4º Domingo
do Tempo Comum
Homilia meditada para a Família Salesiana
P. J. Rocha Monteiro, sdb
“Todos se maravilhavam com o seu ensinamento”
Mc 1, 21-28
1. Introdução
É maravilhoso o encontro de Jesus e Seus discípulos em
Cafarnaum. Começa por dizer que tudo aconteceu “em
Cafarnaum, num Sábado durante a celebração comunitária da
sinagoga”.
S. Marcos fala-nos do essencial; não se perde em coisas
secundárias. Ficamos maravilhados com a beleza das palavras
de Jesus, da Sua atitude e do momento de cura e libertação. S.
Marcos insiste na expressão do “espanto”.
2. Força do texto
Jesus começa o Seu ensinamento com estruturas usuais. É
interessante fazer notar que a multidão fica assombrada mais
pela “nova doutrina ensinada com autoridade” do que pelo
poder de Jesus sobre os “espíritos impuros”.
Depois desta “primeira catequese” a fama de Jesus vai espalhar-se por vales e colinas de toda a Galileia. Trata-se dum tempo
novo, duma nova primavera, dum novo espírito na missão de
Jesus.
3. Confronto entre Jesus e os escribas
Os escribas aparecem diante do discurso de Jesus como alguém
do passado, sem doutrina atual, repetidores de slogans, com
falso humanismo.
Ao contrário, Jesus apresenta uma doutrina em defesa do
homem e dos seus valores, uma doutrina descrevendo o mundo
com outras cores, a vida do homem na sua relação com Deus
como libertação e festa, como esperança e compêndio de amor.
Jesus reorienta os discursos proferidos na sinagoga. Ele é profeta
como Moisés, é mensageiro de Deus. Ele é o enviado do Pai, é o
rosto e a palavra do Pai.
4. Luta entre o fascínio e o receio
Este ensinamento fascina-nos e ao mesmo tempo causa-nos
receio. O espírito impuro está dentro de nós. “Que há entre mim
e Ti?”, ou “Que pretendes da minha vida, Senhor?”
É como sermos atraídos por ele irresistivelmente mas, ao mesmo
tempo, mantermos uma distância.
Fazemos muitas vezes o papel do profeta Jonas. Fugimos de
Deus mesmo vendo o bem que poderíamos fazer. Deus liberta,
mas a cura exige a nossa participação e coragem para enfrentar
e de aceitar o mal que existe em nós, as nossas resistências.
Recordamos então que fomos “feitos à imagem de Deus”, que “a
nossa condição humana está ferida pelo pecado” e “reconhecemos
Deus como nosso Pai e Senhor”.
1 Cor 7, 32-35
5. Doutrina cristã
S. Paulo chama a nossa atenção para o essencial da vida
cristã, que é servir a Jesus em liberdade. Faz uma apologia da
virgindade face ao matrimónio. Mas nem uma nem outro são
valores absolutos.
O fundamental é servir Jesus Cristo. Só ele é o Senhor da vida.
Deut 18,15-20
6. Profetismo
O profeta é o que anuncia o futuro mas, sobretudo, o que fala em
nome de Deus para denunciar o mal. Ele age como intermediário
entre Deus e os homens para manifestar a Sua vontade.
“Numa página sublime do Livro dos Números (17, 17-26), Deus
ordena a Moisés que recolha as varas de comando dos chefes das
doze tribos de Israel, para, de entre eles, escolher um que exerça
o sacerdócio em Israel.
Em cada vara foi escrito o nome da respetiva tribo. Por ordem
de Deus, o nome de Levi foi substituído pelo de Aarão. As doze
varas foram colocadas, ao entardecer, na presença de Deus, na
Tenda do Encontro.
Na manhã seguinte, todos puderam ver que da vara de Aarão
tinham desabrochado folhas verdes, flores em botão, flores
abertas e frutos maduros (Números 17, 23).
Dos frutos é dito o nome: amêndoas! vara de amendoeira em
flor e fruto, que, por ordem de Deus, ficará para sempre na sua
presença, diante do Propiciatório. (A. Couto)
É Deus que chama alguém para ser intermediário entre Javé
e o Seu povo; para ser continuador da obra de Moisés, cuja
tarefa principal era dar a Palavra de Deus ao Povo e prolongar o
Espírito da aliança. É o Seu testamento espiritual.
Infelizmente há um profetismo pagão (adivinhação, ciências
ocultas, magia negra, horóscopos...) que é falso, mas quem
muitos trocam pelo profetismo verdadeiro.
O perigo de ser infiel é desvirtuar a Palavra de Deus inculcando
a sua própria palavra. Toda esta problemática está presente na
Igreja de hoje.
Na sociedade de hoje, todo o homem que anuncia a mensagem
é considerado profeta: João Paulo II, Madre Teresa de Calcutá,
Papa Francisco...
O mais admirável e o mais vulgar é que “segundo a disposição
divina, toda a história é em si mesma uma revelação” (H. de
Lubac).
Deus inspira e anima.
Os homens devem “interpretar os sinais dos tempos”, linguagem
de Deus, e através das mudanças da história interpretar a verdade
que é ditada por Deus.
A pequena porção de Israel desembocou em Cristo, o grande
profeta, palavra de Deus e revelação definitiva.
Todos se maravilhavam
com a sua doutrina
Mc 1, 22
Hoje é Sábado à beira do lago clamor
A Palavra de Jesus clarão de esplendor
Cafarnaum sinagoga primeira iluminada
Depois de Caná água em vinho transformada
A frescura da Tua Palavra clemente
Hoje e aqui em flores se transforma
Desvanece dos escribas o ensinamento
Novos céus nova terra em nós nascente
Bendita Cafarnaum Jesus escutaste
Com teu olhar tocaste sua mensagem
Eu me confesso e me curaste do pecado
O barro sagrado criado à tua imagem
Perto de quem chora, está Jesus
Na árvore seca, deserto, está Jesus
No céu sem estrelas nem luar, está Jesus
No homem em pecado, humilhado, está Jesus
Onde não estás Senhor sem estar
Curaste o endemoninhado com firmeza
Homens novos profetas nos fizeste
Teus filhos muito amados nos quiseste
Também agora para mim és maravilha
A vocação de profeta me dás com amor
Em minha casa, no trabalho, sempre serei
Teu Hóspede Divino, meu Senhor, Te amarei.
(J. Rocha Monteiro in “Palavra ardente”)
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