O cinismo do sociólogo
Partido Socialista Brasileiro - PSB
A revista Piauí que anda nas bancas (número 11) traz, ao lado de outras coisas mais
interessantes, uma extensa matéria com o sociólogo pachola. Um dos donos da revista,
o cineasta João Moreira Salles, foi ao pequeno estado de Rhode Island, ao norte de
Nova York, para passar um dia com o ex-presidente, pois é lá, na desconhecida
Universidade Brown, que FHC instalou sua base de operações internacionais. Lá ele
recebe 70 mil dólares e em troca fica na universidade quatro semanas.
Nas outras folgas, faz conferências muito bem remuneradas, a 60 mil dólares a unidade.
Explica: "Em Praga, uma vez, como éramos um grupo de palestrantes, não cheguei a
falar nem 20 minutos -- pagaram 60 mil dólares". E continua, fanfarrão: "Antes (de
Brown) recebi um convite de Harvard, não aceitei. Brown me pagava o dobro. A Ruth
ficou indignada: 'Mas é Harvard!' Eu disse: 'Ruth, a essa altura do campeonato, eu não
preciso de glórias. Preciso é de dinheiro'". E aí está FHC por ele mesmo. O homem se
move a dinheiro. Move-se agora como sempre se moveu. Inclusive quando habitava o
Alvorada.
Prendi-me a essa leitura porque, já na primeira página desse extenso oba-oba, o cineasta
nos traz uma interessantíssima, senão cínica, declaração do sociólogo argentário:
"Quando deixei a presidência, fiquei assustado e me perguntei: como vou sobreviver?"
Coitado do Fernando Henrique, tão pobrezinho (que teriam a dizer os aposentados do
INSS?): a amnésia fez com que se esquecesse de sua aposentadoria integral como
professor da USP (aposentadoria que igualmente percebe sua mulher), se esqueceu da
aposentadoria pela passagem no Congresso e na Presidência, das modormias
preservadas. E se esqueceu, acima de tudo, de sua agenda de telefones...
Mal FHC conclui essa sandice, o repórter ajunta esta informação preciosa: "Alguns
meses antes de terminar o segundo mandato, Fernando Henrique convidou um grupo de
empresários para jantar no Alvorada, explicou-lhes que pensava criar uma fundação nos
moldes das bibliotecas presidenciais americanas -- onde conservaria toda a sua
documentação presidencial e promoveria palestras e debates sobre o futuro do país. Do
encontro nasceu o Instituto Fernando Henrique Cardoso, com dotação inicial de 7
milhões de reais, sua base de operações no Brasil". E o Instituto, uma ONG, sai mundo
à fora vendendo seminários, pesquisas e outros trambiques.
Apesar de tudo isso, a Piauí é uma boa revista, um revival da antiga Senhor dos anos
sessenta. Certamente terá vida mais longa, pois seus pais são filhos de banqueiros.
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