REGIÃO, AGLOMERAÇÕES E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO:
NOTAS DE PESQUISA
Moacir Piffer1
Lucir Reinaldo Alves 2
Resumo: O elemento básico da análise regional é próprio conceito de região e sua relação
com as aglomerações urbanas. Neste sentido, o objetivo desse artigo é discutir a concepção
de região na análise regional e seus rebatimentos na concepção de aglomerações urbanas
e desenvolvimento econômico. O conceito de região não é homogêneo nem, ao mesmo
tempo, unânime, ou seja, o mesmo é difuso e ambíguo. Podem existir várias interpretações
sobre o conceito região, tantos quantos forem os objetivos de pesquisa de quem trabalha
com análises regionais. A concepção de região e de aglomerações urbanas estão
diretamente ligadas, e o processo de desenvolvimento econômicos tende cada vez mais
transformar os lugares, transformando-os de acordo com seus interesses e redefinindo as
regiões, deixando cada vez mais árdua a tarefa de se chegar a uma única concepção do
próprio conceito de região. Assim, os diferentes aportes teórico-metodológicos evidenciam e
sinalizam as razões originais da reconhecida ambigüidade e difusa pela qual se reveste a
noção de região, que remetem as dificuldades da formação e da afirmação desse conceito.
Palavras-Chave: Região; Análise regional; desenvolvimento.
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Doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Professor
Adjunto do Colegiado de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento regional
e Agronegócio – nível mestrado e doutorado - na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE)/Campus Toledo. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e
Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected]; [email protected]
2
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Professor
Assistente do Colegiado de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE)/Campus de Toledo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e
Desenvolvimento Regional (GEPEC) e do Grupo Dinâmicas Sócio-Econômicas Nacionais e Regionais
Comparadas (DISENREC). E-mail: [email protected] ou [email protected]
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REGIÃO, AGLOMERAÇÕES E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO:
NOTAS DE PESQUISA
1. Introdução
Todas as Ciências, especificamente, as Ciências Sociais Aplicadas buscam enfocar
os objetos de estudos partindo de uma definição ou conceitos básicos, sobre os quais são
construídos arcabouços teóricos e práticos para fazer parte de um vocabulário usual das
pessoas. No entanto, paradoxalmente esses conceitos são mais imprecisos e dão margem
às maiores discussões entre os cientistas. Assim são os conceitos de preço, valor, classe
social, ciência regional, espaço e região, etc.
Essa discussão se estende até os dias atuais em um processo constante de
modificações e redefinições nas categorias espaço e região, em direção a uma ciência
regional de cunho holístico e interdisciplinar. Neste sentido, este estudo tenta trazer um
conceito de região, respeitando as diversidades das outras ciências, em que neste artigo
terá um enfoque mais geográfico.
Qualquer cidadão comum tem em mente a idéia de região, todavia, ao perguntar a
um cientista social, ou mais precisamente àqueles que se preocupam com a análise
espacial ou regional, dificilmente será apresentada uma conceituação precisa do termo. O
elemento básico da análise regional é, obviamente, o conceito de região e sua relação com
as aglomerações urbanas. Todos os esforços e tentativas mostraram ser tão estéreis de
encontrar uma definição universal aceitável de região. Nenhum conceito homogêneo de
região pode satisfazer, ao mesmo tempo, a geógrafos, a cientistas políticos, a economistas,
a antropólogos, etc. Por isso, esse artigo discute a concepção de região na análise regional
e seus rebatimentos na concepção de aglomerações urbanas e desenvolvimento
econômico.
2. Região, regionalizações e desenvolvimento regional
Benko (1999) afirma que região, regionalização, desenvolvimento regional, são
termos familiares para toda a gente. A noção de região é também utilizada em numerosos
contextos: regiões culturais, econômicas, históricas, turísticas ou ainda de conflito, de
guerra.
