O Debate entre Ruy Mauro Marini e Fernando Henrique Cardoso: Caminhos para Investigação Acadêmica Tahirá Endo Gonzaga1 Resumo O objetivo deste trabalho é analisar as diversas proposições das teorias da dependência, principalmente as cristalizadas no debate entre Ruy Mauro Marini e Fernando Henrique Cardoso, no decorrer da década de 1970. Realizamos o trabalho, situando os aportes teóricos sobre a dependência como continuidades e críticas das formulações elaboradas no período de intenso processo criativo do pensamento social brasileiro, iniciado marcadamente a partir dos anos 20 do século passado. No primeiro tópico, elegemos algumas instituições que aglutinaram algumas idéias deste período como o Partido Comunista Brasileiro (PCB), a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e a Universidade de São Paulo (USP), para demonstrar as origens do debate. No segundo, fazemos a análise do debate, a partir do estudo dos principais textos que representam as divergências entre os dois autores. No terceiro capítulo, elaboramos uma análise sobre a configuração do sistema universitário brasileiro no período, pois achamos ser este o setor principal para os ecos e silêncios do embate. Palavras-chave: cientistas brasileiros, teorias da dependência, intelectuais Abstract Our objective is to analyse the differents propositions of the Dependence Theories, cristallyze in debate between Ruy Mauro Marini and Fernando Henrique Cardoso, during 70’s decade. This work, put the aports theoreticals about dependence as continuitys and critics from articulations in intense period creative in brazilian social theories, beginning in 20’s decade. In the first topic we elect some synthesizer institutions that ideas of this period, how Partido Comunista Brasileiro (PCB), Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) and Universidade de São Paulo (USP), to demonstrate the origins of debate. The second, we do the analysis, studing the fundamentals texts representatives the divergences between the authors. The third, we draw an analyse about the configuration of brazilian university system, because we thinks this the main sector for echoes and silences about the debate. Key-words: brazilian scientists, denpendence theories, intellectuals Introdução O nosso objetivo, neste estudo, será analisar o debate travado entre Ruy Mauro Marini e Fernando Henrique Cardoso no interior das teorias da dependência. As questões trazidas por esta polêmica são importantes para a compreensão dos rumos tomados por nosso país. Um dos lados da porfia chegou à presidência da República e conseguiu colocar em prática suas proposições por seu caráter moderado e conciliador, enquanto o outro lado está exilado até hoje dos bancos de nossa academia por sua atitude rigorosa e radical. 1 Pesquisador NIBRAHC/IFCH/UERJ.Assistente de Pesquisa ABRAS/EBAPE/FGV São autores com proposições totalmente distintas, mas que gravitam dentro de um novo marco conceitual comum, o da dependência dos países latino-americanos. Ambos deram contribuições importantes para o estabelecimento de novos parâmetros de compreensão da realidade latino-americana e mais importante, retratam um momento em que a preocupação com as grandes questões nacionais ainda estavam em pauta no debate acadêmico. Escolhemos estudar estes teóricos, pois seus trabalhos representam a síntese dos avanços trazidos por diversos intelectuais brasileiros e latino-americanos do final da década de 1920 até o início da de 1960. Para analisar o debate entre estes dois intelectuais faríamos um panorama geral da fértil contribuição do pensamento social brasileiro do início do século passado. Mas a empreitada se mostrou extensa demais, e o tempo exíguo não permitiu que avançássemos da maneira que pretendíamos. Por isto, fizemos algumas escolhas, e estas deixaram buracos em relação a diversos autores que poderiam nos ajudar a compreender melhor a complexidade do nosso objeto de estudo. Escolhemos quatros instituições que, no final dos anos 50 e início dos 60 do século passado, agitavam os debates acadêmicos e políticos brasileiros, para sintetizarmos o panorama das contribuições do pensamento social brasileiro ao debate em questão: o Partido Comunista Brasileiro (PCB), a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL), Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e a Universidade de São Paulo (USP), através da chamada Escola Paulista de Sociologia. O golpe militar de 1964 e seus desdobramentos produziram um corte profundo no contexto criativo no qual o país vivia e que estas instituições faziam parte. Analisaremos este debate, travado no interior das teorias da dependência, como resquício deste contexto histórico. Esta contenda iniciou-se em 1972, com um artigo de Cardoso, em que faz um balanço dos estudos sobre a dependência feitos até então e lança algumas críticas à obra de Marini, este procura respondê-las com um pósfácio à sua obra principal Dialética da Dependência. A porfia se agrava em 1979, quando Cardoso e José Serra, escrevem um artigo onde elevam o tom das críticas dirigidas à obra de Marini e este elabora um artigo em resposta. O objeto de nosso estudo pode ser compreendido pelas proposições de cada lado da arena e, por conseguinte, os fatos que se tornaram conseqüência deste embate para as diferentes inserções dos autores no cenário político e acadêmico brasileiro no período de redemocratização. 2 Utilizaremos a classificação feita por Martins1 sobre as matrizes metodológicas que guiaram os trabalhos sobre a dependência. Segundo o autor, formaram-se duas correntes principais: a marxista, em que se situam Ruy Mauro Marini, Theotônio dos santos e Vânia Bambirra e a weberiana representada por Fernando Henrique Cardoso, Enzo Faletto e José Serra. Martins descreve as diferenças entre estas duas visões da dependência: “A marxista influenciada pela revolução cubana, pelos limites do desenvolvimentismo na região e pela ofensiva política, social e cultural terceiro-mundista, propõe-se a interpretar a formação social latinoamericana utilizando o marxismo de forma criativa, libertando-a da visão dogmática dos partidos comunistas”.2 Enquanto a, “(...) visão weberiana da dependência que se estabelece a partir das obras de Cardoso e Faletto. Para eles a dependência é o paradigma de desenvolvimento de sociedades marcadas pela ambigüidade de possuírem autonomia política, mas terem seus laços econômicos definidos em função do mercado internacional.”3 O debate entre Cardoso e Marini é fruto destas distintas visões sobre a dependência dos países latino-americanos. Pretendemos, a partir desta classificação, descrever as origens do combate, isto é, suas raízes teóricas dentro do pensamento social brasileiro, analisando alguns fatos que possam ajudar a compreender as principais questões e motivações do embate. Para isto, escolhemos algumas instituições que aglutinaram parte das extensas e variadas construções teóricas feitas antes do golpe de 1964. No primeiro tópico faremos uma arqueologia da contenda descrevendo as principais formulações das quatro instituições citadas anteriormente, que exerceram influencia direta no surgimento das teorias da dependência e nas posteriores divergências no interior delas. No segundo, entraremos na seara em questão, primeiro com a biografia de cada um dos autores, depois com a resenha dos principais pontos que cristalizaram o debate e onde os pressupostos sobre as distintas visões paradigmáticas sobre conceito de dependência aparecem de forma mais clara. 