7 O “Curso para Docentes do Ensino Fundamental - Coordenador Pedagógico” Neste capítulo será apresentado o “Curso para Docentes do Ensino Fundamental - Coordenador Pedagógico” como instrumento desenvolvido pela SME para formação continuada e aperfeiçoamento dos coordenadores PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA pedagógicos em exercício na escola. Será descrita a estrutura do curso, os encontros, os textos utilizados, e o desenvolvimento das atividades do curso utilizando um exemplo de roteiro de um dos encontros. As ações destinadas à formação continuada do coordenador pedagógico foram sintetizadas no “Curso para Docentes do Ensino Fundamental-Coordenador Pedagógico” que começou em 2002, visando à reflexão dos coordenadores pedagógicos, trazendo possibilidades da atuação integrada, articulada e planejada com os professores e alunos de suas unidades escolares (RIO DE JANEIRO, 2004a, p. 3). Durante os anos de 2002 e 2003, o curso foi ministrado em encontros periódicos onde os temas estudados, não eram sistematizados num livro-texto ou apostila. Isso começou a ser feito a partir de 2004, quando a apostila com a coletânea de textos destinados a formação continuada do coordenador pedagógico foi distribuída aos inscritos no curso e, portanto, nossa ênfase no estudo da estrutura e desenvolvimento do curso está voltada para os anos de 2004 a 2008, conforme o material disponibilizado. Em 2004 o curso teve uma duração de cinco meses num total de 80 horas/aula distribuídas em 19 encontros presenciais, sendo um por semana. Para tanto, o processo de formação contou com 28 turmas distribuídas entre as dez Coordenadorias Regionais de Educação - CREs. A aula inaugural foi um seminário de abertura com todas as turmas para que a Diretoria de Ensino Fundamental - DEF pudesse falar aos cursistas a respeito de sua estrutura e dos 110 encontros. O seminário foi ministrado simultaneamente em pólos distribuídos pelos bairros do Centro, Madureira e Campo Grande onde a equipe de profissionais da DEF foi distribuída. A justificativa para ministrar o curso aos coordenadores, de acordo com a SME, foi que “aprofundamento os nas coordenadores questões pedagógicos fundamentais necessitavam sobre os de um aspectos de desenvolvimento e aprendizagem, assim como sobre os processos reflexivos e prático-pedagógicos que permitam a auto-avaliação da escola e de seus professores, de modo a minimizar os processos de exclusão” (RIO DE JANEIRO, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA 2004a, p.3). No ano de 2005, o curso foi assim distribuído: 20 encontros presenciais, uma vez por semana, perfazendo um total de 84 horas/aula por um período de seis meses. Em 2007 o curso foi desenvolvido em 25 pólos distribuídos nas 10 Coordenadorias Regionais de Educação e teria uma duração total de 80 horas/aula distribuídas ao longo de 20 encontros presenciais, com orientação pedagógica feita pela equipe da DEF, melhor dizendo, as dinamizadoras (CUNHA, 2007a, pp. 3-4). O local destinado a ser a sede das turmas formadas pelos coordenadores pedagógicos era, geralmente, uma escola municipal que tivesse o espaço disponível de uma sala de aula ou auditório em que pudesse abrigar os coordenadores cursistas. A capacitadora ou dinamizadora era a mesma pessoa durante todo o curso. As turmas eram divididas respeitando-se os limites administrativos de cada CRE que determinou a capacidade para até 30 inscritos (nos anos de 2004, 2005) e para até 40 inscritos (nos anos de 2007 e 2008) em cada turma. Em 2006 o curso não foi oferecido aos coordenadores pedagógicos da rede municipal. No início, a DEF solicitou que cada capacitador fizesse um relatório para descrever a aceitação dos coordenadores ou se houve algum aproveitamento prático destes docentes. Em 2004 a avaliação final do curso foi a apresentação de uma pequena monografia feita individualmente pelos coordenadores pedagógicos participantes a respeito de um tema já debatido no curso. As monografias 111 selecionadas pelas dinamizadoras, uma de cada turma seriam apresentadas no seminário final com todas as turmas. A partir de 2005 cada turma apresentou um portfólio coletivo contendo os trabalhos desenvolvidos durante o curso. Este livro, montado pela turma, ficaria arquivado na DEF, como relatório de avaliação do curso. O monitoramento da frequência dos cursistas era feito através de assinatura da pauta de registro de presença que, ao final de cada encontro, era levada para a DEF para verificação do tempo de aproveitamento do coordenador das aulas do curso (CUNHA, M. F. G., 2005, pp. 6-7). Os faltosos eram cientificados através das CREs por meio de recados enviados por rede de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA comunicação interna. O registro das atividades desenvolvidas a cada encontro era feito pelos coordenadores participantes através de uma pequena ata com o registro de tudo o que foi discutido e estudado no encontro, os textos lidos e as dinâmicas desenvolvidas. Tabela 6: Turmas distribuídas pelas CREs a cada ano que o curso foi oferecido no período de 2004 a 2008: Turma 2004 2005 2007 2008 CRE 1ª 1 1 1 1 2ª 2 2 3 2 3ª 2 2 2 2 4ª 4 4 4 2 5ª 3 3 2 2 6ª 2 2 2 1 7ª 3 3 3 2 8ª 4 4 4 2 9ª 3 2 2 2 10ª 3 2 2 1 Fonte: RIO DE JANEIRO, 2004a, p. 3; 2005a, p.3; 2007f, p.4; 2008a, p.5. 112 7.1 Os encontros entre os coordenadores pedagógicos A cada encontro a dinamizadora dava boas-vindas ao grupo, sensibilizando-os para os temas abordados naquele encontro com um vídeo, um texto reflexivo ou uma dinâmica. Em seguida ela fazia a apresentação dos temas a serem trabalhados no encontro, os “combinados” que eram as tarefas de registro de cada encontro. Esse registro era uma sinopse de todos os acontecimentos e discussões que ocorreram durante o encontro, feito por um coordenador PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA voluntário da turma. Ao final de cada encontro era trazido um texto para leitura reflexiva. O momento era chamado de “Roda de Leitura”. Durante o curso, os coordenadores desenvolviam várias atividades: seminários sobre um dos temas propostos pelo livro-texto do curso, tarefas de reflexão após a leitura de cada texto, além de sugestões de leitura de textos ou livros de outros autores sobre o mesmo tema. Essa rotina era seguida do início ao final do curso. A seguir, a transcrição da pauta utilizada no primeiro encontro do curso de 2008: “Pauta do curso – extraído do primeiro encontro realizado em 03 de março de 2008. Boas-vindas – apresentação dos participantes Sensibilização com uma música: O homem falou - de Gonzaguinha (foi utilizado um aparelho de som para tocar a música) Reflexão: Quem é quem na escola? Sistematização dos conteúdos – os coordenadores foram organizados em pequenos grupos para discutir a reflexão. Combinados – a síntese do “Livro da Vida” Roda de leitura: conto de carnaval: A máscara. Ao final do curso era construído um álbum com todas as impressões de cada coordenador daquela turma a respeito dos encontros do curso para que a Diretoria de Educação Fundamental - DEF pudesse avaliar o aproveitamento dos coordenadores e seu desempenho no curso. Isto é caracterizado como a justificativa de investimento do MEC/FNDE (BRASIL, 2009b) no profissional coordenador pedagógico (o “Livro da Vida”), conforme descrito a seguir. 113 A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Educação, vem desenvolvendo ações de formação em serviço com os professores que atuam no Ensino Fundamental. O projeto apresentado ao MEC/FNDE em 2003 visa ampliar o processo de formação de coordenadores pedagógicos desta rede de ensino, oportunizando aprofundamento de questões fundamentais sobre os aspectos de desenvolvimento e aprendizagem, assim como sobre processos reflexivos e prático-pedagógicos que permitam a autoavaliação da escola e de seus professores, de modo a minimizar os processos de exclusão (RIO DE JANEIRO, 2004a, p. 3). 