1 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento) Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica ATA DA REUNIÃO DE INSTALAÇÃO Aos sete dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às quinze horas e trinta minutos, na sala do Anexo lI do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência eventual do Senhor Constituinte Irapuan Costa Júnior, com a presença dos Senhores Constituíntes: Delfim Netto, Virgildásio de Senna, Renato Johnsson, Gabriel Guerreiro, Raquel Cândidato, Antônio Carlos Franco, Albano Franco, Vladimir Palmeira, Roberto Campos, Hélio Duque, Gilson Machado, lrapuan Costa Júnior, Marcos Lima, Jalles Fontoura, Ismael Wanderley, Antônio Ueno, Gustavo Faria, Rubem Medina, Beth Azize, Afif Domingos e Paulo Mincarone. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou instalada a Subcomissão e esclareceu que iria proceder à eleição do Presidente e dos Vice-Presidentes, convidando, nos termos regimentais, os Senhores Constituintes Albano Franco e Jalles Fontoura para funcionarem como escrutinadores. Os Senhores Constituintes Marcos Lima, Robson Marinho, Renato Johnsson, Roberto Campos, Severo Gomes e Ismael Wanderley usaram da palavra fiscalizando o critério adotado pelas Lideranças partidárias para a escolha do Relator da matéria. Realizada a eleição, e verificando-se a coincidência do número de sobrecartas com o número de votantes, apurou-se o seguinte resultado: para Presidente, Constituinte Delfim Netto dezesseis votos; Constituinte Afif Domingos um voto e Constituinte Virgildásio de Senna um voto; em branco três votos; para Primeiro VicePresidente, Constituinte Afif Domingos vinte votos; em branco um voto; para segundo Vice-Presidente, Constituinte Roberto Jefferson quatorze votos; em branco sete votos. Foram proclamados eleitos Presidente, Primeiro Vice-Presidente e Segundo Vice-Presidente os Senhores Constituintes Delfim Netto, Afif Domingos e Roberto Jefferson, respectivamente. Assumindo a Presidência o Constituinte Delfim Netto agradeceu, em seu nome e dos Constituintes Afif Domingos e Roberto Jefferson, a honra com que foram distinguidos. Usou da palavra o Constituinte Marcos Lima para encaminhar à Mesa documento subscrito por seis Constituintes indicando o Senhor Constituinte Gabriel Guerreiro para Relator da matéria. Falaram sobre o assunto os Constituintes Robson Marinho, Renato Johnsson, Roberto Campos, Raquel Cândido, Ismael Wanderley e Hélio Duque. Em seguida, eu iria manter o acordo firmado pelas Lideranças partidárias, designou, nos termos do parágrafo oitavo do artigo treze do Regimento da Assembléia Nacional Constituinte, o Senhor Constituinte Virgildásio de Senna para Relator da matéria. Usou da palavra, ainda, o Senhor Constituinte Virgildásio de Senna. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às dezesseis horas e trinta e três minutos, cujo teor será publicado, na íntegra, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada no dia nove de abril, às nove e trinta minutos, com a seguinte pauta: fixação de normas disciplinadoras dos trabalhos da Subcomissão. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueiredo, Secretária, lavrei a presente ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Presidente. Sala de Reuniões da Subcomissão, em sete de abril de mil novecentos e oitenta e sete. – Constituinte Delfim Netto, Presidente. ANEXO À ATA DA REUNIÃO (INSTALAÇÃO) DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM 7 DE ABRIL DE 1987, ÀS 15 HORAS E 30 MINUTOS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Declaramos instalada a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica. Como esta reunião se destina à eleição do Presidente e dos Vice-Presidentes da Comissão, convido os Senhores Constituintes Jalles Fontoura e Albano Franco para funcionarem como escrutinadores. (Pausa) Vamos realizar a chamada nominal dos integrantes da Comissão. (Procede-se à chamada nominal para votação) O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Está encerrada a votação. Ouço o nobre Constituinte Marcos Lima. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – A indicação do Relator é prerrogativa do Presidente de cada Subcomissão. O Líder Mário Covas, em reunião com os coordenadores de bancada, na presença do Deputado Luiz Henrique, na sextafeira, pela manhã, combinou que haveria a indicação, por parte da Liderança: nos casos em que houvesse consenso, seria indicado o nome de Liderança, nos casos em que houvesse dois ou mais candidatos do PMDB a Presidente, Vice-Presidente ou Relatores, essa disputa se daria democraticamente dentro da Bancada do PMDB. Prova desse procedimento democrático do Líder Mário Covas é que convocou para amanhã, a eleição, dentro da Bancada, do Relator da Comissão de Sistematização. Por consegüinte, pediria a esta Presidência – já que o Presidente desta Subcomissão será eleito daqui a pouco e deverá indicar um Relator do PMDB – interrompesse esta sessão, para que, de acordo com o entendimento do cumprimento das promessas por parte do Líder Mário Covas, possamos, os onze membros do PMDB desta Subcomissão – e aqui tenho uma indicação contando seis assinaturas, seis nomes, seis companheiros que indicam um Relator para Presidente – reunirmos. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem, para contraditar. O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Concedo a V. Ex.ª a palavra. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Peço a palavra de ordem na condição de Vice-Líder da Bancada do PMDB, com a responsabilidade da coordenação dos trabalhos, nesta reunião, pela Bancada do PMDB. Primeiro, Sr. Presidente, rechaço a preliminar levantada pelo ilustre Constituinte Marcos Lima, porque ainda estamos num processo de votação, e, como ainda não se iniciou o processo de apuração, não há por que suspender os trabalhos. Por outro lado, Sr. Presidente, acabaram os Srs. Constituintes Membros desta Subcomissão de votar numa chapa que foi fruto de um acordo partidário, envolvendo vários partidos políticos, promovida pelas Lideranças partidários. Nesta condição, cabe ao PMDB a indicação do relator desta Subcomissão. Em sendo eleito o ilustre Constituinte Antônio Delfim Netto, do PDS, Presidente da chapa de acordo interpartidário, cabe, regimentalmente ao Presidente eleito a designação do Relator da Subcomissão. Nestas condições, aqui, como Vice-Líder da Bancada do PMDB, em nome da Liderança, quero indicar ao provável – porque não houve apuração ainda – Constituinte eleito como Presidente, Antônio Delfim Netto, que, após a sua posse como Presidente, a Liderança fará a indicação do Relator. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Peço a palavra pela ordem, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Renato Johnsson. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Por ocasião da eleição dos Membros da Comissão da Ordem Econômica, levantamos uma questão de ordem, que era justamente esta: a escolha do Relator se desse dentro da Bancada do PMDB, por eleição, e não por indicação, isto porque, Sr. Presidente, os Srs. Constituintes que aqui chegaram não foram por indicação, e sim DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) por disputa, indo participar de uma eleição, e por essa eleição estão aqui presentes. Por ocasião daquela eleição, aqui nos serviram um "sunabão" com bife de soja, Sr. Presidente: houve a indicação do Relator sem consulta à Bancada do PMDB, aos Membros do PMDB, que participavam dessa Comissão. Hoje, novamente, se apresentada o PMDB com um prazo feito, e é contra isto, Sr. Presidente, que nos rebelamos, uma vez que, havendo mais de um Constituinte do PMDB que deseja participar como Relator dessa Comissão, é muito importante que se faça uma interrupção deste processo de eleição ou após a eleição se interropam os trabalhos, para que a Bancada do PMDB faça a sua reunião e indique um Relator. O que não queremos mais nesta Casa, Sr. Presidente, é que haja indicação biônica, que haja relatores biônicos. Queremos que esses Relatores sejam o fruto de uma eleição dentro da Bancada do PMDB. O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Apenas, Sr. Presidente, para apoiar as palavras do Constituinte Renato Johnsson. Para minha grande surpresa, na reunião da Comissão, durante a qual houve a eleição do Presidente, Vice-Presidente e Relator, o Senador Mário Covas, por quem tenho um grande respeito, declarou publicamente e oficialmente que não tinha tido tempo de consultar a Bancada. Em conseqüência, o candidato a Relator, que foi finalmente eleito, não era um candidato votado pela Bancada. Era, por assim dizer, um candidato do "bolso do colete". Queríamos, Sr. Presidente, que nesta Subcomissão não se repetisse o ocorrido, uma falta de consulta à Bancada, um procedimento democrático normal. Pediria, pois, Sr. Presidente, que, após consumada a eleição do Presidente e VicePresidente, os partidos minoritários saíssem da sala dando uma oportunidade ao PMDB, a fim de que, democraticamente, uma vez que é o Partido que se especializa em dar lições de democracia, a fim de que, democraticamente, escolha o Relator a ser indicado ao Presidente, para que, dentro do conceito de proporcionalidade, o adote para a Relatoria. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem. O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Robson Marinho, pela ordem. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Causa-me estranheza as palavras do ilustre Constituinte Roberto Campos, que não faz parte da Bancada do PMDB. Portanto, não vejo em S. Ex.ª nenhuma legitimidade para fazer apreciações sobre a conduta da Liderança do PMDB com a sua Bancada internamente. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sou Membro da Comissão e tenho todo direito de denunciar uma irregularidade processual. A irregularidade processual foi por designação de um Relator sem consulta à Bancada. O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Severo Gomes. O SR. CONSTITUINTE SEVERO GOMES: – Sr. Presidente, estamos obedecendo ao Regimento votado por todos, e não entendo por que se possa dizer que cumprir o Regimento é uma irregularidade processual. O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Ismael Wanderley. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Entendo perfeitamente válida uma prévia, desde que tivesse sido feita antes da eleição. No momento, já que se processou a eleição, que se cumpra o Regimento. O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – A posição dada pelo Regimento aos líderes é para a indicação da proporcionalidade, e apenas isto. Não é para indicação de personalidades. A indicação de personalidades deve ser feita pelo processo democrático de eleição dentro da Bancada. Não confundamos dois substantivos completamente diferentes: proporcionalidade, que cabe aos líderes indicar; personalidades, que cabe à bancada escolher. O CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Sr. Presidente, peço a palavra, pela ordem. O SR. PRESIDENTE (lrapuan Costa Júnior): – Concedo a V. Ex.ª a palavra, pela ordem. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Insisto em que estamos rigorosamente cumprindo o Regimento Interno da Constituinte, que estabelece: "Respeitada a proporcionalidade, cabe às lideranças partidárias indicar os membros das comissões e subcomissões." – competência que foi exercida. Diz o Regimento Interno: "Eleito o presidente e o vice-presidente das subcomissões, cabe, regimentalmente, ao Presidente da Comissão a designação do relator." O SR. PRESIDENTE (Irapuan Costa Júnior): – Creio que está suficientemente amadurecida a questão. Vamos, então, dar a nossa opinião. Todos nos sentimos tentados a exercer o nosso direito de democracia. Este é um momento em que nos sentimentos, mais do que em qualquer outro, tentados a fazê-lo. No entanto, temos que ater-nos à letra do Regimento Interno, que é muito clara, no seu artigo 13, § 8º, quando diz: "Cada comissão ou subcomissão, uma vez constituída, reunir-se-á, dentro de 24 (vinte e quatro) horas, a fim de eleger um presidente e dois vice-presidentes, cabendo ao presidente a designação do relator." Nada impede, porém, que, durante o processo de apuração – que se vai iniciar imediatamente faça-se uma indicação para ser entregue ao futuro presidente, para que ele a acate ou não. 2 Passamos à apuração dos votos, e peço aos escrutinadores que o façam. Peço ao nobre Constituinte Marcos Lima faça a indicação a quem de direito será o presidente, pois o nome vai sair da uma nos próximos momentos. Convido o Constituinte Paulo Micarone para substituir o nosso Senador Albano Franco, que precisou ausentar-se. (Pausa.) Declaro o resultado da votação para Presidente: Constituinte Delfim Netto, com 16 votos, sendo que os Constituintes Afif Domingos e Virgildásio de Senna tiveram 1 voto cada um; e houve votos em branco. Eleito Presidente o Constituinte Delfim Netto. Eleito Vice-Presidente:Constituinte Afif Domingos, com 20 votos. Houve 1 voto em branco. Eleito para 2º-Vice-Presidente o Constituinte Roberto Jefferson, com 14 votos. Houve 7 votos em branco. Estão proclamados os eleitos: Presidente – Constituinte Delfim Netto; 1ºVice-Presidente – Constituinte Afif Domingos; 2º-Vice-Presidente – Constituinte Roberto Jefferson. Convido o Presidente Delfim Netto a assumir a Presidência. (Pausa.) O SR CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Pela ordem, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) :– Um momento só. Convido o Constituinte Afif Domingos a compor a Mesa. Em meu nome, em nome dos meus companheiros, agradeço a V. Ex.as a gentileza que tiveram nos elegendo. Procuraremos realizar o melhor de nós para que esta Subcomissão possa cumprir a sua tarefa. Concedo a palavra ao nobre Constituinte Marcos Lima. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, como é prerrogativa de V. Ex.ª a indicação do Relator, solicito-lhe que suspenda a sessão, até que o PMDB se manifeste sobre essa indicação. Aproveito o ensejo para encaminhar a indicação, assinada por 6 dos 11 Constituintes do PMDB, Constituinte Gabriel Guerreiro para Relator desta Subcomissão. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Peço a palavra, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Robson Marinho. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – A Mesa eleita, que acaba de ser empossada, foi fruto de um amplo acordo partidário, promovido entre as várias Lideranças partidárias na Constituinte. A prerrogativa regimental da designação do Relator desta Subcomissão cabe a V. Ex.ª, na condição de Presidente eleito e empossado. Nestas condições, em nome da Liderança do PMDB na Assembléia Nacional Constituinte, comunico a V. Ex.ª que a Liderança indica como candidato a Relator desta Subcomissão, segundo acordo partidário existente, o nome do Constituinte Virgildásio de Senna. 3 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento) O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Peço a palavra para uma questão de ordem, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto):– Concedo a palavra ao nobre Constituinte Renato Johnsson. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Já existe um precedente, por ocasião da eleição e indicação de Relator da Comissão da Ordem Social, no sentido de que não seria feita a designação do Relator na própria reunião e fosse aguardado um pronunciamento da Bancada ou do Líder do PMDB, uma vez que mais de um candidato disputavam. Então, solicito ao ilustre Presidente não faça agora a designação do Relator, mas que devolva à Bancada do PMDB esse direito de escolha, que será levado ao Líder Mário Covas e, posteriormente, trazido a V. Ex.ª que, então, cumprindo o Regimento Interno, fará a designação do Relator. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Sr. Presidente, pela ordem, para contraditar. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra, pela ordem, ao nobre Constituinte Robson Marinho. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – A Liderança manifesta-se a este posicionamento, uma vez que a prerrogativa regimental da designação do Relator cabe a V. Ex.ª, e não à Bancada do PMDB. Temos absoluta confiança de que V. Ex.ª fará cumprir o Regimento Interno e não vai abrir mão dessa prerrogativa regimental que lhe cabe. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Pela ordem, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Como um dos representantes da Minoria nesta Subcomissão, penalizar-me-ia muito privar o PMDB da oportunidade de nos dar uma lição de democracia. Proponho a V. Ex.ª que a sessão seja interrompida e os membros minoritários saiam desta sala, para que o PMDB vote a sua designação para Relator. Se isso não ocorrer, eu me retirarei. Já engoli um relator de "bolso do colete" e não estou disposto a engolir dois. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Peço a palavra, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra à nobre Constituinte Raquel Cândido. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Em nome dos meus colegas do PFL, solicito se dê prosseguimento aos acordos, porque já adiamos a votação desta Subcomissão por mais de 72 horas e sabemos o que sofremos para chegar a um consenso. A população lá fora já não resiste mais a este tipo de prazo e conversação. Existem os acordos de Liderança, está o próprio PMDB pedindo que se cumpra o Regimento. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA:– Peço a palavra para uma questão de ordem, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto) :– Concedo a palavra ao nobre Constituinte Marcos Lima. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA :– Sr Presidente, é bom que fique bem claro que não estamos aqui contestando o acordo de Liderança. Procuramos o Líder Mário Covas na 5ª-feira, e todos os Coordenadores de Bancada procuraram o Líder Luiz Henrique. Em reunião na 6ª-feira, pela manhã, no Gabinete do Líder Luiz Henrique, S. Ex.ª colocou em votação a seguinte proposta do Deputado Cid Carvalho: onde houvesse consenso, seria indicado o nome da Liderança; onde houvesse mais de dois candidatos, haveria uma disputa democrática dentro da Bancada do PMDB. Aí está claramente definida, como já disse, a eleição, amanhã, do nosso Relator da Comissão de Sistematização. Portanto, já que encaminhamos essa relação, assinada por seis dos onze Constituintes do PMDB, não queremos e não podemos definitivamente ferir o Regimento quanto a acordo de Liderança, mas temos o direito, a nossa Bancada, desde que dois companheiros democraticamente queiram disputar o cargo de Relator. O Líder tem esse compromisso conosco, celebrado na 6ª-feira, e aqui estão companheiros que lá estavam presentes e que poderão corroborar com esta afirmação. Apesar de termos feito a indicação de 6 nomes, aceitamos, evidentemente, uma prévia com voto secreto dos 11 companheiros do PMDB. Não significa que esses 6 nomes tenham que ter essa indicação. Que haja essa prévia, conforme o prometido pelo líder Mário Covas. S. Ex.ª prometeu isso na 6ª-feira pela manhã. Estamos aqui cobrando uma postura democrática que o Líder Mário Covas teve, naquele seu discurso, quando ganhou as eleições para Líder do PMDB na Constituinte. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Sr. Presidente, volto a enfatizar que essa prévia teria sentido se feita antes da votação. Está em eleição o candidato do acordo, Delfim Netto, Presidente, juntamente com Afif Domingos, representante do PTB, e esperamos que V. Ex.ª cumpra o acordo pela indicação do nome, dado pela Liderança, de Virgildásio de Senna. O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO: – Sr. Presidente, reitero aqui, para o completo esclarecimento de todos os presentes a esta sessão. Quando da discussão do Regimento Interno da Constituinte, houve uma emenda, apresentada por um Constituinte, que propunha que os relatores das Comissões seriam eleitos pelos membros das Comissões e Subcomissões. Essa emenda não prosperou, foi recusada pelo plenário, que aprovou, por unanimidade, o Regimento que está em vigor e que estabelece que a indicação do Relator é de competência do Presidente da Comissão e da Subcomissão. Portanto, a oportunidade para se discutir se o Relator deveria ou não ser eleito cabia à época da discussão do Regimento, em plenário, e não foi isso que o plenário soberanamente decidiu. Lamento estarmos sacrificando os companheiros de outras legendas par- tidárias por problemas internos do PMDB, que devem ser resolvidos dentro de reuniões de Bancadas do PMDB, porque não é o caso e o local presentes. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Peço a palavra, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Renato Johnsson. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Não estamos discutindo o Regimento Interno e os termos do Regimento Interno. Estamos respeitando os termos do Regimento Interno. O único ponto que levantamos é que solicitamos ao ilustre Presidente no sentido de não fazer essa designação de imediato, até que os 11 Membros do PMDB que fazem parte desta Subcomissão, aqui presentes, possam reunir-se, se for o caso, com o Líder Mário Covas e acertar a indicação do Relator, para que V. Ex.ª faça a designação do Relator do PMDB. O ponto principal não é discutir, não é protelar a indicação, em absoluto, mesmo porque o Lide Mário Covas, conforme relatou o Constituinte Marcos Lima, devolveu, em reunião com a Bancada do PMDB, essa escolha aos Constituintes do PMDB sempre que houvesse disputa. Então, em nenhum momento estamos desrespeitando ou colocando em dúvida o Regimento Interno. O SR. CONSTITUINTE HÉLIO DUQUE: –Peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Hélio Duque O SR. CONSTITUINTE HÉLIO DUQUE: – Sr Presidente, objetivamente a Liderança do PMDB aqui, através do Constituinte Robson Marinho, já expôs a necessidade do cumprimento do acordo. A minha questão de ordem a V. Exª é no sentido de que faça cumprir imediatamente aquilo que foi acordado e que levou o ilustre Constituinte à Presidência, o ilustre Constituinte Afif Domingos: à 1º-VicePresidência, e o ilustre Constituinte Roberto Jefferson à 2ª-Vice-Presidência. O PMDB é um Partido, Sr. Presidente, que tem sérios e profundos compromissos com este País e com toda uma luta. Nesta subcomissão a nossa Liderança decidiu que o Relator é o Constituinte Virgildásio de Senna. Houve um acordo para a eleição desta Subcomissão. O candidato a Relator do nosso Partido é o Constituinte Virgildásio de Senna. Peço a V. Ex.ª, respeitosamente, execute aquilo que foi acordado, e as questões internas deixe à Bancada do PMDB. Obviamente, que venha a se revelar por foro próprio, por ser também um Partido democrático o PMDB, assim como teve a mão de entrada para muitos que usaram a nossa legenda na eleição de 15 de novembro, tem também a mão de saída para quem deseja desligar-se desta legenda. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – A Presidência vai tomar as decisões quando chegar o momento. Não gostaria de fazer o que foi feito.Gostaria que todos usassem da palavra, expressassem o DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE – (Suplemento) seu pensamento, e depois a Presidência cumprirá o seu papel. De maneira que a palavra está concedida aos Srs. Constituintes que desejarem intervir. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, assinalo novamente que não estou pregando o descumprimento do acordo – desse acordo que foi costurado com tanta habilidade, com tanta premência de tempo pelo Líder Mário Covas. Gostaria de entender, se o Regimento prega as indicações dos Relatores pelos Presidentes, por que para o Relator da Comissão de Sistematização vai haver uma eleição democrática, quando vejo alguns companheiros do PMDB tentando fugir a uma reunião de diálogo? Se até agora a Liderança indicou algum nome, foi sem consultar essa Bancada de 11 membros da Subcomissão aqui presente. Não tivemos nenhuma reunião, e é pedindo por essa reunião, por mais democracia no PMDB e tentando entender como pode, dentro de um mesmo Regimento – o Líder, que se havia comprometido formalmente, inclusive chegou a declarar pela imprensa, telefonou também na nossa presença para o Presidente Ulysses Guimarães, que faria, quando houvesse mais de um candidato, uma prévia, isto é, uma eleição dentro da Bancada; gostaria de entender por que esse receio, desde que essa indicação de 6 nomes, que aí está em cima da mesa, possa ser revista por voto secreto de cada um desses companheiros e, a partir daí, esse nome seja indicado por V. Ex.ª para Relator dessa Subcomissão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Srs. Constituintes, creio que a questão está suficientemente esclarecida e também esgotadas as questões de ordem. Recebi incumbência importante do meu Partido de que deveríamos cumprir os acordos partidários. É decisivo numa Assembléia, num Congresso. Sem o respeito à palavra empenhada jamais será possível uma organização adequada dos nossos trabalhos. O ilustre Líder do PMDB na Assembléia Nacional Constituinte, o Constituinte Mário Covas, procurou-me para dizer que o Partido indicava o nome do ilustre Constituinte Virgildásio de Senna. Aqui mesmo o Vice-Líder apresentou o mesmo nome. De forma que a Presidência decide que o Sr. Relator será o ilustre Constituinte Virgildásio de Senna. O SR. CONSTITUINTE VIRGILDÁSIO DE SENNA: – Sr. Presidente, peço a V. Ex.ª me conceda a palavra. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): — Está concedida a palavra a V. Ex.ª O SR. CONSTITUINTE VIRGILDÁSIO DE SENNA: – Sr. Presidente, poupei-me de intervir neste debate, porque o assunto versava matéria prodromoméia, mas não posso, de forma alguma, silenciar-me ao assistir o farisaísmo de tantos que nesta Casa, contudo, compactuaram vir aqui neste instante pregar ao meu Partido, àqueles que resistiram aos anos mais duros do autoritarismo e na luta pela democracia, o farisaísmo de tantos que aqui vêm pregar democracia. A democracia não é palavra simplesmente verbalizada nas ocasiões que interessam a cada qual. É um processo de luta de uma vida que passa pela resistência, pela luta do cotidiano, no enfrentamento das questões fundamentais que dizem respeito ao povo. Sei que há julgamentos de valor que antecipam os fatos. Para alguns o Relator pode agredir a Comissão e contrariar a vontade do Colégio, da maioria que vai expressar democraticamente o seu pensamento. Não é tal o meu propósito. De outro lado, não me alinharei aos Iobies que têm interesses e querem defendê-los nesta Subcomissão. Sr. Presidente, a sua escolha me honra sobre-modo, porque sempre defendi que V. Ex.ª tem uma mente aberta à compreensão do passado, do presente e das estradas que vamos abrir para o futuro desta Pátria. V. Ex.ª não chega a esta Presidência com preconceitos, com vilanias, com traições, com objetivos de subalternizar o interesse geral a esquemas particulares. É por isso que só me pronunciei depois que V.Ex.ª cumpriu um acordo democrático, porque esse acordo passou pela vontade da Maioria da Casa. V. Ex.ª está como Presidente não pelos 11 elementos que compõem exclusivamente esta Subcomissão, mas é Presidente pela vontade da Srs. Constituintes, da qual esta parcela é uma parte. Não fôra o acordo de Liderança, nem V. Ex.ª nem os Srs. Constituintes Afif Domingos e Roberto Jefferson seriam eleitos por esta Subcomissão. Se as questões, de fato, fossem de fundo e verdadeiras, a preliminar levantada à questão de ordem precederia completamente todo o processo eleitoral. V. Ex.ª entendeu isto perfeitamente e sentiu o propósito, que não sei a que atribuir, de agredir-me pessoalmente e de contestar, com agressão a mim, a indicação da Liderança da Casa, após um longo e penoso trabalho que venho realizando aqui, sem falhas – devo dizer – e do qual muito me orgulho, porque jamais voltei ou me alinhei a questões que antes não tivessem passado pela minha consciência. É por isto, Sr. Presidente, que, ao falar agora, agradeço a V. Ex.ª em meu nome e em nome do meu Partido, em nome das forças políticas que represento, pela lisura e a correção com que V. Ex.ª se colocou no destino desta cena desagradável, na feira de vaidades, onde superiores interesses do País deveriam ser colocados. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Convoco os Srs. Constituintes para uma reunião da Subcomissão quinta-feira, às 9 horas, onde reuniremos as três Subcomissões, para integrarmos os trabalhos. Estão encerrados os nossos trabalhos. ATA DA 1ª REUNIÃO ORDINÁRIA Aos vinte e dois dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dez horas e vinte minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência dos Senhores Constituintes Roberto Campos e Delfim Netto, com a presença dos seguintes Constituintes: Luiz Salomão, Virgildásio de Senna, Gil César, Vladimir Palmeira, Ismael Wanderley, Roberto Campos, Antônio Carlos Franco, Beth Azize, Raquel Cândido, Rubem Medina, Renato Johnsson, Jalles Fontoura, Gilson Machado, Marcos Lima, Irapuan Costa Júnior, Antônio Ueno, Gustavo de Faria, Delfim Netto, Joaquim Bevilacqua e Ronaldo Cesar Coelho. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura 4 da ata da reunião anterior, que foi aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se início ao Expediente que constou da leitura sumária das sugestões de nº s 31, 41, 65, 95, 103, 158, 114, 120, 318, 477, 503 e 539, de autoria dos Senhores Constituintes Beth Azize, Siqueira Campos, Jorge Arbage, Nilson Gibson, Mendes Botelho, Adhemar de Barros Filho, Virgílio Távora, Iram Saraiva, Geraldo Alckmin, Jamil Haddad e Mário Maia e, ainda, sugestão da Associação Mineira da Micro Empresa. Findo o Expediente, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Constituinte Virgildásio de Senna, relator da matéria, que leu telegrama do Constituinte Ulysses Guimarães, Presidente da Assembléia Nacional Constituinte, comunicando que o prazo final para apresentação de sugestões pelos Constituintes, foi prorrogado até o dia seis de maio e que as Comissões e Subcomissões poderão reunir-se, em caráter extraordinário, a partir das dezessete horas, às terças, quartas e quintas-feiras. Em seguida, foi discutida e aprovada a proposta do Relator com referência aos temas a serem abordados pela Subcomissão, com a inclusão dos itens dívida externa e dívida interna, propostos pelos Senhores Constituintes Luiz Salomão eJoaquim Bevilacqua, respectivamente. Usaram da palavra, na discussão, os Constituintes Gilson Machado, Roberto Campos, Luiz Salomão, Joaquim Bevilacqua, Vladimir Palmeira, Raquel Cândido, Renato Johnsson, Virgildásio de Senna, Rubem Medina e Irapuan Costa Júnior. A Constituinte Beth Azize indagou da Presidência sobre o número de propostas recebidas pela Subcomissão, tendo abordado o assunto, inclusive no que se refere à distribuição de cópias das sugestões, os Senhores Constituintes Raquel Cândido, Gil César, Gilson Machado, Antônio Carlos Franco e Luiz Salomão. A Presidência respondeu às indagações formuladas, enfatizando que as sugestões recebidas serão publicadas em avulsos. A Constituinte Raquel Cândido enviou à Mesa cópia das propostas por ela apresentadas à Assembléia Nacional Constituinte. Em seguida, a Subcomissão aprovou o calendário proposto pelo Senhor Relator, admitindo a revisão da matéria caso haja uma prorrogação dos prazos previstos no Regimento Interno da Assembléia Nacional Constituinte. Falaram, ainda, os Senhores Constituintes Roberto Campos, Virgildásio de Senna, Vladimir Palmeira, Gil César, Joaquim Bevilacqua, Marcos Lima, Antônio Carlos Franco, Antônio Ueno, Luiz Salomão, Ismael Wanderley, Gilson Machado e Irapuan Costa Júnior. Foram aprovados, com algumas alterações, os temas para Audiências Públicas, sugeridos pelo Senhor Constituinte Virgildásio de Senna, tendo também abordado o assunto os Senhores Constituintes Marcos Lima, Luiz Salomão, Gil César, Vladimir Palmeira, Raquel Cândido, Roberto Campos, Joaquim Bevilacqua e Ismael Wanderley. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às doze horas e vinte e um minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada hoje, às dezessete horas e trinta minutos, para continuação do debate de Matéria Constitucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueiredo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. 5 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) COMISSÃO DA ORDEM ECONÔMICA Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica deixar a leitura da ata para o fim. Se os Srs. Constituintes concordam, podemos começar conversando sobre as indicações de nomes, em continuação ao trabalho de hoje cedo. Os Srs. Constituintes que aprovam queiram permanecer sentados. (Pausa.) Aprovado. ATA DA 2ª REUNIÃO ORDINÁRIA Então, vamos dar proseguimento aos trabalhos. Aos vinte e dois dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dezessete horas e quarenta e sete minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência do Senhor Constituinte Delfim Netto, com a presença dos seguintes Constituintes: Virgildásio de Senna, Vladimir Palmeira, Jalles Fontoura, Gilson Machado, Antônio Carlos Franco, Raquel Cândido, Delfim Netto, Roberto Campos, Gil César, Marcos Lima, Ismael Wanderley, Luiz Salomão, Antônio Ueno, Rubem Medina, Gustavo de Faria, Joaquim Bevilacqua, e Ronaldo Cézar Coelho. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior, que foi aprovada por unanimidade. Em seguida, foram indicados os nomes de representantes de entidades para serem ouvidos em audiência pública no âmbito da Subcomissão, tendo usado da palavra na oportunidade os Senhores Constituintes Joaquim Bevilacqua, Virgildásio de Senna, Roberto Campos, Marcos Lima, Raquel Cândido, Vladimir Palmeira, Gil César, Jalles Fontoura, Luiz Salomão, Antônio Carlos Franco e Gilson Machado. O Senhor Presidente, atendendo à solicitação dos Senhores Constituintes Antônio Carlos Franco e Gil César, apoiada pelo Plenário, resolveu apresentar uma relação, baseada nas sugestões apresentadas, contendo os nomes de representantes de entidades e de pessoas com especialização na área temática da Subcomissão, para ser submetida à deliberação do Plenário na próxima reunião, a fim de serem expedidos os convites. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às dezoito horas e quarenta e oito minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada amanhã, dia vinte e três de abril, às nove horas e trinta minutos, para continuação do debate de Matéria Constitucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueiredo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. Constituinte Afif Domingos, Primeiro-Vice-Presidente. A palavra está aberta aos Srs. Constituintes. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, sugiro, para audiência pública do tema "Subsolo, União e os Estados", "Monopólio Estatal do Petróleo e outros Monopólios", o Engenheiro Ozires Silva, Presidente da Petrobrás, já que V. Ex.ª, Sr. Presidente, abriu a discussão para a sugestão de nomes. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, um dos pontos que vale a pena esta Subcomissão discutir, é se o número de pessoas que vão compor esses painéis deve ser aumentado ou reduzido – 4 é número razoável –, ou se alterar-se-ia esse número, para se permitir a presença de outros painelistas. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Gostaria de manifestar-me a respeito, Sr. Presidente. (Assentimento da Presidência.) Pelo Regimento da Subcomissão, temos 20 minutos para a exposição de cada expositor. Com os debates, teremos aí cerca de 50 ou 60 minutos, dependendo do interesse que a questão possa gerar. Acredito que o número de 4, que V. Ex.ª sugeriu no ordenamento dos trabalhos, seja adequado. Teremos aí de 4 a 5 horas de trabalho. Mais do que isto seria de difícil organização e aproveitamento, inclusive, da matéria discutida. Esta é a minha posição. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, permito-me fazer algumas sugestões sobre nomes de personalidades a serem convidadas. No tocante ao primeiro item – "Princípios Gerais da Ordem Econômica", tenho a sugerir o nome do Sr. Abram Szajman, Presidente da Associação Comercial de São Paulo, e do Dr. Amaury Temporal, da Associação Comercial do Rio. No tocante ao tema "Subsolo, União e os Estados", além do Coronel Ozires Silva, que é uma escolha natural, como Presidente da Petrobrás, sugiro outra escolha natural, o Presidente do Ibrami – Instituto Brasileiro de Mineração, Dr. João Marinho Nunes. Este Instituto abrange um universo de mais de 200 empresas, ou, para ser preciso, 271 empresas, sendo, talvez, o grupo mais autorizado e credenciado para se pronunciar sobre o problema do regime do subsolo. No tocante à "Nacionalidade de Pessoas Jurídicas e Reserva de Mercado", sugiro dois eminentes empresários, um deles o Sr. Jordano Romi, das Indústrias Romi, e, outro, o Sr. Eugênio Staub, da Gradiente. Um abrangeria a indústria pesada; o outro, a eletrônica. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Marcos Lima. ANEXO À ATA DA 2ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM 22 DE ABRIL DE 1987, Às 17 HORAS E 47 MINUTOS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. Não temos liberdade de PRESIDENTE (Delfim número ainda. Vou inverter a ordem Netto): – tomar a da pauta, DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, já encaminhei, e estou ratificando oralmente, para audiência do dia 4 de maio, sobre o tema "Subsolo, União e os Estados", os nomes do Presidente do Sindicato Nacional do Estanho – Sr. Samuel Assag Anan, do Presidente da Associação Brasileira dos Mineradores de Ouro – Dr. Antônio Dias Leite Neto; e do Presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros – Sr. Roberto Athaíde. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª A SR.ª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra à nobre Deputada Raquel Cândido. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Reitero o convite, para a primeira reunião do dia 27, à pessoa do Presidente Ronaldo Lopes Garcia, do Conselho Nacional dos Economistas, e do Professor Paulo Timm, da UnB, e mais do ilustre Pr ofessor de Sociologia Hélio Jaguaribe. Para o dia 4, reitero o convite à Conage, à União Nacional dos Garimpeiros da Amazônia, Sr. Altino Machado, e à CPRM. Ainda para explanar sobre a matéria de reservas estratégicas, o Almirante Gama e Silva. Para o dia 6, o convite ao eminente Presidente da OAB, e ao eminente empresário nacional José Ermírio de Moraes, no ramo de mineração brasileira. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª, por gentileza, encaminhe por escrito à Mesa os convites. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, todos esses convidados terão oportunidade de falar? Como seria esse critério? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Estamos recolhendo os nomes primeiramente, porque todos não poderão ser convidados. Vamos ter que escolher alguns desses nomes. Vamos fixar o número de painelistas, e, então, escolheremos, dentro dessa lista. Se houver um número maior de convidados do que se imagina, teremos que escolher alguns. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Assinalo que estou de pleno acordo com as indicações da Constituinte Raquel Cândido. Só pondero que uma das minhas propostas se choca com uma das indicações, é o mesmo assunto praticamente. Pela minha proposta, estou convidando o Presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros. A Constituinte Raquel Cândido quer convidar o Presidente da União Nacional dos Garimpeiros da Amazônia. Teríamos os garimpeiros do Nordeste e de Minas Gerais. O assunto é mais nacional. Assinalo este aspecto. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Vladimir Palmeira. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Já fiz as indicações por escrito. Sugiro, Sr. Presidente, que se dêem as indicações por Comissão, para poder encaminhar mais rapidamente, porque são muitos nomes. Então, se comece por Comissão: a primeira Comissão faz a indicação, e resolvemos aqui qual será a indicação. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Estamos recolhendo todas as sugestões, e, depois, vamos verificar se em alguma Comissão há mais do que 4. Suspeito, realmente, que a proposta do nobre Relator seja razoável: quatro pessoas para serem ouvidas por reunião me parece bastante razoável. Obviamente, se pretendemos fazer uma discussão proveitosa, precisamos trazer pessoas com opinião no mínimo divergente. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Sr. Presidente, peço a palavra, pela ordem. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra à nobre Constituinte Raquel Cândido. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Para contraditar o meu colega Marcos Lima. Não é possível que, não conhecendo o aquartelamento das multinacionais sediadas na Amazônia Ocidental, possamos ter aqui uma representatividade, de fato, de Estados longínquos da Federação. Minas Gerais tem a sua plenitude, é um Estado eminentemente minerário. Aqui não é lugar de querelas pessoais, de querelas estaduais. O Brasil é muito grande, e a oportunidade, ímpar. Ou juntamos de Sul a Norte os interesses totais, ou, então, vamos legislar em causa própria. A União dos Garimpeiros da Amazônia Legal representa um contingente de quase 200 mil garimpeiros, vivendo na pior forma de vida humana que possa haver, como é o caso de Serra Pelada, como é o caso do Garimpo do Madeira, como é o caso da única província estanífera da Federação deste País, que está sediada entre Rondônia e o Amazonas. Querer-nos furtar, de maneira mesquinha, uma apresentação, uma única província estanífera neste País, através da Portaria nº 195, é querer negar o avanço democrático e a conceituação de uma nova Constituinte moderna, de acordo com a cara do Brasil, porque a Amazônia Legal é Brasil. Estou de pleno acordo que venha o Presidente da União dos Garimpeiros. Nós, que somos do Norte, sabemos como se dá a nível de sindicato, a nível de associação, quais os interesses, quem é quem nesse jogo. Longe de querer desmerecer o honrado Presidente do Sindicato dos Garimpeiros. Pelo contrário, ele tem o nosso apoio. No entanto a União dos Garimpeiros tem, na sua praticidade na Amazônia Legal, um conhecimento profundo, inclusive com várias profissões desconhecidas pela CLT, coisa essa que não é muito bem discutível, porque não há conhecimento de causa. Por exemplo, se conhece aqui o que é a profissão do sequeiro? O catador? Do mergulhador? Do homem que trabalha no aeroporto? São várias profissões oriundas da profissão do garimpeiro, que se tem de discutir com profundidade e conhecimento de causa. Se existem dois Estados e duas regiões com problemas concernentes, profundos, à mineração do País, a Amazônia avoca para si, porque ela tem no seu bojo, só em matéria de exportação quase 30% do estanho deste País, afora todos os outros minérios que estão acontecendo com as pesquisas, hoje acabamos de saber com relação ao próprio petróleo uma descoberta recente. Então, é fundamental que, pelo menos uma vez na história, não sejamos apenas receptáculos 6 dos problemas sociais deste País, de Minas, do Paraná, da Bahia, como o maior receptador de migração deste País, mas que possamos falar aqui da nossa angústia e da nossa falta de infra-estrutura e daquilo que produzimos para fora do País. Sequer temos energia. São problemas seriíssimos que estão correlacionados. Basta um fato, volto a dizer: E o problema da única província estanífera ainda, imposta através da Portaria nº 195, nos idos de 1979, de uma forma escandalosa, de forma humilhante, de onde se tiraram 200 mil homens amarrados e os colocaram em búfalos da FAB, sem saber para aonde iam, com a promessa vã de que se industrializaria com a ida das mineradoras para aquela região. O que temos hoje, são buracos geradores de leishmaniose, que ataca a garganta de migrantes que não tem anticorpos e vão colonizar as áreas já fechadas pela mineradora, porque ao mercado internacional faz muito bem esta baixa, lá fora, quando é do seu interesse. E questão que está correlacionada inclusive, com a colonização, em especial, com a Portaria nº 195 e com o maior índice de migração deste País. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, só para finalizar. Não foi meu propósito excluir ninguém de ser convidado. Simplesmente não convidei ninguém de Minas Gerais, porque como temos – e o Presidente assinalou – somente 4 convidados, possivelmente – e assinalei – haveria um conflito. Ponderei que o Presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros evidentemente tem um conhecimento maior do que o Sindicato de Minas Gerais. Esse Sindicato Nacional dos Garimpeiros, salvo engano, é do Pará. Não estou convidando nem de Minas, nem do Nordeste, nem da Amazônia. Se for possível escutarmos todos evidentemente seria o ideal. Assinalei, nesse conflito que haveria, que o Sindicato nacional conhece, inclusive os problemas da região dos garimpeiros de Rondônia. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Com a palavra o Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, na reunião informal, até discutimos um pouco o assunto da realização dessas reuniões externas. Naquela oportunidade fiz algumas sugestões, a Deputada Raquel Cândido, outras. Imaginei que seriam consideradas hoje. Ocorre o fato de que alguma sugestão minha foi objeto de indicação de outro Constituinte, como é o caso do nobre Constituinte Joaquim Bevilácqua, que sugeriu o nome do Presidente da Petrobrás. Havia sugerido o nome do Presidente da Vale do Rio Doce. Para que se tenha um quadro da política atual setorial, é importante que se ouça o DNPM, para se ver a política atual, como está sendo aplicada, por que está sendo aplicada dessa maneira. E também um representante do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica, porque, dentro do quadro da política atual, vamos ouvir a sociedade e propor as mudanças que cada um de nós julga oportunas. Vou fazer as sugestões por escrito, conforme recomendado, e caberá à Mesa incluir ou excluir 7 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) aqueles nomes que já constam de uma ou mais sugestões. Acredito também, pela proposta do Relator, seja razoável o número de quatro. Estou sugerindo sete nomes, mas acredito que haverá um consenso na exclusão de alguns desses nomes. Esta reunião está programada para o dia 4. As sugestões que faço agora se referem ao tema do dia 4. Para o dia 27 só tenho uma, e vou justificála, que é a da Federação dos Clubes dos Diretores Lojistas do Brasil. Quando se fala em clube, se pensa que é uma entidade recreativa. Esse clube reúne os logistas. No meu Estado, Minas Gerais, são 132 mil, microempresas e pequenas, às vezes. Portanto, é uma visão nacional do problema da microempresa que lida no comércio. E importante, e faço somente esta sugestão para o dia 27. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Sr. Presidente, sugiro para a audiência do primeiro tema, de Princípios Gerais, o nome do Dr. Inácio Mourão Rangel; para a audiência do tema nº 2, do "Subsolo", a Sociedade Brasileira de Geologia e a Associação dos Engenheiros da Petrobrás; finalmente, para a audiência com respeito ao "Planejamento Econômico do Estado", o Dr. Rogério Ladeira Furguim Wemeck. São as sugestões que passo por escrito a V Ex.ª O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, para o tema "Intervenção do Estado na Ordem Econômica, a Preservação de Valores", e dos "Princípios Gerais" indico o Prefeito Roberto Saturnino Braga, que tem uma tradição no Congresso Nacional de discussão dessas questões. No tema do "Subsolo e Monopólio Estatal do Petróleo," indico o Jurista Osny Duarte Pereira. No tema n° 3, "Nacionalidade da Pessoa Jurídica, Capital Estrangeiro", n i dico o Engenheiro Leonel de Moura Brizola, Presidente do Partido Democrático Trabalhista. Para o tema "Planejamento Econômico do Estado na Sociedade Democrática", indico o Engenheiro Antônio Guarino. Presidente da Flupeme – Federação das Pequenas e Médias Empresas do, Rio de Janeiro. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Continua em discussão. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, um esclarecimento. As indicações, hoje, serão para todos os temas ou poderão ser feitas outras indicações posteriormente? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Melhor seria se pudéssemos, para poder convidar as pessoas, esgotar os temas mais avançados. A última audiência será no dia 7 de maio. Não temos tanto tempo assim, temos dez a quinze dias. O ideal seria que pudéssemos dar todos os nomes hoje. (Pausa.) Se não há mais nenhuma sugestão de nomes, colocamos em votação, em primeiro lugar, a proposta de que sejam quatro painelistas em cada tema. Se os Srs. Constituintes concordam com esta proposta, podemos prosseguir. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Um esclarecimento, Sr. Presidente. O Regimento aprovado nesta Subcomissão prevê a intervenção dos convidados por apenas 10 minutos. Vai prevalecer esta norma regimental? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Vinte minutos em cada uma das reuniões. A idéia seria de quatro painelistas. Teríamos 80 minutos, supondo que eles, como nós, obedeçam rigorosamente ao horário. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – E haveria debate? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Certamente tem que haver debates. Devemos reservar, no mínimo, uns 40 minutos para que os Membros da Comissão arguam os painelistas, o que deixa uma hora para cada painelista. Quatro me parece um número razóavel. Faríamos uma reunião de manhã. Essas reuniões começariam às 7 horas e 30 minutos e terminaríamos às 9 horas e 30 minutos, 10 horas. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, consulto o Relator se acha apropriada a discussão em nosso plenário do caso específico de um problema tributário – o Imposto sobre Minérios. S. Ex.ª acha apropriada essa discussão ou não? O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – É pertinente a matéria. Devemos aprofundar esta discussão, mesmo como subsídio à Comissão de Tributação, com informações ou com indicações. Não é regimental, mas esta Subcomissão pode encaminhar à Comissão de Tributação sugestões relativas à matéria. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, continuando, solicito a alguns dos meus Colegas ou à própria Mesa que dirige os trabalhos se conhecem algum especialista no assunto que possa vir participar de um painel, pela importância que tem o Imposto sobre Minério no setor mineral. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Sr. Presidente, só para complementar o que o Constituinte Gil César acaba de colocar. Acompanhamos a reunião dos prefeitos dos municípios minerários do País e ouvimos uma explanação consubstanciada, de muita profundidade, através do Prefeito Napoleão, de Barroso, Minas Gerais. Foi uma discussão profunda. Não sei se esse prefeito é tributarista, mas foi o grande líder da reunião do último Encontro dos Prefeitos e Vereadores, realizado na Câmara, com relação a uma nova propositura à Constituinte. Tomei a ousadia de colocar o nome do Prefeito Napoleão, representando os municípios minerários do Brasil, pois foi de uma felicidade incrível em todos os encaminhamentos com relação à cobrança do IM e à reforma do Código Tributário. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, se me permite, continuando a discussão da minha sugestão com relação ao IM e à abordagem da Constituinte Raquel Cândido, temos em Minas uma entidade que representa 120 cidades mineradoras, uma associação específica das cidades mineradoras. O caso citado pela Constituinte Raquel Cândido, o Prefeito Napoleão era presidente da entidade representativa de todos os municípios, a Associação Mineira de Municípios. Agradeço a lembrança da Constituinte Raquel Cândido. A minha sugestão se refere a um especialista em tributação minerária, um homem que esteja no assunto, e que, infelizmente, não conheço. Gostaria que os Constituintes, talvez o Deputado Gabriel Guerreiro, que não está aqui, ou o Deputado Marcos Uma, que foi presidente da Co-missão de Minas e Energia, sugerissem o nome de um homem que viva o assunto há muito tempo, para que se possa discuti-lo. Em relação à proposta que abordei ligeiramente na reunião informal que realizamos á propósito dos municípios mineiros, em princípio dela discordo – por isso a minha preocupação –, quando se modifica o critério de dar ao município 70%, 20% ao Estado e 10% à União, pela seguinte razão, e quero discutir o assunto: em princípio, discordo, sem entrar em maiores profundidades no mérito. Por quê? Porque vamos concentrar a renda em determinadas cidades-pólos, com aqueles problemas de migração interna que já estão acontecendo em meu Estado. O Estado aí aparece com a obrigação de, dentro de critérios regionais, inclusive de microrregião, fazer uma distribuição de renda, de maneira que se evitem concentrações de renda, como é o caso que citei da tribuna do Congresso, o caso específico de Congonhas, cujo prefeito suspendeu a cobrança de água, de IPTU, de ISS, porque tem uma arrecadação muito grande de IM e ICM, pois 55% da Açominas está dentro do Município de Congonhas, enquanto, por exemplo, o Município de Belo Vale, ao lado de Congonhas, não tem receita adequada para atender às condições necessárias de vida da sua população. Por isto que estou insistindo, sem critérios estaduais ou regionais, sem prejuízo da presença do Prefeito Napoleão, realmente um homem que lida com os problemas municipais há muito tempo, a presença de um especialista que tenha um enfoque neutro sobre o assunto, a não ser nos relatar o quadro atual, e, como se vê, há possibilidade, como li num documento da Seplan, da extenção de imposto sobre Minérios. SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Com relação a especialista em matéria tributária, tenho dois ou três nomes de pessoas de altíssima qualificação, pessoas como o Dr. José Luiz Bulhões Pedreira e o Sr. Jaime Barros. Podemos convidar o Dr. José Luiz Bulhões Pedreira, que certamente nos esclareceria o assunto. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Faço minha a sua indicação, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Se todos estão de acordo com a número de quatro painelistas, consideramos esta proposição aprovada. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS:–Sr. Presidente, à luz de proliferação de sugestão de nomes, um algarismo de 4 pessoas como limite é irrealista. Proponho 6 painelista para cada tema. O SR. PRESIDENTE (De lfim Netto): – Deveríamos, talvez, reduzir o tempo para 15 minutos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Seria melhor reduzir para 15 minutos e ter-se um elenco mais variado de personalidades. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Se imaginarmos em 4 horas uma reunião razoável, teríamos, na realidade, 240 minutos, e 75 minutos utilizados pelos painelistas. Depois, daríamos 25 minutos para que os Srs. Constituintes pudessem argüir os painelistas. Acomodaríamos, num prazo de 4 horas, 6, em vez de 4. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, estamos retornando a uma matéria vencida. O assunto já foi submetido à consideração do Plenário, e, salvo o Plenário julgue necessário rever, já é matéria vencida. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Não, não pus em votação, nenhuma vez, o assunto. Fiquei ameaçando, para que as pessoas se manifestassem plenamente. De forma que não votamos ainda. Poderíamos colocar em votação agora 6 painelistas, e acomodaríamos os 6 num horário de 4 horas. Quem estiver de acordo com esta proposta queira por favor, permanecer sentado. (Pausa.) Está aprovada. Vamos agora à discussão dos 6 nomes. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna):– Sr. Presidente, peço à Assessoria da Mesa faça a consolidação das indicações. Enquanto isto, peço a V. Exª que, na alteração da pauta da reunião, aproveitemos o tempo com a leitura da ata. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Convido o nobre Constituinte Joaquim Bevilácqua para que faça a leitura da ata. (É lida e aprovada a ata da reunião anterior.) O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Se o Presidente me permite, informo aos membros da Subcomissão que não foi possível ainda o entendimento com a Mesa da Assembléia Nacional Constituinte acerca do problema do calendário dos trabalhos. Procuramos a Assessoria e a Secretaria da Mesa da Assembléia Nacional Constituinte, mas as informações ainda são precárias. De tal modo que as tenho a nível de trazer ao conhecimento da Casa, e peço que o prazo seja dilatado até amanhã. É possível que amanhã já tenhamos as informações finais sobre a possibilidade de esticar o nosso cronograma de trabalho. Esta parte não foi devidamente gravada, conforme mostra o mapa da Comissão. Houve discussão em plenário sobre as informações a serem feitas pela Subcomissão. Continuação da discussão em plenário sobre as indicações a serem feitas pela Subcomissão. Parte não gravada, conforme indicação do mapa da Subcomissão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Srs. Constituintes, estamos aqui com um problema de escolha. Na primeira Comissão, há a sugestão de 16 nomes; na 2º Comissão, a sugestão de 22 nomes, na 3º Comissão, a sugestão de nove nomes; na 4º, a sugestão de 4º nomes, e na 5º, a sugestão de 2 nomes. Poderíamos tentar resolver o problema da 1º Comissão. Deveríamos usar critério de ouvir pessoas com opiniões divergentes que representassem as várias linhas de pensamento da sociedade, de tal forma que tivéssemos aqui uma visão razoavelmente completa da realidade. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sugiro a V. Exª que o Sr. Relator faça uma sugestão da distribuição desses nomes, mediante os critérios propostos por V. Exª, porque o Relator teve o cuidado de preparar o roteiro e os diversos temas a serem discutidos. S. Exª está em melhores condições para propor a subdivisão desses nomes. Se o Plenário aceitar, seria aprovado, se não, passaríamos à discussão. O SR. CONSTITUINTE ANTÓNIO CARLOS FRANCO: – Além do Relator conforme o Constituinte Gil César quer, pode também haver a colaboração da Presidência da Mesa, e posta em votação no Plenário. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – De fato, nós só temos duas possibilidades de resolver isso: ou se defere à Mesa a possibilidade de escolher, e depois submeter ao Plenário, para aprovação, ou temos de passar por um processo de votação, que será extremamente penoso. Submeto aos Srs. Constituintes se aceitam a proposta do ilustre Constituinte Gil César. Procuraremos, amanhã, apresentar à Subcomissão os seis nomes que nos parecem representar o universo de cada assunto, e o Plenário, depois, decidirá se aceita, se acrescenta ou se modifica. O SR. CONSTITUINTE GILSON MACHADO: – Solicito seja lido para o Plenário os nomes sugeridos para cada uma das Comissões. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Comissão n° 1, Comissão dos Princípios Gerais: Osny Duarte Pereira, Carlos Lessa, Amaury Temporal, César Rogério Valente, Inácio Mourão Rangel, Abram Szajman, Conage, Sindicato dos Engenheiros da Petrobrás, Mário Henrique Simonsen, Newton Reis, Confederação Nacional das Indústrias, Ronaldo Lopes Garcia, Paulo Timm, Fernando Gabeira, Mário Fortes, Artur João Donato. Para a Comissão n° 2 – "Subsolo, a União e os Estados" – Roberto Saturnino, Aureliano Chaves, Ozires Silva, João Marinho Nunes, Sociedade Brasileira de Geologia, Associação dos Engenheiros da Petrobrás... O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, permita-me uma questão de ordem. (Assentimento da Presidência) Desconfio que a consolidação feita pela Secretaria da Mesa cometeu um engano, trocando indicações que fiz. A menos que alguém tenha indicado o Prefeito Roberto Satumino Braga para discutir o tema "Subsolo, a União e os Estados". Propus na Comissão de Princípios Gerais, onde ele não consta, e aparece nessa outra. A mesma coisa em relação à Conage, que, a meu juízo, não faz sentido estar na Comissão de Princípios Gerais, e, sim, na de "Subsolo, a União e os Estados". De modo que houve uma inversão aí. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Lamentavelmente, V. Exª fez realmente, a proposta, do 8 nome do ilustre Prefeito Roberto Saturnino para a Comissão n° 2. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Mas o título aí é outro, desculpeme. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Não, "Subsolo, União, Monopólio Estatal", etc. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Retifico, o nome da Conage foi proposto para a Comissão n° 2, no dia 4 de maio; o da CPRM também. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, peço desculpas. Copiei do formulário antigo para o novo, não sabia que tinha sido mu-dado, e cometi esse equívoco. Apenas transcrevi no mesmo espaço sem ler os títulos. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Melhor seria consolidarmos isso direito, apresentarmos isso de manhã, já com a nossa sugestão, e, aí, todos terão oportunidade de aceitar ou não a sugestão. O SR. CONSTITUINTE ANTÓNIO CARLOS FRANCO: – Pela ordem, Sr. Presidente. (Assentimento da Presidência.) V. Exª citou o companheiro Rubem Medina, colocou entre os palestrantes o Dr. João Donato – Presidente da Confederação do Estado do Rio de Janeiro, e eu havia pedido que fosse alguém da Diretoria da Confederação. Então, o meu poderia praticamente não existir, e existiria o Artur João Donato, que é Diretor da Confederação. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Eu também abriria mão do Professor Paulo Timm, da UnB, para que seja substituído pelo Professor Ronaldo Lopes Garcia, e, no lugar do Professor Hélio Jaguaribe, poderia ficar o... O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Não, agora tenho a impressão de que vamos começar a mudar tudo outra vez... A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – É porque apareceu o número de 16, Sr. Presidente! Já podíamos, agora, inclusive, em consenso, ir desistindo das pessoas. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Exª está desistindo ou apresentando outro nome? A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Estou desistindo! O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – As desistências estão abertas. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – E o Professor Hélio Jaguaribe, na substituição do Professor Fernando Gabeira. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Se V. Ex as estão de acordo, faremos isto: amanhã cedo, realizaremos a reunião às 9 horas e 30 minutos e começaremos a discussão temática. Está encerrada a reunião. (Encerra-se a reunião às 18 horas e 50 minutos.) 9 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica NHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. ATA DA 3º REUNIÃO ORDINÁRIA Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dez horas e trinta e seis minutos, em Sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência dos Senhores Constituintes Roberto Campos e Afif Domingos, com a presença dos seguintes Constituintes: Raquel Cândido, Vladimir Palmeira, Gil César, Roberto Campos, Virgildásio de Senna, Marcos Lima, Jalles Fontoura, Renato Johnsson, Luiz Salomão, Irapuan Costa Júnior, Antônio Ueno, Gilson Machado, Joaquim Bevilacqua, Gabriel Guerreiro, Rubem Medina, Ronaldo Cezar Coelho e Afif Domingos. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior que foi aprovada por unanimidade. Em seguida, o Senhor Presidente colocou em discussão a relação, elaborada pela Mesa, contendo os nomes de representantes de entidades e de especialistas na área temática da Subcomissão para serem ouvidos em audiência pública, a qual foi aprovada com alterações. Usaram da palavra, na oportunidade, os Constituintes Virgildásio de Senna, Luiz Salomão, Vladimir Palmeira, Raquel Cândido, Renato Johnsson, Gil César, Irapuan Costa Júnior, Jalles Fontoura, Roberto Campos, Gabriel Guerreiro, Marcos Lima, Gilson Machado e Ronaldo Cezar Coelho. O Constituinte Vladimir Palmeira levantou questão de ordem sobre o processo de votação do item III da relação proposta, na parte referente à aprovação de uma das autoridades indicadas, a qual foi respondida pelo Senhor Presidente com o esclarecimento de que o resultado da votação já havia sido anunciado, não comportando, portanto, qualquer questionamento a respeito. Falaram, ainda, sobre o assunto os Senhores Luiz Salomão, Raquel Cândido, Gil César e Virgildásio de Senna. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte . Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às treze horas e três minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada hoje, dia vinte e três de abril, às dezessete horas e trinta minutos, para continuação do debate de matéria constitucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueiredo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO À ATA DA TERCEIRA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM 23 DE ABRIL DE 1987, Às 10 HORAS E 36 MINUTOS, ÍNTEGRA DO APA- O SR. PRESIDENTE (Roberto Campos): – Existindo quorum e na ausência do Presidente e do Vice-Presidente, dou início a esta reunião, na esperança de que a minha Presidência seja um meteoro fugaz. Logo, deverá chegar o Dr. Afif Domingos, que assumirá o bastão. Declaro aberta a reunião. Convido o nobre Constituinte Jalles Fontoura a proceder à leitura da Ata. (É lida e aprovada a ata da reunião anterior.) O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Dentro da Ordem do Dia, teríamos que aprovar os nomes de entidades ou pessoas convidadas, que foram discutidas pela Mesa e deverão ser submetidas a este Plenário. Eu passaria a palavra, então, ao nosso ilustre Relator, Constituinte Virgildásio de Senna, para que pudesse, nos dar uma explicação a respeito. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, por delegação da Subcomissão, o Presidente Delfim e o Relator, em virtude da apresentação de 16 nomes a serem convocados como expositores para o tema de nº 1, 22 para o tema de nº 2, 9 para o tema de nº 3; 3 e 2, respectivamente, para os temas d e nos 4 e 5, a Mesa, por delegação da Comissão, tentou, aproximadamente e dentro do espírito de que os painelistas deveriam expressar, sempre que possível, a gama de pensamentos acerca da matéria que permeia a nossa sociedade, apresenta e está nas mãos dos Srs. Constituintes, a proposição que contempla 6 nomes, 5 painéis com 6 painelistas em cada uma dessas audiências. Esses nomes são uma proposta para ser debatida, modificada, alterada, acrescentada, enfim, aquilo que for necessário ao pleno e total, se possível, conhecimento da Comissão, a respeito da forma e entendimento sobre cada um desses aspectos, que serão ventilados nesses painéis. De forma que, Sr. Presidente, eu lhe devolvo a palavra para que, se achar por bem, comece a ser votada ou alterada a relação apresentada. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Este é um trabalho que foi desenvolvido pelo ilustre Presidente com o Sr. Relator, tendo em vista, como aqui já foi explicado, os vários nomes apresentados e a Mesa chegou a uma solução de consenso para ser submetida ao plenário. Pergunto ao Plenário se tem alguma observação a ser feita sobre os nomes propostos e os Srs. Constituintes que desejarem fazer uso da palavra, por favor, citem os nomes para efeitos dos registros taquigráficos. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, a despeito do esforço dedicado e abnegado do Sr. Relator e do Sr. Presidente, foram cometidos alguns equívocos que, espero, tenham sido não intencionais. O primeiro diz respeito ao debate pela nacionalidade da pessoa jurídica, à reserva de mercado, onde a composição dos nomes apontados pelo Sr. Relator e pelo Sr. Presidente, obviamente, não expressam a pluralidade das visões do problema do capital estrangeiro. Aqui estão reunidos três empresários da maior expressão – do capital nacional com articulações com o capital estrangeiro ou não – um ilustre e brilhante advogado, ligado ao empresariado, Dr. Bulhões Pedreira, um representante da SEI – parece-me que escapou o nome do atual titular, recentemente substituído, e o Prefeito de Barroso que, aqui apontado como pessoa que entendia de IUM – Imposto Único sobre Minerais. Não sei qual a tendência política e ideológica do Sr. Prefeito de Barroso mas, recentemente, a despeito da sua competência, da sua representatividade do povo de Barroso, não me consta tenha participado, no momento, de fóruns relevantes sobre o debate do capital estrangeiro. Na condição de são, indiquei o Engenheiro Leonel de Moura Brizola, exGovernador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, único governante que teve uma atitude relevante em matéria de soberania nacional em relação ao capital estrangeiro e que representa, certamente, um pensamento diverso de muitos daqueles que foram indicados para compor esse painel. Infelizmente, não tive a minha indicação acolhida pelo Sr. Presidente e pelo Sr. Relator. Eu gostaria de reiterar esta indicação com a certeza de que V. Ex.as haverão de convir que, se queremos democratizar o debate, colocando diferentes visões do problema, cumpre acolher uma visão diferente, completamente oposta a esta dos painelistas já indicados pelo Sr. Relator e pelo Sr. Presidente, em relação aos quais não tenho nenhuma reserva. Queria apenas reiterar a indicação que fiz. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente! O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Pois não! Tem a palavra V. Ex.ª O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: (intervenção fora do microfone): – Meu nome é Vladimir Palmeira, do Rio de Janeiro. Ora, para acolher, em parte, o critério de avaliação do nobre colega sobre esta primeira Comissão, onde eu queria colocar uma entidade, uma pessoa – se adotado um critério qualquer, por exemplo, sobre a intervenção do Estado; eu queria que a Federação Nacional dos Engenheiros estivesse presente; eu queria que entrasse uma visão, no plano assim mais modesta, da Federação Nacional dos Engenheiros... na Comissão nº 2, aqui, acho que está faltando a Conage – Coordenação Nacional dos Geólogos – que tem uma posição nítida, tem trabalhado aqui, procurado resultados. Então, é uma questão polêmica, a questão do petróleo. Faltou a Associação dos Engenheiros da Petrobrás, porque o Coronel Osires vai defender a política oficial. Essa Associação tem toda uma política, inclusive sobre o contrato de risco, e é natural que, num tema tão importante, ela esteja presente. Faço, estas observações porque são apenas essas três entidades, com representações, entre trinta nomes, e eu pediria que elas participassem. Sendo que na primeira parte a Associação Nacional dos Engenheiros e, no segundo tema, a Associação dos Engenheiros da Petrobrás e a Conage. A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Comungo da mesma propositura do companhei- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) ro Vladimir Palmeira, com relação ao Conage. Temos aqui o Instituto Brasileiro de Mineração, que nem sequer foi questionado. E todos têm conhecido e sabido qual tem sido a posição, a nível nacional, do IBRAM, ligado diretamente ao DNPM. Ficaram de fora dessa propositura o DNPM e o CPRM. Mas o Conage, houve um consenso entre uma discussão de representação de garimpeiros, e nós abrimos mão da nossa propositura para que o Conage ficasse aqui representado no embate que o Presidente daquela coordenação já está acostumado a fazer e sabe que é sempre desigual. Então, vejam bem: tem aqui o Conage, no lugar do presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros. Foi colocado pelo colega Constituinte Salomão, o não conhecimento profundo, a nível nacional, do Prefeito Napoleão, de Barroso. O Prefeito Napoleão, de Barroso, foi o líder e era Presidente da Associação dos Prefeitos, dos Municípios minerários do Brasil até, acredito, o começo do mês passado. Esse prefeito esteve aqui representando cerca de 2500 prefeitos no último encontro, dentro do Congresso Nacional. Eu fico admirada, no momento em que se pede que a base seja aqui representada, e nós sempre estamos a reputar que tenhamos nomes nacionais, de conhecimento nacional, de representatividade nacional, que muitas vezes desconhecem o que é que se passa num longínquo município, como o de Ariquemes ou até mesmo no de Barroso, que foi colocado de certa maneira com desdém, e o que ele representa no contexto deste País, com relação à produção de matéria-prima. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Permite V. Ex.ª um aparte? A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Pois não. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Só quero esclaracer que eu me referi ao Prefeito de Barroso, respeitosamente, não quanto à sua representatividade enquanto prefeito de um município que contribui para a produção mineral deste País, apenas me referi neste painel em que ele foi incluído, a meu juízo, por equívoco, que é o referente à nacionalidade da pessoa jurídica e da reserva de mercado. Imagino, não sejam temas da predileção do Sr. Prefeito Napoleão. V. Ex.ª, ontem, indicou-o para discutir a questão da distribuição do IUM. A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Concordo plenamente. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Era só isto que eu queria salientar. A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Eu vou concluir, Sr. Presidente, dizendo o seguinte: ontem, nós colocamos determinados nomes, inclusive com proposituras, e a propositura da Reforma Tributária com relação ao IUM não foi feita por mim. Foi endossada, foi lembrada como o Presidente da Associação dos Prefeitos de um município minerado, município esse que é em Minas Gerais, e não tenho, politicamente, nenhum interesse, a não ser a visão nacional dos municípios minerários que ficam com o resto, com buracos apenas. A colocação no painel do Prefeito não coube a mim, prezado companheiro Salomão, não coube a mim e eu acho que procede a sua propositura. Foi uma forma de compo- sição e uma lembrança oportuna, porque os municípios estão aí, falindo, e nós temos, hoje, milhões e milhões de cruzados do IUM que estão ali para serem distribuídos, quer seja nova visão tributária emergencial, quer seja numa nova propositura constitucional da Reforma Tributária. Isso existe de fato. Quem colocou nesse painel não fui eu, me lembrei do nome e o indiquei. O que se lamenta ainda, com relação ao II painel, é a falta da representação daquele que é garimpeiro. E que nós, nem eu, nem o Constituinte Marcos Lima conseguimos, para abrir aqui um espaço para o Conage, representação de classe dos geólogos, que cavoucam, mas que, antes de cavoucarem, encontrarem as minas, quem realmente abre as picadas e farejam o minério deste País é o garimpeiro. E eu tenho certeza que o Presidente do Conage irá colocar isso, mas sem sombras de dúvidas, é o geólogo, não abrirá mão. Nessa colocação diz-se que o garimpeiro é um vândalo, é um responsável pela evasão, que o Brasil, não sei o que lá, o responsável é o garimpeiro, o que é uma mentira. Nós vamos ficar sem representatividade desse homem que descobre e que não tem ainda a visão de ali requerer. Então, veja, Sr. Presidente, para que o Conage, a representação dos geólogos, que estão enclausurados em gabinetes com ar condicionado, sem poder sequer cavoucar, porque o DNPM é um mero repassador de mapas ao capital estrangeiro, porque o garimpeiro e capitalista nacional não têm condições, tenho dito isto em todos os locais, de fazer uma política mineraria neste País. O próprio geólogo ficou sem ter mais condições de pesquisar dentro do seu próprio País, porque se estipulou, inclusive, o contrato de risco. E, aí, concordo com o Constituinte Vladimir, que quer a representação dos engenheiros aqui, para se contrapor a um homem que, obviamente, defende uma política de governo. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu pediria, então, à nobre Constituinte que formulasse a proposta, porque, assim, encaminharemos as várias propostas, para depois discutirmos. A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Eu já vou concluir, Sr. Presidente. Temos que fazer o comentário, Sr. Presidente, para que haja justiça, para que haja equilíbrio nisso aqui. O Conage só pôde ficar representado aqui porque nós suprimimos a figura do garimpeiro. Houve um consenso para que a representatividade de classe dos geólogos do Brasil, através do Conage, ficasse representado. Então, continuo fazendo um apelo, inclusive para que esse painel suba para 7, que possamos compor geólogos, o IBRAM, a Sociedade Brasileira de Geologia, e consigamos colocar outro item para que haja representatividade dos garimpeiros. E retiro a propositura do prefeito Napoleão, que foi colocada não sei por quem aí, para que haja uma propositura de uma outra coisa que está neste painel de nº 3, desequilibrada, que é a representação do empresariado nacional. Nós temos aqui, do meu conhecimento, empresário nacional da mineração, chamado Ermírio de Morais. O resto é tudo capital estrangeiro. Fica um desequilíbrio, porque nós não temos condição de ter aqui a apresentação de uma discussão mais profunda, vamos dizer, do interesse do empresariado nacional. Inclusive 10 a colocação do companheiro Salomão com relação à reserva de mercado. Nós não temos representação para um equilíbrio aqui. Eu só fiz este comentário, na parte que me diz respeito, que é a lamentação da discriminação daquele homem que trabalha com a bateia. Mas abro um parêntesis, por ter sido a pessoa que indicou o nome do prefeito Napoleão, para que isso seja tirado fora. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Faça a sua proposta objetiva, nobre Constituinte. A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – É que se abra um outro item de nº, para a representação do garimpeiro e que se retire o nome do prefeito Napoleão, para que tenha um homem de representatividade e até de vida prática, concreta, de atuação política, administrativa com relação à reserva de mercado e à nacionalidade da pessoa jurídica. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – V. Ex.ª está propondo então a inclusão de mais um nome e não de mais um tema. Então, seria um tema de nacionalidade da pessoa jurídica, de reserva de mercado? A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Não. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – A sua proposta é a inclusão no tema 2, que é subsolo,... A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – De mais um nome... O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): –...de mais um nome, que seria uma representação do CONAGE. A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Do garimpeiro. O CONAGE já ficou representado aqui. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, me permite um aparte? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Não, se não nós vamos nos confundir aqui. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Só para esclarecer, porque a Constituinte Raquel Cândido está imaginando que já foi apresentado a V. Ex.ª uma proposta aqui negociada por alguns Constituintes no sentido de aumentar a representatividade do painel nº 2, e que consistiria – ela não chegou a explicitar essa proposta – na substituição do Sr. Robson Ataíde, Presidente do Sindicato Nacional de Garimpeiros, pela CONAG. Mas essa proposta não chegou a ser apresentada, Eu pediria a V. Ex.ª anotasse, em lugar d nº 3, Roberto Ataíde, o Presidente da CONAGE e, em lugar do Presidente da União dos Garimperios da Amazônia Legal, Sr. Altino Machado, ficaria o Almirante Gama e Silva. Essa proposta foi negociada por um grupo de Constituinte aqui, porém a Deputada Raquel Cândido, na sua última intervenção, está propondo que se acrescente mais um representante. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu queria lembrar que os nomes ou que os números de participantes foram aprovados na reunião de ontem: é matéria vencida. Portanto, aqui nos cabe discutir nomes. Existe uma proposta da Mesa e depois nós vamos estudar como encaminhar a votação. 11 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) A SRª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Tudo bem. Dentro desta composição em que entra o CONAGE e representação do Almirante Gama e Silva, pra falar de reservas estratégicas, é ótimo na composição que nós discutimos, mas é preciso se lamentar, embora seja matéria vencida a falta dessa representação, e que procede a colocação do Deputado Salomão, com relação ao prefeito. Quer dizer, na medida em que você flexionar e abre mão mas, à medida que você reivindica, é matéria vencida, não pode, tudo bem. Todo mundo fica contente quando você abre mão de um prefeito que não tem a devida representatividade ou a sua idoneidade para falar determinado assunto, se compõe e não tem discussão: agora, na hora que se lamenta, aí nem querem que se comente. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Tendo em vista a proposição da ilustre Deputada Raquel Cândido, de retirada do nome da indicação do Dr. Napoleão, Prefeito de Barroso, no 3º painel, que trata da nacionalidade da pessoa jurídica e da reserva de mercado, eu gostaria de indicar o Presidente da BAILE, Aldo Lorenzeti, que representa efetivamente uma entidade que é parte da indústria elétrica e eletrônica e que teria muito sentido em ser ouvido aqui por esta Comissão. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Anotada a propositora. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, estou acompanhando atentamente as discussões e a respeito do Prefeito de Barroso, já que se trata do meu Estado, as colocações que foram feitas. A proposição não foi minha, mas da Colega Raquel Cândido; O Prefeito de Barroso foi Presidente da entidade que representa os prefeitos de Minas Gerais e se transformou num líder nacional, no que diz respeito às propostas municipalistas. Ele tem uma visão municipal e se envolveu no setor mineral porque, evidentemente, o imposto sobre os minério, no meu Estado particularmente, tem uma expressão muito grande. Portanto, eu não concordo, em hipótese alguma, por eleter essa visão municipalista e a visão prática do problema de aplicações de recursos em outros níveis de Governo, a nível do município. Inclusive já discuti isto aqui, já fiz algumas colocações a respeito do Prefeito de Barroso e foi minha, a sugestão de que viesse aqui um especialista no assunto. Pedi à Mesa até que indicasse esse especialista, mas eu acho fundamental, que além dos ilustres empresários aqui presente, venha homem que tenha a visão do município, e por ele ter essa visão do município e como a geração de recurso, a nível de município, volta para o município, eu acho fundamental a participação dele, nesse ou em qualquer outro painel; e tenho a tranqüilidade em fazê-lo, pois. não foi minha a indicação, e sim da colega Raquel Cândido. Quanto às outras colocações feitas, em se acrescentar esse ou aquele nome, concordo com a Mesa em se preservar o nome de seis, porque a minha preocupação, e quero insistir nisto, é me informar corretamente sobre os diversos assuntos, porque eu me considero um cidadão brasileiro mal informado, apesar de ter 30 anos de vida pública. Então eu me considero um cidadão mal informado, embora tenha trabalhado em todos os níveis de Governo. Portanto, havia sugerido a presença do Departamento Nacional de Produção Mineral, porque, se existe uma política mineral neste País, eu acho que não existe, mas se existe é ele que a formula; então é importante a participação do diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral. Quero antecipar alguma coisa que pretendo dizer aqui, porque pode haver dúvidas a respeito de algumas colocações porventura faça ou venha a fazer, e já fiz na primeira reunião informal desta Comissão. O que acho fundamental é a descentralização do Poder. O meu Estado – a minha cara colega Raquel Cândido está preocupada com o novo Estado, que é Rondônia – o meu Estado, cujas origens estão em cima do setor mineral, conhece 10% do seu território; quer dizer ela é incapaz de gerar políticas, de produzir políticas no setor mineral, por exemplo, e no setor de energia, porque essas políticas centralizadas, do jeito que estão, não permitem ao Estado formulá-las e ao mesmo tempo, quem não tem informações não formula política. Quero encerrar isso, mas acho fundamental, nessa escolha feita em que se colocou o Presidente do Sindicato Nacional dos garimpeiros e a União dos garimpeiros da Amazônia legal, concordo com a colocação a respeito da Conage, da mesma maneira que seria importante a Federação Nacional de Engenheiros – eu sou engenheiro. Pois bem, nós não estamos ouvindo aqui, no caso específico do item 2, o órgão que formula a política mineral, para que possamos debater com esse organismo. Então, a minha sugestão, já que se vai pôr em discussão modificações no item 2, conforme proposto, que se retirasse o Sr. Roberto Ataíde e colocasse a Conage. Coloco também, na discussão, a presença do DNPM e insisto na presença do prefeito Napoleão. Há preocupação de ser este ou aquele tema, mas ele tem a visão municipalista, que é fundamental, e vejo que aqui no contexto geral das pessoas presentes, não gosto até de discutir nomes, porque não os conheço todos, mas insisto na presença do prefeito de Barroso. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Muito obrigado. O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: – Temos que ser cartesiano se o Banco Central, hoje, é quem tem as medidas dos problemas econômicos do País, emissão de moeda, emissão de títulos, evolução da dívida externa e daí por diante. Por isso, faria uma proposição: no lugar do ex-Ministro Antônio Dias Leite, ou do Dr. Nilton dos Reis, nós trazermos alguém do Banco Central, em condições de dar uma ampla exposição a esta Comissão. Talvez até não um diretor, mas um técnico de alto nível, que tivesse em mãos um elenco de dados que pudesse nos oferecer. Eu poderia apresentar um nome oportunamente. Muito obrigado. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Há outro painel, no qual eu gostaria de propor à proposição do ilustre Relator, que é o das empresas estatais o seu controle pela sociedade. Aí estão presentes os Drs. Eliezer Batista, Presidente da Vale do Rio Doce, Júlio Colombo, da Sest, Nelson Mortada, que também foi da Sest, Rogério Ladeira Furquim Verneck, Ibis Gandra, Frederico Bastos. Apesar de conhecer muitas dessas pessoas e não conhecer o Sr. Ibis Gandra, por exemplo, parece-me que nenhum deles tem uma tradição, sobretudo aqui na Casa do Congresso Nacional e refletindo sobre a questão do Estado, como a do ex-Senador e atual prefeito do Rio de Janeiro, Roberto Saturnino Braga. Vejo certo defeito nessa formulação, o fato de haver dois burocratas ligados ao controle das estatais, os Srs. Júlio Colombo e Nelson Mortada, que podem ter controlado es estatais, mas não têm menhuma reflexão doutrinária e teórica sobre esta matéria apenas ficaram controlando lá, a meu juízo até controlando muito mal. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – É a substituição do Sr. Nelson Mortada pelo Dr. Roberto Saturnino Braga que V. Ex.ª quer? O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Eu estava propondo que entrasse a Famerj, a Federação das Associações dos Moradores do Rio de Janeiro, porque quem deve controlar o Estado não tem propriamente nenhuma visão da sociedade civil a respeito do Estado. Só tem especialistas estatais. Então eu queria a Famerj, que é uma associação que se tem preocupado em controlar, pelo menos, a parte em matéria de serviço público, de saúde, de transporte, entendeu? E dar uma outra ótica a isto, porque senão a gente só tem especialista mesmo de dentro do Estado. Eu queria uma visão mais de fora do Estado também. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Em que Comissão? O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Na Comissão Empresas Estatais e seu controle pela sociedade, porque senão aqui não tem controle, só vem gente do Estado mesmo, para não se controlar, talvez. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, eu solicitaria da Mesa, parece que a dúvida não é só minha, que esclarecesse qual é o perfil do Sr. Rogério Ladeira Furquim Verneck e do Sr. Ibis Gandra. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu pediria que o nobre Constituinte e Relator Virgildásio de Senna que por favor nos esclarecesse, a respeito dos critérios e a respeito do perfil das pessoas indicadas, para poder elucidar a discussão que está acontecendo. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Pois não. É claro que não é tarefa fácil, neste universo de indicações, e no universo de toda a sociedade, pinçar entidades ou figuras que contribuam definitivamente para uma visão não distorcida, uma visão do problema enfocado, dentro da visão particular de cada um. No primeiro caso, o nome do Professor Mário Henrique Simonsen, que é um Professor, ex-Ministro, e aparece aqui nos princípios da ordem econômica, como homem ligado ao sistema financeiro nacional e internacional, com capacidade de contribuir numa formulação clara e esclarecer os Constituintes sobre diversos outros aspectos. O Mário Arnato é representante e vem aqui declarar o ponto de vista da grande empresa nacional, como Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a visão da grande empresa. O Sr. Milton dos Reis, que é Presidente da Confederação das Pequenas Empresas e Diretores Lojistas daria, no particular, uma visão sobre os DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) princípios gerais da ordem, vinculada à visão da microempresa. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, eu apenas solicitei a respeito de dois nomes. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Pedi que o ilustre Relator fizesse a exposição dos critérios porque, existindo dúvida a respeito até de nomes apontados, ele teria então a resposta e, se por acaso há já pessoas que não sejam conhecidas, aqueles que os conhecem, por favor se manifestem para justificar o perfil dos ilustres convidados. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – O Dr. Gil Duarte Pereira é um jurista, homem de pensamento e de ação política, claramente vinculado a uma corrente de pensamentos e acho que não exige maiores esclarecimentos da Comissão. O Dr. Inácio Mourão Rangel foi membro do staff econômico do Presidente Getúlio Vargas; foi Secretário de Planejamento; é um homem do sistema BNDE, professor de Economia com vários trabalhos publicados, alguns se tornaram clássicos, como o livro sobre a inflação brasileira e a dualidade básica da economia brasileira. É presidente da Ordem dos Economistas do Brasil. E o ex-Ministro Antônio Dias Leite tem uma visão destes problemas. Uma visão in de dentro do Governo e uma visão out como professor que é hoje, de Economia, na Universidade do Rio de Janeiro. Estas foram as condicionantes que marcaram a escolha destes 6 primeiros nomes. É claro que este trabalho foi feito ontem, ao fim da nossa reunião ordinária, com propósito de conciliar as indicações apresentadas pelos Srs. Constituintes com os compromissos de uma visão ampla, divergente dos problemas que seriam aqui relatados. A segunda Comissão, do Coronel Osires, que vai tratar sobre subsolo, a União e o monopólio estadual do petróleo, não podia deixar de ter a presença de uma pessoa que está funcionando em duas estatais, uma das quais ele próprio montou, desenvolveu e transformou em vitoriosa e uma outra empresa estatal com 27 anos de experiência nacional e uma das maiores empresas do mundo. O segundo nome, Dr. João Marinho Nunes, é Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração e um nome indicado pelos Srs. Constituintes, todos eles indicados, não há, praticamente, a não ser nas duas últimas Comissões, cujos nomes dos indicados não coincidiam com o número de vagas, nomes que fossem propostos pela Mesa. O Dr. Roberto Athaíde é um nome indicado pelos Srs. Constituintes e Presidente do Sindicato Nacional de Garimpeiros. O quarto é a Sociedade Brasileira de Geologia que procurou esta Mesa e a Comissão, informando que, como nenhuma outra entidade se preparou para contribuir para a Assembléia Nacional Constituinte, distribuindo 4 mil questionários, recebendo resposta de quase 40%, informatizando esses dados que recebeu e que teria contribuição significativa como entidade acima de problemas localizados, quer do ponto de vista empresarial, com uma visão nacional do problema. A indicação que nos chegou, nos pareceu oportuno ouvir esta entidade. O Professor Barbosa Lima Sobrinho, não precisa que se diga, é o Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, homem ligado há muitos anos à luta nacionalista brasileira, em defesa do Tesouro e que pareceu necessário ouvir e trazer o seu pensamento aqui, porque representava, também, e acabou de fazer nesta Casa palestras em nome da Associação dos Engenheiros da Petrobrás que é, no caso, um dos seus arautos mais conhecidos. Ao colocar o Dr. Barbosa Lima Sobrinho nesta Comissão nos parecia estar contemplando também a Associação de Engenheiros da Petrobrás da qual ele é conhecido porta-voz. O terceiro nome, Altino Machado, atendia uma indicação da nobre Constituinte Raquel e é uma figura ligada à visão mais elementar do problema de mineração, do problema do subsolo, que é a garimpagem. Pareceu, então, à Mesa, que estas indicações contemplaram um leque possível de oportunidade. A terceira Comissão é importantíssima. Vai definir uma empresa brasileira, que é a reserva de mercado da sua conveniência ou não. Nos pareceu que isto trazia implícito várias questões teóricas. A Constituição precisa e deve ser um documento de uma vida não muito efêmera, não baseada, exclusivamente, exclusivamente, insisto, no conjuntural. O Dr. Bulhões Pedreira é um formulador, pessoa muito conhecida. Temos, sabidamente, divergências com ele. Mas é um nome que precisa ser ouvido, porque tem uma contribuição a dar. Várias e importantes leis desse País passaram pela sua contribuição importantíssima. E nos pareceu necessário ouvi-lo. A indicação do Sr. Jordano Romi é de um industrial de uma indústria tradicional, não de uma atividade de ponta, de uma atividade industrial tradicional e nos parecia necessário ter a visão dessa indústria no que toca e no que diz respeito à nacionalidade e à reserva de mercado. O Sr. Eugênio Staub, indicado pelo nobre Constituinte Roberto Campos daria esta visão de uma atividade de ponta, de alta tecnologia ligada à indústria eletroeletrônica. O Sr. Antônio Ermírio de Moraes daria à Comissão a visão de um grande industrial brasileiro, de uma empresa genuinamente brasileira, com uma visão de livre empresa, e etc, ligada a esta visão e a estes problemas de mercado e nacionalidade da empresa. A SEI, cujo nome não está indicado, mas expressa uma corrente de opiniões na mesma visão do Sr. Eugênio Staub, está mais vinculada a uma posição de reserva de mercado nacionalista, etc, nos parecia absurdamente procedente ouvir. O terceiro nome atendia a uma indicação da nobre Constituinte Raquel Cândido e parecia à Casa, por decisão, de que o problema de imposto sobre minerais deveria ser contemplado nos exames feitos por esta Subcomissão, por isso foi aqui indicado. Terceiro tema que é o tema das empresas estatais e seu controle pela sociedade. O que está em jogo aqui é como exercer o controle destas empresas, para que numa sociedade democrática elas não se transformem em verdadeiros leviatãs. E foi isto que indicou a forma de convocar as pessoas. E Dr. Elieser Batista é um homem que daria isto: a visão de uma grande empresa nacional ligada à mineração. O atual Presidente da SEST daria a visão do controle dessas empresas, 12 num regime da transição democrática, da passagem para a democracia. O Sr. Nelson Mortada que foi o primeiro controlador dessas empresas no regime autoritário diria qual foi a sua experiência na montagem desse controle e na visão autoritária desse controle. O professor Rogério Ladeira Furquim Wemeck e professor da PUC formado em Harvard, em doutorado especializado sobre problema de controle das estatais. É uma figura que nos pareceu oportuna, foi uma indicação nossa, e ele daria uma contribuição escolar legal sobre este assunto. O Sr. lbis Gandra é uma indicação do professor Delfim Netto, professor da Universidade de São Paulo, e segundo as informações, o número de pessoas não compunha a lista necessária e pareceu ao nosso Presidente que essa figura tinha uma contribuição a dar. Frederico Bastos falaria a respeito das empresas estatais e seu controle pela sociedade, a visão propriamente jurídica; foi Procurador nessa área da CEST e hoje é Ministro do Tribunal de Contas. Tem a visão do controle legal no Tribunal e a visão do jurista que tratou sobre a matéria. Júlio Chacel é uma figura da Fundação Getúlio Vargas; Jão Paulo dos Reis VeIloso é um planejador que fez os últimos planos do desenvolvimento nacional; Luiz Paulo Rozemberg daria sobre o planejamento a visão do Palácio, como assessor que foi do Presidente da República; Antonio Guring é Presidente indicado de uma entidade apresentada pela subcomissão; cujo nome atendemos; o professor Fábio Comparato é professor da Universidade de São Paulo e um nome muito conhecido que traria o pensamento da USP. E nos pareceu necessário trazer o pensamento da outra corrente econômica do País influente, decisiva, que é a UNICAMP, e como não tínhamos o nome deixamos a indicação em aberto. É este, Sr. Presidente, o perfil que norteou uma reunião de uma hora, no fim da tarde a indicação dos nomes. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Muito obrigado, nobre Relator e sei das dificuldades de se compor um quadro destes. Gostaria de chamar a atenção de que o problema da exigüidade de tempo pois a primeira Comissão ou o primeiro grupo para discussão temática está marcado para o dia 27 de abril. Então os Srs. vejam a exigüidade do tempo que teremos que expedir os convites, confirmar as presenças. Então assim eu pediria que se nós pudéssemos, com a maior objetividade possível, ainda pela manhã, dentro do horário regimental, sairmos com uma solução, para que possamos fazer, de imediato, a Subcomissão funcionar, porque nos parece até uma exigência da opinião pública. Então dentro dos princípios absolutamente aceite e das colocações aqui feitas para melhorar ainda mais o quadro, que tivéssemos o máximo de objetividade para podermos encaminhar a votação onde, inclusive, já fiz aqui as anotações das propostas a serem feitas, para que tenhamos condições de imediata votação. Algum constituinte ainda quer fazer uso da palavra? (Pausa.) O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: – Sr. Presidente, peço a palavra para dar um esclarecimento a esta subcomissão, já que desejo fazer uma alteração na minha proposta onde eu havia proposto a substituição do ex-Mi- 13 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) nistro Antônio Dias Leite por um elemento do Banco Central não especificado, substituindo essa proposta por outra: Dr. Paulo Oscar França, Consultor Especial do Banco Central no tema Empresas Estatais e seu Controle na Sociedade. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Seria a de nº 4; quer dizer, então, que V. Ex.ª substitui a sua proposta, ou melhor, explicita sua proposta que, ao invés de ser um representante do Banco Central, V. Ex.ª indica o nome do Sr. Paulo Oscar França. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Em substituição a quem? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Não sei como será conduzida essa votação, porque o Constituinte Wladimir Palmeira indicou o Presidente da FAMERJ em lugar não especificado dentro desse mesmo grupo? O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: – É. Estou fazendo a mesma indicação. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Por enquanto estamos aqui colhendo as sugestões para podermos organizar a forma de votação, de comum acordo, com nosso ilustre relator. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTORA: – Sr. Presidente, peço a palavra. Acho que realmente nós deveríamos resumir o mais rápido possível, principalmente na primeira reunião do dia 27, sobre os Princípios Gerais. Há quase uma concordância com relação a todos estes nomes. Com relação ao segundo tema: O Subsolo há também já um concerto com relação à inclusão da CONAGE indicando o Almirante Gama e Silva nos lugares dos nº 3 e 6. Seriam os Srs. Roberto Athayde e Altino Machado. Acho que V. Ex.ª poderia colocar em votação encerrando, já que não há ninguém contra. Com relação ao tema nº 3, a inclusão do ex-Governador Leonel Brizola no nº 6, no lugar do Dr. Napoleão, o Prefeito de Barroso. Então, finalmente a inclusão do Sr. Paulo Oscar França no tema do dia 7: Empresas Estatais; seria essa a nossa proposta. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu pediria àqueles que ainda não fizeram uso da palavra eu daria preferência para depois retornar ao assunto. Por favor. O SR. CONSTITUINTE GILSON MACHADO: – Sr. Presidente, peço a palavra. Eu faria um apelo aos colegas desta subcomissão no sentido de que sejamos objetivos, porque estou vendo que estamos tomando rumo que vai tumultuar o processo. Porque eu mesmo, como Constituinte, apresentei alguns nomes que deveriam ser convidados e não os estou vendo escolhidos entre aqueles que aqui foram selecionados. Por outro lado, vejo que outros constituintes tiveram seus nomes acatados pela direção dos trabalhos. Então isso vai criar um tumulto muito grande, porque no caso de a Presidência aceitar substituições também vou propor 3 substituições, o que vai voltar à estaca zero de ontem. Então, depois das palavras do relator, faria um apelo aos presentes e à Mesa, para que déssemos poderes à Mesa em escolher ou modificar o que está aqui expresso, e aqueles que não forem acolhidos ou selecionados para virem debater ao vivo, que nós façamos aos indicados um pedido para que nos mandem por escrito, a todos os membros 1 desta subcomissão suas idéias, a respeito de cada um dos temas, para que possamos, também, ter conhecimento daqueles que não foram selecionados, das suas opiniões sobre os temas aqui expostos. É a minha proposta objetiva, que se dê, finalmente, poderes à Mesa, ao relator e ao Presidente para a escolha dos nomes sugeridos e aqueles que não forem acatados sejam notificados para encaminhar por escrito as suas propostas. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, peço a palavra para uma questão de ordem. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Com a palavra V. Ex.ª. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, uma única indagação, aliás, eu teria duas indagações. A primeira: o que significa a expressão Unicamp? Há alguma pessoa que tenha isso em vista? Porque a atual política econômica que nos levou à hiperinflação e à moratória foi cozinhada a partir dos laboratórios da Unicamp. Será prudente escolhermos uma outra escola de pensamentos para aqui nos ilustrar. E eu sugeriria, uma vez que há uma indefinição de nomes no campo de Unicamp, um nome concreto, de uma personalidade que acumulou reservas cambiais, ao invés de desgastá-las: Dr. Afonso Celso Pastore. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu gostaria de lembrar ao Constituinte Roberto Campos que, pela exposição feita pelo ilustre Relator, ali teria representantes de 2 escolas, esse seria o critério. Um seria da Universidade de São Paulo, então se lembrou o nome da Universidade de Campinas, Unicamp, cujo nome seria, então, lembrado. Então, foi nos parece, um critério de representação de universidade. Houve escola de pensamento. Então, dentro dessa representação de escola de pensamento de duas universidades foi esse o critério, pelo menos o que foi aqui exposto pelo ilustre Relator. Se tem alguma modificação, pederia, então, ao Constituinte, que explicitasse. Quer dizer, a sua proposta que no lugar onde se lê – Unicamp, ler-se-ia o nome de Afonso Celso Pastore – essa é a sua proposta. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – A segunda dúvida, Sr. Presidente, seria então na Comissão nº 5, era a última que ainda não tinha nenhuma proposta. A segunda observação a fazer seria que, para minha surpresa, apareceu, também, aí, ontem não havia sido mencionada, ao que me lembre, no tema nº 3 – Nacionalidade da Pessoa Jurídica – também uma figura abstrata, sei que é uma figura abstrata nesse papel – é uma realidade dolorosa na existência brasileira. A SEI todos sabemos, defenderá um ponto de vista de cassação do direito econômico de produzir informática, em beneficio de certos grupos cartoriais e em detrimento de usuários. Se vamos ouvir aqui a expectoração da SEI, tínhamos que dar algum direito aos usuários de informática de serem ouvidos. Eu teria um nome concreto a propor: Dr. Jorge Fischer, conhecido perito em Direito de Usuário. Os usuários da informática têm que estar aqui representados. Então, seria uma adição. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Muito obrigado, Senador. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Com relação ao tema que será discutido pelas empresas Estatais sob o controle pela sociedade, preocupa-me um pouco a relação de nomes, na medida em que aqui, na sua esmagadora maioria, aparecem nomes que conviveram com o processo desenvolvido até aqui neste País, do lado oficial, do lado do Governo: o Sr. Eliezer Batista, um homem de longa tradição na vida da empresa estatal, a Vale do Rio Doce, que tem uma visão muito boa da operacionalidade da Vale do Rio Doce no mercado internacional, principalmente, mas ele tem essa visão numa empresa que conviveu, inclusive, com o sistema desses 20 anos que se passaram aí e acho que a contribuição dele é importante. O Sr. Júlio Colombo é a visão oficial agora. O Sr. Nelson Mortada, me parece urna visão que já está ultrapassada, mas muito semelhante a do Sr. Júlio Colombo, inclusive passaram pelos mesmos caminhos. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Permite-me um aparte, Constituinte Gabriel Guerreiro? O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Pois não. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Acho que essa inclusão do Dr. Nelson Mortada pode ter sido algum desejo do Relator, do Pr esidente, de nos fazer experimentar sensações horríveis, que eu quero esquecer. Quero dizer, acho que é uma coisa meio sadmasoquista incluir o Sr. Nelson Mortada numa comissão que visa, exatamente, a abrir o controle das empresas estatais pela sociedade. Acho inteiramente injustificável. Acho que essa proposição, só posso entendê-la como uma intenção sadmasoquista, porque representa exatamente tudo que não queremos repetir na Constituição brasileira. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – O Constituinte Luiz Salomão colocou o nome do atual Prefeito do Rio de Janeiro, que acho uma pessoa de longa luta, inclusive por esse controle, Saturnino Braga seria um nome interessante para ser ouvido. Nosso Relator-Geral da Comissão, o Constituinte Severo Gomes, também tem todo um comportamento, pelo menos, de pesquisa, com relação e esse controle das estatais. Talvez nós pudéssemos ouvi-lo. O nome de Saturnino Braga tem uma longa tradição... O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Veja que essas propostas são exatamente para trazermos pessoas de fora, as de dentro já têm garantido o seu espaço. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Então, a minha preocupação é essa, que não se oficialize demais, porque o que temos de oficial não é uma experiência das mais agradáveis em matéria de controle de estatais. Por exemplo: o Sr. Eliezer Batista, porquanto lhe seja dado o crédito de ter conduzido uma DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) grande estatal brasileira, não me parece que ela seja o exemplo melhor de empresa controlada pela sociedade. Fui funcionário da Vale do Rio Doce por muito tempo, trabalhei para ela. Quem conhece os pensamentos que formularam o Programa Grande Carajás e como ele foi formulado sabe muito bem disso. Então, eu gostaria de ver alguém que se tivesse contraposto a esse pensamento oficial. Acho que o nome do Sr. Saturnino Braga é um nome aceitável para isso. De modo que, esta é a minha preocupação; é um setor extremamente importante, e temos que pensar num nome, mais de fora da ordem oficial. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Muito bem. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Dentro, me parece, dos objetivos da Mesa e dos colegas que já se manifestaram, por que não iniciamos os nossos trabalhos discutindo e aprovando os nomes propostos para o primeiro tema? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu estava esperando os nobres Constituintes terminarem de fazer suas propostas específicas, para que a Mesa, então, tentasse coordenar a votação e a forma de votação, para que saiamos com a solução agora de manhã. A idéia é que nós, exatamente, agora peguemos tema por tema, vistas as propostas que foram feitas, e separei as propostas por tema, para que, então, possamos proceder à votação. Tema nº 1: os que concordam com a proposta da Mesa permaneçam como se acham. (Pausa.). O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Sr. Presidente, tínhamos feito um conchavo aqui, inclusive com o nobre Relator, para tirar, então, o Sr. Antônio Dias Leite e colocar uma Federação. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Mas veja, nós temos uma proposta que foi feita, então, em primeiro lugar, tenho que votar a proposta, e se a maioria votar pela proposta que está aqui, ela é aceita. Se a maioria não votar pela proposta que está aqui, então entraremos no detalhamento das modificações feitas. Acho que é o mais certo e o mais democrático. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Faço um apelo à Presidência pelo seguinte: só podemos ser a favor do que está aqui, sabendo qual é a proposta alternativa; não se é a favor da abstrata. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Mas veja, já existe uma proposta que foi feita pela Mesa. Ontem, eu não participei da reunião, mas foi dada uma delegação à Mesa para que ela, diante dos nomes propostos, fizesse uma proposta para ser discutida em Plenário. Portanto, existe uma proposta da Mesa que vai ser submetida à votação. Não sendo aceita pela maioria dos membros, aí vamos... O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Eu queria dar um encaminhamento diferente. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Acho que democracia é o desejo da maioria. Portanto, se a maioria não aprova a proposta feita pela Mesa, vamos levar em conta as modificações havidas. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Pela ordem, Sr. Presidente? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Mas o pedido do Constituinte Vladimir Palmeira, a que me associo, não é de que discutamos os outros nomes, apenas de que os conheçamos. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente. Posso dizer que as propostas que foram feitas resumindo e até eu peço, poderá ter havido alguma falha da minha parte em termos de anotação, as propostas feitas são as seguintes: "Número 1: da inclusão dos representantes dos engenheiros." Como o número de membros é de 6, imutável, a inclusão de um engenheiro significa a exclusão de um nome. Então, coloco em votação a proposta original, a proposta feita pela Mesa. Os Srs. Constituintes que estiverem de acordo permaneçam sentados. (Pausa.) Rejeitada a proposta da Mesa, vamos analisar a proposta de inclusão. Temos a proposta da inclusão de um representante dos engenheiros. Peço ao prezado Constituinte que formulou a proposta especifique o representante de engenheiro. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Proponho Jorge Bittar, da Federação Nacional dos Engenheiros, no lugar de Inácio Rangel. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Os que estão de acordo com a proposta, queiram permanecer sentados. (Pausa.) A proposta é a substituição de Inácio Mourão Rangel pelo nome do engenheiro Jorge Bittar. (Pausa.) Aprovado. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu tenho um certo temor quanto à data, mas me parece que 1º de maio, por ser uma data universal, não entra no calendário. Assim, dia 27 é dia útil. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Pela ordem, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – V. Ex.ª tem a palavra. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Eu havia, ontem, proposto ao Presidente e ao Relator que consultassem a Mesa da Constituinte para indagar da possibilidade de uma translação de eixos, por 15 dias, de vez que houve 15 dias de extensão do prazo para apresentação de propostas o que fez que todo o calendário ficasse defasado por 15 dias, o que seria muito mais realista. Convidamos para um intervalo menor do que uma semana, 10 dias, eminentes personalidades que provavelmente quererão e deverão preparar documentos para submetê-los a esta Subcomissão, o que nos interessaria, porque realmente teríamos documentos escritos, com breves exposições orais dos interpelados. Imaginar que isso tudo possa ser feito com antecedência de 2, 3 dias ou apenas 1 semana é, ao meu ver, irrealista, e talvez com certo grau de desrespeito às personalidades envolvidas. 14 O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente, eminente Senador; a informação que temos é que não haverá nenhuma alteração, de prazo, comunicada pela Mesa da Constituinte. A Mesa procurará fazer sugestões, esperando da Mesa da Constituinte faça modificações mas, por enquanto, nós temos que trabalhar com o calendário extremamente apertado que nos deram. Vamos então marcar esta reunião para o dia 27 e solicito da secretaria urgentes providências para a comunicação, entrar em contato, e peço até aos Constituintes envolvidos, que fizeram as propostas, que ajudassem a Secretaria na localização dos convidados, para que tenhamos o sucesso, desta primeira reunião, na segunda-feira. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, pela ordem. Quero fazer uma observação com relação ao segundo item, sobre a CONAGE que foi acertado ser incluída, eu queria que fosse colocado logo o nome especificamente do Presidente, que é Vanderlino Teixeira de Carvalho. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Nós temos aqui várias propostas do segundo ítem. A proposta de V. Ex.ª é a respeito da CONAGE – Coordenação Nacional dos Geólogos – com o nome do Sr. Vanderlino Teixeira de Carvalho. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Uma nova proposta é a da Sociedade Brasileira de Geologia que também será representada. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Mas a Sociedade Brasileira de Geologia não foi alterada. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Mas eu quero dar o nome: Elmer Prata Salomão, que é o atual Presidente. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, uma observação dentro da sugestão de V. Ex.ª, com referência aos nomes do primeiro tema: não seria possível já a secretaria se comunicar com as pessoas propostas? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Pelo Regimento, quem deve fazer a comunicação é a Primeira-Secretaria da Mesa da Constituinte. Esta comunicação, através do nosso trabalho de secretaria, imediatamente será feita. Peço aos Srs. Constituintes que tenham ligação com os nomes aqui propostos, entrarem em contato, confirmando-lhes o convite, pedindo a confirmação inclusive da presença, porque pode ser que algum deles esteja viajando e assim teríamos que promover uma substituição, ou ele não viria. Faço uma proposta para que, em primeiro lugar, se por acaso houver algum nome que não possa atender ao nosso convite, seja delegado à Mesa, entre os nomes propostos, o poder de substituição, caso haja um impedimento específico. É uma forma prática que teremos. Se V. Ex.ªS delegam esse poder, a Mesa promoveria a substituição, caso não houvesse confirmação. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Nobre Presidente, eu gostaria, no caso de substituir nomes, que tentassem substituir por linhas de pensamento semelhante. 15 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE ( Suplemento) O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – O único que peço é a delegação à Mesa, devido à exigüidade do tempo. Temos as seguintes propostas no item 2: a inclusão da Associação dos Engenheiros da PETROBRÁS. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Retiro a sugestão de inclusão atendendo à ponderação do companheiro Relator, em função da proposta de acordo feita aqui. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Outra proposta: colocar o DNPM. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, retiro a proposta, considerando que já houve entendimento da maioria dos meus colegas. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – A inclusão do Presidente do Conaee, com o nome proposto: Vanderlino Teixeira de Carvalho. A inclusão do nome do Almirante Gama e Silva. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, votaria pela proposta original de se manter Altino Machado, em União dos Garimpeiros da Amazônia Legal, ao invés do Almirante Gama e Silva. As extrapolações econômicas do Almirante Gama e Silva levam a erros macroeconômicos, e o que fizerem os garimpeiros só poderá levar a erros microeconômicos. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Agradeço a interferência do nobre Constituinte, mas faço a opção pelo Almirante Gama e Silva, porque ele vai ao macro. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vamos, então, recordar aqui as propostas: retirada a da colocação do DNPM e da Associação dos Engenheiros da Petrobrás; mantidas a do Presidente do Conage e a do Almirante Gama e Silva. A substituição que está aqui sendo proposta é substituir o nome de Roberto Athaíde, Presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros, pelo do Presidente do Conage, Vanderlino Teixeira de Carvalho. Esta é a proposta nº 1. Proposta 2 – Substituir Altino Machado, União dos Garimpeiros da Amazônia Legal, pelo nome do Almirante Gama e Silva. E tem uma 3ª que não é proposta, mas é explicitação, a Sociedade Brasileira de Geologia, representada por Elmer Prata Salomão. São estas as propostas. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente! O SR. CONSTITUINTE MARCOS UMA: – A convocação do Presidente Elmer Prata Salomão, da SBG, já está incluída, só que ele não foi nomeado. Houve um cuidado muito próprio do companheiro Constituinte Gabriel Guerreiro em nominar, explicitar o nome do nosso convidado, quanto a isso não há votação, eu acredito, não há substituição. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Estou colocando aquilo porque, em primeiro lugar tenho que colocar em votação a proposta original da Mesa. Em primeiro lugar dizendo aqui quais foram as modificações ou as explicitações solicitadas. Então, no caso do item 4, foi uma explici- tacão, explicitar o nome. Na hora da votação vamos colocar, simplesmente, o nome, porque não há discussão a respeito da Sociedade Brasileira de Geologia, que foi aceita. Então, já votaremos o nome explicitado. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Eu gostaria ainda de esclarecer que, de acordo com esse entendimento que fizemos aqui, a votação seria não a primeira ou a segunda seria uma única votação, é a nossa proposta, substituindo os 2 de uma só vez, e não um e outro. E a 1ª proposta que foi o consenso. A outra que poderá haver seria a substituição, então, da proposta feita pelo Constituinte Roberto Campos. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – A proposta do Constituinte Roberto Campos é a da manutenção do nome de Altino Machado, e da não substituição pelo nome do Almirante Gama e Silva. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Esta é uma proposta. Outra proposta que é a nossa e de alguns Constituintes que se entenderam aqui seria a substituição do nº 3, Roberto Athaíde, pelo Presidente do Conage Vanderlino Teixeira e Carvalho. E a substituição do 6 pelo Almirante Gama e Filho. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeito. Então são duas as propostas: primeiro a proposta original da Mesa, sem nenhuma alteração. Os Srs. Constituintes que estiverem de acordo queiram permanecer como se encontram. (Pausa.) A 1ª proposta foi rejeitada. Vamos então, agora, à segunda proposta e vou submetê-la, por item, já que existe uma proposta de 1 dos itens discordantes. Quanto ao item 1, não há objeção. Em votação o item 2. (Pausa.) Não há oposição. Em votação o item 3: Roberto Athaíde, Presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros; substituição pelo Presidente do Conage, Vanderlino Teixeira de Carvalho. Os Srs. Constituintes que estiverem de acordo com a alteração permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovada. Última proposta, última alteração. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, só para um esclarecimento. O que é Conage? Temos aqui uma superprodução de geólogos – Coordenação Nacional e Sociedade Brasileira de Geologia. Muitos geólogos são ideólogos. Sr. Presidente, permita-me uma observação, não é observação, seria apenas esclarecimento. Não vou criar problemas; vou assegurar a V. Ex.ª que iremos ouvir muito mais ideologia do que geologia. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente! O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Só para um esclarecimento. A Sociedade Brasileira de Geologia não é uma Sociedade de Geólogos; ela envolve desde empresários a empregados de todas as universidades, pesquisadores, geólogos inclusive, mas envolve paleontólogos, engenheiros etc...etc... Não é uma entidade de geólogos. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente. A proposta do item 6 é do Constituinte Roberto Campos: manutenção do nome de Altino Machado, Presidente da União dos Garimpeiros da Amazônia Legal. Em votação a proposta nº 6. Os Srs. Constituintes que tiverem de acordo com a proposta do nobre Constituinte Roberto Campos permaneçam sentados. (Pausa.) Aprovada a proposta do Constituinte Roberto Campos. Vamos fazer a recontagem. Vamos explicitar muito bem. O Constituinte, Senador Roberto Campos, é pela manutenção. A proposta alternativa é a substituição pelo Almirante Gama e Silva. Está correto agora? Vamos esclarecer bem para que não haja dúvidas. A 1ª proposta, vou explicitá-la muito bem para que não haja dúvidas. E a manutenção do nome de Altino Machado, da União dos Garimpeiros da Amazônia Legal. Os que estiverem de acordo com a manutenção do nome permaneçam como se encontram. (Pausa.) Muito bem, são 7. De 15, 8 estão a favor. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Tem 1 voto pendente aqui, Sr. Presidente. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – São 7 mais uma abstenção, 7 a 7 e mais 1 abstenção. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Se está empatado, resta ainda o voto do Relator e o do Presidente. Vamos, então, fazer a votação novamente para efeito de concluirmos. Temos 15 nomes presentes, inclusos o Relator e o nome do Presidente. Se houve a votação, está aprovada a modificação. Item – Nacionalidade da pessoa jurídica; reserva de mercado. Temos, aqui, as seguintes propostas: Incluir o ex-Governador Leonel Brizola. Incluir o Presidente da Abine – Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica. Incluir usuários de informática – foi outra proposta feita, porque não estão contemplados. Excluir o Prefeito de Barroso. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – De quem é a proposta de exclusão do Prefeito de Barroso? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – De Raquel Cândido; faz parte do conchavo. A proposta está na mesa. Depois, iremos discuti-la. Agora, aqui vai ficar complicado. Temos três inclusões para uma exclusão proposta. Em primeiro lugar, queria votar a proposta original da Mesa, que inclui, sem nenhuma alteração os nomes dos Drs. Bulhões Pedreira, Jordano Romi, Eugênio Staub, Antônio Ermírio de Moraes, um representante da SEI e o Dr. Napoleão, Prefeito de Barroso. Peço ao Plenário atenção na fala da proposição para que a votação seja consciente. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Quem estiver de acordo queira permanecer sentado. (Pausa.) Rejeitada. Vamos, agora, à votação e acredito que a votação tenha que ser feita primeiro pela exclusão. A exclusão proposta é a do Prefeito de Barroso. A substituição, nós temos para uma exclusão, 3 inclusões: voto a exclusão, abro a vaga, e nós vamos, então, discutir as inclusões, discutindo nome por nome, porque ninguém mais propôs a exclusão de outro nome, a única proposta de exclusão que nós temos, porque não posso aumentar o número de vagas. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Se nós aprovarmos a proposta original do Relator e todas as outras propostas contemplam a substituição de Napoleão. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu explicitei as alterações. A exclusão explícita é do nome do ilustre Prefeito de Barroso, e esta exclusão sendo aprovada eu abro a vaga e passo a votar, nome por nome da Comissão inclusive, até por coincidência, ele é o último nome. Se os outros nomes forem aprovados, nós faremos então a inclusão neste último nome que, dentre os protestos, reuniram o consenso. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, pela ordem. O critério adotado por V. Ex.ª, e até quero louvar o nosso Relator, mais uma vez, pela exposição que ele fez, justificando a inclusão deste ou daquele nome, o que me pareceu quase completa e justificando, inclusive, a delegação que foi dada à Mesa para a escolha desses nomes. Mas, da maneira como V. Ex.ª coloca o problema agora, explicitamente, excluindo um nome – porque existe uma proposta da exclusão do nome – eu quero propor, como eu não havia conversado com o colega Raquel sobre este assundo, e parece que do conchavo que aqui se verificou e estou participando dele na medida em que me informo, acho que é melhor analisar o problema de uma maneira diferente. Porque, se nós vamos excluir um Prefeito que tem uma visão local, como já expliquei anteriormente, nós temos aí 3 grandes empresários que poderiam também, um deles, sair da Comissão. Porque nós temos aqui o Sr. Jordano Romi, Presidente das Indústrias Romi, o Sr. Eugenio Staub, como bem justifica o nobre Constituinte Roberto Campos; o Presidente da Gradiente e uma figura extremamente conhecida de todos nós, o Dr. Antonio Ermírio de Morais. Portanto temos 3 nomes de grandes empresários, e o interessante é que todos eles estão localizados no Estado de São Paulo, que é a locomotiva do País. Portanto, em vez de substituir um modesto prefeito, que tem a visão municipalista, nós devemos considerar a substituição de um desses 3 empresários. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Queria lembrar ao ilustre Constituinte que a Mesa esta refletindo as propostas do Plenário, nada mais, nada menos fizemos do que, simplesmente, explicitar as propostas de inclusão e de exclusão, votando em primeiro lugar em bloco, e agora partindo para a votação, onde existe uma proposta de exclusão, que se estiverem todos de acordo, nós excluímos e, depois, vamos discutir, porque, na própria votação, da forma como nós vamos encaminhar, nós teremos que citar nome por nome para efeito de votação. No caso, a proposta de exclusão do nome do Prefeito de Barroso, eu coloco em votação. Se os Srs. não excluem, ele continuará – não estará excluído – e aí nós vamos discutir os outros nomes. É um critério de eliminação que a Mesa é obrigado a fazer. O SR. CONSTITUINTE GILSON MACHADO: – Sr. Presidente, gostaria propor a exclusão do representante da SEI, para que abra vaga, a fim de que os outros possam sugerir e votar. Eu proponho a exclusão do representante da SEI. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Existe no Brasil uma entidade chamada Associação das Cidades Mineradoras do Brasil. Essa associação vem fazendo um esforço muito grande sobre a questão dos Municípios mineradores brasileiros. Já fizeram alguns congressos e acho que essa entidade merece representatividade, porque os Municípios têm sofrido neste País agruras terríveis na questão mineral e não são ouvidos em nada. Então, ao invés de se ouvir um Prefeito de uma cidade como Barroso, nós deveríamos ouvir a Sociedade da Associação das Cidades Mineradoras. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Nobre Constituinte nós já temos aqui as propostas que foram encaminhadas a Mesa, e nós temos, para efeito da rapidez dos trabalhos, trabalharmos em cima das propostas de inclusão de exclusão já feitas. O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: –Talvez eu possa auxiliar um pouco. Sugeriria que cada proponente fizesse um pequeno adendo, facilitará a votação. Quem propôs um nome, diga, no lugar de quem ele está propondo, a Substituição, porque se isso for feito, a votação irá correr tranqüilamente. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Como ela foi rejeitada in totum, vamos aprovar, nome por nome, dos existentes. A partir da aprovação de nome por nome, dos existentes, aqueles que não forem aprovados, abre a vaga e aí nós vamos aprovar a inclusão. Se os Srs. estão de acordo vou encaminhar a votação dessa forma. Porque aí dará oportunidade de se fazer exclusão por votação. O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: – Tenho impressão que se esse adendo que mencionei não for feito antes, teremos um pequeno tumulto. Eu gostaria de sugerir: quem propôs o nome, que o faça agora, é uma opção de cada um. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente, a Mesa acata a sugestão do nobre Constituinte. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Retiro a questão que havia colocado. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeito. Concedo a palavra ao nobre Relator. 