3 No terceiro e último, elaboraremos uma análise sobre a configuração das ciências sociais no período, pois achamos ser este o setor principal para os ecos e silêncios sobre o embate. Nas conclusões alinhavamos algumas explicações que na verdade, por serem parciais e limitadas, são pontos de partida para novas pesquisas. 1. Antecedentes As ciências sociais brasileiras como outras áreas do conhecimento, sofrem permanentemente por serem, como diz Luiz Antônio Cunha, temporãs4, isto é, parecem sempre acontecer fora do tempo correto. A apropriação de teorias estrangeiras para a análise social brasileira muitas vezes imprime um descompasso entre a ciência e seu objeto. A singularidade da formação histórica nacional não pode ser camuflada para a imposição de conceitos que não a abarcam. O marxismo brasileiro não foge a esta problemática, pois, desde o começo de sua utilização sofreu sérias implicações ao ser transportado como cartilha para a teoria e a prática militante dos setores da esquerda e para o entendimento do processo histórico nacional. O etapismo, o dualismo e a caracterização do Brasil colonial como feudal foram questões difíceis de se sustentarem quando confrontadas com o processo histórico nacional. Por isso, o marxismo nacional foi alvo de críticas contundentes, que de certa forma, provocam debilidades na ação prática de seus militantes. No seio desta esquerda, o Partido Comunista Brasileiro, assumiu o papel de aglutinador destas proposições, pois formulou uma proposta de revolução nacional esquemática. O enfoque nacional-desenvolvimentista - surgido no final da década de 1950 tinha como protagonistas, duas instituições que apareciam como epicentro do debate sobre os rumos do desenvolvimento brasileiro, a CEPAL e o ISEB. Suas proposições iam de encontro à ortodoxia do marxismo de cartilha do partidão. A CEPAL, criada em 1947, como parte integrante da ONU, buscava promover uma reflexão sobre as políticas públicas que viabilizassem o desenvolvimento dos países latino-americanos. Estas reflexões encontram-se, principalmente, nos escritos do economista Raúl Prebish artífice dos estudos que fundam o pensamento cepalino. No Brasil esta corrente de pensamento foi promovida, principalmente, através da figura de Celso Furtado. 4 O ISEB propunha uma teoria autonomamente nacional para descrever a conjuntura econômica, política e social em que o país se encontrava. A postura militante de seus intelectuais entrava em choque com a USP, outra instituição de relevo neste período, que era a guardiã do rigor metodológico como forma de alcance do conhecimento científico autêntico. Para a chamada Escola Paulista de Sociologia somente através da utilização sistemática dos avanços teóricos dos principais centros acadêmicos, sem olvidar a especificidade da realidade social brasileira, seria possível elaborar conclusões pertinentes sobre os processos políticos então em curso. Nas próximas linhas traçaremos, de forma geral, os diferentes pontos de vista de cada uma destas instituições e suas contribuições para o surgimento das teorias da dependência e para o debate entre Marini e Cardoso. 1.1. O PCB e o Etapismo Revolucionário Nesta parte, não pretendemos fazer um histórico detalhado do Partido, mas sim resgatar, de forma sucinta, seu pensamento social e político no período em questão. A crítica a este pensamento será fundamental para o posterior desenvolvimento dos pressupostos dependentistas. A partir das formulações tiradas no IV e V Congressos do partido5, a orientação estratégica do PCB passa a ser a luta contra a opressão dos latifundiários e dos imperialistas que impediam o desenvolvimento da capacidade produtiva no capitalismo brasileiro. Abria-se espaço, então, para a formação de uma frente com todos os setores e classes sociais que objetivassem a industrialização nacional. Nestes termos, a revolução brasileira deveria ser uma revolução democrática e popular e teria o imperialismo e a estrutura agrária de caráter feudal como principais inimigos. A forte influência externa exercida pelo XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética - PCUS, em plena Guerra Fria, permitia entendimentos e acordos com outras nações imperialistas e monopólicas, excetuando-se os Estados Unidos. Esta camisa de força advinda da URSS anulou a possibilidade de uma leitura dialética do PCB sobre o contexto histórico da época. A adesão à frente democráticoburguesa, que seria responsável por colocar em marcha a revolução brasileira deixou o partido sem margem de manobra, a partir do golpe de 1964, quando se estremeceu a crença em possíveis alianças entre a burguesia nacional e a classe operária. 5 As teorias da dependência nascem como críticas ao esquematismo do PCB e aos intelectuais de esquerda que compartilhavam desta visão. 1.2. CEPAL e o Subdesenvolvimento Brasileiro Criada com a intenção de buscar alternativas para o desenvolvimento econômico dos países latino-americanos, a CEPAL preocupou-se em resolver os problemas gerados pelas crises do capitalismo industrial-financeiro na região. A crise de 1929 e as alternativas encontradas pela social-democracia na Europa e o Welfare State Life nos Estados Unidos, são fatores históricos guiadores da reflexão cepalina. A influência da teoria clássica do comércio internacional dominava o pensamento econômico da época. Essa teoria indicava que cada país deveria especializar-se na produção de mercadorias em que tivessem maiores vantagens relativas. Desta forma os países pobres deveriam focar-se em fabricar produtos para que ganhassem vantagens: naturais, através do clima, solo e relevo; e/ou adquiridas, com o domínio da técnica pela especialização em determinada linha de produção. Estes dois tipos de vantagens lhes permitiriam vender seus produtos a um custo mais baixo do que o de seus concorrentes. Isto só poderia ocorrer caso não houvesse interferências governamentais no mercado. A CEPAL questiona esta teoria clássica liberal partindo de uma preocupação básica: “a de explicar o atraso da América Latina em relação aos chamados centros desenvolvidos e encontrar as formas de superá-lo. Neste sentido, a análise enfocava, de um lado, as peculiaridades da estrutura socioeconômica dos países da periferia, ressaltando os entraves ao desenvolvimento econômico, em contraste com o dinamismo das estruturas dos centros avançados; e, de outro lado, centrava-se nas transações comerciais entre parceiros ricos e pobres do sistema capitalista mundial que ao invés de auxiliarem o desenvolvimento na periferia, agiam no sentido de acentuar as disparidades”6 A CEPAL, nesta crítica à idéia de especialização, ressalta as enormes desvantagens sofridas pelos países atrasados por produzirem essencialmente produtos primários, pois, desta forma acabavam transferindo renda para os centros desenvolvidos. 