DA
GUIA BREVE EXPOSIÇÃO
FICHA TÉCNICA
INTRODUÇÃO
l
Kupferstichkabinett,
SMB/
Créditos de Fotografia:
Patrimonio Nacional,
Para Portugal,
país mais ocidental
do continente
europeu
com Madrid
ALBERTINA, Viena: 39 (ERTL, P.)
Jörg P. Anders: 40
(Palácio Real): 24
des e
Affaires
ANTT,com
Lisboa:Espanha,
17
Ministère
Património
del Fondo Edifici
fronteiras a norte e a oriente
e costas
a sul
a ocidente com
o oceano
Museu Nacional de Arte Antiga
15 Julho – 11 Outubro 2009
Guia breve da exposição patrocinado por:
Coordenação editorial:
di Culto, amministrato
Etrangères, France, Igreja de
(José António Silva/AN/TT)
dos Franceses,
Lisboa:
Ana Castrofoi
Henriques
Biblioteca Casanatense,
S. Luís do
dal Ministero dell’ Interno
Atlântico,
imperioso descobrir
mundo para além
seu território.
Texto:
Roma. Autorização do
14 (Manuel Palma)
(Dipartimento per le Liberta
UmPaulo
movimento
de expansão
realizou-se
séculos
XVParis:
e XVI,
du Louvre,
90 através
Musée
Ministero
per i Beni e le entre os
Henriques
Civili i da
el Immigrazione
(© RMN/ Franck Raux)
Attivita’ Culturali: 102
Fichas:
– Direzione Centrale per l’
navegação,
primeiro
do
oceano
Atlântico,
depois
do
Índico
e
do
Pacífico.
José Alberto Seabra Carvalho
© Musée Royal de l’Afrique
Biblioteca da Ajuda, Lisboa: 8
Amministrazione del Fondo
Castro Henriques
Centrale/ Collection RMCA
(Luís Marques/IGESPAR)
Edifici di Culto), em depósito
EstaAna
expansão
marítima, territorial
e comercial propiciou
a criação de grandes
redes
na Chiesa del SS. Nome di
Patrícia Milhanas Machado
Tervuren: 76, 54 (J.-M.
Biblioteca Estense Universitaria, Modena. Autorização
Teresa Pacheco Pereira,
Gesù, Roma: 173 (© Zeno
Vandyck, RMCA Tervuren ©)
mundiais
de
comunicação
que
geraram
modernos
mercados
económicos
e
sistemas
a partir das entradas do
do Ministero per i Beni e le
Museu de Arte Sacra de
Colantoni)
São Paulo/Organização
Attivita’ Culturali:
3
Santa Casa
da Misericórdia do
catálogo da exposição
de intercâmbio
cultural, artístico,
científico
e linguístico.
Portugal tornou-se
o centro
“Encompassinh the Globe”,
Social de Cultura/Secretaria
Sardoal: 168 (Nuno Fevereiro)
Biblioteca Pública de
Évora: 139 políticas e culturais
de Estado
de Cultura/
des
Lisboa 2009,
dos autores: económicas,
de novas
estruturas
que
configuraramSchatzkammer
o pensamento
André Ferrand de Almeida 79;
(José António Silva, AN/TT)
Governo do Estado de
Deutschen Ordens, Viena: 49
Charles Avery
46;
CGD,hoje
Lisboa,designamos
depósito no
S. P. – Brasil:
95 (Foto: Rômulo
Stift Kremsmünster,
europeu
e o40,
fenómeno
que
como
comunicação
global.
MNAA: 12 (Alfredo Dagli Orti)
Gauvin A. Bailey 168, 173;
Fialdini)
Kunstsammlungen: 46
EstaJosé
é Alberto
a ideia
central
da exposição:
de Portugal©como
pioneiro
Seabra
Carvalho
The British
Library Board.
Museu de Grão Vasco,
Casa-Museu damostrar
Fundação o desempenho
15, 84; Angelo Cattaneo 1;
Medeiros e Almeida, Lisboa:
Viseu: 84 (IMC/DDF/José
Reservados todos os direitos:
na globalização
dos
conhecimentos,
num
movimento
recíproco
de
comunicação
da
157
Kathy Curnow 66; Pedro
150 (Nuno Fevereiro)
Pessoa)
© Museu Estatal Hermitage,
© The Trustees of the British
Dias 12, 17, 102; Silvia Dolz
Colecção particular: 131 170
Europa
para
o
Mundo
e
deste
para
a
Europa.
(© Pedro Lobo)
Sampetersburgo, Maria L.
Museum. Reservados todos
63; Francisco Contente
Menshikova: 149
os direitos: 66
Convento de Cristo, Tomar:
Domingues 8; Maria João
Pode
dizer-se
que
a
tapeçaria
flamenga,
significativamente
designada
«à
maneira
16 (IGESPAR/Laura Castro
Pacheco Ferreira 145; Jorge
Museu Etnográfico da
V&A Images/ Victoria and
Carlos
Flores
139;
João
Caldas/Paulo
Cintra)
Sociedade
de
Geografia
de
Albert Museum,
Londres: 122
de Portugal e da Índia», é uma síntese desta ideia: concentração de barcos,
animais
Florença, BNC, MAG1. XIII, 16.
Lisboa: 10 (Carlos Ladeira
Garcia 3, 24; Sabine Haag 31;
do Ministero per entre
© Sociedade
Regina Krahl
150; Angela C. a serem
Autorização
Design gráfico:
exóticos
e fantásticos
transportados
o mardee Geografia
a terra, encontros
de
de Lisboa)
i Beni e le Attivita’ Culturali/
Mafalda Matias
Kudriatseva 45; Jay Levenson
© Museu Nacional
da
Biblioteca
Nacional
a partir de imagem
90; Jean
Michel
10,
gentes
que
seMassing
desconheciam,
Vasco
daCentral.
Gama chegando
a Calecute,
ou Capa:
a Cochim,
e
39, 42, 49, 50, 54, 60, 72, 76,
Dinamarca, Colecções
Qualquer publicação sem
global da Exposição,
entregando
aoMenshikova
governante
indiano
uma carta deEtnográficas,
D. Manuel
I, rei de Portugal.
É oDDLX
início
é expressamente
Copenhaga:
82, 85, 87; Maria
autorização
concebida por
e Regina Krahl 149; Nathalie
proibida: 1
72 (cortesia do museu),
da exposição,
jáMorna
invocadaGraphische
pelo marco
colocado no
átrio
de Santo
82, 85,
87 do museu, o Padrão
Impressão:
Sammlung,
Monnet 157; Teresa
Museu Nacional de Arte
Astrografe - Artes
Friedrich-Alexander16; Leonor d’Orey e Maria
Agostinho.
Antiga, Lisboa: 15, 19, 36,
Gráficas, Lda.
-Universität Erlangenda Conceição Borges de
118, 143, 145 (DDF/ IMC/
Sousa 36; Orey 19; Teresa
-Nuremberga: 42
José Pessoa), 163 (DDF/ IMC/
ISBN:
Pacheco Pereira 118; Matthias
Haia, Koninklijke Bibliotheek,
129 A 24: 79
978-972-776-395-5
Luís Pavão), 158 (DDF/IMC/
Pfaffenbichler 35; António
Estácio dos Reis 6; Nuno
IGESPAR/Museu de Marinha,
Francisco Matias)
Lisboa: 6 (Rui Salta)
Museu Nacional de Artes
Depósito legal:
Senos 95; Vítor Serrão 14;
299496/09
Maria da Conceição Borges
Kunsthistorisches Museum
Decorativas, Madrid: 60
de Sousa 143, 158, 163;
Viena, Kunstkammer: 29,
Museum für Völkerkunde
Nuno Vassallo e Silva 25, 29,
Tiragem:
Dresden: 63
25, 31, 133; Museum für
Völkerkunde: 50;
© Museus do Kremlin,
122, 131, 133, 170; Irina A.
2500 exemplares
Rüstkammer: 35
Moscovo: 45, 28
Zagorodnaya 28.
3
01
PADRÃO DE
pedra – encontram-se as armas reais
SANTO AGOSTINHO
portuguesas e uma inscrição em latim
02
DESCOBERTA DA ÍNDIA
séquito. À direita, diversas figuras vão
Oficina de Tournai, Bélgica,
chegando à praia para ver os estrangeiros
Portugal, erigido em 1483
e em português nas restantes faces.
início do século XVI
que carregam as naus (provavelmente
Calcário
213 x 30 x 30 cm
Museu Etnográfico da Sociedade
de Geografia de Lisboa | SGL-AC-131
Retirado do seu local original em 1892
Seda e lã
400 x 760 cm
Caixa Geral de Depósitos, 3721, em depósito
no Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
São Gabriel, São Rafael e Bérrio) com aves e
Enquanto marcos do domínio
Integrando um grupo de tapeçarias
à esquerda.
português, os padrões eram
designadas «à maneira de Portugal e da
Rapidamente conhecidas na Europa,
monumentos de pedra levados de
Índia» encomendadas por D. Manuel I,
e encomendadas igualmente por outros
Portugal e erigidos por navegadores
este exemplar poderá representar a
monarcas, este género de tapeçarias
para assinalar as terras que tinham
chegada de Vasco da Gama a Calecute,
depressa entrou na categoria de «Exotica».
acabado de descobrir, sendo também
ou a Cochim, e o encontro com um dos
Perdido o seu significado inicial de
incluídos em mapas. Este padrão terá
reis locais. À esquerda, Vasco da Gama
registo glorioso das viagens portuguesas,
sido erigido por Diogo Cão quando
entrega uma carta de D. Manuel a um
tornaram-se um repositório de imagens
explorava a costa angolana, no cabo
governante indiano seguido do seu
das terras e das gentes desconhecidas.
por ordem do governador-geral de
Angola, o padrão foi trazido para Lisboa
a bordo do Angola.
animais exóticos, entre eles um unicórnio.
Refira-se ainda a inscrição «INDAS NOVAE»
(Nova Índia) no portal entre as duas torres,
de Santa Maria, a 28 de Agosto de 1483,
no dia de Santo Agostinho, sendo um
testemunho das pretensões portuguesas
sobre África, que mais tarde dariam
origem a controvérsias com Espanha,
à bula papal de 1493 e ao Tratado de
Tordesilhas de 1494.
