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Contribuições do instrumento “Global Appraisal of Individual Needs”: Uma revisão
integrativa da literatura
Heloisa Barboza Paglione; Márcia Aparecida Ferreira de Oliveira; Divane de Vargas; Heloísa
Garcia Claro; Christiane Okazaki, Ricardo Henrique Soares
Descritores: álcool; drogas; prática clínica baseada em evidências; GAIN.
Introdução
O uso abusivo de substâncias psicoativas, o transtorno mental, transformou-se em uma
preocupação mundial, em função de sua alta freqüência e dos riscos que acarreta à saúde (1).
Associado ao crescimento do uso, a literatura apresenta dados referentes ao aumento
das admissões de indivíduos em serviços de saúde buscando tratamento para transtornos
relacionados a álcool e drogas. Diante disso, a coleta de dados deve ser realizada de maneira
correta e eficiente, pois intervenções nas fases iniciais do uso de drogas melhoram o
prognóstico do indivíduo (5).
Objetivos
Analisar as contribuições para o cuidado e para pesquisas científicas do instrumento
GAIN em estudos publicados entre os anos de 1980 e 2008.
Métodos
A revisão integrativa tem como finalidade reunir e sintetizar o conhecimento já
produzido sobre um tema, avaliando e sintetizando as evidências disponíveis. A revisão foi
realizada em seis etapas:
1ª etapa (tema e questão): Necessidade de levantamento de dados mais sistemático das
informações disponíveis na literatura sobre as contribuições e aplicabilidade do instrumento
GAIN para lidar com a problemática relacionada ao uso de álcool e outras drogas, incitando o
seguinte questionamento: Quais são as informações disponíveis sobre as características do
instrumento, suas propriedades psicométricas, aplicabilidade prática e contribuição para
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pesquisas científicas?
Segunda etapa (busca bibliográfica): A busca foi realizada na base de dados Pubmed
utilizando o descritor: Global Appraisal of Indivual Needs. Definiu-se como limite os artigos
publicados entre 1980 e 2010. Só foram encontrados artigos publicados entre os anos de 2002
e 2010, A amostra de artigos foi composta por 19 itens.
Terceira etapa (categorização): As informações dos artigos consideradas relevantes
aos objetivos da pesquisa foram reunidas em fichas, para facilitar a análise dos dados.
Quarta etapa (avaliação dos estudos): As publicações selecionadas foram lidas na
íntegra e suas respectivas fichas foram submetidas a uma releitura para garantir que as
informações relevantes estivessem presentes nas mesmas.
Quinta e Sexta etapas (Síntese do conhecimento e interpretação e discussão): Os
dados foram submetidos a uma análise comparativa, tendo sido organizados em quadros,
facilitando a avaliação dos resultados, sintetizando o conhecimento adquirido e tornando-o
acessível (BALIEIRO, 2009). Por meio da análise deste, foi possível levantar informações
relevantes das contribuições assistenciais e para pesquisa científica do instrumento.
Resultados e Discussão
Os artigos encontrados foram publicados em inglês por pesquisadores estadunidenses.
As informações foram divididas nas seguintes categorias: características do instrumento;
populações com as quais o GAIN pode ser utilizado; propriedades Psicométricas.
Características do Instrumento - O GAIN
O GAIN foi descrito como útil para uso em pesquisas sobre uso de álcool e drogas,
bem como para realização de diagnóstico, planejamento do tratamento e avaliação da
evolução do paciente. Ele possui 103 escalas e índices que avaliam os problemas, mensuram
mudanças e documentam o uso de serviços(6). É um instrumento bem aceito pela literatura,
tendo sido validado no Canadá, EUA, México e Japão. O treinamento e avaliação da equipe
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para uso do instrumento dura de 2 a 3 meses e a aplicação de 90 a 120 minutos.
A literatura descreve o GAIN como instrumento capaz de produzir diagnóstico
minucioso sobre o uso de drogas e aspectos relacionados. Os benefícios deste diagnóstico vão
desde um melhor planejamento do tratamento, baseado nas necessidades individuais de cada
usuário, à prevenção de agravos psicossociais decorrentes.
Características da População com a qual o GAIN pode ser utilizado
Os artigos demonstraram o uso satisfatório do instrumento GAIN em adolescentes
usuários e dependentes de álcool e outras drogas e em adultos jovens e adultos (6,11).
