UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ JOSSANA VIVIANE GABBI A CONTRIBUIÇÃO CULTURAL DOS IMIGRANTES ALEMÃES NA HISTÓRIA DE PANAMBI: AS PRINCIPAIS FESTIVIDADES E FORMAS DE LAZER Ijuí (RS) 2014 JOSSANA VIVIANE GABBI A CONTRIBUIÇÃO CULTURAL DOS IMIGRANTES ALEMÃES NA HISTÓRIA DE PANAMBI: AS PRINCIPAIS FESTIVIDADES E FORMAS DE LAZER Monografia apresentada ao Curso de História, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em História. Orientador: Prof. Dr. Ivo dos Santos Canabarro Ijuí (RS) 2014 AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu orientador Professor Dr Ivo dos Santos Canabarro, por sua dedicação e pelas orientações perante a elaboração desse trabalho. Também agradeço aos professores e tutores da Unijuí, que foram pessoas muito importantes em todo o decorrer da minha trajetória acadêmica. Agradeço á equipe do Museu e Arquivo Histórico Professor Hermann Wegermann de Panambi (MAHP), pela atenção e dedicação no auxílio as minhas pesquisas. Em especial agradeço a minha mãe Jaci (In Memorian), e á minha família por todo o carinho e incentivo. RESUMO O referido trabalho de pesquisa tem como principal objetivo, analisar a vinda dos primeiros imigrantes alemães ao estado do Rio Grande do Sul, destacando a contribuição cultural dos mesmos ao município de Panambi localizado no noroeste do estado. O município de Panambi possui forte influência alemã, e ainda preserva muitas características trazidas pelos imigrantes. Aspectos culturais como as festividades e as formas de lazer, sempre se fizeram muito presentes na vida das pessoas, amenizando o cansaço do trabalho e possibilitando momentos de entretenimento entre familiares e amigos. Desde os primeiros anos de fundação da Colônia Neu-Württemberg (atual município de Panambi), muitas atividades culturais já eram desenvolvidas pelos imigrantes. Destacam-se as peças teatrais produzidas por Marie Faulhaber, as Sociedades de Canto, de Tiro ao Alvo, de Bolão, e também os locais de encontro como o cinema, entre outras curiosidades que contribuíram muito para a história do lugar. PALAVRAS-CHAVE: Imigração.Colonização.Festividades.Neu-Württemberg.Panambi. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Dr. Herrmann Meyer ......................................................................................... 15 Figura 2- Vista da Colônia Neu-Württemberg. ................................................................. 16 Figura 3- Família Faulhaber. ............................................................................................. 22 Figura 4- Lado leste da Praça Engenheiro Walter Faulhaber,1914 ................................. 32 Figura 5- Bolão Boa Esperança ......................................................................................... 34 Figura 6- Sociedade de Cantores Luteranos ...................................................................... 35 Figura 7- Coral .................................................................................................................. 35 Figura 8- Casamento ......................................................................................................... 38 Figura 9- Cinema Goldhardt ............................................................................................. 41 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 7 CAPÍTULO 1 Os imigrantes alemães e suas perspectivas de vida diante do novo lar............. ................................................................................................................................... 9 1.1 A chegada dos primeiros imigrantes alemães no estado do Rio Grande do Sul ........... 9 1.2 A Colonização alemã em Neu-Württemberg .............................................................. 13 CAPÍTULO 2 Os imigrantes alemães e a sua contribuição cultural na Colônia NeuWürttemberg ............................................................................................................................. 21 2.1 As primeiras festividades em Neu-Württemberg e a contribuição do casal Faulhaber na formação da Colônia ............................................................................................................ 21 2.2 A importância da fotografia como registro histórico em relação ao desenvolvimento da Colônia ................................................................................................................................. 29 CAPÍTULO 3 A herança cultural alemã presente no cotidiano dos moradores, principais momentos festivos e formas de lazer ........................................................................................ 34 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 46 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 47 INTRODUÇÃO A imigração é um assunto que nos conduz, a uma imensidade de descobertas. Analisar e compreender os sentimentos, seguidos de inúmeros objetivos de vida desses imigrantes, nos ajuda a desvendar a nossa própria história. Talvez se nossos antepassados não tivessem vivido essa aventura repleta de dificuldades, mas com muitos sonhos, sempre idealizando um futuro melhor, quem sabe o rumo que muitas histórias teriam seguido. No primeiro capítulo desse trabalho de pesquisa, foi realizada uma análise sobre a vinda dos primeiros imigrantes alemães ao estado do Rio Grande do Sul. Através da leitura do mesmo, é possível compreender melhor todo o contexto histórico da época, e também os principais sentimentos dos imigrantes que vieram ao Brasil em busca de uma nova vida. Neste também foram analisados aspectos culturais, primeiras impressões do novo lar, principais dificuldades entre outros aspectos. O início da colonização alemã e a chegada dos primeiros imigrantes em Neu-Württemberg, atual município de Panambi também serão abordados neste item. Aqui serão destacados nomes importantes da história de Panambi como Herrmann Meyer, com sua empresa colonizadora. Em seguida no segundo capítulo será analisada a importância da vinda do casal de imigrantes alemães, Hermann e Marie Faulhaber a colônia de Neu-Württemberg. Essas pessoas iniciaram atividades relacionadas ao desenvolvimento cultural do lugar. Marie Faulhaber além de uma excelente pedagoga introduziu inúmeros trabalhos culturais com a comunidade, que com certeza foram muito importantes para o desenvolvimento da colônia. A importância da fotografia como registro histórico, também será analisada neste capítulo. No último e terceiro capítulo serão ressaltadas algumas sociedades culturais, que foram surgindo no lugar no decorrer dos anos. Destacam-se neste item as sociedades de canto, atiradores, bolão entre outros. Também serão focadas neste item, algumas das principais características referentes às festas tradicionais, e também a lugares de encontro e entretenimento. 8 Os muitos grupos étnicos, que colonizaram diversas localidades do estado do Rio Grande do Sul trouxeram consigo, uma diversidade de saberes e de cultura. Apesar de muitas vezes a rotina ser árdua, ainda mais no início de todo esse processo de adaptação com o novo lar, eram nos momentos de descontração que encontravam a alegria para seguir em frente com o seu trabalho. São muitas as heranças culturais trazidas por esses grupos, como as festividades seguidas de muita música e dança, e também uma gastronomia ainda muito preservada em nossas mesas. A imigração alemã permitiu o conhecimento das experiências de vida da terra natal (Alemanha), trazidas por essas pessoas que viram no Brasil, a esperança de uma vida melhor. Estudar e pesquisar sobre esse assunto, é particularmente muito gratificante, por saber mais a história de meus descendentes e também por ter escolhido um município de colonização alemã para minha vivência. Na visão de Kosik, “A história só é possível quando o homem não começa sempre do novo e do princípio, mas se liga ao trabalho e aos resultados obtidos pelas gerações precedentes. ’’(1976, p.18) Compreender essa trajetória vivenciada por essas pessoas, e principalmente conduzir as novas gerações a apreciar e preservar toda essa herança cultural trazida pelos imigrantes, são os principais ideais desse trabalho de pesquisa. 9 Capitulo 1 - Os imigrantes alemães e suas perspectivas de vida diante do novo lar 1.1 A chegada dos primeiros imigrantes alemães no estado do Rio Grande do Sul O ano de 1824 (um mil oitocentos e vinte e quatro) foi sem dúvidas a data de um acontecimento histórico muito marcante, para a história do estado do Rio Grande do Sul. Mais precisamente no dia 18 do mês de julho do ano de 1824, chegavam ao porto de Porto Alegre, os primeiros imigrantes alemães. O Brasil neste período estava sendo governado, pelo imperador Dom Pedro I, e o Presidente da Província era José Feliciano Fernandes Pinheiro, que estava presente no dia da chegada dos primeiros imigrantes. De acordo com Hunsche (1977, p. 38), “Acostumados a pensar em dimensões geográficas do Brasil com seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados de superfície e com as extensões norte-sul e leste-oeste de mais de 6.000 quilômetros lineares cada uma, o mapa dos muitos estados da Alemanha no ano de 1826 parece-nos uma minúscula e multicolorida colcha de retalhos. ’’ Certamente a imensidão territorial do Brasil, surpreendeu muito os imigrantes que aqui chegaram. A vontade de cultivar essa terra, de tirar dela o seu sustento, era o sonho de muitos. Assim como a maioria dos grupos étnicos que chegaram ao Brasil, os alemães também tinham como principal objetivo a busca por melhores condições de vida. Como havia salientado, o Brasil vivia o início do período Imperial. Este período foi marcado, por alguns acontecimentos infelizes para a história do país. Mais precisamente no mês de dezembro do ano de 1825, D. Pedro I deu início á Guerra da Cisplatina. No ano seguinte, quando D. Pedro I estava em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, com