurvédica de saúde
distancia-se dos conceitos mecanicistas ou meramente técnicos que muitas vezes
14
são encontrados nas ciências materialistas. Segundo a filosofia do Ayurveda, saúde
é uma combinação de diversos aspectos vitais do ser humano; além do equilíbrio
global do organismo em seu aspecto físico, que inclui também ordenação e
harmonia mental, emocional e espiritual. Por esses motivos, o Ayurveda fundamenta
que uma pessoa saudável é aquela que apresenta equilíbrio dos princípios vitais
(Doshas), das enzimas digestivas e metabólicas (agnis), além do funcionamento
correto dos tecidos (dhatus), dos produtos secundários do metabolismo (catabólitos)
e das excretas orgânicas (malas).
Por mais que esse conceito de saúde apresente-se como um modelo distante
da realidade a ser atingida pelo ser humano, a sua contribuição para a compreensão
e identificação de como deve ser considerado um indivíduo saudável, se faz de
suma importância, por abranger aspectos pertinentes e determinantes á vida
humana e sua relação com o meio ao qual está inserido. Esse conceito introduz uma
nova perspectiva sobre a representação do que significa ser saudável, suscitando a
necessidade do profissional da área da saúde em identificar outros aspectos
intrínsecos e determinantes a saúde humana, assim como se abrir para novas
perspectivas que podem estar influenciando a sua vida (GERBER, 2002).
15
OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
O objetivo do presente estudo é fazer uma interação entre o conhecimento da
constituição física, mental e espiritual do ser humano, segundo as bases do
Ayurveda, para que o Naturólogo em sua prática clínica possa utilizar deste
conhecimento no tratamento de desequilíbrios, vendo o individuo como uma
constituição e tratando o desequilíbrio com base nas deficiências e excessos que
esta determinada constituição (prakrti) apresenta.
2.2 Objetivo Específico
•
Expor os conceitos básicos, porém fundamentais da Medicina Ayurveda para
que o Naturólogo se inteire do conhecimento e busque aplicar estes conceitos
em sua prática clínica;
•
Avaliar formas de tratamento adequadas para cada tipo de constituição
segundo o Ayurveda;
•
Apresentar com maior profundidade alguns dos muitos fundamentos que
regem a Medicina Ayurveda sobre a constituição do ser humano.
16
3 METODOLOGIA
Revisão bibliográfica de acordo com as Diretrizes e Normas para
apresentação de trabalhos acadêmicos, dissertações e teses da Universidade
Anhembi Morumbi: NBR 14724/2002, em livros e textos científicos específicos sobre
os assuntos discutidos no estudo.
17
4 NATUROLOGIA
A Naturologia caracteriza-se por ser uma ciência que visa promover, manter e
recuperar a saúde, através de métodos naturais antigos, tradicionais e modernos de
cuidado, que permitem ao ser humano um maior contato consigo mesmo,
possibilitando uma melhoria em sua qualidade de vida, harmonia e equilíbrio com ele
mesmo, com os outros e com o meio em que vive. Caracteriza-se também por ser
uma ciência que cuida do ser humano como um todo, não apenas no nível físico,
mas sim o entendendo de forma integral, considerando também os aspectos
emocional, mental e espiritual (DE LUCA, 2007).
Em um mundo no qual os fatos acontecem cada vez mais rápido e a
velocidade das informações ultrapassa os sentidos humanos, as percepções do
homem acabam por anestesiá-lo, fazendo com que ele muitas vezes perca o contato
consigo mesmo. Atualmente vive-se um momento em que muitas vezes os fatos
cotidianos obrigam-nos a estarmos voltados para fora, acompanhando o frenesi dos
acontecimentos externos, de maneira automática e inconsciente, sem que se
perceba o mundo que acontece a partir da pele para dentro do corpo (CORTELLA,
2008).
Tamanha desconexão do ser humano com sua própria natureza tem feito com
que ele fique cada vez mais distante de si, pois deixa de se escutar, de se perceber
e de ser, em troca do ter.
verifica-se a perda de valores humanos milenares nos planos da ética, da
política, da convivência social e mesmo da sexualidade, em proveito da
valorização do individualismo, do consumismo, da busca do poder sobre o
outro e do prazer imediato a qualquer preço como fontes privilegiadas de
consideração e status social (LUZ, 2005, p. 149).
Vive-se um tipo de ilusão em que quanto mais se tem, mais se cresce perante
a sociedade, porém, mais se enfraquece diante de si mesmo. Temos que dar um
basta, antes que a natureza dê. E ela costuma dar. Via saúde, nos fazendo rever
nossos valores através de uma doença, por exemplo, ou via loucura. (CORTELLA,
2008).
Esse contexto parece ser uma dos descomedimentos da sociedade atual, que
se percebe muitas vezes apenas quando chega a seu limite de sobrevivência e que
18
escuta a si mesmo quando seu corpo, já em desequilíbrio, manifesta uma série de
sinais e sintomas para que possa ser notado.
Essa desconexão do ser humano com seu próprio corpo, suas sensações e
emoções vêm gerando uma série de doenças, como a depressão, os transtornos
obsessivos compulsivos, o câncer, a hipertensão, entre muitas outras patologias que
têm aparecido cada vez com mais frequência na sociedade moderna.
Ao contrário do que se acreditava há algum tempo, os sintomas físicos que
aparecem no corpo doente não são o início da doença, mas sim um sinal de que o
corpo já está em desequilíbrio, pois qualquer doença começa bem antes de seus
sintomas aparecerem, sendo eles apenas uma conseqüência da maneira como o
indivíduo se relaciona consigo mesmo, com os outros e com o mundo a sua volta.
Sendo assim, manter-se saudável torna-se não apenas uma questão de não estar
doente, mas principalmente uma questão de ser capaz de escutar, perceber e ter
consciência acerca de si mesmo (DAHLKE, 2012).
A linguagem do corpo – da qual a linguagem dos sintomas aparece apenas
como uma dentre as importantes subformas linguísticas – tornou-se possivelmente a
mais falada de todas as línguas. Todos a falam, mesmo que nem sempre o façam
conscientemente e que muitos jamais cheguem a compreender o que lhes diz o
próprio corpo (DAHLKE, 2010).
Deste modo, a Naturologia como ciência tem grande importância, pois surge
em um momento no qual o ser humano precisa do contato consigo, aprendendo
realmente a sentir, para que cada vez mais deixe de ter e possa realmente ser. Com
esta finalidade, utiliza diversos recursos, como massoterapia, fitoterapia, terapia
floral, hidroterapia, iridologia, reflexologia, arte integrativa entre outros. Essas
técnicas não só promovem um bem-estar físico imediato, mas também melhoram as
percepções do indivíduo acerca de si e do mundo, através de sua sensibilização e
introspecção (DIAS, 2007).
A Naturologia se destaca das demais ciências da área da saúde porque
trabalha focada no equilíbrio do indivíduo, ou seja, orienta a utilização das terapias
naturais para promover o bem-estar e qualidade de vida de forma integral. Como
uma Medicina Complementar, ao invés de intervir no sentido de impedir certas
manifestações sintomáticas, as percebe como “sintomas necessários” de causas
mais profundas, que abrangem o individuo e o seu modo de vida em sua totalidade
(QUEIROZ, 2000.)
19
Esta ciência denominada Naturologia, incorpora novas tendências e novos
paradigmas como a transdisciplinariedade, a complexidade e a promoção de saúde,
que juntas buscam novas literaturas científicas e propõem uma religação de novos
saberes. A Naturologia se correlaciona com estes princípios refletindo no resgate do
ser humano, e propondo uma nova visão no campo da saúde (DIAS, 2007).
Entende-se desta forma, que as práticas desta ciência propiciam um
conhecimento mais profundo do indivíduo em relação a si mesmo, a seu corpo e ao
complexo conjunto de fatores que formam sua estrutura física, psicológica e
emocional, com uma consequente busca de maior aprendizagem e autoconhecimento diante do seu processo de adoecimento, criando em si uma
motivação para a reconstrução da própria saúde. O resultado é uma melhora
generalizada, tanto no plano físico, quanto no mental, energético, social e psíquico.
Segundo Silva (2008), uma das propostas da Naturologia é a de estabelecer
uma correlação entre os dois principais polos de diversidade cultural e de
concepções filosóficas: oriente e ocidente. Sua contribuição assemelha-se a
proposta de dialogia moraniana, princípio que permite manter a dualidade no seio da
unidade ao associar dois termos ao mesmo tempo complementares e antagônicos
como razão e emoção. O parâmetro cartesiano-racionalista separa e opõe os dois,
na Naturologia estariam em constante diálogo ajudando a estabelecer as bases para
o bem estar e qualidade de vida.
O tratamento naturológico inspira-se por diversas metas, entre elas estão:
oferecer um tratamento que seja natural, integrado e que promova o bem estar
(BRATMAN, 1998).
Segundo Kroeger (2003) existem contextos que podem tanto limitar quanto
potencializar o processo de desenvolvimento do ser humano, na sua relação com o
outro e com o mundo, na busca da felicidade e prazer de viver. O que buscamos
com
as
práticas
naturais,
é
ampliar
o
processo
de
auto-conhecimento,
desenvolvimento e bem estar no meio em que se vive.
É sob esta perspectiva que atua também a Medicina Ayurveda. Algumas das
terapias por ela utilizadas podem fazer parte da prática clínica do Naturólogo e
correm no sentido de possibilitar que, cada vez mais, o indivíduo compreenda a si
mesmo em toda a sua complexidade. Com isso, ele desenvolve a capacidade de
cuidar de si integralmente, a começar por estabelecer hábitos mais saudáveis e
20
compatíveis com sua estrutura física e emocional, entendendo sua constituição natal
(prakriti) e reduzindo significativamente a incidência de doenças e desequilíbrios.
Sem consciência de si, não há como saber o que lhe faz bem ou mal, não
possibilitando mudanças em direção ao seu próprio bem-estar e melhora da
qualidade de vida (ANTONIO, 2007).
21
5 FUNDAMENTOS DO AYURVEDA
Uma das mais marcantes características dos povos orientais antigos era a
consciência que tinham das suas potencialidades e habilidades para curar a si
mesmos, baseada no respeito á relação harmônica entre o homem e a natureza
(ANTÔNIO, 1998).
De acordo com a história da Índia antiga, a tradição do Ayurveda, iniciada
com o próprio Brahma (Criador), foi por ele repassada integralmente, por meio de
Dasa Prajapati e do deus Indra, aos sábios Bharadwaja e Atri. Esses entregaram
toda a ciência nas mãos do sábio Atreya. Por isso, o Ayurveda até Indra é uma
tradição divina, e foram os sábios Bharadwaja e Atri que a trouxeram para o plano
terreno (CARNEIRO, 2009).
Situar historicamente o Ayurveda torna-se uma tarefa bem complexa,
considerando-se os calendários utilizados na atualidade; contudo, de acordo com os
registros encontrados na literatura pesquisada, pode-se afirmar que o sábio Atreya
teria vivido por volta do ano de 1.000 a.C., o que já indica mais de três mil anos de
história. Muitas outras datas e números são encontrados na literatura e na tradição
da cultura indiana, mas poucas são fundamentadas em termos de registros
históricos válidos. Não se sabe por quanto tempo o conhecimento sobre o Ayurveda
permaneceu sendo estudado antes de ser entregue a Atreya. Por isso talvez tenha
fundamento a afirmação amplamente difusa de que o Ayurveda vem sendo praticado
na Índia há mais de cinco mil anos.
O termo Ayurveda, que define um completo sistema oriental de racionalidade
médica tradicional indiana, é composto por dois radicais: ayus e veda. Ayus significa
vida, e veda pode ser traduzido como ciência ou conhecimento. São encontradas na
literatura algumas outras traduções para esse termo, tais como ciência da vida,
ciência da longevidade ou conhecimento da vida. Definições mais complexas
fundamentam também que o termo Ayurveda pode ser definido como sendo o
conhecimento do ciclo da vida. A vida (ayus), segundo o Ayurveda, é uma
manifestação complexa e deve ser definida como a combinação de corpo (sarira),
sentidos (indriajas), mente (sattwa) e espírito (atma), que é o princípio vivente,
eterno.
22
O Ayurveda afirma que o corpo, quando desprovido dos sentidos, da mente e
do espírito, está morto e não pode ser definido como vida, pois falta-lhe o princípio
anímico ou espiritual (CARNEIRO, 2009).
O conhecimento Ayurvedico é tido também como a profunda ciência do viver
e relaciona a vida do indivíduo à vida do Universo. De acordo com ela, todo
indivíduo é, ao mesmo tempo, uma criação das energias cósmicas e um fenômeno
único, uma personalidade única. Essa ciência ensina que cada um possui uma
constituição singular, uma “maquiagem” bio-psíquica individual. Tal constituição é
criada pela energia do éter, do ar, do fogo, da água e da terra, que se integram de
diferentes maneiras no momento da concepção, formando os três doshas que
compõem os seres humanos, conhecidos como Vata, Pitta e Kapha (TIRTHA, 2007).
Uma das bases desta ciência é a compreensão das energias existentes no
corpo e na mente humana. Estas energias também existem no mundo ao nosso
redor, no tempo e no espaço. Estas energias primordiais são chamadas de doshas,
que constituem nossos corpos e estão presentes no universo físico. Na mente elas
assumem formas mais sutis e passam a se chamar prana, tejas e ojas.
Compreender a relação entre estas formas de energia é um dos caminhos para o
entendimento de como a doença física pode ser causada pela mente (doença
psicossomática) e de como as condições do corpo podem perturbar a mente, tal
como encontramos nas desordens provindas do estresse nos dias atuais
(D’ANGELO, CÔRTES, 2008).
Os princípios do Ayurveda, provêm dos Veda, particularmente do Rig e
Atharva
Veda,
que
são
textos
clássicos
indianos
que
remontam
há
aproximadamente 3.500 anos atrás (ZIMMER, 2005). Porém, são nos grandes
tratados do Ayurveda, Charaka Samhita e Sushruta Samhita, datando de 600 d.C.,
que a Medicina Ayurveda se constrói formalmente (TIWARI, 2003).
O Charaka Samhita foca na clínica médica, enquanto o Sushruta Samhita
trata da cirurgia, campo do Ayurveda que acabou por se perder no tempo (TIWARI,
2003). Há também o Ashtanga Hridayam, uma compilação mais concisa dos outros
dois. Através desses tratados, conhecido como “os três grandes”, o Ayurveda
consolidou-se de maneira científica como um sistema médico reprodutível e
confiável, deixando a aura divina para trás (TIRTHA, 2004).
