DA GUIA BREVE EXPOSIÇÃO FICHA TÉCNICA INTRODUÇÃO l Kupferstichkabinett, SMB/ Créditos de Fotografia: Patrimonio Nacional, Para Portugal, país mais ocidental do continente europeu com Madrid ALBERTINA, Viena: 39 (ERTL, P.) Jörg P. Anders: 40 (Palácio Real): 24 des e Affaires ANTT,com Lisboa:Espanha, 17 Ministère Património del Fondo Edifici fronteiras a norte e a oriente e costas a sul a ocidente com o oceano Museu Nacional de Arte Antiga 15 Julho – 11 Outubro 2009 Guia breve da exposição patrocinado por: Coordenação editorial: di Culto, amministrato Etrangères, France, Igreja de (José António Silva/AN/TT) dos Franceses, Lisboa: Ana Castrofoi Henriques Biblioteca Casanatense, S. Luís do dal Ministero dell’ Interno Atlântico, imperioso descobrir mundo para além seu território. Texto: Roma. Autorização do 14 (Manuel Palma) (Dipartimento per le Liberta UmPaulo movimento de expansão realizou-se séculos XVParis: e XVI, du Louvre, 90 através Musée Ministero per i Beni e le entre os Henriques Civili i da el Immigrazione (© RMN/ Franck Raux) Attivita’ Culturali: 102 Fichas: – Direzione Centrale per l’ navegação, primeiro do oceano Atlântico, depois do Índico e do Pacífico. José Alberto Seabra Carvalho © Musée Royal de l’Afrique Biblioteca da Ajuda, Lisboa: 8 Amministrazione del Fondo Castro Henriques Centrale/ Collection RMCA (Luís Marques/IGESPAR) Edifici di Culto), em depósito EstaAna expansão marítima, territorial e comercial propiciou a criação de grandes redes na Chiesa del SS. Nome di Patrícia Milhanas Machado Tervuren: 76, 54 (J.-M. Biblioteca Estense Universitaria, Modena. Autorização Teresa Pacheco Pereira, Gesù, Roma: 173 (© Zeno Vandyck, RMCA Tervuren ©) mundiais de comunicação que geraram modernos mercados económicos e sistemas a partir das entradas do do Ministero per i Beni e le Museu de Arte Sacra de Colantoni) São Paulo/Organização Attivita’ Culturali: 3 Santa Casa da Misericórdia do catálogo da exposição de intercâmbio cultural, artístico, científico e linguístico. Portugal tornou-se o centro “Encompassinh the Globe”, Social de Cultura/Secretaria Sardoal: 168 (Nuno Fevereiro) Biblioteca Pública de Évora: 139 políticas e culturais de Estado de Cultura/ des Lisboa 2009, dos autores: económicas, de novas estruturas que configuraramSchatzkammer o pensamento André Ferrand de Almeida 79; (José António Silva, AN/TT) Governo do Estado de Deutschen Ordens, Viena: 49 Charles Avery 46; CGD,hoje Lisboa,designamos depósito no S. P. – Brasil: 95 (Foto: Rômulo Stift Kremsmünster, europeu e o40, fenómeno que como comunicação global. MNAA: 12 (Alfredo Dagli Orti) Gauvin A. Bailey 168, 173; Fialdini) Kunstsammlungen: 46 EstaJosé é Alberto a ideia central da exposição: de Portugal©como pioneiro Seabra Carvalho The British Library Board. Museu de Grão Vasco, Casa-Museu damostrar Fundação o desempenho 15, 84; Angelo Cattaneo 1; Medeiros e Almeida, Lisboa: Viseu: 84 (IMC/DDF/José Reservados todos os direitos: na globalização dos conhecimentos, num movimento recíproco de comunicação da 157 Kathy Curnow 66; Pedro 150 (Nuno Fevereiro) Pessoa) © Museu Estatal Hermitage, © The Trustees of the British Dias 12, 17, 102; Silvia Dolz Colecção particular: 131 170 Europa para o Mundo e deste para a Europa. (© Pedro Lobo) Sampetersburgo, Maria L. Museum. Reservados todos 63; Francisco Contente Menshikova: 149 os direitos: 66 Convento de Cristo, Tomar: Domingues 8; Maria João Pode dizer-se que a tapeçaria flamenga, significativamente designada «à maneira 16 (IGESPAR/Laura Castro Pacheco Ferreira 145; Jorge Museu Etnográfico da V&A Images/ Victoria and Carlos Flores 139; João Caldas/Paulo Cintra) Sociedade de Geografia de Albert Museum, Londres: 122 de Portugal e da Índia», é uma síntese desta ideia: concentração de barcos, animais Florença, BNC, MAG1. XIII, 16. Lisboa: 10 (Carlos Ladeira Garcia 3, 24; Sabine Haag 31; do Ministero per entre © Sociedade Regina Krahl 150; Angela C. a serem Autorização Design gráfico: exóticos e fantásticos transportados o mardee Geografia a terra, encontros de de Lisboa) i Beni e le Attivita’ Culturali/ Mafalda Matias Kudriatseva 45; Jay Levenson © Museu Nacional da Biblioteca Nacional a partir de imagem 90; Jean Michel 10, gentes que seMassing desconheciam, Vasco daCentral. Gama chegando a Calecute, ou Capa: a Cochim, e 39, 42, 49, 50, 54, 60, 72, 76, Dinamarca, Colecções Qualquer publicação sem global da Exposição, entregando aoMenshikova governante indiano uma carta deEtnográficas, D. Manuel I, rei de Portugal. É oDDLX início é expressamente Copenhaga: 82, 85, 87; Maria autorização concebida por e Regina Krahl 149; Nathalie proibida: 1 72 (cortesia do museu), da exposição, jáMorna invocadaGraphische pelo marco colocado no átrio de Santo 82, 85, 87 do museu, o Padrão Impressão: Sammlung, Monnet 157; Teresa Museu Nacional de Arte Astrografe - Artes Friedrich-Alexander16; Leonor d’Orey e Maria Agostinho. Antiga, Lisboa: 15, 19, 36, Gráficas, Lda. -Universität Erlangenda Conceição Borges de 118, 143, 145 (DDF/ IMC/ Sousa 36; Orey 19; Teresa -Nuremberga: 42 José Pessoa), 163 (DDF/ IMC/ ISBN: Pacheco Pereira 118; Matthias Haia, Koninklijke Bibliotheek, 129 A 24: 79 978-972-776-395-5 Luís Pavão), 158 (DDF/IMC/ Pfaffenbichler 35; António Estácio dos Reis 6; Nuno IGESPAR/Museu de Marinha, Francisco Matias) Lisboa: 6 (Rui Salta) Museu Nacional de Artes Depósito legal: Senos 95; Vítor Serrão 14; 299496/09 Maria da Conceição Borges Kunsthistorisches Museum Decorativas, Madrid: 60 de Sousa 143, 158, 163; Viena, Kunstkammer: 29, Museum für Völkerkunde Nuno Vassallo e Silva 25, 29, Tiragem: Dresden: 63 25, 31, 133; Museum für Völkerkunde: 50; © Museus do Kremlin, 122, 131, 133, 170; Irina A. 2500 exemplares Rüstkammer: 35 Moscovo: 45, 28 Zagorodnaya 28. 3 01 PADRÃO DE pedra – encontram-se as armas reais SANTO AGOSTINHO portuguesas e uma inscrição em latim 02 DESCOBERTA DA ÍNDIA séquito. À direita, diversas figuras vão Oficina de Tournai, Bélgica, chegando à praia para ver os estrangeiros Portugal, erigido em 1483 e em português nas restantes faces. início do século XVI que carregam as naus (provavelmente Calcário 213 x 30 x 30 cm Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa | SGL-AC-131 Retirado do seu local original em 1892 Seda e lã 400 x 760 cm Caixa Geral de Depósitos, 3721, em depósito no Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa São Gabriel, São Rafael e Bérrio) com aves e Enquanto marcos do domínio Integrando um grupo de tapeçarias à esquerda. português, os padrões eram designadas «à maneira de Portugal e da Rapidamente conhecidas na Europa, monumentos de pedra levados de Índia» encomendadas por D. Manuel I, e encomendadas igualmente por outros Portugal e erigidos por navegadores este exemplar poderá representar a monarcas, este género de tapeçarias para assinalar as terras que tinham chegada de Vasco da Gama a Calecute, depressa entrou na categoria de «Exotica». acabado de descobrir, sendo também ou a Cochim, e o encontro com um dos Perdido o seu significado inicial de incluídos em mapas. Este padrão terá reis locais. À esquerda, Vasco da Gama registo glorioso das viagens portuguesas, sido erigido por Diogo Cão quando entrega uma carta de D. Manuel a um tornaram-se um repositório de imagens explorava a costa angolana, no cabo governante indiano seguido do seu das terras e das gentes desconhecidas. por ordem do governador-geral de Angola, o padrão foi trazido para Lisboa a bordo do Angola. animais exóticos, entre eles um unicórnio. Refira-se ainda a inscrição «INDAS NOVAE» (Nova Índia) no portal entre as duas torres, de Santa Maria, a 28 de Agosto de 1483, no dia de Santo Agostinho, sendo um testemunho das pretensões portuguesas sobre África, que mais tarde dariam origem a controvérsias com Espanha, à bula papal de 1493 e ao Tratado de Tordesilhas de 1494. No topo deste padrão – que era sobrepujado por uma cruz de 4 5 viagens dos portugueses nos oceanos desenvolveu-se, nos séculos XIV e XVI, um movimento de expansão, primeiro pela Ceuta no norte de África, 1415, progredindo Atlântico e Índico, chegavam à Europa costa norte e ocidental de África, percorrendo o oceano Atlântico em direcção ao no reinado de D. Duarte (r. 1433-1437) com a objectos exóticos, produzidos com materiais sul até encontrar o oceano Índico. Lisboa transforma-se na grande metrópole do passagem do Cabo Bojador, 1434, e durante raros ou desconhecidos – marfim, tartaruga, século XVI e a Casa Real portuguesa atinge um enorme poder político e económico, o reinado de D. Afonso V (r. 1438-1481) com a madrepérola, corno de rinoceronte, noz de escala mundial. A expansão dos portugueses pelo Mundo faz chegar à Europa descoberta do arquipélago de Cabo Verde e de coco, ovo de avestruz, cocos de água. produtos e conhecimentos novos e objectos de grande exotismo, essenciais à das ilhas de S. Tomé e Príncipe no mesmo ano Muitos destes materiais foram luxuosamente construção moderna das mentalidades europeias. da conquista de Arzila e Tânger, 1471. montados, em prata e ouro, e reunidos em D. João II (r. 1482-1495) define a estratégia para colecções pertencentes às Casas Reais e o descobrimento do caminho marítimo para a nobres de toda a Europa que as expunham em NAVEGAÇÃO EUROPA l EUROPA 6 O conhecimento da geografia do Mundo através da própria navegação dos mares Índia, tendo Bartolomeu Dias passado o cabo Câmaras de Maravilhas, nome que revela bem foi fundamental para as navegações e da percepção directa da morfologia da Boa Esperança, 1487, e sido assinado com os o espanto e a curiosidade que despertavam. portuguesas que se desenvolveram, dos continentes e das ilhas. Para tal, Reis Católicos o Tratado de Tordesilhas, 1494, O exotismo da fauna – leões, elefantes e primeiro pela costa norte e ocidental de aperfeiçoaram-se os instrumentos náuticos, dividindo o Mundo entre Portugal e Espanha. rinocerontes – e da flora – pimenta, canela, África, no oceano Atlântico, depois, passado dos quais teve especial importância o No entanto, foi no reinado de D. Manuel I noz-moscada e outras especiarias – foram o cabo da Boa Esperança, pela costa oriental, astrolábio, e desenvolveu-se a engenharia (r. 1495-1521) que os grandes descobrimentos se igualmente motivo de fascínio. abrindo-se ao oceano Índico. naval, de que as naus e as grandes caravelas efectivaram, com a chegada de Vasco da Gama Os europeus descobrem assim outras terras Estas navegações permitiram alargar e são exemplo. a Calecute, Índia, 1498, de Pedro Álvares Cabral e gentes em diferentes estádios de civilização pormenorizar a representação das terras e Lisboa transforma-se no século XVI numa ao Brasil, 1500, e de Jorge Álvares à China, 1514. e com diferentes expressões culturais, dos mares através de Cartografia, disciplina poderosa metrópole com o seu porto D. João III (r. 1521-1557) recebe este imenso oriundos de África, Ásia e América. Gera-se que se ocupa do traçado de mapas que nos agitado por um enorme movimento Império, aumentado com a chegada dos grande curiosidade intelectual e científica informam sobre a configuração do Mundo. comercial e marítimo ao longo do rio Tejo, portugueses ao Japão, 1543, e a concessão sobre estes povos e culturas, levando a O avanço no seu conhecimento em actividades cujo centro natural foi o pela China de um entreposto comercial, Europa a construir outra ideia de si face ao geográfico, registado nos mapas, fez-se Terreiro do Paço. 03 » 07 Macau, 1557. 