Comunidade e Gestão Escolar , uma Aliança Bem-Vinda para a Apropriação das TIC na Escola Silene Kuin Habitualmente entendemos que a comunidade de uma escola compreende o grupo de pessoas que vive ao seu redor, ou que se relacione com ela de alguma forma, mantendo vínculos mais ou menos próximos. No entanto, buscar um conceito mais apurado para esse termo pode contribuir para que o gestor analise melhor uma parceria que pode ser fundamental para que a escola se aproprie das TIC. Este artigo apresenta parte do resultado de uma pesquisa de quase dois anos que constatou a importância da aliança entre a comunidade e os gestores de uma escola pública na busca de um caminho que tornasse possível a apropriação das TIC, tanto para atender aos anseios de inclusão digital de seus membros, como para imprimir mudanças na relação ensino-aprendizagem entre docentes e seus alunos. A seguir, alguns conceitos e pontos fundamentais dessa relação serão sucintamente apresentados com intuito de fundamentar essa relação comunidade-gestão escolar e introduzir as conclusões a que chegou a referida pesquisa. O que é mesmo comunidade? O conceito de comunidade aqui trabalhado baseia-se nas concepções de Martim Buber sobre o tema. Para este autor, agir em comunidade: - não se ensina; aprende-se, porque assim é a prática vigente; - depende da interlocução que se estabelece entre as pessoas. Cada um funciona como indivíduo, com suas características e diferenças perante o outro, mas há uma relação de diálogo constante; - impõe a quem dela participe, “que os homens e multidões de homens se despojem de muitas vantagens e privilégios particulares em prol do grupo” (Buber, 1987, p. 57); 1 - requer que cada um reconheça, na ação, a importância do outro, sua participação e ponto de vista; - é estar aberto para que o indivíduo não seja rotulado por uma função específica que pode desempenhar em grupo. Ao contrário do que possa parecer quando simplesmente se descreve uma comunidade, na acepção que esse termo tem aqui, apresentar essas características é o resultado de um processo laborioso e constantemente vivido por pessoas que têm na força do grupo a possibilidade de sanar suas necessidades e de se fazer presente no mundo. Um grupo que apresente essas características pode aliar-se facilmente à escola, porque vê nessa instituição uma forma de garantir a evolução de seus filhos. O gestor precisa estar atento para reconhecer esses traços na comunidade e estimular que trabalhe a favor das conquistas almejadas pela escola, no caso do foco desse trabalho, na apropriação das TIC. A presença e envolvimento da comunidade, conforme foi constatado na pesquisa citada acima, mobilizou gestores, professores e funcionários da escola para superar os desafios que as TIC trouxeram para dentro da escola, como instalação, segurança, utilização, manutenção e até a formação docente. E quando o gestor não conta com uma comunidade como essa? A realidade não está posta, definitiva e acabada; é processo de construção. Como tal, pode sofrer intervenções de toda ordem e a qualquer momento. Pode parecer utópica essa afirmação, um sonho, mas vale lembrar Paulo Freire quando diz que acreditar na possibilidade da existência de um mundo melhor significa ajudar a criá-lo (Freire, 1996). Da mesma forma como a comunidade pode atuar favoravelmente na escola, o gestor também pode atuar junto à comunidade de sua escola e incluí-la em um processo participativo e responsável. Ainda lembrando Freire, o mundo melhor está para ser criado, por nós, coletivamente. Muitas vezes o gestor vai “educar” a comunidade escolar para ser ativa; outras vezes, o contrário acontecerá. Estará mais cotado aquele que tiver o desejo de atuação mais forte, a consciência mais clara do papel a exercer no momento específico da ação. É sabido que as dificuldades são inúmeras e o trabalho sempre muito para os gestores de uma escola, porém, em vez de empecilho, essas 2 características devem impulsionar esses mesmos gestores para que busquem uma participação colaborativa da comunidade escolar. A forma de se encarar o processo de aprendizagem atualmente também se coaduna com essa percepção do gestor em movimentos coletivos de atuação. A responsabilidade pela aprendizagem não é do outro, não é externa. A visão mecanicista de ensino da qual queremos nos livrar deixou como herança o entendimento de que o sucesso para se aprender residia no bom “ensinador”, possuidor de grande quantidade de informações e conhecimentos, e no esforço do aprendiz em absorver tudo isso. Levando esse raciocínio para o campo da gestão, acreditavase que o diretor era o que sabia o que todos precisavam