Aluno: Washington Soares Ferreira Junior Nível: Mestrado Ingresso no curso: Fevereiro/2009 Área de concentração: Florística e Sistemática Linha de Pesquisa: Etnobotânica e Botânica Aplicada Orientador: Ulysses Paulino de Albuquerque A extração de cascas do caule para uso medicinal como antiinflamatório segue as predições do modelo de redundância utilitária? 1. Introdução Este trabalho utiliza o modelo de redundância utilitária desenvolvido por Albuquerque & Oliveira (2007) como base de investigação. Este modelo parte do conceito de redundância ecológica (Walker 1992) e tem o objetivo de investigar os padrões de uso de plantas por populações locais. O modelo assume duas situações. A primeira indica que em uma categoria utilitária que possui um grande número de espécies, denominada de categoria redundante, a pressão de coleta é compartilhada entre as espécies, o que poderia diminuir a pressão entre as plantas individualmente. A segunda situação mostra que em uma categoria redundante, a presença de espécies preferidas para uma população pode estar deslocando a pressão de uso para estas espécies. Este modelo foi construído em um cenário teórico e carece de investigações que possam validar as situações propostas. Assim, na busca de testar as predições do modelo, este trabalho investiga se há de fato um deslocamento da pressão de uso para espécies denominadas como preferidas. Para isso, estudou-se as preferências de plantas nativas para o tratamento de inflamações, uma vez que várias evidências mostram que plantas nativas da caatinga são preferidas para uso, e que a categoria inflamação é uma das mais importantes para várias comunidades locais da caatinga (Albuquerque et al. 2007). Nesse sentido, partiuse à seguinte pergunta: As plantas preferidas como antiinflamatórias sofrem maior pressão de uso? Adicionalmente, este trabalho busca explicar os critérios utilizados pela população para indicar plantas para uso antiinflamatório, a partir de uma exploração de modelos etnomédicos. Investigações anteriores sugerem que compostos bioativos de plantas, principalmente taninos, podem estar envolvidos na utilização de plantas para o uso antiinflamatório (ver Araújo et al. 2008). Desse modo, surgiu um outro questionamento: O teor de taninos pode ser um fator de seleção na escolha das espécies preferidas pela população local? 2. Materiais e métodos O trabalho foi realizado na comunidade do Carão, formada por 189 habitantes, dos quais 112 são maiores que 18 anos (Araújo et al. 2008), localizada 16 km do centro do município de Altinho, Pernambuco. Para selecionar os informantes e as plantas para a pesquisa, partiu-se de um banco de dados do Laboratório de Etnobotânica Aplicada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (LEA – UFRPE) construído por pesquisas anteriores realizadas na área de estudo (Alencar et al. 2010; Lins-neto et al. 2010). A partir deste banco, 48 informantes foram selecionados desde que tenham citado pelo menos uma condição inflamatória. Além disso, foram selecionadas 24 espécies nativas desde que tenham sido citadas como antiinflamatórias (Tabela 1). Foram consideradas como nativas para este estudo as plantas espontâneas e características do semi-árido nordestino, especialmente da caatinga (Albuquerque & Oliveira 2007). Tabela 1. Lista das espécies nativas citadas como antiinflamatórias na comunidade do “Carão”, selecionadas para o estudo, com seus respectivos nomes populares. Com os informantes selecionados, foram realizadas entrevistas sobre a utilização das plantas selecionadas como antiinflamatórias, para a identificação das espécies preferidas e não-preferidas. Para isso, os informantes realizaram ordenamentos das plantas de acordo com a sua preferência para o tratamento de inflamações, perguntando-se os critérios utilizados para o ordenamento. Uma análise de saliência foi utilizada para encontrar as espécies preferidas para os informantes, sendo realizada com o auxílio do programa AnthroPac 4.0 (Borgatti & Natick 1996). Além disso, uma análise de componentes principais (PCA) foi realizada para identificar os principais critérios utilizados para indicar preferências, por meio do programa MVSP 3.1 (Kovach 1999). Preferência aqui é entendida como a escolha consciente de uma planta em relação a outras igualmente disponíveis (Albuquerque et al. 2005). Os tipos de inflamação