Resistência de fungos a fungicidas
- Ênfase em trigo- Por que os fungicidas falham?
-
Erlei Melo Reis
OR Melhoramento de sementes Ltda
2015
1. Introdução
Área cultivada com trigo (2014) – 2,2M ha;
Aplicações fungicidas/ha/safra (n°) – 3/4;
- indicador LDE – fefo, manchas e oídio;
- giberela – previsão de chuvas;
- critérios sem base científica. Ex. preventivo, pré-fechamento!
Custo aplicação – R$ 100,00 – 110,00;
- o controle deve pagar a conta!
Danos causados pelas doenças -
Importância das doenças do trigo:
MID & Danos (kg/ha):
________________________________
Oídio:............................ até 62%
Ferrugem da folha:............. até 63%
Manchas foliares:............... até 52%
Giberela:......................... até 39%
VNAC:............................ até 28%
Podridão comum:................. até 20%
__________________________________
Obs. Se há dano… necessita controle…
Obs.
O que é controle?
Reduzir a quantidade de doença?
Que pague a conta de R$ 100,00/ha?
O controle deve ser >80%
Cronologia do uso de fungicidas em trigo no Brasil
Ano de recomendação
de uso
Nome técnico
Grupo químico – modo de
ação
1976
Mancozebe
Ditiocarbamato
1979
Triadimefom
Triazol – IDM
1986
Propiconazol
Triazol – IDM
1991
Tebuconazol
Triazol – IDM
1993
Ciproconazol
Triazol – IDM
2000
Epoxiconazol
Triazol - IDM
2000
Azoxistrobina
Estrobilurina - IQe
2001
Piraclostrobina
Estrobilurina – IQe
2006
Trifloxistrobina
Estrobilurina - IQe
IDM – Inibidores da desmetilação na membrana plasmática;
IQe – Inibidores da quinona externa na mitocôndria.
2. Problema –
quando se usa fungicida... cedo ou tarde..
 Reclamações da eficiência do controle químico de doenças,
comparadas com safras anteriores (Rev. Plantio Direto v. 89:911. 2005);
Suspeita da redução da sensibilidade dos fungos a alguns
fungicidas.
3. Conceitos básicos
Fungicida – substância química que mata fungos;
Fungitoxicidade – propriedade de ser tóxico a fungos;
Sensibilidade – (que sente) atributo do fungo, controlável;
Insensibilidade – não sensível, não controlável; nunca será sensível;
- míldio da soja x triazóis e carbendazim.
Redução da sensibilidade- tempo de exposição, processo lento, falha de controle;
Perda da sensibilidade – alteração rápida; deveria com Iqe;
carboxamidas
Principais sítios de ação dos fungicidas
Mitocondria
Filamento
intermediário
Membrana
plasmática
Ribisomos
Retículo endoplasmático
rugoso
Microtubo
Centrossomo
Núcleo
Microfilamento
Nucléolo
Cromatina
Lisossomo
Aparelho de
Golgi
Retículo endoplasmático
liso
Visícola secretora
Visícula de Golgi
Citoplasma
Peroxisomo
Vacúolo
Fungicida sítio específico – interfere num único processos bioquímicos.
- Síntese de membranas;
-
Respiração;
-
Reprodução celular – carbendazim.
Fungicida multissítio – paralisa vários processos bioquímicos.
- reage com e inativa os grupos sulfidrílicos (-SH) de aminoácidos e
enzimas da célula do fungo resultando na desorganização do metabolismo
de lipídios, respiração e produção de ATP.
Medida da sensibilidade de um fungo ou da potência de um fungicida
- Doses crescentes (i.a.) até obter 50% de controle do:
- Crescimento do micélio (mm);
- Germinação de esporos (%);
- Controle de lesões ou urédias (no.);
- Controle em sementes (%);
- Concentração inibitório de 50% - CI₅₀, mg/L de i.a.
• Avaliação
• paquímetro digital
• colônia - borda da placa
0 mg/L
0,01 mg/L
0,1 mg/L
10 mg/L
20 mg/L
40 mg/L
1 mg/L
Comprimento tubo germinativo (µm):
Densidade de lesões ou urédias
Resistência
- é uma alteração (DNA) herdável e estável em
um fungo em resposta à aplicação de um fungicida, resultando
em redução da sensibilidade ao produto (redução do controle).
- Envolvimento do fungo, não do fungicida.
- O fungo se acostumou com o fungicida;
- O fungicida não cansou!
