VIII SOBER Nordeste Novembro de 2013 Parnaíba- PI - Brasil ENERGIA EÓLICA NO BRASIL: UMA ABORDAGEM CRÍTICA Calisto Rocha de Oliveira Neto (UFRN) - [email protected] Mestrando no Programa de Pós-graduação em Economia da UFRN Elaine Carvalho de Lima (UFRN) - [email protected] Mestranda no Programa de Pós-graduação em Economia da UFRN VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / ENERGIA EÓLICA NO BRASIL: UMA ABORDAGEM CRÍTICA WIND ENERGY IN BRAZIL: A CRITICAL APPROACH Grupo de Pesquisa: Políticas públicas e pluralidades regionais RESUMO Este trabalho objetiva investigar a transformação da matriz elétrica nacional e a introdução da fonte eólica como complemento ao parque hídrico mostrando os desafios do Brasil para um adequado planejamento energético. O método dedutivo é usado para evidenciar os caminhos que o setor elétrico nacional vem tomando para o seu desenvolvimento. Além de um levantamento de dados e informações em instituições públicas e privadas (nacionais e internacionais). Os resultados mostram que os incentivos alavancam os investimentos no setor eólico, beneficiando aspectos econômicos, sociais e ambientais. Porém, são investimentos estrangeiros que vem dominando a produção e a industrialização da energia eólica. Dessa forma, a participação do Estado como planejador do sistema elétrico é fundamental para o aumento da inserção da energia eólica na matriz elétrica brasileira. Palavras-chaves: Matriz Elétrica; Energia Eólica; Estado brasileiro. ABSTRACT This work aims to investigate the transformation of national energy matrix and the introduction of wind power as a complement to the water park showing the challenges of Brazil for an appropriate energy planning. The deductive method is used to highlight the ways that the electricity sector has been taking for its development. In addition to a collection of data and information on public and private institutions (national and international). The results show that incentives leverage investments in the wind sector, benefiting economic, social and environmental. However, foreign investments are coming to dominate the production and industrialization of wind energy. Thus, the State's involvement as planner of the electrical system is critical to increasing the integration of wind energy in the Brazilian energy matrix. Key words: Matrix Electrical; Wind Energy; Brazilian State 1 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / 1. INTRODUÇÃO A energia é fundamental para o desenvolvimento social e crescimento econômico. A sociedade moderna depende cada vez mais do fornecimento de Energia para manutenção da capacidade produtiva, bem estar doméstico e harmonia social. O consumo de energia elétrica vem crescendo nos últimos anos e prosseguirá em alta, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). A previsão é que, até 2030 a demanda por energia primária sofrerá um aumento de 55%. Essa tendência no padrão de consumo e de produção tem-se mostrado cada vez mais insustentáveis. As preocupações com as questões ambientais e com a segurança energética têm despertado interesses de países, principalmente os desenvolvidos por serem os maiores consumidores, em desenvolver políticas de incentivos as fontes renováveis de energia elétrica. E a energia eólica vem apresentando grandes avanços na produção, com benefícios econômicos, sociais e ambientais, além de se mostrar como grande oportunidade de não apenas diminuir a dependência de combustíveis fósseis e minimizar os efeitos do aquecimento global, mas também uma forma de desenvolvimento e criação de um novo mercado. O Brasil, com abundância em recursos hídricos no qual a produção de eletricidade por hidrelétricas chega a superar os 80%, atrasou os incentivos para promover os investimentos em fontes alternativas e renováveis de energia elétrica. Porém, a sazonalidade do regime fluvial brasileiro e a não construção de novas hidrelétricas, pois existem restrições ambientais e incapacidade geográfica na região Norte do país, exigem a necessidade de diversificação da matriz elétrica nacional, sobretudo uma fonte complementar a hidroeletricidade. E a energia eólica apresenta características e potencial