08 » 12 Mundo. 13 » NAVEGAÇÃO EUROPA a cartografia, os instrumentos de navegação e a engenharia naval. Em Portugal l Através de Lisboa, com o regresso das de D. João I (r. 1385-1433) com a conquista de EUROPA A expansão portuguesa inicia-se no reinado Na Europa desenvolveram-se os conhecimentos necessários para a viagem: 26 7 SEGUNDO A GEOGRAFIA sentar o Oceano Índico como um enorme 04 PLANISFÉRIO, CONHECIDO Mundo então conhecido, das ilhas e costas COMO «DE CANTINO» orientais do continente americano ao DE CLÁUDIO PTOLOMEU lago fechado e o alongamento da bacia Portugal, c. 1502 Extremo Oriente. Henricus Martellus Germanus (Arrigo di Federico Martello, activo 1459-1496) mediterrânica, contrariando assim a ante- Tinta-da-china e cor sobre três folhas de velino, unidas; 105 x 220 cm Biblioteca Estense Universitaria, Modena | C.G.A. 2, ms. século XVI As áreas mais longínquas ou menos cartografia ptolomaica constituía para os Este Planisfério foi executado em Lisboa, mediterrâneos do século XIV e a Europa cosmógrafos renascentistas o único siste- em 1502, por encomenda de Alberto Ocidental, Mediterrâneo e costa ocidental Florença, início da década de 1490 Pigmentos e ouro sobre pergaminho 57,5 x 84 cm Biblioteca Nazionale Centrale, Florença | Magl. XIII, 16, ff. 88v. 89r visão do papa Pio II acerca do alargamento e transformação do planisfério (no verso da folha). Não obstante as imprecisões, a conhecidas estão representadas segundo a tradição ptolomaica, o Báltico e mar do Norte respeitam a herança dos portulanos ma válido para a representação de todo o Cantino, agente do duque de Ferrara. africana seguem as cartas atlânticas portu- Da autoria de Martellus, cartógrafo mundo conhecido, tendo sido longamente Provável cópia de luxo das «cartas-padrão» guesas do último quartel do século XV. A alemão e servo de uma importante família reproduzida. Este mapa permite-nos assim existentes no arquivo e oficina cartográfica novidade na figuração do Sudoeste Asiá- florentina, este mapa remete para a compreender o lento e meticuloso processo do Armazém da Guiné e da Índia, no tico pode explicar-se pelo acesso à náutica recuperação do conhecimento geográfico de revisão e evolução da cartografia que Palácio Real da Ribeira, ele é a imagem e a fontes cartográficas árabes, hindus e dos antigos por parte da cultura humanista marcou o início do período moderno. final de um puzzle que reúne peças malaias, sendo ainda vaga ou aproximada a cartográficas diversas e que representa o representação do Atlântico Ocidental. da segunda metade do século XIV, sendo NAVEGAÇÃO dades geográficas ptolomaicas ao repre- l MAPA-MÚNDI, EUROPA EUROPA l NAVEGAÇÃO 03 o primeiro de trinta e nove que ilustram e recuperam, o mais fielmente possível, o Guia da Cartografia do cientista alexandrino Ptolomeu, então traduzido para latim como Geografia. Rodeado por doze ventos representados por cabeças humanas e apresentando cores vivas com mares de lápis-lazúli, o planisfério de Martellus respeita peculiari8 9 SÃO JULIÃO DA BARRA III, roda com dois diâmetros perpendiculares 06 LIVRO DE TRAÇAS DE CARPINTARIA Levantando assim muitas dúvidas quanto à sua origem, verdadeira autoria PERTENCENTE À NAU NOSSA nos quais gira uma alidade provida de duas Manuel Fernandes e intenção, tal em nada diminui o SENHORA DOS MÁRTIRES pínulas com dois orifícios que permitiam Portugal, 1616 seu valor enquanto testemunho de Portugal, 1605 a observação do astro. A altura era lida eleição das características dos navios Latão Ø 17,4 cm IGESPAR, em depósito no Museu de Marinha, Lisboa | IN-II-174 na escala gravada no instrumento que se Tinta e cor sobre papel 46,7 x 75,5 cm (dupla página aberta) Biblioteca da Ajuda, Lisboa | BA 52-XIV -21 Este astrolábio recebeu o nome do local Abrindo com um auto-retrato do seu documentação técnica de arquitectura onde foi encontrado e da nau portuguesa presumível autor, Manuel Fernandes, e naval europeia do período. Versão simplificada do astrolábio Nossa Senhora dos Mártires a que a data de 1616, o Livro contém a maior planisférico da Grécia Antiga, a utilização pertencia, respeitando o método usual de compilação de desenhos técnicos do astrolábio náutico resultou da denominação destes instrumentos. de arquitectura naval conhecida até pendurava pelo anel de suspensão. necessidade de calcular a latitude por aos inícios dos séculos XVII (mais de meio da altura da Estrela Polar ou do Sol. trezentos), ilustrando os regimentos Tal facto deveu-se à definição de uma escritos para a construção de navios que nova rota pelos portugueses, a «Volta os precedem. É todavia uma obra de pelo Largo» ou «Volta da Mina», que partia aparato porque alguns erros mostram geralmente de S. Jorge da Mina, que não podia ser usada pelos mestres afastando-se da costa e passando próximo do ofício, tendo sido certamente dos Açores. Este trajecto permitia vencer preparada enquanto oferta a uma os ventos contrários nas viagens de personagem ilustre. portugueses do início do século XVII, e o lugar ímpar que detém na NAVEGAÇÃO O astrolábio náutico é composto por uma l ASTROLÁBIO NÁUTICO EUROPA EUROPA l NAVEGAÇÃO 05 regresso do sul. 10 11 12 capela de Nossa Senhora de Porto Seguro, BOA VIAGEM VELANDO destinada a servir-lhe de capela mortuária. 08 PAINÉIS DE SÃO VICENTE Nuno Gonçalves destaque para a Cavalaria e para a Igreja nas suas diversas hierarquias, parece A pintura é um testemunho de gratidão Portugal, c. 1470 congregar-se num acto de veneração a Óleo (?) e têmpera sobre madeira de carvalho Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa | inv. 1361-1366 Pint S. Vicente. Embora permaneça problemáti- NA BARRA DE LISBOA pela protecção divina recebida ao Domingos Vieira Serrão e Simão Rodrigues comércio no rio Tejo e na barra marítima, Portugal, c. 1620 mostrando em composição avantajada, Pintura a óleo sobre tela 161 x 381 cm Ministère des Affaires Étrangères (France), Igreja de S. Luís dos Franceses, Lisboa com muitos pormenores, uma panorâmica Estas seis pinturas, que originalmente intenção e significado da obra, ela deve da cidade de Lisboa tirada do lado da barra estariam integradas num retábulo da estar associada a uma dupla função, votiva marinha e da desembocadura do Tejo, capela-mor da Sé de Lisboa (c. 1470), e evocativa, dos triunfos guerreiros da divisando-se entre o casario o morro do apresentam-nos um agrupamento de 58 dinastia de Avis no Norte de África, nomea- Este grande ex-voto de carácter Castelo de São Jorge, o Terreiro do Paço, o individualizadas personagens históricas damente em torno da vitórias de Arzila e gratulatório foi encomendado por Palácio dos Marqueses de Castelo Rodrigo, em torno da dupla figuração de um santo. Tânger, 1471, conquistas também evocadas Antoine Magnonet, homem de negócios a Sé (ainda com a sua torre-lanterna), o Esta solene e monumental assembleia, nas célebres quatro grandes tapeçarias l PELA PROTECÇÃO DO COMÉRCIO CASA REAL PORTUGUESA NOSSA SENHORA DA enriquecido no tráfego comercial das Torreão do Paço da Ribeira, São Vicente de representativa da Corte e de vários Estados tecidas em Tournai e hoje guardadas na carreiras da Índia e Brasil e ligado ao Fora e outros edifícios importantes, da sociedade portuguesa da época, com Colegiada de Pastrana (Espanha). negócio esclavagista. Coube-lhe fundar na vendo-se o mar repleto de embarcações EUROPA EUROPA l NAVEGAÇÃO 07 igreja de S. Luís dos Franceses, em 1606, a em plenas águas encrespadas. co, na ausência de testemunhos coetâneos à sua criação, o pleno entendimento da 13 gótico-internacional tardio com os do alto DE ALÉM-DOURO, LIVRO IV Renascimento. Assim, no topo figuram suas contemporâneas e testemunha as Mestre Pedro (copista) três anjos com as armas de Portugal Fernan Muñoz (Espanha-Portugal, estreitas relações políticas, económicas, e Álvaro Pires (iluminador) inscritas numa espécie de edifício gótico, activo 1509-14) culturais e artísticas desenvolvidas desde Lisboa, 1513 e dois pares de anjos suportando duas Portugal, 1510-1514 a Idade Média entre Portugal e a Flandres, de que as feitorias de Bruges, primeiro, e Cores e ouro sobre velino 54 x 41,4 x 12 cm Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa | PT- TT- LN/04 esferas armilares. As duas margens laterais Madeira policromada 154 x 56 x 32 cm Convento de Cristo, Tomar | 01-ESC 45 Olivier de Gand veio para a Península Entre as políticas de centralização e D. Manuel. Ibérica no final do século XV e foi figura de reforma geral do Estado português relevante na divulgação da escultura iniciadas por D. Manuel I encontra-se a monumental portuguesa no início de produção da Leitura Nova, título dado a 64 Quinhentos. Em Portugal, a sua actividade códices reunindo cópias de documentos desenvolveu-se em Coimbra, Évora e oficiais que se haviam dispersado. Tomar onde, em parceria com Fernan Legislação regional