o propósito de dirigir pessoalmente as operações militares contra a Argentina, recebeu a triste notícia da morte da Imperatriz D. Leopoldina. A Imperatriz faleceu no dia 11 de dezembro do ano de 1826, no Rio de Janeiro. Ainda em 10 de 10 março do mesmo ano, havia falecido em Portugal D. João VI. Algum tempo antes de sua morte, D. João VI, havia reconhecido perante o Tratado de Paz e Aliança entre Brasil e Portugal, a independência do Império do Brasil. Assim ficou cedido a D. Pedro I, o cargo de sucessor imediato para atuar o exercício de soberania no Império do Brasil. Como podemos observar, juntamente com o desenvolvimento do Império, o país precisou enfrentar situações difíceis e que ficaram marcadas em sua história. Ao contrário do que, geralmente, se pensava a emigração alemã para o Brasil começou cronologicamente e geograficamente nos Estados do Sudoeste da Alemanha, nos Reinos de Baden e Württemberg, provocada pelas dificuldades econômicas já, em si, grandes e agravadas, ainda, pelas consequências das longas Guerras napoleônicas. (HUNSCHE, 1977, p.40). Já no ano de 1818, muitos alemães adquiriram grandes proporções de áreas de terras no Brasil. Esta aquisição era amparada por uma lei de 25 de maio de 1808, estabelecida por D. João, que deixava à permissão a concessão de sesmarias para pessoas que não fossem portuguesas. Os Estados alemães não tinham uma mesma opinião, á respeito da vinda de pessoas para o Brasil. Alguns Estados consideravam o fato favorável em alguns aspectos, e também desfavorável em outros. Para Hunche (1977, p.43): A emigração podia ser considerada favorável para o Estado como meio para diminuir a pressão demográfica mediante afastamento de indigentes, incapazes e marginais, e, por outro lado, podia ser considerada desfavorável para o Estado em virtude da perda de mão de obra, soldados e recursos econômicos. De acordo com a citação, a emigração seria favorável para o Estado apenas se tivesse como principal objetivo enviar pessoas que na visão dos governantes não contribuíam em nada para o desenvolvimento do lugar. Já a perda de soldados e da mão de obra produtiva, seria algo lamentável para o Estado, pois assim ele estaria perdendo benefícios. No Estado de Württemberg, por exemplo, o direito de imigração foi reconhecido por volta do ano de 1815. Os imigrantes esperavam encontrar no Brasil uma existência sem preocupações. Esta questão de uma existência sem preocupações é algo quase impossível, ainda mais se tratando de uma mudança muito grande de vida. Sair de um país de origem requer muitos desapegos, principalmente dos familiares que ficaram. Certamente esses imigrantes sentiam muito medo do desconhecido que aqui os 11 esperavam, mas a vontade de viver melhor superava todas essas angústias ou boa parte delas. Sem saber muito certo o que aqui os esperavam, os imigrantes certamente mantinham-se focados de que, a vida em um país com tantos atrativos seria menos árdua do que a vivida na pátria mãe. Para essas pessoas possuir um teto para abrigar a família, e ter uma terra para plantar e cultivar o seu alimento, com uma vivência tranquila, era o acontecimento mais esperado. De acordo com Neumann (2009, p.15): Em geral, os subsídios oferecidos nas colônias públicas – passagem, sementes, instrumentos de trabalho, terras baratas, etc. – estavam ausentes nas colônias particulares, o que limitava o acesso da maioria, e funcionava como artifício para a seleção dos imigrantes: aqueles considerados pobres ou com parcos recursos eram direcionados para as colônias públicas, enquanto os mais remediados eram disputados pelos colonizadores particulares. As primeiras colônias alemãs no Rio Grande do Sul foram estabelecidas em São Leopoldo, e também em municípios localizados em suas proximidades. No inicio da colonização em São Leopoldo, a chegada de grande numero de imigrantes ocasionou alguns problemas. “Abrigar e alimentar, adicionalmente, mais de mil pessoas, nervosas e cansadas após uma viagem de seis a doze meses, da Alemanha ao Brasil, foi uma verdadeira proeza.” (HUNSCHE, 1977, p. 95). O autor ressalta algumas das dificuldades encontradas, já na chegada dos primeiros imigrantes. A imigração com certeza contribuiu muito, para a economia e para a diversidade cultural existente em nosso estado. E todas essas conquistas foram iniciadas por essas pessoas que se aventuraram, das quais muitos de nós somos descendentes. Sabemos que os imigrantes chegaram ao Brasil, com o objetivo de conquistar uma vida melhor. A Colônia Alemã de São Leopoldo recebeu este nome em homenagem ao padroeiro da Imperatriz Leopoldina. Em meados do ano de 1828, os imigrantes alemães construíram uma capela onde atualmente fica localizada a Igreja Matriz de São Leopoldo. Aos poucos o lugar foi se desenvolvendo, a produção agrícola local começou a ser transportada para Porto Alegre pelo Rio dos Sinos. Os alemães também possuíam muita habilidade com o artesanato. Geralmente a matéria prima utilizada para a atividade artesanal era o couro, a madeira, o ferro entre outros materiais. É importante destacar essa proliferação de culturas, pois os imigrantes que aqui 12 chegaram ao estado do Rio Grande do Sul, também encontraram o gaúcho com os seus costumes. Essa mistura que resultou em vários hábitos que atualmente praticamos despercebidamente é a forma mais viva, da importância da valorização cultural e histórica de um determinado lugar. Destacando também a forte influência alemã muito presente nas festividades e atividades de lazer, e a sua apreciação pela vida em grupo, essa etnia foi também responsável pelo surgimento das sociedades recreativas de bolão, canto e tiro ao alvo. São Leopoldo antes do ano de 1880, já estava se transformando em um polo industrial muito importante. Existiam no lugar fábricas de chapéus, de cerveja e ferramentas. Diante desses acontecimentos, também nasceram empresas de navegação responsáveis pelo transporte de passageiros e de mercadorias. Os primeiros colonos que chegaram aos meses de julho e agosto do ano de 1824, nas proximidades do Rio dos Sinos enfrentaram muitas necessidades devido ao intenso frio. Primeiramente as pessoas eram alojadas em ranchos precários, que anos antes eram habitados por escravos. Os primeiros imigrantes ficavam alojados em feitorias, nessas feitorias recebiam alimentos como farinha de mandioca, carne e verduras. Cabe ressaltar que também receberam sementes de linho e ferramentas para o trabalho. Outro aspecto que precisou de mais atenção nesses alojamentos foi o policiamento. Sabemos que em um espaço com tantas pessoas vivendo juntas, o mantimento da ordem e da organização é fundamental para que todos consigam viver bem. Em alguns relatórios que se encontram no Arquivo Histórico de Porto Alegre, é possível saber como era realizado esse policiamento. Foram os alemães que conduziram o primeiro policiamento nesses alojamentos. Sabe-se que a guarda nesses locais era de 24 horas, sendo que os soldados se revezavam. Dentre os ocorridos destacam-se alguns casos de pessoas embriagadas, alguns furtos, mas a maioria das vezes tudo transcorria de forma tranquila. Com o crescimento da Colônia e também com a chegada de mais imigrantes, o policiamento foi cada vez mais aprimorado. Vieram por certa vez alguns soldados de Porto Alegre para efetivar o trabalho, mas muitas vezes a dificuldade na 13 comunicação, devido à maioria das pessoas falarem o idioma alemão, obrigava os a tomar outras providências. A colônia de São Leopoldo contava no ano de 1826 com um pastor, um médico, muitos casais e solteiros, chegando ao total aproximado de 1400 pessoas. O início de tudo foi repleto de dificuldades, mas com muito esforço, os imigrantes começaram a construir seus lares. E assim seguiu o progresso das colônias alemãs no estado do Rio Grande do Sul. No final do século XIX, começou a colonização em um lugar que recebeu o nome de Neu-Württemberg. Localizada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, a Colônia alemã começava a construir a sua história, com muito trabalho, acreditando e idealizando sonhos, os imigrantes são com certeza grandes protagonistas de muitas outras histórias. 1.2 A Colonização Alemã em Neu-Württemberg Em nossas andanças por diversos lugares, nos surpreendemos com as curiosas e fascinantes histórias que marcam o nascimento de uma localidade. Para um historiador é impossível passar por algum lugar, sem querer aprender com a sua história. O município de Panambi possui em sua história, essa cativante característica de surpreender a cada documento analisado, e a leitura de cada livro, que aborda algum episódio de sua história. É no ato da pesquisa que descobrimos que muitos dos hábitos dos nossos antepassados, que achávamos no mínimo estranhos, percorreram quilômetros de terra e oceano para chegarem até aqui. “Os territórios dos atuais municípios de Panambi e de Condor pertenciam a Cruz Alta e a Palmeira, respectivamente, ocupando, aqueles, em parte, duas sesmarias concedidas entre 1810 e 1822.” (MUSEU E ARQUIVO..., p.08, 2013). Uma sesmaria 14 pertencia ao Tenente Coronel Joaquim Thomaz da Silva Prado, e a outra pertencia a Manoel José da Encarnação. Uma grande parte da área que atualmente pertence ao município de Panambi foi no decorrer do século XIX, sendo ocupada por lusobrasileiros, proprietários ou posseiros. Devido á colonização muitas dessas áreas foram vendidas, e também muitas vezes os moradores foram pressionados á se retirar do local. Até a década de 1950 (um mil novecentos e cinquenta), o atual município de Panambi, era distrito do município de Cruz Alta. A história do município de Cruz Alta é muito antiga, e iniciou quando em 1698 (um mil seiscentos e noventa e oito), foi erguida uma cruz de madeira devido á ordens do padre jesuíta Anton Sepp Von Rechegg, após a fundação de São João Batista dos Sete Povos das Missões. Com a demarcação do Tratado de Santo Ildefonso em 1777 (um