Com os avanços científicos ligados à evolução da sociedade foi possível perceber
que o período do pós-guerra surgiu novas ciências, como a ciência das comunicações ou a
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ciência regional. A ciência regional para Benko (1999) é, portanto um dos ramos mais
recentes das ciências sociais e econômicas. Com a introdução desta nova ciência, muitas
teorias, métodos, técnicas e conceitos vieram enriquecer as investigações feitas
anteriormente. Em síntese, para Benko (1999) a ciência regional apresenta características
de uma ciência de síntese: é a partir de dados analíticos fornecidos por diferentes
especialistas que se torna possível discernir, de entre o acervo de casos particulares
proporcionados pela região, certas leis fundamentais da lógica da distribuição das
atividades.
As investigações destinadas à elucidação do conceito de região são muito antigas.
Benko (1999) sintetiza um período longo desta fala. No século XIX e nos começos do século
XX, são, sobretudo os geógrafos que manifestam uma grande curiosidade a propósito deste
problema. Segundo Brunet, Ferras e Théry (1993, p. 421), a região é “uma das palavras das
mais difundidas, das mais vagas e das mais polisêmicas da Geografia”. Nesta perspectiva
Gomes (1995) afirma que na tentativa de tornar a região um conceito científico, acabou-se
herdando a imprecisão, a indefinição e a intensidade do seu uso na linguagem comum,
assim como, a diversidade de significados resultante do debate epistemológico existente na
construção da ciência geográfica.
Já, a partir dos anos 1950, os economistas e os politólogos arriscam-se a defini-lo
operacionalmente. Numa primeira etapa, passa-se gradualmente da noção de região natural
à noção de região econômica, assistindo-se em seguida a uma renovação de idéias sob a
inspiração dos economistas espaciais e com o impulso da “nova geografia”, preocupada em
explicar os fenômenos regionais.
As primeiras tentativas de definição são parciais (Brocard, Leontief, Lösch, etc.). O
próprio fundador da ciência regional, Walter Isard, considera que o conceito de região é
enganador e que não passa de uma simples generalização do espírito, atribuindo
conseqüentemente grande importância a uma boa análise das estruturas e dos fluxos que
caracterizam a porção de espaço considerada.
Na terceira fase desta investigação fundamental, Boudeville, Perroux e Richardson,
que se completam mutuamente na análise dos espaços econômicos aplicados à região
distinguem:
a) A região homogênea, de inspiração agrícola, que se define por uma dispersão
mínima das características de cada unidade elementar em relação ao conjunto;
b) A região polarizada, de inspiração industrial, correspondente ao conceito de
espaço como campo de forças;
c)
A região-plano ou programa, de inspiração prospectiva, ao serviço das
empresas e das autoridades públicas, que é um conceito operacional e
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concebido para a ação. É também uma região administrativa, um espaço cujas
diversas partes revelam de uma mesma decisão.
Assim, para Benko (1999: 18) citando Lajugie “a região corresponde a uma área
geográfica que constitui uma entidade que permite, simultaneamente, a de descrição de
fenômenos naturais e humanos, a análise de dados socioeconômicos e a aplicação de uma
política”.
A ciência regional volta-se para os problemas da integração regional, que não tem
somente implicações econômicas, mas também conseqüências políticas e culturais.
Descobre-se uma nova geografia dos grandes conjuntos, das macro-regiões, dos blocos
regionais, ou simplesmente uma geografia do mundo globalizante.
Segundo Benko (1999) a evolução da noção de região no século XX fez os
economistas, os geógrafos, os historiadores e os sociólogos compreenderem que região é
um produto social gradualmente construído por sociedades nos respectivos espaços de
vida.
O importante a ressaltar é que o conceito de região deve ser dinâmico, pois as
estruturas internas das regiões, que condicionam as extensões de suas áreas, se modificam
com o decorrer do tempo. Da mesma maneira, se altera o sistema ou o conjunto de regiões
interdependentes de um espaço e, em conseqüência, suas configurações no espaço
econômico e geográfico.
O termo região na concepção de Correa (2001) deriva do latim régio, que se refere
à unidade político-territorial em que se dividia o Império Romano. Sua raiz está no verbo
regere, governar, o que atribui à região, em sua concepção original, uma conotação
eminentemente política.
Região é um conceito chave para os geógrafos e tem sido empregado também por
todos os cientistas sociais quando incorporam em suas pesquisas a dimensão espacial.