e geral e outras normas Muñoz, executou esculturas para a charola legais foram seleccionadas por juristas do convento de Cristo. contratados para o efeito. De dimensão Este «anjo heráldico», obra tardo-gótica de considerável, ordenada pelo próprio notável tratamento plástico, em madeira monarca, e decorada pelos maiores artistas policromada, característica da Flandres, da época, recorreu-se nesta compilação sustenta na mão esquerda o escudo à caligrafia mais moderna, por forma a português, elemento que o identifica garantir a sua acessibilidade. Antuérpia, depois, são exemplo. apresentam um desenho complexo com criaturas grotescas de estilo italiano, e, na base, uma armada com a insígnia de CASA REAL PORTUGUESA (Portugal-Espanha, activo 1508-12), l servido de protótipo a outras esculturas LEITURA NOVA, DISTRITO EUROPA Olivier de Gand 10 CASA REAL PORTUGUESA como anjo protector do monarca. Terá l ANJO DE PORTUGAL EUROPA 09 A página aqui ilustrada, ricamente iluminada, combina elementos do 14 15 CUSTÓDIA DE BELÉM Santíssima Trindade. Nos pináculos laterais Gil Vicente (activo 1503-1517) entrevêem-se as figuras da Virgem e do 12 A TERRA PROTEGIDA versão semelhante à do pequeno mapa POR JÚPITER E JUNO de Franciscus Monachus publicado em este «hemisfério lusitânico» é ladeado por Datada de 1506 e atribuída a Gil Vicente, Bruxelas, c. 1530 D. João III e D. Catarina figurados como ourives e dramaturgo, esta micro- Fio metálico dourado e prateado, seda, lã 344 x 315 cm Patrimonio Nacional, Palacio Real, Madrid | PN. TA-15/3 10005825 Júpiter e Juno, monarcas do Olimpo. consagram o poder régio em época de No património da Casa Real de Espanha avista-se a esfera armilar, símbolo de A mais famosa obra da ourivesaria expansão oceânica. existe um notável conjunto de três D. Manuel I. portuguesa foi mandada lavrar por tapeçarias, os Tapices de las Esferas, que D. Manuel I para o Mosteiro dos Jerónimos, terão sido uma encomenda de D. João III l segundo Barend van Orley (1491-1541) Ouro e esmaltes policromos translúcidos e opacos; 73 x 32 x 26 cm Inscrição: O. MVITO. ALTO. PRICIPE. E. PODEROSO. SEHOR. REI. DÕ. MANVEL.I. A. MDOV. FAZER. DO. OVRO. I. DAS. PARIAS. DE. QILVA. AQVABOV.E. CCCCCVI Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa | inv. 740 Our com o ouro do tributo pago por Quíloa (1502-1557) para celebrar o seu casamento que Vasco da Gama trouxe no regresso da com D. Catarina de Áustria, irmã de segunda viagem à Índia. Carlos V, e também o acordo com aquele EUROPA De Orbis Situ (1527-1530). Na tapeçaria, -se flores, frutos, moluscos e aves exóticas. CASA REAL PORTUGUESA Georg Wezeler (?) (activo 1520-1549) l Anjo da Anunciação e na base observam- EUROPA Portugal, 1506 Custódia designa em linguagem sacra Imperador sobre a posse do arquipélago o vaso usado para guardar e expor à das Molucas e a partilha do Extremo veneração dos fiéis a Hóstia Consagrada, Oriente, entre Espanha e Portugal. o Filho de Deus em torno do qual, nesta As tapeçarias terão saído de Lisboa durante peça, se ajoelham os doze apóstolos. a união das coroas ibéricas, entre 1580 e Sobre eles paira a pomba do Espírito 1640. Santo, e, acima, a figura de Deus Pai La Tierra amparada por Júpiter e Juno sustentando o globo do Universo, repre- representa o «hemisfério português», sentando-se assim as três pessoas da segundo o Tratado de Tordesilhas, numa 16 -arquitectura do gótico final, de qualidade artística e valor simbólico máximos, ostenta seis esferas armilares que definem o nó e No canto superior esquerdo pairam a Abundância e a Sabedoria e, no superior direito, a Fama e a Vitória. Na cercadura CASA REAL PORTUGUESA 11 17 Goa, terceiro quartel Lisboa de diversas obras neste material 14 GOMIL agarrando-se a uma cornucópia que Antuérpia, Bélgica, 1544-1545 assenta no pé alto. A base triangular do século XVI para a rainha D. Catarina, devendo o presente exemplar datar de época Totalmente realizado em diversas chapas este exemplar não teria certamente O bojo deste raro vaso é constituído de tartaruga polida, este prato fundo qualquer função prática dada a sua por três conchas nacaradas de náutilo encontra-se documentado desde 1596 fragilidade material. (Nautilus pompilius), montadas em obra CÂMARAS DE MARAVILHAS no inventário do arquiduque Fernando II fundida e gravada em relevo, pontuada do Tirol, onde é classificado de indiano. por pérolas e gemas, e decorada com Trata-se de uma peça de aparato, dentro camafeus de Vénus, uma máscara do gosto renascentista de expor em grotesca, cachos de frutos e flores. aparadores obras dos mais diversos O bico, com a configuração de uma materiais, em que a tartaruga revela cabeça de cisne de longo pescoço particular exotismo. curvo, destaca-se da máscara grotesca. Conhecem-se documentadas peças em No gargalo estreito figuram retratos de tartaruga executadas na Índia, sobretudo perfil de imperadores romanos. no Guzarate, para exportação para a Em baixo, cada um dos três sátiros Europa. O grosso da exportação suporta o vaso com uma mão, a outra EUROPA Tartaruga Ø 42,7 cm Kunsthistorisches Museum Viena, Kunstkammer | KK 4131 l Ouro, concha de náutilo, prata, diamantes, rubis, esmeraldas, pérolas, vidro 36 cm Museus do Kremlin, Moscovo | DK-187 18 não muito distante destas aquisições. Integrando-se na tipologia de salva de apresenta imagens de caranguejos em relevo. Este gomil foi uma oferta de João II Casimiro Vasa (r. 1648-68), rei da Polónia, ao czar Aleixo I Mikhailovich (r. 1645- água-às-mãos, utilizada nas refeições, -1676). CÂMARAS DE MARAVILHAS registar-se-á em 1570 com o envio para l PRATO EUROPA 13 19 Augsburgo, Alemanha permitindo servir de recepiente 16 TAÇA identificável, adequa-se perfeitamente Nikolaus Pfaff (1556? - 1612?) ao reportório das esculturas de Nikolaus Praga, 1610 Pfaff, cuja obra se caracteriza pelos mais apresenta decoração com motivos Corno de rinoceronte 22,5 cm Kunsthistorisches Museum Viena, Kunstkammer | KK 3737 elevados padrões de execução. Apreciados pela sua origem misteriosa peixes e aves na tampa, sugerindo um A partir do início do século XVII, os vasos metálica que nunca foi executada. e pelas qualidades naturais, os mundo aquático superior. de corno de rinoceronte figurariam entre 41 x 34,3 x 17,5 cm Coco-das-seychelles e prata dourada Kunsthistoriches Museum Viena, Kunstkammer | inv. KK 6849 cocos-das-seychelles foram muito os objectos de luxo mais procurados procurados pelos coleccionadores pelos coleccionadores europeus, do Renascimento, sendo associados baseando-se a sua popularidade não à água dada a sua origem exótica, apenas na natureza exótica do material acreditando-se que tinham mas também no efeito mágico atribuído nascido no próprio mar. A par das ao corno (supostamente eficaz contra referências de Garcia da Orta quanto venenos). às suas qualidades curativas contra A combinação imaginativa e animada evenenamentos e outras efermidades, das folhas de acanto e do «mascarão» também Luís de Camões lhes dedica na frente desta invulgar taça, cobrindo o alguns versos nos Lusíadas. corno mas deixando a sua forma natural EUROPA CÂMARAS DE MARAVILHAS para líquidos, o presente exemplar l 1575-1600 (montagem) 20 marítimos no âmbito da linguagem do tardo-renascimento: uma ninfa, um centauro e outras criaturas na base e O recorte profundo entre os beiços pendentes do mascarão destinar-se-ia provavelmente a uma guarnição CÂMARAS DE MARAVILHAS Composto pela metade de um coco, l FONTE EUROPA 15 21 22 Índia portuguesa, c. 1580 vermelho fixados por meio de aplicações Madeira, pele de raia polida, laca preta com ouro (escudo); veludo, prata (punhos europeus) Ø 54 cm Kunsthistoriches Museum Viena, Hofjagad – und Rüstkammer | A915 europeias de prata. O trabalho de laca, em duas camadas, aponta para uma origem indo-portuguesa, origem actualmente 18 COFRE mente inspiradas na arquitectura Veneza, final do século XVI renascentista. A finalidade destes cofres Cristais lapidados, madeira lacada de negro e ouro, prata dourada e bronze 58 x 99 x 72 cm Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa | inv. 576 Our não é bem conhecida. Existe no entanto a tradição de que eram presentes que o Papa enviava aos monarcas católicos da Europa por ocasião do nascimento de um herdeiro, contendo roupas bentas para o considerada neste tipo de peças, que terão sido criadas em Goa por Este exemplar pertence a uma tipologia seu baptizado. Referido no inventário de 1596 da artistas chineses ou nipónicos. Pela de cofres constituídos por uma armação Este cofre, o maior dos exemplares propriedade do arquiduque Ferdinando II sua complexidade, este escudo deverá de madeira de planta rectangular onde conhecidos, segundo o comprova a vasta de Schloss Ambras, este escudo circular corresponder ao gosto multicultural se inserem placas de cristal biseladas ou documentação existente, foi oferecido pelo de madeira apresenta a face exterior do português que o encomendou, lapidadas em vulto, emolduradas com rei de Ormuz a D. Frei Aleixo de Menezes, revestida com pele de raia polida. No por reunir características da cultura perfis lacados de negro e ouro. arcebispo e governador de Goa entre 1608 interior, revestimento de laca executado portuguesa, europeia e asiática. O interior é tratado com o mesmo cuidado e 1609, e por ele enviado ao Convento dos decorativo e idêntica decoração lacada. Agostinhos da Graça, em Lisboa, onde As características do desenho são nitida- passou a servir como Sacrário. a ouro sobre fundo preto, característico CÂMARAS DE MARAVILHAS da Ásia Oriental, e punhos de veludo l ESCUDO EUROPA EUROPA l CÂMARAS DE MARAVILHAS 17 23 morreu. O desgosto do Papa levou-o a Escola de Rafael escrever um epitáfio em latim e a pedir vários desenhos (leão, leoa, lince europeu, Roma, Itália, 1514-1516 a Rafael que o imortalizasse em fresco, Aguarela e guache sobre velino 17,7 x 28,8 cm Albertina, Viena | 3173 camurça) que terão sido executados pela Pena e tinta sobre papel 27,8 x 28,5 cm Staatliche Museen zu Berlin, Kupferstichkabinett | KDZ 17949 à escala real, numa torre de entrada da Graças ao Diário da sua Viagem aos Países Nurenberga, 1588, imperador