7.2 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA Os textos do curso Soares (2004, pp.9-10) apresenta o texto como a instauração de uma situação discursiva entre o leitor e o autor para a construção do sentido do texto, autor e leitor, interagindo entre si. Para Certeau (2007, pp.265-266) a leitura é considerada um percurso pelas páginas onde o olho viaja pelas “metamorfoses e anamorfoses” do texto que só tem sentido graças à relação travada pelo leitor com o texto. Freire (1989, p.9) definiu a importância do ato de ler como uma percepção crítica, uma re-escrita do que é lido. A partir dos temas apresentados nos textos do curso, referindo-se ao objetivo de compreender sua dinâmica e intencionalidade, conclui-se que os coordenadores assumem a função de disseminadores das políticas de educação da SME. No livro-texto de 2004, os assuntos mais abordados foram relacionados ao processo de ensino-aprendizagem com 04/06 textos contidos no caderno. As mudanças de seriação para ciclo já tinham sido implantadas nas turmas dos três primeiros anos de escolarização do Ensino Fundamental e as novas políticas precisavam ser mais difundidas. Uma forma de divulgar e aprofundar as teorias dos “Ciclos de Formação” seria através do curso. Cada texto tratava de assuntos complementares do processo de trabalho pedagógico da escola que envolvem: ensino-aprendizagem, avaliação, filosofia da educação, políticas educacionais, e projeto político-pedagógico. Assuntos que 114 trazem uma linha pedagógica de trabalho voltada para o desenvolvimento humano e para a mudança da visão dos profissionais da educação de sua própria prática. Por isso, a presença de textos reflexivos nos primeiros dois anos do curso. Em 2005, o curso ainda mantinha uma linha reflexiva voltada para a teoria, porém, atendo-se mais especificamente à identidade do coordenador pedagógico e ao projeto político-pedagógico de forma a levar os coordenadores a aplicarem os conhecimentos e adquiridos através da leitura e reflexão dos textos em sua prática pedagógica na escola. O terceiro livro trata das reflexões teóricas do curso de coordenador PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA pedagógico na escola ciclada. Este curso foi dado em 2007 porque não houve abertura de inscrições para o ano de 2006. Todos os textos eram voltados para o aprofundamento das teorias que dão suporte à organização da escola em Ciclos de Formação. Alguns textos institucionais foram extraídos de propostas pedagógicas de outras Secretarias de Educação (ver tabela 8) com a intenção de mostrar que, em outras administrações públicas brasileiras, os ciclos já foram implantados. Desta vez, os textos estão voltados para o desenvolvimento humano e para o conhecimento do currículo ciclado. Ao mesmo tempo, a SME enviou para as escolas uma nova proposta curricular visando adaptar o “Núcleo Curricular Básico – Multieducação” (RIO DE JANEIRO, 1996) à proposta de ciclos. O Núcleo Curricular Básico Multieducação (1996), elaborado com a participação dos professores das escolas, ao final de sua construção, referendava, naquele momento, uma organização escolar em regime seriado. Posteriormente, no ano de 2000, foi implantado o Ciclo, objetivando o atendimento aos alunos com 6, 7 e 8 anos de idade. Ao ser elaborado este fascículo, priorizamos discutir sobre os processos de apropriação da leitura e da escrita e algumas questões relativas à Matemática, considerando que contribuirão para a formação integral do aluno, uma vez que são instrumentos indispensáveis do conhecimento. Pretendemos, assim, auxiliar o planejamento do trabalho pedagógico a ser realizado nas turmas do Ciclo e da Progressão (RIO DE JANEIRO, [2004b], pp.5-6). Em 2008, a quantidade de textos presentes no livro-texto do curso aumentou significativamente, mas, em contrapartida, os textos eram menores, fragmentos de textos e artigos publicados (ver tabela 10). Alguns assuntos foram 115 revisitados, como identidade do coordenador pedagógico, formação de grupo, currículo, projeto político-pedagógico e avaliação. Os textos estavam voltados para uma nova forma de avaliação: “a observação e o registro”. A avaliação pela observação é parte principal da proposta de uma escola organizada em Ciclos de Formação porque prioriza a avaliação do desenvolvimento humano do aluno e não somente provas ou testes. O registro, presente nos textos selecionados para discussão com os coordenadores, passou a ser o principal documento de avaliação do aluno. Os textos teóricos estudados durante o curso funcionavam como PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA detonadores das discussões de ideias feitas pelos coordenadores pedagógicos durante os encontros. A tarefa do coordenador cursista era ler, com antecedência os textos que seriam estudados no próximo encontro. Ele fazia anotações no caderno ou na parte final do livro de textos e levaria suas questões para o encontro. Os textos eram compostos por artigos ou capítulos de livros de publicação conhecida que eram transcritos no livro-texto. Ao final de cada livrotexto, havia uma lista de sugestões de leitura ou uma bibliografia de consulta para auxílio do coordenador pedagógico em seus estudos. Segue abaixo a lista de textos com os autores selecionados pela SME. Tais textos deveriam ser estudados pelos coordenadores pedagógicos durante os anos de 2004 a 2008. Tabela 7: Curso para coordenadores pedagógicos de 2004/Autores e textos. ESTEBAN, Maria Tereza. A avaliação no processo ensino-aprendizagem: os desafios postos pelas múltiplas faces do cotidiano. PARO, Victor Henrique Ciclos, progressão continuada, promoção automática GARCIA, Joe Repensando a formação do professor interdisciplinar REGO, Tereza Cristina A cultura torna-se parte da natureza humana MARQUES, Mário Osório Escola, aprendizagem intencionalidade política VEIGA, Ilma Passos de Alencastro Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva Fonte: RIO DE JANEIRO, 2004c. e docência: imaginário social e 116 Tabela 8: Curso para coordenadores pedagógicos de 2005/Autores e textos. SOUZA, Vera Lúcia Trevisan de. O coordenador pedagógico e a constituição do grupo de professores GUIMARÃES, Ana Archangelo; VILLELA, Fábio Camargo Bandeira. O professor-coordenador e as atividades de início de ano MONTEIRO, Ana Maria O projeto político-pedagógico: desenvolver, avaliar MIRANDA FILHA, Neide Projeto político-pedagógico: elementos para seu planejamento CRUZ, Carlos Henrique Carrilho Conselho de classe e participação planejar, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA Fonte: RIO DE JANEIRO, 2005c. Tabela 9: Curso para coordenadores pedagógicos de 2007/Autores e textos. ARROYO, Miguel Prefácio SEEDUC – CUIABÁ Infância, adolescência contemporaneidade: desafios para a escola ciclada. (Secretaria Estadual de Educação em Cuiabá) SMED – BELO HORIZONTE A adolescência como um ciclo de formação (Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte) LIMA, Elvira de Souza Currículo e desenvolvimento humano PICOSQUE, Gisa Revelações do corpo; estesia e conhecimento FERNANDES, Cláudia de Oliveira; FREITAS, Luiz Carlos de. Currículo e avaliação Fonte: RIO DE JANEIRO, 2007f. 117 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA Tabela 10: Curso para coordenadores pedagógicos de 2008/Autores e textos. ARROYO, Miguel A humana docência (texto integral) CRUZ, Carlos Henrique Carrilho. Reflexões sobre a função da coordenação