8 Alternativo O Estado do Maranhão - São Luís, 31 de outubro de 2012 - quarta-feira "Não somos atores ou dançarinos. Não estamos aqui falando de Madonna, nós não usamos gravações, não usamos nada fake. Tudo é feito por quatro caras no palco". Gene Simmons, da banda Kiss, sobre a turnê no Brasil Exposição Retorno A exposição FM Upaon-Açu + 400, do artista plástico Fernando Mendonça está em cartaz na Galeria Hum (Rua Um, n º 167 - São Francisco). A mostra é uma homenagem ao quarto centenário da cidade e faz referência à iniciais do nome do artista bem como às radiolas de reggae, as chamadas FMs. Compõem a exposição 18 desenhos em nanquim, 10 aquarelas e mais de 30 telas pintadas com tinta acrílica que retratam paisagens e ícones da cidade. O ator Arnold Schwarzenegger vai encarnar novamente um dos seus mais famosos papéis no cinema, em uma nova aventura da série Conan. Com 65 anos ele interpretará o herói espadachim em A Lenda de Conan, 30 anos depois do filme que o tranformou em um astro de Hollywood. Os filmes originais da série - Conan, o Bárbaro, de 1982, e Conan, o Destruidor, de 1984 - faturaram mais de 70 milhões de dólares nas bilheterias dos EUA. A franquia foi retomada em 2011, com Jason Momoa no papel-título. Mas o novo filme, também chamado Conan, o Bárbaro, não conseguiu repetir o sucesso dos anteriores, e faturou apenas 21 milhões de dólares nos cinemas dos EUA. Hoje é dia de... Jomar Moraes N o verbete lenda de seu prestante "Dicionário do folclore brasileiro", Luís da Câmara Cascudo, seguindo o que mais autorizadamente vem sendo ensinado, diz que as lendas possuem "características de fixação geográfica e pequena deformação", ligando-se "a um local, como processo etiológico de informação, ou à vida de um herói, sendo parte e não todo biográfico ou temático." É, por outras palavras, o mesmo que afirma Jean-Pierre Bayard: "A lenda é um conto no qual a ação maravilhosa se localiza com exatidão; os personagens são precisos e definidos. As ações se fundamentam em fatos históricos conhecidos e tudo parece se desenrolar de maneira positiva. Frequentemente a história é deformada pela imaginação popular." Tomando ainda de Bayard a assertiva de que a lenda abole o mal, facilmente verificaremos as múltiplas funções por ela exercidas entre as comunidades onde surgem e persistem, revestidas de cor local e sempre abertas às naturais contribuições que operam o milagre de insuflar-lhes vida e permanência através de sucessivas gerações. Impõe-se, aqui, um esclarecimento acerca de como está sendo empregada a expressão "vida e permanência." Queremos, com ela, fazer lembrado certo grau de frequência reiterativa nas remembranças populares, não importando que a ação de que tratam as lendas seja, muitas vezes, coisa do passado. Ou melhor - em inúmeros casos a ação é totalmente pretérita, visto que a lenda fixa um fato que se passou e não mais voltará a ocorrer, a exemplo da lenda da profecia da cigana, localizada no vale do Mearim. E aí estaria uma fundamental diferença entre Lenda, Legenda lenda e mito, cuja distinção tem sido objeto de longas discussões teóricas. Mas hoje a questão parece mais ou menos superada diante do entendimento de que lenda e mito têm dois planos de vida e permanência, consoante se tentou demonstrar. Outro dado a considerar consiste na circunstância de que geralmente o mito é individualizado, embora somente por esse ângulo seja difícil estabelecer a diferença entre lenda e mito. Diferença - é preciso que fique logo bem claro - que não constitui nossa preocupação maior. Afinal de contas é preciso reconhecer que a certa altura do exame dessa questão atinge-se uma zona fixação no tempo e no espaço. A lenda da Mãed'Água, a lenda de Santo Antônio, a lenda do Barba Ruiva, evidenciam, no seu próprio enunciado, as diferenciações do mito de Perseu, do mito de Licaon, do mito do Velocino de Ouro." Curioso é observar o percurso, muitas vezes longo, que as lendas fazem, como ocorreu no Nordeste brasileiro, para onde foi transplantado todo um ciclo de lendas medievais que ali se enraizaram e se desenvolveram como se originalmente pertencessem a esse meio cultural. Para isso precisaram passar por todas as fases do processo de fixação geográfica, incorporando elementos locais, adaptando aspectos origi- “Outro dado a considerar consiste na circunstância de que geralmente o mito é individualizado, embora somente por esse ângulo seja difícil estabelecer a diferença entre lenda e mito” muito propícia a dúvidas e indefinições. Mestre Câmara Cascudo, no já referido verbete de seu "Dicionário do folclore brasileiro," parece lançar uma luz suficientemente aclaradora das dúvidas que o problema apresenta, ao afirmar que a lenda "É independente da psicologia coletiva ambiental, acompanhando, numa fórmula de adaptação, seus movimentos ascensionais, estáticos ou modificados. Muito confundido com o mito, dele se distancia pela função e confronto. O mito pode ser um sistema de lendas, gravitando ao redor de um tema central, com área geográfica mais ampla e sem exigências de nários, até atingir, sob o ponto de vista conteudístico, uma configuração capaz de possibilitarlhes vida e permanência no meio social para que se transpuseram. É, com efeito, essa abolição do real, tão necessária, indispensável mesmo, a todos nós, que supre de sonhos e fantasias o viver humano, impossível e impensável sem que à face concreta das coisas corresponda uma contraface mítica e ficcional. Graça Aranha, nas belas páginas autobiográficas de "O Meu próprio romance," ao fazer a enternecida evocação de sua ama, a velha Militina, afirma que fora ela uma das educadoras mais essenciais de sua imaginação, pois todas as noites, antes dormir, administrava-lhe boa dose de fantasia, representada pelos contos e lendas de seu vasto repertório. Outro mestre da memorialística nacional, José Lins do Rego, também deixaria, em "Meus verdes anos," o registro de todo um mundo de reis, princesas, duendes, encantados e almas penadas que fantasmeou sua infância, graças às histórias que ouvia dos trabalhadores do engenho e das negras que se empregavam nos misteres domésticos da casa-grande de seu avô. Anos mais tarde assim prestaria sua homenagem às qualidades narrativas da velha Totônia: "A voz de velha Totônia enchia o quarto, povoava a minha imaginação de tantos gestos, de tantas festas de rei, de tantas mouras-tortas perversas. Tinha a velha um poder mágico na voz. Era sogra do mestre Águeda, tanoeiro, um negro que mal abria a boca para falar. Tinha para mim um poder de maravilha tudo o que saía da boca murcha da velha Totônia. " - Conta outra. "E ela contava. E os príncipes pulavam das suas palavras como criaturas de carne e osso. Agora eu queria saber a história das princesas que morriam de amor e as que venciam o encantamento para terminar nas festas de noivado. E aquela que a moura-torta encantara em passarinho, a cantar dia e noite nas palmeiras do rei? Era uma princesa das terras de longe." Para próxima quarta-feira fica prometida a crônica sobre o livro "Apontamentos para a história dos jesuítas no Brasil", de Antônio Henriques Leal, obra recentemente reeditada pelas Edições do Senado Federal.