Rudolfo II, Baixos (1520-21) sabe-se que em 1521 Dürer registo de 1783, colecção do duque A embaixada que D. Manuel I enviou se perdeu. À dimensão naturalista da viu e desenhou leões em Ghent, animais A. von Sachsen-Teschen, que está na ao papa Leão X, em 1514, presidida por representação acrescenta-se a dimensão que se haviam tornado uma atracção origem de parte da colecção da Galeria Tristão da Cunha, incluía um elefante do animal, expressa no desenho: 2,33 m popular no início do século XVI, e que Albertina. branco que o rei de Portugal recebera (10 palmi) de altura e 4,95 m (22 palmi ) descendiam de um grupo de animais Na precisão da representação do natural, do rei de Cochim. O êxito da missão de comprimento. pertencentes a um talhante local, um este leão de Dürer é uma demonstração de diplomática foi assinalado pela oferta da século antes. Em 1520, o pintor também já espírito científico e de modernidade face à rosa papal a Portugal e Hanno, símbolo vira leões em Bruxelas no famoso parque percepção da realidade. da extensão da fé cristã propagada EUROPA Bruxelas, 1521 mesma altura, é bem conhecido o rasto ao longo dos tempos: colecção Imhoff, pelos portugueses, foi mantido nos Jardins do Belvedere, Vaticano, tornando-se no animal de estimação Cidade pontifícia. Este Hanno é uma das duas cópias existentes do desenho preparatório do pintor para o fresco que ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS real. Desta aguarela de Viena, uma entre HANNO, O ELEFANTE l Albrecht Dürer (1471-1528) 20 EUROPA de animais, o Warande, por trás do palácio ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS LEÃO l 19 de Sua Santidade. Quatro anos volvidos e depois de muito festejado, o animal 24 25 rectangulares onde era colocado o Dirich Utermarke (Alemanha, incenso. O castelo possui um telhado mesmo espécime masculino 1599-1635) com altas chaminés quadradas com Aguarela e guache sobre papel 59,6 x 37,5 cm ERLANGEN, Graphische Sammlung der Universität | B. 164.II.C.4 de variadas cores. Testemunhos do Hamburgo, primeiro quartel do século XVII orifícios que comunicam com as secções interesse europeu pelo mundo recém- Prata dourada 54 x 54 cm Museus do Kremlin, Moscovo | MZ-422/1-5 internas do incensador, sendo por elas Dividindo-se actualmente em várias o mais fiel possível da realidade. Este incensador foi comprado pelos quatro incensadores com a forma de espécies e géneros, as aves-do- emissários do czar Miguel Fedorovich uma montanha tendo todos pertencido -paraíso eram caçadas devido à sua Romanov (r. 1613-1645), num leilão dos ao tesouro do czar Miguel Fedorovich plumagem nupcial, sendo os corpos tesouros do rei Cristiano IV da Dinamarca Romanov. secos coleccionados e comercializados. (r. 1588-1648) realizado em 1628 na A plumagem surgiu na Europa em cidade de Arkhangelsk. 1522 com a chegada de pelo menos Destinava-se a ser colocado sobre cinco corpos secos destas aves que uma mesa e poderá ter decorado e foram incorporados em colecções perfumado um dos salões do Kremlin. de curiosidades como naturalia e O incensador assume a forma de uma reproduzidos em ilustrações de livros e alta montanha com cumes acidentados, em desenhos. Conhece-se, de 1525, um encimada por um castelo. Pequenos desenho legendado da autoria do artista elementos decorativos em filigrana alemão Hans Baldung Grien. fundida encontram-se espalhados Registado pela primeira vez na por toda a superfície – rãs, lagartos, kunstkammer do margrave J. F. von tartarugas, um gafanhoto branco, tufos EUROPA do século XVI -descoberto, estes desenhos são também uma tentativa de representação que saía o fumo aromático. Actualmente, apenas são conhecidos ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS de Erlangen apresenta duas vistas do INCENSADOR l Alemanha, segunda metade 22 EUROPA Brandenburg-Ansbach, o exemplar ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS AVES-DO-PARAÍSO l 21 de erva e galhos secos. Três pináculos rochosos ocultam longas gavetas 26 27 DE MAXIMILIANO II A história deste curioso banco está 24 KRIS E BAINHA pode sair de casa sem um kris no seu Goa ou Malaca (?), século XVI cinto». A partir de então, os viajantes Viena, Áustria, 1554 ilustrada e inscrita no seu próprio assento, uma omoplata de elefante. Quatro imponentes ossos são o que Espanha, símbolo da aliança matrimonial resta de um elefante asiático que do sacro imperador romano com Maria, Este kris decorado com rubis e safiras D. João III ofereceu ao arquiduque sua prima e filha de Carlos V, e numa surge registado pela primeira vez em austríaco Maximiliano (1527-1576), outra surge o brasão de Maximiliano, 1619 entre os bens do arquiduque futuro imperador Maximiliano II. rodeado pelo colar da Ordem do Tosão Maximiliano III (1558-1618). As primeiras Ao recomendar que o animal fosse de Ouro. referências europeias a estes punhais ANIMAIS E PLANTAS EXÓTICAS apelidado de Solimão, tornando-o assim parecem encontrar-se no inventário do seu escravo, a oferta do rei de Portugal guarda-roupa de D. Manuel I (1522). adquiria uma ressonância internacional, A sua história inicial ainda permanece como sinal de agradecimento – em obscura, mas o kris encontrava-se nome de toda a Europa e dos seus completamente desenvolvido no século domínios – aos Habsburgos, por XIII ou seguinte, talvez relacionado com repelirem os «infiéis» piratas turcos sob o culto xivaísta Bhairava. O viajante o comando de Solimão, o Magnífico, às português Tomé Pires refere na Suma portas de Viena, em 1529. O animal foi Oriental (1512 e 1515) que «todos os levado de Madrid até Viena em cujos homens em Java, sejam eles ricos ou EUROPA Osso de elefante 82 x 90 x 55 cm Stift Kremsmünster, Kunstsammlungen l Aço, madeira lacada, ouro, rubis, safiras, chifre de rinoceronte 49,5 x 12,5 x 2,6 cm Schatzkammer des Deutschen Ordens, Viena | DO 175 Numa das pernas do banco figuram os brasões de armas da Áustria e de ficariam fascinados com estas armas mortíferas frequentemente revestidas com arsénico, incorporadas de um poder sobrenatural e concedendo um elevado estatuto ao seu possuidor. ETNOGRÁFICA subúrbios morreu um ano depois. l BANCO COM AS ARMAS EUROPA 23 pobres, têm de ter um kris em sua casa, e uma lança e um escudo [...] E nenhum homem entre os doze e os oitenta anos 28 29 DE SOMBRAS opulência do ornamento de cabeça 26 ESCUDO decoração de padrão regular e simétrico Ilhas Molucas, Indonésia, de conchas discóides e piriformes com Java, Indonésia, século XVI e do colar. A identificação da figura é século XVII, anterior a 1710 formas elaboradas. Possivelmente, terá Madeira policroma, folha de ouro 50,5 x 17 cm Museum für Völkerkunde Viena | 12.397 talvez confirmada pelo inventário do sido produzido directamente para As representações teatrais com laca contendo cinco marionetas que Madeira, fibras, mástique, conchas 136 cm Museu Nacional da Dinamarca, Colecções Etnográficas | Db.60 sombras desenvolveram-se numa área poderiam ser as figuras dos cinco Este tipo de escudo das Ilhas Molucas geográfica que se estende desde a Pandava. denominado salawaku, que foi alvo imperador Rodolfo II, redigido entre 1607 e 1611, que refere uma caixa de China, no Oriente, a Marrocos e à Europa de uma vasta difusão, entre outras Ocidental. O teatro de sombras javanês numerosas funções era utilizado nas é particularmente famoso devido às danças bélicas tradicionais enquanto suas marionetas, com o reportório escudo de defesa. Talhado numa única baseado nos épicos indianos Ramayana peça de madeira apresenta geralmente e Mahabharata. a configuração de uma ampulheta, Cada marioneta ostenta as características mais estreito a meio e alargando em faciais e corporais específicas do tipo ambos os extremos, sendo muitas vezes humano que representa. A famosa ligeiramente curvo. figura Yudistira, o mais velho dos O presente exemplar é particularmente Pandava, «expressa a sua absoluta elegante e pormenorizado, com exportação. Descrito pela primeira vez no inventário de 1710 da kunstkammer de Gottorf, foi transferido para o Palácio Real de Copenhaga em 1751. ETNOGRÁFICA sendo a sua importância realçada pela l MARIONETA EUROPA EUROPA l ETNOGRÁFICA 25 tranquilidade de mente e de corpo, a nobreza dos seus pensamentos e o seu ódio pela violência». Esta marioneta apresenta o cabelo apanhado na nuca, 30 31 ÁFRICA conquista de Ceuta, 1415. Iniciou-se a partir desta data a marcação de pontos 27 FIGURA AJOELHADA O cabelo é entrançado em cristas. O (POMDO) corpo apresenta escarificações, mas a estratégicos de controlo dos acessos ao mar Mediterrâneo, centro do comércio Serra Leoa, Guiné ou Libéria, característica mais estranha são os seios europeu então dominado pela presença árabe. séculos XIV-XVI femininos projectantes que esta figura A par da navegação no oceano Atlântico, das viagens pela costa ocidental africana Esteatite 12 x 5 x 6 cm Musée Royal de l’Afrique Centrale, Tervuren | EO.1973.43.2 barbada segura nas mãos. Todavia, esta Conheceram-se os escultores/artesãos da Serra Leoa que talhavam marfim com As figuras de pedra produzidas manifestações da arte africana. grande requinte e talento, qualidades reconhecidas pelos navegadores portugueses pelo povo oeste-africano ao qual que lhes encomendaram objectos para uso na Europa como saleiros, colheres, os portugueses chamavam sapi, trompas, produtos exóticos no material e na expressão artística que, com frequência, são frequentemente divididas em até ao Cabo Bojador, 1434, limite sul das terras então conhecidas, do estabelecimento de uma feitoria em S. Jorge da Mina, 1482, passou-se o Cabo das Tormentas, depois designado da Boa Esperança, 1487, assim se marcando a entrada no oceano Índico. copiavam gravuras que circulavam nos livros de culto cristão. Mais a sul, no Benim, dois grupos estilísticos: as nomolisia, ter-se-ão feito, após a invasão da Serra Leoa em 1550, encomendas semelhantes. encontradas na região dos Mende, e as Chegados à foz do rio Congo em 1485, aí se funda a primeira igreja, 1491, havendo pomta provenientes das áreas dos Kissi. uma produção de esculturas em metal com expressão africana mas representando A presente figura, nitidamente imagens de culto cristão, apropriação singular do imaginário e da mentalidade andrógina, está ajoelhada. Tem cabeça europeia. grande, orelhas semicirculares, olhos escultura bissexual não é um exemplar único na iconografia das pomta, existindo figuras andróginas noutras ÁFRICA A expansão da fé cristã, num espírito que prolonga o das Cruzadas, levou à semiovais, nariz também grande, mas escultural, boca aberta revelando dentes muito aguçados, e barba destacada e proeminente. André Álvares d’Almada escrevia em 1594 que «os [homens] sapi e as mulheres limam os dentes da frente, tanto os de baixo como os de cima». 