pedagógica MARTINS, Miriam Celeste Ser educador DAVINI, Juliana Preocupações de um grupo de formadores Idem Um grupo novo: desafios e desejos FREIRE, Madalena O que é um grupo? CANEN, Ana Refletindo cultural SILVA, Tomás Tadeu Teoria do currículo: o que é isto? Idem O currículo como prática de significação WEFFORT, Madalena Freire Educando o olhar da observação MARTINS, Miriam Celeste Sobre a observação WEFFORT, Madalena Freire O registro e a reflexão do educador CAMARGO, Fátima A propósito do ato de estudar FREIRE, Madalena O sentido dramático do ensinar e do aprender Idem Ingredientes do ensinar CAMARGO, Fátima Saber fazer e ser; o equilíbrio na prática educativa DAVINI, Juliana O professor e seus instrumentos metodológicos MONTEIRO, Ana Maria O projeto político-pedagógico: desenvolver, avaliar (texto integral) sobre currículo e diversidade planejar, Fonte: RIO DE JANEIRO, 2008a, p. 4. Foi observado que os textos selecionados são de autores bastante conhecidos no meio educacional. Os temas estão relacionados a uma formação ampla do coordenador nas questões em que se exige um conhecimento teórico mais apurado, como, por exemplo, currículo, desenvolvimento humano, projeto político-pedagógico e outros que envolvam o trabalho do professor junto a seus alunos como pro exemplo, ensino-aprendizagem e avaliação. E, por fim, a identidade do coordenador pedagógico e os instrumentos teóricos para que ele possa relacionar-se com os seus professores, não só durante os “centros de 118 estudos”, mas no cotidiano escolar, citando a constituição do grupo de professores e sua formação. 7.3 A opinião dos coordenadores pedagógicos a respeito do curso Os coordenadores pedagógicos entrevistados fizeram uma avaliação do curso a partir da forma que os dinamizadores trabalharam, destacando alguns que, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA pela forma de lidar com o coordenador pedagógico, foram considerados por eles como marcos de referencia para avaliar o curso como um todo. Dos 12 entrevistados, 07 destacaram a importância do dinamizador como elemento-chave para o sucesso ou fracasso do curso. Para mim, os primeiros cursos foram melhores, não sei se era por causa da pessoa (dinamizadora), ou se era porque a gente estava no início da coordenação, e a gente tinha mais dúvidas...então eu ia com “gana” para o curso” (Flávia). A meu ver o primeiro curso foi muito legal que foi com uma dinamizadora chamada M.17 que era maravilhosa. Do segundo até o presente não tenho considerado um bom curso não (Elisa). Eu só me lembro da M. que me marcou...mas, depois, eu achei muito repetitivo. Não era muito criativo. Os textos até que eram bons, mas, a forma que eles eram dinamizados eu não gostei (Zélia). No início do curso a gente estudou bastante sobre o coordenador pedagógico, logo nos primeiros cursos, nós estudamos a função até porque tínhamos a necessidade de ter mais embasamento sobre a função do coordenador, foi ótimo....Eu acho que é isso que falta para esses agora que estão chegando, 17 O nome da dinamizadora do curso citado pelos entrevistados foi omitido por razões éticas. 119 novos. Precisa de aprofundamento, da teoria. A gente estudava. Era estudo mesmo (Elza). Eu acho que os textos foram bem escolhidos. Atendem. As discussões atendem tanto ao grupo mais antigo quanto àquele que está chegando agora, esse grupo jovem, o grupo novo que está na função. E, às vezes, as discussões tomam rumos que já foram superados por aqueles que já têm algum tempo na função...E aí o aprofundamento dos textos se perde um pouco porque questões que elas trazem nós já passamos por elas (Rosana). O formato do curso era feito a partir da leitura e discussão dos temas, de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA acordo com cada realidade enfrentada pelo coordenador pedagógico em sua escola. Assim, todas as atividades semanais, desde a dinâmica inicial motivadora, até a avaliação da aula, ficavam sob a responsabilidade de cada dinamizadora. Como o formato do curso não se alterou, as coordenadoras puderam fazer uma avaliação comparativa dos primeiros anos do curso com os mais recentes. A questão da motivação foi levantada por Flávia como um fator de acréscimo junto à avaliação do trabalho desempenhado pela dinamizadora. A motivação de estar começando a carreira como coordenador pedagógico, foi marcante para todos os que estão há mais tempo na função. Baiocchi e Magalhães (2004, p.65) destacam a motivação, como foco de estudos, sendo ligada ao esforço e ao comprometimento com a carreira profissional. Eles também associam a motivação à resiliência e à identidade profissional apresentando a motivação, como um fator que traz maior envolvimento e comprometimento das pessoas no desenvolvimento de suas atividades profissionais contribuindo para a sua eficácia. Tardif e Lessard (2007, p.31) tratam da motivação, referindo-se especificamente ao professor, seu envolvimento com a escola, com os alunos e da reflexão sobre o seu próprio papel de profissional, pois, o docente, assim como o coordenador pedagógico, trabalham com e para seres humanos, o que os autores denominam de “objeto humano”. Elza levantou uma questão relevante sobre o estudo teórico a respeito de diversos temas abordados durante os seis anos em que o curso para coordenadores pedagógicos foi dado. Ela referiu-se ao curso como fonte de formação teórica para 120 que o coordenador pedagógico pudesse lidar com as situações esperadas e inesperadas que surgem na escola. A base teórica que Elza diz faltar no curso está presente tanto nos textos iniciais (ano de 2004) quanto nos atuais (ano de 2008), porém, a forma de trabalhar esses textos, de trazer questões abordadas na teoria para a prática do trabalho do coordenador na escola, a troca idéias entre a dinamizadora e o grupo de coordenadores, foram descritas de forma crítica pelos entrevistados. As questões levantadas por Zélia, assim como as de Rosana, logicamente têm uma ligação, no momento em que elas questionam temas que se repetem no curso. Para elas, o fato de já terem superado certas questões e por estarem no PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA cargo há dez anos, traz desinteresse, e, consequentemente a falta de motivação para participarem de novos cursos para coordenadores pedagógicos. 7.4 Temas “relevantes” na opinião dos coordenadores pedagógicos Tardif propõe que os professores, sejam reconhecidos como sujeitos do conhecimento durante todo o desenvolvimento de sua formação e que estes saberes sejam considerados como parte da formação do educador (2002, p. 37). Durante o desenrolar do curso, destaca-se como categoria a necessidade dos coordenadores compartilharem suas experiências vividas no cotidiano de sua função (9/12). Os temas considerados como os “mais relevantes” eram tratado por eles como uma orientação teórica para práticas já vivenciadas. Também sentimos a necessidade, como a gente só tem encontros de quinze a quinze dias umas com as outras, queremos mais um tempinho para discutir as nossas realidades, como vai a minha escola, o que está dando certo na minha escola e que pode ser aplicada na sua...