A Ex p o s i ç ã o Re p e t i d a à L u z So l a r e o M e l a n o m a
Os raios solares atingem a nossa pele por ação linear direta, através da difusão
dos raios pela atmosfera e através da reflexão dos mesmos. A exposição solar
continuada promove um espessamento de todas as camadas da epiderme
(camada mais superficial da pele), com exceção da camada basal, na qual os
melanócitos (células que contém pigmentos que dão coloração à pele) tornam-se
mais ativos. A exposição crônica aos raios solares, especialmente de indivíduos
de pele clara, provoca não somente envelhecimento prematuro e acentuado, como
também lesões pré-malignas (pré-cancerosas) e malignas (cancerosas).
Um estudo publicado em junho de 2000 pela revista $UFKLYHVRI'HUPDWRORJ\
concluiu que o risco de desenvolvimento de melanoma, em caso de exposição
contínua às radiações solares ultravioletas mostrou-se diminuído, diferentemente
da exposição intermitente às radiações ultravioletas do sol, que leva a um risco
aumentado de desenvolvimento de melanoma.
O melanoma, um tipo de FkQFHU de pele, é muito mais comum na raça branca,
isto é, indivíduos de pele clara, olhos claros, que mais se queimam do que se
bronzeiam quando expostos ao sol, do que os morenos. Dos tumores cutâneos, o
PHODQRPD é o menos comum, porém é o que mais preocupa, por sua peculiar
capacidade de se metastatizar (disseminar-se a outras partes do corpo), mesmo
quando a lesão é ainda pequena.
No período entre dez e quatorze horas as radiações são mais lesivas pela maior
quantidade de raios ultravioletas (UVB). Aproximadamente 90% das lesões de
pele pré-neoplásicas (pré-cancerosas), carcinomas e melanomas, estes últimos,
considerados lesões dermatológicas cancerosas, localiza-se nas áreas mais
expostas ao sol (face, pescoço, mãos e braços). Em homens, a localização
preferencial dos melanomas é a cabeça e tronco. Em mulheres, braços e pernas
são regiões preferenciais dos melanomas. Nas pessoas morenas, as localizações
preferenciais são as regiões das palmas das mãos e plantas dos pés. O efeito da
radiação solar é cumulativo, isto é, vai se processando gradativamente com a
idade, o que justifica a maior freqüência de FkQFHU de pele nas últimas décadas
de vida.
A incidência do PHODQRPD vem crescendo indiscutivelmente em todo o mundo.
Nos Estados Unidos, em 1935, a chance estatística de um indivíduo de pele clara
adquirir um melanoma durante toda a vida era de 1 para 1.500. Em 1991, esta
chance subiu para 1/105, e a previsão para este ano, é de 1 para 75. Apesar do
aumento da incidência, a mortalidade está baixando. Atualmente, a taxa de
mortalidade é de 70 a 80%. Uma vez que não houve ainda um desenvolvimento
significativo no tratamento do PHODQRPD metastático (um tipo de PHODQRPD mais
invasivo), pode-se concluir que a diminuição da mortalidade esteja relacionada
com o diagnóstico mais precoce e o melhor entendimento da ocorrência da
doença.
2HVWXGR
A exposição solar é o principal fator de risco causal do desenvolvimento do
melanoma, de acordo com um trabalho realizado pela Agência Internacional de
Pesquisa sobre &kQFHU (,QWHUQDWLRQDO$JHQF\IRU5HVHUDUFKRQ&kQFHU- IARC).
Neste trabalho, um estudo do tipo caso-controle, foram avaliados 583 pacientes,
com idade entre vinte a sessenta e nove anos, originários da região sul de Ontário,
Canadá. Estes pacientes foram identificados como portadores de PHODQRPD
cutâneo, através de relatórios provenientes de hospitais ou laboratórios de
patologia, emitidos por patologistas, entre os anos de 1984 a 1986.
Os autores procederam à verificação da associação dos riscos de
desenvolvimento de PHODQRPD às diversas situações: a exposição intermitente e
contínua à radiação solar ultravioleta, a época de exposição à radiação UV
(adolescência ou idade adulta), e a interação destas condições a outros fatores de
risco, como o tipo de pele do indivíduo.
Os pacientes foram avaliados através de um questionário estruturado e entrevista,
que foram utilizados para o auxílio à obtenção de informações acerca da
exposição solar e a reação da pele a esta exposição ao sol. A interação entre
exposição contínua e intermitente à radiação solar ultravioleta foi avaliada por
pesquisadores, coordenados pela Dr.ª Cattaruzza, através de indicadores préestabelecidos.
Foram utilizados cinco indicadores da exposição intermitente à luz solar, incluindo
relatórios de férias feitos por pessoas com idade entre 12 e 18 anos e
queimaduras causadas pelo sol, em um passado de cinco anos.
Para a avaliação da exposição contínua ao sol, durante a adolescência e nos
cinco anos que antecederam a pesquisa, foram utilizados dois indicadores. O
primeiro indicador referindo-se às atividades realizadas ao ar livre, entre as idades
de 10 e 20 anos. O segundo, referindo-se ao tempo de exposição à luz solar, em
média, no verão e durante o trabalho realizado por seis meses. A reação da pele
quando exposta à luz solar foi utilizada pela primeira vez, como indicador de
susceptibilidade.
5HVXOWDGRV
Os dados obtidos pelos pesquisadores foram ajustados para sexo, idade e reação
da pele. A análise destes dados mostrou que a avaliação da exposição solar
intermitente estava associada a um risco aumentado de desenvolvimento de
melanoma, estatisticamente significativo, enquanto a avaliação da exposição
contínua ao sol mostrou um risco reduzido para melanoma, também,
estatisticamente significativo.
Entre as limitações do estudo incluem-se a precisão e a validade dos indicadores
de exposição ao sol (exposição à radiação ultravioleta solar) utilizados.
A conclusão final deste estudo é de que os resultados são consistentes e podem
contribuir para o desenvolvimento de estudos sucessivos acerca dos riscos de
desenvolvimento de melanoma. Segundo o grupo da Dr.ª Cattaruzza, os seus
resultados fornecem qualificação sustentada à idéia de que a exposição às
radiações solares ultravioleta de maneira intermitente pode levar a um aumento do
risco de desenvolvimento de melanoma, enquanto a exposição contínua à luz
solar pode ter efeito protetor em relação ao melanoma. Pesquisas futuras acerca
dos fatores de risco de PHODQRPD devem ser direcionadas à elucidação do motivo
e de como estes efeitos ocorrem, ressalta ainda a D.r.ª Cattaruzza.
Fonte: $UFKLYHVRI'HUPDWRORJ\2000 (June); vol.136, n.º 06
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A Exposição Repetida à Luz Solar e o Melanoma