Trabalho 431 1 Contribuições do instrumento “Global Appraisal of Individual Needs”: Uma revisão integrativa da literatura Heloisa Barboza Paglione; Márcia Aparecida Ferreira de Oliveira; Divane de Vargas; Heloísa Garcia Claro; Christiane Okazaki, Ricardo Henrique Soares Descritores: álcool; drogas; prática clínica baseada em evidências; GAIN. Introdução O uso abusivo de substâncias psicoativas, o transtorno mental, transformou-se em uma preocupação mundial, em função de sua alta freqüência e dos riscos que acarreta à saúde (1). Associado ao crescimento do uso, a literatura apresenta dados referentes ao aumento das admissões de indivíduos em serviços de saúde buscando tratamento para transtornos relacionados a álcool e drogas. Diante disso, a coleta de dados deve ser realizada de maneira correta e eficiente, pois intervenções nas fases iniciais do uso de drogas melhoram o prognóstico do indivíduo (5). Objetivos Analisar as contribuições para o cuidado e para pesquisas científicas do instrumento GAIN em estudos publicados entre os anos de 1980 e 2008. Métodos A revisão integrativa tem como finalidade reunir e sintetizar o conhecimento já produzido sobre um tema, avaliando e sintetizando as evidências disponíveis. A revisão foi realizada em seis etapas: 1ª etapa (tema e questão): Necessidade de levantamento de dados mais sistemático das informações disponíveis na literatura sobre as contribuições e aplicabilidade do instrumento GAIN para lidar com a problemática relacionada ao uso de álcool e outras drogas, incitando o seguinte questionamento: Quais são as informações disponíveis sobre as características do instrumento, suas propriedades psicométricas, aplicabilidade prática e contribuição para 1854 Trabalho 431 2 pesquisas científicas? Segunda etapa (busca bibliográfica): A busca foi realizada na base de dados Pubmed utilizando o descritor: Global Appraisal of Indivual Needs. Definiu-se como limite os artigos publicados entre 1980 e 2010. Só foram encontrados artigos publicados entre os anos de 2002 e 2010, A amostra de artigos foi composta por 19 itens. Terceira etapa (categorização): As informações dos artigos consideradas relevantes aos objetivos da pesquisa foram reunidas em fichas, para facilitar a análise dos dados. Quarta etapa (avaliação dos estudos): As publicações selecionadas foram lidas na íntegra e suas respectivas fichas foram submetidas a uma releitura para garantir que as informações relevantes estivessem presentes nas mesmas. Quinta e Sexta etapas (Síntese do conhecimento e interpretação e discussão): Os dados foram submetidos a uma análise comparativa, tendo sido organizados em quadros, facilitando a avaliação dos resultados, sintetizando o conhecimento adquirido e tornando-o acessível (BALIEIRO, 2009). Por meio da análise deste, foi possível levantar informações relevantes das contribuições assistenciais e para pesquisa científica do instrumento. Resultados e Discussão Os artigos encontrados foram publicados em inglês por pesquisadores estadunidenses. As informações foram divididas nas seguintes categorias: características do instrumento; populações com as quais o GAIN pode ser utilizado; propriedades Psicométricas. Características do Instrumento - O GAIN O GAIN foi descrito como útil para uso em pesquisas sobre uso de álcool e drogas, bem como para realização de diagnóstico, planejamento do tratamento e avaliação da evolução do paciente. Ele possui 103 escalas e índices que avaliam os problemas, mensuram mudanças e documentam o uso de serviços(6). É um instrumento bem aceito pela literatura, tendo sido validado no Canadá, EUA, México e Japão. O treinamento e avaliação da equipe 1855 Trabalho 431 3 para uso do instrumento dura de 2 a 3 meses e a aplicação de 90 a 120 minutos. A literatura descreve o GAIN como instrumento capaz de produzir diagnóstico minucioso sobre o uso de drogas e aspectos relacionados. Os benefícios deste diagnóstico vão desde um melhor planejamento do tratamento, baseado nas necessidades individuais de cada usuário, à prevenção de agravos psicossociais decorrentes. Características da População com a qual o GAIN pode ser utilizado Os artigos demonstraram o uso satisfatório do instrumento GAIN em adolescentes usuários e dependentes de álcool e outras drogas e em adultos jovens e adultos (6,11). Os adultos usuários de álcool e outras drogas descritos pelos estudos nos quais o GAIN foi utilizado apresentaram maior propensão a comorbidades como tendência a desordens como depressão, ansiedade, entre outros e diagnóstico de dependência de substâncias. Os adolescentes apresentaram maior tendência a abuso (e não dependência) de substâncias, desordens como déficit de atenção, distúrbio de hiperatividade e desvio de conduta e questões relacionadas a crime e violência. Os indivíduos que foram submetidos a entrevistas com o uso do GAIN pertencem a grupos heterogêneos, sugerindo que o instrumento pode ser amplamente utilizado (6). Pontuação e Propriedades Psicométricas do GAIN Para descrição da pontuação e propriedades psicométricas, nos baseamos