Sandbox Numérico: Aplicação do Método dos Elementos Discretos para o Estudo dos Mecanismos de Formação de Falhas Geológicas Ynaê Almeida Ferreira§ Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, [email protected] § Atual endereço: Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, [email protected] Luciana Correia Laurindo Martins Vieira Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, [email protected] Viviane Carrilho Leão Ramos Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, [email protected] RESUMO: A análise da formação de falhas geológicas torna-se importante no contexto da exploração de petróleo, pois diante dos grandes gradientes de pressão, o petróleo tende a migrar para regiões no sedimento com menores pressões. As falhas existentes na bacia sedimentar podem interferir no processo de migração. Essa interferência pode ocorrer de formas bem distintas. A depender das tensões existentes, as falhas podem se tornar tanto canais preferenciais de fluxo, como zonas impermeáveis, tornando-se selantes. O experimento denominado sandbox é um dos recursos que pode ser empregado na análise de formação de falhas em bacias sedimentares. Este experimento, que tradicionalmente tem sido realizado em laboratório, vem sendo modelado numericamente. Ele apresenta fenômenos típicos do comportamento de meios granulares como o aparecimento de bandas de cisalhamento, que indicam as regiões das falhas. Problemas de natureza descontínua, a exemplo dos que envolvem meios granulares, podem ser modelados por métodos numéricos. O Método dos Elementos Discretos tem se mostrado adequado para esse tipo de análise. Neste contexto, este trabalho consiste na análise dos mecanismos de formação de falhas geológicas utilizando o Método dos Elementos Discretos através do experimento sandbox numérico. PALAVRAS-CHAVE: Falhas Geológicas, Sandbox, Método dos Elementos Discretos. 1 INTRODUÇÃO Os hidrocarbonetos são encontrados sob alta pressão em rochas porosas, denominadas rochas reservatório. Para localizar o petróleo ou gás em uma bacia sedimentar, os especialistas firmam-se no conhecimento de que o petróleo aloja-se em uma estrutura localizada na parte mais alta de um compartimento de rocha porosa, estando isolada por camadas impermeáveis (Milani et al., 2000). Essas estruturas são resultantes de modificações sofridas pelas rochas ao longo do tempo geológico, especialmente a sua deformação, através do desenvolvimento de dobras e falhas na crosta terrestre. Estudos vêm sendo realizados visando melhorias nas formas de exploração do petróleo. O estudo do mecanismo de formação de falhas torna-se importante no que se refere a esta exploração. A pressão na rocha geradora é muito elevada, e depois de formado, o petróleo tende a abandonar essa rocha para regiões no sedimento com menores pressões. Essa migração pode dar-se através destas falhas das rochas. O estudo da formação de falhas em bacias sedimentares tem sido realizado através de experimentos em laboratórios, bem como experimentos numéricos. O experimento conhecido por sandbox tem sido bastante utilizado na realização desses estudos tanto em análises físicas (Marques e Nogueira, 2008), quanto numéricas (Strayer e Suppe, 2002; Seyferth e Henk, 2003; Finch et al., 2003; Finch et al., 2004; Seyferth e Henk, 2006; Crook et al., 2006; Schöpfer et al., 2006; Zhao et al., 2007; Smart et al., 2009). No caso das análises numéricas, a literatura apresenta trabalhos que utilizam diferentes métodos de solução, como o Método dos Elementos Finitos (Crook et al., 2006; Smart et al., 2009), ou o Método dos Elementos Discretos (Strayer e Suppe, 2002; Finch et al., 2003; Finch et al., 2004; Seyferth e Henk, 2006; Schöpfer et al., 2006; Zhao et al., 2007), cada um apresentando potencialidades diferentes. impermeável, capaz de reter o fluxo do petróleo, denomina-se rocha selante ou capeadora (Thomas et al., 2004). A migração do petróleo através dos sedimentos até a rocha reservatório pode ocorrer por falhas nas rochas, por exemplo, quando ocorrem alívios de pressão nessas descontinuidades. Para que se tenha uma jazida petrolífera comercial, o arranjo das rochas reservatório e selante deve favorecer a acumulação de um volume significativo de petróleo. A ausência de apenas um desses fatores inviabiliza a formação dessa jazida. 