6 “o centro tirava vantagem de sua supremacia sobre a periferia, impondo preços, cada vez mais altos aos produtos industrializados que lhes exportava, enquanto importava produtos primários a bom marche. Isso significava que na relação de intercâmbio entre produtos primários e industrializados, os preços inclinavam sempre em favor desses últimos, provocando a famosa deterioração dos termos de intercâmbio da periferia.”7 Esta formulação empregava uma nova abordagem sobre o problema do subdesenvolvimento e do comércio internacional, elaborando a chamada lei de deterioração dos termos de intercâmbio. Esta nova elaboração explicava-se por dois elementos fundamentais: “a diferença de comportamento da demanda em relação aos produtos primários comparados aquele relacionado à demanda de bens manufaturados; em segundo lugar, as diferenças no mercado de trabalho e a organização sindical nos países do centro e da periferia.”8 A saída apresentada pela CEPAL a estes dois entraves para o desenvolvimento dos países latino-americanos estava na implementação de uma política de industrialização que promovesse a reforma agrária e melhorasse a alocação de recursos, impedindo a transferência de produtividade para os países desenvolvidos. O incentivo à industrialização e o fortalecimento do mercado interno seriam as alternativas para reverter a tendência à deterioração dos preços de produtos vendidos pelos países periféricos no comércio internacional. Para fomentar estas políticas o Estado aparecia com o papel central na promoção do desenvolvimento, pois seria o responsável pelo planejamento das modificações necessárias na infra-estrutura de seus países. Desta forma, as proposições cepalinas adquiriam características nacionalistas e hostis ao imperialismo comercial e financeiro, porém, não pregava o rompimento com as empresas internacionais, porque elas seriam importantes em um primeiro momento para o investimento na capacidade produtiva dos países subdesenvolvidos. Desta forma, o capital estrangeiro aparecia como peça chave na ampliação do parque industrial, no fomento a indústria de base, de insumos e de bens de consumo. Tudo isto, é claro, intermediado pelo Estado nacional. O subdesenvolvimento era a conseqüência de relações internas pré-capitalistas associadas externamente com o capitalismo monopolista. Para se tornarem desenvolvidos, os países periféricos deveriam diminuir o domínio das relações da 7 economia agro-exportadora e investir no capitalismo urbano-industrial. A partir desta visão a pobreza e o atraso não estavam relacionados ao capitalismo, mas sim a falta dele. Dentro do espectro nacional-desenvolvimentista, estas idéias ganham espaço no Brasil, através da figura de Celso Furtado. Integrante da CEPAL desde 1948 até 1958. Quando regressa ao Brasil e passa a ocupar lugar de destaque no planejamento público para concretização dos pressupostos formulados a partir do que viria a ser conhecido como método histórico-estrutural. A obra de Furtado, ancorada na influência cepalina na região, constitui um dos principais pontos de partida e de críticas formuladas pelas teorias da dependência. Para Furtado, o desenvolvimento capitalista clássico foi essencialmente impulsionado pelos avanços tecnológicos. E por isso, no início do processo de industrialização a oferta de mão-de-obra era abundante, permitindo com que os grandes capitalistas não cedessem às negociações com os trabalhadores e pudessem investir em novas técnicas e tecnologias de produção. Mas a velocidade do processo de acumulação superou o aumento de oferta de mão-de-obra, permitindo aos trabalhadores, maior poder de barganha. Resumidamente, é desta forma que se dá o desenvolvimento capitalista clássico. Furtado aponta dois fatores que diferenciam o início do processo descrito anteriormente e o dos países da periferia do capitalismo internacional: 1. Quando estes deram inicio ao seu processo de industrialização já existia um sistema capitalista mundial avançado; 2. A dependência das atividades agro-exportadoras para o fornecimento de mercado e capital, pois, o processo de industrialização era essencialmente atrelado às condições de investimento destes setores, como por exemplo, no Brasil, o setor cafeeiro. É desta trajetória ímpar que nasce a dinâmica do subdesenvolvimento, como assinala bem Wagner nesta passagem sobre o caso brasileiro: “A medida que o modelo de industrialização brasileira seguia sendo o de substituição de importações, o processo era pautado pela produção de mercadorias semelhantes àquelas originária dos países centrais. Isso conduziria o Brasil a uma má utilização dos seus recursos econômicos. Aqui reside um dos problemas considerados centrais do subdesenvolvimento. Ao basear-se em procedimentos e tecnologias 8 poupadores de força de trabalho e com alta densidade de capital, que seriam adequadas aos países centrais, a industrialização nacional encontraria enormes dificuldades para a consolidação de um mercado interno já que em uma economia como a nossa o resultado seria a baixa geração de empregos e uma reduzida remuneração.”9 A entrada de grandes empresas capitalistas no país tende a aumentar a concentração de renda e, por conseguinte agravar ainda mais as desigualdades sociais existentes. A maior causa do nosso subdesenvolvimento, segundo Furtado, vinha do poder dos latifundiários. Estes eram os principais obstáculos à modernização dos países latino-americanos. Surge daí a noção de dualidade estrutural, a estrutura agrário-exportadora impediria o processo de modernização já que não gera o aumento necessário do mercado interno e não atende a demanda de alimentos para o próprio país, e além disso, os setores tradicionais forçam o aumento dos salários no setor moderno por elevarem o preço dos alimentos. Para sair do subdesenvolvimento as nações latino-americanas deveriam: “promover uma industrialização baseada em processos que maximizassem o uso de força de trabalho, pagando mais salários e aumentando assim o mercado interno. Além disso, a transformação da estrutura agrária, de forma a aumentar sua produtividade e por fim, a fiscalização das atividades das empresas multinacionais. O Estado seria o agente impulsionador e garantidor da modernização.”10 A partir de uma visão bastante otimista em relação ao capitalismo e à democracia moderna, Furtado, entende que o conflito de classes poderia ser suspenso, se a sociedade conseguisse gerar um excedente grande de capital para ampliar os investimentos para expandir a capacidade produtiva e o consumo interno. No entanto, somente o crescimento econômico não geraria o desenvolvimento, seria necessário incluir cada vez mais a sociedade como um todo na espiral ascendente do progresso. Do ponto de vista furtadiano, os capitalistas, visando os benefícios para o conjunto da economia, optariam por ceder parte de seu poder político dentro do processo de desenvolvimento e, desta forma, a participação da classe trabalhadora na renda poderia ser cada vez maior. O desenvolvimento econômico, então, seria do interesse tanto de empresários quanto dos trabalhadores. 9 1.3. O ISEB e a USP As críticas à CEPAL e ao PCB são os pontos de convergência entre Marini e Cardoso, neste item, analisaremos o que a nosso ver caracteriza a raiz, isto é, as origens das divergências entre os dois. O ISEB e a USP foram duas das principais instituições para a formação das ciências sociais no Brasil, e ambas respectivamente tiveram ascendência sobre Ruy Mauro e Fernando Henrique. O ISEB através da figura de Alberto Guerreiro Ramos “sua influência sobre mim naqueles anos, foi absoluta”.11 A USP por meio de Florestan Fernandes “A influência que Florestan Fernandes exerceu sobre mim foi total”.12 É a partir da celeuma existente entra o ISEB e a USP que podemos destacar alguns pontos para a elaboração de uma “arqueologia” da contenda objeto de nosso estudo, pois, as duas visões distintas, sobre os rumos do capitalismo dependente brasileiro, elaboradas por Marini e Cardoso podem ser analisadas como parte de um capítulo das históricas das divergências entre: a visão cientificista x a visão militante; sociologia ‘paulista’ x sociologia ‘carioca’ que se materializam, principalmente, nos debates entre Guerreiro Ramos e Florestan Fernandes e entre o ISEB e a USP13. Este recorte dual não dá conta da gama de complexidades existente entre estas ‘duas correntes’. Estes rótulos que estamos fazendo são altamente discutíveis, no entanto, para a construção de nosso trabalho estas duas formas de conceber a ciência social brasileira que historicamente moldaram