UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS MESTRADO EM HISTÓRIA OS XOKLENG DE SANTA CATARINA: UMA ETNOHISTÓRIA E SUGESTÕES PARA OS ARQUEÓLOGOS RODRIGO LAVINA 1994 RODRIGO LAVINA Os Xokleng de Santa Catarina: Uma Etnohistória e Sugestões para os Arqueólogos Dissertação de Mestrado em História Área de Concentração: Estudos Ibero-Americanos Orientador: Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz, S.J. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS 1994 RODRIGO LAVINA Os Xokleng de Santa Catarina: Uma Etnohistória e Sugestões para os Arqueólogos Dissertação elaborada como exigência parcial para a obtenção do Título de Mestre em História, Sob a Orientação do Prof. Dr. Pedro Ignácio Schmitz, S. J. São Leopoldo, julho de 1994. Para Vânia, pela paciência e para Maíra, pela alegria. Ao Pe. João Alfredo Rohr S.J., In Memoriam. SUMÁRIO RESUMO .............................................................. VII ABSTRACT ............................................................. VIII AGRADECIMENTOS .......................................................... IX APRESENTAÇÃO ............................................................ 1 1 NOSSO MODO DE PROCEDER ................................................ 5 2 O TERRITÓRIO EM QUE VIVIAM OS XOKLENG: AMBIENTE E RECURSOS ............. 9 3 QUEM CRIOU AS INFORMAÇÕES ANTERIORES DO SEU TERRITÓRIO SOBRE OS XOKLENG E SOBRE OS OCUPANTES ...................................... 23 4 O QUE CONHECEMOS DOS XOKLENG ......................................... 49 I Economia, Sociedade, Cultura .................................... 49 II Produção Artesanal .............................................. 72 5 SINTETIZANDO: O MODELO XOKLENG ...................................... 103 A MANEIRA DE CONCLUSÃO: O QUE OS ARQUEÓLOGOS PODEM UTILIZAR DO MODELO XOKLENG .......................................................... 118 REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 122 ANEXOS ................................................................ 136 MAPAS E ILUSTRAÇÕES Mapa dos Ataques Xokleng a Localidades Catarinenses ............... 53 Prancha I - Padrões de Cestaria Xokleng ........................... 90 Prancha II - Arcos Xokleng ........................................ 92 Prancha III - Flechas Xokleng ..................................... 94 Prancha IV - Pontas de Flechas Xokleng ............................ 95 Prancha V - Emplumação, Encaixe e Fixação de Ponta nas Flechas .... 96 Prancha VI - Lanças Xokleng ...................................... 100 Prancha VII - Acampamentos Xokleng na Mata Atlântica ............. 105 Prancha VIII - Acampamento Cerimonial Xokleng .................... 107 Prancha IX - Acampamento Xokleng no Planalto I ................... 108 Prancha X - Acampamento Xokleng II ............................... 109 RESUMO Este trabalho tem por objetivo compor uma etnohistória do grupo indígena Xokleng, que habitava a Mata Atlântica, no Estado de Santa Catarina, desde o período colonial até o século XX. As informações obtidas foram usadas para criar um modelo etnográfico passível de ser usado e testado em pesquisas arqueológicas realizadas na mesma área, em sítios arqueológicos coincidentes com a colonização européia ou anteriores a mesma. Buscou-se também estabelecer, a partir da etnologia Xokleng, ligações com os sítios arqueológicos existentes em seu território histórico e também verificar as possibilidades de utilização da etnologia como referencial para estabelecer hipóteses a serem testadas sobre as estratégias de ocupação e aproveitamento dos recursos naturais da região por parte de grupos pré-históricos e seu reflexo na cultura material dos mesmos. ABSTRACT The present monograph aims to compose the ethnohistory of the Xokleng, who inhabited the Atlantic Forest, in the State of Santa Catarina, from colonial times to the 20th century. The information ethnographic model, attained able to have be used been used to and tested in elaborate an archaeological research in the very same area, in archaeological sites coincident or previous to the European colonization. Departing linkings with from the the Xokleng archaeological ethnology sites we found search in to their establish historical territory and to verify the possibilities of ethnology as reference to establish hypothesis to be tested about the strategies of occupation and exploitation of the local natural resources by prehistoric groups and, consequently, its influence in their material culture. AGRADECIMENTOS Ao meu Orientador Pedro Ignácio Schmitz, pelas inúmeras sugestões, conselhos, contribuições e pelo tempo dispendido comigo. Sem ele, este trabalho não estaria realizado. À UNISINOS e ao Instituto Anchietano de Pesquisas, que possibilitaram as condições materiais para a realização deste trabalho e à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, pelo financiamento. Às diversas Instituições que abriram suas portas para a consulta de coleções e documentos, especialmente ao Museu de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina, ao Museu do Homem do Sambaqui, ao Arquivo Público do Estado de Santa Catarina e a Biblioteca Municipal de Florianópolis. A Marcos Alberto Rahmeier, que fez as traduções dos textos em alemão. A Luiz Alberto Castilhos de Souza, pelas ilustrações e a Rogério Francisco Sanchotene Severo pelas ilustrações esquemáticas das aldeias. A Marcus Vinícius Beber pela datilografia e gerenciamento dos bancos de dados em computador e a André Osório Rosa, pelas sugestões e auxílio em zoologia e botânica. A todos os Colegas de trabalho, especialmente aos do IAP e do Museu de Antropologia da UFSC, pelas sugestões, amizade e companheirismo durante estes anos todos. A todas as pessoas que, de alguma maneira, ajudaram a tornar este trabalho uma realidade. X APRESENTAÇÃO O objetivo desta monografia é compor uma etnohistória do grupo indígena Xokleng, que habitava a Mata Atlântica, no Estado de Santa Catarina, no período colonial e imperial da História do Brasil; a partir deste estudo criar um modelo etnográfico passível de ser usado e testado em pesquisas arqueológicas realizadas na mesma área, em sítios arqueológicos coincidentes com a colonização européia ou anteriores à mesma. Duas questões foram levadas em conta dentro desta perspectiva: a possibilidade de estabelecer, a partir da etnologia Xokleng, ligações com sítios arqueológicos existentes em seu território histórico e as possibilidades estabelecer de utilização hipóteses a serem da etnologia testadas como sobre referencial as estratégias para de ocupação e aproveitamento dos recursos naturais da região por parte de grupos pré-históricos. Para isso realizamos um levantamento não só da produção arqueológica existente para a região, como também uma pesquisa da etnografia do grupo, baseada em documentos históricos e etnográficos, que foram utilizados a partir de uma perspectiva etnohistórica, com o objetivo de formar um quadro da cultura material Xokleng, que pudesse ser comparado com os dados arqueológicos disponíveis. No primeiro capítulo desta dissertação, procuramos apresentar o enfoque teórico e metodológico utilizado para a realização do trabalho. O segundo capítulo busca localizar a área em estudo geográfica, geomorfológica e ecologicamente, levando em conta variáveis climáticas, faunísticas e florísticas a fim de examinar o potencial de recursos nela existentes e as condições naturais para a instalação de um sistema de abastecimento, assentamento e organização social. O terceiro capítulo, revisa a bibliografia existente sobre o assunto e comenta criticamente a produção arqueológica, histórica, etnológica e antropológica disponível. O quarto capítulo reune as informações existentes sobre os Xokleng. Não só as contidas nos trabalho publicados, mas também as obtidas a partir da análise de coleções etnográficas, de maneira a formar um painel do conhecimento existente a respeito do modo de vida tradicional do grupo. Foram privilegiados os dados sobre território, nomadismo, padrão de assentamento, padrão de subsistência, tecnologia e organização social. 2 O quinto capítulo sintetiza os dados reunidos no capítulo anterior, formando um quadro passível de ser usado como modelo das estratégias de ocupação e utilização dos recursos do meio ambiente pelos Xokleng. Seguem as conclusões obtidas a partir da análise das informações a respeito dos Xokleng e as propostas que, a partir do confronto destas com formando as informações hipóteses para arqueológicas, serem testadas podem em ser pleiteadas, futuros trabalhos arqueológicos. Também estão incluídas, anexas, a listagem dos objetos que compõem as coleções etnográficas analisadas e uma síntese dos ataques que os Xokleng levaram a efeito em Santa Catarina, de acordo com os dados publicados. Com a finalidade, já referida, de facilitar o acesso aos dados apresentados, as citações que estavam em língua estrangeira (alemão e inglês) foram traduzidas para o português. Por sua própria temática, esta monografia deverá ser revista à luz de informações futuras, já que trata da construção de um modelo que pode e deve ser falseado. Ela deverá funcionar como uma pedra de toque, frente à qual as evidências arqueológicas serão reunidas, não só buscando descobrir os antepassados dos Xokleng, mas principalmente auxiliando na interpretação das estruturas arqueológicas dos sítios da região, aumentando assim, cada vez mais, nosso conhecimento sobre o passado dos grupos que a habitaram. Não foi possível esgotar a documentação histórica e etnológica existente. Algumas obras importantes são pouco acessíveis por sua raridade e um volume desconhecido de informações ainda se encontra em 3 arquivos, particulares ou públicos, esperando por pesquisadores. Da mesma forma existem coleções de artefatos Xokleng, tanto no Brasil como no exterior, que ainda aguardam análise. Em vista destes fatos, não há motivo para considerar esta obra como definitiva. Seu mérito está na sistematização de coleções e documentos de acesso nem sempre fácil, de maneira a possibilitar que arqueólogos, dificuldades, etnólogos além de e museólogos mostrar que possam uma utilizá-las abordagem sem tantas interdisciplinar, dentro das ciências humanas, irá gerar mais resultados que análises compartimentadas em história, antropologia ou arqueologia. 4 1 NOSSO MODO DE PROCEDER A utilização de informações sobre grupos indígenas atuais para auxiliar na históricas, interpretação através de dos restos trabalhos materiais de culturas interdisciplinares, pré- envolvendo a arqueologia, a biologia, a etnologia e a etnohistória, é uma prática recente no Brasil, embora pesquisadores norte-americanos venham aplicando este método para elaboração de modelos interpretativos da pré-história desde a década de 1940 (Mendonça de Souza, 1991). Atualmente, esta interdisciplinaridade é uma das principais tendências da arqueologia contemporânea, estando baseada no fato de que "analisar o presente serve o passado" e que "o registro arqueológico é um fenômeno contemporâneo e as observações que fazemos sobre ele não são observações históricas. Necessitamos de jazidas que conservem elementos do passado; mas, da mesma maneira, temos necessidade de instrumentos teóricos que dêem sentido a estes elementos, quando encontrados" (Binford, 1988: 27) Segundo este mesmo autor estes instrumentos teóricos, destinados a auxiliar na interpretação do registro arqueológico, só podem ser obtidos a partir da observação de grupos indígenas atuais que explorem ambientes semelhantes e que possuam tecnologias de exploração deste meio ambiente similares às dos povos pré-históricos estudados, sendo que "os nexos entre o que encontramos e as condições que deram lugar à sua produção só podem ser estudados a partir dos povos atuais" (Binford, 1988: 28). Este método de comparação (ou analogia) etnográfica é definido de maneira ampla por Prous (1992: 51), quando afirma que "a comparação etnográfica consiste na observação das populações atuais não industriais nem artesanais extrapolando os resultados para a pré-história". Segundo este autor, devido à variação das culturas humanas, este método deve ser empregado com extrema cautela, particularmente quando a comparação é feita entre culturas separadas não só temporalmente, mas também geograficamente. Este método no entanto: "seria aplicável com certa segurança no campo da cultura material, comparando-se populações de nível tecnológico semelhante e submetidas a pressões naturais parecidas" (Prous, 1992: 51). Baseado nisto pode-se afirmar que um modelo etnológico específico, criado a partir do estudo da cultura de um grupo indígena documentado historicamente, pode ser bastante útil para compreender fenômenos como padrão de assentamento, tecnologia e padrão de subsistência, de grupos pré-históricos que deixaram vestígios na mesma área geográfica, desde que sua tecnologia e cultura sejam semelhantes. Quando o grupo indígena que servirá de base para a elaboração deste modelo não mantém mais as características de sua cultura tradicional (no Brasil, isto freqüentemente ocorre a partir do contato 6 com a sociedade nacional), pode se fazer o controle dos documentos etnográficos e históricos existentes através da etnohistória, entendendo-se esta disciplina como: "Um conjunto especial de técnicas e métodos para estudar a cultura através do uso das tradições escritas e orais. Como metodologia, tem um caráter complementar, não só em relação à arqueologia, como também à lingüística histórica, a etnografia e à paleobiologia." (Karmack, 1979: 17) No que diz respeito à utilização dos documentos históricos, também Binford (1988: 29) afirma que: "servem não só para identificar os locais de ocupação antigos como também para informar-nos do que ali ocorria e qual nível de especialização artesanal existia, por exemplo, com detalhes referentes à organização social do assentamento. Uma vez conhecidos estes aspectos sobre a dinâmica do assentamento, estamos em condições de escavar a jazida e relacionar os achados com as notícias que possuimos sobre as atividades e processos que tiveram lugar no passado". O método etnohistórico, portanto, possibilita um conhecimento mais profundo da cultura tradicional do grupo a ser estudado, quando ainda pouco alterado pelo contato com outras sociedades, o que proporciona condições mais seguras para o estabelecimento de ligações com as culturas pré-históricas. Quanto à questão do estabelecimento de um modelo etnológico, este deve ser aqui entendido como uma construção teórica, baseada na etnologia de um grupo indígena e de documentação histórica recuperada através da etnohistória, contra o qual os questionamentos produzidos pela arqueologia podem ser comparados. Este modelo conforme destaca Belowski (1978: 353) "... não pode ser usado para aprovar ou desaprovar uma visão específica. Deve ser usado como uma hipótese, contra a qual as observações podem ser comparadas para ver se o modelo pode ser falseado." 7 2 O TERRITÓRIO EM QUE VIVIAM OS XOKLENG: AMBIENTE E RECURSOS Localização A área geográfica ocupada historicamente pelo grupo indígena Xokleng situa-se, aproximadamente, entre 26o e 29o30' de latitude sul e 50o30' e 49o30' de longitude oeste, englobando áreas do litoral, contrafortes da Serra Geral e do Mar e do Planalto Meridional Brasileiro, compreendendo atualmente partes dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.(mapa p.53) Geologia e Geomorfologia A geologia caracterizada desta por área, terrenos segundo de Pedro domínio da F. T. Kaul cobertura (1990), é sedimentar cenozóica no litoral, por terrenos de domínio pré-cambriânicos nos contrafortes da Serra Geral e do Mar e por terrenos de domínio da Bacia do Paraná, com cobertura sedimentar gondwânica, no Planalto Meridional. Os terrenos de domínio da cobertura sedimentar cenozóica correspondem a terrenos predominantemente holocênicos que surgem no litoral sul do Paraná, no litoral sul de Santa Catarina e no litoral norte do Rio Grande do Sul. As formações características nestas áreas são a formação Guabirotuba, que ocorre desde Curitiba, PR até Tijucas do Sul, SC, representados e caracteriza-se por argilitos e, por "depósitos secundariamente, semiconsolidados, arcóseos, arenitos arcoseanos, margas e conglomerados..." (Kaul, 1990:41). Estes depósitos são pleistocênicos e formados em ambiente fluvial com clima semiárido; Formação Alexandra, situada a sudoeste de Paranaguá, PR, caracterizada por "uma seqüência de conglomerados, arcóseos, areias e argilas, inconsolidados, depositados durante o Pleistoceno em ambiente fluvial, sob condições de clima semi-árido" (Kaul, 1990:41); Formação Chuí, distribuída pelo litoral sul de Santa Catarina e litoral do Rio Grande do Sul, composta por "areias quartzozas médias a finas, bem selecionadas 1990:41). (...) Este e areias depósito, quartzozas fossilífero, síltico formou-se argilosas" no (Kaul, Pleistoceno em ambientes marinhos de águas rasas e ambientes lacustres. Os terrenos de domínio Pré-Cambriânico, compreendendo os Crátons de Luiz Alves e o Cinturão Móvel Don Feliciano, é caracterizado pela presença de diversos tipos de rochas formadas entre três bilhões de anos e quinhentos milhões de anos atrás. Trata-se de rochas metamórficas de origem ígnea e sedimentar, rochas ígneas granitóides e sequências de cobertura vulcanossedimentar. O cráton de Luiz Alves, situado no nordeste de Santa Catarina e leste do Paraná, é formado por 9 rochas metamórficas processos de de origem metamorfismo. Arqueana, São que encontrados apresentam gnaisses diversos anortositos, quartzitos, metamorfitos, e biotita-gnaisses, entre outros. O Cinturão Móvel Don Feliciano situa-se a leste de Santa Catarina e é composto por complexos metamórficos-migmatítico-graníticos concordantes. Um deles, o flanco ocidental, tem embasamento formado por migmatitos e gnaisses, com sequências parametamórficas complexo, a orogêmicas entremeadas zona com central, é com rochas pacotes de metavulcânicas. composto por rochas rochas O outro gnáissicas, migmatíticas e graníticas. Além disso, em todo o Cinturão Móvel Don Feliciano ocorrem freqüentes intrusões Os Bacia terrenos do da Paraná, Cobertura datam do graníticas. Sedimentar Siluriano Gondwânica Inferior, de domínio "...formando da até o Jurássico, extensas e espessas sequências de sedimentos de granulação essencialmente fina, com intercalações de calcário e raríssimos conglomerados" (Kaul, 1990:381). Encaixados nos terrenos de domínio da Bacia do Paraná e nos terrenos de domínio Pré-Cambriânico, temos ainda derrames vulcânicos jurocretácicos e outras manifestações associadas. É característica a Formação Serra Geral, formada por derrames de lava, diques e soleiras. A seqüência básica desta formação, predominante, caracteriza-se pela presença de basalto, andesito, basalto com vidro, diques e soleiras de diabásio, brechas vulcânicas e sedimentares e corpos de arenitos interderrames. A seqüência ácida desta formação corresponde a derrame de dacitos, riolitos, basaltos-pórfiros e fenobasaltos vítreos. A idade da formação Serra Geral é estimada em 110 a 160 milhões de anos atrás. 10 Relevo A área quatro em estudo subdomínios compreende quatro morfoestruturais e domínios morfoestruturais, sete diferentes unidades de dos Depósitos Sedimentares relevo. No litoral, ocorre o Domínio Quaternários, ao sul de Santa Catarina e em todo o litoral do Rio Grande do Planície Sul situam-se Gaúcha, e no os depósitos nordeste de sedimentares Santa Catarina litorâneos da encontram-se os depósitos litorâneos de Planícies Descontínuas. Estes depósitos: "compreendem amplas superfícies, geralmente planas e baixas resultantes da acumulação de sedimentos arenosos, areno argilosos, predominantemente quaternários (...), depositados em ambientes marinhos, fluviais, lagunares, eólicos e colúvio-aluvionares". (Herrmann & Rosa, 1990:56) A unidade de relevo da Planície Gaúcha ocorre desde Garopaba, SC até Chuí, RS. caracteriza-se pela presença de dunas, terraços marinhos, planícies arenosas e cordões de restinga. Segundo Herrmann & Rosa (1990: 56), "...predomina um litoral retilíneo com suas praias estendendo-se por centenas de quilômetros, e costa com forma alongada, com avanço para o mar, exceção feita, apenas, em um pequeno trecho entre as imediações das cidades catarinenses de Laguna e Garopaba, onde as praias são estreitas, apresentando um litoral recortado, formando enseadas." A Unidade de Relevo de Planícies Descontínuas ocorre desde o litoral norte-paranaense até próximo a Itajaí, SC, possuindo largura média de 10km que aumentam para até 30km junto aos rios e baías que a drenam. chegar Suas a 30 altitudes metros em médias algumas situam-se áreas. 11 em É cerca formada de por 10m, podendo sedimentação marinha e acumulações eólicas, caracterizando bacias sedimentares quaternárias. No domínio das Bacias e Coberturas Sedimentares e dentro do Subdomínio da Bacia e Depósitos Sedimentares do Paraná, temos três Unidades de Relevo. A Unidade de Relevo das Depressões Periféricas ocorre a sudeste de Santa Catarina, possuindo altitudes médias de 400 metros e desníveis apresenta-se vertentes também colinoso íngremes, na variando área do de 100 tipo convexo, apresentando relevos a formas residuais 1.000 com metros. vales Seu encaixados côncavo-covexas. basálticos de relevo topo e Ocorrem plano com altitudes de até 500 metros; a Unidade de Relevo Patamares da Bacia do Paraná é uma área interplanáltica de relevo acidentado que circunda o Planalto das Araucárias desde São Paulo até Santa Maria, RS. O contato entre esta Unidade de Relevo e o Planalto é feito pela "cuesta", que corresponde à Serra Geral, que vai se descaracterizando a sudeste e ao sul. As quotas altimétricas atingem em suas porções orientais até 1.200 metros, decaindo, no sopé da Serra Geral, para quotas médias de 650 metros; a Unidade de Relevo Planalto das Araucárias abrange os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tendo limites a norte com o estado de São Paulo e ao sul com os vales dos rios Jacuí e Ibicuí. A quotas altimétricas mais elevadas ocorrem a leste, ultrapassando, próximo à Serra Geral, 1.200 metros. No domínio da Faixa de Dobramentos, correspondendo ao Subdomínio das faixas de Dobramentos do Sul, temos a unidade de Relevo das Escarpas e Reversos da Serra do Mar, que engloba a serra e o planalto a ela contíguo (planalto de Curitiba). Compreende a porção meridional da Serra do Mar, ocupando o sul do Paraná e o extremo norte de Santa 12 Catarina. Os relevos desta área variam de cerca de 850 a 1.100 metros de altitude. Dentro do domínio dos Embasamentos em Estilos Complexos e dentro do subdomínio dos Embasamentos do Sul, temos a Unidade de Relevo das Serras do Leste Catarinense. Esta Unidade é um prolongamento dos paredões costeiros que, ao norte de Joinville, são chamados de Serra do Mar, estendendo-se desde Joinville, SC até Criciúma, SC. Suas quotas altimétricas vão desde 100 metros, próximo ao litoral, até mais de 1.200 metros, nas serras de Anitápolis e Tabuleiro. Vegetação A vegetação da região é caracterizada pela Floresta Ombrófila Densa nas áreas litorâneas até os contrafortes do Planalto Meridional Brasileiro, onde as formações florestais evoluem gradualmente para a Floresta Ombrófila Mista. A Floresta Ombrófila Densa, segundo Leite & Klein (1990: 118) "...caracterizava-se por estratos superiores com grandes árvores de altura entre 25 e 30 metros, perenifoliadas e densamente dispostas, portando brotos foliares desprovidos de proteção contra a seca e as baixas temperaturas." Uma das características deste tipo de floresta é a diversificação ambiental resultante de fatores como altitude, umidade e solo, com grande influência desenvolvimento expressivos, de sobre a flora formações situam-se e a fauna diversificadas. entre 30 e 1.000 e que Os ambientes metros de permite o mais altitude, correspondendo a formações submontanas e montanas. Fisionomicamente, tem grande importância as lianas e os epífitos, principalmente bromeliáceas, cactáceas, orquidáceas, diversos gêneros de cipós e as aráceas dos gêneros Philodendron e Anthurium. Sua flora arbórea possui 13 cerca de 708 espécies, sendo as de maior valor fisionômico a canelapreta, a laranjeira-do-mato, a peroba-vermelha, o pau-óleo, a canelasassafrás, a bicuíba, a caxeta-amarela, a canela-amarela, a guarajuva, a guapeva, e o palmiteiro. Nas planícies litorâneas predominam a figueira-de-folha-miúda, o taipá-guaçú, o olandi, o ipê-amarelo, o guacá-de-leite, o baguaçu, o leiteiro e o gumirim-ferro. Nos terrenos com altitudes acima de 1.000 metros predominam a gramimunha-miúda, o cambuí, o guaperê, a quaresmeira, a jabuticaba-do-campo, o gumirim, a congonha e a caúna, entre outros. Ainda nesta altitude, em áreas de solo raso ou instalação de com embasamento vegetação rochoso exposto, gramíneo-lenhosa, com pode carás, ocorrer a caratuvas e gramíneas como a taquara-lisa. A região de Floresta Ombrófila Mista, correspondente ao Planalto Meridional Brasileiro, é caracterizada pela coexistência de espécies da flora tropical e temperada. O principal destaque é a presença do pinheiro-do-paraná, ou araucária. O domínio desta floresta se dá em altitudes acima de 800 metros. Dentro da Floresta Ombrófila Mista ocorrem dois tipos de comunidades com araucária: uma delas é caracterizada pela associação predominante da araucária e da imbuia, ocorrendo ainda a canela-amarela, a canela-preta, a canela-fogo, a sacopema, formada a a guabirobeira, basicamente acompanhados por pela e a erva-mate. araucária, canela-lageana, A formando outra comunidade estratos canela-amarela, é densos, canela-guaicá, canela-fedida, camboatás, casca-d'anta, pinheirinho, guabirobeira e outras. Clima 14 O clima da Região Sul, segundo Nimer (1990) pode ser classificado como Mesotérmico do tipo Temperado, com média de precipitação anual variando entre 1.250 a 2.000 mm., com chuvas uniformemente distribuídas por todo o território e sem estação seca. A temperatura média anual na região varia conforme a altitude. Assim, a média, que no litoral catarinense é de 20oC para uma altitude até 200 metros, vai baixando progressivamente conforme aumenta a altitude, chegando no Planalto da Araucárias com médias de 16oC para altitudes acima de 1.000 metros. Existe ainda, na região, uma marcada diferença de temperatura entre o verão e o inverno. Durante o mês mais quente (janeiro), a temperatura média varia de 24o no litoral, a 20o no Planalto, podendo atingir, com exceção das regiões mais altas do Planalto, máximas acima de 40o centígrados. Já durante o mês mais frio (julho), as temperaturas médias, devido à ação das frentes polares, oscilam entre 15o e 10o em quase todo o território, com exceção das partes mais altas do planalto, que apresentam médias abaixo de 10o centígrados. Nestas regiões do Planalto é freqüente a precipitação de neve, enquanto que no restante da região, com exceção de partes do litoral, é comum a formação de geadas. As mínimas absolutas podem chegar a 0o no litoral, diminuindo progressivamente, conforme a altitude, até mínimas absolutas de -10o C., nas partes mais altas do Planalto. As variações do clima Mesotérmico na região podem ser assim esquematizadas: Clima Mesotérmico Subquente Superúmido nas áreas do litoral do Paraná e Santa Catarina; Clima Mesotérmico Brando Superúmido nos contrafortes da Serra Geral; Clima Mesotérmico Médio Superúmido no Planalto das Araucárias. 