No topo deste padrão – que era
sobrepujado por uma cruz de
4
5
viagens dos portugueses nos oceanos
desenvolveu-se, nos séculos XIV e XVI, um movimento de expansão, primeiro pela
Ceuta no norte de África, 1415, progredindo
Atlântico e Índico, chegavam à Europa
costa norte e ocidental de África, percorrendo o oceano Atlântico em direcção ao
no reinado de D. Duarte (r. 1433-1437) com a
objectos exóticos, produzidos com materiais
sul até encontrar o oceano Índico. Lisboa transforma-se na grande metrópole do
passagem do Cabo Bojador, 1434, e durante
raros ou desconhecidos – marfim, tartaruga,
século XVI e a Casa Real portuguesa atinge um enorme poder político e económico,
o reinado de D. Afonso V (r. 1438-1481) com a
madrepérola, corno de rinoceronte, noz
de escala mundial. A expansão dos portugueses pelo Mundo faz chegar à Europa
descoberta do arquipélago de Cabo Verde e
de coco, ovo de avestruz, cocos de água.
produtos e conhecimentos novos e objectos de grande exotismo, essenciais à
das ilhas de S. Tomé e Príncipe no mesmo ano
Muitos destes materiais foram luxuosamente
construção moderna das mentalidades europeias.
da conquista de Arzila e Tânger, 1471.
montados, em prata e ouro, e reunidos em
D. João II (r. 1482-1495) define a estratégia para
colecções pertencentes às Casas Reais e
o descobrimento do caminho marítimo para a
nobres de toda a Europa que as expunham em
NAVEGAÇÃO
EUROPA
l
EUROPA
6
O conhecimento da geografia do Mundo
através da própria navegação dos mares
Índia, tendo Bartolomeu Dias passado o cabo
Câmaras de Maravilhas, nome que revela bem
foi fundamental para as navegações
e da percepção directa da morfologia
da Boa Esperança, 1487, e sido assinado com os
o espanto e a curiosidade que despertavam.
portuguesas que se desenvolveram,
dos continentes e das ilhas. Para tal,
Reis Católicos o Tratado de Tordesilhas, 1494,
O exotismo da fauna – leões, elefantes e
primeiro pela costa norte e ocidental de
aperfeiçoaram-se os instrumentos náuticos,
dividindo o Mundo entre Portugal e Espanha.
rinocerontes – e da flora – pimenta, canela,
África, no oceano Atlântico, depois, passado
dos quais teve especial importância o
No entanto, foi no reinado de D. Manuel I
noz-moscada e outras especiarias – foram
o cabo da Boa Esperança, pela costa oriental,
astrolábio, e desenvolveu-se a engenharia
(r. 1495-1521) que os grandes descobrimentos se
igualmente motivo de fascínio.
abrindo-se ao oceano Índico.
naval, de que as naus e as grandes caravelas
efectivaram, com a chegada de Vasco da Gama
Os europeus descobrem assim outras terras
Estas navegações permitiram alargar e
são exemplo.
a Calecute, Índia, 1498, de Pedro Álvares Cabral
e gentes em diferentes estádios de civilização
pormenorizar a representação das terras e
Lisboa transforma-se no século XVI numa
ao Brasil, 1500, e de Jorge Álvares à China, 1514.
e com diferentes expressões culturais,
dos mares através de Cartografia, disciplina
poderosa metrópole com o seu porto
D. João III (r. 1521-1557) recebe este imenso
oriundos de África, Ásia e América. Gera-se
que se ocupa do traçado de mapas que nos
agitado por um enorme movimento
Império, aumentado com a chegada dos
grande curiosidade intelectual e científica
informam sobre a configuração do Mundo.
comercial e marítimo ao longo do rio Tejo,
portugueses ao Japão, 1543, e a concessão
sobre estes povos e culturas, levando a
O avanço no seu conhecimento
em actividades cujo centro natural foi o
pela China de um entreposto comercial,
Europa a construir outra ideia de si face ao
geográfico, registado nos mapas, fez-se
Terreiro do Paço.
03
»
07
Macau, 1557.
08
» 12
Mundo.
13
»
NAVEGAÇÃO
EUROPA
a cartografia, os instrumentos de navegação e a engenharia naval. Em Portugal
l
Através de Lisboa, com o regresso das
de D. João I (r. 1385-1433) com a conquista de
EUROPA
A expansão portuguesa inicia-se no reinado
Na Europa desenvolveram-se os conhecimentos necessários para a viagem:
26
7
SEGUNDO A GEOGRAFIA
sentar o Oceano Índico como um enorme
04
PLANISFÉRIO, CONHECIDO
Mundo então conhecido, das ilhas e costas
COMO «DE CANTINO»
orientais do continente americano ao
DE CLÁUDIO PTOLOMEU
lago fechado e o alongamento da bacia
Portugal, c. 1502
Extremo Oriente.
Henricus Martellus Germanus (Arrigo
di Federico Martello, activo 1459-1496)
mediterrânica, contrariando assim a ante-
Tinta-da-china e cor sobre três folhas de velino,
unidas; 105 x 220 cm
Biblioteca Estense Universitaria, Modena
| C.G.A. 2, ms. século XVI
As áreas mais longínquas ou menos
cartografia ptolomaica constituía para os
Este Planisfério foi executado em Lisboa,
mediterrâneos do século XIV e a Europa
cosmógrafos renascentistas o único siste-
em 1502, por encomenda de Alberto
Ocidental, Mediterrâneo e costa ocidental
Florença, início da década de 1490
Pigmentos e ouro sobre pergaminho
57,5 x 84 cm
Biblioteca Nazionale Centrale, Florença
| Magl. XIII, 16, ff. 88v. 89r
visão do papa Pio II acerca do alargamento
e transformação do planisfério (no verso
da folha). Não obstante as imprecisões, a
conhecidas estão representadas segundo
a tradição ptolomaica, o Báltico e mar do
Norte respeitam a herança dos portulanos
ma válido para a representação de todo o
Cantino, agente do duque de Ferrara.
africana seguem as cartas atlânticas portu-
Da autoria de Martellus, cartógrafo
mundo conhecido, tendo sido longamente
Provável cópia de luxo das «cartas-padrão»
guesas do último quartel do século XV. A
alemão e servo de uma importante família
reproduzida. Este mapa permite-nos assim
existentes no arquivo e oficina cartográfica
novidade na figuração do Sudoeste Asiá-
florentina, este mapa remete para a
compreender o lento e meticuloso processo
do Armazém da Guiné e da Índia, no
tico pode explicar-se pelo acesso à náutica
recuperação do conhecimento geográfico
de revisão e evolução da cartografia que
Palácio Real da Ribeira, ele é a imagem
e a fontes cartográficas árabes, hindus e
dos antigos por parte da cultura humanista
marcou o início do período moderno.
final de um puzzle que reúne peças
malaias, sendo ainda vaga ou aproximada a
cartográficas diversas e que representa o
representação do Atlântico Ocidental.
da segunda metade do século XIV, sendo
NAVEGAÇÃO
dades geográficas ptolomaicas ao repre-
l
MAPA-MÚNDI,
EUROPA
EUROPA
l
NAVEGAÇÃO
03
o primeiro de trinta e nove que ilustram e
recuperam, o mais fielmente possível,
o Guia da Cartografia do cientista
alexandrino Ptolomeu, então traduzido
para latim como Geografia.
Rodeado por doze ventos representados
por cabeças humanas e apresentando
cores vivas com mares de lápis-lazúli, o
planisfério de Martellus respeita peculiari8
9
SÃO JULIÃO DA BARRA III,
roda com dois diâmetros perpendiculares
06
LIVRO DE TRAÇAS
DE CARPINTARIA
Levantando assim muitas dúvidas
quanto à sua origem, verdadeira autoria
PERTENCENTE À NAU NOSSA
nos quais gira uma alidade provida de duas
Manuel Fernandes
e intenção, tal em nada diminui o
SENHORA DOS MÁRTIRES
pínulas com dois orifícios que permitiam
Portugal, 1616
seu valor enquanto testemunho de
Portugal, 1605
a observação do astro. A altura era lida
eleição das características dos navios
Latão
Ø 17,4 cm
IGESPAR, em depósito no
Museu de Marinha, Lisboa | IN-II-174
na escala gravada no instrumento que se
Tinta e cor sobre papel
46,7 x 75,5 cm (dupla página aberta)
Biblioteca da Ajuda, Lisboa | BA 52-XIV -21
Este astrolábio recebeu o nome do local
Abrindo com um auto-retrato do seu
documentação técnica de arquitectura
onde foi encontrado e da nau portuguesa
presumível autor, Manuel Fernandes, e
naval europeia do período.
Versão simplificada do astrolábio
Nossa Senhora dos Mártires a que
a data de 1616, o Livro contém a maior
planisférico da Grécia Antiga, a utilização
pertencia, respeitando o método usual de
compilação de desenhos técnicos
do astrolábio náutico resultou da
denominação destes instrumentos.
de arquitectura naval conhecida até
pendurava pelo anel de suspensão.
necessidade de calcular a latitude por
aos inícios dos séculos XVII (mais de
meio da altura da Estrela Polar ou do Sol.
trezentos), ilustrando os regimentos
Tal facto deveu-se à definição de uma
escritos para a construção de navios que
nova rota pelos portugueses, a «Volta
os precedem. É todavia uma obra de
pelo Largo» ou «Volta da Mina», que partia
aparato porque alguns erros mostram
geralmente de S. Jorge da Mina,
que não podia ser usada pelos mestres
afastando-se da costa e passando próximo
do ofício, tendo sido certamente
dos Açores. Este trajecto permitia vencer
preparada enquanto oferta a uma
os ventos contrários nas viagens de
personagem ilustre.
portugueses do início do século XVII,
e o lugar ímpar que detém na
NAVEGAÇÃO
O astrolábio náutico é composto por uma
l
ASTROLÁBIO NÁUTICO
EUROPA
EUROPA
l
NAVEGAÇÃO
05
regresso do sul.
10
11
12
capela de Nossa Senhora de Porto Seguro,
BOA VIAGEM VELANDO
destinada a servir-lhe de capela mortuária.
08
PAINÉIS DE SÃO VICENTE
Nuno Gonçalves
destaque para a Cavalaria e para a Igreja
nas suas diversas hierarquias, parece
A pintura é um testemunho de gratidão
Portugal, c. 1470
congregar-se num acto de veneração a
Óleo (?) e têmpera sobre madeira de carvalho
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
| inv. 1361-1366 Pint
S. Vicente. Embora permaneça problemáti-
NA BARRA DE LISBOA
pela protecção divina recebida ao
Domingos Vieira Serrão e Simão Rodrigues
comércio no rio Tejo e na barra marítima,
Portugal, c. 1620
mostrando em composição avantajada,
Pintura a óleo sobre tela
161 x 381 cm
Ministère des Affaires Étrangères (France),
Igreja de S. Luís dos Franceses, Lisboa
com muitos pormenores, uma panorâmica
Estas seis pinturas, que originalmente
intenção e significado da obra, ela deve
da cidade de Lisboa tirada do lado da barra
estariam integradas num retábulo da
estar associada a uma dupla função, votiva
marinha e da desembocadura do Tejo,
capela-mor da Sé de Lisboa (c. 1470),
e evocativa, dos triunfos guerreiros da
divisando-se entre o casario o morro do
apresentam-nos um agrupamento de 58
dinastia de Avis no Norte de África, nomea-
Este grande ex-voto de carácter
Castelo de São Jorge, o Terreiro do Paço, o
individualizadas personagens históricas
damente em torno da vitórias de Arzila e
gratulatório foi encomendado por
Palácio dos Marqueses de Castelo Rodrigo,
em torno da dupla figuração de um santo.
Tânger, 1471, conquistas também evocadas
Antoine Magnonet, homem de negócios
a Sé (ainda com a sua torre-lanterna), o
Esta solene e monumental assembleia,
nas célebres quatro grandes tapeçarias
l
PELA PROTECÇÃO DO COMÉRCIO
CASA REAL PORTUGUESA
NOSSA SENHORA DA
enriquecido no tráfego comercial das
Torreão do Paço da Ribeira, São Vicente de
representativa da Corte e de vários Estados
tecidas em Tournai e hoje guardadas na
carreiras da Índia e Brasil e ligado ao
Fora e outros edifícios importantes,
da sociedade portuguesa da época, com
Colegiada de Pastrana (Espanha).
negócio esclavagista. Coube-lhe fundar na
vendo-se o mar repleto de embarcações
EUROPA
EUROPA
l
NAVEGAÇÃO
07
igreja de S. Luís dos Franceses, em 1606, a
em plenas águas encrespadas.
co, na ausência de testemunhos coetâneos
à sua criação, o pleno entendimento da
13
gótico-internacional tardio com os do alto
DE ALÉM-DOURO, LIVRO IV
Renascimento. Assim, no topo figuram
suas contemporâneas e testemunha as
Mestre Pedro (copista)
três anjos com as armas de Portugal
Fernan Muñoz (Espanha-Portugal,
estreitas relações políticas, económicas,
e Álvaro Pires (iluminador)
inscritas numa espécie de edifício gótico,
activo 1509-14)
culturais e artísticas desenvolvidas desde
Lisboa, 1513
e dois pares de anjos suportando duas
Portugal, 1510-1514
a Idade Média entre Portugal e a Flandres,
de que as feitorias de Bruges, primeiro, e
Cores e ouro sobre velino
54 x 41,4 x 12 cm
Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa
| PT- TT- LN/04
esferas armilares. As duas margens laterais
Madeira policromada
154 x 56 x 32 cm
Convento de Cristo, Tomar | 01-ESC 45
Olivier de Gand veio para a Península
Entre as políticas de centralização e
D. Manuel.
Ibérica no final do século XV e foi figura
de reforma geral do Estado português
relevante na divulgação da escultura
iniciadas por D. Manuel I encontra-se a
monumental portuguesa no início de
produção da Leitura Nova, título dado a 64
Quinhentos. Em Portugal, a sua actividade
códices reunindo cópias de documentos
desenvolveu-se em Coimbra, Évora e
oficiais que se haviam dispersado.