fazer e como fazer dentro do grupo, e não, como se verifica hoje a partir de bons resultados, que ao gestor não impõe as soluções de fora para dentro da escola, mas que abre espaços para que as soluções e alternativas de trabalho possam emergir do grupo, favorecendo um processo de autoria das decisões tomadas. Quando os processos da escola e as mudanças são arquitetadas coletivamente, o gestor rompe com os conceitos arcaicos de gestão. Cada vez mais é necessário incrementar uma cultura que possibilite o desenvolvimento de competências voltadas para a atuação em grupo, com autonomia das pessoas em relação à tomada de decisões, e responsabilidade por processos e resultados de trabalho. A melhor forma de se desenvolver essas competências é estar em um ambiente onde elas sejam vivenciadas e não são simplesmente explicadas. Dessa forma, todos os que interagirem dentro da escola estarão sujeitos ao mesmo aprendizado e conclamados a atuarem no organismo escolar. Abrir mão do individualismo é reescrever uma história de vida que a maioria construiu dentro do contexto escolar autoritário, tanto em relação ao convívio como em relação ao conceito de aprendizagem. O trabalho responsável e em equipe é resultado de mudança de valores. É necessário entender que a valorização do potencial coletivo não significa a diminuição ou obscurecimento do potencial individual. Na verdade, quando fortaleço o outro, favoreço-me disso porque passo a contar com um interlocutor mais bem preparado. Só que essa mudança de valor não pode ser ensinada, só aprendida! Essa aprendizagem se faz na ação, na prática reflexiva, na vivência, e nunca no e pelo discurso. Na realidade, o que se observa em uma gestão que conta com o apoio e participação da comunidade é a presença de uma relação dialógica. Dialogismo é um conceito que permeia toda obra de Bakhtin, e que defende a relatividade da autoria individual das idéias, textos e linguagem, atribuindo esse crédito ao coletivo, ao social. Dialogismo é o diálogo permanente entre os discursos elaborados por sujeitos de uma 3 mesma comunidade ou cultura. Para o autor, não é a linguagem que viabiliza a formulação do pensamento, mas o contrário, logo, refazemos nossos pensamentos a cada momento de interação, e o discurso de cada um é sempre atravessado pelo discurso do outro. Em outras palavras, o eu nunca é individual. Este trabalho parte do pressuposto que o gestor pode implementar essa relação dialógica e incluir a comunidade, principalmente no processo de apropriação das TIC na escola. O gestor e o sentido das TIC para a comunidade escolar O fato de as pessoas serem autoras de iniciativas, e não somente atoras, faz com que se estabeleça uma cultura que impregna a vida desses indivíduos da consciência de seu poder para forjar a realidade, construíla, de forma diferente do que parece estar predestinado pelas condições e contexto. A sensação de poder realizar é sinônimo de liberdade para transformar, o que vai ao encontro do conceito de empowerment, como o concebe Freire (1986). Embora ele enfatize esse conceito ligado à classe social, que “busca a própria liberdade da dominação”, é válido considerálo quando se pensa em uma comunidade já que a ação no coletivo faz com que o indivíduo se fortaleça individualmente, pois tem o respaldo de seus pares. Ao mesmo tempo em que fica mais forte, reforça ainda mais o seu potencial para atuar em grupo e, assim, um ciclo se estabelece, perdura durante o tempo em que se mantiverem os mesmos interesses, necessidades e visão de mundo. As conquistas realizadas nesse contexto assumem mais que um significado para aqueles que estão dentro do processo. Elas passam a ter um sentido diferenciado. É importante aqui, buscar o conceito trabalhado por Vygotsky para esses dois termos. O significado de escola, por exemplo, seria aquele que, independente do contexto, poderia ser entendido por qualquer pessoa, é o que o termo significa, e que poderia constar em qualquer dicionário, enquanto o sentido de escola estaria, segundo esse autor, encharcado das qualidades construídas por aqueles que com ela conviveram e as intervenções e modificações que fizeram. O sentido é, pois, mais amplo que o significado e pode mudar de acordo com as situações. Quando as TIC passam também a ter um sentido e fazer parte das preocupações, tanto da comunidade como dos professores, gestores e funcionários, o resultado da ação transformadora de um grupo sobre sua realidade imediata fica evidenciado. O acesso as TIC, negado individualmente no dia-a-dia de muitos alunos, devido à precariedade financeira das famílias, passa a ser uma possibilidade do grupo, o que 4 explica o