mil setecentos e setenta e sete), a linha divisória que separava as terras da Espanha e de Portugal, cortava o território do Rio Grande do Sul pelos divisores de água exatamente por esse local, onde existia a grande cruz e uma pequena capela do Menino Jesus. A fundação de Cruz Alta deu-se no dia 18 de agosto de 1821, devido á uma petição feita pelos moradores. Com o passar dos anos Cruz Alta tornou-se um dos maiores e mais importantes municípios do estado do Rio Grande do Sul. O lugar foi importante em muitos acontecimentos políticos, militares, econômicos e religiosos. Andando pelas ruas do município de Cruz Alta atualmente, nos percebemos muitas vezes vivenciando o passado, que agora com as novas edificações se mistura com o presente. Lembranças de um tempo onde à vivência do homem era completamente diferente, mas que ao mesmo tempo se torna muito parecida com a nossa, pois as necessidades apenas ficaram mais exigentes com a vida moderna. Para os que não apreciam a história, alguns casarões e edificações são vistos com indiferença, mas para os que conseguem enxergar toda a riqueza cultural do lugar, a aprendizagem se torna muito significativa. Uma pessoa muito importante na história de Panambi foi o Dr. Herrmann Meyer, que durante o final do século XIX, resolveu começar a negociar terras brasileiras. “Dr. Herrmann Meyer e Carlos Dhein, a partir da Expedição ao Xingu (Mato Grosso), colocaram em prática o Projeto de Colonização no sul do Brasil.” (MUSEU E 15 ARQUIVO..., p.12, 2013). Foram adquiridas muitas áreas em Palmeira Colônia Xingu em 1897 atualmente conhecido como Novo Xingu. Também em 1898, foi adquirida a posse Boi Preto atual distrito do município de Chapada, e também Herval Seco em 1899. Em 1898, foi adquirida a área da Colônia Neu-Württemberg no município de Cruz Alta, e em 1903 foi adquirida a área da Colônia Castilhos, atual município de Pinhal. Figura 1 – Dr. Herrmann Meyer. Fonte: Acervo do MAHP, Foto 1.001. Heinrich August Herrmann Meyer nasceu em 11 de janeiro de 1871, em Hildburghausen, no estado da Turíngia. Na sua formação acadêmica, estudou geografia e etnologia nas universidades de Strassburg, Berlin e Jena. Obteve seu título de Doutor [Doktor der Philosophie] em 1895, na Universidade de Jena, ao defender a sua tese Bogen und Pfeil in Central-Brasilien. Ethnographische Studie [Arco e Flecha no Brasil-Central. Um estudo etnográfico]. No ano seguinte, iniciou seu trabalho como assistente no Museum für Völkerkunde de Leipzig. (NEUMANN, 2009, p.57). Herrmann Meyer possuía uma formação acadêmica privilegiada, e tinha uma visão muito ampla de desenvolvimento. Ele também realizava muitas viagens, o que na época era privilégio de poucos, com certeza nessas andanças adquiriu ainda mais aprendizagens. Ao contrário do que era planejado pela Empresa Colonizadora, o início da colonização e ocupação de Neu-Württemberg aconteceu pela migração interna. Vieram 16 pessoas de Teutônia, Estrela, Lajeado, Montenegro, da antiga zona de colonização Alemã. Figura 2 - Vista da Colônia Neu-Württemberg, 1910. Fonte: Acervo do MAHP, Foto: 2.006. Na visão de Neumann (2009, p.18): Com referência à formação territorial de uma colônia particular, sobressaemse duas tendências: a primeira, o colonizador recebia, mediante requerimento, uma gleba de terras devolutas com o compromisso de colonizá-la com imigrantes em um prazo preestabelecido, implicando o descumprimento em rescisão de contrato, comum durante no império; a segunda, o colonizador comprava as terras de particulares ou do próprio governo, arcando com todas as despesas, contando com a imigração espontânea ou migração interna, modelo predominante durante a república. O início da colonização em Neu-Württemberg assim como também em outras regiões, foi uma tarefa muito árdua. Os primeiros imigrantes se depararam com muita mata, a qual aos poucos foi sendo derrubada, e assim foram surgindo às primeiras moradias. A Empresa de Colonização Dr. Herrmann Meyer, apresentava aspectos capitalistas onde era visado o lucro, mas também tinha grande preocupação com o bemestar dos imigrantes. 17 Ao mesmo tempo, era um projeto de colonização étnico, destinados aos emigrantes alemães, com uma proposta de trabalho cultural na colônia em prol da germanidade, aspecto apresentado e executado como o seu diferencial, e social, pois visava o bem-estar dos imigrantes. (NEUMANN, 2009, p.19). O diferencial desta empresa seria também esse objetivo norteador, de tornar essa colônia um modelo para as demais, pois pretendia trazer muitos benefícios sociais aos imigrantes que aqui chegavam. É fácil concluir que o bem-estar e um lugar tranquilo para recomeçar, era um sonho esperado pela maioria dos imigrantes que chegavam à nova colônia. A chegada de Herrmann Meyer, com certeza trouxe grandes expectativas a população. Quando o colonizador chegou de trem a essas terras, foi recebido com grande entusiasmo por todos. A presença do colonizador no lugar trazia um ar de transformações e realizações, tudo o que a população esperava para o seu melhor viver. Enfim, o ato da recepção e o ser recebido na estação de trem representavam simbolicamente os interesses mútuos envolvidos na consecução desse projeto de colonização e das benesses financeiras daí advindas a curto e longo prazo. Atendia plenamente às expectativas do governo estadual, baseado na imigração espontânea e, ao mesmo tempo, objetivava a realocação do excedente populacional das colônias velhas. (NEUMANN, 2009, p.55). Os jornais de época são importantíssimas fontes históricas, um jornal muito interessante que circulava nos municípios de Ijuí e Panambi, nos traz importantes referencias ao cotidiano e aos acontecimentos marcantes, poucos anos depois da chegada dos primeiros imigrantes a esses locais. O jornal Die Serra Post era editado em Ijuí na língua alemã, e circulava pelo norte do estado do Rio Grande do Sul. Sua fundação foi em 11 de maio do ano de 1911, em pleno período de desenvolvimento das colônias. O munícipio de Ijuí na época era conhecido como Vila Ijuhy, e Panambi se chamava Nova-Württemberg sendo ainda um distrito de Cruz Alta, enquanto Ijuí estava prestes á emancipar-se como município. O fundador do jornal Robert Löw, em 1914 partiu para a Alemanha com o principal objetivo de comprar novos equipamentos gráficos para seu estabelecimento. Sendo assim, deixou sua esposa e Richard Becker no comando do jornal, enquanto viajava. Com o desencadear da Primeira Guerra Mundial Löw, ficou impedido de voltar ao Brasil por um período de cinco anos. No ano de 1917 foi proibida a edição de jornais na língua alemã, com a entrada do Brasil na Guerra. Sendo assim Richard Becker 18 resolveu traduzir o jornal para o português, surgindo então o Jornal Correio Serrano. O Jornal Correio Serrano, circulou pela última vez na região em 31 de dezembro de 1988. Uma característica importante do jornal era a publicação anual para seus assinantes do Almanaque Serra-Post Almanak. Esse almanaque era publicado em alemão e sempre trazia para seus leitores dicas de agricultura, saúde e economia (BINDÉ, 2010). As notícias do jornal com certeza foram muito importantes na época em que foram publicadas, por transmitir aos moradores informações sobre tudo o que se passava na região. Lembrando que nesse período, o acesso aos meios de comunicação era escasso, diferente da atualidade onde as redes sociais, jornais e revistas são acessados a qualquer hora do dia, devido às inovações que surgiram com a internet. Talvez Robert Löw nunca tenha imaginado que, a sua contribuição para a história de muitos municípios de nossa região seria de tamanha importância. Um jovem imigrante que assim como tantos outros, veio para o Brasil em busca de realizações, de uma vida melhor, cheia de expectativas. Uma pessoa que não poderia passar despercebida pela história, pois toda a dedicação pelo que fazia com certeza foram responsáveis pelos excelentes resultados que obteve em sua profissão. “Os fatos históricos que registrou e a sua própria história estão guardados para a posteridade, pois seus exemplares passaram a integrar o acervo do Museu Antropológico Diretor Pestana.” (BINDÉ, 22 mai. 2010, p.10). Em poucos anos de colonização, podemos perceber que o progresso começava a fluir. As notícias do jornal Die Serra Post anunciavam a construção de estradas, que ligariam Ijuí á Colônia de Neu-Württemberg, facilitando o acesso e diminuindo a distância entre as duas localidades. A Intendência de Ijuí iniciou a construção de uma nova estrada até o Fachinal (Linha 19), que será mantida á margem esquerda do Ijuí e encurtará de uma légua a distancia da Vila até o Fachinal. A mesma estrada deverá ser prolongada até Nova- Württemberg, passando por Rio Branco, de sorte que será estabelecida uma comunicação favorável e relativamente próxima com aquela colônia. De Nova-Württemberg até Porongos já existe uma estrada, de maneira que o trecho que falta não é longo demais. (JORNAL DIE SERRA POST, 13 de dez. 1912, nº 50, p.88). Como podemos observar os rios eram com certeza importantes pontos de referência, pois nessa época muitas coisas ainda estavam por serem descobertas. Sabese pela notícia que de Neu-Württemberg até o rio Porongos que hoje é conhecido como rio Caxambú, já existia uma estrada. Então o que estava sendo proposto pela 19 Intendência de Ijuí, era que fosse construída uma estrada que deveria dar continuidade á essa que já existia até o rio Porongos. Cabe ressaltar á imensa diferença, e as dificuldades que eram encontradas pelos operários responsáveis pela construção de estradas. A força braçal era a principal ferramenta nesse trabalho, pois todas essas máquinas que conhecemos atualmente eram praticamente inexistentes. O tempo que uma obra levava para ser concluída também era muito longo, o que resultava em um longo período de espera para os que precisavam da estrada para se deslocar ou comercializar seus produtos. Outra notícia nos traz importantes informações, sobre a previsão do término da construção da estrada. A estrada que deverá ligar Ijuí com Nova-Württemberg, estará concluída até o fim de julho, e, segundo apuramos, será solenemente entregue ao tráfego. Sobre o rio que divide os dois municípios, o Porongos, funcionará uma barca, cujas despesas certamente serão divididas entre ambos os municípios. A distancia entre Ijuí e Nova-Württemberg, com isto, ficará reduzida de 7 léguas.