que podem complementar a parque hídrico. Seguindo nesse raciocínio, o artigo está dividido em 4 seções, além da parte introdutória. A seção 2 apresenta a transformação da matriz elétrica nacional para um novo padrão de produção de energia com a introdução de novas fontes na matriz elétrica. A seção 3 mostra como a energia eólica pode complementar o parque hídrico na geração de eletricidade e garantir o predomínio do caráter limpo e renovável da matriz elétrica. A seção 4 mostra a evolução industrial e produção de eletricidade da fonte eólica no mundo e as oportunidades e desafios que esta fonte tem no contexto brasileiro, mas, sobretudo na região Nordeste do país, no qual há o maior potencial de produção. E finalmente, a seção 5 apresenta as considerações finais. 2 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / 2. TRANSFORMAÇÃO DA MATRIZ ELÉTRICA NACIONAL O sistema brasileiro de geração de energia elétrica é tradicionalmente vocacionado para geração de eletricidade por fonte hidrológica (regime de afluências), o qual a produção de energia elétrica com participação hídrica chega a superar os 80%. É composição singular e privilegiada quando comparada com a matriz elétrica de outros países (CASTRO, 2010). Esse perfil dá ao Brasil uma estrutura beneficiada que garante uma oferta de eletricidade de uma matriz elétrica limpa, renovável e competitiva economicamente. São grandes reservatórios que controla a oferta de energia elétrica durante o ano inteiro. Contudo, como a projeção para demanda de energia elétrica é de crescimento para os próximos anos, o Brasil terá que expandir sua oferta de energia. Porém, a construção de novas hidrelétricas com grande capacidade de armazenar água vem sendo dificultada e limitada por questões geográficas, legais e principalmente ambientais. Ademais, há um aspecto relevante que deve ser considerado, o sistema hídrico é dependente do regime de chuvas, pois não há regularidade e o sistema é caracterizado por uma forte sazonalidade. Este comportamento sazonal é ilustrado no gráfico 1. Pode-se observar que, no mês de janeiro a Energia Natural Afluente (ENA), que é energia hídrica que corre pelos rios com fins energéticos, ultrapassa os 100 mil MWmed ao contrário do que ocorre com a mesma no mês de setembro, que chega a produzir apenas 23 mil MWmed. Gráfico 1 - Energia Natural Afluente: média história anual Inclui a produção de todos os subsistemas do SIN* (configuração de 2010) 120000 100000 80000 60000 40000 MWmed 20000 0 Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do ONS (www.ons.org.br) 3 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / (*) Sistema Interligado Nacional que corresponde a algo em torno de 98% do mercado brasileiro de energia elétrica. Em razão da própria história do desenvolvimento econômico nacional, a exploração de hidrelétricas em projetos de grande porte ocorreu, inicialmente, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, próximos aos grandes centros consumidores. Porém, com o avanço da demanda por energia em virtude da dinâmica e diversificação da produção capitalista, a exploração via hidrelétrica chegou a região Norte. Desse modo, o ciclo robusto que se projeta para a economia brasileira para os próximos anos, de elevação do PIB, associado à característica de um novo padrão de crescimento e desenvolvimento econômico e social, com objetivos de reduzir as disparidades de renda com fortalecimento da dinâmica do mercado interno e aumento do emprego, entre outros fatores, tudo isso demandará muita energia elétrica determinando uma nova condição e planejamento para o setor elétrico brasileiro. O potencial hídrico existente na região Norte para construção de hidrelétricas que pode atender ao aumento da demanda por eletricidade, está localizado em áreas de planícies. Isso significa que, a topografia suave do terreno e os baixos desníveis fazem com que a água represada alague grandes áreas e, consequentemente armazenem volumes relativamente pequenos de energia, tornando a construção desses reservatórios difíceis de justificar. Frisando que, o país não deixará de explorar a fonte hídrica. Porém, como esse potencial fica na região