Risco de Mercado: o Método Simulação Histórica (Historical Simulation Method) Aplicado ao IBOVESPA André Accorsi * Flávio Panhoni** Resumo Instituições financeiras, empresas e órgãos reguladores estão usando a metodologia VAR (Value-atRisk) para administrar o risco de mercado. O artigo discute, inicialmente, a evolução do risco de mercado e a metodologia VAR para, então, apresentar um dos modelos de VAR, o método Simulação Histórica (Historical Simulation Method), aplicado ao IBOVESPA. As principais conclusões do artigo são: 1) os riscos podem ser administrados mas não eliminados; 2) a eficiência das ferramentas que mensuram risco de mercado deve ser monitorada e controlada; 3) o método Simulação Histórica pode ser aplicado a qualquer distribuição de retornos, é compreensível para aqueles que tomam decisões e não exige sofisticados recursos; 4) o método deve ser testado, ainda, para outros tipos de derivativos. Palavras-chaves: Risco de Mercado, Método Simulação Histórica, VAR, IBOVESPA. * Doutor em economia pela FEA/USP ** Master in Business Administration (MBA) pela New York University Abstract Financial institutions, companies and banking regulators are using the methodology VAR (Value-at-Risk) to administer the market risk. The article discusses, initially, the evolution of the market risk and, then, presents one of VAR’s models, the Historical Simulation Method, applied to the IBOVESPA. The main conclusions of the article are: 1) the risks can be administered but not eliminated; 2) the efficiency of the tools that measure market risk should be monitored and controlled; 3) the Historical Simulation Method can be applied to any distribution of returns, it is comprehensible for decision-makers and it doesn’t demand sophisticated resources; 4) the method should be tested, still, for other types of derivative. Key-words: Market Risk, Historical Simulation Method, VAR, IBOVESPA. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 André Accorsi - Flávio Panhoni 1. INTRODUÇÃO As recentes crises econômicas mundiais, com efeitos perversos em quase todos os países que se inserem no chamado mundo globalizado, têm alertado, principalmente às instituições financeiras e grandes investidores do mercado financeiro, que não há como ignorar a necessidade de administrar riscos financeiros. A preocupação é reforçada, também, pelas pressões de órgãos reguladores em todo o mundo. A ênfase é no risco associado ao descontrole interno, desconhecimento do tipo de operação, falha administrativa, obsolescência de equipamentos, falta de treinamento de pessoal e/ou profissional especializado, entre outros. O objetivo da administração de risco não é anular o risco, mas monitorá-lo, adequando-o a potenciais retornos. A necessidade crescente de administração dos riscos e a evolução da informática impelem o desenvolvimento de técnicas e modelos de gestão, especialmente orientadas para os riscos de mercado e de crédito. Não há um único método correto para administração do risco; o essencial é que o método seja adequado aos objetivos da empresa, aos negócios realizados, ao que acontece no mundo e ao interesse dos proprietários e/ou acionistas. Visando orientar e apoiar a decisão daqueles que gerenciam riscos, o artigo apresenta e discute um dos principais métodos de mensuração de risco de mercado: o Método Simulação Histórica (Historical Simulation Method). Apresenta, também, uma aplicação prática desta metodologia para o IBOVESPA. 2. A EVOLUÇÃO DA ANÁLISE DE RISCO DE MERCADO O risco pode ser definido como a probabilidade de perda, podendo, assim, ser mensurado. Por sua vez, o risco financeiro é o potencial de perda no mercado financeiro, caso ocorram oscilações adversas entre o instante atual e algum ponto no futuro. Entre os tipos mais conhecidos de risco financeiro podem-se citar: risco de mercado, risco de crédito, risco operacional, risco de liquidez e risco legal. O risco de mercado provém das oscilações de preços (volatilidade) dos ativos ou passivos financeiros, as quais são medidas em função da mudança do valor de mercado de um determinado portfólio. Os aspectos que mais influenciam e contribuem, no período recente, para a crescente preocupação com o risco financeiro, em particular o risco de mercado, são: • a globalização dos mercados, associada ao acirramento da concorrência e ao intenso grau de inter-relação entre os diversos mercados financeiros; • a evolução contínua das tecnologias de comunicação e informática; • a inovação e a complexidade dos instrumentos financeiros, com os chamados instrumentos derivativos e o crescimento de negócios (trading) nos mercados financeiros. Os derivativos foram desenvolvidos, inicialmente, para proteção contra o risco (hedge). Entretanto, têm sido utilizados, principalmente, por especuladores na busca de maiores ganhos. Futuros, Swaps e Opções são exemplos de instrumentos derivativos; • o maior rigor na regulamentação dos mercados financeiros, com enfoque na exposição a riscos financeiros. O Bank for International Settlements (BIS) definiu normativo sobre risco de crédito em 1988 e sobre risco de mercado em 1996; o Banco Central do Brasil • editou a circular 2972, em fevereiro de 2000, tratando do risco de mercado de taxa de juros prefixada. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 2 André Accorsi - Flávio Panhoni • a instabilidade de preços (volatilidade) dos ativos financeiros ocasionadas por crises financeiras como a do México (dezembro de 1994); a da Ásia (outubro de 1997); a da Rússia (agosto de 1998); a do Brasil (janeiro 1999) e, a da Argentina (julho de 2001); O risco de mercado, recentemente, além da atenção das autoridades reguladoras, tem sido objeto de estudos na área acadêmica e de negócios, envolvendo, por exemplo, traders de mesa de operações de instituições financeiras, analistas de tesouraria das empresas do setor industrial e administradores de fundos de investimento. Estes estudos resultaram no desenvolvimento de ferramentas capazes de mensurar e monitorar o risco de mercado, criando-se um novo conceito, chamado de Value-at-Risk (VAR). Outra enorme contribuição na administração de risco de mercado, também desenvolvida ao longo da década de 90, são os modelos matemáticos e estatísticos de mensuração de risco de mercado, destacando-se: • • • Método Variância/Covariância (Delta-Normal Method) ; Método Simulação Histórica (Historical Simulation Method); Método Simulação Monte Carlo (Structured Monte Carlo Simulation Method). 2.1 Value-at-Risk (VAR) O VAR é uma ferramenta muito poderosa para mensurar o risco de mercado, ganhando cada vez mais adeptos internacionalmente. O VAR é o valor máximo esperado das eventuais perdas, sob circunstâncias normais, durante um horizonte de tempo determinado e dado um certo grau de confiabilidade. A mensuração do VAR, portanto, implica na determinação da distribuição de probabilidades dos retornos, no intervalo de tempo a ser definido pelo usuário.. O retorno é o total de ganho ou perda obtido de um investimento em ativos financeiros por um específico período de tempo. O retorno é função das oscilações de preço de mercado dos ativos financeiros. A medida de risco de mercado das oscilações de preço de mercado é a chamada volatilidade. Essa medida de risco está assentada no ajuste a uma distribuição estatística das oscilações de preços. De uma forma geral, o VAR leva em consideração a distribuição de probabilidade dos retornos dos diversos ativos que constituem um determinado portfólio. A Figura 1 ilustra uma hipotética distribuição de probabilidade de retornos, assim como, o VAR para 95% de confiança. Figura 1: Distribuição de Probabilidade dos Retornos e o VAR Nível de Confiança 95 % VAR = - $ 235 $ 400 Retornos Diários Observa-se, na Figura 1, que a média dos retornos se apresenta com valor de $400 e o VAR, com 95% de confiança, é de -$235. O horizonte temporal assumido é de um dia Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 3 André Accorsi - Flávio Panhoni (retorno diário). Pode-se afirmar que há uma probabilidade igual a 5% de que o portfólio em questão tenha uma perda, em seu valor de mercado, maior do que $ 235 nas próximas 24 horas. Se este valor for significativo, comparando-se, por exemplo, com o patrimônio líquido da instituição que retém a posição, deve-se tomar uma decisão imediata a fim de reduzir o risco a níveis aceitáveis. 2.2 O Método Simulação Histórica Um dos métodos para a mensuração do VAR é o chamado Método Simulação Histórica. Uma distribuição de retornos de ativos financeiros constitui uma série histórica das oscilações de preços de mercado desses ativos, para um intervalo de tempo predeterminado. O preço de mercado de um ativo financeiro é apurado no instante da negociação. Dependendo do tipo de ativo financeiro poderão ocorrer muitos, poucos ou, até mesmo, nenhum negócio durante o decorrer de um dia. Assim, é comum estabelecer que o valor médio ponderado de todos os negócios, ou o valor ponderado dos últimos negócios de um dia, define o preço de mercado de um determinado ativo financeiro, o qual será denotado por Pt, onde t representa o dia do respectivo negócio. A oscilação do preço de mercado será a diferença entre o preço de mercado em um determinado instante t, ou Pt, e o preço de mercado para um instante no tempo anterior t-i, ou Pt-i , sendo que i pode variar de 1 a n dias. Essa diferença será representada por Pt - Pt-i. Para ilustração do método de mensuração de risco, baseado no Método Simulação Histórica, será fixado o intervalo de tempo de um dia (i = 1), isto é, a diferença do preço de mercado de hoje menos o preço de mercado do dia imediatamente anterior, ou Pt-Pt-1. Em outras palavras, a mensuração de risco de mercado estará avaliando a possibilidade de perda da posição financeira para as próximas 24 horas . O VAR para um dia é chamado de DEAR (Daily-Earnings-at-Risk). O DEAR, geralmente, é a medida de risco de mercado calculada e utilizada pelos administradores de risco, uma vez que suas decisões e operações são freqüentes, modificando-se, assim, diariamente, sua posição de ativos financeiros. A série histórica das oscilações diárias de preços de mercado será denotada por ∆Pi , onde i varia de 1 a n, sendo n a quantidade total de observações da série. De posse da série histórica de preços, calcula-se o retorno histórico diário para cada um dos instrumentos financeiros e respectivos fatores de risco do portfólio. O fator de risco é o parâmetro que afeta diretamente o preço de mercado de um determinado ativo financeiro. Como fatores de risco têm-se: taxas de juros, taxas de câmbio (moeda), ações e commodities. Assume-se que o portfólio atual permanece exatamente o mesmo durante um certo período de tempo, n, limitado à disponibilidade da série histórica. Ressalta-se que, caso o portfólio tenha mais do que um instrumento financeiro e/ou fator de risco, deve-se adicionar os retornos diários individualmente calculados, a fim de obter-se a série histórica de retornos diários do portfólio. Com relação à extensão da série histórica, Satyajit (1998: 597), sugere que se utilize entre 60 e 500 dias úteis (3 a 24 meses corridos). A escolha depende, particularmente, dos tipos de fatores de risco que compõem o portfólio. Um portfólio composto por fatores de risco recentes restringe o uso da base de dados histórica e, consequentemente, o valor de n será menor. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 4 André Accorsi - Flávio Panhoni O próximo passo é ordenar, no sentido decrescente, os retornos diários históricos encontrados no portfólio em questão. Essa série ordenada será denotada por R1 , R2, ... , Rn-1, sendo n-1 o número de observações históricas obtidas. Em seguida, define-se o grau de confiabilidade, α, por exemplo, 95%, e calcula-se o VAR da seguinte forma: VARportfólio = R p , (1) p = (n –1 ) × (1 - α) (2) sendo que, Caso o valor de p, obtido originalmente pela equação 2, não seja inteiro, adota-se o p mais próximo do número inteiro imediatamente posterior ou anterior As equações 1 e 2 foram desenvolvidas com base no Percentile Ranking Method, cuja teoria encontra-se no livro de Satyajit (1998: 599). Figura 2: Fluxograma do Método Simulação Histórica Dados Históricos Distribuiçãod os Retornos Portfólio Cálculo do VAR Fonte: Adaptado de Jorion (1997: 194) Como se pode perceber, a metodologia envolve intenso cálculo numérico. Esse aspecto, no entanto, não representa um problema devido à evolução constante da performance da tecnologia de processamento de dados. De uma forma geral, o método é simples e intuitivo, conforme se verifica pelo fluxograma apresentado na Figura 2. 