REFLEXÕES NA TREZENA DE S. ANTÓNIO A PALAVRA DE DEUS NA VIDA DA IGREJA Dia 9 Junho - Verbum Domini, nº 72-73 Tema: Encontrar-se e deixar-se cativar pela Palavra A Carta Apostólica Verbum Domini fala-nos demoradamente da relação entre a Palavra de Deus e a acção litúrgica da Igreja. Essa relação, como vimos ontem, é importante e fundamental, pois é ela que confere sentido sacramental à liturgia. No entanto, esta relação não é apenas uma relação estruturante; não é apenas uma questão institucional. Mais que isso, essa relação é teológica e vivencial. Ela assenta naquilo que é a essência da Palavra – expressão do amor de Deus – e nos frutos da Palavra – dar sentido e vida nova aos crentes, pois, como diz o Senhor, ‘Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância’(Jo 10,10). Em que consiste esta ‘abundância’ da vida que nos é dada em Jesus Cristo? De facto, a Palavra permite aos crentes encontrar-se com Cristo, redescobrir, hoje de novo, o encanto do Seu rosto, a ternura da sua presença, a beleza das suas propostas de salvação, a novidade do seu projecto e os desafios que nos propõe e nos cativam. A liturgia, como já ontem o referi, faz descer a Palavra de Deus aos nossos corações e aí cria aquele encanto, aquele ardor que já os Discípulos de Emaús sentiram quando se encontraram com o Senhor e o ouviam explicar-lhes as Escrituras. Cito, Lc 24,32: ‘Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras’? É este o grande efeito que a Palavra de Deus deve produzir nos nossos corações e estou bem ciente que produz. É só a partir deste encanto que recebemos e alimentamos pela Palavra de Deus que depois podemos não só partilhar a Palavra, mas também testemunhá-la com as nossas vidas. Por isso, o Santo Padre, retomando neste texto o desejo dos Membros do Sínodo, diz expressamente: “Desejo vivamente que floresça ‘uma nova etapa’ de maior amor pela Sagrada Escritura da parte de todos os membros do Povo de Deus, de modo que, a partir da sua leitura orante e fiel no tempo, se aprofunde a ligação com a própria pessoa de Jesus” (nº 72). Temos aqui uma forma bonita de dizer, de traduzir um desejo do Papa, mas acima de tudo de expressar aquilo que deve ser o grande objectivo da nossa aproximação e da nossa devoção à Palavra de Deus. Ela é a fonte da ternura de Deus para connosco; é da Palavra que nasce e é pela Palavra que até nós chega todo este encanto e toda a ternura que Deus nos dedica. É por isso que a Palavra deve ter sempre um lugar central na Vida da Igreja. Mas atenção; esse lugar central não se limita ao pódium onde colocamos a Palavra, nem ao destaque que damos à sua leitura, nem à beleza dos adornos que a acompanham; esse lugar central tem de estar e deve estar no coração dos Fiéis, na alma dos crentes, na paixão que sentimos por acolher e viver a Palavra. É aí que a Palavra deve ter um lugar central, pois só assim Ela dará calor aos nossos corações e vida nova às nossas almas. Frei João Duarte Lourenço OFM