TOMÉ PORTES DEL REI E A FUNDAÇÃO DO 1º NÚCLEO HABITACIONAL DA
REGIÃO DO RIO DAS MORTES
Por José Cláudio Henriques, titular da cadeira nº 1 do IHG, cujo patrono é Tomé Portes
del Rei
Tomé Portes del Rei nasceu por volta de 1630. Inicialmente morou em Mogi das Cruzes
e posteriormente em Taubaté. Era filho de João Portes del Rei, este descendente de um nobre
português e de Juliana Antunes, filha de Antônio Preto. Tomé casou-se com Juliana de Oliveira,
filha de Francisco Correa de Oliveira e Ângela da Mota. Geraram os seguintes filhos:
1. Maria Antunes Cardoso c. c. cap. Antônio Garcia da Cunha;
2. Margarida Antunes Cardoso c.c. Antônio da Cunha Gago, filho de Jorge Dias Velho;
3. João Portes del Rei c.c. Catarina Bicudo;
4. Leonor Homem del Rei c.c. o Sargento-mor Miguel Garcia Velho, irmão de Simão e
Antônio Garcia Velho.
[RETIRAR CITAÇÕES ATÉ 6] No livro “São Francisco das Chagas de Taubaté”
(1996), de autoria do historiador, engenheiro, professor e ex-prefeito da cidade de Taubaté, Dr.
José Bernardo Ortiz, temos diversas citações a respeito de Tomé Portes, que passaremos a
descrever resumidamente:
1. Tomé Portes já realizara entradas no desbravamento de sertões do vale do Paraíba e
da Mantiqueira e além do cunhado, Bartolomeu da Cunha Gago, dois de seus genros
também se fizeram bandeirantes. Eram: Miguel Garcia Velho, desbravador da região
de Itajubá, e Antônio Garcia da Cunha.
2. Certamente Tomé Portes del Rei ingressou nos sertões mineiros a partir da 2ª metade
da última década de 1600, já pelos seus sessenta anos. Andava acompanhado de seu
genro Antônio Garcia da Cunha, juntamente com suas esposas, filhos e outros parentes
e já estavam afazendados no local antes da passagem do século, onde Tomé Portes
plantou grandes roças que abasteciam os migrantes em trânsito por aquele caminho,
na famosa era da escassez de alimentos, de 1697 a 1701.
3. No códice Costa Matoso, bem como outros documentos antigos, Tomé Portes já estava
presente no rio das Mortes, quando poucos povoadores ainda aí existiam, além do
comércio que praticava, explorava também a travessia do rio das Mortes, como dono
de uma canoa, junto ao seu estabelecimento.
4. Em 1701, com os seus seguidores construiu um pequeno povoado ribeirinho
denominado Arraial do Rio das Mortes, do qual foi o principal fundador.
5. Em 1702 esse grande desbravador foi assassinado, num levante, por alguns de seus
escravos. Os assassinos foram logo presos por outros escravos e agregados, que os
mataram e esquartejaram junto ao próprio Arraial.
De sua prole muitos ficaram radicados na região, principalmente pelo lado de
Carrancas, Piedade do Rio Grande e Santana do Garambéu. Nesse último povoado moraram
alguns descendentes, como ANA PORTES DEL REI, falecida em 25/12/1812, cujo inventário
de 1813, possuía a Fazenda da Lage, na Aplicação da N. S. de Santana do Garambéu. Seu
testamenteiro foi Antônio Francisco de Freitas, que era seu filho. Foi casada com Francisco de
Freitas e tiveram 5 filhos:
1. Antônio Francisco de Freitas, o inventariante;
2. Rosa Maria de Freitas;
3. Manoel Francisco de Freitas;
4. Maria Francisca de Freitas, casada com Roque Portes del Rei;
5. José Francisco de Freitas.
A esposa de Tomé Portes, Juliana de Oliveira, voltou a Taubaté, onde faleceu em 1728.
Antônio Garcia da Cunha permaneceu na região de São João del Rei por algum tempo,
voltando também a Taubaté, onde findou seus dias em 1731.