Segundo Chopra (2005), o Ayurveda atingiu algo profundo na natureza. Seus
conhecimentos não são baseados na tecnologia, e sim, na sabedoria, no que se
23
pode definir como a compreensão segura do organismo humano, adquirido através
de muitos séculos.
O crescimento mundial da aceitação da filosofia e das práticas de saúde
ayurvédicas, deve-se principalmente a dois fatores importantes. O primeiro deles é
a sua história de quase cinco mil anos de tradição, que rompe as barreiras impostas
pelo tempo e pelas fronteiras culturais, sobrepondo-se a todas as transformações
sociais, políticas e científicas. O Ayurveda consegue não apenas manter-se vivo em
seu local de origem, mas também expandir-se, introduzindo-se naturalmente na vida
de pessoas dos mais diversos países e culturas.
Em segundo lugar, a difusão e aceitação mundial deste conhecimento, podem
ser atribuídas á evolução do Ayurveda nos aspectos científicos e de pesquisa, bem
como, a sua inserção no meio acadêmico, o que constitui uma vitória sobre os
preconceitos que existiam e ainda existem sobre a veracidade de teorias e eficácia
dos tratamentos. A fundamentação científica é de extrema importância para que a
ciência moderna quebre as inúmeras barreiras impostas sobre as formas de saber
tradicionais.
5.1 Os oito ramos do Ayurveda
O Ayurveda tradicional, como é descrito nos textos clássicos, está dividido em
oito ramos:
•
Kaya chikitsa, que cuida dos desequilíbrios internos do corpo;
•
Bala chikitsa, que aborda de forma especial as doenças que acometem
as crianças;
•
Graha chikitsa, que versa sobre as doenças mentais e emocionais;
•
Vurdwanga chikitsa, que enfoca doenças que se localizam na cabeça e
no pescoço;
•
Salya chikitsa, que se dedica ás doenças de natureza cirúrgica;
•
Damsta ou agada chikitsa, que trata dos aspectos relativos á
toxicologia;
24
•
Jara chikitsa ou rasayana, que se destina á promoção da longevidade e
também é chamada de ciência do rejuvenescimento;
•
Vrusha ou vajeekara chikitsa, que consagra os tônicos e revigorantes,
sendo também denominada ciência dos afrodisíacos.
Esses ramos não são divisões como as especialidades ocidentais, como a
pediatria, ginecologia ou neurologia, uma vez que o profissional com uma visão
ayurvédica não se dedica a apenas uma destas áreas, deixando as outras sete para
outros especialistas. Estas “sub-divisões” correspondem ás diferentes áreas que
formam o compêndio de conhecimento clínico do Ayurveda e, em conjunto, dão ao
profissional um entendimento geral da arte, da ciência e da constituição e dos
mecanismos funcionais do ser humano. Três destes ramos descritos acima
demandam uma explicação maior, uma vez que os demais se explicam por sua
própria definição.
O ramo denominado kaya chikitsa, geralmente traduzido nos textos clássicos
como medicina interna, é um dos mais importantes e abrangentes, pois lida com a
recuperação dos tecidos orgânicos em geral, quando danificados por disfunções ou
doenças. O Ayurveda define o kaya chikitsa como aquele que trata das doenças
causadas pela irregularidade ou suspensão do agni, ou “fogo digestivo”. Kaya em
sânscrito significa digestivo, e chikitsa, terapia. Descrevendo simplificadamente, esta
especialidade denominada de medicina interna, cuida basicamente de equilibrar o
“fogo digestivo”, que corresponde a todos os processos metabólicos do organismo.
O ramo denominado jara chikitsa, a ciência do rejuvenescimento, consiste em
uma série de técnicas e medidas aplicadas pelo Ayurveda com o objetivo de
aumentar o vigor do corpo e a resistência orgânica, conferindo mais vitalidade e
melhor função aos órgãos dos sentidos, aos tecidos do corpo, aos dentes, ossos,
pele e cabelos.
Esse ramo do Ayurveda aplica métodos que visam promover o intelecto, a
memória e as diversas funções sutis do sistema nervoso, contribuindo para uma
longevidade com saúde e bem estar. Muitas vezes o termo “rejuvenescimento” vem
sendo usado sem o devido critério, podendo passar a falsa impressão de que o
Ayurveda
promete
transformar pessoas senis
em
jovens
vigorosos.
Mas
rejuvenescimento não se trata disso, pelo menos na visão do Ayurveda. O objetivo
do jara chikitsa, consiste em retardar o processo de envelhecimento natural e
25
combater sintomas de envelhecimento precoce em pessoas muito desgastadas e
esgotadas pelo estresse físico e mental ou por doenças degenerativas (CARNEIRO,
2009).
O ramo denominado Vajeekara chikitsa, a ciência dos afrodisíacos, tem
também muitas vezes os seus conceitos mal interpretados. De acordo com o
conceito ayurvédico, afrodisíaco não significa apenas um remédio ou produto que
aumenta o desempenho sexual ou desperta o desejo. Trata-se também de uma
ciência que inclui todos os fatores responsáveis pela normalidade das funções
reprodutivas em geral.
Do sânscrito, o termo vaja significa alimento e vajee, derivado do primeiro,
significa sêmen. Assim o sêmen é descrito no Ayurveda como o último tecido
corporal, a essência final da transformação dos nutrientes. A palavra vajeekarana,
por sua vez, pode ser traduzida como os fatores que promovem a excelência do
sêmen. Desse modo, vajeekara chikitsa é a terapia que trata dos fatores
responsáveis pelo aumento da quantidade, da purificação, acumulação, nutrição e
ejaculação do sémen, quer ele esteja reduzido, contaminado ou diminuído. Contudo
esse ramo do Ayurveda pode ser aplicado também a pessoas normais que desejam
manter ou aperfeiçoar as funções do seu sistema reprodutivo (CARNEIRO, 2009).
26
6 PANCHA MAHABHUTAS - OS CINCO ELEMENTOS
Segundo o conceito ayurvédico, toda a criação constitui-se pelos cinco
elementos, incluindo os seres humanos, sendo que o mundo inanimado compõe-se
apenas por eles. Esses elementos caracterizam-se por ser aspecto mais sutil da
natureza humana, anteriores aos níveis molecular, atômico ou subatômico. Eles
simbolizam especificamente as qualidades e padrões de fluxo fundamentais do
universo. No momento em que estes cinco elementos, a base de toda a matéria,
estiverem em equilíbrio, automaticamente o indivíduo também estará em equilíbrio
(TIRTHA, 2003).
De acordo ainda com os conceitos do Ayurveda, os cinco elementos são a
base material e o fundamento de toda criação física. Os elementos formam todo e
qualquer tipo de manifestação material existente no universo e todos os corpos
animados ou inanimados. No sânscrito original, eles são denominados Pancha
mahabhutas: Pancha significa cinco; maha significa grande e bhutas pode ser
traduzido como elemento ou substância. (EDDE, 2002).
Os cinco elementos básicos da natureza segundo a filosofia ayurvédica são:
éter, ar, fogo, água e terra. Relacionam-se abaixo os seus nomes originais em
sânscrito:
Tabela 1- Os Cinco Grandes Elementos – Pancha Mahabhutas
Céu, também chamado de éter e espaço
(kha ou akasha);
Ar
(vayu);
Fogo
(agni ou tejas);
Água
(ambu, apa ou jala);
Terra
(ksma ou prithvi).
Fonte: (CARNEIRO, 2009).
Os termos em português nem sempre têm uma tradução correta e abrangente
de todas as implicações dos termos originais em sânscrito. Segundo Carneiro
(2009), a água comum não equivale ao grande elemento jala apenas. Ela em sua
totalidade, como água comum, é composta por todos os cinco grandes elementos.
Na realidade, o fator característico do grande elemento água (jaha mahabhuta) é a
27
força de coesão ou o poder de atração inerente á água comum. Similarmente, o ar
comum não é o grande elemento vayu apenas. Esse ar comum, que nós respiramos
e que forma o vento e a brisa contêm em si os outros quatro grandes elementos.
Ao realizarmos uma análise mais aprofundada sobre a teoria dos cinco
elementos, podemos entender que qualquer matéria ou manifestação material é
criada através da combinação dos cinco elementos. Há certo desconforto em
concordamos com esta teoria se pararmos para analisar: Se tudo é formado á partir
destes elementos, como podemos então ter uma variedade tão grande de matérias
com aspectos e qualidades tão distintos? Segundo esta teoria, as diferentes
qualidades (gunas) são formadas através da predominância de um ou mais
elemento, e as diferenças são marcadas pela predominância de uma ou mais
propriedades específicas de cada elemento.
Podemos exemplificar a afirmação acima fazendo uma análise sobre o metal.
Os metais, assim como as pedras contêm em sua formação o predomínio do
elemento terra (prithvi) e por isso suas características mais notáveis são: densidade,
estabilidade e dureza, ou rigidez. As flores por sua vez são formadas
predominantemente pelo elemento água (jala) e ar (vayu). Dentre as características
mais notáveis das flores, podemos destacar que são leves, maleáveis, macias e
delicadas. Características estas que são determinadas pela presença dos dois
principais elementos.
A teoria dos cinco elementos torna-se de fundamental importância pra o
entendimento do Ayurveda, pois segundo este conhecimento, os cinco elementos
estão presentes na formação dos climas e das estações, além de estarem presentes
nas matérias e manifestações materiais, inclusive nos alimentos que ingerimos e nas
composições medicamentosas que são usadas para os tratamentos dos
desequilíbrios dos doshas, que são determinados pela junção predominantemente
de dois dos cinco elementos, como será discutido mais amplamente no próximo
capítulo do presente estudo.
A tabela a seguir exemplifica que cada uma das substâncias materiais são
representações das qualidades dos elementos que as compõem.
28
Tabela 2 – Propriedades e qualidades dos cinco grandes elementos.
Mahabhuta
Propriedades específicas (gunas)
Macio, leve, frio, sutil, seco, delicado
Akasha (éter, céu ou espaço)
e volátil.
Áspero, leve, frio, sutil, seco, móvel,
Vayu (ar)
instável e insidioso.
Leve, quente, sutil, seco, picante,
Tejas (fogo)
agudo.
Macio, líquido, frio, oleoso, letárgico,
Água (jala)
escorregadio.
Duro, frio, estável, pesado, denso,
Prithvi (terra)
grosseiro, letárgico.
Fonte: (CARNEIRO, 2011).
Lad (2007) nos dá outro exemplo de que os cinco elementos básicos estão
presentes em toda matéria utilizando o elemento água: o estado sólido da Água, o
gelo, é uma manifestação do princípio Terra. O calor latente (Fogo) liquefaz o gelo,
manifestando o princípio da Água, e então, finalmente transforma-se em vapor
expressando o princípio do Ar. O vapor desaparece no Éter, ou Espaço. Assim, os
cinco elementos básicos – Éter, Ar, Fogo, Água e Terra – estão presentes em uma
única substância. Todos os cinco originaram-se na energia que flui da Consciência
Cósmica; todos os cinco estão presentes nas matérias no universo. Portanto energia
e matéria são uma só.
29
7 A CONSTITUIÇÃO DOS DOSHAS
De acordo com Carneiro (2009), é preferível que a palavra ou termo dosha
permaneça na forma original, sem ser traduzida, pois define dois aspectos em um
só conceito: pode ser traduzido com princípio vital, princípio governante ou
princípio funcional, mas também pode, em algumas circunstâncias, significar
toxinas ou impurezas. O ayurveda ensina que os doshas, quando estão em
equilíbrio ou normalidade, mantém todo o equilíbrio da fisiologia, mas, quando em
desequilíbrio ou desordem, podem destruir a saúde do indivíduo.
Ainda segundo Carneiro (2009), os cinco grandes elementos, componentes
básicos de toda a criação física, manifestam-se na fisiologia humana sob a forma
de três princípios governantes fundamentais, ou três princípios vitais – vata, pitta e
kapha – que são os elementos funcionais responsáveis por todos os fenômenos
físico-químicos e fisiológicos do organismo. O conceito de fisiologia orgânica
introduzido pelo sistema trisdosha baseia-se na concepção de que o organismo é
formado pelos elementos da natureza e, portanto, é parte integrante dela.
Neste conceito tridosha, o Ayurveda atribui ao próprio indivíduo a
responsabilidade pela condução do seu organismo no caminho do equilíbrio ou do
desequilíbrio, ou seja, no caminho da saúde ou da doença. O conhecimento deste
sistema funcional que comanda a saúde, a doença e a cura, faz com que o
indivíduo seja consciente de suas atitudes e escolhas, e desta forma, faz com que
ele se torne capaz de optar pelo equilíbrio e pela longevidade.
Os doshas governam a criação, a manutenção e a destruição dos tecidos
corporais, a eliminação dos resíduos do corpo, além de serem responsáveis pelos
fenômenos psicológicos. Assim, a constituição humana básica é determinada a partir
dos três doshas que são energias ou humores que governam o funcionamento de
todo o corpo (ANTONIO, 2007).
Chopra (2011) argumenta que o desequilíbrio dos doshas é o primeiro sinal
de que mente e corpo não estão perfeitamente coordenados. E para facilitar o
entendimento de tal afirmação ele exemplifica: É por essa razão que um poeta
brilhante como Keats morre de tuberculose aos 26 anos de idade e um gênio como
Mozart sucumbe a uma doença dos rins aos 35 anos apenas. A mente do gênio não
estava suficientemente alinhada ao corpo. Por outro lado, ao restaurarmos os
30
doshas criamos a possibilidade de manter um sistema mente-corpo sempre
equilibrado, saudável e em evolução constante.
Os três doshas se formam á partir da combinação dos cinco elementos dentro
do corpo. Vale lembrar que todos os constituintes do corpo são derivados dos cinco
elementos. Todavia, as combinações em proporções diferentes das qualidades
desses cinco elementos em um dosha específico conferem a ele as qualidades
específicas e individuais deste determinado dosha. Sendo assim, o dosha Vata é
determinado pela predominância dos elementos ar e éter; o dosha Pitta é
determinado pelo predomínio do elemento fogo, com uma participação do elemento
água, já o dosha Kapha é constituído predominantemente pelos elementos água e
terra.
Figura 1: Formação dos doshas á partir dos Cinco Grandes Elementos
Fonte: (CHOPRA, 2011).