empenho encontrado em muitas escolas cuja gestão democrática é elemento ativo no processo de apropriação das TIC. O gestor também tem condições de envolver comunidade, professores, funcionários em um processo junto às TIC, de forma que esse passe a ter o sentido necessário para ser encarada como uma conquista do grupo, o que resultará em envolvimento, responsabilidade, proximidade. Mais do que dimensões da gestão escolar Os pontos importantes para a gestão escolar, anteriormente citados neste artigo, abrangem a atuação do gestor junto à comunidade, uma desejável postura democrática em sua atuação e instituição do trabalho coletivo, através de uma relação dialógica que traga novos sentidos de escola e também das TIC para a comunidade escolar. No entanto, tradicionalmente também são atribuídos ao gestor um trabalho que normalmente é dividido em duas dimensões: a pedagógica e a técnicoadministrativa. A pesquisa a partir da qual este artigo foi montado, constatou, a princípio, os elementos nessas duas dimensões aos quais poderiam ser atribuídos a responsabilidade pelo processo favorável de apropriação das TIC na escola pesquisada. A forma gráfica então utilizada para dar conta da relação estabelecida entre essas dimensões foi expressa da seguinte forma. Adaptação dos Recursos Primeira representação gráfica da atuação gestora para favorecer a apropriação das TIC 5 Essa aproximação entre o administrativo e o pedagógico é própria do conceito de gestão que acarretou, na prática, a aproximação também daqueles que planejam com aqueles que executam as ações dentro da escola (Alonso, 2003). As práticas pedagógicas e técnico-administrativas dos gestores, conforme a figura, que favoreceram a apropriação das TIC, são as seguintes: Divulgação de resultados: Também foi recorrente na pesquisa a satisfação que professores e alunos tiveram com o espaço aberto pelos gestores para a divulgação dos resultados alcançados pelos trabalhos realizados na escola, incluindo aqueles que contaram com o uso do computador e da sala de informática. Além da valorização do trabalho de professores e alunos, essas exibições complementaram os projetos, pois as crianças e professores sistematizaram melhor o trajeto percorrido, diante da necessidade de explicar a terceiros como ele aconteceu. O nosso trabalho, a gente teve que apresentar numa feira de informática, né. A gente teve que ensaiar porque não era só dizer porque tinha acontecido o 11 de setembro. A gente tinha, né, que, tipo assim, contar isso e mais como foi pra gente fazer o trabalho, né, o que a gente usou, como funciona o computador... não, como funciona assim o programa, que era o Illuminatus, o que ele fazia, tipo assim... e a gente teve que preparar, lembrar de tudo. Foi bem legal (Aluno 2). Essa divulgação que a diretora insistia em fazer, em eventos externos ou mesmo dentro da escola, para a comunidade escolar, tinha o efeito de exaltar a qualidade das iniciativas e dos resultados, fortalecendo a autoestima e os vínculos com os envolvidos para futuras empreitadas. Socialização de informações e ações: Uma característica importante, que apareceu diversas vezes na fala dos entrevistados, durante a referida pesquisa, foi a fluidez com que as informações circulavam na escola, o que tornou evidente uma preocupação dos gestores em socializar tudo o que pudesse interessar ao grupo. Este é um índice fundamental em uma gestão democrática. Eu divulgo tudo. Todas as capacitações que acontecem, eu vou até a sala dos professores, divulgo, estimulo: Olha, tem curso no núcleo de tecnologia, tem na oficina pedagógica. Tem diretor que esconde porque não quer ter problema na escola com falta de professor, mas eu acho isso horrível. O professor precisa melhorar o olhar para trabalhar melhor (Diretora). 6 O trecho acima evidencia que a gestora se preocupava em socializar informações e manter um canal de comunicação aberto com professores, alunos e comunidade. Essa rede formada qualifica as relações e potencializa a conscientização a respeito da importância da contribuição de todos diante dos acontecimentos da escola (Almeida, 2003). Percebese nitidamente também nesses depoimentos que a informação não chega de forma autoritária e não é uma transmissão fechada. Mesmo quando é possível gerar situações complexas que acarretarão desdobramentos trabalhosos posteriormente, como é o caso do grande número de professores que quer sair ao mesmo tempo para capacitação, o que desestruturava a escola. Tanto a diretoria quanto os outros gestores não se privavam de informar a todos as decisões e processos em andamento na escola, mesmo que isso significasse administrar conflitos