4. Por que os fungicidas falham?
- Adaptação – alteração espontânea no DNA;
- Fenômeno normal, comum na natureza.
- Utilidade – sobreviver frente a uma ameaça – Ex. presença fungicida;
- não ser eliminado do ambiente;
- mecanismo de defesa; de sobrevivência;
- redução da proporção de indivíduos sensíveis;
- Mutação inútil – eliminado por competição.
- Exemplo: numa população de 1 milhão de esporos um mutante;
- Blumeria graminis hordei - 109 esporos/m2, ou 1013 esporos por
ha/dia (10.000.000.000.000 - 10 trilhões);
- Phakopsora pachyrhizi – 1.085 kg esporos/ha/40 dias;
- 1 g 400.000 esporos.
2003/04
2012/13
2013/14
5. Alguns exemplos
A mesma história;
Uso por vários anos;
Falha de controle;
Reclamação, localizada ou generaliza
Mancha-em-rede da cevada – Drechslera teres.
Triadimenol usado desde 1986;
Reclamações safra (“falha de controle”) – 1992 (seis safras de uso);
Produtor/técnicos em Tapera-RS;
Redução da sensibilidade:
Incidência de Drechslera teres, em sementes tratadas com duas
formulações de triadimenol – Brasilo x Argentina
Tratamentos
Dose: ml ou g Amostras de cevadaz
de ingrediente
1
2
ativo/100kg de
semente
1. Testemunha
2. Triadimenol
(Baytan 150 SC)
3. Triadimenol
(Baytan 150 SC)
C. V. (%) = 10,25
Média (%)
68,5 a
24,0 b
46,2 a
40
70,0 a
32,5 a
51,2 a
40
72,5 a
36,5 a
54,5 a
Controle de Drechslera teres em sementes de cevada
Tratamento
Concentração/
Formulação
Dose: g de ia/100
kg de semente
Controle
(%)
1. Guazatina
25% P
50
85,63 b
2. Guazatina
25% P
62,5
91,57 a
3. Guazatina
25% P
75
92,56 a
4. Guazatina +
Triadimenol
25% P + 25 PS
50+40
92,56a
5. Guazatina +
Triadimenol
25% P + 25 PS
62,5+40
93,02a
6. Triadimenol
25% PS
40
0 (63,5)z c
C.V. (%) = 2,52
Cevada Antartica 5 com 50,5% de incidência de D. teres.
Oídio cevada: Blumeria graminis f.sp. hordei
Antecedentes:
Triadimenol usado desde (1986);
Reclamações safras – 2008 - 2009;
Região – Agrária, Guarapuava, PR;
Triadimenol e controle de Blumeria graminis f.sp hordei
Redução da sensibilidade – de >80 para 18,3% de controle.
Oídio trigo - Blumeria graminis f.sp. tritici
Tratamento sementes - triadimenol;
Tratamento de sementes de trigo com triadimenol no controle da
incidência do oídio
Dose
mL/100kg
Plúmula
2a folha
3a folha
Média
150
14,6
18,8
18,8
17,40 n.s
250
15,7
17,4
18,8
17,30
350
7,7
22,1
24,4
18,06
Média 17,6
Efeito do tratamento de sementes com o fungicida triadimenol no
controle da severidade do oídio do trigo
Dose
mL/100kg
Plúmula
2a folha
3a folha
150
30,3
26,2
38,9
250
33,6
13,4
32,4
26,46
350
38,9
28,4
27,7
31,66
Média
31,80
Média
29.9
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey
a 5%. Valores de controle, médias de três repetições, avaliações espaçadas de três
dias em três folhas de cinco plantas.
n.s.
Período de proteção do triadimenol no controle do oídio do trigo, cultivar BR 23 (2002)
LDE
- Raças de Puccinia triticina x triazóis;
- Reclamação de produtores – falha de controle;
- Após 18 anos de uso isolado.
Densidade de pústulas (No/cm2) de raças de Puccinia triticina,
quando tratadas preventivamente (24 h após aplicação)
Raças
Tratamentos
B55
B56
Onix
BRS 149
28,56 a
32,57 a
30,48 a
36,97 a
Tebuconazol (Dose 0,75)
0,0 b
11,53 b
15,27 b
18,71 b
Tebuconazol (Dose 1,0)
0,0 b
6,32 c
6,44 c
8,42 c
Tebuconazol +
azoxistrobina
0,0 b
0,0 d
0,0 d
0,0 d
Epoxiconazol +
piraclostrobina
0,0 b
0,0 d
0,0 d
0,0 d
Tebuconazol +
trifloxistrobina
0,0 b
0,0 d
0,0 d
0,0 d
16,63
10,27
8,04
17,54
Testemunha
C.V. (%)
B34
MDP-MR
Dificuldades de controle das manchas foliares
do trigo.