32 32 33 OLIFANTE produção na primeira metade do Estilo Sapi-português século XVI. 29 MOSQUETEIRO as suas armas funcionasse como defesa Reino do Benim, povo Edo, extremamente eficaz contra adversários Serra Leoa, final do século XV – primeira O presente olifante parece ter sido século XVI tanto visíveis como invisíveis. metade do século XVI (1490-1530?) uma oferta de um dos reis de Portugal, Estilisticamente esta representação Marfim 7,3 x 64 cm Museo Nacional de Artes Decorativas, Madrid | inv. DE21348 possivelmente D. Sebastião (r. 1568-1578), Liga de cobre 45 x 28,5 x 20,5 cm Staatliche Ethnographische Sammlung Sachsen, Museum für Völkerkunde Dresden (col. A. Baessler) | 16604 Estão registados mais de cento e vinte aos nossos dias, ostenta as armas reais O reino do Benim entrou pela primeira vez peças – trompas, saleiros, píxides, punhos, portuguesas ladeadas por uma banda em contacto com os europeus entre 1472 colheres e garfos – de marfim sapi, da com a saudação do Anjo da Anunciação, e 1486 e os seus governantes depressa se autoria dos escultores das figuras de «AVE MARIA», indicando assim uma nítida aperceberam da utilidade da sua chegada pedra (nomolisia) da Serra Leoa. A data influência cristã. O mesmo acontece com para a consecução dos seus interesses exacta destes marfins é desconhecida uma Deploração perante o corpo de Cristo. políticos. O equipamento militar dos mas a presença de armas de D. Manuel I Ao lado da Deploração, bem como no lado portugueses, em particular, mereceu o (r. 1495-1521) e de D. João III (r. 1521-1557) oposto, surgem cenas de caça com os maior interesse uma vez que as armas de em alguns deles, bem como o registo em caçadores tocando trompa. fogo eram desconhecidas. De facto, com documentos apontam para uma data de a Filipe II de Espanha. Integrando um grupo de cinco trompas, é única pois contém um elemento de dinamismo e de movimento que revela e torna claro o perigo e o poder aparentemente sobrenatural das armas autoria do mesmo escultor, que chegaram ÁFRICA ÁFRICA 28 de fogo. o auxílio dos seus mosquetes e canhões foram conseguidos importantes triunfos. Os soldados armados em breve se tornaram tema da arte do Benim. Em circunstâncias religiosas e rituais específicas, essas imagens criavam uma ligação simbólica a Olokun, deus do mar, e é possível que este tipo de figura exibindo 34 35 SALEIRO com narizes proeminentes e proporções Estilo bini-português pouco naturais de outros saleiros, o 31 CRIADO DE cavas das mangas e costuras debruadas D. MIGUEL DE CASTRO com galões de fio de ouro. As frentes Reino do Benim, povo Edo, autor pormenorizou neste o tratamento Jasper Becx (activo entre 1627 e 1647) são fechadas com botões também de século XVI do vestuário, destacando-se a cruz da Países Baixos, anterior a 1643 ouro, igualmente presentes nos punhos Marfim 30 x 11 cm Museu Britânico, Londres | 1878, 11-1.48A-C ordem de Cristo na figura do dignatário das mangas. O objectivo da Companhia Saleiro produzido pela Igbesanmwan, conhecimento de fontes impressas como Óleo sobre madeira 73 x 60 cm Museu Nacional da Dinamarca, Colecções Etnográficas | SMK8 corporação real de escultores do reino do modelo de representação refutando a O retratado era um dos dois criados de mas também o de exibir o esplendor dos Benim, da qual chegaram à Europa vários hipótese da simples observação directa. Miguel de Castro, embaixador da corte de trajes holandeses. de posto mais elevado. A inclusão de uma embarcação na tampa sugere o artefactos trazidos pelos portugueses Soyo, que chefiou, pelo início da década e muito apreciados pelo exotismo do de 1640, uma das numerosas embaixadas material. Num período em que o sal era um enviadas do reino do Congo a Portugal e bem dispendioso, grandes saleiros eram à Santa Sé. Embaixador e criados foram usados nas mesas aristocráticas, estando então retratados por um pintor holandês o presente exemplar particularmente bem que os trajou, requintadamente, à moda conservado. dos Países Baixos, e uma versão desses Seguindo o reportório comum dos retratos ficou de ser enviada para a corte escultores, estão figurados dois dignatários de Soyo. Este criado, que ostenta uma em pose frontal, acompanhados por presa de elefante alusiva à riqueza da um par de auxiliares. Entre as figuras, sua terra de origem, enverga gibão de vários peixes esculpidos em baixo- veludo verde, com golas de fino linho, das Índias Ocidentais ao enviar este tipo de retratos para a corte de Soyo era, obviamente, o de suscitar o seu apoio, ÁFRICA ÁFRICA 30 -relevo, referência ao mundo aquático à qual os portugueses eram associados. De convenções idênticas às das figuras 36 37 CASTÃO Comparando com outro exemplar República Democrática Passado o Cabo da Boa Esperança em 1487, une-se o oceano Atlântico com existente que apresenta uma cruz, ou o Índico e inicia-se a exploração da costa oriental de África durante a viagem de do Congo ou Angola, povos Congo, ainda outro com figuração de três pessoas Vasco da Gama para a Índia, 1497 e 1498. século XVII ajoelhadas, e tendo em consideração As conquistas de Afonso de Albuquerque no golfo pérsico e na costa ocidental da Latão 28 x 11,8 x 5,7 cm Musée Royal de l’Afrique Centrale, Tervuren | HO 1953.100.1 que estes bordões de tradutor com Índia, das quais se destaca Ormuz, 1507, e Goa, 1510, foram determinantes para castões idênticos receberem o nome de o estabelecimento de rotas comerciais das especiarias, fonte de grande riqueza Santu spilitu, uma corruptela de Sanctus para Portugal. Spiritus, ou Santo Espírito, poder-se-á por a No início do século XVI não interessava aos impérios asiáticos o domínio da Segundo a Missão dos Padres Capuchinhos hipótese desta peça representar a terceira navegação marítima, factor que favoreceu os portugueses que rapidamente nos Reinos do Congo, Angola e Terras pessoa da Santíssima Trindade. capturaram portos estratégicos como Muscate e Ormuz, no golfo pérsico, e Goa, Adjacentes, da autoria de Bernardino capital portuguesa do Estado da Índia que se transformou num importante Ignazio d’Astri, datada de 1747, os entreposto de mercadorias de luxo – ourivesaria, têxteis, mobiliário e imaginária. intérpretes nativos que agiam como Também do Ceilão, a ilha da canela, se importaram bens de luxo, tecidos de seda intermediários entre o confessor e o e ourivesarias com marfim, cristal de rocha, ouro e pedras preciosas. penitente usavam «uma insígnia ou bordão Desejando-se que Goa se transformasse na Roma do Oriente, coube à Sociedade com a forma de uma cruz». de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola, em Roma, 1540, exercer a acção Este castão pertence, todavia, a um tipo missionária no Estado da Índia. S. Francisco Xavier (1506 - 1552) foi o primeiro diferente. Fundido em latão, apresenta uma jesuíta que, por ordem de D. João III, iniciou em 1542 esta acção na Índia, viajando figura sentada com as mãos unidas em depois para Malaca, ilhas Molucas e Japão. oração, diante da estrutura arquitectónica Com grande influência junto da Casa Real, os jesuítas fixaram escolas e missões decorativa que lhe serve de moldura. por todo o Império português, num esforço de conversão dos povos ao ÍNDIA E CEILÃO ÁFRICA 32 Cristianismo. Uma extraordinária oportunidade surge na Índia quando, em 1578, o imperador mogol Akbar convida os jesuítas para melhor conhecer os ensinamentos cristãos, gesto ditado pela curiosidade intelectual e não pela vontade de conversão religiosa. 38 39 40 PORTUGUESES ocidental, estão sentados à mesa na qual EM ORMUZ se dispõem vários pratos e cestos de 34 PANO DE ARMAR na vertical é conseguida unicamente Índia, Guzarate (?) através do desenho. Na parte esquerda os Índia (?), século XVI acepipes. Servidos por pajens, as figuras para o mercado português, c. 1600 exércitos alinhados esperam o sinal para Tinta de água sobre papel 30,3 x 42,5 cm Biblioteca Casanatense, Roma | MS. 1889, fls. 29-30 encontram-se no interior de um tanque iniciar os combates. Na zona da direita a Pertencente ao conhecido Códice certamente asiática, dado o tipo de Tafetá de seda bordado a sedas policromas bombixmori em ponto de cadeia e ponto de nó 311 x 278 cm Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa | inv. 4575 Tec Casanatense, obra que reúne setenta desenho que ignora as regras praticadas de água rectangular decorado com vasos de flores e ao qual se acede por sete degraus. Da autoria de um artista de origem luta é renhida, a confusão reina, os cavalos tombam e o sangue jorra. A diversidade e intensidade cromática, a par da ausência de estrutura rígida de composição, fazem desta peça um e seis páginas com pinturas, a imagem na Europa, esta imagem testemunha Pano de armar é uma peça para apresenta uma cena da vida quotidiana a necessidade de compreensão dos decoração parietal. Neste exemplar, o dos portugueses expatriados no Médio costumes e atitudes entre os povos e campo, emoldurado por uma cercadura Oriente, acompanhada pela legenda: dá-nos a ideia do estilo de vista sofisticado com cenas de caçadas e representando «Gentes portuguesas de Ormuz. Estão dos europeus que se estabeleciam provavelmente dois momentos da mesma comendo dentro d’água por ser a terra naquelas partes do mundo. batalha, estrutura-se em quatro partes. muito calmosa». A última palavra refere- A divisão segundo um eixo horizontal -se ao calor sentido naquela região. faz-se por uma tarja com decoração de Dois casais, de vestes ligeiras e de estilo enrolamentos fitomórficos e a divisão exemplar raro no