No livro: Bairro de Matosinhos, berço da cidade de São João del Rei encontra-se várias
citações com suas respectivas fontes primárias:
"O Rio das Mortes, que fica à parte do poente de Vila Rica, na estrada, que vai para
São Paulo, foi descoberto por Tomé Portes del Rei, natural da Vila de Taubaté,
passados bastante anos, depois dos mais descobrimentos, não porque estivesse remoto,
senão porque Deus foi servido dilatar por mais tempo o ampliar seus haveres, pois este
rio se passa primeiro vindo de São Paulo, cinco dias de viagem comuns, antes de
chegar a Vila Rica, e por ele passavam todos os mais descobridores já referidos, sem
fazer nele experiência alguma.” (Taunay: 1981, p. 46)
“O dito Portes, que se situando na mesma passagem, viveu anos de fabricar
mantimentos para vender aos mineiros, que passavam para as minas, ou
voltavam para os povoados, fazendo neste negócio altíssimas fortunas, até
que pelos cascalhos, que se descobria pelos barrancos do rio, fazendo
experiência neles descobriu ouro.” (Taunay, 1981, p. 46)
“E logo pelo ribeirão, que ao pé da mesma passagem fazia barra, fez o
mesmo, que se portou com tal grandeza, que à margem dele se formou uma
tal povoação, que é hoje a Vila de São João del Rei, cabeça de comarca com
grandiosos templos, e amplíssimo termo, com uma ponte real na passagem,
que rende a real fazenda em suas rematações trienais consideráveis
cômputos.” (Taunay, 1981, p. 46)
“Em 1701, estando o ouro em aloprada, desatinada exploração nas Gerais,
Tomé Portes del Rei foi nomeado Guarda-Mor distrital do Porto Real da
Passagem. [Arquivo Nacional “Governadores do Rio de Janeiro”, livro VII,
fl. 17, citado por Altivo Sette].”
No sentido etimológico da palavra, “fundação” tem por definição: “Ato do Estado, ou
liberalidade privada, por doação ou por testamento, que institui uma pessoa jurídica autônoma
destinada a fins de utilidade pública ou de beneficência, mediante dotação especial de bens
livres”.
Na “Historia Antiga de Minas Gerais, vol 1, de Diogo de Vasconcelos (1843-1927) 4ª
edição à página 188, temos mais duas citações que confirmam a presença de Tomé Portes no
Rio das Mortes, bem como a hipótese de que as primeiras bandeiras não passaram por São João
del Rei e sim dando volta por Ibituruna, Itapecerica, Pitangui e Paraopeba, para chegar na
esplendorosa região aurífera do Tripui e finalmente na região do Rio das Mortes,
especificamente no Porto Real da Passagem. Vejam as duas seguintes citações de Vasconcelos:
“Foi preciso que João de Siqueira Afonso, quando regressava para São
Paulo, hospedando-se em casa de Tomé Portes, na passagem do Rio das
Mortes, pesquisasse as areias, e visse no lastro das águas a mesma formação
de seus outros descobrimentos, deixando ao proprietário as instruções, cuja
boa fortuna deu de resultado o inicio auspicioso de São João del Rei, ao
mesmo tempo que nas mesmas circunstâncias Antônio Bueno desvendava os
veeiros da Ponta do Morro, preparando o berço da famosa vila de São José”.
