Depoimento do Prof. Francisco Antonio Rocco Lahr na Sessão Solene realizada pela Câmara Municipal de São Carlos no dia 18 de abril de 2013 Os seres humanos estão sempre fazendo perguntas. Muitas perguntas. Do mesmo modo, estamos sempre buscando respostas. Estas, quando chegam, em geral trazem consigo a disposição para mudanças. Para transformações. Assim vivemos: misturando perguntas, respostas e transformações. Isto seria suficiente? Provavelmente não! É preciso entender o que nos move a formular perguntas e buscar respostas. Talvez muitos argumentassem no seguinte sentido: Os sonhos e as esperanças são o motivo que nos levam às perguntas! Nesta sequência, os ciclos vão se completando: sonhos, perguntas, respostas, mudanças, outros sonhos... Algumas questões podem ser recorrentes, como esta: - Os sonhos são a melhor parte da realidade? Ou a realidade é a melhor parte dos sonhos? Vamos refletir a respeito destas perguntas no contexto em que se realiza a presente solenidade. A solenidade promovida pela nossa Câmara Municipal para comemorar os 60 anos de atividades da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo. Vamos buscar argumentos para embasar aquela que julgamos ser a melhor resposta para a questão formulada. De início, cabe considerar: quem primeiro teria sonhado com esta Escola, nesta Cidade? A comprovação vem da consulta aos registros de nossa história: foi toda a comunidade sãocarlense que sonhou e, como decorrência, destacou alguns entre seus membros e os incumbiu das providências para tornar realidade a implantação da Escola. Em situações como esta, todos sabemos, terá sido necessário mobilizar os contatos pessoais e institucionais, bem como usar todo o poder de persuasão para que o êxito fosse alcançado. E assim aconteceu. Foram providenciados, então, os primeiros instrumentos para o funcionamento da escola: a utilização de um prédio adequado, existente na região central da cidade; a doação das áreas que abrigariam os primeiros edifícios específicos para o ensino da Engenharia. Aos poucos, os atores fundamentais foram se somando às instalações: docentes, técnicos, alunos. E muito, mas muito trabalho (bem, esta situação persiste até os dias de hoje...). Assim se fez a história e assim a história continua sendo feita, com muitas nuances: determinação, expansão permanente, superação de obstáculos. Uma história que envolve, também, certo atilamento e uma resiliente capacidade de adaptação às mais diversas circunstâncias. Mas, e principalmente, uma linda história de amor! Durante todos esses anos, aqueles que preferiram optar pela EESC e tiveram a oportunidade de compor os seus quadros, com ela se relacionaram profundamente. Em toda opção e em cada confissão de preferência está envolvido um modo particular de amor. Assim, as vidas dessas pessoas ficaram perenemente marcadas pela dinâmica e pelos encantos da instituição. Por sua inconfundível magia. Dinâmica, encantos e magia que acabaram, também, encontrando eco em todos os cantos da cidade. E esta, como resposta, manteve os braços estendidos como sinal de contínua aprovação e permanente acolhimento, seja nos instantes de serenidade, seja na gravidade dos acontecimentos que precisaram ser enfrentados, com energia ainda maior. Esta relação de afeto e respeito entre Escola e Cidade, entre Cidade e Escola se manteve ao longo do tempo e teve oportunidade de novamente se confirmar, de modo especial, há mais de dez anos. Nesta época, a cidade de São Carlos e o Estado de São Paulo, em atenção aos clamores da Escola (agora já acompanhada em suas ações por seus filhos: os Institutos de Ciências Matemáticas e Computação, de Física e de Química), possibilitaram a expansão dos seus limites quando lhe outorgaram um magnífico presente: a Área II do Campus USP. Contudo... A celeridade do tempo é inexorável. Já vivemos o ano de 2013. Neste contexto, a comunidade uspiana (agora com mais um filho da EESC, o Instituto de Arquitetura e Urbanismo) vem buscando convencer, mais uma vez, a cidade e o estado a respeito das necessidades de expandir seu espaço para prosseguir a caminhada de realizações: humanas, científicas e tecnológicas. Buscamos mais espaço para consolidar nossa posição de excelência, no âmbito no universo acadêmico nacional e internacional. Os capítulos desta história de trabalho, de amor e de magia vão se multiplicando e conferindo a ela maior densidade, mais colorido e acentuando o sabor que advém da certeza do dever cumprido. O significado deste cumprimento de dever reside na preparação, em altíssimo nível, de profissionais da engenharia que tiveram, têm e terão importante papel na continuidade da edificação de um país que lida com os embates próprios de uma nação ainda jovem, de suas inquietudes e da dimensão de seu destino. Ainda mais: o significado do dever cumprido reside também na geração e na disseminação de sólidos conhecimentos, que sistematicamente são disponibilizados a todos os engenheiros do Brasil e do exterior. O futuro? Não nos parece vocação da Escola de Engenharia de São Carlos especular a respeito do futuro. Sua missão é construí-lo! E vai fazê-lo contando com a determinação e a criatividade que sempre caracterizaram não somente a cidade que a recebeu, mas também a todos aqueles que fizeram parte, de maneira específica, da família EESC. Muitos, ainda, virão a se somar à vida desta Escola e prosseguirão difundindo seu espírito de superação e de inovação, conforme foi sonhado há mais de sessenta anos pela comunidade de então. Permitimo-nos admitir, com indisfarçável convicção, que a EESC é uma muito bem sucedida consumação do sonho de toda uma cidade. Expostos estes fatos e argumentos, demonstrando que a EESC é uma irrefutável realidade, certamente temos agora condições de dar a resposta à indagação levantada no início destas palavras: A realidade é, sem dúvida, a melhor parte dos sonhos!