mundo dos bordados indianos para o mercado português. ÍNDIA E CEILÃO ÍNDIA E CEILÃO 33 41 FRONTAL DE ALTAR No painel central, quatro anjos venerando Sind ou Guzarate, 1600-1610 a custódia estão circundados pela legenda 36 COFRE Ambos os relevos resultam de Ceilão, Kotte (?), c. 1540-50 transcrições fiéis de gravuras de L. van Leyden: S. Lucas tem por base uma Ébano, marfim, osso 84 x 106 cm Victoria and Albert Museum, Londres | IS 15-1882 em português «Louvado Seja o Santíssimo de tampo a uma mesa, marcadamente Este cofre apresenta uma enorme Não se trata de uma peça religiosa como Este exemplar filia-se na produção para o posterior e identificada como mesa de diversidade de temas tanto sacros como as representações parecem indicar, mas mercado português atribuída a oficinas comunhão. A existência no Museu Arménio profanos. As referências ao bestiário certamente de encomenda europeia de do Norte da Índia, com obras executadas de Nova Julfa, Ispaão, de um fragmento medieval são uma constante, sendo uma uma obra de carácter assumidamente sob influência mogol. A ornamentação, central de um frontal com a adoração do das mais típicas a figura do javali a tocar exótico. realizada em embutidos de marfim ou Santíssimo Sacramento, que as figuras de gaita-de-foles. Contudo, os motivos A fechadura em forma de brasão de osso sobre madeira de ébano, apresenta S. Pedro e S. Paulo ladeiam, vem confirmar mais importantes e de maior qualidade armas ibérico é das mais antigas jóias do motivos mogóis, como figuras de a leitura da peça de Londres como um encontram-se nos dois painéis laterais, Sul da Índia conhecidas. bailarinas, músicos e falcoeiros, ou ainda frontal de altar. revelando a sua origem numa obra Sacramento». Até muito recentemente este frontal servia Marfim, ouro, rubis e safiras 11,5 x 23,5 x 13 cm Colecção particular representações de seres mitológicos gravada. Do lado esquerdo surge Cristo como simurghs que nas suas garras e bico descendo ao Limbo e no lado direito seguram elefantes, demonstrando assim a S. Lucas redige o seu Evangelho. gravura de c. 1508, e Cristo no Limbo, a série Paixão de Cristo de 1521. ÍNDIA E CEILÃO ÍNDIA E CEILÃO 35 sua força. 42 43 COLHER recebia de Goa várias peças executadas Ceilão, segunda metade Em 1543 os portugueses chegam ao Japão, primeiro contacto de europeus no Ceilão, tais como garfos e colheres em com japoneses. Vindo de Goa, o grande “barco negro” transportava produtos da do século XVI cristal de rocha enriquecidos com ouro e Índia e da China e também espingardas, objectos que serão trocados em Nagasaki Heliotrópio, ouro, rubis 17,8 cm Kunsthistorisches Museum Viena, Kunstkammer | KK 1620 pedras preciosas. por prata e requintados artefactos japoneses, em laca e com madrepérola, alguns A produção continuou até às últimas ajustando-se às necessidades práticas e religiosas da Europa. décadas de presença portuguesa no A designação Namban jin atribuída aos portugueses, os bárbaros do sul, passou Ceilão. Em 1630 ainda eram apreciadas a esta produção artística do Japão cujo destino foi o mercado português, arte Algumas das mais apreciadas produções na Índia pelo frei agostinho Sebastião Namban. exportadas do Ceilão através do Manrique, que delas dizia serem mais Os jesuítas desenvolveram, a partir de 1550, uma importante acção de missionação mercado de Goa, no século XVI, terão vistosas que custosas. no Japão, tendo criado em 1583 uma academia regida por pintores italianos e sido as colheres e garfos delicadamente destinada a artistas japoneses, instituição que, com a expulsão dos jesuítas e banida executados em cristal ou em pedras duras a fé cristã, 1614, foi mudada para Macau. com montagens em ouro e aplicação de JAPÃO ÍNDIA E CEILÃO 37 filigrana e pedras preciosas. A qualidade das montagens destas colheres e garfos sugere tratar-se de peças de considerável valor, destinadas a clientes da mais alta aristocracia. Já em 1570 a rainha D. Catarina, mulher de D. João III, 44 45 38 BIOMBOS (PAR) Os biombos eram concebidos para estranheza dos recém-chegados, o capital do Estado da Índia. A cidade é Assinados Kano Naizen (1570-1516), sugerida por construções «achinesadas» chinesa pela prata japonesa, a carga protótipo da arquitectura «estrangeira». 1593-1614, período Momoyama/Edo «bu», vento). Este par figura entre os oito da nau e tantos outros episódios são No biombo da direita representa-se a Folha de ouro, pintura policroma a têmpera, papel, seda castanha com motivos espolinados a papel laminado e dourado, laca, cobre dourado 178 x 366,4 x 2 cm Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa | inv. 1640 Mov, 1641 Mov pares que se conhecem marcados com o captados pelos pincéis da escola chegada a um porto, provavelmente selo do pintor Kano Naizen. de Kano que de forma brilhante Nagasáqui. Neles se desenrola da esquerda para desenvolvera a pintura de costumes. a direita a descrição das actividades No biombo da esquerda, o pintor religiosas e comerciais dos portugueses descreve a partida do «barco negro» no Japão. A vida das cidades, a de um porto que se pensa ser Goa, JAPÃO negócio centrado na troca da seda teger das correntes de ar («byo», evitar; JAPÃO compartimentar espaços ou para pro- Japão, Arte Namban, 46 47 POLVORINHO de ostentação, tal a riqueza e requinte Japão, Arte Namban dos materiais e da decoração. É o 40 ORATÓRIO PORTÁTIL modelo as gravuras do Norte da Europa. Japão, final do século XVI, Contrariando o usual, parece existir final do século XVI, caso deste polvorinho decorado em período Momoyama, aqui uma relação estilística entre pintura período Momoyama ambas as faces. Sobre um fundo negro e moldura, se atendermos à ligação Madeira lacada, ouro e prata 30 x 26 x 6,5 cm Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa | inv. 391 Div polvilhado com pós metálicos variados, Óleo sobre cobre; madeira, laca, ouro, prata, madrepérola 47,2 x 35 x 5,1 cm Santa Casa da Misericórdia do Sardoal figuras dos namban jin tal como trajavam Esta pintura apresenta a delicadeza de pintura e o frontão triangular superior. Os portugueses, ou namban jin, ao na época. linhas e a atenção ao pormenor que Este apresenta um monograma de aportarem à ilha de Tanegashima, 1543, caracterizam as melhores obras do Cristo, «IHS», atestando por este modo levaram com eles as primeiras armas Seminário de Pintores, a academia jesuíta o destino da obra para um mercado de fogo que os nipónicos passaram de Giovanni Niccoló, no Japão, patente específico, cristão. a designar como tanegashima. Com nas feições da Virgem e do Menino, o uso destas armas, os polvorinhos ambos de sobrancelhas arqueadas, e na – contentores de pólvora – passaram testa alta e mãos anafadas da Virgem. a ser acessórios imprescindíveis. Estes Também associados a esta escola são a objectos funcionais transformam-se, em técnica e o suporte utilizados, óleo sobre muitos casos, em peças de aparato ou chapa de cobre, característico da Europa que conferem à peça um tom metálico acastanhado, recortam-se em relevo as entre o motivo de linhas onduladas presente na auréola do menino e a decoração dourada que delimita a JAPÃO JAPÃO 39 Setentrional. Por outro lado, as pregas angulares dos mantos, típicas da pintura da Flandres, terão tido como 48 49 PIA DE ÁGUA-BENTA São hoje conhecidas obras executadas Japão, final do século XVI, nas missões jesuíticas, para exportação, 42 MARTÍRIO DO BEATO em 1616, Kimura permaneceu no colégio, LEONARDO KIMURA E DOS sendo detido e encarcerado pelas forças período Momoyama de que são exemplo maior as lacas SEUS COMPANHEIROS EM 1619 imperiais. Encontrou a morte, juntamente Grés policromado e vidrado 36,5 x 18,5 cm Colecção particular namban. Escola de Giovanni Niccolò com quatro companheiros cristãos laicos, Bem mais raras são as obras cerâmicas, Japão, c. 1619 em meados de Novembro de 1619, conhecendo-se um pequeno grupo de pias baptismais ou de água-benta. das comunidades cristãs no Japão, Executadas em grés, apresentam a anteriores a 1640, são escassos. As decoração exterior com cruzes cristãs grandes perseguições religiosas, em estilizadas. Neste exemplar, é visível no parte fomentadas pela Holanda com interior a figura do caranguejo, numa vista a varrer do solo japonês a influência referência ao milagre de S. Francisco Aguarela sobre papel, posteriormente aplicado sobre tela 136 x 153 cm (c/ moldura) Património del Fondo Edifici di Culto, amministrato dal Ministero dell’ Interno (Dipartimento per le Liberta Civili i el Immigrazione – Direzione Centrale per l’ Amministrazione del Fondo Edifici di Culto), em depósito na Chiesa del SS. Nome di Gesù, Roma numa colina nos arredores da cidade, Os testemunhos da vida religiosa portuguesa, não foram totalmente bem Xavier na ilha de Ceram quando, após ter sucedidas, como atestam os vestígios perdido o seu crucifixo, este lhe surgiu Leonardo Kimura (c. 1574-1619) nasceu materiais ainda existentes. nas presas de um caranguejo. numa família católica de Nagasáqui, cidade onde foram lançados à fogueira. Esta extraordinária pintura, tão vívida e plena de pormenor, muito provavelmente devida a artistas japoneses pertencentes ao Seminário de Pintores recriado em Macau, parece executada por alguém que terá presenciado o martírio. JAPÃO JAPÃO 41 sob forte influência jesuíta, entrando para o Noviciado de Todos os Santos em 1602, em cujos registos é depois referido como «pintor» e «abridor» (gravador), sendo um dos mestres mais destacados do denominado «Seminário de Pintores» de Giovanni Niccolò. Ainda que muitos pintores jesuítas japoneses tenham fugido para Macau e para as Filipinas quando o xógum Hidetada baniu o cristianismo 50 51 de porcelana, material requintado cuja manufactura era desconhecida e muito MACAU cidade engendrar rotas comerciais Pedro Barreto de Resende alternativas depois desta data. desejada na Europa. Criaram-se feitorias na região de Cantão onde se produziu, (Portugal-Goa (?) 