2 3 GEOLOGIA DO PETRÓLEO O petróleo é composto por uma mistura complexa de hidrocarbonetos e quantidades variáveis de não-hidrocarbonetos (Thomas et al., 2004). Um dos elementos essenciais para a ocorrência de petróleo em quantidades significativas em uma bacia sedimentar é a existência de um grande volume de matéria orgânica de qualidade adequada acumulada. Esta matéria orgânica se concentra em certas rochas sedimentares, denominadas de geradoras, que em geral são constituídas de material detrítico de granulometria muito fina, tal como folhelhos ou calcilutitos (Milani et al., 2000). Essas rochas ao serem submetidas a adequadas condições de temperatura e pressão podem gerar petróleo. Uma acumulação de petróleo em uma bacia sedimentar requer a associação de uma série de fatores. Entre eles, cita-se a presença de uma rocha geradora e condições temporais adequadas, além da existência de rocha com porosidade e permeabilidade necessária à acumulação e produção do petróleo. As rochas que apresentam as condições necessárias para o armazenamento são denominadas de rochas reservatório. Entretanto, para que uma determinada rocha reservatório possua uma reserva de petróleo, é necessária a presença de condições favoráveis à migração do petróleo da rocha geradora até a rocha reservatório, bem como a existência de uma rocha impermeável que retenha o petróleo. A esta rocha GEOLOGIA ESTRUTURAL A Geologia Estrutural é um ramo da Geotectônica que estuda os processos deformacionais da litosfera e as estruturas decorrentes destas deformações. De maneira detalhada, busca as formas geométricas que se desenvolvem em decorrência do dinamismo de nosso planeta, abrangendo da escala microscópica à macroscópica (Teixeira et al., 2009). O estudo em Geologia Estrutural tem mostrado que o planeta é dinâmico e que as placas litosféricas de dimensões continentais se movem de forma contínua e lenta. Esta movimentação, em geral, é responsável pela formação das estruturas geológicas. Segundo Teixeira et al. (2009), muitas destas estruturas são responsáveis pelo armazenamento de hidrocarbonetos, água, minérios, e outros. As fraturas ou os cisalhamentos das rochas ao longo dos planos, cujas paredes rochosas se deslocaram entre si, são designados falhas. Para que ocorra a falha é necessário que haja um movimento diferencial entre os blocos, paralelo à superfície de fratura. Desta forma, pode-se caracterizar os planos de falhas como sendo planos de cisalhamento, baseado na relação esforço-compressão (Loczy e Ladeira, 1980). O falhamento pode resultar de compressão, distensão ou torção. As deformações, representadas por dobras e falhas, ocorrem por meio de regimes compressivos ou distensivos. O primeiro é produzido pela convergência entre placas litosféricas e responsável pela formação de cadeias de montanhas, podendo ocasionar falhas do tipo transcorrente, inversa e de empurrão (Teixeira et al., 2009). O regime distensivo apresenta estruturas que evidenciam a atuação de movimento e modificações importantes da crosta durante o tempo geológico. As distensões da crosta terrestre formam as falhas normais ou de gravidade, e podem gerar as grandes depressões que ocorrem no continente, como as bacias e os Grabens; e nos oceanos, com as bacias oceânicas e as cadeias meso-oceânicas (Teixeira et al., 2009). As feições estruturais mais notáveis resultantes das falhas normais são os sistemas de Grabens e Horsts, e as falhas lístricas. Essas estruturas são importantes no acondicionamento de hidrocarbonetos na bacia, principalmente os Horsts (Loczy e Ladeira, 1980). Segundo Teixeira et al.