C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
Universidade do Sul de Santa Catarina
História da Administração
Pública Brasileira
Disciplina na modalidade a distância
Palhoça
UnisulVirtual
2011
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 1
10/08/11 15:15
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: [email protected] | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
Reitor
Ailton Nazareno Soares
Vice-Reitor
Sebastião Salésio Heerdt
Chefe de Gabinete da Reitoria
Willian Corrêa Máximo
Pró-Reitor de Ensino e
Pró-Reitor de Pesquisa,
Pós-Graduação e Inovação
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitora de Administração
Acadêmica
Miriam de Fátima Bora Rosa
Pró-Reitor de Desenvolvimento
e Inovação Institucional
Valter Alves Schmitz Neto
Diretora do Campus
Universitário de Tubarão
Milene Pacheco Kindermann
Diretor do Campus Universitário
da Grande Florianópolis
Hércules Nunes de Araújo
Secretária-Geral de Ensino
Solange Antunes de Souza
Diretora do Campus
Universitário UnisulVirtual
Jucimara Roesler
Equipe UnisulVirtual
Diretor Adjunto
Moacir Heerdt
Secretaria Executiva e Cerimonial
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.)
Marcelo Fraiberg Machado
Tenille Catarina
Assessoria de Assuntos
Internacionais
Murilo Matos Mendonça
Assessoria de Relação com Poder
Público e Forças Armadas
Adenir Siqueira Viana
Walter Félix Cardoso Junior
Assessoria DAD - Disciplinas a
Distância
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.)
Carlos Alberto Areias
Cláudia Berh V. da Silva
Conceição Aparecida Kindermann
Luiz Fernando Meneghel
Renata Souza de A. Subtil
Assessoria de Inovação e
Qualidade de EAD
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.)
Andrea Ouriques Balbinot
Carmen Maria Cipriani Pandini
Assessoria de Tecnologia
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.)
Felipe Fernandes
Felipe Jacson de Freitas
Jefferson Amorin Oliveira
Phelipe Luiz Winter da Silva
Priscila da Silva
Rodrigo Battistotti Pimpão
Tamara Bruna Ferreira da Silva
Coordenação Cursos
Coordenadores de UNA
Diva Marília Flemming
Marciel Evangelista Catâneo
Roberto Iunskovski
Auxiliares de Coordenação
Ana Denise Goularte de Souza
Camile Martinelli Silveira
Fabiana Lange Patricio
Tânia Regina Goularte Waltemann
Coordenadores Graduação
Aloísio José Rodrigues
Ana Luísa Mülbert
Ana Paula R.Pacheco
Artur Beck Neto
Bernardino José da Silva
Charles Odair Cesconetto da Silva
Dilsa Mondardo
Diva Marília Flemming
Horácio Dutra Mello
Itamar Pedro Bevilaqua
Jairo Afonso Henkes
Janaína Baeta Neves
Jorge Alexandre Nogared Cardoso
José Carlos da Silva Junior
José Gabriel da Silva
José Humberto Dias de Toledo
Joseane Borges de Miranda
Luiz G. Buchmann Figueiredo
Marciel Evangelista Catâneo
Maria Cristina Schweitzer Veit
Maria da Graça Poyer
Mauro Faccioni Filho
Moacir Fogaça
Nélio Herzmann
Onei Tadeu Dutra
Patrícia Fontanella
Roberto Iunskovski
Rose Clér Estivalete Beche
Vice-Coordenadores Graduação
Adriana Santos Rammê
Bernardino José da Silva
Catia Melissa Silveira Rodrigues
Horácio Dutra Mello
Jardel Mendes Vieira
Joel Irineu Lohn
José Carlos Noronha de Oliveira
José Gabriel da Silva
José Humberto Dias de Toledo
Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa
Rosa Beatriz Madruga Pinheiro
Sergio Sell
Tatiana Lee Marques
Valnei Carlos Denardin
Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta)
Coordenadores Pós-Graduação
Aloísio José Rodrigues
Anelise Leal Vieira Cubas
Bernardino José da Silva
Carmen Maria Cipriani Pandini
Daniela Ernani Monteiro Will
Giovani de Paula
Karla Leonora Dayse Nunes
Letícia Cristina Bizarro Barbosa
Luiz Otávio Botelho Lento
Roberto Iunskovski
Rodrigo Nunes Lunardelli
Rogério Santos da Costa
Thiago Coelho Soares
Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher
Gerência Administração
Acadêmica
Angelita Marçal Flores (Gerente)
Fernanda Farias
Secretaria de Ensino a Distância
Samara Josten Flores (Secretária de Ensino)
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica)
Adenir Soares Júnior
Alessandro Alves da Silva
Andréa Luci Mandira
Cristina Mara Schauffert
Djeime Sammer Bortolotti
Douglas Silveira
Evilym Melo Livramento
Fabiano Silva Michels
Fabricio Botelho Espíndola
Felipe Wronski Henrique
Gisele Terezinha Cardoso Ferreira
Indyanara Ramos
Janaina Conceição
Jorge Luiz Vilhar Malaquias
Juliana Broering Martins
Luana Borges da Silva
Luana Tarsila Hellmann
Luíza Koing Zumblick
Maria José Rossetti
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 2
Marilene de Fátima Capeleto
Patricia A. Pereira de Carvalho
Paulo Lisboa Cordeiro
Paulo Mauricio Silveira Bubalo
Rosângela Mara Siegel
Simone Torres de Oliveira
Vanessa Pereira Santos Metzker
Vanilda Liordina Heerdt
Gestão Documental
Patrícia de Souza Amorim
Poliana Simao
Schenon Souza Preto
Karine Augusta Zanoni
Marcia Luz de Oliveira
Mayara Pereira Rosa
Luciana Tomadão Borguetti
Gerência de Desenho e
Desenvolvimento de Materiais
Didáticos
Assuntos Jurídicos
Márcia Loch (Gerente)
Bruno Lucion Roso
Sheila Cristina Martins
Desenho Educacional
Marketing Estratégico
Rafael Bavaresco Bongiolo
Carolina Hoeller da Silva Boing
Vanderlei Brasil
Francielle Arruda Rampelotte
Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD)
Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.)
Aline Cassol Daga
Aline Pimentel
Carmelita Schulze
Daniela Siqueira de Menezes
Delma Cristiane Morari
Eliete de Oliveira Costa
Eloísa Machado Seemann
Flavia Lumi Matuzawa
Geovania Japiassu Martins
Isabel Zoldan da Veiga Rambo
João Marcos de Souza Alves
Leandro Romanó Bamberg
Lygia Pereira
Lis Airê Fogolari
Luiz Henrique Milani Queriquelli
Marcelo Tavares de Souza Campos
Mariana Aparecida dos Santos
Marina Melhado Gomes da Silva
Marina Cabeda Egger Moellwald
Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo
Pâmella Rocha Flores da Silva
Rafael da Cunha Lara
Roberta de Fátima Martins
Roseli Aparecida Rocha Moterle
Sabrina Bleicher
Verônica Ribas Cúrcio
Reconhecimento de Curso
Acessibilidade
Multimídia
Lamuniê Souza (Coord.)
Clair Maria Cardoso
Daniel Lucas de Medeiros
Jaliza Thizon de Bona
Guilherme Henrique Koerich
Josiane Leal
Marília Locks Fernandes
Gerência Administrativa e
Financeira
Renato André Luz (Gerente)
Ana Luise Wehrle
Anderson Zandré Prudêncio
Daniel Contessa Lisboa
Naiara Jeremias da Rocha
Rafael Bourdot Back
Thais Helena Bonetti
Valmir Venício Inácio
Gerência de Ensino, Pesquisa e
Extensão
Janaína Baeta Neves (Gerente)
Aracelli Araldi
Elaboração de Projeto
Maria de Fátima Martins
Extensão
Maria Cristina Veit (Coord.)
Pesquisa
Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Pós-Graduação
Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.)
Biblioteca
Salete Cecília e Souza (Coord.)
Paula Sanhudo da Silva
Marília Ignacio de Espíndola
Renan Felipe Cascaes
Gestão Docente e Discente
Enzo de Oliveira Moreira (Coord.)
Capacitação e Assessoria ao
Docente
Alessandra de Oliveira (Assessoria)
Adriana Silveira
Alexandre Wagner da Rocha
Elaine Cristiane Surian (Capacitação)
Elizete De Marco
Fabiana Pereira
Iris de Souza Barros
Juliana Cardoso Esmeraldino
Maria Lina Moratelli Prado
Simone Zigunovas
Tutoria e Suporte
Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação)
Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte-
Nordeste)
Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos)
Andreza Talles Cascais
Daniela Cassol Peres
Débora Cristina Silveira
Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste)
Francine Cardoso da Silva
Janaina Conceição (Núcleo Sul)
Joice de Castro Peres
Karla F. Wisniewski Desengrini
Kelin Buss
Liana Ferreira
Luiz Antônio Pires
Maria Aparecida Teixeira
Mayara de Oliveira Bastos
Michael Mattar
Vanessa de Andrade Manoel (Coord.)
Letícia Regiane Da Silva Tobal
Mariella Gloria Rodrigues
Vanesa Montagna
Avaliação da aprendizagem
Portal e Comunicação
Catia Melissa Silveira Rodrigues
Andreia Drewes
Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Rafael Pessi
Gerência de Produção
Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
Francini Ferreira Dias
Design Visual
Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Alberto Regis Elias
Alex Sandro Xavier
Anne Cristyne Pereira
Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
Daiana Ferreira Cassanego
Davi Pieper
Diogo Rafael da Silva
Edison Rodrigo Valim
Fernanda Fernandes
Frederico Trilha
Jordana Paula Schulka
Marcelo Neri da Silva
Nelson Rosa
Noemia Souza Mesquita
Oberdan Porto Leal Piantino
Sérgio Giron (Coord.)
Dandara Lemos Reynaldo
Cleber Magri
Fernando Gustav Soares Lima
Josué Lange
Claudia Gabriela Dreher
Jaqueline Cardozo Polla
Nágila Cristina Hinckel
Sabrina Paula Soares Scaranto
Thayanny Aparecida B. da Conceição
Conferência (e-OLA)
Gerência de Logística
Marcelo Bittencourt (Coord.)
Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Logísitca de Materiais
Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.)
Abraao do Nascimento Germano
Bruna Maciel
Fernando Sardão da Silva
Fylippy Margino dos Santos
Guilherme Lentz
Marlon Eliseu Pereira
Pablo Varela da Silveira
Rubens Amorim
Yslann David Melo Cordeiro
Avaliações Presenciais
Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Ana Paula de Andrade
Angelica Cristina Gollo
Cristilaine Medeiros
Daiana Cristina Bortolotti
Delano Pinheiro Gomes
Edson Martins Rosa Junior
Fernando Steimbach
Fernando Oliveira Santos
Lisdeise Nunes Felipe
Marcelo Ramos
Marcio Ventura
Osni Jose Seidler Junior
Thais Bortolotti
Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Bruno Augusto Zunino
Gabriel Barbosa
Produção Industrial
Gerência Serviço de Atenção
Integral ao Acadêmico
Maria Isabel Aragon (Gerente)
Ana Paula Batista Detóni
André Luiz Portes
Carolina Dias Damasceno
Cleide Inácio Goulart Seeman
Denise Fernandes
Francielle Fernandes
Holdrin Milet Brandão
Jenniffer Camargo
Jessica da Silva Bruchado
Jonatas Collaço de Souza
Juliana Cardoso da Silva
Juliana Elen Tizian
Kamilla Rosa
Mariana Souza
Marilene Fátima Capeleto
Maurício dos Santos Augusto
Maycon de Sousa Candido
Monique Napoli Ribeiro
Priscilla Geovana Pagani
Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Scheila Cristina Martins
Taize Muller
Tatiane Crestani Trentin
Gerência de Marketing
Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Relacionamento com o Mercado
Alvaro José Souto
Relacionamento com Polos
Presenciais
Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo
10/08/11 15:15
Ruth Terezinha Kehring
História da Administração
Pública Brasileira
Livro didático
Revisão e atualização de conteúdo
Rosa Beatriz Madruga Pinheiro
Design instrucional
João Marcos de Souza Alves
5ª edição
Palhoça
UnisulVirtual
2011
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 3
10/08/11 15:15
Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Edição – Livro Didático
Professora Conteudista
Ruth Terezinha Kehringg
Revisão e atualização de conteúdo
Rosa Beatriz Madruga Pinheiro (5ª edição)
Design Instrucional
Márcia Loch
Flavia Lumi Matuzawa
João Marcos de Souza Alves (5ª edição)
Projeto Gráfico e Capa
Equipe UnisulVirtual
Diagramação
Oberdan Piantino
Revisão
Amaline Mussi
351.0981
K35
Kehring, Ruth Terezinha
História da administração pública brasileira : livro didático / Ruth
Terezinha Kehring ; design instrucional Márcia Loch, Flavia Lumi Matuzawa,
João Marcos de Souza Alves . – 5. ed., rev. e atual. – Palhoça : UnisulVirtual,
2011.
262 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
1. Administração pública – Brasil. 2. Política urbana – Brasil. 3. Estado
– Brasil. I. Loch, Márcia. II. Matuzawa, Flavia Lumi. III. Alves, João Marcos de
Souza. IV. Título.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 4
10/08/11 15:15
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras da professora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
UNIDADE 1 - Antecedentes histórico-conceituais da
administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
UNIDADE 2 - Origens da administração pública brasileira:
até o início do século XX. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
UNIDADE 3 - República Federativa do Brasil: estado, governo
e os três poderes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
UNIDADE 4 - A administração pública brasileira no século 20
(após 1930) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
UNIDADE 5 - Introdução aos princípios e funções públicas
e à competência e atribuições da União, estados
e municípios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
UNIDADE 6 - Fatores culturais e administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . 195
UNIDADE 7 - A modernização do estado: entre concentração,
descentralização e flexibilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
Sobre a professora conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Sobre a professora revisora (5ª edição). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 255
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 5
10/08/11 15:15
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 6
10/08/11 15:15
Apresentação
Este livro didático corresponde à disciplina História da
Administração Pública Brasileira.
O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma
e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.
Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será
acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.
Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem
à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.
Bom estudo e sucesso!
Equipe UnisulVirtual.
7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 7
10/08/11 15:15
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 8
10/08/11 15:15
Palavras da professora
Prezado aluno, prezada aluna
Você está iniciando agora seus estudos de uma nova disciplina,
fundamental para a formação que você se propôs. Conhecer a
história da administração pública brasileira é pré-requisito para
você, enquanto administrador público, saber onde você está
inserido no seu mundo do trabalho e social.
Quem não conhece a história está fadado a repetir erros
historicamente superados ou a permanecer no passado. E
assim, colocar-se em um presente irreal e superficial.
A administração pública brasileira existe e não caiu do céu.
Mesmo que em suas origens aqui tenha sido aportada quando
não deportada. Pois trouxe sua bagagem histórico-social, que
aqui foi processada e continua sendo reelaborada, superada
e recriada.
A atualidade dos conceitos-chave, mecanismos e instrumentos
da administração pública são o produto da sua história,
processadas no contexto da realidade brasileira.
Inserida a administração pública nas práticas de governo e
sendo a relação entre governo e Estado mediada pela política,
é humanamente impossível dissociar a administração pública
das políticas públicas que lhe cabe realizar. Apenas por
motivos pedagógicos, aqui você vai estudar a constituição da
administração pública no Brasil e na nossa próxima disciplina
como operar a gestão das políticas.
Como você já deve ter se dado conta, esta disciplina é a sua
iniciação no mundo da administração pública brasileira. Juntos
vamos decifrá-lo.
Bons estudos!
Com o abraço da Professora Ruth
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 9
10/08/11 15:15
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 10
10/08/11 15:15
Plano de estudo
O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da
disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.
O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva
em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.
São elementos desse processo:
„„
o livro didático;
„„
o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);
„„
„„
as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de
autoavaliação);
o Sistema Tutorial.
Ementa
Origens do governo e da administração pública no Brasil. A
organização dos poderes. Estado e Governo. Fundamentos,
princípios e funções do setor público. Estrutura e funcionamento. Fatores culturais e administração pública. A
modernização do Estado. Concentração e desconcentração
federal, estadual e municipal.
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 11
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Objetivos
Geral:
Resgatar o conhecimento da História da Administração Pública
Brasileira.
Específicos:
„„
Entender a origem da Administração Pública.
„„
Entender a organização dos poderes.
„„
Compreender os fundamentos, princípios e funções do
setor público.
„„
Estudar a estrutura, funcionamento e fatores culturais.
„„
Identificar a modernização do Estado.
„„
Entender a concentração e desconcentração federal,
estadual e municipal.
Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.
Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.
12
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 12
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Unidades de estudo: 7
Unidade 1 - Antecedentes histórico-conceituais da administração
pública
Nesta primeira unidade você vai entender a origem da
administração pública, sua inserção nos primórdios da história da
administração e relação com os conceitos de Estado e governo.
Vai poder reconhecer os antecedentes da administração pública
na Antiguidade e Idade Média e suas bases patrimoniais em
relação as noções de Estado feudal e estamental. E ainda as
expressões da administração pública no absolutismo e ao nascer
do Estado moderno, podendo assim compreender as bases
histórico-conceituais da administração pública.
Unidade 2 – Origens da administração pública brasileira: até o início
do Século XX
Na nossa segunda unidade você vai estudar como foi se
constituindo a administração pública no Brasil, desde o momento
do descobrimento das terras tupiniquins pelos colonizadores
portugueses (1500) até o período em que se formou a nossa Velha
República (1989-1930). Quer dizer, vai conhecer as características
da administração pública brasileira como desdobramento
dos seus antecedentes históricos. Nessa perspectiva você será
convidado a refletir sobre as formas de organização social que
antecederam a chegada do homem branco ao Brasil, a reconhecer
o caráter patrimonialista de administração pública trazido pelos
colonizadores portugueses, a identificar as origens coloniais que
serviram de base para a administração pública brasileira, e, a
caracterizar as formas de administração pública assumidas no
século 19, do Brasil imperial à Primeira República.
13
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 13
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Unidade 3 – República Federativa do Brasil: Estado, governo e os três
poderes
Nesta unidade você vai compreender o que é o Estado Federal;
entender as diferentes formas de governo, reconhecendo a
importância do sistema democrático e o significado do princípio
republicano em suas implicações na administração pública; e,
reconhecer os três poderes de governo – Executivo, Legislativo e
Judiciário – como parte da administração pública.
Unidade 4 – Administração Pública Brasileira no século 20 (após 1930)
Na quarta unidade da nossa disciplina você vai perceber a
inserção dos antecedentes da Revolução de 1930 para a história
da administração pública brasileira, podendo compreender
melhor alguns acontecimentos ocorridos no Brasil após a década
de 30 do século passado até os dias atuais. Serão identificadas
as principais características da administração pública brasileira
durante os primeiros quinze anos de governo Vargas (19301945), no período do pós-guerra ao governo populista de Vargas
(1946-1954), no desenvolvimentismo e frente aos esforços de uma
democracia nascente (1954-1963), atropelada pela administração
pública da ditadura militar brasileira (1964-1984), e, ainda nas
últimas décadas desde a Nova República até o final do século 20.
Unidade 5 – Introdução aos princípios e funções públicas e a
competência e atribuições da União, estados e municípios
Nesta unidade você vai compreender o que é regime jurídico
administrativo; no que consubstancia a correta gestão dos
negócios públicos e o manejo dos recursos públicos; a repartição
de competência e as atribuições dos Poderes da União, do
Distrito Federal, dos estados e dos municípios.
14
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 14
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Unidade 6 – Fatores culturais e administração pública
Na nossa penúltima unidade você vai estudar os fatores culturais
que contribuem para a administração pública brasileira,
compreendendo a relação do desenvolvimento do País com a
necessidade de crescimento dos serviços públicos; a administração
pública a partir da reestruturação do sistema de administração
financeira, da modificação do contexto político e da evidência de
uma cultura de corrupção; apontando para um contraponto na
perspectiva de melhorias na competência, capacitação e cultura
no serviço público.
Unidade 7 – A modernização do Estado: entre concentração,
descentralização e flexibilização
Na última unidade dessa nossa disciplina você vai aprender
a conceituar reforma administrativa dentro da história da
organização pública brasileira, compreendendo o conceito de
controle social nesse movimento. E vai conhecer as principais
diretrizes introduzidas na modernização do Estado, entendendo
aspectos da desconcentração e descentralização administrativa,
e, das formas de administração direta e indireta, como as
autarquias, fundações, sociedade de economia mista, empresas
públicas e organizações sociais.
15
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 15
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Agenda de atividades/Cronograma
„„
„„
„„
Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar
periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.
Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço
a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.
Use o quadro para agendar e programar as atividades
relativas ao desenvolvimento da disciplina.
Atividades obrigatórias
Demais atividades (registro pessoal)
16
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 16
10/08/11 15:15
unidade 1
Antecedentes históricoconceituais da administração
pública
Objetivos de aprendizagem
„„
Situar a administração pública nos primórdios da
história da administração.
„„
Diferenciar os conceitos de estado, governo e
administração pública.
„„
Conhecer os antecedentes da administração pública
na antiguidade e idade média.
„„
Reconhecer quais são as bases patrimoniais da
administração pública e as noções de estado feudal
e estamental.
„„
Identificar expressões da administração pública no
absolutismo e ao nascer do estado moderno.
„„
Compreender as bases histórico-conceituais da
administração pública.
1
Seções de estudo
Seção 1
Seção 2
Seção 3
Seção 4
Seção 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 17
Dos primórdios da história da administração à
administração pública
Estado e governo como fundamentos da
administração pública
Antecedentes da administração pública na
antiguidade e idade média
Bases patrimoniais da administração pública
e o estado estamental
A organização pública no absolutismo e ao
nascer do estado moderno
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Já que conceitos têm história e autores, você vai começar o
aprendizado sobre a história da administração pública brasileira
buscando seus antecedentes longínquos.
Partindo das expressões da administração pública nos primórdios
da própria administração e das concepções de Estado e Governo
na Antiguidade e Idade Média, você vai poder compreender
os primeiros fragmentos que vão compor a tessitura da
administração pública europeia, a qual vem aportar em nosso
continente.
A característica histórica mais marcante da administração pública
brasileira e que está difícil de romper é o patrimonialismo, que
você vai compreender como uma marca consolidada pelo Estado
estamental português. E, ainda: vai entender a concepção de
Estado absolutista do início da Idade Moderna, que também
manteve algumas reminiscências na administração pública
brasileira.
Seção 1 - Dos primórdios da história da administração
à administração pública
A história da administração pública acompanha a formação
do pensamento administrativo. Os antecedentes históricos da
administração a configuram como resultado de contribuições
cumulativas das obras e teorias de muitos precursores,
destacando-se os filósofos, físicos, economistas, estadistas e
empresários.
As estruturas orgânicas piramidais, que são amplamente
incorporadas na estruturação do conhecimento em
administração, há muito tempo já vinham pautando a realização
de empreendimentos militares, sociais, políticos, econômicos
18
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 18
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
e religiosos de todos os tempos, concentrando-se no topo da
pirâmide as funções de autoridade e poder de decidir, e, na base,
as funções de execução.
Figura 1.1 - Estrutura piramidal clássica
Fonte: Elaboração da autora, 2008.
Um exemplo clássico do uso da estrutura piramidal como forma
de organização utilizada há muitos séculos e alguns milênios
(há mais de dois mil anos), pode ser encontrada no Antigo
Testamento (ÊXODO, cap.18, v.13-27). Naquela ocasião, o
sogro de Moisés o aconselhava a delegar suas funções para
chefias intermediárias como forma de organização para conseguir
atender toda a multidão que o procurava cotidianamente.
Segundo Chiavenato (1983), os antecedentes da administração na
Antiguidade podem ser encontrados nas obras monumentais que
revelam a existência, por muitos séculos, de dirigentes capazes
de planejar e guiar pessoas para conseguir efetivar realizações
daquela magnitude.
Como exemplos que demonstram a importância da
administração das coisas públicas naqueles diversos
contextos históricos, destacam-se (CHIAVENATO, 1983):
EGITO – os papiros: importância da organização
política.
BABILÔNIA – controle escrito e salário mínimo.
CHINA – Parábolas de Confúcio: práticas para a boa
administração pública.
PÉRSIA – Ciro: estudo de movimentos físicos,
relações humanas e manuseio de materiais.
ROMA – descrição de funções (Cato).
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 19
19
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
A influência da organização da Igreja Católica consigna a
importância da unidade de propósitos e objetivos, princípio
fundamental da organização eclesiástica, como orientação das
normas administrativas, da hierarquia de autoridade (o seu
Estado Maior) e da coordenação funcional. Sempre próxima
do Estado, quando não fazendo parte diretamente dele, ou se
constituindo como tal – o Estado do Vaticano, o modelo de
organização da Igreja Católica tem sido referência tanto da
administração pública como da privada.
Da influência da organização militar para a administração em
geral destacam-se: organização linear, o princípio da unidade
de comando, escala hierárquica (por níveis de comando),
autoridade e responsabilidade, ampliação da escala de comando
frente ao volume de operações, novos princípios de organização,
planejamento e controle centralizados e a instituição de operações
descentralizadas. (CHIAVENATO, 1983).
A influência dos filósofos nos antecedentes da formação do
pensamento administrativo pode ser atestada a partir das
seguintes contribuições (CHIAVENATO, 1983):
„„
Sócrates: habilidade pessoal, conhecimento técnico e experiência.
„„
Platão: A República – administração dos negócios públicos.
„„
Aristóteles: Política – organização do Estado.
„„
Bacon (séc. XVI): método experimental e indutivo.
„„
Descartes (séc. XVII): o poder da RAZÃO.
„„
Hobbes (séc. XVII): o homem é o lobo do homem.
„„
Rousseau (séc. XVIII): o Contrato Social.
„„
Marx (séc. XIX): dominação econômica do homem pelo homem.
As teorias de administração têm aplicação genérica nos
mais diversos tipos de organização, cabendo a cada
setor de produção absorver referenciais e modelos
de gestão, segundo sua disponibilidade de acesso e
oportunidades.
20
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 20
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Somente no século XIX e anteriormente ao nascimento
da chamada “administração científica”, houve produções
específicas de diferentes problemáticas sociais. Um movimento
de diferenciação entre a administração pública e empresarial
que possa ter existido em alguns momentos tem dado espaço
para o reconhecimento das posições originais da teoria da
administração, a exemplo de Fayol e Weber, autores clássicos
da formação do pensamento administrativo no início do século
XX, os quais, claramente, indicavam a aplicação da teoria das
organizações para qualquer esfera.
Desde as abordagens acima citadas, pesquisas realizadas
por diversos autores da teoria organizacional, com destaque
para os de formação mais estruturalista, e, após estes, os de
abordagens contingenciais, como também autores mais atuais
(PETTIGREW, 1992), todos têm reafirmado que a teoria da
administração é genérica, ou seja, aplicável aos mais diversos
setores de produção de bens e serviços para a sociedade.
Apenas adaptações do seu corpo teórico organizacional são
demandadas em suas aplicações setoriais. Pois as peculiaridades
do processo produtivo nos diferentes setores e áreas de
produção são equacionadas por administradores do próprio
setor, referenciados nas produções pertinentes a cada contexto
específico.
A complexidade, mudanças e incertezas contidas na sociedade
implicam o aumento de demandas da administração como sendo
atividade humana. A tarefa básica da administração é fazer as
coisas por meio das pessoas. Portanto, basicamente, gerir pessoas
em cooperação, visando a alcançar objetivos com eficiência dos
recursos. Para tanto, são desenvolvidos modelos e estratégias
adequadas à solução dos problemas encontrados no mundo
organizacional.
Como ciência, a administração tem um objeto próprio e
seus princípios são formulados pela experiência científica. A
administração estuda e investiga para conhecer e compreender,
essencialmente, a estrutura e funcionamento das organizações.
Elabora teorias e leis baseadas em hipóteses, modelos e
postulados. Pode-se lhe atribuir a existência em dois campos:
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 21
21
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
„„
„„
o explicativo: que aporta o conhecimento e indica
técnicas para operar e transformar organizações;
o avaliativo: da aplicação de suas explicações, com o que
realimenta e guia a explicação científica.
Seção 2 - Estado e governo como fundamentos da
administração pública
Houve uma radical transformação do significado da
administração desde a sua origem etimológica. Ad significa
direção ou tendência para, enquanto que minister traz a ideia de
subordinação e obediência. A tarefa central da administração
é interpretar os objetivos organizacionais e transformá-los em
ação coordenada entre esforços de todas as áreas e níveis da
organização, realizando suas funções.
Ao incorporar o adjetivo pública, a administração volta-se para
as organizações públicas. Quer dizer, pertencentes à estrutura de
Estado, ou seja, as instituições governamentais.
A Administração Pública compreende a estrutura e as atividades
essenciais que possibilitam ao Estado o cumprimento de seus
fins. E, como o Estado opera por meio do governo, é por
intermédio desta última instituição que a administração pública
se processa.
Em sentido formal, a Administração Pública é o conjunto de
órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo;
em sentido material, é o conjunto das funções necessárias
aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o
desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços
do próprio Estado ou por ele assumidos em benefício da
coletividade. Numa visão global, a Administração Pública é, pois,
todo o aparelhamento do Estado preordenado à realização de
seus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas.
22
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 22
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Você sabe o que é Estado?
Um conceito para o Estado, bem sintético e recorrente entre
vários autores, define-o como uma nação politicamente
organizada.
Também é bastante conhecida, inclusive nos currículos de
segundo grau, a chamada teoria tradicional dos três elementos do
Estado:
1.coletividade (povo);
2.território;
3.poder político (soberania).
Existem inúmeras variações nas definições para cada um destes
elementos, mantendo-se a mesma estrutura conceitual.
É comum encontrar para o Estado uma definição como a
seguinte: é um conjunto humano, um território e um poder
político juridicamente orientado para objetivos de interesse
público. (VERBO, 1968).
Como se pode depreender a respeito do conceito acima, “o
Estado inclui o governo e os governados, abrangendo todas as
pessoas dentro de um território definido, como membros de um
governo soberano, (os) cidadãos [...], cujas ações são controladas
por ele.” (LAKATOS; MARCONI, 1988, p.188). E assim tem
sido historicamente.
Conforme explicitam as autoras acima, “o conceito de Estado
implica a inclusão do elemento governo, que mantém a ordem
e estabelece as normas relativas às relações entre os cidadãos.”
(ibid., p. 188). Pois o governo representa oficialmente o poder
político do Estado e simboliza a sua soberania.
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 23
23
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Nos anos trinta, no campo da ciência política, Carl Schmitt
emitiu o conceito de Estado voltado para o desenvolvimento
político. O autor propôs a seguinte definição: “O Estado é o
status político de um povo organizado dentro de um limite
territorial.”
O Estado é a essência da política. Política, entendida como uma
luta pelo poder; e o Estado, como lugar onde se situa este poder.
A integração da sociedade com a política e sua análise dividiu
o interesse da Ciência Política entre o Estado e a sociedade.
Porém, apesar de a definição ser abrangente, o tema continuou
sendo debatido, a fim de encontrar uma definição de Estado que
encerre sua essência e que permita definir sua singularidade em
relação a outras instituições sociais. Por um longo tempo, uma
das respostas mais aceitas e utilizadas foi formulada por Max
Weber: “Estado consiste em uma comunidade humana que,
dentro de um determinado território, reclama para si (com êxito)
o monopólio do uso legítimo da força.”
Em outra acepção, o Estado designa a estrutura ou conjunto de
instituições que compõem o chamado aparato do Estado, isto é,
os órgãos administrativos do governo os quais desenvolvem ações
para o sistema social que lhes serve de marco. Esta significação
aproxima-se da noção de Governo, distinguindo-se de outras
organizações, tais como os partidos políticos, os sindicatos e,
até mesmo, os grupos familiares. Isto se deve ao fato de estes
incluírem ou representarem certos segmentos da sociedade.
Neste sentido, o Estado é distinto do restante, da totalidade ou
da sociedade. Quando se fala de monopólio estatal da violência,
se pensa, geralmente, na acepção restrita da palavra Estado, já
que teria pouco sentido atribuir este monopólio ao conjunto dos
homens ou seu território.
Então, o que é Governo?
24
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 24
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Governo é o aparelho de Estado. É a estrutura de funcionamento
por meio da qual o Estado se organiza.
Quer dizer: O governo é formado pelos órgãos e instituições que
constituem os seus poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário.
E, sendo um país federado, como ocorre no Brasil, o governo se
organiza em cada nível da federação: seja isto em nível federal,
estadual ou municipal.
Um exemplo atual que permite perceber melhor a
diferença entre Estado e Governo é a Inglaterra,
com sua monarquia constitucional. Em função do seu
regime parlamentarista, naquele país existe, por um
lado, o Estado da Inglaterra, que tem por chefe um
monarca, a Rainha; e, por outro lado, o seu governo,
que é liderado pelo primeiro ministro. Ou seja, existe
um chefe de Estado e um chefe de Governo. No caso
do Brasil, como nos Estados Unidos da América, o
chefe de Estado assume também a função de chefe de
governo.
Agora que você já estudou uma definição de Estado por
referência e sabe diferenciar Estado e Governo, vamos entender
onde entra a administração pública.
O que é Administração Pública?
Pode-se entender a administração pública como um conjunto de
pessoas que compõem os órgãos e serviços do aparelho de Estado, ou, que
desenvolvem a atividade ou função da administração dos órgãos de
governo.
Assim como a concepção de Estado muda através dos tempos
e dos continentes, também o conceito de administração pública
tem história e seu significado será construído durante toda esta
disciplina.
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 25
25
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 3 - Antecedentes da administração pública na
antiguidade e idade média
– Você sabe qual a concepção de Administração Pública na Antiguidade
Grego-Romana?
Você lembra os filósofos clássicos estudados na disciplina de
Filosofia? Os gregos Sócrates, Platão e Aristóteles nos deixaram
os primeiros registros históricos de uma filosofia política com
foco no Estado.
Na Grécia Antiga, berço das sociedades europeias atuais, nasce
a filosofia, os jogos olímpicos (educação física) e a democracia
(ciência política), entre muitas outras disciplinas, aqui entendidas
como áreas do conhecimento. Por exemplo, a medicina.
Existiram dois importantes períodos na antiguidade grega, nos
quais se podem antever algumas características das organizações
políticas:
1) Genos, o período pré-homérico e a época de Homero, em
torno de 2000 anos a.C., onde se destacavam:
„„
„„
„„
os agrupamentos familiares extensos;
o poder centralizado em apenas um chefe, com toda
autonomia política;
divisões da sociedade em núcleos menores, as chamadas
fratrias e tribos.
2) Polis, o período arcaico (800 a 600 anos a.C.):
„„
„„
„„
a cidade-estado existia já com certa regulamentação;
expansão e colonização dirigidas para toda a Península
Itálica;
o poder político na cidade de Esparta compreendia uma
diarquia, com Conselho e Assembleia;
26
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 26
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
„„
o poder político na cidade de Atenas compreendia uma
monarquia, onde, enquanto diminuía a aristocracia,
aumentava a democracia.
Um espaço privilegiado da organização política em
Atenas era a ágora, a grande praça pública no centro
da cidade, berço da democracia, onde se reuniam os
cidadãos no exercício de seu papel político.
Na Roma Antiga, também existiram dois grandes momentos de
organização política:
„„
„„
a clássica Monarquia Romana (até 600 anos a.C.), assim
constituída: Rei, Conselho de Anciãos, Senado (chefes
de família e sacerdotes) e Assembleia dos patrícios;
a clássica República Romana, resultado de um golpe
do Conselho de Anciãos na Monarquia Romana,
criando-se uma aristocracia que conservava tanto
elementos monárquicos (com suas Magistraturas) como
elementos aristocráticos (através do Senado) e elementos
democráticos (com suas Assembleias).
A Roma Antiga é a grande referência clássica do nascer
e desenvolver-se da cidadania e do direito.
Para um cidadão romano, culturalmente, o Estado estava acima
de tudo, o que se refletia na coragem e lealdade dos romanos
a serviço da república (“coisa pública”), concepção original de
Estado.
A vida do cidadão era regida por leis que representam a origem
do direito em suas duas formas clássicas:
„„
„„
Direito Público, tratando dos costumes (Direito Civil) e
das conquistas (Direito Estrangeiro);
Direito Privado, trazendo os ordenamentos legais para a
vida nas famílias.
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 27
27
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
A administração pública no período feudal
Na disciplina de Sociologia , você estudou que o feudalismo foi
um sistema social, econômico e político característico da Idade
Média.
Este grande período negro da história compreende nada menos
que 10 séculos, ou seja, aproximadamente 1.000 anos, que vão
desde o século V até o século XV: desde a queda do Império
Romano do Ocidente até a tomada de Constantinopla pelos
turcos.
Você sabe por que a Idade Média é conhecida como a
Idade das Trevas?
Porque o domínio dos senhores feudais e do clero da
época fez perder-se todo o desenvolvimento artístico,
intelectual, filosófico e institucional construído na
Antiguidade. Passaram a reinar os dogmas da Igreja
Católica e a se destacar as invasões germânicas, a partir
das quais os valores militares começam a orientar as
concepções dos senhores feudais sobre chefia.
Também na Idade Média se destacam dois grandes períodos
históricos:
„„
„„
a Alta Idade Média (séculos V a IX), em que nasce o
sistema feudal na Europa e cresce o Império Bizantino
(Romano do Oriente) e se instaura a forma de Estado
Teocrático na Península Arábica (o Islão);
a Idade Média (dos séculos X a XV), em que os modelos
acima se consolidam.
No sistema feudal, o modo de organização econômica,
política, social e cultural é baseado na posse da terra. Nesse
contexto, nasce a obrigação servil em relação aos seus próprios
proprietários. Segundo Faoro (2001, p.34):
O feudalismo, fase necessária no ocidente europeu, seria
um momento da divisão do trabalho, que se projeta em
formas diversas de propriedade. Sucedeu ao primeiro
estágio, o tribal, o período estatal e comunal, alcançando
28
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 28
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
o sistema feudal, prelúdio da era capitalista. Cidade
e campo, polarizados com a propriedade territorial e
corporativa, respectivamente, se identificam numa ordem
patriarcal e hierárquica. Feudalismo e economia natural
seriam termos correlatos.
A importância de estudar e compreender introdutoriamente
este tema prende-se a que o feudalismo deixou um lastro o qual
perpassa os tempos, persistentemente, dentro dos rumos diversos
que seguiu a sociedade e sua administração pública.
No sistema feudal, conservam-se tanto elementos do mundo
romano, como a vila, os colonos precários ou clientes e o poder
político; e, também, valores culturais dos povos germânicos,
como a economia natural, a imobilidade social, um sistema
político sem Estado e o comitatus, seus guerreiros defensores dos
feudos. Destacam-se as seguintes bases do sistema feudal:
„„
„„
„„
o regime de propriedade da terra, havendo a área de
domínio ou senhorio, a posse considerada coletiva dos
bosques e pastos e as reservas privadas ou na forma de
co-propriedade;
as relações sociais, onde quem nasce servo ou senhor
assim se manterá por toda a vida (a imobilidade social
antes referida), pertencendo exclusivamente ao senhor
o poder militar e político, havendo, ainda, outras
classes sociais intermediárias – os vilões, escravos e
ministeriais, sendo que estes últimos podiam ascender
excepcionalmente até à condição de cavaleiros;
o regime de trabalho típico da época, denominado
corveia, que significava trabalho forçado, pagamentos
do trabalho por redevances, consentimento de uso de
alojamentos e similares e as respectivas prestações de
serviços como contrapartida.
Como era o estado feudal?
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 29
29
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Havia uma soberania piramidal e fragmentária na estrutura
da sociedade feudal. Esse modelo de organização pode ser
caracterizado em três tipos:
1.poder político local, descentralizado em relação ao rei;
2.proteção dos senhores feudais, obtida pelo juramento de
fidelidade a outros senhores, tornando-se estes últimos
suseranos (superiores) dos protegidos, os quais passam
a ser seus vassalos (outros senhores subordinados aos
senhores feudais seus protetores);
3.estrutura hierárquica piramidal, com o rei no topo, num
status que se relaciona exclusivamente com seus vassalos
diretamente ligados a ele, como duques, marqueses e
condes, sucessivamente, ficando no espaço central da
estrutura os barões como suseranos dos cavaleiros que
formam a base da pirâmide hierárquica.
É nas estruturas desta natureza que têm origem os reinados e a
conhecida nobreza na organização da sociedade ocidental.
A ideia mais próxima de Estado feudal sintetiza um exercício
acumulativo das suas funções diretivas pelos senhores feudais por
um lado; e, a fragmentação do poder central entre os diversos
feudos, por outro.
Segundo Faoro (2001, p.36), não se pode considerar a
organização política da sociedade feudal como um Estado
propriamente, conforme entendemos este conceito hoje. Nas suas
palavras:
[...]O feudalismo, fenômeno não somente europeu,
significa, portanto, um acidente, um desvio na formação
da nação politicamente organizada (o nosso conceito
de Estado até aqui assimilado). [...] O incremento do
comércio, de outro lado, acelera o aparecimento do
sistema patrimonial, contrário à ordem feudal. (ibid.,
p.36).
30
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 30
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Assim pode-se afirmar que “O feudalismo não cria, no
sentido moderno, um Estado. [...] apenas concilia, na
realização da homogeneidade nacional, os privilégios,
contratualmente reconhecidos, de uma camada
autônoma de senhores territoriais.” (p. 36).
Seção 4 - Bases patrimoniais da administração pública
e o estado estamental
O estado estamental e as monarquias absolutistas
Com o final da Idade Média, passam a existir algumas formas
intermediárias que vêm anteceder a futura organização do Estado
Moderno – o Estado Estamental é a primeira dessas formas que
se configura naquele momento da história.
A seguir virá outro desenho de Estado que você vai estudar na
próxima seção - as Monarquias Absolutistas. Estas são apenas
formas transitórias e bem menos conhecidas que as três grandes
divisões históricas: o Estado na Antiguidade, sua fragmentação
na Idade Média e o Estado na Modernidade.
Porém, do ponto de vista da administração pública brasileira,
por suas marcas profundas na organização das coisas públicas
em nosso país, muitas delas presentes até hoje, o estamento,
assim como o Estado absolutista, são da maior importância na
compreensão da nossa história.
O que foi o Estado estamental?
Como decorrência das características do sistema feudal – em
que se destacava a produção autossuficiente em cada feudo – e o
poder político local independente, os movimentos que levaram à
formação do Estado foram criando uma espécie de comunidade
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 31
31
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
privilegiada para os senhores feudais. Trata-se dos estamentos
(como se fossem castas superiores) que se foram instalando na
organização do Estado.
O Estado estamental compreende uma tipologia
intermediária entre o Estado feudal e o Estado
absoluto.
Segundo Bobbio (2001), Estado estamental significa um Estado
de estamentos em torno do Príncipe, formado por instituições
que representam os interesses da própria categoria.
Etimologicamente stände significa órgãos colegiados, pelos quais
se organiza o Estado Estamental. Sua instituição representa os
interesses da própria categoria, protegendo os grupos daquela
mesma posição social. Seus direitos e privilégios se consolidavam
por meio das assembleias deliberativas, a exemplo da Câmara
dos Lordes (nobres e clero) e da Câmara dos Comuns (estamento
burguês).
O exemplo histórico de Portugal, segundo Faoro (2001, p.37),
é um caso típico, por um lado, da não existência do feudalismo
propriamente dito; e, por outro lado, de configuração típica de
um Estado Estamental que ultrapassou séculos:
O elemento militar do regime feudal caracteriza a
situação de uma camada (o estamento) – vinculada ao
soberano por um contrato – um contrato de status,
calcado na lealdade, sem subordinação incondicional.
Sob o aspecto econômico-social, aos senhores está
reservada uma renda, resultante da exploração da terra.
Politicamente, a camada dominante, associada ao rei por
convívio fraternal e de irmandade, dispõe de poderes
administrativos e de comando, os quais, para se atrelarem
ao rei, dependem de negociações e entendimentos.
Dos três elementos, que, somente reunidos constituem
o feudalismo, resulta, com respeito ao soberano, a
imunidade armada, capaz de se extremar na resistência,
elevada à categoria de um direito.
Situado teórica e historicamente, o conteúdo do sistema
feudal, ressalta do enunciado a sua incompatibilidade
32
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 32
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
com o mundo português, desde os primeiros atos do
drama da independência e da reconquista. [...] Portugal
não conheceu o feudalismo. Não se vislumbra, por mais
esforços que se façam para desfigurar a história, uma
camada, entre o rei e o vassalo, de senhores, dotados de
autonomia política.
Agora, o estamento, esse sim pode ser considerado um fenômeno
da organização do Estado, governo e administração pública, que
ganha maior expressão no modelo assumido por Portugal no
período das grandes navegações e que vai atravessar mares até
suas colônias.
Segundo Faoro (2001, p. 39-40):
[...] Entre o comércio medieval, de trocas costeiras, e
o comércio moderno, com as navegações longas, há o
aparecimento da burguesia desvinculada da terra, capaz
de financiar a mercancia. Há, sobretudo, o aparecimento
de um órgão centralizador, dirigente, que conduz as
operações comerciais, como empresa sua: o príncipe.
[...] O Estado torna-se uma empresa do príncipe, que
intervém em tudo, empresário audacioso, exposto a
muitos riscos por amor à riqueza e à glória: empresa de
paz e empresa de guerra.
Para a gestão de tal empreendimento, o Estado português precisa
de governo e de administração pública. O estamento é a forma
utilizada. Como órgãos de Estado, o estamento do final da Idade
Média e início da Idade Moderna pode ser considerado um
antecessor do conceito de governo hoje adotado na sociedade.
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 33
No estamento estão
reunidos os funcionários
administrativoeconômicos que
comandam os interesses
do rei.
33
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 5 - A organização pública no absolutismo e ao
nascer do estado moderno
O que foi o Absolutismo?
Nesta seção, você vai estudar a passagem do Estado Feudal
para o Estado Absoluto e a consequente formação gradativa
de aparatos administrativos. O entendimento desta transição
torna-se importante para acompanhar um processo histórico da
constituição do Estado moderno e contemporâneo.
Durante o século XVI, se estabelecem estados absolutistas na
França, Inglaterra e Espanha. Esta era uma forma de Estado sem
quaisquer intermediários, pois o soberano reinava absoluto sobre
todos os demais integrantes do reino. Os absolutistas criticam a
doutrina do governo misto, pois tudo que lhes interessa é o poder
absoluto do soberano sobre o povo, sem nenhuma intermediação.
O Estado absolutista buscava manter um equilíbrio entre a velha
nobreza feudal e a nova burguesia urbana que se ia formando pelo
desenvolvimento do comércio, modo econômico que constitui a
sociedade mercantil ou comercial da época (ainda não existiam
indústrias). O mercantilismo deriva-se das rápidas expansões
do comércio emergente nas relações entre países e regiões. Foi
na região italiana do Mar Mediterrâneo que o mercantilismo se
desenvolveu mais rapidamente.
Como características de sua organização política, nas monarquias
absolutistas havia exércitos e burocracias, impostos nacionais
e legislação codificada em torno de um mercado unificado no
interior de cada país, e não mais segmentado em diversos feudos.
O Estado absoluto era uma forma de concentrar e centralizar
o poder, sendo que os costumes se adaptavam às leis toleradas
pelo rei. Este Estado, além do poder de usar a força com
exclusividade, tinha o poder de impor tributos e um poder central
sobre as cidades, corporações e sociedades particulares. (Bobbio,
2001).
