CAMPANHA AMAZÔNIA Exmo Sr. Presidente da República, Dr. Fernando Henrique Cardoso Palácio do Planalto Brasília - DF C.C. Ministro José Carlos Carvalho C.C. Presidente do Ibama, Dr. Rômulo Belém/PA, 2 de Maio de 2002 Sr. Presidente: Acabamos de receber cópia de carta enviada ao Governo dos Estados Unidos por funcionário do IBAMA sobre a questão do mogno exportado pelo Brasil depois da entrada em vigor da Instrução Normativa que suspendeu a exploração, transporte e comércio desta valiosa espécie. Segundo o funcionário do Ibama Randolf Zachow, falando em nome de seu governo em papel timbrado do Ministério do Meio Ambiente, todo o mogno existente no mercado é legal. A carta desqualifica as ações adotadas pelo próprio IBAMA para proteger esta espécie e para colocar um basta na exploração e comércio ilegal do mogno. O funcionário expõe a instituição para a qual trabalha, o IBAMA ao ridículo em escala internacional, dizendo a representantes do governo americano que o Ibama adota decisões “juridicamente precárias”. Em Vosso pronunciamento do dia 09/04/02, no programa “Palavra do Presidente”, o senhor disse: “Hoje eu estou aqui para reafirmar e para dar a minha palavra sobre a determinação do Governo Federal de manter a proibição da exploração de uma de nossas madeiras mais nobres, que é o mogno. O mogno é uma riqueza de nossas florestas que infelizmente como alvo da cobiça dos madeireiros está ameaçado de extinção. Quando eu anuncio que o Governo fará tudo para proteger o mogno, eu estou assegurando que continuam proibidos a extração, o beneficiamento, o transporte e a comercialização. Ano passado, nós adotamos medidas fortes para defender o mogno e garantir a expansão de seu cultivo.” Sr. Presidente, Apesar das palavras de Vossa Excelência terem sido firmes e claras e terem tido forte repercussão internacional, nos surpreende que um funcionário do Ibama tenha ridicularizado todo o trabalho de fiscalização e vigilância efetuado pelo governo de Vossa Excelência e pelo próprio Ibama. Av. Joaquim Nabuco 2367 – Centro – Manaus – Amazonas - Brasil Fone/Phone # 55 (92) 627 9000 – Fax: #55 (92) 627 9004 e-mail: [email protected] www.greenpeace.org.br O senhor também se referiu à questão legal de forma profundamente diferente da abordada pelo funcionário de terceiro escalão do Ibama. No pronunciamento de V. Excia, o senhor disse: “Madeireiros inescrupulosos derrubavam as árvores em áreas ilegais e clandestinamente transportavam para área de manejo permitido. Nessa disputa, empresários e madeireiros conseguiram autorização judicial que contrariava o interesse nacional de preservação do mogno. “Mas o Ibama com seus fiscais vigilantes e com a ajuda de governos estaduais, prefeituras e organizações não governamentais, terminou descobrindo carregamentos que chegavam de caminhão a portos do Pará e do Paraná. De lá, naturalmente os madeireiros esperavam alcançar os mercados internacionais onde o mogno é vendido a preço de ouro.” Já o funcionário Randolf Zachow declara que “é inadmissível e surpreendente que pessoas envolvidas no contexto do mogno... cuja cultura deveria estar acima de tais flagrantes aberrações e loucuras, subestimem a capacidade ou suspeitem do comportamento e da atitude da Justiça brasileira no que concerne as decisões favoráveis à exportação desses estoques de madeira”. Sentimo-nos também profundamente consternados com o fato de que um funcionário de terceiro escalão do Ibama use de palavras tais como “aberrações e loucuras” para se referir àqueles que, como o senhor, criticaram a concessão de autorizações judiciais beneficiando a exportação de mogno suspeito de ser ilegal - ou, para colocar nas suas próprias palavras, senhor presidente, ‘conseguiram autorização judicial que contrariava o interesse nacional de preservação do mogno’. Senhor presidente, Em sua “Palavra do Presidente”, o senhor lembrou que graças a essas liminares concedidas por juízes de primeira instância, foi exportado mogno sem origem comprovada, mas que o seu governo pediu e obteve ajuda de outros governos. Reproduzo abaixo suas palavras: “De fato grande parte dessa carga chegou a seu destino, mas aí o Governo brasileiro pediu a ajuda de outros governos e alcançamos mais uma vitória. Quando esses países souberam que o mogno tinha origem ilegal, começaram as apreensões. Só os Estados Unidos estão retendo 10 milhões de dólares em mogno. A imprensa internacional também nos apoiou. Uma rede de tv americana chegou a anunciar que finalmente havíamos conseguido colocar um fim na extração ilegal do mogno.” O senhor Randolf Zachow acaba de jogar por terra o esforço de seu governo. Com base na longa carta desse servidor do governo brasileiro ao governo dos Estados Unidos, o governo americano acaba de ordenar a liberação de todo o mogno retido naquele país, como nos foi informado há poucos instantes por telefone. Av. Joaquim Nabuco 2367 – Centro – Manaus – Amazonas - Brasil Fone/Phone # 55 (92) 627 9000 – Fax: #55 (92) 627 9004 e-mail: [email protected] www.greenpeace.org.br Senhor presidente: O Greenpeace tem contribuído na medida de nossas possibilidades para que as autoridades brasileiras, em particular o IBAMA, possam fazer cumprir a lei. Como o senhor disse: “Eu espero continuar contando com o apoio de governos, de prefeitos e da sociedade civil para que o Brasil se respeite e, com isso, obtenha o respeito e o apoio de outros países preservando as espécies nobres de nossa floresta, como o mogno.” Acreditamos que estamos respondendo ao apelo de Vossa Excelência quando comunicamos a ocorrência de tais fatos. Por meio desta, solicitamos o imediato cancelamento da carta do senhor Randolf Zachow e o esclarecimento aos governos de países consumidores sobre o assunto. Cientes de que seu governo não vai permitir um retrocesso a uma época em que poderosos interesses econômicos interferiam na condução da política ambiental, e confiantes nas palavras de clara continuidade da atual política de seu governo contra a exploração e comércio de madeira ilegal que tanto respaldo obteve da sociedade civil organizada, Somos, Atenciosamente, Paulo Adário Coordenador da Campanha Amazônia Greenpeace Av. Joaquim Nabuco 2367 – Centro – Manaus – Amazonas - Brasil Fone/Phone # 55 (92) 627 9000 – Fax: #55 (92) 627 9004 e-mail: [email protected] www.greenpeace.org.br