(JORNAL DIE SERRA POST, 02 mai. de 1913, nº18, p.111). Nesta notícia podemos observar a grande expectativa da população em relação ao término da obra. Com previsão de terminar no mês de julho do ano de 1913, a obra com certeza iria trazer muito mais progresso á essas localidades. Novamente é citado o rio Porongos, em relação ao rio seria disponibilizada uma barca, atualmente sabemos que no lugar foi construída uma ponte. As despesas em relação á barca, seriam resolvidas entre os principais municípios beneficiados. Ainda calculada em léguas, a distância seria reduzida, sendo que neste tempo devido aos meios de transporte que muitas vezes eram as carroças ou mesmo animais, o tempo levado para percorrer esse trajeto era maior. A história de um lugar geralmente está guardada em documentos, objetos, e em relatos de pessoas que viveram certo episódio importante para o lugar. A história sem fontes é de certa forma duvidosa, pois são as fontes que comprovam os fatos. Muitas pessoas não valorizam como deveriam o Arquivo Histórico, o Museu de seu município. Mas é importante lembrar que muito da nossa história está lá, sendo estudada e preservada por profissionais que compreendem o seu valor. Para quem não nasceu aqui, a primeira impressão ao chegar ao município é que nos encontramos em algum lugar da Alemanha. A entrada do município já nos faz perceber a forte influencia alemã no lugar. Os festejos são animados, e a culinária um mistura de deliciosos sabores. 20 Às vezes andando pelo município de Panambi, lembro-me das leituras e estudos históricos realizados sobre o local, e começo a imaginar como tudo começou e as diversas mudanças que ocorreram com o passar do tempo. Vejo que apesar de ainda ser um município pequeno, seu crescimento continua, a indústria é muito desenvolvida e proporciona emprego para moradores de toda a região. Um lugar tranquilo de viver, onde a natureza ainda é muito presente. A história do lugar é muito lembrada em monumentos na praça central, e prédios históricos são preservados. Existem pessoas chegando, pessoas indo embora e assim a cada dia a história do lugar ganha novos acontecimentos e novos personagens. É importante destacar que este primeiro capítulo, foi desenvolvido através de estudos referentes à chegada dos primeiros imigrantes alemães no Brasil, e posteriormente a colonização de Neu-Württemberg no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. É possível através deste, realizar uma análise que inicia no ano de 1824, e consequentemente compreender, todas as transformações culturais, econômicas e sociais, que foram ocorrendo no decorrer dos anos. Compreender tamanha foi à importância dessas pessoas, no desenvolvimento de lugares onde praticamente só existia mata nativa. Perceber o quanto a cultura dessas etnias está presente no nosso cotidiano, nos garantindo assim, esse incrível resgate histórico e cultural que não pode se perder com o tempo. 21 Capitulo 2 - Os imigrantes alemães e a sua contribuição cultural na Colônia NeuWürttemberg. 2.1 As primeiras festividades em Neu-Württemberg e a contribuição do casal Faulhaber na formação da Colônia. Com certeza Marie Faulhaber, foi a grande idealizadora de muitos e dos primeiros eventos culturais na colônia de Neu-Württemberg. Marie nasceu no dia 08 de setembro de 1867 (um mil oitocentos e sessenta e sete), em Württenberg na Alemanha, e faleceu em Panambi no dia 11 de abril de 1939 (um mil novecentos e trinta e nove). Seu marido Hermann Faulhaber nascido em 19 de abril de 1877 (um mil oitocentos e setenta e sete) em Triensbach, no município de Crailsheim em Württemberg na Alemanha, faleceu em 08 de julho de 1926 (um mil novecentos e vinte e seis). Hermann e Marie foram contratados por Herrmann Meyer, para residir na colônia. “Ele ficou encarregado de administrar a colônia e impulsionar a constituição de toda organização social. ’’(COLÉGIO EVANGÉLICO..., 2003, p.38). Marie por sua vez, ficou encarregada de impulsionar a escolarização na colônia. Hermann Faulhaber era pastor e professor, e além dessas profissões também era gerente da Associação Evangélica para Colonos e Imigrantes Alemães em Witzenhausen na Alemanha. O contrato foi assinado por Hermann Faulhaber em 19 de julho de 1902 (um mil novecentos e dois), a chegada ao Brasil ocasionou-se no mês de setembro daquele mesmo ano. O casal era recém-casado, antes de partir para o Brasil haviam firmado matrimônio. Marie e Hermann Faulhaber tiveram três filhos: Maria, Walter e Gertrud. 22 Figura 3 - Família Faulhaber, 1907. Fonte: Acervo do MAHP. As festas natalinas no início da colonização em Neu-Württemberg eram organizadas com muita dedicação. “Nessa ocasião, confeccionou-se uma árvore de Natal e, embaixo dela, foram colocados presentes a todos os alunos do primeiro ano. ’’(COLÉGIO..., 2003, p.51). Acredito que o Natal sempre será uma data muito marcante, onde as pessoas se encontram e compartilham alegrias. A maneira com que vivências passadas são contadas pelos mais experientes é fascinante. As histórias vivenciadas principalmente pelos nossos avós são com certeza, o nosso primeiro contato com um passado, que muito contribui para compreendermos as nossas origens. 23 Segundo Fausel, “A festa de Natal tornou-se verdadeira fonte revigorante da alma para os colonos, e tais comemorações ajudavam-nos para que se familiarizassem com a terra e trabalho.’’(1949, p.18). Neste momento, pode ser observada novamente a importância dessas comemorações na vida dos imigrantes. A questão da união, de viver e compartilhar sentimentos tornava a vida mais alegre, e a adaptação com o novo lar mais tranquila. É importante lembrar também que, o diretor Herrmann Meyer sempre enviava presentes no período natalino para as crianças de Neu-Württemberg. De acordo com Neumann (2009, p.184): No elenco das festividades populares e religiosas, o Natal foi transformado na festa popular [Volksfest] mais importante da Colônia, mesclando apresentações religiosas e profanas-hinos natalinos, velhas canções alemãs, declamação de poesias, teatro, combinando elementos trazidos pelos imigrantes de diferentes regiões da Alemanha com aqueles já adaptados pelos migrantes das regiões de colonização antiga do estado. Quando comecei a pesquisar e analisar essas histórias de Natal, lembrei-me de um fato de minha infância que sempre ouvia meus familiares contar, e que por muitas vezes fez a minha imaginação de criança fluir. Em certa localidade do interior de Ijuí, na década dos anos cinquenta, na noite natalina durante o culto, as crianças eram convidadas a declamar um verso na língua alemã aos demais participantes da celebração. Sendo assim após a apresentação, cada criança ganhava um pacote de papel repleto de doces. O cheiro daquele pacotinho de doces fazia com que aqueles que viveram esse episódio, nunca o esquecessem. São lembranças como essa que nos ajudam a compreender a história de certo lugar, e a cultura dos descendentes de imigrantes. Enfim, uma imensidade de informações que são contadas de geração em geração, e que ajudam a conservar fatos históricos. De imediato foram estabelecidas na Colônia uma escola e uma igreja, com o principal objetivo de conservar a cultura e a língua alemã. Segundo Neumann, “Para Meyer, assistência religiosa consistia em colocar á disposição dos habitantes da colônia um pastor ordenado para ministrar batismo, confirmação, casamento, enterro e cultos esporádicos.” (2009, p.145). Neu-Württemberg era conhecida como uma colônia protestante, fato que para o colonizador Herrmann Meyer deveria ser mudado, pois pessoas de outras religiões também deveriam vir para o lugar, questão religiosa não deveria interferir nessas situações. 24 Ainda destacando a imensa contribuição cultural de Marie, para o desenvolvimento da colônia Neu-Württemberg, destaca Fausel, “Para o Natal de 1903 a esposa do Pároco escrevera uma série de pequenas peças teatrais.’’(1949, p.18). Também sobre as peças teatrais produzidas e organizadas por Marie Faulhaber, pode-se observar diversos sentimentos em relação com a vida do imigrante. Sentimentos estes que representavam a partida da terra natal, e a reconstrução de uma nova etapa da vida em Neu-Württemberg. “Enfim, essa complexidade do espaço colonial e a tentativa de construir/preservar uma identidade étnica no estrangeiro consiste em um dos aspectos centrais das peças de teatro escritas por Marie Faulhaber, nas três primeiras décadas do século XX.’’ (NEUMANN, 2003, p.187). A maioria das produções teatrais trabalhava com o cotidiano vivenciado na colônia. “Em todas elas, a família constituía o núcleo central da drama, composta pelo pai, a mãe e os filhos.’’( NEUMANN, 2009, p.187). Podemos observar que a família sempre foi a preocupação principal e também o elemento mais significante em muitos momentos da história. Quanto aos cenários das peças teatrais, “Como cenários, predominavam uma casa simples de um colono; a cozinha colonial; com poucos móveis rústicos, a roça e a mata.” (NEUMANN, 2009, p.187). Em Neu-Württemberg, sabe se também que no mesmo ano de sua chegada, Marie Faulhaber organizou jograis e um teatro improvisado. As peças teatrais produzidas por Marie Faulhaber, nas três primeiras décadas do século XX, eram destinadas a escolas, a sociedades e a outras situações . A publicação dessas obras constitui-se em uma quantidade de sete volumes. A peça do volume 1 (um) recebeu o nome de Uma troca desfavorável (Ein sclechter Taush), no volume 2 (dois) podemos encontrar as seguintes peças, Gata borralheira (Aschendrobel) e Um conto de Natal ( Ein Weihnachtsmärchen). Já no volume 3 (três) a peça recebeu o nome de Fritz, e no 4 (quatro) A criança perdida (Das verlorene Kind). A peça teatral de volume 5 (cinco) chama-se Herrmann, um rapaz teuto-brasileiro (Herrmann, ein deutschbrasilianischer Jung), e a peça de volume 6 (seis) Uma velhacaria e as suas consequências (Ein Bubenstreich und seine Folgen) e também Um conto de D. Wildermuth (Heulepeterle) este último adaptado por Paula Braunschweig. A peça Sempre Paciência (Num immer paciência) volume 7 (sete), finaliza essa listagem (NEUMANN, 2009). 