diferentes metodologias de estudo, construções teóricas e estilos de escrita são fundamentais para compreender a démarche teórica dos dependentistas em questão. Nossa intenção não é amarrá-los a estas possíveis tradições científicas, mas sim capturar alguns traços característicos que nos permitam compreender as distintas escolhas de cada um dos lados. Inicialmente, o quadro docente da USP foi formado por professores estrangeiros (franceses e esporadicamente italianos, alemães ou norte-americanos) imprimindo desta forma, uma visão mais cosmopolita. “Para estes, tratava-se de criar os recursos teóricos metodológicos para a constituição de um pensamento social sólido e consistente, da mesma qualidade daqueles que se realizavam em outros centros do exterior. O compromisso fundamental dos cientistas sociais deveria ser o de realizar pesquisas de acordo com os padrões mais rigorosos do trabalho científico. Dever-se-ia, assim, produzir ciência não forjar ideologias”.14 10 Enquanto o ISEB propunha a formulação de uma ciência social nacionalmente autônoma que planejasse os parâmetros para o desenvolvimento político, social e econômico do país. Como era uma instituição vinculada diretamente à Casa Civil do governo federal, seus trabalhos tinham uma clara vinculação com os projetos políticos empenhados pelo nacional-desenvolvimentismo do governo Juscelino Kubitschek, e mais tarde com a luta pelas reformas de base no governo João Goulart. A análise corrente de que este último, por sua atuação ativa no ambiente político de sua época o fez perder a qualidade científica, e que os intelectuais da USP preferiram manter a distância necessária para o rigor científico e, desta forma, analisar os fatos políticos da década de 1960 de forma mais neutra, parece inconsistente. Estas apreciações revelam-se injustas com ambas as partes. Por que os filósofos e sociólogos da USP tinham convicções socialistas e militaram politicamente, mas, segundo esta visão, a possibilidade de intervir eficazmente na esfera social e política exigia, preliminarmente, a elaboração de conhecimentos rigorosos. Rotular o ISEB como um aparelho ideológico que partia de um voluntarismo anticientífico, também se mostra descabido, pois as contribuições de Roland Corbisier, Nelson Werneck Sodré, Álvaro Vieira Pinto, e do próprio Guerreiro Ramos, possuem destaque na consolidação das ciências sociais brasileiras. Mas se é problemático taxá-los completamente, verificamos uma propensão maior de cada parte a seguir uma linha de produção e utilização do conhecimento científico. Estas nos parecem características importantes para as conclusões que chegaremos mais adiante em nosso trabalho. Evidentemente, como já falamos, todas estas caracterizações são discutíveis e a definição de rótulos para duas instituições tão ricas e complexas é altamente problemática. Florestan Fernandes foi crítico exaltado quanto a idéia de existência de uma escola paulista de sociologia e posteriormente aproximou-se mais da visão marxista da dependência. Guerreiro Ramos rompeu violentamente com o ISEB e não chegou a formular nenhum trabalho a partir da visão dependentista. Estes fatos já demonstram alguns limites da nossa exposição, mas não anulam completamente estas proposições de análise. A visão cosmopolita e eclética da USP permitiu a Cardoso as bases para elaborar a sua análise sobre as situações de dependência aliando os tipos ideais weberianos e 11 algumas categorias marxistas, mas “esses conceitos são claramente subordinados ao uso abrangente do instrumental weberiano e perdem o vigor original”.15 A militância, uma das características principais do ISEB, repercutiu na atuação de Marini, suas propostas de mudança social acompanham o estilo direto das proposições isebianas, embora desenvolva uma obra teórica e metodologicamente completamente distinta da que foi produzida neste Instituto. 2. O debate Faremos agora um breve escorço biográfico, pois, entendemos que suas trajetórias devem ser consideradas pela analise a que nos propomos. Logo em seguida faremos uma breve resenha sobre o surgimento da teoria da dependência e como os autores colocaram suas idéias em cada lado da arena. Posteriormente analisaremos os textos que cristalizam o embate. 2.1. Fernando Henrique Cardoso - Moderação e Conciliação Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 1931, muda-se para São Paulo com a família, em 1942. Aos 18 anos ingressa no curso de Ciências Sociais da USP. Antes de terminar o curso torna-se professor da Faculdade de Economia. No ano seguinte termina um curso de especialização em Sociologia e em outubro do mesmo ano torna-se assistente do professor Roger Batisde e auxiliar de ensino da disciplina Sociologia I. Em 1955 quando Florestan Fernandes assume interinamente esta cadeira torna-se o seu primeiro assistente. Sobre a orientação de Florestan pesquisa a integração do negro na sociedade brasileira. Conclui o doutorado com uma tese sobre este tema. Mas, somente a partir do início dos anos 1960, logo após o famoso Seminário Marx, empreende reflexões sobre o papel da burguesia e a questão do desenvolvimento. Com o golpe de 1964 acaba se exilando na Argentina, por causa de uma suposta ordem de prisão. No exílio recebe o convite para integrar a CEPAL, em Santiago do Chile. Convite que aceita. Neste período escreve com Enzo Faletto, o clássico, Dependência e Desenvolvimento na América Latina. Em 1967, a convite de Alain Tourraine, muda-se para a França para lecionar em Nanterre. 12 Um ano depois, consegue regressar ao Brasil através de um concurso aberto por causa do falecimento de Lourival Gomes Machado, catedrático da cadeira de Política. Questionado sobre a legitimidade do concurso feito em pleno regime ditatorial, Cardoso responde da seguinte forma: “se eu não fizer o concurso, outro fará. Acredito que, além de ser o mais bem qualificado, é melhor que o lugar seja ocupado por um progressista que possa mudar o sistema de dentro e tentar transformar a universidade”.16 Esta passagem revela sua visão pragmática da política, vislumbrando as alternativas possíveis de mudança sempre dentro dos marcos legais. Aprovado no concurso, não permanece por muito tempo no cargo, pois é aposentado compulsoriamente no início de 1969, junto com vários outros professores, pelo decreto nº 472, sancionado no mesmo dia do nebuloso AI-5. Não perde totalmente o espaço acadêmico, pois funda no ano seguinte, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). A partir de 1974, com a crise do milagre econômico brasileiro e o processo de distensão da ditadura assume posições político-partidárias mais claras e investe suas preocupações intelectuais na questão do autoritarismo e da democracia. Aproxima-se do MDB, até que se candidata, em março 1978, a vaga de senador em São Paulo, é eleito suplente de Franco Montoro. Neste ano escreve com José Serra seu texto de críticas mais pesadas aos pressupostos de Marini17. Figura de destaque no processo de redemocratização brasileira, Cardoso funda, em julho de 1988, o PSDB, formado por setores da centro-esquerda brasileira, o partido cristaliza suas opções político-partidárias e intelectuais. Em 1993, é nomeado ministro da Fazenda do governo do presidente Itamar Franco, quando lança o Plano Real para estabilizar uma inflação que chegava a 20% ao mês. Tarefa que consegue empreender com êxito, e com isto alcança projeção nacional para chegar à Presidência da República, em 1994. Foi reeleito no pleito seguinte. Durante os seus dois mandatos lança mão de políticas que o tornaram responsável pelo: “processo de privatização de empresas nacionais, pela conseqüente perda de comando nacional em setores produtivos estratégicos, pelo oferecimento de um capitalismo sem riscos para investidores estrangeiros na medida em que deles passou o país cada vez mais a depender (...), pelo socorro paternalista aos bancos privados(...), pelo 13 sucateamento das universidade públicas, pelo estímulo dado à melhoria das universidade particulares (...), pela pressão contra o ensino público e gratuito em todos os níveis, pela perda desastrosa de sua qualidade”18 Sua visão moderada de conciliação política foi fundamental para conseguir por em prática estas ações. Os limites determinados pela vinculação ao mercado internacional deveriam ser considerados para o empreendimento de uma política de desenvolvimento, por isto a sua adesão às políticas neoliberais, na década de 1990. Foi o caminho escolhido por ele dentro dos marcos estruturais possíveis, de inserção do Brasil na conjuntura internacional. Para ele, as liberdades democráticas permitiriam aos diversos grupos negociarem os frutos do progresso. 