Fernando Henrique Sanches 1A Teoria da Utilidade é uma forma matemática de se tentar calcular quais são as melhores decisões a serem tomadas por um determinado agente para maximizar o valor de sua função Utilidade. Quando aplicada a agentes humanos, ela pode apresentar resultados aparentemente incoerentes, em que humanos escolheriam políticas que contradizem as previsões da teoria. Essas incoerências, descritas no artigo de Machina Palgrave, não são incoerências internas da própria teoria, mas sim incoerências de resultados comparados com decisões tomadas por humanos. Mas é preciso se considerar que humanos possuem preferências mutáveis, podem tomar decisões ilógicas e não raciocinam matematicamente o tempo todo. Essas características dos humanos fazem com que suas decisões, muitas vezes, possuam uma certa aleatoriedade dentro de um certo nível de possibilidades. Essa aleatoriedade não pode ser prevista pela teoria da utilidade, e nem é função dela prever isso. A teoria foi formulada apenas para tentar maximizar uma função utilidade – mesmo que os procedimentos para se alcançar isso sejam diferentes dos procedimentos que um agente humano usaria. Ela é uma teoria normativa, que mostra qual seria o procedimento ótimo, e não qual seria o procedimento mais provável de ser tomado por um agente humano. Essa teoria não pode ser aplicada para prever com certeza todas as decisões que humanos tomariam em todas as situações, mas é capaz de estimar, com boas chances de acerto, decisões que seriam tomadas em certas condições para um agente racional – não necessariamente um humano. Essas decisões geram políticas funcionais e eficazes para a maximização de um valor. Utilizar a Teoria da Utilidade para prever totalmente as decisões tomadas por humanos pode ser bastante ineficaz. Mas isso não significa que a teoria é falha ou inaplicável, apenas que ela está sendo usada em um ambiente menos previsível. No ramo da inteligência artificial, esses problemas não afetam o desempenho dessa teoria – eles nem mesmo existem quando a teoria é aplicada a um agente determinístico. Quando essa teoria é usada como política de decisão de um agente, assume-se que o agente não possuirá preferências mutáveis (e, se possuir, que elas estejam previamente planejadas e calculadas), e que será consistente em suas escolhas – uma consistência lógica e matemática dada pela Teoria da Utilidade. E então a teoria pode ser utilizada com eficiência. 2O termo “utilidade”, tanto na Economia quanto na Inteligência Artificial, possui o mesmo significado: preferência. Pela Teoria da Utilidade, tanto um agente humano como um robô possuem preferência por algo pré-determinado, e irão tentar otimizar esse algo (ou seja, otimizar a sua Utilidade) de algum modo. Nesse aspecto, o significado da palavra é o mesmo para as duas áreas. A Teoria da Utilidade, por ter características normativas e positivistas, acaba tendo mais sentido quando aplicada a um agente lógico e determinístico como um robô do que quando aplicada a um agente humano de comportamento relativamente imprevisível, muito embora ambas as aplicações sejam válidas.