Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento LUIZ ALFREDO BRAUN FERREIRA “ANÁLISE DA ATIVIDADE ELETROMIOGRÁFICA DOS MÚSCULOS DO TORNOZELO EM SOLO ESTÁVEL E INSTÁVEL COM OLHOS ABERTOS E FECHADOS” São José dos Campos, SP 2009 Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento LUIZ ALFREDO BRAUN FERREIRA “ANÁLISE DA ATIVIDADE ELETROMIOGRÁFICA DOS MÚSCULOS DO TORNOZELO EM SOLO ESTÁVEL E INSTÁVEL COM OLHOS ABERTOS E FECHADOS” Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica da Universidade do Vale do Paraíba, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica. Orientador: Prof. Dr. Alderico Rodrigues de Paula Jr. São José dos Campos, SP 2009 F44l^ Felreira,Luiz Alft€doBrÂütr Arálise da Àtiúdâd€EÌetomiogróficadosMúsculosdo TorÍÌozeloêm Soloestévele Insúvel / Luiz A1ftEdoBÍarmFefleirâ-OrientôdorProf Dr. AÌderico com os OlhosAbeÌtose Fechados. Câopôs, 2009. Paul-a Jr. São José dos RodÍiguesdo I diÂcolas€r:çoior ao PÌogramade Pós-Gradustãoem Bioengenbsriâdo Iútituto de Pesquisâe DirssrtaçãoapÍes€ntada da UnivetsidadeVole do Paralba 2009. Desetrvolvimenúo l. Eletsomiograiã 2- PiopÍiooepção 3. Tomozelo 4. Équilíbdo Mülculosquelético I. Paülâ JürioÍ., Alderico Rodrigues,Orieú. lL TíÍrlo CDU:615.84 parafins acadêmicos e científicos,a repÌoduçãototal ou paÌcial Auúorizoexclüsivamente fotocopiadoÍ€s ou transmissão eletrônic4clesdequecitadaà destiadisrrtaçã!, por pÍocessos fonte. rnl lo,,r;:. !.0/-"to 5 nr,,^ J-pr** ' Aluno:\j)iz Alfiedo BraunFeneira o SãoJosédosCampos,14deOutubmdç 2009. LIIIZ ÂLFREDO BRAIJNTERREIRA Dos MÚscul,osDo roRNozELo EM "ÁNÁLrsEDÀaTIIDADE ELETRoMTocRÁrrca SOLOESTÁI'EL E INSTÁWL COM OLEOS ABERTOSE FECHADOS" DissertaçãoapÌovada como Ìequisito parcial à obtençãodo grau de Mgstre em Engenharia Biomédic4 do Programa de Pós-Graduaçãoem Bioengeúaria" do Instituto de Pesqúsa e Desenvolvimentoda Universidadedo Vale do Paxaíba,SãoJosédos Campos,SP,pela scguinte bancaexaminadora: Prof. Dr. MÀRIO OLII'EIRA LIMA ([INIVAP)- Prof DÌ. ALDERICO RODRIGUESDE PAULA JR Prof. DÍa. CLAIJDIA SANTOS OLII'EIRA (UNIV daCosta Prof. Dra. SandraMaÍiaFonseca DiÌctoÍ do IP&D - Univap SãoJosédosCampos,14deoutubrode2009. DEDICATÓRIA Primeiramente preciso dedicar todo este trabalho aos meus pais, que me incentivaram sempre em toda esta caminhada e me apoiaram em todos os momentos da minha vida, certamente sem eles ao meu lado eu nunca teria chegado até aqui e não poderia sonhar em chegar mais longe.... A confiança deles é que me dá força para sempre continuar..... Ao meu grande irmão Luis Antônio e sua esposa Mariana, que juntamente com meu sobrinho Henrique estão sempre ao meu lado em todos os projetos da minha vida..... À minha noiva Aline, que em todos os momentos, felizes ou difíceis, esteve com o maior carinho e atenção me apoiando, e que pelo seu grande amor me inspira em tudo que sou e que faço.... Ao meu melhor amigo Wagner Menna Pereira, que é mais que um amigo, é um irmão, que me ajudou e me apoiou em toda minha caminhada e sempre será um grande parceiro em todos os meus projetos, sem você este trabalho não teria sido concluído.... Aos meus Mestres e Inspiradores Professores Luciano Pavan Rossi e Ivo Ilvan Kerppers, os quais me incentivaram desde o início da minha vida científica, e sempre estão ao meu lado me ajudando e auxiliando em todos os momentos.... Finalmente, mas com a mesma importância, a todas as pessoas que me auxiliaram em realizar este trabalho e fizeram-no possível de ser concretizado. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, Senhor e salvador da minha vida e dono de tudo que sou e que tenho.... À minha família pelo amor e carinho em todos os momentos da minha vida.... Ao Professor Dr. Alderico Rodrigues de Paula Jr, pela formidável orientação e grande ajuda em todo o trabalho... À professora Dra. Cláudia Santos Oliveira e ao professor Dr. Mário Oliveira Lima pela disponibilidade de compor a banca demonstrando sempre interesse e paciência na leitura do trabalho... À Valéria Maeda, Rúbia Gomes e Dona Ivone, pessoas que me ajudaram muito e tenho uma infinita gratidão por tudo que fizeram por mim e por este trabalho, e principalmente pela paciência e dedicação por este trabalho... Ao professor Ms. Ivo Ilvan Kerppers que me iniciou na pesquisa científica e me ensinou muita coisa, e continua sempre me ensinando.... Ao professor Ms. Luciano Pavan Rossi, meu grande exemplo de profissional e em quem me espelho até hoje, pelo infinito apoio em toda minha vida... Ao amigo Wagner Menna Pereira pelos sete anos de convivência e pelos momentos agradáveis que passamos juntos em toda esta caminhada... Ao professor Juarez Soares, Professor Ernani José Zampier e toda Faculdade Guairacá, inclusive os meus alunos, pela compreensão em minhas ausências mensais... À Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) por sempre ser a minha casa, desde a graduação como agora fazendo parte do corpo docente, um grande orgulho para mim... Aos meus colegas de mestrado, todos, meu muito obrigado pelos momentos especiais durante esta caminhada, vou lembrar-me de cada um de vocês com grande carinho e muitas saudades... Aos meus sócios da clínica Instituto Postural Fabrício Furtado Vieira e Gabriel Farhat pela grande compreensão pela minha constante ausência e pela ajuda durante todo este período com meus pacientes, graças a vocês nossa clínica está onde está... A todas as pessoas que estiveram do meu lado nesta caminhada, que estiveram orando por mim, e que ajudaram sempre, meu muito obrigado!!! “As coisas sobrenaturais de Deus aparecem através das coisas naturais da vida...” “Ora, Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo que pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós. (Efésios 3.20)” ANÁLISE DA ATIVIDADE ELETROMIOGRÁFICA DOS MÚSCULOS DO TORNOZELO EM SOLO ESTÁVEL E INSTÁVEL COM OLHOS ABERTOS E FECHADOS Resumo INTRODUÇÃO: Os exercícios proprioceptivos são realizados diariamente na reabilitação com a utilização de diversos solos instáveis e com o objetivo de melhorar a estabilidade articular através das propriedades mecânicas e sensoriais dos ligamentos, da cápsula articular e da atividade fusal dos músculos ao redor da articulação. As mudanças na característica mioelétrica dos músculos em atividade podem ser identificadas através da eletromiografia de superfície (EMG), podendo oferecer informações importantes sobre o comportamento dos músculos quando submetidos aos diversos tipos de sobrecarga. OBJETIVOS: o presente estudo tem por objetivo analisar a atividade eletromiográfica dos músculos tibial anterior, tibial posterior, fibular longo, gastrocnêmios lateral e medial, músculos estabilizadores do tornozelo, em solo estável e instável, associado ou não ao fechamento dos olhos. METODOLOGIA: Foram selecionados 25 indivíduos, de ambos os sexos, ativos e saudáveis para o estudo, e todos foram sumetidos a uma avaliação antropométrica e a aplicação de um protocolo de coleta que envolvia o aquecimento e a avaliação da atividade muscular em diferentes solos através da eletromiografia de superfície. Estas coletas serão escolhidas de forma randomizada (sorteio) entre todos os solos, tanto solo estável (chão) quanto solo instável (cama elástica, balancim, disco proprioceptivo e tábua proprioceptiva com os olhos abertos, como também cama elástica, balancim e solo estável com os olhos fechados). Na coleta, o indivíduo deverá se manter em equilíbrio sobre estes aparelhos durante 15 segundos, com uma angulação de joelho de 30º de flexão de joelho para proporcionar maior instabilidade. RESULTADOS: Houve um aumento significativo (p≤0,05) na atividade muscular na maioria dos solos instáveis, entretanto, a cama elástica não apresentou diferenças significativas (p≥0,05) na atividade eletromiográfica, mantendo seus valores próximos ao solo estável. Foi observado que os músculos tibial anterior e fibular longo apresentaram maior ativação eletromiográfica em todos os solos analisados. De acordo com os resultados obtidos, os testes proprioceptivos com os olhos fechados apresentaram ativação eletromiográfica maior, com diferença significativa, em comparação com olhos abertos. CONCLUSÃO: Podese concluir que exercícios de perturbação em solos instáveis geram aumentos significativos da atividade eletromiográfica quando comparado ao solo estável, principalmente com os olhos fechados em comparação com os olhos abertos, sendo estes, um recurso valioso na reabilitação sensório-motora da articulação do tornozelo. Palavras-chave: tornozelo, propriocepção, exercícios instáveis, eletromiografia. ELECTROMYOGRAPHY ACTIVITY ANALYSIS OF THE ANKLE MUSCLES AT THE STABLE AND UNSTABLE SOIL WITH OPEN AND CLOSED EYES Abstract INTRODUCTION: Proprioceptive exercises are performed daily in rehabilitation with the use of various unstable soils and in order to improve stability joint through the sensory and mechanical properties of ligaments, joint capsule and spindle activity of the muscles around the joint. The characteristic changes in myoelectric activity of muscles can be identified by surface electromyography (EMG), may provide important information about the behavior of the muscles when subjected to various types of overhead. OBJECTIVES: This study aims to examine the electromyographic activity of the anterior tibial, posterior tibial, peroneus longus, medial and lateral gastrocnemius, stabilizing muscles of the ankle in stable and unstable soil, with or without eye closure. METHODS: We selected 25 individuals of both sexes, active and healthy for the study, and all were subjected to the one anthropometric assessment and implementation of a collection protocol that involved heating and assessment of muscle activity in different soils by surface electromyography. These collections will be chosen randomly (lottery) among all soils, both soil stable (ground) on unstable ground (trampoline, balance beam, hard proprioceptive and ironing proprioceptive with open eyes, as well as trampoline, balance beam and floor stable eyes closed). On collection, the individual should remain in balance on these devices for 15 seconds, with an angle of knee 30 ° of knee flexion to provide greater instability. RESULTS: There was a significant increase (p ≤ 0.05) in muscle activity in most soils unstable, however, the trampoline was no significant difference (p ≥ 0.05) in electromyographic activity, while values close to the ground stable. It was observed that the tibialis anterior and peroneus longus showed higher EMG activation in all soils analyzed. According to the results obtained, the proprioceptive tests with eyes closed showed greater EMG activation, with significant difference compared with eyes open. CONCLUSION: It can be concluded that exercises on unstable soil disturbance generate significant increases in EMG activity when compared to stable soil, especially with eyes closed compared with open eyes, which are a valuable resource in the rehabilitation of sensory-motor coordination ankle. Keywords: ankle, proprioception, exercises unstable, electromyography. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Representação de um Pêndulo Invertido....................................................... 22 Figura 2 – Influências sensoriais no controle postural................................................... 23 Figura 3 - Captação dos raios luminosos pelo globo ocular e a formação da imagem na retina.............................................................................................................................. 25 Figura 4 - Formação da imagem da retina para o córtex visual..................................... 26 Figura 5 - Localização do córtex visual na região occipital do cérebro........................... 27 Figura 6 – Representação do Aparelho Vestibular........................................................ 28 Figura 7 - Representação do Labirinto Membranoso do aparelho vestibular................ 28 Figura 8 – Mácula.......................................................................................................... 29 Figura 9 – Células ciliadas ligadas com a fibra nervosa................................................. 30 Figura 10 – Canais Semicirculares................................................................................. 31 Figura 11 - Movimento da cúpula e suas fibras embutidas no início da rotação............ 32 Figura 12 - Movimentação da cabeça e inclinação dos cílios......................................... 32 Figura 13 - Porção somática do sistema sensorial........................................................... 35 Figura 14 – Diversos tipos de terminações sensoriais.................................................... 36 Figura 15 - a) Ilustração dos Fusos Musculares; b) Ilustração dos Órgãos Tendinosos de Golgi – OTGs.................................................................................................................. 37 Figura 16 - Ilustração do sistema de controle postural chamado de estratégia de tornozelo, onde pela inclinação corporal anterior, os fusos musculares foram ativados para a contração dos músculos Gastrocnêmios para a restauração da postura ereta............ 38 Figura 17 - Vista lateral do tornozelo e suas estruturas ligamentares (TFA: lig. Talofibular anterior; CF: lig. Calcâneo Fibular; TFP: lig. Talofibular Posterior)............... 40 Figura 18 - Exemplo de um entorse em inversão e lesões ligamentares............................. 40 Figura 19 - Funcional estabilidade paradigma alusivos a progressão da instabilidade funcional da articulação do ombro, devido à interação entre a instabilidade mecânica e diminuição de controle neuromuscular............................................................................. 41 Figura 20 - Percursos do controle neuromuscular........................................................... 42 Figura 21 - Exemplo de exercícios em plataformas instáveis............................................ 44 Figura 22 - Esquema demonstrando todo procedimento de análise eletromiográfica: coleta, filtragem, processamento dos dados...................................................................... 47 Figura 23: Posicionamento do eletrodo.............................................................................. 49 Figura 24: Diferentes posicionamentos dos eletrodos e diferentes respostas Eletromiográficas................................................................................................................. 50 Figura 25: Eletrodos de superfície ativos........................................................................... 51 Figura 26: Sinal Eletromiográfico e a despolarização da membrana................................. 52 Figura 27: Aparelhos proprioceptivos utilizados na coleta. (A – Cama Elástica; B – Disco Proprioceptivo; C – Balanço Proprioceptivo ou Balancim; D – Prancha Proprioceptiva)................................................................................................................... 59 Figura 28: Colocação dos eletrodos nos músculos da perna........................................... 60 Figura 29: Padronização dos exercícios instáveis com 300 de semi-flexão de joelho....... 62 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características dos sujeitos. Média ± desvio padrão das características antropométricas dos homens.............................................................................................. 57 Tabela 1: Características dos sujeitos. Média ± desvio padrão das características antropométricas das mulheres............................................................................................ 58 Tabela 2: Valores de significância (p<0,05) em destaque, somente os valores não destacados não apresentaram significância (p>0,05)....................................................................... 72 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Tibial Anterior entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05).............. 64 Gráfico 2: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Fibular Longo entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05).............. 65 Gráfico 3: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Gastrocnêmio Lateral entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05).. 66 Gráfico 4: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Gastrocnêmio Medial entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05).. 66 Gráfico 5: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Tibial Posterior entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05).............. 