3. APLICAÇÃO DO MÉTODO SIMULAÇÃO HISTÓRICA AO IBOVESPA MÉDIO Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 5 André Accorsi - Flávio Panhoni A fim de exemplificar a simulação de VAR, pelo Método Simulação Histórica, será apresentado a seguir uma aplicação prática utilizando-se o IBOVESPA (Índice BOVESPA) Médio. O Índice BOVESPA - Bolsa de Valores de São Paulo - é o valor atual, em moeda corrente, de uma carteira teórica de ações, a partir de uma aplicação hipotética. Extremamente confiável, e com uma metodologia de fácil acompanhamento pelo mercado, o IBOVESPA, representa, fielmente, não só o comportamento médio dos preços das principais ações, como também, o perfil das negociações a vista observadas nos pregões da BOVESPA. Sua finalidade básica é servir como indicador médio do comportamento do mercado. Para tanto, sua composição procura aproximar-se, o melhor possível, da real configuração das negociações a vista (lote-padrão) na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA). A série histórica de retornos diários do IBOVESPA Médio abrangerá o período de 29/05/1998 a 07/06/2000, conforme é representado, graficamente, na Figura 3. Para o cálculo dos retornos diários assumiu-se, hipoteticamente, um portfólio no valor de um milhão de reais, e como único fator de risco, o IBOVESPA Médio. O retorno diário mostrado, na Figura 3, é calculado pela multiplicação do valor de mercado do portfólio, no caso R$ 1 milhão, pela variação percentual diária do IBOVESPA Médio. Figura 3 – Série Histórica de Retornos Diários do IBOVESPA Médio 29/05/98 a 07/06/00 Retornos Diários (R$ Milhares) 150 100 50 0 -5 0 -1 0 0 01/06/00 01/04/00 01/02/00 01/12/99 01/10/99 01/08/99 01/06/99 01/04/99 01/02/99 01/12/98 01/10/98 01/08/98 01/06/98 -1 5 0 Fonte: Site www.patagon.com.br O período histórico selecionado compreende um total de 500 dias úteis. Esta série de observações históricas é considerada apropriada para estimativa do VAR pelo Método Simulação Histórica. Salienta-se que a estimativa do VAR, a partir do Método Simulação Histórica, para uma determinada data, estará sempre utilizando as últimas 500 observações. A estimativa do VAR posterior à data inicial de 08/06/2000, portanto, estará sempre eliminando a última variação da série histórica (ou a mais antiga) e incorporando a variação do dia anterior ao da simulação (ou a mais recente), permanecendo, assim, uma série histórica dos últimos 500 dias úteis. Será adotado, para o portfólio em estudo, uma simulação para 250 dias úteis, isto é, o período compreendido entre 08/06/2000 e 11/06/2001. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 6 André Accorsi - Flávio Panhoni Com a finalidade de avaliar a qualidade técnica do Método Simulação Histórica será utilizado o Método Back-Test e o Teste Estatístico das Proporções. Outro parâmetro essencial, para a elaboração da estimativa do VAR, e do Back-Test, é a adoção do nível de confiança, estabelecido, no exemplo, em 95%. O Método Back-Test é bastante simples. Este teste investiga a quantidade de retornos obtidos de valores inferiores ao VAR estimado. Deve-se relembrar que o VAR mede a perda máxima de retornos, portanto, é um número negativo. Primeiramente, são realiza-das uma série de estimativas do VAR, ou N estimativas, e compara-se estes resultados com cada retorno realmente obtido. Apura-se a quantidade de observações cujos retornos foram inferiores à respectiva estimativa do VAR, a qual será representada por n. Em seguida, mensura-se a proporção, p, destas observações em relação ao total de estimativas, ou p = n ÷ N. De forma prática, se a quantidade de estimativas do VAR for 200 e o nível de confiança 95%, espera-se que 10 (ou p = 5%) retornos sejam inferiores ao VAR estimado. Porém, deve-se ressaltar, que p é uma estimativa, e portanto, possui margem de erro. Figura 4 – Estimativa do VAR do IBOVESPA Médio 08/06/2000 a 11/06/2001 Retornos Diários VAR (95%) 40 20 0 -20 8/6/2001 8/5/2001 8/4/2001 8/3/2001 8/2/2001 8/1/2001 8/12/2000 8/9/2000 8/8/2000 8/7/2000 8/6/2000 -60 8/11/2000 -40 8/10/2000 Retornos Diários (R$ Milhares) 60 Para validar-se, estatisticamente, uma determinada proporção obtida com a desejada, utilizar-se-á, o Teste Estatístico das Proporções, cuja teoria pode ser encontrada em Siegel (1975: 44-45) e Costa Neto (1977: 06-107). Com base neste teste, será avaliada a aceitabilidade do Método Simulação Histórica. Fornecido um determinado grau de significância (β) desejado, testa-se a hipótese H0: p = 1 - α versus H1: p ≠ 1 - α. Caso H0 seja aceita estatisticamente, o Método Simulação Histórica será considerado adequado, caso contrário será rejeitado. No caso do estudo do IBOVESPA Médio, tem-se N = 250, e será adotado o nível de significância de 5%. Com estes parâmetros, a decisão se resume a calcular n: se n estiver entre Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 7 André Accorsi - Flávio Panhoni 6 e 19 observações (ou 2,4% < p < 7,6%), para um VAR estimado com 95% (α) de grau de confiança, o Método Simulação Histórica será considerado adequado. Definidos os parâmetros e a série histórica de retornos, para o portfólio do IBOVESPA Médio, realizou-se a estimativa do VAR, pelas equações 1 e 2, interativamente, para os próximos 250 dias úteis, isto é, de 08/06/2000 a 11/06/2001. As estimativas do VAR e os retornos diários do período simulado, podem ser apreciados, graficamente, na Figura 4. Tabela 1 – Tabela de Retornos e Estimativas do VAR do IBOVESPA Médio Método Simulação Histórica Simulação VAR : IBOVESPA Médio Data 8/6/2000 9/6/2000 12/6/2000 13/6/2000 14/6/2000 15/6/2000 16/6/2000 19/6/2000 20/6/2000 21/6/2000 23/6/2000 26/6/2000 27/6/2000 28/6/2000 29/6/2000 30/6/2000 3/7/2000 4/7/2000 5/7/2000 6/7/2000 7/7/2000 10/7/2000 11/7/2000 12/7/2000 Retorno Diário 27,54 -4,33 -8,17 1,11 8,77 6,63 1,52 4,83 13,23 23,63 -8,64 -14,46 -12,87 15,48 -21,34 8,75 18,21 18,29 -0,75 -2,03 22,96 -2,56 -27,57 -9,34 VAR 95% -46,5 -46,5 -46,5 -46,5 -46,5 -46,5 -46,5 -46,5 -46,5 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 Data 5/9/2000 6/9/2000 8/9/2000 11/9/2000 12/9/2000 13/9/2000 14/9/2000 15/9/2000 18/9/2000 19/9/2000 20/9/2000 21/9/2000 22/9/2000 25/9/2000 26/9/2000 27/9/2000 28/9/2000 29/9/2000 2/10/2000 3/10/2000 4/10/2000 5/10/2000 6/10/2000 9/10/2000 Retorno Diário -9,22 5,47 -5,19 -8,27 -15,22 -5,87 -2,36 -19,18 -28,25 -10,20 1,00 1,93 -7,38 30,36 -6,29 -11,84 -12,55 5,89 -13,26 -2,22 0,32 24,98 -8,26 -15,20 VAR 95% -38,4 -38,4 -38,4 -38,4 -38,4 -36,2 -35,9 -35,9 -35,9 -35,8 -35,8 -35,8 -35,8 -35,8 -34,4 -34,4 -34,4 -34,4 -34,4 -34,4 -34,0 -34,0 -34,0 -34,0 Data 6/12/2000 7/12/2000 8/12/2000 11/12/2000 12/12/2000 13/12/2000 14/12/2000 15/12/2000 18/12/2000 19/12/2000 20/12/2000 21/12/2000 22/12/2000 26/12/2000 27/12/2000 28/12/2000 2/1/2001 3/1/2001 4/1/2001 5/1/2001 8/1/2001 9/1/2001 10/1/2001 11/1/2001 Retorno Diário 16,03 -2,34 51,78 21,70 -10,59 2,86 9,31 -13,57 10,28 4,34 -21,64 -13,99 -2,66 5,31 20,16 11,70 19,66 13,76 64,98 -12,23 -10,55 31,09 -2,48 1,95 VAR 95% -30,7 -30,7 -30,7 -29,7 -29,7 -29,5 -29,5 -29,5 -29,5 -28,8 -28,8 -28,6 -28,3 -28,3 -28,3 -28,3 -28,3 -28,3 -28,3 -28,3 -28,3 -28,2 -28,2 -28,2 Data 12/3/2001 13/3/2001 14/3/2001 15/3/2001 16/3/2001 19/3/2001 20/3/2001 21/3/2001 22/3/2001 23/3/2001 26/3/2001 27/3/2001 28/3/2001 29/3/2001 30/3/2001 2/4/2001 3/4/2001 4/4/2001 5/4/2001 6/4/2001 9/4/2001 10/4/2001 11/4/2001 12/4/2001 Retorno Diário -13,13 -19,32 -22,45 1,84 -5,52 -14,46 1,80 -3,81 -53,86 -2,33 45,62 3,58 -12,69 -6,17 -29,85 6,00 -31,96 12,99 23,88 15,50 4,61 28,69 -5,75 -15,82 Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 VAR 95% -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -26,9 -26,9 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -26,9 -26,9 -27,1 -27,1 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 8 André Accorsi - Flávio Panhoni ..continuação da Tabela 1. Data 18/07/00 19/07/00 20/07/00 21/07/00 24/07/00 25/07/00 26/07/00 27/07/00 28/07/00 31/07/00 01/08/00 02/08/00 03/08/00 04/08/00 07/08/00 08/08/00 09/08/00 10/08/00 11/08/00 14/08/00 15/08/00 16/08/00 17/08/00 18/08/00 21/08/00 22/08/00 23/08/00 24/08/00 25/08/00 28/08/00 29/08/00 30/08/00 31/08/00 01/09/00 04/09/00 Retorno Diário 9,40 -22,76 11,68 1,22 12,79 -11,57 -16,35 2,70 -22,74 -0,90 -13,80 -3,17 0,98 25,92 5,52 2,54 -13,67 4,54 9,01 41,69 8,35 -17,51 10,12 -12,75 -11,99 5,67 -1,96 -2,60 18,14 -0,17 -10,18 3,04 -0,46 4,52 7,22 VAR 95% -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -45,4 -44,0 -42,4 -42,4 -42,4 -38,9 Data 16/10/00 17/10/00 18/10/00 19/10/00 20/10/00 23/10/00 24/10/00 25/10/00 26/10/00 27/10/00 30/10/00 31/10/00 01/11/00 03/11/00 06/11/00 07/11/00 08/11/00 09/11/00 10/11/00 13/11/00 14/11/00 16/11/00 17/11/00 20/11/00 21/11/00 22/11/00 23/11/00 24/11/00 27/11/00 28/11/00 29/11/00 30/11/00 01/12/00 04/12/00 05/12/00 Retorno Diário 7,45 -19,98 -43,43 21,61 -1,97 -29,47 -24,10 -13,14 4,86 46,98 12,76 21,50 -21,23 0,07 1,23 6,71 8,28 -20,72 -0,34 -16,91 11,56 -0,83 -18,49 3,78 23,76 0,96 -20,95 -4,96 -1,47 -28,58 2,45 -27,05 -7,27 -4,03 39,72 VAR 95% -34,0 -34,0 -31,7 -34,0 -34,0 -34,0 -34,0 -34,0 -34,0 -34,0 -34,0 -34,0 -34,0 -31,7 -31,7 -31,7 -30,8 -30,8 -30,8 -30,8 -30,8 -30,8 -30,8 -30,8 -30,8 -30,7 -30,7 -30,7 -30,7 -30,7 -30,7 -30,7 -30,7 -30,7 -30,7 Data 17/01/01 18/01/01 19/01/01 22/01/01 23/01/01 24/01/01 26/01/01 29/01/01 30/01/01 31/01/01 01/02/01 02/02/01 05/02/01 06/02/01 07/02/01 08/02/01 09/02/01 12/02/01 13/02/01 14/02/01 15/02/01 16/02/01 19/02/01 20/02/01 21/02/01 22/02/01 23/02/01 28/02/01 01/03/01 02/03/01 05/03/01 06/03/01 07/03/01 08/03/01 09/03/01 Retorno Diário 12,80 17,31 14,29 -12,51 15,01 10,09 -6,07 9,88 -6,95 1,52 -30,27 -18,81 -14,26 11,54 -10,10 21,10 3,68 -3,85 -2,69 2,75 0,29 -34,09 -22,58 -10,45 -17,54 0,51 13,65 3,07 9,34 20,98 6,17 4,09 -18,68 2,32 -17,18 VAR 95% -28,0 -27,6 -27,4 -27,2 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -26,9 -26,3 -26,9 -26,9 -26,9 -26,9 -26,9 -26,9 -26,9 -26,9 -26,9 -26,9 -26,9 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 Data 19/04/01 20/04/01 23/04/01 24/04/01 25/04/01 26/04/01 27/04/01 30/04/01 02/05/01 03/05/01 04/05/01 07/05/01 08/05/01 09/05/01 10/05/01 11/05/01 14/05/01 15/05/01 16/05/01 17/05/01 18/05/01 21/05/01 22/05/01 23/05/01 24/05/01 25/05/01 28/05/01 29/05/01 30/05/01 31/05/01 01/06/01 04/06/01 05/06/01 06/06/01 07/06/01 08/06/01 11/06/01 Retorno Diário -9,68 -63,66 -13,65 33,10 1,21 34,26 27,34 2,53 -15,77 9,43 18,65 -11,58 -17,59 -2,51 19,23 -24,67 -30,84 3,16 21,04 20,34 1,48 8,83 5,58 -21,50 -14,46 -13,83 -11,98 16,15 2,98 11,96 13,57 13,92 23,07 -1,56 3,51 7,24 -12,04 VAR 95% -27,4 -27,4 -27,6 -27,6 -27,6 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,4 -27,6 -27,6 -27,6 -27,6 -27,6 -27,6 -27,6 -27,6 -27,6 -27,6 -27,6 -27,4 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,1 -27,2 -27,2 -27,2 Na Figura 4, de uma forma visual, observa-se que em certas datas os valores de determinados retornos diários apresentam-se inferiores ao respectivo VAR estimado. As datas destas ocorrências, os valores do VAR e retornos diários, estão devidamente identificados, através do campo hachurado, na Tabela 1. Para validar o Método de Simulação Histórica, no caso do IBOVESPA Médio, prossegue-se com o Back-Test e o Teste Estatístico das Proporções. Assim, deve-se apurar a Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 9 André Accorsi - Flávio Panhoni quantidade de retornos inferiores ao VAR estimado, com 95% de confiança. Nota-se, na Tabela 1, que n é igual a 8 observações, ou p = 3,2%. Conforme, os parâmetros de decisão do teste estatístico das proporções, citado anteriormente, o valor de n (ou p) encontrado está dentro do intervalo de aceitação. Pode-se afirmar , portanto, pelo resultado do teste, e observando-se o grau de significância de 5%, que o Método Simulação Histórica para estimativa do VAR (95%), do fator de risco de mercado IBOVESPA Médio é uma metodologia adequada. Conclusão Após a apresentação da evolução e necessidade de administrar-se riscos, particularmente, risco de mercado; o conceito que envolve VAR; uma metodologia de mensuração de risco de mercado, o Método Simulação Histórica; e o estudo de um portfólio, com o fator de risco de mercado IBOVESPA Médio, de forma sucinta, destacam-se os seguintes aspectos: • Pode-se administrar riscos mas não eliminá-los. Risco é inevitável, o importante é identificá-los e monitorá-los. Quando da ocorrência de perdas, deve-se aprender com elas, criando-se metodologias, ou práticas administrativas, para evitá-las, ou ao menos, minimizá-las no futuro; • VAR é uma metodologia que mensura risco de mercado, mas não deve ser encarado como uma solução. Além de mensurar, é preciso monitorar e controlar a eficiência das ferramentas, assim como administrar outros riscos, tais como: risco de crédito e risco operacional; • O Método Simulação Histórica pode ser aplicado a qualquer tipo de distribuição de retornos, ou distribuições não-paramétricas. Outras metodologias de mensuração do VAR, como o Método Variância-Covariância, exigem uma distribuição de retornos aderente à curva normal, o que nem sempre é observado para os diversos fatores de risco presentes no mercado financeiro; • O Método Simulação Histórica é compreensível e comunicável, e sua simplicidade permite aplicá-lo, mesmo no caso de indivíduos com mínimos conhecimentos quantitativos. Este aspecto é importante, pois nem sempre os responsáveis pela tomada de decisão possuem grande habilidade quantitativa; • O Método Simulação Histórica é de fácil implementação, pois não exige complexas plataformas computacionais (software e hardware); • O Método Simulação Histórico apesar de apresentar resultados satisfatórios para o fator de risco estudado, IBOVESPA Médio, deve ser testado para outros instrumentos, tais como os chamados derivativos; • A série histórica de preços do IBOVESPA Médio, particularmente, apresenta um vasto período histórico e de fácil acesso. Além disso, não necessitou de nenhum tratamento matemático e/ou estatístico para a elaboração dos retornos. Quando de portfólios com outros fatores de risco e/ou instrumentos financeiros, poderá haver limitações, tais como: tamanho da série histórica de preços, ausência de informações (missing data) e escassez de negócios para apuração de preços; • Outro aspecto a atentar é quanto ao problema de calendário. Isto ocorre, quando o portfólio compõem-se de instrumentos financeiros oriundos de países diferentes. Nestas situações, será necessário adotar metodologias estatísticas ou de julgamento, a fim de eliminar a incompatibilidade dos respectivos calendários e possibilitar, assim, o cálculo do VAR. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 10 André Accorsi - Flávio Panhoni Bibliografia 1. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Circular n º 2972, 23/03/2000. 2. COSTA NETO, P. L. O. Estatística. São Paulo: Edgar Blucher Ltda, 1977. 3. DANIELSSON, J.; VRIES, C. G.; JORGENSEN, B. N. The value of value at risk: statistical, financial, and regulatory consideration. Federal Reserve Bank of New York Economic Policy Review, v.4, n.3, , p. 107(2), october 1998. 4. FOLHA DE SÃO PAULO. Entenda o que está sendo investigado no sistema financeiro. São Paulo, 24/04/1999, Caderno B, p. 3. 5. FOLHA DE SÃO PAULO. Livro relata irracionalidade do mercado financeiro (do New York Times). São Paulo, 11/09/2000, Caderno B, p. 2. 6. GOMES, F. C. Risco de mercado: seleção de metodologias e implementação de sistemas no Brasil. In: SEMINÁRIO SOBRE GERENCIAMENTO DE RISCO. São Paulo, dezembro 1996. 7. JORION, P. Value at risk: the new benchmark for controlling market risk. Chicago: IRWIN Professional Publishing, 1997. 8. LEONG, K. The right approach. Value At Risk Supplement, p. 9-16, june 1996. 9. LEON, M. Managing and measuring market risk. Trusts & States. Chicago, v.138, i11, p. 28(2), october 1999. 10. LESLIE, R.; ESSEGHAIER, Z. Measuring financial risk in the 21st century. Bank Accounting & Finance, v.13, i3, p. 45(10), spring 2000. 11. LOPEZ, J. A.; HIRTLE, B. Methods for evaluating value-at-risk estimates. Federal Reserve Bank of New York Economic Policy Review., v.4, n.3, p. 119(10), october 1998. 12. MAKAROV, Victor. Value-at-risk: historical simulation. The Journal of Lending & Credit Risk Management, v.81, i7, p. 37(4), march 1999. 13. RISKMETRICSTM . Technical Document, 3rd Edition, New York, may 1995. 14. SATYAJIT, Das. Risk management and financial derivatives: a guide to the mathematics . New York: McGraw-Hill, 1998. 15. SECURATO, J. R. et alii. Cálculo financeiro das tesourarias: bancos e empresas. São Paulo: Saint Paul, 1999. 16. SIEGEL, S. Estatística não-paramétrica. São Paulo: McGraw-Hill, 1975. 17. THE ECONOMIST. A survey of corporate risk management. New York, p. 1-22, february, 1996. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 1-11, jul./ago./set. 2003 11 AVALIAÇÃO E CONTROLE DA QUALIDADE EM PLANOS DE SAÚDE ODONTOLÓGICOS Elisabeth Sekulic * Socorro Veras ** Silvia Maria Nóbrega-Therrien *** strengthened through the participation of all in search of consent. Resumo O objetivo deste trabalho é discutir de que forma o setor privado de assistência à saúde bucal vem organizando seus sistemas de avaliação e controle de qualidade, procurando identificar como se dá a participação de cada um dos elementos envolvidos no processo, ou seja, o Estado, as operadoras, os prestadores de serviço e os usuários. Parte-se de uma revisão da literatura de onde são retirados os principais elementos para uma discussão, na qual a premissa básica foi de que os objetivos e os métodos de controle e avaliação são específicos para cada uma das partes envolvidas, e estes que podem se somar ou se contrapor, dependendo de como o processo é conduzido. Desta forma, chegou-se à conclusão de que, mesmo nos casos em que os interesses sejam conflitantes, o processo deve proporcionar meios para que o problema possa ser compreendido sob diferentes pontos de vista. Este tipo de abordagem pode permitir que os mecanismos internos e externos de controle sejam fortalecidos através da participação de todos em busca de um consenso. Palavras-chave: odontologia, avaliação, gerência Keywords: dentistry, evaluation, management Abstract ***Enfermeira, Mestre em Educação pela UFC, Doutora em Sociologia pela Universidade de Salamanca Espanha, Professora do Curso de Mestrado em Saúde Pública The objective of this work is to discuss in what form the private section of attendance to the oral health is organizing its evaluation systems and quality control, trying to identify how is the participation of each one of the involved elements in the process, in other words, the State, the operators, the servants and the users. It starts with a revision of literature from where are taken the principal elements for a discussion, in which the basic premise was that the objectives and the methods of control and evaluation are specific for each one of the involved parts, and these can be added or be opposed, depending of how the process is led. This way, it was reached the conclusion that, even in the cases in that the interests came into conflicts, the process should provide means so that the problem can be understood under different points of view. This approach type can allow that the internal and external mechanisms of control are *Odontóloga, Especialista em Administração em Saúde pela PUC/PR, Mestranda em Saúde Pública pela UECE **Odontóloga, Especialista e Mestranda em Saúde Pública pela UECE Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 12-19, jul./ago./set. 2003 Elisabeth Sekulic - Socorro Veras - Silvia Maria Nóbrega-Therrien Introdução Para Bordin (1996:15), a avaliação de serviços de saúde pode ser considerada como parte fundamental no planejamento e gestão de qualquer sistema de saúde em todos os seus níveis, mas muitas vezes está presente neste processo o pensamento simplista e equivocado, de que a avaliação significa um controle sobre o desempenho pessoal deste ou daquele profissional, o que compreensivelmente, acaba gerando resistências e oposição a qualquer trabalho neste sentido. Na realidade a avaliação fornece subsídios para o controle do sistema na medida que analisa o desempenho dos serviços, aponta suas deficiências, define metas a serem alcançadas, mas o controle não deve ser visto como o objetivo final da avaliação. Donabedian (1990:116), um dos autores mais respeitados pelos seus estudos sobre avaliação de serviços de saúde, classifica sete diferentes atributos para a avaliação da qualidade: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e eqüidade. Vuori, (1988:19), acrescenta a qualidade técnico-científica, lembrando que , em primeiro lugar, vem a eficácia, isto é, o serviço deve ser capaz de produzir o efeito desejado e, logo em seguida, vem a eficiência, ou seja, a relação favorável entre o impacto real e os custos de produção. A grande preocupação com a avaliação da eficiência dos serviços está ligada ao crescente gasto em saúde, verificado tanto no sistema público quanto no sistema privado de saúde. De acordo com o editorial da revista The Economist (1997: 38-42), até mesmo o Sistema Nacional de Saúde Inglês, tido como um modelo de eficiência em políticas públicas de saúde, tem tido grandes dificuldades para tentar conter a expansão destes gastos. Entre as principais causas da chamada inflação da saúde estão as inovações tecnológicas, os mecanismos de remuneração dos serviços, a falta de preocupação dos profissionais e usuários com a redução dos custos, ausência de controles adequados que garantam a eficiência e qualidade do sistema. A combinação destes fatores faz com que os gastos em saúde cresçam a uma taxa muito maior do que os níveis de saúde da população assistida. No Brasil, a questão dos altos custos em saúde no setor público começou a ser analisada mais detalhadamente na década de oitenta, quando surgiram as primeiras propostas de mudanças no sistema de pagamento, passando do pagamento por procedimentos para o pagamento por “pacotes” de serviços, de acordo com cada tipo de intervenção, MCGREEVY (1988: 51-71). Hoje, quando se discute o financiamento à saúde, tanto a disponibilidade de recursos quando a aplicação eficiente dos mesmos é essencial. Isto porque nem sempre um alto investimento em saúde representa um desempenho adequado do setor. Um dos estudos que retrata bem esta situação é o de SHABAZ (1993), no qual o autor avalia os efeitos dos recursos econômicos investidos em saúde nos países industrializados. Os dados utilizados tiveram origem em relatórios do Banco Mundial de 1960 a 1990. Neste estudo, observa-se que os EUA apesar de liderarem o ranking dos gastos com a saúde (US$ 2.566 per capita ano, em 1990), situavam-se numa das últimas posições no que se refere ao nível de saúde de sua população, entre os países desenvolvidos. Em contrapartida, o Japão, que gastou per capita um pouco mais que a metade do que os EUA, registrou em 1990, o menor índice de mortalidade infantil (5 por mil nascidos vivos). Os resultados mostram que é primordial que se racionalize a aplicação de recursos em saúde, pois o simples fato de se investir mais pode não ser suficiente para que o quadro se modifique. Mendes (1999:165-176), faz uma análise dos gastos nacionais em saúde, tomando como base outros países da América Latina com desenvolvimento econômico semelhante. Neste estudo o autor confronta os gastos em saúde dos países selecionados com cinco indicadores de Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 12-19, jul./ago./set. 2003 13 Elisabeth Sekulic - Socorro Veras - Silvia Maria Nóbrega-Therrien níveis de saúde: expectativa de vida ao nascer, taxa de mortalidade infantil, taxa de mortalidade materna, cobertura vacinal DPT, cobertura da atenção pré-natal. O Brasil apresentou o pior desempenho em relação aos três primeiros indicadores selecionados e uma situação muito desfavorável, em relação à maioria dos outros países, no que diz respeito aos outros dois indicadores. Médice (1994:149-163), ao analisar o financiamento e o gasto público, observa que o Brasil só gasta menos como proporção do PIB, que nações muito pobres, como Nicarágua, Haiti, Honduras, El Salvador e Equador, embora os gasto per capita sejam superiores. No entanto, muitos destes países, apesar de mais pobres, já apresentam indicadores de saúde melhores que o Brasil. Segundo o autor o desfio não é gastar mais e sim gastar melhor com saúde. Resultados como estes são explicados por Donabedian (1992:18), em texto no qual o autor discute a importância de se encontrar o ponto de efetividade ótima nos gastos com saúde. Acima deste ponto, os custos da atenção crescem a uma taxa progressivamente maior do que o nível de saúde, concluindo que a partir de um determinado nível de gastos os benefícios agregados já não valem o custo adicional. A preocupação com a chamada “inflação da saúde” no setor privado teve maior força nos Estados Unidos a partir das últimas décadas. Na tentativa de conter os altos custos da saúde nasce a Administração em Saúde e a Economia da Saúde, criando novas formas de gestão no setor. Os serviços de saúde passaram a buscar maneiras de controlar os custos, modificando a forma de remuneração dos prestadores de serviço, estabelecendo parâmetros de saúde, planos de incentivos para a redução de custos, sistemas de auditagem, taxas moderadoras, franquias, investimento em educação continuada da rede de prestadores de serviço e em educação para a saúde dos usuários. As pesquisas na área de saúde passaram a contar com o suporte de tecnologias como a Medicina Baseada em Evidências, que forneceu subsídios para a formulação de protocolos clínicos, que foram introduzidos gradativamente em vários serviços de saúde como medida de racionalização do sistema. A prática da Medicina Baseada em Evidências integra a competência clínica individual com a melhor evidência clínica externa disponível a partir da investigação sistemática. Deste modo as ações de saúde podem ser programadas e avaliadas de acordo com critérios de eficiência e qualidade cientificamente estabelecidos. As Ciências Atuariais também têm contribuído de maneira extraordinária para o controle de gastos e estimativas de custos em saúde, através do cálculo de vários indicadores como o índice de utilização e tábua de vida, entre outros, ambos de vital importância para administração de sistemas de saúde. Dentro deste contexto surge o managed care, ou atendimento gerenciado, uma proposta de gestão em saúde, que abrange conhecimentos em diversas áreas como a administração, a economia e a estatística, cujas etapas de evolução podem ser mais bem compreendidas no quadro 1. 