UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ
JOSSANA VIVIANE GABBI
A CONTRIBUIÇÃO CULTURAL DOS IMIGRANTES ALEMÃES NA HISTÓRIA DE
PANAMBI: AS PRINCIPAIS FESTIVIDADES E FORMAS DE LAZER
Ijuí (RS)
2014
JOSSANA VIVIANE GABBI
A CONTRIBUIÇÃO CULTURAL DOS IMIGRANTES ALEMÃES NA HISTÓRIA DE
PANAMBI: AS PRINCIPAIS FESTIVIDADES E FORMAS DE LAZER
Monografia apresentada ao Curso de História,
da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Licenciado em História.
Orientador: Prof. Dr. Ivo dos Santos Canabarro
Ijuí (RS)
2014
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Professor Dr Ivo dos Santos Canabarro, por sua
dedicação e pelas orientações perante a elaboração desse trabalho. Também agradeço aos
professores e tutores da Unijuí, que foram pessoas muito importantes em todo o decorrer da
minha trajetória acadêmica. Agradeço á equipe do Museu e Arquivo Histórico Professor
Hermann Wegermann de Panambi (MAHP), pela atenção e dedicação no auxílio as minhas
pesquisas. Em especial agradeço a minha mãe Jaci (In Memorian), e á minha família por todo
o carinho e incentivo.
RESUMO
O referido trabalho de pesquisa tem como principal objetivo, analisar a vinda dos primeiros
imigrantes alemães ao estado do Rio Grande do Sul, destacando a contribuição cultural dos
mesmos ao município de Panambi localizado no noroeste do estado. O município de Panambi
possui forte influência alemã, e ainda preserva muitas características trazidas pelos
imigrantes. Aspectos culturais como as festividades e as formas de lazer, sempre se fizeram
muito presentes na vida das pessoas, amenizando o cansaço do trabalho e possibilitando
momentos de entretenimento entre familiares e amigos. Desde os primeiros anos de fundação
da Colônia Neu-Württemberg (atual município de Panambi), muitas atividades culturais já
eram desenvolvidas pelos imigrantes. Destacam-se as peças teatrais produzidas por Marie
Faulhaber, as Sociedades de Canto, de Tiro ao Alvo, de Bolão, e também os locais de
encontro como o cinema, entre outras curiosidades que contribuíram muito para a história do
lugar.
PALAVRAS-CHAVE: Imigração.Colonização.Festividades.Neu-Württemberg.Panambi.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Dr. Herrmann Meyer ......................................................................................... 15
Figura 2- Vista da Colônia Neu-Württemberg. ................................................................. 16
Figura 3- Família Faulhaber. ............................................................................................. 22
Figura 4- Lado leste da Praça Engenheiro Walter Faulhaber,1914 ................................. 32
Figura 5- Bolão Boa Esperança ......................................................................................... 34
Figura 6- Sociedade de Cantores Luteranos ...................................................................... 35
Figura 7- Coral .................................................................................................................. 35
Figura 8- Casamento ......................................................................................................... 38
Figura 9- Cinema Goldhardt ............................................................................................. 41
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 7
CAPÍTULO 1 Os imigrantes alemães e suas perspectivas de vida diante do novo
lar............. ................................................................................................................................... 9
1.1 A chegada dos primeiros imigrantes alemães no estado do Rio Grande do Sul ........... 9
1.2 A Colonização alemã em Neu-Württemberg .............................................................. 13
CAPÍTULO 2 Os imigrantes alemães e a sua contribuição cultural na Colônia NeuWürttemberg ............................................................................................................................. 21
2.1 As primeiras festividades em Neu-Württemberg e a contribuição do casal Faulhaber
na formação da Colônia ............................................................................................................ 21
2.2 A importância da fotografia como registro histórico em relação ao desenvolvimento
da Colônia ................................................................................................................................. 29
CAPÍTULO 3 A herança cultural alemã presente no cotidiano dos moradores, principais
momentos festivos e formas de lazer ........................................................................................ 34
CONCLUSÃO .................................................................................................................. 46
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 47
INTRODUÇÃO
A imigração é um assunto que nos conduz, a uma imensidade de descobertas.
Analisar e compreender os sentimentos, seguidos de inúmeros objetivos de vida desses
imigrantes, nos ajuda a desvendar a nossa própria história. Talvez se nossos antepassados não
tivessem vivido essa aventura repleta de dificuldades, mas com muitos sonhos, sempre
idealizando um futuro melhor, quem sabe o rumo que muitas histórias teriam seguido.
No primeiro capítulo desse trabalho de pesquisa, foi realizada uma análise sobre a
vinda dos primeiros imigrantes alemães ao estado do Rio Grande do Sul. Através da leitura do
mesmo, é possível compreender melhor todo o contexto histórico da época, e também os
principais sentimentos dos imigrantes que vieram ao Brasil em busca de uma nova vida. Neste
também foram analisados aspectos culturais, primeiras impressões do novo lar, principais
dificuldades entre outros aspectos. O início da colonização alemã e a chegada dos primeiros
imigrantes em Neu-Württemberg, atual município de Panambi também serão abordados neste
item. Aqui serão destacados nomes importantes da história de Panambi como Herrmann
Meyer, com sua empresa colonizadora.
Em seguida no segundo capítulo será analisada a importância da vinda do casal de
imigrantes alemães, Hermann e Marie Faulhaber a colônia de Neu-Württemberg. Essas
pessoas iniciaram atividades relacionadas ao desenvolvimento cultural do lugar. Marie
Faulhaber além de uma excelente pedagoga introduziu inúmeros trabalhos culturais com a
comunidade, que com certeza foram muito importantes para o desenvolvimento da colônia. A
importância da fotografia como registro histórico, também será analisada neste capítulo.
No último e terceiro capítulo serão ressaltadas algumas sociedades culturais, que
foram surgindo no lugar no decorrer dos anos. Destacam-se neste item as sociedades de canto,
atiradores, bolão entre outros. Também serão focadas neste item, algumas das principais
características referentes às festas tradicionais, e também a lugares de encontro e
entretenimento.
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Os muitos grupos étnicos, que colonizaram diversas localidades do estado do Rio
Grande do Sul trouxeram consigo, uma diversidade de saberes e de cultura. Apesar de muitas
vezes a rotina ser árdua, ainda mais no início de todo esse processo de adaptação com o novo
lar, eram nos momentos de descontração que encontravam a alegria para seguir em frente com
o seu trabalho. São muitas as heranças culturais trazidas por esses grupos, como as
festividades seguidas de muita música e dança, e também uma gastronomia ainda muito
preservada em nossas mesas.
A imigração alemã permitiu o conhecimento das experiências de vida da terra
natal (Alemanha), trazidas por essas pessoas que viram no Brasil, a esperança de uma vida
melhor. Estudar e pesquisar sobre esse assunto, é particularmente muito gratificante, por saber
mais a história de meus descendentes e também por ter escolhido um município de
colonização alemã para minha vivência.
Na visão de Kosik, “A história só é possível quando o homem não começa sempre
do novo e do princípio, mas se liga ao trabalho e aos resultados obtidos pelas gerações
precedentes. ’’(1976, p.18)
Compreender essa trajetória vivenciada por essas pessoas, e principalmente
conduzir as novas gerações a apreciar e preservar toda essa herança cultural trazida pelos
imigrantes,
são
os
principais
ideais
desse
trabalho
de
pesquisa.
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Capitulo 1 - Os imigrantes alemães e suas perspectivas de vida diante do novo lar
1.1 A chegada dos primeiros imigrantes alemães no estado do Rio Grande do Sul
O ano de 1824 (um mil oitocentos e vinte e quatro) foi sem dúvidas a
data de um acontecimento histórico muito marcante, para a história do estado do Rio
Grande do Sul. Mais precisamente no dia 18 do mês de julho do ano de 1824, chegavam
ao porto de Porto Alegre, os primeiros imigrantes alemães. O Brasil neste período
estava sendo governado, pelo imperador Dom Pedro I, e o Presidente da Província era
José Feliciano Fernandes Pinheiro, que estava presente no dia da chegada dos primeiros
imigrantes.
De acordo com Hunsche (1977, p. 38), “Acostumados a pensar em
dimensões geográficas do Brasil com seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados de
superfície e com as extensões norte-sul e leste-oeste de mais de 6.000 quilômetros
lineares cada uma, o mapa dos muitos estados da Alemanha no ano de 1826 parece-nos
uma minúscula e multicolorida colcha de retalhos. ’’ Certamente a imensidão territorial
do Brasil, surpreendeu muito os imigrantes que aqui chegaram. A vontade de cultivar
essa terra, de tirar dela o seu sustento, era o sonho de muitos. Assim como a maioria dos
grupos étnicos que chegaram ao Brasil, os alemães também tinham como principal
objetivo a busca por melhores condições de vida.
Como havia salientado, o Brasil vivia o início do período Imperial. Este
período foi marcado, por alguns acontecimentos infelizes para a história do país. Mais
precisamente no mês de dezembro do ano de 1825, D. Pedro I deu início á Guerra da
Cisplatina. No ano seguinte, quando D. Pedro I estava em Porto Alegre no Rio Grande
do Sul, com o propósito de dirigir pessoalmente as operações militares contra a
Argentina, recebeu a triste notícia da morte da Imperatriz D. Leopoldina. A Imperatriz
faleceu no dia 11 de dezembro do ano de 1826, no Rio de Janeiro. Ainda em 10 de
10
março do mesmo ano, havia falecido em Portugal D. João VI. Algum tempo antes de
sua morte, D. João VI, havia reconhecido perante o Tratado de Paz e Aliança entre
Brasil e Portugal, a independência do Império do Brasil. Assim ficou cedido a D. Pedro
I, o cargo de sucessor imediato para atuar o exercício de soberania no Império do Brasil.
Como podemos observar, juntamente com o desenvolvimento do Império, o país
precisou enfrentar situações difíceis e que ficaram marcadas em sua história.
