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Alternativo
O Estado do Maranhão - São Luís, 12 de fevereiro de 2014 - quarta-feira
"Nunca fiz
concessões
para moldar
minha música
de acordo com
os caprichos
do mercado.
Sempre fui e
continuo
sendo um
amigo da arte"
Alceu Valença, cantor
e compositor sobre a
sua relação com o
mercado musical
Hoje é dia de...
Jomar Moraes
N
o verbete "lenda" de seu prestante "Dicionário do folclore brasileiro", Luís da
Câmara Cascudo, seguindo o que mais
autorizadamente vem sendo ensinado, diz que
as lendas possuem características de fixação
geográfica e pequena deformação, ligando-se
a um local, como processo etiológico de informação, ou à vida de um herói, sendo parte e não
todo biográfico ou temático. É, por outras palavras, o mesmo que afirma Jean-Pierre Bayard:
"a lenda é um conto no qual a ação maravilhosa se localiza com exatidão; os personagens são
precisos e definidos. As ações se fundamentam
em fatos históricos conhecidos e tudo se fundamenta em fatos históricos conhecidos e tudo parece se desenrolar de maneira positiva. Frequentemente a história é deformada pela imaginação popular".
Tomando ainda de Bayard a assertiva de que
a lenda abole o mal, facilmente verificaremos as
múltiplas funções por ela exercidas entre as comunidades onde surgem e persistem, revestidas de cor local e sempre abertas às naturais
contribuições que operam o milagre de insuflarlhes vida e permanência através de sucessivas
gerações.
Impõe-se, aqui, um esclarecimento acerca de
como está sendo empregada a expressão "vida
e permanência". Queremos, com ela, fazer lembrado certo grau de frequência reiterativa nas
remembranças populares, não importando que
a ação de que tratam as lendas seja, muitas vezes, coisa do passado. Ou melhor - em inúmeros casos a ação é totalmente pretérita, visto que
a lenda fixa um fato que se passou e não mais
voltará a ocorrer, a exemplo da lenda da profecia da cigana, localizada no vale do Mearim.
Enquanto a lenda vive e permanece inobstante diga respeito a um passado absolutamente remoto, o mito possui sua vida e sua permanência sob o ponto de vista da atualidade da
ação que exerce e representa.
Robocop
Cinebiografia
José Padilha, diretor de filmes como Tropa
de elite e Ônibus 174, foi à pré-estreia de
RoboCop na segunda-feira (10), em
Hollywood, na Califórnia, Estados Unidos.
Além de estar acompanhado de sua família
no tapete vermelho, Padilha posou para
fotos ao lado de Jonathan Glickman,
presidente da MGM (Metro-GoldwynMayer), e de Gary Barber, diretor-executivo
da Columbia Pictures, estúdio responsável
pelo longa. A ação de RoboCop começa em
Detroit no ano de 2028, com um programa
de televisão do apresentador de
ultradireita Pat Novak (Samuel L. Jackson),
um aliado da OmniCorp, a megacorporação
comandada por Raymond Sellars (Michael
Keaton) que fabrica robôs-soldados. A
refilmagem do clássico de 1987 estreia dia
21 de fevereiro no Brasil.
Pelé, escrito e dirigido por
Michael Zimbalist e Jeff
Zimbalist, teve sua estreia
adiada devido à pósprodução lenta e à
necessidade de refilmar
algumas cenas. O filme
deveria ser lançado antes da Copa do Mundo, que começa dia 12 de
junho. As informações são do site da revista The Hollywood Reporter. O
longa atraiu diversos investidores, que esperavam que o evento
esportivo conseguisse mais público para o filme. Por isso, com o atraso,
perdeu um dos maiores investidores. Leonardo Lima Carvalho e Kevin de
Paula farão a estreia deles no cinema dividindo o papel de Pelé. Cada um
interpretará o jogador de futebol em uma fase diferente da vida. O filme,
que também conta com Vicent D'Onofrio, Rodrigo Santoro, Diego Boneta,
Colm Meaney e Seu Jorge, terá como clímax a vitória do Brasil na Copa
do Mundo de 1958. Pelé será falado em inglês, mas incluirá alguns
diálogos em português. Ainda não há uma nova previsão de estreia.