Tomar onde, em parceria com Fernan
Legislação regional e geral e outras normas
Muñoz, executou esculturas para a charola
legais foram seleccionadas por juristas
do convento de Cristo.
contratados para o efeito. De dimensão
Este «anjo heráldico», obra tardo-gótica de
considerável, ordenada pelo próprio
notável tratamento plástico, em madeira
monarca, e decorada pelos maiores artistas
policromada, característica da Flandres,
da época, recorreu-se nesta compilação
sustenta na mão esquerda o escudo
à caligrafia mais moderna, por forma a
português, elemento que o identifica
garantir a sua acessibilidade.
Antuérpia, depois, são exemplo.
apresentam um desenho complexo com
criaturas grotescas de estilo italiano, e, na
base, uma armada com a insígnia de
CASA REAL PORTUGUESA
(Portugal-Espanha, activo 1508-12),
l
servido de protótipo a outras esculturas
LEITURA NOVA, DISTRITO
EUROPA
Olivier de Gand
10
CASA REAL PORTUGUESA
como anjo protector do monarca. Terá
l
ANJO DE PORTUGAL
EUROPA
09
A página aqui ilustrada, ricamente
iluminada, combina elementos do
14
15
CUSTÓDIA DE BELÉM
Santíssima Trindade. Nos pináculos laterais
Gil Vicente (activo 1503-1517)
entrevêem-se as figuras da Virgem e do
12
A TERRA PROTEGIDA
versão semelhante à do pequeno mapa
POR JÚPITER E JUNO
de Franciscus Monachus publicado em
este «hemisfério lusitânico» é ladeado por
Datada de 1506 e atribuída a Gil Vicente,
Bruxelas, c. 1530
D. João III e D. Catarina figurados como
ourives e dramaturgo, esta micro-
Fio metálico dourado e prateado, seda, lã
344 x 315 cm
Patrimonio Nacional, Palacio Real, Madrid
| PN. TA-15/3 10005825
Júpiter e Juno, monarcas do Olimpo.
consagram o poder régio em época de
No património da Casa Real de Espanha
avista-se a esfera armilar, símbolo de
A mais famosa obra da ourivesaria
expansão oceânica.
existe um notável conjunto de três
D. Manuel I.
portuguesa foi mandada lavrar por
tapeçarias, os Tapices de las Esferas, que
D. Manuel I para o Mosteiro dos Jerónimos,
terão sido uma encomenda de D. João III
l
segundo Barend van Orley (1491-1541)
Ouro e esmaltes policromos translúcidos
e opacos; 73 x 32 x 26 cm
Inscrição: O. MVITO. ALTO. PRICIPE. E.
PODEROSO. SEHOR. REI. DÕ. MANVEL.I.
A. MDOV. FAZER. DO. OVRO. I. DAS. PARIAS.
DE. QILVA. AQVABOV.E. CCCCCVI
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
| inv. 740 Our
com o ouro do tributo pago por Quíloa
(1502-1557) para celebrar o seu casamento
que Vasco da Gama trouxe no regresso da
com D. Catarina de Áustria, irmã de
segunda viagem à Índia.
Carlos V, e também o acordo com aquele
EUROPA
De Orbis Situ (1527-1530). Na tapeçaria,
-se flores, frutos, moluscos e aves exóticas.
CASA REAL PORTUGUESA
Georg Wezeler (?) (activo 1520-1549)
l
Anjo da Anunciação e na base observam-
EUROPA
Portugal, 1506
Custódia designa em linguagem sacra
Imperador sobre a posse do arquipélago
o vaso usado para guardar e expor à
das Molucas e a partilha do Extremo
veneração dos fiéis a Hóstia Consagrada,
Oriente, entre Espanha e Portugal.
o Filho de Deus em torno do qual, nesta
As tapeçarias terão saído de Lisboa durante
peça, se ajoelham os doze apóstolos.
a união das coroas ibéricas, entre 1580 e
Sobre eles paira a pomba do Espírito
1640.
Santo, e, acima, a figura de Deus Pai
La Tierra amparada por Júpiter e Juno
sustentando o globo do Universo, repre-
representa o «hemisfério português»,
sentando-se assim as três pessoas da
segundo o Tratado de Tordesilhas, numa
16
-arquitectura do gótico final, de qualidade
artística e valor simbólico máximos, ostenta
seis esferas armilares que definem o nó e
No canto superior esquerdo pairam a
Abundância e a Sabedoria e, no superior
direito, a Fama e a Vitória. Na cercadura
CASA REAL PORTUGUESA
11
17
Goa, terceiro quartel
Lisboa de diversas obras neste material
14
GOMIL
agarrando-se a uma cornucópia que
Antuérpia, Bélgica, 1544-1545
assenta no pé alto. A base triangular
do século XVI
para a rainha D. Catarina, devendo o
presente exemplar datar de época
Totalmente realizado em diversas chapas
este exemplar não teria certamente
O bojo deste raro vaso é constituído
de tartaruga polida, este prato fundo
qualquer função prática dada a sua
por três conchas nacaradas de náutilo
encontra-se documentado desde 1596
fragilidade material.
(Nautilus pompilius), montadas em obra
CÂMARAS DE MARAVILHAS
no inventário do arquiduque Fernando II
fundida e gravada em relevo, pontuada
do Tirol, onde é classificado de indiano.
por pérolas e gemas, e decorada com
Trata-se de uma peça de aparato, dentro
camafeus de Vénus, uma máscara
do gosto renascentista de expor em
grotesca, cachos de frutos e flores.
aparadores obras dos mais diversos
O bico, com a configuração de uma
materiais, em que a tartaruga revela
cabeça de cisne de longo pescoço
particular exotismo.
curvo, destaca-se da máscara grotesca.
Conhecem-se documentadas peças em
No gargalo estreito figuram retratos de
tartaruga executadas na Índia, sobretudo
perfil de imperadores romanos.
no Guzarate, para exportação para a
Em baixo, cada um dos três sátiros
Europa. O grosso da exportação
suporta o vaso com uma mão, a outra
EUROPA
Tartaruga
Ø 42,7 cm
Kunsthistorisches Museum Viena,
Kunstkammer | KK 4131
l
Ouro, concha de náutilo, prata,
diamantes, rubis, esmeraldas,
pérolas, vidro
36 cm
Museus do Kremlin, Moscovo | DK-187
18
não muito distante destas aquisições.
Integrando-se na tipologia de salva de
apresenta imagens de caranguejos em
relevo.
Este gomil foi uma oferta de João II
Casimiro Vasa (r. 1648-68), rei da Polónia,
ao czar Aleixo I Mikhailovich (r. 1645-
água-às-mãos, utilizada nas refeições,
-1676).
CÂMARAS DE MARAVILHAS
registar-se-á em 1570 com o envio para
l
PRATO
EUROPA
13
19
Augsburgo, Alemanha
permitindo servir de recepiente
16
TAÇA
identificável, adequa-se perfeitamente
Nikolaus Pfaff (1556? - 1612?)
ao reportório das esculturas de Nikolaus
Praga, 1610
Pfaff, cuja obra se caracteriza pelos mais
apresenta decoração com motivos
Corno de rinoceronte
22,5 cm
Kunsthistorisches Museum Viena,
Kunstkammer | KK 3737
elevados padrões de execução.
Apreciados pela sua origem misteriosa
peixes e aves na tampa, sugerindo um
A partir do início do século XVII, os vasos
metálica que nunca foi executada.
e pelas qualidades naturais, os
mundo aquático superior.
de corno de rinoceronte figurariam entre
41 x 34,3 x 17,5 cm
Coco-das-seychelles e prata dourada
Kunsthistoriches Museum Viena,
Kunstkammer | inv. KK 6849
cocos-das-seychelles foram muito
os objectos de luxo mais procurados
procurados pelos coleccionadores
pelos coleccionadores europeus,
do Renascimento, sendo associados
baseando-se a sua popularidade não
à água dada a sua origem exótica,
apenas na natureza exótica do material
acreditando-se que tinham
mas também no efeito mágico atribuído
nascido no próprio mar. A par das
ao corno (supostamente eficaz contra
referências de Garcia da Orta quanto
venenos).
às suas qualidades curativas contra
A combinação imaginativa e animada
evenenamentos e outras efermidades,
das folhas de acanto e do «mascarão»
também Luís de Camões lhes dedica
na frente desta invulgar taça, cobrindo o
alguns versos nos Lusíadas.
corno mas deixando a sua forma natural
EUROPA
CÂMARAS DE MARAVILHAS
para líquidos, o presente exemplar
l
1575-1600 (montagem)
20
marítimos no âmbito da linguagem
do tardo-renascimento: uma ninfa, um
centauro e outras criaturas na base e
O recorte profundo entre os beiços
pendentes do mascarão destinar-se-ia
provavelmente a uma guarnição
CÂMARAS DE MARAVILHAS
Composto pela metade de um coco,
l
FONTE
EUROPA
15
21
22
Índia portuguesa, c. 1580
vermelho fixados por meio de aplicações
Madeira, pele de raia polida, laca preta
com ouro (escudo); veludo, prata (punhos
europeus)
Ø 54 cm
Kunsthistoriches Museum Viena,
Hofjagad – und Rüstkammer | A915
europeias de prata.
O trabalho de laca, em duas camadas,
aponta para uma origem indo-portuguesa, origem actualmente
18
COFRE
mente inspiradas na arquitectura
Veneza, final do século XVI
renascentista. A finalidade destes cofres
Cristais lapidados, madeira lacada de
negro e ouro, prata dourada e bronze
58 x 99 x 72 cm
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
| inv. 576 Our
não é bem conhecida. Existe no entanto
a tradição de que eram presentes que o
Papa enviava aos monarcas católicos da
Europa por ocasião do nascimento de um
herdeiro, contendo roupas bentas para o
considerada neste tipo de peças,
que terão sido criadas em Goa por
Este exemplar pertence a uma tipologia
seu baptizado.
Referido no inventário de 1596 da
artistas chineses ou nipónicos. Pela
de cofres constituídos por uma armação
Este cofre, o maior dos exemplares
propriedade do arquiduque Ferdinando II
sua complexidade, este escudo deverá
de madeira de planta rectangular onde
conhecidos, segundo o comprova a vasta
de Schloss Ambras, este escudo circular
corresponder ao gosto multicultural
se inserem placas de cristal biseladas ou
documentação existente, foi oferecido pelo
de madeira apresenta a face exterior
do português que o encomendou,
lapidadas em vulto, emolduradas com
rei de Ormuz a D. Frei Aleixo de Menezes,
revestida com pele de raia polida. No
por reunir características da cultura
perfis lacados de negro e ouro.
arcebispo e governador de Goa entre 1608
interior, revestimento de laca executado
portuguesa, europeia e asiática.