67 Gráfico 6: (TA: Tibial Anterior; FL: Fibular Longo; GL: Gastrocnêmio Lateral; GM: Gastrocnêmio Medial; TP: Tibial Posterior) Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05).............. 68 Gráfico 7: (TA-Tibial Anterior; FL-Fibular Longo; GL-Gastrocnêmio Lateral; GMGastrocnêmio Medial; TP-Tibial Posterior) Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) entre olhos abertos e fechados no solo Estável (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05)............................ 69 Gráfico 8: (TA-Tibial Anterior; FL-Fibular Longo; GL-Gastrocnêmio Lateral; GMGastrocnêmio Medial; TP-Tibial Posterior) Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) entre olhos abertos e fechados na cama elástica (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05).......................... 70 Gráfico 9: (TA-Tibial Anterior; FL-Fibular Longo; GL-Gastrocnêmio Lateral; GMGastrocnêmio Medial; TP-Tibial Posterior) Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) entre olhos abertos e fechados no Balancim (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05)........................... 71 Gráfico 10: Relação das médias eletromiográficas de superfície com olhos abertos e fechados nos solos analisados (Média ± Erro Padrão). * Houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05)............................................................................................. 72 LISTA DE ABREVIATURAS ACSM - American College of Sports Medicine - Colégio Americano de Medicina do Esporte CEFISIO – Clinica escola de fisioterapia CVMI – Contração isométrica voluntária máxima DB – decibéis DP – Desvio padrão EMG – Eletromiografia FL – Fibular longo GL – Gastrocnêmio lateral GM – Gastrocnêmio medial HZ – Hertz IMC – Índice de massa corporal ISEK - Sociedade Internacional de Eletrofisiologia e Cinesiologia KGF – Kilograma-força MCT – Massa corporal total RMS – root mean square RRMC – Relação de rejeição do modo comum SNC – Sistema nervoso central TA – Tibial anterior TP – Tibial posterior V – Volt uV – Microvolt Ω - Ohms SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................17 1.1 JUSTIFICATIVA...................................................................................................................... 20 1.2 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 20 1.2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................................... 20 1.2.2 Objetivos específicos............................................................................................................ 21 2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................22 2.1 FISIOLOGIA DO EQUILÍBRIO ............................................................................................ 22 2.2 SISTEMA VISUAL................................................................................................................... 24 2.3 SISTEMA VESTIBULAR........................................................................................................ 28 2.4 SISTEMA SENSÓRIO-MOTOR ............................................................................................ 34 2.4.1 Propriocepção de tornozelo .................................................................................................. 38 2.5 CICLO PERCEPÇÃO – AÇÃO ............................................................................................ 422 2.6 TREINAMENTO EM SUPERFÍCIES INSTÁVEIS ............................................................. 43 2.7 ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE ............................................................................ 46 2.7.1 Eletrodos .............................................................................................................................. 48 2.7.1.1 Posicionamento dos eletrodos .................................................................................... 49 2.7.2 Sinal eletromiográfico .......................................................................................................... 51 2.7.3 Amplificação diferencial e rejeição do modo comum.......................................................... 53 2.7.4 Variáveis que afetam o sinal eletromiográfico..................................................................... 54 2.7.5 Normalização do sinal eletromiográfico .............................................................................. 55 3 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................................57 3.1 LOCAL DA PESQUISA........................................................................................................... 57 3.2 SUJEITOS ................................................................................................................................. 57 3.3 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO.................................................................................................... 58 3.3.1 Critérios de inclusão............................................................................................................. 58 3.3.2 Critérios de exclusão ............................................................................................................ 58 3.4 INSTRUMENTOS .................................................................................................................... 59 3.5 PROCEDIMENTOS ................................................................................................................. 60 3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ....................................................................................................... 62 3.7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS............................................................................... 62 4 RESULTADOS .........................................................................................................................64 5 DISCUSSÃO .............................................................................................................................73 6 CONCLUSÃO...........................................................................................................................78 REFERÊNCIAS...........................................................................................................................79 APÊNDICE A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE.........................................89 APÊNDICE B: Ficha de Identificação dos Indivíduos.................................................................93 APÊNDICE C: Valores eletromiográficos brutos de cada exercício instável com olhos abertos e com olhos fechados.......................................................................................................................86 ANEXO A: Comitê de Ética e Pesquisa .......................................................................................86 17 1 INTRODUÇÃO O equilíbrio é definido em duas formas, a forma estática e dinâmica. O equilíbrio estático e dinâmico é mantido pelos sistemas vestibular (labirinto, nervos cocleares, núcleos, vias e inter-relação no sistema nervoso central), visual e proprioceptivo, sendo os receptores sensoriais localizados em articulações, músculos e tendões (HORAK; SHUPERT, 1994; LEE; ARONSON, 1974). Distúrbios em um ou mais destes sistemas pode ocasionar alteração no equilíbrio. Quando estes três sistemas estão em harmonia existe uma perfeita organização espacial sendo desencadeados reflexos à manutenção automática e inconsciente do controle postural, como também na estrutura levada ao desequilíbrio, no caso o tornozelo, com mecanismos protetores reflexos, tanto dinâmicos quanto estáticos. O sistema vestibular contribui para a manutenção do corpo em equilíbrio e para coordenação dos movimentos da cabeça e do corpo. Mas, os sinais vestibulares sozinhos não são capazes de fornecer informações ao sistema nervoso central (HORAK; SHUPERT, 1994). O sistema vestibular participa de um processamento acurado de informações sensoriais sobre os movimentos posturais, cumprindo muitas funções potenciais no controle da postura. Este sistema está atuante nos indivíduos no momento em que estes estão em pé ou se locomovendo, como também quando as informações somato-sensoriais não estão disponíveis. Desta forma, o reconhecimento destes fatores múltiplos contribui para uma resposta postural (BUZATTI et al., 2007). O sistema visual auxilia na manutenção e orientação de uma postura ereta. A correção consciente e inconsciente da postura é possível através das entradas visuais. Apesar de o sistema visual ser importante como fonte de referência de verticalidade e para a manutenção da oscilação natural do corpo dentro dos limites da estabilidade, não é imprescindível para o controle postural, visto que é possível manter o equilíbrio com os olhos fechados (HORAK; SHUPERT, 1994). Diferentemente destas afirmações, Lee e Aronson (1974) realizaram um experimento sobre informação visual movendo uma “sala” suspensa onde o teto e as paredes laterais tinham a capacidade de se movimentar. Adultos e crianças ficavam em pé nesta sala e, quando ela era movimentada, oscilações corporais correspondentes eram observadas, concluindo a grande atividade do sistema visual no controle postural. Muitos pesquisadores têm fornecido definições quanto à terminologia de sensação articular, ou da propriocepção e cinestesia (LEPHART et al., 1997). A propriocepção descreve a consciência da postura, do movimento, das mudanças no equilíbrio, assim como conhecimento da posição, do peso e da resistência dos objetos em relação ao corpo, sendo uma 18 variação especializada da modalidade sensorial do tato. Definindo-a especificamente, é a aferência neural cumulativa para o sistema nervoso central provindo de mecanoceptores (VOIGHT; COOK, 2003), dessa forma, engloba as sensações de movimento articular, a cinestesia e a posição articular (VOIGHT; COOK, 2003; ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000; PECCIN; PIRES, 2003). Um dos aspectos mais desafiadores para o clínico é compreender o papel do controle neuromuscular proprioceptivo mediada após lesão e sua restauração através da reabilitação. A propriocepção contribui para a precisão da programação motora necessária para o controle neuromuscular dos movimentos e também contribui para o reflexo muscular, proporcionando estabilidade dinâmica conjunta. O efeito do trauma ligamentar, resultando em instabilidade mecânica e déficits funcionais proprioceptivos contribui para a instabilidade, o que poderia levar, em última instância, a um microtrauma e uma nova lesão. (LEPHART et al., 1997). Os mecanoceptores são órgãos especializados que funcionam como transdutores biológicos capazes de converter energia mecânica da deformação física em potenciais de ação nervosos que geram informações proprioceptivas (VOIGHT; COOK, 2003). Sherrington descreveu pela primeira vez o termo propriocepção no início do século passado, quando percebeu a presença de receptores nas estruturas articulares e musculares cuja natureza era principalmente reflexiva (PECCIN; PIRES, 2003). Particularmente dois receptores desempenham uma importante função na estabilização articular; o fuso muscular que está situado no interior das fibras musculares, o qual é ativado quando o músculo é alongado e o Órgão tendinoso de Golgi que se situa na junção entre o músculo e o tendão e é ativado quando o músculo se contrai (PECCIN; PIRES, 2003). O fuso muscular é considerado o terceiro órgão sensorial mais complexo, depois do olho e do ouvido, sendo organizado em paralelo com as fibras musculares e inervado tanto por fibras aferentes quanto eferentes. Identifica o comprimento do músculo e, ainda mais importante, o ritmo de mudança do comprimento muscular (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000). Para Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) os fusos funcionam como um receptor ao estiramento, enviando impulsos sensitivos por axônios aferentes que informam outros neurônios da medula espinhal e cérebro sobre o comprimento do fuso muscular e a velocidade com que o estiramento muscular está ocorrendo. A tensão do músculo é medida pelos órgãos tendinosos de Golgi e os receptores de pressão e da dor. A estimulação dos receptores de Golgi é responsável por sua ação como estabilizadores mecânicos quando iniciam uma contração muscular reflexa em situações de estresse anormal (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000; SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). 19 Dessa forma, exercícios proprioceptivos são aqueles que promovem distúrbios no sistema de feedback sensorial, que através do treinamento de perturbação promovem respostas reflexas dinâmicas para gerar controle neuromuscular em uma determinada articulação (VOIGHT; COOK, 2003). Os músculos dos compartimentos da perna, compartimento anterior, posterior, lateral e medial fazem parte dos estabilizadores dinâmicos do tornozelo. Assim, a musculatura que controla o tornozelo e pé apresenta importante função estabilizadora, oferecendo uma contensão dinâmica às forças externas (MOORE; DALLEY, 2001; CORDOVA; INGERSOLL, 2003). Por exemplo, quando um movimento abrupto estira a musculatura fibular, essa musculatura é ativada reflexamente, gerando uma força em eversão, ajudando a estabilizar o tornozelo opondo-se ao movimento de inversão (ZAMPIERI; ALMEIDA, 2003;WILLEMS et al., 2002). A contração muscular produz mudanças metabólicas, mecânicas e mioelétricas no tecido muscular esquelético, podendo estas ser monitorada pela eletromiografia de superfície (SILVA; GONÇALVES, 2003; DE LUCA, 1997; ROBERGS; ROBERGS, 2002; O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004) que pode oferecer informações importantes sobre o comportamento dos músculos quando submetidos aos diversos tipos de sobrecarga, em diversas angulações e velocidades de execução (OCARINO et al., 2005). As mudanças na característica mioelétrica dos músculos em atividade podem ser identificadas através da eletromiografia de superfície (EMG). As aplicações específicas da eletromiografia nas pesquisas em fisioterapia são inúmeras. Dentre elas esta a investigação de estratégias musculares de estabilização articular, o estudo de técnicas de alongamento utilizadas na prática fisioterapêutica que se propõe a gerar um maior relaxamento muscular, avaliação da atividade muscular durante atividades funcionais, a caracterização da atividade muscular obtida durante a realização de exercícios terapêuticos assim como analisar a quantificação da taxa de disparo de unidades motoras e a identificação da fadiga muscular (GONÇALVES, 2006). Diversos exercícios, inclusive o treinamento funcional em plataformas instáveis são realizados na reabilitação e no condicionamento neuromuscular, conseqüentemente, proporcionando a melhora da reatividade muscular e do padrão de recrutamento neuromuscular (STRONJNIK; VENGUST; PAVLOVIC, 2002). Este tipo de treinamento auxilia na maior ativação do sistema proprioceptivo em atividades estáticas e dinâmicas. Durante a realização do treinamento, a instabilidade dos movimentos proporciona situações de risco às articulações, assim, a ativação dos impulsos proprioceptivos que são 20 integrados em vários centros sensório-motores regula automaticamente os ajustes na contração dos músculos posturais, mantendo o equilíbrio postural geral. (COOKE, 1980). Diante da constatação da necessidade de determinar protocolos para identificação da atividade muscular em exercícios proprioceptivos através eletromiografia de superfície é que o presente estudo tem por objetivo analisar a atividade eletromiográfica dos músculos tibial anterior, tibial posterior, fibular longo, gastrocnêmios lateral e medial, músculos estabilizadores do tornozelo, em solo estável e instável, associado ou não ao fechamento dos olhos. 1.1 JUSTIFICATIVA Com o crescimento acentuado de técnicas fisioterapêuticas para proporcionar um tempo menor de recuperação do paciente, principalmente na área esportiva de alto rendimento, existindo a necessidade de resultados ainda mais rápidos, os conhecimentos em torno da eficácia do tratamento tornam-se ainda mais importantes. Diante destas informações, um ponto que ainda não existe resposta é qual musculatura estabilizadora da articulação do tornozelo estará sendo mais ativada nos diversos solos instáveis, bem como qual exercício de desequilíbrio estará produzindo maior instabilidade para articulação, sendo avaliado tanto exercícios com os olhos abertos quanto com os olhos fechados. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral O presente estudo tem por objetivo analisar a atividade eletromiográfica da musculatura do tornozelo em indivíduos normais com apoio unipodal em diversos solos instáveis em comparação ao solo estável, tanto em condições de olhos abertos como com os olhos fechados. 