Considerações sobre lenda e mito
E aí estaria uma fundamental diferença entre lenda e mito, cuja distinção tem sido objeto
de longas discussões teóricas. Mas hoje a questão parece mais ou menos superada diante do
entendimento de que lenda e mito têm dois planos de vida e permanência distintos.
Outro dado a considerar consiste na circunstância de que geralmente o mito é individualizado, embora somente por esse ângulo seja difícil estabelecer a diferença entre lenda e mito.
Diferença - é preciso que fique logo bem claro que não constitui nossa preocupação maior. Afi-
to de Perseu, do mito de Licaon, do mito do Velocino de Ouro".
Curioso é observar o percurso, muitas vezes
longo, que as lendas fazem, como ocorreu no
Nordeste brasileiro, para onde foi transplantado todo um ciclo de lendas medievais que ali se
enraizaram e se desenvolveram como se originalmente pertencessem a esse meio cultural.
Para isso precisaram passar por todas as fases do processo de fixação geográfica, incorporando elementos locais, adaptando aspectos originários, até atingir, sob o ponto de vista con-
Tudo se fundamenta em fatos históricos
conhecidos e tudo parece se desenrolar de
maneira positiva. Frequentemente a história é
deformada pela imaginação popular
nal de contas, é preciso reconhecer que a certa
altura do exame dessa questão atinge-se uma
zona muito propícia a dúvidas e indefinições.
Mestre Câmara Cascudo, no já referido verbete de seu "Dicionário do folclore brasileiro",
parece lançar uma luz suficientemente aclaradora das dúvidas que o problema apresenta, ao
afirmar que a lenda "É independente da psicologia coletiva ambiental, acompanhando, numa fórmula de adaptação, seus movimentos ascensionais, estáticos ou modificados. Muito
confundido [sic] com o mito, dele se distancia
pela função e confronto. O mito pode ser um
sistema de lendas gravitando ao redor de um
tema central, com área geográfica mais ampla
e sem exigências de fixação no tempo e no espaço. A lenda da Mãe-d'Água, a lenda de Santo
Antônio, a lenda do Barba Ruiva evidenciam, no
seu próprio enunciado, as diferenciações do mi-
teudístico, uma configuração capaz de possibilitar-lhes vida e permanência no meio social, para que se transpuseram.
É, com efeito, abolição do real, tão necessária, indispensável, mesmo a todos nós, que supre de sonhos e fantasias o viver humano, impossível e impensável sem que à face concreta
das coisas corresponda uma contraface mítica
e ficcional.
Graça Aranha, nas belas páginas autobiográficas de "O meu próprio romance", ao fazer a
enternecida evocação de sua ama, a velha Militina, afirma que fora ela uma das educadoras
mais essenciais de sua imaginação, pois todas
as noites, antes de dormir, administrava-lhe boa
dose de fantasia, representada pelos contos e
lendas de seu vasto repertório.
Outro mestre da memorialística nacional, José Lins do Rego, também deixaria, em "Meus
verdes anos", o registro de todo um mundo de
reis, princesas, duendes encantados e almas penadas que fantasmeou sua infância, graças às
histórias que ouvia dos trabalhadores do engenho e das negras que se empregavam nos misteres domésticos da casa-grande de seu avô.
Anos mais tarde, assim prestaria sua homenagem às qualidades narrativas da velha
Totônia:
"A voz da velha Totônia enchia o quarto, povoava a minha imaginação de tantos gestos, de
tantas festas de rei, de tantas mouras-tortas perversas. Tinha a velha um poder mágico na voz.
Era sogra do mestre Águeda, tanoeiro, um negro que mal abria a boca para falar. Tinha para
mim um poder de maravilha tudo o que saía da
boca murcha da velha Totônia.
"- Conta outra.