16 O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, a minha intervenção é no sentido de assinalar que o Campos Sales dizia que os baianos, meus conterrâneos, eram unanimemente divergentes. Esta Comissão reflete ou está refletindo um pouco este pensamento. Há uma unanimidade na divergência. A segunda coisa que eu quero chamar a atenção dos nossos companheiros é que nós podemos exorcizar o depoimento de certas pessoas, num e noutro sentido, mas não vamos exorcizar o pensamento ou a presença de uma corrente de pensamento na sociedade brasileira, que representa aquela forma de encarar as questões. A visão adulta e responsável que temos, sem desmerecer a visão dos outros companheiros, em cada uma destas questões, é que para o esclarecimento da Comissão, deve estar presente tentar por exemplo, exorcizar a presença da SEI num depoimento de assunto tão importante, como é o problema da reserva de mercado. Não me parece que deva conduzir a melhores esclarecimentos desta Comissão, por maiores divergências e que tenhamos no presente ou venhamos a ter no futuro, com relação a este pensamento. De tal forma, Sr. Presidente, que o espírito inicial, que é a delegação da Comissão à Mesa no sentido de selecionar nomes que representassem parcelas, segmentos do pensamento brasileiro, pareceme que é uma questão fundamental para o trabalho de nossas Comissões. Sem querer influenciar nos votos de nenhum dos Srs. Constituintes, que respeito. Eu queria apenas acrescentar esta formulação no propósito de dar à nossa Comissão o mais amplo leque de informações necessárias ao ajuizamento das questões. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Exatamente no sentido de organizar uma visão balanceada da questão, é que eu propus que, se for incluída a SEI, que representa a tecnocracia intervencionista e os interesses de grupos cartoriais, sejam também ouvidos os usuários; os usuários são milhões. Os interessados na SEI são os coronéis que lá trabalham, 140 funcionários, 73 indústrias da Abicon, mais 200 indústrias supridoras de peças. Nós os usuários, eu sou usuário, somos milhares, e poderíamos ser milhões, se os preços não fossem tão altos. Então, é impossível, a meu ver ouvir-se a SEI, que representa os interesses de um grupamento tecnocrático militar, empresarial, e não ouvir a grande massa de usuários, que são os destinatários final dos bens da sociedade. Ou se tira a SEI ou se coloca também representantes dos usuários. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu gostaria de chamar a atenção pela observação feita pelo nobre Constituinte Relator Virgildásio de Senna, que os depoimentos devem abranger os vários setores da sociedade, que nos parece que aqui ninguém está querendo, através dos depoimentos, criar quase uma unanimidade de opiniões, de acordo com as suas opiniões. Nós precisamos é exatamente a diversidade das opiniões. Diante de uma votação como esta, que não é fácil, porque pelas propostas aqui feitas praticamente nós podemos substituir toda a Comissão e perder o espírito que norteou o trabalho da Mesa, ou termos de equilibrar posições e opiniões, eu pediria que nós tivéssemos aqui bastante critério na hora da votação onde nós buscássemos, por um consenso, a forma de equilibrar opiniões, 17 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) e equilibrar posições, para que tenhamos um debate equilibrado. Porque nós estamos diante aqui da iminência de uma modificação, muito profunda da estrutura, que pode acarretar perda de substância para aquilo que se deseja, que é o objetivo de todos nós. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Uma sugestão, Sr. Presidente, primeiro que nós aprovássemos, de acordo com a proposta do Senador, a SEI e aprovasse uma posição contrária à SEI, ou uma representação ou oposição. Teríamos, assim, duas vagas preenchidas e, depois, em relação ao capital estrangeiro, teríamos também duas posições a favor e duas contra. Então se começasse aproveitando o critério do Constituinte Roberto Campos, nomeando duas entidades ou pessoas que vão discutir a questão de reserva de mercado especificamente, mas trazendo a SEI e trazendo outra indicação que tenha uma posição contrária. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vejam, nós já temos nomes aqui na Mesa. Se o critério, diz – e eu concordo com o critério – vamos ver a posição pró-reserva, e a posição contra a reserva, já que a SEI está aqui incluída, e dentre os nomes que estão relacionados, nós já escolheremos e liquidaríamos dos 4 itens, 2. Estão de acordo? Então, em primeiro lugar o problema específico da reserva de mercado, onde já existem o item 5, que é a proposta da SEI e os nomes que eu aqui vou explicitar! Bulhões Pedreira, Jordane Romi, Eugênio Staub, Antônio Ermírio de Morais, SEI e, por enquanto não excluído, o Prefeito de Barroso. A proposta seria a manutenção da SEI e a proposta dos nomes aqui expostos que pudesse contraditar a SEI. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Ou outro que o Professor Roberto Campos indique. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Exato, Jorge Fischer. O SR. CONSTITUINTE VIRGILDÁSIO DE SENNA: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, a Comissão não trata, exclusivamente, de problemas de informática. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Desculpe eu só estou pegando este item, mas nós vamos pegar depois os outros itens, de acordo com a tendência. O SR. CONSTITUINTE VIRGILDÁSIO DE SENNA: – O item é a nacionalidade de pessoa jurídica e a reserva de mercado. É evidente que eu coloco o Professor Bulhões Pedreira numa posição hors-concours sobre esta matéria, na qualidade de jurista, de pensador e etc. Mas o Dr. Jordano Romi, que representa o pensamento, no particular, daquilo que eu chamo as indústrias tradicionais que têm uma posição clara, em favor da não reserva de mercado e da internacionalização da empresa nacional. Não é outro pensamento do Sr. Eugênio Staub, o Dr. Antônio Ermírio de Moraes tem uma posição nacionalista, o que equilibrava o sistema. Acho que, no particular, as dúvidas seriam em torno da SEI e contra SEI, exatamente no setor de informática. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Que seria este ponto, e a proposta que está sendo colocada pelo Constituinte Campos é da inclusão de um representante dos usuários de informática, que é uma proposta que está aqui na mesa. Gostaria de colocar em votação esta proposta porque dos 6 nomes, nós já estaríamos aprovando dois. A proposta é SEI e o Dr. Jorge Fischer, representante da Associação dos Usuários de Informática. Os que estiverem de acordo com esta proposta, permaneçam sentados. (Pausa.) O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, para uma questão de ordem. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Sr. Presidente, a exclusão seria de qual nome? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Nós estamos agora partindo para a votação quase que por assunto. Depois vamos para cada nome, de acordo com as áreas de interesse para compor o painel. Quem estiver de acordo com esta proposta permaneça sentado. (Pausa.) Aprovado. Já temos, dos 6 nomes, 2 nomes aprovados. O representante da SEI e o Dr. Jorge Fischer, representando a Associação dos Usuários de Informática. Segundo ponto, eu pediria até ao próprio Relator que participou dos trabalhos que buscava equilibrar colocando o segundo item em pauta, para que nós pudéssemos compor, de acordo com os interesses do Plenário. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – O Dr. Jordano Romi representava a indústria de bens de capital, tradicional no mercado brasileiro, e a visão que esta indústria teria da necessidade de reserva no mercado e da presença de empresas de capital estrangeiro no País. Em contra-partida, uma mesma figura, quando se trata de uma tecnologia moderna que seria a indústria eletrônica, que estaria representada pelo Sr. Eugênio Staub e este era um balanceamento que se imaginou, sem levar em conta a sua posição quanto ao mercado, reserva de mercado, e quanto à presença de empresas estrangeiras. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – O Dr. Jordano Romi preside indústrias que são exclusivamente brasileiras, sem nenhuma participação estrangeira, e a tecnologia é de ponta, um dos grandes exportadores mundiais de máquinas e ferramentas. Estas como hoje todo mundo sabe, incluem controles numéricos, portanto, não se trata de uma indústria tradicional, e sim de uma indústria de ponta, de que o Brasil deve-se orgulhar, porque, sem participação estrangeira, logra expressiva participação no mercado mundial. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Eu proporia a V. Ex.ª que seguisse o critério anterior. Agora, nós vamos discutir a nacionalidade da pessoa jurídica e do capital estrangeiro. Então, que nós considerássemos os nomes que estão propostos para discutir esse tema. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Veja que nós estamos partindo, sem fazer substitui- ções, isto é o que quero dizer. Então, os nomes que estão aqui na lista são exatamente para efeito desse tema, é um confronto, entre a visão do Sr. Jordano Romi, e a visão do Dr. Eugênio Staub. Resta indagar se essas visões são convergentes ou divergentes, pois a nossa idéia é buscar uma visão divergente, para que possamos ter o debate e o confronto das idéias. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Como é o Dr. Ermírio de Moraes que, além de ser proprietário de inúmeras indústrias de base, tradicionais, como o cimento, como siderurgia, é também proprietário de empresas que têm tecnologia de ponta, indústrias químicas, indústrias metalúrgicas... O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Mas a pergunta é a seguinte: será que terão visão convergentes, ou visão divergentes? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – São três representantes lídimos do capital nacional e têm uma visão comum deste problema. De modo que, acredito que a questão que V. Ex.ª propõe, com muita correção, que nós temos visões divergentes, significa que nós temos uma certa superposição, com visões empresariais de setores variados. Acho que não é o fato de ele ter uma indústria tradicional, uma indústria de tecnologia de ponta, que irá modificar a visão que nos interessa, de saber qual é o grau de abertura para participação de capital estrangeiro na empresa nacional. A SR.ª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Dispenso o aparte, porque S. Ex.ª complementou a visão do empresário Romi, que é um mercado aberto. A visão do empresário Dr. Ermírio de Moraes é uma visão nacionalista, no intercâmbio latinoamericano. Ele prega isto: é visão muito interessante. O empresário Romi não, ele tem uma visão do capital nacional a título de mercado internacional. Agora, acho que onde a coisa está coincidindo é com relação ao Eugenio Staub. Acho que não há necessidade dessas duas pessoas. Não vai haver discussão sobre isto. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, eu gostaria de protestar contra a apropriação indébita, para alguns novos colegas, a palavra nacionalista. Eu gostaria que, quando se dissesse nacionalista, se dissesse nacionalista entre aspas. Porque eu também sou nacionalista. Todos aqueles que querem o desenvolvimento nacional são nacionalistas. Nosso conflito é um conflito meramente de métodos. Não admito que alguns colegas se considerem nacionalistas, como se exercessem um monopólio. Infelizmente, já existe o monopólio na Constituição, inclusive o do petróleo. Mas, felizmente, a Constituição ainda não estabeleceu o monopólio da palavra nacionalista. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – O importante e volto a dizer nesse exercício de reflexão conjunta, é importante para uma decisão, porque é o Plenário que vai ter a ganhar com tipo de manifestações como esta, porque aqui estamos falando da tecnologia de ponta e a presença do capital estrangeiro. Então, o ponto da discussão é o seguinte: pode uma empresa nacional se manter exclusivamente nacional e nacionalista e desenvolver tecnologia de ponta? Então, nós temos que ter uma opinião que prove este ponto de DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) vista e o ideal era termos uma opção contrária. Talvez, até, de um empresário que tivesse associação com o capital estrangeiro, para efeito de absorver tecnologia de ponta. Então, com este confronto de opiniões, nós teríamos aqui um debate que seria o ideal para formação do nosso juizo. Então, a idéia da proposição de um nome neste sentido, talvez, fosse do empresário que tivesse uma associação com o capital estrangeiro, exatamente, para absorver essa tecnologia de ponta. Tenho um exemplo, se bem que é da area de informática, de uma associação recente feita pelo grupo Verdal, do Rio Grande do Sul. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Seria uma excelente idéia. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Então, seria pegar alguém que tivesse visão nacionalista, talvez, a própria visão do Antônio Ermírio de Moraes, que pega um conglomerado de setor que tenha visão nacionalista e de alguém como Jorge Gerdau, que fez uma associação com o capital estrangeiro, para efeito dessa absorção. Isto aqui é uma idéia. A Mesa não pode fazer proposição, mas nesta altura é para ajudar no debate. Estão de acordo? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Tem mais um nome para constar da relação. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Aí, seria por substituição, porque, aí, nós estaríamos colocando o Antônio Ermínio de Moraes representando a corrente nacionalista, ou corrente da exclusividade do nacional, com um empresário, que, aí, seria a substituição do nome do empresário, ou o Jordano Romi, ou o Eugênio Staubtab. Vamos substituir o Jordano Romi? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, perdoe-me, mas acho que V. Ex.ª está atropelando um pouco, porque há outras propostas. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – O problema não é só de atropelar, mas o problema é de nós, objetivamente, chegarmos a um consenso. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Não. Estamos tentando discutir critérios. Acho que o critério que V. Ex.ª propôs é que haja um empresário que defenda a exclusividade do capital nacional, e um outro não. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Para evitar confusão, eu retiro a minha proposta de nomes. Só tentei ajudar e volto ao plenário. Mantenho o critério e repito – foi simplesmente para ajudar que lembrei os nomes. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Mas isso preencheria duas vagas, as duas primeiras. Uma do empresário nacional, que não tem associação com o capital estrangeiro; outra de um empresário nacional que fez essa associação, visando absorção de tecnologia, então, há mais duas vagas; temos que definir critérios, para seleção dos nomes. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Peço, inclusive, ao nosso ilustre Relator que nos ajude para efeito do critério, porque S. Ex.ª é o autor, junto com o Presidente da Mesa, do critério que presidiu a própria distribuição dos nomes. E nós queremos manter o critério e estamos fazendo aqui as modificações, somente de nomes. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Estou voltando às indicações da Comissão; estou pedindo à Secretaria da Mesa que nos traga os nomes indicados, para o Plenário, para sobre eles voltarmos as nossas atenções. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Foram respostas às propostas feitas hoje. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Eu estava com uma proposta aqui, Sr. Presidente. É a seguinte: o Prefeito do Rio de Janeiro Saturnino Braga, contra o Dr. Bulhões de Pedreira. Mas, isto seria a terceira dupla. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vamos resolver o problema da segunda dupla, porque, aí, vamos dar uma visão do que a gente quer com a terceira. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, para facilitar os trabalhos, como eu próprio sugeria o nome do Dr. Eugênio Staub, poderia ele ser substituído pelo João Bitter Gerdau, que me parece excelente indicação. É o maior produtor brasileiro de aço, de produção diversificada, grande senso de absorvição de tecnologia. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Neste caso, o João Bitter Gerdau poderia substituir o Eugênio Staub. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Parece-me que já havia um consenso a respeito da proposta do colega Palmeira, de que o Dr. Roberto Saturnino Braga substituiria o Dr. Nelson Mortada, no tema seguinte, pelo que foi proposto ontem. Não sei quem propôs o nome do ex-Ministro Aureliano Chaves, num tema anterior. Eu gostaria de fazer uma colocação, porque o colega Salomão está propondo o nome do ilustre ex-Governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e acho que toda a Subcomissão conhece o ponto de vista do Deputado Leonel Brizola. Acho que a proposta, que foi feita pelo Relator, pareceu-me muito adequada, ao substituir, retirou-se o DNPM, que é um ponto de vista do governo atual; retirou-se o ministro, que, no entendimento do Relator, tem uma visão global, mas não tem uma visão específ ica do problema. Concordo plenamente com o Relator. Não vejo porque colocar, nesse tema, a proposta do colega Salomão. Discordo. E se retirar, como insisto nisso, a visão municipalista específica de uma entidade que representa municípios, porque argumenta o colega Salomão que o município não tem nada a contribuir no debate econômico. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Permite-me V. Ex.ª um aparte? O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Já vou encerrar. Proponho à Mesa, dentro das propostas que já foram encaminhadas, que coloque o processo 18 em votação, pelos critérios que foram utilizados nos temas anteriores. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Volto a insistir que estamos num processo de votação, de acordo com os critérios estabelecidos anteriormente pela Mesa, partindo para a substituição dos nomes. Já temos dois nomes colocados para o critério primeiro que era a discussão da reserva de mercado e o confronto entre SEI e a opinião de um usuário. O segundo, agora, seria o problema da absorção de tecnologia de ponta, a visão do capital nacional e o debate que pretendemos aqui. Essa hipótese de absorver tecnologia de ponta, com uma visão exclusivista nacional, ou a visão associativa com o capital estrangeiro, que seria um debate de extrema importância. Estamos, exatamente, na discussão desse item, onde as propostas, a partir do critério aprovado, estamos discutindo nomes. E o nome que aqui estava era a manutenção do nome do ilustre empresário Jordano Romy e a substituição de um outro empresário que estava, que era o Dr. Eugênio Staub, da Gradiente. Aí, surgiu a proposta de um nome que seria o de Jorge Gerdau, pelo fato de ter feito uma associação com o capital estrangeiro. Estamos na discussão desse critério e eu gostaria de encerrar a discussão, com a proposta de outros nomes. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – O critério era Antônio Ermírio contra Gerdau. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, em relação a Luiz Salomão... O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Volto a insistir para votarmos já os nomes, porque assim encerraremos a Subcomissão. Se o nome aqui escolhido para esse critério é o Antônio Ermírio, mas contra quem? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, permita-me... O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vou colocar em votação esta proposta, se os senhores estiverem de acordo. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, eu não estou de acordo. Permita-me a intervenção. Estamos aqui discutindo uma faceta desta questão, que é a da transferência de tecnologia, supostamente detida pelas empresas multinacionais, ou pelo capital estrangeiro, para grupos industriais nacionais. Mas esta não é a única questão relevante da presença do capital estrangeiro na economia brasileira. Temos outras questões importantes, ou mais importantes do que essa, como a das transferências que se dão em função dessa presença, em termos de tecnologia, de remessa de lucros, de todos os fluxos financeiros entre as empresas aqui sediadas e as suas matrizes no exterior. Essas são questões fundamentais, porque são elas que, efetivamente, trazem implicações na nossa Balança de Pagamento. Nesse sentido, parece-me que a questão do capital estrangeiro não pode ser simplificada a esta visão posta por V. Ex.ª sobre a questão da transferência, muito oportunamente, da transferência de tecnologia com a participação do capital estrangeiro no capital das empresas brasileiras. 19 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Creio que teremos de fixar um outro critério, que é o que diz respeito à oportunidade política e à extensão dessa presença do capital estrangeiro no País, com respeito as suas implicações no balanço de pagamento. A questão da lei de remessa de lucros, a questão da soberania envolvida, do endividamento externo, enfim, todas essas implicações comerciais e dos novos tipos de relacionamento entre o capital nacional e os estrangeiros, que, evidentemente, não serão tratadas, na sua amplitude, pelos representantes mencionados por V. Ex.ª na questão anterior. Que vão se cingir a esse aspecto importante, na vida das empresas, que é a da transferência de tecnologia. Eu proporia a V. Ex.ª que, antes de colocar em votação os nomes, aprofundássemos a discussão dos critérios que vão presidir a escolha dos outros dois representantes. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Com a palavra o ilustre Relator. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, já estamos adentrando na hora. São 12 horas e 30 minutos e esta reunião com o devido respeito a todos os companheiros, permanece no impasse em relação a simples nomes, como se o pronunciamento de qualquer um desses representantes pudesse ser um fator decisivo, se não informático na elaboração da nossa proposta Constitucional. Tenho muito respeito pela opinião dos companheiros, por esse ardor em defesa de nomes, que balizam, que sinalisam os caminhos a percorrer, ou a formação ideológica, política de cada um. Mas acho que já discutimos o suficiente para partirmos para uma decisão, para uma votação que complete o nosso trabalho. Recebemos uma delegação de competência para organizar uma lista. Aceitamos que esta é uma proposição para ser modificada, aprovada ou não, mas não podemos, a cada passo, ter um impasse que anule, prejudique e impeça os nossos trabalhos. Ninguém se opôs a que se ouvisse o nome do Dr. Bulhões Pedreira. Poderíamos considerá-lo como aprovado. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Não. Porque estamos aprovando em número de seis, as duplas. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Eu proponho o Pedreira e o Saturnino. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – O nobre Constituinte já está propondo a votação do terceiro, e não aprovamos ainda o segundo. E, como sobre o segundo foi levantada uma questão, a Mesa gostaria de propor à votação, aquilo que já foi estabelecido. Seriam dois nomes, se os Senhores estão de acordo, que aqui foram colocados. O nome do ilustre empresário Antônio Ermírio de Moraes e de Jorge Gerdau e o Hans Peter. Quem estiver de acordo com essa proposta permaneça sentado. (Pausa.) O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, V. Ex.ª não pode colocar em votação, porque não respondeu à questão de ordem que coloquei. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – V. Ex.ª levantou uma questão de ordem de rediscutir o critério que adotamos. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Não. Estabelecemos um critério para escolher esses dois nomes que V. Ex.ª quer encaminhar à votação, mas não estabelecemos o critério para os outros dois nomes que irão ficar faltando. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Os dois terceiros nomes é uma outra aprovação. Vamos por eliminação, porque é uma votação complicada. O prezado companheiro há de entender que não é fácil, pela importância do assunto e a gama das propostas alternativas aqui colocadas. Se o nobre companheiro me permitir, deixaremos para discutir a terceira dupla e o próprio critério na próxima votação. Estão de acordo? (Pausa.) Fica aprovada a segunda dupla: o Antônio Ermírio de Moraes e o Jorge Gerdau e o Hans Peter. Qual o terceiro critério? Eu pediria definição para efeito de escolhermos só dois nomes. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – A proposta é do Constituinte Salomão, de pegar outros aspectos da relação. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Então, esta proposta seria acompanhada de nomes. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Indiquei o ex-Governador Leonel Brizola, o Prefeito Saturnino Braga e há o nome do Advogado Dr. Bulhões Pedreira. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, o Prefeito Saturnino e o ex-Governador Leonel Brizola viriam na mesma ocasião? Se vierem na mesma ocasião, eu aceito. Se não, ambos dirão coisas irrelevantes. Brizola falará sobre eleições diretas e Saturnino fará uma longa peroração sobre a importância da intervenção do Estado e das empresas estatais, da presença do Estado na economia, quando S. Ex.ª nem sequer consegue pagar funcionários. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Eu gostaria de lavrar meu protesto contra a investida pouco elegante do Constituinte Roberto Campos, posto que, nas suas indicações de convidados, em relação aos quais tenho graves divergências, ninguém aqui procurou denegrir a imagem das personalidades por S. Ex.ª apontada. Pareceme pouco elegante, pouco correspondente à postura do Senador Roberto Campos. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vamos voltar à discussão do critério e dos nomes. As propostas que estão sendo aprovadas para terceira dupla seriam exatamente a da manutenção do nome do ilustre jurista Dr. Bulhões Pedreira, contrapondo-se com um outro nome. O nome do jurista Bulhões Pedreira é aprovado? Coloco em votação. (Pausa.) O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, peço a palavra, pela ordem. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte, pela ordem. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Quanto à questão do ilustre jurista Bulhões Pedreira, eu havia solicitado à Mesa indicasse um especialista em tributos a nível nacional. Foi essa a proposta que eu havia feito à Mesa. Surgiu o nome do advogado Bulhões Pedreira; estabeleceu-se um novo critério, que é o de duplas. Insisto na minha colocação anterior: já que surgiu o nome de Bulhões Pedreira, por proposta minha, sem a indicação de nome que foi escolhido pela própria Mesa, insisto em que haja duplas, dentro dos critérios que agora foram discutidos, estaria competindo com o nome do Prefeito de Barroso? Pergunto à Mesa e não a meus colegas. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Peço ao ilustre Relator que... O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Se já temos duas duplas aprovadas, que são o Dr. Antônio Ermínio e... O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Resta uma dupla. O SR. CONSTITUINTE GIL CESAR: – A SEI, é evidente que deverá estar aqui. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – É matéria já votada. Agora, temos que votar os dois nomes. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Faltam dois nomes? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Faltam, primeiro o assunto e os dois nomes. Qual seria o assunto a ser abrangido? A partir do assunto, vamos incluir os nomes e não tirar nomes. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – A proposta foi feita pela Colega Raquel Cândido; essas duas indicações sugiram em função do Imposto Único sobre Minérios. A SR.ª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Pode ser respondida pelo Dr. Bulhões ou... O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Pela presença do Município e acho isso importante. A SR.ª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Exatamente! O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Então, o nobre Constituinte coloca que o critério a ser aprovado para a terceira dupla trata-se do assunto a respeito do problema do imposto sobre minérios. Esta é a colocação? E a pergunta que faço ao nobre Relator Virgildásio de Senna que presidiu a distribuição dos nomes, mantendo o critério, portanto, estamos modificando os nomes, se seria essa a filosofia que presidiu esta Comissão Temática? O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, Srs. Constituintes: Evidentemente que o pensamento do Dr. Bulhões Pedreira, em sua forma de encarar os problemas da legislação, pertinentes aos assuntos aqui tratados, é sobremodo conhecido por toda a sociedade brasileira. A pessoa do Sr. Napoleão, Prefeito de Barroso, lamentavelmente a Subcomissão. que não foi presidida por mim e sim pelo Presidente desta Mesa se louvou, porque jamais vi um trabalho do Sr. Napoleão, não li qualquer escrito por ele produzido, apenas nos louvamos na opinião daqueles que apresentaram o nome e como uma forma de composição, já que esta Subcomissão, a meu entendimento, de forma equívoca, introduziu o problema do Imposto Úni- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) co sobre minerais nas discussões desta Subcomissão. O que parecia à Mesa pertinente sobre o assunto era a criação de um direito que cingiria ao problema da exaustão das minas e como a Subcomissão iria encarar este problema. Desviou-se a Subcomissão e respeitamos o pensamento para o problema do imposto. E, para atender a este fato novo, estranho de fato à vida e ao trabalho da Subcomissão, se introduziu, por indicação do nobre Constituinte Gil César e da Sr.ª Constituinte Raquel Cândido, o nome do Sr. Napoleão Barroso com este fim específico. A Subcomissão examinará se convém ter uma visão global sobre o problema da pessoa jurídica, da reserva de mercado, nas figuras do Dr. Bulhões Pedreira e do Dr. Napoleão Barroso. É a informação que posso prestar à Subcomissão. Não conheço, jamais li trabalhos feitos pelo Sr. Napoleão Barroso, não sei como pensa. Sei que foram nomes apresentados e recomendados por ilustres Constituintes. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – A pergunta que faço ao Plenário: Como temos o nome do ilustre jurista Bulhões Pedreira, que nos parece ser desejo da Subcomissão ouvi-lo pelos trabalhos que já apresentou. Portanto, ele nos traria esclarecimento. Retorno a minha proposição. Dr. Bulhões Pedreira é um nome de consenso, qual seria o nome que se confrontaria, para efeito de se debater os pontos em que o Plenário ganhasse com esse debate. Essa a colocação que eu faria. O SR. CONSTITUINTE RONALDO CÉSAR COELHO: – Eu queria voltar ao ponto em que o nobre colega já defendeu, achando que mais relevante, no meu entender do que se discutir a questão do imposto único dos minerais, é realmente a lei de remessa de lucros, a relação de royalties, patentes, especialmente na indústria farmacêutica e algumas de forte influência estrangeira no nosso País. Acho que devemos escolher uma dupla, alguém que se contraponha ao Dr. Bulhões Pedreira, e que possa contribuir ao debate, nesta tarde, e já considerando as outras duplas indicadas aqui que estarão na mesma tarde, na mesma reunião, eu queria propor o nome da economista Maria da Conceição Tavares. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vamos para a votação da terceira dupla que seriam então, ilustre jurista Bulhões Pedreira e a economista Maria da Conceição Tavares. Os Srs. Constituintes que estiverem de acordo com essa proposta permaneçam sentados. (Pausa.) O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, porque foi colocada, primeiro, essa dupla? Essa foi a última e V. Ex.ª a colocou em primeiro lugar. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Primeiro, houve um consenso, que senti, da manutenção do nome do jurista Bulhões Pedreira. E a proposta de se colocar um nome que se confrontasse com o dele. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Há três indicações para esse segundo nome. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – As indicações seriam... Qual a sua? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – V. Ex.ª já anotou? Há três indicações, Leonel Brizola, Roberto Saturnino Braga e Maria da Conceição Tavares. Já se pressupõe a exclusão do Prefeito de Barroso. Há um consenso, queria que fosse votado. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Se aprovarmos o nome da dupla, já encerraremos os trabalhos. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Eu gostaria que V. Ex.ª pusesse isto em votação. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Se nós aprovarmos o nome da dupla, já encerramos os seis nomes. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – É a quarta dupla, com o Prefeito de Barroso. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vamos colocar o nome do Prefeito de Barroso, para efeito da votação. Por isso eu fiz a proposta inicial. O nome de Bulhões Pedreira está aprovado? Então, vamos aprovar a opção de 4 nomes, para se contrapor à opinião de Bulhões Pedreira. A SR.ª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Eu gostaria de fazer duas perguntas, porque, embora o Prefeito não tenha compêndios escritos, na história jurídica do País, a indicação deveu-se ao fato da sua liderança, na última reunião dos prefeitos da capital e o representante da Associação dos Prefeitos que lidam com problemas minerais. Eu gostaria de perguntar ao meu colega Gil César se o Professor Bulhões Pedreira traz, no seu bojo de conhecimentos juristas, conhecido nacionalmente, essa ansiedade que nós temos no debate, com relação à nova propositura tributária na área mineral. Se o companheiro que indicou o Professor Bulhões se sente satisfeito plenamente, em detrimento do nosso Prefeito, que foi uma luta muito grande, mas que sinto que está sendo vencida. Ele traz? O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, o problema é que a colocação – até o colega Salomão ponderou isso comigo – do Prefeito não estaria apropriada nesse item. Mas, de acordo com as colocações que já foram feitas, nós podemos voltar à discussão da colocação do Dr. Napoleão Barroso em outro tema, porque já se modificaram critérios. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Nós já estamos em processo de votação, que é o seguinte: está aprovado o nome do jurista Bulhões Pedreira. Temos 4 nomes para serem aprovados; um dos nomes será eleito e o nome do Prefeito pode voltar à discussão em uma outra composição. Em votação o nome da economista Maria da Conceição Tavares. Os Srs. Constituintes que aprovam queiram permanecer sentados. (Pausa.) Rejeitado. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Não foi rejeitado porque vão ser contados votos para 4 nomes. Eu sugeria que a votação fosse feita em dois turnos. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeitamente, nós vamos ver o nome por consenso. 20 Em votação o nome do Prefeito Saturnino Braga. Os Srs. Constituintes que o aprovam queiram permanecer sentados. (Pausa.) Em votação o nome do exGovernador Leonel Brizola. Os Srs. Constituintes que o aprovam queiram permanecer sentados. (Pausa.) Em votação o nome do Prefeito de Barroso. Os Srs. Constituintes que o aprovam queiram permanecer sentados. (Pausa.) Aprovado. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, eu pedi segundo turno, porque eram 4 nomes na votação. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Esta é uma decisão. O que foi menos rejeitado foi o Prefeito de Barroso, por isso, ele foi aprovado. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, a Mesa informou que haveria um segundo turno, porque, fazendo pela rejeição, é um critério muito estranho, é o menos rejeitado. O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: – O menos rejeitado não é o mais aceito. A votação tem que dizer quem é a favor de cada um e fazer o segundo turno. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – É matéria vencida, Sr. Presidente. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Eu queria registrar e lamentar que esta Comissão tenha decidido questão de tal relevância pelos critérios que serviram para indicação do nobre Prefeito de Barroso, Sr. Napoleão, que realmente não representa a opção preferencial, ideológica, dos seus componentes, mas apenas o preconceito de muitos Constituintes que aqui votaram preconceituosamente. Quero lamentar que, desse processo, tenha resultado um elenco de nomes que certamente não é o que melhor poderia representar as várias correntes ideológicas de pensamento do nosso País. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Sr. Presidente, da forma como a Mesa se conduziu, a pessoa pode votar inclusive duas vezes. Essa não é uma preferência correta. Acho que a pessoa deveria votar uma vez e escolher um candidato, votando uma só vez. Depois haveria um segundo turno, para uma maioria garantir. São 4 indicações. A SR.ª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Eu concordo, plenamente, com a propositura do Vladimir, porque eu, por exemplo, sou favorável à vinda do Governador Leonel Brizola. Mas, infelizmente, ele não ganhou aqui. O que nós vimos aqui? A preferência de uma representação menos ideológica. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vou me permitir considerar esta matéria como matéria vencida, em termos de votação, como decisão de Mesa, por um fato só: nós temos ainda outros temas a serem decididos, e V. Ex.as hão de convir comigo que é extremamente complicado uma situação como essa. A Mesa tem procurado ser a mais democrática possível, no encaminhamento das proposições, das votações e no acatamento das propostas que estão sendo feitas. Se nós continuarmos num processo de tamanha lentidão, 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) nós teremos enormes dificuldades para continuarmos nossos trabalhos. Eu considero a matéria votada. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, peço a V. Ex.ª que me permita dizer que não tenho procuração para defender a Comissão, mas acho que tenho o dever de explicitar que não estava em julgamento nem a pessoa do nobre exGovernador Leonel de Moura Brizola, pelo qual tenho o maior respeito, nas suas opiniões políticas, nas suas posições, nem o atual Prefeito Saturnino Braga. O que se votou foi a preferência para escutar, para ouvir pessoas que, ao juízo da Comissão, têm contribuição a trazer ao trabalho da Comissão. Eu queria deixar isso absolutamente claro, que não entenda esse julgamento envolvendo nem os componentes políticos pessoais de cada uma das pessoas, nem uma discriminação contra o ex-Governador Leonel Brizola, nem contra o Prefeito Saturnino Braga, pelo qual tenho um apreço e uma admiração pessoal muito grande. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Eu queria discordar de sua posição, Sr. Relator, porque V. Ex.ª não correspondeu, na sua proposição original, ao compromisso ontem firmado com os Constituintes, de colocar representações de pensamentos diferentes e até mesmo antagônicos, para o enriquecimento dos trabalhos da Comissão. A propost a original de V. Ex.ª contemplava, inicialmente, três empresários, mais um advogado dos empresários, seriam quatro representantes do empresariado, um representante do Estado e um Prefeito, com todo o respeito, com todo o apreço que, a meu juízo, não tinha uma contribuição a oferecer na discussão dessa matéria. Acho que perdemos a oportunidade de discutir, com seriedade, com profundidade, aquela questão que é, talvez, o motivo da crise que vivemos, da miséria do nosso povo. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Nos termos do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, invoco, para usar da palavra, já que o nobre Constituinte Luiz Salomão considera que a Mesa – não só Relator sozinho –, não foi fiel à vontade da sua maioria. Devo dizer que até agora, contrariando as suas palavras, esta Comissão deu ao primeiro item a aprovação de 83,4%, em relação aos nomes que a Comissão apresentou, quanto ao segundo item, 66,66%; quanto ao terceiro item, 66,66%, o que me faz acreditar, sem estar na minha defesa ou de outros, que a Mesa se comportou com lisura e no espírito da Comissão. Eu, respeitosamente, repilo a insinuação. Ela não tem cabimento no processo declarado da Comissão, expresso por votação nominal. A SR.ª CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Sr. Presidente, uma questão de ordem. A nossa apresentação e propositura, com relação ao que culminou com tudo isso, inclusive, revogamos a propositura do nome do Prefeito de Barroso aqui não colocado, e quero só discordar do companheiro Salomão na parte que foi questão, dignidade. Lamentavelmente, nós temos que admitir que perdemos, pela forma de condução de votação, isso não há dúvida, porque até Minas Gerais, ele falou, com 3 representantes de São Paulo, e lutou pela sua participação política e regional. Mas, colocar aqui a condição de dignidade de que não foi conduzida, não! Acho que não houve habilidade. Mas, veja bem, o que ficou claro e que não podemos negar, e quero me dirigir diretamente ao nobre Relator, é a vontade política que prevaleceu, a vontade da maioria que não quis. Vejam bem que tivemos oportunidade de votar duas vezes, eu retirei a minha propositura, sou favorável à vinda do ex-Governador Leonel Brizola, mas, se não houve uma composição, houve uma racha sim, entre o Deputado Palmeira e o Deputado Salomão, um querendo o Prefeito Saturnino e o outro querendo o ex-Governador Leonel Brizola, não é problema nosso, do Plenário, muito menos da Mesa. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, eu não questionei a dignidade de nenhum dos membros da Comissão; referi -me ao preconceito. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu preferia, em função do próprio adiantado da hora, e nos critérios de votação que vão sendo estabelecidos, na verdade, houve a votação, houve a manifestação, se, por acaso, o resultado não tenha sido o resultado do agrado, eu considero a matéria vencida, para efeito da votação. Não acredito que aqui tenha a intenção de quem quer que seja de atingir ou trabalhar no sentido de se fazer qualquer tipo de exclusão. Pelo contrário, somos um plenário aberto, onde, embora discordando profundamente de determinados pontos de vista, nós temos que ter esses pontos de vista dentro do plenário. Parece-me que não foi o critério de exclusão ou de não se querer ouvir que presidiu. Considero a matéria vencida, em termos de votação, e pediria que passássemos para o próximo item, porque temos um problema sério de horário. Nós já estouramos o prazo regimental, e temos ainda o quarto tema, também com um número de propostas bastante grande. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Se é a respeito da matéria que já foi votada... O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Eu pedi um recurso, sem nenhuma dúvida a respeito das intenções do Presidente da Mesa, ao Plenário, porque entendi que a votação terminou não representando a maioria de nós. Não há nenhuma tentativa de achar que alguém tentou falsear o resultado. Como achei que não foi uma aferição correta, pedi que consultasse a maioria sobre uma reaferição. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, peço a sua indulgência, porque tenho que me retirar em face de compromisso inadiável, eu gostaria de abordar logo o tema 4, das empresas estatais, então, teria uma sugestão concreta. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – O nobre Senador me permitiria, respondendo à própria questão que foi colocada. Se não representou a linha de pensamento, pelo menos, a Mesa recebeu uma votação que, feita a contagem e anunciado o resultado, não pode trazer dúvidas quanto àquilo que aconteceu. Temos, aí, uma aprovação efetiva pelo Plenário. A Mesa vai, neste instante, encerrar a discussão sobre o tema 3 e passar para o tema 4, em benefício da própria Comissão. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, está esgotado o nosso horário de trabalho. Não houve proposta de prorrogação desse horário de trabalho, nem pela Mesa, nem por nenhum colega. Por isso, proponho a suspensão dos trabalhos até as 17 horas e 30 minutos, como ontem aconteceu, para que respeitemos o horário – e já temos colegas que vão saindo. Proponho a suspensão dos trabalhos, dentro do nosso Regimento e que se reinicie às 17 horas e 30 minutos. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Se todos os Srs. Constituintes estiverem de acordo, suspendo a reunião e marco a próxima reunião para as 17 horas e 30 minutos. (Levanta-se a reunião às 13 horas.) COMISSÃO DA ORDEM ECONÔMICA 4 a REUNIÃO ORDINÁRIA Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dezoito horas e dezessete minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência do Senhor Constituinte Afif Domingos, com a presença dos seguintes Constituintes: Gilson Machado, Roberto Campos, Gabriel Guerreiro, Vladimir Palmeira, Irapuan Costa Júnior, Afif Domingos, Virgildásio de Senna, Marcos Lima, Luiz Salomão, Gil César, Jalles Fountoura, Joaquim Bevilacqua e Ronaldo Cezar Coelho. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior, que foi aprovada por unanimidade. A seguir, o Senhor Presidente colocou em discussão a relação, elaborada pela Mesa , na parte referente aos itens quatro e cinco, contendo os nomes de representantes de entidades e de especialistas na área temática da Subcomissão para serem ouvidos em audiência pública, a qual foi aprovada com alterações. Usaram da palavra, na oportunidade, os Senhores Constituintes Roberto Campos, Joaquim Bevilacqua, Virgildásio de Senna, Gabriel Guerreiro, Luiz Salomão, Vladimir Palmeira, Gil César e Jalles Fontoura. O Constituinte Virgildásio de Senna, relator da matéria, solicitou que a Presidência tomasse as providências necessárias no sentido de ser fixado, em consonância com as normas regimentais, o número total dos membros da Subcomissão, uma vez que da relação atual constam vinte e três membros. A Presidência esclareceu que iria entrar em entendimento com a Mesa da Assembléia Nacional Constituinte para as providências cabíveis. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às dezenove horas e doze minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada dia vinte e sete de abril, às dezessete horas e trinta minutos, desti nada à audiência pública. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueiredo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO À ATA DA QUARTA REUNIÃO DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM 23 DE ABRIL DE 1987, ÀS 18 HORAS E 17 MINUTOS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Havendo número regimental, declaro abertos os trabalhos da reunião da Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime de Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica. Convido o Constituinte Ronaldo Cézar Coelho para proceder à leitura da ata da última reunião. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) (É lida e aprovada a ata da reunião anterior.) O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Com relação ao quarto tema: "Empresas Estatais e seu Controle pela Sociedade", gostaria de sugerir uma substituição dos nomes propostos pela Mesa. Seria, de número três, Nélson Mortada, que seria, substituído pelo Prefeito Roberto Saturnino Braga. A razão específica é que o ilustre Prefeito e ex-Senador tem uma contribuição importante no sentido de disciplinamento das estatais. Chegou mesmo a escrever e apresentar ao Senado um estatuto de controle das estatais. Isso não significa que sejamos ideologicamente de acordo, uma vez que ele acredita que essas hidras sejam domáveis, e eu acredito que elas não são transformáveis em bípedes implumes, e a única solução seria, realmente, sua extinção. Mas respeito a contribuição valiosa do Prefeito Roberto Saturnino Braga, a quem, aliás, me unem laços de amizade. Acredito que minha intervenção, hoje de manhã, foi um pouco mal-interpretada. Quando Presidente do BNDE, tive a honra de acolher, para os quadros do mesmo, o Dr. Saturnino Braga, que havia sido aprovado em brilhante concurso. Não me parecia que sua contribuição fosse particularmente significativa no tocante ao tema de "Nacionalidade da Pessoa Jurídica e Capitais Estrangeiros", mas certamente S. Ex.ª nos trará uma contribuição muito significativa no tocante aos problemas das estatais. Espero que ele não labore em ilusão, considerando-as controláveis. O Dr. Nélson Mortada é um nome de mérito, mas sua contribuição foi mais de natureza estatística, traçar o perfil das estatais e dimensioná-las estatisticamente, mas nunca teve, realmente, oportunidade de dar contribuição à política de estatização versus privatização. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Joaquim Bevilácqua. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, conversando com os companheiros da Comissão, acredito que como quase todos aqui presentes, elaboramos algumas sugestões para o convite de personalidades que vão fazer exposição aqui, nos painéis dos diversos temas. Além do Prefeito Roberto Saturnino Braga, ex-Senador, proposto pelo Senador Roberto Campos, em substituição ao Professor Nelson Murtada, conversando com os companheiros, entendemos também que o Dr. Antoninho Marmo Trevisan, ex-Diretor da SEST, teria uma contribuição muito importante a trazer a esta Comissão, substituindo, portanto, o número dois, Júlio Colombi. Também visando trazer a contribuição muito importante do usuário da empresa estatal, da empresa de água, da empresa de luz, de saneamento, etc., e por sugestão do companheiro Vladimir Palmeira, a convocação do Sr. Francisco Alencar, Presidente da Federação das Associações de Moradores do Rio de Janeiro, substituindo Rogério Ladeira Furquim Werneck. Ainda nesse item "Empresas Estatais e seu Controle pela Sociedade", minha sugestão, Sr. Presidente, de um excompanheiro e ex-parlamentar que tem feito um trabalho muito interessante como Conselheiro do Tribunal de Contas da União. É o ex-Deputado Fernando Gonçalves. Acredito que S. Ex.ª poderia trazer uma visão mais geral, porque o nome que aqui vejo, deve ser evidentemente de grande respeito, Dr. Frederico Bastos, é do Tribunal de Contas do Distrito Federal, e o ex-Deputado Fernando Gonçalves parece-me que ainda está no exercício da Presidência, do Tribunal de Contas da União. Portanto, uma visão mais nacional, que é o que interessa a esta Comissão. No tocante ao tema do Planejamento Econômico, há também duas sugestões de mudança. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu pediria... O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Pois não. Estamos no tema das Empresas Estatais. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Vamos centrar a decisão sobre o grupo temático nº 4. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Quais eram as sugestões? O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Então, repisando, as 22 suas propostas seriam: no lugar de Júlio Colombo, da SEST, convidar o Dr. Antoninho Marmo Trevisan, ex-Secretário da SEST. No lugar do Dr. Rogério Ladeira Furquim Werneck, o Presidente da Famerj, Federação das Associações de Moradores do Rio de Janeiro, Sr. Francisco Alencar. E no lugar do Sr. Frederico Bastos, o Conselheiro Fernando Gonçalves, do Tribunal de Contas da União. Coloco em discussão o item nº 4, aproveitando a discussão das propostas que foram encaminhadas. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – V. Ex.ª tem a palavra. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, tenho muito apreço pelas associações populares, pelas associações de bairro, pelas associações que defendem diretamente os interesses das comunidades de vizinhança. Todavia, em questões, de controle das empresas estatais pela sociedade, não vejo o que distinguir na Famerj ou na Associação das Sociedades de Bairro do meu Estado, a Bahia, que tem uma tradição maior, de cerca de 40 anos. Quando fui Prefeito de Salvador já as encontrei operosas, lutando por todas essas definições, pela defesa do consumidor no que diz respeito ao fornecimento de água, energia, e transportes coletivos. Não vejo por que privilegiar a Federação do Rio de Janeiro, em particular, sobre um assunto em que cada um de nós é parte, como consumidor, de qualquer um dos meios que o Presidente da Federação das Associações do Rio de Janeiro também o é. De tal modo que me permito achar que distinguir essas entidades significa fazer uma distinção especial em relação ao Rio de Janeiro. Era o que queria acrescentar. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, peço a palavra para uma questão de ordem. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Pois não. V. Ex.ª tem a palavra. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, gostaria de pedir ao ilustre Constituinte Virgildásio de Senna que neste caso desse sua opinião sobre quem convidar. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Acho que se trata de pessoa que tem contribuições importantes a oferecer, na medida em que é um especialista sobre controle dessas entidades, não do ângulo de vista apenas do consumidor, mas de ângulo muito mais amplo. Segundo informações que foram trazidas à Comissão, é especialista com doutorado em controle de estatais. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, gostaria de aduzir a esta listagem o nome do economista e atual Secretário-Geral do Ministério de Ciência e Tecnologia, Professor Luciano Coutinho, que é, sem dúvida nenhuma, o acadêmico que tem uma reflexão mais amadurecida sobre a questão do Estado enquanto agente de produção, e que certamente poderia dar uma grande contribuição a este debate. Acho que a presença de um representante da comunidade, das organizações comunitárias, realmente traria uma contribuição extremamente importante a essa questão, seja da Bahia, do Rio de Janeiro ou de qualquer Estado, desde que seja um militante do movimento social, com experiência em matéria dos sofrimentos que os usuários dos serviços públicos prestados pelo Estado têm a oferecer a esta Comissão. Acredito que o Prof. Francisco Alencar, realmente, seria uma pessoa em excelentes condições de oferecer, não sua visão pessoal, como foi colocado aqui pelo ilustre Relator, mas a visão que o movimento comunitário tem da atuação do Estado enquanto prestador de serviços. Então, só estou acrescentando mais um nome, o do Prof. Luciano Coutinho, que certamente com uma reflexão mais antiga e talvez mais amadurecida do que o Prof. Rogério Ladeira Furquim Werneck, também pessoa de minhas relações, mas que acredito que possa ser substituído com ganhos pelo Prof. Luciano Coutinho. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Peço a palavra, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – V. Ex.ª tem a palavra. 23 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Quero observar que jamais pensei no meu apoio ao nobre Relator simplesmente por ser baiano, apesar de ser baiano ser uma grande qualidade. De forma que, apesar de toda a representatividade das associações da Bahia, as Associações de Moradores do Rio de Janeiro, desde a Presidência de João Resende, que hoje é Vice-Prefeito, tiveram destaque notável nas lutas sociais e na questão específica de controle do Estado. É importante que não pensemos em Estados. O Ministro Luciano também entrou como atuante no Estado. Uma ótica da Associação de Moradores, e foi a do Rio, um Estado sem dúvida menos importante que o da Bahia, haja vista a composição do atual Ministério, mas que, enfim, também tem seu direito a de vez em quando ter uma Associação de Moradores que se des taque, não é nada que privilegie o Rio de Janeiro em detrimento de outros Estados. Acho que os outros Estados estão aqui muito bem representados em outras circunstâncias, na Presidência, na Relatoria, e me parece que o Rio só foi colocado porque o Sr. Francisco Alencar, seguindo os passos do João Resende, destacou-se nesse tipo específico de luta e de preocupação de controle, sem desprezar a grande tradição baiana. Por isso, acho que o Sr. Francisco Alencar devia ser indicado, convidado pela experiência que o movimento comunitário do Rio tem nesse setor específico. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Eu faria uma observação, voltando aos aspectos dos critérios, dando inclusive a minha opinião pessoal de que é muito importante a visão do usuário. Tanto é que esse critério também presidiu uma decisão na reunião de amanhã, quando então foi aprovado, na discussão da informática, um ponto de vista do usuário, e aqui a defesa do ponto de vista me parece ser a do ponto de vista não de uma entidade de um Estado, e sim da entidade defensora do direito do cidadão enquanto consumidor, enquanto contribuinte. Então, parece-me que o que presidiu e inspirou a proposta foi muito menos uma visão de liderança regional e muito mais o conceito da visão do usuário. Qual a visão do usuário a respeito do Estado? Qual a visão do usuário a respeito da empresa estatal como prestadora de serviço? É uma observação que estou fazendo como Presidente da Mesa exatamente para repisar aqui critérios, ficando sempre, logicamente, em aberto a dis cussão e indicação de nomes. Diante das propostas feitas, gostaria de fazer as colocações pelos itens, sendo o item que permaneceu, o item nº 1, o Presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Dr. Eliezer Batista; o item nº 2 da proposta original da Mesa, o Sr. Júlio Colombi, da SEST, que foi proposta sua substituição pelo nome do Dr. Antoninho Marmo Trevisan. O nº 3 seria o Sr. Nélson Mortada, cuja proposta de substituição foi pelo ilustre Sr. Prefeito do Rio de Janeiro, Roberto Saturnino Braga. O item nº 4, Sr. Rogério Ladeira Furquim Werneck, a proposta era a substituição pelo Sr. Francisco Alencar, Presidente da Federação das Associações de Moradores do Rio de Janeiro. O item nº 5, o nome proposto é do Prof. Yves da Silva Martins, e o item nº 6... O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, estou propondo a substituição do Sr. Yves Gandra pelo Prof. Luciano Coutinho. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Perfeito. O item nº 6, do Sr. Frederico Bastos, do Tribunal de Contas do Distrito Federal, cuja proposta de substituição foi pelo Sr. Fernando Gonçalves, do TCU. O Prof. Yves Gandra, por alguns desconhecido, trata-se de um dos maiores advogados tributaristas do País, e é Presidente do Conselho Diretor do Movimento de Defesa do Contribuinte. Portanto, é uma pessoa que encerra, também, a visão da sociedade, do ponto de vista do direito do cidadão, o direito à cidadania, do controle do Estado pelo cidadão, e S. S.ª tem sido um defensor destes princípios. Estou apenas fazendo a biografia do professor, nem fui eu quem o propus, tomei conhecimento dos nomes aqui já propostos. Como na parte da manhã havia um desconhecimento a respeito do Professor Yves Gandra, estou aqui reforçando o nome para efeito de defesa de critério que seria, então, o outro lado da questão, em termos da visão da sociedade; como a sociedade vê o controle do Estado e, aqui, outros defensores de como o Estado deve ser mantido ou o Estado deve prevalecer. São várias escolas que criam um confronto extremamente saudável para efeito da elucidação da nossa comissão. Esta é a observação que faço a respeito do nome do Professor Yves Gandra. Mesmo assim, V. Ex.ª propõe a substituição? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Tendo em vista que a presença do Professor Francisco Alencar em substituição ao Professor Rogério Werneck que apoiei, de certa forma descalçou esse painel de alguém que tem uma reflexão acadêmica sobre a questão do Estado enquanto produtor. Pelo perfil que V. Ex.ª descreveu, acho que o Professor Yves Gandra seria uma alternativa ao Professor Francisco Alencar e não a alguém que tem uma visão acadêmica do problema do Estado prestador de serviço e agente de produção. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Já falei, também, do nome do Sr. Fernando Gonçalves em substituição ao item 6. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILACQUA: – Gostaria, Sr. Presidente, de acrescentar a essas palavras do Presidente, com relação ao Professor Yves Gandra da Silva Martins, que foi S. S.ª inclusive, quem, praticamente, comandou ao lado de boa parte da imprensa neste País, a guerra contra o "leão" e uma guerra vitoriosa. Então, além de ser um professor e um tributarista de renome, S. S.ª tem uma experiência prática, por assim dizer, do ponto de vista do contribuinte com relação, às vezes, a fome exagerada dos leões e das hienas. Com relação ao Professor Luciano Coutinho, é fora de dúvida que S. S.ª teria e tem uma contribuição muito grande a emprestar a esta subcomissão, mas entendemos que seria uma contribuição que pode ser dada tanto pelo Dr. Eliezer Batista como pelo Antoninho Trevisan, que tem uma vivência prática e, também, teórica, sem menosprezar. Acho que seria muito importante ouvirmos o Professor Luciano Coutinho. Aí teríamos que afastar aquela visão crítica do usuário – ou o Sr. Francisco Alencar ou o Dr. Yves Gandra. Acho que essa composição, esse painel, esse espelho refletiria melhor as várias tendências que queremos observar para poder formar uma opinião nesta subcomissão. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Com a palavra o ilustre relator. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senda): – Só para uma informação: o nome do Dr. Frederico Bastos está nesta relação não porque é membro do Tribunal de Contas do Distrito Federal, foi indicado na medida em que foi Procurador da União junto às estatais para coibir os seus abusos, só posteriormente é que foi, depois de ter deixado essa função onde, segundo revelam, teve um papel significativo, foi levado a ser membro do Tribunal de Contas de DF. Mas, não está arrolado nesta relação, em virtude de ser membro do Tribunal de Contas do DF ou competindo com membros do Tribunal de Contas da União, mas porque teria sido um Procurador da República, especifica- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) mente voltado para durante a fase da criação da CEST, conter os excessos e os desmandos existentes nas estatais. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILACQUA: – Gostaria, Sr. Presidente, de dizer ao nobre Relator que, entre o Professor Frederico Bastos e o Ministro Fernando Gonçalves, com qualquer um dos nomes, ficaria satisfeito, não faria objeção à manutenção, desconhecia este dado. Apenas como verifiquei aqui com relação ao Sr. Frederico Bastos do Tribunal de Contas do Distrito Federal, entendi que a Comissão houvera – como não acompanhei até o final os trabalhos da manhã – pretendido colocar alguém do Tribunal de Contas. Então, já que seria um representante do Tribunal de Contas que o fosse do Tribunal de Contas da União, uma visão mais nacional. Mas, com a informação do nobre relator até posso retirar a minha proposta. O SR. GIL CÉSAR (PMDB – MG): – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Com a palavra o Sr. Constituinte Gil César. O SR. GIL CÉSAR: – Pelo que ouvi, até agora, da exposição dos meus colegas, tenho uma sugestão a fazer: que permaneça a lista como está, substituindo o item 2 pelo Sr. Antoninho Marmo Trevisan e o item 3, Sr. Nelson Mortada pelo Dr. Roberto Saturnino Braga, e que se mantenham os outros nomes propostos, porque, pelas explicações que acabei de ouvir, tanto do Sr. Relator como do colega Joaquim Bevilacqua, acredito que seja a solução que atenda aos interesses da maioria, dentro daquilo que foi exposto pela Mesa com referência aos critérios. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Quanto mais buscarmos uma solução consensual, melhor será para encontrarmos a solução e passarmos ao item seguinte. Então, diante da consideração do nobre Constituinte... O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, para efeito de facilitar o atendimento do consenso, gostaria de retirar o nome do Professor Luciano Coutinho. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – A Mesa agradece. Se a proposta feita pelo nobre Constituinte desta substituição de dois nomes, adquire consenso... O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Queríamos que viesse o Presidente da Federação do Rio de Janeiro, Sr. Francisco Alencar. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, gostaria de reforçar essa indicação por reconhecer que pode trazer uma grande contribuição aos trabalhos desta Subcomissão. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – A proposta consensual seria, então, o Sr. Eliezer Batista, o Senhor Antoninho Marmo Trevisan, o Sr. Roberto Saturnino Braga, o Sr. Francisco Alencar, o Sr. Yves Gandra e o Sr. Frederico Bastos. Os Srs. Constituintes que aprovem esta proposta queiram permanecer sentados. (Pausa.) Está aprovada. Agradecemos aqueles que colaboraram para que se estabelecesse consenso. Passamos ao último item: "Planejamento Econômico do Estado na Sociedade Democrática". Em discussão. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILACQUA: – Sr. Presidente, peço a palavra. 24 O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Com a palavra o nobre Constituinte Joaquim Bevilácqua. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, em conversas preliminares e buscando o consenso – tem norteado a maioria das decisões desta subcomissão, elogiando o elenco de nomes aqui relacionado pela Mesa, faríamos duas sugestões, depois de ouvir os nossos colegas da subcomissão. A primeira seria com relação ao nº 3 – Sr. Luiz Paulo Rosember – e propomos a substituição pelo Dr. Henry Maksoud. Entendemos que tem uma contribuição crítica, bastante polêmica, muito transparente e que pode trazer uma contribuição importante a esta Subcomissão e, no item 6, onde está escrito Unicamp, a grande Universidade do nosso Estado, como já temos o nº 5 – o Professor Fábio Comparato –, que representa o setor universitário da USP, proporíamos alguém da maior idoneidade técnica e que representa, também, uma corrente de pensamento ideológico e que pode trazer uma outra visão, inclusive prática, estatística, a esta subcomissão que é o representante do Dieese, o Economista Walter Barelli. Esta é a proposta que, acredito, consensual, obtida, das conversas preliminares. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Continua em discussão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, gostaria de aproveitar a dispensa que fiz da indicação do Professor Luciano Coutinho, no item anterior, e propor o seu nome em lugar do Professor Julian Chacel, da Fundação Getúlio Vargas que é, sem dúvida nenhuma, um dos grandes economistas deste País mas não me consta que tem uma militância nessa questão do planejamento econômico. Um ilustre Professor, macro-econometrista de renome, mas não muito afeito a essa discussão do planejamento econômico do Estagio na sociedade democrática. Gostaria de fazer a indicação do Professor Luciano Coutinho. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, solicitaria que o relator informasse quem é o Sr. Antônio Guarino, Presidente da Flupeme, e o que esta sigla significa. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – O Sr. Antônio Guarino foi Presidente do Cebrae e Flupeme, significa Associação Fluminense da Pequena e Média Empresas. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – O engenheiro e empresário Antônio Guarino, que tive a honra de indicar para fazer parte deste painel, é um dos m ais dinâmicos promotores do movimento de pequenas e médias empresas, foi o primeiro Presidente da Federação Nacional das Pequenas e Médias Empresas de onde renunciou para assumir o Cebrae – Centro Brasileiro de Pequenas e Médias Empresas – de onde, recentemente, se desligou. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Continua em discussão. Gostaria, simplesmente para colaborar com os debates que estão em fase de discussão, de fazer uma justificativa porque, também, me sinto muito à vontade sobre o problema das indicações que foram feitas porque não participei de nenhuma delas. Quero simplesmente, dar um testemunho a respeito dos nomes aqui indicados pois foi feita uma observação a respeito do Professor Julian Chacel e este tem uma posição muito importante. Quero lembrar que S. S.ª ao lado do Sr. Walter Barelli que era o homem dos salários no Brasil, o Professor Julian Chacel era do índice inflacionário. Uma mudança feita da Fundação Getúlio Vargas para o IBGE, mudança essa que foi, por todos os títulos, discutida em todo 25 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) o País, mudanças que, até hoje, não foram bem absorvidas no seio da sociedade, pois, afinal de contas, a Fundação Getúlio Vargas é um órgão independente como o é também, o Dieese. Portanto estou apenas fazendo uma elucidação a respeito disto, porque não é só o nome do ilustre Professor Julian Chacel, e a escola da qual S. S.ª participa e um grupo que funcionava quase como um auditor da ação do Estado, principalmente na medição do preço da inflação, cuja auditagem perdeu essa independência, à medida em que, com todo o respeito que eu tenho pelo IBGE, passou a ser feito por um órgão ligado diretamente ao Governo. Portanto, a posição ou a colocação do seu nome aqui é de grande importância para o debate, simplesmente, estou fazendo a defesa de um critério e daquilo que representa. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Da mesma maneira como participei no item anterior, acho que se poderia chegar a um consenso se mantivéssemos os números 1 e 2, no nº 3 a sugestão do colega Joaquim Bevilácqua, o nº 4, foi esclarecido e me parece muito importante a participação do Sr. Antônio Guarino, porque foi Presidente do Cebrae, é um órgão que conheço e está intimamente ligado à estrutura de apoio à pequena e média empresas, e do Professor Fábio Comparato e do Sr. Walter Barelli, pelas explicações que o Sr. Presidente acabou de fazer, especialmente, citando a participação da Fundação Getúlio Vargas que, como todos sabemos tem grande importância. Acho que a colocação feita pelo Presidente é muito oportuna, entre esses dois nomes. Sugiro que se mantenha os nomes propostos pela Mesa: Julian Chacel, João Paulo dos Reis Velloso, Antônio Guarino e o Professor Fábio Comparato, que entre, então, o Sr. Henri Maksoud e o Dieese, através do Senhor Walter Barelli. Parece-me que através desta sugestão conseguir-se-á consenso. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, vou-me valer da argumentação de V. Ex.ª para sustentar, mais uma vez, a indicação que fiz do Professor Luciano Coutinho. Inicialmente quero esclarecer que o economista Walter Barelli é o dirigente do DIEESE, a entidade que tem feito o acompanhamento mais fiel da evolução dos preços e da medição da inflação. Sem nenhum descaso pelo trabalho desenvolvido pela Fundação Getúlio Vargas, que sempre foi subsidiado e financiado pelo Governo, queria lembrar que nessa questão da inflação ninguém tem uma posição mais realista do que esta que vem sendo defendida brilhantemente e que projetou o economista Walter Barelli como o representante do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos. Especificamente em relação ao Professor Luciano Coutinho, imagino que S. S.ª corresponde à visão inicial do ilustre Relator, Constituinte Virgildásio de Senna, porquanto em sua proposta original, S. Ex.ª defendia visões contrastantes da política econômica e do planejamento econômico, de uma forma bem ampla, até havia colocado, aqui, a substituição do representante da Unicamp pelo Dr. Walter Barelli que não é uma substituição que corresponda ao pensamento do Relator, a do Professor Luciano Coutinho sim, porque S. S.ª é um dos expoentes do pensamento econômico da Unicamp, sobretudo daquele pensamento que tem maior possibilidade de sucesso em relação aos egressos daquela universidade que, hoje, estão no Governo. De outra parte, o Professor João Paulo dos Reis Velloso, ex-Ministro do Planejamento, tem uma visão muito próxima da do Professor Julian Chacel, de modo que insistiria no sentido de buscarmos este consenso na introdução do Professor Luciano Coutinho no elenco dos painelistas, preservando a figura do economista Walter Barelli, como um dos especialistas mais descomprometidos com a questão da medição da inflação. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Acho excelente a indicação do nobre Constituinte Luiz Salomão. Tenho pelo Professor Luciano Coutinho não só admiração como extraordinário apreço e acho que S. S.ª contribui realmente. Lamento que não tenha sido minha a indicação mas faço-a minha também. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, acho que, sob o ponto de vista que tem sido colocado, e ouvir opiniões diversas, já que vamos ouvir o Dr. João Paulo dos Reis Velloso, parece-me que o nome do Dr. Luciano Coutinho é extremamente aceitável para discutir essas questões. De modo que quero endossar a proposta do nobre colega Luiz Salomão. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Permita-me fazer uma tentativa de, primeiro, atender as modificações e, segundo, atender a filosofia inicial que presidiu o trabalho feito pelo ilustre Relator, representando a Mesa, juntamente com o presidente efetivo. O item nº 6 ficou em aberto na proposta original, porque ali foi colocada a questão do nome de uma universidade e a lembrança do ilustre constituinte a respeito do nome do Professor Luciano Coutinho. Talvez atenda à proposta inicial, que é a da representação do pensamento de uma universidade. Inclusive, a justificativa, para efeito de preenchimento deste nome seria justamente a justificativa de quem seria o Sr. Luciano Coutinho. Um representante da Unicamp, portanto, preservaria o nome. Neste caso a modificação que foi proposta, do nome do Sr. Henry Maksoud para o lugar do Sr. Luiz Paulo Rosemberg, em nada altera a composição do critério em função de tendências de linhas de pensamento e aí só teríamos dificuldade a se manter o critério inicial da colocação do nome do ilustre representante do DIEESE, que seria o Dr. Walter Barelli. Quero fazer uma proposta conciliatória, que seria a inclusão do nome do Sr. Luiz Paulo Rosemberg no lugar do Sr. Henry Maksoud e ainda a inclusão do Sr. Luciano Coutinho no item Unicamp, o que praticamente não modificaria a estrutura. Manter-se-ia inicial da proposta, sem grandes alterações, se o nobre companheiro Joaquim Beviláqua retirasse a sua proposta. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁQUA: – É evidente que o que estamos procurando aqui é o consenso. A lembrança do Sr. Walter Barelli foi dada, exatamente, em função da idoneidade do Dieese. Mas, já que o nobre colega Luiz Salomão insiste na importância da participação do Professor Luciano Coutinho e dado que se trata de planejamento econômico e do pensamento Unicamp fico, em função da palavra do nobre relator, do critério adotado, abro mão da convocação do Professor Walter Barelli que poderá talvez fornecer subsídios a esta subcomissão de outra forma. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, apenas zelando pelo espírito de manter um equilíbrio, um balanceamento dos expositores, parece-me que Dr. Luciano Coutinho e o Dr. Walter Barelli têm pensamentos mais ou menos concorrentes, seriam contrabalançados com o pensamento do Dr. Reis Velloso e do Dr. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Fábio Comparato. Então, as quatro opiniões estariam dentro de um balanceamento de equilíbrio, restaria o Dr. Guarino, que tem uma visão da microempresa e o Dr. Maksoud que o contrabalançava como representante da grande empresa, do planejamento, e etc. Parece-me que esta composição proposta dá um perfil o mais próximo da idéia do que venha a ser o painel sobre este tema. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Se bem interpretado o pensamento do ilustre relator, S. Ex.ª está propondo a substituição do Professor Julian Chacel pelo Professor Walter Barelli. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Então seriam: Luciano Coutinho, Walter Barelli, Reis Venoso, Fábio Comparto, Dr. Guarino e Henry Maksoud. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Aí excluímos a Fundação Getúlio Vargas? O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sim porque ela tem um papel econométrico, mas não de planejamento. É evidente que nenhum planejamento é feito sem econometria. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, tendo em vista a sua preocupação, inicial, de justificar o nome do ilustre Professor Julian Chacel, acredito que a substituição pelo nome do Professor Walter Barelli, para aquele feito de uma instituição que item acompanhado as meias verdades do Governo em matéria de medição de inflação, não poderíamos ter um nome mais expressivo do que o do Professor Barelli. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Mas, veja, estou partindo do critério da proposição inicial da própria Mesa. Dentro da proposição inicial, e o meu papel aqui de representante do Presidente, embora não tenha participado da composição, é exatamente atentar presidir o critério mantendo sempre o equilíbrio. Portanto, o meu cuidado permanente é exatamente substituir homens de uma corrente por nomes da mesma corrente. Dentro dessa mesma liberdade manteríamos o equilíbrio da própria composição da Subcomissão. Dentro do que conheço da linha de pensamento do Professor Julian Chacel, do Professor João Paulo dos Reis Velloso, do Sr. Luiz Paulo Rosemberg e a própria manutenção do nome Unicamp, dentro daquela proposição que foi feita de substituição do Sr. Rosemberg pelo Sr. Maksoud, não altera muito uma linha de filosofia. A inclusão do Professor Coutinho na Unicamp, pelo contrário, não alteraria nada, só completaria a filosofia que presidiu, mantida o equilíbrio dos nomes. Na hora que colocamos o nome do ilustre professor, meu amigo, Walter Barellie em substituição ao de Julian Chacel estamos substituindo linhas de pensamento. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Evitando uma superposição que não me parece enriquecedora, que era do pensamento do Professor Julian Chacel com o Professor João Paulo dos Reis Veloso, representam uma mesma escola, uma mesma corrente. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Estou presidindo, exatamente, o critério que foi exposto e defendendo uma posição feita pela Mesa, embora possa até discordar, mas tenho que presidir esta posição. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, o ilustre Constituinte Virgildásio de Senna que é relator e participou da confecção desta listagem de nomes, acabou de propor uma modificação colocando o nome do Dr. Luciano Coutinho junto com o de Walter Barellie se contrapondo o pensamento exatamente, do Srs. Fábio Comparato e Reis Veloso. Acho que essa composição é a que mais contempla, evidentemente, as idéias e as correntes. Acho que não seria necessário comparar, por exemplo, Chacel, com Barelli, tomando por base que Luciano Coutinho e Barelli estariam colocando opiniões, de certo modo, divergentes de Fábio Comparato e Reis Veloso. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Por isso que não estou entendo qual é a convergência da linha da pensamento do professor Comparado com a do Professor João Paulo dos Reis Veloso. Qual seria o tipo de convergência? 26 O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Permita-me, Sr. Presidente, pois eu visava, nos entendimentos preliminares, um consenso em torno da substituição de dois nomes por outros dois de pensamento semelhante. Estou sendo informado que o professor Walter Barrelli já está convocado para três subcomissões desta Casa: Sindical, Tributos e uma terceira, S. S.ª já vai comparecer três vezes. De forma que ponderaria como são duas entidades da mais alta respeitabilidade tanto a Fundação Getúlio Vargas quanto a.Dieese – salientei desde o início proporia que ficássemos apenas completando a indicação do número 6, com a indicação do Professor Luciano Coutinho, atendo à ponderação do colega Luiz Salomão e do próprio relator, mantendo o Sr. Julian Chacel, porque então, chegaríamos a um consenso. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Sr. Presidente, a presença do professor Julian Chacel é quase que de bom senso, quase que obrigatória entre os nossos expositores. No caso da sugestão do colega quanto à substituição do Professor Walter Barelli, se S. S.ª já está incluído em várias Subcomissões parece-me, também, que vem de encontro ao que se deseja. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Comungo com o pensamento do colega de Goiás. Inclusive pelas declarações do propositor que é o ex-Prefeito de São José dos Campos. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Acho que já chegamos ao consenso. O nobre Relator já concordou. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Sem nenhuma retaliação pelo item 3, onde esse equilíbrio não foi respeitado mas, nossa margem de tolerância é grande e chegamos ao consenso. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Registro o seu devido protesto e agradeço pela colaboração mantendo esta posição de decisão final. Gostaria de fazer a leitura desta para efeito de constar da Ata. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Ficaria, então, composto o 5º painel dos nomes do Professor Luciano Coutinho, Professor Julian Chacel, João Paulo dos Reis Velloso, o Sr. Maksoud, o Sr. Antônio Guarino, o Professor Fábio Comparato. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Considero aprovada a proposta. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, gostaria de assinalar, e é meu dever, que a Subcomissão está funcionando sem o número regimental. Ela deve funcionar com 21 membros e está funcionando com 23, o que necessariamente quebra a composição partidária fixada pelo Regimento. Este é um assunto que me cabe assinalar como Relator, porque vai ter influências definitivas no processo de votação, mas cabe à Presidência, junto à Mesa da Casa, junto à Mesa Diretora, tomar as medidas cabíveis. Peço a V. Ex.ª que adote as providências necessárias para que a composição volte a ter o número regimental de membros. O SR. PRESIDENTE (Afif Domingos): – Agradecendo a manifestação do ilustre Relator, esta Presidência tomará medidas imediatas a respeito desse desequilíbrio no número de participantes da Subcomissão. Gostaria de marcar a próxima reunião já com as pessoas convidadas, inclusive quero dar a notícia dos nomes que confirmaram, porque se houver algum tipo de desistência, conforme aquela deliberação da manhã, procuraremos substituir dentro do mesmo critério. O Sr. Mário Henrique Simonsen só dará a resposta amanhã porque S. S.ª está viajando. O Dr. Mário Amato está confirmado. O Dr. Milton dos Reis, também. O Dr. Osni Pereira está em Brasília e entrará em contato à noite conosco. O Dr. Jorge Bittar está confirmado e o Ministro Dias Leite chega hoje à noite de São Paulo e vamos procurar fazer o contato. Nada mais havendo a tratar, dou por encerrados os trabalhos da presente reunião. (Encerra-se a presente reunião às 19 horas e 15 minutos.) 27 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento) COMISSÃO DA ORDEM ECONÔMICA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA 5ª Reunião Ordinária Aos vinte e sete dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dezessete horas e quarenta minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência do Senhor Constituinte Delfi m Netto, com a presença dos seguintes Constituintes: Virgildásio de Senna, Gilson Machado, Raquel Cândido, Delfim Netto, Afif Domingos, Jalles Fontoura, Antônio Carlos Franco, Renato Johnsson, Gabriel Guerreiro, Albano Franco, Beth Azize, Vladimir Palmeira, Ismael Wanderley, Marcos Lima, Roberto Campos, Gustavo de Faria, Joaquim Bevilacqua, Ronaldo César Coelho, Antônio Ueno, Luiz Salomão e Gil César. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior, que foi aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se início ao Expediente que constou da leitura sumária de sugestões encaminhadas pela Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais, contendo matéria constitucional. Findo o Expediente, fizeram exposição sobre o tema Princípios Gerais da Ordem Econômica: a) Intervenção do Estado na Ordem Econômica; b) Preservação de valores e interesses comuns e individuais. Conveniência e limites, os Senhores: Antônio Dias Leite, que foi interpelado pelos Constituintes Delfim Netto, Raquel Cândido, Vladimir Palmeira, e Joaquim Bevilacqua; Mário Amato que foi interpelado pelos Constituintes Vladimir Palmeira, Gilson Machado, Luiz Salomão e Albano Franco; Milton dos Reis, que foi interpelado pelos Constituintes Virgildásio de Senna, Luiz Salomão, Gil César, Vladimir Palmeira e Raquel Cândido. O Senhor Osny Duarte Pereira falou, a seguir, deixando de responder às indagações feitas pelos Constituintes Gil César, Renato Johnsson e Antônio Neno, em virt ude de ter ultrapassado o tempo regimental destinado a sua exposição. Falaram, ainda, focalizando o tema do debate, o Senhor Jorge Bittar, que foi interpelado pelos Constituintes Luiz Salomão, Ronaldo Cezar Coelho, Gil César, Delfim Netto e Gabriel Guerreiro, e o Senhor Paulo Rabelo de Castro. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, por encerrados os trabalhos, às vinte horas e cinqüenta e cinco minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada amanhã, dia vinte e oito de abril, às nove horas e trinta minutos, para continuação do debate de Matéria Constitucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueiredo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO À ATA DA QUINTA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA REALIZADA EM 27 DE ABRIL DE 1987, ÀS DEZESSETE HORAS E QUARENTA MINUTOS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁ - FICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE mos 20 ou 30 anos, na esperança de que AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE esta Constituição seja um documento-guia DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM duradouro. NETTO: Basearei minha intervenção e sob esses aspectos, mantendo aquela seqüência do O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – anteprojeto, comentando a ação reguladora e Havendo número regimental, declaro aberta a fiscalizadora, estímulos e incentivos e a ação reunião. direta. Convido o nobre Constituinte Antônio Encontrei-me, há pouco, com o Carlos Franco para que faça leitura da ata. Constituinte Affif Domingos, com quem O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – tenho discutido este assunto e trocado Vamos passar às audiências públicas. Antes de opinião através de artigos na Folha de S. fazê-lo, há uma comunicação à Subcomissão. Paulo. A Presidência recebeu e encaminhou ao Relativamente às críticas à intervenção nobre Constituinte Virgildásio de Senna, Relator como um processo que traz mais inconvenientes da matéria, sugestões da Associação dos do que vantagens para a sociedade como um Laboratórios Farmacêuticos Nacionais. todo, há uma corrente empresarial que se tem se As audiências públicas consisti rão em atido muito ao excesso da presença do Estado ouvirmos os ilustres convidados por esta como agente econômico, sob a forma das Subcomissão, que deverão fazer a sua empresas públicas e sociedade de economia explanação em 15 minutos e, depois, responder mista. às indagações dos ilustres Constituintes durante Quanto a mim, parece que o prejuízo 25 minutos. que tem advindo dos excessos de intervenção Já foram distribuídos os papéis para que decorre muito mais da atividade regulamentadora as perguntas possam ser redigidas e entregues à e fiscalizadora do Estado. Mesa, a fim de que sejam respondidas depois Temos certa obsessão pela pelos ilustres Conferencistas. regulamentação e, através de dispositivos Tenho a satisfação de convidar o ex- sucessivos, às vezes superpostos, fazemos Ministro e ilustre Professor Antônio Dias Leite com que as iniciativas das pessoas para sentar-se à Mesa. (Pausa.) sejam submetidas à uma série de aprovações. Tem V. S.ª a palavra. A pessoa que deseja iniciar um O SR. ANTÔNIO DIAS LEITE: – Sr. empreendimento econômico tem, em Presidente, Sr. Relator, Srs. Membros desta geral, na maioria dos setores e atividades, que Subcomissão da Assembléia Constituinte, merecer a aprovação de vários órgãos ilustres Companheiros desta jornada de públicos para a aprovação do seu projeto, discussões, em primeiro lugar, agradeço, em para obtenção do financiamento, para nome de todos os convidados, a honra de ter importação de equipamentos, quando não sido chamado para esta reunião de hoje. existem projetos específicos, em que há A oportunidade não é fácil para se quase uma tutela do Estado sobre as discutir temas de interesse de longo prazo do empresas. nosso País, num momento de transição e de Esta regulamentação é necessária em dificuldades, e é necessário um esforço muito atividades de pro dução de bens e serviços de grande para que se consiga pensar num longo interesse social muito grande ou de uma prazo e não no dia de hoje e nos abstrairmos das dimensão muito grande para o País ou que se dificuldades do momento. aproximem de condições de monopólio, Procurarei, em relação ao tema da requerem um exame e um acompanhamento da intervenção, basear-me num anteprojeto que foi sua execução pelo Estado. É óbvio, exageramos, elaborado pela Comissão de Estudos, há um no nosso País, nessa função de intervenção viaano, do Grupo Temático que tratou da ordem regulamentação, criando um regime quase que econômica e que trata desse problema da de tutela. intervenção sob três aspectos que poderiam Esse fato, associado ao segundo, receber nomes diversos, mas que poderiam ser através do qual houve um exagero do subsídio à chamados da regulamentação e fiscalização da iniciativa privada, induziu a decisões atividade privada, do estímulo e dos incentivos à subordinadas a um programa de governo que os atividade privada e da ação direta do Estado empresári os, se livremente motivados, não como agente econômico. teriam adotado, se não houvesse esses Aliás, relendo o documento elaborado incentivos. Teriam, talvez, seguido outro por esse Grupo Temático, se não me engano o caminho, e foram motivados, pela presença do número 8, da Comissão de Estudos, achei a Estado como incentivador, a caminhar em coisa bem colocada, de modo geral, e determinada direção. merecedora da maior atenção. Procurei, Temos, por isso, exemplos, de setores portanto, basear-me no que ali está posto para de atividade em que a iniciativa privada ter um ponto de referênci a. exagerou nos investimentos e foi além do que A questão fundamental estará situada no o País precisava, e que provavelmente, no seu conflito entre o interesse geral que pode justificar próprio julgamento, não teria feito, se não esta intervenção por um ou outro processo e o fosse a ação do BNDES com empréstimos interesse individual das pessoas e das empresas subsidiados ou incentivos fiscais que que pode ser contrariado por essa presença do deslocaram a sua decisão para, talvez, a Estado. realização de empreendimentos que não E óbvio que num Estado moderno a satisfariam às condições racionais intervenção encontra grandes justificativas, mas econômicas. apresenta-se também como uma fonte de Volto, então, antes de entrar no inconvenientes. Há que fazer um balanço entre terceiro capítulo, o da ação direta, a os efeitos positivos de uma forma de intervenção comparar esse problema com o da presença do e os seus efeitos negativos. Estado. Por esse motivo é que, na redação Neste ponto justamente, contrario da Constituição que nos está preocupando muitas opiniões, que, por exagero – já que hoje, é tão importante façamos a abstração sabemos que a intervenção do Estado é do que se passa neste momento no Brasil, necessária, tanto regulamentar como ou o que se está passando neste momento incentivadora –, essa presença conduziu a em outros países, cujos exemplos nos vêm estiolar um pouco a iniciativa privada e fazê-la de fora, porque, estamos pensando muito dependente dos organismos burocráticos no que possa acontecer no Brasil nos próxi - do Estado, tornando um hábito a consulta DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) a esses organismos antes de se tomar uma iniciativa empresarial que poderia ser tomada livremente pelos empresários sem essa opinião. Passo, então, ao terceiro aspecto a intervenção via-direta. É sabido que essa intervenção, que data de muitos anos, não resultou de uma política definida de início, mas foi a soma de decisões isoladas. À medida em que surgiam problemas, se julgou que só poderiam ser resolvidos através da presença direta do Estado. Talvez as primeiras com magnitude tenham sido Volta Redonda e a Vale do Rio Doce. Seguiram-se outras e acabou-se com um complexo de empresas, muitas delas bem sucedidas e muitas outras mal encaminhadas. A partir de certo momento, no entanto, essa solução do Estado como empresário passou a ser também exagerada e foi tomada a iniciativa da criação de inúmeras outras empresas, cuja validade é muito mais discutível do que aquelas que deram origem ao processo de criação das empresas estatais. Dificilmente se discutiria a criação de Volta Redonda na época em que foi criada pelo Estado. Foi, na época, a única usina siderúrgica da América Latina. Muitas sociedades que nem sabemos o nome agora, porque são mais de uma centena, têm uma justificação muito menor. Sob este aspecto da intervenção direta, temos que reconhecer dois problemas: um, da ocupação do espaço indevido que caberia à iniciativa privada, e a análise que cada um fará de um elenco de 150 empresas públicas vai separar 50, outra pessoa separará 70. O limite de cada um não vai coincidir com o limite do outro. É nítido que existe um número de intervenções desnecessárias e melhor estariam em mãos do setor privado. Esse problema da intervenção visa o setor privado. O outro problema é a intervenção em relação à administração pública. O crescimento do número de empresas em poder do Estado fez com que se tomasse extremamente complexa essa sua administração e o seu controle, pela simples presença do número. Ter-se 10 ou 15 empresas estatais e ter-se 150 empresas estatais são coisas diferentes e acabou por tomar-se deficiente o mecanismo de comando, de controle da ação dessas empresas. Daí, uma das razões de elas terem produzido uma proliferação de empresas secundárias, sem que, na maioria dos casos, o Congresso Nacional fosse ouvido. As leis básicas da criação na Companhia Siderúrgica Nacional, da Vale do Rio Doce ou da Petrobrás vieram ao Congresso. Muitas outras empresas foram criadas como subsidiárias dessas sem audiência do Congresso, portanto, ato quase que exclusivo da administração dessas empresas, com o máximo de um aprovo do Ministro da Pasta correspondente. Então, é chegado o momento da revisão desse quadro, não, numa posição radical, considerar desnecessária a intervenção do Estado através de empresas, mas sim definir quais são aquelas que, de fato, se justificam na sociedade brasileira de hoje, porque pode haver alguma que se justificava há 20 anos e hoje não se justifica mais. Um exemplo é a Companhia Nacional de Álcalis, que era uma atividade considerada vital, o Brasil não podia passar sem a dependência de álcalis , não havia quem quisesse fazer barrilha e soda no Brasil. Fez-se, então, a Companhia Nacional de Álcalis. Hoje existem muitas companhias químicas privadas muito maiores que a álcalis. Assim, esta não tem mais razão de ser como empresa estatal, como tinha há 20 anos, quando foi feita. Houve um imobilismo no exame desses problemas. Tentei colocar as questões relacionadas com a limitação dessa intervenção definindo a sua justificativa sobre o anteprojeto do Grupo Temático, para que não ficasse um documento avulso, e sim um documento sobre o anteprojeto que está à disposição dos Constituintes. Passarei às mãos do Presidente e do Relator esta proposta, que consubstancia os retoques que me parecem necessários para que se alcance este objetivo. Não tenho tempo para lê-lo. Deixo-o em poder da Subcomissão e alguns aspectos poderão ser esclarecidos no debate. Em princípio é uma questão de justificar melhor, exigir uma formalização melhor de cada intervenção, fazendo, portanto, que o subsídio que é o dado pelo Governo a determinada atividade, intervindo através de subsídio, tenha que ser votado na Lei Orçamentária de cada exercício, coisa que se fazia, até há pouco tempo, através do Orçamento monetário. Acredito seja suficiente este início de exposição dentro dos limites do tempo. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Passemos às perguntas. Solicito ao ilustre Constituinte Ismael Wanderley leia a primeira pergunta. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – A primeira pergunta é do Constituinte Delfim Netto: V. Ex.ª distingue dois tipos de intervenção do Estado: o Estado como produtor e o Estado como regulador. No caso do Estado produtor, freqüentemente, fora da especificação dos bens públicos, como encontrar mecanismos alocativos adequados? No caso do Estado regulador justificado por falhas do mercado, deixamos sempre de pensar que a regulamentação parte de hipóteses de que o Estado não falha. Todos sabemos que as falhas do Governo são iguais ou maiores do que as falhas do mercado. Corno enfrentar este problema? O SR. ANTÔNIO DIAS LEITE: – A pergunta do nosso Presidente Delfim Netto se justifica; essa proposição me parece oportuna, reduzir ao estrito necessário onde as vantagens da presença do Estado são nitidamente superiores aos inconvenientes que ela traz. Se fizermos isto, e sabemos que temos esses inconvenientes, primeiro da ação da empresa não em obediência aos mecanismos de regulação da economia natural, estaremos minimizando os defeitos. A sua correção acho que é impossível. No entanto, com uma clareza maior no relato pelos administradores dessas empresas à Nação, é coisa que concorreria muito para que isso se fizesse. Estamos, por exemplo, agora, nesta emergência inclusive, ansiosos com o que está acontecendo na Amazônia em termos de petróleo, e não temos um relato claro da Empresa, da Petrobrás, sobre o que está acontecendo. Eu, particularmente, sinto-me insuficientemente informado sobre o que está sendo feito pela Petro- 28 brás na Amazônia. Essa cobrança cabe exatamente agora, ao Congresso, logo que terminar a sua tarefa constituinte. Em relação à regulamentação, é necessário fazer uma revisão total das leis e decretos em vigor. Inclusive, certa feita, ao tempo do Ministro Hélio Beltrão, S. Ex.ª fez uma modesta tentativa de revogar coisas que eram regulamentares, exigiam providências, licenças e autorizações e não tinham quase que utilidade nenhuma. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta da Constituinte Raquel Cândido: Quais os motivos o levaram à criação da malfadada portaria nº 195? Ela ainda é necessária? Como e por que a mesma foi implantada com o uso das Forças Armadas, que são o braço violento da presença do Estado na economia? Ou não considera as Forças Armadas como presença do Governo na interferência entre os negócios particulares na disputa de propriedade? O SR. ANTÔNIO DIAS LEITE: – Não sei qual é a portaria nº 195. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – A portaria nº 195, Sr. Ministro, é aquela que instituiu a única província estanífera neste País e, conseqüentemente, ainda está vigente. Como V. Ex.ª acabou de fazer um reparo, a nível de história nacional, dizendo que se trata de propostas muitas vezes não mais necessárias hoje, concito, neste momento histórico, porque naquela época eu tinha apenas 16 anos, hoje tenho 36, se ainda é necessária a portaria que cria uma província estanífera neste País, precisamente na Amazônia, para ser quartel-general de grupos estrangeiros que diziam que criariam um setor industrial na área da Amazônia e são passados cerca de 20 anos e nenhum processamento de fundição sequer foi feito naquela Região. O SR. ANTÔNIO DIAS LEITE: – O assunto da província de estanho em Rondônia decorria, em primeiro lugar, de uma incapacidade de o Departamento Nacional da Produção Mineral definir as áreas, porque não havia carta geográfica da Amazônia e esta só foi feita depois com o projeto RADAM. As concessões de pesquisa eram superpostas, havia inúmeras concessões coincidentes, até três em alguns lugares; havia um problema entre as empresas de mineração – superposição de áreas, pela ausência de carta; havia a presença de grupos de garimpeiros espalhados por várias áreas, dentro e fora de concessões. Estes eram os problemas da ocasião. Àquela época procurou-se dar uma disciplina, pois não se poderia resolver o problema que já existia em todos aquelas áreas superpostas. Pressionaram-se várias empresas no sentido do entendimento para a repartição das áreas que haviam requerido e a instalação de um centro do Departamento Nacional da Produção Mineral no local, para acompanhar os acontecimentos. Havia, na questão da garimpagem, duas figuras completamente distintas, que acredito hoje ainda existam: os garimpeiros, as pessoas físicas que labutavam na área tinham o tino da descoberta do encaminhamento; e havia os exploradores dos garimpeiros. Na ocasião, eram os exploradores 29 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) dos garimpeiros que tornavam difícil o relacionamento em Rondônia. Eram pessoas que faziam um campo de aviação e, dominando o mesmo, mantinham os garimpeiros mais ou menos num trabalho prisioneiro, escravo, naquela área. A Sr.ª Constituinte Raquel Cândido não tinha idade nessa ocasião, mas era isso o que se passava. Esses exploradores, que não passam de falsos empresários, porque não se organizam como tais, mas querem ter os direitos de uma firma organizada, é que exerciam essa exploração. Então, a intervenção se deu por este motivo. Quanto a empresas multinacionais, que eu saiba só há uma. Terceiro, quanto à promessa de fundição, não me lembro de ter havido essa promessa, jamais. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Sr. Presidente, posso fundamentar algumas partes das colocações do Ministro? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Pois não. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – A província estanífera do Estado de Rondônia, data venia, Sr. Ministro – eu era uma moradora, de 16 anos, em Santa Bárbara, um barranco conhecido, que talvez V. Ex.ª nunca tenha chegado nem perto – foi discutida naquela época, com fundamento de um processo de descentralização, de industrialização no País. V. Ex.ª – volto a dizer – foi muito feliz quando fez a colocação de que deverão ser revistos coisas que foram boas em outra época e não são boas hoje. Insisto na pergunta. Ainda mais, quero aqui contraditar, com veemência, esta colocação feita por garimpeiros que apenas têm o tino de encontrar as jazidas e não podem adonar-se dos mapas. É muito questionável, hoje, no País, no momento em que vivemos, e, ao mesmo tempo, fica difícil, quando temos intelectuais do quilate de V. Ex.ª, que embora reconhecendo que a história mudou, continuam com a mesma visão de que os garimpeiros estão, hoje, mal – organizados e que são sugados por donos de aeroportos. Isso é uma má informação, creio eu, Sr. Ministro. Acontece, hoje, que os diques colocados por aquela multinacional concedida na província estanífera, especialmente em Rondônia, num setor denominado Campo Novo, já não servem mais para a empreitada da empresa multinacional que retirou seus diques de Campo Novo e sobrou o rejeito colocado, por nós denominado de "vômito das multinacionais", sequer esses "vômitos" abandonados em plena selva, com escolas, casas, hospitais e caldeiras, deixam com que trabalhadores, que detêm o melhor salário desta Nação e são aplacadores da convulsão social, possam trabalhar. Ainda peço a V. Ex.ª responda diante desta realidade: como V. Ex.ª vê esse fato concreto, as multinacionais já abandonam, porque não se faz mais necessária a sua presença ali, para os seus grandes investimentos nas suas máquinas. A grande fundamentação da Portaria nº 195 foi a descentralização industrial, e fomos ludibriados na Amazônia, porque até hoje estamos esperando, um forno de fundição; a portaria foi fundamentada no processo de industrialização. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – O tempo de V. Ex.ª está esgotado. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Pergunto se é necessária ainda? O SR. ANTÔNIO DIAS LEITE: – É evidente que o meu conhecimento é da época, por isso me referi à época. V. Ex.ª insiste nas multinacionais. Que eu saiba, só há uma, a BRASCAN. Insisto que prossegue a exploração do garimpeiro pelos donos de barranco, pelos empresários de meio caminho, que não são industriais nem garimpeiros; o garimpeiro é a vítima dos exploradores do seu trabalho. Esta tese, a mantenho, até prova em contrário. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Perguntas do Constituinte Vladimir Palmeira: Primeira: o Sr. afirmou que há empresas estatais que se justificaram há 20 anos, mas que hoje já não têm sentido. Existem casos contrários: empresas que há 20 anos não poderiam existir na forma estatal, mas que hoje seriam necessária. Pergunta: no caso de atividades econômicas novas, revela-se, aqui, necessária à intervenção direta do Estado? Segunda: o Sr. acha que a intervenção do Estado nasce da incapacidade da economia dita de mercado? Terceira: qual o período da História do Brasil onde foi mais relevante a criação de empresas estatais desnecessárias? O SR. ANTÔNIO DIAS LEITE: – É evidente que pode surgir, num momento, necessidade de novas intervenções do Estado sob a forma empresarial – não vejo nenhuma neste momento, mas pode existir –, ao mesmo tempo em que se justificaria estar o Estado se desfazendo de outras que não se justificavam, nunca, ou que deixaram de se justificar. Não há mal em que haja uma mudança de rumo no sentido da concentração e que, ao mesmo tempo, esteja criando outras. A intervenção do Estado sob a forma de empresas, parece-me, se justifica pela dimensão. Por exemplo: Volta Redonda, foi criada porque a dimensão de uma usina integrada a coque, naquela ocasião, ultrapassava, de longe, a capacidade de qualquer empresa nacional ou grupos de empresas privadas nacionais de fazê-lo, e se julgava, à época, que não deveria ser da iniciativa internacional a construção da primeira usina de aço no Brasil. Segundo, por questões de desinteresse – tanto do lado interno como do lado externo – do setor privado por alguma atividade que não possa ficar em retardamento, em relação à evolução da economia do País. Terceiro: questões de segurança de suprimento de algum produto que seja fundamental para o País. Não vejo, no momento, nenhuma atividade que justifique a criação de uma nova empresa, mas não vejo contradição que se crie mais uma, em determinado momento, quando se está desestatizando alguma outra. A história mais recente foi a criação de maior número de empresas desnecessárias. Foram todas relevantes na época, inclusive foram citadas como exemplo. Não acho que isso tem a ver com a economia de mercado, nem positiva nem negativamente. E um problema de capacidade financeira e disposição empresarial para realizar aquilo ou não, em função, principalmente, de capital. Não creio que tenha relação com economia de mercado. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Joaquim Bevilácqua. A revisão axiológica de preços pressupostos para um congelamento preconizado por V. Ex.ª demandaria a intervenção objetiva do Estado com critério subjetivo quanto parâmetros a serem utilizados. Es se congelamento ou tabelamento acabou sendo feito através do Plano Cruzado sem a devida revisão axiológica, quer antes ou depois. Como vê V. Ex.ª essa intervenção? Seus sucessos e insucessos? Como veria novamente? Como situar o Estado no tocante a preços e salários? O SR. ANTÔNIO DIAS LEITE: – Com relação ao congelamento, é sabida a minha posição, porque manifestada antes do Plano Cruzado e numa proposição semelhante, que se fundava no controle do processo auto-alimentador da inflação, baseava-se num reequilíbrio de preços prévio. Esse reequilíbrio de preços prévio não foi feito, de modo que o congelamento ou o tabelamento acabou sendo feito no Plano Cruzado, com uma economia de distorções. Vejo essa intervenção da mesma forma que a vi antes e logo após, isto é, foram cometidos alguns erros fundamentais na execução, e o principal deles, a meu ver, o não-reequilíbrio de preços relativos. No entanto, é sabido que, se temos a intenção de manter um sistema de mercado, e acredito que esta era a intenção, o congelamento só poderia ter sido feito por um prazo limitado; mesmo que reduzido a um número relativamente pequeno de itens, deveria ser por um prazo limitado, mas foi feito por um número excessivo de itens e por um prazo muito longo. Em relação à corrida de preços e salários, não chegaria a incluir isso no processo de intervenção, como estaria posto nos princípios gerais, porque já é um problema de prática governamental, que, em si, representa um instrumento de política econômica, e não uma decisão de intervir na economia para alterar alguma coisa. No entanto, existe uma política básica de salário real; essa política básica de salário real, de elevação constante do salário real, independentemente da corrida de preços e salários, que é mecânica, esta política faz parte de um processo de intervenção, no qual o Estado estaria agindo no sentido de alterar a distribuição de renda. Não sei se respondi. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª Está encerrado o prazo desta audiência. Todos agradecemos ao ilustre Ministro e Professor Antônio Dias Leite pela magnífica exposição que realizei. Muito obrigado a V. Ex.ª em nome de toda esta Subcomissão. (Palmas.) Temos a honra de convidar o Prof. Mário Amato, Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. O SR. MÁRIO AMATO: – Sr. Presidente da Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime de Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, Constituinte Antônio Delfim Netto; Sr. Relator, Constituinte Virgildásio de Senna; Srs. Constituintes, minhas Senhoras e meus Senhores: DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Limitando minha intervenção ao tema proposto – "Princípios Gerais da Ordem Econômica: Intervenção do Estado; Preservação de Valores, de Interesses Comuns e Individuais; Conveniência e limites" – pretendo enfocar alguns aspectos que me parecem importantes do ponto de vista da minha experiência empresarial. Sem dúvida, nesta Constituinte, e em especial nesta Subcomissão, teremos o embate entre os defensores da economia de mercado e os apóstolos do intervencionismo. Ao pretendermos estabelecer, na Constituição futura, uma ordem econômica, desejamos, na verdade, regulamentar a atividade dos agentes econômicos, face às estruturas de mercado. O estabelecimento das regras que norteiam a ordem econômica implica escolha: reduzir a iniciativa do Estado, ou a de seus administrados. Parece-me que ao Estado deve caber o apoio às empresas privadas e a fiscalização da exploração das atividades econômicas, permitindo que a economia se organize segundo as leis de mercado. Permitam-me citar, a propósito, palavras pronunciadas sete séculos antes de Cristo pelo pensador chinês Lao-Tsé, e que permanecem, em sua simplicidade, extremamente atuais: "Quando os povos são submetidos em excesso aos governos, tornam-se cada vez mais pobres". "Quanto maior o número de leis e decretos, mais infratores haverá." "Se os governos forem excessivamente interferentes, haverá constantes violações da lei." De fato, o emaranhado de leis, decretos, portarias, regulamentos, instruções normativas, atos declaratórios e até normas em branco, cria uma verdadeira "gaiola de ferro" de submissão à tecnoburocracia. É preciso que caiba ao Estado o prévio ônus de demonstrar a necessidade de atuar. Ou seja: que sua presença na atividade econômica é indispensável em face do bem comum. Outra vez, os Senhores vão-me permitir uma citação. Nesta oportunidade, de Abraham Lincoln, cujos ensinamentos têm inspirado, há mais de um século, a própria essência do pensamento democrático no mundo ocidental. Dizia ele: "Não podereis criar a prosperidade desencorajando a poupança." "Não podereis ajudar o assalariado aniquilando o empregador." "Não podereis ajudar o pobre arruinando o rico." "Não podereis formar o caráter e a coragem desestimulando a iniciativa e a independência:" Na verdade, Senhores, temos de reconhecer que a História mostrou que o Capitalismo é um sistema extraordinariamente persistente, tenaz e dinâmico, amoldando-se às mais diferentes circunstâncias, inclusive atendendo, melhor do que nenhum outro, às necessidades sociais. Sou daqueles que entendem não ser a regulamentação e a intervenção excessiva do Estado a solução dos problemas que enfrentamos. A descentralização, de outra sorte, não é o caos, nem exclui o planejamento, no modelo de economia de mercado. Urge, entretanto, dar disciplina jurídica estável aos planos do setor público e, especialmente, limitar-se o poder do planejador. A economia moderna é demasiadamente complexa para permitir uma planificação rígida. Por mais que o Estado forneça sua visão falível do desenrolar dos fatos econômicos futuros, o melhor planejamento é, ainda, aquele que consulta a realidade do mercado e o interesse da sociedade. O tratamento constitucional do tema há de ter como objetivo evitar a legislação conjuntural, bem como o experimentalismo econômico inconsistente. Deve-se coibir, também, a usurpação do poder econômico pelo agente estatal, que venha a interferir na esfera estrita da reserva privada. Em outras palavras: à reserva de mercado deve-se contrapor a reserva de iniciativa. Haverá, então, um campo delimitado em que o Estado não poderá atuar sem que isso se constitua em usurpação. E, para que essa usurpação não se configure, a futura Constituição deverá enfatizar, também, os direitos e garantias da empresa privada. No que toca aos interesses comuns e individuais, os tempos estão a exigir que sejam rigorosamente asseguradas as relações obrigacionais privadas; de maneira expressa. Vale dizer: garantir a liberdade de contratar. Conseqüentemente, na disciplina das atividades econômicas, devem ser mantidos, com rigor, os princípios do estado de direito. De nada adianta a Declaração de Direitos se o seu exercício for obstaculizado por um Poder Judiciário que não seja o que todos desejamos: dotado de autonomia administrativa e orçamentária, e desse modo politicamente independente, ainda mais, acessível a todos. Dentro deste critério, não sou contra que se venham estabelecer juízos privativos para a solução dos conflitos econômicos. Resumindo os conceitos que pretendi ter formulado perante essa ilustre Subcomissão, Srs. Constituintes, devo dizer que nós, defensores do regime de livre empresa, desejamos objetivar condições de trabalhas, sem a atividade sufocante do Estado, de modo que o lucro necessário e legítimo encontre a finalidade social da empresa. Deste modo, deverá caber preferencialmente à empresa privada a exploração das atividades econômicas. Em caráter excepcional, poderá o Estado desempenhar atividade econômica, autorizado por lei especial. Devo ser livre a associação de capitais e pessoas para a exploração da atividade econômica. Deve ser garantida a liberdade de concorrência, bem como a igualdade entre as empresas. A propriedade deverá ter função social, de modo que a lei reprimirá o abuso de poder econômico, especialmente quando caracterizado pelo domínio dos mercados, a eliminação de concorrência e o aumento arbitrário dos lucros. Permitam-me enfatizar: a eliminação da concorrência e o aumento arbitrário dos lucros. O direito de propriedade deverá ser garantido. O direito de propriedade deverá ser garantido. Não poderá haver expropriação, salvo em casos definidos previamente em lei, de necessidade ou 30 utilidade pública ou de interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro. Ao Estado não será permitido intervenção no processo econômico que resulte em limitação à rentabilidade da empresa privada, dificuldade para o seu desenvolvimento tecnológico ou restrição a sua livre gestão. Ao trabalhador deverão ser asseguradas condições de trabalho e de vida compatíveis com a dignidade humana. Isto o que me cabia apresentar aos Srs. Constituintes. Ao agradecer o honroso convite a mim formulado para comparecer diante desta Subcomissão, quero manifestar minha expectativa de que tenha, de alguma forma, contribuído para que os Srs. Constituintes atendam a seu compromisso histórico de formular uma Constituição que reflita fundamentalmente os anseios de liberdade da Nação brasileira, inspiração básica de toda democracia. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Vladimir Palmeira. O senhor declara, na página 2: "É preciso que caiba ao Estado o prévio ônus de demonstrar a necessidade de atuar. Ou seja, que sua presença na atividade econômica é indispensável em face do bem comum." Na página 5, o senhor coloca: "A propriedade deverá ter função social." Não caberia, portanto, que a empresa privada demonstrasse a necessidade de sua intervenção do mesmo modo?" O SR. MÁRIO AMATO: – O Estado deve ser indutor, o Estado deve assumir a responsabilidade social em funções onde a iniciativa privada não tem condições de exercer: energia, transporte, enfim, todos aqueles setores onde a iniciativa privada, por razões de não ter rentabilidade, e ser do interesse público e da segurança nacional, não deve fazer. Ela deve ser indutora na parte que se refere àquele processo de desenvolvimento, inclusive o tecnológico. Somos contra qualquer tipo de incentivo e subsídio ad perpetuam. Como uma criança que precisa de colaboração e de ajuda até à sua independência, o Estado deverá ter essa função. Uma vez essa criança tenha condições de sobrevivência, ela precisa ser libertada. Não aceitamos capital sem risco e não aceitamos o Capitalismo sem capital. Uma firma, na iniciativa privada, só se pode desenvolver em três hipóteses: através do lucro; através da poupança interna; e através da poupança externa. Evidentemente todos sabem a situação da poupança externa e a carência da poupança interna do Brasil. Por conseguinte, a iniciativa privada procura, única e exclusivamente, o lucro justo, honesto e social para o desenvolvimento das suas atividades. Tenho repetido, algumas vezes, que um país vale pela qualidade do povo que possui, e progride na medida dos seus empresários. A segunda pergunta – a função social da empresa, já não mais se concebe o empresário rico e a empresa pobre. A empresa deve-se constituir num bem social, geradora de emprego, de bem-estar, inclusive na ecologia onde está situada. É este o sentido de um Capitalismo participativo moderno que defendemos. 31 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Gilson Machado: O Senhor prega a livre liberdade de concorrência. Essa livre liberdade de concorrência também é defendida para o mercado internacional?" O SR. MÁRIO AMATO: – O dinamismo do Mundo não nos permite fazer uma muralha nas nossas costas de 600 léguas e ficarmos indiferentes ao que ocorre no Mundo. A atividade tecnológica do Mundo é de tal sorte que as novidades, os novos inventos, se tornam obsoletos na sua execução. Quando sai um tipo de computador, entre a idéia e a realização decorrem, em alguns casos, vários anos. Um avião, por exemplo. O avião que está sendo utilizado hoje já está obsoleto na prancheta há quatro, cinco anos. Por conseguinte, não querer reconhecer um Estado adulto, do empresário brasileiro aos interesses internacionais, é um complexo de inferioridade. Somos adultos suficientemente, porque o nosso País, que é a 48ª potência do Mundo, ao passar nas dez primeiras, deve ter consciência da sua força e da sua capacidade para não se submeter aos interesses adversos ou perversos do mundo. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Luiz Salomão: "V. Ex.ª acredita que, se depender da autorização do Congresso Nacional, mediante lei, a criação, e extinção, a transformação de objeto, aquisição e transferência do controle de entidade estatal de produção, a sociedade poderá controlar adequadamente o Estado com o agente de produção? Não seria preferível que a sociedade definisse os campos que devem ser reservados à iniciativa do Estado, e aquele do capital privado?" O SR. MÁRIO AMATO: – Talvez não tenhamos sido muito claro. O Estado tem que ser realmente o indutor. Quando a iniciativa privada tiver um projeto de real interesse para o desenvolvimento e gerador de emprego, ela precisa receber algum empréstimo, algum incentivo ou algum subsídio do Estado. Toda vez que o Estado tenha uma necessidade para o desenvolvimento integrado da Nação, ele projeta este desenvolvimento no campo da segurança social, no campo social da educação, no campo da energia e do transporte, da siderurgia e da química, então, ele terá que assumir esse compromisso. Evidentemente, assim que a iniciativa privada tiver condições de absorver, somos de opinião de que, pela experiência do Mundo, e as transformações que estão sendo processadas nos países altamente civilizados, o Governo tem provado, por fatores os mais variados, do conhecimento de V. Ex.as, o Governo tem sido um mau administrador e um péssimo gerador, ocasionando déficits públicos que toda a Nação paga. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Vladimir Palmeira: "O Senhor acha que a comparação entre as condições sociais de Cuba e do Brasil é um exemplo de sua afirmação de que o Capitalismo atende melhor às necessidades sociais da população?" O SR. MÁRIO AMATO: – Não só advogamos como acreditamos piamente e demonstramos. Lamentavelmente, quando se fala da iniciativa privada e do Capitalismo se fala de exceção e não se fala de regra. Se V. Ex.ª for inopinadamente a São Paulo, em qualquer das empresas que representam 95% do Capitalismo, e verificar as condições dos nossos trabalhadores, o meio e o que eles recebem, verificará que a minha afirmativa é incisiva, eloqüente e incontestável. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Albano Franco: "Sem liberdade econômica é possível a liberdade política"? O SR. MÁRIO AMATO: – A liberdade política tem que ser absoluta e irrestrita. A liberdade econômica, embora advogue de que deva assim ser feita, num País como o Brasil ainda precisa haver mecanismos, inclusive disse na minha apresentação, que devem ser controlados, de forma que se evitem os monopólios, os oligopólios e lucros excessivos por cartéis. Por conseguinte, deve-se exercer a liberdade. Por outro lado, não pode ser exercida num simples desodorante, fixar preço para um simples desodorante, palha de aço, ceras etc. Isso é um cerceamento na liberdade de produzir, de negociar e de mercado. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Luiz Salomão: "A falta de clareza do que seja a função social da propriedade e da empresa tem permitido a manutenção do latifúndio improdutivo e das empresas sonegadoras. O que V. Sª entende como função social de propriedade e da empresa?" O SR. MÁRIO AMATO: – A empresa tem a função social na medida em que tenha lucros e é geradora de empregos. Quando se fala de perversidade de alguns empresários, fala-se de uma minoria. Temos péssimos trabalhadores, ótimos trabalhadores; péssimos políticos, ótimos políticos, temos péssimos empresários, ótimos empresários. Por conseguinte, a regra ainda, felizmente, é de que uma maioria é que faz a grandeza deste País. Não é à toa que todos, apesar da condição adversa em que o Brasil se encontra hoje, os grandes empresários ainda pretendam aplicar no Brasil, porque acreditam na grandeza do seu povo, na sua capacidade, no poder de empreender e no que pode fazer o povo na sua acuidade social, e na sua benevolência, eu diria assim, na sua humildade, na sua confiança, e na sua formação humana. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Vladimir Palmeira: "O Senhor acha que, se uma empresa elimina a concorrência através da sua gestão, tornando-se, por exemplo, um monopólio, o Estado, mesmo assim, deveria intervir para garantir a empresa ineficiente, ou eliminando do mercado uma empresa que permite que o monopólio se estabeleça? O Governo deve ajudar as empresas privadas a se manterem, mesmo ela atuando de forma ineficiente?" O SR. MÁRIO AMATO: – Cabe ao Estado proteger a micro, pequena e média empresa. Cabe ao Estado proporcionar a possibilidade de uma concorrência, e isto é feito através de leis justas, insofismáveis e meridianamente clara. Por isso, na nossa declaração fizemos, e repetimos enfaticamente: o lucro extorsivo através de contratos, cartéis, monopólio ou oligopólios, este deve ser condenado. É da natureza humana a exploração do homem pelo homem. Cabe ao Estado um controle nesta área, para que possa sobreviver. Para V. Ex.ª ter uma idéia da vontade da iniciativa privada neste País, nos primeiros 6 meses do Plano Cruzado, 800 mil micros e médias empresas se instalaram no Brasil. Então, é na fluidez do mercado, é na fluidez de uma regra de jogo clara, na segurança que se proporciona a essas empresas e se estabelece a concorrência. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Por exemplo, elas estão falindo agora. O Senhor acha que o Estado deve intervir para sustentar as empresas que estão falindo? O SR. MÁRIO AMATO: – Elas não estão falindo porque são inoperantes. Estão falindo porque mudou a regra do jogo. Por conseguinte, se foi mudada a regra do jogo pelo Governo, cabe ao Governo dar a proteção necessária para a sobrevivência, até que elas entrem no mercado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Não havendo mais perguntas, agradecemos ao Dr. Mário Amato a excelente exposição que nos fez. A Subcomissão fica muito grata por sua participação. (Palmas.) Tenho a honra de convidar, agora, o Dr. Milton dos Reis, Presidente da Confederação Nacional dos Diretores Lojistas. O SR. MILTON DOS REIS: – Sr. Presidente da Subcomissão, Constituinte Antônio Delfim Netto, Sr. Relator, Constituinte Virgildásio de Senna; Srs. Constituintes, Senhoras e Senhores: No momento atual, em que o País e o Mundo se debatem na escolha de alternativas, para enfrentar as bruscas mudanças de diretrizes econômicas e sociais, o papel do empresário do comércio se torna tarefa grandiosa. Ultrapassa o dia-a-dia, e se mede pela defesa da sobrevivência da livre iniciativa, como valor permanente para a vida do homem, com paz, bem-estar e Justiça Social. A atividade comercial torna-se cada vez mais complexa, em função das imprevisíveis variações da conjuntura econômica nacional. Obriga as empresas, de todas as áreas, a multiplicarem esforços para acompanhar e, conseqüentemente, neutralizar o impacto de novas situações, na maioria delas carregadas de desafios ameaçadores. Aos empresários criativos sempre resta a alternativa de jogar com a situação. O momento exige que o empresário não abra mão do direito e dever de debater e propor soluções para questões que são de vital importância para a sobrevivência das empresas. Isso, só conseguiremos com a união de todos, com o consenso de idéias e convergências de opiniões. Quando o País entra num momento de crise, porque a situação externa está ruim, porque a inflação cresce, porque a população reclama melhores salários e existe certa incerteza se a eleição direta será dentro de 4 ou 5 anos e a Constituinte está aí, há uma dúvida muito grande na consciência das pessoas. Qual o papel do Estado na ordem econômica, como ficam a produção, os investimentos, a oferta de emprego, as relações de troca? DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Para demonstrar nossa afirmativa, basta assinalar que a criação, pela autoridade, de qualquer restrição pode comprometer um desempenho eficaz, sob o aspecto operacional. Temos tido repercussões sobre a gestão estratégica e operacional das empresas. Assim, é necessário que nós todos reconceituemos nossos papéis, vamos admitir as nossas adversidades econômicas como o desemprego, mercados em declínio, encolhimento do capital, produtividade em declínio, alta taxas de juros e excesso de intervenção do Estado, ou vamos buscar um sistema democrático que cria por si mesmo uma sociedade forte e viável, com uma economia de mercado calcada na livre iniciativa? A força de uma economia de mercado vem justamente da diversificação. Milhares de pequenos lojistas, milhares de pequenos proprietários de terras, milhares de fornecedores, milhares de bancos, incluindo bancos regionais e locais. Na economia americana, por exemplo, temos 15.000 bancos, e esta economia é 10 vezes maior que a economia brasileira, ou seja, no Brasil poderiam existir 1.500 bancos, e nós só temos em torno de 80 Bancos. Estudos recentes convenceram o governo americano de que são as pequenas empresas as responsáveis pela criação de novos empregos pela maior parte do crescimento econômico da nação, que são ainda mais produtivas e inovadoras. Desta forma, as micros, pequenas e médias empresas devem ser apoiadas, sendo-lhes facilitado o acesso ao capital de risco, ao crédito e à tecnologia. Devem ser simplificadas as normas e procedimentos que regulam sua constituição e funcionamento. Há muito tempo os lojistas deste País pedem apenas que os deixem trabalhar, que os deixem gerar empregos. Por outro lado, devemos democratizar as empresas estatais, porque, apesar de pertencerem ao povo, são do Governo. Então, o Governo deveria vender participação acionária para o povo em geral, para cada trabalhador, cada funcionário público... Cada cidadão deveria ter participação na Petrobrás, Vale do Rio Doce, Eletrobrás etc. Isso só se faz com uma economia de mercado, com um mercado de capitais forte, onde se colocam as ações, as pessoas vêm e compram, sabem que as estatais estão fora do jogo político, que elas estão sendo geridas profissionalmente, sem prejuízos, inclusive porque os recursos são escassos, e temos que jogar esses recursos para a área social. A atuação do Estado como empresário deve-se pautar pela essencialidade ou pela sua importância estratégica. Assim, os recursos do Estado devem ser alocados a bens públicos típicos, que são caracterizados quando: "os benefícios não estão limitados a um consumidor qualquer; não há rivalidade no consumo desse bem; o consumidor não é excluído no caso de nãopagamento". Quando o contrário, deve ser caracterizado como um bem privado, e à iniciativa privada compete fazê-lo. Hoje, em sentido amplo, a "máquina governamental" constitui todo o aparato da intervenção: estatais do ramo produtivo, administração direta e indireta, autarquias, bancos oficiais, agências de fomento. O déficit público é apenas o sintoma de que a máquina não vai bem, ajustes fiscais sem reforma do setor público não resolvem. A máquina deve tornar-se menor, mais breve, mais ágil e eficiente. Um reordenamento dos custos da intervenção indireta e dos gastos públicos na área social se faz necessário. O grande desafio está na presença avassaladora do Estado, cuja ação desenvolta e ilimitada nos setores da vida nacional determina, restringe e subordina o campo de ação de todo o sistema privado. Sistematicamente, as empresas mais instrumentadas procuram obter ou preservar reservas de mercado, em detrimento das menos dotadas, para, com isso, poder manter o seu crescimento continuado. A Confederação Nacional dos Diretores lojistas, que representa 1.500.000 empresas, responsáveis por 6 milhões de empregos diretos, contribuindo com 41% da arrecadação do ICM no País, sempre lutou para o bem da Nação, pela formação de uma frente ampla de oposição à presença avassaladora do Estado. Esta reação vem exigindo o restabelecimento de condições concorrenciais adequadas, de forma que os organismos e estabelecimentos estatais se subordinem às leis de mercado, despidos de facilidades, garantias, proteção e franquias que os tornam invulneráveis e, por isso mesmo, imbatíveis. Qualquer país que busca uma economia saudável sabe que "quanto menos governo, melhor!" Mais do que isto, devemos debater e reivindicar a descentralização do Governo. A centralização está superada e até nas grandes corporações privadas nacionais a matriz não mais controla as empresas regionais com mão-de-ferro. Os negócios brasileiros, em particular, estão mudando seu enfoque do nível federal para o estadual, e no plano de governo percebe-se a tendência de os governos estaduais e municipais ficarem cada vez mais agressivos e independentes diante do Governo Federal. A descentralização irá muito além das esferas política e geográfica, estará estruturando a transformação das relações e instituições sociais, o que, ao nosso ver, e acostumados a lidar com um segmento tão pulverizado e descentralizado como o comércio, é muito bom, é salutar. Além disso, não tenham dúvida, os brasileiros começarão a se desligar de instituições que os desiludem e vão aprender a capacidade de agir por si mesmos. Não se assustem se as pessoas desistirem de tentar alcançar objetivos, através da disputa entre PMDB e PFL. Tirarão a essência do poder político das mãos de nossos representantes e partirão para a votação direta de projetos de comunidade e plebiscitos e atividades políticas no Município. São os cidadãos e não os políticos que decidirão sobre determinadas ações com as quais convivem. É a democracia participativa e não a democracia representativa. As turbulências que afetam os governos e as empresas já são previsíveis: – competições mundiais; – expectativas de clientes buscando desempenho, qualidade e preço; 32 – mudanças na sociedade, como reivindicações dos trabalhadores, o combate à poluição etc; – regulamentação governamental, como barreiras tarifárias etc.; e – o mundo "ligado", através da comunicação via satélite. Neste quadro, devemos ser flexíveis, para enfrentar as turbulências nos campos social, político, econômico e técnico, e tratar bem as estruturas, as pessoas e os processos. Nós não poderemos resolver tudo. Deveremos alinhar prioridades e sermos suficientemente abertos, para termos a sensação do que é importante. Se desejarmos melhores dias para este País, devemos tratar das mudanças e pessoas agora. Levam-se 4 a 6 anos para mudar. Necessitamos de decisões corretas rapidamente no nível estadual e municipal. Potencialmente temos problemas em todos os níveis. No plano da empresa, devemos utilizar a tecnologia como catalisadora para mudar as pessoas. Empresas menores já provaram que são ágeis, eficientes e boas na administração de custos, e capazes de sobreviver às mais profundas crises. O mundo mudou em torno das empresas, e estas estão modelando a situação, ao invés de reconhecer deliberadamente as mudanças. Não haverá mais lugar para instituições gordas e sonolentas. Devemos buscar organizações mais planas, com menos camadas, pequenas, flexíveis e informais. Economia de escalas menores, mini-usinas de aço, por exemplo. Os líderes das empresas dos anos 90 deverão olhar para fora e para dentro da organização, sem serem autocráticos. Se houver ambição, nós vamos sofrer alguma dor, para que as coisas melhorem. A democracia política só se sustentou em países onde floresceu a iniciativa privada. Temos que fazer deste País uma democracia econômica, que é indissociável da democracia política. Temos que lançar os fundamentos de uma democracia econômica, e esses fundamentos têm que ser buscados na economia de mercados; a liberdade de oportunidades para empreender, gerar empregos, acumular lucros para financiar investimentos, é multiplicar os empregos no futuro por uma classe empresarial forte capitalizada, competitiva e criativa. Portanto, Srs. Constituintes precisamos ter condições macroeconômicas estáveis, estabilidade monetária, afastando o fantasma da inflação, regras tributárias estáveis, permitindo um planejamento empresarial, disciplina nas contas públicas, evitando o endividamento acelerado que pressiona os juros e atrofia o investimento privado; equilíbrio das contas públicas, cujos efeitos são devastadores para milhares de empresas, porque a inflação, juros altos contaminam o ambiente respirado pela livre iniciativa e o desequilíbrio fiscal chega a tal ponto que sua eventual correção acaba gerando processo recessivo; redirecionamento dos gastos públicos, principalmente quando o Governoempresário está hipertrofiado e o Governo social, subdimensionado. Devemo-nos preocupar com educação, saúde, segurança e saneamento. Devemos eliminar a tendência histórica da repetição de ciclos de evo- 33 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) lução política marcados por breves reconquista da democracia, mas que possibilitam o ressurgimento de reivindicações sociais e republicanas. Assim, ganham eco as reclamações de líderes dentro da Nação popular que geram os temores na sociedade. Tal situação leva a uma ação repressiva e ao enfraquecimento da democracia ainda frágil e inconsistente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Virgildásio de Senna: "No quadro atual, com o sistema financeiro, a área bancária cobrando taxas de juros consideradas extorsivas para os produtores e para a área de intercâmbio, qual o papel do Estado na visão do depoente?" O SR. MILTON DOS REIS: – Na realidade, o Estado não deveria chegar a essa parafernália que estamos vivendo, isso deveria ter sido devolvido há um ano. Hoje o papel do Estado é resolver, primeiro, a sua situação. Se o Governo não resolver o problema da sua casa, não vai conseguir resolver o problema dos juros. Não adiantam medidas como as que estão saindo, que seria dar um Melhoral para quem está com câncer. Isso não vai resolver o problema do câncer com o qual estamos convivendo. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Luiz Salomão. "V. Ex.ª reproduz a falácia de que o aparelho do Estado é responsável pelo déficit público, quando já está comprovado que tal déficit é oriundo, em quase 99%, da rolagem da vida pública. A entidade que V. Ex.ª representa tem alguma reflexão sobre a administração da vida pública, pois, na atuação em defesa dos bancos privados e dos grandes aplicadores de capital, o Banco Central está mascarando a avaliação honesta das estatais?" O SR. MILTON DOS REIS: – A entidade que representamos é independente, ou seja, esse 1 milhão e 500 mil empresas brasileiras sempre foi um segmento totalmente independente, é um segmento que independe do Governo. O problema das estatais é de uma gravidade que se vem agravando já há vários anos, e não é de uma , hora para outra que vamos resolver o problema das estatais. O problema das estatais deve ser resolvido através de uma reforma administrativa, reforma essa que haveria de diagnosticar ou detectar os problemas, tanto nas estatais como em todos os órgãos públicos. Daí se possa fazer, conseqüentemente, uma reforma tributária. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Ainda na pergunta do Constituinte Luiz Salomão. "Gostaria de solicitar à Mesa, ao nosso Vice-Presidente, que lesse a tabela que fornecemos nesta pergunta, para esclarecer, de vez, essa falácia à que me referi, onde estamos mostrando os aumentos da dívida pública em milhões de cruzados e a cobertura de despesa do Governo Federal." O SR. MILTON DOS REIS: – Constituinte Luiz Salomão, no período de 82/83, o aumento da dívida pública foi de 17,5 bilhões de cruzados, com cobertura de despesas do Governo de 1.5. Em 1984, foi de 64,9 bilhões de cruzados, cobertura de despesa de Governo de 1. Em 1985, 312.4 bilhões de cruzados, sendo 5,5 cobertura de despesa de Governo, negativos neste período. Em 1986, de 502 milhões de cruzados, apresentando 1.7, e o Tesouro cobriu o encargo da dívida no montante de 5 e meio bilhões de cruzados em 1985. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Gil César: "V. Ex.ª julga que deva ser dado um tratamento diferenciado às pequenas e médias empresas do Governo? Se afirmativo, como fazê-lo?" O SR. MILTON DOS REIS: – As pequenas e médias empresas, como dissemos aqui – é uma maneira de pulverizar, uma maneira de descentralizar o poder econômico de todo o País –, as pequenas e médias empresas, principalmente do comércio, jamais obtiveram algum subsídio. Se obtiveram, se tiveram acesso a algum subsídio, foram utilizados por pessoas que não precisavam desse subsídio. É preciso que haja, de fato, um apoio à pequena e média empresas, mas que isto seja fiscalizado, e que realmente seja atendido aquele pequeno e médio empresário que vai gerar empregos. É preciso deixar aqui bem claro que o pequeno e o médio empresário são os maiores geradores de emprego por unidade de capital. Daí a necessidade de que o governo entenda, principalmente o Governo brasileiro, porque outros Governos já acordaram, já estão enxergando, que a saída está no pequeno e médio empresário, que é a eles que tem que apoiar. Vários países saíram de suas dificuldades através do pequeno e médio empresário, e não engordando, não vou dizer os grandes empresários, porque, na realidade, temos condições de conviver em ambiente saudável com o pequeno, o micro e o grande empresário, mas não com os maus empresários. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Vladimir Palmeira: "Que sugestões o Senhor teria para acabar com os ciclos políticos? O Senhor acha que os ciclos políticos econômicos estão ligados? Neste caso, acabar com os ciclos econômicos não seria uma grande contribuição? O que o Senhor acha dos ciclos econômicos em relação com a economia de mercado?" O SR. CONSTITUINTE RONALDO CEZAR COELHO: – Foi feita aqui uma pergunta ao Dr. Mário Amato com relação à democracia política, à democracia econômica. É claro que não há democracia econômica se não houver democracia política. Nossa maior preocupação é que haja uma democracia política. Os ciclos econômicos acontecem exatamente porque não há uma definição política. Na realidade, os nossos partidos políticos não têm consistência política. Na maioria dos partidos, ou seja, o grande partido que é o nosso PMDB; o segundo, PFL, não existe ainda um programa. Todos falam, todos dizem, todos reclamam que nos devemos preocupar com educação, com saúde, com saneamento, com habitação, mas não há uma consistência, não há um direcionamento, não há um partido que mostre ao Governo ou que cobre do Governo direcione que rumos devemos tomar para o compromisso que temos com o povo. O maior ativo no País é o povo, e com ele é que nos devemos preocupar. Então, devemo-nos preocupar com 130 milhões de brasileiros. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta da Constituinte Raquel Cândido: "O Sr. acredito que apenas com a mudança de pessoas os problemas das empresas serão resolvidos? O Sr. teria uma proposta criativa e duradoura para as empresas?" O SR. MILTON DOS REIS: – Mudança de pessoas não vai resolver nada. O que vai resolver é a mudança da política. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª Em não mais havendo perguntas... A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Sr. Presidente, falou o Dr. Milton dos Reis e fez um comentário – este Brasil está louco, ansioso com relação a idéias novas, criativas. A microempresa, que está morrendo, ultimamente, com esta política econômica, pode trazer aqui, através do seu Presidente, essas medidas novas, criativas colocadas pelo eminente Presidente da Confederação Nacional dos Diretores Lojistas aqui. Gostaria de saber quais, desde que fossem duradouras, para que nós, que estamos elaborando a nova Constituição, nos possamos abeberar nessa sabedoria da prática, porque estamos saindo de laboratórios experimentais que estão falindo, as grandes e pequenas e médias empresas e todos os cidadãos brasileiros. O SR. MILTON DOS REIS: – As pequenas e médias empresas não precisam muito. Precisam apenas que as deixem trabalhar, que o Estado não intervenha tanto, que o Estado não arranque seus recursos, principalmente para estatais ineficientes e deixe que o pequeno lucro que elas tenham seja reinvestido para gerar mais empregos. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Agradecemos ao Dr. Milton dos Reis a sua participação. (Palmas.) Tenho a honra de convidar o Dr. Osny Duarte Pereira. O SR. OSNY DUARTE PEREIRA: – Sr. Presidente, desta Subcomissão, Sr. Relator e demais integrantes da Mesa, Srs. Constituintes, minhas senhoras e meus senhores: Elaborei também o meu depoimento por escrito. Entretanto, não tive a oportunidade de fazer uma revisão. Observei agora que ele está com algumas falhas, e aos que estiverem interessados em manter o texto, passarei o novo exemplar. Na semana passada recebi um honrosíssimo convite para depor na Subcomissão do Sistema Financeiro, onde apontamos o descalabro, as inconstitucionalidades, ilegalidades praticadas impunemente no Conselho Monetário Nacional, no Banco Central e no Banco do Desenvolvimento Econômico e Social. Enfocamos o escandaloso enriquecimento de bancos estrangeiros e nacionais que dificultam o acesso do crédito à agricultura, à indústria e ao comércio, enfraquecendo o crescimento da Nação. Encarecem os produtos DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) e reduzem a competitividade do Brasil no comércio exterior. Entravam a formação do mercado interno, a ponto de as empresas preferirem investir na agiotagem a aplicar na fabricação de bens. No estado a que chegamos, se queremos defender o sistema capitalista democrático e evitar o caos e uma ditadura a braços com multidões desesperadas, como ocorreu nos países que conquistaram sua emancipação econômica, através da guerra civil, teremos de recorrer à estatização dos bancos, como fez a França, o Peru e, mais dia menos dia, chegará a vez dos Estados Unidos, como aliás alvitrava o Presidente John Quincy Adams, em 1819, como vê em "Os Credores do Mundo", do Jornalista Antony Sampson. O debate se tomou tão proveitoso e simpático que o economista moderado João Paulo Magalhães aceitava ser esta uma solução para defender a economia capitalista, se o tabelamento dos juros não se firmar. Ainda fatigado pelo esforço exigido a quem por mais de cinqüenta anos luta, dia após dia, por um regime democrático e de maior justiça social, agora recebo outro, não menos honroso convite para depor nesta Comissão da Ordem Econômica, na Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica. Muito agradeço a generosidade dessa deferência. A honra se casa com imensa responsabilidade, pois aqui, Srs. Constituintes, se decide o que irá prevalecer para os próximos anos. Prosseguirá o neocolonialismo que, embora dando ao País o destaque de "oitava economia do mundo", porém preserva e amplia os maiores índices de mortalidade infantil, de miséria, de desníveis sociais em que dois brasis mantêm guerrilha indeclarada de assaltos, mortes, atentados a ricos e pobres? Ou acabará o neocolonialismo e prepararemos uma Constituição para construir uma Nação livre, justa e em que todos os seus filhos se sintam amparados e dispostos a participar com direitos iguais? Promessas de Tancredo Neves na Ordem Econômica As promessas de Tancredo Neves e sufragadas nos comícios, reunidas em nosso pequeno ensaio Nova RepúblicaConstituição Nova, afirmavam: "Trago uma mensagem de mudança, uma transformação para acabar com a fome, a recessão e o desemprego." "Venho para realizar urgentes e corajosas mudanças políticas, sociais e econômicas indispensáveis ao bem-estar do povo." "Vim para promover as mudanças, mudanças políticas, mudanças econômicas, mudanças sociais, mudanças culturais, mudanças reais, efetivas, corajosas, irreversíveis." "Nunca o País dependeu tanto da atividade política." "A primeira tarefa de meu Governo é a de promover a organização institucional do Estado. Se, para isso, devemos recorrer à experiência histórica, cabe-nos também compreender que vamos criar um Estado moderno, apto a administrar a Nação no futuro dinâmico que está sendo construída." "Sem abandonar os deveres e preocupações de cada dia, temos de concentrar os nossos esforços na busca de consenso básico à nova Carta Política." Srs. Constituintes dentro desses conceitos de Tancredo Neves é que me proponho a prestar depoimento. Perdoem, por vezes, a rudeza da linguagem e a veemência, mas estou velho e não tenho mais estômago para engolir tanta ingenuidade e ignorância de um lado e tanto cinismo e impatriotismo de outro. Intervencionismo econômico para desenvolver a iniciativa privada Infelizmente, vinte anos de censura e repressão mantiveram, mesmo os nossos empresários mais destacados, num baixo nível de conhecimentos. Até hoje, salvo algumas exceções honrosas, a grande burguesia nacional não se deu conta de que seu fortalecimento e segurança estão estreitamente vinculados à defesa da soberania econômica de seu País. O sistema capitalista é uma sociedade de nações competitivas, em que preponderam os mais eficientes e mais vigilantes de seus interesses, do mesmo modo que na vida privada. A propriedade decorre de um comércio, o mais lucrativo possível. A lucratividade no comércio resulta da oferta de produtos de melhor acabamento e de mais baixo preço. A função do Estado é, entre outras, favorecer e criar as melhores condições para que seus industriais e comerciantes disponham de custos baixos na preparação de seus produtos, de modo a poderem competir no mercado internacional e conquistar espaço. Assim, se o Estado dispõe de matérias-primas em maior abundância, seus governantes agirão mais patriótica e inteligentemente, criando obstáculos à saída de matérias-primas a preços baixos e gravosos que, exportadas, facilitariam aos competidores carentes desses produtos a elevação de suas mercadorias por menor custo e uma concorrência mais agressiva. Dentro desses princípios que são óbvios e elementares, as nações altamente industrializadas empenham-se em obter as matérias-primas por menor preço e em impedir a industrialização dos fornecedores, para não sofrerem competição. E o intervencionismo do Estado em defesa da iniciativa privada Num parecer na Ordem dos Advogados sobre petição da Associação dos Empregados da Eletrobrás, perseguida também pela campanha antiestadista, o Conselheiro Cândido de Oliveira Bisneto lembrava: "O próprio Adam Smith, o sumo sacerdote da livre empresa, reconheceu a necessidade de se conceder ao poder público funções capazes de prover exigências infraestruturais, referindo-se ao dever de exigir e manter algumas obras públicas e algumas instituições públicas que não podem existir no interesse de um indivíduo ou de um pequeno número de indivíduos." Assim surge o capitalismo monopolista de Estado, em que o poder político privado corrompe e se apodera e funda seus interesses com os da empresa estatal. No Brasil, a Companhia Siderúrgica Nacional foi compelida a vender chapas abaixo do custo às multinacionais do cartel de indústria automobilística; a Petrobrás teve suas refinarias cercadas pelas empresas petroquímicas internacionais que sugam o mais rentável filão 34 do ciclo do ouro negro; a Companhia Vale do Rio Doce sofre vergonhosos assaltos a seu patrimônio, através de contratos ruinosos no transporte marítimo e em vários empreendimentos paralelos; a Eletrobrás raciona energia para o povo nordestino e fornece energia a tarifas subsidiadas às multinacionais do alumínio; assumiu a obrigação de pagar mais de um bilhão de dólares à Brascan, pelo acervo da Light que já estava pago pelo povo pela amortização embutida na tarifa, negociata realizada no Governo Geisel, sendo Diretor da Eletrobrás o Senhor Antônio Carlos Magalhães. Poderíamos continuar citando peculatos pela noite afora e todos explicados em livros que se encontram nas livrarias. Essas irregularidades prejudicam o novo e a outras empresas, inclusive estrangeiras, e surgem, então, as campanhas contra o "estatismo" na grande imprensa. Acontece que transferir a propriedade privada à Petrobrás, à Eletrobrás, à Companhia Siderúrgica Nacional e outras, significaria transferir ao comando externo, ainda mais, o poder político que elas encerram, pois empresas privadas nacionais não teriam recursos para adquiri-las, e os cartéis mundiais compradores facilmente fechariam essas empresas para obrigar o Brasil a abastecer-se de petróleo e de aço nas refinarias e nas siderúrgicas que já dispõem no exterior. Seu poder de corrupção sobre nossos governos cresceria, ainda mais, e poderíamos voltar à condição de colônias no nível ainda mais baixo. A solução não é fechá-las, nem vendêlas, mas disciplinar a presença do capital estrangeiro no País, reduzir seu poder de corrupção e estabelecer na Constituição preceitos que democratizem as administrações, tomem transparentes os negócios e evitem que permaneçam como feudos do Presidente da República para presenteá-los a seus amigos, como tem acontecido. A importância das estatais para a economia pública veremos a seguir. Retrospecto histórico do intervencionismo no Brasil e suas empresas estatais O Brasil, detentor de subsolo rico, sofreu terríveis e cruentos obstáculos à sua industrialização. As primeiras usinas elétricas representaram sacrifícios que, contados, ninguém acreditará. Seus promotores eram visionários. A conquista da primeira usina siderúrgica – Volta Redonda – constituiu outro drama. A princípio era considerada atitude subversiva simplesmente propalar a conveniência de o Brasil ter uma siderúrgica. Havia comícios e muitos morreram espancados pela polícia, sobretudo no Governo de Epitácio Pessoa, porque os governantes, temerosos de represálias e contentes em governar o País, sem aço próprio, entendiam ser impatriótico criar dificuldades às boas relações internacionais. A história de Volta Redonda, adquirida no Governo de Vargas, deveria ser contada nos livros escolares. Esse mesmo caminho, espinhoso e cruento, percorreu a descoberta do petróleo. As grandes nações industrializadas, ou tinham petróleo abundante, como os Estados Unidos, ou se haviam apoderado das jazidas do Oriente Médio. O Brasil, na medida que crescia, tomava-se mercado comprador de alta rentabilidade. Muitos cidadãos, especialmente militares, que consideram ser indispensável descobrir petróleo e explorá-lo a coberto de influências estrangeiras 35 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) que poderiam sabotar a produção, para o obrigar-nos a adquirir o óleo negro das Sete Irmãs internacionais, eram considerados comunistas e torturados, tanto no primeiro Governo de Vargas, como no de Eurico Gaspar Dutra. A história do petróleo, no livro de Maria Augusta Tibiriçá de Miranda, na "História Militar do Brasil", nas "Memórias de um Soldado", do Gen. Nelson Werneck Sodré, também deveriam ter aulas de História, e serão, nos colégios brasileiros do futuro que não está longe. O Brasil, quando conseguiu aumentar a produção elétrica e quando passou a produzir aço e petróleo, graças às suas próprias empresas estatais, poderia tornar-se um Japão na economia mundial, porém com a vantagem de abundantes matérias-primas. Como todo mundo sabe, não foram as multinacionais que proporcionaram o capital no Japão. "Japão – O Capital de Faz em Casa" é o livro de Barbosa Lima Sobrinho que os entreguistas ingênuos deveriam ler. ESTATISMO NOS ESTADOS UNIDOS Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, pressentiu que os manufaturados norteamericanos tonar-se-iam exageradamente caros se a eletricidade permanecesse em poder da iniciativa privada. Com essas empresas particulares fixando os preços a seu puro alvedrio, era ilusão pensar que funcionários do Estado, ganhando salários, teriam força política para impor tarifas. Essas empresas poderosas jamais submeter-se-iam. Roosevelt criou a empresa estatal, com estas palavras: "É inadiável a absorção pelo Estado dos serviços de energia elétrica, para que os próprios governos não fiquem submetidos a um poder privado semelhante." O SR. OSNY DUARTE PEREIRA: – Continuo, Sr. Presidente. Os fios da Tennesse Valley Authority foram lançados, paralelamente, nas ruas da cidades, aos fios das empresas privadas e, por preço mais barato, iam liquidando com as ligações do cartel de empresas privadas e destruindo, sem ônus para o Estado, essas deformações do sistema capitalista. Se tudo isso fosse realizado no Brasil, quando veio a Revolução de 31 de Março de 1964, por um Franklin Roosevelt, ou quem quisesse imitá-lo, teria sido cassado e preso como perigoso comunista, como, aliás, foram todos os que se haviam destacado nas lutas pela emancipação nacional. Acontece que o Brasil venceu as etapas de conseguir produzir aço, montar a Eletrobrás, instalar refinarias e fabricar um caminhão, o Fenemê, robusto, um competidor e com tecnologia adequada ao tráfego nas nossas estradas esburacadas e lamacentas. Estava montada a base de um parque industrial temível na competição internacional: matérias-primas de graça, energia elétrica e petróleo abundantes e mão-de-obra, por preço irrisório, diante dos padrões dos países industrializados. O BRASIL – PERDEU O CONTROLE DE SUAS ESTATAIS COM JK Osvaldo Aranha, Ministro da Fazenda de Getúlio Vargas em 1951, eleito diretamente pelo povo, deliberava conter a sangria provocada pelos escândalos na área financeira, praticados pelos ban- cos internacionais. Não adiantaria produzir petróleo, construir represas, produzir aço e caminhão Fenemê, se essas indústrias de base estivessem caindo, invisivelmente, na carteira dos bancos internacionais. Ocorreu a operação anti-Vargas na Imprensa, até levá-lo ao desespero e ao suicídio. Na Carta-Testamento, Vargas denunciou: "A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime da garantia de trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás; mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero." Apavorado com o trágico desfecho de Getúlio Vargas, vítima dos militares entreguistas, Juscelino mudou os rumos e governou abrindo totalmente as portas aos agentes do capital estrangeiro, que se aproveitaram das bases montadas até 1954. O Programa de Metas, com que planificou sua Administração, expressamente entregava nosso minério de ferro à Hanna; um Decreto assinado por JK, em 16-6-56, de nº 39.412, no art. 12, estipulava: "Os incentivos reservados à indústria automobilística serão preferentemente dirigidos aos projetos da iniciativa privada, abstendo-se o Governo de estimular a instituição de novas entidades estatais, dedicadas a atividades similares." Com os equipamentos obsoletos dos Estados Unidos, fechada a Fábrica Nacional de Motores, a Willys Overland fabricou o Aero-Willys, um beberrão de gasolina, com o qual se agradava à Standard Oil e incrementava a importação de petróleo. As empresas estatais, em vez de administradas democraticamente, com escolha de diretores por entidades representativas da indústria, do comércio e dos consumidores, com uma contabilidade, pública e transparente, fiscalizável pelo Fisco e pelo Congresso Nacional, como estava determinado na Constituição, passaram a ser feudos herméticos que o Presidente da República entregava a seus amigos diletos, para, nessas empresas, introduzir todos os parentes e colegas de parentes, militares reformados e realizarem administrações de macacos em casa de louças, numa corrupção totalmente impune. Juscelino deixa o Governo, assume Jânio Quadros, e a penetração das multinacionais prossegue. Não podendo mais satisfazer os compromissos eleitorais para com os banqueiros, de sua campanha e para com o povo, ao qual prometera um paraíso, sem inflação, sem entreguismo e sem miséria, Jânio renunciou. Os Governos Militares, a desnacionalização da economia e o impasse atual Assume João Goulart, que prometia cumprir as promessas nacionalistas e democráticas e começou a atacá-las. O Banqueiro José Magalhães Pinto queria ser Presidente da República, apoiado por Goulart. Não conseguindo, partiu para o golpe militar que contou com o apoio da CIA, conforme documentação exposta na Biblioteca Lyndon Johnson. Os militares assumem o Governo sob o lema: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil". Ampliou-se a desnacionalização das indústrias, cometeramse desatinos que estão na memória de todos, a economia nacional cresceu setorialmente, porém, ao preço de uma concentração de riqueza das mais odiosas do Mundo, uma corrupção superior a todas as procedentes; a fome instalou-se no País e agora mata mais de 300.000 crianças por ano e com um salário real do trabalhador sempre decrescente; a maior dívida externa do Terceiro Mundo; produção agrícola estagnada desde 1976; as cidades inchadas com cinturões de miséria apavorante, povoadas pelos egressos do campo, doentes, sem qualificação, analfabetos; uma criminalidade crescente e insolúvel; há, em Brasília, 8.000 delinqüentes em liberdade, no Rio e em São Paulo, mais de 40.000, por falta de espaço em prisões que são escolas de crime; a insegurança tomou-se impune; no nosso Tribunal, no Rio de Janeiro, um em cada três Desembargadores queixavase de assaltos; os seqüestros de banqueiros abrem novos filões; os assaltantes exigem dólares e o Banco Central coloca à disposição o reclamado, desprezando quaisquer leis; as multinacionais, em terra e no mar, recolhem no Brasil, os melhores lucros; os bancos internacionais vão tragando os depósitos do público, anunciando que, ali, há maior garantia e transformam esses depósitos em "dívida externa", que chegou ao limite final de saturação desde 1977, não entra mais capital externo; a dívida, entretanto, cresce, graças aos juros usunários, e ilegais, capitulados como crime contra a economia popular, lei que não se aplica; essa dívida, que apenas poderia ser contraída pelo Congresso Nacional, por um Decreto de nº 1.312, de 15 de fevereiro de 1974, foi subtraída, ilegalmente, pelo Presidente Médici e delegada ao seu Ministro da Fazenda e, sem solução de continuidade, até ontem ainda ilegalmente, em poder do Ministro Funaro, dívida repleta de falcatruas que o Governo se recusa a submeter a uma auditoria: para que tudo isto ocorresse sem queixas do povo, cassações de mandatos, prisões, torturas, desterros, assassinatos, censura de imprensa, invasões a universidades, demissões de professores e toda a sorte de indignidade, serviram de pano de fundo. Realizaram-se eleições; os que gastaram fortunas incalculáveis, a despeito de serem participantes, por ação ou omissão, neste quadro que acabamos de descrever por alto, também se encontram integrando esta Assembléia Constituinte. As Críticas à Ordem Econômica na Constituição de 1967 Para que tudo ocorresse, como ocorreu, o regime autoritário, em 1967, encomendou uma Constituição, redigida pelo consultor-jurídico de empresa multinacional e homologada pelo Congresso, em termos que seriam jocosos se não fossem, como são, trágicos e humilhantes para a História deste País. Até parar o relógio, para acabar a redação do texto no prazo marcado pelo Ditador, foi operação à que o castrado Congresso se submeteu. O Capítulo Da Ordem Econômica que serviu de apoio a todas essas barbaridades foi repudiado pelas Oposições, em 1966, com palavras que po- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) derão ser lidas em nosso ensaio "Nova República – Constituição Nova", páginas 162 a 165, onde se verão as palavras do Deputado Unírio Machado, de Josaphat Marinho e o documento oficial dos Partidos oposionistas que são PMDB, o PDT e outros de hoje, ou seja, a maioria absoluta desta Assembléia Constituinte, todos transcritos do Diário do Congresso Nacional, de 21-121966 e de 17-12-1966, com uma visão verdadeiramente profética de que aconteceria o que está acontecendo. Por que conseguimos um parque industrial importante? Incontestavelmente, não somos um feudo do colonialismo, com a fisionomia da Nigéria e das demais nações africanas, porque tivemos estadistas clarividentes, como Serzedelo Correia, o Marechal Floriano, Alberto Torres, Arthur Bernardes e seus Ministros Sampaio, Vidal, Aníbal Freire, o Almirante Alexandrino e o General Setembrino, que resistiram à tentativa de Farghuar, em apoderar-se, para as siderúrgicas norte-americanas e inglesas, de nosso minério de ferro; Getúlio Vargas, rodeado de militares do padrão de Newton Estilac Leal, Horta Barbosa, Almirante Álvaro Alberto, Henrique Teixeira Lott e outros que consolidaram com bases brasileiras, nas indústrias pesadas para o parque que hoje desfrutamos. Se o Brasil estivesse entregue, desde então, aos generais que assumiram em 1964, sem dúvida, estaríamos em níveis das infelizes nações africanas, da América Central e de outras partes do Terceiro Mundo, onde os sobas das oligarquias locais se submeteram, incondicionalmente, ao colonizador britânico e depois ao norteamericano e oprimiram seus povos, no mesmo ritmo como aqui ocorreu. O Brasil cresceu porque as bases para um grande parque industrial estavam plantadas e as multinacionais aproveitaram-se dele. Teríamos um desenvolvimento integrado, e não o que aí está, com percentagens monstruosas de analfabetismos, mortalidade infantil, a fome matando centenas de milhares de crianças e esse endividamento opressivo, se, em vez desse entreguismo impatriótico, tivéssemos generais do nível dos que resistiram ao colonialismo. A ditadura militar se exauriu na incompetência e na corrupção com escândalos diários, cada dia, com maior audácia pela grande imprensa. O povo, mobilizado, pediu, nos comícios, uma nova ordem social. Os que sucedem a João Figueiredo assumem compromissos que se encontram no Programa da Aliança Democrática. Nomeada uma comissão de empresários nacionais ou vinculados a capital estrangeiro e ao latifúndio, advogados conservadores, patronos de multinacionais e advogados e intelectuais progressistas chegaram a um texto que, no capítulo Da Ordem Econômica, repudiam os termos de 1967. Ficaram com os pés na terra. Esta ordem jurídica atual não irá longe se os Srs. Constituintes imaginarem que o povo brasileiro, mobilizado e irritado como se encontra, vai aceitar uma Carta Política como a de vinte anos passados, consagradora dos privilégios que trouxerem os trabalhadores para os níveis da miséria em que hoje se encontram, entocados em favelas de onde contemplam o luxo e o desperdício de 1% dos habitantes e aqui, confortavelmente, sentados por obra de mandatos obtidos por milhões de dólares gastos na campanha eleitoral. Vã ilusão. Seus próprios filhos e as gerações vindouras envergonhar-se-iam de tais Constituintes, como se envergonham dos que escreveram, ou aprovaram, a Carta de 1967. O nacionalismo japonês e nos países industrializados, segundo Morita A História não perdoa os Joaquins Silvérios dos Reis e os Calabares, como a religião não perdoa os Judas Iscariotes. Uma nação se constrói com o patriotismo de seus filhos. Há, agora, nas livrarias, um volume de sucesso editorial que é dos maiores: a autobiografia do empresário japonês Akio Morita, Diretor-Presidente da Sony, uma das famosas empresas fabricantes de aparelhos de som e eletrônica. Ensina como se comportaram os norte-americanos quando ocuparam o Japão, terminada a Segunda Guerra Mundial. O Pentágono se encontrava diante de duas políticas opostas: ou mantinha as oligarquias e um regime feudal repressivo, submetido a generais fascistas, como pratica na América Latina, ou lançaria sobre os escombros da guerra as bases de uma nação democrática, progressista e autônoma. A primeira política, diante das distâncias e da proximidade da União Soviética, poderia desembocar numa república comunista; como acabou acontecendo com a China, ao termo da ditadura de Chiang-Kai-Shek A segunda, conduziria a uma potência industrial, onde as lideranças comunistas encontrariam mais dificuldades de aliciamento. O Pentágono optou pela segunda solução. Conta Morita que a Constituição atual do Japão foi redigida em inglês, no quartel do General Mac Arthur, e aprovada coercitivamente na Dieta japonesa. A Constituição e as principais leis dissolveram a oligarquia local dos quatro maiores grupos que detinham 25% do capital de todo o país e, cada um deles, pelo menos trezentas companhias sob seu controle. Promoveram uma reforma agrária com indenizações simbólicas. "Muitas famílias que tinham bastante terra como a minha – declara Morita – utilizada para o cultivo e para dar trabalho à gente da região, perderam tudo", continua Morita: "Os técnicos americanos, estimulados pelos ideais sociais e econômicos do 'New Deal', tornaram impossível que as empresas demitissem empregados. Os novos legisladores sabiam que o partido não era mais ilegal, porém não levaram em conta. Outras frases do livro de Akio Morita: "Hoje, a classe média chega a mais de 90%:" "Não há dúvida de que o sucesso japonês no pós-guerra enriqueceu muita gente, mas não temos hoje, no Japão, as grandes fortunas das famílias latifundiárias da Grã-Bretanha ou da Europa." "Os impostos sobre heranças, de natureza confiscatória, acabaram destruindo muita riqueza pessoal." "Agora, quem tinha que deixar 85% de seus ganhos nas mãos do fisco já não pode ter um carro com motorista e pagar outros negócios." Akio Morita revela como o Japão resistiu às multinacionais: "Para começar" – explica à pág. 137 de seu livro – "nunca vi nenhum chefede-estado ou de governo tentar con- 36 vencer companhias estrangeiras a se instalarem no País, como fazia a Primeira-Ministra britânica Margaret Thatcher." Akio Morita acrescenta que esse nacionalismo e preocupação de reserva de mercado não ocorria apenas em seu país. Mesmo nos Estados Unidos, onde penetrou mais profundamente, precisou constituir uma empresa com participação norte-americana. Em todos os países industrializados encontrou resistências, especialmente na França e na Alemanha. Vê-se, portanto, ali, como é diferente o comportamento, diametralmente oposto do Pentágono e de seus generais brasileiros, em nosso País. A linguagem dos robôs da IBM, instalados nesta Constituinte, é a do colonialismo cru e primitivo que está levando o povo ao desespero, com greves estourando em todos os lados. O que retocar no Anteprojeto da Comissão Afonso Arinos Na Comissão Afonso Arinos, ao votar dispositivos progressistas, censurado pela extrema-direita e acoimado de suicida, o usineiro Odilon Ribeiro Coutinho retrucou: "Suicidas são vocês, estou-me desfazendo dos anéis para salvar os dedos". Assim agiram os latifundiários e os integrantes dos conglomerados das famílias como Mitsui, Sumitomo e Mitsubishi: "Vão-se os anéis e fiquem os dedos". A extrema-direita brasileira civil e militar, sem o descortino dos japoneses, empenha-se numa guerra sem tréguas contra o Anteprojeto da Comissão Afonso Arinos, etiquetado de prolixo, xenófobo, estatizante e utópico, apenas porque arranha os privilégios do capital estrangeiro. Entretanto, há um grave pecado em suas disposições. São programáticas e não impositivas. Falta-lhes a norma coercitiva. Falta-lhes declarar crime a inobservância de seu texto. Na Constituição do Paraguai "queda proibida Ia explotación del hombre por el hombre"; na Constituição dos militares, incluíram-se disposições da Declaração Universal dos Direitos do Homem, como a liberdade de pensamento e de convicções políticas e filosóficas, o direito de reunião, o de greve etc. As Cartas não passam, nestes casos, de acinte. A contenção dessas falhas estará, sem dúvida, em sugestões adequadas dos Srs. Constituintes, empenhados em defender uma nova ordem, democrática e justa. Na definição de empresa nacional, contida no art. 323 do Anteprojeto Afonso Arinos, subsiste um pequeno lapso, porém crucial. Reconhece que será empresa nacional aquela cujo controle de capital pertença a brasileiros. Está errado. Como todos sabem, as multinacionais da petroquímica dependuram-se na Petrobrás e em suas refinarias, como cachos de sanguessugas e ali se encontram sorvendo a seiva dessa empresa estatal. Os administradores da PETROBRÁS constituíram uma subsidiária para produzir polipropileno. Mais de cinqüenta por cento é capital do Estado. Apenas dez por cento entregou-se à Shell, porém no estatuto da subsidiária está reservada a essa multinacional a comercialização dos produtos! 37 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Isto mostra que o controle nacional do capital pode ser até pior que a livre contratação, pois as empresas públicas ou privadas brasileiras entram com o dinheiro e a estrangeira recolhe os lucros. O lapso é de fácil correção. Há que adicionar: "controle de administração, de comercialização e de capital pertencente a brasileiros e que, constituída e com sede no País, nele tenha o centro de suas decisões, punível como crime de traição à prática de artifício para fraudar esta conceituação". A solução norte -americana A solução ideal seria a adotada em países como o Japão e os Estados Unidos, que obrigam as multinacionais a dividirem seu capital com empresários nativos e asseguram a estes participação no controle. Nos Estados Unidos, vários governos estaduais ainda cobram das multinacionais a taxa unitária sobre os lucros obtidos pelas vendedoras, não apenas no comércio local, porém sobre os lucros mundiais, obrigando-as a exibir os balanços para esse efeito, segundo esclarece Akio Morita, à pág. 329, de seu livro. Nada mais justo, pois nos preços dos produtos encontram-se embutidas formas dissimuladas de compensação às matrizes, pagos pelo consumidor norte-americano e que, de outro modo, permaneceriam isentos de tributação e em vantagem competitiva sobre os fabricantes norte-americanos de produtos similares. Por estas e outras, Reagan estabeleceu contra os japoneses, agora, impostos proibitivos nos setores mais sensíveis da informática e Lee lacocca, famoso executivo norte-americano, escreve em outro livro de grande procura: "Não tenham ilusões: nosso conflito econômico com os japoneses é fundamental para o nosso futuro. Estamos lutando contra uma competição terrível." Se os norte-americanos empenhamse em defender seu comércio, imagine-se, nós, uma economia frágil, esburacada por todos os lados; em vinte anos de ditadura que outra coisa não fez senão desnacionalizar nossas indústrias, enfraquecer as estatais, fortalecer a penetração dos bancos estrangeiros e confiar-lhes a agiotagem mais escancarada? Em relação à propriedade do subsolo, também o Anteprojeto Afonso Arinos, certamente, sofrerá retoques e acréscimos que, ao que estamos informados, já contam com as necessárias retificações. A exploração do subsolo há de chegar ao que foi intento dos Constituintes de 1946, isto é, ser reservada a brasileiros ou a sociedades constituídas com capital integralmente nacional. A ambigüidade da redação favoreceu a desnacionalização do subsolo e o controle por empresas estrangeiras, em geral especializadas no ramo, e que, tendo minas em exploração em outros países, tratam de impedir o aproveitamento das aqui existentes. Em 1983, o consumo total de minérios pelo Brasil atingiu a US$ 12,3 bilhões. Importamos 85,9% desse montante. (O Globo, de 3-2-85) Uma literatura profusa demonstra a necessidade de conservar o controle nacional sobre a mineração. Será o resgate de nossa dívida a brasileiros do porte de Alberto Torres, Arthur Bernardes, Monteiro Lobato, Gabriel Passos, Attilio Vivac- qua, Agamemnon Magalhães, Jesus Soares Pereira, Getúlio Vargas, Generais Estilac Leal, Horta Barbosa, Henrique Lott, Durval e Felicíssimo Cardoso, Brigadeiro Francisco Teixeira, Almirante Álvaro Alberto e tantos outros que se encontram no Panteão de nossa História, por terem sido patriotas provados. Outras considerações caberiam, porém não desejo cacetear com verdades sabidas de todos. Srs. Constituintes, chegou a hora da verdade, segundo a expressão de Tancredo Neves. Está em nossas mãos o futuro das classes dominantes. Se não houver clarividência, esse povo faminto, estourando em greves pela reposição de salários erodidos pela inflação crescente, teria de ser reprimido pelas Forças Armadas. Não creio, entretanto, que todos os militares, desgastados como massa de manobra para alguns generais enriquecerem, se prestem a repetir o impatriótico comportamento; e não creio que os assalariados, em sua totalidade, aceitem uma solução de força; não creio que todos os governadores eleitos em 1986, por voto direto, concordem passivamente. Poderá, então, irromper a guerra civil, como na Espanha, e a emancipação econômica vir através de sacrifícios terríveis, pois o povo ainda não está preparado para o advento do regime de controle dos meios de produção pelo Estado. O Brasil não merece esse castigo, pelo desejo de tomar-se livre e justo. O povo espera e confia no patriotismo desta Assembléia Nacional Constituinte. Desejo que os Srs. Constituintes levem em conta o que está acontecendo em nosso País e assumam as responsabilidades de dar ao nosso País uma Constituição democrática que nos permita obter uma Nação soberana, como foi o desejo de nossos antepassados. O SR. PRESIDENTE: – (Delfim Netto) – Muito obrigado a V. Ex.ª. Agradecemos ao Dr. Osny Duarte Pereira a atenção que dispensou a esta Subcomissão e a sua brilhante conferência. (Palmas.) Vamos passar, agora, à exposição do Engenheiro Jorge Bittar. Tenho a honra de convidar o Engenheiro Jorge Bittar, Presidente da Federação Nacional dos Engenheiros. Lembro ao ilustre convidado que tem 15 minutos para fazer a sua exposição. O SR. JORGE BITTAR: – Sr. Presidente, demais Membros da Mesa, Srs. Constituintes, Senhoras e Senhores: Inicialmente esclareço que sou o Diretor da Federação Nacional dos Engenheiros. Não sou o Presidente, nosso Presidente aqui se encontra, e teve a oportunidade, inclusive, de expor nossas proposições acerca de Ciência e Tecnologia na Subcomissão que trata deste tema. Estou aqui, de acordo com o convite que nos foi formulado, para expor algumas de nossas contribuições acerca do tema Intervenção do Estado na Economia. Infelizmente não pude trazer nossas contribuições por escrito, em virtude de ter sido convidado a depor nesta Subcomissão na quinta-feira próxima passada, mas nos comprometemos a enviar brevemente nossas contribuições, por escrito, à Subcomissão. A questão da Intervenção do Estado na Economia, a contribuição que nós da Federação Nacional dos Engenheiros trazemos, resulta de todo um trabalho de discussão que envolve diversas entidades ligadas a engenheiros no Brasil, diversas entidades ligadas a outros profissionais, como economistas e administradores, bem como Associações representativas de empregados do setor estatal da economia. É importante ressaltemos alguns aspectos históricos que, em certa medida, nos permitem visualizar o processo de intervenção do Estado na economia brasileira. Sem sombra de dúvida, historicamente o Estado aparece na economia brasileira, intervém na economia brasileira, sempre no sentido de favorecer a superação do modelo agroexportador da economia vigente então, à década de 30, e no sentido de permitir, portanto, a industrialização de nosso País. É evidente o papel que desempenhou, por exemplo, a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, no início da década de 40, a criação da Eletrobrás e do próprio monopólio estatal do petróleo, como elementos fundamentais para a demarragem, para início do processo de industrialização da sociedade brasileira. Mais recentemente, tivemos o Estado assumindo setores que historicamente estiveram, inclusive, sob concessão ao capital estrangeiro, como é o caso do setor de telecomunicações, alguns setores ligados à área de transportes, o setor de mineração. Em todos esses setores o Estado interveio com sucesso, assegurando a possibilidade e a viabilidade, e mesmo a aceleração do processo de desenvolvimento industrial em nosso País. Poderia citar diversos setores da nossa economia em que o Estado interveio com relativo sucesso. O Estado tem sido, portanto, um ator fundamental no processo de industrialização da economia brasilei ra. Esta é uma questão fundamental, tendo, inclusive, beneficiado, enormemente, o desenvolvimento da iniciativa privada em diversos setores da indústria, do comércio e de outros setores da nossa economia. No entanto, é preciso que se observe que nem sempre o desenvolvimento econômico do nosso País veio colado com o processo de desenvolvimento social. Ao contrário. Toda a ideologia desenvolvimentista vigente no País desde a década de 40, e que teve época marcante na década de 50, durante o Governo de Juscelino Kubitschek, e mesmo durante os Governos militares, após o golpe de 64, toda essa ideologia desenvolvimentista veio desprezando ou, pelo menos, não dando a prioridade devida aos aspectos sociais, ao desenvolvimento social do País. Assim é que, hoje, ternos não somente devido à contribuição ao Estado, mas graças a ela, um setor industrial em nosso País que nos coloca como o 8º País industrializado do mundo, sem que tenhamos sido capazes de resolver os mais graves problemas sociais em nosso País. Esta é a grande contradição que enfrentamos neste momento. O setor estatal, que tão bem serviu ao desenvolvimento industrial de nosso País, pode ser um elemento de alavancagem a um novo processo de desenvolvimento no País, onde não mais a industrialização abstrata seja o indicador, o medidor principal, do processo de desenvolvimento, mas a resolução dos problemas sociais DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) seja o principal parâmetro a nortear o desenvolvimento do País. Essas mesmas empresas estatais que serviram a um desenvolvimento capitalista que marginalizou a grande maioria da população brasileira, podem servir como elemento fundamental de um relançamento da economia em novas bases, priorizando-se o homem, priorizando-se os investimentos na área social, no sentido de se minimizar, no sentido de se retirar da marginalidade a grande maioria da população brasileira. O Estado na economia não é um elemento intrinsecamente ruim. Existem diversos exemplos, inclusive em escala internacional, nos países capitalistas, países que têm, inclusive, um grau de estatização maior do que o nosso, e que, em certa medida, conseguiram fazer frente às suas necessidades industriais, e mesmo à resolução de problemas sociais da população. Cito o exemplo da Áustria, país em que em presença do Estado é marcante em diversos setores da economia. Cito também o caso da França e de diversos países europeus em que a presença do Estado é importante, presença significativa, e mesmo superior à presença do Estado na economia brasileira, sem que, nos moldes de uma economia capitalista, aponte no sentido da ineficiência, sem que isso signifique a impossibilidade de resolução dos problemas sociais. É claro, devemos ter a eficiência como um dos parâmetros principais para que se possa observar o desempenho das empresas como um todo, e, em particular, das empresas estatais. No entanto, as empresas estatais, pela sua própria natureza, são criadas e lançadas, no fundamental, com o objetivo de servir às necessidades sociais do País. Portanto, o desempenho das empresas estatais deve ser observado antes, tendo em vista o cumprimento desses objetivos sociais, e não se colocando o lucro. O incremento necessário à produtividade como objetivos centrais. Não que as empresas estatais não devam perseguir os aumentos de produtividade; não que as empresas estatais, numa economia capitalista, não devam também, se possível, obter lucros. Mesmo nos moldes de uma economia capitalista, o desempenho dessas empresas deve ser medido segundo os seus objetivos, que são os objetivos sociais prioritários. Devemos reconhecer que na sociedade brasileira, mormente nos últimos 20 anos, exatamente durante os anos do maior autoritarismo vigente na História deste País, foi exatamente nesses anos que muitas empresas estatais desnecessárias foram criadas, muitas delas criadas exatamente porque o Estado agiu como pronto-socorro da iniciativa privada. Temos aí o caso do Hotel Blumenau — uma empresa estatal, a Estrada de Ferro do Corcovado, e tantos outros exemplos, onde o Estado não deveria estar presente. No entanto, o Estado esteve presente, exatamente porque a decisão de intervenção do estado não foi democrática, foi uma decisão formulada em círculos restritos, que atendeu, portanto, a interesses restritos, e não aos interesses da grande maioria da população. Se queremos repensar o papel das empresas estatais, em termos de um novo processo de desenvolvimento que privilegie o aspecto social, temos que pensar na transparência do desempenho dessas empresas, temos que pensar, principalmente, na idéia da democratização dessas empresas. E democratização significa, antes de mais nada, a possibilidade de o Congresso Nacional recuperar o seu papel na sociedade, ou seja, que os planos de investimentos plurianuais dessas empresas, por exemplo, sejam submetidos ao Congresso Nacional, para que programas de investimentos, como o Programa Nuclear, a Ferrovia do Aço, que significaram a inversão de bilhões de dólares, sem que sua prioridade estivesse claramente delimitada pela sociedade, não voltem a se repetir. Neste particular, é interessante notar que, apesar de termos já superado os governos militares, não atingimos a democratização plena no País. Temos a lamentar investimentos, como ouvimos dizer, agora, da Ferrovia Norte–Sul, investimento que significará bilhões de dólares na construção de uma ferrovia, que estão sendo tomados, em primeiro lugar, sem qualquer projeto de viabilidade técnica elaborado pelo Ministério dos Transportes; em segundo lugar, sem que se examinem alternativas a esse investimento. Todos sabemos que os investimentos na construção de via aquaviária, de uma via hidroviária, num sistema Araguaia– Tocantins, é perfeitamente viável para o nosso País, significando investimentos muito menores do que os investimentos que serão feitos na Ferrovia Norte-Sul, porque significam algumas centenas de milhões de dólares, são investimentos superiores a casa dos 2 bilhões de dólares, e essas decisões são tomadas repetindo-se os erros históricos deste País, em círculos fechados, beneficiando grupos restritos e prejudicando, portanto, os interesses da grande maioria da população brasileira. Portanto, a recuperação do poder decisório do Congresso Nacional sobre as grandes decisões nacionais é elemento fundamental para que as decisões sobre as intervenções do Estado, as decisões acerca das empresas estatais possam vir no sentido de beneficiar a sociedade, possam vir no sentido de beneficiar a maioria da população, e não a interesses de grupos restritos. Simultaneamente – também do nosso ponto de vista – deve ser papel do Congresso Nacional a deliberação sobre a criação ou exti nção de empresas estatais. Recentemente, assistimos à extinção de uma empresa estatal, o BNH, sem que essa extinção, em primeiro lugar, passasse pelo Congresso Nacional, sendo que o ato de criação do BNH foi através de um projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional. Em segundo lugar, sem que se discutisse um plano habitacional para este País, sem que a extinção do BNH estivesse discutida no leito da formulação de um novo programa habitacional para este País. Este tipo de coisa deve ser evitado. É no caminho da democratização, no sentido de que o Congresso Nacional possa examinar a criação ou a extinção de empresas estatais, assim como a privatização, a eventual possibilidade de privatização das empresas, é que evitaremos que novos erros sejam cometidos daqui para frente. A democratização das empresas estatais passa pela democratização da sua administração mais direta. É fundamental a participação dessa sociedade, da sociedade civil através de suas entidades, quer dos empregados dessas empresas, eleitos naturalmente no Conselho de Administração dessas empresas, para que as decisões maiores dessas empresas reflitam concretamente os interesses do Governo representado no conselho, e refli- 38 tam, também, os interesses da sociedade civil e, em particular, a experiência acumulada pelo seu corpo funcional. É fundamental que entendamos que neste momento, no jogo da dinâmica econômica internacional, existe um elemento central, o elemento que diferencia os países, o elemento que hoje significa o elemento central na perspectiva de controle da hegemonia sobre o sistema econômico internacional chama-se tecnologia. Este é um fator central a distinguir entre as nações, entre as nações centrais e nações periféricas do sistema econômico internacional. A questão da tecnologia é uma fundamental. É importante notar que tem sido o Estado brasileiro, através das empresas estatais, o principal elemento no desenvolvimento e na formulação de uma tecnologia própria que tem como perspectiva um desenvolvimento não isolado, mas auto-sustentado de nosso País. Estão ligados às estatais os principais Centros de Pesquisa deste País, como é o caso do Cenpes – Centro de Pesquisa da Petrobrás; o caso do Cepel — Centro de Pesquisas em Energia Elétrica, da Eletrobrás, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás, o Centro de Pesquisa da área mineral ligado à CPRM, empresas fundamentais para a busca do desenvolvimento tecnológico, como a Embraer e a Cobra, uma na área de aviação, outra, na área de informática. São elementos fundamentais para se assegurar o progresso de busca da autonomia tecnológica, a fim de que o nosso País possa, de fato, dispor das tecnologias que lhe são fundamentais para perseguir essa perspectiva de desenvolvimento econômico voltada à necessidade da superação dos seus graves problemas sociais, portanto, uma perspectiva de desenvolvimento democrático. Rapidamente citarei elementos que são contribuições nossas e que julgamos fundamentais para que sejam incorporados a um processo constituinte. Uma questão, é importante se definir que o Estado estará presente nos setores da economia, sempre que se justificar a necessidade do desenvolvimento econômico e social do nosso País. O Estado deverá estar presente aos setores da economia sempre que julgue fundamental a perseguição do objetivo, a busca da autonomia tecnológica brasileira. Em terceiro lugar, o Estado estará presente na economia brasileira sempre que necessário à defesa da soberania nacional. Entendemos que se deva inscrever na Constituição aqueles setores em que o Estado detenha o monopólio, monopólio esse que tem sido exercido com competência e tem sido fundamental a busca dessa perspectiva de um novo desenvolvimento. Como é o caso da área do petróleo, como é o caso dos minerais nucl eares e materiais físseis, assim como os minerais estratégicos deste País, naturalmente definindo-se o conceito de mineral estratégico numa lei ordinária. Este é um conceito muito dinâmico, dada a realidade da pesquisa do desenvolvimento de materiais que, em determinados momentos, possam ser não importantes, e, em outros momentos, dado o avanço da ciência e da tecnologia, podem tomar-se materiais estratégicos para o País. A Constituição deveria dispor a possibilidade de o Estado intervir nesses setores, intervir deforma monopolista, exclu- 39 siva, na garantia da pesquisa, da lavra e da exploração desses minerais que sejam considerados estratégicos, quer pela importância que possam ter nos processos industriais, quer pela escassez desses minerais no cenário internacional, ou qualquer outra informação desse tipo. A questão dos serviços de telecomunicações – é fundamental que o Estado mantenha o monopólio estatal do setor de telecomunicações tal como existe hoje. Hoje temos a Telebrás, e a Embratel e as principais empresas de telecomunicações brasileiras nas mãos do Estado. Essas empresas foram fundamentais para que nos pudéssemos libertar do capital estrangeiro, que amarrou o desenvolvimento, durante longo tempo neste País, de empresas que serviram até hoje prioritariamente ao desenvolvimento da economia brasileira. Portanto, é fundamental. Ainda fundamental a idéia de que haja um monopólio do Estado na área de lançamento e operações nos sistemas espaciais, área estratégica para o País, área de coleta de fusão de informações meteorológicas, dada a importância do Sistema Meteorológico para a agricultura e para o funcionamento do País como um todo. Já dissemos da importância do papel do controle democrático da sociedade sobre as empresas estatais, o papel do Congresso, dos conselhos nas empresas estatais. A existência do monopólio da economia deve estar claramente definido na Constituição. A existência de monopólio só pode dar-se se esse monopólio for exercido peio Estado. A Constituição deve deixar claro esse tipo de coisa. Finalmente, as empresas estatais. Essas empresas devem ser coordenadas pelo Poder Executivo. No entanto, a coordenação dessas empresas pelo Poder Executivo não pode ser tal que tolha a sua relativa autonomia, assim como a liberdade que elas têm de negociar salários com seus empregados aos níveis das condições de mercado. Infelizmente, mais recentemente, a existência da SEST, Secretaria de controle, organismo burocrático, e anteriormente, o CNPS – Conselho Nacional de Política Salarial, e atualmente, do Cise – Conselho lnterministerial de Salários Estatais, têm sido elementos nocivos, pela forma draconiana como tem sido exercido o controle sobre as empresas. No que diz respeito aos cortes dos investimentos, fazem muitas vezes cortes lineares de investimentos que prejudicam, às vezes, empresas que necessitam de maiores recursos, recursos esses fundamentais ao desenvolvimento de determinada área considerada estratégica para o País. No caso dos salários, achatam-se salários de quadros técnicos do setor estatal, quadros esses fundamentais para a garantia da eficiência e do crescimento da produtividade dessas empresas. Ocorre que, muitas vezes, essas empresas investem fortunas na formação de quadro técnico, e essas empresas perdem, porque não têm condições de disputar, nas condições de mercado, os salários que são pagos a esses trabalhadores especializados. Portanto, é fundamental possamos, sem prejuízo da iniciativa privada, assegurar o papel estratégico que deve ter o Estado na economia brasileira, entendendo-se esse papel como voltado para a perspectiva da resolução dos problemas so- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento) ciais e a ampliação da democracia em nosso País. (Palmas.) O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Luiz Salomão: "Um dos princípios da ordem econômica é a valorização do trabalho. V. S.ª acredita que uma nação cujo governo fixa em cerca de 50 dólares o salário mínimo mensal dos seus trabalhadores está cumprindo a Constituição!? V. Ex.ª crê que é possível sair do atoleiro em que o Brasil se encontra persistindo no atual modelo econômico mesmo remendado? Que linhas principais deveriam, para estruturar o modelo econômico, corresponder ao interesse da maioria do nosso povo?" O SR. JORGE BITTAR: – A pergunta é por demais oportuna. Na verdade, a resposta dessa pergunta significou toda a perspectiva de luta de mobilização da sociedade brasileira contra o modelo econômico que vigiu neste país durante os últimos 20 anos. Não era outro o conteúdo da campanha das diretas senão o da reivindicação da sociedade por mudanças estruturais, que pudessem, de fato, colocar a necessidade de superação dos problemas sociais como questão prioritária e fundamental na sociedade brasileira. Neste particular, o problema do salário mínimo é obviamente central na nossa economia. É interessante notar que os atuais governos, tanto os governos militares quanto o atual Governo, não cumprem a Constituição, porque a própria atual Constituição brasileira, apesar de todos os seus desvios, reza que será pago ao trabalhador brasileiro um salário mínimo que será o mínimo necessário para o sustento do trabalhador e de sua família. Está claro que com os valores atuais isto não é possível. Dever-se-ia estabelecer um programa de crescimento acelerado do valor real do salário mínimo, para que pudéssemos não apenas resolver os problemas sociais dos trabalhadores como ampliar o mercado interno brasileiro, como necessidade fundamental para mudança do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro. Outro elemento de resolução dos nossos problemas sociais, no cerne desse problema, segundo nosso ponto de vista, é o problema da dívida externa brasileira, que deve ser tratada pela manutenção da suspensão do pagamento e dos juros da dívida externa, em virtude de tudo aquilo que aqui já se colocou. Inclusive porque há necessidade, do nosso ponto de vista, de se fazer uma profunda auditoria na dívida externa brasileira, e isso é uma questão central, pela maneira absolutamente obscura, pela maneira muitas vezes ilegal como são formulados alguns empréstimos, como o caso da Cooperativa da Central-Sul, já denunciado. Evidente que houve flapautemente incorreção no lançamento desses débitos na nossa dívida. Assim como este, deve existir muitos exemplos. Os parâmetros que devem nortear a economia brasileira seriam os parâmetros da ampliação do mercado interno brasileiro, portanto, com ampliação dos salários, uma busca da soberania nacional, ou seja, do desenvolvimento tecnológico voltado para a resolução dos problemas sociais da população. A reforma agrária, no nosso ponto de vista um elemento fundamental, central, da economia brasileira, sem ela não há possibilidade de se ampliar o mercado interno. Estes, alguns parâmetros que poderiam nortear uma reformulação estrutural da economia brasileira. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Perguntas do Constituinte Ronaldo Cezar Coelho: "V. Ex.ª aprova amplo programa de privatização para liberar recursos para investimentos sociais pelo Estado? Em que setores? Com capitais externos?" O SR. JORGE BITTAR: – Há possibilidade de se resolver os problemas sociais brasileiros sem necessidade de se privatizar empresas que sejam estratégicas para o desenvolvimento brasileiro. Seria contraditório com a exposição que coloquei defendesse a privatização de empresas que considero fundamentais exatamente para a resolução dos problemas sociais em nosso País. Inclusive não desconheço, porque as próprias empresas estatais brasileiras têm sido centrais no desenvolvimento da própria iniciativa privada brasileira. São várias as empresas estatais que têm privilegiado as empresas eminentemente nacionais, de tecnologia nacional, nas suas compras. A Petrobrás, por exemplo, tem sido uma empresa estratégica no desenvolvimento da indústria de bens de capital brasileiro; a Eletrobrás também, a Embratel, e o Sistema Telebrás, no desenvolvimento da indústria eletroeletrônica brasileira, e assim por diante. Não há contradição entre alocar os recursos públicos no atendimento das graves necessidades sociais brasileiras. Eu começaria por saúde e educação como elementos centrais para solução dos problemas brasileiros, e a manutenção do papel do Estado nos setores estratégicos. Como já disse, nas áreas em que tradicionalmente não haja nenhuma exigência estratégica da presença do Estado – na área hoteleira, na área de estrada de ferro, turismo, ou qualquer coisa que o valha, é claro que aprovamos um programa de privatização, desde que seja consultado o Congresso Nacional. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Gil Cesar: "Quando o Senhor afirma a necessidade da Eletrobrás, entretanto empresas estatais estaduais – exemplifico, a CCE do Rio Grande do Sul — apresentam quadros deficitários crescentes. As empresas eficientes subsidiam as ineficientes. O Senhor não julga, no caso específico, que, sendo a ineficiência fruto da má administração do Governo local, o ônus deva ser desse mesmo Governo? É justo que o contribuinte mineiro subsidie a energia do Sul?" O SR. JORGE BITTAR: – Essa questão da eficiência das empresas estatais deve ser tratada com a máxima seriedade. Em primeiro lugar, aqui já foi colocado pelo ilustre Professor Osny Duarte Pereira, no próprio sistema energético brasileiro há uma profunda distorção no sistema tarifário. As tarifas dos assinantes domésticos são extremamente mais elevadas em valores reais do que as tarifas do setor DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento) industrial, particularmente as tarifas dos setores que produzem alumínio. Todos sabemos que Tucuruí foi construída para fornecer energia a preço extremamente subsidiado às empresas privadas. No setor de telecomunicações a situação não é diferente. São os pequenos usuários dos sistemas de telecomunicações – e digo isto como funcionário que sou da Embratel –, os pequenos funcionários usuários do sistema de telecomunicações são aqueles que, na verdade, contêm o sistema de telecomunicações. As grandes emissoras de televisão, como é o caso da Rede Globo, os grandes conglomerados financeiros, na verdade, têm tarifas extremamente subsidiadas, o que não achamos correto. A perspectiva social deveria privilegiar exatamente o pequeno consumidor, o pequeno assinante, quer de energia, quer de telecomunicações, quer de qualquer outro serviço prestado pelo Estado. Acerca, especificamente, dessa empresa da CCE, deve-se averiguar as razões desse déficit. Esse déficit pode ser exatamente porque as tarifas dos assinantes domésticos estão extremamente baixas, estão sendo insuficientes para fazer face às necessidades de receitas dessa empresa. Deve haver um controle por parte da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, no caso de essa ser uma empresa estatal do Rio Grande do Sul, e por parte do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, para que averiguar as eventuais irregularidades, punir os eventuais culpados por desvios de recursos ou mesmo a má administração. No caso da má administração, será punido com a renovação da diretoria dessa empresa. A busca da eficiência está, antes de mais nada, ligada à transparência, ligada à possibilidade que tem a sociedade de acesso às informações dessas empresas, senão nunca poderemos julgar se os investimentos, se as decisões das empresas são ou não corretas. Na verdade, hoje não temos acesso à fundamentação, aos dados em que estão baseadas as decisões das principais empresas estatais deste País. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, peço a palavra para um esclarecimento. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Conferencista, a questão que havia colocado era para o conferencista anterior. Esclareço. Como a tarifa é unificada a nível nacional, há empresas estatais, estaduais eficientes que subsidiam as ineficientes. Então, se caracteriza uma ineficiência local por parte do Estado incapaz de administrar, no caso específico, como citei, a CCE do Rio Grande do Sul, que corresponde, segundo publicações dos jornais, a 5% da dívida externa nacional. No caso, o conferencista concorda que, neste País-continente, a responsabilidade seja assumida exclusivamente pelo governo local. Não é admissível que a sociedade brasileira, como um todo, a nível de um sistema energético deficiente em alguns Estados e cito o Paraná e o meu Estado –, no caso específico da CEMIG exporte energia subsidiada. Minha questão se resume: o Conferencista concorda, no caso específico constatada a ineficiên- cia de uma empresa setorial de um sistema cuja holding é uma empresa estatal, constatada essa ineficiência por motivos exclusivamente locais, concorda V. S.ª que o ônus dessa ineficiência seja da responsabilidade exclusiva do governo local? O SR. JORGE BITTAR: – Entendi melhor a sua colocação. Penso concordar com a sua formulação. A idéia da democratização do setor estatal da economia... O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Apenas um adendo à sua pergunta. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Peço a V. Ex. faça-o por escrito. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – O problema todo é que se trata de assunto completamente da pergunta que fiz. O nobre Constituinte Gil César coloca uma questão da ineficiência das empresas estaduais; que essas empresas estaduais são obrigadas a absorver uma questão fundamental. Por exemplo, no meu Estado, elas são obrigadas a absorver o sistema Diesel, e o sistema Diesel é terrivelmente ineficiente. É centena de vezes mais caro do que o sistema gerado por hidroelétrica. Então, comparado pelo terceiro município. Todos eles precisam ser iluminados, tem que dar a Cepla essa iluminação. E o que acontece? Ela só tem 18 ou 20 municípios, e agora o Governo do Estado está fazendo um grande esforço para obter a energia de Tucuruí, enquanto isso, a energia de Tucuruí está sendo transferida para o Nordeste e para a indústria de alumínio subsidiado, e o Pará tem que suportar uma empresa que tem consumo de Diesel para manter a luz elétrica na sua cidade. Daí, não posso admitir seja uma ineficiência da Cepla. É apenas uma conjuntura que não permite que a Cepla tenha energia hidráulica em todo o território paraense, e somos obrigados, de qualquer maneira, a dar luz elétrica para a população. Não é ineficiência? O sistema nacional usufrui disso, tem que arcar com essas ineficiências. O SR. JORGE BITTAR: – Agradeço ao Constituinte Gabriel Guerreiro a contribuição. Concordo com a sua intervenção. Na verdade, os sistemas Diesel deveriam ser meramente alternativos para os casos em que possa haver algum tipo de pane no sistema hidroelétrico, mas, exatamente por distorções, eles acabam sendo sistemas prioritários em muitos Estados. Podem ser algumas das causa. Pode eventualmente existir, em determinada empresa, a má administração, ou até mesmo o desvio de recursos para outras finalidades. É preciso que haja transparência. No sentido mais genérico, concordo. Não seria justo que a Nação, como um todo, arcasse com problemas que são gerados no estado. Para isso é preciso, em primeiro lugar, que a empresa estadual tenha, de fato, autonomia para gerir a empresa que não esteja submetida também ao centralismo decisório exagerado, no caso da Eletrobrás ou do Ministério das Minas e Energia; em segundo lugar, que essa empresa tenha a sua administração transparente quer aos seus funcionários quer à sociedade civil, que, e em particular, à Assembléia Legislativa do Estado. 40 Nestas condições, guardadas essas premissas, concordo que essa empresa, sendo administrada democraticamente e de forma inteiramente autônoma, os seus problemas de recursos serão resolvidos prioritariamente no próprio estado. O SR. ISMAEL WANDERLEY: – Perguntas do Constituinte Delfim Netto: "Entendi bem a sua argumentação. Mesmo quando a taxa de retomo de uma estatal seja inferior à taxa de retorno privada, ela resgata a dívida social? Na sua opinião os salários devem ser livremente negociados, mas as tarifas fixadas socialmente? Quando a taxa de retomo de uma estatal é inferior à taxa de retomo da privada?" O SR. JORGE BITTAR: – Não coloquei segundo esta premissa. Esta é uma hipótese que está sendo levantada pelo nobre Presidente da Mesa, que a empresa estatal deve ter uma taxa de retorno inferior à taxa do incentivo privado. O que afirmei... O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Perdão, pergunto se, nesse caso, ela resgata a dívida social. O SR. JORGE BITTAR: – Não. Devemos seguir a eficiência da empresa estatal. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Quero saber, se a taxa de retomo for inferior à taxa de retomo privada, ela resgata a dívida social? O SR. JORGE BITTAR: – Depende de como são apropriados os recursos que são investidos. Se temos uma empresa estatal utilizando recursos públicos, investindo nesses recursos públicos segundo uma prioridade social claramente delimitada, temos que medir a eficiência dessa empresa pela qualidade dos serviços que ela presta e pelos objetivos sociais que lhe são determinados pelo valor da tarifa. Disse que é razoável, possamos, por exemplo, trabalhar com tarifas subsidiadas em algumas áreas. E isso não deve causar espanto a ninguém. Todos sabem que o metrô de Nova Iorque é deficitário. No centro do capitalismo internacional o metrô de Nova Iorque é deficitário. Então, não há problema algum de princípio. Eventualmente pode ser uma empresa estatal com taxa de retorno relativamente baixa. Para mim, a medição principal, a observância, o critério principal que deve presidir a medida da eficiência de uma empresa estatal é a realização dos seus objetivos sociais. Secundariamente, mas não menos importante, deve-se observar a necessidade da busca de produtividade, cada vez maior, por parte dessa empresa. Neste sentido que coloquei essa questão das empresas do Estado. Não julgo que as empresas estatais – quero que fique claro – possam ser inevitavelmente – talvez esta seja a nossa divergência – menos eficazes do que a iniciativa privada. Cito a empresa na qual trabalho. A Embratel foi considerada no ano de 1985, segundo a revista Exame, uma revista insuspeita, a melhor empresa do País, dentre as 500 maiores empresas estatais ou privadas. Enquanto isto, tivemos o caso da Emaque, um estaleiro privado, que, inclusive, trabalhou com recursos e faliu. Há exemplos e contraexemplos. Não há nenhum determinismo fatal 41 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) que diga que o Estado deva ser ineficiente e de baixa produtividade. A baixa produtividade, geralmente, deriva do autoritarismo, esse autoritarismo desses 20 anos que implicou no empreguismo, no desvio de recursos etc. Por exemplo, temos a Eletrobrás, hoje extremamente endividada – com compras de equipamentos, inclusive, durante os governos militares, equipamentos desnecessários, de que a empresa não precisava. O corpo dessas empresas não participou dessas decisões, e há equipamentos que estão apodrecendo. Enquanto isto, a Eletrobrás é obrigada a pagar juros enormes. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Se V. S.ª me permite. Em vez de ficarmos nessa conversa, deveria dizer onde é que estão os equipamentos, quais são eles, como é que eles foram comprados sem se consultar o corpo técnico. Tudo isso é muito geral. V. S.ª não respondeu à pergunta obviamente, porque não pode respondê-la, porque implica um absurdo lógico. Não precisa fazer discurso. O SR. JORGE BITTAR: – Não sei qual é o absurdo. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – O absurdo lógico é o senhor imaginar. Se um investimento público tem uma taxa de retorno inferior à taxa de retorno privado, obviamente não se pode resgatar dívida social nenhuma. Vai aumentar a dívida social. Se o Senhor concordar com isto, tudo bem. O SR. JORGE BITTAR: – Tudo bem, mas não necessariamente. Eu disse que não necessariamente o retorno da iniciativa estatal deva ser menos inferior que o da iniciativa privada. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – E esta a premissa básica, senão vamos raciocinar de outro lado. O SR. JORGE BITTAR: – Não quero sofismar sobre o problema. Em segundo lugar, afirmo ao nobre Presidente da Mesa que as informações que eu disse acerca do setor elétrico não foram ditas por mim, mas por uma pessoa inatacável neste País, que se chama Dr. Mário Bhering, Presidente da Eletrobrás. S. Ex.ª fez essa denúncia publicamente. Disponho de todas as informações, caso o nobre Constituinte desejar. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Deve encaminhá-las imediatamente à CPI da Dívida Externa. O SR. JORGE BITTAR: – É fato público e notório. Não há nenhuma discussão. Não foi só a Eletrobrás. Existe a Light. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Existe outra pergunta: "Na sua opinião, os salários devem ser livremente negociados, mas as tarifas fixadas socialmente?" O SR. JORGE BITTAR: – Penso que as empresas estatais devam recuperar os seus trabalhadores, de acordo com os salários justos e os salários de mercado, para que elas possam manter técnicos de alta qualidade, para que elas possam, inclusive, perseguir as elevadas taxas de retorno, para que elas possam ser empresas de fato produtivas. Não quero que nas empresas estatais fiquem os profissionais que, por não conseguirem emprego no mercado, vão-se pendurar nos cabides da empresa estatal. Quero que os melhores profissionais sejam, também, do setor estatal, e não apenas do setor privado. Isto não tem nada a ver com a questão da tarifa. O Governo pode, eventualmente, subsidiar uma empresa privada. As tarifas podem e devem ser fixadas socialmente, de acordo com os interesses do Governo, desde que se priorize os interesses da grande maioria da população e que se tome essa decisão de forma democrática. É sempre esta premissa que eu julgo importante estabelecer. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Gabriel Guerreiro: "Nossa tecnologia atual tem uma grande dependência externa. Faltam investimentos na pesquisa científica e tecnológica, que implicam em um aprofundamento dessa dependência. Qual a sugestão da Confederação para diminuir o atraso tecnológico do País? Devemos ou não optar pela reserva de mercado, para permitir o avanço tecnológico? Como o Senhor vê a corrida através do avanço tecnológico dos países desenvolvidos, como no caso atual da informática?" O SR. JORGE BITTAR: – Como disse anteriormente, a tecnologia é o principal instrumento da busca de hegemonia do sistema econômico internacional. Quanto a isto, ninguém duvida que atravessamos, hoje particularmente, o período da chamada Revolução Tecnológica, em que os micro-circuitos possibilitam a informatização, a automação, que os novos materiais e a Biotecnologia revolucionam todos os processos produtivos e toda a economia e modificam todos os padrões econômicos e sociais. Todos sabemos que a possibilidade de controle de todo o sistema econômico internacional está intimamente ligado ao controle da tecnologia. Só para se ter uma noção, estima-se que na virada do século – e são informações que posso, inclusive, entregar à Mesa brevemente – o mercado de informática e telecomunicações – o mercado internacional – representará algo em torno de alguns trilhões de dólares, e isto representará, também, cerca de 40% de toda a produção industrial agregada do mundo. Só por isto dá para se perceber a importância do controle nessa área do controle, em escala internacional, e todos sabemos que não vivemos naquele período descrito por Adam Smith ou mencionado por Lincoln, ou seja, o período da economia perfeitamente competitiva, tal qual aprendemos nos livros de Economia – não sou economista, sou engenheiro, mas tive a oportunidade de cursar algumas matérias de Economia na escola em que me formei em Engenharia. Vivemos numa área em que a Economia é controlada pelos grandes grupos econômicos – é a chamada era monopolista da Economia em escala internacional, em que as empresas transnacionais procuram estabelecer os seus padrões de hegemonia, o que, em si, não é nenhum mal – não há nenhum mal intrínseco nisto. O proble- ma é que cada país deve procurar resolver o seu problema tecnológico, e a busca do seu desenvolvimento social de forma autônoma, não desconhecendo a necessidade da interação com o mundo exterior. Não se trata de defender aqui o nacionalismo xenófobo e fechar as fronteiras deste País. Trata-se de entender que não é possível, por exemplo, no caso da informática, soltar, nas mesmas condições, com regras do jogo absolutamente iguais uma IBM no mercado com uma pequena empresa brasileira – poderíamos chamar a Scopus ou, a Digirede, ou qualquer uma dessas empresas do setor de informática. Temos exemplos recentes. Durante os governos militares não foi constituído qualquer sistema de proteção à indústria nacional de televisores. Há cerca de 15 anos tínhamos uma florescente indústria nacional de aparelhos de televisores – a "Empire", a "Invicto", a "ABC", "Colorado" – que projetavam esses televisores e industrializavam os televisores no Brasil: Com a criação da Zona Franca de Manaus, estabeleceram-se galpões, que não são indústrias, e que montam kits importados, que acabaram, através do processo de dumping, destruindo a indústria brasileira de televisores. Não temos uma indústria sequer, hoje, de televisor no País. Esta realidade, tão ferida para o setor de informática, torna claro que, se não houver algum mecanismo de proteção, durante certo tempo, tal como está formulado na Lei de Informática, à indústria brasileira nos setores de tecnologia de ponta, não teremos como sobreviver à concorrência presunsória dos grandes empreendimentos multinacionais. Até para que possamos estabelecer relações de troca de igual para igual com os demais países, é preciso que, em determinado momento, possamos proteger a nossa indústria. Assim fez o Japão, assim fizeram os Estados Unidos. A Elebra Computadores publicou uma propaganda, recentemente, que mostrava o Presidente Grant criticando a Inglaterra, porque a Inglaterra fazia pressão contra o protecionismo americano contra os ingleses. "Provavelmente, daqui há algumas décadas, seremos criticados, porque estaremos condenando o protecionismo de outros países". O protecionismo é uma coisa importante. Os Estados Unidos, hoje, estão-se protegendo contra o Japão, tomando medidas contra o Japão. Não há nenhum mal nisto, desde que seja regulamentado, desde que seja controlado socialmente e por tempo determinado. Defendemos o instrumento da reserva de mercado como um instrumento da busca da soberania nacional, o desenvolvimento tecnológico, e deve ser adotado na Constituição, de maneira geral, como um instrumento, e através de lei, especificamente, naqueles setores onde se julgue necessária a busca do desenvolvimento tecnológico – citaria a Biotecnologia, a Química Fina – enfim, esses setores de tecnologia de ponta que são setores estratégicos. Penso que está respondida a pergunta. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Pergunta do Constituinte Ronaldo Cezar Coelho: "O Senhor defende uma auditoria da dívida externa para identificar irregularidades e fraudes na sua contratação? Sendo as empresas estatais as maiores devedoras em fi- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) nanciamentos externos, essa iniciativa constituiria uma suspeita concreta de fraude nas estatais?" O SR. JORGE BITTAR: – Penso que sim. Tranqüilamente, como disse, as empresas estatais não estão presas ao serviço da população brasileira nestes 20 anos – estiveram a serviços de grupos fechados, de grupos restritos que se beneficiaram das decisões dessas empresas. Citei, anteriormente, talvez até a pergunta do nosso ilustre Constituinte Ronaldo Cezar Coelho tenha sido apresentada antes de eu fazer menção à dívida da Eletrobrás e de diversas empresas –, elas foram compelidas, nem o corpo técnico participou dessas decisões. Deve-se fazer auditoria e não nego que as empresas estatais estão envolvidas, mas não como mal intrínseco dessas empresas, mas pelo tipo de administração antidemocrática e ligada a interesses escusos que estiveram vigendo nessas empresas durante esse período todo. Assim, penso que a auditoria é absolutamente imprescindível, para que possamos caminhar, no sentido da soberania nacional, para a resolução dos nossos problemas. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Não havendo mais nenhuma pergunta, agradecemos ao Engenheiro Jorge Bittar a sua exposição. O SR. JORGE BITTAR: – Eu é que agradeço, imensamente, a oportunidade que me foi dada. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Convido o Dr. Paulo Rabelo de Castro para fazer a sua exposição. Havíamos convidado o ex-Ministro Mário Henrique Simonsen. Infelizmente S. Ex.ª se encontrava nos Estados Unidos, chegou apenas ontem, e eu e o ilustre Relator nos consultamos e decidimos convidar o Dr. Paulo Rabelo de Castro para que fizesse a exposição. S. Sª é também da Fundação Getúlio Vargas. O SR. PAULO RABELLO DE CASTRO: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, minhas Senhoras e meus Senhores: Já foi esclarecida pelo Presidente da Mesa a minha condição de semi-intruso nesta preclara Subcomissão, tendo em vista que aqui realizo uma tarefa impossível, a de substituir o brilho e a inteligência do exMinistro Mário Henrique Simonsen. Talvez por um erro de avaliação, a Mesa julgou que as minhas idéias possam, de alguma forma, reproduzir o pensamento do ilustre Professor Mário Henrique Simonsen, faço aqui questão de eximir o Professor Mário Henrique Simonsen de qualquer responsabilidade pelas idéias de que qualquer forma, embora pertencendo à mesma instituição, possa eu trazer a esta nobre Subcomissão. Devido ao adiantado da hora – imagino que os Srs. Constituintes, apesar de todo o civismo, não costumam trabalhar pela madrugada –, procurarei apenas repassar um ou dois pontos que me parecem dignos de menção, depois de ouvir tantas exposições notáveis e tantos debates inteligentes. O posicionamento das questões da intervenção do Estado no domínio econômico tem abrangido inúmeras questões, mas tem deixado de lado um dos aspectos que julgo importante considerar aqui e, por isso mesmo, omitindo todos os demais aspectos, privilégio este, para transformá-lo na minha contribuição a esta Subcomissão. Tratase da questão da origem dos financiamentos de todos os investimentos estatais na economia brasileira. Hoje a questão do controle do capital pelas empresas privadas ou estatais, sejam privadas nacionais ou estrangeiras, inclusive estatais nacionais ou estrangeiras, é questão menor diante da outra questão que é a origem da intervenção estatal a partir do modo de financiamento desses investimentos. Repassouse esse ponto ligeiramente em outras intervenções, quando estabeleceu-se aqui uma associação, que julgo válida, da atividade estatal com o capitalismo privado sem risco. A meu ver é indiferente, do ponto de vista do julgamento da eficiência econômica e social, a origem, o controle desse capital, quer esteja na mão privada, quer na estatal, quando ele, de alguma forma, não cumpre esses objetivos que são da busca incessante da eficiência econômica que não conflita com eficiência social. Por que surge o problema dessa dicotomia entre o capital estatal e o capital privado? Sempre que o financiamento desse capital, na sua origem, vem eivado de um erro básico, que é a dissociação entre a responsabilidade pelo capital e a responsabilidade pelo resultado. O capitalismo sem risco de inúmeros empreendimentos privados financiados 100%, como ainda hoje, através da iniciativa estatal, estão tão sujeitos ao pecado da ineficiência, do atraso, dos maus resultados da dilapidação do patrimônio público, quanto o da empresa estatal que não cumpre nenhum dos dispositivos de controle e de avaliação dos resultados, quer a nível do Executivo, quer a nível do Congresso. Por que isso? Apenas chamo a atenção dos senhores que na base está outra estatização muito mais importante do que a empresarial, a da poupança nacional. Militando em uma mãe de mitos, aliás, o padrão das nossas avaliações econômicas, partimos do mito maior que existe uma insuficiência de poupança na economia brasileira. Por todos os dados disponíveis, a poupança privada nacional jamais foi insuficiente. Temos sentido, ultimamente, um problema grave: um lado, a cessação da poupança externa, que vinha até 1982 complementando os investimentos, não raro pouco rentáveis de opções de investimentos diretamente estatais ou do capitalismo privado sem riscos. Perdemos realmente essa fatia do investimento externo, da poupança externa transformada em investimento. Principalmente, acavalou-se um enorme déficit público, que corresponde, matematicamente, a uma despoupança pública, ou seja, uma poupança pública com sinal negativo, que corrói o esforço da poupança privada. Segundo todos os dados disponíveis, inclusive na nossa Casa, na Fundação Getúlio Vargas, mostram que o setor empresarial e o setor família jamais deixou de poupar parcelas significativas de sua renda, de forma que poderíamos, sim ser um Japão, caso tivéssemos uma apropriação privada e uma canalização privada da poupança privada. Na medida em que temos canalizações públicas da poupança privada, transformamos decisões privadas eficientes em decisões técnico-burocráticas associadas aos autoritarismos militares ou a autoritarismos mitológicos e ideológicos, sejam quais forem. De qualquer forma, decisões não democráticas de investimentos. A única deci- 42 são democrática de investimentos é aquela que reúne o poupador que poupa voluntariamente com o investidor que também busca esses recursos de modo voluntário. Os nobres Constituintes sabem muito bem que hoje é impossível estabelecer-se um banco de investimentos com linhas de longo prazo, porque? O sistema estatal de poupança está reduzido, mascaradamente, a uma rolagem de posições que não passam de 60 dias de prazo. Obviamente em um País em que o capital financeiro está principalmente localizado na mão do Estado, tendo em vista que são as entidades e agências estatais, de poupança, de empréstimos, de bancos comerciais, estatais que dominam hoje mais de 70% do volume total da poupança financeira, não necessariamente a poupança real, porque essa poupança financeira pouco se transforma em poupança macroeconômica real, tendo em vista que no percurso do poupador para o suposto investidor ela é recanalizada para o financiamento inútil, inócuo, estéril desse enorme déficit público. Temos afinal, essa canalização pública que mata, na origem, as decisões de investimentos, que seriam, estas sim, geradoras no setor privado de investimentos produtivos. Quando falamos que o déficit público é vinculado estritamente ao aumento do endividamento privado, estamos, na realidade, tentando forçar um argumento que, de alguma forma, manobra contra essa constatação simples e óbvia de que o Governo não sabe nem ao menos canalizar recursos do setor privado para o setor público. Entretanto, que fez a Nova República? Em meio a um mar de recursos novos – V. Ex.as estão cientes – no ano passado, até mesmo pelos efeitos positivos que uma Desindexação traz a arrecadação fiscal, neste País, aumentou expressivamente. De modo paradoxal, foi este mesmo ano em que o Governo se viu premiado por um aumento da arrecadação fiscal, em termos reais, extremamente expressiva. Diga-se de passagem, a arrecadação do Governo Federal subiu 150%, vis-à-vis de uma inflação que, neste ano, não passou de 12% a 13% pelo menos até o mês de dezembro. Note-se, então, que a arrecadação, em termos reais, subiu muitíssimo. Neste mesmo ano o Governo se viu a braços com uma carência de recursos, que motivou o Fundo Nacional de Desenvolvimento, que seria utilizado exatamente para o saneamento de inúmeros setores estatais que estariam carregando o peso de todo esse endividamento exterior. Se compulsarmos os efeitos produzidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento, verificamos que não só esse Fundo até agora – clube de investimentos, do qual todos nós brasileiros participamos compulsoriamente – não emitiu um só relatório aos seus acionistas, como também sabemos de notícias que o principal órgão arrecadador de parte desse investimento, no caso a Petrobrás, recusa-se, inclusive, a trazer aos cofres públicos e ao gerente, que até ontem era o Sr. Gonzaga Beluzzo, os recursos necessários para que ele execute a boa gerência desse Fundo Nacional de Desenvolvimento. Mais ainda: nesse mesmo ano em que o Fundo Nacional de Desenvolvimento foi instituído, a Receita Federal cresceu 150%, ou seja, um mar de dinheiro novo para o exercício de todos os 43 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) projetos sociais absolutamente necessários num País faminto de uma renovação social eficaz. Nesse mesmo ano, as despesas, curiosamente, subiram 250%, ou seja, 100% mais do que as receitas. Obviamente explica e justifica um pouco mais o crescente déficit público do que a suposta participação e o peso dos juros da dívida interna, juros esses que não são mais do que 20% do total do dispêndio público. É curioso, então, supor que apenas 20% de um bloco total de despesas sejam a parcela responsável por todo o buraco, assim como se costumava dizer que no orçamento, este mesmo orçamento monetário que simplesmente acabou e cedeu lugar à mera guitarra no Banco Central. Argüia-se, em tempos passados, que era o subsídio rural o responsável pelos desmandos da política monetária, sem supormos que todos os dispêndios e os subsídios participam, igualmente, da explicação, inclusive o agrícola, do problema grave que temos. Esta, Senhores, a idéia que trago: ou estabelecemos neste País, a partir da nossa Constituinte, uma visão real da democracia, que constitui, na sua base, o respeito à dignidade do cidadão, que começa pelo respeito à dignidade do seu bolso e da sua poupança, poupança essa que deve ser canalizada preferencial, ou senão, exclusivamente pelas instituições privadas altamente habilitadas deste País, para investidores igualmente privados, façamos, pela primeira vez, neste País, o teste da democracia econômica, que jamais foi feito neste País, que jamais foi capitalista, portanto, jamais testou essa forma econômica, testou sim, o que chamo de sistema mordomista, que é o sistema estatal com intervenção do capitalismo privado sem risco. Se fizermos este teste, corremos o risco de constatar que o produto potencial do Brasil e seu crescimento potencial não são 7%, que esse modelo jamais alcançará, mas, talvez, 10 a 11%, que um dia alcançaremos. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Agradecemos ao Dr. Paulo Rabello de Castro sua exposição. O SR. PAULO RABELLO DE CASTRO: – E eu ao silêncio dos Srs. Constituintes a esta hora. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Ficamos muito grato a V. Sª pela exposição que fez. Estou certo que terá conseqüências importantes no pensamento de cada um. O SR. PAULO RABELLO DE CASTRO: – Aproveito, Sr. Presidente, para deixar alguns documentos, que, embora, acisado, ainda hoje, desta minha modesta participação, talvez sejam de alguma utilidade em termos as das propostas à Constituinte que V. Ex. estão elaborando. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado. Vamos encerrar a reunião, lembrando aos Srs. Constituintes que temos uma reunião marcada para amanhã, às 9 horas e 30 minutos. Neste mesmo local. Está encerrada a reunião. (Encerra-se a reunião às 21 horas.) SUBCOMISSÃO DA QUESTÃO URBANA E TRANSPORTE 6ª Reunião Ordinária Às dezessete horas e quarenta e três minutos do dia vinte três de abril do ano de hum mil novecentos e oitenta e sete, em Sala de Reuniões do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão da Questão Urbana e Transporte, sob a Presidência do Senhor Constituinte Dirceu Carneiro, presentes os Senhores Constituintes: Myrian Portela, José Ulisses de Oliveira, Dirceu Carneiro, Márcio Lacerda, Gidel Dantas, Luís Roberto Ponte, Manoel Castro, Joaquim Francisco, Expedito Júnior e Denisar Arneiro. Havendo número, passou-se à leitura da Ata da reunião anterior, que foi aprovada e assinada pelo Senhor Presidente. Em seguida, o Senhor Constituinte José Ulisses de Oliveira sugere a convocação das seguintes entidades: Associação Nacional dos Armadores de Roll-on/Roll-off e Transporte Intermodal, e Associação Nacional de Transportes Públicos. É aprovada, a convocação dessas entidades. O Senhor Presidente anunciou a presença, na Subcomissão, dos senhores: Roberto Requião, Prefeito de Curitiba e representante da Associação Brasileira de Prefeitos de Capitais: Jorge Khoury, Prefeito de Juazeiro, Estado da Bahia, Presidente eleito da Associação dos Prefeitos da Bahia e Presidente da Confederação Brasileira dos Municípios; e Silas de Oliveira, Presidente da Associação dos Municípios do Estado de São Paulo, que foram convidados, pelo Senhor Presidente Dirceu Carneiro, a comporem a Mesa dos debates. Na oportunidade, os ilustres convidados fizeram uma exposição sobre assuntos ligados à área de competência da Subcomissão. Em seguida usaram da palavra, como interpelantes, os Senhores Constituintes: Denisar Arneiro, Manoel Castro, José Ulisses de Oliveira, Márcio Lacerda, Joaquim Francisco, Myrian Portela, Gidel Dantas e Luís Roberto Ponte. Agradecendo a presença dos convidados, e antes de encerrar os trabalhos, o Senhor Presidente convoca uma reunião da Subcomissão, a realizar-se às dezessete horas e trinta minutos, de amanhã. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrada a reunião às vinte horas e quatro minutos. Para constar, eu, Marilda Borges Camargo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. Sala de Reuniões da Subcomissão, em vinte e três de abril do ano de um mil novecentos e oitenta e sete. – Constituinte Dirceu Carneiro, Presidente. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) COMISSÃO DA ORDEM ECONÔMICA Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica ATA DA 6ª REUNIÃO ORDINÁRIA Aos vinte e oito dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dez horas e trinta e cinco minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniuse a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a presidência do Senhor Constituinte Delfim Netto, com a presença dos seguintes constituintes: Delfim Netto, Gustavo de Faria, Virgildásio de Senna, Luiz Salomão, Vladimir Palmeira, Antônio Carlos Franco, Marcos Lima, Raquel Cândido, Renato Johnson, Roberto Campos, Gil César, Gabriel Guerreiro, Albano Franco, Jalles Fontoura, Gilson Machado, Antônio Ueno, Joaquim Bevilacqua, Ismael Wanderley e Rubem Medina. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura da ata da reunião anterior, que foi aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se início ao Expediente que constou da leitura sumária de sugestões encaminhadas pelo Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos, contendo matéria constitucional. Findo o Expediente, o Senhor Presidente anunciou o debate do Termo de Referência proposto pelo Senhor Relator, no tocante ao item A – Questões Vestibulares, subdividido em A.1 – Objetivar uma Constituição sintética ou analítica e A.2 – Trabalhar a partir de uma proposta básica ou não, do qual participaram os Senhores Constituintes Joaquim Bevilacqua, Gil César, Luiz Salomão, Virgildásio de Senna, Raquel Cândido, Gabriel Guerreiro, Roberto Campos, Jalles Fontoura e Vladimir Palmeira. A subcomissão determinou ao Relator que apresente proposta básica, consubstanciando as sugestões encaminhadas, a partir do dia seis de maio. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às onze horas e quarenta e nove minutos, convocando os senhores constituintes para a próxima reunião, a ser realizada hoje, dia vinte e oito de abril, às dezessete horas e trinta minutos, para continuação do debate dematéria constitucional. E, para contar, eu, Ione Ramos de Figueiredo, Secretária, lavrei a presente ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO À ATA DA SEXTA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA REALIZADA EM 28 DE ABRIL DE 1987, ÀS 10 HORAS E 35 MINUTOS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Declaro abertos os trabalhos da reunião da Subcomissão de Princípios Gerais. Intervenção de Estado, Regime de Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica em caráter informal, vez que ainda não dispomos de quorum regimental. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, o nobre Relator, na primeira reunião, colocou algumas preliminares, dentre elas essa que é uma das grandes preocupações dos constituintes e de setores da opinião pública, que diz respeito à extensão do texto constitucional e, muitas vezes, à inclusão, no texto, de matérias não necessariamente constitucionais. Eu acho que foi bem colocada pelo nobre Relator esta questão, porque o próprio anteprojeto, o próprio estudo da chamada Comissão Afonso Arinos já foi criticado pela sua extensão – quatrocentos e tantos artigos. Estou dentro do grupo realista, meu caro Presidente. Acho que não vamos conseguir fazer uma Constituição sintética, o ideal seria que já tivéssemos uma civilização estratificada, uma evolução política a ponto de podermos fazer uma Constituição com alguns princípios, mas nem os dez mandamentos são seguidos. Por mais que fizermos... Nem na nossa atual Constituição, muitos artigos não são regulamentados. Outro dia assisti a uma discussão interessante, participando de uma reunião conjunta das Subcomissões do Executivo e do Legislativo, sobre o poder regulamentador das comissões técnicas. Uma das nossas preocupações e também no tocante à regulamentação da Constituição. Não basta elaborarmos um trabalho muito bonito, que tenho certeza haveremos de fazer, se ele não for autoaplicável, ou aplicável logo em seguida, porque a opinião pública está acompanhando os nossos trabalhos e vai cobrar a aplicabilidade dessas normas. Esse aspecto do poder regulamentador das comissões técnicas está sendo discutido, a nível da Subcomissão do Poder Legislativo. Acho, realmente, que devemos procurar enxugar, até porque se formos analisar o texto da Constituição de 1946 e de 1967, vamos ver que muita coisa que está lá, como segurodesemprego, participação nos lucros, benefício às classes trabalhadoras e alguns avanços na ordem social, não foi regulamentada. Nós, na outra legislatura, tentamos regulamentar alguns desses dispositivos, através da lei complementar e da lei ordinária, e não conseguimos. Então, temos que encontrar mecanismos, inclusive temos que já ir pensando na forma de regulamentar aquilo que ficar disposto, seja uma Constituição prolixa, seja uma Constituição extremamente detalhista, ou uma Constituição exemplificativa, sintética, sob a minha ótica. Agora, gostaríamos de ouvir o nobre Relator que, com a sua cultura, seu preparo e 44 sua bagagem, naturalmente pode nos dar um pouco da sua luz sobre esse assunto. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Evidentemente que o papel do Relator não pode ser esse, pois não deve antecipar seu pensamento, sua opinião, sua visão do problema, antes de ter claramente a posição da Comissão, mesmo porque não é vontade do Relator, desse ou daquele modo, tentar influenciar antecipadamente a opinião de cada um dos membros da comissão. Na questão, minha visão se arrima no sentido histórico do processo constitucional brasileiro. Historicamente as nossas constituições vêm, a cada passo, tomando dimensões cada vez maiores. A Constituição de 1824 foi composta de 293 disposições, 169 artigos e 124 itens; não havia parágrafos nem alíneas. Já na Constituição de 1891 o número de dispositivos cresceu para 345, 91 artigos, 104 parágrafos, 114 itens e 20 alíneas. Na Constituição de 1934, já se enfrentava a questão social, os princípios de Weimar e as dimensões foram bem maiores, foram 788 disposições constitucionais. Se compararmos a de 1824 com a de 1934, as dimensões são mais do que o dobro, são 788 disposições constitucionais: 187 artigos, 195 parágrafos, 179 itens, 180 alíneas. E, já aqui, como na Constituição de 1891, disposições constitucionais transitórias. O que me parece é que nenhuma Constituição moderna pode ser fundamentalmente sintética, nem tampouco sintética ou analítica me parece ser o objetivo das Constituições. Elas precisam ser eficazes, ágeis, que assegurem os objetivos econômicos, sociais, políticos e as garantias individuais, enfim, que elas sejam um instrumento que, ao mesmo tempo, abra oportunidade ao que ainda é contingente e balize as aspirações nacionais de longo termo. No caso concreto da realidade brasileira, a tentativa de Constituições sintéticas não me parece tenha dado resultados convenientes. É de todos conhecido o episódio da nomeação do Dr. Barata Ribeiro, eminente médico no Rio de Janeiro, por Floriano, por culpa da Constituição de 1891 assegurar que o provimento dos cargos de Ministro do Supremo Tribunal Federal obedecia ao critério de notório saber e vida ilibada. Como a Constituição não foi adjetiva e acrescentou ao notório saber a expressão "notório saber jurídico", Floriano, para espicaçar os juristas da Constituição de 1891, nomeou o Dr. Barata Ribeiro, médico eminente, membro do Supremo Tribunal Federal, nos termos explícitos da Constituição de 1891. O que significava, há um tempo, a necessidade de uma posição mais analítica em termos constitucionais, e fundamentalmente, a meu ver, isto é que é terrível na vida brasileira, a degradação do instituto da presidência, quando ele é utilizado para prover os cargos de livre escolha do Presidente, sob aquelas formas que degradam a vida política e degradam o espírito do instituto do livre arbítrio no exercício da Presidência. É o compadrio, o nepotismo, o sentido grupal e até mesmo tribal com que a escolha, em alguns casos, seja a nível federal, seja a nível estadual, ocorre, dando provimento aos cargos de livre escolha, numa degradação absoluta do instituto da previdência. 45 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Mas o que me parece que está no fundo de todo esse processo de Constituição, sintético-analítica, é o processo histórico da formação da nossa gente. Todos sabem que o Brasil tem os seus institutos políticos oriundos da tradição portuguesa. E a formação portuguesa, não pela vontade particular dos portugueses, mas pela sua formação histórica, a partir de Afonso Henriques, a libertação da conquista islâmica de Portugal se fez através de cidade a cidade, e, a cada cidade libertada, as forças que trabalharam nesta libertação criavam forais próprios, direitos e garantias inteiramente vinculados àquela povoação. Quando as Ordenações Afonsina, e, depois delas, as Manuelinas e Filipinas foram corporificadas, cada direito de uma comunidade era incorporado à legislação nacional, na medida em que se precisava preservar conquistas locais e individuais, forais próprios de cada comunidade. Isto fez com que o direito público português, desde suas origens, fosse um direito muito adjetivado, muito particularizado. O Brasil que, durante muitos anos, viveu sob essas ordenações, transferiu para nossa gestalt a nossa forma de enfrentar esses questionamentos de direito público com esperança, que me parece que é algo permanente, algo que se incorporou à necessidade de definir particularmente, caso a caso, os problemas da ordem pública. Além disso, não há entre nós a tradição da importância do direito consuetudinário, ou da transferência aos tribunais do poder fazer a legislação pretorian; os tribunais não são criadores de leis, entre nós, como entre os anglo-saxônicos, são intérpretes de textos cristalizados, que lhes cabem aplicar na forma e no espírito com que o texto foi elaborado, inclusive remontando aos andaimes da sua própria construção. É neste sentido que, por nossa tradição, por exigência do nosso comportamento, da nossa forma de ser, não me parece mais apropriada a forma sintética. Seria o ponto de vista ideal que a Constituição fosse uma mera moldura, em que os princípios estivessem defendidos e a mutação, no tempo das instituições, dos costumes, etc., permitisse que os tribunais, como nos Estados Unidos ou na Inglaterra, fossem se ajustando às realidades emergentes e construindo, dentro dos princípios constitucionais, um devenir que fosse ao mesmo tempo real e ideal. Esta não me parece ser a posição da nossa gente nem a tradição histórica do nosso povo. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – O Sr. Relator me permitiria um esclarecimento, um adendo? (Assentimento do Orador) Não crê V. Ex.ª que, além dessa falta de tradição do direito consuetudinário há uma completa falta de credibilidade dos poderes em geral, e do Poder Legislativo, em particular, no sentido de que todo o mundo quer ver o seu direito, o seu interesse consagrado na Constituição, porquanto não acre-dita que a legislação ordinária lhe dê as garantias necessárias? Não crê V. Ex.ª que isso seria um fator também de inchamento da forma constitucional, no sentido de garantir na Constituição aquilo que não acredita que estará garantido na legislação ordinária? O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Tenho disso uma visão muito clara, nobre Constituinte Luiz Salomão. Há, de um lado, em algumas categorias sociais, um sentido mítico da lei, de que basta que o dispositivo conste do texto para que passe a ser de fato; de direito já o é, mas, de fato, uma realidade social. Muitas pessoas da esquerda brasileira não percebem, ou não querem se aperceber, que o presente é apenas o passado dialeticamente resolvido, e acham que a ação volitiva, a sua idealização de uma sociedade, como está em seu próprio cérebro, no back-groud de sua formação ideológica, pode ser de fato transformado numa realidade por simples ato volitivo. E a lei não expressa uma resultante de forças factível, mas uma imposição idealista que a realidade do cotidiano não vai cumprir. Não basta que esteja na lei e que esta seja uma coisa arbitrária... O que vimos durante o período do autoritarismo? É que a penalização, a cassação de pessoas, que era uma medida positiva, que deveria encontrar na sociedade o caráter punitivo que ela expressava, passou a ser um padrão de dignidade, porque a lei não se compadecia com a realidade social; passava a ser, quando sob a ação da lei, ação punitiva, ação que deveria ser o escarmento para aquele punido. Na realidade, a sociedade o encarava como um ser que estava sendo meramente discriminado, o que significa que a lei não tinha nada com a realidade. Uma das causas, talvez, que deveríamos analisar, com profundidade a respeito disso, é se, em muitos casos em que a lei não é cumprida – não estou discutindo ainda o problema da legitimidade da representação, que também é um fato histórico na vida brasileira, depois poderíamos conversar um pouco sobre isso –, mas voltando ao tema de que a lei deve, na Constituição, expressar as aspirações nacionais de longo prazo; ninguém diz que a Constituição americana não foi cumprida, ou não é respeitada pelo seu povo, quando, quase 180 anos depois de sua entrada em vigor é que uma decisão da corte suprema, em Menphis, Atlanta, fez integrar os negros à universidade estadual. Mas o princípio da igualdade fundamental de todos os cidadãos estava expresso no texto constitucional, e todos nós, quase sempre, tomamos a Constituição americana como uma constituição paradigma em termos de respeitabilidade, de credibilidade e de longevidade. Todavia, há fatos como este, depois de 180 anos, em que o texto expressava uma vontade nacional, da igualdade essencial de todos os homens, é que uma decisão da corte suprema obrigou e requisitou força pública, a guarda nacional, para que estudantes negros pudessem freqüentar uma universidade em Menphis, Atlanta. O que quero dizer, nobre constituinte, é que nem sempre a falta de cumprimento do texto, em determinado instante, significa esse descumprimento absoluto da lei. Os que têm consciência do processo dialético da história sabem que o homem é um animal datado e situado; temos que nos reportar sempre a tempo, lugar, para que a análise seja feita de forma razoável. A história não é uma idealização; a lei também não. Voltando àquele tema que V. Ex.ª abordou, da representação, nós vivemos num País, sob a minha visão – eu não sou jurista, sou um simples engenheiro que durante os anos de minha vida passei a maior parte do tempo no exercício exato e integral dessa profissão –, mas somos uma Nação que adora, em grande parte, a ficção; somos uma coisa sui generis . O Brasil teve uma Constituição, um Governo, um aparato de Estado antes de ter Nação e povo, quando quem lê – e o Prof. Pedro Calmon chamou muito a atenção a esse respeito – os forais, a carta com que Thomé de Souza se apresentou a este País, para assumir o Governo, ele trazia todo um aparato de Estado. Além de uma Constituição, ele trazia todo o Sistema Judiciário montando, meirinhos, auditores, ouvidores; trazia uma Secretaria de Estado pronta, com funções definidas, e nós não tínhamos sequer povo, não éramos sequer Nação, e já tínhamos uma estrutura de Estado legalmente constituída. Em 1824, sem Nação, com uma presença de 2% no processo eleitoral, tentamos fazer a Constituição de 1824, que assegurava – o Imperador, todos sabem, nomeava e demitia os seus ministros – no seu bojo, a transformação do Brasil numa Nação parlamentarista avançada, com uma estrutura de pensamento e uma teorização sobre parlamentarismo que não encontrou paralelo em mais de 100 anos, ou em quase 100 anos de República. A Carta de 1891, transferia arbitrária e exoticamente uma Carta para o País. Enfim, o que estou querendo dizer, com isso, é que a representação no Brasil sempre, e os casos concretos hoje conhecidos, como o abuso arbitrário do poder econômico, que não é simplesmente a ausência da fiscalização do Poder Público, é uma conivência com toda a sociedade. Não é porque o Governador de tal ou qual Estado, ao fim, ao cabo do seu mandato, faça nomeações impossíveis e imorais, é porque a sociedade está pressionando para fazê-lo. Há uma cumplicidade de toda a sociedade no nãocumprimento da lei. Embora a Constituição assegure que o acesso aos cargos públicos far-se-á sempre por concurso, está toda a sociedade, os deputados, a representação popular pressionando os Executivos para que a lei não seja cumprida. O que a sociedade tem a meu ver, é que discutir e chegar, nãocumprimento, mas de forma correta e certa a uma conclusão do que quer, não adianta o Texto Constitucional asseverar: "o acesso aos cargos públicos se faz apenas mediante concurso", quando toda a vontade nacional manifesta se realiza através do compadrio, e da indicação para o provimento desses cargos. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Permite, nobre Relator? (Assentimento do orador.) – O nobre Relator fez uma brilhante exposição e, pela primeira vez, pelo menos nas reuniões que freqüentei ele saiu da sua quietude mineira e passou para a sua loquacidade baiana, colocando para fora um pouco de sua grande cultura e da sua vivência, como dissera no início da minha fala. E deu para sentir, nas rápidas pinceladas que S. Ex.ª traçou aqui, com grande brilhantismo, aquilo que é a realidade, realmente, no Brasil e que eu dissera, em expressões mais pobres, quando tentara me expressar. A falta de uma estratificação nacional, a excessiva adjetivação que herdamos da colonização e das ordenações Afonsinas, Manuelinas, Filipinas e da colonização portuguesa, a falta de uma tradição em função da falta de estratificação nacional, uma falta de tradição no tocante ao uso dos costumes, um certo farisaísmo, por que não izer até mesmo por parte das nossas cortes na apreciação daquilo que é legal ou ilegal, onde vemos, via de regra o político exceder o jurídico, o político se sobrepor ao jurídico DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) e muitas vezes, até ao moral. Então, tudo isso, nobre Relator, parece-me que o leva àquela conclusão realista, que é também a minha, da impossibilidade de fazermos uma carta enxuta e sintética. E, dentro da nossa temática, que são os princípios gerais da ordem econômica, que são o papel do Estado, a intervenção do Estado, o papel das estatais e etc., nós temos que levar em conta, também não só a parte substantiva das nossas propostas, não só, na elaboração dessas propostas, mas levar em conta a teoria tridimensional do direito, porque me parece que, quando V. Ex.ª fala que a sociedade exige, o que nós temos são o fato social, o valor e a norma, quer dizer, do fato social, diante da nossa valorização, é que deve emergir essa norma. Como valorar esse fato social? A partir desse realismo um tanto pessimista, nós realmente vamos adjetivar ainda mais que já está adjetivado até no anteprojeto da Comissão Afonso Arinos. Eu não vi, nas exposições até aqui feitas, às quais assisti, nada assim de profundamente novo, que pudesse trazer alguma contribuição realmente nova em termos do papel do Estado, dos princípios gerais de ordem econômica. Todos nós entendemos que a empresa e a propriedade têm que ter caráter social. Quando vamos conceituar esse caráter social, caro Relator, nós temos uma dificuldade enorme, porque se pegarmos todos os membros da Comissão, cada um vai ter uma valoração sobre o que é esse caráter social da propriedade e da empresa. Como inserir na constituição um princípio geral que não seja adjetivado? Vamos encontrar aqui uma série de posições e, certamente uma grande polêmica em torno desse assunto. A mesma coisa com relação ao subsolo, com relação ao papel das estatais, e assim por diante. Então, eu estou com o Relator de que será praticamente impossível fazermos um trabalho sintético. Mas eu acho que temos que ter um mínimo de racionalidade jurídica. Não devemos inserir nos princípios gerais, naquilo que nos compete ordenar, que é a ordem econômica, aquilo que não seja constitucional. Especialmente no tocante à preocupação do constituinte Luiz Salomão, que o povo não acredita, se não colocar na Constituição, eu acho e aí, volto a insistir, no papel das comissões técnicas da Câmara, porque, evidentemente, vamos entrar no trabalho dessa subcomissão, mas acho que, o nobre Relator, participando da Comissão de Sistematização, vai verificar que nós estamos preocupados com isso, com a regulamentação da Constituição, que dará eficácia às normas nela inseridas e com prazo estabelecido, porque se não estabelecermos prazos, fica mais difícil. Deixar ao alvitre do Legislador é, como bem assinalou o constituinte Virgildásio de Senna, a coisa acaba ficando apenas na teoria. Acho que as comissões técnicas, – é a minha opinião pessoal, para a valorização, inclusive, do Legislativo – devem ter esse poder de regulamentar as normas constitucionais a Comissão de Educação, a Comissão de Finanças, a Comissão de Orçamento, enfim, elas terem o poder, e o dever, com o prazo estabelecido nas disposições transitórias, para que regulamentem os dispositivos, sejam eles de ordem econômica, de ordem social e etc., enfim, tudo aquilo que diga respeito à parte substantiva da Constituição. Então, devemos ser analíticos, mas não exces- sivamente prolixos, excessivamente adjetivos, e deixarmos que as Comissões Técnicas desçam à capilaridade necessária para que a Constituição, não só tenha crédito, mas seja aplicável. E, de outro lado, também uma reformulação do Poder Judiciário. Talvez, aí, o problema da criação da corte constitucional, porque nós demos um péssimo exemplo, meu caro Constituinte Virgildásio de Senna, quando aqui, – não com o meu voto, votei declaradamente em branco, pela primeira vez na minha vida – mas demos um péssimo exemplo, na Câmara e no Senado, quando desobedecemos o princípio inserido na Constituição, reelegendo membros da Mesa, o primeiro ato da Constituinte foi o primeiro ato inconstitucional, quer dizer, foi péssimo o exemplo. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Já temos número, portanto, vamos dar início à nossa reunião. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem. Eu tenho observado as dificuldades com que esta Subcomissão tem funcionado. Já tinha feito essa ponderação, informalmente, ao nosso Relator. Esta Subcomissão apresenta irregularidades já denunciadas pelo Relator que é de ter 23 membros. O que é um excesso da representação do PMDB. No entanto, tem-se observado sistematicamente a ausência dos representantes do Partido majoritário, que tem prejudicado, sobremodo o desempenho desta Subcomissão, no andamento dos nossos trabalhos. Eu gostaria de recomendar a V. Ex.ª, formalmente, que se dirigisse à liderança do PMDB, que é quem tem a responsabilidade formal de indicar os representantes para as Subcomissões, ou se dirigisse aos próprios Parlamentares que a compõem, no sentido de prestigiarem os trabalhos, porque, primeiro, temos tido discussões um tanto esvaziadas, segundo, estamos sendo cobrados aqui pelo andamento, não é? Os nossos eleitores estão esperando definições. E parece-me extremamente difícil que consigamos arrancálas, com o Plenário da Subcomissão tão esvaziado, como se tem observado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Eu tenho a dizer que, quanto à primeira questão, o ilustre Relator fez um contanto com a Mesa e não temos ainda uma resposta. Quanto à segunda questão, eu gostaria de colocar o meu ponto de vista. Nós somos maiores, vacinados, cumprimos a nossa função servindo o Exército, de forma que é muito difícil imaginar-se que nós devamos chamar a atenção dos Srs. Constituintes para que compareçam. Os que não comparecem estão cumprindo rigorosamente o seu papel. 46 Os Srs. Constituintes que a aprovam queiram permanecer sentados. (Pausa.) Está aprovada. A Presidência recebeu e encaminhou ao nobre Sr. Constituinte Virgildásio de Senna, Relator da matéria, sugestões enviadas pelo Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos. Vamos passar, agora, à discussão das questões vestibulares que foram aprovadas por esta Subcomissão. Está em discussão o problema A-1: Objetivar uma Constituição Sintética ou Analítica. A palavra é concedida aos ilustres Constituintes. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, apenas para dizer que eu tenho a impressão de que os membros da Subcomissão acompanharam atentamente as colocações, muito proficiente e muito bem fundamentadas do nobre culto Relator. Eu estou inteiramente de acordo com as colocações feitas pelo ilustre Colega Virgildásio de Senna. Eu acho que, dificilmente, eu diria que seria impossível, que queiramos fazer uma Constituição nos moldes da cultura anglo-saxônica, que seria o ideal. Nós somos um povo latino, prolixo por natureza, adjetivados e adjetivastes. E, ademais, existem também as questões aqui levantadas pelo Constituinte Salomão. Existem dificuldades de cumprimentos até daquilo que está expresso na Constituição. Então, eu acho que nós temos que adotar uma postura realista; tentarmos evidentemente consolidar aquilo que for possível, num menor número de normas, que expressam a maior amplitude possível de garantia dos direitos que se dizem garantidos, das obrigações que se dizem estabelecer. Mas é fora de dúvida que é absolutamente impossível de fazer-se uma Constituição sintética, dentro de um conceito stricto sensu do que seja uma Constituição sintética. Essa é a minha posição. Eu estou de inteiro acordo com as palavras do ilustre Relator. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, eu concordo com as colocações feitas pelo Colega Joquim Bevilacqua, especialmente no sentido de que tenhamos uma Constituição enxuta, conforme propõe o nosso Relator Virgildásio de Senna. Em tempo, eu encaminho ao Sr. Relator um artigo publicado no jornal A Folha de S. Paulo sobre o sistema minerário no Brasil: "Mineração e Xenofobia". Porque já tive oportunidade de encaminhar ao Sr. Relator um trabalho retirado da revista enfoque sobre Vamos passar à leitura da Ata. joint-venture que está sendo realizado na Eu convidaria o ilustre Constituinte União Soviética. A forma de se regulamentar Vladimir Palmeira, para que proceda à leitura. o capital externo que, pelo que li nessa É lida a seguinte: revista, da qual sou assinante e tive oportunidade de distribuir aos Colegas, ATA parece-me que algumas colocações são interessantes e possam servir ao crivo do (Ata da 5ª Reunião Ordinária) exame do Sr. Relator e à discussão do Plenário desta Subcomissão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Em discussão a Ata. (Pausa.) – Muito obrigado. Não havendo quem peça a palavra, O SR. CONSTITUINTE LUIZ encerro a discussão. SALOMÃO: – O tema ainda é o caráter Em votação. sintético e analítico da Constituição. 47 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Eu gostaria de expressar o meu ponto de vista, completando um pouco a análise histórica evidentemente feita pelo nosso Relator Virgildásio de Senna, sobre uma questão que me parece, além da tradição, o fato de que a sociedade brasileira não concluiu ainda o seu processo de transição, de transformação econômica e social que vem se dando num ritmo extremamente acelerado. Algumas comparações a que tive acesso, que eu mesmo tentei elaborar, mostram que nenhum país, mesmo aqueles que experimentaram um processo revolucionário, sofreram uma transformação em termos de urbanização da sua população e de industrialização tão acelerada quanto o Brasil nos últimos 40 e 50 anos. Essas transformações, sobretudo, o processo imigratório, evidentemente desestabilizam valores, alteram normas de comportamento, enfim, produzem modificações superestruturais que, certamente, não encontraram o seu ponto de estabilização. De modo que eu não tenho dúvida de que esta Constituição que estamos elaborando, que vamos elaborar, num momento próximo, certamente não será uma Constituição longeva, que vá durar tantos anos quanto se pretende, a utilizar como paradigma, a constituição americana, a constituição inglesa. De outra parte, parece-me difícil que ela seja sintética, na medida em que, não só pela tradição, como bem expôs o Deputado Virgildásio de Senna, mas eu vejo também aquela tentação de todos os grupos sociais, de todos os setores da sociedade, que buscam assegurar o seu direito na Constituição, ou pelo menos uma norma programática, que não seja um direito expresso de forma clara, para efeito de preservar o seu espaço na Constituição. Na minha visão, forçando um pouco o caráter do Direito Constitucional, no sentido de incluir coisas que, eventualmente, estariam melhor postos na Legislação Ordinária, ou na Jurisprudência dos Tribunais. De modo que me parece inevitável que tenhamos uma Constituição curta; a média das Constituições brasileiras é de 15 anos, conforme foi calculado. Então, temos uma Constituição de vida curta e, certamente, uma Constituição bastante detalhista. E, a meu juízo, essa discussão fica um pouco fora do ponto, no sentido de que essa aspiração de ter uma Constituição sintética e duradoura, na verdade, não passa de um valor estético, de um valor subjetivo, o que nada impede, não há nenhuma razão para que se pretenda ter uma Constituição duradoura, numa sociedade que experimentou uma violenta transição, processo esse que, a meu juízo, não está completo. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.as. Concedo a palavra ao ilustre Relator. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Eu ouvi muito atentamente a exposição do Constituinte Luiz Salomão. Na verdade, a sociedade é, por sua própria natureza, dinâmica, princípio fundamental de dinâmica social, com os seus processos de mudanças. Se formos por esse caminho examinar nossa Constituição, jamais faremos uma Constituição com a perspectiva de longo prazo. O que ocorre no Brasil e em todos os outros países, é que a sociedade nunca resolve os seus problemas. A solução de um problema é sempre a criação de um outro problema. E a Constituição deve colocar balizas nesse pro- cesso de soluções. Acho que é um dever nosso aspirar uma Constituição duradoura, não uma Constituição rígida, mas uma Constituição duradoura. Quanto mais detalhista for a Constituição, evidentemente, mais a sua obsolescência está no horizonte de curto prazo. Mas, exatamente essa sabedoria de colocar entre a extensiva e adjetiva e a sintética, vai ser o objeto de nossos trabalhos, objeto da participação da sociedade que queremos, como em nenhuma outra fase da nossa História política, talvez do Mundo, o processo de elaboração de uma Constituição tenha evocado a presença das forças que permeiam a nossa sociedade; as entidades de classe, pessoas que, como ontem aqui, a despeito do rendimento ou não do trabalho, mas a disposição com que a sociedade está querendo ouvir e incorporar a vontade nacional, expressa sob as suas mais diversas disso, a possibilidade de submeter a Constituição ao referendum , ou ao plebiscito da sociedade nos deve armar da vontade de fazer um instrumento duradouro e, ao mesmo tempo, flexível para que essas mutações, essas mudanças, essas inquietações sociais, que ainda não se cristalizaram e jamais se cristalizarão de forma definitiva na sociedade, encontrem um escoadouro comum, um leito para a sua solução no texto que iremos redigir. Era isto que eu queria dizer ao nobre Constituinte Luiz Salomão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. Concedo a palavra à nobre Constituinte Raquel Cândido. A SRA CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Eu ouvi o final das suas colocações e tive o cuidado, ao elaborar as minhas propostas constitucionais, de ordem econômicas e, naturalmente, da iniciativa privada e da política do mineral do País, de embasar-me no processo histórico de colonização do País. Fique feliz por ser jovem ainda e não pertencer à corrente dos grandes intelectuais deste País, os sábios, representando a sua maioria no colégio dos constituintes. Embora de forma simples, pude fundamentar o encaminhamento de nossas propostas dentro de um preceito histórico, que tem, como espelho, uma sociedade com clarividência cultural descaracterizada do conceito nacional. Não podia ser diferente. Questiono profundamente se, hoje, na era da tecnologia, com os meios de comunicação avançados, do qual o País está em pé de igualdade com os outros países, diga-se, nos meios de comunicação, embora esteja sendo desvirtuado para um descaminho de alienação total neste País, não seria possível, e aqui temos a presença de nosso Presidente desta Subcomissão, um grande economista, um grande planejador de políticas, temos um outro ex-Ministro aqui, se prevê com clareza, principalmente no ordenamento econômico, mesmo sendo a sociedade brasileira dinâmica, o processo da humanidade rápido e evolutivo, termos meios de assegurar através de estudos técnicoscientíficos, a previsão duradoura desta nova Constituição, que estamos ousando escrever e que tenho a grande vontade, particularmente, de que ela seja, não eterna, mas que seja duradoura, pelo menos. Será que não teremos hoje essa competência, essas condições para escrever um texto enxuto, pelo menos no novo orde- namento econômico, tão colocado pelo nosso Presidente, que diz que não tem que ter balela, não tem que ter conversa, não tem que ter demagogia? Tem que ser claro, concreto, lógico? Tivemos experimentos históricos e com várias formações e vários experimentos, até agora. Será que, diante disso, para uma futorologia, dentro dos meios de comunicação, com tecnologia, compêndios, estudos paralelos, com acesso em todo Planeta, com teses defendidas em todos os lugares, para, num País, em pé de igualdade e até mesmo com um certo desnível cultural, colocarmos aqui essa parte da Constituição que deve ser lógica, que deve ter, como parâmetros, dados concretos da realidade, daquilo que experimentamos no passado, que experimentamos agora, para elaborarmos, com presteza, com durabilidade, propostas que, obviamente, poderão ser abertas, porque entendo que a economia sintética, pura e fria se distancia daquilo que está inerente, que é a visão de justiça social. Nós temos a sensibilidade da alma humana, sem querer ser piegas, para nos abeberarmos nesse sentimento, e, dentro dessa ciência maravilhosa, podermos fazer, com equanimidade, a justiça social, com uma propositura econômica, mesmo em que pesem todas as discussões aqui colocadas por uma falta de cultura histórica, nós possamos ter, como balizamentos, países irmãos nossos, que não estão tão mal como o nosso. Sem ter a famosa xenofobia nacional, onde possamos disciplinar, sobremaneira, o capital daqueles mais ricos e poderosos e estabelecermos propostas com caras nossas, com jeito dessa grande maioria que está aí fora, sedenta, angustiada, com fatos concretos que não combinaram e que não combinam com o que está feito e com o que foi feito, aí, através de todo um processo histórico. Dizia o Sr. Relator que nós vivemos e que viveremos ainda por longa data esse processo de ebulição, porque no dia em que isso parar, acaba tudo. O homem vive essa dinâmica evolutiva, social e política. Será que com isto tudo não temos condição, hoje, de planejarmos, de estipularmos um modelo onde nós possamos nos assegurar da previsão que queremos para o futuro do nosso País, da nossa sociedade? O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Muito obrigado a V. Ex.ª. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, Sr. Relator, o colega guerreiro encaminhou à Mesa e nos entregou cópia, ontem, do seu trabalho sobre "Do Regime e da Propriedade do Solo", complementado com "inclua-se onde couber" um artigo que não está ainda numerado, em que S. Ex.ª propõe uma redistribuição, ou melhor, uma reformulação do Imposto Único sobre Minérios. É que me parece interessante, porque aumenta um pouco a participação do Município, sem impedir que o Estado continue com 60% dos recursos para fazer uma melhor redistribuição de renda a nível regional. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Nobre Constituinte, talvez valesse a pena esgotarmos a discussão sobre esse tema vestibular para, depois, entrarmos nos casos concretos. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Pois não. Eu pensei que já tinha sido esgotado, ou não? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Não. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Não? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Devíamos, pelo menos, votar e, pelo jeito, aqui, vamos votar a média. Mas creio que deveria vencer a primeira parte, que é a 1, para depois passarmos à 2. A palavra continua com os Srs. Constituintes para discussão do item A-1. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gabriel Guerreiro. Só o item A-1. Estamos discutindo o item A-1. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, Sr. Relator, nós vivemos um momento histórico de crise neste País. E esta crise, no meu modo de perceber as coisas, é fruto, exatamente, da dinâmica evolutiva, do processo evolutivo do País, um País que tem aspectos extremamente interessantes, extremamente desafiantes à inteligência nacional, na medida em que se tem, como frisou o Constituinte Luiz Salomão, nos últimos 50 anos, uma evolução urbana industrial extremamente rápida, diria até avassaladora; na medida em que se têm regiões enormes neste País, que ainda não foram integradas ao processo produtivo; na medida em que se têm fronteiras extremamente dinâmicas, como a f ronteira da Amazônia; na medida em que se convive com estruturas arcaicas, como a estrutura do latifúndio do Nordeste, em que uma interage sobre as outras, de tal forma que este País, hoje, apresenta um quadro extremamente complexo para todos os setores da vida nacional que queiram se dedicar ao estudo do entendimento, da compreensão da situação brasileira. Veja V. Ex.ª que, na medida em que o latifúndio do Nordeste cria uma grande quantidade de famintos, esses famintos proliferam com uma velocidade extremamente alta e são obrigados, pela situação de miséria, na maioria dos casos, a se deslocarem ou para as fronteiras, como é o caso da Amazônia, ou para a periferia das grandes cidades. A estrutura do campo não permite a absorção da população e desloca essa população para a periferia urbana. Por outro lado, avança-se sobre os novos recursos e se integra ao sistema produtivo das fronteiras, como a fronteira da Amazônia, e se cria, pelo processo de migração, problemas complicadíssimos, como são os problemas fundiários, os conflitos fundiários no processo da Amazônia, como são os complexos problemas do garimpo, com relação ao problema mineral, como é, por exemplo, a aplicação de capitais através de incentivos fiscais que não correspondem às necessidade da Amazônia, e que têm sido aplicados de forma a mais desastrosa possível – está lá a SUDAM como exemplo disso, há 41 anos ou 42 anos, e não produziu o desenvolvimento da Amazônia. Todos esses problemas complexos têm que ser olhados neste momento em que pensamos em escrever uma Carta para este País. Não acredito que tenhamos condições, nem é questão de vontade, é uma questão de condições e objetivos, de escrever uma Constituição absolutamente sintética, uma Constituição sim- ples, apenas de princípios básicos, de princípios que norteem a confecção, a feitura de uma legislação ordinária. Acho que esta Constituição vai ter muitas normas que, provavelmente, dentro de pouco tempo até, talvez menos que alguns lustros, terão que ser modificados. Porque, pelo que se sente, tanto na sociedade lá fora, como nos corredores desta Casa, é que se pretende inserir nessa Constituição uma quantidade de normas tão grandes, que até me atemoriza. Acho que temos que fazer um esforço gigantesco, um esforço quase que sobrehumano, para conseguir sintetizar princípios norteadores da vida nacional, que tentem absorver essa complexibilidade, que tentem abrir caminho, inserir, nesta Carta, mecanismos pelos quais nós possamos agilizar, viabilizar a solução, a equação desses problemas. Acho que ela não será sintética, mas cabe a nós fazermos um grande esforço, para, na medida do possível, do exeqüível, colocar nesta Constituição a base de princípios que norteiem a confecção da legislação ordinária. Por isso, na proposta que apresentei e que teremos oportunidade de discutir, não fiz nenhuma justificativa escrita, poderia fazêlo, pretendo fazer oral, é apenas uma questão de princípios, pontos que devem ser abordados, que devem jogar, para a legislação ordinária, as questões da regulamentação, a questão da estrutura, mas a nível da exeqüibilidade, da possibilidade de ser aplicado. Por isso, chamo a atenção dos nobres companheiros, ou, pelo menos, me permitir essa observação, no sentido de que temos que trabalhar as nossas próprias propostas, até sem muita justificativa, para que possamos ter, nas mãos do relator, um corpo de normas bastante objetivas, no sentido de contribuir para que esta Constituição seja uma Constituição sintética. Acho que se começarmos a tentar colocar, nas nossas próprias propostas, tudo aquilo que está nas nossas cabeças, todas aquelas idéias que nós temos, até regulamentar situações, nós vamos fazer uma sobrecarga sobre o nosso ilustre relator, não duvidando da sua competência, da sua capacidade, que eu acho que lhe sobra, mas acho que é humanamente impossível sintetizar estas questões todas. Eu faria uma observação aos nobres companheiros, para que não sejamos demasiadamente prolixos, naquilo que vamos fazer, senão, o relator não vai dar conta. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª. Continua em discussão o tema. Vamos passar à votação. Acredito que o nobre Constituinte Gabriel Guerreiro acabou sintetizando as coisas que eu tenho que passar como tarefa ao relator. Acho que essa é a idéia, para que S. Ex.ª faça isso com o menor número de artigos possível. A decisão sintética fica superada por uma condição de números. Eu acredito que, talvez, devêssemos aprovar isto, se o nobre relator concordar. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Nobre Deputado, se me permite, eu faria ao nobre relator apenas uma observação: é que S. Ex.ª fizesse a equação, derivasse essa equação, porque reduz bastante e fizesse uma segunda derivada, para chegarmos a um resultado positivo. 48 O SR. CONSTITUINTE VIRGILDÁSIO DE SENNA: – Mas, o que eu diria, nessa história, é que há duas posições; uma é a daquele orador que, dizendo que, por não poder dizer tudo, prefere não dizer nada; a outra é aquela que diz não haver tempo para ser sintético. Mas eu creio que a posição do nobre Deputado Gabriel Guerreiro, que é a opinião praticamente expressa dos Srs. Constituintes, é de que o projeto deve ser tão longo quanto o necessário para ser eficaz e tão curto quanto conveniente, para não ser tão detalhista, tão casuística, tão monárquico de início, pela sua obsolescência por questões que, amanhã, já caducaram. Acho que esta média é aquela que a Casa e toda a Nação almeja. Essa seria a norma a ser seguida no relatório. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Acho a observação correta. O relator vai colocar, realmente, um número mínimo de premissas, para deduzir, de todo o resto, na legislação ordinária. Não vai faltar nenhuma hipótese. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Com relação à matéria, objeto de reflexões do nobre Deputado Luiz Salomão há algumas Constituições, como a portuguesa, sedimentada nos princípios do legislador ordinário. Os princípios constitucionais do legislador ordinário de não criar a lei complementar, ou a lei ordinária específica, para sua aplicação, é, nos termos constitucionais, aplicar imediatamente o princípio, na interpretação judiciária do princípio constitucional, do legislador ordinário, e a lei complementar pode detalhar. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Se todos estiveram de acordo com essa posição, vamos passar à votação. Os que estiverem de acordo permaneçam sentados. (Pausa.) Está aprovado. Passamos agora à discussão do item A-2: O item A-2 refere-se ao fato de que, se vamos trabalhar a partir de uma proposta básica, ou não. Está em discussão o item A-2: O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Delfim Neto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Joaquim Bevilácqua. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, eu, a esta altura, mesmo com a prorrogação para seis de maio, para apresentação de propostas, creio que esta subcomissão já recebeu um número suficiente de sugestões de propostas, não só dos seus membros, mas também dos demais constituintes, e mesmo da sociedade civil, de tal sorte que o nosso ilustre relator estaria, talvez, em condições de nos oferecer aquilo que fosse a média dessas sugestões, se S. Ex.ª se dispuser a um esforço concentrado nesse sentido, para que pudéssemos já ir debatendo uma proposta básica. Temos aqui várias propostas básicas. Hoje mesmo, estamos recebendo aqui do Deputado Luiz Salomão proposta básica, quanto a princípios relativos à área econômica, propriedade, definição de Empresa Nacional etc. e tal. O Deputado Gabriel Guerreiro também fez algumas sugestões assim como o Deputado Gil César, e outros companheiros. Da mesma forma, a Mesa tem encaminhado à subcomissão 49 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) algumas propostas de entidades de classe, etc. O nobre relator também participando, como tem participado de todas as reuniões da comissão, já pode, com sua sensibilidade, com a sua tarimba e experiência, aferir, mais ou menos, a média daquele que é o pensamento, vamos dizer assim, desse colegiado. Se S. Ex.ª pudesse nos oferecer um texto básico, é claro que o trabalho se tornaria mais fácil, mais rápido, mais objetivo caso contrário, vamos continuar discutindo, de fora para dentro, até a consolidação do texto final. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª. Continua em discussão. Concedo a palavra ao ilustre Relator. O SR. CONSTITUINTE VIRGILDÁSIO DE SENNA: – Sr. Presidente, a introdução desse tema vestibular me parece pertinente, na medida em que a exigüidade do tempo nos impõe sermos prestes em nossas decisões. O que me parece é que existem n oportunidade, n documentos capaz de servir como roteiro básico do nosso trabalho. Um deles está aí, recente, talvez o mais novo; é o da própria Comissão Provisória, que tratou o tema extensivamente, após receber sugestões, um número ilimitado de sugestões, talvez 40 mil sugestões, das mais diversas origens que têm uma participação muito grande teoricamente, da sociedade, embora não tenha representação não é no sentido de que era apenas um documento para disciplinar os nossos trabalhos, dar um seguimento disciplinado aos nossos trabalhos. Sobre ele, então, viríamos recebendo toda essa imensa contribuição, não só da Comissão, de forma específica, como do Plenário, com a presença de proposições dos Srs. Deputados. Mas o trabalho marcharia, ou este, ou outro que a Comissão achar por bem aprovar como texto básico, para elaboração da nossa Constituinte. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Eu concordo, Sr. Presidente com a exposição do Sr. Relator. Acho que facilitaria demais a evolução dos nossos trabalhos, se tivéssemos um texto básico para discutir. Simplesmente, é evidente que cada colega, à medida da discussão, fosse apresentando as suas proposições. Acredito, inclusive, Sr, Presidente, que eu gostaria até que o Sr. Relator abordasse esse assunto, para simplificar inclusive a maneira do Sr. Relator enfocar o texto básico e verificar qual o pensamento genérico, ou pelo menos, a resultante do pensamento dos meus caros colegas, vendo aquilo que se pode definir como redefinição dos poderes, a nível de Estado e a redistribuição de renda. Eu gostaria que os meus caros colegas se manifestassem de maneira que pudesse, ainda mais, simplificar o trabalho. Por que eu faço essa colocação? Porque entendo que nós devemos fazer com que o fortalecimento do Estado e do Município permita que o Estado e o Município participem realmente do processo, ou seja, das políticas setoriais. Então, a nível constitucional nós vamos tentar estabelecer princípios que permitam o estabelecimento dessas políticas, por exemplo, a Política Nacional de Recursos Hídricos. Até que ponto, pela manifestação que eu do colega Guerreiro, até que ponto, realmente, poderemos fazer com que essas decisões, a nível federal, passem pelo poder decisório também do Estado e Município. Eu acho que essa colocação vai ajudar a formulação das propostas, porque vai simplificar ainda mais. Até me informaram, outro dia, que o Senador Roberto Campos achava que eu estava defendendo muito o recurso da Receita Municipal, dentro de determinados limite evidentemente. A proposta da Seplan, que eu li, tira dinheiro, tira parte da receita tributária do Es tado e joga para o Município e permanece a União como está, até a experiência do Sr. Ministro seria muito importante nisso. Até que ponto, dentro do quadro atual que vivemos, é possível reduzir o recurso da União, transferindo-os para o Estado e Município. A proposta da Seplan simplesmente tira 8% dos recursos do Estado e joga para os Municípios, permanecendo o Governo Federal com 41% da renda tributária nacional. A pergunta que vou tentar sintetizar, e que estou conseguindo fazer, é a seguinte: Até que nív el nós deveremos ter a participação, no poder decisório, dos três atuais níveis do Governo existente ou seja, o Município, o Estado e a União. É possível que apareça aí também, pelo que eu já vi, um depoimento do Prefeito de Curitiba, onde ele propunha o poder metropolitano, até uma eleição a nível metropolitano, criação de Câmara metropolitana, etc. Mas acho que isso vai ajudar porque, quanto mais descentralizarmos o poder, mais simplificaremos a proposta constitucional, no meu modesto entendimento. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. Continua em discussão a proposta. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Eu gostaria de endossar o ponto de vista do Sr. Relator, quanto à utilização do projeto da Comissão de Direitos Constitucionais, presidida pelo eminente Senador Afonso Arinos, como um texto básico para discussão nessa Subcomissão. Apenas, lembrando o fato de que, ao contrário do que foi decidido na discussão anterior, é uma redação detalhista, não sintética, como foi aprovada aqui na Subcomissão. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, a proposta que eu houvera feito, o Deputado Salomão estava ocupado com o Relator e não acompanhou – aliás, eu endosso as palavras de S. Ex.ª – de que, não só a proposta Afonso Arinos, mas também a proposta do Deputado Luiz Salomão, Guerreiro, Gil César, e outras propostas encaminhadas por Constituintes de outras as comissões, através da Mesa, e que já chegaram ao Relator, servissem como elemento de informação para que S. Ex.ª já fizesse es se texto básico. Não apenas em cima do Projeto Afonso Arinos, mas também, é claro com as próprias idéias do nobre Relator, algumas das quais nós já conhecemos, outras, naturalmente, iluminarão, a discussão, por parte deste colegiado. Essa é a proposição básica. Nós entendemos que o Relator já tem, a esta altura, elementos suficientes para, pelo menos, elaborar um esboço, em cima do qual, nós vamos discutir e debater os detalhes. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Nós entendemos corretamente o ilustre Constituinte Joaquim Bevilácqua, quando diz que propôs, não o projeto Afonso Arinos, mas um projeto que combinasse todas essas idéias, produzido pelo nobre Relator. O SR. CONSTITUINTE VIRGILDÁSIO DE SENNA: – Sr. Presidente, só para esclarecer, o que se pretende é a sistematização dos temas, não o espírito do texto já uma ordem lógica no tratamento das questões. É claro que as achegas, pensamento, a contribuição de proposições dos Srs. Constituintes, todas elas vão ser levadas em conta. Mas nós teríamos um ordenamento já pronto, alguns princípios já definidos, com os quais, os textos de modo geral... O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Continua em discussão a proposta. Se todos concordarem, vamos passar à votação. Está em votação a proposta feita originalmente e modificada pelo ilustre Constituinte Bevilácqua, apoiada pelos Deputados Gil César e Luiz Salomão, de que a Comissão tome, como base para a discussão, o Projeto Afonso Arinos, como uma ordenação lógica do projeto. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, eu não falei sobre o Projeto Afonso Arinos, a proposta Afonso Arinos. Quem fez referência a ela foram os Deputados Luiz Salomão e o Deputado Bevilácqua. Eu só insisti na aprovação da proposta do Sr. Relator, num estudo básico, numa proposta básica, bem sintética. Não falei na proposta Afonso Arinos. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, eu me oporia rigorosamente a essa idéia. O Projeto Afonso Arinos é um receptáculo de utopias, sem nenhuma condição de exeqüibilidade. O Projeto é contraditório, totalmente irrealista. Confunde garantias onerosas, que devem ser dispensadas após especificação do agente pagador e garantias não onerosas, que podem ser distribuídas com largesse. O projeto contém formulações totalmente absurdas. Dá, por exemplo, a todos os cidadãos, garante aos cidadãos direito à saúde, o que significa que não é permitido ter uma pneumonia, a garantia de acesso à paisagem, o que significa que qualquer pessoa poderia mandar destruir o muro do vizinho, para melhorar as suas condições ambientais; sanciona um deslavado intervencionismo estatal; está em completo desacordo com a tendência mundial, hoje, que é de diminuição dos poderes e da intervenção do Estado. Ao contrário do que disseram aqui os nobres representantes da esquerda, a tendência mundial não é aquela que os progressistas brasileiros dizem ser. Eles são retrógrados e estão propondo um aumento da intervenção estatal. A corrente progressista, no mundo todo, é a corrente não liberal, neoliberal, quer dizer, que advoga precisamente uma contração da função do Estado, por motivos variados: o primeiro motivo é que o centralismo estatal se provou totalmente incapaz de prover a boa administração das economias de consumo de massas, que exigem enorme flexibilidade nas decisões de produção, em respostas aos desejos cambiantes do consumidor. Uma segunda razão, porque triunfa, no mundo, movimento não liberal, e antiintervencionista, é que se percebeu, afinal, a conexão indispensável, e a longo prazo fatal, entre liberdade econômica e liberdade política. Isto reflete uma velha controvérsia. Presidente e eu conhecemos ambos cultores da história italiana, a controvérsia DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) entre Eunaldi e Frocci. Eunaldi que, àquele tempo, perdeu, na opinião popular, para o filósofo italiano Frocci, defendia a teoria de que a liberdade econômica era uma condição insuficiente, porém necessária para a liberdade política. Isto, na era pré-fascista. Àquela ocasião, a opinião pública privilegiou a posição de Frocci, que distinguia entre liberalismo e liberismo. Ele achava que se podia ter um liberalismo político, sem se ter o que ele chamava de liberismo econômico. Frocci ganhou na opinião pública e, logo depois, a Itália entrou na longa noite do fascismo, em que se comprovou que Eunaldi tinha razão: a liberdade econômica é inseparável da liberdade política. A terceira razão para a ressurreição neoliberal é que estamos na era da alta tecnologia. Na era da alta tecnologia, há um prêmio à independência criadora do indivíduo e à excitação competitiva, coisas que o Estado é incapaz de proporcionar. Tomamos como base um documento enxundioso, de 436 páginas, um catálogo de utopias, um rosário de impossibilidades, um tecido de contradições, mais do que imprudência, parece uma loucura. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Peço a palavra, pela ordem, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – O nobre Senador estava atendendo à imprensa e S. Ex.ª não acompanhou o debate. Acho que a questão ficou bem clara. O que nós propusemos não foi que se tomasse o anteprojeto, com um leitmotiv de mérito da decisão. Pelo contrário. O que nós propusemos foi dentro do espírito, pelo menos, se é que o Relator está sendo objetivo e franco. Acredito que sim, que esteja. Se vamos continuar oferecendo propostas e recolhendo propostas, ou se vamos já elaborar, com base no que já temos, um boneco. Foi isso que coloquei. Não se pode desconhecer o anteprojeto Afonso Arinos, embora possa discordar dele como discordou agora, com veemência, o nobre Senador Roberto Campos. O próprio Deputado Luiz Salomão adota, em algumas das suas propostas, algumas normas do projeto e rejeita outras, porque o projeto realmente tem contradições no capítulo da ordem econômica e em outros capítulos. Muito bem! O que nós estamos discutindo é se o nobre Relator já tem condições de nos oferecer um boneco dentro da sua ótica, com aquilo que S. Ex.ª, já pôde compilar das diversas tendências, das diversas propostas, vindas de Plenário, vindas da sociedade civil, vindas da proposta Afonso Arinos, vinda dos membros deste egiado, para que já possamos ganhar um passo à frente na discussão, que, caso contrário, nós vamos realmente continuar, repito, discutindo ainda de fora para dentro, em trechos, em pedaços sem um mínimo de um texto básico. É isso. Não estamos entrando no mérito das propostas do Luiz Salomão, do Gil César, do Guerreiro, da Comissão Afonso Arinos. Nós estamos, por enquanto, discutindo a parte objetiva. Mas, já entendemos que, com base nas informações que a Comissão tem até aqui, o nobre Relator possa nos oferecer, desde já, um texto básico. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, ainda neste particular, eu discordaria do meu eminente colega. Há um prazo para apresentação de sugestões, que foi dilatado para 6 de maio. É por isso que eu propus que houvesse uma transladação de eixos, para que tudo começasse a partir de 6 de maio. Antes disso, será impossível e contra-indicado para o Relator apresentar qualquer boneco. Seria um boneco mutilado, porque contribuições estarão chegando às suas mãos, até 6 de maio, e pode ser até que chegue as sua mãos substitutivo de Constituição. É, portanto, prematuro o Relator desenhar bonecos, quando pés, mãos, braços, peitos, seios, cabelos, e outros elementos constituitivos de um ser humano podem chegar a suas mãos. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Vladimir Palmeira. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Olhe, eu acho que realmente, pelos motivos expostos pelo Senador Roberto Campos, não podemos fazer boneco nenhum. Não há condições, se o prazo para sugestões ainda está com o seu efeito. O Relator, em tempo hábil, de acordo com as normas que nós estipulamos, vai apresentar o seu relatório. Não deve se apressar. Inclusive a discussão foi tomada pela Plenária da Constituinte, para ser um pouco dispersa, no início, recebermos contribuições diversas e ser sistematizada para ir afunilando, no final. Agora, caso se faça opção por um texto, eu queria marcar que também sou contra o texto Afonso Arinos, não pela exposição do Senador Roberto Campos, por ser utópico, mas ao contrário, por ser realista demais e pouco avançado. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, eu entendi, da proposta do nobre Relator Virgildásio de Senna, depois modificada pelo Constituinte Joaquim Bevilácqua, que a idéia do Deputado Virgildásio de Senna era colocar o capítulo da ordem econômica, do anteprojeto da Comissão de Direitos Constitucionais, presidido por Afonso Arinos, como um texto básico. Significa dizer, como um documento que aborda as questões e esta Subcomissão tem o dever de discutir. Os princípios gerais, a questão do capital estrangeiro, o papel do Estado na economia, propriedade do subsolo, a questão da planificação, enfim, temas que estão abordados lá, de uma forma sistemática, e que serviria de roteiro para a nossa discussão. Neste sentido, eu endossei a proposta do nobre Relator, sem que isto significasse, acho que também não significa para S. Ex.ª, e o endosso, quanto ao mérito, daquelas proposições. Mas parece-me indiscutível que todos os Constituintes examinaram aquele documento e têm feito as suas contribuições, as suas sugestões de normas constitucionais, levando em conta o que está proposto no Projeto Afonso Arinos. Eu não me arriscaria, eu não vejo sentido em reproduzir sugestões de normas que já estão contidas naquele projeto. Então, nesse sentido, parece-me que o anteprojeto Afonso Arinos é bastante válido, como um termo de referência, apenas para discussão. E, nesse sentido, não me parece que ele seja portador de todos esses defeitos que foram aqui apon- 50 tados pelo Senador Roberto Campos, porque, na parte referente, ao capítulo da ordem econômica, ele não contém essas proposições, que, em recente artigo o nobre Senador se referiu às garantias onerosas e não – onerosas. Eu acredito que esse documento como um termo de referência, sem nenhum compromisso quanto às suas conclusões, seja valioso para discussão, sem incorporar contribuições de a, b, ou c, porque essas, como foi bem colocado aqui continuarão a ser apresentadas até o dia 6 de maio. De modo que eu entendo que a proposta do Relator – eu gostaria que S. Ex.ª confirmasse esse entendimento é de que aquele documento sirva apenas como base, para referência da discussão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre relator. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, o tema que se tornou agora polêmico, parece-me que não foi examinado com o espírito com que a proposição foi apresentada. Evidentemente que, pela forma que o nobre Senador Roberto Campos distribuiu o seu tempo nesta Comissão, e as audiências que concede à sua clientela não lhe permitiram entender completamente a nossa proposição. E como sempre, quando as suas intervenções se realizam, é sempre que marca a sua forma de conduzir o processo de discussões nesta Casa. A proposição, nobre Constituinte, tem como objetivo, exclusivamente, estabelecer o nosso cronograma, o nosso calendário de trabalho, estão em aberto os termos de discussão temática, sem indicar que temas serão objeto da discussão. O que se pretende é que, havendo uma ordenação certa ou errada, enxundioso ou não moderna ou antiquada, mas havendo uma ordenação, um texto preparado com uma parcela, ou por uma parcela significativa da contribuição nacional, para que esse texto fosse pulverizado pela eloqüência, sapiência, conhecimentos absolutos do nobre Constituinte, servisse apenas de roteiro para discussão, não para a absorção ou admissão prévia do que nele se contém, mas pela ordenação lógica do texto. A discussão temática se faria não ad arbitrim do Presidente o do Relator, mas segundo uma lógica boa ou ruim, mas preexistente, e orientaria as discussões temáticas distribuídas por dez sessões. Isso nos permitiria, então, colher ou recolher o pensamento da Subcomissão em que estamos trabalhando, recolher o conhecimento do nobre Constituinte, sua participação, sua contribuição e de todos os demais, sem nenhum compromisso com o texto. O texto será aquele que, ao fim, a Assembléia Nacional Constituinte vier a aprovar. O texto desta Subcomissão há de abrolhar das discussões que realizarmos aqui. A proposição não significa nenhum compromisso, nenhuma rejeição ou aprovação. Mas uma disciplina, uma ordem para os nossos trabalhos. Apenas isso. Poderia ser outro, poderia ser qualquer outra Constituição a de 1946, a 1967 – mas como esse texto é um texto mais novo, errado ou certo, mas atual, a proposição é que ele disciplinasse as nossas discussões nas dez sessões previstas aqui para as discussões temáticas. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao Constituinte Roberto Campos. 51 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – A minha interpretação havia sido diferente, porque o que eu nego, em termo de referência, é trabalhar a partir de uma proposta básica, o que significa usar um documento de trabalho e não meramente um indicação de títulos desse documento de trabalho a ser utilizado. E, ao se utilizar alguma proposta básica, não devíamos, se quisermos uma Constituição enxuta, partir de um texto extremamente enxundioso. Nesse caso, poderíamos partir da Constituição de 1946, ou da Constituição de 1967. Mas, acho ambos as coisas desnecessárias. Acho que devemos aguardar até o dia seis, fazer uma compilação das diferentes propostas e daí, então, emergirá um texto básico, que o Relator nos apresentará e que espero não seja enxundioso nem utópico. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, sugiro que V. Ex.ª coloque em votação, porque se nós aprovamos o primeiro item, e se o nobre Relator já propõe fazer uma Comissão sintética, então aquilo que S. EX.ª vai consultar é de exclusiva responsabilidade sua. Se quiser S. Ex.ª consultar a Constituição do século passado, é problema do nobre Relator. Se propõe a fazer uma proposta enxuta, o se propõe a fazer urna proposta que nós aprovamos, o que S. Ex.ª vai consultar é problema dele. Então, acho que essa discussão é supérflua. Proponho a V. Ex.ª que coloque em votação se deveremos ou não atender a proposta do Relator, com referência ao item A2. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Se a discussão é supérflua, a votação também o é. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Eu gostaria de dar um esclarecimento. Acho que nós estamos começando a confundir um pouco as coisas. A proposta original aqui é se haveria uma proposta básica ou não. Eu imaginei que a proposta básica seria produzida pelo Sr. Relator. Durante a discussão, houve várias sugestões de que a proposta básica fosse o projeto Afonso Arinos. Contra isso é que houve essa discussão toda que está aqui. Acho que todos nós, segundo entendi, estamos de acordo em que o Relator produza uma proposta básica. Mas, acredito que o Constituinte Roberto Campos acrescentou alguma coisa importante, até o dia seis de maio todos nós vamos apresentar sugestões, e qualquer sugestão antes de seis de maio do Sr. Relator ficaria muito prejudicada. Suspeito que chegaremos a um acordo se fiarmos que haverá uma proposta básica, produzida pelo nobre Relator, depois de todas as sugestões terem sido apresentadas a partir de seis de maio. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Mas aí já é o relatório. Depois do dia 6 de maio já é o relatório. Se S. Ex.ª recebeu todas as contribuições até o dia 6 de maio, e S. Ex.ª tem um prazo exíguo para apresentar o seu relatório, essa proposta básica já será o relatório. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Bem, a minha convicção é a seguinte: vamos continuar discutindo, porque está claro que não há, nem é supérflua nem esgotamos o assunto. Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gabriel Guerreiro. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, por razões extras, estava fora do plenário, estava atento à evolução, eu gostaria que V. Ex.ª me explicasse como? Estava ouvindo... Esta questão de uma proposta básica não tem sentido sair antes das sugestões. Ela só poderá ser mesmo um relatório preliminar do Relator. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Nobre Constituinte, por favor, o que estamos dizendo é que há uma ordem. A proposta da ordem econômica começa por definir o que é ordem econômica. Nós temos em aberto as discussões básicas. Que roteiro para essas discussões básicas seguiríamos? Há uma ordem clássica, clara, na proposição da Comissão Afonso Arinos. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Entendo, mas... O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – É só este assunto; o que vamos discutir? Em primeiro lugar, o que é a ordem econômica? Discussão básica. Como defini-la, o que aprova, ou não aprova, diverge, e isso enriquece a discussão. O que é o minério nacional, como está na proposição? O que estamos seguindo é a ordem lógica, o que estamos propondo é um tema básico para a ordem lógica e não a aprovação de um texto, antecipadamente. O que vamos discutir inicialmente? Vamos discutir os princípios gerais, ou vamos discutir a posse do subsolo e o domínio do subsolo. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Acho que a ordem que está dada está perfeita. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Foi isso que se propôs quando se tomava o texto como fundamento, não a aprovação do texto, mas a disciplina do texto, a ordem de exposição dos temas nele tratados. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sim, mas isso nós estamos de acordo... O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Então, não há o que discutir mais. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Há o que discutir sim. A proposta básica, no meu modo de ver, deve ser o relatório preliminar de V. Ex.ª, para nós discutirmos. E isso só poderá ser feito depois do dia 6 maio. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Esta é a proposta básica, sobre a qual a Subcomissão vai votar. Nós não vamos votar o Relatório Afonso Arinos, não tem porquê. Nós vamos discutir temas elevados, como um guia para os nossos trabalhos. Se não quisermos isso, passamos para outro tema básico. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Acho que estamos discutindo uma questão de semântica, no entendimento do que é proposta básica, o que não é proposta básica. V. Ex.ª está me explicando, e repetindo a mesma coisa e eu entendi isso há muito tempo. O que entendo por proposta básica, vou ver se me faço entender, é que tenhamos aqui já formulado, em princípio, o que nós vamos levar para a Constituição, como contribuição desta Subcomissão. E, portanto, ela não poderá ser feita antes que todos os Consti- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) tuintes, até o dia 6 de maio, façam as suas sugestões. V. Ex.ª, sistematiza essas sugestões e nós aqui vamos discuti-las, enriquecê-las, modificá-las, na medida em que o Plenário concorde ou não com determinada posição. Eu, por exemplo, apresentei a minha proposta muito simples e sem justificativa, porque pretendo justificar na discussão cada um desses pontos. Eles têm uma longa história, cada um deles, uma longa discussão. Acho que virão aqui pessoas com tradição, com experiência, com tirocínio a respeito de determinados assuntos, e nós precisamos ouvi -las. Só, então, depois disso, é que teremos uma proposta básica. A minha questão é que só depois de 6 de maio nós teríamos uma proposta básica aqui para discutir em cima dela. Porque acho que se nós formos voltar a discutir a proposta do eminente jurista e Constituinte Afonso Arinos, nós estaríamos voltando à velha tese anterior a essa Subcomissão que já rolou no Plenário há tanto tempo. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. Concedo a palavra ao nobre Constituinte Jalles Fontoura. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Sr. Presidente, concordo também com a posição do Constituinte Gabriel Guerreiro com relação à proposta do Professor Afonso Arinos, a chamada Comissão Afonso Arinos. Ela, pelas próprias palavras dos seus componentes e do próprio Constituinte Afonso Arinos, se fez através de uma soma de sugestões muito mais que um anteprojeto constitucional. Não há porque nós, agora, assumirmos esse roteiro como alguma cousa que pode não ser muito boa como uma fonte de sugestões, há coisas muito boas nessa proposta, porém, acredito que um pouco mais de paciência e até o dia 6 nós recebermos todas as sugestões. Ontem, tivemos excelentes conferências, exposições aqui realmente notáveis, acho que devemos aguardar e nesse momento ouvir o anteprojeto do próprio Relator. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Continua em discussão. (Pausa.) Nós vamos pôr em votação a idéia de que só a partir de 6 de maio o Relator apresentará um roteiro para esta Subcomissão. Até lá, continuaremos as discussões temáticas como já fizemos hoje. Quem estiver de acordo com essa proposição queira permanecer sentado. (Pausa.) Aprovada a proposição de que não teremos nenhum documento básico até o dia 6 de maio. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, pergunto a V. Ex.ª no calendário aprovado pela Subcomissão, quais são os temas marcados, pois acredito que cada um dos Srs. Constituintes não virão aqui para introduzir assuntos, mas para discutir, na medida do possível, em profundidade, tendo se preparado para tanto, os temas que serão abordados em cada uma dessas reuniões. Pergunto a V. Ex.ª se há tema definidos ou não? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Se o nobre Relator me permite, acho que devíamos seguir o que aprovamos na Comissão da Ordem Econômica, discutiremos os temas na ordem em 52 que eles estão apresentados, a partir da base de sistema econômico, sistema de propriedade, a intervenção do Estado e o regime de propriedade do subsolo. A não ser que o Plenário decida diferente. Bom, minha proposição é que hoje à tarde vamos discutir princípios gerais: B-1-base do sistema econômico. Cada um vai expor suas idéias sobre o capitalismo, sobre a livre empresa, sobre economia mista, sobre a função social da propriedade, a dívida interna, a dívida externa, livremente sobre todo o item B-1. Quando considerarmos esgotada a discussão, passaremos ao B-2, e assim por diante. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Esses assuntos não serão submetidos à votação simples exposição. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – A mim me parece muito difícil votar alguma coisa, sem termos propostas concretas. O que entendi – e esta é a proposta do nobre Relator, fazendo um sentido profundamento lógico – é que isto é um documento exploratório, no qual as pessoas vão expor as suas idéias livremente, sem nenhum constrangimento, sem constrangimento de nenhuma natureza, cada um explorar desarmado as suas idéias, para que o seus companheiros possam entender o seus argumentos, rebatê-los ou aderir a eles as e disso, depois, das propostas que V. Ex. estarão apresentando até o dia 6 de maio, o Relator preparará, com a sua inteligência, com base no que ouviu na Subcomissão e nas propostas concretas, um documento organizado com uma coerência interna, uma lógica própria e, aí sim, passaremos a votar item por item. Com a palavra, o ilustre Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, estou revendo aqui aquele documento chamado "termo de referência, apresentado pelo ilustre Relator, e me parece que falta a questão do plano que foi incluído inclusive como tema de debates mas que, infelizmente, não constou desse "termo de referência". Parece-me que é uma questão importante antes de debatermos nesta Subcomissão. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Está incluído no item C – intervenção do Estado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Perfeitamente incluído no item C. Nada mais havendo a tratar, vou encerrar os trabalhos da presente reunião, convocando outra para hoje, às 5:30, neste mesmo local para iniciarmos a discussão pelo item B-1. Está encerrada a presente reunião. as Muito obrigado a V. Ex. . (Levanta-se a reunião às 11 horas e 50 minutos.) 53 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) COMISSÃO DA ORDEM ECONÔMICA 7ª Reunião Ordinária Aos vinte e oito dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dezoito horas e três minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência do Senhor Constituinte Delfim Netto, com a presença dos seguintes Constituintes: Delfim Netto, Beth Azize, Gabriel Guerreiro, Luiz Salomão, Vladimir Palmeira, Roberto Campos, Antônio Carlos Franco, Albano Franco, Virgildásio de Senna, Marcos Lima, Ismael Wanderley, Gil César, Joaquim Bevilacqua, Rubem Medina e Roberto Jafferson. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior, que foi aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se início ao expediente que constou da leitura sumária das sugestões de números trezentos e trinta e um, trezentos e cinqüenta e seis, quinhentos e cinqüenta e seis, quinhentos e seis, quinhentos e cinqüenta e nove, quinhentos e noventa e dois, seiscentos, seiscentos e quatro, seiscentos e onze, seiscentos e treze, seiscentos, e quarenta e seis, seiscentos e cinqüenta e cinco, seiscentos e sessenta e oito, seiscentos e setenta, seiscentos e setenta e cinco, seiscentos e oitenta e dois, seiscentos e noventa e oito, setecentos e vinte e nove, setecentos e quarenta e quatro, setecentos e quarenta e cinco, setecentos e cinqüenta, setecentos e cinqüenta e seis, setecentos e noventa e três, oitocentos e sessenta e nove, oitocentos e setenta e dois, oitocentos ,e setenta e três, novecentos e treze, novecentos e vinte e oito, novecentos e trinta e dois, novecentos e cinqüenta, novecentos e setenta e seis, novecentos e oitenta e oito, mil e doze, mil e setenta e dois, mil e oitenta e quatro e mil e noventa e três, de autoria dos Constituintes Benedita da Silva, Nyder Barbosa, Anibal Barcellos, Jamil Haddad, Mendes Botelho, Paulo Zarzur, Adhemar de Barros Filho, Beth Azize, Felipe Mendes, Gonzaga Patriota, Mozarildo Cavalcanti, Nivaldo Machado, Pedro Canedo, Victor Faccioni e outros, Davi Alves Silva, Roberto Freire e outros, Aldo Arantes e outros, Doreto Campanari, Cid Carvalho, Flávio Palmier da Veiga, José Carlos Vasconcellos, Mário Maia, Ruy Nedel, Homero Santos, Odacir Soares e Ruy Bacelar. Findo o expediente, o Senhor Presidente anunciou o debate de Matéria Constitucional, referente ao item B. 1 – Base do Sistema Econômico, constante do Termo de Referência, proposto pelo Relator, do qual participaram os Senhores Constituintes Beth Azize, Virgildásio de Senna, Luiz Salomão, Joaquim Bevilacqua, Roberto Campos, Ismael Wanderley e Vladimir Palmeira. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às dezenove horas e quarenta minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada amanhã, dia vinte e nove de abril, às nove horas e trinta minutos, para continuação do debate de Matéria Constitucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueirêdo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO À ATA DA SÉTIMA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM VINTE E OITO DE ABRIL DE 1987, ÀS DEZOITO HORAS E TRÊS MINUTOS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Estando presentes treze Srs. Constituintes, declaro aberta a reunião. Convido o ilustre Constituinte Luiz Salomão, para que faça a leitura da Ata. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO (Leitura na Ata.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. Está em discussão a Ata. (Pausa.) Passamos à votação. Quem estiver de acordo permaneça sentado. (Pausa). Está aprovada a Ata. A Presidência recebeu e encaminhou ao nobre Sr. Constituinte Virgildásio de Senna, Relator da matéria, as sugestões de números 331, 356, 559, 592, 600, 604, 611, 613, 643, 655, 668, 670, 675, 682, 698, 729, 744, 745, 750, 756, 793, 869, 872, 873, 913, 928, 932, 950, 976, 988, 1.012, 1.062, 1.084 e 1.093, dos seguintes Constituintes: Benedita da Silva, Nyder Barbosa, Anníbal Barcellos, Jamil Haddad, Mendes Botelho, Paulo Zarzur, Adhemar de Barros Filho, Beth Azize, Felipe Mendes, Gonzaga Patriota, Mozarildo Cavalcanti, Nivaldo Machado, Pedro Canedo, Victor Faccioni, Davi Alves Silva, Roberto Freire, Aldo Arantes, Doreto Campanari, Cid Carvalho, Flávio Palmier da Veiga, José Carlos Vasconcelos, Mário Maia, Ruy Nedel, Homero Santos, Odacir Soares e Ruy Bacelar. Passaremos, agora, à discussão da Ordem do Dia que constará da discussão do item D. 1 – Base do Sistema Econômico. Temos três oradores inscritos. Concedo a palavra à ilustre Constituinte Beth Azize. A SRA. CONSTITUINTE BETH AZIZE: – Sr. Presidente, antes de entrar na discussão da pauta, propriamente dita, para esta reunião, eu gostaria de manifestar a V. Ex.ª e a todos os membros desta subcomissão, uma preocupação que já está me levando ao desestímulo e, até certo ponto, à falta de interesse de participar das reuniões desta subcomissão. Eu vou ser bem clara e bem rápida. Foi aprovada, aqui, por esta subcomissão, uma pauta de audiências públicas sobre temas pertinentes a matéria que serão discutidas e votadas por esta subcomissão. E, ontem, Sr. Presidente, tivemos a primeira audiência pública e eu manifesto aqui, com muita tristeza, que a "expressão audiência pública" não está sendo aplicada como deveria ser. Porque me parece que numa audiência pública esta subcomissão não pode ficar ligada, não pode ficar amarrada a palestras ou conferências de ilustres personalidades que, pelo processo de votação, foram convidadas a participar dessas audiências públicas, sem a participação daquilo que eu chamo a legitima representação da sociedade civil brasileira. As audiências públicas foram inseridas no Regimento Interno exatamente para permitir a participação da sociedade brasileira, nessas discussões, junto aos Constituintes que irão debater as questões de natureza constitucional. E, ontem, eu não me senti bem quando assisti aqui discursos acadêmicos, como se estivesse nos bancos da minha velha e saudosa Faculdade de Direito do Estado do Amazonas, onde os professores nem sempre correspondiam às nossas expectativas. Estamos assistindo palestras, conferências, no mais puro estilo acadêmico e o mais interessante é que isso que eu estou falando é de interesse para o meu colega. Essas palestras e conferências, repito, não estou ensejando nenhum debate que possa levar esta subcomissão à determinação ou ao conhecimento dos princípios e das normas que possam nortear, que possam conduzir o pensamento desta subcomissão no momento da apresentação do seu relatório e da votação pelos membros da subcomissão. Vou apresentar um exemplo prático, ainda me referindo à audiência pública de ontem. Nós ouvimos aqui ilustres figuras que militam na área empresarial, nós ouvimos pessoas interessadas em discutir as propostas de Constituição, ou para a Constituição. Mas eu vejo, na audiência pública marcada para o dia 4 de maio, Sr. Presidente, em que se vai discutir temas como o subsolo, a União e os Estados, o monopólio estatal do petróleo e outros monopólios e reservas estratégicas, por exemplo, como convidado, o Presidente da Petrobrás; eu vejo aqui, como convidados, o Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia, o Presidente do Ibram, o Almirante Gama e Silva, e não estou vendo aqui – e sei que essa foi uma questão já levantada em reuniões anteriores – nenhum representante da massa trabalhadora do subsolo. Eu me refiro, por exemplo, a entidades e sindicatos que representam os garimpeiros, que representam os trabalhadores do subsolo, os trabalhadores que promovem a circulação da riqueza mineral do País – nenhum deles se faz aqui representar. E o que é mais grave, além de não estarem aqui como convidados para debater, eles não podem sequer usar da palavra para debater o assunto. Então, parece-me, Sr. Presidente, que essas audiências públicas não estão alcançando os objetivos para os quais elas foram inseridas no Regimento Interno da Constituinte. Está ficando monótono. Está mais me parecendo uma lavagem cerebral e não me parece que alguém tenha vindo DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) aqui para receber nenhuma lavagem cerebral. Nós somos pessoas adultas, somos Constituintes eleitos, somos representantes legítimos do povo brasileiro e estamos aqui com opiniões firmadas e nós queremos aqui é ouvir a opinião da sociedade civil, para que nós possamos fazer uma Constituição mais próxima possível do pensamento da Nação brasileira. É esta a manifestação que eu tinha a fazer nesta reunião de hoje. Muito obrigada. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª Só gostaria de acrescentar que esta forma de organização decorreu de uma ampla discussão em que todos tiveram a oportunidade de se manifestar. As pessoas convidadas foram todas elas eleitas por esta subcomissão, de forma que isso é matéria vencida e nós vamos prosseguir como temos feito, como fizemos ontem e como faremos nas próximas reuniões. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, se V. Ex.a me permitir. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Pois não. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Pelo apreço que merece o pensamento da nobre Constituinte Beth Azize, desejo informar apenas que a decisão foi uma decisão do Plenário. As pessoas convidadas foram as aprovadas pelo Plenário e que na constituição dos depoentes previstos para esta próxima sessão constava o nome de duas pessoas representativas de sindicatos nacionais de garimpeiros e que essas pessoas foram substituídas por outras indicadas pela Comissão. De modo que, como informou o presidente, embora reconhecendo a legitimidade da sua reclamação, ela se torna intempestiva, porque o momento próprio já passou para a indicação dessas pessoas. Aquilo que será possível – se a tanto se decidir o Plenário e anuir o Sr. Presidente –, é que, em havendo uma dilatação de prazo para apresentação de propostas, se faça uma audiência especial para ouvir esse segmento ligado tão diretamente às questões envolvidas nesta subcomissão, ou, segunda hipótese, em havendo um não comparecimento de pessoas já previstas como depoentes, uma substituição por esses nomes. Essas são as hipóteses possíveis e que nós acompanharemos com muita atenção, inclusive, para atender à sua reclamação, que nos parece justa. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, Sr. Relatar, Srs. Constituintes: Tive ocasião de distribuir aos ilustres membros desta subcomissão um conjunto de propostas que abarcam os trabalhos desta subcomissão. Faltou-me, foi uma falha, um lapso, que eu pretendo corrigir dentro de minutos, distribuir aos senhores uma outra sugestão de norma constitucional que encaminhei à Comissão da Soberania dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher, relativamente ao art. 1º da Constituição. Se V. Ex.as me permitirem gostaria de expor esse primeiro documento que distribui a V. Ex. as, remetendo essa proposta que só posteriormente V. Ex.as terão em mãos, e que está baseada no pressuposto de que haja um mínimo de consenso nacional sobre a necessidade de revisar, de reverter e subverter, mesmo, o modelo econômico 54 brasileiro calcado no capitalismo que vem evoluindo nas suas diferentes formas e que já apontou na direção da sua inviabilidade como forma de resolver os graves problemas sociais que vive o povo brasileiro. A despeito de sermos a oitava economia do mundo, estamos figurando nos índices sociais sempre na faixa dos últimos lugares, e isto eu creio que nenhum brasileiro tem esperança .de resolver pela via da persistência do modelo econômico vigente. E, inspirado um pouco na Constituição italiana, nação que foi citada como exemplo hoje, como paradigma das nossas discussões, pelo Constituinte Roberto Campos, gostaria de invocar um princípio que está no art. 1º da Constituição italiana e tentar introduzi-lo, com a ajuda dos Srs. constituintes, na Constituição brasileira, dando-lhe a seguinte redação: "O Brasil é uma República Federativa, constituída sob regime representativo pela união absoluta dos Estados, Distrito Federal e territórios e fundada no trabalho do seu povo". É essa premissa o postulado que gostaríamos de ver introduzido no art. 1º, a fim de colocar esse componente da vida econômica, que é o verdadeiro fator de construção da Nação, como um primado, o primado do trabalho, para organizar a sociedade e a economia. Se isso for aceito, nós teremos desdobramentos sérios, importantes, seja quanto à organização e funcionamento do Estado, seja quanto à estruturação das atividades econômicas e sociais. Para tanto, passaria a discutir a nossa proposta de redação dos princípios da ordem econômica que agora separam-se dos princípios da ordem social, em cima do anteprojeto da Comissão de Estudos Constitucionais, presidida pelo Constituinte Afonso Arinos, que tem, queiramos ou não, uma função reitora nos nossos trabalhos, nas nossas discussões. A própria divisão das comissões e subcomissões obedeceu, de certa forma, à divisão feita pela Comissão de Estudos Constitucionais. E, por isso, já se produziu essa separação entre os princípios da ordem econômica e os princípios da ordem social. Mas se respeitado o primado do trabalho, o reconhecimento de que é o trabalho o elemento fundamental de construção da Nação, de organização da Nação, isso significaria rever inúmeras situações de injustiça, como, por exemplo, os salários míseros que são pagos em nosso País. Um País que tem, num quadro elaborado pelo Ministério do Trabalho, a penúltima posição entre os mais baixos salários em todo o mundo, perdendo apenas para o Peru, onde a carga semanal era menor do que no Brasil e, quando feita á homogeneização, nós ficamos também atrás do Peru, vamos verificar que é preciso rever inúmeros pontos. E não nos venham dizer que é uma questão de produtividade, da mão-de-obra, que é decorrência da baixa qualificação, porque, se fizermos essa comparação com empregados qualificados do setor de ponta, da indústria de ponta, entre o operário brasileiro e o operário italiano e o operário alemão, vamos ver que um torneiro brasileiro, um fresador brasileiro, com a mesma produtividade e eventualmente com produtividade maior do que o seu similar alemão ou italiano, está percebendo uma remuneração que, muitas vezes, é metade ou é um terço daquela que é paga naqueles países desenvolvidos. E essa é a razão de depauperação do mercado interno, essa é a razão da limitação do nosso mercado nacional e que produz esse contra-senso de estarmos gastando recursos do povo trabalhador para dar incentivos a disputar os mercados externos quando temos enormes contingentes da população brasileira marginalizados, alijados do mercado. 55 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) E eu creio que esse postulado do trabalho, como norma principal de estruturação da sociedade e da economia brasileira, é um princípio aceitável, aceito por todos os setores da população. Só os empresários mais retrógrados, só aqueles que se fizeram pela via da especulação financeira, ou das fraudes que são encontradas, sobretudo, no setor financeiro, é que podem se opor a esse postulado de que é através do trabalho que devemos organizar a economia. Dito isso, gostaria de me referir à proposta que numerei como O E-1, no sentido de que a ordem econômica deve visar o desenvolvimento nacional e a justiça social, não da forma praticamente errática como se dá neste País, da produção orientada, não para a satisfação das necessidades sociais, mas para auferição mais fácil do lucro. Isto ficou bastante patente na declaração que, ontem, aqui fez o Presidente da Fiesp, o Sr. Mário Amato, que ao contrário do que disse a Deputada Beth Azize, não fez lavagem cerebral. Acho que despiu claramente a posição do empresariado paulista sobre qual era a função social – função social ou lucro, disse aqui com todas as letras – e, além dessa orientação da produção para satisfação das necessidades sociais, o respeito aos direitos dos trabalhadores e a democratização da renda da propriedade. Esse é outro ponto fundamental, porque o capitalista brasileiro preza, homenageia a propriedade como se fosse uma instituição sagrada, mas a quer apenas para si, procura impedir, tanto quanto possível, que essa propriedade seja distribuída a todos os segmentos da população. Então, se queremos uma ordem econômica que vise a justiça social, a democratização da renda, e, por conseguinte, da propriedade, há de ser um objetivo a se perseguir de maneira sistemática. E aí estamos enumerando os oito princípios da ordem econômica que, a nosso juízo, constituiriam uma boa formulação para esse artigo que, de resto, é a parte mais hipócrita da Constituição vigente, essa Constituição que fala da valorização do trabalho numa sociedade que paga 50 dólares de salário mínimo, quando já pagou 40, quase 30, meses atrás. Essa Constituição que é violada, cotidianamente, pelas atividades econômicas quando fala da função social da propriedade em contradição com o latifúndio improdutivo que está aí, a olhos vistos, sendo responsável pela miséria do nosso povo. Ontem, foi dito aqui, também, pelo mesmo Presidente da Fiesp, que há bons e maus empresários. Infelizmente, só hoje pudemos ter acesso a uma matéria publicada no Jornal do Brasil, mostrando que mais da metade dos proprietários rurais deste País sonegam o Imposto Territorial Rural. Isso era uma boa contraprova da afirmativa do Sr. Mário Amato. Uma das razões pelas quais os princípios da ordem econômica, hoje econômica e social, são desrespeitados, é pela sua formulação genérica, pela sua formulação impossível de ser referida pelo cidadão prejudicado em seus direitos. E é nesse sentido que estamos colocando esses postulados, esses princípios, de uma forma que nos parece mais específica, que permite ao cidadão comum argüir, com base na Constituição, as injustiças de que é vítima. Assim, a questão da valorização do trabalho tem de ser qualificada no seu significado real, que implica na justa remuneração do trabalho, dá a garantia do emprego, hoje, o principal fator de instabilização do cidadão e da sua família, e da melhoria das condições de trabalho. Outra coisa que nos chocou profundamente, foi a informação do mesmo Presidente da Fiesp, de que se descêssemos em São Paulo verificaríamos que o empresariado paulista respeita o seu trabalhador, remunera-o bem e lhe propicia condições de trabalho dignas de ser humano. Infelizmente, já trabalhei em São Paulo, apesar de ser carioca de nascimento, e a realidade não é bem essa, de modo que a questão da melhoria das condições de trabalho constitui um fator fundamental a perseguir se pretende valorizar o trabalhador. O segundo princípio da democratização da propriedade, e do controle da produção, visa corrigir essa grave distorção inscrita na Constituição de 1967, que, aliás, vem de 46, dizendo que o trabalhador participará do lucro das empresas. Isso é mais uma das balelas, uma das ficções que a classe dominante, para satisfazer sua consciência, colocou na Constituição apenas como um princípio, como mais uma regra a ser descumprida no cotidiano. É preciso caracterizar o que é a democratização da propriedade, o que é o controle da produção, através da participação dos trabalhadores no lucro das empresas como já está na Constituição, e também na gestão, mudando a formulação atual da Constituição que prevê a participação da gestão apenas excepcionalmente. Um terceiro princípio é o da coexistência de diferentes formas de propriedade dos meios de produção, e aqui nós estamos referindo especificamente aos meios de produção porque há que modificar também, o art. 153, da Constituição que engloba no mesmo saco a propriedade dos bens familiares, a propriedade dos meios de produção, a propriedade territorial rural, a propriedade territorial urbana, a fim de proteger o grande proprietário, o latifundiário improdutivo, o mau patrão, com o escudo protetor da massa de pequenos proprietários de bens que servem apenas para a subsistência de sua família. Aqui, neste terceiro item, estamos reconhecendo e desejando a coexistência de diferentes formas da propriedade, da propriedade privada, da propriedade estatal dos meios de produção, e de todas essas formas intermediárias que têm vingado com muita raridade no cenário econômico brasileiro. O quarto postulado da liberdade da iniciativa, que também defendemos como sendo aquele capaz de trazer a saudável concorrência no meio das atividades econômicas, porém não essa liberdade de iniciativa incondicionada da Constituição atual, mas sujeita à função social da propriedade, da tecnologia e da empresa que quisermos caracterizar, como sugere o projeto Afonso Arinos. Porque a tecnologia que foi defendida, ontem, como uma forma quase que abstrata, apenas referida à questão da soberania nacional, ela também tem que ter uma função social, porque pode ser fator de agravamento de injustiças, de sofrimentos de nosso povo. O quinto ponto é esse postulado do Projeto Afonso Arinos, que apenas reproduzo e acho desnecessário justificar, o equilíbrio e harmonia do desenvolvimento regional e setorial para reduzir as desigualdades econômicas e sociais. É evidente, que para os representantes do capital que aqui estiveram ontem, a questão dos desequilíbrios regionais e setoriais é irrelevante, mas não podemos continuar a ostentar esse quadro contrastante que Edmar Bacha chamou de belíndia, da convivência dentro do nosso território, de uma Bélgica e de uma Índia, que traduz nesse objetivo programático de equilíbrio e harmonia do desenvolvimento regional e setorial. O sexto postulado é o fortalecimento da empresa nacional e pretendemos numa outra contribuição definir ou contribuir para a definição de uma forma mais genuína e autêntica do que a do Projeto Afonso Arinos e que visa definir como nacional o que é verdadeiramente nacional e não a IBM do Brasil, a Shell do Brasil, como empresas nacionais, apenas porque estão aqui organizadas. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O sétimo ponto é que talvez mereça uma atenção maior, que é o reconhecimento como um postulado, como um princípio da ordem econômica: o da intervenção do Estado no domínio econômico, não apenas como repressor dos abusos e delitos do poder econômico, que hoje está inscrito na Constituição, não apenas como agente de fomento que todo empresário admite e deseja, sobretudo quando quer empresar e necessita do Estado para lhes ceder crédito, para lhe apoiar e fomentar as atividades, não apenas como regulador e controlador das atividades econômicas, mas também é uma função reconhecida e clássica do Estado, mas do Estado como agente de produção, como agente de produção que já é, não ficarmos iludindo ou tentando nos iludir, escondendo o sol com a peneira e dizer que a atividade econômica será explorada preferencialmente pela iniciativa privada, cabendo ao Estado apenas um papel supletivo, um papel tímido, envergonhado, do Estado como agente de produção. Ora, Srs. Constituintes, o Estado brasileiro, como agente de produção, é uma realidade irreversível, impossível de ser modificada no curto, no médio e no longo prazo, e estamos dispostos a discutir os diversos aspectos do Estado como agente de produção, descontrolado, arbitrário, autoritário, que incorporou todos os defeitos da ditadura militar e que, por conseguinte, vem sendo um agente, não necessariamente colado aos interesses da maioria da população, mas freqüentemente à disposição dos interesses dos grandes grupos econômicos, inclusive, dos grupos multinacionais. E o oitavo postulado, a questão do Estado vou abordar – logo a seguir nos artigos que se seguiriam ao primeiro – a busca da harmonia das atividades econômicas através do planejamento democrático. Isso como alternativa a esse objetivo utópico, essa formulação de princípios inatingível que é da harmonia das classes, das categorias sociais de produção da Constituição atual e foi reproduzido no anteprojeto Affonso Arinos. No artigo seguinte procurei propor uma formulação do caráter prioritário do Estado como agente de fomento, o Estado incentivará e apoiará o cooperativismo e as pequenas e médias empresas, através de tratamento legal diferenciado, facilitando-lhes a burocracia contábil, tributária, trabalhista e previdenciária, e favorecendo-as quanto o acesso ao crédito e dando-lhes preferência nas compras do setor público. Ora, se pretendemos reorientar a economia brasileira das suas formas mais selvagens de capitalismo mais selvagem para abrir espaços para a forma de organização econômica, típica da social democracia, é preciso que o Estado assuma uma atitude franca e verdadeira em relação ao cooperativismo, às pequenas e médias empresas que são a verdadeira... Consulto a Mesa se tenho tempo marcado? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª já esgotou os 15 minutos. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Peço a V. Ex.ª que generosamente me conceda mais 3 minutos para que possa, rapidamente, me referir aos demais artigos. Passo então, à questã o da intervenção do Estado como agente de produção e à questão crucial, no sentido de fixar que a criação, extinção, transformação, aquisição e transferência de controle de entidades estatais de produção tenha de ser autorizada em lei, não como está previs to no Decreto-Lei nº 200, em outra legislação ordinária, mas como um princípio constitucional para impedir a proliferação de empresas estatais, como se observou e se observa, até hoje, na chamada Nova República. Tive oportunidade, no Plenário da Assembléia Nacional Constituinte na Câmara dos Deputados, denunciar essa Valec, uma paper company da Companhia Vale do Rio Doce, criada sem nenhuma participação do Congresso Na- 56 cional e que vai agora desenvolver dois projetos faraônicos, dois projetos dos bons tempos do "milagre brasileiro", que são as estradas Norte -Sul e Leste-Oeste; bilhões de dólares no orçamento de uma companhia limitada, subsidiada à Vale do Rio Doce, agora transferida para o Ministério dos Transportes. É assim, sem controle social, sem nenhuma participação do Congresso que o Estado se multiplicou, proliferou para sacrificar ainda mais o nosso povo. E no art. 2º, proponho que a Câmara dos Deputados fiscalize, através de uma comissão técnica permanente, a ser definida no seu Regimento Interno, as atividades das entidades estatais de produção. É o Congresso Nacional, é a Câmara dos Deputados, é esse órgão de representação da sociedade que deve decidir quais os setores da economia que devem ser delegados, ser de responsabilidade do Estado, e aqueles que devem ser da responsabilidade da iniciativa privada. Não é aceitável que os empresários e os seus ideólogos aqui se coloquem dizendo que a atividade econômica é privativa da iniciativa privada, isso é uma formulação ideológica, isso não é democrático, a sociedade tem que ter o direito de opinar, através do Congresso Nacional, sobre quais são os setores em que o Estado tem condições de se desempenhar bem e aqueles que ela prefere fiquem em mãos da iniciativa privada. Os demais artigos fixam que o monopólio e a reserva de mercado têm que ser criados em lei e há casos e casos de monopólios e reservas de mercado artificialmente criados por resoluções, por portarias e que, evidentemente, violam, são privilégios concedidos. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª já esgotou os três minutos. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Pois não. De modo que, Sr. Presidente, os demais artigos se referem ao papel do Estado como repressor do abuso do poder econômico e como defensor dos direitos do consumidor. Encerro por aqui, colocando-me à disposição dos companheiros, Deputados e Senadores Constituintes, a fim de debater e aprofundar essa discussão, que me parece crucial para a ordenação da estrutura econômica nacional. Muito obrigado. (Muito bem! Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao Deputado Joaquim Bevilacqua. (Pausa.) S. Ex.ª, não está presente. Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Gostaria de ter tanto a juventude como a autoconfiança que revela o meu colega Luiz Salomão, na sua apresentação de hoje. A leitura do seu texto, entretanto, me suscita imediatas dúvidas. Há uma palavra incrivelmente sexy, porém, incrivelmente confusa – justiça social – (Palmas). A expressão justiça social é altamente subjetiva, quem nos indicou isso, com soberba claridade foi o Mestre Hayek que fala que o máximo a que uma sociedade deve aspirar é ter normas justas de conduta, normas iguais de aplicação geral aos indivíduos. Não se pode garantir justiça social, porque isso seria garantir resultados e acontece que Deus foi profundamente injusto, fez-nos absolutamente desiguais, filhos de uma mesma família, com o mesmo nível de educação, com o mesmo treinamento universitário, têm na vida, resultados completamente diferentes, um pode ser um playboy, outro pode ser um grande empresário e, um terceiro, um artista. Será isso justo ou injusto? Ninguém sabe dizê -lo. Tudo o que a sociedade pode prometer aos indivíduos é que traçará normas justas de conduta. Os resultados serão 57 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) função exclusiva do grau de talento e de aplicação dos indivíduos. É esse o único conceito compatível com a liberdade. Não se pode impor a justiça social, pode-se apenas esperar que o Estado formule regras justas de conduta. Da mesma maneira que não se pode dizer que o resultado de um jogo de futebol é justo ou injusto. O que se pode dizer é se foram ou não obedecidas as regras do jogo. A palavra "justa" volta também no parágrafo único inciso I, fala-se na valorização do trabalho através da justa remuneração. O que será a justa remuneração? O trabalhador sempre considerará injusta a remuneração que recebe e o patrão tende a considerá-la exagerada. O que se pode falar é em remuneração adequada à produtividade, porque é essa a única coisa objetiva. Se a remuneração for acima da produtividade, ela será injusta para a sociedade e acabará provocando desemprego. Se ela for inferior à produtividade, talvez não ocorra um grau suficiente de satisfação do trabalhador, sendo que a produtividade, como todo mundo sabe, não deriva apenas do trabalho, há também a contribuição do equipamento necessário à eficácia da produção. No inciso II, há outra idéia extremamente sexy e irresistível e igualmente complexa, que é a participação na gestão e no núcleo das empresas. Já desde a Constituição de 1967 que se discute, aliás em Constituições anteriores também, o conceito de participação nos lucros. É de uma infinita complexidade. Eu mesmo fiz um projeto, que já foi aprovado no Senado e se acha na Câmara, que regula a participação eventual nos lucros da empresa. A participação nos lucros tem que ser, primeiro, eventual, porque o lucro não é uma ocorrência necessária. As empresas podem ter prejuízos. Não se pode, portanto, admitir-se habitualidade na distribuição dos lucros, porque não há habitualidade garantida na geração de lucros. Tem que se pensar, portanto, sempre em participação eventual nos lucros, se lucros houver. Segundo, essa participação tem que ser objeto de acordo mútuo entre a empresa e o empregado. Não pode ser uma imposição legal, pelo simples fato de que, se for uma imposição legal, o patrão vai exigir que o empregado também participe do prejuízo. Ele participará dos lucros nos anos em que houver lucro; ele terá uma redução de salários ou de patrimônio nos anos em que houver prejuízo. Ora, isso a ninguém interessa. Tem que se deixar, portanto, a negociação no mercado, entre trabalhadores e assalariados, no esquema de participação. Voluntariamente, no mundo capitalista, já se está generalizando o estatuto mutuamente acordado de participação eventual nos lucros. E o objeto do projeto que apresentei, e foi aprovado pelo Senado, é eliminar os encargos, por exemplo, de Pis, Pasep, Imposto de Renda e outros encargos eventuais, que desestimulam as empresas na promoção dessa medida muito útil para o aumento da produtividade, para o aumento do grau de participação social, que é a participação eventual nos lucros. Surge, também, um problema que foi enfrentado quando se quis regulamentar o artigo relevante da Constituição, que é, se não me engano, o art. 165, que é o fato de que há empresas deficitárias, cronicamente deficitárias, quase que vocacionalmente deficitárias. Um grande número de empresas públicas estão nessa categoria. Os metrôs, as ferrovias, o Lloyd Brasileiro, por exemplo, são cronicamente deficitários. Como se falar em participação nos lucros? Foi por isso que o Ministro Delfim Netto, posteriormente, como uma fórmula de adaptação, criou o PIS/Pasep que, na realidade, era uma forma indireta de participação dos lucros, através da constituição de um fundo comum, obtido através de contribuição de empresas, para atender ao caso genérico de empresas não lucrativas. Aí, então, a participação no Pis e Pasep independe, a rigor, do grau de lucratividade da empresa. É um impulso da empresa. A desvantagem do sistema é que obviamente é um imposto indireto e, assim, transferido à sociedade. Mas era uma tentativa de resolver esse problema quase insolúvel. Como dar participação nos lucros a empresas cronicamente deficitárias? Novamente anuncia-se o quarto espírito eminentemente social, senão socialis ta, do nosso prezado amigo, que o leva a falar em função social da propriedade. Basicamente, a função da propriedade, segundo os princípios lockianos, é proteger a liberdade do indivíduo contra o Estado. O que se deve pensar em regular é o uso eficiente da propriedade, não propriamente sua função social. O inciso VI fala no fortalecimento da empresa nacional, conforme definida nesta Constituição. Eu espero que na definição que o Constituinte venha trazer a esse conceito de emprego nacional, ele não queira s e pautar por despontérios como o da Lei de Informática, que desnacionaliza inúmeras empresas, definindo como empresa nacional apenas aquela em que há 70% de participação no capital nacional e, além disso o burocrata verifique – de que maneira eu não sei – que existe um efetivo controle tecnológico, um conceito altamente subjetivo, que na realidade desnacionalizou arbitrariamente várias empresas. Empresa nacional, no conceito tradicional do Código Comercial, da Lei das Sociedades Anônimas, é a empresa consti tuída no País, segundo as leis do País, que pague impostos e gere empregos. O que nos interessa é o conceito de empregos como um símbolo de poupança e atividade econômica capaz de gerar empregos e impostos. Gostaria também de participar, mas sinto -me impos sibilitado à luz de minha longa experiência, em participar do entusiasmo do caro amigo, o Constituinte Luiz Salomão, em incluir entre os princípios da atividade econômica, a busca da harmonia das atividades econômicas através do planejamento democrático. Fui, talvez, um dos pioneiros nesta arte, que eu julgava ciência, e que é mais uma artimanha que nós chamamos de planejamento. O mundo todo está desapontado com o planejamento. O planejamento democrático, então é algo quase que contraditório, significa que um grupo de indivíduos localizados numa gerência central interpretam as vontades do cidadão e estabelecem um plano. Nós estamos vendo que, mesmo nos países socialistas, há hoje uma preocupação quase obsessiva de descentralizar, de desplanejar, por assim dizer, e liberalizar a economia. A China já o fez no setor agrícola e está procurando fazê-lo, enfrentando sérias dificuldades, no setor industrial. A Rússia começa a se desvincular em normas de planejamento. Na maioria dos países europeus se procura, hoje, enfatizar as atividades e desenfatizar o planejamento central, visando a harmonia das atividades econômicas. A harmonia tem que resultar das forças do mercado. Na realidade, o mercado tende a ser desarmônico, mas se corrige com movimentos contínuos e dinâm icos. A harmonia planejada implica habitualmente em magnificar erros a partir da autoridade central. O ilustre Constituinte não chegou a comentar no artigo em causa, mas, na página 3, ele fala em monopólio e reserva de mercado criados em lei. A expressão "reserva de mercado" me provoca uma alergia assaz profunda. Reserva de mercado é a coisa mais antidemocrática que se pode conceber. Reserva de mercado é equivalente à cassação de direitos. Nós falamos, com horror, da cassação de direitos no plano político. Ora, a reserva de mercado é uma cassação de direitos no domínio econômico; significa, simplesmente, que um burocrata, em Brasília, decide quem pode e quem não pode produzir. É o que está sucedendo, por exemplo, em toda área da Informática. O cidadão que não é abençoado pela SEI tem simplesmente cassado o seu direito de produzir, ainda que ele esteja há muito tempo estabelecido no País. Eu acho que o que deveríamos incluir na Constituição é o contrário, é a defesa do direito democrático de produzir, cassando-se o direito de reserva de mercado. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Gostaria de esclarecer à Casa que talvez fosse interessante nós começarmos uma tradição: a contradita poderá ser feita sempre, uma única vez, por 10 minutos, como se prevê no Regimento do Senado, de forma que isso organizaria as discussões. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Luiz Salomão, por 10 minutos. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Muito obrigado, Sr. Presidente. Eu gostaria de falar sobre os comentários do nobre constituinte Roberto Campos, agradecendo-lhe a consideração e a generosidade com que ele examinou a minha proposta, dizendo, desde logo, que concordo com S. Ex.ª quando se refere ao baixo grau de definição da expressão "justa remuneração" e da necessidade de associá-la à produtividade. Numa versão intermediária, que posteriormente abandonei, fazia menção a essa questão da produtividade, mas levei em conta o fato de que a questão da justa remuneração, a questão do salário haverá de ser tratado na legislação ordinária, onde, evidentemente, a questão da produtividade haverá de ser considerada como um dos referenciais para a qualificação da justa remuneração. Sobre a sua visão cética da justiça social, confesso que não consigo ter esse tipo de sentimento ou impulso, quando examino o quadro de injustiça social neste País. A minha experiência não é tão longa quanto a do nobre Constituinte, mas não posso deixar de confessar as marcas que adquiri na minha pública experiência como Secretário de Obras e do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, quando tive oportunidade de verificar que num Estado melhor dotado de infra-estrutura urbana, sobretudo saneamento, as condições de vida de nosso povo mais sofrido estão abaixo dos padrões mínimos de dignidade humana, em termos de habitação, em termos de acesso aos serviços públicos e coisas que tais, sem contar com uma larga faixa da população brasileira – e tive oportunidade de conviver, como certamente o nobre Constituinte deve ter tido – que sequer atingiu esse patamar. Um economista meu amigo, que por sinal é amigo comum do Constituinte Roberto Campos, chamou de "quarto extrato" aquele cidadão ou aquela cidadã que dificilmente pode ser caracterizado como portador da cidadania em vista da sua marginalização, em vista da sua impossibilidade de acesso à cultura, à educação, à saúde e aquelas condições mínimas de existência. Eu só discordo do Constituinte quando atribui isso à desigualdade dos seres humanos e não reconhece que há fatores sociais determinantes dessa condição de vida diferenciada. Não é a falta de atributos pessoais, de características individuais. Tem gente de muito valor que sequer tem oportunidade de mostrar os seus valores por causa das estruturas sociais injustas que marcam a realidade brasileira. Sobre a sua ponderação na questão da participação de grupos, é claro que só se pode participar daquilo que existe. De modo que eu não recorreria à palavra "eventual" participação dos lucros, porque essa eventualidade seria quase sempre utilizada para justificar a não abertura do capital das empresas à participação dos trabalhadores no lucro das empresas. Esta é uma questão que empresários inteligentes, empresários progressistas têm encarado com muita oportunidade. E têm aberto a participação dos grupos não por imposição legal, mas porque reconhecem que esta é uma forma de interessar mais os seus empregados nos seus negócios e, daí, extrair produtividade mais elevada, sem necessariamente comprometer a sua folha de salário. O argumento de que o PIS/Pasep supriu esta deficiência da organização de atividades econômicas é um argumento 58 discutível, porquanto a formação do PIS/Pasep se faz através de contribuições parafiscais transferidas à sociedade, como ele mesmo reconhece, de modo que não constituem, de fato, uma participação no excedente econômico gerado pela empresa, e sim numa forma de onerar os consumidores, cobrando-lhes a mais para poder formar esse fundo que, de resto, não corresponde ao objetivo social da busca da eficiência, da busca da criatividade e da produtividade. Na questão da função social, eu me permito também discordar do nobre Senador, quando S. Ex.ª imagina que a função social da propriedade é proteger o indivíduo do Estado. É claro que a propriedade territorial rural, por exemplo, que é descumprida, é aquela propriedade que não gera empregos, que não gera produção de alimentos ou de matérias-primas industriais extraídas da terra, que não gera impostos, enfim, que não permite que nada menos que 12 milhões de brasileiros vivam em busca de um pedaço de terra para produzir e para morar. Esse é um caso flagrante de injustiça social, meu caro Senador, de gente que quer produzir, de gente que tem valor, de gente que poderia perfeitamente ter uma existência digna e que não tem acesso à propriedade da terra. Porquanto os institutos que presidem a detenção da propriedade da terra são profundamente injustos e antidemocráticos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Há o Estatuto da Terra... O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – V. Ex.ª sabe que esta é mais uma lei que não pegou, porquanto apesar do seu esforço de formulação brilhante não só do ponto de vista técnico e econômico, mas também brilhante do ponto de vista ideológico, o Estatuto da Terra serviu apenas para aumentar o grau de concentração da propriedade da terra e, também, juntamente com o Estatuto do Trabalhador Rural, o número de párias que vivem no campo brasileiro. Sobre a questão do planejamento, V. Ex.ª, que foi o Ministro do Planejamento que mais projetou essa atividade depois do golpe militar de 64, eu gostaria de lembrar que falamos aqui em planejamento democrático e, infelizmente, não reconhecemos esse atributo na atividade de planificação desenvolvida a partir de 64. Acho que ele tem características muito próximas das tentativas da União Soviética, através do seu Gosplan, de formular metas econômicas e sociais sem consulta à própria sociedade. Acho que o exemplo do trabalho desta Constituinte é um exemplo a ser seguido na formulação dos planos nacionais de desenvolvimento, os planos de desenvolvimento econômico-social, completamente diferente da estória dos PNDS. Sobre a reserva de mercado, meu caro Senador Constituinte, tenho certeza que V. Ex.ª não tem nada de ingênuo, e sabe perfeitamente que a proteção da indústria, a proteção de várias atividades se faz através de institutos, como as tarifas aduaneiras, como formas de tributação várias, que podem criar barreiras contra a competição internacional de competidores muito mais fortes, muito aptos a desestruturar a incipiente indústria nacional: o dumping, as formas de correspondência predatória que todos conhecemos, que estão nos manuais, são formas de tolher o desenvolvimento da indústria nacional em inúmeros setores. V. Ex.ª se referiu à informática, mas se poderia mencionar aqui a biotecnologia e a química fina, como setores que estão necessitando de cobertura desse instituto de proteção, para efeito de permitir um desenvolvimento nacional de uma forma relativamente protegida da concorrência internacional. Isto, naturalmente, por prazo 59 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) limitado e com controle da sociedade. Por isso prevejo a necessidade de uma autorização legal, de uma anuência do Congresso Nacional para a instituição da reserva de mercado. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Neto): – Concedo a palavra ao ilustre Relator. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, o termo de referência que a Casa adotou para as nossas discussões nas reuniões temáticas previstas, evidentemente não se esgotou nessa primeira reunião. A pedido do nobre Constituinte Luiz Salomão, poderia se incluir o problema, por exemplo, da dívida externa e da dívida interna nesse tema. Todavia, nenhum dos Srs. constituintes quis usar da palavra. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Para um esclarecimento. Como o tempo é exíguo, e essa é a primeira reunião, eu preferi me cingir à primeira proposta que era a do papel do estado, atendendo assim ao item B-1. Na oportunidade própria poderemos tratar da questão do capital estrangeiro e da dívida interna. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – No que diz respeito aos sistemas novos de produção, era de se esperar que o nobre Constituinte Wladimir Palmeira usasse a palavra para defender o modo de produção específica, tal como o nobre Constituinte Roberto Campos, invocou o modo de produção asiático, como uma forma moderna defendida pelo povo chinês, retornando às suas origens. Mas, infelizmente, os Srs. constituintes não disseram nada, nesta primeira reunião, na extensão do que gostaríamos de ouvir, para a formação do nosso pensamento com respeito à média de opiniões da subcomissão. Gostaríamos, assim, ao encerrarmos esta reunião, de tecer alguns comentários que me parecem pertinentes à matéria. Primeiro a discus são de um ponto que tem sido objeto de muitas considerações, aqui e alhures, que é o conceito de justiça social. O nobre Constituinte Roberto Campos, insistentemente tem colocado a subjetividade deste conceito. Mas parece-me que deveria ser colocado – na minha visão pessoal – para nós, entre aquelas coisas que se diz que se Euclides estivesse discutindo os seus postulados, não teria prestado à civilização os grandes avanços que permitiu. Porque a discussão de conceitos como este impregnam toda a consciência da coletividade, que faz com que a nossa civilização tenha perfeita consciência. É como uma daquelas coisas a que Santo Agostinho se referia em relação à luz: "Se me perguntam o que é a luz, eu já não sei o que é a luz, mas eu sei que sei o que é a luz." Eu sei o que é justiça social, eu sei o que é viver abaixo do mínimo da .dignidade humana, eu sei o que é condenar-se pessoas a viver em condições subumanas, em condições de fome, de prostituição, de abandono, de doenças, enfim, tudo aquilo que constitui "pinta" e nos remete ao quadro de injustiça social. Por isto é que eu acho que a subcomissão tem – e acredito todos os seus membros têm – uma visão clara, claríssima a respeito do que é justiça social e injustiça social, e não se deve permitir a discussão de conceitos que não acrescentariam nada à formulação constitucional que queremos ver a serviço da nossa coletividade, da nossa gente, da nossa libertação da miséria. O problema de remuneração justa, de salário justo, guarda relação, no meu entendimento, com justiça social – um é a contraparte do outro. No instante em que admitimos – e está aqui como uma interrogação, que talvez fosse pertinente discutir. O nobre Constituinte Roberto Campos parece que não aceita muito as formas de capitalismo que convivam com outras formas de produção, até mesmo com o capitalismo de estado, que era a forma que estaria implícita nisso, numa convivência entre o capitalismo da livre empresa e o capitalismo do estado como forma de convivência num mesmo tempo, esse assunto não me parece que mereceu dos nobres companheiros constituintes um debate mais aprofundado e talvez ele volte a ser objeto de nossas considerações em outra reunião. Enfim, a forma socialista da produção, para não voltarmos àqueles modos mais antigos, reportados na literatura econômica, talvez fosse uma das formas. E a Constituição é tão livre para tomar decisões que é bem possível que, na consciência de alguém, se retorne a um modo escravista de profissão, quem sabe, ou alguma forma parecida. Este é um dos pontos, Sr. Presidente, que me parece que valeria insistirmos para um aclaramento, porquanto essas discussões não se farão aqui. Eu quero ser inclusive, na Comissão de Sistematização, a pessoa que leve o contraditório desta subcomissão. A visão, por exemplo, que têm companheiros sobre a própria constituição da Comissão de Sistematização, que não estarão ali presentes para levar o seu pensamento. O contraditório é preciso que lá exista, que possa aparecer como repercussão das discussões nesta subcomissão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Serei breve, Sr. Presidente. Apenas para dissipar uma impressão que possa ter pairado no ambiente de que meu caro amigo, Constituinte Virgildásio de Senna, é amigo dos pobres e de que os liberais como eu não o são. Não se trata disso. Eu acho é que devemos ser prudentes no uso de vocábulos para não gerar expectativas exageradas que agravem, na realidade, a tensão social, porque ela pode provir de um descompasso entre aspirações e satisfações. O que a sociedade pode prometer a todo mundo é norma justa de conduta. Segundo, o Estado deve ter como um seu principio orientador a oferta de oportunidade, tanto quanto possível, equivalentes. Apenas isso. Não pode prometer igualdade de resultados, porque isto depende da combinação peculiar a que se referia Maquiavel e Fortuna. Uma das razões por que a sociedade brasileira, se quisermos usar o termo, é injusta – eu preferiria usar o termo ineficaz – é exatamente porque o Governo extravasa para funções que melhor poderiam ser realizadas pela empresa privada e negligencia o seu dever básico que é o de oferecer oportunidades em termos de acesso à educação, acesso à saúde e saneamento, habitação, enfim, os bens públicos sociais. Quanto mais o Governo procura agir como um promotor da industrialização, mais ele "agrava" a injustiça social, porque ele não tem recursos para as duas tarefas, e a tarefa de oferecer iguais oportunidades aos cidadãos e a tarefa de liderar a industrialização. Por isso, favorece, humanamente, a concentração do Estado na tarefa básica de oferta de oportunidades tanto quanto possível iguais a todos os cidadãos e a edição e observância de normas justas de conduta. Os resultados sempre serão considerados injustos por aquelas parcelas da sociedade que não atingirem o nível de excelência. Elas sempre considerarão esse resultado injusto. Para se documentar melhor o relativismo dessas expressões justiça social, consideremos o seguinte caso: o governo polonês considera que ao privar o Sindicato Solidariedade do direito de reivindicação, não está fazendo uma injustiça social. Acha que está fazendo justiça social porque esses elementos são detrimentosos ao ideal da sociedade comunista. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Quando a nomenclatura soviética se apropria de inúmeros benefícios, ela não considera isso uma injustiça social, ela considera uma remuneração justa e devida à vanguarda partidária que abriu caminho e espaço para a revolução. Obviamente, aqueles milhões de cidadãos que não têm acesso a essas vantagens, considerarão essa situação profundamente injusta. É preciso, por isso evitar, tanto quanto possível termos equívocos. Eu nunca objetei, para me referir aqui a um comentário do Luiz Salomão, à proteção aduaneira, apenas eu não acho que proteção aduaneira para a indústria nascente seja reserva de mercado. No Brasil, o que se entende por reserva de mercado é o licenciamento, por um agente burocrático, volátil e caprichoso, do direito de produzir. Tudo o que se quiser fazer via direitos aduaneiros, enquanto a indústria for considerada uma indústria nascente, eu acho perfeitamente razoável. Aliás, o meu projeto de informática, parado no Senado, dormindo o sono dos justos, prevê uma proteção de até 200 por cento – que é uma proteção absurda – aduaneira, para a Indústria Nacional de Informática. Com duas condições: primeiro que essa proteção seja declinante no tempo, cada 5 anos seria revista no sentido descendente. E, segundo, que a essa proteção correspondessem certas obrigações das empresas beneficiadas. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado. Com a palavra o Sr. Constituinte Ismael Wanderley. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Eu gostaria de lembrar aos Constituintes da nossa grande responsabilidade em face das propostas em elaboração na Subcomissão à qual pertencemos. O que nós vivemos, hoje, no nosso Brasil, e que já foi frisado e todos estão de acordo, é que precisamos de alterações no nosso modelo econômico que venham a atender essa grande maioria de desamparados, de marginalizados. Mesmo como Constituinte do PMDB, eu não concordo, por exemplo, com o volume de recursos que é destinado ao assistencialismo, de uma forma à da rede, de uma feirinha, supondo-se atender a problemas sociais, sem entrar no âmago da questão. Defendo, para a região nordestina, principalmente, porque a conheço, que não podemos deixar de ter a intervenção do Estado e a empresa pública deficitária, se necessário, mas desde que atende aos problemas sociais urgentes que nós vivemos na nossa região. Ora, o que eu proponho é que sejamos práticos, que, longe das discussões acadêmicas, possamos encontrar os caminhos para que alcancemos essa justiça social, q ue é uma preocupação, acredito, de todos os Constituintes presentes. Se elaborarmos de forma prática e dirigida, de maneira a alcançarmos esse resultado, nós estaremos cumprindo o dever e correspondendo à expectativa e à esperança, que é muito grande, de todos em torno dessa nova Constituição. Até porque, o povo, na sua maioria, espera um milagre disto aqui, e não terá o milagre. Não será a Constituição que vai lhe dar casa, comida, pão. Mas nós precisamos estabelecer pelo menos a responbilidade de metas definidas, de um plano definido na área econômica que possa gerar recursos, empregos, e que a aplicação desses recursos seja feita de uma maneira coesa, com uma destinação própria. Hoje, nós temos, em todos os Ministérios praticamente, um Departamento d e Assistência Social. Seja no Senai, seja no Ministério da Agricultura, no Ministério da Previdência Social, enfim, a da LBA, todos eles se superpondo numa entrega e numa distribuição de alimentos, de comidinhas aqui, de uma rede ali, e sem atingir o âmago do problema social. Nós temos que definir uma postura que venha resgatar essa dívida social de forma objetiva, clara, fugindo da 60 discussão acadêmica e lutando para que possamos atingir, realmente, não só a melhoria, mas o atendimento e a geração de empregos em todo o Brasil. Eu faço um apelo aos Constituintes para que sejamos práticos nessa discussão. Ontem mesmo participei, aqui, da audiência pública. Confesso que pouco aprendi ou pouco lucrei com essa audiência. Então, acreditamos que, a partir do dia 6, com a elaboração do projeto, do boneco, formado pelo Sr. Relator, com todas as sugestões encaminhadas à Mesa da Constituinte, possamos definir e discutir cada assunto com praticidade para que tenhamos e possamos apresentar à sociedade um documento transparente que atenda aos objetivos maiores do povo brasileiro. E acredito que justiça social não tem cor partidária e todos nós Iutamos por isso e o Brasil merece o nosso esforço no sentido desse resgate dessa dívida que é imensa, que é conjuntural, ditada por problemas nacionais e internacionais, mas que nós temos o dever de encontrar o caminho, sem ficar repassando o passado nem ficar acusando quem quer que seja, mas encontrando e unindo as forças no sentido do futuro. Nós temos que ter a responsabilidade de encontrar esse caminho, do contrário, nós seremos julgados amanhã por discussões acadêmicas que se perderam no espaço vazio. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado. Eu esclareço à Subcomissão que estamos usando o regulamento que aprovamos, de forma que cada orador só pode usar a palavra uma única vez, por 15 minutos e, como eu disse, na contradita, por 10 minutos. Passo a palavra ao ilustre Constituinte Vladimir Palmeira. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Primeiro, o Virgildásio gostaria, certamente, de ter uma discussão teórica sobre socialismo; no entanto, apesar de nós, do PT, sermos até acusados de precipitados, não cairíamos nesse equívoco, que era de colocar o socialismo não por decreto, como faz o Governo Federal com algumas outras coisas, mas numa Constituição como se caísse do céu. O socialismo nasce de um amplo movimento social, na concentração do movimento dos trabalhadores e enfrentamento social, num processo que exige que a classe trabalhadora esteja em condições de tomar o poder. Ora, isso não parece infelizmente estar próximo no Brasil, de forma que o nosso Partido quer, diante da situação de desigualdade, de injustiça que sofre o povo brasileiro, tentar ver se colocamos algumas reivindicações que garantam ao trabalhador brasileiro, pelo menos, o que alguns trabalhadores já conseguiram nos países capitalistas mais adiantados. Temos, portanto, pretensões mais modestas a curto prazo, embora também não confundamos o socialismo com a economia estatizante da União Soviética, da China e dos países burocratas. Nós temos uma visão nossa de socialismo, que passa evidentemente pela socialização dos meios de produção e, no entanto, não equivale isso à defesa do que hoje se passa na União Soviética, nem o que se passou antes e nem o que se passa exatamente agora. Quer dizer, há um fenômeno mundial da economia estatal que tem que ser tratado como tal, no seu funcionamento, no seu mecanismo, nos seus objetivos, mas que não corresponde ao que a doutrina socialista colocou como objetivo. As revoluções deste século, contrariando o pensamento de Lenin, pensar que este século seria o da revolução proletária, na verdade este século foi de revoluções nacionais, só que fora da Europa, como a Europa sempre raciocinou a partir dela, considerou encerrada a etapa da revolução nacional e colocou que a moda seria a revolução internacional, socialista e proletária. O exemplo mostra que foram revoluções de caráter nacional, e que essas revoluções, apesar de gerarem uma economia num País, uma sociedade, um tipo de vida que não é exatamente o nosso objetivo, tiveram um impacto 61 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) importante no mundo, e, inclusive, em certos casos, sendo efetivamente mais produtivas do que o capitalismo para os países subdesenvolvidos. É evidente que se a gente comparar aqui o crescimento das economias estatais, até uma certa fase, quando a economia se torna mais complexa e o País cumpre o primeiro ciclo de industrialização, boa parte dos países que optaram pela economia estatal tiveram resultados econômicos muito mais produtivos e efetivos do que os países que permaneceram com capitalismo que se caracterizou pela dependência, pela incapacidade de crescer autonomamente e pela subordinação e interesses multinacionais que se formaram e que, de fato, ditam as regras do jogo, a nível internacional. De forma que essa economia tem que ser cobrada a seu modo, a União Soviética a partir dos anos 60, por exemplo, tem problemas de evidente produtividade, a taxa de crescimento da produtividade da União Soviética começa a declinar e começa, realmente, a criar a nível semelhante ao dos americanos. Mas até aí ela te m uma taxa altíssima de crescimento da produtividade, como também ocorreu com os próprios países capitalistas no momento em que davam o grande salto industrial. Dessa forma, sem também negar os avanços que essas economias representaram e as garantias que as revoluções deram de independência nacional, pelo menos no primeiro momento, e sobretudo lá onde houve revolução, não me refiro à Europa Oriental, onde a revolução não existiu, foi ocupação, por parte da União Soviética, mas onde houve revolução, sem dúvida, o Vietnã hoje é mais independente, a própria Cuba é mais independente do que era antes, e essa revolução chegou a esse fim, embora não se misture com o socialismo, mas eles deram o caminho de permitir a seus povos ascender a um padrão de vida muito maior do que países similares que permaneceram num capitalismo nessa fase. Então, para mim, trata-se, aqui, não de defender exatamente o socialismo que eu quero, embora eu já tenha um pequeno livro que se chama "União Soviética a Socialismo Misto", onde eu tento começar a colocar que visão eu tenho do processo de transformação social mais radical que a nossa sociedade necessita. No momento penso que nós devíamos discutir o interesse do trabalhador à luz do que é o capitalismo moderno e tentar obter essas reivindicações à luz, não de fantasmas do passado, mas as tendências modernas que o capitalismo tem. E nisto eu queria dizer que nós tínhamos que levar em conta, primeiro, que esse negócio da economia de mercado é um mito. Fiquei chocado com a elite empresarial brasileira que chega aqui, com a exceção da intervenção mais substanciosa do representante da fundação, e coloca coisas absolutamente contraditórias. Defende a liberdade de mercado e pede a intervenção do Estado para defender a pequena e média empresa e, inclusive, para ajudar a pequena empresa em dificuldades, se por acaso há um processo de monopolização no setor econômico, mas essa é uma coisa completamente ultrapassada. Hoje, tem -se uma visão completamente liberal, mas quando colocada a intervenção efetiva do Estado e na regulação da economia pelo Estado, exige a proteção do Estado para ajudar a pequena empresa em dificuldades, se por acaso não conseguem atravessar o processo de concorrência. Hoje, em todo o mundo, ao mesmo tempo em que se verifica um processo, como descrito pelo Professor Roberto Campos, de uma certa liberalização, aparição de instrumento de mercado, aferição através do mercado nos países da economia estatal, os países da economia ocidental nun- ca se estatizaram tanto. Foi um processo evidente de estatização também da economia de intervenção do Estado. O Estado hoje não é mais um fator, não é um árbitro da atividade econômica, ele é um agente econômico, é aquela história de você pegar um agente econômico em que o Estado era um árbitro só voltado para a justiça social, para a garantia de igualdade ou oportunidade, é um retrato do passado. Então nós queremos é que se reconheça na Constituição o que é evidência, que um Estado é um agente econômico, e que pode impulsionar pelos mais diferentes ramos da economia, sempre se comparando se aquela intervenção é necessária ou não. Mas eu não quero separar aqui e nem dizer que a atividade do Estado é complementar, o Estado é um agente econômico, como as empresas privadas e a intervenção do Estado deve ser medida em função das necessidades sociais e do regime num determinado momento. Portanto, queremos que a intervenção do poder público não seja considerada um negócio extraordinário. E ontem, inclusive, assistimos algumas demonstrações, ele pode ser retirado em determinado setor, ele pode entrar num setor novo, sempre que se julgue conveniente do ponto de vista do desenvolvimento econômico. Eu acho que esse é um fato importante, não se pode voltar atrás, a intervenção do Estado é inelutável. E o que nós podemos fazer é, de um lado, controlar e, de outro, separar o Estado como empresário efetivo nos setores tradicionais de produção e, com aquela produção de serviço ao estilo de Educação e de Saúde, que ao mesmo tempo em que alguns diziam para não limitarmos o Estado, naquele setor que é seu em redistribuição, de justiça social, que defende que a iniciativa privada tome conta da educação, da saúde, de serviços tradicionais que o Estado deveria oferecer. Eu tenho uma proposta em relação a esse serviço, eu diria que era preciso separar o conceito estatal do conceito público, a proposta do nosso partido coloca que a escola deve ser pública gratuita, mas que ela não deve ser estatal. O termo estatal, com uma série de prestações de serviços no Brasil, tem s e confundido freqüentemente com um regime ineficiente com cabide de empregos, com empreguismo desbragado. E nós temos uma visão completamente diferente, nós não queremos que o serviço público seja tratado como um instrumento eventual de políticas imediatas de Governo. Nós queremos, portanto, uma educação, por exemplo, que além de ser pública e gratuita seja democrática. Nós defendemos que a comunidade na escola escolha a sua própria direção; da mesma forma, na saúde, dependa de eleições diretas para diretores de hospitais de postos de saúde, com a participação da comunidade, mas ao mesmo tempo para que não prefigure isso um espírito meramente corporativo, com a participação das associações dos usuários na direção desse tipo de entidade. E subordinar qualquer tipo de intervenção numa escola menos eficiente, num posto de saúde menos eficiente ao Poder Legislativo e não mais ao Poder Executivo. O Poder Executivo para poder fazer uma intervenção em uma unidade dessas, teria que contar com a aprovação do Parlamento, nacional e regional. Dessa forma quero primeiro começar a separar isso, e em segundo lugar subordinar a atividade empresarial, no sentido mais estrito do Estado, de um lado, o Parlamento. De outro, a participação maior também da comunidade de trabalhadores de uma empresa estatal. Isso permite um julgamento sobre a racionalidade econômica e social de criação de empresas. É evidente que algumas empresas estatais representam um verdadeiro desperdício, um absurdo. Todo mundo sabe que há empresas abso- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) lutamente desnecessárias, e que privatizá -las é um elemento óbvio. De outro lado, a intervenção do poder público, inclusive da reserva de mercado, revela-se uma necessidade para que o País possa disputar, durante um certo tempo, durante um certo período, em condições de relativa igualdade – que, na verdade, nem igualdade chega a ser – de começar a poder garantir que este País chegue a ser realmente um país em condições de disputar com as g randes nações econômicas do mundo. Eu observei a interpretação do Professor Roberto Campos, quando dizia que quem foi tão zeloso dos direitos políticos, não podia admitir a cassação econômica. Eu não faria a deselegância de propor o processo inverso, de quem participou nas cassações políticas, agora se espantar com cassações econômicas. Eu acho que nós devíamos discutir, aqui, é se o mecanismo reserva de mercado é até o melhor, ou se um outro tipo de política poderia melhor proteger a implantação de uma indústria brasileira de informática. Mas acho que a reserva é um dos elementos, e que não deveríamos ter preconceito em analisar e discutir a reserva de mercado, ao lado de outros instrumentos, inclusive alguns propostos pelo Professor. Finalmente, eu queria dizer que é evidente – eu acredito em ética e, ao mesmo tempo, discuto a nacionalidade dos regimes da economia; da mesma forma que nós estamos fazendo política, ao defendê-la há toda uma visão política também por trás do tratamento da questão econômica – acredito que há certos valores éticos. Ou justiça social ou alguma condição de vida digna, com imperfeições, realmente, pois não é um critério de conceitos científicos no sentido estrito, mas são conceitos que iluminam um pouco, para que sentido queremos que uma sociedade vá. E me parece que, nisso, o Professor Roberto Campos colocou a igualdade de oportunidade. E eu diria que, sem entrar no negócio de igualdade e oportunidade ou na questão da justiça social, este País positivamente não tem igualdade de oportunidades. Porque uma coisa é comparar pessoas do mesmo estatuto social que tiveram destinos semelhantes, por sua capacidade ou pelos azares da vida, e outra coisa é comparar um regime que é nitidamente desigual do ponto de vista da partida. Aliás, não é só o caso do Brasil eu tive oportunidade de morar e estudar, durante 6 anos, na Bélgica, e lá a desigualdade, não é vista. Por exemplo, pode ter um ensino gratuito. Filho de operário, pode chegar, lá na Bélgica e estudar. Mas vem de quê? Vem da família, vem da formação cultural, do fato do filho do operário ler estórias em quadrinhos e que a grande aspiração da família operária é aos 14 anos, começar a trabalhar e poder fazer o seu programa de fim de semana. Há toda uma formação na família. Uma família de classe média, uma família empresarial, tem, nitidamente vida superior à da classe trabalhadora. Portanto, para mim, o Estado tem que ter um fator que contraria as normas que o capitalismo tem, de aumentar a desigualdade. E o Estado teria que jogar ao poder p úblico um fator, para que essa desigualdade diminua. Não que haja uma posição de igualdade. Eu não acredito que se crie isso, mas que se diminuam as condições de desigualdade, de forma a permitir que as famílias mais pobres, que os setores que saem da clas se trabalhadora, tenham não a visão mítica de um Pelé, mas condições de realmente, poder amanhã, terem um mínimo de concorrência com aqueles que saíram das famílias de classe média e das famílias ricas. 62 O homem é desigual. Todo verdadeiro socialista considera que um indivíduo é diferente do outro e que não há indivíduos iguais. Mas, trata-se de estabelecer um mínimo de condições de igualdade ou de pontos de partida para que a sociedade e os trabalhadores tenham condições de mobilidade social, de ascenso social, num capitalismo pelo menos mais moderno do que temos hoje, que é um capitalismo extremamente descriterioso, do ponto de vista da remuneração da classe trabalhadora. Eu diria que há dois grandes problemas, aqui no nosso capitalismo. Primeiro é que ele, praticamente, não quer retribuir quase nada a quem cria, através do seu trabalho, a riqueza nacional. E de outro lado, um capitalismo predatório em relação às riquezas naturais e ao meio ambiente. São dois elementos que se nós pudéssemos pelo menos atenuar, satisfaríamos algumas ambições que a classe trabalhadora vem colocando. Tratando de melhorar um pouco e de conseguir essa reivindicação é que eu coloco o meu mandato e pretendo colocar a intervenção desta Comissão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, peço a palavra. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Infelizmente é impossível. Não podemos romper a combinação inicial. V. Ex.ª já usou da palavra. Lamento muito, mas hoje não será possível. Amanhã eu terei uma grande satisfação de lhe dar a palavra, como primeiro orador, na reunião de amanhã. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Para não perder a oportunidade, Sr. Presidente. Serei muito breve, só falarei três minutos. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Apenas para, com relação ao conceito de valorização do trabalho, discordar do Constituinte Luiz Salomão, quando ele quis explicitar aquilo que consta no atual texto: o trabalho como condição de dignidade humana, ele explicita, através da justa remuneração, da garantia de emprego e da melhoria das condições de trabalho. O texto da Comissão Afonso Arinos apenas coloca a valorização do trabalho. Eu diria que ainda a melhor expressão me parece a do atual texto constitucional. Uma vez que tivemos, apenas no ano passado, com o Plano Cruzado, a criação de cerca de 800 mil microempresas, ou seja, esses trabalhadores não estão empregados, mas são trabalhadores, embora esses microempresários estejam sofrendo agora os efeitos do Cruzado II. Ao tentar valorizar a condição do trabalho, a exposição do Constituinte Luiz Salomão excluiu aqueles trabalhadores que, não tendo vínculo empregatício, não podem deixar de ser considerados como trabalhadores, que são os autônomos e os microempresários. Eu fico com a expressão "com condição de dignidade humana", que, aliás, figura no programa do meu partido. Com relação à participação do grupo de co-gestão, há aqui um a posição interessante, porque o Constituinte Roberto Campos, ao tempo em que critica o instituto da participação nos lucros eventuais, ao mesmo tempo, ele reconhece a existência do PIS e Pasep, que é uma intervenção do Estado. Quer dizer, neste ponto ele é estatizante. E o Constituinte Luiz Salomão é mais liberal. 63 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Eu fico com a posição da participação nos lucros, tirando a intervenção do Estado, portanto, desestatizando, mas inserindo a participação nos lucros, e também o instituto da co-gestão, pois estou propondo uma emenda, no tocante à Previdência Social, a participação tripartite: do empresário, dos trabalhadores e do Estado, na gestão dos recursos da Previdência Social. Estou de acordo com o incentivo às cooperativas, às pequenas e médias empresas, pois acho isso extremamente necessário para que nós capitalizemos o processo positivo. Com relação à reserva de mercado, acho que ela deve ser condicionada. Nós temos o exemplo da Petrobrás, que por não termos condicionado, não termos estabelecido normas de reciprocidade, na verdade a Petrobrás, durante muitos anos ficou apenas importando, refinando e distribuindo petróleo e, só depois que houve o choque do petróleo é que resolveu refinar, e descobriu que o Brasil tinha petróleo suficiente. E se nós deixarmos, pura e simplesmente, uma reserva de mercado – aí eu, em parte, dou razão ao Constituinte Roberto Campos, por isso que eu digo que sou pela reserva condicionada – se nós deixarmos, pura e simplesmente, reservado para meia dúzia de privilegiados, "amigos da Corte", a verdade é que nós teremos fatalmente, como já está ocorrendo, uma falta de componentes inclusive para indústrias importantes. Acho que neste passo podemos pegar o exemplo japonês, em que há uma fixação de metas a serem atingidas, sem a qual eles perderiam o privilégio dessa reserva de mercado em alguns setores estratégicos. Data venia, tenho que discordar do meu colega Ismael Wanderley, quando disse que nós estamos fazendo uma exposição acadêmica, pois ele mesmo, nas suas colocações, manifestou uma clara intenção estatizante, ao reconhecer a necessidade das empresas estatais para a sua região, para o Nordeste. Entretanto, não acredito que ele seja um adepto da estatização da economia como um todo. Como se vê, esta questão de rotulagem de estatização e desestatização, liberalismo e tal, nós temos que encarar com muito cuidado, nesta Comissão, porque o Constituinte Roberto Campos é estatizante, no tocante à participação nos lucros e, entretanto, o Constituinte Luiz Salomão parece ser, nesse aspecto, mais liberal e deixa às empresas a participação nos lucros, evidentemente, melhorando a produtividade, pois se o empregado também participar dos lucros ele dará maior produtividade. Era só, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Vou encerrar esta reunião, não sem antes dizer que faremos uma reunião da Subcomissão no mesmo local, amanhã cedo, às 9 horas e 30 minutos. Está encerrada a reunião. (Levanta-se a reunião às 9 horas e 45 minutos.) 8ª Reunião Ordinária Aos vinte e nove dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dezessete horas e cinqüenta minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da atividade Econômica, sob a Presidência do Senhor Constituinte Delfim Netto, com a presença dos seguintes Constituintes: Delfim Netto, Gabriel Guerreiro, Gil César, Virgildásio de Senna, Antônio Carlos Franco, Raquel Cândido, Luiz Salomão, Hélio Duque, Roberto Campos, Renato Johnsson, Vladimir Palmeira, Irapuan Costa Júnior, Rubem Medina, Jalles Fontoura, Albano Franco, Antônio Ueno, Marcos Lima, Joaquim Bevilacqua, Ronaldo Cezar Coelho, Afif Domingos e Roberto Jefferson. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura da Ata da reunião anterior, que foi aprovada por unanimidade. A seguir, deu-se início ao Expediente que constou da leitura sumária das sugestões de números oitocentos e setenta e quatro e novecentos e dez, de autoria dos Constituintes Roberto Freire e outros e César Maia, respectivamente. Findo o Expediente, o Senhor Presidente anunciou o debate de matéria constitucional, do qual participaram os Senadores Constituintes: Renato Johnsson, Luiz Salomão, Irapuan Costa Júnior, Antônio Ueno, Gil César, Joaquim Bevilácqua, Roberto Campos e Virgildásio de Senna. Em explicação pessoal, usaram da palavra os Senhores Constituintes Roberto Campos e Luiz Salomão. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às dezenove horas e quarenta e um minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada amanhã, dia trinta de abril, às nove horas e trinta minutos, para continuação do debate de matéria constitucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueiredo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO A ATA DA OITAVA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSAO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM VINTE E NOVE DE ABRIL DE 1987, ÀS DEZESSETE HORAS E CINQÜENTA MINUTOS, INTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Havendo número regimental, declaro abertos os trabalhos desta subcomissão. O Sr. Secretário procederá à leitura da Ata da reunião anterior. (É lida e aprovada a Ata da reunião anterior.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – A Presidência recebeu e encaminhou ao nobre Sr. Constituinte Virgildásio de Senna, Relator da matéria, as sugestões de nºs 874 e 910, de autoria dos Srs. Constituintes Roberto Freire e César Maia. Esgotada a matéria do Expediente, concedo a palavra ao nobre Constituinte Renato Johnsson. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Sr. Presidente, os debates de hoje seriam a continuidade dos princípios gerais? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Exato. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Item b: a base do sistema econômico, sistema capitalista e livre empresa... O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Exatamente. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Apenas para iniciar este debate de hoje, gostaria de mencionar que no final de 1985 tive oportunidade de fazer um pronunciamento, nesta Casa, em defesa da iniciativa privada. Pesquisando, para fazer este trabalho, pude cons - DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) tatar alguns dados que me parecem importante trazer a esta Casa. É que 76% do Produto Interno Bruto de 1985 estavam comprometidos pela dívida da União, dos Estados e dos municípios com empreiteiros, fornecedores, juros, endividamento interno e externo. Isso representava, Sr. Presidente, cerca de 227 bilhões de dólares na ocasião. Quer dizer, mostra que a participação do poder público é uma participação bastante grande. Hoje, temos uma economia praticamente estatizada, o que nos preocupa sobremaneira, principalmente quando assistimos agora praticamente todos os governadores de Estado demitindo funcionários. Já ouvimos falar na demissão de 20 mil funcionários que estavam ociosos em determinados Estados, em sociedades de economia mista. Isso mostra que efetivamente é na livre iniciativa onde a competição, a capacidade gerencial, o poder de eliminar cargos e funções supérfluos e deficitárias faz com que a economia prospere, faz com que os resultados efetivamente sejam aplicados numa atividade produtiva justamente por essa capacidade de eliminar os cargos e funções supérfluos e deficitários, fazendo com que a economia prospere, avance e tenhamos bons resultados. Então, gostaria que ficasse registrada esta minha posição, no sentido de que o intervencionismo do estado, a participação do estado, seja efetivamente na área econômica, que o Estado cumpra a sua função principal que é a de prover, prestar serviços nos campos da educação, da saúde pública, da segurança pública e da justiça. Assim, que a intervenção na área econômica seja efetivamente supletiva, apenas quando ficar efetivamente comprovada esta necessidade da intervenção no domínio econômico. Agora, somos favoráveis ao monopólio estatal do petróleo. Registramos a nossa posição e foi aprovado pelo Congresso. Mas, dezenas e dezenas das sociedades de economia mista foram criadas sem aprovação legislativa, na União, nos estados e nos municípios, fazendo com que hoje tivéssemos praticamente uma economia estatizada; os dados .de 76 e 77 não tenho. Mas, esses de que 76% do Produto Interno Bruto de 1985 estavam comprometidos pela dívida da União, Estados e municípios é certamente preocupante. Muito obrigado. (Muito bem! Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª. Concedo a palavra ao nobre Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, pergunto se ainda estamos restritos ao item B-1 ou se já podemos avançar no item B-2? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Podemos avançar no item B-2. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Inicialmente, Sr. Presidente, quero congratular-me com a posição do Constituinte Renato Jonhsson que, ao fazer aqui a defesa da economia privada, colocou uma posição que me parece a mais democrática, e que tentei defender ontem, mas com o atropelo do tempo, talvez coubesse repisar a minha posição no sentido de que, na minha opinião, o nosso País já consagra a convivência da empresa estatal e da empresa privada. O que me pareceu mais simpático na intervenção do nobre Constituinte Renato Johnsson é exatamente a visão que coincide com a minha, de que cabe ao Congresso Nacional estabelecer a divisão de áreas; quais são as fronteiras que devem ser respeitadas pelo Estado e pela iniciativa privada, contrapondo-se assim, de maneira muito positiva, à posição aqui defendida anteontem, por alguns painelistas no nos so primeiro painel. E afirmam de uma 64 forma fundamentada, apenas na ideologia, de que a atividade econômica deve ser desenvolvida preferencialmente, quase que exclusivamente, só supletivamente pela empresa estatal, dando um caráter de exclusividade à iniciativa privada. De modo que congratulo-me com o Constituinte Renato Johnsson pela sua posição lúcida e clara. Talvez pudéssemos, então, avançar na questão do item B, onde se procura definir – este que me parece ponto crucial – os termos de referência desse ponto do temário – o item B-2.6., no que tange a definição da nacionalidade da pessoa jurídica. O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: – Permite V. Ex.ª um aparte? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Pois não. O SR. CONSTITUINTE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: – Não quero interpretar o pensamento do Constituinte Renato Johnsson, mas acho que S. Ex.ª prega justamente uma menor intervenção do Estado na economia, principalmente no que diz respeito à atividade que pode ser exercida pela empresa privada do que aquela que temos atualmente no País. O que aliás não é novidade, porque até mesmo os países mais estatizados estão hoje em regime de autocrítica, estão reclamando da sua posição estatizante. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Gostaria de esclarecer ao Plenário que e stamos na hora da exposição, e o orador tem direito a 15 minutos para expor. Cada um dos participantes tem direito a uma contradita de 10 minutos, como acertamos ontem, uma única vez. Gostaria que V. Ex.ª prosseguisse. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Pois não. Não concederei mais apartes. De modo, Sr. Presidente, que na proposição que numerei como O-E-2, procurei formular uma definição de empresa nacional, diferente daquelas apresentadas pela Subcomissão dos Estudos Constitucionais, que visa exatamente caracterizar melhor o que é uma sociedade controlada pelo interesse nacional. E, aí, fugi em parte daquela definição que já foi acoimada de despautério pelo Constituinte Roberto Campos, contida na Lei de Informática nº 7.232, no seu art. 12, no sentido de abarcar também as sociedades civis, aquelas que não são sociedades de capital; são comerciais, porquanto aquela lei se limitava a esse tipo de sociedade. De modo que estamos propondo que seja entendida por empresa nacional aquela que é controlada por pessoa física, domiciliada e residente no País; portanto, pode ser uma pessoa nascida no exterior, no estrangeiro, por outra empresa nacional e por pessoa jurídica de direito público interno. Entendemos que o controlador, a pessoa natural e jurídica ou grupo de pessoas vinculadas por acordos ou sob controle comum, que é titular de direitos, que de qualquer forma lhes assegurem de modo permanente e incondicionalmente a prevalência da vontade nas deliberações ou na escolha dos administradores da empresa. Isso me parece relevante, porquanto não só é a definição da Lei de Informática, como aquela apresentada pela chamada Comissão Afonso Arinos. Uma empresa controla a outra sem dela participar do capital de contratos de assistência técnica. O exemplo mais claro disso é o da TV Globo, que diz qual é a cor da gravata ou o sotaque do apresentador do telejornal de uma emissora do Nordeste ou do Norte sem dispor de um cruzado sequer do capital dessas sociedades. Em segundo lugar, que use efetivamente esse poder para eleger os administradores e dirigir as atividades da empresa, de modo que não basta ter titular: é preciso que use efetivamente esse poder. Em terceiro lugar, que exerça de direito de fato, o poder de gerar, desenvolver, adquirir, 65 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento) transferir e variar a tecnologia de produtos em processo de produção, que é um ponto antecipadamente questionado pelo nobre Constituinte Roberto Campos, e que me parece trivial de caracterizar, na medida em que a empresa não tenha contratos de prestação de assistência técnica ou de uso de marcas, de patentes que tolham o controle efetivo da empresa. Finalmente, no § 2º dessa proposição, procuramos, também, caracterizar nas sociedades de capital ou naquelas que não têm o acervo que o capital implique, também, na detenção do direito de votar integralmente em mãos de nacionais, permitindo urna participação de até 30% do capital não votante ou, em outra forma de controle, das sociedades em mãos de nacionais. No artigo seguinte, procurei formular uma proposta de fronteiras entre o capital nacional e o capital multinacional ou capital estrangeiro. E arrolei como proposições de áreas privativas do capital nacional, os bancos de depósitos – aderindo à proposição da Subcomissão de Estudos Constitucionais presidida pelo Constituinte Afonso Arinos –, seguradoras, as demais instituições financeiras, os serviços públicos e as mineradoras que devem ser exploradas privativamente por brasileiros ou por empresas nacionais, superando, assim, aquela fórmula demasiadamente aberta da Constituição atual que permite às sociedades organizadas no País, mesmo de capital estrangeiro, de exercer atividades de mineração. Na justificação que apresentei consta um quadro onde se mostra que 48 milhões de hectares em território brasileiro estão reservados às multinacionais, as 18 irmãs da mineração, vamos cham ar assim, num território equivalente a duas vezes os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro juntos, sem que essa reserva para pesquisa em lavra esteja redendo para o País o melhor conhecimento do seu subsolo ou a melhor exploração da sua riqueza mineral. Capitulei também, nesse artigo, as emissoras de rádio, de televisão e os jornais que na Constituição atual já estão reservados a brasileiros ou empresas nacionais sem participação no capital estrangeiro. Previmos, no § 1º desse artigo, um prazo para que essas empresas se adaptem à condição prevista na Nova Constituição; excluímos, como seria óbvio, as instituições financeiras que não captem depósitos e estejam sediadas em países que dêm reciprocidade ao Brasil para que aqui também operem, sobretudo para apoiar o comércio externo. Previmos, também no § 3º a progressiva estatização dos bancos – objeto de tantas propostas já recebidas por esta Subcomissão e que se impõem como forma de regularizar o mercado financeiro, incontrolável com toda essa ciranda estabelecida. No artigo seguinte, procurei reproduzir apenas as propostas da Comissão Afonso Arinos, que prevê o estabelecimento em lei de limites para a remessa de juros, dividendos, royalties, assistência técnica e bonificações e impõe a divulgação pelas empresas, que fazem esse tipo de remessas, dos valores efetivamente transferidos. Uma outra colocação importante desta proposta é o reconhecimento da função supletiva do capital estrangeiro, no inciso III, a previsão de transferência estrangeira de terras onde existam jazidas, minas, etc. e finalmente, no parágrafo único desse mesmo artigo o estabelecimento de um fórum no Distrito Federal das dívidas externas assumidas ou garantidas por pessoa jurídica de Direito Público. O que significa dizer que praticamente 80% da nossa dívida externa deva ser aforada no Distrito Federal, porquanto o processo de estatização da dívida externa que se opera no País, que já transferiu para o passivo do Banco Central nada menos que 30 bilhões de dólares, somados com cerca de 50, 60 bilhões de dólares das empresas estatais federais, apontam na direção de que 80% da dívida externa correspondem à União ou às empresas por ela controladas. De modo que com estas proposições, penso estar contribuindo para o debate da questão do capital estrangeiro em nosso País, variável, estratégica, para a afirmação de um desenvolvimento nacional soberano e correspondente aos interesses do seu povo trabalhador. Muito obrigado, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Renato Johsson para contraditar. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHSSON: – Com respeito às palavras do nobre Constituinte Luiz Salomão, quero esclarecer que efetivamente o meu posicionamento é pela não intervenção do Estado na área econômica. A intervenção tem de ser a exceção. O Estado é efetivamente um mau gerente. Não conheço nenhum caso de empresa pública, de sociedade de economia mista, que tenha sido extinta corretamente, de forma séria. As empresas públicas não assumem riscos pela sua ineficiência, não vão à falência; e esses riscos é o que movem as empresas privadas ao sucesso. Gostaria também de mencionar notícia que lemos nos jornais a respeito do Banco de Desenvolvimento do Rio de Janeiro, onde as empres as públicas passam a ser cabides de emprego. Há algumas semanas, o Banco Central noticiou que, pela intervenção que fez em bancos estaduais, tinha injetado cerca de trinta a quarenta bilhões de cruzados. A noticia de ontem é que só no Banco de Desenvolvimento do Rio de Janeiro – para poder liquidar esse banco – estava injetando 6,5 bilhões de cruzados. É por isso que me assusta, Sr. Presidente, quando vejo proposta de estatização de bancos neste País, quando estamos frente a essas situações. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Irapuan Costa Júnior. O SR. CONSTITUITE IRAPUAN COSTA JÚNIOR: – Para contraditar o meu prezado Constituinte Luiz Salomão, hoje, no mundo, está havendo uma marcha em sentido contrário. Até as economias mais estatizadas estão hoje em processo de privatização, sem falar nos programas da França e da Inglaterra que estão caminhando para a privatização mais completa da economia. Ele mencionou o sistema financeiro; sua proposta parece-me ser uma idéia de estatização progressiva do sistema financeiro. Isso foi feito em Portugal depois da Revolução dos Cravos e, hoje, Portugal volta atrás e resolve privatizar outra vez o seu sistema financeiro, porque não funcionou. No Brasil temos um exemplo clássico. Há um mês, houve a intervenção do Banco Central, clara, em cinco bancos estaduais – e intervenção branca em não sei quantos – e sabemos que estão quase todos eles tísicos. Aliás, britam de gangorra. Passam dois anos sendo saneados pelo Banco Central, em início de Governo, estão subindo e passam dois anos descendo no final de Governo, na proximidade das eleições, quando estão outra vez no caminho de uma nova intervenção, de um novo saneamento do Banco Central. Acho que não podemos estatizar mais. Tenho em mãos, dados pelos quais as dívidas interna e externa das estatais eram, em 86, de 80 bilhões, enquanto a do Tesouro era de 40 bilhões de dólares. A coisa DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) se inverte, porque há os avisos de transferência das dívidas externas não honradas das estatais para com o Tesouro Nacional. E vai por aí afora. Seria um absurdo estatizarmos mais. Estamos pagando um preço alto pela estatização, quando o mundo inteiro já se convenceu de que a coisa tem que marchar em sentido contrário. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V.Ex.ª Concedo a palavra ao nobre Constituinte Antônio Ueno, O SR. CONSTITUINTE ANTONIO UENO: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes: Também sou contra essa onda de estatização que ocorre em nosso País. Na segunda-feira, assistimos urna palestra do Dr. Osny, que citava o Japão, principalmente o nome do Dr. Akio Morita, que dava a entender que no Japão o desenvolvimento econômico foi promovido pelas estatais. Quero dar o meu depoimento para dizer que recentemente duas das maiores estatais do Japão, a Companhia de Telefones e a Estrada de Ferro do governo japonês, foram privatizadas, porque a Estrada de Ferro do Japão teve um déficit estatal muito grande. O Dr. Osny, como defensor das estatais, citou o desenvolvimento japonês, inclusive o presidente da SONY, Akio Morita. Então, trago este depoimento para esta Subcomissão, de que o desenvolvimento do Japão foi baseado na livre iniciativa. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª A palavra continua com o Sr. Constituinte. Creio que seria bom que todos falassem e emitissem a sua opinião, para que o nobre Relator possa conhecer a opinião de todos os participantes desta Subcomissão. Com a palavra o Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Foi citado, aqui, o caso do Banco de Desenvolvimento do Rio de Janeiro. O Banco do Estado de Minas Gerais está muito bem, com sua saúde financeira muito boa. Mas, em contra-partida, os bancos estaduais – como afirmou o colega a respeito da recente intervenção do Banco Central –, os bancos do meu Estado atravessam – talvez o Bemge nem tanto, mas o Banco Real, sim – uma situação difícil. Então, o que se verifica no sistema bancário são as informações. E as informações que nos chegam são essas de que o Estado não tem funcionado bem na área financeira, na administração de bancos. Quero fazer esta consideração, porque acho importantíssimo manter os bancos de desenvolvimento, aqueles voltados para as atividades de fomento. Acredito que não só no meu Estado, mas tenho info rmações que o Banco do Estado da Bahia e outros bancos também voltados para o fomento, estão indo bem. É preciso diferenciar aquilo que está funcionando daquilo que não está funcionando. Nada melhor que os fatos para nos orientar nos processos de decisão. Na minha modesta experiência de dois anos como Secretário de Estado de Minas e Energia, tentei voltar a empresa do meu Estado no setor mineral, a Metais Minas Gerais – Metamig – com 23 anos de existência, voltar à sua atividade para a pesquisa de mapeamento geológico para vender as informações – talvez num depoimento, gostaria de ouvir do nobre colega Relator, Virgildásio de Senna, como está funcionando a empresa na Bahia, do setor mineral, porque gostei muito de uma palestra que foi feita em Belo Horizonte pelo ex-Presidente, na oportunidade Secretário de Minas e Energia da Bahia, porque também me parece que na Bahia a empresa vem vivendo de royalties daquilo que vende à iniciativa privada com 66 a participação, depois, no resultado da exploração mineral. Acho muito importante este depoimento da vivência do problema. No meu caso específico o que aconteceu é que numa exploração direta de ouro, feita para minha empresa, constatei no balanço da primeira reunião que tive, com a diretoria de que estava havendo prejuízo, É evidente que mandei fechar, para podermos reformular o processo, fornecer as informações e tentar participar, através de participação acionária ou de outra maneira qualquer. Falando também na minha experiência como diretor de uma empresa pública Federal – a EBTU, no caso específico do transporte público defendia-se o vale-transporte e um subsídio ao usuário do sistema, porque as experiências que se tem da exploração direta pelo serviço público de um serviço essencial à população, como é o transporte público, que entendo deva ser paulatinamente estatizado, mas desde que saibamos administrar o sistema. Basta comparar e caso específico de São Paulo, que tem uma frota de quase dez mil ônibus, sendo que dois mil e quinhentos ônibus da MTC, que sobra a mesma tarifa que cobra a empresa privada, e tem um subsídio que já chegou a custar um terço do orçamento do município de São Paulo. É preciso que cheguemos a fornecer um transporte confiável, barato, de boa qualidade, estatizado. Mas, depois, que tenhamos consciência, tenhamos experiências que assim o justifique. Por que especificamente quero insistir nisso? Porque estou vendo um trabalho que a MPB está distribuindo na Subcomissão B. O que sempre foi modelo neste País? O transporte público de Curitiba, que foi planejado e administrado pela Prefeitura de Curitiba. Quero louvar, aqui, o ex-Prefeito Jaime Lerner, porque quando vinha buscar recursos na EBTU ele se recusava a apresentar os seus 'projetos. Achava isso muito importante, quem assumia a responsabilidade era a Prefeitura. A Prefeitura de Curitiba tem dez empresas – pelo menos tinha, há cerca de 3 anos – onde, através de um controle de caixa único, com tarifa integrada, o passageiro pode usar três ou quatro ônibus, três ou quatro viagens com o mesmo ticket, com o sistema de câmara compensação; ela subsidiava, na realidade, o usuário do sistema administrado pela empresa privada. Desde que haja controle e seriedade, isso pode acontecer. Estou dizendo aos meus colegas, resultados da experiência das funções que exerci e que, evidentemente, há bons resultados na administração através do Estado. Devemos conhecer esses resultados para, através de possíveis propostas, conseguir, onde o Estado funciona bem, preservar a atividade do Estado; aonde ele não funciona bem e há um custo que a sociedade não pode pagar, eu não posso concordar. Discuti o assunto com o colega Guerreiro e acho perfeitamente possível; deve ser uma obrigação do Estado subsidiar as termoelétricas do Pará, porque não há alternativa. Agora, julgo também um absurdo que inundemos terras em Minas Gerais para subsidiar a CBE do Rio Grande do Sul, que constitui, como empresa pública do setor energético, o maior devedor deste País. É preciso que se examine caso a caso, que vejamos onde funciona e onde não funciona. Onde a responsabilidade se localiza a nível de governo local, ele que assuma sozinho a sua responsabilidade e não repasse esse custo econômico local a uma transferência de renda nacional, ou seja, transforme o problema local na transferência d e recursos de outras origens. Isso é um absurdo, entendo eu, sob qualquer tipo de conceito que se queira examinar o problema. Por isso que é importante o depoimento, entendo eu, de cada colega que tenha uma experiência a nível local, do funcionamento das empresas estatais. Está bom? Está ruim? Quanto custa? Com isso, acho que o 67 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (suplemento) juízo de cada um de nós seria reforçado por essas experiências. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª Com a palavra o Constituinte Renato Johnsson. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Com respeito à colocação do Constituinte Gil César, também fiz, no ano passado, um pronunciamento nesta Casa a respeito das boas e das más estatais. Acho que é muito importante que se separe o joio do trigo. Evidentemente, existem boas e existem más estatais. O Governo, quando são más estatais, deve mudar os seus administradores ou fechá-las. Temos assistido, nos últimos anos, uma proposição no sentido de se fechar as más estatais, mas não encontramos a extinção de nenhuma dessas estatais mal administradas ou dessas estatais deficitárias. Creio que este é um dos problemas mais sérios. O poder público não tem capacidade de eliminar aquilo que não presta. Esse é um ponto fundamental. Creio que as obras públicas, sobretudo, devem seguir um critério rigoroso de viabilidade econômica. O que temos que fa zer, como um País pobre que somos e administrando recursos ele um povo pobre, é primeiro aquelas obras rentáveis para, posteriormente, com os recursos dessas obras rentáveis, fazermos também as obras sociais. Gostaria de fazer uma colocação com respeito ao problema do exemplo, que o companheiro Gil César mencionou, sobre boas e más estatais. Presidi a Telecomunicações do Paraná de 1972 a 1979. Sempre fiz uma comparação com a Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações – a CRT. Em 1972, o Paraná tinha 30% menos de telefones do que o Rio Grande do Sul. As empresas CRT e Telepar tinham mais ou menos o mesmo número de funcionários. Sete anos após, quando deixei a Presidência ela Telepar, o Paraná tinha 30% a mais de telefones – inverteu de 30% menos para 30% mais, e 40% menos de funcionários do que tinha a CRT. Acho que a seriedade na administração das empresas públicas é fundamental. Há boas estatais e más estatais. Agora, o que acho fundamental é que efetivamente o Congresso Nacional seja ouvido quando vai inte rvir na área econômica, para efetivamente constatar se é caso de intervenção, se essa área não pode ser efetivamente suprida pela iniciativa privada. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Joaquim Bevilácqua. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILACQUA:– Sr. Presidente, Sr. Relator, nobres Colegas de Subcomissão: Verifico do debate, que a esta altura dos acontecimentos haja uma definição genérica em relação à base do sistema econômico, ou seja, capitalista, admitindo a empresa estatal, a intervenção do poder público, mais ou menos de acordo com a convicção ideológica já manifestada aqui pelos membros da Subcomissão. Mas, já que o debate entrou na esfera da empresa pública, gostaria também de acrescentar algumas experiências porque, afinal de contas, como bem lembrou ontem o Constituinte Ismael Wanderley, não podemos ficar pretendendo doutrinar, até porque temos aqui grandes professores e grandes doutrinadores. Acho que cada um de nós pode acrescentar sua experiência pessoal, algumas observações de caráter pessoal ou de vida pública, como aqui fizeram os colegas Renato Johnsson, Gil César e Luiz Salomão; todos, aliás, já exercitaram funções públicas da mais alta relevância. Estou de acordo com o enunciado dos colegas Renato Johnsson e Gil César no que concerne à eficiência. Essa questão da eficiência é muito relativa. Tanto a empresa estatal ou de capital misto pode ser eficiente, como pode ser deficiente. O fato de ser lucrativa ou não também é muito relativo. Há empresas que não são nem sequer constituídas para verdadeiramente obterem lucros, mas muito mais para prestar serviços de relevância social, de natureza pública. Quero lembrar, também, um setor muito importante hoje para o Brasil que é o setor da indústria aeronáutica, onde a livre iniciativa fracassou, através de Baby Pignatary, que tentou fazer o "Paulistinha" e não conseguiu, fracassou. José Carlos de Barros Neiva tentou fazer uma indústria em Ubatuba e divisão de projetos em São José dos Campos, onde tive a oportunidade de trabalhar, e também não conseguiu prosperar. Somente prosperou a indústria aeronáutica brasileira quando o poder público entrou, com o peso político e específico do Ministério da Aeronáutica, com a capacidade gerencial de Osíris Silva e sua equipe, o know-how adquirido pelo Centro Tecnológico Aeroespacial de São José dos Campos – CTA, o apoio tecnológico, enfim, toda a infraestrutura que o poder do Estado conferiu para que a Infraero pudesse ser hoje uma das grandes empresas e, talvez, a maior empresa do Terceiro Mundo em sua área, fazendo convênios até com a Boeing – e vamos agora produzir peças para o avião mais moderno da Boeing. Quer dizer, é uma área que deu certo, em que houve capacidade gerencial, houve apoio tecnológico e apoio governamental, tudo isso bem gerenciado. O que irrita o empresário privado e irrita o povo de um modo geral é a má gestão da coisa pública. É ver o dinheiro dele, contribuinte, mal empregado. Porque quando é o empresário que aplica mal ele pede concordata, vai à falência, quebra etc. Agora, realmente essa noção de impunidade é da mais alta importância quando se levanta alguns problemas da livre iniciativa – porque realmente o que se verifica em muitos casos é a má gestão, é o mau diretor do banco, é a má aplicação do dinheiro, coisa que evidentemente o banqueiro particular não vai fazer; ele vai zelar. Conhece-se casos de banqueiros de porte médio que pessoalmente verificam a posição de seu banco, diariamente – conheço casos como esse. O Constituinte Roberto Campos costuma dizer que o Estado é uma ficção, o que existe são as pessoas. No caso da empresa é a mesma coisa. Tanto na empresa privada como na empresa pública, o que existe são as pessoas; se são competentes, se têm preparo, e se tê m, evidentemente, uma dose de sorte, porque há fatores que são aleatórios, que escapam às maiores sumidades; temos várias sumidades que tiveram altos e baixos nas suas atividades, quer na vida pública, quer na vida empresarial. Quanto a esse aspecto da intervenção, acho que é muito difícil se obter uma soma imutável, uma norma permanente, até porque somos um País considerado em evolução. Esperamos isso, estamos em evolução e não em involução. Vou usar aqui uma expressão que me agradou muito, do Constituinte Roberto Campos aliás, um homem fundamente inteligente e que nos força ao raciocínio, quando ele lembra que o lucro excita, a empresa privada excita; há uma excitação do homem exatamente por existir essa figura da empresa, que é uma ficção, o Estado é uma ficção, isto tudo é uma ficção; o que existe é o homem, a pessoa humana, e há a excitação do lucro, da realização pessoal, da ambição, do fato de realizar alguma coisa. Eu diria que também deve existir na gestão dos negócios públicos, quer na administração direta e na indireta, a excitação de realizar o bem-estar social; a excitação de realizar uma boa biografia político-admi- DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) nistrativa. Esse deve ser o sentido ético maior, tanto daquele que exerce uma função pública na administração direta, quanto daquele que exercita uma função numa empresa que também tem a sua finalidade social de não só gerar lucros, mas gerar empregos e também bens e serviços. O Constituinte Gil César, que lamentavelmente se ausentou, tem uma tese que aliás é a minha também, da descentralização de recursos. Parece-me também um dos grandes males – e hoje ainda fiz um requerimento à Mesa da Assembléia Nacional Constituinte para que fossem explicadas essas obras faraônicas – quando falta dinheiro, quando declaramos moratória técnica e se anunciam obras, digamos, sem nenhum menosprezo pelos Estados envolvidos, mas pelo que existe hoje ligando nada a coisa nenhuma. Quando se criticam as obras faraônicas do passado, a Transamazônica e isso ou aquilo, temos aqui 2,5 bilhões de dólares da Ferrovia do Açúcar – são coisas que realmente nos assustam. Essa concentração de recursos em mãos da União fazem com que, em primeiro lugar; não havendo transparência e nem controle da sociedade, não havendo controle do Congresso, não havendo sistema de controle efetivo desses gastos, nós nem saibamos como é que isso foi empregado: se há prioridades, se não há, quais são as prioridades, quais são os critérios, etc. E assim também para usinas nucleares, programa atômico, etc. De outro lado, a concentração de recursos em mãos da União faz com que os Estados e municípios sejam obrigados a fazer convênios. Vou citar aqui dois casos, experiências pelas quais passei. Por exemplo, em São Paulo, à época em que era Prefeito de São José dos Campos deu-se um programa habitacional. Esse programa exigia que o município tivesse a sua empresa, até porque a administração direta não podia fazer convênio com a Caixa Econômica do Estado. Fomos obrigados a criar uma empresa municipal de habitação. São José dos Campos tinha condições de criar, mas a cidade vizinha, por exemplo, de Montero Lobato, que vive praticamente da transferência de recursos da União e do Estado, não tinha condições de criar – então, não pôde fazer o convênio. E também outras cidades, como Tremembé, que não tinha máquina de escrever para fazer a sua folha de pagamento, que era feita pela minha prefe itura. No setor de abastecimento, teríamos que fazer um convênio com a Cobal para instalar lá um posto, simplesmente, como efetivamente instalamos. Tivemos que criar uma companhia de desenvolvimento rural e abastecimento para poder fazer esse convênio, coisas desse tipo. Por quê? Devido a concentração de recursos também em mãos da União. Essa intervenção do Estado que é um tema amplo, que envolve a parte militar, envolve aspectos de controle e envolve aspectos públicos, acho da mais alta importância. Acredito que o nobre Relator, em contato com relatores de outras subcomissões que cuidam do assunto, há naturalmente que se informar, se bem que ele também já foi prefeito, pois é muito importante descentralizarmos esses recursos, e não ficarmos aqui rotulando. Sou contra rótulo: fulano é de esquerda, fulano é de direita; fulano é intervencionista, fulano é liberal, é isso, é aquilo. Acho que dependendo do ponto, e dada a dinâmica de nosso País, que não tem uma estratificação nacional, não tem uma estratificação rural, não tem estratificação econômica nem política, que vamos aqui assumir esta ou aquela postura sem que isso seja visto como rotulagem. Penso que a empresa pública pode ser eficiente, não necessariamente lucrativa desde que preste serviços; ela pode ter um certo equilíbrio e ser às vezes, até necessa- 68 riamente deficitária, como penso também que uma empresa privada, em princípio, pela característica de nossa administração pública, apresenta realmente melhores condições de eficiência até porque se não fo r eficiente irá "pagar o pato"; empresa pública não tem "pato". O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Roberto Campos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, como cardiopata assum ido, proprietário de 4 pontes de safena, levo sustos enormes quando leio os documentos apresentados pelo meu prezado amigo Luiz Salomão, a quem admiro de longa data. S. Ex.ª está revelando uma evolução mental diferente da minha. Fui socialista na juventude, tinha inclinações dessa ordem, em obediência inconsciente ao provérbio norueguês: "Quem não é socialista aos 20 anos não tem coração. Quem permanece socialista aos 40 anos não tem inteligência". Depois dos 40 anos, resolvi ser inteligente e abandonei as minhas ilusões de socialização econômica, que, no fundo, levam a um certo grau de despotismo político. Nosso caro Luiz Salomão é um progressista que está em marcha batida para o passado; o passado é a estatização. O presente é a privatização. E isso ocorre, a rigor, nos mais variados regimes. Estamos assistindo à privatização maciça na França, na Inglaterra, sob regimes conservadores; na Espanha, sob regime socialista; na Itália, até recentemente, sob um primeiro-ministro socialista. Mas, mesmo nos países que se dizem socialistas, já há aberturas privatistas. A União Soviética acaba de publicar sua nova lei sobre capitais estrangeiros com vistas a alta tecnologia, e admite participações estrangeiras a nível de 49% do capital votante. Se lermos o documento do ilustre amigo Luiz Salomão, ele exigiria, como se exige na Lei de Informática, que as empresas nacionais detenham 70% do capital total e a totalidade do capital votante. Algo muito mais exigente do que se encontra na União Soviética. O Vietnam acaba de publicar sua nova lei, na esperança – a meu ver, inútil e melancólica – de atrair capital estrangeiro. É uma lei muito mais liberal do que a legislação de informática brasileira, que o nobre constituinte quer estender a todos os outros setores, praticando o que eu chamaria de estrangulamento do desenvolvimento nacional e estupro do direito empresarial. Se isso sucede independente de regimes, por que agora surge no Brasil a estatização? É algo inexplicável, é uma volta ao passado, é sim, um resíduo autoritá rio, porque as grandes estatizações que aconteceram na Europa ocorreram sob regimes autoritários. A Alemanha está agora desestatizando a Volkswagen, que está estatizada, nasceu estatizada, aliás, ao tempo de Hitler, e agora está sendo privatizada. A Alemanha já liquidou a sua participação na Companhia Energética WEBA; não só não tem monopólio de petróleo, como a participação que tinha sua única companhia estatal de petróleo foi agora privatizada. Na Espanha, quem criou o estatismo industrial foi o Generalís simo Franco, que criou o INI – Instituto Nacional da Indústria. E, agora, temos um socialista, Felipe Gonzales, ocupadíssimo em privatizar o que pode e desmantelar essa herança autoritária. Na Itália, a grande estatização ocorreu com Benito Mussolini, através da formação do IRI – Instituto di Riconstruzione Industriale, que agora está também engajado numa tarefa de privatização. Conseguiu-se, aliás, na Itália, dois resultados: a melhoria da eficiência das empresas que permanecem no seio estatal e a privatização de várias delas, com substancial aporte de receita fiscal para o Estado. 69 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Também no Brasil, a grande estatização ocorreu na fase autoritária. A única explicação possível para a ressurreição do movimento estatizante no Brasil é simplesmente que se trata de um entulho autoritário do qual ainda não nos desfizemos. Participei de um Governo chamado autoritário, que a rigor, a meu ver, era pouco autoritário, porque haviam três Governadores: Carlos Lacerda, Adhemar de Barros e Magalhães Pinto, constantemente na televisão, vergastando a política econômica do chamado Governo autoritário, que enfrentava também uma vivaz oposição legislativa. Em épocas posteriores, de adaptação à primeira crise do petróleo, iniciou-se um ciclo estatizante no Brasil. Agora, que estamos voltando à democracia política, é tempo também de praticarmos a democracia econômica. E ela começará pelo respeito à liberdade de indivíduo, pelo respeito à liberdade do empresário. Vejamos o que se contém tas normas constitucionais propostas pelo nobre Constituinte Luiz Salomão. Ele toca num ponto crucial; definição de empresa nacional. E reproduz, talvez até com algumas radicalizações, exatamente a fórmula desastrosa e inconstitucional, à luz da atual Constituição, da Lei de Informática. Essa lei foi aprovada por voto de Liderança, por decurso de prazo. É um entulho autoritário dos mais autênticos. É uma lei de extrema complexidade que foi passada por decurso de prazo em 45 dias e voto de Liderança. Acredito que não mais que 5 deputados e 2 senadores efetivamente leram a lei. Isso indica o grau de autoritarismo. Imediatamente depois de promulgada, verificouse que era inexeqüível: ela exigia 100% do capital votante em mães nacionais. Verificou-se imediatamente que havia um fenômeno, no Brasil, que se chamava sociedade de capital aberto e que as principais firmas brasileiras interessadas em cartório de informática, o grupo SID, o grupo Bradesco, o grupo Elebra e o grupo Itaú, eram sociedades de capital aberto. A lei as desnacionalizava, porque sendo sociedades de capital aberto, com ações votantes ao portador, não podiam jamais demonstrar que 100% do capital estavam em mãos de brasileiros, pessoas físicas domiciliadas e residentes no País, como se repete solenemente na atual sugestão constitucional. O que fez o Governo, então? Por decreto-lei, emendou uma lei. A lei em si já era inconsti tucional. Emendar uma lei, através de um decreto-lei – fora das hipóteses do art. 55 da Constituição, que são apenas a criação de cargos públicos, segurança nacional e matéria financeira – é uma vasta inconstitucionalidade. Isso teve que ser feito, porque senão o grupo Itaú, o grupo Bradesco, o grupo SID e o grupo Elebra, grandes beneficiários cartoriais da informática, seriam simplesmente consideradas empresas não nacionais. Na sugestão constitucional que temos perante nós, é repetida já a versão da Lei de Informática modificada. A exigência é de apenas 70% do capital total em mãos de brasileiros e a totalidade do capital votante. Mas, remanescem algumas dificuldades que na Lei de Informática se encontram e que não foram objeto, talvez, de exame maior pelo nobre Constituinte. O artigo inicial de sua postulação define empresa nacional da seguinte maneira: "Considera-se empresa nacional a pessoa jurídica constituída no Brasil e nele sediada, cujo controlador seja pessoa física domiciliada e residente no País." O problema concreto que surgiu foi o de um português, pessoa física, que controlava uma pequena empresa de informática. Ele resolveu se aposentar em Portugal. Não era mais residente nem domiciliado no País, mudou para Portugal e a empresa ficou desnacionalizada. Chegamos ao ridículo de desnacionalizar uma empresa se a pessoa jurídica, titular do controle acionário, fisicamente abandonar seu domicílio e residência no País e partir para o exterior. Estamos privados do direito de aposentadoria no Estoril, em Miami Beach ou no Taiti. Aqueles que forem acionistas, controladores, pessoas físicas de empresas de informática podem renunciar à aposentadoria no exterior, senão desnacionalizam suas empresas e se privam de todas as benesses que a legislação lhes confere. Examinemos outro item. Exige-se, para que se configure uma empresa nacional, que os controladores demonstrem a um funcionário tecnocrata, que provavelmente não entende nada de informática, que nunca arriscou o seu dinheiro, que é apenas um tiranete sentado numa cadeira em Brasília, esse que hoje é um coronel, tem -se que demonstrar a esse cidadão que a empresa brasileira associada a um grupo qualquer estrangeiro, exerce, de direito e de fato, o poder de gerar, desenvolver, adquirir, transferir e variar de tecnologia de produto e de processo de produção. O sócio brasileiro fica efetivamente proibido de realmente contrair um contrato de transferência de tecnologia com o seu sócio. Por quê? Porque e sócio estrangeiro estaria disposto, certamente, a dar ao seu parceiro nacional o acesso à sua tecnologia. Não teria nenhuma objeção a que essa tecnologia fosse melhorada, gerada, desenvolvida; agora, transferida, significa simplesmente a eliminação do direito internacional de patentes. Um es trangeiro que transfere tecnologia faz um contrato com o sócio; o sócio pode usar essa tecnologia e melhorá-la, se quiser. Agora, transferi-la seria, realmente, anular todo o direito de patente. É um absurdo desse tamanho que está na Lei de Informática e q ue está aqui repetido. Total absurdo! Não teríamos acesso à tecnologia, simplesmente porque ninguém está disposto a, em se associando a uma empresa brasileira, perder o controle de sua tecnologia; ele deseja continuar recebendo royalties de terceiros e não fazer um donativo à Nação ou a seu sócio. Alguns exemplos concretos, Sr. Presidente, talvez demonstrem o ridículo da situação que ocorre na informática e que, agora, se quer estender à alta tecnologia. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª dispõe apenas de dois minutos. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Eu pediria a V. Ex.ª, Sr. Presidente, um pouco de tolerância, depois lhe prometeria absoluto silêncio, por pelo menos duas reuniões subseqüentes. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – É uma troca razoável. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Consideremos uma empresa brasileira aqui citada e justamente elogiada: a Embraer. O Coronel Osíris Silva, um administrador emérito – talvez o mais notável, juntamente com o Dr. Eliezer Batista, dentre os administradores públicos brasileiros – teve uma experiência concreta dos assuntos da Informática. Ele tinha procurado salvar uma empresa brasileira, na qual a Embraer havia participado, uma pequena empresa privada à qual ele confiara a tarefa, que se tornou exagerada para a capacidade da empresa, de nacionalizar trens de pouso. Verificou-se a inviabilidade; a empresa não tinha capacidade técnica para isso e a Embraer, de minoritária, passou a controladora da empresa para salvá-la. E pôs-se, então, a buscar uma dive rsificação produtiva que garantisse a rentabilidade do empreendimento, porque a simples produção de trens de pouso para aviões pequenos não seria uma atividade rentável. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento) Foi então que o Coronel Osíres Silva, procurado por uma empresa das mais famosas em controle de processos industriais, a Foxbourroughs, mundialmente conhecida, levou 6 meses negociando com esta empresa e conseguiu condições que a ele pareceram soberbas: primeiro, controle da Embraer de 51%; Foxbourroughs minoritária; segundo, transferência de tecnologia sem royalties; terceiro, cessão do mercado latino-americano dessa empresa para a empresa mista constituída; quanto, formação de um núcleo de pesquisa com a importação de 12 tecnólogos , que procurariam, então, redesenhar os produtos, o processo industrial, adaptando-os às condições locais, ou inventar processos e produtos novos mais adequados às condições ambientais da indústria brasileira. Qual não foi a surpresa, quando ao consultar a SEI, julgando ser uma coisa de rotina a aprovação do contrato, ele foi redondamente rejeitado por não se ajustar aos requisitos que, então eram simples atos normativos, nem eram sequer lei da SEI. Ele teve que, humilhado, voltar à Foxbourroughs e confessar que ele era um administrador sério mas, infelizmente, o País não era totalmente sério. O que fez a Foxbourroughs? Foi para a China e fundou, junto com o Governo chinês, que ficou com 50% – nem fez questão do controle – a Foxbourroughs-Shangai Corporation, que hoje prospera na China, produzindo sofisticados aparelhos de controle industrial. São coisas dessa natureza que nos seriam impostas se aceitássemos a postulação do meu caro amigo Luiz Salomão. Citarei outro caso concreto, Sr. Presidente, de um empres ário brasileiro dos mais eminentes, fora da área de informática, na área de tratamento e processamento de minérios. Ele tornou-se sócio de uma empresa americana para um investimento de cem milhões de dólares. A empresa brasileira investiria o equivalente a cem milhões de dólares e a empresa estrangeira ofereceria em tecnologia, equipamentos e dinheiro vivo, o equivalente a cem milhões de dólares. Cinqüenta por cento das ações e mais uma ficariam em mãos da empresa nacional. Ao notificar a constituição da empresa ao DCI – Conselho de Desenvolvimento Industrial, o tecnocrata simplesmente lhe disse: "quero pensar sobre o assunto e examinar o acordo de acionistas". Perguntou o ilustre empresário brasileiro: "Mas por quê? O Sr. está arriscando dinheiro? O governo está arriscando algum dinheiro? Estou pedindo algum financiamento, isenção de impostos? Não estou pedindo nada ao governo e o Sr., tecnocrata, não me está dando nada, não tem nenhuma ação da empresa, eu estou arriscando cem milhões de dólares, o Sr. acha que eu sou imbecil a ponto de não defender os meus interesses tão bem quanto o Sr. os defenderia, o Sr. que é um tecnocrata, que nunca viu uma indústria, que não é formado em metalurgia como eu, que não está arriscando cem milhões de dólares? Isso é mera petulância, é mera arrogância". Mas o tecnocrata não se comoveu, disse que ia fazer o processamento normal, porque ele sempre gosta de se certificar de que não há uma cláusula oculta no acordo de acionistas, tal que, subreticiamente, permita ao estrangeiro exercer o controle. Em suma, o empresário brasileiro, aos olhos desse tecnocrata, e essa atitude do CDI, – atitude hoje da SEI – é um misto de corrupto e menor, e o tecnocrata é um agente iluminado que sabe o que é bom, não só para a Nação, mas também para o empresário que arrisca o seu dinheiro. Em um dos artigos, o nosso ilustre Constituinte, prevê a nacionalização de atividades econômicas tais como bancos de depósitos, seguradoras e demais instituições financeiras. Significa praticamente a extinção desses canais de comunicação financeira, que o Brasil tem com o mundo exterior, e que são representados pelos bancos e entidades 70 financeiras aqui presentes. Generosamente, ele permite uma exceção: essas instituições poderiam sobreviver se houver reciprocidade no exterior, mas isso não abrangeria as entidades capazes de receber depósitos. Bancos estrangeiros, esses seriam definitivamente nacionalizados. Pode-se conceber coisa mais imprudente, neste momento em que o Brasil proclamou uma moratória, em que os nossos exportadores estão de língua de fora, porque estão se rarefazendo os créditos de importação e exportação à simples apresentação? Espero que isso aqui não seja conhecido dos jornais e que não haja nenhum espião de olhos di hall street aqui – porque é evidente, essa simples proposta causaria pânico financeiro e uma retração adicional do crédito ao Brasil. Vejamos essa pérola de raciocínio, num artigo último do documento, não é numerado. Diz o seguinte, literalmente: "Nos investimentos de capital estrangeiro serão obedecidos, entre outros, os seguintes princípios: função supletiva de capital estrangeiro ao regime especial, transferência" – e depois o seguinte – "os meios e formas de nacionalização de empresas de capital estrangeiro, nos casos previstos nos planos de desenvolvimento aprovados pelo Congresso Nacional". Como é que pode esperar que o investidor estrangeiro tenha um ânimo suicida? Ele viria para o Brasil, sabendo que um dos princípios que regem a legislação ou o regime de capital estrangeiro é a consideração imediata pelo Congresso Nacional, de meios e formas de nacionalização. Ele teria que ser um masoquista. Isso equivale simplesmente a uma proibição da vinda de capitais estrangeiros. Se é essa a intenção, por que não dizer logo que o Brasil tem poupança suficiente para o seu desenvolvimento. Não sei de quanto será. O Sr. Funaro disse que é 7%, mas o Funaro é até um pouco mais prudente. Ele disse que quer 7%, mas para isso precisa de mais 4 bilhões novos no exterior. Além de não pagar o já devido, ele quer 4 bilhões a mais no exterior. Mas, nosso amigo e ilustre Constituinte é mais radical. Na verdade, ele acha que nós não precisamos de nada para o nosso desenvolvimento, simplesmente deveria proibir, logo, a vinda de capitais estrangeiros. Porque a não ser um investidor totalmente analfabeto, não veria nisso uma condenação à guilhotina. E, a meu ver, os investidores estrangeiros, sejam eles japoneses, alemães, americanos ou italianos, não têm ânimo masoquista e nem instinto suicida. Somente um pouquinho mais, Sr. Presidente, somente um comentário genérico sobre essa questão de eficiência de empresa pública e privada. Eu acho que, em termos abstratos, a discussão é um pouco ociosa. Tanto a empresa pública como a privada podem ser eficientes ou ineficientes. O que acho é que existe uma presunção ambiental de maior eficiência naempresa privada do que na empresa pública, pelos seguintes fatores: primeiro, na empresa pública há um perigo constante de politização e descontinuidade gerencial, o que não existe na empresa privada; segundo, na empresa pública há maior insensibilidade a custos e menor velocidade na percepção das reações de mercado do que na empresa privada; terceiro, na empresa pública há maior tranqüilidade financeira, porque existe sempre a possibilidade de amparo estatal, e, portanto, o apuro na eficiência a criteriosidade na avaliação custo benefício tende a ser mais relaxada, mais tranqüila na empresa pública do que na empresa privada. Com, isso, ambas podem ser eficientes. Há casos de eficiência e de ineficiência de ambos os lados, mas existe uma presunção ambiental de que a empresa privada, numa economia de mercado ou numa economia mista, 71 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento) tende a ser mais eficiente. E, não é por outra razão que Itália, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra e, até, os países socialistas estão admitindo, hoje, uma orientação privatizante. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª. O ilustre Constituinte Roberto Campos usou 10 minutos a mais do seu tempo, de forma que, na contradita, o ilustre Constituinte Luiz Salomão terá também esse tempo adicional. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Obrigado, Sr. Presidente. Inicialmente, quero rebater o conselho do ilustre Constituinte Roberto Campos, ou "a máxima para os revolucionários", de Bernard Shaw, que ele invocou para me considerar sem cabeça, continuado após os 40 anos, sendo socialista e imaginando que, se Bernard Shaw estivesse vivo, diria também que quem esteve no poder e aos 70 anos não reconhece os efeitos desastrosos causados pela prática de suas idéias, pode ser coerente, mas representa um risco para a sociedade, que pode ser um risco de uma verdadeira hecatombe. Acho que há duas ordens de consideração a fazer na contradita das colocações que foram feitas. A primeira, esclarecendo o nobre Constituinte Johnsson de que em nenhuma das proposições que apresentei, estou propondo um processo de estatização crescente da economia brasileira. Exceto, no que tange aos bancos, a que me referirei adiante. Isto porque não teria a coragem e, ao mesmo tempo, a desdita de propor que um Estado ainda tão antidemocrático quanto o que vivemos, onde não se pode sequer eleger o Presidente da República – eu estou com 41 anos e não consegui essa façanha de votar para Presidente – não seria eu que proporia a um Estado antidemocrático que usa, ele sim, o entulho autoritário, o decreto-lei, o decurso de prazo, para atender aos interesses dos seus apaniguados. Eu não teria sequer a coragem de propor a estatização da educação e do setor saúde, porque, certamente, a população brasileira não estaria de acordo com a assunção integral pelo Estado dessas atividades, com uma escola tão ruim e serviços médicos tão precários. Os exemplos citados pelo nobre Constituinte Renato Johnsson, para repelir a idéia da estatização, particularmente a do DB – Rio levam-me a tecer algumas considerações. Participei do Governo Leonel Brizola e vi o que se passou naquela instituição financeira, que já foi o terceiro maior banco de desenvolvimento do País, seguindo apenas o BDMG e o BADESP, que foi deteriorado, não por má gestão dos seus administradores, mas pela transformação daquela entidade no chamado hospital que abrigou empresas privadas, pessimamente administradas, verdadeiros escândalos, como por exemplo, o malfadado Montepio da Família Militar, responsável em grande parte pelo rombo que levou à pique o DB – Rio. Mas, quero dizer ao nobre Constituinte Renato Johnsson, que a má gestão das instituições financeiras estatais, ou melhor, não é um privilégio dos bancos estatais, pois há inúmeras instituições financeiras que foram à garra, sendo administradas por banqueiros privados. O próprio Constituinte Roberto Campos já passou por essa experiência, que ele mesmo chama de purificadora da falência de instituições financeiras mal conduzidas, em grande jogadas financeiras, no desvio de recursos, contrariando a legislação bancária. Mas, se V. Ex. as quiserem um exemplo de uma instituição estatal de crédito, administrada de forma tão boa e, em muitos casos, melhor do que os bancos privados, eu citaria, por exemplo, o Banco do Brasil, entidade onde eu comecei a minha vida profissional e que não fica nada a dever às instituições particulares de crédito, a despeito de sofrer uma permanente perseguição do Banco Central que, na verdade, sempre agiu como o comitê dirigente do sindicato dos bancos particulares. É uma rotina que se repete, substituir o Presidente do Banco Central, que representa os interesses do Bradesco, pelo do Itaú; depois do Itaú pelo do Unibanco, mais adiante volta ao Bradesco, nessa rotina, nesse rodízio, que já se tornou monótono na condução ou na titularidade das autoridades monetárias. Outro equívoco que freqüentemente leva alguns Constituintes à recriminar a participação do Estado na atividade econômica, é a aferição – como foi mencionado aqui pelo nobre Constituinte Irapuan Costa Júnior, que infelizmente se ausentou – é a necessidade de financiamento das estatais, que teria montado a 121 bilhões de cruzados. Sem levar em conta que, nessa necessidade de capital, estão incluídos projetos e inversões produtivas necessárias, por exemplo, a assegurar a auto -suficiência do petróleo, necessário a expandir a nossa produção de energia elétrica, que foi exatamente contida pela falta de investimentos no setor, em decorrência da intenção governamental; de fornecer energia elétrica subsidiada às em presas privadas, exportadoras em muitos casos, multinacionais em sua maioria, até mesmo para a eletrotermia, quer dizer, cometendo um verdadeiro descalabro em matéria de economia energética, utilizaram uma forma tão nobre de energia, para gerar calor. De modo, Srs. Constituintes, para esclarecer bem a minha posição, estou propondo que se atribua ao Congresso Nacional, como o órgão mais representativo da vontade da Nação, mais expressivo da comunidade nacional, a tarefa de definir que setores devem caber ao Estado, e que setores devem caber à iniciativa privada. E, não, tornar axiomática essa preferência da empresa privada como exploradora das atividades econômicas. Esse axioma não só se revelou inútil, durante todo esse período autoritário – porque foi nesse período que o Estado proliferou de forma absurda e sem controle da sociedade, na produção econômica – onde se criaram todos esses atributos negativos da empresa estatal: a mordomia, o empreguismo, o afilhadismo e, pior de tudo, a utilização das empresas e statais para beneficiar determinados interesses privados. O Constituinte Joaquim Bevilácqua mencionou a componente fundamental dessa discussão, em termos de controle democrático, que é o da impunidade. A impunidade, argüida ou invocada agora, pelo ex-Ministro Dilson Funaro, para explicar até insuficientemente, o fracasso do Plano Cruzado. Mas, esta impunidade pública e privada é responsável pela deterioração dos valores, da ética empresarial, tanto num setor como no outro. Se não houvesse essa impunidade, certamente inúmeros empresários, banqueiros e industriais que deram verdadeiros golpes na praça, não estariam circulando, até mesmo aqui no Congresso, defendendo os seus interesses, em lobbies verdadeiramente escancarados. E, certamente, o Estado, as empres as estatais teriam um outro perfil não tão questionado do ponto de vista moral. A outra ordem de questões levantadas pelo Senador Roberto Campos, diz respeito ao caráter, não me lembro mais, se ingênuo, xenófobo ou inoportuno da proposição que apresentei. Quando formulamos essa definição de empresa nacional – inspirados, é verdade, na Lei de Informática – não estamos contemplando aqui nenhum tipo de benefício particular para as empresas nacionais. Toda a carga das críticas do Constituinte Roberto Campos devem ser dirigidas aos membros da legislatura passada, que aprovaram, segundo ele, por mecanismos remanescentes da ditadura, e que a Nova República teima em manter – decurso de prazo, voto de Liderança, etc., infelizmente não DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) abolidos na Constituinte – mas, na verdade, toda a carga de críticas do nobre Constituinte Roberto Campos se dirigiu à empresa nacional, à reserva de mercado criada pela Lei de Informática. Eu não creio que seja objeto de discussão nesta sessão da Subcomissão. O que nós estamos procurando, com essa definição, é separar o joio do trigo. Não basta a IBM, por exemplo, se dizer IBM do Brasil, para ser uma empresa nacional; não basta que capitais estrangeiros, com contratos de gaveta, com side letters, com artifícios que tais; contratos no setor de tecnologia; contratos de representação, artificialmente se transvistam de empresas nacionais para "mamar nas tetas" da Nação, nos incentivos fiscais, nos benefícios creditícios, e se valer da economia nacional para multiplicar os seus lucros. O Constituinte Roberto Campos foi muito claro na sua posição, já conhecida, quando ele expressou o temor de que se proposições desse tipo circulassem por aí, um espião de Wall Street poderia embananar as nossas negociações internacionais. Isso resulta de um a visão messiânica que o Constituinte Roberto Campos atribui ao capital estrangeiro. E, depois que ele, com a sua competência, abriu as portas da economia brasileira ou alargou a abertura da porta que já estava aberta, ao capital estrangeiro, o que nós tem os, como resultado desastroso, é essa situação de comprometimento da soberania nacional a níveis que não têm paralelo na História brasileira. Estive pela manhã, em virtude da falta de quorum da nossa Subcomissão, assistindo à palestra do eminente Embaixador Saraiva Guerreiro, um dos membros da Comissão Assessora criada pelo Presidente da República, para negociar a divida externa. E, verifiquei, um pouco entristecido, que S. Ex.ª ex-Ministro das Relações Exteriores, também não é portador de nenhuma posição de soberania para conduzir essas negociações. De fato, o que se passa, é que pelo processo de colonização não apenas econômico, mas sobretudo cultural, ideológico e político, muitos dos nossos dirigentes que já tiveram oportunidade de conduzir os destinos da Nação, utilizaram essa oportunidade não para servir ao nosso povo, mas sim para acocorar a Nação aos interesses do capital estrangeiro. Eu não vejo que componente nocivo possa ter uma definição do que é empresa nacional ao nível do que foi aqui proposto, aquela que consta do art. 12, da Lei de Informática. Trata-se de dar nomes aos bois: empresa nacional é a empresa efetivamente controlada por brasileiros; diretamente por pessoas físicas ou indiretamente, através de outras empresas nacionais. Não vamos chamar de empresas nacionais aquelas que têm 49,99% do capital em mãos de estrangeiros, com sócios que, muitas vezes, não passam de testas de ferro, como tantos que conhecemos. E com essa rotulagem de empresas nacionais – V. Ex.ª Constituinte Joaquim Bevilácqua, que é contra os rótulos, haverá de me conceder essa oportunidade de caracterizar como rotulagem de empresas nacionais – empresas que são rigorosamente estrangeiras, mas que apresentam essa característica, atendem a essa regra jurídica, de ter 50% mais 1 de suas ações em mãos de um testa -de-ferro que nasceu aqui mas, que na verdade, é um títere dos interesses do capital estrangeiro. De modo que, em relação a essa definição, nobre Constituinte Roberto Campos, V. Ex.ª levanta e verbera contra apenas, creio eu, em virtude da sua posição vencida na discussão da questão da informática. Certamente V. Ex.ª teria razão em questionar o artigo seguinte, onde propusemos um elenco de atividades econômicas que deveriam ser privativas de brasileiros e de empresas nacionais. E, dentre elas, V. Ex.ª se fixou na questão dos bancos de depósito. É evidente e seria estranho se V. Ex.ª não estivesse aqui defendendo os interesses do Citybank e de outras instituições de crédito que estão sediadas no Brasil, captando a poupança popular, captando depósitos e ge- 72 rando lucros que representam 25%, 30% dos lucros totais dessas instituições, em escala mundial. É um verdadeiro absurdo, isso sim, que V. Ex.ª defenda essa posição, quando não temos essa liberdade de abrir, nos Estados Unidos, na França, na Alemanha ou na Inglaterra, instituições financeiras para captar depósitos e concorrer com os bancos daqueles países. O que V. Ex.ª considerou uma concessão, entre aspas, generosa, é aquilo que nos interessa dessas instituições financeiras: a manutenção aqui, de escritórios de representação ou de agências, que permitam exatamente o financiamento do comércio externo. Isso é o que nos interessa em matéria de presença de bancos estrangeiros. Eles virem aqui para quê? Para cederem tecnologia bancária aos brasileiros? Isso seria um absurdo. V. Ex.ª está aqui desmerecendo os seus amigos banqueiros nacionais. Imaginar que eles tenham direito adquirido de poder aqui, como o Citybank faz, com um número rarefeitíssimo de agências, ter a maior relação de depósitos por agência, depósitos por funcionários de qualquer outro banco do mundo. Porque é evidente, aqui as multinacionais canalizam para essas instituições os seus recursos, os seus depósitos. De modo que, a meu juízo, não se justifica, de nenhuma maneira – quero reafirmar essa posição claramente – a presença de bancos de depósitos estrangeiras. E imaginava que V. Ex.ª, como ex-banqueiro, compartilhasse desse ponto de vista de defesa dessa atividade, uma atividade quase que concedida por carta patente a empresas multinacionais. Acho que na questão dos bancos é que está o paradigma para a discussão que tivemos ontem sobre a reserva de mercado. Se nós aqui quiséssemos nos reunir em Assembléia e fundarmos um banco com as nossas poupanças, umas parcas e outras mais vultosas, certamente que a nossa intenção seria frustrada, porque nos é vedado ingressar no mercado de capitais para explorar a atividade bancária privativa dos amigos do Poder. E o que observamos? Nesta prevalência de bancos privados – muitas vezes, numa quadra ela Avenida Rio Branco ou da Avenida Paulista – há 4 ou 5 agências produzindo o mesmo serviço à população nem sempre de boa qualidade. O que observamos é a manutenção de uma estrutura de custos administrativos desses bancos, rigorosamente absurda, que é paga através de taxas escorchantes de juros. Taxas de juros que, definitivamente, não têm nenhuma explicação mais em termos de rolagem da dívida pública. Estou convencido, a partir de análises do ilustre economista Décio Garcia Munhoz, que as taxas de juros, absurdamente altas que sufocam a atividade empresarial produtiva para alimentar e aquecer a ciranda financeira, têm como uma base do seu patamar exatamente os elevados custos administrativos ,do sistema bancário nacional. De modo, Sr. Presidente e ilustres Constituintes, que em relação ao capital estrangeiro nós não temos essa generosa visão do Constituinte Roberto Campos e de outros defensores do capital estrangeiro, de que em relação a ele tenhamos que prestar homenagens, fazer continências, enfim, alargar, ainda mais, a enorme passagem que lhes permite sugar, como uma verdadeira bomba de sucção, os recursos do nosso povo, do nosso País, para o processo de acumulação internacional do capital. O que está patente para nós é que a presença aqui do capital estrangeiro se dá não por qualquer gesto de generosidade do capitalista internacional, mas, evidentemente, em função da atração que representa para eles a exploração do amplo mercado interno brasileiro, que só não é maior, exatamente porque grande parte da riqueza nacio- 73 DIÁRIO DO ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) nal, que poderia ser empregada na dinamização do seu mercado, está sendo ou vinha sendo transferida, de maneira absurda, para as matrizes das multinacionais. De modo que com todo o respeito pela inteligência e pela cultura unilateral de S. Ex.ª, o Constituinte Roberto Campos, não vejo razão para retificar em nada a proposta que tive a honra de submeter a esta Subcomissão. Muito ao contrário, as suas críticas e as suas perorações contrárias a alguns desses dispositivos, só servem para fortalecer a minha convicção de que é preciso insistir nessa linha de afirmar a soberania nacional, a defesa das riquezas naturais deste País, e estancar essa sangria que já exauriu a saúde da nossa economia, implicando no sacrifício de milhões de cidadãos que não têm acesso às condições mínimas de vida do ser humano. E esta é a razão fundamental, a meu juízo, da atividade política e da nossa discussão. Não estou tão preocupado quanto o Constituinte Roberto Campos, sobre como vamos suprir o hiato de recursos externos para fechar o balanço de pagamentos, ou se os banqueiros de Wall Street vão se sentir minimamente ameaçados por uma modesta proposta como essa que tive o prazer de formular. O que me preocupa, realmente, o que queim a a minha consciência, é o fato de neste País gigante, onde convivem os contrastes mais absurdos da riqueza ostensiva, sobretudo dos banqueiros, é onde também se vai encontrar todos esses defeitos que foram aqui apontados em relação à empresa estatal. Já trabalhei em muitas empresas privadas – talvez tantas quantas às dos privativistas aqui presentes –, e o que eu vi de ineficiência, o que eu vi de incompetência do empresariado, do seu nepotismo que tantas vezes entrega a direção da empresa, ou setores da empresa a seus filhos incapazes, gerando ineficiência, gerando uma série de prejuízos para a coletividade, não pode ser invocado aqui para contestar uma posição que é essencialmente democrática, que não é socialista, não. Aqui não houve nenhuma intenção de propor a socialização da economia brasileira, porque seria dar um tiro na água numa Constituinte que, evidentemente, não tem essa correlação de forças. O que procuramos, na nossa proposição, foram fronteiras nítidas entre o capital nacional e o capital estrangeiro; e, em relação ao capital nacional, entre o capital estatal e o capital privado. Espero que, reafirmando essa parte final do meu pronunciamento, ter deixado claro aos Constituintes que me brindaram com os seus comentários, a verdadeira natureza do meu pensamento. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Tendo sido citado nominalmente, o ilustre Constituinte Roberto Campos tem o direito ao benefício da explicação pessoal, por 10 minutos, sem conceder apartes. O SR. CONSTITUINTE ROBERTO CAMPOS: – Sr. Presidente, eu havia prometido não falar por duas sessões consecutivas e gostaria de, mesmo não cumprindo totalmente a promessa, ficar relativamente fiel a ela, falando menos de 1 minuto. O ilustre Constituinte Luiz Salomão me fez um insulto pes soal e cometeu um erro de fato. O insulto pessoal é dizer que eu estaria aqui, defendendo interesses de bancos estrangeiros ou da comunidade econômica internacional. Esse é um antigo truque da esquerda, cujo raciocínio é o seguinte: eu sou patriota, aqueles que discordam de mim servem a interesses estrangeiros. É primitiva demais uma acusação dessa natureza. Não vou discutir, Sr. Presidente, vou enviar a minha folha de serviços prestados ao País ao Constituinte Luiz Salomão e ele, por favor, também, me envie a sua folha de serviços. Se um de nós dois quiser desempatar, em termos de patriotismo chamaremos um árbitro para verificar quem mais serviços prestou ao País. Eu considero isso um exercício fútil. O Constituinte Luiz Salomão é patriota. Não fiz nenhum a injúria ao seu patriotismo, apenas nego-lhe redondamente o monopólio do patriotismo; também sou patriota. Não me digo nacionalista porque não gosto desta palavra e particularmente não gosto da associação habitual entre nacionalismo e socialismo. O fenômeno do nacionalsocialismo já, todos sabemos, provocou desastres em inúmeros países. Eu tenho uma aversão à palavra nacionalismo, porque me lembro do velho Augusto Frederico Schmidt, o poeta, que uma vez me definiu o nacionalista brasileiro como sendo um cidadão que chega ao americano para dizer-lhe: "Me dá um dinheirinho aí, seu cachorro imperialista". Na realidade, uma atitude assaz freqüente. Por isso, prefiro o nome "patriota". O erro de fato é que, meu caro Constituinte, existe reciprocidade em matéria de instalações bancárias. Se não me engano, há 11 bancos brasileiros instalados em Nova Iorque, alguns com agendas plenas, alguns com representação. Em Londres lembro-me de 4. Hoje, há uma interpenetração bancária, hoje, o mercado financeiro internacional é integrado. E, certamente, o Brasil poderia obter a reciprocidade em matéria de integração no sistema financeiro. Isso é apenas uma questão de fato. O Brasil não está sendo discriminado, o Brasil tem acesso ao mercado financeiro internacional, podendo se instalar quando quiser. O que preocupa, na atitude do Constituinte, é pensar que essas coisas são inócuas. A grande vítima da interrupção dos canais de financiamento internacional são os exportadores. Não estamos defendendo o direito dos exportadores de e t rem acesso ao crédito e o direito dos importadores, estou tentando defender é o desenvolvimento nacional. Para o ilustre Constituinte, estou defendendo o capital estrangeiro. Não é isso. Estou defendendo o desenvolvimento nacional por acreditar que esse desenvolvimento será mais rápido e mais seguro se, à escassa poupança nacional adicionarmos capital estrangeiro. A evidência de que essa presença de capital estrangeiro é útil, pode ser fisicamente comprovada pelo ilustre Constituinte. Aposto que ao sair daqui ele tomará um automóvel; aposto que esse automóvel será um Volkswagen, um General Motors ou um Fiat; ele não vai chamar uma carroça construída com capitais autenticamente nacionais. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, pela ordem. Fico preocupado de ter insultado o nobre Constituinte Roberto Campos e, certamente, não era essa a minha intenção. Mas, logo que S. Ex.ª desenvolveu sua intervenção, sinceramente não consegui localizar, no meu pronunciamento, nenhuma acusação de impatrioti smo, de entreguismo, de falta de nacionalismo de S. Ex.ª. Se por algum lapso eu o fiz, quero aqui me retratar de público. Mas, tenho certeza – depois poderemos apurar nas notas taquigráficas – que não lhe fiz esse tipo de acusação. Sobre a sua vida pública, a despeito de ter-se referido a mim como amigo, nunca tive a oportunidade de ser amigo do Constituinte Roberto Campos, mas sou amigo de sua família, de seus sobrinhos, de seus filhos – fomos contemporâneos de universidade – de sua irmã, de sua mãe. Ainda que nunca tenha convivido com o nobre Constituinte, conheço bastante bem a sua trajetória. E não vim para Brasília, para o Congresso Nacional, para duelar com curriculum vitae, porque acho que não é essa a expectativa dos nossos eleitores. DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL (Suplemento) Sobre a questão do julgamento que ele propõe, certamente acredito que a forma deste julgamento, enquanto homens públicos, é através das eleições. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Relator. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, e de modo muito especial, o nobre Constituinte Roberto Campos, ao ilustre Constituinte Luiz Salomão: Meu pensamento sempre foi o de colocar muito mais o debate do argumento do que da pessoa do argumentador. Se em algum instante, na análise do argumento, ao juízo subjetivo, parecer que "Satanás que está pregando quaresma", é melhor silenciar, não discutir os argumentos de Satanás, sem tentar díabolizar o argumentador na pessoa diabolizada. Acho que as discussões de hoje foram profundamente enriquecedoras. Ouvimos pontos de vista discordantes. Eu sei que resultou da experiência pessoal do nobre Constituinte Roberto Johnsson, como do depoimento pessoal do Constituinte Joaquim Bevilacqua, mesmo do depoimento do Constituinte Gil César e da própria argumentação do nobre Constituinte Roberto Campos, parece-me diferente do ponto de vista da eficiência à empresa pública ou privada. O que nos pareceu ressaltar de toda discussão, do exercício do seu controle, da vigilância das entidades ou do corpo político ou privado envolvido no controle das empresas, sua eficiência, sua capacidade, sua produtividade ser maior ou menor. Entendendo assim – esse me pareceu o pensamento médio desta Comissão – nada impede que o Relator contemple a hipótese da presença do Estado como agente produtivo direto, já que a, eficácia, a eficiência e outros fatores não dependem exclusivamente de ser de natureza pública ou privada, a empresa, se não do exercício eficiente ou não dos gestores dessas empresas. As causas que levam a empresa privada, poderíamos citar aqui algumas recentes, grandes, maiores empresas industriais do País que entram num processo de desequilíbrio transitório ou permanente, por exercício de má gestão, seja na indústria, seja na área financeira, enfim, em todas as áreas de atividades, assim do setor público e do setor privado. Gostaria de, Sr. Presidente, se assim me permitir, deduzir um pouco da exposição do nobre Constituinte Roberto Campos, que baliza a história do processo econômico moderno, no sentido de que há uma tendência manifesta pela privatização. Parece-me que deveria aduzir algumas informações complementares porque, no particular, a história é muito fluida. Não digo que repita o pensamento de Toimbee, de que ela se repetirá como uma roda, passando em determinado instante pelo mesmo ponto: Mas, a experiência dos últimos anos, da contemporaneidade, mostra um aspecto, que eu diria de sístole e diástole nesse campo. Vale dizer, por exemplo, da experiência soviética. Sabe o nobre Constituinte Roberto Campos, que após o comunismo de guerra violentíssimo, se introduziu a privatização, através dos primeiros planos, que é a eliminação dos gulash como uma forma de voltar a socialização, à propriedade do Estado, quando em determinado instante histórico, os próprios fundadores da República Soviética, optaram pela privatização da economia, assim na agricultura como na indústria. Recentemente, a história contemporânea mostra uma profunda estatização. A administração atual marcha, evidentemente, para um processo de aliviar esta estatização. Na França, por exemplo, com um front populeur, o governo Leon Blum estabeleceu-se uma, estatização, estatização em grande parte motivada pelos grandes escândalos decorrentes do caso Stavinsky, para, em seguida, marchar-se para uma privatização, e o governo nova- 74 mente socialista, estatizar uma tendência, agora, à nova privatização. Na Inglaterra, não foi diferente. O primeiro governo trabalhista após a 1ª Guerra Mundial, tinha uma estatização que se seguiu a uma privatização, e novamente assistimos uma privatização, após uma estatização da economia. A sociedade define este problema no instante apropriado, em que o desafio da história lhe é posto. É exatamente por isto que não devemos negar, à história futura, a oportunidade de, em achando conveniente, estatizar alguns setores que esta própria sociedade, por via democrática, pode vir a privatizar. Negar no texto constitucional a oportunidade de criar empresa pública de forma democrática e sob controle democrático, não me parece que seja o caminho que devamos, – na base das informações trazidas aqui pelos nobres Constituintes – trilhar na elaboração do anteprojeto constitucional. Era o que tinha a dizer. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Vamos suspender os nossos trabalhos hoje, comunicando a V. Ex. as que teremos uma reunião amanhã, às 9 horas e 30 minutos, neste mesmo local. (Suspende-se a reunião, às 19 horas e 42 minutos.) COMISSÃO DA ORDEM ECONÔMICA 9ª Reunião Ordinária Aos quatro dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dezessete horas e trinta minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência do Senhor constituinte Delfim Netto, com a presença dos seguintes constituintes: Raquel Cândido, Gabriel Guerreiro, Jalles Fontoura, Marcos Lima, Hélio Duque, Virgildásio de Senna, Delfim Netto, Renato Johnson, Irapuan Costa Júnior, Luiz Salomão, Albano Franco, Joaquim Bevilacqua, Antônio Carlos Franco e Gil César. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e solicitou fosse dispensada a leitura da Ata da reunião anterior que foi considerada aprovada. A seguir, fizeram exposição sobre o tema – O subsolo, a União e os Estados. Monopólio estatal do petróleo e outros monopólios. Reservas estratégicas, os Senhores: Ozires Silva, Presidente da Petrobrás, que foi interpelado pelos Senhores constituinte s Hélio Duque, Jalles Fontoura, Renato Johnsson, Gabriel Guerreiro, Raquel Cândido e Luiz Salomão, tendo o Senhor Luiz Reis, a pedido do expositor, prestado alguns esclarecimentos a respeito de contratos de risco; Barbosa Lima Sobrinho, que foi interpelado pelos constituintes Luiz Salomão, Gabriel Guerreiro, Raquel Cândido e Gil César, que encaminhou, ainda, à mesa indagações a serem feitas à Presidência da Petrobrás. Continuando a fase destinada à exposição, falaram os Senhores João Marinho Nunes, que foi interpelado pelos constituintes Luiz Salomão, Gabriel Guerreiro, Jalles Fontoura, Raquel Cândido, Gil César e Virgildásio de Senna; Wanderlino Teixeira de Carvalho, que foi interpelado pelos constituintes Gabriel Guerreiro, Jalles Fontoura, Luiz Salomão e Marcos Lima; Elmer Prata Salomão, que foi interpelado pelos constituintes Gil César, Jalles Fontoura e Gabriel Guerreiro; e, finalmente, Roberto Gama e Silva, que foi interpelado pelos Senhores constituintes Luiz Salomão e Raquel Cândido. O inteiro 75 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrado os trabalhos, às vinte e duas horas e trinta e cinco minutos, convocando os Senhores constituintes para a próxima reunião a ser realizada amanhã, dia cinco de maio, às nove horas e trinta minutos, para continuação do debate de matéria constitucional. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueirêdo, secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO À ATA DA NONA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM 4 DE MAIO DE 1987, ÀS 17 HORAS E 30 MINUTOS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Srs. Constituintes, vamos, dar início à nossa reunião de audiência pública, que tratará dos temas: "O subsolo, a União e os Estados; monopólio estatal do petróleo e outros monopólios; reservas estratégicas". De acordo com que havíamos combinado, parece que a formulação das perguntas por escrito tem causado alguma dificuldade, de forma que vamos usar o art. 10 do Regimento - os Srs. Constituintes poderão fazer as perguntas oralmente, no prazo de 3 minutos. Tenho a satisfação de dar a palavra ao Coronel Ozires Silva, Presidente da PETROBRÁS. O SR. OZIRES SILVA: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, meus Senhores, minhas Senhoras: É uma grande honra para mim e para a nossa empresa sermos convocados pelos Srs. Constituintes para falar sobre o monopólio do petróleo, tema que, historicamente, vem empolgando a Nação. Desejo salientar que a nossa visão procura assentar-se nos fatos vividos nos últimos 33 anos, desde a edição da Lei nº 2.004, de 3 de outubro de 1953. É evidente que esses fatos podem admitir diferentes interpretações e aquela que escolhemos para hoje é condizente com o pensamento da atual direção da empresa e baseada na experiência daqueles que nos precederam na responsabilidade de comandar os destinos da PETROBRÁS. Devemos dizer que consideramos a gestão do monopólio do petróleo, em nome da União, como enorme responsabilidade e não como privilégio, como pretendem muitos, pois sabemos o quanto tem custado à sociedade brasileira a manutenção dessa diretriz legal. Portanto, é com humildade e apreço, perante a comunidade nacional, que aqui comparecemos para colocar o nosso ponto de vista, mas também para deixar claro que estaremos prontos para acatar a decisão da soberana Assembléia Nacional Constituinte, fazendo o que nos seja possível para, com eficiência, exercer o trabalho que a Lei Maior nos determinar. MONOPÓLIO DO PETRÓLEO: – pequeno histórico: As Constituições de 1934 e 1937 já previam o monopólio, pela União, de determinadas atividades, como consta nos arts. 116, da Constituição de 1934, e nº 8º da Constituição de 1937. A Constituição de 1946 também vem dispor a respeito, em seu art. 146, com o seguinte teor: "A União poderá, mediante lei especial, intervir no domínio econômico e monopolizar determinada indústria ou atividade. A intervenção terá por base o interesse público e, por limite, os direitos fundamentais assegurados por esta Constituição." Com base nesse premessivo, a Lei nº 2.004, de 3 de outubro de 1953, estabeleceu, no seu art 1º, que constitui monopólio da União a pesquisa, lavra das jazidas de petróleo e outros hidrocarbonetos fluidos e gases raros existentes no Território nacional. No número 2 desse mesmo artigo: "A refinação do petróleo nacional ou estrangeiro." E no número 3: "O transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional, ou de derivados de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte por meio de condutos de petróleo bruto e seus derivados, assim como de gases raros de qualquer origem." A Constituição de 1967, emendada em 1969 alçou à categoria de norma constitucional o monopólio em favor da União, da pesquisa e da lavra do petróleo em Território nacional, como se lê no seu art. 169, que corresponde ao art.162 da Constituição de 1967. Esse artigo está assim redigido: "A pesquisa e a lavra de petróleo em Território nacional constituem monopólio da União, nos termos da lei" Do acima exposto, evidencia-se ser uma tradição constitucional brasileira a possibilidade de a União monopolizar determinadas atividades e as Constituições de 1967 e 1969 elevarem à categoria de norma constitucional o monopólio, em favor da União da pesquisa e lavra do petróleo, por se tratarem de atividades essenciais à economia e à segurança do País. Sugestão da PETROBRÁS: Seguindo a linha constitucional, desde a Constituição de 1964, sugerimos a inclusão, onde couber, na nova Constituição do Brasil, de um artigo com a seguinte redação: "Constitui monopólio da União a pesquisa, a lavra, a refinação e o processamento do petróleo, sob qualquer de suas formas, inclusive a do gás natural, bem como o seu transporte e dos respectivos derivados marítimos ou em condutos." Não se cogita, desta maneira, de ampliar aquele monopólio para abranger atividades que atualmente nele não estão incluídas. De outra parte, embora o gás natural seja uma forma pela qual o petróleo se apresenta na natureza, é de conveniência explicitar tal ponto no texto constitucional, para evitar interpretações que pretendam discutir a sua inclusão no monopólio já estabelecido pela Lei nº 2.004, de 1953. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Como assunto importante, em relação do tema, vamo-nos deter um pouco sobre contratos de prestação de serviço com cláusulas de risco. Antecedentes: No dia 9 de outubro de 1975, o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, General Ernesto Geisel, após debater o assunto no âmbito de seu Governo, anunciou à Nação que decidirá autorizar a PETROBRÁS a celebrar contratos de prestação de serviços de exploração de petróleo, com cláusula de risco, utilizando a experiência obtida pela BRASPETRO em contratações desse tipo. Nesse pronunciamento à Nação, salientou Sua Excelência que tais contratos deveriam ser celebrados com resguardo dos princípios essenciais do monopólio estatal, constituindo modalidade de execução indireta, devendo ficar, tais contratos, sob pleno controle e fiscalização da PETROBRÁS, com executora do monopólio estatal da pesquisa e lavra de petróleo, como se lê em trechos abaixo retirados daquele pronunciamento do Presidente, em 1975. "A análise meticulosa a que procedemos, inclusive, debatendo o assunto com a Petrobrás, no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico, e hoje, de todo o Ministério, e levando em conta a minha experiência pessoal como presidente da empresa – acentuou o Presidente Geisel – levou-nos à convicção de que o Governo deve autorizar a Petrobrás, sem quebra do regime de monopólio, a realizar contratos de serviço com cláusula de risco, por conta da empresa executora, em áreas previamente selecionadas." Continua o Senhor Presidente: "A medida será posta em prática com base na experiência dos contratos já celebrados pela Petrobrás no exterior, garantindo-se o princípio essencial do monopólio e definindo-se as condições, níveis, prazos rigorosos para investimentos a serem realizados, sempre sob o controle da Petrobrás." E conclui o Senhor Presidente da República: "Por fim, cabe frisar que esses contratos não implicarão reduzir ou violar o monopólio atribuído à Petrobrás, pois constituirão, de fato, modalidade de execução indireta, realizada no âmbito da empresa, sob sua jurisdição e pleno controle." Dando cumprimento à deliberação governamental, a Petrobrás, após meses de estudo e análise, elaborou minuta básica de contrato de prestação de serviços com cláusula de risco, que atendesse à determinação presidencial no sentido de que fossem preservados os princípios essenciais do monopólio. Essa minuta básica contém princípios que se encontram presentes em todos os contratos de serviços com cláusula de risco, já celebrados, e podem ser resumidos nos seguintes pontos: ''a) propriedade exclusiva da Petrobrás sobre todo óleo e gás encontrado; b) propriedade exclusiva da Petrobrás de todos os bens utilizados, em caráter permanente, na exploração e produção; c) amplo controle e fiscalização, pela Petrobrás, do serviço de exploração, com recebimento de dados geológicos obtidos pela contratante; d) produção, pela Petrobrás, após o início da produção comercial, de qualquer campo eventualmente descoberto pela contratante; e ) ressarcimento das despesas com exploração e desenvolvimento somente após o início da produção comercial, e pleno controle e fiscalização, pela Petrobrás, dessas despesas, as quais só são contabilizadas como crédito da contratante após aprovação das mesmas pela Petrobrás; f) pagamento das despesas de exploração e desenvolvimento da remuneração dos serviços prestados exclusivamente em dinheiro, sendo facultado à contratante adquirir parte do óleo produzido no campo comercial, por ele descoberto e desenvolvido, aos preços de mercado internacional do petróleo, e após o início da produção comercial; g) possibilidade de a Petrobrás suspender, a qualquer tempo, a opção concedida à contratante de adquirir parte do óleo produzido no campo por ele descoberto e desenvolvido, se ocorrer crise no abastecimento nacional, declarada pelo Governo Brasileiro, hipótese em que a contratante continua credora apenas do pagamento em dinheiro contratualmente estipulado; h) renúncia expressa, pela contratante, de reclamar ou reivindicar quaisquer direitos sobre outros minerais por ela eventualmente descobertos no curso de seus trabalhos; i) obrigatoriedade de a contratante dar preferência à mão-de-obra e aos equipamentos nacionais; j) lei, foro e arbitramento exclusivamente brasileiros, para dirimir eventuais litígios decorrentes do contrato, renunciando, expressamente, a contratante, a recursos a entidades internacionais e instâncias diplomáticas." Esses, os princípios básicos existentes nos contratos de prestação de serviços com cláusula de risco, através dos quais a Petrobrás deu atendimento à determinação presidencial. NATUREZA JURÍDICA DOS CONTRATOS DE RISCO Nos contratos de prestação de serviço com cláusula de risco, encontram-se geralmente elementos de contratos nominados, combinados com variações novas que a dinâmica da vida econômica faz surgir. Assim é que se pode definir a natureza jurídica do contrato de serviço com cláusula de risco, um contrato nominado misto, com as seguintes características: a) Na fase de exploração, apresenta características de um contrato de empreitada com cláusula de risco e de preço; b) Na fase de desenvolvimento, pode ser entendido como contrato mútuo, no qual a contratante se obriga a adiantar despesas de desenvolvimento do campo descoberto, para ser ressarcida após o início da produção comercial; c) Na fase de produção, evidencia-se uma promessa de pagamento em dinheiro, com opção de compra, pela contratante, de uma parcela do óleo produzido, opção essa que pode ser total ou parcialmente suspensa, em caso de crise no abastecimento nacional de petróleo, declarada pelo Governo brasileiro. 76 Aspectos técnicos dos contratos de risco: Do ponto de vista técnico, entende a Petrobrás que os contratos de risco são uma ferramenta auxiliar para o implemento das atividades exploratórias do País. Trata-se de contratos de prestação de serviços exploratórios, com cláusula de risco – vale dizer, a Petrobrás receberá todo o serviço executado, quer de levantamento de dados geofísicos, quer de perfuração exploratória, mas só pagará por eles no caso em que ocorram descobertas de petróleo e sejam consideradas comerciais, nos termos do contrato. Como se sabe temos, no País, cerca de 4 milhões de quilômetros quadrados de área sedimentar, com maior ou menor possibilidade de ocorrência de petróleo. É uma área imensa e, embora feitos os investimentos de exploração da Petrobrás em nível adequado nos últimos anos, não se pode prospectar todas as bacias com a mesma prioridade. As áreas mais promissoras, ou seja, aquelas de menor risco geológico são exploradas diretamente pela Petrobrás, são áreas já produtoras ou em fase de pré-descoberta. Presentemente, a superfície dessas áreas representa 40% do total das bacias brasileiras; resta, portanto, grande extensão de bacias, as quais, por não serem prioritárias para a Petrobrás ficariam sem trabalhos exploratórios. Essas são as áreas normalmente reservadas para os contratos de risco. As bacias disponíveis para contrato de risco são divididas basicamente em dois tipos de blocos: os de terra, com cerca de dez mil quilômetros quadrados e os da plataforma marítima, com cerca de dois mil e quinhentos quilômetros quadrados. Esses blocos podem ser agrupados na dependência das obrigações contratuais acordadas. O contrato prevê um período exploratório, quando deverão ser cumpridas as obrigações mínimas requeridas. Em caso de descoberta, o contrato prevê atividades de avaliação do campo, constante dos trabalhos geofísicos e de novas perfurações, objetivando o conhecimento das jazidas. Caso, ao término da fase da avaliação, essas jazidas venham a se revelar comerciais contratualmente, o contrato estipula que sejam realizados os serviços de desenvolvimento do campo. Esses trabalhos permitirão o escoamento para a superfície de todo o volume recuperável da jazida descoberta. As operações de escoamento, operações de produção, são vetadas às contratantes, que deverão passar à Petrobrás, após o desenvolvimento, todas as instalações implantadas. O contrato terminará, para a contratante, em qualquer outro caso que não resulte em nenhuma descoberta comercial contratualmente, não cabendo nenhum pagamento pelo serviço prestado. Até o presente, foram assinados 243 contratos, dos quais 187 terminaram sem descoberta comercial, estando em vigor 56 contratos, envolvendo 10% da área sedimentar brasileira, o que vale dizer que estão sem exploração, na atualidade, cerca de 50% das bacias. Dos pontos mais importantes do contrato, cabe mencionar que a definição da comercialidade de uma descoberta está intimamente ligada à assertiva de que todos os pagamentos devidos devem provir exclusivamente dos recursos gerados pelo campo; assim é que a receita bruta, resultante 77 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) do produto do volume recuperável, com o preço do mercado internacional, deverá cobrir todos os encargos do campo, seja de operação, produção, reembolso à contratante dos investimentos de exploração, avaliação do reembolso dos investimentos do desenvolvimento, com juros e remuneração pelos serviços prestados. Em caso de comercialidade comprovada, a contratante, após a fase de desenvolvimento, passa ao período de produção, onde a receita bruta é avaliada a cada trimestre, quando são efetuados os pagamentos devidos. Os encargos de produção compreendem as despesas diretas efetuadas pela Petrobrás para o escoamento do petróleo, incluindo-se o Imposto sobre a Lavra, royalties, e o overhead da empresa; são os pagamentos de prioridade, para dedução da receita bruta. Os reembolsos de exploração e avaliação são referentes aos custos de operações de levantamentos geofísicos e de perfuração efetuada nas áreas de serviço da descoberta. São pagos em vinte prestações trimestrais, sem juros. Os reembolsos de desenvolvimento referem-se aos custos das perfurações de desenvolvimento do campo, além de todas as facilidades de tratamento, produção e medição do óleo, incluindo tanques, dutos e outros. Esses são pagos em vinte prestações trimestrais, com incidência de juros equivalentes a prime-rate, com um spread de 1%. A remuneração da contratante pelos serviços executados é fruto de negociação quando da assinatura do contrato, e decorre do maior ou menor risco geológico envolvido na área de serviços. E expressa em percentual sobre a renda trimestral. Deve-se salientar que a contratante paga imposto de remessa de 25% sobre a remuneração e os juros recebidos. De modo a caracterizar a distribuição da Receita bruta, a Petrobrás efetuou vários exercícios econômico-financeiros para campos com reservas variáveis, sempre tomando por base os custos típicos de bacias em exploração no País. Esses exercícios estão descritos com mais detalhes, Sr. Presidente, nas publicações que deixamos à consideração desta Subcomissão. O que se pode dizer, em resumo, é que, para o caso menos favorável, hipótese em que o campo descoberto ofereça reservas recuperáveis de petróleo, nos limites mínimos da declaração de comercialidade viável, e, comparando-a com simples compra e importação direta de petróleo, a economia seria: redução de 33% no dispêndio de dólares, correspondente à geração de 13% da Receita bruta em impostos sobre as remessas que irão para os cofres públicos; 22% pagos em cruzados, destinados aos pagamentos de salários, royalties e overhead diferentes das atividades de produção. Os investimentos nominais efetuados pelas companhias de risco, até 31 de dezembro de 1986, elevaram-se a US $ 1,661 milhão de dólares; em valores atuais esses valores montam a US $ 2,760 milhões de dólares. Efetuar exploração de petróleo, em outras palavras, é coletar e interpretar dados. O volume de dados obtidos é expressivo e foi incorporado ao acervo da Petrobrás a custo zero, até o presente momento. Outra opção para diminuir os custos de importação do óleo consumido no País, a fim de complementar a produção nacional, consistiria na prospecção em áreas no exterior, em bacias que apresentam menor risco geológico do que as nossas. O exercício dessas atividades, atualmente a cargo da Braspetro, exige, no mais das vezes, a reciprocidade de oportunidades para os países exercerem atividades exploratórias no Brasil, além do natural risco político. Como conclusão, diríamos que a decisão presidencial de 1975, que determinou a celebração, pela Petrobrás, de contratos de serviços com cláusula de risco, mantido o princípio essencial do monopólio, partiu do Governo Federal, que incumbiu a Petrobrás de executar a sua resolução. Dando execução àquela decisão governamental, a Petrobrás, com o concurso de seus técnicos das diversas áreas de especialização, elaborou a minuta básica de contrato de serviços com cláusula de risco, na qual procurou resguardar os interesses nacionais e o monopólio da União. Os contratos de risco celebrados pela Petrobrás foram todos homologados pelo Conselho Nacional do Petróleo, órgão da Administração Federal que detém a competência legal para fiscalizar e orientar a execução do monopólio estatal do petróleo. A Comissão Parlamentar de Inquérito, instituída em 1979, pela Câmara dos Deputados, para examinar a legalidade dos contratos de risco celebrados pela Petrobrás não apontou qualquer ilicitude naqueles contratos. A Comissão de Minas e Energia, do Senado Federal, apreciando o Projeto de Lei nº 76/80, do Senador Humberto Lucena, que dispõe sobre a natureza jurídica dos contratos de serviços com cláusula de risco celebrados pela Petrobrás, concluiu no sentido de que: "O monopólio estatal do petróleo é, pois, uma política que atende ao interesse nacional e não existem argumentos consistentes conhecidos, que justifiquem a mudança de rumo nesse setor, ao caminharmos para o quarto decênio da vigência da Lei nº 2.004/53. O tempo e a experiência confirmaram o acerto da opção que fizemos, cabe frisar. A instituição da figura dos chamados contratos de serviços com cláusula de risco para prospecção de petróleo no território nacional não invalidou a continuidade do monopólio estatal de que trata a Lei nº 2.004/53. O Estado, detentor do exercício desse monopólio, não estava e não está impedindo de, conservando-o, delegar poderes a terceiros, a fim de propiciar o aporte de novos capitais e de recursos técnicos, que poderiam ou poderão contribuir para acelerar a nossa escalada como País produtor de petróleo. Passados mais de dez anos da decisão governamental que determinou à Petrobrás a celebração dos contratos de risco, não foi levantada pelo Poder Judiciário qualquer dúvida quanto à sua legalidade, sendo a única ação popular proposta para anular os contratos de risco, julgada improcedente." Finalizando esta nossa exposição, agradecemos a atenção dos Srs. constituintes e permane cemos à disposição das perguntas com que nos honrarem, não somente aqui, mas também posteriormente sempre que julgarem necessário, Permito-me apenas a acentuar que entendo ver o nosso Brasil como pertencente e participante da comunidade internacional, e não nos parece conveniente – se os Srs. me permitirem a observação – nos isolemos, fechando, via nossa Lei Maior, nossas fronteiras à cooperação estrangeira. Hoje, a Petrobrás opera em vários países através de contrato de risco, e os princípios de reciprocidade cada vez mais se acentuam no mercado internacional. A Constituição que hoje se elabora, pretendemos seja perene, e que nela não sejam incluídas provisões que possam limitar gerações inteiras. Para tais limitações, quando aplicáveis, existem as leis com sua dinâmica própria. A decisão de se prosseguir ou não com a celebração de novos contratos de risco, que são, na realidade, contratos de prestação de serviços – acentuamos – é de cunho eminentemente político. E esperamos que a Constituinte decida, em sua soberana competência, sobre a diretriz fundamental a seguir. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. A palavra está facultada aos Srs. constituintes. O SR. CONSTITUINTE HÉLIO DUQUE: – Sr. Presidente, peço a palavra para colocar minhas indagações. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Tem a palavra o nobre Constituinte Hélio Duque. O SR. CONSTITUINTE HÉLIO DUQUE: – Sr. Presidente, gostaria de saber nessa exposição do Coronel Osiris Silva, Presidente da Petrobrás, o fato que, ainda na semana passada encontrava-me em um país africano, a Argélia, se tomava conhecimento da possibilidade de se ampliar a participação brasileira, a partir de sua matriz energética, em relação ao gás natural. Recebi, na oportunidade, de nosso Embaixador em Argel, a informação de que a matriz energética brasilei ra hoje é de apenas 1% na participação do gás natural. Temos alguns exemplos e me atenho aqui a apenas dois deles. Nos Estados Unidos, sabemos que na matriz energética, o gás natural participa com algo em tomo de 25%. Na França, estaria em torno de 27%, e na Holanda, em torno de 49%. Pergunto – por que também sou autor de uma proposta, de uma sugestão à futura Constituição, no Capítulo Da Ordem Econômica – qual a estratégia que, dentro desta política de monopólio estatal, tem a atual direção da Petrobrás em relação à introdução – por uma série de razões que me dispenso de aqui considerar, pela brevidade do tempo – efetiva, ampliando, dentro da matriz energética brasileira, a participação do gás natural, local, e também lá fora? O SR. OZIRES SILVA: – Agradecemos a pergunta do nobre Constituinte Hélio Duque e gostaríamos de dizer que a direção da empresa está comprometida com o aumento da participação do gás natural na matriz energética brasileira. Hoje, estamos produzindo na ordem de 16 milhões de metros cúbicos, por dia, e esse gás natural estamos distribuindo sobretudo no Nordeste, on- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) de temos uma produção, e aqui no CentroSul, na Bacia de Campos. Infelizmente, até o presente momento, a Petrobrás é o maior consumidor de gás natural, consumimos 9 milhões de metros cúbicos, por dia, nas nossas unidades de processamento do gás natural, produzindo o gás liquefeito de petróleo, a gasolina natural, etc. Por outro lado, também queimando o metano em atividades energéticas da própria produção. O gás natural é extremamente importante, talvez possa dizer até um combustível alternativo ao próprio petróleo. A tendência mundial, hoje, é descobrir mais reservas de gás natural do que petróleo propriamente. De modo que temos de fazer investimentos nessa direção. O único problema que enfrentamos, hoje, é a questão de prioridade, recursos, que possamos ter para investir mais, para oferecer ao consumo o gás natural. Temos um compromisso muito sólido em relação ao desenvolvimento de produção e fornecimento de gás natural ao País. Quanto à proposta argelina que V. Ex.ª mencionou, não se tomou viável devido a preço. O preço da Argélia, fazendo um esforço realmente meritório, baixando seus custos para vender-nos a preço baixo, ainda, infelizmente, era muito mais alto do que os preços que estamos autorizados a praticar no País, não se viabilizando a operação, mesmo porque o fornecimento do gás natural, pela Argélia, seria de gás liquefeito e, á l , o gás natural é um produto criogênico, isto é, tem que ser conservado em baixa temperatura e alta pressão. Ele precisa dessas condições para se manter líquido, e nós não temos, no País, ainda nenhum porto construído capaz de gaseificar esse produto. Nessas condições, não se tornou viável, mesmo porque acreditamos que o gás natural vai ter que entrar em nossa matriz progressivamente, ao longo do tempo; não pode ser feito de chofre; não temos ainda consumo; teríamos que ter outra fonte de consumo que pudesse absorver. Temos prioridade neste sentido – é uma prioridade do Governo José Sarney – e estamos trabalhando intensamente no assunto e esperamos que, para o futuro, tenhamos muito mais uso do gás natural. A Argentina, por exemplo, que V. Ex.ª não mencionou, contém 28% de sua matriz energética com o consumo de gás natural. Temos um caminho longo a percorrer, mas altamente promissor, ao qual estamos dedicados. O SR. CONSTITUINTE HÉLIO DUQUE: – Muito obrigado. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Sr. Presidente, peço a palavra para minhas indagações. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Tem a palavra V. Ex.ª. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Sr. Presidente, pelos dados oferecidos nesse trabalho que a Petrobrás distribuiu aos constituintes, podemos ver a situação da produção de álcool – do Proálcool, que hoje, depois de 10 anos é detentor da produção de 180 mil barris, por dia, de 14% da demanda de combustíveis, superior, em consumo, à própria gasolina, oferecendo cerca de 400 mil empregos diretos na ndústria i de álcool. Mantida essa proporção de venda de veículos a álcool, o consumo de gasolina tende a decrescer e o álcool a crescer, a tomar-se quase o único, substituindo a gasolina. Pergunto a V. Ex.ª qual a perspectiva do Proálcool, com o aumento da produção de álcool, uma vez que o craqueamento já está otimizado em termos de extração da gasolina, no País? Qual a perspectiva, hoje, do crescimento expressivo na questão do álcool do País? O SR. OZIRES SILVA: – Além dos inegáveis benefícios que o álcool trouxe ao País, oferecendo alternativa, pois sabemos que o petróleo é um produto exaurível e qualquer alternativa que se coloque tem o seu valor, por outro lado, tem utilização muito importante para a Petrobrás ou para o País, melhor dizendo. O Programa do Álcool libera quantidades expressivas de gasolina, que são adicionadas ao diesel, constituindo uma fração mais leve do produto, compensada com óleo combustível, que é fração mais pesada e, com isso podemos, artificialmente, além do que a torre de destilação do petróleo permite, produzir mais diesel, que é um produto altamente crítico na matriz energética brasileira. Por exemplo, para 180 mil barris de álcool consumidos no País e 130 mil barris de gasolina, estaremos consumindo 420 mil barris diários de diesel, ou seja, a cada litro de gasolina, correspondem três litros de diesel. Então, fomos forçados a aumentar a produção do diesel e o álcool nos ajudou bastante, acentuadamente, nesta direção. É um lado pouco conhecido da opinião pública, de modo geral, a utilidade do Programa do Álcool. O Programa do Álcool, hoje, é fundamental para a produção do óleo diesel do País, mas, como na torre de destilação, por motivos de ordem natural, não podemos tirar mais diesel do que um certo percentual, dependendo da qualidade do petróleo. Independente disso, somos importadores de diesel. Portanto, se o Programa do Álcool for descontinuado de alguma maneira, vamos aumentar as nossas importações de diesel, o que não é negócio. Mas também, nos causa preocupação o crescimento expressivo da demanda de álcool. Imaginamos que medidas corretivas do Programa devem ser indicadas em duas direções para tornar mais racional o número de veículos a diesel e a gasolina, mantendo um esquema que esteja mais ligado à natureza dos produtos e, por outro lado, possamos ter o álcool em produção no País, sem subsídios. Enfim, que o Programa seja economicamente auto-sustentável. O grande inimigo que o álcool tem, hoje, são justamente os subsídios, porque, com a demanda de álcool crescendo, os subsídios vão crescendo de forma proporcional e V. Ex.ª pode imaginar o que significa isso, em termos de pressão, indiretamente, no bolso do contribuinte, ou diretamente, no bolso do Tesouro Nacional. De modo que, o maior inimigo que o Programa do Álcool enfrenta, hoje, no País, é exatamente osubsidio. Resolvendo o problema do subsídio, ele será um produto útil, como disse anteriormente, não só para substituir o petróleo, pois são 180 mil barris diários que deixamos de importar, a 20 dólares o preço do barril de petróleo lá fora. Imaginem a economia, em dólares, que esse álcool nos está dando, hoje, na atual condição da nossa dívida externa e, por outro lado, nos ajuda a transportar carga no Brasil, porque toda a carga brasileira, devido à nossa 78 estrutura de transporte, nosso modal de transporte, vai na carroceria dos caminhões. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Renato Johnsson. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – A imprensa tem anunciado as dificuldades da Petrobrás em adquirir esse álcool no mês de março. A minha pergunta é ainda a seguinte: por que o Governo Federal garante o mesmo valor, em cruzados, de lucro para o álcool e gasolina às empresas nacionais e estrangeiras, se as distribuidoras estrangeiras não tiverem investimentos adicionais? No que diz respeito aos contratos de risco, acho que eles só valorizam a Petrobrás. A descoberta de Urutum valorizou os profissionais da Petrobrás que, numa área nova, descobriram uma reserva sensível de petróleo, assim como a Braspetro, no Iraque, com o poço de Imaginon, um dos mais promissores do Mundo também, creioieo que valorizou e dá a reciprocidade esperada. O SR. OZIRES SILVA: – Com relação à primeira parte da pergunta do nobre Constituinte, diria que o Governo permite às Empresas, quando distribuem álcool, se recuperarem dos custos de distribuição. O programa do Álcool foi acometido à Petrobrás devido à facilidade que a Companhia teria em fazer o transporte e a distribuição, a nível nacional, utilizando, inclusive, seus oleodutos para transporte do álcool. Por isso é que a Petrobrás entrou nesse Programa. Mas, na realidade, ele estaria aberto à participação externa dentro de uma opção que pode ser perfeitamente adotada pelo Governo brasileiro. O Programa do Álcool, hoje, literalmente, de acordo com o Decreto nº 81.626, não deve gerar lucro nem prejuízo para a Petrobrás. Portanto, a Petrobrás só tem direito a 2% de remuneração sobre seu volume de operação, para cobrir os custos de tancagem e tudo mais. De modo que, nessas circunstâncias, o Programa do Álcool entra na Petrobrás como um programa coadjuvante da produção nacional e, também, porque o álcool anidro, em particular, – não é hidratado – como sabem, é misturado à gasolina por uma facilidade de processamento; então, é preciso que esse álcool entre na Petrobrás, para se juntar à gasolina. Quanto à sua segunda observação, a respeito dos contratos de risco, agradeço profundamente o reconhecimento de V. Ex.ª de que tais contratos valorizam os técnicos da Petrobrás. Concordo integralmente com isso, porquanto vieram demonstrar que a geologia brasileira é realmente complexa e que não estavam faltando talentos nas companhias brasileiras; o que está faltando, na realidade, no Brasil, hoje, é perfurar. Temos um total de 4 mil e 700 poços e como possuímos cerca de 4 milhões de Km² de bacia sedimentar, com 4 mil e 700 poços em operação, produzindo 600 mil barris de petróleo por dia, é realmente uma demonstração de eficiência a toda prova, em função do talento e da capacidade brasileira, quando colocamos aqui que não deveria constar na Constituição o contrato de risco, não nos estamos manifestando sobre a continuidade ou não do contrato de risco, que deixamos à soberana decisão da Constituinte,mas achamos que deve- 79 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) mos deixar o princípio para ser tratado a nível legal e não a nível constitucional, pois, a nível constitucional, seria um bloqueio. E, como disse anteriormente, gostaríamos que a Constituição fosse perene, sem impedir que, a qualquer momento, a sociedade brasileira possa ter a opção de partir em tal direção para perfurar mais. Nos Estados Unidos, quando bateram o recorde de produção mundial de petróleo, perfuravam 18 mil poços, por ano, e nós temos, cumulativamente, apenas 4 mil e setecentos poços o que é muito pouco para nossa reserva. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gabriel Guerreiro que, infelizmente, será o último a falar, porque já ultrapassamos o prazo fixado para cada uma das argüições. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, já me havia inscrito, levantei o braço várias vezes. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Desculpe-me, pois não havia percebido a inscrição de nenhum dos dois. Concedo, então, a palavra ao Constituinte Gabriel Guerreiro e, em seguida, ao Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Ozires Silva, inicialmente, quero congratular-me com V. Sª por ter trazido contribuição muito importante para os nossos estudos, mas gostaria de saber o seguinte: depois da autorização dos contratos de serviços com cláusulas de risco, qual o volume de recursos investidos pelas empresas que obtiveram esses contratos e qual o volume de recursos investidos pela Petrobrás no mesmo período, na pesquisa de petróleo no Brasil? A segunda pergunta é: Quais os resultados obtidos pela Petrobrás nos contratos de risco que celebrou com outros países? Gostaria apenas do colocar uma observação com relação ao que declarou o nobre Constituinte Renato Johnsson, que é interessante a comparação dos trabalhos da Petrobrás, com os trabalhos executados por companhias que fizeram contratos. Acho extremamente interessante, embora não ache absolutamente necessário, porque sabemos que podemos fazer esta comparação a nível mundial e a Petrobrás é uma companhia perfeitamente enquadrada nos padrões internacionais há muito tempo. E sabemos que as pesquisas realizadas pela Petrobrás, se sofreram algum problema sério, foi por orientação política da empresa, ao longo de determinados períodos na história brasileira, que desviaram o rumo da Petrobrás como companhia de prospecção do petróleo, inclusive desativando equipes e poderíamos ir mais longe nisso. Mas, acho que a competência, a performance da Petrobrás é altamente comprovada neste País. E me permitiria a observação de que nos parece que a Empresa tem tido resultados muito superiores, com os seus investimentos, na questão da pesquisa do petróleo, o que demonstra que, neste momento histórico que vivemos, quando se investe em pesquisa – e dirá que isso é válido também para os outros segmentos do setor mineral – tem sido por demais demonstrado que a competência nacional é suficientemente capaz, tanto de buscar fora do País quanto de gerar aqui dentro, conhecimentos capazes de permitir o sucesso absoluto do nosso empreendimento. Portanto, não vejo como os contratos de risco serem benéficos, a não ser abrindo um espaço do nosso Subsolo, das nossas bacias sedimentares, para pesquisa de companhias internacionais, que obtêm apesar de dar à Petrobrás, dados preciosíssimos que servem para análises próprias e de setores internacionais a respeito dos nossos subsolos. O SR. OZIRES SILVA: – Agradeço as observações de V. Ex.ª em nome da Petrobrás, porque as suas palavras são muito significativas e, sinceramente nos sensibiliza bastante. Com relação aos volumes investidos, a Petrobrás investiu muito mais acentuadamente do que as companhias que fizeram o contrato de risco. Como dissemos no teor da nossa exposição, os investimentos, até 31 de dezembro de 1986, ascenderam a 1 bilhão e 600 milhões de dólares. Os investimentos da Petrobrás foram crescendo a partir do última crise do petróleo, se colocarmos que os contratos de risco só começaram em torno de 1978 e 1979. Vamos pegar o investimento da Petrobrás a partir de 1979, quando, graças inclusive ao apoio particular – e aqui expresso isso com grande satisfação – do então Ministro Delfim Netto, que compreendia perfeitamente o papel que a Petrobrás exercia no País, em termos de evitar a drenagem do que chamo de veia jugular do nosso desenvolvimento – que são as nossas compras de petróleo – e durante toda a sua gestão no Governo Federal nos ajudou extraordinariamente, e nós atingimos, em 1982, um pico de investimentos de 3 bilhões e 800 milhões de dólares, vindo de 1981, com algo em torno de 2 bilhões e 200 milhões de dólares, caindo posteriormente, em 1983 e 1984, mas mantendo-se 2 bilhões de dólares até 1986, inclusive. De modo que os investimentos da Petrobrás já foram muito mais significativos do que as empresas internacionais, mesmo porque o número de empresas interessadas não foi grande a ponto de se equivaler aos investimentos. Mostrando que essa política deu resultado, a Petrobrás saltou de uma produção de 170 mil barris de petróleo, em 1979, para 600 mil barris de petróleo, ou melhor, 598 mil, mais precisamente, em 1986, demonstrando a sensibilidade dessa indústria em relação aos investimentos. Então, nesta altura, para responder mais rapidamente à sua primeira observação, os investimentos da Petrobrás foram significativamente maiores. Portanto, tivemos resultados significativamente melhores. Como os resultados obtidos pela Petrobrás no exterior, também foram muito bons, é público e notório a nossa descoberta em Imaginum , como disse o Constituinte Renato Johnsson, no Iraque. Uma reserva gigante de mais de 2 bilhões de barris, que, inclusive, acabou sendo nacionalizada pelo Governo iraquiano, porque era grande demais. Nós tivemos descobertas na região de Angola, tivemos prospecções em outras áreas, com descobertas menos expressivas. Mas, de qualquer forma, na semana passada, em particular, nós assinamos um contrato com o Equador em associação com a PFA – Yacimientos Petrolíferos Fiscales, da Argentina, e com a ELFH, para contrato de risco no Equador. Estamos nego- ciando com a Colômbia e estamos também no lêmen do Sul, onde infelizmente, não tivemos resultados até o presente. Mas isso corrobora o que V. Ex.ª mencionou anteriormente, sobre a competência da própria Petrobrás em descobrir quantidades de petróleo expressivas, não só no País como no exterior. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra à ilustre Constituinte Raquel Cândido. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Se não estiver cometendo nenhum equívoco, ouvi atentamente a sua explanação, entendendo que os contratos de risco efetuados com capital estrangeiro, dentro do nosso País, ficaram numa fatia onde o investimento foi muito pequeno e o achado também – isso até me alegra. E ficou patenteada, por todos os presentes aqui, a competência e por que não dizer a dignidade e o afinco com que os técnicos da Petrobrás têm lutado e achado aquilo que procuram. Ficou também muito mais clara a sua colocação com relação aos investimentos – investiu, furou, achou. Não consegui entender, no final da sua propositura, o pedido de que os Constituintes não fechem essa abertura para que se coloquem novas negociações em contratos de risco, que podem ser pagos em espécie e com um pouco da produção ali adquirida. Quero contrapor-me com relação ao pagamento da matéria-prima existente. Acho que o contrato deve estipular o pagamento em espécie, por tempo determinado, porque passamos a correr um risco nesses contratos. Até agora, o País não sabe o que os estrangeiros aqui acharam. Fiquei contente – volto a frisar – porque foi clara a sua colocação ao dizer a busca, em determinadas Bacias, parece que foi direcionada; o País já sabia onde deveria perfurar e terminou essas áreas exatamente para o que são os maiores detentores de capital. Até agora, não sabemos o que foi achado, através dos contratos de risco, aqui no Brasil, em que pese a nossa competência em outros Países. Acho que esse intercâmbio não pode ser apenas para o lado de cá; tem que ser para o lado de lá também. Coloco-me de maneira preocupada, Sr. Presidente, quando V. Ex.ª reluta em pedir que deixemos esse capital internacional dentro de um monopólio, que todos queremos. É o caso do petróleo já existente, que nós queremos com afinco, e muito mais; queremos ter domínio sobre isso. E preocupame sobremaneira esse pagamento não em espécie. Vamos supor que eles consigam descobrir uma jazida petrolífera incalculável numa dessas Bacias direcionadas para o capital de risco, onde a espécie ficaria insignificativa pela produção que pode ser achada. Como é que ficaríamos diante disso? O SR. OZIRES SILVA: – A Srª Constituinte deve se lembrar da minha palestra quando mencionei que o pagamento é fixado em tempo determinado, absolutamente determinado, quer dizer, não existe nenhuma indeterminação nessa área – isso consta da minha palestra, de que temos cópia aqui e colocamos à disposição de V. Ex.ª de modo que não há nenhum problema com relação a isso. E na hipótese de descobrir uma reserva gigante, a remuneração é proporcional DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) ao investimento que fizeram, portanto, não há nenhum problema. A nossa colocação em relação ao contrato de risco, de não constar na Constituição, é que achamos que o assunto deva ser objeto de uma lei ordinária e não da Constituição; porque, se num determinado momento, a sociedade brasileira desejar modificar essa colocação, poderá fazê-lo sem tocar na Carta Magna. Por outro lado, V. Ex.ª mesmo colocou que é uma questão dependente do número de furos e de investimentos a fazer. De modo que o contrato de risco, numa determinada condição, poderá ajudar-nos a chegar mais rapidamente à auto-suficiência, mas é uma opção que deve ser deixada a juízo da sociedade, e não ser colocada em termos de proibição, mesmo porque essa proibição irá soar, a nível estrangeiro, como uma ausência de reciprocidade dos esforços que estamos fazendo com êxito, no exterior. SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Mas me preocupa o monopólio. Como ficaria? Só uma lei ordinária? Gostaria V. Sª que isso fosse caracterizado em lei ordinária? O SR. OZIRES SILVA: – Mas não afetará o monopólio, porquanto nós também trabalhamos, hoje, com empresas contratadas em diversos segmentos de produção que não afetam o monopólio. Hoje, temos empresas brasileiras e estrangeiras contratadas sob o inteiro controle da Petrobrás, que não afeta, absolutamente, o monopólio. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – E essa colocação feita pelo Constituinte Gabriel Guerreiro com relação à imagem desses países? Porque pelo acompanhamento que estamos tendo, os contratos de risco, no Brasil, na área petrolífera, não deram certo; a Petrobrás é que está resolvendo o problema, eles vão ficando com um retrato, uma radiografia do nosso País que nos preocupa sobremaneira, a nível de soberania nacional. Não sei se estou tendo aquilo que está se dizendo por aí – xenofobia nacional – , mas me preocupa sobremaneira isso, principalmente na nossa região Amazônica, de onde sou oriunda; é muito fácil as pessoas chegarem ali, entrarem. E isso não é só com o contrato de risco, mas de forma global, geral. O SR. OZIRES SILVA: – V. Ex.ª tem razão nessa preocupação, mas eu queria assegurar-lhe, novamente, como acentuei várias vezes no meu pronunciamento, que esses contratos são realizados sob absoluto controle da Petrobrás e, por outro lado, nenhuma dessas companhias se estabelece no Brasil sem autorização brasileira. Se, porventura elas recolhem dados brasileiros e os levam para o exterior, não poderão usá-los, porque somos um País soberano, a não ser que haja uma invasão do País. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Não precisa ter invasão não, Sr. Presidente, em cada empréstimo que fazemos, sabemos que as nossas reservas minerais irão embora. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Peço licença a V. Ex.ª agora, para passar a palavra ao ilustre Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Pr esidente da Petrobrás, quero cumprimentá-lo pela sua exposição e, sobretudo, pela comple- mentação, quando V. Sª comparou o desempenho das empresas contratantes de risco com a Petrobrás. Apenas acho que poderia alongar essa comparação, explicitando os efeitos positivos, os avanços conseguidos pólos investimentos da Petrobrás na exploração, em benefício da indústria nacional de bens de capital, de componentes de criação de um mercado de trabalho para brasileiros, coisa que não se observa nas empresas contratantes estrangeiras, na medida em que importam as suas equipes e os seus equipamentos. Esse, o primeiro apelo faço a V. Sª. Segundo: gostaria de ouvir de V. Sª uma confirmação, pois segundo estou informado, só a PECTEN logrou êxito, descobrindo uma reserva de 8,5 bilhões de m3 de gás, na bacia de Santos, de comercialidade discutível, pergunto: esses contratos são de prestação de serviços, por que violar o monopólio estatal do petróleo, se tais serviços poderiam ser remunerados, como qualquer outra empresa prestadora de serviços, pela cobertura das suas despesas e de uma remuneração adequada ao contratante? Faço a pergunta porque sou autor de uma sugestão de norma constitucional, estendendo o monopólio não só à pesquisa, à lavra, à refinação e ao processamento, como também à importação e à exportação, que não vejo constar da proposta da Petrobrás, vedando à União a cessão ou concessão de qualquer tipo de participação, em espécie ou em valor, no desenvolvimento das atividades a que me referi. O SR. OZIRES SILVA: – Com relação à geração de benefício para a economia como um todo, a Petrobrás tem exercido papel fundamental. Recentemente, o Presidente da Associação Brasileira de Indústria de Base, em São Paulo, declarou que a indústria de base nasceu em conseqüência do esforço da Petrobrás. No ano passado, por exemplo, de 1,5 bilhão de dólares, equivalentes em cruzados comprados pela Petrobrás, 92% foram comprados no mercado nacional, dando, portanto, a enorme participação à indústria nacional. Essa mesma colocação implica nos contratos de risco, e estes por outro lado, têm trazido um acervo tecnológico expressivo para a companhia, em termos de conhecimento de dados, novas técnicas de sísmica, de exploração. Por exemplo, agora, nesse poço da PECTEN, que estamos estudando, as plataformas por ela apresentadas são da ordem de 7% mais leves do que as plataformas da Petrobrás. Isso representa diferença em custo, quer dizer, esse contato com o exterior tem sido útil nesses aspectos. Mas, de qualquer maneira, o contrato de risco obriga que a preferência seja dada a equipamentos e mão-de-obra nacionais – equipamentos sob o controle da Cacex e mãode-obra sob o controle da própria Petrobrás. De modo que, nesse aspecto, V. Ex.ª menciona a descoberta da PECTEN, em Santos. Realmente, a descoberta está na marginalidade inferior da comercialidade – 8 bilhões de m3 de gás. Mas a Companhia se dispôs a fazer o investimento e, de acordo com o contrato, faz o investimento em produção; quando tudo estiver pronto, passa para a Petrobrás e esta é que faz a exploração, sem violação do monopólio. Entendemos que o contrato de risco não viola o monopólio. Queria pedir licença, um minuto, ao Sr. Presidente para solicitar ao nosso especialista da área 80 de contrato de risco, o Dr. Luís Reis, aqui presente, para se puder dar um esclarecimento sobre esses benefícios que por ventura eu não tenha explicado suficientemente. O Sr. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Pois não. Concedo a palavra ao Dr: Luís Reis. O SR. LUÍS REIS: – É um prazer dirigir-me aos Srs. Constituintes. E gostaria de mencionar, antes de responder à pergunta do Presidente, que para a comparação da exploração é muito importante que seus resultados sejam alinhados com os investimentos, ou seja, os investimentos da PETROBRÁS estão sendo beneficiados com as descobertas efetuadas. Os contratos de risco foram feitos em áreas que já tinham sido trabalhadas pela PETROBRÁS. Então, para uma comparação, é muito importante saber quanto a PETROBRÁS investiu nessas áreas, antes dos contratos. Por exemplo, em termos de sísmica, as contratantes levantaram duas vezes mais do que a PETROBRÁS; e, em termos de poços, os contrantes já perfuraram exatamente a mesma coisa com 50% a mais da metragem perfurada. Isso dá uma idéia! Então, as áreas que foram oferecidas ao contrato de risco são, realmente, de baixa prioridade. O benefício maior que a PETROBRÁS tem nos contratos de risco é justamente a coleta de dados; os dados sempre vêm para nós. Existe um limite para a companhia utilizá-los que é justamente o período contratual. Depois desse período, ela não pode fazer nada com os dados, a não ser que volte à área, porque não pode perfurar. Então, todos os dados são para a PETROBRÁS e permitem uma diferenciação de análise técnica. Os geólogos dessas Companhias estrangeiras que operam no Brasil não tinham, necessariamente, as mesmas idéias que os mesmos geólogos, que haviam ido lá e perfurado. Nós perfuramos, antes dos contratos, 185 poços e todos foram secos, os resultados foram negativos. Por essa razão é que elas foram colocadas como áreas de prioridade baixa. As Companhias contratadas sabiam disso e foram fazer prospecção em áreas de risco elevado, tentando outros modelos. Esses modelos vieram a demonstrar que não modificaram a prioridade das áreas, que é, realmente, muito baixa. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado! Gostaríamos de agradecer ao Coronel Ozires Silva, a brilhante exposição que nos fez. Ficamos muito felizes em tê-lo aqui. Muito obrigado a V. Sª. Convidamos o ilustre Prof. Barbosa Lima Sobrinho a fazer a sua exposição. Comunico-lhe que dispõe de 15 minutos. O SR. BARBOSA LIMA SOBRINHO: – Sr. Presidente, quero, inicialmente, agradecer o convite que me foi formulado, para falar em nome dos funcionários da PETROBRÁS, seu corpo técnico, aqui representado. Devo dizer que se tivesse sido consultado a respeito da pessoa mais indicada para vir aqui fazer uma exposição, em tomo deste assunto, eu indicaria Euzébio Rocha que, desde o projeto que apresentou, estabelecendo o monopólio da PETROBRÁS, em 1953, é a autoridade máxima do País em todos os assuntos que digam respeito 81 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) ao petróleo; ou então o Sr. Antônio Maciel Neto, Presidente dos Órgãos Técnicos da PETROBRÁS, que está em contato com as pessoas que, mais de perto, lidam com a tecnologia, dentro do corpo da PETROBRÁS. Mas quase que me congratulo com o Presidente da PETROBRÁS, quando fala das necessidades de uma lei para o contrato de risco. Porque, na verdade, não há lei nenhuma estabelecendo o contrato de risco. Tive oportunidade de procurar decretos, decretos-leis, em todo o corpo da legislação brasileira, e não encontrei nada; quer dizer, os contratos de risco vêm funcionando até hoje clandestinamente no País, por uma decisão administrativa que não se baseia em coisa alguma. Por que o Presidente Geisel, no momento em que criou o contrato de risco, não estabeleceu, no decreto, os limites desse contrato? É porque o Presidente Geisel, como qualquer outra pessoa, teria dúvidas quanto à legalidade do contrato de risco, num regime que estabelece o monopólio da lavra e da pesquisa do petróleo. Esse é um ponto a que eu gostaria de aludir aqui. No sentido de monopólio, que é preceito básico, nessa questão de que se deve tratar desde agora, é uma administração exclusiva. Nos dicionários em que tive oportunidade de pesquisar foram muitos, a palavra vem do grego – monos e quer dizer exclusivo, único. Não tem outra acepção em grego segundo todos os dicionários que tive oportunidade de compulsar; pólio – pronúncia portuguesa, significa vender. De modo que, monopólio quer dizer – único vendedor. Tanto quer dizer "único vendedor" que, quando se procura estabelecer qualquer regime diferente, chega-se então a duopólio. Duopólio é a exploração por duas pessoas diferentes. Mas, monopólio é exclusividade, e não há quem possa regrar a exclusividade do monopólio, quando temos que verificar que o absurdo seja tão grande, como transformar um monólogo num diálogo. E a formação das palavras é a mesma; monólogo é uma pessoa só falando e diálogo são duas pessoas que interferem no debate. De modo que, quando saímos dessa noção dos próprios vocabulários não podemos compreender que haja uma lei regulando contrato de risco numa Constituição que estabelece monopólio, monopólio da pesquisa, monopólio da lavra. Seria uma incongruência de tal ordem e uma revolta tão grande contra a própria semântica que, naturalmente, não faltaria quem discordasse dessa noção de legalizar o contrato de risco num regime de monopólio. Mas, como se pôs dúvida também à questão de contrato de risco, eu só estranho que essa questão tenha sido entregue a mim, não deveria, nem ao Presidente da PETROBRÁS, mas sim, aos técnicos da PETROBRÁS porque eles, pelo grande valor que têm demonstrado, pela maneira com que têm desenvolvido os programas da PETROBRÁS, constituíram-se realmente, quase que num milagre nas explorações brasileiras – a eles é que deveria caber a decisão desses problemas e não aos diretores eventuais, que não estão propriamente dentro desse problema e não pedem ter o mesmo conhecimento dos técnicos que desde 1953, lidam com os problemas tecnológicos da exploração do petróleo. Como se falou, aqui, nos resultados que os contratos de risco têm tido para o Brasil, lerei uma demonstração organizada por esses técnicos da Petrobrás: "Investimento global – empresas particulares de contratos de risco: 1 bilhão 600 milhões". Mas 1 bilhão que se explica da seguinte maneira: 500 milhões para a aventura da Paulipetro. A Paulipetro consumiu 500 milhões desses 1 bilhão e 600 milhões; 750 milhões foram gastos com material comprado no estrangeiro – mais no interesse das companhias do que no interesse do próprio Brasil. De modo que, deduzindo essas duas parcelas, encontramos um investimento total, em dez anos, de 350 milhões de dólares, num período em que a Petrobrás investiu 19 bilhões e 58 milhões. Basta confrontar os dois dados – 19 bilhões, de um lado, e 350 milhões, de outro – para se ver que, em dez anos, essas companhias não tiveram, no Brasil, uma atitude que pudesse, de longe, deixar em segundo plano a atividade extraordinária e meritória da empresa Petrobrás. Investimento. Metros perfurados da exploração: 400 mil metros nas perfurações das companhias estrangeiras, a 4 bilhões e 889 milhões na Petrobrás. Metros perfurados: 400 mil de um lado; do outro lado da Petrobrás 11 bilhões de metros perfurados. Poços exploratórios: 161 dessas companhias e 1 mil 846 da Petrobrás. Poços para desenvolvimento da produção: nenhum nas companhias com contrato de risco; 5.673, da Petrobrás. Poços, número total: 661, dos contratos de risco; 7509 da Petrobrás. Descoberta de gás: 8.695260 m3 da Petrobrás. Posição de petróleo: em milhões de barris, nada deles; e 183 milhões da Petrobrás. De modo que todos os dados mostram, realmente, como a ação da Petrobrás tem sido muito mais eficaz, muito mais lucrativa do que a ação das companhias chamadas de risco. Em dez anos de exploração, não fizeram, para o Brasil, nada, praticamente, de útil. Perguntaria: Não seria uma censura, na Petrobrás, estabelecer contratos de risco neste momento? Quando seus técnicos temem, inclusive, que com as áreas reservadas para a exploração das companhias de risco possa haver uma interrupção na própria atividade da Petrobrás? Porque nesse poço que se descobriu, há pouco, no Amazonas, que tem reservas formidáveis, o que se verifica é que há em torno, concessão de uma área equivalente ao território do Estado de Pernambuco, num contrato de risco e área em que a Petrobrás fica impedida de comparecer, para ver se aumenta propriamente a capacidade desse poço que já descobriram. É uma limitação e uma censura à ação da Petrobrás. Não posso compreender que se estabeleça, através de medidas dessa ordem, censura pública a uma entidade que tanto tem feito ao Brasil e tantos louvores merece de todos nós, brasileiros, sem falar na questão da contradição inicial. Por que se estabelecer monopólio, de um lado, e uma lei estabelecer contrato de risco? É uma inconseqüência dentro do vocabulário. O monopólio é exclusividade, uma exclusividade tão grande que eu poderia citar aqui – tive oportunidade de ler algumas páginas de Gastão Gesi, na sua "Ciência de Finanças", em que trata de teoria de monopólios do Estado e de monopólios fiscais, mostrando como são estritos esses monopólios fiscais. No Brasil, por exemplo, temos o monopólio da emissão do papel-moeda. Pergunto: Quem poderia no contrato de risco, produzir papel-moeda? Quem tivesse a validade de fazê-lo, estaria incurso no Código Penal. Porque o Código Penal prevê exatamente essa hipótese, castigando, de maneira rigorosa, o infrator, porque é um falsificador da moeda brasileira. E monopólio do Estado não pode ser distribuído, invadido, ou então não se chama monopólio. Por que não se chama privilégio e não monopólio? Dêse-lhe outro nome, mas não se estabeleça dentro de um texto constitucional, essa incongruência fundamental, qual seja, monopólio com contrato de risco, o que é exatamente a negação do monopólio. Esta é a tese principal que defendemos, sobretudo porque achamos que todo o prestígio deve ser dado aos técnicos da Petrobrás – um prestígio tão grande que eu aconselharia, no caso, antes de tomar qualquer decisão a respeito, reunir os técnicos da Petrobrás, os técnicos, e não os que, por qualquer motivo, estão lá presentes neste momento, e preguntar-lhes o que é que acham de contrato de risco. Se é um estimulo ou ao contrário, uma censura, uma condenação do trabalho que até agora têm realizado? Esse, o apelo que eu faço. No momento, gostaria de informar também que ouvi do Sr. Ministro das Minas e Energia, o Sr. Aureliano Chaves, a informação de que recomendara à Petrobrás que não tome nenhuma providência em relação aos contratos de risco, enquanto a Constituinte não venha a deliberar sobre a matéria. Essa confiança total na Constituinte, que o Sr. Ministro da Minas e Energia demonstra, também temos, todos nós, que reconhecemos o trabalho da Petrobrás, sabemos o que tem produzido para o Brasil. E queremos dar, através deste pronunciamento, mais um estímulo, do que uma repreensão ou uma censura a uma entidade que tão útil tem sido à Pátria. É a exposição que faço, neste momento, Sr. Pr esidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. A palavra está com os Srs. Constituintes. (Pausa.) O Constituinte Luiz Salomão tem a palavra. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Dr. Barbosa Lima Sobrinho, temos informações de que a Bacia de Campos, hoje, o maior campo produtor de petróleo do País, esteve nas cogitações de ser cedida a uma contratante de risco. Que impacto V. Sª imagina poderia acontecer caso esse fato se concretizasse, ao invés de a beneficiada ser a Petrobrás, com o desempenho que significa possibilidade concreta de auto-suficiência, se ela tivesse sido preterida em favor de uma dessas multinacionais? O SR. BARBOSA LIMA SOBRINHO: – Apelaria para a consciência de todos os presentes. Acho que a resposta estaria exatamente em todos os presentes aqui, uma vez que sabemos na questão de petróleo, as sete irmãs, como são ditas, só exploram aquilo que interessa diretamente a elas, deixando tudo o mais como reserva para o futuro. De modo que, entregar também – e aí outro ponto – os contratos de risco à exploração estrangeira é entregar as possibilidades futuras do Brasil ao julgamento, que não é o julgamento DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) dos brasileiros, mas de outras entidades. Porque, na verdade, elas irão agir de acordo com os interesses das companhias que dirigem a política de pessoal em todo mundo e essas Companhias têm a preocupação, realmente, de cuidar mais das reservas para o futuro, do que qualquer outra preocupação, sobretudo das explorações que representem despesas consideráveis. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Só para objetivar mais a pergunta dos palestrantes, eu diria o seguinte: se, ao invés de a Petrobrás ter feito aquela descoberta, estivesse em mãos de uma Pecten, ou de uma Shell certamente que o monopólio da pesquisa e da lavra já teria desaparecido há bastante tempo. O SR. BARBOSA LIMA SOBRINHO: – É verdade que isso deve realmente ocorrer, porque toda vez que se abdica da vontade nacional para entregar a outra potência a decisão de problemas essenciais do País, é um sacrifício para a soberania do Brasil. Quanto a isso, tenho sempre me levantado, em todo o decurso da minha vida e enquanto viver estarei sempre dentro desta tese reivindicando para o Brasil o direito de traçar os seus próprios rumos, sobretudo porque, na orientação nacionalista que me tem orientado até agora obedeço a lição de um japonês, através de um livro publicado por Oliveira Lima, quando era Encarregado dos Negócios do Brasil no Japão: ele registrou que o japonês tinha horror a que qualquer estrangeiro fosse para dentro do Japão ganhar aquilo que o japonês poderia ter ganho, em lugar dele. Graças a essas poupanças, que são poupanças formidáveis, é que o Japão alcançou realmente as alturas e está desafiando até mesmo a supremacia dos Estados Unidos, como verificamos. Somente com o lucro nacional é que se acumula o capital nacional; porque o lucro do estrangeiro dentro do Brasil, se escreve no capital nacional dos países investidores, como já dizia Paul Samuelson, nos seus livros sobre economia política – se escreve nas contas nacionais desses países à custa de um país em que eles trabalharam, que permitiram que esses lucros se desviassem dos brasileiros, para favorecer e beneficiar os estrangeiros. É contra isso, geralmente, que o Japão tem resistido e reagido, maneira tal que um engenheiro mexicano, que esteve no Japão, pouco antes da Segunda Guerra não encontrou casas de comércio estrangeiro nas principais cidade japonesas; porque tudo era reservado para o japonês, com uma preocupação de acumular lucros com que se constituiu o capital nacional no Japão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao Constituinte Gabriel Guerreiro. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Ilustre Prof. Barbosa Lima Sobrinho, V. Sª me trouxe dados extremamente interessantes, que eu gostaria de comentar, nesta oportunidade, com relação à questão dos contratos de riscos. A Petrobrás gastou mais de 19 bilhões de dólares, em pesquisas de petróleo, nos últimos 10 anos, contra um pouco mais de 1 bilhão e 600 milhões de dólares nos contratos de risco, dos quais – como muito bem frisou V. Sª – 500 milhões pertencem à irresponsabilidade da Pauli- petro. Um Governador que tentava, por todos os meios, abrir esse monopólio, dizia, com toda a tranqüilidade: "Setecentos e cinqüenta milhões foram compras de equipamentos no exterior e apenas 350 milhões de dólares foram gastos, real-mente, em pesquisas." E eu acrescentaria a V. Ex.ª – e como muito bem frisou o ilustre Consultor do Presidente da Petrobrás, que me perdoe não lembrar o nome que grande parte desses recursos foi gasta em sísmica, uma vez que esses contratos de risco executaram duas vezes mais trabalho de sísmica nas áreas prospectadas do que a própria Petrobrás. Hoje, é extremamente importante sabermos em que direção caminham as pesquisas do subsolo, especialmente nessa questão do petróleo. É fundamental perceber que, hoje, dados antigos podem ser modernizados, através da Informática, através da filtragem, através de metodologias novas de interpretação. Essas metodologias, evidentemente, são privilégios de quem as descobre, são caixas-pretas, privilégios de quem trabalha com isso. Não acredito possamos desenvolver a nossa tecnologia e o nosso conhecimento, se não trabalharmos em cima disso. Para mim, os contratos de riscos têm servido como radiografia do subsolo brasileiro – a questão levantada pelo ilustre Constituinte Luiz Salomão. Temos aí, as notícias de jornais e todo o processo da impresa brasileira, de que tipos de pressão foram exercidas para que a Bacia de Campos fosse aberta aos contratos de risco. De modo que tenho a impressão, meu sentimento me diz que o grande interesse dos contratos de risco é o interesse de o conhecimento do subsolo brasileiro ser aberto para o sistema internacional. O grande problema dos interesses, na área do petróleo, e em muitas outras áreas do setor mineral, é o de conhecer, com avaliação precisa, ou a mais precisa possível, com estatística principalmente, as reservas medidas e as reservas potenciais. Porque é isso que permite às empresas internacionais traçarem um perfil da possibilidade mundial e, portanto, uma estratégica coerente, perfeitamente adequada, para que possam continuar sendo as grandes monopolizadoras de todo o processo de negócios, exploração e lucros, enfim, a geração de lucros com a questão do petróleo, e ademais com outros setores estratégicos. Congratulo-me com o ilustre Professor, por defender o monopólio sem nenhuma dualidade. Acho que a Petrobrás deu demonstrações cabais, inclusive nos anos do autoritarismo, quando o autoritarismo foi empurrado, no final da década de 60, desviado os rumos da Petrobrás, transformando a Petrobrás numa companhia de negócios de petróleo, e não mais de pesquisa de petróleo, desativando todas as nossas equipes de sísmica – se não me engano só ficou uma: Como é que vamos aprender a fazer sísmica se entregamos os serviços de sís mica a capitais internacionais, a contratos internacionais? Eu diria que a Petrobrás deveria ter uma política, tanto quanto possível, de incentivo à formação de equipes nacionais, pois que essas equipes, no final da década de 50, já eram extremamente importantes, inclusive na análise de sistemas internacionais. Não está tão fechado assim o sistema de informação. E temos pessoas que desenvolvem os trabalhos. Na minha pequena Universidade do Pará já tem gente fazendo filtragens excelentes, inclusive uma 82 reinterpretação dos dados da Petrobrás, coletados na década de 50, esta lá para mostrar as estruturas do oeste de Manaus. Por isso, acho que devemos fechar a questão da Petrobrás. Até poderia aceitar a hipótese de termos uma legislação. Como bem disse V. Sª, nem temos uma legislação que dê abertura para se fazer contrato de risco, que aconteceu através de um discurso do Presidente, não vigor, um esclarecimento da questão dos contratos de risco. Porque, no meu entender, como interpretei as palavras de V. Sª, eles quebram o monopólio do petróleo e devemos ir fundo nessa questão e deixar, definitivamente, determinado que a Petrobrás detenha o monopólio do petróleo em nome da União, em nome desta Nação. Não podemos abrir nenhuma exceção nesta questão. Essas eram as Observações, agradecendo a V. Sª os esclarecimentos que nos prestou. Muito obrigado. O SR. BARBOSA LIMA SOBRINHO: – Agradeço também o aparte que é, exatamente, uma colaboração para as teses que aqui defendi. Acabamos de ver aqui, há pouco, negar-se até a capacidade técnica da Petrobrás, fazendo-a depender de uma base mais reduzida em Campos, é uma negação da capacidade técnica da Petrobrás, que tem desenvolvido, de maneira extraordinária, a sua tecnologia, até o ponto de ser contratada por países estrangeiros. Tecnologia está ao alcance de quem a quer obter. E só se aprende fazendo, praticando. Por isso é que a Petrobrás tem desenvolvido a sua tecnologia, de maneira tão grande, que a tese dos contratos de risco está sendo trazida para cá, à revelia dos corpos técnicos da Petrobrás. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra à nobre Constituinte Raquel Cândido. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Quero, mais uma vez, congratular-me com o grande mestre Barbosa Lima Sobrinho; embora aos 35 anos eu tenha aprendido, através de leituras, a vocação e a inclinação minerária do nosso País, no contexto nacional, no desenvolvimento econômico, – não tenho dúvidas disso – desde priscas eras. E, ali, na hora em que eu perguntava ao Presidente da Petrobrás, ele insistia na dualidade da resposta. Este País, meus caros Presidente e mestre Barbosa Lima Sobrinho, ele passa por uma crise sem precedentes – e deve ser dito isto aqui, nesta hora, porque é oportuno – por uma crise imoral, onde as coisas não querem ser aclaradas, elas não são colocadas, porque as pessoas sabem das coisas e não querem fazer nada. E tentam, de todas as maneiras, com todos os artifícios possíveis insistir numa coisa, que sabemos o que significa. Quero congratular-me pela clareza com que o companheiro Gabriel Guerreiro colocou, aqui, a sua opinião. E dizer, ao eminente mestre, que a nossa luta é árdua e que entendemos monopólio como mono, como único, sem nenhuma derivação, sem dualidade e sem a crise ético-moral e política que atravessamos no Pais. É preciso ter coragem para colocar isto; é preciso assumir esse jogo numa hora de determinação. A sua vinda aqui foi para esclarecer-nos e nós abeberamos da sua sabedoria e o seu passado corajoso, ao colocar as coisas claras, cristalinas, na busca 83 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) da soberania nacional, sem o medo, sem o temor de que o capital estrangeiro aqui fique, através dos patrões, às vezes, longas horas da noite, a nos fiscalizar, pagando matérias na grande imprensa nacional, quer seja a televisionada ou escrita – como tenho aqui a Manchete em mãos – para querer nos redirecionar numa inclinação em que teimam em colocar o nosso País. O Brasil sem sombra de dúvidas, através de toda a sua História tem vocação mineral. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª tem somente mais 3 minutos. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Eu já encerro. E é muito dificil, nesta subcomissão, debater em profundidade assunto tão sério como este do monopólio, que se reluta, de um lado a querer manter a dualidade das leis, quando elas são inaplicáveis e se contraditam ou se chocam. Mas, de qualquer maneira, já encerrando, Sr. Presidente, estamos com a razão e, assim, vamos em frente, porque sentimos que temos a credibilidade do povo. E o império da impunidade e da indignidade, neste País, começa com a sua derrocada, através dos meios de comunicação, porque o povo já não acredita mais e já questiona, muitas vezes, quando se faz matérias como essa da Manchete a que, logo mais me reportarei. E pessoas da qualidade e da dignidade do nosso mestre Barbosa Lima Sobrinho vêm aqui e nos dão energia para prosseguir, quer seja em tempo limitado, naquilo que estamos buscando que é o monopólio, o mono, do petróleo brasileiro. Muito obrigada. (Palmas) O SR. BARBOSA LIMA SOBRINHO: – Agradeço o aparte da Drª Raquel, e gostaria no fim destes debates, se o Presidente concordasse, de ouvir o Sr. Euzébio Rocha, a respeito desse problema, porque, na verdade, eu nunca fiz monopólio dos problemas do petróleo. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Teriamos grande prazer em ouvir o Sr. Euzébio Rocha, se as circunstâncias fossem outras. Mesmo porque, o nosso Regimento Interno impede. E temos ainda um Constituinte que pediu a palavra, sendo que o nosso tempo já está encerrado. (Pausa) Dou a palavra ao ilustre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Meus cumprimentos ao ilustre conferencista. Infelizmente, Sr. Presidente, cheguei atrasado e não pude assistir à palestra do Sr. Presidente da Petrobrás. Então, em primeiro lugar, eu queria esclarecer ao Plenário e à Mesa, que já tive oportunidade, como Secretário de Minas e Energia do meu Estado, Minas Gerais, em visitar não só a refinaria de Duque de Caxias, mas também passei um dia na Bacia de Campos, freqüentando aquelas plataformas submarinas e, realmente, pude constatar que é um orgulho para os brasileiros, o que fizeram os nossos geólogos, os técnicos da Petrobrás, e o que fez a Petrobrás. No entanto, como tive oportunidade de dialogar com três Presidentes da Petrobrás, nas funções de Secretário de Estado, defendendo, evidentemente, os interesses do meu Estado, hoje, pelo atraso de avião, o que é normal, acontece freqüentemente, queria solicitar à Mesa, que esta consulta seja feita a posteriori ao Sr. Presidente da Petrobrás, com refe- rência a critérios utilizados para a chamada política nacional do gás. Porque, já que aqui, na nossa Subcomissão, pretendemos estabelecer princípios para uma futura política específica do setor de petróleo – e infelizmente, repito, por não ter podido questioná-lo – gostaria que a Mesa formulasse à Presidência da Petrobrás a questão. Insisto na tese que expus, na tribuna do Congresso, de que não existem políticas nacionais no setor mineral nem no setor de energia; existem decisões conjunturais em virtude dessa ou daquela emergência para atender a esse ou àquele Estado. Então, em primeiro lugar, e para que nós, da Comissão, possamos adiantar-nos no assunto, queria registrar esta consulta: como se desenvolve no gás e como se pretende explorá-lo? Em segundo lugar, eu faria também esta outra pergunta e acredito dever haver aqui Assessores da Presidência da Petrobrás: qual a maneira de a Petrobrás agir no exterior, com referência à prospecção do petróleo? Pelo que li, nos jornais – e sei também, a Petrobrás explora e tem contratos no exterior. De que maneira são feitos esses contratos, como esses contratos, feitos no exterior, defendem os interesses dos países nos quais eles são localizados? Quero insistir na tese que defendo, nesta Subcomissão, de que a Subcomissão se informe sobre os fatos, sobre o que está acontecendo, para que possamos, em cima dessas informações, produzir alguma proposta que atenda aos interesses nacionais. O SR. PRESIDENTE – (Delfim Netto): – Eu pediria ao ilustre Constituinte Gil César que nos ajudasse a formular esses quesitos, para que possamos encaminhá-los à Petrobrás. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Permite-me, Sr. Presidente? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Simplesmente, eu gostaria que V. Ex.ª pusesse isso no papel para nos ajudar a encaminhá-lo à Petrobrás. Gostaríamos de agradecer ao ilustre Prof. Barbosa Lima Sobrinho, pela exposição, e dizer que estamos muito satisfeitos de tê-lo conosco. Convido o Dr. João Marinho Nunes a fazer a sua exposição. V. Ex.ª tem 15 minutos. O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Obrigado, Sr. Presidente! Sr. Presidente, Constituinte Delfim Netto, Sr. Relator, Srs. Constituintes Membros da Subcomissão e demais Constituintes aqui presentes. Agradecendo, em nome das empresas de mineração e de todos os 277 associados do Instituto Brasileiro de Mineração, a oportunidade de expor nossas idéias e apresentar sugestões a esta importantíssima Assembléia, trazemos aos Srs. Constituintes a contribuição do Instituto – a histórica missão de se escrever a Lei Magna que norteará o futuro do País, no final deste século XX, e no próximo século XXI, quiçá os seguintes. Propositadamente, aludimo-nos ao próximo século, pelo fato de em se tratando de mineração, já estarmos no século XXI, eis que projetos de maior porte no setor mineral têm prazo de implantação, desde a descoberta da jazida à entrada em produção, da mina, em horizontes o tempo, da ordem de uma década ou mais. Exemplo recente que confirma esta nossa assertiva é Carajás, que, descoberta em 1967 pela Meridional, e de- senvolvida por uma empresa de qualidade, porte e eficácia internacionais, a Companhia Vale do Rio Doce, com todo o apoio governamental, entrou em produção em 1986, ou seja, 19 anos depois de descoberta a jazida. E, neste 1987, estamos apenas a 13 anos do século XXI. Esta característica da mineração, de ser uma atividade de longo prazo de implantação e maturação dos seus investimentos, somada ao risco da sua primeira fase de pesquisa mineral, aconselha fortemente todos aqueles que sobre ela são chamados a opinar ou decidir, que tenham sempre presente a importância de a mesma vir a dispor, para sua sobrevivência e expansão, de legislação que seja tão duradoura quanto possível, ou, em outras palavras, que as regras do jogo sejam mantidas, de modo a vir a obter e manter um clima favorável de investimentos no setor. Assim, propomos a manutenção das regras do jogo no tratamento constitucional da mineração, embora para alguns possa parecer conservadorismo, na realidade, é uma postura coerente, consistente e válida para o setor mineral, pelas razões acima expostas, de longo prazo de maturação de empreendimentos minerais, e o risco que os mesmos envolvem, especialmente na fase de pesquisa. Verão os Srs. Constituintes, pois, que o Ibram colocar-se-á basicamente nesta linha, não só pelo conhecimento que tem do setor, mas, principalmente, pelo compromisso da entidade com o progresso do pais e a qualidade de vida das gerações que nos sucederão. A civilização atual é essencialmente uma civilização mineral. Em todas as manifestações do espírito humano, no atendimento às necessidades básicas de alimento, habitação e saúde; enfim, em tudo que representa qualidade de vida, a base mineral está presente e é indispensável. Especialmente no Brasil atual, País que cada vez mais torna aguda consciência do desafio que o social lhe impõe, apoiar a mineração constitui assim uma decisão de máxima prioridade nacional; pois, em última análise, representa a garantia do poder aquisitivo do salário do trabalhador, como são exemplos marcantes os bens minerais de emprego imediato, na construção civil, como argila, areia, brita etc. Por outro lado, é também muito importante a participação da mineração na geração de empregos. Estudos do Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais mostram que o emprego criado na mineração resulta em 18 das atividades que lhes sejam correlatas, além de fixar o homem ao interior, em face da rigidez locacional das minas. Essa importância dos bens minerais tem sido objeto de diferentes demonstrações no mundo inteiro, como por exemplo os dados divulgados pelo American Mining Congress, quanto à necessidade de bens minerais por indivíduo, por ano, conforme se mostra a seguir. Por aquele estudo, cada indivíduo precisa de 4.154 quilos de terra britada, por ano; 3.900 quilos de areia e cascalho; 547 quilos de ferro e aço; 5 quilos de zinco; 6 quilos de manganês, além de outros aqui relacionados, e que deixo com V. Ex.as. Embora esses dados se refiram aos Estados Unidos e, conseqüentemente, a sua realidade, a crescente urbanização brasileira e o padrão de vida desejado pela população, fazem com que os mesmos sejam perfeitamente adequados ao planejamento e tomada de decisão do nosso País, decisão esta DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) de cuja implementação depende o futuro do Brasil. Esse importante papel da mineração no desenvolvimento sócio-econômico, no caso do Brasil, está bem refletido num quadro que anexamos a este trabalho e que mostra a importância dos minerais na economia brasileira. No ano de 1985, a produção mineral brasileira atingiu 9,3 bilhões de dólares, inclusive o petróleo. Esse valor é apenas 4,2% do PIB do mesmo ano. Mas quando considerada a indústria de transformação mineral, isto é, siderurgia e metalurgia dos minerais não ferrosos, cimento, química etc., esse valor atinge 57 bilhões de dólares, ou seja, 26% do PIB brasileiro de 1985, que foi de 220 bilhões de dólares. Tratar de mineração é, pois, tratar de uma atividade que é a base de mais de 1/4 do PIB brasileiro. A importância da mineração, conforme enfatizada e demonstrada, juntamente com as características dos depósitos minerais, dentre os quais se destaca a rigidez locacional, ou seja, as minas estão onde Deus as colocou, e não necessariamente próximas a aglomerados humanos, aconselha não só o tratamento constitucional da mesma, como que este tratamento seja o mais duradouro possível, para melhor garantia dos investidores públicos ou privados, especialmente na pesquisa mineral, fase de maior risco do empreendimento. Sendo Minas Gerais o Estado brasileiro de maior tradição em mineração, seu exemplo é, sem sombra de dúvida, o que melhor caracteriza a importância da mineração para o desenvolvimento regional e nacional. Vale, assim, lembrar que em Minas Gerais a chamada zona metalúrgica, onde se situam as minas de minério de ferro, entre outras, abrange uma área correspondente a cerca de 7% da área total do Estado. Possui 1/3 da sua população e produz, aproximadamente, 50% do produto interno bruto mineral, o que comprova a importância da mineiro como base do desenvolvimento. Do exposto acima, vê-se que o crescimento econômico no Brasil pressupõe, necessariamente, o crescimento da mineração, que é a sua base. Em um País como o nosso, cujas dimensões continentais e incremento populacional apontam para a necessidade de se fazer esse crescimento, apoiado num tripé, recursos humanos, solo e subsolo, qualquer taxa de desenvolvimento almejada, mplica i investimentos no setor mineral. O atual Governo, através do I PND e do plano de metas de 1986, 1989, estabeleceu diretrizes de crescimento que, no que se refere à mineração, merecem algumas considerações. Atribui significativa participação na formação do produto interno bruto, segundo se constata dos dados oficiais abaixo, relativos ao ano de 1985: – Produto mineral bruto: 4,2% do PIB. –Produto mineral bruto, exclusive petróleo e gás natural: 1,7% do PIB. – Setor Minero-metalúrgico: 26% do PIB. Os números acima deixam claro que as medidas a serem tomadas para o setor mineral terão seus efeitos imediatamente sentidos, refletindo-se na política macroeconômica do Governo, daí a necessidade de evitar-se qualquer conflito entre ambas. O capítulo, do mencionado Plano de Metas, relativo à minerarão e metalurgia, mostra bem a preocupação do Governo Federal com o conhecimento das reservas minerais do País, na exploração de tais minerais, a ampliação de suas exportações e a maior verticalização da indústria minerometalúrgica. Por outro lado, cabe ressaltar aqui as chamadas metas globais para a economia brasileira, para o triênio 87/89, cujo alcance norteará toda a política econômica nacional, doravante: Produto interno bruto – crescimento de 7% ao ano, ou seja, 22,5% no triênio; PIB, per capita de 1.621 dólares para 1.932 dólares, ou seja, 19,2% no triênio; Exportação de mercadorias atingia 32 bilhões de dólares em 1989; População – 147 milhões em 1989; População economicamente ativa, elevar de 57 milhões para 63 milhões. Para sustentar o crescimento do produto à taxa de 7% ao ano será necessário investir 21% do PIB. Necessidade de investimento, ainda de acordo com aquele documento, no setor público consolidado temos 4,4% do PIB, nos três anos referidos, e no setor privado 14,7 15,7 e 162%. A poupança privada normal, 17,5% em 1987, 18 em 1988 e 18,5 em 1989. Esforço nacional de poupança necessária – 2% do PIB em 1987, 2,3 em 1988 e 2,5 em 1989. A maior parte do esforço adicional de poupança será realizada pelo setor privado, cuja poupança normal voluntária terá que se elevar do atual nível de 17,5% do PIB para 18,5% em 1989. Entretanto, esta mobilização voluntária da poupança privada, induzida pela própria sustentação do dinamismo da economia, ainda será insuficiente para financiar totalmente a formação de capital requerida. O equacionamento da questão do crescimento econômico-brasileiro depende, portanto, de um esforço adicional de poupança privada, capaz de mobilizar cerca de 18 bilhões de dólares no período 1987/89. As metas supramencionadas deixam transparecer, pois, uma decisão governamental pela não expansão, ou melhor, pela manutenção do atual nível de intervenção do Estado na economia nacional, sem aumentá-la, vem como uma opção a favor da ação da iniciativa privada, através da qual o Governo pretende canalizar o equivalente a 18 bilhões para o crescimento econômico do País. E isso fica patente em todas as manifestações do Excelentíssimo Presidente da República, principalmente no discurso pronunciado, ante à Sociedade das Américas, no dia 12 de setembro de 1986 e da qual destacamos o seguinte trecho: "Somos um País democrático; acreditamos na livre iniciativa; estamos convencidos de que sem liberdade econômica não há liberdade política; sabemos que, onde a liberdade econômica feneceu, a liberdade política também acabou eclipsada." Assim, para atingir os objetivos fixados no Plano de Metas, a política econômica e governamental deverá, obrigatoriamente, evitar qualquer restrição aos investimentos de capital de risco e ao aporte de novas tecnologias, os quais, como é sabido por todos, além de colaborar na atividade mineral propriamente dita, auxiliam o País na abertura de novos mercados externos e no seu 84 desenvolvimento. Sem esses dois componentes, seria impossível compatibilizar as metas traçadas no Plano de Metas com a realidade brasileira. No cenário mineral, conforme se vê dos dados acima relatados, o produto mineral bruto representou, em 1985, cerca de 4,2% do PIB. Sendo o Brasil um País de enorme e indiscutív el potencialidade mineral, deverá o seu produto mineral crescer em pelo menos 25%, para que a relação produto mineral produto interno bruto alcance ao mesmos níveis dos países considerados potências minerais, como Estados Unidos, Canadá, Austrália, África do Sul etc. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª só tem 2 minutos. O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Muito obrigado, Sr. Presidente. Mais uma razão, portanto, para estimular os investimentos de capital de risco, nesse setor. Evidentemente, o cenário econômico do País, desde maio de 1987, não é o mesmo que presidiu a elaboração do I PND da Nova República; nem o Plano de Metas 1986 a 1989. Entretanto, conforme já salientamos, isso não invalida os conceitos básicos acima expressos. Srs. Constituintes, o propósito do Instituto Brasileiro de Mineração, com a elaboração ora apresentada, é o de, embasado em experiências e conhecimentos do setor mineral brasileiro, vividas intensamente pelo IBRAM e seus associados, descortinar para os Srs. Constituintes a realidade da atividade mineral, procurando, finalmente, demonstrar a importância da consolidação e manutenção de determinados princípios constitucionais de prática comprovada, tão salutares ao sempre crescente progresso no setor. O retrospecto da evolução histórica da Constituição Federal, a começar do modelo Imperial, nos mostra, como no exemplo presente, o que representou para o Brasil, nos campos social, político e econômico, a importância do adequado tratamento legislativo, para o desenvolvimento da mineração. Não há uma só das nossas Constituições que se tenha omitido em colocar, sob a tutela do Governo Federal ou do Governo Imperial, naquela época, o efetivo controle fiscalizador dessas riquezas. Ainda, mesmo, quando ela esteve no domínio privado, por força do regime da propriedade única. Assim, em face de todo o exposto, entende o IBRAM ser da mais alta importância, colocar expressamente ao abrigo do diploma regencial do País, o direito de prioridade, com o destaque que merece, inovação, sem dúvida alguma, responsável pelo grande incremento que o setor mineral vem experimentando, desde a introdução do referido direito no bojo do Código de Mineração. Da mesma forma, pela segurança, estabilidade e estímulos que representam para a atividade mineral no País, sugere o IBRAM a manutenção de dispositivos constitucionais, já consagrados em Cartas anteriores, especificamente voltados para a mineração, a saber: princípio da dualidade imobiliária; competência privativa da União para legislar sobre minas; competência privativa tributária da União sobre minerais e distribuição da receita; Imposto Único sobre Minerais; sistema de participação do proprietário nos resultados da lavra; re- 85 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) gime de concessão; e, finalmente, livre participação nas sociedades de mineração. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Obrigado a V. Ex.ª. Concedo a palavra ao nobre Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Quero, antes de tudo, cumprimentar o representante do IBRAM, pela sua exposição e colocar-lhe duas questões: 1) V. Ex.ª não fez menção, talvez até estrategicamente, à questão essencial da presença do capital estrangeiro no setor da mineração; referiu-se apenas ao caso da descoberta, pela Meridional, das jazidas de Carajás, cujo atraso de 19 anos na colocação, no mercado, da sua produção, decorreu exatamente do conflito entre o interesse dessa multinacional e a Companhia Vale do Rio Doce. Tendo em vista que 48 milhões de hectares, que equivalem ao dobro da área conjunta dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, ou a área somada dos países europeus, como as duas Alemanhas, Oriental e Ocidental, a Bélgica, a Dinamarca, a Holanda, a Irlanda do Norte e Luxemburgo, estão em mãos de empresas multinacionais, eu gostaria de saber o ponto de vista de V. Ex.ª sobre se não representa uma possibilidade concreta de atraso a entrega de reservas dessas dimensões de áreas às empresas multinacionais? A segunda questão que eu gostaria de formular a V. Ex.ª; 2) em vista da situação deplorável daqueles que se desenvolvem atividade do garimpo, os garimpeiros, que vivem nas condições mais precárias, talvez, dentre todos os trabalhadores deste País, pela ausência do Estado sobretudo, que medidas V. Ex.ª preconizaria para proteger os interesses dos garimpeiros, nas áreas dos garimpos, da ação expansionista das mineradoras? O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Agradecendo a intervenção e colaboração do Constituinte Luiz Salomão, eu desejava esclarecer os seguintes pontos: primeiro, quanto à participação do capital estrangeiro nas empresas de mineração, somos favoráveis ao mesmo e quando dissemos aqui, como último item, que deve ser mantida a livre participação nas sociedades de mineração, entendemos livres qualquer um que deseje se dedicar a esta atividade. O segundo ponto mencionado pelo ilustre Constituinte, diz respeito – creio eu – a esses alvarás de pesquisa que têm sido concedidos e que, realmente, se somarmos em hectares dão esses números referidos por V. Ex.ª e que chegam a áreas iguais a de alguns países europeus ou de Estados brasileiros. Em primeiro lugar, eu gostaria de distinguir aí, algumas coisas: estamos tratando do subsolo e quando dizemos que empresas estatais nacionais ou multinacionais, detêm tantos hectares, não são tantos hectares de solo; é direito de pesquisa sobre o subsolo, o que nada impede que no solo haja outras atividades, fazendas e atividades normais e, portanto, num espírito menos prevenido, isso gera uma confusão; quer dizer, esses hectares todos mencionados não dão o mínimo direito ao acesso do solo a essas empresas, a não ser naquilo que se faz extremamente necessário para instalação das suas equipes e os próprios trabalhos de pesquisa. Quanto ao segundo ponto mencionado, sobre o garimpo, há a lenda – e digo lenda porque é lenda mesmo – de que o IBRAM é contra o garimpeiro. O IBRAM não é contra o garimpeiro; o IBRAM é contra a exploração do garimpeiro; é contra as empresas clandestinas de mineração que, à margem da lei se servem dos garimpeiros e se servem do trabalho honesto e dedicado desses homens, sem lhes dar nenhuma contrapartida a não ser aquela esperança de "bamburrar." – como eles dizem – que é igual à esperança de qualquer jogador que vai fazer a sua loto ou a sua loteria esportiva, de acertar a quina sozinho, ou os 13 pontos também. O IBRAM não é contra. Devo dizer que o Código de Mineração vigente, o Código de 1967, fez uma opção pela empresa organizada de mineração; não fez uma opção pelo garimpeiro. Eu até me permito, aqui, ler uma parte da exposição de motivos, muito pequena, desse código, em que se mostra isto. Na exposição de motivos do Código de mineração de 1967, está dito, ipsis literis, o seguinte: – "Item XVIII da Exposição de Motivos: Mantiveram-se as disposições gerais sobre o regime de garimpagem, faiscação e cata, evitando-se que as autorizações de pesquisa interrompam tais trabalhos, mas mantendo-se o princípio geral de que a mineração organizada, em atividade de concessões de lavra será mais vantajosa para o interesse coletivo, do que o trabalho desordenado do garimpeiro, cujo futuro econômico é sempre uma incógnita, quase sempre contra ele resolvida." Isso é o que está no Código vigente; quer dizer, isso não é nem um problema constitucional, é um problema da lei ordinária. Agora, concordo inteiramente com V. Ex.ª em que o garimpeiro precisa de proteção para não ser explorado pelas empresas clandestinas de mineração. Acho que um trabalho muito sério deve e poderá ser feito pelos Srs. Constituintes, no sentido de proteger esses homens. (Palmas.) O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Só para um esclarecimento, ilustre conferencista. Tenho bastante claro que as reservas de áreas não significam nenhum tipo de domínio de posse sobre a superfície dessas áreas e, sim, uma reserva no sentido da exploração do subsolo para descoberta eventual de minérios – o que não altera o meu comentário, em relação às dimensões absurdas concedidas, em tantos alvarás, de acordo com essa compilação do técnico Gama e Silva, que não tenho ainda o prazer de conhecer. Agora, sobre a presença do capital estrangeiro a que V. Ex.ª se referiu, ao final, de uma forma um pouco elíptica, eu gostaria que V. Ex.ª comentasse, se não é uma contradição, em termos, a Constituição dizer que a atividade de pesquisa e lavra será autorizada ou concedida a brasileiros ou sociedades organizadas no País, quando, na verdade, sabemos que grande número dessas sociedades, as mais poderosas são exatamente as multinacionais. Não seria necessário mencionar, então, que essa atividade deveria ser concedida a brasileiros e, sim, a brasileiros e empresas nacionais, conforme definição clara do que seja empresa nacional. Porque na verdade, essa abertura de uma formulação pouco clara do que sejam sociedades organizadas no País é que tem permitido esse resultado absurdo, que procurei indicar na minha intervenção anterior. O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Sr. Constituinte, a expressão: "sociedade organizada no País", na minha impressão, é bastante clara. Tal expressão vem desde a Constituição de 46, e relembro que essa Carta não sofre a pecha de ter sido outorgada; ela foi votada por constituintes, tão constituintes quanto V. Ex.as, aqui hoje; trata de sociedade organizadas no País e se formos aos Anais, verificar as discussões de que resultaram essa redação, a idéia foi dar liberdade ao estrangeiro, desde que ele viesse a se submeter às regras das empresas aqui construídas. Não houve preocupação de se limitar a exploração disso a sociedade constituída, única e exclusivamente, por brasileiros. Eu diria mais, se houver essa preocupação no futuro – e a Constituição de 67 só fez repetir isso – no melhor juízo dos constituintes, de que a atividade mineral só possa ser exercida por brasileiros, tenho um fundado receio, eu diria até tenho certeza que isso será um grande desestímulo a investimentos nesse setor. E o desestímulo parte do seguinte: se exigirmos a nacionalidade brasileira ao acionista ou ao cotista de uma empresa de mineração, estaremos, automaticamente, exigindo que essa pessoa se identifique e, portanto, acabamos com o mecanismo das ações ao portador nesse tipo de sociedade, mecanismo esse que tem sido altamente vantajoso para captação de recursos, não só para as empresas brasileiras e de caráter nacional, como também para as empresas estatais, haja vista que até a Petrobrás, e aqui muito se falou no monopólio da Petrobrás, e não ponho dúvidas à questão do monopólio do petróleo – tem um mecanismo de ações ao portador, não vontade, é claro, preferenciais, de modo que possa atrair esse tipo de capital. Acho que, se a tendência ou no melhor juízo dos Srs. constituintes, a Constituição deva dizer que só se permitam a brasileiros, não se esqueçam de providenciar mecanismos que possibilitem as ações ao portador, nessas empresas, sob pena de não termos, praticamente, nenhum investimento nessas atividades. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Com a palavra o ilustre Constituinte Gabriel Guerreiro. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, ilustre conferencista, concordo, em alguns pontos, com V. Sª, no trato da questão mineral. Por exemplo, V. Ex.ª fez uma assertiva que considero extremamente importante de ser levada em consideração, na formulação de princípios que devem reger o arcabouço da nossa propriedade mineral, digamos assim, que é a questão do tempo de maturação dos projetos. Os projetos minerais são quase como os tempos geológicos, muito longos. Também o efeito multiplicador que a mineração tem, no seu bojo, deve ser levado em consideração. Muitas vezes, analisamos o setor mineral apenas com o valor da produção mineral e não com valor que ela tem em seus múltiplos aspectos de reprodução, na própria economia. Sabemos que o setor mineral representa, nos Estados Unidos, algo em torno de 4%, e representa, talvez, em torno de 40% da economia americana pelos seus efeitos multiplicadores. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) V. Sª se referiu à questão dos empregos que fazem parte desse conjunto de efeitos que a mineração provoca. V. Sª se referiu também a que nós tenhamos em mente que não se poderá evitar qualquer investimento de capital de risco, na mineração, porque ele é absolutamente necessário, até porque a fase de pesquisa é fundamental. Nisso, abro parêntese; coloco a questão do garimpo, que precisa ser tratada na legislação brasileira e que não é tratada, no meu modo de ver, porque é um grande capital de risco, o capital trabalho, o capital mesmo investido e que gera uma riqueza considerável neste País hoje. Em termos de princípio V. Sª colocou o controle do Estado sobre a legislação e acerca disso, temos uma discordância; o direito de propriedade da Nação me parece um ponto passivo; parece-me que não podemos abrir mão de deixar, na Constituição, que o subsolo pertence à Nação, e é direito inalienável e imprescritível. Não se deve mais permitir que a Constituição fique em aberto, sem dizer de quem é o subsolo. Apesar de dizer que é uma propriedade distinta do solo, não se diz que é efetivamente uma propriedade do País. Imposto único sobre minerais – evidentemente irá sofrer uma discussão bastante grande na Subcomissão própria, mas eu também acho que deverá ser mantido algo semelhante ao Imposto único, porque é uma atividade complicada, um pouco diferente das demais atividades comerciais. Quanto à participação do superficiário, não há dúvida, já está consagrada. Mas existe outra participação que me parece extremamente interessante e importante ser abordada: uma vez que o solo é concedido ou vendido, ou é doado a um terceiro pelo Estado, e esse superficiário passa a ter direitos sobre uma participação no subsolo – por que a União não ter direito, a Nação não ter direito sobre outra propriedade que ela concede a alguém? Então, se o superficiário tem o direito de participar, porque recebeu uma parte do subsolo, por que a Nação não participar, quando ela concede a alguém o direito de explorar os recursos, as riquezas do subsolo? A minha preocupação é fundamentalmente sobre a participação e a exclusividade da União, para legislar. A União deve legislar sobre todo o Território, na questão mineral – parece-me um consenso! Existem dois aspectos que quero levantar e ouvir a opinião de V. Ex.ª: primeiro, sobre a questão do meio ambiente, em que os Estados e até os municípios devem ter participação nessa legislação, devem legislar complementarmente; segundo, nos interesses sociais específicos, os estados e os municípios também devem ter uma participação específica nessa legislação. Perguntaria a V. S.ª como fica essa questão da participação da União, assim como a do superficiário na exploração, e com relação à questão da legislação? O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Sr. Constituinte Gabriel Guerreiro, estamos inteiramente de acordo em que o subsolo seja propriedade da Nação, e que isto não possa ser alienado, nem através de um texto constitucional. E cabe a esta Nação, através da União, deliberar como deve ser feita a exploração desse subsolo. Estamos inteiramente de acordo com esta sua premissa. Quanto ao Imposto Único, só para fazer uma referência, eu queria alertar a V. Ex.ª que o IBRAM já está convocado, para vir à Comissão – é quem está mais perto desta questão dos impostos – prestar também um depoimento. Já está marcado para amanhã, às 17:00, se algum dos Srs. tiver interesse em vir amanhã, faremos especificamente um depoimento sobre o Imposto Único. Por isso, eximo-me de tomar o tempo de V. Sas aqui, mas declarando que, em princípio, sou inteiramente favorável à sua tese de manutenção do Imposto Único. Outro problema é que a Nação, como proprietária, dona do subsolo, deveria também ter um tipo de indenização que o superficiário tem. Parece-me que é esta a questão que V. Ex.ª coloca. Concordo que sim. Agora, acho que ela já tem através da arrecadação de impostos, através do pagamento do Imposto de Renda. Mas não afasto a possibilidade de que outro tipo de mecanismo venha a ser feito, para que a União, além dos impostos que já arrecada, tenha mais algum benefício; em algumas explorações minerais, neste País, seja a União, seja o Estado, por delegação da União, esse benefício já existe. Por exemplo, nas jazidas de manganês, de Serra do Navio, no Amapá, além de todos os impostos normalmente pagos por uma empresa de mineração, a exploração daquela jazida está sujeita a um royalty, que deveria ser pago à União e que a União destinou, sponte propria, ao Território Federal do Amapá. Sei também que as jazidas oyalty ao Estado que também, sponte própria, os destina a sua sociedade estatal Metago. De modo que, nisso também estamos de acordo. Eu só alerto o seguinte: cuidado para não matarem a "galinha dos ovos de ouro"! Quer dizer, quando vejo, num projeto, se colocar um royalty de 5% sobre o faturamento de uma empresa mineral, acho que isso é "matar" a atividade! O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Peço vênia ao Presidente, só para uma interferência, muito rápida. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Estamos com o tempo esgotado, e temos ainda mais três inscritos. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Eu só gostaria de colocar uma coisa muito rápida; no meu entender deverá ficar preceituado, na Constituição, que a União terá o direito de participar. A legislação ordinária é que deve determinar como, porque não podemos inviabilizar – e estou de acordo com V. Sª em que não podemos inviabilizar o projeto específico na mineração. Mas isto deverá ser preceituado na Constituição. Parece-me uma questão bastante razoável. O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Acho que anunciar o preceito e deixar à legislação ordinária a tarefa de quantificá-lo, é uma coisa bastante sábia. Sobre o meio ambiente, concordo também inteiramente com V. Ex.ª e me permita apenas dizer – não para V. Ex.ª que conhece bem a mineração, mas para alguns outros – que o minerador, muitas vezes, entra como o vilão da história, como o depredador do meioambiente, mas a mineração é, sem dúvida nenhuma, uma atividade extrativa e, portanto, ela traz modificações ao meio-ambiente. Há alguns exemplos notáveis de empresas 86 de mineração, nacionais, estatais, e multinacionais, que têm dado trato ao meio ambiente que só lhes honra. Eu não gostaria de mencionar aqui, porque poderemos esquecer alguém, mas, vou ficar num único exemplo: Companhia Vale do Rio Doce, em Carajás. Obrigado! O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Jalles Fontoura. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Gostaria de saber a sua opinião em três questões; primeiro, em relação à participação, em caráter majoritário, da empresa nacional com o Projeto Afonso Arinos, em termos de participação majoritária, na lavra de minerais. Em segundo lugar, com relação à proposta do empresário Antônio Ermírio de Moraes. A lavra de minério deverá ser vinculada à transformação desse minério, no País? Por último, sobre o pagamento de uma taxa, por área, na fase de pesquisa, o que evitaria essa quantidade de área, conforme foi colocado aqui, de milhões de hectares que esteja simultaneamente em fase ainda de pesquisa; uma taxa, uma quantia em dinheiro que seria paga pelo pesquisador, durante a fase da pesquisa. São essas três questões que eu gostaria de ter a sua opinião. O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Quanto à primeira questão, de participação majoritária na lavra de capitais nacionais, como preceito legal, discordo. Acho que, como uma atitude negocial e do estrangeiro que venha aqui investir, é simplesmente uma questão de sabedoria dele. Então, se eu fosse investir num país alheio, procuraria, como estrangeiro no caso, sócios nacionais que me dessem proteção, no meu investimento, até política. Agora, colocar isso como um artigo de lei, seja lei ordinária, seja lei magna, sou contrário, porque acho que de início estamos colocando freios numa atividade que precisa de muito investimento. Se nós já colocamos óbices a esses investimentos ou parâmetros, a priori, eu não concordo com isso. Acho que é uma atitude sábia dos estrangeiros que aqui vêm procurar sócios nacionais, aos quais se associem em caráter minoritário e que, aliás, tem sido, em alguns casos, bastante proveitoso. Cita-se, por exemplo, Bertland Steel que aqui veio minoritariamente e que, hoje, nem mais está aqui, porque o grupo nacional absorveu todo o seu investimento. Foi mencionada a Meridional que aqui veio cem por cento. Depois, fez negociações com a Vale do Rio Doce e lhe transferiu os seus direitos. Cita-se a Hanna Incorporation, que aqui veio, primeiro, em caráter majoritário e depois associou-se também, em caráter minoritário, que hoje em dia não tem mais presença significativa no País. Cito isso tudo para dizer que acho que o Brasil e o empresário brasileiro têm estatura suficiente para enfrentar, de igual para igual, o investidor estrangeiro. Acho que esses parâmetros de se colocarem percentuais na legislação apenas servem para afugentar, a priori, o capital que queiram aqui investir. Quanto ao segundo ponto, da transformação, que o nosso companheiro Ermírio de Moraes propugna para que se faça aqui no País, creio que é desejada – eu mesmo mostrei aqui que a mineração, que representa apenas 4,2% do PIB acaba, se seguirmos o segundo estágio, a 26% do PIB. 87 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Sou inteiramente contrário à exportação de cassiterita mas, sim, à exportação de estanho, ou até os artigos de soldas e de tudo mais. Acho, portanto, que devemos industrializar, no País, o quanto possível. Mas nem tudo é possível; às vezes, temos que vender também um produto mineral que não tenha beneficiamento mais refinado ou por questões de mercado. E se essa for a única condição pela qual esse bem poderá ser exportado, sou favorável a exportação. No último ponto, quanto às taxas de pesquisas, para evitar esse número de pesquisas requeridos por empresas, confesso que não tenho solução, nem no âmbito do IBRAM temos uma solução, quer dizer, o art. o art. 26 do Código de Mineração em vigor propicia a que empresas através de multiplicação de subsidiárias, que chamamos subsidiárias de papel, e aí não falamos das multinacionais, porque até o próprio BNDE tinha muito dessas empresas para requerer pesquisas – isso propicia a que um grupo de empresas, naturalmente as mais organizadas, ou que tenham capital, se beneficiem dessa legislação e requeiram mais pesquisas. Não sei se os números apresentados e que por aí circulam são totalmente verdadeiros; o que sei é que, quando se requer uma pesquisa, o interessado não sai do Departamento Nacional da Produção Mineral até ver o seu pedido publicado e deferido. Agora, quando ele desiste desse requerimento de pesquisa, porque foi á l e fez um exame perfunctório achou que não tinha nada de comercialmente explorável, quando ele desiste, essa desistência não é logo lançada nas estatísticas do Departamento Nacional da Produção Mineral, porque ele também não tem interesse de ir lá dizer que desistiu, ele desistiu para todos os efeitos, ele já poderá requerer outras áreas, porque daquela ele desistiu. Se a repartição pública demora a colocar isso, de modo que as etrato mais fiel da realidade, é outro problema. De modo que, esses números também têm que ser olhados com algum cuidado. Não sei se a taxa pela qual V. Ex.ª sugere como solução seja um caminho. Mas realmente, temos tido reuniões com técnicos, reuniões entre nós, reuniões com Departamento Nacional da Produção Mineral, reuniões no Conselho Superior de Minas, e acho que precisava haver um mecanismo de modo a que isso fosse mais bem distribuído. A taxa talvez seja um caminho; não sei se o melhor. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra à ilustre Constituinte Raquel Cândido. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Tomei o cuidado de manusear alguns dados na minha pobre Região amazônica e vou fazer uma observação, sobre que V. Ex.ª citou no preâmbulo de sua explanação, e já a fundamentando mais à frente, alerta, para que não mexamos na "galinha dos ovos de ouro". Essa "galinha dos ovos de ouro" que V. Ex.ª defende, com tanta veemência e sabedoria, é detentora de 54% do total de quilômetros quadrados, na Região de Rondônia. No Amapá, é detentora de 43% – Grupo BRASCAN DP; no Amazonas, 31% – DP BRASCAN e V. Ex.ª disse aí, piegasmente, que as jazidas minerais deste País ficam no lugar que Deus colocou. O Amapá é uma prova disso. E falta de verdade com relação às jazidas de manganês que foram levadas, na sua montanha, para outro país – aí Deus não pôs a mão! Ela foi levada, por interesse de outras pessoas. Deus falhou aí. Então, já estamos a questionar essa grande potencialidade de Deus, defendida por V. Ex.ª aí! (Palmas) Conhecemos essa artimanha, desde 1972, quando a má portaria criou a província estanífera de Rondônia, e parte do Amazonas, com uma mentira dupla, defendida hoje aqui nesta palestra – desculpe-me V. Ex.ª – quando se dizia naquela portaria baixada, de tirar os garimpeiros a toque de caixa, e que não foi colocado, por V. Ex.ª, com muita habilidade e cuidado, como elemento depredador na área mineraria, que a industrialização deste País seria levada para a Província Estanífera do Brasil. O IBRAM teve papel fundamental, pelo seu cartório oficial, que é o DNPM, mas hoje e tãosomente o creditor de mapas para a entrega às mineradoras, em especial as multinacionais. (Palmas) Até hoje, nem sequer um forno de fundição, Sr. Presidente, foi feito na região da província estanífera, em Rondônia. Hoje, a Região de Campo Novo, retirados os dique, está entregue à sanha e à saga da mata, com seus fornos, com as caldeiras. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª esgotou os seus três minutos. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Já vou concluir, Sr. Presidente. E continuam os alvarás que V. Ex.ª sabiamente coloca para a responsabilidade daquele Departamento, que servilmente atende ao IBRAM, todos os dias, e que não deu baixa nessa concessão. Então, em Rondônia, são 54Km² da sua área para a BRASCAN, e V. Ex.ª diz que tem uma diferenciação com relação ao subsolo. Mas é comum, e V. Ex.ª sabe disso, que as milícias das multinacionais, ao verem um agricultor, detentor apenas do solo, cavar aquela área, ser espancado, muitas vezes a plantar. E, muitas vezes, surrarem garimpeiros, trabalhadores, em áreas já retiradas do serviço das empresas nacionais. Pergunto: o DNPM, aqui, com a palavra de Deus avocada para não ida das minas para outros países, fato esse que ele desconhece, porque as minas continuam no mesmo local... O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): –Termine V. Ex.ª a argüição. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Já vou concluir. Como V. Sª vê a caducidade desses alvarás e a revisão desta figura mal-assombrada, agourenta chamada concessão, pela figura do contrato mineral, por tempo determinado, com cláusulas específicas? O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Ilustre Constituinte e Deputada Raquel Cândido, algumas das afirmativas que V. Ex.ª faz são muito lisonjeiras. Mas, devo dizer que o IBRAM não tem a força que V. Ex.ª pensa. Ele não é linha auxiliar do Departamento Nacional da Produção Mineral, nem nunca foi. Talvez, até gostasse de ser mas não é. Prova disso é que, quando V. Ex.ª menciona esta questão da Portaria sobre a garimpagem, em Rondônia, o IBRAM nem existia. Portanto, o IBRAM não pode ser culpado do teor daquela Portaria, boa ou má, porque nem existia; o IBRAM tem exatamente 11 anos de idade, e essa Portaria é mais antiga do que isso. Quanto às montanhas de manganês que estão em outra região, ou montanhas de qualquer outro minério, tanto seja da Vale do Rio Doce, ou de qualquer outra que saiu daqui para outro lugar, isso é óbvio, pois, se não fizermos uma exploração mineral, o minério ficará eternamente no subsolo e nós "deitados eternamente em berço esplendido". A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – E a industrialização, onde é que fica? O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Evidentemente que se deve fazer a industrialização. Creio que já respondi a essa pergunta, quando fui solicitado a uma intervenção sobre o comentário do Sr. Antônio Ermírio de Morais. Eu sou favorável a ela. Agora, acho que nem sempre ela poderá ser feita por questões de mercado. Sou, já disse, inteiramente contrário à exportação do concentrado de cassiterita. Acho que o concentrado de cassiterita tem que ser industrializado no País, e transformado em estanho, porque há um mercado na questão do estanho. Esses são os pontos que eu gostaria de dizer; e não vejo divergências de conceitos, estamos inteiramente de acordo com isso. Agora, por favor, não atribua ao IBRAM uma importância que ele gostaria de ter, mas não tem. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Ouvimos o que já foi comentado por alguns Colegas a respeito de taxações novas sobre o setor mineral. O fundo de exaustão foi um trabalho apresentado pelo meu Estado, na legislatura passada, com um projeto de lei no Senado Federal, e dentro do objetivo de propiciar, a nível congressual, essa discussão, porque há pontos de vista, no meu Estado, que se referem a isso, comparando o fundo de exaustão com possível modificação daquilo que é estabelecido também por portaria, que é o preço de pauta, já que Minas Gerais tem minério de ferro, tem 70% da nossa produção e exportação. Em segundo lugar, V. Ex.ª se referiu a que amanhã, irá falar do Imposto Único sobre Minérios. Eu já referi, e inclusive quero insistir nisto com o nosso Relator, que o grande problema que vejo, para ser regulamentado em primeiro lugar, é aplicação correta do Imposto Único sobre Minérios no setor mineral. Por quê? Porque tenho a certeza, por ter exercido essa atividade, de que se o Imposto voltar para o setor, nas 120 cidades mineradoras do nosso Estado, através da constituição de um fundo, poderíamos propiciar pequenas indústrias de transformação e estimular especialmente aquilo que se fez em Governador Valadares, a que já me referi, que são as cooperativas, às quais o Estado fornece o equipamento e os eventuais garimpeiros pagam em produção. Isso está funcionando em Governador Valadares. É um exemplo, inclusive com financiamento externo, através do Banco Interamericano de Desenvolvimento Econômico. Não quero insistir nisso, porque não existe a nível local – e quero acentuar isso para os colegas – nenhum trabalho nas Assembléias Legislativas dos Estados para regulamentar ou obrigar que o estado aplique, no setor, aquilo que é recolhido nele. No meu Estado, por exemplo, aplica-se o IUM para salvar bancos, para pagar folha de pessoal, etc. Como o colega Relator, Virgildásio de Senna, disse-me que isso é muito difícil de se fazer, porque é uma decisão política DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) local, então vamos concluir que esse imposto torna-se desnecessário. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª esgotou seus 3 minutos. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Vou terminar, Sr. Presidente. Finalmente, acho indispensável e as razões, parecem-me pelas exposições, estão claras, porque falamos muito em reforçar o poder da União de legislar. Temos a preocupação de fortalecer a Federação ou restabelecer o princípio federativo. Os casos de garimpo, por exemplo, e em outros casos, acredito que seriam muito mais facilmente examinados e resolvidos desde que o Estado participasse do processo decisório da concessão de alvarás, desde o início; de assumir, concomitantemente, paralemente, com a União, o dever de examinar e conferir ou não alvarás ou direitos de lavra, posteriormente. Com isso evitar-se-ia até o problema do meio ambiente, em que o colega Gabriel Guerreiro acha que devem o Estado e o Município legislar complementarmente. Creio que o Estado deve participar desde o início. É esta a proposta que vou encaminhar à Mesa, depois de amanhã, dentro de outras colocações, que o Estado participará do início do processo de fornecimento de alvarás, quer seja de pesquisa, quer seja de lavra. (Palmas.) O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Sr. Constituinte Gil César, a propósito do fundo de exaustão, ficaria como o que disse o Constituinte seu colega, Constituinte Gabriel Guerreiro, que é preciso que estabeleçamos normas e remetamos à legislação ordinária providências como esta do fundo de axaustão. É um assunto que deve ser debatido e eventualmente deve ser acolhido. Fica muito difícil, em tese, dizermos se somos contra ou somos a favor, mas penso que numa legislação ordinária ele deverá ser visto. Quanto ao Imposto Único sobre Minerais, hoje cobrado e que é repassado, na quase totalidade, aos Estados e Municípios, acredito que V. Ex.ª tem toda razão de dizer que, em vários Estados e Municípios, ele tem sido desviado da sua finalidade precípua, que é reverter para a mineração. Em outros Estados, não. Ele tem sido, pelo menos ao que me consta, bastante bem aplicado. Quanto à questão dos Estados participarem na outorga dos alvarás de pesquisa, para que haja um desenvolvimento harmônico dessa questão, acredito que a idéia é boa. Resta saber se ela é prática, se ela é exeqüível. Mas tenho certeza de que V. Ex.ª, com a sua competência, com sua experiência legislativa e de ex-Secretário de Estado trará certamente uma contribuição muito válida. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª. Gostaríamos de agradecer ao Dr. João Marinho Nunes. (Pausa.) Com a palavra o Relator, Constituinte Virgildásio de Senna. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, pela segunda ou terceira vez, o nobre Constituinte Gil César põe-me como a "besta" negra desse problema do Imposto Único sobre Minerais. O que eu quis dizer ao nobre Constituinte, com a minha resposta, foi que o problema dependia de uma decisão política. O princípio geral de normas financeiras é que a receita não teve vinculações prévias, ela constitui um bloco único. É a decisão política, o corpo político esta- dual ou federal que irá fazer a destinação desse recurso, ou aplicando totalmente na pesquisa, como faz o Estado da Bahia, ou desviando politicamente, como o Governo de Minas, para aplicação naquilo que a política decidir em que deve ser aplicado. Não estou nem condenando nem elogiando a Bahia ou Minas. O que eu disse foi que se trata de decisão política, e nenhuma lei, a não ser que mudemos o caráter desse imposto, se criarmos uma taxa com destinação específica, fará algo semelhante mas enquanto for imposto – está aqui o Professor que é o mestre da taxa única – é a decisão política que irá definir a sua aplicação. Eu queria também aproveitar a oportunidade para dizer que nenhum depoente nesta Casa está submetido a julgamento; eles vêm espontaneamente prestar colaboração e nós, por mais divergentes que sejam as nossas opiniões, por mais que não concordemos em nada com aquelas pessoas que aqui vêm, temos por elas o maior respeito, a maior consideração e consideramos que a sua participação é um serviço público relevante. Eu queria deixar bem claro, para não parecer que qualquer dos Constituintes está aqui a submeter-se a julgamento, pessoas que, voluntária e honrosamente, vêm contribuir, com seus conhecimentos, para uma decisão soberana da Assembléia Nacional Constituinte. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Eu gostaria de agradecer ao Dr. João Marinho Nunes a atenção que nos dispensou, o brilhante trabalho que apresentou e dizer que não se impressione, porque há muita concordância. Muito obrigado a V. Ex.ª (Palmas.) O SR. JOÃO MARINHO NUNES: – Sr. Presidente, Sr. Relator, para mim é uma honra, um prazer e um dever inalienável vir aqui quantas vezes V. Ex.as desejarem o nosso depoimento. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Temos a satisfação de convidar o Dr. Vandelirno Teixeira de Carvalho, para fazer a sua exposição. V. Sª tem 15 minutos. O SR. VANDERLINO TEIXEIRA DE CARVALHO: – Sr. Presidente Sr. Relator, Srs. Constituintes, meus Srs. e minhas Srª. É com grande honra que a Coordenação Nacional dos Geólogos vem a esta Assembléia Nacional Constituinte trazer o seu depoimento. Acreditamos que os geólogos têm o dever de contribuir para a formação da opinião pública nacional. E aqui, quando vimos trazer a nossa contribuição, não nos move nenhum motivo corporativista, seja profissional ou empresarial, ou de qualquer tipo. A nossa preocupação é única e tão-somente com os interesses maiores da nação brasileira. Os geólogos brasileiros têm, como pontos embasantes do seu pensamento, para a questão mineral, relativamente à Constituinte, quatro pontos fundamentais: primeiro, que o bem mineral seja considerado como uma propriedade inalienável e imprescritível da Nação brasileira; segundo, que deve ser estabelecida a soberania nacional sobre os recursos minerais do Brasil; terceiro, que o aproveitamento dos recursos minerais brasileiros deve ser feito em benefício de toda a sociedade brasileira, e que esse aproveita- 88 mento encerre necessariamente um compromisso social com toda a população, principalmente com aquelas do interior do país; quarto, que a administração e a política dos recursos minerais do País sejam descentralizadas, com o Poder Legislativo desempenhando importante e relevante papel também nessa área da administração, não somente na questão de legislar. O atual roteiro de exploração e aproveitamento dos recursos naturais do País não atende a esses quatro pontos. Então, entendemos que as propostas da Conage constituem um modelo alternativo ao statu quo vigente. Por que o bem mineral deve pertencer à Nação? O bem mineral não é uma mercadoria simples como qualquer outra; ele tem, inequivocamente, características estratégicas; é um recurso natural finito que deve beneficiar não apenas as gerações atuais, mas também as futuras gerações do País. E por essas características entendemos que o bem mineral, necessariamente, tem que ser uma propriedade social de toda a população brasileira. Não pode constituir uma propriedade privada e tampouco uma propriedade estatal – esse, o nosso ponto de vista. Achamos que, pelas características específicas do bem mineral que o distingue de todas as mercadorias, que seja uma propriedade que possa ser de usufruto de toda a Nação brasileira, e não somente de uma minoria que são os mineradores, como ocorre atualmente. Fundamentalmente, o aproveitamento dos recursos minerais no Brasil ao reproduzir o modelo excludente e de concentração de renda que se verifica na economia mineral como um todo e no setor mineral, com muito mais intensidade, vem beneficiando tão-somente uma minoria da população. Achamos que isto não está de acordo com os interesses do País. A soberania nacional sobre os recursos minerais, no Brasil atualmente não existe. A Constituição brasileira e o Código de Mineração não têm forma, nos seus textos, de assegurar a soberania nacional sobre os recursos minerais no País, se uma empresa multinacional, aqui, descobrir uma ocorrência, pesquisá-la e cumprir todos os dispositivos do Código de Mineração, mas, se for do interesse do País não se conceder a lavra a essa empresa, fatalmente ela irá conseguir no Judiciário, porque cumpriu todos os dispositivos legais e, então, não tem como o Governo brasileiro não conceder a concessão, mesmo que seja contrário aos interesses do País. Isto tem que ficar bastante claro. Somente a Constituição de 1937 estabeleceu a soberania nacional sobre os recursos minerais no país, ao declarar que somente os brasileiros poderiam participar da mineração no País, ou as empresas nacionais. De 1946 até hoje, para todos os efeitos, foram igualados os capitais nacional e estrangeiro, numa igualdade fictícia, porque, de cara, já sabemos que o capital nacional não tem condições de competir, principalmente em termos de recursos financeiros, com o capital internacional. Então, é uma igualdade fictícia, que favorece somente o lado estrangeiro. Uma única exceção que existe, tendo em vista que a Constituição sempre remeteu legislação ordinária para regulamentar a questão, é a zona de faixa de fronteiras. pois que, ali, são necessários 51% de capital 89 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) nacional. Portanto, hoje, geograficamente, há uma diferenciação. Na faixa de fronteiras, têm que ser 51% de capital nacional; na maior parte do País, é "livre" esta situação. A situação do capital estrangeiro no País, hoje, é a seguinte: quanto à produção, de acordo com dados do CNPq, o capital estrangeiro responde por 37% do valor da produção, e quanto ao direito dos minerários, como aqui já foi dito, as áreas ocupadas pelo capital estrangeiro correspondem aos Territórios de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná, ou superior à área da Finlândia. E uma única empresa, um único grupo empresarial responde por 11,9% de tudo o que foi concedido. Essa área é superior a duas vezes Portugal, ou a 6 vezes a superfície da Bélgica. Há um único consórcio estrangeiro. A proposta da Conage, em relação a essa questão é que seja nacionalizada, parcialmente, a mineração brasileira, com 51% do capital sendo de brasileiros ou de empresas genuinamente nacionais, com o poder de decisão ficando em território nacional e que seja declarado expressamente, explicitamente, na Constituição brasileira, de que a União poderá, seja pelo regime de concessão ou seja pelo regime do contrato, negar-se a conceder a lavra à empresa que tenha capital estrangeiro, desde que essa concessão seja nociva ao interesse nacional. Acho que isso é o mínimo que temos de colocar, como forma de controle, de que os nativos têm direito inalienável. Todos os povos do Mundo reconhecem que temos este direito de colocar, na nossa Constituição que, se a concessão a uma determinada empresa estrangeira de um determinado depósito mineral for contrária ao interesse do País, a União deve ter soberanamente garantido pela Constituição o direito de fazer isto. Outro ponto de nossa proposta é que o aproveitamento dos recursos minerais devem encerrar, necessariamente, um compromisso social. Infelizmente, hoje, não sentimos que o aproveitamento dos recursos minerais vem efetivamente favorecendo à população brasileira. Aqui temos vários Constituintes de Minas Gerais, de Goiás, da Bahia, do Rio de Janeiro, do Pará, que são importantes Estados mineradores, e sugiro aos Srs. Constituintes que façam uma séria análise dos benefícios reais que a mineração está trazendo aos seus respectivos estados; façam análise concreta e verifiquem se realmente a mineração está atendendo àquilo que deveria atender, por ser um recurso natural finito – é importante dizer. Agora, seus respectivos Estados estão sendo beneficiados com a mineração no Brasil – exemplo; a Vale do Rio Doce tem a mineração mais importante do País, desde a década de 40; mas se retirarmos os municípios que têm as siderúrgicas e que ficam exclusivamente com a mineração, a renda per capita do Vale do Rio Doce é igual à do Piauí, um dos Estados mais pobres do País. Esse dado dramático e, por isso, deve ser repensada a mineração no Brasil, em função dessa situação, porque queremos que o bem mineral reverta em benefício da população brasileira e não somente de empresas estatais ou de empresas particulares, nacionais ou estrangeiras. Outro ponto fundamental em que achamos que o desenvolvimento da mineração no Brasil não traz benefícios, na medida em que deveria trazer, é porque ele está baseado em conceitos arcaicos, já caducos no Direito Mineral Internacional, e um deles, o principal, é a concessão mineral, que é um resquício do coronelismo. As potências coloniais a empregavam na Ásia e na África sem, contudo, cometer o absurdo de dar concessões perpétuas como são dadas no Brasil. As colônias da África, da Inglaterra e da França eram, no máximo, de 99 anos; aqui, são perpétuas. É um absurdo. A concessão tem um caráter fixista, burocrático, cartorial. Por que todo mundo chama o garimpeiro de cartório? Ele está fazendo a concessão, é isso; por força de, realmente, a concessão mineral transformar o homem num cartório, não num administrador dos recursos minerais do País, porque fixista e mobilista, considera todos os bens minerais de uma única forma, num País do tamanho do Brasil. Para isso, propomos seja transformada, modificada a concessão mineral, pela figura moderna do acordo mineral que é objeto de negociação entre o minerador e a União. É, neste momento, através da negociação, com todas as possibilidades que existem, que efetivamente as populações dos Estados e dos Municípios capturarão benefícios sociais. Outra questão já tratada, aqui, pelo Companheiro Guerreiro, é a indenização pelo direito de lavrar. Se o bem mineral é um recurso natural finito que pertence à nação brasileira, por que o minerador não pagar uma indenização pelo direito de lavrar esse bem mineral? Isso é extremamente relevante, no sentido de aí o bem mineral gerar recursos para a aplicação nas questões da população. O Imposto Único sobre Minerais não é o minerador quem paga; quem paga é a população. Então, ela não está sendo beneficiada com nada, ela é quem está pagando; não é o minerador quem paga, com exceção dos minerais importados; é a população quem paga e o IUM não constitui uma indenização pelo direito de lavrar. Outra questão fundamental é a da política de minerais estratégicos. O Brasil não tem uma política mineral global setorial para cada bem mineral e muita menos uma política de minerais estratégicos. Quando, aqui, o Constituinte Marcos Lima tomou a iniciativa de apresentar um projeto, na Câmara dos Deputados traçando uma política de minerais estratégicos para o País, e aprovada na Câmara dos Deputados, o que respondeu o Poder Executivo? Respondeu, única e exclusivamente, recomendando que o Senado deveria arquivar aquele projeto e não teve a capacidade, pelo menos, de propor uma política alternativa àquela que S. Ex.ª estava apresentando, tal a inércia que tem hoje o setor mineral no setor público brasileiro. Outro ponto extremamente relevante e palpitante é a questão garimpeira, aqui já tratada. E vemos milhares de trabalhadores, por todo este imenso território nacional trabalhando duro, mas ganhando muito pouco, simplesmente assegurando a sua sobrevivência física. Se está produzindo demais, alguém deve estar ganhando com isto. Quem está ganhando como trabalho de milhares de trabalhadores por este Brasil a fora? A situação no garimpo, hoje, é fruto da deformação introduzida no Direito Mineral Brasileiro, pelo golpe militar de 1964. O código de Mineração de 1967, lido aqui, inclusive na Exposição de Motivos, pelo Dr. Marinho, tratou propositadamente de acabar com o garimpo. Era política do Governo acabar com o garimpo, tanto é que colocou uma defini- ção de garimpeiro tão romântica e que não existe. Uma pessoa trabalhar sozinha, nem o pai dele podendo ajudá-lo, nem o irmão, nem a filha, nem ninguém, o sujeito trabalhando sozinho. Isso não existe em lugar nenhum do Mundo. Então, essa figura foi feita propositadamente para beneficiar somente a grande mineração e o Código de Mineração só se aplica à grande mineração. Mas os fatores sociais, a luta do povo fez com que o tiro saísse pela culatra e, hoje, temos essa situação terrível e difícil de ser administrada, no contexto da política, mineral brasileira. Mas uma solução tem que sair. Não é possível que milhares de homens sejam explorados, como nunca se viu, talvez, alguns exemplos no alvorecer do Capitalismo, duramente explorados. Por outro lado, temos outra figura, outro ator do garimpo, o chamado empresáriogarimpeiro que explora esses trabalhadores. Contudo, esses empresários-garimpeiros mostraram uma força muito grande no sentido de dispensar uma energia de produção de bens minerais que deve ser aproveitada pela Nação. Esses são, efetivamente, pequenos mineradores do Brasil (palmas) e não têm lugar para a pequena mineração, consoante o Código Mineral Brasileiro! Não têm lugar! O Código de Mineração... O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª tem dois minutos para terminar. O SR. VANDERLINO TEIXEIRA DE CARVALHO: – Há discriminação dos atores do garimpo; de um lado, o trabalhador do garimpo; do outro, o empresário-garimpeiro, através da empresa de garimpagem sendo claramente especificado o seu trabalho. Outra questão relevante que temos: o minerador deve encerrar um compromisso social com as populações dos municípios onde se situam. E propomos que parte do lucro das empresas de mineração seja investida em outras atividades econômicas permanentes que não a mineração, de maneira que, no município onde está situada a mina, quando acabar aquela mina, aquele depósito mineral seja o germe, a origem de outras atividades econômicas que beneficiem as futuras gerações do País. Por outro lado, não podemos deixar de considerar a descentralização do setor mineral. A prática constitucional brasileira do passado é pela descentralização. Todas as Constituições brasileiras rezam isto. Somente a Constituição autoritária de 1967 centralizou, na União, a questão mineral. Os Estados brasileiros tinham atribuições legais de agilizar, supletiva e complementarmente, em relação à questão, e propugnamos que uma prática anterior de mais de 75 anos seja voltada no sentido de beneficiar a população. Finalmente, tendo em vista o seu caráter finito, não renovável, não se pode cometer erros com o bem mineral. Se se cometem erros, eles são irreversíveis. A administração dos recursos minerais não deve ficar única e exclusivamente com o Poder Executivo. O Poder Legislativo tem a obrigação de participar desta administração, apreciando os contratos de lavras ou todas as questões relativas, principalmente ao capital estrangeiro. Isso não é nenhuma novidade a nível mundial. Os parlamentos, de uma maneira geral, administram sobre a questão mineral e um exemplo importante que pode ser dado é que, aqui, a Braspetro, que DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) assinou um contrato com o governo norueguês para fazer exploração de petróleo, está à espera da homologação, a ratificação desse contrato pelo Parlamento norueguês. Finalmente, não poderíamos deixar de falar sobre monopólio estatal do petróleo. Os órgãos brasileiros apóiam o monopólio estatal do petróleo, com toda a sua força, e propugnam que as figuras chamadas de contrato de risco não sejam mais objeto. O ato do autoritarismo contrariando toda a Constituição brasileira e toda lei, como disse um dos mais eminentes Constituintes, que é o Professor Afonso Arinos, que diz textualmente que os contratos de risco são inconstitucionais. Os geólogos brasileiros, fundamentalmente, os geólogos da Petrobrás, são contra os contratos de risco. Temos o seguinte: se aqueles profissionais, que aqui tanto foram elogiados, tivessem a oportunidade de serem ouvidos, tenho a certeza de que eles, em grande maioria ou em sua totalidade, seriam totalmente contrários ao contrato de risco, porque eles não atendem aos interesses da sociedade. Quando o Presidente da Petrobrás vem aqui e diz que a Petrobrás tem controle do que é feito nos contratos de risco, os geólogos que deveriam fazer esse controle, respondem que não há controle nenhum, porque eles, efetivamente, não têm condições para fazer este controle e é impossível fazêlo. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gabriel Guerreiro. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, ilustre conferencista. Evidentemente, em muitas das questões, que não são de hoje, pois temos a felicidade de discutir, discordar, concordar etc. – permitam-me deixar de fazer maiores comentários sobre o que disse o nobre companheiro quanto à soberania, quanto aos recursos naturais, recursos minerais, especificamente, como bens não renováveis – concordamos totalmente. Quanto à propriedade, não se discute; quanto ao aproveitamento em favor da sociedade e quanto à descentralização temos algumas colocações a fazer. Sobre o aproveitamento em favor da sociedade, quero deter-me no problema do Imposto Único sobre Minerais. Essa é uma questão bastante polêmica e discutida hoje e os interesses dos governos estaduais diferem dos governos municipais e do governo da União. Quanto ao imposto, concordo plenamente em gênero, número e grau, com o nosso Relator, de que não tem destino certo; é o imposto cobrado e irá para um grande fundo, é a questão política que decide onde irá ser aplicado. V. Ex.ª vai colocar isto no relatório, e espero que a maioria dos Constituintes aprove, porque acho que é esse o destino. É completamente diverso e diferente da participação do Estado, do Município, da União, na lavra do bem mineral. Imposto é pago sobre uma atividade, assim como o ISS é pago sobre atividades, sobre serviços, o imposto é o ICM – Imposto sobre Circulação de Mercadorias, o Imposto Único sobre Minerais é pago sobre a atividade mineral e, no fim da linha, quem paga é o consumidor. Portanto, não é a participação, em hipótese alguma, na lavra do bem mineral. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª esgotou seus três minutos. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Peço vênia a V. Ex.ª porque esta é uma questão bastante polêmica e eu gostaria de formular duas perguntas ao nobre conferencista. Primeiro, com a sua visão a respeito dessa questão da participação do ICM e da participação da União, dos Estados e Municípios na lavra e a destinação, especificamente, desta quota, para subsidiar ou para criar fundos, para que se possa progredir no conhecimento geológico do País. Colocaria mais: o que o nobre conferencista não abordou é quanto à questão do conhecimento do subsolo, que é uma questão que considero absolutamente fundamental e estratégica. Não podemos quase, hoje, estabelecer nenhuma legislação sobre o futuro mineral do Brasil, na medida em que o nosso conhecimento geológico e de superfície neste País é muito precário. Gostaria de ouvir a sua opinião sobre isto. O SR. VANDERLINO TEIXEIRA DE CARVALHO: – Inicialmente, meu caro Constituinte, em relação à questão da indenização pelo direito de lavrar, a que V. Ex.ª está chamando de participação na lavra, é a mesma coisa. Achamos que a Constituição deve prever em linhas gerais. Não concordamos, por exemplo, com a proposta de Minas Gerais, na medida em que se fixou um percentual. Achamos que isso deverá ser resolvido pela legislação ordinária e até determinado valor, tendo em vista a possibilidade de se inviabilizarem determinados depósitos minerais. Quero dizer o seguinte: esta questão da indenização pelo direito de lavrar é totalmente factível, se consideramos que várias empresas, hoje, no Brasil, já pagam royalties pelo direito de lavrar, que é a indenização. Foi citado aqui, inclusive, o caso da SAMA. A SAMA paga 5% à empresa do Governo de Goiás; do faturamento; no entanto, a empresa é extremamente sólida e não está inviabilizando nada do seu aproveitamento real. Citei um exemplo claro. Há também uma empresa em Araxá que paga um royalty ao Governo de Minas Gerais. Então, essa prática já não é desconhecida no Brasil e inclusive a legislação goiana de 1906, além dos impostos, tinha um Código de Mineração onde já constava a indenização pelo direito de lavrar. Houve um retrocesso no Direito Mineral brasileiro. O que se vê é isso. Essa já é uma prática que acho bastante sensível, se a propriedade pertence à Nação, é justo que alguém pague uma indenização pelo direito de aproveitá-la. Agora, se a Nação não tem a propriedade como é hoje, na prática dos res nullius, que não define quem é o proprietário mineral, ela só pertence à Nação enquanto não é descoberta; quando descoberta, passa a ser propriedade privada do minerador. Essa é a realidade. Aí não cabe uma indenização, porque é de quem descobrir, a pessoa está lavrando uma coisa que lhe pertence. Daí achamos que o modelo mineral brasileiro é extremamente concentrador de renda, no aspecto de transformar a descoberta numa propriedade privada do minerador. O segundo ponto é quanto à questão da necessidade dos levantamentos geológicos básicos do País, o que é mais do que necessário. A política 90 mineral do Governo militar, de certa forma, foi bastante exitosa, menos em um ponto fundamental: não promoveu o conhecimento do subsolo brasileiro e deixou mais uma forma anárquica de conhecimento. O Departamento Nacional da Produção Mineral é um órgão que sempre viveu em crise, desde a sua nascença é bastante sintomático – raros, vamos dizer, períodos de lucidez, em que efetivamente desenvolveu algum papel, a história desse órgão é de crise, como está no momento. Então, não acho que esta seja uma questão constitucional, é uma questão muito importante da política mineral brasileira, que deve ser encarada com toda a seriedade. Mas tenho dúvida de que seja matéria constitucional. O SR. PRESIDENTE (Delfim Neto): – Com a palavra o Constituinte Jalles Fontoura. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Sr. Presidente da Conage, V. S.ª abortou assunto que constitui preocupação de toda esta Assembléia, com relação à centralização ou descentralização nesta área do subsolo. Temos em Goiás – V. S.ª conhece bem – a participação de uma empresa do Estado que teve um desempenho específico ao longo dos anos, com relação à exploração, à política mineral no Estado. Os 5% a que V. S.ª se referiu, da Sama geraram por exemplo, a Usina-Piloto de Catalão, que veio a se transformar, hoje, numa subsidiária da Petrobrás – a Goiasfértil. Então, queria ouvir a opinião de V. S.ª com relação à maior participação do Estado e do Município, nas concessões ou, como V. S.ª diz, nos acordos minerais. Qual seria a forma de o Estado participar na concessão, de forma a poder também trabalhar em cima dos bens minerais sediados no Estado? O SR. VANDERLINO TEIXEIRA DE CARVALHO: – Sr. Constituinte, esta é uma questão da maior importância, e a colocamos, de início, da seguinte maneira: se o Brasil é opção, por ser uma República Federativa, é evidente que os Estados têm que ter uma importância enorme. Todos os grandes países federados, por exemplo, Estados Unidos, Canadá e Austrália – só para dizer da importância do setor mineral – são países federados, e as províncias, os Estados participam ativamente, tanto na legislação, quanto na fiscalização dos respectivos setores minerais. Eles são países enormes do tamanho do Brasil, ou maiores alguns deles. Por que não podemos ter aqui os mesmos exemplos? Por que concentrar tudo na União, num País tão diverso, como é o Brasil? Além do mais, a tradição constitucional brasileira, neste campo, era pela descentralização. O centralismo é fruto do autoritarismo. Temos apenas uma tradição de descentralização constitucional superior a 75 anos, a partir de 1891; e temos 20 anos de interregno e agora, com centralização. Devemos voltar, forçosamente, a essa situação anterior. E respondendo, efetivamente, à sua pergunta de como os Estados poderiam participar da nova proposta de contrato mineral, que seria uma atribuição da União, nós colocamos a nossa proposta: que aqueles Estados que estiverem preparados, técnica e administrativamente para essa missão complexa, poderiam requerer ao Congresso Nacional e, através de uma lei específica para Estado, seria autorizada ou não a descentra- 91 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) lização dessa questão da assinatura dos contratos s de lavra. Propomos também o seguinte: mesmo que continue sendo atribuição exclusiva da União, esses contratos seriam submetidos às Assembléias Legislativas dos Estados que verificariam se os interesses dos Estados estavam sendo atendidos naquele contrato mineral, quer dizer, efetivamente, uma administração dos recursos minerais em beneficio da população, não um ato cartorial, como é no momento, em que os municípios, os Estados e a população não são consultados de forma alguma. O contrato mineral, a negociação, seja através da União, seja através dos Estados, como ocorre com o Estado de São Paulo, que tem condições de estabelecer esses acordos, ou com o Estado de Goiás, ou vários outros que tenham capacitação técnica administrativa necessária, acho que se deve deixar a critério dos Estados. Se quiserem, reivindicarão ao Congresso Nacional, e este fará um estudo e verá da conveniência ou não de autorizá-los a assinar. São acordos extremamente importantes, que têm que ser, necessariamente, submetidos ao Parlamento, tendo em vista a transparência necessária a cada um deles. É fundamental a participação do Congresso Nacional, em casos que envolvam capital estrangeiro, para ver se os aspectos globais do interesse do País estão sendo preservados, e dos Legislativos estaduais, em todos os contratos, sejam por empresas estatais ou privadas nacionais, ou por empresas privadas estrangeiras. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Dr. Vanderlino, além de cumprimentá-lo pela sua exposição, bastante forte e nacionalista, gostaria de obter o seu ponto de vista sobre uma questão que faz parte da proposição que apresentei a esta Subcomissão, sobre a reserva do capital a brasileiros, nas empresas nacionais, uma reserva privativa da atividade mineraria, apenas divergindo de V. S.ª quanto ao conceito de empresa nacional, na medida que numa outra proposição, tentei conceituar empresa nacional como aquela que tem 70% do seu patrimônio, do seu capital total, em mãos de brasileiros, ou de outras empresas nacionais; ficando, portanto, apenas 30% do capital total representado por ações ou quotas de capital não votantes, para as empresas estrangeiras. Gostaria de saber de V. S.ª se essa definição que se inspira na Lei nº 7.232, que é a Lei de Informática, constituiria algum obstáculo para o desenvolvimento da atividade minerária, tendo em vista o não afugentamento de capital estrangeiro. Porque foi aqui mencionado pelo Palestrante anterior, Sr. João Marinho Nunes, que isso impediria a circulação de ações ao portador. É claro que isso não constituiria nenhum obstáculo à existência de ações ao portador, desde que elas não tivessem direito a voto. De modo que eu gostaria de saber a sua opinião sobre a proposta de que as empresas dedicadas à mineração sejam nacionais neste sentido, de todo o capital votante estar em mãos de nacionais e até 30% do patrimônio total do capital não votante, em mãos de empresas estrangeiras. O SR. VANDERUNO TEIXEIRA DE CARVALHO: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes. Entendemos que o capital estrangeiro é uma realidade contemporânea mundial; todos os países, praticamente, têm capital estrangeiro. O problema não é a existência, em si, do capital estrangeiro, e, sim, dos mecanismos de controle desse capital, em benefício das populações nativas, isto é que importa. O fundamental é isto, um mecanismo de controle que estabeleça os interesses da população. O que V. Ex.ª está apresentando é um mecanismo desse tipo, quer dizer, ele não renega a participação do capital estrangeiro. O que nós apresentamos é também outro mecanismo. Não posso dizer aqui qual é o, melhor se o de V. Ex.ª ou o que apresentamos. Julgamos que, tendo pelo menos 51% do capital nacional e todas as ações em mãos de nacionais, pessoas brasileiras, e o centro da decisão seja o Brasil, proibindo contratos de acionistas, acordos de acionistas que transfiram qualquer tipo de cotejo ao sócio estrangeiro, poder administrativo, poder técnico, poder de comercialização, acredito que os interesses do País poderão ser resguardados. Quanto ao segundo aspecto da questão, se afugentaria o capital estrangeiro, eu diria que não tenho medo; não acho que afugente, porque, pela História dos outros países onde já ocorreu isso, o capital estrangeiro não foi afugentado. Por que iria acontecer no Brasil? O México nacionalizou a sua mineração e, no entanto, o capital estrangeiro participa ativamente da produção mineral mexicana. A Austrália é outro exemplo, um grande país produtor. Então, não acredito. As multinacionais não têm caráter de decisão, fundamentalmente, por essa questão; preocupa-se mais se o país tem estabilidade política, econômica há fatores que interessam muito mais às multinacionais, como a taxa de retorno, a possibilidade de mercados e, especialmente, se a taxa interna de retomo de capital, de acordo com os seus critérios é favorável, por isso eles têm a cláusula do risco. Para a Bolívia, a taxa interna de retorno é "X", para o Brasil, será bem menor. Em princípio, eles investem no Mundo inteiro, desde que tenham taxas de retorno atrativas e de acordo com os riscos a que estão se submetendo. O que importa, efetivamente, é isso; não é legislação em si. Por exemplo, no México, as empresas são obrigadas a dar 10% do lucro, em ações, para os seus trabalhadores, até 50% do capital das ações. É uma forma de introduzir uma autogestão uma co-gestão bastante expressiva e, mesmo assim, não afugentou as empresas multinacionais daquele Pais. Então, não acredito que a limitação, a nacionalização parcial da mineração, no Brasil, como já ocorreu em vários países, vá afugentar as empresas multinacionais. Elas têm um poder de adaptação enorme, em relação a essas questões. Não sei se respondi adequadamente. Agora, quanto à questão de 51% e 70%, não considero relevante. Se, no Brasil, os capitais nacionais têm pelo menos 51%, e os acordos, os contratos sociais e todos os mecanismos não permitirem a transferência do capital ao sócio estrangeiro, os interesses do País serão resguardados. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao Constituinte Marcos Lima. O SR. CONSTITUINTE MARCOS L I M A : – Prezado Sr. Vanderlino Teixeira Carvalho, Presidente da CONAGE, inicialmente os meus cumprimentos pelo seu depoimento a esta Subcomissão. Gostaria de, antes de formular as minhas questões, dar opinião sobre determinado assunto que V. S.ª abordou: sobre o meu projeto que propõe a criação do Programa Nacional dos Minerais Estratégicos, aprovado na Câmara e, infelizmente, não aprovado no Senado, ano passado. V. S.ª disse que possivelmente não seria mais aprovado. Tenho ainda grandes esperanças nessa aprovação porque os movimentos contrários que detectamos, no Senado, foram localizados, e acredito também pela renovação que houve e a preocupação do povo brasileiro – ouso dizer isso– com suas riquezas minerais estratégicas. Porque esse conceito dos minerais estratégicos, evidentemente, se modifica a cada dia – vinculamos isso ao corpo do projeto – quando temos descobertas muito recentes, na área dos supercondutores, com recursos minerais abundantes no Brasil que terão, para o Mundo, sentido muito estratégico, achamos que, apesar de reconhecermos que há pressões e má-vontade de alguns setores o Senado irá aprová-lo. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Seu tempo esgotou-se. O SR. CONSTITUINTE MARCOS LIMA: – Pediria ao Sr. Presidente uma consideração extra, para formular as minhas questões. Eu não teria essa visão, tão pessimista, do nosso convidado de hoje. Gostaria de saber a opinião da CONAGE se essa participação constante do meu projeto, 51% de capital nacional das empresas exploradoras de minerais estratégicos, está de acordo com o pensamento da CONAGE? E uma segunda pergunta, já falando sobre o IUM. Gostaríamos de saber sobre essa participação de 20%, 10% e 70%; 10% da União; 20% do município e 70% do Estado; qual o pensamento da CONAGE, com a seguinte observação que gostaria de fazer: poucos municípios no Brasil, como o Município Presidente Figueiredo, alguns municípios de Santa Catarina, o Município de Itabira e mais alguns não totalizando 30, são aquinhoados, absorvendo praticamente 70% a 80% da arrecadação de IUM. Acho que a falha está na aplicação pelos Estados, a começar por Minas Gerais, meu Estado, que desvia para outras aplicações os recursos que vêm do IUM. No Estado de Goiás ocorre o contrário, parece que se aplica mais do que se recebe. Gostaria de ouvira opinião de V. S.ª nesses dois aspectos. O SR. VANDERLINO TEIXEIRA DE CARVALHO: – Primeiramente, caro Constituinte, não demonstrei pessimismo em que o Senado venha a aprovar o seu projeto. Eu disse que o Executivo respondeu de uma maneira que me pareceu não ser a mais adequada. Se era contrário ao seu projeto, tinha obrigação, ao rejeitá-lo, de mandar imediatamente uma proposta alternativa ao mesmo, e não o fez. Espero que o Senado atenda. Inclusive o objetivo da existência do Senado é consertar eventuais problemas que ocorram na Câmara. O seu projeto tem alguns problemas, e no parecer que demos sobre ele, adiantamos e propusemos soluções para isso. Há algumas questões que necessitam ser reformuladas mas DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) é para isso que existe o Senado, senão haveria sentido a sua existência. O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados, pode perfeitamente ser melhorado e modificado, esse é o objetivo do Legislativo. Então, espero que o Senado venha a aprovar esse projeto. Quanto à questão se esse projeto está ou não em consonância com as propostas da CONAGE, digo que está inteiramente. Mas, na medida em que propugnamos que toda a mineração brasileira seja pelo menos de 51% de capital nacional, e o projeto de V. Ex.ª é só para aqueles minerais considerados como estratégicos, a nossa proposta está à frente da de V. S.ª mas se encaixa perfeitamente à sua; não há problema. Acho que assim atende ao interesse nacional. Relativamente à questão do IUM, a proposta da CONAGE é pela manutenção da situação atual. Sobre as distribuições de percentuais, achamos que a questão dos municípios não será resolvida exclusivamente com o IUM, mas com a indenização, pelo direito de lavrar. Então, vejo na nossa proposta, o seguinte: na medida em que a empresa da mineração, tendo em vista essa particularidade específica do setor mineral, do seu caráter de não – renovabilidade, for obrigado a aplicar parte do seu lucro no município em que está situada ou na parte interiorana do Estado em que está situada a mina – parte do seu lucro, que a legislação ordinária irá estabelecer em 5%, ou 10%, em outras atividades econômicas que não a mineração, porque a mina, inexoravelmente, um dia acabará – é finita. A nossa proposta é que, se aquela mina, aquele depósito, foi o gérmem, a origem de outras atividades econômicas permanentes na região, no dia em que acabar o fruto, ela estará permanente naquele município. Os mineradores deveriam apoiar esta proposta no sentido de que, ai, efetivamente, teriam um elo com a mineração, um elo profundo com a comunidade. Por que a comunidade, hoje, sente certa desconfiança em relação à mineração? É patente. Sinto certa hostilidade da população contra a mineração, porque a população não vê, realmente, benefícios, as populações municipais principalmente. Então, se houvesse essa obrigatoriedade, se atividades econômicas permanentes florescessem nos municípios, criando empregos e ativando a economia, as conseqüências do bem mineral resolveriam os problemas dos municípios e não através do IUM. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Gostaríamos de agradecer ao Dr. Vanderlino Teixeira de Carvalho a sua veemente exposição, dizendo que ficamos muito alegres, e fomos muito informados com o que nos disse. Muito obrigado. Passo a palavra ao Dr. Elmer Prata Salomão, Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia. O SR. ELMER PRATA SALOMÃO: – Inicialmente, gostaria de solicitar ao Sr. Presidente que me permitisse fixar alguns cartazes aqui, algumas ilustrações que vão auxiliar-me na exposição. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Pois não! V. S.ª tem 15 minutos para fazer sua exposição. O SR. ELMER PRATA SALOMÃO: – Obrigado! Senhores Componentes da Mesa, Srs. Constituintes, prezados SrªS e Srs: Venho, com muita honra, a esta Casa, na qualidade de Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia, uma entidade que há 40 anos encon- tra-se trabalhando pelas geociências, pela mineração, pelo setor mineral neste País. Congregamos, hoje, geólogos, engenheiros, técnicos, estudantes e profissionais das mais variadas atividades: cientistas e professores, e pretendemos que a nossa opinião seja uma pequena parcela daquilo que é, hoje, o nosso chamado setor mineral. A SBG, para se preparar para a Assembléia Nacional Constituinte vem trabalhando há um ano. Resolvemos trazer aos Srs. Constituintes não uma proposta constitucional, mas a opinião majoritária dos seus associados, coletada através de uma pesquisa, de âmbito nacional, individual, com cada um de seus associados, sobre as principais questões constitucionais. Essa pesquisa já foi distribuída, o documento dela originário também é do conhecimento dos Srs. Constituintes, encontrando-se à disposição de quem se interessar. Inicialmente, gostaria de dizer que, nesse questionário, houve manifestação de quase 90% dos associados, expressando a absoluta necessidade de se configurar, como propriedade da União, o bem mineral. Essa propriedade da União é absolutamente inalienável, concorda praticamente com tudo o que já foi dito sobre a questão e está embasada por uma pesquisa sólida de opinião dentro do setor mineral, de modo que, por todas as carcterísticas do bem mineral, pela sua irrenovabilidade, pelo seu caráter de distribuição desigual, pela sua característica de origem e bem-estar dos povos, pela sua característica de colocar em vantagem, na partição da riqueza internacional, aqueles países que os possuem, em quantidade e qualidade. Gostaria ainda de salientar, com bastante ênfase, que a Sociedade Brasileira de Geologia entende também que os bens minerais exigem, para o seu pleno aproveitamento, a continua aplicação de recursos em tecnologia, de forma a que se ampliem permanentemente os aspectos das descobertas e as formas de aproveitamento do bem mineral. É a tecnologia que possibilita se retirem das matérias-primas minerais cada vez mais nobres e de Forma viável, os metais e materiais úteis. Logo, o retardamento do avanço tecnológico implica diminuição do patrimônio mineral e limitação do uso e benefício dos bens minerais. Neste contexto, é responsabilidade fundamental do Estado promover os meios para a contínua geração de tecnologia na área mineral, assegurando a capacitação interna do setor. Igualmente importante é assegurar, por meio de mecanismos realmente eficientes, que qualquer tecnologia trazida ao País, por empresas estrangeiras, seja efetivamente incorporada e posta em uso corrente. O caráter estratégico do bem mineral deve ser salientado não só por suas características intrínsecas de nãorenovabilidade, de distribuição desigual e de necessidade de conteúdo tecnológico para seu desenvolvimento. É preciso que tenhamos bastante consciência de como o bem mineral é importante para o nosso País - Brasil. E é neste sentido que gostaria de tentar dar aos Srs. Constituintes uma visão um pouco mais ampla do bem mineral. Inicialmente lembrando que até há uns 15 ou 20 anos, as formas de relacionamento do segmento industrial e dos bens primários era no sentido de que, ao segmento industrial competia deter a posse do depósito mineral, para 92 que pudesse reduzir a sua vulnerabilidade, ou seja, os países industrializados, as grandes corporações industriais buscavam, ao redor do mundo, assegurar-se de que eram donas, em qualquer sentido, dos bens minerais, dos depósitos minerais, para que, com isso, a sua vulnerabilidade ficasse diminuída e assim as suas fábricas pudessem funcionar com tranqüilidade. Ocorre, senhores, que existiram mudanças dramáticas na economia e na própria relação entre as nações, nestes últimos 20 anos. Podemos citar algumas, como o impacto do petróleo. Pela primeira vez se colocou claramente, diante dos países industrializados, de que é possível cartelizar produções restritas e interferir perigosamente no fluxo de capitais. A contínua descolonização da África e de todo o mundo, que é uma tendência absolutamente dominante atualmente e que vem sendo progressivamente ampliada; a progressiva tomada de consciência das nações mais pobres sobre a sua soberania; e até os meios de comunicação que progrediram de tal forma a ponto de tomar os homens mais próximos entre si. Tudo isso fez com que a vulnerabilidade retornasse como um espectro sobre os segmentos industrializados. Procederam-se, então, às mundanças que diminuíram, mais uma vez, essa vulnerabilidade: os bens minerais foram padronizados. Antigamente, era preciso que se comprasse diretamente do produtor o bem mineral, com padronização qualquer. Hoje, não, compra-se uma barra de alumínio ou um quilo de concentrado em qualquer bolsa de metais do mundo com a mesma característica precisa em termos químicos e em termos quantitativos. Esta padronização era absolutamente necessária para que se pudesse centralizar o comércio em pontos limitados, como as bolsas de valores, como as bolsas de mercadorias que estão distribuídas por todo o Mundo. E até onde as bolsas de mercadorias, não atuam, aparecem os mercados spots , que controlam, e por força de mercado, centralizam o comércio dos bens minerais. Esta foi a forma que o segmento industrializado teve para, mais uma vez, diminuir a sua vulnerabilidade. E nós, países desenvolvidos ou em desenvolvimento ou fornecedores de matéria-prima, como ficamos nesse quadro? O nosso conceito de estratégia do nosso bem mineral é diverso do, da maior parte dos países do Mundo, porque essa bolsa centralizada de metais, essa padronização é uma via de mão única, no momento em que nós, Brasil, nós, Terceiro Mundo, não temos uma moeda aceita no mercado internacional. Então, os Estados Unidos podem decidir se têm ou não o seu stoch file , porque podem ir às bolsas e comprar quando quiserem com a sua própria moeda. Nós, Brasil, nós America Latina, nós Terceiro Mundo, não temos moeda aceita no mercado internacional; o Cruzado não participa do câmbio. Então, esta é uma via de mão única. Não podemos suprir-nos das matérias-primas de que necessitamos porque, para isso, precisamos gerar dólares aqui dentro e comprá-las lá fora. Então, o caráter estratégico do bem mineral do Brasil é vital. Não podemos, de forma alguma entender, que sobre os nossos bens minerais não haja uma clara soberania, porque isso é fundamental para a nossa própria sobrevivência. Eu 93 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) poderia dar vários exemplos do que já ocorreu no Brasil quanto aos nossos recursos minerais. Quero destacar também e, para isso, vou usar uma pequena imagem caricatural – que a mineração brasileira encontra-se naquilo que podemos chamar de estágio juvenil, isto é, um estágio em que não estão plenamente desenvolvidas as potencialidades minerais do País, os capitais voltados para a sua exploração, nem sequer há legislação específicas para contratá-los. Eu me permito, Sr. Presidente, levar-me e ir até o cartaz. (Pausa.) Esta pequena caricatura vai dar aos Srs. uma idéia exatamente do que estou dizendo. Este é um corte no nosso terreno, um corte arbitrário. Quando fazemos o corte nesse terreno, observamos, primeiro, que há jazidas, depósitos minerais aflorando, que estão na superfície do terreno; depósitos aluvionais; depósitos aflorantes, como Carajás, como quase todas as jazidas que temos. Esses depósitos aflorantes exigem baixo conteúdo tecnológico para as suas descobertas e há um maior sucesso na sua busca, através do palmilhar no território, do andar pelo território, como os garimpeiros fazem, ou como os geólogos tentam fazer, com um martelo na mão, quebrando pedras pesadas, verdes, azuis, ou, de alguma forma, indicadoras de uma anomalia, que é uma jazida mineral. A maioria dos países do Mundo já avançou além do estágio de descobrir as suas reservas aflorantes. Já estão nas reservas semi-aflorantes cobertas por um manto de solo, que é vasto no nosso País, pois somos um País tropical, onde a chuva faz a desagregação dos minerais. Esse manto de solo oblitera a visão – não podemos quebrar com o martelo e não podemos ver as jazidas – precisamos, então, de uma maior agregação tecnológica como, por exemplo, de instrumentos geoquímicos e instrumentos de estudo geológicos, para que possamos encontrar esses depósitos minerais. E, finalmente, os depósitos minerais que estão mais no interior da terra, que são apenas uma massa de rocha não diferenciada freqüentemente das massas de rochas envolventes e que, para a sua descoberta exigem, não apenas uma finíssima interpretação geológica, mas também recursos tecnológicos mais sofisticados como a geofísica, nos quais o Brasil sequer iniciou a cobertura geral do seu território. Então Srs., esse estágio juvenil da nossa mineração, onde a grande maioria dos nossos depósitos são aflorantes – estamos tropeçando neles – é talvez o responsável por uma série de perplexidades que temos diante do nosso setor mineral. E é preciso também entender que não são os depósitos superficiais aqueles de regra geral. Os depósitos de regra geral, aqueles que trazem estabilidade à mineração e aos países são aqueles que estão no fundo da terra, são aqueles a que teremos de chegar. Se observarmos a nossa mineração, veremos que, excluindo o carvão, temos mais do que cinco ou seis minas subterrâneas contra centenas dos países desenvolvidas. É lá, no fundo do subsolo, com outra tecnologia, que vamos encontrar os nossos recursos minerais. E é este estágio juvenil, Srs., que explica algumas coisas. Quero reportar-me ao segundo gráfico; a este triângulo, que chamo de Triângulo da dependência. Somos um País que tem um conhecimento geológico deficiente do seu território. Por quase 10 anos foram totalmente interrompidas as pesquisas geológicas básicas neste País, comprometendo seriamente não apenas a geração de depósitos minerais mas, num sentido mais amplo, também a gestão territorial, porque os levantamentos geológicos básicos prestam, se não apenas à prospecção mineral, também aos zoneamentos urbanos e rurais, às vocações dos terrenos para a agricultura ou para outros tipos de aplicação, às implantações de grandes obras viárias ou de grandes complexos industriais ou hidrelétricos, e até à prevenção dos próprios acidentes naturais, que são perfeitamente previsíveis e minimizados pelos levantamentos geológicos básicos. Assim, a interrupção disso trouxe-nos, hoje, uma deficiência de conhecimento do nosso subsolo, grave e profunda. Estamos muito atrasados em relação ao Mundo. Conseqüentemente temos uma baixa capacitação tecnológica para buscar, para beneficiar, e para transformar os nossos recursos minerais. E também temos um arcabouço político e legal deficiente, porque não temos uma visão plena e acabada do que é uma política mineral. Temos conceitos distorcidos nas nossas legislações e até na nossa atual Constituição. Essa combinação perversa de fatores nos leva a que a prospecção mineral no País não se faça como no resto do Mundo, efetivamente, procurando minerais, mas pela via da reserva de espaço, da reserva territorial, porque quando se reserva um espaço, quando não se conhece muito bem o que se está procurando, reserva-se no sentido de que qualquer depósito ali aflorante estará assegurado a quem o detenha, remetendo-se imediatamente a este, a incompetência de pesquisá-lo corretamente, de revelar dentro daquele espaço, toda a potencialidade, todos os depósitos, em todos os níveis, que possui. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Lembro a V. Ex.ª de que dispõe de dois minutos para terminar a sua exposição. O SR. ELMER PRATA SALOMÃO: – Obrigado. Então, essa reserva de espaço remete imediatamente, se a prospecção é deficiente, ao atraso na prospecção dos depósitos minerais, no encontro dos depósitos minerais à baixa demanda tecnológica, à baixa demanda de capitais e, evidentemente, retomamos ao triângulo acima, fechando, então, um círculo de dependência que precisamos fundamentalmente romper. Quero mostrar aos Srs. como é o desconhecimento geológico que causa isso. Este gráfico mostra a distribuição dos direitos minerais brasileiros por regiões brasileiras. O que está em cor laranja são as lavras; em verde, os alvarás; e, em azul, os pedidos. Esses dados são retirados do trabalho do CNPq e do DNPM, que são bastante importantes. Verificamos, então, que o número de áreas que possuem lavras, e nos quais ninguém tem alvará para exploração, nos remete a uma curva exponencial, no sentido das regiões menos conhecidas para as mais conhecidas, ou seja, reserva-se menos território nas regiões mais conhecidas. Em contrapartida, esses são os números dos tipos de lavras, ou seja, correspondem às minas. Então, vemos que o Sudeste detém 55% do número de minas, de concessões de lavras no Brasil, ou seja, a reserva de território está fundamentalmente ligada ao desconhecimento, à pobreza tecnológica, à pobreza da geologia. Acho que fica bastante claro que os levantamentos geológicos básicos interrompidos neste País têm que ser retomados, e retomados por princípio constitucional. Compete ao Governo promover os levantamentos geológicos básicos de modo a fazer avançar a ciência e a tecnologia, e compete também instituir, através da Constituição que se está fazendo e da legislação ordinária, os mecanismos para romper aquele perverso triângulo da dependência. Gostaria de encerrar, lembrando aos Srs. Constituintes que, entre várias medidas que se possam tomar, tenho certeza que no decorrer do debate, poderei relacionar várias pelas quais propugnamos. Mas eu gostaria de lembrar, primeiro, que uma Constituinte deve ter, no dizer de Afonso Arinos, o condão da perenidade, isto é, deve-se cuidar para que não restem princípios relevantes sem ser contemplados, nem que haja a ingestão de conceitos que, no futuro, se voltem contra nós e nos derrotem. É uma responsabilidade grande desta casa de soberanamente, redigir a nova Constituição. A Sociedade Brasileira de Geologia, através dos seus mecanismos de deliberação, e através de suas lideranças, coloca-se inteiramente à disposição desta Assembléia Nacional Constituinte para contribuir naquilo que estiver ao seu alcance. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Quero cumprimentar o ilustre Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia pela objetividade da sua exposição e pelos conceitos novos aqui expostos, dentro daquilo que ouvimos, hoje, sobre o setor. V. S.ª introduziu novidades que acho muito importantes, dentro da realidade do setor mineral brasileiro. Eu queria fazer uma pergunta específica, sobre o problema do ouro. Fala-se muito sobre o ouro, sobre o que é produção real brasileira, o que é a produção realmente conhecida pelo Governo. Nisso, a cara colega Constituinte Raquel Cândido é uma especialista. Fala-se que produzimos, que retiramos do subsolo 84 toneladas, e na realidade, o Governo conhece apenas 24 toneladas de ouro. Em primeiro lugar, como é que o Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia vê o problema do ouro, no Brasil? Li em vários trabalhos, muitos deles abordando total isenção de impostos, outros, maior taxação e ainda alguns, 1% da produção. Temos na cidade de Nova Lima, perto de Belo Horizonte, a maior mina do Brasil, naquele município se vive reclamando, como nas demais cidades mineradoras do meu Estado – assunto abordado pelo conferencista anterior por melhor distribuição dos recursos a nível tributário, para os municípios desenvolverem atividades outras que não propriamente a atividade mineradora. Há, assim o problema específico do ouro. Em segundo lugar, passando para o setor de pedras, fala-se em pedras preciosas e semipreciosas - às vezes, não gostam que se usem tais termos, mas pedras de modo geral. Estabeleceu- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) se, por proposta de Minas Gerais, o chamado Certificado do Ouro, para permitir que as compras e as exportações fossem feitas pelo valor do ouro do dia, para evitar o contrabando que, francamente, não vejo como possa ser evitado, principalmente num País com a extensão territorial que temos. Não há como impedir que um sujeito coloque no bolso uma partida de água-marinha e vá embora. Chegando a qualquer lugar do Mundo, se quiser declará-la, paga um percentual para entrar, e é lá lapidada, etc. etc. Então, como o caro colega vê, é problema do ouro especificamente. Outro ponto: como poderemos regulamentar melhor o setor de pedras, já que fazemos uma coisa que me parece muito interessante? Nós as exportamos, elas são lapidadas lá fora e, depois, as compramos. Não conseguimos estabelecer, neste País, nem escolas de lapidação! Acredito que temos de importar tecnologia para estabelecer, como programa de governo, escolas de lapidação. No meu Estado, por exemplo, quem cuida disso são instituições privadas. E, se se chega, com rigor fiscal, à cidade de Teófilo Otôni, por exemplo, todos correm para a Bahia, todos fogem para a Bahia. Vejam como o baiano é mais inteligente do que o mineiro! O Governo, o fiscal não pode chegar que o pessoal cai fora. É uma maneira prática, porque não adianta inventar regra de jogo que não funcione na prática. Estes dois setores são muito controvertidos. E, quando se fala em minério, de modo geral, não se aborda, especificamente, a não ser, repito, o que faz o colega Raquel Cândido, quando se refere ao problema do ouro, e vou, então, acrescentar, no rol das suas preocupações, o nosso problema das pedras preciosas. O SR. ELMER PRATA SALOMÃO: – Com relação ao problema do ouro, embora não seja matéria especificamente constitucional, tenho a dizer o seguinte: o ouro tem duas características intrínsecas - primeira, a possibilidade de conduzir grandes valores em pequenos volumes, quer dizer, pode-se colocar em uma pasta grande quantidade de ouro que facilita muito a sua movimentação e dificulta a sua fiscalização, evidentemente. E o segundo ponto é que ele, na verdade, não é um bem mineral com um conceito normal, mas é, em si, moeda, e pode ser usado como moeda, de modo que quem tem ouro no bolso, tem dólar, tem yen e até mesmo cruzado. Essas características dificultam bastante, evidentemente, o controle sobre o ouro. Há grande dificuldade em fiscalizar o ouro proveniente dos garimpos, que chegou a ser 80% da produção nacional e, agora, tem diminuído um pouco, com o decréscimo da produção de Serra Pelada, mas ainda é expressiva no cenário nacional. A maneira de controlar esse ouro é uma só: criar condições para que ele seja mais atrativo sob o ponto de vista financeiro dentro do Brasil do que fora, ou seja, temos que usar o critério de que o nosso Cruzado é relativamente desvalorizado em relação ao dólar, isto é, admitir o black e fazer pequenas variações, com que esse ouro possa ser vendido com vantagens aqui dentro. E cuidar, evidentemente, para que não se comece a comprar ouro na Bolsa de Londres e trazer para o Brasil. Creio que é possível estabelecer tal mecanismo; houve época em que o Banco Central adotou e todos ficaram muito satisfeitos. Com relação às pedras coradas quero dizer que, realmente, é um setor bastante aberto na mineração brasileira, e as considero como enorme potencial. Até hoje, tratamos as pedras coradas da maneira mais irresponsável, pouco inteligente e incompetente. Este setor poderá assumir a segunda pauta da exportação na área mineral brasileira, rapidamente, desde que se abandonem algumas teses importadas de fora e que adotamos até hoje. E as famosas escolas de lapidação ou da maneira de aprender a lapidar, crie artesãos. O artesão não produz lapidação de características internacionais aceitas pelo mercado internacional. O que temos que fazer, com as pedras coradas, é a produção de pedras calibradas em série, isto é, um joalheiro não quer fazer uma garra para cada pedra; o que ele quer é fazer milhares de garras e que as pedras sejam todas do mesmo tamanho para que sejam colocadas nos seus lugares. Isto é o que se faz no mundo. As garras especiais são aquelas para as pedras especiais, mas 90% das pedras não são as especiais; são as pedras prêt-à-porter que todos usam no dedo. Esta, a primeira questão, isto é, entender que temos de tratar isso de modo profissional. O artesão tem suas vantagens locais, mas não vai fazer com que nossas pedras sejam aceitas no exterior. Por isso, elas vão lá para fora, para serem lapidadas. A segunda questão é que a moedaouro foi um passo fundamental para que se pudesse controlar as exportações de pedras coradas e é possível fazer controles adicionais, como por exemplo, colocando a Polícia Federal em cima de pessoas que estão comprando pedra por aí e que não têm, sequer visto de entrada no Brasil; a maior parte de nossas pedras sai por essa via. Então, que esse setor seja, realmente, fiscalizado. Acredito que, com tal medida, se diminuiria bastante o tráfico de pedras em bruto, que é o que o mundo inteiro quer. O Brasil é a segunda maior província gemológica do mundo e fornece 60% de todas as pedras coradas. Acho que dei um pequeno panorama aqui, que nos dá para raciocinar em cima. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Com a palavra o nobre Constituinte Jalles Fontoura. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Ilustre Sr. Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia, Dr. Elmer Prata Salomão. Eu gostaria, inicialmente, de saudar a sua brilhante exposição, madura, baseada num estudo muito bem feito e, principalmente, na audiência democrática de toda a classe de geólogos, que têm comprometimento muito grande com esse setor no País. Gostaria de, dentro das colocações que V. S.ª fez, saber a opinião da Sociedade Brasileira de Geologia em duas questões: Em primeiro lugar, o problema da concessão, já discutido anteriormente aqui, a forma como ela é hoje, como o próprio estudo que a Sociedade de Geologia coloca como sendo proposta à Constituição, de maneira muito esparsa. A concessão, no Brasil é eterna e ilimitada e, pelas propostas que existem, ela poderia ser feita por certo período de 25, 30, 40 e até 99 anos, como já foi colocado. Gostaria de saber a opinião de V. S.ª sobre a limitação da concessão, da exploração da lavra, em termos de quantidade de mineral lavrado, a quantidade fixa que seria colocada no acordo mineral ou na concessão, inicialmente, de forma 94 a impedir um tipo de exploração eterna que, muitas vezes, pode não ser conveniente ao País, no caso de exploração feita por uma multinacional. Em segundo lugar, na questão que V. S.ª coloca, aí, no triângulo da dependência – propõe a colocação da pesquisa geológica básica, realmente de extrema importância – não sou dessa área, mas estou aprendendo a tremenda importância desse aspecto do subsolo, para o Brasil do futuro, para o desenvolvimento do Brasil – como artigo da Constituição? O SR. EL MER PRATA SALOMÃO: – Prezado Constituinte Jalles Fontoura, a questão da limitação dentro das concessões minerais, hoje, ou nos contratos minerais, com relação à quantidade, está inserida em uma proposta mais ampla, que é a de que o País tenha uma gestão correta do seu patrimônio mineral. Essa gestão correta do patrimônio mineral passa por vários aspectos: primeiro, o fortalecimento da soberania nacional, através da explicitação da propriedade da Nação sobre os bens minerais – é fundamental segundo, é do mais completo conhecimento possível, do patrimônio mineral, como pressuposto à sua correta administração – isto é fundamental; não podemos administrar corretamente o patrimônio mineral no País, se não temos, sequer, dimensão de sua grandeza. Os países desenvolvidos têm a dimensão de sua grandeza mineral; eles sabem que o encontro de depósitos adicionais ao seu patrimônio está vinculado a profundo investimento de capitais, a profunda aplicação de tecnologia e que, provavelmente, não se desequilibrará de maneira sensível o seu patrimônio mineral. Mas, nós, podemos, de repente, tropeçar com Carajás. Tropeçamos com Carajás, que é uma das maiores províncias minerais do mundo. E podemos, nessa imensa Amazônia, tropeçar em outros Carajás. E o que não dizer dos Carajás que estão debaixo da terra? Imaginem V. Ex.ª quem, na nossa região mais desenvolvida, no Sudeste, temos a Mina de Morro Velho, que está hoje sendo lavrada a 2.500 metros de profundidade. Se o veio de Morro Velho não aflorasse, não tivesse sido descoberto pelos portugueses, se estivesse a 2.500 metros de profundidade, estaria lá, até hoje, porque o trabalho que temos de prospecção mineral, o conhecimento das nossas jazidas, seria completamente a montante de qualquer possibilidade de descobrir uma jazida daquelas. Então, o conhecimento de nosso patrimônio é fundamental. E começa com a responsabilidade fundamental do Estado de prover os levantamentos geológicos básicos. São os mapeamentos geológicos, são levantamentos geofisicos, os levantamentos geoquímicos, que são as bases sobre as quais o risco de procurar minérios diminui e a velocidade com que se encontram os depósitos minerais aumenta. Precisamos queimar etapas. Os levantamentos geológicos básicos são fundamentais na queima dessas etapas. E não investimos nada. Não temos sequer aparelhamento humano, porque as nossas equipes de mapeamento que se estavam formando, em 1978 e 1979, ficaram estagnadas durante anos, sentadas em seus gabinetes, por absoluta imprevidência do Governo da época, por desconhecimento da importância disso, e hoje têm que ser totalmente recicladas. Temos que passar por um processo penoso de formação de mão-de-obra nova- 95 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) mente, para que possamos mapear corretamente o nosso território. A formulação, então, da política mineral passa ainda pela ação governamental intensa, não só no investimento de levantamentos geológicos básicos, mas no direcionamento progressivo do segmento industrial para uso de nossas matériasprimas. Já se sabe, o Mundo já reconhece que as forças de mercado não são suficientes sozinhas para resolver o problema da mineração. Todos os países reconhecem isso. Então, precisamos da ação intensa do Estado aí. O conhecimento de nossas matérias-primas tem que ser direcionado para que sejam aproveitadas aqui, ampliando a capacidade nacional de geração, conhecimento e absorção de tecnologia mineral. Nossos centros de tecnologia estão desaparelhados e parados. Não temos laboratórios químicos capazes de atender à nossa demanda; não temos, sequer, equipamentos geofisicos, no Brasil, para fazer os mais limitados e corriqueiros trabalhos, e nem temos perspectivas para isso. Temos que ter uma legislação mineral adequada e moderna, e organismos inteiramente aparelhados para exercer qualitativa e quantitativamente a fiscalização dos trabalhos de pesquisa e garantia da sua execução. É preciso que haja também alterações profundas na forma de acesso ao bem mineral, seja pela concessão ou por outra forma. Temos propostas, já, na reformulação do Código de Mineração, do grupo que foi feito no ano passado, mas é preciso que haja mudanças na forma de acesso ao bem mineral. Ele tem que ser democratizado e tem que se extinguir a possibilidade de fazer reservas diárias, porque isso é a coisa mais danosa que temos no País. E a administração do patrimônio mineral passa pela otimização da sua exploração, ou seja, isso significa a adequada exploração, a adequada lavra e a intensa prospecção. Temos que substituir nossos depósitos lavrados por outros que ainda estamos por descobrir. Nesse caso, então, temos que privilegiar o quê? – primeiro, o mercado interno, para valorizar, agregar valor ao nosso bem mineral, exportar apenas os excedentes do mercado interno. É óbvio isso, todo País faz isso. Segundo, garantir que o suprimento e a futura expansão do segmento industrial estejam assegurados, subordinando as exportações de matérias-primas às percentagens das reservas disponíveis no País. Isso é fundamental. Não podemos exportar mais do que um certo percentual que nos assegure que a indústria possa crescer e o nosso parque industrial estar atendido num futuro razoavelmente próximo, ou num futuro razoavelmente distante. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. S.ª já esgotou os 3 minutos. O SR. ELMER PRATA SALOMÃO: – Eu pediria a V. Ex.ª mais 15 segundos, só para complementar o meu raciocínio e responder à questão específica do nobre Constituinte. No caso específico do depósito mineral, o que se propõe é que no global haja restrição à exportação e obviamente exploração. No plano particular, a ação coercitiva do Estado deveria limitar-se àquelas jazidas ou províncias minerais que tivessem características particulares, por localização interna, por atendimento ao parque industrial, ou particularidades de riquezas, etc, nesse caso, determinando níveis de produção. Posso dar um exemplo: oitenta por cento de nossa pauta de exportação é de minério de ferro, – somos monominerálicos – mas exportamos minério de ferro do Quadrilátero Ferríferro e de Carajás também. Mas o Quadrilátero Ferrífero é a alma de nossa siderurgia. Como é que estaremos daqui a 50 anos, mandando nosso minério de ferro para fora? Como iremos fazer com a nossa siderurgia do Centro-Sul, para trazer minério de Carajás, assim como estamos fazendo com manganês? A jazida de Conselheiro Lafayete foi inteiramente, exportada e hoje importamos manganês do Gabão ou temos que trazê-lo de Carajás, porque a jazida de Urutum não tem transporte, e a do Amapá já se foi também. Então, essa previdência no contigenciamento das exportações das matérias-primas brutas é absolutamente legal. Quem quiser exportar mais, que descubra mais. Se alguém quiser exportar, o que sugerimos é que se descubra outra jazida por aí e poderá exportar o minério explorado. É o percentual da disponibilidade. Muito obrigado, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gabriel Guerreiro. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, Sr. Expositor, Presidente da SBG, Elmer Prata Salomão: Em primeiro lugar, quero parabenizar o nobre colega pela lucidez com que expôs suas idéias e as idéias captadas do processo desenvolvido pela SBG, e auscultar todos os companheiros membros dessa sociedade. Nenhuma proposta me parece mais próxima das que formulei para serem encaminhadas ao Relator e à Subcomissão do que as propostas do SBG. Proponho, em minhas observações, a propriedade do subsolo; a garantia de participação da União etc; a administração dos bens minerais pela União; a questão do monopólio, não só a do petróleo, mas também a do urânio e de outros radioativos. Outra questão que me parece fundamental, que o nobre Conferencista aborda, com tanta propriedade, é a dos levantamentos geológicos básicos. Não se pode administrar o subsolo brasileiro sem conhecê-lo – isto é ponto passivo; o quadro que está na parede ainda, é absolutamente fundamental e elucidador. Quanto maior conhecimento, mais capacidade não só de produzir, mas de administrar aquilo que temos. E acho que a União tem de prover recursos que devem ficar condicionalmente vinculados – aí eu me permito, inclusive, discordar do companheiro Vanderlino Carvalho, sobre a proposta da CONAGE –. Acho que os recursos, os tributos arrecadados pela União e a sua participação na lavra dos bens minerais devem ser destinados ao conhecimento do subsolo. Eu, inclusive, coloco isto na minha proposta. Gostaria de perguntar ao nobre Conferencista sobre alguns pontos, que poderiam ser anotados porque não são poucos: Quais os mecanismos que propõe para quebrar aquele ciclo do Triângulo da Dependência que colocou aí? Como promover esse conhecimento geológico necessário para a administração dos bens de subsolo, no Pais? Perguntaria, ainda, qual é a sua opinião sobre o controle do Estado, na mineração, em terras indígenas e parques nacionais? Como a União deve legislar para impôr instrumentos que garantam os sítios arqueológicos, os parques nacionais, os monumentos geológicos, neste País? Como vê, nobre Conferencista, o problema dos instrumentos de ação do Estado, para efetivamente administrar a questão mineral do subsolo brasileiro? E a questão de promover o levantamento, através de que organismos? E para fiscalizar a atividade mineral no País? Gostaria que V. S.