UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG
Instituto de Ciências da Natureza
Curso de Geografia – Bacharelado
FRANCISCO CARLOS DE SIQUEIRA JUNIOR
A REVALORAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
DE ALFENAS - MG
Alfenas - MG
2013
FRANCISCO CARLOS DE SIQUEIRA JUNIOR
REVALORAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE
ALFENAS - MG
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado
como
parte
dos
requisitos para obtenção do título de
Bacharel em Geografia pelo Instituto
de Ciências da Natureza da
Universidade Federal de AlfenasMG, sob orientação do Prof. Dr.
Flamarion Dutra Alves.
Alfenas – MG
2013
FRANCISCO CARLOS DE SIQUEIRA JUNIOR
A REVALORAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE
ALFENAS - MG
A banca examinadora abaixo
assinada aprova o Trabalho de
Conclusão de Curso apresentado
como parte dos requisitos para
aprovação na disciplina de Trabalho
de conclusão de curso II e obtenção
do título de bacharel em Geografia
pela Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL – MG)
Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves
Assinatura:
Universidade Federal de Alfenas
Prof.ª Dr. Evânio Branquinho
Assinatura:
Universidade Federal de Alfenas
Doutorando Adriano Corrêa Maia
Universidade Estadual Paulista
Assinatura:
Lista de Fotos
Foto 1 – A Venda, Gaspar Lopes.................................................................................................17
Foto 2 – Interior da Venda...........................................................................................................18
Foto 3 – Estação Ferroviária de Alfenas......................................................................................19
Foto 4 – Construção do Cine Alfenas..........................................................................................22
Foto 5 – A - Agência da Companhia Sul Mineira de Eletricidade. B - CEMIG.........................25
Foto 6 – A - Praça da Bandeira. B - Atual Praça Dr. Emílio da Silveira.....................................26
Foto 7 – A - Praça Getúlio Vargas. B - Praça Getúlio Vargas.....................................................26
Foto 8 – A - Praça Getúlio Vargas. B - Praça Getúlio Vargas.....................................................27
Foto 9 – A - Praça Getúlio Vargas. B - Praça Getúlio Vargas....................................................27
Foto 10 – A - Cine Alfenas. B - Drogasil....................................................................................28
Foto 11 – A - Cine Alfenas. B - Drogasil.....................................................................................28
Foto 12 – A - Casarão, esquina Cônego José Carlos . B - Clube XV de Novembro. C - Clube
XV de
Novembro.....................................................................................................................................29
Foto 13 – A - Praça Getúlio Vargas. B - Praça Getúlio Vargas...................................................30
Resumo
Frente à atual situação do patrimônio histórico nas cidades brasileiras. Buscamos em Alfenas,
cidade média do sul de Minas Gerais, analisar os principais usos e propor agregar novos valores
aos prédio antigos. Por meio de entrevistas procuramos identificar nos moradores seus
sentimentos frente a esses prédios e se ainda existe alguma identidade com a história do
município. Percebemos que a frequente des-re-territorialização causada nesses prédios pela
lógica do sistema capitalista, confunde e suprime terrritorialidades, identidades ou a própria
cultura que um dia foi responsável pela formação do território alfenense. Esta pesquisa vai em
busca de um esclarecimento dessa refuncionalização das formas. A fim de ascender na
população a cultura local, e não a cultura de massa transmitida pelos meios de comunicação
atuais. De modo que a sociedade não deixe seu vínculo com o território ser facilmente ocultado
pela globalização.
Palavras-chave: Patrimônio histórico, des-re-territorialização, revaloração, Alfenas.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………..7
2. METODOLOGIA...............................................................................................................9
3. ESPAÇO URBANO: territorialidades e patrimônio histórico........................................11
4. FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO DE ALFENAS...........................................................16
4.1 Construção do centro urbano e momento atual.........................................................20
5. FUNCIONALIDADES DAS FORMAS E SUA REVALORAÇÃO...............................25
6. PERCEPÇÃO DA SOCIEDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS........................................31
7.
PARA NÃO CONCLUIR..................................................................................33
8.
BIBLIOGRAFIA................................................................................................35
1- INTRODUÇÃO
As cidades estão em constantes transformações. A lógica do capital reforçada
pelo ideário da globalização, que busca inserir todo canto do planeta no capitalismo,
gera uma necessidade do desnecessário. O consumismo consome a sociedade, que deixa
de lado suas raízes e transforma constantemente a identidade de diversos povos.
O espaço é impregnado de territorialidades as mais diferentes. E essa
multiterritorialidade, que busca sempre o avanço tecnológico amparado no capitalismo,
passa por cima das velhas formas e funções sem se preocupar com a identidade
anteriormente formada e que é responsável por diversos fatores na sociedade atual.
Como se não bastasse esse capitalismo vigente destrói os símbolos que a sociedade
antes formava com o seu espaço e os substitui por signos, e depois por sinais. Deixando
os valores atribuídos as formas cada vez mais sem conteúdo.
A percepção do espaço é diferente para cada indivíduo, a partir de suas ações e
afetuosidades no decorrer de sua vivência, o que leva a um ambiente multicultural. Isso
implica em que aquilo que cada indivíduo é e faz na sociedade influencia na sua
percepção espacial, e formatará a sua identidade. Nessa perspectiva subjetiva e
perceptiva, que analisa e tenta compreender essas espacialidades, considera-se o
significado dos objetos e das relações sociais urbanas cotidianas.
Porém, a complexidade da sociedade atual dificulta essa análise, levando em
conta que esse indivíduo encontra-se multifacetado, representando um papel
diferenciado em cada momento e espaço. Esse fator é a essência da produção do espaço
urbano, visto que os fenômenos acontecidos em suas experiências o conformam de
maneira singular, influenciando a organização e modelagem do espaço. O mundo tornase mais multifacetado; os símbolos perdem o poder de reverberar com intensidade na
mente humana, pois passamos a depender menos dos objetos materiais e do meio físico
para corporificar o sentido de uma cultura. As inúmeras relações que acontecem no
espaço urbano e nos seus diversos âmbitos que dificultam a compreensão de seus
segmentos (TUAN, 1983).