1. O prestador de serviço Zanetti (1988:1), em seu trabalho sobre a crise da odontologia brasileira, conclui que o mercado de trabalho do cirurgião dentista sofreu uma completa transformação durante a última década, que se reflete na radical queda tendencial da taxa de lucros, multiplicação dos arranjos de instrumentos concorrenciais, volatização e incerteza dos rendimentos, o que faz com que hoje o profissional que pretende atuar nesta área precise ter domínio de conhecimentos que costumam ir além da formação que lhe foi ofertada em sua graduação. Os Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 12-19, jul./ago./set. 2003 14 Elisabeth Sekulic - Socorro Veras - Silvia Maria Nóbrega-Therrien novos sistemas de trabalho, junto aos planos de saúde odontológicos, passam a intermediar a relação profissional/paciente, modificando a lógica de funcionamento do consultório ao interferir nas formas de remuneração do profissional, na sua rotina de trabalho e até mesmo em seu plano de tratamento. Quadro 1: Evolução do Atendimento Gerenciado Geração 1 Características Auditoria pós Contratos com prestadores preferenciais Segunda opinião médica Pouca informação educativa para os usuários 2 Auditoria pré Transferência de parte dos recursos financeiros captados para alguns prestadores Uso de generalistas como porta de entrada Pagamento prospectivo por “pacotes” (grupo de procedimentos relacionados) 3 Gerenciamento de casos de alto custo Informações sobre o perfil dos prestadores Protocolos de prática clínica Complexo de incentivos financeiros aos prestadores Transferência completa da capitação aos prestadores 4 Avaliação de resultados no atendimento Desenvolvimento de tábuas de uso e risco dos beneficiários Integração do sistema de atendimento Melhoria e monitoração dos sistemas de informação 5 Gerenciamento antecipado do caso Pesquisa das necessidades existentes na comunidade Gerenciamento de determinadas doenças e doentes Integração de vários serviços clínicos Pagamento baseado em resultados Consumidores informados Fonte: FAIRFIELD (1997) Para reequilibrar um mercado de trabalho que foi estruturado com bases completamente diferentes, é necessário que o odontólogo aprimore a sua capacidade de gerenciar o consultório e compreender o funcionamento das empresas para as quais presta serviço. O primeiro passo neste sentido é conhecer exatamente a composição dos custos dos serviços oferecidos e a partir daí estabelecer parâmetros de eficiência e qualidade, para saber onde e quando melhor aplicar os recursos disponíveis, evitando o desperdício com tecnologias e tratamentos que pouco acrescentarão à sua prática clínica e à saúde do paciente. Para suprir esta e outras lacunas na formação do odontólogo, é importante que o profissional busque atualizar-se não apenas no âmbito da odontologia, mas também na esfera das ciências sociais e humanas. Estas ciências podem trazer subsídios para uma nova concepção de saúde bucal, que se baseia nas necessidades de saúde do paciente dentro de uma abordagem social. Diante do que foi discutido até o momento, pode-se identificar importantes mecanismos de controle do sistema na conduta de profissionais bem formados, atualizados, conscientes da sua responsabilidade social e motivados para trabalhar em parceria com as empresas que o contrataram. Mas, para que o próprio profissional atue como um parceiro do plano, preocupando-se com o controle de custos e qualidade dos planos odontológicos, muitos problemas devem ser solucionados, a fim de diminuir o grau de insatisfação que predomina entre os credenciados de diversas operadoras. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 12-19, jul./ago./set. 2003 15 Elisabeth Sekulic - Socorro Veras - Silvia Maria Nóbrega-Therrien 1. A operadora A rigorosa seleção dos profissionais que irão compor a rede de credenciados é o ponto de partida para o controle da qualidade e dos custos do plano por parte da operadora. WARSZAWIAK (2000:41-44), destaca que um dos fatores de maior importância para o sucesso de um plano está na oferta de uma rede própria ou contratada de qualidade, dimensionada adequadamente em razão de sua carteira de clientes, considerando fatores como sexo, idade, características epidemiológicas. Acrescentamos a estes a distribuição geográfica, a facilidade de acesso e os horários disponíveis para as consultas. SEKULIC (2001:29), observou que o credenciamento de profissionais ainda não é um processo bem normatizado na maioria das empresas, em muitos casos, a contratação se dá sem que a empresa solicite qualquer tipo de comprovação a respeito de sua habilitação como clínico ou especialista, referências pessoais e profissionais, licença sanitária e alvará de funcionamento do consultório, assim como sobre as condições de suas instalações. Estas variáveis devem ser estudadas com bastante critério em processos de avaliação do sistema, já que os prestadores de serviço é que tomam a linha de frente da assistência interferindo diretamente na satisfação do usuário, na qualidade e nos dos serviços oferecidos. 2. O usuário O interesse pela avaliação da satisfação do usuário cresceu juntamente com o movimento pelos direitos do consumidor na década de 60 nos Estados Unidos e Europa, sendo que teve especial repercussão no Serviço Nacional de Saúde Inglês, na década de 80, em que havia uma preocupação tanto gerencial quanto com a qualidade dos serviços prestados, (OLIVEIRA, 1998:22). O usuário externo, como consumidor final, é sem dúvida um elemento importantíssimo em um processo de avaliação e controle. Sua satisfação deve ser um dos principais objetivos da empresa e prestadores de serviço, visto que já foi possível confirmar que pacientes satisfeitos têm maior probabilidade de manter-se com o mesmo profissional, não faltar às consultas, aderir ao tratamento e recomendar os serviços, o que é um ganho incontestável em termos gerenciais (OLIVEIRA, 1998:22). Por isto mesmo, todo o esforço deve ser empregado para ouvi-lo, não se restringindo a ouvir apenas aos que levam suas queixas ou observações ao conhecimento dos responsáveis, mas indo além; mantendo um canal aberto de comunicação, com estímulos à participação destes na solução dos problemas do plano. No setor público de saúde a importância da participação do usuário no controle do sistema já é reconhecida, o que pode ser verificado pela ênfase que tem sido dada a necessidade de fortalecimento dos Conselhos Municipais de Saúde. De acordo com a proposta de Reforma Administrativa do Sistema de Saúde, estes conselhos, com composição paritária entre representantes do governo (incluindo profissionais de saúde) e da população, deverão ser responsáveis pelo controle de todas as operações do Sistema Municipal de Saúde. Desta maneira os usuários podem fiscalizar diretamente todas as ações de saúde, em conseqüência, os custos de auditoria e controle do sistema tendem a ser reduzidos e a satisfação dos usuários é mais facilmente alcançada (Bresser Pereira, 1998:11). Uma questão fundamental, para que o usuário possa dar uma contribuição cada vez mais efetiva neste processo, é o aumento do seu grau de informação sobre alguns aspectos básicos como suas condições de saúde bucal, técnicas de tratamento e prevenção disponíveis e sobre o funcionamento do seu plano de saúde. Quando mais esclarecido estiver o paciente Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 12-19, jul./ago./set. 2003 16 Elisabeth Sekulic - Socorro Veras - Silvia Maria Nóbrega-Therrien maior o controle que ele poderá exercer sobre o seu tratamento, sobre o prestador de serviço e sobre o próprio plano. 5. O Estado Cabe ainda mencionar, o controle externo exercido pelo Estado sobre as Operadoras. Com sancionamento da Lei 9656/98, que regulamenta os Planos Privados de Assistência à Saúde, e com a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), pela Lei 9.961/00, as empresas do setor passam a assumir uma série de obrigações perante a sociedade, que antes ou não existiam ou não tinham parâmetros definidos (Teixeira, 2002:14). Desta forma a prestação de serviços de saúde pela iniciativa privada tornou-se uma atividade muito mais complexa, exigindo um alto grau de profissionalismo, o que pressupõe a utilização de controles cada vez mais eficientes. Entre as estratégias de controle adotadas pela ANS está a implantação do Sistema de Informações de Produtos (SIP), instituído pela RDC no. 85 (25 de setembro de 2001), para monitorar a qualidade da assistência à saúde prestada aos beneficiários. Este sistema deverá complementar o sistema de controle econômico-financeiro, implementado em janeiro de 2001 através da regulamentação do Documento de Informações Periódicas das Operadoras (DIOP). De acordo com a ANS, estes sistemas vão gerar indicadores que permitirão que tanto a ANS quanto as operadoras detectem precocemente eventuais distorções nas carteiras de produtos e aperfeiçoem medidas que possam prevenir dificuldades futuras. Além da ANS, as Delegacias de Defesa do Consumidor (DECON), têm tido um importante papel no controle dos abusos cometidos por algumas operadoras de planos de saúde. Nas reclamações relativas a operadoras de planos de saúde, por vezes, o tratamento do Procon1 é diferenciado, na tentativa de dar mais agilidade ao processo. Observa-se que, em diversas situações, a DECON é o primeiro local procurado pelos usuários que se sentem prejudicados no cumprimento dos seus contratos com as operadoras (Giovanella, 2002:168). O trabalho das DECON neste sentido, têm tido o reconhecimento da classe odontológica, como se pode comprovar pelo recente acordo do Conselho Regional de Odontologia do Ceará2 com a DECON-CE. Neste acordo se prevê um canal direto de comunicação entre os dois órgãos para que os problemas levados pelos usuários de planos odontológicos à DECON-CE, possam ser resolvidos mais rapidamente. A atuação destas entidades proporciona um maior controle das operadoras de planos, evitando que entrem ou permaneçam no mercado empresas que não atendam a um padrão mínimo de cobertura e qualidade na prestação de serviços, e ainda, que os preços dos produtos sejam reajustados sem qualquer justificativa, como acontecia antes da regulamentação dos planos. 1. Considerações finais As inter-relações do processo de avaliação e controle são bastante complexas. Embora se parta, na maioria das vezes, de um método de trabalho que assume um perfil vertical, no qual a perspectiva do gerente do serviço é única a ser considerada, cada vez mais são valorizadas as práticas horizontais de controle e avaliação que nascem de um processo de negociação entre os diferentes grupos envolvidos em torno do mesmo objetivo: “a melhor relação custo-efetividade”. Na maioria das empresas odontológicas o trabalho do auditor se restringe à simples verificação da conformidade dos procedimentos com a norma. Os usuários (clientes externos) e prestadores de serviço (clientes internos) dificilmente são sequer consultados em relação à Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 12-19, jul./ago./set. 2003 17 Elisabeth Sekulic - Socorro Veras - Silvia Maria Nóbrega-Therrien sua satisfação com a empresa. Poucas empresas se preocupam em implantar uma política de valorização da rede de credenciados ou mesmo em manter um processo de busca ativa de reclamações e sugestões dos clientes. As empresas normalmente se limitam a dar resposta às queixas que lhes são apresentadas diretamente. Será que todos os usuários insatisfeitos reclamam à empresa? Será que todos os usuários que não fazem reclamações à empresa estão satisfeitos? Muitos autores discutem a importância de uma abordagem multidimensional, incluindo todos os vários atores do processo na avaliação, entre eles Serapioni (1999:81) e Junqueira & Auge (1995:60) e ainda as diferentes perspectivas de avaliação. Partindo-se deste referencial, os métodos de trabalho nesta área devem ser adaptados de maneira que possa ocorrer, além dos sistemas tradicionais de auditoria, um processo de avaliação e controle difuso e voluntário partindo dos prestadores de serviço, usuários, e funcionários da administradora de planos. Este tipo alternativo de controle só poderá ser efetivo se houver espaço e estímulo para que ele se desenvolva no sistema. Pode-se concluir que esta nova abordagem de auditoria e controle pode representar uma alternativa viável aos tradicionais métodos de controle centrados apenas na identificação de erros e fraudes, sem uma preocupação maior com o levantamento das causas primárias da ineficiência do sistema ou da insatisfação dos usuários. Para que se alcance o máximo retorno com estas atividades é preciso que o trabalho seja estrategicamente planejado visando melhorias para o sistema como um todo. Isto pressupõe responsabilidade e participação de cada um dos envolvidos, ou seja, da operadora, dos prestadores, dos usuários e até mesmo do Estado, que deve agir como uma espécie de “controle externo” do sistema, garantindo que os contratos sejam cumpridos e que padrões mínimos de qualidade sejam observados na prestação de serviços de saúde. Notas Denominação genérica dos Programas de Orientação e Defesa do Consumidor e que integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, podendo ter caráter estadual ou municipal. 