INFLUÊNCIA DAS PROPRIEDADES QUÍMICAS E MINERALÓGICAS NO COMPORTAMENTO GEOTÉCNICO DE DOIS SOLOS RESIDUAIS GRANÍTICOS THE INFLUENCE OF CHEMICAL AND MINERALOGICAL PROPERTIES ON THE GEOTECHNICAL BEHAVIOUR OF TWO GRANITIC RESIDUAL SOILS Duarte, Isabel M.R., Dep. Geociências, Univ. Évora, Portugal, [email protected] Ladeira, Fernando L.* , Dep. Geociências, Univ. Aveiro, Portugal,[email protected] Gomes, Celso S.F. * , Dep. Geociências, Univ. Aveiro, Portugal, [email protected] RESUMO A composição mineral, química e textural dos solos residuais reflecte-se, desde o processo de amostragem, passando pelas características de identificação até às propriedades geotécnicas dos solos. Apresentam-se os dados relativos a dois solos residuais de granitos do Alentejo, no que respeita à composição química obtida por espectrometria de fluorescência de raios X (FRX), e obtida por difractometria de raios X (DRX), assim como as respectivas características geotécnicas: parâmetros granulométricos, limites de consistência, peso específico dos grãos, expansibilidade, permeabilidade, equivalente de areia, resistência ao corte, compressibilidade e compactação. Faz-se uma análise comparativa dos resultados obtidos para os dois solos residuais. Este trabalho põe em evidência a influência que aspectos tão diferentes, tais como: litologia, geomorfologia e clima, têm na génese e no comportamento geotécnico de solos residuais de rochas graníticas do Sul de Portugal. ABSTRACT The mineral, chemical and textural properties of the residual soils is reflected upon the sampling process, soil classification and soil geotechnical characteristics. This paper presents both mineralogical and chemical properties of two residual soils developed on granitic rocks that occur at the Alentejo region, Portugal, determined by X-ray diffraction and X-ray fluorescence analyses respectively, and also some geotechnical parameters such as grain size distribution, Atterberg limits, apparent density, expandability, permeability, sand equivalent, shear strength, compressibility and compaction. A comparison of the experimental results and the field observations corresponding to the two studied soils was carried out. The present paper shows the influence that some distinct aspects, such as, rock lithology, climatic conditions and geomorphologic characteristics display on the formation and geomechanical behaviour of the studied granitic residual soils. 1. INTRODUÇÃO Não é possível fazer-se uma avaliação geotécnica, completa e credível, dos solos residuais em geral, e dos solos residuais de rochas graníticas em particular, sem o contributo fundamental da * Centro de Investigação “Minerais Industriais e Argilas” da FCT, Universidade de Aveiro, Portugal análise dos dados texturais e químicos, em correspondência com a análise dos dados mineralógicos. A composição mineral, química e textural dos solos residuais reflecte-se, não só no processo de amostragem, pela maior ou menor facilidade em obter amostras indeformadas, passando pelas características de identificação, mas também nas propriedades geotécnicas dos solos, nomeadamente, plasticidade, consistência, expansibilidade, permeabilidade, compressibilidade e resistência. A alteração compreende processos, alteração física e alteração química, que conduzem à modificação dos materiais rochosos ocorrentes na superfície terrestre ou perto dela. A taxa de alteração é função do tipo de rocha, clima (precipitação e temperatura) e geomorfologia [1]. O tipo de alteração e a natureza dos seus produtos são fortemente influenciados pelo clima e litologia. Os factores dominantes, que controlam o modo como a meteorização evolui, são a precipitação e a temperatura média [2]. O solo residual é o material resultante da alteração da rocha mãe e que nunca foi transportado do seu local de origem [3]. Este facto contribui para que os solos residuais dependam grandemente das características herdadas da rocha mãe, principalmente no que respeita à mineralogia, à textura e à estrutura, factores que são determinantes no seu comportamento geotécnico. Os solos residuais apresentam exigências específicas na sua identificação e caracterização. Para além das classificações clássicas da Mecânica dos Solos, deverão incluir-se a descrição do perfil de alteração e aspectos químicos, mineralógicos e físicos dos materiais presentes [4]. Os índices químicos permitem a caracterização do grau de meteorização química das rochas. A utilização dos índices químicos assim como a identificação mineralógica dos solos residuais, constituem importante ferramenta no estudo destes materiais, servindo de complemento aos métodos de classificação convencionais, que nos solos residuais apresentam sérias limitações na sua aplicação [5]. 