25 Podemos observar que nos volumes 1 (um), 4 (quatro), 5 (cinco) e 6 (seis), as peças teatrais descrevem o cotidiano e a vida dos colonos. Nesses volumes mencionados, sempre se destaca a família como o principal foco da peça. Os cenários geralmente eram compostos por uma casa simples típica da época, muitas vezes uma cozinha colonial, também predominam como cenários a mata e a roça. Através desses eventos culturais, era possível uma maior aproximação entre as pessoas da comunidade, “Essa negociação e adaptação transparecem nas peças de teatro de autoria de Marie Faulhaber, encenadas nas ocasiões festivas pelo grupo de teatro existente na colônia.” (NEUMANN, 2009, p.185). Nas peças também podemos observar, o sentimento dos imigrantes em relação à fidelidade com a pátria mãe, a Alemanha, e também a visão que tinham do Brasil como um lugar onde seria possível conquistar muitos ideais. As peças teatrais produzidas por Marie traziam situações muito interessantes como, por exemplo, na peça teatral Uma troca desfavorável, onde é contada a história de uma família tradicional da Colônia, onde o pai e os filhos homens trabalhavam na roça, e a mãe e as filhas trabalhavam nos afazeres domésticos. A esposa estava descontente pelo fato do marido, nunca valorizar o seu trabalho e achar que só deveria ser chamado de trabalho aquele realizado por ele e os filhos na roça. Para contentar á todos, a família resolveu inverter as tarefas, os homens fariam o trabalho doméstico da casa, e as mulheres trabalhariam na roça. A troca obteve resultados desastrosos e no final ficou constatado que, cada trabalho tem o seu valor e nenhum é mais importante que o outro. Na história também aparecem viajantes comerciantes que vendiam seus produtos e utilizavam um automóvel como meio de transporte, um bem que poucos conseguiam adquirir na época. A hospitalidade em sempre servir um café aos que chegavam, também é destaque na obra. (NEUMANN, 2009). Na peça A Criança perdida, podemos observar como a visão da criança como um pequeno adulto era algo muito comum, principalmente nas primeiras décadas do século XX. Através de fotografias podemos observar esse fato, pelas roupas que usavam que muitas vezes eram iguais as dos adultos, mas só que em tamanho pequeno. As tarefas domésticas eram muitas, e por geralmente as famílias serem muito numerosas, e muitas vezes a mãe possuir infinitas tarefas como o trabalho na roça e no lar, eram os filhos que precisavam auxiliar nos diversos serviços domésticos. Todas as 26 histórias trazem aprendizagens, e relatos de acontecimentos que poderiam acontecer no dia a dia dos moradores da Colônia. O papel desses imigrantes no sistema educacional da Colônia, também foi muito importante. “Portanto, o sistema de ensino particular implantado na colônia NeuWürttemberg, incluindo a organização e ramificação das escolas, o aporte metodológico, o currículo, e o material didático, serviu de modelo para a organização de toda a rede escolar privada da região serrana do estado.” (NEUMANN, 2009, p.183). O trabalho do casal Faulhaber foi sempre muito reconhecido, tanto no setor educacional, administrativo e em todos os outros aspectos que precisavam de atenção na colônia em formação. “O êxito era resultante, sobretudo, do trabalho incansável do diretor da colônia Hermann Faulhaber, um Württemberg, que organizou o ensino de tal forma que serviu de exemplo para toda a serra do Rio Grande do Sul.” (NEUMANN, 2009, p.143). Em iniciativa do casal Faulhaber e dos moradores da Colônia, o dia 7 de janeiro do ano de 1903 (um mil novecentos e três), é uma data que marca o início da escolarização em Neu-Württemberg, sendo que as aulas iniciaram na casa do casal. O prédio em que posteriormente funcionaria a escola, foi concluído em 8 de fevereiro daquele mesmo ano. Na escola a partir do ano de 1905 (um mil novecentos e cinco), começaram a ser administradas pelo próprio professor Faulhaber, as aulas de Língua Portuguesa. Esse aspecto reforçava essa ideia de preservar toda a cultura e a vida vivenciada na pátria mãe pelos imigrantes, mas também o desafio de adaptar-se a cultura e aos costumes praticados no Brasil. Cabe lembrar que neste período o acesso a educação, era muito difícil. Muitas crianças que residiam longe da escola, encontravam vários desafios até chegar ao seu destino. Algumas vinham a cavalo, e outras por não possuírem relógio em casa, muitas vezes chegavam na escola várias horas antes do horário marcado para o início da aula. Como a escola era particular não eram todos os colonos que tinham condições de pagar os estudos de seus filhos, fato que tornava o acesso á educação muito restrito. Atendendo a essas peculiaridades, em fevereiro de 1906, a municipalidade de Cruz Alta instalou uma escola pública na área central da colônia Neu-Württemberg, nomeando como professor o republicano Capitão Minoly Gomes de Amorim. (NEUMANN, 2009, p.180). A implantação da escola pública na Colônia gerou algumas discórdias, pois, muitos achavam que com essa instituição os alunos perderiam a cultura germânica por o 27 educador saber muito pouco da língua alemã. A escola acabaria gerando, uma separação étnica na visão de algumas pessoas. Marie Faulhaber era uma pessoa que com certeza amava seu trabalho, devido sua tamanha dedicação. Em um período onde os recursos eram limitados, e até mesmo a luz elétrica ainda não era privilégio de todos, sabe-se que a localidade passou a ter energia elétrica em 1916 (um mil novecentos e dezesseis), quanto foi instalada a primeira turbina e gerador, podemos encontrar registros destes acontecimentos, que são muito importantes para a cultura de um lugar. Como podemos observar as festividades e os momentos de entretenimento, sempre foram essenciais para o dia-a-dia de um indivíduo. Sabemos que as formas de diversão, também foram mudando e se adaptando á novas tecnologias, a novos tempos. Mas acredito que há alguns anos atrás, as atividades de entretenimento mantinham as pessoas mais unidas, sendo importante destacar, que esta questão possui vários pontos de vista. Para Neumann (2009, p.183): Imigrantes de nacionalidade alemã vindos da Alemanha, Rússia, Polônia, Áustria, somados com migrantes internos das colônias antigas, descendentes de alemães imigrados no século XIX, formaram o mosaico cultural da colônia Neu-Württemberg, cada qual carregando seus costumes e suas tradições. A preservação dessa cultura e o respeito pela diversidade que ela abrange, são fundamentais para o bem viver de uma comunidade. Sabemos que muitos hábitos, foram perdidos ao longo dos anos, e dificilmente as pessoas os praticam e sabem da sua significativa importância. Por isso a importância dos estudos históricos, que permitem o resgate de todas essas preciosidades que nos ajudam pelo menos a imaginar, como era a vida de nossos antepassados. Atualmente existem muitos eventos que possuem esse objetivo, de resgatar costumes vivenciados por certos grupos étnicos. No caso da etnia alemã, podemos destacar a Oktoberfest que é festejada no mês de outubro como o próprio nome já nos revela, e que traz uma imensidade de atividades relacionadas a cultura alemã. O município fica ainda mais alegre nesses dias, são realizadas carreatas, as pessoas se vestem com roupas típicas e também o lugar recebe muitos visitantes de lugares 28 diferentes. Durante a festa, são apresentadas ao público danças típicas, brincadeiras entre outras atividades muito interessantes. Os bailes animados também são marca registrada, sendo sempre acompanhados de muito Chopp. Esses eventos além de permitirem momentos de descontração, também garantem uma aprendizagem significativa às novas gerações, para que assim as mesmas comecem a conhecer e a valorizar a história de seus antepassados, e assim consequentemente começam a conhecer a sua própria história também. O diretor Hermann Faulhaber, demostrava muita admiração pela sua esposa Marie. Ela era uma pessoa que zelava pela vida cultural da comunidade, além de uma pedagoga muito criativa. Organizava corais e sempre em ocasiões festivas como o Natal, por exemplo, escrevia peças teatrais que sempre tinham muito haver com o cotidiano dos moradores da colônia. O casal Faulhaber conseguiu de uma maneira impressionante, conduzir os colonos e imigrantes recém-chegados na adaptação a colônia que estava nascendo. Essa informação ressalta a importância das festividades e dos momentos de descontração seguidos também do mais importante, que é a preservação e o respeito à cultura de cada indivíduo. Cada pessoa possui a sua cultura, que se reflete nos atos praticados em seu cotidiano. Seria muito constrangedor e certamente a colônia não cresceria com tamanha rapidez, se os imigrantes fossem ordenados a aceitar novas regras e á esquecer todo o seu passado cultural. A harmonia era de certa forma fundamental, tanto na vida social, econômica entre outros aspectos, para que no caso o imigrante consiga adaptar-se as condições de uma nova vida, de um novo lar. Marie Faulhaber era também responsável na colônia pela biblioteca, que no ano de 1927 começou a ser chamada de Sociedade de Leitura Faulhaber. De acordo com Neumann (2009, p.186): Paralelo, era regente de coral, foi uma das fundadoras da Frauenhilfe, em 1910, auxiliando através dela as pessoas necessitadas tanto na colônia, como organizando a coleta de donativos a serem enviados via Cruz Vermelha para entidades assistencialistas da Alemanha. 