O município de Alfenas encaixa-se nesse contexto, ao apresentar-se como uma
cidade de porte médio, com 73.722 habitantes (IBGE, 2010). Atualmente, a cidade se
revela com uma funcionalidade estudantil, devido à instalação da Universidade José do
Rosário Velano (UNIFENAS) na década de 1980, e pelo crescimento da Universidade
Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), antiga EFOA (Escola de Farmácia e Odontologia)
nos anos 2000, graças ao programa federal de expansão universitária REUNI, que
permitiu uma maior aceleração em seus processos de crescimento econômico e urbano,
acompanhados do crescimento comercial, industrial e da tecnologia da produção
agrícola.
Embora nos dias atuais seja comum conferir especialidades produtivas às
cidades, nem sempre foi assim. Alfenas, como quase todas cidades não planejadas do
Brasil, passou por um processo de consolidação no qual as vilas que ocupavam o
território nacional visavam explorar e produzir o máximo para poderem se inserir no
mercado mundial. Nesse contexto o Brasil se torna república, as regiões se
municipalizam e passam a buscar por um ideal comum. No nosso caso, a modernização
conservadora do capitalismo.
E mesmo abrigando diversas territorialidades em diferentes momentos, a
população alfenense acaba negligênciando sua identidade territorial. Uma vez que a
necessidades do capital se torna a cada instante parte intrinseca da vida cotidiana de
cada indivíduo. Mais necessário viver no tempo do global a resgatar sua história a partir
da conservação das velhas formas e tempos lentos.
Portanto, o objetivo da pesquisa visa um resgate da valor patrimonial atribuido
aos prédios históricos do município de Alfenas, bem como verificar a percepção dos
moradores de Alfenas quanto a valoração do patrimônio histórico-cultural.
2 - METODOLOGIA
Para a execução da pesquisa realizou-se um levantamento bibliográfico em
artigos, teses e livros. Buscando o resgate histórico de Alfenas, e principalmente de seus
prédios históricos, a fim de reconstruir os territórios ali já existentes, em diversas
temporalidades até o período atual que justifique as atuais situações e usos do
patrimônio. Objetivou-se o estudo dos prédios, ainda presentes fisicamente, que
ajudaram a construir o espaço, tanto urbano quanto rural, de Alfenas.
Para uma melhor percepção de como a sociedade se identifica com seu
patrimônio nos baseamos na metodologia atribuída à Geografia da Percepção, que une
duas áreas distintas da ciência que se juntam e a formam, sendo elas a fenomenologia e
a semiótica (TUAN, 1983). A primeira trata o espaço como absoluto ou relacional, ou
seja, espaço vivido, o cotidiano, preocupando-se mais com os dados e os fenômenos. O
que interessa ao pesquisador não é o mundo que existe, nem o conceito subjetivo, nem
uma atividade do sujeito, mas sim o modo como o conhecimento do mundo se dá, tem
lugar, se realiza em cada pessoa. Considerando o que está presente na consciência do
sujeito.
Já a semiótica trata do espaço simbólico, composto por signos materiais e
intangíveis. Com o apoio das duas diretrizes consegue-se entender o indivíduo através
das suas vivências, do abstrato e das percepções. A vivência cotidiana com o espaço é
originada por diversos sentimentos e sensações, que determinam os processos na
paisagem geográfica, visível ou não. Assim Rocha (2003, p.78) descreve que “os
sentimentos humanos se materializam no espaço através de signos materiais e
imateriais”.
Para entender os símbolos urbanos, é preciso entender os processos de uso dos
espaços, das relações e vivências, “a leitura dos signos urbanos é feita através do
conhecimento de suas origens, pelo valor que seus habitantes atribuem ao fato urbano,
na interpretação de suas formas e nos argumentos de suas funções transitórias. Portanto,
esta leitura vai depender da percepção que cada um tem dos signos” (CALLAI, 1998
apud. ROCHA, 2003, p. 75).
Para a análise utilizamos recursos qualitativos, como entrevistas abertas com
pessoas escolhidas aleatoriamente nas ruas, totalizando 37 entrevistados e antigos
moradores de Alfenas, além de proprietários ou usuários dos prédios; para um melhor
entendimento da questão tratada, podendo construir hipóteses sobre esse espaço
relacional. Foi realizado um levantamento do perfil socioeconômico de todos os
entrevistados. E outras questões introduzidas às entrevistas com proprietários e/ou
usuários dos prédios usamos entrevista aberta, conversando sobre as histórias das casas,
as diversas funções ali existentes ou que já existiram, suas representações e seus
significados.
Foi feita uma coleta dos registros fotográficos no acervo da Secretaria de Cultura
do município de Alfenas. E com esse material foi possível fazer uma comparação dos
prédios em momentos distintos.
3 - ESPAÇO URBANO: territorialidades e patrimônio histórico
A cidade, enquanto espaço em constante transformação e movimento, apresenta
múltiplas concepções quanto à sua edificação e constituição. As formas e as estruturas
da paisagem urbana revelam sentidos e significações que vão além de seus aspectos
econômicos e físicos, apresentando também valores políticos, sociais e históricos, ou
seja, a cidade é território (espaço manipulado pelo homem) onde a cultura se manifesta.
Tendo em vista a cidade como território podemos defini-lo como um espaço concreto
em si, ocupado por um grupo social. "A ocupação do território gera raízes e identidade.
Um grupo não é compreendido sem seu território, a identidade sociocultural das pessoas
estaria ligada aos atributos do espaço concreto" (SOUZA, 2001. p.84). Identidade na
verdade não apenas com o espaço físico, mas com o território e com o poder
controlador.
Os territórios existem e são construídos (ou desconstruídos) nas diversas escalas
espaciais, dentro de escalas temporais as mais diferentes e podem tanto ter uma
existência permanente como periódica. Os territórios "são no fundo relações sociais
projetadas no espaço que espaços concretos". "Pode formar-se e dissolver-se, constituirse e dissipar-se de modo relativamente rápida", conforme afirma Souza (2001, p. 87).