2. ENQUADRAMENTO REGIONAL 2.1. Aspectos geológicos, geográficos e geomorfológicos Seleccionaram-se dois locais de estudo, na vasta região do Alentejo, distando entre si cerca de 200ikm. Ambos correspondem a solos residuais de granitos Hercínicos de quimismo calcoalcalino. O granito de Marvão (com a referência 2, na Figura 1), enquadra-se na Zona Centro Ibérica (ZCI), aflora no extremo NE do CEN-Complexo Eruptivo de Nisa [6], e contacta com os terrenos Paleozóicos do sinclinal de Portalegre, que metamorfiza. Trata-se de um granito pósorogénico calco-alcalino, cinzento claro, de grão grosseiro, com grandes fenocristais de feldspato e duas micas, entre as quais predomina a biotite. Do ponto de vista mineralógico, destacam-se como minerais essenciais: quartzo, oligoclase, albite-oligoclase, micropertite, microclina-pertite, biotite e moscovite; como minerais acessórios foram identificados: turmalina, andaluzite, zircão, apatite, minerais de ferro e acidentalmente fluorite e silimanite. De salientar que os feldspatos potássicos ocorrem muito caulinizados e um tanto sericitizados. Nas plagioclases, também muito alteradas, é predominante a sericitização e, raramente, a alteração origina calcite. A biotite apresenta halos pleocróicos, escuros, envolvendo cristais de zircão [7]. O solo residual do granito de Marvão foi estudado numa saibreira que apresenta um perfil de alteração com espessura superior a 10 m, estando situado em plena Serra de S. Mamede a uma cota aproximada de 800 m, no Concelho de Marvão, a 2 Km de Marvão. A região é acidentada possuindo várias elevações que rondam os mil metros de altitude. Devido ao relevo acidentado e ao micro-clima que se verificam nesta serra, uma das áreas mais pluviosas do Nordeste Alentejano, existem condições favoráveis à escorrência das águas precipitadas nas encostas, e à sua infiltração nas descontinuidades dos afloramentos rochosos e nas descontinuidades "relíquia" dos solos expostos. Estes factores facilitam a drenagem e a infiltração, contribuindo para que se verifiquem taxas elevadas de alteração física e química dos minerais primários proporcionando a formação de minerais argilosos [8]. Figura 1 – Localização dos solos residuais: 1- Pias; 2- Marvão. O solo residual do granito de Marvão é composto por areia grossa siltosa, branca acinzentada ou amarelada. Trata-se de um solo muito friável e fácil de colher. Possui poucos grãos de quartzo e onde os feldspatos se encontram praticamente alterados. Todavia, por vezes, observam-se fenocristais de feldspato, assim como algumas biotites (2 - 5 mm) dispersas, as quais, quando alteradas, conferem uma auréola ferruginosa à matriz branca. Vertical e lateralmente o perfil apresenta-se relativamente homogéneo, no que respeita à granularidade e cor, exceptuando algumas descontinuidades oblíquas. Colheram-se amostras remexidas para os ensaios de identificação e compactação, e amostras indeformadas, a partir de blocos ou em amostradores, para os ensaios de resistência mecânica e compressibilidade. Houve dificuldades no processo de amostragem indeformada, porque o solo apresentava pouca coesão entre partículas e como tal, desagregava-se com facilidade. Colheram-se amostras de rocha sã e alterada para análise química e macroscópica [8][9]. O granito de Pias, o mais meridional de Portugal, (com referência 1, na Figura 1), situa-se 200ikm a sul do granito de Marvão, numa região plana. Este maciço granítico é alongado, enquadra-se na Zona de Ossa Morena (ZOM), e está alinhado com megaestruturas tardias, mas em desarmonia com os terrenos encaixantes, estando acompanhado normalmente de auréola de metamorfismo de contacto [10]. Este granito, segundo [11], seria sin-F3 (3ª fase Hercínica). A rocha-mãe é um granito de grão médio, cinzento claro, essencialmente biotítico, por vezes porfiróide com pequenos fenocristais. A estrutura é hipidiomórfica