indicados pelos informantes foram organizados em sistemas corporais a partir da classificação internacional de doenças (WHO 2007). Foram também realizadas medições das áreas de casca disponível e casca coletada de indivíduos de espécies preferidas e menos preferidas em três áreas selecionadas por meio de saídas de campo com dois especialistas locais, reconhecidos pela comunidade como conhecedores das áreas de vegetação. Nestas áreas, indivíduos de espécies mais preferidas e de espécies menos preferidas foram marcados, georreferenciados, medidos quanto à área de casca coletada (se possuir) e de casca disponível. Para diminuir o efeito de que as cascas coletadas tenham sido utilizadas para outras finalidades, as espécies foram selecionadas com o critério de que suas cascas sejam principalmente utilizadas para o tratamento de inflamações. Estas informações foram obtidas por meio do banco de dados construído por pesquisas anteriores realizadas na área. Nestas áreas, também estão sendo coletadas 30 gramas de cascas de três indivíduos de cada espécie preferida e menos preferida, selecionadas também a partir do mesmo critério, com as cascas sendo utilizadas principalmente para o tratamento de inflamações. Estas cascas estão sendo enviadas para o Laboratório de Produtos Naturais (LAPRONAT – UFPE) para a obtenção da dosagem de taninos. 3. Resultados parciais Na categoria inflamação, foram encontradas 36 subcategorias ou condições inflamatórias, sendo que a maioria esteve associada a desordens nos sistemas geniturinário (8 condições), digestivo (7) e respiratório (4) (Figura 1). Das condições encontradas com o maior número de espécies, consideradas com um maior nível de redundância, destacam-se “inchação” (58,3% das espécies), “ferida” (54,2%) e “dente inflamado” (41,7%). Foram também encontradas condições que não apresentaram redundância, ou seja, sete condições inflamatórias representadas por apenas uma espécie cada. Por exemplo, a inflamação de “baço” foi indicada somente com a espécie Erythrina velutina. Com esse resultado, pode-se inferir que a categoria inflamação é um complexo composto por várias subcategorias, as quais algumas são redundantes e outras não o são. Esses resultados mostram um desafio para futuros estudos farmacológicos para a avaliação da atividade biológica de plantas com propriedades antiinflamatórias. Nesse sentido, ainda se pretende construir um modelo “etnobiomédico” das condições inflamatórias com sugestões de etiologia e mecanismos de ação das plantas estudadas. Figura 1. Distribuição das subcategorias inflamatórias em sistemas corporais baseados na classificação internacional de doenças (WHO 2007), na comunidade do Carão, Altinho, Pernambuco. Foram obtidos cerca de 300 ordenamentos construídos pelos informantes e 18 critérios para preferência. As plantas com maiores índices de saliência (mais preferidas) foram: Myracrodruon urundeuva (0,475), Sideroxylon obtusifolium (0,13), Mimosa tenuiflora (0,127) e Amburana cearensis (0,121). De forma contrária, Crataeva trapia (0,005), Capparis jacobinae (0,004) e Rhamnidium molle (0,001) foram as plantas que apresentaram menores valores de saliência, sendo menos preferidas. Na análise de coordenadas principais (PCA), formaram-se dois grupos de plantas, sendo que M. urundeuva se destacou fortemente dos dois grupos formados (Figura 2). O primeiro grupo engloba as espécies que foram consideradas como mais eficientes no tratamento. Estas foram S. obtusifolium, M. tenuiflora, Maytenus rigida, Anadenanthera colubrina, Jatropha mollissima e Caesalpinia ferrea. As plantas presentes neste grupo também apresentaram outros critérios para preferência, mas com um menor número de citações. Figura 2. Projeção das espécies de acordo com a preferência para cada critério de seleção. Mostra-se o Grupo I localizado no quadrante inferior direito e o Grupo II localizado nos quadrantes superior e inferior esquerdos. A planta Myracrodruon urundeuva aparece deslocada na extremidade do quadrante superior direito. A “aroeira” se destacou na análise por apresentar um grande número de citações para muitos critérios de preferência, sendo que o principal foi a sua eficiência no tratamento de diversos tipos de inflamações, ou seja, a sua versatilidade dentro da categoria inflamação. O segundo grupo engloba as espécies que compartilharam poucas citações