2 Trata-se de um acordo, ainda informal, referido em Boletim Informativo do CRO, no mês de agosto de 2002. 1 Referências Bibliográficas 1. BORDIN, R. ET. AL. PRÁTICAS DE GESTÃO EM SAÚDE: EM BUSCA DA QUALIDADE. PORTO ALEGRE: ED. DACASA/UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS, PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PDG SAÚDE, 1996. 2. BRASIL. LEIS, DECRETOS e RESOLUÇÕES, foram colhidas em publicações citadas no Diário Oficial da União, ou em publicações específicas do Conselho Federal de Odontologia. 3. DONABEDIAN, A. Garantía y monitoría de la calidad de la atención médica: un texto introductório. Morelos: Instituto Nacional de Salud Pública, 1992. 4. DONABEDIAN, A. The seven pillars of quality. Arch Pathol Lab Med: 114: 11151118, 1990. 5. EDITORIAL. AN UNHEALTH SILENCE. The Economist. p. 38-42, mar. , 1997. 6. FAIRFIELD, G. et al. Manage care: origins, principles, and evolution. BMJ. n.314, p. 23-26. 1997. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 12-19, jul./ago./set. 2003 18 Elisabeth Sekulic - Socorro Veras - Silvia Maria Nóbrega-Therrien 7. FETHEAZAN, S. Investimentos em saúde: uma perspectiva internacional. Conjuntura Econômica, out., 1993. 8. GIOVANELLA, L. ;RIBEIRO, J. M.; COSTA, N. R. Defesa dos consumidores e regulação dos planos de saúde. In: Regulação e Saúde: estrutura, evolução e perspectivas da assistência médica suplementar. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar, 2002 9. JUNQUEIRA, L. A. P.; AUGE, A. P. F. Qualidade dos serviços de saúde usuário. Cadernos FUNDAP, p. 60-76, 1995 10. JUNQUEIRA, L. A. P.; AUGE, A. P. F. Qualidade dos serviços de saúde usuário. Cadernos FUNDAP, p. 60-76, 1995 11. MCGREEVY, P. W. The high costs of health care in Brazil. Health Economics, p. 5171 , 1988. 12. MÉDICE, A. C. Economia e financiamento do setor saúde no Brasil: balanços e perspectivas do processo de descentralização. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública/USP, 1994. 216p. 13. MENDES, E. V. Uma agenda para a saúde. 2.ed. São Paulo: Hubitec, 1999. 14. OLIVEIRA, F. J. A. A contribuição da antropologia nos estudos de satisfação e avaliação dos serviços de saúde no nível de atenção primária à saúde: vale a pena ouvir o que o paciente tem a dizer? Mom. e Perspec. Saúde. Porto Alegre, V. 11, n. 01, jan/jun, 1998. 15. PEREIRA, L. C. B. A reforma administrativa do sistema de saúde. Cadernos MARE da Reforma do Estado. Brasília: Ministério de Administração e Reforma do Estado, n. 13, 1998. 16. PEREIRA, L. C. B. A reforma administrativa do sistema de saúde. Cadernos MARE da Reforma do Estado. Brasília: Ministério de Administração e Reforma do Estado, n. 13, 1998. 17. SEKULIC, E. Planos de Saúde e credenciamentos. Curitiba: Monografia (Especialização) – Especialização em Administração em Saúde/Sistemas e Planos de Saúde, PUC/PR, 2001. 18. SERAPIONI, M. Avaliação da qualidade em saúde: a contribuição da sociologia da saúde para a superação da polarização entre a visão dos usuários e a perspectiva dos profissionais de saúde. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 23, n. 53, p. 81-92, set/dez. 1999. 19. TEIXEIRA, ª et. al. Nota sobre a regulação dos planos de saúde de empresas no Brasil. In: Regulação e Saúde: estrutura, evolução e perspectivas da assistência médica suplementar. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar., 2002. 20. VOURI, H. Education and the quality of health services. Health Policy and Education, n. 1, p. 67-69,1979. 21. WARSZAWIAK, M. Economia e custos em saúde. Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná/ISAD, 2000 22. ZANETTI, C. H. G. A crise da odontologia brasileira: as mudanças do Mercado de serviços e o esgotamento do modo de regulação Curativo de Massa. Brasília: Trabalho Acadêmico – Departamento de Odontologia, Universidade de Brasília, 1999. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 12-19, jul./ago./set. 2003 19 CULTURA ORGANIZACIONAL E ESTRATÉGIA COMPETITIVA: UM ESTUDO DE MULTICASOS NAS CONCESSIONÁRIAS DE AUTOMÓVEIS DE SANTA MARIA (RS) João Antônio Gomes Pereira* Rogério da Silva Nunes ** RESUMO O objetivo do estudo é verificar a relação entre cultura organizacional e estratégia competitiva na administração de concessionárias de automóveis de Santa Maria (RS). As concessionárias de automóveis inserem-se no grande contexto da indústria automobilística, que tem sido objeto de vários estudos a partir das montadoras de automóveis norte-americanas japonesas e européias, principalmente. Para a realização do estudo, utilizou-se a pesquisa qualitativa, optando-se pelo estudo de multicasos e pesquisa descritiva, nãoexperimental. A população da presente pesquisa foi formada por proprietários, gerentes e funcionários de cada organização. A pesquisa demonstrou que as concessionárias usam as mesmas táticas, que no entendimento dos entrevistados, são estratégias. Verificou-se a existência predominante de uma cultura com discurso ideológico acentuado. Quanto às estratégias competitivas verificou-se a não existência de uma tendência explícita no tocante a evidências de uma estratégia competitiva entre as concessionárias estudadas. Palavras-chave: cultura organizacional, competitiva, concessionária de automóveis ABSTRACT estratégia employees of each organization. The results which were obtained show that the three concessionary stores use the same tactics, which, in the judgement of the interviewees, are strategies. It may be found out a pronounced ideological discourse, with few objective actions which drive to actual results. What competitive strategies, it may there aren’t explicit tendency abaout evidencies of a competitive strategies betwen the concessionary stores that it were studied. Keys word: organizational culture, competitive strategies, Car concessionary * Mestre em Administração pelo CPGA/UFSC e Professor da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões, URIntiago,e da Universidade Regional da Campanha, URCAMP Cam pus de São Borja. E–mail: [email protected]; The general aim of this research is to verify the relationship between organizational culture and competitive strategy in the management of car ** Professor do curso de concessionary stores in Santa Maria(RS). Car Mestrado em Administração concessionary stores are inserted in the large context of da FECAP e da UNINOVE. the automobile industry, which has been object of [email protected] several studies as from the North-American and European automobile factories, mainly. The research method was predominantly qualitative through the study of multicases. It was accorded that the research was descriptive and non-experimental. The population of the present research is formed by holders, managers and Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes INTRODUÇÃO As mudanças fazem parte do mundo das pessoas e organizações. Neste ambiente, as organizações são chamadas a transformações e adaptações, a fim de sobreviverem no ambiente. Sendo assim, manter-se passivo e só mudar quando os problemas ocorrem é contribuir para o insucesso nos negócios, através de decisões precipitadas e equivocadas. O dia-a-dia dos dirigentes das organizações é marcado pela tomada de decisões, que podem gerar conseqüências diversas conforme o contexto de cada organização. Tais decisões deveriam partir de uma visão ampla do ambiente, considerando as características sociais, culturais e políticas deste. Em meio a um ambiente em que a concorrência aumenta e se qualifica a cada dia, torna-se imprescindível a necessidade de desenvolver empreendimentos com estratégias competitivas adaptadas às necessidades do mercado. As concessionárias de automóveis inserem-se no grande contexto da indústria automobilística. Ela tem sido objeto de vários estudos, a partir das montadoras de automóveis norte-americanas, japonesas e européias, principalmente. O presente trabalho visa buscar informações sobre uma realidade ainda pouco conhecida, uma vez que as fábricas de automóveis são provenientes de outros países com culturas e estratégias diferenciadas. Assim, há a preocupação em analisar nas empresas da metade sul do Estado do Rio Grande do Sul, em especial nas concessionárias de automóveis de Santa Maria, a cultura organizacional que orienta as estratégias explícitas e/ou implícitas nas concessionárias de automóveis em sua busca por competitividade. A contribuição esperada é a de possibilitar estabelecer novos rumos no caminho do crescimento das organizações estudadas, bem como demonstrar o papel significativo da cultura nas estratégias empresariais. 2 CULTURA ORGANIZACIONAL E ESTRATÉGIA COMPETITIVA NAS ORGANIZAÇÕES O trabalho está fundamentado na literatura de administração existente sobre as relações entre cultura organizacional e estratégia competitiva numa gestão sistêmica. A fundamentação teórica aborda, inicialmente, os principais aspectos relativos a competitividade, estratégia competitiva e vantagem competitiva, fazendo uma análise a respeito de estratégia e competitividade. 2.1 Competitividade O termo competitividade é amplamente empregado nas organizações, requerendo uma análise sobre o mesmo. Cada autor enfatiza um determinado aspecto, mostrando conceito singular sobre competitividade. No Chambers English Dictionary apud Barbosa (1999), competitividade tem relação com/ou caracteriza-se por competição e associa o termo a rivalidade. Esta definição não caracteriza a abrangência da rivalidade, Barbosa (1999, p.23) conclui que “uma empresa é competitiva quando ela é capaz de oferecer produtos e serviços de qualidade maior, custos menores, e tornar os consumidores mais satisfeitos do que quando servidos por rivais”. A análise da competitividade implicitamente também supõe o conflito além da rivalidade. Machado-da-Silva e Fonseca (1999, p.29) dizem que competitividade é definida pela “habilidade da organização em fabricar produtos melhores do que seus concorrentes, de acordo com os limites impostos por sua capacitação tecnológica, gerencial, financeira e comercial”. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 21 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes Hamel e Prahalad (1995, p.26) expõem o que é preciso para chegar primeiro ao futuro, salientando "a compreensão de que a competição pelo futuro é uma competição diferente". Mencionam, ainda, que “a competição pelo futuro é uma competição pela criação e domínio das oportunidades emergentes – pela posse do novo espaço competitivo. Criar o futuro é um desafio maior do que acompanhá-lo, para o qual é preciso criar seu próprio mapa”. Muitas empresas ficam presas ao imediatismo e deixam de visualizar o futuro, perspectivas de negócios. Hamel e Prahalad (1995, p.36), afirmam que a competição pelo futuro é uma competição pela participação nas oportunidades, e não pela participação no mercado, é uma busca pela maior participação nas oportunidades futuras potencialmente disponíveis à empresa dentro de uma ampla arena de oportunidades, sejam sistemas de informações a domicílio, drogas fabricadas, pela engenharia genética, serviços financeiros, materiais, avançados ou quaisquer outras. Os estudos de Bucley, Pass e Prescott (1988, p.175) oferecem uma contribuição ao agrupar em três grandes categorias os elementos-chave em torno de competitividade ao propor os 3 Ps: performance (desempenho competitivo); potencial competitivo e processo gerencial. Para os autores, o desempenho competitivo descreve estágios diferentes no processo competitivo; o potencial delineia as entradas dentro da operação em termos de tecnologia, produtividade, acesso a recursos, vantagens comparativas e outros; e o processo gerencial diz respeito a itens como políticas governamentais, comprometimento com negócios internacionais e educação e treinamento. 