34
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 34
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
A evolução das Monarquias Absolutistas, frente ao surgimento
da sociedade industrial, que se consolida sob a lógica liberal
capitalista, vai desembocar em uma nova forma de Estado até
hoje existente – o Estado Moderno.
O que foi o Estado Moderno?
Você sabe desde quando estamos na Idade Moderna?
Apesar de não haver nenhuma relação direta, para facilitar nossa
localização nesses tempos, pode-se afirmar que vivemos a Idade
Moderna aproximadamente desde a era dos descobrimentos, ou
para nós, a época do chamado descobrimento do Brasil pelos
portugueses. Indiretamente, foi na época das grandes navegações,
quando o mapa mundi se modificou, com a inclusão das
Américas.
Bobbio (2001) desenvolve uma tipologia tipicamente histórica
pós- Antiguidade, segundo a qual podem-se categorizar quatro
tipos de Estado: feudal, estamental e absoluto, já estudados, e o
Estado representativo, forma predominante do Estado Moderno.
O Estado representativo (como representante do povo de uma
nação) pode constituir-se por revolução, guerra civil ou caminhos
democráticos. Nessa concepção, cabe ao Estado representar os
interesses em nome dos direitos políticos e direitos individuais.
Essa fase de transformação do Estado dura até agora.
Segundo Bobbio (2001, p.116), o Estado representativo surge
inicialmente
[...] sob a forma de monarquia, primeiro constitucional
e depois (monarquia) parlamentar. Na Inglaterra, após
a ‘grande rebelião’; no resto da Europa, após a revolução
francesa; e, sob a forma de república presidencial, nos
Estados Unidos da América.
A divisão histórica dos tipos de Estado já estudados é somente
uma das tipologias possíveis entre outras que podem ser
estabelecidas para classificar as formas de Estado. Bobbio
(2001, p.113-126) nos explica que, para elaborar uma
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 35
35
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
tipologia consequente sobre as formas de Estado, precisam ser
considerados os seguintes elementos:
„„
„„
as relações entre a organização política do Estado e a
sociedade;
as diferentes finalidades do poder político organizado
conforme as respectivas épocas históricas e as diferentes
sociedades.
Em síntese, existem dois critérios principais para definir
formas de Estado:
1) o critério histórico e a expansão da relação entre
Estado e sociedade;
2) a ideologia que sustenta essa relação entre Estado e
sociedade.
Na forma de monarquia parlamentar, tem-se um Estado onde
existe um compromisso entre o poder do príncipe, legitimado
pela tradição, e o poder dos representantes do povo, composto
pela burguesia e legitimado por consenso.
Nas relações entre governantes e governados, há que se
respeitarem as declarações de direitos segundo as quais
(BOBBIO, 2001, p.118): “[...] o indivíduo vem antes do Estado;
e, o indivíduo não é pelo Estado, mas o Estado pelo indivíduo”.
Portanto a pessoa humana é o mais importante, a proteção da
vida do indivíduo como razão de ser do Estado.
O que fundamenta a concepção acima são as ideias de
Aristóteles, reconhecidas por Hegel, segundo as quais “as partes
são anteriores ao todo e não o todo anterior às partes.” Tratase da referência ao “[...] pressuposto ético da representação dos
indivíduos considerados singularmente, e não por grupos de
interesse” (ibid., p.118), sendo pressuposta a igualdade entre os
homens.
36
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 36
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
O estudo do Estado pode ser feito em diferentes
planos: na ciência jurídica, na ciência política, onde
se enfatiza a visão filosófica e ideológica do Estado, e,
também, nas ciências sociais, na sociologia política.
Para os objetivos da nossa disciplina, vamos procurar
entender melhor o Estado na sua abordagem mais
sociológica.
Na era Moderna, as principais modificações introduzidas na
reestruturação da
vida política em forma estatal deram-se a partir das
consequências sociais e políticas da Revolução Industrial, por
meio da criação das instituições democráticas e da ascensão social
e política das massas de trabalhadores.
Temos a continuidade do nosso estudo sobre o Estado
Moderno nas seções seguintes, lembrando que,
mesmo sem especificar o adjetivo moderno, esta é a
forma histórica de Estado até hoje existente.
O que foi o Estado de Direito?
Qualquer tipo de Estado, desde que esteja constituído
por Lei, pode ser considerado como um Estado de
Direito. Tem como fundamentos básicos (VERBO, 1968):
ƒƒ estar moldado sobre os direitos individuais naturais (liberdade, segurança e propriedade);
ƒƒ estar subordinado a normas jurídicas.
O Estado de Direito existe basicamente para delimitar
e tutelar as esferas pessoais de ação e organização
dos seus dirigentes, evitando-se, assim, o arbítrio e o
despotismo da autoridade. (VERBO, 1968).
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 37
37
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Temos algumas terminologias para ilustrar as diferentes formas
possíveis de um Estado de direito:
„„
Estado material de direito;
„„
Estado liberal de direito;
„„
Estado burguês de direito;
„„
Estado nacional socialista;
„„
Estado fascista de direito;
„„
Estado de legalidade.
Por mais imprescindível que seja a condição de Estado de
Direito, cuja manutenção deve ser defendida, ela não define o
caráter ideológico ou moral e nem sequer a efetiva legitimidade
desse Estado, apenas sua legalidade.
Uma vez estabelecida a Constituição de um país, sem discutir
a sua legitimidade política ou democrática, pode-se chegar,
mesmo, a ter modelos totalitários ou autoritários de Estado
que se autodenominam como Estados de Direito. São Estados
que assim se constituíram por instrumentos da legislação do
país, mesmo quando esta tenha sido modificada em condições
excepcionais e em desrespeito à legislação anterior, mas, mesmo
assim, Estados reconhecidos por outros países inclusive.
Como exemplo, tivemos um Chile democrático, com
um governo socialista até 1973, que, por um golpe
militar, foi derrubado. Os militares derrubaram,
assim, também a constituição vigente. Logo após,
foi decretada uma nova constituição pelo governo
militar do general Augusto Pinochet. Este Chile pós1973, depois de um primeiro momento do período de
exceção, até a elaboração de uma nova constituição,
mesmo em se tratando de uma ditadura, tornava-se,
do mesmo modo, um “Estado de direito” (legalmente
amparado), como o anterior Estado socialista
democraticamente instituído também o fora.
38
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 38
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
A qualificação de Estado de Direito trata de uma graduação
referida a uma condição político-administrativa, como ocorreu
também nos totalitarismos ou autoritarismos do século 20, após
a Segunda Guerra Mundial, o mesmo contexto em que, por
outro lado, também surgem ou se fortalecem os Estados Sociais
(VERBO, 1968), os quais vamos estudar na seção subsequente.
Como exemplo pode-se citar, no primeiro caso, o
Estado totalitário na Espanha de Franco; e, no segundo
caso, a França social-democrata.
O princípio democrático exige uma preocupação constante em
reafirmar e garantir os direitos fundamentais da população.
Isso se efetiva pela via da melhor submissão dos órgãos do Estado
às normas jurídicas, com reforço de sistemas de fiscalização e
das regras constitucionais. (VERBO, 1968). É por isso que se
constata, conforme foi previsto por Weber no início do século 20,
que a democracia implica aumento da burocracia estatal.
Por outro lado, para o desenvolvimento do princípio democrático,
é preciso que a legislação seja efetivamente a expressão da
vontade soberana do povo, o que, historicamente, se representa
através do Parlamento (VERBO, 1968). Sabe-se que, nas
sociedades atuais, não tem sido assim a história da representação
política de direito.
A rigor, para um uso legítimo da qualificação de Estado
de Direito, haveria que reconhecer e assegurar: os direitos
fundamentais do Homem, a independência dos tribunais, a
legalidade da administração (VERBO, 1968). Contudo, na
realidade, este princípio nem sempre tem sido respeitado.
Entre as tantas expressões possíveis de um Estado de Direito,
interessa- nos estudar uma configuração específica, por ser a
existente em nosso país – um Estado Federal. Este tema você
estudará na unidade 3.
Antes, porém, você irá recuperar historicamente as bases social,
política, econômica e cultural em que o Estado brasileiro vai-se
constituir, o que você começará a estudar na próxima unidade.
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 39
39
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Síntese
Nesta unidade, você fez estudos sobre a história da administração
pública brasileira, em busca de antecedentes longínquos. Partindo
das suas expressões nos primórdios da própria administração,
as concepções de Estado e governo na Antiguidade e Idade
Média nos trouxeram os primeiros fragmentos que vão compor
a administração pública europeia, a qual virá aportar no nosso
continente.
A característica histórica mais marcante da administração pública
brasileira e que está difícil de romper é o patrimonialismo,
derivado do Estado estamental português. E, ainda, a
concepção de Estado absolutista, que também manteve algumas
reminiscências na administração pública brasileira foi aqui
apresentada.
Para finalizar esta unidade de estudo, aprendemos o significado
da expressão Estado moderno, o tipo de Estado até hoje vigente
em nossa sociedade, caracterizado, sobretudo, por seu caráter
representativo e de Estado de direito.
40
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 40
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Atividades de autoavaliação
Leia com atenção os enunciados e responda:
1)
O Estado Moderno
Vamos primeiro lembrar o que antecedeu à chegada do Estado
Moderno: com a perda das formas de Estado desenvolvidas na
Antiguidade Clássica, decorrente, sobretudo, da substituição dos
vínculos políticos por vínculos pessoais e pela “privatização” da
autoridade durante a Idade Média, foi o desenvolvimento de uma
economia de caráter mercantil e de base monetária que destruiu
as raízes econômicas dos vínculos feudais. Assim libertaram-se as
sociedades políticas de serem tão dominadas pela Igreja ou clero,
do mesmo modo, de seu atrelamento aos senhores feudais. Passou,
então, a existir uma acentuada concentração da autoridade nas mãos
do príncipe, o que ocorre mais nitidamente nas monarquias absolutas.
Lentamente, foi o despertar da consciência nacional que permitiu
encontrar um fundamento e um fim mais despersonalizado para o
poder. Começava a ser gestado, já na época do início da revolução
industrial, um modelo de Estado apoiado no liberalismo econômico.
Tudo isso conduziu a Europa, nos princípios da Idade Moderna, à
reestruturação da vida política na forma estatal, dando origem à figura
do chamado Estado Moderno.
Agora assinale todas as alternativas corretas como sendo a
caracterização do Estado Moderno:
a)( ) Inicia com a Idade Moderna, surgida a partir dos
descobrimentos no século 16.
b)( ) A partir do séc. 18, este modelo se irradiou da
Europa para todo o Mundo e existe até hoje.
c)( ) Representa profundas modificações introduzidas pela
revolução industrial, pela generalização das instituições
democráticas e pela ascensão social e política das massas,
as quais modificaram a concepção predominante do
Estado no mundo moderno.
d)( ) Assume como sua característica básica a forma
jurídica de Estado de direito.
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 41
41
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
2) Nas monarquias absolutas, tem-se uma forma de Estado típica da
expressão da sociabilidade alienada do povo, pois o monarca tudo
domina, como se o povo não existisse. Logo, neste tipo de Estado,
existe uma absoluta subordinação da sociedade à razão do Estado.
Já fizemos algumas referências à democracia até este momento. Cite
duas características do Estado moderno que negam a permanência de
Estados absolutos na atualidade.
3) O que é Administração Pública?
42
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 42
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Saiba mais
Existe no Brasil uma extensa obra (FAORO, 2001), que pode ser
extremamente útil para quem quiser conhecer profundamente
a história da administração pública brasileira, desde o
descobrimento até o início do século 20.
Ou seja: Faoro (2001) demonstra amplamente como, na esteira
do Estado Estamental português – que fez incólume sua
transição da Idade Média para a Idade Moderna –, situam-se os
antecedentes histórico-conceituais que nos permitem entender o
caráter intensamente patrimonialista da administração pública
brasileira herdada dos colonizadores.
Assim é que, o caráter estamental patrimonial de origem do
Estado brasileiro antecede e se superpõe a qualquer concepção
mais burocrática da administração pública no Brasil.
Dada a importância da obra de Faoro (op. cit.) para esta
disciplina e a impossibilidade operacional de sintetizar tantas
contribuições, optamos por recomendar que você busque localizar
em uma biblioteca a sua obra e experimente um contato com a
mesma. A primeira edição é de 1957:
FAORO, Edmundo. Os donos do poder: formação do patronato
político brasileiro. 3. ed. rev. São Paulo: Globo, 2001. 913p.
Durante o desenvolvimento da nossa disciplina no ambiente
virtual de aprendizagem, vamos disponibilizar algumas amostras
da contribuição de Faoro (2001) na forma de um “fichamento”,
um modo muito útil para estudar um texto mais extenso e/ou
complexo. A seleção das citações restringiu-se às concepções do
Estado português, do seu governo e sua administração pública,
que acompanharam a formação feudal, estamental e absolutista
de Estado, cada uma, a seu modo, contribuindo com a construção
histórica de uma administração pública de caráter patrimonial em
nossa sociedade.
Unidade 1
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 43
43
10/08/11 15:15
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 44
10/08/11 15:15
unidade 2
Origens da administração
pública brasileira: até o início
do século XX
Objetivos de aprendizagem
„„
Compreender as características da administração
pública brasileira como desdobramento dos seus
antecedentes históricos.
„„
Refletir sobre as formas de organização social que
antecederam a chegada do homem branco ao Brasil.
„„
Reconhecer o caráter patrimonialista de
administração pública, trazido pelos colonizadores
portugueses.
„„
Identificar as origens coloniais que servem de base
para a administração pública brasileira.
„„
Caracterizar as formas de administração pública,
assumidas no século XIX, do Brasil Imperial à
República Velha.
2
Seções de estudo
Seção 1
Seção 2
Primórdios de uma administração pública no
Brasil
A administração no Brasil Colônia
Seção 3
A administração pública no período imperial
(1822-1889)
Seção 4
A administração pública na primeira
república (1889-1930)
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 45
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Com o objetivo de conhecer os antecedentes histórico-conceituais
da Administração Pública brasileira, você vai estudar suas origens
até o século XIX, o que inclui o nascimento da República em
1889 até o ano de 1930, quando termina a Primeira República,
também chamada República Velha.
Você vai começar seus estudos desta unidade compreendendo a
Administração Pública brasileira por meio de uma retrospectiva
sobre a organização das coisas públicas durante os quatro
primeiros séculos que sucederam a chegada do homem branco ao
nosso continente.
Ortega y Gasset (apud MATUS, 1993) afirmavam que a história
está viva na situação presente, inclusive reconhecendo que se
atua apenas no presente. A referência aos antecedentes aqui
recuperados é importante por suas expressões nas práticas atuais.
Seção 1 - Primórdios de uma administração pública no
Brasil
Antes do descobrimento do Brasil pelos colonizadores, os povos
nativos viviam organizados na forma de comunidade primitiva, o
que, segundo Alencar et al. (1985, p.5), significa o seguinte:
A terra pertence a todos e cada casal faz uma roça, de
onde extrai alimentos para si e seus filhos. Quando aquele
pedaço de terra é abandonado, outros podem utilizá-lo.
Arcos, flechas, machados de pedra e outros instrumentos
de trabalho [...] são de propriedade individual. A divisão
das tarefas de sobrevivência é natural [...]. Uma sociedade
organizada dessa maneira não tem classes sociais. O
trabalho para a sobrevivência também cabe aos chefes de
aldeias, unidades políticas independentes que compõem
as tribos. O índio é tão consciente de sua função social
que muitos velhos preferem isolar-se do resto do grupo,
para não atrapalhá-lo.
46
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 46
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
A potencialidade de uma organização da sociedade baseada
na liberdade e igualdade se perde em nosso país antes de se
concretizar. Com a chegada do homem branco, o Brasil vai
tornar-se colônia portuguesa.
O Brasil do ponto de vista dos navegadores que chegam o Tratado de Tordesilhas e o descobrimento do Brasil
Portugal e Espanha foram os primeiros países a sair ao mar
em busca de novas rotas para o comércio entre o Ocidente e o
Oriente.
Pouco tempo após a descoberta da América, com o patrocínio
dos reis espanhóis, e descoberta por Cristóvão Colombo em
1492, “Portugal e Espanha fizeram um tratado que dividia
as novas terras encontradas (Novo Mundo) em duas partes.”
(MAIA, 1999, p. 246).
Em 1494, os representantes dos reis da Espanha (Fernando e
Isabel) e de Portugal (João II) reuniram-se na cidade espanhola
de Tordesilhas e assinaram o famoso tratado que dividia o
mundo em dois hemisférios, um espanhol e outro português.
Para as negociações do tratado e a sua assinatura, D. João II de
Portugal designou a D. Rui de Sousa, negociador em nome da
Coroa Portuguesa, como embaixador à sua prima de Castela
(filha de uma infanta portuguesa). Os originais do tratado
estão conservados no Archivo General de Índias na Espanha
e no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Portugal.
(DAVENPORT, 1974).
O tratado estabelecia uma linha imaginária no Mapa, sendo
que todas as terras descobertas ao lado leste da linha pertenciam
a Portugal e todas as terras descobertas ao lado oeste da linha
pertenciam à Espanha. Pelo Tratado de Tordesilhas, mesmo
o Brasil ainda não tendo sido descoberto, o atual Rio Grande
do Sul e boa parte da região Nordeste e Norte ficariam do lado
espanhol.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 47
47
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
No contexto das Relações Internacionais, a sua assinatura ocorreu
num momento de transição entre a hegemonia do Papado, poder
até então universalista, e a afirmação do poder singular e secular
dos monarcas nacionais – uma das muitas facetas da transição da
Idade Média para a Idade Moderna.
Em 1498, o Estado absolutista de Portugal era governado por
Dom Manuel I, cujos títulos “[...] exprimiam a grandeza do
expansionismo luso: ele era o Venturoso Senhor da Conquista,
Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia.”
(ALENCAR et al., 1985, p. 9).
Segundo Camões (apud ALENCAR et al ., 1985, p.10), “os
interesses econômicos e ideológicos dos portugueses – a dilatação
da Fé e do Império – não estavam voltados exclusivamente para
o Oriente das ricas especiarias, das sedas, dos objetos de valor
como tapetes e perfumes, dos produtos medicinais”, pois também
buscavam novas terras, rotas e portos.
Desde o retorno de Vasco da Gama da Índia, em “[...] seu Diário
de Viagem ele contava ter percebido sinais seguros da existência
de terras a oeste de sua rota. A Espanha já tinha descoberto
novos mundos na sua tentativa de chegar ao oriente, navegando
para ocidente. E Portugal já tinha assegurado para si uma parte
desse bolo, com a Capitulação da Partição do Mar Oceano, mais
conhecida como Tratado de Tordesilhas, assinado entre as duas
potências de então, em 1494.” (ibid., p.10).
Essas considerações contrariam a tese de que o descobrimento
do Brasil foi casual. Pois aqueles fatos acima permitem “[...]
supor que Cabral recebera orientação no sentido de afastar-se ao
máximo da costa africana, podendo confirmar a existência dessas
terras e delas tomar posse.” Essa pode ter sido outra tarefa da sua
expedição, apesar de não explicitada nos registros históricos que
conhecemos.
Comandando uma frota original de 13 naus, Pedro Álvares
Cabral avança mar adentro a serviço do Estado, da nobreza e
da nascente burguesia do comércio para “[...] impor o domínio
comercial e marítimo lusitano no litoral malabar, (e) [...] controlar
Calicute, centro de trocas das valiosas especiarias orientais.”
(ALENCAR et al .,1985, p.9).
48
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 48
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Assim, em 22 de abril de 1500, após 44 dias de viagem, uma
frota de Pedro Álvares Cabral vislumbrava a terra – mais
com alívio e prazer do que com surpresa ou espanto. Pode-se
considerar o descobrimento do Brasil apenas como mais um
episódio da expansão marítima europeia.
A chegada ao Brasil, desembarque e a carta de Caminha
Dois mundos diferentes se encontravam: o dos nativos indígenas
e o dos navegadores portugueses.
Depois de ancorada a armada, Cabral ordenou a Nicolau Coelho
que, em um batel (barco de pequeno porte), fosse reconhecer
a embocadura do rio e estabelecer contato com os indígenas
avistados.
Nos nove dias seguintes, nas enseadas generosas do sul da Bahia,
os 13 navios da maior armada já enviada às Índias pela rota
descoberta por Vasco da Gama permanecem reconhecendo a
nova terra e seus habitantes.
Em sua longa carta, Pêro Vaz de Caminha relata a grande
novidade que os portugueses ancorados no litoral sul da
Bahia presenciaram naquele final de abril de 1500, nas terras
encontradas: ali viviam ameríndios (os índios da América).
De acordo com Arroyo (apud ALENCAR et al ., 1985, p.10),
assim os índios brasileiros foram descritos por Caminha: “gente
bestial e de pouco saber, cuja feição é serem pardos, um tanto
avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.” (de
corpo).
Tendo por costume tingir seus corpos nus e vivendo com
naturalidade, seus hábitos eram muito estranhos para os
aportados. Alencar et al. (1985, p.10) afirmam que, “para
os enroupados portugueses, eram curiosos os habitantes da
(então denominada) Ilha de Vera Cruz”, e, logo após, Terra da
Santa Cruz. A cruz foi o primeiro símbolo que prenunciava a
colonização portuguesa.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 49
49
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
As mulheres, também inteiramente nuas, foram consideradas
belas. Tingiam-se de igual maneira que os homens, tinham os
cabelos compridos e arrancavam os pelos.
Os homens portavam arcos e flechas. Chegando em terra,
Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que pousassem as armas, o
que foi prontamente obedecido.
Como eram dois mundos, dois povos e duas linguagens entre
si desconhecidas, não pôde haver entendimento por fala, mas
foram efetuados os primeiros contactos por via gestual. Houve
troca de presentes, recebendo os ameríndios barretes vermelhos,
uma carapuça de linho e um sombreiro preto; em troca deram
aos portugueses um sombreiro de penas de aves e um cocar de
penas vermelhas e pardas, bem como um colar de contas miúdas,
que foram levados para bordo e, posteriormente, enviados a Dom
Manuel.
Nas três primeiras décadas após o descobrimento, em um período
que se considera como pré-colonizador, ocorre um relativo
desinteresse da Coroa Portuguesa pela nova terra, por não avistar
aí potencial mercantil. Neste espaço de tempo, Portugal continua
voltado para o comércio oriental.
Ao prosseguir sua viagem para as Índias, a esquadra de
Cabral entrou em guerra nos mares contra quem se opusesse
à exclusividade de Portugal nas transações mercantis com a
Índia, ficando a frota original reduzida a seis embarcações. “Mas
navegar importava mais que viver.” (ALENCAR et al ., 1985,
p.9).
Por ocasião do descobrimento, aquelas terras pareciam apenas
oferecer alguns portos seguros para os navios portugueses na
corrida para as Índias. E havia a preocupação em garantir a posse
do território recém-conquistado frente às continuadas investidas
de outros países europeus.
Então, começaram a ser organizadas oficialmente novas
expedições para saber o que havia nessa terra. Quando Américo
Vespúcio constata aqui a existência de grande quantidade de
pau-brasil nas matas atlânticas, a sua exploração passa a ser
monopólio estatal. Era o estanco estabelecido por Portugal.
50
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 50
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Inicia-se a atividade econômica europeia na nova terra. E
“nascem os brasileiros, denominação dada aos comerciantes
do pau-brasil. [...] e a paz dos (originais) donos da terra estava
ameaçada [...]” (ALENCAR et al ., 1985, p.12).
A exploração extrativa daquela matéria-prima usa o trabalho
do nativo indígena. “Por meio do escambo (troca) os indígenas
realizavam o corte e o transporte da madeira e recebiam por isso
objetos vistosos, mas de pouco valor, como espelhos e miçangas.”
(VICENTINO e DORIGO, 2001, p.181). Os conflitos
começaram com os índios, quando os portugueses tentaram
utilizá-los como escravos.
Para se proteger dos contrabandistas estrangeiros, Portugal
enviou expedições militares ao litoral brasileiro, em 1516 e 1526.
Na sequência, a primeira expedição colonizadora chegou aqui
em 1531, comandada por Martim Afonso de Souza, que havia
sido nomeado capitão-mor da esquadra e das terras coloniais pelo
rei de Portugal (ibid., p.181). Assim, deu-se início a uma secular
dependência da colônia aos senhores europeus.
O projeto colonial serviu a que interesses?
Segundo Vicentino e Dorigo (2001, p.180):
A montagem da colônia portuguesa na região que hoje
é o Brasil foi parte de um projeto que se integrava à
dinâmica política, social e econômica do desenvolvimento
europeu da época. Os protagonistas do processo tinham
interesses articulados com o desenvolvimento capitalista,
orientando prioridades políticas e econômicas e definindo
valores e comportamentos individuais e sociais. As
vantagens da estruturação colonial ficaram evidentes:
muito poder e riqueza para uma minoria; clientelismo e
vantagem limitada para alguns; suor e sofrimento para a
maioria.
Quando se inicia a administração patrimonial no
Brasil? Com o descobrimento do Brasil, o que,
de administração pública, nos trouxeram os
colonizadores?
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 51
51
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
A descoberta do Brasil é fruto da expansão marítima de Portugal,
que atendia a interesses feudais e da nascente burguesia comercial
do final da Idade Média e início da Idade Moderna.
Como ainda ressoam no século XX aspectos dessas origens,
vamos entender um pouco como começou a se desenhar o caráter
da administração pública brasileira.
– Afinal, quando começa a administração pública brasileira?
Para responder a esta questão, é preciso recuperar a essência de
uma administração patrimonial, marca das origens históricas da
administração pública brasileira.
O Brasil é herdeiro de fundamentos sociais e espirituais advindos
da cultura portuguesa, os quais deram origem naquele país a
um Estado patrimonial. Quer dizer, um Estado baseado no
patrimônio, derivado este da posse das terras conquistadas por
invasões. Desde as navegações comerciais da Idade Média, esta
característica vai se moldando e se expressa mais amplamente,
quando passa a existir uma realidade econômica pautada no
advento da economia monetária e na ascendência do mercado nas
relações de troca. É nesse contexto que surge o Estado Moderno,
que antecede à formação do capitalismo industrial projetado
sobre o ocidente.
A ideia de um Estado patrimonial está atrelada a uma ideia “[...]
que parte da guerra e amadurece no comércio, com o príncipe
senhor da espada e das trocas.” (FAORO, 2001, p.33).
Assim o Estado português se caracteriza como patrimonial e não
feudal, como o foi o
[...] mundo português, cujos ecos soam no mundo
brasileiro atual, as relações entre o homem e o poder são
de outra feição, bem como de outra índole a natureza da
ordem econômica, ainda hoje persistente, obstinadamente
persistente. (FAORO, 2001, p.35).
Considerando que o feudalismo não cria um Estado como
o entendemos em seu sentido moderno, o que ocorre é a
corporificação de
52
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 52
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
[...] um conjunto de poderes políticos, divididos entre a
cabeça e os membros, separados de acordo com o objeto
do domínio, sem atentar para as funções diversas e
privativas, fixadas em competências estanques. (FAORO,
2001, p.36).
No feudalismo se
[...] desconhece a unidade de comando – gérmen da
soberania –, que atrai os fatores dispersos, integrandoos; apenas concilia, na realização da homogeneidade
nacional, os privilégios, contratualmente reconhecidos,
de uma camada autônoma de senhores territoriais. (ibid.,
p.36).
É muito importante compreender por que é justamente uma
administração de tipo patrimonial que se instaura no Brasil e,
lamentavelmente, persiste atualmente. Lutamos contra suas
consequências negativas na organização política e administração
pública existentes na sociedade brasileira. Para tal é preciso
entender o caráter da organização do Estado português que torna
o Brasil sua colônia.
A confusão entre o público e o privado marca essa forma de
administrar os bens pertencentes ao Estado. Característica das
monarquias absolutas, e herdada pelo Estado brasileiro dos
portugueses, aqui parece ter criado raízes. Como assinala o exministro Bresser Pereira (2009, p.206):
A administração patrimonial, tradicionalmente
desenvolvida no império chinês, atingiu seu caráter
pleno na Europa com as monarquias absolutas. Na
administração patrimonial, os patrimônios público e
privado estavam essencialmente fundidos; o Estado
era concebido com uma função do soberano. A função
pública era quase sempre propriedade dos burocratas.
As seguintes palavras de Faoro (2001, p.38) são bastante
elucidativas para caracterizar o patrimonialismo do Estado de
Portugal que veio aportar no Brasil:
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 53
53
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Estado patrimonial, portanto, e não feudal, o de Portugal
medievo. [...] A velha lição de Maquiavel, que reconhece
dois tipos de principado, o feudal e o patrimonial, visto,
o último, nas suas relações com o quadro administrativo,
não perdeu o relevo e a significação. Na monarquia
patrimonial, o rei se eleva sobre todos os súditos, senhor
da riqueza territorial, dono do comércio – o reino tem
um dominus, um titular da riqueza eminente e perpétua,
capaz de gerir as maiores propriedades do país, dirigir o
comércio, conduzir a economia como se fosse empresa
sua. O sistema patrimonial, ao contrário dos direitos,
privilégios e obrigações fixamente determinados do
feudalismo, prende os servidores numa rede patriarcal,
na qual eles representam a extensão da casa do soberano.
Mais um passo, e a categoria dos auxiliares do príncipe
comporá uma nobreza própria, ao lado e, muitas vezes,
superior à nobreza territorial.
No livro Os Donos do Poder, Raymundo Faoro defende visão
muito particular, onde a origem do empreguismo se funda em
um estamento originário de Portugal, uma classe própria de
funcionários públicos, reguladora da economia e proprietários da
soberania nacional.
Enquanto domina o patrimonialismo, a essa característica da
administração pública se agrega um estamento e uma ordem
burocrática segundo a qual o soberano se sobrepõe ao cidadão,
assumindo a qualidade de chefe dos funcionários, aos quais se
estende essa condição.
Max Weber, por seu turno, identifica a origem do problema no
vetusto sistema feudal.
De acordo com o sociólogo, neste sistema, “as pessoas que
exercem a autoridade são designadas de acordo com regras
transmitidas tradicionalmente”. O que torna possível a obediência
é a autoridade pessoal do indivíduo designado. O príncipe é
autoridade por ser filho do rei. Exemplifica o prof. Meira Penna
(1988, p.141), dizendo-nos que “o genro tem autoridade porque
é genro do excelentíssimo senhor presidente da República.”
Conforme Weber (apud MEIRA PENNA, 1988, p.141),
na mesma linha, “com a criação de um staff administrativo
puramente pessoal, especialmente com uma força militar sob o
controle do Chefe, a autoridade tradicional tende a se desenvolver
sob a forma patrimonialista.” Isto é, agindo sem respeito à
54
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 54
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
distinção entre o público e privado, pois importantes são as
relações pessoais.
E, justamente nesse espírito seguia o governo do Brasil, herdando
do Reino Português um sistema gigantesco de cargos da
Administração Pública, sobretudo pela inviabilidade do trabalho
livre na colônia, como já visto. Seguia o País no mais tradicional
patrimonialismo, distribuindo os cargos por critério de lealdade
e oportunismo, com base nas relações pessoais e a apropriação
privada do espaço público.
É preciso ter claro o que significa uma administração patrimonialista...
Segundo Pereira (1998, p. 241), na administração patrimonialista
a norma significava empreguismo, nepotismo, uso privatizado
dos bens e recursos públicos e corrupção. Neste contexto, o
patrimônio público e o privado se confundem, e assim o Estado
era entendido como propriedade do rei. No patrimonialismo,
existe incapacidade ou relutância do príncipe em distinguir o
patrimônio público e os seus bens privados.
A forma ou regime de governo no Brasil Colônia foi
a Monarquia; e o patrimonialismo, uma característica
marcante da Administração Pública deste período.
Seção 2 – A administração no Brasil Colônia
O longo período colonial atravessa mais de três séculos no Brasil,
após o seu descobrimento, o que tem sérias implicações na
conformação histórica do caráter assumido pela administração
pública brasileira.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 55
55
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Foi a partir de 1530 que se iniciou a colonização do Brasil
propriamente dita: “Foram organizadas expedições colonizadoras,
sendo a primeira delas a comandada por Martin Afonso de
Souza, que aqui chegou em 1531.” (VICENTINO e DORIGO,
2001, p. 181).
O Rei de Portugal, de posse da nova terra, dando ênfase ao
processo de colonização, resolveu em 1532 enviar uma carta a
Martin Afonso, que se encontrava em São Vicente, anunciando
o povoamento do Brasil pela criação das capitanias hereditárias.
Esse sistema já havia sido utilizado com êxito nas possessões
portuguesas das ilhas do Atlântico (Madeira, Cabo Verde, São
Tomé e Açores).
Para organizar melhor a colonização, as terras brasileiras foram
então divididas “[...] em lotes, que passaram a ser chamados de
capitanias. Elas foram distribuídas entre alguns membros da
pequena nobreza portuguesa, chamados de capitães-donatários.”
(MAIA, 1999, p.247).
Em apenas dois anos, entre 1534 e 1536, o Brasil foi dividido em
15 capitanias hereditárias, e, posteriormente, mais duas insulares,
nas ilhas de Trindade e de Itaparica. Eram faixas lineares de
terra que, ignorando os acidentes geográficos, se prolongavam
do litoral até a linha do Tratado de Tordesilhas. Seus donatários
teriam os seguintes direitos e deveres:
„„
„„
jurisdição civil e criminal sobre os índios, escravos, e
colonos;
autorização para fundar vilas e doar sesmarias (lotes de
terra);
„„
cobrar impostos, dízimos;
„„
cobrar direitos sobre as passagens dos rios;
„„
ter o monopólio das salinas e moendas de águas;
„„
„„
escolher, nomear e cobrar pensão de tabeliães, escrivães,
ouvidores e juízes;
prestar contas aos representantes enviados pelo rei para
arrecadar as rendas reservadas à coroa;
56
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 56
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
„„
escravizar nativos e enviar para Portugal até 39 escravos
indígenas por ano, livre de impostos;
„„
exigir serviços militares dos colonos, quanto necessário;
„„
reservar para seu uso próprio 10 léguas de terra;
„„
„„
„„
„„
„„
exportar para o reino qualquer produto da terra sem
imposto, exceto o pau-brasil, de cuja exportação o
donatário recebia apenas a redizima (retorno da décima
parte do valor do “pau brasil” que retornava ao donatário
como pagamento sobre seus direitos);
ouro, prata, pedrarias, pérolas, chumbo e estanho
também pertenciam à coroa, mas o donatário receberia
um vigésimo do quinto destinado ao rei;
o dízimo sobre todo o pescado era reservado à Ordem de
Cristo, uma organização militar-religiosa portuguesa;
o soberano assegurava que seus corregedores e juízes
jamais entrariam nas capitanias;
o donatário nunca seria suspenso de seus direitos nem
sentenciado sem ter sido antes ouvido pelo próprio rei,
a não ser em caso de comprovada traição à coroa ou
heresia.
Assim sendo, tanto a propriedade como a conformação de Estado
na época seguiam relativamente os mesmos moldes dos domínios
feudais europeus, pois grandes extensões de terras eram entregues
a senhores que assumiam poderes absolutos sobre as pessoas e
coisas.
A este respeito, afirmam Alencar et al . (1985, p.21): “baseado em
donatárias cujos capitães tinham poderes judiciários, políticos e
administrativos, esse processo de colonização é tido por alguns
como de características medievais.”Apenas se diferenciavam em
sua base econômica aqui estruturada sobre a produção escravista
e exportadora.
Estando praticamente falida a coroa portuguesa, a principal
condição para receber um lote era possuir recursos financeiros
para colonizá-lo às próprias custas, com suas próprias riquezas.
Como não se tinha notícia de riquezas nestas terras, já que o pau-
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 57
57
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
brasil foi reservado à coroa, não houve maior interesse dos nobres
importantes em receber as imensas e selvagens extensões.
Em 1535, o Rei Dom João III declarou que as Capitanias do
Brasil eram território de couto e homízio, ou seja, um local
onde qualquer crime cometido anteriormente em outros lugares
ficava instantaneamente perdoado. Mandou também que os
degredados, até então enviados para as Ilhas de São Tomé e
Príncipe, passassem a vir para cá, formando, naquela época, a
nação que iniciou o processo de colonização do País.
Você sabia?
Os donatários foram forçados a trazer centenas de
degredados em suas viagens. Entre eles, alguns
apenas haviam sido punidos por questões fiscais e se
dedicavam a atividades produtivas; enquanto outros,
marcados com ferro em brasa ou desorelhados (com as
orelhas arrancadas) por causa de perversões, quando
chegavam ao Brasil apelavam para a pirataria e tráfico
de escravos indígenas.
Com tantos problemas e entendido como uma forma de incentivo
ao processo colonizador, pode-se afirmar que o sistema de
capitanias fracassou, especialmente devido à falta de recursos e
interesse dos donatários.
Quem foram os governos-gerais?
Frente às dificuldades em administrar as capitanias, a Coroa
portuguesa resolveu criar uma forma de governo-geral da colônia
para coordenar o sistema das capitanias hereditárias: “[...] a
instauração do governo-geral em 1548 possibilitava ao rei de
Portugal um maior controle sobre a colônia e sobre os capitãesdonatários, que possuíam grande autonomia de governo.”
(MAIA, 1999, p.248). Esta foi a forma encontrada pela Coroa
para centralizar a administração colonial.
Vários governos-gerais se sucederam:
58
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 58
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
„„
„„
„„
Tomé de Souza (1549-1553) promoveu grandes
ocupações de terras e os primeiros colégios jesuítas;
Duarte da Costa (1553-1558) apoiou a “catequização”
pelos jesuítas no interior;
Mem de Sá (1558-1572) criou as “missões”, expulsou os
franceses e organizou o comércio.
Então, após 1549, havia um governador geral para as capitanias
outrora independentes, e as capitanias abandonadas passaram a
ser governadas por capitães-mores nomeados, em mandato. Desta
forma, no início da colonização brasileira, a Coroa Portuguesa
dominava quase todas as ações de Estado, que eram amplamente
determinadas pela monarquia.
A administração colonial portuguesa e os poderes locais
O governador-geral tinha muitos poderes e outras tantas
obrigações, cabendo-lhe (VICENTINO e DORIGO, 2001,
p.189): [...] neutralizar a ameaça constante dos indígenas
combatendo-os ou fazendo alianças com eles, reprimir
os corsários, fundar povoações, construir navios e fortes,
garantir o monopólio real sobre o pau-brasil, incentivar
o plantio de cana-de-açúcar, buscar metais preciosos
e defender os colonos. Seus auxiliares, encarregados
das finanças, da defesa do local e da justiça, eram,
respectivamente, o provedor-mor, o capitão-mor e o
ouvidor-mor.
No desenho a seguir, é possível obter uma noção geral da
estrutura organizacional da administração pública da época.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 59
59
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Figura 2.1 - Estrutura organizacional da administração pública
Fonte: Adaptado de ALENCAR et alli (1985, p.23).
Somente em 1559, foi extinto o monopólio estatal do pau-brasil,
quando ocorre o denominado estanco:
Durante todo o período colonial, o extrativismo foi
realizado mediante concessões da Coroa portuguesa a
grupos particulares, que, muitas vezes, se comprometiam
a pagar uma quantia determinada ao Erário Régio. Para
codificar toda a legislação vigente sobre a exploração da
madeira e tentar evitar o desaparecimento das matas,
que a atividade intensa no litoral estava determinando,
decretou-se, em 1605, o Regimento do Pau-Brasil.
(ALENCAR et al ., 1985, p.13).
Iniciando-se o cultivo da cana-de-açúcar com os seus senhores
de engenho, inaugura-se a base econômica da colonização
portuguesa no Brasil. Inclusive os fazendeiros da cana haviam
recebido as terras da Coroa como recompensa por serviços
prestados, o que lhes assegurava prestígio social e influência
política. Assim, foi-se constituindo e expandindo pelas vilas um
poder dessa aristocracia, “[...] dominando as câmaras municipais
e quase toda a vida colonial.” (VICENTINO e DORIGO, 2001,
p.184).
As câmaras eram privativas dos donos de terra, milícias
guerreiras e clero, formadas por aqueles que eram designados
como “homens bons.” Assim se configurava, segundo Alencar et
al . (1985, p.13): “o mundo da cruz, que impunha com a espada
sua civilização.”
60
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 60
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Eram aquelas câmaras que
[...] decidiam sobre a administração dos municípios,
sobre as missões de guerra ou de paz com os índios,
sobre o abastecimento, a fixação de salários, os impostos.
Nas câmaras municipais estava o verdadeiro poder
político colonial, disperso, local, mas sempre de acordo
com a força mais determinante da nossa vida social, a
metrópole. (ibid., p.13).
Aquela era uma sociedade tipicamente patriarcal, onde os
escravos africanos, sem opção e considerados como simples
mercadorias, davam sustentação econômica àquela organização
social.
As capitanias hereditárias e os governos-gerais continuaram
convivendo até o século 18. Depois de 1640, tornou-se cada vez
mais comum usar o título de vice-rei em lugar de governadorgeral. Isso porque, gradativamente, foram criadas as “[...]
capitanias da Coroa, como a da Bahia de Todos os Santos e São
Sebastião do Rio de Janeiro. Administradas por um governador
nomeado pelo rei, foram substituindo as capitanias hereditárias
particulares [...].” (VICENTINO e DORIGO, 2001, p.191).
O que foi o pacto colonial?
A relação mercantilista entre a metrópole portuguesa e a colônia,
cuja economia tinha um caráter exportador (do que fosse possível
extrair daquelas terras), foi regulamentada pelo chamado pacto
colonial, que garantia a ampla importação de mercadorias
europeias (roupas, alimentos e objetos de decoração) para os
senhores de posses que aqui viviam.
Segundo Alencar et al . (1985, p.24), o pacto colonial “[...]
estabelecia uma área econômica complementar, cuja classe
proprietária se ligava às classes que mais vantagem tiravam
da política monopolista-mercantilista, executada pelo Estado
metropolitano.”
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 61
61
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Por outra parte, no final do século XVII, internamente, em
muitos locais da colônia, começaram a se formar os quilombos,
que representavam uma ameaça à ordem colonial escravagista.
O Quilombo dos Palmares (Alagoas) era, sem dúvida, o mais
conhecido. Representavam um constante chamamento à fuga, à
rebelião, à luta pela liberdade. (ALENCAR et al ., 1985, p.24).
O Bandeirantismo
Com o fracasso na instalação de uma economia exportadora,
Portugal vai perdendo gradativamente seu interesse na colônia.
E a área abandonada vai empobrecendo devido à falta de
recursos. “A essa pobreza correspondia o isolamento político.”
(ALENCAR et al ., 1985, p. 49).
Os paulistas da Capitania de São Vicente deixam sua região à
procura de outras atividades mais compensadoras.
Assim surgem os bandeirantes, responsáveis pela atual
configuração territorial do Brasil, em suas incursões mata
adentro, sobrepondo-se ao Tratado de Tordesilhas. Esses
desbravadores se colocavam em uma posição de autonomia em
relação aos governantes.
A descoberta do ouro desencadeia, durante todo o século XVII,
uma grande movimentação na colônia. A importância do
ciclo do ouro de lavagem “[...] é atestada pela própria medida
administrativa tomada pela metrópole, instalando entre 1608 e
1612 a repartição Sul e decretando o Código Mineiro [...], pelo
qual o governo garantia para si a quinta parte da produção.”
(ALENCAR et al ., 1985, p.49). Então o polo cultural e
econômico se transfere do nordeste da cana para a região da
mineração.
– Em 1680, foram criadas as juntas Fazendárias das Capitanias e do
Rio de Janeiro, jurisdicionadas a Portugal.
Durante o século XVIII, houve uma verdadeira crise colonial.
A Coroa não perdia oportunidades para ampliar as obrigações
fiscais dos brasileiros. “Tanta exploração, somada à crise dos
62
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 62
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
produtos de exportação – baixos preços do açúcar, declínio da
produção aurífera – levará ao enfraquecimento do pacto colonial.”
(ALENCAR et al ., 1985, p.70-71).
Por outro lado, segundo Vicentino e Dorigo (2001, p.191):
Diante do esgotamento progressivo das jazidas minerais,
a Coroa criou mecanismos para ampliar a arrecadação
de impostos. Os governos absolutistas da dinastia de
Bragança resolveram, então, aumentar as restrições
mercantilistas sobre a colônia, (novamente) reforçando o
pacto colonial. Desde o século XVII intensificaram-se
os arrendamentos de setores da economia, exploração
direta do Estado sobre diversas atividades e também
companhias privilegiadas de comércio. Ao mesmo tempo
em que procurava ampliar seus negócios e extrair o
máximo de seus domínios, o Estado absolutista estava
comprometido e articulado com as elites nacionais e
internacionais.
Enquanto o liberalismo econômico e estatal vai conquistando
espaço nas sociedades europeias e as colônias inglesas da
América do Norte tinham-se tornado independentes, seus
ventos começam a soprar em algumas partes das terras
brasileiras. Iniciavam-se algumas conspirações frente à aparente
impossibilidade de reformar o sistema colonial cujas bases
começam a ser questionadas: seu Estado centralizador fora da
colônia, uma economia especializada e dependente e o monopólio
comercial.
Ainda no século XVIII, “[...] enquanto a metrópole portuguesa
reforçava o controle fiscal e administrativo e a espoliação da
colônia por meio de casas de fundição e da derrama, na Europa
e algumas regiões da América nasciam ideias contrárias ao
colonialismo mercantilista.” (VICENTINO e DORIGO, 2001,
p.237).
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 63
63
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
As revoltas coloniais
Entre as várias rebeliões separatistas contra as normas impostas
por Portugal para controlar a colônia, nessa condição, de Norte a
Sul, destacaram-se:
„„
Revolta de Beckman, 1684;
„„
Guerra dos Emboabas, 1708
„„
Guerra dos Mascates, 1710;
„„
Revolta de Vila Rica, 1720;
„„
Inconfidência Mineira, 1789;
„„
Conjuração Baiana, 1798.
No caso de “Tiradentes, desde moço ele fazia críticas abertas
ao governo, apresentando o contraste entre a terra rica e sua
população oprimida, além de sonhar com a liberdade do Brasil.”
(MAIA, 1999, p.257).
Mesmo derrotadas, as rebeliões separatistas demonstravam o
grau de insatisfação existente com a exploração e a opressão
metropolitana, o que acabou inviabilizando o sistema colonial no
Brasil. O mundo vivia naquela época uma era de revoluções. E a
burguesia industrial em formação derrubava as barreiras feudais
ao seu desenvolvimento.
A chegada da família real no Brasil e seus reflexos
No início do século XIX, com o grande império que Napoleão
Bonaparte formou na Europa, fecharam-se “[...] todas as entradas
dos países do continente europeu para os ingleses.” (MAIA,
1999, p.258).
A Corte de Portugal estava dividida entre suas boas relações com
a Inglaterra e as pressões de Napoleão para aderir ao bloqueio.
Um dia antes da chegada das tropas francesas a Lisboa, a Família
Real deixa Portugal em direção ao Brasil. A Corte se muda para
64
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 64
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
a colônia, em fuga, depois de vários incidentes com a invasão de
Napoleão, deixando Portugal às pressas no dia 29 de novembro
de 1807.
Vários nobres morrem afogados ao tentar alcançar a nado os
navios superlotados. Nas 36 embarcações, o príncipe-regente
Dom João, a família real e seu séquito (comitiva), estimado em
15 mil pessoas, trazem joias, peças de ouro e prata e a quantia
de 80 milhões de cruzados, o equivalente à metade do dinheiro
circulante no reino.