2.2. Ruy Mauro Marini – Exílio e Militância Nascido em 1932 na cidade de Barbacena no interior de Minas Gerais. Muda-se para o Rio de Janeiro com a intenção de ingressar na Universidade, feito que consegue alcançar em 1953 na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Como esta não lhe permitiu o estudo das Ciências Humanas que eram o seu interesse principal, entrou através de concurso na recém fundada Escola Brasileira de Administração Pública – EBAP/FGV. Ali encontrou um terreno fértil para aquilo que almejava. É neste período que entra em contato com Alberto Guerreiro Ramos, e já no 2º ano começa a atuar como seu assistente. Através dele consegue, ao final do curso, uma bolsa para seguir os estudos no Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Paris. Lá completa sua formação intelectual e se afasta do nacional-desenvolvimentismo. No retorno ao Brasil, já com 28 anos, liga-se ao movimento estudantil e contribui com a edição do jornal O Metropolitano da União Metropolitana de Estudantes. Começa a trabalhar como auxiliar de ensino na UnB em 1961, tornando-se professor assistente no ano seguinte. Cursando o doutorado nesta instituição, começa a elaborar um estudo sobre o bonapartismo no Brasil, este trabalho se perde na primeira invasão efetuada pelo exército à UnB após o golpe de 1964. Marini foi sumariamente demitido em junho deste ano e preso no Rio de Janeiro pelo CENIMAR, conseguiu um hábeas corpus, mas foi diretamente entregue ao Exército por causa de outro processo movido em Brasília. 14 Passou três meses na clandestinidade até ir para o exílio no México. Lá produziu os primeiros trabalhos sobre o golpe e os fatos ocorridos no Brasil, estes trabalhos ganham repercussão. Destes escritos emerge o livro Subdesenvolvimento e Revolução19. Ligado ao movimento estudantil, Marini começa a ser vigiado e sofre pressões do governo mexicano, e por isso decide partir para Santiago do Chile. A partir deste período, as atividades acadêmicas e políticas se entrelaçam principalmente após a chegada de Salvador Allende à presidência, com a Unidade Popular. Além das atividades docentes, Marini passa a atuar politicamente através de reuniões com militantes e de cursos para dirigentes e operários. Isto, o força a um trabalho intenso, mas também criativo. Até 1973, faz parte do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR). Neste período que escreve sua obra fundamental Dialética da Dependência. Com o golpe de 11 de setembro parte para um rápido exílio no Panamá e Alemanha. Em setembro de 1974 retorna ao México onde leciona na Facultad de Ciências Políticas y Sociales da UNAM e atua como professor visitante da Escola Nacional de Economia. Funda e dirige até 1982 o CIDAMO. Quando retorna ao Brasil em 1984 encontra um país totalmente diferente. As mudanças efetuadas pela ditadura militar geraram, além das conseqüências econômicas e estruturais do “milagre brasileiro”, uma estrutura acadêmica que não aceitava mais o pensamento crítico e transdisciplinar da geração que sofreu o exílio. Marini tenta se inserir na UERJ, com a ajuda do Darcy Ribeiro, mas não consegue por entraves institucionais. Depois entra em um projeto inovador de formação de servidores públicos e administradores na Fundação Escolar do Serviço Público (FESP), no primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, mas quando este perde a reeleição o projeto é dissolvido. No mesmo ano, Marini consegue a reintegração de seu cargo na UnB, nesta universidade consegue até o ano de 1989 seguir suas atividades docentes, mas o cerco às suas propostas de pesquisa o impedem de avançar nos projetos intelectuais. Devido a uma virose licencia-se da UnB para retomar suas preocupações intelectuais. Morre em 1997, praticamente esquecido em seu próprio país embora reconhecido em vários países da América Latina e da Europa. 2.3. O Surgimento das Teorias da Dependência Formuladas entre 1964-1973, as teorias da dependência estabelecem um novo prisma para a compreensão da realidade latino-americana. O processo histórico e 15 intelectual que a região viveu desde o início do século passado até o período em que os estudos da dependência começaram a aparecer, permitiu o surgimento de trabalhos científicos com temáticas e metodologias extremamente férteis e criativas. As teorias da dependência podem ser entendidas como movimentos de continuidade e crítica deste processo histórico e intelectual. Como não era nosso objetivo não poderemos analisar mais detidamente as influências destas correntes para as formulações depedentistas. Procuramos destacar, em nosso trabalho, algumas destas correntes e dentro delas, aqueles aspectos que permitissem compreender as considerações feitas a seguir. As críticas à ideologia nacional-desenvolvimentista serão um dos motores para a elaboração dos estudos sobre a dependência, assim como o questionamento sobre a validade das propostas da teoria da modernização e à visão esquemática do PCB. Dentro deste espectro, os depedentistas fazem, em linhas gerais, uma reflexão sobre as mudanças na estrutura sócio-econômica da América Latina a partir dos anos 30 do século passado revisitando os textos cepalinos sobre o papel dos países subdesenvolvidos no sistema capitalista internacional. Na América Latina, a entrada do capital estrangeiro na estrutura sócioeconômica, principalmente após a 2ª Guerra Mundial, ganha novos contornos, pois, estimula o aumento do grau de tecnificação e também opera no sentido de monopolização dos mercados em que atuam. Esta integração entre as economias nacionais e o capital estrangeiro é uma das conseqüências do processo de industrialização e modernização das economias latino-americanas. A dualidade entre tradicional e moderno e subdesenvolvido e desenvolvido é problematizada pelas diversas vertentes da teoria da dependência e é daí que podemos destacar um núcleo central de proposições entre elas, como nos mostra de forma concisa Wagner, no texto abaixo: a) a industrialização, deus ex machina do nacional- desenvolvimentismo, não garantia a passagem do centro de decisão para os países em desenvolvimento, por que ela era comandada pelo capital estrangeiro, fundado nas grandes corporações multinacionais, cujo poder decisório concentrava-se nas suas matrizes no exterior; 16 b) a industrialização não trazia distribuição de renda porque acontecia sob o capitalismo monopólico, que tende a concentrar o poder e a riqueza em alguns poucos grandes grupos econômicos; c) o avanço das relações capitalistas de produção para o campo levou a destruição das comunidade camponesas tradicionais, forçando seu