Ao contrário do que, geralmente, se pensava a emigração alemã para o Brasil
começou cronologicamente e geograficamente nos Estados do Sudoeste da
Alemanha, nos Reinos de Baden e Württemberg, provocada pelas
dificuldades econômicas já, em si, grandes e agravadas, ainda, pelas
consequências das longas Guerras napoleônicas. (HUNSCHE, 1977, p.40).
Já no ano de 1818, muitos alemães adquiriram grandes proporções de áreas
de terras no Brasil. Esta aquisição era amparada por uma lei de 25 de maio de 1808,
estabelecida por D. João, que deixava à permissão a concessão de sesmarias para
pessoas que não fossem portuguesas.
Os Estados alemães não tinham uma mesma opinião, á respeito da vinda de
pessoas para o Brasil. Alguns Estados consideravam o fato favorável em alguns
aspectos, e também desfavorável em outros.
Para Hunche (1977, p.43):
A emigração podia ser considerada favorável para o Estado como meio para
diminuir a pressão demográfica mediante afastamento de indigentes,
incapazes e marginais, e, por outro lado, podia ser considerada desfavorável
para o Estado em virtude da perda de mão de obra, soldados e recursos
econômicos.
De acordo com a citação, a emigração seria favorável para o Estado apenas
se tivesse como principal objetivo enviar pessoas que na visão dos governantes não
contribuíam em nada para o desenvolvimento do lugar. Já a perda de soldados e da mão
de obra produtiva, seria algo lamentável para o Estado, pois assim ele estaria perdendo
benefícios.
No Estado de Württemberg, por exemplo, o direito de imigração foi
reconhecido por volta do ano de 1815. Os imigrantes esperavam encontrar no Brasil
uma existência sem preocupações. Esta questão de uma existência sem preocupações é
algo quase impossível, ainda mais se tratando de uma mudança muito grande de vida.
Sair de um país de origem requer muitos desapegos, principalmente dos familiares que
ficaram. Certamente esses imigrantes sentiam muito medo do desconhecido que aqui os
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esperavam, mas a vontade de viver melhor superava todas essas angústias ou boa parte
delas.
Sem saber muito certo o que aqui os esperavam, os imigrantes certamente
mantinham-se focados de que, a vida em um país com tantos atrativos seria menos
árdua do que a vivida na pátria mãe. Para essas pessoas possuir um teto para abrigar
a família, e ter uma terra para plantar e cultivar o seu alimento, com uma vivência
tranquila, era o acontecimento mais esperado.
De acordo com Neumann (2009, p.15):
Em geral, os subsídios oferecidos nas colônias públicas – passagem,
sementes, instrumentos de trabalho, terras baratas, etc. – estavam ausentes
nas colônias particulares, o que limitava o acesso da maioria, e funcionava
como artifício para a seleção dos imigrantes: aqueles considerados pobres ou
com parcos recursos eram direcionados para as colônias públicas, enquanto
os mais remediados eram disputados pelos colonizadores particulares.
As primeiras colônias alemãs no Rio Grande do Sul foram estabelecidas
em São Leopoldo, e também em municípios localizados em suas proximidades. No
inicio da colonização em São Leopoldo, a chegada de grande numero de imigrantes
ocasionou alguns problemas. “Abrigar e alimentar, adicionalmente, mais de mil
pessoas, nervosas e cansadas após uma viagem de seis a doze meses, da Alemanha ao
Brasil, foi uma verdadeira proeza.” (HUNSCHE, 1977, p. 95). O autor ressalta algumas
das dificuldades encontradas, já na chegada dos primeiros imigrantes. A imigração com
certeza contribuiu muito, para a economia e para a diversidade cultural existente em
nosso estado. E todas essas conquistas foram iniciadas por essas pessoas que se
aventuraram, das quais muitos de nós somos descendentes.
Sabemos que os imigrantes chegaram ao Brasil, com o objetivo de
conquistar uma vida melhor. A Colônia Alemã de São Leopoldo recebeu este nome em
homenagem ao padroeiro da Imperatriz Leopoldina. Em meados do ano de 1828, os
imigrantes alemães construíram uma capela onde atualmente fica localizada a Igreja
Matriz de São Leopoldo. Aos poucos o lugar foi se desenvolvendo, a produção agrícola
local começou a ser transportada para Porto Alegre pelo Rio dos Sinos. Os alemães
também possuíam muita habilidade com o artesanato. Geralmente a matéria prima
utilizada para a atividade artesanal era o couro, a madeira, o ferro entre outros materiais.
É importante destacar essa proliferação de culturas, pois os imigrantes que aqui
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chegaram ao estado do Rio Grande do Sul, também encontraram o gaúcho com os seus
costumes. Essa mistura que resultou em vários hábitos que atualmente praticamos
despercebidamente é a forma mais viva, da importância da valorização cultural e
histórica de um determinado lugar.
Destacando também a forte influência alemã muito presente nas festividades
e atividades de lazer, e a sua apreciação pela vida em grupo, essa etnia foi também
responsável pelo surgimento das sociedades recreativas de bolão, canto e tiro ao alvo.
São Leopoldo antes do ano de 1880, já estava se transformando em um polo
industrial muito importante. Existiam no lugar fábricas de chapéus, de cerveja e
ferramentas. Diante desses acontecimentos, também nasceram empresas de navegação
responsáveis pelo transporte de passageiros e de mercadorias.
Os primeiros colonos que chegaram aos meses de julho e agosto do ano de
1824, nas proximidades do Rio dos Sinos enfrentaram muitas necessidades devido ao
intenso frio. Primeiramente as pessoas eram alojadas em ranchos precários, que anos
antes eram habitados por escravos.
Os primeiros imigrantes ficavam alojados em feitorias, nessas feitorias
recebiam alimentos como farinha de mandioca, carne e verduras. Cabe ressaltar que
também receberam sementes de linho e ferramentas para o trabalho.
Outro aspecto que precisou de mais atenção nesses alojamentos foi o
policiamento. Sabemos que em um espaço com tantas pessoas vivendo juntas, o
mantimento da ordem e da organização é fundamental para que todos consigam viver
bem. Em alguns relatórios que se encontram no Arquivo Histórico de Porto Alegre, é
possível saber como era realizado esse policiamento. Foram os alemães que conduziram
o primeiro policiamento nesses alojamentos. Sabe-se que a guarda nesses locais era de
24 horas, sendo que os soldados se revezavam. Dentre os ocorridos destacam-se alguns
casos de pessoas embriagadas, alguns furtos, mas a maioria das vezes tudo transcorria
de forma tranquila.
Com o crescimento da Colônia e também com a chegada de mais
imigrantes, o policiamento foi cada vez mais aprimorado. Vieram por certa vez alguns
soldados de Porto Alegre para efetivar o trabalho, mas muitas vezes a dificuldade na
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comunicação, devido à maioria das pessoas falarem o idioma alemão, obrigava os a
tomar outras providências. A colônia de São Leopoldo contava no ano de 1826 com um
pastor, um médico, muitos casais e solteiros, chegando ao total aproximado de 1400
pessoas.
O início de tudo foi repleto de dificuldades, mas com muito esforço, os
imigrantes começaram a construir seus lares.
E assim seguiu o progresso das colônias alemãs no estado do Rio Grande do
Sul. No final do século XIX, começou a colonização em um lugar que recebeu o nome
de Neu-Württemberg. Localizada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, a
Colônia alemã começava a construir a sua história, com muito trabalho, acreditando e
idealizando sonhos, os imigrantes são com certeza grandes protagonistas de muitas
outras histórias.
1.2 A Colonização Alemã em Neu-Württemberg
Em nossas andanças por diversos lugares, nos surpreendemos com as
curiosas e fascinantes histórias que marcam o nascimento de uma localidade. Para um
historiador é impossível passar por algum lugar, sem querer aprender com a sua
história.
O município de Panambi possui em sua história, essa cativante característica
de surpreender a cada documento analisado, e a leitura de cada livro, que aborda
algum episódio de sua história.
É no ato da pesquisa que descobrimos que muitos dos hábitos dos nossos
antepassados, que achávamos no mínimo estranhos, percorreram quilômetros de terra
e oceano para chegarem até aqui.
“Os territórios dos atuais municípios de Panambi e de Condor pertenciam a
Cruz Alta e a Palmeira, respectivamente, ocupando, aqueles, em parte, duas sesmarias
concedidas entre 1810 e 1822.” (MUSEU E ARQUIVO..., p.08, 2013). Uma sesmaria
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pertencia ao Tenente Coronel Joaquim Thomaz da Silva Prado, e a outra pertencia a
Manoel José da Encarnação. Uma grande parte da área que atualmente pertence ao
município de Panambi foi no decorrer do século XIX, sendo ocupada por lusobrasileiros, proprietários ou posseiros. Devido á colonização muitas dessas áreas foram
vendidas, e também muitas vezes os moradores foram pressionados á se retirar do local.
Até a década de 1950 (um mil novecentos e cinquenta), o atual município de
Panambi, era distrito do município de Cruz Alta. A história do município de Cruz Alta é
muito antiga, e iniciou quando em 1698 (um mil seiscentos e noventa e oito), foi
erguida uma cruz de madeira devido á ordens do padre jesuíta Anton Sepp Von
Rechegg, após a fundação de São João Batista dos Sete Povos das Missões.
Com a demarcação do Tratado de Santo Ildefonso em 1777 (um mil
setecentos e setenta e sete), a linha divisória que separava as terras da Espanha e de
Portugal, cortava o território do Rio Grande do Sul pelos divisores de água exatamente
por esse local, onde existia a grande cruz e uma pequena capela do Menino Jesus. A
fundação de Cruz Alta deu-se no dia 18 de agosto de 1821, devido á uma petição feita
pelos moradores.
