0 UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA AS DANÇAS FOLCLÓRICAS GAÚCHAS COMO CONTEÚDO ESCOLAR NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL ELIS FERNANDA GRETER WINK Ijuí – RS 2014 1 ELIS FERNANDA GRETER WINK AS DANÇAS FOLCLÓRICAS GAÚCHAS COMO CONTEÚDO ESCOLAR NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Educação Física da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), como requisito parcial para a obtenção do grau em Bacharelado e Licenciatura em Educação Física. Orientadora: Ms. Lisiane Goettems Ijuí – RS 2014 2 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho as duas pessoas mais especiais e mais amadas da minha vida: minha mãe Marcia e meu irmão Elvis, por terem me incentivado e me apoiado nessa longa jornada. 3 AGRADECIMENTOS A Deus por ter iluminado e abençoado meus passos durante estes anos na universidade. À minha mãe Marcia e meu irmão Elvis que com muito carinho, atenção e apoio não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Às minhas amigas e colegas de graduação Eduarda Burckardt e Carolina Gehrke pelas alegrias, tristezas e vitórias compartilhadas. Muito obrigada a vocês por tudo. À minha amiga Suelen Zanchi pela compreensão e paciência quando ligava para desabafar e para pedir aquela ajuda. À minha orientadora Ms. Lisiane Goettems pela paciência, pelo apoio e pelos incentivos recebidos durante a realização do trabalho, sou muito grata a você e obrigada pela compreensão e pela amizade. À Escola de Educação Especial Recanto da Alegria, ao grupo de professores desta instituição e aos meus queridos alunos por terem me recebido e me acolhido de braços abertos, me apoiando e me incentivando na realização da pesquisa. A todos os professores do Curso de Educação Física pelos ensinamentos recebidos, pelo carinho e dedicação. A todos aqueles que de alguma forma estiveram e estão próximos de mim, fazendo esta vida valer cada vez mais a pena, acreditando no meu potencial e nas minhas ideias. Muito obrigada! 4 E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música. (Friedrich Nietzsche) 5 RESUMO Dança na Escola, como conteúdo da Educação Física não comporta simplesmente o fazer, necessita unir o saber ao fazer, carregado de significados podendo abranger: folclore, dança de salão, culturas, etnias, aspectos sociais e expressivos, dentre outros. O estudo a seguir tem por objetivo conhecer as possibilidades de desenvolver um trabalho com as danças folclóricas gaúchas, dentro do contexto escolar, na educação especial, na especificidade da Educação Física, visando reconhecer através do desenvolvimento da unidade didática quais são os momentos e modos que se evidencia a absorção do conhecimento dos alunos envolvidos? A pesquisa aconteceu com os alunos das turmas da oficina 01 e 02, turno da manhã da Escola de Educação Especial Recanto da Alegria de Tenente Portela – RS e se caracteriza como uma pesquisa-ação, com o desenvolvimento da unidade didática das danças folclóricas e análise de diário de campo, onde foram realizados relatórios e reflexões do que aconteceu durante as aulas. Os dados foram analisados após os relatos de cada aula e das colocações dos alunos durante as aulas, constatando-se que para que ocorra o aprendizado dos alunos com deficiência é necessário que os mesmos sejam estimulados, que sejam valorizados, que sejam desafiados com conteúdos novos e atividades diferenciadas. Palavras-chave: Danças Folclóricas Gaúchas. Educação Física Escolar. Educação Especial. 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Vista da entrada da escola .......................................................................... 72 Figura 2: Sala EDF 1 .................................................................................................. 72 Figura 3: Sala EDF 2 .................................................................................................. 73 Figura 4: Caranguejo 1 ............................................................................................... 73 Figura 5: Giro ............................................................................................................. 74 Figura 6: Xote inglês 1 ............................................................................................... 74 Figura 7: Pesquisadora e aluno participante .............................................................. 75 Figura 8: Estátua ........................................................................................................ 75 Figura 9: Alongamento ............................................................................................... 76 Figura 10: Dança jornal 1 ........................................................................................... 76 Figura 11: Dança jornal 2 ........................................................................................... 77 Figura 12: Massagem bexigas ................................................................................... 77 Figura 13: Espelho 1 .................................................................................................. 78 Figura 14: Espelho 2 .................................................................................................. 78 Figura 15: Dança da vassoura ................................................................................... 79 Figura 16: Dança de salão ......................................................................................... 79 Figura 17: Dança com a boneca ................................................................................ 80 Figura 18: Xote antigo ................................................................................................ 80 Figura 19: Apresentação 1 ......................................................................................... 81 Figura 20: Apresentação 2 ......................................................................................... 81 Figura 21: Apresentação 3 ......................................................................................... 82 Figura 22: Apresentação 4 ......................................................................................... 82 Figura 23: Expressão 1 .............................................................................................. 83 Figura 24: Expressão 2 .............................................................................................. 83 Figura 25: Atividade rítmica ........................................................................................ 84 Figura 26: Sarrabalho 1 .............................................................................................. 84 Figura 27: Turma ........................................................................................................ 85 Figura 28: Dança da cadeira ...................................................................................... 85 7 Figura 29: Dança da cooperativa ............................................................................... 86 Figura 30: Sarrabalho 2 .............................................................................................. 86 Figura 31: Sarrabalho 3 .............................................................................................. 87 Figura 32: Ajoelha e chora ......................................................................................... 87 Figura 33: Dança com balões 1.................................................................................. 88 Figura 34: Dança com balões 2.................................................................................. 88 Figura 35: Dança com balões 3.................................................................................. 89 Figura 36: Dança com balões 4.................................................................................. 89 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 10 1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL ..................................................................................... 13 1.1 ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (APAE) .................. 14 1.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA ......................... 15 1.3 EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL ............................................... 18 2 PRIMEIROS PASSOS DA DANÇA ........................................................................ 20 2.1 A DANÇA NO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL .............. 21 2.2 DANÇAS FOLCLÓRICAS NO BRASIL ................................................................ 25 2.3 RESGATE HISTÓRICO: DANÇAS FOLCLÓRICAS GAÚCHAS .......................... 27 2.4 AS DANÇAS FOLCLÓRICAS GAÚCHAS: UMA POSSIBILIDADE DE ENSINO E APRENDIZAGEM ................................................................................................... 30 3 CAMINHOS DA PESQUISA ................................................................................... 32 3.1 TIPO DE PESQUISA ............................................................................................ 32 3.2 POPULAÇÃO ....................................................................................................... 32 3.3 PROCEDIMENTOS .............................................................................................. 33 3.4 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS .......................................................... 34 3.5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .............................................................. 34 3.5.1 Unidade Didática ............................................................................................. 35 3.5.2 Categorias de Análise ..................................................................................... 36 3.5.2.1 Do Olhar da Professora para com os Alunos ................................................. 36 3.5.2.2 Motivação para com o Aprender .................................................................... 38 3.5.2.3 Utilização dos Conhecimentos Específicos da Dança em Educação Física, como Meio de Inserção Social ................................................................................... 42 3.5.2.4 Do Olhar da Professora com o Percurso de Ensino e Aprendizagem Escolhido – Metodologia Experimentada ................................................................... 44 3.5.2.5 Do Conteúdo da Unidade Didática – Danças Folclóricas Gaúchas como uma Possibilidade de Ensino e Aprendizagem .......................................................... 46 3.5.2.6 Objetivos Conceituais, Procedimentais e Atitudinais – Envolvimentos e Entraves ..................................................................................................................... 47 3.5.2.7 O Aluno e suas Aprendizagens ...................................................................... 49 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 51 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 54 ANEXOS .................................................................................................................... 56 10 INTRODUÇÃO Como já se sabe a cultura da dança traz enormes benefícios para quem usufrui dela, a dança escolar proporciona uma maior sensibilidade em relação ao mundo exterior, faz com que a pessoa tenha a necessidade de se expressar, não só pela fala, mas também através de movimentos corporais que podem surgir involuntariamente a partir de um ritmo sentido/percebido. Mesmo com toda essa sensibilidade que a dança proporciona sozinha, é necessário que haja a interação constante da escola, que deve ser um agente que procura entender os questionamentos relacionados à prática da dança na escola, e integrando os alunos e a dança como um todo. Nesta perspectiva supracitada e com base no fato de me interessar pelas danças, mais especificamente pelas danças folclóricas gaúchas que estão presentes na minha vida desde a infância, é que faço a opção de estudar esta temática no percurso de construção desta pesquisa. Por acreditar que a dança é um conteúdo de fundamental importância dentro do contexto escolar, passei a buscar autores que fundamentassem o trabalho com este conteúdo, neste sentido tive anseio em saber mais sobre este universo complexo que envolve as danças dentro da escola de educação especial. O desafio de desenvolver uma unidade de danças gaúchas folclóricas dentro de uma escola de educação especial surge a partir do momento em que passo a fazer parte do grupo de professores desta instituição de ensino, o que ocorre no início do mês de agosto de 2013. A Escola de Educação Especial Recanto da Alegria é um lugar onde ocorre a inteira inclusão dos alunos, todos são bem tratados, recebem os mais variados atendimentos, o que torna a escola um ambiente muito agradável para os alunos e sua família. 11 A escola de educação especial recebe alunos com as mais diferentes deficiências e idades, realiza um projeto de inclusão dos alunos em idade escolar na escola regular, por acreditar que a inclusão possa ser feita de maneira pensada e organizada. Há alunos que já não tem mais idade de ir para uma escola regular e que frequentam só a escola de educação especial, e através da escola que os mesmos estão incluídos, pois inclusão não é somente na escola e sim na sociedade, se socializando, se desenvolvendo e aprendendo, por acreditar nesta modalidade de ensino que defendo a escola de educação especial, onde o ensino é direcionado exclusivamente a eles sem intenção de excluí-los, mas de desenvolvê-los sem estar expondo e muitas vezes ocasionando momentos desagradáveis de exclusão no meio escolar, que podem ser vivenciados na escola regular. A inclusão, nos moldes de intenções atuais, apresenta alguns pontos frágeis, pois alguns alunos não possuem condições de frequentar uma escola regular em decorrência da sua deficiência, e também ocorre de alguns alunos não estarem mais em idade escolar, o que acabaria fazendo com que estes voltassem a viver só no seu contexto familiar, isolados do contato de maneira mais ampla com a sociedade. Enquanto os alunos frequentam a escola de educação especial entendo que conseguem “manterem-se vivos”, como seres capazes de criar, de pensar, de agir, de vivenciar novas experiências que muitas vezes ficando em casa não teriam as oportunidades que na escola recebem. Por ser então uma defensora das escolas de educação especial que busquei desenvolver esta pesquisa neste contexto, apostando também que as aulas de educação com a tematização das danças folclóricas possibilitariam inúmeras melhoras no desenvolvimento destes alunos, por isso se fazem necessários estudos que de maneira geral ajudarão no desenvolvimento de uma unidade didática de danças folclóricas gaúchas na educação especial, que busquem identificar e entender os momentos e modos onde ocorre a absorção e incorporação do conhecimento, tanto no contexto escolar quanto na vida em sociedade. As aulas de Educação Física com o desenvolvimento da tematização das danças folclóricas gaúchas na educação especial, onde as mesmas foram desenvolvidas, buscando responder a seguinte problemática: Em uma unidade didática com danças folclóricas gaúchas, em aulas de Educação Física, em escola especial, quais são os momentos e modos que se evidencia a absorção do conhecimento dos alunos? 12 A pesquisa apresenta como seus objetivos o desenvolver de uma unidade de danças folclóricas gaúchas na educação especial, procurando identificar e entender os momentos e modos onde ocorre a absorção e incorporação do conhecimento tanto no contexto escolar quanto na vida em sociedade, as aulas serão desenvolvidas através da concepção de ensino de aulas aberta em Educação Física onde os alunos dentro de suas possibilidades podem participar da tomada de decisões referentes a conteúdos e objetivos trabalhados nas aulas. Buscando através do desenvolver da unidade uma metodologia de trabalho para as danças folclóricas gaúchas no contexto escolar da educação especial e analisar como o conhecimento pode ser absorvido e de que modo passa a fazer parte da vida dos alunos envolvidos na pesquisa. Pautada nas intencionalidades citadas a pesquisa se estrutura em três capítulos. Sendo que o primeiro apresenta dados relevantes sobre o histórico da educação especial e o tratamento recebido pelas pessoas deficientes, apresentando o surgimento das APAEs, trazendo algumas considerações sobre a Educação Física e seu percurso geral e depois a Educação Física presente na educação especial. No segundo capítulo, o contexto histórico da dança, passando pelas danças folclóricas no Brasil, apresentando um resgate das danças folclóricas gaúchas e a mesma com uma possibilidade de trabalho dentro do contexto das aulas de Educação Física. No terceiro capítulo são apresentados os caminhos da pesquisa, trazendo a análise e discussão dos dados, apresentados através de dois pontos de vista: do olhar da professora para com alunos e do olhar da professora com o percurso de ensino e aprendizagem escolhido. 