para os critérios de preferência, considerando que a maioria obteve duas ou menos citações para cada critério e, além disso, apresentaram poucos critérios. Por exemplo, a espécie Crataeva tapia apresentou unicamente o critério “mais fácil de encontrar”, com somente uma citação. Todas as plantas deste agrupamento, com exceção da espécie A. cearensis, apresentaram baixos valores de saliência, indicando serem as plantas menos preferidas para a comunidade. A partir desta análise, também se observa que somente sete espécies (primeiro grupo da PCA e “aroeira”) foram consideradas como as mais preferidas. O segundo agrupamento na análise, com as espécies menos preferidas, apresentou a maioria das plantas. Estes resultados mostram que a preferência parece ser muito específica, concentrando-se em um pequeno número de espécies do conjunto de espécies nativas disponíveis e, além disso, está basicamente relacionada com a efetividade terapêutica. Nas medições das áreas de casca disponível e casca coletada de indivíduos nas três áreas, foram selecionadas três espécies mais preferidas: A. colubrina, M. urundeuva e A. cearensis, com 121, 22 e 17 indivíduos marcados, respectivamente; e duas espécies menos preferidas: C. blanchetianus e C. leptophloeos, com 20 e 176 indivíduos, respectivamente. Estes dados já estão coletados, e serão submetidos à análise. 6. Referências Albuquerque, U. P.; Andrade, L. H. C.; Silva, A. C. O. 2005. Use of plant resources in a seasonal dry Forest (Northeastern Brazil). Acta Botanica Brasilica 19 (1): 2738. Albuquerque, U. P.; Oliveira, R. F. 2007. Is the use-impact on native caatinga species in Brazil reduced by the high species richness of medicinal plants? Journal of Ethnopharmacology 113, 156-170. Albuquerque, U. P.; Medeiros, P. M.; Almeida, A. L. S.; Monteiro, J. M.; Lins-Neto, E. M. F.; Melo, J. G.; Santos, J. P. 2007. Medicinal plants of the Caatinga (semiarid) vegetation of NE Brazil: a quantitative approach. Journal of Ethnopharmacology 114: 325-354. Alencar, N. L.; Araújo, T. A. S.; Amorim, E. L. C.; Albuquerque, U. P. 2010. The inclusion and selection of medicinal plants in traditional pharmacopoeias – Evidence in support of the diversification hypothesis. Economic Botany 64 (1): 68-79. Araújo, T. A. S.; Alencar, N. L.; Amorim, E. L. C.; Albuquerque, U. P. 2008. A new approach to study medicinal plants with tannins and flavonoids contents form the local knowledge. Journal of Ethnopharmacology 120: 72-80. Borgatti, S. P.; Natick, M. A. 1996. Anthropac 4.0. Analytic Technologies. Kovach, W. L. 1999. MVSP – A Multivariate Statistical Package for Windows, version 3.1. Kovach Computing Services, Wales, U.K. Lins Neto, E. M. F.; Peroni, N.; Albuquerque, U. P. 2010. Traditional knowledge and management of Umbu (Spondias tuberosa, Anacardiaceae): An endemic species from Semi-Arid region of Northeastern Brazil. Economic Botany 64: 11-21. Walker, B. H. 1992. Biodiversity and ecological redundancy. Conservation Biology 6 (1): 18-23. World Health Organization (WHO). 2007. International statistical classification of diseases and related health problems. 10th revision. Disponível em: http://www.who.int/classifications/icd/en. RESUMO SEMINÁRIOS INTEGRADOS I 1) Informações Gerais Projeto: Análise cito-molecular das variações meióticas de Rhynchospora tenuis Vahl e de R. pubera Böckeler (Cyperaceae). Aluna: Gabriela Corina Carneiro de Cabral Nível: Mestrado Ingresso no curso: Março de 2009 Área de Concentração: Florística e Sistemática 2) Desempenho acadêmico A meiose invertida tem sido tratada na literatura como uma variação meiótica encontrada em organismos com cromossomos holocinéticos (cromossomos com cinetócoro difuso) incluindo espécies vegetais. No entanto, faltam evidências conclusivas sobre a ocorrência deste tipo de meiose em plantas. Meiose invertida, também chamada meiose pós-reducional, se diferencia da meiose padrão pela segregação das cromátides irmãs na meiose I (divisão equacional) e a segregação dos cromossomos homólogos na meiose II (divisão reducional). Dentre as plantas com cromossomos holocinéticos, as famílias Cyperaceae e Juncaceae ocupam um lugar de destaque. Este projeto de mestrado têm como objetivo geral entender a meiose de plantas com cromossomos holocinéticos através da análise cito-molecular da meiose de duas espécies de Cyperaceae: Rhynchospora