Porque as ações falam mais alto do que as palavras
Exmo. Sr. Governador do Pará
Dr. Almir Gabriel
C.C. Exmo Sr. Ministro da Justiça
Dr. Paulo de Tarso Ramos Ribeiro
Manaus e São Paulo, 26 de julho de 2002.
Prezado senhor governador,
O brutal assassinato do líder sindical Bartolomeu Morais da Silva, conhecido como “Brasília”,
é mais um na lista de fatos absurdos e lamentáveis a ocorrer no sul do Pará. Esta região –
que o senhor, como governador, tem a responsabilidade e o desafio de administrar, se tornou
mundialmente conhecida como terra sem lei. Violência, desrespeito aos direitos básicos do
ser humano, escravidão, corrupção, invasão de terras indígenas por madeireiros, grilagem de
terras públicas, destruição e roubo do patrimônio ambiental dos brasileiros, lamentavelmente
viraram regra e sinônimo de impunidade.
Seu governo, Dr. Almir Gabriel, tem o dever de adotar medidas concretas para acabar com a
extrema violência no sul do estado, bem como identificar e punir os responsáveis pela morte
de Bartolomeu Morais da Silva. “Brasília” foi assassinado no início desta semana e vinha, há
alguns meses, denunciando que estava sob ameaças de morte de fazendeiros e madeireiros
da região. Nada foi feito para protegê-lo e garantir sua vida.
O sindicalista foi sequestrado, torturado e assassinado com 12 tiros, na madrugada de
segunda-feira (22/07). O corpo foi encontrado jogado às margens da rodovia SantarémCuiabá, depois que a polícia recebeu um telefonema anônimo de suspeitos de envolvimento
no crime.. Ele teve as duas pernas quebradas antes da execução. Segundo informações, o
sindicalista foi atraído por um telefonema para o Hotel Parazinho, em Castelo dos Sonhos
(PA), no domingo (21/07), de onde desapareceu.
Dois suspeitos, os irmãos Juvenal Oliveira e Francisco Antônio de Oliveira, estão presos.
Segundo representantes de movimentos de base da região, Juvenal Oliveira teria confessado
envolvimento no assassinato de “Brasília” e recebido R$ 10 mil por seu ato criminoso. Os
líderes de movimentos de base acreditam, porém, que os verdadeiros assassinos podem ser
três pistoleiros, que teriam sido entregues ao delegado de Novo Progresso (PA) por mais de
100 posseiros (2) no dia 07 de julho. Os pistoleiros, que estavam fortemente armados, teriam
sido liberados, juntamente com as armas 14 horas depois, de acordo com esses líderes.
De acordo com o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará
(Fetagri), Antônio de Souza Carvalho (“Cajazeiras”), “Brasília”, que era delegado do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Altamira, estava organizando, a seu pedido, um dossiê com
todas as denúncias sobre os abusos e a grilagem de terras na região. O dossiê seria
entregue esta semana à Secretaria de Segurança no Pará.
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O sul do estado tem sido um pólo de atração de trabalhadores rurais, por meio de projetos de
colonização e de reforma agrária. A região também é foco de grilagem e de conflitos com
trabalhadores sem-terra. Áreas da União destinadas aos assentamentos são apropriadas
ilegalmente por fazendeiros. Ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém está instalada ainda
grande número de madeireiras, em busca de espécies altamente valiosas como o mogno.
Castelo dos Sonhos, onde “Brasília” foi assassinado, é uma das portas de entrada para a
área conhecida como Terra do Meio, região que ainda concentra quantidade expressiva de
espécies madeireiras comerciais.
O Greenpeace vem, por meio desta, juntar nossa voz à Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag), que enviou na terça-feira (23/07) um ofício ao
presidente Fernando Henrique Cardoso, com cópias para os Ministérios da Justiça e do
Desenvolvimento Agrário e para a Ouvidoria Agrária Nacional, protestando contra o descaso
do governo com relação aos conflitos no Pará, que culminaram com a morte de "Brasília".
Apoiamos também o manifesto das entidades sociais de Altamira exigindo que a Polícia
Federal atue no caso, já que faltam condições às Polícias Civil e Militar, e as demandas
constantes desse manifesto: envio de uma perícia especializada ao local do crime para colher
provas; que todo o processo seja acompanhado por entidade de defesa dos direitos humanos
e dos trabalhadores rurais; e que seja suspensa a destinação de terras públicas para
fazendeiros nas áreas onde houver assassinato de trabalhadores. Segundo essas entidades,
em 30 anos houve 715 assassinatos de líderes de trabalhadores rurais e ativistas sociais no
Pará. O último deles aconteceu no ano passado, no dia 23/08, quando o também sindicalista
Dema foi assassinado a tiros em sua residência, em Altamira.
Nós do Greenpeace, que também sofremos ameaças em função de nossa luta em defesa da
Amazônia e de denúncias de roubo de madeira em terras indígenas no sul do Pará, pedimos
o total empenho das autoridades na investigação de mais um caso de violência na região. A
impunidade, senhor governador, incentiva o crime.
Respeitosamente,
Frank Guggenheim
Diretor Executivo
Paulo Adário
Coordenador da Campanha Amazônia
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