“Em suma, o ciclo dos primeiros descobrimentos ficou encerrado pelo mesmo
João de Siqueira Afonso nas minas da Aiuruoca, fraldas da Mantiqueira, em
1706. À pequena distância de Taubaté, foi mister, que primeiro se
descortinasse o âmbito imenso das Minas Gerais, que a luz e a palavra dos
bandeirantes circulassem de Pitangui ao Casca, de Itaverava ao Serro, para
que se finalizasse, quase a dentro do ponto de partida, a epopéia dos
bandeirantes”. (obs. É também atribuído a João de Siqueira Afonso a
fundação de Piranga, Tiradentes e Aiuruoca)
Prosseguindo:
“No ano de 1704, com pouca diferença, morando sobre o Rio das Mortes
desta parte, onde hoje é, e foi sempre o Porto da Passagem, Antônio Garcia
da Cunha, Taubateano, que por morte do dito Tomé Portes, seu sogro,
sucedeu em Guarda-Mor para a repartição das terras minerais, assistia na
sua vizinhança um Lourenço da Costa, natural de São Paulo, que servia ao
dito Antônio Garcia de seu escrivão das datas; este descobriu o ribeiro que
corre por detrás dos morros desta Vila de São João, para a parte do Noroeste,
e foi repartido entre várias pessoas com o nome de São Francisco Xavier, e
tem dado, e dá ainda hoje ouro, e não só no princípio do seu descobrimento,
mas em alguns anos depois se lhe acharam e algumas paragens pintas ricas.”
(MATTOL, citado por TAUNAY: 1981, p. 176 )
Poderíamos dizer também que a família de Tomé Portes foi relacionada com a mãe de
Bárbara Eliodora, Dona Maria Josefa Bueno da Cunha, já que ela era bisneta do Cabo Amador
Bueno da Veiga (filho do aclamado Rei de São Paulo, de mesmo nome), casado com Marta de
Miranda del Rei, sobrinha de Tomé Portes e filha de Maria Portes del Rei, irmã de Tomé Portes.
A fundação do nosso primeiro núcleo habitacional, tudo indica ser em 1701, já que a
história oral, bem como os grandes pesquisadores, tais como: Augusto Viegas, Sebastião Cintra,
Geraldo Guimarães, Luis de Melo Alvarenga, Altivo Sette, José Bernardo Ortiz de Taubaté, e
outros mais, defendem esta data, bem como o bandeirante Tomé Portes del Rei, seu fundador.
- A história também registra que Tomé Portes foi assassinado por alguns de seus
escravos, em 1702.
Se o fundador do núcleo habitacional da vindoura cidade de São João del Rei morreu em 1702,
como comemorar 300 anos somente em 2005? Aliás, a terminologia “São João del Rei”,
somente foi conhecida, quando no dia 08 de dezembro de 1713, Dom Braz Baltazar da Silveira
elevou publicamente, com pelourinho e câmara o brioso Arraial Novo de Nossa Senhora do
Pilar do Rio das Mortes à condição de Vila, com o nome de São João del Rei, em homenagem
ao Rei Dom João V de Portugal.
- Muitos anos se seguiram e dado ao grande desenvolvimento econômico, político e
geográfico, o presidente da Província de Minas Gerais, Dr. José Cesário de Miranda Ribeiro,
através da lei provincial nº 93 elevou a Vila de São João del Rei à categoria de cidade, em 06 de
março de 1838.
FONTES PRIMÁRIAS CONSULTADAS:
1. 4ª Notícia Prática que dá Pe. Diogo;
2. A Revista de História e Arte, Nº 7, 1966, Belo Horizonte.
3. ADAO, Kleber do Sacramento. Devoções e Diversões em São João del Rei: Um estudo
4. ALENCAR, Gilberto de. Tal Dia é o Batizado - Editora Itatiaia - 2ª edição.
5. Alvarenga, Luís de Melo. Rápido Passeio pela Cidade Colonial de São João del Rei. Belo
Horizonte, Grafilivros;
6. ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL. Vol. 115 – Rio de Janeiro, 1998.
7. ASSIS, Francisco de. Revista do Arquivo Público Mineiro – 1983.
8. Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. Brasília/ Belo Horizonte: Imprensa Oficial de
9. AZEVEDO, J. Lúcio. Épocas de Portugal Econômico. 4ª edição. Lisboa (Portugal). Clássica
Editora, 1988. 502 p.
10. BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Original por Tinslay
Brothers, Londres, 1869. Publicado no Brasil por Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1976.
11.
12.
13.
14.
CANABRAVA BARREIROS, Eduardo. Episódios da Guerra dos Emboabas e sua
CAPRI, Roberto. Minas Gerais e seus Municípios, 1916.
