FACULDADE DE MEDICINA DO ABC
MANTIDA PELA FUNDAÇÃO DO ABC
RELATÓRIO DOS
DOS EXAMES REALIZADOS NOS ÁRBITROS DA
FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL PELA
PELA FACULDADE DE MEDICINA
DO ABC – FMABC
O Núcleo de Saúde no Esporte da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, utilizando
as suas várias especialidades, pela primeira vez na história da arbitragem brasileira
submeteu o quadro de árbitros da Federação Paulista de Futebol a vários exames.
Fig 1a – Número real de árbitros atendido por especialidade
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Fig 1b – Percentual dos árbitros atendidos por disciplina
Sabe-se que o treinamento intenso aumenta o risco de morte súbita na presença de
doença cardíaca pré-existente e um dos objetivos foi afastar qualquer tipo de doença
cardiovascular que os árbitros pudessem apresentar. A seguir, segue o relatório, com
maiores detalhes, incluindo as disciplinas envolvidas.
Teste ergométrico e ergoespirométrico
Árbitros de elite podem atingir distâncias entre 9 e 13 km/h durante uma partida de
futebol. Dessa distância percorrida, 4% a 18% são realizadas em alta intensidade,
fazendo arranques e velocidades curtas. Aproximadamente, 60% dessa distância
percorrida depende do fôlego pulmonar máximo (VO2máx) e do limiar anaeróbio (índice
de resistência submáxima).
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ASPECTOS FISIOLÓGICOS DE
ÁRBITROS DE FUTEBOL
•
Árbitros de elite podem atingir distância entre 9 e 13 km durante
a partida; Média de 11 km
•
60% da distância atingida depende do VO2max e do limiar
anaeróbio;
•
Utilizam 85 a 90% da FC máxima do coração;
•
Utilizam 62% do primeiro tempo e apenas 45% do segundo
tempo 85% da FC max;
•
Utilizam 70 a 80% do VO2max (fôlego pulmonar);
(Castagna et al. 2007; Sports Med.)
O perfil de deslocamentos dos árbitros da atualidade em uma partida é comparável aos
meio-campistas e laterais.
FUTEBOL
ÁRBITROS DESLOCAMENTOS
36%
LATERAIS
6%
MEIO - CAMPISTAS
11%
17%
20%
corrida intensa
36%
corrida intensa
corrida lenta
41%
Corrida intensa = 18 km/h
Corrida lenta = 12 km/h
31%
corrida lenta
38%
andar
sprint
andar
sprint
Andar = 6 km/h
Sprint = 25 km/h
A solicitação cardiovascular é intensa, pois os árbitros utilizam de 85% a 90% da
frequência cardíaca máxima. Eles utilizam entre 62% e 45% desse esforço
cardiovascular, respectivamente, no primeiro e no segundo tempo da partida. Eles
utilizam de 70% a 80% do VO2máx (fôlego pulmonar máximo) na partida.
A literatura especializada em futebol de alto nível demonstra que o VO2máx de jogadores
de futebol varia de 55 a 68 ml/kg/min e o limiar anaeróbio de 13 a 15 km/h. A variação dos
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árbitros da Federação Paulista de Futebol para o VO2máx foi de 44,9 a 66,8 ml/kg/min
com média de 55,7 ml/kg/min. Cinqüenta por cento dos árbitros da FPF avaliados
mostraram VO2máx na faixa de 56 a 66 ml/kg/min, bem superiores a diversos jogadores
profissionais de diversos clubes de alto nível na atualidade. O limiar anaeróbio variou
entre 12 e 16 km/h com média de 13,8 km/h.
Á rbitros da F P F / 2009
36%
50%
14%
56 a 66 ml/kg/min
< 50 ml/kg/min
51 a 55 ml/kg/min
Fig.2 – Desempenho em porcentagem do VO2máx dos árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF)
Pré – Campeonato Paulista de Futebol em 2009.
Obs. O VO2max ou fôlego pulmonar máximo em jogadores de futebol de elite varia de 55 a 68
ml/kg/min. 50% dos árbitros da FPF estão no mesmo nível.
Avaliação ortopédica e fisioterapêutica
Os encurtamentos musculares levam a um menor rendimento físico e propiciam lesões.