1651) Situada na periferia marítima do desde cerca de 1520, uma imensa quantidade de porcelanas com as armas da Casa in António Bocarro, Livro das Plantas «Império do Meio», Macau foi sempre Real e da nobreza de Portugal, por vezes com inscrições de frases religiosas ou de Todas as Fortalezas, Cidades e um espaço de compromisso e de laicas, estas de carácter possessório. Povoações do Estado da Índia Oriental negociação, lugar simultaneamente Da China chegaram ainda magníficas sedas e marfins, muitos deles aplicados em c. 1635 chinês e português, entreposto mercantil frontais de altar, paramentaria e imaginária cuja iconografia copiava, seguindo os Aguarela sobre papel 41 x 61 cm Biblioteca Pública de Évora | Cód. CXV/ 2-1, Planta nº 47 e centro político-administrativo. perto da foz do rio das Pérolas. Com o seu próprio senado, Macau transformou-se A Macau do século XVII, aqui retratada, Resende – inserido no Livro de António num dos portos mais importantes do Oriente. era uma cidade mercantil, marítima e Bocarro – constitui o grande marco da multiétnica. Albergava uma população cartografia de Macau no século XVII. códigos decorativos chineses, as representações religiosas europeias. Na sequência do comércio português, crescente no sul da China, as autoridades da província chinesa de Guandong cedem um entreposto na península de Macau, 1557, CHINA 43 asiática de origem variada e era Conhecem-se poucas plantas de Macau do primeiro terço do século XVII, mas este desenho de Pedro Barreto de CHINA Em 1513 os portugueses atingem o sul da China, importante centro produtor governada por uma oligarquia do negócio maioritariamente portuguesa, cujo poder assentava no controlo do Senado da Câmara e da Misericórdia. A fortuna de Macau dependeu do comércio sino-japonês até 1640, sabendo a 52 52 53 VIRGEM COM O MENINO querda. Ambos vestem uma túnica longa. China, províncias de Guangdong, Excepcional e muito rara, esta imagem 45 FRONTAL DE ALTAR de Ganimedes. Aqui, a figuração do mito China, segunda metade recorre ao arquétipo gizado por Miguel Fujian (?), final do século XVI - início do que foi esculpida aproveitando a curvatura do século XVII Ângelo por volta de 1530. Este imaginário século XVII natural da presa de elefante integra um mitológico e alegórico circulou através Marfim esculpido, vestígios de laca e pintura policromas, madeira 43 x 12,9 x 11,5 cm Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa | Inv. 143 Esc núcleo restrito de idêntica produção e Cetim de seda carmesim bordado a fio de seda torcido e sem torção apreciável, fio de papel laminado dourado; cordãozinho de seda branco e castanho; enchimento com fio de algodão (?) de espessura apreciável e rolos de papel. 105 x 365 cm Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra | inv. T 6382 iconografia de que se conhecem mais três exemplares: numa colecção particular portuguesa, na capela do hospital de Ciudad Rodrigo e na Hispanic Society of Ao contrário do que aconteceu em Goa, as America, Nova Iorque. CHINA imagens religiosas em marfim produzidas de obras publicadas no século XVI, como o Emblematum Liber de Alciato, 1531, ou o Symbolicarum Quaestionum de Universo Genere, da autoria de Achile Bocchi, 1555, ambas ilustradas com gravuras directamente inspiradas no modelo iconográfico daquele pintor na China por encomenda portuguesa Frontal de altar composto por frontaleira italiano. Eram livros que, a par da Bíblia são raras. A própria matéria-prima era, em tripartida, barras laterais e três campos. ou das Metamorfoses de Ovídio, decerto regra, adquirida pelos portugueses em O painel do meio apresenta medalhão constavam da bagagem dos fidalgos e dos Moçambique e levada para Macau. central com a representação do Rapto missionários no Oriente. CHINA 44 O tipo de representação desta Virgem com o Menino ao colo é considerado como uma adaptação cristã de Bodhisattva Guanyin, divindade associada à misericórdia e compaixão, de grande devoção na China e na Ásia do Leste. A Virgem tem traços marcadamente orientais e contas de um rosário suspensas numa das mãos, o Menino abençoa com a mão direita e agarra uma pomba com a es54 55 DEUSA-MÃE identificada com Guanyin, divindade COM MENINO protectora das crianças e patrona das 47 TAÇA ave maria gracia plena («Ave Maria, Jingdezhen, província cheia de graça»). No exterior figuram Província de Fujian, China, mulheres que pretendiam descendência de Jiangxi, China, dinastia Ming, o monograma sagrado «IHS», as armas dinastia Ming, final do século XVI masculina. Interpretação e forma da figura segundo quartel do século XVI portuguesas com cinco escudetes, a ou início do século XVII remontam à iconografia budista e às esfera armilar de D. Manuel I, e uma Marfim, vestígios de tinta ou laca 19,5 cm Museu Estatal Hermitage, Sampetersburgo | LN-939 imagens e esculturas pintadas chinesas Porcelana com decoração azul-cobalto sob vidrado 10,8 x Ø 25,5 cm Casa-Museu da Fundação Medeiros e Almeida, Lisboa | FMA 814 A expansão e missionação católicas na redondo como a Lua cheia. pelo que o Bodhisattva original do panteão budista se transformou numa graciosa deusa-mãe da religião popular, de rosto paisagem chinesa. Na base tem uma marca espúria do reinado de Xuande (1426-35). A maioria dos elementos referidos são Anteriormente na colecção do duque conhecidos em várias outras peças, como China e nas ilhas do Sudeste Asiático de Leeds, esta taça combina os muitos por exemplo o leão budista em porcelanas provocou, no final do século XVI, uma símbolos da presença portuguesa na China do reinado de Zhengde (1505-21) e Jiajing considerável produção de imagens que com um motivo puramente chinês, um (1521-67), tendo sido também produzidas aliava o espírito da encomenda europeia à leão budista a brincar com uma bola. No outras taças com forma e decoração geral forte tradição escultórica local. interior do bordo corre a inscrição muito semelhantes. CHINA CHINA 46 Com vestes reconhecidamente chinesas, esta escultura terá sido diferentemente interpretada por budistas ou por cristãos. De traços característicos das peças do período Ming tardio, este tipo de representação era invulgar na escultura religiosa chinesa, sendo até possível que esta imagem tenha sido executada como uma Virgem e o Menino encomendada por portugueses. Na China, ela teria sido 56 57 VISTA DO OBSERVATÓRIO Astronómico Imperial. O jovem imperador ASTRONÓMICO DE PEQUIM Kangxi aceitou uma proposta sua para cor de fogo aí existente e que era um corante têxtil. Com uma paisagem a criação de novos instrumentos para o deslumbrante e uma flora e fauna extraordinárias, esta terra de paraíso era Observatório da capital. Os instrumentos habitado por índios Tupi, e mesmo sendo motivo de grande fascínio para a Europa, foram instalados em 1673 e Verbiest viria esta não se revelou, ao longo do século XVI, como fonte para produção de riquezas a produzir um guia explanatório. Em 1674, imediatas. o seu Xinzhi Lingtai yixiang zhi tornou-se Foi só durante o século XVII, com a produção do açúcar servida pela mão-de-obra a primeira obra técnica publicada pela escrava oriunda de África, que o Brasil constituiu poderoso instrumento de Imprensa Imperial. desenvolvimento económico da Coroa portuguesa. Ferdinand Verbiest, S.J. (Países Baixos – China, 1623-1688), e outros In Ilustrações dos Instrumentos Recém – construídos para o Observatório China, 1674 CHINA Xilogravura sobre papel 38,5 x 77 cm The British Library, Londres | 15268.B.3 58 Pedro Álvares Cabral encontra a costa do Brasil, 1500, nome dado à madeira Redigido em chinês por trinta e um colabo- Ao contrário dos outros territórios do Império português, lugares estratégicos A estratégia dos missionários europeus na radores, é constituída por catorze capítulos numa rede mundial de comunicação, o Brasil era um imenso território cujo China consistia em convencer os chineses recheados de explicações e de cálculos, povoamento sistemático, com instalação de capitanias, se iniciou desde 1530. quanto ao valor das verdades científicas seguidos de dois capítulos ilustrativos. O engenho de açúcar foi, ao longo do século XVII, a força económica que levou para assim os conduzir às verdades À vista geral do Observatório aqui ilustrada à mudança do modelo social, pautado pelos valores da fé cristã. Neste contexto teológicas. Ferdinand Verbiest , jesuíta fla- seguem-se cento e cinco estampas todas construiram-se numerosas igrejas cujo equipamento litúrgico se definiu por uma mengo, em 1669 foi chamado para exercer elas cuidadosamente impressas num mag- expressividade excessiva e poética, servindo a iconografia cristã marcadamente o cargo de vice-presidente do Tribunal nífico papel branco de grande qualidade. brasileira. BRASIL 48 59 MAPA DA COSTA DO BRASIL (r. 1547-1559), encontrando-se o escudo ENTRE PERNAMBUCO de armas do príncipe no segundo mapa, 50 COROA DE PENAS penas que pendem sobre o pescoço, Tupinambá, Brasil, mas mais imponentes são as faixas com E O RIO DA PRATA in Atlas Náutico que representa o Mediterrâneo Oriental. anterior a 1689 penas que se projectam na vertical em No mapa da costa do Brasil o interior da redor de toda a cabeça. França, c. 1538 América do Sul encontra-se preenchido 44,5 x 62,4 cm Koninklije Bibliotheek, Haia | 129 A 24 com representações de contactos entre Rectrizes de arara, fibras 65 x 35 cm Museu Nacional da Dinamarca, Colecções Etnográficas | HC.56 Este mapa pertence a um atlas índios e dos europeus, da vegetação, O primeiro encontro dos viajantes manuscrito que contém cartas náuticas dos animais aponta para um trabalho europeus no Brasil deu-se com as tribos da Europa, da África e da América e que feito em Dieppe, pelas semelhanças que costeiras. Eram os tupis – os tupiniquins, hoje se encontra na Biblioteca Nacional apresenta com os mapas do atlas Vallard na primeira fase e os tupinambás, dos Países Baixos, em Haia. e de alguns mapas do cartógrafo Pierre na segunda – guerreiros que tinham Trata-se de um atlas elaborado na Desceliers. invadido as áreas da costa. europeus e autóctones. O desenho dos Normandia, traçado por cartógrafos Antes do seu contacto com os europeus, portugueses ao serviço de armadores os tupinambás não costumavam franceses, ou por cartógrafos franceses, usar vestuário. Em ocasiões especiais com base em mapas portugueses. adornavam-se com penas, colando-as