UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE VETERINÁRIA Colegiado do Curso de Pós-Graduação VALOR NUTRITIVO DE SILAGENS À BASE DE CAPIM ELEFANTE COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTOS AGROINDUSTRIAIS DE ABACAXI, ACEROLA E CAJU ANA CRISTINA HOLANDA FERREIRA BELO HORIZONTE ESCOLA DE VETERINÁRIA-UFMG 2005 Ana Cristina Holanda Ferreira Valor Nutritivo de Silagens à Base de Capim Elefante com Níveis Crescentes de Subprodutos Agroindustriais de Abacaxi, Acerola e Caju Tese apresentada à Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciência Animal. Área de Concentração: Nutrição Animal Norberto Mário Rodriguez Orientador José Neuman Miranda Neiva Co-orientador Belo Horizonte Escola de Veterinária da UFMG 2005 F383v Ferreira, Ana Cristina Holanda, 1976Valor nutritivo de silagens à base de capim elefante com níveis crescentes de subprodutos agroindustriais de abacaxi, acerola e caju / Ana Cristina Holanda Ferreira, - 2005 157 p. : il. Orientador: Norberto Mário Rodriguez Co- orientador: José Neuman Miranda Neiva Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária Inclui bibliografia 1. Silagem – Tese. 2. Capim elefante – Silagem – Tese. 3. Digestibilidade – Teses. I. Rodriguez, Norberto Mário. II. Neiva, José Neuman Miranda. III. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Veterinária. IV. Título. CDD – 633.2 3 DEDICATÓRIA Á Deus, pelas inúmeras graças alcançadas Aos meus país Evaldo e Ma Luiza pela dedicação a família, e por constiuirem exemplos de determinação e fé na vida Ao meu marido Hugo pelo imenso carinho e principalmente estímulo aos meus projetos e ideais Aos meus irmãos Ana Luiza, Walter, Vinícius e Evaldo Filho pela amizade e companheirismo 4 AGRADECIMENTOS Á Deus, pela proteção e por sempre me mostrar como é grande seu poder; Aos meus pais Evaldo e Ma Luiza e irmãos Ana Luiza, Walter, Vinícius e Evaldo Filho pela confiança, dedicação e grande incentivo as minhas decisões; Ao meu marido Hugo pela paciência e companheirismo mesmo nas horas mais difíceis; Ao Sr. Hugo e Sra. Terezinha pelo carinho com que sempre me receberam; Á Universidade Federal do Ceará pela minha formação profissional e ao Núcleo de Pesquisa em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias por ter possibilitado a realização de boa parte dos experimentos; Á Universidade Federal de Minas Gerais pela oportunidade de realização deste curso de doutorado; Á CAPES pela concessão da bolsa de estudos e ao Programa Nacional de Coodernação Acadêmica (PROCAD) pelo apoio financeiro; Ao Prof. Norberto pelos valiosos ensinamentos, pela boa vontade e maneira solícita com que sempres me recebeu; Ao Prof. Neuman pela orientação, pelos ensinamentos, confiança e por todas as oportunidades que me concedeu; Ao Dr Warley pela amizade, permanente disponibilidade em ajudar e grande contribuição na elaboração da Tese; Ao Dr Lôbo e Luciana pela ajuda na realização das análises estatísticas; Ao Prof. Iran pelas boas conversas, apoio e sugestões a este trabalho; Ao Dr. Fernando pela disponibilidade e valiosas sugestões; Á Profa. Zelma Bastos pelos conselhos e sugestões a redação da Tese; Ao Prof. Ültimo pela amizade e orientação, a Profa. Eloísa pela disposição em ajudar; Aos funcionários do laboratório de nutrição animal da EV-UFMG, especialmente Toninho, Kelly, Margot, Carlos, Marcos e Junior, ao pessoal do colegiado de pós-graduaçãoda, Nilda e Eliana, e aos funcionários da Biblioteca, que sempre tiveram um gesto de atenção e interrese, muito além das formalidades; Aos amigos Augusto César, Bruno, Canindé, Carlos, Cynthia, Davi, Fátima, Fernanda, Josemir, Geraldo, Guaraciaba, Gustavo, Maria Paula, Paula, Roberto Ferreira, Roberto Pompeu, Salete e Wilson. Amigos que não mediram esforços, se ofereceram para ajudar e o fizeram com muito carinho e seriedade; Aos novos amigos Andréia, André, Bernardo, Breno, Eduardo, Fátima, Fernando, Gustavo, Janaína, Juliana, Luiz, Renata, Ruí, Sidney, Vanessa, Vera e Warley e aos velhos amigos de guerra Patrícia Guimarães, Patrícia Lima e Magno, pelas alegrias que me proporcionaram; Ao Sr. José “in memorian”e Sra. Wanda Munayer pela acolhida neste segundo lar; Á todos muito obrigada. 5 6 ÍNDICE CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................ 17 CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 18 2.1. CARACTERÍSTICAS DO CAPIM ELEFANTE (Pennisetum purpureum, Schum).................... 2.2. LIMITAÇÕES DO CAPIM ELEFANTE PARA ENSILAGEM .................................................. 2.2.1.Carboidratos solúveis .................................................................................................................. 2.2.2. Poder tampão .............................................................................................................................. 2.2.3.Teor de matéria seca .................................................................................................................... 18 19 19 20 20 2.3. RESÍDUOS AGROINDÚSTRIAIS ............................................................................................... 2.3.1. Caracterização do resíduo agroindustrial da fruta do abacaxi.................................................. 2.3.2. Caracterização do resíduo agroindustrial da fruta da acerola .................................................. 2.3.3. Caracterização do resíduo agroindustrial da fruta do pseudofruto do caju .............................. 22 25 29 32 CAPÍTULO III – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO ABACAXI........................................................ 3.1. Introdução ...................................................................................................................................... 3.2. Material e Métodos ........................................................................................................................ 3.3. Resultados e Discussão .................................................................................................................. 3.4. Conclusão....................................................................................................................................... 36 37 38 39 49 CAPÍTULO IV - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DE ABACAXI. ........................................................................................................................................... 4.1. Introdução ...................................................................................................................................... 4.2. Material e Métodos ........................................................................................................................ 4.3. Resultados e Discussão .................................................................................................................. 4.4. Conclusão....................................................................................................................................... 50 50 51 53 62 CAPÍTULO V - DEGRADABILIDADE IN SITU DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO ABACAXI... 5.1. Introdução ...................................................................................................................................... 5.2. Material e Métodos ........................................................................................................................ 5.3. Resultados e Discussão .................................................................................................................. 5.4. Conclusão....................................................................................................................................... 63 63 64 65 73 CAPÍTULO VI – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO ACEROLA ...................................................... 6.1. Introdução ...................................................................................................................................... 6.2. Material e Métodos ........................................................................................................................ 6.3. Resultados e Discussão .................................................................................................................. 6.4. Conclusão....................................................................................................................................... 73 74 75 77 83 7 CAPÍTULO VII - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DA ACEROLA........................................................................................................................................... 7.1. Introdução ...................................................................................................................................... 7.2. Material e Métodos ........................................................................................................................ 7.3. Resultados e Discussão .................................................................................................................. 7.4. Conclusão....................................................................................................................................... 83 84 85 87 92 CAPÍTULO VIII - DEGRADABILIDADE IN SITU DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DA ACEROLA.. 8.1. Introdução ...................................................................................................................................... 8.2. Material e Métodos ........................................................................................................................ 8.3. Resultados e Discussão .................................................................................................................. 8.4. Conclusão....................................................................................................................................... 92 93 94 95 102 CAPÍTULO IX – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU................................................................ 9.1. Introdução ...................................................................................................................................... 9.2. Material e Métodos ........................................................................................................................ 9.3. Resultados e Discussão .................................................................................................................. 9.4. Conclusão....................................................................................................................................... 103 103 104 106 112 CAPÍTULO X - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU .................................................................................................................................................... 10.1. Introdução .................................................................................................................................... 10.2. Material e Métodos ...................................................................................................................... 10.3. Resultados e Discussão ................................................................................................................ 10.4. Conclusão ..................................................................................................................................... 112 113 114 116 124 CAPÍTULO XI - DEGRADABILIDADE IN SITU DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU........... 11.1. Introdução .................................................................................................................................... 11.2. Material e Métodos ...................................................................................................................... 11.3. Resultados e Discussão ................................................................................................................ 11.4. Conclusão ..................................................................................................................................... 124 125 125 126 133 CAPÍTULO XII – ENSAIO DE DESEMPENHO COM OVINOS ALIMENTADOS COM SILAGEM DE CAPIM ELEFANTE E SUBPRODUTOS DA AGROINDÚSTRIA.................... 12.1. Introdução .................................................................................................................................... 12.2. Material e Métodos ...................................................................................................................... 12.3. Resultados e Discussão ................................................................................................................ 12.4. Conclusão ..................................................................................................................................... 134 134 135 137 143 CAPÍTULO XIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 144 8 LISTA DE TABELAS CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 18 Tabela 1: Valor nutricional do resíduo do abacaxi desidratado e ensilado ........................................... 28 Tabela 2: Composição química do resíduo industrial da acerola .......................................................... 31 Tabela 3: Composição química do resíduo industrial do pseudofruto do caju...................................... 35 CAPÍTULO III – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO ABACAXI........................................................ 36 Tabela 4: Composições químico–bromatológicas do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) (CE) e do subproduto do abacaxi (Ananas comosus, L.) desidratado (SABD) antes da ensilagem, como porcentagem da matéria seca..................................................................................... 38 Tabela 5: Teores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e energia bruta (EB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) ........................................................................................................... 40 Tabela 6: Valores de pH e nitrogênio amoniacal, como percentagem do nitrogênio total (NNH3/NT), ácidos orgânicos (% da MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) ........................................................................................ 44 CAPÍTULO IV - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DE ABACAXI. ........................................................................................................................................... 50 Tabela 7: Consumo de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD). ................................. 53 Tabela 8: Consumo de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) .................................. 56 Tabela 9: Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCE) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) ................................................ 57 Tabela 10: Coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), celulose (DCEL), energia bruta (DEB) e energia digestível (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD)................................................................... 59 Tabela 11: Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED), expresso em g/animal/dia, do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) ............................................... 61 9 Tabela 12: Nitrogênio ingerido, nitrogênio excretado nas fezes e na urina, e balanço de nitrogênio (BN) em ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado ....................................................................................................... 61 CAPÍTULO V - DEGRADABILIDADE IN SITU DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO ABACAXI... 63 Tabela 13: Desaparecimento médio (%) da matéria seca do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal .............................................................................................................. 65 Tabela 14: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h..... 66 Tabela 15: Desaparecimento médio (%) da proteína bruta do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal .............................................................................................................. 67 Tabela 16: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c), e degradação efetiva (DE) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h..... 68 Tabela 17: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal ..................................................................................... 69 Tabela 18: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c), e degradação efetiva (DE) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h ....................................................................................................................... 70 Tabela 19: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal.............................................................................................. 71 Tabela 20: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c), e degradação efetiva (DE) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h................................................................................................................................................. 71 Tabela 21: Desaparecimento médio (%) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal .............................................................................................................. 72 Tabela 22: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c), e degradação efetiva (DE) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h..... 72 CAPÍTULO VI – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DA ACEROLA....................................................... 73 10 Tabela 23: Composições químico–bromatológicas do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) (CE) e do subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn) desidratada (SACD) antes da ensilagem............................................................................................................................................... 76 Tabela 24: Teores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG) nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e energia bruta (EB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) ............................................................................................................ 77 Tabela 25: Valores de pH, nitrogênio amoniacal, como percentagem do nitrogênio total (NNH3/NT) e ácidos orgânicos (% da MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) .......................................................................................... 80 CAPÍTULO VII - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DA ACEROLA........................................................................................................................................... 83 Tabela 26: Consumo de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD). .................................. 87 Tabela 27: Consumo de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) ................................... 88 Tabela 28: Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCEL) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) ................................... 89 Tabela 29: Coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), energia bruta (DEB) e energia digestível (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) .......................................................................................... 90 Tabela 30: Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED), expressos em g/animal/dia, de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD).................................................................................................................................................. 90 Tabela 31: Nitrogênio ingerido, nitrogênio excretado nas fezes e na urina, e balanço de nitrogênio (BN) em ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto de subproduto da acerola desidratada................................................................................. 92 CAPÍTULO VIII - DEGRADABILIDADE IN SITU DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DA ACEROLA.. 92 Tabela 32: Desaparecimento médio (%) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal .............................................................................................................. 95 11 Tabela 33: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c), e degradação efetiva (DE) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h...... 96 Tabela 34: Desaparecimento médio (%) da proteína bruta do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal .............................................................................................................. 98 Tabela 35: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c), e degradação efetiva (DE) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h...... 98 Tabela 36: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal........................................................................................ 99 Tabela 37: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação (c), e degradação efetiva (DE) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h ...................................................................................................................................................... 99 Tabela 38: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal.............................................................................................. 100 Tabela 39: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação (c), e degradação efetiva (DE) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h ...................................................................................................................................................... 101 Tabela 40: Desaparecimento médio (%) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal .............................................................................................................. 101 Tabela 41: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação (c), e degradação efetiva (DE) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h...... 102 CAPÍTULO IX – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU................................................................ 103 Tabela 42: Composições químico–bromatólogicas do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) (CE) e do subproduto pseudofruto do caju (Anarcadium occidentale, L.) desidratado (SPCD) antes da ensilagem ................................................................................................................... 105 Tabela 43: Teores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e energia bruta (EB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) ........................................................................................ 106 12 Tabela 44: Valores de pH, nitrogênio amoniacal, como percentagem do nitrogênio total (NNH3/NT) e ácidos orgânicos (% da MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) ...................................................................... 109 CAPÍTULO X - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU .................................................................................................................................................... 112 Tabela 45: Consumo de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD). .............. 116 Tabela 46: Consumo de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD). .............. 118 Tabela 47: Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCEL) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) ............... 120 Tabela 48: Coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), energia bruta (DEB) e energia digestível (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) ...................................................................... 121 Tabela 49: Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) ..................................................................... 122 Tabela 50: Nitrogênio ingerido, nitrogênio excretado nas fezes e na urina, e balanço de nitrogênio (BN) em ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) ...................................................................... 123 CAPÍTULO XI - DEGRADABILIDADE IN SITU DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU........... 124 Tabela 51: Desaparecimento médio (%) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal.............................................................................................. 127 Tabela 52: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c), e degradação efetiva (DE) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h ................................................................................................................................................ 128 Tabela 53: Desaparecimento médio (%) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal........................................................................................ 129 Tabela 54: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c), e degradação efetiva (DE) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h................................................................................................................................................. 130 13 Tabela 55: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal .................................................................. 130 Tabela 56: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal ............................................................................. 131 Tabela 57: Desaparecimento médio (%) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal........................................................................................ 132 CAPÍTULO XII – ENSAIO DE DESEMPENHO COM OVINOS ALIMENTADOS COM SILAGEM DE CAPIM ELEFANTE E SUBPRODUTOS DA AGROINDÚSTRIA.................... 133 Tabela 58: Composições químico-bromatológicas das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com adição dos subprodutos da agroindústria com base na matéria seca. .......... 135 Tabela 59: Composição centesimal do suplemento concentrado. ......................................................... 136 Tabela 60: Consumo de matéria seca (CMS) das silagens de capim elefante com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto dos abacaxis desidratados (SABD). ...................................................................................................... 137 Tabela 61: Consumo de proteína bruta (CPB) das silagens de capim elefante com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto dos abacaxis desidratados (SABD) ....................................................................................................... 139 Tabela 62: Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) das silagens de capim elefante com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) ............................................................................... 140 Tabela 63: Consumo de fibra em detergente ácido (CFDA) das silagens de capim elefante com diferentes níveis de adição do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD). ......................................................... 141 Tabela 64: Médias de ganho de peso e conversão alimentar para ovinos alimentados com silagens de capim elefante com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto dos abacaxi desidratados (SABD)................................ 141 LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 18 Figura 1: Sazonalidade das principais frutas brasileiras ....................................................................... 24 Figura 2: Utilização industrial do abacaxi............................................................................................. 26 Figura 3: Diferentes utilizações possíveis dos rejeitos de abacaxi entrando na fábrica de conservas.. 27 Figura 4: Frutos de aceroleira................................................................................................................ 30 Figura 5: Sementes do fruto da acerola. ................................................................................................ 30 Figura 6: Fluxograma básico do processamento do pedúnculo do caju................................................ 33 14 RESUMO Foram realizados dez experimentos com o objetivo de determinar o valor nutritivo de silagens de capim elefante com níveis crescentes dos subprodutos, com base na matéria seca, do abacaxi (Ananas comosus) desidraratado (SABD), da acerola (Malpighia glabra) desidratada (SACD), e do pseudofruto do caju (Anacardium occidentale) desidratado (SPCD). No primeiro, quarto e sétimo experimentos foram avaliados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), energia bruta (EB), pH, nitrogênio amoniacal (N-NH3), ácidos láticos, acéticos, propiônico e butiríco das silagens. No segundo, quinto e oitavo experimentos foram avaliados o consumo voluntário, digestibilidade aparente da MS, PB, FDN, FDA, HCEL, CEL, EB, energia digestível (ED) e balanço de nitrogênio (BN). Avaliaram-se também o consumo de MS, PB, FDN e energia digestível. No terceiro, sexto e nono experimentos foram avaliadas as degradabilidades ruminais da MS, PB, FDN, FDA e HCEL. No décimo experimento avaliou-se o consumo de MS, PB, FDN, FDA, ganho de peso e conversão alimentar das silagens exclusivas de capim elefante, com 7% do SACD, com 10,5% do SPCD e com 10,5% do SPCD. No primeiro experimento houve aumento nos teores de MS e PB e redução nos teores de FDN, FDA, HCEL e CEL. Para as características fermentativas houve redução nos valores de pH e aumento nos teores de ácido lático e acético. No segundo experimento houve aumento no consumo de MS, PB, FDN, FDA, HCEL, contudo não houve diferença para a digestibilidade aparente dos nutrientes, sendo que as silagens com adição do SABD apresentaram balanço de nitrogênio positivo. No terceiro experimento houve aumento no desaparecimento e na degradabilidade efetiva da MS, PB, FDN, FDA e HCEL das silagens com a adição do SABD. No quarto experimento observou-se aumento nos teores de MS, PB, FDN, FDA, LIG, NIDN, NIDA e redução nos teores de nitrogênio amoniacal e ácido lático com a inclusão do SACD. No quinto experimento os níveis de adição do SACD não influenciaram no consumo de MS, FDN, FDA, HCEL e CEL, bem como, para os valores de digestibilidade aparente dos nutrientes, e nas silagens com 3,5, 10,5 e 14% do SACD observou-se BN positivo. No sexto experimento observou-se que os horários de incubação aumentaram as taxas de desaparecimento da MS, PB, FDN, FDA e HCEL das silagens. No sétimo experimento verificou-se aumento (P<0,05) nos teores de MS, PB, FDA, LIG, NIDN, NIDA e redução nos teores de FDN, HCEL, CEL e valores de pH. No oitavo experimento verificou-se aumento (P<0,05) no consumo de MS, PB, FDN, FDA. Para a digestibilidade aparente da MS, PB, FDN, FDA, HCEL e CEL não se observou efeito dos níveis de adição do SPCD, enquanto para o BN observou-se que somente a silagem com 10,5% do SPCD apresentou valore positivos. No nono experimento verificou-se que os horários de incubação aumentaram as taxas de desaparecimento da MS, PB, FDN, FDA e HCEL. No décimo experimento verificou-se que as silagens com 10,5% do SPCD apresentaram consumo de MS, PB, FDN e FDA superiores as silagens exclusivas de capim elefante. Já para o ganho de peso e conversão alimentar verificou-se que as silagens com 10,5% do SABD apresentaram valores superiores as silagens exclusivas de capim elefante. Palavras-chaves; Subprodutos, silagem, ruminantes 15 ABSTRACT Ten experiments was conducted with the objective of evaluating the nutritive value of the silage of elephant grass by the addition of 0; 3,5; 7; 10,5 e 14% of three of dehydrated frut`s byproduct at dry matter basis: pineapple (Ananas comosus) (DPS), barbados cherry (Malpighia glabra) (DBCS), and cashew apples (Anacardium occidentale) (DCAS). In the first one, fourth and seventh were determination of dry matter (DM), crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF), hemicellulose (HCEL), lignin (LIG), neuter detergent insoluble nitrogen (NIDN), acid detergent insiluble nitrogen (ADIN), energy and pH, ammonia nitrogen (N-NH3), lactic, acetic, propionic and butiric acids concentrations of the silage. The second one, fifth and eighth experiments were analised for intake and coefficients of digestibility of DM, CP, NDF, ADF, HCEL, CEL, energy and nitrogenous balances (NB). The intakes of DM, CP, NDF and energy digestibilibly were also evaluated. In the third, sixth and nineth experiments were evaluate the ruminal degradability of DM, CP, NDF, ADF and HCEL. In the tenth experiments were analised on intakes of DM, CP, NDF, ADF, daily gain and feed:gain ration of the silages of elephant grass, with 7% of DBCS, 10,5% of DCAS and 10,5% of the (DPS). In the first experiment the addition of DPS caused a increase in the DM, CP, lactic and acetic acids levels and an decrease in NDF, ADF, HCEL, CEL concentration and pH value of the silage. In the second one the DPS inclusion by the ensiling of elephant grass increase the intake DM, CP, NDF, ADF, HCEL, whereas the digestibility of DM, CP, NDF, ADF, HCEL, CEL and energy was not affected by the DPS addition levels. On the other hand, the silages with DPS had positive protein balances. In the third experiments the addition of DPS caused increase in the ruminal degradability of DM, CP, NDF, ADF and HCEL. In the fourth experiment the results showed that the addition of DBCS caused a increase in the DM, CP, NDF, ADF, LIG, NIDN, ADIN levels and a decreased in the N-NH3 and lactic acids concentration in the silage. In the fifth experiments the DBCS inclusion at ensiling did not affecte the intake of DM, NDF, ADF, HCEL, energy and digestibility of nutrients. The silages with 3,5, 10,5 and 14% showed NB positive. In the sixth experiments the incubation times increased the ruminal degradability. In the seveth experiments the levels of DM, CP, ADF, LIG, NIDN, ADIN increased and of NIDN, HCEL, CEL and pH decreased with the addition of DCAS. In the eighth experiments the addition of DCAS increased the intake of DM, CP, NDF and ADF, but the digestibility of DM, CP, NDF, ADF, HCEL, CEL and energy didn`t differ among treatments, whereas the NB was negative. In the nineth experiments the incubation times increased the ruminal degradability. In the ten experiments the silages with 10,5% of DCAS reached higher values of intake DM, CP, NDF and ADF than elephant grass silage, whereas the silages with DPS reached higher daily gain and feed:gain ration than silages with elephant grass. Keywords: By-products, silage, ruminant 16 CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO GERAL A intensificação dos sistemas de exploração, baseada no aumento da produção por área, vem exigindo uma maior utilização de insumos alimentícios, não só para cobrir os períodos críticos do ciclo anual de produção de forragens, mas também para se conseguir melhor expressão do potencial genético dos animais. Durante a engorda, dos animais as rações, além de apresentar elevada concentração de nutrientes, têm que ser de baixo custo, havendo necessidade de estudar a facilidade de incluir diversas fontes alimentares alternativas não tradicionais e quantificar as respostas em termos produtivos e econômicos. A pecuária na região Nordeste do Brasil é caracterizada por baixos índices de produtividade dos rebanhos. Embora apresente elevado potencial de consumo de gêneros alimentícios de origem animal, a região tem se caracterizado como grande importadora e a eficiência de produção está muito aquém de outras regiões brasileiras. Embora as limitações climáticas, principalmente a baixa precipitação pluvial, sejam realidade incontestável, a irrigação tem trazido novas oportunidades de produção e geração de renda para a região. Nas últimas décadas, tem havido crescimento acentuado da fruticultura no Brasil e, principalmente, no Nordeste. Embora inicialmente o foco principal tenha sido a exportação de frutas “in natura”, há no momento, forte incentivo no sentido de estimular o processamento de frutas para se conseguir maior valor agregado. Em resposta a esse incentivo, o número de agroindústrias instaladas tem aumentado significativamente, incrementando a produção de resíduos agroindustriais que podem ser aproveitados na dieta animal, particularmente de ruminantes, tornando-se importante fator de barateamento nos custos de produção. Uma possível utilização desses subprodutos é na alimentação de bovinos e caprinos leiteiros e de ovinos e bovinos para produção de carne. A utilização de sistemas intensivos de produção de carne e de leite poderá permitir que se consiga diminuir a estacionalidade de produção, bem como melhorar a qualidade final dos produtos. Como a região Nordeste apresenta baixa produção de grãos para formulação de suplementos concentrados, o uso de subprodutos da agroindústria pode ser alternativa interessante para alimentação de animais em sistemas intensivos. Embora o potencial de uso dos subprodutos da agroindústria seja freqüentemente citado na literatura, poucos são os estudos que trazem informações sobre recomendações de uso dos mesmos. Vale lembrar que países desenvolvidos já estudaram exaustivamente subprodutos originários da industrialização de frutas como maçã, uva, pêra, tomate, etc. No caso de subprodutos do processamento de frutas como caju, abacaxi e banana, os dados sobre utilização em nutrição animal são escassos e, no caso do melão e acerola, inexistentes. Desta forma, o estudo do valor nutritivo dos subprodutos da agroindústria para alimentação de ruminantes, como forma de diminuir os custos de produção, é de extrema importância, tanto para a agroindústria como para os pecuaristas, e obviamente para o consumidor, já que o subproduto possibilita baratear os custos de produção devido seu preço ser, normalmente inferior aos suplementos convencionais. 17 Um aspecto que deve ser destacado é o fato de subprodutos que poderiam ser utilizados na alimentação animal, se transformarem em poluentes ambientais, causando sérios danos ao meio ambiente. capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com diferentes níveis de adição de subprodutos da indústria de suco do abacaxi, caju e acerola. Os subprodutos foram selecionados de acordo com a disponibilidade da agroindústria. Esse estudo foi desenvolvido objetivando avaliar o valor nutritivo de silagens de CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA 2.1. CARACTERÍSTICAS DO CAPIM ELEFANTE (Pennisetum purpureum, Schum.) De origem africana, o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) foi introduzido no Brasil no início da década de 20 (Faria et al., 1998). Por apresentar várias características que se adequam às necessidades da pecuária brasileira como, rusticidade, alta produção de forragem, facilidade de multiplicação, disponibilidade de diversas variedades e cultivares, ser adaptado a vários tipos de solo, certa resistência à seca, a pragas e doenças, e apresentar bom valor nutritivo quando novo, esta gramínea pôde distribuir-se no país, sendo utilizada sob diversas formas (Lavezzo, 1993). Segundo Tosi et al. (1995), o capim elefante pode ser utilizado em pastejo direto e como capineiras, para produção de silagem e fenos. Dentre essas formas, o aproveitamento do capim elefante para a ensilagem é estratégico, devido à produção sazonal de forragem nas regiões tropicais. Faria et al. (1995/96) relataram que cerca de 80% do total de forragem produzida ocorre no período chuvoso, ficando os rebanhos sujeitos à escassez de alimentos no período seco. 18 Lavezzo et al. (1983) obtiveram produções de 70,3 e 83,2 t/ha de matéria verde para as cultivares Mineiro e Vruckwona cortada aos 60 dias de desenvolvimento. Para as mesmas cultivares cortadas aos 75 dias de desenvolvimento, foram observados produções de 77,2 e 97,2 ton/ha, respectivamente (Lavezzo et al., 1990). Com as cultivares Mercker, Napier, Porto Rico 534 e Mineiro foram encontradas produções respectivas de 260,9; 260,0; 220,6 e 214,6 t/ha/ano de matéria verde (Pereira et al., 1966). Mozzer (1993), trabalhando com as variedades Taiwan A146, Taiwan A-148, Cana africana e Cameroon-CNPGL obtiveram produções de 158,3; 136,7; 187,7 e 129,8 t/ha/ano, respectivamente. Contudo, é importante adequar a produção de matéria seca com o valor nutritivo em gramíneas forrageiras tropicais, haja visto, que essas espécies sofrem declínio acentuado no seu valor nutritivo com o avanço do estádio fisiológico. Isto é resultado da menor relação haste/folha combinada com a crescente lignificação da parede celular. Todavia, esse fator pode ser controlado por meio do manejo adequado do pastejo, e do momento do corte da forragem para conservação (Lavezzo, 1993). O valor nutritivo das plantas forrageiras é determinado por sua composição química, principalmente pelos teores de proteína bruta e de fibra em detergente ácido (FDA), responsáveis diretos pela digestibilidade da matéria seca (Euclides et al., 1993; Nussio et al., 1998). A lignina exerce grande influência sobre a taxa de degradação e sobre a degradabilidade efetiva da parede celular dos alimentos volumosos (Van Soest, 1994), sendo fator determinante do conteúdo de energia digestível das plantas forrageiras, enquanto que a fração fibra em detergente neutro (FDN) tem grande efeito sobre a ingestão voluntária de alimentos fornecidos aos animais ruminantes (Mertens, 1992). Silveira et al. (1973), estudando a influência do melaço da cana-de-açúcar e do emurchecimento prévio, sobre a digestibilidade “in vitro” da matéria seca de silagens de capim napier, cortado em diferentes idades de crescimento, observaram que com o avanço no estádio de maturação, ocorreu decréscimo significativo nos coeficientes de digestibilidade “in vitro”, que passaram de 59,8% aos 51 dias, para 45,4% aos 121 dias. Segundo os autores, esse fato era esperado, pois com a maturidade da forragem, ocorre aumento do conteúdo de parede celular e, como conseqüência, haverá diminuição nos coeficientes de digestibilidade dos princípios nutritivos. O mesmo fato foi observado por Andrade e Gomide (1971), que avaliando o efeito da maturidade da variedade Taiwan A-146, sobre seu valor nutritivo, constataram aumentos na produção de matéria verde (de 9 para 41 t/ha) com o avançar dos intervalos de corte, porém os teores de proteína bruta passaram de 15,3% aos 28 dias para 2,3% aos 196 dias de crescimento, e os valores de digestibilidade “in vitro” da matéria seca passaram de 50,3% para 22,1% nas respectivas idades. 2.2. LIMITAÇÕES DO CAPIM ELEFANTE PARA ENSILAGEM “Qualidade da silagem”, é uma expressão (Silveira et al., 1979) que não traduz o valor nutritivo do material, sendo utilizada para descrever até que ponto o processo fermentativo ocorreu de maneira desejável. Os parâmetros mais utilizados para classificar qualitativamente a silagem são: os teores de ácido orgânicos, pH e o nitrogênio amoniacal, pois indicam as transformações relacionadas com as perdas nos elementos nutritivos no interior dos silos. Na utilização de capim elefante para confecção de silagens é possível estabelecer uma relação entre a produção e o valor nutritivo. Lavezzo (1985), verificou que o ponto ideal de produção por área e valor nutritivo, foi alcançado quando o corte para ensilagem ocorreu com 50-60 dias de crescimento. Entretanto, nesse estádio de desenvolvimento três fatores limitam a obtenção de silagem de boa qualidade, que são: baixo teor de carboidratos solúveis, alto poder tampão e o elevado teor de umidade. Esses itens segundo McDonald (1981), influenciam negativamente no processo fermentativo, impedindo que haja rápido decréscimo do pH a níveis adequados (3,8 a 4,2), fazendo com que fermentações secundárias e indesejáveis ocorram devido a ação de bactérias produtoras de ácido butírico, que passarão à se desenvolver, utilizando o lactato produzido e açúcares residuais. Como esse processo envolve a descarboxilação do ácido láctico, a concentração hidrogeniônica é diminuída, criando condições mais favoráveis às bactérias butíricas (gênero Clostridium), que desdobram aminoácidos a ácido butírico, ácidos voláteis, aminas, amônia e gases, prejudicando assim, a qualidade do produto preservado (Lavezzo, 1985). 2.2.1.Carboidratos solúveis No processo fermentativo da ensilagem é fundamental a presença de carboidratos solúveis para promover bom padrão de fermentação, pois os mesmos, se constituem fonte mais comum de energia para as bactérias produtoras de ácido láctico. Portanto, a quantidade e a rapidez na 19 formação deste ácido depende da maior disponibilidade de açúcares nas forragens (McDonald, 1981). Faria (1971), citado por Sobrinho et al. (1998a) constatou redução na porcentagem de carboidratos solúveis quando cortou o capim elefante cultivar Napier, aos 51, 86 e 121 dias de desenvolvimento, registrando, respectivamente, valores de 14,3, 12,05 e 8,97%. Segundo Kearney e Kennedy (1962), a porcentagem de carboidratos solúveis deve ser, em média de 15% na matéria seca do material ensilado. Porém, McCullough (1977) afirmou que para se produzir silagens lácticas, as forrageiras devem apresentar conteúdo de carboidratos solúveis superior a 8,5%, e Catchpoole e Henzel (1971) concluíram que são necessários de 13 a 16%. A literatura mostra variações de 6,6 a 16,44% na concentração de carboidratos solúveis no capim elefante quando cortado entre 56 e 75 dias (Andrade e Gomide, 1971; Gutierrez e Faria, 1978; Lavezzo et al., 1983; Lavezzo et al., 1990; Faria et al., 1995/96; Sobrinho et al., 1998a). 2.2.2. Poder tampão Para rápido abaixamento do pH é imprescindível que exista quantidade suficiente de carboidratos solúveis a serem fermentados pelas bactérias, e que o poder tampão não seja capaz de impedir o abaixamento do pH aos níveis desejados. Segundo Weissbach e Horing (1996), citados por Oude Elferink et al. (1999), a capacidade de fermentação (CF) é diretamente proporcional aos teores de matéria seca (MS) e de carboidratos solúveis (CS), e inversamente proporcional ao poder tampão (PT): CF = MS + 8 x CS\PT. Assim, podem-se propor estratégias de manejo a fim de otimizar as características da planta, e assim proporcionar adequada fermentação no processo de conservação de forragem. 20 Com relação ao poder tampão, Whittenbury et al. (1967) e McDonald (1981) relataram que pode haver elevação do poder tampão das plantas ou do material ensilado após a ensilagem, e isso tem sido atribuído às modificações químicas que se processam no silo. Segundo os autores, as bactérias láticas podem atuar sobre os ácidos orgânicos, liberando ions que passarão a formar novos sistemas tampões, pela combinação com os ácidos formados. McDonald (1981) considerou que os ácidos lático e acético formados no processo de ensilagem seriam responsáveis pelo estabelecimento dos tampões adicionais. Segundo Muck (1991), a capacidade tampão varia com a cultura, maturidade e condições de crescimento da planta. McDonald (1981) ressaltou ainda, que grande parte das propriedades tamponantes das forrageiras é atribuído aos ânions (sais de ácidos orgânicos, ortofosfatos, sulfatos, nitratos, e cloridatos), e que somente de 10 a 20% são resultados da ação da proteína das plantas. Dessa forma, maior quantidade de ácido lático será necessário para provocar o abaixamento do pH para níveis adequados à conservação da massa ensilada. Sobrinho et al. (1998a) observaram redução no poder tampão do capim elefante de 19,7 para 15,5 e. mg de HCL/100g de MS quando cortado aos 56 e 84 dias, respectivamente. Andrade e Lavezzo (1998) registraram valores médios de 27,38 e. mg de HCL/100g de MS para o capim elefante cultivar Guaçu, cortado aos 62 dias de desenvolvimento. Na idade de 75 dias, Lavezzo et al. (1990) observaram valores de 19,87 e 24,03 e.mg de HCL/100 g de MS para o capim elefante, cultivares Mineiro e Vruckwona, respectivamente. 