O interior é tratado com o mesmo cuidado
e 1609, e por ele enviado ao Convento dos
decorativo e idêntica decoração lacada.
Agostinhos da Graça, em Lisboa, onde
As características do desenho são nitida-
passou a servir como Sacrário.
a ouro sobre fundo preto, característico
CÂMARAS DE MARAVILHAS
da Ásia Oriental, e punhos de veludo
l
ESCUDO
EUROPA
EUROPA
l
CÂMARAS DE MARAVILHAS
17
23
morreu. O desgosto do Papa levou-o a
Escola de Rafael
escrever um epitáfio em latim e a pedir
vários desenhos (leão, leoa, lince europeu,
Roma, Itália, 1514-1516
a Rafael que o imortalizasse em fresco,
Aguarela e guache sobre velino
17,7 x 28,8 cm
Albertina, Viena | 3173
camurça) que terão sido executados pela
Pena e tinta sobre papel
27,8 x 28,5 cm
Staatliche Museen zu Berlin,
Kupferstichkabinett | KDZ 17949
à escala real, numa torre de entrada da
Graças ao Diário da sua Viagem aos Países
Nurenberga, 1588, imperador Rudolfo II,
Baixos (1520-21) sabe-se que em 1521 Dürer
registo de 1783, colecção do duque
A embaixada que D. Manuel I enviou
se perdeu. À dimensão naturalista da
viu e desenhou leões em Ghent, animais
A. von Sachsen-Teschen, que está na
ao papa Leão X, em 1514, presidida por
representação acrescenta-se a dimensão
que se haviam tornado uma atracção
origem de parte da colecção da Galeria
Tristão da Cunha, incluía um elefante
do animal, expressa no desenho: 2,33 m
popular no início do século XVI, e que
Albertina.
branco que o rei de Portugal recebera
(10 palmi) de altura e 4,95 m (22 palmi )
descendiam de um grupo de animais
Na precisão da representação do natural,
do rei de Cochim. O êxito da missão
de comprimento.
pertencentes a um talhante local, um
este leão de Dürer é uma demonstração de
diplomática foi assinalado pela oferta da
século antes. Em 1520, o pintor também já
espírito científico e de modernidade face à
rosa papal a Portugal e Hanno, símbolo
vira leões em Bruxelas no famoso parque
percepção da realidade.
da extensão da fé cristã propagada
EUROPA
Bruxelas, 1521
mesma altura, é bem conhecido o rasto
ao longo dos tempos: colecção Imhoff,
pelos portugueses, foi mantido
nos Jardins do Belvedere, Vaticano,
tornando-se no animal de estimação
Cidade pontifícia. Este Hanno é uma
das duas cópias existentes do desenho
preparatório do pintor para o fresco que
ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS
real. Desta aguarela de Viena, uma entre
HANNO, O ELEFANTE
l
Albrecht Dürer (1471-1528)
20
EUROPA
de animais, o Warande, por trás do palácio
ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS
LEÃO
l
19
de Sua Santidade. Quatro anos volvidos
e depois de muito festejado, o animal
24
25
rectangulares onde era colocado o
Dirich Utermarke (Alemanha,
incenso. O castelo possui um telhado
mesmo espécime masculino
1599-1635)
com altas chaminés quadradas com
Aguarela e guache sobre papel
59,6 x 37,5 cm
ERLANGEN, Graphische Sammlung
der Universität | B. 164.II.C.4
de variadas cores. Testemunhos do
Hamburgo, primeiro quartel do século XVII
orifícios que comunicam com as secções
interesse europeu pelo mundo recém-
Prata dourada
54 x 54 cm
Museus do Kremlin, Moscovo | MZ-422/1-5
internas do incensador, sendo por elas
Dividindo-se actualmente em várias
o mais fiel possível da realidade.
Este incensador foi comprado pelos
quatro incensadores com a forma de
espécies e géneros, as aves-do-
emissários do czar Miguel Fedorovich
uma montanha tendo todos pertencido
-paraíso eram caçadas devido à sua
Romanov (r. 1613-1645), num leilão dos
ao tesouro do czar Miguel Fedorovich
plumagem nupcial, sendo os corpos
tesouros do rei Cristiano IV da Dinamarca
Romanov.
secos coleccionados e comercializados.
(r. 1588-1648) realizado em 1628 na
A plumagem surgiu na Europa em
cidade de Arkhangelsk.
1522 com a chegada de pelo menos
Destinava-se a ser colocado sobre
cinco corpos secos destas aves que
uma mesa e poderá ter decorado e
foram incorporados em colecções
perfumado um dos salões do Kremlin.
de curiosidades como naturalia e
O incensador assume a forma de uma
reproduzidos em ilustrações de livros e
alta montanha com cumes acidentados,
em desenhos. Conhece-se, de 1525, um
encimada por um castelo. Pequenos
desenho legendado da autoria do artista
elementos decorativos em filigrana
alemão Hans Baldung Grien.
fundida encontram-se espalhados
Registado pela primeira vez na
por toda a superfície – rãs, lagartos,
kunstkammer do margrave J. F. von
tartarugas, um gafanhoto branco, tufos
EUROPA
do século XVI
-descoberto, estes desenhos são
também uma tentativa de representação
que saía o fumo aromático.
Actualmente, apenas são conhecidos
ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS
de Erlangen apresenta duas vistas do
INCENSADOR
l
Alemanha, segunda metade
22
EUROPA
Brandenburg-Ansbach, o exemplar
ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS
AVES-DO-PARAÍSO
l
21
de erva e galhos secos. Três pináculos
rochosos ocultam longas gavetas
26
27
DE MAXIMILIANO II
A história deste curioso banco está
24
KRIS E BAINHA
pode sair de casa sem um kris no seu
Goa ou Malaca (?), século XVI
cinto». A partir de então, os viajantes
Viena, Áustria, 1554
ilustrada e inscrita no seu próprio
assento, uma omoplata de elefante.
Quatro imponentes ossos são o que
Espanha, símbolo da aliança matrimonial
resta de um elefante asiático que
do sacro imperador romano com Maria,
Este kris decorado com rubis e safiras
D. João III ofereceu ao arquiduque
sua prima e filha de Carlos V, e numa
surge registado pela primeira vez em
austríaco Maximiliano (1527-1576),
outra surge o brasão de Maximiliano,
1619 entre os bens do arquiduque
futuro imperador Maximiliano II.
rodeado pelo colar da Ordem do Tosão
Maximiliano III (1558-1618). As primeiras
Ao recomendar que o animal fosse
de Ouro.
referências europeias a estes punhais
ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS
apelidado de Solimão, tornando-o assim
parecem encontrar-se no inventário do
seu escravo, a oferta do rei de Portugal
guarda-roupa de D. Manuel I (1522).
adquiria uma ressonância internacional,
A sua história inicial ainda permanece
como sinal de agradecimento – em
obscura, mas o kris encontrava-se
nome de toda a Europa e dos seus
completamente desenvolvido no século
domínios – aos Habsburgos, por
XIII ou seguinte, talvez relacionado com
repelirem os «infiéis» piratas turcos sob
o culto xivaísta Bhairava. O viajante
o comando de Solimão, o Magnífico, às
português Tomé Pires refere na Suma
portas de Viena, em 1529. O animal foi
Oriental (1512 e 1515) que «todos os
levado de Madrid até Viena em cujos
homens em Java, sejam eles ricos ou
EUROPA
Osso de elefante
82 x 90 x 55 cm
Stift Kremsmünster, Kunstsammlungen
l
Aço, madeira lacada, ouro, rubis, safiras,
chifre de rinoceronte
49,5 x 12,5 x 2,6 cm
Schatzkammer des Deutschen Ordens, Viena
| DO 175
Numa das pernas do banco figuram
os brasões de armas da Áustria e de
ficariam fascinados com estas armas
mortíferas frequentemente revestidas
com arsénico, incorporadas de um
poder sobrenatural e concedendo um
elevado estatuto ao seu possuidor.
ETNOGRÁFICA
subúrbios morreu um ano depois.
l
BANCO COM AS ARMAS
EUROPA
23
pobres, têm de ter um kris em sua casa,
e uma lança e um escudo [...] E nenhum
homem entre os doze e os oitenta anos
28
29
DE SOMBRAS
opulência do ornamento de cabeça
26
ESCUDO
decoração de padrão regular e simétrico
Ilhas Molucas, Indonésia,
de conchas discóides e piriformes com
Java, Indonésia, século XVI
e do colar. A identificação da figura é
século XVII, anterior a 1710
formas elaboradas. Possivelmente, terá
Madeira policroma, folha de ouro
50,5 x 17 cm
Museum für Völkerkunde Viena | 12.397
talvez confirmada pelo inventário do
sido produzido directamente para
As representações teatrais com
laca contendo cinco marionetas que
Madeira, fibras, mástique, conchas
136 cm
Museu Nacional da Dinamarca,
Colecções Etnográficas | Db.60
sombras desenvolveram-se numa área
poderiam ser as figuras dos cinco
Este tipo de escudo das Ilhas Molucas
geográfica que se estende desde a
Pandava.
denominado salawaku, que foi alvo
imperador Rodolfo II, redigido entre
1607 e 1611, que refere uma caixa de
China, no Oriente, a Marrocos e à Europa
de uma vasta difusão, entre outras
Ocidental. O teatro de sombras javanês
numerosas funções era utilizado nas
é particularmente famoso devido às
danças bélicas tradicionais enquanto
suas marionetas, com o reportório
escudo de defesa. Talhado numa única
baseado nos épicos indianos Ramayana
peça de madeira apresenta geralmente
e Mahabharata.
a configuração de uma ampulheta,
Cada marioneta ostenta as características
mais estreito a meio e alargando em
faciais e corporais específicas do tipo
ambos os extremos, sendo muitas vezes
humano que representa. A famosa
ligeiramente curvo.
figura Yudistira, o mais velho dos
O presente exemplar é particularmente
Pandava, «expressa a sua absoluta
elegante e pormenorizado, com
exportação. Descrito pela primeira vez
no inventário de 1710 da kunstkammer
de Gottorf, foi transferido para o Palácio
Real de Copenhaga em 1751.
ETNOGRÁFICA
sendo a sua importância realçada pela
l
MARIONETA
EUROPA
EUROPA
l
ETNOGRÁFICA
25
tranquilidade de mente e de corpo, a
nobreza dos seus pensamentos e o seu
ódio pela violência». Esta marioneta
apresenta o cabelo apanhado na nuca,
30
31
ÁFRICA
conquista de Ceuta, 1415. Iniciou-se a partir desta data a marcação de pontos
27
FIGURA AJOELHADA
O cabelo é entrançado em cristas. O
(POMDO)
corpo apresenta escarificações, mas a
estratégicos de controlo dos acessos ao mar Mediterrâneo, centro do comércio
Serra Leoa, Guiné ou Libéria,
característica mais estranha são os seios
europeu então dominado pela presença árabe.
séculos XIV-XVI
femininos projectantes que esta figura
A par da navegação no oceano Atlântico, das viagens pela costa ocidental africana
Esteatite
12 x 5 x 6 cm
Musée Royal de l’Afrique Centrale, Tervuren
| EO.1973.43.2
barbada segura nas mãos. Todavia, esta
Conheceram-se os escultores/artesãos da Serra Leoa que talhavam marfim com
As figuras de pedra produzidas
manifestações da arte africana.
grande requinte e talento, qualidades reconhecidas pelos navegadores portugueses
pelo povo oeste-africano ao qual
que lhes encomendaram objectos para uso na Europa como saleiros, colheres,
os portugueses chamavam sapi,
trompas, produtos exóticos no material e na expressão artística que, com frequência,
são frequentemente divididas em
até ao Cabo Bojador, 1434, limite sul das terras então conhecidas, do estabelecimento
de uma feitoria em S. Jorge da Mina, 1482, passou-se o Cabo das Tormentas, depois
designado da Boa Esperança, 1487, assim se marcando a entrada no oceano Índico.
copiavam gravuras que circulavam nos livros de culto cristão. Mais a sul, no Benim,
dois grupos estilísticos: as nomolisia,
ter-se-ão feito, após a invasão da Serra Leoa em 1550, encomendas semelhantes.
encontradas na região dos Mende, e as
Chegados à foz do rio Congo em 1485, aí se funda a primeira igreja, 1491, havendo
pomta provenientes das áreas dos Kissi.
uma produção de esculturas em metal com expressão africana mas representando
A presente figura, nitidamente
imagens de culto cristão, apropriação singular do imaginário e da mentalidade
andrógina, está ajoelhada. Tem cabeça
europeia.
grande, orelhas semicirculares, olhos
escultura bissexual não é um exemplar
único na iconografia das pomta,
existindo figuras andróginas noutras
ÁFRICA
A expansão da fé cristã, num espírito que prolonga o das Cruzadas, levou à
semiovais, nariz também grande, mas
escultural, boca aberta revelando dentes
muito aguçados, e barba destacada e
proeminente. André Álvares d’Almada
escrevia em 1594 que «os [homens] sapi
e as mulheres limam os dentes da frente,
tanto os de baixo como os de cima».