Com o passar dos anos Cruz Alta tornou-se um dos maiores e mais
importantes municípios do estado do Rio Grande do Sul. O lugar foi importante em
muitos acontecimentos políticos, militares, econômicos e religiosos.
Andando pelas ruas do município de Cruz Alta atualmente, nos percebemos
muitas vezes vivenciando o passado, que agora com as novas edificações se mistura
com o presente. Lembranças de um tempo onde à vivência do homem era
completamente diferente, mas que ao mesmo tempo se torna muito parecida com a
nossa, pois as necessidades apenas ficaram mais exigentes com a vida moderna.
Para os que não apreciam a história, alguns casarões e edificações são vistos
com indiferença, mas para os que conseguem enxergar toda a riqueza cultural do lugar,
a aprendizagem se torna muito significativa.
Uma pessoa muito importante na história de Panambi foi o Dr. Herrmann
Meyer, que durante o final do século XIX, resolveu começar a negociar terras
brasileiras. “Dr. Herrmann Meyer e Carlos Dhein, a partir da Expedição ao Xingu (Mato
Grosso), colocaram em prática o Projeto de Colonização no sul do Brasil.” (MUSEU E
15
ARQUIVO..., p.12, 2013). Foram adquiridas muitas áreas em Palmeira Colônia Xingu
em 1897 atualmente conhecido como Novo Xingu. Também em 1898, foi adquirida a
posse Boi Preto atual distrito do município de Chapada, e também Herval Seco em
1899. Em 1898, foi adquirida a área da Colônia Neu-Württemberg no município de
Cruz Alta, e em 1903 foi adquirida a área da Colônia Castilhos, atual município de
Pinhal.
Figura 1 – Dr. Herrmann Meyer.
Fonte: Acervo do MAHP, Foto 1.001.
Heinrich August Herrmann Meyer nasceu em 11 de janeiro de 1871, em
Hildburghausen, no estado da Turíngia. Na sua formação acadêmica, estudou
geografia e etnologia nas universidades de Strassburg, Berlin e Jena. Obteve
seu título de Doutor [Doktor der Philosophie] em 1895, na Universidade de
Jena, ao defender a sua tese Bogen und Pfeil in Central-Brasilien.
Ethnographische Studie [Arco e Flecha no Brasil-Central. Um estudo
etnográfico]. No ano seguinte, iniciou seu trabalho como assistente no
Museum für Völkerkunde de Leipzig. (NEUMANN, 2009, p.57).
Herrmann Meyer possuía uma formação acadêmica privilegiada, e tinha
uma visão muito ampla de desenvolvimento. Ele também realizava muitas viagens, o
que na época era privilégio de poucos, com certeza nessas andanças adquiriu ainda mais
aprendizagens.
Ao contrário do que era planejado pela Empresa Colonizadora, o início da
colonização e ocupação de Neu-Württemberg aconteceu pela migração interna. Vieram
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pessoas de Teutônia, Estrela, Lajeado, Montenegro, da antiga zona de colonização
Alemã.
Figura 2 - Vista da Colônia Neu-Württemberg, 1910.
Fonte: Acervo do MAHP, Foto: 2.006.
Na visão de Neumann (2009, p.18):
Com referência à formação territorial de uma colônia particular, sobressaemse duas tendências: a primeira, o colonizador recebia, mediante requerimento,
uma gleba de terras devolutas com o compromisso de colonizá-la com
imigrantes em um prazo preestabelecido, implicando o descumprimento em
rescisão de contrato, comum durante no império; a segunda, o colonizador
comprava as terras de particulares ou do próprio governo, arcando com todas
as despesas, contando com a imigração espontânea ou migração interna,
modelo predominante durante a república.
O início da colonização em Neu-Württemberg assim como também em
outras regiões, foi uma tarefa muito árdua. Os primeiros imigrantes se depararam com
muita mata, a qual aos poucos foi sendo derrubada, e assim foram surgindo às primeiras
moradias.
A Empresa de Colonização Dr. Herrmann Meyer, apresentava aspectos
capitalistas onde era visado o lucro, mas também tinha grande preocupação com o bemestar dos imigrantes.
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Ao mesmo tempo, era um projeto de colonização étnico, destinados aos
emigrantes alemães, com uma proposta de trabalho cultural na colônia em
prol da germanidade, aspecto apresentado e executado como o seu
diferencial, e social, pois visava o bem-estar dos imigrantes. (NEUMANN,
2009, p.19).
O diferencial desta empresa seria também esse objetivo norteador, de tornar
essa colônia um modelo para as demais, pois pretendia trazer muitos benefícios sociais
aos imigrantes que aqui chegavam.
É fácil concluir que o bem-estar e um lugar tranquilo para recomeçar, era
um sonho esperado pela maioria dos imigrantes que chegavam à nova colônia.
A chegada de Herrmann Meyer, com certeza trouxe grandes expectativas a
população. Quando o colonizador chegou de trem a essas terras, foi recebido com
grande entusiasmo por todos. A presença do colonizador no lugar trazia um ar de
transformações e realizações, tudo o que a população esperava para o seu melhor viver.
Enfim, o ato da recepção e o ser recebido na estação de trem representavam
simbolicamente os interesses mútuos envolvidos na consecução desse projeto
de colonização e das benesses financeiras daí advindas a curto e longo prazo.
Atendia plenamente às expectativas do governo estadual, baseado na
imigração espontânea e, ao mesmo tempo, objetivava a realocação do
excedente populacional das colônias velhas. (NEUMANN, 2009, p.55).
Os jornais de época são importantíssimas fontes históricas, um jornal muito
interessante que circulava nos municípios de Ijuí e Panambi, nos traz importantes
referencias ao cotidiano e aos acontecimentos marcantes, poucos anos depois da
chegada dos primeiros imigrantes a esses locais. O jornal Die Serra Post era editado em
Ijuí na língua alemã, e circulava pelo norte do estado do Rio Grande do Sul. Sua
fundação foi em 11 de maio do ano de 1911, em pleno período de desenvolvimento das
colônias. O munícipio de Ijuí na época era conhecido como Vila Ijuhy, e Panambi se
chamava Nova-Württemberg sendo ainda um distrito de Cruz Alta, enquanto Ijuí estava
prestes á emancipar-se como município.
O fundador do jornal Robert Löw, em 1914 partiu para a Alemanha com o
principal objetivo de comprar novos equipamentos gráficos para seu estabelecimento.
Sendo assim, deixou sua esposa e Richard Becker no comando do jornal, enquanto
viajava. Com o desencadear da Primeira Guerra Mundial Löw, ficou impedido de voltar
ao Brasil por um período de cinco anos. No ano de 1917 foi proibida a edição de jornais
na língua alemã, com a entrada do Brasil na Guerra. Sendo assim Richard Becker
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resolveu traduzir o jornal para o português, surgindo então o Jornal Correio Serrano. O
Jornal Correio Serrano, circulou pela última vez na região em 31 de dezembro de 1988.
Uma característica importante do jornal era a publicação anual para seus assinantes do
Almanaque Serra-Post Almanak. Esse almanaque era publicado em alemão e sempre
trazia para seus leitores dicas de agricultura, saúde e economia (BINDÉ, 2010).
As notícias do jornal com certeza foram muito importantes na época em que
foram publicadas, por transmitir aos moradores informações sobre tudo o que se
passava na região. Lembrando que nesse período, o acesso aos meios de comunicação
era escasso, diferente da atualidade onde as redes sociais, jornais e revistas são
acessados a qualquer hora do dia, devido às inovações que surgiram com a internet.
Talvez Robert Löw nunca tenha imaginado que, a sua contribuição para a história de
muitos municípios de nossa região seria de tamanha importância. Um jovem imigrante
que assim como tantos outros, veio para o Brasil em busca de realizações, de uma vida
melhor, cheia de expectativas. Uma pessoa que não poderia passar despercebida pela
história, pois toda a dedicação pelo que fazia com certeza foram responsáveis pelos
excelentes resultados que obteve em sua profissão. “Os fatos históricos que registrou e a
sua própria história estão guardados para a posteridade, pois seus exemplares passaram
a integrar o acervo do Museu Antropológico Diretor Pestana.” (BINDÉ, 22 mai. 2010,
p.10).
Em poucos anos de colonização, podemos perceber que o progresso
começava a fluir. As notícias do jornal Die Serra Post anunciavam a construção de
estradas, que ligariam Ijuí á Colônia de Neu-Württemberg, facilitando o acesso e
diminuindo a distância entre as duas localidades.
A Intendência de Ijuí iniciou a construção de uma nova estrada até o Fachinal
(Linha 19), que será mantida á margem esquerda do Ijuí e encurtará de uma
légua a distancia da Vila até o Fachinal. A mesma estrada deverá ser
prolongada até Nova- Württemberg, passando por Rio Branco, de sorte que
será estabelecida uma comunicação favorável e relativamente próxima com
aquela colônia. De Nova-Württemberg até Porongos já existe uma estrada, de
maneira que o trecho que falta não é longo demais. (JORNAL DIE SERRA
POST, 13 de dez. 1912, nº 50, p.88).
Como podemos observar os rios eram com certeza importantes pontos de
referência, pois nessa época muitas coisas ainda estavam por serem descobertas. Sabese pela notícia que de Neu-Württemberg até o rio Porongos que hoje é conhecido como
rio Caxambú, já existia uma estrada. Então o que estava sendo proposto pela
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Intendência de Ijuí, era que fosse construída uma estrada que deveria dar continuidade á
essa que já existia até o rio Porongos. Cabe ressaltar á imensa diferença, e as
dificuldades que eram encontradas pelos operários responsáveis pela construção de
estradas. A força braçal era a principal ferramenta nesse trabalho, pois todas essas
máquinas que conhecemos atualmente eram praticamente inexistentes. O tempo que
uma obra levava para ser concluída também era muito longo, o que resultava em um
longo período de espera para os que precisavam da estrada para se deslocar ou
comercializar seus produtos. Outra notícia nos traz importantes informações, sobre a
previsão do término da construção da estrada.