21 1.2.2 Objetivos específicos • Avaliar a influência das plataformas instáveis na média do sinal eletromiográfico (RMS) nos músculos tibial anterior (TA), Fibular Longo (FL), Gastrocnêmio Lateral (GL), Gastrocnêmio Medial (GM) e tibial posterior (TP). • Avaliar qual atividade proprioceptiva proporciona maior desequilíbrio, e desenvolver uma linha de raciocínio lógica entre exercícios que promovem menor distúrbio no equilíbrio para exercícios que promovem maior distúrbio no equilíbrio corporal. • Analisar se exercícios proprioceptivos com os olhos fechados causam maior desequilíbrio postural quando comparados aos exercícios proprioceptivos com os olhos abertos, e quantificar isso. 22 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 FISIOLOGIA DO EQUILÍBRIO Através da evolução, os seres humanos assumiram uma postura ereta e esta postura é continuamente desafiada pela força da gravidade para manter o equilíbrio do corpo sobre a pequena base de sustentação representadas pelos pés (DUARTE, 2000; GAGEY; WEBER, 2000; MATTOS; PRZYSIEZNY, 2004). Portanto o centro de gravidade do corpo humano não pode ser um ponto fixo, ele depende da posição relativa dos diferentes segmentos e varia a cada instante (DUARTE, 2000). Atualmente, estudos descrevem o corpo humano como sendo um pêndulo invertido suspenso sobre uma base que oscila constantemente devido ao controle do equilíbrio e da postura, representado na figura 1 (GAGEY; WEBER, 2000; MATTOS; PRZYSIEZNY, 2004). Essas oscilações são decorrentes da dificuldade em manter os muitos segmentos corporais alinhados entre si sobre uma base de suporte restrita utilizando um sistema muscular esquelético que produz forças que variam ao longo do tempo (MATTOS; PRZYSIEZNY, 2004). Desta forma, o homem se estabiliza em seu meio ambiente através de uma complexa tarefa que envolve um intrincado relacionamento das informações sensoriais sobre a posição relativa dos segmentos corporais e sobre as forças internas e externas que atuam nestes segmentos. Todas estas informações sensoriais são utilizadas para estimar e antecipar as forças que agem no corpo e, combinado com a atividade muscular apropriada produz ou mantém a posição corporal desejada e sendo estas forças não constantes, o corpo não está totalmente imóvel, o corpo oscila de um lado para o outro e para frente e para trás (DUARTE, 2000; MATTOS; PRZYSIEZNY, 2004). Figura 1: Representação de um Pêndulo Invertido. Fonte: Duarte (2000). 23 O controle da postura em humanos consiste em um processo sofisticado que envolve a manutenção de varias articulações e grupamentos musculares em relação geométrica uns com os outros e com o ambiente. Neste processo, informações visuais, vestibulares e proprioceptivas são utilizadas, tanto na detecção de variações da posição de segmentos corporais e das pistas do ambiente, quanto no ajuste fino dos movimentos da musculatura axial e proximal, com vistas à manutenção do equilíbrio. (RODRIGUES et al., 2003). A manutenção do equilíbrio corporal no meio ambiente é determinada por sistemas centrais e estruturas periféricas responsáveis pela execução motora, cujo funcionamento depende da integração das informações provenientes das estruturas sensoriais dos sistemas proprioceptivo, vestibular e visual (Figura 2). Estes receptores atuam de forma complexa, integrada, redundante e de maneira diferenciada para cada perturbação sobre o corpo processada nos núcleos vestibulares do tronco encefálico, sob a coordenação do cerebelo (EKMAN, 2000; ROTHWELL, 1994). Figura 2: Influências sensoriais no controle postural. Fonte: Ekman (2000). A orientação postural derivada dos sistemas podal, visual e vestibular depende da integração e seleção das informações recebidas para realização de determinada tarefa (WOOLLEY et al., 1993). O equilíbrio estático é garantido quando a somatório de todos os torques e das forças vertical e horizontal atuantes no corpo é igual à zero (FRONTERA; 24 DAWSON; SLOVICK, 2001; HALL, 2000). Quando uma dessas condições não é satisfeita, o equilíbrio estático deixa de existir. O sistema postural é regulado pelo sistema vestibular, visual, oclusão dental, receptores musculares, tendinosos e cutâneos. Os pés têm um importante papel nas vias ascendentes posturais. Se a postura bípede do homem for correta, ocorrerá um mínimo de estresse nas articulações e mínima atividade muscular será necessária para manter esta posição. O princípio das palmilhas proprioceptivas, também descritas como posturais, está fundamentado na ação de peças que são colocadas sob a região plantar. Elas influenciam o tônus muscular e modificam a postura corporal (COMELLI; MIRANDA, 2007). O SNC necessita de um conjunto de informações precisas e harmoniosas para organizar e processar com rapidez as informações sensoriais visuais, vestibulares, e proprioceptivas em centros específicos localizados no tronco encefálico e cerebelo. Estes centros comandam os movimentos da cabeça, pescoço, coluna vertebral, pernas, braços, olhos, pés e todos os músculos do corpo, necessários para orientá-lo e mantê-lo em equilíbrio. Caso ocorra um conflito entre as informações recebidas pelo SNC, a perturbação do estado de equilíbrio passa a ser consciente, originando desequilíbrio corporal (GANANÇA; CAOVILLA, 1998). 2.2 SISTEMA VISUAL Quando pensamos em sistema visual, pensamos no sentido que tem por objetivo a observação do mundo em nossa volta e assim ser possível as mais diferenciadas atividades. Porém, apesar de sua simplicidade aparente, o sistema visual é o mais complexo (MASSION, 1992) e fornece informações a respeito do ambiente e da direção e velocidade dos segmentos corporais com relação ao ambiente (NASHNER, 1981). O sistema visual é responsável também por detectar movimentos da cabeça, já que quando a cabeça se movimenta para frente, os objetos que estão sendo visualizados “se movimentam” em direção oposta (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). Quando se considera o controle postural, Paulus et al. (1989) sugerem que este sistema contribui na detecção de movimentos corporais relativos a um referencial do ambiente. Numa abordagem mais neurofisiológica, Sousa (1997) afirma que, a luz do ambiente chega à retina após atravessar os meios transparentes do globo ocular, representado na figura 3. Mas a retina, segundo este autor, não possui a mesma sensibilidade em toda a sua extensão. Existe uma área, chamada fóvea, com localização deslocada ligeiramente para o lado temporal, que é responsável pela discriminação dos objetos. A medida desta visão foveal é chamada de 25 acuidade visual. Todo o resto da retina é responsável pela chamada visão de campo. Esta visão é muito importante para a locomoção, já que é através dela que se tem a noção de conjunto ou do todo. (SOUSA, 1997). Figura 3: Captação dos raios luminosos pelo globo ocular e a formação da imagem na retina. Fonte: Firmino (2004). A partir do momento em que a luz é recebida pela retina, a mesma é convertida em impulsos elétricos que, através dos nervos ópticos, são levados até o córtex occipital. O córtex recebe imagens relativamente diferentes, já que cada olho capta imagens de ângulos diferentes, por isso, o cérebro une estas imagens e justamente esta disparidade é que dá o efeito tridimensional da visão humana. A decussação dos nervos ópticos é que permite este fenômeno (SOUSA, 1997). De uma forma mais especifica, depois dos impulsos nervosos deixarem a retina vão para trás pelos nervos ópticos. No quiasma óptico todas as fibras das metades nasais das retinas cruzam para o lado oposto, onde se juntam às fibras das retinas temporais opostas para formar os tratos ópticos (Figura 4). As fibras de cada trato óptico fazem sinapse na núcleo geniculado lateral dorsal, e daí as fibras geniculocalcarinas vão pela radiação óptica (ou trato geniculocalcariano) para o córtex visual primário na área calcarina do lobo occiptal. 26 Figura 4: Formação da imagem da retina para o córtex visual. Fonte: Guyton e Hall (2006). Além disso, fibras visuais também vão para áreas mais antigas do encéfalo: especialmente importantes são as vias das fibras (1) dos tratos ópticos para os núcleos pré-tectais, para provocar os movimentos reflexos dos olhos na focalização dos objetos importantes e também para ativar o reflexo pupilar à luz, e (2) par ao colículo superior, para o controle dos movimentos direcionais rápidos dos dois olhos. (GUYTON; HALL, 1998). O córtex visual está localizado primariamente nos lobos occipitais. Como as representações corticais dos outros sistemas sensoriais, o córtex visual é dividido em um córtex visual primário e em áreas visuais secundárias. O córtex visual primário, ou córtex estriado, fica na área da fissura calcarina e se estende para o pólo occipital sobre o aspecto medial de cada córtex occipital. Esta é a área do termino dos sinais visuais diretos a partir dos olhos. A fóvea é responsável pelo grau mais alto de acuidade visual. Com base na área da retina, a fóvea tem várias centenas de vezes mais representação no córtex visual primário que as porções periféricas da retina. (PEELEN; FEI-FEI; KASTNER, 2009). 27 Figura 5: Localização do córtex visual na região occipital do cérebro. Fonte: Guyton e Hall (2006). As áreas visuais secundárias, também chamadas de áreas de associação visuais, ficam situadas anterior, superior e inferiormente ao córtex visual primário. Sinais secundários são transmitidos para estas áreas para análise dos significados visuais. (GUYTON; HALL, 1998). De acordo com Paulus et al. (1989), o sistema de controle postural se utiliza da informação visual para controlar as oscilações corporais. Neste sentido, quando um indivíduo se aproxima de um objeto, ocorre um aumento da expansão da imagem deste objeto na retina. O contrário ocorre quando um indivíduo se afasta deste mesmo objeto, ou seja, há uma diminuição da projeção da imagem na retina. Assim, o sistema de controle postural busca minimizar estas alterações visuais na retina para controlar as oscilações posturais. Neste caso, qualquer deterioração da informação visual ou mesmo sua ausência provocará o aumento das oscilações corporais (PAULUS et al., 1989). Na década de setenta, Lee e Aronson (1974) utilizaram uma sala suspensa que era movimentada e manipulava a informação visual do indivíduo que se localizava em seu interior. Os movimentos para frente e para trás produziam oscilações corporais correspondentes nos participantes. Estes estudos mostraram que um campo visual móvel pode induzir uma percepção de movimento do próprio corpo e, mesmo que este estímulo visual provoque uma situação ilusória, oscilação corporal coerente e correspondente é desencadeada. 28 2.3 SISTEMA VESTIBULAR O aparelho vestibular é o órgão sensorial que detecta as sensações relacionadas com o equilíbrio e se localiza dentro da orelha interna (Figura 6). Figura 6: Representação do aparelho vestibular. Fonte: Guyton e Hall (2006). Ele é composto por um labirinto ósseo contendo o labirinto membranoso (Figura 7), que constitui a parte funcional do aparelho. O labirinto ósseo é composto ainda por uma cavidade central de forma irregular: o vestíbulo. Este é composto principalmente do ducto coclear, de três canais semicirculares e de duas grandes câmaras conhecidas como utrículo e sáculo. O ducto coclear é a principal área sensorial para a audição e não tem nada a ver com o equilíbrio. Todavia, o utrículo, o sáculo e os canais semicirculares são todos partes integrantes dos mecanismos responsáveis pela manutenção do equilíbrio (JUNG et al., 2009). Figura 7: Representação do Labirinto Membranoso do aparelho vestibular. Fonte: Guyton e Hall (2006). 29 Localizada na parede tanto do utrículo quanto do sáculo há uma pequena área com pouco mais de 2mm de diâmetro denominada mácula. Cada mácula é uma área sensorial para detecção da orientação da cabeça em relação à direção da força gravitacional ou outras forças aceleratórias, onde termina os ramos no nervo vestibular (RAMUNNO-JOHNSON et al., 2009). A mácula é coberta por uma camada gelatinosa na qual estão embebidos vários pequenos cristais de carbonato de cálcio chamados de otocônios. Também na mácula existem milhares de células ciliadas, que projetam os cílios para dentro da camada gelatinosa. As porções basal e lateral das células ciliadas fazem sinapse com os axônios sensoriais do nervo vestibular, apresentado na Figura 8. (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). Figura 8: Mácula. Fonte: Guyton e Hall (2006). Mesmo em condições de repouso, a maioria das fibras nervosas que circundam as células ciliadas transmite uma série contínua de impulsos nervosos. A inclinação dos cílios de uma célula ciliada para um lado determina aumento acentuado dos impulsos em suas fibras nervosas; a inclinação dos cílios para o lado oposto diminui e muitas vezes abole os impulsos. Portanto, quando se altera a orientação da cabeça no espaço e o peso dos otocônios (cuja densidade específica aproximada é de três vezes a dos tecidos circunjacentes), encurvam os cílios, transmitindo impulsos apropriados ao encéfalo para controlar o equilíbrio. (Figura 9) (BRUGEAUD et al., 2007). 30 Figura 9: Células ciliadas ligadas com a fibra nervosa. Fonte: Guyton e Hall (2006). Em cada mácula, as diferentes células ciliadas estão orientadas em direções diferentes de forma que algumas delas são estimuladas quando a cabeça se inclina para frente e algumas quando a cabeça se inclina para trás, e outras quando ela se inclina para um lado e assim por diante. Portanto, um padrão diferente de excitação ocorre na mácula para cada posição da cabeça; é este “padrão” que informa o encéfalo sobre a orientação da cabeça (GUYTON; HALL, 1998). Quando o corpo é subitamente lançado para frente, os otólitos, que tem inércia maior que a dos líquidos circundantes, dobram para trás os cílios das células ciliares e a informação do desequilíbrio é enviada aos centros nervosos, fazendo com que a pessoa se sinta como se estivesse caindo para trás. Isto faz com que o indivíduo se desloque para frente até que o desvio dos otólitos para trás não ocorra. Nesse instante, o sistema nervoso detecta o equilíbrio e deixa de haver deslocamento do corpo para frente (BRUGGEMAN et al., 2009). Os três canais semicirculares em cada aparelho vestibular, conhecidos respectivamente como canais semicirculares superior, posterior e externo (ou horizontal), estão dispostos em ângulos retos entre si ou de forma que representam os três planos do espaço. Quando a cabeça é inclinada para frente num ângulo aproximado de 30 graus, os dois canais semicirculares externos se dispõem aproximadamente de forma horizontal em relação à superfície da terra. 31 Os canais superiores estão, então, localizados em planos verticais que se projetam para frente e 45 graus para fora, e os canais posteriores também estão em planos verticais, mas se projetam para trás e 45 graus para fora. Dessa forma, o canal superior de cada lado da cabeça está num plano paralelo ao canal posterior do lado oposto da cabeça, enquanto os dois canais externos dos dois lados estão localizados quase no mesmo plano (HULLAR, 2006). Figura 10: Canais semicirculares. Fonte: Maldonado (2003). Cada canal semicircular tem uma dilatação em uma de suas extremidades, conhecida como ampola, e os canais estão repletos de um líquido denominado endolinfa. O fluxo deste líquido dentro dos canais excita o órgão sensorial na ampola. Em cada ampola existe uma crista denominada crista ampular, e na porção superior da crista há uma substância gelatinosa semelhante àquela do utrículo, que é conhecida como cúpula. No interior da cúpula, se projetam os cílios das células ciliadas localizadas ao longo da crista ampular, e estas células ciliadas, por sua vez, estão conectadas às fibras nervosas sensoriais que se destinam ao nervo vestibular, representada na figura 11. A inclinação da cúpula para um lado, determinada pelo fluxo de líquido nos canais, estimula as células ciliadas, enquanto a inclinação em direção oposta as inibe. Portanto, sinais apropriados são enviados através do nervo vestibular para informar o sistema nervoso central do movimento do líquido no respectivo canal (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004; GUYTON; HALL, 2006; HULLAR, 2006). 