deslocamento para os centros urbanos aonde, por conta de uma industrialização baseada em tecnologia intensiva e poupadora de força de trabalho, não conseguiam garantir sua sobrevivência, dando início ao problema da marginalização urbana. d) a burguesia nacional mostrou-se incapaz estruturalmente de dirigir um processo de industrialização que levasse a cabo o desenvolvimento autônomo nacional. A teoria da dependência mostrou o quanto ela estava, naquele contexto histórico, com seus interesses associados ao do capital internacional; e) e por último, mas não menos central, respondendo aqueles que defendiam o caráter feudal das economias latino americanas – e conseqüentemente o papel revolucionário das burguesias locais- os dependentistas afirmaram que os países da região surgiram como resultado da expansão mercantil européia e não poderiam por isso ser identificados como feudais. Era claro que estas sociedades conformavam tipos especiais, mas que não poderiam ser compreendidas a parte do processo de expansão das relações capitalistas de produção a partir dos países do centro para a periferia.20 Os teóricos da dependência assinalavam que o desenvolvimento do capitalismo havia estabelecido uma divisão internacional do trabalho hierarquizada. Nesta hierarquia, as contradições entre as classes dominantes dos países dependentes e os monopólios internacionais não os levavam à confrontação, pois, as primeiras buscavam compromissos através de negociações para garantirem um lugar mais confortável nesta estrutura do capitalismo internacional. O subdesenvolvimento correspondia a esta posição subordinada dentro da economia mundial. As estruturas econômicas, sociais, políticas e ideológicas desses países contribuíam para a reprodução da dependência, por isso, os grupos e classes dominantes utilizavam o controle do Estado nacional para suavizar as conseqüências da dependência e contornarem suas debilidades para inserção na economia mundial. As 17 estruturas das sociedades dependentes eram, desta forma, nacionais, internacionais e específicas dentro do processo histórico de formação do capitalismo global. Estas conclusões de certa forma consensuais, entre os dois autores em questão, passarão a partir da década de 1970, a se afastar progressivamente. Iniciado em 1972, se agrava no final desta década. Este debate nos ajuda a enxergar as linhas divisórias entre as duas visões sobre a dependência. Analisaremos a seguir as duas correntes teóricas da dependência e apontaremos as alternativas propostas por cada um dos lados. 2.4. – Dependência e Desenvolvimento: a Saída Negociada Segundo esta visão, as possibilidades de desenvolvimento das nações periféricas estariam condicionadas pela sua situação de dependência. A política estaria subordinada às condições econômicas desenvolvidas historicamente por estes países, por isso não seria possível promover as alterações estruturais necessárias para mudar as suas situações externas de dependência. Neste sentido, as proposições que defendessem a idéia de ruptura com estes vínculos estruturais e dinâmicos provavelmente cairiam no estancamento, no irracionalismo ou aventureirismo. Daí surge a primeira crítica de Cardoso aos postulados de Marini, pois seu conceito de superexploração do trabalho parecia conduzir inadvertidamente as classes dominadas desses países a uma ruptura violenta com estas estruturas que provocavam a situação de dependência, o irracionalismo aventureiro da luta armada colocaria em risco parcelas enormes de uma geração. A classificação de Marini como teórico da luta armada é uma deturpação de sua obra. A luta armada era uma alternativa possível desde que os movimentos populares estivessem preparados e as condições históricas permitissem. Encontramos várias passagens da sua obra condenando a forma como se empreendeu a luta armada no Brasil durante a ditadura militar21. Execrando qualquer tipo de confrontação, Cardoso propunha como modelo econômico e político para a América Latina, a dependência negociada. Porque a tentativa de alcançar autonomia nacional pelos movimentos populares e suas lideranças, construída ideologicamente pelo nacional-desenvolvimentismo, deflagrou nestes países os golpes militares de Estado dos anos 1960 e 1970. 18 O estabelecimento dos regimes autoritários, como conseqüência desta tentativa de autonomia nacional foi gradativamente sufocando os direitos civis, desta forma, acabou por forçar os grupos que os haviam apoiado inicialmente, a engrossar os movimentos da sociedade civil para restauração da legalidade democrática. Neste contexto, a proposta de Cardoso, de compatibilizar democracia com dependência como forma mais adequada das burguesias nacionais organizarem seus interesses encaixa-se com êxito no processo de redemocratização brasileiro. 2.5. Uma Visão Rigorosa e Radical da Dependência Com a utilização rigorosa e indubitavelmente criativa dos conceitos marxistas, Marini lança luz sobre outros aspectos que explicam as razões pelas quais as classes dominantes dos países dependentes optam pela situação de subordinação dentro da economia mundial. “em consonância com a teoria do valor desenvolvida por Marx, de que o capital e as forças sociais que, historicamente, a ele se articularam, têm por objetivo o superlucro ou a mais-valia extraordinária. É isto que dá dinamismo à acumulação de capital e que responde pela introdução do progresso técnico. Dessa forma, cristaliza-se entre as classes dominantes dos países periféricos uma busca de superlucros que se realiza pela associação às bases tecnológicas, financeiras, comerciais e institucionais do capital internacional. Essa associação permite aos grupos que dela participam liderar o processo de acumulação e alcançar posições monopólicas em suas regiões ou Estados nacionais, sem qualquer proporção aos resultados que seriam alcançados com o uso de recursos internos.”22 Não foi somente através da associação negociada com o capital estrangeiro que as burguesias dos países dependentes conseguiram a acumulação de excedentes, elas utilizaram-se do recurso da maior exploração do trabalhador para alcançar o processo de acumulação capitalista para compensar suas debilidades no mercado internacional. Segundo Marini, a superexploração do trabalho é caracterizada por três processos que poderiam atuar de forma conjugada ou isolada: o aumento da jornada de trabalho, a maior intensidade do trabalho e a redução do fundo de consumo do trabalhador23. As condições históricas herdadas do passado escravocrata, a inserção dos países latino-americanos na divisão internacional do trabalho, a apropriação de tecnologias 19 ultrapassadas vindas dos centros hegemônicos durante o período de substituição de importações, e o imenso número de excedentes de mão-de-obra barata permitiram o estabelecimento da superexploração do trabalho que seria a base reprodutora da dependência. O limitado mercado interno dos países da região, aliado ao aumento das escalas produtivas que não eram direcionados ao consumo popular, provocaria um movimento crescente de exportação de mercadorias e de capitais para outros países periféricos com o objetivo de saltar as dificuldades produzidas por estas contradições internas. O conceito de subimperialismo é construído por Marini para descrever este movimento de contradição entre o desenvolvimento da industrialização e do progresso técnico frente às limitações do mercado interno. A construção de economias socialistas ou de transição ao socialismo, seriam a alternativa para a erradicação da pobreza gerada pelo capitalismo dependente. No entanto, como estas economias estavam intimamente ligadas ao capital estrangeiro e seus compromissos as tornavam débeis para o rompimento decisivo, Marini e os teóricos marxistas da dependência, propõem a construção do socialismo numa perspectiva regional. “A perspectiva regional deveria ser estimulada e as confrontações internacionais reduzidas ao mínimo. Com isso se garantiria o acesso às tecnologias e à densidade demográfica necessária para impulsionar esta forma de desenvolvimento”.24 As articulações políticas deveriam ser feitas entre os países da região para aí sim garantir a inserção na economia mundial na perspectiva de um desenvolvimento autônomo. 