Por ser resultado da combinação de dois elementos (ar + éter), o dosha Vata
apresenta em si as qualidades provenientes destes elementos como: leveza, frieza,
delicadeza, secura, maciez, mobilidade, insiosidade etc. Já o dosha Pitta resultando
da combinação dos elementos (fogo + determinada quantidade do elemento água),
apresenta as seguintes qualidades: leveza, sutileza, calor, secura, ardência etc. E
por fim, o dosha Kapha, sendo resultante da combinação (água + terra), apresenta
as características pertencentes a estes dois elementos como: liquidez, frieza,
oleosidade, letargia, densidade etc.
31
Tabela 3 – Formação e qualidades físicas dos doshas.
Doshas
Formação pelos Cinco
Qualidades Físicas
elementos
Maciez, leveza, frieza,
sutileza, secura,
Vata
Éter + ar
delicadeza, volatilidade,
aspereza, mobilidade,
instabilidade, insiosidade.
Leveza, calor, sutileza,
secura, ardência, leve
Pitta
Fogo + água
untuosidade, agudeza,
profunda penetração.
Maciez, liquidez, frieza,
oleosidade, letargia,
Kapha
Água + terra
viscosidade, dureza,
estabilidade, peso,
grossura, densidade etc.
Fonte: (CARNEIRO, 2011).
7.1 A função dos doshas
Os doshas apresentam suas próprias quantidades, qualidades e funções.
Quando em equilíbrio, eles contribuem para que o funcionamento do corpo seja
harmônico. No entanto, quando em desequilíbrio, tanto pelo aumento quanto pela
diminuição de suas quantidades, eles se tornam anormais, e então ocorre a
alteração de seus sítios de ação, ou seja, ocorre a alteração dos tecidos orgânicos
(dhatus). É por conta desta ação que a palavra dosha em algumas situações
também pode ser sinônimo de toxina.
O Ayurveda ensina que os doshas sempre trabalham em conjunto, formando
o sistema denominado tridosha, sendo que cada um deles governa uma área e uma
função específica da fisiologia.
32
7.1.1 Vata
O termo Vata deriva do radical va, que significa movimento e sensação de
estímulo. Sendo assim, vata é o fator responsável pelos movimentos, percepções e
sensações do corpo humano. Segundo Carneiro (2011), o termo vata é às vezes
equivocadamente traduzido como ar, vento. Algumas pessoas se enganam com
essas traduções e acreditam que os flatos ou gases acumulados nos intestinos são
o vata descrito no Ayurveda. Na realidade, os flatos são totalmente diferentes do
conceito de vayu ou vata.
Este dosha caracteriza-se por ser o mais facilmente perturbável, por sua
leveza e sutileza constitucionais. Tem como funções originar toda espécie de
ação do corpo, incluindo os movimentos das musculaturas lisa e esquelética,
movimento voluntário e involuntário, respiração, circulação sanguínea e do plasma,
fala, eliminações e secreções (evacuação, micção, menstruação, movimento do
sêmen). É responsável, também, pelo reconhecimento consciente da posição do
corpo e pelas associações (MURTHY, 2007 e TIWARI, 2003).
Vata promove um saudável equilíbrio entre o pensamento e a emoção e faz
surgir à criatividade, a atividade e a compreensão clara. Pelo fato de vata regular o
processo nervoso, o seu distúrbio pode muitas vezes ter consequências de grande
alcance (DASH,1978).
No aspecto psicológico, vata tem uma memória curta, mas sua compreensão
mental é ágil. Tem pouca força de vontade, tendência para a instabilidade mental e
pouca tolerância. Seu poder de raciocínio é muitas vezes é fraco e em desequilíbrio
podem ser pessoas nervosas, medrosas e ansiosas (TIWARI, 1998).
Vata é tido como mais poderoso dos três doshas, pois controla o
funcionamento dos outros dois (pitta e kapha). Existe um ditado védico que diz: “
Sem vata, os outros doshas são mancos”.
Características do tipo Vata:
• Estrutura esguia e leve;
• Rapidez nas atividades;
• Fome e digestão irregulares;
• Sono leve e interrompido;
33
• Entusiasmo, vivacidade e imaginação;
• Excitabilidade, mudanças de humor;
• Rapidez ao adquirir novas informações e esquecê-las;
• Tendência á preocupação;
• Tendência á prisão de ventre;
• Cansaço fácil, tendência á exaustão;
• Energia mental e física em explosões repentinas.
Fonte: (CHOPRA, 2011).
Comportamentos típicos de Vata:
• Ter fome a qualquer hora do dia e da noite;
• Gostar de animação e mudanças constantes;
• Adormecer em horários diferentes, pular refeições e manter hábitos
irregulares em geral;
• Ter boa digestão em um dia e má no seguinte;
• Ter explosões de emoção que duram pouco e são logo esquecidas;
• Andar com passos rápidos.
Fonte: (CHOPRA, 2011).
7.1.2 Pitta
O termo pitta deriva do radical tap, que pode significar santapa (produzir
calor), daha (queimar, digerir, metabolizar) ou aisvarya (dotar com elevadas
atividades mentais). Em um sentido mais amplo, a função digestiva de pitta inclui
todas as transformações químicas e metabólicas no corpo, e está associada aos
processos que promovem a produção de calor. Pitta também governa a nossa
habilidade para digerir idéias e impressões e, por isso, geralmente tem boa
compreensão (LAD, 2007).
Frequentemente, o termo pitta vem sendo traduzido erroneamente como bile,
termo que corresponde apenas a uma fração do seu conceito. Suas principais
funções consistem em governar todas as transformações ocorridas no processo
vital, e todas as fases da digestão e do metabolismo (CARNEIRO, 2011).
Pitta é muitas vezes visto como “fogo” dentro do corpo. O antigo texto
34
Charaka Samhita ensina que pitta atua na digestão, na produção de calor,
providência cor ao sangue, visão e lustro à pele. As pessoas de temperamento
pitta apresentam uma disposição para suor constantemente (TIWARI, 1998).
Embora constituído predominantemente pelo elemento fogo, vale ressaltar
que pitta e fogo não são a mesma coisa, pois há a presença, mesmo que singela,
do elemento água (MURTHY, 2007 e TIWARI, 2003).
Psicologicamente, os indivíduos pitta tem boa compreensão, são muito
inteligentes e perspicazes e costumam ser bons oradores. São inclinados a sentirem
ódio, raiva e ciúme (LAD, 2007).
Características do tipo Pitta
• Constituição mediana;
• Vigor e resistência mediana;
• Temperamento empreendedor, gosto por desafios;
• Inteligência aguçada;
• Muita fome, sede e boa digestão;
• Tendência á raiva e á irritabilidade sob tensão;
• Pele clara, rosada e frequentemente sardenta;
• Aversão ao sol e ao calor;
• Discurso preciso e articulado;
• Aversão a pular refeições;
• Cabelo louro; castanho claro ou ruivo (tons avermelhados).
Fonte: (CHOPRA, 2011).
Comportamentos típicos de Pitta
• Sentir fome voraz diante do atraso das refeições;
•
Consultar frequentemente o relógio e ressentir-se pela perda de tempo;
• Acordar durante a noite sentindo calor e sede;
• Assumir o controle de uma situação ou sentir que deveria;
• Perceber que ás vezes é considerado exigente, sarcástico ou crítico demais;
• Andar com passos determinados.
Fonte: (CHOPRA, 2011).
35
7.1.3 Kapha
O termo Kapha deriva da palavra sânscrita shlish que significa “aquele que
mantém as coisas juntas, coerente”. Kapha provê força, estabilidade e resistência
em todos os aspectos. É descrito como a forma anabólica presente no corpo que
governa a formação de neuropeptídios, revestimento estomacal e todas as novas
células e tecidos do corpo (TIWARI, 1998).
A água e a terra formam o dosha Kapha, a energia da estrutura e da
lubrificação. Este dosha é responsável tanto por manter as células unidas quanto por
fornecer o líquido necessário para a sobrevivência delas e dos sistemas corporais.
Kapha lubrifica as articulações, umedece a pele, ajuda na cicatrização de ferimentos
e faz a manutenção da imunidade, dando força, vigor e estabilidade ao organismo
(CHOPRA, 2011).
O dosha kapha auxilia na coesão e adesão dos diferentes órgãos do corpo. O
catarro (fleuma) que é eliminado pelos distúrbios respiratórios também é chamado
de kapha, embora seja diferente: é apenas uma excreção e não auxilia nas
atividades fisiológicas do corpo, como faz o dosha kapha (CARNEIRO, 2011).
Psicologicamente costumam ser pessoas tolerantes, calmas, compreensivas
e amorosas. No entanto, em desequilíbrio podem mostrar traços de cobiça, apego,
inveja e possessividade. Sua capacidade de compreensão costuma ser lenta, mas
depois que entende alguma coisa essa informação fica registrada (LAD, 2007).
Características do tipo Kapha
• Constituição forte e sólida, grande energia e resistência física;
• Energia constante, gestos vagarosos e graciosos;
• Personalidade calma e tranquila: lentidão para se enfurecer;
• Pele fria, macia, grossa, pálida e geralmente oleosa;
• Lentidão para adquirir novas informações, mas boa memória;
• Tendência á obesidade;
• Digestão vagarosa, fome moderada;
• Afeição, tolerância, generosidade;
• Tendência á possessividade, complacência.
Fonte: (CHOPRA, 2011).
36
Comportamentos típicos de Kapha
• Meditar muito tempo antes de tomar uma decisão;
• Acordar vagarosamente, ficar na cama e precisar de café ao levantar;
• Ser feliz com a situação existente e preservá-la;
• Conciliar os que estão por perto;
• Respeitar os sentimentos dos outros, mesmo sentindo profunda empatia;
• Buscar consolo emocional nos alimentos;
• Ter movimentos graciosos, olhos brilhantes e andar leve mesmo com
excesso de peso.
Fonte: (CHOPRA, 2011).
7.2 Localização dos Doshas
Os três doshas permeiam todo o organismo, mas se concentram em maior
quantidade naqueles tecidos em que são particularmente exigidos. Determinados
órgãos e componentes do corpo geralmente armazenam concentrações maiores de
cada um dos doshas.
Quando se divide o corpo em três partes – superior, mediana e inferior – dizse que kapha localiza-se principalmente na parte superior, acima da região
correspondente ao coração, incluindo o tórax e pulmão.
Pitta situa-se preferencialmente na parte intermediária, entre a região do
coração e a linha do umbigo, incluindo o abdômen e órgãos digestivos.
Vatta
localiza-se
predominantemente
na
parte
inferior
do
corpo,
correspondente á região situada abaixo do umbigo, incluindo o intestino grosso, a
região pélvica e bexiga urinária (LAD, 2007).
Na infância, o elemento Kapha predomina, já que esse é o período de maior
crescimento físico. No período adulto, o metabolismo e o elemento Pitta são mais
aparentes, pois nesse estágio o corpo está mais amadurecido e estável. Na terceira
idade, Vata fica mais evidente que os demais, pois o corpo começa a deteriorar-se
(TIRTHA, 1998).
37
8 OS DOSHAS E SEUS PRINCIPAIS DESEQUILÍBRIOS
O desequilíbrio de um dosha pode ocorrer por diversos fatores como
mudanças climáticas, mudanças das estações do ano, localização geográfica em
que o indivíduo se encontra, idade, tipo de alimentação, distúrbios emocionais, entre
outros fatores da nossa existência. Estes fatores externos podem aumentar ou
diminuir qualquer um dos princípios vitais em diferentes graus.
A constituição básica do indivíduo permanece inalterada durante a sua vida,
pois está geneticamente determinada. A combinação de elementos presentes por
ocasião do nascimento permanece constante. No entanto, a combinação dos
elementos que governam as contínuas mudanças fisiopatológicas do corpo alterase, como resposta ás mudanças do ambiente (LAD, 2007).
.
Modos de agravação de vata:
• Situações de preocupação, ansiedade, medo e tensão nervosa;
• Exercícios físicos ou sustentação de pesos excessivos, corridas;
• Jejum prolongado;
• Noites não dormidas;
• Climas frios e secos, exposição excessiva a ambientes e ventos frios;
• Permanência na água fria por muito tempo;
• Ingestão de alimentos de sabor picante, adstringente e amargo, alimentos
secos e de potência fria;
• Ingestão de alimentos dessecados e grãos secos;
• Ingestão de alimentos em horários irregulares;
• Ingestão de bebidas e alimentos gelados;
• Atividade sexual excessiva;
• Quedas e traumatismos, pressões e ferimentos no corpo;
• Viagens longas;
• Supressão de necessidades fisiológicas (urinar, defecar, dormir).
Fonte: (CARNEIRO, 2009)
38
Modos de agravação de pitta
• Situações de raiva, sofrimento profundo, pesar, medo, esforços excessivos;
• Jejum e ingestão de alimentos que conduzam á formação de ácido no
estômago;
• Climas quentes e secos, exposição excessiva ao calor;
• Pitta se agrava durante a atividade sexual;
• Ingestão de alimentos de sabor picante, ácido, salgado, e azedo, alimentos
leves e de potência quente;
• Ingestão de óleo de gergelim, carnes vermelhas, peixes, preparações
alcoólicas e frutas ácidas;
• No verão;
• Durante a digestão.
Fonte: (CARNEIRO, 2009)
Modos de agravação de kapha
• Ato de dormir durante o dia;
• Falta de exercícios físicos, preguiça;
• Ingestão de alimentos de sabor doce, ácido e salgado, alimentos untuosos,
pesados e de potência fria;
• Climas frios e úmidos, exposição excessiva ao frio e a água fria;
• Alimentos que obstruem os canais de circulação;
• Ingestão de coalhadas, leite, derivados de cana-de-açúcar, carnes de animais
aquáticos e pantaneiros, gorduras e frutas doces;
• Ingestão excessiva de comida,
• Agrava-se especialmente no clima frio do inverno, na primavera, no início da
manhã e início da noite;
• Imediatamente após a ingestão da refeição.
Fonte: (CARNEIRO, 2009)
39
8.1 Os sintomas da agravação
Um dos principais métodos que o naturólogo pode utilizar para diagnosticar
qual dosha está agravado é a observação dos sinais e sintomas que as suas
agravações provocam no corpo. Cada dosha tem os seus próprios sintomas quando
está agravado, aumentado ou deficiente. A palavra dosha, como citado
anteriormente no estudo, tem também o significado de toxina, pois quando em
desequilíbrio, eles se tornam toxinas que acabam causando desequilíbrios físicos e
mentais no indivíduo.
Sintomas de agravação de Vata
Em seu estado normal, vata protege o corpo, promovendo entusiasmo,
ímpeto e iniciativa, produzindo a expiração e inspiração, a fala e todas as
atividades do corpo e da mente, além de ser o começo e o fim dos impulsos de
evacuar, urinar, etc. Como o líder dos doshas, mantém todos os tecidos e os
principais componentes do corpo funcionando normal e adequadamente (LAD,
2007).