na versão completa. As outras versões são derivadas desta e todos artigos fazem menção aos scores do GAIN. Pontuação: São utilizados métodos diferentes de pontuação. Algumas escalas possuem opções de resposta de Sim/Não e outras utilizam somatórias, atribuindo números conforme as opções escolhidas (25). Propriedades Psicométricas: O GAIN possui 103 escalas e as principais possuem coeficiente alfa (α) superior a 0.9. As subscalas normalmente possuem α superiores a 0.7. A consistência 1856 Trabalho 431 4 interna dessas escalas foram consideradas boa ou ótima em estudos com populações que variaram por gênero, raça, idade e origem, assim como por níveis de cuidado e inúmeros subgrupos clínicos como mulheres grávidas, moradores de rua ou pessoas com comorbidades de distúrbios mentais(25). Usando dados de 1028 adolescentes de 14 ambulatórios e programas residenciais, encontrou-se alta consistência interna nas escalas resumo e nas subscalas especificas: a) Escala de Problemas com Substâncias (16 itens / α = 0.9) e subscalas: Índice de Questões decorrentes de Substâncias (5 / 0.67), Índice de Abuso de Substância (4 / 0.70), Escala de Dependência de Substância (7 / 0.83), e Escala de Distúrbio por Uso de Substância (11 / 0.87); b) Escala de Sofrimento Mental Interno (39 itens, α = 0.94) e subscalas: Índice de Sintomas Somáticos (4 / 0.69), Escala de Sintomas Depressivos (6 / 0.77), Escala de Pensamentos Homicidas e Suicidas (4 / 0.83), Escala de Sintomas de Medo e Ansiedade (10 / 0.77), Escala de Estresse Traumático (13 / 0.92) e Escala de Sofrimento Mental Geral (21 / 0.88); c) Escala de Comportamento Complexo (33 itens / α = 0.91) e subscalas: Escala de desordem e desatenção (9 / 0.88), Escala de Hiperatividade e Impulsividade (9 / 0.81), Escala de Desordem de Conduta (15 / 0.82), Escala Transtorno de Déficit de Atenção (18 / 0.90); d) Escala de Crime e Violência (22 itens / α= 0.9) e subscalas: Escala Tática de Conflito Geral (12 / 0.89), Escala de Crime Contra Propriedade (6 / 0.75), Escala Interpessoal de Crime (7 / 0.67), Escala de Crimes por Drogas (4 / 0.53) e Escala Geral de Crime (17 / 0.84) (26). Conclusões As contribuições sobre o GAIN encontradas na literatura são, principalmente, no sentido de facilitar a detecção de comportamentos de risco, uso abusivo, dentre outros aspectos relacionados ao consumo de álcool e drogas, como ainda fornecer informações para estratégias de prevenção primária e secundária nos serviços de saúde e auxiliar no planejamento do tratamento e de intervenções individualizadas. Conclui-se que o instrumento 1857 Trabalho 431 5 pode beneficiar diversas populações, não só os adolescentes, uma vez que os estudos apontam bons coeficientes de validade e confiabilidade também com adultos. Os dados encontrados mostram que o GAIN é um meio de avaliação baseado em evidências e, considerando-se que o campo de tratamento para indivíduos que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas demanda práticas baseadas em evidências (PBE), que pode contribuições também em outros países. Referências 1. Cardim MS, Assis SG, Sberze M, Iguchi T, Morgado AF. Epidemiologia descritiva do alcoolismo em grupos populacionais do Brasil. Cad. Saúde Pública.1986;2(2):191-211. 2. Vieira PC, Aerts DRGC, Freddo SL, Bittencourt A, Monteiro L. Uso de álcool, tabaco e outras drogas por adolescentes escolares em município do sul do Brasil. Cad. Saúde Pública. 2008;24(11): 2487-2498. 3. Tavares BF, Béria JU, Lima MS. Prevalência do uso de drogas e desempenho escolar entre adolescentes. Rev. Saúde Publica. 2001;35(2). 4. Carlini EA, Galduróz JC, Noto AR, Carlini CM, Oliveira LG, Nappo AS, et al. II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país; 2005. 5. Carvalho EC, Martins FTM, Dalri MCB, Canini SRMS, Laus AM, Bachion MM, et al. Relations between nursing data collection, diagnoses and prescriptions for adult patients at an intensive care unit. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2008;16(4):700-706. 6. Dennis M, Chan Y, Funk R. Development and validation of the GAIN Short Screener (GSS) for internalizing, externalizing and substance use disorders and crime/violence problems among adolescents and adults. Am J Addict. 2006;15(1):80-91. 7. Dennis M, Funk R, Godley S, Godley M, Waldron H. Cross-validation of the alcohol and cannabis use measures in the Global Appraisal of Individual Needs (GAIN) and Timeline 1858 Trabalho 431 6 Followback (TLFB; Form 90) among adolescents in substance abuse treatment. Addiction. 2004;99(2):120-128. 8. Dennis M, Titus J, Diamond G, Donaldson J, Godley S, Tims F, et al. The Cannabis Youth Treatment (CYT) experiment: rationale, study design and analysis plans. Addiction. 2002;97(1):16-34. 9. White M, Funk R, White W, Dennis M. Predicting Violent Behavior in Adolescent Cannabis Users: The GAIN-CVI. Offender Substance Abuse Report. 2006.p.67. 10. Titus J, Dennis M, White W, Scott C, Funk R. Gender differences in victimization severity and outcomes among adolescents treated for substance abuse. Child Maltreat. 2006.p.19-35. 1859