32
32
33
OLIFANTE
produção na primeira metade do
Estilo Sapi-português
século XVI.
29
MOSQUETEIRO
as suas armas funcionasse como defesa
Reino do Benim, povo Edo,
extremamente eficaz contra adversários
Serra Leoa, final do século XV – primeira
O presente olifante parece ter sido
século XVI
tanto visíveis como invisíveis.
metade do século XVI (1490-1530?)
uma oferta de um dos reis de Portugal,
Estilisticamente esta representação
Marfim
7,3 x 64 cm
Museo Nacional de Artes Decorativas, Madrid
| inv. DE21348
possivelmente D. Sebastião (r. 1568-1578),
Liga de cobre
45 x 28,5 x 20,5 cm
Staatliche Ethnographische Sammlung Sachsen,
Museum für Völkerkunde Dresden
(col. A. Baessler) | 16604
Estão registados mais de cento e vinte
aos nossos dias, ostenta as armas reais
O reino do Benim entrou pela primeira vez
peças – trompas, saleiros, píxides, punhos,
portuguesas ladeadas por uma banda
em contacto com os europeus entre 1472
colheres e garfos – de marfim sapi, da
com a saudação do Anjo da Anunciação,
e 1486 e os seus governantes depressa se
autoria dos escultores das figuras de
«AVE MARIA», indicando assim uma nítida
aperceberam da utilidade da sua chegada
pedra (nomolisia) da Serra Leoa. A data
influência cristã. O mesmo acontece com
para a consecução dos seus interesses
exacta destes marfins é desconhecida
uma Deploração perante o corpo de Cristo.
políticos. O equipamento militar dos
mas a presença de armas de D. Manuel I
Ao lado da Deploração, bem como no lado
portugueses, em particular, mereceu o
(r. 1495-1521) e de D. João III (r. 1521-1557)
oposto, surgem cenas de caça com os
maior interesse uma vez que as armas de
em alguns deles, bem como o registo em
caçadores tocando trompa.
fogo eram desconhecidas. De facto, com
documentos apontam para uma data de
a Filipe II de Espanha.
Integrando um grupo de cinco trompas,
é única pois contém um elemento
de dinamismo e de movimento que
revela e torna claro o perigo e o poder
aparentemente sobrenatural das armas
autoria do mesmo escultor, que chegaram
ÁFRICA
ÁFRICA
28
de fogo.
o auxílio dos seus mosquetes e canhões
foram conseguidos importantes triunfos.
Os soldados armados em breve se
tornaram tema da arte do Benim.
Em circunstâncias religiosas e rituais
específicas, essas imagens criavam uma
ligação simbólica a Olokun, deus do mar, e
é possível que este tipo de figura exibindo
34
35
SALEIRO
com narizes proeminentes e proporções
Estilo bini-português
pouco naturais de outros saleiros, o
31
CRIADO DE
cavas das mangas e costuras debruadas
D. MIGUEL DE CASTRO
com galões de fio de ouro. As frentes
Reino do Benim, povo Edo,
autor pormenorizou neste o tratamento
Jasper Becx (activo entre 1627 e 1647)
são fechadas com botões também de
século XVI
do vestuário, destacando-se a cruz da
Países Baixos, anterior a 1643
ouro, igualmente presentes nos punhos
Marfim
30 x 11 cm
Museu Britânico, Londres | 1878, 11-1.48A-C
ordem de Cristo na figura do dignatário
das mangas. O objectivo da Companhia
Saleiro produzido pela Igbesanmwan,
conhecimento de fontes impressas como
Óleo sobre madeira
73 x 60 cm
Museu Nacional da Dinamarca,
Colecções Etnográficas | SMK8
corporação real de escultores do reino do
modelo de representação refutando a
O retratado era um dos dois criados de
mas também o de exibir o esplendor dos
Benim, da qual chegaram à Europa vários
hipótese da simples observação directa.
Miguel de Castro, embaixador da corte de
trajes holandeses.
de posto mais elevado. A inclusão de
uma embarcação na tampa sugere o
artefactos trazidos pelos portugueses
Soyo, que chefiou, pelo início da década
e muito apreciados pelo exotismo do
de 1640, uma das numerosas embaixadas
material. Num período em que o sal era um
enviadas do reino do Congo a Portugal e
bem dispendioso, grandes saleiros eram
à Santa Sé. Embaixador e criados foram
usados nas mesas aristocráticas, estando
então retratados por um pintor holandês
o presente exemplar particularmente bem
que os trajou, requintadamente, à moda
conservado.
dos Países Baixos, e uma versão desses
Seguindo o reportório comum dos
retratos ficou de ser enviada para a corte
escultores, estão figurados dois dignatários
de Soyo. Este criado, que ostenta uma
em pose frontal, acompanhados por
presa de elefante alusiva à riqueza da
um par de auxiliares. Entre as figuras,
sua terra de origem, enverga gibão de
vários peixes esculpidos em baixo-
veludo verde, com golas de fino linho,
das Índias Ocidentais ao enviar este tipo
de retratos para a corte de Soyo era,
obviamente, o de suscitar o seu apoio,
ÁFRICA
ÁFRICA
30
-relevo, referência ao mundo aquático
à qual os portugueses eram associados.
De convenções idênticas às das figuras
36
37
CASTÃO
Comparando com outro exemplar
República Democrática
Passado o Cabo da Boa Esperança em 1487, une-se o oceano Atlântico com
existente que apresenta uma cruz, ou
o Índico e inicia-se a exploração da costa oriental de África durante a viagem de
do Congo ou Angola, povos Congo,
ainda outro com figuração de três pessoas
Vasco da Gama para a Índia, 1497 e 1498.
século XVII
ajoelhadas, e tendo em consideração
As conquistas de Afonso de Albuquerque no golfo pérsico e na costa ocidental da
Latão
28 x 11,8 x 5,7 cm
Musée Royal de l’Afrique Centrale, Tervuren
| HO 1953.100.1
que estes bordões de tradutor com
Índia, das quais se destaca Ormuz, 1507, e Goa, 1510, foram determinantes para
castões idênticos receberem o nome de
o estabelecimento de rotas comerciais das especiarias, fonte de grande riqueza
Santu spilitu, uma corruptela de Sanctus
para Portugal.
Spiritus, ou Santo Espírito, poder-se-á por a
No início do século XVI não interessava aos impérios asiáticos o domínio da
Segundo a Missão dos Padres Capuchinhos
hipótese desta peça representar a terceira
navegação marítima, factor que favoreceu os portugueses que rapidamente
nos Reinos do Congo, Angola e Terras
pessoa da Santíssima Trindade.
capturaram portos estratégicos como Muscate e Ormuz, no golfo pérsico, e Goa,
Adjacentes, da autoria de Bernardino
capital portuguesa do Estado da Índia que se transformou num importante
Ignazio d’Astri, datada de 1747, os
entreposto de mercadorias de luxo – ourivesaria, têxteis, mobiliário e imaginária.
intérpretes nativos que agiam como
Também do Ceilão, a ilha da canela, se importaram bens de luxo, tecidos de seda
intermediários entre o confessor e o
e ourivesarias com marfim, cristal de rocha, ouro e pedras preciosas.
penitente usavam «uma insígnia ou bordão
Desejando-se que Goa se transformasse na Roma do Oriente, coube à Sociedade
com a forma de uma cruz».
de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola, em Roma, 1540, exercer a acção
Este castão pertence, todavia, a um tipo
missionária no Estado da Índia. S. Francisco Xavier (1506 - 1552) foi o primeiro
diferente. Fundido em latão, apresenta uma
jesuíta que, por ordem de D. João III, iniciou em 1542 esta acção na Índia, viajando
figura sentada com as mãos unidas em
depois para Malaca, ilhas Molucas e Japão.
oração, diante da estrutura arquitectónica
Com grande influência junto da Casa Real, os jesuítas fixaram escolas e missões
decorativa que lhe serve de moldura.
por todo o Império português, num esforço de conversão dos povos ao
ÍNDIA E CEILÃO
ÁFRICA
32
Cristianismo. Uma extraordinária oportunidade surge na Índia quando, em
1578, o imperador mogol Akbar convida os jesuítas para melhor conhecer os
ensinamentos cristãos, gesto ditado pela curiosidade intelectual e não pela
vontade de conversão religiosa.
38
39
40
PORTUGUESES
ocidental, estão sentados à mesa na qual
EM ORMUZ
se dispõem vários pratos e cestos de
34
PANO DE ARMAR
na vertical é conseguida unicamente
Índia, Guzarate (?)
através do desenho. Na parte esquerda os
Índia (?), século XVI
acepipes. Servidos por pajens, as figuras
para o mercado português, c. 1600
exércitos alinhados esperam o sinal para
Tinta de água sobre papel
30,3 x 42,5 cm
Biblioteca Casanatense, Roma
| MS. 1889, fls. 29-30
encontram-se no interior de um tanque
iniciar os combates. Na zona da direita a
Pertencente ao conhecido Códice
certamente asiática, dado o tipo de
Tafetá de seda bordado a sedas
policromas bombixmori em ponto
de cadeia e ponto de nó
311 x 278 cm
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
| inv. 4575 Tec
Casanatense, obra que reúne setenta
desenho que ignora as regras praticadas
de água rectangular decorado com vasos
de flores e ao qual se acede por sete
degraus. Da autoria de um artista de origem
luta é renhida, a confusão reina, os cavalos
tombam e o sangue jorra.
A diversidade e intensidade cromática,
a par da ausência de estrutura rígida
de composição, fazem desta peça um
e seis páginas com pinturas, a imagem
na Europa, esta imagem testemunha
Pano de armar é uma peça para
apresenta uma cena da vida quotidiana
a necessidade de compreensão dos
decoração parietal. Neste exemplar, o
dos portugueses expatriados no Médio
costumes e atitudes entre os povos e
campo, emoldurado por uma cercadura
Oriente, acompanhada pela legenda:
dá-nos a ideia do estilo de vista sofisticado
com cenas de caçadas e representando
«Gentes portuguesas de Ormuz. Estão
dos europeus que se estabeleciam
provavelmente dois momentos da mesma
comendo dentro d’água por ser a terra
naquelas partes do mundo.
batalha, estrutura-se em quatro partes.
muito calmosa». A última palavra refere-
A divisão segundo um eixo horizontal
-se ao calor sentido naquela região.
faz-se por uma tarja com decoração de
Dois casais, de vestes ligeiras e de estilo
enrolamentos fitomórficos e a divisão
exemplar raro no mundo dos bordados
indianos para o mercado português.
