Contexto deposicional e estratigrafia da parte ocidental da Bacia Bauru
Aluno: Hely Cristian Branco, bolsista de Iniciação Científica Pibic/CNPq
Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Fernandes
Introdução e Objetivos
A Bacia Bauru é uma unidade litoestratigráfica
neocretácea localizada na porção centro-sul da América
do Sul e é constituída por sequência siliciclástica arenosa
única, subdividida nos grupos Caiuá e Bauru (Fernandes
2010). A porção leste da bacia possui mais dados
bibliográficos e um maior detalhamento estratigráfico,
com o grupo Caiuá subdividido em suas respectivas
formações, as quais na parte oeste
ainda não foram mapeadas.
Este projeto se enquadrou no inicio do detalhamento e
atualização da estratigrafia da porção oeste da bacia e
objetivou proporcionar o contato com as diversas
técnicas ligadas ao mapeamento geológico, bem como
utilizar as informações coletadas para dar inicio a revisão
do mapa da Bacia Bauru e refinamento do modelo
evolutivo atualmente aceito.
Etapas do projeto
1. Revisão bibliográfica;
2. Elaboração de seções e modelos regionais;
3. Coleta de dados em campo na porção ocidental da
bacia. O levantamento durou seis dias, percorridos
aproximadamente 2.000km entre Campo Grande
(MS) e Quirinópolis (GO) e estudados 22
afloramentos;
4. Discussão e síntese preliminar dos resultados e
conclusões, que envolveu revisão dos dados
coletados, confecção de seção colunar (Fig. 2),
discriminação de fácies quando possível (Quadro 1)
e refinamento do mapa geológico da bacia compilado
anteriormente (Fig. 1); e
5. Elaboração de relatório final e apresentação dos
resultados.
Fig. 1 - Mapa geológico da Bacia Bauru, refinado a partir de compilação de dados
do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e IBGE.
Resultados e discussão
Foram identificadas quatro unidades
geológicas diferentes:
a. Depósitos
holocênicos
que
provavelmente se formaram a partir da
alteração de rochas do Grupo Caiuá
conforme caracterizada por Fernandes
(1998). Com exceção de um
afloramento, todos os demais pontos no
Mato Grosso do Sul são dessa litologia;
b. Arenito silicificado em ocorrência
única, similar as rochas dos Três
Morrinhos e Morro do Diabo conforme
descritas por Fernandes et al. (2012)
(Fig. 3);
c. Rochas ígneas do embasamento
da
bacia:,
sendo
possível
diorito/anortosito e basaltos a gabros
pegmatóides; e
d. Membro Echaporã, da Formação
Marília, que é representada por arenito
fino a médio, arenito conglomerático,
lamito e paraconglomerado. Foram
diferenciadas as fácies fluviais Sm, Sp,
Sl, St, Ss, Fmc, Fr, Gmg e Gt de acordo
com Fernandes (1998). Também foi
possível registrar a sucessão vertical
parcial das fácies em um dos
afloramentos visitados, sintetizada na
forma de seção colunar (Fig. 2). Aflora
sobretudo em Goiás.
Quadro 1 - Litofácies do Membro Echaporã em MS e GO
Interpretação (formas de leito,
processos e ambientes deposicionais)
Sigla Características
A
B
Fig. 3 - Fotomicrografias mostrando
A) aspecto geral do arenito
silicificado encontrado e B) aspecto
geral do arenito silicificado do Morro
do Diabo descrito por Fernandes et
al. (2012).
Fmc
Lamito maciço, as vezes com marcas de
cristais
Áreas pantanosas, periodicamente
expostas
Fr
Lamito maciço com bioturbações
Zona de atividade orgânica ou solo
Sm
Arenito maciço ou com laminação incipiente Fluxo de lençol
Sp
Arenito com estratificação cruzada tabular
Sl
Arenito laminado com estratificação cruzada Preenchimento de sulcos e rompimento
de baixo ângulo (>15/)
de diques marginais
St
Arenito com estratificação cruzada
acanalada (as vezes com clastos na base)
Formas de cristas sinuosas/linguóides
(dunas tipo 3-D)
Ss
Arenito maciço, as vezes com clastos
Preenchimento de sulcos erosivos
(amplos e rasos)
Gmg
Conglomerado sustentado por matriz
arenosa, com gradação normal ou inversa
Fluxo de detritos de alta energia e baixa
viscosidade
Gt
Conglomerado sustentado por areia ou
areia conglomerática e com estratificação
cruzada acanalada
Preenchimento de canais
Barras transversais/linguóides (dunas tipo
2-D) ou lobos de arrombamento
Adaptado de Fernandes (1998).
Fig. 2 - Seção colunar do ponto BW20, mostrando a sucessão de fácies do
Membro Echaporã da Formação Marília na região. A seção foi montada a partir
de porções de rocha aflorante nos paredões de escarpa localizada nos
arredores de Quirinópolis (GO).
Conclusões
Os altos topográficos são formadas por
arenitos do Membro Echaporã, Formação
Marília. O conjunto de fácies identificado permite
inferir que parte da região estudada
corresponde a porções próximas a margem da
bacia, ou ao menos de paleogeografia similar a
região análoga em Minas Gerais.
Os arenitos silicificados provavelmente são
análogos aos arenitos que compõe o Morro do
Diabo e Três Morrinhos e, portanto, sua gênese
está relacionada ao magmatismo alcalino
neocretáceo da região. São uma possível
explicação para a presença de um morro
isolado em meio a uma planície alguns
quilômetros a norte-noroeste de onde afloram.
Recomenda-se uma nova etapa de campo
para se estudar porções mais isoladas, com
destaque para o morro próximo do afloramento
de arenitos silicificados, e a criação de um
banco de dados de subsuperfície sobretudo
para a região do Mato Grosso do Sul da bacia,
onde há escassez de bons afloramentos.
Referências bibliográficas
Fernandes, L. A.; Couto, E. V.; Santos, L. J. C. 2012. Três Morrinhos, Terra
Fernandes, L. A. 1998. Estratigrafia e evolução geológica da parte oriental da
Rica, PR - Arenitos silicificados de dunas do Deserto Caiuá testemunham
Bacia Bauru (Ks, Brasil). Dissertação. Instituto de Geociências,
nível de superfície de aplainamento K-T. In: Winge, M.; Schobbenhaus, C.;
Universidade de São Paulo, 266p. São Paulo, SP.
Souza, C. R. G.; Fernandes, A. C. S.; Berbert-Born, M.; Sallun filho, W.;
Fernandes, L. A. 2010. Calcretes e registros de paleossolos em depósitos
Queiroz, E. T.; (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil.
continentais neocretáceos (Bacia Bauru, Formação Marília). Revista
Publicado
na
Internet
em
05/12/2012
no
endereço
Brasileira de Geociências, 40 (1): 19-35.
http://sigep.cprm.gov.br/sitio058/sitio058.pdf
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