Neste contexto, Correa (2001) argumenta que o conceito de região tem se constituído, ao
longo da história moderna do pensamento geográfico, em um dos seus conceitos-chaves, os
outros sendo os de paisagem, espaço, lugar e território.
Segundo Correa (2001), até 1970 aproximadamente, três grandes acepções de
região foram estabelecidas entre os geógrafos.
A primeira apóia-se nos dados da natureza. Trata-se da região natural, a qual é
concebida como uma porção da superfície terrestre identificada por uma específica
combinação de elementos da natureza como, sobretudo, o clima, a vegetação, a vegetação
e outros.
A segunda origina-se de uma reação à matriz positivista que sustentava a leitura
determinista da região natural: A região paisagem. A matriz agora é o historicismo de base
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neokantiana, enfatizando a separação entre ciências naturais e sociais, atribuindo um
caráter idiográfico aos eventos e às regiões, ao tempo e ao espaço.
A terceira não elimina as anteriores, a região é considerada a partir de propósitos
específicos, não tendo a prior, como no caso da região natural e da região-paisagem, uma
única base empírica. É possível identificar regiões climáticas, regiões industriais, regiões
nodais, ou seja, tantos tipos de regiões quantos forem os propósitos do pesquisador: a
região plural.
Neste enfoque, Correa (2001) conceitualmente a região é uma classe de área, isto
é, um conjunto de unidades de área, como os municípios, que apresenta grande
uniformidade interna e grande diferença face os outros conjuntos.
Correa (2001) aponta que três conceitos de região foram desenvolvidos após 1970.
O primeiro refere-se à região como resposta aos processos capitalistas, sendo a região
entendida como organização espacial dos processos sociais associados ao modo de
produção capitalista. Trata-se da regionalização da divisão social do trabalho, do processo
de acumulação capitalista, da reprodução da força-de-trabalho e dos processos políticos
ideológicos.
O segundo conceito a região é considerada como foco de identificação, sendo
“definida como um conjunto específico de relações culturais entre um grupo e lugares
particulares”, uma “apropriação simbólica de uma porção do espaço por um determinado
grupo” e, assim “um elemento constituinte de uma identidade”.
Duas tem sido as fontes desta abordagem. Uma é a geografia humanista que se
apóia nas filosofias do significado e que, em última instância, considera a região como um
espaço vivido. A outra é a geografia cultural renovada, cuja origem remonta aos estudos
sobre paisagem.
Na terceira o conceito de região é considerado como meio de sua conceitualização
pós 1970. Trata-se de uma visão política da região com base na idéia de que dominação e
poder constituem fatores fundamentais na diferenciação de áreas.
Nesta perspectiva Lajugie apud Benko (1999, p. 18) afirma que:
“A região corresponde a uma área geográfica que constitui uma entidade que
permite, simultaneamente, a descrição de fenómenos naturais e humanos, a
análise de dados socioeconómicos e a aplicação de uma política. Funda-se em
duas características principais: homogeneidade e integração funcional, e resulta,
ao mesmo tempo, num sentimento de solidariedade vivida e em relações de
interdependência com os restaqntes conjun tos regionais e com o espaço nacional
e internacional”
Lencione (2001) diz que a palavra região torna os geógrafos prisioneiros de um
problema complexo, pois tem sentidos variados. É de uso corrente e, como às vezes ocorre
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com o discurso geográfico, se exprime por metáforas. Outra dificuldade é o fato de assumir
freqüentemente, um caráter ideológico, na medida em que serve de referência para a
construção de mistificações geográficas, tornando-se, por isso, um instrumento de
manipulação política.
Deste modo, na concepção de Lencione (2001) a busca por novos caminhos de
análise na geografia surgiu no momento em que o lugar, o regional e o global se
recompuseram diante da recente reestruturação do capitalismo. Nesta perspectiva a autora
diz que, evidentemente, o que não se sustenta mais hoje em dia é a idéia de região nos
moldes clássicos. O processo de homogeneização, longe de significar aniquilamento da
região, significa fragmentação e também diferenciação regional. Tanto é que os movimentos
regionalistas emergem como força política no momento em que o processo de globalização
procura açambarcar e homogeneizar todo o espaço. O movimento regionalista nega o
nacional, podendo se fechar em sua particularidade, e se coloca com um sentido totalmente
inverso de outrora, quando afirma que a identidade regional afirmava a identidade nacional,
pois a construção do sentimento de pertencer a uma região integrada num todo harmônico,
sob a direção do Estado, afirmava o sentimento nacionalista.