- Controle < 40%;
As manchas foliares são causadas por:
Nome comum
Nome científico agente
causal
Importância
Mancha amarelaazevém
Drechslera siccans
***
Mancha amarela
D. tritici-repentis
***
Helmintosporiose
Bipolaris sorokiniana
**
Septoriose
Stagonospora nodorum
*
CI
50
de estrobilurinas para Drechslera siccans
Isolados (CI50 mg/L)
Fungicide
Média
01/F30
02/RZ
03/SF
04/F52
05/VQ
Azoxistrobina
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
˃ 40
Picoxistrobina
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
˃ 40
Piraclostrobina
BC 1.17 b A 1.94 b
AB 1.50 b C 0.84 c
Trifloxistrobina
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
A ˃ 40 a
C 5.31 b
Média
30.29 A
30.48 A
30.37 A
21.53 C
CV (%)
7,31
As estrobilurinas não são idênticas!
BC 1,26 c 1,34
B 28.31b
27.39 B
30.72
CI50 de estrobilurinas para Drechslera tritici-repentis
Isolados (CI50 mg/L)
Fungicida
Média
Azoxistrobina
Cresoxim
metílico
Picoxistrobina
Piraclostrob
ina
01/QTZ
02/ONX
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
> 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
> 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
> 40 a
D 0,75 b
B 0,85 b
C 0,78 b
E 0,58 b
A 1,03 b
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
A > 40 a
B 32,17
C >32,15
D >32,11
A >32,20
Trifloxistrobina A > 40 a
Média
C >32,15
03/HZT
04/GUA
0,02
CV (%)
As estrobilurinas não são idênticas!
05/CD
0,80 b
> 40 a
6 Estratégias antirresistência
- Fungicida sítio específico – triazóis –
- estrobilurinas –
- carboxamidas –
- não usar isolado;
- risco de resistência;
- Fungicida multissítio
- seis sítios de ação;
- não há relatos de resistência
- ex etilenobisditiocarbamato = mancozebe;
- 1967 – uso em trigo – 2,5 kg/ha;
- PM – removido chuva;
- GDA – maior tenacidade.
Estratégias para melhorar o controle
-
Não use fungicida isolado (IDM, IQe ou ISDH);
-
Ferrugem folha – misturas contendo estrobilurinas;
-
Oídio ???
-
Manchas foliares
a. Aumentar a dose dos triazóis.
Controle (%) da incidência de manchas foliares trigo, safra 2009
Adição de:
Mistura
isolada
Tratamento
Epoxiconazol
Médias
Propiconazol
Azoxistrobina + ciproconazol
C 1,4
b
B 15,7
b
A 48,9
Picoxistrobina + ciproconazol
B 3,5
b
B 6,8
b
A 43,7
Epoxiconazol + piraclostrobina
C 12,8
ab
B 44,4
a
A 63,7
a
40,3
Trifloxistrobina + tebuconazol
Cresoxim-metílico +
epoxiconazol
B 22,9
a
A 39,9
a
A 48,4
ab
37,1
C 27,1
a
B 46,2
a
A 61,8
a
45,0
Médias
13,6
30,6
CV (%)
O que é controle? 13,6
25,29
63,37%
53,3
ab
b
22,0
18,0
Efeito de misturas de fungicidas no rendimento de grãos de trigo
( kg/ha), Passo Fundo, RS, safra 2009
Adição de:
Mistura
isolado
Epoxiconazol
Propiconazol
Azoxistrobina + ciproconazol
3.104
3.664
3.512
3.427 ab
Picoxistrobina + ciproconazol
3.127
3.484
3.380
3.330 ab
Epoxiconazol + piraclostrobina
3.455
3.529
3.478
3.488 a
Trifloxistrobina + tebuconazol
Cresoxim-metílico +
epoxiconazol
3.052
3.429
3.161
3.214
3.213
3.727
3.263
3.401 ab
A 3.567
B 3.359
Tratamento
Médias C 3.191
CV (%)
5,86
Médias
b
Impacto econômico
Rendimento (Kg/ha)
Área cultivada
RS (x 1,000
ha)
Produção (milhões t)
Testemunha
2.300
889
2,04
Misturas
3.191
889
2,84
Adição de
epoxiconazol
3.567
889
3,17
Tratamento
Diferença 3,17 – 2,84 = 330 mil toneladas pelo aumento da dose do triazol.