15 Hidrografia A região caracteriza-se por possuir, na vertente leste da Serra Geral, grande quantidade de bacias hidrográficas de pequeno porte, que Justus (1990) classifica como Bacias Hidrográficas do Sudeste, englobando os rios desde o litoral de São Paulo até o litoral do Rio Grande do Sul. Estes rios são considerados de regime tropical desde o norte até a Ilha de Santa Catarina, passando a ser classificados como de regime subtropical da Ilha de Santa Catarina para o sul. São rios morfologicamente acidentados na sua recentes, com declividade acentuada e leitos parte superior, sendo freqüentes as quedas d'água. Nas proximidades do litoral seus leitos se tornam quase planos e meandrosos. A maior bacia hidrográfica da região é a do rio ItajaíAçu. Outras bacias de porte menor são as dos rios São João, Cubatão, Itapocu, Tijucas, Tubarão, Araranguá, Mampituba e Três Forquilhas. Na vertente sudoeste da Serra Geral, temos as nascentes dos rios Pelotas e Canoas, formadores do Rio Uruguai. Os lagos da região são freqüentes, mas confinados ao litoral. Os principais são as lagoas de Itapeva, Sombrio, Garopaba do Sul, Imaruí e da Conceição, todas originadas no Holoceno. Fauna Entre os animais que podem ocorrer na região em estudo, existem representantes das seguintes ordens, segundo Silva (1984): Marsupialia (Gambás, cuícas e guaiquicas), Edentata (tatús e tamanduás), Primatas (bugios e micos), Carnivora (guarás, graxains, coatis, mão-peladas, iraras, furões, lontras, ariranhas, gatos-do-mato, pumas, jaguatiricas e onças), Perissodactyla (antas), 16 Artiodactyla (porcos-do-mato e veados), Rodentia (ouriços-cacheiros, preás, capivaras, pacas, cutias) e Lagomorpha (tapitis). As aves estão representadas, famílias, segundo (macucos, inhambús, socós, savacus), Sick et jaós, alii (1879): perdizes, Cicomiidae entre outras, Rehidae codornas), (cegonhas), pelas seguintes (emas), Tinamidae Ardeidae (carcarás, Threskiornithidae (íbis), Phoenicopteridae (flamingos), Anhimidae (tachãs), Anatidae (cisnes, marrecas), Cathartidae (urubus), Accipitridae (gaviões), Falconidae (falcões, caracarás), Cracidae (aracuãs, jacus), Phasiamidae (urus), Aramidae (carões), (seriemas), Jacanidae Charadriidae narcejas), Relidae (jaçanãs), (quero-queros, Psitacidae (saracuras, frangos-d'água), Heamatopodidae babuíras), (periquitos, (pirús-pirús), Scolopacidae papagaios), Cariamidae (maçaricos, Columbidae (pombas, rolas), Ramphastidae (tucanos), Corvidae (gralhas), além de muitas outras famílias com representantes de menor porte. Podem ser encontrados ainda na região quelônios, répteis, anfíbios e insetos, destacando-se a importância de várias espécies de abelhas melíferas. Os peixes existentes na região são pertencentes a espécies de pequeno porte, principalmente nas partes superiores dos cursos d'água da região, com leitos acidentados e encaichoeirados. Entre outros, ocorrem acarás, traíras, jundiás, cascudos e lambaris. Nas partes inferiores dos cursos dos rios, já próximos ao litoral, e nas lagoas costeiras, além destas espécies, ocorrem ainda outras adaptadas a águas salobras, como tainhas, robalos, bagres e outros. Disponibilidade de Recursos Naturais 17 Dentro formações da região florestais em estudo, distintas e devido (Floresta à existência Ombrófila de Densa, duas Floresta Ombrófila Mista), os recursos de coleta vegetal, principalmente, e em menor grau também os recursos de caça e coleta animal, distribuem-se de maneira sazonal. Os recursos da Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), estão disponíveis, em sua maioria, principalmente nos meses de novembro a abril (final da primavera, verão e início do outono), época em que diversas árvores frutíferas alcançam a plena maturação dos seus frutos. Um recurso típico da Floresta Ombrófila Densa, o palmiteiro (Euterpe edulis), pode ter o seu meristema (palmito) coletado durante todo o ano. A frutificação, nestes meses, é responsável por um aumento na concentração de aves, mamíferos e répteis, que deles se alimentam, ou que predam os animais por ela atraídos. Isto não significa que durante os meses de final de outono, inverno e início da primavera não existam recursos de caça nesta área, mas sim que estes recursos, existentes porém dispersos, se concentram durante a época de maturação dos frutos. O recurso vegetal de maior importância encontrado na Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucárias), é sem dúvida o pinhão, fruto do Pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia), cuja maturação se dá nos meses de abril a junho (final do outono e início do inverno), atraindo com ela grande quantidade de fauna. Recursos de coleta vegetal da Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlantica) Nome Comum Nome Cientifico Frutificação Aguaí Amoreira-do-mato Ananás-de-cerca Chisophilum viride Rubus erythroclados Ananas bracteatus primavera verão outono 18 Araçá-amarelo Araticum-cagão Bacupari Brejaúba Butiá-da-praia Figueira-do-mato Gravatá Grumixama Guamirim-araçá Guamirim-facho Ingás Palmiteiro Pindabuna Tajuva Psidium cattleyanum Annona cacans Rheedia gardneriana Astrocaryum aculeatissimum Butia capitata Ficus organensis Bromelia antiacantha Eugenia brasiliensis Murcia glabra Myrcia dichorophylla Inga sp. Euterpe edulis Duguetia lanceolata Cholorophora tinctoria verão/outono outono primavera verão verão verão/outono primavera/verão inverno/primavera inverno/primavera verão/outono outono/primavera outono verão Recursos de coleta vegetal de ambas as Formações Vegetais Nome Comum Amoreira-preta Araticum Araticum-do-mato Chal-Chal Cincho Coqueiro-gerivá Guabirobeira Jaboticabeira Pitanga Tucum Nome Cientifico Rubus urticifolius Rollinia rugosa Rollinia silvatica Allophylus edulis Sorocea bonplandii Arecastrum romanzoffianum Campomanesia xantocarpa Myrciaria trunciflora Eugenia uniflora Bactris sp. Frutificação verão verão/outono outono primavera/verão verão verão/outono verão primavera primavera/verão inverno Recursos de coleta vegetal da Floresta Ombrófila Mista (Mata De Araucárias) Nome Comum Butiá-da-serra Canela-imbuia Goiaba-do-campo Pinheiro-do-Paraná Uvaia Nome Cientifico Butia eriosphata Nectandra megapotamica Feijoa sellowiana Araucaria angustifolia Eugenia pyriformis 19 Frutificação verão verão/outono outono outono/inverno verão Outros recursos de coleta animal, entre os quais se destacam o mel e larvas de diversos insetos, podem ser encontrados em ambas s regiões durante todo o ano. Rochas artefatos passíveis líticos de podem serem ser utilizadas encontradas como tanto matéria-prima nas áreas de baixas, próximas ao litoral, como no Planalto, sob a forma de afloramentos ou sob a forma de seixos rolados, carreados desde sua origem pelos cursos de água de grande energia existentes na região. Entre estas rochas, destacam-se o diabásio, o basalto, o quartzito, o sílex, a calcedônia e o arenito silicificado. O ambiente descrito, sujeito a quatro estações bastante marcadas por causa da latitude, com recursos multiplicados por causa do gradiente altitudinal e compartimentação geomorfológica, pode induzir uma população caçadora-coletora a criar para si um sistema de assentamento e manutenção anual específico para a base material na qual se instala. 20 Grande extensão territorial e limites bem claros com os ambientes vizinhos podem facilitar a manutenção do modo de vida criado e defesa do território contra outras populações indígenas, avançadas tecnológica e socialmente. Veremos que isso aconteceu com os Xokleng. 21 mesmo que mais 3 QUEM CRIOU A INFORMAÇÃO SOBRE OS XOKLENG E SOBRE OS OCUPANTES ANTERIORES DO SEU TERRITÓRIO REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Fontes Históricas e Antropológicas A documentação histórica e antropológica sobre os Xokleng pode ser dividida cronologia em dos três grandes documentos, grupos dos temáticos, relatos e os de acordo objetivos com que a se propuseram os autores dos mesmos. Ao primeiro grupo chamaremos de Documentos Históricos, estando incluídos nesta classificação os relatos de viajantes estrangeiros (séculos XVIII e XIX), as Fallas e Relatórios dos Presidentes da Província de Santa Catarina (séculos XIX e XX), obras de história catarinense municipais e regionais (séculos XIX e XX), e crônicas históricas municipais (século XX). Ao segundo grupo, chamaremos de Relatos Etnográficos, englobando narrativas e professores, entrevistas jornalistas feitas e por agrimensores, missionários que, quer engenheiros, direta quer indiretamente, estiveram envolvidos com os Xokleng, procurando nestas obras descrever seus costumes e hábitos. Estes relatos datam dos séculos XIX e XX. Ao terceiro grupo chamaremos de Obras Antropológicas. Este é formado por obras a respeito dos Xokleng que mostram preocupação em sistematizar os dados existentes, obtidos a partir do contado com o próprio grupo ou a partir de outros documentos, de acordo com a teoria e método antropológicos. Estas obras são datadas do século XX. Dentro do grupo dos Documentos Históricos, as informações que podem ser obtidas dizem respeito principalmente à presença diferentes áreas do território, percebida através Xokleng em dos ataques realizados aos colonizadores, o que ajuda a traçar os limites do território histórico do grupo. Menos freqüentes nestes documentos são informações sobre armamento, habitação e alimentação. Entre os viajantes que percorreram a região, Frézier, 1716 (1984)*; Langsdorf, 1812 (1984); Mawe, 1812 (1984); Lisianski, 1814 (1984); Duperrey, 1827 (1984), referem-se à presença de índios nas matas fronteiras à Ilha de Santa Catarina, o que impedia a colonização da região. Saldanha, 1798 (1871) e Matos, 1797 (1858), falam da existência de índios nas matas da Serra Geral, até o rio Canoas, no Planalto Catarinense. *Para melhor localizar temporalmente os autores citados, após o nome do autor apresentamos a data em que a observação foi feita, sendo seguida esta pela data entre parênteses da edição do relato por nós utilizada. 23 Saint-Hilaire, 1820 (1978), relata ataques próximos a Piraquê, no litoral norte de Santa Catarina, feitos por índios de lábios perfurados chamados pelos Kaingang de Palmas de "socrê". Carvalho, (1824) fala de ataques nas vilas de Lages, Laguna e Araranguá, em Santa Catarina. Seidler, 1835 (1941), diz que na região de Torres, RS, os colonos sofriam constantes ataques dos índios. Lima, 1842 (1863), conta que os Xokleng habitavam entre os rios Iguassú e Uruguai, tendo à época atacado a localidade de Itapeva, no Rio Grande do Sul. Aubé (1847), refere-se à existência de índios "bugres" nas matas do norte de Santa Catarina, trazendo ainda algumas informações sobre armamento, habitação e alimentação destes. Avé-Lallemant, 1882 (1980), relata ataques ocorridos à época, na região de Tijucas, na estrada entre Tubarão e Lages e no município de Lajes no Planalto Catarinense. Hensel, 1892 (1928), conta que os Botocudos, que atacavam os colonos alemães instalados ao norte do Rio Grande do Sul, se teriam retirado para as matas de Santa Catarina e Paraná. Pitanga, 1882 (1916), relata um ataque de bugreiros a um acampamento Xokleng próximo ao Rio Negro, no norte de Santa Catarina, que havia sido presenciado por um estancieiro de Curitibanos, seu informante. As Fallas e Relatórios dos Presidentes da Província de Santa Catarina são discursos informativos destes às Câmaras Provinciais ou 24 aos seus sucessores, podendo ou não serem anuais. A principal informação que apresentam diz respeito às incursões e ataques dos Xokleng contra localidades ou tropeiros, fornecendo assim dados sobre o território histórico do grupo. Em alguns casos apresentam ainda informações mais ou menos detalhadas sobre armamento, habitação, caça e coleta, nomadismo, e motivos dos ataques. Estas Fallas e Relatórios cobrem o período de 1835 a 1911, sendo que as mais ricas em informações são as FPP-34 (1876), FPP-35 (1877, FPP-46 (1905) e FPP-47 (1911). As obras de história catarinense, em sua grande maioria, registram informações sobre ataques dos Xokleng aos núcleos coloniais que, durante o século XIX, começam a ser fundados no Estado. Assim, D'Almeida Coelho (1856), além de breves notas sobre o nomadismo dos índios e informações sobre os locais onde apareciam mais comumente (Itajaí, Camboriú, estradas de São José e Tubarão até Lages, Itapocoroy e São Francisco do Sul), registra ataques às colônias Nova Itália (Col. Demaria & Schuttel) e Santa Teresa, no centro-norte de Santa Catarina. Rosa (1905) registra ataques em Camboriú e na Colônia Nova Itália (Col. Demaria & Schuttel). Boiteux (1911) fornece maior quantidade de informações a respeito dos Xokleng; embora parte destas informações refiram-se aos Kaingang de Palmas, baseadas nos relatos de Telêmaco Borba e Frei Luís de Semetille, a outra parte, baseada em informações do Engenheiro Jacques Ouriques, contém importantes dados sobre o território ocupado pelo grupo, nomadismo, cultura material, alimentação e hábitos funerários. 25 Boiteux (1939) relata ataques ocorridos à época da fundação da colônia Nova Itália (Col. Demaria & Schuttel), em meados do século XIX. Ramos (1944), fala de ataques realizados pelos índios à época da fundação de Lages, no Planalto de Santa Catarina, em meados do século XVIII. Cabral (1958) em obra sobre a fundação de Brusque, cita vários ataques de índios a colonos, ocorridos na região entre 1860 e 1866. Por fim, as crônicas históricas municipais são obras geralmente escritas por pessoas sem formação acadêmica em História e baseados em documentação fotográfica, genealogias, entrevistas, registros religiosos e civis e outros, traçando desta maneira a crônica da evolução da comunidade ou município a que pertencem. Apesar de muitas vezes apresentarem dados etnográficos confusos, com informações mescladas de vários grupos indígenas, uma pesquisa cuidadosa pode fornecer informações sobre ataques de índios, cultura material, habitação e alimentação dos Xokleng. Entre estes autores, Gernhard (1901), escrevendo sobre as colônias Dona Francisca, Hansa e Blumenau, fundadas no Vale do Itajaí - SC, além de referir-se a ataques ocorridos entre 1863 e 1880 na região, apresenta ainda um quadro da cultura Xokleng, com alguns detalhes sobre nomadismo, caça e coleta, armamento, estratégias de ataque e as maneiras que os colonos encontravam para evitar esses ataques. Marzano (1904), em obra sobre a fundação da colônia de Urussanga, sul de Santa Catarina, narra vários ataques sofridos pela colônia 26 entre 1883 e 1885, dando ainda algumas informações sobre físico, armamento e estratégias de ataque utilizadas pelos Xokleng. Stulzer (1973), Silva, E. (1975) e Vicenzi (1985) falam de ataques ocorridos na região de Jaraguá do Sul, Corupá e Rio dos Cedros, no início da colonização destes municípios do norte de Santa Catarina. Também Silva, J. (1972) relatam os ataques sofridos no início da colonização de Blumenau - SC. O segundo autor traz ainda algumas informações sobre a cultura material e o nomadismo dos Xokleng. Dall'Alba (1973), além de apresentar uma entrevista com um exbugreiro oferece dados sobre ataques ocorridos durante a colonização do Vale do Rio Braço do Norte, no Sul de Santa Catarina. Dentro do grupo dos Relatos Etnográficos, as primeiras informações disponíveis são de Vasconcellos, 1884 (1912), onde este autor oferece dados sobre estratégias de ataque, armamento e rituais funerários dos Xokleng, trazendo ainda um vocabulário comparado Kaingang, Kren, Botocudo Gigante e Português. Tavares (1912), publicou um relato baseado em informações de Pedro Andiro Nuclé, Criança Xokleng capturada em 1905 por bugreiros, aos 8 anos de idade. Neste relato encontramos dados sobre alimentação, nomadismo, armamento, rituais funerários, habitação e físico dos Xokleng. Zittlow & Bischoff (1915) publicaram uma reportagem sobre os Xokleng então recém contatados em Rio Plate, Santa Catarina, onde se referem a ataques ocorridos no passado, descrevendo também os adornos, 27 pintura corporal, corte dos cabelos, armamento, perfuração dos lábios, vestimenta e objetos de transporte. Paula (1924) é o trabalho mais completo sobre os Xokleng dentre os relatos pesquisados. Preparado para ser apresentado no XX Congresso Internacional de Americanistas, está baseado tanto em observações do autor como também em dados organizados pelo Serviço de Proteção ao Índio. Estas dizem respeito ao território do grupo, dados de antropologia física, doenças, subsistência, nomadismo, alimentação, habitação, estratégias de ataque e defesa, armamento, rituais funerários e organização social. Entres (1929) traz dados sobre o território, armamento, habitação, cultura material e alimentação, que podem ser aproveitados, embora estejam um tanto misturados com informações referentes aos Kaingang. O autor apresenta ainda um relato do intérprete Geremia, capturado pelos Xokleng quando criança, tendo convivido com o grupo durante certo tempo. Neste relato tem-se outras interessantes informações. Kempf (1947) organizou e publicou um trabalho sobre os Xokleng do Rio Plate elaborado por um religioso franciscano na década de 1940. Este trabalho baseia-se em entrevista com dois ítalo-brasileiros moradores de Rodeio, SC, que trabalharam oito anos no Posto Indígena de Rio Plate. Embora muitas vezes estas informações sejam imprecisas e contraditórias, estrutura podem-se social, aproveitar habitação, dados armamento, sobre alimentação, o território, cerimônia de perfuração de lábios e rituais funerários. Dall'Alba (1973) inclui em sua obra uma entrevista com o bugreiro Ireno Pinheiro, a partir de cujas observações podem-se visualizar 28 informações sobre a cultura material Xokleng, principalmente sobre armamento, utensílios, adornos, caça e coleta, alimentação e habitação. Dentro do grupo de obras antropológicas, Ploetz & Métraux (1930) publicaram uma Meridional e obra comparativa Oriental. Em entre relação aos consideram lingüisticamente aparentados os grupos Xokleng, Gê que do os Brasil autores aos Kaingang, denominam-nos de Botocudo de Santa Catarina, Aweikoma ou Schokleng. Os dados a respeito dos Xokleng são baseados principalmente em Paula (1924), tradicional do trazendo grupo, ainda cultura informações material, sobre religião o e território sociedade. Os autores concluem que as grandes diferenças existentes em termos de cultura material entre os dois subgrupos Gê (Oriental e Meridional), demonstram que estes não formavam uma unidade cultural, tendo antes recebido influências de todos os tipos, senão tendo antes origens e/ou raças diferentes. Outra conclusão a que chegam os autores é a de que a cultura dos Gê "...são compostas de elementos culturais muito antigos, e desprovidos de outros elementos próprios à tribos mais evoluídas." (Ploetz & Métraux, 1930: 233). Em relação aos Xokleng, em particular, os autores têm o mérito de haver reunido em uma síntese as informações disponíveis à época. Schaden (1937) publicou pequeno trabalho descritivo onde procurou reunir diversos dados a respeito dos Xokleng, principalmente sobre território, filiação étnica, cultura material, estratégias de caça, dados da antropologia física, sociedade as informações são confiáveis, e religião. De maneira geral, apesar de apresentarem algumas discrepâncias em relação aos dados de outros pesquisadores. Isto se dá 29 provavelmente devido a distorções existentes nos relatos empregados pelo autor. Neste texto são ainda abordadas as mudanças da cultura material tradicional Xokleng provocadas pelo aldeamento no Posto Indígena de Rio Plate, então em Ibirama, decorrentes do contato com a sociedade nacional. Henry (1942), baseando-se em pesquisas de campo efetuadas entre 1932 e 1934 no posto indígena de Rio Plate, em Santa Catarina, publicou o principal trabalho existente sobre a sociedade Xokleng tradicional, descrevendo desde a organização social e econômica até a cultura material parentesco, do rituais, grupo, fixando-se psicológicas e ainda nas lingüísticas. questões Baldus de (1954) apresenta várias críticas a este trabalho, embora sempre realçando a sua importância. Entre estas críticas, destacamos a de que o autor reuniu indiscriminadamente informações da cultura Xokleng passada, obtida através de informantes índios, com suas próprias observações particulares, sem fazer distinção entre os diferentes valores que estes dados encerram. Apesar deste problema e do fato de que algumas de suas análises estejam hoje ultrapassadas, como por exemplo a análise psicológica do grupo, este é um importante trabalho, continuamente citado em todas as obras posteriores sobre os Xokleng. Henry (1964) discute neste artigo a nomenclatura dos Xokleng, considerando a denominação correta do grupo como sendo Kaingang, já que as línguas de ambos os grupos são aparentadas. O Autor aborda ainda nesta obra os problemas inerentes à transição de uma cultura baseada na caça e coleta para a agricultura, sugerindo meios para facilitar este processo. 30 Guérios (1945), estudando comparativamente os idiomas Xokleng e Kaingang, opta pelo parentesco entre as duas línguas, embora tenha destacado a exigüidade dos vocabulários que teve à disposição. Schaden, F. (1946), apresenta em cinco artigos, diversos aspetos dos Xokleng, desde a sua cultura tradicional, até os problemas enfrentados pelo grupo durante os momentos iniciais do contato. Hanke (1947), generalizações a publicou respeito um dos trabalho Xokleng etnocêntrico de Ibirama, e no eivado qual de ainda procurou levantar hipóteses sobre a arqueologia da região, que hoje se revelam ultrapassadas. Nesta obra, a autora apresenta ainda dados sobre a cultura material, sociedade e religião Xokleng que, estudados com cautela, podem ser utilizados. Encontram-se ainda transcritas nesta obra algumas lendas Xokleng que, devido a referências à pesca e erva-mate, parecem possuir influências guaraní ou Kaingang pós- contato. Nimuendajú discutem as & Guérios conclusões (1948), em publicadas por correspondência Guérios publicada, (1945), chegando Nimuendajú à conclusão de que o Xokleng é um dialeto Kaingang, embora bastante diferenciado, e que suas culturas apresentam diferenças evidentes, não devendo, portanto, serem tratadas como do mesmo grupo. Métraux (1947), tratando de rituais de sepultamento dos índios da América do Sul, refere-se aos rituais de cremação e enterramento Xokleng, baseando-se nas informações de Henry (1945). Schaden, F. (1958) publicou um esboço comparativo entre os grupos Xokleng e Kaingang, apresentando 31 várias diferenças culturais existentes entre ambos, embora sem defender nenhuma posição a respeito do parentesco entre os grupos. Métraux (1963) publicou um trabalho sobre os Kaingang, entre os quais inclui os Xokleng. Nesta obra, compara dados a respeito das divisões tribais, atividades de subsistência, cultura material, nomadismo, organização social e outros aspectos da cultura do grupo, baseando-se grandemente em Henry (1941). Hicks (1966) defende, neste artigo, que a existência de nove itens culturais contrastantes entre os Xokleng (chamados pelo autor de Aweikoma) e os Kaingang, demonstra uma diferença fundamental entre as duas sociedades, sendo estas essencialmente diferentes. Forno (1966) publicou um artigo sobre peças líticas classificadas como Xokleng (Aweikoma, segundo o autor) existentes no Instituto de Antropologia da Universidade de Turim. A partir das ilustrações, notase que estas peças líticas são arqueológicas, provenientes de diversos sítios pré-históricos existentes na região Sul do Brasil e dificilmente atribuíveis a qualquer grupo indígena histórico. O autor traça ainda um breve painel cultural do grupo Xokleng, baseado em Henry (1941) e Métraux (1946), bastante mesclado com dados dos Kaingang de São Paulo e Paraná. Santos (1971b) publicou um trabalho no qual relaciona as evidências sobre a existência de índios Xokleng arredios na Serra do Tabuleiro, na região Centro-Sul de Santa Catarina. Santos (1973), em tese de doutoramento sobre os Xokleng do Sul do Brasil, enfoca principalmente o histórico dos confrontos do grupo indígena com a sociedade nacional, com a conseqüente aculturação dos Xokleng remanescentes destes conflitos, freqüentemente violentos. Em 32 dois capítulos, o autor aborda a cultura tradicional do grupo, trazendo informações sobre a cultura material, organização social, religião e outros aspectos da cultura Xokleng, baseados principalmente em Paula (1924) e Henry (1941). Kühne (1979) publicou um trabalho comparativo sobre a agricultura entre os grupos Kaingang e Xokleng (chamados Lakranó pelo autor) e outros grupos Gê. A pequena parte, que se refere aos Xokleng, é baseada em Henry (1964). Kühne (1980), em outra publicação, relaciona as atividades de pesca, coleta e domesticação de animais entre Gê, incluindo dados sobre os Xokleng baseados em Henry (1964) e Métraux (1946). Sullivan & Moore (1990), em trabalho sobre a expressão artística Xokleng a partir do contato com a sociedade nacional, descrevem artefatos do grupo existentes em coleções do Texas Memorial Museum, American Museum of Natural History, Greg Urban Collection e Museum of American Indian, nos Estados Unidos da América. A Bibliografia sobre os Xokleng apresenta ainda muitos trabalhos versando sobre os problemas enfrentados pelo grupo para adaptar-se à sociedade nacional, como por exemplo Santos (1964, 1969, 1972) e Demarquet (1963). Como não nos ocuparemos deste tema nesta monografia, aconselhamos aos interessados consultarem Baldus (1954, 1968) e Hartmann (1984), para uma bibliografia crítica sobre o tema. A informação produzida por estes autores encontra-se organizada no capítulo 4. 