ÍNDIA E CEILÃO
ÍNDIA E CEILÃO
33
41
FRONTAL DE ALTAR
No painel central, quatro anjos venerando
Sind ou Guzarate, 1600-1610
a custódia estão circundados pela legenda
36
COFRE
Ambos os relevos resultam de
Ceilão, Kotte (?), c. 1540-50
transcrições fiéis de gravuras de L. van
Leyden: S. Lucas tem por base uma
Ébano, marfim, osso
84 x 106 cm
Victoria and Albert Museum, Londres
| IS 15-1882
em português «Louvado Seja o Santíssimo
de tampo a uma mesa, marcadamente
Este cofre apresenta uma enorme
Não se trata de uma peça religiosa como
Este exemplar filia-se na produção para o
posterior e identificada como mesa de
diversidade de temas tanto sacros como
as representações parecem indicar, mas
mercado português atribuída a oficinas
comunhão. A existência no Museu Arménio
profanos. As referências ao bestiário
certamente de encomenda europeia de
do Norte da Índia, com obras executadas
de Nova Julfa, Ispaão, de um fragmento
medieval são uma constante, sendo uma
uma obra de carácter assumidamente
sob influência mogol. A ornamentação,
central de um frontal com a adoração do
das mais típicas a figura do javali a tocar
exótico.
realizada em embutidos de marfim ou
Santíssimo Sacramento, que as figuras de
gaita-de-foles. Contudo, os motivos
A fechadura em forma de brasão de
osso sobre madeira de ébano, apresenta
S. Pedro e S. Paulo ladeiam, vem confirmar
mais importantes e de maior qualidade
armas ibérico é das mais antigas jóias do
motivos mogóis, como figuras de
a leitura da peça de Londres como um
encontram-se nos dois painéis laterais,
Sul da Índia conhecidas.
bailarinas, músicos e falcoeiros, ou ainda
frontal de altar.
revelando a sua origem numa obra
Sacramento».
Até muito recentemente este frontal servia
Marfim, ouro, rubis e safiras
11,5 x 23,5 x 13 cm
Colecção particular
representações de seres mitológicos
gravada. Do lado esquerdo surge Cristo
como simurghs que nas suas garras e bico
descendo ao Limbo e no lado direito
seguram elefantes, demonstrando assim a
S. Lucas redige o seu Evangelho.
gravura de c. 1508, e Cristo no Limbo, a
série Paixão de Cristo de 1521.
ÍNDIA E CEILÃO
ÍNDIA E CEILÃO
35
sua força.
42
43
COLHER
recebia de Goa várias peças executadas
Ceilão, segunda metade
Em 1543 os portugueses chegam ao Japão, primeiro contacto de europeus
no Ceilão, tais como garfos e colheres em
com japoneses. Vindo de Goa, o grande “barco negro” transportava produtos da
do século XVI
cristal de rocha enriquecidos com ouro e
Índia e da China e também espingardas, objectos que serão trocados em Nagasaki
Heliotrópio, ouro, rubis
17,8 cm
Kunsthistorisches Museum Viena,
Kunstkammer | KK 1620
pedras preciosas.
por prata e requintados artefactos japoneses, em laca e com madrepérola, alguns
A produção continuou até às últimas
ajustando-se às necessidades práticas e religiosas da Europa.
décadas de presença portuguesa no
A designação Namban jin atribuída aos portugueses, os bárbaros do sul, passou
Ceilão. Em 1630 ainda eram apreciadas
a esta produção artística do Japão cujo destino foi o mercado português, arte
Algumas das mais apreciadas produções
na Índia pelo frei agostinho Sebastião
Namban.
exportadas do Ceilão através do
Manrique, que delas dizia serem mais
Os jesuítas desenvolveram, a partir de 1550, uma importante acção de missionação
mercado de Goa, no século XVI, terão
vistosas que custosas.
no Japão, tendo criado em 1583 uma academia regida por pintores italianos e
sido as colheres e garfos delicadamente
destinada a artistas japoneses, instituição que, com a expulsão dos jesuítas e banida
executados em cristal ou em pedras duras
a fé cristã, 1614, foi mudada para Macau.
com montagens em ouro e aplicação de
JAPÃO
ÍNDIA E CEILÃO
37
filigrana e pedras preciosas.
A qualidade das montagens destas
colheres e garfos sugere tratar-se de peças
de considerável valor, destinadas a clientes
da mais alta aristocracia. Já em 1570 a
rainha D. Catarina, mulher de D. João III,
44
45
38
BIOMBOS (PAR)
Os biombos eram concebidos para
estranheza dos recém-chegados, o
capital do Estado da Índia. A cidade é
Assinados Kano Naizen (1570-1516),
sugerida por construções «achinesadas»
chinesa pela prata japonesa, a carga
protótipo da arquitectura «estrangeira».
1593-1614, período Momoyama/Edo
«bu», vento). Este par figura entre os oito
da nau e tantos outros episódios são
No biombo da direita representa-se a
Folha de ouro, pintura policroma a
têmpera, papel, seda castanha com
motivos espolinados a papel laminado e
dourado, laca, cobre dourado
178 x 366,4 x 2 cm
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
| inv. 1640 Mov, 1641 Mov
pares que se conhecem marcados com o
captados pelos pincéis da escola
chegada a um porto, provavelmente
selo do pintor Kano Naizen.
de Kano que de forma brilhante
Nagasáqui.
Neles se desenrola da esquerda para
desenvolvera a pintura de costumes.
a direita a descrição das actividades
No biombo da esquerda, o pintor
religiosas e comerciais dos portugueses
descreve a partida do «barco negro»
no Japão. A vida das cidades, a
de um porto que se pensa ser Goa,
JAPÃO
negócio centrado na troca da seda
teger das correntes de ar («byo», evitar;
JAPÃO
compartimentar espaços ou para pro-
Japão, Arte Namban,
46
47
POLVORINHO
de ostentação, tal a riqueza e requinte
Japão, Arte Namban
dos materiais e da decoração. É o
40
ORATÓRIO PORTÁTIL
modelo as gravuras do Norte da Europa.
Japão, final do século XVI,
Contrariando o usual, parece existir
final do século XVI,
caso deste polvorinho decorado em
período Momoyama,
aqui uma relação estilística entre pintura
período Momoyama
ambas as faces. Sobre um fundo negro
e moldura, se atendermos à ligação
Madeira lacada, ouro e prata
30 x 26 x 6,5 cm
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
| inv. 391 Div
polvilhado com pós metálicos variados,
Óleo sobre cobre; madeira, laca,
ouro, prata, madrepérola
47,2 x 35 x 5,1 cm
Santa Casa da Misericórdia do Sardoal
figuras dos namban jin tal como trajavam
Esta pintura apresenta a delicadeza de
pintura e o frontão triangular superior.
Os portugueses, ou namban jin, ao
na época.
linhas e a atenção ao pormenor que
Este apresenta um monograma de
aportarem à ilha de Tanegashima, 1543,
caracterizam as melhores obras do
Cristo, «IHS», atestando por este modo
levaram com eles as primeiras armas
Seminário de Pintores, a academia jesuíta
o destino da obra para um mercado
de fogo que os nipónicos passaram
de Giovanni Niccoló, no Japão, patente
específico, cristão.
a designar como tanegashima. Com
nas feições da Virgem e do Menino,
o uso destas armas, os polvorinhos
ambos de sobrancelhas arqueadas, e na
– contentores de pólvora – passaram
testa alta e mãos anafadas da Virgem.
a ser acessórios imprescindíveis. Estes
Também associados a esta escola são a
objectos funcionais transformam-se, em
técnica e o suporte utilizados, óleo sobre
muitos casos, em peças de aparato ou
chapa de cobre, característico da Europa
que conferem à peça um tom metálico
acastanhado, recortam-se em relevo as
entre o motivo de linhas onduladas
presente na auréola do menino e a
decoração dourada que delimita a
JAPÃO
JAPÃO
39
Setentrional. Por outro lado, as pregas
angulares dos mantos, típicas da
pintura da Flandres, terão tido como
48
49
PIA DE ÁGUA-BENTA
São hoje conhecidas obras executadas
Japão, final do século XVI,
nas missões jesuíticas, para exportação,
42
MARTÍRIO DO BEATO
em 1616, Kimura permaneceu no colégio,
LEONARDO KIMURA E DOS
sendo detido e encarcerado pelas forças
período Momoyama
de que são exemplo maior as lacas
SEUS COMPANHEIROS EM 1619
imperiais. Encontrou a morte, juntamente
Grés policromado e vidrado
36,5 x 18,5 cm
Colecção particular
namban.
Escola de Giovanni Niccolò
com quatro companheiros cristãos laicos,
Bem mais raras são as obras cerâmicas,
Japão, c. 1619
em meados de Novembro de 1619,
conhecendo-se um pequeno grupo
de pias baptismais ou de água-benta.
das comunidades cristãs no Japão,
Executadas em grés, apresentam a
anteriores a 1640, são escassos. As
decoração exterior com cruzes cristãs
grandes perseguições religiosas, em
estilizadas. Neste exemplar, é visível no
parte fomentadas pela Holanda com
interior a figura do caranguejo, numa
vista a varrer do solo japonês a influência
referência ao milagre de S. Francisco
Aguarela sobre papel, posteriormente
aplicado sobre tela
136 x 153 cm (c/ moldura)
Património del Fondo Edifici di Culto, amministrato dal Ministero dell’ Interno (Dipartimento
per le Liberta Civili i el Immigrazione – Direzione
Centrale per l’ Amministrazione del Fondo Edifici
di Culto), em depósito na Chiesa del SS. Nome di
Gesù, Roma
numa colina nos arredores da cidade,
Os testemunhos da vida religiosa
portuguesa, não foram totalmente bem
Xavier na ilha de Ceram quando, após ter
sucedidas, como atestam os vestígios
perdido o seu crucifixo, este lhe surgiu
Leonardo Kimura (c. 1574-1619) nasceu
materiais ainda existentes.
nas presas de um caranguejo.
numa família católica de Nagasáqui, cidade
onde foram lançados à fogueira. Esta
extraordinária pintura, tão vívida e plena
de pormenor, muito provavelmente devida
a artistas japoneses pertencentes ao
Seminário de Pintores recriado em Macau,
parece executada por alguém que terá
presenciado o martírio.
JAPÃO
JAPÃO
41
sob forte influência jesuíta, entrando
para o Noviciado de Todos os Santos em
1602, em cujos registos é depois referido
como «pintor» e «abridor» (gravador),
sendo um dos mestres mais destacados
do denominado «Seminário de Pintores»
de Giovanni Niccolò. Ainda que muitos
pintores jesuítas japoneses tenham fugido
para Macau e para as Filipinas quando
o xógum Hidetada baniu o cristianismo
50
51
de porcelana, material requintado cuja manufactura era desconhecida e muito
MACAU
cidade engendrar rotas comerciais
Pedro Barreto de Resende
alternativas depois desta data.
desejada na Europa. Criaram-se feitorias na região de Cantão onde se produziu,
(Portugal-Goa (?) 1651)
Situada na periferia marítima do
desde cerca de 1520, uma imensa quantidade de porcelanas com as armas da Casa
in António Bocarro, Livro das Plantas
«Império do Meio», Macau foi sempre
Real e da nobreza de Portugal, por vezes com inscrições de frases religiosas ou
de Todas as Fortalezas, Cidades e
um espaço de compromisso e de
laicas, estas de carácter possessório.