Cintra, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João del Rei. 2ª ed. Belo Horizonte:
CINTRA, Sebastião de Oliveira. Galeria das Personalidades Notáveis de São João del Rei:
FAPEC, 1994. 270 p.
15. FALCÃO, Edgard Cerqueira. A Basílica do Senhor Bom Jesus de Congonhas do Campo –
Brasiliência Documenta.
16. FEU DE CARVALHO, Theophilo. Revista do Arquivo Público Mineiro - Volume 1 – 1933.
Geografia. São Paulo: ed. Univ. São Paulo. Belo Horizonte: ed. Itatiaia, 1984. 116 p. Coleção
Reconquista do Brasil.
17. GOLGUER, ISAÍAS. Guerra dos Emboabas. 2 ed. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1982.
254p. Conselho Estadual de Culturas de MG.
18. GUIMARÃES, Geraldo. São João del-Rei - Século XVIII - História sumária.
Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1982. 2v.
19. Jornais: O Arauto de Minas, O Dia, O Correio de São João del Rei, O Grande Matosinhos.
20. LAGO, ISABEL. Jornal O Grande Matosinhos, abril/maio de 2003.
21. LIMA, João Francisco de. Bárbara, A Heroina da Inconfidência - Editora e Distribuidora de
Livros Ltda – 1976.
22. MATOS, Raimundo José da Cunha. Corografia Histórica da Província de Minas Gerais –
Arquivo Público Mineiro – Belo Horizonte, 2 vol., 1981.
23. MAXWELL, Kenneth R. A Devassa da Devassa: A Inconfidência Mineira, Brasil Portugal, 1750 - 1808; tradução de João Maia - Rio de janeiro, Paz e Terra, 2ª edição –
1978. 317 p.
MG, 1976 a 1983. 11 volumes.
24. OILIAM, José. Tiradentes. São Paulo, ed. Itatiaia Limitada, vol 89. 1985. 240 p.
25. OLIVEIRA MARQUES, A .H. de. Breve História de Portugal. 1ª edição. Lisboa (Portugal).
Ed. Presença. 1995. 710 p.
26. OLIVEIRA MARQUES, A. H. de. História de Portugal. 10ª edição. Lisboa (Portugal). Palas
Editores. 1984. 537 p.
27. OLIVEIRA MARTINS. História de Portugal. 20ª edição. Lisboa (Portugal). Ed. Guimarães.
1991. 471 p.
28. Ortiz, José Bernardo, “São Francisco das Chagas de Taubaté” (1996),
29. PAES LEME, Pedro Taques de Almeida. Notícias das Minas de São Paulo e dos Sertões da
Mesma Capitania. São Paulo, Editora Itatiaia Limitada, vol 27. 1980. 239 p.
30. PASSARELLI, Ulisses. Informativo da Festa do Divino Espírito Santo de Matosinhos, ed. 1
a 5, 1998 a 2002.
31. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1933. vol. 1.
32. Revista do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais - nº 3 – 1970.
33. Revista do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1972. 261 p. Nº 3.
34. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del Rei. 10 volumes.
35. SENA, Nelson de. Anuário Histórico Cronográfico, 1909.
36. SERRÃO, Joel e Oliveira Marques, A. H. de. Coordenação de Maria Beatriz Nizza da Silva.
Nova História da Expansão Portuguesa - O Império Luso- Brasileiro (1750 - 1822). Volume
VIII: Ed. Estampa, 1986.
sobre as Festas do Bom Jesus de Matosinhos 1884-1924. Tese de doutorado, UNICAMP,
2001, 244 P.