2.2 Estratégia Competitiva A estratégia é um processo combinatório de diversas abordagens, de diferentes escolas do pensamento ou linhas do pensamento, conforme apresenta Mintzberg (2000, p.13): escola do Design, do Planejamento, do Posicionamento, a Empreendedora, a Cognitiva, a do Aprendizado, a do Poder, a Cultural , a do Ambiental e a de Configuração. É através da estratégia que a empresa irá se posicionar na tomada de decisões, quanto a corporação e a competitividade, ou seja, como fará o direcionamento da organização, a fim de agir diante das ameaças da concorrência. Segundo Porter (1986, p.22), passa primeiramente pela identificação das características estruturais básicas das indústrias que determinam o conjunto das forças competitivas e, portanto, a rentabilidade da indústria. O autor relata que são cinco as forças competitivas que dirigem a concorrência na indústria e determinam a lucratividade da organização: entrada, ameaça de substituição, poder de negociação dos compradores, poder de negociação dos fornecedores e rivalidade entre os atuais fornecedores. Estas então são as forças determinantes em uma concorrência industrial, desta forma verifica-se que a concorrência não está limitada aos participantes estabelecidos. O estudo destas forças competitivas facilita a elaboração de uma estratégia competitiva tanto ofensiva como defensiva dentro de um contexto industrial. As organizações, de acordo com Porter (1986, p.50), podem contar com três abordagens estratégicas genéricas para enfrentar as cinco forças competitivas e serem bem sucedidas. Segundo ele, as três estratégias genéricas são liderança no custo total, diferenciação e enfoque. No entendimento do autor, a liderança no custo exige a construção agressiva de instalações em escala eficiente, uma perseguição vigorosa de reduções de custo pela experiência, um controle rígido do custo e das despesas gerais, que não seja permitida a formação de contas marginais dos clientes, e a minimização do custo em áreas como pesquisa e desenvolvimento, assistência, força de vendas, publicidade, etc. Intensa atenção administrativa ao controle dos custos é necessária para atingir estas metas. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 22 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes Porter (1992, p. 23) apresenta como a empresa pode escolher e implementar uma estratégia genérica, a fim de obter e sustentar uma vantagem competitiva. De acordo com o autor, “o instrumento básico para diagnosticar a vantagem competitiva e encontrar maneiras de intensificá-la é a cadeia de valores”. O autor esclarece que “o valor é medido pela receita total, reflexo de preço que o produto de uma empresa impõe e as unidades que ela pode vender”. A empresa é rentável quando o valor que ela impõe ultrapassa os custos envolvidos na criação do produto. A meta da estratégia genérica é criar valor para os compradores que exceda o custo e o autor afirma que é o valor e não o custo que deve ser usado na análise da posição competitiva. Na sua proposta, a cadeia de valores exibe o valor total o qual consiste em margem e atividades de valor. As atividades da cadeia de valor de Porter (1992, p. 34) compreendem “atividades física e tecnologicamente distintas, através das quais uma empresa cria um produto valioso para os seus compradores”. As atividades são divididas em primárias (logística interna, operações, logística externa, marketing e vendas, serviços) e atividades de apoio (infraestrutura da empresa, recursos humanos, tecnologia, aquisição - função de compra de insumos). A margem a que se refere o autor consiste na diferença entre o valor total e o custo coletivo da execução das atividades de valor. 2.3 Cultura organizacional As organizações estão inseridas dentro de um ambiente e interagem com este ambiente recebendo influências e influenciando-o. As pessoas que atuam nas organizações são agentes que contribuem para esse intercâmbio constante. Os valores das pessoas por sua vez conduzem à formação da cultura da organização. Essa é a raiz das decisões estratégicas de uma organização. Hall (1982) cita que uma das condições do ambiente externo de importância vital e mais difícil de medir é a cultura e acrescenta: em seu impacto sobre as organizações, a cultura não é uma constante, nem mesmo num contexto isolado. Mintzberg et alii (2000) menciona que a cultura foi descoberta em administração nos anos 80, graças ao sucesso das corporações japonesas. No entendimento de Schein apud Fleury et al. (1996, p.20): “cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas”. Para Srour (1998, p.175), nas organizações, a cultura impregna todas as práticas e constitui um conjunto preciso de representações mentais, um complexo muito definido de saberes. Srour (1998), aborda que esses são reflexos de representações mentais, cujas manifestações, na concepção do autor: “assumem formas variadas: princípios, valores e códigos; conhecimentos, técnicas e expressões estéticas; tabus, crenças e pré-noções; estilos, juízos e normas morais; tradições, usos e costumes; convenções sociais, protocolos e regras de etiqueta; estereótipos, clichês e motes; preconceitos, dogmas e axiomas; imagens, mitos e lendas; dogmas, superstições e fetiches”. (p.168) Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 23 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes Srour (1998, p.173) identifica quatro campos de saber para análise da cultura nas organizações: Saber ideológico – evidências doutrinárias, não-demonstráveis, retóricas; Saber científico – evidências explicativas, demonstráveis, ‘know-why’; Saber artístico – expressões estéticas; Saber técnico – procedimentos, regras operatórias, ‘know-how’. Srour (1998) trata sobre cultura organizacional expressando que: “a cultura é aprendida, transmitida e partilhada. Não decorre de uma herança biológica ou genética, porém resulta de uma aprendizagem socialmente condicionada. A cultura organizacional exprime então a identidade da organização. É construída ao longo do tempo e serve de chave para distinguir diferentes coletividades”. (p.174) Para Daft (1999, p. 244), “a cultura de uma organização geralmente começa com um fundador ou um líder pioneiro que articula e implanta idéias e valores particulares como visão, uma filosofia ou uma estratégia comercial”. Além de expor como surge a cultura, Daft (1999), cita duas funções decisivas da cultura nas organizações: integração interna e adaptação externa. A cultura tem papel importante na organização e a questão que Shermerhorn Jr. et alii (1999, p.198) ajuda a resolver como descobrir a cultura. Eles mostram três níveis de análise da cultura das organizações: “cultura observável, valores compartilhados e suposições comuns”. Para Mintzberg et al. (2000, p.195), a força da cultura na gestão empresarial é clara. A cultura organizacional passa a ser a mente da organização, as crenças comuns que se refletem nas tradições e nos hábitos, bem como em manifestações mais tangíveis – histórias, símbolos, ou mesmo edifícios e produtos; em certo sentido, a cultura representa a força vital da organização, a alma de seu corpo físico. Para o autor, a força de uma cultura pode ser proporcional ao grau até o qual ela ilude a consciência. A cultura organizacional não existiria sem as pessoas. Neste sentido, ao abordar sobre cultura é válido mencionar como as pessoas estão estruturadas nas organizações. Segundo Mintzberg (1995, p.20), as cinco partes das organizações seriam: núcleo operacional, cúpula estratégica, linha intermediária, tecnoestrutura e assessoria de apoio. Os autores citados apresentaram o significado da cultura presente nas organizações. A proposta deste trabalho é justamente verificar a cultura organizacional e sua relação com estratégia nas concessionárias de automóveis de Santa Maria, uma vez que as empresas possuem uma cultura local forte e há a necessidade de conviver com orientações de culturas de outros países. Na seqüência, são feitas algumas considerações sobre o setor de serviços uma vez que as concessionárias participam do canal de distribuição, atuando, também como prestadoras de serviços em certo sentido. 3 METODOLOGIA O método predominante no presente trabalho teve o enfoque fenomenológicohermenêutico e o método sistêmico. Neste sentido foram analisados aspectos internos de cada concessionária estudando e comparando uma concessionária com outra. O presente trabalho investigou a relação entre cultura organizacional e estratégia competitiva na administração de concessionárias de automóveis na busca de competitividade no mercado. Desta forma, Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 24 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes formulou-se a seguinte questão de pesquisa: “Qual a relação entre cultura organizacional e estratégia competitiva na administração de concessionárias de automóveis de Santa Maria?” Especificamente, essa pergunta pode ser dividida em qautro questões de pesquisa conforme relacionado a seguir: a) Que saberes constituem a cultura organizacional que impregna as práticas das concessionárias de Santa Maria? b) Quais são as estratégias competitivas praticadas pelas concessionárias de automóveis de Santa Maria? c) Que vantagens competitivas são utilizadas pelas concessionárias de automóveis? d) Quais forças ou estratégias competitivas dirigem a concorrência entre as concessionárias de automóveis de Santa Maria? As concessionárias de automóveis de Santa Maria (RS) foram escolhidas observandose os seguintes critérios: marca, serviços oferecidos, nacionalidade, período de existência, número de funcionários. Foram alvo da pesquisa as concessionárias com, no mínimo, 10 anos de atuação no mercado, com registro junto à Fenabrave. O convite às concessionárias foi feito através de correspondência, endereçada às concessionárias Superauto, revendedora da marca Ford; Sul Veículos, revendedora da marca Fiat; Uglione S/A, revendedora GM, e Pampeiro, revendedora da marca Volkswagen. Cabe destacar que um aspecto que contribuiu para a escolha das concessionárias foi a importância das mesmas em função da produção de automóveis no Brasil. Dos convidados a participar do estudo responderam positivamente as concessionárias Superauto com 16 anos de atuação no mercado; Sul Veículos com 25 anos de atuação e Uglione com 62 anos de mercado. Foram atribuídos nomes fantasia às concessionárias participantes, a fim de preservar o sigilo das informações. Assim, as concessionárias citadas foram denominadas, para fins da presente pesquisa de Kapa, Sigma e Epsilon. Quanto à população, aplicou-se o questionário de pesquisa ao total de funcionários de cada organização. Na Sigma foram 86 pessoas entrevistadas, na Kapa 50 e na Epsilon 115 pessoas pesquisadas. A pesquisa foi predominantemente qualitativa pelo estudo de multicasos, sendo que alguns dados serão obtidos por métodos quantitativos. Entende-se que a pesquisa será descritiva e não-experimental. Para Triviños (1987, p.136) “sem necessidade de perseguir objetivos de natureza comparativa, o pesquisador pode ter a possibilidade de estudar dois ou mais sujeitos, organizações etc. e trata-se então de estudos de multicasos”. A pesquisa analisará a evolução das concessionárias, a formação de sua cultura e estratégias adotadas. Para que os objetivos sejam alcançados, segundo Lakatos (1992), serão utilizadas a observação direta intensiva e a observação direta extensiva. O questionário foi composto de dados de identificação, seguido de 39 questões fechadas e 3 questões abertas. Para responder às questões foi elaborada uma escala que vai de 1 até 5, onde 1 representa a afirmativa discordo totalmente, 2 representa discordo, 3 representa indiferente, 4 representa concordo e 5 representa concordo plenamente. O propósito era que os integrantes da concessionária manifestassem sua posição com relação à variável apresentada, a fim de que fosse possível mensurar a intensidade daquela variável na concessionária, entre todos os integrantes da concessionária. Posteriormente, realizou-se análise da relação entre cultura organizacional e estratégia competitiva. Os dados da pesquisa qualitativa, segundo Triviños (1987, p. 173) serão apoiados por três aspectos fundamentais: a) nos resultados alcançados no estudo; b) na fundamentação teórica e c) na experiência pessoal do investigador. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS NA CONCESSIONÁRIA SIGMA Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 25 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes A Sigma está localizada em Santa Maria, Estado do Rio Grande do Sul, atuando no mercado local e regional. É uma empresa considerada familiar. Segundo sua direção, embora possua 5 (cinco) áreas básicas: administrativo-financeiro, vendas de veículos novos, vendas de veículos usados, serviços de oficina e loja de autopeças, está organizada em células. Os produtos da empresa são: carros novos, carros usados, peças, serviços de oficina e funilaria. O processo decisório ocorre por meio de reuniões semanais entre direção e coordenadores das células. Uma outra área que existe na empresa, sediada no mesmo prédio é o consórcio. Cabe salientar que a empresa no momento da pesquisa não possuía um departamento de recursos humanos ou pessoa encarregada da função. A Sigma conta com um quadro de 86 funcionários. 