Em seu estado de desequilíbrio ou agravação, vata pode produzir muitos
sintomas patológicos que denunciam a necessidade de se reequilibrá-lo. Os
Principais são: secura excessiva do corpo (pele, cabelos), ressecamento e
constipação intestinal, flatulência e distensão abdominal, perda de peso, dores
no corpo, dificuldade nas articulações ou perda de movimentos, rigidez articular,
tremores, astenia, fraqueza, perda de energia, dilatação, dor cortante, perda dos
sentidos, perda das funções sensoriais, fala desconexa, dor contínua, sensação
de esmagamento, contrações, espasmos, zumbido nos ouvidos, sede excessiva,
rouquidão, cavitações, palpitações, arritmia cardíaca, curvaturas, arqueamento
em espiral, gosto adstringente na boca. Do ponto de vista mental ou psicológico,
observam-se ansiedade, inquietação, medos, preocupação excessiva, fobias,
astenia mental, insônia e timidez (CARNEIRO, 2009).
Sintomas de agravação de Pitta
Em seu estado normal, pitta responde pela digestão, pela conservação da
temperatura do corpo, pela visão, sensações de fome e sede, maciez da pele,
coragem, calor e elasticidade do corpo.
40
Quando em desequilíbrio, pode gerar sensação de queimação em diversas
partes do corpo (pele, estômago, intestino, uretra etc.). Pode manifestar também
manchas avermelhadas, ondas de calor, aumento da pressão arterial, hemorragias,
digestão excessivamente rápida, fome aumentada, secreções e excreções de cor
amarelada
ou
avermelhada,
ulcerações,
transpiração
excessiva,
umidade,
exsudação, putrefação (gangrena), debilidade, desmaio, toxidez, gosto ácido e
amargo na boca, coloração em geral amarelada ou avermelhada. No aspecto
psicológico ou emocional, pode gerar irritabilidade exagerada e reações como ira,
raiva, cólera, agitação psíquica e motora (CARNEIRO, 2009)
Sintomas da agravação de Kapha
Em seu estado normal, kapha confere estabilidade, lubrificação, firmeza nas
articulações, capacidade de resistir ou conter as emoções. Quando em desequilíbrio,
os efeitos patológicos podem ser obesidade, acúmulo de secreções em vias
respiratórias e digestivas, flacidez nas partes do corpo, dispneia, tosse, excesso de
sono, oleosidade da pele e do suor, formação de tumores (em casos mais graves),
sensações de prurido, de frio e de peso, obstrução dos canais, perda de movimento,
indigestão, lentidão digestiva, letargia, indolência, secreções e excreções com
coloração branca, experiência de paladar doce e salgado. No aspecto psicológico ou
emocional, kapha agravado pode provocar depressão, falta de iniciativa, preguiça,
apego excessivo e resistência a mudanças e transformações (CARNEIRO, 2009).
41
9 TRATAMENTOS
9.1 Dietas alimentares
Somos resultado daquilo que comemos. Os alimentos têm a dupla função de
nutrir e desintoxicar o organismo. Segundo Edde (2002), Na terapêutica baseada na
Medicina Ayurvedica, que tem um olhar atento sobre o indivíduo doente e sua saúde
e foca não somente a doença, mas também todos os aspectos que a envolvem, as
dietas representam um papel central e, muitas vezes, definidoras do curso do
tratamento. A ação dos alimentos no organismo humano é um processo
absolutamente individual.
A finalidade última do organismo é atingir a plenitude, a realização completa.
Cada uma de suas partes deve funcionar da melhor maneira possível para que o
espírito possa crescer, evoluir e expressar-se em toda a sua totalidade. Aliados, o
corpo perfeito e o espírito sadio apresentam maiores condições de receber a energia
cósmica, permitindo o seu fluxo normal (BONARDI, 1981).
O corpo – morada do espírito – é contudo bastante sensível, e se não se
souber empregar adequadamente suas energias intrínsecas, elas deixarão de fluir
livremente, ocasionando doenças (BRENNAN, 2008).
Antigamente, o homem se servia com maior constância de alimentos em
estado natural. Com o processo tecnológico, sobretudo depois da 1ª Guerra
Mundial, começou-se no entanto a se supervalorizar os alimentos “puros” (farinha e
açúcares brancos, sal comum, etc.), assim como aqueles ricos em proteínas e as
gorduras animais. Na dieta alimentar de todos os dias passaram a predominar os
pães e massas brancas, as batatas cozidas e sem cascas, os doces concentrados e
os produtos industriais carregados de conservantes e estabilizantes, em detrimento
das verduras, frutas, cereais e vegetais frescos (GONZALEZ, 2009).
Como consequência dessas profundas alterações nos hábitos alimentares,
acompanhadas ou precedidas por mudanças do modo de vida em geral, não poucas
foram poucas as doenças e dores crônicas que principiaram a se manifestar, sendo
observadas com atenção por médicos e especialistas de diversas áreas. Em
decorrência desses problemas e do interesse crescente que passaram a despertar,
42
surgiu o estudo da alimentação em bases científicas, visto que empiricamente existia
já há muitos séculos, e o próprio Hipócrates teria dito em seu tempo: “Que teu
alimento seja o teu medicamento”
Na dietética Ayurvedica, os alimentos ou medicamentos são divididos de
acordo com suas propriedades, da seguinte forma:
• Rasas: São sabores presentes nas substâncias terapêuticas ;
• Gunas: São as qualidades físicas das substâncias;
• Virya: É a potência de ação da substância;
• Vipaka: É caracterizado como o efeito pós digestivo, ou os sabores que
emergem após a digestão;
• Prabhava: São as ações específicas e individuais de algumas substâncias
medicamentosas.
Na teoria ayurvédica, os sabores são divididos em seis (doce, ácido, salgado,
picante, amargo e adstringente) e são formados com base nos cinco grandes
elementos, que são o ponto de partida para o estudo das qualidades e propriedades
dos alimentos, como demonstra a tabela abaixo:
Tabela 4 – A formação dos sabores com base nos cinco grandes elementos.
Mahabhutas
Rasas
Terra + Água
Doce (Madhura)
Fogo + Terra
Ácido (Amla)
Água + Fogo
Salgado (Lavana)
Fogo + Ar
Picante (Katu)
Éter + Ar
Amargo (Tikta)
Terra + Ar
Adstringente (Kashaya)
Fonte: (CARNEIRO, 2009).
9.1.1 As características dos seis sabores
É muito raro encontrar uma substância que tenha apenas um sabor, pois cada
substância é composta por diversos elementos, sendo muito natural que através de
várias permutações e combinações dos cinco grandes elementos, diferentes
43
sabores sejam produzidos e contidos nas substâncias. O que define o sabor de uma
substância é o grau de predominância de certos sabores. As principais
características dos seis sabores são:
• Sabor doce (Madhura rasa): é percebido por sua aderência á mucosa da
boca quando entra em contato com ela, promovendo uma sensação de prazer
ao corpo e conforto aos órgãos dos sentidos;
• Sabor ácido (Amla rasa): por promover salivação, esse sabor enche de água
a boca. Provoca arrepios, formigamento nos dentes e leva a pessoa a fechar
os olhos e as sobrancelhas;
• Sabor salgado (Lavana rasa): provoca mais umidade na boca, aumenta a
salivação e promove a sensação de queimação nas bochechas e na
garganta.
• Sabor picante (Katu rasa): excita (estimula) o topo da língua, causa irritação,
leva á eliminação de secreção dos olhos, nariz, boca e causa a sensação de
queimação nas gengivas.
• Sabor amargo (Tikta rasa): limpa a boca e elimina a ação dos órgãos dos
sentidos (torna impossível a percepção dos outros sabores);
• Sabor adstringente (Kashaya rasa): inativa a língua, diminuindo a
capacidade de percepção do paladar e causando dificuldade de passagem
através da garganta.
Fonte: (CARNEIRO, 2009); (LAD, 2007).
9.1.2 As ações dos sabores
Segundo Carneiro (2009), as principais ações dos sabores são:
• Sabor doce: é benéfico para os tecidos, cabelos e órgãos dos sentidos,
auxilia na vitalidade do corpo, pode aumentar a quantidade de leite materno e
em casos de fratura de ossos, auxilia na união das estruturas. Geralmente,
não é facilmente digerido e causa letargia ao corpo. Auxilia nas atividades
cotidianas, pois promove mais energia ao corpo. É untuoso, alivia pitta e vata,
44
porém seu uso excessivo costuma provocar doenças originadas do acúmulo
de gorduras e de kapha, como obesidade, dispepsia e diabetes.
• Sabor ácido: Este sabor é conhecido por estimular a atividade digestiva. É
untuoso, tem potência quente e costuma ser benéfico para o coração. É frio
ao tato, reconfortante e costuma também produzir sensação de saciedade.
Em excesso, agrava os doshas pitta e kapha, além de poder causar lentidão
no corpo, perda da força, vertigens, pruridos, palidez, edemas, sede e até
febre.
• Sabor salgado: Auxilia na limpeza dos canais e poros obstruídos do corpo,
potencializa a atividade digestiva, lubrifica, aumenta a sudorese, aumenta o
paladar e pode causar lacerações e erupções. Quando utilizado em excesso,
promove agravação do dosha vata, e pode também provocar calvice, sede,
afecções na pele, além de em alguns casos intoxicar e diminuir as forças do
corpo.
• Sabor amargo: É de potência fria e de fácil digestão. Auxilia no combate á
anorexia e no combate a parasitas (bactérias e vermes intestinais), trata
afecções na pele, diminui a sensação de sede e auxilia na desintoxicação do
corpo, em náuseas, febres e sensações de queimação. Alivia os doshas pitta
e kapha, auxilia na redução da gordura corporal, pode causar secura e
ressecamento. Usado em excesso pode originar desequilíbrio no dosha vata.
• Sabor picante: Este sabor pode auxiliar no tratamento das afecções da
garganta, edemas e outros distúrbios da pele. Auxilia a reduzir o inchaço das
úlceras, aumenta a fome por ser digestivo, ajuda na eliminação das toxinas e
alivia o aumento do dosha kapha. Quando utilizado em excesso, pode causar
sede, depleção do sémen e das forças do corpo, além de desmaios, tremores
e dores musculares.
• Sabor adstringente: O sabor adstringente é de potência fria e costuma ser
de difícil digestão. Ele alivia o aumento de pitta e kapha, ajuda a purificar o
sangue, auxilia na cicatrização das úlceras, tende a tornar lenta a digestão
dos alimentos, absorve água do trato digestivo causando obstipação
intestinal, pode provocar secura e remover excessivamente as gorduras da
pele. Quando utilizado em excesso, pode causar acúmulo de alimentos não
digeridos, flatulência, sede, perda da vitalidade e constipação intestinal.
45
9.1.3 Os alimentos e os doshas
De acordo com as propriedades e potenciais de ação dos alimentos, o
Ayurveda classifica-os quanto á potência (virya), ás qualidades (gunas), aos sabores
(rasas) e quanto á ação sobre os doshas.
Quanto à potência, os alimentos podem ser de potência fria ou quente.
Quanto ás qualidades, eles podem ser leves ou pesados, untuosos (oleosos) ou
secos, agudos ou letárgicos.
Com respeito aos seis sabores, os alimentos podem conter um ou mais deles,
No que diz respeito á ação sobre os doshas, os alimentos podem ser agravadores
ou pacificadores destes, ou ainda ter ações sobre os três doshas ao mesmo tempo.
Segundo Carneiro (2009), a ação dos alimentos sobre nosso corpo e nossa
fisiologia deve ser explicada de acordo com as características de cada alimento.
Desta forma, os alimentos de potência quente agravam o dosha quente (pitta) e
reduzem ou pacificam os doshas frios (vata e kapha). De modo oposto, os alimentos
de potência fria pacificam o dosha quente e agravam os doshas frios.
Quanto ás qualidades, os alimentos leves, secos e agudos agravam vata e
pitta, doshas de qualidades semelhantes, e pacificam kapha, que tem qualidades
opostas. Os alimentos pesados, untuosos e letárgicos agravam kapha, dosha de
qualidades idênticas, e pacificam vata e pitta, que têm qualidades contrárias.
Ainda de acordo com Carneiro (2009), quanto aos sabores, os alimentos de
sabor doce, ácido e salgado pacificam vata e agravam kapha; os de sabores
picante, amargo e adstringente fazem o contrário: agravam vata e pacificam kapha.
Já os alimentos de sabor doce, amargo e adstringente pacificam pitta, enquanto os
picantes, ácidos e salgados o agravam.
A dieta ayurvédica deve ser escolhida para seguir a constituição individual.
Quando se compreende a constituição do indivíduo, e a relação desta constituição
com as diversas qualidades dos alimentos, é possível determinar uma dieta
adequada (LAD, 2007).
Ao fazer uma indicação terapêutica de alimentação para equilíbrio dos doshas
que estão em estado de agravamento, o naturólogo, após observar cuidadosamente
a constituição (prakriti) e identificar o desequilíbrio (vikriti), deve levar em
consideração as indicações contidas nas tabelas das páginas seguintes.
46
9.1.4 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha Vata.
Na tabela abaixo, está descrita a relação dos alimentos e condimentos que
atum pacificando o dosha vata.
Tabela 5 – Alimentos que pacificam vata
Adoçantes:
Açúcar mascavo, mel, rapadura, frutose,
estévia.
Carnes vermelhas, carnes brancas, ovos,
peixes de água doce, búfalo, pato, frango
Alimentos de origem animal:
e peru (partes escuras). Salmão, sardinha,
frutos do mar, camarão e atum.
Leite de amêndoas, suco de Aloe, néctar
de pêssego natural, suco de cenoura, leite
Bebidas não alcoólicas:
de soja quente e condimentado, leite de
vaca fervido com canela, suco de manga,
suco natural de frutas vermelhas, chá de
gengibre e Chai.
Apenas
Bebidas com teor alcoólico:
doses
preparações
terapêuticas
fermentadas
naturais
de
do
Ayurveda (Ásvas ou Arista), feitas com
ervas indicadas para vata.
Amêndoas,
Castanhas:
avelãs,
castanha-do-pará,
castanha-de-cajú, coco, nozes, noz preta,
noz-de-macadâmia, noz-pecâ, pinha e
pistache (todas com moderação).
Arroz integral, arroz bem cozido, aveia
Cereais:
cozida, milho cozido, quinua cozida e trigo
integral.