Para Lencione (2001)
há duas concepções diferentes de região. Na primeira
perspectiva, referida, muitas vezes, como ambientalista, a região existe em si mesma, ou
seja, ela é auto-evidente e cabe ao pesquisador reconhecê-la por meio de análises. A
região, portanto, se coloca como objeto de estudo a priori. No segundo caso, a região não
existe por si mesma, ela não é objeto de estudo no sentido restrito do termo, pois ela se
conforma no final do processo de investigação, processo esse que constrói o recorte
espacial por meio de elaboração de critérios definidos no processo de investigação.
Brito (2007) argumenta que as regiões comportam formas e conteúdos diferentes
no processo contraditório do capitalismo e que o modo de produção não garante a
homogeneidade das regiões. Ao contrário, ele instiga as diferenças como forma de produzir,
em cada lugar, algum tipo de vantagem comparativa para a acumulação de capital. Quanto
mais influências externas os lugares sofrerem, mais eles se tornarão singulares, únicos.
Segundo Santos (1988, p. 47) “a região torna-se uma importante categoria de
análise, importante para que se possa captar a maneira como uma mesma forma de
produzir se realiza em partes especificas do Planeta ou dentro de um país, associando a
nova dinâmica às condições preexistentes”.
Para compreender a região segundo o mesmo autor, torna-se necessário o
entendimento de como a vida nela funciona, suas especializações produtivas, suas relações
internas e o seu arranjo particular em constante dinamismo. Seria insuficiente sem a
compreensão da totalidade do movimento que a condiciona. A região é o resultado do fluxo
de ações internas e externas. Assim, para compreendê-la, é preciso entender como ocorre a
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internalização dos processos externos, tendo em conta o que nela preexiste antes da
chegada do externo, ou seja, sua história. Neste sentido, o processo mundial de produção
tem diferentes resultados conforme cada lugar ou região.
3. Região, aglomerações urbanas e desenvolvimento econômico
A formação do sistema de aglomeração espacial das atividades urbanas atrai
excedentes rurais de empregos, renda e riqueza que são apropriados pela economia urbana
que exercem a plenitude das inter-relações da vida econômica e social, ou seja, demandam
e ofertam bens e serviços em toda a área urbana e, em seu entorno.
É neste aglomerado urbano que a comercialização de produtos agrícolas será
realizada, assim como, as atividades urbanas (serviços, comércio, financeiros, indústrias,
etc), irão estabelecer a força de atração e motrização de novas atividades, e manter contato
dinâmico com o resto do sistema econômico e social.
O locus de atividades econômicas a que se refere esta análise regional é os ramos
de atividades dos centros urbanos. Por este motivo é que as cidades são consideradas na
concepção de Berry (1975):
“como os instrumentos sobre os quais as sub-regiões especializadas se articulam
num espaço econômico nacional. Elas são os centros da atividade e de inovação,
pontos focais das redes de transportes, localizações de acessibilidade superior nas
quais às firmas podem obter, com maior facilidade, economias de escala e nas
quais os complexos industriais podem obter economias de localização e de
urbanização”.
Por outro lado, as cidades são heterogêneas, elas possuem dinâmicas diferentes
quanto ao tamanho, função, posição espacial relativa, hierarquia, etc. Todavia, a atração do
centro urbano pode ser entendida como uma síntese do seu entorno de crescimento e
desenvolvimento.
A teoria da centralidade tanto na versão de Cristaller (1966), como na de Lösch
(1954), afirmam que as cidades são essencialmente centros prestadores de serviços para
as populações do seu entorno e que são espacializadas dentro de um padrão hierárquico
que de algum modo segue a hierarquia dos bens que ela tem para oferecer.
Richardson (1975) complementa essa teoria afirmando que:
“a função primordial das cidades é atuar como centro de serviços para o interior
imediatamente mais próximo a ela (denominado região complementar) fornecendo
bens e serviços centrais como comércio atacadista e varejista, serviços bancários,
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organizações de negócios, serviços profissionais, serviços administrativos,
facilidades de educação e diversão”.