4.1 Perfil do pessoal A Sigma possui 85,2% de pessoas no Núcleo Operacional, 11,5% na linha intermediária e apenas 3,3% na Cúpula Estratégica. Desta equipe, 67% possui até 5 anos de empresa, 15% possui de 11 a 15 anos de empresa e 13% de 6 a 10 anos de empresa. Quanto a faixa etária 51% possuem acima de 30 anos e 47% estão na faixa de 18 a 30 anos. Pode-se constatar que a Sigma possui uma equipe na maioria formada por adultos, com experiência de vida e alocada no núcleo operacional. Existem poucos diretores, gerentes, supervisores. 4.2 Estratégia competitiva O Quadro 1 mostra a seguir os principais aspectos relacionados à análise da estratégia competitiva. Quadro 1 - Estratégia Competitiva na Concessionária Sigma. ESTRATÉGIA COMPETITIVA NR 1 2 3 Metas gerais 02 00 10 03 Orientações transmitidas no trabalho 02 02 07 15 Orientações que circulam no trabalho 02 03 28 26 Objetivos transmitidos 05 03 16 11 Formação dos objetivos 05 02 10 13 Adequação dos objetivos à sociedade 03 02 10 13 Adequação dos objetivos aos interesses da sociedade - 00 10 16 Objetivos comparados com outras concessionárias - 00 13 20 Flexibilidade dos objetivos - 00 03 05 Compreensão dos objetivos pelos funcionários 02 02 30 16 Relacionamento entre linha intermediária e núcleo - 07 21 15 operacional Capacitação da linha intermediária - 00 16 07 Existência de objetivos 03 23 33 11 Integração microambiental - 08 31 23 Integração macro ambiental - 02 18 21 Informações da concorrência - 07 18 16 Ameaças e oportunidades - 03 08 13 Fortes e fracos da concorrência - 03 13 21 Expectativas anteriores - 02 15 41 4 57 66 34 54 57 56 67 46 69 38 43 5 28 10 07 10 13 16 07 21 23 13 15 54 25 28 44 46 66 49 39 23 05 10 15 13 10 13 03 Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 26 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes Escolhas estratégicas - 05 13 23 51 08 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Indiferente; 4, Concordo e 5, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). Pode-se verificar que não estão claras as estratégias implícitas ou explícitas e que ocorre o predomínio dos interesses individuais aos corporativos. E, ainda verifica-se que as decisões estratégicas são tomadas com base no que acontece no meio ambiente, possuindo informações sobre pontos fortes e fracos, limitações e capacidades da concorrência. Porém em muitos momentos há uma indiferença ao que acontece no ambiente ou se quer é considerado. Ao referir-se ao atendimento como principal estratégia competitiva da empresa, há evidências que a estratégia seja de enfoque. No entanto, o atendimento citado deixa de considerar um alvo determinado e políticas funcionais que levem isso em conta. Uma outra estratégia mais citada é bons produtos e serviços, o que evidencia a existência de uma estratégia de diferenciação. Desta forma, a Sigma possui mais de uma estratégia que, segundo Porter (1986, p.55) caracteriza uma situação estratégica extremamente pobre. 4.3 Vantagem competitiva As vantagens de uma empresa podem resultar de diversas atividades de valor para a mesma. A análise das vantagens competitivas foi feita com base nas atividades primárias (logística interna, operações, logística externa, marketing e vendas, serviços) e atividades de apoio (infra-estrutura, gerência de recursos humanos, desenvolvimento de tecnologia e aquisição). Constatou-se assim que, com relação às atividades primárias, a principal vantagem competitiva da empresa está nas operações de serviço ao consumidor: vendas, consórcio, e oficina. Após, destacam-se busca de qualidade superior de produtos e serviços e a logística. Das atividades de apoio para vantagem competitiva, destacam-se busca de custos competitivos e infra-estrutura, seguidos pela tecnologia. Portanto, pode-se observar no Quadro 2 que a vantagem competitiva genérica está relacionada a operações, infra-estrutura e custos competitivos. Quadro 2 - Vantagem Competitiva na Concessionária Sigma. 2 4 VANTAGEM COMPETITIVA NR 1 3 5 Logística interna 00 11 13 40 36 Valor das operações de serviços 00 02 02 47 49 Logística externa 00 15 07 51 28 Padrão de qualidade 02 00 03 07 51 38 Formação de preços 02 02 21 21 39 15 Valor agregado 02 15 23 42 18 Custos competitivos 00 08 10 56 26 Desenvolvimento tecnológico 02 13 10 44 31 Desenvolvimento das pessoas 02 16 25 08 34 15 Infra-estrutura 02 02 10 70 16 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Indiferente; 4, Concordo e 5, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). 4.4 Cultura organizacional Com relação à cultura organizacional o Quadro 3 mostra os principais aspectos mencionados pelos entrevistados da Concessionária Sigma. A análise da cultura organizacional é feita, em sua dimensão simbólica, com base em quatro campos de saber. São analisados os saberes: ideológico, científico, artístico e técnico. Verifica-se com relação à cultura organizacional que existe concordância com relação a missão da empresa, comunicação interna, integração e interação interna. O dia-a-dia dos Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 27 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes funcionários é marcado por reuniões e há uma preocupação em executar as tarefas da melhor maneira possível. A empresa investe em treinamento e qualificação de pessoal. Os entrevistados entendem que a empresa não possui liderança autoritária. Porém eles desconhecem os princípios, valores e códigos da empresa, bem como, dizem que faltam atividades de lazer e entretenimento, prêmios de incentivo e estímulo à criatividade. Percebese a tendência a estimular o saber ideológico, científico e técnico, e não contemplar o saber artístico. Quadro 3 - Cultura Organizacional na Concessionária Sigma. CULTURA ORGANIZACIONAL NR 1 2 3 4 5 Missão 02 08 28 10 38 14 Treinamento 03 08 31 13 31 13 Liderança 02 20 10 25 34 10 Responsabilidade pelos resultados 05 11 16 44 23 Comunicação interna 03 31 13 41 11 Lazer e entretenimento 02 05 00 31 48 15 Criatividade 02 38 11 08 26 15 Prêmios 02 23 08 28 30 10 “Know how” 03 15 08 23 38 13 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Indiferente; 4, Concordo e 5, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). Segundo os entrevistados, reuniões diversas foi citado como fato mais freqüente. Após, estão falta de peças, treinamento e falta de comunicação interna e em terceiro lugar a substituição de pessoas antigas e demissões. Quanto à contribuição pessoal para a empresa crescer no mercado: executar minha responsabilidade da melhor forma possível, vender e aperfeiçoamento pessoal foram citados como as três maiores contribuições. 4.5 Análise da relação entre cultura organizacional e estratégia competitiva Iniciar e manter uma empresa requer a compreensão perfeita de conhecimentos que capacitem o interessado a obter sucesso. Observa-se que as pessoas têm relativamente pouco tempo de empresa, a maioria até cinco anos. As estratégias para a empresa competir no mercado não são bem compreendidas pela equipe. As atividades na empresa são desenvolvidas de forma empírica embora, exista uma preocupação através de reuniões em qualificar as pessoas. Pode-se constatar que há falhas em áreas essenciais da empresa como motivação geral dos funcionários. A integração e interação que existem é em função dos laços profissionais e obrigações. Predominam superficialidade e interesses individuais aos interesses corporativos. As intenções e objetivos que existem são alcançados mediante um clima de constrangimento e ameaça. Há concentração na orientação para a venda em detrimento da real satisfação dos clientes internos e externos. Predomina a preocupação com assuntos internos, relacionados ao aproveitamento de oportunidades de crescimento e melhorias. Internamente, a empresa procura aperfeiçoar-se, porém deixa de construir um futuro de sucesso. 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS NA CONCESSIONÁRIA KAPA A Concessionária Kapa, localizada em Santa Maria (RS) atua no mercado há mais de 25 anos. O principal mercado da empresa é Santa Maria, tendo em vista que em cidades distantes 150 km já existem concessionárias concorrentes na mesma marca. Salienta-se que, as informações sobre esta concessionária foram obtidas através de entrevistas com os gerentes da empresa, através de encaminhamento do diretor geral. Este fato é relatado porque as Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 28 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes entrevistas com a direção da empresa limitaram–se a três, embora tenham respondido positivamente à realização do trabalho. É uma empresa considerada familiar, sendo que os principais cargos e decisões da empresa estão centralizados na própria família. A empresa possui três diretorias: administrativo, financeiro e compras e cinco gerências: administrativo, financeiro, vendas, oficina e peças que são organizados em departamentos. Os produtos e serviços da empresa são: carros novos, carros usados, peças, serviços de oficina e funilaria. O consórcio não é próprio. A Concessionária Kapa conta com um quadro de 50 funcionários. 5.1 Perfil do pessoal Na concessionária Kapa 80% está no núcleo operacional, 18% na linha intermediária e 2% na cúpula estratégica. O tempo de empresa das pessoas é de até 5 anos em 50% dos casos, 39% estão na empresa de 6 a 10 anos e 9% há mais de 10 anos. Nesta concessionária, em 50% dos casos estão pessoas com idade superior a 30 anos e 39% possuem menos de 30 anos. A maioria está no núcleo operacional e predominam pessoas com maior tempo de empresa. Isto é, quase a metade da empresa é constituída por pessoas com mais de 10 anos de vínculo funcional. Supõe-se que este perfil contribua para a concessionária ter uma cultura forte, que facilita a implementação de estratégias. 5.2 Estratégia competitiva No Quadro 4 estão os resultados obtidos com o questionário relativo à estratégia competitiva da Concessionária Kapa. Quadro 4 - Estratégia Competitiva na Concessionária Kapa. ESTRATÉGIA COMPETITIVA NR Metas gerais Orientações transmitidas no trabalho Orientações que circulam no trabalho Objetivos transmitidos Formação dos objetivos 02 Adequação dos objetivos à sociedade Adequação dos objetivos aos interesses da sociedade 02 Objetivos comparados com outras concessionárias Flexibilidade dos objetivos 02 Compreensão dos objetivos pelos funcionários Relacionamento entre linha intermediária e núcleo operacional Capacitação da linha intermediária Existência de objetivos 02 Integração microambiental 05 Integração macro ambiental 02 Informações da concorrência 02 Ameaças e oportunidades 02 Fortes e fracos da concorrência 02 Expectativas anteriores 02 Escolhas estratégicas 02 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). 1 2 02 45 07 18 09 32 07 18 05 16 07 32 05 25 07 34 07 16 09 34 11 23 07 32 20 52 11 39 09 14 02 14 00 14 05 09 09 11 02 14 Indiferente; 3 4 5 07 36 09 14 52 09 11 39 09 20 45 09 14 52 11 16 43 02 30 34 05 14 43 02 11 57 07 09 43 05 14 48 05 07 45 09 14 09 02 18 23 05 25 36 14 20 57 05 18 61 05 14 68 02 43 27 07 27 45 09 4, Concordo e 5, As metas não são mutuamente alcançáveis e nem as políticas operacionais básicas se reforçam mutuamente. Não obstante, as políticas operacionais básicas se dirigem às metas. Esta análise evidencia inconsistência interna, que também foi verificado na Sigma. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 29 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes Ao referir-se ao atendimento e promoções como principal estratégia competitiva da empresa, há evidências que a estratégia seja enfoque e diferenciação. Desta forma, a Concessionária Kapa possui mais de uma estratégia, que, segundo Porter (1986, p. 55), caracteriza uma empresa “em uma situação estratégica extremamente pobre”. No entanto, tal como a Concessionária Sigma, não está explícito o alvo determinado e nem políticas funcionais. 