32 Figura 11: Movimento da cúpula e suas fibras embutidas no início da rotação. Fonte: Guyton e Hall (2006) Quando há movimentação, a endolinfa dos canais semicirculares move-se em direção oposta ao movimento da cabeça. Quando ocorre parada abrupta da rotação, a endolinfa continua a rodar quando cessa a movimentação. Neste momento acontece a parada do disparo das células ciliares. Assim, os canais semicirculares transmitem um sinal de uma polaridade quando a cabeça começa a rodar e de polaridade oposta quando ela pára de rodar (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). Figura 12: Movimentação da cabeça e inclinação dos cílios. Fonte: Percepção da força gravitacional e do movimento (2005). 33 A função dos canais semicirculares não é manter o equilíbrio estático ou manter o equilíbrio durante a aceleração linear ou quando a pessoa está exposta a forças centrífugas constantes. A perda da função dos canais semicirculares faz com que a pessoa tenha um equilíbrio precário quando tenta movimentos corporais rápidos e intrincados (BRUCE, 2003). Cada vez que a cabeça é girada subitamente, sinais provenientes dos canais semicirculares provocam a rotação dos olhos na direção igual e contrária à rotação da cabeça. Esses sinais são transmitidos dos canais para os núcleos oculares, por meio dos núcleos vestibulares e do fascículo longitudinal medial. O sistema vestibular humano é o grande responsável pela manutenção do equilíbrio, porém, ele não trabalha sozinho, tem como aliados o sistema visual e o sômato – sensorial. Além disso, não podemos esquecer o SNC, pois, processa sinais e combinado com outras informações sensoriais promove uma orientação cefálica (BUZATTI et.al., 2007). Quando ocorre déficit em alguns desses sistemas ou nas informações por eles transmitidas, ocorrem sinais e sintomas característicos e indicativos de distúrbios, sendo o sintoma mais freqüente a tontura contínua e intermitente que se denomina ilusão do movimento do próprio indivíduo e do ambiente ao seu redor. Quando a tontura adquire um caráter rotatório é denominada vertigem, acompanhada também de instabilidade à marcha. A Reabilitação Vestibular tem se tornado amplamente utilizada no tratamento de pacientes com tontura, desequilíbrio e instabilidade na marcha. É sabido que o sistema vestibular faz parte de um processamento acurado das informações sensoriais sobre os movimentos cefálicos e posturais; cumprindo muitas funções potenciais no controle postural; atua nos indivíduos quando estes estão de pé ou se locomovendo e também quando as informações somato-sensitivas não estão disponíveis. Assim, o reconhecimento destes fatores múltiplos contribui para o resultado de uma resposta postural e ajudam os fisioterapeutas a determinar a abordagem e a eficácia de sua estratégia de intervenção para o treinamento e a restauração da função postural (BUZATTI et al., 2007). Após a destruição completa do aparelho vestibular, e mesmo depois da parda da maior parte das informações proprioceptivas do corpo, ainda se pode usar o mecanismo visual com razoável eficácia para manter o equilíbrio. Mesmo o mais discreto movimento linear ou de rotação do corpo instantaneamente desloca as imagens visuais na retina, e estas informações são retransmitidas aos centros de equilíbrio. Algumas pessoas com destruição completa dos aparelhos vestibulares tem equilíbrio quase normal enquanto seus olhos estiverem abertos e enquanto fizerem todos os movimentos lentamente. Mas quando se movem rapidamente ou 34 quando os olhos estão fechados, o equilíbrio é imediatamente perdido (GUYTON; HALL, 1998). 2.4 SISTEMA SENSÓRIO-MOTOR A maior parte das atividades do sistema nervoso são iniciadas pela excitante experiência sensorial dos receptores sensoriais, quer nos olhos com os receptores visuais, auditivos com os receptores nas orelhas, receptores táteis na superfície do corpo, ou outros tipos de experiência sensorial. Isto pode causar imediata reação por parte do cérebro, ou memória da experiência pode ser armazenada no cérebro por minutos, semanas ou anos, e determinar reações corporais numa determinada data futura (GUYTON; HALL, 2006). Segundo Guyton e Hall (1998) os sentidos da posição podem ser divididos em dois subtipos: (1) o sentido da posição estática, que significa a orientação consciente das diferentes partes do corpo com respeito umas às outras, e (2) o sentido da velocidade do movimento, também chamado de cinestesia. O conhecimento da posição, tanto estática quanto dinâmica, depende da noção dos graus de angulação de todas as articulações em todos os planos e da velocidade de suas alterações. Portanto, múltiplos tipos diferentes de receptores sensoriais somáticos ajudam a determinar a angulação das articulações e são usados juntos para o sentido da posição. Além disso, tanto os receptores táteis cutâneos como os receptores profundos perto das articulações são também usados. Para a determinação da angulação articular nas faixas médias de movimento, os receptores mais notáveis acredita-se que sejam os fusos neuromusculares. Estes também são extraordinariamente importantes ajudando a controlar o movimento muscular. Quando o ângulo de uma articulação esta mudando, alguns músculos estão sendo estirados enquanto outros afrouxados, e as informações dos fusos sobre o estiramento são mandadas para o sistema computacional da medula espinhal e das regiões superiores do sistema da coluna dorsal, para decifrar as inter-relações complexas das angulações articulares (GUYTON; HALL, 1998). A Figura 13 mostra a porção somática do sistema sensorial, que transmite informações sensoriais dos receptores de toda a superfície corporal e de algumas estruturas profundas. Estas informações entram no sistema nervoso central através de nervos periféricos e é conduzida imediatamente a múltiplas áreas sensoriais como a medula espinhal em todos os seus níveis, a substância reticular do bulbo, ponte, mesencéfalo e do cérebro, o cerebelo, o tálamo e áreas do córtex cerebral. 35 Figura 13: Porção somática do sistema sensorial. Fonte: Guyton e Hall (2006). Os receptores sensoriais de propriocepção são encontrados na pele, músculos e articulações, bem como em todos os ligamentos e tendões e enviam informações para o sistema nervoso central (SNC) em relação à deformação tecidual. Centros de informação visual e vestibular também contribuem para SNC quanto à posição e balanço corporal (LEPHART et al., 1997). Nos extremos da angulação articular, o estiramento dos ligamentos e dos tecidos profundos em torno das articulações é mais um fator importante na determinação da posição. Os tipos de terminações sensoriais utilizadas para tanto são os corpúsculos de Pacini, as terminações de Ruffini e receptores semelhantes aos receptores tendinosos de Golgi encontrados nos tendões musculares. Os corpúsculos de Pacini e os fusos neuromusculares são especialmente adaptados para detectar velocidades rápidas de alteração. Portanto, é provável que estes sejam os principais receptores responsáveis para a detecção da velocidade de movimento (GUYTON; HALL, 1998). 36 Figura 14: Diversos tipos de terminações sensoriais. Fonte: Guyton e Hall (2006). Os mecanoceptores são órgãos especializados que funcionam como transdutores biológicos capazes de converter energia mecânica da deformação física em potenciais de ação nervosos que geram informações proprioceptivas (VOIGHT; COOK, 2003). Sherrington descreveu pela primeira vez o termo propriocepção no início do século passado, quando percebeu a presença de receptores nas estruturas articulares e musculares cuja natureza era principalmente reflexiva (PECCIN; PIRES, 2003). Particularmente dois receptores desempenham uma importante função na estabilização articular; o fuso muscular que está situado no interior das fibras musculares, o qual é ativado quando o músculo é alongado e o Órgão tendinoso de Golgi que se situa na junção entre o músculo e o tendão e é ativado quando o músculo se contrai (PECCIN; PIRES, 2003). O fuso muscular é considerado o terceiro órgão sensorial mais complexo, depois do olho e do ouvido, sendo organizado em paralelo com as fibras musculares e inervado tanto por fibras aferentes quanto eferentes. Identifica o comprimento do músculo e, ainda mais importante, o ritmo de mudança do comprimento muscular (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000). Para Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) os fusos funcionam como um receptor 37 ao estiramento, enviando impulsos sensitivos por axônios aferentes que informam outros neurônios da medula espinhal e cérebro sobre o comprimento do fuso muscular e a velocidade com que o estiramento muscular está ocorrendo. A tensão do músculo é medida pelos órgãos tendinosos de Golgi e os receptores de pressão e da dor. A estimulação dos receptores de Golgi é responsável por sua ação como estabilizadores mecânicos quando iniciam uma contração muscular reflexa em situações de estresse anormal (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000; SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). Figura 15: a) Ilustração dos Fusos Musculares; b) Ilustração dos Órgãos Tendinosos de Golgi – OTGs Fonte: 15 a. Arquivo pessoal; 15 b. Smith; Weiss; Lehmkuhl, (1997). Para um efetivo controle postural, informações sensoriais são captadas basicamente por três canais: somatossensorial, vestibular e visual. O sistema somatossensorial é abrangente com respeito à localização corporal. Neste sistema podemos incluir os receptores (sensíveis ao movimento, à vibração, ao toque, à pressão), fusos neuromusculares e órgãos tendinosos de Golgi (sensíveis ao comprimento e à tensão dos músculos). Neste caso, por exemplo, quando o indivíduo se apresenta na posição em pé, as informações captadas, incluindo a informação do contato dos pés com o chão e referentes aos músculos e articulações, serão utilizadas pelo sistema de controle postural para que, integradas com as informações provindas de outros canais, permita ao indivíduo permanecer estável ou se preparar para qualquer outra ação que possa ocorrer. 38 Figura 16: Ilustração do sistema de controle postural chamado de estratégia de tornozelo, onde pela inclinação corporal anterior, os fusos musculares foram ativados para a contração dos músculos Gastrocnêmios para a restauração da postura ereta. Fonte: Arquivo pessoal. Dessa forma, exercícios proprioceptivos são aqueles que promovem distúrbios no sistema de feedback sensorial, que através do treinamento de perturbação promovem respostas reflexas dinâmicas para gerar controle neuromuscular em uma determinada articulação (VOIGHT; COOK, 2003). 2.4.1 Propriocepção de tornozelo A tarefa de definir o termo propriocepção tem criado controvérsias na comunidade científica, mostrando o grau de complexidade desse tópico. O termo foi originalmente descrito, em 1906, por Sherrington como “o resultado de todas as aferências oriundas de articulações, tendões, músculos e proprioceptores de tecidos profundos associados”. Essas aferências seriam projetadas ao Sistema Nervoso Central para o seu processamento, resultando na regulação de reflexos e do controle motor (LOBATO et al., 2005). Atualmente, a literatura mostra que propriocepção é uma condição complexa acompanhada por diferentes tipos de sensações, isto é, senso de posição, velocidade e detecção de movimento e força. Desses, o senso de posição, definido como a “consciência da real posição do membro” ou a “habilidade para reproduzir ângulos articulares” ou, ainda, “a habilidade para avaliar a posição do membro sem a ajuda da visão”, é o mais usado clinicamente. O senso de posição é controlado por mecanismos centrais e periféricos, principalmente receptores 39 musculares, tendinosos, articulares e cutâneos. Essa função pode indicar que a modificação do estado funcional dos músculos pode afetar a precisão do senso de posição (LOBATO et al., 2005). Muitos pesquisadores têm fornecido definições quanto à terminologia de sensação articular, ou da propriocepção e cinestesia. A propriocepção descreve a consciência da postura, do movimento, das mudanças no equilíbrio, assim como conhecimento da posição, do peso e da resistência dos objetos em relação ao corpo, sendo uma variação especializada da modalidade sensorial do tato. Definindo-a especificamente, é a aferência neural cumulativa para o sistema nervoso central provindo de mecanoceptores (VOIGHT; COOK, 2003), dessa forma, engloba as sensações de movimento articular, a cinestesia e a posição articular (VOIGHT; COOK, 2003; ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000; PECCIN; PIRES, 2003). Entorses do tornozelo são as mais comuns lesões musculoesqueléticas que ocorre em atletas, e vários estudos têm observado que esportes que exigem movimentos bruscos, tais como basquete e futebol, a percentagem é mais elevada de causar essas lesões. Entorse do tornozelo, não só resultará em um tempo significativo de perda de participação desportiva, mas eles também podem causar a longo prazo deficiência e têm um impacto importante sobre os custos e recursos para os cuidados em saúde. O impacto financeiro dessas lesões na sociedade é corroborada pelo fato de que nos Estados Unidos, sozinho, 4,8 milhões de atletas da grade escolar e 1,7 milhões do ensino médio que participarem em programas supervisionados futebol e basquete e, em média, 15% (1 milhão), desses atletas apresentam entorses do tornozelo em cada ano. Os custos associados ao tratamento deste número de entorses são surpreendentes. Em 2003 apenas, os Estados Unidos da América estimaram que o custo do tratamento médico direto de entorses no tornozelo em futebol e basquetebol (idades 15-18 anos) era de 70 milhões de dólares, e os custos indiretos foram de 1,1 bilhões de dólares (MCGUINE; KEENE, 2006). O complexo lateral do tornozelo (ligamentos talofibular anterior, calcaneo-fibular, e talofibular posterior) é o sítio mais freqüentemente em atletas lesionados, figura 17. Lesões do complexo lateral do tornozelo conta para 38% a 45% de todas as lesões no esporte. "Cerca de 85% de lesões de tornozelos são entorses e até um sexto de tempo perdido na participação do esporte por lesão esportiva é a resultado do entorse de tornozelo. Entre os entorses do tornozelo, 85% são entorses laterais em inversão, 5% são entorses do ligamento deltóide ou medial por eversão, e 10% são lesão de sindesmose. Entorse do tornozelo parecem predispor atletas para futuras lesões (SHETH et al., 1997). 40 Figura 17: Vista lateral do tornozelo e suas estruturas ligamentares (TFA: lig. Talofibular anterior; CF: lig. Calcâneo Fibular; TFP: lig. Talofibular Posterior). Fonte: Netter (1999). Figura 18: Exemplo de um entorse em inversão e lesões ligamentares. Fonte: Silva (2007). Um dos fatores que podem contribuir para nova lesão lateral após um entorse de tornozelo é um prejudicada ativação muscular (VAN DEUN et al., 2007). Apesar dos enormes custos associados com a saúde, comentários críticos identificaram apenas um número limitado de estudos que têm a metodologia adequada para analisar a eficácia das medidas de prevenção entorse de tornozelo em geral e poucos estudos examinam a eficácia do treinamento proprioceptivo em particular (MCGUINE; KEENE, 2006). Diversos estudos têm examinado fatores extrínsecos e intrínsecos de risco para entorse de tornozelo (MCHUGH et.al., 2006). Um dos aspectos mais desafiadores para o clínico é 41 compreender o papel do controle neuromuscular proprioceptivo mediada após lesão e sua restauração através da reabilitação. A propriocepção contribui para a precisão da programação motora necessária para o controle neuromuscular dos movimentos e também contribui para o reflexo muscular, proporcionando estabilidade dinâmica conjunta. O efeito do trauma ligamentar, resultando em instabilidade mecânica e déficits funcionais proprioceptivos contribui para a instabilidade, o que poderia levar, em última instância, a um microtrauma e uma nova lesão, figura 19 (LEPHART et al., 1997). Figura 19: Funcional estabilidade paradigma alusivos a progressão da instabilidade funcional da articulação do ombro, devido à interação entre a instabilidade mecânica e diminuição de controle neuromuscular. Fonte: Lephart et.al. (1997). A entrada neural que é fornecida pelos mecanorreceptores periféricos, bem como o impacto visual e vestibular são integradas pela Sistema Nervoso Central para gerar respostas motoras. Estas respostas geralmente são abrangidas em três níveis de controle motor: reflexos espinhais, programação cognitiva, equilíbrio do tronco cerebral (Figura 20). Em uma situação em que um conjunto é colocado sob carga mecânica, estabilização reflexa muscular é estimulada através do reflexo espinhal. A programação cognitiva que envolve o mais alto nível da função do SNC (córtex motor, gânglios da base, e o cerebelo) refere-se aos movimentos voluntários que estão repetidas e armazenados como comandos centrais. Esta consciência da posição do corpo e do movimento permite diversas competências a ser realizada sem a referência contínua da consciência, ou seja, inconsciente. Como definido anteriormente, feedback proprioceptivo desempenha um papel importante na sensibilização consciente e inconsciente de uma articulação (LEPHART et al., 1997). 