Povoações do Estado da Índia Oriental
negociação, lugar simultaneamente
Da China chegaram ainda magníficas sedas e marfins, muitos deles aplicados em
c. 1635
chinês e português, entreposto mercantil
frontais de altar, paramentaria e imaginária cuja iconografia copiava, seguindo os
Aguarela sobre papel
41 x 61 cm
Biblioteca Pública de Évora
| Cód. CXV/ 2-1, Planta nº 47
e centro político-administrativo.
perto da foz do rio das Pérolas. Com o seu próprio senado, Macau transformou-se
A Macau do século XVII, aqui retratada,
Resende – inserido no Livro de António
num dos portos mais importantes do Oriente.
era uma cidade mercantil, marítima e
Bocarro – constitui o grande marco da
multiétnica. Albergava uma população
cartografia de Macau no século XVII.
códigos decorativos chineses, as representações religiosas europeias.
Na sequência do comércio português, crescente no sul da China, as autoridades da
província chinesa de Guandong cedem um entreposto na península de Macau, 1557,
CHINA
43
asiática de origem variada e era
Conhecem-se poucas plantas de
Macau do primeiro terço do século XVII,
mas este desenho de Pedro Barreto de
CHINA
Em 1513 os portugueses atingem o sul da China, importante centro produtor
governada por uma oligarquia do negócio
maioritariamente portuguesa, cujo poder
assentava no controlo do Senado da
Câmara e da Misericórdia. A fortuna de
Macau dependeu do comércio
sino-japonês até 1640, sabendo a
52
52
53
VIRGEM COM O MENINO
querda. Ambos vestem uma túnica longa.
China, províncias de Guangdong,
Excepcional e muito rara, esta imagem
45
FRONTAL DE ALTAR
de Ganimedes. Aqui, a figuração do mito
China, segunda metade
recorre ao arquétipo gizado por Miguel
Fujian (?), final do século XVI - início do
que foi esculpida aproveitando a curvatura
do século XVII
Ângelo por volta de 1530. Este imaginário
século XVII
natural da presa de elefante integra um
mitológico e alegórico circulou através
Marfim esculpido, vestígios de laca e pintura
policromas, madeira
43 x 12,9 x 11,5 cm
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
| Inv. 143 Esc
núcleo restrito de idêntica produção e
Cetim de seda carmesim bordado a fio de
seda torcido e sem torção apreciável, fio
de papel laminado dourado; cordãozinho
de seda branco e castanho; enchimento
com fio de algodão (?) de espessura
apreciável e rolos de papel.
105 x 365 cm
Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra
| inv. T 6382
iconografia de que se conhecem mais
três exemplares: numa colecção particular
portuguesa, na capela do hospital de
Ciudad Rodrigo e na Hispanic Society of
Ao contrário do que aconteceu em Goa, as
America, Nova Iorque.
CHINA
imagens religiosas em marfim produzidas
de obras publicadas no século XVI,
como o Emblematum Liber de Alciato,
1531, ou o Symbolicarum Quaestionum
de Universo Genere, da autoria de Achile
Bocchi, 1555, ambas ilustradas com
gravuras directamente inspiradas no
modelo iconográfico daquele pintor
na China por encomenda portuguesa
Frontal de altar composto por frontaleira
italiano. Eram livros que, a par da Bíblia
são raras. A própria matéria-prima era, em
tripartida, barras laterais e três campos.
ou das Metamorfoses de Ovídio, decerto
regra, adquirida pelos portugueses em
O painel do meio apresenta medalhão
constavam da bagagem dos fidalgos e dos
Moçambique e levada para Macau.
central com a representação do Rapto
missionários no Oriente.
CHINA
44
O tipo de representação desta Virgem com
o Menino ao colo é considerado como uma
adaptação cristã de Bodhisattva Guanyin,
divindade associada à misericórdia e
compaixão, de grande devoção na China
e na Ásia do Leste.
A Virgem tem traços marcadamente orientais e contas de um rosário suspensas
numa das mãos, o Menino abençoa com a
mão direita e agarra uma pomba com a es54
55
DEUSA-MÃE
identificada com Guanyin, divindade
COM MENINO
protectora das crianças e patrona das
47
TAÇA
ave maria gracia plena («Ave Maria,
Jingdezhen, província
cheia de graça»). No exterior figuram
Província de Fujian, China,
mulheres que pretendiam descendência
de Jiangxi, China, dinastia Ming,
o monograma sagrado «IHS», as armas
dinastia Ming, final do século XVI
masculina. Interpretação e forma da figura
segundo quartel do século XVI
portuguesas com cinco escudetes, a
ou início do século XVII
remontam à iconografia budista e às
esfera armilar de D. Manuel I, e uma
Marfim, vestígios de tinta ou laca
19,5 cm
Museu Estatal Hermitage, Sampetersburgo
| LN-939
imagens e esculturas pintadas chinesas
Porcelana com decoração azul-cobalto
sob vidrado
10,8 x Ø 25,5 cm
Casa-Museu da Fundação Medeiros
e Almeida, Lisboa | FMA 814
A expansão e missionação católicas na
redondo como a Lua cheia.
pelo que o Bodhisattva original do panteão
budista se transformou numa graciosa
deusa-mãe da religião popular, de rosto
paisagem chinesa.
Na base tem uma marca espúria do
reinado de Xuande (1426-35).
A maioria dos elementos referidos são
Anteriormente na colecção do duque
conhecidos em várias outras peças, como
China e nas ilhas do Sudeste Asiático
de Leeds, esta taça combina os muitos
por exemplo o leão budista em porcelanas
provocou, no final do século XVI, uma
símbolos da presença portuguesa na China
do reinado de Zhengde (1505-21) e Jiajing
considerável produção de imagens que
com um motivo puramente chinês, um
(1521-67), tendo sido também produzidas
aliava o espírito da encomenda europeia à
leão budista a brincar com uma bola. No
outras taças com forma e decoração geral
forte tradição escultórica local.
interior do bordo corre a inscrição
muito semelhantes.
CHINA
CHINA
46
Com vestes reconhecidamente chinesas,
esta escultura terá sido diferentemente
interpretada por budistas ou por cristãos.
De traços característicos das peças
do período Ming tardio, este tipo de
representação era invulgar na escultura
religiosa chinesa, sendo até possível que
esta imagem tenha sido executada como
uma Virgem e o Menino encomendada
por portugueses. Na China, ela teria sido
56
57
VISTA DO OBSERVATÓRIO
Astronómico Imperial. O jovem imperador
ASTRONÓMICO DE PEQUIM
Kangxi aceitou uma proposta sua para
cor de fogo aí existente e que era um corante têxtil. Com uma paisagem
a criação de novos instrumentos para o
deslumbrante e uma flora e fauna extraordinárias, esta terra de paraíso era
Observatório da capital. Os instrumentos
habitado por índios Tupi, e mesmo sendo motivo de grande fascínio para a Europa,
foram instalados em 1673 e Verbiest viria
esta não se revelou, ao longo do século XVI, como fonte para produção de riquezas
a produzir um guia explanatório. Em 1674,
imediatas.
o seu Xinzhi Lingtai yixiang zhi tornou-se
Foi só durante o século XVII, com a produção do açúcar servida pela mão-de-obra
a primeira obra técnica publicada pela
escrava oriunda de África, que o Brasil constituiu poderoso instrumento de
Imprensa Imperial.
desenvolvimento económico da Coroa portuguesa.
Ferdinand Verbiest, S.J.
(Países Baixos – China, 1623-1688),
e outros In Ilustrações dos Instrumentos
Recém – construídos para o Observatório
China, 1674
CHINA
Xilogravura sobre papel
38,5 x 77 cm
The British Library, Londres | 15268.B.3
58
Pedro Álvares Cabral encontra a costa do Brasil, 1500, nome dado à madeira
Redigido em chinês por trinta e um colabo-
Ao contrário dos outros territórios do Império português, lugares estratégicos
A estratégia dos missionários europeus na
radores, é constituída por catorze capítulos
numa rede mundial de comunicação, o Brasil era um imenso território cujo
China consistia em convencer os chineses
recheados de explicações e de cálculos,
povoamento sistemático, com instalação de capitanias, se iniciou desde 1530.
quanto ao valor das verdades científicas
seguidos de dois capítulos ilustrativos.
O engenho de açúcar foi, ao longo do século XVII, a força económica que levou
para assim os conduzir às verdades
À vista geral do Observatório aqui ilustrada
à mudança do modelo social, pautado pelos valores da fé cristã. Neste contexto
teológicas. Ferdinand Verbiest , jesuíta fla-
seguem-se cento e cinco estampas todas
construiram-se numerosas igrejas cujo equipamento litúrgico se definiu por uma
mengo, em 1669 foi chamado para exercer
elas cuidadosamente impressas num mag-
expressividade excessiva e poética, servindo a iconografia cristã marcadamente
o cargo de vice-presidente do Tribunal
nífico papel branco de grande qualidade.
brasileira.
BRASIL
48
59
MAPA DA COSTA DO BRASIL
(r. 1547-1559), encontrando-se o escudo
ENTRE PERNAMBUCO
de armas do príncipe no segundo mapa,
50
COROA DE PENAS
penas que pendem sobre o pescoço,
Tupinambá, Brasil,
mas mais imponentes são as faixas com
E O RIO DA PRATA
in Atlas Náutico
que representa o Mediterrâneo Oriental.
anterior a 1689
penas que se projectam na vertical em
No mapa da costa do Brasil o interior da
redor de toda a cabeça.
França, c. 1538
América do Sul encontra-se preenchido
44,5 x 62,4 cm
Koninklije Bibliotheek, Haia | 129 A 24
com representações de contactos entre
Rectrizes de arara, fibras
65 x 35 cm
Museu Nacional da Dinamarca,
Colecções Etnográficas | HC.56
Este mapa pertence a um atlas
índios e dos europeus, da vegetação,
O primeiro encontro dos viajantes
manuscrito que contém cartas náuticas
dos animais aponta para um trabalho
europeus no Brasil deu-se com as tribos
da Europa, da África e da América e que
feito em Dieppe, pelas semelhanças que
costeiras. Eram os tupis – os tupiniquins,
hoje se encontra na Biblioteca Nacional
apresenta com os mapas do atlas Vallard
na primeira fase e os tupinambás,
dos Países Baixos, em Haia.
e de alguns mapas do cartógrafo Pierre
na segunda – guerreiros que tinham
Trata-se de um atlas elaborado na
Desceliers.
invadido as áreas da costa.
europeus e autóctones. O desenho dos
Normandia, traçado por cartógrafos
Antes do seu contacto com os europeus,
portugueses ao serviço de armadores
os tupinambás não costumavam
franceses, ou por cartógrafos franceses,
usar vestuário. Em ocasiões especiais
com base em mapas portugueses.
adornavam-se com penas, colando-as
A obra foi, provavelmente, oferecida por
directamente na pele ou incorporando-
armadores da Normandia, a Henrique,
-as nas suas indumentárias. As peças de
delfim de França, futuro rei Henrique II
vestuário mais elaboradas eram as capas
Esta magnífica coroa foi referida pela
primeira vez na Kunstkammer real
dinamarquesa, em 1689.
BRASIL
BRASIL
49
de penas.