13 1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL Desde a antiguidade até recentemente, crianças e adultos com deficiência sofriam com a exclusão total da sociedade, eram renegadas socialmente e também no seu contexto familiar. Há registros históricos que desde a era Cristã essas crianças vêm sofrendo com a segregação e resistência em serem aceitas, como cita Misés (1977 apud CARDOSO, 2004, p. 16): Nós matamos os cães danados e touros ferozes, degolamos ovelhas doentes, asfixiamos recém-nascidos mal constituídos; mesmo as crianças se forem débeis ou anormais, nós as afogamos, não se trata de ódio, mas da razão que nos convida a separar das partes sãs aquelas que podem corrompê-las. Percebe-se que a partir da ideia do autor que a sociedade não praticava somente a exclusão social, mas havia também um pensamento que a existência destas pessoas poderia ser uma punição divina, como pagamento de pecados, ou ainda ligada à imagem da feitiçaria e então eram perseguidos e sacrificados para que não rompessem com os padrões da sociedade. A educação especial tem seu início relacionado ao surgimento de instituições de ensino voltadas para surdos e cegos, que tinham como objetivo oferecer educação para estas crianças, já que as mesmas não poderiam participar de instituição de Ensino Regular, os primeiros registros deste processo se dão na Europa no final do século XVIII. A partir deste novo processo de escolarização houve a expansão para outras formas de deficiência, intelectual e física, distúrbios de diferentes ordens (sociais, emocionais, intelectuais, etc.). Segundo Bueno (1993, p. 27): A extensão da educação especial, das crianças cegas e surdas para as que apresentavam outros problemas, ofereceu oportunidade de escolarização aos deficientes mentais, aos deficientes físicos de fundo neurológico, as crianças com quadros graves de distúrbios mentais, ao mesmo tempo em que incorporou portadores de distúrbios de conduta, de linguagem e de aprendizagem, muitas vezes sem qualquer evidência de anormalidade orgânica ou psíquica, constituindo, na sua maioria, os chamados “carentes culturais”, aos quais são imputados déficits cognitivos, emocionais ou de linguagem em razão de meio social carente e pouco estimulador. 14 No que se refere à educação especial ocorre no século XX a criação de programas escolares e das instituições especializadas para os deficientes mentais. Já no Brasil, até a década de 50 quase não se falava em educação especial e sim em atendimentos para os Alunos com Necessidades Educativas Especiais (ANEE), entrando na década de 70 a educação especial sofre a instalação de um subsistema educacional onde se proliferou as instituições públicas e privadas de ensino aos ANEE, também nesta mesma década são criadas as classes especiais (OLIVEIRA et al., 2002). Nos anos 80, passa-se a defender a ideia de que o ensino da criança com necessidades educativas especiais deveria ser realizado junto com os alunos das classes regulares, também quanto à formação de definição para estas pessoas vem sendo discutida, até então os mesmos eram chamados de excepcionais, tentando buscar expressões mais adequadas. O termo pessoas portadoras de deficiência, muito utilizado na década de 80, atualmente foi substituído pelo termo pessoas com deficiência ou ainda pessoas com necessidade educacional especial. Apesar de a educação especial ter se expandido entre as décadas de 60 e 80, uma grande parte da população de pessoas com necessidades educativas especiais não foi abrangida por esta expansão educacional, ficando excluída do contexto escolar. Surge assim ao lado da rede pública de ensino a rede privada, que assume um papel de importante relevância, pois uma grande parte da população passa a ser atendida nestas entidades filantrópicas. Como exemplo, destas entidades, temos a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). 1.1 ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (APAE) O processo que envolve as pessoas deficientes tem suas origens históricas e culturais relacionadas a uma grande rejeição e discriminação tanto pela sociedade, quanto pelo poder público, que se mostrou ineficiente em promover políticas públicas sociais, que atendessem as necessidades deste púbico. Surge assim um empenho vindo por parte das famílias em quebrar paradigmas, buscando assim soluções para que seus filhos com deficiência intelectual ou múltipla tenham a possibilidade de adquirir condições para serem incluídos na sociedade. 15 As Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) surgem no Brasil através da ocasião da chegada de Beatrice Bemis, procedente dos Estados Unidos, a mesma em seu país, já havia participado da fundação de mais de duzentas e cinquenta associações de pais e amigos; a mesma possuía uma grande ligação com as crianças especiais, pois tinha um filho portador de Síndrome de Down. Segundo dados disponibilizados pela Federação Nacional da APAEs (FENAPAEs): A APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais nasceu em 1954, no Rio de Janeiro. Caracteriza-se por ser uma organização social, cujo objetivo principal é promover a atenção integral à pessoa com deficiência, prioritariamente aquela com deficiência intelectual e múltipla. A Rede APAE destaca-se por seu pioneirismo e capilaridade, estando presente, atualmente, em mais de 2 mil municípios em todo o território nacional. A criação destas associações só foi possível através do empenho de diferentes profissionais, que acreditaram nestas famílias e acima de tudo nestas crianças e nos seus potenciais de desenvolvimento, buscando assim estudar, pesquisar, apropriando-se de novos conhecimentos para melhor atendimento às suas necessidades. Sendo assim, passou a se prestar serviços nos âmbitos de educação, saúde e assistência social. 1.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA É durante os séculos XVII e XIX que na Europa surgem as primeiras bases filosóficas que dariam sustentabilidade ao surgimento da Educação Física, vários autores nesse período referem-se à importância dos cuidados com o corpo e do exercício físico para a melhor formação dos indivíduos. Conforme Betti et al. (2005, p. 144): No século XIX filósofos ocupados com questões da educação da criança e jovens, e sob influência das ideias racionalistas e liberalistas do Iluminismo, do conceito pedagógico de natureza de Rousseau e dos avanços da Medicina, referem-se à necessidade da “educação física”, que deveria se justapor e relacionar à educação moral, à educação intelectual, etc. Sob essas ideias, escolas pioneiras introduzem a ginástica em seus currículos. 16 A ginástica pode ser entendida durante o século XIX como sinônimo de Educação Física, sua prática era vista como uma forma de educação para a saúde e para a educação moral. Caracterizou-se no Brasil desde o início da década de 80 um movimento de repedagogização da teoria em Educação Física, onde a mesma passa a ser remetida como uma prática pedagógica (BETTI et al., 2005, p. 145). Segundo Bach (1999 apud BETTI et al., 2005) “[...] nos anos 90, no interior da Educação Física brasileira, uma tentativa de delimitá-la como campo acadêmico que teoriza a prática pedagógica que tematiza manifestações da cultura corporal de movimento” (p. 25). Entendem o objetivo da Educação Física como o saber específico de que trata essa prática pedagógica, “cuja transmissão/tematização e/ou realização seria atribuição desse espaço pedagógico que chamamos Educação Física [...]” (p. 42). A partir daí são tematizadas as funções e saberes à Educação Física, sendo organizados três saberes: um deles referente ao desenvolvimento da aptidão física, outro que busca o desenvolvimento integral do aluno e a cultura corporal de movimento que traz o movimentar-se humano como uma forma de comunicação. Contudo, a cultura corporal de movimento e objetivo da Educação Física implica avançar do fazer corporal para um fazer sobre o movimentar-se do ser humano, o qual deve ser incorporado pela Educação Física (na escola) como um saber a ser transmitido (aos alunos) (BETTI et al., 2005, p. 147). A Educação Física na escola traz a cultura corporal de movimento para os educandos coma intenção de ensinar não somente o saber movimentar-se, mas o saber sobre esse movimentar-se, trazendo assim para estes educandos a capacidade de autonomia crítica (BETTI et al., 2005, p. 148). Ao comentar a Educação Física Escolar, Betti et al. (2005) nos coloca que é a: Disciplina que tem por finalidade proporcionar aos alunos a apropriação crítica da cultura corporal de movimento, visando formar o cidadão que possa usufruir, compartilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais do exercício da motricidade humana: jogo, esporte, ginástica e práticas de aptidão física, dança e atividades rítmicas/expressivas, lutas/artes marciais e práticas corporais alternativas. 17 É no século XX que a Educação Física se consolida na escola, tendo visto como sua função principal a promoção da saúde, visando o desenvolvimento integral dos educandos e de todas as suas potencialidades. É também neste século que o esporte se incorpora a ela. Num primeiro momento a Educação Física foi considerada uma atividade que orientava os educandos para o desenvolvimento de sua aptidão física. Conforme Brasil (1971 apud BETTI et al., 2005): Decreto nº 69.450, de 01/11/1971, que dá conta no seu artigo 1º que: “A Educação Física, atividade que por seus meios, processos e técnicas, desperta, desenvolvendo e aprimorar forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando, constituindo um dos fatores básicos para a conquista das finalidades da educação nacional”. Surge aqui a necessidade de mostrar que a Educação Física deve ser uma disciplina curricular, mostrando que a mesma possui assim como as demais disciplinas da Educação Básica um conhecimento, um saber (inclusive conceitual) necessário para a formação plena do indivíduo (BETTI et al., 2005). O que ocorre na nova versão da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), Lei nº 9.394, de 20/12/1996 onde contemplasse a Educação Física no seu artigo 26, parágrafo 3º: A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (BRASIL, 1971 apud BETTI et al., 2005). Sendo que logo em seguida a este decreto ouve uma diminuição da presença da Educação Física no contexto escolar, pois o decreto acima citado não contempla a palavra “obrigatória”, o que ocorre em outras disciplinas, tornando assim confusa a existência da Educação Física na escola. Surge aí uma reação que levou a inclusão da palavra “obrigatória” no texto da LDB que alterou o parágrafo 3º do artigo 26 da Lei nº 9.394 para o seguinte: A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (BRASIL, 2001 apud BETTI et al., 2005). 18 Entende-se assim que a Educação Física na escola é de fundamental importância, sendo facultativa sim em alguns casos, mas a mesma contribui de maneira geral para o desenvolvimento global do educando. 1.3 EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL A Educação Física na educação especial dentro das escolas das APAEs vem sendo fundamentada pela Proposta Orientadora das Ações, elaborada pela Federação Nacional das APAEs, que apresenta a justificativa da proposta da Educação Física, os seus objetivos, os conteúdos, os eixos e estruturação da Proposta de Educação Física, Desporto e Lazer, sendo dividida em dois segmentos: a) Educação Física Escolar como componente curricular norteado pela LDB nº 9.394/96, integrada à Proposta Pedagógica das Escolas das APAEs; b) Educação Física, Desporto e Lazer desenvolvida pela necessidade da prática de atividades físicas, esportivas e recreativas de forma a contribuir para a qualidade de vida das Pessoas Portadoras de Deficiência. O objetivo da Educação Física é desenvolver, promover e estimular hábitos saudáveis, através da prática de atividades físicas, que busquem melhor a qualidade de vida, dentre estas atividades pode-se destacar as caminhadas, hidroginástica, prática de lutas (capoeira, judô), já no que se refere ao lazer as atividades são de cunho recreativo, como gincanas, jogos recreativos, passeios. Quanto ao treinamento desportivo, visão a iniciação de treinamento de atletas para competições (Olimpíada das APAEs). Com a introdução da Educação Física no currículo das escolas das APAEs, isto ocorreu por volta de 1968, buscava-se tornar o espaço escolar um lugar mais alegre que possibilitasse aos alunos uma interação social, é a partir daí que são introduzidas as práticas esportivas nas APAEs, com isto nascem também as Olimpíadas das APAEs. Deste modo, muitos conceitos passam a serem revistos dentro da Educação Física, buscando um processo que desenvolva de forma integral o aluno, respeitando suas potencialidades. limitações e estimulando o desenvolvimento de suas 19 Conforme Rosadas (1994 apud FENAPAEs, 2001) “o objetivo da Educação Física, enquanto processo educacional, não é a simples aquisição de habilidades, mas sim contribuir para o desenvolvimento das potencialidades humanas [...]”. Dentro do contexto escolar das APAEs a Educação Física deve buscar desenvolver o corpo e o movimento, usufruindo-se da ludicidade como meio educacional indissociável tanto na Educação Infantil como no Ensino Fundamental e Médio, conforme estruturação curricular da escola. Os conteúdos relacionados podem ser assim definidos: Os conteúdos da Educação Física nas Escolas das APAEs podem ser organizados em três blocos: Conhecimento Corporal – Esporte, Jogos e Ginásticas – Atividades Rítmicas e Expressivas, que deverão ser distribuídas e desenvolvidas de acordo com o projeto pedagógico, as especificidades e as características dos educandos de cada escola e de cada região (FENAPAEs, 2001, p. 48). Sendo assim, as aulas devem buscar o prazer do aluno e a satisfação do mesmo durante a realização das atividades propostas, trabalhando de uma forma lúdica e recreativa, que além de fazer o aluno se prender à atividade proporciona o desenvolvimento dos conhecimentos desejados. 20 2 PRIMEIROS PASSOS DA DANÇA Acredita-se que a dança tenha seu surgimento de maneira cronológica, tendo início no período Paleolítico Inferior de 1.000.000 a.C., estendendo-se até o período Neolítico (UGOLOTTI apud BACH, 2003). Dentro de todo esse processo de surgimento e de transformação da dança ela veio evoluindo de várias formas, passando por diferentes maneiras de execução, em grupos, individuais, com contato e sem contato, com pares mistos, com galanteio, dentre outras características que se fizeram presentes. Também foi utilizada em seu início para pedir favores aos deuses, para agradecê-los, para demonstrar os sentimentos de fé ou demonstrar acontecimentos sociais. Para os guerreiros, a dança foi usada para proporcionar destreza para a guerra ou caça. Através da dança o homem buscava a saúde e dirigir-se aos seres sobrenaturais. Quanto ao nascimento da dança, Caminada (apud BACH, 2003) afirma que: A dança nasceu da necessidade de expressar uma emoção, de uma plenitude particular do ser, de uma exuberância instintiva, de um apelo misterioso, que atinge o próprio mundo animal. Sim porque também nos macacos aparece a dança, embora, só com os homens, ela se eleve a categoria arte, em função mesmo e sua consciência. Nesta época as primeiras danças foram realizadas por povos nômades, que se alimentavam do que encontravam no caminho, e sua habitação eram as cavernas naturais que protegiam e serviam de abrigo durante a noite. Hoje não seria possível reproduzir estas danças, pois não encontramos mais povos nômades como naquela época, apenas os ciganos, mas os mesmos não possuem uma dança essencialmente própria, pois vão se apropriando da cultura dos povos por onde passam. A dança foi evoluindo e as antigas culturas foram contribuindo e evoluindo juntamente com a dança. Na Índia há registros de dançarinas sagradas que dançavam por devoção aos deuses [...]; na China a dança tinha o objetivo de ensinar o espectador a admirar o bom e belo [...]; no Japão a dança era tida como um vínculo entre os homens e os deuses, era utilizada para expressar os mandamentos dos deuses [...]; no Egito a dança era executada pelas classes inferiores destinadas a fazerem espetáculos para os nobres em suas residências [...]; as danças hebraicas primeiramente eram só as pessoas de alto nível que dançavam e logo em seguida estes perderam o interesse, deixando essa demonstração de agradecimento para as classes mais inferiores [...]; a dança também teve outras passagens marcantes pela Grécia, Roma, Bizâncio, Idade Média, Renascimento 21 chegando ao reinado de Luís XIV. Durante o reinado de Luís XIV, os dançarinos das danças de salão estavam desanimados com a monotonia, e então surgem os bailes de máscaras, que foram um sucesso possibilitando este espetáculo para todas as classes (OSSONA, 1988). A cada evolução a dança necessitou ser repensada, quando saiu de religiosa e também se tornou profana (SIQUEIRA, 2006), ela precisou ser revista e reformulada, e isto ocorreu em vários outros momentos da história da dança. O ser humano foi conquistado de corpo e alma pela dança, pois através dela qualquer sentimento pode ser expresso, demonstramos o que sentimos através de movimentos e gestos. Para darmos sentido a esta expressão surge a necessidade de incluirmos um ritmo aos nossos movimentos e gestos, o ritmo que dá forma e sentido para a dança, formando assim um ciclo onde a dança foi sendo introduzida e praticada por homens, mulheres, adolescentes e crianças. A dança é cultuada, aprendida e vai sendo passada de geração para geração. Tornou-se uma manifestação universal muito importante nas relações entre as pessoas, por criar vínculos, aproximar e expressar através de movimentos corporais o que as pessoas sentem. 