42 Figura 20: Percursos do controle neuromuscular. Fonte: Lephart et al. (1997) Entorses do tornozelo são lesões desportivas comuns que muitas vezes podem levar a dor crônica, edema e instabilidade funcional. Embora um debate considerável ainda continue em relação a fatores que causam e perpetuam a instabilidade funcional, é geralmente aceito que exercícios proprioceptivos representam uma parte importante do processo de reabilitação. Apesar deste consenso, pouco se sabe com certeza sobre os mecanismos através dos quais o treinamento proprioceptivo transmite seus efeitos benéficos. Novas investigações destinadas a analisar os possíveis mecanismos fisiológicos através dos quais os exercícios proprioceptivos facilitam a recuperação e protegem clinicamente contra uma nova lesão podem fornecer informações valiosas que afeta positivamente o cuidado do paciente (OSBORNE et al., 2001). Quando estes três sistemas (sistema visual, vestibular e sensório-motor) estão em harmonia é apresentada uma perfeita orientação espacial sendo desencadeados reflexos oculares e espinhais apropriados à manutenção automática e inconsciente do controle postural, como também na estrutura levada ao desequilíbrio, no caso o tornozelo, com mecanismos protetores reflexos, tanto dinâmicos quanto estáticos. 2.5 CICLO PERCEPÇÃO – AÇÃO A informação sensorial e ação motora necessitam estar num relacionamento coerente e estável para que seja realizada qualquer atividade motora. Segundo Barela (2000), em muitas das atividades realizadas no dia-a-dia, este relacionamento ocorre de forma contínua. Assim, o indivíduo capta as informações do ambiente e realiza a ação motora e esta própria ação 43 influencia na captação das informações sensoriais e assim sucessivamente. Este relacionamento contínuo é o chamado ciclo percepção-ação (BARELA, 2000). Quando um indivíduo realiza a tarefa de ficar em pé, aparentemente o sistema de controle postural parece não ter grandes dificuldades para manter a orientação e o equilíbrio postural, com base nas informações provenientes do ambiente e do seu próprio corpo. Contudo, mesmo neste caso onde a tarefa parece simples, é possível criar situações que dificultem a manutenção da performance do sistema de controle postural. Assim, informação sensorial e ação motora necessitam estar num relacionamento coerente e estável para que seja realizada qualquer atividade motora. 2.6 TREINAMENTO EM SUPERFÍCIES INSTÁVEIS Trauma de tecidos que contenham mecanorreceptores podem resultar em perda de aferência parcial, o que pode levar a déficits proprioceptivos. Suscetibilidade a novas lesões, portanto, torna-se uma possibilidade realista devido a esta diminuição no feedback proprioceptivo. Reganhar controle neuromuscular após lesão ou cirurgia é uma condição indispensável para os atletas que pretendam regressar à competição (LEPHART et al., 1997). A inclusão de propriocepção no programa de reabilitação não deve ser baseada em evidências casuais sem uma compreensão dos mecanismos neuromusculares. Essa compreensão, associada a uma base de conhecimento sobre a atual investigação sobre propriocepção, é necessária para os profissionais da medicina desportiva para otimização do tratamento de programas de reabilitação de atletas (LEPHART et al., 1997). Baseado nisto, diversos exercícios, inclusive o treinamento funcional em plataformas instáveis são realizados na reabilitação e no condicionamento neuromuscular, conseqüentemente, proporcionando a melhora da reatividade muscular e do padrão de recrutamento neuromuscular (STRONJNIK; VENGUST; PAVLOVIC, 2002). Este tipo de treinamento auxilia na maior ativação do sistema proprioceptivo em atividades estáticas e dinâmicas (Figura 21). 44 Figura 21: Exemplo de exercícios em plataformas instáveis. Fonte: Arquivo pessoal. Durante a realização do treinamento, a instabilidade dos movimentos proporciona situações de risco às articulações, assim, a ativação dos impulsos proprioceptivos que são integrados em vários centros sensório-motores regula automaticamente os ajustes na contração dos músculos posturais, mantendo o equilíbrio postural geral. As fibras musculares intrafusais, o órgão tendinoso de Golgi e outras formas de propriocepção auxiliam na manutenção do equilíbrio e detecção da posição corporal (COOKE, 1980). O treinamento funcional em plataformas instáveis é um importante parâmetro para a reabilitação e condicionamento neuromuscular, conseqüentemente, proporciona a melhora da coordenação e do padrão de recrutamento neuromuscular (STRONJNIK; VENGUST; PAVLOVIC, 2002). Durante a realização do treinamento, a instabilidade dos movimentos proporciona situações de risco às articulações, assim, a ativação dos impulsos proprioceptivos que são integrados em vários centros sensório-motores regula automaticamente os ajustes na contração dos músculos posturais, mantendo o equilíbrio postural geral (COOKE, 1980). Instabilidade funcional do tornozelo é uma das deficiências residuais mais comuns após um entorse agudo de tornozelo. Várias causas para esta instabilidade funcional têm sido propostos: instabilidade mecânica, fraqueza muscular e um déficit proprioceptivo. Os mesmos autores sugeriram que lesões ligamentares do tornozelo geralmente causam um déficit proprioceptivo do tornozelo lesado, o que conduz a uma insuficiência sistema de controle postural (MATSUSAKA et al., 2001). 45 Mecanorreceptores são sensíveis à pressão e à tensão provocada pelo movimento dinâmico e estático. Esta perturbação da entrada aferente do mecanorreceptores afetaria não só um sentido de posição, mas também o reflexo proprioceptivo, o controle postural e coordenação. Com a base na hipótese de que a instabilidade funcional é causada por danos às fibras nervosas aferentes, foi relatado os programas de reabilitação proprioceptiva (MATSUSAKA et al., 2001). Sheth et al. (1997) demonstraram alterações no padrão de contrações dos músculos inversão e eversão do tornozelo antes e depois da formação disco em adultos saudáveis. Eles concluíram que as mudanças seriam apoiados pelo conceito de reciprocidade de inibição através de mecanorreceptores nos músculos. Numerosos estudos têm sido realizados utilizando testes em pranchas de equilíbrio para determinar uma medida quantitativa do equilíbrio postural, onde pacientes com instabilidade funcional com déficits significativos em equilíbrio foram selecionados, e foram comparados com grupos controles (OSBORNE et al., 2001). Treinamentos com discos para tornozelo foram utilizados para uma melhora significativa do balanço corporal, reduzindo sintomas de dor do tornozelo, e diminuição das taxas de novas lesões nestes pacientes (OSBORNE et al., 2001; MCGUINE; KEENE, 2006; SHETH et al., 1997; MCHUGH et al., 2006). Prancha proprioceptiva de equilíbrio também foi sugerida como uma alternativa para gravação ou prevenção da entorse do tornozelo. Estudos anteriores mostraram que este método é promissor em fazê-lo. No entanto, estes estudos anteriores não conseguiram demonstrar uma redução significativa de entorse do tornozelo, presumivelmente devido ao baixo tamanho da amostra e / ou inadequada estudo (VERHAGEN et al., 2005). A eficácia de um programa de treinamento como um saldo primário de intervenção para a prevenção de lesões nos atletas com tornozelos saudáveis continua a ser determinada. Além disso, os estudos publicados até o momento não indicam se treinamentos proprioceptivos podem reduzir a gravidade da entorse do tornozelo inicial ou subsequente ou aumentar o número de posições antes de uma entorse de tornozelo ocorrer (MCGUINE; KEENE, 2006). Opondo-se à citação acima, uma teoria enfatiza a capacidade de preparar os músculos antes do movimento, a pré-resposta ou feed-forward do controle motor. Um músculo pode ser pré-ativado pelo sistema nervoso central para prevenir os movimentos e as cargas articulares. Os músculos pré-ativados podem fornecer compensação rápida para as descargas externas e são essenciais para a estabilização dinâmica da articulação. A atividade muscular preparatória 46 contribui com o sistema de restrição dinâmica em diversos pontos, aumentando o nível de ativação muscular antes da chegada da carga externa, as propriedades de rigidez de toda a unidade muscular podem ser aumentadas (VOIGHT; COOK, 2003). Medidas importantes para detecção de respostas neuromusculares fidedignas são observadas com a utilização da eletromiografia (EMG). A EMG tem a função de investigar a atividade elétrica do músculo, possibilitando a análise da atividade muscular durante o movimento. Este recurso tem possibilitado pesquisas em diversas áreas de interesse de fisioterapeutas e de outros profissionais que tenham como foco de interesse o movimento humano. 2.7 ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE A contração muscular produz mudanças metabólicas, mecânicas e mioelétricas no tecido muscular esquelético, podendo estas ser monitorada pela eletromiografia de superfície (SILVA; GONÇALVES, 2003; DE LUCA, 1997; ROBERGS; ROBERGS, 2002; O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004) que pode oferecer informações importantes sobre o comportamento dos músculos quando submetidos aos diversos tipos de sobrecarga, em diversas angulações e velocidades de execução (OCARINO et al., 2005). Um dos primeiros relatos científicos referentes às propriedades elétricas de músculos e nervos provém dos estudos do médico Luigi Galvani, em 1791. Este estudioso demonstrou que a atividade muscular acompanhava a estimulação de neurônios, e registrou potenciais das fibras musculares em estado de contração voluntária em sapos (O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). A partir destes estudos houve um grande desenvolvimento do conhecimento de sistemas capazes de detectar e registrar os potenciais elétricos de nervos e músculos, proporcionando a descoberta de um sistema de avaliação do funcionamento das unidades motoras. A eletromiografia é o estudo da função muscular e partir da detecção da atividade elétrica produzida pela despolarização dos neurônios e da membrana das fibras musculares envolvidas na contração. A atividade elétrica é captada por um ou mais eletrodos sobre o músculo, em contração, que se tem interesse (ROBERGS; ROBERGS, 2002). O registro eletromiográfico requer um sistema de três fases: uma fase de entrada que inclui os eletrodos para captação do potencial elétrico do músculo em contração; uma fase de processamento, durante a qual o pequeno sinal elétrico é amplificado; e uma fase de saída, na 47 qual o sinal elétrico é convertido em sinais visuais e/ou auditivos, de modo que os dados possam ser visualizados, captados e analisados (O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). Figura 22: Esquema demonstrando todo procedimento de análise eletromiográfica: coleta, filtragem, processamento dos dados. Fonte: Arquivo pessoal. Dentre as técnicas biomecânicas utilizadas neste tipo de estudo, destaca-se a eletromiografia que, isoladamente ou quando combinadas, podem oferecer informações importantes sobre o comportamento dos músculos quando submetidos aos diversos tipos de sobrecarga, diversas angulações e velocidades de execução (SILVA; GONÇALVES, 2003), bem como a avaliação do comportamento mioelétrico em diversas circunstâncias como temperatura corporal e do ambiente, treinamento neuromuscular, entre outras (WELLER; GREENHAFF; MACDONALD, 1998; OKSA; DUCHARME; RINTAMÄKI, 2002; RACINAIS et al., 2005; SHIN et al., 2006). As aplicações específicas da eletromiografia nas pesquisas em fisioterapia são inúmeras. Dentre elas esta a investigação de estratégias musculares de estabilização articular, o estudo de técnicas de alongamento utilizadas na prática fisioterapêutica que se propõe a gerar um maior relaxamento muscular, avaliação da atividade muscular durante atividades funcionais, a caracterização da atividade muscular obtida durante a realização de exercícios terapêuticos assim como analisar a quantificação da taxa de disparo de unidades motoras e a identificação da fadiga muscular (GONÇALVES, 2006). 48 2.7.1 Eletrodos A coleta dos potenciais elétricos musculares pode ser realizada com eletrodos inseridos no ventre muscular (DE LUCA, 1997), método invasivo onde lança mão de agulhas ou fios e de forma não-invasiva, através de eletrodos colocados sobre a superfície da pele correspondente à localização do ventre muscular (CORREA; SANTOS; VELOSO, 2003). A técnica de coleta através de agulhas ou fios representa um método invasivo, sendo comumente relatado desconforto ou dor pelo participante. A aplicação desta técnica requer capacitação técnica específica do examinador e em geral não é bem vista por comitês de ética em pesquisa. A atividade eletromiográfica captada através de eletrodos de superfície representa a atividade global das unidades motoras recrutadas durante determinada contração muscular (FERREIRA et al., 2004). Consiste no registro da soma da atividade elétrica de todas as fibras musculares ativas, por meio da colocação de eletrodos colocados sobre a pele. Eles permitem colher os potenciais que ocorrem no sarcolema das diversas fibras ativadas que são conduzidos pelos tecidos e fluidos envolventes até a superfície da pele (SELLA et al., 2005). Os eletrodos de superfície são usados para testar a velocidade de condução nervosa e para pesquisas cinesiológicas. Eles são mais adequados para captar a atividade em grandes músculos ou grupos musculares. Eles não são considerados seletivos o suficiente para detectar o potencial de ação de uma unidade motora, de músculos pequenos ou ainda de músculos profundos (O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). A atividade elétrica muscular pode ser captada por eletrodos superficiais, que são fixados com fita adesiva na pele situada sobre o músculo a ser investigado. Estes eletrodos têm formato quadrado ou mais comumente circular, com cerca de 1 a 2,5 cm de largura ou de diâmetro (PINTO, 1996). Apesar de os eletrodos de superfície não gerarem incômodo ao indivíduo apresentam algumas desvantagens, pois eles só captam a atividade elétrica mais grosseira, apresentam uma alta impedância sendo necessário limpar bem o local onde serão fixados e necessitam de um gel eletrolítico para aumentar o contato elétrico entre eles e a pele (PINTO, 1996). 49 2.7.1.1 Posicionamento dos eletrodos A colocação de eletrodos sobre a superfície da pele sobre o músculo permite a detecção da atividade elétrica gerada por estes, estes eletrodos dever ter formato retangular ou circular, sendo aconselhada o colocação destes a uma distância de 10 a 20 mm de distância centro a centro (HERMENS et al., 1999), o que possibilita a coleta do sinal muscular e minimiza as interferências não desejadas, também chamadas de ruídos. A distância entre os eletrodos precisa ser padronizada para que a análise repetida do sinal eletromiográfico seja válida, se a separação entre os eletrodos é alterada de uma sessão para outra, o mesmo nível de contração pode produzir leituras de amplitude mais alta ou mais baixa, ou um conteúdo de freqüência diferente (CORREA; SANTOS; VELOSO, 2003). Os eletrodos devem ser colocados entre o ponto motor e a inserção do tendão e ao longo da linha média longitudinal do ventre muscular. (Figura 23). Não devem ser colocados nas extremidades laterais dos músculos, pois o eletrodo está suscetível à captação dos músculos vizinhos, fenômeno conhecido como “crosstalk”, e se os eletrodos estiverem muito separados, mesmo sobre os músculos mais largos, a atividade dos músculos vizinhos pode ser registrada, como no exemplo da figura 24 (DE LUCA, 1997). Figura 23: Posicionamento do eletrodo. Fonte: De Luca (1997). 50 Figura 24: Diferentes posicionamentos dos eletrodos e diferentes respostas Eletromiográficas. Fonte: De Luca (1997). Para a detecção adequada do sinal na superfície do músculo, devem-se levar em consideração as propriedades elétricas da pele. Para minimizar a influência da resistência da pele ao sinal e no sentido de aumentar a fidelidade deste, é necessário preparar a pele adequadamente, de forma a reduzir a impedância do conjunto eletrodo-pele. Assim, para a colocação dos eletrodos são necessários alguns cuidados prévios como, tricotomia do local, remoção da superfície morta da pele por abrasão e a limpeza com álcool (OCARINO et al., 2005). Os eletrodos podem ser passivos ou ativos, sendo os ativos mais utilizados por apresentarem um pré-amplificador, que irá amplificar os sinais eletromiográficos assim que eles atingem os eletrodos, processo conhecido como “ganho” (CORREA; SANTOS; VELOSO, 2003). 