A esquadra real parte de Lisboa escoltada por navios de guerra
ingleses. Como condição da sua ajuda, a Inglaterra faz Portugal
assinar o Tratado do Comércio e Navegação, dando-lhe poderes
de controle absoluto sobre todo o comércio colonial.
Em janeiro de 1808, a frota lusa chega à Bahia para o
desembarque da Família Real. Assim, o Brasil passa a ser sede da
monarquia portuguesa.
A corte no Rio de Janeiro
Em 7 de março de 1808, a corte se transfere para o Rio de
Janeiro. No primeiro momento, a mudança provoca grandes
conflitos com a população local. A pequena cidade, com apenas
46 ruas, 19 largos, seis becos e quatro travessas, não tem como
acomodar de uma hora para outra os 15 mil novos habitantes.
Para resolver o problema, os funcionários reais recorrem
à violência, obrigando os moradores das melhores casas a
abandoná-las a toque de caixa. A senha P.R. (príncipe-regente),
inscrita nas portas das casas escolhidas, passa a ter para o povo o
sentido pejorativo de “ponha-se na rua.” Apesar dos contratempos
iniciais, a instalação da realeza ajuda a tirar a capital da letargia
econômica e cultural em que estava mergulhada.
Novas instituições
Toda a burocracia administrativa do Estado português é
remontada no Brasil. Para fazer frente às novas despesas, é
criado, em 1808, o primeiro Banco do Brasil. Sua função é
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 65
65
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
obter fundos para cobrir os gastos suntuosos da Corte, pagar os
soldados e promover transações comerciais.
Muitas instituições públicas são criadas: instala-se o Erário
Régio, depois transformado em Ministério da Fazenda; o
Conselho de Estado; a Junta de Comércio; a Intendência Geral
da Polícia; o Desembargo do Paço; a Mesa de Consciência e
Ordens (ou tribunal) e a Junta Real de Agricultura e Navegação.
E, com a abertura dos portos às nações amigas, foi-se abolindo o
monopólio comercial luso.
De acordo com Maia (1999, p.259),
[...] a abertura dos portos às Nações amigas em 1808
significou o fim do pacto colonial, ou seja, Portugal já
não detinha mais o monopólio comercial sobre a colônia.
Com o livre comércio, a colônia encontrava-se a um
passo da independência.
A vida econômica muda radicalmente. O séquito real amplia a
demanda de bens de consumo e aumenta as despesas públicas. O
comércio se diversifica com a inundação de produtos estrangeiros
e o príncipe toma medidas de incentivo à indústria.
Como estímulo às manufaturas, Dom João revoga o alvará
de 1785, que proibia as manufaturas brasileiras, e autoriza a
instalação de tecelagens, fábricas de vidro e de pólvora, moinhos
de trigo e uma fundição de artilharia. Também facilita a vinda
de artesãos e profissionais liberais europeus, inclusive médicos e
farmacêuticos. Dez anos depois da chegada da corte ao Brasil,
a população do Rio de Janeiro aumenta de 50 mil para 100 mil
habitantes.
Com a corte no Brasil, Dom João toma várias iniciativas para
estimular a educação, a ciência e as artes na colônia. Promove
várias missões culturais, com a vinda de cientistas e artistas
franceses, alemães e ingleses: o pintor e escritor francês JeanBaptiste Debret, o botânico francês Auguste Saint-Hilaire, o
naturalista alemão Karl Friedrich Von Martius, o pintor alemão
Johann Moritz Rugendas e o naturalista e geólogo britânico John
Mawe.
66
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 66
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Centros culturais
Ainda no ano de 1808, são criados importantes centros
culturais no Brasil. Em Salvador: a primeira escola superior, a
Médico-Cirúrgica, no rio de Janeiro: a Academia da Marinha e a
Academia Militar.
A primeira Biblioteca Pública (atual Biblioteca Nacional),
também no Rio de Janeiro, é criada em 1811. A cultura e as
ciências são ainda estimuladas com a criação do Jardim Botânico
e da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (depois Academia
de Belas Artes), em 1810.
Imprensa
O príncipe Dom João instala a primeira tipografia do Brasil
e inaugura a Imprensa Régia em maio de 1808. Em setembro
do mesmo ano, começa a circular A Gazeta do Rio de Janeiro.
Publicada três vezes por semana, a Gazeta não chega a ser um
jornal, mas um periódico que publica anúncios e atos oficiais da
Coroa.
A imprensa brasileira nasce efetivamente em Londres, com a
criação do Correio Braziliense, pelo jornalista Hipólito José da
Costa. Apesar de favorável à monarquia, o jornal tem cunho
liberal, defende a abolição gradual da escravidão e propõe
em seu lugar a adoção do trabalho assalariado e o incentivo à
imigração. O Correio Braziliense circula entre 1808 e 1822, sem
interrupções.
O Estado brasileiro é patrimonialista desde sua origem, e, nele,
os seus representantes legais estão representando, sobretudo os
seus próprios interesses. Já o rei dirige o capital comercial do país
como se fosse uma empresa privada de sua propriedade.
E mesmo com tantas mudanças, pouco se pode falar da
existência de uma Administração Pública efetivamente
brasileira até 1822.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 67
67
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 3 – A administração pública no período imperial
(1822-1889)
Você sabia?
Dia do Fico: atento aos movimentos no Brasil, Dom
João VI ordena que Dom Pedro volte a Portugal. Em 29
de dezembro de 1821, o príncipe-regente recebe um
abaixo-assinado pedindo sua permanência no Brasil.
Ele anuncia, no dia 9 de janeiro de 1822, sua decisão de
ficar, episódio que passa a ser conhecido como Dia do
Fico.
A Independência do Brasil e o Império
Portugal continua a tomar medidas para manter o Brasil sob
seu domínio: anula a convocação da Constituinte, ameaça
enviar tropas e exige o retorno imediato do príncipe-regente.
Dom Pedro está nos arredores de São Paulo, perto do riacho
do Ipiranga, quando recebe, em 7 de setembro de 1822, os
despachos com as exigências da Corte. Também recebe cartas
de dona Leopoldina e de José Bonifácio, incentivando-o a
proclamar a independência. Foi a pressão dos brasileiros que
forçou Dom Pedro I a proclamar a independência da colônia, na
verdade forma de assegurar o favorecimento das elites brasileiras.
Pois, para a maioria da população e dos escravos, a situação não
mudou.
O dilema que estava colocado era: submissão ou separação?
“De Portugal não temos o que esperar senão escravidão e horrores”, diz
José Bonifácio. Dom Pedro I proclama, então, a independência.
É aclamado imperador em 12 de outubro e coroado em 1º de
dezembro do mesmo ano.
Três anos após a Proclamação da Independência, D. Pedro II
nasceu no Palácio de São Cristóvão (Quinta da Boa Vista), Rio
de Janeiro/RJ, a 2 de dezembro de 1825 Filho de D. Pedro I e
68
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 68
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
sua mulher, a Imperatriz Leopoldina, recebeu na pia batismal
o nome de Pedro de Alcântara João Carlos Salvador Bebiano
Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Gonzaga.
Dom Pedro I e, na sequência, seu filho Dom Pedro II,
considerados heróis da denominada Independência do Brasil,
reproduzem neste país quase à deriva o que aprenderam e
viveram com seus conterrâneos da Corte Portuguesa.
Ao mesmo tempo em que se reconhece que “[...] o interesse
na independência era o de manter a liberdade econômica e
administrativa” (MAIA, 1999, p.259), é preciso refletir sobre os
seus limites.
Segundo sugerem Vicentino e Dorigo (2001, p.312), nos parece
mais adequado usar aspas ao falar na “independência” do Brasil.
Isto pelas dúvidas que o verdadeiro significado desta expressão
carrega em nossa história. Daí a oportunidade das seguintes
indagações:
Quando um país ou território se torna efetivamente
independente? O que significa para um país ser
independente? Independente de que e de quem?
Em 1822, o Brasil apenas “[...] formalizou sua separação política
de Portugal. Mas será que, a partir de então (e até hoje), somos
verdadeiramente independentes, no sentido de apenas nós,
brasileiros, tomarmos as decisões que dizem respeito ao nosso
futuro?”. (VICENTINO e DORIGO, 2001, p.312).
Inicia-se em 1822 o período monárquico brasileiro que vai
governar o país durante quase todo o século 19, em toda a sua
existência pré-republicana, ou seja, até 1889.
Caracterizando o Primeiro Reinado (1822-1831)
Ao invés de adotar um regime republicano (por que não?),
no Brasil recém- independente de Portugal e sem inserção
no sistema internacional, foi rapidamente instituído o regime
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 69
69
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
monárquico, em função de que aqui habitava a monarquia
lusitana com expoentes que haviam liderado a pretensa libertação
colonial.
De acordo com Vicentino e Dorigo (2001, p.368), a
fragmentação político-territorial observada na América espanhola
e a ampla participação da população nas guerras de libertação
não se fizeram notar na ex-colônia portuguesa, que manteve
a integridade territorial e política e delegou às elites um papel
predominante na luta pró-independência.
Dom Pedro I iniciou uma política de livre câmbio
estendendo a acessível tarifa alfandegária de 15%
anteriormente concedida à Inglaterra para vários
outros países. Assim começaram a ingressar no
Brasil mercadorias importadas que inviabilizavam o
desenvolvimento de uma produção industrial interna e
provocaram um crescente e persistente déficit no nosso
comércio internacional.
Neste cenário, iniciaram-se os recursos a frequentes empréstimos
que endividavam o país, consolidando-se sua dependência
econômica: “[...] o Brasil abastecia o mercado internacional
de produtos primários e permanecia dependente do núcleo
econômico capitalista, liderado pela Inglaterra.” (VICENTINO
e DORIGO, 2001, p. 370).
Em 1823, foi formada uma primeira Assembleia Constituinte
composta por deputados pertencentes à aristocracia formada
pelos grandes proprietários, representantes da Igreja e alguns
juristas. Sua proposta, que recebeu o apelido de “Constituição
da Mandioca”, além de impedir o acesso da grande maioria da
população brasileira à participação política, excluía também os
comerciantes e limitaria o poder de Dom Pedro I, que, então,
dissolve aquela Assembleia, abortando o seu projeto.
Em 1824, foi outorgada a primeira constituição elaborada
por um Conselho de Estado nomeado coerentemente com o
autoritarismo do imperador, explicitando-se os verdadeiros
interesses que geraram a independência.
70
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 70
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
A Constituição de 1824 estabeleceu a monarquia hereditária no
país e a divisão dos poderes do Estado em: executivo (imperador
e ministros de Estado), legislativo (Câmara de Deputados e
Senado), o judiciário (juízes e tribunais), e, o poder moderador
“(atribuição exclusiva do imperador, que regularia os outros
poderes), combinando o constitucionalismo a elementos
absolutistas.” (VICENTINO e DORIGO, 2001, p.371).
A abdicação de Dom Pedro I
O autoritarismo de Dom Pedro I, que, até 1826, governou sem
legislativo, descontentava a elite agrária e os grupos urbanos,
desgastando-se as relações políticas (VICENTINO e DORIGO,
2001):
„„
„„
„„
a Confederação do Equador já havia reacendido os ideais
revolucionários da denominada Revolução Pernambucana
de 1817;
a imprensa passa a criticar deliberadamente o
autoritarismo do imperador, destacando-se os jornalistas
Líbero Badaró e Evaristo da Veiga;
no Rio de Janeiro a oposição dos brasileiros levou a
vários conflitos de rua, simbolizados na chamada Noite
das Garrafadas, de 13/03/1831, com os manifestantes
munidos de paus e garrafas.
Tentando reconciliar-se com as lideranças locais, Dom Pedro II
nomeia, então, um ministério liberal de brasileiros, mas que logo
é demitido frente às agitações constantes, sendo nomeado “[...]
outro composto por colaboradores de tendência absolutista, o
chamado ministério dos marqueses.” (VICENTINO e DORIGO,
2001, p.375).
As elites nacionais, apoiadas por tropas do exército e crescente
movimentação popular, exigem a demissão daquele ministério,
o que leva Dom Pedro I a abdicar do trono brasileiro na
madrugada de 7 de abril de 1831, finalizando com a sua renúncia
o período do primeiro reinado. Seu retorno a Portugal afastava a
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 71
71
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
ameaça recolonizadora e consolidava a independência brasileira
da colonização portuguesa.
O período regencial
Como Dom Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos de idade,
foi-lhe designado como tutor José Bonifácio de Andrada e Silva.
Fizeram-se necessários alguns governos regenciais, entre 1831
e 1840. Esse foi um dos períodos mais agitados da história
brasileira.
Houve uma divisão entre as lideranças moderadas, o que
originou os partidos Conservador e Liberal, ambos defendendo
os mesmos interesses praticamente. Apenas os liberais desejavam
maior independência das províncias, enquanto os conservadores
defendiam a maior centralização do poder.
As revoltas do Período Regencial
Em decorrência das péssimas condições de vida a que estava
submetido o povo brasileiro e a consequente desconsideração
desta realidade pela administração das coisas públicas vigente,
eclodiram várias revoltas populares neste período, destacando-se
(MAIA, 1999, p.263-264):
„„
a Cabanagem, no Pará, 1835-1840;
„„
a Sabinada na Bahia, 1837-1838;
„„
a Balaiada no Maranhão, 1838-1841;
„„
a Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha, no
Rio Grande do Sul, 1835-1845.
72
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 72
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
O Segundo Reinado no Brasil
Devido à instabilidade política e social, os grupos liberais
fundam em 1838 o Clube da Maioridade, visando a apoiar a
coroação precoce do menino. E Dom Pedro II, proclamado
maior de idade aos 23 de julho de 1840, é coroado aos 18 de
julho do ano seguinte, com menos de 15 anos.
Por seu apoio, os liberais exigiam o fim do poder moderador,
novas eleições e a instauração do parlamentarismo, de modo
que a Assembleia viesse a participar das decisões do imperador.
As novas eleições com esta plataforma foram violentas, ficando
conhecidas como eleições do cacete, pois os eleitores eram
obrigados a votar nos candidatos sob a ameaça de pauladas.
(MAIA, 1999, p. 265).
Atendendo interesses da Inglaterra, no período de 1865 a 1870,
o Brasil integra a Tríplice Aliança juntamente com Argentina
e Uruguai, participando ativamente da sangrenta Guerra
do Paraguai. Ao final da guerra se fortalecem o movimento
abolicionista e o republicano.
Durante meio século, duas gerações de brasileiros viveram sob a
autoridade do reinado de Dom Pedro II, que terminou com a sua
deposição aos 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da
República. Aos 5 de dezembro de 1891, faleceu em Paris.
Seção 4 – A administração na primeira república (18891930)
Frente à notória decadência do Império e sua impotência para
conter tanto as forças políticas (abolicionistas e militares) quanto
as forças econômicas dos cafeicultores, o Visconde de Ouro
Preto, Primeiro Ministro, apresenta à Câmara dos Deputados um
programa de reformas que é rejeitado. Diante disso, a Câmara foi
dissolvida e aumenta a força do movimento republicano.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 73
73
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Ironicamente, foi o golpe militar do Marechal Deodoro da
Fonseca, um não republicano que, sem qualquer resistência,
pôs fim à monarquia, tendo ele próprio assumido o governo
provisório.
Entre as idas e vindas do período, com centralizações e aberturas
políticas, a distinção entre público e privado permanecia
tenebrosa. O liberalismo soprava pelas bandas de cá, mas não
vertia com força suficiente para afastar o poder monárquico.
A organização do Estado continuava a orbitar a família real,
a Administração Pública se traduzia em sua administração
particular.
A aurora das luzes só viria a despontar no horizonte da República.
Os ideais republicanos já vinham consolidando-se ao longo do
Segundo Reinado, mas só floresceram com sua exterioridade no
dia 15 de novembro. Chegamos a um tempo em que não mais
se admitia a tutela da monarquia, o País já adquirira dimensão
incompatível com o modelo patrimonialista e onde a norma era
a vontade do monarca. As estruturas arcaicas da Administração
já não encontravam mais justificativas com o fluxo racional que
vertia do pensamento liberal. Em época em que o mercantilismo
abria espaço ao capital, já não restava base ao modelo imperial. A
ruptura com o sistema era iminente.
Não houve participação popular no movimento republicano, pois
a ideia de república como forma de governo era desconhecida do
povo que chega a se espantar com a deposição do seu imperador
em 15 de novembro de 1889, quando é proclamada a República
Federativa no Brasil.
Com a Proclamação da República, um dos primeiros atos do
governo provisório foi o banimento da família imperial. Um
dia após a proclamação da República, D. Pedro II recebeu uma
mensagem mandando-o sair do país. Dom Pedro II cedeu à
ordem e saiu do país com toda a sua família no dia seguinte (17
de novembro).
74
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 74
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Você sabia?
Estas foram as últimas palavras deixadas por D. Pedro II:
‘“Ausentando-me, pois, com todas as pessoas de minha
família, conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança,
fazendo os mais ardentes votos por sua grandeza e
prosperidade.”
Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889.
Dom Pedro de Alcântara
As primeiras reformas
A proclamação da República veio instituir a união perpétua e
indissolúvel das suas antigas províncias em Estados Unidos do
Brasil. Estes foram os termos do artigo primeiro da Constituição
da República de 1891. (TREMEL, 2001).
Com a proclamação da República foram dissolvidas as
Assembleias Provinciais e Câmaras Municipais. Governadores
foram nomeados para os Estados (antigas províncias) que
compunham o novo sistema de governo. Intendentes seriam as
primeiras autoridades municipais.
Embora a Constituição de 1891 determinasse que o Presidente
da República fosse eleito pelo voto direto da população, afirmava
também que, após a sua promulgação, o primeiro presidente seria
eleito excepcionalmente pelo Congresso. Foi isso que ocorreu.
Candidataram-se ao cargo de Presidente o Marechal Deodoro
da Fonseca e o Presidente do Congresso, Prudente de Morais;
à vice-presidência concorreram o ex-ministro da Marinha
Almirante Eduardo Wandenkolk e o ex-ministro da Guerra,
Marechal Floriano Peixoto. Foi vitoriosa a chapa dos dois
marechais, embora a votação de seus concorrentes demonstrasse
a existência de uma ponderável força política oposta ao governo.
A oposição a Deodoro formou-se durante o Governo Provisório,
chegando mesmo a transformar-se em séria dissidência entre
aqueles que haviam criado o novo regime.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 75
75
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Iniciava-se, assim, no Brasil, o período hoje denominado como a
República da Espada, por sua característica militar autoritária.
Eleito em 1º de março de 1894, tomou posse aos 15 de novembro
nosso primeiro Presidente civil: Prudente José de Morais e
Barros.
Ele assumiu a presidência da República em uma época de crise:
forte depressão econômica resultante do encilhamento, sérias
sobrevivências do antagonismo político que ensanguentara o
quadriênio anterior e a desordem administrativa avultavam entre
os grandes problemas que teria de solucionar.
Rui Barbosa (1849-1923) foi um importante jurisconsulto,
orador, escritor e político brasileiro, que teve uma destacada
participação no cenário político da Primeira República Brasileira.
(TREMEL, 2001).
Sob a proteção do estado de sítio, rapidamente autorizado pelo
Congresso, pôde então Prudente de Morais, com razoável
energia, dedicar seu último ano de governo aos problemas da
Administração Pública.
A administração pública brasileira durante as três primeiras
décadas do século XX, de acordo com Dario (2004, p.16),
“[...] atendeu a necessidade de absorver o excedente de mão de
obra que o insipiente sistema administrativo do país não podia
ocupar. Dentro dessas condições, as atividades administrativas
eram bastante simples, não exigindo preparo especial de seus
executores, o que leva a inferir que o modelo de produção
primária refletia-se também na administração pública.”
A seguir, você estudará a concepção de
Administração Pública na República Velha.
76
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 76
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
A consolidação da administração pública no Brasil
Desde a Proclamação da Independência, até 1930, a
Administração Pública é marcada por um “Estado Policial” ou
“Absoluto.” Nesse período, impera o exercício da legalidade. A
administração era autocentrada e a sociedade não tinha a menor
possibilidade de inferir os destinos dos recursos públicos. O
Estado assegurava posição e função a pessoas letradas, o que
contribuía para a formação de uma classe média no País. A
Administração Pública era marcada pelo patrimonialismo.
O controle da Administração Pública no Brasil se faz presente
na Lei nº 4.536, de janeiro de 1922, que organiza o Código de
Contabilidade da União, e no Decreto 15.783, também de 1922,
que aprova o regulamento da Contabilidade Pública. (CASTRO,
1997).
A crise econômica mundial derivada da conhecida Queda
da Bolsa de Valores (New York, 1929) determinou a redução
do comércio internacional, e isso impulsionou o Brasil a
produzir parte dos produtos que antes importava, modificando,
significativamente, sua estrutura de produção.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 77
77
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Síntese
Nesta unidade, você pôde conhecer quais os antecedentes
históricos da Administração Pública no Brasil. Destacou-se
nesse trajeto desde o descobrimento, as origens coloniais da
configuração do caráter patrimonialista de nossa administração
pública. Foi constatado que a monarquia se constituiu na forma
de governo vigente no Brasil durante praticamente todo o século
19 (1822-1889), especificamente após a independência brasileira
da coroa portuguesa. Na sua entrada no século 20, a forma do
governo brasileiro já é a república em seus primeiros ensaios.
A retrospectiva histórica realizada revela que o nosso país em sua
evolução político-administrativa desde o descobrimento, durante
um longo período de colonização, passando pelo imperialismo
e chegando à República, sofreu e sofre até hoje influências
culturais e políticas portuguesas entre outras da colonização
europeia. Desde os costumes até o direito que norteia a sociedade
e, por consequência, a administração pública. Essa influência
permanece historicamente mais nítida e explícita até o início do
século XX.
É de suma importância que você resolva as atividades de
autoavaliação, as atividades de avaliação a distância e participe do
fórum, para que fixe os assuntos ora estudados e possa observar
como eles têm efetiva influência na formação da administração
pública brasileira.
78
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 78
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Atividades de autoavaliação
Leia com atenção os enunciados e responda:
1) O que foi o Tratado de Tordesilhas e o que representou para o Brasil?
2)Qual foi a forma que Portugal encontrou para colonizar o Brasil a partir
de sua descoberta?
3)Em que ano ocorreu a chegada da Família Real e quais foram os reflexos
ocorridos no Brasil?
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 79
79
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
4)Tente imaginar o que foi a Independência do Brasil em 7 de setembro
de 1882, quando o país passou a ter um Regime Imperial dentro do
modelo Administrativo Português. Então responda: Quais foram
os Imperadores do Brasil e de que período foi seu império e o que
levou ao fim deste regime e ainda tente descrever qual era a forma
administrativa em que era desenvolvida a Administração Pública.
5)Descreva como foi a consolidação da Administração Pública no Brasil.
80
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 80
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
6)Qual forma de governo foi predominante no último século do período
em que o Brasil foi colônia portuguesa?
a)(
) patriarcado
b)(
) patrimonialismo
c)(
) república
d)(
) monarquia
e)(
) autoritarismo
7) Qual a característica predominante da administração pública brasileira
durante todo o período em que o Brasil foi colônia portuguesa?
a)(
) patriarcado
b)(
) patrimonialismo
c)(
) república
d)(
) monarquia
e)(
) autoritarismo
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 81
81
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos, existem importantes
livros e compêndios sobre a História Geral do Brasil, nos quais
você pode pesquisar com a indicação de estudante e o uso de
bibliotecas da sua cidade. Apresenta-se a seguir uma sequência de
acontecimentos históricos com o objetivo de situá-lo/a sobre fatos
importantes que fizeram parte de nossa história e influenciaram,
de forma direta ou indireta, a vida da administração pública
brasileira.
BRASIL - CRONOLOGIA HISTÓRICA
SÉCULO XV
7 de Junho de 1494: Assinatura do Tratado de Tordesilhas,
no qual Portugal e Espanha dividiram entre si o mundo por
descobrir.
SÉCULO XVI
26 de janeiro de 1500: O navegador espanhol Vicente Yáñez
Pinzón desembarca no Cabo de Santo Agostinho e torna-se o
primeiro europeu a chegar ao Brasil.
9 de março de 1500: A frota de Pedro Álvares Cabral parte da
praia do Restelo, em Lisboa, Portugal.
22 de abril de 1500: Pedro Álvares Cabral e sua frota avistam
terras brasileiras neste dia, desembarcando apenas no dia
seguinte. É chamado como o Descobrimento do Brasil.
23 de Abril de 1500: Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil,
tomando posse da terra em nome da Coroa Portuguesa.
26 de abril de 1500: É celebrada a primeira missa no Brasil.
1 de maio de 1500: Portugal toma posse da terra. É celebrada a
segunda missa no país. Pero Vaz de Caminha envia carta ao rei de
Portugal, D. Manuel, dando notícia do descobrimento.
82
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 82
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
13 de julho de 1501: A expedição marítima de Pedro Álvares
Cabral regressa para Lisboa, após a descoberta do Brasil e da
visita à Índia.
1530: Expedição colonizadora de Martim Afonso ao Brasil.
- Dom João III institui o regime de capitanias hereditárias.
Expedição colonizadora de Martim Afonso ao Brasil.
22 de janeiro de 1532: São Vicente é fundada por Martim Afonso
de Sousa e torna-se a primeira vila do país.
28 de setembro de 1532: Carta de D. João III a Martim Afonso de
Sousa informando a intenção de povoar a costa brasileira.
1534: Início da escravização dos índios no Brasil.
1 de janeiro de 1534: O Brasil é dividido em capitanias
hereditárias. Início da colonização sistemática.
17 de dezembro de 1548: O Governo-Geral é criado por D. João III
com o intuito de centralizar a administração da Colônia.
7 de janeiro de 1549: Carta Régia de D. João III de Portugal
criando a Governância Geral do Brasil sediada em Salvador,
Bahia. Tomé de Sousa assume o primeiro governador-geral do
Brasil.
29 de janeiro de 1549: O Governo Geral é instituído pela Carta
Régia.
29 de março de 1549: Tomé de Sousa chega à Bahia. A cidade de
Salvador, atual capital da Bahia, é fundada e torna-se a primeira
capital brasileira. Os primeiros jesuítas chegam ao país.
1550: Chega a Salvador a primeira leva de escravos africanos.
1 de março de 1553: Duarte da Costa assume o governo geral do
Brasil em substituição a Tomé de Sousa.
9 de julho de 1553: A província eclesiástica do Brasil é criada por
Inácio de Loiola.
25 de janeiro de 1554: Reza-se a primeira missa no Pátio do
Colégio de São Paulo fundado pelos padres Manuel da Nóbrega
e José de Anchieta, dando origem à Cidade de São Paulo, atual
capital do Estado de São Paulo.
10 de novembro de 1555: A esquadra francesa de Nicolas Durand
de Villegagnon chega ao Rio de Janeiro para fundar a França
Antártica.
23 de julho de 1556: Mem de Sá é nomeado governador geral do
Brasil por Carta Régia.
4 de janeiro de 1558: Mem de Sá assume o governo como
governador-geral.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 83
83
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
29 de março de 1559: A Coroa Portuguesa promulga o alvará que
oficializa e regulamenta o tráfico negreiro.
3 de agosto de 1559: Moradores podem negociar com os índios
as ferramentas definidas no Alvará.
16 de março de 1560: Os franceses são expulsos na Ilha de
Villegagnon.
1 de março de 1565: A cidade do Rio de Janeiro é fundada por
Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá.
20 de janeiro de 1567: Vitória de Estácio de Sá sobre os franceses
no Rio de Janeiro.
20 de março de 1570: Carta régia de D. Sebastião garantindo a
liberdade dos índios. Mas as leis não são suficientes para conter
os ataques e violências contra os índios.
1571: D. Sebastião decreta que somente navios portugueses
transportem mercadorias para o Brasil.
1580: Início do domínio espanhol, também chamado União
Ibérica. Prolonga-se até 1640.
19 de abril de 1581: Início do domínio espanhol no país.
2 de setembro de 1587: A Argentina registra a primeira
exportação de tecidos e cobertas de lã, lenços, chapéus, peles
caprinas e couros bovinos com curtição artesanal para o Brasil.
11 de novembro de 1595: Lei de Filipe II proíbe a escravização dos
índios.
SÉCULO XVII
31 de dezembro de 1601: Lei abolindo a escravidão indígena do
Brasil.
5 de junho de 1605: Provisão real concede ampla liberdade aos
índios.
30 de julho de 1609: D. Filipe II expede alvará que liberte os
nativos brasileiros, os índios.
10 de setembro de 1611: Lei reconhece o cativeiro de índios
aprisionados ou cativos de outros índios, estabelecendo a
liberdade para os demais índios.
6 de setembro de 1612: Os franceses liderados por Daniel de
La Touche, na tentativa de construir uma colônia em terras
brasileiras, invadem o Maranhão e fundam a França Equinocial.
4 de novembro de 1615: Franceses são expulsos no Maranhão.
11 de abril de 1619: A primeira imigração açoriana chega ao Brasil.
84
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 84
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
3 de junho de 1621: A Companhia das Índias Ocidentais é criada
pelos holandeses.
13 de junho de 1621: Os Estados do Brasil e do Maranhão são as
unidades administrativas criadas pelo rei Filipe III de Espanha.
20 de outubro de 1621: Alvará da Coroa portuguesa proíbe
negro, mulato ou índio de exercer a profissão de ourives no país.
9 de maio de 1624: Invasão holandesa em Salvador, Bahia.
1625: Os holandeses são expulsos da Bahia.
8 de janeiro de 1627: A acumulação de cargos públicos é proibida
por alvará.
23 de janeiro de 1637: O conde holandês Maurício de Nassau
chega ao Brasil e inicia sua habilidosa administração.
- D. João IV restaura o trono português, pondo fim ao domínio
espanhol.
26 de maio de 1640: Jorge de Mascarenhas, marquês de
Montalvão, assume como vice-rei.
1 de dezembro de 1640: Fim da União Ibérica.
1 de abril de 1641: Amador Bueno da Ribeira é aclamado Rei do
Brasil como D. João IV.
16 de abril de 1641: Assume a junta governativa provisória,
composta por Pedro da Silva, Luís Barbalho Bezerra e Lourenço
de Brito.
6 de maio de 1644: Desentendendo-se com a Companhia das
Índias Ocidentais, o conde Maurício de Nassau renuncia ao cargo
do governo da capitania de Pernambuco.
13 de junho de 1645: Insurreição Pernambucana.
27 de outubro de 1645: O título de Príncipe do Brasil é criado
pelo rei João IV de Portugal em favor de seu filho mais velho e
herdeiro Teodósio.
13 de janeiro de 1648: Francisco Barreto de Menezes chega ao
país para tomar o comando do exército em Pernambuco.
1648: Primeira Batalha dos Guararapes em Pernambuco, em que
o exército português vence o exército holandês no Brasil. Esta
batalha marca o surgimento do Exército Brasileiro.
19 de fevereiro de 1649: Segunda Batalha dos Guararapes.
10 de março de 1649: A Companhia Geral do Comércio do Brasil é
fundada por D. João IV
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 85
85
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
6 de agosto de 1661: Portugueses e holandeses assinam um
tratado de paz, em Haia, que reconhece a soberania de Portugal
sobre a vila do Recife.
20 de março de 1662: Lei é promulgada, proibindo a escravidão
dos índios.
25 de janeiro de 1663: Os Correios são criados.
1 de abril de 1680: Abolição da Escravidão dos Índios.
23 de março de 1681: A cidade de São Paulo é elevada a capital
de capitania.
6 de fevereiro de 1694: A capital de Palmares é destruída e o líder
Zumbi ferido.
8 de março de 1694: A primeira Casa da Moeda do Brasil é criada
pelos governantes portugueses na cidade de Salvador, Bahia.
19 de dezembro de 1695: A lei proíbe que as moedas de ouro da
metrópole circulem em qualquer das capitanias do Brasil.
20 de fevereiro de 1696: Carta-régia proíbe que escravas usem
vestidos de seda ou objetos de luxo.
SÉCULO XVIII
1702: É criada a Intendência das Minas, tendo como função
básica distribuir terras para a exploração do ouro e cobrar
tributos para a Fazenda Real.
1708: Tem início a Guerra dos Emboabas.
22 de setembro de 1711: Tropas francesas ocupam o Rio de
Janeiro.
11 de abril de 1713: Tratado de Utrecht (a França aceitava o rio
Oiapoque como limite entre a Guiana e o Brasil).
14 de outubro de 1719: Assume a junta governativa provisória,
composta por Sebastião Monteiro de Vide, Caetano de Brito e
Figueiredo e João de Araújo e Azevedo.
1720: São criadas as Casas de Fundição, onde todo o ouro deveria
ser levado para a transformação em barras. Ao receber o ouro,
as Casas retiravam a parte correspondente ao imposto (quinto).
Nesse mesmo ano, explode a Revolta de Vila Rica, em protesto
contra a criação das Casas de Fundição.
24 de janeiro de 1726: Lei proíbe aos homens de cor a ocupação
de cargos ou empregos públicos.
13 de janeiro de 1750: O Tratado de Madri é assinado em Madri,
capital espanhola, entre D. João V de Portugal e D. Fernando VI
de Espanha.
86
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 86
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
31 de julho de 1750: Morte do rei português Dom João V.
1750: É determinado que o resultado do quinto não poderia ser
menor do que 100 arrobas de ouro por ano. Tratado de Madri
estabelece a posse portuguesa além da linha de Tordesilhas.
Além disso, determinava que a Colônia do Sacramento
pertenceria aos espanhóis, e a região dos Sete Povos das Missões
pertencia aos portugueses.
13 de agosto de 1759: D. José cria a Companhia Geral de
Pernambuco e Paraíba.
3 de setembro de 1759: A Companhia de Jesus, os jesuítas, é
expulsa dos domínios da Coroa portuguesa.
2 de abril de 1761: Liberdade para os índios brasileiros.
19 de junho de 1761: A cultura de cana-de-açúcar é proibida por
carta régia de Portugal.
1761: Acordo do Pardo (Espanha e Portugal anulam o Tratado de
Madri).
27 de junho de 1763: Carta Régia eleva o país a vice-reino de
Portugal. Antônio Álvares da Cunha, conde da Cunha, assume
como vice-rei.
31 de agosto de 1763: A capital do Estado do Brasil é transferida
de Salvador para o Rio de Janeiro, que se torna a capital do ViceReino do Brasil.
1765: Foi decretada a Derrama, pela qual se obrigava a população
mineradora a completar a soma acumulada do imposto devido.
5 de janeiro de 1785: A instalação de fábricas e manufaturas no
Brasil é proibida por Dona Maria I de Portugal.
17 de abril de 1768: Provisão régia que reitera a obrigatoriedade
do plantio de mandioca nas fazendas brasileiras, em função do
número dos respectivos trabalhadores.
20 de agosto de 1772: A Coroa Portuguesa divide o Estado do
Grão-Pará e Maranhão no Estado do Grão-Pará e Rio Negro, com
sede em Belém, e o Estado do Maranhão e Piauí, com sede em
São Luís.
1777: Tratado de Santo Ildefonso (a Espanha ficaria com a Colônia
do Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões, mas
devolveria terras que havia ocupado nos atuais estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul).
1789: Organiza-se a Conjuração Mineira, que teve como desfecho
a condenação à morte de Tiradentes.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 87
87
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
21 de abril de 1792: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes,
um dos líderes da Inconfidência Mineira, é enforcado, acusado de
trair a nação portuguesa no Rio de Janeiro.
12 de agosto 1798: Conjuração Baiana, que contou com
significativa participação das camadas populares. Esta rebelião
teve como desfecho a pena de morte aplicada a João de Deus,
Manuel Faustino, Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens (8 de
novembro de 1799).
20 de novembro de 1800: Uma carta real escrita pelo Rei João VI
de Portugal estabelece a Aula Prática de Desenho e Figura, no
Rio de Janeiro. É a primeira instituição no Brasil sistematicamente
dedicada ao ensino das artes.
SÉCULO XIX
06 de Junho de 1801: Tratado de Badajós (a Espanha renuncia à
posse dos Sete Povos das Missões, e Portugal confirma o direito
espanhol à Colônia do Sacramento).
14 de outubro de 1801: Fernando José de Portugal e Castro,
marquês de Aguiar, assume como vice-rei.
1807: Recusando-se a aderir ao Bloqueio Continental, Portugal é
invadido por tropas franco-espanholas. Em novembro desse ano,
a família real abandona o território português, transferindo a
sede do reino para o Brasil.
30 de novembro de 1807: Após a fuga da Família Real
Portuguesa, os franceses ocupam Lisboa durante a Guerra
Napoleônica.
1808: D. João chega ao Brasil. Pressionado pela Inglaterra, assina
o decreto da abertura dos portos, rompendo com o monopólio
do comércio colonial.
24 de janeiro de 1808: Chegada da família real a Salvador, Bahia.
28 de janeiro de 1808: O Decreto de Abertura dos Portos às
Nações Amigas é promulgado pelo príncipe regente Dom João.
Os portos do Brasil às nações estrangeiras aliadas da coroa
portuguesa são abertos por carta régia.
7 de março de 1808: D. João chega ao Rio de Janeiro.
11 de março de 1808: O Ministério da Marinha e o Tesouro
Nacional são criados pelo Príncipe Regente D. João. O Visconde
de Anadia é nomeado como o primeiro ministro da Marinha.
16 de março de 1808: O Ministério das Relações Exteriores é
criado.
88
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 88
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
1 de abril de 1808: O Conselho Supremo Militar e de Justiça é
criado por alvará.
19 de abril de 1808: O estabelecimento de fábricas e manufaturas
no Brasil é proibido pela derrogação do alvará de 1785.
5 de maio de 1808: A Escola Naval do Rio de Janeiro é criada com
o antigo nome Corte da Academia dos Guardas Marinhas.
10 de maio de 1808: A Casa de Suplicação do Brasil (atual
Supremo Tribunal da Justiça) é instituída.
27 de junho de 1808: O imposto de décima dos prédios urbanos
é criado.
10 de setembro de 1808: No Rio de Janeiro, começa a circular o
primeiro jornal impresso no país, a Gazeta do Rio de Janeiro.
12 de outubro de 1808: O Banco do Brasil é criado por D. João.
4 de dezembro de 1809: É criada a Academia Militar do Rio de
Janeiro por Carta de Lei.
29 de outubro de 1810: A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro é
criada.
4 de dezembro de 1810: No Rio de Janeiro, o Príncipe Regente
Dom João VI cria a Academia Real Militar, mais tarde chamada de
Academia Militar das Agulhas Negras.
1810: Portugal e Inglaterra assinam um tratado de comércio, que
fixa em 15% a taxa alfandegária (ad valorem) sobre produtos
ingleses vendidos para o Brasil. Os demais países pagavam 24%,
e Portugal, 16%.
1 de março de 1811: O Jardim Botânico é fundado pelo Regente
D. João no Rio de Janeiro.
16 de dezembro de 1815: Dom João VI eleva o Brasil à condição
de Reino Unido de Portugal e Algarves.
20 de março de 1816: D. Maria I morre no Rio de Janeiro e é
sucedida pelo princípe D. João VI. D. João VI é aclamado rei do
Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, aos 40 anos, após a
morte de sua mãe, D. Maria I.
9 de janeiro de 1817: Substituição do título de Príncipe do Brasil
pelo de Príncipe Real do Reino do Brasil, por alvará.
13 de maio de 1817: Maria Leopoldina de Áustria casa-se com o
futuro imperador Pedro em Viena.
6 de novembro de 1817: Príncipe D. Pedro de Alcântara casa-se
com a Arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina no Rio de
Janeiro.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 89
89
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
1817: Explode a Revolução Pernambucana, tendo como ideal a
proclamação da república e a elaboração de uma Constituição
liberal. Os revoltosos ocupam o poder, por pouco tempo. A
revolução foi violentamente reprimida, e chega ao final aos
6/2/1818.
8 de fevereiro de 1818: No Rio de Janeiro, D. João VI é declarado
o rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. É expedido
decreto de indulto aos presos do Reino do Brasil.
24 de agosto de 1820: Eclode em Portugal a Revolução
Constitucionalista do Porto, liderada pela burguesia lusitana. Os
revoltosos exigem a volta de D. João VI ao país.
28 de agosto de 1820: D. Pedro I, pela lei, regulamenta a
liberdade de imprensa no país.
5 de setembro de 1820: Portugal incorpora o Uruguai sob a
denominação de Banda Oriental.
26 de fevereiro de 1821: O nome oficial do país é Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves.
28 de fevereiro de 1821: As capitanias brasileiras tornam-se
províncias.
6 de março de 1821: O Ministério da Fazenda é criado.
26 de abril de 1821: D. João VI parte do país, de volta para
Portugal, deixando seu filho D. Pedro I como Regente do Brasil
no Rio de Janeiro.
4 de julho de 1821: Dom João VI regressa a Portugal, chamado
pelas Cortes Constituintes, reunidas em virtude da revolução de
1820.
12 de julho de 1821: A liberdade de imprensa é decretada pelo
Regente D. Pedro I.
31 de julho de 1821: A Banda Oriental do Uruguai é anexada com
o nome de Província Cisplatina.
1822: No dia 7 de setembro, D. Pedro proclama a independência
do Brasil. Inicia-se o período monárquico, que durou 67 anos.
1823: Instala-se, no dia 3 de maio, a Assembleia Constituinte
encarregada de elaborar a primeira Constituição do Brasil.
Criando um sistema eleitoral baseado na renda em farinha de
mandioca, o anteprojeto ficou conhecido como a Constituição da
Mandioca. Em novembro, D. Pedro I dissolve a Assembleia.
1824: É outorgada no dia 25 de março, por decreto imperial,
a primeira Constituição do país. No dia 25 de julho, explode a
Confederação do Equador.
90
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 90
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
1826: Morre, em Portugal, D. João VI. Aberta a sucessão do trono,
D. Pedro I torna-se o legítimo pretendente, mas abdica seu
direito em favor de sua filha D. Maria da Glória.
1828: É assinado um tratado de paz entre Brasil e Argentina,
pelo qual ambos os países aceitavam a fundação de República
Oriental do Uruguai.
1831: D. Pedro I abdica o trono brasileiro em favor de seu filho
Pedro de Alcântara. A Regência Trina Provisória assume o poder
até junho desse ano. A partir dessa data, o governo é transferido
para a Regência Trina Permanente. O período regencial vai até
1840.
1832: O ministro da Justiça, padre Feijó, renuncia ao cargo.
1834: D. Pedro I morre em Portugal.
É aprovado o Ato Adicional, introduzindo modificações na
Constituição do império.
1835: Início da Regência Una do padre Feijó.
No Pará, explode a Cabanagem; no sul, a Farroupilha.
1837: O Regente Feijó renuncia ao cargo.
-Tem início a Regência Una de Araújo Lima.
-Na Bahia, explode a Sabinada.
1838: A Balaiada tem início, no Maranhão.
1840: Termina o Período Regencial, com a decretação da
maioridade de D. Pedro II. Início do Segundo Reinado.
É aprovada a lei interpretativa do Ato Adicional, limitando a
autonomia das províncias.
1850: É extinto o tráfico de escravos no Brasil.
1854: Inauguração da primeira estrada de ferro do Brasil.
1865: Início da Guerra do Paraguai, que dura até 1870.
1870: É publicado o Manifesto Republicano, no Rio de Janeiro.
1873: É fundado o Partido Republicano Paulista, na Convenção
de Itu, em São Paulo.
1888: É promulgada a Lei Áurea, declarando extinta a escravidão
no Brasil.
1889: Fim do império.
Proclamação da república.
1889: Instalação do governo provisório da república.
1891: É promulgada a primeira Constituição da república.
Unidade 2
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 91
91
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Deodoro da Fonseca é eleito, pelo Congresso Nacional,
presidente da república. Em novembro desse ano, renuncia ao
cargo e Floriano Peixoto assume o poder.
1892: Manifesto dos Treze Generais, exigindo a convocação de
novas eleições presidenciais. Primeira Revolta da Armada.
1893: Explode a Segunda Revolta da Armada, liderada pelo
almirante Custódio José de Melo. Tem início a Revolução
Federalista, no Rio Grande do Sul.
1894: Tem início o governo de Prudente de Morais.
Antônio Conselheiro começa a organizar o arraial de Canudos,
que é destruído em 1897 por tropas federais.
1898: Têm início o governo de Campos Salles e a montagem da
política dos governadores.
SÉCULO XX
1903: O Acre é incorporado ao Brasil, pelo Tratado de Petrópolis,
encerrando-se disputas com a Bolívia.
1904: Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro. Osvaldo Cruz introduz
a vacinação obrigatória contra a varíola, o que desencadeará
uma revolta no Rio de Janeiro.
1906: O Convênio de Taubaté propõe soluções para a crise
de superprodução do café. Os governos estaduais deveriam
comprar e estocar a produção excedente.
1914: Início da Primeira Guerra Mundial, que se prolonga até
1918. Nesse período, o processo industrial brasileiro recebe
grande impulso.
1920: Cresce o descontentamento social contra o tradicional
sistema oligárquico que dominava o país.
1922: Revolta do Forte de Copacabana (Os 18 do Forte), sendo
a primeira revolta do movimento tenentista. Desenvolve-se em
São Paulo a Semana de Arte Moderna.
1924: Eclode em São Paulo outra revolta tenentista contra o
governo federal. Tem início a Coluna Prestes.
1929: O mundo ocidental é abalado por uma grave crise
econômica, refletida no Brasil pela violenta queda dos preços do
café.
-Formação da Aliança Liberal (Rio Grande do Sul, Minas Gerais,
Paraíba).
92
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 92
10/08/11 15:15
unidade 3
República Federativa do Brasil:
estado, governo e os três
poderes
Objetivos de aprendizagem
„„
Compreender o que é o estado federal.
„„
Entender as diferentes formas de governo,
reconhecendo a importância do sistema democrático
e o significado do princípio republicano em suas
implicações na administração pública.
„„
Descrever a estrutura organizacional básica da
administração federal brasileira.
„„
Reconhecer os três poderes de governo –
executivo, legislativo e judiciário – como parte da
administração pública.
3
Seções de estudo
Seção 1
O estado federal
Seção 2
Formas de governo
Seção 3
Os três poderes: executivo, legislativo e
judiciário
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 93
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Nesta unidade, você vai começar entendendo qual o significado
de o Brasil ser um Estado Federal. Na sequência, estudará as
formas de governo e as identificará no processo histórico da
administração pública brasileira – monarquia, aristocracia e
república.
O Brasil, após ser colônia de Portugal, teve um regime
monárquico – na época do Brasil Imperial – e, por fim, chegou
à forma republicana. Desde 1889, veio sofrendo influência
das transformações políticas e sociais ao longo de todo o
último século. Você vai conferir esta evolução perpassando as
transformações ocorridas no Brasil ao longo desse período.
Somos todos responsáveis pela formação de uma sociedade mais
justa e igualitária.
Além da discussão federativa, é fundamental você estudar as
Formas de Governo e dos Três Poderes – Executivo, Legislativo
e Judiciário –, que têm evoluído historicamente, e as suas
implicações na formação da Administração Pública brasileira.
Como também, assimilar os significados da história brasileira
como ferramenta social para o exercício da cidadania nos dias
atuais, de forma comprometida com o caráter assumido pela
Administração Pública em nosso país.
Convido-o/a a iniciar o estudo desta unidade. Conceitue Estado
Federal e, na sequência, as Formas de Governo e a divisão dos
Poderes, relacionados, intimamente, com a Administração
Pública brasileira.