Com a construção do pensamento crítico, privilegiam-se as análises dos conflitos
e contradições socioespaciais que emergem do viver em cidades. “Este contexto, de uma
sociedade urbana e multicultural, leva a geografia cultural a uma renovação,
valorizando esta dimensão” (CORRÊA, 2003, p. 168). A partir dessa nova perspectiva,
se reconfigura a compreensão da sociedade tanto em termos econômicos quanto sociais
e políticos; tornando “inteligíveis as espacialidades e temporalidades expressas na
cidade, na rede urbana e no processo de urbanização” (CORRÊA, 2003, p. 169). De
acordo com Saquet (2007) em um espaço identificado por seus fluxos e movimentos
des-re-territorializantes que em suas temporalidades se alteram conforme às exigências
do capital, numa reprodução crônica. Poucos são os lugares que asseguram sua
identidade, e continuam exercendo suas funções. Sendo o espaço impregnado por
multiterritorialidades.
A cultura somente existe a partir da relação entre os seres humanos, entre si e
com o meio ambiente, portanto, o viver urbano está intrinsecamente a ela relacionado. A
constituição da urbanidade revela as expressões e condições sociais que se manifestam
de diferentes e inusitados modos de ver e fazer. Para Corrêa (2003) essas manifestações
são: toponímia e identidade, a cidade e a produção de formas simbólicas e a paisagem
urbana e seus significados.
A toponímia é um poderoso elemento constitutivo das identidades, com
relevantes marcas culturais, e expressa a apropriação do espaço por um dado grupo
social, assim como revela a necessidade de memória e também a sua dicotomia, a
necessidade do esquecimento. Através dos sentidos toponímicos se articulam a
linguagem, a política territorial e a identidade. No processo de nomear rios, ruas,
bairros, entre outros, atribuindo significados políticos e culturais, que envolvem etnias e
grupos sociais, sejam hegemônicos ou não. A expressão de determinados fenômenos
culturais no espaço das cidades realiza-se por meio de simbolismos e significações.
Formatações estas que, com o passar do tempo, foram transformadas em mercadorias
incorporadas ao processo de acumulação capitalista, desempenhando papel ativo como
alavancas e suporte de transformação sociocultural.
“Mas a cidade é também, ela própria, uma forma simbólica que, em certos
casos, foi criada ou transformada, visando criar valor, contido nas próprias formas da
cidade” (CORRÊA, 2003). Esse valor, que estaria contido nas simbologias atribuídas
aos prédios históricos e denotaria a história “sócio-econômica-cultural” da cidade, está
ausente ou invisível na maioria das cidades brasileiras.
Yi-Fu Tuan (1983) discorre sobre a capacidade do ser humano, produtor de
símbolos, de criar laços afetivos em suas relações com um lugar no qual só podem ter
uma experiência direta limitada. Desta forma, o homem, ao criar/resignificar espaços
simbólicos, está possibilitando alienar-se, pois cada lugar carrega e condiciona
vivências diferentes. Esse elo afetivo entre a pessoa e o lugar, ou ambiente físico, é
nomeado pelo autor como topofilia, um conceito difuso, vivido e concreto como
experiência pessoal.
A paisagem urbana permite múltiplas leituras a partir de diversos contextos,
histórico-culturais, envolvendo diferenças sociais, poder, crenças e valores. Ela pode
conduzir a uma instabilidade de significados, havendo a inversão e a reciclagem dos
signos e símbolos: o “significado pode ser criado, ampliado, alterado, elaborado e
finalmente obliterado...” (DANIELS e COSGROVE, 1988 apud. CORRÊA, 2003: p.
181), com o risco premente da fetichização ou da criação de mitos.
A paisagem
constitui “parte de um conjunto compartilhado de ideias, memórias e sentimentos que
une uma população” (MEINIG, 1979b:164 apud. CORRÊA, 2003:p. 179). Num
contexto capitalista essa paisagem urbana cumpre o papel de mitificar a realidade social
e de viabilizar a circulação do capital, tanto econômico quanto social, sempre
interligados.
A identidade criada com os espaços e com os objetos ali presentes, elabora uma
subjetividade em cada homem, que, manuseando esses objetos e atuando nesses espaços
de forma singular, o transforma de infindas maneiras. Circundando e contendo todas
estas ações está a cultura, formatadora de identidades e diferenças particulares,
dinamizando os modos de (re) produção da vida social. As identidades serão
representadas basicamente nos fatos ativos da mente, ou seja, nos impulsos e
afetuosidades que produzem uma pluralidade de sentimentos, influenciadores das ações
e decisões de cada ser (WOODWARD, 1996).
Nesse processo de construção da identidade, a percepção se comporta como fato
decisivo e estimulante da prática social, comportando os indivíduos nos espaços em que
vivem e experimentam, ou seja, a vivência cotidiana com o espaço é originada por
diversos sentimentos e sensações, que determinam os processos na paisagem
geográfica, assim Rocha (2003, p.78) descreve que:
[...]os sentimentos humanos se materializam no espaço através de
signos materiais (prédios, jardins, monumentos, pontes, etc.) e
imateriais (frases, palavras, gestos, silêncios e pensamentos). Cada um
destes signos será interpretado de acordo com a bagagem cultural,
social, emocional de cada interprete num determinado tempo e espaço.
O homem sempre necessitou de um abrigo para viver com segurança. O espaço
arquitetônico tem uma enorme importância nesse sentido, pois o meio ambiente
construído define as funções e as relações sociais. “As pessoas sabem melhor quem elas
são e como devem se comportar quando o ambiente é planejado pelo homem e não
quando o ambiente é a própria natureza” (TUAN, 1983, p. 114). A simbologia agregada
a esse espaço arquitetônico proporciona diferentes compreensões da realidade, levandonos a concordar com esse autor ao dizer que a arquitetura ensina.