33 Documentação Arqueológica Os estudos de arqueologia pré-histórica na Região Sul do Brasil não se desenvolveram de maneira homogênea. Embora o litoral sul- brasileiro tenha sido pesquisado de forma mais ou menos constante desde a década de 40, foi somente a partir do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), na década de 60, que os trabalhos tornaram-se mais intensos nesta região, expandindo-se também para áreas do interior dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, possibilitando a elaboração de seqüências culturais e cronológicas para as ocupações pré-históricas desta região (Mendonça de Souza, 1991). Porém, mesmo com este avanço, a região de Mata Atlântica que ocupa os contrafortes da Serra Geral, desde as proximidades do Litoral até as bordas do Planalto das Araucárias, englobando o extremo norte do Rio Grande do Sul, grande parte do estado de Santa Catarina e o Sul do Paraná, só foi prospectada de maneira ocasional, possuindo mesmo hoje alguns poucos levantamentos de sítios arqueológicos e mais raras ainda escavações e datações. Apesar da precariedade dos dados, estes trabalhos vieram mostrar que a região é rica em testemunhos arqueológicos como sinalações rupestres, casas subterrâneas, aterros, sítios abertos cerâmicos e pré-cerâmicos, galerias subterrâneas, abrigos-sob-rocha com vestígios de habitação e sepultamentos, e outros (Rohr, 1973). O primeiro autor a publicar dados sobre a região foi Piazza (1966), que realizou um levantamento arqueológico nos municípios de São Joaquim e Urubici, em Santa Catarina, localizando oito grutas com vestígios de ocupação pré-histórica e um sítio aberto cerâmico, além de obter notícias sobre outros sítios arqueológicos da região. Nas grutas foram encontrados sepultamentos, material lítico diverso e, em três casos, gravações rupestres. Carvão recolhido pelo autor na gruta "Casa de Pedra", em prospecção ali realizada, deu uma datação de 1040 A.D. Piazza (1967) publica uma nota prévia com os resultados de outro levantamento arqueológico na região do Vale do Rio Itajaí, em Santa Catarina, onde localizou cinco grutas com sepultamentos, duas com vestígios de ocupação (material lítico) e três sítios abertos com material lítico (pontas de flecha, batedores, raspadores, lâminas de machado, mãos-de-pilão, perfuradores, seixos trabalhados e lascas. Em um destes sítios também foram encontrados restos de cestaria. Baseado no fato de não ter sido encontrada cerâmica, o autor conclui que "pode-se para efeito de discussão, aceitar a tese de que a cerâmica dos Xokleng atual - uma única peça - seja fruto de contato cultural recente ..." (Piazza, 1967:43). Rohr (1967) também realizou levantamentos arqueológicos em Urubici, Santa Catarina, localizando casas subterrâneas, montículos de sepultamentos e furnas com sepultamentos. Na ocasião, o autor escavou uma área de 128 m² de um sítio aberto pré-cerâmico (SC-VI-13), instalado em um pântano, situado no sopé de uma elevação a 500 m do rio Itajaí do Sul. A escavação revelou duas camadas de ocupação. Uma delas estava a 60 cm de profundidade e era composta por seixos rolados e artefatos de pedra, fibra vegetal e madeira, às vezes parcialmente carbonizadas, encontrados formando nesta uma camada base de foram cabana. lâminas 35 de Os artefatos machado, líticos batedores, amoladores, quebra-coquinhos e lascas, confeccionados em basalto e sílex. Os artefatos de origem vegetal encontrados foram trançados de fibra de imbé (Philodendron sp.), cordas e restos de cascas, e artefatos de nó de pinho. No segundo piso de habitação, a 80 cm de profundidade, encontrouse cascalho trazido do rio e artefatos líticos semelhantes aos do nível anterior, embora bastante mais decompostos. As amostras de carvão recolhidas a 60 cm. foram datadas em 3.000 A.P. (Rohr, 1984). Ainda situados neste na trabalho, margem o esquerda autor do escavou rio montículos Itajaí do Sul, de terra, encontrando estruturas de barro preenchidas com terra, além de carvão, a uma profundidade de 30 a 50 cm. Piazza (1969) apresenta realizadas na área dos ainda resultados de prospecções "campos de Lages", na região das nascentes dos rios Pelotas e Canoas, no Planalto sul-catarinense. Ali localizou cinco casas subterrâneas, quatro abrigos sob-rocha, três sítios cerâmicos, um sítio lítico aberto, um sítio de petróglifos e dois sítios-oficina com polidores fixos. Baseado neste levantamento, estabeleceu quatro fases arqueológicas para a região, sendo duas précerâmicas (fase Cotia e Urubici) e duas ceramistas (fases Xaxim e Ibirama). Rohr (1971) arqueológicos do publicou Planalto extensos Catarinense, levantamentos totalizando de três sítios meses de trabalhos de campo entre 1966 e 1971. Os 67 sítios registrados situamse a uma altitude entre 400 e 1200 metros, constituindo-se de cinco sítios com gravações rupestres, quinze 36 sítios de sepultamento em abrigos sob-rocha, subterrâneas, cerâmicos e quatorze casas subterrâneas, dezenove galerias oito terreiros de antigas aldeias, dois sítios abertos cinco pré-cerâmicos, localizados nos municípios de Urubici, Petrolândia, Rancho Queimado, Atalanta, Imbuia, Ituporanga, Bom Retiro, Alfredo Wagner, Lages e São Joaquim. Duas casas subterrâneas foram escavadas (SC-Urubici-10 e SC- Urubici-11), foram feitas prospecções em terreiros de antigas aldeias e coletas sistemáticas de material arqueológico em superfície. Nas casas subterrâneas, o material arqueológico encontrado era composto de cerâmica predominantemente sem decoração, embora também tenham ponteada sido e raspadores, raspadores encontrados ungulada. picões, O poucos fragmentos material lítico batedores, com decoração lascado lascas, era incisa, composto talhadeiras, de bigornas, e lascas confeccionadas em diabásio, sílex, siltito e riolito. O material lítico polido era composto de facas, alisadores e raspadores em folhelho e siltito. Nos terreiros de antigas aldeias foram encontrados restos de fogueiras contendo carvão vegetal, fragmentos cerâmicos sem decoração e material lítico. Segundo o autor, estas aldeias "achavam-se localizadas em pontos altos e estratégicos e estavam guarnecidas por uma paliçada protetora, que se manifesta, ainda hoje, pela coroa de terra circular ao redor do topo do morro" (Rohr, 1971:19). Nos sítios abertos pré-cerâmicos foram coletados, em superfície, pontas de flecha, pingentes, alisadores, facas, raspadores, furadores, formões, núcleos e resíduos de lascamento confeccionados em sílex lascado ou polido, além de lâminas 37 de machado e mãos-de-pilão confeccionadas em diabásio polido. Alguns poucos artefatos de arenito também foram recolhidos. Ainda sobre estes sítios, o autor não tem certeza de trabalhos que de representem lavoura, uma removendo ocupação o pré-cerâmica, solo, podem ter já que os destruído as evidências cerâmicas. Quanto ao sítio aberto cerâmico, nele foi coletada cerâmica predominantemente sem decoração, com apenas um caco decorado. Piazza & Eble (1968) realizaram uma prospecção em sítio cerâmico situado às margens do Rio Plate, em Ibirama, SC (SC-VI-09). Em um corte de 1m² foram coletados 215 fragmentos cerâmicos sem decoração, de cor cinza e preta, que os autores associaram ao grupo Xokleng, que está instalado em um posto indígena nas proximidades. Os autores afirmam ainda que esta cerâmica poderia ser "fruto de contato cultural recente, com outros grupos Gê - os Kaingang" Eble (1973a), reunindo as (Piazza & Eble, 1968:8). informações existentes, busca neste trabalho traçar uma síntese da arqueologia do Vale do rio Itajaí, em Santa Catarina, procurando levantar questões como o contato entre grupos humanos do litoral e do Planalto, as possibilidades de trabalho criadas pela pesquisa etnográfica e a possibilidade de utilização de analogias etnográficas na arqueologia da região, baseando-se nos Xokleng, entre outros. Eble (1973b) publica um projeto de pesquisa em que defende as possibilidades de utilização da analogia etnográfica para fazer a ligação entre grupos Gê históricos, como os Xokleng, com culturas préhistóricas cujos sítios arqueológicos território. 38 estão localizados no mesmo Piazza (1974), fazendo um levantamento dos sítios arqueológicos do Planalto de Canoinhas, Santa Catarina, localizou na região seis sítios arqueológicos (sítios-habitação em abrigos sob-rocha, e sítiosoficina abertos), englobados na Fase Taió. Segundo o autor, nos sítios-oficina, situados ao ar livre, o material arqueológico ocorre até 30 cm de profundidade, enquanto que nos sítios-habitação, instalados em abrigos sob-rocha, os estratos arqueológicos chegam até 2,5 metros de espessura. A indústria lítica é composta por pontas de flecha de quartzo, calcedônia e arenito endurecido, apresentando ainda lascas e raspadores em arenito. As datações obtidas para a fase são AD 1290 e AD 1660 (SI-537 e 536). Reis (1980) apresenta, em dissertação de mestrado os resultados de suas pesquisas sobre as estruturas subterrâneas do Planalto Catarinense, compreendendo áreas desde os campos de Lages até o Oeste de Santa Catarina. Na região dos Campos de Lages, a autora localizou 36 sítios arqueológicos (estruturas subterrâneas) situados nos municípios de Lages e Bom Retiro. Em um destes sítios (SC-CL-9), foram escavadas duas estruturas subterrâneas, sendo recolhidos fragmentos cerâmicos e peças líticas. Rohr (1982) publica um levantamento arqueológico na região do município de Urussanga, Sul de Santa Catarina, localizando quinze sítios arqueológicos (14 sítios abertos e um sítio de sepultamentos em abrigo sob-rocha). Os sítios apresentavam material lítico lascado, predominantemente raspadores, em alisadores, quartzo, facas destacando-se e lascas com pontas ou sem de flecha, trabalho. Em diabásio lascado e polido foram recolhidos machados, mãos de pilão, quebra-coquinhos e outros artefatos. 39 O sítios autor levanta ainda arqueológicos a hipótese poderiam ser de os que os ocupantes antepassados dos destes Xokleng e Kaingang históricos. Baseados nos dados recuperados por estes pesquisadores, diversas sínteses e listagens de sítios arqueológicos foram feitas por outros pesquisadores. A listagem dos sítios arqueológicos de Santa Catarina mais completa é a de Rohr (1984), enquanto que as sínteses regionais existentes são as de Rohr (1973), Prous & Piazza (1977), Schmitz (1991) e Prous (1992). A partir dos dados apresentados, pode-se perceber uma diferenciação geográfica em relação aos sítios arqueológicos da área em estudo, com determinados sítios se mostrando mais freqüentes nas áreas mais altas do Planalto e outros mais freqüentes nas áreas baixas, cobertas com Mata Atlântica. Como a informação produzida não é muito abundante, ela vem sintetizada a seguir. No Planalto, os sítios que ocorrem são os seguintes: Galerias Subterrâneas: estes sítios arqueológicos, exclusivos do Planalto, apresentam-se na forma de túneis escavados por populações pré-históricas nas encostas de elevações, podendo apresentar salões, respiradouros e várias saídas. Gravações rupestres foram percebidas nas paredes de uma destas galerias, tendo sido ainda encontrados fragmentos cerâmicos similares aos das casas subterrâneas no interior de outras, segundo Rohr (1971). 40 Casas Subterrâneas: estes sítios arqueológicos são encontrados predominantemente nos contrafortes da Serra Geral e no Planalto SulBrasileiro, geralmente em altitudes acima de 400 metros, embora existam notícias de ocorrências próximas ao Litoral, conforme Rohr (1971, 1984). Apresentam-se como depressões no terreno, de tamanho e profundidade variável, ocorrendo tanto isoladamente como em grupos. Não existem datações para estes sítios arqueológicos no Estado de Santa Catarina, mas datações obtidas no Rio Grande do Sul vão desde 2.000 AP até a época do descobrimento, segundo Schmitz & Becker (1991). Quanto à sua utilização, escavações realizadas no Rio Grande do Sul parecem comprovar seu uso como habitação, embora ainda não se possa afirmar o mesmo para os sítios existentes em território catarinense, segundo Reis (1980). Nas pesquisas realizadas nesta área, o principal vestígio arqueológico recolhido no interior das casas subterrâneas compõe-se de fragmentos cerâmicos associados às tradições Taquara e Itararé, juntamente com material lítico lascado e polido. Rohr (1971) percebeu também gravações rupestres na parede de uma das estruturas subterrâneas por ele escavada. Terreiros de Aldeias: estes sítios arqueológicos, até o momento exclusivos do Planalto, apresentam-se como áreas niveladas no cume de elevações, limitadas por um rebordo de terra. Sondagens efetuadas nestes sítios aqueológicos revelaram artefatos líticos e cerâmica atribuível à tradição Itararé. Abrigos Sob-Rocha com Vestígios de Habitação: estes sítios, até o momento localizados apenas no Planalto e seus contrafortes, caracterizam-se por locais abrigados das intempéries junto a paredões rochosos, onde percebem-se vestígios 41 de ocupações humanas pré- históricas. Os sítios até o momento prospectados são pré-cerâmicos, podendo estar relacionados com a Tradição Umbu. As datações existentes para um destes sítios, segundo Piazza (1974), são de AD 1290 e AD 1660. Abrigos Sob-Rocha com Gravações Rupestres: localizados até o momento unicamente no Planalto, são caracterizados por apresentarem figuras gerométricas esculpidas em baixo-relevo nas paredes de locais abrigados de paredões rochosos. Os motivos destas gravações podem ser triângulos, paralelogramos com retas paralelas cruzadas em seu interior, linhas curvas, círculos e pontos. Em abrigos desta natureza, até o momento, não foram percebidos vestígios de habitação. Grutas e Abrigos Sob-Rocha com Sepultamentos: geralmente situados próximos a cascatas, embora predominem no Planalto, também podem ser encontrados em áreas baixas, cobertas de Mata Atlântica, conforme Rohr (1982). Caracterizam-se pela presença de sepultamentos humanos, algumas vezes acompanhados por cerâmica, pontas líticas ou adornos confeccionados em pedra, dente ou concha. Sítios Abertos Pré-Cerâmicos: modernamente freqüentes no Planalto, caracterizam-se por manchas escuras no solo, onde concentrase o material arqueológico, geralmente composto de pontas líticas e outros artefatos elaborados em pedra lascada e polida. As pontas líticas que ocorrem nestes sítios podem ser associadas à Tadição Umbu. O único sítio aberto pré-cerâmico escavado, o sítio arqueológico de Alfredo Wagner, não se enquadra perfeitamente nesta categoria, já que não foram encontradas pontas líticas. Este sítio está datado em 3.000 AP. Cabe dizer ainda, a respeito dos sítios abertos pré-cerâmicos, 42 que, ao menos em alguns casos, o uso intensivo do arado pode ter destruído os vestígios cerâmicos porventura existentes, mascarando assim o sítio arqueológico. Sítios Abertos Cerâmicos: também modernamente freqüentes no Planalto, estes sítios apresentam-se de maneira semelhante aos sítios abertos pré-cerâmicos, apresentando porém cerâmica semelhante à das casas subterrâneas e possivelmente associada às Tradições Taquara ou Itararé. Também encontra-se presente nestes sítios material lítico lascado e polido. Na Região de Mata Atlântica, os sítios arqueológicos típicos são os seguintes: Sítios Abertos Pré-Cerâmicos: estes sítios são caracterizados por concentrações elevações de material próximas a lítico cursos lascado d'água, ou polido podendo ou em não pequenas apresentar coloração diferenciada do solo no local. O material arqueológico mais freqüente é o lítico, composto por pontas lascadas em quartzo, calcedônia, sílex ou arenito silicificado, que podem ser associadas à Tradição Umbu. Como estes sítios geralmente possuem sua área revolvida para a lavoura, não pode ser descartado que uma parte deles possa ter possuído cerâmica. semidesagregados, Alguns encontrados poucos em alguns Cerâmicos: estes fragmentos destes cerâmicos sítios, parecem confirmar este fato. Sítios Abertos caracterizam-se por apresentarem vestígios sítios cerâmicos arqueológicos atribuíveis à Tradição Itararé. Tem sido localizados, com alguma freqüência, na região de Mata Atlântica do norte de Santa Catarina. Infelizmente não 43 foi possível obter outros dados a respeito destes sítios. Cabe aqui a afirmação de que parte dos sítios que atualmente são classificados como pré-cerâmicos, possam ser futuramente incluídos neste grupo, com o aprofundamento das pesquisas. Quanto a relações entre estes sítios arqueológicos, pode-se perceber que as casas subterrâneas e as galerias subterrâneas podem apresentar em comum tanto a cerâmica como a presença de gravações rupestres, estas por sua vez semelhantes às encontradas em alguns abrigos sob-rocha. Com momento não coletados foram exceção dos abrigos artefatos, a sob-rocha, cerâmica onde até encontrada o nos terreiros de aldeias, e em sítios abertos cerâmicos, é semelhante à das casas subterrâneas, podendo ser classificada como pertencente às tradições Taquara e Itararé. Estes sítios, ainda, são praticamente exclusivos do Planalto, ocorrendo geralmente em altitudes acima de 400 metros. Os abrigos sob-rocha com vestígios de habitação, pré-cerâmicos, com pontas líticas atribuíveis à Tradição Umbu, até o momento foram localizados unicamente nos Contrafortes do Planalto. A presença de pontas líticas da Tradição Umbu também é traço comum aos sítios abertos do Planalto e da Região de Mata Atlântica, com exceção do sítio arquelógico de Alfredo Wagner, onde não foram localizadas pontas líticas em associação estratigráfica. Ainda em relação ao período précerâmico, cabe frisar que a ausência de levantamentos amplos e a quase inexistência de escavações não permite maior avanço nas associações. Sítios arqueológicos abertos cerâmicos são encontrados tanto na região do Planalto como na região de Mata Atlântica, sendo a cerâmica 44 nele encontrada, atribuível às tradições Taquara ou Itararé. Porém, as mesmas objeções existentes em relação ao período pré-cerâmico, tais como a necessidade de ampliação dos levantamentos arqueológicos e de escavações, são válidas para este período. Por fim, encontrados os abrigos sob-rocha preferencialmente no com Planalto sepultamentos e seus têm sido contrafortes, ocorrendo esporadicamente em áreas mais baixas da Mata Atlântica. Como até o momento ainda não foram estudados, sobre eles não se podem fazer maiores considerações. 45 4 O QUE CONHECEMOS DOS XOKLENG I Economia, Sociedade, Cultura Denominação e Localização do Grupo Os Xokleng são um grupo indígena de língua Gê, localizado dentro da área cultural Tietê-Uruguai, segundo a classificação de Galvão (1979). Entre indígena, os diversos ainda hoje autores há representaria efetivamente que trabalharam divergências sobre com qual este grupo denominação o nome tribal. Podem ser encontradas na bibliografia denominações como Bugre, Botocudo, Aweikoma, Schokleng, Xocrém, Xokleng, Lakranó e Kaingang, todos para referir-se ao mesmo grupo, atualmente aldeado na Reserva Indígena de Ibirama, em Santa Catarina. Neste trabalho usaremos a denominação Xokleng por ser esta, atualmente, a mais empregada. A respeito das discussões sobre este problema, ver Hicks (1966) e Santos (1973). Outro problema paralelo a este é o da filiação dos Xokleng ao grupo Kaingang. Como os Xokleng são linguisticamente aparentados com os Kaingang (Guérios, 1945; Nimuendajú & Guérios, 1948; Henry, 1964), alguns pesquisadores optaram por considerá-los como uma subtribo Kaingang (Ploetz & Métraux, 1930; Métraux, 1963; Henry, 1964). Já outros pesquisadores (Schaden, E., 1937; Baldus, 1952; Hicks, 1966), analisando tanto a terminologia de parentesco como outros aspectos culturais de ambos os grupos, terminaram por optar pela diferenciação entre Xokleng e Kaingang. Hicks (1966: 845) chega a afirmar que "a evidência etnográfica, constituindo-se de nove ítens confirmados e uma possibilidade de contrastes culturais (...) demonstram a existência de uma diferença fundamental entre a sociedade Kaingang e a sociedade Aweikona". Também Salzano (1964) e Salzano & Sutton (1965), comparando geneticamente os grupos sangüíneos dos Xokleng e Kaingang, percebem uma diferenciação entre os dois grupos indígenas. Apesar de este problema ainda não estar definitivamente resolvido, com base nestes últimos trabalhos consideraremos os Xokleng como um grupo distinto dos Kaingang, semelhanças culturais e lingüísticas. Território Histórico Ocupado pelo Grupo 47 embora apresentem algumas O território tradicional dos Xokleng é a região de Mata Atlântica (Floresta Ombrófila Densa), localizada desde o litoral até os contrafortes do planalto sul-brasileiro, incluindo também áreas do Planalto caracterizadas pela presença de Araucária (Floresta Ombrófila Mista). Segundo território Atlântida as informações parece para coincidir formações mais com antigas, a o transição estacionais limite da sul do vegetação semideciduais, na de seu Mata região das cidades riograndenses de Torres e Osório. Nesta região Seidler (1941) conta terem freqüentemente ocorrido ataques de índios a colonos europeus ali estabelecidos, por volta de 1835. Na borda Norte do Planalto Riograndense, em áreas de Araucária, Matos (1858) "Bugres ou e Saldanha Tupis" desde (1871) a referem-se região até o à existência rio Canoas, de índios que possui nascentes no Planalto Catarinense, nos anos de 1796 e 1797. Lima (1863:52), em memória sobre a colônia paranaense de Guarapuava, datada de 1842, relata que a nação "dos Xokrens (situa-se) entre os rios Iguaçu e Uruguai", falando ainda dos freqüentes ataques ocorridos à Vila de Lages, à época de sua fundação. Sobre estes ataques também há referências em Ramos (1944), traçando assim os limites norte e oeste do território no qual existem dados sobre a presença dos Xokleng. Dentro desta área, limitada ao norte pelo Rio Iguassú, nas proximidades de Guarapuava, no Paraná, ao sul pela região de mata atlântica nas proximidades de Torres e Osório, no Rio Grande do Sul, a leste pela faixa de vegetação costeira e a oeste pelas regiões de 48 campos, próximos a Lages, é que começam a surgir notícias de ataques de índios às primeiras povoações surgidas, durante o século XVIII, ataques que vão se intensificando com o aumento do processo colonizatório. No mapa apresentado a seguir, estão localizados os ataques realizados pelos Xokleng a povoações catarinenses, entre os anos de 1834 e 1927. Para verificar os nomes das localidades e as datas dos ataques, consultar o Anexo III. Nomadismo Neste buscando território, suprir sua os Xokleng subsistência deslocavam-se através de continuamente, atividades de caça e coleta. Este nomadismo é bastante citado nos documentos históricos, que registram mesmo um "movimento pendular" entre o litoral e o planalto, com nítidas características estacionais. Segundo informações existentes nas Fallas dos Presidentes da Província de Santa Catarina, FPP-9 (1847), FPP-12 (1849), FPP-13 (1850), FPP-26 (1869), os ataques levados a efeito contra os moradores das localidades litorâneas ocorrem nos meses de verão. Estes relatos são confirmados também por outras fontes existentes a respeito de ataques realizados pelos Xokleng a localidades catarinenses, estando esta tendência ilustrada no gráfico a seguir. 49 Mapa 1 50 Segundo o relatório do Engenheiro Jacques Ouriques baseado em depoimentos de crianças Xokleng aprisionadas por bugreiros (Boiteux, 1911:71), eles: "vivem em continua emigração de serra acima para serra abaixo, conforme é tempo do pinhão na zona do Planalto ou de outros fructos nas zonas maritimas. Não só os fructos procuram, nestas correrias, como a caça que com elles apparece mais fácil e abundante". Também na FPP-47 (1911) há referência de que os Xokleng vivem em contínua movimentação ao longo da Serra Geral. Existem também indícios de que os Xokleng, em um período de tempo passado, teriam vivido em aldeias fixas no Planalto, onde praticariam a horticultura (Henry, 1941; Santos, 1973). Quanto a esta informação, além de breve nota de Entres (1929), não encontramos outros dados a respeito. Paula (1924:119) afirma que os Xokleng são "uma tribu que vive essencialmente de caça e, portanto, nômade, sempre em transito pelas florestas, á procura e persiguição da mesma". Outros autores, que citam o nomadismo dos Xokleng, são D'Almeida Coelho (1856), Tavares (1912), Entres (1929), Ploetz & Métraux (1930), Schaden, F. (1946) e Kempf (1947). O nomadismo Xokleng consistia no deslocamento de duas até oito famílias (Paula, 1924) para diferentes partes do território, buscando assim intensificar a caça e a coleta, tanto vegetal como animal. Estes pequenos bandos familiares podiam reunir-se a outros, no litoral, para realizar ataques a colonos. As FPP-29 (1872), FPP-44 (1866) e FPP-46 (1905), informam que o número de índios que participavam ataques variavam entre trinta e cinquenta indivíduos. 51 destes O grande grupo só se reunia para a festa da perfuração dos lábios das crianças do sexo masculino, uma vez ao ano. Segundo Paula (1924:128), estas festas se faziam "todos os annos em fins de dezembro ou janeiro". Durante os meses de outono e inverno (abril, maio e junho), estes grupos deslocavam-se para as matas de araucárias das bordas do Planalto meridional para a coleta do pinhão e para caçar os animais atraídos à região por estes frutos (Paula, 1924). Padrão de Assentamento Informações sobre o padrão de assentamento Xokleng nos são dadas por diversos autores: Paula (1924:121-122), afirma que: "Constroem os Botocudos seus acampamentos com ranchos de varas finas, umas fincadas ao lado das outras a pouca distancia, que são vergadas em forma de arco e presas suas pontas em uma pesada vara horizontal, geralmente fixa em duas arvores na altura de um homem. A forma do tecto é de abobada, sendo coberto por folhas de coqueiro, cahetê ou xaxim; deixam sempre um vão lateral de mais ou menos um metro sem fechar pra que possam observar também o que se passa atras do rancho, evitando assim uma possível surpreza. O fogo sembre é feito sob a parte aberta do rancho, zelando continuamente os indios para que este não se apague. Destina-se cada um destes ranchos para uma só família. Todos os demais ranchos são distribuidos regularmente em linha, agrupados parallelamente de dois a oito, formando assim o acampamento. Quando ha circunstancias que os obrigam a permanecer em um determinado ponto por maior espaço de tempo (colheitas de pinhões, festas, etc...), constróem seus ranchos com mais perfeição e capricho, em maior tamanho, ligando as coberturas de dois ranchos fronteiros, de modo que as varas arcadas de cada rancho não fiquem ligadas a uma vara horizontal, mas umas ás outras, formando então uma abobada perfeita. Nestes grandes ranchos habitam varios casaes pertencentes à 52 mesma familia, tendo para si cada casal o seu fogo, que fica situado no meio do grande rancho. Como os pequenos, também estes, á altura de aproximadamente um metro do solo, ficam abertos lateralmente. Formam-lhes o travesseiro uma larga faixa de terra que acamam no interior dos ranchos, de ambos os lados. Todo o chão dos ranchos é forrado com folhas e xaxim, sobre as quaes se deitam. Dormem os casaes parentes uns ao lado dos outros, descançando a cabeça sobre a alta faixa de terra já referida, e com os pés sempre voltados para o fogo. No tecto dos ranchos, penduram suas armas, cestos, roupas e demais utensilios sendo os pequenos objetos guardados na palha." Tavares (1910:282-283) informa que: "Poucos dias se demoram no logar onde fazem aldeamento, mas vão mudando de pouso, ao passo que lhes escasseia a caça. As palhotas são feitas de paus e cobertas de ervas, nem se incomodam a desmancha-las, quando mudam de residencia. Durante o dia espalham-se pelas mattas em procura de alimento; a noite juntam-se todos no rancho (...)". Jacques Ouriques (Boiteux, 1911:71-72) afirma que os ranchos: "São provisorios, e em logares incertos. Feitos de varas que, muitas vezes, nem cortam, contentando-se em arcal-as pelas extremidades superiores, são cobertas de palmas de jerivá, jissára, ou mesmo de ramos de arbustos. Pela disposição dos fogos, cujos vestígios se têm podido observar, costumam deitar-se com os pés voltados para o meio do rancho, ateando pequenas fogueiras nos intervalos que ficam entre as solas de duas filas de dormentes". Entres (1929), baseando-se em um informante capturado em criança pelos Xokleng, fala que em cada local de pouso, após um dia de caminhada, eram levantados os ranchos. Em locais ricos em caça, o acampamento poderia acampamento mais ficar estável, montado como por na várias ocasião semanas. das No caso de festividades de perfuração dos lábios das crianças, constituíam-se também mundéus e estacas para a defesa. 