94
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 94
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
SEÇÃO 1 - O estado federal
Quais são as formas básicas de Estado?
São reconhecidas duas formas típicas de Estado: “a unitária ou
simples e a composta.” (FUHRER, 1999, p. 67).
O Estado é simples ou unitário quando forma um todo
indivisível e soberano em relação aos outros Estados (países ou
nações) diante dos quais mantém a sua independência. Nesta
forma de Estado, o governo assume a direção exclusiva de todos
os negócios públicos.
O Estado unitário não é divisível internamente em partes
que mereçam o nome de Estado. Somente existe um Poder
Executivo, um Poder Legislativo e um Poder Judiciário, com sede
na capital do país.
Todas as autoridades executivas ou judiciárias que existem dentro
do território são delegações do Poder Central, residindo nele sua
força. É esse poder central que nomeia as autoridades e fixa as
atribuições de todas as unidades e serviços executivos e judiciários
da nação. O Poder Legislativo de um Estado Simples é único
naquele território.
“Era o Caso do Brasil quando Império, e é o caso da
França, Itália, Espanha e Portugal.” (FUHRER, 1999, p. 67).
Conforme Brancato (1998, p. 63), o Estado Composto, como
a própria expressão indica, é formado por “[...] dois ou mais
Estados que se unem por motivos diversos, sob o mesmo
governo, formando uma união pela qual se exerce o governo
central e a soberania na ordem internacional.”
É o caso da República Federativa do Brasil, atualmente,
bem como dos Estados Unidos da América do Norte,
do México, da Argentina, da Suíça (depois de 1848), da
Alemanha de após guerra etc.
A forma mais típica de Estado complexo é a federativa.
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 95
95
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Que é o Estado Federal?
O Estado Federal é uma criação norte-americana, ou, mais
precisamente, dos Estados Unidos da América (EUA). Nas
últimas décadas do 18º século da nossa sociedade, passou a existir
uma determinada forma de Estado, não conhecida até então.
Estamos tecnicamente nos referindo a um tipo de estruturação
do Estado, o que não se pode confundir com o sentido genérico
da palavra federação como uma “aliança de estados”, segundo
entendimento do senso comum.
Dallari (1986, p.7) esclarece que “[...] as federações que alguns
autores pretendem ver na Antiguidade, na Idade Média ou
nos primeiros séculos da era moderna foram apenas alianças
temporárias, com objetivos limitados”, sem uma Constituição
comum e tampouco com governos compostos “[...] por todos e
com autoridade plena, máxima e irrecusável sobre todos.”
O desenho do Estado Federal pelos Estados Unidos está marcado
pelo contexto histórico-social em que foi desenvolvido. Reflete
os valores daquela sociedade em suas características, objetivos,
funcionamento e evolução. Na época, tratava-se de “[...] ideias
predominantes entre os líderes das colônias inglesas da América,
com as adaptações exigidas para a conciliação de divergências
e para o atendimento de circunstâncias de ordem prática.”
(DALLARI, 1986, p.7), específicas daquele contexto histórico.
Em 1776, as 13 colônias inglesas na América do Norte em
conjunto declararam solenemente ser livres e independentes em
relação à Coroa britânica, assumindo “[...] a condição jurídica de
ESTADOS, regendo-se por suas próprias leis” (Dallari, 1986
p. 7), adquirindo soberania, isto é, passando a ter condições
para decidir todos os seus assuntos, internos e externos. Ante a
necessidade de resolver problemas de interesse comum àqueles
Estados, criaram, então, uma Confederação dos novos Estados.
Em 1781, foi assinado um tratado que ficou conhecido como
Artigos de Confederação. Em seguida, tornou-se necessário
aperfeiçoar sua organização, e esse “[...] congresso intercolonial
passou a denominar-se Os Estados Unidos Reunidos em
Congresso, evoluindo alguns anos depois para Estados Unidos da
96
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 96
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
América” (DALLARI, 1986, p.7), que hoje conhecemos como os
EUA.
A transformação acima mencionada ocorreu quando, reunidos
em uma Convenção na cidade de Filadélfia, no ano de 1787,
frente àqueles Estados que queriam apenas aperfeiçoar os Artigos
da Confederação, destacou-se um grupo de adeptos da ideia
de transformar a Confederação em Federação, propondo “[...]
que todos os Estados adotassem uma Constituição comum e se
submetessem, para determinados assuntos, a um governo central,
que teria suas atribuições definidas na própria Constituição
e, para desempenhá-las, teria suas próprias fontes de recursos
financeiros, sem depender [...] dos Estados (componentes).”
(DALLARI, 1986, p.13).
Cria-se, assim, um Estado Federal inspirado em ideias
antiabsolutistas defendidas por Locke (apud DALLARI, op.
cit.), como também em recomendações de Montesquieu para a
contenção do próprio poder de Estado, através de sua divisão
entre os estados-membros.
No Estado Federal são preservadas as diversidades dos
vários estados-membros e a sua unificação facilita a
cooperação entre os mesmos.
Para melhor entendimento do conceito e significação de Estado
Federal, tomamos o significado do termo “federal”: provém da
palavra latina “ foedus-eris”, que significa pacto ou aliança.
Também chamado Federação ou República Federal, o Estado
Federal é soberano e está constituído por estados federados
(estados-membros), cujos poderes regionais gozam de autonomia
em importantes aspectos da política interna. Isto é, têm poder
constituinte próprio, decorrente do poder constituinte originário
que fez a federação. Deste modo, no Estado Federal, além
da Constituição Federal, também existem as Constituições
Estaduais.
O Estado federal pode ser considerado uma forma de Estado,
pois possui um território sobre o qual exerce o poder. Possui,
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 97
97
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
geralmente, um sistema político republicano e, excepcionalmente,
monárquico.
Ao contrário de no Estado unitário, há independência e
autonomia nos estados, apesar da existência de um governo
central. Eles detêm autoridade e legislam, sempre em
observância à Constituição. A organização política ou estrutura
constitucional que caracteriza uma federação é chamada
Federalismo. Há dois níveis de governo no Federalismo: o
federal ou central e o regional.
Já o estado unitário não se constitui de estados-membros: é um
estado só, uno, ainda que se possa subdividir em regiões (como a
Itália), ou em províncias (como o Brasil, na época do Império), ou
em departamentos (como a França). Pelo que, no estado unitário,
apenas há uma constituição: a constituição nacional.
Projetando os objetivos do Estado Federal, encontramos uma boa
fundamentação para esse tipo de Estado na seguinte afirmação
de Wheare (citado por DALLARI, 1986, p.5), e que continua
atual após duas décadas:
Um dos mais urgentes problemas do mundo de hoje
é preservar as diversidades, tanto onde vale a pena
preservá-las por si mesmas como onde elas não podem
ser erradicadas, mesmo que não sejam desejáveis, e,
ao mesmo tempo, introduzir medidas de unificação
que previnam conflitos e facilitem a cooperação. O
federalismo é um meio para conciliar esses dois objetivos.
Afinal, o que significa Estado federal?
Dallari (1986, p.13) destaca as seguintes características do Estado
Federal:
„„
a Constituição como base jurídica, a que os estadosmembros não podem deixar de obedecer, tendo apenas os
poderes nela assegurados;
98
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 98
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
„„
„„
nasce um novo Estado (nacional) e os estados-membros
integrantes perdem essa condição (somente como
artifício jurídico se mantém o nome estado para os entes
federados);
proibição de secessão, ou seja, as unidades federadas não
podem se desligar da Federação;
„„
soberania da União e autonomia dos estados-membros;
„„
competências próprias e exclusivas de cada âmbito;
„„
autonomia financeira da União e dos Estados;
„„
desconcentração do poder político;
„„
nascimento de nova cidadania, entendida como a ligação
jurídica entre uma pessoa e seu determinado Estado.
Somente em 1868, por meio de emenda constitucional,
todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados
Unidos da América passaram a ser consideradas cidadãos
estadunidenses.
O Brasil segue o mesmo modelo de federação elaborado pelos
Estados Unidos da América (EUA).
Em síntese, também o Brasil é um Estado Federal!
SEÇÃO 2 - Formas de Governo
Que é Governo?
Convém lembrar que:
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 99
99
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Governo é o aparelho de Estado. É a estrutura de
funcionamento pela qual o Estado se organiza. Quer
dizer: o Governo é formado pelos órgãos e instituições
que constituem os poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário. E, em um país federado como o Brasil, seja
isso em nível federal, estadual ou municipal.
Então, geralmente, o governo é conduzido por autoridades que
dirigem, controlam e administram as instituições do Estado.
Trata-se da condução política geral ou exercício do poder do
Estado. Em sentido mais restrito, habitualmente se entende
por tal o órgão (que pode estar formado por um Presidente ou
Primeiro Ministro e um número variável de Ministros) ao qual
a Constituição ou a norma fundamental de um Estado atribui a
função ou poder executivo, e que exerce o poder político sobre
uma sociedade.
Quais as formas e regimes de governo?
As formas de governo são estabelecidas segundo as relações de
classe existentes na sociedade, as relações entre o(s) sistema(s)
de poder existente(s) e essa mesma sociedade, as ideologias e
os fins que movem a sociedade, e, ainda, as suas características
sociológicas.
– As formas ou regimes de governo são elementos essenciais do Estado.
Mais uma vez retomando a história para compreender o presente,
sabe-se que existem três tipologias clássicas sobre as formas de
governo: a de Aristóteles, a de Maquiavel e a de Montesquieu,
que aqui são apresentadas, esquematizando o entendimento.
Segundo Aristóteles
Na obra de Aristóteles, denominada Política, estão alinhadas as
três formas de governo por ele definidas como legítimas.
100
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 100
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
A teoria da forma de governo sempre preocupou o cientista
político. Foi a partir das seguintes perguntas que Aristóteles
diferenciou as três formas de governo:
„„
Quantos mandam?
„„
Para quem manda?
Podem mandar muitos e podem mandar com objetivos distintos.
As formas de Governo para Aristóteles são definidas segundo o
número de governantes (BOBBIO, 2001 e FUHRER, 1999):
„„
„„
„„
Monarquia, governo de uma só pessoa, quando
um manda;
Aristocracia, governo de poucos, quando um
grupo manda, tratando-se de um grupo de pessoas
consideradas como melhores. Este grupo pode ser desde
o menor grupo -- que é de duas pessoas -- até o maior
grupo possível num conjunto que é formado por todos
menos um;
Democracia, governo de muitos, que é o governo de
todos, do povo. Ou seja, quando a maioria manda,
pressupondo-se que em benefício de todos.
Uma das primeiras definições de democracia de que se
tem notícia foi feita por Aristóteles, ao estabelecer as
três possíveis formas de governo.
Todavia, ainda segundo Aristóteles, cada uma dessas três formas
acima correspondem também a formas ilegítimas, pois podem
degenerar-se. Para essas formas degeneradas de governo, o bem
da coletividade figura em plano secundário.
Ao lado daquelas formas “puras” ou legítimas apresentadas,
estariam as seguintes formas impuras:
„„
a monarquia, quando degenera em tirania, governo
de um só. Na tirania, o poder é exercido em benefício
próprio ou de um grupo;
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 101
101
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
„„
„„
a aristocracia, quando degenera em oligarquia, governo
de uma minoria poderosa, quando exercido em favor
próprio ou por um grupo pequeno;
a democracia, quando degenera em demagogia, governo
com predomínio de facções pretensamente populares. Na
demagogia pode ocorrer um governo de maioria, para a
maioria, esquecendo-se, porém das minorias.
O Brasil ao longo de sua história já viveu sua fase de monarquia
até chegar à democracia.
Segundo Maquiavel
Maquiavel – um italiano que viveu na época do Estado
absolutista e faz a sua explicação e crítica dos modos de governar
– de certa maneira referenda as formas clássicas de governo antes
apresentadas, dividindo-as apenas em:
„„
„„
monarquia, governo de um;
república, governo de um coletivo conforme REGRAS
da maioria e que pode assumir a forma aristocrática
(segundo o modelo romano), ou democrática (segundo o
modelo grego).
Maquiavel também considera como forma de governo o
despotismo, governo de um só, mas, diferentemente da
monarquia, sem quaisquer leis ou freios de nenhuma espécie.
Segundo Montesquieu
Conforme comenta Dallari (1986, p.25):
“Revivendo as lições de Aristóteles a respeito da
democracia ateniense, rejeitando o absolutismo dos
monarcas e os privilégios da nobreza, autores como
Locke, Montesquieu e Rousseau indicavam o caminho
para a nova ordem, que podia ser sintetizada em duas
palavras: democracia e república.”
102
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 102
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
O francês Montesquieu foi um importante estudioso das formas
de governo, baseando seu critério de classificação nos princípios
de funcionamento da máquina de Estado:
„„
a honra nas Monarquias;
„„
a virtude nas Repúblicas;
„„
o medo no Despotismo.
Durante o século 18, quase todos os governos do mundo eram
monarquias cujos governantes tinham poderes absolutos. Foi a
época das monarquias absolutas. Com o abuso de seus poderes,
a nobreza se compunha basicamente de parasitas, o povo era
obrigado a suportar aqueles governos.
Como exemplo do tipo déspota de governo, pode-se
citar a fase primitiva dos grandes Estados Orientais.
Formas mistas de governo
Os governos mistos compreendem tanto a monarquia moderna
quanto o moderno Estado de direito burguês, reunindo os
diversos princípios e elementos da monarquia, aristocracia e
democracia, conservando o poder religioso separado do poder
laico, ou seja, sem a religião, e o poder econômico separado do
poder político. (BOBBIO, 2001).
República ou monarquia?
Segundo Piccoli (2004, p. 35),
[...] na monarquia, o rei exercia sua relação de poder para
com os governados de forma absoluta e irresponsável,
caracterizando-se pela vitalidade do monarca que, via
de regra, transferia seu poder a um sucessor, através de
laços hereditários. A república surgiu em oposição à
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 103
103
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
forma de governo monárquica, na medida que retirava o
poder das mãos do rei, passando-o à nação, [...] portanto
possuiu um designativo de coletividade política, opondose à tirania e ao absolutismo, pois onde há um tirano
(monarca) toda organização vicia e desvirtua o sentido
originário de coisa pública.
“A Alemanha é um exemplo de República, os Estados
Unidos da América também.” (BOBBIO, 2001, p.111).
Na atualidade, os países geralmente assumem a forma de
monarquia e/ou república. No Estado monárquico, temos o
modelo típico do grande Estado territorial moderno. A República
é o modelo geralmente assumido pelos mais antigos e por boa
parte dos Estados modernos, forma inicialmente assumida pelos
pequenos Estados.
No caso brasileiro, nosso país iniciou sua vida política organizada
por meio de uma monarquia e, no transcorrer da nossa história,
a república foi a forma de governo que veio se contrapor à
monarquia.
O que é mais frequente encontrar são as formas mistas, onde se
pode ter uma metade monarquia (o Rei) e uma metade república
(o Parlamento).
O melhor exemplo da configuração de formas mistas é
a Inglaterra.
Democracia é a melhor forma de governo?
Do ponto de vista da administração pública, que é o que interessa
discutir aqui, não temos dúvidas: o sentido apropriado para a
nossa realidade é a democracia.
No caso do Brasil, que é um Estado de direito e democrático,
pode-se pressupor que a administração pública deveria
subordinar-se aos preceitos democráticos. Para tanto, vamos
então estudar o conceito de democracia.
104
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 104
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Democracia é o governo de todos, ou, na expressão de
Abraham Lincoln, “é o governo do povo, pelo povo, e
para o povo.” (discurso de Gettysburg, em 19.11.1863).
Na forma democrática de governo, se reconhece que o poder
emana do povo e em seu nome é exercido (BRASIL, 1988,
Constituição Federal, art. 1º, parágrafo único), o que significa
repelir o predomínio de classes ou grupos.
Segundo o grau das relações entre o Poder Executivo e o
Legislativo, a democracia é um regime de governo que pode
assumir duas formas diferentes: o regime presidencial, ou o
regime parlamentar e de assembleia.
Presidencialismo ou parlamentarismo?
Presidencialismo
Caracteriza-se por ser um regime de separação entre os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário. Suas relações devem ser ao
mesmo tempo harmônicas e independentes. A chefia do Estado
e de governo cabe a um órgão unipessoal, a Presidência da
República, sendo que os chefes dos grandes departamentos da
administração são auxiliares da confiança do Presidente.
Brasil e EUA.
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 105
105
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Parlamentarismo
Também é um regime de divisão dos poderes – Legislativo,
Executivo e Judiciário – mas se caracteriza pela interdependência
entre o Executivo e o Legislativo, pois, para manter-se no poder,
o governo depende do apoio da maioria parlamentar.
Ainda: o Executivo tem uma estrutura dualista, sendo que o rei,
ou o Presidente da República, é o chefe de Estado, com funções
de representação e cerimonial; já o Gabinete exerce o Poder
Executivo, à testa do qual está o primeiro-ministro, verdadeiro
chefe de governo.
O Parlamento tem poderes de aprovar o Conselho ou Gabinete,
ou de o desfazer, se obtiver um voto de desconfiança.
Inglaterra, Itália, França etc.
Quais são as formas jurídicas de Estado?
Entendido como ordenamento jurídico, o Estado é classificado
por Kelsen (apud BOBBIO, 2001, p. 110) em:
„„
„„
autocracia, como um ordenamento a partir do alto,
baseado em normas autônomas (uma definição de Kant).
O ordenamento autocrático do Estado se expressa
nas monarquias e no despotismo oriental (conforme
analisado por Hegel), situação em que apenas um é livre;
democracia, como um ordenamento a partir de baixo,
baseado em normas heterônomas (segundo Kant). O seu
exemplo conceitual é a república de Rousseau.
Nas classes políticas autocráticas, o poder vem do alto e, nas
democráticas, o poder vem de baixo, ou melhor, do povo. Nos
governos autocráticos, existe o monopólio do governo por uma
elite; e, nos democráticos, muitas elites concorrem entre si pelo
governo. (BOBBIO, 2001). Os Estados Unidos da América são
considerados um exemplo contemporâneo de democracia.
106
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 106
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Para subsidiar melhor a compreensão das formas jurídicas de
Estado acima apresentadas, Bobbio (2001, p.112) define 4 tipos
ideais de sistema político:
„„
„„
„„
„„
baixa diferenciação dos papéis e baixa autonomia dos
subsistemas (sociedades primitivas);
baixa diferenciação dos papéis e alta autonomia dos
subsistemas (sociedade feudal);
alta diferenciação dos papéis e baixa autonomia dos
subsistemas (grandes monarquias pós-sociedade feudal);
alta diferenciação dos papéis e alta autonomia dos
subsistemas (estados democráticos contemporâneos).
Seção 3 - Os três poderes: executivo, legislativo e
judiciário
Estrutura da Federação Brasileira
Veja a seguir como a estrutura do Governo pode ser representada.
Figura 3.1 - Representação da Estrutura do Governo
Fonte: Brasil, 2008.
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 107
107
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
A doutrina da separação dos poderes
No contexto do Estado Federal, surgem os fundamentos da
separação de poderes, como resultado do combate ao absolutismo
dos primeiros séculos da Idade Moderna.
Vários pensadores políticos, “[...] convencidos de que o governo
nas mãos de um só ou de poucos é o começo da tirania”
(DALLARI, 1986, p.29), retomaram as ideias políticas
de Aristóteles e revisaram a contribuição de Maquiavel, e,
juntamente com pensadores como Locke e o italiano Vincenzo
Gravina, vieram influenciar Montesquieu, um importante
pensador sobre o Estado e que até hoje ainda é bastante
consultado.
Foi Montesquieu que escreveu uma doutrina de separação dos
poderes. E sua obra alimentava os criadores do Estado norteamericano, que pretendiam estabelecer “[...] um governo eficiente
e que, ao mesmo tempo, protegesse e não pusesse em perigo as
liberdades republicanas.” (DALLARI, 1986, p.30).
A ideia de Montesquieu era distribuir as funções de Estado
entre três ramos do governo, de forma “[...] que nenhum
pudesse prevalecer sobre os demais e cada um se constituísse
numa barreira para conter excessos de outro.” (ibid.,p. 30).
Efetivamente, um Legislativo, um Executivo e um Judiciário
funcionam como um sistema de freios e contrapesos.
O Estado de direito, que já estudamos, se organiza pela via
da separação dos poderes (VERBO, 1968): subordinação da
Atividade Pública (Executivo), à Lei (Legislativo), colocando-se a
serviço do Direito (Judiciário).
O que é poder executivo, legislativo e judiciário?
Atualmente, a base da organização do governo brasileiro
está assentada na divisão dos Poderes, nos termos do art. 2º
da Constituição Federal de 1988: “São Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e
o Judiciário.”
108
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 108
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Os Poderes vêm a ser os órgãos que realizam as
diversas funções atribuídas ao Estado, a saber: as
funções legislativas, funções administrativas e funções
jurisdicionais.
Essa clássica tripartição dos Poderes surgiu com Montesquieu,
na sua famosa obra O Espírito das Leis, em meados do século
XVIII, que alcançou repercussão universal e passou a constituir
um dos pontos básicos sustentados pelos pensadores daquele
século.
Na obra acima citada, Montesquieu demonstrou a necessidade de
separar as várias atribuições do Estado, de maneira que pudessem
ser mais bem cumpridas e distribuídas.
O poder executivo
É exercido por um conjunto de órgãos incumbidos de executar as
leis e administrar o respectivo país.
Na área Federal, o Poder Executivo é exercido pelo Presidente
da República; na área Estadual, pelo governador; e, na área
municipal, pelos prefeitos.
O poder legislativo
Trata-se do órgão incumbido de fazer as leis, pelas quais deve
reger-se todo o país.
Na área federal, o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso
Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal. No âmbito estadual, é exercido pela Assembleia
Legislativa com seus deputados estaduais, e, no âmbito
municipal, pelas Câmaras de Vereadores.
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 109
109
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Você sabia?
No Poder Legislativo de âmbito federal, a distinção
entre a Câmara dos Deputados e Senado Federal é
que a Câmara dos Deputados representa o povo (daí
o número de seus representantes ser proporcional à
população de cada estado) enquanto o Senado Federal
representa os estados-membros e o Distrito Federal
(daí ser igual à representação deles por estado, ou seja,
o número de senadores é o mesmo para cada unidade
federada).
O poder judiciário
Este é o órgão incumbido de aplicar o Direito, dirimindo litígios
e controvérsias trazidos à sua apreciação.
O órgão máximo do Poder Judiciário, com sede na Capital
Federal e jurisdição em todo o território nacional, é o Supremo
Tribunal Federal.
No nível estadual, o Poder Judiciário é exercido pelo Tribunal
da Justiça, com seus desembargadores; e, no âmbito local, pelas
Comarcas, com seus juízes de direito.
Síntese
Após estudar o que é um Estado Federal, aprendemos nesta
unidade o que é governo. Partindo das suas formas históricas de
existência, destacamos a importância de um governo democrático
e fizemos uma rápida introdução sobre a sua estrutura e papel na
administração pública.
Você verificou como são as formas de governo que o Brasil
já possuiu e as que ainda possui hoje em dia. E, ainda, a
significação dos três poderes em nossa sociedade.
110
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 110
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
A Administração Pública é papel fundamental do Poder
Executivo, mas o Poder Legislativo e o Judiciário também
exercem a Administração Pública dentro de seus poderes.
Conhecer a estrutura dos três poderes é de fundamental
importância para você compreender como o Estado funciona.
Atividades de autoavaliação
Acompanhe com atenção os enunciados e responda:
1) Assinale as afirmações verdadeiras como caracterização do Estado
Federal:
a) ( ) As unidades da federação são pessoas jurídicas de direito
constitucional interno.
b) ( ) Em relação aos estados-membros, somente o Estado Federal
tem soberania, somente o Estado Federal é pessoa jurídica de direito
internacional.
c) ( ) A única nacionalidade é a Federal, pois não há nacionalidade
estadual ou municipal.
2) Comente a oportunidade social da República, como forma de governo
no mundo atual.
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 111
111
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
3) Nas monarquias absolutas, tem-se uma forma de Estado típica da
expressão da sociabilidade alienada do povo. Pode-se associar a
esta visão a proposta de Hegel, de que houvesse a subordinação da
sociedade à razão do Estado. Um contraponto a esta concepção seria:
a) (
) O Estado vive no seio da sociedade civil.
b) ( ) Através da sua vida política, a sociedade civil organizada
participa do Estado.
c) ( ) Assim como o Estado é parte da sociedade, a sociedade faz parte
do Estado.
4) Defina os regimes Monarquia e República.
5) Quais são as formas de Estado? Pesquise pelo menos 10 países que
adotam estas formas.
112
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 112
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
6) Quais as três formas ou regimes de governo, condensando as tipologias
de Aristóteles e de Maquiavel, em suas expressões atuais?
7) Quais são as duas formas de governo mais comuns?
8) Dê dois exemplos de governos mistos, justificando cada exemplo
apresentado.
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 113
113
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
9) Quais são as divisões de Poderes e como funcionam entre si?
10) O que é o Poder Executivo e qual órgão tem a atribuição de seu
comando?
11) O que é o Poder Legislativo e qual órgão tem a atribuição de
seu comando?
114
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 114
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
12) O que é o Poder Judiciário e qual órgão tem a atribuição de seu
comando?
Saiba mais
Você poderá aprofundar seus conhecimentos consultando livros
de Direito Constitucional e Teoria Geral do Estado e Instituições
do Direito Público e Privado, constantes no item Referências, ao
final deste livro.
Para saber mais sobre o assunto desta unidade, leia o seguinte
texto elaborado por Rosa B. M. Pinheiro (2010) a partir da
literatura abaixo referênciada:
CARDOZO, José Eduardo Martins. Princípios Constitucionais
da Administração Pública (de acordo com a Emenda
Constitucional n.º 19/98). IN MORAES, Alexandre. Os 10
anos da Constituição Federal. São Paulo: Atlas, 1999. p. 150.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 6.
ed. São Paulo: Atlas. p. 65.
FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. Comentários à
constituição brasileira de 1988. São Paulo: Saraiva. v. 1, p. 244.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro.
Cit., 21.ed. atualizada por Eurico de Andrade Azevedo, Délcio
Balestero e José Emmanuel Burle Filho. Malheiros. p. 60.
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 115
115
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Formas de Governo
Conforme nossos estudos, aprendemos que as formas de
governo diferem, dependendo do modo pelo qual os poderes
públicos são geridos, da estrutura que assumem e de suas
funções.
Uma classificação clássica das formas de governo é a de
Montesquieu (1689 -1755), que distinguiu basicamente duas
formas: A Monarquia e a República.
Outra possível distinção para estabelecer as formas de exercer
o poder político são os governos autocráticos e os governos
democráticos.
Por sua vez, os governos de formas autocráticas podem derivar
em:
Autoritarismo
Denominam-se autoritários os regimes que privilegiam o
aspecto do comando em detrimento da participação política de
outros partidos e da população, concentrando seu poder político
em somente uma pessoa ou apenas um órgão, sem atribuir valor
às instituições representativas.
Totalitarismo
O totalitarismo é uma forma de governo não democrática
e se caracteriza, semelhante ao autoritarismo, pela falta de
reconhecimento da liberdade e direitos humanos. Diferencia-se,
essencialmente, por existir uma negação da liberdade e direitos
individuais e desconhecimento da dignidade das pessoas.
Pode ser entendido como uma forma de dominação total,
específica da sociedade moderna.
Representa um projeto de unificação, de fusão da sociedade
com o Estado, com intenção de domínio sem limites e
sem direitos. Considera o Estado um fim em si mesmo e,
portanto, transforma-se no Estado máximo. Mussolini, um dos
representantes do regime, o classificou da seguinte forma; “Tudo
no Estado, tudo para o Estado, nada fora do Estado, nada contra
o Estado.” O Estado não é voltado para a sociedade, e sim ao
contrário. Outros representantes clássicos do regime foram Hitler
na Alemanha e a administração de Stalin na ex-União Soviética,
que consistiu em uma dominação instituída a partir de uma
interpretação delirante da realidade e que utilizava como meios
de mobilização social o terror massivo.
116
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 116
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Apesar das diferenças entre os regimes, compartilham a
hiperliderança, o partido único, a polícia política como eixo do
sistema. São sistemas baseados na administração do terror, seu
motor funcional básico, até a instituição e funcionamento dos
campos de concentração, culminância deste princípio social.
Todos encarnavam projetos de dominação total da sociedade.
Estes regimes são opostos à democracia.
Os regimes Democráticos, por sua parte, podem assumir distintas
formas:
Democracia Direta:
Onde o próprio povo exerce a soberania. Ex.: Atenas.
Democracia Semidireta:
O povo delega o exercício de uma parte da soberania aos seus
governantes, porém se reserva o exercício de outras. (Plebiscito)
Democracia Representativa:
Nesta forma de governo, o povo delega a soberania para
autoridades eleitas de forma periódica e que são politicamente
responsáveis.
Regime Parlamentar
Regime Presidencial
Estreita colaboração nas
funções que cumprem o
poder Legislativo e o poder
Executivo, no qual, além do
Chefe do Governo, o Primeiro
Ministro requer a confiança do
Parlamento para poder exercer
seu cargo.
O poder Executivo e o Parlamento
estão separados e os membros
do gabinete, os Ministros, são
responsáveis perante o chefe de
Estado, o Presidente.
ƒƒ Constituição
É o documento fundamental do país onde se encontram as leis,
deveres e direitos do Estado.
ƒƒ Artigos transitórios
São os artigos da Constituição que têm durabilidade breve. Na
Constituição de 1980, encontramos 34 artigos transitórios.
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 117
117
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Galeria de Fotos dos Presidentes da República
Dilma Rousseff
1º.01.2011
Luiz Inácio Lula
da Silva
1º.01.2003 a
1º.01.2011
Fernando H.
Cardoso
1º.01.1999 a
1º.01.2003
Fernando Collor
15.03.1990 a
02.10.1992
José Sarney
15.03.1985 a
15.03.1990
Emílio G. Médici
30.10.1969 a
15.03.1974
Márcio Melo
31.08.1969 a
30.10.1969
Augusto
Radamaker
31.08.1969 a
30.10.1969
Castello Branco
15.04.1964 a
15.03.1967
Paschoal R.
Mazzilli
02.04.1964 a
15.04.1964
João Goulart
24.01.1963 a
1º.04.1964
Tancredo Neves
Fernando H.
Cardoso
1º.01.1995 a
1º.01.1999
Itamar Franco
02.10.1992 a
1º.01.1995
João B.
Figueiredo
15.03.1979 a
15.03.1985
Ernesto Geisel
15.03.1974 a
15.03.1979
Aurélio Lyra
31.08.1969 a
30.10.1969
Costa e Silva
15.03.1967 a
31.08.1969
118
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 118
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Jânio Quadros
31.01.1961 a
25.08.1961
Juscelino
Kubitschek
31.01.1956 a
31.01.1961
Nereu de O.
Ramos
11.11.1955 a
31.01.1956
Carlos Luz
08.11.1955 a
11.11.1955
Café Filho
24.08.1954 a
08.11.1955
Getúlio Vargas
31.01.1951 a
24.08.1954
Gaspar Dutra
31.01.1946 a
31.01.1951
José Linhares
29.10.1945 a
31.01.1946
Getúlio Vargas
10.11.1937 a
29.10.1945
Getúlio Vargas
20.07.1934 a
10.11.1937
Getúlio Vargas
03.11.1930 a
20.07.1934
Augusto Fragoso
24.10.1930 a
03.11.1930
Isaías de Noronha
24.10.1930 a
03.11.1930
Menna Barreto
24.10.1930 a
03.11.1930
Júlio Prestes
Washington Luís
15.11.1926 a
24.10.1930
Arthur Bernardes
15.11.1922 a
15.11.1926
Epitácio Pessoa
28.07.1919 a
15.11.1922
Delfim Moreira
15.11.1918 a
28.07.1919
Wenceslau Braz
15.11.1914 a
15.11.1918
Unidade 3
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 119
119
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Wenceslau Braz
15.11.1914 a
15.11.1918
Hermes da Fonseca Nilo Peçanha
15.11.1910 a
14.06.1909 a
15.11.1914
15.11.1910
Affonso Penna
15.11.1906 a
14.06.1909
Rodrigues
Alves
15.11.1902 a
15.11.1906
Campos Salles
15.11.1898 a
15.11.1902
Prudente de
Moraes
15.11.1894 a
15.11.1898
Deodoro da
Fonseca
25.02.1891 a
23.11.1891
Deodoro da
Fonseca
15.11.1889 a
25.02.1891
Floriano Peixoto
23.11.1891 a
15.11.1894
120
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 120
10/08/11 15:15
unidade 4
A administração pública
brasileira no século 20
(após 1930)
Objetivos de aprendizagem
„„
Reconhecer a importância dos antecedentes da
Revolução de 1930 para a história da administração
pública brasileira.
„„
Compreender os principais acontecimentos ocorridos
no Brasil após a década de 30 do século passado até
os dias atuais.
Identificar as principais características da
administração pública brasileira durante os primeiros
quinze anos de governo Vargas (1930-1945).
„„
„„
„„
„„
„„
4
Localizar as inovações havidas na administração
pública brasileira do pós-guerra ao governo
populista de Vargas (1946-1954).
Refletir sobre as implicações geradas pelo
desenvolvimentismo e esforços de uma democracia
nascente na administração pública brasileira (19541963).
Caracterizar como foi a administração pública
brasileira durante a ditadura militar brasileira (19641984).
Identificar os principais aspectos que se consolidaram
na administração pública brasileira da Nova
República, até o final do século 20.
Seções de estudo
Seção 1
Antecedentes da Revolução de 30
Seção 2
Administração da Segunda República (Vargas,
1930-1937)
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 121
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 3
Administração Pública no Estado Novo
(Vargas, 1937-1945)
Seção 4
Administração via dependência e no
populismo de Vargas (1946-1954)
Seção 5
Administrando o desenvolvimentismo e uma
democracia nascente (1954-1963)
Seção 6
A Administração Pública sob a ditadura
militar brasileira (1964-1984)
Seção 7
Da administração da Nova República até o
final do século 20
122
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 122
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Para início de estudo
Nesta unidade, você vai estudar um período fundamental na
história da administração pública brasileira: trata-se do tempo
compreendido após a República Velha até o final do século 20.
Esta revisão histórica torna-se indispensável à compreensão das
dificuldades ainda existentes na administração pública brasileira.
Você sabe quais foram os principais acontecimentos
ocorridos neste período? Aproveite o espaço a seguir e
anote o que você sabe sobre o assunto!
Seção 1 - Antecedentes da revolução de 30
No clímax atingido com a centralização na ordem imperial, um
monarquismo sem contestações e uma sociedade toda dominada
pelo Estado parecia imperar em meados do século 19.
Nesse contexto, houve um momento histórico em que os partidos
considerados liberais e conservadores , inclusive, demonstravam
coexistir entre si uma relativa identidade de interesses. Isto se
tornava mais evidente quando os liberais assumiam postos de
poder e, no seu exercício, abandonavam os ideais liberais.
Na perspectiva acima, inclusive, o império conseguiu articular
um denominado Ministério da Conciliação no ano de 1853,
o que fez com que os partidos, então, entrassem “em recesso,
permanecendo calados e reverentes, freados pela Conciliação”, o
que perdurou até 1857. (FAORO, 2001, p. 503).
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 123
123
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Na falta de ideias para permitir a indispensável coesão, persistiam
os movimentos desencontrados, cujas influências antagônicas se
“[...] imprimiam ao mesmo corpo político. [...] nenhum dos lados
apresentava sintomas de hostilidade ao governo, se bem que fosse
o intuito, em cada um, de fundar a sua preponderância política.”
(CAMPOS SALES, apud FAORO, 2001, p.640).
Entre as forças políticas liberais havia o “bacharel reformista, o
militar devorado de ideais, o revolucionário intoxicado de retórica
e de sonhos, todos modernizadores nos seus propósitos, (mas que)
têm os pés embaraçados pelo lodo secular. [...].” (FAORO, 2001,
p.697). A experiência política no Brasil ainda estava impregnada
do patrimonialismo e absolutismo da coroa portuguesa.
Como no nível federal havia algum movimento republicano
desenhando-se, foi “[...] no campo, no distrito, no município, (que)
o chefe político, o coronel tardo e solene, realista e autoritário”
(IBID., p. 697), permaneceu dirigindo os espaços de governo
provincial. Aqueles dirigentes políticos amorteciam, “na
linguagem corrente, o francês mal traduzido e o inglês indigerido”
(ibidem). Quer dizer, eles adaptavam culturalmente a linguagem
erudita dos políticos formados na Europa, a exemplo dos liberais,
e municipalizam ou popularizavam suas expressões.
Fracassados os sistemas partidários, a realidade incontrastável
foi a do presidente da República, conjugada aos governadores,
num influxo recíproco que acentua a força do Presidente, o qual
encarnava um grande Estado. O velho estamento imperial se
dissolveu,
[...] desta sorte, num elitismo de cúpula, regredindo
a estrutura patrimonialista para o âmbito local, local
no sentido de entrelaçamento de interesses estaduais e
municipais. [...] A elite, descomprometida da fidelidade a
ideias e programas (FAORO, 2001, p.639-640), só viveu
dependente do apoio das bases estaduais, favorecidas pela
benevolência presidencial. (FAORO, 2001, p. 605).
Antes e durante o primeiro período militar da República Velha,
todas as explosivas esperanças utópicas, latentes na propaganda
republicana, que haviam florescido nos grupos acadêmicos e liberais,
entre as camadas médias e proletários, foram atropeladas pelo
124
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 124
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
[...] centro constituído pelos jovens militares, intoxicados
de positivismo, para uma ação mal definida, difusa,
sem objetivos claros. [...] Dominando todas as posições
políticas, ocupando todos os cargos superiores da
administração (herança do jacobinismo), introduziu e
conquistou também o funcionalismo. As repartições
foram transformadas. Do antigo pessoal foi posta à
margem aquela parte que não comungava nos delírios
extremados dos vencedores do dia. E a intransigência
política, na escala do exclusivismo, se apurou ainda, em
uma dinamização extrema. (FAORO, 2001, p. 620-621).
Você sabe o que foi o jacobinismo?
Já, desde o início da República Velha, sobretudo durante a
presidência de Floriano Peixoto, o modo de governar exercido foi
bastante ditatorial. Essa característica fez o período presidido por
Floriano Peixoto ficar conhecido como a República da Espada.
As reações ao governo de Floriano Peixoto eclodiram em
1893, no Rio Grande do Sul, através da Revolução Federalista,
e, também, no próprio Rio de Janeiro, através da Revolta da
Armada. O então presidente não teve dúvidas em reprimir
duramente ambos os movimentos, comandando muitas
atrocidades e vários fuzilamentos.
Apesar de agir como um ditador, Floriano gozava de muita
popularidade, sendo reconhecido como o Marechal de Ferro,
como aquele que obteve consolidar a República do Brasil. Assim
se legitimava a sua ditadura, e Floriano conquistava uma efetiva
liderança nacional.
O componente militar da ditadura de Floriano voltou-se, então,
para um centralismo de caráter antifederal, assumindo as cores
do jacobinismo, movimento de apoio a Floriano que se tornou
ativo, sobretudo, no último ano do seu governo.
O jacobinismo representou uma corrente de apoio político que se
estabeleceu ao redor do então Presidente da República, razão pela
qual ficou conhecida como jacobinismo florianista.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 125
125
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
A expressão jacobinismo inspirou-se no movimento que
correspondeu à ala mais radical da Revolução Francesa. No Brasil,
reunia grupos de militares, com uma formação bastante positivista,
com o apoio de funcionários públicos atrelados ao governo de
Floriano, ou os que continuavam descontentes com o que havia
sido o governo de Deodoro da Fonseca, e, ainda, alguns setores da
população que viviam na pobreza e procuravam alguma esperança.
Segundo Arruda e Pilleti (2000, p.324), os grupos jacobinistas
no Brasil representaram uma espécie de ideologia nacionalista de
caráter “violentamente antilusitano e a crença em que Floriano era
o salvador da República.”
Inclusive circulava nas ruas da capital federal da época, o Rio de
Janeiro, um jornal denominado “O Jacobino”, o qual pregava “[...]
a redenção do proletariado nacional, por meio do nacionalismo
popular, voltado contra o português.” (FAORO, 2001, p.621).
Coexistindo com o poder da força armada, as decisões políticas
da República Velha tiveram no jacobinismo o nascer de um
movimento bem brasileiro no contexto do governo de Floriano
frente à “[...] cidadela republicana: a missão revolucionária, na
sociedade, sob o escudo militar.” (FAORO, 2001, p. 624).
A ainda recém-nascida federação brasileira permanecia presa
aos conluios ou conchavos centralizadores, isto é, arranjos entre
os “amigos do rei” que promoviam as emissões de moeda e
aviltamento cambial. A nova organização política federal teve que
enfrentar, sobretudo, os paulistas e grupos gaúchos.
Em meio ao remanso imperial e conservador, já na década
seguinte à proclamação da República do Brasil, formaram-se
novas ondas, primeiro de forma discreta, e, depois, frenética. “[...]
O fermento da rebeldia não fora aniquilado (no período imperial);
cavara, apenas, um leito subterrâneo, onde continuou a fluir,
sufocado.” (Ibid., p. 624).
Com a morte de Floriano Peixoto, ao final do século 19, “o instável
sistema que sustenta (va) Prudente de Morais [...] e a pacificação
do sul não encontra (vam), no jogo político das forças no poder, a
linha necessária de equilíbrio.” (FAORO, 2001, p.633).
126
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 126
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Após o término da primeira guerra mundial, em 1918, o Brasil
encontrava-se em um mundo bastante mudado. Os Estados
Unidos se consolidavam como uma nação poderosa, a União
Soviética buscava construir a primeira sociedade socialista.
Como também, “ao longo das décadas de 1920 e 1930, muitos
países europeus sucumbiram a regimes ditatoriais.” (ARRUDA e
PILETTI, 2000, p.364).
Enquanto isso, o Brasil fazia sua entrada no século 20 com o
seu comando sendo disputado entre as oligarquias locais do café
(São Paulo) e as oligarquias locais do leite (Minas Gerais). Por
isso aquele período, após os primeiros governos militares – a
República da espada, ficou conhecido como a República do café
com leite. A sustentação econômica predominante era do café,
que, segundo Arruda e Piletti (2000, p.364), produzia em 1926
“três de cada cinco sacas de café que o mundo consumia.”
A década de 20 do século passado foi de muita instabilidade
política no Brasil. Essa situação, de certa forma, havia perpassado
todo o período da República Velha.
Quais as principais mudanças ocorridas em nosso país
até a década de 1930? Não se esqueça de comparar
o que você sabe com os conhecimentos que você vai
adquirir nesta disciplina!
O Brasil também estava mudado. Houve um relativo crescimento
industrial, com as derivadas concentrações urbanas de uma
população trabalhadora e seus familiares sobrevivendo
em péssimas condições de vida. Os movimentos operários
começavam a se manifestar, mesmo sendo reprimidos sempre
pela força policial do Estado. Naquele início do último século,
passou a existir, também, uma camada média em ascensão.
Os “jovens oficiais voltavam-se contra a política tradicional,
baseada no domínio das oligarquias, no autoritarismo e na fraude
eleitoral.” (IBID., p.364).
A instabilidade política tornou-se mais visível com o movimento
tenentista, cuja revolta por um exército abandonado os colocou
em posição de querer moralizar a vida política brasileira e vencer
a corrupção eleitoral. Acreditando que os militares eram os
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 127
127
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
únicos capazes de salvar a pátria, a motivação de suas rebeliões
era conservadora.
O que foi o movimento tenentista?
Este foi um movimento de revolta política que se manifestou
durante os anos de 1922 e 1924, portanto dentro da República
Velha, e que contribuiu, significativamente, para que a Revolução
de 1930 se efetivasse: a insatisfação dos jovens oficiais tenentes
contra o governo chegou às ruas da cidade do Rio de Janeiro.
Naquela época, “apenas os altos oficiais do Exército estavam
satisfeitos com seus soldos e promoções.” (MAIA, 1999, p.274).
Descontentes com a oligarquia do café com leite na liderança do
governo brasileiro, com as fraudes eleitorais, com a corrupção
e com a instabilidade econômica, iniciaram os tenentes a
organização de sua revolta.
Antecedendo-se à eleição fraudulenta que elegeu o governo do
mineiro Artur Bernardes na presidência do Brasil (1922-1926), o
jornal carioca publicou diversas cartas em que o então candidato,
sob anonimato, criticava o exército, afirmando existir corrupção e
imoralidade naquela instituição.
Frente à vitória de Bernardes, numa reação que tentava impedir
a sua posse, em 5 de julho de 1922 houve a Revolta do Forte
de Copacabana, com a qual começou o movimento tenentista
“[...] quando 17 militares e 1 civil – os 18 do Forte – tomaram o
controle do Forte de Copacabana. Essa rebelião foi rapidamente
controlada.” (MAIA, 1999, p.274).
Todavia o primeiro desafio explícito daqueles jovens oficiais ao
governo instituído marcou o começo do chamando tenentismo no
Brasil, que veio abalar o domínio oligárquico na administração
federal brasileira.
Após aquela sua primeira eclosão em 1922, o movimento dos
tenentes continua a desgastar com suas rebeliões o regime
oligárquico. A isso ainda somava-se uma crise interna do
governo, “multiplicando-se as dissidências oligárquicas nos níveis
128
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 128
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
federal e estadual.” (VICENTINO e DORIGO, 2003, p.492).
Em 1923, explodiu a denominada Revolução Gaúcha contra o
governo interventor, através da qual se abre espaço para uma nova
geração de políticos gaúchos, entre os quais Getúlio Vargas.
Esta geração, profundamente influenciada pela missão militar
francesa que havia vindo ao Rio de Janeiro tutelar o Exército
Brasileiro nas artes da guerra, defendia maior participação
do Exército na vida nacional e depreciava as “vivandeiras”,
termo cunhado pelo Marechal Castelo Branco para depreciar
os políticos e oligarcas que buscavam utilizar o exército como
ferramenta política. Muitos destes oficiais participaram
ativamente da Revolução de 1930, a qual veio radicalizar as
posições ideológicas e políticas no Exército.
Nas Forças Armadas, muitos se aproximaram do extremismo,
tão em voga na época, como o Fascismo, popularizado
pela eminência de Hitler e Mussolini, ou o Comunismo,
impulsionado pela Internacional Trabalhista sob a égide
stalinista.
A Revolução de 1930, por sua parte, recebeu grande apoio
popular devido aos seus líderes e à influência ideológica externa
sofrida sobre estes.
Segundo o Tenente Coronel de Infantaria e Estado Maior
do Exército Brasileiro, Manoel Soriano Nieto, em palestra
comemorativa proferida na Academia Militar das Agulhas
Negras (AMAN) em 12 de setembro de 1985, em homenagem
ao centenário do Marechal José Pessoa:
A palavra “vivandeira”
tem origem no vocábulo
francês “vivandière”,
feminino de “vivandier”,
significando a mulher
ou homem que vendem
alimentos e bebidas às
tropas em movimento.
Etimologicamente, derivase do latim medieval
“vivanda”, isto é, víveres.
A palavra francesa está
registrada em textos
desde o século XV. Em
português, desde o
século XVII. O registro da
palavra vivandeira não
é encontrado em muitos
dicionários, inclusive
naqueles especializados
no universo da literatura
gauchesca, onde o termo
china muitas vezes leva
a gerar confusão com o
termo vivandeira.