A estrada que deverá ligar Ijuí com Nova-Württemberg, estará concluída até
o fim de julho, e, segundo apuramos, será solenemente entregue ao tráfego.
Sobre o rio que divide os dois municípios, o Porongos, funcionará uma barca,
cujas despesas certamente serão divididas entre ambos os municípios. A
distancia entre Ijuí e Nova-Württemberg, com isto, ficará reduzida de 7
léguas.(JORNAL DIE SERRA POST, 02 mai. de 1913, nº18, p.111).
Nesta notícia podemos observar a grande expectativa da população em
relação ao término da obra. Com previsão de terminar no mês de julho do ano de 1913,
a obra com certeza iria trazer muito mais progresso á essas localidades. Novamente é
citado o rio Porongos, em relação ao rio seria disponibilizada uma barca, atualmente
sabemos que no lugar foi construída uma ponte. As despesas em relação á barca, seriam
resolvidas entre os principais municípios beneficiados. Ainda calculada em léguas, a
distância seria reduzida, sendo que neste tempo devido aos meios de transporte que
muitas vezes eram as carroças ou mesmo animais, o tempo levado para percorrer esse
trajeto era maior.
A história de um lugar geralmente está guardada em documentos, objetos, e
em relatos de pessoas que viveram certo episódio importante para o lugar. A história
sem fontes é de certa forma duvidosa, pois são as fontes que comprovam os fatos.
Muitas pessoas não valorizam como deveriam o Arquivo Histórico, o Museu de seu
município. Mas é importante lembrar que muito da nossa história está lá, sendo
estudada e preservada por profissionais que compreendem o seu valor.
Para quem não nasceu aqui, a primeira impressão ao chegar ao município é
que nos encontramos em algum lugar da Alemanha. A entrada do município já nos faz
perceber a forte influencia alemã no lugar. Os festejos são animados, e a culinária um
mistura de deliciosos sabores.
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Às vezes andando pelo município de Panambi, lembro-me das leituras e
estudos históricos realizados sobre o local, e começo a imaginar como tudo começou e
as diversas mudanças que ocorreram com o passar do tempo. Vejo que apesar de ainda
ser um município pequeno, seu crescimento continua, a indústria é muito desenvolvida
e proporciona emprego para moradores de toda a região. Um lugar tranquilo de viver,
onde a natureza ainda é muito presente. A história do lugar é muito lembrada em
monumentos na praça central, e prédios históricos são preservados. Existem pessoas
chegando, pessoas indo embora e assim a cada dia a história do lugar ganha novos
acontecimentos e novos personagens.
É importante destacar que este primeiro capítulo, foi desenvolvido através
de estudos referentes à chegada dos primeiros imigrantes alemães no Brasil, e
posteriormente a colonização de Neu-Württemberg no noroeste do estado do Rio
Grande do Sul. É possível através deste, realizar uma análise que inicia no ano de 1824,
e consequentemente compreender, todas as transformações culturais, econômicas e
sociais, que foram ocorrendo no decorrer dos anos. Compreender tamanha foi à
importância dessas pessoas, no desenvolvimento de lugares onde praticamente só existia
mata nativa. Perceber o quanto a cultura dessas etnias está presente no nosso cotidiano,
nos garantindo assim, esse incrível resgate histórico e cultural que não pode se perder
com o tempo.
21
Capitulo 2 - Os imigrantes alemães e a sua contribuição cultural na Colônia NeuWürttemberg.
2.1
As primeiras festividades em Neu-Württemberg e a contribuição do casal
Faulhaber na formação da Colônia.
Com certeza Marie Faulhaber, foi a grande idealizadora de muitos e dos
primeiros eventos culturais na colônia de Neu-Württemberg. Marie nasceu no dia 08 de
setembro de 1867 (um mil oitocentos e sessenta e sete), em Württenberg na Alemanha,
e faleceu em Panambi no dia 11 de abril de 1939 (um mil novecentos e trinta e nove).
Seu marido Hermann Faulhaber nascido em 19 de abril de 1877 (um mil oitocentos e
setenta e sete) em Triensbach, no município de Crailsheim em Württemberg na
Alemanha, faleceu em 08 de julho de 1926 (um mil novecentos e vinte e seis). Hermann
e Marie foram contratados por Herrmann Meyer, para residir na colônia. “Ele ficou
encarregado de administrar a colônia e impulsionar a constituição de toda organização
social. ’’(COLÉGIO EVANGÉLICO..., 2003, p.38). Marie por sua vez, ficou
encarregada de impulsionar a escolarização na colônia. Hermann Faulhaber era pastor e
professor, e além dessas profissões também era gerente da Associação Evangélica para
Colonos e Imigrantes Alemães em Witzenhausen na Alemanha.
O contrato foi assinado por Hermann Faulhaber em 19 de julho de 1902 (um
mil novecentos e dois), a chegada ao Brasil ocasionou-se no mês de setembro daquele
mesmo ano. O casal era recém-casado, antes de partir para o Brasil haviam firmado
matrimônio. Marie e Hermann Faulhaber tiveram três filhos: Maria, Walter e Gertrud.
22
Figura 3 - Família Faulhaber, 1907.
Fonte: Acervo do MAHP.
As festas natalinas no início da colonização em Neu-Württemberg eram
organizadas com muita dedicação. “Nessa ocasião, confeccionou-se uma árvore de
Natal e, embaixo dela, foram colocados presentes a todos os alunos do primeiro ano.
’’(COLÉGIO..., 2003, p.51).
Acredito que o Natal sempre será uma data muito marcante, onde as pessoas
se encontram e compartilham alegrias. A maneira com que vivências passadas são
contadas pelos mais experientes é fascinante. As histórias vivenciadas principalmente
pelos nossos avós são com certeza, o nosso primeiro contato com um passado, que
muito contribui para compreendermos as nossas origens.
23
Segundo Fausel, “A festa de Natal tornou-se verdadeira fonte revigorante
da alma para os colonos, e tais comemorações ajudavam-nos para que se
familiarizassem com a terra e trabalho.’’(1949, p.18). Neste momento, pode ser
observada novamente a importância dessas comemorações na vida dos imigrantes. A
questão da união, de viver e compartilhar sentimentos tornava a vida mais alegre, e a
adaptação com o novo lar mais tranquila. É importante lembrar também que, o
diretor Herrmann Meyer sempre enviava presentes no período natalino para as
crianças de Neu-Württemberg.
De acordo com Neumann (2009, p.184):
No elenco das festividades populares e religiosas, o Natal foi transformado na
festa popular [Volksfest] mais importante da Colônia, mesclando
apresentações religiosas e profanas-hinos natalinos, velhas canções alemãs,
declamação de poesias, teatro, combinando elementos trazidos pelos
imigrantes de diferentes regiões da Alemanha com aqueles já adaptados pelos
migrantes das regiões de colonização antiga do estado.
Quando comecei a pesquisar e analisar essas histórias de Natal, lembrei-me
de um fato de minha infância que sempre ouvia meus familiares contar, e que por
muitas vezes fez a minha imaginação de criança fluir. Em certa localidade do interior de
Ijuí, na década dos anos cinquenta, na noite natalina durante o culto, as crianças eram
convidadas a declamar um verso na língua alemã aos demais participantes da
celebração. Sendo assim após a apresentação, cada criança ganhava um pacote de papel
repleto de doces. O cheiro daquele pacotinho de doces fazia com que aqueles que
viveram esse episódio, nunca o esquecessem. São lembranças como essa que nos
ajudam a compreender a história de certo lugar, e a cultura dos descendentes de
imigrantes. Enfim, uma imensidade de informações que são contadas de geração em
geração, e que ajudam a conservar fatos históricos.
De imediato foram estabelecidas na Colônia uma escola e uma igreja, com o
principal objetivo de conservar a cultura e a língua alemã. Segundo Neumann, “Para
Meyer, assistência religiosa consistia em colocar á disposição dos habitantes da colônia
um pastor ordenado para ministrar batismo, confirmação, casamento, enterro e cultos
esporádicos.” (2009, p.145). Neu-Württemberg era conhecida como uma colônia
protestante, fato que para o colonizador Herrmann Meyer deveria ser mudado, pois
pessoas de outras religiões também deveriam vir para o lugar, questão religiosa não
deveria interferir nessas situações.
24
Ainda destacando a imensa contribuição cultural de Marie, para o
desenvolvimento da colônia Neu-Württemberg, destaca Fausel, “Para o Natal de 1903 a
esposa do Pároco escrevera uma série de pequenas peças teatrais.’’(1949, p.18).
Também sobre as peças teatrais produzidas e organizadas por Marie Faulhaber, pode-se
observar diversos sentimentos em relação com a vida do imigrante. Sentimentos estes
que representavam a partida da terra natal, e a reconstrução de uma nova etapa da vida
em Neu-Württemberg.
“Enfim, essa complexidade do espaço colonial e a tentativa de
construir/preservar uma identidade étnica no estrangeiro consiste em um dos aspectos
centrais das peças de teatro escritas por Marie Faulhaber, nas três primeiras décadas do
século XX.’’ (NEUMANN, 2003, p.187).
A maioria das produções teatrais trabalhava com o cotidiano vivenciado na
colônia. “Em todas elas, a família constituía o núcleo central da drama, composta pelo
pai, a mãe e os filhos.’’( NEUMANN, 2009, p.187). Podemos observar que a família
sempre foi a preocupação principal e também o elemento mais significante em muitos
momentos da história. Quanto aos cenários das peças teatrais, “Como cenários,
predominavam uma casa simples de um colono; a cozinha colonial; com poucos móveis
rústicos, a roça e a mata.” (NEUMANN, 2009, p.187).
Em Neu-Württemberg, sabe se também que no mesmo ano de sua chegada,
Marie Faulhaber organizou jograis e um teatro improvisado.