53 Ainda sobre estas estruturas de defesa, Paula (1924:123-124), afirma que os Xokleng: "Guarnecem as imediações dos seus acampamentos, quando suspeitam uma possível agressão, escavando profundos fojos até dois metros ou mais crivados de agudissimos estrepes nas paredes, e fixando ainda, no centro, uma lança (...) É tal a arte com que disfarçam estes fojos por meio de frageis varinhas, que são cobertas com folhagem, que aos próprios indios não é possivel reconhece-los sem prévia sciencia (...) Além destes fojos, são os seus acampamentos sempre guarnecidos de trincheiras construídas, como é evidente, sempre em óptimas posições." A respeito dos abrigos, Henry (1964) afirma que sua construção é trabalho basicamente feminino, embora os homens possam preparar a estrutura do rancho. Não eram feitos buracos para fixar os esteios, mas estes eram simplesmente cravados no solo. Schaden, E. (1937:25) afirma que: "faz alguns annos, tive a oportunidade de visitar, no meio da mata, um local abandonado por estes índigenas. Ele era constituído por duas cabanas e o conteúdo delas foi levado por colonizadores brancos." Schaden, F. (1946), observou que os Xokleng viviam em paraventos oblíquos, nos quais a fogueira ficava acesa continuamente. Kempf (1947:27) fala que: "de galhos, ramos e folhagens os índios constoem as suas choças que não passam de simples abrigos em forma de meia-água assentada sobre o solo na parte inferior. Estes abrigos medem aproximadamente 20 m. de comprimento. Cada família ocupa um lugar determinado. Sendo a tribo mais numerosa, fazem dois abrigos um em frente do outro na distância de mais ou menos 50 a 100 metros. Quando constroem quatro habitações a planta da aldeia assume a configuração de um quadrado retangulo. Permanecem acampados na mesma região por três meses ou mais, conforme a abundância de caça. Nas migrações as mulheres são obrigadas a carregar todos os trastes e utensílios." 54 Dall'Alba (1973) entrevistou o ex-bugreiro Ireno Pinheiro, que afirmou sobre os acampamentos Xokleng, terem os abrigos cerca de sete metros de comprimento, estando os acampamentos instalados em áreas planas. O tamanho dos ranchos variava conforme o número de índios. Dentro do abrigo, há uma fogueira no centro, deitando-se os moradores com os pés voltados para o fogo. O chão do abrigo é forrado com folhas de xaxim. Não limpam a área do acampamento. Para a construção dos abrigos, fincam varas no chão, de largura variável, vergadas e amarradas até a altura desejada. Este abrigo é coberto por palha trançada, sendo aberto em um dos lados. Segundo Henry (1964:172), na construção das casas e instalação do acampamento colaboravam tanto os homens como as mulheres. Padrão de subsistência O nomadismo estacional é uma característica essencial dos Xokleng, estando este nomadismo ligado às atividades de caça e coleta, que obrigam o grupo a um deslocamento mais ou menos constante dentro do território por eles ocupado. Chamamos este nomadismo de estacional porque o deslocamento dos grupos para áreas do litoral ou do planalto está ligado às estações do ano em que os frutos estão maduros, atraindo também as diversas espécies de mamíferos e aves que deles se alimentam. Estas atividades simultaneamente; ao de mesmo caça tempo e coleta em que geralmente o grupo de eram feitas caçadores se deslocava em busca de caça, iam coletando mel, larvas e frutos, que tanto podiam ser consumidos imediatamente como levados posteriormente 55 ao acampamento. Diversos autores tratam deste tema. Tavares (1910:278) afirma que "Os botocudos alimentam-se de caça (antas, macacos, porcos e aves) que matam à frechadas, de palmitos crús e cozidos, pinhões do Pinheiro do Paraná." Em relação à caça, os Xokleng eram caçadores generalizados, embora dessem preferência a determinadas espécies animais, como a anta (Tapirus terrestris), o caititu (Tayassu tajacu), o queixada (Tayassu pecari), o bugio (Allouata sp.) o mico (Cebus apela) e diversas espécies de cervídeos. (Paula, 1924; Henry, 1964). Entre os mamíferos, existem informações de que não caçariam o tatu (Dall'Alba, 1973) e a capivara (Kempf, 1947). Quase todas as aves seriam caçadas e consumidas, parecendo serem exceção apenas as aves aquáticas (Henry, 1964). Quanto às técnicas de caça, Paula (1924:119) afirma que, na caçada de anta, "procuram o rastro, seguindo-o depois, cautelosamente, com uma pericia inegualavel, chegando mansamente e surpreendendo a anta na "cama" onde a flecham." Uma espécie de armadilha usada para caçar antas é descrita por Entres (1929:21), como "Tranqueira de anta": Esta consistia em diversas árvores, derrubadas em ambas as margens de um rio, onde tenham sido localizadas pegadas do animal. Acossada pelos caçadores, a anta, buscando se refugiar na água, fica impedida de mergulhar devido aos galhos das árvores derrubadas, sendo então morta com flechas ou lanças. 56 Paula (1924:119) afirma que: "caçada de grande monta para elles representa a dos porcos do matto, "úgma". Além de muito apreciarem a sua carne, enthusiasma-os a espectativa de matal-os sempre em grande numero. Encontrando vestigios de porcada, seguem-os cuidadosamente até encontral-os, atacando-os. Feito isto, em se tratando de uma grande manada, os indios, com mulheres, creanças e tudo que lhes pertence, seguem-n'a ás vezes muitas semanas consecutivas. Atacam os porcos sempre que podem, matando sempre tanto quanto lhes é possível". Segundo o mesmo autor, os cervídeos são caçados de maneira análoga às antas, enquanto que onças são caçadas no chão, com lanças ou flechas. Os micos e bugios, também muito apreciados, eram caçados com flechas. A este respeito Henry (1964) afirma que a técnica preferida dos Xokleng era perseguir a caça até acuá-la, sendo então abatida a flechadas ou, mais raramente, a golpes de lanças ou bordunas. A caça preferida era a anta, seguida por cervídeos, queixadas, caititus e macacos e outros animais de pequeno porte. As aves eram objeto de caça intensa e generalizada. A caça é uma atividade essencialmente masculina, embora em caso de ausência dos homens, as mulheres possam preparar armadilhas para capturar atividade pequenos animais (Paula, tanto comunitária como 1924). A individual. caça No podia ser primeiro uma caso, normalmente o grupo de caçadores era composto por parentes e afins (Henry, 1964). Um item importante de coleta é o mel. Para sua extração, subiam na árvore, onde se localizava a colméia, com a ajuda de laçadas feitas 57 com taquara trançada, passadas à altura do peito e nos pés, com a qual escalavam o tronco. Chegando ao local da colméia, escavavam o tronco, retirando os favos. Tanto o mel como as larvas e crisálidas eram consumidas, sendo ainda a cera armazenada para a confecção de artefatos e impermeabilização de cestos (Paula, 1924). Também eram coletadas e consumidas larvas e crisálidas de vespa, assim como as larvas dos coleópteros conhecidos como "bicho-de-pau", que tanto podiam ser comidas ao natural como assadas ou cozidas em um recipiente de bambu (Paula, 1924). Outros autores que se referem à importância dos insetos na alimentação dos Xokleng são Entres (1929), Schaden, E. (1937), Kempf (1947), Henry (1964) e Dall'Alba (1973). Segundo Henry (1964), a coleta de mel era praticada por ambos os sexos, havendo porém um predomínio dos homens na atividade, que também podia ser tanto comunitária como individual. Em relação aos recursos vegetais, a coleta de pinhão é a que possuía maior importância para a subsistência do grupo. Segundo Paula (1924:120-121): "Nos mezes de abril, maio e junho seguem, em grupos, para a região dos pinheiraes. Escalam ahi os pinheiros por meio de uma peia e de uma laçada feita de trama de taquara, que passam pelo tronco do pinheiro. Enfia-se o índio na laçada, que passa por debaixo dos braços, e contra a qual firma o corpo, apoiando os pés contra o pinheiro, ligados pela peia. Deste modo alternativamente, ora firme nos pés levanta a laçada, ora firme na laçada erque os pés e com rapidez e destreza admiraveis escalam o tronco erecto da Araucaria até a sua copa. Ahi avançam pelos galhos e agitando-os fortemente fazem cahir as pinhas." Este mesmo processo é citado por Henry (1964) e Kühne (1980). 58 Segundo Henry (1964), a coleta do pinhão era uma atividade tanto comunitária como individual, da qual participavam ambos os sexos. Já a coleta de outros frutos era atividade individual, e embora exercida por ambos os sexos, parece ter havido um predomínio feminino nesta atividade (Henry, 1964). Quanto à coleta do palmito, não temos dados a respeito, embora pareça ser uma atividade masculina, já que envolve a derrubada do palmiteiro. Preparação e Consumo de Alimentos Segundo (Henry, 1964), as atividades de preparação dos alimentos eram individuais e exclusivamente femininas. A caça podia ser preparada de várias maneiras; no caso de animais de médio ou grande porte, usavam uma espécie de "forno subterrâneo", descrito por Aubé (1947:46) como um buraco aberto no solo com duas pedras antecipadamente aquecidas sobre as quais a caça é posta, sendo depois recobertas de terra e uma fogueira acendida sobre o conjunto. Outra descrição mais detalhada da mesma estrutura culinária é a de Paula (1924:120), onde este autor afirma que os Xokleng: "Assam a carne fazendo um largo buraco na terra, o qual forram com pedras do rio, fazendo sobre ellas um fogo durante muito tempo, até que as mesmas se tornam rubras de calor. Retiram em seguida os restos do fogo, forrando as pedras, no interior do buraco, com pedaços de madeira e folhas de palmeira (ndótoiò), sobre as quaes collocam então os pedaços de carne, com o couro. Cobrem tudo com outra camada de folhas de palmeira, sobre a qual depositam uma expessa camada de terra. Cosinha-se deste modo a carne lentamente, durante mais ou menos 12 horas, sendo notável o sabor que por este processo adquire." 59 Um método distinto de assar a caça é descrito por Henry (1964:163), em que "uma estrutura de ramos é erguida, o fogo é feito sob ela e a comida posta em cima para assar". Outras descrições semelhantes podem ser conferida em Kempf (1947), Schaden, E. (1937) e Henry (1964). Ainda segundo Henry (1964:163), os animais de pequeno porte podiam ser assados em espetos. Durante os meses de outono e inverno, os pinhões tornam-se um ítem importante na dieta Xokleng. Henry (1964), que teve oportunidade de observar o grupo durante este momento, afirma que é época de fartura para o grupo. Além do pinhão frutificam outras espécies que atraem a fauna, principalmente as antas, que, por estarem em gestação, tornam-se lentas. Também a coleta de mel é mais abundante. Paula (1924:121) descreve os métodos de conservação e preparação do pinhão da seguinte maneira: "Os pinhões são simplesmente tostados ao fogo e triturados depois em pilões, reduzidos assim a uma verdadeira massa, com a qual preparam um caldo cozido com água. Fazem também da mesma massa pequenos bolos, de forma redonda e chata, do tamanho de um pires, que são depois assados sobre brazas. Não podendo conservar os pinhões por muito tempo frescos, pois que bicham mui facilmente, usam o seguinte processo: enchem com pinhões cestos apropriados e previamente forrados com folhas de cacto (caeté?), perfeitamente tampados. Estes cestos são immersos nas aguas de pequenos corregos em logares para isto escolhidos. Ahi permanecem estes cestos durante um mez e meio e tornam-se os pinhões perfeitamente cortidos, conservando suas qualidades alimenticias por um longo espaço de tempo (...) Principalmente deste pinhão cortido é que fazem suas sopas e bolos, como acima foi explicado." Outro método de preparação do pinhão, segundo o seguinte: 60 Henry (1964:163) é "As mulheres preparam sopa de pinhão. A mulher masca a polpa crua do pinhão, misturam com água e a cozinham. Algumas vezes (as sementes) são trituradas, a maneira usual de comer pinhão é assado com casca nas brasas". Outros autores que se referem a estes processos, com pequenas variações, são Entres (1929), Kempf (1947), Dall'Alba (1973) e Kuhne (1980). Os palmitos, segundo Henry (1963:163), podiam ser consumidos cozidos ou crús. Henry (1964:163), descreve ainda um alimento preparado a partir de uma palmeira que não conseguimos identificar. Segundo a descrição do autor: "Këme é feito do miolo do Tronco de certa palmeira. As folhas são postas no chão, com um pano sobre elas. O tronco é cortado verticalmente em tiras; após, é posto sobre um cepo e amassado com um pau. A massa é peneirada em um cesto e introduzida em um tubo de bambú, sendo cozida nas brasas por cinco a dez minutos. Após, a massa é retirada do tubo e transformada em bolas ou bolachas, que são assadas nas brasas." Os Xockleng preparavam também uma bebida fermentada, consumida pelo grupo por ocasião da festa de perfuração dos lábios dos meninos. Segundo Paula (1924:128), esta bebida era preparada a partir de água, mel, seiva de xaxim (Dicksonya sp.) e palmáceas. Os ingredientes eram misturados em grandes cochos de cedro (Cedrella sp.) cobertos, sendo deixadas e fermentados por duas semanas. Após este tempo, a mistura era aquecida com pedras incandescentes para apressar a fermentação durante três dias, sendo deixada repousando por outros três dias mais. Decorrido este prazo, estava pronta para o consumo. Organização Social 61 A questão da organização social dos Xokleng até hoje não está esclarecida devido tradicional do pesquisas a grupo. sistemáticas escassez Quando sobre de dados Henry o sobre (1964) grupo em o modo realizou 1930, este as já de vida primeiras estava em adiantado grau de contato com a sociedade nacional, tendo ainda suas estruturas sociais abaladas por décadas de ataques e perseguições levadas a cabo pelos brancos que colonizavam o seu território. Portanto os dados obtidos por este pesquisador durante sua convivência com este grupo indígena não espelham necessariamente a sociedade tradicional Xokleng, mas, conforme salienta Santos (1973), refletem a situação do grupo indígena tentando se adaptar a novas e traumáticas situações. Discutindo a organização social dos Xokleng a partir dos dados obtidos por Henry (1964) e por suas próprias pesquisas de campo, Santos (1973:218-219) afirma que, devido às pressões já referidas, o grupo apresentava todas as formas conhecidas de matrimônio, incluindo possivelmente o casamento conjunto, não possuindo porém regras claras a respeito da fixação de residência ou princípios claros a respeito da descendência. Baseado em Murdock (1965), Santos (1973) acredita que os Xokleng possuiriam unidades de parentesco tipo Deme, caracterizadas por uma comunidade local endogâmica, onde a forma de identificação dos inivíduos pertencentes ao grupo se dá através da consangüinidade. Possivelmente, no passado, teriam existido cinco grupos exogâmicos entre os Xokleng, identificados através de padrões de pintura corporal e de nomes próprios exclusivos. 62 O sistema de nomeação possivelmente refletiria a estrutura básica da sociedade Xokleng já que "através dele é que o indivíduo ingressa no grupo e obtem uma posição social determinada" (Santos, 1973:223). Outro fato percebido é que esta organização social seria bilateral, vinculando os indivíduos tanto aos parentes paternos como maternos, criando assim um padrão de residência bilocal. Ainda segundo Santos (1973), outras especulações a este respeito são dificultadas pela falta de dados, já que o grupo não chegou a ser estudado enquanto sua estrutura social tradicional ainda estava em funcionamento. A respeito da organização política, parece que a liderança entre os Xokleng era do tipo carismático, sendo os requisitos exigidos de um lider ser um guerreiro adulto, prudente e bom caçador. Apesar de comandar o grupo em ataques ou caçadas, a decisão a respeito destas atividades era obtida através do consenso dos membros masculinos adultos do grupo. Vida e Morte Os principais fatos da vida Xokleng consistiam no nascimento, nas cerimônias de perfuração de lábios e na de cremação dos mortos, que envolviam cerimoniais mais ou menos elaborados, envolvendo desde o grupo familiar até a totalidade do grupo tribal. Quando uma criança nascia, segundo Henry (1964), a placenta e o cordão umbilical eram esfregados com ervas e postos em um cesto, que seria colocado ocultamente pelo irmão da mãe dentro de um curso d'água. O irmão da mãe e sua esposa tornavam-se, neste momento, os 63 pais cerimoniais da criança. A seguir, os tornozelos desta eram envolvidos com vinte voltas de cordel, que serão conservados por cerca de duas semanas, quando então a criança receberá seu primeiro alimento cozido. Para esta cerimônia, o pai da criança sai à caça com seu cunhado (pai cerimonial da criança) por vários dias, até conseguir uma quantidade adequada de caça para a realização de uma festa. Para esta festa, a mãe cerimonial convidida parentes e conhecidos que estejam próximos. Durante a festa, enquanto os convidados comem, o pai da criança retira os cordéis que envolviam os tornozelos desta que, envolvidos com o cordão umbilical que restava aderido à mãe e com ervas, são lançados em um curso d'água. É neste momento que a criança recebe seu nome, durando a cerimônia, de acordo com a quantidade de alimento, de meia a uma hora. A festa (1964), de seria a perfuração principal dos lábios cerimônia dos dos meninos, Xokleng, segundo para a Henry qual se reuniriam os membros de uma família extensa. Descrevendo esta cerimônia, Paula (1924:129) afirma que para a sua realização uma grande área circular é limpa, sendo construídos em sua periferia pequenos abrigos. No centro é acesa uma fogueira, em torno da qual os homens iniciam uma dança, percutindo os cabos das lanças no solo. As mulheres os seguem, acompanhando o ritmo com chocalhos. Durante estas danças, é consumida grande quantidade de bebida alcoólica, sendo também as crianças obrigadas a beber até a insensibilidade. Para aumentar o efeito da bebida, estas são ainda sacudidas e arremessadas de uma pessoa a outra. É neste estágio que os lábios são perfurados, sendo introduzido no orifício um pequeno labrete de madeira. As meninas não tinham o lábio perfurado, mas 64 sofriam duas incisões na perna esquerda, abaixo da rótula. Após a perfuração dos lábios o consumo de bebidas continuava, realizando-se também jogos e danças. Henry (1964), que teve a oportunidade de observar esta cerimônia, descreve-a de maneira similar, acrescentando que a mãe cerimonial era a responsável pela perfuração do lábio do menino, sendo este seguro pela avó. Cabe dizer que, como este autor assistiu à perfuração do lábio de um único menino, não pode confirmar a observação de Paula a respeito das incisões nas pernas das meninas. Poucas referências temos a respeito de doenças entre os Xokleng, a não ser sobre as doenças introduzidas na época do contato e que causaram grande mortandade ao grupo. Segundo Paula (1924:119), o problema de saúde mais comum eram a cárie dentária, que atacava tanto crianças como adultos. Outro problema observado era o reumatismo, tanto articular como muscular. Paula (1924:127), referindo-se aos métodos usados no tratamento das doenças, afirma que: "empregam o succo de differentes plantas, sendo o seu uso quasi sempre externo, em fricções e massagens; usam tambem algumas materias organicas, como o buxo de veado, etc. É seu habito atar fortemente as partes doloridas do corpo, não só nos casos de accidentes ophidicos, como nos de outra qualquer molestia". O uso de folhas de plantas, esmagadas ou não, em rituais de purificação ou para tratamento de ferimentos também está documentado por Henry (1964). O melhor documento sobre os ritos mortuários dos Xokleng é o depoimento do índio Vamblé, transcrito por Henry (1964). Segundo este, 65 o morto era envolvido em um cobertor, com seu arco e flechas próximos. O encordoamento do arco é cortado e este, juntamente com as flechas, é quebrado e o conjunto é amarrado com os restos do encordoamento. Em um local preparado, são empilhados pedaços de madeira até a altura da cintura de um homem e sobre esta estrutura é depositado o cadáver com seus objetos pessoais. O morto é orientado com a cabeça para oeste e em suas mãos são postas oferendas de mel e carne assada. A seguir o cadaver é recoberto com madeira até a pilha alcançar a altura de um homem, sendo o conjunto escorado com estacas para não desmoronar. Após acender a pira com um bambú incandescente, as pessoas se retiram, voltando um dia depois. Caso o cadáver não esteja completamente cremado, o processo é repetido. Quando os ossos estão calcinados, são recolhidos em um cesto forrado com folhas de xaxim e trasportado em uma padiola para o local de enterramento, que consiste em uma área limpa de vegetação com uma cova em seu centro. Os cestos com os restos da cremação são ali depositados e enterrados. Sobre este local o cônjuge sobrevivente constrói um pequeno abrigo. Vasconcellos (1912:19), que teve oportunidade de observar estas estruturas funerárias, afirma que: "Nos cemiterios destes selvagens não se pode conseguir craneos e ossos, visto o uso que elles fazem da cremação dos corpos, não só daquelles que morrem pacificamente no seio da tribu, como tambem dos que são mortos nos ataques e ficam no campo inimigo; pois os que escapam pela fuga, voltam mais tarde para conduzir os corpos dos seus. As sepulturas em que depositam as cinzas de cada corpo que cremam consistem em buracos feitos cuidadosamente na terra, com a forma de uma panella de barro; e conforme a cathegoria do morto dão maior ou menor altura na terra que elevam os mesmos buracos, cujo diametro na parte superior é 0,30 c, o do bojo de 0,50 c e de altura 0,56 c; tendo o monte que elevam a forma de um côno truncado com a altura variavel de 0,50 c a 0,60 c, sendo estas as dos caciques". 66 Descrições semelhantes podem ser encontradas em Tavares (1910), Boiteux (1911), Paula (1924) e Kempf (1947). Segundo Henry (1924), toda uma série de rituais de purificação eram observados pelo grupo, principalmente pelo cônjuge do falecido. O cônjuge tinha que se afastar do acampamento e se alimentar unicamente de mel e vegetais, evitando carne e alimentos cozidos. Ao fim de cerca de três semanas poderia voltar ao acampamento, sendo então realizada uma cerimônia com consumo de carne e bebida alcoólica, ao fim da qual o cabelo e as unhas do cônjuge eram cortados. Segundo o autor, estes rituais eram realizados para afastar a ameaça do espírito do morto. 67 II. Produção Artesanal A bibliografia sobre os Xokleng fornece grande quantidade de dados sobre a produção artesanal do grupo, principalmente no que se refere à cestaria e ao armamento. Estes dados foram por nós classificados de acordo com o esquema proposto por Ribeiro (1988), do mesmo modo que instituições o do material Estado de etnológico Santa existente Catarina, nas cuja coleções de classificação e descrição se encontram nos anexos I, II e III deste trabalho. Para os artefatos que se encontram descritos, tanto neste capítulo quanto nos anexos, optamos por assinalá-los com um asterisco, encaminhando assim o leitor aos anexos quando deseja uma complementação dos dados a respeito destes artefatos. Oferecemos primeiro os dados fornecidos pelos autores, que escreveram sobre os Xokleng. Depois descrevemos o que nós estudamos nas coleções. O que dizem os autores: 1 Utensílios e Implementos Ligados às Atividades de Subsistência, Conforto Doméstico e Pessoal, Transporte 1.1 Utensílios para o preparo, consumo e armazenagem de alimentos 1.1.1 Trançados para guarda e serviço de alimentos, transporte Dentro desta categoria enquadra-se a cestaria Xokleng, cujos métodos de manufatura estão descritos em detalhes nos anexos I, II e III. Sobre a utilização destes artefatos, Paula (1924:125) afirma que: "...os seus grandes cestos (...) para carga, bem como os menores, encerados, para água, e os pequenos, também encerados, para diversos fins, são todos trançados de taquara mansa, variando apenas a largura que a racham. Servem-se dos cestos maiores, encerados, para o transporte do mel e da água, representando, por conseguinte, uma espécie de "balde". Os cestos pequenos, também impermeaveis, servem-lhes como vasilias, especie de canecas, para água e para tomar "mong-ma", por ocasião de suas festas". Henry (1964:170) percebe duas espécies de cestos, uma usada no transporte de líquidos, impermeabilizada com cera, e outra, utilizada para o transporte tamanhos dos de bens, cestos menos elaborada impermeabilizados que variavam, os primeiros. havendo Os desde pequenos copos até cestos que podiam conter muitos galões de água ou mel. Ainda, segundo este autor (Henry, 1964:170): "... qualquer homem faz seus cestos impermeabilizados conforme lhe seja necessário, mas os grandes cestos-cargueiros são trançados por um grupo de homens apenas antes do início da coleta do pinhão". O Autor ainda afirma que a confecção dos cestos é tarefa individual e masculina. Outras descrições semelhantes podem ser encontradas em Schaden, E. (1937), Kempf (1947), Dall'Alba (1973), Santos (1973) e Sullivan & Moore (1990). Marzano (1904) reproduz uma fotografia, onde podem ser observados diversos exemplares de cestaria. 1.1.2 Utensílios de madeira para o preparo dos alimentos Pilões e mãos de pilão Pilões de madeira, segundo Henry (1964:170), eram feitos tanto de árvores caídas, como de árvores derrubadas para este propósito, sendo às vezes simplesmente um pedaço do tronco com uma cavidade. Eram, geralmente, de tamanho pequeno, sendo normalmente abandonados nos acampamentos durante as mudanças. As mãos de pilão eram feitas tanto de madeira como de pedra polida. 