Esses efeitos proporcionam aos diversos ramos das atividades urbanas um
crescimento que induz e polariza toda a economia urbana, bem como a economia agrária.
Com enfoque distinto, Harvey (1980, p. 174-203) vê a cidade mais que uma simples
fornecedora de bens e serviços, ele considera a urbanização dentro de um processo geral
de transformação da sociedade. Na sua argumentação as cidades surgem como uma
maneira de concentrar força de trabalho para extração de um excedente. Ao longo do tempo
as suas formas e funções se transformam em função desse excedente. O autor afirma que
há necessidade da concentração do excedente em algum tipo de cidade. Há também
necessidade da articulação de um espaço econômico suficiente para possibilitar e facilitar
essa concentração.
Dessa forma, Ferrera de Lima e Koehler (1998), lembram que a cidade passa a
exercer mais uma função: ela torna-se responsável pela absorção da força de trabalho rural
que se destina à cidade em busca de novas oportunidades de emprego nos setores urbanos
(indústria e serviços). Assim, as cidades são fornecedoras de bens e serviços para si e para
a região de sua influência, tornando-se centrais em relação às demais.
Por isso, Souza (1996) sintetiza a importância da urbanização para a economia
regional, afirmando que o espaço urbano é uma forma altamente favorável ao
desenvolvimento capitalista. Sposito (1989) complementa afirmando que as características
urbanas de concentração, de densidade, viabilizam a realização mais rápida do ciclo do
capital. Assim, a ampliação do processo de urbanização determina a articulação entre os
lugares e acentua a divisão social do trabalho que o capitalismo provoca e de que necessita
para se reproduzir.
Neste sentido, Benko (1999) afirma que a divisão social do trabalho e, através dela
grande variedade oferecida nas transações facilitam a flexibilidade do sistema produtivo.
Dessa forma, a aglomeração geográfica dos setores e a divisão social do trabalho
interagem-se entre si no espaço e no tempo. A urbanização surge como característica
fundamental nesse processo. Uma urbanização densa e uma forte aglomeração são
características fundamentais na dinâmica do desenvolvimento capitalista.
Para Singer (2002) a cidade é o lugar no qual se concentra o excedente alimentar e
toda produção agrícola. Nas cidades, esses excedentes são comercializados, transformados
e redistribuídos para a região. Além disso, as cidades exercem outros serviços urbanos de
toda a espécie. Todas essas funções são distribuídas entre as cidades de acordo com o
tamanho das mesmas. Nessa linha, Paul Singer afirma que “devido à especialização das
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cidades há o desenvolvimento de um sistema de trocas entre elas, configurando assim, uma
rede urbana”.
Allan Pred (1979) desenvolveu um trabalho que enfatiza a influência dos grandes
centros urbanos no entorno da economia em que não dá para tratar isoladamente os
problemas relativos à desigualdade de renda, às oportunidades de emprego e de riqueza,
no espaço.
Neste sentido Pred (1979, p. 9-13) entende que:
“os processos pelos quais as cidades e regiões inter-dependentes – os sistemas de
cidades – cresceu e se desenvolveu nas sociedades economicamente adiantadas.
Isto porque o crescimento de cada complexo metropolitano não ocorre dentro de
um vácuo isolado, mas grandemente influenciado por fatores ocorridos em outros
centros metropolitanos e em cidades menores”.
Ele define um sistema de cidade como “... um conjunto nacional ou regional de
cidades que são de tal forma inter-dependentes que qualquer mudança significativa nas
atividades econômicas, estrutura ocupacional, renda total ou população provoca direta ou
indiretamente modificações de um ou mais membro do conjunto” (PRED, 1979).
Portanto, a essência da sua análise é que o crescimento de um sistema de cidades
é resultante, direta ou indiretamente, de um conjunto de decisões relativas à localização e
ao volume de atividades geradoras de emprego tanto público como privado.
Nesta parte, serão abordadas as principais teorias sobre as formas de propagação
espacial do crescimento que impulsionam o desenvolvimento dos pólos, em virtude das
economias de aglomeração que se formam e se difundem no próprio processo dos centros
urbanos.