2.1 A DANÇA NO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL Conforme os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais Brasileiros) para a Educação Física, a mesma deve abranger vários conhecimentos que referem-se à cultura corporal de movimento, que são atividades rítmicas e expressivas, a ginástica, lutas, esportes e jogos. A dança no processo educativo na APAE vem sendo baseada na Proposta Orientadora das Ações, elaborada pela Federação Nacional das APAEs, que traz a dança dentro das múltiplas ações que a Educação Física deve desenvolver na escola, que está relacionada nas atividades rítmicas e expressivas. É necessário ressaltar as palavras de Pereira et al. (2001 apud GARIBA, 2007) que nos coloca: […] a dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola: com ela, pode-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e/com os outros; a explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a criarem; a explorarem novos sentidos, movimentos livres [...]. Verifica-se assim, as infinitas 22 possibilidades de trabalho do/para o aluno com sua corporeidade por meio dessa atividade. A partir dessas palavras podemos entender um pouco mais do que o aluno estará a vivenciar dentro das aulas de Educação Física, no trabalho com a dança escolar, levando em consideração os conhecimentos que os alunos trazem com eles, a sua bagagem cultural. A dança está presente dentro da cultura humana desde seu início, integrando-se de uma forma geral a esta cultura, sendo sempre vista como algo bom para a vida humana e como uma atividade que está sempre ligada à natureza do homem. Quando introduzida no contexto escolar da educação especial a mesma deve buscar o desenvolvimento corporal, cognitivo, afetivo, de maneira a desenvolver estes alunos de forma global, buscando interagir com os conhecimentos formais da escola e as habilidades que cada aluno possui. Dentro do contexto da escola especial a necessidade de se movimentar, de explorar novas possibilidades para os seus corpos é de fundamental importância para os alunos especiais, auxiliando assim na aquisição de alguns conceitos e no desenvolvimento da capacidade de criação, expressão, estimulando os alunos a se comunicarem, sentirem o mundo e serem sentidos por este mundo. Na escola de educação especial a dança pode ser um caminho para transformar uma realidade que muitas vezes vem carregada de marcas negativas, onde estas crianças são excluídas e mal interpretadas, pois possuem ao mesmo tempo uma inocência muito grande que surpreende as pessoas e uma agressividade incontida decorrente das marcas deixadas pela influência social. Quando desenvolvida na educação especial a mesma permite um desenvolvimento de vários aspectos, melhorando a confiança em si mesmo e nos colegas, melhoras na postura, ampliando o dicionário de movimentos, a coordenação e a noção de tempo e espaço, possibilita uma evolução da capacidade de comunicação, tornando o aluno mais expressivo e sociável, traz benefícios para a saúde e também compensa muitas vezes a falta de movimentação destas crianças. Conforme Bertoldi (2004 apud FREITAS, 2006): [...] é fundamental que a criança tenha a oportunidade de desenvolver alguns aspectos psicomotores, como por exemplo, o esquema e a percepção corporal, fatores da qualidade do movimento como o fluxo, o peso, o espaço e o tempo além do aprendizado do relacionamento das 23 diferentes partes do corpo entre si, entre o corpo e diferentes objetos e entre o corpo e outras pessoas. Também na escola a dança assume um papel de desenvolver e estimular a criação de expressões corporais e sociais dos alunos, que se desenvolvem através de diferentes experiências, partindo de trabalhos de livre e espontânea expressão para uma interpretação formal, trabalhando juntamente a mímica, a teatralidade, improvisação, jogos de comunicação dentre outras aprendizagens que são importantes dentro do processo de dança na escola. O que fica visível quando se trata da dança na escola é que apesar da dança estar situada desde 1971 como uma unidade da disciplina de Educação Física, ela continua sem receber o seu devido reconhecimento (BRASILEIRO, 2003), os trabalhos desenvolvidos na maioria das escolas estão voltados somente às datas comemorativas, início e término de ano letivo, dias das mães, dias dos pais, dentre outras datas. Brasileiro (2003, p. 47) nos destaca o que já foi comentado anteriormente: Em respostas obtidas do questionário, evidenciaram que nenhum dos que retornaram esse instrumento de coleta trata o conteúdo “dança” nas aulas de Educação Física e apenas um indica recorrer à dança em festivais e datas comemorativas. Quando nos deparamos com o contexto escolar e a dança, fica visível que não temos uma boa estrutura para desenvolver este conteúdo, pois imaginamos que para se trabalhar com a dança precisamos de uma sala ampla cheia de espelhos, mas quando trabalhamos com os esportes e encontramos quadras sem condições de uso não abandonamos este conteúdo, o desenvolvemos no pátio, na grama, até mesmo no campinho de terra, encontramos uma maneira de trabalhar com ele. Com a dança também pode ser assim, o que é fundamental para se realizar uma boa aula de dança: é necessário um som, um bom professor, um bom plano de aula e, além disso, qualquer espaço é espaço para se trabalhar com a dança, seja dentro de uma sala de aula simples, um salão de eventos, um anfiteatro, uma quadra, há várias possibilidades de lugares. Na escola, a dança não deve competir com as academias voltadas para a formação de dançarinos, mas sim deve levar o aluno a conhecer e desenvolver o seu corpo e a cultura nacional, aprender a ser cooperativo, crítico, socializar, 24 aprender a fazer movimentos e pensar em termos de movimento (SCARPATO, 2004), contribuindo assim para a formação social deste educando, possibilitando a transformação dos sujeitos, fazendo um ser capaz de formular sua própria opinião e suas ideias, auxiliando não somente no desenvolvimento motor deste aluno, mas também intelectual. A dança dentro das aulas de Educação Física surge com o desejo de transformar o educando num sujeito capaz de ver, sentir e conhecer o seu próprio corpo e o que ele pode desenvolver através dele e a partir de movimentos, também desenvolvendo a criatividade, a autonomia e a autoconfiança. Neste contexto, a dança escolar trabalha sensibilizando e conscientizando os alunos sobre sua postura, atitudes, gestos e ações quando está convivendo em sociedade, mostrando para o aluno que durante a sua vida ele tem que estar aberto para receber o novo e aprender com ele. Para o professor de dança não basta saber dançar é preciso ter conhecimentos históricos sobre a dança, saberes pedagógicos, saberes didáticos e uma gama de conhecimentos sobre como ensinar, buscando qual a melhor maneira de construir estes conhecimentos com os alunos, preocupando-se e refletindo sobre o que ensinar e porque ensinar e, principalmente, de que maneira ensinar. O professor na perspectiva da dança escolar não pode ser alguém que vai impor técnicas e conceitos, mas sim trabalhar como um mediador, alguém que vai orientando o trabalho dos alunos, trabalhando para através da curiosidade do aluno, estimulando-o para que busque os conhecimentos, para que ele mesmo descubra suas habilidades. Podendo assim o aluno descobrir o sentido do ser, não só fisicamente, mas psicologicamente. De acordo com Scarpato (2004, p. 71) os conteúdos da aula podem ser trabalhados com temas que busquem desenvolver e contribuir para: - a consciência corporal; expansão do vocabulário de movimentos; a compreensão do fator tempo, peso, espaço e influência do movimento; a socialização e cooperação em grupos; a valorização da cultura; a observação de alguns estilos de dança e partir para a alteração criativa dos movimentos. 25 A grande maioria dos alunos apresenta hoje grandes dificuldades nestas áreas de conhecimento corporal, quando se fala em vocabulário de movimentos na dança estamos nos referindo ao tempo, espaço, peso e qualidade deste movimento, estas dificuldades se percebem até em outras atividades, por exemplo, no voleibol quando o aluno não consegue perceber o tempo e o espaço para sacar a bola ou até mesmo para realizar uma recepção. Fica evidente assim, que seria de fundamental importância que a dança estivesse presente dentro do contexto escolar desde os anos iniciais até os anos finais da escolarização, porque para se desenvolver um bom trabalho é necessário dar uma continuidade e certa permanência dentro de um determinado enfoque de estudo teórico/prática, assim como acontece com os esportes, o aluno vem desenvolvendo-se aos poucos, por etapas, e com a dança também pode se trabalhar da mesma forma. Garaudy (1980 apud SCARPATO, 2004) coloca uma citação do coreógrafo Maurice Bert: Dançar é tão importante para uma criança quanto falar, contar ou aprender geografia. É essencial para a criança, que nasce dançando, não desaprender essa linguagem pela influência de uma educação repressiva e frustrante [...]. O desafio agora é de buscarmos e mantermos estes alunos dançantes dentro do espaço escolar ao invés de podarmos ela como está sendo feito hoje, vamos sim dar mais espaço para suas criações e chances para que ela aumente ainda mais o seu conhecimento. 2.2 DANÇAS FOLCLÓRICAS NO BRASIL O Brasil é um país que sofreu uma grande miscigenação cultural, isto é, um dos grandes fatores que nos fazem ter esta grande variedade de danças dentro do país, pois ele foi sendo colonizado aos poucos por diferentes povos, que trouxeram consigo as suas características culturais e foram introduzindo-as no povo que aqui vivia. Por isso, hoje dentro de cada Estado é possível encontrar uma manifestação da cultura através da dança, encontramos assim, talvez o maior meio de expressão da cultura do nosso país. 26 Para Arthur Ramos, os sudaneses puros e os negros-maometanos muito influíram nos aspectos religiosos (incluindo as danças rituais, da formação do povo brasileiro). Já os bantos tiveram grande influência nas danças profanas. Foram eles que trouxeram o batuque angola-cangoense. Do batuque (palavra que vem do bater, fazendo marcação com as palmas e sapateados, realizados pelos dançarinos nos terreiros das senzalas e instrumentos de percussão) várias danças como samba, capoeira, trevo e outros (NANNI, 1995, p. 77). Durante os primeiros anos de colonização, mais aproximadamente os duzentos primeiros só se ouvia os cantos dos índios e suas danças rituais, aos poucos os colonizadores foram introduzindo instrumentos de sopro, bate-pés, os batuques dos africanos, etc. (NANNI, 1995). Através da dança podemos possibilitar para os educandos um conhecimento amplo da cultura do nosso país, não trabalhando somente a cultura local, mas buscando ampliar estes conhecimentos, para pelos menos uma vivência de outra cultura mais distante que também tem sua relevância na formação dos conhecimentos para os educandos, isto tudo pode ser trabalhado de uma forma interdisciplinar, buscando um trabalho em conjunto com as disciplinas de História, Geografia e Artes, dentre outras, para desenvolver um conhecimento sobre os Estados que serão trabalhados. Segundo Ferreira (2005) a dança na escola pode contribuir para que os educandos adotem atitudes de valorização e apreciação das manifestações expressivas e culturais brasileiras. O educando que participa de grupos ou de aulas de danças folclóricas aprende também a cooperar com os integrantes deste determinado grupo, a assumir responsabilidades, aprendendo também a ter consideração com os outros e valorizar as culturas mais diversas. As danças folclóricas brasileiras possuem características regionais, dependendo da influência étnica que sofreram elas terão mais aspectos indígenas como nos Estados de Amazonas e Pará; africanos como na Bahia, Minas e Rio; ou europeus como nos Estados do Sul do país (NANNI, 1995). O educando que se envolve com a dança de uma maneira geral, não somente as danças folclóricas, desenvolve seu senso de ritmo, relação com espaço e tempo, desenvolve suas habilidades motoras, força, agilidade, equilíbrio e resistência. As danças folclóricas exigem muito mais dos alunos que simplesmente um trabalho muscular, acaba fazendo com que o aluno se envolva de corpo e alma 27 pela dança, fazendo com que o mesmo adote certos padrões e que ocorra uma mudança de atitudes. Tudo o que se aprende com a dança pode e deve ser inserido na vida do educando, quando se dança se busca uma valorização, um respeito pelo que se faz, com a dança aprendemos a valorizar o esforço de todo o grupo, não somente favorecendo um par ou uma pessoa do grupo. Dentro deste universo da dança inserida no contexto escolar é um desafio encontrarmos um caminho que podemos seguir, mas dentro das danças folclóricas há uma grande variedade que podemos desenvolver na escola, pode-se destacar a cultura do Rio Grande do Sul que traz consigo várias danças, tanto de salão como vaneira, vaneirão, bugio, rancheira, dentre outras, como as danças tradicionais pezinho, maçanico, balaio, caranguejo. Trazendo dentro deste contexto da dança outros conteúdos como lendas, contos, culinárias e costumes. 2.3 RESGATE HISTÓRICO: DANÇAS FOLCLÓRICAS GAÚCHAS No Brasil, os seus Estados possuem várias danças folclóricas que representam os costumes, a cultura e a identidade de um povo, os seus hábitos e muitos outros elementos de cada cultura social, mostrando a imensa riqueza cultural do país. Carlos Vegas, musicólogo argentino (apud CORTES; LESSA, 1961, p. 2) sintetiza o processo de formação das danças populares: Nada mais universal que o folclórico; nada mais regional que o folclórico. São universais os elementos; são regionais as combinações. Pois o que confere fisionomia regional não é tanto a matéria original como o produto de suas especiais e singulares maneiras de superposição e mescla. As danças populares foram surgindo e ditando moda, ganhando o gosto das camadas mais altas da sociedade do Rio Grande do Sul, eram dançadas nas capitais, nas cidades, nas vilas, espalhando-se pelo Rio Grande inteiro e ganhando um espaço imenso. Só que ao contrário das músicas populares que sempre foram individualizadas, a dança sempre foi coletiva, acredita-se que na música prepondera a criação direta, já na dança a força-criadora mais forte está na sociedade (CORTES; LESSA, 1961). 