69 A manufatura dos pilões era individual e masculina, enquanto que as mão de pilão podiam ser confeccionadas por ambos os sexos. Outras referências podem ser encontradas em Dall'Alba (1973) e em Sullivan & Moore (1990). Referências a "copos" feitos (Guadua sp.), usados tanto como de secções de caule de Taquaruçu pilões como para aquecer água ou preparar alimentos, existem em Schaden, E. (1973) e em Kempf (1947). Pau-Ignífero Este artefato usado para obter fogo consistia, segundo Paula (1924:124), em um pedaço de madeira mole, firmado pelos pés, com um orifício no centro, no qual é inserida a extremidade de uma vareta de madeira dura. Friccionado este através de um contínuo movimento giratório obtido com as mãos, o pó que esta fricção provoca inflamase, sendo esta chama aumentada com fragmentos de madeira. Referindo-se à confecção e utilização do pau-ignífero, Henry (1964:164) afirma que: "...cortam um pedaço de canela branca seca de 2,54 cm de espessura, 5,8 cm de largura e 60,96 cm de comprimento e fazem um buraco no meio, com 2,54 cm de profundidade, com um corte raso em um dos lados (...) que chega até um dos lados do bastão. Eles também cortam um ramo pequeno de 0,63 cm de espessura e 45,72 cm de comprimento; esta é a broca. O índio cospe nas mãos, põe a broca no buraco e começa a girá-la rapidamente entre as duas palmas (...) Após 10 minutos, ainda não há fogo, então ele chama outro índio e se alternam a girar a broca. Com cinco minutos mais, um pouco de fumaça do buraco ergue suas esperanças. Ele retira a broca e olha: não há brasa. Por cinco minutos mais ele atrita, e a brasa surge. Algumas vezes a brasa aparece na ponta da broca, em outras surge na face do buraco. Então a broca é coberta com algumas folhas secas de palmeira e ele sopra até que as folhas se inflamem". 70 Referências similares podem ser encontradas em Tavares (1910), Kempf (1947) e em Sullivan & Moore (1990). Pinças Estes artefatos são utilizados para retirar alimentos e objetos do fogo. Paula (1924:125) afirma que: "...usam estes índios grandes pinças, feitas de taquarasú; em falta desta, fazem-nas também de madeira rija, com as quaes tiram os alimentos do fogo e das panelas quando em estado de ebulição". Sullivan & Moore (1990) afirmam que estas pinças podem ser feitas de bambu ou cutia (Esembeckia grandiflora), sendo que para a sua confecção, "... a madeira é aquecida sobre o fogo, sendo esfregada cera no local da dobradura. A cera e o calor combinados permitem que a madeira seja dobrada lentamente para dentro sem quebrar (...). As pinças de madeira e bambu ainda estão em uso e são tradicionalmente feitas pelos homens. Cada família possui duas a três em uso ao mesmo tempo" (Sullivan & Moore, 1990:40). Cochos para fermentação de bebida Usados para a preparação da bebida alcoólica consumida durante a festa de perfuração dos lábios dos meninos, seu método de manufatura é descrito da seguinte maneira por Paula (1924:128). "...escolhem para isso grossos troncos de velhos cedros, que são derrubados e atorados no comprimento de um metro e cincoenta a dois metros. Depois descascamnos convenientemente, abrindo, em seguida, uma fenda logitudinal de dezoito a vinte centímetros de largura, pela qual excavam o tronco completamente, deixando-o inteiramente ôco, com paredes lateraes de tres a quatro centimetros sómente de expessura, tendo as cabeças do cocho a expessura de oito a dez centimetros. Servem-se para este trabalho, além do fogo, de uma espécie de formões, que antigamente eram feitos de pedra e que hoje fazem de ferro. Cuidadosamente completada a excavação, são as duas partes em que o tronco foi atorado bem 71 enceradas com uma grossa perfeitamente impermeaveis." camada, que as torna Descrições semelhantes podem ser conferidas em Henry (1964) e em Sullivan & Moore (1990). 1.1.3 Cerâmica A cerâmica tradicional dos Xokleng é pouco estudada, sendo que os poucos exemplares datados da época do contato com a sociedade nacional estão dispersos por diversas coleções, tanto de instituições de pesquisa como particulares. Os vasilhames que pudemos observar são de pequenas dimensões e em forma de meia-calota ou cônicos, de cor preta brunidos, produzidos por acordelamento e com borda reta ou extrovertida. Segundo Paula (1924:127): "...usavam, antigamente, varios objectos feitos de barro cosido, taes como panellas de varios tamanhos e feitios e pequenos vasos de differentes fôrmas, que lhes serviam para o preparo e cosimento de suas comidas". Descrevendo as técnicas de confecção dos artefatos cerâmicos, Sullivan & Moore (1990:41-42) contam que: "...a argila é misturada com o tempero de carvão fino da árvore Klagñu queimada. O uso do carvão como tempero e a exposição dos potes à fumaça antes de queima produz a cor negra característica. Tijelas (bowls) são feitas pela mão (...). A base é modelada com os dedos e as paredes são construídas pela adição de roletes de argila, que são esmagados e afinados com os dedos, por um pedaço de madeira ou concha. O interior é limpo com Kopã e a superfície externa é polida e brunida com uma pedra redonda. Os potes são postos no sol. São normalmente polidos e secos quatro ou mais vezes. Quando os potes secaram ao ar livre, a mulher faz um forte fogo, pondo-os próximos e girando-os lentamente para que sequem de maneira uniforme e não quebrem. Quando estão completamente secos, são cobertos por achas de lenha e aquecidos ao rubro. Após a queima e enquanto o pote está suficientemente quente é removido com pinça e sua face externa é esfregada com cera de abelha. O processo leva aproximadamente três dias." 72 Segundo Henry (1964:172-173): "...a única indústria importante controlada pelas mulheres era a cerâmica, e com os ataques aos brasileiros fazendo surgir novas técnicas econômicas, o papel da mulher na economia Kaingang tornou-se insignificante". Outras referências a respeito existem em Dall'Alba (1973), Santos e Kempf (1947), sendo porém esta última fonte pouco confiável. 1.2 Armas para a obtenção de produtos de caça e para guerra e defesa 1.2.1 Armas de arremesso complexas. Arcos Os grandes arcos Xokleng, de seção circular e tamanho em torno de 2 metros "cablejuna" eram feitos, (Cabriúva, segundo Henry Myrocarpus (1964:166), frondosus), de cortada e madeira de aberta em pedaços com cunhas. O pedaço escolhido era desbastado com um machado e ambas as extremidades apontadas à faca. Depois, a madeira era aquecida no fogo, encerada e novamente aquecida, sendo a curvatura das pontas obtida prendendo-se o arco em forquilhas e estacas de madeira na posição apropriada. Depois de o arco tomar a forma desjada com a fricção de folhas de embaúba (Cecropia sp.). O uso de seções circulares de caudas de mamíferos como decoração no corpo do arco, costume este abandonado após a pacificação, é citado por Henry (1964). Informações concordantes, embora menos detalhadas, são encontradas em Paula (1924), Entres (1929), Ploétz & Métraux (1930), Schaden, E. (1937), Kempf (1947), Métraux (1963) e Dall'Alba (1973). Sullivan & Moore (1990:31), afirmam também que, antes do contato com a sociedade nacional, os arcos eram desbastados com arenito e lascas de sílex. Os arcos mediam cerca de dois metros, possuindo as 73 extremidades levemente curvadas e com cordéis de embira enrolados, para a fixação do encordoamento. As mulheres fiavam a corda dos arcos para seus maridos e parentes, sendo usadas fibras de urtiga (Urera sp.) ou Tucum (Bactris sp.). Flechas Segundo Henry (1964:167), as flechas Xokleng eram feitas a partir de hastes de bambu (Merostachys sp. ou Olira sp.) cortadas verdes, sendo suas curvaturas naturais retificadas através do aquecimento. As flechas com ponta de madeira farpada são mais longas, sendo estas pontas endurecidas no fogo. As pontas eram inseridas nas hastes de bambu e fixadas com cipó e cera de abelha. A Emplumação era feita com penas de Jacutinga (Penelope sp.). De acordo com Sullivan & Moore (1990:32): "A Haste da flecha Xokleng é geralmente feita de bambu (...). O bambu verde é aquecido ao fogo e endireitado para que as flechas fiquem retas. Quando o bambu é inexistente, é usada a madeira de cutia. O final da haste que prenderá a flecha é rachado e esfregado com cera de abelha. A ponta é inserida na rachadura e finalmente envolvida com faixas enceradas de embira". Segundo Paula (1924:123), as flechas com pontas de ferro eram usadas para a guerra, as com pontas de madeira farpada para a caça e as com pontas-virote para abater aves. Existem algumas referências ao uso, pelos Xokleng, de flechas com pontas líticas: Entres (1927), Schaden, E. (1937) e Dall'Alba (1973). Devido à precariedade destas informações, não sabemos afirmar se a técnica de lascamento, porventura existente no grupo antes do contato, tenha desaparecido com a introdução de artefatos de metal ou se os observadores associaram de maneira aleatória a presença de pontas 74 líticas. A que nós encontramos nas coleções pesquisadas (vide Anexo II) sugere, mas não confirma, a primeira hipótese. Outras informações semelhantes podem ser verificadas em Tavares (1910), Boiteaux (1911), Vasconcellos (1912), Ploetz & Métraux (1930), Schaden, E. (1937), Schaden, F. (1946), Kempf (1947), Métraux (1963), Dall'Alba (1973) e em Sullivan & Moore (1990). 1.2.2 Armas de arremesso simples Lanças As Lanças Xokleng, usadas tanto para a caça de grande porte como na guerra, possuíam, segundo Paula (1924:123), uma lâmina de 30 a 40 centímetros de comprimento por dez a doze centímentros de largura, sendo esta fixada em uma haste que era decorada com cestaria junto ao engate da lâmina. A haste da lança poderia ainda apresentar pirogravuras. Henry (1964:168), falando sobre a confecção das lanças, afirma que a lâmina é feita aquecendo-se e martelando-se o ferro com pedras, sendo, depois de afiada, fixada em um cabo de madeira com seção prismática com as mesmas técnicas de fixação usadas para as pontas de flecha de ferro. Sua confecção é atividade masculina, geralmente comunitária. Descrições semelhantes são encontradas em Schaden, E. (1937), Schaden, F. (1946), Métraux (1963) e em Sullivan & Moore (1990). 1.2.3 Armas contundentes ou de choque Bordunas. Arma de uso preferido durante os ataques, Paula (1924:123) a descreve como possuindo um metro e meio de comprimento e corpo de seção losangular, mais largo em uma das extremidades, afinando progressivamente até a empunhadura, roliça, que às vezes apresentava 75 gravuras pirogravadas. Sullivan & Moore (1990) afirmam ainda que estas bordunas eram feitas da mesma madeira que as lanças, podendo ser decoradas com desenhos geométricos pintados em vermelho ou por seções de cestaria. Outra descrição deste artefato foi feita por Tavares (1910), que ganhou em Florianópolis uma destas bordunas, confeccionadas em rabode-macaco (Lonchocarpus leucanthus) e medindo 150 centímetros de comprimento, possuindo seção prismática e apresentando pirogravuras. Referências semelhantes podem ser encontradas em Boiteux (1911), Vasconcellos (1912), Entres (1929) e Métraux (1963). 1.3 Utensílios para o transporte por terra de crianças e carga Tipóia trançada As tipóias trançadas dos Xokleng, segundo Paula (1924:125), eram feitas de líber de embira (Daphnopsis racemosa) e utilizadas para o transporte doméstica, de crianças, durante as de alimentos mudanças de coletados acampamento. ou Outras da bagagem referências similares às tipóias trançadas existem em Schaden, E. (1937), Métraux (1963) e Sullivan & Moore (1990). 2 Adornos e objetos de uso pessoal 2.1 Adornos do tronco 2.1.1 Adornos de cordame do tronco Cintos Estes cintos, de uso masculino, são descritos por Paula (1924:122) mais como um adorno que uma tanga, sendo trançados com casca de imbé (Philodendron sp.), que lhes dá a cor escura, ou com fibras de palmáceas, tendo então cor clara. Sullivan & Moore (1990:46) afirmam que estes cintos de cordões são símbolo de masculinidade, sendo usados para amarrar a glande do pênis. Eram feitos de casca de imbé ou fibra fiadas, sendo o conjunto 76 de fios amarrado equidistantemente, podendo ter várias cores de fios. As crianças recebiam seus cintos fiados por seus pais, após a cerimônia de perfuração dos lábios. Para evitar que os cintos de cordões apodrecessem e rompessem, eram retirados durante o banho e, em caso de chuva, eram enrolados em folhas e levados pendurados às costas. Outras referências aos cintos de cordões existem em Schaden, E. (1937) e em Dall'Alba (1973). 2.1.2 Adornos de materiais ecléticos do tronco Colares Segundo Paula (1924:123), os colares usados pelos Xokleng eram feitos, antes do contato, com sementes e dentes, cascos, garras de diversos aniamis. Após o contato, foram incorporados aos colares "argolas de arreio, fivelas, passadores, botões, partes de mechanismos de relógios (...), moedas, cartuchos detonados ou não, etc..." (Paula, 1924:123). Sullivan & Moore (1990:45) afirmam que, antes de 1920, os colares eram usados diagonalmente no tronco, sendo feitos de dentes de macaco perfurados, sementes, cascos de veados com padrões incisos, ossos de aves e garras de mamíferos e aves. Após o contato, começaram a ser incluídos os mais diversos artefatos de metal, vidro ou cerâmica. Dados semelhantes aparecem em Schaden, E. (1937), Schaden, F. (1946), Métraux (1963), e Dall'Alba (1973). 2.1.3 Adornos de materiais ecléticos da cabeça Labrete Entre masculino. os Xokleng, Segundo os labretes Henry eram um (1964:171), adorno essencialmente eram confeccionados preferencialmente em madeira (nó de pinho), às vezes tembém em ossos de cervídeo ou gado. A variação nas formas, segundo o mesmo autor, era 77 grande e estava relacionada com a filiação dos indivíduos com suas famílias extensas. O labrete Xokleng consistia, segundo Sullivan & Moore (1990), de duas formas básicas: uma com haste reta e base oval e outra com haste serrilhada e base também oval. Ambas podiam medir até 8 centímetros de comprimento, podendo apresentar também decoração em pirogravura. Ainda conforme Sullivan & Moore (1990:45), "a base de superfície oval do labrete era colocada na superfície interna do lábio com a haste saindo através do orifício labial". Outras descrições, e notícias semelhantes, a respeito do uso dos labretes podem ser conferidos em Tavares (1910), Boiteux (1911), Entres (1929), Schaden, E. (1937), Ploetz & Métraux (1930), Schaden, F. (1946), Kempf (1947), Métraux (1963), Dall'Alba (1973) e Santos (1973). 2.2 Indumentária e arranjos de decoro 2.2.1 Tratamento do corpo Perfurador de Lábio São poucas as referências existentes sobre estes artefatos na bibliografia. Paula (1924:129) o descreve como sendo feito de madeira endurecida ao fogo e Sullivan & Moore (1990:46) afirmam que este artefato é feito de bambu, sendo decorado com pirogravuras semelhantes aos motivos de cestaria fixados nos cabos das lanças. A terminação destes perfuradores era em ponta afiada. Há referências ao uso dos perfuradores de lábios também em Entres (1929) e em Santos (1973). 2.2.2 Objetos trançados Saia cobertor Segundo Paula (1924:125), as saias-cobertor (chamamo-las desta maneira por servirem a esta dupla finalidade) eram tecidas com cordéis fiados a partir da fibra de urtiga-brava 78 (Urera sp.). Para a preparação destas, o caule da planta era esmagado com bastões de madeira, macerado em água, novamente batido para retirar a parte lenhosa, seco e fiado pelas mulheres sobre a coxa. Este autor referese ainda a um tear primitivo que seria usado para entretrançar os cordéis, formando assim a saia-cobertor. A esse respeito, Santos (1973) diz que as saias-cobertor eram entretrançadas à mão, sem o auxílio deste tear. Sullivan & Moore (1990:47) dizem que estas saias-cobertor teriam dimensões em torno de 115 por 150 centímetros, sendo usadas pelas mulheres, enroladas em torno da cintura. Santos (1973) detalha que eram usadas enroladas abaixo dos seios chegando até o joelho. Em noites frias serviam para cobrir e aquecer toda a família. Outras referências sobre as saias-cobertor existem em Tavares (1910) e Kempf (1947). 3 Artefatos rituais, mágicos e lúdicos 3.1 Instrumentos musicais 3.1.1 Idiofones Chocalho globular Segundo Sullivan & Moore (1990:49), os chocalhos Xokleng, usados durante os elaboração, rituais uma de cabaça morte, madura são feitos pelos (Crescentia sp.) é homens. seca ao Na sua sol por aproximadamente uma semana, tendo depois as sementes retiradas por um orifício; é deixada na água por um ou dois dias e sofrendo depois a limpeza da parte interna. Após nova secagem ao sol, outro orifício, oposto ao aberto anteriormente, é feito, e uma vara de bambú é encaixada através de ambos. Antes da fixação definitiva desta vara, sementes de Caeté (Heliconia sp.) são introduzidas na cabaça. A haste 79 é inserida de maneira a uma ponta projetar-se na parte superior, sendo então fixada com cordéis encerados. A decoração era feita com anéis de penas amarrados com casca de imbé, podendo possuir ainda longos cordéis fixados ao cabo para o transporte. Quando rachadas durante a fabricação, as cabaças podiam ser coladas com cera de abelha. Outras referências a este instrumento podem ser encontradas em Henry (1964) e Santos (1973). 3.2 Artefatos rituais de materiais ecléticos 3.2.1 Artefatos de dança de materiais ecléticos Ornamento de dança "Lú" Este artefato, segundo Sullivan & Moore (1990), é usado durante a cerimônia de perfuração dos lábios dos meninos, sendo confeccionado pelas mulheres. Trata-se de uma esfera feita em cestaria, inserida na ponta de uma haste de cerca de 125 centímetros. Logo abaixo desta esfera (cerca de 6 centímetros) é inserida uma peça de cestaria plana. O conjunto é coberto com plumas de águia, fixadas com resina. Outras referências a este ornamento podem ser encontradas em Henry (1964). Ornamento de dança "Kõñañ" Também utilizado durante as cerimônias de perfuração dos lábios dos meninos, segundo Sullivan & Moore (1990:37) é composto por uma vara de cerca de 185 centímetros com penas de águia fixadas com liber na extremidade superior. Logo abaixo das penas é inserida uma seção discoidal de cestaria. O conjunto é coberto com plumas de águia. Outras referências a este artefato encontram-se em Henry (1964). 3.2.2 Artefatos de dança em fibra vegetal 80 Cinto cerimonial Usado pelos homens durante a cerimônia de perfuração dos lábios dos meninos, é um largo cinto de líber com pendentes de líber desfiada, sendo usado em torno da cintura (Sullivan & Moore, 1990). Sobre estes cintos, Henry (1964:195)) afirma que podiam ser pintados de cor negra ou com sangue de animais. 3.3 Instrumentos cirúrgicos 3.3.1 Instrumentos cirúrgicos de madeira Extrator de dentes Segundo compunha-se Sullivan de um & bastão Moore de (1990:48), madeira com o um extrator dos lados de dentes afilado e terminado em ponta côncava. Esta ponta era posta sobre o dente cariado e o extrator martelado na outra extremidade por um bastão de madeira polida, arrancando assim o dente. Fotografias destes artefatos estão reproduzidadas em Henry (1964) e Santos (1973). 3.4 Artefatos lúdicos 3.4.1 Artefatos lúdicos de materiais ecléticos Bola de arremesso Paula (1924:129) descreve um jogo praticado após a cerimônia de perfuração dos lábios e que consistia em aparar ou rebater uma bola composta por uma pedra envolvida descreve jogo semelhante, sendo em cestaria. Henry (1964:195) porém a bola uma esfera de cestaria recheada de barba-de-pau (Tillandsia sp.). Existem ainda alguns outros artefatos rituais, citados por Henry (1964) e por Sullivan & Moore (1990), que não incluimos aqui devido a dificuldades a respeito do uso, descrição e classificação dos mesmos. 81 As Coleções Etnográficas de objetos artesanais Os artefatos coleções indígenas distintas, duas descritos nesta depositadas no seção Museu de provêm de três Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma depositada no Museu do Homem do Sambaqui, no Colégio Catarinense, em Florianópolis, SC. As duas coleções existentes no Museu de Antropologia da UFSC têm origens distintas. Antropologia, Uma formada delas a é a partir coleção de do doações próprio de Museu pesquisadores de e particulares, a respeito da qual não sabemos nem a procedência nem a data de coleta do material mais antigo. A outra é a Coleção Tom Wildi, doada por este colecionador, o qual a adquiriu de um sacerdote, que a reuniu em Ibirama, em princípios deste século (Tom Wildi, inf. pess., 1983). pequeno Ambas as número coleções de são artefatos descritas existente conjuntamente, na devido ao Museu de remanescente do coleção do Antropologia. A Coleção do Museu do Homem do Sambaqui é material etnográfico existente no antigo Museu de Artes e Ofícios de Florianópolis, adquirida por compra pelo Gymnásio Catharinense em 1924 (Rohr, 1971). É composta de peças provenientes de todo o estado de Santa Catarina, coletadas entre o final do Século XIX e princípios do século XX. Como o nosso propósito é descrever apenas peças que reflitam a cultura material Xokleng tradicional, com pouco ou nenhum contato 82 efetivo com a sociedade nacional, as peças que nos pareceram artesanato recente (posterior a 1935) ou duvidosas, não de foram usados nesta descrição. A nomenclatura usada aqui continua sendo a proposta por Ribeiro (1988), complementada, quando necessário, por Heath & Chiara (1971) e por Ribeiro, coord. (1986). Nos casos em que houve necessidade de detalhar alguns aspectos dos artefatos para adaptar a descrição ao material Xokleng, como os casos das pontas das flechas analisadas, criamos novas categorias, embora sempre dentro das propostas dos autores citados. 1 Utensílios e Implementos ligados às Atividades de Subsistência e Conforto Doméstico e Pessoal, Transporte 1.1 Utensílios para o preparo, consumo e armazenagem de alimentos 1.1.1 Utensílios trançados para transporte e serviço de alimentos (prancha I) Neste grupo está classificada a maior parte da cestaria Xokleng. Esta cestaria é composta de cestos gameliformes ou paneiriformes, com borda roliça ou lisa, corpo cilíndrico, contorno simples e bases planas. O começo dos cestos é indiferenciado e o arremate pode ser com ourela simples ou com acabamento anelar ou casca de imbé. As estruturas do trançado podem ser entrelaçado cruzado sarjado, em padrão "espinha de peixe", ou usadas para entrelaçado cruzado quadricular gradeado ou vazado. As matérias-primas sua manufatura são talas de gramíneas conhecidas com taquara-doce e taquari (Gêneros Merostachys 83 sp. e Olira sp.) e aráceas conhecidas como cipó imbé (Gênero Philodendron sp.) Muitas vezes os cestos são impermeabilizados com cerol (mistura de cera de abelhas e cinza vegetal), para serem utilizados como recipientes de água ou mel de abelha. Os cestos não impermeabilizados são utilizados para a guarda de alimento e também para a conservação do pinhão. 1.1.2 Utensílios em madeira para o preparo dos alimentos Neste grupo estão classificados os paus-igníferos, as pinças e os pilões de madeira. 84 PRANCHA I. Padrões de Trançado Xokleng Trançado Sarjado em "espinha de peixe" Trançado Quadriculado Traçado Quadriculado e acabamento Anelar em Imbé 85 Os paus-igníferos são artefatos compostos de duas peças, uma servindo como base e outra como haste móvel. A base é um fragmento de madeira mole, com um desgaste circular em sua superfície e com uma ranhura no centro deste desgaste. Dentro deste desgaste é inserida a haste móvel, de madeira dura. Imprimindo-se um rápido movimento circular nesta haste com as mãos, a fricção provoca a combustão do pó de madeira que se acumula na ranhura, que, por sua vez, incendeia os fragmentos de folhas e madeiras colocados ali como isca. As pinças são artefatos formados por uma vareta de madeira dobrada de maneira a formar uma articulação e dois dáctilos de mesmo comprimento. É utilizada de maneira a retirar do fogo alimentos ou brasas. Os pilões são artefatos cilíndricos vasiformes, confeccionados em madeira dura, escavada com o auxílio do fogo. São utilizados para a maceração de alimentos. Os exemplares analisados apresentam, em sua superfície lateral, marcas de objetos cortantes, o que mostra que, eventualmente, servem de base para a elaboração de outros artefatos. 1.2 Armas para a obtenção de produtos de caça e para guerra e defesa 1.2.1 Armas de arremesso complexas (prancha II) Neste grupo estão classificados os arcos e flechas, subdividindose estas em oito grupos, de acordo com a matéria-prima e morfologia da ponta. 86 Prancha II. Arcos Kokleng 87 Os arcos analisados são de seção circular, com as partes distais dos segmentos geralmente fletidas próximas ao ombro. A terminação do ombro é rombuda. Segundo Chiara (1986), são classificados como arcos "altos", ou seja, por possuírem pouca elasticidade, disparam a flecha com maior velocidade. Podem apresentar elementos decorativos em seu corpo, como por exemplo apliques de casca de imbé, que recobrem parte ou a totalidade de sua superfície. Alguns apresentam ainda seções cilíndricas de couro de cauda de mamíferos, inseridas em seu corpo. As dimensões dos arcos variam entre 161 a 239 centímetros. O encordoamento é feito com fibras vegetais fiadas em "Z" ou "S", com diâmetro variando entre 0,5 a 0,8 centímetros. Algumas vezes são untados com cerol. A preensão do encordoamento no arco é feita por nós fixos, que não conseguimos classificar. Para que o encordoamento não escape, é feito um reforço junto aos ombros, composto de casca de imbé, líber e cordéis de fibra vegetal enrolados. As flechas Xokleng foram classificadas em oito grupos, (pranchas III, IV e V) de acordo com a matéria prima utilizada e morfologia da ponta: Flechas com pontas de madeira farpadas unilaterais e bilaterais (Grupos I, II e III), flechas com pontas de madeira rombudas - virote (Grupos IV e V), flechas com pontas de metal (Grupos VI e VII), e flecha com ponta lítica (Grupo VIII). As flechas com pontas farpadas unilaterais e bilaterais (Grupos I, II e III) são geralmente compostas por pontas/varetas farpadas esculpidas em madeira endurecida pelo fogo e 88 Prancha III. Flechas Xokleng 89 Prancha IV. Formas de Pontas de Flecha 90 Prancha V. 91 posteriormente inseridas em haste de taquara. Em alguns casos, a ponta é esculpida diretamente na haste, formando assim uma flecha de corpo maciço. A diferença entre as flechas com pontas unilaterais dos Grupos I e II está na forma e disposição das serrilhas na ponta. As flechas destes três grupos também podem apresentar emendas de taquara de tamanhos variáveis, com o fim de aumentar o tamanho da flecha. As inserções e emendas são fixadas usando-se cerol como cola e cordéis de fibra vegetal, líber ou casca de imbé como elementos de amarração. Apliques de casca de imbé podem ocorrer na haste, não só como elemento de amarração, como também decorativo. As dimensões das flechas variam entre 139 a 202 centímetros. As flechas com pontas de madeira rombuda, também conhecidas como flechas-virote (Grupos IV e V), são compostas por uma ponta de madeira rombuda, confeccionada em nó de pinho e inserida em haste de taquara, mais raramente em haste de madeira. A diferença entre os dois grupos está na morfologia da ponta rombuda. As características de fixação dos elementos que as compõem são semelhantes às duas flechas anteriores. Suas dimensões variam entre 131 e 161 centímetros. As flechas com pontas metálicas (Grupos VI e VII) compreendem as flechas com pontas de ferro triangulares pedunculadas com aletas e as pontas de ferro foliáceas pedunculadas com aletas. Estas pontas são fixadas em uma vareta de madeira com cerol, cordéis de fibra vegetal e/ou casca de imbé. Este conjunto é, por sua vez, inserido em haste de taquara, mais raramente de madeira, e fixado de maneira similar aos outros grupos já descritos. Suas dimensões variam entre 125 e 162 centímetros. A flecha com ponta lítica (Grupo VIII) é a única representante do seu grupo. Trata-se de uma ponta de quartzo leitoso, lascada por pressão e possuindo pedúnculo e aletas. Está fixada em uma haste de madeira com cerol e cordéis de fibra vegetal. Em sua parte proximal, possui uma emenda de taquara fixada com cerol e casca de imbé. De resto, sua estrutura assemelha-se à das flechas já descritas. Sua dimensão é de 131 centímetros. A emplumação e o encaixe de todos os exemplares são semelhantes, (prancha V) apresentando emplumação tangencial, com as penas atadas pelas extremidades, com cordéis de fibra vegetal, líber ou casca de imbé. Usualmente o cerol é utilizado como cola. Entre a parte proximal da emplumação e o encaixe, às vezes apresentam decoração composta por círculos de plumas. Sullivan & Moore (1990), descrevendo flechas Xokleng coletadas entre 1914 e 1930 em Ibirama, SC e depositadas em coleções dos Estados Unidos da América, acreditam que estes círculos de plumas são uma modificação introduzida após 1920. Porém, nas coleções analisadas, esta decoração se encontra presente mesmo nos exemplares das coleções mais antigas. As penas usadas na emplumação são de aves do gênero Cracidae (aracuã, jacu, jacutinga) e as plumas usadas nos círculos decorativos, de aves do gênero Ramphastidae (tucanos). O encaixe das flechas é reforçado por cordéis de fibra vegetal, líber e/ou casca de imbé, usando-se cerol como cola. 1.2.2 Armas de arremesso simples (prancha VI) 93 Este grupo está representado por lanças, compostas por uma lâmina de ferro foliácea pedunculada com aletas, fixada em corpo de madeira de corte losangular, com cerol, fibras vegetais e casca de imbé. Logo após a amarração de casca de imbé, apresentam decoração em cestaria fixada no corpo de madeira, composta de talas de taquara e casca de imbé com entretrançado quadricular, formando padrões de desenho, representando linhas diagonais paralelas. As dimensões das lâminas variam entre 20 e 42 centímetros e as dimensões totais das lanças, entre 133 e 167 centímetros. 