(2009), as falhas, além de servirem de condutos para migração ascendente do petróleo, propiciam a colocação lado a lado de rochas geradoras com rochas reservatórios, favorecendo a migração lateral. As falhas podem ser classificadas tanto do ponto de vista geométrico quanto do genético (Loczy e Ladeira, 1980). A classificação do ponto de vista genético pode ser baseada no movimento relativo e absoluto dos blocos. 4 O EXPERIMENTO SANDBOX A análise da formação de falhas em bacias sedimentares tem sido objeto de estudos relacionados ao petróleo. Segundo Finch et al. (2004), entender a natureza do desenvolvimento das falhas é importante para a localização de hidrocarbonetos. Para um melhor entendimento a respeito da formação dessas estruturas, têm sido realizados experimentos físicos e numéricos. O experimento denominado sandbox é um dos recursos que pode ser empregado nesse tipo de análise. Para a análise física, tem-se utilizado diversos tipos de materiais, como rocha, areia, esferas de vidro, argila e silicone. Esse experimento, também conhecido por “caixa de areia”, reproduz os movimentos das rochas que ocasionam as falhas (Marques e Nogueira, 2008). Similarmente, a modelagem numérica, utilizando o Método dos Elementos Discretos ou Método dos Elementos Finitos, tem gerado resultados satisfatórios para estas análises. O experimento sandbox apresenta fenômenos típicos do comportamento de meios granulares. Problemas de natureza descontínua, a exemplo das simulações do comportamento de meios granulares, podem ser modelados numericamente através de métodos numéricos adequados, como o Método dos Elementos Discretos. 5 MÉTODO DISCRETOS DOS ELEMENTOS O Método dos Elementos Discretos ganhou grande impulso com ascensão da capacidade de processamento de dados oriundos dos avanços da tecnologia da computação. Isto, em parte, está relacionado com a elevada necessidade de processamento computacional requerida. Tradicionalmente este método tem sido empregado para simular o movimento de partículas de materiais granulares e rochosos, mas tem sido também usado como um método para representar materiais sólidos e principalmente estudo de problemas de fluxo (Ferreira et al., 2009). A busca por soluções mais significativas para os problemas de natureza descontínua, faz com que cada vez mais seja utilizado o Método dos Elementos Discretos, que possui hipóteses básicas mais solidarizadas com relação aos meios discretos, descrevendo melhor esses problemas de natureza descontínua. Parte dos problemas de engenharia é de natureza descontínua, como os fenômenos de fragmentação, fraturamento, impacto, colisão e cravação. Proposto inicialmente por Cundall e Strack (1979), o Método dos Elementos Discretos propõe modelar o material granular por meio de um conjunto de partículas discretas, cujo comportamento é governado por leis físicas e os contatos entre elas podem ser criados ou extintos à medida que o conjunto de partículas se deforma como um todo. Assim, o MED considera o material granular como um sistema de partículas individuais e não um meio contínuo (Cintra e Carvalho Jr, 2006). A representação com um sistema de partículas discretas ou descontínuas caracterizase como um processo altamente dinâmico e com mudanças rápidas da configuração do domínio. A partir do entendimento das propriedades mecânicas microscópicas das partículas e o comportamento da interação entre elas, o MED permite avaliar de maneira macroscópica o comportamento físico e mecânico do modelo estudado (Ferreira et al., 2009). Pelo fato de exigir uma forte base discreta, esse método computacional descreve problemas discretos de forma mais fiel à natureza do meio. 6 SANDBOX NUMÉRICO Neste trabalho, idealiza-se a simulação da formação de falhas através do sandbox numérico. Utiliza-se o Método dos Elementos Discretos para a simulação numérica. A análise é realizada de forma qualitativa e para uma melhor visualização