28 No Brasil, uma das grandes influências nas danças foi a Espanha, que traz seus traços também presentes nas danças gaúchas, isso não quer dizer que foi a única, outras também como Portugal, França foram grandes divulgadoras da dança pelo mundo. No Rio Grande do Sul, a mais antiga representação das danças é o velho fandango. Conforme Cortes e Lessa (1961, p. 3) chamou-se “Fandango”, no antigo Rio Grande, a uma série de cantigas entremeadas de sapateios. Nesses fandangos as cantigas e músicas eram essencialmente mestiças do Brasil, já os sapateios vieram como característica da antiga Espanha. Jacques (apud CORTES; LESSA, 1961, p. 3) faz a seguinte fala sobre o fandango: Entre as altas classes, o fandango, que até pelos anos de 1839 e 1840 ainda era muito usado, foi sendo substituído pelas danças vinda da Europa, como ril, a gavota, o sorongo, o montenegro, a valsa, e mais tarde as polcas, os chotes, as contradanças, as mazurcas, e finalmente as lindas havaneiras, expressão musical do langer e dos requebros. O fandango que veio sendo aclamado durante um longo período entra em decadência com a chegada de novas danças vindas da Europa, e assim como outras áreas, as danças estão ligadas aos conceitos da moda, somente é bem visto o que está sendo executado nos salões mais nobres. As danças folclóricas do Rio Grande do Sul são verdadeiras expressões da alma do gaúcho, da sua essência, trazem vivo o respeito pela prenda e pelas tradições, trabalhando sempre com a teatralidade dos gaúchos, mas sem torná-los em fantoches dentro do contexto da dança. Ao comentar as danças folclóricas, Cortes e Lessa (1961, p. 4) ressaltam que: Donde as danças gaúchas surgiram é problema secundário, repetimos mais uma vez. O que interessa é sabermos que elas realmente animaram as festas do Rio Grande tradicional, e representaram um incentivo de alegria aqueles intrépidos peleadores de outrora, forjados da grandeza histórica de nosso rincão. É possível entender a partir desta colocação que as danças gaúchas são do Sul, não porque surgiram no Rio Grande, mas porque o gaúcho as recebeu donde quer que se origine e deu forma, música, colorido e alma nativista (CORTES; 29 LESSA, 1961). São cultivadas e muito valorizadas com uma grande intensidade pelo povo, tendo um destaque maior dentro dos Centros de Tradição Gaúcha (CTGs), nestes centros são realizadas diversas atividades relacionadas à cultura deste Estado como as danças, tiro de laço, gastronomia dentre outras. No Rio Grande do Sul, assim como em outros Estados e países se tem um estilo típico de dançar, caracterizando como um dos aspectos do folclore, o povo gaúcho construiu ao longo de sua história e trajetória uma gama de ritmos musicais e danças que adquiriram a condição de tradicional dentro da cultura do gaúcho. As danças se dividem em danças gaúchas de salão e danças tradicionais gaúchas ou folclóricas. As que são executadas em bailes nos CTGs, festas, eventos e comemorações são as danças de salão, onde podemos destacar vários ritmos, que são bem diferentes das outras regiões do país, o Bugio que é um ritmo autenticamente gaúcho, nasceu no Sul e sua execução é feita a partir da imitação do modo de andar dos primatas das matas do Sul, que se deslocam com pequenos saltos (SAVARIS, 2005). A milonga rica em formas de execução, mas que no Sul se limita a milonga tangueada, milonga vaneirada e milonga rio-grandense, cada casal dança a que melhor se adaptar e que mais lhe agradar. Dentre vários outros ritmos como valsa, xote, vaneira, marcha, rancheira, chamamé que é uma dança de origem guarani, um dos ritmos mais apreciados pelos gaúchos, tanto para se dançar como para se ouvir, ritmo muito agradável, com uma suavidade nas melodias. Já as danças tradicionais gaúchas que vem sendo estudadas desde 1948, por vários pesquisadores, têm outras características próprias, são dançadas em grupos, que nos CTGs recebem o nome de invernada artística, onde os alunos são divididos pelas idades formando diversas categorias. Nos centros de tradição se dança não somente com o objetivo de manter viva a dança e a cultura, mas também de participar de eventos e competições em torno das danças tradicionais gaúchas como no caso do Encontro de Arte e Tradição (ENART) que é o maior festival de arte amadora da América Latina segundo a UNESCO, é realizado anualmente em três etapas, as regionais, as interregionais e a final. Evento promovido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) órgão que se dedica à preservação, resgate e desenvolvimento da cultura gaúcha. 30 No passar dos anos algumas danças tradicionais foram caindo em desuso, hoje são vinte e cinco danças que estão descritas no Manual das Danças Tradicionais Gaúchas que foi publicado melo MTG, podemos citar algumas delas: o anu, balaio, caranguejo, chico sapateado, chimarrita balão, pezinho, maçanico, havaneira marcada, meia canha (polca de relação), dentre várias outras. Algumas nem precisamos parar para pensar e logo já nos vem sua música e a sequência de passos pela mente, como se fosse um filme, algumas nunca vimos e nem ouvimos falar, repletas de beleza e de uma grande magnitude coreográfica as danças tradicionais são muito bem recebidas por crianças, jovens e adultos dentro dos centros de tradição gaúcha e em qualquer outro lugar onde são desenvolvidas. 2.4 AS DANÇAS FOLCLÓRICAS GAÚCHAS: UMA POSSIBILIDADE DE ENSINO E APRENDIZAGEM O ensino das danças tradicionais gaúchas dentro da escola tem por objetivo buscar o desenvolvimento integral, incentiva a criança a ter domínio do seu corpo e dos seus movimentos, além de possibilitar todo um resgate histórico passando pelo passado, vivenciando o conhecimento, reconstruindo valores e resgatando a cultura. Com base em conhecimentos obtidas no material disponibilizado pelo Governo do Estado, Referencial Curricular: Lições do Rio Grande, onde encontramos algumas competências e habilidades a serem desenvolvidas, conteúdos e sugestões de algumas estratégias possíveis para cada nível de ensino, encontramos a dança nos conteúdos referentes a Artes, mas não esquecendo que este conteúdo está relacionado à Educação Física também. Quando nos colocam nas Lições do Rio Grande que os alunos devem conhecer a dança em contextos culturais e históricos variados, fica evidente que isto serve para as danças folclóricas. Com base nas lições do Rio Grande temos vários caminhos a seguir no trabalho com a dança que serve não somente para as danças tradicionais gaúchas, mas também para qualquer tipo de dança. Estimular os alunos a buscar suas origens culturais num momento em que a sociedade não se preocupa em preservar esta cultura com certeza não é uma missão fácil, mas pode ser um desafio interessante, partindo da perspectiva de buscar conhecer a dança dentro do Brasil, passando um pouco por cada Estado, chegando à cultura local, não com a mesma 31 visão que os alunos encontram a dança dentro dos CTGs, onde são exigidos e cobrados ao máximo, mas sim com o intuito de possibilitar um novo conhecimento e acima de tudo um conhecimento sobre seu corpo e suas possibilidades. A dança auxilia na formação da personalidade, se partirmos do contexto da própria cultura do gaúcho por mais “grosso” que ele fosse, na antiga literatura não há registro de que algum gaúcho maltratou uma mulher, sendo o respeito de fundamental importância nas relações humanas e nas danças tradicionais. Esta relação fica evidente entre os pares enquanto os meninos sapateiam e meninas sarandeiam com toda a sua graciosidade e delicadeza, nos deixa claro que há um enorme respeito por cada um. A dança é um agente transformador, mas se for utilizado de forma correta, buscando a integração e o aprendizado como um todo, no trabalho com as danças tradicionais ou com qualquer outra forma de danças vamos encontrar dificuldades, alunos com grandes problemas no desenvolvimento das habilidades motoras, de coordenação, de flexibilidade, mas a dança é um grande aliado para buscar uma solução ou pelo menos amenizar estes problemas, o que não pode ocorrer é uma discriminação das crianças, pois cada qual ao seu tempo se desenvolverá e irá aprender, com mais dificuldade, mas irá aprender. As danças tradicionais são ricas em detalhes, são estes detalhes que a deixam mais bela, mas num trabalho inicial, num primeiro momento não devemos buscar a perfeição, e sim com o intuito de trabalhar a dança e o desenvolvimento e não a melhor execução é preciso que as crianças e os jovens dancem sem se preocupar com os pés, se eles estão no ritmo ou não, o que precisam sentir é a magia e o encantamento de parecer estar flutuando, enquanto enlaçados dançam pela sala. No trabalho com as danças tradicionais nosso maior objetivo deve ser a integração entre os alunos, a troca de conhecimentos entre eles e o resgate cultural, buscando realizar pesquisa acerca das danças gaúchas, buscar vídeos, promover visitas aos centros de tradições gaúchas, palestras com integrantes destes centros, buscando com o aluno, além de aprender e desenvolver o gosto pela dança adquirir outros conhecimentos sobre esta cultura. 32 3 CAMINHOS DA PESQUISA 3.1 TIPO DE PESQUISA Considerando os objetivos, a pesquisa configura-se como qualitativa e descritiva e apoia-se na unidade didática danças folclóricas gaúchas onde se apresenta as atividades ordenadas e organizadas visando alcançar os objetivos proposto. A unidade foi desenvolvida com os alunos da oficina 01 e 02, do turno da manhã, na Escola de Educação Especial Recanto da Alegria, do município de Tenente Portela – RS1. Em relação ao delineamento da pesquisa, com base no procedimento utilizado para a coleta de dados, esta pesquisa ocorre na forma de pesquisa-ação. A pesquisa-ação, segundo a definição de Thiollent (1985 apud GIL, 2007, p. 55) é: [...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos do modo cooperativo ou participativo. 3.2 POPULAÇÃO Para desenvolver a unidade didática de danças folclóricas gaúchas na escola de educação especial foi escolhida a turma das oficinas 01 e 02, formada por alunos de ambos os sexos, que frequentam a escola no turno da manhã. Sendo que alguns estão incluídos, e outros já estiveram, mas por não se adaptarem a realidade da escola regular acabaram ficando só com o atendimento e os ensinamentos que recebem na Escola de Educação Especial Recanto da Alegria. A turma é formada por dez meninos e cinco meninas, com idades variadas entre 17 e 48 anos. Estes alunos apresentam diferentes síndromes e diagnósticos conforme será descrito abaixo, através de CID, que resultam da avaliação de médico neurologista. 1 No município de Tenente Portela os primeiros registros de exploração das terras aconteceu no ano de 1911. Tenente Portela, foi fundado por famílias oriundas de outras cidades, e por duas tribos indígenas Kaingangs e Guarani, atualmente moradores do Toldo Indígena do Guarita, sob jurisdição da Fundação Nacional do Índio. Economia baseada na agricultura, população por volta de 13.719. 33 Três alunos, dois meninos e uma menina possuem em suas fichas o diagnóstico conforme exames neurológicos CID10-Q90 Síndrome de Down, os meninos são alunos muito ativos e participativos nas aulas, são extremamente carinhosos e atenciosos com professores e colegas, a menina já é mais calada e quieta, mas participa ativamente nas aulas. Seis alunos, dois meninos e quatro meninas, que possuem em suas fichas diagnósticos conforme exames neurológicos CID10-F71 retardo mental moderado. Todos os alunos deste enquadramento são muito ativos, sendo bem participativos, possuem bom relacionamento com os colegas e trabalham de forma harmoniosa com o grupo, não apresentam dificuldades em entender e compreender as explicações. Quatro alunos, todos são meninos, possuem em sua ficha o diagnóstico através de exames neurológicos CID10-F72 retardo mental grave, são alunos participativos e bem dispostos. Destacando um aluno que apresenta um comportamento mais agressivo, complicado de lidar, estando muitas vezes abalado emocionalmente, sempre com a cara fechada, tem sido o mais difícil de se relacionar no contexto geral da escola. Um aluno tem em seu diagnóstico através de exame neurológico CID10-F79 retardo mental não especificado, apresenta-se um aluno bem calmo, participativo, integrado com os colegas e professores, foi estudante da escola regular e se formou no Ensino Médio. Para o desenvolvimento da pesquisa a unidade didática foi desenvolvida a partir de 16 aulas, sendo realizadas duas aulas juntas, totalizando 1 h 30 min de aula a cada encontro. As aulas foram ministradas pela pesquisadora, com objetivo de desenvolver as danças folclóricas gaúchas, destacando as danças do pezinho, do caranguejo, do xote inglês e do sarrabalho. 3.3 PROCEDIMENTOS No primeiro momento foi feito contato com a direção da Escola de Educação Especial Recanto da Alegria para expor a pesquisa e o que a mesma pretendia estudar e solicitar a permissão para o desenvolvimento da pesquisa, a qual a pesquisadora integra o grupo de profissionais, atuando como professora de Educação Física desde o início de agosto de 2013. Após a autorização da diretora e 34 da coordenadora pedagógica se deu início o processo de escolha das turmas e conversa com a professora regente da turma das oficinas 01 e 02, sobre a pesquisa e seu desenvolvimento. O ponto de partida do trabalho foi com a observação de uma aula em sala de aula da referida turma para observar o comportamento dos alunos dentro da sala e com a professora regente da turma. Após foi dado início a elaboração da unidade didática das danças folclóricas gaúchas, que foram ministradas pela pesquisadora tendo sempre o acompanhamento da professora regente da turma. Salienta-se ainda que, esta pesquisa preservou algumas informações pessoais dos sujeitos envolvidos, devido questões éticas que regem toda e qualquer pesquisa e seu desenvolvimento. 3.4 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS Para alcançar os objetivos da pesquisa, a coleta de dados ocorreu por meio de uma pesquisa-ação e diário de campo. A pesquisa foi desenvolvida diretamente pela pesquisadora, onde a mesma pode desenvolver e observar as atividades correspondentes à unidade didática, onde os maiores interesses foram os de perceber quais são os momentos e modos que se evidencia a absorção dos conhecimentos vivenciados durante a unidade didática pelos alunos, o que foi concretizado através do desenvolvimento da unidade didática de danças folclóricas nas aulas de Educação Física na escola de educação especial. Conforme a unidade didática foi sendo desenvolvida, durante o decorrer das aulas, foi sendo realizado um diário de campo, onde se registrava os acontecimentos mais importantes da aula, este instrumento corresponde a relatórios feitos após as aulas e registros fotográficos, que se fez necessário para a posterior análise e discussão dos dados coletados referentes ao problema de pesquisa. 3.5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Nesta parte do texto serão apresentados e discutidos os dados produzidos na pesquisa. Primeiramente apresentando o cronograma de planejamento da unidade didática, em seguida os resultados da prática docente através de dois 35 pontos de vista: do olhar da professora para com alunos e do olhar da professora com o percurso de ensino e aprendizagem escolhido. 3.5.1 Unidade Didática A unidade didática que tem como tema central o desenvolvimento das danças folclóricas gaúchas na educação especial apresenta como subtemas que deverão ser desenvolvidos junto com a vivência das danças aqui propostas, a coordenação motora visando permitir as crianças dominar o corpo no espaço, controlando os seus movimentos e utilizando-os de maneira expressiva, no contexto da vida; o ritmo visando desenvolver a percepção do ritmo individual e de grupo e criações com momentos de socialização que visam despertar os sentidos de cooperação, solidariedade, comunicação, entrosamento, fortalecendo a inclusão social destes alunos na comunidade. A unidade foi desenvolvida conforme cronograma abaixo: Aulas Subtemas Danças folclóricas. Coordenação. Ritmo. Expressão corporal. Socialização. 01 e 02 - 03 e 04 - Danças folclóricas. 05 e 06 - Ritmo. - Danças folclóricas. Atividades - Problematização sobre o tema dança. - Amostra da cultura do Rio Grande do Sul. - Costume, culinária, dança e artes. - Expressão corporal (estátua, atenção/concentração, atividade rítmica). - Danças folclóricas: pezinho e caranguejo. - Apresentar a indumentária dos peões e prendas. - Apresentação de um vídeo das danças folclóricas. - Dança: pezinho, caranguejo e xote inglês. - Dança com jornais. - Dança: caranguejo, pezinho, xote inglês e sarrabalho. - Massagem com bexiga. 36 Aulas 07 e 08 Subtemas - Danças folclóricas. - Expressão corporal. 09 e 10 - Danças folclóricas. - Socialização. 11 e 12 - Danças folclóricas. Coordenação. Ritmo. Expressão corporal. Danças folclóricas. Coordenação. Ritmo. Expressão corporal. - Danças folclóricas. Coordenação. Ritmo. Expressão corporal. 