Mudanças na econotnia alteratn perfil de agência O A Financiadora de Estudos e Projetos professor Lenildo Fernandes (Finep) é uma agência pública de foSilva é superintendente mento à ciência e à tecnologia, vinculada de Estudos e Estratégias ao Ministério da Ciência e Tecnologia, Setoriais da Financiadora que foi criada em 1967. Seus primeiros de Estudos e Projetas (Finep), passos estiveram voltados para o apoio à estruturação, consolidação e ao avanço a principal agência do governo dos serviços de engenharia consultiva no federal para o financiamento país. Nessa época, o Brasil passava por do desenvolvimento científico um ciclo importante de grandes investie tecnológico. Mestre pela Escola mentos em infra-estrutura e no setor proSuperior de Agricultura Luiz dutivo de bens de capital e de consumo. Isso demandava projetos de engenharia de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, básica que eram, em grande medida, leciona no Departamento contratados de empresas de consultaria de Economia da Universidade com sede no exterior. Federal Fluminense (UFF). A Finep Uma das primeiras tarefas da Finep surgiu em março de 1965, como Lenildo Fernandes Silva foi, assim, a de apoiar a criação e o fortalecimento de empresas de engenharia Fundo de Financiamento de Estudos consultiva no país. Para tanto, foram criadas duas linhas de Projetas e Programas. Era ligada de trabalho. Uma se destinava a apoiar diretamente a ao Banco Nacional do Desenvolvimento consultaria nacional. A outra pretendia apoiar os usuáEconômico (BNDE), mas presidida pelo rios dos serviços dessas empresas de consultaria. ministro do Planejamento e Coordenação. No início da década de 70, a Finep incorporou à sua atuação duas linhas importantes de apoio ao desenvolO nome atu ai foi adotado em julho de 196 7. vimento científico e tecnológico brasileiro. A primeira O professor Lenildo é conhecido também ocorreu quando ela passou a operar, como secretaria por ter sido o coordenador de um importante executiva, o l?undo Nacional de Desenvolvimento Cienestudo realizado pelo Instituto Brasileiro tífico e Tecnológico. Com esse fundo, nesses quase 30 de Geografia e Estatística (IBGE) sobre anos, a Finep pôde apoiar a criação e o fortalecimento de cursos de pós-graduação e a consolidação de grupos a situação da infância e juventude de pesquisa dentro das universidades brasileiras. Ao no Brasil durante a década de 80. mesmo tempo, passou a apoiar a constituição e estrutuA conclusão desse estudo foi que ração de grupos de pesquisa também em institutos púhouve uma grande piora nas condições blicos de pesquisa de todo o país. de vida dessa parte da população no período. A segunda surgiu quando a Finep criou uma linha de apoio ao desenvolvimento tecnológico da empresa nacional. Com essa vertente, a Finep, desde o início da década de 70, vem apoiando a capacitação tecnológica das empresas brasileiras, tanto no que diz respeito à pesquisa e ao desenvolvimento como no que se relaciona com as questões ligadas à inovação tecnológica. Considera-se inovação tecnológica tanto a gerada na empresa ou em parceria quanto a adquirida, transferida ou absorvida de fontes externas. A Finep, então, tem uma longa história de apoio às universidades e aos institutos de pesquisa e à capacitação tecnológica das empresas nacionais. Ao longo das PESQUISA FAPESP 7 PENSANDO SÃO PAULO: AGeNCIAS E EMP R ESAS décadas de 70 e 80, os recursos que constituíram suas capitais estrangeiros. Isso ocorreu especialmente no segaplicações eram provenientes do orçamento fiscal da mento da indústria com o qual a Finep mais tratava, o União. A partir da segunda metade da década de 80, a setor da indústria de bens de capital, montado no país Finep, porém, começou a ter problemas com relação ao ao longo da década de 70. Boa parte dessas empresas foi vendida a capitais estrangeiros. Esse segmento, muito montante dos recursos que recebia do governo federal. Esses problemas aumentaram muito com a crise do Esimportante para a ação da Finep, foi, de certa forma, tado brasileiro, no início da década de 90. perdido para as ações clássicas de indução à pesquisa e Com o aporte de recursos oriundos do governo