é pouco tempo (Aline). Tardif (2002, pp. 37-39) afirma que os saberes docentes estão configurados entre os saberes específicos de formação universitária, enquanto que 121 os “saberes pedagógicos” são oriundos das reflexões feitas durante a prática educativa, gerando padrões nas práticas docentes e os “saberes experienciais” são produtos da prática de seu trabalho. É importante acrescentar que a prática não é só resultado do fazer pedagógico, isto é, do simples ato de ensinar, mas de todo um processo de relação afetiva, ética e cotidiana com os alunos, o que Sacristán (1999, p.68) chama de “práticas didáticas”. Os coordenadores selecionaram alguns dos temas estudados no curso classificando-os como temas “mais” e “menos relevantes”. Nos temas considerados “mais relevantes” os entrevistados destacaram: projeto políticopedagógico com 8/12 citações, avaliação, registro, currículo, dificuldades de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA aprendizagem, a função do coordenador pedagógico, cada um com 2/12 votos. Esses dados revelaram que o “projeto político-pedagógico” ainda se mostra para os coordenadores como um desafio, tanto na sua escrita e implantação quanto ao seu desenvolvimento na escola. 7.4.1 Projeto político-pedagógico Eu acho que eu ainda não domino porque nunca vi um pronto é o projeto político-pedagógico. Eu fiz o meu no tato porque no primeiro ano, que eu entrei para a coordenação a gente fez um curso. Mas eu acho que este tema a gente deveria estudar mais (Solange). No início também foi muito bom quando trataram do projeto políticopedagógico. E como eu comecei vindo sem nenhuma experiência em como montar um projeto, tenho que ressaltar que foi muito válido (Zélia). Tanto Solange quanto Zélia, demonstraram que o tema foi “relevante” enquanto profissionais inexperientes na função. Solange ainda chamou a atenção de que nunca vivenciou uma escola com projeto antes de assumir a coordenação. O processo de integração dos princípios da Lei 9394 (BRASIL, 1996) até a 122 realidade da escola passa por um caminho longo de transformações entre políticas públicas e a formação profissional O projeto político-pedagógico, por ser uma construção coletiva, traz no seu fazer um movimento complexo dentro da escola. Primeiramente envolve a diagnose da comunidade onde a escola está inserida, com suas necessidades, carências e potencialidades abraçando toda a gestão e os docentes nesse levantamento de pesquisa. Como a construção de um projeto político-pedagógico - PPP demanda um longo período de tempo que pode durar até um ano entre a sua construção e implementação. Muitas vezes, as escolas preferem trabalhar com projetos pedagógicos que envolvem curtos períodos de tempo e de fácil avaliação, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA talvez, até por desconhecimento destes processos (VEIGA, 2004, p. 98). 7.4.2 Avaliação A avaliação é definida de forma simples por Elisa como “temas voltados para a avaliação”. Mesmo não citando o tema diretamente, a avaliação surge como um tema presente na prática do coordenador. É percebido que tem sido citado direta ou indiretamente em suas respostas. O “registro18” (apontamentos feitos pelos professores no registro de classe) porque ainda é um “nó” dentro do processo de avaliação (Aline). Eu volto à questão da avaliação (Solange). Eu gostaria de retomar a avaliação...(João). Temas que precisam ser mais elaborados: projeto pedagógico e avaliação (Kátia). 18 Ver p. 151. 123 Por que o “registro” é considerado como “um nó” na avaliação? Qual é a sua importância dentro do processo avaliativo dos alunos? Observa-se que o “registro” em si mesmo, não é considerado relevante, mas somente quando associado à questão da avaliação. Em 2008, havia uma grande preocupação com o desempenho da escola devido à avaliação de rede feita pela SME: a “Prova-Rio”. Essa avaliação foi feita durante dois anos seguidos, ao final de cada ano, com os alunos que estavam no período final de cada Ciclo e visava avaliar as escolas para verificar se o desempenho enviado por ela estava de acordo com o aproveitamento dos alunos na prova. Consequentemente, o coordenador era diretamente responsabilizado, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA juntamente com o diretor, no que diz respeito ao desempenho dos alunos na prova (MATEUS FILHO, 2008, p.4; RIO DE JANEIRO, 1998a, pp.4-5). Alguns sentiram que as mudanças na avaliação da rede municipal da cidade do Rio de Janeiro não foram esclarecidas devidamente, e, durante o ano letivo de 2008, ainda havia dúvidas sobre o aprofundamento das questões relativas à aprendizagem dos alunos, assim como da própria avaliação. 7.5 Sugestões de temas para cursos futuros A respeito de temas que eles gostariam que fossem contemplados nos próximos cursos surgiram: a questão da “não-aprendizagem dos alunos” com 03 votos; aprofundamento nos Ciclos de Formação com 02 votos; e outros temas como gestão escolar, antropologia e educação, pais na escola, a história da função do coordenador, aprofundamento de currículo com 01 voto cada. Eu trato principalmente de temas que falam das dificuldades de aprendizagem na alfabetização. Porque o foco é a alfabetização (Shana). Eu torno à questão do não - aprender. É muito complicado termos crianças com dez, doze anos que ainda não lêem. (Zélia). 124 Eu acho que deveria ter um curso para coordenador pedagógico com temas como “as dificuldades de aprendizagem”. A gente está com um índice muito grande de alunos com dificuldades de aprendizagem (Elena). Nos temas sugeridos pelos coordenadores para serem estudados em futuros espaços de formação continuada, predomina a questão da “não-aprendizagem” dos alunos. Essa questão surge também quando foi perguntado aos entrevistados quais são os temas que eles trabalham nos “centros de estudos” junto aos professores. Relacionando ao que foi dito pelos coordenadores com o que eles desejam estudar, percebe-se que a demanda vem do grupo de professores, obrigando o coordenador pedagógico a buscar textos específicos sobre este PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA assunto e a estudar essas dificuldades de aprendizagem, visando minorar, com o conhecimento, os problemas enfrentados pelos docentes na sala de aula com os alunos. Os problemas mais significativos estão relacionados com as escolas que possuem o primeiro ciclo, pois, são responsáveis pela alfabetização dos alunos. A “não-aprendizagem”, isto é, o fato do aluno não conseguir alfabetizar-se ou somente conseguir ler e escrever com dificuldade exige dos docentes soluções imediatas porque se o aluno não consegue ler nem escrever, como avançar de forma eficaz na escolarização e no aperfeiçoamento de sua aprendizagem? “Dificuldades de aprendizagem” é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas, em que fatores intrínsecos, isto é, inerentes a formação orgânica do indivíduo, somados aos fatores sociais e familiares. Mesmo assim, não há um consenso entre as definições dadas pelos pesquisadores a respeito do conceito de “dificuldades de aprendizagem”. As dificuldades de aprendizagem geram o “fracasso escolar”, a evasão e o analfabetismo funcional, conforme muitas pesquisas publicadas na área da Educação. (STEFANINI; CRUZ, 2006, p.89). 125 7.6 Temas recorrentes no curso Os coordenadores fizeram comentários a respeito dos temas que a DEF considerou como relevantes ou essenciais, por isso foram revistos no decorrer dos quatro anos em que o curso foi oferecido pela SME. O texto teórico continuou sendo um elemento disparador para as considerações feitas pelos coordenadores durante os encontros. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA Tabela 11: Os temas recorrentes no curso de coordenador pedagógico de 20042008: TEMA ESTUDADO RECORRÊNCIAS AO LONGO DOS CURSOS Avaliação 03 Projeto político-pedagógico 04 Formação de grupo 02 Currículo 04 Ciclos de formação 04 Fonte: RIO DE JANEIRO, 2004c; 2005c; 2007f; 2008a. 7.6.1 Projeto político-pedagógico A respeito do tema “projeto político-pedagógico - PPP”, os entrevistados deram depoimentos mais próximos à realidade do seu trabalho e de suas experiências no cotidiano da escola do que a respeito de autores ou textos. Os textos utilizados no curso foram os de Veiga (2004, pp.88-102); Monteiro (2005, pp.34-39); Miranda Filha (2005, pp.41-49). 