ª abordasse, ainda, a questão da estratégia do suprimento nacional e da superação dos desequilíbrios regionais, através da exploração de recursos minerais, já que existem, nesses recursos, rigidez locacional, exaustão absolutamente previsível e distribuição hetereogênea e a desses bens nos territórios nacionais e, inclusive, entre as nações do Mundo. Muito obrigado. O SR. ELMER PRATA SALOMÃO: – Tenho três minutos para responder uma montanha de perguntas. As questões são várias, vou procurar ser rápido. Os mecanismos para quebrar aquele triângulo de dependência, evidentemente que o primeiro deles é fazer com que as áreas sejam pesquisadas. Fiz uma pequena conta, só para se ter uma idéia: se 180 milhões de hectares brasileiros, hoje reservados, fossem corretamente pesquisados no sentido técnico, quer dizer, avançados na primeira etapa de varredura nacional; a segunda etapa, de bloqueio do depósito mineral e, terceira etapa, de cubagem desse bem mineral. Nessa ordem, talvez necessitássemos de recursos de cerca de 15 bilhões de dólares. Não teríamos capacidade instalada, de longe, no Brasil, para sondagem, para análises químicas, ou coisa alguma. Na verdade, a característica, a forma penosa da grande extensão territorial é o mal conhecimento do subsolo; quer dizer, não conhecemos os depósitos minerais, só conhecemos o que superficial de passagem. Falo isso "de cadeira", porque há 22 anos estou andando por este País. Então, sei muito bem que é assim que as coisas acontecem. Esse é o primeiro passo – as questões são todas mais ou menos encadeadas. Aparelhar o nosso Estado para fazer isso não é coisa simples; temos de ter consciência de que não sairemos deste estágio juvenil da mineração, por uma lei, por uma Constituição ou por um "piscar de olhos". Haverá longo trabalho a ser desenvolvido, consciente, dentro de uma política coesa, para que possamos, efetivamente, romper esse triângulo. É um trabalho penoso, grande. Não podemos imaginar que vamos sair disso amanhã ou depois. É todo um encadeamento, com seguimento industrial, que está completamente desorganizado, em relação às nossas matérias-primas. Quando os planejamentos industriais são feitos, pensa-se que a matéria-prima poderá ser buscada na prateleira. "Eu quero o manganês de 42%" – é o que o siderurgista diz, mas não olha para ver se no País tem. "Se não tiver, nós buscamos no Gabão". Isto é um erro. É preciso fazer com que o bem mineral tenha um valor agregado maior. Gostaria, ainda, de salientar que, do ponto de vista de melhorar a nossa administração, outros procedimentos a nível de fortalecer a nossa soberania nacional, precisam ser tomados; por exemplo, o tratamento diferenciado do capital interna- DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) cional; eles têm que ser conformados às decisões políticas nacionais e, logicamente, têm que ser diferenciados dentro do texto constitucional. É preciso saber claramente o que é capital nacional e o que não é capital nacional. Como eles vão atuar dentro da mineração é uma questão de política maior, mas é preciso, primeiro, que se diferencie e, eventualmente, que conforme esses capitais, a uma política nacional. A queima de etapas do desenvolvimento mineral é uma coisa muito penosa, passa desde a questão do garimpo, que é uma questão emergente no País – e que está localizada ali naquelas partes altas das jazidas que podem ser encontradas – e vai até à ação brasileira no plano internacional. Posso mencionar aqui algumas coisas que ficaram esquecidas, para complementar, para completar esse estímulo às nossas descobertas, e um maior valor agregado dos nossos bens minerais. Sob o ponto de vista internacional, é extremamente importante que o Brasil olhe com atenção e espírito de liderança para a América Latina. Quero destacar isso porque é dentro desta América Latina, que possui mais ou menos as mesmas necessidades minerais que, exporta, mas estamos praticamente empatados – consumimos sei lá, 13% do ferro e exportamos 13% de ferro – é aqui dentro que a nossa moeda poderá circular mais livremente, e poderemos fazer com que os bens minerais tenham um valor agregado maior. Sob esse ponto de vista, a América Latina, num plano internacional, é importante, e também é um caminho para que o Brasil assegure o acesso aos bens minerais de que não dispõe, como País em emergente industrialização, porque há um princípio fundamental até hoje não contestado, de que não há nenhuma possibilidade de que, num único território, se produza todos os bens minerais necessários. Então, vamos precisar do subsolo alheio e talvez a América Latina já seja o primeiro passo para que possamos diminuir essa dependência. Deixarei a parte indígena para o fim, porque é um pouco mais simples. O Estado, para administrar esse complexo aparelhamento do setor mineral, precisa se reordenar, é fundamental; o setor mineral, no Brasil, precisa queimar etapas; ele é tão importante que não há mais como postergar a necessidade de um Ministério específico para a mineração. Precisamos atentar para isso. Não sei se é matéria constitucional ou não, mas é preciso que dentro do aparelho estatal haja uma reordenação para que tenhamos um único organismo encarregado do planejamento e da execução dos levantamentos geológicos básicos; um serviço geológico nacional, como a maior parte dos países têm, para que haja um organismo exclusivamente encarregado da fiscalização, do fomento, do controle, do planejamento da mineração brasileira e que seria, no caso, o DNPM, mas completamente reaparelhado e reestruturado nos seus quadros técnicos e nas suas estruturas; e o papel das empresas estaduais de mineração, o papel dos Estados como agentes fomentadores da mineração local, como agentes intervenientes a nível de orientação aos nossos municípios, de como usar corretamente os bens minerais, nas coisas mais simples que eles têm. Vou à Europa e a maior parte das cidades européias são calçadas com paralelepípedos há centenas de anos e sobre ela trafegam carros e pessoas; e vou ao interior do meu País, onde há a maior abundância de pedras semi-preciosas e vejo desemprego e ruas enlameadas. Então, é fundamental que a empresa estadual de mineração chegue aos municípios e faça com que usem corretamente os seus bens minerais. E principalmente que sejam um instrumento pelo qual a pequena e média mineração, no Brasil, cumpra a sua função social de integrar-se às populações regionais, de produzir tecnologias alternativas para a lavra de pequenos depósitos de forma econômica e, principalmente, que tenham o apoio governamental, a fim de que possam, efetivamente, florescer. Não há em nenhum lugar do mundo possibilidade de que pequenas e médias empresas em economias de livre mercado floresçam sem apoio decidido do Estado. São idéias para discussão, evidentemente, para que possamos reordenar o aparelho estatal, no sentido de administrar corretamente os bens minerais. Acho que também é por esse caminho que as diferenças regionais podem ser superadas. Ocorre-me, agora, o seguinte: todos os Estados brasileiros, na grande maioria, possuem Secretarias de minas, mas os Titulares não se colegiam e não formam um corpo capaz de discutir as questões minerais com enfoque regional que, às vezes, a visão de Brasília não tem – então, esses Secretários de Estados poderiam participar mais ativamente da formulação das políticas, congregando-se em colégios, como tenho visto outros tipos de Secretários que, eventualmente, estão fazendo isso. Essa talvez seja uma maneira de diminuir um pouco as desigualdades para que haja superação dos desequilíbrios regionais. A SBG é a favor de que haja proteção à cultura nacional, expressa através de seus parques nacionais, de seus monumentos geológicos, de seus monumentos naturais, e é evidente que haverá dia em que esses monumentos serão tão importantes ou mais importantes, para as gerações futuras, do que os próprios minérios. A SBG propugna para que o art. 180 da Constituição atual seja melhorado na redação, conforme o nosso texto, mas considere que há necessidade de países, como o Brasil, manterem parques para que os clones de ecossistemas possam permanecer ativos para as gerações futuras. Finalmente, o prezado Constituinte Gabriel Guerreiro apresentou uma questão, que considero extremamente complexa para responder. Trata-se da mineração em terras indígenas. Pessoalmente, tenho um apreço enorme pelas populações indígenas – meu único filho tem nome indígena. Considero que a questão da mineração em terras indígenas não deve ser valorizada neste momento, o que deve ser valorizado, agora, é o tratamento que a nossa sociedade envolvente deve dar ao índio como ser humano, garantindo-lhe o território, a saúde, o bem-estar, a integridade e auto-suficiência dentro da sua terra. Esse é um tratamento que não é econômico nem político: é essencialmente ético. Temos um compromisso com a nossa pré-memória, com os índios que povoam este País. Então, é sob o plano ético que temos de tratá-los por isso, tenho grande dificuldade. Sob o plano ético, considero que o índio deve ser trazido ao centro da discussão como ser humano, porque temos responsabilidade fundamental de garantir-lhe a integridade do seu 96 território, a sua integridade física, a sua saúde e, principalmente, dar-lhe condições para que, dentro da sua terra tenha, plenas condições de auto-suficiência, para que ele possa comer, dormir e transitar ao abrigo de agressões. No momento em que vejo índios que estavam na minha terra, por exemplo, os xavantes, anunciarem no jornal que plantam soja, que vão colher não sei quantas mil sacas de soja, e me lembro que eles comem cará, inhame, mandioca, banana, por que diabo estão esses índios plantando soja? Para ter dinheiro para comprar do branco o cará, o inhame e a banana? Isso não é possível. Quer dizer, o que importa é o que o índio tenha dentro da sua terra, direito à autosubsistência e, se ele não tem mais esse direito, se o branco, pela sua agressão frontal ou sub-reptícia, através da porta de trás da nossa civilização, já o agrediu em nível suficiente, não permitindo que ele possa ter auto-suficiência ou direito à sua saúde, o que temos que fazer é dar-lhe a melhor condição de integridade e de bem-estar. É nesse plano que vejo que deve ser situado corretamente o problema de minerar ou não em terra indígena. Não somos nós, geólogos, que vamos decidir isso, serão pessoas especializadas, e os próprios índios irão decidir quando e como fazer mineração nas suas terras, desde que isso seja benéfico ao seu bem-estar e à sua integridade, caso contrário, o País deve abrir mão do seu patrimônio mineral presente naquelas áreas e consagrar o direito ao território pleno dessas nações indígenas até o momento em que tenham condições de utilizar esses bens minerais. Este conceito é muito mais pessoal do que aquilo que se possa exprimir e é, em síntese, o que propugna a Sociedade Brasileira de Geologia. Neste momento temos, evidentemente, algumas ações emergências que podem ocorrer antes dessa política que é, certamente, lenta e demorada. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Solicito a V. S.ª que encerre a sua exposição. O SR. ELMER PRATA SALOMÃO: – Neste minuto, Presidente. Medidas imediatas de caráter preparatório, em relação às que venham a ser consagradas no texto constitucional são sugeridas pela comunidade e as principais são: a conclusão das demarcações, que é fundamental – fundamental é a terra, o índio é terra e nós temos reservas indígenas com linhas secas de 200 ou 300 Km tirados na Amazônia. Quero saber qual é a empresa de topografia, ou quem é o técnico que, com qualquer recurso tecnológico, irá abrir uma picada de 300 Km na mata e fazer com que ela permaneça aberta durante todo tempo. Em contrapartida, temos um princípio fundamental da análise do terreno: onde não há fundo de vale há alto de serra; não há outra alternativa – ou temos fundo de vale ou alto de serra. Isso o índio e o branco conhecem. Todo o nosso território foi, inicialmente, demarcado dessa forma. Então, as reservas indígenas têm que ser traçadas através de seus acidentes naturais, e alguns helicópteros alguns aparelhos de rastreamento de satélites, que são corriqueiros na nossa topografia, farão demarcação das reservas indígenas, neste País, em menos de 2 anos, com um custo muito baixo. Enquanto isso, dentro da Funai, temos empresas de topografia que passam a vida inteira abrindo e reabrindo picada, 97 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) demarcando reserva indígena. Isso não acaba nunca e, evidentemente, há uma razão para que não acabe. É preciso que conclusão das demarcações seja, rapidamente feita em acidentes do terreno e, por prazo adequado, qualquer atividade mineral em curso deverá ser bloqueada até que a Constituinte, no Capítulo específico do Índio, se Deus quiser, reinstale o índio como ser humano na figura central da discussão. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Sª. Queremos agradecer ao Dr. Elmer Prata Salomão, a brilhante exposição que fez e dizer-lhe que todos aprendemos muito. Muito obrigado. Convidamos o Almirante Gama e Silva a fazer a sua exposição, comunicandolhe que dispõe de 15 minutos. O SR. GAMA E SILVA: – Srs. Membros da Mesa, Srs. Constituintes, minhas Senhoras e meus Senhores: Lastimo que me tenha cabido um horário nobre e, ao mesmo tempo, um tema muito abrangente, porque, de acordo com o convite que recebi do Constituinte Delfim Netto, eu deveria falar sobre o subsolo, a União, os Estados, o Monopólio Estatal do Petróleo, outros monopólio e mais reservas estratégicas – isto equivale ao Oceano Pacífico e vou tentar atravessá-los em pelo menos 5 minutos para que seja respeitada a hierarquia militar – um Almirante tem que ter mais tempo do que um Coronel. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Vamos conceder ao Almirante os 5 minutos. Parece desnecessário, para audiência tão seleta, realçar a importância dos recursos da natureza mineral. Os bens do subsolo, com efeito, podem ser definidos como aqueles sem os quais nada se faz na época atual que, mais adiante, será identificada como a "Idade dos Materiais". Mesmo as dádivas do solo, mormente os alimentos, essenciais à sobrevivência da humanidade, dependem, em larga escala, do concurso de corretivos e fertilizantes oriundos da subsuperfície. O caráter vital do subsolo, contudo, não se deve apenas ao uso generalizado das substâncias que encerra, mas, também, a três fatalidades que condicionam o seu aproveitamento. Os minerais são esgotáveis, irregeneráveis e, além disso, assimetricamente distribuídos na crosta terrestre. Essas fatalidades induziram os povos esclarecidos, e ainda os pouco esclarecidos, a colocar sob a égide do Estado dos produtos do subsolo, para administrá-los de forma distinta da administração dos bens da superfície. Hoje em dia, pois, só há divergências, no mundo, quanto ao modo de explorá-los. Nas sociedades que consagram a liberdade de iniciativa como fundamento da Ordem Econômica, a tônica prevalecente nas Políticas Minerais, e legislações conseqüentes, aponta sempre no sentido de privilegiar as pessoas, físicas e jurídicas, genuinamente nacionais, tolerar apenas a participação estrangeira no setor, embora com restrições e limitações bem severas, e reservar para o Estado as tarefas básicas de supervisão e controle, não obstante a tendência, em casos bem definidos, de sua intervenção como agente. Qualquer que seja o realce emprestado a cada um dos pontos citados, todos os Estados dirigidos inteligentemente concordam em manter sob gestão centralizada, o equacionamento do grande problema setorial, qual seja a manutenção do equilíbrio entre o aproveitamento econômico desses bens exauríveis, dispostos no próprio território, e a conservação de reservas, para atendimento das necessidades futuras do País, até o ponto além do horizonte, onde é possível perscrutar. Paradoxalmente, os Estados subdesenvolvidos são os que necessitam, como maior empenho, zelar pelas reservas dos minérios tradicionais, porque lentos em substituí-los pelas novas opções, mas, entretanto mostram-se sempre despreocupados em fazê-lo, como corolário do próprio atraso em que vegetam. Em resumo, deve caber ao Estado a faculdade de fixar ritmos e escalas para o aproveitamento econômico das jazidas, o que implica em atribuir ao Poder Central o planejamento global e a supervisão geral de todas as atividades do setor mineral. Há outros pontos comuns nas políticas minerais traçadas pela maioria dos Estados, todas funções de três postulados que pairam sobre o setor: o primeiro deles poderia ser enunciado da seguinte maneira: – os interesses empresariais, na exploração e transformação dos minérios, nem sempre coincidem com os interesses nacionais, mormente quando sujeitos a influências exógenas; Segundo postulado: – os recursos do subsolo, só devem ser explorados em condições de máximo rendimento para a economia do País onde jazem. Terceiro postulado: – o emprego de bens minerais, em alguns casos, exige o controle da sua destinação. Embora dispensável a demonstração das assertivas, por terem sido apresentadas como postulados, convém lembrar que assim foram reconhecidas, no mundo inteiro, por força das três fatalidades geológicas, já citadas. O primeiro postulado expressa a própria dicotomia entre consumo e conservação. Aos empresários interessaria, normalmente, a transformação imediata das reservas em riquezas, ao passo que ao País, muitas vezes, convém manter os minérios cubados, no todo ou em parte, como Reserva Estratégica. Os grupos alienígenas, então, só visam os minerais em falta nos respectivos locais de origem. Uma vez descobertas as jazidas, sua tendência é transmigrar os minérios, para beneficiá-los alhures, onde residem os seus acionistas, onde investiram adredemente nas unidades industriais e onde assumiram compromissos incontornáveis com as comunidades e governos. Isso explica, por exemplo o empenho com que procuram no Brasil, os minérios de manganês, estanho e alumínio, três metais escassos na América do Norte e Europa Ocidental. Desnecessário frisar que os de fora também compartilham do interesse pelas gemas e metais preciosos, geradores de fortuna rápida. Do segundo postulado, aprende-se que a simples exploração dos minérios não é suficiente para fomentar o progresso de quem os tem, pois o valor comercial desses bens insubstituíveis é depreciado pelos cartéis que dominam o cenário mineral mundial. Daí porque o valor total da produção de minérios do mundo equivale apenas a 5,5% do Produto Mundial Bruto. Desse montante, somente 0,7% representa o valor de todas as substâncias metálicas e não-metálicas de uso comum, enquanto 4,8% corresponde ao valor dos minerais energéticos, cuja participação é maior porque seu consumo equivale a 75% da tonelagem global, excluídos apenas os materiais de uso imediato na construção civil cujo consumo, todos sabem é estritamente, localizado. O rendimento mínimo aceitável para um Estado que queira se desenvolver é aquele propiciado pela transformação dos minérios nas substâncias elementares ou compostas disputadas pelo homem, cujo valor chega a ultrapassar mais de 10 vezes o custo embutido dos minérios, circunstância que permite solucionar, com maior propriedade, o dilema: consumo – conservação. Além de proporcionar maior renda, a transformação dos minérios suscita a sua distribuição mais equânime, por oferecer qualitativa e quantitativamente melhores oportunidades de emprego, do que a simples lavra dos minérios. Quanto ao terceiro postulado, poderá ser traduzido por uma expressão da sabedoria popular: "Não se entrega o ouro ao bandido". Com tal propósito, vários Estados decidiram criar empresas por eles controladas, para cuidar de certos minerais julgados de importância transcendente, como acontece com freqüência com os hidrocarbonetos e os combustíveis nucleares. O ponto mais polêmico em tudo que foi mencionado até agora é aquele relativo à participação estrangeira na exploração e transformação dos materiais existentes no subsolo de cada Estado. Obviamente, as superpotências e os países ricos, ora carentes de matérias-primas da natureza mineral batem na tecla do livre comércio, para uso externo, é bem verdade, e, além disso tentam convencê-los, então, da necessidade de aceitarem sem maiores objeções a participação de suas empresas de mineração no âmbito interno da cada um. Sempre estão a alegar o auxílio de arautos infiltrados, que sem o concurso dessas empresas inegavelmente bem dotadas de capitais e técnicos, não há possibilidade de fomento no segmento mineral dos países mais atrasados. Não pensam assim, todavia, outros países fora do círculo restrito acima definido. E, desde já, é bom ressaltar que os rebeldes não são apenas aqueles jovens Estados do Terceiro Mundo, ainda carentes de afirmação nacional e, portanto, pressurosos em cortar os vínculos que os prendem às antigas metrópoles. Um bom exemplo a seguir, com as adaptações ditadas por aspectos internos, é o Canadá. Em primeiro lugar, porque, tal como o Brasil, o País do setentrião das Américas tem mais da metade da superfície ocupada por um escudo cristalino pré-cambriano, ambiente propício para o surgimento das províncias metalogenéticas. Segundo, porque, até o início da década de 1960, o subsolo canadense vinha sendo objeto de disputa entre as grandes multinacionais da mineração, como está acontecendo agora no Brasil. E ainda mais porque, embora as pessoas físicas ou jurídicas brasileiras estejam impedidas, hoje, de participar das atividades do setor mineral canadense, a não serem associações minoritárias com pessoas locais, aqui no Brasil diversas empresas DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) desse mesmo país atuam isoladamente e com tal desenvoltura, a ponto de ousarem violar as leis do País. Só um dos grupos canadenses, denominado BRASCAM, atuando em faixa própria, através da subsidiária Noranda Mines ou em conjunto com a estatal inglesa British Petroleum , participa de 73 sociedades organizadas do País, todas subsidiárias fantasmas, montadas para contornar dispositivo antitrustes inserido no Código de Mineração. Aliás, por inspiração da própria Constituição. Usando tal expediente de fé pública, o grupo estrangeiro mantinha, até o final de 1985, 2.425 áreas reservadas para pesquisa e lavra, totalizando 16,3 milhões de hectares, em números redondos, ou, se preferirem, 163 mil km2, superfície equivalente à soma de Pernambuco, Espírito Santo e Sergipe. Mas Canadá e Brasil trilharam, de fato, caminhos opostos nas últimas décadas. Lá, onde o Bóreas sopra, a palavra de ordem para o setor mineral tem sido a "canadizante" das mineradoras, indústrias de transformação de minérios, inicialmente por vontade expressa na política tributária, discriminatória em relação ao capital estrangeiro e às exportações de minérios in natura, medidas persuasivas essas, que foram fechando um cerco, até à promulgação, de 12 de dezembro de 1973, do Forium Investiment Reviw Act que exigiu uma participação mínima para os canadenses de 51% do capital de todas as empresas atuantes no setor mineral, inclusive as indústrias de transformação de minérios. Note-se que, em alguns casos, a participação obrigatória de sócios ou cotistas canadenses chega a 100%. A legislação fiscal... O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Sª tem 2 minutos. O SR. GAMA E SILVA: – Dê-me mais 3, por favor. Como dizia, a legislação fiscal foi usada para harmonizar as relações entre a Confederação e as províncias e territórios, cuidando de encorajar a transformação local dos minérios, entendendo-se aí, por local, a área mais próxima da mina. Os resultados não tardaram a aparecer. O Canadá ocupa, hoje, o 3º lugar na seleção que alinha os países pelo valor da produção de minerais não energéticos. Seus minérios participam em mais de 6% do Produto Interno Bruto e representam uma densidade de 2.400 dólares por km2, densidade de produção. Um detalhe importante, para meditação: o País é auto-suficiente em petróleo e gás natural, figurando em 15ª e 6ª colocações, respectivamente, nas listas dos maiores detentores de reservas mundiais, todas localizadas em seqüências do Período Devoniano, portanto, da Era Paleozóica. Pergunta-se agora: aonde nos levou a legislação extremamente liberal, na verdade quase libertina? Hoje, o Brasil confirma apenas uma regra, por ser a única exceção a essa regra: é o único Estado gigante a exibir densidade de produção inferior a 500 dólares por km2. Não por crueldade geológica, mas pela total inadequabilidade da estrutura sobre a qual se assenta o setor mineral, desprovido, inclusive, de política específica. A produção mineral como conseqüência, no caso, dos não energéticos, mal atinge a 2% do Produto Interno Bruto, e a base de sustentação do setor tem sido a exportação de minérios in natura, muitas vezes subsidiados para sustentar o progresso alheio. Atendendo ao prazo que me foi determinado pelo Presidente da Mesa, vou cortar a minha exposição apenas dizendo o seguinte: que tudo isso ocorreu nestas plagas porque os três postulados que devem orientar as atividades setoriais são ignorados ou rejeitados, razão pela qual os minerais brasileiros do ramo não energético estão prestes a cair totalmente sob controle extensivo e exclusivo dos estrangeiros. Os números não mentem e bastam três exemplos para confirmar a situação esdrúxula em que nos encontramos. O capital estrangeiro, até outubro de 1986, participava de mais de 450 sociedades, responsáveis por mais de 13 mil processos abertos no DNPM, que lhes reservavam área superior a 45 milhões de hectares para pesquisa e lavra, espaço em que caberiam as duas Alemanhas, Dinamarca, Holanda e de quebra Irlanda do Norte e Luxemburgo. E estão sentados em cima dessas áreas. Em termos absolutos, os números acima representam apenas 42% da superfície reservada, mas descontadas as áreas para os materiais de uso imediato à construção civil, elas ultrapassam os 50%. Outro fato, 85% das reservas tituladas de ouro do Brasil acham-se sob controle dos estrangeiros, que, com certeza, ampliarão essa margem, desde que são eles os responsáveis por 75% dos investimentos previstos para pesquisa em lavra do metal precioso, lastro monetário, inclusive, no qüinqüênio 85/90. Nas áreas ínvias da Amazônia legal, que apareciam com maior número de reservas, – quadro exposto por meu antecessor – o único fator a deter hoje o avanço das multinacionais são os garimpeiros, porque essas empresas e mais alguns grupos poderosos nacionais não respeitam nem as terras reservadas aos indígenas e nem a faixa de Proteu. É chegado o momento, pois, de abandono da trilha atual, desastrosa para o País, e de adoção de novo caminho paralelo àquele adotado, com sucesso, pelo Canadá. Um membro desta Comissão, que não está presente aqui há dias atrás, declarou que os povos inteligentes copiam a experiência alheia, e os medíocres tentam seguir os próprios caminhos, por si, e os ineptos simplesmente não fazem nada. Esta é uma expressão de Otto von Bismarck. Eu gostaria, então, já que não posso terminar a minha palestra – há pouco tempo – de dizer apenas que o Brasil reclama por estruturas que permitam aos seus filhos exclamar com vibração cívica: os méritos são nossos. Cabe a V. Ex.as dotar o País dessas estruturas. Obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Dou a palavra ao Sr. Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Almirante Gama e Silva, queria, primeiramente, cumprimentá-lo e dizer que, normalmente, os Almirantes não são as minhas fontes de referência, mas foi com muito gosto que citei a fonte ao transcrever o quadro de um estudo de V. Sª em uma das minhas sugestões à nova Constituição. 98 Acho que V. Sª fere a questão crucial, qual seja a presença do capital estrangeiro na atividade minerária não com o interesse de explorar o nosso subsolo, transformar a riqueza mineral subjacente em produtos que vão, de alguma forma, favorecer o desenvolvimento social e econômico do nosso País. De modo que, Almirante Gama e Silva, a ideologia do capital estrangeiro costuma justificar a sua presença nesse setor, como em outros, pelos milagres que podem aduzir em matéria de aporte de investimento e tecnologia. V. Sª, que é um estudioso da matéria poderia, eventualmente, nos informar sobre os valores efetivamente gastos por essas irmãs todas que estão relacionadas naquele quadro publicado por V. Sª – investimentos em pesquisa e em lavra, bem como as contribuições tecnológicas efetivamente aportadas em nosso País por essas 18 irmãs que acumulam 45 milhões de hectares de área reservada? O SR. GAMA E SILVA: – Sr. Constituinte, agradeço a sua pergunta. Preferiria não falar em valores e apenas enfatizar o que tentei transmitir, e o fiz de forma muito vibrante devido ao adiantado da hora, porque não queria ver o auditório dormindo. Mas o problema básico aí é o seguinte: tal como nos foi apresentado aqui, antes da minha presença no pódio pelo geólogo Elmer Prata Salomão, as empresas estrangeiras não têm trazido grande contribuição para o nosso País, em termos de tecnologia, porque elas continuam perseguindo apenas aqueles minerais que interessam ou que faltam aos países de origem, normalmente o manganês ou o alumínio, que V. Ex.ª sabe dependem de determinadas condições climáticas e de relevo, até porque a bauxita, normalmente, é um mineral de acumulação residual e, basicamente, até agora, todo o direcionamento do capital estrangeiro tem sido para esses minerais, que os nossos garimpeiros também descobrem, à exceção da bauxita. Quer dizer, eles topam com a cassiterita e com o ouro e, freqüentemente, topam também com o manganês, como foi o caso da Serra do Navio, descoberta e era uma jazida aflorante. De modo que, comparar números, neste momento, parece irrelevante. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Se me permite, o geólogo Elmer Prata Salomão fez menção a uma estimativa de 15 milhões de dólares como um valor necessário para a pesquisa adequada das áreas reservadas. V. Sª tem uma idéia, ainda que grosseira, de quanto a British Petroleum, a BRASCAM, as outras multinacionais que têm enormes áreas reservadas, aportaram efetivamente nos investimentos do setor? O SR. GAMA E SILVA: – Seria interessante V. Ex.ª solicitar isso ao Banco Central, porque é um dado de muito interesse. O que posso garantir é que o capital das empresas é irrisório. Essas empresas de papel, hoje, têm capital de 10 a 20 cruzados – só para se ter uma idéia. As empresas que, por acaso, chegaram a alguma descoberta de relevo, então, recebem aporte de capital adicional. Mas eu, até agora, não me preocupei com esses números, porque julguei, sempre imaginei que esses números não traduziam a realidade, ou seja, não é isto que dá idéia dessa invasão que estamos sofrendo; a de reserva de áreas que 99 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) parecem não ser importante, mas é! Por exemplo, nas áreas invias da Amazônia, ao invés de 1.000 hectares normais, são concedidos 10 mil hectares de reserva. As empresas mantêm essas áreas sob reserva durante todo o período normal, pedem prorrogação de prazo e, muitas vezes, outras co-irmãs, quando esgotado o período de reserva, requerem imediatamente a área liberada. Então, ficamos na situação de que o pequeno investidor, a pequena mineradora não têm vez – isso tudo passando por cima da lei, porque a lei, o art. 26 do Código de Mineração é claro, não admite mais do que determinado número de áreas de pesquisa e, em todos os países que aqui estão praticando tais irregularidades, a multiplicação de empresas seria condenada judicialmente, porque fere um princípio jurídico consagrado no Mundo inteiro, que é o da despersonalização da pessoa jurídica. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Mas, Almirante, se não há investimento nem aporte de tecnologia, como explicar essa concessão, nenhum critério, a tantas empresas? O SR. GAMA E SILVA: – Como não temos política mineral, inexistente política mineral no Brasil, o DNPM é hoje um grande supermercado, é onde simplesmente se obtêm, ou se compram alvarás, isto quando o negócio não é feito em outros locais. Há empresas, no Brasil, que vivem da venda de alvarás; quer dizer, além do supermercado, o DNPM, há também outros supermercados por aí, menores, outras cadeias paralelas de supermercados. Então, lá essa profusão de alvarás, essa chuva de alvarás, essa tentativa de reservar o território pátrio indefinidamente contra os interesses maiores do País, e prejudicando, inclusive, a velocidade de pesquisa, porque a legislação que possuímos hoje é sábia. A restrição do número de alvarás de pesquisa, no fundo, acelera o ritmo da pesquisa, porque a empresa quer liberar aquela área para poder requerer outra – tudo está destruído pela completa desorganização do setor mineral. Eu diria, para repetir palavras de um parlamentar que muito animou a minha juventude, que estamos diante de verdadeiro mar de lama. A SRA. CONSTITUINTE RAQUEL CÂNDIDO: – Em primeiro lugar, quero agradecer a vinda do eminente Almirante e agradecer, como patriota, a coragem da combatividade através de toda a sua história e, inclusive, algumas desventuras por ter sido como militar da ativa que combateu, durante o seu período no GEBAM, com galhardia e dignidade, a soberania daquele povo, quando o grupo Jari queria adonar-se de todos os meios de parte daquele rincão pátrio. O Almirante Gama e Silva, para a Amazônia, significa a resistência de parte das Forças Armadas, Constituinte Luiz Salomão, um Almirante diferente, um Almirante corajoso, que não tem medo de defender a causa justa do País e que, em nome desse mar de lama ganhou a sua ida para a reserva, mas deixou fincado, através do último momento da sua estada como homem da ativa, uma reserva mineraria na Amazônia que passa a ser leiloada por esse supermercado, que é o DNPM, de conluio com o IBRAM. Porque o IBRAM continua, através de suas associadas, através do DNPM, dia após dia, requerendo mais áreas, mais áreas e mais áreas para repassar a terceiros que nada fazem, que nada desenvolvem, principalmente na nossa região. Com essas palavras, temos que agradecer a vinda de nosso Almirante e fazerlhe uma pergunta: que, sobremaneira para nós amazônidas, vem de propósito com a política, através de alguns meios de comunicação nesta última semana, quando aqui tomou conhecimento da vinda de determinados convidados, que passou a aguçar através desses meios de comunicação, uma provocação ímpar, através do "Jornal Nacional", com a Rede Globo, demonstrando a insegurança dos trabalhos dos garimpeiros, em Serra Pelada, para que, numa rasteira solenemente conhecida pelas grandes empresas, possam afastar os garimpeiros, os trabalhadores que descobriram aquela serra. Como se isso não bastasse fizeram uma matéria, na "Manchete", distorcida, mentirosa, sem nenhum embasamento verdadeiro, para soltarem na data de hoje, para que toda a Assembléia Nacional Constituinte pudesse ser direcionada numa política mentirosa. Perguntaria, finalmente, ao Almirante Gama e Silva, se S. Sª vê possibilidade de, nós, Constituintes amazônidas e, acima de tudo, brasileiros, podermos elaborar uma emenda ao Projeto Calha Norte, que seria de grande valia para a área fronteiriça, quartel general das multinacionais, quartel general dos padres que invertem a ordem, que saem da sua pregação de salvadores da alma, e tentam ser geólogos, a serviço de grandes mineradoras e do capital da multinacional? Como S. Sª vê a condição de a Assembléia Nacional, ou até mesmo o Congresso Nacional, apreciar emenda onde se coloque a determinação de um pelotão de serviço de colonização naquela área como preservamento da presença civil, chamando à responsabilidade militares maus brasileiros, que também fizeram a entrega do nosso solo às multinacionais. Para que nós, de mãos dadas possamos resgatar, sem sombra de dúvida, todas as correntes segmentares deste País. Como o Sr. vê essa emenda no Projeto Calha Norte, numa verdadeira resguarda às nossas fronteiras, principalmente na Amazônia, que tem grande parte do seu subsolo ainda intocável. O SR. GAMA E SILVA: – Muito obrigado, nobre Constituinte Raquel Cândido. Embora deva dizer que julgo o assunto não ser pertinente à Constituinte, tenho imenso prazer em responder à sua pergunta, embora também não tenha conhecimento exato de todos os termos do projeto Calha Norte. Apenas gostaria de informar à ilustre Constituinte que está arquivado na Câmara dos Deputados, há cerca de 3 anos no mínimo, 3 anos e meio a 4 anos, um projeto que acho de suma importância, no qual dediquei dois anos de minha vida. É o projeto que cuida da política florestal e ocupação da Amazônia. Esse projeto tem uma estória longa; começou lá nas bases, em universidades, reuniu diversos homens de saber e, principalmente, acima de tudo, reuniu também aqueles que têm a sofrência da Amazônia, o sofrimento e a vivência da Amazônia, homens simples, também, do interior, que foram trazidos a Brasília, a meu convite, para que dessem o parecer naqueles pontos que doutores de anel haviam colocado naquele papel, porque julgávamos que, sem um pouco de pimenta não se poderia condimentar o tacacá. Mas, o fato é que esse projeto está aí e poderia perfeitamente ser acoplado ao Projeto Calha Norte, que é um projeto de valor, porque terá o mérito de vivificar, de tamponar alguns espaços vazios, ou algumas áreas por onde penetram e saem livremente algumas das nossas riquezas. Então, o Projeto Calha Norte acoplado à aprovação da política florestal e de ocupação da Amazônia, que teria que ter, como medida prévia, o zoneamento ecológico econômico da Região que, inclusive, definiria as tais áreas indígenas, tão controversas – aí, então, poderíamos ter a Amazônia ocupada racionalmente e, certamente, nessa ocasião, despontaria a sua maior vocação, que é a minero-industrial. Mineral, porque 2/3 da Amazônia são áreas ricas em mineral, hoje está demonstrado; quebrou-se o tabu, em nosso País, de que um círculo reduzido de geólogos da Petrobrás, de que bacias paleozóicas não produziam petróleo, quando no Canadá todo o óleo e todo o gás retirado são de áreas do devoniano, ou seja no neopaleozóico. Portanto, temos a riqueza e a anergia, seja hídrica, seja da biomassa. O acoplamento desses dois insumos básicos – minério e energia – define uma vocação incontestável para a nossa Amazônia, que deva ser explorada por brasileiros, para a grandeza do País. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Vamos encerrar esta reunião não sem antes agradecer ao Almirante Gama e Silva a exposição que nos fez, o brilhantismo dessa exposição e a sua vinda. Teremos reunião, amanhã, no mesmo local, às 9 horas e 30 minutos. Está encerrada a reunião. (Levanta-se a reunião às 22 horas e 35 minutos.) 10ª Reunião Ordinária Aos seis dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às nove horas e cinqüenta e quatro minutos, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência dos Senhores Constituintes Delfim Netto e Virgildásio de Senna, com a presença dos seguintes Constituintes: Luiz Salomão, Virgildásio de Senna, Albano Franco, Delfim Netto, Jalles Fontoura, Irapuan Costa Júnior, Hélio Duque, Renato Johnsson, Rubem Medina, Vladimir Palmeira, Gabriel Guerreiro, Ronaldo Cezar Coelho, Joaquim Bevilacqua, Gilson Machado, Antônio Ueno e Gil César. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e solicitou fosse dispensada a leitura da Ata da reunião anterior, que foi considerada aprovada. A seguir, deu-se início ao Expediente que constou da leitura sumária das Sugestões de números 178, 624, 811, 833, 834, 836, 837, 838, 841, 842, 843, 904, 1110, 1112, 1120, 1177, 1181, 1265, 1271, 1280, 1294, 1295, 1378, 1385, 1468, 1476, 1491, 1610, 1741, 1736, 1746, 1817, 1891, 1133, 1136, 1137, 1193, 1223, 1244, 1247, 1494, 1514, 1563, 1703, 1722, 1692, 1879, 1923, 1925, 1946, 2054, 2094, 2095, 2115, 2116, 2131, 2239, 2282, 2283, 2287, 2349, 2353, 2354, 2360, DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) 2361, 2409, 2426, 2786, 2787, 2788, 2789, 2790, 2791, 2792, 2793, 2794, 2850, 1924, e 2090, de autoria dos Senhores Constituintes Tadeu França, Nelton Friedrich, João Cunha, Mendes Ribeiro, Nivaldo Machado, Raquel Cândido, Antônio Salim Curiati, Irma Passoni, Brandão Monteiro e outros, Osvaldo Lima Filho, Paulo Zarzur, José Santana de Vasconcellos, Álvaro Valle, Firmo de Castro, Michel Temer, Mozarildo Cavalcanti, Afonso Arinos, Denisar Arneiro, Érico Pegoraro, Mário Maia, Nilson Gibson, Gabriel Guerreiro, Gilson Machado, Jacy Scanagatta, lnocêncio Oliveira, Maurício Campos, Cid Carvalho, Luiz Salomão, Nelson Carneiro, Doreto Campanari, Felipe Mendes, Siqueira Campos, Victor Faccioni, Koyu lha, Osvaldo Macedo, Persival Muniz, Agassiz Almeida, Adhemar de Barros Filho, Octavio Elízio e Fernando Bezerra Coelho e, ainda, sugestões da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, da Associaç ão Mineira de Defesa do Ambiente e da Fundação Prefeito Faria Lima – CEPAM; e leitura de Ofício do Líder Amaral Netto indicando o nome dos Constituintes Virgílio Távora e Darcy Pozza, para Suplentes do PDS, na Subcomissão. Findo o Expediente, o Senhor Presidente anunciou o debate de Matéria Constitucional, do qual participaram os Senhores Constituintes Luiz Salomão, Virgildásio de Senna, Joaquim Bevilacqua, Gabriel Guerreiro, Renato Johnsson, Delfim Netto, Albano Franco, Gilson Machado, Vladimir Palmeira, Jalles Fontoura, Gil César e Antônio Ueno. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos às doze horas e trinta e dois minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada hoje, dia seis de maio, às dezessete horas e trinta minutos, destinada à audiência pública. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figueirêdo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO À ATA DA DÉCIMA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM 6 DE MAIO DE 1987, ÀS 9 HORAS E 54 MINUTOS, INTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Srs. Constituintes, vamos dar início a reunião, prosseguindo na discussão dos temas referidos nos termos propostos pelo ilustre Relator. Não havendo objeção do Plenário, vou dispensar a leitura da Ata, considerandoa aprovada. A Presidência comunica que recebeu ofício do Líder Amaral Netto, indicando os nomes dos Srs. Constituintes Virgílio Távora e Darcy Pozza, para suplentes do PDS, na Subcomissão de Princípios Gerais. A Presidência recebeu e encaminhou ao nobre Senhor Constituinte Virgildásio de Senna, relator da matéria, as sugestões de nos: 178, 624, 811, 833, 834, 837, 838, 842, 843, 904, 841, 1110, 1112, 1120, 1177, 1181, 1265, 1271, 1280, 1294, 1295, 1378, 1385, 1468, 1476, 1491, 1610, 1741, 1736, 1746, 1817, 1891, 1133, 1136, 1137, 1193, 1223, 1244, 1247, 1494, 1514, 1563, 1703, 1722, 1692, 1879, 1923, 1925, 1946, 2054, 2094, 2095, 2115, 2116, 2131, 2239, 2282, 2283, 2287, 2349, 2353, 2354, 2360, 2361, 2409, 2426, 2786, 2787, 2788, 2789, 2790, 2791, 2792, 2793, 2794, 2850, 1924 e 2090, de autoria dos Senhores Constituintes Tadeu França, Nelton Friedrich, João Cunha, Mendes Ribeiro, Nivaldo Machado, Raquel Cândido, Antônio Salim Curiati, Irma Passoni, Brandão Monteiro e outros, Oswaldo Lima Filho, Paulo Zarzur, José Santana de Vasconcellos, Álvaro Valle, Firmo de Castro, Michel Temer, Mozarildo Cavalcanti, Afonso Arinos, Denisar Arneiro, Érico Pegoraro, Mário Maia, Nilson Gibson, Gabriel Guerreiro, Gilson Machado, Jacy Scanagatta, Inocênio de Oliveira, Maurício Campos, Cid Carvalho, Luiz Salomão, Nelson Carneiro, Doreto Campanari, Felipe Mendes, Siqueira Campos, Victor Faccioni, Koyu lha, Osvaldo Macedo, Persival Muniz, Agassiz Almeida, Adhemar de Barros Filho, Octávio Elízio e Fernando Bezerra Coelho. Recebeu, ainda, sugestões da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente e da Fundação Faria Lima – CEPAM. A palavra está franqueada aos Srs. Constituintes. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte, Deputado Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, eu queria me valer desta última reunião temática que temos para apresentar, de forma mais explícita, duas sugestões de normas constitucionais que tive a honra de submeter à consideração de ilustres colegas e companheiros. A primeira diz respeito a normas constitucionais, e extensão das normas clássicas contidas na Constituição, para regência das concessões dos serviços públicos, que reproduzem normas preexistentes, que também foram copiadas pela Comissão de Estudos Constitucionais, presidida pelo Senador Afonso Arinos, mas que tenta avançar no sentido de adequar as empresas estatais prestadoras de serviços públicos àquilo que costumamos dizer "as estatais que nós queremos". Isso porque o regime autoritário, nesse período da ditadura militar, acabou torcendo a boca também dos administradores das empresas estatais prestadoras de serviços, ao ponto em que elas se desligaram dos interesses da comunidade, dos usuários desses serviços, para se embrenharem por caminhos muito criticáveis de investimentos desligados das necessidades dos usuários e muito mais voltados para a megalomania de seus administradores ou para o interesse dos fornecedores. Nesse sentido, um movimento de resistência surgiu de parte dos empregados dessas empresas, que buscam preservar essas entidades que lhes geram a condição de sobrevivência e, ao mesmo tempo, a preocupação de colocar essas empresas mais a serviço da população. Um outro movimento concorrente a este foi o da organização dos usuários, que passaram a protestar e a se articular para exigir serviços mais 100 baratos, serviços onde eles inexistem, serviços mais adequados à necessidade da demanda. Nesse sentido, estamos propondo, além dos itens clássicos da obrigação da concessionária em manter serviço adequado, de que as tarifas permitam a justa remuneração do capital, a melhoria e expansão dos serviços, o equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão, a previsão da fiscalização permanente e da revisão periódica das tarifas pelo poder concedente, estamos preconizando, no meu entender, que pelo menos no relatório do Sr. Relator desta Subcomissão seja incluída a previsão constitucional de que se fará supervisão e controle da elaboração de planos e programas, projetos e orçamentos, bem como da qualidade e extensão dos serviços da concessionária, por uma comissão mista, da qual participarão representantes dos usuários, dos empregados da concessionária e do órgão concedente. Essa é a essência da proposta, que visa democratizar as empresas estatais prestadoras de serviços, no sentido de adequálas mais às necessidades da população, criando, por outro lado, uma instância de acompanhamento das atividades dessas empresas, que é reclamada por grande parte da cidadania usuária desses serviços. A outra sugestão de norma constitucional que eu gostaria de ter a oportunidade de relatar a V. Ex.ª diz respeito à atividade de planificação, que, neste País, nos últimos anos, adquiriu a forma de um mero arrolamento dos desejos e projetos da grande burguesia. Aparentemente, esses planos compatibilizados num exercício numérico macroeconômicos visam apenas satisfazer a curiosidade dos economistas e dos técnicos em planejamento. Mas, de qualquer forma, a tentativa e iniciativa dos Governos, pós-64, de formular planos chamados nacionais de desenvolvimento, está bastante aquém do nível de participação democrática que já se pode prever para o nosso País hoje em dia. De modo que estamos propondo, com base também na experiência da Constituição Portuguesa, a instituição de uma mecânica rotineira de planificação, que se dividiria em três níveis: um plano de desenvolvimento econômico-social, destinado a definir os grandes objetivos de longo prazo que a sociedade brasileira almeja, e as estratégias para atingi-los, é claro que, portanto, é um plano de caráter indicativo, um segundo plano de ação econômico-social, que definiria os objetivos e metas a alcançar a médio prazo, resultante da compatibilização de planos setoriais e regionais e harmonizando as ações da iniciativa privada e dos Governos Federal, Estaduais e municipais – e é importante que se diga que esses planos teriam caráter imperativo para o setor público, mas um caráter puramente indicativo para o setor privado – necessitando-se, portanto, de uma compatibilização, uma harmonização dessas intenções, conforme me referi na proposta referente aos princípios gerais. E, finalmente, um plano anual, aí bastante objetivo e claro, com as metas de programação e atividades do Governo para o exercício, e que teria, como sua expressão financeira, o próprio orçamento. É importante que se disponha de um documento com as metas físicas do Governo, para 101 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) efeito de um acompanhamento que não pode ser exercido em termos puramente financeiros. As taxas brutais de inflação que a economia brasileira vem ostentando tomam inviável qualquer tipo de acompanhamento, pelo Congresso ou por qualquer órgão da sociedade, do cumprimento das metas de programação do Governo, através do orçamento, como expressão financeira dessas atividades governamentais. Eu gostaria de destacar uma proposição contida no parágrafo único, desse primeiro artigo da nossa sugestão, que é a tentativa de destacar, nos planos regionais, os programas de desenvolvimento integrado das regiões metropolitanas e das grandes bacias hidrográficas. Essa é uma questão a que já me referi na reunião de ontem, superficialmente, quando tratei da questão do aproveitamento dos recursos hídricos, da necessidade de o nosso País atentar para a necessidade de planejar por bacias, por grandes bacias hidrográficas, porquanto, essa divisão geográfica tem um vetor diretor das atividades econômicas extremamente importantes e, até o presente, não conseguimos instituir, no País, uma preocupação de desenvolvimento das atividades econômicas e sociais, em função dessa divisão geográfica pelas bacias hidrográficas. Eu gostaria de destacar que, apesar da tentativa de o Governo brasileiro criar o CEIB-Comitê de Estudos Integrados das Bacias Hidrográficas Brasileiras, na verdade, essa tentativa não avançou muito. Foram criados vários comitês regionais, tive a oportunidade de presidir o do Vale do Paraíba não se consegue institucionalizar ações que congreguem governos estaduais, governos municipais, a própria iniciativa privada, no sentido de compatibilizar, por exemplo, o uso do solo, o uso das águas, da bacia, e o que observamos são grandes prejuízos para a Nação, em virtude da incompatibilidade, da falta de harmonia do desenvolvimento de diferentes atividades. De modo que é uma recomendação que gostaria de ver inscrita na Constituição. E, finalmente, a recomendação de que a formulação; quer dizer, o Congresso Nacional deve aprovar esses planos e acompanhar a sua execução e, finalmente, a recomendação de que a formulação desses planos, desde seus primeiros estágios, conte com a ampla participação de diferentes organizações da sociedade civil, não só de especialistas como de organizações profissionais diversas, entidades de classe, empresariais, dos trabalhadores, enfim, de todos os setores representativos da sociedade. Isso não pode compartilhar com o ponto de vista expressado pelo ex-Ministro e hoje Senador Constituinte Roberto Campos, S. Ex.ª, que pensava ser o planejamento uma ciência, uma arte. Hoje, não reconhecia nessa atividade nenhum mérito maior. Aliás, essa Comissão tem o privilégio de ter dois exMinistros de Planejamento do País como seus integrantes. Na verdade, creio que essa desilusão do ex-Ministro Roberto Campos se prende muito à falta de compromisso da Nação com os planos formulados durante sua passagem pelo Governo, relativamente rápida mais marcante, sobretudo, em virtude – essa falta de compromisso – da falta de preocupação, não só do ex-Ministro Roberto Campos, mas de quase todos os Ministros do Planejamento que por aqui passaram, de vincular os diferentes setores sociais às metas e às propostas contidas nesses planos, por falta de participação, exatamente, dos setores organizados da sociedade. Trabalhei no IPEA, durante certa fase de minha vida profissional, participei da elaboração do II PND, modestamente, mas pude acompanhar a forma fechada e, por que não dizer, tecnocrática como eram formuladas as metas, depois, integradas e compatibilizadas, com corte aqui, ou acolá, sem nenhuma audiência concreta da sociedade. Acredito que uma tentativa de abrir o processo de planejamento a uma participação da sociedade brasileira possa redundar: primeiro, num melhor conhecimento das demandas sociais, dos diferentes segmentos, tornando recíproco o conhecimento sobre essas demandas. Em segundo lugar, se pudéssemos reproduzir, por exemplo, o processo que estamos vivendo na elaboração desta nova Constituição, com abertura, participação da sociedade, entrega de sugestões e recomendações e uma discussão minimamente séria dessas propostas, não tem dúvidas de que extrairemos um compromisso social muito mais forte, muito mais firme, saudável, para a condição das atividades econômico-sociais do País. De modo que, Sr. Presidente, Sr. Relator e Srs. Constituintes, eu, com essa intervenção, encerro o relato das propostas que tive o prazer de apresentar a esta Subcomissão dos Princípios Gerais da Ordem Econômica. Multo obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V.Ex.ª A palavra está franqueada aos Srs. Constituintes. (Pausa.) Tem a palavra o ilustre Sr. Relator. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, um dos temas, talvez aqueles mais polêmicos do processo de discussões, aqui, na Assembléia Nacional Constituinte, é aquele relativo ao papel das multinacionais, assim como agente econômico ativo no processo produtivo e como vetor da comercialização dos produtos brasileiros. Talvez valesse a pena ouvir – e eu ficaria muito honrado com isso – o pensamento dos Srs. Constituintes, membros desta Subcomissão, sobre o papel dessas empresas na economia nacional, como controlá-las, como abrir, ou como fechar a economia nacional à presença das multinacionais, talvez esse fosse um tema que merecesse, quem sabe, a opinião abalizada e a experiência internacional do Constituinte Vladimir Palmeira. (Risos). O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Tem a palavra o nobre Constituinte Joaquim Bevilácqua. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, é evidente que não tenho nem a experiência, nem o talento do Constituinte Roberto Campos, mas vou tentar, usando uma expressão de S. Ex.ª que V. Ex.ª repetiu, excitar o debate em tomo desse assunto. Participamos, há dez anos, de uma CPI, nesta Casa, que investigou o comportamento das multinacionais e o papel do capital estrangeiro no desenvolvimento nacional. Tivemos àquela época, uma experiência, para mim pelo menos, muito interessante, no tocante a alguns comportamentos e algumas práticas vigentes, quer sobre a questão de superfaturamento e subfaturamento, quer sobre a questão dos contratos de transferência de tecnologia, quer com relação aos royalties, enfim, quer com relação a uma série de práticas que relatamos, num voto em separado da Oposição, da qual fui o relator, naquela oportunidade, que mereceu naturalmente o exame do Governo, de seus Ministros da área econômica, porque consta que inclusive o próprio Presidente da República se interessou muito pelo assunto. É verdade que, de lá para cá, Sr. Presidente, Srs. Constituintes, eu evolui em algumas posições e, em outras, eu reafirmei as convicções que tive naquela época. Do resultado dessas CPI, apresentei vários projetos de lei, lamentavelmente, a maioria deles não teve a sua tramitação normal. Um deles foi reformulando o CAD, nos moldes aproximados do modelo americano, porque acho que temos que efetivamente ter um controle e, se o CADE hoje ainda tem algum funcionamento, é porque àquela época, depois de 20 anos de funcionamento, ele só tinha se reunido três vezes, em 1976. Depois disso, adotaram algumas das propostas do meu projeto e o CADE, ainda hoje, pelo menos nos jornais se vê falar do CADE, abuso do poder econômico, etc. Lembro-me muito bem da queixa dos concessionários, com relação aos contratos leoninos das montadoras, e das revendas, e uma série de outros comportamentos de mercado que poderiam perfeitamente, em vez de ir à Justiça Comum, atravancando ainda mais a nossa justiça, ser resolvido em uma instância específica, destinada a conter o abuso do poder econômico, os frustres, os cartéis, os monopólios, os oligopólios, e assim por diante. Com relação ao abuso do poder econômico, eu já não diria nem com relação às multinacionais, especificamente, nobre Relator, acho que o fortalecimento do CADE, modernização, fortalecimento como uma instância realmente quase que com uma força jurisdicional na área administrativa são indispensáveis. Essa foi uma das experiências. A outra foi relativa à propriedade do invento. Apresentei um projeto, modificando algumas das disposições do Código de Propriedade Industrial, baseado, inclusive, num caso muito interessante. Um cidadão, que trabalha na esso, descobriu uma fórmula de medir a quantidade de líquido por fora da lata, do vasilhame, e com isso, constatamos uma fraude imensa de querosene, sobretudo prejudicando aqueles Estados da Amazônia, Norte, Nordeste, aqueles rincões, onde não há energia elétrica, e a lata de querosene Jacaré em vez de vinte, tinha dezoito litros. Então, esse cidadão inclusive pleiteou e ganhou na Justiça do Trabalho e, depois, na Justiça, ganhou uma indenização, pelo seu invento da medição. E esse seu aparelho foi o responsável pela apuração dessa fraude. Era de uma enlatadora em Guarulhos. E essas fraudes são muito comuns. Isso é também uma atribuição, não sei se está a cargo da Sunab "mas" seria mais na área de defesa do consumidor e não deixa também de ser um abuso do poder econômico, porque quem detém o poder de fazer essa fraude, detém o poder econômico e está fraudando a massa consumidora. Com relação ao capital estrangeiro, o que apuramos, na Comissão, naquela época, – evidente, que isto não vale para hoje – embora o depoimento tenha sido surpreendente para mim, pelos DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) dados que foram apresentados, no tocante aos contratos de riscos, em que houve um aporte de menos de 10% daquilo que a Petrobrás já aportou, em prospecção, em pesquisa, em perfuração. Realmente eu não tinha esses dados, mas fiquei surpreso de verificar o quanto foi insignificante a contribuição do capital estrangeiro na prospecção. Em princípio, não tinha essa posição xenófoba contra o contrato de risco. Achava meu grande amigo e ex-Professor Euzébio Rocha, um tanto radical, um tanto emocional nas suas posições, e não entendia que o contrato de risco ferisse a figura do monopólio. O que me surpreendeu foi verificar que o capital estrangeiro, na verdade, não nos trouxe nada, em termos de aumento da produção. Esse aumento da produção foi, como reconheceu o Presidente da Petrobrás, Ozires Silva Graças, graças a uma medida conseqüente, tomada, na época, pelo Ministro Delfim Netto, pagando ao petróleo nacional o preço que se pagava pelo petróleo estrangeiro, e a Petrobrás aumentou a sua capacidade de prospecção. Quando Juscelino implantou a indústria automobilística, nós tínhamos uma prospecção de 6.000 mil barris diários. Alguns anos depois, quando deixou o Governo, já estávamos com mais de 100.000 mil barris diários. Isto se pode atribuir a Juscelino, não sei se créditos ou débitos. Na verdade, é que a internacionalização da nossa economia teve um grande impulso na sua época. Era um homem muito aberto, neste sentido, a conceituação de nacionalismo dele era diferente dessa conceituação ideológica que se dá hoje. Mas, na verdade, é que ele teve visão de aumentar também o refino do petróleo. Depois, tivemos vários anos com o petróleo barato, importando petróleo e tivemos a crise do choque do petróleo. Na área estratégica, importante, fundamental do petróleo, que definiu dois períodos da nossa recente história econômica e política, não vejo que o capital estrangeiro tenha trazido essa contribuição que deveria trazer. Vemos o Japão, com uma taxa de poupança extraordinária, e temos países com urna poupança muito grande e, o Brasil, com todo esse potencial para investimento, não tem sido assim. Vejo que as empresas multinacionais, muitas vezes, se instalam aqui e, pelo contrário, se apropriam de financiamentos nossos, de linhas de crédito nossos, de BNH, Caixa Econômica, etc., para desenvolver seus projetos. Isso é muito comum. E, por outro lado, o repatriamento, que continua havendo, através de subfaturamentos. Outro dia, tive notícia, na área da indústria de bens de capital, de um maquinário que está sendo importado, por um milhão de dólares a unidade, quando custa, lá fora, 200 mil dólares. Quer dizer, isto é um repatriamento ostensivo. Não entendo coisas desse tipo. São falhas muito mais de governo que de política econômica, do que de princípios a serem inseridos na Carta. Minha posição não é absolutamente xenófoba. Acho que temos que ter habilidade, não pode ser axiomático na Constituição, nesse aspecto, porque, amanhã, a China vem e nos propõe uma associação, ou a Rússia, ou algum país cujo mercado interesse que tenhamos tecnologia, e condições de para lá irmos. Não vamos deixar de fazer, por razões ideológicas. Nosso pragmatismo da política externa, acho que deve ser adotado também com relação ao capital estrangeiro. Temos que ter competência para escolher os parceiros: temos que pesar bem, ou colocar bem o peso da nossa importância geo-política, da nossa importância econômica, do nosso potencial ainda inexplorado e saber fazer essas associações, esses jointventures e, assim por diante. Efetivamente, com o atual aparelho burocrático, o atual aparelho estatal, acha difícil essa fiscalização. Apuramos por exemplo, na área da indústria farmacêutica, que o Ministério da Saúde, naquela época, tinha um funcionário ganhando um pouco mais do salário mínimo, para poder aprovar todos aqueles pedidos de registro de marca – que não deixa de ser uma reserva de mercado. Que a medida que o sujeito registra aquela marca ou aquela fórmula, o laboratório nacional não pode desenvolver o produto. E o estrangeiro também não desenvolve. A tal ponto que chegamos a ter, hoje, cerca de 40 mil marcas registradas, com 5, 6, 8, 10 marcas do mesmo remédio. O que acontece, por exemplo, na Argentina. Nesse aspecto, aquele papel que estava destinado, inicialmente, à Ceme, foi esvaziado, e a Ceme que deveria ser o ceme de uma indústria farmacêutica nacional acabou sendo uma mera distribuidora, repassadora de remédios de primeira necessidade. Acho que isso foi também um desvirtuamento da Ceme. Hoje, a indústria química e farmacêutica está em mais de 90%. Tinha eu 14 anos, quando comecei a trabalhar num laboratório que era nacional, na Tijuca, e esse laboratório hoje já é também internacionalizado. Ainda temos o Fontoura e outros. Então, é outro setor que, ao longo dos anos, foi se descapitalizando, do ponto de vista do capital nacional, e foi se incorporando às grandes empresas multinacionais. Sr. Relator, minha posição é de um nacionalismo não xenófobo, é de um intervencionismo moderado. Acho que temos de ter o bom senso de saber. Citei aqui, numa reunião, com relação à empresa pública, à empresa privada, que, muitas vezes, a empresa privada é mal gerida, por nepotismo também, por ineficiência, por razões de mercado, conjunturais. A empresa pública, em princípio, é, em regra, mais mal-gerida do que a empresa privada. Existem setores, como a indústria aeronáutica, – como citei aqui, – ou o campo aéreo espacial, que, evidentemente, no Brasil, só são viáveis em função da interferência direta e ostensiva, com peso específico, do Governo, de suas várias áreas ministeriais. Não seria possível a Embraer ter crescido, no mercado internacional, não fosse o convênio que fez com a Piper e, na época, me lembro que a Cessna tentou se implantar no Brasil, tentou se implantar no Rio Grande do Sul, nos hangares da Varig. E comprei uma briga com a bancada gaúcha quando fui contra isso e dizia que se implantasse aqui a Cessna, seja um jointeventure, com qualquer que fosse a empresa nacional, teríamos, evidentemente, a falência da Embraer. Essa tese foi vencedora na Câmara, no Sendo, e acabou o Governo, com bom senso, não permitindo a instalação da Cessna aqui, o que possibilitou a Embraer expandir e utilizar grande rede da Piper, no mundo todo, para se transformar, hoje, numa 102 grande multinacional brasileira, com boa participação de capital de Estado e com a sua gerência em mãos do Estado. Acho que temos que ser um pouco pragmáticos. Claro que alguns princípios informadores são muito importantes, as posições aqui colocadas pelo Deputado Luiz Salomão, nesse esforço extraordinário de expressar a sua ideologia, que, se não for implantada a curto prazo, certamente muitas divergem do princípio e das medidas a médio prazo, com a consolidação e estratificação, elas merecerão a melhor acolhida. As colocações sempre muito nítidas, do ponto de vista ideológico, mas muito com o pé no chão, do grande e simpático colega, Vladimir Palmeira. As colocações técnicas, embasadas, do Guerreiro e de outros, acho que trazem a V. Ex.ª a média do pensamento da Comissão. Parece-me que não é reacionário, não é conservador, no sentido de conservar aquilo que é ruim, mas uma posição reformista, querendo encontrar um caminho sério, objetivo, prático, sem utopia. Sabemos a realidade nacional, sabemos da falta de quadros que tem neste País, sabemos que precisamos de uma reforma no sentido, como fizeram os países industrializados de hoje, que sofreram na Segunda Guerra e ressurgiram como grandes potências. Então, esta é, em tese, a minha posição. Com relação à proposta do Deputado Luiz Salomão, ainda acho que planejamento é uma coisa importante, já foi importante, e, hoje, parece que se quer tirar a importância do planejamento, apesar de que não devemos ter pressupostos rígidos, não seremos muito axiomáticos, mas acho que um mínimo de planejamento e diretrizes gerais é necessário, senão, estaríamos aqui fazendo o quê? O planejamento global da Nação, que é exatamente a sua Lei Maior, a tentativa de fazer isso, de definir o que é o Brasil. Com relação às bacias hidrográficas, estou de pleno acordo com S. Ex.ª Inclusive, há algumas sugestões interessantes, que estão nesta Casa, dentro dos milhares delas, como da república unitária, em que seriam os municípios as regiões, e a União, acabando com a intermediação do Estado. Quando fui prefeito sofri uma pressão muito grande com isso; às vezes, eu tinha que entrar em contato direto com o Ministro Delfim Netto, com o Ministro Andreazza, para conseguir liberação de recursos, porque o Governador não gostava de mim, Depois, S. Ex.ª passou a gostar e liberava, repassava os recursos. Mas S. Ex.ª era um mero intermediário dos recursos da União. Então, isso acontece. Aconteceu, no Estado do Rio de Janeiro, recentemente; fomos testemunhas disso, falando aqui sem nenhum parti pris partidário. Realmente, essa idéia é uma idéia inovadora. E claro que eu acho que não vai ter acolhida, mas é uma idéia. O próprio Ministro do Interior, o novo Ministro, foi um grande prefeito em Recife, Deputado Joaquim Francisco Cavalcante, está propondo agora a institucionalização das regiões. Teríamos a União, os Estados, os Municípios e as regiões. Eu não chegaria a esse ponto. Mas fui o autor de um projeto nesta Casa – está aqui o Deputado Luiz Salomão, que foi Presidente da Comissão do Vale do Paraíba, onde propus a criação de uma autarquia interministerial, a Sudevap, que seria a Superintendência do Desenvolvimento do Vale do Paraíba, exata- 103 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) mente dentro do espírito desta proposta. As grandes bacias hidrográficas, como o Vale do Reno, e outros tantos que temos na Europa, no mundo. Aqui, no Brasil, o Vale do Paraíba é bem característico, porque, hoje é o grande eixo produtor e consumidor do País, com uma previsão de uma conurbação, até o ano 2000, transformando numa grande megalópole. Então, justificaria uma autarquia interministerial. Por que uma autarquia interministerial? Porque cuidaria dos recursos hídricos, da poluição, do abastecimento, dos transportes, enfim, de uma série de coisas, uma espécie de Sudene – mas que funcionasse – a Sudene, lamentavelmente, evidentemente, não atendeu aqueles nobres propósitos da sua criação. Acredito que ainda não venha atendendo a contento, do que reclama a região nordestina. Em linhas gerais, eram essas as colocações que eu queria fazer, deixando aqui algumas sugestões muito modestas, para que o culto e nobre Relator possa nos oferecer seu trabalho. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gabriel Guerreiro. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, Srs. Relator, Srs. Constituintes: Tenho uma preocupação com relação à questão do capital estrangeiro. Acho que não podemos nos tornar uma ilha no mundo. Temos que negociar, a nível internacional, e, para fazêlo bem, temos que exercitar. Não acredito, assim como não acredito que ninguém aprenda a exercitar a democracia, a exercer a democracia, a ser democrata, numa ditadura. Eu ficava sempre assustado, quando eu ouvia dizer que o povo brasileiro não estava preparado para votar. Ninguém aprende a nadar sem cair n'água, não tem jeito. Nós temos que negociar a nível internacional, para que nós possamos capacitar, criar competência nessa negociação. Existem alguns negociadores, neste País, que têm demonstrado uma extrema capacidade de induzir mercados, etc. A Vale do Rio Doce, por exemplo, empresa que tem tido uma performance extraordinária nessa questão. Abriu, por exemplo, o mercado japonês e tem conseguido, embora com ações políticas até distorcendo regiões, etc, mas tem conseguido se manter nesses mercados, a nível mundial, até com certos mecanismos, como é o caso da exportação do ferro de Carajás, onde temos que competir com minerais australianos, com um preço extremamente menor de transporte da Austrália para o Japão, e nós temos conseguido fazer isso, por habilidade de alguns negociadores, de montagem técnica, etc. Tenho a preocupação com relação ao controle do capital nacional. A minha preocupação fundamental é essa. Na minha proposta para o setor mineral, eu coloco, como para lavrar os recursos do subsolo, a necessidade de se ter 51% do capital votante, com controle do capital nacional. Mas sei que isso não é suficiente. Há vários trabalhos, neste País, feitos por pesquisadores da maior seriedade, como a Dr.ª Helena, por exemplo, que fez um trabalho muito interessante nesta área. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – De acordo com a Lei das Sociedades Anônimas se, durante três anos sucessivos, uma sociedade anônima não der resultado, as ações preferenciais, não votantes podem se transformar em ações votantes. Como é que na sua proposição, essa situação se resolveria? Apenas, para eu tomar conhecimento. Seria o caso da Lei das Sociedades Anônimas criar uma condição especial? Como é que V. Ex.ª vê a solução desta questão, que não é diretamente ligada ao problema mineral, mas numa questão mais ampla. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Eu, entendo a preocupação do nobre Relator, porque essa preocupação me assalta também. Eu, por exemplo, tenho a maior preocupação, com isto e eu gostaria de me expressar, antes de dar opinião sobre essa questão, a respeito do controle que essas empresas exercem até com capitais muito menores, Deputado. Na questão do setor mineral, por exemplo, em outros setores também, nós sabemos que existem empresas que controlam os contratos de acionistas com um percentual extremamente menor de capital, com 20% e, aí, que eu não tenho muito como estabelecer os 30% de participação que o nobre Constituinte Salomão coloca, pois eu conheço empresa, neste País, que tem um enorme controle, com um capital muito menor, até com 5%. Então, a questão tecnológica é uma questão fundamental nisto. Se nós quisermos ter controle sobre empresas, sobre capitais, etc., temos que levar em consideração o problema tecnológico, porque ele é fundamental. Se essas empresas controlam um processo tecnológico, elas controlam a empresa toda. Esses contratos de acionista, na maioria das vezes, são feitos às caladas da noite, nós não temos conhecimento. Acho que uma das coisas fundamentais é que os contratos de acionistas, em associações de jointventures, precisam ser transparentes, precisa ser públicos, precisam se conhecer, pelo menos, no Congresso Nacional. Eu cito, por exemplo, o caso da mineração Rio do Norte, que é uma empresa hoje, no meu setor, muito bemsucedida, que vem dando, nos últimos anos mais de 50 milhões de dólares de lucro líquido, por ano. Lucro livre mesmo, depois de pagar todas as contas, o serviço de dívidas, principal de dívida, todos os custos, eles fazem investimentos, eles estão fazendo um trabalho bastante interessante lá em Trombetas, embora seja uma sociedade extremamente fechada, só faz para ele, não faz para a população, mas eles têm um lucro de 50 milhões de dólares, no mínimo, por ano. Há mais de 4 anos que eles vêm tendo esse tipo de lucro. Aí, eles acumularam um negócio da ordem de 200 milhões de dólares. Vejam bem; uma empresa muito bem-sucedida, mas ela tem um capital com maioria nacional; são 46% da Vale do Rio Doce, 40% da CBA, do grupo Votorantin. Agora, veja bem: Alcan só tem 19%, e, agora comprou uma parte de uma multinacional que tinha 5%, ficou em 24. Controla os 24% do capital, e, no entanto, ela tem duas diretorias, sob o seu controle. Que o próprio Presidente da empresa parece que não tem nenhum controle sobre essas diretorias. E a diretoria administrativa, e, se não me foge a memória, a diretoria comercial. Então, vejam bem. Quem é o comprador da Mineração Rio do Norte? E a Alcan. Ela compra, praticamente, todo o minério exportado do projeto. E ela controla justamente a diretoria do comércio. Esses contratos de acionistas são extremamente complicados. Além disso, eles têm o processo de exploração, é do controle deles também. En- tão, eu estou dando um exemplo grosseiro, porque o controle da tecnologia de exploração de manganês e bauxita é um negócio simples. Mas, quando se trata, por exemplo, de fabricação de aparelhos, de medidores, coisas mais finas, uma tecnologia mais fina, esse controle pode diminuir ainda mais. Com 5%, 10% de participação de capital, pode ser controlada uma empresa aqui neste País. Então, eu tenho a preocupação de saber que mecanismo nós vamos utilizar, por exemplo, a nível do Congresso Nacional, a nível da sociedade, do Governo, para controlar a efetiva participação do capital e o controle. E, aí, é que entra o problema que V. EX.ª aborda, com relação ao capital votante. O capital votante das S. A. tem que estar sujeito a esse controle também, porque, se não, de repente, podemos ter um fato de que muda completamente esse capital votante e as coisas passam por um impasse. Se você colocar, por exemplo, 51% do capital, de repente, esse capital votante passa a ser, entrar uma nova leva e passar a modificar esse tipo de coisa. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – V. S.ª me permite? O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Pois não. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Pela sua exposição, pareceu claro a todos que há fundamentalmente três tipos de controles. Controle por via da tecnologia, controle por via do mercado e o controle por via do capital. A decisão de fazer o controle do capital estrangeiro, seja multinacional, seja um simples capital de risco não vinculado a uma grande empresa nacional, passa por instrumentalizar esses três tipos de controles. Controle que vai se exercer pelo domínio do capital, pelo domínio da tecnologia e pelo domínio do mercado comprador. Como é que V. S.ª vê esses mecanismos funcionando no texto constitucional, como um processo de defesa da economia brasileira, do capital brasileiro, do empreendimento brasileiro? Como isso poderia ser posto? Pela sua exposição, ficaram claras essas três formas de controle. E a lei, ou as decisões constitucionais da lei ordinária, têm que abrir picada no sentido de defesa do interesse nacional, nesses três caminhos. Como é que V. S.ª vê a possibilidade disso? O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Eu concordo com V. Ex.ª, só sentido de que esse são três pontos nelvrágicos do problema. Acho que o controle de mercado é o mais difícil deles. Talvez, o Brasil pudesse, em alguns campos, estabelecer mecanismo de bolsa e coisa desse tipo. Mas, eu acho que esse é o mais difícil. O problema tecnológico é um problema de investimento. Nós não investimos na ciência e tecnologia deste País. Isso é um fato que me parece evidente, patente. A exposição inclusive feita pelo Dr. Helmam passa por esse caminho, mostrando que o problema do conhecimento é estratégico, e nós sabemos disso. O CNPq, hoje, planeja muito pouco da ciência e tecnologia brasileira; ele passa a ser quase que um agente. Essa preocupação com a ciência e tecnologia nunca conseguiu articular, por exemplo, as universidades, os grandes institutos de pesquisa, a menos do IPT, que faz isso com razoável desempenho e, hoje, a Unicamp, há uma dificuldade muito grande de se passar da teoria para a prática dentro das universidades. Confesso que nós tentamos fazer isso na Universidade do Pará, DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) um grupo do setor de geociência tentou f azer isso, e teve grandes dificuldades. Porque acho que, até no espaço ideológico, há uma certa restrição, dentro da universidade, em se meter com a indústria. E isso dificulta, porque a tecnologia não se faz do dia para a noite. Para desenvolve a tecnologia, precisa tempo, precisa fazer equipe precisa formar gente. É um investimento a médio prazo, pelo menos. Não se forma um doutor em desenvolvimento tecnológico do dia para a noite Nós tivemos grandes dificuldades, por exemplo em desenvolvimento de aparelhos. Aqui, o Dr. Helmann colocou, por exemplo, a questão do magnetômetros; levantamento magnético é um problema sério. Os magnetrômetros de próton são fabricados pelos países altamente desenvolvidos. Como ninguém está fazendo isso, nós ten temos fazer uma equipe de desenvolvimento de aparelhos, de protótipos, por exemplo, não conseguimos. Porque é caro, é um investimento caro e todo mundo, neste País, tem uma preocupação de lucro, quer dizer, ele quer resultado imediato Um aparelho desse não se faz com lucro, não é por aí, é por outro caminho; é a fundo perdido é a longo prazo, é formação de pessoas que aparentemente não estão fazendo nada. O sujeito que estuda eletromagnetismo do interior da terra Parece uma coisa de doido. Estuda paleomagnetismo das rochas. Aí, não tem nada a ver. Mas ele, ao desenvolver esse tipo de estudo, desenvolve, além da capacidade de raciocinar sobre isso, do conhecimento dele, desenvolve tecnologias que são extremamente delicadas, são extremamente finas. Hoje, uma balança de torção, para medir campo magnético fóssil, é um negócio ultra, hiper sofisticado. Fabricados só nos Estado: Unidos, na Alemanha e no Japão, hoje. Então são coisas que nós temos que pensar. Eu acho que a dependência tecnológica é fundamental, para se controlar, realmente, a questão do capital internacional. O mercado, acho que realmente é uma coisa difícil, eu não sou especialista em mercado internacional, não sei como fazer esse tipo de controle. O capital, acho que uma das gestões fundamentais para controle do capital é a transparência desses contratos, como eles são feitos. E o Congresso Nacional tem que tomar conhecimento disso. Eu cito, exemplo, aqui, o caso da ALCOA, que fez uma fábrica agora no Maranhão, todo mundo sabe, a ALUMAR, e que os contratos, eu, por exemplo, não sei como são os contratos, mas parece-me que não se prevê nada com relação ao açambarcamento pela ALCOA da situação do mercado de alumínio no Brasil. Porque a ALCOA está adquirindo, pelo que eu sei, todo controle acionário das empresas de alumínio no Brasil, das empresas independentes. Está ficando só isolado o grupo Votoratim, por um lado, a ALCAN outro, fazendo seu esforço também para crescer, e a ALCOA tomou conta disso; está engolindo lentamente todas as outras. E pareceme que não há nenhum mecanismo de controle para que ela não possa fazer isso, que seja impedida. Tem coisas neste País interessantíssimas. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Permite um aparte? O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Pois não. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Só para reforçar aquela minha colocação com referências ao CADE. Acho que, aí, nós temos que incluir mecanismos, no CADE, que possam possibilitar o controle desse tipo, porque exatamente o CADE existe para regulamentar ou para coibir o abuso. Isso configura claramente um abuso do poder econômico. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Não tenha dúvida. Nós não temos mecanismos, nesses contratos, para coibir esse tipo de coisa. Parece-me que é um problema extremamente interessante de ser analisado, de ser estudado, como Fazer esse tipo de controle. Eu acho que há vários exemplos, neste País, onde situações desse tipo surgem, são comuns. Os laboratórios dos produtos farmacêuticos no Brasil foram engolidos totalmente pelo capital internacional. E u me lembro, quando eu era garoto, o Pará se orgulhava de ter a PHEBO. A PHEBO era uma empresa que florescia, era uma beleza. Hoje, a PHEBO só tem o nome, porque a PHEBO, na realidade, foi absorvida totalmente. As indústrias de fumo, no Brasil, foram comidas totalmente. Acho que tem que haver uma certa disciplina, para que os capitais multinacionais não possam fazer isso. Eu acho que, nessa área do capital, nós podemos fazer da legislação algo que possa ter um melhor controle. Agora, na questão de mercado, talvez o nosso Presidente possa dá uma idéia mais clara disso, porque eu realmente não conheço mecanismos que se possa controlar mercados. O mercado é um negócio difícil de controlar. Tem mercado livre, tem mercado de bolsa, é um negócio meio complicado. Eu não sei como mexer com isso. Realmente, confesso que é uma área que eu tenho muita preocupação de ver como são os mecanismos de controle. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Renato Johnsson. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – A nossa Comissão, evidentemente, é de Princípios Gerais. Entendo que a nossa Constituição deve, efetivamente, ter apenas princípios gerais e, nessa definição de nacionalidade de pessoa jurídica, deve ser genérica, para permitir a lei ordinária, posteriormente, um disciplinamento melhor, mesmo porque entendo que isso depende das opções que fizermos, em termos de crescimento. Há poucas semanas a opção de crescimento era em termos de 7% ao ano, já o Ministro da Fazenda Bresser Pereira fala num crescimento mais realista de 3 a 3,5% ao ano. Então, o aparte de capital estrangeiro creio que é fundamental para o crescimento. Se tivermos uma opção para crescer 1%, ou não crescer, ou crescer 2%, ou demandarmos um tempo maior em termos de crescimento, teremos que, para isso, abrir mão do capital estrangeiro. Se optarmos por uma política de crescimento maior, o aporte de capital estrangeiro será fundamental e a nossa legislação terá que abrir, para que o capital estrangeiro tenha condições, porque ele virá para cá como opção, como tem opção de ir a outros países, virá para cá. Entendo também que a nossa legislação deve ter um mecanismo de proteção das empresas nacionais, porque acompanhamos a negociação 104 da dívida externa e, nessa moratória, dissemos que não iríamos pagar, este ano, cerca de 6 bilhões de dólares. Muitos financiadores internacionais optaram pelo investimento no Brasil e, se não dermos um mecanismo de proteção à indústria nacional, com esse aporte de capitais, se o aceitarmos, como capital de risco também, e era isso que nós sempre pretendíamos, que esse capital estrangeiro viesse como capital de risco, deixaremos desprotegidas as empresas nacionais. Acho esse um problema efetivamente muito complexo, muito difícil de um disciplinamento. No que respeita à Lei das Sociedades Anônimas, efetivamente, a empresa nacional é aquela que tem 51% de capital nacional. Esta é a definição básica e a Lei de Sociedades Anônimas estabelece que, se, por três anos consecutivos, a empresa não apresentar resultados, aquele capital não votante, as ações preferenciais não votantes terão direito a voto. Mas elas só terão direito a voto, enquanto não existirem os resultados. A partir do momento em que houver o resultado, deixará de ter esse direito de voto. De sorte que ficará preservada, a meu ver, a empresa nacional. Creio que esses problemas de áreas estratégicas e muito difícil. Outro aspecto é o tecnológico. Creio que, se nós isolarmos, se hoje, tecnologicamente, estamos em relação aos países desenvolvidos, 50, 60, 100 anos atrás, se nos isolarmos e não abrirmos para que empresas estrangeiras também venham para o Brasil, para aqui, usando profissionais brasileiros, que dêem oportunidades a esses profissionais também de crescerem, tomarem conhecimento das novas tecnologias, nós nos afastaremos. Há dois ou três anos, tive oportunidade de ir ao Estados Unidos, em visita à IBM. A IBM investe cerca de 4 bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento por ano. Já estive na Alemanha, onde a Siemens, uma única empresa que tem lá 350 mil empregados, investe cerca de 3 bilhões de dólares por ano, também só em pesquisa e em desenvolvimento. Aqui, não temos dado essa opção à tecnologia, à pesquisa e ao desenvolvimento. Ainda, recentemente, os jornais estão abrindo uma polêmica com respeito ao aspecto dessa ferrovia que é a ferrovia do Maranhão a Goiás, onde se discute a viabilidade econômica dessa ferrovia. Será que não seria uma opção melhor investirmos dois bilhões e 400 milhões de dólares em tecnologia, em pesquisa, em desenvolvimento, fortalecendo nossas universidades, fortalecendo nossos institutos de pesquisas? Essas não têm sido as opções. Se não investimos em tecnologia, se afastamos a tecnologia estrangeira, cada vez mais nos afastaremos do desenvolvimento. Então, é esta a minha preocupação. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Permite V.Ex.ª. um aparte? O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: - Pois não. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Constituinte, o problema é o seguinte; essa questão da tecnologia é extremamente delicada e V. Ex.ª tem toda razão, quando diz que precisamos de um contato, de uma vivência, de uma 105 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) convivência com a tecnologia estrangeira. É absolutamente fundamental se colocar dinheiro, investimento na tecnologia, porque, usando o argumento de que temos que ter a tecnologia estrangeira aqui, porque senão não avançamos, não é o suficiente. Se colocarmos toda a tecnologia estrangeira aqui dentro, mas não avançarmos nós na tecnologia, essa história da absorção da tecnologia é muito relativa, porque esta Comissão não vai discutir o problema tecnológico, mas acho que ele perpassa por isso, porque a gente tem uma dificuldade enorme de fazer qualquer coisa na área tecnológica e científica, mesmo. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Mas foi exatamente a colocação que fiz que, até hoje, não temos dado essa opção de investimento à área tecnológica, investimos cerca de 100, 200, 300 milhões de dólares, quando os países desenvolvidos estão investindo, 10, 15, 20 bilhões de dólares. Então, estamos nos afastando, cada vez mais, do desenvolvimento, porque ele se fundamenta, evidentemente, no desenvolvimento tecnológico, quer dizer na tecnologia. Creio que é uma opção brasileira. Temos que fazer essa opção, ao invés de determinadas obras, darmos opção de investimentos de recursos no campo tecnológico e, ao mesmo tempo, abrirmos às empresas estrangeiras que quiserem – vou citar um exemplo – na área de informática, temos uma determinada capacidade, digamos para microcomputador, para médio computador, para pequenos computadores, de atuarmos nessa área. Foi um processo que conquistamos copiando, acho válido que as empresas nacionais tenham copiado, pegaram um computador estrangeiro, copiaram e fizeram e, assim, a indústria nacional evoluiu, cresceu. No que respeita aos computadores de grande porte, não temos ainda tecnologia, não fizemos investimento, não temos um desenvolvimento na área de chips necessário, para atuarmos nesse campo. A IBM, agora, para evitar a cópia, desenvolveu seus próprios chips, ela fez o seu desenvolvimento e, hoje, não se consegue copiar um computador. O que temos que fazer é ter acesso a toda tecnologia internacional e isso podemos ter aqui dentro, também abrindo determinadas fatias do nosso mercado, acho que isso é possível, aquelas fatias que não conseguimos chegar a elas, porque não temos recursos para elas, e poderemos chegar, daqui a 50 ou 100 anos, outras gerações, não a nossa geração. Creio que isso é uma questão de opção nossa, nós é que vamos optar; ou vamos nos desenvolver, ou vamos parar no tempo. Eu não me posicionei, dizendo que a tecnologia estrangeira deve vir e não devemos investir. Creio que o Governo brasileiro deve fazer opção a isso. Sentimos que os nossos produtos primários, aqueles produtos que comercializamos, tradicionalmente, a cada ano, perde em preço no mercado internacional e a área tecnológica, a cada ano, os seus produtos são mais valorizados. Entendo que este é um campo que temos que evoluir, mas é uma questão de opção nossa. Como é que vamos crescer? Vamos crescer com o capital estrangeiro, disciplinando, estabelecendo regras, estabelecendo limites, faixas de atuação ou vamos nos isolar. Creio que o isolamento não é o caminho. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Concordo com V. Ex.ª Acho que o isolamento de jeito nenhum é o caminho, até porque é muito, muito difícil, isolar um País hoje, extremamente complicado. E essa questão da tecnologia acho que V. Ex.ª tem toda a razão, se não investirmos não adianta trazer a tecnologia estrangeira, porque isso vai aprofundar a nossa dependência. Temos que sair dessa dependência, usando o mesmo mecanismo, por exemplo, que o Japão usou para sair da dependência tecnológica mudando a legislação e trabalhando nessa questão. Se não ninguém adquire experiência, é um fato que se observa no Brasil inteiro: as universidades, por exemplo, têm mecanismo de proteção ao status quo. Isso é um problema sério. A universidade brasileira não avança muitas vezes porque existe proteção ao status quo. As pessoas não querem que evolua, quer ficar todo o mundo ali. Então, o quadro de pesquisa das universidades gera problemas. As tentativas que se fizeram de criar organismo para incentivar isso, os resultados são muitos precários, muito pequenos. Então, acho que para a questão da tecnologia já há uma comissão abordando isso. Acho que é extremamente importante nesse controle do capital estrangeiro no País. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Gostaria de que V. Ex.ª me autorizasse a falar da mesa, para ficar de frente aos meus companheiros. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Se isso lhe dá mais conforto, com o maior prazer. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Sr. Presidente, não tenho nenhuma esperança de convencer com as minhas idéias, gostaria de me dirigir aos nobres companheiros, porquanto na última intervenção do Constituinte Joaquim BeviIácqua, S. Ex.ª insinuou de certa forma que eu estava ignorando ou de certa maneira não levava na devida conta o fato do nosso País estar inserido no chamado primeiro mundo, isto faz parte da sua história e dela não podemos nos desligar. De modo que V. Ex.ª é um pouco rigoroso comigo quando imagina que estou apresentando propostas coerentes com uma certa ideologia, e que esteja desligado da realidade econômica, da formação histórica brasileira. É claro que reconheço. Quero aproveitar essa oportunidade para esclarecer de uma vez o meu pensamento sobre a participação do capital estrangeiro, da multinacional na economia brasileira. É claro que reconheço a interpenetração dos mercados, a interdependência das nações do comércio internacional, da divisão do trabalho, da complementalidade econômica e da ocorrência desse fato que não é tão novo assim, que vem do fim da idade média, do início do capitalismo mercantilista e das multinacionais. Quero também descaracterizar uma possível insinuação do nobre relator Virgildásio de Senna sobre a coisa de diabolizar certas situações – imagino que S. Ex.ª estava se referindo ao nosso companheiro Vladimir Palmeira em cuja família há um membro muito competente, o antropólogo Moacir Palmeira, que tive o prazer de encontrar aqui e que é o autor de um livro célebre que me inspirou muito chamado "Vapor do Diabo" – o especialista em diabo aqui o mais próximo é o nosso companheiro Vladimir. Mas, sem versar magia negra, acho que não devemos diabolizar as multinacionais, mas também não devemos deificá-las, é o que se passa em certas intervenções de Constituintes e de pregadores da oportunidade das multinacionais, sobretudo pelo aporte tecnológico, pelo aporte de capitais, pelo aporte de conhecimentos e métodos administrativos que essas empresas trariam ao Brasil. Quero dizer, que apesar de não ter uma idade tão avançada, que já trabalhei em empresa privada nacional, na multinacional, na estatal, já fui micro-empresário de consultoria econômica, já fui consultor de muitas dessas empresas, de modo que tenho uma visão razoavelmente isenta nesse sentido de que já ganhei a vida com todos esses tipos de patrões. O que é importante assinalar é que o que interessa para o País é o aporte tecnológico que possa ser socializado, que não é todo o caso de uma empresa multinacional que vem para cá, com sua caixa preta, fabricar produtos, muitas vezes a custos mais baratos do que anteriormente produzidos, sem transferir as economias de custos decorrentes para o mercado, apropriando-se portanto, do excedente do consumidor, e sem que esse conhecimento possa ser socializado, possa ser incorporado em outras empresas que produzem o mesmo produto nos seus respectivos processos de produção. De modo que essa deificação do capital estrangeiro como aportador de novas tecnologias tem uma certa relatividade sempre que o País não seja capaz de abrir a sua caixa preta. Avançamos muito nesta questão da propriedade industrial devido ao esforço de muitos administradores públicos no sentido de buscar incorporar um conhecimento tecnológico nacional essas contribuições que o capital estrangeiro tem trazido. Mas não podemos absolutizar essa contribuição, nobre Constituinte Renato Jonhsson, se não tivermos um esforço sério, como foi dito pelo Constituinte Guerreiro, no País para absolver esta tecnologia. Também não basta exigir a abertura das caixas pretas se não tivermos gente preparada para absolver, adaptar e avançar no processo de criação de novas tecnologias e adaptação tecnológica. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Não estou criticando as empresas multinacionais, em absoluto. Acho que apenas é uma questão de opção. É ilusão acharmos que uma empresa estrangeira, multinacional, vem para cá para socializar o seu produto e a sua tecnologia. Isso é que temos que conseguir com os nossos profissionais que lá trabalham. Hoje, muitas das empresas nacionais são as resultadas de profissionais que trabalhavam em multinacionais, que adquiriram conhecimento nessas multinacionais, saíram, montaram as suas empresas de informática, de comunicações e criou-se uma DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) empresa nacional. Este é o resultado e de um processo natural. Apenas isso. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Não quero polemizar com V. Ex.ª sobre esse ponto nem me passou pela cabeça que era V. Ex.ª que estava deificando as multinacionais, apenas mencionei seu depoimento muito importante na questão da tecnologia. Mas, só para frisar este ponto de que o aporte tecnológico e o investimento em determinado projeto, do capital estrangeiro, não implica necessariamente na expansão para todo o setor daquele setor produtivo da contribuição tecnológica das inovações tecnológicas que esse projeto possa trazer. E claro que ele constitui um benefício para economia na medida em que aporte novos conhecimentos, mesmo que setorial e em campo restrito, mas, é um esforço do Estado brasileiro de socializar o conhecimento e de avançar com novas técnicas de produção. A outra questão é o do aporte do capital estrangeiro que, também, é uma das componentes que serve para deificar o capital estrangeiro em nosso País. Imagino que muitos de V. Ex.as não tenham bem a idéia do capital estrangeiro efetivamente ingressado no País, segundo os registros do Banco Central, por exemplo. Para um País que deve cerca de 110 bilhões de dólares dever-se-ia esperar que tivéssemos um capital estrangeiro um pouco dessa ordem de grandeza. Para que mantivéssemos uma relação entre capital de risco e débito externo relativamente equilibrada – como se o Brasil fosse uma empresa com uma relação entre patrimônio líquido de terceiros relativamente equilibrada. Imagino que V. Ex.ªs haverão de se espantar em saber que todo o capital estrangeiro registrado no Banco Central, incluídos os reinvestimentos, é de apenas 25 bilhões 664 milhões, para ser mais preciso. Ou seja, esse setor da economia tem um enorme poder de direção da ação do Estado dos seus investimentos. Acho que alguém mencionou aqui o caso de Tucuruí, que, na verdade, foi uma usina construída para gerar energia para os projetos de alumina e alumínio, de multinacionais, é esse setor que tem essa participação a meu juízo medíocre, em termos de capital de risco registrado neste País: 25 bilhões de dólares que é menos que um quarto da dívida externa brasileira – dívida essa que, em grande parte ou em pequena monta também deve ser atribuída às multinacionais. Os Estados Unidos, que são o país que tem maior investimento de risco no Brasil, têm apenas 8 bilhões de dólares aqui registrados, aí incluídas as grandes multinacionais norte-americanas, os grandes gigantes aqui presentes. Quer dizer, é uma cifra relativamente modesta, se comparada com o poder político e o poder econômico que esses grupos multinacionais detêm na sociedade brasileira. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Permite-me V. Ex.ª um aparte? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Pois não, com muito gosto, Sr. Constituinte Joaquim Bevilácqua. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Com relação à dívida externa, não é tão pequena a participação da multinacional, não. Mas há 12 anos, 5% da dívida externa brasileira, por exemplo, era de uma só corporação multinacional, a General Motors. Nós tínhamos uma dívida de 20 bilhões de dólares e 1 bilhão de dólares era da General Motors. Só uma corporação. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Estou tirando essa conclusão de uma outra intervenção que aqui fiz, mostrando que 30% da dívida externa, hoje, está em mãos do Banco Central. E, cerca de 40 a 50 bilhões de dólares, segundo informação que me foi trazida pelo Constituinte Irapuãn Costa Júnior, são atribuídos a empresas estatais. Somando cerca de 90, sobrariam 20 a 25 para as empresas privadas e para os governos estaduais e municipais. Dentro das empresas privadas, aí, sim, as multinacionais. De modo que me parece que continua a ser uma cifra pouco significativa a participação das multinacionais na dívida externa brasileira. De modo, Srs. Constituintes, que quero só mostrar que o aporte efetivo de capitais estrangeiros é uma cifra relativamente modesta, são 25 bilhões de dólares históricos, não há correção monetária do dólar aí, evidentemente, mas a dívida também é uma dívida histórica. Nem toda ela foi contraída recentemente com o dólar mais desvalorizado. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Permite V. Ex.ª um aparte? O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Pois não, com muito gosto. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – V. Ex.ª demonstra exatamente aquilo que eu tinha colocado, que o controle de uma empresa muitas vezes se faz com baixíssimo investimento de capital, em baixíssimos percentuais desses capitais. E o que acontece na maioria das vezes é a capilaridade que adquiriram as multinacionais na nossa empresa, exatamente devido a esse fato. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – V. Ex.ª tem toda a razão. Vou abordar esse ponto um pouco adiante. Só quero registrar este aspecto, que se deifica a empresa multinacional pelo seu aporte de capital; esse aporte é bastante modesto quando comparado, por exemplo, com o ativo de todas as empresas nacionais, e, no entanto, eles têm um poder político, um poder de orientar a economia brasileira, tão significativo como o caso de Tucuruí, que mencionei. A expansão da rede rodoviária neste País, para viabilizar a indústria automobilística, seria um outro exemplo, e por aí seguiríamos, mostrando a desproporção entre o poder político de influir na política econômica e o peso de seus investimentos. O outro aspecto é da contribuição que essas empresas trazem em matéria de métodos de gestão, em métodos de administração, etc. Isso, realmente, teve um papel importante para a economia brasileira nos idos de 50, 60, quando as escolas de administração, as escolas de Economia "tupiniquins" ainda não tinham se interligado com as universidades do resto do mundo. Mas, hoje, essa questão é absolutamente irrelevante, na medida em que temos aqui, hoje, uma massa de gente com formação no exterior, e as escolas brasileiras, nesse campo, perfeitamente atualizadas sobre os mais modernos métodos e técnicas de administração. 106 De modo que o que realmente atrai, ou melhor, o que realmente temos que considerar como fator principal da presença das multinacionais no Brasil é o atrativo representado pelo mercado brasileiro. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª tem, agora, 2 minutos. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Pois não, Sr. Presidente. Esse sim é o grande atrativo para essas empresas. Vou acelerar para finalizar com a seguinte colocação: a minha questão não é de nenhum tipo de discriminação da empresa estrangeira. A minha tese é que temos que fortalecer a empresa nacional, o capital nacional, que é, realmente, aquele cujos interesses mais coincidem com os interesses da Nação. E, a meu juízo particular, nobre Constituinte Joaquim Bevilácqua, é essencial, para fortalecermos a empresa nacional, "dar nome aos bois", "separar o joio do trigo" e dizer o que é realmente empresa nacional. Nesse sentido é que formulei uma sugestão de norma constitucional definindo o que é uma empresa nacional, e que está baseada em 3 pressupostos: primeiro, a questão do controle administrativo, da titularidade de direitos que assegurem o controle administrativo, o exercício efetivo desses direitos; a questão tecnológica e a questão do capital. E o Constituinte Gabriel Guerreiro colocou com muita precisão, uma coisa que eu também já havia dito aqui, que não é a participação do capital que garante ou que seja um pré-requisito para o exercício do controle. Citei casos como o da TV Globo, o da Coca-Cola, que controlam empresas sem ter sequer um tostão de participação no seu capital acionário, basta que tenham um contrato de assistência técnica, de venda de tecnologia, de comercialização, etc. Então, nesse ponto estamos de acordo que o capital não é a variável decisiva para caracterizar o controle, mas se estamos interessados em definir empresa nacional, temos que ter um critério em relação ao capital nacional. Por conseguinte, quando há detenção por brasileiros ou por outras empresas nacionais indiretamente controladas por brasileiros desse capital. Então é nesse sentido que estou formulando essa sugestão, nobre Constituinte Joaquim Bevilácqua, de que empresa nacional seja aquela em que 70% do seu patrimônio estejam em mãos de brasileiros ou de outras empresas nacionais. Não que isso seja um critério no sentido de afirmar esse ponto. Quer dizer, 70% do capital total, ou a totalidade do capital votante – isso não é um requisito fundamental para caracterizar o controle por nacionais, porque esse pode ser exercido por baixo do pano, por um contrato de gaveta, através dessa forma que o Direito Comercial criou. Mas, se queremos dizer quem é nacional, quem é realmente verde e amarelo, temos que caracterizar isso pelo capital, para que a eventual política que tracemos de fortalecimento da empresa nacional seja dirigida, realmente, a brasileiros, e não apropriada, como é feito, por exemplo, na questão dos incentivos fiscais, pelo capital estrangeiro. Então, é nesse sentido que defino a empresa nacional daquele jeito, sem nenhuma preocupa- 107 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) ção xenófoba. Acho que isso aí é uma coisa do passado, que não teria nem sentido aqui colocar. Agora, acho que o Estado tem o papel essencial no fortalecimento do capital nacional, privado, inclusive. Não esse Estado autoritário que esteve aí fazendo política para favorecer determinados grupos de amigos do rei. Mas um Estado democrático, cujas políticas sejam debatidas nos foruns próprios, que tenham a participação da sociedade, como defendi na proposta anterior, e que vai exercer um papel essencial no apoio à capitalização da empresa nacional. Então, penso que com esses esclarecimentos espero ter convencido meu querido amigo, Constituinte Joaquim Bevilácqua, sobre a natureza das intenções que inspiraram as minhas propostas. Não de exercer qualquer tipo de discriminação xenófoba ou não em relação à empresa estrangeira, que dá o mesmo tipo de contribuição – enquanto está produzindo, está gerando empregos, oferecendo à sociedade bens e serviços, ela presta e exerce o mesmo tipo de papel que a empresa nacional. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Sr. Luiz Salomão, V. Ex.ª convenceu o Sr. Joaquim Bevilácqua, mas deixou dúvidas em mim. É o seguinte: V. Ex.ª disse que é contra a discriminação a empresas estrangeiras. Então, por que tanta insistência em definir o que é empresa nacional se não é para discriminar? Eu sou a favor da discriminação da empresa estrangeira. Acho que temos que discriminar. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Falei em discriminação xenófoba, nobre Constituinte Vladimir Palmeira. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Porque em função disso é que temos a preocupação do que é nacional e todo um interesse. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Não tenho intenção de discriminar, no sentido de prejudicar a empresa multinacional. Acho que temos que ter uma atitude de fortalecer e de favorecer a empresa nacional. Muito obrigado. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Pela ordem, Sr. Presidente. Para uma questão de ordem. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Pois não. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Já que o nobre Constituinte Luiz Salomão – aliás, para proveito de todos nós – pode sentar-se à mesa presidencial e fazer a sua brilhante exposição, queria sugerir – e acho que é um desejo unânime da Subcomissão – a V. Ex.ª, que se tem postado tão bem na Presidência dos trabalhos, com um espírito realmente democrático, V. Ex.ª que tem uma experiência notável, talvez única em nosso País, – um dos nossos quadros que tiveram a maior experiência nacional e internacional, como Ministro do Planejamento, da Fazenda, da Agricultura, Embaixador, Professor emérito – gostaríamos que V. Ex.ª nos desse também uma aula, fizesse uma exposição a respeito do seu pensamento. Embora conhecido em muitos setores, diante da atual realidade para nós é muito importante. Além disso, daria a oportunidade ao nobre Relator de presidir pelo menos uma vez a Comissão, porque V. Ex.ª não falta nunca. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Então, se me permitirem, passo a Presidência ao nobre Constituinte Virgildásio de Senna, e vou procurar expor, aqui, alguma coisa. Acho que, de fato, o nobre Relator tem razão, pois há um "diabinho" funcionando aqui, e agindo para o bem. Vi um grande avanço na exposição do ilustre Constituinte Luiz Salomão. S. Ex.ª não tem nenhuma intenção de nos convencer, o que é muito bom. Há muitos anos que perdi toda a esperança de que se possa, resolver questões como esta conversando, discutindo. As pessoas formulam suas posições e tendem a ficar nelas, sendo freqüentemente até irredutíveis à lógica. De forma que a minha exposição será rápida e não pretendo realmente convencer ninguém, pois cada um de nós já está na sua posição definida, mas talvez algumas considerações pudessem ajudar às pessoas que nos ouvem a formar um quadro mais adequado. Em primeiro lugar – parece-me – nesta questão de planejamento, nunca passou pela cabeça de ninguém que o Governo não devesse se planejar. Estamos usando a expressão planejamento, aqui, em sentidos totalmente diversos. Quando o Constituinte Luiz Salomão fala em planejamento, obviamente está dando um conteúdo mais amplo do que simplesmente o fato de o Governo Federal ou o Governo Estadual deverem planejar as suas atividades, o que é óbvio. E é bom que isso seja feito da melhor forma possível, usando a melhor técnica disponível, usando os conhecimentos de Administração que todos adquirimos. O de que se trata é quando se tem de estender esta proposição para o setor privado. Cuidadosamente, o Constituinte Luiz Salomão diz que no setor privado será indicativo. E por quê? Porque acho que S. Ex.ª sabe, como eu, como todas as pessoas que lidaram com isso sabem, que nem nós, nem a União Soviética, nem Polônia, que produziu os melhores economistas socialistas que este mundo já viu, como o cidadão chamado Oscar Lang e o cidadão Nicolas Kaleski, não conseguiram fazer algo elementar, que é introduzir o sistema de preços num processo de planejamento. Positivamente esta é uma coisa complicada. Não tem como fazer até hoje; pode ser que no futuro alguém descubra. Mas enquanto isso não acontecer, é muito pouco provável que aquele sonho, de que pudéssemos fazer uma engenharia social, possa ser realizado. De forma que cada um de nós fica com as suas vontades, com os seus desejos, o que acho absolutamente normal. Uma segunda questão vestibular, como dizia o nosso Relator, e importante, é esta concepção do Estado como uma terceira pessoa. O Estado não somos nós, mas é um terceiro sujeito que está aí, que tem recursos, que é onisciente, onipotente. No fundo, no fundo, esta concepção democrática é distorcida, porque é a de um déspota benevolente que conhece a vontade de todos nós e que vai executá-la na sua onisciência. As falhas do mercado serão substituídas pela sapiência do Governo. Ora, qualquer um de nós, que já viveu, sabe que o mercado é um mecanismo precário de alocação de recursos, que o mercado tem muitas deficiências, mas que o mercado foi a única forma descoberta pelo homem, até hoje – e descobriu há muito pouco tempo, pois faz trezentos anos – de alocar com uma razoável eficiência os recursos escassos, porque é disto que se trata – e esta concepção de Estado nega, no fundo, o estado de escassez. O de que se trata é que o mercado é um mecanismo com defeitos, mas foi à única forma que o homem descobriu de alocar, razoavelmente, os recursos, dentro de uma razoável liberdade. Não tem nenhuma virtude maior. Os economistas, os tecnocratas é que descobriram falhas do mercado. Já está no Locke e no século XII – o problema da externalidade, onde estuda o problema de fazer a drenagem de um campo. No fundo, ele recomenda o Estado, porque substitui a vontade de todos pela do Estado e o problema fica resolvido. Assim, os economistas e os tecnocratas sabem, e talvez melhor do que os políticos, das falhas do mercado. E sabem mais. Sabem que as falhas do Governo são piores do que as falhas do mercado. Basta olhar ao seu redor. De forma que não se trata de uma tentativa de convencer ninguém, nem vou me engajar numa disputa ideológica, porque seria ridículo. Segundo, esta tentativa de usar a analogia como forma de raciocínio é extremamente conveniente. Acho que ninguém nem diaboliza a empresa estrangeira, nem a deifica, mesmo porque se se procurar a média, aí, dá zero, não dá coisa alguma. Acho que ela é um instrumento que se usa de acordo com as conveniências, de acordo com os interesses nacionais. Um outro ponto para o qual gostaria de chamar a atenção é que, de vez em quando, fico um pouco remoído, achando que as pessoas que estão do outro lado imaginam que têm o patrimônio do patriotismo ou o patrimônio do desejo de transformar este País num grande País desenvolvido. Este é o desejo de todos nós. Há, sim – acho – uma pequena divergência entre alguns de nós. Alguns pretendem que sejamos o primeiro dos subdesenvolvidos. Pretendo que sejamos, por enquanto, o último dos desenvolvidos. De forma que é clara a divergência. A essa terceira mundinização para que estamos sendo empurrados prefiro o outro caminho. Também não brigo com ninguém. Alguns e nós vamos viver e veremos, no futuro, quem tinha razão. Quanto ao problema da tecnologia, é um fato óbvio. Ninguém disputa o fato de que temos que nos apropriar da tecnologia, de que temos que nos preparar, de que temos que incorporar essa tecnologia. Tudo isto implica em investimento, significa que se vive num mundo de escassez alguma outra coisa terá que ser cortada. Uma única coisa que parece perturbadora é a preocupação de ficar inventando há roda todo dia. Quem inventa a roda todo dia nunca a usa como um meio de transporte. Esse é o problema sobre o qual ficamos lutando, aqui, como se alguém pudesse disputar o fato de que todos queremos incorporar, o mais rapidamente possível, a melhor tecnologia. Então, a utilização do capital estrangeiro é simplesmente uma ajuda à poupança nacional, numa tentativa de acelerar o processo de desenvolvimento, cortando menos o consumo ou investimento mais do que seria possível. São instrumentos. Deste ponto de vista concordo plenamente com o que o nosso ilustre Relator disse, aqui, na primeira exposição, de que é preciso que cada um tenha uma compreensão da posição dos outros e de que o produto desta reunião não DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) seja algo que vá nos manifestar e impedir que este seja realmente um País desenvolvido e não um País subdesenvolvido. Precisamos ter uma certa leveza nas proposições constitucionais, para que o Brasil possa ir encontrando o caminho mais adequado. Isto se trata, no fundo, de um processo quase biológico. O desenvolvimento não é um fato; é um processo. Ele vai encontrando suas energias internas, dialeticamente vai se desenvolvendo e procurando seus caminhos. Assim, acho que devíamos todos nós, aqui, produzir um documento que permita ao País, realmente, ir encontrando o seu caminho, um caminho da maior eficácia, um caminho da maior liberdade, relativizar um pouco essas posições. Honestamente, saúdo o nosso companheiro Luiz Salomão, porque acho que sua exposição de hoje dá uma certa souplesse para esta formulação constitucional. as Não quero mais amolar a V. Ex. . Era isso que tinha a dizer. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Albano Franco. O SR. CONSTITUINTE ALBANO FRANCO: – Ouvimos, com atenção, todos os companheiros que nos antecederam e ficamos felizes em ouvir do companheiro Luiz Salomão a sua firme disposição em não discriminar as empresas multinacionais, conforme especificou, e principalmente dar a preferência à empresa nacional. E sinto-me à vontade em dialogar a respeito destes assuntos, porque vivemos no dia-a-dia com esta matéria. Desejamos também ressaltar a exposição lúcida do companheiro Joaquim Bevilácqua a respeito do problema das multinacionais no Brasil. Ouvimos realmente com atenção e respeito as suas observações que se assemelham muito, inclusive, às observações que temos nestes anos todos, no dia-a-dia, sobre o desenvolvimento brasileiro. E é natural que, após também ouvirmos a palavra do mestre Delfim Netto, todos nós vamos dar condições ao Relator, dentro dessa compreensão que o atual momento brasileiro está aí a exigir de todos nós, principalmente dentro de uma modernização da sociedade, onde temos a responsabilidade de representar os anseios. Assim, anotamos algumas observações a respeito do problema da liberdade de mercado. Sabemos, hoje, que, com a evolução do mundo, todo Estado tem que estabelecer regras e limites para o problema dos agentes econômicos. E sobre empresas nacionais – o principal assunto aqui tratado – é claro que têm que vir para o Brasil dentro dessas regras e dentro desses limites. É claro também que temos que aproveitar a questão da tecnologia estrangeira para, inclusive, avançarmos. Ouvimos mesmo alguns companheiros dizer, e conhecemos bem algumas empresas, que são hoje médias e pequenas e que foram engenheiros ou técnicos que começaram, trabalhando em empresas multinacionais, que acompanharam e aproveitaram os conhecimentos tecnológicos e investiram em suas pequenas e médias empresas, que existem, hoje, no Rio, em São Paulo e até mesmo no Nordeste. Realmente, o importante é aproveitarmos esse aporte tecnológico e termos gente para absorver essa tecnologia. Por isso o Governo, o Estado tem que estar preocupado com a questão do investimento, com a questão da pesquisa, da tecno- logia e, principalmente, na formação da mãode-obra. O Brasil, inclusive, tem desenvolvido determinados setores com a participação do Estado, de empresas multinacionais e de empresas privadas nacionais, como é o caso do pólo petroquímico na terra do nosso ilustre Relator, o Constituinte Virgildásio de Senna, na Bahia, que tem dado, realmente, bons resultados em termos não só de produtividade como também em termos de benefício para a região. Acho que temos, hoje, a oportunidade de, dentro de um consenso desta Comissão – e a responsabilidade caberá ao Relator, no seu trabalho, no seu parecer – de refletir realmente todas essas observações efetuadas aqui, inclusive com pensamentos diversos, mas todos caminhando no sentido de preparar o Brasil para nova época, novos tempos. Aproveitando a oportunidade, também desejaria reconhecer que a tendência da nossa Comissão é no sentido reformista e, em assim sendo, é para fazer todas as adaptações, ajustes, alterações, modificações, para realmente atualizarmos a nossa Constituição nesta parte de princípios gerais da ordem econômica. Além disso, o Brasil não pode ficar diferente do mundo. Hoje, temos exemplos de países que estão sendo governados por governos socialistas onde está havendo a liberalização, a privatização de determinados setores. Há exemplos como a França e a Espanha, sendo que esta última, no ano passado, privatizou a sua maior indústria automobilística. A França e a Espanha estão abrindo, para a empresa privada, canais de televisão, o que até hoje nenhum dos dois países estavam fazendo. Tudo isso serve também para que façamos, aqui, a reflexão necessária ao atual momento que estamos vivendo, e para que esse parecer, esse relatório do nosso Relator, realmente, sirva e atenda esse consenso e essas sugestões que estão sendo dadas não só pelos membros, como também através das sugestões recebidas de todos os Constituintes. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gilson Machado. O SR. CONSTITUINTE GILSON MACHADO: – Prezados Colegas, Sr. Presidente: Estou participando dos debates e tenho visto que têm sido acadêmicos em torno dos problemas entre capital nacional e capital internacional. Quero chamar a atenção dos Srs. todos, como um agricultor, um pecuarista, como um homem que vive o dia-a-dia na terra, na produção, para que tenhamos bastante cuidado a fim de que nesta discussão acadêmica, não fiquemos tratando do problema cristalizado de ideologia. Acho que temos que controlar o capital interno, como temos que controlar o capital externo, como temos que controlar o capital do Estado. Logicamente, tenho o conceito de que capital não tem pátria. Estive na China e verifiquei, in loco, que hoje lá está entrando, assim como na Rússia, o capital internacional, porque para lá está levando não só o capital, mas a tecnologia também. Tem até tecnologia na área de irrigação, porque a agricultura chinesa tem um grande percentual irrigado, mas estava fazendo essa irrigação com custos elevadíssimos. Então, foi buscar tecnologia e capital em Israel, que tem uma grande tecnologia 108 na área da pulverização, da irrigação por aspersão e por infiltração. Logicamente, nós, do campo, temos tido dificuldade em enfrentar não só o capital externo mas também com o capital interno, porque temos que ter o cuidado para que não fique o consumidor nacional sujeito somente aos cartéis, mesmo do capital interno, porque, hoje, podemos comprar um trator em muito melhores condições de preço e de qualidade se o Nordeste pudesse importar esse trator. No entanto, em função também do capital nacional, estamos obrigados a comprar de uma indústria que está centralizada no Centro-Sul. Assim, temos que ver as coisas numa amplitude prática e teórica, e não ficarmos apenas no campo acadêmico. Se vamos para a área energética, na geração de um pequeno gerador, quando se compra um contacto ou um relé temos dificuldade, porque o produto importado é de muito melhor qualidade e com um preço muito mais acessível do que o produto nacional, mas foi formada uma proteção à indústria nacional em prejuízo do consumidor. Não está havendo a competitividade que está se desenvolvendo no mundo. Logicamente, um contacto alemão é muito melhor do que um feito no Brasil, porque a proteção à indústria nacional está levando a não haver um desenvolvimento tecnológico nos produtos que consumimos. Isso, no trator, na área agrícola, na área energética, na área da produção. Compra-se um pneumático brasileiro que vai rodar 22 mil quilômetros. Já usei pneu estrangeiro – alemão – que rodou 50 mil quilômetros, e a um preço melhor do que o comprado no Brasil. Assim, temos que ver numa amplitude em que não vamos fechar a porta a que venha o capital estrangeiro para cá com contratos de risco. Não adianta ficarmos montados numa mina de bauxita se não temos a poupança interna para explorá-la. Vamos dar preferência ao capital nacional, mas não vamos por isso fechar as portas a que venha a tecnologia, que venha capital externo, para poder desenvolver melhor o Brasil. Era a minha opinião que queria dar como homem ligado à produção. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado. Concedo a palavra ao nobre Constituinte Vladimir Palmeira. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Gostaria de tocar em poucas coisas aqui, a discussão já se estendeu. O Constituinte Albano Franco fez uma observação que o Constituinte Campos já havia feito. S. Ex.ª coloca uma série de desestatização nos países europeus, sobretudo. Observo que a Constituição não vai tirar uma política de estatização e de desestatização, ela vai dar um balizamento geral de intervenção do Estado, porque posso chegar daqui a uma década e mostrar que é uma onda de estatização e nem por isso ela é conveniente para nós, nem por isso devia estar na Constituição. Os exemplos de política de estatização são questões de conjunturas ou de modificações estruturais, mas de um período de cada regime conforme as circunstâncias. Então, não me espanta que se desestatize. A comparação com os países de economia estatal é outra. Mas nesse caso, quando o Professor Campos também insiste muito nisto, não se quer dizer, 109 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) por isso, que vamos colocar na Constituição, para sermos modernos, uma política de estatização. Acho que aqui, com maior ou menor rigor, se trata do seguinte: todo mundo reconhece que o Estado é um agente econômico. Isso faz parte dos fatos. Toda discussão é ideológica, mas não implica que ela seja burra. Quando as questões são de fato, observa-se o fato, embora possamos tirar conclusões diversas dele. O Estado é um agente econômico e intervém, e a Constituição tem de dar o balizamento dessa intervenção, onde ela é essencial e tem então que vir no texto da própria Constituição e onde ela é potencial – vai depender dos diferentes governos, das diferentes políticas, das diferentes fases. Então, não vamos amarrar na Constituição a intervenção do estado, nesses setores. Por exemplo, o Constituinte Gabriel Guerreiro, que tem dado inclusive exemplo de moderação aqui na Comissão, tem uma política clara de monopólio estatal do petróleo, da extração, do refino, mas em relação a outros minerais ela não tem esta posição. O que ele diz? Ele defende uma posição potencial do Estado, possível, resguarda a possibilidade da União intervir até na exploração direta ou até com regulamentação. Então é isso, nós temos que ver aqui onde vai estar esta base exata do que hoje deve ser garantido pelo Estado. Mas não vamos negar que o Estado intervém. Acho que nessa discussão vai ter alguns problemas pontuais, por exemplo: ter ou não ter contrato de risco, o monopólio de petróleo tem de ficar absolutamente assegurado na Constituição. E abrir caminho potencial para intervenção do Estado. Concordo com o nosso Constituinte de Pernambuco, que tem de controlar o capital estrangeiro, o capital estatal e o capital privado. E nesse sentido nós temos que dizer o seguinte. Embora o Estado não seja realmente a perfeição humana, mesmo porque ela não existe sequer no indivíduo, o problema do Estado precisa ter uma função além de agente econômico direto, ele tem uma função macroeconômica e isso distingue. Nós não podemos comprar só a empresa estatal à empresa privada. O Estado tem o papel no desenvolvimento econômico que é o de pensar mais a longo prazo. Freqüentemente, um bom empresário não é um dirigente de política econômica. Nós temos inclusive exemplos recentes. Vamos reconhecer que o Estado tem uma política para fazer, que ele não raciocina só, a partir da empresa estatal em si, da empresa e tal, ele tem uma visão de desenvolvimento, ele investe ali naqueles setores de alta tecnologia que considera importante. O SR. CONSTITUINTE GILSON MACHADO: – Quanto à questão do Estado na economia, acho que devemos analisar o que existe hoje. Pergunto o seguinte: a maioria da população brasileira quer que seus filhos estudem hoje em colégios públicos ou colégios privados? Acho que em colégio privado. Por quê? Porque colégio público não está atendendo bem à população brasileira. A maioria da população brasileira quando tem problema de saúde quer ir para a Previdência ou quer ir para hospital privado? Acho que quer ir para hospital privado, porque acha que o Estado está sendo ineficiente para com os problemas básicos da população brasileira, porque está gerando exatamente a inércia. Não está gerando e nem indo buscar tecnologia. Então, era um aparte que eu gostaria de fazer. Acho que o Estado não deve se meter em todo tipo de economia, deve ser balizada em certos problemas que nós temos que ser desenvolvidos pelo Estado, o resto devemos dar para a livre iniciativa. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Por isso, vamos discutir qual é o balizamento que é necessário ou não na Constituição. Aí nós vamos ter divergência. Vamos resolver o problema do serviço público após, porque não é exatamente o que eu estou tratando agora. A questão do Estado, então, como agente econômico, de um lado pode ser estado empresário, ser uma empresa estatal, de outro lado ele ter uma política econômica. Então, exerce sucessivos governos com uma política econômica, de política de desenvolvimento. Neste sentido, a intervenção do Estado não se mede só pela eficiência de uma empresa estatal em si, ou da empresa estatal em geral; mede-se também pela política toda de regulação de planejamento que tem de economia, pela opção de investimento que faz, pelo tipo de intervenção que programa. E aí entra o negócio do capital estrangeiro, que foi colocado aqui. Em todo o País está havendo capital estrangeiro, mas tem que haver uma política de estados para alocar onde é interessante. Então, continuamente restringimos o capital estrangeiro. Vamos ter que restringir naqueles setores que não nos interessam, ou naqueles setores onde capital estrangeiro simplesmente pode ameaçar a soberania nacional. Tem sido uma política, inclusive, tradicionalmente usada no Brasil. Temos de chegar e impedir isto. Agora, qual o limite? Depende muito mais da política econômica do que de um princípio constitucional. Acho, então, que o Estado deve ter resguardado seu potencial de intervenção, mesmo não considerando nenhuma perfeição, mas porque ele é um organismo que pode pensar numa política a nível macroeconômico. Aliás, hoje, é um grande instrumento para isto, dependendo, ao mesmo tempo, com esta caracterização do Estado, de que possamos transformar o Estado em mais democrático, onde se possa discutir e corrigir erros. Na democratização, há elementos que dificultam que esse estado cometa erros, entre os quais a fiscalização do parlamento, etc. Acho essas características do Estado bem diferentes: 1 – se pegarmos a livre empresa estatal; 2 – se pegarmos o Estado como o planejador geral do desenvolvimento orientado e como um distribuidor de recursos. De um lado ele pode alocar esses recursos da forma mais conveniente pensando a longo prazo, o que é uma coisa que a empresa privada não pode pensar. Então, o Estado tem esta função em todos os países capitalistas, nuns mais, noutros menos, e cabe aos sucessivos governos ver qual a forma mais adequada. O SR. CONSTITUINTE ALBANO FRANCO: – Queria, a título de esclarecimento, companheiro Vladimir – dizer que nos sentimos à vontade para dar esta explicação, porque não temos, à frente de um órgão mais importante da indústria nacional, feito nenhuma proposição à nível de desestatização das empresas brasileiras. Nós temos cobrado a eficácia, a eficiência. E também nós que somos do Nordeste, reconhecemos hoje cada vez mais a presença do Estado, inclusive em termos de planejamento, de regulação, sabemos que as peculiaridades brasileiras exigem realmente. Te- mos de fazer uma Constituição, e aqui nós estamos falando da ordem econômica, onde realmente o planejamento, e a regulação com a participação do Estado, seja cada vez maior, inclusive no problema da fiscalização dos limites sobre as empresas internacionais aqui no País. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Queria dizer, então, finda esta parte, que é preciso democratizar o Estado, para que seja transparente e que as decisões sejam tomadas com uma margem menor de erro sem imaginar também nenhuma perfeição que o processo democrático automaticamente conduza à felicidade humana. Segundo ponto são as outras funções do Estado. O Estado em si tem uma função de redistribuição de renda. Isso não vou tratar aqui, já coloquei ontem à noite, tem uma função de redistribuição de renda. E vou chegar ao serviço público, onde o Estado tem obrigação de oferecer serviços públicos e a gente considera saúde, educação, transporte de pessoal, a tarifas baixas e eficientes. Esse é um dos mecanismos maiores hoje do salário indireto, quer dizer, transferência real de renda, é a saúde, educação pública gratuita. A pergunta do nobre constituinte por Pernambuco, é uma pergunta que em si não é verdadeira. Por quê? Porque quando perguntamos a um operário se quer ser industrial, é claro que ele quer sê-lo porque também não quer dizer que na vida todo mundo vai poder ser industrial. O que é que acontece com a escola privada aqui? No Rio de Janeiro, por exemplo, se perguntarmos se querem uma escola privada ou uma pública, depende. Se for para estudar no Santo Ignácio, todo mundo quer, agora se for para estudar numa escola privada subúrbio, não quer não. Você pega as faculdades privadas no País, são meras fábricas de diploma. É uma vergonha para o ensino nacional, porque, na verdade, compra-se o diploma para ter ascensão funcional. É uma compra de diploma. Você não precisa assistir aula, o próprio fenômeno da proliferação dos cursos noturnos, que em tese tem um sentido social, dizem que é para o trabalhador poder estudar de noite. Na verdade se vamos lá, consta o seu nome, bate um papo, recebe umas aulas gerais e sai dali para ascensão funcional com o papel no bolso. Não passa de um papel. O ensino privado é de baixíssima qualidade neste País, uma ficção. A saúde privada é outra. São institutos privados que vivem de convênios, em que se entra com dor de dente e operam o seu apêndice, arrancam o dedo errado da mão e vão tirando tudo, para ganhar na base do convênio que têm. Na verdade, vivem de fundos públicos, tanto a escola privada de hoje como a saúde privada. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – V. Ex.ª me concede um aparte? O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Pois não. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Só para reforçar o seu ponto de vista, o aspecto mencionado pelo Constituinte Gilson Machado é um setor em que o Estado abriu espaços para a iniciativa privada de forma deliberada. Se levarmos em conta o seu ponto de vista em relação ao ensino-educação, o filho do operário de qualquer cidade do País – vamo-nos referir à Baixada Fluminense DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) – é obrigado a fazer o segundo grau na escola particular, porque o Estado não implantou ali uma escola que pudesse prestar esse serviço essencial à população local. O mesmo ocorre em relação à saúde. Estamos vendo agora como é que as entidades de saúde encontram enormes dificuldades, mesmo querendo reformar a sua política anterior, no sentido de implantar os seus serviços em regiões não atendidas, onde a iniciativa presta péssimos serviços, como o que V. Ex.ª se referiu, e o Estado está absolutamente ausente. De modo que acho que o Constituinte Gilson Machado tem razão quando cobra do Estado e da sociedade brasileira presença mais efetiva nos setores de responsabilidade do Estado, que são saúde e educação. Mas se equivoca quando imagina que há preferência natural das pessoas por esse tipo de serviço em decorrência da qualidade daqueles oferecidos pelo Estado. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – As pessoas sempre preferem o melhor. O SR. CONSTITUINTE GILSON MACHADO: – Dei como exemplo a área de saúde e educação, porque é mais corriqueira, mas também dou como exemplo a área de transportes. A Rede Ferroviária, hoje para nós da produção, é uma verdadeira balbúrdia. Quando desaparece a mercadoria no meio do caminho, ninguém tem responsabilidade. Defendo que a empresa pública atue, mas dê opção, em todas as áreas, à empresa privada, quer seja nacional ou multinacional, se há uma estrada Rio – São Paulo do Governo, deixe o particular também fazer uma paralela, para ver qual é a preferência, porque isso tem no mundo. Vi nos Estados Unidos rodovias do Governo e privadas, vi que a preferência grande era para as rodovias privadas, mesmo pagando a taxa de locomoção. É preciso que haja uma concorrência e quem ganhe seja a população, com o melhor serviço prestado. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Acho que o Estado deveria dar a Rede Ferroviária Federal no ato para a empresa privada que quisesse explorá-la. Há uma tendência no mundo inteiro de que serviço de passageiro é deficitário. Em todo canto é estatal, porque a empresa não investe ali porque não dá lucro. Então, é outro exemplo equivocado, nobre Constituinte. Achamos que o serviço público no Brasil é ruim, de baixa qualidade. Por isso, não queremos só a estatização. Queremos que o serviço seja público, mas defendemos em todos os níveis de educação e saúde eleição, direta pela comunidade escolar e da saúde para os diretores de hospitais e escolas e das diferentes instituições. O serviço público freqüentemente é ruim por culpa da classe política, que faz daquilo um cabide de emprego, sobretudo os partidos tradicionais. Aquilo é uma máquina de fabricar empregos, não é uma instituição de saúde e nem de educação. Queremos eleição direta em todos os níveis nas áreas de educação e de saúde e a participação dos usuários, ou seja, o serviço público vigiado pelos usuários. Queremos a descentralização desse tipo de serviço. É possível, tira do Estado o poder imediato de nomear quem quer que seja, ficando com orientação política geral, vamos querer ter mais eficiência, porque os interessados estão participando. De um lado, a comunidade que trabalha; do outro comunidade dos usuários. Quere- mos esses serviços bem feitos, porque o serviço é bastante ruim. Em alguns setores, evidentemente serviços privados cobrando altos preços podem oferecer serviços de alto nível. Mas isso reforça a desigualdade social de forma geral, porque são serviços que só podem ser oferecidos à minoria da população. Defendemos um padrão médio, digno, para que a população tenha condições, na área da saúde e educação, de ter de fato acesso a esse serviço público. Achamos que em todo canto tende a ser público entre alguns setores de atividade econômica determinada. Então, na área do serviço público defendemos a democratização, sem ser diretamente vinculado ao Governo. Na área econômica, tem a ação direta da empresa estatal e o Estado com certo nível de planejamento, de visão do futuro, de investimentos a longo prazo, que ele tem que ter, até porque não inventaram outro organismo capaz de fazer isso. O Estado, pode alocar por cima dos interesses microeconômicos, fazer alocação de recursos ali onde consegue fazer, no regime em que vivemos. Temos de ter divergências pontuais. O que acho é que as discussões devem haver onde há divergências pontuais. O Estado tem que ir até aqui ou lá, e não ficar só no torneio doutrinário. Mas isso acho que poderemos fazer, a partir do nobre Relator. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Jalles Fontoura. O SR. CONSTITUINTE JALLES FONTOURA: – Sr. Presidente, nessas alturas, no final das reuniões da nossa Subcomissão, as nossas convergências já são expressivas, mais do que no início das discussões. O Sr. Relator já tem noção madura a respeito do pensamento médio. Creio que a questão da economia mostra claramente que o Brasil é um País capitalista emergente, que está superando a sua fase de feudalismo no sistema pré-capitalista, que infelizmente ainda existe em algumas áreas, mas já é historicamente superado. Acredito nesta Constituinte, que estamos agora em assembléia, procurando escrever a nossa Constituição. Sou, como administrador público, e também ligado à iniciativa privada, especialmente cético com relação à capacidade de uma intervenção muito grande do Estado na economia. É necessário que o Estado produtor seja, dentro da nossa Constituição, colocado debaixo do controle do Congresso. A iniciativa da Ferrovia Norte – Sul, tem como maior questionamento a falta do controle do Congresso numa discussão mais transparente dessa questão. O Estado produtor deverá especialmente ser motivo, Sr. Relator, de preocupação por V. Ex .ª. Esse sistema brasileiro, hoje, deve ser questionado, revisto, avaliado, porque as nossas estatais produtivas, que o tempo mostrou que eram válidas, foram as que foram discutidas de forma transparente pela sociedade brasileira, com a interveniência expressiva do Congresso Nacional. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente, Sr. Relator, meus caros colegas, ouvi atentamente as exposições que foram feitas hoje à tarde, pretendo entregar ao Sr. Relator duas propostas, uma referente ao setor mineral; a outra, referente ao setor de recursos hídricos/energia. 110 Quero antecipar, que pelo tudo que aqui foi dito, que também não tenho convicções firmes, por ter ouvido atentamente os expositores anteontem, sobre algumas colocações feitas. Quando tive a iniciativa de encaminhar ao Congresso Nacional uma proposta do Fundo de Exaustão ela me provoca dúvidas hoje, inclusive no que tange ao trabalho feito pela SPG e pela proposta do colega Gabriel Guerreiro que não faz referências a esse fundo e sim volta a abordar um outro problema. Acredito que – e vou provocar discussões – na própria questão da participação do capital estrangeiro, que já foi discutida aqui – ouvi pelo menos umas duas dezenas de geólogos e há controvérsias muito grandes. Mas, gostaria de caminhar em cima daquilo que foi dito aqui hoje. Nós temos que fazer uma Constituição enxuta e gostaria de voltar a falar na minha experiência pessoal. Darei um exemplo: por que questionei o Presidente da Petrobrás com referência ao gás? Porque, durante dois anos, nós trabalhamos em cima da Petrobrás, fiz 4 reuniões com o Presidente da Petrobrás, criei um grupo de trabalho, o Grupo do Gás, que se transformou em folclore, lá, em Minas Gerais. Depois de todas essas reuniões, com a Petrobrás na mesa, na hora de decisão política o gás foi para São Paulo; vai para São José dos Campos. Através do Governo do Estado não teve nenhuma resposta, nem da Petrobrás e nem do Ministro. Por quê? Qual a razão? Quando se fala em política nacional – por isso que quero insistir nisso, no setor de energia e no setor mineral – não existe política nacional. E vou reforçar a argumentação. Pegamos um ônibus emprestado com o Sr. Rollemberg, levamos para Belo Horizonte, pegamos o gás de refinaria, o gás queimado na refinaria, rodamos 110 mil km com esses ônibus. Tínhamos 120 mil m3 de gás disponível por dia, que está sendo queimado. Era para ser colocado na Fiat para substituir o óleo combustível e por motivos técnicos não foi possível; e o que aconteceu!? Por que o Estado não poderia usar este gás! Porque nós estamos esperando a política nacional do gás? Isso é brincadeira, no meu entendimento, porque não houve nenhuma resposta e nenhuma explicação. Nós conseguimos as nossas informações dentro da Petrobrás em off, dentro da refinaria de Gabriel Passos em Belo Horizonte. Então, é preciso descentralizar o poder. Por exemplo: sou favorável a acabar com a Legião Brasileira de Assistência, Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, que são ficções. O que funciona no meu Estado são instituições particulares voltadas para o atendimento ao menor. As instituições públicas são fábricas de delinqüentes. Essas são as instituições no Brasil; fábricas de delinqüentes. O que acho fundamental é descentralizar o poder, de modo que o Estado participe do poder decisório e o Congresso também. Vamos dar um exemplo: já mudou a diretoria do Banco Central. No meu entendimento, o Banco Central, como um organismo regulador, deveria ter uma certa independência em relação ao Poder Executivo. Nos países mais avançados existe o Banco Central – V.Ex.ª é um especialista no assunto e poderia falar alguma coisa – vinculado muito mais ao Congresso do que ao Executivo. Então, muda-se. Voltando ao assunto transporte. Temos, em São Paulo e Rio de Janeiro o metrô, que é do Governo Federal, e nós temos que verticalizar nas 111 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) regiões metropolitanas – falei isso até com o ilustre Governador Oreste Quércia – que só irá organizar na hora que verticalizar, porque, senão, como é que a engenharia funciona? Cada um administrando um pedaço do sistema e ninguém querendo ceder um pedaço para ninguém. Como é que se faz uma tarifa integrada numa região metropolitana, por exemplo, se o do metrô de Belo Horizonte é do Governo Federal? Acabou a Ferrovia do Aço, como não tinham o que fazer com a diretoria da Ferrovia do Aço criaram a Companhia Brasileira de Trens Urbanos, uma vez que a EBTU, da qual fui fundador, está desaparecendo. Levou-se 5 anos para acertar um acordo com a Vale do Rio Doce com a Rede Ferroviária Federal, para a Vale do Rio Doce faz um trecho de ferrovia importantíssimo para fechar o corredor em direção a Goiás e que vai até ao Porto de Tubarão; levou 5 anos, porque a Rede não queria ceder. Ela não faz, mas também não cede. Então, o que falou o colega sobre o assunto do mau serviço se ele é privado ou estatal, a responsabilidade de quem administra tem que ser cobrada pelo consumidor que quer um bom serviço. Para terminar, Sr. Presidente, o programa que foi abordado a nível das universidades. Vai-se criar, através de um decreto, uma universidade em São João delRei – deve ser em homenagem ao saudoso Presidente da República Tancredo Neves, a quem rendo as minhas homenagens como mineiro e como brasileiro – mas, vai-se criar uma nova universidade. Nesta semana vi publicada uma estatística em uma revista que nós temos um dos maiores índices do mundo de professores por estudante. Aquilo que foi dito aqui de escolas particulares, nós temos vários paulistas formando no sul de Minas Gerais, numa cidade chamada Passos, estive lá e estava cheia de ônibus e eu falei, que negócio é esse? E responderam que era da Escola de Direito de Passos. A estrutura está errada, e dentro dessa particularidade, dessa propriedade histórica vou relembrar o passado, quando era muito pequeno e a Barragem da Pampulha arrebentou em Belo Horizonte; foram ao Presidente Getúlio Vargas pedir dinheiro para consertar a Barragem da Pampulha. Todos vivem, aqui, no Governo Federal, atrás de recursos; é uma parafernalia que não há jeito de parar. Os Prefeitos do interior vêm aqui atrás de recursos, enfim, se nós não descentralizarmos o poder virá essa possível transparência. No serviço de saúde, inclusive, transferir para o Município assumir as suas responsabilidades, para o Estado. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Permite V. Ex.ª um aparte? O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Pois não. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Gostaria de dizer apenas que a PETROBRÁS vai fazer o gás passar em São José em homenagem aos mineiros, porque São José dos Campos era uma estância hidromineral da seguinte forma: água por baixo e mineiro por cima, mais da metade da população é mineiro. De forma que o nobre Constituinte Gil César ficará atendido. Agora, com relação a sua tese, inclusive foi objeto de um brilhante discurso que tive a oportunidade de assistir no Plenário da Constituinte, é a tese de toda a Subcomissão. Essa questão da descentralização para acabar com essas – já não digo a EBTU, mas essa outra que o nobre Constituinte citou – entidades fantasmas que intermedeam e gerem recursos e planos e que deveriam ser, realmente, dos Municípios das microrregiões ou daquela sugestão do nobre Constituinte Luiz Salomão, das grandes bacias, etc. Como é o caso do nosso Vale do Paraíba. De uma forma geral, nobre Constituinte Gil César, embora V. Ex.ª tenha chegado atrasado hoje, há um certo consenso em relação a isso. A exigência de eficácia do Estado, porque o sistema não está funcionando, em boa parte em função da descentralização, em boa parte em função do clientelismo aqui apontado pelo Constituinte Vladimir Palmeira, e acho que no tocante a isso há um consenso. Só que me parece que não será tão objeto, vamos dizer assim, do trabalho da nossa Subcomissão, mas sim da Subcomissão de Estrutura de Poder. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Sr. Presidente e Sr. Relator, o problema é como fazer isso? É lógico, quero insistir na tese – porque o nobre Constituinte Roberto Campos disse pessoalmente ao nobre Constituinte que vos fala – que o poder mais perto do contribuinte vai ser mais fácil de ser pressionado, e se prevalecer o que disse o colega Vladimir Palmeira, que o exercício da política, se baseado exclusivamente na ampliação do mercado de trabalho, através de mais lugares para funcionários sentarem, se for só isso, não tem solução mesmo. Mas, em contrapartida, o colega Joaquim Bevilácqua que estava no Plenário no dia em que abordei este assunto e os Prefeitos que lá estavam, disseram que conseguem administrar os seus Municípios com uma parcela não atingindo a 3 ou 4% o número de pessoal em função à população da cidade, quer dizer: há bons e maus exemplos em toda atividade. A descentralização é uma maneira de corrermos menos riscos. É a maneira do poder público local "quebrar a cara" diretamente. Quem "quebra a cara" hoje é apenas o Governo Federal, que é responsável por tudo neste País; qualquer coisa a nível local é culpa do Governo Federal. Então, em um País continente como o nosso – vou discutir muito com o Sr. Gabriel Guerreiro a respeito das termoelétricas do Pará e do Norte, de um modo geral, inclusive a respeito do problema do rush petróleo, porque o mar passou a ser estadual – talvez o Luiz Salomão possa discutir a respeito – porque o mar para os Estados litorâneos e o estadual, a água que inunda as terras e produz energia, não. Se nós inundamos terras e produzimos energia da mesma maneira que o petróleo, tem de haver uma equivalência a nível de produto final, e é o que se deseja. Gostaria de ouvir não só V. Ex.ª mas também o Relator, sobre como fazer realmente descentralizar o poder? O Senhor imagina se, por exemplo: a passagem real do metrô, nós sabemos e o Luiz Salomão, também, custa três ou quatro vezes o seu valor cobrado. Essa é uma benesse, que é da Rede. Mas vai ver o serviço... Entrega o metrô ao Estado, mas provê o Estado de recursos para poder integrar o sistema. Na realidade, o passageiro do ônibus vai ter que chegar e entrar no trem com o mesmo ticket. Já há integração em São Paulo em determinado número de linhas. Que o Estado já admi- nistre, no caso específico das regiões, através das chamadas empresas metropolitanas, em que se tire o Governo Federal disso, para ficar mais um poder de decisão no processo que definia transporte público, que, evidentemente, tem que ser vistoriado pelo Estado. É só isso. Muito Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Com a palavra o ilustre Constituinte Antônio Ueno. O SR. CONSTITUINTE ANTÔNIO UENO: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes: Acredito na livre iniciativa, na economia de mercado. Quanto menos a intervenção do Estado, mais poderemos ativar a economia do País. Só naqueles setores onde a iniciativa privada não tem condições de atuar é que deve entrar o Estado. O norte do meu Estado, do Paraná, pode ser considerado um exemplo de iniciativa privada. Uma companhia de melhoramentos do Paraná é que realizou uma reforma agrária com recursos privados e que hoje é o exemplo de produção agrícola do nosso País. Foram dados aqui vários exemplos onde a iniciativa do Governo tem falhado, principalmente em ferrovia. Já dei aqui uma opinião minha sobre a privatização de uma ferrovia do Japão. Mesmo num país desenvolvido como o Japão, as estatais não têm sido muito eficientes. A dívida da empresa ferroviária no Japão era de 110 bilhões de dólares. Isso equivale a toda a dívida brasileira. Quando se compara a dívida do Brasil com essa dívida da ferrovia do Japão, fico cada vez mais acreditando no Brasil. Se uma ferrovia tem 110 bilhões de dólares, 110 bilhões de dívida brasileira não é uma importância cujo pagamento não esteja na competência dos brasileiros. Só para exemplificar, essa ferrovia vai ser dividida em seis partes no Japão, para ser entregue à iniciativa privada. Quanto ao capital estrangeiro, considero, não por ser filho de imigrantes japoneses, que o capital estrangeiro é benéfico ao nosso País. Além do capital, vem também a tecnologia. O importante é que essas empresas internacionais transfiram tecnologia do seu país para o Brasil, porque isso gera riqueza. É claro que é necessário um disciplinamento dessas empresas multinacionais. Deve haver uma norma sobre remessa de dividendos para o exterior e outras normas para disciplinarem o capital estrangeiro. De modo geral, contudo, é muito importante para o Brasil, nesta fase de desenvolvimento, a tecnologia do exterior. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Queria apenas observar o seguinte, com todo o respeito e admiração que tenho pelo Japão, onde estive três vezes – tenho uma profunda admiração pela cultura japonesa. Sou até presidente de honra do clube japonês mais antigo da minha cidade. No tocante às multinacionais japonesas, elas são as mais herméticas em termos de administração. São as que apresentam percentual mais baixo que executivos brasileiros. Gostaria de pedir a V. Ex.ª, que é um descendente de japonês, que hoje dá um exemplo de eficiência para o mundo, que nos ajudasse a abrir um pouco esse hermetismo nipônico. O SR. CONSTITUINTE ANTÔNIO UENO: – Com relação a esse assunto, existe uma legislação DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) brasileira que proíbe a contratação de estrangeiro em mais de um terço, apenas um terço. Acredito que ela tem gerado muito emprego para muitos brasileiros, porque todas as empresas estrangeiras têm que ter dois terços de brasileiros natos. Quanto à área executiva, é uma luta que enfrento, porque sou Presidente de uma Câmara de Comércio Brasil-Japão no Estado do Paraná. Como brasileiro, filho de japonês, tenho insistido e até brigado. Há grandes empresas no Brasil, como a Furukau Eletric, que já tem hoje um presidente brasileiro. Estamos lutando, então, para que, dentro das empresas estrangeiras na área do executivo, possam contratar maior número de brasileiros. Enfim, considero importante a presença do capital estrangeiro no Brasil. Quando fiz uma viagem ao Japão, em janeiro, acompanhando o Governador Álvaro Dias, indicava os escritórios do Governo da Pensilvânia e da Califórnia. Grande parte dos governos dos Estados nos Estados Unidos tem escritórios no Japão, fazendo lobby para que as empresas japonesas possam se instalar nos Estados Unidos. Para o desenvolvimento brasileiro, é muito importante que não se discriminem o capital estrangeiro e o capital nacional. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra, para encerrarmos esta reunião, ao ilustre Relator Virgildásio de Senna. O SR. RELATOR (Virgildásio de Senna): – Sr. Presidente, Srs. companheiros desta Subcomissão: Sempre vi o texto constitucional como um instrumento de defesa do cidadão em relação ao Estado, seja na ordem social, seja nos direitos individuais, seja na ordem econômica. A historicidade das constituições tem, como seu fundamento, a defesa do cidadão contra o arbítrio, seja do poder absoluto, seja do Estado. É nessa ordem de idéias, nesse componente histórico do que é uma Carta Magna que, imaginamos, a Assembléia Nacional Constituinte vai trabalhar. Isso serve de advertência para o balizamento, que, no que tiver de significância, é a opinião do Relator. Marcel Foucault, num dos seus momentos de muita inspiração, disse, na Arqueologia do Saber, que o homem não pensa: a língua pensa por ele. Quando, nobre Constituinte Luiz Salomão, temos hilariado sobre o problema da diabolização, é porque, em nossa visão, este é um componente da cultura brasileira. Usando o pensamento de Foucault, o povo brasileiro, a cultura brasileira não diz: "Eu quebrei o lápis"; diz: "O lápis quebrou": "O copo caiu"; "O prato. quebrou", numa escusa e num ato permanente de exclusão de culpa e de assumir a responsabilidade pelo ato positivo: "O lápis quebrou. Não fui eu quem quebrou o lápis." A História brasileira está muito dentro dessa filosofia de Foucault. Quando falo em diabolização é porque, ao longo de nossa História, temos diabolizado sempre, até os ventos elísios já foram diabolìzados; os colonizadores portugueses, o capital financeiro inglês, o imperialismo americano, enfim, e hoje até a própria tecnologia, a multinacional, todos esses elementos servem de pretexto para que não assumamos as responsabilidades, que não exclui, evidentemente, a presença dessas forças, na defesa dos seus interesses, legítimos ou ilegítimos, mas que absolutamente compreensíveis dentro do processo dialético da história. Acho que o Brasil e os brasileiros estão maduros para assumir sem escapatórias esta visão, que é uma visão que não visa diabolizar, porque este fenômeno cultural é evidente, e todo Governo no Brasil precisa uma figura diabolizável. A figura diabolizada dá até estabilidade aos governos sobre os quais se lançam culpas num processo de fixação, de diabolização. Isso não implica deificar o lado contrário, não faz senão assinalar – estou me permitindo esta digressão, para que não pareça que estou querendo fazer de "a", "b" ou "c", dos componentes do nosso processo histórico, o responsável, estou assinalando o que me parece ser uma componente permanente do fenômeno cultural brasileiro. A tentativa sempre de encontrar na diabolização de algo, aquilo que nos desculpa pelas nossas faltas. Vamos tratar um pouco do que me parece um problema tecnológico. Entendo claramente e participo das preocupações a respeito do capital estrangeiro, mas temos que perseguir a eficácia. De todas as exposições aqui realizadas defluiu a convicção de que há 3 elementos fundamentais envolvidos no processo da ação do capital estrangeiro, na presença das empresas estrangeiras: a constituição do capital em si, o problema da tecnologia e o problema do mercado. Não fiquei convencido de que o controle de uma dessas variáveis por si seja suficiente para dar à sociedade brasileira o controle sobre todo o processo. Talvez fosse preciso descer mais em profundidade, tivéssemos mais tempo para este debate, no sentido de verificar como é fácil controlar o efetivamente controlável, porque este passa a ser não uma variável, mas um parâmetro perfeitamente definido na composição do capital de uma empresa. As demais variáveis parecem que não encontramos aqui em nome da sociedade brasileira instrumentos efetivos desse controle. O problema da tecnologia, na minha visão, é um instrumento sempre presente no processo evolutivo humano, desde que o homem descobriu que atritando uma pedra contra a outra ou atritando a madeira seca contra outra, um processo tecnológico estava em operação. A tecnologia sempre esteve embutida no produto final. A máquina que os ingleses fabricavam, ou antes, o tecido que os produtores europeus mandavam para a colônia, tinham embutido no seu preço, cristalizado nele, uma parcela da tecnologia sob a forma que todos os overhead o preço final da mercadoria deveria cobrir. O que caracteriza a nossa época, a contemporaneidade, é que a tecnologia passou a ser uma mercadoria per si, absolutamente isolada e transformou-se num bem de mercado, é um produto mercantil a tecnologia. Quando o nobre Constituinte Delfim Netto chama a atenção em que “não podemos insistir em redescobrir a roda” eu estava assinalando que a tecnologia é um bem de mercado, é um produto mercantil e pode ser adquirido. De várias formas. A forma que me parece mais, e não pode ser definida com precisão absoluta pela simples colocação de recursos a determinadas entidades. A história contemporânea mostra, por exemplo, que o êxito do Japão está em grande parte vincu- 112 lado à existência de estudantes universitários japoneses na década de 20 e 30 em maior número em universidades européias e americanas do que em universidades japonesas. É aquilo que o mestre Anísio Teixeira chamava "roubar o fogo sagrado", transformar a nossa juventude em novos prometeus e lá onde o fogo sagrado, que é o conhecimento e a ciência está, ir buscar lá e trazer, internalizando o conhecimento, fazer um patrimônio nacional, porque só pode ser criado na medida em que se expandem as bases, extraordinariamente a base do conhecimento. É impossível decidir, em determinado instante histórico, se um conhecimento ou uma discussão é acadêmica ou não. Ninguém seria capaz de dizer que seriam acadêmicas ou não as preocupações de Beckerell, no instante em que ele sentiu que uma chapa fotográfica estava velada dentro de uma gaveta na presença de determinado minério. E, a partir desta constatação, que tinha atrás de si uma soma extraordinária de conhecimentos teóricos, acadêmicos, não definidos pela sua aplicabilidade; que todo novo campo do conhecimento humano pode levar o homem às posições inimagináveis que se criou. Então, meus companheiros, acho que a tecnologia passa fundamentalmente pela aplicação em educação de recursos, os mais amplos possíveis. Isso não exclui, evidentemente, a necessidade de constituída essa grande base de conhecimento, fazer a ciência aplicada nos institutos próprios que foram criados. Esse vai ser um trabalho, a meu ver, de gerações. Todavia, isso não impede que a decisão brasileira, soberana, compre tecnologias que já foram cristalizadas e que estão no mercado sem precisar investir, evidentemente, em redescobrir o que todo mundo já sabe e já está aplicando. É preciso termos clara consciência desse problema. O problema da Educação no Brasil, da Educação pública, na minha visão, adquiriu um componente de classe, perversa, e a escola pública, como os transportes coletivos, transformaram-se em instrumentos do apartheid social. O que falta no País não é simplesmente a falsa democratização pela solução corporativa em determinados locais; falta o exercício da prática da democracia mesmo, porque nada existe de tão revolucionário como a democracia como ação participativa de toda a sociedade, explicitando as suas divergências e procurando, em determinado instante, do convívio e da hodiernidade, encontrar a resultante dessas forças, que se expressam à luz meridiana, com toda a liberdade e clareza. O exercício da falta de democracia em nosso País, ou diversos motivos, inclusive por uma constante de nossa formação, fez com que certos setores dos serviços públicos, na saúde, na educação, nos transportes coletivos, na grande parte dos serviços públicos brasileiros, se transformassem de fato em instrumentos de apartheid social; usa transporte coletivo aquele que não tem condições mínimas de utilizar as vias largas, as grandes avenidas, as grandes estradas, as turnpikes, como quer o nosso companheiro, para atender a uma parcela reduzida da população que pode ter acesso a esses bens. Um instrumento não democrático não passa, evidentemente, por nossa Subcomissão a decisão desses problemas, que foram levantados aqui, e 113 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) que, no fundo, implicam muito isso, a falta de exercício da democracia em nossa terra. O problema que foi levantado da lei de equivalência, que é uma constante no Brasil; receber um diploma de uma escola significa, do ponto de vista nacional, equivaler a ser um profissional daquele setor. É evidente que a Nação vai ter que enfrentar isto. Se obter uma carta numa faculdade de medicina corresponde a ser um médico, ou obter um diploma de um licenciado em direito corresponde a ser advogado, esta tem sido a nossa tradição, inclusive porque o processo de mobilidade social do a Brasil esteve – de certa forma para nossa felicidade – ligado ao grau universitário, ao grau acadêmico, ao conhecimento, à sabedoria, e todos sabem que o saber é algo insubstituível. Não é ruim que a sociedade brasileira tenha tomado como um dos temas básicos para a sua mobilidade o estudo universitário, mas é preciso hoje rever isto, porque, evidentemente, a vontade de subir na Pirâmide de Sorokin fez com que a universidade, o ensino acadêmico se transformasse numa coisa pilhérica, como assinalou o nobre Constituinte Vladimir Palmeira. É preciso que a sociedade se volte a examinar esse aspecto, e se o caminho da mobilidade social é aquele mais condizente com os interesses nacionais. A escola pública é também, na minha visão, um dos departamentos do apartheid social em nossa terra. Acho que na ordem econômica de tudo que foi discutido entre nós, na minha visão refluiu que a sociedade brasileira deve conviver sem privilégios e sem sombras ou locais sombrios com a empresa privada agindo no livre comércio, no livre mercado, utilizando todas as suas virtualidades. A empresa coletiva ou cooperativa, que já é uma presença extraordinária em nosso País, deve conviver também à luz do sol, e a presença do Estado como agente econômico produtivo sem limitações, isso não é da lei ordinária; nenhuma empresa pública pode ser criada, gerida, senão através de uma lei que a crie e que crie as condições de sua fiscalização. Acho que isto é um assunto, Sr. Presidente, que passa completamente pelo pensamento desta sua comissão de que essas três formas de agentes produtivos, uma das coisas que se discute, e aí é que estão o processo democrático e a intervenção do Estado. Porque todos são, Sr. Presidente, intervencionista. Uns, no sentido de que a intervenção se faça no interesse das suas vontades; os que não são intervencionistas no sentido da democratização da intervenção, o são no sentido de obter favores privilegiados do Estado em juros, em subsídios, em tarifas aduaneiras, enfim, sobre todas as formas que o capital privado necessariamente precisa ter para garantir a sua sobrevivência. Eles só são contra a intervenção do Estado, quando esta se faz em benefício das grandes massas deserdadas do nosso País. Então, a presença do Estado como agente econômico produtivo, como elemento que intervém no Estado na ordem econômica para regulá-la, sinalizá-la, enfim, privilegiar ou não a determinado setores, me parece também que é uma coisa absolutamente aceita. Onde as coisas começam a se complicar é na destinação dos excedentes. Como o Estado intervém para a distribuição dos excedentes na ordem econômica que o gera e que democraticamente, no sentido do grande interesse nacional, precisa ser aplicado. É exatamente na distribuição daquilo que o ex-Ministro da Fazenda chamava o bolo que as complicações começam, como dividir os excedentes do produto nacional. Creio que o papel do Estado aí como papel príncipe é absolutamente imprescindível; não creio que seja um assunto a ser aprofundado nesta subcomissão que é de princípios gerais, mas nas discussões que a Casa vai travar necessariamente esse assunto vai aparecer. A presença da empresa nacional, a sua necessária proteção, me parece assunto também que passa pela subcomissão, desde que a lei ordinária no processo evolutivo brasileiro, resolvendo dialeticamente as suas contradições, através de uma lei ordinária que atende às condições reais do momento histórico em que ela vai aparecer, acho necessário proteger determinado setor produtivo e reserválo para a ação do capital nacional exclusivo ou, quando não o fizer permitir, a presença do capital nacional competitivamente com o capital estrangeiro. Minha preocupação com as multinacionais é porque tenho absoluta certeza nas coisas que é possível ter certeza; que as multinacionais são agentes econômicos que vieram para ficar em nosso ecúmeno econômico, no sentido mais amplo da palavra. Não cabe amaldiçoá-la, porque é um elemento que vai ser permanente nos horizontes das nossas vidas. Cabe ao Constituinte encontrar meios de fazer com que a sua existência, que se transformou inarredável, seja instrumento de melhoria das condições de vida e bem-estar do nosso povo. Como fazer isto é a questão que está para nós. Não nos adianta, na nossa visão, ter uma posição contrária ou favorável em princípio às multinacionais. Ela é o instrumento crescente do processo mundial de trocas de produção, enfim, o que nos cabe é encontrar caminhos para fazer com que a sua presença melhore as condições de vida do povo brasileiro. Esta, Sr. Presidente, é a visão que tenho e que recolhi dos debates, e me parece tentarei consolidar em nosso parecer. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Ex.ª Acredito realmente que o nosso nobre Relator fez uma exposição que, em princípio, todos estarão de acordo. Vamos encerrando essa reunião e não sem dizerlhes que hoje às 5 horas e 30 minutos teremos uma reunião de audiência pública. Obrigado. (Encerra-se a reunião às 12 horas e 30 minutos.) DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE (Suplemento) COMISSÃO DA ORDEM ECONÔMICA SUBCOMISSÃO DE PRÍNCIPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DE PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DE ATIVIDADE ECONÔMICA Ata da 11.ª Reunião Ordinária Aos seis dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete, às dezoito horas, em sala do Anexo II do Senado Federal, reuniu-se a Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica, sob a Presidência dos Senhores Constituintes Delfim Neto e Afif Domingos, com a presença dos seguintes Constituintes: Delfim Netto, Renato Johnsson, Beth Azize, Luiz Salomão, Gil César, Afif Domingos, Marcos Lima, Gabriel Guerreiro, Vladimir Palmeira, Joaquim Bevilacqua, lrapuan Costa Júnior, Ismael Wanderley, Hélio Duque, Albano Franco, Antônio Ueno, Jalles Fontoura e Virgildásio de Senna. Havendo número regimental, o Senhor Presidente declarou iniciados os trabalhos e solicitou que fosse dispensada a leitura da Ata da reunião anterior, que foi considerada aprovada. A seguir, deu-se início ao Expediente que constou da leitura sumária das sugestões de números 1647, 1017, 1130, 1291, 2198, 2797, 2210 e 1737, de autoria dos Senhores Constituintes: Tadeu França, Ruben Figueiró, Eduardo Jorge, Paes de Andrade, Maria Lúcia, Octávio Elísio, Mozarildo Cavalcanti e, ainda, de sugestões da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Mineração – ABEMIN – Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, dos empregados de empresas estatais, da União Nacional dos Auditores Fiscais do Tesouro Nacional, do Grupo Nordeste, da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Grupo de Estudo do Curso Constituinte e Constituição da Universidade de Brasília. Findo o Expediente, fizeram exposição sobre o tema – Nacionalidade da Pessoa Jurídica e Reserva de Mercado os Senhores: Antônio Ermírio de Moraes, que foi interpelado pelos Constituintes Joaquim Bevilacqua, Gil César, Afif Domingos, Renato Johnsson, Luiz Salomão e Vladimir Palmeira; George Fisher; Jorge Gerdau Johanpeter, que foi interpelado pelos Constituintes Ismael Wanderley, Gabriel Guerreiro, Renato Johnsson, Luiz Salomão, Vladimir Palmeira, Gil César e Severo Gomes; e, ainda, José 114 Ezil Vieira Rocha, que foi interpelado pelos Constituintes Hélio Duque, Afif Domingos e Luiz Salomão. O inteiro teor dos debates será publicado, após a tradução das notas taquigráficas e o competente registro datilográfico, no Diário da Assembléia Nacional Constituinte. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrados os trabalhos, às vinte horas e quarenta minutos, convocando os Senhores Constituintes para a próxima reunião a ser realizada amanhã, dia sete de maio, às nove horas e trinta minutos, destinada à audiência pública. E, para constar, eu, Ione Ramos de Figuerêdo, Secretária, lavrei a presente Ata que, depois de lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente. ANEXO À ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMISSÃO DE PRINCÍPIOS GERAIS, INTERVENÇÃO DO ESTADO, REGIME DA PROPRIEDADE DO SUBSOLO E DA ATIVIDADE ECONÔMICA, REALIZADA EM 6 DE MAIO DE 1987, ÀS 18 HORAS, ÍNTEGRA DO APANHAMENTO TAQUIGRÁFICO, COM PUBLICAÇÃO DEVIDAMENTE AUTORIZADA PELO SENHOR PRESIDENTE DA SUBCOMISSÃO, CONSTITUINTE DELFIM NETTO. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Havendo número regimental declaro abertos os trabalhos da reunião da Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime da Propriedade do Subsolo e Atividades Econômicas. Não havendo objeção do Plenário, vou dispensar a leitura da ata, considerando-a aprovada. A Presidência recebeu e encaminhou ao Senhor Constituinte Virgildásio de Senna, relator da matéria, as Sugestões de n° 1647, 1017, 1130, 1291, 2198, 2797, 2210 e 1737, de autoria dos Senhores Constituintes Tadeu França, Ruben Figueiró, Eduardo Jorge, Paes de Andrade, Maria Lúcia, Octávio Elízio, Mozarildo Cavalcanti, e, ainda, sugestões da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Mineração – ABEMIN –, Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, dos empregados das empresas estatais, da União Nacional dos Auditores Fiscais do Tesouro Nacional, do Grupo Nordeste, da Secretaria do Patrimônio 115 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Histórico e Artístico Nacional, do Grupo de Estudo do Curso de Constituinte da Universidade de Brasília e da União Nacional dos Auditores Fiscais do Tesouro Nacional. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Esta reunião se destina à exposição dos ilustres convidados, que vão discorrer sobre os temas fixados para esta tarde: Nacionalidade da pessoa jurídica e reserva de mercado. Tenho a satisfação de convidar o Dr. Antonio Ermírio de Moraes para que venha fazer a sua exposição. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Sr. Presidente, antes de ouvir o nosso convidado, gostaria de entregar a Presidência, e à relatoria desta subcomissão o Projeto de Constituição dos Partidos dos Trabalhadores, que foi entregue hoje no Plenário ao Presidente Ulysses Guimarães e que, aperentemente é a única contribuição do Partido em seu conjunto, envolvendo a globalidade de um projeto constitucional. Entrego na certeza de que esta Subcomissão vai levar em consideração os pontos a ela atinentes e valorizará devidamente esta contribuição para a futura Constituição a ser elaborada por esta Constituinte. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Agradecemos ao ilustre Constituinte Vladimir Palmeira, a entrega deste projeto, e tenho certeza de que esta Subcomissão vai analisá-lo com todo o cuidado que merece. Concedo a palavra ao Dr. Antônio Ermírio de Moraes, alertando que V. Sª tem 15 minutos para sua exposição. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Sr. Presidente, Ministro Delfim Netto, Srs. Constituintes. Antes de mais nada, quero aqui externar os meus agradecimentos por este honroso convite que me foi formulado, e peço desculpa aos Senhores porque me encontro um tanto quanto afônico, mas procurarei fazer uma síntese sobre o tema que me foi proposto para discorrer na data de hoje: nacionalidade da pessoa jurídica e reserva de mercado. Entendo por nacionalidade da pessoa jurídica uma discussão que deva ser feita com relação à intervenção do Estado, à presença da multinacional e à presença da empresa privada em nosso País. Há muito que reclamo do Ministério da Indústria e do Comércio o que eu chamaria de uma verdadeira política industrial, e essa política industrial começaria definindo bem claramente os segmentos onde atuariam a empresa privada nacional, a empresa estatal e a empresa multinacional. O Brasil é um País de 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, e somos hoje 230 milhões de brasileiros. Se nós continuarmos com esse índice de natalidade, certamente, nós teremos 5 milhões de brasileiros a mais em cada ano no nosso País. É preciso levarmos esse aspecto em consideração. Há lugar para todos, há lugar para a empresa estatal, há lugar para a empresa multinacional e há lugar, evidentemente, para a empresa privada nacional. Mas, nós estamos exclusivamente pedindo para que o Governo decida, com coragem, onde é que nós podemos agir, onde vai agir a empresa estatal. Há, por exemplo, o caso da side- rurgia em que, salvo raras exceções, existe uma convivência pacífica entre a empresa estatal, que é produtora de produtos planos, e a empresa privada nacional, que é produtora de não planos. Nós tivemos alguns casos de exceção, mas com algumas pequenas correções, nós podemos voltar perfeitamente bem dentro desse diapasão da empresa estatal produzir apenas produtos planos e a empresa privada produzir produtos não planos. É preciso que haja coragem para esse tipo de definição, e tenho certeza de que, num futuro breve, nós teremos uma política industrial capaz de garantir a todos aqueles que queiram trabalhar para a Nação brasileira um futuro razoavelmente tranqüilo. O que devemos é lutar contra essa falta de política industrial e comercial, em que após um determinado número de anos de ação, repentinamente, nós vemos um campo que pertencia, por exemplo, à empresa privada nacional invadida pela empresa multinacional ou invadida por uma própria estatal. Não há razão para isso. É preciso que todos saibam se respeitar porque há campo para todos, é apenas uma questão de definição e, nesse aspecto, uma política industrial precisa ser rapidamente definida. É evidente que no momento, nessa fase de transição, parece-me um dos problemas mais graves que nós temos pela frente é o da dívida externa brasileira. Por ocasião da primeira crise do petróleo, em 1973, países mais adiantados do que o Brasil, como por exemplo a Inglaterra, Alemanha, Japão ou o próprio Estados Unidos todos reduziram o seu consumo de petróleo. A Inglaterra abaixou em 29% o consumo de petróleo, de 73 para 79, os Estados Unidos em 1,5%; a Alemanha e o Japão em 12%, e o Brasil, lamentavelmente, nesses 6 anos aumentou o seu consumo de petróleo em 43%. É evidente e os Senhores estão lembrados de que quando nós chegamos em 1979 a nossa dependência de petróleo externo era de 85%, a produção nacional variava entre 20 e 15%, o que, naturalmente, fez com que o Brasil, naquela ocasião, tivesse dificuldades enormes para pagar a conta do petróleo face, inclusive, as dificuldades que tivemos de exportação, porque nós tínhamos, naquela ocasião, uma crise internacional também em andamento. Em tributo a dívida externa como principal agente deflagrador da nossa inflação. É preciso resolver esse problema, mas resolver com inteligência. Nós devemos 100 ou 104 bilhões de dólares, e 70% dessa dívida, realmente, pertencem às empresas estatais, ao Governo de uma maneira geral; 18% às multinacionais e 12% ao capital privado nacional; grosseiramente são esses os números que tenho. Ora, vamos começar pelas empresas estatais cujo montante é o principal da dívida externa, praticamente 2/3 ou 70% pertence ao Governo. Se amanhã nós pegássemos, por exemplo, o setor estatal como siderurgia e hidreletricidade, o setor energético e o setor de siderurgia,que são companhias enormes, são companhias que foram montadas debaixo da melher técnica possível e imaginária, e nós temos uma indústria siderúrgica maravilhosa, temos enormes usinas hidrelétricas – realmente só na Rússia se encontra hidrelétricas com a dimensão e eficiência das que temos aqui no Brasil – então se nós pudéssemos pegar, como uma espécie de plano piloto, esses dois setores de siderurgia e de hidroeletricidade e fizéssemos uma capitalização desses dois setores, capitalizar como? Emitindo ações preferenciais, por exemplo, e não quer dizer que seja esse o único caminho, mas emitindo ações preferenciais para que pudessem ser ofertadas ao mercado interno, e até mesmo emitindo ações preferenciais, porque, como bem diz o nome, são ações que não têm direito a voto, mas são ações que têm preferência na hora da distribuição dos dividendos. Trocaríamos a dívida externa dessas empresas por ações preferenciais. Se amanhã nós fôssemos a um banco credor internacional e oferecessemos um lote de ações preferenciais, que não têm direito a voto, em troca da dívida externa, tenho certeza absoluta de que no dia seguinte essas empresas passariam a dar resultados positivos, isso no setor de siderurgia, e no setor energético, principalmente, da hidreletricidade. São dois setores onde o Brasil está realmente muito bem desenvolvido e muito bem aparelhado, e seria lamentável que, na falta de urna ação mais contundente, nós viéssemos a transformar esses dois setores num verdadeiro parque de sucata nacional. E cremos Senhores que estamos bem perto de transformar esses dois setores em apenas usinas obsoletas, o que seria profundamente lamentável, porque nos custou um esforço tremendo a todos nós, a todos os 230 milhões de brasileiros que hoje habitam nosso País. Por outro lado – e quando eu disse isso pela primeira vez eu fui tachado de semipoeta – eu achava que a empresa multinacional, eu não sou semi-condutor, Constituinte Delfim, eu não sou absolutamente contra a empresa multinacional, mas acho que ela deve vir ao nosso País para ficar. Eu sou contra a empresa multinacional que vem aqui apenas com 10% de capital e 90% de capital emprestado. Porque ela onera a balança de pagamento do Brasil, e a melhor maneira de nós não pagarmos Imposto de Renda, hoje, é exatamente aquela de tomarmos um empréstimo principalmente a nossa matriz no exterior, tendo em vista que o Imposto de Renda hoje representa 45% do total dos ganhos do ano, e se amanhã eu arranjar um dispositivo, um mecanismo pelo qual eu não venha a pagar o Imposto de Renda, e estou levando uma vantagem enorme em relação à própria empresa privada nacional, isto é uma injustiça. Via de regra, qualquer gerente de terceira categoria de uma empresa multinacional é o primeiro a propor, rapidamente, que se arranje um empréstimo com a matriz no exterior, para que através desse empréstimo, que, às vezes, vem até onerado com uma taxa de juros superior àquela que é a corrente, e isso faz com que a empresa multinacional não venha a pagar Imposto de Renda no nosso País. Por tudo isso, estou dizendo aos Senhores que acho sinceramente, que a empresa multinacional tem que vir para o País com um capital de risco. Que se estabeleça 70% de capital de risco e 30% de capital emprestado, porque acabando o capital emprestado, essa empresa se estabelecerá definitivamente aqui no Brasil. Ela não ficará aqui apenas de passagem, ela virá para ficar, para colaborar conosco nas horas boas e más. E acaba-se definitivamente aquele problema de transferência de juros para o exterior. Automaticamente, temos que combater os royalties, porque royalties, no DÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) meu entender, é uma maneira de se conseguir maiores remessas para o exterior, através da nossa ignorância. Admito que hoje tenhamos que pagar royalties num processo por fusão, num processo por fissão em energia nuclear, mas eu não admito que se pague royalties para se produzir alumínio em nosso País como se paga até hoje. Então, são coisas que estão erradas e nós temos que corrigir aos poucos. Por isso entendo que a companhia multinacional poderia, aos poucos, ir fazendo uma transformação dessa dívida de aproximadamente 8 bilhões de dólares em capital de risco. É um esforço que as empresas fariam, no sentido de provar que realmente acreditam no País em que estão. Perante os Senhores, que são Constituintes, seria uma prova unânime de que realmente haveria boa fé: nós acreditamos no País em que estamos, transformando essa dívida em capital de risco. Sei que não é fácil, sei que não se faz isso do dia para a noite, mas é um esforço que deve começar a ser feito, deveria ser levado com atenção. E faltariam, então, praticamente esses 12% que representam a dívida da empresa privada nacional. Sinceramente, com o Plano Cruzado, todo o empresário nacional que não teve juízo, e que não procurou pagar a sua dívida externa com dólar fixo de 13,84, francamente, ele não estava no seu melhor juízo. A grande maioria dos empresários que tinham uma certa dose de bom senso procurou diminuir, naturalmente, a sua dívida externa, exatamente, porque o dólar estava fixo. E foi um ótimo negócio, pagar essa dívida externa lá fora, e foi, aliás, o que nós procuramos fazer, eliminando completamente a dívida existente, por exemplo dentro da nossa própria casa. Com relação à reserva de mercado, neste aspecto eu sou meio drástico. É evidente que ninguém pode crescer se não houver uma reserva de mercado, mas uma reserva ponderada de mercado, e eu sempre defendi a idéia de que seria melhor se nós tivéssemos uma reserva de competência, porque o homem competente vai vencer em qualquer parte do mundo, porque ele é competente, ele tem cabeça, tem organização e tem estrutura. Reserva de mercado, para mim, até certo ponto, parece com uma herança que é deixada pelo pai ao filho; ele recebe e não sabe o valor que aquilo realmente tem. É preciso conquistar o mercado, porque aquele que conquista o mercado jamais vai abrir mão da sua parcela. Então, me parece que seria muito mais prudente que tivéssemos, em primeiro lugar, reserva de competência, nós darmos aos brasileiros em concorrência e em competição com as multinacionais, em determinados ramos, condições deles poderem se entregar completamente. E quando digo isso não quero estar puxando a brasa para a minha sardinha, mas é o caso típico do que acontece, por exemplo, na indústria de alumínio. Nós crescemos, contra as duas maiores empresas multinacionais do mundo, e nós crescemos contra a maior empresa estatal do mundo no setor mínero-metalúrgico, que é a Vale do Rio Doce, no entanto ganhamos a questão. Por quê? Porque nós acreditamos, nós somos completamente integrados, e há 35 anos que nós construímos usinas hidroelétricas. O setor domina ou se pede energia subsidiada ao Governo, o que considero uma vergonha, pois não teria coragem de chegar amanhã a uma CEMIG, a uma FURNAS, a uma CHESF, a uma CESP e pedir energia subsidiada, pois não tem cabimento, ou então há que se construir a nossa própria usina hidroelétrica. Mas, seria justo que o Governo facilitasse, então, para aqueles que são intensivos em energia elétrica, a construção das suas próprias usinas. Senão vejamos, se nós quisermos crescer, apenas a 5% no campo hidrelétrico, o Brasil terá que construir uma Tucuruí por ano, o que significa que vamos gastar, pelo me-energético e de hidreletricidade. E nós temos recursos para tudo isso? É evidente que a resposta é não, não temos! Então, é preciso que todos contribuam de uma maneira maior ou menor, mas que haja confiança no Governo, o Governo precisa auxiliar e essa é a melhor forma de auxiliar àqueles que queiram naturalmente trabalhar dentro do campo da siderurgia. Que facilite àqueles que queiram naturalmente industrializar o minério de ferro, àqueles que queiram colocar as suas instalações de concentração, suas instalações de autoforno para que não fiquemos a vida toda baseados na eletrosiderurgia. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – V. Ex.ª tem dois minutos para terminar a sua exposição. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Muito obrigado, Sr. Presidente. Mas, o assunto que os Srs. me deram é um pouco extenso, e peço desculpas se eu me alonguei demasiadamente. Mas, de uma maneira geral, eu diria aos Senhores que o Brasil é um País viável, nós estamos passando por uma crise política, uma crise econômica, mas não podemos de jeito algum nos darmos por vencidos. Pelo contrário! O Brasil é um País grande, e tenho certeza de que vamos emergir dessa crise. Aqui nos corredores, antes de nós começarmos a fazer esta exposição, eu ouvi os comentários mais terríveis possíveis e imaginários, mas os Senhores são os Constituintes, e o povo brasileiro deposita uma enorme confiança na Constituição brasileira, na futura Carta Constitucional brasileira. E nós não podemos decepcioná-los, nós temos que fazer uma Constituição que seja justa, uma Constituição onde todos possam ter lugar ao sol; onde o Estado possa ter sua intervenção nos setores que são necessários, onde a empresa privada tenha um lugar ao sol e onde se trata, também com respeito, a uma empresa multinacional. É uma simbiose desse esforço todo. Sou homem tido como nacionalista, eu tenho orgulho em ver uma empresa brasileira poder crescer sob um comando nacional, um comando estritamente nacional. Tenho até um certo orgulho disso, mas é preciso acreditar que todos nós precisamos crescer mais rapidamente, e se for para crescer a 0,5% ao ano e a 1% ao ano nós podemos abrir mão disso. Mas se nós tivermos que crescer um pouquinho mais rapidamente nós temos que fazer justiça. E a justiça tem que ser feita dessa maneira, tem que ser feita dando a todos uma chance de crescer. A empresa multinacional, que tem sido objeto de muito ataque, tem que vir para o Brasil para ficar, tem que vir com recursos próprios, e não com empréstimos, e que venha para ficar, e que dê uma demonstração disso. As empresas que estão aqui, convertam a sua 116 dívida em capital de risco, isto seria uma demonstração inequívoca para todos os Senhores, de que realmente confiam no País. É o apelo que faço a todos: vamos crescer porque este País é muito grande, e há lugar para todo mundo. Nós só não podemos é declarar guerra muda a todos, o que nos levará fatalmente ao ridículo perante o resto do mundo. Peço desculpas ao Sr. Presidente Delfim Netto pelo tempo, e muito obrigado aos Senhores. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Joaquim Bevilácqua. Os Srs. constituintes têm 3 minutos para formular as suas proposições, e o nobre Expositor tem 3 minutos para respondê-las. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, nobres companheiros, ilustre Dr. Antônio Ermírio de Moraes: V. S.ª como sempre, foi muito objetivo, sucinto e bastante claro nas suas observações. Aqui nesta Subcomissão no dia de hoje, pela manhã, discutiu-se na última reunião, antes da entrega do Relatório pelo ilustre Relator. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Joaquim Bevilácqua. Os Srs. Constituinte têm 3 minutos para formular as suas proposições, e o nobre Expositor tem 3 minutos para respondêlas. O SR. CONSTITUINTE JOAQUIM BEVILÁCQUA: – Sr. Presidente, nobres companheiros, ilustre Dr. Antônio Ermírio de Moraes: V. S.ª como sempre, foi muito objetivo, sucinto e bastante claro nas suas observações. Aqui nesta Subcomissão no dia de hoje, pela manhã, discutiu-se na última reunião, antes da entrega do Relatório pelo ilustre Relator, exatamente, a posição de cada um, sem querer, evidentemente, rotular pois acho que um dos grandes problemas do Brasil é o rótulo; nós aqui procuramos manter o debate em alto nível, buscando os pontos de convergência antes de encontrar os de divergência; inclusive esta expressão nacionalista, que o Senhor usa com tanto orgulho, e eu também, muitas vezes é deturpada e é utilizada como rótulo. Eu também gosto de usá-la e disse aqui que sou um nacionalista – e creio que o Senhor também o seja – não xenófobo, sou um intervencionista moderado sem ser radical, pois entendo que o Estado tem também o seu espaço como agente econômico. Mas, quero ser também objetivo, perguntando ao Senhor o seguinte: o nobre Constituinte Luiz Salomão trouxe aqui uma proposta que causou uma certa polêmica, na medida em que se discute se a questão deve ser inserida no texto constitucional ou se deve ser objeto de definição de lei. O Senhor, no início cobrou do MIC, com justa razão, uma política industrial, aliás, nós não temos uma política agrícola, e, a rigor, não temos política econômica, não temos plano de metas, não temos, na realidade, nada que possa representar um estado sólido de Governo, temos um estado gasoso em que é difícil até se fazer oposição ou se apoiar. Mas eu perguntaria o seguinte: como é que o Senhor define empresa priva nacional, em função da nacionalidade dos sócios, do capital votante? Como é que o Senhor vê essa questão, que é uma das questões em que não houve consenso aqui na Comissão? Na medida em que o Senhor 117 DIÁRIO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) prefere a reserva de competência, que me parece uma expressão muito interessante, como também o é a colocação do Senador Roberto Campos, de que a empresa privada, em tese, é mais competente porque é mais excitante, embora sejam também profundamente excitantes as funções sociais de empresa públicas do próprio poder público, como é que o Senhor vê a reserva de mercado na informática? E, finalmente, a última pergunta: como é que o Senhor acha possível controlar o abuso do poder econômico, os trustes, os monopólios, os oligopólios, os cartéis, alguns deles escancaradamente registrados em cartórios no exterior, como constatamos na CPI das multinacionais? Como é que o Senhor vê a situação do CADE, por exemplo, nesse aspecto? O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Muito obrigado, meu caro Constituinte Joaquim Bevílácqua. Mas, a empresa privada nacional significa o que diz a expressão privada nacional. Isto não significa, em primeiro lugar, que a empresa não tenha nenhuma ligação com um companhia estrangeira. Segundo, ela pode ser empresa privada nacional composta por homens naturalmente não nascidos no Brasil, mas que atuem aqui no Brasil cujo centro de resolução seja o Brasil. Então isso chama-se empresa privada nacional. Se amanhã ela for composta por um sócio alemão, um inglês, e um mexicano, mas todos os três vivendo aqui no Brasil, com residência no Brasil, ela é empresa privada nacional, constituída apenas com seus membros, que são naturalmente natos no exterior, mas que operam aqui e o centro de decisão é no Brasil, sem nenhuma ligação com qualquer matriz lá fora. Entendo dessa maneira. Quanto à reserva de mercado, o Senhor se referiu à reserva de mercado no que diz respeito à informática. Entendo que precisamos ter o bom senso, meu caro Constituinte Joaquim Bebilácqua, de analisar aquilo que nós conhecemos profundamente. Quando não se conhece profundamente o assunto – e não quero sair fora da pergunta – mas de uma maneira geral, acho que toda a vez que se excede em proteção induz-se o setor a erros brutais. Excesso de proteção é como mesada para menino incompetente. Entendo que excesso de proteção ao invés de proteger, destrói. E estou dizendo isto, através de 38 anos de luta com as empresas maiores multinacionais, e graças a Deus, sem jamais ter auferido incentivos fiscais e sem excesso de proteção. Havia, naquele tempo, algo chamado contingenciamento. Não quero dizer que seja a regra número um do jogo, mas o contingenciamento para a empresa, eu daria, por exemplo, 10 anos. Durante 10 anos tem-se que ter uma certa proteção. Se depois de 10 anos não for colocado em órbita, então significa que é incompetente mesmo, e o lugar para incompetente não é aqui no nosso meio. Então, sendo nacional ou não, ele não pode sobreviver, porque não é justo que todos tenhamos que pagar pela sua incompetência. Se amanhã eu for incompetente, eu tenho que ser alijado do processo de fabricação de um determinado produto, pela minha incompetência. Sob esse aspecto a lei é fria, é selvagem. Mas, nós temos que encarar dessa maneira e eu acho que, para todos, a coisa deve ser feita dessa forma. Excesso de proteção – repito é mesada para menino incompetente. E a última pergunta que o Senhor me fez é sobre o abuso do poder econômico. Realmente o CADE é um órgão constituído que deveria realmente agir. Penso que o CADE precisava ser dinamizado. Sinceramente, não é pelo fato de o Ministro Antônio Delfim Netto estar aqui, mas foi o que aconteceu com o CIP, depois de uma certa ocasião, em que praticamente desapareceu depois do Plano Cruzado. Acho que um CIP moderado, controlando aí, vamos dizer, cerca de umas 300 empresas, ou mais, 500 empresas de indústria de produtos básicos, aqueles que fornecem matéria-prima, automaticamente não se precisaria ir além disso e já teria um controle razoável. Nós sempre fomos "cipados" e eu nunca pude me queixar de que o Governo deixou de dar uma certa atenção à empresa privada nacional. Seria uma injustiça dizer aos Senhores. Pelo Contrário o Governo sempre foi sensível. Mas, em contra-partida, parece-me que tem que haver um certo controle, porque, senão, os Senhores vão me perguntar se acho que o gatilho é justo; é claro, não se pode realinhar preços e desalinhar salários. Agora, chega uma hora em que ninguém mais vai suportar nem o realinhamento de preços, nem o realinhamento de salários. Chega uma hora em que tem que se dar um basta. E isso nós temos que fazer o mais depressa possível, chegar a essa conclusão de que nem preços mais, nem salários mais. Daqui para a frente temos estrutura bem feita através de um conselho interministerial de preços que possa fazer um julgamento rápido e preciso sobre as necessidades de eventuais setores. O SR. PRESIDENTE (Antônio Delfim Netto): – Muito obrigado. Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Gil César. O SR. CONSTITUINTE GIL CÉSAR: – Srs. Constituintes, Sr. Conferencista, em primeiro lugar os meus cumprimentos. Gostaria que V. S.ª falasse alguma coisa sobre o subsídio embutido na tarifa de energia elétrica, nas indústrias de alumínio do Norte e Nordeste em primeiro lugar. Em segundo lugar, como V. S.ª vê o problema de se estabelecer pelo direito de lavra uma participação do Estado e Município que se chama Fundo de Exaustão ou Royalty, pelo direito de lavra. Como V. S.ª vê isso, e até que percentual seria admissível? E, finalmente, com referência às explicações que V. S.ª deu sobre o problema da constituição das empresas no Brasil – que acabou de esclarecer ao caro colega Bevilácqua – há uma série de dúvidas em virtude de propostas apresentadas especificamente quanto ao setor mineral do que seja realmente uma empresa nacional e uma empresa que, apesar de estabelecida no Brasil com as características que V. S.ª citou, não seja considerada uma empresa nacional. A maioria do capital nacional por exemplo, 51% das ações. V. S.ª falou, também, sobre a possibilidade de ações preferenciais que permitiram que capitais externos fossem internalizados no Brasil, mediante essas condições. Então, como é que V. S.ª vê isso, procurando fazer com que V. S.ª dê uma resposta mais objetiva, porque propostas estão sendo apresentadas hoje, que é o último prazo, e há muita controvérsia, exatamente em cima dessa caracterização, do que seja uma empresa nacional com capital nacional controlada por brasileiros, o que já contraria o que V. S.ª falou que uma empresa nacional pode ser formada por estrangeiros aqui radicados. Como V. S.ª vê esse problema? O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Deputado Gil César, em primeiro lugar, quanto à questão de subsídio à indústria de alumínio no Nordeste, vou ser absolutamente sincero com os Senhores: francamente eu não gosto. Eu não teria coragem, nós somos produtores de alumínio e jamais passaria na minha cabeça ir ao Governo pedir ao Sr. Ministro das Minas e Energia uma tarifa especial para produzir alumínio, porque sei que essas usinas hidrelétricas, no caso Tucuruí, foi construída com capital alienígena. E isso nos custou muito caro. O preço do quilowatt (KW) em Tucuruí é da ordem de 52 milésimos o KW/ hora, e o preço que ele fornece à ALBRÁS, que é do Governo, é 10, e o preço que ele fornece à Alcoa que é multinacional é 14; e o preço que nós pagamos em São Paulo pela parte que nós não geramos é 22 mil quilowatts hora. Mas esqueça a nossa parte. Não me parece razoável se o Senhor tem uma energia gerada a 52 milésimos de KW/hora, 52 centavos de dólar o quilowatt/hora e debita em média, vamos dizer, Tucuruí, entre ALBRAS e ALUMAR, vamos dizer, a 12 mil, para fazer um cálculo rápido, são 40 mil de diferença, 4 centavos de dólar. E essas empresas produzem hoje, a ALBRAS 160 mil toneladas e ALUMAR 220 toneladas; são 380 mil toneladas de alumínio, a 16 mil quilowatts/hora, a 4 centavos de dólares, vai-se chegar à conclusão de que eles dão um prejuízo anual ao Brasil de uns 400 milhões de dólares, tranqüilamente. Eu pergunto: é justo? Por que não? E nessa ocasião nós temos que agir com a cabeça, se os Senhores quiserem produzir alumínio, seja uma empresa estatal, uma empresa privada nacional, ou uma empresa multinacional, está muito bem, mas só podem produzir se for com a sua própria energia, e ponto final. Ou, então, 50% da sua energia. Não precisa mais do que isso. As empresas de alumínio do mundo inteiro produzem cerca de 28% de sua própria energia, é a média geral do mundo inteiro. O Brasil poderia, pelo menos, adotar um sistema, 28% ou 50%, o Brasil é pobre, e agora com essa crise energética os Senhores vêem que há um movimento dos governadores para que se paralise rapidamente as grandes consumidoras de alumínio e energia no Norte, e nesse caso a ALUMAR, porque o problema não é de água, o problema é de vitrotransmissão. Água nós temos à vontade, a represa de Tucuruí está repleta de água. A ALBRAS não vai sofrer interrupção porque ela tem dois circuitos. Agora, as outras, naturalmente, a que está em São Luís, que é a ALUMAR, evidentemente terá problema, porque só tem circuito. De um lado, parece uma injustiça ter que se parar uma empresa enorme que gastou lá 1 bilhão de dólares, que podia ter gasto 1 bilhão e 300 milhões de dólares e não dar esse problema para o Brasil. Quem gasta 1 bilhão de dólares, põe mais 300 milhões de dólares e faz a sua própria energia. Para 50% do consumo energético, para cada tonelada de alumínio/ano, é preciso se instalar um quilow att. Então, para se produzir 200 mil toneladas, precisa-se instalar 200 mil quilowatts para produzir 50% da sua energia. Uma regrinha muito simples. Caso se queira produzir 100% da energia, DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONA L CONSTITUINTE (Suplemento) instala-se 2 quilowatts para cada tonelada de alumínio/hora. Uma empresa que produz 200 mil toneladas de alumínio por ano, tem que instalar 400 mil quilowatts de potência. Mas, como 50% a empresa exporta para qualquer parte do mundo, com resultado extraordinariamente favorável, do ponto de vista financeiro. Agora, não é justo que as empresas venham tomar nossa energia, o que muitas vêm fazendo – e o Ministro Delfim Netto sabe muito bem disto – tomaram recursos em marcos alemães, em yenes, e agora estão vendendo alumínio em dólar. Ainda ocorre o fato de estarmos levando um prejuízo enorme na chamada cesta de moedas. Nós tomamos empréstimo em moeda forte, e agora estamos exportando nosso material, nosso produto industrializado, em dólar. E, no momento, a tendência do dólar – salvo melhor juízo – é sofrer uma desvalorização, porque um país que pega 15 bilhões de dólares mensalmente, na sua balança comercial, dificilmente poderá deixar de ter sua moeda desvalorizada a médio e longo prazo. Se o senhor levar em consideração que a agricultura americana deve, nesse presente momento, mais de 200 bilhões de dólares, e que uma grande parte desse dinheiro que a agricultura americana deve ao Governo, ao sistema financeiro, jamais será paga, e ela pressiona brutalmente os Estados Unidos da América do Norte para desvalorizar o dólar, porque senão ela não tem como exportar, pois é a pior crise pela qual a agricultura americana passa desde 1929, então o senhor vê que a tendência do dólar é, realmente, não se valorizar demais. Eles vão, naturalmente, ter outros mecanismos, a economia vai ter outros mecanismos, procurando diluir o efeito da desvalorização do dólar, mas haverá uma tendência do dólar se desvalorizar em relação ao marco. Sob este aspecto, parece-me que é uma grande injustiça, que não só a empresa estatal faz, como o capital da multinacional também faz. E é uma regra simples do jogo. Ninguém pede para que venham para cá, pode vir a estatal, pode vir multinacional, mas vai construir a sua energia. É só uma questão de querer investir um pouco mais, e pelo menos ter sossego para o resto da vida. Dá sossego ao governo e à própria empresa. Esta é a minha resposta. A segunda pergunta do senhor é com relação ao fundo de exaustão das jazidas. A verdade é a seguinte: no campo mineral do Brasil, nós temos um código de minas que realmente é razoável, nosso Código de Minas não está ruim, o que nós precisamos fazer é executar. Precisamos dar força ao Departamento Nacional de Produção Mineral para executar o que existe inserido no Código de Minas. O que está lá escrito não é executado por motivos que não cabe a mim aqui analisar. Os Estados mineradores, via de regra, quase sempre têm prejuízo porque vêem a sua reserva minera que não é renovável, se exaurir. Ao invés de ficar mais rica, acaba ficando pobre. Então o ideal era realmente fazer com que a empresa que se instalasse, a fim de transformar um bem mineral, pudesse fazer sua integralização no próprio Estado, porque aí se receberia o chamado ICM, e automaticamente o Estado iria progredir à custa disto. Mas há casos onde isto não ocorre. Nós ternos aqui mesmo, no Estado de Goías, um caso onde isto ocorreu. Nós tínhamos projeto para fazer níquel aqui em Niquelândia, a 300 Km de Brasília, cujo processo ia ser feito desde o minério até a níquel-eletrólise, aqui em Niquelândia. Aí na ocasião, depois do Ministro Dias Leite ter nos mandado uma carta, garantindo a energia hidrelétrica, no Governo do Pr esidente Ernesto Geisel, essa energia não foi possível, e tivemos que construir 28 mil quilowatts de energia térmica aqui em Niquelândia. Resultado: foi preciso dividir o emos do minério até o carbonato, aqui em Niquelândia, e fomos obrigado a levar o carbonato para São Paulo, e é preciso dizer bem claro que São Paulo não precisa de indústria. E foi quase uma injustiça para Goiás, pois deveria ter sido feito tudo aqui em Goiás, mas infelizmente não havia energia elétrica naquela ocasião, foi preciso dividir. Não adiantava nada chegar ao Presidente Ernesto Geisel e dizer: nós vamos para a obra se não nos derem energia. Não tinha como fazer! A realidade dos fatos era uma só, não adiantava ficar pressionando, não ia resolvemos o problema. Então resolve seccionar: a fase química é feita aqui, e a parte de refinoeletrólise em São Paulo. Mas um belo dia nós teremos que voltar para cá, para dar exatamente este ICM ao Estado; e o que nós fazemos no momento? No carbonato de níquel que é o produto intermediário, nós lhe damos a um preço internacional, para que o Estado possa receber um ICM correto, mas nem todos fazem isto. Se eu quisesse dar ao carbonato um preço muito aquém do internacional, evidentemente, que o Estado de Goiás ficaria prejudicado, porque em mineração o ideal, realmente, é fazer com que a industrialização se processe ali em cima. Mas, para isto é preciso ter uma certa infraestrutura. Se Goiás tivesse energia, muito embora o Governo tivesse prometido naquela ocasião e não forneceu, então foi preciso abrir uma exceção. E se o senhor quiser pensar no seu Estado, o ideal é minerar e industrialiar no seu próprio Estado. Para isto se tem todas as vantagens, porque o fundo de exaustão é pequeno vai até 20%, se não me falha a memória, do total do valor das jazidas, mas é muito pouco para o Estado. E em relação ao ICM gerado pela indústria é nada, é uma gota d’água no oceano, porque o que é importante é fazer a mineração e a transformação minometalúrgica no próprio Estado. Aí é correto. Aí o senhor vai receber todos os benefícios de uma industrialização no seu Estado, no Estado normalmente que é portador daquelas jazidas. Parece-me que por aí é a solução mais correta. O próprio Imposto Único, que nos recolhemos, recolhe-se o imposto único, paga-se o imposto único, mas aquele que tem mineração e metalurgia, fica entre 90% do IPI e 10% de ICM, e acaba não pagando nada de imposto único. Então, o Estado não recebe coisa nenhuma, o Estado fica prejudicado. O ideal seria minerar e transformar no próprio Estado. E a sua terceira pergunta era sobre um esclarecimento um pouco melhor, sobre aquilo que nos consideramos empresa privada nacional. Realmente o Código de Minas permite, desde que a empresa seja constituída aqui no Brasil, que ela possa ter decreto de pesquisa e decreto de lavra, e possa conseqüentemente minerar. Acho que nós temos que ter uma certa grandeza, porque, afinal de contas, se este homem, hoje, não tiver – e fui bem claro com o Deputado 118 Joaquim Bevilácqua – nenhuma ligação no exterior porque se ele tiver ligação no exterior, ele pode ser um testa-de-ferro, então, ele está aqui apenas para usufruir de vantagens que possa tirar desta Nação, isto é lamentável! Mas se ele for apenas cidadão trabalhador, quer dizer, naturalmente correto, que não seja de nacionalidade brasileira, mas que constitua a sua firma aqui, não faço nenhuma diferença dele para um camarada nascido em São Paulo, ou um sujeito que nasceu no Estado de Pernambuco ou em Minas Gerais. É uma chance, se ele quiser ajudar a nossa economia, tudo bem. Agora, naturalmente, se ele for ligado a um grupo lá fora, então não, aí a coisa é diferente, a coisa muda de figura. Ele está usufruindo apenas da nossa lei para tirar vantagem. Isto não está certo. Agora, sinceramente, eu seria um pouco mais liberal, porque se a Constituinte entrar demasiadamente em detalhes, nós vamos, perdoe-me, sou um estranho no ninho, mas eu fiz parte daquele grupo da préConstituinte, e sempre me preocupei em não detalhar, demais, acho que o detalhe cabe à lei, depois, a lei tem que formalizar os detalhes, porque, senão a coisa fica muito complicada. Então, desde que a empresa seja constituída no Brasil poderá ter decretos de pesquisas, e em conseqüência de lavra. Agora, pode ser uma empresa constituída no Brasil e por multinacionais. E ela pode ser constituída no Brasil por homens de nacionalidade não brasileira, mas que não sejam ligados a empresas multinacionais. Por outro lado, pergunto, se uma multinacional quiser vir para o Brasil, e colaborar decentemente conosco na expansão econômica do Brasil, pagando seus impostos, adotando uma política correta de acordo com os enunciados da política brasileira desta política industrial, que eu estou reclamando há muito tempo, eu não veria nada de errado nisto; mas se ela vem para burlar, naturalmente, a Nação brasileira, vem aqui para usufruir, e em 10 anos ela quer se retirar dando-nos um enorme prejuízo usufruindo de todas as vantagens, neste caso sou contra. É uma questão de bom senso. Sei que o Senhor está diante de um dilema: nós temos pouco tempo para legislar, como é que nós vamos fazer? Acho que um pouco de liberalismo não faz mal a ninguém. E depois existe um Congresso que vai fiscalizar. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Temos ainda três Constituintes inscritos, e eu pediria que se ativessem realmente aos 3 minutos, para perguntas e para respostas, para que possamos ter o prazer de ouvir a todos. Concedo a palavra ao Constituinte Afif Domingos. O SR. CONSTITUINTE AFIF DOMINGOS: – Dr. Antônio Ermínio de Moraes, quando esta Subcomissão lembrou o seu nome para ouvi-lo neste importante momento da vida nacional, também lembrou do nome do ilustre empresário Jorge Gerdau, exatamente para que pudéssemos, nesta Mesa, ouvir os dois ilustres representantes da indústria nacional, empresários nacionais, para nos ajudar no debate a respeito da empresa nacional, a respeito do capital nacional, a respeito do capital estrangeiro, a respeito da reserva de mercado, a respeito da associação de joint venture, por- 119 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) que existem experiências neste sentido, de se casar com um capital multinacional para efeito de se incorporar tecnologia. Então, eu centraria as minhas questões nestes pontos, pois V. S.ª disse muito bem que o excesso de proteção é como o caso do excesso de proteção de um pai sobre o filho, que vai tornar esse filho incompetente. Porque o nosso sentido é que competente é quem compete, e incompetente é quem não compete. Portanto é muito importante esta preparação para a competição na vida. Dentro deste critério existe uma enorme discussão, mesmo dentro da nossa Comissão, a respeito do nacionalismo, e aqui no Brasil temos um ponto de vista em que se confunde nacionalismo de fins do que é o verdadeiro nacionalismo, onde temos um fim nacionalista com o nacionalismo de meios, sem se importar se esses meios são ou não competentes. Porque se temos meios incompetentes quem acaba pagando por isso é a própria Nação, pois no final das contas tudo recai sobre o consumidor ou sobre o próprio contribuinte. Portanto, o primeiro conceito que gostaríamos de ouvir de V. S.ª seria exatamente este do nacionalismo de meios que hoje se tem praticamente embasado à maioria das propostas de reserva de mercado, onde única e exclusivamente se busca proteger a empresa nacional, sem se levar em conta qual é a contrapartida ou a opinião de quem vai pagar por este custo? O segundo ponto até V. S.ª já bem o colocou, que a proteção que V. S.ª prega é uma proteção por período limitado, que é o do tempo exato de o setor nascer para depois se tornar um setor competente. E a melhor forma de se aferir competência é a hora em que a empresa pode competir no exterior. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): — V. Ex.ª esgotou seus 3 minutos. O SR. CONSTITUINTE AFIF DOMINGOS: — Foi tão rápido. Então, eu gostaria de, esgotando este período que me foi concedido, saber a opinião do ilustre Conferencista a respeito da joint venture, como forma de associação entre o capital nacional e o estrangeiro para assimilar tecnologia, principalmente a de ponta. E, por fim, que V. S.ª nos fizesse um relato sobre remessa de juros e remessa de lucros, pois afinal de contas nos parece que essa enorme distorção a respeito da remessa de juros foi gerada por uma política oficial que muito mais privilegiou a remessa de juros para punir a remessa de lucros. Praticamente a política oficial induziu o País a se endividar. Eu gostaria de seu ponto de vista a respeito desses aspectos. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: — O Presidente Delfim Netto disse bem, meu caro amigo Constituinte Afif Domingos, S. Ex.ª pediu uma conferência, não pediu respostas aqui. De qualquer maneira, completando acho que a sua pergunta foi muito feliz, porque acho que posso completar ainda melhor a pergunta do Constituinte Gil César, citando exatamente o caso do Dr. Jorge Gerdau; – seu pai foi nascido na Alemanha, não foi? E os Senhores estão vendo que o pai dele era alemão, e está aí a firma Gerdau, dando uma contribuição inestimável, dentro do campo da siderurgia privada nacional. O SR. JORGE GERDAU: – Queria dizer apenas que a Gerdau nasceu por parte da minha mãe. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Mas não tem importância, melhor ainda. Estou citando uma coisa e agradeço ao Senhor porque, naturalmente, observe o seguinte: que mal há nisso? A primeira geração não era brasileira mas se transformou numa grande potência nacional. Meu avô era português, começou em 1905 como sapateiro em Sorocaba. Que mal há nisso? Não há mal algum nesse negócio. Acho que se não dermos um crédito àqueles que queiram vir aqui trabalhar em beneficio desta Nação, jamais sairemos desse buraco, vamos ficar aqui discutindo a vida inteira, teses sobre nacionalismo e não vamos chegar à conclusão alguma. Temos que ser um pouco liberais: dar uma chance àqueles que queiram trabalhar corretamente. E o Brasil sempre soube fazer isso; com habilidade e inteligência. Agora, meu caro Constituinte Afif Domingos, a sua segunda pergunta é sobre protecionismo? O SR. CONSTITUINTE AFIF DOMINGOS: – Exatamente. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Detesto protecionismo, porque sinceramente protecionismo é a maneira mais fácil de se caminhar para trás. A maneira de se provar competência é exatamente não proteger. Se se quiser educar mal um filho, proteja-o. Quer educar mal um filho? Protejao, dê excesso de proteção a seu filho e veja qual vai ser o resultado obtido em sua casa. O exemplo começa dentro de casa. E acho que isso é o suficiente a todos os Senhores, que são pais e àqueles que estão protegendo demais seus filhos, estão colhendo os resultados. E se não colheram hoje vão colher no dia de amanhã. Proteja em excesso o seu filho e veja o que vai acontecer. Qual o fruto que vai colher daqui a dez ou quinze anos? E a terceira pergunta é sobre joint venture. Sinceramente, sob esse aspecto não tenho nenhuma experiência e tenho até um certo receio sobre as joint venture, porque todas aquelas que nos foram apresentadas naturalmente nos levariam para um buraco. Porque, Constituinte Afif Domingos, com toda sinceridade também existe a chamada esperteza do mundo internacional. Então para se fazer uma joint venture tem que ter uma experiência brutal. E eu sinceramente recebi duas propostas de Joint venture no começo da minha vida: eu tinha apenas 5 anos de formado, e naquela ocasião recusei as duas: porque sinceramente se eu não tivesse recusado aquelas duas propostas hoje eu estaria liquidado. Não fiz por uma questão de prudência. Agora não posso deixar de recomendar. Acho que uma Joint venture com gente séria, com gente que se conheça, que quer vir para cá para ajudar, não vejo nada de mal nisso. Agora é necessário se precaver, no sentido de que amanhã não se torne apenas um sócio minoritário. Is to que é importante. Pode-se fazer, mas com cuidado, com precaução. Eu não fiz por inexperiência, mas tomei nota do que havia ali, e se o fizesse teria enveredado por um mau caminho. Agora, não posso dizer aos Senhores: deixem de fazer. Cada um tem que pensar com sua própria cabeça. Mas tomem cuidado, porque geral- mente a firma lá fora é mais forte do que nós aqui dentro. Então, essa é a única restrição que faço, é quanto à seriedade do negócio. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Lembro a V. S.ª que já esgotou os 3 minutos. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Muito obrigado. V. Ex.ª tirou-me de uma arapuca tremenda. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Renato Johnsson. O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Dr. Antônio Ermírio, ao cumprimentá-lo pela clareza da exposição, considero-o um homem feliz, V. S.ª vem batalhando por uma política industrial que ainda não obteve do Governo. Nós que somos do Paraná, também há algum tempo temos batalhado por uma política agrícola. O Paraná é um Estado com vocação agrícola; o País tem o maior solo agricultável do mundo; buscamos e achamos essencial uma política agrícola como é essencial também uma política econômica para dar segurança ao nosso empresariado, para nos seus investimentos não passarem de encargos de serviços de dívida de 3% para 23 ou 30% ao mês. Nós, Dr. Antônio Ermírio, comungamos do seu entendimento quando diz que há espaço para a indústria nacional, para a intervenção do Estado e também para a empresa estrangeira. O que nos falta efetivamente é uma definição, é uma decisão através de lei, através de uma política de governo que nos dê, efetivamente, este caminho e que estabeleça quais os campos, quais as limitações para a indústria nacional, para a intervenção do Estado e para a indústria estrangeira. O nosso trabalho aqui na Constituinte evidentemente é um trabalho que vai nos conduzir a princípios gerais, a uma Constituição que pelo menos – espero – seja uma Constituição sintética. E esse nosso trabalho irá continuar posteriormente na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Pertenço à Comissão de Economia da Câmara dos Deputados e, vou-lhe fazer um pedido no sentido da elaboração de uma sugestão de política industrial, o mesmo pedido tenho feito aos presidentes de cooperativas, aos empresários da área agrícola do Paraná, quando nos solicitam uma política industrial, é que nos ofereçam a sugestão de uma política agrícola. Como esse trabalho continuará posteriormente, o que estou pedindo é que ao mesmo tempo em que fazemos esse trabalho dos princípios gerais de uma Nova Constituição, que o empresariado brasileiro, que V. S.ª representa muito bem e com muito sucesso para a felicidade, acho, de todos nós brasileiros, que coordenasse ou comandasse um processo onde pudesse ser oferecido à Câmara dos Deputados, e eu farei esta solicitação na Comissão de Economia, no sentido de que no início do próximo ano ou no final deste ano tenhamos a sugestão de uma política industrial. Muito obrigado. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Muito obrigado, Constituinte. Fico agradecido pela sua sugestão, vou procurar trabalhar e espero não decepcioná-lo. Sinto na própria carne que o nosso ponto crucial é exatamente a falta de uma política industrial que defina claramente quais são os parâmetros. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) O SR. CONSTITUINTE RENATO JOHNSSON: – Não acreditamos que o Governo elabore uma política industrial. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – O Senhor falou sobre o Paraná, que é um Estado agrícola. O Paraná, podemos estar certos de que além de ser um grande Estado agrícola, é um dos Estados de maior futuro do Brasil. Até o final da década vamos ver o Paraná não só como uma potência agrícola mas como uma potência industrial, também. Tenho certeza do que afirmo, é só uma questão de tempo. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Luiz Salomão. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – Dr. Antônio Ermírio de Moraes, apesar de tudo, quero congratular-me com a lucidez das suas colocações, sobretudo, ao reconhecer a existência de espaço para convivência da empresa multinacional, da empresa nacional estatal e privada. Este é o ponto de vista que defendi nos trabalhos desta Subcomissão, com o adendo de que, deve constituir um objetivo da ordem econômica a ser estruturada por esta Constituinte, o fortalecimento da empresa nacional. Para tanto me parece necessário definir, com clareza, a nível da Constituição, o que seja a empresa nacional, para evitar que a IBM do Brasil seja nacional, só porque é do Brasil. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Mas essa já é a do Brasil, quer dizer que ela deve ter uma matriz lá fora. Então ela não é nacional; ela tem uma ligação no exterior. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – A definição que propus foi considerada polêmica pelo Constituinte Joaquim Bevilácqua, e é inteiramente compatível com a formulação que V. S.ª aqui formulou no sentido de que um estrangeiro residente no País, agindo no sentido de desenvolver o nosso País, está perfeitamente enquadrado nessa definição. O que se tomou polêmico na discussão não foi a questão do controle decisório, do controle tecnológico mas sim a participação do capital, não no sentido de discriminar a empresa estrangeira, mas no sentido de definir, com clareza, o que é a empresa nacional. E, nesse sentido, achamos oportuno resgatar a definição contida na Lei nº 7.232, que é a Lei Nacional de Informática, que permite que a empresa estrangeira participe com 30% do capital estrangeiro, que é de até 30% do capital não votante de qualquer sociedade que invista na área de Informática. E é essa definição que gostaríamos de preservar a nível da Constituição. Então eu gostaria de conhecer o ponto de vista de V. S.ª sobre a aplicação do conceito de empresa nacional, no sentido de tomar privativa a atividade mineradora das empresas nacionais dentro desse conceito, tendo em vista que a presença do capital multinacional através das sociedades organizadas do País, prevista no Código de Mineração e na Constituição, tem distorcido todo esse processo de concessão do alvará de pesquisa de lavra, permitindo que o capital estrangeiro sente em cima das nossas jazidas e não produz o conhecimento geológico de que precisamos. V. S.ª que é um minerador além de ser dirigente de um grande pólo industrial, certamente deve ter uma opinião sobre este assunto. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Nobre Constituinte, Luiz Salomão, muito obrigado pela sua pergunta. Eu disse, em rápidas pinceladas, que o nosso Código de Minas era bom, mas precisava ser executado, e muitos fatores que naturalmente chamam atenção no Código de Minas é exatamente a concessão daqueles que podem ter o decreto de lavra que seria uma firma constituída no Brasil. Isto não significa que seja uma empresa nacional. Então sob este aspecto é uma falha que existe ali. Agora, até que ponto devemos não permitir? O que temos de fazer é uma fiscalização mais eficiente. Há firmas, por exemplo, estrangeiras, que têm lavras imensas aqui no Brasil e que jamais mineraram, em tempo algum. Estão sentadas nessas lavras há 10, 15 anos e nada ocorre. Em Niquelândia estávamos sentados na lavra de níquel – não vou dizer o contrário – tínhamos 3 projetos a fazer: importávamos 100 milhões de dólares de alumínio naquele tempo, por ano, 30 milhões de dólares de zinco, e 1 milhão de dólares em níquel. Evidentemente o níquel teve que ficar por último. É lógico que não iríamos começar com o níquel para deixar o alumínio em último lugar! Não havia solução. Mas o pessoal de Goiás tinha razão, porque nos pressionaram na Votorantim para que industrializássemos o níquel. No entanto, uma multinacional aqui, a 150km de Brasília, tem a maior reserva de níquel do Brasil e ninguém fala nada. Estão sentados há 15 anos e nunca se fez coisa alguma e não se vai fazer. E se amanhã eu for procurado pelo Ministro das Minas e Energia e S. Ex.ª me disser: "Olha, eles gastaram 6 milhões de dólares no projeto de pesquisa. Se o Senhor quiser pegar os 6 milhões de dólares a pesquisa é sua". Eu digo: Acho que isso é uma injustiça, porque chama-se capital de risco. Se amanhã eu pedir um decreto de pesquisa, fizer a minha pesquisa e gastar 10 milhões de dólares, o Governo não deve nem um único centavo. Porque se o meu capital de risco não deu certo, paciência, eu perdi. Agora dizer que passa por 6 milhões de dólares, isso é chantagem, isso há 10 anos, não é hoje. Outras, por exemplo, negociaram a sua lavra que foi dada a um grande capitão da indústria multinacional que foi intitulado como o homem salvador do Brasil, ele veio para cá; quando a coisa apertou ele vendeu sua lavra para outro grupo multinacional. Esse contrato foi celebrado em Nova Iorque, mais precisamente Pittsburgo, trabalhou com Nova Iorque, e o contrato dizia o seguinte: "Nós pagamos o valor do minério a – não me lembro mais se eram dois dólares e meio a tonelada" – no dia em que extrairmos, minerarmos e beneficiarmos o minério. Até hoje não se exauriu uma única grama de minério naquela região. E pergunto ao Senhor: o antigo dono dessas lavras não recebeu diretamente o seu lá fora? É evidente que recebeu lá fora. E quem ficou prejudicado nessa operação foi o Brasil. Então são operações que realmente distorcem mais na empresa multinacional do que no Brasil. Então eu não diria que é proibido minerar – eu não vou por aí – diria que é preciso haver fiscalização para que essas distorções não ocorram. Porque é realmente um conto do vigário, faz-se uma operação Pittsburgo-Nova Iorque e o Governo brasileiro fica a 120 ver navios. É uma das maiores reservas de um determinado minério lá no Norte do Brasil, e o governo brasileiro não vê um centavo sequer. Essa operação foi feita lá fora. E tenho a cópia desse contrato. Vai ser pago no dia em que houver o beneficiamento do minério. E pergunto: alguém recebeu? O Governo brasileiro recebeu? O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Informo a V. S.ª que já se esgotaram os 3 minutos. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Espero ter esclarecido bem ao Senhor de que eu não iria para extremos, mas fiscalizaria com mais atenção. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SALOMÃO: – V. S.ª considera um extremo definir o que é empresa nacional? O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Não, absolutamente. Constituinte Luiz Salomão, o Senhor não entendeu. Quando me refiro a extremos é proibir que a empresa multinacional faça uma mineração. Mas ela tem que ser fiscalizada. Então temos que dar recursos materiais e morais ao DNPM, para que esse Departamento possa fiscalizar. Para que esse País não sirva apenas de um lugar onde se faça grandes negociatas das empresas multinacionais. Não tenho nada contra elas, mas elas têm que respeitar a Nação onde estão trabalhando. Mas não estão respeitando sob esse aspecto. Espero que o Senhor tenha entendido bem. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao último argüidor, o ilustre Constituinte Vladimir Palmeira. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – V. S.ª citou a parábola do filho protegido. Entendi evidentemente contra a proteção em excesso. Mas acho que no Brasil de hoje onde campeia a violência, não é preciso ser nenhum Amaral Netto para reconhecer que os filhos precisam de alguma proteção. Porque também se não os protegemos eles deixarão de ser filhos para serem ex-filhos ou cadáveres, mortos, esquecidos. Então é preciso dar garantias de que os filhos possam realmente enfrentar a vida. E o Senhor como um bom pai, procurou dar educação, procurou dar uma ética para os filhos, procurou explicar através de exemplo, e inclusive os alimentou. Por enquanto o Estado brasileiro faz muito, mas ainda não faz isso por nossos filhos. Então entendi que o Senhor disse: proteção em excesso é ruim. Um pouquinho de liberalismo não faz mal. Mas o ilustre Constituinte Afif Domingos deu um tremendo sorriso ali e deu-nos a entender que é bom o liberalismo em excesso. Eu queria saber se – estou de acordo com V. S.ª se disser que liberalismo em excesso é ruim. E um pouquinho de intervencionismo não faz mal. O SR. ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: – Aliás, acho que a minha exposição aqui – e os Senhores me perdoem – não tive a menor pretensão de fazer uma conferência; nós trocamos idéias, longe de mim achar que foi uma conferência. Mas acho que é preciso realmente um pouco de moderação em todos os setores. Sou um homem moderado por excelência. Acho que não devemos ir nem tanto para a direita nem tanto para a esquerda. Não é por covardia. Sendo 121 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) o Brasil um País viável, ele automaticamente é um País de centro. Se fossemos um satélite da Rússia, automaticamente o Senhor seria de esquerda, se fosse um satélite dos Estados Unidos seria de direita. Mas somos um País inteiramente viável. Só é uma questão de juízo dos seus próprios homens. O nosso povo é muito bom. O que está faltando no momento é que a nossa classe comandante – a classe que comanda possa realmente mostrar – e esta é a grande hora – o valor do poder civil da nossa Nação. Os Senhores têm esta enorme responsabilidade nas mãos agora. Tenho certeza de que o povo brasileiro não vai ficar decepcionado. Eu disse que excesso de proteção é ruim. Acho que a virtude está no meio-termo. Até excesso de otimismo é ruim. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Tendo sido citado nominalmente, concedo ao Constituinte Afif Domingos três minutos para se defender do seu sorriso. O SR. CONSTITUINTE AFIF DOMINGOS: – O nobre Constituinte Vladimir Palmeira fez uma citação sobre o excesso de liberalismo. Na verdade, quero lembrar dois pontos a respeito do excesso de protencionismo que gera a incompetência, e quem paga pela incompetência depois é o cidadão. Queria lembrar muito bem este princípio porque o cidadão normalmente não tem sido ouvido nas políticas protencionistas. Depois vamos comparar como se processou o sistema de preços dentro da proteção, exatamente da proteção, e no excesso de proteção que gerou a incompetência, e vemos hoje que a Nação está sendo chamada a pagar pela incompetência de quem não compete. O segundo ponto que gostaria de lembrar como exemplo ao nobre Constituinte, é que nos esportes, principalmente nas Olimpíadas, as medalhas de ouro que vieram para o Brasil são exatamente dos atletas que tiveram a oportunidade de competir com outras equipes fora. Esses trouxeram para nós a medalha. Foi a oportunidade da competição. Aqueles que ficaram só nos campeonatos brasileiros, eles se tornam os gênios e os maiores do mundo aqui, mas na hora que daqui saem para competir, acabam fracassando. Portanto, a política de proteção é muito importante? Sim, mas antes de mais nada proteger no início para que ela cresça e se tome competente. E a melhor medida de competência é exatamente no mercado internacional. O SR. CONSTITUINTE VLADIMIR PALMEIRA: – Sr. Presidente, tenho direito à réplica. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Infelizmente, não. Não há réplica, de acordo com o Regimento. Queremos agradecer ao ilustre Dr. Antônio Ermírio de Moraes a brilhante palestra que nos proporcionou e dizer-lhe que ficamos muito felizes em tê-lo aqui conosco. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Sr. Presidente, pela ordem. Gostaria de fazer uma observação. Pedir a V. Ex.ª, que antes de encerrar a lista de perguntas, que avisasse aos Srs. Constituintes, por que fui tolhido de fazer uma pergunta ao nobre conferencista. Então, gostaria de ter esta oportunidade que infelizmente não me foi dada. Gostaria que V. Ex.ª na Presidência anunciasse “eu vou encerrar a lista de inscrição aqui, dos oradores ou dos perguntadores etc”. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Normalmente podemos inscrever quatro ou cinco oradores no máximo. De forma que são os quatro ou cinco primeiros. Mas informo a V. Ex.ª que na segunda arqüição têm preferência aqueles que não argüiram na primeira. Convido o ilustre Dr. George Fisher para que faça a sua exposição. V. S.ª dispõe de quinze minutos. O SR. GEORGE FISHER: – Exmos. Srs. membros da Subcomissão de Princípios Gerais, é com imensa satisfação e profundamente honrado que venho prestar esta minha modesta contribuição aos trabalhos desenvolvidos por esta Subcomissão. A igualdade perante a lei é princípio constitucional cujo âmbito de aplicação no tocante às pessoas jurídicas, é de aplicação restrita. Há quem entenda, inclusive que a igualdade perante a lei é garantia constitucional dirigida exclusivamente às pessoas naturais. lnexiste na Carta Magna vigente qualquer disposição semelhante àquela do artigo 19, alínea 3, da Constituição da República Federal da Alemanha, que estende o âmbito de proteção dos direitos fundamentais às pessoas jurídicas. A determinação da nacionalidade das pessoas jurídicas tem provocado longos e intermináveis debates entre os juristas dos países cultos. Na prática, os principais critérios utilizados são os do local da constituição ou incorporação, o da sede social estatutária, ou da sede social efetiva e o do controle através das nacionalidades dos sócios ou dirigentes. Critérios ecléticos que mesclam mais de um requisito também podem ser encontrados. Em linhas gerais, poder-se-ia afirmar que em tempos de guerra o legislador e os tribunais inclinam-se para realidade do controle. Em tempos de paz prepondera o critério da sede social. Em verdade, a preocupação com a nacionalidade do controle surgiu na França em função da Primeira Grande Guerra quando se temia pelos efeitos nefastos da influência do inimigo estrangeiro no âmbito interno, atuando atráves do disfarce do véu corporativo. No Brasil, “são nacionais as sociedades organizadas na conformidade da lei brasileira e que têm no País a sede de sua administração”. Em certos casos, no entanto, a lei poderá exigir que todos os acionistas ou certo número deles sejam brasileiros (art. 60 do Decreto-Lei nº 2.627, de 1940, mantido em vigor pela Lei n° 6.404 de 1976 – art. 300). E como o rol das atividades sujeitas a controle oficial no País é bastante extenso, exigindo-se para o exercício de cada uma delas o preenchimento de requisitos inscritos em um emaranhado de diplomas legais, o observador que quiser buscar uma definição de empresa nacional, ver-se-á confrontado com um panorama desconcertante e caótico. Isto porque, uma sociedade poderá ser considerada brasileira, para o efeito de se lhe aplicar as normas da legislação societária e, ao mesmo tempo, não ser considerada nacional, para o efeito de uso e gozo de diretos decorrentes de leis especiais. Não devemos olvidar, no entanto, que acima de qualquer disposição contida na legislação ordinária, existe o princípio constitucional da liberdade da iniciativa (C. F. art. 60,I), embora com algumas exceções previstas no próprio texto da Lei Maior (empresas jornalísticas, navegação de cabotagem, etc.) Trata-sede uma garantia jurídica, ao nível constitucional, no sentido de que a liberdade de iniciativa não pode ser legalmente negada ou destruída. Assim sendo, quer nos parecer que, em circunstâncias específicas, quando o Congresso Nacional houver por bem privilegiar esta ou aquela atividade empresarial, por algumas razões de política econômica, poderá através de leis especiais, instituir vantagens de ordem financeira e incentivos de natureza fiscal para empresas que preencham requisitos especiais. Não poderá, no entanto, proibir que outras empresas brasileiras em conformidade com legislação societária, exerçam estas atividades, embora em condições de desfavorecimento. Pretendo dedicar o restante de minha exposição a apenas uma dessas leis especiais – a que ultimamente vem causando maiores conflitos e celeuma: a Lei de Informática (Lei nº 7.232, de 1984). Quem sabe possamos induzir, a partir deste exemplo, uma lição maior. A Política Nacional de Informática tem como objetivo a capacitação tecnológica nacional numa área que é, justificadamente, tida como estrategicamente relevante para o desenvolvimento econômico e independência política do País. Para tanto, houve por bem o legislador pátrio instituir mecanismos de estímulo e proteção às empresas nacionais de informática. Assim, a Lei nº 7.232, de 29 de outubro de 1984, que dispõe sobre a Política Nacional de Informática, prevê uma série de incentivos de natureza fiscal às empresas nacionais e obriga a Administração Pública Federal e demais entidades sob o controle, direto ou indireto, da União a dar-lhes preferência nas aquisições de bens e serviços de informática. Por outro lado, a lei estabelece (ou determina que o Poder Executivo estabelecerá) restrições à produção, operação, comercialização, importação e participação do capital estrangeiro nas atividades de informática. É este último mecanismo, a chamada reserva de mercado, que tem despertado maior controvérsia. A Lei n° 7.232/84, define empresa nacional como aquela constituída e com sede no País e cujo controle esteja, em caráter permanente, exclusivo e incondicional, sob a titularidade, direta ou indireta, de pessoas físicas residentes e domiciliadas no País, ou entidades de direito público interno. O conceito de controle adotado pela lei é tríplice, decisório, tecnológico e de capital. Por controle decisório entende-se o exercício, de direito e de fato, do poder de eleger administradores da sociedade e dirigir o funcionamento dos órgãos da empresa. Por controle tecnológico entende-se o exercício, de direito e de fato, do poder para desenvolver, gerar, adquirir, transferir e variar de tecnologia de produto e processo de produção. DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Por controle de capital entende-se a detenção direta ou indireta, da totalidade do capital, com direito efetivo ou potencial de voto e de, no mínimo, 70% do capital social. Ou seja, mantido o controle decisório e tecnológico, a lei permite que residentes e domiciliados no exterior detenham até 30% do capital não votante de uma empresa nacional (na sociedade anônima aberta esta participação pode alcançar até um terço das ações votantes). Vê-se, pois, que a Lei de Informática adotou um conceito de empresa nacional centrado tanto no critério da sede social como aquele do domicílio dos controladores, limitando a participação capitalística do acionista não-nacional a trinta por cento do capital. A Lei de Informática estabelece, ademais, que em determinadas circunstâncias associações em desconformidades com as regras acima expostas poderão ser admitidas, à critério do CONIN (Conselho Nacional de Informática e Automação). A Lei de Informática não é, portanto, tão draconiana como poderia parecer à primeira vista. Na minha experiência, tenho assistido inúmeras reclamações por parte de empresas estrangeiras no tocante à Lei de Informática. A grande verdade, no entanto, é que a maior parte destas empresas, ainda que relutantemente, associar-se-ia com o capital nacional, nos exatos limites da lei, se isto lhes fosse facultado. Desnecessário dizer, que este aporte de capital estrangeiro de risco seria benvindo na atual conjuntura econômica. Isto sem falar dos reflexos benéficos que o ingresso de tecnologia de ponta traria no aperfeiçoamento e competitividade do parque produtivo nacional. Ademais, é natural que o empresário nacional busque, ao associar-se com o capital estrangeiro, acima de tudo, um parceiro detentor de tecnologia de ponta. Em verdade, na chamada joint venture tecnológica é a tecnologia e não o capital a causa motriz da associação. O que o empresário nacional almeja, neste tipo de empreendimento, é galgar um novo patamar tecnológico, valendo-se do conhecimento, da metodologia de trabalho, da experiência, do prestígio e da eventual rede de distribuição internacional de seu parceiro. Sucede, no entanto, que a SEI (Secretaria Especial de Informática) tem, repetidamente, exteriorizado o entendimento de que o parceiro “não nacional”, detentor na sociedade fechada de, no máximo, 30% do capital não votante estaria impedido de, concomitantemente, fornecer tecnologia para a empresa resultante da joint venture. Isto porque, no entender daquela Secretaria, tal fornecimento descaracterizaria o controle tecnológico da empresa nacional. Esta interpretação da lei tem provocado, nos meios empresariais, tanto amargas críticas como esfuziantes aplausos. De um lado, temos os empresários nacionais usuários de bens e serviços de informática, que temem que a vedação das joint ventures tecnológicas conduzirá o País a uma crescente perda de competitividade no plano internacional. Recentemente, inclusive, a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) encaminhou ao Presidente da República um documento no qual, dentre outras matérias, manifestava sua oposição à interpretação que a SEI vem dando à lei no tocante a joint venture tecnológica. Inúmeros empresários fabricantes de equipamentos, produtores de programas e sistemas de computador e prestadores de serviços de informática, desejosos de associar-se ao capital (e principalmente à tecnologia) estrangeiro, endossam estas críticas. Há aqueles, no entanto, que alegam que se o Estado deixar de tutelar a incipiente indústria de informática nacional, esta será incapaz de sobreviver no regime da livre competição. E só aquelas empresas nacionais que se associarem com a tecnologia alienígena sobreviverão. Recentemente, a Assespro (Associação das Empresas de Serviços de Informática) encaminhou representação ao CONIN conclamando aquele órgão colegiado a proclamar a vedação da joint venture tecnológica. Vê-se, pois, que o dissenso interno é significativo, até porque se prevalecer o entendimento de que as joint ventures tecnológicas estão vedadas, as associações entre capital estrangeiro e nacional estarão, na prática, inviabilizadas. Urge, pois, definir na nova Carta Magna o modelo econômico, aberto ou fechado, que regerá o futuro deste País. Pessoalmente, estou convencido que entre nações nem sempre há de se aceitar a vantagem comparativa como fator determinante da divisão do mercado. Impor tal concepção, sob o pretexto da maior eficiência do investimento realizado implica uma estratificação que nem sempre atende às legítimas aspirações políticas e econômicas da nação menos favorecida. Daí porque, no meu entender, justificam-se em áreas estrategicamente relevantes, não obstante a manutenção do modelo aberto, leis especiais de incentivos fiscais e financeiros àquelas empresas que preenchem os propósitos da Política de Estado, cujos objetivos têm horizontes de mais longo prazo que as relações individuais. Creio, igualmente, que estes objetivos devem ser alcançados sem restringir além das hipóteses previstas na nova Carta Magna, a liberdade de iniciativa – princípio que a nova Carta deveria erigir em garantia intocável e inderrogável, revestido de todas as características de um direito fundamental. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Muito obrigado a V. Sª. A palavra está com os Srs. Constituintes. (Pausa.) Creio que os Srs. Constituintes não têm nenhuma pergunta a fazer, de forma que gostaria de agradecer enormemente ao Sr. George Fisher exposição que nos fez e os esclarecimentos que nos deu. Muito obrigado. (Palmas.) Tenho a satisfação de convidar o Dr. Jorge Gerdau para fazer a sua exposição. O SR. JORGE GERDAU: – Sr. Presidente, Srs. Constituintes, primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de poder nesta reunião apresentar algumas idéias e humildemente tentar contribuir para a elaboração dos trabalhos, principalmente nessa área tão importante para o desenvolvimento econômico do País. Em relação ao que já foi posto, gostaria de fazer, primeiramente, alguns posicionamentos sob o aspecto do capital estrangeiro, que realmente em termos pragmáticos é que tem sido o grande debate de como 122 o País deve buscar ou não essa poupança internacional. E diria mais, em vez de analisarmos apenas o aspecto no sentido da política industrial, devemos analísar a política de desenvolvimento. Temos que reconhecer que a necessidade ou não da poupança internacional é que define no fim, dentro de uma visão pragmática, como vamos regular a participação da poupança internacional, dos capitais estrangeiros. Aí temos que olhar pragmaticamente um pouco o processo histórico do Brasil de que realmente na estatística da formação da poupança nacional, o capital estrangeiro tem sido um elemento decisivo na formação desses recursos. Essa variante tem sido entre 4% nos anos normais. Nos últimos anos caiu para zero, até por negativo. Mas o País vai gerar o seu desenvolvimento diretamente na proporção em que se gera essa poupança. Temos que reconhecer que dentro do quadro inflacionário em que temos vivido, a gestão maciça de recursos e da poupança nacional nas mãos do Estado nos tem levado a um sistema de poupança insuficiente dentro do País, internamente. Realmente, os capitais e a poupança geridos de forma ineficiente, não são geradores de novas poupanças e a não geração de novas poupanças é a definição de não geração de empregos ou da geração de desempregos. Olhando o quadro dentro desta visão pragmática, pessoalmente estou convicto de que não temos a curto prazo opção neste País. Com o atual crescimento demográfico, dentro de uma visão pragmática, não temos como deixar de contar com a participação da poupança internacional para o nosso desenvolvimento. A segunda etapa é analisar como conduzir essa poupança. É indiscutível que a discussão de receber sob a forma de empréstimos ou capital de risco, novamente se enquadra dentro de uma definição de uma política de desenvolvimento de forma global. Historicamente, e aí, talvez, o Antônio Ermírio mencionou o problema de capitais próprios, de converter as dívidas, mas a verdade é que fizemos durante muito tempo a política de não ter interesse que entrasse como capital próprio, porque as suas remessas tinham uma renumeração mais elevada do que as de capital de terceiros. Passamos anos e anos com juros negativos na economia internacional, ou seja, vinte anos com juros negativos e a inflação internacional era mais elevada do que o próprio juro. Conseqüentemente ter dívidas era um alto resultado e a política de buscar ou não capitais, no meu entender, de certo modo, tem que receber uma certa flexibilidade, para que o gerenciamento do País conduza à conversão de capital próprio, ou de capital de risco, ou sob a forma de empréstimo, que é uma operação gerencial ou financeira como qualquer empresa que na sua operação interna, também o faz, ou cada um de nós o fazemos individualmente. Existe época que é bom tomar dívidas e em outras não o é. O País tem esse mesmo quadro. De certo modo, o que sinto é que diante dessa perplexidade que tivemos, estamos, hoje, começando a tratar desse problema cada vez mais emocionalmente, em vez de tratálo racionalmente. Enquanto no quadro internacional as relações econômicas se estabelecem cada vez por sistemas mais racionais do que emocionais, deixando os fatores ideológicos de lado, conduzindo pragmaticamente para o resultado de geração de em- 123 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) prego e desenvolvimento, estamos vivendo um processo extremamente emocional na condução do nosso endividamento ou na condução de receber capitais estrangeiros. Então, no meu entender, o Brasil precisa receber capital estrangeiros. Não deixa de haver transferência tecnológica com toda vinda de capital estrangeiro, que é um fator estimulante à competição e à melhoria da produtividade empresário-nacional. Conseqüentemente, sou favorável a que se continue buscando políticas de estímulos à vinda de capitais internacionais. Penso que a política de desenvolvimento ou a industrial deve definir em que setores, porque existem alguns setores que deveremos cuidar para que não passem ao domínio total de capitais estrangeiros, mas dentro disso, no segundo ponto, vou mencionar um pouco como vejo essas políticas que, a meu ver, não precisam ser tanto no aspecto restritivo, mas se deve obedecer a políticas de estímulos. Sob o aspecto de joint-ventures, não tenho maiores preocupações. Penso que o empresário nacional mostrou capacidade. Pessoalmente, tenho uma vivência de dez anos de joint-ventures, o capital estrangeiro precisa de joint-ventures. Tive que entrar no fórum internacional, tive debates, mas no meu entender o empresário nacional capacitado enfrenta o capital internacional sem maiores dificuldades. O problema é de competência ou não competência. Diria até, houve épocas em que o Brasil realmente conquistou uma porção de maturidade, de credibilidade, de capacidade psicológica de se capacitar internacionalmente, Foi no período de Juscelino Kubitschek em que o Brasil se mostrou capacitado para negociar. No momento, provavelmente, pelo peso da vida intemacional que está entrando em conflito e debates a curto prazo porém, no meu entender o Brasil precisa continuar contando com o apoio e a participação do capital estrangeiro. Entendo ainda que deveríamos estimular principalmente a conversão da dívida em capital de risco e isso se ainda pudesse ser feito através dos instrumentos de bolsa seria melhor, porque teríamos a entrada de capitais sob a forma de risco nesse momento, mantendo-se o controle acionário sobre as empresas nacionais, assim que, dentro do esquema de ações preferenciais ou participando sob a forma minoritária. No meu entender, seria um instrumento inteligente para, nesse momento, reduzir a pressão de juros e converter os capitais, as dívidas estrangeiras em capital de risco. Com relação à reserva de mercado, no meu entender, o conceito de reserva de mercado, como quase todos esses problemas do País, tem recebido nesses últimos anos – e a própria lei da qual também participei dos debates, nesta Casa, foi assim estabelecida – talvez um quadro emocional. Entendo que na Constituinte devemos fazer um esforço para trabalhar com os espíritos realmente armados para buscar a solução mais inteligente. O problema da reserva de mercado especificamente, sistema e conceito global, mas indiscutivelmente na Lei da Informática é o de maior peso, e pessoalmente, como usuário, penso que o caminho mais importante não é analisar quem fabrica o equipamento, mas devemos estar preocupados com o uso. A definição do uso é que define a eficiência do País. A eficiência do País não é definida por quem fabrica o equipa- mento. Essa visão conceitual de olhar o mercado e não o usuário do mercado, beneficiário do mercado, é o ponto chave no meu processo de análise sobre o aspecto de como se deve ou não analisar um problema de reserva de mercado. Como segundo ponto, tenho que reconhecer que, quando a Lei da Informática foi estabelecida, eu estava preocupado que, provavelmente ela teria efeitos negativos maiores do que realmente teve. Penso que nesse primeiro estágio, primeira etapa, a Lei da Informática teve um funcionamento razoável. Pessoalmente imagino que os efeitos negativos foram menores nessa primeira etapa, no meu entender, e isso não quer dizer que as etapas futuras serão fáceis de vencer. Neste momento, gostaria de ainda de me referir a um ponto conceitual sobre o problema da Lei da Informática. Temos dois modos para fazer política de desenvolvimento. Temos o modo de desenvolvimento através de uma política industrial que obedece a estímulos e desestímulos, ou temos sistemas de ordens e de proibições. Esse conflito de definição, de trabalhar sob esses dois métodos, no meu entender obedece a uma conceituação ainda maior. Ou usamos sistemas abertos e democráticos, ou usamos sistemas autoritários. É importante na análise desse quadro estarmos realmente debatendo um conceito mais amplo, de políticas abertas de um País redemocratizado, e saber se queremos manter sistemas de ordens, de proibições ou se queremos usar instrumentos de desenvolvimento inteligentes e democráticos. as Acho importante, porque, se V. Ex. analisarem como foi estabelecido esse debate, V. Ex.as irão verificar que esse conceito básico, essa definição é decisiva na evolução do País. Se V. Ex.as analisarem todo o debate internacional que existe atualmente entre o maior intervencionismo ou não, irão verificar que se estabelecem planejamentos intervencionistas ou orientativos. No campo da atividade privada, onde se tem que disputar mercados, o planejamento não deve ser nunca intervencionista, e sim orientativo. Conseqüentemente, dentro desse problema de reserva de mercado ou não, deveríamos obedecer mais uma vez a esse conceito. São conceitos que ajusto ao mercado ou são limitativos do mercado? Dentro desse processo, tenho que afirmar com clareza que reconheço, indiscutivelmente, que toda indústria nascente no Brasil precisa de leis de proteção e de estímulos. Um país não industrializado não pode crescer sem que haja políticas de apoio ao desenvolvimento. Toda a nossa indústria foi desenvolvida nessas etapas, mas o problema é como fazê-lo. Praticamente, todo processo industrial do Brasil não foi feito na base de reserva de mercado e temos tido bons resultados. Se analisarmos, quando nasceu a indústria automobilística, um automóvel custava vinte mil dólares. Hoje custa três mil e quinhentos dólares e mais os 2/3 de impostos que pagamos que leva o automóvel de menor preço a dez mil dólares. A realidade é que hoje conseguimos exportar produtos a 3.500 dólares, quando a indústria automobilística nasceu com um preço de 20.000 dólares e, realmente, num regime de competição. O que quer dizer esse instrumental que deve ser usado? São direitos aduaneiros, financiamentos e capitalização da empresa nacional, financiamento ao consumo de produtos nacionais. Se olharmos a política dos países que tiveram conflitos seme- lhantes, temos hoje claramente definições de países como a França e a Inglaterra que definiram que no campo da informática, para conseguir atualização, somente o regime de mercado selvagem. A palavra usada é selvagem, o que nos levou a condições competitivas. É importante reconhecer isso, porque enquanto vivemos num processo de como vencer essas etapas, o mundo está correndo num processo extremamente acelerado. Realmente, é preciso estabelecer muito mais regras de mercado e regras globais do que mecanismos de proteção. Gostaria ainda de mencionar que a tecnologia mais cara é aquela que não se usa. O grande conflito é quando um país não consegue utilizar a tecnologia disponível no mundo. O atraso dos países não se dá quando compram ou negociam tecnologia. Nenhum empresário brasileiro vai comprar inutilmente tecnologia ou pagá-la caro. O importante é fazer com que haja mecanismos de estímulos, para que acelerem os processos de tecnologia, a fim de conseguir os produtos mais econômicos e esses gerem mais empregos, mais desenvolvimento, mais impostos. Não existe outro mecanismo de desenvolvimento. A solução é buscar instrumentos de desenvolvimento tecnológico para acelerar o consumo em todas as áreas. É importante o mecanismo se orientar mais nessa linha. Ainda dentro desse estágio do desenvolvimento, menciono que a tutela do Estado sobre o empresário é uma tutela que no meu entender, pode diminuir. Penso que o empresariado nacional atingiu a maioridade. É como a dependência entre pai e filho, que pode diminuir. Devemos, cada vez mais, tentar sair das decisões emocionais para buscar, dentro do cenário internacional, as decisões racionais. Muito obrigado a V. Ex.as. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao ilustre Constituinte Ismael Wanderley. O SR. CONSTITUINTE ISMAEL WANDERLEY: – Gostaria de saber a opinião de V. Sª sobre o problema da remessa de juros, dividendos, royalties pagamentos de assistência técnica, modificações e outras modalidades definidas em lei e ainda se V. Sª acha conveniente a divulgação pelas empresas das importâncias transferidas em cada caso. O SR. JORGE GERDAU: – O posicionamento sobre esse ponto é muito complexo, porque, quando se trata da nossa, da sua, da minha poupança, não aceito que ela não seja respeitada. Agora, quando se trata da poupança de terceiros, muitas vezes, admito que ela não seja respeitada. Isso é um conflito que temos que colocar com toda a realidade. Defrontamo-nos, hoje, como uma tendência de desrespeitar a poupança de terceiros e lutamos por um respeito à nossa. Dentro de uma racionalidade, temos que partir de princípios lógicos de que não cabe desrespeitar poupanças de terceiros. Fazendo-o, corro o risco de desrespeitar a nossa poupança. Dentro do processo de remessas ou não, diria que dentro do quadro de royalties tenho posicionamento bastante crítico. Penso que o capital estrangeiro que participa do privilégio do mercado nacional, provavelmente não há necessidade de transferência de royalties. Vou mais longe. Quem DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) tem privilégio de pegar uma fatia desse mercado nacional, hoje, quando souber crescer com esse mercado, coisas que estou vivendo, processo que qualquer empresário que tem o privilégio de entrar nesse mercado e por ele lutar e com ele crescer, não deveria ter condições de royalties e talvez, até, deveria entrar num clube privilegiado e até pagar uma entrada para participar desse mercado. Tenho esse posicionamento. Quanto à remessa de juros, tenho um posicionamento muito claro de que eu tenho que respeitar a poupança internacional. Penso que no processo de investimentos feitos, o Governo não deveria dar aval a ninguém, nem mesmo aos seus projetos das estatais. Conseqüentemente, o banqueiro internacional ao tomar o risco de um projeto, tem que analisá-lo e não tomar risco. Fiz os meus investimentos internacionais sem receber um aval, nem do Tesouro. Então, tenho tomado investimentos com o BNDES para não dar quatro vezes a garantia sobre o mesmo valor. Tomo no mercado dentro do risco, porque é realmente preciso dentro do quadro internacional trabalhar dentro de regras internacionais. No Brasil aconteceram projetos bons e ruins. Hoje, o banqueiro internacional tenta obter as remessas de juros sobre riscos de bancos como o Auxiliar e outros casos que penso que o banqueiro não pode receber o mesmo benefício de quando se emprestou a um Bradesco. Ele tem que participar desse risco. Há uma tendência dentro dessa confusão de Banco Central e estatização do risco do crédito, que é a de querermos tratar todos os endividamentos do Brasil de uma única forma. Vou mais longe: se eu analisar um projeto como o da Açominas, feito com supplier’s credit de cinco anos, esse crédito já foi feito para não receber. Uma coisa dessas leva quatro anos se for bem gerenciada para construir e deveria levar vinte anos para amortizar. Quem tomou o dinheiro com cinco anos de supplier’s credit, já sabe que daquele projeto não vai obter o dinheiro, feito na base do aval, O Governo não deve tornar avais para projetos dessa natureza. Os projetos têm que ter um conteúdo empresarial ou merece dinheiro ou não merece. Tenho um posicionamento claro. Vejo nesse processo que dentro da realidade nacional temos que negociar com os capitais, com os banqueiros intemacional dentro de uma visão pragmática, porque temos todas as condições de pertencer a um mundo desenvolvido. Quem rompe e desrespeita a poupança internacional, imediatamente, passa a ser um país não desenvolvido. Sem poupança não se faz desenvolvimento. Um operário com a enxada trabalha tantos metros quadrados e com o trator tantos hectares. A diferença é poupança. Colocando-a na mão do homem, ele produz e sem ela não faz nada. Precisamos, no meu entender de poupança internacional como forma de gerar desenvolvimento. O SR. PRESIDENTE (Delfim Netto): – Concedo a palavra ao nobre Constituinte Gabriel Guerreiro. O SR. CONSTITUINTE GABRIEL GUERREIRO: – Nobre Conferencista o Dr. Antonio Ermírio de Moraes que nos brindou com a sua exposição anteriormente, colocou uma séria dúvida com relação à associação com capitais internacionais. V. Sª vem, aqui apontado como um dos homens que fez esse tipo de negociação com capitais in- ternacionais, com associações etc. O Dr. Ermírio ponderou que normalmente essas associações são feitas com sócios mais poderosos do que nós. Portanto, é preciso ter muito cuidado ao fazermos esse tipo de negociação. Pergunto a V. Sª como fazer o controle do Estado, da sociedade sobre esse tipo de associação, sem conhecer os contratos feitos internamente pelas empresas? Penso que esses contratos deveriam passar por uma abertura,