granular, o quimismo é calco-alcalino, e a composição mineralógica principal é a seguinte: microclina – pertite, oligoclase (20 – 25 % An), quartzo e biotite. Entre os minerais acessórios contam-se: mirmequite, moscovite, apatite, esfena, clorite, sericite, óxidos de ferro e, raramente, turmalina e anfíbola [12]. O solo residual do granito de Pias, está situado numa região praticamente plana, a 13 km de Pias, no Distrito de Beja, a uma cota aproximada de 180 m, onde os valores de precipitação média anual se encontram entre os mais baixos de Portugal Continental, e onde a drenagem é limitada pelos suaves declives do terreno, condicionando a lixiviação e mobilização dos elementos químicos mais móveis. No perfil de alteração ocorre um solo residual com cerca de 8im de espessura, homogéneo quanto à cor e textura, mas com algumas diaclases relíquia; o solo é composto por areias siltosas, por vezes argilosas, de cor esbranquiçada, bastante friáveis, onde os grãos de quartzo são dificilmente observados; o solo apresenta alguma coesão, facto que facilitou a colheita de amostras indeformadas e remexidas [9]. 2.2. Características climáticas Entre os diversos factores climáticos ou meteóricos, a precipitação e a temperatura, são os mais influentes, tanto na fissuração e desagregação física das rochas, como nos processos de alteração química dos minerais. Assim sendo, os factores referidos são os que mais contribuem para a quantidade e qualidade dos solos resultantes da meteorização das rochas. No Quadro 1 são apresentados os valores de precipitação média anual (R), temperatura média anual (T) e temperatura máxima anual (Tm), obtidos em Estações Climatológicas referentes aos locais estudados, num período de 30 anos (1951-1980), assim como as altitudes dos locais objecto dos estudos (Hs). Quadro 1 - Características climáticas respeitantes aos locais estudados. LOCAL Marvão Pias Hs (m) 865 180 R (mm) 909 524 T (ºC) 12,7 16,1 Tm (ºC) 39 43 A diferenciação térmica e pluviométrica entre as duas regiões é evidente, sendo controlada, em primeiro lugar, pela disposição geral do relevo e, em segundo lugar, pela latitude [9]. 3. CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA E QUÍMICA A variação e evolução dos teores dos elementos químicos maiores nos perfis de alteração contribui para o conhecimento do tipo e intensidade da meteorização a que determinada rocha foi sujeita. A identificação e semi-quantificação dos produtos de alteração, nomeadamente dos minerais de neoformação, como é o caso dos minerais argilosos, sustenta, geralmente, tal interpretação. As propriedades mineralógicas passaram a ser determinadas cada vez com mais frequência, desde que se reconheceu que as mesmas controlam as propriedades geotécnicas das rochas alteradas e dos solos residuais e, o comportamento dos mesmos quando solicitados em obras de engenharia [13] [14] [15]. 3.1. Caracterização química Amostras dos dois solos residuais e das rochas originais respectivas foram submetidas à análise química por espectrometria de fluorescência de raios-X (FRX). Os resultados, expressos em percentagens ponderais dos elementos químicos maiores, sob a forma de óxidos, constam no Quadro 2. Quadro 2 - Composição química de amostras dos granitos sãos e dos respectivos solos residuais. Óxidos (%) SiO2 Al2O3 Fe2O3 MnO CaO MgO Na2O K2O TiO2 P2O5 perdas ao rubro Rocha sã Marvão Pias 71,92 71,40 15,04 15,04 1,56 2,17 0,04 0,07 0,40 1,23 <200 ppm 0,31 3,43 3,23 4,64 4,43 0,14 0,27 0,39 0,20 1,01 0,66 Solo residual Marvão Pias 59,53 57,08 25,07 20,70 1,84 2,63 0,02 0,07 0,04 4,32 0,16 1,51 2,55 2,36 4,97 4,17 0,13 0,32 0,19 0,24 5,24 6,31 Comparando a composição química dos granitos sãos e dos solos residuais respectivos, constata-se que a meteorização proporcionou, no caso do solo residual de Marvão, uma diminuição dos teores de certos elementos químicos, casos de Si, Ca e Na, por apresentarem maior mobilidade geoquímica promovida pela lixiviação. Por sua vez o teor de Al aumentou de forma significativa no solo residual, porque este elemento, tal como em parte o Si, tende a ficar retido nos produtos da meteorização, que em regra são constituídos por aluminosilicatos hidratados, como é o caso da caulinite, mineral que conjuntamente com a ilite/mica participam maioritariamente na fracção