126 Para mim é um “nó” também. Eu queria ver um (projeto políticopedagógico) pronto para ver o que eu faço, ou o que eu fiz é o correto. Já esteve aqui (na escola) uma fiscalização da Secretaria de Educação e olhou. Disse que estava legal, mas que eu deveria atualizar. Mas, eu ainda não me sinto segura para montar um projeto político-pedagógico. E olha que eu já estudei muito, mas, eu sinto que ainda está faltando algo (Solange). Eu acho que é difícil compreender o projeto político-pedagógico. Quando a gente pensa que está compreendendo, eu acho que preciso estudar mais. O nosso está pronto, e muitas colegas (outras coordenadoras pedagógicas) colaboraram. A gente trocou bastante. Quando veio a “avaliação integrada” PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA (fiscalização da SME na escola), eles viram o PPP e gostaram quando ele descreve a comunidade, no diagnóstico. Eles disseram que não precisava ser tão amplo e para os objetivos serem mais claros, colocar ali os fundamentos da leitura e escrita e da matemática. E a gente divulgou o PPP para todo o mundo. Eu acho que ainda falta alguma coisa. Eu não me conformei com a avaliação deles não. Eu acho que escrever é fácil, da escrita para a prática, torná-lo vivo, não é fácil não (Kátia). Nas falas de Solange e Kátia, percebe-se claramente que elas se remetem à sua experiência cotidiana ao falar a respeito do tema projeto político-pedagógico. As demandas vindas da rotina da escola, a experiência vivenciada de ter uma fiscalização da SME na escola, foram mais marcantes do que suas considerações a respeito do texto trabalhado no curso. Solange sinaliza que leu muito a respeito do tema, mas, percebe que necessita vivenciar ou compartilhar experiências com outros coordenadores ou com gestões de outras unidades escolares para afirmar que é capaz de elaborar as propostas do projeto político-pedagógico de sua escola. Enquanto Kátia diz que pediu ajuda na elaboração do PPP, mas, ainda assim como Solange, percebeu a falta de algo que não sabe expressar. A falta de vivenciar o projeto na escola, ou seja, “torná-lo vivo” mostrou ser um grande desafio para elas. Elena já demonstra um pouco mais de experiência em trabalhos com projeto: 127 O nosso projeto visa cultivar as normas internas da escola, a questão disciplinar, a questão do uniforme, mesmo que seja muito falho. Mas, a essência fica. E o que consiste o nosso PPP? É a formação desse aluno consciente, de um aluno que saiba buscar conhecimento lá fora (da escola), dar condição de caminhar, de buscar, de fazer uma pesquisa, de buscar as fontes, e saber criticar sem derrubar o outro. Um crítico que faça crescer. Essa essência todo mundo aceita, é a fala de todo professor, de formar um aluno crítico, que saiba buscar os seus direitos, os professores de artes, de Língua Portuguesa, de Educação Física, todos eles implantam isso. A essência fica, mas dizer que o PPP é cumprido integralmente, não acho não. É uma utopia. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA Elena sabe como elaborar o projeto político-pedagógico e ainda diz que, em sua escola, esses princípios são postos integralmente, mas não acredita em sua aplicação prática. Percebe-se, na avaliação de Elena, que a teoria está muito distante da prática e não a vê como colaboradora. Pela análise inicial de seu discurso, Elena acredita que teoria e prática são coisas diferentes e distantes entre si. De igual modo, Kátia também expõe essa idéia. No entendimento do coordenador pedagógico, a teoria deve fazer parte dos estudos do professor, porém este prioriza a prática como referencial para a sua formação nos “centros de estudos” por buscar sugestões de atividades pedagógicas para desenvolver o seu planejamento de forma mais criativa. Para mim, todos os temas têm o seu valor, mas eu acho que poderiam entrar outros temas ...para podermos passar para o professor, porque ele vem em cima da gente. E para que a gente tenha alguma coisa, é preciso pesquisar na “internet”...(Elena). Mais uma vez, Elena vem sinalizar a necessidade que o professor tem de receber conhecimentos mais voltados para a sua prática como instrumento de valor para ser tratado no curso. Entre os coordenadores que comentaram sobre os textos estudados, Elza faz um resumo das experiências que participou. Para ela, as práticas de simulação no curso foram válidas para trazer a construção do projeto político-pedagógico para a prática na escola. 128 No curso aprendemos a montar o projeto. Tivemos muita parte teórica e trouxemos para a prática. Montamos um projeto no curso e foi muito legal porque nos deu subsídios para montarmos o da escola. Shana precisou de mais suporte teórico para construir o projeto de sua escola. E faz críticas aos textos selecionados no curso, voltados para o tema. Foi legal, acrescentou para quem estava entrando esse ano (na coordenação). Mas, para mim, o que me ajudou foram os livros mesmo. Para saber o que era “diagnose”, “marco operacional” (VEIGA, 2004, p.93). Em relação aos textos, eu achei muito superficial para eu estar montado o projeto da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA escola. João define o projeto como sendo parte da identidade da escola e como “projeção” da gestão vigente. Em sua fala, ele fornece pistas da influência da direção no trabalho pedagógico desenvolvido na escola e na formulação do PPP da instituição. Eu vejo como a “cara” da escola. Ou muitas vezes também da direção. Muitas vezes, é ela (diretora) quem “dita o caminho”. É possível perceber nos depoimentos a respeito do tema, que 8/12 falaram mais de suas experiências na construção do projeto político-pedagógico do que sobre os textos ou sobre como o tema foi trabalhado no curso de coordenadores, mostrando que a experiência prática é mais marcante na memória do que simples leitura e discussão teórica dos temas mencionados. Schön (2000, p.32) diz que a “reflexão-na-ação” torna-se mais ampla e profunda quando há uma conversação reflexiva com a situação e na ação desempenhada diante da mesma. A construção do PPP, os acertos e erros cometidos, o apoio da equipe da escola, a realização junto aos alunos, são impressões mais marcantes na memória dos coordenadores. Eu montei o PPP (Aline). Eu coloco os meus projetos, descrevo a escola, a comunidade, os objetivos...(Flávia). A gente divulgou o PPP para todo mundo (Kátia). 129 7.6.2 Formação de grupo Segundo Freire (2007, p. 34), Souza (2005, pp.10-14) e Davini (2008, pp. 30-32) o conceito de formação de grupo é definido “como pessoas com necessidades semelhantes reunidas em trono de uma tarefa específica, com objetivo mútuo”. As autoras classificam os tipos de grupo como primário e secundário. No grupo primário, está a família e no secundário, as demais formações de grupo. Falam de papéis de acordo com o grupo no qual o sujeito PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA está presente, fazendo um mapeamento destes grupos e de seus representantes para que as lideranças possam reconhecê-los e montar estratégias de trabalho que possam contemplar os diferentes tipos de grupos. O estudo foi voltado para o coordenador pedagógico enquanto gestor de seu grupo de professores, visando situações em que poderiam identificar qual grupo existe em sua escola e como trabalhar com ele. A respeito deste tema, os coordenadores falaram pouco priorizando mais uma vez suas experiências de trabalho na exposição de suas opiniões. É muito difícil trabalhar com isso. Numa escola grande eles tentam camuflar essa formação de grupo. Numa escola