das falhas, formadas a partir dos movimentos entre blocos, define-se a geometria e divide a mesma em camadas de diferentes cores. Essa geometria representa a rocha e os obstáculos criados definem os movimentos próprios dos blocos rochosos. O modelo gerado representa o movimento de falha classificado em relação ao deslocamento relativo entre os blocos rochosos, o sistema de Graben. Para a realização da análise numérica utilizase o sistema computacional PETRODEM. Esse sistema é composto por programas distintos responsáveis pelas atividades de préprocessamento, análise numérica e visualização de resultados. No presente trabalho se faz uso de apenas três deles: PreDEM, DEMOOP e DEMView. Estas três partes comunicam-se através de arquivos com formatação previamente determinada. O pré-processamento corresponde à etapa inicial em uma simulação numérica. Nesta etapa utiliza-se o programa computacional PreDEM. Nele são definidos os obstáculos e os parâmetros dos materiais que compõe as partículas em estudo, como também as condições de restrições, informações dos algoritmos de busca por contato e de integração temporal, dentre outros. O processador, DEMOOP, realiza análise dinâmica do Método dos Elementos Discretos e grava os resultados em arquivos de saída, utilizados no pós-processamento. Na etapa de pós-processamento utiliza-se o programa DemView, também desenvolvimento pelo grupo de pesquisadores do LCCV (Amorim et al., 2006). Os experimentos numéricos realizados utilizam o DEMOOP para a realização das análises e o DEMView para a visualização dos resultados. Para a modelagem geométrica é criado um conjunto de partículas de granulometria uniforme e não uniforme, e utiliza-se um algoritmo de separação geométrica. Esse algoritmo de separação é um processo interativo que permite um posicionamento aleatório dos elementos em uma caixa previamente definida. A modelagem geométrica das partículas é realizada para uma região de 22 unidades de comprimento x 120 unidades de comprimento, e dividida em 12 camadas, diferenciando-as por cores diferentes. A porosidade inicial é de 15% e a distribuição granulométrica utiliza partículas com raio de 0,2, 0,3, 0,4 e 0,5 unidades de comprimento. Para a granulometria uniforme, utilizam-se partículas com raio de 0,5. A densidade da partícula é de 2500 unidades de densidade (para todas as camadas). Os obstáculos são gerados no PreDEM. Para todos os modelos, define-se o modelo reológico de Kelvin como a relação força-deslocamento e a rigidez normal é de 108 (unidade de força por unidade de comprimento), valor este testado e considerado adequado para a análise proposta (Silva Filho & Vieira, 2011). Definem-se ainda, as propriedades mecânicas que determinam as forças de contato entre as partículas. Para os casos em que se analisa a presença de coesão, são definidos também, a resistência do cimento à tração normal e tangencial. Considera-se ainda, a porcentagem do amortecimento viscoso normal crítico e tangencial crítico igual a 99%. Os obstáculos, gerados no PreDEM, são representados na Figura 1. (a) (b) Figura 1 - Geometria da caixa utilizada para as análises do Modelo. Todos os obstáculos possuem movimentos, sendo o movimento dos obstáculos 7, 8 e 9 vertical para baixo, e os demais movimento de translação horizontal. A inclinação dos obstáculos 7 e 8 é de 45°. O tempo de simulação utilizado é de 65 segundos. Os obstáculos iniciam seu movimento após 10 segundos de análise, tempo este necessário para a acomodação das partículas diante da ação da gravidade. 