2.2.3.Teor de matéria seca Archibald et al. (1952) consideraram como um dos principais fatores limitantes na conservação da silagem de capim elefante, o teor excessivo de umidade. Em geral, isto ocorre quando o capim é cortado novo (60 dias). Nesse estádio, o capim se encontra com altos conteúdos de água (75 a 80% ou mais), o que irá contribuir para aumento dos níveis de ácido butírico, bases voláteis e amônia, diminuindo o consumo voluntário da silagem (Silveira et al., 1980). McDonald (1981) destacou que os microrganismos do gênero Clostridium são mais inibidos pela falta de umidade do que pela acidez do meio, podendo tolerar altos níveis de ácidos e hidrogênio quando em meio úmido, e que sua resistência é diretamente proporcional ao teor de umidade. O conceito de atividade de água (AW) tem sido mais completo para relacionar a umidade na forragem com o crescimento de Clostridium sp. A AW aumenta com a umidade do material, sendo que GREENHILL (1964) propôs uma fórmula para sua determinação, na qual a AW é mensurada em termos de pressão de vapor relativa, conforme a equação apresentada abaixo: AW = 1 – c/m, Onde, “c” é uma constante determinada pela somatória dos pesos das moléculas e dos íons no suco da planta, “m” é a umidade existente, expressada em gramas (g) de água por quilograma (kg) de matéria seca da forragem. A AW refere-se à mensuração da água livre, sendo uma medida conveniente, haja visto que o crescimento e metabolismo dos microrganismos necessita da presença de água livre. A AW pode ser reduzida pela remoção da água, ou pela adição de solutos na fase aquosa possuindo estreita relação com a umidade relativa e a pressão osmótica do material. Muck (1991) comentou que o incremento no teor de MS das silagens pode provocar melhorias no perfil fermentativo e, com isso, na qualidade do produto final. O primeiro ponto a ser destacado é a produção de efluentes ou fluidos das plantas, que são reduzidos com o aumento do teor de MS. Desta forma, conserva-se o substrato necessário às bactérias láticas e a qualidade nutricional da forrageira, já que, os efluentes são constituídos de carboidratos solúveis, nitrogênio, minerais, e outros nutrientes. Quando estes são formados, representam maior perda no valor nutricional do alimento do que na MS. O segundo ponto a ser observado seria atividade microbiana. Quando o teor de MS das silagens aumenta, a atividade da água decresce (ou a pressão osmótica aumenta), causando, subseqüentemente a redução da taxa de crescimento dos microrganismos, principalmente, o crescimento clostridial. Estes microrganismos podem atuar fermentando carboidratos e ácidos orgânicos, produzindo ácido butírico, dióxido de carbono (CO2), e hidrogênio. Atuam também, na hidrólise de proteínas (proteolíticos), fermentando aminoácidos, tendo como produtos, variedades de ácidos orgânicos, CO2, amônia e aminas. Essas fermentações resultam tanto na perda de MS como de energia, mais o ponto principal, segundo Muck (1988), é a produção de ácido butírico, amônia e aminas, os quais têm sido fortemente ligados a redução do consumo ad libitium de alimentos em ruminantes. A redução da atividade enzimática das plantas é o terceiro fator a ser considerado, pois ocorre de forma extensiva durante a fase aeróbica da ensilagem (McDonald, 1981), degradando carboidratos solúveis (glicose, frutose, sacarose), amido e hemicelulose em monossacarídeos; e nitrogênio protéico em fontes nitrogenadas não-protéicas como peptídeos e aminoácidos livres. 21 O último item a ser considerado seria o requisito de substrato necessário para interromper a fermentação pelo baixo pH, prevenindo o crescimento bacterial. McDonald (1981) relatou que quanto maior o teor de MS das silagens, menor é a quantidade de carboidratos solúveis necessários para baixar o pH, e inibir o crescimento microbiano. Isto é um fator interessante quando se trabalha com gramíneas tropicais, pois as mesmas, quando apresentam teor de carboidratos solúveis satisfatório, podem ter seu valor nutricional comprometido, pela redução dos teores de proteína bruta e aumento dos constituintes fibrosos (Pedreira e Boin, 1969; Andrade e Gomide, 1971; Silveira et al., 1974; e Ojeda et al., 1987). Desta maneira, é sempre recomendável a redução do teor de umidade, favorecendo de forma significativa as fermentações mais adequadas na silagem. O aumento nos teores de matéria seca pode ser feito pela adição de material seco no momento da ensilagem ou pelo emurchecimento por exposição ao sol (Lavezzo, 1985). O processo de aditivação com materiais absorventes, promove aumento no teor de matéria seca, garantindo melhores condições para as fermentações desejáveis (Evangelista e Lima, 2000). Além disso, ocorre redução da exigência de carboidratos solúveis, garantindo assim um processo fermentativo satisfatório, tornando a silagem de gramíneas tropicais, um alimento de valor nutricional adequado e de baixo custo de produção (Lavezzo, 1985 e Vilela, 1998). O ingrediente a ser aditivado no capim deve apresentar alto teor de matéria seca, elevada capacidade de absorver água, boa palatabilidade, e fornecer carboidratos para a fermentação. A adição deverá ser calculada a fim de que a mistura atinja o teor de matéria seca entre 28 a 32% (ideal para a fermentação), evitando assim, ocorrência de 22 efluentes que causam perdas, e acelerando o desenvolvimento de bactérias láticas. Devem ser de fácil manipulação, boa disponibilidade no mercado e baixo custo de aquisição. Entretanto, o uso de aditivos de baixo valor nutritivo, determina a produção de silagem também de baixo valor nutritivo (Tosi et al., 1989 e Lavezzo, 1993). Na literatura tem-se que as gramíneas tropicais apresentam elevado teor de umidade e baixo teor de carboidratos solúveis, e esses fatores associados prejudicam significativamente o processo fermentativo, proporcionando reduções no consumo voluntário pelos animais (McDonald, 1981 e Vilela, 1998). Balsalobre et al. (2001) sugerem que para se obter silagens de capim elefante de qualidade satisfatória, e perdas reduzidas, partindo de uma forragem com baixos teores de carboidratos solúveis e altos teores de umidade, deve-se corrigir essas restrições com a adição de açúcares e promover aumento nos teores de matéria seca, acelerando, assim, a fermentação inicial para que o pH apresente declínio acelerado. A utilização de resíduos agro-industriais torna-se uma alternativa interessante para a nutrição animal em regiões produtoras de frutas, haja vista a qualidade dos ingredientes e o baixo custo de aquisição. 2.3. RESÍDUOS AGROINDÚSTRIAIS O Brasil é um dos três maiores produtores mundiais de frutas (algo em torno de 39 milhões de toneladas por ano). Não obstante essa colocação, o Brasil exporta pouco mais de 1% da sua produção de frutas “in natura”, ocupando o 20o lugar entre os países exportadores, segundo dados do Ministério da Agricultura. No Brasil são produzidas frutas tropicais e de clima temperado, o que é decorrência da extensão do território, sua posição geográfica e suas condições edafoclimáticas. No Nordeste do Brasil, graças aos sistemas modernos de irrigação e ás altas temperaturas durante o ano todo, que em tese poderiam permitir produção contínua, são cultivados frutas tropicais, subtropicais e mesmo frutas temperadas, onde se substitui a dormência pelo frio pela dormência pela seca. O clima nestas áreas, seco e com elevada incidência de exposição solar, permite boa produtividade e prevenção natural de muitas doenças, devido à baixa umidade reinante em grande parte do ano. No Norte, o clima tropical úmido permite o desenvolvimento de uma fruticultura exótica e peculiar, com tipos de frutas ainda não bem conhecidas e pouco consumidas. No Sudeste, o clima mais suave, mas não rigidamente marcado pelas estações do ano, permite a coexistência de muitas frutas, sobressaindo-se às laranjas para a agroindustrialização. No Sul, o clima temperado é marcante, onde se identifica uma fruticultura sazonal e caracterizada por frutas de clima temperado por excelência. Na região Leste, englobando o sul da Bahia e norte do Rio de Janeiro, as condições de clima e dos solos permitem a produção de uma elevada variedade de frutas tropicais e subtropicais e mesmo de frutas de clima temperado. A base agrícola da cadeia produtiva das frutas abrange 3,0 milhões de hectares, gerando 5,6 milhões de empregos diretos, ou seja, 27% do total da mão-de-obra agrícola ocupada no País. Ao mesmo tempo que se alcança recordes seguidos na produção agropecuária e se torna um dos maiores exportadores do setor, o desperdício de alimentos no Brasil é crescente. Apesar da diferença existente entre os resultados das pesquisas e das estimativas, decorrente da diversidade de metodologias empregadas, a magnitude das perdas verificadas é de grande relevância. Uma destas estimativas, com base em dados da safra 2002/2003 apontou para um desperdício de 32 milhões de toneladas da produção ao consumidor final, ou seja, aproximadamente 15% do total produzido, somando grãos, frutas, hortaliças e produtos de origem animal. O fato mais crítico é quando observa-se o caso das frutas e hortaliças, onde o montante de perdas pode chegar a 40% da produção. Atualmente, a produção destina-se atender à demanda por frutas frescas. No entanto, existe uma tendência mundial para o mercado de produtos transformados, como conservas, sucos, geléias e doces. A todo o momento, as agroindústrias investem no aumento da capacidade de processamento, gerando grande quantidades de resíduos. Em muitos casos, a eliminação dos mesmos eleva o custo operacional das empresas pois, quando não eliminados, são fonte de contaminação ambiental. Os resíduos agroindustriais são aqueles provenientes do beneficiamento industrial e/ou do processamento secundário de produtos agrícolas, pecuários e florestais. O acúmulo de resíduos oriundos das atividades agropecuárias é proporcional ao crescimento do agronegócio. Desta forma, a natureza não é mais capaz de reciclar os subprodutos lançados em rios, córregos ou, simplesmente, depositados nas propriedades agrícolas, causando grande impacto ambiental. De acordo com as circunstâncias, a natureza tem condições de promover o “tratamento” desta carga poluidora, por meio da ação de microrganismos sobre o material orgânico. Porém, com o crescimento das atividades agropecuárias, vem ocorrendo o acúmulo de grandes volumes de resíduos, os quais podem causar a saturação dos corpos receptores como rios e solo, e conseqüentemente, a sua degradação. Poucos são os resíduos agro-industriais, obtidos do processamento de frutos como os do maracujá e citrus (Lavezzo, 198?) que possuem estudos sobre seus valores nutritivos na literatura, os quais permitem 23 aos produtores o fornecimento adequado aos seus animais. Outros resíduos como os de caju, manga, acerola e melão, obtidos do processamento industrial ou do descarte de frutos inadequados ao para o consumo humano “in natura”, são pouco ou não utilizados na alimentação animal, e os estudos sobre seus valores nutritivos são bastante escassos, ou mesmo inexistentes na literatura nacional e internacional. A industrialização de frutas para produção de sucos ou polpas produz subprodutos com elevado potencial de utilização na alimentação de ruminantes. A produção varia com o tipo de fruta e o processamento redução de elementos tóxicos que possam estar presentes no material, como resíduos químicos. utilizado. Para frutas como o abacaxi, acerola, caju, graviola, goiaba, jaca, manga, maracujá e melão registrou-se rendimento dos subprodutos de até 40, 41, 30, 35, 5, 70, 50, 70 e 45%, respectivamente. Geoffroy (1985) comentou que os resíduos agroindustriais podem ser estocados de duas maneiras: desidratados, porém este método não é interessante, por aumentar o custo de energia, ou então ensilados, que de acordo com o autor é o método mais simples e mais barato. Contudo, em se tratando de regiões tropicais é possível conciliar os dois sistemas. Weinberg (1992) ressaltou ainda, que a conservação dos subprodutos na forma de silagem pode resultar na Figura 1: Sazonalidade das principais frutas brasileiras JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Abacaxi Acerola Caju Goiaba Laranja Manga Maracujá Maça Pêssego Uva Umeda e P&D PARMALAT BRASIL (2003) Como pode ser visualizado, há uma extensa variação de frutas e épocas de colheitas, distribuídas durante todo o ano, possibilitando a produção de grandes contigentes de resíduos passíveis de serem utilizados na alimentação animal. Ressaltando, que quando cultivadas com sistemas de irrigação, algumas culturas 24 podem ter seu período de produção estendido. No entanto, Bose e Martins Filho (1984) alertou que para utilização dos resíduos, sempre deve-se considerar a disponibilidade do material, coleta e transporte até o local de tratamento e uso, tecnologias envolvidas, assim como equipamentos necessários e possibilidades de armazenamento. 2.3.1. Caracterização do resíduo agroindustrial da fruta do abacaxi Nome popular: Ananás; abacaxizeiro Nome científico: Ananas comosus (L.) Merril. Família botânica: Bromeliaceae Origem: América Central e México. Planta de pequeno porte, podendo atingir 80 cm de altura. Folhas longas e duras, dispostas espiraladamente, partindo da base, formando uma roseta. Flores pequenas, de coloração rósea a roxo-purpúrea, surgem aglomeradas em uma haste, formando uma espiga que se desenvolverá originando a fruta do abacaxi. O conjunto dos pequenos frutos formam a estrutura de forma ovóide do abacaxi. Na sua porção superior forma-se uma "coroa" de folhas duras, de coloração verde intensa denominadas brácteas. A haste interna do abacaxi é envolta pela suculenta polpa que é comestível. Prefere solo rico em nutrientes, não suportando os encharcados. O plantio é feito no início das chuvas desenvolvendo-se bem em locais com temperaturas de 16 a 20ºC e livres de geadas. Produz 20 kg por planta/ano e frutifica o ano todo. A produção mundial de abacaxi está estimada em 12,8 milhões de toneladas (apenas 3% da produção mundial de todas as frutas). O Brasil é o 2o produtor mundial de abacaxi (1,62 milhão de toneladas, em 45.000 hectares plantados), somente suplantado pela Tailândia, com 1,98 milhão de toneladas. Os nossos principais compradores de suco concentrado e de fruto in natura são a Argentina, Uruguai, Países Baixos e Estados Unidos. No Brasil, os principais Estados produtores são Minas Gerais (523.800 t), Paraíba (333.100 t) e Pará (177.900 t); o Estado de São Paulo ocupa, apenas, o 8o lugar (42.600 t). Os Estados de Minas Gerais e Paraíba são os maiores produtores de abacaxi, cujas produções, somadas, representam mais da metade da produção brasileira. Em seguida, com produções menos representativas, destacam-se: Pará, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Rio de Janeiro. No período de 1991 a 2001, a produção brasileira de abacaxi evoluiu de 1.106.960 para 3.113.464 toneladas, o que representou aumento anual da ordem de 8%. Este aumento foi resultante, não só da expansão da área colhida, mas também do aumento da produtividade, que evoluiu de 32,435 para 49,295 t/ha (IBGE, 2002). No Brasil, a produção de abacaxi concentrase nas Regiões Sudeste e Nordeste. Em 2001, estas regiões foram responsáveis, respectivamente, por 40,49 e 37,15% da produção brasileira de abacaxi, cabendo os 22,36 % restantes ao conjunto das demais regiões. No processo de industrialização dos frutos podem ser gerados diversos produtos, como; fatias, metades, bocados, pedacinhos, taliscas, cubos, suco, polpa. Bromelina e outros produtos da fermentação como o álcool etílico, vinagre e vinho também podem ser obtidos a partir do abacaxi (Figura 2). 25 Figura 2: Utilização industrial do abacaxi, baseado em Py e Tisseau (1969), citados por Martin et al. (1987). Apartir do processo de industrialização sobram das fábricas cascas, coroas brotos da fruta, anexos da fruta moídos e polpa da qual se extrai o suco. A composição pode modificar-se de acordo com a qualidade e variedade da fruta. O bom valor nutritivo dos resíduos da indústria de conserva de abacaxi deve-se aos principais constituintes da matéria orgânica serem os carboidratos solúveis, principalmente, açúcares. Além destes, outros carboidratos como a hemicelulose, celulose, hexosanas e pentosanas estão presentes. Contêm também pectina que age protegendo a mucosa gastrointestinal e neutralizando as toxinas bacterianas (Muller, 1978). Segundo Olbrich e Wayman (1973), citados por Martin et al. (1987), o resíduo da polpa tem, em média, teores de matéria seca de 14,2%. Acima de 16,0% o produto tem 26 consistência semi-sólida, pastosa, o que dificulta sua mistura, sendo que a polpa centrifugada pode ser usada como fonte energética para crescimento e engorda de gado de corte e vacas em lactação, e para crescimento de bezerras desmamadas. Poderá ser manuseado como suplemento aquoso e alimentado diretamente, ou misturado com outros alimentos energéticos secos, como melaço ou farelo de abacaxi, ou ainda ensilado como resíduos celulósicos secos, como o de desfolha e desponte de cana-de-açúcar. O fluxograma na Figura 3 mostra os principais usos que podem ser dados à torta e suco resultantes da prensagem dos rejeitos constituídos essencialmente das extremidades e cascas dos frutos que sobram da industrialização do abacaxi. Figura 3: Diferentes utilizações possíveis dos rejeitos por tonelada de abacaxi na fábrica de conservas (baseado em Py et al. 1984, citados por Martin et al., 1987) Como observado, do total de rejeitos prensados, 75 a 85% é suco, e 15 a 25% resulta em torta. Porém, a proporção de torta produzida pode ter seu valor aumentado tendo em vista que grande parte das fábricas de processamento do fruto do abacaxi trabalha com extração de poucos produtos, desta maneira aumentando a proporção dos resíduos. Todavia, das várias aplicações da torta destaca-se o resíduo que pode servir de alimento para os ruminantes, podendo este ser utilizado em estado fresco, ensilado ou desidratado. Otagaki e Morita (1959) ressaltaram que a desidratação do produto é certamente a melhor opção, porém constituise num método muito oneroso. Contudo, em se tratando de regiões tropicais como o Brasil, mais precisamente a região Nordeste, esse fator pode ser amenizado pela ocorrência de luminosidade e temperaturas altas durante o ano. Quando desidratado, o resíduo da indústria de conserva do abacaxi é chamado de farelo de abacaxi. Este é constituído da cascas, talos, coroas e cilindros considerados rejeitos. A proporção das partes individuais, bem como sua composição química, variam consideravelmente com a variedade da fruta, maturidade, qualidade da produção fotossintética (conteúdo de açúcar) e tecnologia empregada pala fábrica de conserva (Muller, 1978). Trabalhando como resíduo da indústria de conserva de abacaxi na alimentação de bovinos, sob a forma de silagem, tendo sido preparada juntamente com cama de frango, Muller (1978) obteve silagem de qualidade alta devido à acidez inicial e à presença de açúcares, assegurando ótima fermentação. Quanto ao resíduo fresco do fruto Muller (1978) relatou que este vem sendo utilizado com sucesso na alimentação de ruminantes, em níveis de 30 a 100% da dieta, desde que os nutrientes limitantes (proteína, mineras e vitaminas) sejam balanceados. Os valores nutricionais do subproduto do abacaxi desidratado e ensilado são apresentados na Tabela 1. 27 Tabela 1: Composição química e digestibilidade do resíduo do abacaxi desidratado (1 e 2) e ensilado (3, 4 e 5) Subproduto do abacaxi desidratado Silagem do subproduto do abacaxi 1 2 3 4 5 MS (%) 84,7 88,5 14,8 14,7 12,9 MO1 93,2 90,8 82,9 PB1 8,4 9,2 5,47 8,83 3,95 FDN1 71,4 66,1 62,2 64,7 62,7 FDA1 30,7 34,4 25,6 41,3 HCEL1 40,7 31,7 CEL1 25,9 37,4 LIG1 5,3 10,05 7,85 6,2 1 EE 1,2 1,34 1,23 2,31 NIDN2 38,4 NIDA2 16,3 MM1 6,8 9,2 5,16 17,0 5,63 EB3 4,09 4,84 4,13 5,14 DMS 47,5 78,2 76,1 DPB 29,0 DFDN 50,8 80,58 (1) Louzada Junior et al. (2005); (2) Rogério, (2005); (3)(5) Rodrigues e Peixoto, (1990ab); (4) Prado et al. (2003) MS - matéria seca; PB - proteína bruta; FDN - fibra em detergente neutro; FDA - fibra em detergente ácido; HCEL – hemicelulose; CEL – celulose; LIG – lignina; EE – extrato etéreo; MM – matéria mineral; EB – energia bruta; NIDN - nitrogênio insolúvel em detergente neutro; NIDA - nitrogênio insolúvel em detergente ácido; DMS – digestibilidade da matéria seca (%); DPB – digestibilidade da proteína bruta (%); e DFDN – digestibilidade da fibra em detergente neutro (%) 1 Porcentagem da matéria seca 2 Porcentagem do nitrogênio total 3 Mcal/kg de MS Oliveira Filho et al. (2002) estudaram o valor nutritivo de silagens de capim elefante com níveis crescentes de adição do subproduto do abacaxi e observaram elevação dos teores de MS das silagens de 25,6 para 28,9% com adição de 20% do subproduto. Quanto ao teor de PB, não obtiveram grande variação neste percentual, passando de 8,4 para 9,5% quando foi usado o nível máximo de inclusão. Já para os valores de FDA e FDN, encontraram redução de 48,4 para 37,1% e de 73,3 para 63,9%, respectivamente. Lousada Junior et al. (2005) observaram consumos de matéria seca e de proteína bruta de 924,2 e 75,3 g/animal/dia, 2,7 e 0,22 %PV e 65,0 e 5,3g/UTM e digestibilidade de 47,5 e 29,0%, respectivamente quando forneceram o subproduto do abacaxi desidratado. Rogério 28 (2005) avaliando o consumo e a digestibilidade aparente da matéria seca e matéria orgânica em dietas contendo diferentes níveis de inclusão de resíduo de abacaxi em dietas de ovinos, observaram maiores CMS e CMO quando adicionaram 10% de resíduo. No entanto, não observaram diferença quanto à digestibilidade. Prado et al. (2003) estudando níveis de substituição de silagens de milho pela silagem de resíduo industrial de abacaxi (0; 20; 40 e 60%) sobre o desempenho de bovinos não registraram efeito sobre o peso final, ganho médio diário, ingestão de proteína bruta, energia bruta, fibra em detergente neutro e conversão alimentar da matéria seca. Lallo et al. (2002a) trabalhando com níveis de substituição da silagem de milho pelo resíduo industrial de abacaxi (0; 20; 40 e 60%) para avaliar a degradabilidade ruminal em bovinos de corte encontraram redução da fração (a) da matéria seca. A taxa de degradação da fração (b) foi crescente até 40% de inclusão do resíduo, enquanto para a degradabilidade da proteína bruta, a fração solúvel foi crescente até o nível máximo de inclusão (60%). Já para a digestibilidade aparente das rações, Lallo et al. (2002b) observaram redução dos coeficientes de digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta e energia bruta, quando se substituiu a silagem de milho pela silagem do subproduto do abacaxi. Correia et al. (2002) avaliando níveis crescentes de resíduo industrial de abacaxi (0, 33, 66 e 100%) em substituição ao feno do coast-cross em dietas para caprinos, não observaram efeito dos tratamentos sobre o ganho de peso médio diário, consumo de ração e conversão alimentar. Contudo, houve redução no custo da ração de 38,23% para o maior nível de substituição. Alves et al. (2002) comentou que os subprodutos do abacaxi podem ser utilizados na alimentação animal baseado no consumo e coeficientes de digestibilidade da matéria seca que foram semelhantes aos volumosos de boa qualidade. Porém, além dos subprodutos obtidos do processamento do fruto do abacaxi, o resíduo pós-colheita da planta que compreende as folhas, caules e raízes, também pode servir como fonte de forragem (Muller, 1978). 2.3.2. Caracterização do resíduo agroindustrial da fruta da acerola Nome popular: cereja-das-antilhas; cerejade-barbados Nome científico: Malpighia glabra Linn. Família botânica: Malpighiaceae Origem: Antilhas - América Central. A aceroleira (Malpighia glabra) é cultivada principalmente nos estados do Nordeste, com grandes perspectivas de expansão das exportações, principalmente para a França, Alemanha e Estados Unidos, sendo que alguns empreendimentos agrícolas localizados no Rio Grande do Norte, Paraíba e Bahia já exportam acerola sob a forma de suco, polpa ou fruta congelada para a Holanda e o Japão, além de explorarem o mercado interno brasileiro. Outras regiões, como o Centro Oeste e os estados de Minas Gerais e São Paulo têm implementado de forma acentuada o plantio da aceroleira, principalmente com objetivo de produção de suco e, mais recentemente, para a indústria de refrigerantes, demonstrando assim o grande potencial dessa cultura. A aceroleira é um arbusto de porte médio que se desenvolve bem em climas tropicais e subtropicais e, até mesmo, em regiões semiáridas, desde que exista abastecimento regular de água. Também não é muito exigente quanto a solos. A planta oriunda de sementes ou estacas começa a produzir cedo, ou seja, 2 a 2,5 ou 1 a 1,5 após o plantio, respectivamente, e frutifica três a quatro vezes ao ano. No entanto, em algumas regiões do Nordeste brasileiro, com alta disponibilidade de luz e temperatura, e sob irrigação, as plantas advindas de sementes ou estacas têm começado a frutificar em menos de um ano produzindo praticamente o ano inteiro (Alves et al.,1995). O fruto é uma drupa tri-pirenóide, vermelho ou vermelho escuro; ovóide achatado; 1 a 3 cm de diâmetro (Figura 4) 29 Figura 4: Frutos de aceroleira (São José e Alves, 1995) Com epicarpo fino ou delicado, mesocarpo com células grandes e suculentas, endocarpo constituído de 3 caroços duros, contendo ou não no seu interior semente, cada um formado por células alongadas e lignificadas de fibras vasculares adjacentes (Figura 5). Figura 5: Sementes do fruto da acerola (São José e Alves, 1995) A utilização da acerola, pelas indústrias alimentícia e farmacêutica, vem estimulando incremento na área cultivada para fins comerciais. A fruta está sendo utilizada na elaboração industrial de vários produtos, como suco natural, suco concentrado, suco liofilizado, néctar, compota, purê, balas, recheios, comprimidos e cápsulas para uso farmacêutico, além da produção de ácido ascórbico puro. É usada ainda no enriquecimento de sucos e néctares de outras frutas, como abacaxi, mamão, pitanga, maracujá, pêra, maçã, etc.; na preservação de sucos frigorificados e enlatamento de conservas. Juntamente com o ácido cítrico, é utilizada para preservar e evitar o escurecimento enzimático que se verifica nos processos de congelamento e secagem de produtos industrializados à base de frutas, 30 em face da forte ação antioxidante da vitamina C. Segundo Arostegui e Pennock (1956), a acerola apresenta conteúdo médio de, aproximadamente, 2% de vitamina C, além de sua riqueza em vitamina A, tiamina, riboflavina, niacina, e teores de ferro e cálcio. Descobriu-se que, na mesma quantidade de polpa de fruta, a acerola concentra, aproximadamente, até 100 vezes mais vitamina C que a laranja e o limão, 20 vezes mais que a goiaba e 10 vezes mais que o caju e a amora. Assim, bastariam quatro unidades da fruta por dia para suprir todas as necessidades de vitamina C de uma pessoa adulta saudável. Outro aspecto importante em nível econômico é a rentabilidade do cultivo por hectare, pois 1 ha de acerola (500 plantas) tem o mesmo valor de renda final de 66 ha de laranja (13.200 plantas), com custo de implantação 36 vezes menor. A acerola está sendo considerada como dinheiro à vista para muitos fruticultores. Conforme Arostegui e Pennock (1956), o rendimento médio de suco está entre 59 e 73% do seu peso. Dessa maneira, pode-se estimar que a produção de resíduos, a partir da extração do suco, será, em média, 27 a 41% do peso total de frutas processadas. Como a acerola produz de três a quatro safras por ano, podendo chegar até seis safras, a oferta de resíduos é praticamente constante durante o ano (Batista et al., 1989), sendo este constituído, principalmente, pela semente, polpa macerada e frutos refugados. Carneiro et al. (1998) caracterizando quimicamente as farinhas integral e desengordurada da semente de acerola observaram alto conteúdo de fibras (61%), 11% de proteína bruta, 13% de lipídeos e 42% de aminoácidos essenciais na semente, sendo a lisina, o aminoácido limitante. Quanto aos compostos fenóis registraram valores de 6,4 mg/g de amostra, sendo que os mesmos possuem fatores antinutricionais, reduzindo a digestibilidade da proteína e a disponibilidade de minerais. Tabela 2: Composição química do resíduo industrial da acerola, como porcentagem da matéria seca. MS1 PB1 FDN1 FDA1 HCEL1 CEL1 LIG1 NIDN NIDA TAN Vasconcelos et al. 89,7 13,8 63,1 54,5 8,6 33,5 20,5 13,2 (2002) Lousada Jr et al. 85,1 10,5 71,9 54,7 17,2 35,1 20,1 39,3 26,5 (2005) Rogério (2005) 82,4 17,4 74,2 60,0 14,3 39,3 40,8 MS - matéria seca; PB - proteína bruta; FDN - fibra em detergente neutro; FDA - fibra em detergente ácido; HCEL – hemicelulose; CEL – celulose; LIG – lignina; NIDN - nitrogênio insolúvel em detergente neutro e NIDA - nitrogênio insolúvel em detergente ácido; TAN - tanino – g.kg/MS 1 Porcentagem da matéria seca 2 Porcentagem do nitrogênio total Gonçalves et al. (2002) estudando a inclusão do subproduto da acerola em silagens de capim elefante, observaram elevação nos teores de MS e PB das silagens. Com a adição de 15% do subproduto da acerola, atingiu-se o teor desejado de 30% de MS desejado. O teor de PB da silagem de capim elefante foi de 5,7%, enquanto que com a adição de 10% do subproduto elevou-se de modo significativo para 7,2%. Não houve diferença nos teores de FDN. Já os teores de FDA elevaram-se de 44,7 para 49,7% com adição de 20% do subproduto. A adição do subproduto da acerola em silagens de capim elefante proporcionou fermentação adequada apesar da elevação do nível de FDA poder comprometer a digestibilidade da MS. Lousada Junior et al. (2005) avaliando consumo e a digestibilidade dos subprodutos de abacaxi, acerola, goiaba, maracujá e melão observaram que o consumo de matéria seca da acerola foi inferior aos subprodutos da goiaba, maracujá e melão, enquanto, que o consumo de proteína bruta foi inferior ao consumo do subproduto do 31 maracujá e melão, e também apresentou valores inferiores aos subprodutos do abacaxi, maracujá e melão para a digestibilidade da matéria seca. Avaliando a influência da inclusão de 0, 18, 34 e 49% do subproduto do processamento da acerola em dietas para ovinos, Rogério (2005) observaram que os animais que receberam a maior porcentagem de inclusão do resíduo apresentaram os menores consumos de matéria seca e digestibilidade da matéria seca. Estudando a degradabilidade da matéria seca dos subprodutos do abacaxi, acerola, goiaba, maracujá, melão, além do farelo de castanha e da soja extrusada, Manoel et al. (2003) concluíram que os subprodutos do abacaxi, maracujá e melão podem ser considerados de boa qualidade e os subprodutos da acerola e goiaba, volumosos de menor qualidade. 2.3.3. Caracterização do resíduo agroindustrial da fruta do pseudofruto do caju Nome popular: Cajueiro Nome científico: Anacardium occidentale L. Família botânica: Anacardiaceae Origem: Brasil - Nas regiões costeiras do Norte e Nordeste. O cajueiro é uma planta de origem brasileira, distribuída em vários Estados do Brasil, principalmente na região do litoral nordestino, considerada, o centro da origem da cultura. Conforme muitos autores, foram os portugueses que levaram o cajueiro para suas colônias na África e Ásia, dispersando assim a cultura pelo mundo. É constituído de árvores ou arbustos tropicais e subtropicais, tendo casca resinosa e folhas alternadas. A castanha (fruto verdadeiro) é constituída de três partes, a casca, película e a amêndoa. A parte 32 comestível de forma “in natura” é pseudofruto que apresenta-se como pedúnculo hipertrofiado, composto estrutura carnosa e suculenta, rica vitamina C. um um por em Inicialmente o caju era considerado como componente da cultura e dos hábitos alimentares dos índios. Contudo, durante a Segunda Guerra Mundial surgiu uma alta demanda do LCC (líquido da casca da castanha de caju), marco inicial da industrialização efetiva do caju (França, 1988). Logo a amêndoa da castanha de caju tornou-se produto nobre, passando a ser o principal produto da indústria (BNB, 1973). Por sua vez, o pedúnculo começou a ser utilizado em pequena escala para fabricação de doces e sucos A área mundial ocupada com cajueiro está estimada em 1,5 milhão de hectares. O cajueiro é cultivado entre latitudes 30°N e 31°S, de modo que é encontrado vegetando em grandes números de países. Entretanto, apenas na Índia, Brasil, Monçambique, Tanzânia e Quênia, o caju apresenta importância econômica. Estes países são responsáveis por 98% da produção mundial. O Brasil, Índia e Moçambique produzem 80% da produção de castanha de caju, sendo o Brasil responsável por 35% desse total (Pimentel, 1995). Segundo Araújo e Silva (1995), o Brasil apresenta 630 mil ha de área plantada com cajueiro, com produção estimada de 168 mil toneladas de castanha por ano. A produção de pedúnculos chega a mais de 1,3 milhão de toneladas/ano (Vasconcelos et al. 2002), ressaltando que, esta produção concentra-se na estação seca do ano (julho a janeiro), período este, que se caracteriza pela menor disponibilidade de forragem na região tanto quantitativa como qualitativamente. A agroindústria do caju ocupa lugar de destaque no contexto econômico e social do Brasil. O Nordeste brasileiro detém 99% da responsável por 57% da produção nacional (EMBRAPA, 1993). Na Figura 6 estão apresentados os produtos obtidos do processamento do caju. produção nacional da castanha de caju. O cajueiro é cultivado em vários Estados, destacando-se o Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, que, são responsáveis por 88% da produção da castanha de caju (Pimentel, 1995). O Ceará é o principal produtor, sendo Suco Colheita ↓ Descastanhamento ↓ Transporte ↓ Recepção ↓ Pesagem ↓ Lavagem ↓ Seleção ↓ Lavagem ↓ Produtos ↓ Geléia Pré tratamento Cristalizado Cajuína Mel Passa Néctar Doce Rapadura Vinho Polpa CajuAmeixa Figura 6: Fluxograma básico do processamento do pedúnculo do caju. (adaptado de Paiva et al., 2000). A presença de vitaminas, sais minerais, carboidratos e ácidos orgânicos faz do pedúnculo reconstituinte geral e tônico de primeira ordem (Braga, 1976). Paiva et al. (2000) relataram que essa composição química varia de acordo com o tipo, o clone e a região produtora. Este representa 90% do peso total do caju, podendo variar de 15 a 200 g com variações de tamanho formato e cor. O pseudofruto apresenta a seguinte composição química e energética: 92,3% de matéria seca; 11,6% de proteína bruta; 1,8% de matéria mineral; 0,17% de cálcio; 0,16% de fósforo e 90,4 % de nutrientes digestíveis totais (Araújo, 1988). De acordo com Meneses (1994), os principais açúcares encontrados no pedúnculo do caju são: maltose, sacarose, glicose, celobiose e rafinose, sendo que a 33 glicose é o principal açúcar presente, seguido pela frutose, com percentagem muito baixa de açúcares redutores. Dentre os ácidos, o ácido málico é encontrado em maior proporção, seguido pelo ácido cítrico. Quanto aos fenóis são encontrados os ácidos gálico, protocatecuico, caféico e catequina. Entretanto, o pedúnculo apresenta a menor percentagem de industrialização com um percentual de aproveitamento de apenas 2 a 6% do total (Lopes Neto, 1981). Tendo em vista uma produção anual de 1,3 milhões de toneladas, pode-se estimar uma produção de subprodutos de, aproximadamente, 52 mil toneladas. Este desperdício do pedúnculo está associado ao reduzido período de póscolheita, à pequena capacidade de absorção da indústria, ao curto período de safra e à inexistência de métodos econômicos de preservação da matéria prima. Lima (1988) afirmou, que mais de 90% da produção do pedúnculo é deixada no campo após a retirada da castanha, apresentando, assim, um grande potencial para utilização em rações. Segundo Holanda et al. (1996), são três as opções de consumo do pedúnculo de caju pelos animais na forma “in natura”, que é altamente perecível, possui em média 85% de umidade, servindo para o consumo, por, no máximo, 48 horas após a maturação e queda. Neste período, os animais tendem a consumir os frutos, junto com a própria castanha a qual é eliminada nas fezes; caju seco, os próprios produtores normalmente colhem a castanha destacando-a do pedúnculo do caju o qual permanece no solo sujeito às irregulariedades climáticas decorrentes de oscilações da temperatura, chuvas e ventos. Durante a estação seca, o pedúnculos secam, num período de 20 a 30 dias. Nesta condição apresenta inconvenientes, principalmente, pela impregnação de partículas de areia e pela proliferação de fungos quando ficam amontoados. 34 Alguns produtores costumam apanhá-los e secá-los sobre palhas de carnaúba, conferindo ao produto um melhor aspecto, com coloração amarelada e isento de areia e fungos; e como resíduo da indústria do processamento do pedúnculo do caju, o pedúnculo destinado à indústria é geralmente colhido maduro no próprio cajueiro, antes da queda no chão. Na indústria passa por triagem, com eliminação dos excessivamente verdes ou maduros, seguida de lavagem, desidratação e extração. No caso de extração para fabricação de sucos, há um rendimento de 65 a 70% do líquido do caju. O bagaço ou resíduo da indústria de sucos, contendo de 30 a 35% de umidade pode ser utilizado diretamente na alimentação animal, desidratado ou ensilado (Awolumate, 1983). Kinh et al. (1996) estudando a curva de fermentação do subproduto do pseudofruto do caju que continha 22,52% de MS observaram valores de 26,5% de carboidratos solúveis no subproduto, que reduziram drasticamente, alcançando com 30 dias de fermentação, valores de 0,67%. Mesmo com essa mobilização, as concentrações de ácido lático permaneceram baixas, alcançando valores máximos aos 15 dias de fermentação (4,82%), assim como o ácido acético (5,33%) e nitrogênio amoniacal (8,78%), que reduziram para 2,86, 2,26% e 7,68% com 30 dias de fermentação. Quanto aos valores de pH e ácido butírico não se registrou alteração com o aumento do período de fermentação (4,0 e 0,07%). Já para as silagens com 12,4% de MS feitas com o pedúnculo do caju, os autores registraram redução da concentração dos carboidratos de 54,7% para 8,6% com 30 dias, enquanto o ácido lático passou de 5,0 a 19,5%, o pH de 4,0 para 3,5. Isto demonstrou que mesmo com baixos teores de MS foi possível obter silagens de boa qualidade devido às altas concentrações de carboidratos solúveis no material. Holanda et al. (1996), avaliando os componentes químicos bromatológicos digestíveis do farelo de resíduo industrial do pseudofruto do cajueiro, encontraram a seguinte composição (base seca): matéria seca digestível de 69,49%; digestibilidade da proteína bruta de 8,61%; fibra digestível de 9,78% e nutriente digestível total de 75,26%. Os autores ressaltaram ainda que o caju é um alimento que não deve ser consumido puro. Embora com baixo teor de tanino (0,43%), é deficiente em cálcio, fósforo, cobre e cobalto. Apresenta ainda aminoácidos essenciais como: metionina, isoleucina e fenilalamina. Tabela 3: Composição química do resíduo industrial do pseudofruto do caju de acordo revisada, como porcentagem da matéria seca. MS1 PB1 FDN1 FDA1 HCEL1 CEL1 Vasconcelos et al. (2002) 29,2 14,4 70,1 54,5 8,6 33,5 Oliveira et al. (2002)* 88,4 13,1 73,1 55,4 17,7 Leite et al. (2004)* 90,1 19,7 58,4 36,7 21,7 25,4 Ferreira et al. (2004) 25,4 14,2 65,5 47,0 18,5 24,3 Rogério (2005) 89,1 14,0 79,2 68,6 10,6 30,8 com a literatura LIG1 20,5 12,5 22,5 37,7 TAN 13,2 20,0 - * Pedúnculo do caju desidratado MS - matéria seca; PB - proteína bruta; FDN - fibra em detergente neutro; FDA - fibra em detergente ácido; HCEL – hemicelulose; CEL – celulose; LIG – lignina e TAN - tanino – g.kg/MS 1 Porcentagem da matéria seca Avaliando o uso de farinha de caju na época seca do ano na Região Nordeste, Catunda e Meneses (1989) encontraram baixo consumo da matéria seca, que foi atribuído à influência negativa do tanino (0,5%) no aproveitamento da proteína e na palatabilidade do material, resultando no baixo ganho de peso médio diário. Estudando o desempenho de cordeiros terminados em confinamento e utilizando o pedúnculo do caju desidratado na ração, enriquecido ou não por leveduras, Furusho et al. (1998) verificaram nos animais que receberam a ração contendo o pedúnculo enriquecido menor ganho de peso em relação aos que receberam o pedúnculo não enriquecido. Os autores relatam que este efeito pode estar associado à conversão dos açúcares em proteína pelos microrganismos, levando a um declínio na quantidade de energia na dieta. Por sua vez, Oliveira et al. (2004) avaliando o consumo e digestibilidade da matéria seca e proteína bruta de dietas com diferentes níveis de inclusão da polpa de caju desidratado em ovinos, observaram aumento linear no consumo de matéria seca e proteína bruta (g/UTM) e redução da digestibilidade da MS e PB com o aumento dos níveis de inclusão do subproduto. Fonsêca Filho e Leitão (1996), avaliando a digestibilidade in vivo do farelo da polpa de caju em ovinos, encontraram coeficientes de digestibilidade (CD): MS (69,49%); PB (58,15%); FB (71,71%); EE (88,96%); ENN (72,38%), teores de MS digestível, proteína digestível, fibra digestível, extrato etéreo digestível, extrato não nitrogenado digestível de: 62,17; 7,71; 8,75; 4,82; 40,06 e 67,36%, respectivamente. Para energia digestível e metabolizável os resultados foram 2.964 kcal/kg e 2.430 kcal/kg, respectivamente. Neiva et al. (2001) avaliaram a adição de bagaço de caju na ensilagem de capim elefante e observaram aumento nos teores de proteína bruta à medida que foi adicionado o subproduto do caju, e decréscimo nos teores de fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido. Para os valores de pH, observaram média de 3,9. Esses autores concluíram que a adição do subproduto do caju proporcionou melhora na conservação e 35 no valor nutritivo das silagens de capim elefante. Também Ferreira (2002), trabalhando com níveis crescentes de adição de bagaço de caju (0; 12; 24; 36 e 48%) (BC) na ensilagem do capim elefante, observou elevação nos teores de proteína bruta, que passaram de 3,58% de PB com 0% de BC, para 9,57% PB quando se adicionou 36% de BC. Ou seja, houve uma elevação de seis unidades de percentagem de PB com a adição do subproduto. Entretanto, para os teores de fibra em detergente ácido e hemicelulose, não se observou diferença entre as silagens. Quanto aos teores de carboidratos totais, observaram redução nos teores com adição do subproduto. Para digestibilidade da MS, PB, FDN, FDA, HCEL e NDT não observaram diferença entre as silagens. Gonçalves et al. (2003), avaliando o valor nutritivo de silagens de capim elefante com adição de 0, 5, 10, 15 e 20% de pedúnculo do caju desidratado (PCD), observaram aumento linear nos teores de MS e PB, atingindo 33 e 9,69%, respectivamente, com adição de 20% de PCD. Para os teores de 36 FDN não observaram diferença significativa entre os níveis de inclusão avaliados. Entretanto, para os teores de FDA observaram aumentos significativos com a inclusão do PCD. Avaliando o desempenho de ovinos alimentados com dietas à base de silagem de capim elefante, contendo ou não bagaço de caju, Teixeira et al. (2003) observaram que os animais alimentados com silagens contendo bagaço de caju apresentaram o maior ganho de peso (P<0,05). Rogério (2005) avaliando níveis de inclusão do subproduto do caju (0, 19, 38 e 52%) em dietas para ovinos observou maior consumo de matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta, fibra em detergente neutro, hemicelulose e energia metabolizável para o tratamento com 19% do subproduto. Os balanços energéticos e protéicos foram positivos. Entretanto, registrou-se redução acentuada destes valores na dieta com 52% de subproduto. Frente aos resultados o autor concluiu que o subproduto do caju apresenta potencialidade como alimento para ruminantes. CAPÍTULO III – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO ABACAXI RESUMO O trabalho foi conduzido com o objetivo de se avaliar o valor nutritivo das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com adição de 0; 3,5; 7; 10,5 e 14% de abacaxi (Ananas comosus) desidratado (subproduto da agroindústria do abacaxi - SABD). Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. Após 50 dias os silos foram abertos e coletadas amostras para determinação dos teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), energia bruta (EB), cinzas, nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). Foram analisados também o valor de pH, e teores de nitrogênio amoniacal como percentagem do nitrogênio total (N-NH3/NT) e ácidos orgânicos (ácido lático, acético, butírico e propiônico) das silagens. Os teores de MS e PB elevaram de 19,4 para 27,5% e de 4,7 a 6,0%, enquanto, os teores de FDN, FDA e LIG reduziram de 76,5 para 66,4%, 48,8 para 39,6% e de 14,3 para 11,4%, respectivamente, com o aumento do nível de adição do SABD (de 0 para 14% do SABD). A adição do subproduto do abacaxi desidratado (SABD) aumentou (P<0,05) linearmente os teores N-NH3 e ácidos lático e acético e diminuiu (P<0,05) os valores de pH. Conclui-se que o SABD melhorou o valor nutritivo da silagem e proporcionou melhor conservação da massa ensilada. 3.1. INTRODUÇÃO O capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) destaca-se entre as gramíneas tropicais, por ser uma planta de alto potencial de produção e boa composição bromatológica, apresentando-se como alternativa mais econômica que outras culturas anuais para produção de silagem (Tosi, 1989). Várias pesquisas foram sido desenvolvidas visando à produção de silagens de boa qualidade a partir do capim elefante. Uma alternativa para melhorar os padrões fermentativos, e consequentemente, o valor nutritivo da silagem seria a utilização de aditivos. Uma vez que, o capim elefante apresenta alto teor de umidade no momento ideal de corte, baixo teor de carboidratos solúveis e ainda elevada capacidade tampão. Os subprodutos originados da agroindústria do processamento de frutas podem assumir importante papel na confecção dessas silagens. No Brasil, a produção de abacaxi concentrase nas Regiões Sudeste e Nordeste. Em 2001, essas regiões foram responsáveis, respectivamente, por 40,49 e 37,15% da produção brasileira de abacaxi, cabendo os 22,36% restantes ao conjunto das demais regiões. No período de 1991 a 2001, a produção brasileira de abacaxi evoluiu de 1.106.960 toneladas para 3.113.464 toneladas, o que representou incremento anual da ordem de 8%, sendo resultante não só da expansão da área colhida, mas também do aumento da produtividade, que evoluiu de 32,4 para 49,3 t/ha (IBGE, 2002). Quando do processamento da fruta, são formados na indústria subprodutos constituídos de cascas, coroa, brotos, anexos da fruta moídos e polpa que apresentam amplo potencial de utilização na alimentação animal. Devido a palatabilidade e riqueza em carboidratos solúveis, estes materiais são rapidamente degradados no ambiente ruminal, e quando ensilados podem constituir fonte adicional de carboidratos, proporcionando processo fermentativo mais eficiente. 37 Segundo Prado et al. (2003), as silagens de resíduos industriais de abacaxi apresentam características nutricionais próximas à da silagem de milho, podendo assim substituílo como fonte de volumoso para ruminantes. Oliveira Filho et al. (2002) estudando o valor nutritivo de silagens de capim elefante com diferentes níveis de subprodutos do abacaxi observaram aumento linear nos teores de matéria seca e redução nos teores de fibras em detergente neutro e ácido com a inclusão dos subprodutos, enquanto os valores de pH permaneceram entre 3,8 e 4,2. Objetivou-se, portanto, com este experimento avaliar os efeitos da adição de diferentes níveis do subproduto do abacaxi desidratado sobre a composição química e perfil fermentativo das silagens de capim elefante. 3.2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisas em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC), no município de Fortaleza (CE). Foram estudados cinco níveis de adição do subproduto do abacaxi desidratado (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14,0%), com base na matéria natural, na ensilagem do capim elefante. Em relação à matéria seca, essas adições consistiram em 0; 13,0; 24,0; 33,0 e 41,0%. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. Na confecção das silagens experimentais foi utilizado o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú (FEVC), em Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC). O capim foi cortado manualmente com, aproximadamente, 70 dias de idade, quando em seguida, foi processado em picadeira de forragem e, posteriormente, misturado ao subproduto do abacaxi (Ananas comosus L.) originado do processamento da fruta para extração de sucos e polpas, da empresa MAISA em Mossoró (RN). O subproduto do abacaxi era composto por cascas e polpa prensada. A desidratação foi feita ao sol em área cimentada por 48 horas, sendo espalhado em camadas de, aproximadamente, 7 cm e revolvido pelo menos três vezes ao dia, sendo que à noite o material foi amontoado e coberto por lona, evitando o acúmulo de umidade. As composições químico-bromatológicas do capim elefante (CE) e do subproduto do abacaxi desidratado (SABD), antes da ensilagem, encontram-se na Tabela 4. Tabela 4: Composições químico–bromatológicas do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) (CE) e do subproduto do abacaxi (Ananas comosus L) desidratado (SABD) antes da ensilagem MS (%) PB1 FDN1 FDA1 HCEL1 CEL1 LIG1 NIDN2 NIDA2 CHOs1 EB3 CE 20,6 3,3 73,6 48,8 24,8 34,5 14,3 23,6 13,9 6,8 4,0 SABD 87,4 9,2 60,7 24,1 36,6 11,3 10,5 18,8 4,1 9,2 4,1 MS - matéria seca; PB - proteína bruta; FDN - fibra em detergente neutro; FDA - fibra em detergente ácido; HCEL – hemicelulose; CEL – celulose; LIG – lignina; NIDN - nitrogênio insolúvel em detergente neutro; NIDA - nitrogênio insolúvel em detergente ácido; CHOs – carboidratos solúveis; EB - energia bruta 1 Porcentagem da matéria seca 2 Porcentagem do nitrogênio total 3 Mcal/kg de MS Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo 38 foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse uma densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SABD, o material foi compactado no interior do silo. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. Após 35 dias, os silos foram abertos e deles retiradas amostras homogêneas de 300 g das silagens, que permaneceram armazenadas em congelador a –100C até a época das análises químico-bromatológicas. Nas amostras das silagens foram determinados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), energia bruta (EB), cinzas, nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). Foram analisados também o pH, nitrogênio amoniacal como percentagem do nitrogênio total (N-NH3/NT) e ácidos orgânicos (ácido lático, acético, butírico e propiônico) no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, segundo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). As características estudadas foram avaliadas por meio de análise de variância, para realização da comparação das médias, utilizando o teste de Tukey, e por meio da análise de regressão, para avaliar o efeito dos níveis crescentes de adição do SABD, ao nível de 1 e 5% de probabilidade e no coeficiente de determinação, por intermédio do programa SAS (1990). Antes da realização destas análises, foi feito estudo para verificar se as pressuposições de distribuição normal e homocedasticidade dos dados foram atendidas. As variáveis que não atenderam estas pressuposições foram transformadas para se prosseguir com as análises estatísticas. A transformação utilizada foi à quadrática para o pH. 3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Teor de Matéria Seca (MS) Os dados referentes à composições químico– bromatológicas e as equações de regressão em função dos níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) na ensilagem do capim elefante estão apresentadas na Tabela 5. 