2.6. O Embate Em 1972, Cardoso escreve o primeiro texto em que explicita abertamente suas diferenças com a obra de Marini25, nesta primeira crítica aparecem somente quanto a alguns aspectos abordados que já abordamos acima. Quando é publicado em 1979 o artigo As Desventuras da Dialética da Dependência no caderno Estudos Cebrap nº 23 veremos uma diferença não só nos argumentos dos autores, mas também na forma como os desenvolvem. Um texto de difícil leitura, em que a polidez é alterada por uma linguagem agressiva e deselegante 20 confundindo o leitor em muitas passagens sem deixar claro a quem pertencia uma determinada opinião, chegando até a alterar alguns trechos do texto de Marini. Além disso, a não publicação da resposta de Marini no Cebrap e o silêncio em torno da existência dela, são fatos importantes para analisarmos o porquê da restrição á obra deste no país. Buscando atacar cada um dos conceitos elaborados por Marini, o artigo de Serra e Cardoso, almejava chegar às novas gerações de estudantes para colocar “trancas que fechem as falsas saídas”.26 Terminam denunciando que a obra de Marini induziria a um voluntarismo político suicida baseado em um economicismo vulgar, pois apontar a revolução como única saída frente às contradições existentes naquele período histórico, geraria “muitas vezes o sacrifício, até físico, de setores importantes de toda uma geração”.27 Em resposta a Serra e Cardoso, Marini escreve o texto As Razões do Neodesenvolvimentismo,28 onde reafirma suas principais formulações e busca compreender quais as motivações do ataque. No entender de Marini os autores recorrem às concepções desenvolvimentistas para elaborar suas críticas, fugindo da arena intelectual onde se situavam anteriormente. Partindo de um ponto de vista distinto do de Marini, os autores não desenvolveram uma análise marxista da problemática da dependência, pois, utilizaram uma fundamentação exclusivamente economicista dos problemas apresentados por ele29. Cardoso parece abraçar justamente aquilo que foi alvo de suas críticas ao nacional-desenvolvimentismo. Além da falta de uma definição de imperialismo, há outro aspecto importante a ser ressaltado, que é a utilização do conceito de luta de classes. Neste texto, Serra e Cardoso parecem concordar com a elaboração cepalina de cumplicidade e colaboração entre as classes sociais fundada exclusivamente na análise econômica. Aqui encontramos o aspecto crucial de nosso objeto de estudo, buscar quais as condições históricas e as motivações para esta mudança no teor das críticas? Porque o retorno à concepção desenvolvimentista? Compreendemos que o debate entre Cardoso e Marini é primeiramente oriundo de suas concepções metodológicas distintas, depois o cenário político brasileiro e o local em que cada um se encontrava, também foram decisivos. 21 Enquanto Marini estava exilado no México, Cardoso estava iniciando sua carreira política no Brasil ocupando o cargo de suplente do senador Franco Montoro. Cardoso desejava um retorno pacífico e negociado à democracia e entendia que as proposições de Marini, por serem muito radicais, poderiam jogar o país em uma guerra violenta. Para isto desferiu estes golpes, alterando os argumentos para conseguir anular a possibilidade de que os escritos de Marini ganhassem eco dentro dos movimentos sociais e das novas gerações. A nova estrutura do sistema universitário brasileiro, construída durante o regime militar contribuiu decisivamente para que Cardoso tivesse êxito. Por isso, descreveremos como estas mudanças ocorreram e propiciaram o cenário em que os resultados do embate ecoaram ou foram silenciados. 3. As Ciências Sociais no período, o cenário do embate As mudanças ocorridas no sistema universitário brasileiro durante a ditadura militar permitiram que a visão técnica e pragmática (a qual Cardoso se aproximava) sobre a utilização do conhecimento produzido pelas ciências sociais fosse hegemônica. Por isso fizemos a pesquisa de como foram produzidas estas mudanças e como elas montaram o cenário onde os ecos e silêncios do embate se assentaram. O programa de reforma universitária elaborado durante o governo militar conseguiu impregnar as ciências sociais com uma concepção anti-marxista, tecnicista e liberal. É importante destacar também o projeto do governo norte-americano através da CIA de cooptar intelectuais, artistas, atletas, jornalistas e centros de pesquisa para difundirem a ideologia pró Estados Unidos durante a Guerra Fria30. No período posterior a reforma universitária de 1968, surgem sucessivamente, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – Iuperj ambos em 1969; o Centro de Estudos e Cultura Contemporânea – Cedec em 1977, o Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo – IDESP em 1979. A partir deste momento, acelera-se um processo de homogeneização na produção da área e a formulação de uma ideologia anti-marxista. O processo de institucionalização com a criação de associações, como a Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Ciências Sócias, criada a partir de um acordo entre o CEBRAP e o Iuperj é um dos exemplos marcantes desta nova era. 22 É neste cenário que entra o debate descrito em nosso artigo, a visão pragmática de Fernando Henrique ganhou prestígio nos meios intelectuais e pôde se sustentar no período de redemocratização. A estrutura educacional, forjada pelo governo militar, permitiu-lhe posição privilegiada e assim conseguiu engajar-se na política partidária com sucesso. A visão de ensino, anterior ao golpe militar, punha em destaque a interdisciplinaridade e a relação entre o contexto social e o pensamento crítico da época constituindo-se a base do quadro teórico para a inserção de intelectuais de diversas tendências. Começou a ser construída uma nova categoria de pensadores, tais como: Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos, Josué de Castro, Nelson Werneck Sodré, Paulo Freire, entre outros. Para as ciências sociais brasileiras a ditadura militar representou um duro golpe à ebulição criativa das décadas de 1950 e 1960. Fernando Henrique Cardoso e Ruy Mauro Marini viveram, neste iterem, trajetórias distintas. 