Yi-Fu Tuan (op. Cit.) acredita que o espaço arquitetônico configura certo lugar,
tanto na ordem espacial quanto na forma educativa, ou seja, irradiadora de signos,
símbolos e significados:
O espaço arquitetônico continua a articular a ordem social, embora
talvez com menos estardalhaço e rigidez do que no passado. O
ambiente moderno construído ainda mantém uma função educativa:
seus sinais e cartazes informam e dissuadem. A arquitetura continua a
exercer um impacto direto sobre os sentidos e os sentimentos. O corpo
responde, como sempre tem feito, aos aspectos básicos do plano como
interior e exterior, verticalidade e horizontalidade, massa, volume,
espaciosidade interior e luz. Os arquitetos com o auxílio da tecnologia,
tem aumento a gama da consciência espacial humana, criando novas
formas ou refazendo as velhas em uma escala até agora não
experimentada (p.129).
Ao preocupar-se com a preservação de elementos que marcaram a memória e a
história de alguns locais, é comum que conselhos municipais de patrimônio cultural
tornem-se dominados por perspectivas idealizadas e simplificadoras da cultura e do
passado dos municípios. Privilegiando o arcabouço material que constitui os espaços
urbanos, essas visões tendem a congelar determinados lugares, quando somente
analisam os objetos, os prédios e os estilos e técnicas que configuram e constroem esses
espaços. Na busca da preservação desses espaços é importante que se atente para as
relações que lhe dão forma e conteúdo.
O valor dos lugares não se faz somente no que configuram na paisagem urbana,
como figura destacada, mas também na reprodução de vida social que nele e por ele
existem. A sociabilidade neles existentes se faz tão importante quanto os materiais que
o estruturam e dão forma. Sendo assim, a importância do patrimônio cultural está na
possibilidade de preservação das tramas sociais e culturais de determinados locais
ancorados por diferentes paisagens arquitetônicas. No entanto:
[...] é crescente a importância que as sociedades contemporâneas
atribuem ao seu patrimônio na lógica da cultura como uma “realidade
da maior relevância para a compreensão, permanência e construção da
identidade nacional e para a democratização da cultura"(...). O
patrimônio constitui a componente da cultura que é proveniente do
passado, permitindo-nos afirmar que a identidade de uma sociedade é
em grande medida baseada no seu patrimônio (PAU-PRETO. 2005, p.
1 e 9).
Nesse contexto vamos em busca de uma ampla visão do patrimônio histórico,
que se desvincule com a tradição europeia, e que inclua as sociedades folclóricas,
movimentos negros, entre outros. Como afirma Fonseca (2003, p. 6), "toda uma gama
de bens e manifestações culturais significativos como referências de grupos sociais
"formadores da sociedade brasileira" (BRASIL, 2003, p. 146-147).
4 - FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO DE ALFENAS
De fato todos os espaços estão aptos a se tornarem territórios. Mas esses
territórios são mutáveis, e com o passar do tempo diversas territorialidades podem
tomar o mesmo espaço. O próprio município de Alfenas, uma vez território indígena,
comprovado pela presença de diversos sítios arqueológicos na região. "A região onde
hoje se encontra o município de Alfenas era habitada por índios tupi-guarani e Sapucaí.
No entanto, essas tribos indígenas foram extintas após a chegada de imigrantes europeus
e negros africanos." (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2012).
Com a chegada dos colonizadores, que almejavam ouro, pedras preciosas e a
escravização dos indígenas o território é coercitivamente transformado. É nas primeiras
décadas do século XVIII que se constituem os Estabelecimentos das Minas e das Vilas.
Dessa forma, a população europeia foi tomando conta do território e se agrupando em
vilas, que até então fazia parte de um sistema monárquico. Com a crise do ouro criou-se
a necessidade do desenvolvimento de atividades agropastoris. "Em busca desse
objetivo, criaram arraiais e deram origem a vila, se inserindo no sistema da
administração colonial."(PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2012).
No século XIX a rede de transportes no sul minas já apresentava estações que
interligavam diversos municípios:
Para Alfenas, o raiar do século XX trouxe consigo grandes avanços
em relação aos transportes e às comunicações: ainda na primeira
década houve a integração do município à Rede Ferroviária Sul
Mineira, através da construção de um ramal e de uma Estação
Ferroviária ; na mesma década, inauguram-se os serviços de telefonia:
Deve-se ao Sr. Coronel Manoel Jacintho Pereira a construcção da
linha telephonica da cidade à estação de Alfenas (6 kiloms.) na E. de
F. Muzambinho. A linha telephonica de Alfenas a Machado foi
construída por empreza particular do sr. Marcial Junior, medico; e a
construcção da rede entre a cidade de Alfenas e os districtos foi pela
lei n. 95 de 25 de agosto de 1907, que concedeo a Gabriel Jacintho
Pereira o privilegio para construcção, uso e goso de linhas
telephonicas,
naquele município (SENNA,1909:182).
O município era servido pela E. F. Rede Sul Mineira, com as
seguintes estações: Alfenas (na sede), Fama, Gaspar Lopes, Harmonia
e Areado (FRADE, 1917: 86). A Estação Ferroviária, que contava
com um barracão e com um prédio projetado por Paulo Frontim,
localizava-se na atual Praça Amália
MUNICIPAL DE ALFENAS, 2012).
Engel.
(PREFEITURA
E é a Estação Ferroviária de Gaspar Lopes que mais irá se desenvolver. E foi ela
que por muitos anos polarizou Alfenas. Antes mesmo da estrada de ferro chegar até
Gaspar Lopes (distrito de Alfenas), quando um engenheiro passou medindo as terras
para implantação da Estação Ferroviária Gaspar Lopes (E.F.G.L.), Claudino Machado,
dono da fazenda onde hoje se localiza a vila, doou terras para a construção da ferrovia,
no fim do século XIX. Seus filhos logo construíram a Venda (foto 1 e 2), que seria uma
das primeiras casas de Gaspar Lopes. Com 17 cômodos, foi construída com o intuito de
acolher e servir todos os viajantes que por ali desembarcaram. Mal sabiam eles que a
estação só se concretizaria 20 anos depois.