argilosa do solo residual. Merece particular saliência o aumento notável dos teores de perda ao rubro (P.R), que correspondem à evolução significativa da água zeolítica e estrutural existente nos minerais argilosos, valores que só por si constituem bons indicadores do grau da alteração química, e também da natureza e do teor global dos minerais argilosos presentes. No caso do solo residual de Pias, verifica-se também uma diminuição considerável de Si, mas as condições de fraca drenagem imposta pela topografia do terreno, promovem a disponibilidade de Mg e de Ca em quantidade suficiente para a formação do mineral argiloso esmectite. Também devido às condições de drenagem deficientes, os teores de Al aumentam de uma forma muito mais modesta neste solo. Em ambos os locais estudados, o Fe tende a aumentar nos produtos de alteração, fixado nos óxidos/hidróxidos presentes. Com o objectivo de quantificar o grau de meteorização, utilizou-se o índice de lixiviação β [16] que pode assumir valores entre 0 e 1, correspondendo este último valor à rocha sã (s.r. – solo residual; r.s. – rocha sã). Para o solo residual do granito de Marvão obteve-se uma valor de β = 0,56 [8] e para o solo residual do granito de Pias, β = 0,62 [9], o que confirma a maior lixiviação sofrida pelo solo residual do granito de Marvão. O índice DECHAF – “degree of chemical absolute freshness”, proposto por [17], representa ainda melhor a meteorização nos maciços rochosos estudados, uma vez que, por um lado considera um maior número de elementos móveis que podem ser removidos durante a meteorização, por outro considera a H2O+ como elemento remanescente nos produtos de alteração, o que no caso dos solos estudados é relevante, devido aos valores consideráveis de perda ao rubro. Os valores determinados para este índice de meteorização são de 0,50 para o solo residual do granito de Marvão e de 0,81 para o solo residual do granito de Pias. β = DECHAF = (K2O+Na2O) / Al2O3 s.r. (K2O+Na2O) / Al2O3 r.s. FeO+MnO+MgO+CaO+Na2O+K2O s.r. + Al2O3+Fe2O3+H2O FeO+MnO+MgO+CaO+Na2O+K2O r.s. Al2O3+Fe2O3+H2O+ (1) (2) 3.2. Identificação mineralógica A evolução química, avaliada anteriormente, é acompanhada, logicamente, por uma evolução mineralógica. Foram analisadas amostras dos solos residuais graníticos de Pias e de Marvão (fracção inferior a 0.425 mm), por difracção de raios-X (DRX). Os difractogramas correspondentes aos dois solos, são apresentados na Figura 2. Figura 2 - Secções dos diagramas de difracção de raios-X correspondentes aos solos estudados. Utilizando-se os máximos de difracção específicos de cada um dos minerais presentes nas amostras, pôde-se determinar a respectiva composição mineralógica aproximada. Os solos residuais analisados apresentam na sua composição, quantidades abundantes de quartzo (Q) e de dois tipos de feldspato (F), alcalino (Fk), e predominantemente calco-alcalino (P), consoante a natureza da rocha-mãe. A mica (M) e os interestratificados irregulares mica/ilite (M/I) constituem minerais cuja presença é notória nos dois solos analisados. Relativamente à presença de minerais argilosos identificados por DRX, todos eles filossilicatos (Fi), salienta-se a existência de duas situações distintas: i) ii) o mineral argiloso predominante no solo residual de Marvão é a caulinite (K) com boa ordem estrutural; este solo desenvolve-se numa região onde o relevo é mais acentuado, a pluviosidade é maior (Quadro 1), as condições de drenagem são boas e a lixiviação é favorecida, contribuindo para a exportação dos catiões mais móveis, como são os casos de Ca e Na, e para a concentração de alumina e sílica, responsáveis pela formação daquele mineral argiloso; o mineral argiloso que predomina no solo residual de Pias é a esmectite (E), que apresenta elevado grau de cristalinidade; este solo pertence a uma das regiões mais planas que ocorrem no Sul de Portugal, e onde a pluviosidade é menor (Quadro 1), sendo mesmo uma das mais baixas do país; deste modo, a drenagem é dificultada e a lixiviação condicionada, o que favorece a formação de minerais argilosos do grupo da esmectite. 4. CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA No Quadro 3 apresenta-se um resumo das características físicas e geotécnicas determinadas nos dois solos residuais. As propriedades físicas determinadas "in situ", nomeadamente, o peso específico nos estados natural (γo) e seco (γd), o teor de água natural (Wo) e o índice de vazios (eo), foram avaliadas simultaneamente com a amostragem. Nas amostras colhidas, foram realizados os ensaios de caracterização seguintes: análise granulométrica e limites de consistência, nomeadamente o limite de liquidez (LL) e o limite de plasticidade (LP). Com os resultados obtidos foi possível determinar os respectivos índices de plasticidade (IP), a actividade dos solos (Act), o limite de retracção (LR), bem como parâmetros granulométricos: diâmetro efectivo (D10), coeficiente de uniformidade (Cu) e coeficiente de curvatura (Cc). Determinou-se ainda o equivalente de areia (EA), a expansibilidade (Exp), a permeabilidade (K), o peso específico das partículas sólidas (γs), o peso volúmico seco máximo (γdmáx) e o teor de água óptimo (Wópt.) nos solos seleccionados. Com amostras indeformadas dos dois solos residuais, realizaram-se ensaios de corte directo em caixa quadrada de 100 cm2 e ensaios de compressibilidade em célula edométrica para provetes com 9,9 cm de diâmetro, os quais permitiram obter os valores dos parâmetros de resistência (c) e ângulo de atrito (Ф), e ainda os valores dos índices de compressibilidade (Cc) e de expansibilidade (Cs), respectivamente. Pela análise do Quadro 3, pode-se verificar que apesar dos dois solos estudados possuírem uma percentagem semelhante de argila, o solo residual de Marvão é uma areia siltosa bem graduada ligeiramente plástica, mas com uma argila muito pouco activa. Os valores do ângulo de atrito, da permeabilidade e do equivalente de areia, são superiores aos valores do solo residual de Pias. Por seu turno, este último é classificado como areia argilosa mal graduada de plasticidade média, mas com uma actividade elevada. Estas características estão em consonância com a coesão, quatro vezes superior à do solo de Marvão, assim como com o valor determinado para a expansibilidade. Quanto às características de compressibilidade, estas revelaram-se mais sensíveis à micro-estrutura do solo, isto é, ao índice de vazios com que o solo foi ensaiado, que pode estar directamente relacionado com o grau de lixiviação do solo. Quadro 3 - Características físicas e geotécnicas dos solos residuais graníticos de Marvão (M) de Pias (P) solo argila residual (%) silte areia (%) (%) 68 51 D10 Cc M P 6 7 16 11 solo residual EA Exp. (%) (%) M P solo residual 49 28 eo 8 14 3,4×10-5 1,7×10-5 wópt. 26,28 26,10 c 0,33 2,43 φ (%) (KPa) (o) M P 0,792 0,602 15,6 16,6 6,7 24,42 32,7 29,6 γdmáx. 3 (KN/m 17,85 16,92 ) Cu LL LP IP (%) (%) (%) 33 42 31 25 2 17 0,02 0,013 2,5 5,2 40 123 K γs Act. LR wo γo γd (m/s) (KN/m3) (%) (%) (KN/m3) (KN/m3) 30 21 Cc 9,2 16,8 Cs 16,97 19,03 15,59 16,28 Classif. unificada Classif. AASHTO 0,23 0,18 0,03 0,02 SM SC A-1-b A-2-7(0) 5. CONCLUSÕES Os solos residuais graníticos de Marvão e de Pias, resultam da alteração de granitos calcoalcalinos de composição química semelhante, mas a sua formação teve lugar em condições geomorfológicas e climatéricas diferentes que promoveram o aparecimento de minerais de neoformação ou secundários distintos, que influenciam significativamente as propriedades geotécnicas dos solos residuais referidos. O solo residual de Marvão fica localizado numa zona de relevo acidentado e pluviosidade considerável, condições que favorecem a drenagem e lixiviação nos solos. O mineral argiloso predominante é a caulinite. O solo residual de Pias ocorre numa região plana e com valores de precipitação média anual muito baixos, onde a drenagem é limitada e a lixiviação e mobilização dos elementos mais móveis condicionada. O mineral argiloso predominante é uma esmectite. Em termos de propriedades geotécnicas, as principais diferenças identificadas entre os dois solos estudados manifestam-se, essencialmente, ao nível da plasticidade, actividade, expansibilidade e coesão, parâmetros expressos por valores superiores no solo residual de Pias, onde a esmectite é o principal mineral argiloso. Por outro lado, no ângulo de atrito e na permeabilidade, as diferenças não são tão acentuadas, porque estas propriedades dependem principalmente da granulometria dos solos, que não é muito díspar entre os dois solos. No que se refere às características de compressibilidade, os