Os adultos usuários de álcool e outras drogas descritos pelos estudos nos quais o
GAIN foi utilizado apresentaram maior propensão a comorbidades como tendência a
desordens como depressão, ansiedade, entre outros e diagnóstico de dependência de
substâncias. Os adolescentes apresentaram maior tendência a abuso (e não dependência) de
substâncias, desordens como déficit de atenção, distúrbio de hiperatividade e desvio de
conduta e questões relacionadas a crime e violência. Os indivíduos que foram submetidos a
entrevistas com o uso do GAIN pertencem a grupos heterogêneos, sugerindo que o
instrumento pode ser amplamente utilizado (6).
Pontuação e Propriedades Psicométricas do GAIN
Para descrição da pontuação e propriedades psicométricas, nos baseamos na versão
completa. As outras versões são derivadas desta e todos artigos fazem menção aos scores do
GAIN.
Pontuação: São utilizados métodos diferentes de pontuação. Algumas escalas possuem
opções de resposta de Sim/Não e outras utilizam somatórias, atribuindo números conforme as
opções escolhidas (25).
Propriedades Psicométricas: O GAIN possui 103 escalas e as principais possuem coeficiente
alfa (α) superior a 0.9. As subscalas normalmente possuem α superiores a 0.7. A consistência
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interna dessas escalas foram consideradas boa ou ótima em estudos com populações que
variaram por gênero, raça, idade e origem, assim como por níveis de cuidado e inúmeros
subgrupos clínicos como mulheres grávidas, moradores de rua ou pessoas com comorbidades
de distúrbios mentais(25).
Usando dados de 1028 adolescentes de 14 ambulatórios e programas residenciais,
encontrou-se alta consistência interna nas escalas resumo e nas subscalas especificas: a)
Escala de Problemas com Substâncias (16 itens / α = 0.9) e subscalas: Índice de Questões
decorrentes de Substâncias (5 / 0.67), Índice de Abuso de Substância (4 / 0.70), Escala de
Dependência de Substância (7 / 0.83), e Escala de Distúrbio por Uso de Substância (11 /
0.87); b) Escala de Sofrimento Mental Interno (39 itens, α = 0.94) e subscalas: Índice de
Sintomas Somáticos (4 / 0.69), Escala de Sintomas Depressivos (6 / 0.77), Escala de
Pensamentos Homicidas e Suicidas (4 / 0.83), Escala de Sintomas de Medo e Ansiedade (10 /
0.77), Escala de Estresse Traumático (13 / 0.92) e Escala de Sofrimento Mental Geral (21 /
0.88); c) Escala de Comportamento Complexo (33 itens / α = 0.91) e subscalas: Escala de
desordem e desatenção (9 / 0.88), Escala de Hiperatividade e Impulsividade (9 / 0.81), Escala
de Desordem de Conduta (15 / 0.82), Escala Transtorno de Déficit de Atenção (18 / 0.90); d)
Escala de Crime e Violência (22 itens / α= 0.9) e subscalas: Escala Tática de Conflito Geral
(12 / 0.89), Escala de Crime Contra Propriedade (6 / 0.75), Escala Interpessoal de Crime (7 /
0.67), Escala de Crimes por Drogas (4 / 0.53) e Escala Geral de Crime (17 / 0.84) (26).
Conclusões
As contribuições sobre o GAIN encontradas na literatura são, principalmente, no
sentido de facilitar a detecção de comportamentos de risco, uso abusivo, dentre outros
aspectos relacionados ao consumo de álcool e drogas, como ainda fornecer informações para
estratégias de prevenção primária e secundária nos serviços de saúde e auxiliar no
planejamento do tratamento e de intervenções individualizadas. Conclui-se que o instrumento
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pode beneficiar diversas populações, não só os adolescentes, uma vez que os estudos apontam
bons coeficientes de validade e confiabilidade também com adultos.
Os dados encontrados mostram que o GAIN é um meio de avaliação baseado em
evidências e, considerando-se que o campo de tratamento para indivíduos que fazem uso
abusivo de álcool e outras drogas demanda práticas baseadas em evidências (PBE), que pode
contribuições também em outros países.
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