A análise teórica de desenvolvimento de Hirschmann (1977) busca formar as idéias
de mecanismo de transmissão indutor inter-regional de crescimento e de poder de
encadeamento. Em sua investigação partiu do pressuposto de que “o progresso econômico
não ocorre ao mesmo tempo em toda parte e que uma vez ocorrido, forças poderosas
provocam uma concentração espacial do crescimento, em torno dos pontos onde o
processo se inicia” (Hirschmann 1977; Perroux, 1977).
Com isso Hirschmann (1977 p. 39) afirma que:
“os efeitos de fluência e de polarização sobre duas regiões (norte-sul), não importa
quão forte e exagerada seja a preferência espacial dos agentes econômicos uma
vez que o crescimento se fortaleça em parte do território nacional, obviamente
coloca em movimento, certas forças que atuam nas partes restantes”.
Neste sentido Hirschmann (1977) procurou formas de difundir os novos métodos e
as novas formas de organização da produção para toda a economia, inclusive incorporando
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os setores atrasados ao processo de expansão. De acordo com suas próprias palavras,
sobre o mecanismo indutor do crescimento, “pode ser encontrado numa certa característica
do investimento, a saber, sua capacidade de contágio na geração de mais investimento”
(HIRSCHMANN 1958:41).
Hirschmann (1958 e 1977) chamou isso de efeito complementar para enfatizar que
os impulsos de crescimento em um setor transferem-se, em geral, para outros por meio da
organização do meio econômico. Neste aspecto Hirschmann (1977),
ao tratar sobre o
mecanismo indutor argumenta que em sua essência consiste num melhor aproveitamento
possível dos efeitos inter-setoriais e inter-regionais, em especial dos complementares, por
meio do mercado e das instituições, progressivamente.
Através dos efeitos complementares, Hirschmann (1977) chegou ao conceito de
encadeamento para trás e para frente, por intermédio dos quais o crescimento de uma
unidade industrial provoca o crescimento, respectivamente, das indústrias que lhe fornecem
matéria-prima e/ou insumos e das indústrias demandantes de seu produto e serviços.
Esses efeitos complementares e/ou cadeia discutidos por Hirschmann (1977) se
tornam necessários para formar uma seqüência o efeito de encadeamento na tendência de
descobrir os setores ou atividades econômicos que formam a dinâmica da geografia
econômica e social urbana, e, dentre os ramos quais teriam mais especialidade de produzir
economias de aglomeração urbana. Dentro desta lógica será tratado neste estudo.
Neste aspecto Perroux (1977) preocupou-se com o desenvolvimento regional na
ótica da polarização/aglomeração e destacando em seu estudo os efeitos provocados pelas
indústrias motrizes na economia, dentro do espaço geográfico que ocupam e atuam. Sobre
essa ótica as empresas motrizes funcionam como elo indutor no investimento, influem nas
decisões das outras empresas.
Desta forma, as indústrias e/ou empresas exercem um papel de propulsoras,
indutoras e de transformações da estrutura regional e local, provocando o aparecimento de
novas atividades dinamicamente complementares (a la Hirschmann), às próprias ou outras
atividades da região especificamente urbanas. O conjunto de atividades atua de forma
articulada no sentido de causação na transmissão de impulsos de crescimento para toda
estrutura da economia regional, especificamente para o centro urbano, o que se justifica na
concepção de Hirschmann.
A aglomeração das atividades urbanas exerce uma força centrífuga, as quais se
relacionam na venda e na compra de bens e serviços, na propagação de inovação e no
progresso tecnológico com todo grupo. Com isso, há um deslocamento de capitais e mãode-obra para esses centros urbanos em busca de acúmulo de capital, emprego, renda e
riqueza.
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O trabalho de Perroux (1977) vai permitir mostrar as atividades da economia urbana
e sua polarização, as quais são capazes de impulsionar a economia de uma região urbana
quando vista dentro de um campo aglomerativo.