As peças teatrais
produzidas por Marie Faulhaber, nas três primeiras décadas do século XX, eram
destinadas a escolas, a sociedades e a outras situações . A publicação dessas obras
constitui-se em uma quantidade de sete volumes. A peça do volume 1 (um) recebeu o
nome de Uma troca desfavorável (Ein sclechter Taush), no volume 2 (dois) podemos
encontrar as seguintes peças, Gata borralheira (Aschendrobel) e Um conto de Natal (
Ein Weihnachtsmärchen). Já no volume 3 (três) a peça recebeu o nome de Fritz, e no 4
(quatro) A criança perdida (Das verlorene Kind). A peça teatral de volume 5 (cinco)
chama-se Herrmann, um rapaz teuto-brasileiro (Herrmann, ein deutschbrasilianischer
Jung), e a peça de volume 6 (seis) Uma velhacaria e as suas consequências (Ein
Bubenstreich und seine Folgen) e também Um conto de D. Wildermuth (Heulepeterle)
este último adaptado por Paula Braunschweig. A peça Sempre Paciência (Num immer
paciência) volume 7 (sete), finaliza essa listagem (NEUMANN, 2009).
25
Podemos observar que nos volumes 1 (um), 4 (quatro), 5 (cinco) e 6 (seis),
as peças teatrais descrevem o cotidiano e a vida dos colonos. Nesses volumes
mencionados, sempre se destaca a família como o principal foco da peça. Os cenários
geralmente eram compostos por uma casa simples típica da época, muitas vezes uma
cozinha colonial, também predominam como cenários a mata e a roça. Através desses
eventos culturais, era possível uma maior aproximação entre as pessoas da comunidade,
“Essa negociação e adaptação transparecem nas peças de teatro de autoria de Marie
Faulhaber, encenadas nas ocasiões festivas pelo grupo de teatro existente na colônia.”
(NEUMANN, 2009, p.185).
Nas peças também podemos observar, o sentimento dos imigrantes em
relação à fidelidade com a pátria mãe, a Alemanha, e também a visão que tinham do
Brasil como um lugar onde seria possível conquistar muitos ideais.
As peças teatrais produzidas por Marie traziam situações muito interessantes
como, por exemplo, na peça teatral Uma troca desfavorável, onde é contada a história
de uma família tradicional da Colônia, onde o pai e os filhos homens trabalhavam na
roça, e a mãe e as filhas trabalhavam nos afazeres domésticos. A esposa estava
descontente pelo fato do marido, nunca valorizar o seu trabalho e achar que só deveria
ser chamado de trabalho aquele realizado por ele e os filhos na roça. Para contentar á
todos, a família resolveu inverter as tarefas, os homens fariam o trabalho doméstico da
casa, e as mulheres trabalhariam na roça. A troca obteve resultados desastrosos e no
final ficou constatado que, cada trabalho tem o seu valor e nenhum é mais importante
que o outro. Na história também aparecem viajantes comerciantes que vendiam seus
produtos e utilizavam um automóvel como meio de transporte, um bem que poucos
conseguiam adquirir na época. A hospitalidade em sempre servir um café aos que
chegavam, também é destaque na obra. (NEUMANN, 2009).
Na peça A Criança perdida, podemos observar como a visão da criança
como um pequeno adulto era algo muito comum, principalmente nas primeiras décadas
do século XX. Através de fotografias podemos observar esse fato, pelas roupas que
usavam que muitas vezes eram iguais as dos adultos, mas só que em tamanho pequeno.
As tarefas domésticas eram muitas, e por geralmente as famílias serem muito
numerosas, e muitas vezes a mãe possuir infinitas tarefas como o trabalho na roça e no
lar, eram os filhos que precisavam auxiliar nos diversos serviços domésticos. Todas as
26
histórias trazem aprendizagens, e relatos de acontecimentos que poderiam acontecer no
dia a dia dos moradores da Colônia.
O papel desses imigrantes no sistema educacional da Colônia, também foi
muito importante. “Portanto, o sistema de ensino particular implantado na colônia NeuWürttemberg, incluindo a organização e ramificação das escolas, o aporte
metodológico, o currículo, e o material didático, serviu de modelo para a organização de
toda a rede escolar privada da região serrana do estado.” (NEUMANN, 2009, p.183). O
trabalho do casal Faulhaber foi sempre muito reconhecido, tanto no setor educacional,
administrativo e em todos os outros aspectos que precisavam de atenção na colônia em
formação. “O êxito era resultante, sobretudo, do trabalho incansável do diretor da
colônia Hermann Faulhaber, um Württemberg, que organizou o ensino de tal forma que
serviu de exemplo para toda a serra do Rio Grande do Sul.” (NEUMANN, 2009, p.143).
Em iniciativa do casal Faulhaber e dos moradores da Colônia, o dia 7 de
janeiro do ano de 1903 (um mil novecentos e três), é uma data que marca o início da
escolarização em Neu-Württemberg, sendo que as aulas iniciaram na casa do casal. O
prédio em que posteriormente funcionaria a escola, foi concluído em 8 de fevereiro
daquele mesmo ano. Na escola a partir do ano de 1905 (um mil novecentos e cinco),
começaram a ser administradas pelo próprio professor Faulhaber, as aulas de Língua
Portuguesa. Esse aspecto reforçava essa ideia de preservar toda a cultura e a vida
vivenciada na pátria mãe pelos imigrantes, mas também o desafio de adaptar-se a
cultura e aos costumes praticados no Brasil.
Cabe lembrar que neste período o acesso a educação, era muito difícil.
Muitas crianças que residiam longe da escola, encontravam vários desafios até chegar
ao seu destino. Algumas vinham a cavalo, e outras por não possuírem relógio em casa,
muitas vezes chegavam na escola várias horas antes do horário marcado para o início da
aula.
Como a escola era particular não eram todos os colonos que tinham
condições de pagar os estudos de seus filhos, fato que tornava o acesso á
educação muito restrito. Atendendo a essas peculiaridades, em fevereiro de
1906, a municipalidade de Cruz Alta instalou uma escola pública na área
central da colônia Neu-Württemberg, nomeando como professor o
republicano Capitão Minoly Gomes de Amorim. (NEUMANN, 2009, p.180).
A implantação da escola pública na Colônia gerou algumas discórdias, pois,
muitos achavam que com essa instituição os alunos perderiam a cultura germânica por o
27
educador saber muito pouco da língua alemã. A escola acabaria gerando, uma separação
étnica na visão de algumas pessoas.
Marie Faulhaber era uma pessoa que com certeza amava seu trabalho,
devido sua tamanha dedicação. Em um período onde os recursos eram limitados, e até
mesmo a luz elétrica ainda não era privilégio de todos, sabe-se que a localidade passou a
ter energia elétrica em 1916 (um mil novecentos e dezesseis), quanto foi instalada a
primeira turbina e gerador, podemos encontrar registros destes acontecimentos, que são
muito importantes para a cultura de um lugar.
Como podemos observar as festividades e os momentos de entretenimento,
sempre foram essenciais para o dia-a-dia de um indivíduo. Sabemos que as formas de
diversão, também foram mudando e se adaptando á novas tecnologias, a novos tempos.
Mas acredito que há alguns anos atrás, as atividades de entretenimento mantinham as
pessoas mais unidas, sendo importante destacar, que esta questão possui vários pontos
de vista.
Para Neumann (2009, p.183):
Imigrantes de nacionalidade alemã vindos da Alemanha, Rússia, Polônia,
Áustria, somados com migrantes internos das colônias antigas, descendentes
de alemães imigrados no século XIX, formaram o mosaico cultural da
colônia Neu-Württemberg, cada qual carregando seus costumes e suas
tradições.
A preservação dessa cultura e o respeito pela diversidade que ela abrange,
são fundamentais para o bem viver de uma comunidade. Sabemos que muitos hábitos,
foram perdidos ao longo dos anos, e dificilmente as pessoas os praticam e sabem da sua
significativa importância. Por isso a importância dos estudos históricos, que permitem o
resgate de todas essas preciosidades que nos ajudam pelo menos a imaginar, como era a
vida de nossos antepassados.
Atualmente existem muitos eventos que possuem esse objetivo, de resgatar
costumes vivenciados por certos grupos étnicos. No caso da etnia alemã, podemos
destacar a Oktoberfest que é festejada no mês de outubro como o próprio nome já nos
revela, e que traz uma imensidade de atividades relacionadas a cultura alemã. O
município fica ainda mais alegre nesses dias, são realizadas carreatas, as pessoas se
vestem com roupas típicas e também o lugar recebe muitos visitantes de lugares
28
diferentes. Durante a festa, são apresentadas ao público danças típicas, brincadeiras
entre outras atividades muito interessantes. Os bailes animados também são marca
registrada, sendo sempre acompanhados de muito Chopp. Esses eventos além de
permitirem momentos de descontração, também garantem uma aprendizagem
significativa às novas gerações, para que assim as mesmas comecem a conhecer e a
valorizar a história de seus antepassados, e assim consequentemente começam a
conhecer a sua própria história também.
O diretor Hermann Faulhaber, demostrava muita admiração pela sua esposa
Marie. Ela era uma pessoa que zelava pela vida cultural da comunidade, além de uma
pedagoga muito criativa. Organizava corais e sempre em ocasiões festivas como o
Natal, por exemplo, escrevia peças teatrais que sempre tinham muito haver com o
cotidiano dos moradores da colônia.
O casal Faulhaber conseguiu de uma maneira impressionante, conduzir os
colonos e imigrantes recém-chegados na adaptação a colônia que estava nascendo. Essa
informação ressalta a importância das festividades e dos momentos de descontração
seguidos também do mais importante, que é a preservação e o respeito à cultura de cada
indivíduo. Cada pessoa possui a sua cultura, que se reflete nos atos praticados em seu
cotidiano. Seria muito constrangedor e certamente a colônia não cresceria com tamanha
rapidez, se os imigrantes fossem ordenados a aceitar novas regras e á esquecer todo o
seu passado cultural.