fedesenvolvimento. deral para os fundos e para a própria Finep muito dimiAssim, a internacionalização da economia coloca um nuídos, a financiadora se viu obrigada a repensar a grande desafio para uma instituição como a Finep, uma constituição de seus recursos. A Finep passou então a agência de financiamento e investimento que pretende buscar recursos institucionais em ser, cada vez mais, uma agência de inovação tecnológica, voltada várias outras fontes, como o Banco Interamericano do Desenvolvipara o setor produtivo e articulamento (BID) e o Banco de Expordora da demanda desse setor com ''objetivo tação e Importação dos Estados a capacidade de produção de coarticular Unidos (Eximbank). nhecimento das instituições de Mas as transformações mais pesquisa. Mesmo nessas condiem presas com radicais ocorridas em instituições ções, a Finep pretende, crescentea oferta de como a Finep no início da década mente, articular a demanda tecde 90 vieram de mudanças que se nológica com o conhecimento conheci menta processavam, nessa época, em gerado nas universidades e nos institutos de pesquisa. praticamente todas as partes do da universidade'' mundo. Entre essas mudanças O objetivo da Finep é ser cada estiveram as privatizações de emvez mais uma agência de inovação, dedicada tanto a apoiar os presas estatais, a globalização, a concentração de empresas, a internacionalização da esforços internos das empresas brasileiras para a geraeconomia e, no caso do Brasil, a abertura da economia ção de tecnologia como a articular essas empresas com para o exterior. Essas mudanças transformaram radicala oferta de conhecimento das universidades e dos instimente o panorama dos parceiros clássicos da Finep com tutos de pesquisa do país. Trabalhando com projetas que articulam o setor produtivo e a oferta do conhecirelação ao setor produtivo. Enquanto a economia brasileira era fechada, os prinmento, a Finep pretende montar um mix de recursos, cipais parceiros da Finep com relação à pesquisa e decom retorno, no caso das empresas, e sem retorno, para senvolvimento e à inovação eram os centros de pesquiuniversidades e institutos. Dessa maneira, conseguirá sa e desenvolvimento das grandes empresas estatais. Na reduzir o custo do desenvolvimento tecnológico para o verdade, a Finep tinha uma ação de indução à pesquisa setor produtivo brasileiro. e desenvolvimento articulada com o poder de compra É assim que a Finep pretende apoiar o desenvolvidas empresas estatais e as cadeias produtivas nas quais mento tecnológico da empresa brasileira: associá-lo à elas se inseriam. Com as privatizações, esses parceiros, pesquisa desenvolvida nas universidades e nos institutos. na sua maior parte, deixaram de existir. Passou o tempo em que se tratava isoladamente da ciênQuando essas empresas eram estatais e nacionais, cia e tecnologia, na esperança de que algum dia o acúhavia uma lógica que governava esses investimentos, asmulo de conhecimento pudesse naturalmente traduzirsociada à propriedade nacional dos ativos e a uma estrase numa inovação tecnológica. Não que a financiadora tégia empresarial afinada com a situação do país. Quanvá deixar de apoiar projetas isolados, mas estará cada do uma dessas empresas era privatizada, porém, é vez mais preocupada em apoiar a estratégia tecnológica evidente que sua estratégia empresarial deixou de nedas empresas. cessariamente implicar uma estratégia tecnológica na Também não vamos esquecer das empresas de base qual o locus do processo de inovação tecnológica contitecnológica. Nelas, estamos cada vez mais trabalhando nuaria dentro do Brasil. Essa é a situação que está posta não com o financiamento clássico, mas na forma de capital de risco, com participação nos resultados ou na neste momento e com a qual a Finep está trabalhando. Em muitos casos, o locus da inovação tecnológica de composição acionária. É assim que a Finep se adapta uma antiga estatal passou para locais situados fora do aos novos tempos. Ela aprendeu que suas funções só país. Isso ocorreu também com uma parcela importanpoderiam ser cumpridas com sucesso se fossem encarate da indústria privada brasileira, que foi vendida para das de maneira diferente. é 8 PESQ UISA FAPESP