FAZENDA Áreas de pasto irrigadas e manejo criterioso fizeram produtor manter a produção de leite na média, desafiando os efeitos da estiagem dos últimos meses João Antônio dos Santos COM IRRIGAÇÃO, produtor não sente os efeitos da seca O que de início era uma proposta de lazer para os fins de semana da família, acabou se tornando um negócio conduzido cada vez com mais profissionalismo. É por esse ângulo que pode ser vista a entrada do médico Francioli Otylio Bertolino na atividade leiteira. Tudo começou quando, em outubro de 2010, comprou a Fazenda Rancho do Pardal, em Sabinópolis, na região centro-nordeste de Minas. Decidido a tornar a propriedade autossustentável, com orientação técnica, começou a investir e, três anos depois, os resultados mostram o acerto do caminho que vem percorrendo. “Nos primeiros 14 meses, depois da aquisição, fiquei apenas pagando e ‘namorando’ a terra, que não tinha 40 nenhuma produção. Mas logo percebi que era possível gerar dali o suficiente para cobrir as despesas, já que não pretendia tirar dinheiro do bolso para mantê-la”, relata. Avaliando aqui, consultando ali, concluiu que a produção de leite seria a atividade mais adequada para a área, dada sua peculiaridade topográfica, mais para montanhosa. A primeira providência foi, então, comprar quatro vacas leiteiras, com a intenção de produzir queijos. Não demorou em perceber que não se tratava da melhor ideia. “Exigia muito trabalho do caseiro, já que após a lida com os animais exigia tempo para os queijos e também para a comercialização. Ou seja, muito trabalho para um retorno que não pagava as despesas”. Bertolino decidiu, então, dar uma guinada para alcançar seu objetivo, elevando a produção e a produtividade. Foi aí que comprou algumas vacas mais produtivas e procurou melhorar o pasto disponível, já que havia 1 ha irrigado por um canhão móvel, que dava a maior trabalheira para ser deslocado de um ponto a outro no pasto. Nesse período, instalou uma ordenhadeira que ganhou de um irmão e adquiriu um tanque resfriador e um gerador de energia. O passo seguinte foi se cercar de assistência técnica. Assim, contratou a consultoria Via Verde, recebendo orientação do engenheiro agrônomo Gabriel Cardozo de Almeida Lara, que de cara fez um diagnóstico para saber o que precisava mudar e como fazer. Na época, o rebanho era constituído Balde Branco - agosto 2015 Oferta de forragem viçosa e nutritiva é constante na maior parte do ano Fotos: divulgação/Via Verde por sete vacas Girolando 1/2 sangue, que produziam em média 60 litros de leite por dia. Com a nova orientação, Bertolino iniciou as mudanças. Com base na análise do solo, corrigiu e adubou as pastagens de capim-mombaça irrigado e fez uma divisão mais adequada dos piquetes; reformou o sistema de irrigação antigo, substituindo o canhão por 39 aspersores, alimentados por uma bomba de maior capacidade; utilizou as mangueiras de que já dispunha, enterrando-as para fazer o sistema em malha. Tudo muito simples e funcional, a um custo em torno dos R$ 2 mil. I rrigação driblou a seca - Para a irrigação de outro módulo de 2 ha, contratou uma empresa especializada, que fez o projeto e a implantação de um sistema mais moderno, que saiu por R$ 12 mil. “Essa foi uma providência muito importante, pois na seca consegue uma lotação de 10-11 vacas/ Balde Branco - agosto 2015 ha, podendo chegar a 14 com o repasse, num pasto muito nutritivo”, relata ele, obser vando que nesse período os produtores vizinhos passam o maior aperto para alimentar seus animais, com significativa queda na produção. “Na estiagem de dezembro-janeiro, que durou mais de 45 dias, enquanto eles não tinham forragem para oferecer aos animais, a minha pastagem estava viçosa e nutritiva, As áreas de pasto contam com 39 aspersores alimentando as vacas”. Na o parto ocorra aos 24 meses”, diz ele. adequação da área de pastagem, Lara Hoje, a Fazenda Rancho do Pardal, orientou o ajuste do manejo dos piquede 42 ha, com 20% de reserva florestal, tes, pois anteriormente ocorria muito dispõe de 4 ha reservados para a prodesperdício de forragem. O preparo dução de sorgo para silagem, 1 ha de do solo recebe, com base na análise capim-elefante, também para silagem, do solo, uma correção, de 2 t/ha/ano e 3 ha divididos em piquetes irrigados, de calcário, visando atingir os 80% de sendo 2 módulos de capim-mombaça saturação de base. A adubação tem e 1 ha de braquiarão (que está sendo sido de 500 kg de N/ha/ano. substituído por jiggs, com mudas vindo Ajustado o sistema de produção de um viveiro de 200 m2, de onde fizede alimentos, o produtor começou adquirir animais Girolando com mais ram 50 sacos de feno para alimentar as critério e montou um programa de bezerras). Os restantes 25 ha são de acasalamento, visando ter animais pasto de braquiária destinados à recria de maior aptidão leiteira e formar e vacas secas. um rebanho de animais de sangue Atualmente, o rebanho é constituído 3/4 e 5/8. Para tanto, Omar Pereira por 47 animais Girolando 3/4 e 5/8, com de Almeida, gerente da fazenda, fez 25 vacas em lactação que produzem um curso de inseminação artificial e na média de 400-450 litros por dia nos hoje se encarrega da inseminação, últimos doze meses, o que dá a média seguindo a orientação do médico vetede 17,7 litros/vaca/dia. O restante é rinário João Eduardo, responsável pela composto de 8 vacas secas, 7 novilhas reprodução e sanidade dos animais. e 7 bezerras. A qualidade do leite, que Almeida nota que houve também melhoria na