pubera (n = 5) e R. tenuis (n = 2). A primeira delas foi escolhida por apresentar meiose quiasmática, semelhante às outras espécies vegetais com cromossomos holocinéticos descritas na literatura, enquanto a segunda foi escolhida por possuir meiose invertida e aquiasmática. O foco de pesquisa do trabalho, portanto, pode ser dividido em duas questões principais, cujos resultados serão abordados separadamente: I) quais as causas moleculares da meiose aquiasmática de Rhynchospora tenuis; II) seria a meiose em Rhynchospora pubera também invertida? e qual o mecanismo molecular envolvido nessa variação meiótica. I) A meiose aquiasmática em Rhynchospora tenuis De acordo com a literatura para a grande maioria dos organismos modelo, a ocorrência de bivalentes unidos por quiasmas na meiose I depende de eventos que ocorrem nas primeiras fases da prófase I meiótica. Estes eventos são: a) formação e reparo de quebras na dupla fita de DNA (DSB, double strand breaks); b) pareamento e sinapse de cromossomos homólogos. O reparo de DSB pode envolver a cromátide irmã, não resultando em quiasmas, ou uma cromátide do cromossomo homólogo, resultando em quiasmas. Por outro lado, o pareamento de cromossomos homólogos e a manutenção do pareamento através da sinapse são importantes para a formação de quiasmas por manterem os cromossomos homólogos unidos durante o processo de reparo de DSB. Rhynchospora tenuis possui meiose aquiasmática, porém viável, sem que sejam observados erros de segregação cromossômica que levariam a inviabilidade polínica. A meiose de R. tenuis é claramente do tipo invertida e condiz com o descrito na literatura para a meiose de univalentes em organismos com cromossomos holocinéticos. Para entender as causas da ausência de quiasmas em R. tenuis utilizamos a técnica de imunodetecção de proteínas envolvidas nos principais eventos relacionados à formação de quiasmas em meiócitos nas primeiras fases da prófase I. Para tanto, foram utilizados anticorpos que reconhecem diferentes proteínas envolvidas no reparo de DSB (γH2A.X, Rad51) e na sinapse de homólogos (ASY1). R. pubera foi ultilizada como controle positivo por apresentar meiose quiasmática. Em ambos as espécies, a localização da proteína γH2A.X pareceu ser nãoespecífica, com imunosinais de mesma intensidade presentes tanto na cromatina como no citoplasma de núcleos meióticos, como também de núcleos somáticos. Por outro lado, a localização de Rad51 pareceu ser específica tanto em R. pubera como em R. tenuis, ocorrendo apenas em meiócitos e não em núcleos somáticos. O padrão de distribuição de Rad51 na cromatina foi pontual e apresentou-se mais intenso em leptóteno do que em zigóteno/paquíteno. O padrão espacial e temporal de Rad51 observado na meiose de R. tenuis condiz com o descrito na literatura para outras espécies de plantas como Arabidopsis e milho e, desta forma, é um bom indicativo para a ocorrência de DSB em R. tenuis. Embora a análise com Rad51 indique a ocorrência de DSB, elas devem, contudo, ser reparadas de forma a não gerar quiasmas dada a ocorrência de univalentes na espécie. Vale ressaltar que Rad51 é uma proteína da família das reparases que atua no reparo de DSB tanto envolvendo as cromátides-irmãs como cromátides do cromossomo homólogo. ASY1 é uma proteína constituinte do elemento lateral do complexo sinaptonêmico, sendo necessária para a organização da cromatina na prófase I e para a ocorrência de sinapse entre cromossomos homólogos. A imunolocalização de ASY1 na prófase de R. tenuis e R. pubera mostrou um padrão filamentoso, mais proeminente em leptóteno, da mesma forma que observado em Arabidopsis, arroz e milho. A ocorrência de ASY1 em R. tenuis sozinha não prova a existência de sinapse, uma vez que na formação do complexo sinaptonêmico os elementos laterais (formados por ASY1) de ambos os cromossomos homólogos devem ser conectados pelo elemento central. No entanto, não tivemos acesso à um anticorpo contra proteínas do elemento central, como por exemplo Zyp1, que seriam o melhor indicativo para a formação de sinpase. Em busca de outras evidências sobre a ocorrência de sinapse em R. tenuis, foram realizados experimentos de hibridização in situ (FISH) utilizando sonda telomérica e de bandeamento cromossômico CMA/DAPI. Rhynchospora tenuis apresenta bandas CMA+ em um dos terminais de apenas um par cromossômico, tais