37. SOBRINHO, Antônio Gaio. Santos Negros Estrangeiros, 1997.
38. SOBRINHO, Antônio Gaio. Visita à Colonial Cidade de São João del Rei, 2001.
39. TAUNAY, Afonso de. Relatos Sertanistas. São Paulo, Ed. Itatiaia Ltda, vol 34, 1981, 229 p.
40. VALE, Dario Cardoso. Memória Histórica de Prados – 1985.
41. Vasconcelos, Diogo de. “Historia Antiga de Minas Gerais, de 1843-1927. 4ª edição, vol 1,
Belo Horizonte, 1942;
42. Viegas, Augusto. Notícias de São João del Rei. 1ª ed. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de
Minas Gerais, 1942;
1. NASCE BÁRBARA, FRUTO DA EXPLORAÇÃO INTERIORANA DE PAULISTAS E
PORTUGUESES
Passada a Guerra dos Emboabas, a qual forçou a retirada de parte dos paulistas das minas gerais
para outras praças, bem como a fome de se encontrar novas jazidas em regiões já sondadas
anteriormente por bandeiras paulistas, os Buenos tomaram rumo para um outro novo eldorado
denominado Minas de Cuiabá e Goiás.
O bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, “o moço”, apelidado de o Anhanguera, sobrinho de
Amador Bueno, o aclamado rei de São Paulo fundou em 1727 a Vila Boa de Goiás, nome
escolhido em referência aos índios goyazes que lá existiam. Amador Bueno, o rei, era avô do
Cabo Amador Bueno, comandante dos paulistas na Guerra dos Emboabas, acontecida na região
aurífera de Minas Gerais.
Foi nessa época que Baltazar da Cunha Bueno, filho do Cabo Amador Bueno, foi fazer
companhia a seus parentes. Entre os filhos de Baltazar estava a avó de Bárbara Eliodora
Guilhermina da Silveira, de nome Mariana Bueno da Cunha, que acabou sendo sogra do
português Doutor José da Silveira e Souza (1725 – 1793), que advogava em São João del Rei,
quando esse resolveu mudar sua banca de advogado para Goiás Velho, e lá conheceu Maria
Josefa Bueno da Cunha, filha de Dona Mariana e do capitão-mor de Goiás, José Teixeira
Chaves.
Por sua vez, o Cabo Amador Bueno da Veiga era casado com Marta de Miranda del Rei,
sobrinha de Tomé Portes, fundador da cidade de São João del Rei, e de Bartolomeu da Cunha
Gago, pioneiro da Expedição de Fernão Dias Paes.
Portanto, Bárbara Eliodora é diretamente descendente dos famosos Bueno da Cunha de São
Paulo e de longe com Tomé Portes del Rei, fundador da cidade de São João del Rei. Incluir
organograma genealógico.
Os pais de Bárbara casaram-se em Goiás em 1758, e logo em seguida Dr. José Silveira, volta
para São João del Rei e dá prosseguimento em seus trabalhos de advogado e constitui uma
profícua família composta de 10 filhos, ou seja, sete mulheres e três homens:
Bárbara Eliodora nasceu em 1759;
Francisca Maria do Carmo nasceu em 1761;
Ana Fortunata nasceu em 1762;
Maria Inácia policena nasceu em 1764;
José Maria da Silveira e Souza nasceu em 1766;
Joaquina Maria nasceu 1767;
Iria Claudiana Umbelina nasceu em 1768;
Manuel Joaquim da Silveira e Souza nasceu em 1772;
Mariana Cândida nasceu em 1773, e
Inácio Jose da Silveira e Souza nasceu em 1778.
Bárbara Eliodora possuía rara beleza sendo endeusada pelos viajantes que aqui
chegavam. Um deles
Fotocópia de Bárbara eliodora tirada de uma pintura encontrada na Fazenda Boa Vista, em
São Gonçalo do Sapucaí, onde Bárbara passou seus últimos anos.