cria e recria das fêmeas. “O sistema de criação agora está mais adequado, com menos doenças e melhor desenvolvimento dos animais”, destaca. As bezerras ficam em casinhas individuais num piquetinho, onde recebem 4 litros de leite por dia, mais 2 kg de ração para a idade e feno de jiggs à vontade. Aos 90 dias, são desmamadas e passam a receber ração de crescimento, alojadas num piquete de braquiária. Por volta dos 18 meses, com a média de 360 kg, são inseminadas e chegam ao parto entre 26 e 27 meses. “Estamos trabalhando para que Bertolino, o filho e uma de suas 47 fêmeas 41 é uma preocupação constante, conforme diz Almeida, teve na média do último ano: contagem de células somáticas de 265 mil/ ml; contagem bacteriana total de 28 mil UFC/ml; proteína, 3,38%; gordura, 3,48%. Dieta adequada das vacas - Lara relata que é feita, a cada dois meses, a análise bromatológica das pastagens. O capim-mombaça, que tem em média 21% de proteína, o levou a ajustar a proteína da dieta. O concentrado comercial é adicionado de fubá e Almeida e Lara: boa sintonia entre gerente e técnico sal mineral para equilibrar com a A lição que Bertolino tira é simproteína da forrageira. “Como o ples: a vaca tem de comer bem para pasto é bem manejado, essa análise produzir bem. “É tão simples e óbvio, é indispensável para termos maior mas muitos produtores não conseprecisão na formulação da deita dos guem enxergar isso. E por essa falta animais”, conta ele. de visão, acham que não vale a pena As vacas em lactação são agrupainvestir em tecnologias”, sentencia das em três lotes: lote 1, com 11 vacas, ele, que se considera um bom exemmédia de 24 litros por dia, que recebem plo da importância de contar com 6 kg de concentrado; lote 2, 8 vacas, a orientação de técnicos especialicom média de 16 litros, 4 kg de conzados. “Comparando, hoje é muito centrado; lote 3, 6 vacas, com média diferente de três anos atrás. Com uma de 12,7 litros, 2,5 kg de concentrado. adequada produção e fornecimento Com tal divisão, em pouco mais de três de alimento, a mesma vaca que ananos, Bertolino chegou à produção de tes produzia 6-7 litros de leite está 450 litros de leite por dia, o suficiente produzindo agora 24 litros”. para cobrir as despesas e ter uma Segundo Lara, a produtividade em sobra reinvestida na produção. 2014, considerando 11 vacas em lactação/ha, nos 3 ha de pasto irrigado, chegou a 54 mil litros de leite por ha. A partir deste ano, deverá acrescentar mais 4 ha para a produção de silagem. Uma providência contra o período de seca que chega, não raro, a sete meses no ano, sem chuvas e muito calor. “Se não fosse a irrigação, a situação teria ficado muito complicada em relação à comida para as vacas, mas desta vez pasMelhoria genética tem gerado fêmeas Girolando para leite e venda samos tranquilos por esse período”, nota o produtor. Em fevereiro, recebia R$ 0,82 por Um problema na fazenda, até 2014, litro, contra um custo entre R$ 0,68 a era a falta de área para a produção 0,70. “Já tivemos melhor preço no ano de silagem, pois só era possível fazer passado, mas mesmo assim ainda é silagem de capim, com três cortes por rentável. E isso porque implantamos ano, e silagem de cana. Com a compra tecnologias e uma boa gestão, oriende uma área contígua à propriedade, tadas pela assistência técnica. Se não acrescentou mais 4 ha para o plantio tivesse boa alimentação para o gado de sorgo, planta mais resistente aos não estaria com essa produção”, faz veranicos, que possibilita dois cortes questão de frisar o produtor. 42 ao ano. “O primeiro corte será agora em março e a expectativa é ensilar 120 t de massa. Assim, mais as 30 t de silagem de capim produzida recentemente, as vacas terão bom volumoso nos momentos de necessidade e também para complementar o pasto”, diz Bertolino. Ele relata que em 2011 a meta era atingir os 450 litros de leite por dia, como ponto de equilíbrio da atividade – cobrir os custos e reinvestir. Como já atingiu a meta, ele pretende, em 2015, manter essa produção e focar no melhoramento genético para buscar outro patamar de produção a partir de 2016, já que a topografia não permite dispor de um rebanho muito maior do que tem hoje. “Então, o objetivo é melhorar a genética dos animais para atingir um patamar de 30 a 32 litros de leite por vaca/dia. Assim, chegaremos a 600700 litros/dia, e ainda poderemos comercializar animais, agregando mais valor ao negócio”, diz ele. Mais informações: Francioli O. Bertolino, telefone: (33) 9909-2549. Gabriel C. A. Lara/Via Verde Consultoria, telefone: (35) 9967-3010 / (31) 9153-8383. Ações em grupo C om a preocupação de manter a atividade com profissionalismo, o produtor Francioli Otylio Bertolino foi buscar melhores condições para a comercialização de sua produção de leite. O caminho foi se filiar à Aspas-Associação dos Pecuaristas de Sabinópolis, da qual é o vice-presidente. Fundada há vários anos, a entidade conta com 50 produtores filiados que vendem leite em conjunto para a Cooperativa Vale do Rio Doce, em Governador Valadares-MG. “Com um volume maior de leite, sempre conseguimos um valor maior pelo nosso produto. Além disso, temos diversas parcerias com a cooperativa, como compras em conjunto de insumos, medicamentos e outros produtos, a um preço melhor do que o praticado no mercado”, diz ele, acrescentando que contam ainda com o apoio para a fertilização in vitro e a assistência veterinária, o que torna mais interessante a atividade leiteira dos associados. Balde Branco - agosto 2015