Portanto, deve-se realizar trabalho de melhora no alongamento muscular de cada
indivíduo, respeitando-se as características físicas e biológicas.
Ao avaliarmos os árbitros, verificamos que a grande maioria apresenta algum grau de
encurtamento muscular em membros inferiores, que limitam a real potência que esse
grupo muscular pode desenvolver.
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Na figura 3, observamos o número real dos árbitros que apresentaram encurtamentos
musculares com sua respectiva porcentagem em relação ao número de indivíduos que
passaram pelo nosso serviço.
Fig. 3 – Numero real com a respectiva porcentagem dos árbitros com encurtamento muscular.
Observamos, também, que apresentaram alta incidência de escoliose, alteração vertebral
não relevante nesses casos, pois não altera as atividades da vida cotidiana. Convém
ressaltar que essa alteração de coluna vertebral provém de alterações posturais que se
agravam com o passar do tempo, se não corrigida.
A análise postural demonstra algumas alterações que em princípio não atrapalham a vida
diária, porém se faz necessário ressaltar novamente que essas alterações a longo prazo
levam as doenças do aparelho locomotor como artroses e dores musculares. Portanto, é
recomendado trabalho de melhora postural que devem ser realizadas, utilizando técnicas
como RPG ou Pilates.
Não foram considerados indivÍduos que apresentaram alguma lesão ou queixa, pois na
sua grande maioria não impedem que desempenhem suas funções. O que devemos
lembrar é que estes indivíduos são atletas e devem ter o mesmo preparo que os
jogadores de futebol.
Nos foi informado que os mesmos, quando sofreram as lesões, procuraram
atendimento adequado (médico e fisioterapia), outros, em minoria, apenas repousaram e
não procuraram atendimento. Essas lesões atrapalham o rendimento físico e caso não
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seja feita uma reabilitação adequada com o profissional fisioterapeuta pode haver nova
lesão, com um grau maior de complexidade, aumentando o tempo de tratamento e de
retorno às atividades.
Avaliação nutricional
Foram atendidos praticamente todos os árbitros - 76 (95%). Destes, 62% realizaram a
avaliação completa que incluiu anamnese indivídual (comportamento alimentar, hábitos
etc.) e análise antropométrica (dobras cutâneas, perimetria de braço e pernas, peso,
altura, IMC); 14% realizaram apenas a anamnese e 19% apenas as dobras cutâneas
(antropométrico).
Na figura 4 observamos o número real com suas respectivas porcentagens dos árbitros
que passaram pela avaliação nutricional.
Fig. 4 – Número real com as respectivas porcentagens dos árbitros que passaram pela avaliação nutricional
Não foi considerada na estatística o número de árbitros que utilizam a suplementação. A
grande maioria relata que faz uso deste, sem orientação adequada. Devemos lembrar que
uma alimentação equilibrada e balanceada fornece para o organismo todos os
componentes necessários para uma vida saudável e, em casos particulares, pode-se
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utilizar esta suplementação, porém sempre com acompanhamento médico ou do
nutricionista.
Além da suplementação, observamos erros alimentares em quase todos os árbitros, tanto
qualitativo quanto quantitativo.
Novamente, vale a pena ressaltar que estes indivíduos atletas devem manter hábitos
alimentares adequados para sua função, pois sem a nutrição adequada não conseguem
obter um rendimento físico satisfatório.
Avaliação psicológica
Foram avaliados 67 árbitros pelo serviço de Psicologia (83.75%). Avaliamos a parte
cognitiva (atenção, concentração, aprendizagem, conhecimento formal, orientação
espacial, comportamento vasomotor, memória de reconhecimento, memória operacional,
percepção, flexibilidade cognitiva).
Referente à parte cognitiva, observamos que 96,5% dos indivíduos avaliados encontramse dentro dos padrões de normalidade; 3,5% apresentam uma defasagem cognitiva,
necessitando uma investigação mais detalhada se realmente existe a defasagem
cognitiva, embora podendo ser enquadrada numa simples falta de comprometimento
individual e subjetivo com a avaliação realizada.
Na figura 5, observamos a porcentagem dos árbitros com as respectivas capacidades
intelectuais.
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Fig. 5 – Porcentagem das capacidades intelectuais dos árbitros.