4. CONCLUSÃO Como síntese de uma gama variada de tradições intelectuais da América Latina, as teorias da dependência constituem um complexo riquíssimo para ser pesquisado, pois as conclusões a que chegaram podem ser tomadas como ponto de partida para análise de nossa realidade atual. Construídas entre meados da década de 1960 até o início dos anos 1970, as teorias da dependência formam um dos marcos principais para as análises sobre o desenvolvimento capitalista na região, as duas visões da dependência trabalhadas em nosso artigo partem de um campo analítico comum: a vinculação dos grupos dominantes dos países periféricos em uma situação de subordinação aos grupos monopólicos estrangeiros. Criticam a visão dualista cepalina de que o subdesenvolvimento poderia ser superado se os Estados nacionais dos países periféricos atuassem no sentido de planejar as mudanças estruturais para garantir a industrialização e o conseqüente progresso do capitalismo moderno na região. Censuravam também o esquematismo da esquerda, representado pelo PCB, sobre a possibilidade de uma aliança entre as burguesias nacionais e a classe operária com objetivo de deflagrar uma revolução democrático-popular que, acabando com os 23 restos feudais da economia colonial e o domínio das oligarquias agrárias, poderiam consolidar o capitalismo em sua fase avançada, assim chegaríamos a etapa certa para alcançarmos a revolução comunista. Estes são os pontos de partida comuns às duas correntes dependentistas. As divergências nas proposições partem de suas concepções metodológicas e aparecem de forma mais nítida quando ocorre o debate, porque as distintas questões trazidas por cada um em seus escritos anteriores ficam mais claras a partir das luzes trazidas pelo embate. Verificamos uma mudança na forma e no conteúdo das críticas direcionadas por Cardoso a Marini entre a primeira etapa do debate em 1972 e a segunda em 1979. As motivações podem ser explicadas quando localizamos o debate no interior da totalidade histórica da qual faz parte. A transição do regime autoritário para o regime democrático estava em curso e foi negociada entre setores do regime e setores da oposição que eram aceitos pelos militares e empresários nacionais. O debate entre Cardoso e Marini reflete, justamente, os impasses e tensões colocados por esta conjuntura. Tudo leva a crer que a mudança de tom nas críticas a Marini venha da preocupação com a influência que este poderia ter sobre as novas gerações e os setores mais radicalizados dos movimentos sociais. A visão pragmática da ciência apregoada por Cardoso, e as alternativas propostas por este de compatibilizar a dependência com o desenvolvimento conseguiram obter, nesta conjuntura, o apoio decisivo de setores importantes da sociedade brasileira no período de consolidação da Nova República. Suas notáveis capacidades de negociação e conciliação foram virtudes decisivas neste processo. Marini radicalizou o discurso sobre a nossa situação de dependência e não abriu mão, quando retornou do exílio, da utilização rigorosa do marxismo para suas pesquisas acadêmicas, e por isso, encontrou fortes resistências institucionais, pois estas estavam marcadas pela nova configuração dada ao sistema universitário brasileiro. 1 Carlos Eduardo Martins O Pensamento Latino-Americano e o Sistema Mundial. In: CLACSO. (Org.). Crítica y teoría en el pensamiento social latinoamericano. 1 ed. Buenos Aires: CLACSO, 2006, pag. 170 2 Idem. pag. 170 3 Idem pag. 172. 4 Luiz Antonio Cunha. A Universidade Temporã - O Ensino Superior da Colônia A Era de Vargas. RIO DE JANEIRO: FRANCISCO ALVES, 1980. 5 Adolfo Wagner. Dois caminhos para o capitalismo dependente brasileiro: o debate entre Fernando Henrique Cardoso e Ruy Mauro Marini. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro.UFRJ, 2005 pag. 34 6 Guido Mantega. A E0conomia Política Brasileira. São Paulo: Polis; Petrópolis: Vozes, 1984, pag. 32. 7 Idem. Pag. 36. 24 8 Adolfo Wagner. Dois caminhos para o capitalismo dependente brasileiro: o debate entre Fernando Henrique Cardoso e Ruy Mauro Marini. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro.UFRJ, 2005 pag. 22. 9 Idem pag. 31. 10 Adolfo Wagner. Dois caminhos para o capitalismo dependente brasileiro: o debate entre Fernando Henrique Cardoso e Ruy Mauro Marini. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro.UFRJ, 2005, pag. 32. 11 Ruy Mauro Marini / Roberta Traspadini & João Pedro Stédile (orgs). Ruy Mauro Marini Vida e Obra. São Paulo: Expressão Popular, 2005. pag. 60. 12 Brigitte Hersant Leoni. Fernando Henrique Cardoso: O Brasil do possível. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 13 Edson Bariani Jr.. A sociologia no Brasil: uma batalha duas trajetórias (Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos). Dissertação de Mestrado. UNESP/ Araraquara, 2003 pag. 19 e também TOLEDO, Caio Navarro. Intelectuais do ISEB, esquerda e marxismo. In: MORAES, João Quartim(org.). História do Marxismo no Brasil. Vol III – Teorias, Interpretações. São Paulo Editora,UNICAMP:245- 274p. 14 Caio Navarro de Toledo. Intelectuais do ISEB, esquerda e marxismo. In: MORAES, João Quartim(org.). História do Marxismo no Brasil. Vol III – Teorias, Interpretações. São Paulo Editora,UNICAMP. Pag. 270. 15 Ver Carlos Eduardo Martins . O Pensamento Latino-Americano e o Sistema Mundial. In: CLACSO. (Org.). Crítica y teoría en el pensamiento social latinoamericano. 1 ed. Buenos Aires, 2006, pag. 172. 16 Brigitte Hersant Leoni. Fernando Henrique Cardoso: O Brasil do possível. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 pag. 147. 17 José Serrae Fernando Henrique Cardoso. As desventuras da dialética da dependência. Estudos CEBRAP, São Paulo, nº 23, 1979: 33-80 18 Valter Duarte. Fernando Henrique Cardoso e a civilização. In Achegas.net. Os oito anos de governo FHC . nº 6, abril de 2003 Disponível em: <http://www.achegas.net/numero/seis/valter_duarte.htm>. 19 Numa tentativa de fundamentar a crítica que vinha sendo feita à política do PCB e de sua teoria da revolução. Ver Ruy Mauro Marini. Subdesenvolvimento e Revolução. Lisboa/Portugal: Iniciativas Editoriais Lisboa, 1976. 20 Adolfo Wagner. Dois caminhos para o capitalismo dependente brasileiro: o debate entre Fernando Henrique Cardoso e Ruy Mauro Marini. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro.UFRJ, 2005 pags. 81 – 82. 21 Ver Ruy Mauro Marini. Subdesenvolvimento e Revolução. Lisboa/Portugal: Iniciativas Editoriais Lisboa, 1976. Também o Dialética de la dependência. Ediciones Era, México, 1973. E Las razones del neodesarrollismo (respuesta a Fernando Henrique Cardoso y José Serra). In: revista Mexicana de Sociologia; Número Especial; Facultad de Ciencias Politicas y Sociales, UNAM, México, 1978. 22 Carlos Eduardo Martins . O Pensamento Latino-Americano e o Sistema Mundial. In: CLACSO. (Org.). Crítica y teoría en el pensamiento social latinoamericano. 1 ed. Buenos Aires: CLACSO, 2006, v. , pag. 179. 23 Ruy Mauro Marini. Dialética de la dependência. Ediciones Era, México, 1973. 24 Carlos Eduardo Martins . O Pensamento Latino-Americano e o Sistema Mundial. In: CLACSO. (Org.). Crítica y teoría en el pensamiento social latinoamericano. 1 ed. Buenos Aires: CLACSO, 2006, v. , pag. 192. 25 Na revista da FLACSO, com o título a A Dependência Revisitada. Ver WAGNER, Adolfo. Dois caminhos para o capitalismo dependente brasileiro: o debate entre Fernando Henrique Cardoso e Ruy Mauro Marini. Dissertação (Mestrado. Rio de Janeiro. UFRJ, 2005, pag. 136) 26 José Serra e Fernando Henrique Cardoso. As desventuras da dialética da dependência. Estudos CEBRAP, São Paulo, nº 23, 1979. 27 Idem pag. 36. 28 Publicado primeiramente na Revista Mexicana de Sociologia, em um número especial, em que também foi publicado o texto de Serra e Cardoso. 29 Idem. Pag. 36. 30 Este é um tema para outra pesquisa, o livro “QUEM PAGOU A CONTA?” da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders nos dá algumas dicas que precisariam ser mais bem trabalhadas para elaborarmos afirmações conclusivas. Bibliografia 25 BARIANI, Edson. A sociologia no Brasil: uma batalha duas trajetórias (Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos). Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2003. CARDOSO, Fernando Henrique. Notas sobre o estado atual dos estudos sobre dependência. Cadernos Cebrap, nº 11, 1975:23-47. ____________. e FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 4ª Ed., 1977. CUNHA, Luiz Antonio. 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