Com as desavenças que ocorriam na corrente outubrista,
o tenentismo veio a se desintegrar. Tal fato acontece após
a Revolução de 1930, mais especificamente em 1933,
quando se formava a Assembleia Nacional Constituinte.
Parcelas das Forças Armadas oscilaram tanto para a
esquerda como para a direita, incorporando-se à Aliança
Libertadora Nacional e à Ação Integralista Brasileira,
que apregoavam ideologias importadas, não condizentes
com a idiossincrasia de nosso povo.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 129
129
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Conforme afirmam vários autores (MAIA, 1999, p.274), após a
primeira rebelião: “Exatamente dois anos depois, em 5 de julho
de 1924, ocorreu uma nova revolta de tenentes, desta vez em
São Paulo (a Revolução Paulista). Após um mês de combate, os
revoltosos se retiraram para o interior do estado, influenciados
pelos ideais socialistas e nacionalistas.”
Apesar de pretender um caráter nacional, o movimento
permanecia limitado a alguns conglomerados. O tenentismo
tratava-se de um movimento elitista por excelência, que rejeitava a
participação popular: “À população pedia-se apoio, compreensão
e, principalmente, passividade frente a uma revolução que
seria feita sem a sua ajuda. Além disso, a preocupação maior
estava em garantir os interesses das elites, tudo se fazendo
para restabelecer a vida normal, e não necessariamente criar algo
novo.” (VICENTINO e DORIGO, 2003, p.492). Também em
São Paulo, a rebelião foi violentamente reprimida pelo governo
federal.
Enquanto isso, “nesse mesmo período, outro grupo de tenentes
rebelou-se em Santo Ângelo (RS). Liderados por Luís Carlos
Prestes, juntaram-se aos tenentes paulistas e saíram em
caminhada pelo país. Os dois movimentos buscavam apoio e
tentavam conscientizar a população sobre a situação brasileira.”
(MAIA, 1999, p.274).
Todavia, “por onde passavam, os tenentes eram perseguidos pela
polícia. Após terem percorrido quase todas as regiões do país,
os tenentes exilaram-se na Bolívia, retornando à cena política
nacional apenas em 1929.” (Ibid., p. 274).
De acordo com Vicentino e Dorigo (2003, p.492), em 1925: “[...]
rebeldes tenentistas paulistas e gaúchos encontraram-se próximo
à Foz do Iguaçu, sempre fustigados por forças governamentais.”
Adotando uma sugestão do tenente Luís Carlos Prestes, os
revolucionários se dividiram em dois grupos: um se refugiava
na Argentina e no Paraguai, e outro continuava a luta
(VICENTINO e DORIGO, 2003, p.492):
130
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 130
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
“Originou-se assim a Coluna Prestes, que, [...] iniciou
sua marcha pelo interior. Durante quase dois anos, isto
é, até fevereiro de 1927, a coluna percorreu algo em
torno de 25 mil quilômetros, passando por onze estados,
e sempre evitando o confronto direto com as tropas
governamentais, geralmente em maior número.”
A travessia da Coluna Prestes pelo Brasil fez nascer um mito em
torno do seu líder denominado – o cavaleiro da esperança (Ibid., p.
492).
Com a crise da república oligárquica, o fim da política dos
governadores, as crises políticas intermediadas por estados de
sítio e intervenção nos estados, as insurreições tenentistas, as
lutas por reformas institucionais e a formação da Coluna Prestes
(1924-1927), o último governo da República Velha (Washington
Luís, 1926-1930) foi ainda abalado política e economicamente
pela queda da Bolsa de Nova Iorque de 1929 no âmbito externo e
pela crise cafeeira no âmbito interno.
O movimento de 30 se consolida durante o governo de
Washington Luís, o qual tinha por lema: “Governar é construir
estradas”, expressando-se em um descontentamento geral, e
a corrupção apontada como o principal problema de governo.
(ARRUDA e PILETTI, 2000).
Todo o cenário acima, complementado com o
agravamento da situação econômica ao final da década
de 20, forma o solo de várias revoltas que vão culminar
na Revolução de 30.
De acordo com a política café com leite, sendo Washington Luís
paulista, deveria ser sucedido por um mineiro. Mas o presidente
indica outro paulista, rompendo o acordo com os mineiros. Estes
se articulam com a Paraíba e o Rio Grande do Sul, formando a
Aliança Liberal.
Como se configura o Estado Republicano no Brasil?
O Estado republicano precisava assumir a sua configuração.
Conforme registra Faoro (2001, p. 607):
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 131
131
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
[...] Para a reconquista do tempo perdido, seria necessário
reformular o Estado – os protestantes reclamam um rei,
não o Pedro Banana nem um líder sem sabor, saudosos
do patrimonialismo que provê, vigia e conduz. [...]. A
influência deletéria dos interesses anti-sociais, criados
e alimentados em torno do poder público, desde os
municípios até a União, sobre a vida brasileira, é um fato
cujo alcance não foi ainda atingido pelos observadores
das nossas cousas públicas.
Segundo a mitologia dos fenícios
recuperada da Bíblia, Leviatã era
um monstro marinho, que apareceu
como causador de desgraças.
Segundo Hobbes (apud VERBO,
1971), Leviatã representa o símbolo
do Estado absoluto.
Naquele contexto de tantas inquietações econômicas, esperavase que o Estado se transformasse em um Leviatã, que “[...]
novamente ameaça sair das águas, não para dar nova fisionomia
jurídica ao mecanismo institucional, mas para salvar o Brasil.”
(FAORO, 2001, p. 607).
A realidade imposta pela depressão mundial derivada da queda
da Bolsa de Nova Iorque em 1929 fez acordar “[...] o obstinado
sonhador, com os freios de controle funcionando para precipitar a
queda, sem que ninguém entenda que só um Estado reformulado
poderá tomar as decisões necessárias ao momento, momento, na
verdade preparado longamente, dentro da própria estrutura do
poder.” (FAORO, 2001, p.604-605).
Após a luta sucessória, em uma eleição a bico de pena, quer
dizer, assinando com caneta de pena, cada voto era assinalado
em um livro. A derrota de Getúlio Vargas , que representava
a Aliança Liberal, , com forte apoio nos centros urbanos e
estados nordestinos, além da importante atuação do movimento
tenentista, um grupo de generais forma uma junta pacificadora
que depõe Washington Luís e entrega o poder a Getúlio.
Com a revolução de 1930, encerrou-se o período do Estado
de Polícia, que esteve presente no início e final da República
Velha. Passa-se, então, a uma nova fase na organização pública
brasileira.
Começa no Brasil a chamada Era Vargas (1930-1945).
132
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 132
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Seção 2 - Administração da Segunda República (O
Brasil-Novo de Vargas, 1930-1937)
Nesta seção, você vai estudar que o moderno Estado
administrativo brasileiro estruturou-se inicialmente a partir da
década de 30, prosseguindo nos anos 40.
Acompanhe a seguir como ocorreu este processo.
O governo provisório (1930-1934)
Iniciado em 03/11/1930 o governo provisório, Vargas
viria a dominar a cena política brasileira por mais um
quarto de século.
O primeiro governo de Vargas já foi um quadriênio de regime
totalitário em todos os níveis da federação brasileira, dissolvendose o Congresso Nacional, as Assembleias estaduais e as Câmaras
municipais. Com isso, o Executivo dispensa o Legislativo.
Em 1932, a burguesia paulista reage por seu afastamento
do poder, com uma revolução constitucionalista (de 1932).
Pretendendo a reconstitucionalização do país, os paulistas
colocaram-se contra os interventores nomeados pelo presidente.
Iniciava-se um crescimento do aparelho de Estado que passou
a ser a marca da administração pública na era Vargas. Assim
a presidência se equipava, coerentemente com seu caráter
autoritário, para aumentar as intervenções na economia e setores
sociais, fosse direta ou indiretamente.
Foi ainda durante seu “governo provisório” que Vargas
fez criar-se um Ministério do Trabalho no Brasil. E,
na sequência, a criação do Ministério da Educação e
Saúde Pública e do Conselho Nacional do Café.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 133
133
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
O curto governo constitucional e o estado de sítio (1934-1937)
Convocando rapidamente uma constituinte para equacionar a
crise política, Getúlio se reelege por eleição indireta, iniciando, a
partir de 1934, o seu curto governo constitucional.
Nesse período, enfrentavam-se duas organizações políticopartidárias antagônicas: a Aliança Nacional Libertadora e a
Ação Integralista Brasileira. O levante comunista liderado por
Luís Carlos Prestes em 1935, abria uma prática de repressão
comunista que justificou um golpe e a instauração de um regime
ditatorial, o Estado Novo, que você vai estudar na próxima seção.
Vargas continua a incrementar sua máquina de Estado com
novos órgãos e instituições públicas, destacando-se: o Conselho
Nacional do Petróleo, a Superintendência da Moeda e do
Crédito, a Companhia Siderúrgica Nacional e, ainda, o SESI
(Serviço Nacional da Indústria).
Ainda durante 1937, Vargas promove o que Marcelino (2003,
p.642 e 643) definiu como a primeira reforma administrativa
planejada que o país conheceu. Inicia-se, assim, todo um esforço
de inovação e renovação do aparato governamental.
Seção 3 -Administração Pública no Estado Novo
(Vargas, 1937-1945)
A ditadura de Vargas se consolidou após o golpe de Estado de
1937. O governo de Getúlio centralizou totalmente o poder nas
próprias mãos, anulando a autonomia federalista dos Estados e
passando a contar “com o apoio de amplos setores do exército e
dos grupos dominantes e, em parte, inspirado no nazi-fascismo,
ele passou a conspirar para se perpetuar no poder.” (ARRUDA e
PILETTI, 2000, p.369).
Em novembro de 1937, aproximando-se o fim de seu mandato,
Vargas suspendeu as eleições marcadas para 03/01/1938 e, com
134
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 134
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
seus colaboradores, elabora um falso plano de uma pretensa
revolução comunista (o Plano Cohen), para “justificar” um
Estado de guerra então decretado. Getúlio governou o Estado
Novo sem leis e por meio de decretos.
Então, dissolveu o Congresso e proclamou uma nova
Constituição que lhe concedia poder absoluto. Reorganizou
o governo e a administração do país segundo o modelo dos
regimes totalitários italiano e alemão. Os partidos políticos foram
proibidos, a imprensa e a correspondência foram submetidas a
uma estreita censura.
O governo de Vargas, oficialmente designado pelo título do
Estado Novo, devia permanecer no poder até que fosse decidida
a data de um referendum sobre as novas leis orgânicas, que nunca
foi colocada em prática.
Propriamente sem resistência, Getúlio prosseguiu. E, com um
frustrado golpe dos integralistas, tentando tomar o Palácio
Guanabara em 1938, até a Ação Integralista Brasileira, que
apoiava Getúlio, se dissolveu.
Administração burocrática
Entre os séculos 18 e 19, com o advento do capitalismo
industrial, a administração de caráter patrimonialista foi-se
tornando incompatível com o liberalismo econômico. Após o
século 19, começaram a surgir as democracias parlamentares
A forma de autoridade racional-legal defendida por Weber
(apud CAMPOS, 1978), passou a fazer parte dos esforços de
organização do aparelho de Estado. Quer dizer, uma autoridade
baseada em regras oficiais legais.
Na primeira reforma administrativa ocorrida no Brasil, “as
premissas fundamentais eram a reforma do sistema de pessoal,
a implantação de sistemas administrativos e das atividades de
orçamento, para, de acordo com o modelo weberiano, dar maior
eficiência à administração pública federal.” (MARCELINO,
2003, p.643).
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 135
Trata-se de um dos três
tipos de autoridade e
legitimação do poder
identificados por Weber:
hereditária, carismática e
racional-legal.
135
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Modernizou-se o aparelho burocrático brasileiro com a criação do
DASP (Departamento do Setor Público), em 1938, e a subsequente
criação do Departamento de Imprensa e Propaganda que provê a
censura à imprensa e a propaganda governamental através do jornal
“A Noite” e do programa de rádio “A voz do Brasil”.
A criação do DASP foi o grande marco de introdução
do modelo clássico ou racional-legal, como nova
forma de Administração Pública, informada pelos
princípios do tipo ideal de burocracia de Max Weber: a
impessoalidade, o formalismo, a profissionalização, a
ideia de carreira e a hierarquia funcional.
O DASP se constituiu na “grande agência de modernização
do primeiro processo planejado de reforma administrativa.”
(MARCELINO, 2003, p.643). E, conforme prossegue o
mesmo autor:
Assim, a característica mais marcante desse período foi a
de conferir maior ênfase à reforma dos meios (atividades de
administração geral) do que à reforma dos fins (atividades
substantivas). Essa reforma obedeceu a uma orientação
autocrática e impositiva por ocorrer num período ditatorial
(1937-1945), o que contribuiu para que a administração
assumisse características de um sistema fechado.
Essa forma de administrar foi denominada por Marcelino (op. cit.)
como o modelo clássico da administração pública brasileira.
O interesse público e o controle a priori passaram a
determinar essa fase denominada como administração
burocrática. (MARE, 1995; GUERREIRO RAMOS, 1983).
O Brasil entra na guerra (1942)
Os aliados influenciaram na democratização da organização pública
brasileira. Criaram-se novos partidos, que, à exceção do PCB
(Partido Comunista Brasileiro), continuaram existindo por duas
décadas: o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PSD (Partido
Social Democrático) e a UDN (União Democrática Nacional).
136
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 136
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Seção 4 - Administração via dependência e no
populismo de Vargas (1946-1954)
Após 1945, o impulso reformista do Estado Novo de
Vargas entrou em colapso. Durante todo o governo Vargas,
as manifestações de descontentamento se multiplicaram.
Em outubro de 1945, um golpe de Estado militar obrigou,
finalmente, Vargas a renunciar. José Linhares, primeiro
magistrado da Corte Suprema, foi nomeado Presidente
provisório, aguardando novas eleições, as quais foram realizadas
em dezembro de 1945. Sagrou-se vitorioso o antigo Ministro da
Guerra, Eurico Gaspar Dutra. Os deputados, novamente eleitos,
estavam encarregados de redigir a nova Constituição, adotada em
setembro de 1946.
Administrando a dependência no Pós-Guerra (Gaspar Dutra,
1946-1951)
Findo o Estado Novo, com o apoio das oligarquias latifundiárias,
assumiu o governo Eurico Gaspar Dutra atacando os comunistas
e com uma política econômica importadora e inflacionária.
Na administração pública levada a cabo por aquele governo,
destacou-se a realização do Plano SALTE (Saúde, Alimentação,
Transporte e Energia) e a instalação da Companhia Hidrelétrica
do São Francisco. (NOBEL, 2001, p. 32).
O governo popular de Vargas (1951-1954)
Com sua volta ao poder pela via eleitoral, Getúlio fez desse seu
último governo, o espaço do populismo.
De acordo com sua política econômica, Vargas defendeu a
nacionalização do petróleo e, sob o lema “o petróleo é nosso”,
criou a Petrobrás e foi expandida a Siderúrgica de Volta Redonda.
(NOBEL, 2001, p.32).
Somente a partir de 1952, o governo Vargas começou a esboçar
um novo ciclo da administração pública brasileira, “[...] que se
estendeu por 10 anos, durante os quais se realizaram estudos
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 137
137
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
e se elaboraram projetos que não chegaram, entretanto, a se
concretizar.” (MARCELINO, 2003, p.643).
Por oposição da classe média ao seu governo populista, Vargas foi
acusado pela Aeronáutica como mandante de um atentado contra
o líder de direita Carlos Lacerda (da ex-UDN), preparando-se
um golpe para depô-lo, ao que Vargas respondeu com o suicídio.
A presidência de Café Filho (1954-1955)
Como transição entre dois ícones da história da administração
pública brasileira, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, o nome
de Café Filho apenas preencheu um curto espaço no calendário
de organização do Executivo federal.
No próximo momento sucessório, Juscelino Kubitschek e
João Goulart haviam sido eleitos presidente e vice-presidente,
respectivamente. Carlos Lacerda tenta o impedimento dos eleitos,
levando Café Filho a passar o governo para Carlos Luz que, ao
tentar o golpe, foi deposto pelo legalista general Lott.
Seção 5 - Administrando o desenvolvimentismo e uma
democracia nascente (1956-1963)
A administração desenvolvimentista do governo JK
(1955-1960)
Num contexto internacional de reconstrução do desenvolvimento
capitalista, a partir da segunda metade da década de 1950
começou a se configurar também no Brasil um projeto nacional
de desenvolvimento. Era chegado o momento de consolidar
o desenvolvimento industrial e, derivado dele, o crescimento
econômico no Brasil. Para tanto, era necessária a intervenção
do Estado. Então, “[...] foi a partir dessa época que se constatou
a profunda ineficiência do instrumental administrativo
que pretendia respaldar a ação do Estado brasileiro.”
(MARCELINO, 2003, p. 644).
138
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 138
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Para sustentar o projeto desenvolvimentista, havia necessidade
de uma “reorganização geral dos serviços públicos para o
cumprimento de metas ambiciosas em termos de prazos e
resultados.” (IBID., p. 644).
Estes objetivos foram explicitados no Plano de Metas
de Juscelino Kubitschek (1955-1960), período em que
Juscelino queria fazer no Brasil 50 anos em 5.
O modelo de administração para o desenvolvimento
iniciado por JK conseguiu persistir até o início dos governos
militares em 1964. Essa forma de administrar o país voltava-se
“fundamentalmente para a expansão da intervenção do Estado
na vida econômica e social e para a substituição das atividades
de funcionários estatutários por celetistas (com contratos regidos
pela CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas) e a criação de
entidades da administração descentralizada para realização da
intervenção econômica do Estado.” (MARCELINO, 2003,
p.644).
Administrando uma democracia nascente (1961-1963)
A breve presidência de Jânio Quadros
Para a sucessão de Juscelino, o PSD e o PTB apoiaram o general
Lott (com a espada por símbolo), e a UDN apoiou Jânio Quadros
(com a sua vassoura). Este último foi eleito, mas como vicepresidente se elegeu João Goulart do PTB.
Não se tem registro de ações que tivessem tido implicações
mais diretas na administração pública brasileira durante aquele
governo tão passageiro. Entre as ações mais conhecidas de Jânio
Quadros pode-se citar a decretação da ilegalidade das rifas, o
combate às brigas de galo e a sua tentativa frustrada de tornar o
traje tipo safári uniforme dos funcionários públicos.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 139
139
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Numa tentativa de golpe, Jânio renunciou após sete meses
de governo, e, sendo famoso por suas práticas extravagantes,
declarou à imprensa que o fez por influência de “forças ocultas.”
Por que será que Jânio Quadros renunciou?
As forças secretas alegadas por Jânio para sua renúncia nunca
obtiveram uma explicação convincente. É mais comum
atualmente interpretar-se o ocorrido como uma possível
artimanha do presidente, o qual acreditava que, para não entregar
o poder ao vice João Goulart, nem o Congresso nem os militares
aceitariam sua renúncia e que os seus seis milhões de eleitores
também se mobilizariam, onde quer que fosse, em seu favor. O
que não ocorreu.
A renúncia pode ter sido motivada por um discurso lançado
por Carlos Lacerda, governador da Guanabara, que havia
apoiado a eleição de Jânio. Preocupado com os acenos de
Quadros aos países socialistas (o presidente queria inverter
seu perfil conservador na política externa), tentou falar com o
presidente em Brasília e, neste encontro, foi recebido pelo então
presidente Ranieri Mazzilli. Irritado, Lacerda anunciou em um
pronunciamento na televisão, que Jânio estaria arquitetando
um golpe, renunciando, para depois retornar com poderes mais
fortalecidos. O discurso de Lacerda desnorteou politicamente o
Governo de Jânio Quadros, que já tinha se mostrado, desde o
início, ambíguo e instável.
A presidência de João Goulart (Jango, 1961-1964)
Nas tentativas político-militares de impedir a posse de Jango, e
para evitar uma guerra civil, ao iniciar o seu período de governo,
instituiu-se o parlamentarismo no Brasil. “Até 1963, o país viveu
um período instável, com três primeiros-ministros em menos
de um ano e meio. A 6 de janeiro de 1963, foi realizado um
plebiscito”, que revogou o parlamentarismo, seguindo a decisão
de 74% dos votos. (ARRUDA e PILETTI, 2000, p.428-429).
140
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 140
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Com João Goulart, o trabalhismo de Vargas retorna ao poder,
e seu governo lutou por reformas de base, com destaque para a
reforma agrária. Novamente, os mesmos setores que tramaram
o golpe de 1954, tentaram impedir a posse de João Goulart, que
recebeu oposição sistemática das Forças Armadas. Houve ainda
uma revolta dos sargentos, agravando mais a situação política.
Os antigos coronéis que lançaram um memorial condenando
a atuação de Jango como Ministro do Trabalho (os oficiais se
irritaram com o aumento salarial decretado pelo ministro), com
apoio de alguns generais, queriam impedir a posse do vice de
Jânio, considerado substituto constitucional do renunciante.
Uma campanha radiofônica articulada pelo governador
Leonel Brizola, do Rio Grande do Sul, denominada Cadeia
da Legalidade, fez aumentar o apoio popular para a posse de
Jango. Alguns parlamentares de tendência liberal, entre estes,
Raul Pilla, tradicional defensor do Parlamentarismo no Brasil,
oferecem a solução para garantir a posse: Jango seria o Presidente,
porém não governaria. O exercício do governo estaria a cargo do
Presidente do Conselho de Ministros.
João Goulart pôde, assim, exercer a função de chefe de Estado,
porém o governo esteve a cargo de três Primeiros-Ministros:
o político mineiro Tancredo Neves (que, ironicamente,
não conseguiria tomar posse na presidência, mais tarde, na
redemocratização brasileira); o jurista gaúcho Francisco de Paula
Brochado da Rocha; e, o jurista baiano Hermes Lima.
O plebiscito de 1962, o presidencialismo e o início dos protestos
Em 1962, forças políticas descontentes com o Parlamentarismo
pressionaram pela realização de um plebiscito para eleger a forma
de governo.
Esta ação estava prevista para 1965, ano das eleições
presidenciais, que contavam, já, com candidatos anunciados
desde 1960: JK e Lacerda.
Porém o descontentamento do povo e das classes dirigentes fez
com que a realização do plebiscito fosse adiantada para 1962,
influenciando uma campanha na qual a opção mais defendida
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 141
141
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
era rechaçar o Parlamentarismo, apoiada tanto por progressistas
quanto por esquerdistas e alguns conservadores.
Assim, os eleitores decidiram pelo Presidencialismo. Goulart
iniciou a governar, tentando conciliar seus interesses ideológicos
mais esquerdistas com os interesses dos conservadores, mais de
direita.
Devido à perda de tempo, que resultou no retardamento em
implantar as reformas de base, os grupos de esquerdas, inclusive
do próprio PTB, começaram a afastar-se do governo e a incitar
protestos reivindicativos.
Neste cenário, há uma disparada na inflação, as medidas do
governo são duramente atacadas pelos grupos de esquerda, por
verem nestas a continuidade das ações que combatiam.
Esta mesma esquerda, então, iniciou movimentos de greves, sob
o comando da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), que
repercutiam apenas nos setores patronais. No país, era o período
de eleições estaduais. Kennedy, presidente norte-americano,
ingerindo diretamente na política interna brasileira, ordenou
o financiamento das campanhas dos governos estaduais dos
candidatos contrários a Jango.
Outros acontecimentos conturbaram mais ainda este cenário,
tais como, as estatizações de empresas americanas sediadas no
Rio Grande do Sul, promovidas pelo governador Leonel Brizola,
o que gerou um protesto do governo americano ao brasileiro;
escândalo de corrupção de funcionários de alto escalão do
governo federal; violentos protestos promovidos por estudantes
de orientação esquerdista, e a divulgação, pela imprensa, de um
possível golpe de Estado para a implantação do comunismo.
O comício da Central do Brasil e o gatilho que desencadeou o golpe
O comício na Central do Brasil, aos 13 de março de 1964,
foi o estopim para deflagrar o golpe. Então anunciavam as
reformas de base, incluindo outro plebiscito para convocar uma
nova Constituinte. A reforma agrária (com a desapropriação
dos terrenos às margens das rodovias) e a nacionalização das
142
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 142
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
refinarias estrangeiras de petróleo estavam em pauta. Além
destes fatos, a UDN e o PSD temiam pelo crescimento do PTB,
já que Leonel Brizola era o favorito para as próximas eleições
presidenciais.
Levando em conta que o povo apoiaria massivamente o projeto,
a aliança político-militar (UDN + militares golpistas), junto ao
governo norte-americano, deflagrou o golpe.
Liderados por um capelão americano, o padre Patrick Peyton,
enviado para criar a mobilização popular contra o governo,
inicia-se a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, para
legitimar o golpe.
A mobilização foi respaldada por Adhemar de Barros e Carlos
Lacerda. Os militares, juntamente com os políticos, planejavam
a derrubada de Jango com o apoio da classe média. A marcha
da família teve o apoio de grandes empresários, que fecharam
suas empresas em horário comercial e transportaram pessoas
para a manifestação. Como os arquivos do governo de Lyndon
Baines Johnson comprovariam vinte anos mais tarde, foi
realizada uma operação militar chamada Brother Sam, para agir
no Brasil. Tratava-se de um plano de guerra dos EUA contra
as forças janguistas no Brasil. Poderia ter acontecido um sério
conflito bélico entre os países e, ainda que os EUA parecessem
ter vantagem, estavam investindo recursos financeiros,
armamentistas e humanos em outra guerra, contra o Vietnã,
onde o país norte-americano sairia derrotado anos depois.
(FERREIRA, 2004).
Então, em março de 1964, João Goulart é deposto e foge para o
Uruguai. É sucedido pelo Chefe do Estado Maior do Exército,
General Humberto de Alencar Castelo Branco, que assume a
Presidência da República.
Quando a oposição se estende para setores das camadas médias,
completa-se a condição política que vai apoiar o golpe das Forças
Armadas, as quais depõem Goulart em 31 de março de 1964.
Entre as causas alegadas para o golpe militar destacava-se: a
subversão da ordem, denúncias de corrupção no governo, inflação
descontrolada e a falta de credibilidade política.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 143
143
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Hoje existe um consenso de que a causa real foi o medo ao
socialismo, para o que, obviamente, os militares estavam de
acordo e foram apoiados pelos Estados Unidos. Estes facultaram
recursos financeiros para a conspiração interna organizada na
sociedade civil e promoveram “[...] pressões político-democráticas
e atuação de agentes secretos e agitadores, em nome dos
imperativos da guerra fria.” (ARRUDA e PILETTI, 2000,
p.430).
Você já pode ir refletindo sobre este assunto: os
esforços democratizantes do governo de João Goulart
repercutiram na administração pública de então?
Seção 6 - A administração pública sob a ditadura
militar brasileira (1964-1984)
A administração de Castelo Branco (1964-1967)
Além do seu caráter ditatorial, o primeiro governo militar, dessa
que esperamos haver sido sua última incursão na história política
brasileira, era sustentado militarmente por atos institucionais
(NOBEL, 2001, p.33):
1. A.I. 1: cassa mandatos, suspende direitos políticos,
extingue a UNE (União Nacional dos Estudantes),
a CGT (Central Geral dos Trabalhadores) e a Liga
dos Camponeses entre outros movimentos políticos
comprometidos com a luta social, e impõe ainda o nome
de Castelo Branco como presidente.
2.A.I. 2: cassa mandatos, determina eleições indiretas
para governadores (o que se mantém até 1978), extingue
o pluripartidarismo e cria as duas frentes: ARENA
(Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento
Democrático Brasileiro).
144
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 144
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
3. A.I. 3: cassa mandatos, determina eleição indireta para
presidente e cassa mandato dos presidenciáveis.
4.A.I. 4: cassa mandatos e estabelece novas regras para
votação da Constituição (de 1967).
No Governo de Castelo Branco, foram criadas algumas empresas
públicas, entre elas a Telebrás. .
A partir de 1967, o modelo clássico de administração
autoritária cede lugar a uma busca de arranjos para efetivar uma
administração para o desenvolvimento.
Na década de 1960, houve tentativas claras de modernização
do aparelho de Estado, o que “[...] teve como consequência a
multiplicação de entidades da administração indireta: fundações,
empresas públicas, sociedades de economia mista e autarquias.”
(MARCELINO, 2003, p.644).
A lógica da expansão de novos centros de administração indireta
estava pautada na busca de maior agilidade, flexibilidade de
atuação e autonomia institucional, propiciando facilidades
no aporte de recursos e gestão financeira, como também na
administração de pessoal.
Essa forma de organizar o aparelho de Estado foi consolidada
pelo Decreto-Lei número 200/1967, o qual introduziu
profundas mudanças na organização e funcionamento do
Estado administrativo que vinha mantendo-se desde a Segunda
República.
O Decreto-Lei 200 veio contribuir com um processo de mudança
já em andamento, ao estabelecer alguns preceitos adequados à
evolução da administração federal, consolidando-se um modelo
de administração para o desenvolvimento que, segundo
Marcelino (2003, p.645), “[...] marcou até hoje a evolução da
administração pública brasileira. [...] o Decreto-Lei nº 200
constituiu-se mais em um plano indicativo ou carta de intenções,
estabelecendo conceitos e princípios, do que em uma norma
determinística.”
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 145
145
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
O governo Costa e Silva (1967-1969)
O fortalecimento do regime militar é consolidado através do
A.I. 5, o qual continuava cassando mandatos e se incorporou à
Constituição, atribuindo poder total ao presidente.
Com a morte do presidente Costa e Silva, a Junta Militar deu
um novo golpe, o qual impediu o vice de assumir e fortaleceu
a ditadura, tornando a administração pública ainda mais
centralizadora e os anos seguintes mais sombrios.
O governo de Médici (1969-1974)
Em meio à luta armada de alguns grupos de esquerda, o exército
brasileiro se aparelha com dois órgãos especiais (ARRUDA e
PILETTI, 2000, p.435):
o Departamento de Operações Internas (DOI) e o
Centro de Operações de Defesa Interna (CODI). O
modelo desses dois órgãos foi a Operação Bandeirantes
(OBAN), grupo clandestino de São Paulo, formado por
agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política
e Social), da Política Federal e dos serviços secretos
da marinha (o CENIMAR) e do exército. A OBAN
contava com tecnologia de tortura que foi útil ao
recém-criado DOI-CODI. A montagem desse circo de
horrores contou com a ajuda em dinheiro de empresas
multinacionais.
Para o crescimento econômico do Brasil, bancos estrangeiros
ofereciam empréstimos a juros relativamente baixos, como
era prática dos países centrais em relação aos países em
desenvolvimento.
Aquele foi um período de fortalecimento e aumento do controle
do governo sobre a economia brasileira. A área preferida para
os investimentos do Estado era a siderurgia, tendo em vista a
preocupação com a dependência em relação ao petróleo. Em 1973,
foi firmado o acordo com o Paraguai para a construção de Itaipu.
146
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 146
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
O I PND (primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento) foi uma
das marcas da administração de Médici. Houve um importante
crescimento da indústria de construção civil com os financiamentos
derivados da criação do Banco Nacional de Habitação (BNH).
Em clima de milagre econômico, cantos e refrões encomendados
divulgavam expressões como: “Ninguém segura este país!” e
“Brasil, ame-o ou deixe-o!”. Todavia, “ao lado da riqueza, a miséria
também crescia. E, ainda mais, havia o desrespeito aos direitos
humanos.” (ARRUDA e PILETTI, 2000, p.436).
Com a crise internacional do petróleo, o milagre econômico
brasileiro começava a ser desmascarado. E, ainda, “[...] ocorreu um
aumento excepcional dos juros no sistema financeiro internacional,
o que elevou a dívida externa brasileira. Para pagar seus
compromissos, o governo tomava novos empréstimos [...]. A inflação
subiu e os trabalhadores ficaram mais pobres.” (Ibid., p. 436).
A administração de Geisel (1974-1979)
Formado pela “Escola Superior de Guerra, Geisel assumiu
o governo prometendo retornar o crescimento econômico e
restabelecer a democracia. [...] (Propunha uma) distensão lenta,
segura e gradual. A mensagem era clara: o regime militar podia até
promover a abertura política, mas sem deixar o processo escapar ao
seu controle.” (ARRUDA e PILETTI, 2000, p.437).
Como o milagre econômico estava “se esgotando, o governo
Geisel aumentou de modo substancial a participação do Estado
na economia, graças à expansão das empresas estatais e ao
planejamento econômico.” (Ibid., p. 437).
Nos investimentos daquele governo na área de infraestrutura,
“destacavam-se: a Ferrovia do Aço, em Minas Gerais; o Programa
Nacional do Álcool (conhecido como Pró-Álcool) [...]; a construção
de oito usinas nucleares para geração de energia [...]”. (ARRUDA e
PILETTI, P. 437).
Segundo Santos et al. (2003), a consolidação do desenvolvimento
industrial no Brasil segundo o modelo produtivo do Estado
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 147
147
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
capitalista deu-se entre os anos 30 e 70 do século 20, mas o seu
relativo êxito está atrelado ao projeto nacional-desenvolvimentista
iniciado por Vargas e, finalmente, concluído por Geisel. Naqueles
contextos, o Estado brasileiro assumia o papel de locomotiva na
promoção do desenvolvimento nacional.
O governo de Figueiredo (1979-1984)
Escolhido por Geisel e eleito indiretamente, João Baptista
Figueiredo (então chefe do SNI, o Sistema Nacional de
Informação) foi o último general do período militar da
administração pública brasileira.
Já no início do seu governo, Figueiredo enfrentou uma greve
de 180 mil metalúrgicos do ABC paulista, tendo que negociar
com seus dirigentes, o Lula inclusive, os quais foram destituídos.
Ainda em 1979, foi sancionada a lei da anistia e implantado o
pluripartidarismo no Brasil, surgindo assim o PMDB, PDT, PT
e PDS. (ARRUDA e PILETTI, 2000).
Os anos 80 foram marcados por muita recessão
além da maior explicitação da enorme dívida social
acumulada e aumento das dívidas interna e externa.
A partir da luta sindical e mobilização da sociedade civil, a
abertura política foi ganhando cada vez mais espaço.
Para fazer frente a pressões externas e ao esgotamento do modelo
de financiamento público e gestão adotado pelos governos
militares, ainda no governo Figueiredo “foram desenhadas
e implementadas [...] as primeiras tentativas de contenção da
ampliação do setor estatal através, fundamentalmente, da
subordinação das estatais ao Ministério do Planejamento”
(SANTOS et al., 2003, p.5).
Essa tendência de diminuir o aparelho de Estado prosseguiu
durante a Nova República até se consolidar na última década do
século 20.
148
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 148
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Em resposta a uma espécie de campanha internacional contra
a intervenção do Estado no domínio econômico, foi criada, em
1981, uma Comissão de Privatização, coordenada pela equipe
econômica de Figueiredo, com Delfim Neto na liderança.
O processo de desestatização do setor produtivo estatal iniciouse com o Decreto 86.215/1981, “que fixava as primeiras diretrizes
para a transferência e desativação de empresas controladas pelo
governo federal.” (Ibid., p.5).
Também foi naquele mesmo período que se criou o Programa
Nacional de Desburocratização, coordenado pelo então ministro
extraordinário Hélio Beltrão.
Outro braço da reforma iniciada no governo Figueiredo foi
o processo de terceirização de serviços nos órgãos públicos.
Como serviços terceirizados, destacavam-se os de limpeza e
manutenção, segurança, informática e os concursos públicos.
Em 1983, apesar de um amplo movimento popular nacional pela
campanha das Diretas Já, visando à aprovação da emenda Dante
de Oliveira a qual propunha eleições diretas para presidente
da República, a proposta não conseguiu obter os dois terços
necessários de votos.
Ao final da ditadura militar, as eleições para o novo presidente
civil deram-se à moda antiga, pela via indireta, escolhido pelo
Colégio Eleitoral: Tancredo Neves pela Frente Liberal e, como
vice, José Sarney, sendo derrotado o candidato oficial, Paulo
Maluf.
Tancredo Neves morreu antes de assumir, gerando-se uma
comoção nacional. Novamente assume um vice, em um momento
deveras estratégico para a administração pública brasileira.
Apesar de os governos militares serem lembrados muito mais
pela característica truculenta, pela repressão e cerceamento da
liberdade, foi com os presidentes-generais que o país experimenta
muitas mudanças, inovações e progresso. Muitos setores da
população não tinham acesso a serviços mais básicos. Houve um
incremento no comércio e facilitação de acesso às mercadorias.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 149
149
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Podemos citar algumas realizações dos Governos Militares:
Elevação do Brasil do 48.º lugar no ranking econômico das
nações para o 8.º lugar, com as seguintes realizações:
„„
Itaipu, a maior usina do mundo, além de Tucuruí, Ilha
Solteira, Jupiá, São Simão, Emborcação, Volta Grande e
outras;
„„
Ponte Rio-Niterói;
„„
Aeroporto Tancredo Neves;
„„
Reorganização do Porto de Santos;
„„
„„
„„
Crescimento econômico de até 14% ao ano, sem
desemprego, sem inflação, sem greves, sem paralisações
(até porque eram proibidas!);
Criação de 13 milhões de empregos; quatro milhões de
moradias; restabelecimento da autoridade, com repressão
do crime organizado, inclusive de terroristas e de
subversivos;
Eletrobrás, Nuclebrás, Embratel, Telebrás, usinas
nucleares; Banco Central; EMBRAER; estímulo às
indústrias aeronáutica, naval e automobilística;
„„
Triplicação da produção de petróleo;
„„
Pró-Álcool;
„„
Rede asfáltica ampliada de 3.000 para 45.000 km;
„„
Código Tributário e de Mineração;
„„
Zona Franca de Manaus;
„„
Sistema Financeiro e Banco Nacional de Habitação;
„„
Ferrovia da Soja;
„„
Transamazônica;
„„
Frota mercante aumentada de um para quatro milhões de
TWD;
150
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 150
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
„„
„„
„„
Corredores de exportação Vitória, Santos, Paranaguá e
Rio Grande;
Exportações de 1,3 para mais de 12 bilhões de dólares;
Matrículas no ensino superior, de cem mil para 1,3
milhão;
„„
Estabelecimentos médicos, de 6 para 28 mil;
„„
Crédito educativo;
„„
Projeto Rondon;
„„
Mobral;
„„
CNPq; FINEP; CAPES; INPS; Dataprev;
FUNABEM; INAMPS; Funrural (beneficiando 8
milhões de trabalhadores rurais);
„„
FGTS; PIS; PASEP;
„„
Embrapa;
„„
Distritos industriais em dezenas de cidades;
„„
Atração, implantação e apoio a dezenas de indústrias,
como Fiat, Açominas, Cenibra, Helibrás, Vale, Acesita,
Alcoa.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 151
151
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 7 - Da administração da Nova República até o
final do século 20
O governo Sarney (1985-1989)
O clima político-institucional dos governos militares deixou
como herança para a Nova República “um modelo organizacional
que se caracterizou pela centralização através de um complexo
aparelho burocrático.” (MARCELINO, 2003, p.645).
Iniciada uma era de liberdades democráticas, havia que reverter o
quadro institucional, “transformando o aparelho administrativo
em ente reduzido, orgânico, eficiente e receptivo às demandas da
sociedade.” (Ibid., p. 645).
Para o mesmo autor acima: “A reforma administrativa proposta
pelo governo Sarney pretendia resgatar o compromisso com as
mudanças a serem implantadas na reorganização do Estado,
que se encontrava com a máquina governamental desarticulada,
anacrônica, desestimulada e cada vez mais distante da sociedade
[...]”. (MARCELINO, p. 645).
Logo no início de seu governo, Sarney “[...] estava resolvido
a intensificar o programa de desestatização iniciado por
Figueiredo. As pressões dos credores externos exigiam mudanças
rápidas, visando à diminuição do déficit fiscal.” (SANTOS et
al ., 2003, p.6). Assim a despatrimonialização social do Estado
brasileiro dava importantes passos.
Entre as distorções administrativas, destacava-se uma imagem
assimilada pela sociedade do serviço público como sendo fonte
geradora de privilégios e ineficácia. (MARCELINO, 2003).
O governo Sarney instituiu uma Comissão Geral do Plano de
Reforma Administrativa (BRASIL, 1985, apud MARCELINO,
2003, p.646), que tinha por princípios:
„„
restauração da cidadania, com universalidade dos seus
direitos;
152
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 152
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
„„
„„
„„
„„
democratização da ação administrativa em todos os
níveis de governo;
descentralização e desconcentração da ação
administrativa;
revitalização do serviço público e valorização dos
serviços;
melhoria dos padrões de desempenho.
Como órgãos de governo que se destacaram no processo acima
estavam a SEDAP (Secretaria de Administração Pública) e
a ENAP (Escola Nacional de Administração Pública). Cabe
ainda mencionar a elaboração do CNPC (Cadastro Nacional
do Pessoal Civil), “um instrumento essencial para a reforma do
serviço civil.” (Ibid., p. 646)
A condução do processo constituinte foi um enorme
desafio político para o governo Sarney, em cujo
governo ainda foi promulgada a Constituição de 1988.
A reforma administrativa durante o governo Collor
(1990-1992)
Derivada de compromissos da campanha presidencial, com
a crítica ao funcionalismo considerado como congregação de
marajás, “a busca da superação da crise em que se encontrava
o setor público levou o novo governo a propor e implementar
ampla reforma administrativa, já em 15 de março de 1990.”
(MARCELIO, 2003, p.648).
Aquela reforma visava a “racionalização do setor público,
recuperando-se a capacidade de gestão e controle de suas
atividades.” (IBID., p. 648). Conforme consta no documento
intitulado Diretrizes de Ação do governo Collor, “a apropriação
do Estado por segmentos de sua própria burocracia contrapõe-se
aos interesses globais da sociedade.” (Ibidem., p. 648).
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 153
Funcionários com altos
salários e que viviam
à custa do patrimônio
público, sem qualquer
produção para a
sociedade.
153
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Apoiado por um visível marketing da imagem do presidente, o
governo Collor promoveu um importante achatamento salarial
e, pela via da reestruturação ministerial, a extinção de diversos
órgãos e ministérios. Houve um verdadeiro desmonte da
administração federal.
Mas se sobrepõem escândalos, corrupção e perda do apoio
popular. E, com o recrudescimento da manifestação popular
liderada pelos jovens de caras pintadas, efetivou-se o processo de
impeachment e a condenação de Collor no Senado.
Governo Itamar Franco (1992-1994)
Na qualidade de vice de Collor, o governo de Itamar Franco não
deixou destaques para a administração pública brasileira.
O período de seu governo foi uma transição que permitiu “a
encarnação da ideologia de mercado inaugurada no governo
Collor e consolidada no governo Fernando Henrique.”
(SANTOS et al ., 2003, p.5).
Os dois governos de FHC (1994-2002)
Em 1995, a presidência da República apresenta à nação o seu
Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado (BRASIL,
1995), onde está desenhada a nova concepção de Estado e de seu
funcionamento, assumida pelo governo de Fernando Henrique
Cardoso (FHC). Aquela proposta foi promulgada apenas em
1998, estando em curso ainda a sua implementação.
A proposta de reforma administrativa gerou bastante polêmica,
pela revisão das regras de estabilidade do servidor público e pela
então denominada publicização. Esta significava terceirização
dos serviços, cuja ação não se constituía em ação exclusiva do
Estado – mas que antes eram estatais –, para a execução no setor
privado, através de organizações sociais financiadas pelo setor
público.
154
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 154
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Exemplos de ações que se enquadram nessa
terceirização dos serviços são a educação e a saúde.
Nos governos de Fernando Henrique Cardoso:
do ponto de vista administrativo, as principais medidas
visavam aprofundar as políticas de ajuste que o Estado
deveria assumir (após o Consenso de Washington)
para equilibrar as suas contas, as chamadas políticas de
estabilização que objetivavam reduzir drasticamente os
custos/gastos públicos. (SANTOS et al ., 2003, p.8).
A recuperação operacional do aparelho de Estado tinha por
pressupostos assumir as seguintes três direções (SANTOS et al.,
2003, p.9):
a)moralização da máquina pública [...];
b)ênfase absoluta no atendimento de um patamar de
prestação de serviços que dignifique o cidadão; e
c)profissionalização do servidor público.
Durante os anos 90, pode-se ainda identificar três fases que
marcaram o processo de transferência do patrimônio estatal para
o setor privado (Ibid., p. 9).
a)o programa de privatização iniciado em 1990 estava
direcionado para as empresas produtoras de bens
industriais dos setores siderúrgico, petroquímico e de
fertilizantes;
b)a partir de 1993, iniciaram as mudanças institucionais
nas regras para a estatização (por exemplo, a aceitação de
“moedas podres”);
c)iniciada em 1995, esta última fase trata também da
concessão de serviços públicos, além de consolidar as
anteriores.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 155
155
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
O caráter assumido pela reforma do aparelho de Estado após
1995 foi de substituição da gerência burocrática/patrimonial pela
gerencial/profissional (SANTOS et al., 2003, p.10).
De acordo com o novo modelo de administração
pública assumido, surgem novos arranjos institucionais
que passam a ser assumidos por uma administração
profissional de especialistas (Ibid.,p. 10).
Síntese
Nesta unidade, você aprendeu a importância dos antecedentes
da Revolução de 1930 para a história da administração pública
brasileira e, ainda, dos principais acontecimentos ocorridos no
Brasil após a década de 30 do século passado até os dias atuais.
Durante os primeiros quinze anos de governo Vargas (19301945), iniciaram-se os primeiros esforços de uma reforma
administrativa no País (1937), situando-se como um marco do
nascimento da administração pública brasileira.
Também foram discutidas as inovações havidas na administração
pública brasileira do pós-guerra até o governo populista de
Vargas e, ainda, as implicações geradas pelo desenvolvimentismo
e esforços de uma democracia nascente na administração pública
brasileira entre 1954 e 1963.
Foram-lhe apresentadas as principais características de
formatação da administração pública no país durante os governos
da ditadura militar brasileira (1964-1984).
E, para finalizar a unidade, foram identificados os principais
aspectos que se consolidaram na administração pública brasileira
da Nova República até o final do século 20.
156
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 156
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Atividades de autoavaliação
Acompanhe com atenção os enunciados e responda:
1) Entre os antecedentes da Revolução de 30, identifique duas
características que vieram incidir na configuração da administração
pública brasileira a partir de então.
2)Quando começou o movimento de fazer crescer o aparelho de Estado
brasileiro? Comente sua resposta, comparando alguns diferentes
governos (dois ou três).
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 157
157
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
3)Qual foi a primeira reforma administrativa planejada por um governo
brasileiro e quais suas principais características?
4)Como se configurou o início da administração burocrática na
organização governamental brasileira?
5)Como se constituiu o modelo de administração para o
desenvolvimento no Brasil?
158
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 158
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
6)Apresente três características do movimento da administração pública
sob a ditadura militar brasileira.
7)Comente a oportunidade social da República como forma de governo
no Brasil do século 20.
8)Caracterize a principal formatação da administração pública brasileira
da Nova República até o final do século 20.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 159
159
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
Saiba mais
Você poderá aprofundar seus conhecimentos sobre a história
da República brasileira por meio da leitura de Perly Cipriano
(2010), proposta a seguir. Observe também a sequência dos
acontecimentos em nossa história.
Passado Autoritário e Democracia no Brasil
Ao estudar o conteúdo da disciplina, verifica-se que o Brasil não
tem uma tradição democrática, característica comum a outros
países da região. Tivemos uma característica reiterada: elites com
uma grande capacidade de realizar transições em diferentes
governos, sem perder o poder ou a capacidade de intervenção.