A harmonia era de certa forma fundamental, tanto na vida social, econômica
entre outros aspectos, para que no caso o imigrante consiga adaptar-se as condições de
uma nova vida, de um novo lar.
Marie Faulhaber era também responsável na colônia pela biblioteca, que no
ano de 1927 começou a ser chamada de Sociedade de Leitura Faulhaber.
De acordo com Neumann (2009, p.186):
Paralelo, era regente de coral, foi uma das fundadoras da Frauenhilfe, em
1910, auxiliando através dela as pessoas necessitadas tanto na colônia, como
organizando a coleta de donativos a serem enviados via Cruz Vermelha para
entidades assistencialistas da Alemanha.
29
Um casal de imigrantes que com certeza contribuiu muito para o
desenvolvimento da Colônia, uma história que deve ser muito valorizada e preservada.
2.2
A importância da fotografia como registro histórico em relação ao
desenvolvimento da Colônia.
Com o objetivo de colocar em circulação um conjunto de vistas parciais da
colônia e de seus colonos, Herrmann Meyer organizou e editou pelo Instituto
Bibliográfico de Leipzig um prospecto fotográfico, Ansichten aus Dr.
Herrmann Meyers Ackerbaukolonien Neu-Württemberg und Xingu in Rio
Grande do Sul (Südbrasilien) – [Vista das colônias agrícolas NeuWürttemberg e Xingu no Rio Grande do Sul (sul do Brasil)]. (NEUMANN,
2009, p.230).
A atitude do colonizador Herrmann Meyer em colocar em circulação
fotografias e cartões postais da Colônia Neu-Württemberg, seria importante para que
imigrantes e demais pessoas da região que estivessem interessadas em adquirir moradia
no local, pudessem ter noção de tudo o que o lugar teria para oferecer.
A primeira edição desse acervo de fotografias foi concluído em 1904 (um
mil novecentos e quatro), e possuía diversas imagens da Colônia mostrando em todas
elas o desenvolvimento e o progresso de Neu-Württemberg.
Em meados de 1908 (um mil novecentos e oito) o acervo fotográfico, já
contava com mais de 90 slides de fotografias. Esse material circulava em diversos
lugares da Alemanha com o propósito de promover propaganda sobre a Colônia.
Referente às pessoas que fotografavam a Colônia Neumann (2009, p.231)
explica:
Em parte, pelo próprio Horst Hoffmann, como já apontado, visto que ele
sabia fotografar; outras talvez pelo colono Haak, e aquelas incluídas no
segundo prospecto provavelmente foram produzidas por Alfred Bornmüller
ou por outra pessoa que soubesse manusear um aparelho fotográfico.
Os lugares e os aspectos que deveriam ser relevantes nas imagens eram
escolhidos pelo diretor Herrmann Meyer.
30
Neumann (2009, p.231) analisa que:
Porém, a maior parcela das fotografias da publicação é o resultado do
trabalho do imigrante Wilhelm Schäffer, eletrotécnico, chegado em NeuWürttemberg em fins de dezembro de 1902, com esposa e quatro filhos com
idade entre 8 e 14 anos, permanecendo até maio de 1903, quando novamente
retornou para a Alemanha.
Os principais cenários retratados nas fotografias, e também seguindo as
orientações de Herrmann Meyer eram alambiques, criação de abelhas, moinho de vento
entre outras práticas que eram realizadas na Colônia. O imigrante Wilhelm Schäffer
trouxe possuía muitos equipamentos e materiais necessários sendo que ele mesmo
revelava as fotografias, sendo um fotógrafo amador, mas com muita dedicação ao
trabalho.
Referente às primeiras fotografias, Neumann (2009, p.232) faz a seguinte
análise:
A primeira ordenação fotográfica conduz a uma leitura linear progressiva da
própria trajetória de uma família em uma colônia: a chegada no seu lote
colonial na floresta e a construção do primeiro abrigo com toda a
precariedade; a passagem para uma cabana [Hütte] provisória; indicando, na
seqüência, a infra-estrutura disponibilizada pela Colonizadora Meyer,
incluindo a Casa do Imigrante, assistência religiosa e escolar, moinho e
serraria; e a superação das dificuldades, com várias imagens de famílias de
colonos nos seus lotes, defronte suas sólidas casas, e a floresta cedendo lugar
para amplas roças de milho e fumo.
Referente à segunda remessa de fotografias Neumann (2009, p.232) faz a
seguinte observação:
Destacava, em primeira linha, a presença da Colonizadora Meyer e a infraestrutura material e imaterial disponibilizada pela mesma; em seguida, o
conjunto de imagens retratando os colonos nas suas propriedades, com suas
casas e demais benfeitorias, as nascentes oficinas artesanais e casas
comerciais, contrastando com as imagens da fase de instalação de uma
família de imigrantes na floresta, como parte do passado.
Através das imagens fotográficas é possível acompanhar todo o
desenvolvimento da Colônia, destacando os principais fatos históricos que marcam a
trajetória de um lugar.
31
Outra pessoa que foi muito importante na história de Panambi foi Adam
Guilherme Klos. Ele foi um imigrante alemão, que se instalou na Colônia de NeuWürttemberg no ano de 1912 (um mil novecentos e doze). No ano de 1913 (um mil
novecentos e treze) Adam Klos, fundou um estúdio com o nome de Atelier Fotográfico.
Adam nasceu em Schwabenheim estado de Hessen na Alemanha, em 5 de
abril de 1890 (um mil oitocentos e noventa). Imigrou para o Brasil no mês de janeiro do
ano de 1912 (um mil novecentos e doze), quando tinha apenas 22 anos de idade. Iniciou
a sua profissão de fotógrafo, mas ainda na Alemanha, quando tinha 16 anos.
No ano de 1915 (um mil novecentos e quinze) se casou com Frida Döeth
Klos, que lhe auxiliava no estúdio fotográfico. Além de fotógrafo, Adam gostava muito
de confeccionar peças em madeira para concursos, brinquedos, e também consertava
relógios. Nos fundos de seu estúdio, tinha um ateliê onde ele e sua esposa trabalhavam
com esse material.
Uma de suas mais importantes obras é a Réplica da Catedral de Ulm.
Inspirada na Catedral de Ulm que fica localizada na Alemanha á margem esquerda do
Rio Danúbio, considerada a igreja mais alta do mundo, Klos construiu uma réplica
como uma manifestação de saudosismo com sua terra Natal. No ano de 1890 (um mil
oitocentos e noventa) Adam foi batizado na Catedral de Ulm, essa igreja também possui
uma curiosa e interessante história. A pedra fundamental de sua construção foi lançada
em 1377 (um mil trezentos e setenta e sete), mas durante muitos anos devido a fatores
políticos e religiosos suas obras foram pausadas. A conclusão da obra ocorreu em 1890
(um mil oitocentos e noventa), mesmo ano em que Adam foi batizado.
A Réplica da Catedral de Ulm confeccionada por Adam Klos começou a ser
construída em 1932 (um mil novecentos e trinta e dois), sendo que sua conclusão se deu
no ano de 1935 (um mil novecentos e trinta e cinco). No ano de 1935 (um mil
novecentos e trinta e cinco), no dia do aniversário do município de Cruz Alta e também
o dia de comemoração ao Centenário da Revolução Farroupilha, Adam conquistou o
primeiro lugar em um concurso com a sua Réplica. A obra se encontra em exposição no
Museu e Arquivo Histórico Professor Hermann Wegermann no município de Panambi.
Adam Guilherme Klos registrou em suas fotografias, momentos históricos
muito importantes da Colônia Neu-Württemberg. A fotografia também é uma
32
importante fonte histórica que nos permite analisar o passado, de uma maneira mais
dinâmica, pois nos fornece informações muitas vezes não encontradas em fontes
escritas.
Figura 4 – Lado leste da Praça Engenheiro Walter Faulhaber, Foto Klos, 1914.
Fonte: Acervo do MAHP, Foto 2.012.
Sabe-se que até o ato de tirar fotografias era evitado no mês de agosto, pois
o mês ainda é por muitos considerados como o mês do desgosto, do azar. As
festividades também eram evitadas. As crenças populares sempre se fizeram muito
presente na vida das pessoas, dessa forma também são passadas de geração em geração.
A história do município de Panambi sem esses personagens que
protagonizaram um início certamente muito difícil, nunca deve ser esquecida. Essas
pessoas dedicaram grande parte de suas vidas, na organização de um lugar para que o
mesmo acolhesse e oferecesse as melhores condições de vida aos que aqui chegavam.
Cada imigrante, cada morador da colônia teve com certeza um papel fundamental na
33
história do lugar. Cada ofício exercido por esses imigrantes deu inicio ao que
observamos na atualidade, pequenos estabelecimentos atualmente são importantes
empresas que geram muitos empregos e progresso para o lugar.
34
Capítulo 3 - A herança cultural alemã presente no cotidiano dos moradores,
principais momentos festivos e formas de lazer.
A cada ano que se passava, a Colônia se desenvolvia de uma maneira
constante e produtiva. A cultura e as atividades envolvendo o lazer começaram a passar
por um processo de diversificação. A comunidade local em um processo de adaptação,
mas sem nunca esquecer suas origens, começava a encontrar outras maneiras para
melhor viver os momentos livres, em que o árduo trabalho era recompensado com
atividades de entretenimento.
Segundo Fausel (1949, p.25), “Imagina-se, facilmente, que no decorrer dos
tempos surgiram algumas dúzias de sociedades de damas, de cavalaria, de canto e de
atiradores, clubes de ginástica, de futebol, de bolão e grupos teatrais.”
Nas imagens abaixo são apresentados alguns grupos de sociedades de canto
e bolão, atividades muito praticadas pelos moradores da região.