bandas correspondem aos sítios de DNA ribossomal 45S. Como R. tenuis apresenta apenas dois pares de cromossomos, em caso de pareamento e sinapse de homólogos seriam esperarados quatro sítios de DNA telomérico visíveis. Entretanto, em 135 de 142 células foram observados 5 a 8 sinais teloméricos, indicando a ausência de pareamento íntimo entre homólogos, ao menos na região telomérica. Além disso, a análise das bandas CMA+ mostrou os cromossomos homólogos associados ponta a ponta, ao invés de estarem alinhados paralelamente, como seria esperado em caso de pareamento e sinapse. II) Meiose invertida em Rhynchospora pubera Rhynchospora pubera apresenta um comportamento meiótico similar ao descrito na literatura para outras espécies de plantas com cromossomos holocinéticos. Citologicamente, a meiose de plantas com cromossomos holocinéticos difere da meiose padrão pela ocorrência de um número diplóide de cromátides individualizadas entre anáfase I e prófase II. Estas cromátides se re-associam aos pares na prometáfase II de forma a garantir a segregação correta na anáfase II de um número haplóide de cromátides para cada célula filha. Uma justificativa para a ocorrência de 2n cromátides individualizadas na prófase II seria a separação das cromátides irmãs na anáfase I, de forma que cromátides de cromossomos homólogos, não mais associadas por quiasmas, migrariam para o mesmo pólo. Para averiguar se na anáfase I ocorre segragação de cromátides irmãs ou de cromossomos homólogos, seria necessário alguma marca que diferenciasse cromátides irmãs de cromátides homólogas em um dos 5 bivalentes de R. pubera. Neste sentido, seis plantas de R. pubera foram tratadas com radiação γ na tentativa de obter indivíduos com uma par heteromórfico de cromossomos homólogos. Embora a análise dos indivíduos irradiados tenha mostrado que quebras cromossômicas foram geradas, os novos indivíduos, descendentes de plantas irradiadas, apresentaram 2n = 10, indicando haver uma tendência para que apenas células com o número normal de cromossomos formem novos indivíduos. Este resultado pode ser devido ao número pequeno de plantas irradiadas. Como a meiose invertida está baseada na inversão da ordem de segregação de cromátides irmãs e homólogas em relação à meiose padrão, foi avaliada a localização da subunidade Scc3 das coesinas ao longo da meiose de R. pubera. As coesinas são proteínas que mantêm as cromátides irmãs unidas na meiose I e II. Na meiose normal, a segregação dos cromossomos homólogos na meiose I e de cromátides irmãs na meiose II depende da dissociação gradual de coesinas dos cromossomos. Durante os estágios iniciais da prófase I, a imunolocalização de Scc3 apresentou um padrão filamentoso correspondendo ao eixo cromossômico na prófase e corroborando o descrito na literatura para diversos outros organismos. Em diacinese e metáfase I, Scc3 foi encontrada em toda a área cromossômica, o que condiz com o seu papel na manutenção da coesão ao longo dos braços cromossômicos na meiose I. A imunolocalização de Scc3 em fases posteriores à metáfase I ainda não foi realizada com sucesso, mas é um dos nossos objetivos imediatos, uma vez que a distribuição de coesinas na meiose II pode ajudar a entender como ocorre a segregação e a re-associação de cromátides na meiose de R. pubera. Um outro aspecto importante para a ocorrência de meiose invertida é a orientação dos bivalentes em relação ao fuso acromático na meiose I. A imunodetecção de microtúbulos foi realizada em metáfase e anáfase I de R. pubera e as células foram analisadas e fotografadas com microscópio confocal, que permite uma análise detalhada de estruturas em 3D. Nas metáfases I, quando a orientação dos bivalentes em relação ao fuso pode ser claramente compreendida, os bivalentes apresentaram o maior eixo perpendicular ao fuso. Além disso, foram observados microtúbulos de fusos opostos ligados à um dos cromossomo do bivalente, indicando a futura segregação de cromátides irmãs para pólos opostos da célula na anáfase, sendo assim um forte indício da ocorrência de meiose invertida. Vale salientar, que a associação dos microtúbulos parece ocorrer em uma área restrita na região intersticial dos cromossomos e não nas extremidades cromossômicas como ocorre na meiose de Caenohabidits elegans e em insetos heteróptera (ambos organismos com cromossomoms holocinéticos).