O Brasil país tornou-se independente de Portugal em 1822,
quando D. João VI abdica em favor do seu filho, D. Pedro I.
De 1889 até a data da transição do Império para a República,
verifica-se a lenta evolução da Administração Pública, porém
com a manutenção da escravidão. A abolição da escravatura
aparece mais como uma dádiva da princesa Isabel que a luta
dos escravos e outros lutadores da liberdade; essa foi a imagem
transmitida no Brasil.
A República foi proclamada por um golpe de Estado do
Marechal Deodoro, sem a presença do povo. O país contava
com um partido Republicano débil, então o Marechal aparece
novamente, e realiza a transição. Até 1930 tivemos a República
Velha, sem a participação popular. Imaginem um país com uma
imensa maioria analfabeta, onde as mulheres e os analfabetos
(em grande número) não tinham direito ao voto.
Na revolução de 1930 surge Getúlio Vargas, um caudilho forte,
intitulado pai dos pobres, que tinha o apoio dos sindicatos.
Embasava sua ação na Carta de Trabalho da Itália, do fascismo.
Havia uma série de sindicados unidos ao Estado. Atualmente, os
sindicalistas vivem a custa do Estado.... Neste período, Getúlio
exerceu uma democracia com certa participação do povo, que
teve maior participação; os grandes latifundiários tiveram uma
atuação reduzida, porém também continuaram governando.
Seu governo perdura até 1945, ano em que houve eleições. Foi
praticamente um golpe, pois um novo Marechal foi eleito e o
160
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 160
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
presidente Juscelino Kubistcheck culminou seu mandato de quatro
anos. Após esta eleição, veio Jânio Quadros, muito conservador,
próximo aos latifundiários. O vice-presidente, Juscelino
Kubistcheck, era de outro partido, o PTB, na época em que era
possível eleger o presidente de um partido e o vice de outro.
Então, o golpe militar foi preparado, com uma grande mobilização
nacional. Jânio se encontrava na China e encontrou dificuldades
de retornar ao país. Havia um temor muito grande com o chamado
“perigo amarelo”, o comunismo.
Então, Jango que estava no PTB, encontrou dificuldades para
realizar a transição. O Parlamentarismo surgiu sob sua presidência,
que aceitou governar com um Parlamento sem expressão. Com
poderes limitados, o regime durou até 1964. Neste período, liderou
um movimento nacionalista bastante forte chamado Reforma
Agrária Bancária, que promovia muitas reformas e trabalhava a
nacionalização. Neste sentido, enfrentou o golpe militar, ante o
temor de suas ideias nacionalistas.
Este golpe militar teve o apoio de latifundiários, grandes
empresários, multinacionais, boa parte da classe média, a igreja
católica e grande parte dos meios de comunicação.
Assim, o Brasil passou 21 anos de ditadura militar e o panorama
é similar a outros países do Cone Sul: prisões, torturas, mortes,
desaparecimentos forçados, intervenções nos sindicatos,
interrupção e cassação de mandatos parlamentares, governadores
intendentes, com a característica de que, em quatro anos, os dois
primeiros foram marechais – Castelo Branco e Costa e Silva – e
depois três generais. Os militares mantiveram o Parlamento aberto
e uma aparência de eleição a cada quatro anos, nos quais os
generais eram substituídos por outros.
Estes governos foram apoiados intensamente pelo empresariado
porque se via beneficiado pela repressão dos dirigentes sindicais.
Entre os intelectuais se instalou um sistema de delação profunda,
principalmente nas Universidades.
Precisamos considerar que a ditadura não podia acontecer
sozinha, pois concentrava uma grande repressão. Assim, o Brasil
caracterizou-se por dissolver os partidos políticos e criar apenas
dois partidos: Aliança Renovadora Nacional (ARENA), que apoiava
ao governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que
realizava uma tímida oposição. Neste período, verificou-se o
aumento da mobilização popular, da oposição armada. Uma
parte dos partidos de esquerda foi dissolvida e a outra passou à
resistência armada.
Concomitantemente a estas ações, pelas quais os governos
militares ficaram indelevelmente marcados, o país também
experimenta um grande progresso. A população teve mais acesso
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 161
161
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
aos bens de consumo e o comércio tornou-se mais popular.
Houve também um incremento na industrialização do país.
A ditadura militar durou um longo tempo, 21 anos. Este período
foi comum, pois outros países sul-americanos viviam realidade
similar: Chile, Paraguai, Argentina e Uruguai. Registra-se que
também aumentou o sentimento de solidariedade entre os
povos, pois muitos países receberam exilados. Esta unidade
existiu, bem como o Plano Condor, que unia as ditaduras entre as
elites destes países.
Também tivemos neste período uma manifestação mais evidente
que foi a luta pela anistia, muito ampla no país. Não teve a
capacidade de envolver um grande número de pessoas, porém
foi muito forte nas universidades, parte da intelectualidade e
artistas da chamada esquerda.
A anistia foi votada em 23 de agosto de 1979 e sancionada no
dia 29, Sancionada por Luis Carlos Prestes, que foi um líder
comunista, muito conhecido pela sua trajetória. Com a Lei da
Anistia, muitos exilados políticos retornaram ao país, porém até
1980 existiram presos políticos.
Em 1980 houve a reconstrução dos partidos políticos, em outro
grande momento do Brasil. Surge o Partido dos Trabalhadores,
baseado na concepção do PDT de Brizola. Na primeira eleição,
tivemos a chamada “campanha das diretas já”. Havia uma
pressão para que o primeiro presidente pós-ditadura fosse eleito
pelo voto direto, com a mobilização de milhões de pessoas,
que passou para a história como um dos maiores movimentos
democráticos que o país experimentou. E, novamente, a elite
do Congresso definiu que a eleição seria indireta, indicando o
Colégio Eleitoral para eleger o presidente, apesar de milhões de
pessoas nas ruas, que acabaram por derrotar este projeto.
A partir desta grande mobilização é que as eleições diretas
aconteceram, com a vitória de Tancredo Neves, que morre
antes de assumir o poder, sendo substituído por José Sarney.
É sucedido por Fernando Collor de Melo, embasado por
uma campanha eleitoral, onde demonstrava características
inovadoras, além de ser jovem. Constitui em um grande engodo.
Seu curto governo é marcado pela corrupção. É cassado e
substituído pelo vice, Itamar Franco. É neste período que a figura
do então sindicalista Luis Inácio Lula da Silva ganha projeção e
concorre à presidência. Apesar de ampla votação em 2º turno,
perde as eleições.
Fernando Henrique, sociólogo e autor de muitos livros, é eleito e
assume a presidência. Em seu governo, há muitas privatizações.
Há a implementação de muitos programas sociais, embriões de
muitos que são realizados pelo último e pelo atual governo.
162
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 162
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
Finalmente, por meio da eleição de Lula, alguém “do povo”
assume o poder. É o passado recente do Brasil, que muitos
vivenciam e sentem seus reflexos.
Neste momento, temos possibilidade de avançar; o país viveu,
lamentavelmente, de costas para a América, com os olhos
voltados para a Europa. O Mercosul é uma oportunidade
histórica para a construção de uma rede solidária de trabalho
conjunto pelo bem-estar das sociedades.
Referência do texto:
CIPRIANO, Perly. Observatório de Políticas Públicas e Direitos
Humanos no Mercosul. Cadernos do Mercosul, nº 9, 2010.
Montevideo, Uy.
BRASIL - CRONOLOGIA HISTÓRICA
1930: Estoura no Rio Grande do Sul a Revolução de 1930,
que forçou a deposição de Washington Luís, dando um fim à
República Velha.
-Instala-se o governo revolucionário de Getúlio Vargas.
1932: Eclode a Revolução Constitucionalista.
-Fundação do Integralismo (AIB).
1933: Realizam-se eleições para a escolha dos membros da
Assembleia Nacional Constituinte.
1934: É promulgada a segunda Constituição da República.
1935: O governo decreta o fechamento da Aliança Nacional
Libertadora. Eclodem rebeliões militares em batalhões do Rio
Grande do Norte, de Pernambuco e do Rio de Janeiro (Intentona
Comunista).
1937: Tem início o Estado novo. Uma nova Constituição é imposta
ao país.
1939: Início da Segunda Guerra Mundial.
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 163
163
10/08/11 15:15
Universidade do Sul de Santa Catarina
1941: Fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, marco do
desenvolvimento industrial brasileiro.
1942: O Brasil declara guerra às potências do Eixo.
1944: A FEB (Força Expedicionária Brasileira) vai para a Itália.
1945: As Forças Armadas obrigam a renúncia de Getúlio Vargas.
-Fim da Segunda Guerra Mundial.
- Início da Guerra Fria: EUA X URSS
1946: É promulgada a quarta Constituição da República.
Início do governo Dutra.
1947: O governo Dutra decreta a extinção do Partido Comunista.
1951: Getúlio Vargas, por eleições populares, retorna à
presidência da república.
1953: O governo Vargas cria a PETROBRÁS.
1954: O governo concede aumento de 100% aos assalariados.
24 de agosto de 1954: Vargas suicida-se.
1955: Juscelino Kubitschek é eleito presidente da República.
1956: O governo de Juscelino, com base em seu Plano de Metas,
empreende diversas realizações desenvolvimentistas.
1960: Inauguração de Brasília.
Jânio Quadros é eleito Presidente da República.
25 de agosto 1961: Renúncia de Jânio Quadros, que realiza um
curto período de governo.
-O vice-presidente João Goulart assume sob o sistema
parlamentarista.
1963: Um plebiscito popular revela a preferência dos brasileiros
pela volta do sistema presidencialista.
1964: Um golpe militar derruba João Goulart da presidência da
república.
-O marechal Castelo Branco assume a presidência da república
em nome do movimento militar que depôs João Goulart.
1965: Extinguem-se todos os partidos políticos, instituindo-se o
bipartidarismo (ARENA e MDB).
1967: É promulgada uma Nova Constituição Federal.
- Costa e Silva assume a Presidência da República.
1968: É editado o Ato Institucional nº 5.
164
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 164
10/08/11 15:15
História da Administração Pública Brasileira
1969: Em razão da doença de Costa e Silva, uma Junta Militar
assume o poder, impedindo a posse do vice-presidente Pedro
Aleixo. A Junta Militar entrega o poder ao general Médici.
1973: O país vive o período do “milagre brasileiro”.
1974: Início do governo do general Geisel.
1979: Início do governo do general João Figueiredo. Promove-se
a abertura política.
1982: Em 15 de novembro realizam-se em todo o país eleições
diretas para governador de estado.
1983: A crise econômica do país agrava as tensões populares.
Diversos supermercados são saqueados.
1985: Fim do regime militar.
-Tancredo é eleito presidente, mas falece antes de tomar posse.
-Início do governo de Sarney.
1986: Plano Cruzado I e II.
1988: Promulgação da oitava Constituição do Brasil (5 de
outubro).
1989: É realizada a primeira eleição direta para presidente da
república em quase 30 anos.
1990: Posse do presidente eleito, Fernando Collor de Mello.
-Plano Collor I.
1991: Plano Collor II.
1992: Impeachment do presidente Collor. O vice Itamar Franco
assume a presidência da República, assume o vice Itamar Franco.
1994: Fernando Henrique Cardoso assume a presidência,
inaugurando uma nova maneira de governar.
1995: O governo apresenta o Plano Diretor de Reforma do
Aparelho do Estado. Foi marcado pela privatização de empresas
estatais, como: Embraer, Telebrás, Vale do Rio Doce e outras
estatais.
1999: Início do 2º mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Houve forte desvalorização do real, devido a crises financeiras
internacionais (Rússia, México e Ásia) que levaram o Brasil à maior
crise financeira da história, além de aumentar os juros reais e
aumentar a dívida interna brasileira.
2000 a 2002: Os grandes destaques brasileiros foram a
implantação do gasoduto Brasil-Bolívia, a elaboração de um
Plano Diretor da Reforma do Estado, um acordo que priorizaria
o investimento em carreiras estratégicas para a gestão do setor
Unidade 4
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 165
165
10/08/11 15:15
público, aprovação de emendas que facilitaram a entrada de
empresas estrangeiras no Brasil e a flexibilização do monopólio
de várias empresas, como a Petrobrás, Telebrás etc.
Alguns dos programas sociais criados no governo de FHC foram:
A Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e o Vale Gás.
No seu governo, entrou em vigor a lei de responsabilidade fiscal
(LRF) que se caracterizava pelo rigor exigido na execução do
orçamento público, limitava o endividamento dos estados e
municípios e os gastos com o funcionalismo público.
2003: Toma posse como Presidente da República o ex-líder
sindical Luiz Inácio Lula da Silva, sua trajetória de vida fazia com
que diversas expectativas cercassem o seu governo. Seria a
primeira vez que as esquerdas tomariam controle da nação. No
entanto, seu governo não se resume a essa simples mudança.
Entre as primeiras medidas tomadas, o Governo Lula anunciou
um projeto social destinado à melhoria da alimentação das
populações menos favorecidas. Estava lançada a campanha
“Fome Zero”.
Independente de ser um governo vitorioso ou fracassado, o
Governo Lula foi uma importante etapa para a experiência
democrática no país. De certa forma, o fato de um partido
formalmente considerado de esquerda ascender ao poder
nos insere em uma nova etapa do jogo democrático nacional.
Mesmo ainda sofrendo com o problema da corrupção, a chegada
de Lula pode dar fim a um pensamento político que excluía a
chegada de novos grupos ao poder.
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 166
10/08/11 15:16
unidade 5
Introdução aos princípios
e funções públicas e à
competência e atribuições
da União, estados e
municípios
Objetivos de aprendizagem
„„
Compreender o que é regime jurídico-administrativo.
„„
Entender no que se consubstancia a correta gestão
dos negócios públicos e o manejo dos recursos
públicos (dinheiro, bens e serviços).
„„
Conhecer a repartição de competência entre as
entidades componentes do Estado Federal.
„„
Compreender a competência da União, dos estados
e dos municípios e Distrito Federal.
„„
Compreender as atribuições dos Poderes da União,
Distrito Federal, estados e municípios brasileiros.
5
Seções de estudo
Seção 1
Seção 2
Introdução aos Fundamentos, Princípios e
Funções do Setor Público
Formação constitucional de competência e
princípio da predominância do interesse
Seção 3
Quais as competências e atribuições dos
poderes da União?
Seção 4
Quais as competências e atribuições dos
poderes dos estados federados?
Seção 5
Quais as competências e atribuições dos
poderes municipais?
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 167
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Nesta unidade, você vai compreender como é a estrutura básica
administrativa do Estado e quais são os Princípios que norteiam
as atividades do Estado através da Administração Pública, para
atingir e satisfazer os interesses da coletividade.
Você também vai estudar as competências e atribuições dos
Poderes da União, dos estados e dos municípios.
É importante você saber que as questões de predominante
interesse geral são tratadas em nível nacional. Nos estados, são
tratados os assuntos de predominante interesse regional, e, nos
municípios, tratam-se os assuntos de interesse local.
Seção 1 - Introdução aos fundamentos, princípios e
funções do setor público
Conforme Piccoli (2204, p. 72), é de se observar, “antes de
estudarmos qualquer instituto do direito administrativo, por
questão de coerência metodológica, que precisamos conhecer
os princípios e as regras jurídicas que informam esse ramo do
direito público, e que são delineados pela Constituição Federal.
Não se pode vislumbrar o desenvolvimento de atividades pela
administração pública, quando apartadas de um interesse
público.”
Como você vai conhecer esta matéria na disciplina Direito
Constitucional, no momento vamos ter apenas uma visão mais
genérica do assunto, por referência à área mais específica da
própria Administração Pública.
A gestão pública traz em seu bojo as regras de direito
administrativo que irão conferir prerrogativas à administração
para limitar a autonomia da vontade – fundamento do direito
privado – mediante atos unilaterais do Estado. Os princípios
que assoalham o regime jurídico administrativo, por vigorarem
168
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 168
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
segundo determinadas condições, regulamentações e limites,
admitindo variantes e qualificações singulares, desempenham o
papel de guia, conduzindo à compreensão dos diversos institutos
do direito administrativo.
De outro lado, as atividades administrativas não são indiferentes
aos valores que fundam a sociedade e que se manifestam no
direito através de princípios jurídicos. A função desempenhada,
em última análise, pelo agente administrativo não se desenvolve
de modo arbitrário: os parâmetros do interesse público estão
incorporados na rede principiológica, a qual sustenta o exercício
da atividade administrativa com a estrita observância da lei.
Desta forma, no desempenho das atividades administrativas,
o agente público não tem a liberdade de procurar outro objeto
senão aquele que conduz ao exclusivo fim prescrito em lei para a
atividade.
A título de exemplo, podemos identificar toda e qualquer
atividade desempenhada pelo agente público (funcionário
público) investido de seu cargo e funções. Seja sua atividade
qual for, o mesmo deverá conduzir com todo empenho o que sua
função lhe atribui, independente para quem ou para qual seja a
finalidade.
Por que isso ocorre?
Isto ocorre porque a consagração dos princípios
da supremacia e indisponibilidade do interesse
público denota a subordinação das atividades
administrativas à lei.
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 169
169
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 2 - Formação constitucional de competência e
princípio da predominância do interesse
A Constituição Federal assegura autonomia aos estados
federados, o que se consubstancia na sua capacidade de
auto-organização, de autolegislação, de autogoverno e
autoadministração (arts. 18 e 25 a 28 da C.F., citados por SILVA,
2001).
Conforme as matérias expressamente previstas na Constituição,
é importante salientar que há ocasiões em que se torna
problemático discernir quando estamos diante de um interesse
geral ou nacional ou de um interesse regional ou local.
No linguajar popular, quando temos que achar o pai
da criança, existe certa dificuldade para identificar
o responsável; mas, quando achamos um tesouro
enterrado no quintal, aparecem diversos interessados
reclamando sua posse ou seu direito sobre ele.
Assim a Constituição busca realizar o equilíbrio dos estados
federados, por meio de uma repartição de competência a qual se
fundamenta na técnica da enumeração dos Poderes da União,
(arts. 21 e 22 da C.F.), com Poderes remanescentes aos estados
federados, (art. 25, § 1º da C.F.), e Poderes definidos para os
municípios, (art. 30 da C.F.), e no art.22 Parágrafo Único.
A Lei complementar poderá autorizar os estados a legislar sobre
questões específicas das matérias relacionadas no artigo acima.
Nas áreas de interesse comum da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios (art. 23 da C.F.), e nas áreas de âmbito
da legislação concorrente, a competência da União limita-se a
estabelecer normas gerais.
Veja a seguir o mapa com a divisão política dos EstadosMembros, que, juntos, formam a União Federativa do Brasil.
Figura 5.1 - Mapa geográfico do Brasil
Fonte: Portal São Francisco (2010).
170
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 170
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Seção 3 - Quais as competências e atribuições dos
poderes da União?
Competências da União
As competências materiais exclusivas da União estão
estabelecidas no art. 21, incisos de I a XXV, da Constituição
Federal; portanto observamos que a União recebeu, com
preponderância sobre os demais entes federativos – os estados e
municípios –, a maior parcela dessa repartição de competências.
Está indicado no art. 21 da Constituição Federal: manter
relações com Estados estrangeiros e participar de organizações
internacionais; declarar a guerra e celebrar a paz; assegurar
a defesa nacional; permitir, nos casos previstos em lei
complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente. Cumpre
mencionar, de passagem, que essas relações vão atender os
princípios consignados no art. 4º (SILVA, 2000).
Como atribuição exclusiva da União, a competência política está
detalhada assim:
„„
o seu poder de decretar o estado de sítio, o estado de
defesa e a intervenção federal nos estados e municípios
dos territórios;
„„
o seu poder de conceder anistia;
„„
o seu poder de legislar sobre direito eleitoral.
Outra atribuição é a competência administrativa, como por
exemplo: autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de
material bélico, administrar as reservas cambiais do País e
fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente
as de crédito, câmbio e capitalização, bem assim, as de seguros
e previdência privada, organizar e manter o Poder Judiciário,
o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito
Federal e dos Territórios; além de organizar a estrutura de seu
funcionalismo, seus serviços e órgãos como a Polícia Federal, as
polícias Rodoviária e Ferroviária Federal, ou outro, de caráter
essencial.
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 171
171
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
No que concerne à competência da prestação de serviços: além
da exploração e execução de serviços públicos decorrentes de sua
natureza estatal, a Constituição conferiu à União, em caráter
exclusivo, a competência para explorar determinados serviços
que reputou públicos, tais como, manter o serviço postal e o
correio aéreo nacional, telecomunicações, explorar a concessão e
os serviços de radiodifusão, sonora e de sons e imagens, energia
elétrica, serviços de infraestruturas aeroportuárias, portos
marítimos, serviços de instalações nucleares, lavras de minérios,
entre outros mais detalhados no art. 21 da Constituição Federal.
A competência urbanística atribui à União elaborar e executar
planos nacionais e regionais de ordenação de territórios; instituir
diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,
saneamento básico e transporte urbano.
Na competência econômica, cabe à União elaborar e executar
planos nacionais e regionais de desenvolvimento econômico;
estabelecer áreas e as condições para o exercício da atividade de
garimpagem, em forma associativa; intervir (sem exclusividade)
no domínio econômico, explorar (sem exclusividade) atividade
econômica e reprimir abusos do poder econômico; explorar,
direta ou indiretamente, a pesquisa e a lavra de recursos minerais
e o aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica; e tudo
mais que promova a economia social.
Na competência financeira e monetária, a Constituição Federal
de 1988 define exclusividade sob o comando da União, já que
lhe cabe legislar sobre normas gerais de Direito Tributário e
Financeiro e sobre orçamento e o sistema monetário, emitir
moeda, administrar reservas cambiais e fiscalizar as operações
de natureza financeira, de crédito, de câmbio e de capitalização.
Instituir os tributos previstos nos artigos 145, 153 e 154 da
Constituição Federal.
Você deve ter percebido que, até aqui, apresentamos
as competências de caráter exclusivo da União. O art.
23 da Constituição Federal dispõe da competência
comum, pois dá possibilidade de estados, Distrito
Federal e municípios compartilharem com a União a
prestação de serviços, em especial, aqueles ligados ao
setor social.
172
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 172
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Na competência legislativa, os artigos 22 e 24 especificam seu
campo de atuação, que consideramos em dois grupos: a privativa
e a concorrente.
Na competência legislativa privativa, a União tem poderes de
legislar sobre Direito Administrativo, desapropriação, licitações
e contratação, em todas as modalidades, para a administração
pública, direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e
mantidas pelo poder público, nas diversas esferas de governo
e empresas sob seu controle (inciso XXVII); e, sobre Direito
material não administrativo, civil, comercial (incluindo
comércio exterior e interestadual, e propaganda comercial)
penal, político-eleitoral, incluindo nacionalidade, cidadania
e naturalização, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho; populações indígenas; condições para o exercício de
profissões, seguridade social.
Na competência concorrente, competem à União, aos Estados e
ao Distrito Federal, através do art. 24, inciso I a XVI, as regras
ordenadas de seu exercício, para delimitar o campo próprio a
cada ordenamento e impedir o conflito de competências. Assim
sendo, a Constituição Federal define quatro regras:
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência
da União limitar-se-á estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas
gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
Estados exercerão a competência legislativa plena, para
atender às suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas
gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
contrário.
Quais os funcionamentos e atribuições dos Poderes da
União?
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 173
173
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
O poder legislativo
O Poder Legislativo é composto pela Câmara dos Deputados
e pelo Senado Federal. Deputados e senadores desenvolvem
suas atividades por legislatura, sessões legislativas ordinárias e
sessões legislativas extraordinárias.
Sessões legislativas ordinárias
Sessões legislativas extraordinárias
São sessões que ocorrem em
dias e horas normais durante
o calendário estabelecido
pela casa legislativa.
São sessões que ocorrem em
horários e datas que excederão
aos dias e horas normais, através
de convocação de seus membros.
A finalidade é atender à urgência
das matérias em discussão.
Quadro: 5.1 - Sessões legislativas
Fonte: Camâra dos Deputados e Senado Federal, 2010.
A principal competência do Poder Legislativo é a elaboração de
leis. A duração do mandato é de quatro anos e corresponde ao
período que vai do início do mandato dos membros da Câmara
dos Deputados a até o seu término (art. 44, parágrafo único).
Isso porque o Senado é contínuo, por ser renovável apenas
parcialmente em cada período de quatro anos (art. 46, § 2º).
Quanto às atribuições do legislativo, deliberativas, de
fiscalização e controle, julgamento de crimes de responsabilidade
e atribuições constituintes, para completo entendimento:
1.as atribuições do legislativo, consistentes em elaborar
as leis sobre todas as matérias de competência da União,
conforme especifica o art. 48; isto é feito segundo o
processo legislativo, estabelecido no arts. 61 a 69 da
Constituição Federal;
2.as atribuições meramente deliberativas, vale dizer, a
prática de atos concretos, de resoluções referendárias,
de autorizações, de aprovações, de sustação de atos, de
fixação de situações e de julgamento técnico, consignados
no art. 49, o que é feito por via de decreto legislativo
ou resoluções, segundo procedimento deliberativo
174
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 174
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
especial de sua competência exclusiva, vale dizer, sem
participação do Presidente da República, de acordo com
as regras regimentais;
3.as atribuições de fiscalização e controle, exercidas
através de vários procedimentos:
»»
»»
»»
»»
»»
pedidos de informações, por escrito, encaminhados
pelas Mesas aos Ministros ou quaisquer titulares
de órgãos diretamente subordinados à Presidência
da República (art.50, § 2º). A recusa, ou o não
atendimento no prazo de trinta dias bem como a
prestação de informações falsas importam em crime
de responsabilidade;
comissão parlamentar de inquérito, nos termos do art.
58, §3º;
controle externo com auxílio do Tribunal de Contas
e da Comissão mista a que se refere o art. 166, § 1º,
que compreenderá toda a gama de medidas constantes
dos arts. 71 e 72, culminando com o julgamento das
contas que, anualmente, o Presidente da República há
de prestar (art.49, IX);
fiscalização e controle dos atos do Poder Executivo,
incluídos os da administração indireta (art. 49, X);
tomada de contas pela Câmara dos Deputados,
quando o Presidente não as prestar no prazo que a
Constituição assinala, ou seja, dentro de sessenta dias
após a abertura da sessão legislativa, então até 15 de
abril (arts. 51, II e 84, CCIV);
4.as atribuições de julgamento de crimes de
responsabilidade, com a particularidade de que, no
julgamento do Presidente da República ou Ministros de
Estado, a Câmara dos Deputados funciona como órgão
onde inicia o processo sobre crimes de responsabilidade
sobre qualquer um que ocupe cargos eletivos destinados
acima, desde que haja indícios; e, o Senado Federal,
como tribunal político sob a presidência do Supremo
Tribunal Federal (arts. 51, I,52,I e 86). No julgamento
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 175
175
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, do
Procurador-Geral da República e do Advogado-Geral da
União, o Senado Federal funcionará a um tempo como
tribunal do processo do julgamento (art. 52, II);
5. atribuições constituintes, mediante elaboração de
emendas à Constituição Federal (art. 60), onde o
Congresso cria e altera normas constitucionais.
O poder executivo
Monocrático, característico do
sistema de governo presidencialista,
já que o Presidente da República,
como Chefe do Poder Executivo,
atua nas funções de chefe de Estado
e nas de Chefe de Governo.
A função executiva é exercida pelo Presidente da República,
auxiliado pelos Ministros de Estado (art. 76). Temos, então, um
Executivo monocrático, vale dizer, o Poder exercido por um só
(mono).
Portanto o Presidente da República possui três funções básicas,
inerentes ao Poder Executivo da União –
como classificação das atribuições. Veja a seguir os detalhes de
cada uma destas funções.
a) Chefia de Estado, sua função está presente no art. 84,
incisos VII, VIII, XVIII, XIV XV, XVI, XIX, XX,
XXI e XXII, sendo de sua competência, por exemplo,
celebrar tratados, convenções e atos internacionais,
seus representantes diplomáticos mantêm relações com
estados estrangeiros, convocar e presidir o Conselho de
Defesa Nacional, nomear, após aprovação do Senado
Federal, os ministros do Supremo Tribunal Federal, do
Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal Superior
Eleitoral, declarar a guerra e celebrar a paz.
b) Chefia de Governo, sua função está presente no
art. 84, incisos I, III, IV, V, IX, XI, XII, XV, XVII,
XXIII, XXIV e XXVII, sendo de sua competência,
por exemplo, nomear e exonerar os ministros de
Estado, sancionar, promulgar e fazer publicar leis,
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução,
encaminhar o processo legislativo na forma e nos
casos previstos na Constituição, enviar ao Congresso
176
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 176
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes
orçamentárias e as propostas de orçamento previsto na
Constituição.
c) Chefia da Administração Federal, sua função está
presente no art. 84, incisos II, VI, XVI, XXIV e
XXV, sendo de sua competência, por exemplo, editar
medidas provisórias com força de lei, nos termos do art.
62. Exercer, com o auxílio dos ministros de Estado, a
direção superior da administração federal, dispor sobre a
organização e funcionamento da Administração Federal,
prover e extinguir cargos públicos federais.
O poder judiciário
Corresponde ao terceiro Poder atribuído à União no Estado
Federal. O Poder Judiciário encontra-se organizado nos artigos
92 a 126, e tem a função jurisdicional ou simplesmente a
jurisdição, que realiza por meio de um processo judicial. Tratase de um sistema de composição de conflitos de interesses ou
sistema de composição de interesse coletivo, juridicamente
tutelados, ou seja, amparados pelos princípios e regras do direito,
mediante o estabelecimento de ordens concretas dirigidas às
partes.
Você sabia?
A jurisdição hoje é monopólio do Poder Judiciário
do Estado (art. 5º, inciso XXXV). Anteriormente ao
período moderno, havia jurisdição que não dependia
do Estado. Os senhores feudais tinham jurisdição
dentro de seu feudo: encontravam-se jurisdições
feudais e jurisdições baronais. Lembre-se de que os
donatários das Capitanias Hereditárias no Brasil colonial
dispunham da jurisdição civil e criminal nos territórios
de seu domínio. No período monárquico brasileiro,
tínhamos a jurisdição eclesiástica, especialmente em
matéria de direito de família, a qual desapareceu com
a separação entre Igreja e Estado. Agora só existe
jurisdição estatal, confiada a certos funcionários,
rodeados de certas garantias: os magistrados.
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 177
177
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
A função jurisdicional é exercida pelos seguintes órgãos do Poder
Judiciário:
„„
Supremo Tribunal Federal;
„„
Superior Tribunal de Justiça;
„„
Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
„„
Tribunais e Juízes do Trabalho;
„„
Tribunais e Juízes Eleitorais;
„„
Tribunais e Juízes Militares;
„„
Tribunais e Juízes dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios.
Temos aí a ordem judiciária do País, que compreende:
„„
„„
„„
„„
um órgão de cúpula, como guarda da Constituição
e tribunal da Federação, que é o Supremo Tribunal
Federal;
um órgão de articulação e defesa do direito objetivo
federal, que é o Superior Tribunal de Justiça;
as estruturas e sistemas judiciários, compreendidos
pelos Tribunais e juízes federais, do trabalho, eleitoral e
militar;
os sistemas judiciários dos Estados, Distrito Federal e
Territórios.
O artigo 92 da Constituição Federal faz outra distinção: inclui
os Órgãos da Justiça Estadual entre os que exercem o Poder
Judiciário. Observa-se, assim, que a Constituição Federal acolheu
a doutrina que tem sustentado pacificamente, aliás, a unidade da
jurisdição nacional, ao contrário do que ocorre com os Poderes
Executivo e Legislativo, cuja tônica é marcada pela autonomia
ditada pelo princípio federativo.
Você sabia? O Distrito Federal surgiu da
transformação do antigo Município Neutro, que era
a sede da corte e capital do Império. A Constituição
178
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 178
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Federal, nos arts. 1º e 18º, o inclui como um dos
componentes da República Federativa do Brasil,
considerado sempre como unidade federativa ou
unidade da federação, onde essas expressões foram
usadas.
Nas seções anteriores, você estudou as funções a atribuições
dos poderes da União, ou seja, dos poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário. Nas próximas seções, você vai estudar as
competências dos Estados e dos Municípios do Brasil.
Seção 4 - Quais as competências e atribuições dos
poderes dos estados federados?
Competências dos estados federados
A Constituição Federal assegura autonomia aos Estados
federados e enumera os poderes (competências) na sua capacidade
de auto-organização, de autolegislação, de autogoverno e de
autoadministração (arts. 18, 25 a 28).
A capacidade de auto-organização e de autolegislação está
consagrada no art. 25, segundo o qual os Estados organizam-se
e regem-se pelas Constituições e leis que adotam, observados os
princípios desta Constituição.
A capacidade de autogoverno encontra seu fundamento
explícito nos arts. 27, 28 e 125, ao disporem sobre os princípios
de organização dos poderes estaduais, respectivamente: Poder
Legislativo, expresso por Assembleias Legislativas; Poder
Executivo, exercido pelo Governador; e Poder Judiciário, que
repousa no Tribunal de Justiça e outros tribunais e juízes.
A capacidade de autoadministração decorre das normas que
distribuem as competências entre União, Estados e Municípios,
especialmente do art. 25, § 1º, segundo o qual são reservadas
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 179
179
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por
esta Constituição, que contém, como se nota, o princípio de que,
na partilha federativa das competências, aos Estados cabem os
poderes remanescentes, aqueles que sobram da enumeração dos
poderes da União (arts. 21 e 22, especialmente) e dos indicados
aos Municípios (art. 30).
No Brasil, através da Constituição Federal, o Estado unitário
descentralizou-se em Unidades federadas autônomas,
enumerando para o governo central (federal) os poderes que
se entenderam convenientes, deixando o resto, a sobra, para
os Estados. Por isso, para o sistema federativo brasileiro, a
expressão poderes (ou competências) remanescentes é mais
indicada do que poderes (ou competências) reservados. Mas esta
foi a terminologia adotada pela Constituição, no seu art. 25, § 1º,
que dispõe: São reservadas aos Estados as competências que não
lhes sejam vedadas por esta Constituição.
As vedações implícitas à competência dos Estados decorrem de
tudo que já tenha sido enumerado apenas para a União (art. 20,
21 e 22) e para os municípios (arts. 29 e 30).
Também, a Constituição Federal, além das vedações, estabelece
algumas competências exclusivas nos arts. 18, § 4º, 25, § 2º e
3º, tais como, explorar diretamente, ou mediante concessão, os
serviços locais de gás canalizado, na forma da lei entre outros.
Visto isso, compreendemos que a área de competência dos
Estados federais se limita à seguinte classificação:
„„
competência econômica;
„„
competência social;
„„
competência administrativa;
„„
competência financeira e tributária.
Respeitadas essas normas, incumbe-lhes elaborar leis e diretrizes
orçamentárias, seus orçamentos anuais e planos plurianuais,
realizar despesas e aplicar recursos como melhor lhes parecer,
segundo as necessidades de sua administração e população,
180
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 180
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
mediante planos e programas de desenvolvimento econômico e
social. (SILVA, 2002, p. 602).
Na competência legislativa, não existe autonomia federativa sem
capacidade normativa sobre determinada área de competência.
Os Estados federados dispõem dessa capacidade, agora mais que
antes, mas sempre nos limites que a Constituição Federal lhes
traçou. O campo de incidência de sua legislação, no entanto,
não vai muito além do terreno administrativo, financeiro, social
(competência comum), de administração e gestão de seus bens,
alguma coisa na esfera econômica nos limites já apontados, e
quase nada mais, como por exemplo:
„„
„„
„„
„„
„„
„„
„„
„„
elaborar e votar leis complementares à Constituição
Estadual;
votar o Orçamento e Planos Plurianuais;
legislar sobre seus tributos, arrecadação e aplicação de
suas rendas;
dispor sobre a dívida pública estadual e autorizar a
abertura de crédito;
criar e extinguir cargos públicos, ficando-lhes os
vencimentos e vantagens;
dispor sobre a divisão administrativa e jurídica de seu
território;
dispor sobre a organização do seu Ministério Público,
da Defensória Pública e da Procuradoria ou Advocacia
Geral do Estado;
legislar plenamente ou suplementarmente sobre as
matérias relacionadas no art. 24, com a observância de
seus parágrafos. (SILVA, 2002).
Agora que você estudou a competência material e legislativa
dos Estados, ambas determinadas pela Constituição Federal,
acompanhe na próxima seção as atribuições de cada Poder dos
Estados Federados.
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 181
181
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Quais as atribuições dos Poderes dos estados?
Todos os Estados têm idêntica estrutura governamental. E
os poderes estaduais – Legislativo, Executivo e Judiciário –
competem a três órgãos distintos, de acordo com o princípio
fundamental da divisão de poderes (art. 2º), respectivamente:
Assembleia Legislativa,
Governador do Estado e
Poder Judiciário (Tribunal de Justiça e outros tribunais e juízes).
Segundo Silva (2002, p. 603) a “Assembleia Legislativa é
o órgão do Poder Legislativo estadual, que, nos Estados, é
unicameral, não se admitindo a criação de Senado estadual.
Compõe-se de Deputados, representantes do povo do Estado,
eleitos diretamente pelo sistema proporcional, para um mandato
de quatro anos.”
O Governador do Estado é o Poder Executivo Estadual. É
exercido por um Governador do Estado, eleito para um mandato
de quatro anos, por sufrágio universal e voto direto e secreto,
em eleição que se realiza, em primeiro turno, no primeiro
domingo de outubro e, no segundo turno, se houver, no último
domingo de outubro, do ano anterior ao término do mandato em
curso, tomando posse no dia 1º de janeiro do ano subsequente,
observado o princípio da maioria absoluta tal como está previsto
para o Presidente da República no art. 77.
Quais são as atribuições do Governador?
Serão definidas na Constituição do Estado, mas não com
autonomia absoluta, já que o princípio da divisão de poder é que
rege a distribuição de matérias entre os Poderes estaduais, de
sorte que ao Governador não poderá ser entregue senão matéria
de natureza executivo-administrativa, semelhante às que cabem
ao Presidente da República, tais como:
182
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 182
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
„„
„„
representar o Estado nas suas relações jurídicas, políticas,
administrativas e sociais;
exercer, com auxílio dos Secretários de Estado, a direção
superior da Administração estadual;
„„
sancionar e vetar os projetos de lei;
„„
promulgar e fazer publicar as leis;
„„
exercer o poder regulamentar;
„„
„„
„„
„„
„„
„„
„„
„„
„„
„„
„„
exercer o poder hierárquico e disciplinar sobre todos os
serviços do Executivo, na forma que a lei estabelecer;
prover e extinguir cargos públicos do Estado, com as
restrições da Constituição do Estado e na forma da lei;
nomear e exonerar livremente Secretários de Estado e
demais ocupantes de cargos de provimento em comissão;
nomear e exonerar os dirigentes de autarquias,
observadas as condições estabelecidas na Constituição do
Estado;
decretar e fazer executar a intervenção municipal, na
forma da Constituição;
solicitar intervenção federal no Estado, nos termos da
Constituição Federal;
enviar à Assembleia Legislativa proposta orçamentária,
prestar contas da administração do Estado à Assembleia
Legislativa até a data fixada;
apresentar à Assembleia Legislativa, na sua sessão
inaugural, mensagem sobre a situação do Estado,
solicitando as medidas que julgar de interesse do
governo;
iniciar o processo legislativo nos casos previstos na
Constituição estadual;
prestar as informações solicitadas pelos Poderes
Legislativo e Judiciário;
praticar, enfim, os demais atos de administração, nos
limites da competência do Executivo.
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 183
183
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
A Jurisdição Estadual, como você já estudou, inclui os Tribunais
e Juízes estaduais entre os órgãos do Poder Judiciário nacional (e,
por essa razão, não puramente federal, art. 92, VII), mas declara
que os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios
estabelecidos na Constituição. É o acolhimento da tese da
jurisdição nacional e descentralização judiciária.
O Tribunal de Justiça é o órgão de cúpula da Organização
Judiciária Estadual. Chamado, também, de Segunda
Instância Jurisdicional, o Tribunal de Justiça é composto por
desembargadores. O número de desembargadores e as suas
atribuições são determinados na Constituição e nas leis do
estado.
O Tribunal de Justiça tem competência para propor ao Poder
Legislativo Estadual a alteração da organização e da divisão
judiciária do Estado. A divisão judiciária é a norma que rege
a criação, a alteração e a extinção das seções, circunscrições e
comarcas, assim como sua respectiva classificação. A organização
judiciária compreende a constituição, a estrutura, as atribuições
e a competência dos tribunais, bem como de seus órgãos de
direção e fiscalização; constituição, classificação, atribuições e
competências dos juízes; organização, disciplina e atribuições
dos serviços auxiliares da justiça, inclusive tabelionatos e oficiais
de registro públicos; criação e extinção de cargos nos próprios
tribunais, de juízes, de serviços auxiliares e de varas.
Você Sabia?
O Distrito Federal não é Estado. Não é Município.
Em certo aspecto é mais do que o Estado, porque
lhe cabem competências legislativas e tributárias
reservadas aos Estados e Municípios (arts. 32º, § 1 e
147º)
O Poder Legislativo do Distrito Federal é exercido
pela Câmara Legislativa, que se compõe de Deputados
Distritais.
O Poder Executivo do Distrito Federal é exercido pelo
Governador.
O Poder Judiciário no Distrito Federal, em verdade,
não é dele, pois, nos termos do art. 21, XIII, compete à
União organizar e manter o Poder Judiciário do Distrito
Federal.
184
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 184
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Seção 5 - Quais as competências e atribuições dos
poderes municipais?
O governo Municipal é constituído de duas atribuições básicas:
a função legislativa, exercida pela Câmara Municipal, composta
de vereadores representantes dos eleitores, e a função do
executivo, exercida pelo Prefeito.
Os Municípios não têm e não terão órgãos
jurisdicionais próprios, justiça própria, pois o Poder
Judiciário que atua nos Municípios é o Estadual, cuja
função é atribuída às comarcas.
O Poder Executivo Municipal é exercido pelo Prefeito. Este
é o chefe do Poder Executivo e chefe da administração local.
Caberá à Lei Orgânica de cada Município discriminar as funções
do Prefeito, que, de grosso modo, se distinguem em função de
governo e função administrativa.
As funções de governo municipal compreendem:
„„
„„
„„
„„
representar o município;
empreender a direção geral dos negócios municipais e
relações com outras autoridades;
sancionar, promulgar e fazer publicar leis, vetar projetos
de lei;
planejar a administração local.
Dentre as funções administrativas, incumbe ao prefeito nomear
e exonerar seus auxiliares, prover cargos públicos municipais,
arrecadar e guardar as rendas municipais, tomando providências
sobre sua aplicação, autorização de pagamentos, gestão do
patrimônio e bens municipais, supervisionando e executando
serviços e obras públicas reclamadas para o desenvolvimento da
comunidade local.
O Poder Legislativo Municipal é exercido pela Câmara
Municipal e organizado pela Lei Orgânica Municipal. As
atribuições discriminadas pela lei orgânica do respectivo
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 185
185
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Município e que se desdobram em quatro grupos são como
segue: (SILVA, 2002, p. 626):
„„
„„
„„
„„
função legislativa: é ato de legislar sobre as matérias
de competência do município, estabelecendo-se as leis
municipais;
função meramente deliberativa: a Câmara exerce as
atribuições de sua competência privativa, que envolvem a
prática de atos concretos de resoluções referendárias, de
aprovação e de autorização;
função fiscalizadora: exercício da relevante atribuição
de fiscalizar as finanças e os orçamentos do município,
mediante controle externo, com o auxílio do Tribunal
de Contas do Estado ou do Conselho ou Tribunal
de Contas do Município (onde houver). A Câmara,
exercendo sua atividade fiscalizadora, poderá pedir
informações ao prefeito, convocar auxiliares diretos deste,
investigar através de Comissão Especial de Inquérito,
tomar e julgar as contas do prefeito, podendo rejeitar o
parecer prévio do Tribunal de Contas competente apenas
por voto de dois terços de seus vereadores;
função julgadora: a Câmara Municipal exerce essa
função, cabendo-lhe julgar o prefeito e os vereadores por
infrações político-administrativas, ou seja, através de um
juízo político.
Síntese
Nesta unidade, você verificou que o desenvolvimento de
atividades pela administração pública deve sempre ocorrer em
consonância com um interesse público, conforme estabelecido
na Constituição Federal, pois a gestão pública traz em seu
conteúdo as regras de direito administrativo as quais irão
conferir prerrogativas à administração para limitar a autonomia
186
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 186
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
da vontade, fundamento do direito privado, mediante atos
unilaterais do Estado.
Você também viu que os princípios que assoalham o regime
jurídico administrativo, por vigorarem segundo determinadas
condições, regulamentações e limites, admitindo variantes
e qualificações singulares, desempenham o papel de guia,
conduzindo à compreensão dos diversos institutos do direito
administrativo.
O agente administrativo não desenvolve de modo arbitrário suas
atividades, mas, em virtude dos referenciais do interesse público
que estão incorporados na rede principiológica que sustenta o
exercício da atividade administrativa com a estrita observância da
lei.
O art. 37 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) consagra
o regime jurídico administrativo através dos princípios da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e
da eficiência. Os demais princípios assumidos pela administração
pública brasileira derivam de outros dispositivos, ou são
considerados implícitos a esses que acabamos de citar.
Você também aprendeu que a competência é a faculdade
juridicamente atribuída a uma entidade ou órgão ou agente do
Poder público para emitir decisões. As competências são as
diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou
entidades estatais para realizar suas funções.
Ao definir critérios de classificação da competências material e
da competência legislativa, a Constituição Federal demonstra
claramente o modo como as funções são distribuídas entre os
diversos órgãos de cada um dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário.
A União recebeu, com preponderância sobre os demais entes
federativos (estados e municípios), competências materiais
exclusivas, estabelecidas no art. 21 da Constituição Federal.
Além do que os poderes definidos são indicados para cada esfera
de governo com atribuições e jurisdições claras.
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 187
187
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Atividades de autoavaliação
Leia com atenção os enunciados e responda às questões que seguem.
Após, confira no item Anexos, ao final do livro, as respostas e/ou
comentários sobre as questões e compare com as respostas que você deu.
1) Você acaba de estudar os princípios que regem o dia a dia do
desenvolvimento da Administração Pública. Agora é necessário que
você pesquise e anote um exemplo que aconteceu ou acontece na
Administração Pública, do qual você já tomou conhecimento, a fim de
fazer uma relação da teoria com a prática.
2) Qual o princípio adotado pela Constituição Federal para a repartição de
competência e o que ele significa?
188
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 188
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
3) Qual a técnica adotada pelo Brasil para a repartição de competências?
4) A Constituição Federal reparte as competências expressamente ou
implicitamente? Explique.
5) Qual a diferença entre competência exclusiva e competência privativa?
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 189
189
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
6) Sabemos que, nos Municípios como na União e nos Estados, temos
os três Poderes definidos na Constituição. Porém, quem exerce ou
representa cada um deles nos Municípios?
7) No Distrito Federal, a quem é atribuída a representação do Poder
Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário?
Saiba mais
Para aprofundar os estudos dos temas tratados nesta unidade,
você pode consultar a obra: Comentários da Lei de Licitações e
Contratos, de Marçal Juten Filho.
190
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 190
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Você ainda poderá aprofundar os temas estudados, consultando
livros constantes da bibliografia desta disciplina. Recomendo que
consulte com frequência a Constituição Federal.