1.3 Utensílios para Transporte por terra de crianças e carga 1.3.1 Artefatos trançados Este grupo está representado por cestos cargueiros gameliformes e paneiriformes e por tipóias trançadas. Os cestos-cargueiros são confeccionados de maneira semelhante à dos outros cestos já descritos, diferenciando-se destes pelas dimensões maiores e pela presença de tipóias trançadas, fixas ao seu bojo por atilhos de líber ou casca de imbé. As técnicas de trançado também são semelhantes às dos cestos já descritos, com exceção de um exemplar que apresenta entretrançado gradeado vazado. 94 Prancha VI. Lanças Xokleng 95 As tipóias são confeccionadas em fitas de líber e casca de imbé em número de 16, entretrançadas em passamanaria. Próximo às extremidades, a faixa resultante subdivide-se em duas faixas menores de 8 fitas cada, arrematadas por torção ou nó simples. 2 Adornos e objetos de uso pessoal 2.1 Adornos do tronco 2.1.1 Adornos de cordame do tronco Este grupo está representado por cintos de cordões, formados por cordéis de casca de imbé ou de fibras vegetais, fiados em "S" ou "Z" e com diâmetro variando entre 0,1 e 0,2 centímetros. Estes cordéis formam voltas fixadas com amarrações eqüidistantes. O número destas voltas varia entre 15 e 103. Estes cintos são usados pelos homens em torno da cintura, servindo para a preensão do prepúcio. O comprimento dos cintos, medido a partir das amarrações dos cordéis, varia entre 35 e 51 centímetros. Em um exemplar, existe um pingente cilíndrico feito de seção da epífise de osso longo de mamífero, perfurado e fixo ao conjunto por um cordel de casca de imbé. 2.1.2 Adornos de materiais ecléticos do tronco Estão representados nas coleções por colares, constituídos por um cordel de casca de imbé ou de fibras vegetais, no qual foram inseridas sementes perfuradas de diversas plantas, dentes de animais, botões de porcelana, cápsulas de armas de fogo, argolas de arreio, moedas e outros objetos obtidos através de contato com a sociedade nacional. 2.2. Indumentária e arranjos de decoro 2.2.1 Objetos para tratamento do corpo Este grupo confeccionados em está representado madeira endurecida pelos pelo furadores fogo. de Possuem lábios, forma de bisturi e têm dimensões entre 17 e 20 centímetros. São usados para perfurar os lábios das crianças do sexo masculino. 2.2.2 Objetos trançados Este grupo está representado pelas saias-cobertor, que são mantas entretecidas em cordões de fibra de urtiga-brava, e de uso feminino. Apenas duas foram encontradas nas coleções e destas, apenas uma pode ser analisada, já que a outra, devido ao estado de conservação, não pode ser manuseada. A outra tem as dimensões de 2x1 metros. 97 5 SINTETIZANDO: O MODELO XOKLENG Com as informações reunidas tentamos a criação de um modelo. Sintetizando as informações dos capítulos anteriores, pode-se afirmar que o nomadismo dos Xokleng foi profundamente influenciado pelas condições ecológicas gerais das duas regiões que faziam parte de seu território histórico, uma delas ocupada pela Mata Ombrófila Densa e a outra pela Mata Ombrófila Mista. o prendam a um determinado Como o grupo não possui cultivos que lugar, a sua movimentação dentro do território estava ligada ao maior ou menor grau de recursos de caça e coleta existentes em determinado momento em cada uma destas regiões. Na região de Mata Ombrófila Densa (Mata Atlântica), a época em que os recursos de caça e coleta estão disponíveis em maior quantidade é durante a primavera e o verão, quando a frutificação de inúmeras espécies de árvores nativas proporciona abundante alimentação para o homem e uma concentração da fauna. Na região de Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária), o período de fartura se verifica durante o outono e o inverno, devido principalmente espécies à nativas frutificação menos das araucárias importantes. Da e mesma de algumas forma que outras na Mata Atlântica, estes frutos disponíveis para os humanos são responsáveis, também pela concentração da fauna durante esta época. Estes fatores condicionaram o grupo Xokleng ao nomadismo: este circulava em seu território histórico em um movimento pendular estacional entre a Mata Atlântica e a Mata de Araucária de acordo com os recursos oferecidos por cada região em um dado momento. Devido a estes fatores, o assentamento dos Xokleng pode variar, conforme os acampamentos sejam instalados na região de Mata Atlântica ou na de Mata de Araucária, já que em cada uma destas áreas as atividades de caça e coleta seguiriam ritmos diferentes. Na Mata Atlântica, (prancha VII) as estratégias de caça e coleta desenvolvidas exigiam uma atomização do grupo, de maneira a cobrir uma área a mais ampla possível, otimizando a captação de recursos. Devido a isso, os acampamentos eram pequenos e pouco estáveis, abrigando grupos subdivididos em poucas famílias por períodos de tempo poucas vezes superiores a alguns dias. Estes grupos reuniam pessoas, aproximadamente. Nos locais 99 entre 8 e 30 Prancha VII. Acampamento xokleng na Mata Atlântica 100 ricos em recursos, os acampamentos se estabilizariam em até uma semana, enquanto que nos locais menos propícios seriam utilizados apenas por uma noite. Uma exceção, na região de Mata Atlântica, eram os acampamentos cerimoniais construídos para a festa de perfuração dos lábios dos meninos, (prancha VIII) que reunia a maioria dos grupos familiares Xokleng em acampamentos grandes, que podiam ficar instalados no mesmo local cerca de um mês, devido aos preparativos que a festa exigia. Na região de Mata de Araucária, (pranchas IX e X) os acampamentos seriam mais estáveis, podendo ficar instalados em um mesmo local por até três meses. A existência de grandes quantidades de pinhão e as técnicas de armazenagem destes recursos, dominadas pelos Xokleng, além de uma concentração de mamíferos e aves atraídas comida, garantiriam a estabilidade dos pela fartura de acampamentos. Estes acampamentos, pelos mesmos motivos, seriam maiores que os construídos na Mata Atlântica, podendo reunir vários grupos familiares, somando mais de 50 pessoas. Na região de Mata Atlântica, devido à pouca duração da ocupação, a instalação do acampamento seria bastante simples. Normalmente era escolhido um local plano para construir os abrigos. A vegetação arbustiva era arrancada e vários abrigos em meia-água, um para cada família, eram construídos. Os homens se encarregavam de cortar e cravar no chão os pilares de sustentação da estrutura, enquanto que as mulheres reuniam folhas para a cobertura e se encarregavam do restante da construção. Estes Prancha VIII. Acampamento cerimonial Xokleng 101 102 Prancha IX. Esquema de um acampamento Xokleng no Planalto I 103 Prancha X. Ilustração esquemática de um acampamento Xokleng no planalto II. 104 abrigos, em número de dois a oito, se distribuíam paralelamente dentro da área da clareira. O espaço externo era utilizado para realização da maior parte das atividades do grupo. Cada abrigo possuía uma fogueira diante da abertura, usada principalmente para aquecimento, podendo, porém, ser utilizada na preparação de alimentos ou de artefatos. Quando os caçadores conseguiam abater animais de médio ou grande porte, eram construídos fornos subterrâneos na área do acampamento. A produção e queima de vasilhames cerâmicos envolvia uma parada de até uma semana no mesmo local, sendo estas atividades também realizadas junto ao acampamento. Ainda nesta perfuração dos região, lábios durante dos os preparativos meninos, a mais para a importante festa de cerimônia Xokleng, os acampamentos tomavam grandes proporções, já que esta festa era responsável pela reunião da maior parte do grupo tribal. Os preparativos para sua realização exigiam cerca de um mês em um mesmo local. Não possuímos dados diretos a respeito de como se organizavam espacialmente estes acampamentos cerimoniais, mas pode-se deduzir que uma ampla área aberta era necessária para as cerimônias e danças que se realizariam. Os abrigos seriam instalados na periferia desta área, possuindo cada qual fogueiras individuais. Nas proximidades também seriam feitos fermentada. os cochos Estes de cochos, cedro para para a sua a preparação fabricação, da bebida exigiriam instrumentos líticos, como lâminas de machados, raspadores e lascas cortantes, que provavelmente seriam descartadas nas proximidades. Fornos subterrâneos e moquéns também eram construídos para preparar a caça que seria consumida pelo grupo. Na região comportariam de Mata ranchos em de Araucária, forma de 105 os cúpula, acampamentos de maior de inverno tamanho, que abrigariam os vários casais de uma família extensa. A instalação do acampamento seria, embora em maior escala, semelhante à utilizada na região de Mata Atlântica. Além de possuir uma estabilidade maior, estes acampamentos podiam ter estruturas defensivas como paliçadas, cercas de espinhos e fossos. As fogueiras feitas no interior dos ranchos serviriam para o aquecimento, enquanto que fogueiras externas seriam usadas para a preparação de alimentos, de artefatos de madeira, pedra ou osso e para a confecção de artefatos cerâmicos. Não temos dados a respeito de áreas de descarte de restos de lascamento, mas existem indicações de que os ossos de animais consumidos seriam descartados dentro ou próximo às fogueiras. Os Xokleng possuíam dois tipos básicos de abrigos: os formados por um teto em meia-água e os de teto em forma de cúpula. A construção de ambos era semelhante, sendo os primeiros construídos a partir de dois pilares cravados verticalmente no solo e uma viga horizontal, amarrada nas extremidades superiores destes. Em um dos lados eram cravadas varas, a uma distância de cerca de dois metros, que depois eram envergadas e fixadas na viga horizontal formando assim a armação do abrigo. Esta armação era coberta com folhas, sendo o interior do abrigo forrado com folhas de xaxim. Uma fogueira para aquecimento era mantida constantemente acesa diante da entrada. Os abrigos em cúpula resultavam da junção de dois abrigos em meia-água, construídos de maneira similar. Neste caso, as fogueiras para aquecimento estavam situadas dentro do abrigo. As fogueiras podiam atender a diversas finalidades, sendo possível separá-las em quatro tipos básicos: fogueiras de aquecimento, 106 fogueiras para a preparação de artefatos cerâmicos, fogueiras para preparação de alimentos e fornos subterrâneos. As fogueiras de aquecimento situavam-se diante da abertura do abrigo ou no interior dos ranchos maiores e visavam principalmente o aquecimento dos membros da família durante o sono. Também podiam ser usadas para outras finalidades como a elaboração de artefatos ou para preparar alimentos. Eram mantidas acesas continuamente. Podia ocorrer descarte de restos de lascamento ou de fragmentos ósseos dentro ou em torno destas fogueiras, porém em pequenas quantidades. As fogueiras para a preparação de artefatos cerâmicos seriam mais afastadas dos abrigos, na periferia do acampamento, devido ao seu maior tamanho. É possível que o material mais frequente dentro e em suas proximidades sejam fragmentos cerâmicos, já que é comum a fratura de artefatos durante o cozimento. As fogueiras para a preparação de alimentos podem ser caracterizadas por sua instalação fora dos abrigos, podendo haver maior quantidade de restos faunísticos descartados em seu interior e em suas proximidades. O forno subterrâneo é uma estrutura caracterizada por uma cavidade aberta no solo, com o fundo forrado com seixos. Para sua utilização, o fogo era aceso dentro da cavidade até os seixos incandescerem. A madeira era retirada então e uma camada de folhas era posta dentro da cavidade. A carne da caça ainda com couro era posta em seguida, sendo então coberta por mais folhas e terra. Após cerca de 12 horas, a carne estava cozida. O descarte dos ossos dos animais 107 assim preparados era feito dentro da cavidade ou nas suas proximidades. Ainda em relação às fogueiras, é importante lembrar que muitas vezes a mesma fogueira poderia cumprir várias destas finalidades, o que torna difícil definir com clareza a sua verdadeira utilização. A exploração dos recursos naturais da Mata Atlântica e de Araucária pelos Xokleng era realizada de maneira extensiva, sendo poucos os recursos existentes, como por exemplo os peixes, que não eram capturados e consumidos. Provavelmente a coleta, tanto vegetal como animal, representava o principal papel na subsistência do grupo. Os itens de coleta vegetal mais consumidos eram o pinhão, o palmito e diversos frutos, enquanto que os itens de coleta de origem animal mais apreciados eram o mel e as larvas de diversos coleópteros e himenópteros. Em segundo lugar viria a caça, que se poderia classificar como generalizada, embora os Xokleng dessem preferência aos animais de maior porte. O interesse pela captura de um animal podia ser medida pela quantidade de carne que este tinha a oferecer. Devido a isso, temos em ordem de importância, a caçada de antas, dos cervídeos, dos queixadas, dos caititús, e dos bugios. Espécies menores de mamíferos, assim como todas as aves, eram caçadas indiscriminadamente. A caça era uma atividade masculina e comunitária que envolvia grupos de parentes. A técnica usada era a de seguir o rastro do animal até este ficar encurralado, quando então era abatido com flechas ou lanças. Antas e cervídeos podiam também ser forçados a penetrar em cursos d'água, onde árvores previamente 108 derrubadas impediriam sua fuga. Estas estratégias seriam usadas preferencialmente com animais de médio e grande porte, como antas, cervídeos, grandes felinos, queixadas e caititus. Bugios e micos eram abatidos com flechas na copa das árvores e outros mamíferos de pequeno porte eram abatidos com flechas sempre que surgisse oportunidade. A captura de indivíduos jovens, de fêmeas em gestação, ou de machos adultos era indiferente, existindo inclusive uma preferência por fêmeas em avançado grau de gestação devido à menor dificuldade existente na captura. Aves eram abatidas com flechas-virote, que matam por impacto e oferecem menos risco de prenderem-se na copa das árvores. As atividades de coleta podiam ser tanto individuais como comunitárias, envolvendo ainda ambos os sexos. A coleta do pinhão era coletiva, sendo cada família responsável por sua parte. Os homens escalavam o pinheiro e derrubavam as pinhas, enquanto as mulheres se responsabilizavam pela coleta, transporte e preparação do pinhão. A coleta do palmito, por envolver a derrubada do palmiteiro, era provavelmente ocupação masculina, enquanto que a preparação do palmito era atividade farinha feminina. preparada a Existem partir do ainda notícias miolo de certa de uma espécie palmácea que de era consumida assada nas brasas, porém não conseguimos reunir maiores informações a respeito. A coleta de mel e de larvas de insetos podia ser comunitária ou individual, parecendo haver um predomínio da coleta individual. O mel geralmente era coletado pelos homens, sendo recolhido em cestos impermeabilizados e transportado, quando não consumido no local. As 109 larvas de abelhas eram consumidas no local, e a cera recolhida para a fabricação de inúmeros artefatos. A coleta de outros frutos era principalmente atividade individual. A preparação da carne podia ser realizada de diversas maneiras: animais de médio e grande porte seriam assados em fornos subterrâneos, enquanto que animais menores podiam ser moqueados ou assados em espetos. Os pinhões podiam ser consumidos tostados ao fogo, pilados e ensopados, transformados em bolachas e assados ou mastigados crus e cozidos em água. Para a preparação destes ensopados, eram usados como recipientes vasilhames cerâmicos ou seções cortadas do tronco de Taquaruçu. A conservação do pinhão por tempo de até dois meses era feita submergindo-se balaios com este fruto em cursos d'água. Os palmitos podiam ser consumidos ao natural ou sob a forma de ensopado. Larvas de inseto podiam ser consumidas ao natural ou assadas. A classe de artefatos mais utilizados pelos Xokleng no seu dia-adia era a cestaria. Os cestos impermeabilizados eram usados para o transporte e consumo de água ou mel, variando o tamanho de acordo com a atividade desempenhada. Cestos comuns eram usados para o transporte dos bens durante as mudanças de acampamento e também para o transporte até o acampamento dos resultados da coleta. 110 A cerâmica não parece ter possuido grande importância nas atividades do grupo, sendo muitas de suas funções cumpridas por cestos impermeabilizados ou por vasilhames de madeira ou de seção cortada de Taquaruçu. Os poucos vasilhames existentes são de pequenas dimensões, de cor preta, brunidos e sem decoração. Nas atividades de caça e guerra, os arcos e flechas eram o implemento mais utilizado. As flechas eram de três tipos básicos: com ponta de metal (possivelmente lítica, antes da introdução do ferro), de madeira com ponta serrilhada e com ponta-virote, esta geralmente feita em nó de pinho. As flechas com pontas de ferro e de madeira serrilhada eram usadas na caça e na guerra, enquanto que as flechas com pontas-virote eram utilizadas para abater aves. A lança e a borduna podiam ser usadas para abater grandes animais e também na guerra, sendo que sua utilização para ataque e defesa com certeza superava seu uso nas atividades de caça. Apesar de não existirem dados consistentes a respeito, parece claro que os Xokleng se utilizavam de artefatos líticos para várias atividades, preparação flechas, como de derrubada artefatos lanças e de de árvores, madeira recipientes de como abertura cochos madeira. Esta de de colméias bebida, indústria e arcos, lítica, constituída provavelmente por lâminas de machado polidas ou lascadas, mãos de pilão, lascas com ou sem retoques e raspadores, teriam entrado em declínio sociedade com a nacional, introdução a partir do do desaparecer em meados do século XIX. 111 ferro através século do XVIII, contato com terminando a por Um traço característico da cultura Xokleng diz respeito ao padrão funerário. Quando uma pessoa morria, uma área fora do acampamento era limpa de vegetação, sendo o morto posto no centro com seus objetos de uso pessoal. O conjunto era então coberto com lenha e cremado até restarem apenas fragmentos ósseos calcinados, que eram por fim postos em um cesto e enterrados em uma pequena cova. Sobre esta era erguido um montículo com cerca de 50 centímetros de informações se referem à construção de um abrigo remanescente. 112 altura. Algumas sobre o montículo À MANEIRA DE CONCLUSÃO: O QUE OS ARQUEÓLOGOS PODEM UTILIZAR DO MODELO XOKLENG Devido ao estado inicial das pesquisas arqueológicas realizadas no território histórico dos Xokleng, já referidos no capítulo 3, são muito poucos os dados disponíveis para se tentar estabelecer paralelos definitivos entre os Xokleng históricos e as populações pré-históricas existentes. Embora, por estes motivos, estabelecidos de maneira precária, são importantes para formar hipóteses a serem testadas em futuros trabalhos arqueológicos de campo. As possibilidades de convergências que constatamos dizem respeito ao nomadismo, ao padrão de assentamento, de subsistência e de sepultamento, desenvolvidos pelos grupos que habitaram a região. Em relação ao nomadismo, os dados recolhidos parecem indicar ter ele existido desde a pré-história da região, seja praticado por grupos antepassados dos Xokleng ou por outros grupos, cujas maneiras de explorar o meio ambiente fossem semelhantes. A presença de sítios arqueológicos com pontas líticas atribuíveis à tradição Umbu e com cerâmica atribuível à tradição Taquara tanto na região de Mata Atlântica quanto na região de Mata de Araucária, seria um destes indicadores, sugerindo que ao menos duas grandes tradições, uma lítica e uma cerâmica, histórico dos se tenham Xokleng. sucedido As diferenças ou coabitado no tipo no de território assentamento existentes entre estes sítios arqueológicos, poderiam ser explicadas pelas diferentes estratégias de subsistência utilizadas em cada uma das regiões, a à semelhança dos Xokleng históricos, que tinham diferentes tipos de assentamento conforme a atividade desenvolvida no momento. Assim a freqüência de determinado artefato ou resto faunístico em diferentes sítios arqueológicos implantados ou não na mesma região, poderia indicar ocupações diferenciadas de um mesmo grupo, conforme esta ocupação tenha como objetivo principal a caça, a coleta ou atividades cerimoniais. A presença de pontas e outros artefatos líticos no território histórico dos Xokleng atesta a existência de uma indústria lítica até tempos históricos, ao menos no planalto norte de Santa Catarina, onde Piazza conseguiu duas datações de AD 1290 e AD 1660 para um abrigo com pontas líticas. É provável que os Xokleng tenham dominado esta tecnologia, que teria desaparecido com a introdução do ferro, a partir do século XVIII. Especificamente em relação ao padrão de assentamento, os sítios de ambas as regiões não apresentam evidências de ocupações estáveis, percebendo-se ainda que os registrados na região de Mata Atlântica são 114 menores e possivelmente menos estáveis que os localizados na Mata de Araucária. Outra convergência que se percebe através das informações arqueológicas e etnográficas sobre o padrão de assentamento, está na existência, na região da Mata de Araucária, de "terreiros de Aldeia" possivelmente cercados com paliçadas defensivas, o que vai ao encontro da memória tribal Xokleng, de acordo com Henry (1964). Este fato, se confirmado por pesquisas posteriores, irá sugerir mais fortemente que estes grupos humanos pré-históricos possuiriam um sistema de exploração do meio-ambiente similar ao dos Xokleng históricos, sistema este baseado nas migrações contínuas entre a Mata Atlântica e familiares a na Mata de região Araucária, onde a e caça no fracionamento desempenhasse dos um grupos papel mais importante na alimentação que as atividades de coleta. Em termos de padrão de subsistência, o consumo do pinhão na região da Mata de Araucária existe desde épocas recuadas (3.000 AP). Segundo Rohr (1971), as mesmas técnicas de conservação do pinhão, usada pelos Xokleng, foi percebida em um sítio arqueológico do planalto Catarinense. O uso de pontas-virote feitas em nó de pinho e a confecção de cordas e trançados com fibra de imbé também estão datados, pelo carbono 14, na região da Mata de Araucária em 3.000 AP, sendo que tanto estas matérias primas quanto as tecnologias para a sua manufatura continuaram fazendo parte da cultura Xokleng até o século XX. 115 Em pesquisas recentes no litoral sul de Santa Catarina Schmitz (informação pessoal) se constatou a existência de sepultamentos cremados em um sítio de pescadores e coletores. O material obtido ainda está sendo estudado mas foram obtidas duas datações absolutas para o sítio (AD 790 +- 50 e AD 910 +- 60) que, depois de calibradas, ofereceram datas de AD 370 +- 70 e de AD 500 +- 60, mostrando tratarse de sítio recente. Como a cremação dos mortos, parece exclusiva dos Xokleng nesta área do sul do Brasil, é interessante comparar os resultados obtidos com os dados etnográficos dos Xokleng, para verificar se, além da cremação, existam outras semelhanças culturais que façam entender melhor o sítio em escavação e, talvez, a história passada dos donos históricos da área. Como este sítio, outros deverão aparecer, que possam testar o modelo desenvolvido no trabalho, melhorando a compreensão do grupo histórico e a dos pré-históricos da área. Esta não é uma tarefa simples, mas necessária. Nos sentimos satisfeitos se, com nosso trabalho, contribuimos para alcançar este novo patamar de pesquisa. 116 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUBÉ, Léonce. Notice Sur La Province de Sainte-Catherine (Brésil). Extrait des Annales Maritimes es Coloniales publiées par M.M. Bajot et Poirré. Paris, Imprimerie Royale, avril, 1847. AVE-LALLEMANT, Robert. Viagem pelas Províncias de Santa Catarina, Paraná e São Paulo (1858). 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VICENZI, Victor. História e Imigração Italiana em Rio dos Cedros. Blumenau, Fundação Casa Dr. Blumenau. 1985. WACHOWICZ, Ruy. C. O Xokleng na Província do Paraná: Aldeamento de Papanduva. Bol. do Instituto Histórico, Geográfico e Ethográfico Paranaense. Curitiba, v. XXXVII, p. 59-82, 1980. ZITTLOW, A. & BISCHOFF, M. L. Os Índios em Santa Catarina. O Estado, Florianópolis, 27 de julho de 1915, p. 1-3. 