39 Tabela 5: Teores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e energia bruta (EB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) Níveis de adição do SABD (%) 0 3,5 7 10,5 14 Equação de Regressão MS (%) 19,38d 20,40d 23,20c 24,77b 27,54a Ŷ = 18,92 + 0,59x R2 = 0,95 MO1 87,73c 88,39bc 88,98ab 88,75ab 89,49a Ŷ = 87,89 + 0,11x R2 = 0,57 1 4,77b 5,34ab 5,55ab 5,92a 5,97a Ŷ = 4,92 + 0,080x R2 = 0,52 PB 76,55a 73,44b 70,99bc 68,99c 66,41d Ŷ = 76,22 – 0,71x R2 = 0,91 FDN1 1 48,80a 45,73b 42,77c 42,62c 39,67d Ŷ = 48,19 – 0,61x R2 = 0,84 FDA 27,71ab 28,22a 26,37b 26,75ab Ŷ = 28,03 – 0,09x R2 = 0,20 HCEL1 27,74ab 1 34,47a 32,22ab 30,71bc 30,55bc 28,21c Ŷ = 34,07 – 0,40x R2 = 0,74 CEL 1 14,33a 13,51ab 12,07bc 12,06bc 11,46c Ŷ = 14,12 – 0,20x R2 = 0,58 LIG 21,64a 21,35a 23,41a 21,11a 19,94a ns NIDN2 10,24a 8,76a 9,13ba 9,21ba 7,48a ns NIDA2 4,0a 3,98a 4,03a 4,02a 4,08a Ŷ = 4,0 + 0,0053x R2 = 0,19 EB3 Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey 1 Porcentagem da matéria seca 2 Porcentagem do nitrogênio total 3 Mcal/kg de MS ns – não significativo Os teores de matéria seca (MS) das silagens aumentaram à medida que foi adicionado o subproduto do abacaxi desidratado (SABD). As silagens com 14% do SABD apresentaram o maior (P<0,05) teor de MS (27,54%), enquanto a silagem exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SABD foram semelhantes (P>0,05), e apresentaram os menores (P<0,05) teores de MS (19,38 e 20,40%) em comparação às demais silagens. Pela análise de regressão observou-se que a adição do SABD propiciou um aumento linear (P<0,01) nos teores de MS das silagens. Para cada 1% de adição do SABD, houve acréscimo de 0,59 pontos percentuais no teor da MS da silagem. Com isso foi possível obter incremento de, aproximadamente, 8,3 pontos percentuais no teor de MS quando se adicionou 14% do SABD em comparação às silagem exclusiva de capim elefante. Com adição de 14% do SABD a silagem atingiu teor médio de 27,54% de MS, próximo, portanto, da faixa de 28-34% de 40 MS tido com o ideal por McCullough (1977) para que haja eficiente processo fermentativo da silagem. Tal perfil está em conformidade com as observações de Oliveira Filho et al. (2002) que trabalhando com adição do subproduto do abacaxi na ensilagem do capim elefante também registraram aumento nos teores de MS das silagens. Esse resultado já era esperado, haja visto que o subproduto foi desidratado, e com isso apresentou teor de MS (87,40%) superior ao do capim elefante (20,60%), como apresentado na Tabela 4. Segundo McDonald (1981), o teor de MS (28-32%) e o pH (3,8-4,2) são os fatores mais importantes na inibição do crescimento de bactérias do gênero Clostridium nas silagens. O aumento linear nos teores de MS com a utilização de subprodutos também foi relatado por Mattos et al. (2003) e Evangelista et al. (1996) em silagens de capim andropogon e capim elefante, respectivamente, acrescidos de diferentes níveis de polpa cítrica. porém sem alcançar concentração mínima de 7%. O uso de aditivos com elevado teor de MS tem sido adotado por vários pesquisadores com o objetivo de reduzir o teor de umidade do capim elefante. Assim, Cysne et al. (2004), Gonçalves et al. (2004), Sá et al. (2004), Pompeu et al. (2002) e Neiva et al. (2002) trabalhando com níveis de adição de subprodutos da graviola, urucum, manga, melão e goiaba, respectivamente, na ensilagem do capim elefante, observaram aumento nos teores de MS com a inclusão dos subprodutos. Oliveira Filho et al. (2002) avaliaram níveis de adição de SABD e obtiveram média superior (9,0%) à observada neste trabalho. Contudo, o teor de PB do capim elefante utilizado (8,61%) já apresentava níveis acima do nível mínimo para o funcionamento do rúmen (7% de PB). Prado et al. (2003) observaram teores de 8,83% de PB em silagens de resíduo do abacaxi. Teor de Proteína Bruta (PB) As adições do SABD também influenciaram os teores de PB das silagens, tendo as silagens com 10,5 e 14% do SABD, maiores concentrações de PB (P<0,05) em relação à silagem exclusiva de capim elefante. Entretanto, não houve diferença (P>0,05) entre as silagens que receberam SABD. Pelo estudo de regressão foi possível observar que os teores de PB (P<0,05) aumentaram linearmente (P<0,05) com os níveis de adição do SABD, proporcionando incremento de 0,08 pontos percentuais no teor de PB, para cada 1% de adição do SABD. Contudo, a variação entre os níveis de adição do subproduto foi pequena (4,92 a 6,04%), e os valores permaneceram abaixo da faixa de 6 a 8,0%; teor mínimo necessário para que haja fermentação microbiana efetiva no rúmen (Van Soest, 1994). Esse resultado foi decorrente dos baixos teores de PB encontrados no capim elefante (3,36% PB), assim, influenciando negativamente na composição química do alimento, já que o SABD apresentou 9,30% de PB. Os resultados estão em conformidade com Sá et al. (2004) e Neiva et al. (2002) que trabalhando com níveis de adição do subproduto da manga e goiaba na ensilagem do capim elefante, respectivamente, observaram elevações nos teores de PB, Braga et al. (2001) avaliando o valor nutricional de silagens de capim elefante cortado com 70 dias de desenvolvimento na região de Mossoró-RN observaram teores de PB (4,66%) similares aos registrados nas silagens exclusivas de capim elefante deste trabalho. Teores de Fibra em Detergente Neutro (FDN), Fibra em Detergente Ácido (FDA), Hemicelulose (HCEL), Celulose (CE) e Lignina (LIG). No tocante à fração fibrosa, houve efeito benéfico da adição do SABD. A silagem com adição de 14% de SABD apresentou o menor (P<0,05) teor de FDN (66,4%), enquanto, a silagem exclusiva de capim elefante apresentou o teor mais elevado (76,6%) (P<0,05) diferindo das demais silagens. Estes resultados podem ser confirmados pelo estudo de regressão que registrou redução (P<0,05) linear nos teores de FDN com a adição do SABD. Para cada 1% de inclusão do SABD obteve-se redução de 0,71 pontos percentuais nos teores de FDN das silagens. Com 14% de adição do SABD, o teor de FDN decrescem para 66,2%, ficando 9,94 pontos percentuais abaixo do teor das silagem de capim elefante. A redução na concentração de FDN nas silagens pode contribuir para aumentar o consumo de MS e a densidade energética da dieta de ruminantes (Jung e Allen, 2000). 41 Estes resultados eram esperados, uma vez que a concentração de FDN do capim elefante (73,9%) foi superior à do subproduto do abacaxi desidratado (60,7%) adicionado à silagem (Tabela 4). Prado et al. (2003) avaliando silagens de resíduo do abacaxi, registraram teores de FDN (64,7%) próximo do valor encontrado neste trabalho. Os teores de FDN observados nas silagens com 14% de adição do SABD foram próximos dos valores observados por Rocha Junior et al. (2000) que observaram valores de FDN de 67,3 e 68,1% em silagens de sorgo. Os teores de FDA seguiram a mesma tendência observada para os teores de FDN. As silagens com 14% do SABD apresentaram o menor (P<0,05) teor de FDA (39,7%), enquanto, a silagem exclusiva de capim elefante apresentou teor de FDA superior (48,8%) aos observados nas demais silagens (P<0,05). Segundo Van Soest (1994), esses resultados são benéficos, haja visto, que reduções nos teores de FDA estão positivamente correlacionados com aumento da digestibilidade da MS. Pela análise de regressão, os teores de FDA reduziram linearmente (P<0,05) com a adição do SABD, promovendo reduções na ordem de 0,61 pontos percentuais, para cada 1% de adição do SABD, o que possibilitou com a inclusão de 14% do SABD a redução de 9,0 pontos percentuais no teor de FDA das silagens, ao compararmos com a silagem exclusiva de capim elefante. Tal fato se deve à menor concentração em FDA do SABD, em relação ao capim elefante (24,1 x 48,8%, respectivamente). Estes resultados se mostram satisfatórios, pois sabe-se que o FDA é formada de constituintes menos digestíveis pelas bactérias ruminais (celulose e lignina), fazendo com que alimentos com elevados 42 percentuais de FDA apresentem digestibilidade reduzida (Van Soest, 1994). Teores de FDA semelhantes aos encontrados nas silagens com 14% do SABD foram registrados em silagens de milho (39,5%) por Rodrigues et al. (2004), e em silagens de alfafa (39,8%) por Magalhães e Rodrigues (2004). Os teores de hemicelulose (HCEL) diferiram (P<0,05) apenas entre os tratamentos com adição de 7,0 e 10,5% de SABD. Pela análise de regressão, também se verificou redução linear (P<0,05) com os níveis crescentes de adição do subproduto, com decréscimo de 0,09 pontos percentuais no teor de HCEL, para cada 1% de adição do SABD. Neste caso, como os teores de HCEL do capim elefante (24,85%) foram inferiores ao do subproduto (36,62%), é possível que a diferença encontrada, seja devido à utilização dessa fração como substrato para fermentação, pois segundo Henderson (1993) as hemiceluloses podem servir de substrato para fermentação, podendo ocorrer a utilização de até 40% dessa fração. McDonald (1981) citaram que a hidrólise da hemicelulose acontece por meio da ação da hemicelulase bacteriana e/ou pela hidrólise por ácidos orgânicos produzidos durante a fermentação. Vilela et al. (1990) e Alberto et al (1993), trabalhando com silagens de capim elefante e Posseti et al. (2002), avaliando silagens de girassol, também observaram hidrólise da hemicelulose. Comportamentos semelhantes aos relatados neste trabalho, com relação à redução nos componentes da parede celular foram registrados por Sá et al. (2004) e Oliveira Filho et al. (2002) que avaliaram a adição de 0; 5; 10; 15 e 20% de subproduto da manga e abacaxi, respectivamente, na ensilagem do capim elefante. Também, Mattos et al. (2003) trabalhando com silagens de capim andropogon com diferentes níveis de polpa cítrica seca, observaram reduções nos teores de FDN, FDA e HCEL nas silagens com a adição dos respectivos subprodutos. Para os teores de CEL, verificou-se que as silagens com 7,0; 10,5 e 14% se mostraram similares (P>0,05). Contudo, a silagem com 14% apresentou valor inferior (P<0,05) ao observado na silagem exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SABD, que não diferiram entre si. Os valores variaram de 34,5 (0% SABD) a 28,2 (14% SABD). Pelo estudo de regressão, observou-se que os teores de CEL reduziram linearmente com a inclusão do SABD, com queda de 0,4 pontos percentuais nos teores de CEL para cada 1% de adição do SABD adicionado. As reduções nos teores de CEL estão relacionadas à menor concentração desse componente no SABD (11,3%) em relação ao capim elefante (34,5%). Á diminuição nos teores de CEL, com a inclusão do SABD, acompanha a constatação dos dados apresentados neste trabalho com relação à FDA, haja visto, que a CEL corresponde à maior fração da FDA. A importância na redução dos teores de CEL se deve ao fato dessa ser um dos componentes da parede celular com menor digestibilidade, podendo contribuir na redução da qualidade da mesma. Lousada Junior et al. (2005) encontrou teor de CEL (25,9%) em SABD superior ao registrado neste trabalho (11,3%). Porém, vale ressaltar, que os subprodutos, em geral, podem ter sua composição química bem variável, em função dos tratos culturais, variedades e tipos de processamento. Teor de CEL semelhante aos observados nas silagens foram registrados por Rocha Junior et al. (2000) em silagens de sorgo (26,9 a 33,5%). Quanto aos teores de lignina, observou-se que as silagens com 7,0, 10,5 e 14% não diferiram entre si (P>0,05), mas a silagem com 14% do SABD apresentou teor de lignina inferior (P<0,05) à exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SABD. Os teores de lignina variaram de 14,33 (0% SABD) a 11,46% (14% SABD). O estudo de regressão mostrou que a inclusão do SABD reduziu linearmente (P<0,05) os teores de lignina, com decréscimo de 0,2 pontos percentuais para cada 1% do SABD adicionado. Este fato era esperado, uma vez que esse subproduto possui na composição química teor de lignina (10,51%) inferior ao do capim elefante utilizado (14,37%). O SABD agiu então de forma benéfica, pois como ressalta Van Soest (1994), a lignina na parede celular das forragens, age de forma negativa na digestão da fibra pelos microrganismos ruminais. Através de sua estrutura e tipo de ligações covalentes com a hemicelulose, torna-se o principal componente redutor da qualidade das plantas forrageiras, por reduzir a digestibilidade dos nutrientes das plantas Pelos resultados obtidos pode-se constatar que o subproduto da agroindústria do abacaxi pode constituir uma fonte alternativa de alimento para ruminantes por proporcionar reduções na fração fibrosa das silagens. Minson (1990) ressaltou que os teores de FDN, FDA e lignina agem de forma negativa na digestibilidade e, conseqüentemente, no consumo. Alimentos com menor fração fibrosa apresentam de modo geral, maior digestibilidade e consumo, desde que não haja outros fatores envolvidos. Teores de nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), como porcentagem do nitrogênio total. Para os teores de nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), em relação ao nitrogênio total, não se observou efeito dos níveis de adição do SABD, sendo 43 o valor médio observado de 21,5 e 9,0%, respectivamente. Contudo, era esperado que os valores de NIDN e NIDA fossem reduzidos em função da menor concentração destes componentes no subproduto (18,88% e 4,14%, respectivamente) em relação ao capim elefante (23,6 e 13,9%, respectivamente). Tal fato sugere a ocorrência de alterações decorrentes do processo fermentativo na ensilagem. Segundo Van Soest (1994) o nitrogênio insolúvel em detergente neutro, mais solúvel em detergente ácido, parece ter digestibilidade considerável, porém, esse nitrogênio apresenta taxas de digestão mais lenta que a fração solúvel em detergente neutro, e sua concentração pode ser aumentada com o calor. Já o NIDA corresponde à fração C no sistema de CORNELL, sendo considerada indisponível por conter proteínas associadas a lignina e taninos, podendo ser produto da reação de Maillard (Van Soest, 1994). Contudo, vale ressaltar, que os outros parâmetros utilizados para caracterização da qualidade de silagens permaneceram na faixa que designa as silagens como de ótima qualidade, como poderá ser visto adiante. Resultados superiores do NIDA aos registrados nas silagens com adição do SABD foram citados por Magalhães e Rodrigues (2004) em silagens de alfafa (11,57%) e por Rosa et al. (2004) em silagens de sorgo (12,50%). Energia Bruta (EB) Embora a análise de variância não tenha mostrado diferença (P>0,05) para os valores de EB, com a adição do SABD, no qual, foi observado valor médio de 4,02 Mcal/kg de MS, o estudo de regressão revelou que houve resposta linear (P<0,05) para os valores de EB em função do aumento dos níveis de inclusão do SABD, com 44 incremento de 0,0053 Mcal/kg de MS para cada 1% de SABD adicionado. Apesar de termos trabalhado com o capim ainda novo (aproximadamente 70 dias), que segundo a literatura (Lavezzo, 1985) poderia ser caracterizado como de bom valor nutricional, a gramínea apresentou baixo teor de PB (3,36%) e elevada concentração dos componentes da parede celular. Tal fato deve estar relacionado com as temperaturas mais elevadas durante todo o ano na região. Deinum et al. (1968) explicou que a intensidade da luz tende a aumentar o conteúdo de carboidratos solúveis na forragem, enquanto que o aumento da temperatura favorece a conversão desses em carboidratos estruturais. Aumentos na temperatura, os quais são sucedidos por aumentos na taxa de crescimento e, conseqüentemente, alterações nos componentes químicos das forragens, poderiam ser a principal causa da variação da digestibilidade das mesmas. Van Soest et al (1978) ressaltaram que a temperatura ambiental aumenta o processo de lignificação, sendo considerado efeito dominante na composição da forrageira, enquanto que outros efeitos, tais como maturação e luz seriam secundários. Minson e McLeod (1970) observaram que gramíneas tropicais e temperadas, crescendo em ambiente subtropical, apresentaram valores similares de digestibilidade de MS, os quais foram negativamente correlacionados com a temperatura e taxa de evaporação. Ácidos Orgânicos, pH e Nitrogênio Amoniacal (N-NH3) Os dados referentes às características fermentativas (pH, nitrogênio amoniacal e ácidos orgânicos) das silagens estão apresentados na Tabela 6. Tabela 6: Valores de pH, nitrogênio amoniacal, como percentagem do nitrogênio total (N-NH3/NT) e ácidos orgânicos (% da MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) Níveis de adição do SABD (%) 0 3,5 7 10,5 14 Equação de Regressão pH 5,89b 3,84a 3,65a 3,80a 3,83a Ŷ-2= 0,0003 + 0,00002x R2 = 0,28 N-NH3/NT 4,30b 4,67b 5,75ab 6,32ab 7,50a Ŷ = 4,10 + 0,23x R2 = 0,62 Ác.Lático 3,486b 4,738ab 6,132a 6,142a 6,779a Ŷ = 4,25 + 0,114x R2 = 0,17 Ác.Acético 0,350c 0,986bc 1,682ab 1,832ab 2,025a Ŷ= 0,53 + 0,119x R2 = 0,66 Ác. Propiônico 0,024a 0,075a 0,026a 0,041a 0,078a ns Ác. Butírico 0,025a 0,032a 0,035a 0,068a 0,031a ns Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey ns – não significativo Quanto aos valores de pH, verificou-se que as silagens contendo o SABD foram equivalentes (P>0,05) e apresentaram valores inferiores ao observado na silagem exclusiva de capim elefante. Através das análises de regressão observouse redução (P<0,01) nos valores do pH, com a inclusão do SABD. Desta forma, as silagens com adição do SABD permaneceram na faixa dos 3,8-4,2, tida como indicadora de silagens bem fermentadas (Catchpoole e HenzelL, 1971; Marsh, 1979; McCullough, 1977; McDonald, 1981). O pH das silagens com adição dos subprodutos variou de 3,65 a 3,84, assim, gerando condições ótimas para o desenvolvimento e permanência da microbiota láctica que deve inibir a atividade de outras bactérias (Wilkins e Wilson, 1970), tanto pela ação do pH como pelo efeito tóxico associado aos ácidos (Woolford, 1972). Valores superiores aos sugeridos na literatura (3,8 a 4,2), foram encontrados apenas na silagem exclusiva de capim elefante (5,89). Os valores de pH obtidos nas silagens podem ser conseqüências da interação de vários fatores. O primeiro a ser destacado refere-se ao teor de MS, como já discutido anteriormente. A inclusão do SABD possibilitou aumento nos teores de MS das silagens, assim evitando o desenvolvimento de bactérias do gênero Clostrídium que tem seu crescimento inibido pela elevação da pressão osmótica (Wiering, 1958; Gordon et al., 1961; Catchpoole e HenzelL, 1971; Woolford, 1972; Thomas, 1978; Marsh 1979; McDonald, 1981). Estes microrganismos agem desdobrando o ácido lático e carboidratos residuais, em ácido butírico, e aminoácidos em aminas, amônia e gases, que por sua vez, neutralizam a acidez em virtude da ação básica, prejudicando a qualidade do produto ensilado. Segundo Wiering (1960) e McDonald (1981), os clostrídea são mais sensíveis à falta de umidade do que à acidez do meio, haja vista, que esses microrganismos podem tolerar altas concentrações de ácidos e íons de hidrogênio quando em meio úmido, e que sua resistência é diretamente proporcional ao teor de umidade. Outro fator, que pode estar relacionado, refere-se à concentração de carboidratos solúveis, apesar do processamento das frutas nas agroindústrias retirar grande parte destas substâncias, verificou-se que o SABD (9,2%) apresentou maiores concentrações de CHOs que o capim elefante (6,8%) (Tabela 4). Desta maneira, o SABD funcionou como aditivo estimilador da fermentação, uma vez que, foi possível fornecer fontes adicionais de carboidratos na ensilagem com o capim elefante. 45 Muller (1978) ressaltou que os resíduos da indústria de conserva de abacaxi têm os carboidratos solúveis como os principais constituintes da matéria orgânica. Além desses, outros carboidratos como a hemicelulose, celulose, hexosanas, pentosanas e pectina estão presentes e, segundo McDonald (1981), as xiloses e arabinoses podem ser degradadas pelas bactérias lácticas (homo e heterofermentativas) produzindo lactato e acetato. Reis et al. (2000) avaliando a composição química de silagens de capim elefante com resíduos do fruto do maracujá, observaram pH de 3,9 no resíduo do maracujá na forma original ao saír da indústria, demonstrando, assim, que os subprodutos podem apresentar pH baixo, e ao serem ensilados proporcionarem ambiente favorável ao crescimento de bactérias lácticas ou estagnação do desenvolvimento de microrganismos, levando a conservação dos nutrientes na forma original. Aguilera et al. (1997) obtiveram pH de 3,9 para silagens com 60% da fruta da manga + 20% da fruta do limão + 20% de milho triturado, e segundo os autores, o valor do pH encontrado nas silagens deveu-se a presença do ácido cítrico e outros ácidos orgânicos presentes no limão. Trabalhando com subproduto do abacaxi na ensilagem do capim elefante, Oliveira Filho et al. (2002) encontraram valores de pH superiores aos observados neste trabalho, assim como Neiva et al. (2002) que trabalhando com subproduto da goiaba na ensilagem do capim elefante. Desta forma é possível que o SABD também tenha apresentado valores reduzidos de pH no momento da ensilagem, o que levaria à manutenção dos aspectos qualitativos do volumoso, haja visto, que o meio já se encontraria ácido na massa ensilada, assim evitando o início do crescimento dos 46 clostrídia, ao mesmo tempo, que estimularia a proliferação das bactérias láticas. Além disso, reduziria a ação inicial das enzimas proteolíticas das plantas, que atuam sobre as proteínas, transformando-as em fontes de nitrogênio não protéico como peptídeos e aminoácidos livres (Ohshima e McDonald, 1978; Muck, 1987). Segundo Woolford (1972), quanto mais rápido for a redução do pH ou for estabelecido um ambiente ácido na massa ensilada, mais eficiente é a preservação, pois mais rapidamente é estabelecido o ambiente anaeróbico no silo e, conseqüentemente, menor é a extensão da degradação aeróbia das proteínas e carboidratos, bem como à ação das bactérias do gênero Clostidium. Contudo, vale destacar que os valores de pH registrados nas silagens com adição do SABD (3,65 a 3,84) podem ser resultado da alteração dos teores de MS, presença de carboidratos solúveis e fermentação das hemiceluloses. Os fatores mencionados estão em concordância com Fisher e Burns (1987), que relataram que a estabilização do pH das silagens deve-se às interações do teor de MS, da capacidade tamponante, das concentrações dos carboidratos solúveis e lactato, e das condições de anaerobiose no meio. Essas associações explicam porque forragens com diferentes teores de MS e de carboidratos solúveis podem produzir silagens com o mesmo padrão de queda do pH. Estudando o potencial de ensilagem de cinco resíduos hortícolas (tomate, melão, feijão verde, fava e aipo) Cerda et al. (1994), também observaram valores de pH superiores aos encontrados neste trabalho. Segundo os autores, as principais limitações destes resíduos são: alta umidade e altos níveis de cinzas, que promovem o aumento da capacidade de tamponamento da massa ensilada e os altos teores de PB, que ao serem degradados geram N-NH3, impedindo queda do pH. foram similares (P>0,05), todavia, superiores as silagens de capim elefante. No presente trabalho, ao contrário da metodologia adotada por Cerda et al. (1994), onde os subprodutos foram ensilados no seu estado natural, o subproduto do abacaxi foi desidratado e com isso se minimizou o problema da alta umidade do capim elefante. Além disso, o teor de PB do SABD foi relativamente baixo o que certamente não favoreceu a produção de amônia e, conseqüentemente, o tamponamento do meio. O estudo de regressão mostrou que a produção de ácido lático com a inclusão do SABD pode ser representada por uma equação linear crescente (P<0,05), de modo que, para cada 1% de SABD adicionado, ocorreu aumento de 0,114 pontos percentuais no teor de ácido lático nas silagens. No tocante aos teores de N-NH3 observou-se que as silagens com adição de 7,0; 10,5 e 14% foram semelhantes (P>0,05). Contudo, as silagens com 14% do SABD foram superiores (P<0,05) à silagem exclusiva de capim elefante e com adição de 3,5% do SABD. A análise de regressão evidenciou incremento de 0,23 pontos percentuais no teor de N-NH3 para cada 1% de adição do SABD. Entretanto, as silagens apresentaram teores de N-NH3 dentro do limite indicativa de boa fermentação (<12%) (Catchpoole e Henzel, 1971; McDonald 1981; Umaña et al., 1991) evidenciando que não houve degradação excessiva dos aminoácidos. Cerda et al. (1994) trabalhando com silagem de resíduo de aipo obtiveram valor de pH de 3,9 e teor de N-NH3 de 7,9% com 30 dias de ensilagem, resultados, então, semelhantes aos encontrados nesse trabalho. Lemos et al. (2004), observaram em silagens do subproduto da pupunha, e em silagens de cana-de-açúcar e de sorgo, valores de pH de 3,9; 3,7 e 4,1, e de N-NH3 de 18,8; 21,9 e 12,1%, respectivamente. Na avaliação dos ácidos orgânicos produzidos durante o processo fermentativo nas silagens, verificou-se que a inclusão do SABD influenciou na produção de ácido lático. Pela análise de variância se observou que nas silagens com 7,0, 10,5 e 14% do SABD as concentrações de ácido lático Os teores médios de ácido lático obtidos nas silagens com inclusão do SABD se mostraram todos superiores aos valores relatados por Faria et al. (1972) quando adicionaram 5 (4,32%), 10 (4,09%), 15 (3,37%) e 20% (2,31%) de polpa de laranja seca na ensilagem de capim elefante. Dentre os ácidos orgânicos (ácido acético, propiônico, isobutírico, butírico, valérico, isovalérico, succínico, fórmico e lático), que contribuem para dar a acidez final da massa armazenada, o ácido lático, em face de sua maior constante de dissociação (pKa = 3,86), ou seja, maior tendência para perder seus prótons (Lehninger, 2002), possui papel preponderante no processo fermentativo da silagem, pois é responsável pela queda do pH a níveis inferiores a 4,2 quando, como conseqüência, ocorrerá a inibição do crescimento dos microrganismos responsáveis pelas fermentações indesejáveis no produto (McCulloug, 1977; Thomas, 1978; Marsh, 1979; McDonald, 1981; Umaña et al.1991; Muck,1991). Como um dos grandes entraves ao se trabalhar com gramíneas tropicais para ensilagem está relacionado à baixa concentração de carboidratos solúveis (Catchpoole e Henzel, 1971), a adição do SABD parece ter proporcionado substrato suficiente para promover a fermentação lática, e com isso, a conservação do material, funcionado então, como um eficiente aditivo, podendo ser incluído no grupo de aditivos que estimulam a 47 fermentação e também são nutritivos, segundo a classificação descrita por Vilela (1998). Ojeda et al. (1987) relataram que a necessidade de se obter fermentações láticas, em silagens tropicais, não se baseia somente em que estas são mais eficientes do ponto de vista energético ou de conservação, mas também por que as bactérias láticas possuem propriedades antimicrobianas que inibem o desenvolvimento dos clostridia, bacilos, estreptococos e estafilococos, contribuindo para conservar melhor a forragem. Quanto à concentração de ácido acético, também verificou-se efeito do SABD. As silagens com 7,0; 10,5 e 14% do SABD apresentaram teores de ácido acético semelhantes (P>0,05), enquanto a silagem com 14% apresentou teor mais elevado (P<0,05) que as silagens exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SABD. O estudo de regressão mostrou que os teores de ácido acético aumentaram de forma linear (P<0,05), numa proporção de 0,119 pontos percentuais para cada 1% de inclusão do SABD. reduzido crescimento das bactérias clostrídicas, que tiveram seu crescimento inibido ou controlado provavelmente pelos teores de MS e pH obtidos nas silagens. As bactérias deste gênero, como discutido anteriormente, são extremamente sensíveis ao aumento da pressão osmótica e a ambientes que apresentem pH abaixo de 4 (McDonald, 1981). O valor médio de ácido butírico encontrado foi de 0,0382%, o que indica que as silagens permaneceram com concentrações dentro do recomendado na literatura que seria de ≤ 0,2% para caracterização de silagens bem preservadas (Catchpoole e Henzel, 1971; McDonald, 1981). Silagens com concentrações elevadas de ácido butírico indicam deterioração do material ensilado, pois além da ação proteolítica, os clostrídeos utilizam os carboidratos solúveis e ácido lático promovendo perdas de matéria seca (McCullough, 1977; McDonald, 1981), resultando num material menos palatável e de odor desagradável, o que, conseqüentemente, levaria à redução do consumo voluntário das silagens pelos ruminantes (Wilkins e Wilson, 1970; Muck, 1988). Segundo McDonald (1981) e Muck (1991), o principal e mais importante substrato para produção de ácido acético nas silagens são as pentoses. Desta forma, acredita-se que o principal fator responsável pelo aumento nos teores de ácido acético nas silagens com a inclusão do SABD, estejam relacionados ao metabolismo das pentoses, já que foi possível constatar reduções nos teores de hemicelulose, como visto na Tabela 5. Woolford (1972) comentou que a quebra da hemicelulose pode ser proveniente da ação das hemicelulases das plantas, ação bacteriana (homo e heteroláticas), ou hidrólise pelos ácidos orgânicos durante a fermentação. Apesar das silagens terem mantido tendência linear crescente para os teores de N-NH3, de modo geral, obtiveram-se boas características fermentativas, já que os valores de pH, N-NH3 e ácidos orgânicos, mantiveram-se dentro dos parâmetros estabelecidos na literatura para classificação de silagens de ótima qualidade que seriam; pH entre 3,8 - 4,2, teor de N-NH3 menores que 11-12%, teores de ácido lático entre 1,5 e 6,0% e de ácido butírico ≤ 0,2% (Catchpoole e Henzel 1971; Silveira, 1975; McCullough, 1977 e McDonald, 1981). Não foram observados efeitos dos níveis de adição do SABD sobre os teores de ácido butírico. Este fato deve estar relacionado ao É válido salientar que apenas nas partes superiores das silagens foram observados processos de deterioração. Isto evidencia 48 que, poderão ser obtidas silagens de boa qualidade elaboradas com o subproduto do abacaxi desidratado. Para a silagem exclusiva de capim elefante, observou-se que as concentrações médias de ácido lático (3,5%), acético (0,35%), propiônico (0,024%), butírico (0,025%) e pH (5,89) se enquadram dentro dos valores encontrados na literatura, que variam de 0,40 a 17,59% de ácido lático; 0,08 a 6,7% de acético; 0,00 a 0,555% de propiônico; 0,0 a 6,04% de butírico; enquanto para o pH catalogou-se valores variando de 3,71 a 8,5 (Tosi et al., 1983; Tosi et al., 1989; Alberto et al., 1993; Faria et al, 1995/96; Andrade e Lavezzo, 1998; Tosi et al., 1999; Rodrigues et al., 2002). 3.4. CONCLUSÃO A adição do subproduto do abacaxi desidratado melhora o processo fermentativo da silagem de capim elefante, além de reduzir os componentes da parede celular e elevar os teores de matéria seca e proteína bruta. 49 CAPÍTULO IV - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DE ABACAXI RESUMO O trabalho foi realizado objetivando avaliar o consumo e a digestibilidade aparente das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) contendo 0; 3,5; 7; 10,5 e 14% do abacaxi (Ananas comosus L) desidratado (subproduto da agroindústria do suco de abacaxi) em relação à matéria natural. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. Utilizando ovinos foram avaliados os consumos de MS, PB, FDN, FDA, HCEL, CEL (g/animal/dia; %PV e g/UTM), digestibilidade aparente (%) da MS, PB, FDN, FDA, HCEL, CEL, EB, ED e consumo de MS digestível (CMSD), PB digestível (CPBD), FDN digestível (CFDND)e energia digestível (CED), bem como, o balanço de nitrogênio (BN) das silagens. A adição do subproduto do abacaxi desidratado (SABD) promoveu aumento (P<0,05) no consumo de MS de 388,3 para 631,7 g/animal/dia, PB de 23,8 para 47,4 g/animal/dia e FDN de 1,16 para 1,81% PV para as silagens exclusivas de capim elefante e com adição de 14% do SABD. Para os coeficientes de digestibilidade das silagens, não observou-se diferença (P>0,05) com a adição do SABD. Já para o CMSD, CPBD e CED verificou-se que as silagens com 14% do SABD apresentou valor superior (P<0,05) que a silagem exclusiva de capim elefante. Com relação ao BN, registraram-se índices positivos para os tratamentos com 7; 10,5 e 14% do SABD. Conclui-se, que o SABD melhora o valor nutritivo das silagens, possibilitando maiores consumos de matéria seca digestível, proteína bruta digestível e energia digestível. 4.1. INTRODUÇÃO A estacionalidade na produção de forragem tem sido responsável, dentre outros fatores, pela reduzida produtividade dos rebanhos que, em conjunto com a freqüente variação dos preços dos grãos de cereais e suplementos protéicos utilizados na alimentação animal, tem despertado o interesse no aproveitamento de alimentos alternativos. Nesse contexto, os resíduos agroindustriais podem assumir importante papel na alimentação de ruminantes, principalmente em situações com baixa disponibilidade de forragens. O resíduo da indústria do processamento do abacaxi vem sendo utilizado em algumas pesquisas substituindo tanto alimentos volumosos (Alves et al., 2002; Correia et al., 2002; Lallo et al., 2002a) quanto grãos de cereais (Muller, 1978), podendo ainda ser utilizado como aditivo na produção de silagens de gramíneas tropicais (Oliveira Filho et al., 2002). 50 O subproduto da agroindústria do suco do abacaxi é constituído de casca, coroa, brotos da fruta, anexos da fruta, miolo e polpa. A proporção das partes individuais que constituem o resíduo da indústria, bem como sua composição química, variam consideravelmente com a variedade da fruta, maturidade, qualidade da produção fotossintética (conteúdo de açúcar) e tecnologia empregada pela fábrica (Muller, 1978). A adição do subproduto do abacaxi na ensilagem de gramíneas tropicais além de reduzir os custos com a alimentação, pode melhorar as características fermentativas das silagens. Todavia, esta análise deve ser acompanhada da avaliação dos efeitos da inclusão do subproduto sobre o consumo e a digestibilidade que podem afetar o desempenho e a saúde dos animais. Rodrigues e Peixoto (1990a) trabalhando com ovinos e avaliando a digestibilidade aparente dos resíduos da indústria do abacaxi encontraram altos valores de digestibilidade dos nutrientes. ao dia, sendo que à noite o material foi amontoado e coberto por lona, evitando o acúmulo de umidade. Desta maneira conduziu-se este experimento, objetivando avaliar o efeito dos níveis de adição do subproduto do abacaxi desidratado na silagem de capim elefante sobre o consumo e digestibilidade dos nutrientes em ovinos. As composições químico-bromatológicas capim elefante (CE) e do subproduto abacaxi desidratado (SABD), antes ensilagem, encontram-se na Tabela 1, Capítulo III. 4.2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisas em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC), no município de Fortaleza (CE). Foram estudados cinco níveis de adição do subproduto do abacaxi desidratado (0, 3,5, 7,0, 10,5 e 14,0%), com base na matéria natural, na ensilagem do capim elefante. Em relação à matéria seca, essas adições consistiram em 0; 13,0; 24,0; 33,0 e 41,0%. Na confecção das silagens experimentais foi utilizado o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú (FEVC), Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC). O capim foi cortado manualmente com, aproximadamente, 70 dias de idade, quando em seguida, foi processado em picadeira de forragem e, posteriormente, misturado ao subproduto do abacaxi (Ananas comosus, L.), originado do processamento da fruta para extração de sucos e polpas, da empresa MAISA em Mossoró (RN). O subproduto do abacaxi foi composto por cascas e polpa prensada. A desidratação foi feita ao sol em área cimentada, por um período de 48 horas, sendo espalhados em camadas de, aproximadamente 7 cm de espessura e revolvidos pelo menos três vezes do do da do Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse uma densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SABD, o material foi compactado no interior do silo, durante o carregamento. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. Os dados referentes às composições químico-bromatológicas do capim elefante ensilado com níveis crescentes do SABD estão apresentados na Tabela 2, do Capítulo IV. Foram utilizados vinte ovinos SRD deslanados, machos, inteiros, com peso médio de 24,0 kg, em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14%), e quatro repetições. Para cada animal (repetição) foi utilizada a silagem oriunda de um único silo experimental. Os animais foram pesados no início e no final do experimento, vermifugados, e distribuídos por sorteio nos tratamentos. Os animais foram mantidos em gaiolas de estudos metabólicos individuais, equipadas com coletores e separadores de fezes e urina, bem como cochos para fornecimento do alimento e da mistura mineral, e bebedouros com água permanentemente à disposição. O experimento teve duração de 21 dias, sendo, os primeiros 14 dias para adaptação dos animais às dietas e ao ambiente experimental e os outros sete dias restantes 51 para coleta de silagem, sobras, fezes e urina, e para determinação do consumo voluntário, digestibilidade aparente dos nutrientes e balanço de nitrogênio. Após 35 dias, os silos foram abertos e as silagens foram fornecidas diariamente em dois períodos (7 e 16h), sendo a quantidade oferecida baseada no consumo do dia anterior, de forma a permitir sobras de, aproximadamente, 15%. Amostragens das silagens (100 g) foram realizadas diariamente no momento da pesagem do alimento que cada animal recebeu, durante todo o período de coleta de dados. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos identificados, e armazenadas a -10°C. Ao final do experimento, as amostras referentes a cada animal, foram descongeladas e homogeneizadas, sendo retirada uma amostra de, aproximadamente, 300 g, que foi processada (pré-secagem) para análises laboratóriais. As sobras foram pesadas pela manhã, antes do fornecimento da nova alimentação. Após isto, uma alíquota de 80 g foi retirada, seguindo a mesma metodologia descrita para amostragem dos para os alimentos oferecidos. As fezes foram coletadas diariamente e pesadas na parte da manhã. Do total, retirouse 10% e acondicionou-se a -10°C. Ao final do experimento, as amostras referentes a cada animal foram descongeladas e homogeneizadas, sendo retirados, aproximadamente, 300 g do total de cada coleta, que foram acondicionados em sacos plásticos, identificados e mantidos -10°C. Com o auxílio de uma proveta foi medido o volume de urina pela manhã e à tarde quando então era retirada uma alíquota de 10% do total e armazenada em frascos âmbar a -10°C. Foram adicionados nas vasilhas coletoras de urina, 20 mL de ácido 52 clorídrico 1:1, evitando assim, que houvesse perdas de nitrogênio por volatilização. Nas amostras colhidas foram determinados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL) e matéria mineral (MM). As análises foram efetuadas no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, segundo metodologia descrita pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). Com os valores obtidos das análises da composição química das amostras, foram determinados os consumos de MS e PB em g/animal/dia, %PV e g/UTM (Unidade de Tamanho Metabólico = PV0,75) e consumos de FDN, FDA, HCEL e CEL, em g/animal/dia e %PV. Determinaram-se, ainda, os coeficientes de digestibilidade aparente da MS, PB, FDN, FDA, HCEL, CEL, EB e energia digestível (ED) da dieta, bem como o balanço de nitrogênio, determinados de acordo com metodologia descrita por Silva e Leão (1979). Os valores de ingestão de matéria seca digestível (IMSD), proteína bruta digestível (IPBD), fibra em detergente neutro digestível (IFDND) e energia digestível (IED) foram obtidos a partir dos coeficientes de digestibilidade e consumo destes nutrientes. As variáveis estudadas foram avaliadas por meio de análise de variância. Para realização da comparação das médias foi utilizado o teste de Duncan (consumo de matéria seca, expresso em g/animal/dia, %PV e g/UTM), e o teste de Tukey para os demais parâmetros. Foram realizadas também análises de regressão, para avaliar o efeito dos níveis crescentes do SABD na ensilagem do capim elefante, ao nível de 1% e 5% de probabilidade e no coeficiente de determinação, por intermédio do programa SAS (1990). Antes da realização destas análises, foi feito estudo para verificar se as pressuposições de distribuição normal e homocedasticidade dos dados foram atendidas. As características que não atenderam estas pressuposições foram transformadas para se prosseguir com as análises estatísticas. A transformação quadrática foi utilizada para o consumo de matéria seca (%PV e g/UTM), consumo de fibra em detergente neutro (g/animal/dia) e consumo de hemicelulose (g/animal/dia). 4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Consumo de Matéria Seca (CMS) Os consumos de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) estão apresentados na Tabela 7. Tabela 7: Consumo de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% SABD 388,29b 1,55b 34,65b CE + 3,5% SABD 421,73b 1,92b 41,60b CE + 7,0% SABD 535,18ab 2,18b 48,46b CE + 10,5% SABD 500,82ab 2,16b 47,35b CE + 14% SABD 631,73a 2,71a 59,51a Médias 495,55 ± 121,02 2,10 ± 1,42 35,95 ± 11,85 CV (%) 24,42 30,23 31,50 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Duncan A análise de variância mostrou que os CMS expressos em g/animal/dia, %PV e g/UTM diferiram (P<0,05) em função da adição do subproduto do abacaxi desidratado (SABD). Observou-se que os ovinos alimentados com silagens contendo 14% do SABD apresentaram consumos g/animal/dia superiores (P<0,05) em relação aos verificados nos animais alimentados com silagens exclusivas de capim elefante ou com 3,5% de adição do SABD. As demais silagens (0; 3,5; 7,0 e 10,5%) apresentaram CMS semelhantes (P>0,05). Os CMS médios dos animais alimentados com silagens exclusivas de capim elefante e com níveis crescentes do SABD variaram de 388,29 a 631,73 g/animal/dia, ou seja, os animais que consumiram as silagens com 14% do SABD superaram em 63% o valor médio encontrado para os animais que ingeriram silagens exclusivas de capim elefante. Conforme demonstrado na equação abaixo em função dos níveis de adição do SABD observou-se que o CMS aumentou linearmente. Para cada 1% de adição do SABD o CMS aumentou em 16,17 g/animal/dia.. CMS(g/animal/dia) = 382,36 + 16,17x (P<0,01 e R2 = 0,31) Trabalhando com ovinos, Neiva et al. (No Prelo) estudando o CMS em silagens de capim elefante contendo subprodutos do processamento do maracujá desidratado (SMD) observaram que para cada 1% de adição do SMD na ensilagem, o consumo aumentou em 19,43 g/animal/dia. Com relação ao CMS expressos em %PV e g/UTM, verificou-se que os maiores CMS (P<0,05) foram obtidos com os animais alimentados com as silagens com 14% do SABD. 53 Os CMS médios dos animais alimentados com silagens de capim elefante com níveis crescentes do SABD variaram de 1,55 a 2,71 %PV e de 34,65 a 59,51g/UTM, para as silagens exclusivas de capim elefante e para as silagens com adição de 14% SABD, respectivamente. Segundo Crampton et al. (1957), o CMS expresso em %PV e g/UTM ajuda a minimizar o efeito das diferenças de tamanho dos animais sobre o consumo do alimento. Ao proceder o estudo de regressão, verificou-se efeito linear dos níveis de adição do SABD sobre o CMS expressos em %PV e g/UTM. CMS2 (%PV) = 2,62 + 0,29x (P<0,01 e R2 = 0,52) CMS2 (g/UTM)= 1292,49 + 140,57x (P<0,01 e R2 = 0,49) O aumento no CMS observado pelo estudo de regressão com a adição do SABD pode estar relacionado com o aumento no teor de matéria seca das silagens, como observado por Thomas et al. (1961) e Wilkins et al. (1971) que ressaltaram ainda, que este aumento no CMS está mais relacionado com a melhoria no processo fermentativo das silagens, proporcionado pelo aumento no teor de MS, do que pelo conteúdo de umidade da silagem. Evidencia-se também, o consumo de alimentos possui estreita relação com a quantidade de matéria seca presente na dieta, uma vez que a proporção de volumoso, associada aos maiores conteúdos de água, determina o espaço ocupado no rúmen, podendo limitar o consumo pelo efeito da distensão ruminal. Esses resultados estão em concordância com o observado por Jackson e Forbes (1970) e Andrade et al. (2001) que encontraram maiores consumos de silagens, com o aumento dos teores de MS. Assim como os monogástricos, os ruminantes apresentam um centro 54 quimiostático, regulador do consumo de concentrado. Todavia, o consumo de forragens, assim como o de silagens, é regulado pela taxa de remoção das partículas da forragem do retículo-rúmen, estando relacionada com a composição química, tamanho da partícula e taxa de digestão microbiana (Morgan et al., 1980). Porém, na literatura vários trabalhos (Thomas et al., 1961; Wilkins et al., 1971; Offer, 2000) demonstraram menor consumo de silagens por ruminantes em comparação ao mesmo material in natura, ou fenado, sendo esse efeito mais pronunciado em ovinos que em bovinos (Offer, 2000). Demarquilly (1973) trabalhando com ovinos relatou que a redução no consumo voluntário de silagens é observado em várias espécies forrageiras, e que essa variação pode chegar até 64%, quando comparado ao consumo da forragem in natura. Segundo o autor, a grande variação no consumo foi atribuída à grande quantidade de ácidos produzidos nas silagens, particularmente de acido acético, e menores reduções foram relacionados com silagens que continham mais ácido lático como produto final da fermentação. Van Soest (1994) ao contrário, relaciona três hipóteses para justificar a redução do consumo de silagens: a) presença de substâncias tóxicas, ou de produtos da degradação da proteína como aminas, que reduzem a palatabilidade; b) alto teor de ácidos, proveniente de intensa atividade fermentativa; c) e a mais aceita, a sincronização na liberação de nutrientes. Pois, como os ácidos graxos voláteis apresentam baixa energia de fermentação, e como, há uma intensa conversão do açúcar nestes produtos, há menor disponibilidade de ATP para os microrganismos ruminais para a síntese da proteína microbiana. A eficiência com a qual o nitrogênio do alimento é convertido em proteína microbiana depende da taxa de liberação da amônia e de sua assimilação. Se não há carboidrato ou lactato, quando há rápida liberação de amônia, esse produto constituirá além de uma perda de nutriente (N), perda de energia para sua excreção. Além de refletir na taxa de digestão dos constituintes da parede celular. Entretanto, pelas características fermentativas obtidas nas silagens (Tabela 6) podemos classificá-las como de ótima qualidade, segundo os parâmetros apresentados por McDonald (1981). Com isso, é pouco provável que os fatores mencionados por Van Soest (1994) tenham influenciado no consumo, mas sim, a falta de nutrientes. Como as silagens permaneceram com níveis de nitrogênio abaixo do recomendado (7% PB), é possível que o teor de PB tenha influenciado no consumo, já que, a concentração e a qualidade da proteína na dieta podem alterar tanto o mecanismo físico como o quimiostático no consumo de ruminantes. Segundo Van Soest (1994), reduções no teor de PB abaixo de 7%, ou diminuição da disponibilidade do nitrogênio, poderá reduzir a digestão da fibra e, subseqüentemente, restringir o consumo, em conseqüência da lenta passagem dos alimentos pelo rúmen. Wilkins et al. (1971) e Steen et al. (1998) observaram alta correlação entre concentração de proteína bruta e consumo. O mesmo resultado foi observado por Moreira et al. (2001) que avaliando o consumo de silagens de milho e fenos de alfafa e do capim coastcross, observaram menor consumo das silagens devido, principalmente, à concentração de PB (5,67%) mais baixa destas em comparação aos outros alimentos. Valadares et al. (1997), trabalhando com diferentes níveis de PB nas rações (7; 9,5; 12 e 14,6%), observaram redução na ingestão de alimentos pelos animais que receberam rações com 7% de PB, atribuindo tal fato ao baixo teor de PB dietética. Outro fator que pode ter interagido com os teores de PB para obtenção destes CMS pode estar relacionado às concentrações dos componentes da parede celular. Van Soest (1965) relatou que os constituintes da parede celular, os quais são representados pela parte fibrosa das forragens, podem limitar o consumo quando a proporção desses constituintes ultrapassa 55 ou 60% na MS. De modo que, apesar da redução linear dos teores de fibra (Tabela 5) com a adição do SABD, as silagens com 14% de inclusão do subproduto apresentaram teor de FDN superior à faixa preconizada por Van Soest (1965). Com isso o consumo pode ficar restringido pelo volume ocupado no rúmen pela massa fibrosa. Vale ressaltar, porém, que o maior nível de adição do SABD (14%) proporcionou incremento de, aproximadamente, 60% no CMS, quando comparamos com a silagem exclusiva de capim elefante. Desta maneira, o SABD, parece ter melhorado as características nutricionais em relação à silagem exclusiva de capim elefante. Ítavo et al. (2000) avaliando silagens de bagaço de laranja com ou sem aditivos em ovinos, observaram consumos médios de MS de 30 e 32 g/UTM; e Okamoto et al. (1988) trabalhando na ensilagem de resíduo industrial do milho verde e abacaxi, também com ovinos, observaram CMS de 22,0 a 33,8 g/UTM Estes valores se mostram inferiores aos obtidos neste trabalho, provavelmente devido aos baixos teores de MS observados, que foram de 13,97% e 20,41% de MS, respectivamente. Lousada Junior et al. (2005) fornecendo para ovinos o resíduo do abacaxi desidratado como alimento exclusivo obteve CMS de 924 g/animal/dia e 64,98 g/UTM, valores superiores aos obtidos neste trabalho. Isto pode ter ocorrido pelo fato das silagens deste experimento terem na sua constituição maior quantidade de capim elefante, o qual se encontrava com baixo valor nutricional 55 (baixo teor de proteína bruta e o alto teor de fibra). ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi (SABD) estão apresentados na Tabela 8. Consumo de Proteína Bruta (CPB) Os consumos de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) Tabela 8: Consumo de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% SABD 23,88b 0,09c 2,13b CE + 3,5% SABD 29,13ab 0,13bc 2,87b CE + 7,0% SABD 37,80ab 0,15abc 3,14ab CE + 10,5% SABD 36,37ab 0,16ab 3,44ab CE + 14% SABD 47,42a 0,20a 4,45a Médias 34,91 ± 8,48 0,14 ± 0,02 3,26 ± 0,64 CV(%) 24,31 19,13 19,83 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Houve efeito dos níveis de adição do SABD (P<0,05) no CPB g/animal/dia, %PV e g/UTM das silagens. Para o CPB analisado em g/animal/dia observou-se que os animais alimentados com as silagens com adição do SABD apresentaram consumos similares (P>0,05). Todavia, os animais que receberam as silagens com 14% do SABD apresentaram CPB superiores (P<0,05) em relação àquelas que receberam silagem exclusiva de capim elefante, mostrando variação de 23,88 a 47,42 g/animal/dia para a silagem exclusiva de capim elefante e com 14% do SABD, respectivamente. Pelo estudo de regressão verificou-se efeito linear (P<0,01) dos níveis de adição do SABD sobre o CPB das silagens, como mostra a equação abaixo: CPB (g/animal/dia) = 24,05 + 1,55x (R2 = 0,47) De modo que, para o consumo expresso em g/animal/dia foi observado incremento de 56 1,55 g no CPB a cada 1% de adição do SABD. Quando o CPB foi expresso em %PV e g/UTM, verificou-se que os animais que receberam as silagens com 14% do SABD apresentaram consumo de PB superior (P<0,05) aos animais alimentados com silagens exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SABD. Os consumos médios de PB variaram de 23,88 a 47,42 g/animal/dia, de 0,09 a 0,2 %PV e de 2,13 a 4,45 g/UTM para a silagem exclusiva de capim elefante e com 14% do SABD, respectivamente. Os resultados da análise de regressão mostraram aumentos lineares (P<0,01) nos CPB (%PV e g/UTM) decorrentes da adição do SABD na ensilagem do capim elefante. CPB (%PV) = 0,101 + 0,0069x (R2 = 0,60) CPB (g/UTM)= 2,22 + 0,149x (R2 = 0,58) Estimou-se incremento da ordem de 0,0069 pontos percentuais e 0,149 g no CPB, respectivamente quando expressos em %PV e g/UTM, para cada 1% de inclusão do SABD. O efeito linear no CPB com a inclusão do SABD é reflexo do aumento dos teores de PB e do CMS das silagens com a inclusão do SABD. As silagens com adição de 14% do SABD proporcionaram um aumento no CPB de, aproximadamente, 95% em relação a silagem exclusiva de capim elefante, o que pode justificar a utilização desses subprodutos na ensilagem do capim elefante, haja vista, que as características nutricionais das silagens foram melhoradas. Segundo Cunha e Silva (1977), o fornecimento da silagem de capim elefante como único alimento aos animais, limita o desempenho desses, indicando a necessidade de suplementos protéicos e/ou energéticos. Lousada Junior et al. (2005) ao fornecer o SABD como alimento exclusivo para ovinos registrou consumo de PB de 75,27 g/animal/dia e 5,3 g/UTM, demonstrando que o SABD apresenta maior potencial, no que se refere ao fornecimento de PB, que o capim elefante quando o mesmo for utilizado em estádio de desenvolvimento mais avançado. De modo geral, as silagens com 14% do SABD apresentaram CPB satisfatório, quando comparamos com os valores obtidos por Moreira et al. (2001) e Bezerra et al. (1993) em silagens de milho (43,12 g/animal/dia e 3,4 g/UTM) e por Reis et al. (2000) em silagens de capim elefante preparadas com 25% de resíduos do fruto do maracujá (3,12 g/UTM). Neiva te al. (No Prelo) ao avaliarem silagens de capim elefante com adição de 14% do subproduto do maracujá encontraram CPB de 66,7 g/animal/dia e 6,2 g/UTM valores superiores aos registrados nas silagens com o SABD. Porém, vale destacar, que tanto o capim elefante (6,5% PB) e o subproduto (12% PB) apresentaram teores de PB superiores. Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCE). O consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCE) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi (SABD) estão apresentados na Tabela 9. Tabela 9: Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCE) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi (SABD) FDN FDA HCEL CEL Silagens g/dia %PV g/dia %PV g/dia %PV g/dia %PV CE + 0% SABD 291,0a 1,16a 181,7a 0,72a 109,3b 0,44b 120,7a 0,48a CE + 3,5% SABD 305,2a 1,39a 187,1a 0,85a 118,1b 0,54ab 122,1a 0,56a CE + 7,0% SABD 370,3a 1,51a 216,4a 0,88a 153,8ab 0,63ab 145,8a 0,59a CE + 10,5% SABD 359,6a 1,57a 219,2a 0,95a 140,1ab 0,61ab 150,0a 0,63a CE + 14% SABD 422,2a 1,81a 246,8a 1,06a 175,4a 0,75a 164,1a 0,70a Médias 397,7 1,49 210,2 0,89 139,44 0,59 140,5 0,59 CV (%) 41,40 22,13 27,05 23,31 38,10 20,93 28,61 20,93 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Pela análise de variância a adição do SABD não afetou (P>0,05) o CFDN (g/animal/dia e %PV) que apresentaram as seguintes médias: 397,7g/animal/dia e 1,49 %PV. Já com o estudo de regressão constatou-se aumento linear no CFDN (g/animal/dia e %PV) com os níveis de adição do SABD na ensilagem do capim elefante. 57 CFDN2 (g/animal/dia)= 91101 + 5643,82x (P<0,05 e R2 = 0,21) CFDN (%PV)= 1,19 + 0,04x (P<0,01 e R2 = 0,31) Segundo Mertens (1992), o teor ideal de FDN na dieta não é fixo e varia com o requisito de energia líquida do animal. Assim, quando o volume da dieta é o fator limitante, ou seja, a dieta apresenta altos teores de FDN, o animal necessita consumir mais para atender o requerimento de energia. Thiago e Gill (1990) sugeriram que o consumo voluntário de volumosos está diretamente relacionado às taxa de digestão e de passagem no trato gastrointestinal, e elas estão mais relacionadas com o percentual de constituintes da parede celular das forrageiras (FDN), haja visto, que o conteúdo celular seria rapidamente fermentado no rúmen e assim, não ocuparia espaço por muito tempo. Portanto, a ingestão diminui quando certo volume de enchimento do rúmen é atingido, e somente reinicia, quando o enchimento é reduzido, seja pela fermentação ou pela passagem das frações indigestíveis (Raymond, 1969). Desta forma, como foi possível observar a redução nos teores de FDN nas silagens com a inclusão do SABD (Tabela 5), é possível que este fato, também tenha contribuído para o aumento do CMS das silagens. Moreira et al. (2001) trabalhando com silagens de milho e feno de alfafa observaram CFDN respectivos de 447,88 e 702,9 g/animal/dia em ovinos, dados superiores ao observado na silagem com 14% de adição do SABD Lousada Junior et al. (2005) avaliando o CFDN dos subprodutos do abacaxi, acerola, goiaba, melão e maracujá ressaltaram que, embora os subprodutos possuam semelhanças quanto a origem (subprodutos do processamento de frutos), há grande 58 variação no CFDN, sendo essas variações atribuídas à natureza da fibra, ficando evidente que o conceito preconizado pelo NRC (2001), que considera como limite de consumo de 1,4% PV de FDN, em bovinos, não pode ser aplicado para os subprodutos estudados. Para o CFDA, expresso em g/animal/dia e %PV, a análise de variância também não demonstrou efeito (P>0,05) da adição do SABD. Os valores médios observados foram 210,26 g/animal/dia e 0,89 % PV. O estudo de regressão também não mostrou influência (P>0,05) dos níveis de inclusão do SABD no CFDA, quando analisado em g/animal/dia. Para o CFDA em %PV os valores aumentaram linearmente com os níveis de adição do SABD, estimando acréscimos de 0,02 pontos percentuais no CFDA, a cada 1% de adição do SABD. CFDA (%PV)= 0,74 + 0,02x (P<0,05 e R2 = 0,22) As maiores ingestões de FDN e FDA se devem ao aumento no CMS das silagens com os níveis de inclusão do SABD, uma vez que, foi observado redução nos teores de FDN e FDA das silagens (Tabela 5). Quando o CHCEL foi expresso em g/animal/dia observou-se que os animais alimentados com as silagens com 14% do SABD tiveram consumo superior (P<0,05) aos animais que receberam a silagem exclusiva de capim elefante e a silagem com 3,5% do SABD. Os valores variaram de 109,3 (0% SABD) a 175,4 g/animal/dia (14% SABD). Já para o CHCEL expresso em %PV, registrou-se que os animais que receberam silagens com 14% de SABD apresentaram consumos superiores (P<0,05) em relação àqueles alimentados com a silagem exclusiva de capim elefante. Ao proceder o estudo de regressão, verificou-se efeito linear dos níveis de adição do SABD sobre o CHCEL (g/animal/dia e %PV). CHCEL2 (g/animal/dia) = 12846 + 1146,85x (P<0,01 e R2 = 0,34) CHCEL (%PV) = 0,45 + 0,02x (P<0,01 e R2 = 0,41) Os níveis de adição do SABD também não influenciaram (P>0,05) o CCEL (g/animal/dia e %PV). As médias observadas foram de 140,56 g/animal/dia e 0,59 %PV. detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), celulose (DCEL), energia bruta (DEB) e energia digestível (ED) Na Tabela 10 são apresentados os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), celulose (DCEL), energia bruta (EBD) e energia digestível (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD). Digestibilidade Aparente da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em Tabela 10: Coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL) energia bruta digestível (DEB) e energia digestível (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) Silagens DMS DPB DFDN DFDA DHCEL DCEL EBD ED1 CE + 0% SABD 48,2a 37,3a 54,7a 54,3a 55,3a 71,0a 50,9a 1,90a CE + 3,5% SABD 53,2a 45,1a 55,9a 57,7a 52,8a 78,4a 51,7a 1,89a CE + 7,0% SABD 52,9a 44,1a 54,0a 52,6a 55,8a 76,4a 50,9a 1,89a CE + 10,5% SABD 57,2a 40,4a 56,6a 60,9a 49,8a 87,3a 51,0a 2,04a CE + 14% SABD 54,8a 43,6a 54,7a 56,8a 51,9a 87,9a 53,3a 2,00a Médias 53,3 42,1 55,2 56,5 53,1 80,2 51,6 1,94 CV (%) 11,1 33,5 7,6 7,1 13,0 6,0 8,4 11,37 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey 1 Mcal/kg de MS Pela análise de variância e regressão não foi observada influência (P>0,05) dos níveis de adição dos SABD na ensilagem do capim elefante sobre os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (53,3%), proteína bruta (42,1%), fibra em detergente neutro (55,2%), fibra em detergente ácido (56,2%), hemicelulose (53,1%), celulose (80,2%), energia bruta (51,62%) e energia digestível da dieta (1,94 Mcal). Os baixos teores de PB e a forma como boa parte do nitrogênio se encontra ligada à fibra (NIDA) podem ter afetado de forma substancial os resultados obtidos. Dietas com baixo teor de PB atuam de forma a limitar a digestão dos nutrientes por deficiência de compostos nitrogenados para os microrganismos ruminais. Não só a concentração, mas as qualidades da proteína da dieta podem alterar tanto o mecanismo físico como o quimiostático do consumo nos ruminantes. Teor de PB da dieta abaixo de 7% ou diminuição da disponibilidade de nitrogênio, poderá reduzir a digestibilidade dos constituintes fibrosos da parede celular e, subseqüentemente, restringir o consumo, em conseqüência da lenta passagem dos alimentos pelo rúmen (Van Soest, 1994). Os teores de lignina encontrados nas silagens, também podem constituir importante componente redutor da 59 digestibilidade, já que seu teor na parede celular está altamente correlacionado com a digestibilidade da celulose e hemicelulose (Van Soest, 1994). registraram aumento linear na DMS e DPB com adição do subproduto, obtendo valores 53,6 e 51,3%, respectivamente, com adição de 14% do subproduto do maracujá. Contudo, somente as silagens exclusivas de capim elefante apresentaram DMS inferior a 50%, considerado índice mínimo satisfatório para que não haja prejuízos para o desempenho animal (Milford e Minson, 1966). É importante destacar, na avaliação da DPB, que além do material não digerido da dieta, as fezes contêm ainda, membranas celulares das bactérias ruminais não digeridas, células microbianas procedentes do ceco e intestino grosso, resíduo de muitas substâncias endógenas incluindo enzimas digestivas, mucos e outras secreções, e células epitéliais desprendidas da parede do trato digestivo do rúmen. Essas podem mascarar o valor do nitrogênio não digerido de origem dietética e com isso subestimar o valor da DPB. Além disso, quanto maior a quantidade de alimentos de difícil digestão, maior será a proporção desse nitrogênio de origem metabólica e endógena nas fezes (Church, 1993). Maso e Frederiksen (1979) citado por Church (1993) observaram que cerca de 86% do nitrogênio total contido nas fezes era de origem microbiana e endógena. Vale destacar, os altos valores de DCEL obtidos nas silagens que podem favorecer a ingestão de energia digestível. Lousada Junior et al. (2005) avaliando os subprodutos da agroindústria do abacaxi observaram DMS, DPB, DFDN e DFDA de 47,5; 29,0; 50,8 e 51,0%, respectivamente. Segundo os autores, as reduzidas digestibilidades dos componentes nutricionais deveram-se ao baixo nível de PB (8,4%), podendo ter comprometido a digestão pela deficiência de compostos nitrogenados para os microrganismos ruminais. Pelos valores relatados por Lousada Junior et al. (2005), os dados obtidos são justificáveis, uma vez que os valores para digestibilidade dos nutrientes no SABD são próximos aos observados na silagem de capim elefante exclusivo. Lallo et al. (2002a) avaliando níveis de substituição (0; 20; 40, 60%) da silagem de milho pela silagem do resíduo industrial do abacaxi em rações de bovinos confinados, observaram decréscimo linear na DMS e DPB. Trabalhando com níveis de adição do subproduto do maracujá na ensilagem do capim elefante, ao contrário do observado neste trabalho, Neiva et al. (No Prelo) 60 Rodrigues e Peixoto (1990a e 1990b) avaliando o subproduto do abacaxi in natura e a silagem do subproduto do abacaxi, obtiveram DFDA de 73,61 e 81,32%, respectivamente, valores superiores aos registrados nas silagens com inclusão do SABD. Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED) Na Tabela 11 são apresentados os valores de ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD). Tabela 11: Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED), expresso em g/animal/dia, de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) Silagens IMSD IPBD IFDND IED CE + 0% SABD 192,17b 8,54b 159,35a 0,73b CE + 3,5% SABD 224,97b 10,71ab 170,54a 0,80b CE + 7,0% SABD 279,66ab 13,90ab 197,66a 0,99ab CE + 10,5% SABD 278,54ab 14,54ab 203,26a 0,99ab CE + 14% SABD 346,03a 17,18a 231,20a 1,26a Médias 264,27 12,97 192,4 0,95 CV (%) 31,91 26,92 25,71 34,95 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Para os valores de IMSD, IPBD e IED observou-se que as silagens com 14% do SABD apresentaram valores superiores a silagem exclusiva de capim elefante. Pelo estudo de regressão foi possível observar efeito linear dos níveis de adição do SABD sobre os nutrientes digestíveis das silagens, como mostra as equações abaixo: IMSD2 = 39828 + 5171,86x (P<0,01; R2 = 0,56) IPBD = 8,87 + 0,60x (P<0,05; R2 = 0,42) IFDN = 157,9 + 5,07x (P<0,05; R2 = 0,21) IED = 0,53 + 0,06x (P<0,01; R2 = 0,48) Balanço de Nitrogênio (BN) Os valores médios do balanço de nitrogênio para o capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do abacaxi desidratado (SABD) constam na Tabela 12. Tabela 12: Nitrogênio ingerido, nitrogênio excretado nas fezes e na urina, e balanço de nitrogênio (BN) em ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) N ingerido N excretado nas N excretado na BN BN Silagens (g/dia) fezes (g/dia) urina (g/dia) (g/dia) (% N ingerido) CE + 0% SABD 3,28 2,01 1,98 -0,61a -44,69a CE + 3,5% SABD 4,07 2,35 1,70 0,02a 0,49a CE + 7,0% SABD 5,33 3,10 1,70 0,52a 9,9a CE + 10,5% SABD 5,14 2,81 1,62 0,71a 13,8a CE + 14% SABD 6,59 3,84 2,16 0,59a 8,95a Médias 0,24 -2,31 CV (%) 2,98 -17,85 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Através da análise de variância e do estudo de regressão não se observou efeito (P>0,05) dos níveis de adição do SABD sobre o balanço de nitrogênio, sendo os valores médios observados de 0,24 g/dia e de – 2,31%. Contudo, ressalta-se que os animais que consumiram as silagens com 7,0; 10,5 e 14% do SABD apresentaram balanço de nitrogênio positivo. Este pode ser decorrente do aumento linear nos teores de IPBD e IED nas silagens com a adição do SABD (Tabela 61 11), permitindo maior eficiência no aproveitamento do nitrogênio pelas bactérias ruminais (Silva e Leão, 1979; Van Soest, 1994). Desta forma, as silagens conseguiram suprir o requerimento de nitrogênio dos animais, fato, que pode ser comprovado pelo ganho de peso médio de 28, 65 e 81g/dia para as respectivas silagens, ao contrário, das silagens de capim elefante e com 3,5% do SABD, no qual, observou-se perda média de 71 e de 26 g/dia de peso vivo, respectivamente. Apesar do balanço de nitrogênio positivo nas silagens com 7,0; 10,5 e 14%, os valores foram baixos. Assim é possível que esses resultados sejam conseqüência dos baixos teores de N e do baixo consumo de N e de MS das silagens. Os resultados concordam com Reis et al. (2000) que trabalhando com níveis crescentes do subproduto do maracujá na ensilagem do capim elefante obtiveram maior retenção de N nos ovinos que receberam as silagens com maior teor de energia. Lousada Junior et al. (2005) também relacionou a maior retenção de N nos subprodutos da goiaba (4,98 g/dia), maracujá (4,29 g/dia) e melão (5,81 g/dia) aos teores de EB dos subprodutos. Para o SABD obtiveram retenção de N positivo (1,43 g/dia), porém, com valores mais baixos que os outros subprodutos. Um fato que deve ser lembrado na avaliação do balanço de nitrogênio nas silagens é que durante o processo de fermentação, a proteína da forragem é hidrolizada por 62 enzimas proteolíticas endógenas e microrganismos. Este fato, leva ao aumento da fração nitrogenada não protéica (NNP), que pode não ser adequadamente utilizada, devido à rápida solubilização e a falta de sincronização com a liberação de energia, uma vez que, os carboidratos solúveis são transformados em ácidos orgânicos de baixa energia de fermentação e os carboidratos estruturais são de lenta degradação. Desta maneira, como a eficiência com que o N do alimento é convertido em proteína microbiana depende da taxa de liberação de amônia e de sua assimilação, se a liberação for muito rápida, grande parte do N será absorvida, convertida em uréia e podendo ser excretada na urina. Além disso, ocorrerá redução na formação de aminoácidos essenciais, provenientes das bactérias ruminais (McDonald, 1981; Van Soest, 1994). Pórem acredita-se que nas silagens com adição do SABD este fato não ocorreu, possivelmente pela maior eficiência de reciclagem do nitrogênio destas silagens (Van Soest, 1994) 4.4. CONCLUSÃO Conclui-se, que o subproduto do abacaxi desidratado melhora o valor nutritivo das silagens, possibilitando maiores consumos de matéria seca digestível, proteína digestível e energia digestível quando ensilado com o capim elefante. CAPÍTULO V - DEGRADABILIDADE IN SITU DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO ABACAXI RESUMO Avaliaram-se a degradabilidade in situ da matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), e hemicelulose (HCEL) das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com níveis (0; 3,5; 7; 10,5 e 14%) crescentes do subproduto do abacaxi (Ananas comosus, L.) desidratado (SABD). Foi utilizado um bovino adulto macho em delineamento inteiramente casualizado com parcelas subdivididas, sendo as proporções de SABD os tratamentos (parcelas), os diferentes silos as repetições e os tempos de incubação as subparcelas. Os níveis de inclusão do SABD proporcionaram aumento (P<0,05) no desaparecimento da MS, PB e nas degradabilidades efetivas da MS, FDN, FDA e HCEL. O subproduto do abacaxi desidratado constitui alternativa potencial para ser utilizado como aditivo na ensilagem do capim elefante, haja vista promover incremento nos parâmetros de degradabilidade ruminal. 5.1. INTRODUÇÃO A manipulação da proporção que nutrientes específicos tornam-se disponíveis aos microrganismos do rúmen e a quantidade que escapa da fermentação ruminal tem elucidado o efeito no desempenho animal. A fim de estabelecer às quantidades e relações dos nutrientes necessários para uma ótima resposta microbiana e animal deve-se, em primeiro lugar, predizer adequadamente a quantidade com que os nutrientes, de várias fontes de alimentos, tornam-se disponíveis no rúmen (Nocek, 1997). Um método acurado, simples e rápido para mensuração da qualidade ou digestibilidade da forragem é de suma importância para técnicos ligados a produção animal. A técnica in situ é considerada como a mais apropriada para a determinação da degradabilidade ruminal dos alimentos, já que o material a ser analisado é exposto às condições normalmente encontradas no rúmen (Ørskov e McDonald, 1979). Desta forma, pode-se avaliar a qualidade dos alimentos por meio da determinação da quantidade de amostra que é digerida e a taxa pela qual essa digestão ocorre (Thiago, 1994). No entanto, esta técnica possui algumas limitações. Por estar confinado a sacos, o material não está sujeito ao processo ruminal total, ou seja, de mastigação, ruminação e passagem. Além disso, o desaparecimento do material durante o tempo de incubação não significa, necessariamente, que houve degradação completa, microbiológica ou química. Parte do material pode deixar o saco por ser suficientemente pequeno para passar através dos poros, por ser solúvel ou por ter sido reduzido pelo processo biológico, mas ainda não tendo sido degradado quimicamente (Nocek, 1997). Dessa forma, o que é realmente medido é a porcentagem de desaparecimento do material e não a degradação real em si (Sampaio, 1994). Os alimentos com respeito à disponibilidade ruminal podem ser descritos em três frações, solúvel, degradável e não degradável. Essas frações são referidas freqüentemente, como A, B e C, respectivamente. O procedimento in situ pode ser utilizado para quantificar essas diferentes frações, bem como a taxa de digestão de B. Contudo, a técnica não pode ser utilizada para quantificar a taxa com que A é degradada. Tem sido demonstrado que uma porção do alimento escapa do saco antes da incubação ruminal. Isso varia com o alimento, a porosidade do saco e tamanho da partícula da amostra. Geralmente, materiais longos e grosseiros estão associados com 63 menores taxas de digestão e maior variação. Contudo, materiais finamente moídos estão sujeitos a maiores perdas mecânicas dos sacos, resultando algumas vezes em taxas de digestão rápidas e irreais, apesar da variação ser mais controlada. A moagem também modifica as taxas com as quais o nitrogênio e a matéria seca são digeridos. Moendo as forragens, aumenta-se a área superficial por unidade de peso da amostra e a taxa acessível para o ataque microbiano. Isso resulta, geralmente, no aumento da taxa de digestão (Nocek, 1997). Sendo assim, o conhecimento de como ocorre e quão eficiente é a degradação dos alimentos pelos microrganismos ruminais é de extrema importância em estudos de avaliação de alimentos para ruminantes. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar degradabilidade in situ das silagens de capim elefante com níveis crescentes de adição do subproduto desidratado do abacaxi. de cloreto de potássio. A gramínea foi cortada e picada com, aproximadamente, 70 dias idade, sendo então ensilada com diferentes proporções de subproduto desidratado do abacaxi. Tal subproduto foi originado do processamento dos abacaxis utilizados na fabricação de sucos, da empresa MAISA em Mossoró (RN). Para a desidratação do subproduto, o mesmo foi exposto em área cimentada por, aproximadamente, 48 horas. Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse uma densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SABD, o material foi compactado no interior do silo, durante o carregamento. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. As composições químico-bromatológicas do capim elefante e do subproduto do abacaxi desidratado, antes da ensilagem, encontramse na Tabela 1, do Capítulo III. 5.2. MATERIAL E MÉTODOS O estudo in situ foi conduzido na Escola de Veterinária da UFMG utilizando-se um novilho fistulado no rúmen (Tomich e Sampaio, 2004) e alimentado com silagem de milho, fornecida às 7 e 16h, suplementada com 1 kg de concentrado ao dia. Avaliou-se a degradabilidade ruminal de silagens do capim elefante ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14%). O capim elefante utilizado foi proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú (FEVC), em Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC). Após o corte de uniformização, a área recebeu adubação em cobertura: 50 kg/ha de N na forma de uréia e 40 kg/ha de K2O na forma 64 Após 45 dias de ensilagem os silos foram abertos, e coletadas amostras das silagens para realização do ensaio de degradabilidade. As amostras foram présecas em estufa de ventilação forçada a 60o C, por 72 horas, processadas em moinho tipo faca com peneira de 5 mm de crivo e homogeneizadas para incubação posterior. Os dados referentes às composições químico-bromatológicas do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) estão apresentados na Tabela 2, do Capítulo IV. Os alimentos foram incubados em sacos de náilon (50 micras) de 9 x 20 cm, com 10 g do material pré-seco. Os sacos foram introduzidos no rúmen às 8 horas e retirados em ordem seqüencial, nos tempos de 6, 24, 48 e 96 horas, sendo então lavados manualmente em água corrente. Para determinação do tempo zero (t = 0), utilizouse três bolsas de náilon por tratamento com a mesma quantidade de amostra utilizada para os demais horários de incubação, foram fechados e lavados manualmente da mesma forma que nos outros horários. Em seguida, os mesmos foram secos em estufa ventilada regulada a 60oC, pesados e as amostras analisadas para determinação matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e hemicelulose (HCEL), segundo metodologias descritas pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). tempos de incubação com um animal. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com parcelas subdivididas, sendo as proporções de SABD os tratamentos (parcelas), os diferentes silos as repetições, e os tempos de incubação as subparcelas. A comparação das médias e os coeficientes do modelo proposto por Ørskov e McDonald (1979) foram determinados utilizando-se o programa “Statistic Analysis System” (SAS, 1990). Após a determinação dos parâmetros do modelo, estimou-se a degradabilidade efetiva adotando-se as taxas de passagem no rúmen de 2, 5 e 8%/h (McDonald, 1981). 5.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise de variância Total Tratamentos Repetições Erro a Total Subparcelas Tempo Tempo x Tratamento Erro B 14 4 2 8 74 4 16 54 O desaparecimento médio da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal são mostrados na Tabela 13 Trabalhou-se com cinco níveis de adição do subproduto, com três repetições e cinco Tabela 13: Desaparecimento médio (%) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SABD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 19,43cE 19,65cE 21,59bE 24,01aE 23,05aE 6 22,59dD 24,69cD 28,31bD 30,41aD 30,70aD 24 34,18dC 37,60cC 42,93bC 42,04bC 44,94aC 48 45,45cB 45,73cB 49,69bB 50,39bB 54,11aB 96 61,04bcA 59,78cA 62,62bA 64,56aA 64,65aA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Verificou-se efeito (P<0,05) do tempo de incubação e da adição do SABD na ensilagem do capim elefante no desaparecimento da MS. As frações solúveis variaram de 19,4 a 24,0% para os diversos tratamentos. Tais valores são bastante elevados para alimentos fibrosos pobres em carboidratos solúveis, principalmente pelo fato de boa parte desses compostos ser consumida durante o processo de ensilagem. Portanto, aqueles valores parecem resultar 65 da perda de partículas pelos poros dos sacos de náilon no momento da lavagem. Trabalhando com silagens de sorgo, Molina et al. (2003) encontraram valores médios de solubilização de 23,0%, próximos aos encontrados neste trabalho, enquanto Rabelo (1997) registrou valores de 30,7% para o desaparecimento da matéria seca também em silagens de sorgo. Os autores sugeriram que os altos valores encontrados foram relacionados à perda de material pelos poros dos sacos de incubação. Quanto ao efeito do período de incubação, notou-se que todas as silagens apresentaram valores crescentes para o desaparecimento da matéria seca até 96 horas (P<0,05). Em todos os tempos estudados as silagens com 14% do SABD apresentaram valores de degradabilidade da MS superiores (P<0,05) aos observados na silagem exclusiva de capim elefante e com adição de 3,5; 7,0% do SABD. Durante o intervalo de 6 a 48 horas de incubação, os valores de desaparecimento da MS foram, aproximadamente, 10 pontos percentuais maiores para silagens com 14% do SABD em comparação às silagens exclusivas de capim elefante, sendo que os valores das silagens tendem a se igualar com 96 horas. Acredita-se que nesse horário as silagens já tenham alcançado o máximo de desaparecimento da MS. Sampaio (1994) preconizou 96 horas para estudos de avaliação ruminal in situ de volumosos, por considerar que até nesse tempo de incubação é possível detectar mudanças da degradabilidade do material. Os maiores valores de desaparecimento da MS observados durante o período de 6 e 48 horas nas silagens com 14% do SABD 66 devem estar relacionados ao aumento da quantidade de material solúvel nas silagens, uma vez que, foram registradas reduções nos teores de FDN, FDA, CEL e LIG com a adição do SABD (Tabela 5). Essa diferença nas frações fibrosas pode influenciar o consumo animal, pois o enchimento ruminal é um fator limitante na ingestão de alimentos, sendo esse correlacionado negativamente com a FDN (Van Soest, 1994). Ao contrário do registrado neste trabalho, onde destacam-se maiores valores de desaparecimento da MS das silagens com aumento dos níveis de adição do SABD, Rogério (2005) observou que somente no período de incubação de 6 horas o subproduto do abacaxi (34,64%) apresentou maiores valores de desaparecimento da MS em comparação ao capim elefante (30,27%), estabilizando-se nos tempos de 12 e 24 horas, enquanto o capim elefante mostrou valores crescentes até 96 horas. Contudo, no tempo de 96 horas, os dois alimentos apresentaram as maiores taxas de desaparecimento da MS: 59,28 e 68,79%, respectivamente. Este comportamento está relacionado com as melhores características nutricionais do capim elefante avaliado em relação ao subproduto do abacaxi. Já neste trabalho o SABD apresentou melhor valor nutricional, ou seja, menor fração dos componentes da fração da parede celular, que o capim elefante (Tabela 4). Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) estão apresentados na Tabela 14. Tabela 14: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SABD 18,73 52,00 1,57 41,6 31,2 27,3 0,99 CE + 3,5% SABD 20,03 49,56 1,65 42,4 32,3 28,5 0,99 CE + 7,0% SABD 22,31 44,64 2,27 46,0 36,2 32,2 0,99 CE + 10,5% SABD 24,97 49,77 1,61 47,2 37,1 33,3 0,99 CE + 14% SABD 23,66 44,14 2,62 48,7 38,8 34,5 0,99 Para os parâmetros de degradação ruminal observou-se que com aumento dos níveis de adição do capim elefante pelo SABD houve tendência de aumento da fração prontamente degradável (a) e da taxa de degradação da fração b (c) ou lentamente degradada. Os valores da fração a variaram de 18,73 a 24,97% para as silagens exclusiva de capim elefante e com adição de 10,5% do SABD, respectivamente. Enquanto as taxas de degradação da fração b (c) variaram de 1,57 a 2,62%/h para as silagens exclusiva de capim elefante e com 14% do SABD, respectivamente. As degradabilidades efetivas da MS também elevaram-se com os níveis de substituição do capim elefante pelo SABD. O aumento pode ser justificado pela redução dos componentes da parede celular com a adição do SABD (Tabela 5). Esses resultados demonstram que frente a qualidade do capim elefante utilizado na confecção das silagens, o SABD parece ter melhorado a disponibilidade de nutrientes à microbiota ruminal. Manoel et al. (2003) avaliando a degradabilidade da MS dos resíduos de polpa de frutas, observaram para o subproduto do abacaxi valores de 20,8% para a fração a, taxas de degradação (c) de 5%/h e valores de degradabilidade efetiva de 49,2% para taxa de 5%/h. Enquanto, Casali et al. (2004) avaliando a degradabilidade das silagens de capim elefante encontraram valores para a de 14,73% e para c de 2,74%/h e valores de degradabilidade efetiva de 32,37% para taxa de passagem de 5%/h, valores próximos aos registrados nas silagens exclusivas de capim elefante. Trabalhando com a silagem do subproduto do abacaxi, Lallo et al. (2003a) encontraram valores médios de 28,8% e 49,4%, respectivamente para os parâmetros a e b,e 4,2%/h para a taxa de degradação de b (c) da MS. A degradabilidade efetiva foi de 62,3; 51,4 e 45,9% para as taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h, respectivamente. Contudo, quando avaliaram a substituição de silagens de milho (0, 20, 40 e 60%) pelas silagens de resíduos industriais de abacaxi observaram redução da fração a e aumento da fração b. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do abacaxi desidratado (SABD) estão apresentados na Tabela 15. 67 Tabela 15: Desaparecimento médio (%) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SABD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 16,10cE 18,10bcE 20,56abE 22,20aE 21,16aE 6 24,44cD 27,25bD 28,68bD 29,17bD 32,00aD 24 38,98dC 40,23cdC 42,76bcC 45,05abC 46,90aC 48 44,45dB 52,38cB 53,31bcB 55,45abB 57,19aB 96 68,76dA 65,16dA 71,58bA 71,80bA 75,91aA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Na determinação do desaparecimento da PB verificou-se que tanto o tempo de incubação, como os níveis de adição do SABD na ensilagem do capim elefante interferiram no desaparecimento da PB. Os valores foram sempre crescentes para todos os níveis de adição do SABD. Quanto à influência do nível de inclusão do subproduto no desaparecimento da PB, no tempo zero (0) a silagem contendo 7,0; 10,5 e 14% do SABD apresentou valor de desaparecimento superior (P<0,05) em relação a silagem exclusiva de capim elefante. Tal resposta deve estar relacionada com o aumento nos teores de PB das silagens com a inclusão do subproduto (Tabela 5). No horário de 96 horas a silagem exclusiva de capim elefante mostrou valor de desaparecimento da PB similar (P<0,05) ao observado na silagem com 3,5% do SABD, todavia, inferior (P<0,05) ao obtido nas silagens com 7,0; 10,5 e 14% do SABD. Avaliando o subproduto do abacaxi Rogério (2005) citou que o desaparecimento da PB do subproduto aumentou 13,58% das seis às 12 horas de incubação, teve menor 68 degradação às 24 horas, quando então voltou a aumentar 14,82% nas 48 horas, e daí então apresentou o maior desaparecimento no tempo de 96 horas (73,11%). Ao comparar com o capim elefante, o autor registrou que os valores de desaparecimento da PB foram sempre crescentes, e maiores que do subproduto do abacaxi. Esses resultados diferem do comportamento encontrado nesse trabalho, no qual verificou-se maiores taxas de desaparecimento da PB das silagens com a substituição do capim elefante pelo SABD. Tal resposta pode ser atribuído ao maior teor de PB e menor concentração de NIDA do SABD, em relação ao capim elefante. Já Rogério (2005) como mencionado anteriormente, trabalhou com o capim elefante de melhor valor nutricional, o que justifica as maiores taxas de desaparecimento dessa gramínea em relação ao subproduto do abacaxi. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) estão apresentados na Tabela 16. Tabela 16: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SABD 17,89 64,00 1,42 44,5 32,0 27,5 0,97 CE + 3,5% SABD 19,28 52,20 2,16 46,4 35,0 30,4 0,97 CE + 7,0% SABD 21,88 64,24 1,51 49,5 36,8 32,1 0,97 CE + 10,5% SABD 22,81 58,82 1,82 50,8 38,5 33,7 0,98 CE + 14% SABD 23,30 62,80 1,80 53,0 39,9 34,8 0,98 da fração solúvel e das taxas de degradação de b (c). As variabilidades nos valores a, b e c da PB das silagens podem ser creditadas às O desaparecimento médio da fibra em características do material ensilado detergente neutro (FDN) do capim elefante (composição química) e à qualidade de (CE) ensilado com níveis crescentes de fermentação da forragem no silo. subproduto do abacaxi desidratado (SABD) Para as degradabilidades efetivas, as no tempo zero e nos diferentes horários de silagens com inclusão do SABD incubação ruminal são mostrados na Tabela apresentaram valores sempre maiores que a 17. silagem exclusiva de capim elefante, como resultado mais provável dos maiores valores Tabela 17: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SABD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 3,87bC 7,56aD 6,67aD 6,52aD 6,09aD 6 3,08bC 7,58aD 7,75aD 5,97aD 6,25aD 24 18,48cB 18,62cC 23,90aC 21,57bC 23,67abC 48 18,48dB 29,41cB 32,41bB 32,24bB 35,30aB 96 53,37aA 49,50bA 50,40bA 51,03bA 49,73bA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey As silagens com 3,5; 7,0; 10,5 e 14% tiveram valores semelhantes (P>0,05) para a fração solúvel do alimento, mais apresentaram valores superiores (P<0,05) as silagens exclusivas de capim elefante. Os valores encontrados nas silagens com adição do SABD (6,09 a 7,56%) podem ser considerados altos, uma vez que a fração fibrosa é predominantemente insolúvel, tal fato pode ser explicado pela maior passagem de material pelos poros dos sacos no momento da lavagem. Com relação aos níveis de adição do SABD sobre o desaparecimento da FDN em cada tempo de incubação, observou-se que silagens com 14% do SABD registraram valores de desaparecimento da FDN superiores (P<0,05) as silagens exclusivas de capim elefante, com exceção do período de incubação de 96 horas, no qual as silagens exclusivas de capim elefante mostraram valores superiores (P<0,05) as silagens com 3,5, 7,0, 10,5 e 14% do SABD. 69 É provável que o melhor valor nutritivo, proporcionado pelo aumento do teor de PB com a adição do SABD tenha favorecido o desaparecimento da porção fibrosa destas silagens, em relação às silagens exclusivas de capim elefante (Tabela 5). Segundo Czerkawski (1986), há uma estreita relação entre bactérias proteolíticas e celulolíticas, e tal sinergismo poderia estar agindo nas silagens com maior teor do SABD (14%), desta forma houve melhor aproveitamento da FDN em função desta. Contudo, só após às 24 horas de incubação foi possível observar o aumento no desaparecimento da FDN das silagens, que pode ser atribuído a qualidade da fibra. Rogério (2005) observou que o subproduto do abacaxi tardou a mostrar diferença na degradação da FDN, em função do tempo de incubação, e nos períodos de 48 e 96 horas (35,75 e 47,55%) os valores de desaparecimento se mostraram inferiores aos encontrados para o capim elefante (46,60 e 61,63%). Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) estão apresentados na Tabela 18. Tabela 18: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SABD 4,50 61,50 1,06 25,8 15,3 11,7 0,89 CE + 3,5% SABD 5,24 61,50 1,16 27,8 16,8 13,0 0,97 CE + 7,0% SABD 5,42 61,50 1,31 29,8 18,2 14,1 0,98 CE + 10,5% SABD 4,50 61,50 1,34 29,2 17,5 13,3 0,99 CE + 14% SABD 4,50 58,89 1,53 30,0 18,3 14,0 0,97 Tabela 17. Tais restrições foram impostas aos parâmetros “a” e “b”, sendo os limites Para os parâmetros de degradação ruminal retirados das tabelas de desaparecimento. observou-se que a fração solúvel (a) não obteve grandes variações, os valores Os aumentos observados nas variaram de 4,50 observados nas silagens degradabilidade efetiva das silagens, assim exclusivas de capim elefante e com 10,5 e como, nas taxas de degradação de b (c) 14% de SABD à 5,42% nas silagens com podem ser justificados pela redução nos 7,0% do SABD. As taxas de degradação da componentes da fração fibrosa (Tabela 5). fração b (c) variaram de 1,06 a 1,53%/h para Neste tipo de controle, a taxa com que a as silagens exclusiva de capim elefante e digesta deixa o rúmen representa fator com 14% do SABD, respectivamente. importante na regulação da ingestão diária. Entretanto, evidencia-se que parte dos A extensão e a taxa de degradação do tecido valores obtidos foram limitados pelas vegetal, influenciam diretamente a taxa de restrições máximas impostas durante o passagem pelo trato digestivo (Owens e processo de modelagem. Isso demonstra Goetsch, 1988). inadequação parcial do modelo aos dados obtidos, pois caso os limites não fossem O desaparecimento médio da fibra em impostos, os valores de “c” tenderam a zero, detergente ácido (FDA) do capim elefante o que não é possível como demonstrado na 70 (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e nos diferentes horários de incubação ruminal são mostrados na Tabela 19. Tabela 19: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SABD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 5,40cD 6,74bcD 6,96bcD 11,87aE 9,04bD 6 6,76cD 7,70bcD 8,90bcD 17,02aD 9,99bD 24 20,31cC 22,89cC 26,99bC 27,33bC 31,28aC 48 31,56cB 33,40cB 36,69bB 39,48aB 40,47aB 96 50,14cA 51,82b A 52,96bA 56,72aA 54,26abA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Os valores de desaparecimento da FDA seguiram a mesma tendência observada para o desaparecimento da FDN, ou seja, somente a partir das 24 horas de incubação houve o incremento no desaparecimento da FDA. O aumento no desaparecimento da FDA observado com a inclusão do SABD deve estar relacionado com a redução dos teores de lignina com a adição do subproduto, como mostrado na Tabela . A elevação na proporção deste componente na fração fibrosa aumenta a resistência à hidrólise pelos microrganismos ruminais, e a quantidade deste componente na matriz determina a habilidade protetora desta contra a degradação da celulose. Rogério (2005) também observou elevação no desaparecimento da FDA do subproduto do abacaxi somente a partir das 24 horas de incubação, finalizando o desaparecimento às 96 horas com valores de 45,1 e 61,7% para o subproduto do abacaxi e capim elefante, respectivamente. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) estão apresentados na Tabela 20. Tabela 20: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SABD 4,50 61,50 1,29 28,6 17,1 13,0 0,99 CE + 3,5% SABD 5,11 61,50 1,38 30,2 18,4 14,1 0,98 CE + 7,0% SABD 5,77 59,77 1,61 32,4 20,3 15,8 0,97 CE + 10,5% SABD 11,93 61,50 1,29 36,0 24,5 20,4 0,99 CE + 14% SABD 7,05 53,97 2,14 34,9 23,2 18,4 0,96 Os valores da degradabilidade efetiva não alteraram de forma significativa com a adição do SABD. O mesmo comportamento foi observado no ensaio de digestibilidade aparente (Tabela 10). Menor degradabilidade efetiva do FDA no 71 subproduto do abacaxi em relação ao capim elefante foi relatado por Rogério (2005) que atribuiu o fato ás menores taxa de degradação (c) (1,1%/h) e fração solúvel (8,5%) do subproduto do abacaxi em relação ao capim elefante (2,1%/h e 20,1%). O desaparecimento médio da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal são mostrados na Tabela 21. Tabela 21: Desaparecimento médio (%) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SABD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 24,95cE 32,40bD 40,89aC 41,64aC 45,25aD 6 29,54dD 30,91dD 37,51cC 42,23bC 50,58aC 24 33,67cC 43,34bC 61,00aB 53,43aB 59,00aB 48 46,72cB 50,53bcB 55,76abB 57,81aB 53,86abB 96 59,46bA 65,11abA 68,10aA 69,14aA 71,61aA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Verificou-se que tanto o tempo de incubação, como os níveis de adição do SABD na ensilagem do capim elefante interferiram no desaparecimento da HCEL. Para todos os tempos de incubação as silagens com 14% do SABD apresentaram valores de desaparecimento da HCEL sempre superiores (P<0,05) em relação ao observado na silagem exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SABD. Apesar dos maiores valores de HCEL no subproduto (36,62%) em relação ao capim elefante (24,85%), verificou-se que os teores de HCEL foram decrescentes com a inclusão do SABD (Tabela 5), fato este decorrente da utilização desse componentes pelas bactérias láticas no silo (McDonald, 1981). Faz-se o interessante ressaltar que mesmo com a redução na concentração da HCEL nas silagens com a adição do SABD, a HCEL residual parece estar mais disponível ou acessível aos microrganismos ruminais que a HCEL da silagem exclusiva de capim 72 elefante. Presumivelmente, pela redução da concentração de lignina nas silagens (Tabela 5), já que a lignina é mais firmemente ligada à hemicelulose (Van Soest, 1994). Desta maneira, parece que o aumento no nível de adição do SABD pode ter favorecido a maior disponibilidade deste componente à microbiota ruminal. Rogério (2005) observou equivalência nos valores de desaparecimento da HCEL no subproduto do abacaxi nos tempos de 6, 24 e 48 horas de incubação. Porém, neste período os valores foram superiores aos encontrados no capim elefante. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do abacaxi desidratado (SABD) estão apresentados na Tabela 22. Tabela 22: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da hemicelulose (HCEL) de capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do abacaxi desidratado (SABD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SABD 29,00 39,50 1,21 43,9 36,7 34,2 0,97 CE + 3,5% SABD 30,36 39,50 1,68 48,4 40,3 37,2 0,89 CE + 7,0% SABD 38,32 29,64 3,10 56,3 49,7 46,6 0,61 CE + 10,5% SABD 40,95 39,18 1,30 56,4 49,0 46,4 0,96 CE + 14% SABD 45,00 39,50 1,01 58,3 51,7 49,4 0,60 (0,81%), da mesma maneira, para a degradabilidade efetiva. A fração solúvel aumentou substancialmente, favorecendo o aumento da degradabilidade efetiva das silagens com 5.4. CONCLUSÃO adição do SABD, condizendo com Rogério O subproduto do abacaxi desidratado (2005) que reportou índices superiores da constitui alternativa potencial para ser utilizado como aditivo na ensilagem do fração solúvel do subproduto do abacaxi capim elefante, haja vista promover (24,34%), em relação ao capim elefante incremento nos parâmetros de degradabilidade ruminal. 73 CAPÍTULO VI – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DA ACEROLA RESUMO O trabalho foi conduzido com o objetivo de se avaliar o valor nutritivo das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com adição de 0; 3,5; 7; 10,5 e 14% do subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn) desidratada (subproduto da agroindústria da acerola). Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Após 50 dias, os silos foram abertos e coletadas amostras para determinação dos teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), energia bruta (EB), cinzas, nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). Foram analisados também o pH, nitrogênio amoniacal como percentagem do nitrogênio total (N-NH3/NT) e ácidos orgânicos (ácido lático, acético, butírico e propiônico) das silagens. A adição do subproduto da acerola desidratada (SACD) aumentou (P<0,05) os teores de MS de 19,7 para 30,8%, PB de 5,4 para 10,0%, FDA de 44,4 para 53,6%, LIG de 13,0 para 23,8% e NIDA de 11,8 para 22,0% para as silagens exclusivas de capim elefante e com 14% do SACD. Para os teores de N-NH3 e ácidos láticos observou-se diminuição (P<0,05) com adição do subproduto, enquanto, os valores de pH e teores de ácidos acético, propiônico e butírico não foram influenciados pelos níveis de adição do SACD. Conclui-se que o SACD proporcionou melhor conservação da massa ensilada. Porém, o aumento nos componentes da parede celular e do NIDA podem comprometer o valor nutricional da silagem de capim elefante. 