Nesta unidade, estudamos, entre outros conteúdos, os princípios
e funções públicas, bem como as competências e atribuições
da União, Estados e Municípios. Para melhor entendimento,
disponibiliza-se o texto a seguir.
OS PODERES DO ESTADO E AS RESPECTIVAS FUNÇÕES
A vontade estatal ou governamental, segundo a teoria clássica
proposta por MONTESQUIEU, manifesta-se através dos Poderes.
Atualmente, essa teoria seria melhor denominada de separação
das funções do Estado. As FUNÇÕES se constituem em
especialização de tarefas governamentais à vista de sua natureza.
PODERES
Executivo
Legislativo
Judiciário
FUNÇÕES
A Função Legislativa consiste em inovar a ordem jurídica, criar
direito novo ao traçar abstrata e genericamente as normas de
conduta. É tarefa do Poder legislativo.
A Função Jurisdicional ou Jurisdição (dizer o direito) visa
aplicar a lei ao caso concreto para solucionar litígios (conflitos de
interesse caracterizados por pretensão resistida), restabelecendo
a paz individual e social. Compete ao Poder Judiciário.
A Função Administrativa diz respeito à gestão ordinária dos
serviços públicos de interesse da coletividade. Incumbe ao Poder
Executivo.
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 191
191
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Vejam bem. Cada Poder possui sua função própria, porém
também exercem outras funções. Assim, os Poderes Legislativo
e Judiciário também exercem algumas funções administrativas,
como, por exemplo, aquelas decorrentes do poder hierárquico e
disciplinar. O Executivo pode efetuar função legislativa quando
dá início a projetos de lei, sanciona ou veta leis.
Por fim, o Legislativo exerce funções judiciais quando processa e
julga o Presidente da República por crime de responsabilidade e
também os ministros de Estado (CF, art. 52, I e II)
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
Segundo Pietro, há basicamente dois sentidos para o vocábulo
Administração Pública (Pietro, 1998, 49-56):
a) Em sentido Subjetivo, formal ou orgânico, ela designa
os entes que exercem a atividade administrativa; compreende pessoas jurídicas, Órgãos e Agentes Públicos.
b) Em sentido Objetivo, material ou Funcional,
designa a natureza da atividade exercida pelos referidos entes ; nesse sentido, a Administração Pública
é a própria função administrativa que incumbe
predominantemente ao Poder Executivo.
Comecemos pelo aspecto objetivo. Nesse sentido à
Administração Pública cabe as seguintes tarefas:
a) Fomento: Incentivo à iniciativa de utilidade pública
(subvenções, financiamentos, favores fiscais);
b) Polícia Administrativa: Compreende toda atividade
de execução das chamadas limitações administrativas;
c) Serviço Público: É toda atividade que a Administração Pública executa, diretamente, para satisfazer a
necessidade coletiva, sob regime jurídico preponderantemente público (CF, art. 21, incisos X, XI, XII e 175);
Ainda dentro do aspecto objetivo, podemos elencar as principais
características da Administração Pública:
a) É uma atividade concreta, no sentido que põe
em execução a vontade do Estado contida na lei;
b) A sua finalidade é a satisfação direta
e imediata dos fins do Estado;
c) Seu regime jurídico é de direito público;
192
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 192
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Quanto ao aspecto subjetivo da Administração Pública, vejamos
a classificação contida no art. 4º do Dec.Lei 200/67:
1 - Administração direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da
Presidência da República e dos Ministérios;
2 - A Administração indireta, que compreende
as seguintes categorias de entidades, dotados de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
b) Empresas públicas;
c) Sociedades de Economia Mista;
d) Fundações públicas;
Vejamos o esquema abaixo:
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
- A Administração é exercida pelo próprio Estado
- ÓRGÃOS:
* DE DIREÇÃO;
* CONSULTIVOS;
* DE EXECUÇÃO
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
- A atividade administrativa descentralizada é exercida pessoa distinta do Estado
- ENTIDADES:
* AUTARQUIAS;
* FUNDAÇÕES PÚBLICAS;
* EMPRESAS PÚBLICAS;
* SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA;
Unidade 5
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 193
193
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Esses serviços e atividades podem ser prestados pelo Estado de
forma centralizada ou descentralizada, que são formas técnicas
de Organização Administrativa.
a) Centralização: É a prestação de serviços diretamente pela pessoa política prevista constitucionalmente, sem delegação a outras pessoas. Diz-se
que a atividade do Estado é centralizada quando
ele atua diretamente, por meio de seus Órgãos.
b) Descentralização: É a transferência de execução do
serviço ou titularidade do serviço para outras pessoas,
quer seja de direito público, quer seja de direito privado.
No âmbito da mesma pessoa jurídica temos:
a) Desconcentração: É a distribuição interna de competências, ou seja, dentro da mesma pessoa jurídica.
Sabe-se que a Administração Pública é organizada
hierarquicamente, como se fosse uma pirâmide
em cujo ápice se situa o Chefe do Poder Executivo. As atribuições administrativas são outorgadas
aos vários órgãos que compõem a hierarquia. Isto
é feito para descongestionar, desconcentrar, tirar
do centro um volume grande de atribuições, para
permitir o seu mais adequado e racional desempenho. A desconcentração liga-se à hierarquia.
b) Concentração: Ocorre o inverso da desconcentração. Há uma desconcentração das atividades dos órgãos periféricos para os centrais.
As referências deste conteúdo encontram-se em: :
AMATO, Pedro Muñoz. Introdução à Administração Pública.
Rio de Janeiro: FGV, 1971.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 29. ed.
São Paulo: Saraiva, 2002.
SALDANHA, Clezio. Introdução à gestão pública. São Paulo:
Saraiva, 2006.
194
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 194
10/08/11 15:16
unidade 6
Fatores culturais e
administração pública
Objetivos de aprendizagem
„„
Estudar os fatores culturais que contribuem para a
administração pública.
„„
Compreender a relação do desenvolvimento do
país com a necessidade de crescimento dos serviços
públicos.
„„
Entender a administração pública a partir da
reestruturação do sistema de administração
financeira, modificação do contexto político e a
evidência de uma cultura de corrupção.
„„
Estudar a melhoria da capacitação e cultura no
serviço público.
6
Seções de estudo
Seção 1
O século XX e sua influência na administração
pública
Seção 2
A presença do Departamento de
Administração do Serviço Público (DASP) e
outros organismos na formação da cultura
burocrática da administração pública
brasileira
Seção 3
O crescimento do estado e sua administração
Seção 4
A modificação do contexto político
Seção 5
A evidência de cultura de corrupção
Seção 6
A cultura democrática no Brasil
Seção 7
A melhoria da capacitação e da cultura no
serviço público
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 195
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Nesta unidade, você vai estudar e identificar os fatores culturais
presentes nos primeiros acontecimentos na vida de nosso
País, através do movimento que originou esforços na busca da
modernidade do Estado, a saber, qualidade e eficiência dos
serviços públicos.
Você vai conhecer o crescimento do Estado, refletir sobre a
Criação do DASP – Departamento de Administração do Serviço
Público, a resistência do nepotismo à reestruturação de todo o
sistema administrativo, as modificações do contexto político,
a intenção da Constituição de 1988 sobre a administração
pública e a evidência da cultura de corrupção e, ainda, a cultura
democrática no Brasil.
Inicie agora a seção e conheça os primeiros fatores culturais da
administração pública.
Seção 1 - O século XX e sua influência na
administração pública
O século XX foi, sem dúvida nenhuma, a época de
maior conquista e influência da sociedade e atividades
privadas sobre a administração pública.
As atividades industriais surgiram a partir de 1930, em face do
progresso e desenvolvimento dos grandes centros como São Paulo
e Rio de Janeiro, quando, na década de 1950, consolidavam-se
as atividades industriais através das empresas multinacionais
automobilísticas que se instalaram no Brasil. E, durante a
ditadura militar e o seu comentado “milagre econômico”, período
das grandes construções públicas.
A título de exemplo, podemos falar da construção
de nossa Capital Federal, cujo projeto foi definido
muito antes (1950), escolhendo-se um local central
196
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 196
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
no Brasil para a sua construção, que ocorreu durante
o governo do Presidente Juscelino Kubitschek (19561961) e continuou ao longo de décadas. Além do que
o país era muito mal servido de rodovias federais, o
que, atualmente, não parece estar muito diferente,
após praticamente 50 anos de desenvolvimento. Esta
afirmação pode ser ilustrada com a construção da
Usina Hidroelétrica de Itaipu.
Aos olhos dos brasileiros, parecia que realmente o Brasil estava
no caminho do desenvolvimento, e estava, porém à custa da
dívida externa, que a sociedade brasileira vem pagando muito
caro até os dias de hoje.
Na metade do século 20, o Estado brasileiro começava a
desenvolver a indústria de base, passando a ter uma função mais
intervencionista, com resultados empresariais, e, daí, surge a
necessidade da introdução de uma administração mais gerencial,
utilizando-se princípios e técnicas da iniciativa privada, mas com
ênfase no interesse público. De 1945 a 1964, começava a surgir
um ideal de planificação do Estado. (RAMOS, 1983).
Em 1964, surgiu a Lei Complementar 4.320 que instituiu
normas de direito financeiro para elaboração e controle dos
orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e
do Distrito Federal.
Seção 2 - A presença do Departamento de
Administração do Serviço Público (DASP) e outros
organismos na formação da cultura burocrática da
administração pública brasileira
O DASP (Departamento de Administração do Serviço Público)
tinha como finalidade estabelecer um padrão de eficiência no
serviço público federal e criar canais mais democráticos para o
recrutamento de recursos humanos para a administração pública,
através de concursos de admissão.
Unidade 6
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 197
197
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Na época, a ideia da criação desta instituição foi bem acolhida
pelo então presidente da República, Getúlio Vargas, que
autorizou o DASP a promover um estudo de princípios e
métodos da organização racional do trabalho, com vista à
preparação de pessoal qualificado para a administração pública
e privada. Tal entidade surgiu através do Decreto nº 6.933,
próxima do polo dominante dos campos do poder político e
econômico.
Em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo (USP), através
da aglutinação de faculdades já existentes e da abertura de novos
centros de ensino. Em 1946, foi criada a Faculdade de Economia
e Administração (FEA), que tinha por objetivo formar
funcionários para os grandes estabelecimentos de administração
pública e privada.
O fator que veio repercutir na criação da FEA foi,
principalmente, o grande surto de industrialização, quando
surgiram empresas que movimentavam altos capitais, as quais
exigiram, para sua direção, técnicas altamente especializadas.
Martins (1989) afirma que foram os interesses públicos e privados
que influenciaram na criação da FEA. Segundo o autor, o
objetivo era prestar colaboração às empresas privadas e a todos
os órgãos do serviço público. Desde o seu início, procurou criar
relações principalmente com a administração pública local.
Estabeleceu contato com a Federação das Indústrias, com a
Associação Comercial do Estado e com a iniciativa privada. Tais
relações permitiram que o quadro de professores acumulasse,
além de suas funções didáticas, um trabalho de assessoria junto a
organismos privados e à administração estatal.
Seção 3 - O crescimento do Estado e sua administração
O crescimento do Estado como empresário provocava a
necessidade de se tomar providências para melhorar a eficiência
e a eficácia da administração pública. Para atender a essas
demandas, foi editado o Decreto-Lei nº 200, em 1967, que se
198
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 198
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
constituiu no primeiro passo em direção do modelo chamado
pós-burocrático ou gerencial. Esse Decreto-Lei foi, assim, a
primeira tentativa de superação da rigidez da administração
burocrática, estabelecendo os conceitos de planejamento,
descentralização, delegação da autoridade, coordenação e controle
na administração pública brasileira. A partir desse período,
houve um grande crescimento do Estado brasileiro, explicitado
no aumento do seu aparelho de Estado, até a década de 80.
(PEREIRA, 1996).
Como você já viu nas seções 1 e 2, nosso país passou por
transformações muito acentuadas, devido ao crescimento
populacional e as decorrentes consequências de ordem social,
cultural e financeira. Desta forma, o crescimento de índices
destas naturezas fez o Estado perceber a necessidade de criar uma
gestão profissional, para atender as necessidades sociais e serviços
essenciais ao Estado.
Em algumas áreas, é mais visível o crescimento do Estado
brasileiro, como ocorreu na área de administração dos recursos
financeiros da Federação.
A reestruturação do sistema de administração financeira
Somente em 1986 ocorreu a criação da Secretaria do Tesouro
Nacional, por meio do Decreto 92.452 e, ainda, a reestruturação
de todo o sistema de administração financeira, contabilidade,
auditoria e sistema de programação financeira, estabelecendo-se
então um sistema de controle de acordo com o Decreto-Lei nº
200/67. (CASTRO, 1997).
Em 1988, foi promulgada a Constituição Federal que
consolidou e estruturou o novo sistema de controle da
administração pública, sistema esse fundamentado nos
princípios constitucionais de legalidade, moralidade,
finalidade pública, motivação, impessoalidade e
publicidade.
O sistema de controle, esboçado na Constituição Federal de
1988, se baseou nos sistemas de freios e contrapesos operados
Unidade 6
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 199
199
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
através da separação dos Poderes, no sistema de controle interno
de cada Poder, no sistema de controle exercido pelo legislativo
com auxílio dos Tribunais de Contas e, ainda, em todas as
possibilidades de atuação da sociedade que permitiriam novas
formas de controle social da sociedade civil sobre a administração
pública, por meio de conselhos, recursos administrativos e
judiciais.
A administração pública brasileira relacionada com a intenção da
Constituição de 1988
A administração pública brasileira ainda mantinha resquícios
patrimonialistas que se superpunham ao modelo burocrático,
racional-legal. O governo brasileiro não dispunha de estrutura
e recursos – inclusive de informação –adequados à atividade de
controle previsto e necessário, fato que foi amenizado no decorrer
da década de 90.
E muito daquela situação explicitada após a promulgação da
Constituição de 1988 ainda se mantém: falta integração entre
os órgãos de controle interno de cada órgão, instituição e
Poder, e entre esses e o controle externo a cargo das entidades
fiscalizadoras. Como exemplo, os Tribunais de Contas e o
próprio Legislativo sobre as ações do Executivo.
Por outra parte, ainda falta agilidade e rigor dos Tribunais
de Contas no julgamento das contas dos gestores públicos, o
que é ocasionado, muitas vezes, por ingerências políticas; mas,
essencialmente, por falhas na instrução dos processos de contas
analisados.
A política do “jeitinho” e a ineficácia da aplicação da Lei tornam
a possibilidade de responsabilização do gestor público pouco
provável no Brasil, criando um ambiente favorável ao descontrole.
Todos esses fatores associados contribuem para a
pouca eficácia dos controles formais e a administração
pública continua prestando serviços de pouca
qualidade e com baixa eficiência.
200
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 200
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
A racionalidade legal pretendida pela Constituição de 1988
carecia de instrumentos e mecanismos de gestão pública para
a sua operacionalizalização. A gradativa introdução de uma
nova filosofia de administração pública durante o final da última
década do século 20 busca responder a esse desafio.
Seção 4 - A modificação do contexto político
A partir de 1990, pela transição democrática, a eleição direta
do Presidente da República, além de outros fatores, como a
necessidade de reduzir custos e aumentar a qualidade dos serviços
num mercado cada vez mais competitivo, o desenvolvimento
tecnológico, a globalização das economias mundiais, a introdução
de conceitos neoliberais e a grande rigidez dos princípios
estabelecidos na Constituição Federal de 1988 traduzem a
necessidade do estudo de um novo padrão para a administração
pública no Brasil. (BRASIL, 1995).
Foi nos anos 90 que surgiram as primeiras tentativas de reforma
administrativa: privatização de estatais, regulamentação da
descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS), extinção de
órgãos, cortes de pessoal, inovação de modelos por contratos de
gestão.
Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, foi
criada a Secretaria de Reforma do Estado (SARE), no âmbito do
Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE), a
qual estabeleceu no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do
Estado uma série de diretrizes a serem desenvolvidas dentro da
administração pública brasileira.
Unidade 6
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 201
201
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 5 - A evidência de cultura de corrupção
A corrupção é um fenômeno social presente nas organizações
públicas e privadas mesmo em nações politicamente mais
desenvolvidas e com controles mais elaborados e eficazes.
(KLITGAARD, 1994). A corrupção, por ser uma ameaça
potencial de desprestígio das instituições, muitas vezes é
relevada a um segundo plano. (PINHEIRO e VIEIRA,
1993). Entretanto, como você já viu, no Brasil, a formação
patrimonialista da administração é fundamentada com base na
formação histórica de nosso Estado e sociedade civil (PINHO,
1998 e 1998a) e isto tem resultado predominantemente em
possibilidades efetivas de corrupção.
Os casos que frequentemente circulam na imprensa e têm sido
motivo de inúmeras Comissões Parlamentares de Inquérito
(CPIs) nos últimos anos indicam que a sociedade não mais tolera
os casos de corrupção pelo menos nos níveis em que tem ocorrido
no Estado brasileiro.
Minas Gerais: A Câmara cassa prefeito de Alfenas
numa sessão com oito horas de duração; a Câmara
de Alfenas (335 km de Belo Horizonte) aprovou
anteontem, por unanimidade (15 votos), a cassação
do prefeito afastado José Wurtemberg Manso
(sem partido). Manso foi filmado em seu gabinete
distribuindo maços de dinheiro a sete vereadores. Em
março, uma ex-funcionária da prefeitura divulgou as
gravações, feitas em 2002. Para a polícia e a Promotoria,
ele negociava a aprovação de projetos na Câmara.
Manso, que cumpria seu terceiro mandato na prefeitura
de Alfenas, não foi localizado ontem. (FOLHA de SÃO
PAULO, 2004).
Santa Catarina: Mais de 400 gestores têm suas contas
julgadas irregulares. O Tribunal de Contas de Santa
Catarina encaminhou, nesta segunda-feira (5/7), ao
Tribunal Regional Eleitoral a relação dos 415 gestores
públicos com contas julgadas irregulares ou que
receberam parecer prévio pela rejeição de suas contas
nos cinco anos anteriores às eleições municipais deste
ano (CONSULTOR JURÍDICO, 2004).
202
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 202
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Talvez o clímax dos processos de patrimonialismo e de corrupção
se tenha dado no Governo de Fernando Collor, culminando no
seu impeachment. A corrupção, como fenômeno social presente
de forma marcante no Brasil, deve ser estudada e considerada
com cuidado no processo de reforma administrativa, quando se
deseja estabelecer mecanismos de controle que possam coibir e/ou
reduzir essas práticas.
Você sabia? Omissão do agente público nas licitações:
a presença do corrupto na celebração desses diversos
instrumentos pode se transformar, ainda, na omissão
de controle nas concorrências.
Seção 6 - A cultura democrática no Brasil
O controle social da administração pública através da cidadania
ativa é capaz de garantir o cumprimento de programas do
governo, viabilizando os projetos sociais e de interesse da nação.
Entretanto o que se percebe no Brasil é a ausência do exercício
da cidadania. Os problemas decorrentes da crise econômica
atrelados à corrupção e ao clientelismo, prática corrente na
administração pública, se sobrepõem às iniciativas inovadoras
de governos locais, ou mesmo, a iniciativas do Governo Federal,
por exemplo, implantação de mecanismos facilitadores para o
exercício de cidadania (como os Serviços de Atendimento ao
Cidadão). Tais iniciativas acabam não repercutindo no projeto
maior que é elevar o grau de cidadania no País e /ou promover
um controle efetivo dos recursos públicos.
A cidadania, como entidade presente da democracia, se baseia no
lastro legal da segurança dos direitos constitucionais. Entretanto
há caminhos que podem ser trilhados, reconhecendo-se as
dificuldades existentes e perseguindo-se o ideal democrático.
Neste sentido, o ponto de vista prático da reforma administrativa
não permite que medidas mais agressivas e estratégicas
Unidade 6
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 203
203
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
direcionadas à introdução de um processo consigam viabilizar o
controle social adequado num Estado realmente moderno.
Seção 7 - A melhoria da capacitação e da cultura no
serviço público
A cultura de clientelismo e patrimonialismo dentro
das organizações públicas, associada a uma falta de
capacitação de servidores, é um problema para o
estabelecimento de flexibilidade na sua administração.
Segundo Schwartzman (1996), a visão moderna da
administração, que parte do princípio de que o administrador
é honesto até provar em contrário, dá ampla flexibilidade de
ação para os dirigentes das organizações e substitui os controles
formais pela avaliação de resultados. Porém os controles formais
continuam existindo pelo fato de que a simples eliminação das
restrições e controles burocráticos não é suficiente para garantir
o bom desempenho e a correção no uso dos recursos públicos por
parte das instituições governamentais.
Nesse problema, têm-se dois pontos chaves: o desempenho e o
controle.
„„
„„
Desempenho: é marcado pela cultura e depende do
mercado e das profissões que se exercem. Mercado e
profissões dentro do jogo econômico são mais fáceis de
serem criados, enquanto cultura faz parte de um processo
de longa duração.
Controle: este problema diz respeito ao controle, cujos
órgãos oficiais, Tribunais de Contas e Secretarias de
Controle Interno, pecam pela falta de capacidade técnica
e legitimidade para exercer a função. Na perspectiva
do controle, os contratos de gestão e os conselhos
compõem importantes instrumentos de coordenação e
acompanhamento das ações governamentais.
204
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 204
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Por seu caráter de controle social da sociedade sobre as ações do
aparelho de Estado, esses conselhos devem satisfazer os critérios
de representatividade de pessoas da sociedade e devem ter um
forte componente profissional que lhes possa dar apoio técnico,
prestígio, respeitabilidade e capacidade de trabalho coordenado.
O problema da cultura só pode ser resolvido em longo prazo.
Enxergam-se, nesse campo, pelo menos, dois caminhos
que poderão viabilizar uma transformação na cultura da
administração pública brasileira:
„„
„„
um deles é decorrente dos programas de capacitação e
treinamento internos;
o segundo decorre da modificação na cultura
relativamente aos ingressos de novos servidores
mediante concurso público e a reestruturação das
carreiras públicas. A renovação de pessoal provoca uma
verdadeira alteração de costumes e condutas dentro
da administração, porém esse é um processo lento.
Durante muito tempo se privilegiou o apadrinhamento
e o nepotismo na administração brasileira. Isto criou
uma verdadeira chaga, difícil de extirpar, porque se
reproduz ao contaminar outros servidores que se tornam
impotentes num sistema tão complexo.
O que você pensa sobre esta questão?
O desempenho depende de capacitação e condições que o
mercado ou organismo público oferece na busca contínua do
desenvolvimento, e o controle é o meio pelo qual identificamos
o grau de desempenho, portanto um é parte do outro. Através
do controle, identificamos a necessidade de maior e melhor
desempenho da administração.
Unidade 6
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 205
205
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Síntese
Nesta unidade, você estudou os fatores culturais e sociais que
contribuíram para o desenvolvimento do Brasil, que, entre outras
determinações, teve por consequência o crescimento do Estado.
Observou-se a necessidade de uma busca por qualificação dos
serviços públicos.
Nesta lógica, surgiu a necessidade de criação do Departamento
de Administração do Serviço Público (DASP) e outros
organismos, com o objetivo de amparar o crescimento do Estado,
suprindo suas necessidades e definindo uma reestruturação para o
setor.
A Constituição Federal de 1988 voltou-se com a melhor das
intenções para a Administração Pública Brasileira, mas, na
realidade, o que falta é controle, pessoal qualificado e o contexto
político. Muitas vezes esse conjunto se confunde e não consegue
fazer o que está determinado a realizar.
A evidência da cultura da corrupção ainda é um mal que assola
este País. Sendo assim, estamos todos imbuídos do imperativo
de busca da melhor e mais eficiente maneira de acabar com este
tipo de ocorrência. A forma poderia ser através da melhoria da
capacitação e cultura do serviço público.
206
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 206
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Atividades de autoavaliação
Leia com atenção os enunciados e responda:
1) Quais foram os primeiros fatores culturais que influenciaram o
desenvolvimento da administração pública no Brasil?
2) Como você pode identificar no desenvolvimento de nosso País o que
originou a criação do Departamento de Administração do Serviço
Público (DASP)?
Unidade 6
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 207
207
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
3) O que caracterizou o crescimento do Estado brasileiro?
4) A partir da modificação do contexto político, explique qual a influência
para a Administração Pública Brasileira?
5) Como você interpreta a evidência da cultura de corrupção?
208
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 208
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Saiba mais
Você poderá aprofundar este tema, consultando bibliografias
com abordagem para a Administração Pública, a Reforma do
Estado, a Cidadania e a Burocracia.
Percebe-se na atualidade que o tema da corrupção tem tomado
especial atenção. A imprensa tem um papel preponderante na
informação de tais atos ilegais, que ocorrem quando uma pessoa
abusa de seu poder para obter algum benefício para si, para seus
familiares ou para seus amigos. Neste sentido, disponibiliza-se o
texto abaixo.
A corrupção como um problema político
A corrupção, vista como o abuso do poder público para beneficio
pessoal, é um problema político-social. Percebe-se uma “cultura”
da corrupção, pois se verifica um crescimento no número de
casos.
Aparentemente, a explicação para o problema político se
deve, por um lado, pelas disputas internas pelo poder; por
outro, devido a certas exigências apresentadas pelo contexto
internacional (globalização) que pressionam os detentores de
mandatos e seus cooperadores mais diretos, certas atitudes
frente ao planejamento e implementação das ações políticas, do
comando do Estado e do sistema englobado por este.
A debilidade institucional da Democracia, verificada em nosso
continente, contribuiu para a sustentação de um sistema paralelo
integrador de corrupção frente ao sistema legítimo em plena
crise. Este sistema é concebido e mantido por alguns políticos e
seus colaboradores, que muitas vezes agem em nome destes.
Apesar das deficiências estruturais, o problema da corrupção
não tem, a rigor, origem no Estado, e sim em seus governantes.
Presume-se que o processo deriva da anomalia estrutural que
se verifica na construção e funcionamento de um sistema
paralelo ao estatal ou legítimo, concebido e implementado pelos
detentores do poder, que se colocam acima da lei.
Unidade 6
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 209
209
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
A principal repercussão dos fatos de corrupção pelos meios de
comunicação tem sido seu custo moral. Quando a ética pública
não é apropriada; quando a opinião pública tem, geralmente, um
conceito negativo da política, a corrupção parece ser tolerada
porque é considerada uma consequência inevitável do exercício
do poder. Assim, os meios de comunicação tem um papel
importante e indispensável para a informação destes atos, a fim
de que, se a lei não cumprir seu papel, a sociedade o faça.
A corrupção política é uma realidade mundial; seu nível de
tolerância ou de combate evidencia a maturidade política de
cada país. Por esta mesma razão existem entidade nacionais
e internacionais, oficiais ou privados, com a missão de
supervisionar o nível de corrupção administrativa internacional,
como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização
dos Estados Americanos (OEA) e a Transparência Internacional.
Além disso, a corrupção não é “privilégio” do Estado ou dos
Governos, pois inclui o setor privado, no caso de corrupção
empresarial ou de tráfico de influências entre o setor privado e o
público. Em muitos países este setor tem uma grande influência
estatal e, portanto, o nível de corrupção presente nestes países
tem estreita relação com a maneira de atuação do setor privado
em conjunto com os sistemas políticos.
Muitas vezes, a ineficiência dos serviços públicos geram
corrupção; mas também é certo que o nível de integração social
e a percepção de metas sociais é muito baixa. Não é possível
pretender uma ótima relação do cidadão comum com as regras
institucionais se este se encontra alijado dos propósitos da
sociedade. Neste sentido, o conveniente e ideal é que o cidadão
tenha consciência da sua atuação e papel na sociedade.
As referências deste conteúdo encontram-se em: :
PAZ, Octavio. Tiempo Nublado. Seix Barral: Barcelona, 1983.
210
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 210
10/08/11 15:16
unidade 7
A modernização do estado:
entre concentração,
descentralização e
flexibilização
7
Objetivos de aprendizagem
„„
Conceituar reforma administrativa dentro da história
da organização pública brasileira.
„„
Compreender o conceito de controle social em sua
relação com a reforma administrativa.
„„
Identificar as diretrizes introduzidas na modernização
do estado.
„„
Entender os aspectos principais da
desconcentração e descentralização administrativa.
„„
Compreender o que é administração direta e indireta.
„„
Rever os conceitos de autarquias, fundações,
sociedade de economia mista, empresas públicas e
organizações sociais.
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 211
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seções de estudo
Seção 1
Controle social e reforma administrativa
Seção 2
As diretrizes introduzidas na modernidade
do Estado
Seção 3
A concentração e desconcentração da
administração pública brasileira
Seção 4
Centralização versus Descentralização
Seção 5
O que é administração pública direta?
Seção 6
A administração pública indireta: autarquias,
fundações, sociedades de economia mista e
empresas públicas
Seção 7
Concessões, permissões e organizações
sociais
Seção 8
Atividade econômica, serviços públicos e a
criação de valor público
212
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 212
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Para início de estudo
Nesta unidade, você vai estudar a modernização do Estado,
tendência que tem refletido diretamente na conformação histórica
da administração pública brasileira.
Após conceituar reforma administrativa e controle social, você
também vai aprender a relacionar os conceitos de concentração e
descentralização com as formas de administração pública direta e
indireta, nas suas mais diferentes e atuais expressões na realidade
brasileira.
Seção 1 - Controle social e reforma administrativa
A necessidade e contribuição do controle social na reforma
administrativa
A sociedade brasileira e a classe política não se têm dado conta da
grande necessidade de implementação de mudanças nos sistemas
de controle sobre os recursos públicos e sua gestão, ampliandose os meios de controle social. Esse aumento do controle não
pode, entretanto, significar a imobilização da ação do gestor
público, mas a garantia de uma utilização mais racional, eficiente,
transparente, regular e compatível com o esforço da sociedade
para responder aos níveis de tributação impostos pelo Estado.
Segundo Silva (2001, p.21) “o cenário atual de ampla disputa
política, diante das transformações sociais do final do século XX
e início do século XXI, tem exposto as fragilidades dos modelos
existentes. As mudanças necessárias no controle devem caminhar
na direção de ampliação e consolidação da democracia no Brasil.”
O controle social sobre a gestão pública e, mais destacadamente,
sobre a aplicação dos “recursos públicos colocados à disposição do
Estado é um tema extremamente importante para ser discutido.
As transformações decorrentes de reformas administrativas têm
caminhado na direção de ampliação do controle social, entretanto
ainda são tímidos os meios disponíveis para a sociedade, além do
despreparo do cidadão.” (Ibid., p. 21).
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 213
213
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Nos últimos anos, o País tem-se defrontado com inúmeros casos
de desvios e impropriedades na execução do gasto público. As
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) têm sido criadas
com maior frequência e para atender a novas necessidades geradas
por práticas questionáveis de administração pública. O objetivo
é investigar e coibir casos de corrupção e desmando, que Silva
(2001, p. 21-22) denomina como “práticas neopatrimonialistas.
Esses fatos impõem a urgência de uma discussão profunda sobre
o tema controle, pois se acumula um elevado custo social pela má
utilização de recursos públicos.”
A modificação estrutural derivada da reforma gerencial,
introduzida no Brasil nos anos 90, altera as formas de controle da
administração pública, ao visar uma maior ênfase nos resultados
e assumir como base as possibilidades do controle social. Porém,
num país como o Brasil, onde ainda existe grande parcela da
população que vive à margem dos direitos sociais e políticos, falar
em controle social parece um algo prematuro.
O controle social atuante pode representar o elemento essencial
para assegurar que o governo atinja, com eficiência e efetividade
e dentro dos preceitos legais da ordem democrática, os objetivos
estabelecidos para os órgãos públicos e para os programas de
longa duração.
Na questão do controle social, é fundamental uma análise
criteriosa, considerando não só os aspectos da administração,
mas, principalmente, os aspectos políticos e sociais envolvidos.
Assim, há de se levar em conta as dificuldades da sociedade e a
existência de distorções como a corrupção e nepotismo, práticas
ainda presentes no funcionamento do Estado brasileiro.
Que é corrupção?
Corrupção é um fenômeno social presente mesmo em nações
mais desenvolvidas e com mecanismos de controle do Estado
bastante elaborados. Acontece quando pessoas investidas de
autoridade ou colocadas em cargos públicos, que se valem do seu
poder e influência para favorecer seus interesses,
214
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 214
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
É necessária uma reavaliação nas formas de controle da
administração pública no Brasil, com o objetivo de coibir a sua
ocorrência.
A imprensa, exercendo um papel relevante para transparência das
ações públicas, tem-se encarregado de tornar pública uma série
de acontecimentos que resultaram ou parecem resultar em perda
de grandes volumes de recursos arrecadados pelo governo. Os
Tribunais de Contas e o Ministério Público têm tido uma ação
fundamental na condução desses casos, mas isto não parece ser
suficiente para inibir novos abusos.
Considerando os fatos acima e o conteúdo que se segue, você
analisará as formas e dispositivos de controle da administração
pública e as tendências decorrentes das mudanças que vêm sendo
implantadas para ampliar as possibilidades de controle social
a partir dos encaminhamentos da reforma administrativa
brasileira vigente desde 1995.
A partir do que você estudou até o momento, reflita
sobre a seguinte questão: tente lembrar-se dos
acontecimentos de corrupção e rombos que foram
manchetes nacionais nos últimos anos. Entre as
causas, vantagens e desvantagens de uma reforma
administrativa, o quanto e de que forma o controle
social faz parte da mesma?
O que é controle social?
Antes de continuar, tente definir o que é controle
social. Mesmo que você ainda não saiba exatamente o
que significa, deve ter, pelo menos, alguma ideia sobre
o assunto. Anote a seguir sua definição.
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 215
215
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para conceituar controle social, nos reportamos inicialmente
a uma análise, do ponto de vista semântico; outra, dentro
do processo administrativo; e, também, apresentamos o seu
significado atual dentro da administração pública, concepção
subsidiada legalmente no Brasil, através da sua Constituição
Federal de 1988.
O significado semântico da palavra controle
O sentido da palavra controle assume diversas conotações
dependendo da forma e do contexto em que é utilizada.
A palavra controle é de origem francesa (controle) e foi
introduzida no Direito brasileiro por Seabra Fagundes em sua
monografia O Controle dos Atos Administrativos pelo Poder
Judiciário, em 1941. (MEIRELLES, 1995).
Na língua portuguesa, a palavra tem um sentido de dominação
e, talvez por essa causa, o controle é muitas vezes visto como um
procedimento inconveniente e inoportuno. Ninguém gosta de ser
controlado, porém todos entendem que o controle é necessário.
Seria, assim, o controle para os outros, quer dizer, sobre outros.
O controle é frequentemente confundido
com burocracia no sentido negativo, ou seja,
burocratização, onde o aparelho burocrático só serve
para emperrar ou dificultar o andamento dos processos
da administração. Para ilustrar a diferença entre
controle e burocratização, veja a seguir um exemplo.
O processo de informatização é um instrumento
utilizado para aumentar o controle. Sendo assim, é um
exemplo de como ocorre uma ampliação do controle,
tornando o resultado da administração mais eficiente:
viabiliza processos mais ágeis e controlados, sem,
entretanto, ser uma medida de burocratização.
216
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 216
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
O controle na gestão
Fayol, autor clássico da Teoria Geral da Administração
(TGA), definiu administração em 1916 como prever, organizar,
coordenar, comandar e controlar. Para o mesmo autor, essas ações se
constituem nas funções administrativas. (CHIAVENATO, 1993).
Os autores neoclássicos, preocupados com a prática da
administração, destilaram os conceitos e princípios clássicos.
Definiram que o processo administrativo compreende apenas
quatro funções: planejamento, organização, direção (condensando
coordenação e comando), e, controle.
O controle significa basicamente o acompanhamento
e avaliação da execução das ações que sofrem um
processo de planejamento, organização e direção.
Na administração pública, o controle é imprescindível. Quando
se junta à palavra controle o termo “social”, dá-se um sentido
da origem e finalidade do controle. Portanto o controle tem
sua origem na sociedade e deve reportar todos os entes que o
representam.
E então, foi possível compreender o que é controle
social?
O que você acabou de estudar se parece com o
conceito que você definiu no início da seção?
Leia novamente o que você escreveu e realize esta análise.
Controle social da administração pública
Há, ainda, mais um aspecto fundamental a destacar no
significado do controle social sobre a administração pública:
[...] Como as decisões dos gerentes públicos se
aplicam a todos os cidadãos, suas iniciativas devem ser
supervisionadas muito mais de perto do que as decisões
dos gestores do setor privado [...] (MOORE, 2002, p.44).
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 217
217
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
A sociedade civil organizada elabora e exerce formas para efetivar
o seu controle e acompanhamento sobre as ações realizadas pelas
diversas instâncias de governo e que dizem respeito, direta ou
indiretamente, à vida da população em geral.
Quais são os objetivos do controle social?
Na administração pública em especial, podem-se nomear cinco
objetivos principais dos sistemas de controle:
1.o primeiro objetivo é o de proteger os ativos da
organização dos erros intencionais, ou não, e das
irregularidades que se possam produzir. Podem
ocorrer diversas formas de omissão nos procedimentos,
inadequações, cálculos errados etc. Além disso, em
toda organização existe a possibilidade permanente de
fraudes, uso indevido de bens ou qualquer ato de abuso
dos bens da organização, tanto por terceiros como por
funcionários;
2.como segundo objetivo tem-se a obtenção de
informações corretas e seguras as quais permitam a
tomada de decisões acertadas tanto no âmbito interno
como no externo. Na administração pública, isto visa à
realimentação de informações para a correção de políticas
públicas;
3.o terceiro objetivo é o de conseguir adesão às políticas
gerais da organização. É preciso que os recursos e
as pessoas estejam engajados nas políticas gerais da
organização, promovendo uma melhor combinação de
esforços;
4.o quarto objetivo visa atingir as metas e programas
da organização, ou seja, o controle deve procurar levar
a organização a atingir os fins que justificam a sua
existência como instituição. Na administração pública,
esse fim é o interesse público manifestado via sistema
democrático;
218
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 218
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
5.finalmente, o quinto e último grande objetivo é
promover a eficiência e eficácia nas operações da
organização, por meio de uma utilização racional
dos recursos disponíveis. Esse objetivo está vinculado
com todos os anteriores. A proteção dos ativos da
organização, aliada a um conjunto de informações
corretas e seguras, a adesão às políticas gerais e o
cumprimento de metas e programas levam a uma
utilização mais racional e, portanto, mais eficiente dos
recursos.
Um belo exemplo de controle social como experiência atual é a
Lei da Ficha Limpa.
Ficha Limpa é uma lei brasileira originada de um projeto de lei
de iniciativa popular que reuniu 1,9 milhão de assinaturas. O
projeto tenta impedir que políticos com condenação na Justiça
possam concorrer às eleições.
O Projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 5 de
maio de 2010 e também foi aprovado no Senado Federal no
dia 19 de maio de 2010, por votação unânime. Foi sancionado
pelo Presidente da República, transformando-se na Lei
Complementar nº 135, de 4 de junho de 2010.
Outro exemplo é a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), oficialmente Lei
Complementar nº 101, é uma lei brasileira que tenta impor o
controle dos gastos de estados e municípios, condicionado à
capacidade de arrecadação de tributos desses entes políticos.
Tal medida foi justificada pelo costume, na política brasileira,
de gestores promoverem obras de grande porte no final de
seus mandatos, deixando a conta para seus sucessores. A LRF
também promoveu a transparência dos gastos públicos.
A lei obriga que as finanças sejam apresentadas detalhadamente
ao Tribunal de Contas (da União, do Estado ou do Município).
Tais órgãos podem aprovar as contas, ou não. Em caso das contas
serem rejeitadas, será instaurada investigação em relação ao Poder
Executivo em questão, podendo resultar em multas, ou mesmo,
na proibição de tentar disputar novas eleições.
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 219
219
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Também temos o Portal da Transparência do Governo Federal,
onde podemos visualizar as contas e gastos públicos, uma
bela ferramenta para acompanharmos o orçamento público,
diretamente pela internet.
Outra ferramenta é o Portal do Tribunal de Contas da União.
Lá se verificam todas as Tomadas de Contas e os Relatórios de
Gestão relativos aos Órgãos Públicos. Além de decisões e várias
legislações.
O cidadão poderá realizar cursos, até mesmo na modalidade à
distância, pela ENAP e STN. São meios de conhecer melhor o
funcionamento da máquina pública.
Seção 2 - As diretrizes introduzidas na modernidade
do Estado
Ao analisar a evolução histórica da administração pública
brasileira no plano das reformas administrativas, podem-se
identificar muitos elementos incorporados ao modelo gerencial,
derivados dos princípios e diretrizes constantes do Decreto-lei nº
200/67. Este decreto é frequentemente citado como um avanço
em termos de Administração Pública no país.
Entretanto, no enfoque dado ao plano da reforma administrativa
do governo FHC, a Constituição Federal de 1988 tem sido
encarada como um retrocesso burocrático por pressupostas
limitações ao crescimento do Estado via descentralização,
imposição de Lei para a criação de entidades autárquicas e
fundacionais, e, principalmente, pelas restrições impostas à
admissão de servidores, criação do regime jurídico único e,
ainda, pelos privilégios concedidos ou mantidos a determinadas
categorias que elevam o custo da máquina pública.
Aliás, reduzir o custo da máquina pública parece ser o principal
objetivo inserido na reforma administrativa em curso no Brasil,
seguindo a lógica do Fundo Monetário Internacional (FMI),
preocupado com o ajuste fiscal dos países com dívida externa.
220
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 220
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
A elevação do custo da máquina pública é diagnosticada
como sendo resultado dos benefícios a servidores públicos e
pelos excessivos controles, controle a priori característicos da
administração burocrática. Esses benefícios e controles estariam
emperrando e reduzindo a eficiência da administração, fazendo
com que o Estado se voltasse para si mesmo e para os interesses
corporativos dos funcionários públicos.
O que você pensa sobre esta questão?
A reforma administrativa do Estado também é colocada
como se pudesse produzir uma elevação do controle social da
administração pública quando descentraliza e busca uma maior
participação da sociedade. A descentralização ou alimento
do poder local leva a um aumento do processo democrático que
está em curso (PEREIRA, 1998). E, ainda, a Reforma procura
desenvolver a governança no Estado, tornando o Estado o
articulador de recursos de diversas instituições públicas e privadas
com vista ao desenvolvimento de atividades públicas.
É necessária uma combinação entre mecanismos
de mercado, democracia direta ou controle social,
devendo haver uma participação maior na fiscalização
como forma de controle externo da sociedade.
A necessidade de estabelecimentos de mecanismos automáticos,
difusos e eficientes de controle da administração coloca em
evidência as possibilidades do controle social (PEREIRA,
1998). Assim, por meio de medidas ligadas ao Plano de Reforma
Administrativa (BRASIL, 1995), a possibilidade de controle
social passa a incorporar cada vez mais o ordenamento jurídico
brasileiro.
Em diversas leis e na própria Constituição Federal, foram
incluídos dispositivos que introduzem possibilidades de maior
controle social dos recursos públicos. É o caso do § 3º do artigo
37 da Constituição Federal, introduzido pela Emenda n.º 19,
conforme segue:
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 221
221
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do
usuário na Administração Pública direta e indireta,
regulando especialmente:
I – as reclamações relativas à prestação dos serviços
públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços
de atendimento ao usuário e a avaliação periódica,
externa e interna, da qualidade dos serviços;
II – o acesso dos usuários a registros administrativos
e a informações sobre atos de governo, observado o
dispositivo no art. 5º, X e XXXIII;
III – a disciplina da representação contra o exercício
negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na
Administração Pública.
Além disso, outras medidas ligadas à possibilidade de controle
social são incorporadas nos diversos instrumentos legais: Leis,
Decretos e Portarias de estrutura na reforma administrativa.
Embora não haja evidências ou indicadores de que a sociedade
tenha condições de exercer esse controle, a reforma introduz
alguns instrumentos legais que objetivam a participação da
sociedade na fiscalização dos recursos envolvidos.
A sociedade civil tem realizado esse controle? De que
maneira isso acontece? Faça uma pesquisa em jornais
ou revistas (impressos ou na internet) e busque, pelo
menos, duas experiências neste sentido. Disponibilize
sua pesquisa na ferramenta GALERIA do Ambiente
Virtual de Aprendizagem.
Que é e-governo?
Na perspectiva de encontrar melhores formas de instrumentalizar
a administração pública e seu funcionamento, de modo a
corresponder aos anseios da população, desde a década de 90
a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) vem
buscando soluções tecnológicas para contribuir com a facilitação
da relação do governo, por via eletrônica, para o atendimento
pronto ao cidadão.
Trata-se do e-governo (ou e-gov), a forma eletrônica de
comunicação do governo com a população, uma tendência
bastante atual e em acelerado crescimento na nossa sociedade.
222
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 222
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
A adoção dos mecanismos de governo eletrônico pode facilitar
a reestruturação da administração pública, pois tais medidas
estão voltadas para reforçar a eficiência governamental e a
transparência das suas ações para com a sociedade civil. Um
artigo de Ruediger (2003, p.1257) traz essa abordagem,
destacando especialmente o impacto da tecnologia de informação
sobre os custos para agregar essa informação às ações de governo.
Seu texto aponta para a diminuição de incentivos negativos
derivados do “engajamento da sociedade civil na discussão da
agenda pública.”
Ruediger argumenta que “mecanismos de governo eletrônico
poderiam, potencialmente, reforçar a participação cívica, que,
por extensão, poderia dialeticamente facilitar a reestruturação do
governo, influenciando mudanças organizacionais no aparato de
governo.” (Ibid., 1257).
No caso brasileiro, as iniciativas de governo eletrônico ainda são
bastante recentes, mas é cada vez mais evidente essa tendência. O
e-governo é mais uma ferramenta que vem responder à crescente
necessidade de maior controle da sociedade civil sobre a ação dos
governantes.
O governo eletrônico é uma importante forma de promover,
por meio da Internet, a divulgação das informações sobre as
atuações da administração pública, destacando-se as informações
orçamentárias do governo. Viabiliza a utilização da informação
por diferentes grupos sociais, apontando os diversos meios para a
sua utilização.
De acordo com Andreoli (2002), o governo eletrônico contribui
com o aumento da responsabilização dos governantes. Essa
foi uma das evidências encontradas por esse autor em pesquisa
realizada através do site da Secretaria da Fazenda, analisando o
caso do Governo do Estado de São Paulo.
O site <http://www.brasil.gov.br/emquestao/> pode ser
considerado um exemplo de e-governo atualmente em operação
no Brasil. Acessando-o, qualquer cidadão pode solicitar seu
envio regular para sua caixa postal (e-mail). E, pelo e-mail
<[email protected]> você pode interagir com o
governo federal.
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 223
223
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 3 - A concentração e desconcentração da
administração pública brasileira
Conforme Mukai (2000), a administração pública, em face
das inúmeras e complexas tarefas que são afetas ao Estado,
funciona com base no princípio da divisão do trabalho. E,
nessas condições, ou os serviços administrativos são delegados
ou atribuídos a órgãos inferiores dentro do mesmo aparelho
orgânico, ou são transferidos a órgãos ou entidades locais, ou são
atribuídos a entidades situadas fora do aparelho central.
Assim, temos a:
„„
„„
„„
administração concentrada e centralizada: Presidente
da República e Ministérios, em nível Federal;
administração desconcentrada: Departamentos e
Divisões, órgãos de execução, que diferem dos de
direção;
administração descentralizada: Serviços realizados
por entidades autônomas, como as autarquias estatais e
fundações.