Quanto ao nível de estresse dos árbitros avaliados, notamos que 93% não apresentam
quadro de estresse; 4,4% encontram-se em fase de resistência ao estresse e 2,9%
encontram-se em fase de alerta do estresse.
Na figura 6, observamos a porcentagem dos árbitros que passaram pela avaliação
de estresse.
Fig. 6 – Porcentagem dos árbitros com estresse.
A avaliação psicológica mostra que os árbitros estão bem preparados para enfrentar a
carga de trabalho que a profissão exige.
Ressaltamos que essa avaliação não foi completa e foi recomendado individualmente,
através dos laudos, que se faça uma avaliação complementar.
Avaliação dos exames complementares
Os exames complementares fazem parte de uma série de exames que podem auxiliar na
investigação de alguma doença ou distúrbio metabólico, tudo isto visando a melhora da
capacidade
física
do
atleta.
Foram
submetidos
à
coleta
de
sangue,
urina,
eletrocardiografia de repouso, RX de tórax e ecocardiograma com Doppler.
75% dos árbitros foram submetidos a exames de sangue (60 árbitros). Na tabela abaixo
(Figura 7 e 7a), notam-se as alterações encontradas.
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Fig. 7 – Número reasl de árbitros com alterações séricas.
Fig. 7a – Porcentagem de árbitros com alterações séricas.
Estes árbitros com essas alterações foram orientados individualmente no relatório a
repetirem o exame dentro de 3 meses.
A avaliação do RX de tórax mostrou todos dentro da normalidade.
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A avaliação do ecocardiograma com Doppler, evidenciou normalidade para todos os
árbitros.
A avaliação feita pelo ECG (eletrocardiograma) de repouso evidenciou apenas um árbitro
com alteração que deverá ser investigada.
Um árbitro apresentou durante o exame clínico, picos de hipertensão arterial. Foi
submetido a MAPA (Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial), que mostrou níveis
pressóricos, em 24 horas, dentro da normalidade.
Avaliação oftalmológica
Em 29 de novembro de 2008 foram atendidos nas dependências do Departamento de
Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC os árbitros da Federação Paulista de
Futebol. Em clima de cordialidade, todos foram submetidos a uma consulta oftalmológica
completa, como forma de prevenção e preparação para a nova temporada que se iniciou
em janeiro de 2009.
A seguir, serão demonstrados os resultados finais em gráfico com diagnósticos (Figura 8).
Conclusão
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A FPF é vanguardista, mais uma vez sai na frente, submetendo seus árbitros a exames
que servem de exemplo de seriedade e responsabilidade para com o preparo físico e
saúde dos árbitros deste Estado. Exames realizados em consonância com as técnicas
mais atuais, utilizadas como o suporte da aptidão funcional humana, realizados pela
Faculdade de Medicina da Fundação do ABC–FMABC, através dos mais exponenciais
especialistas, nas diferentes áreas.
Ressaltando a necessidade anual dessa avaliação completa para aprimorar o resultado
da performance desses árbitros, lembrando que faz parte do “Perfil do Árbitro” que a
comissão de arbitragem da FPF preconiza.
Nesta data, 23 de Janeiro de 2009, oficializamos a entrega do relatório final para cada
árbitro, contendo toda a avaliação realizada, digitalizada e gravada em CD, incluindo a
declaração médica e o relatório detalhado.
Lembramos que apenas 27 árbitros realizaram as avaliações cardiológicas, resultando em
liberação para a atividade esportiva. Os demais necessitam complementar essas
avaliações para, além da liberação da atividade física, estarem aptos para exercer sua
função.
Em resumo, parabenizamos os árbitros (apesar das dificuldades e da nãoregulamentação profissional) pelo preparo físico demonstrado. Isto não quer dizer que
esse preparo é suficiente, pois se deve buscar sempre um nível de excelência como exige
a Federação Paulista de Futebol.
Prof. Dr. Luiz Henrique Camargo Paschoal – Diretor da Faculdade de Medicina do ABC
Profª Nidia Caivano – Secretaria Geral da Faculdade de Medicina do ABC
Dr. Marcelo Ferreira – Coordenador do Núcleo de Saúde no Esporte da Faculdade de Medicina do ABC
Dr. Caio Imaizumi – Fisioterapeuta do Núcleo de Saúde no Esporte da Faculdade de Medicina do ABC.
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