6.1. INTRODUÇÃO A produção forrageira, na maior parte dos trópicos, tem caráter sazonal. Cerca de 80% do total de forragem produzida ocorre no período das águas, ficando os rebanhos sujeitos à escassez de alimentos no período seco. O capim elefante é a forrageira mais utilizada para a produção de volumosos destinados a suplementar o pasto durante esse período (Faria et al., 1995/96). Contudo, 80 a 90% da sua produção ocorre no verão, quando a forragem disponível nas pastagens pode ser maior que a demanda para alimentação do rebanho. A ensilagem do capim excedente das capineiras apresenta-se como alternativa para maximizar o aproveitamento dessa forrageira, proporcionando regularização da oferta de volumoso durante o ano. O capim elefante adapta-se a vários tipos de solo e clima, sendo cultivado em quase todo Brasil (Mozzer e Vilela, 1980). Apresenta elevada produção, podendo atingir mais de 74 300 ton/hectare/ano. Quando novo, apresenta bom valor nutritivo, porém, nessa fase possui elevado teor de umidade (75 a 80%), baixa concentração de carboidratos solúveis e alto poder tampão (Lavezzo, 1994), o que comprometeria a qualidade da silagem, que teria elevados teores de ácido butírico, bases voláteis e amônia (McDonald, 1981). McCullough (1977) relatou que para que ocorra boa fermentação no silo, a forrageira deve apresentar conteúdo de matéria seca entre 28 e 34%. A adição de produtos ricos em carboidratos solúveis ou com elevado teor de matéria seca podem promover condições que favoreçam a fermentação lática. Os subprodutos originados do processamento de frutas na agroindústria para fabricação de sucos, polpas, doces, geléias, etc., podem assumir importante papel na confecção de silagens, tendo vista que eles podem apresentar quantidades razoáveis de carboidratos solúveis, como observado na polpa citríca (Faria et al.,1972; Igarasi, 2002) e pH ácido (Aguilera et al., 1997; Reis et al., 2000). A aceroleira (Malpighia glabra) é cultivada principalmente nos estados do Nordeste, com grandes perspectivas de expansão das exportações, principalmente para a França, Alemanha e Estados Unidos. Nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Bahia a acerola já é exportada sob a forma de suco, polpa ou fruta congelada para a Holanda e o Japão, além de explorarem o mercado interno brasileiro. Outras regiões, como o Centro Oeste e os estados de Minas Gerais e São Paulo têm implementado de forma acentuada o plantio da aceroleira, principalmente com objetivo de produção de suco e, mais recentemente, para a indústria de refrigerantes, demonstrando assim o grande potencial dessa cultura. Conforme Arostegui e Pennock (1956) o rendimento médio de suco está entre 59 e 73% do seu peso. Dessa maneira, pode-se estimar que a produção de resíduos, a partir da extração do suco, será em média 27 a 41% do peso total de frutas processadas. Como a acerola produz de três a quatro safras por ano, podendo chegar até seis safras, a oferta de resíduos é praticamente constante durante o ano (Batista et al., 1989), sendo esse constituído principalmente pela semente, polpa macerada e frutos refugados. Quando desidratado, seu subproduto apresenta em média 85,7% de matéria seca (Vasconcelos et al., 2002; Lousada Junior et al., 2005; Rogério, 2005) e foi observado pH de 3,31 na polpa da acerola desidratada (Soares et al., 2001). Com estes teores de matéria seca, o subproduto pode funcionar como aditivo absorvente, aumentando a pressão osmótica no meio e juntamente com seu baixo pH, inibir o crescimento das bactérias clostrídia. Gonçalves et al. (2002) estudaram a inclusão do subproduto da acerola em silagens de capim elefante, observando elevação nos teores de matéria seca (MS) e proteína bruta (PB) das silagens. Com a adição de 15% do subproduto da acerola, atingiu-se o teor de 30% de MS. Os valores de pH reduziram linearmente com a adição do subproduto, alcançando valores de 3,58 nas silagens com 20% do subproduto da acerola desidratado. Objetivou-se, portanto, com este experimento, avaliar os efeitos da adição de diferentes níveis do subproduto da acerola desidratada sobre a composição química e perfil fermentativo das silagens de capim elefante. 6.2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisas em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC), no município de Fortaleza (CE). Foram estudados cinco níveis de adição do subproduto da acerola desidratada (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14,0%), com base na matéria natural, na ensilagem do capim elefante. Em relação à matéria seca, essas adições consistiram em 0; 13,0; 24,0; 33,0 e 41,0%. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. Na confecção das silagens experimentais foi utilizado o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.), proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú (FEVC), Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC). O capim foi cortado manualmente com, aproximadamente, 70 dias de idade, quando em seguida, foi processado em picadeira de forragem e, posteriormente, misturado ao subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.), originado do processamento da fruta para extração de sucos e polpas, da empresa MAISA em Mossoró (RN). 75 O subproduto da acerola era composto por sementes, e baixa percentagem de frutos refugados. A desidratação foi feita ao sol em área cimentada, por um período de 48 horas, sendo espalhados em camadas de, aproximadamente, 7 cm de espessura e revolvidos pelo menos três vezes ao dia. À noite o material foi amontoado e coberto por lona, evitando o acúmulo de umidade. As composições químico-bromatológicas do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum) e do subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.) desidratada, antes da ensilagem, encontra-se na Tabela 23. Tabela 23: Composições químico–bromatólogicas do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum) (CE) e do subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.) desidratada (SACD) antes da ensilagem MS(%) PB1 FDN1 FDA1 HCEL1 CEL1 LIG1 NIDN2 NIDA2 CHOs EB3 CE 19,6 5,1 74,0 40,9 33,1 31,4 13,3 33,9 11,4 6,8 4,06 SACD 82,5 11,1 73,5 54,9 18,5 29,5 26,5 30,8 18,4 6,5 4,87 MS - matéria seca; PB - proteína bruta; FDN - fibra em detergente neutro; FDA - fibra em detergente ácido; HCEL – hemicelulose; CEL – celulose; LIG – lignina; NIDN - nitrogênio insolúvel em detergente neutro; NIDA - nitrogênio insolúvel em detergente ácido;CHOs - Carboidratos solúveis; EB - energia bruta 1 Porcentagem da matéria seca 2 Porcentagem do nitrogênio total 3 Mcal/kg de MS Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse uma densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SACD, o material foi compactado no interior do silo. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. Após 28 dias, os silos foram abertos e deles retiradas amostras homogêneas de 300 g das silagens, que permaneceram armazenadas em a –100C até a época das análises químico-bromatológicas. Nas amostras das silagens foram determinados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), energia bruta (EB), cinzas, nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). Foram analisados também o pH, nitrogênio amoniacal como percentagem do nitrogênio total (N-NH3/NT) e ácidos orgânicos (ácido lático, acético, butírico e 76 propiônico) no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, seguindo metodologia descrita pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). As variáveis estudadas foram avaliadas por meio de análise de variância, para realização da comparação das médias, utilizando o teste de Tukey, e por meio da análise de regressão, para avaliar o efeito dos níveis crescentes de adição do SABD, ao nível de 1% e 5% de probabilidade e no coeficiente de determinação, por intermédio do programa SAS (1990). Antes da realização destas análises, foi feito estudo para verificar se as pressuposições de distribuição normal e homocedasticidade dos dados foram atendidas. As características que não atenderam estas pressuposições foram transformadas para se prosseguir com as análises estatísticas. As transformações utilizadas foram a logarítmica para as concentrações de MS, PB, HCEL, NIDN e ácido lático; exponencial para o teor FDA; e quadrática para o pH. 6.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Teor de Matéria Seca (MS) Os dados referentes às composições químico–bromatológicas e as equações de regressão em função dos níveis crescentes de adição de subproduto da acerola desidratada (SACD) na ensilagem do capim elefante estão apresentadas na Tabela 24. Tabela 24. Teores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG) nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e energia bruta (EB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) Níveis de adição do SACD (%) 0 3,5 7 10,5 14 Equações de Regressão MS(%) 19,75d 23,21c 24,91cb 26,83b 30,85a Log(Ŷ) = 1,3 + 0,01x R2 = 0,89 MO1 85,67e 86,46d 87,53c 88,31b 90,18a Ŷ = 85,46 + 0,31x R2 = 0,93 1 PB 5,45c 7,43b 7,98b 8,73ab 10,01a Log(Ŷ) = 0,77 + 0,02x R2 = 0,80 1 FDN 73,04a 73,82a 74,90a 75,75a 76,25a Ŷ = 73,08 + 0,24x R2 = 0,20 1 FDA 44,46b 44,24b 47,83b 50,12b 53,64a Exp(Ŷ) = -5,02e + 1,47e R2 = 0,84 1 HCEL 28,58a 29,57a 27,08ab 25,63b 22,61c Log(Ŷ) = 1,48 – 0,007x R2 = 0,69 1 CEL 31,45a 28,76a 30,73a 31,38a 29,78a ns LIG1 13,01d 15,48c 17,10bc 18,73b 23,86a Ŷ = 12,64 + 0,71x R2 = 0,89 2 NIDN 24,72a 25,35a 28,31a 27,70a 30,47a Log(Ŷ) = 1,39 + 0,006x R2 = 0,37 2 NIDA 11,83c 13,22bc 17,80ab 18,06ab 22,07a Ŷ = 11,53 + 0,724x R2 = 0,57 3 EB 3,93d 4,00cd 4,11bc 4,20ab 4,25a Ŷ = 3,93 + 0,02x R2 = 0,84 Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey 1 Porcentagem da matéria seca 2 Porcentagem do nitrogênio total 3 Mcal/kg de MS ns – não significativo Os teores de MS das silagens aumentaram à medida que foi adicionado o subproduto da acerola desidratado (SACD). As silagens com adição de 14% do SACD apresentaram o maior (P<0,05) teor de MS (30,85%), diferindo das demais. Os valores variaram, respectivamente, de 19,75 a 30,85% com 0% e 14% de adição do SACD, ou seja, um incremento de 11 pontos percentuais no teor de MS. As silagens com 14% do SACD ficaram dentro da faixa de 28-34 % de MS, tido como ideal por McCullough (1977) para que haja eficiente processo fermentativo da silagem. Em silagens com maior teor de MS, menor teor de ácido lático faz-se necessário para redução do pH para valores que indicam boa conservação do material (McDonald, 1981). O estudo de regressão demonstrou que os teores de MS aumentaram linearmente (P<0,05) com o aumento na concentração do SACD nas silagens. Devido ao baixo teor de MS na ensilagem do capim elefante constituir um dos principais fatores limitantes na conservação da silagem, o uso da acerola desidratada mostrou-se boa alternativa para minimizar esse problema. Segundo Wilkinson et al. (1983), quando o teor de MS se aproxima dos 30% ou fica superior a este, há aumento da pressão osmótica nas células vegetais, desta forma, favorecendo a ação dos microrganismos láticos, ao mesmo tempo em que desfavorece a ação dos clostrídios. Segundo McDonald (1981), nesta situação a germinação dos esporos e crescimento dos 77 clostrídios são inibidos mais por este fator, do que pela produção de ácido lático. Thomas et al. (1961) ressaltaram que as características do processo fermentativo das silagens parecem ser mais determinantes na quantidade de MS consumida que o conteúdo de MS por si. Contudo, a MS determina parcialmente o grau de fermentação durante o processo de ensilagem, consequentemente, o consumo de silagem pelos ruminantes. O mesmo comportamento registrado nas silagens com SACD foi encontrado por Gonçalves et al. (2002), que trabalhando com os níveis de 0; 5; 10; 15 e 20% de adição do SACD, também verificaram aumento nos teores de MS, sendo de 34,74% de MS no maior nível de inclusão do subproduto. Teor de Proteína Bruta (PB) Os níveis de adição do SACD também influenciaram os teores de PB das silagens, de forma que, a silagem exclusiva de capim elefante apresentou menor teor de PB (P<0,05) diferindo das demais silagens. A adição do SACD fez com que os teores de PB passassem de 5,45% na silagem exclusiva de capim elefante para 10,01% no maior nível de adição do subproduto (14%), o que representou acréscimo de 4,6 unidades percentuais no teor da PB. Este fato era esperado pela maior concentração de PB no SACD (11,19%) em comparação ao capim elefante (5,09%) (Tabela 23). Com a análise de regressão pode-se verificar que os níveis de inclusão dos SACD proporcionaram aumento linear (P<0,05) nos teores de PB das silagens. Para uma fermentação microbiana efetiva no rúmen, há necessidade de teor mínimo de 7,0% de PB (Van Soest, 1994), o qual, foi alcançado a partir do nível de adição de 3,5% do subproduto da acerola, observando valor médio no nível de 7,0% de inclusão, e 78 chegando a 11,22% de PB, com adição de 14% do SACD, segundo a equação de regressão. Gonçalves et al. (2002) e Gonçalves et al. (2004) também registraram elevação nos teores de PB com adição do SACD e urucum, respectivamente, na ensilagem do capim elefante, alcançando teores de 7,52 e 10,01% de PB com 15% de adição dos respectivos subprodutos . Teores de PB semelhantes aos das silagens com 14% do SACD foram registrados por Posseti et al. (2002) com silagens de girassol (11,62% PB). Rodrigues et al. (2004) avaliando silagens de milho registraram teores de PB de 9,07, valores inferiores aos observados nas silagens com 14% do SACD, demonstrando ser esse um bom aditivo para silagens de forrageiras de baixo valor nutritivo. Teores de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CE) e lignina (LIG). Pela análise de variância, não foram detectadas variações nos teores de FDN nas silagens (P>0,05) com adição do SACD. O valor médio observado foi de 74,75 ± 2,37% de FDN. Contudo, o estudo de regressão constatou que os níveis de inclusão do SACD atuaram aumentando linearmente (P<0,05) os teores de FDN das silagens, estimando-se acréscimos de 0,24 pontos percentuais no teor de FDN para cada 1% de inclusão do SACD. Os resultados encontrados pela análise de variância estão de acordo com os obtidos por Gonçalves et al. (2002) e Cysne et al. (2004) que trabalhando com adição do subproduto da acerola e graviola, respectivamente, em silagens de capim elefante, também não observaram alterações nos teores de FDN com adição destes subprodutos. Para os teores de FDA observou-se que os níveis de adição influenciaram (P<0,05) na composição das silagens. As silagens com adição de 14% do SACD apresentaram o maior (P<0,01) valor (53,64%) diferindo das demais silagens. Com isto, é possível que a adição do subproduto da acerola no nível de 14% comprometa o valor nutritivo da silagem obtida, podendo levar à redução do consumo voluntário, já que, o consumo esta diretamente relacionado ao teor de constituintes da parede celular do alimento (Raymond, 1969). Gonçalves et al. (2002), Neiva et al. (2002) e Pompeu et al. (2002) trabalhando com níveis de adição de subproduto da acerola, goiaba e melão na ensilagem do capim elefante, respectivamente, também observaram aumento nos teores de FDA com a inclusão dos subprodutos, sendo os valores próximos aos observados neste trabalho. Ressalta-se que esses valores são semelhantes aos obtidos por Gonçalves et al. (2003) que trabalharam com feno de tifton 85 aos 28 dias, e observaram 46,6% de FDA, e por Evangelista et al. (2002), que obtiveram teores de 55,19% de FDA em silagens de cana de açúcar (55,2% de FDA), demonstrando que tais valores condizem com forragens de boa qualidade. Em relação aos teores de HCEL das silagens, verificou-se que eles foram influenciados (P<0,05) pela presença dos SACD. As silagens com 14% de SACD apresentaram o menor (P<0,01) valor (22,61%) diferindo das demais silagens. No estudo de regressão foi observado que os teores de HCEL reduziram linearmente (P<0,05) com a adição do SACD. Como o SACD apresentou menores concentrações de HCEL (18,51%) em relação ao capim elefante (33,12%), esta redução também já era prevista (Tabela 23). Para os teores de celulose, a análise de variância e a de regressão não constataram efeito (P>0,05) dos níveis de inclusão do SACD na ensilagem do capim elefante, cujo valor médio foi de 30,42%. Já os teores de lignina foram influenciados (P<0,05) pelos níveis de adição do SACD. As silagens com 14% do SACD apresentaram o maior (P<0,05) teor de lignina (23,86%), enquanto a silagem exclusiva de capim elefante apresentou o menor (P<0,05) teores (13,01%) diferindo (P<0,05) das demais silagens. O estudo de regressão mostrou que os teores de lignina cresceram linearmente (P<0,05) com a adição do SACD, com um incremento de 0,71 pontos percentuais nos teores de lignina para cada 1% de inclusão do SACD. Desta forma, o aumento nos teores de lignina com a inclusão do SACD na ensilagem do capim elefante pode constituir fator limitante para utilização desse subproduto na alimentação animal, pois, a lignina contida na parede celular se encontra firmemente ligada a polissacarídeos das plantas, reduzindo a digestibilidade da fibra pelos microrganismos do rúmen. Além disso, impede o ataque das bactérias aos nutrientes contidos no interior da célula, assim, torna-se o principal componente redutor da qualidade das plantas forrageiras por diminuir a digestibilidade dos nutrientes (Van Soest, 1994). Teores de nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), como porcentagem do nitrogênio total. Quanto aos teores de NIDN, em relação ao nitrogênio total, não foi observado efeito (P>0,05) dos níveis de adição do SACD sobre o parâmetro analisado (Tabela 24). O valor médio registrado foi de 27,3% de NIDN. A regressão mostrou que os teores de NIDN aumentaram linearmente (P<0,01) com a inclusão do SACD. No maior nível de 79 adição do SACD a proporção de NIDN chegou a 30,5% do nitrogênio total. taninos, podendo ser produto da reação de Maillard (Van Soest, 1994). Quanto aos teores de NIDA, observou-se que as silagens com 7,0; 10,5 e 14% do SACD apresentaram teores de NIDA superiores (P<0,05) em relação à silagem exclusiva de capim elefante. Os valores variaram de 11,8 (0% SACD) a 22,0 (14% SACD) de NIDA. O estudo de regressão detectou que o SACD agiu de forma a aumentar os teores de NIDA das silagens, com incremento de 0,72 pontos percentuais, para cada 1% de inclusão do SACD. Mahanna (1997) explicou que o prolongamento da fase aeróbica do material na ensilagem, devido à demora na confecção dos silos, ou problemas na compactação, podem promover o aquecimento do material, resultando na formação de compostos de Maillard, no qual, açúcares redutores combinam-se com grupos aminas dos aminoácidos tornando-os biologicamente indisponíveis para o animal. O aumento nos teores de NIDN e NIDA, em relação ao nitrogênio total, com os níveis crescentes de adição do SACD era previsto, pela maior concentração desses componentes no SACD. Contudo, notou-se que as silagens apresentaram maior teor de NIDA (%NT) em relação ao material original (Tabela 23). Este fato pode ser atribuído à maior aeração das silagens, em virtude da maior dificuldade de compactação. A menor compactação conferida às silagens se deu pela dificuldade inerente ao subproduto, que apresentou densidade muito baixa e com isso dificultou a compactação das silagens com proporções mais elevadas do mesmo. Segundo Van Soest (1994) o nitrogênio insolúvel em detergente neutro, mais solúvel em detergente ácido, parece ter digestibilidade considerável, porém, esse nitrogênio apresenta taxas de digestão mais lenta que a fração solúvel em detergente neutro, e sua concentração pode ser aumentada com o calor. Já o NIDA corresponde à fração C no sistema de CORNELL, sendo considerada indisponível por conter proteínas associadas a lignina e 80 Reis et al. (2003) trabalhando com silagens de capim tifton com 5% de polpa cítrica, registraram teores de NIDN de 29,3%, assim como, Pedreira et al. (2003), em silagens de sorgo 29,9%. Estes valores foram próximos aos observados nas silagens com 14% do SACD. Trabalhando com adição de casca de café na silagem de capim elefante Bernadino et al. (2003) também observaram aumento nos teores de NIDA com a adição do resíduo. Energia Bruta (EB) Para os valores de EB, verificou-se que as silagens com 10,5 e 14% do SACD foram semelhantes (P>0,05), entretanto apresentaram valores superiores (P<0,05) às silagens exclusivas de capim elefante e com 3,5% do SACD. Os valores variaram de 3,93 (0% SABD) a 4,25 (14% SABD). Ácidos Orgânicos, pH e Nitrogênio Amoniacal (N-NH3) Os dados referentes às características fermentativas (ácidos orgânicos, pH e nitrogênio amoniacal) das silagens estão apresentados na Tabela 25. Tabela 25: Valores médios de pH e teores de nitrogênio amoniacal, como percentagem do nitrogênio total (N-NH3/NT) e ácidos orgânicos (% da MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) Níveis de adição do SACD (%) 0 3,5 7 10,5 14 Equação de Regressão pH 4,7a 4,22a 4,21a 3,95a 3,96a ns N-NH3/NT 15,95a 10,80ab 13,00ab 6,60b 6,97b Ŷ = 15,09 – 0,63x R2 = 0,40 Ác.Lático 2,660ab 4,236a 2,571ab 0,785b 0,656b L(Ŷ) = 0,578 – 0,06x R2 = 0,41 Ác.Acético 0,447a 0,194a 0,186a 0,183a 0,232a ns Ác.Propiônico 0,047a 0,030a 0,028a 0,016a 0,023a ns Ác.Butírico 0,074a 0,030a 0,013a 0,018a 0,123a ns Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey ns – não significativo No presente trabalho, os níveis de adição dos SACD não influenciaram (P>0,05) os valores de pH quando realizada a análise de variância e o estudo de regressão. O valor médio observado foi de 4,2. Contudo, as silagens com a inclusão do SACD permaneceram com valores de pH a baixo do limite superior de 4,2 unidades (Catchpoole e HenzelL, 1971; Marsh, 1979; McCullough, 1977; McDonald, 1981) a partir do qual, pode se ter comprometimento na estabilização do processo fermentativo, e com isso depreciação na qualidade nutricional das silagens. Tal aspecto também foi relatado por Pinto et al. (2004) que avaliando níveis de adição de polpa cítrica (0; 5; 10 e 15%) na ensilagem do capim-aruanã, também não observaram alterações nos valores de pH. Os valores de pH obtidos nas silagens podem ser conseqüências da interação de vários fatores. O primeiro a ser destacado refere-se aos teores de MS, como já discutidos anteriormente. A inclusão do SACD possibilitou aumento nos teores de MS das silagens, assim evitando o desenvolvimento de bactérias do gênero Clostridium que têm seu crescimento inibido pela elevação da pressão osmótica (Wieringa, 1958; Gordon et al., 1961; Catchpoole e HenzelL, 1971; Woolford, 1972; Marsh 1979; McDonald, 1981). Segundo Woolford (1972) e McDonald (1981), o pH pode ser considerado critério seguro para avaliação da fermentação, mais seu efeito inibitório sobre as bactérias depende da velocidade da concentração iônica e do grau de umidade do meio. Os clostrídia podem ser tolerantes a altas concentrações de ácido e íons hidrogênio em materiais com alta umidade, mas, em silagens com teor matéria seca elevada, o pH necessariamente não precisa estar baixo (3,8-4,2) para garantir a preservação (Wieringa,1960). Soares et al. (2001) avaliando a composição físico-química da acerola desidratada observaram valores de pH de 3,31. Desta forma, é possível que o SACD também tenha apresentado valores reduzidos de pH no momento da ensilagem, o que levaria à manutenção dos aspectos qualitativos do volumoso, por inibição do crescimento de microrganismos indesejáveis e estimulando a proliferação das bactérias láticas, já que as mesmas são mais tolerantes ao baixo pH e à baixa atividade da água (Muck, 1991). Segundo Woolford (1972) quanto mais rápido for a redução do pH mais eficiente é a preservação da massa ensilada, pois menor é a extensão da degradação aeróbia das proteínas e carboidratos, bem como a ação das bactérias do gênero Clostridium. Desta maneira, os valores finais dos pH registrados nas silagens com adição do SACD (4,22 a 3,95) devem ser conseqüência 81 da interação do pH inicial no SACD e do aumento dos teores de MS, como já mencionado anteriormente. Fisher e Burns (1987) relataram que a estabilização de pH das silagens deve-se a interações do teor de MS, da capacidade tamponante, das concentrações dos carboidratos solúveis, do lactato e das condições de anaerobiose no meio. Essas associações explicam porque forragens com diferentes teores de MS, e de carboidratos solúveis podem produzir silagens com o mesmo padrão de queda do pH. Gonçalves et al. (2002) registraram valor de pH de 3,93 em silagens de capim elefante com 20% de adição do SACD, valores estes muito próximos aos encontrados na silagem com 14% do SACD (3,96). Quanto aos teores de N-NH3, verificou-se que as silagens com os SACD foram semelhantes (P>0,05). Todavia, as silagens com 10,5 e 14% do SACD mostraram teores de N–NH3 inferiores (P<0,05) ao observado na silagem exclusiva de capim elefante. O estudo de regressão registrou redução linear (P<0,01) nos teores de N-NH3 com adição do SACD. Para cada 1% de adição do SACD, reduziu-se em 0,63 pontos percentuais o teor de N-NH3, ou seja, houve redução de, aproximadamente, 9,0 unidades percentuais no teor de N-NH3 quando se adicionou 14% do SACD comparado á silagem exclusiva de capim elefante. Dessa forma, foi possível observar que as silagens contendo 3,5; 10,5 e 14% do SACD apresentaram teores de N-NH3 abaixo do valor limite de 12% para caracterização de silagens bem preservadas e com baixa atividade proteolítica (Catchpoole e HenzelL, 1971; McDonald, 1981; Umaña et al., 1991). A redução nos teores de N-NH3 observada nas silagens com a adição do SACD deve ser consequência dos teores de MS e valores 82 de pH obtidos nas silagens, já que as bactérias clostrídicas responsáveis pela atividade proteolítica, têm seu crescimento inibido ou controlado pelo aumento da pressão osmótica no meio e por ambientes que apresentem pH abaixo de 4, como já mencionado anteriormente. Redução nos teores de N-NH3 também foram relatados por Sá et al. (2004) em silagens de capim elefante com níveis crescentes do subproduto da manga. Assim como, Pinto et al. (2004) avaliando níveis de adição (0; 5; 10 e 15%) de polpa cítrica na ensilagem do capim aruanã. Para os teores de ácido lático verificou-se que as silagens exclusivas de capim elefante, com 3,5 e 7,0% do SACD foram semelhantes (P>0,05), e que a silagem com 3,5% de SACD mostrou-se com teor de ácido lático superior (P<0,05) aos observados nas silagens com 10,5 e 14% do SACD. Pela equação de regressão, constatou-se que a inclusão do SACD, atuou de forma a reduzir (P<0,05) a produção de ácido lático. Quanto aos teores de ácido acético, propiônico e butírico, a análise de variância e o estudo de regressão não detectaram efeito dos níveis de adição do SACD. As médias observadas foram de 0,2488; 0,0291 e 0,0519%, respectivamente. Apesar da redução dos teores de ácido lático com a adição do SACD, como observado pelo estudo de regressão, podemos constatar que esse fenômeno também foi acompanhado da redução linear nos teores de N-NH3. Na silagem com 14% do SACD, na qual observamos o menor teor de ácido lático (0,656%), foi registrado teor 6,97% de N-NH3, enquanto, os valores de pH e ácido butírico foram de 3,96 e 0,123%, respectivamente. Esses resultados indicam que a redução dos teores de ácido lático não foi limitante para obtenção de silagens de boa qualidade, já que os parâmetros discutidos ficaram dentro dos níveis estabelecidos na literatura para caracterização de silagens bem preservadas (pH entre 3,8 - 4,2, teor de N-NH3 menores que 10-12%, teor de ácido lático entre 1,5 e 6,0% e de ácido butírico ≤ 0,2% (Catchpoole e Henzel, 1971; Silveira, 1975; McCullough, 1977 e McDonald, 1981), excetuando-se para os teores de ácido lático que ficaram abaixo do recomendado. Todavia, o ácido lático é o principal ácido responsável pela redução do pH para valores abaixo de 4, em face de sua maior constante de dissociação (pKa = 3,86), ou seja, maior tendência para perder prótons (Lehninger, 2002). Os resultados encontrados devem estar relacionados a uma queda rápida do pH ou ao estabelecimento de ambiente ácido no momento da ensilagem proporcionado possivelmente pelos baixos valores de pH do SACD. Faria et al. (1972) também associaram a redução na concentração de ácido lático nas silagens de capim elefante, com o aumento nos níveis (5; 10; 15 e 20%) de adição de polpa cítrica desidratada, a um processo de fermentação mais rápido, de modo que, o pH atingiu mais cedo os níveis inibitórios. O aumento nos teores de MS das silagens com a inclusão do SACD também pode ter constituído um importante fator. Vários estudos têm mostrado que a elevação nos teores de MS, reduz a taxa de crescimento das bactérias láticas, bem como o pico das populações nas silagens. Como resultado, a taxa de queda do pH e a produção dos ácidos são reduzidos com o aumento nos teores de MS (Marsh, 1979; Muck, 1987; Muck, 1991). Assim, a função dos ácidos em promover uma fermentação eficiente se reduz (Umaña et al., 1991). ácido lático à medida que se aumenta o teor de MS na silagem (Wilkins e Wilson, 1971; Alberto et al., 1993; Andrade e Lavezzo, 1998). Quanto à silagem exclusiva de capim elefante, nota-se que a concentração de ácido butírico foi baixa, porém apresentou altas porcentagem de nitrogênio amoniacal. Este resultado é conflitante, uma vez que altas concentrações de amônia estariam relacionadas com altas taxas de proteólise (McDonald, 1981). Todavia, os resultados sobre ocorrência de altas porcentagens de amônia em silagens de capim elefante podem não ser consistentes, pois há relatos tanto de altas percentagens de nitrogênio amoniacal (Lavezzo et al., 1984; Andrade e Lavezzo, 1998; Tosi et al., 1999) como de baixas porcentagens (Sobrinho et al., 1998b; Rodrigues et al., 2002), mesmo quando as percentagens de ácido butírico eram baixas. As concentrações médias de ácido lático (2,66%), acético (0,447%), propiônico (0,047%) e butírico (0,074%) e pH (4,7) obtidas na silagem exclusiva de capim elefante se enquadram dentro dos valores encontrados na literatura, que variam de 0,40 a 17,59% para o ácido lático; de 0,08 a 6,7% para o acético; de 0,00 a 0,555% para o propiônico; e de 0,0 a 6,04%para o butírico enquanto os valores de pH variaram de 3,71 a 8,5 (Tosi et al., 1983; Tosi et al., 1989; Alberto et al., 1993; Faria et al., 1995/96; Andrade e Lavezzo, 1998; Tosi et al., 1999; Rodrigues et al., 2002). 6.4. CONCLUSÃO Conclui-se que o melhor conservação Porém, o aumento parede celular e comprometer o valor de capim elefante. SACD proporcionou da massa ensilada. nos componentes da do NIDA podem nutricional da silagem Com respeito a isto, numerosas afirmações comprovam diminuição da concentração de 83 CAPÍTULO VII - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTOS DA AGROINDÚSTRIA DA ACEROLA RESUMO O trabalho foi realizado objetivando avaliar o consumo e a digestibilidade aparente das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) contendo 0; 3,5; 7; 10,5 e 14% de subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.) desidratada (subproduto da agroindústria do suco da acerola) em relação à matéria natural. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Foram avaliados os consumos de MS e PB (g/animal/dia, %PV e g/UTM), de FDN, FDA, HCEL e CEL (g/animal/dia e %PV), digestibilidade aparente da MS, PB, FDN, FDA, HCEL, CEL, EBD, ED e consumo de MS digestível (CMSD), PB digestível (CPBD), FDN digestível (FDND) e energia digestível (CED), bem como, o balanço de nitrogênio (BN) das silagens. A adição do subproduto da acerola desidratada (SACD) não influenciou (P>0,05) o consumo (expresso em g/animal/dia) de MS (478,7), PB (40,6), FDN (354,8), FDA (225,8), HCEL (139,4) e CEL (133,8), como também, os coeficientes de digestibilidade da MS (43,6%), PB (36,4%), FDN (44,8%), FDA (40,7%), HCEL (51,6%) e CEL (54,7%) e o CMSD, CPBD, CFDND e CED das silagens. Com relação ao BN, registrou-se índices positivos para os tratamentos com 3,5; 10,5 e 14% do SACD. Pelos resultados obtidos, conclui-se, que o SACD pode ser incluído em até 14% na ensilagem do capim elefante sem comprometer o consumo e a digestibilidade dos nutrientes em ovinos. 7.1. INTRODUÇÃO O valor nutritivo de uma silagem pode ser considerado função do consumo voluntário, digestibilidade e eficiência pelo qual os nutrientes são utilizados. Porém o principal fator que limita a produção dos animais ingerindo silagens é o nível de consumo voluntário. Segundo Wilkins e Wilson (1970), o consumo de matéria seca da silagem pode corresponder a 70% do consumo do mesmo alimento desidratado. Segundo Van Soest (1994) são três as hipóteses para justificar a redução do consumo de silagens: a) presença de substâncias tóxicas ou de produtos da degradação da proteína como amina, que reduz a palatabilidade; b) alto teor de ácidos, proveniente de uma intensa atividade fermentativa; c) e a mais aceita, sincronização na liberação de nutrientes. Como os ácidos graxos voláteis apresentam baixa energia de fermentação, e como, há intensa conversão do açúcar do material ensilado nestes produtos, há menor disponibilidade de ATP para os 84 microrganismos ruminais para síntese da proteína microbiana. A eficiência com a qual o nitrogênio do alimento é convertido em proteína microbiana depende da taxa de liberação da amônia e de sua assimilação. Se não há carboidratos ou lactato, quando há uma rápida liberação de amônia haverá, além de perda de nutriente (N), perda de energia para sua excreção. Além de refletir na taxa de digestão dos constituintes da parede celular. Contudo, devem-se analisar as características intrínsecas do alimento. Dietas com deficiência de compostos nitrogenados (N), seja na forma de amônia, aminoácidos ou peptídeos influenciam na regulação da ingestão de alimentos. Quando o suprimento endógeno não atende aos requisitos microbianos, ocorre limitação do crescimento microbiano (Sniffen et al., 1993) e depressão da digestão da parede celular (Wilson e Kennedy, 1996), resultando em diminuição do consumo. Para Van Soest (1994), a depressão do consumo poderá ser atribuída à deficiência de N para o animal, à redução na fermentação ruminal ou à redução na habilidade de esvaziar o rúmen de resíduos não digeridos. O consumo voluntário de matéria seca também é altamente correlacionado com o conteúdo de fibra em detergente neutro (FDN) do alimento, porque a fermentação e a passagem da FDN pelo rúmen-retículo são mais lentas aqueles observados em que outros constituintes dietéticos, tendo grande efeito no enchimento e sobre o tempo de permanência, quando comparadas com os componentes não-fibrosos do alimento (Van Soest, 1994). O subproduto da acerola apresenta teores de proteína bruta (PB) (14%) elevados, como também altas concentrações de FDN (69,7%) e FDA (58%). Desta maneira, conduziu-se este experimento objetivando avaliar o efeito dos níveis de adição do subproduto do acerola desidratada na ensilagem de capim elefante sobre o consumo e digestibilidade dos nutrientes em ovinos. capim foi cortado manualmente com, aproximadamente, 70 dias de idade, quando em seguida, foi processado em picadeira de forragem e, posteriormente, misturado ao subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.), originado do processamento da fruta para extração de sucos e polpas, da empresa MAISA em Mossoró (RN). O subproduto da acerola era composto basicamente por sementes, e com baixa percentagem de frutos refugados. A desidratação foi feita ao sol em área cimentada, por um período de 48 horas, sendo espalhados em camadas de, aproximadamente, 7 cm de espessura e revolvidos pelo menos três vezes ao dia. Á noite o material foi amontoado e coberto por lona, evitando o acúmulo de umidade. A composição químico-bromatológica do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) (CE) e do subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.) desidratada (SACD), antes da ensilagem, encontra-se na Tabela 23, Capítulo VI. 7.2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisas em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC), no município de Fortaleza (CE). Foram estudados cinco níveis de adição do subproduto da acerola desidratada (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14,0%), com base na matéria natural, na ensilagem do capim elefante. Em relação à matéria seca, essas adições consistiram em 0; 13,0; 24,0; 33,0 e 41,0%. Na confecção das silagens experimentais foi utilizado o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú FEVC), em Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC). O Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse uma densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SACD, o material foi compactado no interior do silo. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. Os dados referentes às composições químico-bromatológicas das silagens de capim elefante com níveis crescentes de adição do subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 24, no Capítulo VI. Foram utilizados vinte ovinos SRD deslanados, machos, inteiros, com peso médio de 24,0 kg, em delineamento inteiramente casualizado, com cinco 85 tratamentos (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14%), e quatro repetições. Para cada animal (repetição) foi utilizada a silagem oriunda de um único silo experimental. Os animais foram pesados no início e no final do experimento, vermifugados, e distribuídos por sorteio nos tratamentos. Os animais foram mantidos em gaiolas de estudos metabólicos individuais, equipadas com coletores e separadores de fezes e de urina, bem como dotados de cochos para fornecimento do alimento e da mistura mineral, e de bebedouros com água permanentemente à disposição. O experimento teve duração de 15 dias, sendo os primeiros 10 dias para adaptação dos animais às dietas e ao ambiente experimental e os outros cinco dias restantes para coleta de silagem, sobras, fezes e urina para determinação do consumo voluntário, digestibilidade aparente dos nutrientes e balanço de nitrogênio. Após 28 dias, os silos foram abertos e as silagens foram fornecidas diariamente em dois períodos (7 e 16 h), sendo a quantidade oferecida calculada diariamente, a partir do consumo do dia anterior, de forma a permitir sobras de, aproximadamente, 15%. Amostragens das silagens (100 g) foram realizadas diariamente no momento da pesagem do alimento oferecido, durante todo o período de coleta de dados. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos, identificados e armazenadas a 10°C. Ao final do experimento as amostras, referentes a cada animal, foram descongeladas e homogeneizadas, sendo retirada amostra de, aproximadamente, 300 g, que foi processada (pré-secagem) para análises posteriores. As sobras foram pesadas pela manhã, antes do fornecimento da nova alimentação. Após esta pesagem, uma alíquota de 80 g foi retirada, seguindo a mesma metodologia de 86 amostragem utilizada para os alimentos oferecidos. As fezes foram coletadas diariamente e pesadas na parte da manhã e do total, retirou-se 10% e acondicionou-se a -10°C. Ao final do experimento, as amostras referentes a cada animal foram descongeladas e homogeneizadas, sendo retirados, aproximadamente, 300 g do total de cada coleta, que foram acondicionados em sacos plásticos, identificados e mantidos a -10°C. Com o auxílio de uma proveta foi medido o volume de urina pela manhã e à tarde, quando então era retirada uma alíquota de 10% do total e armazenada em frascos âmbar a -10°C. Foram adicionados nas vasilhas coletoras de urina, 20 mL de ácido clorídrico 1:1, evitando assim, que houvesse perdas de nitrogênio por volatilização. Nas amostras colhidas foram determinados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL) e matéria mineral (MM). As análises foram efetuadas no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, segundo metodologias descritas pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). Com os valores obtidos das análises da composição química das amostras, foram determinados os consumos de MS e PB em g/animal/dia, %PV e g/UTM (Unidade de Tamanho Metabólico = PV0,75), bem como de FDN, FDA, HCEL e CEL em g/animal/dia e %PV. Determinaram-se, ainda, os coeficientes de digestibilidade aparente da MS, PB, FDN, FDA, HCEL e CEL, bem como o balanço de nitrogênio, determinado de acordo com metodologia descrita por Silva e Leão (1979). Os valores de ingestão de matéria seca digestível (IMSD), proteína bruta digestível (IPBD), fibra em detergente neutro digestível (IFDND) e energia digestível (IED) foram obtidos a partir dos coeficientes de digestibilidade e consumo destes nutrientes. adição do SACD na ensilagem do capim elefante, ao nível de 1 e 5% de probabilidade e no coeficiente de determinação, por intermédio do programa SAS (1990). 7.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As variáveis estudadas foram avaliadas por meio de análise de variância. Para comparação das médias, foi utilizado o teste de Duncan (consumo de matéria seca, expresso em g/animal/dia, %PV e g/UTM e digestibilidade da matéria seca), e o de Tukey para os demais parâmetros. Foram realizadas também análises de regressão, para avaliar o efeito dos níveis crescentes de Consumo de Matéria Seca (CMS) Os consumos de matéria seca (CMS) dos animais alimentados com as silagens de capim elefante com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 26. Tabela 26: Consumo de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% SACD 395,6a 1,71a 37,44a CE + 3,5% SACD 554,4a 2,28a 50,53a CE + 7,0% SACD 425,7a 1,87a 40,85a CE + 10,5% SACD 534,9a 2,22a 49,17a CE + 14% SACD 497,3a 2,09a 46,11a Médias 478,77 ± 165,83 2,02 ± 0,65 44,59 ± 14,45 CV (%) 34,64 32,34 32,40 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Duncan Para o CMS (g/animal/dia, %PV e g/UTM) não se observou efeito (P>0,05) da adição do SACD na ensilagem do capim elefante. Os consumos médios observados foram de 478,77 ± 165,83 g/animal/dia; 2,02 ± 0,65 %PV e 44,59 ±14,45 g/UTM. As silagens com adição do SACD apresentaram boas características fermentativas. Nesse sentido, os valores obtidos de CMS das silagens devem estar relacionados primeiramente com o baixo valor nutricional do capim elefante, como mostra a Tabela 23, caracterizado por elevadas concentrações dos componentes da fração fibrosa e baixo teor de PB. O aumento nos teores de FDN com a inclusão do SACD também pode constituir um importante fator. Segundo Van Soest (1965) o consumo voluntário de MS encontra-se altamente correlacionado com o teor de FDN, quando esta se situa acima de 55 e 60% da matéria seca do alimento, haja visto, que a fermentação e a passagem de FDN pelo rúmen-retículo são mais lentas que as observadas em outros componentes nutricionais, tendo grande efeito no enchimento e sobre o tempo de permanência, comparado com os componentes não-fibrosos. Um outro fator que pode também estar relacionado com os resultados obtidos diz respeito à forma como boa parte do nitrogênio se encontra indisponível (NIDA) aos microrganismos ruminais. Reduções no teor de PB abaixo de 7%, ou diminuição da disponibilidade do nitrogênio, poderá reduzir a digestão da fibra e, subseqüentemente, restringir o consumo, em conseqüência da lenta passagem dos alimentos pelo rúmen (Van Soest, 1994). 87 A presença de tanino no SACD, como relataram Vasconcelos et al. (2002), também pode constituir fator influenciador do consumo, pois os taninos além de precipitarem a proteína, também são capazes de interagir com outras macromoléculas, como carboidratos, membrana celular das bactérias e íons metálicos (Van Soest, 1994). Cannas (2005) relatou que os taninos podem atuar na redução do consumo de duas maneiras. Primeiro, pelo seu efeito adstringente, reduzindo a palatabilidade do alimento, o que consequentemente conduz à redução da ingestão; e segundo pela redução na digestibilidade, influenciando negativamente no consumo, pelo efeito de enchimento associado às frações não digeridas. Neste sentido, é provável que o baixo consumo voluntário das silagens, tenha sido combinação do valor nutricional do capim elefante, juntamente com os níveis de FDN, NIDA e tanino no SACD. Tal aspecto também foi relatado por Rosa et al. (2004) que observaram relação inversa dos teores de FDN com o consumo de MS em diferentes silagens de hibrídos de milho, registrando valores bem próximos (2,20 %PV) aos obtidos nas silagens com inclusão do SACD. Assim como, Moreira et al. (2001) que atribuíram o menor consumo de MS do feno do capim coastcross e da silagem de milho em relação ao feno de alfafa, ao maior teor de FDN daqueles alimentos. Lousada Junior et al. (2005) avaliando o fornecimento dos subprodutos do abacaxi, acerola, goiaba, maracujá e melão na alimentação de ovinos, observou que o menor consumo de MS foi registrado quando foi fornecido o subproduto da acerola (500,3 g/animal/dia; 1,4 %PV e 34,2 g/UTM). Segundo o autor, este fato é atribuído ao elevado teor de lignina registrado no subproduto. Consumo de Proteína Bruta (CPB) Os consumos de proteína bruta (CPB) dos animais alimentados com as silagens de capim elefante (CE) com níveis crescentes de adição de subproduto de acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 27. Tabela 27: Consumo de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% SACD 23,03a 0,10b 2,19b CE + 3,5% SACD 42,99a 0,18ab 3,94ab CE + 7,0% SACD 36,72a 0,16ab 3,52ab CE + 10,5% SACD 49,04a 0,2ab 4,51ab CE + 14% SACD 53,56a 0,22a 4,95a Médias 40,65 ± 14,22 0,17 ± 0,05 3,79 ± 1,21 CV (%) 34,98 31,58 31,93 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey A adição do SACD na ensilagem do capim elefante não influenciou (P>0,05) o CPB das silagens, quando o consumo foi expresso em g/animal/dia A média observada foi de 40,65 ± 14,22 g/animal/dia. Contudo, pelo estudo de regressão observou-se aumento linear (P<0,01) no CPB com a adição do SACD, 88 onde a adição de 1% do SACD proporcionou aumento no CPB de 1,91g/animal/dia. Pela equação, a variação no CPB pode chegar a 100%, ao se comparar a silagem com 14% do SACD e a silagem exclusiva de capim elefante. CPB (g/animal/dia) = 27 + 1,91x (P<0,01 e R2 = 0,31) Quando o CPB foi expresso em %PV e g/UTM, observou-se que os animais que receberam as silagens com o SACD apresentaram consumo semelhante (P>0,05). Contudo, os animais alimentados com a silagem com 14% do SACD tiveram consumo superior (P<0,05) aos alimentados com a silagem de capim elefante. Os CPB variaram de 0,10 a 0,22 %PV, com média de 0,17 ± 0,05%PV, e de 2,19 a 4,95 g/UTM com média de 3,79 ± 1,21 g/UTM. O estudo de regressão também demonstrou que houve aumento linear nos CPB quando expressos em %PV e g/UTM, à medida que foi utilizado o maior nível do SACD. CPB (%PV) = 0,12 + 0,008x (P<0,01 e R2 = 0,35) CPB (g/UTM) = 2,60 + 0,17x (P<0,01 e R2 = 0,34) para cada 1% de adição do SACD. O aumento no CPB das silagens era esperado, haja visto, que foram observados elevações na concentração dos teores de PB com adição do SACD na ensilagem do capim elefante, como mostra a Tabela 24. Valores similares aos obtidos neste trabalho foram encontrados por Reis et al. (2000) ao fornecer para ovinos, silagens de capim elefante contendo 75% de resíduo de maracujá in natura (4,58g/UTM). Consumo de Fibra em Detergente Neutro (CFDN) de Fibra em Detergente Ácido (CFDA), Hemicelulose (CHCEL) e Celulose (CCEL). O consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCEL) dos ovinos alimentados com o capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 28. Pelas equações observa-se aumento de 0,008 pontos percentuais e de 0,17g/UTM no CPB Tabela 28: Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCEL) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) FDN FDA HCEL CEL Silagens g/dia %PV g/dia %PV g/dia %PV g/dia %PV CE + 0% SACD 283,4a 1,22a 169,2a 0,73a 114,2a 0,49a 113,9a 0,49a CE + 3,5% SACD 403,0a 1,66a 241,5a 0,99a 161,5a 0,67a 147,5a 0,60a CE + 7,0% SACD 322,8a 1,42a 203,1a 0,89a 119,6a 0,52a 123,0a 0,54a CE + 10,5% SACD 405,7a 1,68a 265,1a 1,10a 140,6a 0,58a 157,0a 0,65a CE + 14% SACD 371,8a 1,56a 260,1a 1,09a 111,6a 0,47a 127,6a 0,54a Médias 354,8 1,50 225,8 0,95 139,4 0,55 133,85 0,56 CV (%) 34,91 32,76 37,11 23,31 38,10 31,84 36,48 34,35 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey A adição do SACD na ensilagem do capim elefante não influenciou (P>0,05) no CFDN, FDA, HCEL e CEL (g/animal/dia e %PV). O estudo de regressão também não mostrou significância no CFDN quanto da adição do SACD na ensilagem do capim elefante. Como já discutido para CMS, os teores de FDN apresentados nas silagens (74,75%) devem ter contribuído no comportamento do consumo das silagens. Segundo Mertens (1992) existem correlações entre a ingestão voluntária e a concentração dietética de 89 FDN, devido à relação desta com a ocupação de espaço do trato gastrointestinal. Conrad et al. (1964) ressaltaram ainda, que a ingestão alimentar depende das características do animal e da dieta. Se a ingestão for limitada pela capacidade física do animal, quando a dieta contém altas proporções de FDN, a ingestão torna-se função das características da dieta. Desta forma, o animal consome alimento até atingir a capacidade máxima de ingestão de FDN, que passa a inibí-lo, havendo, assim, um limite de distensão ruminal que determina a interrupção da ingestão voluntária. Os consumos dos constituintes da parede celular das silagens (FDN, FDA, HCEL, CEL) tiveram seus comportamentos determinados em função do CMS e de suas concentrações na matéria seca do alimento. Digestibilidade Aparente da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), celulose (DCEL), energia bruta (EBD) e energia digestível (ED) Na Tabela 29 são apresentados os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), celulose (DCEL) e energia bruta (DEB) e energia digestível da dieta (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD). Tabela 29: Coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), energia bruta (DEB) e energia digestível (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) Silagens DMS DPB DFDN DFDA DHCEL DCEL EBD ED1 CE + 0% SACD 42,2a 18,5a 42,4a 38,6a 46,9a 52,8a 41,1a 1,62a CE + 3,5% SACD 48,8a 43,4a 50,7a 46,6a 56,1a 64,4a 45,6a 1,83a CE + 7,0% SACD 44,4a 35,7a 47,9a 44,8a 52,7a 65,0a 44,5a 1,83a CE + 10,5% SACD 52,1a 48,9a 53,5a 48,9a 61,8a 59,6a 50,4a 2,11a CE + 14% SACD 32,6a 38,7a 32,5a 26,6a 42,8a 31,7a 28,6a 1,22a Médias 43,6 36,4 44,8 40,7 51,6 54,7 41,6 1,72 CV (%) 7,2 35,2 7,7 42,0 5,1 4,2 7,6 28,7 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey 1 Mcal/kg de MS A análise de variância, bem como o estudo de regressão, não detectou efeito (P>0,05) dos níveis de adição do SACD na ensilagem do capim elefante sobre os coeficientes da digestibilidade aparente da MS (43,6%), PB (36,4%), FDN (44,8%), FDA (40,73%), HCEL (51,6%), CEL (54,7%), EBD (41,6%) e ED (1,72 Mcal). Os baixos teores da digestibilidade dos componentes nutricionais das silagens podem ser atribuídos, em parte, ao baixo valor nutritivo do capim elefante utilizado, e 90 também ao SACD, que apresentava boa parte do nitrogênio ligado aos componentes da fração fibrosa na forma de NIDA (Tabela 23) considerados de baixa disponibilidade para os microrganismos ruminais (Van Soest e Mason, 1991). Como também, devido a fração fibrosa, que apresentou elevados teores de lignina (Tabela 24), fator primário a limitar a digestibilidade da parede celular (Van Soest, 1994; Jung e Allen, 2000). Esperava-se que o aumento dos níveis de adição do SACD proporcionassem redução na digestibilidade da fração protéica, devido ao aumento nos teores de NIDA e da fração fibrosa, o que levaria, conseqüentemente, à redução na digestibilidade da MS, fato não verificado, possivelmente também, pela baixa qualidade nutricional do capim elefante, como citado anteriormente. Resultados semelhantes foram relatados por Souza et al. (2004) que não observaram efeito da substituição do milho pela casca de café sobre a digestibilidade da MS, PB, FDN e FDA. Apesar de terem registrado aumentos nos teores de NIDN, NIDA e lignina, vale ressaltar, que o volumoso utilizado apresentava 66,2% de NIDN e 11,9% de NIDA. Os resultados obtidos também podem ter sido influenciado pela presença de taninos no SACD, haja vista, que estes reduzem a digestibilidade da fibra, pela complexação com os carboidratos da parede celular, por meio da interação com enzimas celulares e com bactérias do rúmen, e em alguns casos, a baixa digestibilidade da fibra pode ser resultado da deficiência de nitrogênio fermentável ruminalmente devido à ligação das proteínas com o tanino (Cannas, 2005). acerola (33,2%), goiaba (39,5%), maracujá (54,4%) e melão (47,7%) também observou influência dos teores de NIDA em reduzir a DPB. Contudo, ressaltou que nos subprodutos, os níveis de PB exerceram maior influência que os teores de NIDA. O autor destacou ainda, o teor de tanino como importante fator depressor da DPB, principalmente, nos subprodutos com sementes, como a acerola. Dumont et al. (1985) e Reyne e Garamboins (1985) constataram a presença de taninos em subprodutos da industrialização da uva como fator responsável pela baixa DPB, cujos valores foram de 12,9 e 13,0%, respectivamente. Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED) Na Tabela 30 são apresentados os valores ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD). Lousada Junior et al. (2005) ao estudar a DPB dos subprodutos do abacaxi (29,0%), Tabela 30: Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED), expressos em g/animal/dia, de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) Silagens IMSD IPBD IFDND IED CE + 0% SACD 165,00a 4,68b 118,16a 0,63a CE + 3,5% SACD 277,24a 19,06a 208,52a 1,04a CE + 7,0% SACD 196,61a 12,72ab 149,49a 0,79a CE + 10,5% SACD 307,26a 26,33a 238,85a 1,24a CE + 14% SACD 162,89a 21,06a 116,46a 0,61a Médias 217,30 16,26 162,48 0,84 CV (%) 9,73 25,5 9,84 16,0 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Para os valores de IMSD, IFDND e IED não se observou efeito (P>0,05) dos níveis de adição do SACD. Para os valores de IPBD verificou-se que as silagens com adição de 3,5; 10,5 e 14% do SACD apresentaram valores superiores (P<0,05) a silagem 91 exclusiva de capim elefante. Pelo estudo de regressão verificou-se efeito linear na IPBD com a adição do SACD. logIPBD = 0,79 + 0,04x 0,28) (P<0,05; R2 = Balanço de Nitrogênio (BN) Os valores médios do balanço de nitrogênio em ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilados com níveis crescentes do subproduto da acerola desidratada (SACD) constam na Tabela 31. Tabela 31: Nitrogênio ingerido, nitrogênio excretado nas fezes e na urina, e balanço de nitrogênio (BN) em ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto da acerola desidratada (SACD) N ingerido N excretado nas N excretado na BN BN Silagens (g/dia) fezes (g/dia) urina (g/dia) (g/dia) (% N ingerido) CE + 0% SACD 3,68 2,98 2,57 -1,82a -62,59a CE + 3,5% SACD 6,88 3,83 2,07 0,98a 11,64a CE + 7,0% SACD 5,87 3,84 2,72 -0,69a -23,41a CE + 10,5% SACD 7,85 3,63 1,79 2,43a 22,52a CE + 14% SACD 8,57 5,20 2,63 0,74a 6,19a Médias 0,22 -10,79 CV (%) 8,18 -36,48 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Como nas silagens com SABD, não foi observado pela análise de variância e pelo estudo de regressão efeito (P>0,05) dos níveis de adição do SACD sobre o balanço de nitrogênio (g/dia e % N ingerido). Apesar dos reduzidos consumos de MS e PB, e do aumento das concentrações de nitrogênio na fração fibrosa do SACD, na forma de NIDN e NIDA. Constatou-se que nas silagens com 3,5; 10,5 e 14% do SACD houve balanço de nitrogênio positivo. Possivelmente, este efeito estar relacionado com o aumento do teor de PB e ingestão de PBD das silagens com a adição do SACD, uma vez que, a despeito do aumento dos teores de NIDA nas silagens com o incremento do SACD, registrou-se que as silagens com 3,5; 7; 10,5 e 14% do SACD possibilitaram o fornecimento de 6,4; 6,5; 7,1 e 7,8% de PB. Desta maneira, parece que a adição do SACD na ensilagem do capim 92 elefante atendeu os nitrogênio do animal. requerimentos de A granulometria do SACD, que apresentavase em partículas pequenas, também, pode ter facilitado a ação das bactérias ruminais, com isso, possibilitando maior disponibilidade do nitrogênio. Deve ser lembrado que animais alimentados com silagens apresentam menor eficiência de retenção de nitrogênio, devido à falta de sincronização da liberação do nitrogênio não protéico e liberação de energia no rúmen (McDonald, 1981; Van Soest, 1994). 7.4. CONCLUSÃO Conclui-se que o subproduto da acerola desidratada pode ser incluído em até 14% na ensilagem do capim elefante, sem comprometer o consumo e a digestibilidade dos nutrientes em ovinos. CAPÍTULO VIII - DEGRADABILIDADE IN SITU DAS SILAGENS DE CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DA ACEROLA RESUMO Avaliaram-se a degradabilidade in situ da matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), e hemicelulose (HCEL) das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com níveis crescentes (0; 3,5; 7; 10,5 e 14%) do subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.) desidratada (SACD). Foi utilizado um bovino adulto macho em delineamento inteiramente casualizado com parcelas subdivididas, sendo as proporções de SACD os tratamentos (parcelas), os diferentes silos as repetições e os tempos de incubação as subparcelas. Os períodos de incubação aumentaram (P<0,05) as taxas de desaparecimento da MS, PB, FDN, FDA e HCEL. Contudo não observou-se efeito dos níveis de inclusão do SACD sobre as degradabilidades efetivas da MS, FDN, FDA e HCEL. Concluiu-se que o SACD pode ser utilizado na alimentação de ruminantes, porém pode haver redução na disponibilidade de proteína e energia nas dietas baseadas neste alimento. 8.1. INTRODUÇÃO A partir de sua introdução na experimentação animal, a técnica de incubação in situ tem adquirido uso corrente para avaliação da degradabilidade ruminal de alimentos de diversas categorias (Ørskov et al., 1980). Apesar das dificuldades com o preparo cirúrgico e manipulação dos animais experimentais, sua utilização permite análise mais próxima possível da digestão in vivo, com a limitação de colocar o alimento em condições estáticas, não experimentando os processos de passagem e ruminação que a digesta é constantemente exposta. Ørskov e McDonald (1979) propuseram um método para descrever o curso da degradabilidade em função do tempo para amostras individuais de alimentos. Este método envolve a execução de uma série de tempos de incubação do material no rúmen. As perdas de matéria seca são confrontadas com o tempo e um modelo exponencial é ajustado de acordo com a equação: p = a + b (1 – e-ct), onde: “p”, é a percentagem de degradação após um tempo “t” expresso em horas de incubação no rúmen; “a”, é o intercepto da curva de degradação no tempo zero (to), que representa o substrato solúvel e completamente degradado; “b” é o substrato insolúvel, mas potencialmente degradável; “c”, é ataxa fracional constante de degradação da fração “b” remanescente a partir do tempo zero e t, (em horas) de incubação do rúmen. Segundo Sampaio (1988), os parâmetros “A” e “c” são os principais elementos na qualificação de uma forragem. Dessa forma, quando da comparação de diferentes equações, um maior valor de “A” indica um material mais degradável e um maior valor de “c”, implica em menor tempo para o desaparecimento da fração não imediatamente degradável. Forrageiras mais digestíveis apresentam valores altos de “A”, mas devem também possuir elevados valores de “c” para alcançarem o potencial máximo de degradação em menor tempo. Ressaltando que o A de Sampaio (1988), equivale ao a + b do Ørskov (1982). A taxa de passagem afeta significativamente a degradação no rúmen. Assim a degradação do alimento nos compartimentos do trato gastrointestinal é resultante de dois parâmetros competitivos, a taxa de passagem e a taxa de degradação (Ørskov, 1982). Nas situações em que as taxas de passagem não foram ou não puderam ser medidas, podem ser aplicados os valores propostos pelo ARC (1984) que considera as taxas de passagem de sólidos de 2, 5 e 8% por hora 93 para baixo, médio e alto consumo, respectivamente. A taxa de passagem de 2%/h é indicada para bovinos e ovinos em mantença, a de 5%/h para vacas leiteiras de pequena produção, e para bovinos de corte e ovinos em crescimento, alimentados à vontade com dietas mistas, enquanto que a de 8%/h é adequada para vacas de alta produção alimentadas com dietas mistas. O subproduto da acerola caracteriza-se como um subproduto com altos teores de lignina e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). O objetivo deste trabalho foi avaliar degradabilidade in situ das silagens de capim elefante com níveis crescentes de adição do subproduto da acerola desidratado. 8.2. MATERIAL E MÉTODOS O estudo in situ foi conduzido na Escola de Veterinária da UFMG, utilizando-se um novilho fistulado no rúmen (Tomich e Sampaio, 2004) e alimentado com silagem de milho, fornecida às 7 e 16 h, suplementada com 1 kg de concentrado ao dia. Avaliou-se a degradação ruminal do capim elefante ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14%). O capim elefante utilizado foi proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú (FEVC), em Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC). Após o corte de uniformização, a área recebeu adubação em cobertura: 50 kg/ha de N na forma de uréia e 40 kg/ha de K2O na forma de cloreto de potássio. A gramínea foi cortada com, aproximadamente, 70 dias de idade, sendo então ensilada com diferentes proporções de subproduto desidratado da acerola. Tal subproduto foi originado do processamento das acerolas utilizadas na fabricação de sucos, da empresa MAISA em Mossoró (RN). Para a desidratação do 94 subproduto, o mesmo foi exposto em área cimentada, por aproximadamente 48 horas. Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse uma densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SACD, o material foi compactado no interior do silo, durante o carregamento. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. A composição químico-bromatológica do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) (CE) e do subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.) desidratada (SACD), antes da ensilagem, encontra-se na Tabela 23, do Capítulo VI. Após 45 dias de ensilagem os silos foram abertos, e coletadas amostras das silagens para realização do ensaio de degradabilidade. As amostras foram présecas em estufa de ventilação forçada regulada a 60o C, por 72 horas, processadas em moinho tipo faca com peneira de 5 mm de crivo e homogeneizadas para incubação posterior. Os dados referentes às composições químico-bromatológicas do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 24, do Capítulo VI. Os alimentos foram incubados em sacos de náilon (50 micras) de 9 x 20 cm, com 10g do material pré-seco. Os sacos foram introduzidos no rúmen às 08 horas e retirados em ordem seqüencial, nos tempos de 6, 24, 48 e 96 horas, sendo então lavados manualmente em água corrente. Para determinação do tempo zero (t = 0), utilizouse três bolsas de náilon por tratamento com a mesma quantidade de amostra utilizada para os demais horários de incubação, foram fechados e lavados manualmente da mesma forma que nos outros horários. Em seguida, os mesmos foram secos em estufa ventilada, regulada a 60oC, pesados, e as amostras analisadas para determinação da matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e hemicelulose (HCEL), segundo metodologias descritas pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). A comparação das médias e os coeficientes do modelo proposto por Ørskov e McDonald (1979) foram determinados utilizando-se o programa Statistic Analysis System (SAS, 1990). Após a determinação dos parâmetros do modelo, estimou-se a degradabilidade efetiva adotando-se as taxas de passagem no rúmen de 2, 5 e 8%/h (McDonald, 1981). Trabalhou-se com cinco níveis de adição do subproduto, com três repetições e cinco tempos de incubação com um animal.O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com parcelas subdivididas, sendo as proporções de SACD os tratamentos (parcelas), os diferentes silos as repetições, e os tempos de incubação as subparcelas. Análise de variância Total ........................................................14 Tratamentos...............................................4 Repetições .................................................2 Erro a.........................................................8 Total Subparcelas....................................74 Tempo .......................................................4 Tempo x Tratamento...............................16 Erro B......................................................54 8.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os desaparecimentos médios da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal estão apresentados na Tabela 32. Tabela 32: Desaparecimento médio (%) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SACD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 19,43bE 21,02aE 20,57abE 20,50abE 20,30abE 6 22,59cD 26,45aD 24,95abD 23,30bcD 24,16bcD 24 34,18bC 38,45aC 35,47bC 34,20bC 31,21cC 48 45,45abB 47,45aB 45,75abB 44,04bB 45,66abB 96 61,04baA 62,22aA 58,08bA 55,76bcA 55,01cA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Verificou-se efeito (P<0,05) do tempo de incubação ruminal e a adição do SACD (P<0,05) na ensilagem do capim elefante no desaparecimento da MS. As frações solúveis variaram de 19,43 a 21,02% para as silagens exclusivas de capim elefante e com adição de 3,5% do SACD, respectivamente. Tais valores são bastante elevados para alimentos fibrosos pobres em carboidratos solúveis, principalmente pelo fato de boa parte desses compostos ser consumida durante o processo de ensilagem. Portanto, aqueles valores parecem resultar da perda de partículas pelos poros dos sacos de náilon no momento da lavagem. Houve aumento no desaparecimento da MS até 96 horas de incubação. Acredita-se que nesse horário as silagens já tenham alcançado o máximo de desaparecimento da 95 MS. Segundo Sampaio (1994), o período de incubação de 96 horas é suficiente para estudos de avaliação ruminal in situ de volumosos, por considerar que até nesse tempo de incubação é possível detectar mudanças da degradabilidade do material. Todavia, no que tange à influência do nível de adição do SACD nos tempos de incubação, esperava-se que houvesse redução do desaparecimento da MS, pois como constatado na Tabela 2, houve aumento nos teores de nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), bem como, aumento nos teores de lignina. Esses fatores podem ter influenciado na redução do desaparecimento da MS das silagens com adição do SACD, o primeiro pela redução na disponibilidade de nitrogênio para os microrganismos, e o segundo fator, como barreira ou camada protetora sobre os nutrientes no interior da célula, bem como, sobre a disponibilidade da celulose e hemicelulose. Contudo, os efeitos daqueles componentes não se mostraram de forma clara entre os níveis de adição do SACD (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14%). Tal fato pode ser decorrente de problemas envolvendo a granulometria do SACD, pois esse, ao ser processado para confecção das silagens, formou um pó muito fino e com presença de sementes intactas. Além disso, notou-se a pulverização do capim elefante por efeito do subproduto. Esta situação pode ter conduzido a problemas na homogeneização da amostra, uma vez que houve diferença entre o tamanho e a densidade das partículas do SACD e do capim elefante. 96 A pulverização das amostras pode também ter permitido maior escape das amostras pelo saco de náilon para o ambiente ruminal. Segundo Ørskov (1988), o tamanho da partícula pode afetar a homogeneidade da amostra a ser incubada e, conseqüentemente, sua degradabilidade in situ no rúmen. Situação semelhante foi observada por Campos (2005) que relatou maior perda de material pelos saquinhos quando a silagem de milho foi moída a 2 que a 5 mm. A redução do tamanho das partículas do SACD pode ter favorecido a ação dos microrganismos sobre a parede celular do subproduto, resultando em maior degradabilidade. Essa influência simultânea de vários fatores sobre a degradabilidade da MS dificulta a identificação de um ou de outro componente como responsável pelas diferenças nas degradabilidades das silagens. Avaliando a degradabilidade do subproduto da acerola e do capim elefante observou Rogério (2005) estabilização do desaparecimento da MS do subproduto da acerola a partir das 24 horas de incubação (43,36%), demonstrando que o subproduto da acerola é pouco degradado no rúmen, e apresentou, com exceção do período de 6 horas de incubação, valores de desaparecimento da MS inferiores aos encontrados no capim elefante. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 33. Tabela 33: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SACD 18,73 52,00 1,57 41,6 31,2 27,3 0,99 CE + 3,5% SACD 21,54 52,00 1,54 44,1 33,8 29,9 0,99 CE + 7,0% SACD 20,65 49,09 1,50 41,7 32,0 28,4 0,99 CE + 10,5% SACD 20,01 47,50 1,46 40,1 30,7 27,3 0,97 CE + 14% SACD 19,88 48,25 1,40 39,7 30,4 27,1 0,97 Observou-se para a fração solúvel (a) que a silagem com 3,5% do SACD apresentou o maior valor numérico, quando então houve o decréscimo com os níveis de adição do SACD. Manoel et al. (2003) encontraram na fração a valores de 11,94% para o subproduto da acerola, mostrando o baixo potencial do SACD em fornecer substrato prontamente degradável. Os níveis de adição do SACD levaram à redução das taxas de degradação da fração b (c). Todavia, Manoel et al. (2003) e Rogério (2005) encontraram taxas de degradação de 4,82 e 5%/h para o subproduto da acerola, valores bem superiores aos registrados na literatura para silagens de capim elefante (Valadares Filho, 1992), provavelmente pelo maior escape de material dos sacos ou pela maior ação dos microrganismos, pelo aumento da superfície de contato, já que esse material é altamente lignificado (Tabela 23). Baixas taxas de degradação da fração b (c) indicam maior permanência do alimento no rúmen, o que pode levar à redução do consumo pela distensão do trato gastrointestinal, antes que as demandas energéticas do animal hospedeiro sejam atendidas. Sampaio (1988) relatou que taxa de degradação inferior a 2%/h é indicativa de alimentos de baixa qualidade, já que necessita de período longo de permanência no rúmen para que sua digestão ocorra. Desta forma, é possível que a adição do SACD na ensilagem do capim elefante comprometa a qualidade nutricional do alimento, pelo seu reduzido índice de aproveitamento pelos microrganismos ruminais. As degradabilidades efetivas (DE) da MS das silagens praticamente não se alteraram, com a adição dos SACD à silagem do capim elefante. Como a parede celular representou, aproximadamente, 75% da composição da matéria seca das silagens, vale salientar, a influência destes componentes, como um dos fatores responsáveis pela redução da taxa de degradação b (c). O tanino com sua habilidade de formar complexos com vários tipos de moléculas também pode ser considerado importante depressor da degradabilidade. Tais resultados se assemelham aos obtidos no ensaio de digestibilidade aparente das silagens, onde não foram observadas diferenças nas digestibilidades da matéria seca com a adição do SACD na ensilagem do capim elefante. Tais respostas corroboram com os resultados de Rogério (2005) que verificou menor degradabilidade efetiva no subproduto da acerola (43,0 e 38,8%/h) quando comparado ao capim elefante (53,62 e 42,69%), respectivamente, para as taxas de 2 e 5%/h, demonstrando o baixo potencial de degradação do SACD. 97 Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 34. Tabela 34: Desaparecimento médio (%) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SACD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 17,30cE 18,11bcE 21,63aE 18,60bE 19,09bE 6 24,99cD 27,24aD 26,63abD 24,36cD 25,63bcD 24 37,06bC 39,00abC 38,06abC 37,71bC 39,22aC 48 47,01bcB 49,31abB 51,45aB 51,00aB 45,22cB 96 64,57aA 65,20aA 64,52aA 63,71aA 62,88aA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Verificou-se efeito (P<0,05) tanto do tempo de incubação, como dos níveis de adição do SACD na ensilagem do capim elefante, no desaparecimento da PB. Os valores de degradação parcial foram sempre crescentes para todos os níveis de adição do SACD. Quanto à influência do nível de inclusão do subproduto no desaparecimento da PB, não se observou de forma significativa, o efeito do nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e a presença do tanino (Vasconcelos et al., 2002) com o aumento das proporções do SACD. Possivelmente pela granulometria do SACD, permitindo maior ação dos microrganismos sobre as partículas do alimento, o que ajuda também a justificar o balanço de nitrogênio positivo obtido nas silagens com 3,5; 10,5 e 14% do SACD, no ensaio de digestibilidade aparente (Capítulo VII). Menores concentrações de N-NH3 no líquido ruminal foram relatados por Rogério (2005) ao fornecer 18 e 49% de subproduto da acerola na dieta, servindo para confirmar o baixo potencial de desaparecimento da PB deste subproduto em relação ao capim elefante. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 35. Tabela 35: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SACD 17,72 63,34 1,38 43,6 31,4 27,0 0,98 CE + 3,5% SACD 19,87 56,41 1,65 45,4 33,9 29,5 0,98 CE + 7,0% SACD 21,54 55,82 1,54 45,8 34,7 30,6 0,98 CE + 10,5% SACD 18,55 54,44 1,85 44,7 33,3 28,8 0,98 CE + 14% SACD 20,40 56,30 1,41 43,7 32,8 28,8 0,97 98 Os valores obtidos na degradabilidade efetiva comprovam, mais uma vez, que os níveis de adição do SACD não interferiram na disponibilidade de nitrogênio, apesar da lignificação e porcentagens de NIDA no material. Baseados nestes dados recomenda-se a suplementação protéica para dietas baseadas em subprodutos de acerola, principalmente de proteínas solúveis para corrigir a deficiência de nitrogênio ruminal nas primeiras horas. Contudo, como observado no ensaio de digestibilidade aparente (36,5%), os valores foram baixos, mostrando que o reduzido consumo e a baixa digestibilidade da matéria seca, pode ter sido também proveniente do baixo potencial de fornecimento de proteínas degradáveis no rúmen. Os desaparecimentos médios da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal estão apresentados na Tabela 36. Tabela 36: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SACD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 9,66cE 12,57bE 14,34abE 12,67bE 15,89aE 6 16,45aD 17,77aD 16,91aD 15,48aD 17,46aD 24 29,53bC 32,97aC 27,99bcC 27,09bcC 26,35cC 48 36,22bB 41,45aB 40,49aB 37,48bB 41,05aB 96 52,71bcA 58,20aA 55,34abA 52,04cA 55,05bA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey As silagens com 3,5; 7,0; 10,5 e 14% apresentaram valores superiores (P<0,05) aos observados na silagem exclusiva de capim elefante para a fração solúvel. A diferença registrada nas silagens com adição do SACD pode ser explicada, provavelmente, pela perda de material dos sacos no momento da lavagem, uma vez que a fração fibrosa é predominantemente insolúvel. A adição do subproduto não alterou de forma clara o desaparecimento da FDN nos tempos zero (0); 24; 48 e 96 horas de incubação. Isso provavelmente ocorreu em função da granulométria do subproduto, permitindo além da maior área de contato para ação dos microrganismos ruminais , também, maior efluxo de partículas dos saquinhos. Rogério (2005) observou que o desaparecimento da FDN do subproduto da acerola estabilizou-se a partir das 24 horas de incubação (36,79%), e que a FDN desapareceu sempre com maior intensidade para o capim elefante em comparação ao subproduto da acerola. O autor ressaltou ainda, o elevado teor de ligninas presente no subproduto, como um dos principais fatores limitantes da utilização do FDN pelos microrganismos ruminais. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 37. 99 Tabela 37: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação (c) e degradação efetiva (DE) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SACD 10,94 53,60 1,52 34,1 23,4 19,5 0,98 CE + 3,5% SACD 12,93 57,76 1,56 38,2 26,6 22,3 0,99 CE + 7,0% SACD 13,41 59,00 1,26 36,3 25,3 21,5 0,99 CE + 10,5% SACD 12,21 58,82 1,18 34,0 23,4 19,8 0,96 CE + 14% SACD 14,25 59,00 1,19 36,2 25,6 21,9 0,96 Observou-se que a fração solúvel (a) variou de 10,94% na silagem exclusiva de capim elefante para 14,25% na silagem com 14,0% do SACD. Acompanhando o que ocorreu com as taxas de degradação da MS (c), as taxas de degradação da FDN também foram reduzidas com a adição do SACD. As silagens com 14% do SACD apresentaram os menores valores (1,19%/h). Lousada Junior et al. (2005) e Rogério (2005) mencionaram a presença de compostos fenólicos no subproduto da acerola como fator também responsável pela redução da degradabilidade ruminal do subproduto. Segundo Cannas (2005) o tanino pode atuar na redução da digestibilidade da fibra em detrimento da sua ação sobre as enzimas celulases e bactérias ruminais, bem como, pela escassez de nitrogênio fermentado ruminalmente, devido à complexação da proteína. Os desaparecimentos médios da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal estão apresentados na Tabela 38. Tabela 38: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SACD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 10,07cD 10,90cD 17,59bD 15,10bD 22,27Ad 6 12,33cD 14,14cD 20,17abD 19,00bD 23,42aD 24 25,23bC 29,39aC 31,63aC 28,59abC 31,07aC 48 33,83cB 40,33abB 42,33aB 37,94bB 43,46aB 96 52,95abA 56,54aA 52,52bA 53,24abA 54,75abA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Para o desaparecimento da FDA notou-se que os valores nos tempos zero (0) e 6 horas de incubação foram similares (P>0,05), demonstrando lenta ação dos microrganismos nas primeiras horas de incubação, atenuando somente após as 24 100 horas, quando então, observou-se aumento crescente do desaparecimento da FDA, alcançando no tempo de incubação de 96 horas os maiores (P<0,05) valores. Comparando as taxas de desaparecimento da FDA com as da FDN no período de incubação após às 24 horas, notou-se que os valores foram próximos, o que esta relacionado com as proporções das frações fibrosas do SACD, que promoveram a redução da digestibilidade do FDN, pois como observado na Tabela 23, o subproduto apresentou concentrações menores de HCEL, o que levaram aproximação dos teores da FDN e FDA, refletindo em menor qualidade da fibra. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 39. Tabela 39: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação (c) e degradação efetiva (DE) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SACD 12,00 56,50 1,16 32,8 22,7 19,2 0,97 CE + 3,5% SACD 12,00 56,50 1,51 36,3 25,1 21,0 0,92 CE + 7,0% SACD 16,80 44,46 1,72 37,3 28,2 24,7 0,97 CE + 10,5% SACD 15,15 56,50 1,13 35,5 25,6 22,1 0,97 CE + 14% SACD 19,00 53,59 1,16 38,7 29,1 25,8 0,94 As baixas taxas de degradação (c) podem refletir menor digestibilidade do alimento e, consequentemente na redução do consumo voluntário. As degradabilidades efetivas não apresentaram mudanças significativas com a inclusão do SACD, concordando com os resultados obtidos no ensaio de digestibilidade aparente desta fração. Os resultados encontrados demonstram o baixo valor nutricional do subproduto da acerola, caracterizando-se como alimento desbalanceado em termos de nutrientes, tanto para os ruminantes, como para os microrganismos ruminais. Os baixos valores registrados para os parâmetros de degradação da FDA podem estar relacionados, principalmente, com os teores de lignina encontrados nas silagens. A lignina é o fator primário a limitar o potencial de digestão dos carboidratos fibrosos onde está quimicamente ligada (Van Soest, 1994), pois é de baixa ou nula digestibilidade. Seu principal efeito deve-se à função física como substância que favorece a rigidez pariental, bem como às características de suas ligações químicas com os polissacarídeos estruturais, também conhecida como fração lignocelulósica, à inibição da atividade enzimática ou mesmo à inter-relação de todos os fatores. O desaparecimento médio da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal estão apresentados na Tabela 40. 101 Tabela 40: Desaparecimento médio (%) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto da acerola desidratada (SACD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SACD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 8,16cD 17,47aC 10,45bcD 13,47abD 8,62bcD 6 8,20bcD 17,43aC 11,07bD 12,06abD 6,56cD 24 12,89cC 44,91aB 21,52bC 24,19bC 12,91cC 48 37,34aB 42,36aB 37,10aB 36,60aB 35,48aB 96 49,48bA 60,21aA 55,70abA 56,15abA 52,62abA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Os valores de desaparecimento de HCEL seguiram a mesma tendência da FDA, ou seja, as silagens no tempo zero (0) e as com 6 horas de incubação não diferiram entre si (P>0,05), quando a partir das 24 horas verificou-se o aumento crescente no desaparecimento da HCEL, finalizando às 96 horas com os maiores (P<0,05) valores. o que deve estar relacionado, com a associação da lignina com a hemicelulose (Van Soest, 1994). Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto da acerola desidratada (SACD) estão apresentados na Tabela 41. Em comparação com as silagens com o SABD, estes valores se mostram inferiores, Tabela 41: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação (c) e degradação efetiva (DE) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto da acerola desidratada (SACD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SACD 9,50 59,00 1,06 29,9 19,8 16,4 0,91 CE + 3,5% SACD 15,69 46,54 2,58 41,9 31,5 27,0 0,63 CE + 7,0% SACD 9,50 59,00 1,33 33,1 21,9 17,9 0,97 CE + 10,5% SACD 10,43 59,00 1,31 33,8 22,7 18,8 0,93 CE + 14% SACD 9,50 59,00 1,09 30,3 20,2 16,6 0,87 microbiota ruminal, como processo de lignificação e ausência de nutrientes para a As baixas taxas de degradação (c) obtidas microflora como nitrogênio. nas silagens explicam os reduzidos consumos observados nas silagens (Capítulo 6), pois o máximo consumo de uma 8.4. CONCLUSÃO forragem pelo ruminante depende, Concluiu-se que o SACD pode ser utilizado primariamente, das taxas de esvaziamento na alimentação de ruminantes, porém pode do rúmen da hemicelulose e da celulose. Por haver redução na disponibilidade de proteína sua vez, estas taxas, dependem de vários e energia nas dietas baseadas nesse alimento. fatores que interferem na atividade da 102 CAPÍTULO IX – CARACTERÍSTICAS QUÍMICO–BROMATOLÓGICAS E FERMENTATIVAS DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU RESUMO O trabalho foi conduzido com o objetivo de se avaliar o valor nutritivo das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com adição de 0; 3,5; 7; 10,5 e 14% do subproduto do pseudofruto do caju (Anacardium occidentale, L.) desidratado (subproduto da agroindústria do suco de caju). Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Após 50 dias, os silos foram abertos e coletadas amostras para determinação dos teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), energia bruta (EB), cinzas, nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). Foram analisados também o pH, nitrogênio amoniacal como percentagem do nitrogênio total (N-NH3/NT) e ácidos orgânicos (ácido lático, acético, butírico e propiônico) das silagens. A adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) aumentou (P<0,05) os teores de MS de 19,8 para 27,0%, PB de 4,6 para 9,1%, FDA de 45,3 para 49,3, LIG de 13,3 para 24,4%, NIDN de 26,9 para 57,5% e NIDA de 11,7 para 24,7% para as silagens exclusiva de capim elefante e com 14% do SPCD. Para os parâmetros fermentativos observou-se redução (P<0,05) dos valores de pH, porém não registrou-se influência (P>0,05) dos níveis de adição do SPCD sobre os teores de N-NH3/NT e ácidos orgânicos. Conclui-se que o subproduto do pseudofruto do caju desidratado pode ser ensilado com o capim elefante, sem comprometer as características fermentativas das silagens de capim elefante. Porém, o aumento nos componentes da parede celular e do NIDA podem comprometer o valor nutricional do ensilado final. 9.1. INTRODUÇÃO A exploração racional dos ruminantes exige uma alimentação balanceada durante todo o ano. Todavia, as condições climáticas reinantes no Brasil, determinam épocas favoráveis (estação chuvosa) e críticas (estação seca) para produção de forragem. Este fato leva ao fornecimento de forragens de baixa qualidade aos animais no período seco do ano, determinando inadequado consumo de nutrientes e comprometendo a produção animal. Uma das maneiras de se alterar o quadro vigente é desenvolver alternativas para o aproveitamento de subprodutos da agroindústria disponíveis no período crítico do ano. Segundo Araújo e Silva (1995), o Brasil apresenta 630 mil ha de área plantada com cajueiro (Anacardium occidentale L.), com uma produção estimada de 168 mil toneladas de castanha por ano, enquanto, a produção de pedúnculos chega a mais de 1,3 milhão de toneladas/ano (Vasconcelos et al., 2002), Na industrialização do pseudofruto do caju para produção de sucos, são gerados em torno de 40% de subproduto (bagaço do pseudofruto do caju), ressaltando que esta produção concentra-se na estação seca do ano (julho a janeiro), período este, que se caracteriza pela menor disponibilidade de forragem na região Nordeste tanto quantitativamente como qualitativamente. Os subprodutos resultantes da extração do suco do pseudofruto do caju e dos pedúnculos imprestáveis para o consumo humano, podem ser utilizados na alimentação animal, ao natural, como farelo de polpa de caju (Lavezzo, 1994), e na forma de silagem, que representa uma maneira de melhorar o valor nutritivo da polpa de caju, já que o produto apresenta altos teores de umidade e fibra, que podem limitar a utilização direta na alimentação animal (Awolumate, 1983). Desta forma, a busca pela utilização mais adequada desse subproduto é de extrema importância, não só na formulação de dietas para ruminantes, 103 mas como forma de evitar a poluição do meio ambiente. No Brasil, uma das gramíneas possíveis de serem utilizadas na ensilagem do bagaço do caju é o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.). Segundo Faria et al. (1995/96), a ensilagem do capim elefante minimiza o problema da estacionalidade de produção de forragem que, no caso da referida gramínea, tem 80% da produção no período chuvoso. Há que se destacar, entretanto, que o capim elefante apresenta algumas limitações. Segundo Lavezzo (1985), quando o capim elefante atinge seu “equilíbrio nutritivo”, ou seja, apresenta uma boa produção por área e bom valor nutritivo, que ocorre quando o corte para ensilagem é realizado com 50-60 dias de crescimento, apresenta alto teor de umidade, baixo teor de carboidrato solúvel e alto poder tampão, fatores que, em conjunto, podem influenciar negativamente o processo fermentativo. Segundo McDonald (1981), estes itens agem impedindo rápido decréscimo do pH a níveis adequados (3,8 a 4,2), fazendo com que fermentações secundárias e indesejáveis ocorram devido à ação de bactérias produtoras de ácido butírico, que passarão a se desenvolver, utilizando o lactato produzido e os açúcares residuais. Catchapoole e Henzel (1971) afirmaram que algumas forragens tropicais são de difícil ensilagem. Porém, os autores ressaltaram que a utilização de aditivos ou técnicas que visem melhorar a preservação da forragem antes da ensilagem pode melhorar a fermentação. Neiva et al. (2001), avaliando a adição de bagaço de caju na ensilagem de capim elefante, observaram aumento nos teores de proteína bruta, à medida que foi adicionado o subproduto do caju, e decréscimo nos teores de fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido. Para os valores de pH, observaram uma média de 3,9. Esses autores concluíram que a adição do subproduto do caju proporcionou uma melhora na conservação e no valor nutritivo das silagens de capim elefante. Ferreira et al. (2004) observaram aumento nos teores de proteína bruta e redução nos valores de pH e nitrogênio amoniacal com a adição do bagaço de caju na ensilagem do capim elefante. O presente trabalho foi desenvolvido objetivando avaliar o valor nutritivo e características fermentativas de silagens de capim elefante com diferentes níveis de adição do pseudofruto do caju desidratado. 9.2. MATERIAL E MÉTODOS Os efeitos maléficos do alto teor de umidade foram observados por Faria et al. (1995/96), que ensilando capim elefante com teores de matéria seca de 14,34%, obtiveram teor de nitrogênio amoniacal de 19,59% e valor de pH de 4,32. Da mesma forma, Tosi et al. (1995), avaliando o potencial da cv. Mott para ensilagem encontraram teor de matéria seca de 15,94% de nitrogênio amoniacal de 23,1% e pH de 4,5. Esses resultados estão acima dos valores preconizados por McDonald (1981) e McCullough (1977), para que ocorra boa fermentação no silo. 104 O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisas em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC), no município de Fortaleza (CE). Foram estudados cinco níveis de adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14,0%), com base na matéria natural, na ensilagem do capim elefante. Em relação à matéria seca, essas adições consistiram em 0; 13,0; 24,0; 33,0 e 41,0%. Utilizou-se o delineamento inteiramente repetições casualizado com quatro Na confecção das silagens experimentais foi utilizado o capim elefante, proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú (FEVC), em Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC). O capim foi cortado manualmente com, aproximadamente, 70 dias de idade. Em seguida, foi processado em picadeira de forragem e, posteriormente, misturado ao subproduto do pseudofruto do caju originado do processamento da fruta para extração de sucos e polpas, da empresa MAISA em Mossoró (RN). O subproduto do pseudofruto do caju era composto, basicamente pelo bagaço do caju, resultante do processamento do pseudofruto para a fabricação de sucos . A desidratação foi feita ao sol em área cimentada, por período de 48 horas, sendo espalhados em camadas de, aproximadamente, 7 cm de espessura e revolvidos pelo menos três vezes ao dia. À noite o material foi amontoado e coberto por lona, evitando o acúmulo de umidade. A composições químico-bromatológicas do capim elefante (CE) e do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD), antes da ensilagem, encontram-se na Tabela 42. Tabela 42: Composições químico–bromatólogicas do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum) (CE) e do subproduto pseudofruto do caju (Anarcadium occidentale L) desidratado (SPCD) antes da ensilagem MS (%) PB1 FDN1 FDA1 HCEL1 CEL1 LIG1 NIDN2 NIDA2 CHOs EB3 CE 19,5 4,9 70,7 39,2 31,5 25,3 13,8 29,3 10,5 6,8 3,9 SPCD 86,0 18,2 72,2 56,5 15,6 21,0 35,5 51,2 16,7 3,9 4,7 MS - matéria seca; PB - proteína bruta; FDN - fibra em detergente neutro; FDA - fibra em detergente ácido; HCEL – hemicelulose; CEL – celulose; LIG – lignina; NIDN - nitrogênio insolúvel em detergente neutro; NIDA - nitrogênio insolúvel em detergente ácido; CHOs – carboidratos solúveis; EB - energia bruta (Mcal/kg de MS) 1 Porcentagem da matéria seca 2 Porcentagem do nitrogênio total 3 Mcal/kg de MS Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse uma densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SPCD, o material foi compactado no interior do silo. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. Após 65 dias, os silos foram abertos e deles retiradas amostras homogêneas de 300 g das silagens, que permaneceram armazenadas à –100C até a época das análises químicobromatológicas. Foram então determinados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), energia bruta (EB), cinzas, nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). Foram analisados também o pH, nitrogênio amoniacal como percentagem do nitrogênio total (N-NH3/NT) e ácidos orgânicos (ácido lático, acético, butírico e propiônico) no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, seguindo metodologias descritas pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). As variáveis estudadas foram avaliadas por meio de análise de variância. Para realização 105 da comparação das médias, foi utilizando o teste de Tukey, e por meio da análise de regressão foi avaliado o efeito dos níveis crescentes de adição do SPCD, ao nível de 1 e 5% de probabilidade e no coeficiente de determinação, por intermédio do programa SAS (1990). Antes da realização destas análises, foi feito um estudo para verificar se as pressuposições de distribuição normal e homocedasticidade dos dados foram atendidas. As características que não atenderam estas pressuposições foram transformadas para se prosseguir com as análises estatísticas. As transformações utilizadas foram a logarítmica para PB e pH, e inversa para a lignina. 9.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Teor de Matéria Seca (MS) Os dados referentes às composições químico–bromatológicas e as equações de regressão em função dos níveis crescentes de adição de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) na ensilagem do capim elefante (CE) estão apresentadas na Tabela 43. Tabela 43. Teores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL), lignina (LIG), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e energia bruta (EB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) Níveis de adição do SPCD (%) 0 3,5 7 10,5 14 Equação de Regressão MS(%) 19,84d 21,04cd 22,12c 25,35b 27,05a Ŷ = 19,33 + 0,53x R2 = 0,91 1 MO 87,26c 87,97c 87,90c 89,41b 90,66a Ŷ = 86,99 + 0,23x R2 = 0,78 1 PB 4,67c 5,44c 7,08b 8,12ab 9,10a Log(Ŷ)= 0,67 + 0,02x R2 = 0,91 1 FDN 73,13a 73,87a 74,00a 71,43a 71,94a Ŷ = 73,84 – 0,14x R2 = 0,17 1 FDA 45,35c 48,78ab 48,24ab 47,06bc 49,32a Ŷ = 46,51 + 0,18x R2 = 0,24 1 HCEL 27,78a 25,09abc 25,76ab 24,37bc 22,62c Ŷ = 27,33 – 0,31x R2 = 0,56 1 CEL 31,43a 31,49a 29,06ab 25,58bc 23,46c Ŷ = 32,57 – 0,62x R2 = 0,74 1 LIG 13,34a 16,51b 18,18bc 20,29c 24,36d 1/ Ŷ = 0,072 – 0,002x R2 = 0,90 2 26,98c 41,95b 45,94ab 46,63ab 57,46a Ŷ = 30,66 + 1,87x R2 = 0,65 NIDN 2 NIDA 11,70b 21,40a 19,21a 21,08a 24,75a Log(Ŷ)= -1,15 + 0,01x R2 = 0,44 3 EB 3,87d 3,93cd 4,00bc 4,11ab 4,16a Ŷ = 3,86 + 0,02x R2 = 0,81 Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha, diferem entre se (P<0,05), pelo teste de Tukey O teor de MS aumentou em função dos níveis de adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) adicionado às silagens. O maior teor de MS (P<0,01) foi obtido na silagem contendo 14% do SPCD (27,05%), sendo observado que tal silagem apresentou 7,21 unidades percentuais de MS a mais que a silagem exclusiva de capim elefante (19,84%). A silagem com 14% do SPCD apresentou concentração de MS bem próxima da recomenda pela literatura (28 a 34% de MS) como indicativa de silagens bem conservadas (McCullough, 1977). 106 Pela equação de regressão observou-se aumento linear (P<0,05) nos níveis de MS com adição do SPCD, e para cada 1% de adição do SPCD, foi proporcionado aumento (P<0,01) nos teores de MS das silagens de 0,53 pontos percentuais. Ferreira et al. (2004) avaliando a adição do bagaço de caju (0; 12; 24; 36 e 48%) na ensilagem do capim elefante também observou aumento nos teores de MS, com adição do subproduto. Já Gonçalves et al. (2003) e Oliveira Filho et al. (2003) trabalhando com silagens de capim elefante e capim braquiária contendo níveis crescentes (0; 5; 10; 15 e 20%) do pedúnculo integral do caju desidratado, respectivamente, obtiveram crescimento linear nos teores de MS, alcançando concentrações de 33,12 e 34,06% de MS nas silagens com adição de 20% do SPCD. Teores de MS superiores aos do presente trabalho foram observados somente em silagens com capim em avançado estádio de crescimento, ou que foram submetidas a alguma prática de redução de umidade, como emurchecimento ou adição de materiais com elevado teor de MS (Vilela et al., 1990; Alberto et al., 1993; Andrade e Lavezzo et al., 1998; Sobrinho et al., 1998; Tosi et al., 1999; Evangelista et al., 2002). Desta maneira, o subproduto do caju desidratado funcionou, como eficiente absorvente em forragens úmidas, evitando a perda de matéria seca, e possivelmente, a ação de bactérias indesejáveis (Clostridium), produtoras de ácido bitírico e de outros produtos, que diminuem os aspectos qualitativos das silagens. As silagens apresentaram cheiro agradável e naquelas com adição do subproduto foi observado cheiro típico do fruto na forma original. Teor de Proteína Bruta (PB) Os níveis de adição do SPCD influenciaram os teores de PB das silagens, de forma que, aquelas com 10,5 e 14% do SPCD foram semelhantes (P>0,05), apresentando teores de PB superiores (P<0,05) nos observados na silagem exclusiva de capim elefante e com adição de 3,5% do SPCD, que por sua vez, permaneceram com teores abaixo dos 7,0% necessários para que não haja decréscimo no consumo voluntário e na digestibilidade da MS (Milford e Minson, 1966). A adição do SPCD proporcionou aumento linear (P<0,05) nos teores de PB das silagens. Estes resultados eram esperados, uma vez que, o SPCD apresentou teor protéico (18,26%) superior ao do capim (4,98%). As silagens com 14% do SPCD possibilitaram incremento de, aproximadamente, 90% nos teores de PB das silagens. Os resultados concordam com Neiva et al. (2001) que observaram aumento linear nos teores de PB com adição do bagaço de caju (subproduto do pseudofruto do caju) na ensilagem do capim elefante. Nas silagens com 100% do bagaço de caju foi observado teor de 13,1% de PB. O mesmo comportamento foi observado por Gonçalves et al. (2003), trabalhando com níveis crescentes do pseudofruto do caju desidratado na ensilagem do capim elefante. Estes autores observaram elevação nos teores de PB com adição do subproduto e nas silagens com 20% do SPCD obtiveram 9,69% de PB, valores semelhantes aos obtidos nas silagens com adição de 14% do SPCD. Da mesma forma, Oliveira Filho et al. (2003) estudando a utilização de níveis crescentes do pseudofruto do caju desidratado na ensilagem do capim braquiária também observaram aumento linear nos teores de PB das silagens. Teixeira et al. (2003) observou teores de PB de 11,52% em silagens de capim elefante com 12% do SPCD. Contudo Ferreira et al. (2004), observaram que os teores de PB se comportaram de forma quadrática com a adição do bagaço de caju na ensilagem do capim elefante. Teores de Fibra em Detergente Neutro (FDN), Fibra em Detergente Ácido (FDA), Hemicelulose (HCEL), Celulose (CE) e Lignina (LIG). Não se observou efeito (P>0,05) da adição do SPCD sobre o teor de FDN e a média observada foi de 72,87 ± 1,21%. O estudo de regressão, ao contrário, mostrou que os teores de FDN reduziram (P<0,05) em 0,14 107 pontos percentuais, para cada 1% de adição do SPCD. Neiva et al. (2001) registraram decréscimo linear nos teores de FDN com adição do bagaço de caju na ensilagem do capim elefante. Já Oliveira Filho et al. (2003) não observaram efeito dos níveis de adição do pedúnculo do caju desidratado na ensilagem do capim elefante sobre os teores de FDN. Gonçalves et al. (2003), porém, registraram um crescimento linear nos teores de FDN com a adição do pedúnculo do caju desidratado. Quanto aos teores de FDA, não foram verificadas diferenças (P>0,05) entre as silagens com a adição (3,5; 7,0 e 14,0%) do SPCD. Contudo, as mesmas mostraram teores de FDA superiores (P<0,05) ao observado na silagem exclusiva de capim elefante que se assemelhou (P>0,05) à silagem com 10,5% do SPCD. Os valores variaram de 45,35 (0%) a 49,32% (14%). A análise de regressão mostrou incremento (P<0,05) de 0,18 pontos percentuais nos teores de FDA, para cada 1% de adição do SPCD. Os resultados obtidos estão de acordo com Gonçalves et al. (2003) e Oliveira Filho et al. (2003) que também observaram aumento linear nos teores de FDA com a adição do pedúnculo do caju desidratado. Nas silagens com o maior nível de adição do pedúnculo do caju desidratado (20%) registraram teores de 53,91 e 47,64% de FDA, respectivamente. Ao contrário, Ferreira et al. (2004) não observaram efeito da adição do bagaço de caju na ensilagem do capim elefante (46,55%) e Neiva et al. (2001) observaram que as silagens reduziram linearmente os teores de FDA com a adição do bagaço de caju, atingindo teores de 34% de FDA naquelas com 100% de bagaço de caju. 108 Como o SPCD utilizado apresentou teor de FDA elevado (56,56%), é possível que um nível mais alto desse subproduto comprometa a qualidade nutricional das silagens. Evangelista et al. (2002) trabalhando com silagens de cana de açúcar encontraram teores de FDA superiores (55,19%) aos registrados neste trabalho. Assim como Magalhães e Rodrigues (2004) que avaliando diferentes híbridos de milho (50,29 a 69,09% de FDA) também obtiveram teores de FDA superiores aos observados nas silagens com SPCD. Teores decrescentes de HCEL foram obtidos com adição do SPCD. As silagens com 14% do SPCD apresentaram o menor (P<0,05) valor (22,62%), diferindo das demais silagens. Os valores variaram de 27,78 (0%) a 22,62% (14%). Pelo estudo de regressão observou-se decréscimo (P<0,05) de 0,31% no teor de HCEL, com adição de 1% do SPCD. Os resultados estão em conformidade com Gonçalves et al. (2002) que registraram reduções de 0,32% nos teores de HCEL a cada unidade de SPCD adicionado na ensilagem do capim braquiária. Para os teores de CEL, verificou-se que as silagens exclusivas de capim elefante e com 3,5 e 7,0% do SPCD foram semelhantes (P>0,05). Contudo, apresentaram valores superiores (P<0,05) ao observado na silagem com 14% do SPCD. Os valores variaram de 31,49 (3,5%) a 23,46% (14%). O estudo de regressão mostrou que os teores de CEL reduziram linearmente (P<0,05), com o aumento nos níveis de inclusão dos SPCD. Houve redução de 0,62 pontos percentuais nos teores de CEL, para cada 1% de adição do SPCD. O mesmo comportamento foi observado por Mattos et al. (2003) ao adicionarem diferentes níveis de polpa cítrica (0; 15; 20; 25 e 30%) na ensilagem do capim andropogon. As reduções nos teores de HCEL, bem como nos teores de CEL, estão relacionadas à menor concentração desses componentes no SPCD, em relação ao capim elefante (Tabela 42). Quanto aos teores de lignina, observou-se que as silagens com 14% do SPCD apresentaram o maior valor (24,36%) diferindo (P<0,05) das demais silagens. A silagem de capim elefante exclusivo apresentou o menor (P<0,05) teor (13,34%) de lignina. O estudo de regressão mostrou aumento linear (P<0,05) nos teores de lignina com inclusão do SPCD. Desta forma, o aumento nos teores de lignina com a inclusão do SPCD na ensilagem pode constituir fator limitante para utilização desse subproduto na alimentação animal, pois, a lignina contida na parede celular se encontra firmemente ligada aos polissacarídeos das plantas, dando uma forte estrutura. Isso pode reduzir a digestibilidade da fibra, por impedir o ataque dos microrganismos do rúmen aos nutrientes contidos no interior da célula (Van Soest, 1994). Teores de nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), como porcentagem do nitrogênio total. Os teores de NIDN, como percentagem do nitrogênio total, das silagens foram influenciados (P<0,05) pelos níveis de adição do SPCD. Pela análise de variância, as silagens com inclusão de 7,0; 10,5 e 14% do SPCD se mostraram semelhantes (P>0,05). Contudo, a silagem com 14% apresentou teor superior (P<0,05) aos observados nas silagens exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SPCD. Os valores variaram de 26,98 (0%) a 57,46% (14%) de NIDN. A equação de regressão mostrou que a inclusão do SPCD, aumentou de forma linear (P<0,05) os teores de NIDN nas silagens, com incremento de 1,87 pontos percentuais, a cada 1% de inclusão do SPCD. Para os teores de NIDA, como percentagem do nitrogênio total, também verificou-se efeito (P<0,05) da inclusão do SPCD. As silagens com o SPCD foram similares (P>0,05) e apresentaram teores de NIDA superiores (P<0,05) ao observado na silagem exclusiva de capim elefante. Os valores variaram de 11,70 (0% SPCD) a 24,75% (14% SPCD) de NIDA. Segundo Van Soest (1994) o nitrogênio insolúvel em detergente neutro, mais solúvel em detergente ácido, parece ter digestibilidade considerável, porém, esse nitrogênio apresenta taxas de digestão mais lenta que a fração solúvel em detergente neutro, e sua concentração pode ser aumentada com o calor. Já o NIDA corresponde à fração C no sistema de CORNELL, sendo considerada indisponível por conter proteínas associadas a lignina e taninos, podendo ser produto da reação de Maillard (Van Soest, 1994). Energia Bruta (EB) Nos valores de EB, as silagens com 10,5 e 14% do SPCD foram semelhantes (P>0,05), e seus valores superiores (P<0,05) aos observados nas silagens exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SPCD, que não diferiram entre si (P>0,05). Ácidos Orgânicos, pH e Nitrogênio Amoniacal (N-NH3) Os dados referentes às características fermentativas (ácidos orgânicos, pH e nitrogênio amoniacal) das silagens estão apresentados na Tabela 44. 