2. A FUNDAÇÃO DA CIDADE DE BÁRBARA
A partir do ano de 1697 é que foi concretizada e confirmada a grande quantidade de ouro
existente na região do Tripuí (Ouro Preto). Assim sendo, para lá seguiram centenas de
garimpeiros, comandados por poderosos bandeirantes paulistas. Considerando que o ouro tinha
que ser levado à fundição ou usado como moeda nas grandes cidades e com o aumento de
desbravadores, naturalmente foi descoberto um novo caminho, ou atalho, encurtando a distância
entre o Tripuí e as cidades de Taubaté e São Paulo, de onde originou a maioria desses
desbravadores. Este novo caminho passava por São João del Rei e Carrancas, conforme
registrado na “Corografia” de Raimundo José da Cunha Matos, quando este afirma:
“não confundir o caminho novo do sertão, atalhando em Carrancas, com
o caminho novo do Rio de Janeiro, que só foi concluído em 1704,
passando este último, entre outras, pelas atuais cidades de Matias
Barbosa, Juiz de Fora, Barbacena, Conselheiro Lafaiete para chegar a
Ouro Preto”.(Bairro de Matosinhos, berço da cidade de São João del
Rei, Apud Cunha Matos e Taunay 1979, p. 312)
Ainda no documento sobre os primeiros descobridores, escrito pelo bandeirante Bento
Fernandes, temos a seguinte citação, também ratificada pelo escritor e militar português Cunha
Matos (1837):
“O Rio das Mortes, que fica à parte do poente de Vila Rica, na estrada, que
vai para São Paulo, foi descoberto por Tomé Portes del Rei, natural da Vila
de Taubaté, passados bastante anos, depois dos mais descobrimentos, não
porque estivesse remoto, senão porque Deus foi servido dilatar por mais
tempo o ampliar seus haveres, pois este rio se passa primeiro vindo de São
Paulo, cinco dias de viagem comuns, antes de chegar a Vila Rica, e por ele
passavam todos os mais descobridores já referidos, sem fazer nele
experiência alguma.” (Taunay: 1981, p. 46)
Os paulistas originários das capitanias de São Vicente e Itanhahém, incluindo os
taubateanos, enriqueceram-se e comandaram vários grupos de entradas e saíram para
desbravarem os sertões. A grande presença de taubateanos nos descobrimentos das Minas
Gerais se credita à grande confiança que o governo português depositou no Coronel Salvador
Fernandes Furtado, pai de Bento Fernandes, e no Capitão Manuel Garcia Velho, ambos de
Taubaté, por levarem pela primeira vez doze oitavas de amostras de ouro ao representante do
governo português.
As serras ou morros, como chamavam os bandeirantes, bem como os rios eram pontos
de referência e pontos de sobrevivência para estes, de tal forma que, partindo de Taubaté, o
bandeirante Tomé Portes del Rei e sua comitiva atravessaram a serra da Mantiqueira, na altura
da garganta do Embaú, próximo à cidade de Cruzeiro (SP), tomaram a direção do Rio Grande, e
em seguida o Rio das Mortes a montante, na direção da Serra de São José, entre as cidades de
São João del Rei e Tiradentes. Tomé Portes e seus comandados escolheram o ponto do Rio das
Mortes na altura do bairro de Matosinhos para se estabelecerem, por ser ali uma das partes mais
estreitas do rio, como também pela planície da região, qualidade da terra para se plantar e por
ficarem praticamente a meio caminho entre Ouro Preto (MG) e Cruzília (MG), entroncamento
em forma de cruz por onde também derivavam os bandeirantes para a região de Ibituruna e
Itapecerica.
A bandeira de Tomé Portes composta de grande número de parentes, amigos e auxiliares tinham
por fim a comercialização de comida, animais e serviços com os transeuntes que iam e vinham
das localidades já descobertas, bem como a cata do ouro, conforme consta:
“O dito Portes, que se situando na mesma passagem, viveu anos de fabricar
mantimentos para vender aos mineiros, que passavam para as minas, ou
voltavam para os povoados, fazendo neste negócio altíssimas fortunas, até
que pelos cascalhos, que se descobria pelos barrancos do rio, fazendo
experiência neles descobriu ouro.” (Taunay, 1981, p. 46).
Baseados nestes depoimentos é que vários historiadores são unânimes em afirmar que
daí surgiu um núcleo de habitantes que viria a se chamar Várzea do Porto Real da Passagem,
depois Várzea da Água Limpa e posteriormente Arraial de Matosinhos, hoje bairro de
Matosinhos, tido como berço da cidade de São João del Rei (MG).