13 e 14 15 e 16 Atividades - Espelho. - Mostrar as danças folclóricas de salão, imagens, músicas, diferentes ritmos. Possibilitar a vivência. - Dinâmica da dança da vassoura e da boneca. - Construção da coreografia com a música do Xote Antigo. - Participação no acampamento farroupilha. - Apresentação. - Brincadeiras folclóricas. - Cinco marias. - Futebol de bombacha. - Expressão com imagens. - Atividades rítmicas. - Danças folclóricas. - Dança da cadeira. - Dança da cadeira cooperativa. - Danças folclóricas. - Ajoelha e chora. - Dança com balões. - Danças folclóricas. - Ajoelha e chora. 3.5.2 Categorias de Análise No decorrer da pesquisa criou-se categorias de análise, na intencionalidade de melhor aproveitar os dados que tive acesso durante o desenvolvimento das aulas. Seguem-se as categorias e as reflexões provenientes desta. 3.5.2.1 Do Olhar da Professora para com os Alunos Conhecimentos construídos: retenção do conhecimento, aplicação do conhecimento. 37 A dança presente nas aulas de Educação Física vem para os alunos como um momento onde se possibilita diferentes vivências expressivas, descobertas de movimento, um momento de resgate cultural e social. Conforme Laban (1990 apud SANTOS; FIGUEIREDO, 2003) “a dança tem por objetivo ajudar o ser humano a achar uma relação corporal com a totalidade da existência”. Entendemos assim que a dança na escola deve proporcionar aos alunos momentos de descoberta, não buscando a perfeição e a melhor execução dos movimentos, mas sim que o aluno consiga se apropriar destes conhecimentos, de forma criativa e consiga utilizá-los em outros momentos. Desta maneira, a dança folclórica aqui trabalhada com uma turma de alunos da escola de educação especial não busca destacar o melhor dentre todos os alunos e sim fazer com que todos descobrissem o seu melhor. Os alunos com necessidades educativas especiais desta turma já tem uma idade um pouco mais avançada, em sua maioria foram introduzidos no meio escolar tarde, muitos não sabem diferenciar direita de esquerda nos membros superiores e inferiores, com a dança tentei explicar para eles esta questão de lateralidade, mas durante as danças se eles não conseguiam se localizar nesta questão não fiquei cobrando ou exigindo isto deles, por entender que a deficiência e o atraso no desenvolvimento de algumas habilidades torna esta tarefa um pouco mais difícil e também por entender que o processo de aprender se dá de muitas formas e ao seu tempo. Percebe-se que para que ocorra o aprendizado do aluno com deficiência é necessário que ele esteja vivenciando um cotidiano escolar com atividades diversificadas, a dança proporciona uma nova visão de mundo para os alunos, possibilitando aos mesmos se perceberem no ambiente e perceber o ambiente com os outros, percebendo o seu corpo e os demais corpos presentes. Os alunos que estão envolvidos nas aulas de Educação Física com a tematização de danças apresentam uma melhora no seu comportamento entre si, apresentando um progresso em seu desenvolvimento cognitivo e físico, o que pode ser notado não somente nas aulas de Educação Física que evidenciaram a referida tematização, mas nas mais diferentes atividades, pois através da dança conhecimentos como memorização, comunicação, tempo e espaço, agilidade, concentração e percepção são trabalhados. Conhecimentos estes que são utilizados nas demais atividades desenvolvidas pelos alunos na escola como pintura, trabalhos 38 com garrafa pet, recorte e colagem, trabalhos em M.D.F., culinária e demais atividades proporcionadas aos alunos das turmas de oficinas. A retenção dos conhecimentos adquiridos durante a unidade de danças folclóricas foi sendo realizada através da prática das danças, isso não quer dizer que esta prática seja meramente reprodução do que já foi aprendido, mas um constante aperfeiçoamento, melhoramento e estímulo da cooperação no grupo. A aplicação deste conhecimento que é retido se comprova quando os alunos em momento de descontração e diversão, como no intervalo, buscam vivenciar o que aprenderam, realizando movimentos correspondentes às respectivas práticas e muitas das práticas vivenciadas na sala de aula. 3.5.2.2 Motivação para com o Aprender Quando se propõe algo novo na escola sempre se está sujeito à rejeição e à aprovação dos alunos, na escola de educação especial isto ocorre da mesma forma que nas outras escolas, há alunos que não querem realizar as práticas propostas e que acabam ficando isolados sem realizar as atividades, até aceitarem que a dança é uma prática das aulas de Educação Física e que pode ser uma vivência interessante, animada, que tem o que ensinar e pode agregar muito para suas vidas. Os alunos da turma das oficinas 01 e 02 já vivenciaram algumas práticas de dança anteriormente, mas seu contato com as danças gaúchas havia sido iniciado pouco antes da saída da professora de Educação Física anterior, os mesmos já possuem alguns conhecimentos sobre as danças folclóricas do pezinho e do caranguejo, mas são conhecimentos bem restritos. No primeiro contato com as turmas para iniciar o trabalho pude constatar que os alunos se encontravam desmotivados por esta prática, sem muita vontade de participar, onde qualquer atividade que fosse proposta para eles seria melhor do que a aula de dança. Ocorreu nesta aula de dois alunos se negarem a participar, um é gaiteiro, sempre traz sua gaita na sexta no dia das aulas, e acaba só querendo tocar a gaita e o outro menino em decorrência da sua própria deficiência é um pouco mais agressivo. Então a partir desta aula recebi estes dois alunos como um desafio, pois o objetivo é fazer com que todos participem e se para isso temos que dar um pouco mais de atenção a estes alunos, vou dedicar um pouco mais de tempo a eles. Aos poucos, durante esta primeira aula, notei que o que faltava era um estímulo, um 39 novo desafio, dançar o pezinho e o caranguejo já não era tão legal quanto poderia ser no início. Então já de imediato para a próxima aula lancei para a turma a prática de uma dança nova, um pouco mais complicada, mas que seria o nosso objetivo agora, colocando para eles que deveriam vir prontos para novas vivências na próxima aula. Propor atividades diversificadas como vídeos e apresentação dos elementos da cultura foi essencial para a construção de conhecimento dos alunos, dentro deste contexto folclórico. A introdução de uma dança totalmente nova e até então desconhecida para os alunos fez com que os mesmos se interessassem e se dedicassem mais, a prática da dança do xote inglês adaptada num primeiro momento só com a música cantada por eles foi um momento de inteira alegria e descontração, apesar de se ter o objetivo dos alunos fixar o conhecimento sobre aquela prática a dança deu um ânimo novo à turma. Nesta aula já busquei trabalhar de outra forma sem dar tempo para os alunos que na aula anterior se negaram a participar, fiz um combinado com a professora regente da turma, que ela dançaria com um dos meninos e eu com o outro, então desde o início das atividades eles já sabiam que iriam dançar cada um com uma professora. Dando sequência às aulas, ocorreu que sempre antes das danças propriamente ditas nós vivenciamos algumas atividades que tinha como objetivo desenvolver os subtemas trabalhados na unidade didática, uma delas foi a dança e a estátua com jornal, uma prática interessantíssima que desencadeou uma polêmica na turma bem grande, pois os alunos estavam acostumados a dançar sempre de tênis e nesta aula fiz com que ficassem de meias sobre os jornais e alguns alunos não gostaram muito da ideia num primeiro momento, mas posteriormente à prática estavam bem contentes com a nova vivência. A massagem com bexiga exige muito dos alunos com necessidades especiais, toda a questão do toque que na dança se restringe muitas vezes aos membros superiores e na massagem exploramos todo o corpo do outro com o uso do balão, explorando os ritmos e a intensidade dos movimentos. Explorar a criatividade, a capacidade de criação dos alunos foi um desafio na atividade do espelho, os alunos têm seus movimentos restritos às reproduções, em sua maioria “não conseguem criar” o que fazer, um dos alunos com Down é bem desenvolvido, ele iniciava um movimento quando você menos esperava estavam 40 todos fazendo o mesmo movimento. O que Santos e Figueiredo (2003) nos destacam sobre: [...] Ensinar e aprender a dança é vivenciar, criar, expressar, brincar com o próprio corpo; deixar-se levar pela descoberta de imagináveis movimentos, é descobrir no corpo que o que está certo pode estar errado e o que é errado pode estar certo [...]. Partindo desta ideia de vivenciar, criar, expressar e brincar com o corpo fui buscando mais atividades para desenvolver estas capacidades nos alunos, onde pode-se destacar a prática de expressão com imagens que também possibilitou aos alunos brincarem com o seu corpo, cada um recebeu uma imagem que foi espalhada pelo chão da sala, ao som de uma música deveriam se deslocar e quando a música parasse deveria realizar a pose ou o movimento que estava na imagem à sua frente, atividade que traz consigo uma riqueza de possibilidades de movimentos, que possibilita aos alunos se desenvolver e a criar novas interpretações. Através de algumas explicações e de alguns estímulos partimos para uma interpretação da música do xote antigo com movimentos simples, mas que os educandos com necessidades educativas especiais encantaram, a ideia foi fazer com que os alunos conseguissem se imaginar em um baile onde os peões queriam dançar com as prendas, só que o gaiteiro se nega a tocar, então eles tiveram que convencer o gaiteiro de que ele deveria tocar para que eles pudessem dançar, a expressão de cada um em seu rosto, a maneira que cada aluno encontrou de demonstrar o que queria disser e não podia, foi incrível, foi um momento muito legal, onde pude sentir que os alunos estavam alegres com as práticas e bem envolvidos com o conteúdo aqui programado. Com a participação que ocorreu dos alunos no Acampamento Farroupilha2 de Tenente Portela, que se deu através de um convite feito pelos organizadores, os mesmos disponibilizaram alguns horários para as escolas se fazerem presentes e demostrarem o que desenvolviam com a cultura gaúcha, surge aí uma forma de 2 O Acampamento Farroupilha é um evento organizado em parceria pelos dois CTGs da cidade, que acontece numa praça, onde são montadas casinhas de costaneiras, o acampamento aconteceu pela terceira vez, iniciando no primeiro dia da Semana Farroupilha e se estendendo até o dia 20 de setembro, com uma extensa programação com show, apresentações, bailes, tiro de laço, dentre outras atividades culturais. O evento faz parte do calendário de eventos do município. 41 socializar os alunos com a comunidade que também era um subtema desta unidade didática, achei de fundamental importância a participação dos alunos que participavam da pesquisa neste evento, sem intenção de fazer uma apresentação mirabolante, pois aprender extrapola com mecanismos fechados, brilhos e performances sem sentido, fomos com as danças que sabíamos e com as roupas que tínhamos na escola, e mesmo assim fomos aplaudidos de em pé em nossas duas apresentações. A sensação de realização dos alunos enquanto dançavam e após a apresentação deles foi notável, alguns alunos que não gostam de representar a escola (mostrar que são alunos da escola da APAE) estavam lá dançando perante a comunidade escolar de todo o município, o que demonstra que assim como o esporte é visto como um caminho para a inserção social e combate a marginalidade, a dança também pode ser uma maneira de combater alguns comportamentos indesejáveis. Cada aluno tem sua deficiência e necessitamos descobrir suas potencialidades, os mesmos necessitam de estímulos para o seu desenvolvimento, estímulos estes que devem ser dados a todos os momentos para que não se perca a motivação dos alunos durante as aulas. Ramos (2010) destaca o seguinte sobre o papel de estimulador do professor: O professor deve estimular constantemente seus alunos com deficiência mental superarem as limitações e sempre propor atividades motivadoras, contudo, deve haver também moderação sem pressão e sem desrespeito pessoal para com o aluno, isso deve ocorrer de maneira natural através de estímulos e encorajamento às atividades prazerosas e inteligíveis. Como tenho um contato um pouco maior com os alunos da escola que não se restringi somente a estas duas aulas, pude notar que um dos momentos na escola onde eles mais se destacam, onde mais estão motivados, animados e integrados com o grupo é na aula onde se trabalha com a dança, os ganhos que a dança traz, estreitando laços e desenvolvendo novas capacidades de entendimento dos movimentos corporais possibilita notáveis mudanças de comportamento nos alunos, que são vistas durante as aulas e após delas pelas conversas das demais professoras da escola. 42 3.5.2.3 Utilização dos Conhecimentos Específicos da Dança em Educação Física, como Meio de Inserção Social Percorrendo a história da nossa sociedade podemos verificar que as pessoas com deficiências vêm sendo excluídas e discriminadas na nossa história social, num primeiro momento ocorre a rejeição da própria família, a todo um processo de luto pelo filho que seria popularmente “tido como normal”, num segundo momento toda a aceitação do círculo social onde esta criança será inserida, depois os laços vão sendo aumentados, amigos, escola, comunidade em geral, até todos aceitarem esta criança/pessoa deficiente como um ser de oportunidades que dentro de suas limitações terá um desenvolvimento harmonioso. O aluno com deficiência quando inserido na escola de educação especial ou na escola regular convive num meio social que é formado pelas mais diferentes pessoas e realidades sociais. Este aluno por apresentar alguma deficiência muitas vezes é superprotegido pelos pais ou por quem os cuida, sendo assim, muitas vezes depende de auxílio para desenvolver algumas atividades. A Escola de Educação Especial Recanto da Alegria busca desenvolver em seus alunos a sua autonomia para com as atividades diárias, como banho, escovação, higiene e demais atividades que para as pessoas sem deficiência são tão fáceis de serem feitas. Na aula de dança o objeto a ser trabalhado é o movimento humano, é necessário que este corpo esteja em condições de receber o toque e de tocar o outro também. A dança pode ser um meio de inserção social de alguns alunos na escola, na turma e até mesmo na família, que muitas vezes estes alunos não têm uma boa aceitação. Os alunos com deficiência não possuem muitas vezes a mesma malícia que uma pessoa adulta na idade deles tem, para eles tocar o colega é normal, dançar homem com homem, mulher com mulher não é sinônimo de qualquer coisa, é simplesmente uma dança. Eles não possuem preconceito e muito menos alguns tabus que são encontrados na sociedade. Os mesmos possuem outras formas de ver o mundo, com mais inocência, afetividade, carinho e transparecem isso nas suas atitudes, na sua maioria são extremamente carinhosos. Durante o desenvolvimento da unidade didática de dança na educação especial possibilitei para que os alunos em muitos momentos escolhessem o colega com quem gostaria de trabalhar durante a determinada aula, sem intenção de 43 delimitar menina com menino e assim por diante, deixando-os livres para que buscassem quem julgavam ser o melhor para lhe acompanhar. Assim como na escola regular há sempre aquele que não é escolhido pelos colegas para realizar as atividades, talvez porque não a realiza tão bem quanto os outros, porque é mais calado e não se destaca tanto em meio aos colegas como os mais comunicativos e expansivos ou simplesmente porque por algum motivo seus coleguinhas não o escolheram. Entende-se caber tanto para a escola de educação especial quanto para a escola regular e seus professores tentar diminuir esta situação de inteira exclusão de qualquer aluno/pessoa, por qualquer um dos motivos supracitados, buscando com a dança e com as demais atividades a inserção social de todos os alunos, seja na turma, na escola, em casa e nos demais âmbitos sociais. Todas as pessoas são seres humanos e possuem em seu interior uma gama de sentimentos que muitas vezes acabam sendo esquecidos pelas demais pessoas, a utilização dos conhecimentos específicos da dança nas aulas de Educação Física consegue possibilitar às crianças deficientes uma valorização de si mesmo e do outro, um desenvolvimento e interação muito grande que são elementos essenciais para a inclusão social destes alunos. Durante as práticas realizadas dentro da unidade didática foi se buscando a valorização destes alunos deficientes, tanto dentro da escola como na comunidade e no seio familiar. O que pude notar durante este trabalho e também em conversas com as outras professoras da escola é que estes alunos com deficiência parecem que não recebem a atenção que necessitam em suas casas e acabam sendo excluídos dentro de suas próprias famílias. Promover a valorização e a integração de todos os alunos durante as aulas, tanto dentro da turma como no meio escolar ocorreu de maneira tranquila, claro que com um pouco de resistência dos próprios alunos, o nosso gaiteiro e o outro aluno que no fim acabou recebendo um apelido carinhoso de azedinho pela turma em consequência de suas atitudes, pois durante as aulas quando era proposta qualquer atividade a primeira resposta que ele nos dava era não quero e não vou fazer. Com o tempo a gente conhece e vai descobrindo o que cada aluno trás por trás de suas respostas e atitudes, uma carência afetiva muito grande, uma maneira de agressividade de seu tratamento na sua casa, o descaso com eles ou demais motivos que podem desencadear uma agressividade e a gente entende o porquê 44 eles agem assim, eles se defendem da gente atacando com palavras, com gestos, com pequenas atitudes. Mas com calma e com muita dedicação consegui fazer com que este aluno, o nosso azedinho, fosse incluído nas atividades e se socializasse com os demais colegas, tanto que durante as aulas se a(o) aluna(o) com quem ele estivesse dançando saísse por alguns minutos de sua frente ele logo pegava uma de nossas bonecas para dançar, acabou sendo um destaque após sua socialização e integração com a turma. 