Alimentos cozidos, mornos e úmidos; de
sabor doce, ácido ou salgado. Alimentos
Diversos:
frescos, preparados na hora, alimentos
orgânicos. Tahini e pão essênio.
47
Frutas doces e frutas ácidas em geral são
boas
para
ameixas
vata.
Abacate,
abacaxi,
(frescas),
amoras,
bananas,
cerejas, coco, damasco (fresco e doce),
Frutas:
figo,
framboesa,
laranja,
limão maçã
(cozida), mamão, manga, melão, pêssego,
tâmara e uvas. Todas as frutas cozidas
são indicadas.
Feijão
azuki,
feijão
mung,
lentilhas
(vermelhas e pretas). Soja (tofu), missô
Grãos:
(sopa de soja), leite de soja quente e
condimentado com temperos indicados
para vata.
Leite de vaca integral ou leite de cabra,
sempre morno e separado das refeições;
soro de leite. Coalhada caseira, iogurte
Laticínios:
natural
diluído
e
preparado
com
especiarias (Lassi). Ghee, nata, manteiga
de leite. Queijo cottage ou ricota, queijo de
cabra.
Óleos:
Azeites, óleos em geral (especialmente de
gergelim e rícino).
Gergelim, mostarda, girassol, abóbora,
Sementes:
linhaça e semente de aipo. Halawa (doce
de gergelim) e tahine.
Alecrim, alga marinha, assafétida, canela,
cardamomo,
cebola
coentro (sementes
Temperos e condimentos:
e
alho
cozidos,
e folhas
frescas),
cominho, cravo-da-índia, cúrcuma (açafrão
em pequenas quantidades), anis, fenogrego, funcho, gengibre fresco, gergelim
com sal, pimenta preta, pimenta cumari,
pimenta da Jamaica e sal marinho.
48
Vegetais cozidos al dente: abóbora verde
(abobrinha), abóbora, agrião, alho poró,
alho, aspargos, azeitonas pretas, batata
doce, beterraba, cará, cebola (cozida),
cenoura,
Verduras e legumes (cozidos):
couve-flor,
ervilha
cozida,
espinafre, feijão verde, inhame, mandioca,
mostarda, nabo, pepino, pimentão verde,
quiabo, rabanete, repolho, tomate cozido
(ocasionalmente),
vagem.
Quanto
ás
verduras folhosas, essas só devem ser
consumidas por vata quando regadas com
azeite e de preferência passadas ao
vapor.
Fonte: (CARNEIRO, 2009).
Em contraponto a tabela acima, segue abaixo a tabela detalhada dos
alimentos que agravam o dosha vata.
Tabela 6 – Alimentos que aumentam vata.
Adoçantes:
Açúcar branco.
Carnes
Alimentos de origem animal:
secas,
envelhecidas
ou
em
conserva. Carne de cordeiro, carneiro,
cervo, porco, coelho e veado.
Chá preto, chá mate, refrigerantes em
geral, café, achocolatados, chás gelados
Bebidas não alcoólicas:
ou estimulantes. Suco de maçã, bebidas
lácteas geladas e industrializadas e sucos
feitos de frutas que agravam vata.
Bebidas alcoólicas:
Em geral, todas agravam vata.
Castanhas:
Castanhas envelhecidas ou ressecadas.
Milho seco, farinha de milho, cevada,
farinha de aveia, centeio, farinha de
Cereais:
centeio, farinha de trigo refinada, paniço,
massas refinadas, polenta, bolinho de
49
arroz, centeio, soja (seca), farinhas de
Cereais:
cereais,
granola
seca
crua,
tapioca,
cuscuz, biscoitos e bolachas salgadas.
Diversos:
Alimentos gelados em geral, alimentos
secos, leves e ásperos.
Maçã verde, maçãs cruas, caqui com
predomínio do sabor adstringente, goiaba,
melão que não que não esteja bem doce
ou maduro ou melancia, romã. Evitar
Frutas:
frutas secas, frutas ainda imaturas e frutas
adstringentes. Evitar também comer ao
natural frutas leves e secas, como pera,
frutas vermelhas, kiwi, lima, figo (seco),
ameixa (seca), uva passa, amora verde,
tâmara seca.
Feijões secos em geral: feijão preto, feijão
fradinho, feijão comum, feijão verde seco,
Grãos:
feijão branco, feijão mulatinho. Grão de
bico, lentilha, ervilha seca, farinha de soja,
grãos secos em geral, farelo de soja, feijão
soja (seco).
Leite em pó (de vaca ou de cabra).
Queijos curados, duros ou envelhecidos.
Laticínios:
Iogurtes
industrializados
ou
naturais
gelados
com
ou
iogurtes
frutas.
Margarinas.
Temperos:
Pimentas vermelhas, temperos picantes
em excesso e açafrão em excesso.
Os alimentos de sabor picante, amargo ou
adstringente e os vegetais, hortaliças e
folhas cruas em geral aumentam vata.
Verduras e legumes:
Brócolis, aipo, pimentão, couve, berinjela,
moranga,
cogumelos,
batata-inglesa,
alcachofra, azeitonas verdes, berinjela
(crua), brotos (crus), cebola (crua), couve-
50
de-bruxelas,
couve-flor
(crua),
couve-
rábano, ervilhas secas, espinafre cru,
folhas de beterraba, folhas de dente-deVerduras e legumes:
leão, folhas de nabo, folhas verdes em
geral,
nabo.
Pimentas
vermelhas,
rabanete (cru), raiz de bardana, repolho
(cru) e tomate em excesso.
Fonte: (CARNEIRO, 2009).
9.1.5 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha Pitta.
Na tabela abaixo, segue e relação dos alimentos que pacificam o dosha Pitta:
Tabela 7 – Alimentos que pacificam pitta
Adoçantes:
Estévia natural, frutose natural e açúcar
mascavo fino.
Carnes brancas: coelho, frango (partes
brancas), peru (partes brancas), peixe de
Alimentos de origem animal:
escamas, peixe de água doce. Clara de
ovo. Carne de búfalo, cervo, camarão
(fresco e em pequena quantidade).
Água de coco, suco de uva doce, de
manga, de aloe vera e maçã. Sucos
verdes feitos com as frutas e verduras
Bebidas não alcoólicas:
permitidas para pitta. Chás amargos e não
tão quentes. Suco de damasco, suco de
frutas doces, néctar de pêssego, suco de
pera, suco de romã, suco de ameixa, leite
de arroz e leite de soja.
Bebidas com teor alcoólico:
Todas agravam pitta
Amêndoas, coco e castanha-do-pará em
Castanhas:
pequena quantidade.
51
Arroz branco, arroz basmati, aveia cozida,
Cereais:
cevada
cozida,
trigo
cozido.
secos,
cuscuz,
biscoito
e
Cereais
bolachas
integrais, granola, farelo de aveia, farelo
de trigo, massas integrais, bolinhos de
arroz, pão essênio e tapioca.
Alimentos frios, frescos, puros e naturais;
Diversos:
alimentos orgânicos; alimentos de sabor
amargo, doce e adstringente.
Frutas doces e adstringentes em geral são
boas para pitta. Abacate, abacaxi doce,
ameixa doce, ameixa seca, bananas,
cereja fresca, coco, damasco doce, figo
Frutas:
(fresco), frutas vermelhas doces, goiaba,
laranja doce, laranja lima, maçã, mamão,
manga (madura), melancia, melão, pera,
pêssego, romã doce, tâmara, uvas doces
(vermelha, preta e roxa) e uvas passas.
Feijão-comum, feijão mung, feijão branco,
feijão mulatinho, feijão-de-corda, feijão
azuki, feijão preto, grão-de-bico, ervilha,
Grãos:
lentilha (marrom e vermelha), feijão-desoja, tofu, farinha de soja, leite de soja,
soja em pó.
Leite de vaca ou de cabra (sempre
levemente mornos ou com ervas indicadas
para pitta), ghee, queijo fresco (minas,
Laticínios:
frescal), queijo de leite de cabra (macio,
sem sal), ricota, manteiga de leite sem sal
(com
moderação).
Coalhada
caseira
fresca, diluída com água e temperada com
ervas indicadas – lassi.
Óleo de coco, de soja e de girassol. Azeite
Óleos:
de oliva, ghee e óleo de prímula.
52
Sementes:
De abóbora e girassol.
Todas
as
especiarias
alcalinas,
de
potência fria ou que criam frescor: Alhoporó (cozido, em pequena quantidade),
baunilha,
Temperos e condimentos:
folhas
de
canela
(pequena
quantidade), cardamomo, casca de laranja
ralada, cebola cozida, coentro fresco,
cominho (fresco), endro, erva-doce (anis),
funcho,
gengibre
fresco
(pequena
quantidade), hortelã e salsa.
Vegetais doces, amargos e adstringentes
em geral. Abobrinha, abóbora, agrião,
aipo,
alcachofra,
alface,
almeirão,
aspargos, azeitonas pretas, batatas doce
e inglesa, beterraba (cozida), brócolis,
brotos e germinados em geral, cebola
Verduras e legumes:
cozida,
cenoura
(cozida),
chuchu,
cogumelos, couve, couve-flor, dente de
leão, ervilha, espinafre (folhas cozidas),
folhas verdes em geral (de preferência
amargas), nabo japonês, pepino, pimentão
verde,
quiabo,
rabanete
(cozido)
e
repolho.
Fonte: (CARNEIRO, 2009).
E como complemento, os alimentos que agravam o estado do dosha pitta:
Tabela 8 – Alimentos que aumentam pitta
Adoçantes:
Rapadura, mel, melado
Carnes
vermelhas,
carneiro,
cordeiro,
peixes de couro, peixes marinhos (salmão,
Alimentos de origem animal:
sardinha, atum), frutos do mar, gema de
ovos, frango, pato e peru (parte escura).
53
Café, bebidas com cafeína, limonada,
suco de tomate, achocolatados. Suco de
frutas vermelhas (de sabor ácido), suco de
Bebidas não alcoólicas:
cenoura, cereja, amora, laranja, mamão,
abacaxi, sucos de sabor ácido em geral.
Chás gelados, bebidas geladas em geral,
bebidas gasosas. Sopa de missô e sucos
feitos de frutas que agravam o dosha pitta.
Bebidas alcoólicas:
Todas agravam pitta
Amendoim,
Castanhas:
avelã,
castanha-de-cajú,
macadâmia, noz pecã, noz preta, nozes,
pinha e pistache.
Arroz
Cereais:
integral,
aveia
seca,
centeio,
milhete, milho, pães com fermento, paniço,
quinua e trigo-sarraceno.
Diversos:
Cerveja, café, vinho e chocolate.
Frutas de sabor ácido. Abacaxi ácido,
ameixa, amora, banana, caqui, damasco,
framboesa, frutas vermelhas ácidas, kiwi,
Frutas:
laranja,
limão,
maçã
verde,
mamão
comum, mamão papaya, manga (imatura),
mexerica,
morango,
pêssego
(ácido),
tamarindo e uvas (ácidas).
Grãos:
Laticínios:
Lentilhas, amendoim e derivados de soja.
Queijos,
leite
ácidas,
iogurte
fermentado,
com
industrializados,
creme
de
frutas,
manteigas
leite
azedo,
coalhadas
iogurtes
salgadas,
queijos
envelhecidos e amarelos, soro de leite.
Óleo de gergelim e de milho. Óleo de
Óleos:
açafrão.
Sementes:
Gergelim. Tahine
54
Condimentos
picantes,
ácidos
e
fermentados em geral. Açafrão, alecrim,
alho
poró
(cru),
assafétida,
catchup,
cebola crua, cebolinha, cravo-da-índia,
estragão, feno-grego, gengibre (seco),
Temperos e condimentos:
limão, maionese, manjerona, molho de
soja, mostarda, noz moscada, páprica,
picles em
geral, pimentas em
geral
(todas), raiz forte, sal (em excesso), sálvia,
semente
de
mostarda,
sementes
de
papoula, tomilho e vinagres.
Vegetais de sabor ácido, salgado e
picante em geral agravam pitta. Azeitonas
verdes, cenoura (crua), espinafre cru,
Verduras e legumes:
folha
de
beterraba
crua,
folhas
de
mostarda cruas, folhas de nabo cruas,
nabo,
pimentão,
rabanete,
rúcula
e
tomate.
Fonte: (CARNEIRO, 2009)
9.1.6 Os alimentos que pacificam e agravam o dosha Kapha.
Na tabela a seguir, está descrita a relação dos alimentos e condimentos que
atuam pacificando o dosha kapha:
Tabela 9 – Alimentos que pacificam Kapha
Mel puro e natural. Estévia natural. Sucos
de frutas concentrados. O mel não deve
Adoçantes:
ser cozido, pois o calor o transforma em
uma substância difícil de ser digerida pelo
corpo.
Peru, frango, coelho (partes brancas),
Alimentos de origem animal:
cervo, frutos do mar, peixes de escamas,
camarão. Clara de ovos cozida.
55
Suco de Aloe vera. Suco de cenoura, suco
de uva, suco de pera, romã, ameixa,
maçã,
damasco,
pêssego,
frutas
vermelhas e amora. Chá verde, chá
Bebidas não alcoólicas:
branco, chá vermelho e chá preto com
especiarias; chás quentes e estimulantes.
Café sem açúcar. Sucos verdes de
vegetais. Leite de soja (com temperos
picantes).
Caldo
de
vegetais
com
temperos picantes, sem óleo e com pouco
sal.
Vinho tinto seco de boa qualidade, no
máximo uma taça pequena duas vezes ao
Bebidas alcoólicas:
dia. Aristas e ásavas preparadas com
ervas indicadas para kapha, usados em
doses terapêuticas.
Castanhas:
Amêndoas (descascadas e moídas).
Todos os cereais em geral, secos ou
hidratados, desde que usados com pouco
sal. Aveia seca, farelo de aveia, cevada,
centeio, paniço, milho, milhete, pipoca ou
cuscuz (sem sal ou manteiga). Bolachas e
Cereais:
biscoitos leves e secos, desde que sejam
pouco salgados. Granola, pão essênio,
farelo de trigo. Pequena quantidade de
arroz selvagem ou basmati, tapioca, trigosarraceno.
Alimentos de sabor picante, amargo e
Diversos:
adstringente; alimentos leves e secos.
Alimentos orgânicos e naturais. Água
mineral com gás e café.
Frutas secas e adstringentes em geral são
boas para kapha. Ameixa seca, amora,
Frutas:
caqui,
cereja,
damasco,
figo
seco,
framboesa, frutas vermelhas, limão, maçã,
56
purê de maçã, morango, pera, pêssego,
Frutas:
romã, uva-passa.