Como o sonho de encontrar ouro em grande quantidade, na serra de São José, que fica
ao lado do Porto Real da Passagem não foi bem-sucedido, e com a notícia da descoberta de ouro
no alto das Mercês e serra do Lenheiro, sítios próximos ao centro de São João del Rei, pelo
taubateano João de Siqueira Afonso e o português Manoel João de Barcelos, houve uma
verdadeira debandada dos moradores da Várzea do Porto Real da Passagem para a nova região
aurífera, fundando assim o atual núcleo habitacional central da cidade de São João del Rei:
“E logo pelo ribeirão, que ao pé da mesma passagem fazia barra, fez o
mesmo, que se portou com tal grandeza, que à margem dele se formou uma
tal povoação, que é hoje a Vila de São João del Rei, cabeça de comarca com
grandiosos templos, e amplíssimo termo, com uma ponte real na passagem,
que rende a real fazenda em suas rematações trienais consideráveis
cômputos.” (Taunay, 1981, p. 46)
Apesar dos descobridores terem transitado pelo bairro de Matosinhos a partir de 1697,
não significa dizer que esta data é a data de fundação do Porto Real da Passagem e das
vindouras vilas de São João e São José del Rei, pois até então não temos nenhum documento
que comprove que alguém tenha aportado no Porto Real nessa data. A data de 1701 é a mais
perseguida pelos historiadores são-joanenses, entre eles, Basílio de Magalhães (1933), Augusto
Viegas (1942), Luiz de Melo Alvarenga, Geraldo Guimarães e Altivo de Lemos Sette Câmara,
quando esse afirmou na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del Rei vol. :
“Em 1701, estando o ouro em aloprada, desatinada exploração nas Gerais,
Tomé Portes del Rei foi nomeado Guarda-Mor distrital do Porto Real da
Passagem.
Portanto, 1701 é a data mais provável da fundação do Porto Real da Passagem, em
conseqüência da nomeação de Tomé Portes como Guarda-mor, e conseqüentemente a data mais
provável de fundação do núcleo habitacional das vindouras cidades de São João e São José del
Rei.
No sentido etimológico da palavra, “fundação” tem por definição: “Ato do Estado, ou
liberalidade privada, por doação ou por testamento, que institui uma pessoa jurídica autônoma
destinada a fins de utilidade pública ou de beneficência, mediante dotação especial de bens
livres”.
Portanto, ninguém funda sem uma autorização legal ou sem notificação.
Com a existência de muito ouro na região do Tripuí (Ouro Preto), a região inicialmente
percorrida por Fernão Dias (Ibituruna, Itapecerica e Paraopeba) foi relativamente esquecida.
Naturalmente, o governo português foi reconhecendo as vilas mais ou menos na seqüência
cronológica de seus descobrimentos. Primeiro Mariana, antiga Vila do Ribeirão do Carmo, em
08/04/1711, segundo, Ouro Preto, com o nome de Vila Rica, elevada a Vila em 08/07/1711,
Sabará em 16/07/1711, São João del Rei em 08/12/1713, Serro, antiga Vila do Príncipe, em
29/01/1714, Caeté, antiga Vila Nova da Rainha, em 29/01/1714, Vila de Pitangui em 1715 e
Tiradentes, com o nome de São José del Rei, em 28/01/1718, apesar do seu povoado ter se
iniciado junto com o do bairro de Matosinhos, primeiro com o nome de Arraial de Santo
Antônio e depois Arraial Velho do Rio das Mortes, já que a antiga São João del Rei se chamava
Arraial Novo do Rio das Mortes e depois Arraial de Nossa Senhora do Pilar.
A vila de São João del Rei foi assim denominada, em homenagem a D. João V, rei de
Portugal. Em 06 de março de 1838 foi elevada à cidade.
3. Criação do Arraial Novo de N. Sra. do Pilar do Rio das Mortes
Com a descoberta da grande quantidade de ouro nas imediações da atual igreja das Mercês,
incluindo aí o Riacho São Francisco Xavier e Serra do Lenheiro de onde origina esse riacho, no
qual trazia muito ouro de aluvião.
Download

tomé portes del rei e a fundação do 1º núcleo habitacional da região