3.5.2.4 Do Olhar da Professora com o Percurso de Ensino e Aprendizagem Escolhido – Metodologia Experimentada Muito tem se ouvido falar em concepções de metodologia para o ensino na Educação Física, buscando avaliar o que cada um tem a oferecer no que se refere a conteúdos e formas de trabalho junto ao aluno. Com isto tem se destacado a metodologia aberta, que nos apresenta uma intenção de ensino onde o professor e os alunos cooperam na construção do ensino e aprendizagem, realizando uma reflexão critica sobre esta pratica. Conforme Cardoso et al. (1998): A concepção de aulas abertas às experiências tem relação com o enfoque pedagógico social-crítico. Acompanha esta nova concepção a necessidade de compreendê-la através de algumas fundamentações teóricas e exemplos práticos. Consequentemente, a ação envolve uma nova orientação no processo ensino-aprendizagem, nos objetivos da aula, nos conteúdos da Educação Física, na avaliação e no método de ensino. Sendo esta a metodologia que melhor se encaixou para o desenvolvimento das aulas da unidade didática no contexto da educação especial, por possibilitar ao aluno intervir junto à referida prática, desenvolvendo a criatividade e o pensar, priorizando juntamente a socialização e a cooperação. A concepção de aulas abertas em educação física possibilita aos alunos a capacidade co-decisão, onde os mesmo podem auxiliar na definição dos objetivos e conteúdos, isso tudo dentro de suas possibilidades de decisão e intervenção (CARDOSO et al., 1998). Os mesmo pode se usufruir de vivências cotidianas o que dá sentido as aulas, sentido este produzido pelos alunos. 45 De acordo com Hildebrandt e Langing (1986 apud TESTA, 2011) o referencial das aulas abertas nos apresenta como objetivos para as aulas que as mesmas assumam: [...] a busca da autonomia e da emancipação do aluno: valorizar a participação dos alunos, propiciando momentos em que possam questionar e opinar; possibilitar a construção coletiva do conhecimento, a partir de decisões tomadas em conjunto professor e alunos; estimular a criatividade e o pensar dos alunos, trabalhar o aspecto das relações aluno/aluno, no que tange a incentivar a cooperação e socialização. Com isso entende-se que as aulas dão uma maior possibilidade aos alunos de explorarem, de criar movimento com seu corpo, de sentir a liberdade de movimentar-se, ficando assim os mesmos livres para adquirirem novos movimentos corporais, dentro do seu grau de possibilidade estas intervenções serão feitas dentro dos limites dos alunos, dentro do seu entendimento. É frente a esta possibilidade que o professor busca estimular os alunos durante a realização das práticas, com frases de desafio e de incentivo, para que os mesmos busquem o seu melhor, isto nas aulas com alunos com necessidades educativas especiais faz toda a diferença, pois estes alunos necessitam serem estimulados com mais frequência. Referente à metodologia também pode-se observar que o desenvolvimento das aulas se deu através de um leve aumento na complexidade das danças, partindo de duas danças mais simples, chegando-se à danças mais complexas. Conforme Oliveira o enfoque metodológico das aulas abertas está nas ações problematizadoras: [...] as ações metodológicas são organizadas de forma a conduzir a um aumento no nível de complexidade dos temas tratados e realiza-se em uma ação participativa, onde professor e alunos interagem na resolução de problemas e no estabelecimento de temas geradores; o ensino aberto exprime-se pela “subjetividade” dos participantes [...]. Pautado nesse pensamento as aulas da unidade foram sendo conduzidas de uma maneira que os alunos adquirissem o conhecimento e conseguissem colocá-lo em prática, os trabalhos com as danças na unidade se iniciaram com o pezinho e com o caranguejo adaptados, se estendendo as danças de salão e as danças 46 folclóricas como sarrabalho e xote inglês, com um grau de complexidade bem maior por possuir muitas trocas de lugares e variados desenvolvimentos. 3.5.2.5 Do Conteúdo da Unidade Didática – Danças Folclóricas Gaúchas como uma Possibilidade de Ensino e Aprendizagem A partir do desenvolvimento da referida unidade didática tendo como temas: As Danças Folclóricas Gaúchas, sendo estas danças uma possibilidade de trabalho das atividades rítmicas e expressivas na escola de educação especial foi possível constatar que o tema da unidade didática estimulou os alunos a cooperarem entre si, incentivando o aluno a ter domínio do seu corpo e de se desenvolver como criador de novas experiências de movimentos. Para se trabalhar com as danças folclóricas gaúchas durante as aulas da unidade com os alunos da escola de educação especial foi necessário realizar algumas adaptações, que não fizeram com que se perdessem os passos originais, mas sim algumas alterações em seu deslocamento que se fizeram necessárias devido à necessidade de facilitar o aprendizado da dança para os alunos com deficiência. As adaptações necessárias para o desenvolvimento do trabalho não diminuíram a beleza da dança, mas mostraram que para a mesma ser uma possiblidade de trabalho dentro do contexto da educação especial necessita ser repensada. Estas adaptações estão presentes na dança do caranguejo onde ocorre uma troca de lugares por ambos os dançarinos/alunos, acreditando que esta troca de lugares prejudicaria o entendimento dos alunos, pois exige uma grande capacidade de concentração durante estas trocas para que não ocorra de um aluno passar do(a) aluno(a) com quem deverá dançar, foi estabelecido que as prendas/alunas ficariam no seu lugar com as mãos erguidas como se fossem castanholas, enquanto os peões/alunos realizariam a referida troca de lugares. Encontram-se adaptações também na dança do pezinho onde são realizados dois tipos de marcações, uma marcação pendular e outra marcação em linha reta, para facilitar o entendimento e desenvolvimento da dança é realizado somente um tipo de marcação, a pendular, onde os alunos tomando-se das mãos realizam quatro marcações pendulares, iniciando com o pé direito. Contudo, as adaptações foram realizadas para proporcionar aos alunos mais satisfação e realização durante as práticas, pois com 47 estas adaptações o índice de erro diminuiu e os alunos se sentem mais estimulados e conseguem se desenvolver dentro das suas possibilidades. A possibilidade de ensino das danças folclóricas gaúchas auxiliou na socialização entre os alunos e também na minha socialização aluno-professor, pois assim como os saberes eram novos, a professora também era nova, então ocorreu uma necessidade ainda maior de cativar estes alunos, de conquistá-los para mim e para as práticas aqui propostas. Durante as aulas sempre contei com o apoio da professora regente da turma, sempre empolgada em aprender, interessada e comprometida com as práticas, a cada sexta-feira quando chegava à escola ela vinha e me questionava sobre o que era aprendido, a mesma não possuía conhecimento sobre as danças folclóricas, então seus conhecimentos foram sendo construídos junto com os alunos. Acho que era isso que a mais motivava para as práticas, pois ao mesmo tempo em que era professora dos alunos era colega deles, dançando e participando ativamente, sempre realizando relatos sobre o que era vivenciado e os acontecimentos para as demais professoras na hora do intervalo. 3.5.2.6 Objetivos Conceituais, Procedimentais e Atitudinais – Envolvimentos e Entraves A unidade didática das danças folclóricas gaúchas apresentou objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais, os três objetivos são trabalhados dentro da unidade, cada um com sua intencionalidade e obtendo diferentes respostas dos alunos, alguns com melhores resultados, outros com resultados um pouco menores. O objetivo procedimental buscava possibilitar aos alunos com deficiência desenvolver sua capacidade de expressão, vivenciando diferentes ritmos, melhorando sua coordenação e socialização, a capacidade de expressão foi trabalhada na unidade didática através de diferentes atividades, com enfoque voltado para a criação de diferentes expressões, através de movimentos ritmados. Foi um objetivo que teve seus resultados mais restritos, pois como já relatado anteriormente os alunos têm uma grande dificuldade com a criação de movimentos, mas seu dicionário de movimentos corporais teve sim uma ampliação com algumas limitações, mas foi desenvolvido, foi um dos momentos onde os alunos necessitaram de mais estimulação. 48 O objetivo conceitual está inteiramente relacionado à vivência das danças folclóricas, onde se buscava adquirir conhecimentos sobre as danças do pezinho, caranguejo, sarrabalho e xote inglês, também conhecimentos relacionados às danças de salão com xote e vaneira, durante as aulas os alunos sempre se mantiveram interessados nas danças folclóricas, quando apresentei para os mesmos os vídeos de grupos de danças e de alguns casais dançando, eles ficaram encantados e realizados, pois puderam ver através dos vídeos que as danças e atividades vivenciadas por eles na escola também são realizadas por outras pessoas em outros lugares. O envolvimento e o gosto que os alunos foram adquirindo durante as aulas pelas danças folclóricas são demonstrados nas atitudes dos mesmos e de variados modos, quando nos questionam sobre quando será a próxima aula, se será vivenciado uma nova dança, se adquirimos mais um par de botas, se na aula de hoje vamos ter a atividade com a boneca, acredito que são essas atitudes que dão valorização ao trabalho realizado. Quando um aluno vem na porta da sala dos professores todo alegre para mostrar que sua mãe comprou uma guaiaca, mesmo que ele esteja usando sobre uma bermuda e uma camiseta, o aluno está realizado pela conquista e a gente também fica, pois este gosto pela cultura foi desenvolvido na escola nas aulas de dança. Ainda temos o objetivo atitudinal que buscava desenvolver atitudes de respeito entre os alunos e com as professoras, promovendo a valorização da cultura e do folclore do nosso Estado e também respeitando as diferentes culturas, dedicando-se às aulas, demonstrando ter vontade de aprender, mantendo relações equilibradas com colegas e professores, respeitando todas as diferenças e dificuldades. Este objetivo foi bem desenvolvido, não tivemos atitudes de desrespeito ou discriminação de qualquer aluno por parte dos demais, todos sempre foram preocupados com os outros e se necessário até mesmo auxiliavam os colegas nas referidas práticas. Os três objetivos sempre são trabalhados juntos durante a unidade didática, são envolvidos um no outro durante as aulas, e acredito que há um resultado positivo para cada um deles, dentro desta ligação que ocorre entre os três objetivos. 49 3.5.2.7 O Aluno e suas Aprendizagens Quando se trabalha no contexto da escola de educação especial as turmas são formadas por alunos com diferentes deficiências, na turma onde desenvolvi a unidade didática o contexto era assim, então as respostas foram as mais diferentes, tivemos alguns alunos que não conseguiam tirar o pé do chão, que dançam arrastando os pés, tivemos alunos que se desenvolveram de uma aula para outra com uma facilidade que eu nunca imaginei. Os alunos com CID10-Q90 Síndrome de Down3, dois meninos e uma menina, são os destaques da turma, os meninos muito participativos, ativos, se destacavam nas aulas, eu explicava a atividade ou o passo da dança, quando olhava para o lado eles já estavam tentando realizar, não precisavam de duas explicações, os mesmos são bem atenciosos com os colegas, quando notavam que alguém estava com mais dificuldade tentavam ajudar ou me mostravam que aquele colega não estava conseguindo. A menina já é bem mais quieta, claro há uma grande diferença de idade entre os três alunos, ela é bem mais velha que eles, têm a questão dela estar acima do peso e isto tudo dá mais dificuldade para ela realizar as tarefas, mas a mesma tem força de vontade para fazer as coisas, isso já é de grande relevância para as aulas, a mesma está conseguindo acompanhar a turma dentro do seu tempo, às vezes está um pouco atrasada no tempo da música, mas tem persistência e segue dançando. Os demais alunos da turma possuem em seus diagnósticos conforme exames neurológicos CID10-F71 retardo mental moderado, CID10-F72 retardo mental grave e CID10-F79 retardo mental não especificado4, estes alunos não apresentaram dificuldades para realizar as atividades, para compreender as 3 Síndrome de Down ou Trissomia do cromossoma 21 é um distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 extra total ou parcialmente. Caracterizada por uma combinação de diferenças maiores e menores na estrutura corporal, geralmente está associada a alguma dificuldade de habilidade cognitiva e desenvolvimento físico, assim como de aparência facial. 4 Os três tipos de retardos mentais acima descritos se diferenciam no grau de comprometimento, indo de um grau leve a um grau mais grave. O retardo mental ocorre em decorrência de algumas doenças como Síndrome de Down, que não é uma síndrome herdada, é a síndrome do cromossomo X frágil, é a causa mais frequente de retardo mental herdado, além destas duas doenças genéticas, as alterações cromossômicas humanas, em geral, podem causar retardo mental, além de outros sinais clínicos. Seu diagnóstico é mais difícil pela complexidade de sua etiologia. Caracteriza-se por funcionamento intelectual significativamente abaixo da média e presença de limitações de desenvolvimento intelectual significativamente abaixo da média e presença de limitações de desenvolvimento e de habilidades adaptativas. Dados retirados da página do Centro de Pesquisa do Genoma Humano e Células-tronco. 50 explicações, são alunos bem desenvolvidos dentro de suas limitações, temos o caso de um destes alunos apresentar em alguns momentos no contexto escolar geral um comportamento mais agressivo, possuía um pouco de medo que durante as aulas ele se comportasse desta forma, mas não tive problemas de agressividade com este aluno, sempre bem responsável e respeitando os demais colegas. Também podemos destacar deste grupo aqueles dois alunos que na primeira aula prática não queriam participar e que no decorrer da unidade didática foram sendo conquistados pela dança e incorporados nos trabalhos, o nosso gaiteiro e o azedinho me causaram certo medo durante as primeiras aulas, de chegar até o fim desta unidade didática e não conseguir incorporar os dois nas práticas, mas venci, venci os medos deles e os meus também. Através das aulas de dança pude ver estes dois alunos dançando contentes, tendo lugar de destaque na coreografia feita para a música do xote antigo, acho que este dois são os que mais apresentaram evoluções durante o desenvolvimento desta unidade, se integrando, se relacionando com os colegas, realizando as atividades propostas de maneira intensa e dedicada, indo além do que eu imaginava que conseguiria com eles, momentos marcantes e de extrema satisfação tanto para eles como para mim. Ramos (2010) destaca que “Logo, o aluno com deficiência mental pode sim apresentar-se com destaque numa aula de dança, principalmente quando é tocado por meios interdisciplinares e por profissionais qualificados e amantes do que fazem”. Comprovando e valorizando o destaque dos alunos durante as atividades e seu destaque durante o desenvolvimento da unidade didática. 