amazônica e necessita ser preservada para não ocasionar impactos socioambiental enormes, o país terá desafios de encontrar e investir em outras fontes de energia elétrica. Neste contexto, o SEB (Sistema Elétrico Brasileiro) necessitará cada vez mais de fontes alternativas de geração no período seco. O gráfico 6, mostra claramente a tendência à diminuição da capacidade de regularização dos grandes reservatórios ao longo dos últimos anos. O aumento da demanda por eletricidade não está sendo acompanhada por uma evolução correspondente na capacidade de armazenamento do SIN. Os dados do gráfico 2 abaixo mostram que nos anos 2000, os reservatórios eram capazes de armazenar água numericamente seis vezes mais do que a demanda. Mas em 2012, estima-se que os reservatórios consigam armazenar, numericamente, pouco mais de quatro vezes a demanda por eletricidade. E a tendência para os próximos anos é diminuir ainda mais com o crescimento da demanda sem a construção de grandes hidrelétricas disponível com base, apenas, na estocagem de água. 4 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Gráfico 2 – Evolução da capacidade de regularização dos reservatórios EAR – Energia Armazenada – Máxima Brasil sobre carga do SIN. Fonte: CASTRO et al.(2009) 3. ENERGIA EÓLICA COMO COMPLEMENTO À HIDRELÉTRICAS Estudos sobre o potencial, viabilidade econômica e ampliação da participação das fontes alternativas na matriz elétrica brasileira se justificam. O país deve priorizar a diversificação do sistema elétrico com fontes que complementem o parque hídrico. Fontes que operem em determinados períodos do ano, com um custo variável baixo, isto é, parte do custo total que varia conforme o grau de ocupação da capacidade produtiva: por exemplo, custos com matérias-primas, salários por produção e outros. Porém, não diversificar para qualquer fonte, como o aumento da participação de termelétricas como alternativa de complemento à hidrelétrica, pois a geração requer insumos remunerados que são caros (combustíveis fósseis), além de não serem alternativa mais eficiente do ponto de vista econômico e ambiental. Dentre esses aspectos, a energia eólica apresenta complementaridade à hidroeletricidade, pois podem operar justamente no período seco do ano (ver figura 3 abaixo). Além de ser compatível com o novo paradigma mundial de redução da emissão de gases do efeito estufa. 5 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Os benefícios são enormes se ambas as fontes “trabalharem” em conjunto, garantindo o fornecimento de energia em longo prazo. Os países estão cada vez mais preocupados com a expansão da geração de eletricidade que garantam segurança no suprimento, ter independência de preços externos (combustíveis fósseis) e baixa emissão de CO2. O Brasil possui esses atributos para ampliar sua matriz elétrica, pois tem posição de destaque na expansão da produção de eletricidade, não só no uso de hidrelétricas. A fonte eólica como a bioeletricidade, no caso brasileiro, podem atuar como complemento e/ou suporte em casos de riscos na oferta por fonte hídrica. No caso da fonte eólica, estudos comprovam que os meses de chuvas menos intensas são os de ventos mais fortes, sobretudo na região Nordeste do país, figura 1. Figura 1 - Vazão do Rio São Francisco e Comportamento dos Ventos na Região Nordeste Fonte: Dutra, 2001 O potencial eólico brasileiro é estimado em mais de 143 GW com torres de 50 metros. Contudo, estudos recentes mostram que esse potencial pode mais que dobrar usando torres eólicas de 100 metros que, aliás, a tecnologia atual já possibilita ser produzido. A Região Nordeste apresenta o maior potencial para geração de energia com mais de 50% do total nacional, sem considerar o potencial offshore (figura 2 abaixo). 6 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Figura 2 – Potencial eólico por região no Brasil Fonte: ANEEL, 2008. 4. DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DO SETOR EÓLICO NO NORDESTE As preocupações nos últimos anos com o aquecimento global, a segurança energética e a alta volatilidade do preço do barril do petróleo, tem gerado uma demanda crescente pelo desenvolvimento de energias limpas e renováveis. Com a crescente expansão do uso da energia eólica no mundo, cada vez mais países em diversas regiões do planeta já investem e desenvolvem o setor eólico para expansão da produção e consequentemente suas indústrias. Adotam Políticas Públicas (incentivos e subsídios) para avançar no mercado de máquinas e equipamentos para produção em larga escala. A expansão da energia eólica, além de atender parte da demanda, beneficia e ameniza o problema da dependência de importação de combustíveis fósseis e diminuir os impactos ambientais. O gráfico 3 mostra a rápida expansão da produção de energia elétrica por fonte eólica, desde a segunda metade dos anos 1990, com demonstração da capacidade instalada no mundo no período 1996 a 2012. 7 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Gráfico 3 - Evolução da Capacidade Instalada de Energia Eólica Mundial em MW (19962012). Fonte: GWEC, 2012 A comercialização das turbinas eólicas nesse cenário mundial, como conseqüência do aumento da oferta de energia por essa fonte, se desenvolveu rapidamente desde 1985 com grandes perspectivas de continuar essa evolução devido ao perfil de crescimento da energia eólica no mundo. Para se ter idéia, nos anos 1980 a indústria eólica produzia aerogerades com 50 Kw de potência, porém, com o avanço da tecnologia e de pesquisas, nos dias atuais é possível produzir aerogeradores com potência de 7.000 Kw (CRESESB, 2010). Os números mostram que o setor eólico vem demonstrando crescimento exponencial desde a metade dos anos 1990. A potência instalada das usinas eólicas no mundo, que era de reduzidos 6,1 GW em 1996, atingiu expressiva quantia de mais de 282 GW em 2012. E apesar da crise financeira internacional de 2008/2009, que atingiu todos os setores da economia, e com o setor eólico não foi diferente, mesmo assim o setor apresentou um crescimento nos anos de 2009 e 2010 de 65% em relação ao ano de 2008, mostrando que esse mercado está em plena ascensão (gráfico 4 abaixo). 8 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Gráfico 4 – Capacidade Instalada Anual Mundial (1996-2012) Fonte: GWEC, 2012 Esses investimentos, principalmente dos países desenvolvidos, se justificam pela necessidade de se garantir a segurança do suprimento energia. Frisando que esses investimentos maciços, que diversifica a matriz elétrica, por si só já contribuem para o aumento da segurança energética. Mas, sobretudo, diminui a dependência que a maior parte destes países tem em relação à importação de combustíveis fósseis de regiões extremamente instáveis geopoliticamente. No caso do Brasil, o país não promoveu investimentos em fontes alternativas e renováveis de energia elétrica devido à abundância de recursos hídricos que possuem custos menores e mais competitivos, o que facilitou para as empresas estrangeiras investirem em energia eólica, e conquistar o domínio da produção do mercado nacional de máquinas e equipamentos eólicos. Depois da abertura comercial e financeira nos anos 1990, o setor elétrico nacional passou por um processo de reestruturação. Um novo paradigma foi estabelecido com abertura da concorrência e a privatização das empresas estatais e federais do setor. As reformas tinham o objetivo de criar um novo ambiente favorável para atrair e garantir os investimentos necessários à expansão da oferta através do setor privado. O processo de privatização, com a saída do Estado como indutor do planejamento energético, foi marcado por uma introdução de enormes grupos econômicos no mercado interno, resultando numa alteração significativa da estrutura de mercado. Porém, a entrada de capital estrangeiro não resultou em aumento da capacidade produtiva, resultando na crise do racionamento de eletricidade de 2001. 