29 Um casal de imigrantes que com certeza contribuiu muito para o desenvolvimento da Colônia, uma história que deve ser muito valorizada e preservada. 2.2 A importância da fotografia como registro histórico em relação ao desenvolvimento da Colônia. Com o objetivo de colocar em circulação um conjunto de vistas parciais da colônia e de seus colonos, Herrmann Meyer organizou e editou pelo Instituto Bibliográfico de Leipzig um prospecto fotográfico, Ansichten aus Dr. Herrmann Meyers Ackerbaukolonien Neu-Württemberg und Xingu in Rio Grande do Sul (Südbrasilien) – [Vista das colônias agrícolas NeuWürttemberg e Xingu no Rio Grande do Sul (sul do Brasil)]. (NEUMANN, 2009, p.230). A atitude do colonizador Herrmann Meyer em colocar em circulação fotografias e cartões postais da Colônia Neu-Württemberg, seria importante para que imigrantes e demais pessoas da região que estivessem interessadas em adquirir moradia no local, pudessem ter noção de tudo o que o lugar teria para oferecer. A primeira edição desse acervo de fotografias foi concluído em 1904 (um mil novecentos e quatro), e possuía diversas imagens da Colônia mostrando em todas elas o desenvolvimento e o progresso de Neu-Württemberg. Em meados de 1908 (um mil novecentos e oito) o acervo fotográfico, já contava com mais de 90 slides de fotografias. Esse material circulava em diversos lugares da Alemanha com o propósito de promover propaganda sobre a Colônia. Referente às pessoas que fotografavam a Colônia Neumann (2009, p.231) explica: Em parte, pelo próprio Horst Hoffmann, como já apontado, visto que ele sabia fotografar; outras talvez pelo colono Haak, e aquelas incluídas no segundo prospecto provavelmente foram produzidas por Alfred Bornmüller ou por outra pessoa que soubesse manusear um aparelho fotográfico. Os lugares e os aspectos que deveriam ser relevantes nas imagens eram escolhidos pelo diretor Herrmann Meyer. 30 Neumann (2009, p.231) analisa que: Porém, a maior parcela das fotografias da publicação é o resultado do trabalho do imigrante Wilhelm Schäffer, eletrotécnico, chegado em NeuWürttemberg em fins de dezembro de 1902, com esposa e quatro filhos com idade entre 8 e 14 anos, permanecendo até maio de 1903, quando novamente retornou para a Alemanha. Os principais cenários retratados nas fotografias, e também seguindo as orientações de Herrmann Meyer eram alambiques, criação de abelhas, moinho de vento entre outras práticas que eram realizadas na Colônia. O imigrante Wilhelm Schäffer trouxe possuía muitos equipamentos e materiais necessários sendo que ele mesmo revelava as fotografias, sendo um fotógrafo amador, mas com muita dedicação ao trabalho. Referente às primeiras fotografias, Neumann (2009, p.232) faz a seguinte análise: A primeira ordenação fotográfica conduz a uma leitura linear progressiva da própria trajetória de uma família em uma colônia: a chegada no seu lote colonial na floresta e a construção do primeiro abrigo com toda a precariedade; a passagem para uma cabana [Hütte] provisória; indicando, na seqüência, a infra-estrutura disponibilizada pela Colonizadora Meyer, incluindo a Casa do Imigrante, assistência religiosa e escolar, moinho e serraria; e a superação das dificuldades, com várias imagens de famílias de colonos nos seus lotes, defronte suas sólidas casas, e a floresta cedendo lugar para amplas roças de milho e fumo. Referente à segunda remessa de fotografias Neumann (2009, p.232) faz a seguinte observação: Destacava, em primeira linha, a presença da Colonizadora Meyer e a infraestrutura material e imaterial disponibilizada pela mesma; em seguida, o conjunto de imagens retratando os colonos nas suas propriedades, com suas casas e demais benfeitorias, as nascentes oficinas artesanais e casas comerciais, contrastando com as imagens da fase de instalação de uma família de imigrantes na floresta, como parte do passado. Através das imagens fotográficas é possível acompanhar todo o desenvolvimento da Colônia, destacando os principais fatos históricos que marcam a trajetória de um lugar. 31 Outra pessoa que foi muito importante na história de Panambi foi Adam Guilherme Klos. Ele foi um imigrante alemão, que se instalou na Colônia de NeuWürttemberg no ano de 1912 (um mil novecentos e doze). No ano de 1913 (um mil novecentos e treze) Adam Klos, fundou um estúdio com o nome de Atelier Fotográfico. Adam nasceu em Schwabenheim estado de Hessen na Alemanha, em 5 de abril de 1890 (um mil oitocentos e noventa). Imigrou para o Brasil no mês de janeiro do ano de 1912 (um mil novecentos e doze), quando tinha apenas 22 anos de idade. Iniciou a sua profissão de fotógrafo, mas ainda na Alemanha, quando tinha 16 anos. No ano de 1915 (um mil novecentos e quinze) se casou com Frida Döeth Klos, que lhe auxiliava no estúdio fotográfico. Além de fotógrafo, Adam gostava muito de confeccionar peças em madeira para concursos, brinquedos, e também consertava relógios. Nos fundos de seu estúdio, tinha um ateliê onde ele e sua esposa trabalhavam com esse material. Uma de suas mais importantes obras é a Réplica da Catedral de Ulm. Inspirada na Catedral de Ulm que fica localizada na Alemanha á margem esquerda do Rio Danúbio, considerada a igreja mais alta do mundo, Klos construiu uma réplica como uma manifestação de saudosismo com sua terra Natal. No ano de 1890 (um mil oitocentos e noventa) Adam foi batizado na Catedral de Ulm, essa igreja também possui uma curiosa e interessante história. A pedra fundamental de sua construção foi lançada em 1377 (um mil trezentos e setenta e sete), mas durante muitos anos devido a fatores políticos e religiosos suas obras foram pausadas. A conclusão da obra ocorreu em 1890 (um mil oitocentos e noventa), mesmo ano em que Adam foi batizado. A Réplica da Catedral de Ulm confeccionada por Adam Klos começou a ser construída em 1932 (um mil novecentos e trinta e dois), sendo que sua conclusão se deu no ano de 1935 (um mil novecentos e trinta e cinco). No ano de 1935 (um mil novecentos e trinta e cinco), no dia do aniversário do município de Cruz Alta e também o dia de comemoração ao Centenário da Revolução Farroupilha, Adam conquistou o primeiro lugar em um concurso com a sua Réplica. A obra se encontra em exposição no Museu e Arquivo Histórico Professor Hermann Wegermann no município de Panambi. Adam Guilherme Klos registrou em suas fotografias, momentos históricos muito importantes da Colônia Neu-Württemberg. A fotografia também é uma 32 importante fonte histórica que nos permite analisar o passado, de uma maneira mais dinâmica, pois nos fornece informações muitas vezes não encontradas em fontes escritas. Figura 4 – Lado leste da Praça Engenheiro Walter Faulhaber, Foto Klos, 1914. Fonte: Acervo do MAHP, Foto 2.012. Sabe-se que até o ato de tirar fotografias era evitado no mês de agosto, pois o mês ainda é por muitos considerados como o mês do desgosto, do azar. As festividades também eram evitadas. As crenças populares sempre se fizeram muito presente na vida das pessoas, dessa forma também são passadas de geração em geração. A história do município de Panambi sem esses personagens que protagonizaram um início certamente muito difícil, nunca deve ser esquecida. Essas pessoas dedicaram grande parte de suas vidas, na organização de um lugar para que o mesmo acolhesse e oferecesse as melhores condições de vida aos que aqui chegavam. Cada imigrante, cada morador da colônia teve com certeza um papel fundamental na 33 história do lugar. Cada ofício exercido por esses imigrantes deu inicio ao que observamos na atualidade, pequenos estabelecimentos atualmente são importantes empresas que geram muitos empregos e progresso para o lugar. 34 Capítulo 3 - A herança cultural alemã presente no cotidiano dos moradores, principais momentos festivos e formas de lazer. A cada ano que se passava, a Colônia se desenvolvia de uma maneira constante e produtiva. A cultura e as atividades envolvendo o lazer começaram a passar por um processo de diversificação. A comunidade local em um processo de adaptação, mas sem nunca esquecer suas origens, começava a encontrar outras maneiras para melhor viver os momentos livres, em que o árduo trabalho era recompensado com atividades de entretenimento. Segundo Fausel (1949, p.25), “Imagina-se, facilmente, que no decorrer dos tempos surgiram algumas dúzias de sociedades de damas, de cavalaria, de canto e de atiradores, clubes de ginástica, de futebol, de bolão e grupos teatrais.” Nas imagens abaixo são apresentados alguns grupos de sociedades de canto e bolão, atividades muito praticadas pelos moradores da região. Figura 5 – Bolão Boa Esperança, Foto Klos. Fonte: Acervo do MAHP, Foto: 6.024. 35 Figura 6 – Sociedade de Cantores Luteranos. Fonte: Acervo do MAHP, Foto: 1.059. Figura 7 – Coral. Fonte: Acervo do MAHP. Foto: 6.022. 