A E.F.G.L. devido ao entroncamento de linhas férreas, que ligavam Varginha,
Machado e Guaxupé, movimentou muito a região de Gaspar Lopes. Além de diversas
casas construídas ao longo da linha haviam cerâmicas, laticínio, retifica de motor,
cinema além da própria estação. O local era muito movimentado e desde então a Venda
foi se tornando popular. Com o entroncamento da ferrovia em Gaspar Lopes, era esse
que polarizava Alfenas. "O cimento era descarregado aqui, e depois levado para
Alfenas" (Zé da Venda, 04/05/2012).
Foto 1: A Venda, Gaspar Lopes.
Fonte: Caetano Franco
Foto 2: Interior da Venda
Fonte: Caetano Franco
Ao longo do tempo, com a modernização, as ferrovias foram substituídas pelas
rodovias, que imperam até hoje. Dessa forma os papéis se inverteram. Alfenas passa a
ter um desenvolvimento mais acelerado enquanto Gaspar Lopes e sua Venda se
estagnaram no tempo. A E.F.G.L. e o cinema, maiores símbolos na memória local
foram vendidos, onde hoje se encontra uma indústria de blocos e pisos. Os casarões
antigos foram sendo demolidos para dar espaços a novas construções. Hoje restam
apenas algumas casas da época, todas em péssimas condições de uso devido à
deterioração causada pelo tempo, dentre elas, a Venda. Que congelada no tempo, tenta
exercer a mesma função de 140 anos atrás, servir os viajantes e moradores que por ali
passam e desfrutam algum momento de seu dia. Alfenas então passou a formar seu
núcleo urbano:
As terras passaram a ser divididas em glebas, doadas em Sesmarias
onde se fixaram as famílias colonizadoras, as quais iniciaram a
construção da infra-estrutura para a efetiva ocupação do território. Em
busca desse objetivo, criaram arraiais e deram origem a vila, se
inserindo no sistema da administração colonial. No ano de 1832, foi
criada a freguesia e São José de Alfenas, alguns anos depois tornou-se
Vila Formosa, e em 1871 foi elevada à categoria de cidade de Alfenas.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2012).
Foto 3: Estação Ferroviária de Alfenas.
Fonte: Prefeitura Municipal de Alfenas.
Houve a construção da igreja matriz na praça Marechal Floriano, atual Getúlio
Vargas, onde o clero e a elite cafeeira começaram a formar o espaço. Ao redor da praça
foram construídas as primeiras casa e as famílias começaram a se fixar e exercer seu
modo de vida. A economia se baseava na cafeicultura e a criação de porcos como
principal carne consumida, pela facilidade de criação e conserva. Haviam também
laticínios e o comércio de secos e molhados, que exerciam a função dos atuais
supermercador, bares, entre outros.
4. 1- Construção do centro urbano e momento atual
O capitalismo tem uma necessidade constante de se modernizar, para que seu
mercado continue em expansão. Não apenas territorial, mas que continue se
movimentando financeiramente. A globalização como disse Milton Santos (2010) é
"perversa". Tendo como âmbito principal de seu avanço a competitividade. A busca
incessante por um "bem-estar social trazido pela modernidade, não se aplica em muitos
países subdesenvolvidos (América Andina, Central e África)" (CLAVAL, 2007 p. 387).
Assim sendo, esses países acabam se subordinando ao trabalho assalariada e ao
consumo. Entrando na engrenagem do capitalismo. O capital se apropria do indivíduo
para se realizar, e faz dele seu trabalhador e consumidor ao mesmo tempo.
Se atribuirmos "paisagem" como o texto no qual a sociedade escreve sua
obsessões,
como nos diz Claval (2007), podemos claramente caracterizar nossa
sociedade como obsessiva por transformações. Em outras palavras, a cultura capitalista
não é uma cultura permanente. Segundo Santos:
Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos
que tem idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes
momentos. Daí vem a anarquia das cidades capitalistas. Se juntos se
mantêm elementos de idades diferentes, eles vão responder
diferentemente às demandas sociais. (2008, p. 73)
Dessa maneira a sociedade capitalista precisa estar em constante inovação para
sobreviver. Busca pelo novo e banalização do velho. Movida pelo dinheiro, pela maisvalia. E embora de maneira pouco visível pela perversidade e alienação exercida sobre
todos.
Ao observarmos os prédios históricos de Alfenas percebemos que muito de sua
histórica, seu real significado, já se perdeu. Uma vez nas mãos da elite alfenense,
principais donos de terra e responsáveis pela formação da cidade, as consequentes
gerações e o novo momento da modernização causou uma mudança dos proprietários. E
de suas funções. Adequando-se o território ao modo de vida moderno.
O centro de Alfenas, como da maioria das cidades médias ou pequenas do
Brasil, é marcado por sua igreja matriz, quase sempre de caráter católico. É ao redor
desta que se reuniram as famílias mais importantes da região. Com belíssimas
construções para a época. Até então a única função da cidade era agropastoril. Não
havia rede rodoviária, apenas ferroviária. E seus habitantes se ocupavam da produção de
café e criação de porcos, principal alimento até início do séc. XX.
Embora já se instalado o município de Alfenas. O pensamento positivista,
calcado na ordem e progresso, impulsiona a sua modernização. Quanto a isso nos
referimos à expansão do mercado capitalista. Que propõe e executa mudanças radicais
no território. E são essas ações responsáveis pela multiterritorialidade que atribuiremos
ao espaço. O mesmo espaço torna palco de diversas territorialidades que se sobrepõe no
mesmo momento histórico. E também as temporalidades, que segundo Saquet
significam:
[...] ritmos lentos e mais rápidos, desigualdades econômicas,
diferentes objetivações cotidianas e, ao mesmo tempo, distintas
percepções dos processos e fenômenos, ou seja, leituras que fazemos
dos ritmos da natureza e da sociedade (2011, p.79).
Temporalidade essa percebida até mesmo pelos próprios moradores de Alfenas
que quando entrevistados não cansam de contar como era no tempo da maria-fumaça,
como chamavam o trem a vapor. "Esperávamos pela jardineira, que naquela época não
existia ônibus, em frente a paineira. De lá íamos para Gaspar Lopes, onde pegava a
maria-fumaça pra poder viajar" conta Beline, 72 (morador de Alfenas). Como as
viagens demoravam era possível apreciar não só o seu destino, mas sim todo o percurso.