51 CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação de alunos com necessidades educativas especiais vem sendo baseada em leis que buscam a valorização das pessoas com deficiência. A Educação Física também vem buscando o seu espaço e valorização enquanto disciplina e não simplesmente uma atividade. O problema é que muitos profissionais da área continuam vendo as aulas de Educação Física como um momento de recreação/brincadeiras onde não se tem um objetivo, muitos acabam assumindo a postura de professor bola, os quais simplesmente largam a bola para seus alunos e os deixam na quadra, abandonando os outros eixos de trabalhos da Educação Física. A Educação Física deve tratar dos conhecimentos referentes à cultura corporal de movimento, esta pesquisa trabalhou com um dos conteúdos correlacionados a estas práticas corporais, buscando compreender no decorrer do desenvolvimento de unidade didática de danças folclóricas gaúchas na educação especial em quais momentos e modos que se evidencia a absorção dos conhecimentos pelos alunos. A análise da pesquisa foi dividida em dois pontos de vista: Do olhar da professora para com alunos, onde destacamos os seguintes pontos: conhecimentos construídos, motivação para com o aprender, utilização dos conhecimentos específicos da dança em EDF como meio de inserção social. E do olhar da professora com o percurso de ensino e aprendizagem escolhido, destacando os seguintes pontos: metodologia experimentada, do conteúdo da unidade didática – danças folclóricas gaúchas como uma possibilidade, objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais – em qual há maior envolvimento ou entraves, de que modo apareceram e no que o aluno foi além do proposto – por quê? 52 A partir destes pontos conseguimos detalhar através da prática realizada com os alunos da educação especial, nos pontos referentes ao olhar da professora para com os alunos, que para que ocorra o aprendizado dos alunos com deficiência é necessário que este aluno esteja incluído num ambiente estimulador e vivenciando um cotidiano escolar com atividades diversificadas, promovendo o desenvolvimento das suas potencialidades e sempre buscando a valorização destes alunos. Os alunos demonstram durante as aulas de Educação Física onde ocorre a tematização da dança de diferentes modos que este conhecimento é de relevância para ele e para sua vida, nós utilizamos as mais diferentes formas de comunicação, geradas pelo nosso corpo, desde uma palma até um assubiu para demonstrar algo, e através da dança que podemos desenvolver estas capacidades de comunicação através de movimentos produzidos pelo nosso corpo, como batidas de pés, giros, movimentos com os braços, dentre outros. No que se refere ao olhar da professora com o percurso de ensino e aprendizagem escolhido para o desenvolvimento da unidade didática foi utilizada a metodologia de ensino aberta que visa à construção dos conhecimentos numa parceria entre o professor e o aluno, onde junto se construiu o processo de ensino e aprendizagem. Para que este processo ocorresse de forma mais simples para os alunos da educação especial foi necessário realizar adaptações nas danças folclóricas, para facilitar assim o entendimento e a prática das danças, para que todos os alunos cada qual na sua deficiência conseguissem desenvolver da melhor forma possível suas potencialidades, valorizando e respeitando cada aluno dentro do processo. As aulas de Educação Física com a tematização dos conteúdos das danças folclóricas possibilitaram aos alunos com necessidades educativas especiais além de se descobrirem como seres criadores de movimentos corporais, como integrantes de uma cultura imensamente rica em danças, costumes e demais bens culturais, a dança também ofereceu momentos de sociabilidade, cooperação, valorização e de respeito ao colega e aos professores. Para que o trabalho com danças nas aulas de Educação Física na educação especial ocorra com sucesso é imprescindível que os professores se preparem, busquem conhecer todos os elementos da cultura corporal de movimento, fugindo das práticas restritas somente ao esporte, oportunizando para estes alunos que são 53 carregados de marcas, vivências estimuladoras e desafiadoras para que ocorra das mais diferentes formas o processo de ensino e aprendizagem. Fica a experiência rica deste momento e a perspectiva de manter minha formação continuada, fazendo novas inserções de estudo em casa, na escola, na atuação profissional, em uma pós-graduação, dentre em breve. 54 REFERÊNCIAS BACH, L. C. T. A história da dança na antiguidade grega até a atualidade. Trabalho de Conclusão do Curso de Educação Física, UNIJUÍ, Santa Rosa, 2003. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: educação física. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro07.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2012. 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Em 1988 inaugurou-se o prédio da Escola da APAE, construído pelo Lions Clube, com o apoio financeiro da comunidade. Em 2000, por determinação do Conselho Estadual de Educação, parecer 253/00, passou a ser Escola de Educação Especial Recanto da Alegria. Dados da Instituição Endereço: Rua Potiguara, nº 536 – Tenente Portela – RS Bairro: Operário Fone: (55) 3551-2010 E-mail: [email protected] Funcionamento A Escola de Educação Especial Recanto da Alegria atende seus alunos nos turnos da manhã e da tarde de segunda-feira a sexta-feira, das 8 as 12 horas e das 13 as 17 horas. Equipe da Diretoria A Escola de Educação Especial Recanto da Alegria tem além de sua equipe diretiva a comissão que preside a diretoria da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, que tem como componentes da diretoria os seguintes colaboradores: Presidente: Hélio C. de Aguiar Vice-Presidente: Maria Rute Perreira Secretária: Theresinha Conceição M. Furini Vice-Secretária: Luci Avani Motta Diretora Financeira: Eloá Splendor Vice-Diretora Financeira: Elenir Tereza De Carli Diretora Patrimonial: Iracema Tessari Diretora Social: Nice Ternes 58 Conselho Administrativo: Lenir Puntel, Isanete Heminng, Clenir Molinari, Joslei Penno, Ivone Paludo Conselho Fiscal: Sueli Marroni Muller, Elvira De Carli, Teresinha Bolson Equipe Diretiva e Pedagógica Diretora: Rosane Maria Demari Avrella Coordenadora Pedagógica: Leonilda Pinno Equipe Docente Professores: Sandra Missio, Ivete Solange Pinno Pozebom, Juleide Aparecida Polesso Almeida, Sandra Lapazini Bergonci, Liane Lina Lucatelli Uik, Marina Boni, Eliandra Machado, Regina da Silva Equipe de Técnicos Psicólogos: Fernanda Furini, Rosicler Hencken Weiss Fonoaudióloga: Grasiela Maria Luza Fisioterapeuta: Marizol Zanatta Terapeuta Ocupacional: Virginia Equipe de Funcionários Secretária: Cristina Fries Coldebella, Priscila Carvalho da Costa Motorista: Velci Medeiros Merendeira: Lurdes Alves de Oliveira Serviços Gerais: Malvane de Lima, Rosinei Hencken Weiss Filosofia A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de Tenente Portela tem como filosofia, valorizar o aluno, respeitando suas limitações. Objetivo Geral da Escola Educar o aluno para a individualização, integração e socialização, desenvolvendo o máximo de suas potencialidades através de um trabalho participativo. Missão Promover o desenvolvimento integral do aluno excepcional, dentro dos limites de sua capacidade, visando a formação de sua personalidade para melhor convivência com a família e a comunidade. 59 Modalidade de Desenvolvimento A escola atende atualmente cerca de 100 alunos, estes alunos com idade de 0 a 48 anos aproximadamente, a escola atende desde a Educação Infantil até a preparação destes alunos para o mercado de trabalho. Quando o aluno entra na escola com idade para integrar a Educação Infantil o mesmo é avaliado e definido a turma que irá integrar, se tiver o desenvolvimento e a idade entre 0 a 3 anos o mesmo será encaminhado para a turma de estimulação precoce, que visa desenvolver nesta criança potencialização, sua capacidade, respeitando suas individualidades, o desenvolvimento de forma progressiva, buscando a independência futura deste aluno. Os alunos com idade e desenvolvimento entre 4 e 5 anos são encaminhados para a turma da pré-escola, que busca desenvolver o físico, o psíquico, o intelectual e o emocional do aluno, ampliando suas possibilidades de adaptação, socialização, comunicação e expressão, a identificação do eu e meu corpo e minha família através de atividades de interação e intercâmbio social. No caso dos alunos que chegam mais tarde à escola, com idade entre 6 e 14 anos, estes já serão encaminhados para o Ensino Fundamental, alfabetização inicial (etapa I) 6 a 8 anos; alfabetização intermediária (etapa II) 9 a 10 anos; alfabetização avançada (etapa III) 11 a 12 anos; e pós-alfabetização (etapa IV) 13 a 14 anos. Alguns alunos com Necessidades Educativas Especiais são capazes de assimilar os conteúdos curriculares referentes ao Ensino Fundamental, reúnem condições suficientes para adaptar-se socialmente através da atuação independente na comunidade e estão aptos à alfabetização, apresentando condições de desenvolver o domínio de habilidades linguísticas básicas, componentes para o sucesso da leitura e escrita, sendo assim, após a pré-alfabetização do alunado, o processo da escola é encaminhá-lo para a Escola Regular, ocorrendo um intercâmbio, num turno o aluno frequenta a Escola Regular e no outro a Escola de Educação Especial, onde recebe um reforço pedagógico, atendimento fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicológico e de assistência social. Neste período o alunado estará desenvolvendo sua independência na realização de ações e no relacionamento interpessoal, valorizando o aspecto sócioafetivo dos alunos como cidadãos com condições de desenvolver sua própria capacidade. 60 Durante este período os alunos paralisados cerebrais são estimulados, proporcionando incentivos, atividades, brincadeiras, desafiando-os para que desenvolvam seu potencial evolutivo, respeitando suas limitações, oferecendo possibilidades de recuperar ou construir seu lugar como pessoa. Após o aluno frequentar as turmas referentes ao Ensino Fundamental o mesmo é direcionado à turma de preparação para o trabalho, as chamadas oficinas, onde a qualificação profissional objetiva estimular e capacitar estes jovens para o mercado de trabalho, se propõe a adaptação dos jovens aprendizes às necessidades sociais e ao mundo do trabalho, desenvolvendo sua autoconfiança e a realização pessoal fundada no conhecimento da realidade, valores e expressões culturais de seu meio. Formação de hábitos e atitudes de trabalho como, pontualidade, responsabilidade, respeito, segurança e condutas adequadas. Na escola também temos alguns alunos com maiores dificuldades que são atendidos nos grupos de convivência, alunos com diagnósticos bem complicados e conturbados, são atendidos nos grupos de convivência onde busca-se proporcionar a estes alunos atividades de lazer, socialização, recreação, higiene pessoal, que lhes permite o desenvolvimento de suas potencialidades, respeitando suas limitações. O objetivo é, sobretudo, estimular sua independência de hábitos e atitudes. 61 ANEXO B – Professora Regente das Turmas Oficina 01 e 02 da Escola de Educação Especial Recanto da Alegria A professora responsável pela turma das oficinas 01 e 02 é a professora Sandra Lapazini Bergonci, com idade entre 37 anos, casada, com um filho de 10 anos. A professora Sandra é formada em Pedagogia, formou-se em 2011 e é pósgraduada em Educação Infantil e Anos Iniciais, formou-se em 2013. Atualmente a mesma está cursando Educação Especial e Educação Inclusiva na Uniasselvi e Uninter. A professora Sandra está trabalhando junto à escola da APAE – Escola de Educação Especial Recanto da Alegria há mais de um ano e meio, a mesma me relatou que a oportunidade de trabalho junto à escola surgiu através de uma entrevista e a mesma foi selecionada, aceitou, pois seria uma oportunidade de iniciar na área de sua formação, acabou se apaixonando pelo trabalho, acredita não ter muitas dificuldades no trabalho, somente comentou que a maior dificuldade do trabalho é que o grupo é grande, cada um tem suas especificidades e o complicado é conseguir atender todas estas especificidades sozinhas, a mesma solicitou junto à diretoria da escola uma monitora para lhe auxiliar no trabalho com as turmas das oficinas. Quando questionada sobre o que lhe dá ânimo para o trabalho, a mesma me relatou que o que lhe dá mais ânimo, é que as crianças ensinam a gente a dar valor às pequenas e simples coisas da vida, cada aluno traz uma coisa só sua, uns são mais amorosos, outros são mais agressivos, alguns mais carentes, outros mais espevitados, mas cada um ensina e nos anima a cada dia. Quando questionada sobre a participação da família dos alunos junto ao processo de ensino e aprendizagem dos filhos a mesma comenta que as famílias têm uma falta de interesse muito grande, são raros os casos que as famílias participam e estão presentes junto à escola. Questionei a mesma sobre a contribuição quando são solicitados e a mesma me relatou que os mesmos são muito pouco contribuintes, na verdade os mesmos estão desligados da educação dos seus filhos. 62 ANEXO C – Descrição das Danças Folclóricas Gaúchas - Dança pezinho: o pezinho tem origem portuguesa, na ilha dos Açores. A dança se dá em fileiras, primeiramente o peão e a prenda tomando-se das mãos direitas, e colocando o pé direito à frente, onde o calcanhar fica preso ao solo e o que se movimenta e a ponta do pé que faz movimentos pendulares que começam para a direita correspondente a parte da música: Ai bota aqui, ai bota ali o seu pezinho. Trocam-se as mãos e os pés, mão esquerda e pé esquerdo, repete o movimento executado pelo pé direito na parte correspondente à música: O teu pezinho bem juntinho com o meu, alternando pés e mãos repete a coreografia num total de quatro vezes. Para melhor compreensão dos alunos da educação especial a dança do pezinho será adaptada da seguinte forma: serão realizadas somente duas trocas de mãos e pés, ficando assim na parte corresponde à música: Ai bota aqui, ai bota ali o seu pezinho, o teu pezinho bem juntinho com o meu, será executada somente com o pé direito, quando se iniciar novamente: Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho, o teu pezinho bem juntinho com o meu, será executada com o pé esquerdo, havendo somente duas trocas de pés onde haveria quatro na dança original. A segunda figura é a volta inteira, o par tomando-se pelos braços direitos rodeiam no sentido dos ponteiros dos relógios através de passos de marchas (caminhando) até voltar ao seu lugar, repete-se quatro vezes alternando os lados iniciando pela direita. Na dança original a terceira figura corresponde a um movimento pendular em linha reta, mas a adaptação que se fez necessário para a educação especial faz com que se repita a primeira figura adaptada. Repete-se novamente a segunda figura, a da volta inteira. A dança se dá num total de quatro repetições de cada figura. - Dança caranguejo: dança muito popular em todo o Brasil, havendo referência sobre a mesma desde o século XIX, no Estado do Rio Grande do Sul, o primeiro registro musical se dá por volta de 1903, feito por Alcides Cruz, para o anuário do Rio Grande do Sul, esta melodia ainda se pendura no Estado em cantigas de rodas e brincadeiras infantis. 