No caso das cidades, segundo Myrdal (1968), a aglomeração das atividades
urbanas ocorre nos centros em expansão. Com isso, há um deslocamento de mão-de-obra,
e de capitais, para esses centros urbanos em busca de acúmulo de capital, emprego, renda
e riqueza. Na mesma linha, Santos (2003) afirma que a polarização se dá através dos
serviços urbanos que a cidade é capaz de oferecer. As transformações ocorridas no meio
urbano e no rural devido ao crescimento da produção e da acumulação de capital reduzem a
oferta de trabalho e expulsam mão-de-obra. Dessa forma, a cidade que disponibiliza
serviços comerciais, bancários, políticos, de informações e demais serviços urbanos, se
beneficia desse processo e torna-se atrativa para as economias agrícola e urbana que
necessitam desse “meio” para atender suas necessidades, que são de atividades modernas
e altamente tecnificadas.
Neste sentido, Benko (1999) afirma que a divisão social do trabalho e, através dela
grande variedade oferecida nas transações facilitam a flexibilidade do sistema produtivo.
Dessa forma, a aglomeração geográfica dos setores e a divisão social do trabalho
interagem-se entre si no espaço e no tempo. A urbanização surge como característica
fundamental nesse processo. Uma urbanização densa e uma forte aglomeração são
características fundamentais na dinâmica do desenvolvimento capitalista.
Dessa forma, nota-se que a urbanização é mais que um simples aumento da
população urbana em relação à população total. Ela envolve um conjunto de fatores que se
forma histórico, econômico, social e geograficamente e deve ser analisada neste contexto.
Já, Singer (2002) afirma que a configuração de um centro urbano polarizado e
urbanizado ocorre com a introdução da industrialização. Para ele, as cidades que
configuram-se como os principais centros comerciais são as que atraem a industrialização
mais intensa e, em conseqüência, atraem serviços mais especializados e população.
Para Singer (2002) a industrialização faz surgir uma gama de variedades de
serviços e mais crescimento demográfico que propicia maior diversificação e especialização
desses serviços. Assim, a aglomeração espacial (polarização) das atividades produtivas –
que se traduz em sua urbanização – é um requisito da crescente especialização e de
complementaridade impulsionados pela industrialização.
Considerações finais
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O objetivo deste artigo foi discutir a concepção de região na análise regional e seus
rebatimentos na concepção de aglomerações urbanas e desenvolvimento econômico.
Percebe-se que o conceito de região não é homogêneo nem, ao mesmo tempo,
unânime, ou seja, o mesmo é difuso e ambíguo. Podem existir várias interpretações sobre o
conceito região, tantos quantos forem os objetivos de pesquisa de quem trabalha com
análises regionais.
Por outro lado, é perceptível que as teorias sobre aglomerações urbanas e
desenvolvimento regional buscam defender a ideia de que tanto o processo de
desenvolvimento como o de aglomeração ocorrem no decorrer do tempo a partir da
ocorrência de determinadas características. A urbanização pode se refletir de diversas
formas, desde uma série de funções oferecidas à população local (empregos e oferta de
bens e serviços básicos), até funções que atendem demandantes externos à região.
Independentemente do tipo de função que uma cidade pode oferecer o certo é que
o período necessário para criação e oferta dos diferentes bens e serviços é demorado e
transforma a região nesse processo. Essa transformação trará rebatimentos à sua paisagem
e à sua estrutura produtiva e, consequentente, à sua identidade enquanto região. Regiões
próximas poderão se unir nesse processo e formar aglomerações de regiões numa
hierarquia de funções e polarizações, e ao mesmo tempo, diferentes atividades urbanas
poderão se concentrar em determinados locais reforçando ainda mais as transformações
nas estruturas regionais.
Dessa forma, a concepção de região e de aglomerações urbanas estão diretamente
ligadas, e o processo de desenvolvimento econômicos tende cada vez mais transformar os
lugares, transformando-os de acordo com seus interesses e redefinindo as regiões,
deixando cada vez mais árdua a tarefa de se chegar a uma única concepção do próprio
conceito de região. Assim, os diferentes aportes teórico-metodológicos evidenciam e
sinalizam as razões originais da reconhecida ambigüidade e difusa pela qual se reveste a
noção de região, que remetem as dificuldades da formação e da afirmação desse conceito.
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região, aglomerações e desenvolvimento econômico