Passamos do tempo mais lento, da ferrovia, do carro de boi. Para o tempo da rodovia,
das inovações. A substituição da rede ferroviária pela rodoviária abre-se caminho para
diversos tipos de mercados. A começar pelo automóvel, que se torna uma peça chave
para a sociedade. E diversas concessionárias de automóveis abrem suas lojas em
Alfenas.
Os artesões perdem espaço para os produtos pré fabricados, que tomam conta do
comércio devido sua rapidez e preços acessíveis. Surgem os mercados de secos e
molhados, onde se comercializavam diversos produtos e novidades. Esses mercados
passaram a se concentrar na região central. O centro das cidades, local de encontros e
aconteceres, tem maior visibilidade do público. E consequentemente, se torna a área
urbana mais valorizada. É nesse contexto em que a vida cotidiana vai se desenrolando.
O objetivo da globalização busca atingir tanto as fábricas e seu mercado
concorrencial, técnicas de produção, meios de transporte, entre outros, como atingir
também os indivíduos e suas diversas formas de lazer. O invento do cinema pode ser
considerado revolucionário. Para os meios de comunicação e para as instituições
alienadoras. Em Alfenas o que mais marcou esse período de modernização foi a
construção do Cine Alfenas em 1954. Presente até hoje na praça matriz, embora com
uma nova função. O prédio passou por diversas reformas, mas sempre mantendo sua
caracterização original. Permaneceu como cinema até meados de 1966, quando, devido
à disseminação da televisão, o cinema foi perdendo espaço. O imóvel passou para
outros proprietários e hoje exerce a função de farmácia. Como lembra Santos (2008,
p.67) "sempre que há uma mudança na sociedade as formas ou objetos geográficos
assumem novas funções".
.
Foto 4: Construção do Cine Alfenas.
Fonte: Prefeitura Municipal de Alfenas.
Santos (2008) escreve que há um envelhecimento das formas tanto físico como
social, desde sua inadequação física até preferência social por outras formas. Ele se
refere a essa formas do passado como rugosidades, ou seja, "o que resta do processo de
supressão, acumulação superposição, com que as coisas se substituem e acumulam em
todos os lugares" (SANTOS, 2009, p. 140).
Com o processo de mundialização da cultura de massa o alcance cada vez maior,
mais rápido de informação provoca troca entre identidades, saberes e costumes. Mas ao
mesmo tempo provoca uma rivalidade entre cultura popular e cultura de massa, onde a
primeira vai conforme ao alcance da globalização perdendo espaço para a segunda.
Conforme descreve Santos:
A cultura de massa produz certamente símbolos. Mas estes, direta ou
indiretamente ao serviço do poder ou do mercado, são, a cada vez,
fixos. Ante o movimento social e o objetivo de não parecerem
envelhecidos, são substituídos, mas por uma outra simbologia também
fixa: o que vem de cima está sempre morrendo e pode, por
antecipação, já ser visto como cadáver desde o seu nascimento. É essa
a simbologia ideológica da cultura de massas.
Já símbolos "de baixo", produtos da cultura popular, são portadores da
verdade da existência e reveladores do próprio movimento da
sociedade. (2010, p. 145)
Ocorre uma des-re-territorialização constante dos prédios históricos que para
atender ao sistema capitalista passa por diversas reformas e funções ao longo do tempo.
Devido a esse processo não fica claro, a identidade do indivíduo perante sua própria
cidade. Essa identidade se torna passiva, uma vez que o indivíduo se identifica mais
com culturas impostas a ele por meio da comunicação em massa, do que com a cultura
da sua própria cidade. Em muitos casos, quando entrevistados pessoas que trabalhavam
em estabelecimentos instalados nos prédios não prestavam muita atenção neles, pois
passavam o dia em seu interior. Nunca paravam pra observá-lo. Os outdoors e letreiros
se fazem mais notáveis do que as belezas arquitetônica e histórica dos prédios.
Segundo Choay (2001), essa cultura imposta estaria relacionada a falta de
cultura. Pois muitas vezes ela não apresenta raízes com o próprio território. É
considerada uma cultural industrial, fabricada. Segundo ela:
[...] a valorização dos centros antigos tende paradoxalmente a tornarse instrumento de uma banalização secundária. Algumas cidades,
assim como alguns bairros, resistem a isso, ajudados por sua
dimensão, sua morfologia, suas atividades, pela força de suas
tradições, pela simples riqueza que possuem ou pela sabedoria de suas
autoridades. (2001, p. 226-227)
Ou seja, essas ações de revaloração do patrimônio histórico não estão nos planos
do desenvolvimento modernizador do capital. Ao menos, que haja interesses
financeiros. É o caso das chamadas "revitalizações" que ocorrem nos grandes centros
nacionais. Onde o intuito é simplesmente elitizar essas regiões.
Referente
à
revaloração
desses
prédios,
não
afirmamos
que
sua
refuncionalização com fins capitalistas seja boa ou ruim. Mas sim que o anseio pela
modernidade criado pelo capital vai além da preservação desses prédios. Exigindo na
maioria das vezes que o espaço se modernize, ou seja, se transforme para sua ação. Há
uma necessidade de novas formas e funções. Destroem as velhas formas, passando
sobre a memória, e lhe atribui novas funções, apagando seu vínculo com o passado.
5 - FUNCIONALIDADES E TEMPORALIDADES DAS FORMAS
Os prédios históricos para não caírem no esquecimento adéquam rapidamente
suas funções ao modo de vida vigente. No caso de Alfenas, é notável que a maioria
desses prédios passaram a exercer uma função comercial. Explicado pelo seguinte fato.
As famílias dos proprietários da época de sua construção costumavam ser
consideravelmente grandes. Após a morte do patrono, o imóvel era dividido com os
filhos. Que para obter o valor da herança em dinheiro rapidamente o vendiam e
repartiam sua herança.