Ervilhas, feijão-azuki, feijão preto, lentilha,
Grãos:
missô, leite de soja, proteína texturizada
de soja (carne de soja).
Leite de cabra em pequenas quantidades.
Leite de vaca, somente em pequena
quantidade quando o dosha kapha estiver
em harmonia, sempre quente e ferver
Laticínios:
antes com gengibre e/ou açafrão. Iogurte
caseiro diluído e temperado com as ervas
permitidas para kapha (leitelho, lassi).
Queijo cottage de cabra.
O mínimo possível; apenas pequenas
quantidades de azeite de oliva cru ou
mínimas quantidades de óleo de girassol,
Óleos:
de milho ou de mostarda. Óleo de alho,
óleo de salmão e óleo de linhaça são
medicinais para kapha, porém em doses
terapêuticas.
Sementes:
De abóbora, girassol, linhaça, mostarda e
papoula.
Açafrão (cúrcuma), alecrim, alfavaca, alho,
assafétida, canela, cardamomo, casca de
laranja ralada, cebola, cebolinha, coentro
(sementes ou folhas), cominho, cravo-daíndia, endro, erva doce (anis), estragão,
funcho,
Temperos e condimentos:
gengibre,
hortelã,
louro,
manjericão, manjerona, menta, mostarda
(sem vinagre), noz moscada, orégano,
páprica,
pimenta cumari,
pimenta da
Jamaica, pimenta caiena, pimenta do
reino, pimenta malagueta, pimenta verde,
raiz forte, salsa, sálvia, tomilho.
57
Verduras de sabor amargo, adstringente
ou picante em geral são boas para kapha.
Abobrinha, agrião, aipo, alcachofra, alho,
alho
Verduras e legumes:
poró,
aspargos,
batata
branca,
berinjela, brócolis, brotos de trigo, brotos e
germinados em geral, cebola, cenoura,
chuchu,
cogumelos,
couve,
couve-de-
bruxelas, couve-flor, espinafre, folhas em
geral (folhas de beterraba, de coentro, de
dente-de-leão e de nabo), grãos de
mostarda, milho, nabo sueco, pimentão,
rabanete, repolho, salsa, tomate (cozido) e
vagem.
Fonte: (CARNEIRO, 2009).
E por fim, a relação dos alimentos, bebidas e condimentos que possuem a
ação de agravar o dosha Kapha:
Tabela 10 – Alimentos que aumentam Kapha.
Adoçantes:
Rapadura,
açúcares,
sorvetes,
achocolatados, xaropes e melado.
Carnes vermelhas (bovino, búfalo, suíno,
carneiro e cordeiro), peixe de couro, peixe
Alimentos de origem animal:
de água salgada (salmão, sardinha, atum).
Partes escuras das carnes de frango, peru
e pato.
Achocolatados e café com açúcar ou com
leite; refrigerantes. Bebidas lácteas em
geral, laticínios gelados, leite de soja
gelado, leite de vaca, sucos ácidos em
Bebidas não alcoólicas:
geral. Bebidas gasosas e geladas em
geral. Sopa de missô, leite de arroz, suco
de tomate. Sucos feitos de frutas que
agravam o dosha kapha.
58
Bebidas alcoólicas:
Cerveja, bebidas fortes, vinho doce.
Castanhas
e
nozes
especialmente
Castanhas:
em
geral,
amendoim,
avelã,
castanha-de-cajú, castanha-do-pará, coco,
noz de macadâmia, noz pecã, noz preta,
nozes, pinhão e pistache.
Arroz (integral ou branco), aveia cozida,
Cereais:
quinua, trigo novo. Macarrão e massas em
geral. Pães com fermento, bolos de arroz.
Diversos:
Excesso de bebidas alcoólicas.
Frutas de sabor doce ou ácido, frutas de
textura
Frutas:
abacaxi,
fresco,
oleosa
ou
ameixa,
kiwi,
pesada.
banana,
laranjas,
Abacate,
coco,
limão,
figo
mamão,
manga, melancia, melão, tâmara e uva.
Feijão-roxo, feijão-comum, feijão mung,
Grãos:
lentilha preta, feijão-de-soja, grão-de-bico,
amendoim. Farinha de soja, soja em pó.
Ghee, leite frio, coalhada, iogurtes, queijos
e manteigas em geral. Sorvetes, soro de
Laticínios:
leite puro, queijos em geral, creme de
leite.
Excesso de óleos em geral. Óleo de
Óleos:
gergelim, azeite de oliva cozido ou frito,
canola e soja.
Sementes:
Gergelim. Tahine
Temperos e condimentos:
Catchup, chocolate, lima, limão, maionese,
molho de soja, picles, sal e vinagre.
Vegetais ácidos ou suculentos. Vegetais
de guna pesada e fria. Azeitonas verdes
Verduras e legumes:
ou pretas, batata-doce, cará, inhame,
mandioca, pepino, quiabo, tomate cru.
Fonte: (CARNEIRO, 2009)
59
9.2 Fitoterapia
A arte de tratar através do uso de plantas medicinais é uma técnica muito
antiga: estudiosos consideram que desde a existência do ser humano, o uso de
plantas medicinais era empregado visando a manutenção e recuperação da saúde.
No Egito, o papiro de Ebers (1500 AC) continha formulações complexas e a
descrição de plantas como babosa, hortelã e mirra (FERRO, 2006, FETROW;
AVILA, 2000).
De todos os métodos da medicina natural a fitoterapia é sem dúvida o mais
antigo. Dele já lançava mão o homem pré- histórico, que aprendeu, como os
animais, a distinguir as plantas comestíveis daquelas que podiam ajudá-lo a sanar
seus desconfortos e desequilíbrios (ANTÔNIO, 1998).
As informações relacionadas ás plantas e suas utilizações curativas, foram
repassadas de forma oral entre as gerações, e aos poucos este conhecimento foi
sendo enriquecido com a introdução contínua de novos conhecimentos e formas de
aplicação e utilização, que foram adquiridos através da experimentação prática
guiada principalmente pela intuição.
Na antiguidade, chineses, egípcios, hindus, gregos e romanos já dispunham
de informações mais detalhadas sobre as ervas medicinais, pois com o tempo elas
acabaram sendo classificadas e catalogadas, de acordo com critérios que levavam
em conta tanto sua forma, cor, sabor, aroma, e em alguns casos, suas ligações com
os astros (ANTÔNIO, 1998).
Com a evolução da científica e o aperfeiçoamento das pesquisas e
instrumentos de análise, as plantas medicinais começaram a ser pesquisadas e
estudadas do ponto de vista de químico, para identificar sua composição,
procurando-se isolar seus princípios ativos para verificar que efeitos eles exerciam
quando entravam em contato com o organismo animal e humano (WANG, 2007).
Conforme dados da OMS (1978), oitenta por cento da população mundial
utiliza plantas medicinais em benefício da saúde. No Brasil, existe a utilização
tradicional por parte dos índios, com sua Medicina Indígena Tradicional e o uso da
população geral. Além disso, o Brasil possui a maior biodiversidade do mundo,
mostrando-se
uma
terapêutica
em
expansão,
necessitando
consolidar
o
conhecimento tradicional e o científico para a evolução da terapêutica (HELLMAN,
WEDEKIN, 2008).
60
Segundo Ferro (2006), a fitoterapia é a utilização dos princípios ativos
extraídos das plantas medicinais, sem o uso de substâncias ativas isoladas, com
aplicações internas e externas, na forma de chás, cápsulas, tinturas, cataplasmas e
emplastros.
Na fitoterapia ayurvédica não é diferente. As preparações podem ser feitas de
diversas formas. Existe uma infinidade muito grande de plantas, e cada uma, com
diversos efeitos e funções sobre os sistemas do organismo.
De acordo com Edde (2002), na fitoterapia ayurvédica o conhecimento
apenas das propriedades terapêuticas de uma planta não é o suficiente, pois é
necessário conhecer todos os aspectos dela, como suas propriedades, sua energia,
seu sabor, sua preparação correta, a dosagem eficaz, sua ação sobre os doshas,
entre outros aspectos.
O naturólogo possui um conhecimento prático e científico da fitoterapia, e
desta forma, está habilitado a fazer a análise de cada planta, da forma de atuação
no organismo e assim, uma indicação de forma a reestabelecer o equilíbrio físico e
energético de seu interagente.
9.2.1 Preparações para uso interno:
São as preparações usadas para ingestão por via oral. Quando se utilizam
plantas medicinais por via oral, o cálculo da dose deve ser feito cuidadosamente
para evitar a superdosagem e suas consequências negativas. Existem várias
maneiras de se preparar as plantas medicinais para uso por via oral. Neste estudo,
serão abordadas duas delas: a infusão e a decocção.
Infusão: A infusão é o tradicional chá que as pessoas costumam preparar em
casa. A preparação é feita com a colocação de água fervente num recipiente onde
estão as plantas medicinais; depois espera-se de 5 a 10 minutos. Em geral, utilizase uma xícara, que tem cerca de 150 ml. O infuso (chá) é então bebido diretamente
(BOTSARIS, 2008).
Decocção: A decocção é o processo de cozimento das plantas medicinais. A
preparação é feita com a colocação das plantas em uma panela adequada (com
revestimento ou de material não-metálico), e com água suficiente para cobrir as
61
plantas, deixando-as sob fogo brando por 15 a 20 minutos. Neste período, a
decocção não pode ferver. Ás vezes pode ser necessário colocar a decocção em
banho-maria para evitar a fervura que, caso ocorra, degradará os princípios ativos
das plantas, prejudicando assim sua ação. Ao fim do cozimento, o decocto (líquido
de cozimento das plantas) deve ser coado e bebido logo em seguida (BOTSARIS,
2008).
De acordo com informações encontradas nas literaturas de Carneiro (2009) e
Lad (2007) está descrito adiante uma tabela com 15 plantas medicinais, suas ações
e indicações segundo o ayurveda, para que o naturólogo possa identificar a
utilização da fitoterapia ayurvédica como forma de tratamento.
Tabela 11- Plantas Medicinais e suas utilizações no Ayurveda.
Nome Popular:
Açafrão
Nome Científico:
Curcuma longa L.*
Sânscrito:
Haridra
Partes Utilizadas:
Tubérculos (rizoma, bulbo)
Preparações e doses:
Infusão: 2 a 3 g do pó seco da raiz em 100
ml de água fervente. Tomar 100 ml de
duas a três vezes ao dia.
Decocção: 3 a 4 g da raiz fresca picada ou
2 a 3 g do pó da raiz seca para 100 ml de
água. Tomar 100 ml 2 a 3 vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: amargo, adstringente e picante.
Virya: quente
Vipaka: picante
Ação nos doshas:
Pacifica Kapha e em excesso aumenta
pitta e vata.
Ações:
Digestiva, anti-inflamatória, estimulante,
antialérgica e cicatrizante.
62
Indicações:
Distúrbios respiratórios, digestão fraca,
baixa imunidade e má circulação.
Contraindicações:
Contraindicado na gestação.
Nome Popular:
Alcaçuz
Nome Científico:
Glycyrrhiza glabra L.
Sânscrito:
Yashti-madhu
Partes Utilizadas:
Raiz.
Preparações e doses:
Decocção: 2 a 3 g de pó da raiz em 100 ml
de água. Tomar 100 ml de duas a três
vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: doce e amargo
Virya: fria
Vipaka: doce
Ação nos doshas:
Pacifica vata e pitta e aumenta kapha.
Ações:
Tônico, expectorante, digestivo, laxativo
suave.
Indicações:
Inflamações
das
vias
aéreas,
expectorante, coadjuvante no tratamento
de
úlceras,
gastrites
e
hiperacidez
estomacal.
É contraindicado no período gestacional,
Contraindicações:
bem como para indivíduos com retenção
de líquidos, hipertensos ou que estejam
fazendo uso de corticosteroides.
Nome Popular:
Canela
Nome Científico:
Cinnamomum zeylanicum Blume.
63
Sânscrito:
Twak, dalchini
Partes Utilizadas:
Casca e folhas
Preparações e doses:
Infusão: 2 a 3 g da casca para 100 ml de
água. Tomar 100 ml de duas a três vezes
ao dia.
Decocção: 2 g (casca) ou 3 g (folhas) para
100 ml de água, de duas a três vezes ao
dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: picante, doce e adstringente
Virya: quente.
Vipaka: doce
Ação nos doshas:
Pacifica vata e kapha e aumenta pitta.
Ações:
Carminativa, digestiva, antidiarréica, ação
tônica do coração, expectorante, diurética
e analgésica.
Indicações:
Auxilia nos desconfortos gastrointestinais,
tonifica o agni, fortalece o coração, tem
efeito
analgésico
sobre
as
dores
articulares e é um ótimo coadjuvante no
tratamento das afecções das vias aéreas.
Contraindicações:
Contraindicado
durante
gestacional.
Nome Popular:
Cavalinha
Nome Científico:
Equisentum arvense L.
Partes Utilizadas:
Partes aéreas
o
período
64
Preparações e doses:
Infusão ou decocção: 2 a 3 g para 100 ml
de água. Tomar 100 ml de duas a cinco
vezes ao dia (200 a 500 ml ao dia).
Características ayurvédicas:
Rasa: amargo e doce
Virya: fria
Vipaka: picante
Ação nos doshas:
Pacifica pitta e kapha e aumenta vata.
Ações:
Diurética,
remineralizante,
cicatrizante,
anti-inflamatória e hemostática.
Indicações:
Auxilia na depuração do sangue e das vias
urinárias. Tem efeito diurético e auxilia no
tratamento de cálculos renais, edemas,
cistites e hemorragia uterina.
Contraindicações:
Contraindicado
durante
o
período
gestacional.
Nome Popular:
Erva de Santa Maria
Nome científico:
Chenopodium ambrosioides L.
Sânscrito:
Sugandha vastuka
Partes Utilizadas:
Folhas e sementes.
Preparações e doses:
Infusão: 2 a 3 g (erva seca) para 100 ml
de água. Tomar 100 ml de duas a três
vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: picante e amargo
Virya: quente
Vipaka: picante
Ação nos doshas:
Pacifica os três doshas.
65
Ações:
Anti-helmíntica,
antiespasmódica
e
emenagoga. Estimula agni (fogo digestivo)
e elimina ama (toxinas).
Indicações:
Seu uso é indicado para o tratamento de
verminoses e nos acúmulos de ama
(toxinas) nos intestinos e no sangue.