Figura 5 – Bolão Boa Esperança, Foto Klos.
Fonte: Acervo do MAHP, Foto: 6.024.
35
Figura 6 – Sociedade de Cantores Luteranos.
Fonte: Acervo do MAHP, Foto: 1.059.
Figura 7 – Coral.
Fonte: Acervo do MAHP. Foto: 6.022.
36
Analisando as fotografias podemos observar a presença de homens e
mulheres, compartilhando um mesmo grupo de uma determinada sociedade. Nas
atividades envolvendo o canto, a figura feminina é muito presente. Os grupos de bolão
também tinham formação feminina, salientando que atualmente ainda existem muitos
grupos que participam de atividades de competição em localidades vizinhas.
Geralmente os grupos reuniam-se nos finais de semana, para praticarem as
suas atividades. Os grupos de Bolão realizavam competições com grupos de localidades
vizinhas, os vencedores ganhavam prêmios.
Os grupos de canto também se apresentavam em várias ocasiões, nas
celebrações, por exemplo, ou em outros momentos importantes para a comunidade.
É importante lembrarmo-nos de como as atividades vivenciadas pela
sociedade, foram se modificando ao passar dos anos. Facilmente ouvimos pessoas mais
experientes contarem histórias sobre o seu envolvimento em grupos de canto, de bolão e
em mais outras diversas atividades. Atualmente ainda muitas pessoas continuam
participando dessas sociedades, mas é importante que a juventude além de participar
também compreenda esse ato como uma maneira de preservar a história.
De acordo com Canabarro (2000, p.15), “As imagens fotográficas, nos
permitem conhecer aspectos significativos da memória coletiva; vão muito além de
meras descrições e nos trazem expressões do real em outros tempos. ’’ A fotografia tem
tamanha importância, pois nos garante uma imensidade de informações, de uma
determinada época ou de uma determinada ocasião.
Algo que muitas pessoas têm como primeira impressão ao olhar uma
fotografia antiga, é a expressão do olhar dos indivíduos fotografados. Dificilmente
encontramos alguém sorrindo nas fotos, e em dias festivos como casamentos também os
noivos aparecem com uma expressão muito séria.
Outro aspecto interessante de ser analisado é a questão das fotografias de
crianças, a primeira característica marcante é da criança vestida como um pequeno
adulto. Cabe ressaltar que nas primeiras décadas do século XX, tirar fotografias era um
ato muito incomum ainda. Tiravam-se uma ou duas fotografias de momentos muito
importantes, em ocasiões em família principalmente. Então por esse ato não ser muito
comum, a maioria das crianças apresentavam certo medo do fotógrafo.
37
Atualmente com a facilidade que uma câmera fotográfica digital nos
proporciona, podemos possuir diversas fotografias de um mesmo acontecimento. As
crianças muitas vezes, já sabem desde muito pequenas manusear a câmera e elas
mesmas fazem os registros de dias festivos e ocasiões especiais. A conservação dessas
fotos também merece uma determinada atenção, pois como hoje em dia é muito comum
guardar essas fotografias em arquivos e pastas no computador, é muito fácil perdê-las
devido á algum problema técnico no equipamento.
Uma fotografia impressa pode ser preservada por muitos anos, por isso a
importância de Arquivos Históricos e de pessoas que realmente conseguem perceber
como as fotos de família precisam ser valorizadas. A preservação desses documentos
históricos nos permite aprender muito sobre a história de nossos antepassados, do lugar
onde vivemos e nos garantem uma infinidade de informações sobre o período em que
foram registradas.
Foi resgatada nos parágrafos acima, a questão da importância de um
documento histórico, no caso a fotografia porque os itens que serão analisados á seguir
só poderiam nos trazer tamanha contribuição cultural e histórica porque alguém foi
responsável por sua preservação.
As festividades mais representadas em fotografias nas primeiras décadas do
século XX, quando ainda não era muito comum as pessoas tirarem várias fotos de um
mesmo acontecimento, eram os casamentos, e outros acontecimentos religiosos que
ocasionavam festividades.
O casamento é considerado por muitos um sacramento muito importante,
que sempre possuiu um valor incalculável para uma família perante a sociedade. Houve
tempos em que o casamento era um acontecimento repleto de rituais, alguns como o
casório sempre da filha mais velha, nunca uma filha mais nova deveria casar-se antes. O
vestido de noiva muitas vezes era confeccionado pela mãe da noiva, ou por alguma
mulher da família. Os casamentos geralmente eram celebrados durante o dia, com muita
comida e bebida, e com música para alegrar ainda mais o momento.
Era de costume os noivos dirigirem-se após alguns dias da celebração até o
estúdio fotográfico local, vestirem as roupas da ocasião e registrarem uma fotografia. As
38
cópias daquela fotografia que constantemente era uma somente, geralmente eram
atribuídas á algum padrinho ou familiar mais próximo.
Em algumas regiões da Alemanha era muito comum às noivas usarem
vestidos pretos, e a tradição foi trazida pelos imigrantes. Para quem não sabia dessa
informação, a fotografia até causa certo espanto pelo fato do vestido da noiva ser
escuro. São situações como esta que demostram como toda a cultura alemã, começou a
se estabelecer na Colônia. Os imigrantes trouxeram consigo muitas tradições, o que com
certeza contribuiu ainda mais para a formação do lugar.
Figura 8- Casamento.
Fonte: Acervo do MAHP. Foto: 1.026.
Em alguns casamentos além da foto do jovem casal de noivos, também era
registrado um momento com todos os convidados da festa. Geralmente todos se reuniam
em um lugar, sendo que os noivos e os pais dos noivos ficavam sentados em cadeiras á
frente dos demais convidados, e as crianças ficavam á frente desses sentadas no chão.
39
A festa do casamento geralmente era animada por um gaiteiro ou por uma
banda, sendo que na época os instrumentos de sopro, de corda e percussão eram os mais
utilizados pelos músicos.
Os bailes também sempre se fizeram e ainda se fazem presentes no
cotidiano das comunidades. Muitos salões de bailes ainda construídos em madeira são
ainda encontrados em localidades do interior do município. Nessas sociedades todos os
anos eram escolhidas as rainhas e princesas que representariam por um ano o lugar. As
candidatas aos títulos, quase sempre eram filhas de membros daquela sociedade e
residiam naquela localidade. Todos os anos era realizado então o Baile de escolha da
Rainha e das Princesas. Em muitos lugares as meninas que estavam sujeitas aos títulos,
deveriam por um ano inteiro vender votos, aquela que mais conseguisse vender votos
seria a rainha, a segunda colocada seria a 1ª princesa e a terceira colocada seria a 2ª
princesa. As roupas eram confeccionadas muitas vezes por suas próprias mães, eram
vestidos de gala com muito brilho. O acontecimento com certeza movimentava muito a
vida de todos daquela determinada sociedade.
Segundo Malheiros (1979, p.32):
Havia também, bailes, chamados, fandangos. A mocidade era ordeira e
respeitosa para com as damas, as prendas, dona sinhá e sinhazinha. A música
era a gaita na mão de bons tocadores. Nas festas maiores havia conjuntos
musicais dos seguintes instrumentos: Gaita e viola ou violão.
Outras festividades como festas de algum padroeiro também eram
realizadas, e continuam sendo na atualidade. Geralmente essas festas são preparadas
com muita antecedência, e geralmente são realizadas uma vez ao ano. Alguns dias antes
da determinada festa, os membros da comunidade se reúnem. As mulheres começam a
fazer os quitutes para serem vendidos na festa como cucas, tortas entre outros doces. Os
homens geralmente ficam responsáveis pelo churrasco, pela venda de bebidas entre
outras atividades.
Em momentos festivos organizados pelas sociedades, entre as décadas de 20
e 30 eram vendidas fatias de Streuselkuchen, a cuca alemã prato típico da culinária e
salame cozido, que acompanhavam o café da tarde.
Quem nasceu na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul,
independente de sua descendência étnica, já deve ter participado de um evento como o
mencionado acima. Muitas vezes a tradição de ajudar nessas festividades locais,
40
também são passadas de geração em geração. Muitas vezes ouvimos no rádio um
anúncio de alguma festividade, que informa a realização de um evento em
comemoração ao centenário de uma determinada localidade. Um século significa muita
história, um local de encontro da comunidade que já foi palco de muitos acontecimentos
significativos para o lugar. O salão de festas geralmente era construído, ao lado da igreja
e também próximo ao cemitério principalmente em localidades do interior.
Nas regiões onde ocorreu a colonização alemã, acontecem muito os Bailes
de Chopp, o Baile da Cuca e da Linguiça, que reforçam a forte herança cultural e
gastronômica introduzidas principalmente pelos imigrantes que aqui chegaram.
Nestas festividades também são encontradas muitas músicas e danças
típicas, que inclusive, também possuem forte influência dos imigrantes. É muito
comovente perceber a emoção dos mais idosos, vendo seus filhos e netos praticando os
costumes que eles também um dia aprenderam com seus pais e avós. A atitude de
conduzir as novas gerações a conhecer a sua história, de ensiná-la á preservar essa
cultura que veio de muito longe, e que mesmo com tantos obstáculos encontrados no
caminho não se perdeu no tempo, é de extrema importância.
Há algumas décadas atrás quando um indivíduo fazia um passeio pelas ruas
de seu município, principalmente á tardinha, se deparava com moradores sentados em
frente à suas casas conversando, tomando chimarrão, enfim desfrutando um momento
agradável com os vizinhos. As crianças geralmente brincavam incansavelmente na rua
mesmo, mas sempre até a onde os pais pudessem avistá-las. As brincadeiras de roda
eram as preferidas, em um tempo em que nem se imaginava os avanços tecnológicos
que estavam por vir.
Nos municípios localizados mais próximos ao interior, ainda podemos
observar cenas como essas mencionadas. Mas em alguns lugares como nos grandes
centros urbanos esses episódios, apenas estão guardados na lembrança dos moradores
mais antigos.