Os poucos prédios que conservam suas funções, que continuam como casas,
estão presentes na mesma família ou passaram para outra de alto poder econômico. E
neste caso não há nenhuma inclinação ao tombamento. Uma vez que as reformas são
financiadas pelos proprietários que descaracterizam todo seu interior buscando
adequação as tecnologias atuais.
Foi elaborado para melhor análise e compreensão do espaço uma comparação
entre fotos de diversas localidades em momentos históricos diferentes. Buscando
mostrar os símbolos atenuados pela sociedade atual.
A
B
1950
2013
Foto 5: A - Agência da Companhia Sul Mineira de Eletricidade. B - Cemig
Fonte: A - http://alfenascoisanossa.blogspot.com.br/ B - Francisco Carlos
A
B
1970
2013
Foto 6: A - Praça da Bandeira. B - Atual Praça Dr. Emílio da Silveira.
Fonte: A - Prefeitura Municipal de Alfenas. B - Francisco Carlos.
A antiga Praça da Bandeira onde se localizava a paineira referência para encontros,
que foi cortada para a construção do Terminal Rodoviário Intermunicipal que por sua vez,
com o crescimento da cidade, foi necessário mudar de endereço passando a se situar na
entrada da cidade nos entroncamentos das rodovias BR – 491 e MG - 179. Atualmente esse
lugar recebe o nome de Praça Dr. Emílio da Silveira apresentando em sua estrutura o
Terminal de Ônibus Urbano, PROCON e Mercado Municipal.
A
B
1960
2013
Foto 7: A - Praça Getúlio Vargas. B - Praça Getúlio Vargas.
Fonte: A - http://alfenascoisanossa.blogspot.com.br/ . B - Francisco Carlos.
A Praça Getúlio Vargas sempre foi o lugar central da cidade em prestação de
serviços e comércios. Seus prédios mais antigos sofreram influências diretas da
modernização, onde as antigas residências deram espaço a novas funções. Isso quando não
foram demolidas/ remodeladas dando lugar a novas formas.
A
B
1950
2013
Foto 8: A - Praça Getúlio Vargas. B - Praça Getúlio Vargas.
Fonte: A - http://alfenascoisanossa.blogspot.com.br/. B - Francisco Carlos.
A
B
1960
2013
Foto 9: A - Praça Getúlio Vargas. B - Praça Getúlio Vargas.
Fonte: A - Prefeitura Municipal de Alfenas. B - Francisco Carlos.
A Praça, referencial central da cidade, também recebeu modificações. Mas o mais
notável é em seu entorno que muitas casa deram lugar a prédios com muitos andares, lojas
e agências bancárias.
A
1948
B
2013
cias
Foto 10: A - Cine Alfenas. B - Drogasil.
Fonte: A - Prefeitura Municipal de Alfenas . B - Francisco Carlos.
A foto 10 e 11 mostra a refuncionalização do prédio que abrigava o Cine Alfenas
até a década de 1960, tendo atualmente uma drogaria. Além disso, percebe-se uma
poluição visual no centro causado pelos outdoors e propagandas dos comércios.
Escondendo as fachadas e os detalhes arquitetônicos das formas ainda resistentes ao
processo de modernização do espaço urbano.
A
B
1960
2013
Foto 11: A - Cine Alfenas. B - Drogasil.
Fonte: A - Prefeitura Municipal de Alfenas . B - Francisco Carlos.
A
B
1930
1970
C
2013
Foto 12: A - Casarão, esquina Cônego José Carlos . B - Clube XV de Novembro. C - Clube XV de
Novembro e Botequim.
Fonte: A - http://alfenascoisanossa.blogspot.com.br/ . B - http://alfenascoisanossa.blogspot.com.br/ . C
- Francisco Carlos.
A foto 12 revela tripla refuncionalização do espaço, no primeiro momento
(1930) o prédio tinha função residencial que com o decorrer do tempo, pela sua
localização valorizou-se e adquiriu uma função comercial (1970). Abrigando o Clube
XV de Novembro, lugar de bailes e apresentações que perdeu sua expressão cultural. E
hoje tem no andar térreo um bar independente do Clube XV.
A
B
1950
2013
Foto 13: A - Praça Getúlio Vargas. B - Praça Getúlio Vargas.
Fonte: A - http://alfenascoisanossa.blogspot.com.br/ . B - Francisco Carlos.
Na foto 13 o prédio a direita mostra a preservação da forma arquitetônica. Mas
ao longo da rua podemos perceber que muitos prédios foram substituídos por novos
empreendimentos imobiliários, que maximizam o espaço urbano através da
verticalização.
6 - PERCEPÇÃO DA SOCIEDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS
Os habitantes de Alfenas embora em sua maioria achem importante a
preservação dos prédios históricos. Mesmo sem saber relacionar sua história ou
identidade perdida. Tem um certo sentimento nostálgico perante essas construções e
remetem a lembranças do passado, relacionadas a suas infâncias, casa da avó, etc. Para
eles o mais importante é se conservar a forma. Não levantam a relação social que ali
existiam ou sua herança para o presente. Mesmo preservando os prédios, não relevam o
valor histórico, simbólico e social que estariam preservando junto. Ou seja, não
carregam um valor de topofilia, as pessoas não demonstram um elo afetivo com as
casas.
Através das entrevistas foi possível perceber que o sentimento de topofilia, o elo
entre a pessoa e o lugar, só está presente nos moradores mais velhos. Pois eles viveram
e perceberam os prédios em outra época, são eles que mantém viva a territorialidade que
um dia foi responsável pela formação do território de Alfenas. Os outros entrevistados,
que já nasceram num mundo moderno, estão tão impregnados de símbolos, signos e
sinais, formando a composição da paisagem urbana que pouco se identificam com
algum lugar. E na maioria das vezes sequer perceberam que os prédios os quais
frequentam no dia a dia fazem parte da história de Alfenas.
Ao entrevistar uma comerciante que trabalhava a 12 anos em um dos prédios
históricos (foto 14). Ela denota que embora trabalhe a muito tempo no lugar, Nunca
havia parado para observar o prédio. "Chego aqui, entro. Trabalho o dia inteiro e vou
embora. Nunca parei pra perceber" (Maria, 52 - pseudônimo).