7 RESULTADOS Após o processamento das simulações, inicia-se a etapa de pós-processamento, utilizando-se do programa DEMView. Para o experimento são realizadas análises para os casos com granulometria uniforme e não uniforme, na qual em ambas as situações são analisadas o efeito da variação da rigidez tangencial. A Figura 2 representa o comportamento das partículas com granulometria uniforme após os obstáculos deslocarem 2,7, para a rigidez tangencial nula, 104 e 108. (c) Figura 2.1 Experimento com granulometria uniforme: (a) kt = 0; (b) kt = 104 e; (c) kt = 108. Para as partículas com mesma granulometria (Figura 2), percebe-se uma tendência natural da formação do ângulo de falha de 60° em relação a horizontal. À medida que aumenta o valor da rigidez tangencial, ocorre uma pertubação concentrada nas regiões de maior movimentação. Mas, apesar dessa pertubação, pode-se notar a preservação do ângulo de 60°, pelas posições das camadas. Este ângulo fica mais evidente quanto menor for o valor da rigidez tangencial adotado. A análise da formação de falhas para os casos que possuem granulometria não uniforme, após os obstáculos deslocarem 2,7, é representada na Figura 3. Cada imagem representa um valor diferente adotado para rigidez tangencial. (a) (b) (c) Figura 3. Experimento com granulometria não uniforme: (a) kt = 0; (b) kt = 104 e; (c) kt = 108. Para a rigidez tangencial nula as partículas se comportam de maneira semelhante aos fluidos. Enquanto que, para a rigidez tangencial de valor igual a 108, tem-se a representação de um material mais sólido. Esses resultados são condizentes com os apresentados por Silva Filho e Vieira (2011), no qual é encontrado um comportamento granular mais realista, próximo ao de areias secas, para valores de rigidez tangencial entre 106 e 108. Observa-se que para valores baixos da rigidez tangencial o comportamento ainda fluido das partículas não permite a visualização das falhas, apesar de indicar essa formação pela disposição das camadas. Ao aumentar o valor da rigidez tangencial, pode-se perceber que a formação das falhas possui uma tendência de inclinação semelhante ao mergulho adotado. Ainda são realizadas prosseguindo a análises considerando a presença da coesão para granulometria não uniforme. A coesão é caracterizada pela presença da resistência do cimento à tração (normal e tangencial). As Figuras 4a, 4b e 4c representam a formação de falhas quando aplicada a coesão fraca, para um deslocamento de 2,7, 5,5 e 8,2, respectivamente. Para esta condição, tem-se a rigidez tangencial de valor igual a 107 e resistência do cimento à tração normal e tangencial igual a 106 (unidade de força por unidade de comprimento) e 105 (unidade de força por unidade de comprimento), respectivamente. (a) (b) (c) Figura 42. O comportamento das partículas com coesão fraca após o deslocamento de: (a) 2,7; (b) 5,5 e; (c) 8,2. Observando a Figura 4a, percebe-se o início da formação de falhas decorrente do movimento dos obstáculos. Na Figura 4b, dando sequência ao processo de descida, percebe-se de forma mais evidente as falhas formadas. Seguindo o movimento, a Figura 4c representa o total deslocamento das camadas, sendo ainda possível ver as regiões de formação de falhas. Ainda, considerando coesão fraca com resistência do cimento à tração normal igual a 106 e tangencial igual a 105, a Figura 5 representa as análises para a rigidez tangencial igual a 108. (a) (b) (c) Figura 53. O comportamento das partículas com coesão fraca para a resistência tangencial igual a 10 8 em: (a) 2,7; (b) 5,5 e; (c) 8,2 de deslocamento dos obstáculos. A Figura 5 apresenta resultados semelhantes à situação apresentada pela Figura 4. No entanto, pode-se observar que para a resistência tangencial igual a 108 não ocorrem desmoronamentos (camada superior direita), tendo uma melhor representação do problema. A formação da falha, quando se emprega a coesão, reafirma o que foi explicado para as análises da Figura 3 em relação à inclinação das falhas geradas, ou seja, a formação de falha tende a seguir o mergulho adotado. Dando sequência as análises, adota-se um valor de coesão forte, em que a resistência do cimento à tração normal e tangencial é igual a 107 e 106, respectivamente. Para esse caso, a Figura 6 apresenta as análises realizadas com rigidez tangencial igual a 107. (a) (b) Para as condições