51 Figura 25: Eletrodos de superfície ativos. Fonte: Arquivo pessoal. 2.7.2 Sinal eletromiográfico O sistema de registro típico para a eletromiografia consiste de um conjunto de eletrodos bipolares de superfície ou de agulha colocados em cima ou a uma curta distância do ponto motor. Um eletrodo adicional é colocado sobre uma protuberância óssea para servir como ponto de referência. À medida que o potencial de ação na fibra muscular percorre o músculo, os eletrodos o registram devido à despolarização e a mudança ocorrida na voltagem, na direção positiva. O sinal eletromiográfico é a soma dos potencias de ação captados dentro da faixa de alcance dos eletrodos de registro (DE LUCA, 1997). O sinal coletado na eletromiografia refere-se ao potencial de ação resultante dos processos de despolarização e repolarização da membrana da célula muscular, conforme a figura 26 (SHULTZ; PERRIN, 1999). Quando o músculo encontra-se em repouso, o potencial elétrico coletado é zero, no entanto, quando as unidades motoras são ativadas, ocorre à passagem do potencial do neurônio para a fibra muscular, este se propaga pela membrana da fibra, sendo então este evento denominado de despolarização, seguida de repolarização, ambos captados pelos eletrodos. Como a face externa da membrana da fibra muscular apresenta potencial positivo e durante o processo de contração ocorre à despolarização da membrana da fibra muscular, o eletrodo mais proximal capta o sinal eletronegativo, enquanto o segundo eletrodo continua captando o sinal eletropositivo, sendo em seguida captado o sinal eletropositivo novamente pelo primeiro eletrodo devido à repolarização. A diferença de potencial captado a cada 52 instante entre os eletrodos é registrado durante todo o período de contração. Desta forma, o sinal original coletado apresenta-se como uma onda bifásica, necessitando-se a aplicação de ferramentas matemáticas neste para o entendimento dos fenômenos fisiológicos envolvidos no registro (SHULTZ; PERRIN, 1999). Figura 26: Sinal Eletromiográfico e a despolarização da membrana. Fonte: Shultz; Perrin (1999). Os eletrodos utilizados convertem o sinal bioelétrico resultante da despolarização do músculo em um potencial elétrico capaz de ser processado por um amplificador. É a diferença no potencial elétrico entre os dois eletrodos de registro que é processada (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). A unidade de medida para a diferença de potencial é o volt (V). A amplitude, ou altura, dos potenciais é geralmente medida em microvolts (1µV = 10-6 V). Quanto maior a diferença de potencial, maior a amplitude, ou voltagem do potencial elétrico. A duração do potencial é uma medida de tempo desde o início até a cessação do potencial elétrico, essa duração pode variar de 2 a 14 milissegundos (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). A forma e área da detecção e a distância entre as superfícies de detecção são fatores importantes porque afetam a amplitude e o sinal. Este é um fato freqüentemente esquecido que não recebe consideração suficiente. As formas, áreas e distâncias entre os eletrodos 53 também determinam o número de fibras musculares captadas pelo eletrodo e afetam assim a amplitude do sinal (DE LUCA, 1997). Segundo O´Sullivan e Schmitz (2004), os sinais que atingem os eletrodos são transmitidos para o amplificador. As atividades produzidas por todas as fibras individuais se contraindo em um determinado momento são somadas, já que atingem os eletrodos quase simultaneamente. Os eletrodos apenas registram os potenciais que recebem, sem distinguir sua origem. Após a detecção do sinal, é utilizada uma média eletrônica para determinar a intensidade dos sinais eletromiográficos: a Root-mean-square, RMS, uma media eletrônica, representa a raiz quadrada da média dos quadrados da corrente ou voltagem durante o ciclo total. A RMS fornece uma saída quase instantânea da potência do sinal eletromiográfico da seguinte forma: elevam-se os dados ao quadrado obtêm-se a média dos valores resultantes e finalmente extrai-se a raiz quadrada do valor médio obtido. Esse parâmetro da eletromiografia é considerado por alguns pesquisadores o preferido para estimar a tensão elétrica (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004; PINTO, 1996). O sinal eletromiográfico se apresenta como um sinal tipicamente contínuo, sendo necessária a sua transformação em sinais discretos por digitalização. A digitalização consiste na representação de um sinal analógico por uma seqüência de amostras instantâneas de caráter binário recolhidas a um ritmo constante, para isso são utilizados os conversores analógicodigitais para a digitalização do sinal coletado (PINTO, 1996). 2.7.3 Amplificação diferencial e rejeição do modo comum O potencial elétrico gerado pelas fibras musculares em atividade tem valores muito pequenos, necessitando de ser amplificado para melhor análise deste. Assim, é utilizado um amplificador que converte o potencial elétrico captado pelos eletrodos em um sinal de voltagem, grande o suficiente para ser visualizado (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). Os amplificadores utilizados em eletromiografia são amplificadores diferenciais, ou seja, estes executam a função de subtrair o valor do sinal entre dois eletrodos, de modo que a diferença entre a voltagem que chega ao amplificador diferencial e o que sai desta é denominado ganho (CORREA; SANTOS; VELOSO, 2003). Um eletrodo adicional é colocado sobre a protuberância óssea para servir como ponto de referência (neutro). O eletrodo de referência é necessário para que se tenha uma referência comum para o amplificador diferencial. Ele deve ser colocado tão longe quanto possível e em 54 um tecido eletricamente neutro, geralmente sobre uma protuberância óssea, sendo importante que este, tenha um contato elétrico bom com a pele, por isto devem ser grandes (DE LUCA, 1997). A capacidade do amplificador de rejeitar sinais comuns para ambas as entradas é chamada de relação de rejeição do modo comum, RRMC. Para melhores registros devem estar disponíveis filtros que removam as freqüências indesejadas, utilizando os filtros passaalta, passa-baixa e passa-banda (OCARINO et al., 2005; CORREA; SANTOS; VELOSO, 2003). 2.7.4 Variáveis que afetam o sinal eletromiográfico Segundo O´Sullivan e Schmitz (2004), o potencial de ação de uma unidade motora, PAUM, pode ser afetado por algumas variáveis como: a proximidade dos eletrodos e as fibras que estão disparando, as fibras que estão mais longe contribuirão menos para o potencial; o número e o tamanho das fibras da unidade motora, uma unidade mais larga produzirá mais atividade; a distância das fibras, pois se estiverem muito afastadas menos de seu potencial chegará aos eletrodos; e o tamanho dos eletrodos deve também ser considerado, se a superfície do eletrodo é maior, ele captará o potencial de uma área maior, tornando maior o sinal registrado. O movimento relativo dos eletrodos às fibras ativas pode ser suficiente colocar ou remover alguma unidade motora dentro da área de detecção. Assim se as fibras musculares alteram seu comprimento durante a contração, então a posição do eletrodo também muda. Então, por razões práticas, a sensibilidade do sinal pode ser melhorada mantendo a contração isométrica (DE LUCA, 1997). Devido ao processo chamado condução de volume, no qual os potenciais de determinadas fibras percorrem os fluídos corporais devido às suas ótimas propriedades condutoras, o potencial captado pelos eletrodos pode não ser puramente do músculo de interesse, e sim dos músculos que contraíram ao redor. A colocação, o espaçamento cuidadoso e a escolha do tamanho dos eletrodos ajudarão a controlar essa linha cruzada ou extravasamento elétrico (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). É importante ressaltar que o crosstalk, ou sinais excessivos ou ainda artefatos, de outros músculos adjacentes podem ser detectados e mal interpretados como sendo originários do músculo de interesse. A probabilidade de detectar um crosstalk pode ser reduzida 55 consideravelmente colocando o eletrodo na linha média do ventre muscular (DE LUCA, 1997). Se ocorrer algum distúrbio em uma ou em ambas as interfaces de captação de modo a produzir uma diferença de potencial, será registrado um sinal de baixa freqüência que não representa a atividade elétrica muscular, esse sinal é chamado de artefato de movimento. Pode ser resultado do movimento da pele sob um eletrodo ou de pressão sobre o eletrodo durante o movimento. A maioria desses artefatos de movimento ocorre com freqüências de sinal abaixo de 10 e 20 hertz (Hz), causando mínima alteração na amplitude do sinal eletromiográfico, criando apenas uma base ondulada (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). Fontes de radiação eletromagnética, como rádio e transmissão de televisão, lâmpadas incandescentes, lâmpadas fluorescentes, etc. na realidade, qualquer dispositivo eletromagnético gera e pode contribuir para interferência no sinal. Constantemente as superfícies de nossos corpos são inundadas com radiação eletromagnéticas, que também gera interferências no sinal eletromiográfico. A preocupação dominante para o crosstalk ambiente surge em uma freqüência de 50 a 60 Hz (DE LUCA, 1997). A impedância é a propriedade resistiva que se opõe ao fluxo de corrente e ocorre em circuitos de correntes alternadas. É análoga a resistência, o eletrodo fornece uma fonte de impedância, a qual pode ser reduzida usando eletrodos mais largos, de boa condutividade, com condutores mais curtos. Os tecidos do corpo, também fornecem uma fonte de impedância, resistência ao campo elétrico. A resistência e a impedância são medidas em ohms (Ω). A impedância aceitável para a pele é de 20000 Ω, embora com eletrodos bons e preparo adequado possa chegar entre 1000 e 5000 Ω (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). 2.7.5 Normalização do sinal eletromiográfico A normalização do sinal eletromiográfico tem sido descrita como crucial para comparações entre diferentes sujeitos, dias de medida, músculos e estudos e existem vários procedimentos de normalização do sinal. Genericamente, normatizar significa uma tentativa de minimizar as diferenças entre diferentes indivíduos, tornando-se necessária para se fazer tais comparações (ERVILHA; DUARTE; AMADIO, 1998). Um método para normalizar o sinal eletromiográfico de um músculo é realizar uma contração voluntária máxima isométrica, CVMI, ou algum nível submáximo conhecido de contração e, então, expressando todos os valores da eletromiografia como uma porcentagem dessa contração. Esse valor de controle serve de padrão para todas as contrações, mesmo 56 quando os valores do teste sejam maiores que os do controle (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). Outro método é a normalização na base do tempo, onde para a avaliação do sinal devem ser efetuados alguns procedimentos: determinação do início e final exato do movimento, e considerar do início ao final do movimento como 100% do ciclo e dividir esse intervalo em tempos iguais (ERVILHA; DUARTE; AMADIO, 1998; O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). Apesar de ser uma referência frequentemente utilizada, a contração voluntária máxima isométrica, tem sua validade questionada para a normalização do sinal eletromiográfico de ações dinâmicas, devido às diferenças fundamentais entre os dois tipos de contração. Para a normalização de contrações dinâmicas, o pico máximo de atividade encontrado nas diferentes execuções parece ser a mais adequada escolha. Se pretendermos reduzir a falibilidade o melhor seria optar pela média dos três maiores picos encontrados (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). Outros autores sugerem o uso da CIVM para normalização em detrimento dos demais métodos de normalização, uma vez que esta é confiável e proporciona melhor informação sobre a intensidade de contração muscular, desta forma, ao se utilizar a CIVM como o valor padrão de referência para a normalização, os sinais eletromiográficos obtidos durante a atividade serão referidos em porcentagem de sua atividade máxima (OCARINO et.al., 2005). Pesquisadores têm demonstrado que as medidas do sinal eletromiográfico para ações dinâmicas variam em diferentes procedimentos de normatização, sugerindo que é mais apropriado normalizar a atividade eletromiográfica para arcos de movimentos específicos. A atividade eletromiográfica máxima dentro de cada arco é então usada com valor de controle, e a medida da atividade eletromiográfica do teste é normalizada como uma porcentagem desse valor, no mesmo arco (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). Em nosso estudo, para a normalização dos sinais eletromiográficos será utilizado como referência um exercício com o solo padrão (solo estável), sendo realizada uma comparação dos outros exercícios com os solos estudados sempre em relação ao exercício de solo padrão. 57 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 LOCAL DA PESQUISA A pesquisa foi realizada na CEFISIO, Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, na cidade de Guarapuava-Pr. Foi realizada uma triagem com os acadêmicos de todos os anos do curso de fisioterapia, aproximadamente 120 alunos, observando os critérios de inclusão e exclusão para a escolha dos participantes. 3.1 SUJEITOS Participaram voluntariamente do estudo 25 indivíduos, de ambos os sexos (10 mulheres e 15 homens), adultos jovens saudáveis e ativos que não apresentavam patologia osteomioarticular, neuro-degenerativa ou infecciosa, com média ± DP de idade de 21 ± 1 ano, estatura de 170 ± 6 cm, massa corporal total de 64 ± 11 Kg, Índice de Massa Corporal (IMC) de 22 ± 3 Kg/m2. O IMC foi baseado na equação do World Health Organization Diet Nutrition and prevention of chronic diseases (WHO, 1995). O trabalho foi parametrizado através de um estudo prospectivo, descritivo e com abordagem quanti-qualitativa. Os dados foram coletados logo após o projeto ter sido aprovado. O presente projeto foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP (nºH 50/CEP/2008) (ANEXO A). Todos os participantes foram inicialmente esclarecidos sobre os procedimentos do experimento e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme as Normas de Realização de Pesquisas com Seres Humanos (resolução nº 196/96 do CNS). A tabela 1 apresenta os dados antropométricos (média e desvio padrão) dos sujeitos participantes da pesquisa. Tabela 1: Características dos sujeitos. Média ± desvio padrão das características antropométricas dos homens Média Desvio Padrão Idade Estatura MCT IMC (anos) (cm) (kg) (Kg/m2) 21 170 73 24 1 6 8 2 58 Tabela 2: Características dos sujeitos. Média ± desvio padrão das características antropométricas das mulheres Idade Estatura MCT IMC (anos) (cm) (kg) (Kg/m2) Média Desvio Padrão 21 170 56 21 1 6 7 2 Analisando os valores antropométricos entre homens e mulheres pode-se observar que não apresentaram característica discrepante para a amostra, não apresentando diferença significativa para a comparação. 3.2 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO 3.2.1 Critérios de inclusão • Indivíduos com idade entre 18 e 28 anos; • Indivíduos sem distinção de cor, raça ou sexo; • Indivíduos ativos que não estejam participando de nenhum tipo de treinamento proprioceptivo ou exercícios de equilíbrio, bem como treinamento esportivo; • Indivíduos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após o entendimento sobre a pesquisa. 3.2.2 Critérios de exclusão • Indivíduos com patologia osteomioarticular, neuro-degenerativa ou infecciosa; • Indivíduos que apresentassem Instabilidade crônica de tornozelo detectada, ou que apresentassem entorses recentes; • Indivíduos que apresentassem qualquer sinal de distúrbio do sistema vestibular, como por exemplo Labirintite; • Indivíduos com problemas visuais importantes e consideráveis; • Indivíduos que realizaram algum tipo de cirurgia prévia (tempo de recuperação inferior a 24 meses); 59 • Indivíduos com outras patologias, tais como: Insuficiência Cardíaca, doenças neoplásicas, doenças restritivas, entre outras; • Indivíduos do sexo feminino que se apresentassem no período menstrual na data da coleta. 