Voltando há algum tempo atrás, mais precisamente nas primeiras décadas de
fundação da Colônia Neu-Württemberg, podemos analisar diferentes formas de
entretenimento praticadas pelos habitantes do lugar, visto por muitos como uma pausa
para o descanso depois de um árduo período de trabalho.
41
As pessoas além de reunirem-se em frente as suas residências no final da
tarde, como era de costume, também praticavam variadas atividades em grupos, em
sociedades recreativas.
Os encontros também eram realizados quando chegava à
Colônia, algum circo que sempre tinha espetáculos muito esperados por todos.
Quando chegava um circo na localidade, as pessoas eram comunicadas em
suas próprias residências, pois alguns artistas passavam nas ruas anunciando as atrações
do espetáculo.
O cinema foi e continua sendo, um local de encontro muito procurado pelas
pessoas. Atualmente observa-se um grande índice de cinemas em cidades grandes, em
municípios do interior os cinemas estão cada vez mais escassos.
“Durante muitos anos o Cine Goldhardt, localizado em frente à Praça
Central, foi o ponto encontro dos panambienses ávidos por cultura e diversão.”
(PHILIPP, 29 out. de 2013, p.04).
Figura 9: Cinema Goldhardt.
Fonte: Acervo do MAHP. Foto: 2.001.
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As propagandas onde eram anunciados os filmes, que estariam disponíveis
no cinema eram impressas em português e alemão. Devido a forte influência alemã na
colônia, os anunciados eram transmitidos á população de uma maneira que todos
pudessem compreender. As sessões de domingo traziam lançamentos de filmes da
época, e que certamente eram muito aguardados pelos moradores. Devemos lembrar-nos
da grande importância dos filmes de época, como Tempos Modernos, com Charlie
Chaplin que é um filme utilizado como um excelente material didático no ensino da
Revolução Industrial. Mesmo sendo um filme em preto e branco e fazendo parte do
cinema mudo, os educandos apreciam muito a história apresentada.
No período em que ainda não existia a televisão, ou que esse aparelho
eletrônico ainda era privilégio de poucos, o cinema era uma arte muito apreciada e
valorizada.
Assim como as peças teatrais produzidas e introduzidas por Marie
Faulhaber, no inicio da colonização em Neu-Württemberg trouxeram grande
contribuição para a vida dos moradores, o cinema como podemos observar, também
trouxe muitos benefícios para todos.
Andando pelas ruas do município de Panambi, pelas ruas que circulam a
Praça Central, podemos ainda observar nas edificações a história de muitos
estabelecimentos que foram muito importantes para o lugar.
A faixada do Cine Metrô, que também não se encontra mais em
funcionamento ainda está intacta no prédio em que era localizado o estabelecimento. A
janelinha da bilheteria onde eram cobradas as entradas também se encontra no mesmo
lugar, porém despercebidas por muitos que passam pelo local.
Alguns espaços eram utilizados para a apresentação de peças teatrais, e
também para a apresentação de filmes. A família de Walter Goldhardt era proprietária
de um espaço como esse. Sabe-se que algumas vezes o fotógrafo Adam Klos manuseava
o projetor de filmes mudos, enquanto o fundo musical era feito com o som de um piano.
Mais tarde o espaço onde eram apresentadas várias atrações culturais, foi assumido por
outros proprietários.
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Nesse espaço sabe-se também que eram praticadas algumas atividades como
o jogo de xadrez. “Num dos espaços que pertenciam a Walter “Papi” Goldhardt e Maria
“Mutti” Goldhardt vemos os aficionados do jogo do tabuleiro, ou xadrez, naquele ano
de 1933.” (PHILIPP, 08 nov. de 2013, p.04). Atualmente algumas escolas do município,
possuem oficinas de xadrez o que acredito ser algo muito positivo, pois além de resgatar
uma atividade atualmente não muito praticada, pois atualmente os jovens preferem
utilizar os recursos tecnológicos nos momentos livres, o jogo exige muita concentração
e desperta muito interesse nos alunos.
Todo o resgate histórico precisa de uma condução, muitas vezes a primeira
impressão de um aluno, por exemplo, quando o professor de história inicia um novo
assunto á ser estudado, é de que será algo complicado e não interessante. Mas se a
metodologia adotada pelo educador despertar o interesse dos educandos, as aulas serão
cada vez mais interessantes.
Também em alguns lugares eram realizadas as exposições, onde eram
vendidos alguns produtos fabricados no município. As mercadorias vendidas eram
móveis, ferramentas, fogões, tijolos e telhas, chapéus, bordados, carnes e embutidos,
panificados, calçados, vinhos e cachaça. Os produtos alimentícios coloniais atualmente
são muito procurados pelos consumidores, além de um preço menor quando
comercializado direto com os produtores, são de qualidade e nos fazem imaginar como
era o comércio, quando não existiam ainda os grandes supermercados com tamanha
variedade de produtos industrializados.
Atualmente todos os anos é realizada no município de Panambi a Fecolônia,
uma feira estadual da agroindústria colonial. Nesse evento expositores de muitos
lugares comercializam seus produtos. Na feira são comercializados artesanatos,
produtos coloniais como doces de frutas, queijos, pães e cucas entre outros. A feira é
realizada no Parque Municipal Rudolfo Arno Goldhardt, onde também é localizado o
Museu e Arquivo Histórico de Panambi- MAHP, que geralmente nesses dias de evento
fica aberto ao público. No evento também são apresentadas á comunidade algumas
atividades artísticas como grupos de dança, e também música ao vivo.
É importante a comunidade valorizar os produtos produzidos na localidade,
pois essa atitude gera benefícios á todos. Geralmente os produtos produzidos e
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comercializados em uma determinada localidade, possuem custos mais acessíveis aos
moradores locais que acabam economizando muito, e incentivando também os
pequenos produtores. Muitos desses pequenos produtores realizam o mesmo trabalho
que seus pais e avós também praticavam, garantindo assim uma continuidade da
atividade que também é uma tradição, um resgate histórico. É importante destacar que
algumas técnicas de produção foram modificadas, tornando o trabalho menos árduo, as
máquinas trouxeram muitos benefícios e esses fatos também são importantes de serem
analisados e apresentados as novas gerações.
A prática do artesanato também possui uma trajetória, muito interessante de
ser analisada. Há algum tempo atrás as mulheres não trabalhavam fora, e ficavam
responsáveis por todas as tarefas domésticas, como cuidar dos filhos, lavar, passar,
cozinhar enquanto os maridos trabalhavam. As moças deveriam ser prendadas, então
antes do casamento aprendiam com suas mães e avós á fazer artesanato, á cozinhar
enfim tudo o que precisavam para serem excelentes esposas. O enxoval da noiva,
também era algo muito preparado, com antecedência muitos trabalhos manuais eram
confeccionados, lindas toalhas bordadas, guardanapos e colchas de crochê, enfim uma
infinidade de acessórios que deixariam a casa muito bonita.
Aprender á costurar também era algo fundamental na vida de uma moça,
assim ela mesma poderia confeccionar as suas vestimentas e as da família, como
também fazer pequenos consertos em alguma peça de utilidade doméstica.
A tradição de aprender todas essas atividades com a mãe desde muito
pequena, era muito comum, e aquela menina que não apresentava muito interesse em
aprender não estava dentro das conformidades, e consequentemente na visão de algumas
pessoas da época não seria uma esposa dedicada.
Atualmente principalmente em localidades do interior, as meninas ainda
passam por todo esse processo de preparação para o casamento. Assim que chega á fase
da adolescência, já começa á se preocupar com todos os preparativos. Essas tradições
assim como muitas outras, foram se modificando com o passar do tempo, e com as
mudanças sociais ocorridas pelo mundo todo. Há algumas décadas a mulher assumiu o
seu lugar no mercado de trabalho, conquistou direitos e além de cuidar dos trabalhos
domésticos e dos filhos também é uma profissional dedicada. Esse grande número de
45
tarefas acabou ocasionando a falta de tempo para a prática do artesanato, que quase
sempre precisa ser realizado com muita dedicação. Mas também sabemos, que nos
momentos livres muitas mulheres ainda costumam praticar algum tipo de artesanato,
que é visto por muitas como uma distração, um momento de entretenimento.
O tempo passa e com ele muitos hábitos e tradições são esquecidos, mas se
as novas gerações aprenderem á preservar e a valorizar á sua história, a história da sua
família e do lugar onde vivem, muitas relíquias não serão perdidas com o passar dos
anos.
O historiador possui o desafio de desvendar os fatos históricos, e também de
conduzir as pessoas á aprender á valorizar toda essa cultura que nos rodeia. No trabalho
de historiador ou de professor de história, os desafios encontrados são muitos. O
educador tem o desafio de elaborar aulas interessantes que realmente convidam o aluno
á conhecer e compartilhar conhecimentos. O professor de história é um constante
pesquisador, precisa estar sempre atento á todas as novidades, e também aprofundar
conhecimentos sobre o que já passou.
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CONCLUSÃO
No ato da pesquisa á cada leitura realizada, é despertada á vontade de querer
saber cada vez mais sobre o assunto analisado. Compreender todo o contexto histórico
da história do município de Panambi, Colônia Neu-Württemberg desde a chegada dos
primeiros imigrantes que aqui se estabeleceram e introduziram muitas tradições que
atualmente fazem do lugar um pequeno pedaço da Alemanha no noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul é algo muito gratificante. O conhecimento nos faz perceber situações
que antes passavam despercebidas, e que agora ganham um novo sentido em nossas
vidas.
Cada lugar tem na sua história, também a história de vida de muitas pessoas.
É importante conhecer a história do lugar onde nascemos, onde escolhemos para viver,
pois assim torna-se mais fácil a compreensão do momento vivenciado.
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Ijuí,
22
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______. Um campeonato de xadrez em 1933. Nº1962. Folha das
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