b. Adição de iprodiona às misturas:
- Potente contra Bipolaris e Drechslera;
- Não fungitóxico à Stagonospora nodorum e Fusarium graminearum
- Adição de iprodiona as misturas (13 DAA)
Dados Fundação ABC
Misturas
Dose
Controle (%) AACPD
Guapo
600
20
Priori Xtra + Tilt
300 + 400
17
Ópera + Tilt
500 + 400
26
500
16
Aproach Prima + Tilt
300 + 450
17
Locker + iprodiona
1,2 + 750
51
Fox
Testemunha 72,2% severidade máxima.
O que é controle? 19,2
51,0%
19,2%
- Rendimento de grãos
Misturas
Dose
Rendimento (kg/ha)
Guapo
600
5.902
Priori Xtra + Tilt
300 + 400
5.907
Ópera + Tilt
500 + 400
6.115
500
5.997
Aproach Prima + Tilt
300 + 450
5.411
Locker + iprodiona
1,2 + 750
6.185
Fox
.
5.866 kg/ha
Incremento - 319 kg/ha;
c. Adição de fungicida multissítio (mancozebe) as
misturas:
- Misturas de dois sítio-específicos e adição de um
multissítio
Controle (14 DAA) de manchas foliares pela adição do mancozebe
Dados Fundação ABC.
Tratamentos
Dose g ou
mL/ha
EBDCM
Sem
Com
Nativo
750
17
29
Ópera
500
19
36
300 + 400
23
38
Fox
500
17
28
Guapo
600
15
39
Média
-
18,2
34,0
Priori + Tilt
Testemunha –
O que é controle? 18.2
34,0%
Incremento 16%.
Incremento no rendimeno de grãos de trigo pela adição do mancozebe
Dados Fundação ABC
Tratamentos
Dose g ou
mL/ha
EBDCM (2 kg/ha)
Sem
Com
Priori Xtra
300
5.432
6.299
Nativo
750
5.601
6.368
Ópera
500
5.790
6.475
300 + 400
5.710
6.487
Fox
500
5.714
6.452
Guapo
600
5.647
6.575
Média
-
5.649
6.443
Priori + Tilt
Testemunha – 5.405 kg/ha .
Incremento 794 kg/ha.
5. Considerações finais
- Redução da sensibilidade de Drechslera teres, D. spp., Blumeria,
Puccinia;
- Estrobilurinas ainda efetivas contra Puccinia;
- Manchas - Aumento dose IDM (?)
Adição iprodiona;
Adição mancozebe.
- Não esqueça do tratamento de sementes e da rotação de culturas!
Efeito da rotação de trigo com canola e da monocultura de trigo
na intensidade de manchas foliares
Rotação de
Características avaliadas
cultura
Monocultura
Folhas com manchas/m2 (no.)
B 94,0
A 1.245,0
Manchas/m2 (no.)
B 135
A 8.602,0
Manchas/folha (no.)
B 1,4
A 7,0
Esporosz/mancha (no.)
Esporos/m2 (no.)
500
67.500
4.301.000
Controle doenças cultivares OR:
a. Resistência genética;
b. Mosaico – R, Ametista e Jadeíte 11
a. Oídio – MR, Jadeíte 11, Topázio,
b. Rotação de culturas + tratamento de sementes;
c. Controlar azevém;
d. Fungicidas folhagem:
- indicador primeira aplicação – LDE (site OR);
- intervalo entre aplicações – 15 dias;
- ferrugem da folha - misturas IDM + IQes;
- manchas foliares - adição multissítio para manchas;
f. Controle giberela:
- floração em diante;
- antes da previsão de chuva;
- Fox (..) ou Opera Ultra (..);
- Pontas duplo-leque (30 e 70°)
- segunda aplicação – intervalo 15 dias
nova previsão chuva.
Deslocamento do pulverizador
Melhor
cobertura
Melhor
cobertura
Cobertura
ponta leque
Os maiores desafios:
Obter controle >80%
- Manchas foliares;
- Giberela.
Consulte o site:
Google - orsementes
- informações técnicas
Uma contribuição da OR sementes
para o controle sustentável da doenças do trigo.
- Oferece acesso fácil à fontes de informação – site.
- Difundir novas tecnologias;
- Apoio na busca da solução de novos problemas.
Consulte o site orsmentes
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Por que os fungicidas falham