Também é indicado como laxativo leve e
coadjuvante
no
tratamento
de
hemorroidas.
Contraindicações:
Contraindicado
durante
o
período
gestacional.
Nome Popular:
Feno-grego
Nome Científico:
Trigonella foenum-graceum L.
Sânscrito:
Methi, medika.
Partes Utilizadas:
Sementes, vagens, folhas e sumidades
floridas.
Preparações e doses:
Decocção: de 3 a 5 g da planta para 100
ml de água. Tomar 100 ml de duas a três
vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: amargo, picante, doce
Virya: quente
Vipaka: picante
Ação nos doshas:
Pacifica vata e kapha, e aumenta pitta.
Ações:
Tônico, revitalizante e imunizante. Tem
ação carminativa, aperiente, emenagoga,
expectorante e diurética.
66
Indicações:
Indicado para organismos debilitados e
convalescentes.
tratamentos
Coadjuvante
de
ácido
úrico
nos
elevado,
diabetes, cólicas intestinais e flatulências e
afecções respiratórias.
Contraindicações:
Seu uso é contraindicado no período
gestacional.
Nome Popular:
Funcho
Nome Científico:
Foeniculum vulgare Miller.
Sânscrito:
Shatapushpa
Partes Utilizadas:
Frutos (sementes)
Preparações e doses:
Infusões: de 3 a 5 g para 100 ml de água.
Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia.
Decocções: de 2 a 3 g para 100 ml de
água. Tomar 100 ml de duas a três vezes
ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: doce e picante
Virya: levemente fria
Vipaka: doce
Ação nos doshas:
Pacifica o sistema tridosha, principalmente
vata e pitta.
Ações:
Ação
digestiva,
carminativa,
tônica
do
estômago,
antiespasmódica,
anti-
helmíntica, diurética e levemente laxativa.
Indicações:
Auxilia a fortalecer a digestão fraca e
fortalecer agni sem agravar pitta. Alivia
cólicas e desconfortos abdominais. Tem
ação diurética e por sua ação no sistema
67
nervoso é indicado como leve calmante.
Contraindicações:
Seu uso é contraindicado durante o
período gestacional.
Nome Popular:
Gengibre
Nome Científico:
Zingiber Officinalle Roscoe.
Sânscrito:
Ardrak (fresco) ou Shunti (seco)
Partes Utilizadas:
Rizomas
Preparações e doses:
Infusão: 2 a 3 g (raiz seca) ou 3 a 5 g (raiz
fresca) para 100 ml de água. Tomar 100
ml de duas a três vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: picante e doce
Virya: quente
Vipaka: doce
Ação nos doshas:
Pacifica vata e kapha, mas não agrava
pitta.
Ações:
Ação
anti-inflamatória,
analgésica,
imunizante, anti-reumática, estimulante,
diaforética,
expectorante,
digestiva,
carminativa e antiemética.
Indicações:
Disfunções no sistema respiratório como
resfriados,
Tratamento
gripes
de
e
dispepsias,
bronquites.
náuseas,
vômitos, dores abdominais, inapetência,
tratamento de artrites e dores musculares.
Contraindicações:
Seu uso é contraindicado durante o
período gestacional.
68
Nome Popular:
Hibisco
Nome Científico:
Hibiscus rosa-sinensis L.
Sânscrito:
Japapushpa
Partes Utilizadas:
Flores
Preparações e doses:
Infusão (fria ou quente): 2 a 3 g (flores
secas) para 100 ml de água. Tomar 100
ml de duas a três vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: adstringente e doce
Virya: fria
Vipaka: doce
Ação nos doshas:
Pacifica pitta e kapha e aumenta vata.
Ações:
Hemostática, anti-hemorrágica, levemente
sedativa e antiespasmódica.
Indicações:
Cólicas menstruais, principalmente em
fluxos excessivos, hemorragias uterinas,
leucorréias e cistites. É indicado também
como
coadjuvante
no
tratamento
de
hipertensão arterial com predomínio de
sintomas pitta.
Contraindicações:
Seu uso é contraindicado durante o
período gestacional.
Nome Popular:
Hortelã
Nome Científico:
Mentha x pipperita L.
Sânscrito:
Phudina
Partes Utilizadas:
Toda a planta, inclusive as sumidades
floridas.
69
Preparações e doses:
Infusão: de 2 a 3 g de folhas secas ou 4 a
5 g de folhas frescas para 100 ml de água.
Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: picante
Virya: levemente fria
Vipaka: picante
Ação nos doshas:
Pacifica pitta e kapha e em excesso
aumenta vata.
Ações:
Ação
digestiva,
tônica,
carminativa,
vermífuga, broncodilatadora e estimulante.
Indicações:
Indicado nas atonias digestivas, gases,
dores estomacais, disfunções hepáticas,
tratamento contra parasitas intestinais e
distúrbios respiratórios em geral.
Contraindicações:
Contraindicado
durante
o
período
gestacional.
Nome Popular:
Melão de São Caetano
Nome Científico:
Momordica charantia L.
Sânscrito:
Karella
Partes Utilizadas:
Folhas, frutos e sementes
Preparações e doses:
Infusão: de 2 a 3 g (planta seca) ou 3 a 5 g
(planta fresca) para 100 ml de água.
Tomar 100 ml de duas a três vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: amargo e picante
Virya: quente
Vipaka: picante
70
Ação nos doshas:
pacifica kapha e pitta.
Ações:
Estimulante de agni
(fogo digestivo),
desobstruente, hipoglicemiante, antiviral e
imunomoduladora.
Indicações:
É indicado como digestivo, tônico hepático
e imunológico para o tratamento de
diabetes tipo II. Auxilia no tratamento de
parasitas intestinais, obstipação, auxilia
também
no
tratamento
de
doenças
respiratórias, leucorréia e dismenorreias.
Contraindicações:
É
contraindicado
durante
o
período
gestacional.
Nome Popular:
Noz Moscada
Nome Científico:
Myristica fragrans Houttuyn
Sânscrito:
Jatiphala
Partes Utilizadas:
Fruto (semente)
Preparações e doses:
Infusão: de 1 a 2 g do pó do fruto para 100
ml de água. Tomar 100 ml de duas a três
vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: picante
Virya: quente
Vipaka: picante
Ação nos doshas:
Pacifica vata e kapha e aumenta pitta.
Ações:
Produz
efeito
digestivo,
carminativo,
adstringente, estimulante, anti-diarréico e
sedativo.
71
Indicações:
Indicada nos casos de digestão fraca, má
absorção intestinal, flatulência, diarréias e
disenterias.
É
útil
também
para
o
tratamento de insônia, tensões nervosas e
cefaléias.
Contraindicações:
Contraindicado
durante
o
período
gestacional.
Nome Popular:
Pata de Vaca
Nome Científico:
Bauhinia variegata L.
Sânscrito:
Kanchanara
Partes Utilizadas:
Folhas, casca e flores.
Preparações e doses:
Decocção: de 2 a 3 g (partes secas) ou 4
a 6 g (partes frescas) para 100 ml de
água. Tomar de duas a três vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: adstringente
Virya: fria
Vipaka: picante
Ação nos doshas:
Pacifica pitta e kapha.
Ações:
Hipoglicemiante, diurética e redutora dos
níveis de colesterol. Possui também ação
anti-inflamatória, cicatrizante, antisséptica
e antialérgica.
Indicações:
Indicado
tratamentos
como
de
coadjuvante
diabetes
tipo
nos
II
e
obesidade. Indicado também para tratar
eczemas
alérgicos
e
dermatites,
auxiliando em estados alérgicos em geral.
72
Contraindicações:
Contraindicado
durante
o
período
gestacional.
Nome Popular:
Quebra-pedra
Nome Científico:
Phyllanthus niruri L.
Sânscrito:
Bhumiamalaki
Partes Utilizadas:
Folhas e raízes
Preparações e doses:
Infusão ou decocção: 20 a 30 g (planta
seca) ou 40 a 50 g (planta fresca) para 1
litro de água. Tomar de 200 a 400 ml de
três a quatro vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: amargo
Virya: fria
Vipaka: doce
Ação nos doshas:
Pacifica pitta e kapha. Em excesso pode
aumentar vata.
Ações:
Antiespasmódica,
analgésica,
diurética,
hipoglicemiante,
broncodilatadora
e
hepatoprotetora.
Indicações:
Indicado pra tratar distúrbios hepáticos,
litíase urinária, cistites e cálculos renais.
Indicado também como coadjuvante no
tratamento de diabetes do tipo II por sua
ação hipoglicemiante, além de ser útil nos
tratamentos
de
bronquites
e
asma
brônquica.
Contraindicações:
Contraindicado
gestacional.
durante
o
período
73
Nome Popular:
Romã
Nome Científico:
Punica granatum L.
Sânscrito:
Dadima
Partes Utilizadas:
Fruto (casca, sementes ou polpa) e casca
da raiz.
Preparações e doses:
Decocção: de 2 a 3 g (parte seca) ou 4 a 5
g (parte fresca) para 100 ml. Tomar 100 ml
de duas a três vezes ao dia.
Características ayurvédicas:
Rasa: adstringente, amargo (casca do
fruto e da raiz), doce e ácido (fruto e
sementes)
Virya: fria
Vipaka: doce
Ação nos doshas:
A casca do fruto, as sementes ou a casca
da raiz aliviam os três doshas. O fruto e as
sementes da variedade mais ácida podem
agravar pitta.
Ações:
Adstringente, cicatrizante, anti-inflamatória
e hemostática, além de tônico digestivo.
Indicações:
Por ser adstringente e protetora das
mucosas é indicada para tratar dores de
garganta, amigdalites úlceras gástricas e
colites. Auxilia também no tratamento de
bronquites e leucorréias.
Contraindicações:
Contraindicado
gestacional.
Fonte: (CARNEIRO, 2009); (LAD, 2007).
durante
o
período
74
9.3 Massagem Ayurvedica
A massagem figura como uma das mais antigas técnicas naturais para
reestabelecer o equilíbrio físico e psíquico, tendo sido empregada por diversos
povos desde épocas remotas (ANTÔNIO, 1998). Na Índia, onde teve início a
tradição ayurvédica, a massagem costuma ser realizada não somente por
profissionais, mas também por amigos e indivíduos de uma mesma família,
tornando-se parte de uma tradição familiar, tamanha a sua importância nesta cultura
(VERMA, 2003).
De forma geral, os benefícios da massagem oriental são: melhora da
percepção e sensibilidade corporal, além de relaxamento e bem estar, pois o
cuidado ofertado durante a sessão de massagem gera maior confiança e sensações
de acolhimento. De forma específica a massagem ajuda na melhora da imunidade: a
estimulação da pele produz ativação dos linfócitos T no organismo (MONTAGU,
1998); tem efeito calmante: o toque terapêutico diminui a ansiedade (MONTAGU,
1998). Pisani (1985) faz referência de que quando se atua sobre o sistema nervoso
autônomo, acalmam-se as emoções e um dos benefícios é a reabsorção de
edemas. Segundo Leduc (2000) a massagem facilita a circulação de retorno onde
esta se encontrar lenta ou estagnada. Já segundo Jacquemay (2000), esta prática
auxilia na reabsorção de diversas toxinas e reativa a circulação de proteínas do meio
intersticial. Reduz a estafa e ajuda a aliviar os efeitos do estresse como a
hipertensão, úlceras, indigestão, doenças infecciosas, distúrbios gastrointestinais,
insônia, dores de cabeça, ansiedade e depressão, além da liberação de endorfinas
(DOUGANS, 2001).
A massagem ayurvédica, que foi desenvolvida há pelo menos 5.000 anos,
tem comprovado durante este tempo sua eficácia na liberação das toxinas do corpo,
no seu rejuvenescimento e no combate ao stress e agitação mental. De acordo com
Cardim (1999), a massagem ayurvédica tem a possibilidade de criar durante o
tratamento, um processo liberador de fluidos corporais que começa a se ativar
durante a prática e passa a reequilibrar o funcionamento das células do corpo e
órgãos, além de melhorar a circulação energética corporal.
75
Um dos primeiros benefícios verificados se dá na circulação sanguínea, que
é ativada naturalmente. De acordo ainda com Cadim (1999), A massagem
ayurvédica não fabrica células sanguíneas, mas direciona-as por todo o corpo,
renovando-o intensamente. A ativação da corrente sanguínea e energética irriga os
tecidos, além de produzir um efeito analgésico natural, pois o que dói, geralmente
passa a doer menos. Outro fator positivo que ocorre durante o procedimento é o
aumento do fluxo sanguíneo, mas sem esforço direto do coração. Desta forma, o
pulso (frequência cardíaca) baixa e o coração passa a funcionar mais lentamente,
proporcionando ao indivíduo um descanso natural.
A massagem com óleos é uma das mais praticadas na terapia ayurvédica. O
óleo faz com que a massagem seja mais flexível e profunda, além disso, o corpo
quando é massageado seco, pode gerar certos desconfortos a quem recebe a
prática, além de agravar o dosha vata. O óleo utilizado na massagem elimina a
secura da pele e lubrifica os tecidos, o que ajuda a retardar também o processo de
envelhecimento (EDDE, 2002).
Alguns óleos aromáticos apresentam uma ação de equilíbrio sobre a mente e
ajudam na harmonia dos três doshas. Determinados óleos ajudam também a
purificar as emoções negativas e aumentam as emoções positivas, melhorando
assim nossa capacidade de recepção e percepção (FRAWLEY, 2008).
Segundo Verma, (2003), a massagem terapêutica ayurvédica pode ser feita
não apenas para trazer benefícios físicos ao paciente, mas também, para trazer a
liberação de emoções e outras impressões latentes que nos atrapalham a vida.
Desta forma, na massagem é importante que o naturólogo conheça a constituição e
o desequilíbrio do paciente.
Existem diversos tipos de massagens na terapia ayurvédica, cada uma delas
com
suas
próprias
manobras
e
indicações
para
reestabelecer
diversos
desequilíbrios. Neste estudo a prática que será abordada com profundidade, será a
massagem com óleo, pois além dos benefícios físicos e psicológicos descritos
acima, essa massagem possui uma importante função no reequilíbrio dos doshas,
principalmente vata e pitta.