9 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Esses fatos revelaram, através da conjuntura da falta de chuvas no ano de 2001, um grave problema estrutural, no qual a demanda por eletricidade crescia a uma taxa maior que a oferta. Logo, houve a necessidade de se repensar o planejamento elétrico nacional, em que o Estado precisava recuperar seu papel de indutor do Sistema Elétrico Brasileiro agregando sua capacidade de financiamento e investimento e trabalhar em conjunto com o setor privado em parcerias estratégicas, por exemplo, no setor eólico. O desenvolvimento da geração de eletricidade de origem eólica no Brasil foi iniciado em 2002 a partir do programa PROINFA (Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia Elétrica), que coloca em marcha as políticas públicas destinadas a diversificar a matriz energética do país, a partir de novas fontes alternativas de energia. Esse programa consistia em um incentivo ao setor eólico do tipo tarifa feed-in, como o implantado em países como Alemanha. A Região Nordeste por ter o maior potencial eólico do Brasil, foi pioneira na instalação de parques eólicos e tem atraído grandes investimentos de empresas estrangeiras, tanto para produção de energia quanto para o desenvolvimento do setor industrial. No gráfico 5 abaixo, vê-se que, do ano de 2006 a 2012, há uma grande expansão na produção de energia elétrica por fonte eólica, fenômeno que acelera a entrada de indústrias estrangeiras na região para aumentar a oferta e baratear os custos de produção. Gráfico 5: Geração de energia eólica no Nordeste 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Mw med Fonte: elaboração própria dos autores a partir dos dados do NOS 10 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / A abertura comercial e os programas específicos à produção, como o Proinfa, têm beneficiado as empresas estrangeiras, que contém maior desenvolvimento tecnológico e maturação no mercado eólico em detrimento das empresas nacionais. Dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), por exemplo, revelam que empresas estrangeiras, até 2013, irão investir no país R$ 25 bilhões em 141 projetos do setor, espalhados pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul. Porém, já se observa uma implantação da indústria eólica com sua cadeia de serviços e fornecimentos, apresentando uma capacidade produtiva diversificada superior a 1GW anuais, com tendência de continuar em expansão, pois com os crescentes investimentos industriais em curso a produtividade aumentará substancialmente nos próximos anos. Na tabela 1 abaixo é mostrado a cadeia de fornecimento de equipamentos para atender o mercado eólico no Brasil, destaca-se os principais fabricantes. Tabela 1: Fornecimento de equipamentos por Estados Estados Equipamentos Fabricante Ceará Fábrica de pás de rotores e Wobben fábrica de torres Pernambuco Fábrica de montagem de Impsa turbinas e fábrica de torres Bahia Fábrica de montagem de Gamesa; Suzlon turbinas e fábrica de pás de rotores (ambas em construção) São Paulo Fábrica de montagem de Wobben; Tecsis turbinas e fábrica de pás de rotores Paraná Fábrica de torres Brasilsat Rio Grande do Sul Fábrica de torres Intecnial Fonte: adaptação a partir dos dados da ABEEólica e GWEC. A tabela mostra o domínio das empresas estrangeiras no mercado eólico nacional, depois de terem desenvolvido a indústria e fomentado o comércio nos seus países de origem, esses fabricantes agora investem estrategicamente para além de suas fronteiras com objetivo de ganhar mercado em outros países. Essas indústrias apresentam maturação e domínio da 11 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / tecnologia eólica que as beneficiam no processo de concorrência pelo mercado nacional. Segundo a GWEC, fabricantes como a General Electric, Alstom, Vestas, Siemens, Suzlon, e o fabricante Chines Guodian- United Power anunciaram investimentos no Brasil em resposta aos excelentes resultados obtidos nos anos de 2009 e 2010, de modo que a capacidade local de produção de turbinas poderá incrementar-se rapidamente até próximo a 2 GW/ano, evidenciando o controle dos ventos, isto é, do recurso natural abundante que existe no país e principalmente no Nordeste. Dessa forma, existirá pouco espaço para o desenvolvimento do setor por instituições nacionais que levassem prosperidade para regiões como o Nordeste. Segundo Leite e Dantas (2009), a indústria de aerogeradores mundial está organizada sob a forma de oligopólio com os 4 maiores fabricantes (Vestas, GE Wind, Gamesa e Enercon) possuindo um market-share de aproximadamente 70%. Estas firmas possuem poder