dados obtidos revelam que estas dependem essencialmente do índice de vazios inicial, o qual em amostras intactas, está directamente relacionado com o grau de lixiviação, ou seja com o tipo de meteorização que pode ser quantificado através de índices de alteração química como o β e o DECHAF. Com os resultados dos estudos efectuados e aqui divulgados pretende-se chamar a atenção para a influência que as partículas mais finas dos solos residuais têm no seu comportamento geotécnico. Daí a importância da composição mineralógica como sendo parâmetro importante a ter em conta para a classificação geotécnica dos solos residuais. Por outro lado, este estudo vem reforçar a ideia de que factores, tais como o relevo e o clima, condicionam mais o tipo de minerais de neoformação ou secundários existentes nos produtos de alteração, e consequentemente a natureza dos solos residuais e respectivas propriedades físicas e mecânicas, do que propriamente o tipo de rocha-mãe. 6. REFERÊNCIAS [1] Anon (1995) – The description and classification of weathered rocks for engineering purposes. Geological Society Engng. Group Working Party Report. Quarterly Journal Engineering Geology Quarterly Journal of Engineering Geology, 28, pp. 207-242. [2] Ollier, C. D. (1984) – Weathering. Longman. London. [3] Blight, G. E. (1997) – Mechanics of Residual Soils. Blight, G. E., (editor). Technical Committee 25 on The Properties of Tropical and Residual Soils of the Int. Soc. for Soil Mech. and Found. Eng. Balkema, Rotterdam. 237 p. [4] Viana da Fonseca, A. (1996) – Geomecânica dos solos residuais do granito do Porto. Critérios para dimensionamento de fundações directas. Tese de Doutoramento. Universidade do Porto. Porto. 774 p. [5] Rodrigues, C. M. G. & Sousa, L. M. O. (2002) – Influência da composição química e mineralógica no comportamento do saprólito granítico da Guarda. Actas do 8º Cong. Nacional de Geotecnia. Lisboa. Vol. 1, pp. 321-330. [6] Pereira, L. G.; Campos, A. B. A.; Ribeiro, M.L.; Solá, A. R. & Moreira, M. (1998) – Modelo tectónico da implantação do Complexo Eruptivo de Nisa (Alto Alentejo – Portugal). Actas do V Cong. Nac. Geol., Inst. Geológico e Mineiro, Lisboa, Tomo 84, Fasc. 1, pp. B-11– B-14. [7] Perdigão, J. C. & Fernandes, A. P. (1976) – Carta Geológica de Portugal à escala de 1/50000. Notícia explicativa da folha 29-C, Marvão, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 18 p. [8] Duarte, I. M. R.; Ladeira, F. L. & Gomes, C.F. (2000) – Características geológicogeotécnicas do solo residual do granito de Marvão (Portalegre). Actas do VII Congresso Nacional de Geotecnia, Porto. Vol. 1, pp. 151-160. [9] Duarte, I.M.R. (2002) – Solos residuais de rochas granitóides a sul do Tejo. Características geológicas e geotécnicas. Tese de Doutoramento. Universidade de Évora. 373 p. [10] Carvalhosa, A. B. (1992) – Paleozóico: Estrtigrafia: Zona de Ossa-Morena: Granitóides. In Carta Geológica de Portugal à escala de 1/200000. Oliveira, J. T. (Coord.), Notícia explicativa da folha 8, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 91 p. [11] Araújo, A. (1992) – Paleozóico: Tectónica: Varisca: Zona de Ossa-Morena. In Carta Geológica de Portugal à escala de 1/200000. Oliveira, J. T. (Coord.), Notícia explicativa da folha 8, Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 91 p. [12] Carvalhosa, A. B. & Carvalho, A. M. G. (1970) – Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000. Notícia explicativa da folha 43-B, Moura. Serv. Geol. Portugal, Lisboa, 30 p. [13] Vaughan, P. R. (1988) – Characterising the mechanical properties of in-situ residual soil. Proceedings of the Second International Conference on Geomechanics in Tropical Soils, Singapore, 2, pp. 469-487. [14] Anon (1990) – Tropical residual soils. Geological Society Engng. Group Working Party Report. Quarterly Journal Engineering Geology Quarterly Journal of Engineering Geology, 23, pp. 1-102. [15] Irfan, T. Y. (1996) – Mineralogy, fabric properties and classification of weathered granites in Hong Kong. The Quarterly Journal Engineering Geology, 29, pp. 5-35. [16] Jenny, H. (1941) – Factors of soil formation. McGraw Hill Book Co, New York, 281 p. [17] Miura, K. (1973) – Weathering in plutonic rocks (Part I) – Weathering during late Pliocene of Gotsu plutonic rocks. Japan. Soc. Eng. Geol., 14 (3).