36 Analisando as fotografias podemos observar a presença de homens e mulheres, compartilhando um mesmo grupo de uma determinada sociedade. Nas atividades envolvendo o canto, a figura feminina é muito presente. Os grupos de bolão também tinham formação feminina, salientando que atualmente ainda existem muitos grupos que participam de atividades de competição em localidades vizinhas. Geralmente os grupos reuniam-se nos finais de semana, para praticarem as suas atividades. Os grupos de Bolão realizavam competições com grupos de localidades vizinhas, os vencedores ganhavam prêmios. Os grupos de canto também se apresentavam em várias ocasiões, nas celebrações, por exemplo, ou em outros momentos importantes para a comunidade. É importante lembrarmo-nos de como as atividades vivenciadas pela sociedade, foram se modificando ao passar dos anos. Facilmente ouvimos pessoas mais experientes contarem histórias sobre o seu envolvimento em grupos de canto, de bolão e em mais outras diversas atividades. Atualmente ainda muitas pessoas continuam participando dessas sociedades, mas é importante que a juventude além de participar também compreenda esse ato como uma maneira de preservar a história. De acordo com Canabarro (2000, p.15), “As imagens fotográficas, nos permitem conhecer aspectos significativos da memória coletiva; vão muito além de meras descrições e nos trazem expressões do real em outros tempos. ’’ A fotografia tem tamanha importância, pois nos garante uma imensidade de informações, de uma determinada época ou de uma determinada ocasião. Algo que muitas pessoas têm como primeira impressão ao olhar uma fotografia antiga, é a expressão do olhar dos indivíduos fotografados. Dificilmente encontramos alguém sorrindo nas fotos, e em dias festivos como casamentos também os noivos aparecem com uma expressão muito séria. Outro aspecto interessante de ser analisado é a questão das fotografias de crianças, a primeira característica marcante é da criança vestida como um pequeno adulto. Cabe ressaltar que nas primeiras décadas do século XX, tirar fotografias era um ato muito incomum ainda. Tiravam-se uma ou duas fotografias de momentos muito importantes, em ocasiões em família principalmente. Então por esse ato não ser muito comum, a maioria das crianças apresentavam certo medo do fotógrafo. 37 Atualmente com a facilidade que uma câmera fotográfica digital nos proporciona, podemos possuir diversas fotografias de um mesmo acontecimento. As crianças muitas vezes, já sabem desde muito pequenas manusear a câmera e elas mesmas fazem os registros de dias festivos e ocasiões especiais. A conservação dessas fotos também merece uma determinada atenção, pois como hoje em dia é muito comum guardar essas fotografias em arquivos e pastas no computador, é muito fácil perdê-las devido á algum problema técnico no equipamento. Uma fotografia impressa pode ser preservada por muitos anos, por isso a importância de Arquivos Históricos e de pessoas que realmente conseguem perceber como as fotos de família precisam ser valorizadas. A preservação desses documentos históricos nos permite aprender muito sobre a história de nossos antepassados, do lugar onde vivemos e nos garantem uma infinidade de informações sobre o período em que foram registradas. Foi resgatada nos parágrafos acima, a questão da importância de um documento histórico, no caso a fotografia porque os itens que serão analisados á seguir só poderiam nos trazer tamanha contribuição cultural e histórica porque alguém foi responsável por sua preservação. As festividades mais representadas em fotografias nas primeiras décadas do século XX, quando ainda não era muito comum as pessoas tirarem várias fotos de um mesmo acontecimento, eram os casamentos, e outros acontecimentos religiosos que ocasionavam festividades. O casamento é considerado por muitos um sacramento muito importante, que sempre possuiu um valor incalculável para uma família perante a sociedade. Houve tempos em que o casamento era um acontecimento repleto de rituais, alguns como o casório sempre da filha mais velha, nunca uma filha mais nova deveria casar-se antes. O vestido de noiva muitas vezes era confeccionado pela mãe da noiva, ou por alguma mulher da família. Os casamentos geralmente eram celebrados durante o dia, com muita comida e bebida, e com música para alegrar ainda mais o momento. Era de costume os noivos dirigirem-se após alguns dias da celebração até o estúdio fotográfico local, vestirem as roupas da ocasião e registrarem uma fotografia. As 38 cópias daquela fotografia que constantemente era uma somente, geralmente eram atribuídas á algum padrinho ou familiar mais próximo. Em algumas regiões da Alemanha era muito comum às noivas usarem vestidos pretos, e a tradição foi trazida pelos imigrantes. Para quem não sabia dessa informação, a fotografia até causa certo espanto pelo fato do vestido da noiva ser escuro. São situações como esta que demostram como toda a cultura alemã, começou a se estabelecer na Colônia. Os imigrantes trouxeram consigo muitas tradições, o que com certeza contribuiu ainda mais para a formação do lugar. Figura 8- Casamento. Fonte: Acervo do MAHP. Foto: 1.026. Em alguns casamentos além da foto do jovem casal de noivos, também era registrado um momento com todos os convidados da festa. Geralmente todos se reuniam em um lugar, sendo que os noivos e os pais dos noivos ficavam sentados em cadeiras á frente dos demais convidados, e as crianças ficavam á frente desses sentadas no chão. 39 A festa do casamento geralmente era animada por um gaiteiro ou por uma banda, sendo que na época os instrumentos de sopro, de corda e percussão eram os mais utilizados pelos músicos. Os bailes também sempre se fizeram e ainda se fazem presentes no cotidiano das comunidades. Muitos salões de bailes ainda construídos em madeira são ainda encontrados em localidades do interior do município. Nessas sociedades todos os anos eram escolhidas as rainhas e princesas que representariam por um ano o lugar. As candidatas aos títulos, quase sempre eram filhas de membros daquela sociedade e residiam naquela localidade. Todos os anos era realizado então o Baile de escolha da Rainha e das Princesas. Em muitos lugares as meninas que estavam sujeitas aos títulos, deveriam por um ano inteiro vender votos, aquela que mais conseguisse vender votos seria a rainha, a segunda colocada seria a 1ª princesa e a terceira colocada seria a 2ª princesa. As roupas eram confeccionadas muitas vezes por suas próprias mães, eram vestidos de gala com muito brilho. O acontecimento com certeza movimentava muito a vida de todos daquela determinada sociedade. Segundo Malheiros (1979, p.32): Havia também, bailes, chamados, fandangos. A mocidade era ordeira e respeitosa para com as damas, as prendas, dona sinhá e sinhazinha. A música era a gaita na mão de bons tocadores. Nas festas maiores havia conjuntos musicais dos seguintes instrumentos: Gaita e viola ou violão. Outras festividades como festas de algum padroeiro também eram realizadas, e continuam sendo na atualidade. Geralmente essas festas são preparadas com muita antecedência, e geralmente são realizadas uma vez ao ano. Alguns dias antes da determinada festa, os membros da comunidade se reúnem. As mulheres começam a fazer os quitutes para serem vendidos na festa como cucas, tortas entre outros doces. Os homens geralmente ficam responsáveis pelo churrasco, pela venda de bebidas entre outras atividades. Em momentos festivos organizados pelas sociedades, entre as décadas de 20 e 30 eram vendidas fatias de Streuselkuchen, a cuca alemã prato típico da culinária e salame cozido, que acompanhavam o café da tarde. Quem nasceu na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, independente de sua descendência étnica, já deve ter participado de um evento como o mencionado acima. Muitas vezes a tradição de ajudar nessas festividades locais, 40 também são passadas de geração em geração. Muitas vezes ouvimos no rádio um anúncio de alguma festividade, que informa a realização de um evento em comemoração ao centenário de uma determinada localidade. Um século significa muita história, um local de encontro da comunidade que já foi palco de muitos acontecimentos significativos para o lugar. O salão de festas geralmente era construído, ao lado da igreja e também próximo ao cemitério principalmente em localidades do interior. Nas regiões onde ocorreu a colonização alemã, acontecem muito os Bailes de Chopp, o Baile da Cuca e da Linguiça, que reforçam a forte herança cultural e gastronômica introduzidas principalmente pelos imigrantes que aqui chegaram. Nestas festividades também são encontradas muitas músicas e danças típicas, que inclusive, também possuem forte influência dos imigrantes. É muito comovente perceber a emoção dos mais idosos, vendo seus filhos e netos praticando os costumes que eles também um dia aprenderam com seus pais e avós. A atitude de conduzir as novas gerações a conhecer a sua história, de ensiná-la á preservar essa cultura que veio de muito longe, e que mesmo com tantos obstáculos encontrados no caminho não se perdeu no tempo, é de extrema importância. Há algumas décadas atrás quando um indivíduo fazia um passeio pelas ruas de seu município, principalmente á tardinha, se deparava com moradores sentados em frente à suas casas conversando, tomando chimarrão, enfim desfrutando um momento agradável com os vizinhos. As crianças geralmente brincavam incansavelmente na rua mesmo, mas sempre até a onde os pais pudessem avistá-las. As brincadeiras de roda eram as preferidas, em um tempo em que nem se imaginava os avanços tecnológicos que estavam por vir. Nos municípios localizados mais próximos ao interior, ainda podemos observar cenas como essas mencionadas. Mas em alguns lugares como nos grandes centros urbanos esses episódios, apenas estão guardados na lembrança dos moradores mais antigos. Voltando há algum tempo atrás, mais precisamente nas primeiras décadas de fundação da Colônia Neu-Württemberg, podemos analisar diferentes formas de entretenimento praticadas pelos habitantes do lugar, visto por muitos como uma pausa para o descanso depois de um árduo período de trabalho. 41 As pessoas além de reunirem-se em frente as suas residências no final da tarde, como era de costume, também praticavam variadas atividades em grupos, em sociedades recreativas. Os encontros também eram realizados quando chegava à Colônia, algum circo que sempre tinha espetáculos muito esperados por todos. Quando chegava um circo na localidade, as pessoas eram comunicadas em suas próprias residências, pois alguns artistas passavam nas ruas anunciando as atrações do espetáculo. O cinema foi e continua sendo, um local de encontro muito procurado pelas pessoas. Atualmente observa-se um grande índice de cinemas em cidades grandes, em municípios do interior os cinemas estão cada vez mais escassos. “Durante muitos anos o Cine Goldhardt, localizado em frente à Praça Central, foi o ponto encontro dos panambienses ávidos por cultura e diversão.” (PHILIPP, 29 out. de 2013, p.04). Figura 9: Cinema Goldhardt. Fonte: Acervo do MAHP. Foto: 2.001. 