Foto 14: Residência no centro de Alfenas (1919).
Fonte: Caetano Franco.
A maioria dos prédios já foi descaracterizada pelo menos em seu interior. Eles
hoje executam diversas funções comerciais e muitas dessas funções nem existiam na
época de suas construções. Suas fachadas se tornam invisíveis aos moradores de
Alfenas. Muitos deles, mesmo passando diariamente em frente a esses prédios, deixam
de notar seu valor histórico. E retomam suas atenções apenas aos letreiros que encobrem
parte das fachadas.
Não obstante haja um interesse da prefeitura local em tombar os prédios, para
uma preservação fiel e original, sua funcionalidade continua a mesma. Mas por parte
dos proprietários o tombamento não tem tanto interesse, visto que a especulação
imobiliária e estes interesses privados e comerciais são mais rentáveis financeiramente.
O tombamento, que irá "congelar" no tempo aquele espaço de memória, sem um apoio
oficial e duradouro para sua manutenção física, pode acarretar sim um sério risco de se
enveredar pelo caminho contrário, o do abandono progressivo.
A preservação é necessária e esta imbrica nos sentidos e necessidades humanas.
Os bens culturais edificados, unidos aos bens culturais inatingíveis, tornam possível a
construção identitária de um grupo ou sociedade. Mas, para isso, se faz necessário
vontade política, capacitação econômica e o desejo de ressonância junto a comunidade a
quem, em última análise, destina-se ao ato de inserir o registro de um bem em algum
dos livros de tombo, seja na esfera local, regional ou nacional.
A educação patrimonial não está presente nos ensinos tradicionais. A história
passada através das instituições de ensino é a história dos primeiros. Marginalizando
muitas vezes a real história de diversas regiões do Brasil. Seria de extrema importância
se permitir através dos prédios históricos que a população ficasse mais ciente de sua
história e do valor dos bens que permeiam o seu cotidiano. E a partir disso, passar a
agregar valor aos prédios, tornando-os símbolos que se comuniquem com o presente,
fazendo com que a população passe a enaltecer e a valorizar a sua real história.
A população perdeu seu vínculo indenitário com o território. E não faz mais
questão de reatá-lo. Nas palavras de um dos entrevistados referindo aos prédios. "Pra
mim derrubava isso aí e construía tudo novo" (João, 32 – pseudônimo). Não há políticas
públicas que pensem na revaloração do patrimônio, apenas em sua conservação e o
único foco em alguns casos é o tombamento.
7 - PARA NÃO CONCLUIR
As velhas formas são consideradas como rugosidades para a economia
capitalista. Embora essas formas sejam moldadas pelo capital em outro período
histórico vai fornecer limites para a locação de novas funções. E com uma dinâmica
temporal tão rápida como a que presenciamos atualmente, essas formas são facilmente
destruídas e substituídas por outras. Fazendo dessa acumulação do tempo histórico o
que nos permite compreender a atual organização do espaço. Seria possível identificar
as mudanças que acarretam na refuncionalização dos prédios? O próprio capital é
responsável por mudanças tão frequentes e rápidas. Que passam despercebidas e não
marcam tanto a história.
Não podemos prever qual o melhor caminho a ser trilhado pela sociedade. Mas
também não podemos passar por cima do passado em busca da modernidade. A
conservação dos prédios históricos é importante não somente por referir-se à memória e
história. Ela frearia essa mutação constantemente rápida do espaço, de modo a
refletirmos melhor quais funções a ser-lhe atribuída.
Temos de lembrar que a "forma só se torna relevante quando a sociedade lhe
confere um valor social" (SANTOS, 2008, p. 73). Valor esse ligado a estrutura social
referente ao devido período histórico. Hoje, embora muitos prédios tenham sido
demolidos para se erguerem condomínios e outros investimentos imobiliários ou de
serviços, não percebemos que haja valor social impregnado nos que restaram. A cidade
simplesmente distribui toponímias pelas ruas, com nomes dos primeiros moradores que
marcaram a história de Alfenas, mas não alimenta nenhum sentimento de topofilia que
os habitantes poderiam se identificar.
Então para uma revaloração dos prédios históricos não basta adequar suas
funções ao atual momento da sociedade. Devemos, num primeiro momento, criar o
sentimento identitário que falta nos habitantes de Alfenas. Para assim despertar em cada
indivíduo o interesse de preservar bens que sejam comum a todos. Tornando esse
interesse num direito comum.
Nesse caso incluir a história local nas instituições de ensino seria um grande
passo. Pois as crianças de hoje serão os responsáveis pela formulação do espaço no
futuro. Desse modo, contar a formação do território alfenense, tendo como referência os
principais prédios históricos ainda existentes poderia acender nos alunos o sentimento
de identidade territorial que falta no restante da população. O descaso apresentado pelos
entrevistados perante os prédios históricos ocorre muitas vezes devido a falta de
informação sobre o valor que esse prédio agrega. Tendo visões distorcidas por mídias
de massa.
Num segundo momento resaltamos a importância de políticas públicas que
preocupem com a conservação dos prédios. Vendo que o tombamento não é bem aceito
pela maioria dos proprietários. Poderíamos relevar outras políticas de preservação.
Lembrando que na atual sociedade, a ajuda financeira para sua manutenção é de
extrema importância. A maior dificuldade em programas de tombamento está nos
moradores aceitarem as normas, pois a entrada nesse programa inviabiliza o aluguel e
venda do prédio não sendo atrativo.
E por fim, sim deveríamos pensar em novos usos. Que consigam amarrar essa
identidade territorial ao ambiente urbano. Que possa ser oferecido a toda a população. E
não elitize o uso. A memória dos prédios históricos ainda resiste em muitos dos antigos
moradores, mas a maior preocupação é se esses prédios não irão se apagar junto a
memória desses. A história não é contada apenas por um indivíduo, mas sim por toda a
sociedade e seu movimento no espaço. Que deixam marcas, as quais podemos apreciar e
muito aprender sobre a ambição do homem. Como já diz o velho jargão "quem não
recorda o passado está condenado a repeti-lo".
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