76
9.3.1 Massagem para as pessoas do tipo Vata
Para os indivíduos com predomínio do dosha vata, é recomendado que se
realize uma massagem leve e nutritiva, pois estes indivíduos são mais sensíveis e
sua estrutura óssea costuma ser mais frágil. É recomendado que se use bastante
óleo. Os óleos acrescidos de ervas medicinais são importantes para este tipo de
constituição. A pressão exercida deve ser sempre suave e harmonizante, e deve ser
aplicada quando o paciente estiver relaxado. Recomenda-se também aquecer os
óleos e ervas, que devem ser aplicados mornos ou quentes (sem, porém, ferir o
paciente). Se for constatada alguma irregularidade na estrutura óssea, é importante
que o terapeuta realize o procedimento com maior cuidado. É especialmente
importante também massagear as sedes de vata no corpo: intestino grosso, pelve e
o tronco (ATREYA, 2000).
Os melhores óleos para vata são: gergelim, amêndoa, rícino e mostarda. Já
os melhores óleos essenciais para utilizar nas massagens para este tipo de
constituição são: sândalo, almíscar, mirra e gualtéria (ATIKNSON, 2000).
9.3.2 Massagem para as pessoas do tipo Pitta.
Os indivíduos com predominância do dosha pitta geralmente precisam de
uma massagem que nutra e solte os tecidos. Movimentos muito rápidos podem irritar
os tipos pitta se forem aplicados em demasia. A massagem deve começar com uma
técnica de harmonização, recomenda-se também que seja feita uma técnica de
massagem dos tecidos mais profundos, para soltar as tensões e as impressões
latentes, desde que o paciente seja bem preparado e avisado de antemão. Os óleos
e ervas frias são os melhores para este tipo constitucional, e devem ser aplicados
mornos no inverno e frios no verão. Usa-se uma quantidade moderada de óleo, pois
a constituição pitta já é um pouco oleoso por natureza. É especialmente importante
massagear o abdômen, que é a sede do humor pitta (ATREYA, 2000).
Os melhores óleos para pitta são: oliva, coco, girassol e ghee. Já os melhores
óleos essenciais são: sândalo, rosas, alfazema e jasmin (ATIKNSON, 2000).
77
9.3.3 Massagem para as pessoas do tipo Kapha
Os indivíduos do tipo kapha precisam de um misto de técnicas de ativação e
liberação. Indivíduos com predominância desta constituição precisam de muito
menos óleo e, depois da massagem com óleo, deve-se aplicar pó de ervas para
secar a pele e criar fricção. Com isso, o corpo e a circulação são estimulados ainda
mais. Os movimentos rápidos e vigorosos são necessários e são os mais
apropriados para este tipo de constituição. É nestes movimentos que se deve aplicar
o óleo. É necessário que se penetre os níveis mais profundos dos tecidos, além de
combater a estagnação nos sistemas orgânicos do corpo. Recomenda-se que se dê
uma atenção especial ás articulações, ao peito e á região do estômago. A
massagem vigorosa do plexo solar é muito boa para intensificar agni, o fogo
digestivo (ATREYA, 2000).
Os melhores óleos para kapha são: mostarda, girassol, milho e gergelim. Já
os melhores óleos essenciais são: almíscar, cedro, mirra e eucalipto. Lembrando
sempre de aplicar em pequenas quantidades e na temperatura quente ou morno,
pois este dosha é oleoso e frio (ATIKNSON, 2000).
9.3.4 Massagem com oleação
A massagem com oleação é realizada aplicando-se um pouco de óleo ou
gordura animal na extensão corporal. Para cada tipo constitucional existem algumas
qualidades de óleos vegetais e essenciais e uma quantidade determinada que deve
ser aplicada, para que ao invés da harmonização, não se agrave o desequilíbrio.
Quando houver a identificação da constituição do indivíduo e a identificação do
eventual desequilíbrio, os procedimentos abaixo podem ser efetuados, de acordo
com as particularidades e indicações específicas de cada constituição, no intuito de
reequilibrar e trazer bem estar físico e psicológico.
1. A massagem com óleo deve ser iniciada na região central do corpo, entre o
abdômen e o tórax. Essa região é chamada de hrdya ou plexo solar. Segundo
o ayurveda, esta região é o local de manifestação do fogo corporal, ou
78
sistema de distribuição energética, e por isso, quando há o estímulo, ocorre o
relaxamento instantâneo.
2. Após a primeira manobra, peça para que a pessoa se deite de costas em uma
posição relaxada. Pegue um pouco de óleo e aplique suavemente com os
dedos na região descrita anteriormente. Continue a massagear com
delicadeza com os dedos de ambas as mãos de maneira ritmada.
3. Certifique-se de que a pessoa já esteja completamente relaxada e tente não
passar tensão ou insegurança para a mesma.
4. Gradualmente, vá para a parte abdominal inferior e massageie-a bem e com
suavidade. É indicado não massagear esta área casa a pessoa esteja com
vontade de evacuar.
5. Continue a aplicar o óleo, pois isto não somente ajuda os dedos a deslizarem
com maior facilidade, mas também penetra na pele, auxiliando a
reestabelecer o dosha agravado, principalmente vata.
6. Enquanto massagear a parte abdominal, pressione suavemente com as mãos
para verificar se existe alguma rigidez ou dor nas partes internas. Se houver
algum desconforto causado pela pressão, isso pode indicar algum dano
interno como inflamação ou constipação.
7. Massageie bem as partes abaixo do umbigo, pois trata-se da área urináriagenital.
8. Massageie a região do peito e dos ombros e depois trabalhe lentamente nos
braços, um de cada vez.
9. Massageie os pulsos, polegares e articulações dos dedos.
10. Depois, comece a massagear á partir dos pés, dando maior atenção aos
dedos. Segundo o ayurveda, a massagem nos dedos promove a visão.
Massageie também cada espaço entre os dedos, fazendo movimentos para
dentro.
11. O tornozelo deve ser massageado em todas as direções e a região acima do
calcanhar deve ser especialmente atendida.
12. Enquanto massagear as pernas, trabalhe a região lateral da projeção central
da fíbula. Efetue movimentos lineares de baixo para cima nesta região
deslizando os dedos junto ao osso.
13. No joelho, faça os movimentos da massagem em duas direções opostas –
primeiro no sentido horário, e depois, no sentido anti-horário.
79
14. Massageie bem todas as partes das coxas e use as palmas das mãos para
aplicar um pouco mais de força nesta região. Massageie desta forma também
a região lombar.
15. Após massagear a região lombar, peça para que o paciente se vire e
massageie as costas.
16. Massageie os quadris e a parte inferior das costas acima dos quadris
prestando atenção á musculatura e aplicando a pressão devida.
17. Continue a subir de ambos os lados da coluna vertebral na direção dos
ombros. Massageie o pescoço com uma das mãos e tomando-o entre os seus
dedos e o polegar.
18. Comece a massagear a coluna vertebral á partir da extremidade inferior.
Existem três canais de energia nesta região. Um corre ao longo da coluna
vertebral e representa sattva. Do lado esquerdo e direito da coluna dois
canais representam tamas e rajas respectivamente. A massagem nesta
região é de muita importância na terapêutica ayurvédica.
19. Massageie a base da coluna vertebral (próximo da última vértebra),
primeiramente realizando movimentos circulares em ambas as direções.
Prossiga lentamente para a região do pescoço. Depois comece novamente de
baixo iniciando do centro. Realize movimentos da mesma maneira colocando
a mão sobre cada vértebra.
20. Após finalizada a região das costas, peça ao paciente que se deite de costas
mais uma vez e realize uma massagem suave com óleo sobre a testa.
Aplique um pouco de óleo e coloque os dedos de ambas as mãos no meio da
testa com os polegares lateralmente dispostos. Deslize-os na direção oposta
ás têmporas. Repita o movimento diversas vezes.
21. Finalize a massagem e após o término, o paciente deve repousar por algum
tempo e se possível, tomar uma ducha morna ou quente depois.
80
10 DISCUSSÃO
O presente trabalho resume diversas literaturas conceituadas com o objetivo
de incentivar o naturólogo a buscar um conhecimento mais profundo sobre a
medicina ayurveda, e salientar a importância deste conhecimento, servindo como
uma compilação de conceitos e podendo ser utilizada como instrumento para que
ele possa inserir determinadas práticas na sua rotina de atendimentos, caso seja de
sua escolha.
Não se trata apenas de mostrar alguns determinados conceitos sobre esta
filosofia oriental, mas também criar uma relação entre o que é aprendido durante
todo o ciclo acadêmico da naturologia e relacionar este aprendizado a filosofia
ayurvédica.
Um dos aspectos mais interessantes da Naturologia, é que esta ciência não
visa
aplicar
apenas
uma
determinada
técnica
ou
conceito.
Existe
uma
transdisciplinaridade de técnicas, práticas e conceitos, de diversas filosofias
diferentes, mas que buscam o mesmo resultado: ver o ser humano como um ser
único e complexo, entendê-lo de forma integral e assim buscar trata-lo de forma
individual e integral também.
Compreender a teoria milenar dos doshas pode auxiliar para que o tratamento
se torne ao mesmo tempo mais amplo, em suas possibilidades, e desta forma, com
maiores possibilidades de sucesso em seu objetivo, que é reestabelecer a saúde e
proporcionar bem estar ao indivíduo.
Á partir do momento em que o naturólogo identifica em seu paciente uma
constituição, formada pela predominância de dois elementos da natureza, o
entendimento do que está ocorrendo com o indivíduo pode se tornar mais claro e
amplo.
Uma constituição tem características e particularidades que o indivíduo que a
possui carrega consigo. Desta forma, cada constituição possui comportamentos
típicos e suscetibilidades. Para que o equilíbrio mental e físico desta pessoa seja
preservado ou reestabelecido, é necessário que ele evite certos hábitos e condutas
e cultive outros, e este é um dos motivos que fundamentam a importância do
conhecimento da teoria dos doshas por parte do profissional da naturologia.
Desta forma, á partir do conhecimento desta teoria, é possível que o
naturólogo insira em seu atendimento aspectos que fortaleçam determinada
81
constituição que precisa ser fortalecida, e da mesma forma, permite que ele
conscientize seu paciente a deixar de lado outros hábitos que o enfraquecem e são
nocivos a ele, como por exemplo, o consumo de determinados alimentos.
A saúde é uma responsabilidade individual. Este é um conceito muito
explorado tanto na Naturologia, quanto na medicina ayurveda. O naturólogo não é o
único responsável por promover saúde a seu interagente, ele apenas viabiliza meios
para que isso ocorra. Desta forma, naturólogo e paciente não podem andar em
direções opostas, é fundamental para o sucesso do tratamento que as práticas de
ambas as partes estejam em sintonia. O naturólogo pode efetuar diversas propostas
e práticas terapêuticas em seu consultório, mas se o paciente não estiver disposto a
adotar hábitos saudáveis e entrar em um processo de auto-conhecimento e
entendimento do seu processo de adoecimento, os resultados tendem a não ser tão
satisfatórios.
Exemplificando o conceito acima, sabe-se que o dosha Kapha é formado
pelos elementos água e terra. Sendo assim, possui suscetibilidades decorrentes
desta formação, como tendência á letargia, acúmulo de fleuma, distúrbios
respiratórios, formação excessiva de muco e obesidade. O naturólogo pode tratá-lo
de diversas formas com massagem, fitoterapia e orientações alimentares entre
outras técnicas, mas se este paciente não deixar de consumir determinados
alimentos que foram listados no trabalho, e deixar de ter certos hábitos e condutas,
ele pode agravar cada dia mais seu estado, não conseguindo sair deste ciclo de
acúmulos. O mesmo conceito se aplica aos outros dois doshas, vata e pitta.
O naturólogo pode utilizar-se de várias práticas ayurvédicas com o intuito de
reestabelecer a saúde, mas no presente estudo foram discutidas três práticas que
muitas vezes já fazem parte da sua rotina de tratamento, que são: alimentação,
fitoterapia e massagem, mas com os conhecimentos do ayurveda, ele pode utilizarse destas práticas analisando-as de forma diferente. Na alimentação ele pode
orientar seu paciente a consumir determinados alimentos e deixar de consumir
outros, o que pode tornar o tratamento mais efetivo. Na fitoterapia á partir dos
conceitos ayurvédicos, ele pode analisar a planta não apenas baseado em suas
características químicas e efeitos sobre o organismo, mas pode vê-la como algo
mais complexo, analisando, seu sabor, sua potência, sua ação sobre os doshas, e
assim, utilizar-se das plantas para promover o equilíbrio de uma forma mais
direcionada para aquela constituição.
82
Nas práticas de massagem, á partir do momento em que o naturólogo
identifica em seu paciente a predominância de um dosha, o ayurveda proporciona a
ele a possibilidade de escolher determinados óleos, aconselha a não fazer
determinados movimentos e a fazer outros, e desta forma, a massagem ganha uma
nova abordagem e uma visão diferente.
Diante de todas as referencias citadas ao longo do estudo, pode-se perceber
que os conceitos da naturologia como ciência, e da medicina ayurveda possuem
muitas semelhanças. Cada técnica que é aplicada na naturologia é de muita
importância, e desta forma, em conjunto com as outras técnicas a medicina
ayurveda e a sua história de mais de 5.000 anos pode agregar muitos aspectos
positivos ao tratamento naturológico, e sendo aborado e aplicado de forma correta,
tem a possibilidade de proporcionar resultados mais efetivos na promoção do bem
estar e reequilíbrio da saúde.
83
11 CONCLUSÃO
A Naturologia propicia um conhecimento profundo do indivíduo em relação a
si mesmo, a seu corpo e ao complexo conjunto de fatores que formam sua estrutura
física, psicológica e emocional. Desta forma, diante do processo de adoecimento,
que envolve vários fatores, o naturólogo pode promover ao seu interagente uma
oportunidade de auto-conhecimento e entendimento do que aquela doença ou
desequilíbrio está fazendo com ele, o porquê daquele processo estar ocorrendo,
criando assim uma motivação para a reconstrução da própria saúde. O resultado
pode ser uma melhora generalizada, tanto no plano físico, quanto no mental,
energético, social e psíquico.
O resgate da sabedoria e de conceitos tão antigos, como os conceitos
orientais ayurvédicos abordados neste estudo, pode ser de muita importância para o
naturólogo em sua prática clínica, pois saber identificar a constituição natal do
indivíduo (prakriti) e os desequilíbrios que o mesmo vem sofrendo (vikriti), auxiliam
para que possa haver um tratamento mais amplo e direcionado, respeitando as
particularidades do mesmo.
Entender os doshas e suas particularidades, nos auxilia a entender todo um
sistema complexo de que somos formados. Á partir do entendimento, é possível que
se identifique o desequilíbrio, e se reestabeleça o equilíbrio através de três pilares
importantes de tratamento abordados neste estudo, que são: alimentação, fitoterapia
e massagem ayurvédica, aliados a outras práticas propostas pela naturologia.
84
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