125 DOCUMENTOS CONSULTADOS FPP-01 (1835) Falla do Presidente da Provincia de Santa Catharina Feliciano Nunes Pires, 1º de Março de 1835, apresentada à 1. Assembléia da mesma Província. FPP-02 (1838) Falla (Sem Frontispício, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1838 - João Carlos Pardal. FPP-03 (1839) Falla (Sem Frontispício, manuscrito, Assinado e Datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1839 - João Carlos Pardal. FPP-04 (1840) Falla (Sem Frontispício, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1840 (assinatura ilegível). FPP-05 (1841) Falla à Assembléia Legislativa (Manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1841 - Antero José Ferreira de Brito. FPP-06 (1842) Relatório à Assembléia Provincial (manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1842 - Antero José Ferreira de Brito. FPP-07 (1843) Falla (Sem Frontispício, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1843 Antero José Ferreira de Brito. FPP-08 (1844) Falla (Sem Frontispício, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1844 Antero José de Brito. FPP-09 (1847) Falla (Sem frontispício, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro 1º de Março de 1847 - Antero José de Brito. FPP-10 (1848) Falla (Sem frontispício, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1848 Antero José de Brito. FPP-11 (1848) Discurso de Antero José Ferreira de Brito transferindo o cargo de Presidente da Província de Santa Catarina a Severo Amorim do Vale, Vice-Presidente, Servindo de Presidente da Província. Comp. na Typ. Provincial da Cidade de Desterro - 1848. FPP-12 (1849) Falla (Sem frontispício, manuscrito, assinado e datado) cidade de Desterro, 1º de Março de 1849 Severo Amorim do Vale, Vice-Presidente da Província. FPP-13 (1849) Falla (Sem forntispício, impresso, assinado e datado) Severo Amorim do Vale - Cidade de Desterro, Typ. Provincial 1849. FPP-14 (1850) Falla (Sem frontispício, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1850 - João José Coutinho. FPP-15 (1851) Falla que o Presidente da Província de Santa Catarina Dr. João José Coutinho dirigio à Assembléia Legislativa Provincial no acto de abertura de sua sessão ordinária em 1º de Março de 1851 - Cidade de Desterro, Typ. do Novo Iris, 1851. FPP-16 (1852) Falla (Sem forntispício, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1852 - João José Coutinho. FPP-17 (1853) Falla que o Presidente da Província de Santa Catarina, O Exmo. Sr. Dr. João J. Coutinho, dirigido à Assembléia Legislativa da Mesma Província, por ocasião da abertura de sua Sessão Ordinária em 1º de Março de 1853. Cidade de Desterro, Typ. do Conservador. FPP-18 (1854) Relatório (Sem forntispicio, manuscrito, assinado e datado) Cidade de Desterro, 1º de Março de 1854 - João José Coutinho. FPP-19 (1855) Falla que o Exmo. Sr. João J. Coutinho, Presidente da Província de Santa Catharina dirigido à Assembléia Legislativa Provincial no acto de abertura da Sessão Ordinária em 1º de Março de 1855. Desterro, Typ. do Correio Catarinense, Largo do Quartel, 1855. 127 FPP-20 (1856) Falla que o Presidente Província de Santa Catharina, Dr. João J. Coutinho dirigido à Assembléia Legislativa Provincial no acto de abertura de sua sessão ordinária em 1º de maio de 1856. Rio de Janeiro, Typ. Universal de Laemmert, Rua dos Inválidos, 61-B. FPP-21 (1857) Falla que o Presidente da Província de Santa Catharina Dr. João José Coutinho dirigido à Assembléia Legislativa Provincial no acto de abertura de sua sessão ordinária em 1º de março de 1857. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Cons. de J. Villeneuve &. C. 1857. FPP-22 (1858) Falla que o Presidente da Província de Santa Catharina, Dr. João José Coutinho dirigido à Assembléia Legislativa Provincial no acto de abertura de sua sessão ordinária em 1º de março de 1858. Santa Catharina, Typ. Catharinense, 1858. FPP-23 (1863) Relatório Apresentado ao Exmo. Presidente da Província de Santa Catarina, o Cap. Ten. Pedro Leitão da Cunha pelo Comendador João Francisco de Souza Coutinho por ocasião de passar-lhe a administração da mesa Província em 26 de dezembro de 1862. Cidade de Desterro, Typ. Commercial, 1863. FPP-24 (1863) Relatório apresentado ao Exmo. 1. VicePresidente da Prov. de Santa Catharina o Comendador Francisco José D'Oliveira pelo Exmo. Presidente Pedro Leitão da Cunha por ocasião de passar-lhe a adminstração da mesma Província em 19 de maio de 1863. Desterro, Typ. Commercial, 1863. FPP-25 (1865) Relatório apresentado ao Exmo. VicePresidente da Prov. de Santa Catharina o Ten. Cel. Francisco José de Oliveira pelo Exmo. Presidente da Província Dr. Alexandre Rodrigues da Silva Chaves no acto de passar-lhe a administração da mesma Província em 24 de abril de 1865. Santa Catarina, Typ. Catharinense, 1865. FPP-26 (1867) Relatório apresentado ao Exmo. Pres. da Prov. de Santa Catharina Dr. Adolpho de Barros C. de Albuquerque Lacerda pelo Vice-Pres. o Com. Francisco José D'Oliveira no acto de passar-lhe a administração da mesma Província em 9 de outubro de 1867. Typ. de J. A. do Livramento. FPP-27 (1869) Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Vice-Pres. da Prov. de Santa Catharina, Com. João Francisco de Souza Coutinho pelo Vice-Pres. o Com Francisco José de Oliveira o acoto de passar-lhe a administração da mesma Provícia em 4 de agosto de 1868. Typ. J.J. Lopes - 1869. FPP-28 (1871) Relatório que o Exmo. Pres. da Prov. de Santa Catharina dr. Joaquim Bandeira de Gouvêa dirigido à Assembléia Legislativa Prov. no acto de abertura de sua sessão ordinária em 26 de março de 1871. Desterro, Typ. do Jornal Província - 1871. 128 FPP-29 (1872) Relatório do Vice-Pres. da Prov. de Santa Catharina Dr. Guilherme Cordeiro Coelho Cintra apresentado à Assembléia Legislativa Prov. em 25 de março de 1872. Desterro, Typ. de J.J. Lopes, 1872. FPP-30 (1873) Relatório apresentado à Assembléia Legislativa de Santa Catharina pelo Pres. Dr. Pedro Affonso Ferreira no acto de Abertura da sessão em 2 de junho de 1873. Cidade de Desterro, Typ. de J.J. Lopes, 1873. FPP-31 (1873) Relatório apresentado pelo 2. Vice-Pres. da Prov. de Santa Catharina, Exmo. Sr. Dr. Manoel do Nascimento da Fonseca Galvão ao 3. Vice-Pres. Exmo. Sr. Dr. Ignacio Accioli de Almeida por ocasião de passar-lhe a administração da mesma em 27 de janeiro de 1873. Desterro, Typ. de J.J. Lopes. FPP-32 (1874) Falla dirigida à Assembléia Legislativa Provincial de Santa Catharina em 25 de março de 1874 pelo Exmo. Sr. Pres. da Prov. Dr. João Thomé da Silva. Desterro, Typ. de J.J. Lopes, 1874. FPP-33 (1876) Falla que o Exmo. Sr. Dr. Bandeira de Mello Filho abriu a 1. Legislatura da Assembléia Provincial de em 1º de Março de 1876. Desterro, Typ. 1876. João Capistrano sessão da 21. Santa Catharina de J.J. Lopes, FPP-34 (1876) Relatório que ao Exmo. Sr. Dr. Alfredo de Escragnolle Taunay passou a administração da Prov. de Santa Catharina o Exmo. Sr. Dr. João Capistrano Bandeira de Mello Filho em 7 de junho de 1876. Rio de Janeiro, Typ. Cinco de Março - 1876. FPP-35 (1877) Relatório que ao Exmo. Sr. Dr. Herminio Francisco do Espirito Santo, 1. Vice-Pres. passou a administração da Prov. de Santa Catharina o Dr. Alfredo D'Escragnolle Taunay em 2 de janeiro de 1877. Desterro, Typ. de J.J. Lopes, 1877. FPP-36 (1877) Falla com que o Sr. Dr. José abrio a 2. sessão da 21. Assembélia Província de Santa Catharina. Em 6 de Publicado em O Conservador. Provincia de Anno VI, N. 408 - 14 de março de 1877. Bento de Araújo Legislativa da março de 1877. Santa Catharina FPP-37 (1878) Relatório que o Exmo. Sr. Dr. Lourenço Cavalcanti de Albuquerque passou a administração da Prov. de Santa Catharina o Exmo. Sr. Joaquim da Silva Ramalho 1. Vice-Pres. em 7 de maio de 1878. Desterro, Typ. Regeneração, 1878. FPP-38 (1880) Falla com que o Sr. Dr. Antonio de Almeida Oliveira abriu a Sessão extraordinária da Assembléia Legislativa Provincial de Santa Catharina em 2 de janeiro de 1880. Desterro, Typ. de Alexandre Margarida, 1880. 129 FPP-39 (1880) Relatório com que o Exmo. Sr. Cel. Manoel Pinto de Lemos passou a administração da Prov. de Santa Catharina o Exmo. Sr. Dr. Antônio de Almeida Oliveira em 10 de maio de 1880. Desterro, Typ. de J.J. Lopes 1880. FPP-40 (1881) Falla do Presidente da Prov. de Santa Catharina, João Rodrigues Chaves, à Assembléia Legislativa Provincial em 2 de fevereiro de 1881. Manuscrito. FPP-41 (1882) Falla que o Pres. da Prov. Antonio Gonçalves Chaves dirigido à Assembléia Legislativa Provincial em 28 de fevereiro de 1882. Manuscrito. FPP-42 (1885) Relatório com que o Exmo. Sr. Desembargador João Rodrigues Chaves passou a administração da Prov. ao Exmo. Sr. Dr. Joaquim Augusto do Livramento 3. Vice-Pres. em 9 de março de 1882. Desterro, Gab. Typ. 1885. FPP-43 (1883) Relatório com que o Exmo. Sr. Dr. Theodureto Carlos de Faria Souto passou a administração da Prov. o Exmo Sr. Cel. Manoel Pinto de Lemos 1. Vice-Pres. em 28 de fevereiro de 1883. Desterro, Typ. Comercial - 1883. FPP-44 (1886) Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Santa Catharina na 1. Reunião de sua 26. Legislatura pelo Pres. Dr. Francisco José da rocha em 21 de julho de 1886. Desterro, Typ. do Conservador, 1886. FPP-45 (1888) Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Prov. de Santa Catharina na 2. Sessão de sua 26 Legislatura pelo Pres. Francisco José da Rocha em 11 de Outubro de 1887. Rio de Janeiro, Typ. União, 1888. FPP-46 (1905) Relatório Apresentado pelo Exmo. Sr. Pres. do Congresso Representativo do Estado nas funções de Governador Cel. Antonio Pereira da Silva e Oliveira ao Vice-Governador o Exmo. Sr. Cel. Vidal José de Oliviera Ramos Júnior por ocasião de passar-lhe a adm. do estado em 5 de março de 1905. Manuscrito. FPP-47 (1911) Mensagem apresentada ao Congresso Representativo do Estado em 23 de julho de 1911 pelo Governador Vidal José de Oliveira Ramos. Florianópolis, Gab. Typ. d'O Dia, 1911. 130 ANEXO I COLEÇÃO ETNOGRÁFICA DO MUSEU DO HOMEM DO SAMBAQUI UTENSÍLIOS E IMPLEMENTOS LIGADOS ÀS ATIVIDADES DE SUBSISTÊNCIA, CONFORTO DOMÉSTICO E PESSOAL, TRANSPORTE 1 UTENSÍLIOS PARA O PREPARO, CONSUMO E ARMAZENAGEM DE ALIMENTOS. 1.1 Trançados para a guarda e serviço de alimentos. Cestos Gameliformes Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam a altura e o diâmetro do cesto em centímetros, respectivamente. MHS-E-137 13.0 18.0 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. 3 fios de imbé aplicados no trançado. Revestimento interno com cerol. MHS-E-138 11.0 19.0 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. Revestimento interno com cerol. MHS-E-139 13.0 19.0 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. 6 fios de imbé aplicados no trançado. Revestimento interno com cerol. MHS-E-140 9.0 18.0 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples com arremate da borda anelar em taquara. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. 3 fios de imbé aplicados no trançado. Revestimento interno com cerol. MHS-E-141 21.0 24.0 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. 5 fios de imbé aplicados no trançado. Revestimento interno com cerol. MHS-E-141a 9.0 18.0 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo redondo, contorno simples com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. 3 fios de imbé aplicados no trançado. Revestimento interno com cerol. 1.2 Utensílios de Madeira para o Preparo dos Alimentos Pau Ignífero Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam o comprimento em centímetros da peça. MHS-E-143a Pau ignífero. Base medindo 28 cm. com desgaste circular internamente carbonizado próximo ao centro. Ranhura no centro do desgaste circular. MHS-E-143b Pau ignífero. Cilindro de madeira de 20 cm. com uma das extremidades arredondadas e com marcas de combustão. Forma conjunto com o anterior. 2 ARMAS PARA OBTENÇÃO DE PRODUTOS DE CAÇA E PESCA E PARA GUERRA E DEFESA 2.1 Armas de Arremesso Complexas. ARCOS Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam diâmetro do 132 arco na empunhadura, diâmetro do arco nos encaixes e a altura do Arco, em centímentos, respectivamente. MHS-E-15 3.5 2.0 198 Arco de madeira de seção cilíndrica com encaixe reforçado por líber e casca de imbé. O encordoamento é em fibra vegetal de 0,5 cm. de espessura, fiada com 3 fios torcidos de duas pernas cada, e untados com cerol. Nó de amarração "Padrão Xokleng". MHS-E-157 3.5 2.0 210 Arco de madeira de seção cilíndrica. Em seu corpo possui fixadas 8 seções circulares de couro de mamifero. MHS-E-158 3.5 2.0 203 Arco de madeira de seção cilíndrica. MHS-E-159 4.0 2.0 225 Arco de madeira de seção cilíndrica. 2 seções circulares de couro de mamifero em seu corpo. MHS-E-16 3.5 2.5 218 Arco de madeira de seção cilíndrica com encaixe reforçado por casca de imbé. Possui 9 seções circulares de couro de mamifero fixados em seu corpo. O encordoamento é em fibra vegetal de 0,4 cm. de espessura, fiada com 4 fios torcidos de duas pernas cada. Nó de amarração "Padrão Xokleng". MHS-E-160 2.4 2.5 229 Arco de madeira de seção cilíndrica. MHS-E-161 3.5 2.5 161 Arco de madeira de seção cilíndrica MHS-E-162 3.5 2.0 220 Arco de madeira de seção cilíndrica. MHS-E-163 2.5 1.0 239 Arco de madeira de seção cilíndrica. MHS-E-164 3.0 1.5 206 Arco de madeira de seção cilíndrica, com superficie coberta por casca de imbé. Em ambas as extremidades possui ombro para a preensão do encordoamento. FLECHAS Os alfanuméricos em negrito indicam a sigla de identificação da peça; o algarismo em itálico indica a sua dimensão em centímetros. 133 Flechas de Madeira Serrilhadas Unilaterais Grupo I MHS-E-08 169 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Aplicação de casca de imbé no corpo da flecha. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-31 166 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-32 179 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida no corpo de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-39 181 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com argola de madeira e casca de imbé. MHS-E-40 175 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, esculpida em haste de madeira maciça. Aplicação de casca de imbé na haste de madeira. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Vestígio de anel de plumas na parte proximal. Encaixe reforçado por casca de imbé. MHS-E-41 200 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Aplicações de casca de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe original quebrado. 134 Flechas de Madeira com Serrilha Unilateral. GRUPO II MHS-E-34 183 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Aplicação de casca de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe original quebrado. MHS-E-35 202 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé. Aplicação de casca de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe original quebrado. MHS-E-36 178 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. Flechas com Ponta de Madeira e Serrilha Bilateral Grupo III MHS-E-07 175 Flecha com ponta de madeira e serrilha bilateral inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Aplicação de casca de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. Flechas com Pontas Rombudas em Madeira - Virote Grupo V MHS-E-09 156 AB Flecha com ponta virote em nó de pinho fixada em haste de madeira maciça com casca de imbé e cerol. Aplique de casca de imbé na haste de madeira. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Dois círculos de plumas junto à porção terminal. Encaixe reforçado com casca de imbé. 135 Flechas com Pontas de Ferro Triangulares Pedunculadas com Aletas Grupo VI A Flecha com ponta de ferro triangular peduncula com aletas inserida em haste de madeira maciça com fibra vegetal, casca de imbé e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-63 146 MHS-E-65 139 A Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça com fibra vegetal, casca de imbé e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-67 150 A Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas fixada em haste de madeira maciça com fibra vegetal, casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-99 155 A Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas fixada em vareta de madeira com casca de imbé e cerol por sua vez inseridas em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-62 138 A1 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com casca de imbé e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Encaixe reforçado com fibra vegetal. MHS-E-68 137 A1 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas fixada em haste de madeira maciça com fibra vegetal, casca de imbé e cerol. Não há vestígios da emplumação. Encaixe reforçado com casca de imbé. 136 Flechas com Pontas de Ferro Foliáceas Pedunculadas com Aletas Grupo VII B Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas fixada em haste de madeira maciça com casca de imbé e cerol. Aplicação de casca de imbé no corpo da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Dois círculos de plumas na porção terminal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-10 152 MHS-E-60 154 B Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas fixada em vareta de madeira com fibra vegetal, casca de imbé e cerol, por sua vez, inseridas em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com fibra vegetal. B Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas fixada em vareta de madeira com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida na haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Emenda fixada com fibra vegetal nos 17 cm terminais. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-61 150 MHS-E-64 159 B Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas fixada em vareta de madeira com fibra vegetal, casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-11 146 B1 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas fixada em vareta de madeira com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Aplique de casca de imbé no corpo da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. MHS-E-12 151 B1 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas fixada em vareta de madeira com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Aplique de casca de imbé na haste de taquara. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Encaixe quebrado. MHS-E-58 159 B1 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas fixada em haste de madeira maciça com casca de imbé e cerol. Emenda na haste da flecha (20 cm) em taquara, fixada com casca de imbé e cerol. Aplique de casca de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal e líber. Encaixe reforçado com fibra vegetal. 137 MHS-E-57 142 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas fixada em vareta de madeira com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara fixadas com fibra vegetal e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. Flecha com Ponta Lítica Grupo VIII MHS-E-13 131 Ponta lítica (quartzo) fixada em haste de madeira maciça com fibra vegetal e cerol. Aplicação de casca de imbé na haste de madeira. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Emenda (último 29 cm) de taquara fixada com cerol e casca de imbé. Dois círculos de plumas na parte terminal fixados com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. 2.2 Armas de Arremesso Simples Lanças Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam tamanho da lança, o comprimento da lâmina, a largura na porção superior da lâmina e a largura nas aletas da lâmina em centímetros, respectivamente. MHS-E-137 162 37 10 14 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular, feitas com talas de taquara e imbé. MHS-E-18 156 34 10 14 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular feitas com talas de taquara e imbé. MHS-E-19 167 42 9 13 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular, feitas com talas de taquara e imbé. 138 MHS-E-20 175 40 9 13 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular feitas com talas de taquara e imbé. MHS-E-21 140 30 8 10 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular feitas com talas de taquara e imbé. MHS-E-22 142 35 10 13 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular, feitas com talas de taquara e imbé. 3 UTENSILIOS PARA O TRANSPORTE POR TERRA DE CRIANÇAS E CARGAS 3.1 Artefatos Trançados Cestos Cargueiros Paneiriformes Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam a altura e o diâmetro do cesto em centímetros, respectivamente. MHS-E-145 37.0 39.0 Cesto cargueiro paneiriforme de bojo cilíndrico e base quadrangular. Bojo e base com trançado quadriculado gradeado. Borda com ourela simples. Tipóia em líber trançado com 4 pontas amarrados ao bojo do cesto por atilhos de liber. MHS-E-146 40.0 40.0 Cesto cargueiro paneiriforme com bojo cilíndrico e base quadrangular cônica. Base e Bojo quadriculado vasado. Borda com ourela simples. 139 com trançado ADORNOS E OBJETOS DE USO PESSOAL 1 Adornos do Tronco 1.1 Adornos de Cordame do Tronco Cinto de Cordões Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam a dimensão da peça, em centímentros. 1.2 Adornos de Materiais Ecléticos do Tronco Colares Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça. MHS-E-152 Colar composto por palmáceas perfuradas vegetais. sementes de gramíneas e sementes de e atadas por um cordel de fibras MHS-E-153 Colar composto por sementes não identificadas, argolas de arreio em bronze, botões de cobre e caninos perfurados de coati, unidos por cordel de fibra vegetal. MHS-E-154 Colar composto por sementes de gramíneas, argolas de ferro presas com ganchos-parafusos, cápsulas de arma de fogo perfuradas e cápsulas de sementes presas por cordel de fibra vegetal. Possui ainda dois pingentes terminados por laminas de ferro perfuradas. MHS-E-155 Colar composto por sementes diversas entremeadas por botões de porcelana, osso, cobre e ferro unidos por cordel de fibra vegetal. MHS-E-156 Colar composto por sementes não identificadas, cápsulas de sementes e duas moedas de bronze batidas, perfuradas. Unidas por cordel de fibras vegetais. 140 polidas e 2 Indumentária e Arranjos de Decoro 2.2 Objetos trançados Saia/Cobertor Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça. MHS-E-142 Manta entretrançada em cordéis brava) medindo 200x100 cm. 141 de fibra vegetal (urtiga ANEXO II COLEÇÃO ETNOGRÁFICA DO MUSEU DE ANTROPOLOGIA DA UFSC E COLEÇÃO TOM WILDI UTENSÍLIOS E IMPLEMENTOS LIGADOS ÀS ATIVIDADES DE SUBSISTÊNCIA, CONFORTO DOMÉSTICO E POSSOAL TRANSPORTE 1 UTENSÍLIOS PARA O PREPARO, CONSUMO E ARMAZENAGEM DE ALIMENTOS. 1.1 Trançados para a guarda e serviço de alimentos. Cestos Gameliformes Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam a altura e o diâmetro do cesto em centímetros, respectivamente. MA-103 18,0 20 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples, com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Arremate da borda com ourela simples. MA-171 23,0 24 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples, com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. Revestido internamente com cerol. TW-232 10,5 13 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples, com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. Impermeabilizado internamente com cerol. TW-234 10,0 13 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples, com arremate da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. TW-235 24,0 22 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples, com acabamento anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. TW-378 28,5 25 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples, com acabamento da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. TW-379 11,0 11 Cesto gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilíndrico, contorno simples, com acabamento da borda anelar em casca de imbé. Trançado sarjado em padrão espinha de peixe. Terminação da borda com trançado quadriculado. Cestos Paneiriformes TW-373 13,0 18 Cesto paneiriforme com base quadrangular cônica, bojo cilíndrico, contorno simples. Trançado quadriculado gradeado. Borda com ourela simples. Vestígios de cerol na parte externa da base. 1.2 Utensílios de Madeira para o Preparo dos Alimentos Pau Ignífero Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam o comprimento em centímetros da peça. TW-238 23 Pau ignífero - base do pau ignífero. apresentando desgaste circular carbonizado internamente em uma das extremidades e com uma ranhura no centro do desgaste. 143 TW-239 24 Pau ignífero - bastão de madeira com uma das extremidades arredondadas e com com o anterior. marcas de combustão. Forma conjunto Pinças Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam o tamanho em centímetros da peça. TW-241 30 Pinça confeccionada em madeira com extremidades distais em relação à articulação com marcas de combustão. Pilões Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam a altura, o diâmetro e a espessura das paredes das peças em centímetros, respectivamente. TW-229 10.6 10.5 1.0 Pilão de madeira vasiforme cilíndrico. Fundo côncavo, marcas de corte na parede externa. Marcas de fogo no interior TW-231 13.0 10.0 0.8 Pilão de madeira vasiforme cilíndrico. Fundo côncavo, marcas de corte na parede externa. Marcas de fogo no interior 144 2 ARMAS PARA OBTENÇÃO DE PRODUTOS DE CAÇA E PARA GUERRA E DEFESA 2.1 Armas de Arremesso Complexas. ARCOS Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam diâmetro do arco na empunhadura, diâmetro do arco nos encaixes e a altura do Arco, em centímentos, respectivamente. TW-365 3.5 2.0 217 Arco de madeira de seção cilíndrica com encaixe reforçado por líber e casca de imbé. Apliques de fibra de casca de imbé ao longo do arco. Nos 35 cm. terminais a madeira está curvada. O encordoamento é em fibra vegetal de 0,7 cm. de espessura fiada em S com quatro fios torcidos de duas pernas cada. Nó de amarração "Padrão Xokleng". TW-366 3.0 2.3 183 Arco de madeira de seção cilíndrica com encaixe reforçado por líber, casca de imbé e fibras trançadas. O encordoamento é em fibra vegetal de 0,5 cm. de espessura fiada em S com quatro fios torcidos de duas pernas cada. Nó de amarração "Padrão Xokleng". TW-367 2.5 1.7 167 Arco de madeira de seção cilíndrica com encaixe reforçado por líber e casca de imbé. O encordoamento é em fibra vegetal de 0,5 cm. de espessura fiada em S com quatro fios torcidos de duas pernas cada. Nó de amarração "Padrão Xokleng". TW-369 4.0 2.5 197 Arco de madeira de seção cilíndrica com encaixe reforçado por líber e casca de imbé. O encordoamento é em fibra vegetal de 0,5 cm. de espessura fiada em S com quatro fios torcidos de duas pernas cada. Nó de amarração "Padrão Xokleng". 