menor, fica mais aparente (Elena). Elisa falou mais pertinentemente sobre o tema como abordagem no curso de coordenador pedagógico. Esses textos que nós utilizamos no curso e aqui na escola nós estávamos com dificuldades, com problemas em relação à formação de grupo. Umas três pessoas estavam chegando e havia um problema de relacionamento interpessoal na escola em relação a essas professoras. Eu utilizei os textos nos centros de estudos e foi bom. As professoras pararam para pensar. O comentário de Elisa ilustra bem como ela aproveitou uma aprendizagem teórica e aplicou-a no campo da prática. No campo dos saberes Charlot (2000, 130 p.60) mostra como a relação com o saber se trava através da argumentação, da verificação e da experimentação. No caso de Elisa, seu depoimento mostra que ela passou por todos esses processos. Ela conheceu o texto, verificou sua validade diante de uma situação contrária e fez a experimentação, utilizando-o no “centro de estudos” com as professoras de sua escola. Mesmo que a totalidade dos coordenadores pedagógicos entrevistados não tenha respondido a esta questão quando lhes foi perguntado a respeito da participação do grupo de professores nos “centros de estudos”, as respostas dadas por 9/12 coordenadores demonstram um profundo conhecimento do grupo com o qual trabalham levando em conta a experiência vivida pelo coordenador PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA pedagógico no cotidiano escolar, identificando entre os professores os focos de resistência e como eles buscam estratégias para o trabalho com estes grupos. 7.6.3 Ciclos de Formação O tema permeia os quatro volumes dos cursos dados aos coordenadores pedagógicos. A intencionalidade é clara, no momento em que a rede municipal do Rio de Janeiro passa por mudanças de uma estrutura seriada para uma estrutura mista em 2000, e em, 2007 para uma estrutura ciclada. Os ciclos foram apresentados aos coordenadores pedagógicos através dos autores descritos nas tabelas 6 e 8, além de textos institucionais de outras redes de ensino como Belo Horizonte e Cuiabá. Os coordenadores pedagógicos acompanharam as mudanças do sistema de ensino tendo que se aprofundar nas políticas institucionais da SME e utilizando seus saberes para compreender com clareza “os textos das políticas” (MAINARDES, 2006, p. 50) para poderem fazer o trabalho de convencimento junto aos professores. Os coordenadores se posicionaram a respeito dos ciclos como tema recorrente do curso numa visão da implantação das políticas, juntamente com as atividades de formação continuada. Os Ciclos de Formação ainda não é uma coisa bem esclarecida para nós. Em alguma coisa a gente já avançou: entender o que significa ciclo. Eu já estou com o primeiro ciclo já há algum tempo. O meu grupo de professores já sabe o 131 que tem que dar conta desse ciclo e nesses 600 dias19 de uma alfabetização e um letramento que atenda a essas crianças (Rosana). Eu percebo que, na prática, os Ciclos de Formação são bem diferentes da teoria que nos é proposta. Por quê?Porque nós temos uma teoria maravilhosa, de primeiro mundo, mas um sistema de rede que não nos permite trabalhar com a teoria...aqui na minha unidade escolar eu tenho experiências de professores que vem com os alunos no primeiro ciclo: anos inicial, intermediário e final e que a gente vê resultados maravilhosos...mas, nesse meio tempo eu tenho crianças oriundas de outras escolas e as matrículas que vem de outros estados, e que tem PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA que ser matriculado naquele ciclo20 porque o sistema não permite e não nos dá a opção para trabalhar com uma criança que nunca estudou, que não saber ler nem escrever, mas, eu tenho que dar a vaga (Elisa). Para Elisa, o problema é mais conflitante. No seu depoimento, ao falar um pouco sobre um dos temas estudados no curso de coordenadores, toma a liberdade de fazer um desabafo de uma situação vivenciada em sua escola, que é a enturmação (lotação do aluno em turma) de ciclo, em que ela percebe a angústia de trabalhar com um aluno que nunca estudou e que está quase fora da faixa etária das classes correspondentes ao primeiro ciclo de formação, que trabalham atividades de alfabetização. Tardif e Lessard mostram que as organizações escolares são concebidas segundo modelos difusos que não possuem correspondentes na realidade. Neste caso, “os professores se aproximam mais da tarefa de operários e técnicos...eles trabalham na linha de fogo da produção e são eles quem garantem o essencial das tarefas cotidianas mais importantes da organização; mas, como operários e técnicos, eles participam pouco do controle da organização na qual trabalham” (2007, p. 82). Daí a angústia dos coordenadores de terem que organizar o trabalho da escola, não segundo a realidade encontrada, mas, de acordo com modelos pré-estabelecidos. 19 20 Período letivo correspondente a três anos de escolarização ou um ciclo de formação. Referindo-se ao primeiro ou segundo Ciclo de Formação grupamentos existentes na escola de Elisa no período de realização desta pesquisa. 132 Eu tenho as minhas reservas. Eu acho que não houve uma preparação dos professores regentes e muito menos da gente para a implementação dos ciclos. Então o que na teoria deveria ser bom, acaba que, na prática, entrou como um rótulo para a “não reprovação” (Zélia). Zélia já critica a falta de preparação para os professores e coordenadores pedagógicos. O que é percebido em sua fala é que o curso não se mostra suficiente para garantir a preparação para o trabalho numa escola organizada em Ciclos de Formação. Por isso, as práticas docentes continuam as mesmas da escola seriada. Mainardes mostra que “os textos das políticas” se tornam, na prática, distantes da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA realidade vivenciada pelos docentes na sala de aula. “Portanto, assume que os professores e demais profissionais, exercem um papel ativo no processo de interpretação e reinterpretação das políticas educacionais e, dessa forma, o que eles pensam e no que acreditam têm implicações para o processo de implementação das políticas” (2006, p.53). 7.6.4 Currículo Estreitamente vinculado ao tema anterior, o currículo, na expansão dos Ciclos de Formação na rede municipal, começou a passar por mudanças na descrição dos conteúdos e na estruturação dos mesmos ao longo dos anos de escolarização. O “Núcleo Curricular Básico – Multieducação” (RIO DE JANEIRO, 1996) vem sofrendo, desde a implantação dos Ciclos de Formação na rede, uma série de atualizações. O livreto “A multieducação na sala de aula: refletindo sobre o trabalho no 1º ciclo de formação” (RIO DE JANEIRO, [2004b]) é um exemplo de atualização que contém as considerações do pensar pedagógico para os Ciclos de Formação que faz parte de um conjunto de normatizações no que concerne ao que deve ser ensinado aos alunos que pertençam a uma rede ciclada. O tema “currículo”, abordado no “Curso para Docentes do Ensino Fundamental - Coordenador Pedagógico” foi composto pela visão de autores das 133 mais variadas linhas de pensamento, como “Elvira Lima”, “Tomás Tadeu da Silva” e “Cláudia Fernandes”21. Apesar de eu ter estudado, ainda não ficou claro para mim a questão do currículo. Eu aprendi a minha vida inteira que currículo era a listagem dos conteúdos. Agora aprendemos que o currículo deve ser feito de acordo com a realidade do aluno...Mas, é complicado um currículo de uma escola ficar diferente da realidade de outra...para mim isto não ficou muito claro não. É outra coisa que preciso estudar mais (Solange). Solange demonstra que o currículo é um conceito pedagógico um pouco distante de sua