42 As propagandas onde eram anunciados os filmes, que estariam disponíveis no cinema eram impressas em português e alemão. Devido a forte influência alemã na colônia, os anunciados eram transmitidos á população de uma maneira que todos pudessem compreender. As sessões de domingo traziam lançamentos de filmes da época, e que certamente eram muito aguardados pelos moradores. Devemos lembrar-nos da grande importância dos filmes de época, como Tempos Modernos, com Charlie Chaplin que é um filme utilizado como um excelente material didático no ensino da Revolução Industrial. Mesmo sendo um filme em preto e branco e fazendo parte do cinema mudo, os educandos apreciam muito a história apresentada. No período em que ainda não existia a televisão, ou que esse aparelho eletrônico ainda era privilégio de poucos, o cinema era uma arte muito apreciada e valorizada. Assim como as peças teatrais produzidas e introduzidas por Marie Faulhaber, no inicio da colonização em Neu-Württemberg trouxeram grande contribuição para a vida dos moradores, o cinema como podemos observar, também trouxe muitos benefícios para todos. Andando pelas ruas do município de Panambi, pelas ruas que circulam a Praça Central, podemos ainda observar nas edificações a história de muitos estabelecimentos que foram muito importantes para o lugar. A faixada do Cine Metrô, que também não se encontra mais em funcionamento ainda está intacta no prédio em que era localizado o estabelecimento. A janelinha da bilheteria onde eram cobradas as entradas também se encontra no mesmo lugar, porém despercebidas por muitos que passam pelo local. Alguns espaços eram utilizados para a apresentação de peças teatrais, e também para a apresentação de filmes. A família de Walter Goldhardt era proprietária de um espaço como esse. Sabe-se que algumas vezes o fotógrafo Adam Klos manuseava o projetor de filmes mudos, enquanto o fundo musical era feito com o som de um piano. Mais tarde o espaço onde eram apresentadas várias atrações culturais, foi assumido por outros proprietários. 43 Nesse espaço sabe-se também que eram praticadas algumas atividades como o jogo de xadrez. “Num dos espaços que pertenciam a Walter “Papi” Goldhardt e Maria “Mutti” Goldhardt vemos os aficionados do jogo do tabuleiro, ou xadrez, naquele ano de 1933.” (PHILIPP, 08 nov. de 2013, p.04). Atualmente algumas escolas do município, possuem oficinas de xadrez o que acredito ser algo muito positivo, pois além de resgatar uma atividade atualmente não muito praticada, pois atualmente os jovens preferem utilizar os recursos tecnológicos nos momentos livres, o jogo exige muita concentração e desperta muito interesse nos alunos. Todo o resgate histórico precisa de uma condução, muitas vezes a primeira impressão de um aluno, por exemplo, quando o professor de história inicia um novo assunto á ser estudado, é de que será algo complicado e não interessante. Mas se a metodologia adotada pelo educador despertar o interesse dos educandos, as aulas serão cada vez mais interessantes. Também em alguns lugares eram realizadas as exposições, onde eram vendidos alguns produtos fabricados no município. As mercadorias vendidas eram móveis, ferramentas, fogões, tijolos e telhas, chapéus, bordados, carnes e embutidos, panificados, calçados, vinhos e cachaça. Os produtos alimentícios coloniais atualmente são muito procurados pelos consumidores, além de um preço menor quando comercializado direto com os produtores, são de qualidade e nos fazem imaginar como era o comércio, quando não existiam ainda os grandes supermercados com tamanha variedade de produtos industrializados. Atualmente todos os anos é realizada no município de Panambi a Fecolônia, uma feira estadual da agroindústria colonial. Nesse evento expositores de muitos lugares comercializam seus produtos. Na feira são comercializados artesanatos, produtos coloniais como doces de frutas, queijos, pães e cucas entre outros. A feira é realizada no Parque Municipal Rudolfo Arno Goldhardt, onde também é localizado o Museu e Arquivo Histórico de Panambi- MAHP, que geralmente nesses dias de evento fica aberto ao público. No evento também são apresentadas á comunidade algumas atividades artísticas como grupos de dança, e também música ao vivo. É importante a comunidade valorizar os produtos produzidos na localidade, pois essa atitude gera benefícios á todos. Geralmente os produtos produzidos e 44 comercializados em uma determinada localidade, possuem custos mais acessíveis aos moradores locais que acabam economizando muito, e incentivando também os pequenos produtores. Muitos desses pequenos produtores realizam o mesmo trabalho que seus pais e avós também praticavam, garantindo assim uma continuidade da atividade que também é uma tradição, um resgate histórico. É importante destacar que algumas técnicas de produção foram modificadas, tornando o trabalho menos árduo, as máquinas trouxeram muitos benefícios e esses fatos também são importantes de serem analisados e apresentados as novas gerações. A prática do artesanato também possui uma trajetória, muito interessante de ser analisada. Há algum tempo atrás as mulheres não trabalhavam fora, e ficavam responsáveis por todas as tarefas domésticas, como cuidar dos filhos, lavar, passar, cozinhar enquanto os maridos trabalhavam. As moças deveriam ser prendadas, então antes do casamento aprendiam com suas mães e avós á fazer artesanato, á cozinhar enfim tudo o que precisavam para serem excelentes esposas. O enxoval da noiva, também era algo muito preparado, com antecedência muitos trabalhos manuais eram confeccionados, lindas toalhas bordadas, guardanapos e colchas de crochê, enfim uma infinidade de acessórios que deixariam a casa muito bonita. Aprender á costurar também era algo fundamental na vida de uma moça, assim ela mesma poderia confeccionar as suas vestimentas e as da família, como também fazer pequenos consertos em alguma peça de utilidade doméstica. A tradição de aprender todas essas atividades com a mãe desde muito pequena, era muito comum, e aquela menina que não apresentava muito interesse em aprender não estava dentro das conformidades, e consequentemente na visão de algumas pessoas da época não seria uma esposa dedicada. Atualmente principalmente em localidades do interior, as meninas ainda passam por todo esse processo de preparação para o casamento. Assim que chega á fase da adolescência, já começa á se preocupar com todos os preparativos. Essas tradições assim como muitas outras, foram se modificando com o passar do tempo, e com as mudanças sociais ocorridas pelo mundo todo. Há algumas décadas a mulher assumiu o seu lugar no mercado de trabalho, conquistou direitos e além de cuidar dos trabalhos domésticos e dos filhos também é uma profissional dedicada. Esse grande número de 45 tarefas acabou ocasionando a falta de tempo para a prática do artesanato, que quase sempre precisa ser realizado com muita dedicação. Mas também sabemos, que nos momentos livres muitas mulheres ainda costumam praticar algum tipo de artesanato, que é visto por muitas como uma distração, um momento de entretenimento. O tempo passa e com ele muitos hábitos e tradições são esquecidos, mas se as novas gerações aprenderem á preservar e a valorizar á sua história, a história da sua família e do lugar onde vivem, muitas relíquias não serão perdidas com o passar dos anos. O historiador possui o desafio de desvendar os fatos históricos, e também de conduzir as pessoas á aprender á valorizar toda essa cultura que nos rodeia. No trabalho de historiador ou de professor de história, os desafios encontrados são muitos. O educador tem o desafio de elaborar aulas interessantes que realmente convidam o aluno á conhecer e compartilhar conhecimentos. O professor de história é um constante pesquisador, precisa estar sempre atento á todas as novidades, e também aprofundar conhecimentos sobre o que já passou. 46 CONCLUSÃO No ato da pesquisa á cada leitura realizada, é despertada á vontade de querer saber cada vez mais sobre o assunto analisado. Compreender todo o contexto histórico da história do município de Panambi, Colônia Neu-Württemberg desde a chegada dos primeiros imigrantes que aqui se estabeleceram e introduziram muitas tradições que atualmente fazem do lugar um pequeno pedaço da Alemanha no noroeste do Estado do Rio Grande do Sul é algo muito gratificante. O conhecimento nos faz perceber situações que antes passavam despercebidas, e que agora ganham um novo sentido em nossas vidas. Cada lugar tem na sua história, também a história de vida de muitas pessoas. É importante conhecer a história do lugar onde nascemos, onde escolhemos para viver, pois assim torna-se mais fácil a compreensão do momento vivenciado. 47 REFERÊNCIAS BINDÉ, Ademar Campos. Ele deixou um legado para a história. O Repórter, Ijuí, 22 mai. 2010. Disponível em <http://issuu.com/jornaloreporter/docs/ed_do_dia_2205>. Acesso em: 30 out. 2013. CANABARRO, Ivo. As imagens fotográficas e seus significados. Espaços da Escola. Editora Unijuí. Ano 10, Jul/Set. 2000, p. 11-18. COLÉGIO EVANGÉLICO PANAMBI. Colégio Evangélico Panambi: 1903-2003: 100 anos educando para a vida e para o trabalho. CEP. Panambi, 2003. FAUSEL, Erich. Cinquentenário de Panambi 1899-1949. 1949. HUNCHE, Carlos Henrique. O ano de 1826 da imigração e colonização alemã no Rio Grande do Sul (Província de São Pedro). Porto Alegre, Metrópole, 1977. JORNAL DIE SERRA POST. Cruz Alta. Hemeroteca do MADP – Museu Antropológico Diretor Pestana. KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Tradução Célia Neves e Alderico Toribio. 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