145 FLECHAS Os alfanuméricos em negrito indicam a sigla de identificação da peça; o algarismo em itálico indica a sua dimensão em centímetros. Flechas de Madeira Serrilhadas Unilaterais Grupo I. 123 160 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na vareta da flecha. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com casca de imbé. 124 160 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 128 156 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 130 157 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 138b 156 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fietal. Aplique de imb_ entre as amarra_äes das penas. Encaixe refor_ado com imb_. 146 TWCT-343 185 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imb_ e cerol. Apliques de imb_ na haste da flecha. Partes distal e proximal da empluma_Æo fixadas com fibra vegetal. Aplique de imb_ entre as amarra_äes das penas. Encaixe refor_ado com imb_. TWCT-344 182 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara ces das penas. Encaixe reforçado imbé. com 160b 164 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 161b 152 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral esculpida na haste de madeira maciça. Amarração e apliques de casca de imbé e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 161c 153 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, esculpida na haste de madeira maciça. Amarração e apliques em casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 162a 165 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 162b 164 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 163b 139 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 147 260 194 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada na haste de taquara com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 263 185 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Parte distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 264 181 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 88 166 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 89 170 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Parte distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Encaixe reforçado com imbé. 90 166 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, fixada na haste de taquara com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste de taquara. Parteponta rombuda (virote) em n¢ de pinho fixada em haste de taquara com casca de imb_ e cerol. Aplique de imb_ na haste de taquara. Partes distal e proximal da empluma_Æo amarradas com fibra vegetal. Aplique de imb_ entre as amarra_Æo das penas. Encaixe refor_ado com casca de imb_ . 95 152 Flecha com ponta rombuda (virote) em n¢ de pinho fixada em haste de taquara com casca de imb_ e cerol. Aplique de imb_ na haste de taquara. Partes distal e proximal da empluma_Æo amarradas Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara por casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas, um círculo de plumas na parte terminal. Encaixe reforçado por imbé. 148 TW-sn 179 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara por casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste de taquara. Partes proximal e distal da emplumação fixadas com fibra vegetal e imbé. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado por imbé. TWCT-252 164 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-253 176 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-254 174 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-258 181 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Apliques de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-259 141 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara por casca de imbé e cerol. Amarração com cera e imbé entre as serrilhas. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado por imbé. TWCT-342 172 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-343 185 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. 149 TWCT-344 182 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Amarração de emenda, também de taquara, feita com casca de imbé e cerol, a 94 centímetros do encaixe. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de fibra vegetal entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-345 177 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-347 175 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste de taquara. Partes proximal e distal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Apliques de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. Flechas de Madeira com Serrilha Unilateral. GRUPO II 262 178 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-257 186 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada em haste proximal terminal entre as imbé. TWCT-256 147 de taquara por casca de imbé da emplumação fixada com fibra fixada com fibra vegetal e imbé. amarrações das penas. Encaixe e cerol. Parte vegetal e parte Aplique de imbé reforçado por Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral, inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com fibra vegetal. TWCT-348 189 Flecha com ponta de madeira e serrilha unilateral fixada na haste de taquara com fibras vegetais, imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com fibras vegetais. 150 Flechas com Ponta de Madeira e Serrilha Bilateral Grupo III TW-sn 164 Flecha com ponta de madeira e serrilha bilateral inserida em haste de taquara sendo esta fixada na haste principal de taquara, ambas as amarrações feitas com casca de imbé e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-341 180 Flecha com ponta de madeira e serrilha bilateral fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Apliques de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. TWCT-349 181 Flecha com ponta de madeira e serrilha bilateral fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. Flechas com Pontas Rombudas em Madeira - Virote Grupo IV 125 148 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Dois círculos de pluma próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. 139c 161 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. 151 162c 150 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. 96 156 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. CT-116 148 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. CT-246 131 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com casca de imbé. Flechas com Pontas Rombudas em Madeira - Virote Grupo V 131 141 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. 164b 139 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarração das penas. Encaixe reforçado com casca de imbé. 95 152 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Um círculo de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. 152 CT-250 142 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre a amarração das penas. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. TW-248 148 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre a amarração das penas. Encaixe reforçado com casca de imbé. TWCT-247 153 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre a amarração das penas. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. TWCT-249 123 Flecha com ponta rombuda (virote) em nó de pinho fixada em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste de taquara. Partes distal e proximal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre a amarração das penas. Encaixe reforçado com casca de imbé. Flechas com Pontas de Ferro Triangulares Pedunculadas com Aletas Grupo VI TWCT-306 125 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas fixada em vareta de madeira com fibra vegetal e cerol por sua vez inserida em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com fibra de imbé. TWCT-306 125 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Partes proximal e distal da emplumação atadas com cordel de fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. 153 141 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com fibras vegetais e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Parte proximal e distal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado por fibras vegetais. TWCT-307 140 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com fibras vegetais, imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com fibras vegetais. TWCT-308 147 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira e fixada com fibra vegetais e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de fibras vegetais entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com fibras vegetais. TWCT-310 127 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com fibras vegetais recobertas com cerol e fibras de imbé. Partes proximal e distal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com fibra vegetal. TWCT-311 134 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste madeira maciça e fixada com fibras vegetais recobertas por cerol e casca de imbé. Parte distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé . TWCT-307 TWCT-311a 134 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Partes proximal e distal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com fibra vegetal. TWCT-314 147 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com fibras vegetais recobertas com cerol e imbé. Aplique de imbé na haste da flecha. Parte proximal e distal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado por fibra vegetal. TWCT-314a 146 Flecha com ponta de ferro triangular pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com fibras vegetais cobertas com cerol e imbé. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Encaixe reforçado com fibras vegetais. 154 Flechas com Pontas de Ferro Folíaceas Pedunculadas com Aletas Grupo VII 160d 138 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira e fixada com casca de imbé e cerol, e por sua vez inserida em haste de taquara, também fixada com casca de imbé e cerol. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com imbé. 163d 131 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira e fixada com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste de taquara. Partes proximal e distal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Encaixe reforçado com imbé. CT-126 139 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira e fixada com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara e também fixada com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Apliques de imbé entre as amarrações das penas, dois círculos de plumas próximos à parte terminal. Encaixe reforçado com casca de imbé. TWCT-309 162 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira e fixada com casca de imbé e cerol, por sua vez inseridas em haste de taquara, também fixada com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Apliques de imbé entre as amarrações das penas, dois círculos de plumas próximos a parte terminal. Encaixe reforçado com casca de imbé. TWCT-312 161 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com cerol e casca de imbé. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Amarração de imbé entre as penas para inserção de emenda de taquara de 34 centímetros aumentando o comprimento da flecha. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. 155 TWCT-313 149 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em haste de madeira maciça e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste da flecha. Parte distal e proximal da emplumação fixada com fibra vegetal. Encaixe reforçado com casca de imbé. 139d 148 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira e fixada com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes proximal e distal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Dois círculos de plumas próximos à parte terminal. Encaixe reforçado por casca de imbé. 93 153 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira e fixada com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Aplique de imbé na haste da flecha. Partes distal e proximal da emplumação fixadas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas, dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com casca de imbé. CT-161e 152 Flecha com ponta de ferro foliácea pedunculada com aletas inserida em vareta de madeira e fixada com casca de imbé e cerol, por sua vez inserida em haste de taquara e fixada com casca de imbé e cerol. Apliques de imbé na haste de taquara. Partes proximal e distal da emplumação amarradas com fibra vegetal. Aplique de imbé entre as amarrações das penas. Dois círculos de plumas próximos ao encaixe. Encaixe reforçado com imbé. 2.2 Armas de Arremesso Simples Lanças Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam tamanho da lança, o comprimento da lâmina, a largura na porção superior da lâmina e a largura nas aletas da lâmina em centímetros, 156 respectivamente. 139 133 22 8 11 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular, feitas com talas de taquara e imbé. 243 140 24 7 9 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas, fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular, feitas com talas de taquara e imbé. TW-244 162 33 8 12 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular, feitas com talas de taquara e imbé. TWCT-245 135 20 6 10 Lança com lâmina de metal foliácea pedunculada com aletas fixada em base de madeira de corte losangular com cerol e casca de imbé. Decoração em cestaria fixada no corpo de madeira formando linhas paralelas, com trançado quadricular, feitas com talas de taquara e imbé. 3 UTENSILIOS PARA O TRANSPORTE POR TERRA DE CRIANÇAS E CARGAS 3.1 Artefatos Trançados Cestos Cargueiros Gameliformes Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam altura e o diâmetro do cesto em centímetros, respectivamente. TW-375 24,5 23 Cesto cargueiro gameliforme com base quadrangular plana, bojo cilindríco, contorno simples. Trançado quadriculado gradeado. Borda com ourela simples. Possui cinco atilhos em casca de imbé para pendurar, distribuidos em seu bojo. 157 Cestos Cargueiros Paneirifomes Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam altura e o diâmetro do cesto em centímetros, respectivamente. TW-377 31,0 27 Cesto cargueiro paneiriforme com base quadrangular plana e bojo cilíndirico. Base com trançado quadriculado gradeado. Borda com arremate simples. Tipóia trançada em líber, fixa ao cesto por atilhos, também em liber. TW-380 35 30 Cesto cargueiro paneiriforme com bojo cilíndrico e base quadrangular. Base com trançado quadriculado gradeado. Borda com arremate simples. Tipóia trançada em líber, arrematada em cordel, fixa ao cesto por atilhos em líber. Tipóias Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça 120 Tipóia trançada com 16 fitas, sendo 15 de líber e 1 de casca de imbé, dividida nas duas extremidades em duas faixas de 8 fitas e arrematada em nó. TW-382 Tipóia trançada em 16 fitas, sendo 4 de casca de imbé e 12 de líber, dividida em ambas as extremidades em duas faixas de 8 fitas cada, arrematadas por dois cordéis torcidos. TW-384 Tipóia trançada em 16 fitas, sendo 14 de líber e 2 de casca de imbé. Arremate em nó, formando duas faixas de 8 fitas, terminando em 3 cordéis torcidos. 158 ADORNOS E OBJETOS DE USO PESSOAL 1 Adornos do Tronco 1.1 Adornos de Cordame do Tronco Cinto de Cordões Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam a dimensão da peça, em centímetros. TW-240 40.0 Cinto masculino composto por 19 cordéis de 1mm, confeccionados em casca de imbé, fiado com 3 fios. Amarração entre os cordéis é com cordel de líber. Em dois pontos longituginais amarração com cordéis de líber. TW-242 40.0 Cinto masculino composto por 15 cordéis de 1mm, confeccionados em casca de imbé, fiado com 3 fios. Amarração entre os cordéis é com cordel de líber. Em dois pontos longituginais amarração com cordéis de líber. TW-381 40.0 Cinto masculino composto por 21 cordéis de 1mm, confeccionados em casca de imbé, fiado com 3 fios. Amarração entre os cordéis é com cordel de líber. Em dois pontos longituginais amarração com cordéis de líber. 2 Indumetária e Arranjos de Decoro 2.1 Tratamento do Corpo Perfurador de Lábio Os alfanuméricos em Negrito indicam a sigla de identificação da peça; os algarismos em itálico indicam a dimensão da peça, em centímetros. TW-223 19.5 Perfurador de lábio confeccionado em madeira endurecida pelo fogo. TW-224 20.0 Perfurador de lábio confeccionado em madeira endurecida pelo fogo. TW-225 17.5 Perfurador de lábio confeccionado em madeira, endurecida pelo fogo. TW-226 17.5 Perfurador de lábio confeccionado em madeira endurecida pelo fogo. 160 Anexo III Lista dos Ataques Xokleng documentados na Bibliográfia Pesquisada Abreviações MAT = Mata Atlântica MAR = Mata de Araucárias A. Xokleng = Ataques de Bugreiros às Aldeias Xokleng Referência Localidade Citada FPP-01 FPP-01 FPP-18 FPP-03 1835 1835 1854 1839 MAT MAT MAR MAT FPP-02 FPP-02 1838 1838 MAR MAT FPP-02 BOITEUX, Lucas A. BOITEUX, Lucas A. FPP-04 FPP-04 DALL'ALBA, João L. FPP-06 FPP-06 1838 1939 MAT MAT 1939 MAT 1840 1840 1973 MAT MAT MAT 1842 1842 MAR MAT FPP-08 AVÉ-LALLEMANT, Robert FPP-12 FPP-12 FPP-14 FPP-16 FPP-15 1844 1980 MAT MAT 1849 1849 1850 1852 1851 MAR MAT MAT DEEKE. Santos FPP-18 DEEKE. Santos FPP-19 FPP-20 FPP-21 FPP-21 FPP-21 1973 MAT 1854 1973 MAR MAT 1855 1856 1857 1857 1857 MAT MAT MAT MAT MAR FPP-21 FPP-22 1857 1858 MAR MAR FPP-21 WACHOWICZ, Rui, C. 1980 DEEKE. in: Santos 1973 FPP-23 1857 1980 MAT 1973 1863 in: 1973 in: 1973 Camboriú Piçarras imediações de Lages Colônia Italiana Demaria e Schutel Itajaí Bom Retiro Caldas do Cubatão: Município Atual Camboriú Piçarras Lages São João Batista Mês Ano 6 1 1834 1834 1835 1838 1838 1838 Colônias de Itajaí Colônia Nova Itália (Demaria e Schutel) Colônia Nova Itália (Demaria e Schutel) Colônia de Itajaí Tijucas Grandes Rio Saguaçu Bom Retiro Santo Amaro da Imperatriz Brusque São João 1 Batista São João 10 Batista Brusque Tijucas Garuva Curitibanos Sertões do São Francisco do Sul Piçarras Colônia Tijuca Curitibanos 2 São Francisco 3 do Sul Piçarras Tijucas 2 1842 1842 Três Barras Palmital Volta Grande de Itajaí Boa Vista São Francisco do Sul Três Barras Garuva Itajaí ? São Francisco do Sul Blumenau 1 4 9 11 1848 1849 1849 1850 1850 12 1852 Lages Blumenau 4 1 1853 1855 Urussanga Itajaí Mirim Margens do Itajaí Araranguá Vila de Lages Bandeirinhas Lages - Bandeirinha Coletoria do Passa Dois Itajaí Pequeno Saltinho - Paraná Urussanga Brusque Itajaí Araranguá Lages 1 11 10 12 12 1855 1855 1856 1856 1856 MAT MAT MAT Barra Velha (Ribeirão da Velha) Rio Bonito - Lages Blumenau 1838 1839 1839 1840 1840 1840 1844 1847 Lages 1 Santa Cecília 4 1857 1857 Brusque - 12 1857 1858 Blumenau Blumenau 12 1862 Colônia Blumenau Blumenau 12 1862 FPP-24 CABRAL, Oswaldo R. CABRAL, Oswaldo R. FPP-24 FPP-25 1863 1958 MAT MAT Colônia Brusque Brusque Aguas Claras (Brusque) Brusque 1 3 1863 1863 1959 MAT Pedra Grande Brusque 9 1863 1863 1865 MAT MAT 1863 1865 1960 MAT Tubarão São João Batista Brusque 12 3 CABRAL, Oswaldo R. DEEKE. in: Santos 1973 CABRAL, Oswaldo R. WACHOWICZ, Rui, C. 1980 WACHOWICZ, Rui, C. 1980 DEEKE. in: Santos 1973 FPP-29 FPP-29 FPP-29 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 GERNHARD FPP-32 FPP-32 FPP-32 FPP-33 FPP-33 FPP-33 FPP-33 FPP-33 Colônia Tubarão São João Batista (do Alto Tijucas) Pomerânia 12 1865 1973 MAT Garcia Blumenau 1 1866 1961 MAT Brusque Brusque 2 1866 Região de Papanduva Paraná Passo Ruim - Paraná - 4 1868 1980 1980 - 1868 1973 MAT Alto Rio Têsto Pomerode 3 1870 1872 1872 1872 1973 MAT MAT MAR MAT Campo Bom - Laguna Barra Velha Lages Rio Têsto Jaguaruna Barra Velha Lages Pomerode 6 7 8 2 1871 1871 1871 1872 1973 MAT Garcia Blumenau 7 1872 1973 MAT Benedito Timbó 11 1872 1901 1874 1874 1874 1876 1876 1876 1876 1876 MAT MAT MAT MAT MAT MAT MAR MAR MAT Joinville Barra Velha Penha Joinville Barra Velha Joinville São Joaquim Curitibanos Bom Retiro 11 1 2 3 9 12 1873 1873 1873 1873 1875 1875 1875 1875 1875 FPP-34 GERNHARD DEEKE. in: Santos 1973 FPP-35 FPP-36 1876 1901 1973 MAT MAT MAT Dona Francisca Barra Velha Itapocoroi Serra de Joinville Barra Velha Joinville São Joaquim Curitibanos Colônia de Santa Teresa Joinville Dona Francisca Rio dos Cedros 1 1 10 1876 1876 1876 1877 1877 MAT MAT Joinville Joinville Rio dos Cedros Blumenau Águas Mornas 10 1 1876 1877 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 FPP-37 FPP-39 GERNHARD FPP-40 FPP-40 FPP-41 SILVA, Emílio da 1973 MAT 2 1877 Tatutiba Rio dos Cedros ? 3 1877 1973 Blumenau Rio Novo - Colônia Teresópolis Rio dos Cedros 1973 MAT Itoupava Alta Blumenau 5 1877 1878 1880 1901 1881 1881 1882 1977 MAT MAT MAR MAT MAR MAR MAT Blumenau Gravatal - Tubarão São Bento Teresópolis Santa Teresa Município de Lages Rio Paula Grande Blumenau Gravatal São Bento Águas Mornas Bom Retiro Lages Jaragua do Sul 1 10 1 10 11 1878 1879 1880 1880 1880 1881 1881 162 FPP-43 1883 MAR FPP-43 1883 MAT FPP-43 1883 MAT MARZANO, Luighi. 1904 SILVA, Emílio da 1975 MAT MAT STULZER, 1973 Aurélio. DEEKE. in: 1973 Santos 1973 MARZANO, Luighi. 1905 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 MARZANO, Luighi. MARZANO, Luighi. DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 FPP-44 FPP-44 1973 São Joaquim da Costa da Serra Azambuja São Joaquim 1882 2 1883 2 1883 2 3 1883 1883 MAT Pedras Grandes São Francisco do Sul - Jaraguá do Jaraguá do Sul Sul Rio Salto - Urussanga Urussanga Jaraguá do Sul Jaraguá do Sul Itapocu Barra Velha 5 1883 MAT Itoupava-Rega Blumenau 7 1883 MAT Urussanga 7 1883 MAT Rio dos Americanos Urussanga Neisse Apiúna 11 1883 1973 MAT Tiroler-Strasse Rodeio 4 1884 1906 1907 1973 MAT MAT MAT Rio Maior - Urussanga Urussanga Rio Carvão - Urussanga Urussanga Guaricanas Ascurra 4 6 3 1884 1884 1885 1973 MAT Lontras Lontras 9 1885 1886 1886 MAT MAT Blumenau Blumenau 9 11 1885 1885 FPP-44 1886 MAT Joinville 11 1885 DEEKE. in: Santos 1973 FPP-44 1973 MAT Blumenau Vila de Blumenau Jordão Warner - Garcia Itoupava - Joinville Garcia Blumenau 12 1885 1886 MAT Itajaí 12 1885 FPP-45 FPP-45 FPP-45 FPP-45 FPP-45 FPP-45 WACHOWICZ, Rui, C. 1980 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DALL'ALBA, João L. DALL'ALBA, João L. DALL'ALBA, João L. STULZER, Aurélio. DEEKE. in: Santos 1973 1888 1888 1888 1888 1888 1888 1980 MAT MAR MAR MAR MAT MAR Urussanga Lages Bom Retiro Bom Retiro Cocal do Sul Santa Cecília - 10 12 12 1 4 10 1886 1886 1886 1887 1887 1887 1888 1973 MAT São Luiz Gonzaga Itajaí Urussanga Lages Santa Teresa Santa Teresa Rio Cocal Passa Dois União da Vitória Paraná S. Pedrinho Dr. Pedrinho 1 1889 1973 MAT S. Pedrinho Dr. Pedrinho 1889 1973 MAT S. Pedrinho Novo Dr. Pedrinho 1889 1973 MAT Trombudo 1975 MAT Rio Furtuna Trombudo Central Rio Fortuna 1974 MAT Rio Mauricio 1976 MAR Rio Facão 1974 MAT Rio dos Cedros 1973 MAT Milaneses 163 7 Braço do Norte Bom Jardim da Serra Rio dos 1 Cedros Rodeio 2 1890 1890 1890 1893 1894 1894 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 SILVA, Emílio da STULZER, Aurélio. DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 MARZANO, Luighi. 1973 Estrada de Curitibanos ? 1 1895 1973 Estrada de Curitibanos ? 6 1895 1973 Estrada de Curitibanos ? 12 1895 1973 Estrada de Curitibanos ? 5 1897 DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos FPP-46 FPP-46 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 1978 1975 MAT MAT Rodeio (A. Xokleng) Rio dos Cedros 1973 MAT Subida Rodeio Rio dos Cedros Apiúna 2 1902 1973 MAT Ipiranga Benedito Novo 7 1902 Ribeirão dos Russos ? 7 1902 Nova Treviso Urussanga Nova Bremen Siderópolis 10 1902 ? 11 1902 Guaricanas Ascurra 12 1902 1973 1908 1973 MAT MAT 1897 1899 1973 Estrada de Curitibanos ? 4 1903 1973 Estrada de Curitibanos ? 9 1903 1973 Estrada de Curitibanos ? 3 1904 1973 Ribeirão Basílio ? 3 1904 1973 MAT Fundos Warnow Indaial 4 1904 1905 1905 MAR MAT Bom Retiro Botuverá 1 1904 1905 FPP-46 FPP-46 1905 1905 MAT MAT Araranguá Araranguá 1 2 1905 1905 FPP-46 1905 ? 2 1905 1973 Estrada São José/Lages Brusque - Ribeirão do Ouro Município de Araranguá Ararangua - Volta Grande Estrada de Blumenau/Curitibanos Estrada de Curitibanos ? 7 1905 1973 Estrada de Curitibanos ? 7 1905 1973 Estrada de Curitibanos ? 7 1905 Angelina Angelina Estrada de Curitibanos ? 11 2 1905 1906 Estrada de Curitibanos ? 4 1906 DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos FPP-46 DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos DEEKE. Santos in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 in: 1973 1905 1973 MAT 1973 1973 MAR Scharlach-Hansa Rio Negrinho 10 1906 1973 MAR Indios Hansa Rio Negrinho 11 1906 1973 MAT Pouso Redondo Pouso Redondo 10 1908 1973 MAT Braço do Oeste Rio do Oeste 1908 164 11 DEEKE. in: 1973 Santos 1973 SILVA, Emílio da 1976 MAT Pinhalsinho Apiúna 11 1908 MAT Vale do Jaraguazinho 11 1910 DEEKE. in: 1973 Santos 1973 SILVA, Emílio da 1979 MAR Rafael-Hansa Jaraguá do Sul Rio Negrinho 12 1910 MAR DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DALL'ALBA, João L. DEEKE. in: Santos 1973 DEEKE. in: Santos 1973 DALL'ALBA, João L. DALL'ALBA, João L. DALL'ALBA, João L. DALL'ALBA, João L. DALL'ALBA, João L. 1973 MAT Ribeirão Rodrigues Jaraguá Pinheiros Jaraguá do Sul Taió 2 1911 1973 MAT Estrada do Rio Preto Mafra 4 1911 1973 MAR Indios Hansa Rio Negrinho 9 1911 1973 MAT Ipiranga Benedito Novo 11 1911 Ribeirão dos Russos ? 1911 1973 1910 11 1973 MAT Pouso Redondo Pouso Redondo 6 1912 1973 MAT Braço do Oeste Rio do Oeste 2 1913 1973 MAT Braço do Oeste Rio do Oeste 5 1913 1973 MAT Caminho Reuter Blumenau 7 1913 1973 MAR Kraul-Hansa Rio Negrinho 8 1913 1973 MAT Braço do Oeste Rio do Oeste 10 1913 1977 MAR Rio Facão 1913 1914 1973 Liberdade Bom Jardim da Serra ? 6 1973 Liberdade ? Nova Fátima (A. Xokleng) Rio dos Bugres (A. Xokleng) Campo dos Padres (A. Xokleng) Povoamento (A. Xokleng) Santa Maria do Capivari (A. Xokleng) Urubici 1917 Urubici 1917 Urubici 1918 Orleães 1925 Orleães 1927 1978 MAR 1981 MAR 1980 MAR 1982 MAT 1979 MAT 165 6 1914 ANEXO IV Divisão do Trabalho entre os Xokleng (Adaptado de Henry, 1964: 172) Atividade Envolvimento das Pessoas Divisão Sexual Caça Comunitária e Individual Homens Ataque Defesa Comunitária Homens Coleta do Pinhão Comunitária e Individual Ambos os Sexos Coleta de Mel Comunitária e Individual Ambos os Sexos Coleta de Frutos Individual Ambos os Sexos Coleta de Insetos Individual Ambos os Sexos Prep. Alimentos Individual Mulheres Prep. Bebida Comunitária Ambos os Sexos Prep. do Fogo Comunitária Homens Const. Abrigos Comunitária e Individual Ambos os Sexos Cerâmica Individual Mulheres Prep. Cochos Bebida Comunitária Homens Cestaria Individual Homens Fiação Individual Mulheres Flechas e Bordunas Individual Homens Prep. Lanças Comunitária Homens Prep. Pilões Individual Homens Prep. Mãos Pilão Individual Mulheres Conf. Saias Cobertor Individual Mulheres Conf. Ornam. Dança Individual Conf. Labretes Individual Prep. Arcos, Homens