realidade. Ela concebe o currículo como um objeto fora de sua PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA ação de trabalho junto aos professores de sua escola. Para ela, o currículo deve ser apenas um modelo a ser seguido. “Avaliação e currículo” a gente sempre usa, porque não tem como fugir desses assuntos. A “avaliação” é sempre um “nó” e “currículo” eu acho que avançamos um pouco. Porque houve um encontro, há alguns anos atrás, com os professores de 5ª a 8ª série (na época), e um grupo da escola participou ativamente. Eu ia, mas eu gostava mais quando as professoras iam. Então houve uma mistura (integração) para melhor. Quando foram feitos os grupos de estudos, as professoras viram o que era importante ver em Matemática, Língua Portuguesa. A partir dali, para mim foi um marco. Nós passamos a ler os textos sobre currículo e montar o nosso currículo de uma forma mais prática, mais útil. Então o currículo da nossa escola ganhou uma nova vida. Embora ainda acho que dê para melhorar. Não chegamos lá ainda (Zélia). Zélia demonstra uma preocupação com a estrutura dos tempos de aula de cada disciplina e assinala a necessidade de vivenciar uma integração maior dos professores I com os professores II22 como uma forma de integrar o currículo, demonstrando que os conceitos básicos da teoria curricular não ficaram muito claros para os coordenadores durante o curso. 21 22 Ver tabelas 8 e 9 . Professores I são os professores de disciplinas dos anos finais do ensino fundamental e Projeto de Educação Juvenil segundo segmento - PEJA II, voltado para jovens e adultos que desejam completar o ensino fundamental e os professores II são professores que trabalham com Educação Infantil, anos iniciais do ensino fundamental e Projeto de Educação Juvenil I - PEJA I destinado a jovens e adultos sem escolarização anterior. 134 7.6.5 Avaliação Este tema aparece em quatro textos durante os cinco anos em que o curso foi oferecido. Os autores são diversos, mas o tema “avaliação”, em dois dos textos selecionados, está vinculado aos Ciclos de Formação. O conselho de classe hoje não é só mais aquele momento em que se ficava relatando horas e horas aluno por aluno. Acho que o conselho de classe hoje é o momento em que se irá avaliar não somente o aluno, mas a escola como um todo. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA Não interessa uma turma específica nem um grupo de professores, interessa saber como todos os alunos estão. Um aluno hoje é meu, amanhã pode ser seu. Então a visão que a gente tem é essa. Lógico quando tem algum caso a gente discute. Esse é o período da avaliação. E a partir dessa avaliação a gente faz o replanejamento (Elisa). Já é sabido que no conselho de classe, todos os professores sabem é o momento de discussão, de crescimento e da análise da escola. Não é o momento de leitura de conceito e de falar que o aluno está cheio de RR23. Isso a gente já fez antes para que no conselho de classe possamos fazer as propostas para mudar isso (Elena). A opinião dos coordenadores sobre um tema tão estratégico é vista sob a ótica de suas vivências na escola, mais do que as definições dos textos do curso de coordenador pedagógico, em que 5/12 falaram de suas vivências sobre o conselho de classe na escola, 4/12 não responderam e 2/12 disseram que se lembravam de algo relacionado entre o curso e a avaliação, mais uma vez, confirmando que a experiência vivenciada, é mais marcante na memória do coordenador pedagógico 23 O conceito RR, denominado “Registra Recomendações”, mostra que o aluno ainda não atingiu “os objetivos mínimos propostos para o período, necessitando intensificar a recuperação paralela com novas e diferenciadas atividades”, referindo-se às atividades de reagrupamento. (RIO DE JANEIRO, 2007c). 135 do que as análises de textos teóricos sobre determinados assuntos, mesmo que sejam rotineiros para o coordenador. Não teve novidade porque quando fiz o curso, a dinamizadora, que não conhecia a rede, não conseguiu passar para a gente. Eu queria para o conselho de classe uma novidade (Shana). Shana, ao falar sobre conselho de classe e avaliação, no curso, faz uma critica ao trabalho desenvolvido durante os encontros, pois, queria uma novidade na parte prática do trabalho pedagógico. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA De acordo com os depoimentos aqui expostos, conclui-se que os coordenadores pedagógicos privilegiam mais as suas experiências vividas do que uma formação mais sistematizada. A experiência anterior como docente está sempre presente nos depoimentos dos entrevistados. Eles gostam de falar sobre suas escolas e sobre os desafios encontrados no cotidiano escolar, da relação que têm com os docentes e com o trabalho pedagógico como um todo, o que Tardif denomina de “saberes experienciais” (2002, p.28-29). 7.7 Autores relevantes na opinião dos coordenadores pedagógicos Na entrevista com os coordenadores pedagógicos, foi perguntado sobre a visão da relação que eles tinham da teoria apresentada pelos autores e a respeito de sua realidade como docente. Dos entrevistados, 5/12 citaram os autores que foram mais significativos para eles a ponto de serem citados na entrevista. E 5/12 não citaram nome de autores, mas fizeram considerações a respeito da teoria e como ela é vista pelo docente. Alguns coordenadores falaram a respeito de autores que não fazem parte da relação dos apresentados no curso, mas, que foram leituras feitas por eles. 136 “Madalena Freire”, “Miguel Arroyo”, que estão sendo trabalhados e, muitos desses autores têm a ver com a nossa prática. O que está acontecendo é que temos muitos textos acadêmicos, muitas pessoas pesquisam, mas eles não estão aqui. A gente está vendo pessoas que fazem educação, mas que não estão na escola, não tem uma prática, não tem uma vivência do dia a dia da escola (Laura). A maioria está distante da realidade das escolas da rede. Eles falam em termos gerais, falam do exterior, de França, Itália, de Espanha, Estados Unidos... Eu acho que não tem como comparar. Eu acho que a gente deve colher as PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA experiências significativas adequadas (Elena). Laura e Elena fazem criticas à falta de vivência dos autores com a realidade da escola. Elas valorizam o trabalho da experiência e da sala de aula. Tardif (2002 p. 48) afirma que o profissional preza pela sua experiência de trabalho e, por sua vez, defende-a como saber. A vivência de sala de aula e de coordenação pedagógica é conferida por elas como um valor a ser considerado no trabalho profissional e na pesquisa educacional. Outra questão considerada é a importação de teorias de outros países vindas para o Brasil, fato criticado por Elena que valoriza a experiência como respaldo para a sua prática como coordenadora pedagógica. Shana discorda das afirmações feitas acima, dizendo que os autores estão mais próximos da realidade das escolas e dos problemas vivenciados no cotidiano escolar. Eu acho até que os autores não estão tão distantes não. Trabalhamos com autores que estão vivenciando a nossa rotina de trabalho, o nosso dia a dia. E até as palestras que estamos assistindo agora não estão tão distantes não (Shana). Dos entrevistados 4/12 acharam que os autores selecionados estão próximos da realidade da rede e do trabalho deles e 7/12 acham o inverso; que os autores selecionados estão distantes dos problemas enfrentados no cotidiano escolar ou que suas propostas não são adequadas para serem aplicadas à realidade da rede. Um dos entrevistados não opinou sobre este assunto especificamente. 