Como diferenciar desconcentração e descentralização?
A desconcentração dá-se quando a distribuição
de poderes ocorre dentro do mesmo aparelho
administrativo, entre órgãos sujeitos à hierarquia,
chamando-se também de burocrática, hierárquica
ou orgânica, ou seja, a distribuição de competência
é interna, dentro da mesma pessoa jurídica, gerando
relações de subordinação e coordenação.
A descentralização ocorre quando há a transferência
de serviços da administração central para outros entes
ou pessoas de direito público ou privado. Nela, o
Estado atribui personalidade jurídica a determinado
serviço que, nas palavras de Cavalcanti, “se destaca
do conjunto das atividades do Estado.” (CAVALCANTI,
1973, p.223).
224
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 224
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Seção 4 - Centralização versus Descentralização
A descentralização na administração pública,
entendida como uma estratégia de organização
governamental, tem sido assumida como forma de o
governo se aproximar da população.
A administração pública brasileira é organizada de acordo com
a estrutura antes mencionada. Normalmente, obedece a uma
filosofia comum, que se baseia na ideia de que haja direção,
planejamento e controle, através dos órgãos centrais, e execução,
por órgãos desconcentrados e entidades descentralizadas.
Cabe então, agora, distinguir, dentro da descentralização
administrativa, os seus diversos tipos: territorial, funcional e por
colaboração.
„„
„„
A descentralização territorial ou geográfica ocorre
quando uma entidade local geograficamente delimitada é
dotada de personalidade jurídica de direito público, com
capacidade administrativa genérica (capacidade de gerir
os próprios negócios, mas com subordinação a leis postas
pelo nível central da administração) para gerir a maior
parte dos serviços públicos de interesse da coletividade,
tais como segurança, saúde e justiça;
a descentralização funcional é a que se verifica
quando o Poder Público cria, mediante lei, uma pessoa
jurídica e a ela atribui a titularidade e a execução de
determinado serviço público, dotando-o de patrimônio
próprio necessário para a consecução de seus fins e
sujeitando-a ao controle administrativo ou tutela.
Consiste em criar uma entidade autônoma para executar
o serviço, com personalidade jurídica própria (ainda de
direito público). O exemplo típico é a forma jurídicoorganizacional chamada de autarquia. Como a entidade
mantém a titularidade do serviço público, há uma forte
independência em relação à entidade central que a criou;
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 225
225
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
„„
a descentralização por colaboração consiste em delegar
a pessoas jurídicas de direito privado, por meio de
contrato ou ato administrativo unilateral (concessão,
autorização ou permissão), a execução de determinados
serviços públicos, conservando o Poder Público a
titularidade dos serviços.
O Estado necessita organizar-se para atingir suas finalidades.
Neste sentido, a Constituição faz uma divisão orgânica mediante
o reconhecimento de três Poderes nas duas esferas da federação:
Executivo, Legislativo e Judiciário, tanto no âmbito federal
como no estadual.
Aí se encontram os eixos principais onde estão atrelados os
demais órgãos estatais. Em todas as esferas e nos três Poderes,
encontramos funções administrativas que requerem, para a sua
realização, um aparato de Direito administrativo adequado.
A partilha de competência entre União, estadosmembros e municípios consubstancia uma
descentralização política: governo federal, estadual e
municipal.
Seção 5 - O que é administração pública direta?
Podemos definir a administração pública direta como o
conjunto de órgãos vinculados a um dos entes da federação
(União, Estados, Municípios ou Distrito Federal) que
desempenha atividade administrativa. Assim afirma Bastos
(1994, p. 75),
a Administração direta é aquela que integra os próprios
Poderes que compõem as pessoas jurídicas de direito
público com capacidade política. São órgãos, pois, que
integram as pessoas jurídicas a que pertencem, uma
vez que tais Poderes não são dotados de personalidade.
Vamos, pois, encontrar órgãos da Administração tanto
no Poder Legislativo, no Judiciário, quanto no Executivo,
embora eles estejam, de forma esmagadoramente
predominante, neste último.
226
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 226
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Toda a administração direta é composta de órgãos
vinculados hierarquicamente à pessoa jurídica a que
pertencem.
No Brasil, a organização administrativa federal já era disciplinada
pelo Decreto-lei nº 200, de 25/02/1967, em suas grandes linhas.
Aquele diploma legal ainda se encontra em vigor, respeitadas as
suas alterações. Dispõe sobre a reforma administrativa federal e
classifica a administração federal em direta e indireta, sendo:
„„
„„
a primeira (direta), a que se constitui dos serviços
integrados na estrutura administrativa da Presidência da
República e dos Ministros;
a segunda (indireta), a que é composta pelas diversas
categorias de entidades nela compreendidas, sendo
que cada uma tem personalidade jurídica própria
e é vinculada ao Ministério dentro de cuja área de
competência se enquadrar, gozando de autonomia
administrativa e financeira.
A seguir você vai conhecer melhor o que é a administração
pública indireta.
Seção 6 - A administração pública indireta: autarquias,
fundações, sociedades de economia mista e empresas
públicas
A administração não é suficiente para executar com eficiência
todas as suas tarefas, tendo de recorrer à descentralização
administrativa, que nada mais é que a passagem da gestão de
atividade pública para uma entidade, pública ou privada, diversa
da pessoa jurídica pública política original (União, Distrito
Federal, estados e municípios) e dos órgãos vinculados que a
integram.
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 227
227
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Em face da dilatação da esfera de atuação do Estado
contemporâneo, o conceito de Administração também se
dilatou, posto que o Estado foi descentralizando suas atividades
(descentralização institucional) para atender às suas múltiplas
finalidades, criando entes autônomos (entidades paraestatais).
Nesse sentido, afirma Meirelles que se opera “[...] no Brasil a
descentralização institucional, meramente administrativa, com
distribuição de funções públicas e de interesse coletivo a entes
autárquicos e paraestatais.” (1990, p. 688).
A organização administrativa estadual também segue estrutura
idêntica à federal, sendo que, neste âmbito, a administração
centralizada é exercida pelo Governador e Secretários de Estado,
e, a descentralizada, por autarquias, fundações, empresas públicas
e sociedades de economia mista. O mesmo ocorre com relação ao
Município, onde o prefeito e secretários municipais compõem a
administração centralizada e as autarquias e entes paraestatais, a
descentralizada.
Você vai conhecer, agora, as formas clássicas de estruturação
da administração pública indireta no Brasil: as autarquias,
fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas.
Mais recentemente, inseridas no Plano Diretor de Reforma
Administrativa do Aparelho de Estado, há, ainda, as
organizações sociais, que você estudará na próxima seção.
As autarquias
As autarquias são entes administrativos autônomos
com personalidade jurídica de direito público, criadas
por lei, com patrimônio próprio e atribuições típicas
do Estado. Não possuem autonomia política, isto é, o
poder de editar as suas próprias leis.
Autonomia política somente têm a União, o estado-membro, o
município, conforme dado pela Constituição.
As autarquias possuem apenas autonomia administrativa ou
autoadministração: administram-se a si mesmas sob controle
228
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 228
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
meramente legal das entidades que as criaram, exercido sob
a forma de correção finalística do serviço autárquico. Não há
subordinação hierárquica com a entidade a que pertencem,
apenas vinculação, que justifica o referido controle legal.
São criadas por Lei para exercerem somente serviços públicos.
Podemos citar como exemplo em nível federal o Banco
Central do Brasil, que tem todas estas características,
e, quanto à sua criação e ao seu pessoal, tem estatuto
próprio.
As fundações
Enquanto as sociedades ou associações caracterizam-se pela
união de pessoas para atingir fins comuns em benefício próprio,
as fundações e institutos, ao contrário, são personificadas. São
patrimônios administrados, cuja existência de personalidade é
uma abstração. Os fins da fundação ultrapassam o âmbito da
entidade; beneficiam terceiros.
Fundação governamental é um patrimônio, com universalidade
de bens total ou parcialmente públicos, dotada de personalidade
jurídica de direito público ou privado, que visa um fim público
determinado.
Como a fundação dirige-se a fim que beneficie terceiro, é comum
que as fundações governamentais dirijam-se aos fins públicos
com essas características, que são as atividades sociais: saúde,
educação, cultura, maio ambiente, assistência etc.
Nos Municípios podemos citar como exemplos as
fundações municipais de esportes. É o caso existente
no município de Florianópolis-SC, com características
de fundação governamental, para prática de fins
nunca alheios aos próprios interesses do Estado, pois
a fundação é uma das formas de descentralização
escolhida para se atingirem determinadas finalidades
públicas.
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 229
229
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
A sociedade de economia mista
A doutrina brasileira, ao enfocar a sociedade de economia mista
e a empresa pública, tem sublinhado sempre o seu aspecto formal
de entidades com personalidade jurídica de Direito privado,
regidas pelo Direito comercial e civil.
O Decreto-lei nº 200/67, com redação dada pelo Decreto-lei nº
900/69, já definia a sociedade de economia mista como a entidade
dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por
lei, para a exportação de atividade econômica, sob a forma de
sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertencem à
União ou à entidade da administração indireta (art. 5º, III).
A sociedade de economia mista entra para o mundo jurídico após
ter sido autorizada sua criação por lei e terem sido registrados
seus atos constitutivos no órgão de registro público competente,
sob a forma de S.A. O capital social fixado no respectivo estatuto
tem suas ações subscritas pelo Estado e por particulares.
Em nível federal, podemos citar a Petrobrás e, em nível
estadual, podemos citar como exemplo a CELESC no
Estado de Santa Catarina.
As empresas públicas
A doutrina se preocupa com o perfil da figura, não atinando
muito para a atividade que esta exerça (serviço público ou
atividade econômica). É conceituada como pessoa jurídica de
direito privado, autorizada por lei a se constituir, com capital
exclusivamente público, para realizar atividades comerciais ou
industriais, podendo revestir qualquer forma de organização
empresarial.
O Decreto-lei nº 200/67, alterado pelo Decreto-lei nº 900/69,
já definia a empresa pública como “entidade dotada de
personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio público
e capital exclusivo da União, criada por lei para a exploração de
atividade econômica” (art. 5º, II).
230
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 230
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Da mesma forma, podemos elencar os traços distintos que se
cingem à forma de organização e à composição do capital.
A sociedade de economia mista deve assumir
a vestimenta de sociedade anônima, enquanto
a empresa pública pode assumir quaisquer das
formas admitidas em direito.
Assim, a primeira sempre será sociedade comercial, enquanto
a segunda poderá ser comercial ou civil. Por outro lado, a
sociedade de economia mista é composta de capital público
majoritário e privado minoritário; já a empresa pública, somente
de capital público.
Como empresas Públicas podemos citar a Caixa
Econômica Federal (CEF) e o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já que
são empresas constituídas totalmente com capital
público.
Seção 7 - Concessões, permissões e as organizações
sociais
Concessões e permissões
Concessão: em regra, deve ser conferida sem
exclusividade, para que seja possível sempre a
competição entre os interessados, favorecendo, assim,
os usuários com serviços melhores e tarifas mais
baratas. (MUKAI, 2000, p.29).
Nas últimas décadas, o Estado brasileiro passou a efetuar a
descentralização através de formas distintas das formas clássicas
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 231
231
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
já estudadas: a delegação de serviços públicos a particulares
(concessões ou permissões) e a outorga de serviços a entidades
públicas (autarquias) ou privadas (paraestatais: fundações,
sociedades de economia mista e empresas públicas), criadas
mediante lei.
Qual a diferença básica entre a outorga e a delegação?
Somente no caso de outorgas, estaremos diante da administração
pública indireta. No caso de delegação, as entidades continuam
a ser particulares, e não entidades governamentais: portanto não
podem ser tidas como administração indireta.
As organizações sociais
Após sua proposição inicial no Plano de reforma administrativa
do aparelho de Estado (BRASIL, 1995), começaram a ser
regulamentadas e criadas no cenário da administração pública
brasileira as organizações sociais.
Que são organizações sociais?
Trata-se de órgãos criados e / ou financiados pelo setor público,
a última condição sempre presente, que realizam atividades de
interesse público, mas que não fazem parte do aparelho estatal.
Estamos nos referindo aos diferentes tipos existentes das hoje
denominadas OSCIPs:
„„
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público
„„
OSC – Organização da Sociedade Civil
„„
OS – Organizações Sociais
232
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 232
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Seção 8 - Atividade econômica, serviços públicos e a
criação de valor público
Atividade econômica como serviço público
Os serviços industriais ou comerciais se diferenciam,
ontologicamente, das atividades simplesmente econômicas do
Estado.
Conforme MUKAI (2000, p. 30) “a doutrina (poucas vezes)
faz distinção entre serviços públicos ou comerciais e atividades
econômicas. Os primeiros são enquadrados como espécie das
segundas.”
Contudo, por referência à participação do Estado na economia,
não adotamos essa indistinção. Julgamos que é necessária a
diferenciação, pois, somente através dela, chegamos ao conceito
exato dessas duas espécies de atividades, do ponto de vista do
Estado.
Desta forma, podemos afirmar que serviço público
industrial ou comercial é a atividade exercida pelo
Estado que somente vai elegê-lo como tal quando se
caracteriza a presença de um interesse público objetivo
na sua gestão; ou seja, o Estado a exerce por si ou por
interpostas pessoas para atender uma necessidade
essencial da coletividade.
A criação do valor público
Existe uma literatura relevante para compreender o contexto,
finalidades, teorias e técnicas utilizadas por executivos,
consultores e professores da área da administração pública.
Diferentes áreas e subáreas do conhecimento contribuem com
tais produções: sociologia, ciência política, economia, teoria
organizacional, direito administrativo, gerenciamento de
negócios e a gestão pública especificamente.
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 233
233
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
A teoria organizacional trabalha com diferentes imagens
organizacionais que permitem esclarecer por que as organizações
do setor público e do setor privado “se conduzem como o fazem.”
(MOORE, 2002, p.25). Busca também “explicar por que as
organizações têm dificuldades em adotar e manter inovações e
por que os gerentes encontram obstáculos ao procurar melhorar
seu desempenho.” (Ibid., 25).
Consideramos necessária a formulação de uma teoria da gestão
pública em uma democracia. Nesta perspectiva, Moore (2002,
p.25) refere uma nova filosofia de gestão pública, buscando
“assegurar o efetivo controle democrático das organizações do
setor público e a obtenção tanto de consistência como de eficácia
nas iniciativas do setor público.”
A obra de Moore (2002), denominada Criando valor público, se
propõe a responder às seguintes questões:
„„
„„
“como devem os gerentes lidar com incumbências
políticas irregulares e inconsistentes? [...]
como podem os gerentes experimentar, inovar e
reproduzir experiências de sucesso em organizações
públicas em seus cenários sempre em transformação?”
A resposta a essas e outras questões similares constitui “um
complexo conjunto de ideias a respeito de como os gerentes
públicos devem orientar-se em suas funções. [...] Esta nova
abordagem [...] pode ajudá-los a ser bem-sucedidos em ajudar a
sociedade, [...] principalmente em definir e produzir valor público
com os recursos que lhes são confiados.” (MOORE, 2002, p.34).
Na realidade, o destaque para a obra de Moore (op. cit.) deve-se a
que foi o seu autor quem deu um nome para esta nova orientação
da adminsitraçãso pública e o submeteu à crítica especializada e
testes empíricos: a criação do valor público.
O que quer dizer criar valor público?
Fica mais fácil pensar em valor público, tomando por empréstimo
a referência construída na área de gestão competitiva de negócios
privados, a de agregar valor ao produto, o que, em última instância,
vai derivar em maiores lucros para os empresários e sociedade.
234
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 234
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Os serviços públicos oferecem como produto um serviço à
sociedade – um bem público. A este bem cabe ao gestor público
fazer agregar valor público. Quer dizer, torná-lo tão valioso para
a sociedade que os recursos gastos na sua produção se justifiquem
amplamente na sociedade.
Inicialmente, o valor do bem público para a sociedade é
diretamente proporcional à necessidade social a que o serviço
público vem responder.
Cabe às organizações públicas e, sobretudo, a seus gerentes
e profissionais um sentimento de responsabilidade perante a
sociedade. Por isso devem sempre estar se questionando sobre
como podem fazer a sua organização pública ter um impacto nas
condições que existem ao seu redor. Ou seja, como criar valor
para os cidadãos da cidade?
O objetivo do trabalho gerencial precisa estar claro, para se poder
avaliar a ação gerencial. Moore (2002, p.55) propõe “uma ideia
simples: o objetivo do trabalho gerencial no setor público é criar
valor público, assim como o objetivo do trabalho gerencial no
setor privado é criar valor privado.”
Nesta perspectiva, não se pode considerar o governo como
setor improdutivo, pois, de acordo com a noção aqui defendida o
governo pode criar valor.
Moore (2002, p.55) assim define o governo como setor produtor
de valor: “[...] Para os gerentes públicos, é óbvio que o governo
cria valor para a sociedade. Esse é todo o sentido do seu
trabalho.”
Alguns exemplos de valores públicos:
„„
proteger o país contra inimigos estrangeiros;
„„
manter ruas limpas e seguras;
„„
proteger o cidadão de desastres produzidos;
„„
e, notadamente, criação de valor na saúde, educação,
moradia, renda, cidadania ...
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 235
235
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Como entender o papel dos gerentes públicos de um modo
diferente e mais útil?
Moore (2002, p.45) vê os gerentes públicos
como exploradores que, com outros, tratam de descobrir,
definir e produzir valor público. Em vez de simplesmente
inventar os meios para alcançar os objetivos estabelecidos,
os gerentes públicos se tornam agentes importantes para
auxiliar a descobrir e definir o que seria proveitoso fazer.
Em vez de serem responsáveis apenas para garantir
continuidade, os gerentes públicos se tornam importantes
inovadores, mudando o que fazem, as organizações
públicas e a forma como o fazem.
Assim entendidos, os gerentes públicos se tornam mais
estrategistas que técnicos. Pois, “[...] se preocupam, para fora, com
o valor do que estão produzindo, como também para baixo, com
a eficácia e com a adequação de seus instrumentos. Utilizam a
política na qual a organização está imersa para ajudar a definir
valor público e a organizar como as organizações podem operar.”
(Ibid., p. 45).
Com base nas ponderações acima, vamos concluir a última seção
e unidade da nossa disciplina, afirmando que é impossível separar
administração pública e política, tanto em teoria como na prática.
Segundo Moore (2002, p.48), “cabe aos gerentes, percebendo o
valor público, encontrar um modo de integrar políticas, conteúdo
e gestão.”
Síntese
Nesta unidade, você estudou como ocorreu a modernização
do Estado a partir da Reforma Administrativa da União,
introduzida a partir de 1967 com o Decreto-lei nº 200 e as
implicações derivadas na busca dos objetivos do controle social
consagrado pela Constituição de 1988.
236
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 236
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
Você viu o que é desconcentração e descentralização
administrativa e pôde construir um panorama sobre como está
estruturada e organizada a administração pública brasileira,
destacando-se os seus aspectos de administração direta e
administração indireta, nos diversos níveis – federal, estadual e
municipal.
Além das formas clássicas de administração indireta: autarquias,
fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas,
você aprendeu sobre as organizações sociais.
Finalmente, na lógica da relação entre atividade econômica
e serviços públicos, você aprendeu o que é valor público e a
sua importância como uma nova tendência a ser trilhada pela
administração pública brasileira.
Atividades de autoavaliação
Acompanhe com atenção os enunciados e responda:
1) O que é a reforma administrativa e quando este processo começou no
Brasil?
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 237
237
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
2)Na modernidade do Estado, surgiram alguns conceitos como
desconcentração, centralização e descentralização. Defina e
exemplifique cada um deles, destacando o que é mais importante nos
mesmos e explicitando em que níveis de governo acontecem.
3) Através das formas e regimes jurídicos que existem para o Estado
atingir seus objetivos e desenvolvimento das atividades públicas em
favor da sociedade, procure relacionar exemplos que existem em seu
município, estado ou país, de organizações que são regulamentadas
conforme os conceitos existentes de autarquia, fundação, sociedade de
economia mista, empresa pública e organização social.
a. Autarquias:
238
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 238
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
b. Fundações:
c. Sociedades de economia mista:
d. Empresas públicas:
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 239
239
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
e. Organizações sociais:
Saiba mais
Recomendamos também a pesquisa em sites oficiais do governo.
Os sites da Presidência da República e do governo como um
todo estão interligados com todos os ministérios e órgãos da
administração direta e administração indireta. Consulte-os.
Você poderá aprofundar esse tema, consultando os seguintes
livros sobre a Reforma da Administração Pública no Brasil.
Brasil. Balanço da reforma do Estado no Brasil: a nova gestão
pública, DF: A Secretaria, 2002. 294p
BENTO, Leonardo Valles. Governança e governabilidade na
reforma do Estado: entre a eficiência e democratização. Barueri:
Manole, 2003
MELLO, Magno Antonio Correia de. Burocracia, modernidade
e reforma administrativa. Brasília, DF: Brasília Jurídica, 1996.
137 p.
Ao estudar o conteúdo da disciplina, entre outros assuntos,
realiza-se uma contextualização das características essenciais do
modelo de Estado patrimonial e burocrático, rumando para o
modelo Gerencial, antecedentes importantes para entender os
processos de reforma. Com a evolução da sociedade, apresentam240
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 240
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
se novos desafios de modernização do aparelhamento do Estado,
demandadas pelas mudanças na sua estrutura e lógica de
funcionamento. Com a finalidade de agregar mais conhecimento
sobre o assunto, disponibiliza-se o texto a seguir.
Modernização do Estado
A expressão modernização do Estado é sinônimo de reforma,
para consolidação da governabilidade democrática.
A governabilidade compreende o processo por meio do qual
a autoridade é exercida em uma determinada comunidade
política, incluindo:
A forma mediante a qual os titulares da autoridade são eleitos,
controlados e reeleitos;
Os princípios e normas sob as quais se exercem as interações
entre o Estado, o setor privado e as organizações da sociedade
civil em termos de competências, responsabilidades e funções; e
A capacidade da autoridade para identificar necessidades, captar
recursos, definir políticas e realizá-las.
A governabilidade é democrática quando incorpora uma série de
requerimentos da maneira como a autoridade é exercida e em
quais condições sócio-econômicas é realizada: primeiramente,
o requerimento da representatividade que estabelece a
legitimação da autoridade pela soberania popular, mediante
instituições que garantam eleições livres e democráticas; em
segundo lugar, a existência de mecanismos de limitação e
divisão efetiva do poder, de exigência de responsabilidades
das autoridades perante a cidadania, de respeito aos direitos
e liberdades dos cidadãos; em terceiro lugar, a limitação da
arbitrariedade, já que a autoridade deve ser submetida ao
exercício pleno da lei e do direito, com eficiência e eficácia na
designação dos recursos para atender as necessidades sociais,
com transparência e integridade no comportamento dos seus
agentes; e, finalmente, a governabilidade democrática requer
condições para que a vigência e os princípios de solidariedade e
subsídio permitam uma relação consensual e eficiente entre os
diferentes atores sociais em contexto de exercício pleno e efetivo
da cidadania.
Referência: baseado nas definições do Banco Interamericano de
Desenvolvimento.
Unidade 7
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 241
241
10/08/11 15:16
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 242
10/08/11 15:16
Para concluir o estudo
Aqui você conclui o estudo da disciplina História da
Administração Pública Brasileira. Temos certeza de
que, através do estudo das unidades, da realização das
atividades de autoavaliação e da interação no Ambiente
Virtual de Aprendizagem, você pôde entender como se
iniciou este processo histórico da administração pública
em nosso país e seu desenvolvimento ao longo de cinco
séculos de existência.
Você também estudou como ocorre a administração
pública brasileira nos diversos níveis de governo direto
e indireto; federal, estadual e municipal, através de um
processo de profissionalização dos serviços públicos na
busca da eficiência, eficácia e efetividade dos serviços
executados pelo Estado e mantidos pela via do controle e
organização burocrática típica do aparelho de Estado.
Você poderá aprimorar seus conhecimentos sobre a
administração pública compreendendo primeiramente
esta origem e sua influência e depois entendendo a
hierarquia das leis que norteiam a administração pública
a partir da Constituição Federal e seus princípios.
Sucesso!
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 243
10/08/11 15:16
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 244
10/08/11 15:16
Referências
ALENCAR, Francisco; CARPI, Lúcia; RIBEIRO, Marcus V.
História da sociedade brasileira. 3.ed. Rio de Janeiro: Ao Livro
Técnico, 1985.
ANDREOLI, Mario M. Utilização da informática como
apoio à responsabilização dos governantes. Dissertação
apresentada à Escola de Administração de Empresas de São
Paulo para obtenção do grau de Mestre. São Paulo: FGV, 2002.
ARRUDA, José J. de A.; PILETTI, Nelson. Toda a história:
história geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2000.
BASTOS, 1994. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1,
Curso de Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
BENTO, Leonardo Valles. Governança e governabilidade na
reforma do Estado: entre eficiência e democratização. Barueri,
SP: Manole, 2003. 259p.
BRANCATO, Ricardo Teixeira. Instituições de direito público
e privado. 11 ed. Teoria Geral da Administração. Vol. 1 e 2, São
Paulo: McGraw Hill, 1998.
BRANCATO, Ricardo Teixeira 1998. In: TESCH, José
Marcos. História da administração pública brasileira. Livro
didático 2, Módulo 1, Curso de Administração Pública. Palhoça:
Unisul Virtual, 2004.
BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Brasília:
UnB, 1988.
________. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral
da política. 9.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. [Coleção
Pensamento Crítico, v.69].
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil,
1988.
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 245
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
BRASIL (2008). Presidência da República Federativa do Brasil.
Estrutura de governo. Disponível em: <http//:www.brasil.gov.br/
estrutura>. Acesso em: 08 jul. 2011.
BRASIL/MARE. Plano diretor da reforma do aparelho de estado.
Brasília: Ministério de Administração Federal e Reforma do Estado,
1995.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Noticias. Disponível em: <http://
www2.camara.gov.br/noticias/institucional>. Acesso em: 08 jul. 2011.
CAMPOS, Edmundo. Sociologia da burocracia. São Paulo: Zahar,
1978.
CASTRO, 1997. In: TESCH, José Marcos. História da administração
pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de Administração
Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
CAVALCANTI, 1973. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de
Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
CHIAVENATO I. Introdução à teoria geral da administração. São
Paulo: Makrom Books/ McGraw-Hill, 1993.
CONSULTOR JURÍDICO. Mapa da corrupção. Arquivo julho de
2004. Acesso em 11 ago. 2004. Disponível em: <http://www.consciencia.
net/cidadania/corrupcao.html>.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do estado. São
Paulo: Saraiva, 1995.
________. O Estado Federal. São Paulo: Editora Ática. 88 p. 1986.
DARIO, Evanir. Proposta de rearranjo das práticas de gestão pública
para o novo sistema de descentralização administrativa de Santa
Catarina atuar como regiões em aprendizagem. Florianópolis, 2004.
[Tese de doutorado – Engenharia da Produção da UFSC].
DAVENPORT, Frances Gardiner. Tratados europeos concerniente
la historia de los Estados Unidos y de sus dependencias a 1648
(Washington, C.C.: Institución de Carnegie de Washington, 1917/1967),
pp. 85 – 171. 1974.
DI PIETRO, Maria S.Z. Parcerias na administração pública. São
Paulo: Atlas, 2002.
246
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 246
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato
político brasileiro. 3.ed. São Paulo: Globo, 2001. 913p.
FARAH, Marta F.S.; BARBOSA, Hélio B. (org.). Novas experiências
de gestão pública e cidadania. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
FERLIE, Ewan; ASBURNER, Lynn; FITZGERALD, Louise;
PETTIGREW, Andrew. A nova administração pública em ação.
Brasília: UNB/ENAP, 1999.
FERREIRA, Jorge. Revista Brasil História, vol. 24, São Paulo: 2004.
FUHRER, 1999. In: TESCH, José Marcos. História da administração
pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de Administração
Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
GRAHAM, Cole Blease Jr.; HAYS, Steven W. Para administrar a
organização pública. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
GUERREIRO RAMOS, 1983. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de
Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
KLIKSBERG, Bernardo. Uma gerência pública para novos tempos:
o desafio da exclusão para uma gestão social eficiente. São Paulo:
FUNDAP, 1997.
KLITGAARD,1994. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de
Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia
geral. 7.ed. São Paulo: Atlas, 1988.
MAIA, Raul (Editor). Novo ensino dinâmico da pesquisa. Sorocaba/
SP: EDIPAR, 1999.
MARCELINO, 2003. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de
Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
MARTINS (1989. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de
Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
247
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 247
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
MATUS, C. Política, planejamento e governo. Brasília: Editora IPEA,
1993.
MEIRA PENNA, J. O. O Dinossauro: uma pesquisa sobre o Estado, o
patrimonialismo selvagem e a nova classe de intelectuais e burocratas.
São Paulo, T. A. Queiroz, 1988.
MEIRELLES, Hely Lopes (1990). In: TESCH, José Marcos. História
da administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso
de Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São
Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1990, 25ª edição. Atualizada em 2000.
MOORE, Mark H. Criando valor público: gestão estratégica no
governo. Rio de Janeiro: Uniletras; Brasília, DF: ENAP, 2002. 560p.
MUKAI, Toshio. Direito administrativo sistematizado. 2.ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 2000.
NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Gestão Pública. São Paulo: Saraiva,
2006.
NOBEL, Colégio. Memorex do nobel: história do Brasil. Florianópolis/
SC, Tendência, 2000. (p. 01-35).
PAZ, Octavio. Tiempo Nublado. Seix Barral: Barcelona, 1983.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A sociedade estatal e a
tenoburocracia. São Paulo: Brasiliense, 1981.
______ (1996). In: TESCH, José Marcos. História da administração
pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de Administração
Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
______. A reforma do estado nos anos 90: lógica e mecanismos de
controle. Cadernos da Reforma do Estado, n.1. Brasília: Ministério da
Administração e Reforma do Estado, 1997.
______. Reforma do estado para a cidadania: a reforma gerencial
brasileira na perspectiva institucional. Brasília, DF: ENAP, Editora 34,
1998.
______. Do estado patrimonial ao gerencial. In: Pinheiro, Wilheim e
Sachs (orgs.). Brasil: Um Século de Transformações. S. Paulo: Cia. das
Letras, 2001: 222-259.
248
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 248
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
______.; SPINK, Peter K. Reforma do estado e administração pública
gerencial. 2.ed. Rio de Janeiro: FGV, 1998.
PETTIGREW A.M. et al. Shaping strategic change. London: Sage,
1992.
PICCOLI, 2004. In: TESCH, José Marcos. História da administração
pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de Administração
Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
PINHEIRO, Wilhwim Sachs (orgs.). Brasil: um século de
transformações. São Paulo: Cia das Letras, 2001.
PINHEIRO e VIEIRA, 1993. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de
Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
PINHO, 1998 e 1998a. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de
Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
PORTAL SÃO FRANCISCO. Mapas. Disponível em: http://www.
portalsaofrancisco.com.br/alfa/brasil-mapas/. Acesso em: 19 maio 2010.
RUEDIGER, Marco A. Governança democrática na era da informação.
Revista de Administração Pública: 37(6):1257-1280, nov.-dez. 2003.
SALDANHA, Clezio; Introdução à Gestão Pública. São Paulo: Saraiva,
2006.
SANTOS, Reginaldo S.; RIBEIRO, Elizabeth M.; RIBEIRO, Mônica
e Matos. Reestruturação produtiva do estado brasileiro na perspectiva
do projeto neoliberal. Anais do Encontro Nacional da ANPAD, 2003.
Atibaia, São Paulo. Disponível em: <http:// www.anpad.org.br>. Acesso
em: 01 dez. 2003.
SCHWARTZMAN, 1996. In: TESCH, José Marcos. História da
administração pública brasileira. Livro didático 2, Módulo 1, Curso de
Administração Pública. Palhoça: Unisul Virtual, 2004.
SENADO FEDERAL (2011). Regimento Interno. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/legislacao/. Acesso em: 19 maio de 2011.
249
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 249
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
SILVA, Hélio. A República, um sonho que ainda falta realizar. (p. 5-11).
In: História da República. V.1. 1889-1903. São Paulo: Nova Cultural,
1990.
SILVA, Ricardo. A ideologia do estado autoritário no Brasil. Chapecó:
Argos, 2001. 363p.
TEIXEIRA, Hélio J.; SANTANA, Solange, M. Remodelando a gestão
pública. São Paulo: Edgar Blücher, 1995.
TESCH, José Marcos. História da administração pública brasileira.
Livro didático 2, Módulo 1, Curso de Administração Pública. Palhoça:
Unisul Virtual, 2004.
TREMEL, Rosângela. Contratos de gestão e o princípio
constitucional da eficiência. Florianópolis, 2001. Dissertação de
Mestrado – ESAG/UDESC. 161p.
VÁRIOS AUTORES. Novo ensino dinâmico de pesquisa. São Paulo:
Difusão Cultural do Livro, 1999.
VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para o ensino
médio: história geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2001. (Série
Parâmetros).
WARLICH, Beatriz M. de S. Reforma administrativa na era Vargas.
Rio de Janeiro: Record, 1983.
WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. Coleção A ObraPrima de Cada Autor V.80. São Paulo: Martin Claret, 2002.
WEBER, Max. Wirtschaft und gesellschaft (Economia e Sociedade)
apud PENNA, Jose Osvaldo de Meira. O dinossauro: uma pesquisa sobre
o Estado, o patrimonialismo selvagem e a nova classe de intelectuais
e burocratas. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988. In: DUTRA, David
Alves. Limites dos Poderes Normativos das Agências Reguladoras.
Monografia apresentada ao curso de graduação em Direito, pela
Universidade Federal de Santa Catarina, n.p. 2010. p. 19-21)
250
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 250
10/08/11 15:16
Sobre a professora conteudista
Ruth Terezinha Kehring
Graduada em Administração de Empresas pela FURB
– Fundação Universidade Regional de Blumenau (1977).
Especialista em Administração Pública pela ESAG/
UDESC (1978). Licenciada em Saúde Pública em
nível de pós-graduação pela Universidade do Chile
(1979). Mestre em Saúde Pública com menção em
Administração de Saúde pela Universidade do Chile.
Doutora em Saúde Pública com área de concentração em
Políticas, Planejamento e Administração de Serviços.
Experiência profissional de 27 anos junto à Secretaria de
Estado da Saúde onde desempenhou diversas funções,
destacando-se: Coordenadora de Regional de Saúde,
Assessora de Planejamento, Diretora de Serviços Básicos
de Saúde e Chefe de Desenvolvimento de Recursos
Humanos.
É professora do Mestrado em Saúde Coletiva da
UNOESC de Joaçaba, e na graduação nos Cursos
de Administração Pública e Gestão de Cidades da
FASSESC, onde trabalha com as disciplinas de Teoria
Organizacional, Políticas Públicas e Tópicos Emergentes
em Gestão Pública, como também na graduação a
distância da UNISUL VIRTUAL.
É pesquisadora e tem trabalhos publicados na área
de políticas públicas, administração de saúde e teoria
organizacional.
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 251
10/08/11 15:16
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 252
10/08/11 15:16
Sobre a professora revisora (5ª edição)
Rosa Beatriz Madruga Pinheiro
Possui graduação em Espanhol pela Universidade do
Vale do Itajaí (1996), graduação em Estudos Sociais
pela Universidade de Cruz Alta (1982), graduação em
História pela Universidade do Oeste de Santa Catarina
(2000) e mestrado em Relações Internacionais para o
Mercosul pela Universidade do Sul de Santa Catarina
(2006). Atualmente é horista da Universidade do Sul
de Santa Catarina - Campus Virtual - e funcionária
pública do Governo do Estado de Santa Catarina. Tem
experiência na área de Relações Internacionais e Letras,
com ênfase em Línguas Estrangeiras Modernas, atuando
principalmente nos seguintes temas: internacionalização,
mercado internacional, enfoque comunicativo, leitura e
relações internacionais.
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 253
10/08/11 15:16
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 254
10/08/11 15:16
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação
Unidade 1
1) Todas as alternativas estão corretas.
2) Referir-se a características democráticas, por exemplo:
ƒƒ a existência de um parlamento representativo da vontade do povo;
ƒƒ a participação da cidadania no controle externo
da administração pública, como preconizado na nossa Constituição Federal .
3) Um conceito que não contrarie o que se estudou na disciplina,
por exemplo:
“Pode-se entender a administração pública como um
conjunto de pessoas que compõem os órgãos e serviços
do aparelho de Estado, ou que desenvolvem a atividade ou
função da administração dos órgãos de governo.”
Unidade 2
1) Refira-se a conhecimentos trabalhados na disciplina.
O Tratado de Tordesilhas foi um acordo famoso assinado
entre os representantes dos reis da Espanha e de Portugal
em 1494 que, reunidos na cidade espanhola de Tordesilhas,
dividiram as novas terras encontradas (Novo Mundo) em dois
hemisférios, um espanhol e outro português. Traçaram uma
linha imaginária no Mapa Mundi, sendo que todas as terras
descobertas ao lado leste da linha pertenciam a Portugal e
todas as terras descobertas ao lado oeste da linha pertenciam
à Espanha.
Segundo o que o Tratado de Tordesilhas estabelecia, mesmo o
Brasil ainda não tendo sido descoberto, o atual Rio Grande do
Sul e boa parte da região Nordeste e Norte ficariam do lado
espanhol.
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 255
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
A colonização portuguesa das terras brasileiras dividiu o país nas
capitanias hereditárias, que eram faixas lineares de terra as quais,
ignorando os acidentes geográficos, se prolongavam do litoral até a
linha do Tratado de Tordesilhas.
Só com o bandeirantismo dos paulistas e suas incursões mata adentro
das terras do oeste, buscando atividades mais compensadoras, – a
exemplo da procura do ouro –, o Brasil chegou à sua atual configuração
territorial. A autonomia desses desbravadores em relação aos
governantes da Coroa contribuiu culturalmente para chegar-se
posteriormente ao federalismo no país.
2) Segundo o Pacto Colonial:
A relação mercantilista entre a metrópole portuguesa e a colônia, cuja
economia tinha um caráter exportador (do que fosse possível extrair
daquelas terras), foi regulamentada pelo chamado pacto colonial, o
qual garantia a ampla importação de mercadorias europeias (roupas,
alimentos e objetos de decoração) para os senhores de posses que
aqui viviam.
Segundo Alencar et al. (1985, p.24), o pacto colonial “[...] estabelecia
uma área econômica complementar, cuja classe proprietária se
ligava às classes que mais vantagem tiravam da política monopolista
– mercantilista, executada pelo Estado metropolitano”, da coroa
portuguesa.
3) Desde 1808 se estrutura no Brasil a administração pública de Portugal,
o que lhe traz condições de buscar a sua independência da Coroa
portuguesa.
4) Consulte a história da administração pública durante o Primeiro e o
Segundo Império, incluindo o período regencial.
Com a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, o país
passou a ter um Regime Imperial dentro do Modelo Administrativo
Português .
Os Imperadores do Brasil foram:
ƒƒ Dom Pedro I, durante o denominado Primeiro Império, ou seja, o Primeiro Reinado, de 1822 a 1831;
ƒƒ Os governos regenciais, entre 1831 e 1840; e,
ƒƒ Dom Pedro II, no Segundo Império, de 1840 até 1889.
Foi a proclamação da República que levou ao fim do regime imperial no
Brasil.
A forma administrativa em que se desenvolvia a administração pública
no Brasil imperial foi o patrimonialismo.
256
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 256
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
5) Do período que vai da Proclamação da República, até 1930, a
administração pública é marcado por um “Estado Absoluto.” A
administração era marcado pelo patrimonialismo.
6) Patrimonialista.
7) Monarquia.
Unidade 3
1) Todas as alternativas são verdadeiras.
2) Relacionar a oportunidade social da República com a forma
democrática de governo no mundo atual.
3) Todas as alternativas são verdadeiras.
4) Segundo as definições apresentadas neste livro didático:
Monarquia é o governo de uma só pessoa, quando um manda, sendo
esse dirigente pertencente à nobreza (o rei, ou o príncipe).
5) Dados da realidade:
ƒƒ Exemplos de Estado Unitário: “Era o Caso do Brasil quando
Império, e é o caso da França, Itália, Espanha e Portugal.”
ƒƒ Exemplos de Estado Composto: “é formado por [...] dois ou mais
Estados que se unem por motivos diversos, sob o mesmo governo,
formando uma união pela qual se exerce o governo central e a
soberania na ordem internacional”. Como exemplos, há o caso
da República Federativa do Brasil, atualmente; também o dos
Estados Unidos da América do Norte, do México, da Argentina,
da Suíça (depois de 1848), da Alemanha de após guerra etc.
6. Monarquia, República e Democracia.
7. Monarquia e República.
8. Dados da realidade atual:
O exemplo mais conhecido de governo misto é a Inglaterra, onde existe
uma metade monarquia (o Rei) e uma metade república (o Parlamento).
Na Espanha também persiste um governo misto monárquico
republicano.
9. Referir-se ao sistema de pesos e contrapesos, ou de controle de um
poder sobre o outro, entre o Executivo, Legislativo e Judiciário.
10. Referir-se à Presidência da República.
11. Referir-se ao Senado e Câmara Federal.
12. Referir-se ao Supremo Tribunal Federal.
257
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 257
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Unidade 4
1) Por exemplo: a participação de oficiais militares em cargos da
administração pública e o questionamento das lideranças oligárquicas
na administração pública brasileira.
2) Desde o primeiro governo de Vargas, a expansão contínua no seu
segundo governo, no populismo e no desenvolvimentismo.
3) A reforma administrativa de Vargas em 1936, que gerou a criação do
DASP em 1938.
4) Com a criação do DASP.
5) Com a abertura internacional e o Estado subsidiando o capital
industrial.
6) Por exemplo: os primeiros esboços privatizantes, o planejamento
normativo (os PNDs) e o aumento da dívida externa.
7) Com a República finaliza a monarquia imperial, abre-se o
pluripartidarismo e se institui o Estado Federal.
8) Descentralização, reforma administrativa, a busca do equilíbrio fiscal e
do enxugamento do aparelho de Estado.
Unidade 5
1) Dados da realidade atual:
A Lei de Responsabilidade Fiscal é um bom exemplo de exigência da
probidade administrativa do Poder Executivo Municipal.
Ou, o caso do funcionário público que, investido de seu cargo e
funções, seja sua atividade qual for , deverá conduzir com todo
empenho o que sua função lhe atribui, independente para quem ou
para qual seja a finalidade.
2) A Constituição Federal adota o princípio da predominância do
interesse para a repartição, de competência nos três níveis de governo:
as questões de predominante interesse geral são tratadas em nível
nacional; nos estados são tratados os assuntos de predominante
interesse regional; e, nos municípios, tratam-se os assuntos de interesse
local.
3) Baseada na formação constitucional de competência, a Constituição
busca realizar o equilíbrio dos estados federados, por meio de
uma repartição de competência que se fundamenta na técnica da
enumeração dos Poderes da União com Poderes remanescentes aos
estados federados, e Poderes definidos para os municípios.
258
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 258
10/08/11 15:16
História da Administração Pública Brasileira
4) A Constituição Federal reparte as competências expressamente, em
Lei. Nas áreas de interesse comum da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios (art. 23 da C.F.), e nas áreas de âmbito da
legislação concorrente, a competência da União limita-se a estabelecer
normas gerais.
5) A competência exclusiva não dá a possibilidade de estados, Distrito
Federal e municípios compartilharem com a União a prestação
daqueles serviços. A competência legislativa privativa é exclusiva da
União.
6) O governo municipal é constituído basicamente do Poder Legislativo,
exercido pela Câmara Municipal, composta de vereadores, e o Poder
Executivo, exercido pelo Prefeito.
Os Municípios não têm órgão jurisdicional próprio, justiça própria, pois
o Poder Judiciário que atua nos Municípios é o Estadual, cuja função é
atribuída às comarcas.
7) O Distrito Federal não é Estado. Não é Município. Em certo aspecto é
mais do que o Estado, por que cabem a ele competências legislativas e
tributárias reservadas aos Estados e Municípios.
ƒƒ O Poder Legislativo do Distrito Federal é exercido pela Câmara
Legislativa, que se compõe de Deputados Distritais.
ƒƒ O Poder Executivo do Distrito Federal é exercido pelo Governador.
ƒƒ O Poder Judiciário no Distrito Federal, em verdade, não é dele, pois compete à União organizar e
manter o Poder Judiciário do Distrito Federal.
Unidade 6
1) Os primeiros fatores culturais que influenciaram o desenvolvimento
da administração pública no Brasil foram a submissão à Coroa e a
reprodução do patrimonialismo português.
2) A criação do Departamento de Administração do Serviço Público
(DASP) buscava a introdução de algum nível de racionalidade
burocrática na administração pública brasileira.
3) A expansão do Estado brasileiro caracterizou-se inicialmente como
oferta de empregos, capitalismo de Estado, e, após, pela intervenção
do Estado na economia para apoiar o crescimento do capitalismo
industrial .
4) Sob a ditadura, a administração pública é mais rigidamente
centralizadora.
5) Dados da realidade.
259
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 259
10/08/11 15:16
Universidade do Sul de Santa Catarina
6) Na década passada, o povo brasileiro interpretou negativamente a
evidência da cultura de corrupção no governo Collor, levando ao seu
impeachment. O que você ou a população de sua cidade, estado ou
país faz com as notícias da persistência de uma cultura da corrupção
na administração pública brasileira? Desenvolva uma reflexão própria a
este respeito.
Unidade 7
1) A reforma administrativa começou no Brasil no primeiro governo de
Vargas, visando a adequar a estrutura organizacional de governo às
funções do Estado.
2) Desconcentração é repartir tarefas sem delegar autoridade. Exemplo: o
repasse da responsabilidade pela execução dos serviços de saúde para
os municípios, mas sem lhes permitir autonomia financeira.
ƒƒ centralização é concentração de poder, recursos e decisão. Exemplo: a centralização dos recursos financeiros na
União, o que a Reforma Tributária pretende romper;
ƒƒ descentralização é distribuição para os níveis estaduais e municipais do poder, recursos e decisão da administração pública.
Exemplo: A reforma administrativa do Estado brasileiro vem produzindo uma maior participação da sociedade e aumento do
controle social da população sobre a administração pública.
3) Exemplificando:
f) Autarquias – por exemplo, o Banco Central;
g) Fundações – por exemplo, a Fundação Oswaldo Cruz;
h) Sociedades de economia mista – por exemplo, a Eletrosul;
Empresas públicas – por exemplo, a Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (EBCT);
Organizações sociais – por exemplo, as OSCIPs (Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público), como uma Associação
Comunitária de Bairro.
260
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 260
10/08/11 15:16
Biblioteca Virtual
Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos
alunos a distância:
„„
Pesquisa a publicações online
www.unisul.br/textocompleto
„„
Acesso a bases de dados assinadas
www. unisul.br/bdassinadas
„„
Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas
www.unisul.br/bdgratuitas
„„
Acesso a jornais e revistas on-line
www. unisul.br/periodicos
„„
Empréstimo de livros
www. unisul.br/emprestimos
„„
Escaneamento de parte de obra*
Acesse a página da Biblioteca Virtual da Unisul, disponível no EVA
e explore seus recursos digitais.
Qualquer dúvida escreva para [email protected]
* Se você optar por escaneamento de parte do livro, será lhe enviado o
sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar
a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei
9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 261
10/08/11 15:16
historia_da_administracao_publica_brasileira.indb 262
10/08/11 15:16
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
Download

Para início de estudo - UNISUL