63 A dança se dá em roda, uma roda interna de meninas e uma externa de meninos, que deverão estar postados frente a frente. Para melhor compreensão dos alunos da educação especial para introduzirmos esta dança num primeiro momento trabalhamos assim, ao invés de entrarmos diretamente com a música fizemos com que os mesmos na roda frente a frente com seu par colocassem ambos o pé direito à frente, o pé batesse com toda planta e prenda com a ponta do pé a seguinte cantiga juntos executando três batidas, pé, pé, pé, em seguida unissem os pés e levado as mãos à frente três palmas, palma, palma, palma. Num primeiro momento vivenciamos somente isso, em seguida foi introduzido um giro após a palma, e novamente a repetição do pé, pé, pé e palma, palma, palma, gira. Isto corresponde à primeira figura da dança caranguejo, na música na parte correspondente a: Caranguejo não é peixe (pé, pé, pé). Caranguejo peixe é (palma, palma, palma). Se não fosse o caranguejo não se dançava em Bagé (giro), repete-se duas vezes antes de seguir para a próxima figura. Dando sequência à coreografia na dança original na segunda figura os pares se deslocam juntos, o peão para a direita e a prenda para a esquerda, com as mãos nas alturas dos olhos, realizando marcações de castanholas com as mãos, passando um peão (prenda) pela frente, entrando nas costas do segundo e ao final executando um giro. Na dança para a educação especial só acontecerá o deslocamento dos peões, passando somente pela frente, então ele sairá da sua prenda, passará uma prenda e dançará com a segunda prenda. As prendas farão as marcações de castanholas (pedindo dinheiro que é o termo que usamos durante as aulas) no mesmo lugar, isto tudo ocorreu na parte correspondente na música ao instrumental. Repete-se toda a dança quatro vezes, se o peão não acabar na frente da sua prenda deverá voltar até ela se deslocando no sentido anti-horário. - Xote inglês: para se trabalhar com a dança do xote inglês iniciamos conhecendo outra cantiga: “Eu vou, eu vou, eu vou para casa da vovó, eu vou, eu vou, eu vou para casa da vovó, vou voando, volto correndo, vou voando, volto correndo. Eu vou, eu vou, eu vou para casa do vovô, eu vou, eu vou, eu vou para casa do vovô, vou voando, volto correndo, vou voando, volto correndo”. A melodia original da dança do xote inglês é somente instrumental, então para facilitar o trabalho com esta dança utilizaremos esta cantiga da casa da vovó e do vovô. 64 A dança é executada frente a frente na primeira parte, o par de mãos dadas, mão direita do peão e esquerda da prenda, executando três passos de marcha lateral (passo junta, passo junta...), iniciando o peão com o pé esquerdo e a prenda com o direito, ao finalizar o terceiro passo três marcações de marcha no lugar, trocase de mão e executa-se os três passos de marcha lateral, iniciando o peão com o pé direito e a prenda com o pé esquerdo, os passos correspondentes a um trecho da música “eu vou (passo lateral), eu vou (passo lateral), eu vou (passo lateral) para casa da vovó (marcações)”, após as duas repetições se executa um passo de xote fundamental, tomando-se pela mão direita do peão e esquerda da prenda, executam um passo de xote para frente (infletindo ¼ de volta), iniciando com o pé esquerdo do peão e a prenda com o pé direito, realização da execução de três passos de xote seguidos de uma pausa que seria o quarto passo que fica no ar, o pé não pousa no solo, que já iniciara a execução dos passos de xote para voltar trocando as mãos, esquerda do peão e direita da prenda, peão inicia com o pé direito que foi o que fez o quarto passo (que não posou no solo) e a prenda com o esquerdo, que foi o pé que realizou o quarto passo (que não posou no solo), repete-se a mesma execução anterior, estes passos correspondem ao trecho da cantiga que se refere “Vou voando, volto correndo, vou voando, volto correndo”. Após a execução dos passos de xote os pares enlaçados como na valsa executam um valseado no lugar. Repete-se a dança novamente, só que agora os passos não são laterais, tomando-se das mãos novamente, direita do peão e esquerda da prenda, infletem ¼ de volta, peão para a esquerda e prenda para a direita e executam os três passos, marcha para frente, voltam e executam para o outro lado, em os passos de xote um valseado. Repete a dança toda novamente. 65 ANEXO D – Desenvolvimento das Atividades - Estátua: será distribuído no chão da sala bambolês onde cada aluno deverá estar, quando a música iniciar os mesmos deverão sair do bambolê e se deslocar livremente pela sala, quando a música parar eles deverão entrar dentro de um bambolê e fazer uma pose de estátua. Quando a música reiniciar segue-se a brincadeira, repetindo quantas vezes acharem interessante. - Dança com jornais: para iniciar distribuir as folhas de jornal uma para cada aluno, a turma deve ficar de pé, no centro da sala, a professora explica que irá colocar uma música e que os participantes devem dançar sobre a folha de jornal que receberam. Colocar a música e deixar que os participantes dancem sobre a folha de jornal. Parar a música e pedir que os participantes dobrem a folha de jornal (uma dobra). Colocar a música novamente e pedir que dancem sobre a folha dobrada. Parar a música e pedir que dobrem a folha novamente. Proceder dessa forma até que a folha de jornal esteja toda dobrada e os participantes não consigam mais dançar sobre ela. Observar durante a prática se os participantes mantiveram o equilíbrio apoiando-se uns nos outros ou se cada um preocupou-se apenas consigo mesmo. Variações possibilitadas: - estátua sobre o jornal; - duas folhas de jornais por participantes, de pé descalços os mesmos deveram amassar as folhas de jornais com os pés e fazer duas bolinhas uma para cada pé, deveram dançar com os pés sobre as bolinhas, nos mais diferentes ritmos. - Massagem com bexigas: o professor orienta os participantes a formar duplas. Entrega uma bexiga a cada dupla, solicitando que a encham, auxiliando quem não conseguir. Orienta os mesmos a escolher a pessoa da dupla que começará o exercício, havendo a inversão de papéis no segundo momento. Informa ser este exercício uma atividade de sensibilização, e que para ser feito adequadamente requer atenção, concentração e seriedade dos participantes. Tem como objetivo utilizar, durante cerca de dois minutos, um objeto intermediário “bexiga” para “massagear” o corpo do colega de formas variadas “ritmo, intensidade, etc.”. É reforçada a importância de que os participantes “se dediquem ao colega da dupla”, buscando estar atentos aos sentimentos e sensações que possam vir a 66 surgir. O professor dá início ao exercício colocando ao fundo uma música suave, e solicitando que os participantes não falem durante a atividade. Decorridos os dois minutos iniciais, pede-se aos mesmos que interrompam a “massagem”, fechem os olhos e registrem na memória o que estão sentindo. Após alguns instantes, solicita que abram os olhos lentamente e invertam os papéis na dupla. Novamente dá-se início ao exercício por mais dois minutos. Ao final desta segunda etapa, repete-se o momento do registro de sentimentos e sensações presentes, passando-se a seguir à troca de experiências entre os componentes da dupla. Após isso, abre-se espaço para que depoimentos livres possam ocorrer no grupo maior. É importante ressaltar as sensações experimentadas, as inibições, a relação confiança x desconfiança, sensibilização etc. - Espelho: o instrutor divide os participantes em duplas, orientando-os de que o exercício terá dois momentos: no 1º, um elemento da dupla será o espelho e o outro o objeto; no 2º, ocorrerá a inversão de papéis. Cada etapa terá a duração máxima de dois minutos. Após a escolha dos papéis em cada dupla, o instrutor explica que o “espelho” deverá “refletir” (imitar), da forma mais semelhante possível, os movimentos do “objeto” e vice-versa no momento da segunda etapa. Após a realização das duas etapas, abre-se para discussão grupal sobre o que foi sentido no exercício. Uma variação desta atividade é “seguir” com o corpo as mãos ou olhos do parceiro da dupla. Colocar-se no lugar do outro/concentração. - Dança da vassoura (boneca): os alunos em duplas/pares dançam, um aluno forma sua dupla com a boneca ou com a vassoura, quando a música para o que está com a boneca/vassoura deve tentar arrumar alguém para formar uma dupla e passar a boneca/vassoura para outro colega. A possibilidade de se declamar um pequeno verso entre a troca da boneca/vassoura pelo par que estava dançando com a mesma. Construção de uma coreografia com o uso da música Xote Antigo, que em sua letra nos diz o seguinte: Gaiteiro, toque um xote antigo, Que eu vou tirar uma prenda pra dançar comigo. Pode ser xote largado, pode ser de quatro passos Mas que seja um xote antigo que eu lhe mostro como faço 67 Pego na mão da chinoca e arrodeio pros dois lados E amanheço no fandango, dançando xote largado (Gaiteiro, toque um xote antigo Que eu vou tirar uma prenda pra dançar comigo) x2 Se for xote carreirinha tem que ter bastante espaço Xiru velho barrigudo quase morre de cansaço Pra não dar rolo na sala toque o velho laranjeira Que a indiada se entrevera e dá-lhe xote a noite inteira (Gaiteiro, toque um xote antigo Que eu vou tirar uma prenda pra dançar comigo) x2 Se for xote carreirinha tem que ter bastante espaço Xiru velho barrigudo quase morre de cansaço Pra não dar rolo na sala toque o velho laranjeira Que a indiada se entrevera e dá-lhe xote a noite inteira A partir da letra da música e da ideia da turma possuir um gaiteiro, juntamos a teatralidade e a dança, onde os alunos meninos correspondentes aos pares das prendas deveriam entrar na sala onde estaria o gaiteiro e o panderista sentado e no momento em que se soltasse a música e se inicia a mesma com a frase Gaiteiro toque [...], os mesmos deveriam cutucar o gaiteiro e apontar para as meninas que estavam sentadas no lado esperando por eles e pelo gaiteiro para iniciarem o baile. O gaiteiro e seu companheiro por sua vez se negam a tocar e responde os meninos com um não, mas vence a insistência e a determinação dos meninos que vieram até o baile para dançar com as prendinhas. Após a concordância do gaiteiro e seu companheiro em tocar, os meninos iam até suas prendas, as giravam e enlaçam e dançavam um xote. - Expressão com imagens: cada aluno recebeu uma imagem de revista, deveriam distribuir pelo chão, ao som de uma música deveriam se deslocar pela sala, quando a música parasse os alunos deveriam expressar o que estava na imagem da sua maneira, mas o mais próximo possível da imagem. 68 - Atividade rítmica: organizar os alunos em duplas, um de frente para o outro. Eles devem segurar um arco horizontalmente e ficar dentro dele. Conforme os comandos dados pelo professor os alunos deveram andar aumentando e diminuindo o ritmo, mexendo os braços, com passos curtos e longos, pulando, etc. - Dança da cadeira: disponha as cadeiras em círculo, sendo que o número de assentos seja menor do que o número de participantes. Coloque uma música para tocar. Enquanto a música toca, todos os jogadores dançam em volta das cadeiras. Quando a música parar, cada um deve tentar ocupar um lugar. A criança que não conseguir lugar sai do jogo levando consigo mais uma cadeira. O vencedor será aquele que conseguir sentar na última cadeira. - Dança das cadeiras cooperativas: colocamos em círculo, um número de cadeiras menor que o número de participantes. Em seguida propomos um “objetivo comum”, terminar o jogo com todos os participantes sentados nas cadeiras que sobrarem. Colocamos a música e todos dançam. Quando a música é interrompida, todos devem se sentar, usando os recursos que estão no jogo: cadeiras e pessoas. Os participantes podem se sentar nas cadeiras, nos colos uns dos outros, ou de alguma outra maneira criada por eles. A cada interrupção o professor retira algumas cadeiras. Ninguém sai do jogo e a dança continua até todos os participantes estarem sentados numa cadeira só. - Coreografia para a música Ajoelha e chora – Tchê Garotos: na primeira parte da música os alunos devem executar passos de vaneira (2 x 2) laterais com as mãos para o alto. No refrão: mãos nos joelhos cruzadas e depois abertas, mãos no rosto marcando o choro. Na parte correspondente ao laço erguer uma das mãos e fazer o movimento como se estivesse laçando, girando. Repete-se tudo. Tava cansado de me fazer de bonzinho Te chamando de benzinho de amor e de patroa Esta malvada me usava e me esnobava E judiava muito da minha pessoa Endureci resolvi bancá o machão Ai ficou bem bom agora é do meu jeito 69 De hoje em diante sempre que eu te chamar Acho bom tu ajoelhá e me tratá com respeito Refrão: Ajoelha e chora ajoelha e chora Quanto mais eu passo laço muito mais ela me adora Ajoelha e chora oi, ajoelha e chora Quanto mais eu passo laço muito mais ela me adora Mas o efeito do remédio que eu dei Foi melhor do que eu pensei ela faz o que eu quiser Me lava a roupa lava os pratos e cuida os filhos Anda nos trilhos garrô preço essa muié Faz cafuné me abraça com carinho Me chama de docinho comecei me preocupar Eu tô achando que esta mulher danada Ficou mal acostumada e tá gostando de apanha. - Dança com balões: em duplas, cada dupla com um balão, para iniciar a dança colocar o balão na testa e dançar mexendo os braços e se deslocando. A professora fará pausas na música e a cada pausa o balão deverá passar para outra parte do corpo. O balão não pode cair no chão. 70 ANEXO E – Termo de Consentimento TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, Elis Fernanda Greter Wink, responsável pela pesquisa que se intitula AS DANÇAS FOLCLÓRICAS GAÚCHAS COMO CONTEÚDO ESCOLAR NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL, venho por meio deste fazer um convite para você participar como voluntário deste estudo. Esta pesquisa pretende através do desenvolvimento das aulas de Educação Física com a temática das danças folclóricas gaúchas, contatar quais são os momentos e modos que se evidencia a absorção do conhecimento pelos alunos participantes e se estes conhecimentos se incorporam nos demais contextos da vida. Acredito que seja importante a sua participação, pois a turma já possui um grupo bem integrado, o que facilitaria o desenvolvimento da referida unidade. Para a realização e comprovação da pesquisa serão necessários registros fotográficos das aulas e demais atividades que se fizerem necessárias ao desenvolvimento da mesma. Ficando esclarecido que o participante tem o direito de tirar qualquer dúvida ou pedir qualquer outro esclarecimento, bastando para isso entrar em contato com a pesquisadora. Consentimento da participação da pessoa como sujeito. Eu, _____________________________________, RG/CPF/nº de prontuário/nº de matrícula ______________________________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo _____________________________________________, como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador ______________________________ sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. 71 Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data: ____________________________________ Nome e assinatura do sujeito ou responsável: ____________________________________ Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar. 72 ANEXO F – Registros Fotográficos Figura 1: Vista da entrada da escola Fonte: Wink (ago. 2013). Figura 2: Sala EDF 1 Fonte: Wink (ago. 2013). 73 Figura 3: Sala EDF 2 Fonte: Wink (ago. 2013). Figura 4: Caranguejo 1 Fonte: Wink (ago. 2013). 74 Figura 5: Giro Fonte: Wink (ago. 2013). Figura 6: Xote inglês 1 Fonte: Wink (ago. 2013). 75 Figura 7: Pesquisadora e aluno participante Fonte: Wink (ago. 2013). Figura 8: Estátua Fonte: Wink (set. 2013). 76 Figura 9: Alongamento Fonte: Wink (set. 2013). Figura 10: Dança jornal 1 Fonte: Wink (set. 2013). 77 Figura 11: Dança jornal 2 Fonte: Wink (set. 2013). Figura 12: Massagem bexigas Fonte: Wink (set. 2013). 78 Figura 13: Espelho 1 Fonte: Wink (set. 2013). Figura 14: Espelho 2 Fonte: Wink (set. 2013). 79 Figura 15: Dança da vassoura Fonte: Wink (set. 2013). Figura 16: Dança de salão Fonte: Wink (set. 2013). 80 Figura 17: Dança com a boneca Fonte: Wink (set. 2013). Figura 18: Xote antigo Fonte: Wink (set. 2013). 81 Figura 19: Apresentação 1 Fonte: Wink (set. 2013). Figura 20: Apresentação 2 Fonte: Wink (set. 2013). 82 Figura 21: Apresentação 3 Fonte: Wink (set. 2013). Figura 22: Apresentação 4 Fonte: Wink (set. 2013). 83 Figura 23: Expressão 1 Fonte: Wink (set. 2013). Figura 24: Expressão 2 Fonte: Wink (set. 2013). 84 Figura 25: Atividade rítmica Fonte: Wink (set. 2013). Figura 26: Sarrabalho 1 Fonte: Wink (set. 2013). 85 Figura 27: Turma Fonte: Wink (set. 2013). Figura 28: Dança da cadeira Fonte: Wink (out. 2013). 86 Figura 29: Dança da cooperativa Fonte: Wink (out. 2013). Figura 30: Sarrabalho 2 Fonte: Wink (out. 2013). 87 Figura 31: Sarrabalho 3 Fonte: Wink (out. 2013). Figura 32: Ajoelha e chora Fonte: Wink (out. 2013). 88 Figura 33: Dança com balões 1 Fonte: Wink (out. 2013). Figura 34: Dança com balões 2 Fonte: Wink (out. 2013). 89 Figura 35: Dança com balões 3 Fonte: Wink (out. 2013). Figura 36: Dança com balões 4 Fonte: Wink (out. 2013).