"E ela contava. E os príncipes pulavam as suas
palavras como criaturas de carne e osso. Agora
eu queria saber a história das princesas que morriam de amor e as que venciam o encantamento para terminar nas festas do noivado. E aquela que a moura-torta encantara em passarinho,
a cantar dia e noite nas palmeiras do rei? Era
uma princesa das terras de longe".
Foi essa necessidade comum a todos que levou Jean de La Fontainer a dizer:
"et moi-même
Si Peaud d' âne m' était conte
J'y prendais un plaisir extreme"
Veja-se por exemplo, a lenda da Carruagem
de Ana Jansen, em que a notável matrona, em
paga dos indigitados crimes contra a integridade física e a dignidade humana de seus escravos, é apresentada como sujeita ao eterno martírio de percorrer, alta noite, as ruas de São Luís,
num coche horrendo puxado por cavalos decapitados e seguido pela multidão de todas as suas
vítimas, em prantos lancinantes.
Baile ao som de antigos carnavais
Divulgação
Sociedade
Maranhense de
Direitos Humanos
comemora hoje 35
anos de existência
com a realização
da quinta edição
do Baile do
Parangolé, no
Bar do Porto,
na Praia Grande
O
tradicional
Baile
do Parangolé,
que acontecerá
hoje, às 19h, no
Bar do Porto
(Praia Grande),
em ritmo de Carnaval, vai comemorar o aniversário de 35 anos
da Sociedade Maranhense de
Direitos Humanos (SMDH). A
festa, já tradicional no calendário cultural da capital maranhense nesta época do ano, está em
sua quinta edição e terá como
atração o músico Chico Nô, que
se apresentará na companhia da
banda Regional Feitiço da Ilha,
formada pelos músicos Juca do
Cavaco, Osmar do Trombone e
Vandico (percussão). A abertura
do evento será feita pelo DJ
Franklin.
Chico Nô e Feitiço da Ilha farão um passeio por antigos carnavais, sem esquecer o engenho
criativo de nomes locais, a exemplo de Josias Sobrinho, Chico
Maranhão (fundador da
SMDH), e dos sócios da entidade: Joãozinho Ribeiro e Cesar
Integrantes do grupo Feitiço da Ilha e o cantor Chico Nô que são atrações musicais do tradicional V Baile do Parangolé, que será realizado hoje no Bar do Porto
Teixeira. Do último, aliás, a entidade tomou emprestado o título da festa: Parangolé é o nome
de uma música de sua autoria.
Expressão - "Parangolé é uma
expressão que ficou muito conhecida por conta do artista
plástico carioca Hélio Oiticica,
já saudoso. Para as bandas daqui, é sinônimo de barulho, zoada, confusão, no bom sentido.
Foi uma forma de homenagear
Cesar, sócio da SMDH e ex-assessor de comunicação. A festa
temse mantido ano após ano e
hoje é tradição", disse Zema Ribeiro, presidente da SMDH e
um dos organizadores do baile.
Para Chico Nô, participar,
mais uma vez, do já tradicional
baile, é uma honra. "Ano passado, tivemos a honra de animar essa festa que une o útil ao agradável. Direitos humanos têm tudo a
ver com carnaval, com cultura",
entusiasmou-se o músico, bastante identificado com as pautas dos
movimentos sociais no Maranhão.
DJ Franklin disse que tocará
repertório variado, passando
pelo frevo, marchinha e sambarock. "Para mim é uma honra
fazer parte desta festa, que além
de animar a galera nessa temporada pré-carnavalesca, tem
por trás uma boa causa", disse.
Serviço
• O quê
V Baile do Parangolé
• Quando
Hoje às 19h
• Onde
Bar do Porto (Praia Grande)
• Ingressos:
R$ 10,00
De acordo com Zema Ribeiro, o baile não ia ser realizado
por causa da crise no sistema
carcerário. "Lamentamos pelos
fatos cotidianamente expostos,
mas precisávamos festejar os
avanços obtidos na luta e mais
um ano da SMDH. 35 anos não
são 35 dias: é uma vida inteira
dedicada à defesa da vida e à
realização de direitos na vida
das pessoas", afirmou.
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