apresentadas na Figura 7, observa-se que o comportamento das partículas tem semelhança com as análises da Figura 6, porém com um desmoronamento mais lento, devido ao valor da resistência tangencial. Para a coesão forte, pode-se ter a representação de um fraturamento de rocha, por exemplo. Através das análises obtidas para os casos com coesão, percebe-se que o comportamento sofre influência dos valores adotados para o parâmetro do cimento. (c) Figura 6. O comportamento das partículas com coesão forte após os obstáculos se deslocarem: (a) 2,7; (b) 5,5 e; (c) 8,2. A Figura 6 representa a situação em que são definidas características da resistência do cimento superiores. Percebe-se que à medida que os obstáculos se movem, ocorre uma quebra em alguns locais e a total separação entre as partes que permanecem fixas e a parte que se movimenta. Para a rigidez tangencial igual a 108, e mantendo os mesmos valores da resistência do cimento utilizados anteriormente (resistência do cimento à tração normal igual a 107 e tangencial igual a 106), tem-se a representação dessa situação na Figura 7. (a) (b) (c) Figura 7 - O comportamento das partículas com coesão forte para a resistência tangencial igual a 108 em: (a) 2,7; (b) 5,5 e; (c) 8,2 de deslocamento dos obstáculos. 8 CONCLUSÕES O principal objetivo deste trabalho é contribuir com o estudo dos mecanismos de formação de falhas geológicas através do uso do Método dos Elementos Discretos. As análises numéricas mostram que para a granulometria uniforme a formação de falha se dá a um ângulo de 60°, e que este ângulo fica mais evidente quanto menor for o valor da rigidez tangencial adotado. Desta forma, a representação com partículas de granulometria uniformes não seria a maneira mais adequada de representar o problema proposto. Ao adotar a granulometria não uniforme, percebe-se uma melhor representação quando a rigidez tangencial apresenta valor entre 106 e 108. A partir das análises realizadas, é possível identificar a formação das falhas decorrente da movimentação dos blocos. Observa-se certa dificuldade em se delimitar as regiões de falha. Neste trabalho utiliza-se a inspeção visual nesta detecção, fato que pode levar a imprecisões na avaliação dessas zonas. Ao analisar os casos sem coesão, nota-se que o comportamento observado é bastante influenciado pelos valores adotados para a rigidez tangencial. Para os casos com coesão, o comportamento observado sofre mais influência dos valores dos parâmetros do cimento, podendo representar diferentes situações, sendo importante a correta escolha dos parâmetros de análise, e de seus valores, para garantir a representatividade do modelo numérico. De forma geral, o Método dos Elementos Discretos se apresentou como uma ferramenta numérica adequada experimento sandbox. para simulação do AGRADECIMENTOS Ao Programa de Recursos Humanos da Agência Nacional de Petróleo para o Setor Petróleo e Gás – PRH40/UFAL. Ao apoio financeiro do Laboratório de Computação Científica e Visualização da Universidade Federal de Alagoas – LCCV/UFAL, através da Rede Galileu. REFERÊNCIAS Amorim, J.A. de; Cintra, D.T.; Lira, W.W.M. (2006) Uma interface gráfica-interativa para visualização dinâmica do método dos elementos discretos. Anais do XXVII Congresso Ibero Latino-Americano de Métodos Computacionais em Engenharia (CILAMCE). Belém, PA. Cintra, D.T. e Carvalho Jr., H. (2006) Desenvolvimento de ferramentas de análise e visualização do Método dos Elementos Discretos e suas aplicações na engenharia. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Civil), Centro de Tecnologia, UFAL. Maceió, AL. Crook, A.J.L.; Willson, S.M.; Owen, D.R.J. (2006) Predictive modelling of structure evolution in sandbox experiments. Journal of Structural Geology, 28: 729–744. Cundall, P.A. e Strack, O.D.L. (1979) A discrete numerical model for granular assemblies. Geotechnique, 29, No. 1. 47-65. 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