137 7.8 Os textos do curso na visão dos coordenadores pedagógicos Os coordenadores (5/12) vêem os textos do curso como a teoria que ajuda, mas a realidade da escola é muito mais significativa para eles. Eles consideram que o cotidiano da escola vem ao encontro das propostas dadas no curso. Os textos são considerados boas bases teóricas para reflexão, mas eles querem suporte para enfrentamento da realidade do cotidiano da escola. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA A teoria nos ajuda e os textos que estão colocados nas apostilas têm muita coisa que nos ajuda muito, mas, estamos precisando de parceria sim (Rosana). Eu acho que a gente tem que ver experiências significativas e adequadas. Mas eu não vejo muita coisa da prática e o próprio Município é um exemplo disso: nós temos a teoria, mas, na prática de quem vive (cotidiano da escola), sabe que é diferente (Elisa). Os textos são fantásticos, mas a gente se reporta aos alunos que nós convivemos na escola. Mas, vem o dia a dia, e aí? Compreender não basta. E o como fazer?Eu acho que a gente não tem essa compreensão. De como proceder com o aluno (Elena). Os outros 4/12 acham que os textos estão adequados à realidade vivida na escola e que são importantes para auxiliar o professor na reflexão de sua prática na sala de aula. Eu acho que não estão tão distantes não. Tem textos que estão mostrando mais a nossa rotina de trabalho, o nosso dia a dia (Elza). Agora o meu mundo se expandiu e essa ampliação dos horizontes também foi importante. Agora eu dou uma olhadinha nas livrarias, nos livros sobre educação, o que eu não fazia antigamente (Flávia). Aproveitei muito os textos do curso. Aqui tem um grupinho que estuda, critica (Kátia). 138 Eu trabalho com os professores os textos oferecidos pela SME. É o mundo presente na nossa escola (Aline). Dentro deste universo, observa-se que os coordenadores estão divididos entre a percepção da importância dos textos para a formação e auxílio no cotidiano da escola, ou dizem que os textos estão distantes do dia a dia da escola, com os seus problemas e incertezas. Elena, por exemplo, não percebe que a teoria possa auxiliá-la na resolução dos problemas do cotidiano da escola. Ela conta com a sua própria experiência prática de trabalho. Flávia, ao contrário, vê nos textos do curso a oportunidade de ampliar os seus conhecimentos tanto teóricos como sua reflexão enquanto profissional da educação. Entretanto, ela não atribui PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA importância aos textos para a sua prática cotidiana. Elza, porém, diz que os textos retratam a “realidade da escola”. A descrença na teoria está presente no primeiro grupo de falas. Este grupo sente o peso do cotidiano escolar, dos problemas inesperados e a distância entre a teoria e a prática. Tardif e Lessard (2007, p.113) afirmam que a carga de trabalho dos professores é composta também pelas tensões diversas que demandam em tarefas invisíveis que exigem a afetividade e o pensamento do professor. Em outro momento, Tardif (2002, p.49) pontua que a experiência de trabalho docente se desenvolve progressivamente para a criação de um conjunto de conhecimentos resultantes da prática. O segundo grupo diz ter aproveitado os textos para crescimento do seu grupo de professores e entende que os textos são uma oportunidade de ampliação dos conhecimentos, para sua reflexão pessoal. O autor (2002, pp. 39, 61) afirma que os saberes docentes são o resultado de um conjunto de saberes provenientes de diferentes fontes, além dos experienciais e que também contribuem para a consolidação dos mesmos. 139 7.9 As “trocas de experiências” no curso As “trocas de experiências” fazem parte da dinâmica do curso quando é aberto um momento para os coordenadores pedagógicos exporem suas opiniões a respeito do tema estudado durante o encontro. Sobre estas trocas, Schön (2000, p.111) chama de “reflexão-na-ação recíproca”, pois, se processa no diálogo e no compartilhamento de conhecimento entre indivíduos. Charlot (2005, p.42) apresenta as trocas como a relação do indivíduo com o saber a partir do diálogo PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA com o outro, ou seja, na mediação do outro. Com isso observa-se o que dizem os coordenadores pedagógicos a respeito das “trocas de experiências” feitas no curso. As “trocas” entre os coordenadores? Sempre! Quando eu vejo um trabalho bem feito, bem elaborado, que deu certo, eu quero pegar aquele “gancho” para tentar aplicar na minha escola. Eu acho que a função da “troca” é essa: ninguém sabe tudo. Todo mundo precisa de todo o mundo (Aline). Eu “troquei” muito com as coordenadoras que já tinham mais experiência, “a troca” foi muito rica. Elas me deram material, “sites” na “internet”. Eu gostei muito (Kátia). Para mim o tema principal seria a “troca”. Permitir um tempo para “trocas” para que cada coordenador pudesse falar de suas experiências. Eu acho que iria acrescentar muito ouvir falar do que é feito nas escolas, até porque tem muito coordenador novo (na função). Acho que ajuda muito. Acho que a gente deve estar sempre trocando. É primordial (Shana). A gente cresce, abre-se o leque de conhecimento com outros colegas, passamos a ouvir o outro colega. Ver que aquele problema que eu estou passando, têm outros mais na mesma situação. E, naquela “troca” que é mínima, temos a oportunidade de conhecer a visão de outras pessoas sobre determinado tema (Elena). 140 Do universo de entrevistados, 9/12 são favoráveis ao espaço de “trocas de experiências” nos cursos que participam e desejam que esse espaço seja ampliado. Observa-se na fala de Aline que ela prioriza no “espaço de trocas”, as novidades que permeiam a prática docente e/ou a prática do coordenador pedagógico na escola. Para Kátia a experiência foi importante porque sentiu a necessidade de ouvir os colegas mais experientes para avaliar a sua prática e buscar material para desenvolver as atividades na escola. Shana apresenta o lado afetivo das “trocas de experiências”, como fator importante para o coordenador novo (na função) adquirir segurança para desenvolver o seu trabalho, com o apoio do grupo. Elena considera que o curso é o momento em que ela pode ter um compartilhamento não PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710356/CA só de conhecimentos, mas também de solidarizar-se com o outro, quando as situações vivenciadas no cotidiano escolar são semelhantes. A relação entre o sujeito e o saber é tratada por Charlot (2005, p.42) envolvendo também a relação afetiva entre indivíduos que compartilham mesmos saberes. Tardif (2002, pp.52-53) afirma que os “saberes experienciais” são aqueles que não se encontram nos livros, mas, na prática, onde os professores orientam o seu trabalho cotidiano em todas as suas dimensões. Estes saberes são os que ganham valor por parte dos coordenadores pedagógicos. E são estes saberes que eles “trocam” na relação com o outro semelhante durante o curso ou em outro espaço de formação continuada. Portanto, as “trocas de experiências”, ou seja, o compartilhamento de saberes só é viabilizado nos espaços de formação continuada. A importância dada às oportunidades de “trocas” defendidas pelos coordenadores mostra que eles necessitam de refletir junto com seu colega a respeito de sua prática na escola. O espaço dos “centros de estudos” realizados na escola é apresentado no próximo capítulo, como um novo passo para o conhecimento do trabalho de formador, desempenhado pelo coordenador pedagógico junto a seu grupo de professores, os processos de estrutura das reuniões periódicas unificadas, na rede de escolas municipais do Rio de Janeiro, pela SME e sobre o entendimento da relação dos professores com o coordenador neste espaço de formação continuada.