A obra foi, provavelmente, oferecida por directamente na pele ou incorporando- armadores da Normandia, a Henrique, -as nas suas indumentárias. As peças de delfim de França, futuro rei Henrique II vestuário mais elaboradas eram as capas Esta magnífica coroa foi referida pela primeira vez na Kunstkammer real dinamarquesa, em 1689. BRASIL BRASIL 49 de penas. Um dos tipos de toucado tupinambá é uma espécie de gorro com ou sem 60 61 ADORAÇÃO DOS MAGOS apropriação e conhecimento do mundo Francisco Henriques e segundo a cultura bíblica. O índio 52 DANÇA TAPUIA A pintura poderia ilustrar o testemunho Albert Eckhout (c. 1610-1665) de um outro artista, Zacharias Wagener, colaboradores, 1501-1506 brasileiro é aqui duplamente integrado Brasil, c. 1641 que fez desenhos sobre o mesmo Óleo sobre madeira de carvalho 130 x 79 cm Museu de Grão Vasco, Viseu | inv. 2145 na ordem cristã do universo, cristianizado dançam, completamente nus, com gritos Substituindo o tradicional negro (ou inserção entre os representantes dos Óleo sobre tela 168 x 294 cm Museu Nacional da Dinamarca, Colecções Etnográficas | EN 38 B «mouro») Baltasar por um índio da etnia povos da Terra que reconheceram o O pintor Albert Eckhout acompanhou, horas sem parar, o que é visto com prazer dos tupi-tupinambá, este painel do antigo Salvador Menino. com Franz Post, a comitiva de Maurits van e especial apreço como algo digno de retábulo da capela-mor da Sé de Viseu é Nassau ao Brasil, em 1637. Nesta sua grande grande admiração». O termo «tapuia» uma das mais inovadoras representações composição, que denota um interesse era uma denominação genérica utilizada da pintura portuguesa dos inícios do de conhecimento e registo etnográfico pelos primeiros colonos europeus para os século XVI. A imagem do índio, com da sociedade ameríndia, os executantes diversos grupos de índios, culturalmente sua lança e vestes emplumadas, parece da dança tapuia são representados com não uniformes, que viviam nas terras do traduzir simultaneamente um olhar notável soma de adereços e ornamentos. Brasil Oriental. maravilhado pelas fabulosas novidades das terras do Brasil (recém-descobertas pela armada de Cabral a 2 de Abril de tanto pelas roupas que cobrem a sua nudez «pré-adâmica» como pela sua motivo: «É assim que os índios tapuias aterradores, num círculo, bem organizados, uns atrás dos outros durante duas ou três BRASIL BRASIL 51 1500) e uma vontade de registo de tipo «etnográfico». Reflecte também, inevitavelmente, a vontade de integração do «Outro», da realidade desconhecida e «indomesticada», na velha ordem de 62 63 ESPADA COM BAINHA tais como longos Punhais, […] cobrem o Gana, povos Ashanti, punho com uma folha de ouro ou com VISTA DO RIO inovadora, graças à atmosfera misteriosa SÃO FRANCISCO e desolada, incluindo a rara figuração anterior a 1674 (ou mesmo 1641) a pele de uma espécie de Peixe que E DO FORTE MAURÍCIO de um cacto, e ao toque poético da Metal, madeira, pele de raia, pele animal, folha de ouro 76 cm Museu Nacional da Dinamarca, Colecções Etnográficas | Cb.7, Cb.8 apanham e que é tão estimado por eles Frans Jansz. Post (Países Baixos, representação realista de uma capivara, como o Ouro o é por nós.» c. 1612 – Brasil, 1680) o animal que se observa a pastar, As espadas ashanti eram bastante Brasil, 1639 placidamente, à beira do grande rio. coleccionadas nos séculos XVI e XVII, Óleo sobre tela 62 x 95 cm Museu do Louvre (Departemento de Pintura), Paris | inv. 1727 Estas imagens tinham um fim claramente dinamarquesas como «uma espada das Em 1637, o príncipe Johan Maurits van precisão refinada com o imediatismo da Índias Orientais com uma bainha de pele Nassau chegou ao Nordeste do Brasil descoberta, constituem um momento de raia polida». Possui uma lâmina longa para ocupar o cargo de governador- excepcional da descoberta da paisagem e curva, mais larga na ponta, guarda e -geral dos territórios que a Companhia americana, da luz e motivos tropicais, por copo bolbosos revestidos, à semelhança Holandesa das Índias Ocidentais um artista de formação europeia. da bainha, com pele de raia e um punho recentemente conquistara a Portugal. cilíndrico e dourado. Com ele ia o pintor Frans Post. Na sua «Descrição e relato histórico do Das sete pinturas conhecidas pintadas Reino do Ouro da Guiné», 1602, Pieter de por Post no Brasil, esta é talvez a mais como hoje se constata com base nos Esta espada ashanti foi registada pela primeira vez em 1674 nas colecções reais BRASIL 54 exemplares sobreviventes. decorativo, em contraste com a preocupação documental patente nos desenhos deste artista. Combinando uma BRASIL 53 Marees refere que os guineenses usam a menor quantidade possível de vestuário mas que transportam uma clava ou um punhal no cinto. E acrescenta: «São muito inteligentes no fabrico de armas, 64 65 S. FRANCISCO DE ASSIS Cristo crucificado se liberta da cruz COM O CRISTO SERÁFICO para abraçar Francisco, e, tema central São Paulo, Brasil, século XVII da Ordem, a representação do santo Barro policromado 102 x 63 x 54 cm Museu de Arte Sacra de São Paulo | 1298M em êxtase místico, de braços abertos, Afastando-se da tipologia escultórica testemunha um desvio relativamente mais frequente no Brasil do princípio do à ortodoxia no contexto do esforço século XVII, o relicário antropomórfico, missionário dos franciscanos na colónia, este grupo escultórico de barro pertence atestando assim a raridade desta peça. a uma produção de carácter vernacular e popular. Para tal contribui o tratamento rígido das anatomias, o respectivo BRASIL esquematismo dos panejamentos e o facto dos olhares não se cruzarem, frustrando assim o sentido de interacção entre as duas figuras. Contudo, do ponto de vista estritamente formal, o maior interesse deste exemplar reside na sua ambição ao confluir dois episódios: a visão celestial na qual 66 esperando receber as chagas do Cristo seráfico. Esta confluência de temas FICHA TÉCNICA Coordenação editorial: Ana Castro Henriques Texto: Paulo Henriques Fichas: José Alberto Seabra Carvalho Ana Castro Henriques Patrícia Milhanas Machado Teresa Pacheco Pereira, a partir das entradas do catálogo da exposição Encompassing the Globe, Lisboa 2009, dos autores: André Ferrand de Almeida 79; Charles Avery 40, 46; Gauvin A. Bailey 168, 173; José Alberto Seabra Carvalho 15, 84; Angelo Cattaneo 1; Kathy Curnow 66; Pedro Dias 12, 17, 102, 170; Silvia Dolz 63; Francisco Contente Domingues 8; Maria João Pacheco Ferreira 145; Jorge Flores 139; João Carlos Garcia 3, 24; Sabine Haag 31; Regina Krahl 150; Angela G. Kudriatseva 45; Jay Levenson 90; Jean Michel Massing 10, 39, 42, 49, 50, 52, 54, 60, 72, 76, 82, 85, 87; Maria Menshikova e Regina Krahl 149; Nathalie Monnet 157; Teresa Morna 16; Leonor d’ Orey 19; Leonor d’Orey e Maria da Conceição Borges de Sousa 36; Teresa Pacheco Pereira 118; Matthias Pfaffenbichler 35; António Estácio dos Reis 6; Nuno C. Senos 95; Vítor Serrão 14; Maria da Conceição Borges de Sousa 143, 158, 163; Nuno Vassallo e Silva 25, 29, 122, 131, 133 ; Irina A. Zagorodnaya 28. Créditos de Fotografia: ALBERTINA, Viena: 39 (ERTL, P.) ANTT, Lisboa: 17 (José António Silva/AN/TT) Biblioteca Casanatense, Roma. Autorização do Ministero per i Beni e le Attivita’ Culturali: 102 Biblioteca da Ajuda, Lisboa: 8 (Luís Marques/IGESPAR) Biblioteca Estense Universitaria, Modena. Autorização do Ministero per i Beni e le Attivita’ Culturali: 3 Biblioteca Pública de Évora: 139 (José António Silva, AN/TT) CGD, Lisboa, depósito no MNAA: 12 (Alfredo Dagli Orti) Casa-Museu da Fundação Medeiros e Almeida, Lisboa: 150 (Nuno Fevereiro) Colecção particular: 131 170 (© Pedro Lobo) Convento de Cristo, Tomar: 16 (IGESPAR/Laura Castro Caldas/Paulo Cintra) Florença, BNC, MAG1. XIII, 16. Autorização do Ministero per i Beni e le Attivita’ Culturali/ Biblioteca Nacional Central. Qualquer publicação sem autorização é expressamente proibida: 1 Graphische Sammlung, Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nuremberga: 42 Haia, Koninklijke Bibliotheek, 129 A 24: 79 IGESPAR/Museu de Marinha, Lisboa: 6 (Rui Salta) Kunsthistorisches Museum Viena, Kunstkammer: 29, 25, 31, 133; Museum für Völkerkunde: 50; Rüstkammer: 35 Kupferstichkabinett, SMB/ Jörg P. Anders: 40 Ministère des Affaires Etrangères, France, Igreja de S. Luís dos Franceses, Lisboa: 14 (Manuel Palma) Musée du Louvre, Paris: 90 (© RMN/ Franck Raux) © Musée Royal de l’Afrique Centrale/ Collection RMCA Tervuren: 76, 54 (J.-M. Vandyck, RMCA Tervuren ©) Museu de Arte Sacra de São Paulo/Organização Social de Cultura/Secretaria de Estado de Cultura/ Governo do Estado de S. P. – Brasil: 95 (Foto: Rômulo Fialdini) Museu de Grão Vasco, Viseu: 84 (IMC/DDF/José Pessoa) © Museu Estatal Hermitage, Sampetersburgo, Maria L. Menshikova: 149 Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: 10 (Carlos Ladeira © Sociedade de Geografia de Lisboa) © Museu Nacional da Dinamarca, Colecções Etnográficas, Copenhaga: 72 (cortesia do museu), 82, 85, 87 Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa: 15, 19, 36, 118, 143, 145 (IMC/DDF/ José Pessoa), 163 (IMC/DDF/ Luís Pavão), 158 (IMC/DDF/ Francisco Matias) Museu Nacional de Artes Decorativas, Madrid: 60 Museum für Völkerkunde Dresden: 63 © Museus do Kremlin, Moscovo: 45, 28 Patrimonio Nacional, Madrid (Palácio Real): 24 Património del Fondo Edifici di Culto, amministrato dal Ministero dell’ Interno (Dipartimento per le Liberta Civili i el Immigrazione – Direzione Centrale per l’ Amministrazione del Fondo Edifici di Culto), em depósito na Chiesa del SS. Nome di Gesù, Roma: 173 (© Zeno Colantoni) Santa Casa da Misericórdia do Sardoal: 168 (Nuno Fevereiro) Schatzkammer des Deutschen Ordens, Viena: 49 Stift Kremsmünster, Kunstsammlungen: 46 © The British Library Board. Reservados todos os direitos: 157 © The Trustees of the British Museum. Reservados todos os direitos: 66 V&A Images/ Victoria and Albert Museum, Londres: 122 Design gráfico: Mafalda Matias Capa: a partir de imagem global da Exposição, concebida por DDLX BRASIL 55 Impressão: Astrografe - Artes Gráficas, Lda. ISBN: 978-972-776-395-5 Depósito legal: 299496/09 Tiragem: 2500 exemplares 67