de mercado devido a existências de barreiras à entrada referentes a escala de produção e ao caráter de constante inovações tecnológicas da indústria que resultam em vantagens absolutas de custo e diferenciação de produto das firmas estabelecidas. Neste contexto, não há como as empresas nacionais competir nesse mercado. É fundamental que haja incentivos a concorrência, mas, sobretudo, o Estado tem que intervir naquilo que é de interesse nacional. Criando incentivos para um padrão estratégico de política industrial, comercial e tecnológica (ICT), levando desenvolvimento econômico para regiões como o Nordeste, que tem baixo desenvolvimento econômico e social. E através da expansão do emprego, os Institutos Federais de Ensino Técnico podem formar mão de obra qualificada, pois o setor eólico tem alto peso tecnológico. As políticas públicas de incentivos ao crédito e a desoneração fiscal para as indústrias nacionais podem fomentar investimentos que exerce duplo papel na economia. Primeiro, representa um importante componente da demanda agregada e segundo, aumenta a capacidade produtiva da economia em longo prazo. Portanto, a participação do Estado como planejador do sistema elétrico é a forma mais adequada e eficiente para aumento da inserção da energia eólica e de outras novas renováveis na matriz elétrica brasileira. Neste sentido, uma complexa rede de subsídios, programas e políticas precisam ser desenvolvidas para o benefício da sociedade como um todo. 12 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / 5. CONCLUSÃO Os benefícios da inserção da energia eólica para segurança energética do mundo, inclusive para o Brasil, são indiscutíveis. No caso brasileiro, devido a geração de energia ser predominantemente hidrológica, com participação de mais de 80%, o Brasil não investiu na expansão da fonte hídrica e nem em outras formas de geração de eletricidade. E como as hidrelétricas dependem do regime de chuvas, pois não há regularidade, o sistema é caracterizado por uma forte sazonalidade. Dessa forma, o país necessitará cada vez mais de fontes alternativas de geração, e a fonte eólica pode diversificar o sistema elétrico e complementar o parque hídrico. Com a abertura comercial e financeira nos anos 1990, o setor elétrico nacional passou por um processo de reestruturação, no qual não resultou numa expansão da produtividade de energia elétrica. A conseqüência foi o racionamento de energia elétrica em 2001. Esse racionamento frustrou os objetivos da reforma dos anos 1990 que a solução seria ampliar os investimentos na expansão da oferta. Entretanto, atualmente, esse cenário de abertura comercial tem beneficiado as empresas estrangeiras que vem se instalando no Brasil, pois já tem maturação tecnológica, constantes inovações e diferenciação de produtos, o que não deixa margem para a indústria nacional competir nesse mercado. Dessa forma, a participação do Estado como planejador do sistema elétrico é a forma mais adequada e eficiente para aumento da inserção da energia eólica na matriz elétrica. Por um lado, criar incentivos para um padrão estratégico de política industrial, comercial e tecnológico (ICT) são fundamentais, seria uma complexa rede de subsídios, programas e políticas públicas que precisam ser desenvolvidas para o benefício social, econômico e ambiental. Por outro lado, o país tem gargalos estruturais que também necessitam de intervenção, como estradas precárias para implantação dos projetos, novas linhas de transmissão, orientação técnica para os proprietários de terrenos com potencial de geração, etc. Assim, parcerias estratégicas entre o setor público e o privado podem ser idealizadas para o benefício da sociedade como um todo. 13 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / 6. REFERÊNCIAS ABREU, Yolanda Vieira de. A reestruturação do setor elétrico brasileiro: Questões e Perspectivas. Tese (Mestrados) apresentada ao Programa Interunidades de Pós-graduação em Energia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. BIELSCHOWSKY, Ricardo. Energia elétrica no Brasil, 1993-97: investimentos deprimidos numa transição problemática. 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