Um dos tipos de toucado tupinambá
é uma espécie de gorro com ou sem
60
61
ADORAÇÃO DOS MAGOS
apropriação e conhecimento do mundo
Francisco Henriques e
segundo a cultura bíblica. O índio
52
DANÇA TAPUIA
A pintura poderia ilustrar o testemunho
Albert Eckhout (c. 1610-1665)
de um outro artista, Zacharias Wagener,
colaboradores, 1501-1506
brasileiro é aqui duplamente integrado
Brasil, c. 1641
que fez desenhos sobre o mesmo
Óleo sobre madeira de carvalho
130 x 79 cm
Museu de Grão Vasco, Viseu | inv. 2145
na ordem cristã do universo, cristianizado
dançam, completamente nus, com gritos
Substituindo o tradicional negro (ou
inserção entre os representantes dos
Óleo sobre tela
168 x 294 cm
Museu Nacional da Dinamarca,
Colecções Etnográficas | EN 38 B
«mouro») Baltasar por um índio da etnia
povos da Terra que reconheceram o
O pintor Albert Eckhout acompanhou,
horas sem parar, o que é visto com prazer
dos tupi-tupinambá, este painel do antigo
Salvador Menino.
com Franz Post, a comitiva de Maurits van
e especial apreço como algo digno de
retábulo da capela-mor da Sé de Viseu é
Nassau ao Brasil, em 1637. Nesta sua grande
grande admiração». O termo «tapuia»
uma das mais inovadoras representações
composição, que denota um interesse
era uma denominação genérica utilizada
da pintura portuguesa dos inícios do
de conhecimento e registo etnográfico
pelos primeiros colonos europeus para os
século XVI. A imagem do índio, com
da sociedade ameríndia, os executantes
diversos grupos de índios, culturalmente
sua lança e vestes emplumadas, parece
da dança tapuia são representados com
não uniformes, que viviam nas terras do
traduzir simultaneamente um olhar
notável soma de adereços e ornamentos.
Brasil Oriental.
maravilhado pelas fabulosas novidades
das terras do Brasil (recém-descobertas
pela armada de Cabral a 2 de Abril de
tanto pelas roupas que cobrem a sua
nudez «pré-adâmica» como pela sua
motivo: «É assim que os índios tapuias
aterradores, num círculo, bem organizados,
uns atrás dos outros durante duas ou três
BRASIL
BRASIL
51
1500) e uma vontade de registo de
tipo «etnográfico». Reflecte também,
inevitavelmente, a vontade de integração
do «Outro», da realidade desconhecida
e «indomesticada», na velha ordem de
62
63
ESPADA COM BAINHA
tais como longos Punhais, […] cobrem o
Gana, povos Ashanti,
punho com uma folha de ouro ou com
VISTA DO RIO
inovadora, graças à atmosfera misteriosa
SÃO FRANCISCO
e desolada, incluindo a rara figuração
anterior a 1674 (ou mesmo 1641)
a pele de uma espécie de Peixe que
E DO FORTE MAURÍCIO
de um cacto, e ao toque poético da
Metal, madeira, pele de raia,
pele animal, folha de ouro
76 cm
Museu Nacional da Dinamarca,
Colecções Etnográficas | Cb.7, Cb.8
apanham e que é tão estimado por eles
Frans Jansz. Post (Países Baixos,
representação realista de uma capivara,
como o Ouro o é por nós.»
c. 1612 – Brasil, 1680)
o animal que se observa a pastar,
As espadas ashanti eram bastante
Brasil, 1639
placidamente, à beira do grande rio.
coleccionadas nos séculos XVI e XVII,
Óleo sobre tela
62 x 95 cm
Museu do Louvre (Departemento de
Pintura), Paris | inv. 1727
Estas imagens tinham um fim claramente
dinamarquesas como «uma espada das
Em 1637, o príncipe Johan Maurits van
precisão refinada com o imediatismo da
Índias Orientais com uma bainha de pele
Nassau chegou ao Nordeste do Brasil
descoberta, constituem um momento
de raia polida». Possui uma lâmina longa
para ocupar o cargo de governador-
excepcional da descoberta da paisagem
e curva, mais larga na ponta, guarda e
-geral dos territórios que a Companhia
americana, da luz e motivos tropicais, por
copo bolbosos revestidos, à semelhança
Holandesa das Índias Ocidentais
um artista de formação europeia.
da bainha, com pele de raia e um punho
recentemente conquistara a Portugal.
cilíndrico e dourado.
Com ele ia o pintor Frans Post.
Na sua «Descrição e relato histórico do
Das sete pinturas conhecidas pintadas
Reino do Ouro da Guiné», 1602, Pieter de
por Post no Brasil, esta é talvez a mais
como hoje se constata com base nos
Esta espada ashanti foi registada pela
primeira vez em 1674 nas colecções reais
BRASIL
54
exemplares sobreviventes.
decorativo, em contraste com a
preocupação documental patente nos
desenhos deste artista. Combinando uma
BRASIL
53
Marees refere que os guineenses usam a
menor quantidade possível de vestuário
mas que transportam uma clava ou
um punhal no cinto. E acrescenta: «São
muito inteligentes no fabrico de armas,
64
65
S. FRANCISCO DE ASSIS
Cristo crucificado se liberta da cruz
COM O CRISTO SERÁFICO
para abraçar Francisco, e, tema central
São Paulo, Brasil, século XVII
da Ordem, a representação do santo
Barro policromado
102 x 63 x 54 cm
Museu de Arte Sacra de São Paulo | 1298M
em êxtase místico, de braços abertos,
Afastando-se da tipologia escultórica
testemunha um desvio relativamente
mais frequente no Brasil do princípio do
à ortodoxia no contexto do esforço
século XVII, o relicário antropomórfico,
missionário dos franciscanos na colónia,
este grupo escultórico de barro pertence
atestando assim a raridade desta peça.
a uma produção de carácter vernacular e
popular. Para tal contribui o tratamento
rígido das anatomias, o respectivo
BRASIL
esquematismo dos panejamentos e
o facto dos olhares não se cruzarem,
frustrando assim o sentido de interacção
entre as duas figuras.
Contudo, do ponto de vista estritamente
formal, o maior interesse deste exemplar
reside na sua ambição ao confluir dois
episódios: a visão celestial na qual
66
esperando receber as chagas do Cristo
seráfico. Esta confluência de temas
FICHA TÉCNICA
Coordenação editorial:
Ana Castro Henriques
Texto:
Paulo Henriques
Fichas:
José Alberto Seabra Carvalho
Ana Castro Henriques
Patrícia Milhanas Machado
Teresa Pacheco Pereira,
a partir das entradas do
catálogo da exposição
Encompassing the Globe,
Lisboa 2009, dos autores:
André Ferrand de Almeida 79;
Charles Avery 40, 46;
Gauvin A. Bailey 168, 173;
José Alberto Seabra Carvalho
15, 84; Angelo Cattaneo 1;
Kathy Curnow 66; Pedro Dias
12, 17, 102, 170; Silvia Dolz
63; Francisco Contente
Domingues 8; Maria João
Pacheco Ferreira 145; Jorge
Flores 139; João Carlos
Garcia 3, 24; Sabine Haag 31;
Regina Krahl 150; Angela G.
Kudriatseva 45; Jay Levenson
90; Jean Michel Massing 10,
39, 42, 49, 50, 52, 54, 60, 72, 76,
82, 85, 87; Maria Menshikova
e Regina Krahl 149; Nathalie
Monnet 157; Teresa Morna
16; Leonor d’ Orey 19; Leonor
d’Orey e Maria da Conceição
Borges de Sousa 36; Teresa
Pacheco Pereira 118; Matthias
Pfaffenbichler 35; António
Estácio dos Reis 6; Nuno C.
Senos 95; Vítor Serrão 14;
Maria da Conceição Borges
de Sousa 143, 158, 163;
Nuno Vassallo e Silva 25,
29, 122, 131, 133 ; Irina A.
Zagorodnaya 28.
Créditos de Fotografia:
ALBERTINA, Viena: 39 (ERTL, P.)
ANTT, Lisboa: 17
(José António Silva/AN/TT)
Biblioteca Casanatense,
Roma. Autorização do
Ministero per i Beni e le
Attivita’ Culturali: 102
Biblioteca da Ajuda, Lisboa: 8
(Luís Marques/IGESPAR)
Biblioteca Estense Universitaria, Modena. Autorização
do Ministero per i Beni e le
Attivita’ Culturali: 3
Biblioteca Pública de
Évora: 139
(José António Silva, AN/TT)
CGD, Lisboa, depósito no
MNAA: 12 (Alfredo Dagli Orti)
Casa-Museu da Fundação
Medeiros e Almeida, Lisboa:
150 (Nuno Fevereiro)
Colecção particular: 131 170
(© Pedro Lobo)
Convento de Cristo, Tomar:
16 (IGESPAR/Laura Castro
Caldas/Paulo Cintra)
Florença, BNC, MAG1. XIII, 16.
Autorização do Ministero per
i Beni e le Attivita’ Culturali/
Biblioteca Nacional Central.
Qualquer publicação sem
autorização é expressamente
proibida: 1
Graphische Sammlung,
Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nuremberga: 42
Haia, Koninklijke Bibliotheek,
129 A 24: 79
IGESPAR/Museu de Marinha,
Lisboa: 6 (Rui Salta)
Kunsthistorisches Museum
Viena, Kunstkammer: 29,
25, 31, 133; Museum für
Völkerkunde: 50;
Rüstkammer: 35
Kupferstichkabinett, SMB/
Jörg P. Anders: 40
Ministère des Affaires
Etrangères, France, Igreja de
S. Luís dos Franceses, Lisboa:
14 (Manuel Palma)
Musée du Louvre, Paris: 90
(© RMN/ Franck Raux)
© Musée Royal de l’Afrique
Centrale/ Collection RMCA
Tervuren: 76, 54 (J.-M.
Vandyck, RMCA Tervuren ©)
Museu de Arte Sacra de
São Paulo/Organização
Social de Cultura/Secretaria
de Estado de Cultura/
Governo do Estado de
S. P. – Brasil: 95 (Foto: Rômulo
Fialdini)
Museu de Grão Vasco,
Viseu: 84 (IMC/DDF/José
Pessoa)
© Museu Estatal Hermitage,
Sampetersburgo, Maria L.
Menshikova: 149
Museu Etnográfico da
Sociedade de Geografia de
Lisboa: 10 (Carlos Ladeira
© Sociedade de Geografia
de Lisboa)
© Museu Nacional da
Dinamarca, Colecções
Etnográficas, Copenhaga:
72 (cortesia do museu),
82, 85, 87
Museu Nacional de Arte
Antiga, Lisboa: 15, 19, 36,
118, 143, 145 (IMC/DDF/
José Pessoa), 163 (IMC/DDF/
Luís Pavão), 158 (IMC/DDF/
Francisco Matias)
Museu Nacional de Artes
Decorativas, Madrid: 60
Museum für Völkerkunde
Dresden: 63
© Museus do Kremlin,
Moscovo: 45, 28
Patrimonio Nacional, Madrid
(Palácio Real): 24
Património del Fondo Edifici
di Culto, amministrato
dal Ministero dell’ Interno
(Dipartimento per le Liberta
Civili i el Immigrazione
– Direzione Centrale per l’
Amministrazione del Fondo
Edifici di Culto), em depósito
na Chiesa del SS. Nome di
Gesù, Roma: 173 (© Zeno
Colantoni)
Santa Casa da Misericórdia do
Sardoal: 168 (Nuno Fevereiro)
Schatzkammer des
Deutschen Ordens, Viena: 49
Stift Kremsmünster,
Kunstsammlungen: 46
© The British Library Board.
Reservados todos os direitos:
157
© The Trustees of the British
Museum. Reservados todos
os direitos: 66
V&A Images/ Victoria and
Albert Museum, Londres: 122
Design gráfico:
Mafalda Matias
Capa: a partir de imagem
global da Exposição,
concebida por DDLX
BRASIL
55
Impressão:
Astrografe - Artes
Gráficas, Lda.
ISBN:
978-972-776-395-5
Depósito legal:
299496/09
Tiragem:
2500 exemplares
67
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