BEM-AVENTURANÇAS: uma provocação ao mundo O Evangelho que foi depositado nas mãos da Igreja é um programa de vida para alcançar a felicidade, a beatitude, a vida ditosa, prazerosa, bem-aventurada... No entanto, a doutrina cristã fala muito de “pecado original” e pouco de “beatitude original”. Existe em nós um “sim” mais profundo que todos os “nãos”; existe em nós uma confiança que é mais profunda que todos os nossos medos. Esta confiança chama-se, em diferentes linguagens, a Beatitude Original, a Confiança Original, o Ser essencial... E nenhuma destas expressões é suficiente para designar esta realidade: no coração de nosso ser mortal podemos experimentar o que nunca morrerá. Mas isso não é alguma coisa ou um ser que se possa agarrar; é um espaço que se pode respirar. O que é a Beatitude na tradição do Evangelho? No texto evangélico, a bem-aventurança ou beatitude tem o sentido de “estar em marcha”, de “estar a caminho”. “Bem-aventurança”, em hebraico, quer dizer “em marcha” e a infelicidade é estar imobilizado, parado sobre a própria imagem, parado sobre as memórias do passado, parado sobre o sofrimento... Em hebraico, a palavra “doença” é “mahala”, que quer dizer andar em círculos, estar preso, fechado em seu sofrimento, em seus pensamentos ou até mesmo em suas emoções. Por isso a bem-aventurança consiste em dar um passo a mais. Esta é uma bela definição da “espiritualidade”, dar um passo a mais a partir do lugar onde estamos. Cada uma das bem-aventuranças é um convite para nos recolocar em marcha, a partir do caminho que já percorremos. Há ainda muito por caminhar. As palavras do Cristo nas Bem-aventuranças poderiam ser interpretadas no sentido em que Ele nos convida a nos colocarmos em movimento, a sair de nossa paralisia e fixação; Ele nos desperta para nos colocarmos em marcha através de nossa sede, de nossa fome de justiça, através dos lutos que temos de superar e das oposições que temos de enfrentar... Cristo nos convida a viver uma felicidade que está em marcha. A vida é movimento e as bem-aventuranças possibilitam a passagem de uma vida suportada para uma vida plenamente assumida. As bem-aventuranças são um resumo das atitudes básicas que devemos nós, os seguidores de Jesus, ter diante dos irmãos, seguindo as pegadas de Seu exemplo. Jesus afirma que são felizes os que têm como desejo fundamental em sua vida a fome de que se cumpra na humanidade o Projeto de Deus Pai. Mas sofrem porque se dão conta de que estão longe do ideal divino. E por isso se solidarizam, visceralmente com misericórdia, com as vítimas do anti-reino, mas sem violência, nem improvisações, senão com a mansidão eficaz de uma boa preparação e planejamento; e com coração puro, cheio de amor, sem manchas egoístas de interesses pessoais. Assim se convertem em construtores da paz, essa paz de Cristo, que não é a do mundo, senão fruto da justiça de Deus. São felizes os que sabem manter-se firmes nesta atitude cristológica apesar das oposições e perseguições que o mundo dos orgulhosos possa lhes infligir. Estes são verdadeiramente os pobres em espírito, que optaram por ser pobres como Jesus, e por isso sabem compartilhar com seus irmãos tudo o que são e tem, e assim conseguem o cume da felicidade. Deles é o Reino de Deus, pior eles são seriamente filhos de Deus. As bem-aventuranças não são formuladas negativamente, nem na forma de um código moral, mas de maneira positiva e aberta. Elas são o compêndio do ministério de Jesus. Não é lei que se impõe por si mesma; é confissão: “o Reino chegou”. Não é pura doutrina, mas estilo de vida, um modo de proceder. Jesus não prega diretamente uma moral. Proclama a “irrupção” da graça, do amor, da misericórdia, da justiça de Deus na história da humanidade. Porque tem a certeza de que chegou a “hora” de Deus intervir na história, Jesus fica feliz e proclama “felizes” os até agora indefesos, oprimidos e marginalizados, mas que mantiveram viva a confiança em Deus. Os enunciados das bem-aventuranças soam à primeira vista como “idealistas”, “utópicas”, absolutamente irrealizáveis no mundo em que vivemos. No entanto, pela sua provocação e questionamento, elas são a proposta mais realista, mais revolucionária e mais eficaz jamais pronunciada. As bem-aventuranças são a exposição mais exigente e, ao mesmo tempo mais fascinante, da doutrina e da “intenção de Cristo”. Elas são a plenificação daquilo que é o mais humano. Na oração: O melhor modo de fazer esta oração é seguir um dos “modos de orar” proposto por S. Inácio, ou seja: “Contemplar o significado de cada palavra da oração” (EE. 249). * Rezar as dimensões da vida que estão paralisadas, impedindo-lhe de viver a dinâmica das bem-aventuranças. FONTE: CEI-JESUÍTAS - Centro de Espiritualidade Inaciana Rua Professor Alfredo Gomes, 32 Botafogo – RJ / 22251-080 Tel.: +55 21 2246-4300 / 21 2266-4700 www.ceijesuitas.org.br