3.4 INSTRUMENTOS Para a coleta dos dados antropométricos foram utilizados os seguintes instrumentos de medida: Balança com Estadiômetro: Foi utilizada uma balança clínica nacional da marca Filizola, modelo mecânico com estadiômetro, para a determinação do peso corporal. Sua precisão é de 0,1 Kg com escala de 0 a 150 Kg. A precisão do estadiômetro é de 0,5 cm e sua escala varia de 0 a 190 cm. Para a coleta dos sinais foram utilizados diversos aparelhos proprioceptivos (conforme figura 27 abaixo) simulando o exercício, tais como: Cama elástica da marca ISP sendo seu diâmetro de 98 cm, com estrutura de aço de carbono; Disco proprioceptivo inflável 35 cm ISP Dyna; Balanço proprioceptivo (Balancim) em aço inox ISP; Tábua proprioceptiva circular ISP. Figura 27 – Aparelhos proprioceptivos utilizados na coleta. (A – Cama Elástica; B – Disco Proprioceptivo; C – Balanço Proprioceptivo ou Balancim; D – Prancha Proprioceptiva). Fonte: Arquivo pessoal. 60 Os sinais biológicos foram obtidos utilizando um eletromiógrafo de 8 canais (EMG System Brasil LTDA), sendo o sinal passado por um filtro passa banda de 20-500Hz, amplificado em 1.000x e com uma relação de rejeição do modo comum > 120dB. Todos os dados foram processados usando um software específico para aquisição e análise do sinal (WinDaqXL), convertido por placa A/D de 12 bits com freqüência de amostragem de 2 KHz para cada canal e com uma variação de entrada de 5 mV, sendo a atividade elétrica mensurada usando os valores da root mean square (RMS) durante uma janela de 15 segundos. Foram utilizados eletrodos bipolares do tipo ativo Medtrace com distância de 20mm entre eles. 3.5 PROCEDIMENTOS Foram utilizados eletrodos bipolares do tipo ativo com distância de 20 mm centro a centro (COOKE, 1980) recomendado por De Luca (1997), sendo realizada a tricotomia e limpeza da área para redução da bioimpedância, como recomendado pela Surface Electromyography for the Non-Invasive Assessment of Muscles - SENIAM (HERMENS et al., 1999). A colocação dos eletrodos seguiu o método de referência anatômica descrita por Delagi e Perotto (1980) segundo a figura 28. Para minimizar o ruído, foram retirados da corrente elétrica os cabos do computador e do eletromiógrafo durante a coleta, e o eletrodo neutro foi colocado no punho contralateral da perna avaliada. Todos os procedimentos de captura e análise do sinal eletromiográfico utilizados foram recomendados pela Sociedade Internacional de Eletrofisiologia e Cinesiologia (ISEK) (SOLOMONOW, 1995). A figura 28 mostra a colocação dos eletrodos. Figura 28: Colocação dos eletrodos nos músculos da perna. 61 Os músculos analisados foram o tibial anterior, tibial posterior, fibular longo e gastrocnêmios medial e lateral, por serem considerados músculos de atividade-chave durante diversas situações de apoio monopodal, com olhos abertos e fechados, tanto em solo estável como em solos instáveis. Cada indivíduo realizou um aquecimento de 5 minutos na esteira, logo após a coleta dos dados antropométricos, seguindo a recomendação da American College of Sports Medicine ACSM (2007) que preconiza o aquecimento antes de qualquer atividade ou exercício. As coletas foram distribuídas para os sujeitos da pesquisa de forma randomizada, para que não ocorresse a aprendizagem motora, incluindo os solos instáveis (prancha proprioceptiva, associação da cama elástica + disco, disco, cama elástica e balancim) e o solo estável para comparação, tanto com os olhos abertos quanto fechados. Os procedimentos de avaliação da atividade muscular foram realizados no membro inferior dominante, com o indivíduo descalço e para maior ativação muscular foi padronizada uma angulação de 30º flexão do joelho utilizando o goniômetro (Figura 29). A posição do joelho escolhida proporciona maior instabilidade dessa articulação (PECCIN; PIRES, 2003), evitando a posição de extensão terminal e conseqüentemente a posição articular estável através do mecanismo de trava e parafuso (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000). O tempo de coleta da atividade eletromiográfica foi de 15 segundos em todos os solos, utilizando o tempo de repouso de 1 minuto entre as coletas, totalizando uma média de 10 ± 1 minutos de coleta. Para cada sinal eletromiografico de cada músculo, de cada indivíduo para cada tipo de solo foi calculado o valor RMS durante uma janelas de tempo de 15 s correspondendo à duração da atividade. Em seguida os dados foram organizados em tabelas, sendo uma coluna para cada músculo e para cada tipo de solo. As linhas das tabelas representam os indivíduos. Finalmente para cada coluna foi calculado a média e o desvio padrão. As tabelas com os resultados estão disponíveis no Apêndice. 62 Figura 29: Padronização dos exercícios instáveis com 300 de semi-flexão de joelho. Fonte: Arquivo pessoal. 3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram analisados através de programa de processamento de sinais Matlab 7.0 (MatWorks), e software BioEstat 4.0 e a estatística descritiva e inferencial foi realizada através de programa estatístico SPSS (13.0 for Windows). Para testar a normalidade ou não da amostra foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk e D’Agotino, com nível de significância de 95% (p≤0,05). Como algumas das variáveis estudadas não apresentaram distribuição normal, foi utilizado o teste não-paramétrico de Wilcoxon e Kruskal-Wallis, com nível de significância de 95% (p≤0,05) para comparação da igualdade ou não das médias. 3.7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Os resultados são apresentados em média e erro-padrão da valor RMS da atividade elétrica captada pelo eletromiógrafo durante os exercícios dos músculos tibial anterior, tibial posterior, fibular longo e gastrocnêmios medial e lateral nos diferentes exercícios de perturbação com olhos abertos e fechados. Os valores RMS do solo estável foi usado como referência para o estudo do sinal eletromiográfico e comparação da atividade nos solos instáveis. Para isso, os dados foram analisados através de programa de processamento de 63 sinais Matlab 7.0 (MatWorks), e software BioEstat 4.0 e a estatística descritiva e inferencial foi realizada através de programa estatístico SPSS (13.0 for Windows). 64 4 RESULTADOS A seguir serão apresentados os gráficos em formato boxplot com erro padrão dos valores RMS da atividade elétrica de cada grupo muscular analisado de cada exercício instável com os olhos abertos. Gráfico 1: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Tibial Anterior entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). Os achados do Gráfico 1 mostram maior ativação muscular na prancha proprioceptiva, seguida da associação da cama elástica com o disco proprioceptivo, do disco proprioceptivo e do balancim, os quais apresentaram atividade intermediária. Já a atividade muscular do exercício na cama elástica apresentou valores inferiores, porém significativos na amostra, estando próximo aos valores do solo estável, o qual é a referência do estudo. Os dados do Gráfico 2 apresentam distribuição de ativação muscular RMS do músculo Fibular longo semelhante ao da atividade do músculo Tibial anterior, seguindo a mesma seqüência de atividade eletromiográfica nos exercícios instáveis, com maior ativação muscular na prancha proprioceptiva, seguida da associação da cama elástica com o disco proprioceptivo, do disco proprioceptivo e do balancim, os quais apresentaram atividade intermediária. 65 Gráfico 2: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Fibular Longo entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). Atenção maior deve ser dada quando analisado os dados obtidos utilizando a cama elástica, a qual, com exceção do músculo tibial anterior, os outros músculos apresentaram atividade similar ao solo estável, dessa forma, a cama elástica foi o solo instável que apresentou menor atividade eletromiográfica em todos os músculos analisados. 66 Gráfico 3: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Gastrocnêmio Lateral entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). Gráfico 4: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Gastrocnêmio Medial entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). 67 Os valores dos gráficos 3 e 4 se apresentaram inferiores, com proximidade dos valores nos solos instáveis de maior perturbação (Prancha Proprioceptiva, associação da cama elástica com o Disco Proprioceptivo, o Balancim e o Disco Proprioceptivo). Em ambos os Gráficos, a cama elástica apresentou atividade muito próxima ao solo estável, com valores não significativos. Destaca-se no Gráfico 4 o Disco Proprioceptivo que apresentou valores de atividade eletromiográfica superiores aos outros exercícios para o músculo Gastrocnêmio Medial, caracterizando um bom trabalho para o músculo proposto. Gráfico 5: Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) do músculo Tibial Posterior entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). Os achados do Gráfico 5 mostram maior ativação muscular do músculo Tibial Posterior na prancha proprioceptiva, seguida com valores muito próximos pelo Balancim, Disco proprioceptivo e associação da cama elástica com o disco proprioceptivo, os quais apresentaram atividade intermediária. Já a atividade muscular do exercício na cama elástica apresentou valores inferiores, porém significativos na amostra, estando próximo aos valores do solo estável, o qual é a referência do estudo. O gráfico 6 relaciona através de uma visão geral todos os solos utilizados na pesquisa com os músculos do tornozelo. 68 Gráfico 6 :(TA-Tibial Anterior; FL-Fibular Longo; GL-Gastrocnêmio Lateral; GM-Gastrocnêmio Medial; TPTibial Posterior) Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) entre diversas plataformas instáveis com os olhos abertos (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). Os achados no gráfico 6 mostram maior ativação muscular na Prancha Proprioceptiva, seguida da associação da cama elástica com o disco proprioceptivo, seguido do disco proprioceptivo e do balancim, os quais apresentaram atividade intermediária em todos os músculos analisados, com exceção do músculo Gastrocnêmio medial que apresentou maior ativação muscular no exercício com o disco. Atenção maior deve ser dada quando analisado os dados obtidos utilizando a cama elástica, a qual, com exceção do músculo tibial anterior, os outros músculos apresentaram atividade similar ao solo estável, dessa forma, a cama elástica foi o solo instável que apresentou menor atividade eletromiográfica em todos os músculos analisados. Os gráficos a seguir irão relacionar a retirada do auxílio visual em três exercícios proprioceptivos, ou seja, de equilíbrio, sendo estes: solo estável, cama elástica e balancim, todos com os olhos fechados. Vale à pena citar que outros exercícios com os olhos fechados foram testados, mas não com êxito, podendo levar a algum dano ao sujeito da pesquisa, como por exemplo uma lesão por entorse de tornozelo, por isso não foram realizados nesta pesquisa. Os gráficos 7, 8 e 9 apresentam os resultados em boxplot com média e erro padrão para os valores RMS dos músculos do tornozelo em solo estável, cama elástica e balancim respectivamente comparando condições de olhos abertos e olhos fechados. 69 Gráfico 7: (TA-Tibial Anterior; FL-Fibular Longo; GL-Gastrocnêmio Lateral; GM-Gastrocnêmio Medial; TPTibial Posterior) Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) entre olhos abertos e fechados no solo Estável (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). No Gráfico 7 observamos que mesmo com uma diferença pequena nos valores eletromiográficos com os olhos fechados em comparação os olhos abertos, os valores foram todos significativos (p<0,05) para os músculos analisados. 70 Gráfico 8: (TA-Tibial Anterior; FL-Fibular Longo; GL-Gastrocnêmio Lateral; GM-Gastrocnêmio Medial; TPTibial Posterior) Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) entre olhos abertos e fechados na cama elástica (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). O Gráfico 8 mostra a atividade muscular na cama elástica, apresentando uma grande atividade nos músculos tibial anterior e fibular longo com os olhos fechados, e em contrapartida, uma ativação mediana nos outros músculos. 71 Gráfico 9: (TA-Tibial Anterior; FL-Fibular Longo; GL-Gastrocnêmio Lateral; GM-Gastrocnêmio Medial; TPTibial Posterior) Variação da atividade eletromiográfica de superfície (RMS) entre olhos abertos e fechados no Balancim (Média ± Erro Padrão). * Indica que houve diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). Já no gráfico 9, onde relaciona a atividade eletromiográfica entre olhos abertos e fechados no balancim, observou-se que em todos os músculos houve uma maior atividade em comparação aos outros solos, e também que os músculos com maior destaque de atividade foram o tibial anterior e o fibular longo. Através da extração das médias dos valores eletromiográficos dos exercícios com olhos abertos comparados com olhos fechados, pode-se observar no gráfico 10 a grande diferença de ativação com a retirada do estímulo visual. Na análise das médias totais dos solos, uma maior ativação muscular com os olhos fechados em comparação com os olhos abertos, principalmente no balancim. 72 Gráfico 10: Relação das médias eletromiográficas de superfície com olhos abertos e fechados nos solos analisados (Média ± Erro Padrão). * Indica que diferença significativa na atividade eletromiográfica (p<0,05). A tabela a seguir relaciona os valores de significância (p<0,05) em todos os exercícios utilizados nesta pesquisa observados na análise estatística, demonstrando em destaque os valores significativos da amostra, no caso em maior quantidade, quando comparados aos valores não significativos em branco. Tabela 2 – Valores de significância (p<0,05) em destaque, somente os valores não destacados não apresentaram significância (p>0,05). TABELA DOS VALORES DE P EM COMPARAÇÃO COM O SOLO ESTÁVEL TA DISCO BALANCIM CAMA ELÁSTICA FREEMAN CAMA + DISCO BALANCIM OF CAMA OF ESTÁVEL OF FL GL GM TP 1,63E-06 0,000227 0,038432 9,19E-08 4,4E-07 4,8E-10 3,52E-10 1,2E-06 0,000222 0,092328 5,38E-07 3,83E-08 6,67E-07 2,85E-07 9,36E-06 2,23E-05 0,162251 1,23E-07 1E-05 3,42E-08 4,43E-06 0,000326 0,008667 0,339999 1,54E-06 4,06E-06 3,43E-07 0,001334 0,000429 3,37E-06 0,318043 8,45E-08 2,26E-05 9,3E-11 1,58E-05 2,83E-07 3,14E-07 5,16E-06 0,010681 4,26E-05 Os resultados mostraram um aumento significativo na atividade muscular na maioria dos solos instáveis comparado ao solo estável, principalmente dos músculos tibial anterior e fibular longo, com aumento significativamente maior com os olhos fechados comparados aos abertos olhos. 