109 Tabela 44: Valores de pH, teores de nitrogênio amoniacal, como percentagem do nitrogênio total (NNH3/NT) e ácidos orgânicos (% da MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) Níveis de adição do SPCD (%) 0 3,5 7 10,5 14 Equação de Regressão pH 6,04c 5,71bc 5,24b 4,28a 4,30a Log (Ŷ ) = 0,78 – 0,01x R2 = 0,44 N-NH3/NT 3,5a 2,45a 2,22a 2,12a 1,80a ns Ác.Lático 1,616a 1,259a 1,958a 2,007a 1,857a ns Ác.Acético 0,178a 0,222a 0,382a 0,375a 0,259a ns Ác.Propiônico 0,031a 0,035a 0,042a 0,032a ns Ác.Butírico 0,021a 0,032a 0,012a 0,041a 0,023a ns Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey ns – não significativo Para os valores de pH, verificou-se que as silagens com adição de 10,5 e 14% do SPCD foram equivalentes (P<0,05) e apresentaram valores inferiores (P<0,05) aos observados nas silagens exclusiva de capim elefante e com 3,5 e 7,0% de adição do SPCD. Utilizando-se do estudo de regressão foi possível observar redução nos valores de pH. Todavia, a silagem exclusiva de capim elefante, assim como, as silagens com 3,5; 7,0 e 14% do SPCD apresentaram valores de pH superiores à faixa preconizada na literatura (Catchpoole e Henzel, 1971; Marsh, 1979; McCullough, 1977; McDonald, 1981) que seria de 3,8 a 4,2 para caracterização de silagens bem preservadas. Quanto aos teores de N-NH3 não se observou efeito (P>0,05) da adição do SPCD sobre o parâmetro analisado, a média observada foi de 2,33%. Todos os tratamentos então, permaneceram com valores bem abaixo dos 12% de N-NH3, indicando reduzida atividade proteolítica das bactérias sobre os compostos nitrogenados nas silagens (Catchpoole e HenzelL, 1971; McDonald 1981; Umaña et al., 1991). Ferreira et al. (2004) verificaram efeito quadrático nos valores de pH com adição de níveis crescentes (0; 12; 24; 36 e 48 %) de bagaço de caju na ensilagem do capim elefante. Todavia, os valores permaneceram na faixa dos 3,8 e 4,2, enquanto, os teores de 110 N-NH3 reduziram, e ficaram abaixo dos 12%, como observados neste trabalho. Já Oliveira Filho et al. (2003) não observaram efeito dos níveis de adição do pedúnculo do caju na ensilagem do capim braquiária, enquanto, Gonçalves et al. (2002) registraram aumento nos valores de pH com o incremento da inclusão do pedúnculo do caju na ensilagem do capim elefante. A análise de variância e o estudo de regressão não evidenciaram efeito dos níveis de inclusão do SPCD sobre os teores de ácido lático, acético, propiônico e butírico, sendo as médias observadas de: 1,740; 0,2834; 0,0354 e 0,0258%, respectivamente. Avaliando a composição química do pedúnculo de caju, Menezes e Alves (1995) observaram valores de pH variando de 3,6 a 4,3. Já Fé et al. (1972) obtiveram média de pH de 4,48 no pedúnculo de caju, e Kinh et al. (1996) de 4,0 no subproduto do pedúnculo do caju. Desta forma, é possível que o SPCD na ensilagem tenha apresentado valores de pH ácido, e juntamente com o aumento nos teores de MS das silagens com a adição do SPCD, terem proporcionado ao meio um ambiente desfavorável à multiplicação dos microrganismos. Desta forma, restringindo a fermentação e comprometendo a formação dos ácidos orgânicos (ácido lático, acético, propiônico, butírico) que são responsáveis pela produção e estabilização dos baixos valores de pH nas silagens (Woolford, 1972; McDonald, 1981), justificando, dessa maneira as baixas concentrações de ácido lático, acético, propiônico e butiríco encontradas nas silagens. Os baixos teores de CHOs presente no capim elefante e no SPCD (Tabela 42) também ajudam a explicar as baixas concentrações de ácidos lático, acético, e propiônico e butírico nas silagens. Vale ressaltar, que quanto mais rápido o pH cai, mais eficiente é a preservação, e menor será o desdobramento da proteína em compostos nitrogenados não protéicos, como peptídeos e aminoácidos que são produtos da atividade das enzimas proteolíticas das plantas, que geralmente atuam no início do processo fermentativo e menor será a produção de amônia, produto da ação das bactérias Clostrídicas (Woolford, 1972; Ohshima e McDonald, 1978; McDonald, 1981). Maiores valores de pH provenientes do aumento nos teores de MS também foram observados em estudo efetuado por McDonald (1981). Todavia, segundo Whittenbury et al. (1967), o pH isoladamente se constitui num valor duvidoso como índice de qualidade de silagens com elevado teor de matéria seca, principalmente em se tratando de silagens de forrageiras tropicais, cuja composição química não se enquadra nos padrões de regiões temperadas para silagens láticas. Porém, como o ácido málico é o principal ácido encontrado no pedúnculo do caju, seguido pelo ácido citríco (Menezes e Alves, 1995) eles podem ter contribuído para formação de um novo sistema tampão no meio, e com isso aumentado os valores finais do pH (McDonald, 1981). Whittenbury et al. (1967) e McDonald (1981) e relataram que pode haver elevação do poder tampão das plantas ou do material ensilado após a ensilagem, e isso tem sido atribuído às modificações químicas que se processam no silo. Segundo os autores, as bactérias láticas podem atuar sobre os ácidos orgânicos, liberando íons que passarão a formar novos sistemas tampões, pela combinação com os ácidos formados. McDonald (1981) considerou que os ácidos lático e acético formados seriam os responsáveis pelo estabelecimento dos tampões adicionais. Segundo Muck (1991), a capacidade tampão varia com a cultura, maturidade e condições de crescimento da planta. McDonald (1981) ressaltou ainda, que grande parte das propriedades tamponantes das forrageiras é atribuída aos ânions (sais de ácidos orgânicos, ortofosfatos, sulfatos, nitratos, e cloridatos), e que somente de 10 a 20% são resultado da ação da proteína das plantas. Dessa forma, maior quantidade de ácido lático será necessária para provocar o abaixamento do pH para níveis adequados à conservação da massa ensilada. Kinh et al. (1996) estudando a curva de fermentação do subproduto do pseudofruto do caju que continha 22,52% de MS, observaram valores de 26,5% de carboidratos solúveis no subproduto, que reduziram drasticamente, alcançando com 30 dias de fermentação, valores de 0,67%. Mesmo com essa mobilização, as concentrações de ácido lático permaneceram baixas, alcançando valores máximos aos 15 dias de fermentação (4,82%), assim como de ácido acético (5,33%) e nitrogênio amoniacal (8,78%), que reduziram para 2,86; 2,26% e 7,68% respectivamente, com 30 dias de fermentação. Quanto aos valores de pH e ácido butírico não se registrou alteração com o aumento do período de fermentação (4,0 e 0,07%). Igarasi (2002) observou aumento do poder tampão ao adicionar polpa cítrica na ensilagem do capim Tanzânia. Porém, 111 segundo o autor, a maior disponibilidade de carboidratos solúveis e o aumento do teor de MS com a adição da polpa cítrica, proporcionaram condições para que o pH das silagens atingisse os valores preconizados na literatura. Segundo o autor, à ação tamponante da polpa cítrica pode estar relacionada a concentração relativamente elevada de cálcio. Evangelista et al. (2001) também observaram esse efeito ao adicionar níveis crescentes de polpa cítrica na ensilagem do capim tanzânia. ácido lático (1,61%), acético (0,17%), propiônico (0,00%), butírico (0,02%) e o pH (6,0) obtidas nas silagens se enquadraram dentro dos valores encontrados na literatura, que variam de 0,4 a 17,6% de ácido lático; 0,08 a 6,7% de acético; 0,00 a 0,55% de propiônico; 0,0 a 6,04% de butírico; e o pH de 3,71 a 8,5 (Tosi et al., 1983; Tosi et al., 1989; Alberto et al., 1993; Faria et al, 1995/96; Andrade e Lavezzo, 1998; Tosi et al., 1999; Rodrigues et al., 2002) 9.4. CONCLUSÃO Portanto, apesar dos valores mais elevados do pH, a inclusão do SPCD não depreciou o processo fermentativo das silagens, haja visto, os baixos teores de N-NH3/NT(2,14%) e de ácido butírico (0,027%) registrados nas silagens ficaram dentro dos níveis estabelecidos na literatura para caracterização de silagens bem preservadas (pH entre 3,8 - 4,2; teor de N-NH3 menor que 10-12%; teor de ácido lático entre 1,5 e 6,0% e de ácido butírico ≤ 0,2%, segundo Catchpoole e Henzel, 1971; Silveira, 1975; McCullough, 1977 e McDonald, 1981). Para a silagem exclusiva de capim elefante observou-se que as concentrações médias de 112 Conclui-se que o subproduto do pseudofruto do caju desidratado pode ser ensilado com o capim elefante, sem comprometer as características fermentativas das silagens de capim elefante. Porém, o aumento nos componentes da parede celular e do NIDA podem comprometer o valor nutricional do ensilado final. CAPÍTULO X - CONSUMO VOLUNTÁRIO, DIGESTIBILIDADE APARENTE E BALANÇO DE NITROGÊNIO EM OVINOS ALIMENTADOS COM CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU RESUMO O trabalho foi realizado objetivando avaliar o consumo e a digestibilidade aparente das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) contendo 0; 3,5; 7; 10,5 e 14% de subproduto do pseudofruto do caju (Anarcadium occidentale, L.) desidratado (subproduto da agroindústria do suco do caju) em relação à matéria natural. Trabalhando com ovinos, utilizou-se delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Foram avaliados os consumos de MS e PB em g/animal/dia, %PV e g/UTM (Unidade de Tamanho Metabólico = PV0,75), e de FDN, FDA, HCEL e CEL (em g/animal/dia e %PV), digestibilidades aparentes da MS, PB, FDN, FDA, HCEL, CEL, EBD, ED, e consumo de MS digestível (CMSD), PB digestível (CPBD), FDN digestível (CFDND) e ED (CED), bem como, o balanço de nitrogênio (BN) das silagens. A adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) promoveu aumento (P<0,05) no consumo de MS de 325,7 para 647,5 g/animal/dia, PB de 17,4 para 59,7 g/animal/dia e FDN de 1,16 para 2,19% PV, respectivamente, para as silagens exclusiva de capim elefante e com 10,5% de adição do SPCD. Para os coeficientes de digestibilidade das silagens não foram observados efeitos (P>0,05) dos níveis de adição do SPCD. Enquanto para os valores de CMSD, CPBD, CFDND e CED verificou-se que as silagens com 10,5% tiveram valores superiores (P<0,05) as silagens exclusivas de capim elefante. Com relação ao BN, registrou-se índices positivos somente nos tratamentos com 10,5% do SPCD. Pelos resultados obtidos, conclui-se que o SPCD pode ser incluído em até 14% nas silagens de capim elefante. Porém, os elevados teores de NIDA podem comprometer a utilização e a disponibilidade de nitrogênio para os animais. 10.1. INTRODUÇÃO Os animais ruminantes têm a capacidade peculiar de coletar, armazenar, processar e aproveitar alimentos fibrosos, inadequados para o consumo humano, convertendo-os em substâncias nutritivas que, posteriormente são aproveitadas para produção de carne, leite, lã e trabalho. Este processo depende intimamente da fermentação ruminal realizada pelos microrganismos que habitam os pré-estômagos do animal, que, por sua vez, requerem energia e proteína em quantidade e qualidade adequadas às suas demanda metabólicas para hidrólise e digestão de moléculas complexas, como por exemplo a celulose. O consumo e a digestibilidade aparente dos nutrientes são importantes parâmetros nas pesquisas de nutrição de ruminantes e no desenvolvimentos de sistemas de alimentação com o objetivo de descrever o valor nutritivo dos alimentos (Van Soest, 1994). O consumo voluntário é definido como sendo a quantidade de matéria seca que um animal espontaneamente ingere, enquanto a capacidade de um alimento ser ingerido depende da ação de vários fatores, que interagem em diferentes situações de alimentação, comportamento animal e meio ambiente (Thiago e Gill, 1990). Vários fatores complexos agem nas sensações de fome e saciedade e na interrelação dos mesmos. O consumo é função do animal (peso vivo, nível de produção, variação no peso vivo, individualidade, depósitos de gordura prévios, fase de crescimento, sexo, idade, tamanho do animal, dentre outros), do alimento (FDN efetiva, capacidade de enchimento, densidade energética, necessidade de mastigação, composição, forma física, balanço de nutrientes principalmente de energia e proteína, digestibilidade, dentre 113 outros), das condições de manejo da alimentação (disponibilidade de alimento, freqüência de alimentação, espaço no cocho, tempo de acesso ao alimento, seleção da dieta, dentre outros), das condições ambientais (temperatura e umidade relativa do ar, fotoperíodo, estação do ano, dentre outros), além do manejo diário e das causas sociais (Mertens, 1992; Mertens, 1994 e Forbes, 1995). Entretanto, os fatores que influem no consumo e no estímulo dos mecanismos que o regulam não são completamente entendidos (Mertens, 1994). processo de conversão de macromoléculas do alimento para compostos simples que podem ser absorvidos a partir do trato gastrointestinal. Segundo Forbes (1995), o consumo de alimentos volumosos é positivamente relacionado à taxa ou extensão da digestão no rúmen (teoria física), que tem sido baseada na presença de receptores na parede ruminal, sensíveis à expansão e ao contato, e pelo fato de ocorrer redução no consumo, quando a capacidade do rúmen é diminuída. Já a teoria quimiostática baseia-se na elevação de produtos metabólicos no rúmen (receptores sensíveis aos ácidos graxos, que estimulam receptores quimicamente sensíveis, que, por sua vez, ativam o sistema nervoso central, responsável pelo estado de saciedade (Illius e Jessop, 1996). O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisas em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC), no município de Fortaleza (CE). Quando o volume da dieta é o fator limitante, os animais não são capazes de ingerir quantidades suficientes de MS para suprir suas necessidades energéticas, o que implica em menor produção. Por outro lado, a ingestão e a digestibilidade são negativamente correlacionadas, quando se trata de dietas de alta qualidade, em que a fração fibrosa é pequena e, provavelmente, não afeta a ingestão, a qual será controlada pela exigência energética do animal. Já a digestibilidade do alimento constitui a capacidade de permitir que o animal utilize, em maior ou menor escala, seus nutrientes. Essa capacidade é expressa pelo coeficiente de digestibilidade do nutriente, sendo característica do alimento e não do animal (Silva e Leão, 1979). Logo, a digestão é um 114 Desta maneira, conduziu-se este experimento, objetivando avaliar o efeito dos níveis de adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado na silagem de capim elefante sobre o consumo e digestibilidade dos nutrientes em ovinos. 10.2. MATERIAL E MÉTODOS Foram estudados cinco níveis de adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14,0%), com base na matéria natural, na ensilagem do capim elefanteEm relação à matéria seca, essas adições consistiram em 0; 13,0; 24,0; 33,0 e 41,0%. Na confecção das silagens experimentais foi utilizado o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum), proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú (FEVC), em Pentecoste, Ceará, pertencente à UFC. O capim foi cortado manualmente com, aproximadamente, 70 dias de idade, quando em seguida, foi processado em picadeira de forragem e, posteriormente, misturado ao subproduto do pseudofruto do caju (Anarcadium occidentale L) originado do processamento da fruta para extração de sucos e polpas, da empresa MAISA em Mossoró (RN). O subproduto do pseudofruto do caju era composto, basicamente pelo bagaço do caju, resultante do processamento do pseudofruto para a fabricação de sucos. A desidratação foi feita ao sol em área cimentada, por período de 48 horas, sendo espalhados em camadas, de aproximadamente, 7 cm de espessura e revolvidos pelo menos três vezes ao dia. Á noite o material era amontoado e coberto por lona, evitando o acúmulo de umidade. A composição químico-bromatológica do capim elefante (CE) e do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD), antes da ensilagem, encontram-se na Tabela 42, do Capítulo IX. Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SPCD, o material foi compactado no interior do silo. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. Os dados referentes às composições químico-bromatológicas das silagens de capim elefante com níveis crescentes de adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) estão apresentados na Tabela 43, do Capítulo IX. Foram utilizados vinte ovinos SRD deslanados, machos, inteiros, com peso médio de 24,0 kg, em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos (0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14%), e quatro repetições. Para cada animal (repetição) foi utilizada a silagem oriunda de um único silo experimental. Os animais foram pesados no início e no final do experimento, vermifugados, e distribuídos por sorteio nos tratamentos. Os animais foram mantidos em gaiolas de estudos metabólicos individuais, equipadas com coletores e separadores de fezes e urina, bem como com cochos para fornecimento do alimento e da mistura mineral, e com bebedouros com água permanentemente à disposição. O experimento teve duração de 21 dias, sendo, os primeiros 14 dias para adaptação dos animais às dietas e ao ambiente experimental e os sete dias restantes para coleta de silagem, sobras, fezes e urina para determinação do consumo voluntário, digestibilidade aparente dos nutrientes e balanço de nitrogênio. Após 65 dias, os silos foram abertos e as silagens foram fornecidas diariamente em dois períodos (7 e 16h), sendo a quantidade oferecida calculada diariamente, a partir do consumo do dia anterior, de forma a permitir sobras de, aproximadamente, 15%. Amostragens das silagens (100g) foram realizadas diariamente no momento da pesagem do alimento oferecido a cada animal, durante todo o período de coleta de dados. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos, identificados e armazenadas a -10°C. Ao final do experimento, as amostras referentes a cada animal, foram descongeladas e homogeneizadas, sendo retirada uma amostra de, aproximadamente, 300 g, que foi processada (pré-secagem) para posteriores análises. As sobras foram pesadas pela manhã, antes do fornecimento da nova alimentação. Após a pesagem, uma alíquota de 80 g foi retirada, seguindo a mesma metodologia descrita para amostragem dos alimentos oferecidos. As fezes foram coletadas diariamente e pesadas na parte da manhã. Do total diário, retirou-se 10% e acondicionou-se a -10°C. Ao final do experimento, as amostras referentes a cada animal foram descongeladas e homogeneizadas, sendo retirados, aproximadamente, 300 g do total de cada coleta, que foram acondicionados em sacos plásticos, identificados e mantidos a -10°C. 115 Com o auxílio de proveta foi medido o volume de urina pela manhã e à tarde, quando então era retirada uma alíquota de 10% do total e armazenada em frascos âmbar a -10°C. Foram adicionados nas vasilhas coletoras de urina, 20 mL de ácido clorídrico 1:1, evitando assim, que houvesse perdas de nitrogênio por volatilização. Nas amostras colhidas foram determinados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro (FDA), hemicelulose (HCEL), celulose (CEL) e matéria mineral (MM). As análises foram efetuadas no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, segundo metodologias descritas pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). Com os valores obtidos das análises da composição química das amostras, foram determinados os consumos de MS e PB em g/animal/dia, %PV e g/UTM (Unidade de Tamanho Metabólico = PV0,75), de e FDN, FDA, HCEL e CEL, em g/animal/dia e %PV. Determinaram-se, ainda, os coeficientes de digestibilidade aparente da MS, PB, FDN, FDA, HCEL e CEL, bem como o balanço de nitrogênio, determinados de acordo com metodologias descritas por Silva e Leão (1979). Os valores de ingestão de matéria seca digestível (IMSD), proteína bruta digestível (IPBD), fibra em detergente neutro digestível (IFDND) e energia digestível (IED) foram obtidos a partir dos coeficientes de digestibilidade e consumo destes nutrientes. As variáveis estudadas foram avaliadas por meio de análise de variância. Para comparação das médias foi utilizado o teste de Duncan (consumo de matéria seca, expresso em g/animal/dia, %PV e g/UTM e digestibilidade da matéria seca) e o Tukey para os demais parâmetros estudados. Foram realizadas também análises de regressão, para avaliar o efeito dos níveis crescentes de adição do SPCD na ensilagem do capim elefante, ao nível de 1 e 5% de probabilidade e no coeficiente de determinação, por intermédio do programa SAS (1990). Antes da realização destas análises, foi feito estudo para verificar se as pressuposições de distribuição normal e homocedasticidade dos dados foram atendidas. As características que não atenderam estas pressuposições foram transformadas para se prosseguir com as análises estatísticas. A transformação utilizada foi a logarítmica para o consumo de proteína bruta (g/animal/dia, %PV e g/UTM). 10.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Consumo de Matéria Seca (CMS) Os consumos de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) estão apresentados na Tabela 45. Tabela 45: Consumo de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% SPCD 325,73b 1,57b 33,51b CE + 3,5% SPCD 337,89b 1,61b 34,43b CE + 7,0% SPCD 493,40ab 2,27ab 49,02ab CE + 10,5% SPCD 647,46a 3,03a 65,16a CE + 14% SPCD 529,15ab 2,35ab 51,25ab Médias 466,72 ± 129,74 2,17 ± 0,55 46,67 ± 12,07 CV (%) 27,80 28,46 25,87 116 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Duncan A adição do SPCD influenciou (P<0,05) o CMS das silagens. Os CMS expressos em g/animal dia, %PV e g/UTM apresentaram o mesmo comportamento, ou seja, os animais que se alimentaram com as silagens contendo 7,0; 10,5 e 14% do SPCD tiveram consumo similar (P>0,05). Contudo, os animais que receberam as silagens com adição de 10,5% tiveram CMS superior (P<0,05) áquelas observadas para as silagens exclusiva de capim elefante e com adição de 3,5% do SPCD. Os valores variaram de 325,73 a 647,46 g/animal/dia para as silagens exclusiva de capim elefante e com adição de 10,5% de SPCD. Pelo estudo de regressão foi possível observar aumento linear no CMS com a inclusão do SPCD na ensilagem do capim elefante, como mostra a equação: CMS (g/animal/dia) = 323,44 + 20,47x (P<0,01 e R2 = 0,34) Pela equação encontrada foi possível observar incremento de 20,47g/animal/dia no CMS para cada 1% de adição do SPCD na ensilagem do capim elefante. Desta forma, ao adicionarmos 14% do SPCD foi possível registrar aumento de, aproximadamente, 90% no CMS em relação à silagem exclusiva de capim elefante. Ferreira (2002) trabalhando com silagens de capim elefante com níveis crescentes de adição do subproduto do pseudofruto do caju obteve CMS inferiores aos observados no presente trabalho. Os valores variaram de 284,40 a 412g/animal/dia, com média de 338,15g/animal/dia. Segundo a autora, o fato deve estar relacionado aos baixos teores de MS (23%) das silagens. Para o CMS expresso em %PV e g/UTM os valores variaram de 1,57 a 3,03%PV, com média de 2,17 ± 0,55% PV, e de 33,51 a 65,16 g/UTM, com média de 46,67 ± 12,07 g/UTM. O estudo de regressão também apresentou aumento linear com a adição do SPCD, onde observou-se aumento de 0,08 pontos percentuais e de 1,89g/UTM no CMS para cada 1% de adição do SPCD, como demonstrado nas equações: CMS (%PV) = 1,57 + 0,08x (P<0,01 e R2 = 0,31) CMS (g/UTM) = 33,43 + 1,89x (P<0,01 e R2 = 0,32) O aumento linear no CMS (g/animal/dia, %PV e g/UTM) observado pela análise de regressão deve estar relacionado ao aumento no teor de MS das silagens, observado com a inclusão do SPCD, como observado por Thomas et al. (1961) e Wilkins et al. (1971). Esses autores ressaltaram ainda, que este aumento no CMS está mais relacionado com a melhoria no processo fermentativo das silagens, proporcionado pelo aumento no teor de MS, do que pelo conteúdo de umidade da silagem. Evidencia-se também que, o consumo de alimentos possui estreita relação com a quantidade de matéria seca presente na dieta, uma vez que a proporção de volumoso, associada aos maiores conteúdos de água, determina o espaço ocupado no rúmen, podendo limitar o consumo pelo efeito da distensão ruminal. As silagens com adição do SPCD apresentaram boas características fermentativas. Neste sentido, os valores obtidos no CMS das silagens devem estar relacionados primeiramente ao baixo valor nutricional do capim elefante, caracterizado por elevadas concentrações dos componentes da fração fibrosa e baixos teores de PB. O aumento nos teores de FDN com a inclusão do SPCD também pode constituir importante fator. 117 Segundo Van Soest (1965), o consumo voluntário de MS é altamente corrrelacionado com o teor de FDN, quando este se situa acima de 55 e 60% da matéria seca do alimento, haja vista, que a fermentação e a passagem de FDN pelo rúmen-retículo são mais lentas de que os outros componentes nutricionais, tendo grande efeito no enchimento e sobre o tempo de permanência quando comparadas com as dos componentes não-fibrosos. Outro fator que pode também estar relacionado com resultados obtidos, diz respeito, à forma como boa parte do nitrogênio se encontra indisponível (NIDA) aos microrganismos ruminais. Reduções no teor de PB abaixo de 7% ou diminuição da disponibilidade do nitrogênio podem reduzir a digestão da fibra e, subseqüentemente, restringir o consumo, em conseqüência da lenta passagem dos alimentos pelo rúmen (Van Soest, 1994). A presença de tanino no SPCD, como relataram Vasconcelos et al. (2002), também pode constituir um fator influenciador do consumo, pois os taninos além de precipitarem a proteína, também são capazes de interagir com outras macromoléculas, como carboidratos, membrana celular das bactérias e íons metálicos (Van Soest, 1994). Cannas (2005) relatou que os taninos podem atuar na redução do consumo de duas maneiras. Primeiro, pelo seu efeito adstringente, reduzindo a palatabilidade do alimento, o que conseqüentemente conduz à redução da ingestão pelo decréscimo na digestibilidade, influenciando negativamente no consumo, pelo seu efeito de enchimento associado às frações não digeridas. 118 Neste sentido, é provável que o baixo consumo voluntário das silagens tenha sido uma combinação do valor nutricional do capim elefante, juntamente com as concentrações de FDN, NIDA e tanino no SPCD. Tal aspecto também foi relatado por Rosa et al. (2004) que observaram relação inversa dos teores de FDN com consumo de MS em diferentes silagens de híbridos de milho, registrando valores inferiores (2,20 %PV) aos mostrados nas silagens com inclusão de 7,0; 10,5 e 14% do SPCD. Também, Moreira et al. (2001) atribuíram o menor consumo de MS do feno do capim coastcross e da silagem de milho em relação ao feno de alfafa, ao maior teor de FDN daqueles alimentos. Já Siqueira et al. (1999), utilizando subproduto do maracujá ensilado na terminação de bovinos de corte, constataram ingestão diária de MS de 2,03% PV, valor semelhante à média observada neste trabalho. Para o CMS expresso em %PV e g/UTM, Ferreira (2002) registrou valores inferiores (1,32%PV e 29,65g/UTM) aos observados neste trabalho. Consumo de Proteína Bruta (CPB) Os consumos de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) estão apresentados na Tabela 46. Tabela 46: Consumo de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% SPCD 17,38b 0,08b 1,79b CE + 3,5% SPCD 20,57b 0,10b 2,09b CE + 7,0% SPCD 40,17a 0,18a 3,98a CE + 10,5% SPCD 59,72a 0,28a 6,02a CE + 14% SPCD 55,68a 0,25a 5,40a Médias 38,70 ± 20,72 0,18 ± 0,09 0,52 ± 0,13 CV (%) 9,30 16,40 25,75 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Os níveis de adição do SPCD possibilitaram alterações no CPB das silagens. Os CPB expressos em g/animal/dia, %PV e g/UTM apresentaram comportamentos semelhantes. Os animais que receberam as silagens com adição de 7,0; 10,5 e 14% do SPCD tiveram consumos semelhantes (P>0,05) e superiores (P<0,05) aos observados nos ovinos alimentados com as silagens com 3,5% de SPCD e exclusiva de capim elefante, que se mostraram equivalentes (P>0,05). Os CPB variaram de 17,38 (0%) a 59,72 g/animal/dia (10,5%), com média de 38,70 ± 20,72 g/animal/dia; de 0,08 (0%) a 0,28%PV (10,5%), com média de 0,18 ± 0,09 e de 1,79 (0%) a 6,02g/UTM (10,5%), com média de 0,52 ± 0,13 g/UTM. O CPB observado nas silagens com 10,5 e 14% de SPCD pode ser considerado satisfatório, se considerarmos que foi fornecido como alimento exclusivo. Segundo NRC (1985), o CPB necessário para ovinos com 25 kg é de 32 g/animal, sendo superado a partir do nível de 7,0% de inclusão do SPCD. A adição do SPCD possibilitou um aumento de mais de 200% no CPB, quando se adicionaram 10,5 e 14% do SPCD, em comparação com a silagem exclusiva de capim elefante. Os maiores CPB observados nos animais que consumiram as silagens com 7,0; 10,5 e 14% do SPCD foram resultado dos maiores CMS e dos teores mais elevados de PB das silagens contendo o subproduto. Pela análise de regressão, a adição do SPCD proporcionou aumento linear no CPB das silagens, como mostram as equações: Log CPB (g/animal/dia) = 1,22 + 0,04x (P<0,01 e R2 = 0,67) Log CPB (%PV) = -1,09 + 0,04x (P<0,01 e R2 = 0,66) Log CPB (g/UTM) = 0,23 + 0,04x (P<0,01 e R2 = 0,67) Trabalhando com o bagaço de caju na ensilagem do capim elefante, Ferreira (2002) também observou aumento linear no CPB das silagens com a adição do subproduto. Todavia, o aumento foi de 0,77g para cada unidade do bagaço de caju adicionado. O consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCEL) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilados com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) estão apresentados na Tabela 47. 119 Tabela 47: Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), hemicelulose (CHCEL) e celulose (CCEL) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilados com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) FDN FDA HCEL CEL Silagens g/dia %PV g/dia %PV g/dia %PV g/dia %PV CE + 0% SPCD 240,8b 1,16b 144,0b 0,69b 96,8a 0,47a 100,0a 0,48a CE + 3,5% SPCD 261,1ab 1,24b 169,4b 0,81b 91,9a 0,44a 108,6a 0,52a CE + 7,0% SPCD 373,3ab 1,72ab 241,4ab 1,11ab 132,0a 0,61a 137,0a 0,63a CE + 10,5% SPCD 468,84a 2,19a 310,4a 1,45a 158,4a 0,74a 152,4a 0,71a CE + 14% SPCD 388,4ab 1,73ab 270,1ab 1,20ab 118,2a 0,52a 111,8a 0,50a Médias 346,59 1,49 227,11 1,05 119,4 0,55 122,0 0,57 CV (%) 28,61 22,13 27,63 25,58 31,53 28,67 31,53 28,67 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Os consumos dos constituintes da parede celular das silagens (FDN, FDA, hemicelulose e celulose) foram determinados em função do CMS e de suas concentrações na matéria seca das silagens. Verificou-se que os animais alimentados com as silagens com adição do SPCD apresentaram CFDN (g/animal/dia) equivalentes (P>0,05). Contudo, os ovinos alimentados com as silagens contendo 10,5% do SPCD apresentaram consumos superiores (P<0,05) em relação aqueles receberam silagem exclusiva de capim elefante. O CFDN variou de 240,8 a 468,8 g/animal/dia para as silagens exclusiva de capim elefante e com 10,5% de SPCD, respectivamente. A média observada foi de 346,59 ± 99,15 g/animal/dia. Efetuada a análise de regressão observou-se que a adição do SPCD possibilitou aumento linear no CFDN, com incremento de 14,36 g para cada 1% de adição do SPCD, como mostra a equação: CFDN (g/animal/dia) = 246,09 + 14,36x (P<0,01 e R2 = 0,31) Com relação ao CFDN expressos em %PV observou-se que os animais que receberam as silagens com adição de 7,0; 10,5 e 14% apresentaram consumos semelhantes (P>0,05), enquanto, os ovinos que receberam as silagens com 10,5% do SPCD 120 tiveram consumos superiores (P<0,05) áqueles que receberam a silagem exclusiva de capim elefante e com adição de 3,5% do SPCD. Os valores variaram de 1,16 a 2,19%PV para as silagens exclusivas de capim elefante e com adição de 10,5% do SPCD. O estudo de regressão possibilitou observar também aumento linear no CFDN (%PV) com a adição do SPCD, de forma que, a cada 1% de adição do SPCD houve incremento de 0,06 pontos percentuais no CFDN, como descrito na equação: CFDN (%PV) = 1,19 + 0,06x (P<0,05 e R2 = 0,28) Waldo (1986) relatou que a FDN é o melhor e mais simples fator para predizer o consumo voluntário. Mertens (1992) também afirmou que a FDN mede melhor a propriedade dos alimentos em ocupar espaço físico que os componentes da FDA. O teor ótimo de FDN nas dietas não é fixo e varia com o requisito de energia líquida do animal. Logo, quando o volume da dieta é o fator limitante, ou seja, o conteúdo de FDN é alto, o animal necessita consumir mais para atender seu requerimento de energia (Mertens, 1992). Ferreira (2002) trabalhando com níveis de adição do bagaço de caju na ensilagem do capim elefante não observou efeito do subproduto sobre o CFDN em g/animal/dia. Para o CFDN expresso em %PV notou-se que os animais que receberam as silagens com 48% do bagaço de caju tiveram CFDN superior aos animais que receberam as silagens exclusivas de capim elefante e com 12 e 24% do subproduto. Os valores variaram de 215,62 a 306,11g/animal/dia e 0,86 a 1,21%PV para silagens exclusivas de capim elefante e silagens de capim elefante com 48% de adição do bagaço de caju. No CFDA expresso em g/animal/dia e %PV observou-se a mesma tendência para os dois parâmetros, de modo que, os animais que ingeriram silagens com adição de 10,5% do SPCD mostraram consumos superiores (P<0,05) aos alimentados com silagem exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SPCD. Porém não diferiram dos CFDA apresentados pelos animais alimentados com silagens contendo 7,0 e 14% do SPCD. Os CFDA variaram de 144,07 a 310,41 g/animal/dia e de 0,69 a 1,45%PV para as silagens exclusiva de capim elefante e com adição de 10,5% de SPCD, respectivamente. Pelo estudo de regressão observou-se que o CFDA aumentou linearmente com os níveis de adição do SPCD. Através das equações, constatou-se incremento no CFDA de 11,23 g/animal/dia para cada 1% de adição do SPCD, enquanto para o CFDA em %PV o incremento foi de 0,05 pontos percentuais para cada unidade do SPCD adicionado, como mostram as equações: CFDA (g/animal/dia) = 148,47 + 11,23x (P<0,01 e R2 = 0,42) CFDA (%PV) = 0,72 + 0,05x (P<0,01 e R2 = 0,40) Para os consumos de HCEL e CEL não foram registrados efeitos (P<0,05) dos níveis de adição do SPCD na ensilagem do capim elefante. Os valores médios registrados foram 119,49 g/animal/dia e 0,55% PV e 122,01 g/animal/dia e 0,57% PV, respectivamente. Digestibilidade Aparente da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), celulose (DCEL), energia bruta (DEB) e energia digestível (ED) Na Tabela 48 são apresentados os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), celulose (DCEL), energia bruta (DEB) e energia digestível (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD). Tabela 48: Coeficientes de digestibilidade da matéria seca (DMS), proteína bruta (DPB), fibra em detergente neutro (DFDN), fibra em detergente ácido (DFDA), hemicelulose (DHCEL), energia bruta (DEB) e energia digestível (ED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) Silagens DMS DPB DFDN DFDA DHCEL DCEL EBD ED1 CE + 0% SPCD 47,5a 24,4a 51,8a 48,3a 56,9a 61,9a 45,7a 1,77a CE + 3,5% SPCD 41,7a 5,1a 50,3a 44,3a 61,3a 66,1a 39,1a 1,54a CE + 7,0% SPCD 45,2a 19,1a 51,1a 47,6a 57,4a 79,7a 42,1a 1,68a CE + 10,5% SPCD 43,7a 23,5a 46,1a 41,8a 54,7a 83,3a 41,3a 1,70a CE + 14% SPCD 43,7a 16,2a 48,3a 45,9a 54,1a 89,2a 41,9a 1,74a Médias 44,4 17,6 49,5 45,6 56,9 76,0 42,0 1,68 CV (%) 11,0 24,9 7,6 10,7 8,87 9,74 10,3 8,6 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey 1 Mcal/kg de MS 121 Assim como nas silagens com adição do SABD e SACD, a análise de variância e o estudo de regressão não detectaram efeito (P>0,05) dos níveis de adição do SPCD na ensilagem do capim elefante sobre os coeficientes de digestibilidade aparente da MS (44,4%), PB (17,6%), FDN (49,5%), FDA (45,6%), HCEL (56,9%), CEL (76,0%), EB (42,0%) e ED (1,68 Mcal). As silagens com SPCD também apresentaram elevados teores de NIDN e NIDA, bem como, elevados teores de lignina, o que pode, como nas silagens com SACD, ter contribuído na obtenção dos baixos teores de digestibilidade. O mesmo comportamento foi observado por Ferreira (2002) que também não observou influência dos níveis de adição do bagaço de caju (0; 12; 24; 36 e 48%) na ensilagem do capim elefante sobre a digestibilidade da MS, PB, FDN, FDA e HCEL e NDT, encontrando valores médios de 43,04; 21,94; 40,93; 29,74; 57,23 e 42,21%, respectivamente. Segundo a autora, os elevados teores de FDA nas silagens podem ter contribuído para obtenção destes resultados. Em dietas com baixa disponibilidade de compostos nitrogenados e ricos em FDN, o suprimento de proteína degradada no rúmen é limitante para o crescimento microbiano, a digestão da parede celular fica comprometida e a ingestão de alimentos é reduzida (Van Soest, 1994). É importante destacar, na avaliação da DPB, que além do material não digerido da dieta, as fezes contêm ainda, membranas celulares das bactérias ruminais não digeridas, células microbianas procedentes do ceco e intestino grosso, resíduos de muitas substâncias endógenas, incluindo enzimas digestivas, mucos e outras secreções, e células epitéliais desprendidas da parede do trato digestivo do 122 rúmen. Essas podem mascarar o valor do nitrogênio não digerido de origem dietética e com isso subestimar o valor da DPB. Além disso, quanto maior a quantidade de alimentos de difícil digestão, maior será a proporção desse nitrogênio de origem metabólica e endógena nas fezes (Church, 1993). Maso e Frederiksen (1979) citados por Church (1993) observaram que cerca de 86% do nitrogênio total contido nas fezes era de origem microbiana e endógena. Os resultados obtidos também podem ter sidos influenciados pela presença de taninos no SACD. Estes componentes reduzem a digestibilidade da fibra, pela complexação com os carboidratos da parede celular, através da interação com as enzimas celulares e com as bactérias do rúmen, e em alguns casos, a baixa digestibilidade da fibra pode ser resultado da deficiência de nitrogênio fermentado ruminalmente devido à ligação das proteínas com o tanino (Cannas, 2005). Trabalhando com os subprodutos do abacaxi, acerola, goiaba, maracujá e melão Lousada Junior et al. (2005) encontraram DFDN e DFDA de 50,8 e 51,8; 16,8 e 8,2; 17,7 e 13,0; 56,2 e 65,4 e de 38,65 e 38,74%, respectivamente, destacando que as menores DFDN foram observadas nos subprodutos com menor teor de lignina. Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED) Na Tabela 49 são apresentados os valores ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD). Tabela 49: Ingestão da matéria seca (IMSD), proteína bruta (IPBD), fibra em detergente neutro (IFDND) e energia digestível (IED), expressos em g/animal/dia, do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) Silagens IMSD IPBD IFDND IED CE + 0% SPCD 154,84b 4,40b 125,31b 0,58bc CE + 3,5% SPCD 145,32b 1,93b 133,75ab 0,53c CE + 7,0% SPCD 224,61ab 8,06a 191,48ab 0,83abc CE + 10,5% SPCD 281,00a 13,61a 214,84a 1,09a CE + 14% SPCD 232,54ab 9,15a 188,38ab 0,92ab Médias 207,6 7,43 170,75 0,79 CV (%) 29,56 47,14 30,15 28,72 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukel Para os valores de IMSD, IPBD, IFDND e IED observou-se que as silagens com 10,5% do SPCD apresentaram valores superiores as silagens exclusivas de capim elefante. Pelo estudo de regressão foi possível observar efeito linear dos níveis de adição do SPCD sobre os nutrientes digestíveis das silagens. IMSD = 151,55 + 8,25x (P<0,05; R2 = 0,27) IPBD = 0,40 + 0,04x (P<0,05; R2 = 0,23) IFDN = 130,78 +5,88x (P<0,05; R2 = 0,22) IED = 0,55 + 0,03x (P<0,05; R2 = 0,33) Balanço de Nitrogênio(BN) Os valores médios do balanço de nitrogênio do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) constam na Tabela 50. Tabela 50: Nitrogênio ingerido, nitrogênio excretado nas fezes e na urina, e balanço de nitrogênio (BN) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do pseudofruto do caju desidratado SPCD N ingerido N excretado nas N excretado na BN BN Silagens (g/dia) fezes (g/dia) urina (g/dia) (g/dia) (% N ingerido) CE + 0% SPCD 2,78 2,08 2,98 -2,27a -89,37a CE + 3,5% SPCD 3,29 3,08 2,67 -2,46a -89,81a CE + 7,0% SPCD 6,43 5,14 2,63 -1,34ab -24,35ab CE + 10,5% SPCD 9,56 7,38 1,92 0,26b 3,27b CE + 14% SPCD 8,91 7,44 2,78 -1,32ab -15,25ab Médias -1,43 -43,10 CV (%) 4,40 72,39 Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Para o balanço de nitrogênio (g/dia e % do N ingerido) observou-se que as silagens com 7,0; 10,5 e 14% foram semelhantes (P>0,05). Todavia, as silagens com 10,5% do SPCD diferiram (P<0,05) das silagens exclusiva de capim elefante e com 3,5% do SPCD, na qual, se observou menor aproveitamento da proteína consumida pelos ovinos. Com os resultados obtidos no consumo e digestibilidade da matéria seca e proteína, e pelo aumento nos teores de NIDN e NIDA com a inclusão do SPCD estes resultados eram previstos. Tais resultados diferem dos relatados por Ferreira (2002) que observou BN positivo em todos os níveis de adição do bagaço de caju na ensilagem do capim elefante. A presença de tanino no SPCD também pode constituir um fator importante, pois a complexação do tanino com proteína reduz a digestibilidade do nitrogênio e, 123 conseqüentemente, conduz à maior excreção de N nas fezes. O efeito do NIDA e/ou do tanino indisponibilizando o nitrogênio do SPCD, pode ser comprovado, quando observa-se o aumento na excreção de nitrogênio nas fezes, com a adição do SPCD na ensilagem do capim elefante. Neste contexto, pode-se sugerir que a ingestão do SPCD seja acompanhada por suplementação protéica. 124 Sousa et al. (2004) também atribuíram o BN negativo encontrado com a inclusão da casca de café (0; 3,5; 7,0 e 10,5%) em dietas de vacas lactantes, aos elevados teores de NIDN (38,4%) e NIDA (26,5%) do resíduo. 10.4. CONCLUSÃO Conclui-se, que o SPCD pode ser incluído em até 14% nas silagens de capim elefante. Porém, os elevados teores de NIDA podem comprometer a disponibilidade de nitrogênio pelos animais. CAPÍTULO XI - DEGRADABILIDADE IN SITU DO CAPIM ELEFANTE ENSILADO COM NÍVEIS CRESCENTES DE SUBPRODUTO DA AGROINDÚSTRIA DO CAJU RESUMO Avaliaram-se a degradabilidade in situ da matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), e hemicelulose (HCEL) das silagens de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com níveis (0; 3,5; 7; 10,5 e 14%) crescentes do subproduto do pseudofruto do caju (Anarcadium occidentale, L.) desidratado (SPCD). Foi utilizado um bovino adulto macho em delineamento inteiramente casualizado com parcelas subdivididas, sendo as proporções de SPCD os tratamentos (parcelas), os diferentes silos as repetições, e os tempos de incubação as subparcelas. Os períodos de incubação aumentaram (P<0,05) as taxas de desaparecimento da MS, PB, FDN, FDA e HCEL. Contudo não observou-se efeito dos níveis de inclusão do SPCD sobre as degradabilidades efetivas da MS. Concluiu-se que o SPCD pode ser utilizado na alimentação de ruminantes, porém pode haver redução na disponibilidade de proteína e energia nas dietas baseadas neste alimento. 11.1. INTRODUÇÃO As tabelas internacionais de requerimentos trabalham em termos e nutrientes degradados ou não no rúmen, a fim de atender com maior precisão as exigências da microbiota ruminal, bem como, as do hospedeiro. Isso traz a necessidade de avaliar a degradabilidade dos alimentos. Desta maneira, a fim de reduzir o número de animais fistulados, bem como o trabalho durante o período experimental e aumentar a precisão dos parâmetros estudados, Tomich e Sampaio (2004) propuseram a realização do ensaio de degradabilidade, utilizando apenas um animal fistulado, haja visto, que em estudos de degradação de forragens, a unidade experimental é a amostra, não o animal. Usualmente, a técnica in situ é realizada fazendo-se um “pool” das amostras, que são homogeneizadas, colocadas nos sacos de náilon, e em seguida incubadas no animal. No entanto, o erro obtido sob estas condições não reflete a fonte de variação entre as amostras de forragem, mas das réplicas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a degradabilidade in situ das silagens de capim elefante com níveis crescentes de adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado. 11.2. MATERIAL E MÉTODOS O estudo in situ foi conduzido na Escola de Veterinária da UFMG, utilizando-se um novilho fistulado no rúmen (Tomich e Sampaio, 2004) e alimentado com silagem de milho, fornecida às 7 e 16 h, suplementada com 1 kg de concentrado ao dia. Avaliou-se a degradabilidade ruminal do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do caju desidratado (0; 3,5; 7; 10,5 e 14%). O capim elefante utilizado foi proveniente de capineira estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú (FEVC), em Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC). Após o corte de uniformização, a área recebeu adubação em cobertura: 50 kg/ha de N na forma de uréia e 40 kg/ha de K2O na forma de cloreto de potássio. A gramínea foi cortada com, aproximadamente, 70 dias de idade, sendo então ensilada com diferentes proporções de subproduto desidratado do pedúnculo do caju. Tal subproduto foi originado do processamento dos pseudofrutos do caju utilizados na 125 fabricação de sucos, da empresa MAISA em Mossoró (RN). Para a desidratação do subproduto, o mesmo foi exposto em área cimentada por, aproximadamente, 48 horas. Como silos experimentais foram utilizados tambores plásticos de 210 L. Em cada silo foram colocados 126 kg de forragem, de forma que atingisse uma densidade de 600 kg/m3. Após a pesagem e homogeneização do capim elefante com o SPCD, o material foi compactado no interior do silo, durante o carregamento. Completado o enchimento, os silos foram fechados com lonas plásticas, presas com ligas de borracha. As composições químico-bromatológicas do capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) e do subproduto do pseudofruto do caju (Anarcadium occidentale, L.) desidratado, antes da ensilagem, encontramse na Tabela 42, do Capítulo IX. Após 45 dias de ensilagem, os silos foram abertos, e coletadas amostras das silagens para realização do ensaio de degradabilidade. As amostras foram présecas em estufa de ventilação forçada regulada a 60o C, por 72 horas, processadas em moinho tipo faca, com peneira de 5 mm de crivo, e homogeneizadas para incubação posterior. Os dados referentes às composições química-bromatológicas do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) estão apresentados na Tabela 43, do Capítulo IX. Os alimentos foram incubados em sacos de náilon (50 micras) de 9 x 20 cm, com 10 g do material pré-seco. Os sacos foram introduzidos no rúmen às 08 horas e retirados em ordem seqüencial, nos tempos de 6, 24, 48 e 96 horas, sendo então lavados manualmente em água corrente. Para determinação do tempo zero (t = 0), utilizouse três bolsas de náilon por tratamento com a 126 mesma quantidade de amostra utilizada para os demais horários de incubação, foram fechados e lavados manualmente da mesma forma que nos outros horários. Em seguida, os mesmos foram secos em estufa ventilada, regulada a 60oC, pesados, e as amostras analisadas para determinação da matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e hemicelulose (HCEL), segundo metodologias descritas pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). A comparação das médias e os coeficientes do modelo proposto por Ørskov e McDonald (1979) foram determinados, utilizando-se o programa “Statistic Analysis System” (SAS, 1990). Após a determinação dos parâmetros do modelo, estimou-se a degradabilidade efetiva adotando-se as taxas de passagem no rúmen de 2, 5 e 8%/h (McDonald, 1981). Trabalhou-se com cinco níveis de adição do subproduto, com três repetições e cincotempos de incubação com um animal. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com parcelas subdivididas, sendo as proporções de SACD os tratamentos (parcelas), os diferentes silos as repetições, e os tempos de incubação as subparcelas. Análise de variância Total ........................................................14 Tratamentos...............................................4 Repetições .................................................2 Erro a.........................................................8 Total Subparcelas....................................74 Tempo .......................................................4 Tempo x Tratamento...............................16 Erro B......................................................54 11.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O desaparecimento médio (%) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal estão apresentados na Tabela 51. Tabela 51: Desaparecimento médio (%) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SPCD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 19,43cdE 22,16aE 21,29abE 20,27bcE 18,94dE 6 22,59dD 26,16aD 23,98bcD 24,48bD 22,82cdD 24 34,18aC 32,39bcC 31,77cC 33,52abC 32,37bcC 48 45,45bB 49,34aB 47,29bB 46,82bB 46,98bB 96 61,04aA 60,79aA 59,78abA 61,35aA 58,11bA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Verificou-se que o período de incubação e os níveis de adição do SPCD (P<0,05) na ensilagem do capim elefante interferiram no desaparecimento da MS. Para as frações solúveis no tempo zero (0) os valores variaram de 18,94 a 22,16%. Esses valores podem ser considerados altos, já que trata-se de alimentos fermentados. Desta maneira, a fração solúvel estaria representada pelos açúcares e compostos nitrogenados remanescentes da fermentação no silo. Neste caso, é possível que os resultados encontrados sejam decorrentes do maior efluxo de partículas dos sacos de náilon no momento da lavagem, já que, por ocasião da moagem nas peneiras com crivo de 5 mm, foi possível registrar a formação de partículas bem pequenas, provenientes do SPCD. Trabalhando com silagens de sorgo, Molina et al. (2003) e Rabelo (1997) verificaram valores médios de solubilização da MS de 23,01 e 30,69%, respectivamente, onde os resultados foram relacionados à perda de material pelos poros dos sacos de incubação. Ao longo do tempo de incubação, as silagens apresentaram taxas de desaparecimento da MS crescentes até as 96 horas (P<0,05). Acredita-se que nesse horário as silagens já tenham alcançado o máximo de desaparecimento da MS. Segundo Sampaio (1994), o período de incubação de 96 horas é suficiente para estudos de avaliação ruminal in situ de volumosos, por considerar que até esse período de incubação é possível detectar mudanças da degradabilidade do material. Porém, quando se avalia os níveis de adição do SPCD em cada período individualmente, não se observa variações consistentes nos valores de desaparecimento da MS. Uma possível explicação seriam falhas na homogeneização das amostras. Segundo Ørskov (2000) e Sampaio (1988), as diferentes estruturas das plantas (colmo, folha ou grãos/panículas) quando moídas em peneiras com crivo de 5 mm podem apresentar comportamentos diferentes, seja por influência da densidade, ou pela formação de partículas de tamanhos variados. Estes dois agentes juntos podem atuar na homogeneidade da amostra a ser incubada e, conseqüentemente, na degradabilidade ruminal, uma vez que a amostra não estaria representada na sua forma real. Recomenda-se para alimentos frescos, como forragens, silagens e subprodutos fibrosos a moagem em peneiras com crivo de 5 mm. Porém, quando materiais de estruturas diferentes são moídos concomitantemente é possível que a 127 homogeneização não ocorra de maneira adequada (Ørskov, 1982; Nocek, 1988). como único responsável pelos coeficientes de degradabilidade. Como a porção fibrosa representou, aproximadamente, 2/3 dos constituintes totais da MS, vale destacar neste item a influência do NIDA (nitrogênio insolúvel em detergente ácido) e da lignina, como fatores influenciadores da degradabilidade da MS, haja visto, que o aumento nas proporções de SPCD promoveram o aumento daqueles componentes (Tabela 43). Neste contexto, esperava-se que houvesse depressão da degradabilidade da MS das silagens, já que o NIDA é indisponível para os microrganismos. Gonçalves et al. (2004) registraram diferença no desaparecimento percentual da MS do subproduto do pedúnculo do caju somente após 28 horas de incubação, observando às 96 horas valores de 44,20%, assim como Rogério (2005) que observou aumento no desaparecimento da MS desse subproduto somente após às 24 horas, quando então verificou-se aumentos crescentes dos valores até às 96 horas (43,83%). Porém, verificou-se certa homogeneidade nos valores de desaparecimento de MS da silagem exclusiva de capim elefante com as silagens que continham o SPCD. Tal fato se deve, provavelmente, ao pequeno tamanho das partículas do SPCD, o que aumenta a superfície de contato para a ação dos microrganismos ruminais. Essa influência simultânea de vários fatores sobre a degradabilidade da MS dificulta a identificação de um ou de outro componente Os baixos valores encontrados para o desaparecimento da MS das silagens indicam que a utilização do SPCD na alimentação de ruminantes deve ser feita com certa prudência, uma vez que o subproduto pode reduzir a disponibilidade dos nutrientes aos microrganismos ruminais. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) estão apresentados na Tabela 52. Tabela 52: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da matéria seca (MS) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SPCD 18,73 52,00 1,57 41,6 31,2 27,3 0,99 CE + 3,5% SPCD 21,39 52,00 1,43 43,0 32,9 29,3 0,97 CE + 7,0% SPCD 20,07 52,00 1,42 41,7 31,6 27,9 0,98 CE + 10,5% SPCD 19,84 52,00 1,52 42,3 32,0 28,1 0,99 CE + 14% SPCD 18,38 53,19 1,47 40,9 30,4 26,6 0,99 Para os parâmetros de degradação ruminal notou-se que na fração solúvel, a silagem com 3,5% do SPCD apresentou o maior valor numérico, quando então houve decréscimo nos valores da fração a com os níveis de adição do SPCD. 128 Para as taxas de degradação de b (c) notouse que todas permaneceram com valores abaixo de 2%/h, indicando maior permanência do alimento no rúmen, o que pode levar à redução do consumo pela distensão do trato gastrointestinal, antes que as demandas energéticas sejam atendidas. Sampaio (1994) relatou que taxa de degradação inferior a 2%/h é indicativa de alimento de baixa qualidade, já que necessita de período longo no rúmen para que sua digestão ocorra. Desta forma, é possível que a adição do SPCD na ensilagem do capim elefante comprometa a qualidade nutricional do alimento, pelo seu reduzido índice de aproveitamento pelos microrganismos ruminais. Entretanto, evidencia-se que parte dos valores obtidos foram limitados pelas restrições máximas impostas durante o processo de modelagem. Isso demonstra uma inadequação parcial do modelo aos dados obtidos, pois caso os limites não fossem impostos, os valores de “c” resultantes seriam irreais. Tais restrições foram impostas aos parâmetros “a” e “b”, sendo os limites retirados das tabelas de desaparecimento. adição do SPCD. Mesmo comportamento foi observado para a digestibilidade aparente destas silagens (P>0,05). A presença de tanino no SPCD também pode constituir fator de redução do desaparecimento da MS, haja visto, que o principal impacto dos taninos na nutrição animal deve-se à habilidade desses compostos em formar complexos com vários tipos de moléculas. Rogério (2005) registrou degradabilidade efetiva da MS de 32,84 e 25,91% para as taxas de passagem de 2 e 5%/h, respectivamente. Porém, esses valores foram inferiores aos registrados para o capim elefante (51,60 e 41,15%), demonstrando o baixo potencial de degradação do SPCD em relação ao capim elefante. Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) estão apresentados na Tabela 53. As degradabilidades efetivas se mantiveram praticamente constantes com os níveis de Tabela 53: Desaparecimento médio (%) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SPCD (%) Horários 0 3,5 7,0 10,5 14 0 16,54aE 12,20bE 11,37bE 9,23cE 8,29cE 6 25,06bD 28,03aD 24,91bD 28,26cD 22,82cD 24 36,87aC 34,45bC 32,84cdC 33,78bcC 31,47dC 48 47,17bB 49,09aB 47,52bB 44,11cB 42,17dB 96 64,82aA 58,90bA 57,41cA 55,02cA 52,18eA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Na determinação do desaparecimento da PB verificou-se que tanto o tempo de incubação, como os níveis de adição do SPCD na ensilagem do capim elefante interferiram no desaparecimento da PB. Como observado no SACD, a inclusão do subproduto não influenciou no desaparecimento da PB, apesar do aumento nos teores de nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), e da provável existência de tanino nas amostras, como sugerido por Vasconcelos et al. (2002). 129 Provavelmente, esse efeito possa ser atribuído à granulometria do SPCD, como registrado no trabalho com a adição do SACD. Contudo, esses resultados confirmam os baixos valores encontrados na digestibilidade aparente (17,6%) deste parâmetro, bem como, ajudam a explicar o baixo consumo (Capítulo X). obtido nestas silagens Os parâmetros de degradação ruminal e a degradabilidade efetiva da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de adição do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) estão apresentados na Tabela 54. Tabela 54: Frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), taxa de degradação de b (c) e degradação efetiva (DE) da proteína bruta (PB) do capim elefante (CE) com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) para taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h DE (%) Silagens a (%) b (%) c (%) 0,02/h 0,05/h 0,08/h R2 CE + 0% SPCD 18,66 62,61 1,36 44,0 32,0 27,8 0,98 CE + 3,5% SPCD 15,69 47,00 2,55 42,0 31,6 27,1 0,95 CE + 7,0% SPCD 14,03 47,94 2,42 40,3 29,7 25,2 0,97 CE + 10,5% SPCD 14,01 42,03 3,00 39,2 29,8 25,5 0,91 CE + 14% SPCD 11,40 42,70 2,80 36,3 26,7 22,5 0,97 Apesar do aumento na taxa de degradação (c) das silagens com a inclusão do SPCD, observou-se redução nos valores da degradabilidade efetiva com a inclusão do subproduto, possivelmente pela redução da fração solúvel. O tipo de resposta encontrada para as silagens com o SPCD pode estar relacionado à maior dificuldade que os microrganismos tiveram para atingir a parte da matriz protéica, ficando a mesma protegida pela fração fibrosa, que pode estar indisponibilizadas por interações existentes com ligninas e/ou com taninos. Nesse sentido, os resultados obtidos nesse estudo indicam que há necessidade de suplementação protéica em dietas que incluem o subproduto do pedúnculo do caju. Baseado nas características de degradação ruminal, os suplementos deverão apresentar taxas decrescentes de degradação ruminal da PB. 130 Os desaparecimentos médios (%) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal estão apresentados na Tabela 55. Tabela 55: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente neutro (FDN) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SPCD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 7,21bE 10,42aE 11,55aD 11,27aD 11,57aE 6 13,08abD 13,06abD 13,71aD 10,79bD 14,24aD 24 18,48cC 19,91bcC 19,52cC 22,12abC 21,29aC 48 33,21cB 40,67aB 38,69aB 35,74bB 38,43aB 96 53,37abA 54,45abA 54,24abA 54,81aA 52,12bA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Na determinação do desaparecimento da FDN também observou-se o efeito do período de incubação e dos níveis de adição do SPCD (P<0,05) na ensilagem do capim elefante. Para as frações solúveis no tempo zero (t0) os valores variaram de 7,21 a 11,57%. Evidencia-se que essa perda inicial da fração fibrosa deveu-se provavelmente ao maior efluxo de material pelos poros dos saquinhos no momento da lavagem, uma vez que a fração fibrosa é predominantemente insolúvel. No período de incubação de 96 horas, a silagem exclusiva de capim elefante e as silagens com 3,5; 7,0; 10,5 e 14% do SPCD apresentaram os maiores (P<0,05) valores de desaparecimento da FDN, comparando com os outros tempos de incubação. Nesse período, as silagens com adição do SPCD apresentaram valores médios de desaparecimento da FDN similares (P>0,05) ao observado na silagem exclusiva de capim elefante. Apesar do aumento nas concentrações de lignina e NIDA, evidenciou-se que o resíduo apresentou bom aproveitamento da fibra quando comparado à silagem exclusiva de capim elefante, o que pode estar relacionado com a granulométrica do subproduto, permitindo maior área de contato para ação das bactérias ruminais. Compostos fenólicos como taninos têm sido apontados como barreira primária para a degradação das frações fibrosas, estando a redução de sua concentração positivamente relacionada com a digestão (Van Soest, 1994). Segundo Cannas (2005) os taninos podem atuar na redução da digestibilidade da matéria orgânica e da fibra, como resultado tanto da complexação com carboidratos da parede celular, como da interação com enzimas celulares e/ou bactérias do rúmen. O autor ressaltou ainda, que em alguns casos, a baixa digestibilidade da fibra pode ser resultado da deficiência de nitrogênio fermentado no rúmen devido à complexação das proteínas pelo tanino. Rogério (2005) também citou a presença da lignina e do tanino como um dos principais fatores responsáveis pela baixa degradabilidade da FDN. O modelo utilizado não se adequou aos dados de desaparecimento da FDN, FDA e hemicelulose das silagens incubadas. Os desaparecimentos médios (%) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal estão apresentados na Tabela 56. 131 Tabela 56: Desaparecimento médio (%) da fibra em detergente ácido (FDA) do capim elefante (CE) com níveis crescentes de subproduto do pseudofruto do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SPCD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 13,44aD 11,85bE 11,44bE 12,40bE 13,39bD 6 13,66bD 16,72aD 14,99abD 15,85abD 15,40abD 24 28,44aC 24,09bC 19,20cC 28,24aC 23,63bC 48 45,83aB 42,49abB 39,06bcB 38,58bcB 38,30cB 96 57,66aA 54,78abA 53,81abA 55,19abA 51,59bA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Como observado para o desaparecimento da FDN, os períodos de incubação, bem como os níveis de adição do SPCD influenciaram nos valores de desaparecimento da FDA. No tempo zero (0) os valores variaram de 11,44 a 13,44% para as silagens com 7,0 e 0% do SPCD, respectivamente. Ao longo do tempo de incubação notou-se que o desaparecimento foi crescente, excetuando-se para a silagem exclusiva de capim elefante e para as silagens com 14% do SPCD, que apresentaram valores similares (P>0,05) para os tempos zero (0) e 6 horas de incubação. Comparando as taxas de desaparecimento da FDA com as da FDN nos períodos de incubação, após as 24 horas, notou-se que os valores foram próximos. A redução dos teores de hemicelulose com a inclusão do SACD na silagem de capim elefante (Tabela 43) levou à aproximação dos teores da FDN e FDA, refletindo em menor qualidade da fibra. Avaliando a influência da inclusão do subproduto do processamento do caju (0, 19, 38 e 52%) em dietas isoprotéicas e 132 isofibrosas Rogério (2005) relatou redução na produção total de ácidos graxos voláteis quando adicionou 38 ou 52% de subproduto do caju na dieta. Tal fato foi atribuído à indisponibilização dos constituintes fibrosos. Segundo Jung e Deetz (1993) a lignificação da parede celular pode limitar a digestão dos polissacarídeos de três maneiras: 1) pelo efeito tóxico de componentes da lignina nos microrganismos do rúmen; 2) pelo impedimento físico causado pela ligação lignina-polissacarídeo e; 3) pela limitação da ação das enzimas hidrofilicas causada pela hidrofobicidade criada pelos polímeros de lignina. Conforme esses mesmos autores, o limitado acesso físico das enzimas hidroliticas ao centro de reação do carboidrato parece ser a maior limitação à degradação da parede celular das forrageiras, em decorrência da lignificação. Os desaparecimentos médios (%) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto do pedúnculo do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e nos horários de incubação ruminal estão apresentados na Tabela 57. Tabela 57: Desaparecimento médio (%) da hemicelulose (HCEL) do capim elefante (CE) com níveis crescentes de subproduto do pedúnculo do caju desidratado (SPCD) no tempo zero e em diferentes horários de incubação ruminal Níveis de adição do SPCD (%) Horários 0 3,5 7 10,5 14 0 5,26cdC 7,39bcCD 11,66abD 13,89aCD 1,42dE 6 5,41bC 5,92abD 11,22aD 9,39abD 10,36abD 24 3,13cC 11,72bC 18,25aC 15,24abC 16,17abC 48 18,33bB 37,10aB 38,03aB 36,03aB 38,20aB 96 46,27bA 53,74aA 55,05aA 54,03aA 52,77aA Valores seguidos de letras minúsculas diferentes nas linhas ou letras maiúsculas nas colunas diferem entre si (P<0,05), pelo teste de Tukey Os resultados comprovam o efeito inibitório da lignina quanto à disponibilidade da HCEL. Segundo Van Soest (1994) a lignina está mais fortemente associada com a HCEL e essa associação pode ocorrer através de ligação do tipo éster, bem como através da ligação direta. Como nas forragens tropicais a energia está contida, principalmente, sob a forma de carboidratos estruturais (hemicelulose e celulose), é possível que a adição do SPCD reduza a disponibilidade desta fonte de energia no alimento. Rogério (2005) reportou valores crescentes para o desaparecimento da hemicelulose do subproduto do caju, porém os valores foram sempre inferiores aos do capim elefante. 11.4. CONCLUSÃO Concluiu-se que o SPCD pode ser utilizado na alimentação de ruminantes, porém pode haver redução na disponibilidade de proteína e energia nas dietas baseadas neste alimento. 133 CAPÍTULO XII – ENSAIO DE DESEMPENHO COM OVINOS ALIMENTADOS COM SILAGEM DE CAPIM ELEFANTE E SUBPRODUTOS DA AGROINDÚSTRIA RESUMO O estudo foi realizado com o objetivo de avaliar o desempenho produtivo e o consumo (g/animal/dia, %PV e g/UTM) de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN e fibra em detergente ácido (CFDA) em ovinos em confinamento com dietas à base de capim elefante com adição do subproduto da acerola (SACD), do pseudofruto do caju (SPCD) e do abacaxi desidratados (SABD) nos níveis de 0; 7; 10,5 e 10,5%, respectivamente. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições, sendo cada repetição composta por um animal. Para o CMS (g/animal/dia, %PV e g/UTM) e CPB (g/animal/dia e %PV) verificou-se que as silagens com 10,5% do SPCD apresentaram consumo superior (P<0,05) às silagens exclusivas de capim elefante, enquanto para o CFDN maior (P<0,05) ingestão foi observada nas silagens com adição dos subprodutos. Maior ganho de peso foi observados nos animais que receberam as silagens com o SPCD e SABD em comparação as silagens exclusivas de capim elefante. Contudo para conversão alimentar não verificou-se efeito (P>0,05) dos subprodutos. Conclui-se que os subprodutos podem ser utilizados na alimentação de ovinos. 12.1. INTRODUÇÃO O confinamento é um dos sistemas empregados para o aumento dos índices de produtividade dos rebanhos, com reflexos positivos sobre a qualidade e oferta de produtos na entressafra. Entretanto, o êxito na exploração intensiva dos ruminantes em confinamento está relacionado à disponibilidade e ao custo dos alimentos utilizados. Para se obterem resultados satisfatórios com esta atividade, faz-se necessário buscar alternativas alimentares que tornem a prática mais lucrativa, visto que a alimentação é o componente que mais interfere na lucratividade. As estimativas do consumo de alimentos em ovinos são vitais para predição do ganho de peso, e o estabelecimento dos requerimentos nutricionais dos animais, necessários á formulação das dietas (NRC, 1985). Na estimativa do consumo devem ser considerados as limitações relativas ao animal, ao alimento e ás condições de alimentação. De acordo com Mertens (1992), o consumo é função do alimento (densidade energética, teor de nutrientes, necessidade de mastigação, capacidade de enchimento, entre outros), do animal (peso 134 vivo, variação do peso vivo, estado fisiológico, nível de produção, etc.) e, das condições de alimentação (espaço do cocho, disponibilidade de alimentação, entre outros). As dietas à base de volumosos caracterizados pela elevada proporção de fibra, influenciam o consumo pelas características peculiares do trato digestivo dos ruminantes, com longos períodos de permanência do alimento e grande capacidade física de armazenamento do préestômago, sendo o mecanismo que regula o consumo, a distensão ruminal, influenciado pelas taxas de digestão e de passagem do alimento (Forbes, 1995). O ganho de peso é uma variável importante do desempenho produtivo do animal, associado à faixa etária em que ocorre a maior taxa de crescimento, sendo um indicativo para que o abate ocorra numa fase em que inicia o declínio da eficiência de conversão alimentar. A redução da velocidade de ganho de peso pode ser uma referência para determinação do momento de abate. Assim, evitam-se idades muito avançadas e/ou alta deposição de gordura na carcaça. Existe uma variedade de alimentos e resíduos da agroindústria que podem ser utilizados na alimentação de ruminantes, sendo o valor nutricional determinado pela complexa interação com os microrganismos do trato digestivo, nos processos de digestão e absorção, no transporte e na utilização de metabólitos, além da própria condição fisiológica do animal. Desta maneira, com base nos resultados obtidos nos trabalhos anteriores escolheu-se os melhores níveis de adição dos subprodutos do abacaxi, acerola e do pseudofruto do caju na silagem de capim elefante para determinação do consumo de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido, ganho de peso e conversão alimentar de ovinos. 12.2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisas em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC), no Campos do Pici, Fortaleza (CE). O município de Fortaleza situa-se na zona litorânea, a 15,49m de altitude, 30º43’02” de latitude sul, e 38º32’35” de longitude oeste. O clima característico da região de Fortaleza é classificado, segundo KOOEPEN, como AW’ – Tropical chuvoso, com chuvas principalmente no verão. A precipitação média anual é de 1.378,3 mm e a umidade relativa média, do ar de 77%. Baseado nos resultados obtidos com a composição químico-bromatológica, consumo, digestibilidade aparente e degradabilidade das silagens foram escolhidos os melhores níveis de inclusão de cada subproduto na ensilagem do capim elefante, como forma de validar os dados observados nos experimentos anteriores. Na confecção das silagens experimentais foi utilizado o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum) proveniente de capineira já estabelecida na Fazenda Experimental do Vale do Curú, em Pentecoste, Ceará, pertencente à Universidade Federal do Ceará. O capim foi cortado manualmente com, aproximadamente, 70 dias de idade, quando em seguida, foi processado em picadeira de forragem e, posteriormente, misturado aos subprodutos originados do processamento da fruta para extração de sucos e polpas, da empresa MAISA em Mossoró (RN). A desidratação foi feita ao sol em área cimentada, por um período de 48 horas, sendo espalhados em camadas de, aproximadamente, 7 cm de espessura e revolvidos pelo menos três vezes ao dia. À noite o material foi amontoado e coberto por lona, evitando o acúmulo de umidade. As dietas experimentais foram compostas de silagem exclusiva de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.); com 7,0 % do subproduto da acerola (Malpighia glabra, Linn.) desidratada (SACD); 10,5 % do subproduto do pseudofruto do caju (Anarcadium occidentale, L.) desidratado (SPCD); e 10,5% do subproduto do abacaxi (Ananas comosus, L.) desidratado (SABD). Os subprodutos foram adicionados na ensilagem do capim elefante com base na matéria natural. O concentrado foi fornecido em razão de 1,8% do peso vivo dos animais e semanalmente a quantidade fornecida era reajustada, sendo o mesmo utilizado para todos os tratamentos. As composições químico-bromatológicas das silagens de capim elefante com adição dos subprodutos da agroindústria, encontram-se na Tabela 58. 135 Tabela 58: Composição químico-bromatológica do capim elefante subprodutos da agroindústria, como porcentagem da matéria seca. Silagens MS (%) PB1 FDN1 FDA1 CE + 0% 21,10 4,19 74,44 45,47 CE + 7,0% SACD 26,44 7,33 72,56 47,02 CE + 10,5% SPCD 29,91 7,81 66,20 45,05 CE + 10,5% SABD 28,48 5,24 66,25 39,67 (CE) ensilado com adição do HCEL1 23,93 25,54 21,15 26,58 CEL1 32,18 29,05 29,82 27,86 LIG1 13,29 17,97 15,23 11,81 MS - matéria seca, PB - proteína bruta, FDN - fibra em detergente neutro, FDA - fibra em detergente ácido, HCEL - hemicelulose, CEL – celulose e LIG – lignina CE – silagem de capim elefante; SACD – subproduto da acerola desidratada; SPCD – subproduto do pseudofruto do caju desidratado; SABD – subproduto do abacaxi desidratado Foram utilizados 20 ovinos, sem raça definida, com peso médio de 20 kg e idade entre 4 e 6 meses, distribuídos nos quatro tratamentos, em delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições, sendo que cada repetição foi composta por um animal. Inicialmente, todos os animais foram pesados, identificados com brincos, vermifugados e após sorteio, distribuídos em baias individuais, para um período de adaptação de 14 dias, quando foram novamente pesados. Após este período, os animais foram pesados a cada 14 dias, durante 56 dias. Tabela 59. Composição centesimal do suplemento concentrado Ingredientes Milho Grão de soja extrusado Farelo de soja Farelo de trigo Calcário Fosfato bicálcico Sal comum Aditivo anti oxidante/fúngico Premix micromineral e vitamínico MS (%) PB1 EE1 NDT Ca Concentrado 90,1 23,5 7,0 79,0 1,10 P 0,6 (%) 46,34 24,00 23,28 2,25 1,85 1,12 0,84 0,12 0,20 Na 0,35 MS - matéria seca; PB - proteína bruta; EE – extrato etéreo; NDT – nutrientes digestíveis totais; Ca – cálcio; P – fósforo; Na – sódio 1 Porcentagem da MS Durante todo o período do experimento foram realizadas pesagens diárias do alimento fornecido, bem como das sobras. A silagem era fornecida separada do concentrado e em quantidade que permitisse sobras de 15%. Durante o período experimental foram coletadas amostras semanais do alimento fornecido (silagem e concentrado) e das sobras, sendo as mesmas colocadas em congelador a -8°C. Posteriormente, essas amostras foram descongeladas e 136 homogeneizadas (1º - 14º dia; 15º - 28º; 29º - 42º e 43º - 56º dia de experimento) formando amostras compostas representativas de 2 semanas que foram utilizadas para análises posteriores. Os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose (CEL) e lignina (LIG) foram efetuadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, segundo metodologias descritas pelo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998). Foram avaliados os consumos de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), bem como ganho de peso diário dos animais e a conversão alimentar (kg de MS consumida/kg de ganho de peso). Os consumos foram expressos em gramas por dia (g/dia), porcentagem do peso vivo (%PV) e gramas por unidade de tamanho metabólico (g/UTM). As médias foram comparadas utilizando-se o teste de Student-Newman-Keuls (SNK), com exceção do ganho de peso e do consumo de proteína bruta (%PV), em que se utilizou o teste de Duncan e Tukey, respectivamente. As análises estatísticas foram realizadas, utilizando-se o programa SAS (Statystical Analyses System, 1990). 12.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Consumo de matéria seca (CMS) Os CMS dos animais alimentados com capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) estão apresentados na Tabela 60. Tabela 60: Consumo de matéria seca (CMS) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com níveis crescentes do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% 648,60b 2,92c 63,40c CE + 7,0% SACD 764,40ab 3,56b 76,38b CE + 10,5% SPCD 960,00a 4,13a 93,52a CE + 10,5% SABD 941,00a 3,71b 83,06ab Médias 828,5 ± 147,0 3,62 ± 0,40 79,09 ± 9,13 CV (%) 17,79 11,15 11,55 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem (P>0,05) pelo teste SNK Para o consumo expresso em g/animal/dia, verificou-se que os animais alimentados com as silagens com o SPCD e com SABD apresentaram consumos superiores (P<0,05) aos animais que receberam as silagens exclusivas de capim elefante. Já para o consumo expresso em %PV observou-se que os animais que ingeriram as silagens com o SPCD mostraram consumos superiores (P<0,05) aos animais alimentados com as demais silagens. Os maiores consumos expressos em g/UTM (P<0,05) foram registrados nos ovinos alimentados com as silagens contendo o SPCD e o SABD. As superioridades no consumo das silagens com o SPCD e com o SABD podem estar relacionadas com o aumento do teor de MS destas com o incremento do subproduto, como observado na determinação do consumo voluntário no ensaio de digestibilidade aparente. Todavia, vale destacar o consumo registrado nas silagens com o SPCD ficaram próximos às exigências de CMS para ovinos com 20 kg de peso vivo e ganhos de 250 g/dia, que é de 1000g/animal/dia (NRC, 1985) e que foram, aproximadamente, 45% superior ao consumo registrado na silagem exclusiva de capim elefante. Os menores teores de FDN dessas silagens também ajudam a explicar a semelhança no CMS entre as silagens com SPCD e com o SABD, quando o consumo foi expresso em g/animal/dia e g/UTM, o que também justifica a superioridade no consumo sobre as silagens exclusivas de capim elefante. 137 O reduzido tamanho das partículas dos subprodutos pode também ter aumentado o consumo das silagens com adição do subproduto, em função do aumento da taxa de passagem destas partículas. Porém esse fato nem sempre esta relacionado com a redução do desempenho, como pode ser comprovado na Tabela 64 O maior CMS das silagens com adição do SABD e do SPCD também pode ser reflexo da qualidade das silagens, quanto aos aspectos do processo fermentativo. Como visto anteriormente, produtos da ação dos clostridia estão diretamente relacionados com a deterioração do alimento, conseqüentemente, inibindo o consumo voluntário pelos animais. Durante o processo de abertura dos silos, observou-se que as silagens com inclusão dos subprodutos apresentavam bom aspecto de preservação, sem sinal de putrefação. Esses resultados confirmam, mais uma vez, que a adição dos subprodutos pode melhorar o processo fermentativo das silagens de capim elefante, bem como, o valor nutricional dessas. Quando se compara os valores dos CMS deste experimento, com os valores obtidos no ensaio de digestibilidade aparente, verifica-se aumento de 75, 75, 50 e 90% no CMS dos animais para as silagens exclusivas de capim elefante, com inclusão de 7,0% do SACD, com inclusão de 10,5% do SPCD, e com 10,5% adição do SABD, respectivamente. Entretanto os animais deste experimento receberam em média 37% de concentrado nas dietas. Neste sentido, podese constatar que como alimento exclusivo, as silagens de capim elefante, bem como as silagens com adição dos subprodutos, podem limitar o desempenho dos animais, possivelmente pelo desequilíbrio protéico e/ou energético, uma vez que esses alimentos apresentaram altos teores de fibra. Contudo, como pode se observar, quando atendidas as exigências nutricionais dos 138 animais e dos microrganismos ruminais pode-se averiguar maior consumo das silagens. Com os resultados obtidos nos trabalhos anteriores esperava-se valores menores do CMS das silagens com o SPCD, já que o subproduto havia se caracterizado por ter teores elevados de FDN, lignina e NIDA. Desta maneira, os resultados ajudam a concretizar que os subprodutos podem ter sua composição alterada, em função do tipo de processamento no qual o fruto foi submetido, variedade, adubação, irrigação, localização, luminosidade, etc. Avaliando silagens de capim elefante com 12% do subproduto do pseudofruto do caju desidratado, com dois níveis (1,5 e 2,5% do peso vivo) de concentrado, Teixeira (2003) obteve CMS (g/animal/dia, %PV e g/UTM) inferior aos registrados nas silagens com 10,5% do SPCD, provavelmente pelo maior teor de FDN (73,0%) observado nestas silagens. Alves et al. (2003) avaliando níveis de energia em dietas para ovinos Santa Inês também atribuíram o baixo CMS observado, aos elevados teores de FDN registrados nos volumosos. Bueno et al. (2004) avaliando o desempenho de cordeiros alimentados com silagens de milho e girassol com 20% de concentrado, relataram CMS de 586,3 e 378,1 g/animal/dia, respectivamente, valores inferiores aos registrados neste trabalho. Segundo os autores, o menor consumo das silagens de girassol foi atribuído ao maior conteúdo de ligno-celulose na parede celular desta silagem, o que acarretou provável redução no esvaziamento ruminal, desfavorecendo a ingestão voluntária, semelhante ao observado na silagem exclusiva de capim elefante e com 7,0% do SACD. Estudando níveis de adição de polpa de caju desidratado (0, 10, 20, 30 e 40%) em dietas compostas por milho, farelo de soja e feno de tifton, Lopes et al. (2004) observaram consumos de 1,54 kg/dia e 4,48% PV ao introduzir 10% da polpa de caju na dieta, valores superiores aos encontrados neste trabalho para as silagens com 10,5% do SPCD, possivelmente pelos menores teores de FDN (42,9%), FDA (20,49%) e lignina (5,88%) registrados nestas dietas. Já Catunda e Meneses (1989), avaliando o uso de farinha de caju na época seca do ano, na Região Nordeste, encontraram baixo consumo da matéria seca, que foi atribuído à influência negativa do tanino (0,5%) no aproveitamento da proteína e na palatabilidade do material, resultando no baixo ganho de peso médio diário. Ribeiro et al. (2002) fornecendo dietas com 50% de silagem e 50% de concentrado relataram CMS de 83,2; 69,7 e 76,2g/UTM para as silagens de milho, sorgo e girassol, respectivamente, valores que ficaram abaixo do CMS (93,5g/UTM) registrado na silagem com 10,5% do SPCD, mas semelhantes aos registrados na silagem com 7,0% do SACD (76,3g/UTM) e na silagem com inclusão de 10,5% do SABD (83,1g/UTM). Assim, em vista dos custos dos alimentos, possivelmente os alimentos estudados neste trabalho sejam vantajosos do ponto de vista econômico. Avaliando níveis crescentes de resíduo agroindustrial de abacaxi (0; 33; 66 e 100%) em substituição ao feno de capim coastcross Correia et al. (2003) não observaram efeito dos níveis de adição do resíduo de abacaxi sobre o CMS, registrando média de 1.033 kg/animal/dia. Consumo de proteína bruta (CPB) Os CPB dos animais alimentados com capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) estão apresentados na Tabela 61. Tabela 61: Consumo de proteína bruta (CPB) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% 99,8b 0,44c 7,04a CE + 7,0% SACD 122,2ab 0,57a 8,20a CE + 10,5% SPCD 138,6a 0,62a 8,64a CE + 10,5% SABD 129,2ab 0,50b 7,56a Médias 122,5 ± 19,4 0,53 ± 0,07 7,86 ± 0,99 CV (%) 15,82 9,40 12,65 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste SNK (P>0,05) Para o CPB expresso em g/animal/dia, observou-se que os ovinos que ingeriram as silagens com os subprodutos da acerola, do pseudofruto do caju e do abacaxi tiveram consumos similares (P>0,05). Todavia, somente os ovinos que receberam as silagens com o SPCD tiveram consumo superior em relação, aos ovinos alimentados com a silagem exclusiva de capim elefante. Quando o CPB foi expresso em %PV, as silagens com o SACD e com SPCD apresentaram consumos semelhantes (P>0,05) e superiores (P<0,05) às demais. O aumento no consumo de PB destas silagens está relacionado tanto com o maior CMS, como também pelo teores mais elevados de PB nesses materiais (Tabela 58). Para o consumo de proteína em função do peso metabólico dos animais nenhuma diferença foi observada entre os tratamentos, entretanto evidencia-se que a ingestão de PB via concentrado representou 72% da 139 proteína total ingerida o que pode minimizar o efeito dos tratametos. Os animais apresentaram consumo médio de PB de 7,4g/UTM, sendo esse valor semelhante ao requisito de exigência líquida de mantença (7,2 g proteína./UTM) para ovinos em crescimento (Resende, 2005). Se forem consideradas as perdas urinárias (não mensuradas), pode-se inferir que a quantidade de “proteína líquida ingerida” seria inferior a 7,4g/UTM. Isso indica que os requisitos para mantença e/ou ganho de peso dos animais foram inferiores aos valores mencionados pelo autor anteriormente citado, pois com um consumo de 7,4g/UTM os animais ainda apresentaram ganho de peso médio de 134g/animal/dia. Apesar do aumento de quase 40% no CPB das silagens com o SPCD em relação à silagem exclusiva de capim elefante, deve-se fazer ressalva aos teores de NIDA e à presença do tanino no SPCD, que podem limitar a utilização desse nutriente pelos microrganismos ruminais. Novamente alerta-se a necessidade de suplementação protéica para os animais que estejam consumindo esse tipo de alimento. Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) Os CFDN dos animais alimentados capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) estão apresentados na Tabela 62. Tabela 62: Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% 260,2b 1,18b 25,65b CE + 7,0% SACD 368,2a 1,71a 36,84a CE + 10,5% SPCD 464,6a 2,08a 45,13a CE + 10,5% SABD 438,4a 1,73a 38,81a Médias 382,9 ± 108,5 1,68 ± 0,25 36,60 ± 5,69 CV (%) 19,40 15,37 15,56 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste SNK (P>0,05) As silagens com os subprodutos (SACD, SPCD e SABD) apresentaram consumos de FDN (g/animal/dia, %PV e g/UTM) semelhantes (P>0,05) e superiores (P<0,05) ao observado para a silagem exclusiva de capim elefante. Este resultado pode ser conseqüência do maior CMS destas silagens, uma vez que, os teores de FDN foram menores nas silagens com inclusão dos subprodutos (Tabela 58), o que pode ter estimulado a ingestão do alimento, já que o teor dietético de FDN está negativamente correlacionado com o consumo voluntário (Van Soest, 1994). 140 O menor tamanho das partículas dos subprodutos, também pode justificar o maior consumo destas silagens em relação as silagens exclusivas de capim elefante, ao passo que, os valores de CFDN deste experimento foram semelhantes aos resultados obtidos no ensaio de digestibilidade aparente que foram de 1,19% PV para as silagens de exclusivas de capim elefante, 1,68% PV para as silagens com 7,0% do SACD, 2,19% PV para as silagens com 10,5% do SPCD e de 1,57% PV para as silagens com 10,5% do SABD. Desta maneira, parece que a ingestão de concentrado não influenciou no CFDN. Mertens (1994) sugeriu que o CFDN em %PV deve estar entre 0,8 e 1,2%PV. Todavia, o autor relatou que os animais tendem a ultrapassar este limite, quando a dieta apresenta baixos níveis de energia, buscando, assim, compensar a deficiência dietética. Valores semelhantes aos observados nas silagens com 10,5% do SABD foram registrados por Camurça et al. (2002) ao forneceram dietas com 70% de capim buffel e 30% de concentrado para ovinos da raça Santa Inês, que registraram CFDN de 440,6 g/animal/dia Neiva et al. (2005) avaliando níveis de adição do farelo de glúten de milho no concentrado em ditas à base de feno de tifton para ovinos da raça Santa Inês também obtiveram consumos médios de FDN (3,0 % PV) superiores aos registrados neste trabalho. Consumo de fibra em detergente neutro (CFDA) Os CFDA dos animais alimentados com capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) estão apresentados na Tabela 63. Tabela 63: Consumo de fibra em detergente ácido (CFDA) de ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis de adição do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD). Silagens g/animal/dia %PV g/UTM CE + 0% 134,80b 0,61c 13,29c CE + 7,0% SACD 199,00a 0,92b 19,89b CE + 10,5% SPCD 282,00a 1,25a 27,25a CE + 10,5% SABD 222,00a 0,88b 19,67b Médias 209,3 ± 69,9 0,91 ± 0,16 20,02 ± 3,70 CV (%) 13,59 18,26 18,52 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem (P>0,05) pelo teste SNK Verificou-se que os animais alimentados com as silagens contendo os subprodutos da acerola, do pseudofruto do caju e do abacaxi apresentaram CFDA (g/animal/dia) semelhantes (P>0,05), todavia superiores (P<0,05) aos observados nos ovinos alimentados com as silagens exclusivas de capim elefante. Já para o CFDA expresso em %PV e g/UTM observou-se que os animais que receberam as silagens com 10,5% do SPCD apresentaram consumos superiores (P<0,05) aos ovinos que receberam as demais silagens. Ganho de peso e conversão alimentar O ganho de peso e a conversão alimentar dos ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD), estão apresentados na Tabela 64. 141 Tabela 64: Médias de ganho de peso e conversão alimentar para ovinos alimentados com capim elefante (CE) ensilado com diferentes níveis do subproduto da acerola (SACD), do subproduto do pseudofruto do caju (SPCD) e do subproduto do abacaxi desidratados (SABD) Ganho de peso* Conversão alimentar ** Silagens (g/animal/dia) (kg ingerido/kg PV ganho) CE + 0% 93,4b 8,48b CE + 7,0% SACD 123,2ab 7,18ab CE + 10,5% SPCD 154,4a 7,59ab CE + 10,5% SABD 164,8a 5,84a Médias 134,0 ± 26,4 7,27 ± 1,90 CV (%) 19,69 26,12 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste SNK * (P>0,05) **(P>0,10) Não foram observadas diferenças (P>0,05) para o ganho de peso (g/animal/dia) nos animais que receberam as silagens com os subprodutos (SACD, SPCD e SABD). Porém, os animais alimentados com a silagem de capim elefante contendo 10,5% do SPCD e as silagens com 10,5% do SABD tiveram ganho de peso superior (P<0,05) aos animais que receberam a silagem exclusiva de capim elefante. Embora o ganho de peso dos animais esteja abaixo dos 250 g/animal/dia recomendado pelo NRC (1985), os subprodutos apresentaram boa aceitabilidade pelos animais, não limitando o desempenho dos mesmos, como pode ser visualizado pelas taxas de ganho de peso, consideradas satisfatórias para o tipo de alimento. Observou-se que o ganho de peso dos animais alimentados com as silagens contendo 10,5% do SABD apresentaram ganho 71 g/dia superior aos animais que ingeriram a silagem exclusiva de capim elefante. Tal diferença representaria um ganho adicional de 3,55 kg/animal em 50 dias de confinamento, podendo essa diferença impactar significativamente na rentabilidade dos sistemas de produção. Neste contexto, os subprodutos se comportam como ótimas alternativas de alimentação aos ruminantes, principalmente 142 por ter melhorado o valor nutricional das silagens de capim elefante. Considerando os valores de degradabilidade efetiva obtidos para a taxa de passagem de 2%/h nos estudos in situ (Capítulo V, VIII e XI) das silagens exclusivas de capim elefante (41,6%), com 7% do SACD (41,7%), com 10,5% do SPCD (42,3%) e com 10,5% do SABD (48,7%) e o consumo de MS dos animais deste ensaio, obtem-se a ingestão de matéria seca digestível de 406,1g para a SPCD e 458,3g para a SABD. Esses valores foram superiores aos observados para as silagens exclusivas de capim elefante (270,0g) e para as silagens com 7% do SACD (318,7g). Dessa forma verificou-se que apesar de não ter aumentado a digestibilidade das dietas (Capítulo IV, VII e X) a adição dos subprodutos pode aumentar o desempenho dos animais por aumento no consumo, resultando em maior retenção de nutrientes pelos animais e conseqüentemente em maior ganho de peso Tabela 64. Os resultados contradizem com Correia et al. (2002) que não observaram efeitos no ganho de peso e na conversão alimentar ao avaliarem a substituição do feno de capim “coast cross” pelo resíduo agroindustrial de abacaxi (0, 33, 66 e 100%). Contudo, os autores observaram reduções no custo do quilograma das rações de 14,71; 26,47 e 38,26% para os níveis de 33, 66 e 99%, respectivamente, em virtude do baixo preço desse resíduo. Teixeira (2003), avaliando silagens de capim elefante com 12% do SPCD com 1,5% (peso vivo) de concentrado em ovinos da raça Santa Inês, obteve ganho de peso (110g/dia) inferior ao registrado nas silagens com 10,5% do SPCD neste trabalho. Porém, quando o fornecimento de concentrado passou a 2,5% do peso vivo o ganho de peso passou para 176g/dia, o que pode ser atribuído ao maior aporte de energia e proteína fornecido pelo concentrado. Avaliando o desempenho de ovinos alimentados com rações formuladas com níveis de substituição do feno de leucena pelo farelo do pedúnculo do caju desidratado (30; 40; 50; 60 e 70%), Leite et al. (2004) observaram maior ganho de peso (153 g/dia) quando a dieta foi fornecida com 50% do feno de leucena e 50% do farelo de caju desidratado. Os autores atribuíram este fato ao maior equilíbrio nos valores de lignina e tanino na dieta, já que o feno de leucena proporcionou aumento nos teores de tanino e, em contrapartida, o farelo do pedúnculo de caju promoveu o aumento na concentração de lignina na dieta. Verificou-se que os animais alimentados com a silagem exclusiva de capim elefante e com adição do SACD e do SPCD precisaram consumir, aproximadamente, 2,5 kg de MS a mais, que os animais que ingeriram à silagens de capim elefante com adição do SABD. Pelo ensaio de digestibilidade aparente verificou-se que não houve diferença (P>0,05) na digestibilidade dos nutrientes com a adição dos subprodutos. Contudo, a média de digestibilidade observada nas silagens com o SABD foi cerca de 10 pontos percentuais superior aos valores registrados nas silagens com adição do SACD e com adição do SPCD, fato também registrado no ensaio de degradabilidade. Tais diferenças refletiram em uma superioridade de 32% na conversão alimentar da SABD em relação a silagem de capim elefante, possivelmente pela maior disponibilidade de nutrientes proporcionado por este subproduto. Ademais, que este subproduto caracterizouse pela menor proporção dos componentes da parede celular, em comparação aos subprodutos da acerola e do pedúnculo do caju. Estes resultados estão de acordo com Prado et al. (2003) que não observaram diferença na conversão alimentar, quando avaliaram níveis (0; 20; 40 e 60%) de substituição das silagens de milho pelas silagens de resíduo industrial do abacaxi na dietas de bovinos, registrando média de 6,7 kg MS/kg ganho de peso. Lopes et al. (2004) observaram ganho de peso de 265 g/dia, superiores aos registrados neste trabalho, quando incluíram 10% da polpa de caju desidratada em dietas de ovinos mestiços Santa Inês, o que se deve ao melhor valor nutricional das dietas, como mencionado anteriormente. Todavia, para a conversão alimentar, os autores também não observaram influência dos níveis de adição da polpa de caju desidratada, registrando valores de 4,48 kg MS/kg ganho de peso. Ribeiro et al. (2002) avaliando dietas com 50% de concentrado e 50% de silagem, registrou para as silagens de milho, sorgo e girassol, valores de 7,96, 7,96 e 7,26 kg MS/kg de ganho de peso, respectivamente, similares aos registrados nas silagens com 7,0 do SACD e com 10,5% do SPCD e inferiores aos observados nas silagens com 10,5% do SABD. 12.4. CONCLUSÃO Conclui-se que os níveis de adição de 7% do SACD, 10,5% do SPCD e 10,5% do SABD na ensilagem com o capim elefante podem ser utilizados na alimentação de ovinos, por proporcionar maior consumo de nutrientes e 143 maior ganho de peso, em comparação aos animais que receberam as silagens exclusivas de capim elefante. Vale destacar as silagens com 14% do SABD que apresentaram maior conversão alimentar. CAPÍTULO XIII REFERÉNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A AGROINDÚSTRIA DO CAJU NO NORDESTE: SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS. Fortaleza: BNB,1973. 220p. AGRICULTURAL RESEARCH COUNCIL ARC. The nutrient requirements for ruminant livestock. Sppl.1. 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