posteriormente. Manutenção dos equipamentos: Durante a pesquisa, vários depoimentos de gestores, professores e mesmo de alunos surgiram denunciando a falta de condições que volta e meia afetava os trabalhos na sala ambiente de informática, no que diz respeito principalmente à reposição de tinta e manutenção dos micros. ... hoje a dificuldade aqui na escola... é que nós estamos trabalhando a verba mais apertada que nunca. Todas as salas esperam o ano inteiro por essa verba, porque aí a escola resolve muito dos seus problemas e aí agüenta mais um ano pra frente. Eu fico numa situação danada quando tem um projeto, ou vários, como nós temos, e falta alguma coisa na informática, porque se eu cubro lá, descubro outra coisa tão importante quanto, em outro lugar. O jeito é jogar para o grupo resolver e para priorizar a informática eu tenho sempre que ficar lembrando o que essa sala representa para os alunos e a comunidade (diretora). Como fica evidente, a apropriação das TIC depende também de o gestor estabelecê-las como prioridade para o desenvolvimento dos trabalhos pedagógicos de sua escola e aceitar o desafio de administrar as verbas, segundo uma opção, necessariamente referendada pelo grupo. Socialização da tecnologia: Na escola pesquisada foi possível perceber, primeiro por parte da diretora, depois pela vice-diretora e coordenador, um estímulo constante para que a sala ambiente de informática fosse do conhecimento de todos e seu uso ultrapassasse até a utilização pedagógica. Funcionário 1: Bom aqui na escola como é uma coisa assim muito rápida e que a gente assim não tem um horário assim mais prolongado, eu só vou dar uma 7 olhada nos meus e-mails quando eu posso, aí vou na Bol, no Yahoo, Hotmail, no IG e é rapidamente. (...) Entrevistadora: Você já pensou em alguma coisa que você possa fazer aqui pra melhorar o seu trabalho usando o computador? Funcionário 1: Olha, não só aqui na cozinha fazendo os cardápios e colando na parede, mas estou estudando, quero prestar novos concursos e quero mudar pra outro setor, quero progredir, subir em alguma coisa melhor, porque a gente tá numa certa idade, mas nem só pensando em aposentadoria... Entrevistadora: Por que você acha, então, que aqui nessa escola você conseguiu entrar na sala de informática? Professor 2: Porque aqui nós temos liberdade de trabalhar, não é puxando o saco, mas a diretora dá um espaço para nós, ela não tem medo de quebrar. Quebrou, conserta, tá, e nas outras escolas já tem esse certo receio... Adaptação dos recursos: Favorecer o acesso de todos e estimular a utilização por parte dos gestores foi uma constatação importante no processo de apropriação das TIC na escola, mas também foi revelador perceber como os gestores também se apropriaram da tecnologia. Rui apresentada a um número considerável de documentos gerados para administrar as rotinas da escola pelos gestores, como gráfico de freqüência por série/disciplina, gráfico de aproveitamento das classes, por disciplina, tabelas de ocorrência disciplinar e devidas providências, formulários de comunicação interna e externa, tabulação das dificuldades mais freqüentes dos alunos por série/disciplina etc. Todos esses exemplos de documentos estavam organizados em uma pasta, acompanhados de uma breve e eficiente explicação de como, quando e por quem deveriam ser utilizados. Olha, veja aqui, eu não sei direito mexer com esses programas, eu sozinha, mas quando fiz o curso, vi logo que esse negócio podia me ajudar a descobrir um monte de coisa aqui na escola, que sem o computador é trabalhoso demais e não daria tempo. Aí, eu pedi ajuda para o pessoal que conhec e dizia o que eu precisava e se essa maquininha podia fazer, e eles me ajudavam. A gente não faz só pra controlar a escola, é para saber o que a gente tem que fazer pra melhorar. Algumas coisas, na prática, a gente descobriu que era só papel, aí deixamos de lado (...) Quando a gente vê só os números em determinada situação, a gente não tem noção igual de quando a gente vê num gráfico, por exemplo (Vice-diretora). Os gestores viram nos recursos das TIC a oportunidade de indexar dados diferentes para, através de suas análises, tomar consciência das contribuições da tecnologia para o desenvolvimento de suas funções voltadas para o ensino e a aprendizagem dos alunos e também para possibilitar a visão do todo da escola (Almeida, 2003). 