73 5 DISCUSSÃO Estudos com características e variáveis semelhantes foram encontrados, por exemplo, estudos que avaliaram o tempo de reação muscular (OSBORNE et al., 2001; MYERS et al., 2002.; SANTILLI et al., 2005.; RACINAIS et al., 2005; SHIN et al., 2006), a ativação muscular em diferentes solos (CUNHA; BONFIM, 2007; OLIVEIRA et al., 2006; VERHAGEN et al., 2005; BEHM; ANDERSON; CURNEW, 2002) e estudos que avaliaram a ativação muscular após o treinamento proprioceptivo em tornozelos instáveis (ZAMPIERI; ALMEIDA, 2003; WILLEMS et al., 2002; SILVA; GONÇALVES, 2003; OSBORNE et al., 2001; MATTACOLA; DWYER, 2002; HOLM et al., 2004). Foi realizado um trabalho com oito mulheres para investigar a ativação eletromiográfica dos músculos tibial anterior e fibular longo durante a manutenção da postura sobre a prancha proprioceptiva em apoio monopodal e bipodal (CUNHA; BONFIM, 2007). Os resultados obtidos demonstraram que o músculo tibial anterior apresentou maior ativação nos exercícios com pranchas de equilíbrio em apoio bipodal, nas direções ântero-posterior e médio-lateral e em apoio monopodal na direção ântero-posterior. Enquanto que, o músculo fibular longo mostrou maior ativação apenas nos exercícios em apoio monopodal na direção médio-lateral. No presente estudo, houve maior ativação dos músculos tibial anterior e fibular longo em comparação aos outros músculos, isso mostra que ambos os músculos são importantes estabilizadores dinâmicos na articulação do tornozelo, o músculo tibial anterior atuando como um inversor e dorsiflexor e o músculo fibular longo atuando como um eversor e flexor plantar. A função de inversão e eversão devem ser ressaltadas, pois a maioria dos solos instáveis apresentavam grande instabilidade látero-medial, talvez isso explique porque esses dois músculos foram mais ativos durante todos os exercícios de perturbação. Em outro estudo eletromiográfico, foram avaliados os músculos tibial anterior e gastrocnêmio medial de cinco indivíduos durante a utilização de dois modelos de tábuas de equilíbrio em diferentes apoios. Os resultados obtidos evidenciaram maior atividade mioelétrica no músculo gastrocnêmio medial, comparativamente com o músculo tibial anterior durante os testes com os pés mais próximos e com os pés mais afastados, em ambas as tábuas proprioceptivas (OLIVEIRA et al., 2006). Diferentemente dos achados do estudo supracitado, o músculo tibial anterior apresentou maior atividade eletromiográfica em todos os solos, tanto estável como instável, sendo o músculo mais solicitado. Em um estudo de Di Giulio et al. (2009) foi observado a atividade eletromiográfica dos músculos Gastrocnêmios, Sóleo e Tibial Anterior na atividade proprioceptiva para 74 manutenção da postura em pé. Foram analisados 9 indivíduos em pé sobre duas plataformas de força e foi observado a ação antagonista do Tibial anterior em relação ao gastrocnêmios e sóleo. Como resultado o músculo Tibial Anterior pode ser a melhor fonte de informações proprioceptivas que os agonistas ativos (sóleo e gastrocnêmios). Portanto, se um mecanismo de feedback periférico modula a atividade agonista de inibição recíproca, a atuação em seguida do Tibial anterior sobre os músculos da panturrilha é mais provável que seja eficaz do que os próprios músculos sóleo e gastrocnêmios. Sheth et al. (1997) utilizaram eletromiografia de agulha para observar os efeitos do disco proprioceptivo de tornozelo sobre a ativação de quatro músculos da extremidade distal inferior durante uma manobra de simulação de um entorse de tornozelo. A latência inicial eletromiográfica foi registrada em 10 indivíduos saudáveis, antes e após 8 semanas de treinamento no disco de tornozelo. Não houve alterações na latência inicial dos músculos fibulares observado após o período de estágio. Houve, no entanto, um aparente atraso significativo da latência no músculo tibial anterior e tibial posterior, em comparação com o grupo controle. O referido inquérito do estudo prospectivo é o único que se sabe que os autores examinaram a mudança da latência inicial eletromiográfica após exercícios com disco proprioceptivo para tornozelo. A questão é saber se a latência inicial dos mesmos músculos irão desenvolver mudanças após exercícios no disco para tornozelo em pessoas com história de entorse do tornozelo (OSBORNE et al., 2001). O treinamento proprioceptivo na prancha proprioceptiva foi estudado com o objetivo de analisar o tempo de reação muscular em pacientes com história de entorse de tornozelo. Dez indivíduos com história de entorse unilateral foram submetidos a oito semanas de treinamento na prancha proprioceptiva, os tornozelos lesionados foram usados como grupo experimental e o tornozelo sadio como grupo controle. A média do tempo de latência foi registrada antes e depois dos treinos, sendo os músculos testados: tibial anterior, tibial posterior, fibular longo e extensor longo dos dedos. Os resultados revelaram significativa redução no tempo de latência do tibial anterior em ambos os grupos. Esses achados indicam que os exercícios de estabilização rítmica podem ser incluídos em um programa de reabilitação para entorse de tornozelo para ampliar a coordenação neuromuscular em resposta a uma translação articular inesperada (OSBORNE et al., 2001). No trabalho desenvolvido, pôde-se notar que a prancha proprioceptiva e o disco proprioceptivo sobre a cama elástica gerou grande desequilíbrio e instabilidade para a articulação do tornozelo, produzindo grande atividade eletromiográfica dos estabilizadores 75 dinâmicos de tornozelo, dessa forma, esses exercícios mostram ser importantes na reabilitação e no recrutamento dos músculos do tornozelo, principalmente na fase final de tratamento das instabilidades articulares de tornozelo. Porém, analisando a atividade muscular durante a coleta na cama elástica notou-se o aumento da atividade elétrica muscular apenas no músculo tibial anterior, indicando que a cama elástica apresenta um comportamento muito parecido com o do solo estável, gerando pouco desequilíbrio e conseqüentemente menor ativação muscular. Acredita-se que a maior fonte de mecanoceptores do tornozelo encontra-se nos ligamentos, os quais são responsáveis pela propriocepção e manutenção da estabilidade articular. Foi demonstrado histologicamente a presença de terminações de Ruffini, corpúsculos de Paccini e órgãos tendinosos de Golgi nos ligamentos do tornozelo (OSBORNE et al., 2001). Assim, exercícios em solos instáveis geram mudanças rápidas no comprimento dos ligamentos do tornozelo, devido ao fato de estimular o tornozelo em múltiplos planos de movimento gerando estímulos aferentes e respostas motoras reflexas para produzir a rápida estabilidade articular (PECCIN; PIRES, 2003). O mesmo autor complementa que os objetivos desse treinamento é induzir a perturbações não-previstas, estimulando assim a estabilização reflexa e produção de co-contração agonista-antagonista. Déficits na propriocepção têm sido demonstrados após a ocorrência de lesões, em doenças articulares e com o avanço da idade. Impulsos provindos dos músculos, fáscias, tendões e receptores articulares, podem ser afetados por uma lesão o que pode resultar em um déficit proprioceptivo (MATTACOLA; DWYER, 2002). Dessa forma, o treinamento proprioceptivo e de equilíbrio são recomendados para restaurar o controle motor dos membros inferiores (VOIGHT; COOK, 2003). Na prática clínica, o termo equilíbrio é usado com freqüência sem a definição clara, lembrando que a propriocepção e o equilíbrio não são sinônimos, a propriocepção é precursora do equilíbrio e da função adequada, e o equilíbrio é o processo pelo qual controlamos o centro de gravidade do corpo em relação à base de apoio, seja ela estacionária ou em movimento ((VOIGHT; COOK, 2003). Os métodos para melhorar a propriocepção depois da lesão podem melhorar a função e diminuir o risco de nova lesão. Os exercícios instáveis são usados para auxiliar na reabilitação articular e muscular, sendo relacionados com a estabilização e reabilitação do tornozelo e joelho. Entretanto, estudos recentes concluem que o treinamento regular previne possíveis danos articulares e são eficientes na melhora da força muscular, velocidade de reação e equilíbrio (BEHM; ANDERSON; CURNEW, 2002). 76 Cabe ressaltar que o presente trabalho avaliou indivíduos sem lesão de tornozelo, portanto, os achados do trabalho devem ser inferidos à população normal, e que indivíduos com instabilidade articular aguda e crônica podem apresentar outro padrão de recrutamento muscular nos diferentes solos instáveis. Atualmente tem sido muito estudado o mecanismo de ativação muscular antecipatória em resposta a um determinado estímulo. Postula-se que a capacidade de preparar os músculos antes do movimento, a pré-resposta, é conhecida como feed-forward do controle motor. Um músculo pode ser pré-ativado pelo sistema nervoso central para prevenir os movimentos e as cargas articulares. Os músculos pré-ativados podem fornecer compensação rápida para as descargas externas e são essenciais para a estabilização dinâmica da articulação. A atividade muscular preparatória contribui com o sistema de restrição dinâmica em diversos pontos, aumentando o nível de ativação muscular antes da chegada da carga externa, as propriedades de rigidez de toda a unidade muscular podem ser aumentadas (VOIGHT; COOK, 2003). Estudos recentes têm observado que há evidência para sugerir que um programa de treinamento para indivíduos com instabilidade de tornozelo que inclui disco proprioceptivo para o tornozelo ou atividades de “cambalear” na tábua proprioceptiva ajuda na melhora do equilíbrio unipodal e diminua a probabilidade de entorses futuros (MADRAS; BARR, 2003). Alguns estudos tentaram também enfatizar a importância do sistema visual no controle postural em humanos. Em 1974, Lee e Aronson realizaram um experimento para se entender a ação do sistema visual no controle do corpo. Eles trabalharam a informação visual movendo uma “sala” suspensa onde o teto e as paredes laterais tinham a capacidade de se movimentar. Adultos e crianças ficavam em pé nesta sala e, quando ela era movimentada, oscilações corporais correspondentes eram observadas, concluindo a grande atividade do sistema visual no controle postural (LEE; ARONSON, 1974). Mochizuki, Ivanova e Garland (2007) determinaram em seu estudo os fatores que influenciam a taxa de co-modulação da descarga da unidade motora no músculo sóleo de ambas as pernas durante a postura em pé de 8 sujeitos, tanto com os olhos abertos como olhos fechados, como também com vibração no tendão calcâneo. Os resultados mostraram que o programa comum para motoneurônios dos dois músculos não apresentou diferença entre se levantar com os olhos abertos ou fechados, mas apresentou diferenças significativas quando relacionadas com a vibração. Estes resultados sugerem que a propriocepção e inputs subcorticais contribuem para a co-modulação da taxa de ativação dos pares das unidades motoras do músculo sóleo da perna esquerda e direita durante postura estática. 77 Neste estudo foi observado o efeito das informações visuais e proprioceptivas sobre a ativação muscular da articulação do tornozelo na manutenção do equilíbrio estático em jovens saudáveis. Os resultados mostram que através da ausência ou perturbação sensoriais os músculos do tornozelo variam sua atividade em acordo com os estudos anteriores. Dessa forma podemos observar a importância do sistema visual na ação proprioceptiva do corpo, enfatizando assim sua ação no controle postural e possíveis implicações no processo de reabilitação. Assim, os resultados da literatura corroboram com os achados deste estudo que indicam que os exercícios em terrenos instáveis aumentam de forma significativa a atividade eletromiográfica, podendo ser utilizados na prevenção e reabilitação de lesões do tornozelo. Sendo assim, se realizado um protocolo fisioterapêutico para reabilitação proprioceptiva do tornozelo de acordo com a proposta do trabalho, pode-se iniciar com o solo estável, seguindo da cama elástica, evoluindo para o balancim, disco proprioceptivo, associação da cama elástica com o disco e finalmente prancha proprioceptiva nas fases finais da reabilitação proprioceptiva, o qual exige maior atividade muscular. Podemos também evoluir com a retirada da influência visual, importantíssima para o equilíbrio postural, mostrando que essas técnicas utilizadas na reabilitação sensório-motora podem ser eficazes na ativação dos músculos do tornozelo. 78 6 CONCLUSÃO Os resultados mostraram um aumento significativo na atividade muscular na maioria dos solos instáveis comparado ao solo estável, com aumento significativamente maior com os olhos fechados comparados aos abertos olhos. Pôde-se observar que o músculo tibial anterior e fibular longo foram os músculos que apresentaram maior atividade eletromiográfica em todos os solos. Em relação aos solos que geraram maior ativação muscular, destacou-se a prancha proprioceptiva, seguida da associação da cama elástica + disco, após disco proprioceptivo, balancim e cama elástica. Portanto essas técnicas utilizadas na reabilitação sensório-motora mostraram ser eficazes na ativação dos músculos do tornozelo, sendo de fundamental importância na reabilitação do tornozelo. Faz-se necessário o desenvolvimento de mais estudos eletromiográficos analisando variáveis ainda não estudadas, como a influência de outros tipos de solos, diferentes tempos de coleta e até mesmo com a retirada da percepção visual em mais tipos de exercícios, visando aumentar o conhecimento científico sobre a influência do treinamento proprioceptivo no desempenho da musculatura protetora do tornozelo, para que no futuro seja possível contribuir tanto para a área de treinamento como para a programação de um protocolo de tratamento fisioterapêutico específico para as lesões do tornozelo. 79 REFERÊNCIAS AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE – ACSM. Physical activity and public health: update recommendation for adults from de American College of Sports Medicine and the American Heart Association. 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Portanto convido por meio deste, o indivíduo _______________________________ a participar da pesquisa intitulada “Análise eletromiográfica dos músculos do tornozelo em solo estável e instável com olhos abertos e fechados”. b) Os procedimentos conferem baixo risco físico ou psíquico aos participantes. c) Os participantes devem procurar o responsável pelo projeto em caso de dúvidas, assim como se sentirem lesados ou prejudicados em qualquer momento da execução da pesquisa ou após seu término. d) A duração será de 1 (um) dia, onde serão feitas medidas corporais, coletas do sinal eletromiográfico e a realização do procedimento de exercícios proprioceptivos com o seguinte cronograma: uma avaliação antropométrica (estatura, massa corporal, dobras cutâneas), em seguida tricotomia (depilação) da região muscular correspondente à análise, um aquecimento de 5 minutos de caminhada na esteira, iniciando as coletas do sinal eletromiográfico (eletromiografia de superfície). Estas coletas serão escolhidas de forma randomizada (sorteio) entre todos os solos, tanto solo estável (chão) quanto solo instável (cama elástica, balancim, disco proprioceptivo e tábua proprioceptiva com os olhos abertos, como também cama elástica, balancim e solo estável com os olhos fechados). Na coleta, o indivíduo deverá se manter em equilíbrio sobre estes aparelhos durante 15 segundos, com uma angulação de joelho de 30º de flexão. Entre cada coleta haverá um programa de descanso de aproximadamente 1 minuto. Não cabendo ao participante nenhum ônus financeiro. e) Todos os procedimentos são rotineiramente realizados em pesquisas científicas sem relatos de prejuízos físicos ou psíquicos aos participantes. Todas as etapas serão acompanhadas por pessoal qualificado e habilitado, em local higienizado e seguro, sendo todo o material de coleta descartável. f) O presente termo não representa contrato ou vínculo irrevogável, podendo o participante abandonar o estudo quando bem entender. 88 g) As informações serão utilizadas no projeto de pesquisa e serão publicados sem prejuízo ao anonimato dos envolvidos. h) Não haverá nenhum reembolso ao indivíduo pela participação do mesmo na pesquisa. Em caso de necessidade de indenização por dano físico ou psíquico, os valores serão acertados de acordo com a gravidade dos fatos. I) Qualquer dúvida ou problema entrar em contato com o pesquisador responsável: Luiz Alfredo Braun Ferreira, telefone nº (42) 9102-3311 e endereço: R. Orlando Vilela da Costa, nº 118, Bairro Jardim Panorama, Ponta Grossa – Pr. Todas as técnicas experimentais, assim como a metodologia, seguem as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, estabelecidas na Resolução n.° 251, de 07 de agosto de 1997, do Conselho Nacional de Saúde e na Resolução N.º 196, de 10 de outubro de 1996. Se você concorda em participar assine o termo de consentimento abaixo. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar do projeto de pesquisa descrito acima, tendo recebido uma cópia deste termo de consentimento. Declaro, também, que tive oportunidade de questionar maiores detalhes sobre o estudo e que estou ciente de que meus dados permanecerão confidenciais. Assinando este termo, autorizo minha participação voluntária neste projeto, do qual eu posso me retirar a qualquer momento, sem penalidades. Nome (sujeito da pesquisa): __________________________________________ RG: ______________________________________ Assinatura: ________________________________ Data: ____/_____/_____ Nome (Pesquisador Responsável): ______________________________________ RG: ______________________________________ Assinatura: ________________________________ Nome (Pesquisador Auxiliar): __________________________________________ RG: ______________________________________ Assinatura: ________________________________ 89 APÊNDICE B – FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DOS INDIVÍDUOS Nome: Idade: Gênero: ( ) Masc. ( ) Fem. Altura: Peso: Membro Dominante: ( ) Direito ( ) Esquerdo Possui Alguma doença Óssea, muscular ou nervosa? ( ) Não ( ) Sim Qual?________________________ Sofreu Algum entorse de tornozelo nos últimos 6 meses, ou alguma fratura de membro inferior? ( ) Não ( ) Sim Possui sensação de instabilidade ou “frouxidão” no tornozelo? ( ) Não ( ) Sim Se mulher, está no momento em período menstrual? ( ) Não ( ) Sim Pratica atividade física? ( ) Não ( ) Sim Quantas vezes por semana?______ 90 APÊNDICE C: Valores eletromiográficos brutos de cada exercício com os olhos abertos e olhos fechados * Valores de atividade eletromiográfica (RMS – Root Mean Square) brutos na coleta de 15 segundos para cada exercício (TA – Tibial Anterior; FL – Fibular Longo; GL – Gastrocnêmio Lateral; GM – Gastrocnêmio Medial; FL – Fibular Longo). 91 92 93 ANEXO A: Comitê de Ética e Pesquisa