8 Dessa forma, a gestão da escola alavancou movimentos importantes ao atuar na dimensão administrativo-pedagógica, ora com medidas práticas, precisas e combinadas, ora com postura estimuladora e valorizadora, de forma que a dimensão pedagógica foi realimentada pelas decisões técnico-administrativas, ao mesmo tempo em que também as influenciava. Em última instância vale dizer, os gestores praticaram também aquilo que estimulavam na escola, a apropriação da tecnologia para a melhoria do fazer e decidir dentro da escola. Formação docente: A necessidade de responder à comunidade escolar com um bom trabalho utilizando as TIC fez com que os professores da escola pesquisada ficassem estimulados a participar de processos de capacitação. A escola contava com cem por cento dos professores participando ou já tendo participado de algum curso oferecido por órgãos centrais ou outras instituições. Contudo, o que mais mostrou resultado para formação consistente dos professores na referida escola foi o processo de reflexão coletivo desencadeado a partir dos trabalhos concebidos e desenvolvidos dentro da própria escola e, para que isso fosse possível, tanto o trabalho inovador, quanto a discussão e reflexão a partir dele, a abertura e estímulo dos gestores foram de fundamental importância. As mudanças nos tempos e nos espaços escolares para viabilizar um trabalho inovador com as tecnologias de informação e comunicação exigem gestores abertos a considerar possibilidades inéditas no dia-adia da escola, incluindo os problemas que, como diz a diretora da escola pesquisada, “se resolve um de cada vez, contando com todo mundo”. Após a pesquisa, tornou-se legítimo afirmar que a gestão da escola tem um papel fundamental no processo de apropriação das tecnologias de informação e comunicação. Ressalto, ainda, que não é qualquer tipo de apropriação, mas aquela que se preocupa com a emancipação dos envolvidos e que mantém uma coerência com o espírito democrático vigente na escola. Para que essa seja uma possibilidade freqüente, não só os professores precisam de formação, mas também todos aqueles que dirigem os processos pedagógicos dentro da escola. Conclusão 9 Ao final da pesquisa, a forma gráfica anteriormente exposta para dar conta das relações entre as dimensões pedagógica e técnicoadministrativa teve que mudar para melhor representar a realidade. A ação gestora, envolvendo comunidade, professores e funcionários não podia mais ser representada por uma figura com separações tão definidas, pois as práticas citadas acima mantinham entre si uma relação estreita, que exigia uma nova forma de se fazer representar. Inspirada em Morin e sua teoria do pensamento complexo, a representação gráfica mais coerente passou a ser aquela que mostrava a interdependência das práticas estimuladas pelos gestores, das quais todos os envolvidos faziam parte. Socialização de informações e ações socialização da tecnologia divulgação de resultados formação docente adaptação dos recursos Complexo é aquilo que é tecido junto Manutenção dos equipamentos Segunda representação gráfica da atuação gestora para favorecer a apropriação das TIC O gestor, dentre todos os profissionais da escola ou fora dela, é quem tem mais condições de vislumbrar o todo da unidade escolar, detectando possíveis aliados, com base na competência de cada um, para estabelecer parceria, identificar lideranças e dividir responsabilidades e afazeres, mas, mais que isso, buscar soluções e mudanças. Seu papel principal é catalisar os desejos e as necessidades que pululam na escola 10 e em seu entorno, propiciar que venham à tona e que sejam sistematizadas e legitimadas por todos. Sem esquecer, é óbvio, que a busca pelo conhecimento é o objetivo central da escola. O benefício dessa conduta vai além de uma questão objetiva da administração descentralizada. O envolvimento do maior número de pessoas no labor diário da escola não resulta só em colaboração diante das obrigações, mas também na atribuição de reconhecimento dos direitos e das iniciativas do grupo. Isso faz com que cada um se sinta valorizado e pertencente ao todo. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, M.E.B. DE. Tecnologias e gestão do conhecimento na escola. In: Gestão educacional e tecnologia. São Paulo, Avercamp, 2003. _____________. Tecnologia na escola: Formação de educadores na ação. Boletim do Salto para o Futuro. Série Tecnologia na Escola, TV Escola. Brasília: Secretaria de Educação a Distância – SEED. Ministério da Educação, <http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2001/tec/tectxt1.htm> 2001 acesso em 02.10.2003. ALONSO, M. Gestão escolar: revendo conceitos. Curso: Gestor escolar e tecnologias. PUC, São Paulo, http://www.gestores.pucsp.br, acessado em 20 de dezembro de 2004. ALONSO, M. et al. O trabalho coletivo na escola e o exercício da liderança. In: VIEIRA, A.T.et al. (org.) 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