5.3 Vantagem competitiva O Quadro 5 mostra os principais aspectos relacionados à vantagem competitiva. Quadro 5 - Vantagem Competitiva na Concessionária Kapa. 2 4 VANTAGEM COMPETITIVA NR 1 3 5 Logística interna 02 00 14 09 52 23 Valor das operações de serviços 02 00 05 07 48 39 Logística externa 02 00 07 18 50 23 Padrão de qualidade 02 05 09 20 50 14 Formação de preços 02 05 07 16 57 14 Valor agregado 02 00 07 25 57 09 Custos competitivos 02 02 05 18 57 16 Desenvolvimento tecnológico 02 02 18 07 61 09 Desenvolvimento das pessoas 05 14 27 07 41 07 Infra-estrutura 02 07 14 07 57 14 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Indiferente; 4, Concordo e 5, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). As vantagens de uma empresa podem resultar de diversas atividades de valor para a mesma. A análise das vantagens competitivas da Concessionária Kapa foi feita com base nas atividades primárias (logística interna, operações, logística externa, marketing e vendas, serviços) e atividades de apoio (infra-estrutura, gerência de recursos humanos, desenvolvimento de tecnologia e aquisição).Verifica-se, com relação às atividades primárias, que as vantagens competitivas com porcentagens altamente significativas são as operações de serviços e as atividades de logística, seguidos da preocupação em possuir preços baixos e produtos de qualidade superior. Comparando estes resultados com a Concessionária Sigma, observa-se que a situação é semelhante com relação aos itens mencionados, ocorrendo uma diferença com relação ao valor agregado. Na Kapa, há a preocupação de 66%, em agregar valor, enquanto que na Sigma, é 60%. Portanto, com relação às atividades de apoio para vantagem competitiva, destacam-se a busca de custos competitivos e infra-estrutura, seguidos da tecnologia. A preocupação com o desenvolvimento de recursos humanos não é destaque. Esta situação é semelhante a da Sigma, em termos relativos. Isto significa que nas concessionárias citadas, por mais que os entrevistados citem o atendimento como principal estratégia, elas ainda estão com o olhar mais para dentro da empresa do que para o ambiente. 5.4 Cultura organizacional A análise da cultura organizacional é feita, em sua dimensão simbólica, com base em quatro campos de saber. São analisados: saber ideológico (missão, princípios, valores e códigos, liderança) saber científico (comunicação interna e treinamento) saber artístico (lazer, entretenimento, criatividade, prêmios) e saber técnico (fatos e acontecimentos que se repetem, contribuição pessoal). Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 30 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes No Quadro 6 a seguir apresentam-se os principais aspectos relacionados à análise da cultura organizacional na concessionária Kapa. No tocante à cultura organizacional, observa-se que há um estímulo aos saberes ideológicos quanto aos valores, princípios e códigos, mediante uma liderança autoritária. A empresa investe em treinamento. Os entrevistados concordam que há uma boa comunicação interna e integração, embora conflitos internos sejam apontados como um dos fatos que mais se repetem. Os saberes científicos e técnicos são estimulados, porém os saberes artísticos são esquecidos ou menos desenvolvidos. Quadro 6 - Cultura Organizacional na Concessionária Kapa. CULTURA ORGANIZACIONAL Missão Treinamento Liderança Responsabilidade pelos resultados Comunicação interna Lazer e entretenimento Criatividade Prêmios “Know how” NR 02 05 02 02 02 02 02 02 02 1 09 07 16 05 09 27 16 23 27 2 32 14 32 14 18 52 41 34 55 3 20 18 23 18 18 11 16 07 05 4 25 43 18 50 45 05 18 32 09 5 11 14 09 11 07 02 07 02 02 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Indiferente; 4, Concordo e 5, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). Na questão sobre os fatos e acontecimentos que se repetem na empresa periodicamente, conflitos interno e oscilação nas vendas foram citados como os mais freqüentes. Após, estão reuniões, falta de peças, pressão interna e externa e o retorno de veículo na oficina. Quanto à contribuição pessoal para a empresa crescer no mercado, o aperfeiçoamento no trabalho foi citado como a maior contribuição seguido da disponibilidade funcional e qualidade. Empatados em terceiro lugar entre as maiores contribuições estão o trabalho, atendimento, executar minha responsabilidade da melhor forma possível, seriedade e responsabilidade. 5.5 Análise da relação entre cultura organizacional e estratégia competitiva. Observa-se em uma análise geral, que a Concessionária Kapa apresenta evidências de uma empresa fechada e reservada, com uma liderança autoritária e pouco aberta à participação. A empresa não possui uma missão definida, havendo desconhecimento quanto aos rumos futuros da empresa e incertezas. Neste cenário, a empresa faz o necessário para manter-se no mercado mesmo desconhecendo-o e o ignorando em suas decisões. Um aspecto que deve ser salientado com relação a Concessionária Kapa refere-se ao know-how de sua equipe, que não é devidamente aproveitado, pois, segundo os funcionários, não há concursos de premiações dos melhores. E a predominância de uma liderança autoritária que inibe e desestimula a criatividade, deixando de haver o desenvolvimento das pessoas. Por sua vez as estratégias são pobres conforme a análise feita anteriormente com base em Porter (1986). Até aqui, os dados permitem crer que a declaração feita na Concessionária Sigma, que as concessionárias “estão falidas”, tem evidências de ser possível. Os resultados negativos são possíveis uma vez que as empresas tenham estratégias pobres e uma cultura organizacional pobre. Na seqüência apresenta-se a análise da pesquisa realizada na Concessionária Épsilon, seguido de uma comparação das três empresas. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 31 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes 6. ANÁLISE DOS RESULTADOS NA CONCESSIONÁRIA EPSILON A Concessionária Epsilon está localizada em Santa Maria (RS). É uma empresa considerada familiar, porém em suas gerências não há predomínio de familiares diretos. Está estruturada em diretoria administrativa e diretoria comercial. As gerências são de serviços, financeira, administrativo/contábil, vendas e peças com seus respectivos departamentos. Os produtos e serviços da empresa são: carros novos, carros usados, peças, serviços de oficina, funilaria e consórcio. A Concessionária Epsilon conta com um quadro de 115 funcionários. Na Epsilon, 81% dos funcionários está no núcleo operacional, 18% na linha intermediária e 1% na cúpula estratégica. O tempo de empresa de 78% das pessoas é de até 5 anos, 12% está na empresa de 6 a 10 anos, e apenas 6% está na empresa mais de 20 anos. A faixa etária dos funcionários é superior a 30 anos em 51% dos casos, 26% possui de 21 a 25 anos e 18% de 26 a 30 anos. 6.1 Perfil do pessoal A maioria está no núcleo operacional e existe um número maior de diretores e gerentes, supervisores em relação às outras concessionárias. A maioria dos funcionários possui até 5 anos de empresa, tendo a Concessionária Epsilon um número maior de funcionários novos dentro da empresa em relação às demais. Este fato facilita a concessionária ter uma cultura organizacional frágil e com dificuldades de implementação de suas estratégias, o que pode ser amenizado pela suposta maturidade dos mesmos em função da maioria dos funcionários tem idade superior a 30 anos. 6.2 Estratégia competitiva Na Concessionária Epsilon, as metas são mutuamente alcançáveis, as políticas operacionais básicas se reforçam mutuamente e as políticas operacionais básicas se dirigem às metas. Esta análise evidencia consistência interna na referida empresa, o que não foi verificado nas outras concessionárias em estudo. Salienta-se também que a consistência pode ser considerada elevada em relação às demais concessionárias. Ao referir-se às principais estratégias competitivas da concessionária, o atendimento ficou em primeiro lugar, satisfação do cliente em segundo lugar e no terceiro lugar foi citado fidelizar o cliente. Há evidências, como nas demais concessionárias, que a estratégia seja predominantemente de enfoque. Conseqüentemente, possui tendência à concentração em apenas uma estratégia, o que pode ser considerado que está em melhores condições quanto a estratégias competitivas que as demais concessionárias estudadas. No entanto, estas condições são limitadas pelo desconhecimento, por parte dos entrevistados, das metas da empresa, de um alvo determinado e políticas funcionais. No Quadro 7 estão as questões relativas às questões de estratégia competitiva 6.3 Vantagem competitiva As vantagens de uma empresa podem resultar de diversas atividades de valor para a mesma. A análise das vantagens competitivas, feita com base nas atividades primárias (logística interna, operações, logística externa, marketing e vendas, serviços) e atividades de apoio (infra-estrutura, gerência de recursos humanos, desenvolvimento de tecnologia e aquisição). Verifica-se com relação às atividades primárias que as vantagens competitivas que apresentam porcentagens significativas são relacionadas à logística interna, operações de Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 32 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes serviços e produtos e serviços de qualidade superior, seguidos de logística, valor agregado e preços. O Quadro 8 apresenta os principais resultados sobre a vantagem competitiva. Esta situação é diferente da que ocorre na Kapa e na Sigma, que possuem semelhanças quanto às vantagens competitivas. Portanto, com relação às atividades de apoio como vantagem competitiva, pode-se afirmar que a infra-estrutura e tecnologia destacam-se seguidos da preocupação com o custo e desenvolvimento de pessoal. O que chama a atenção é que a principal diferença desta concessionária para com a Kapa e Sigma está na preocupação de desenvolver seus recursos humanos. Quadro 7 - Estratégia Competitiva na Concessionária Epsilon. 2 4 ESTRATÉGIA COMPETITIVA NR 1 3 5 Metas gerais 01 01 03 45 50 Orientações transmitidas no trabalho - 01 01 03 64 31 Orientações que circulam no trabalho 03 01 12 22 36 26 Objetivos transmitidos - 01 05 05 55 32 Formação dos objetivos - 00 04 08 66 22 Adequação dos objetivos à sociedade - 00 00 07 61 32 Adequação dos objetivos aos interesses da sociedade 04 00 03 07 59 27 Objetivos comparados com outras concessionárias - 01 01 03 50 45 Flexibilidade dos objetivos - 00 00 03 50 47 Compreensão dos objetivos pelos funcionários - 01 01 07 51 40 Relacionamento entre linha intermediária e núcleo - 00 04 09 61 26 operacional Capacitação da linha intermediária 03 00 04 12 58 23 Existência de objetivos - 07 28 31 31 03 Integração microambiental - 04 08 24 54 09 Integração macro ambiental - 05 03 12 61 19 Informações da concorrência 01 00 08 18 57 16 Ameaças e oportunidades 01 00 05 12 66 15 Fortes e fracos da concorrência 03 00 04 09 58 26 Expectativas anteriores 03 01 08 30 42 16 Escolhas estratégicas 04 00 04 24 57 11 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Indiferente; 4, Concordo e 5, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). Quadro 8 - Vantagem Competitiva na Concessionária Epsilon. 2 4 VANTAGEM COMPETITIVA NR 1 3 5 Logística interna 01 00 00 03 47 49 Valor das operações de serviços 01 00 00 04 35 59 Logística externa 03 00 05 05 45 42 Padrão de qualidade 01 01 01 04 42 50 Formação de preços 01 01 07 28 51 11 Valor agregado 04 00 01 18 54 23 Custos competitivos 01 01 00 06 57 35 Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 33 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes Desenvolvimento tecnológico 01 00 04 01 47 47 Desenvolvimento das pessoas 01 00 08 16 53 22 Infra-estrutura 03 00 01 05 55 35 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Indiferente; 4, Concordo e 5, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). 6.4 Cultura organizacional No Quadro 9 estão os principais aspectos relacionados pelos entrevistados da Concessionária Epsilon sobre cultura organizacional. Quadro 9 - Cultura Organizacional Concessionária Epsilon. 2 4 CULTURA ORGANIZACIONAL NR 1 3 5 Missão 01 01 03 01 45 49 Treinamento 01 01 04 05 55 34 Liderança 03 30 28 14 20 05 Responsabilidade pelos resultados 01 01 08 03 53 34 Comunicação interna 01 03 07 09 59 20 Lazer e entretenimento 01 07 15 16 41 20 Criatividade 01 01 14 20 49 15 Prêmios 01 11 23 26 28 11 “Know how” 01 27 38 05 23 05 LEGENDA: NR, Não Resposta; 1, Discordo Totalmente; 2, Discordo; 3, Indiferente; 4, Concordo e 5, Concordo Plenamente. VALORES: Os valores das respostas são relativos (%). Pode-se observar que são estimulados todos os saberes em maior ou menor grau, diferenciando-se assim das demais concessionárias estudadas. Um ponto comum às três concessionárias estudadas é com relação a prêmios, pois nenhuma delas realiza periodicamente concursos internos entre os empregados, com entrega de prêmios aos melhores. Na questão sobre os fatos e acontecimentos que se repetem na empresa periodicamente, reuniões foi citado como o mais freqüente, seguido de confraternização de natal e empatado no terceiro lugar está elogios na parte de serviço e atendimento, reclamação da cobertura e integração. Quanto à contribuição pessoal para a empresa crescer no mercado, o trabalho foi citado como a maior contribuição, seguido do atendimento e, em terceiro lugar, está a busca de satisfação do cliente. 6.5 Análise da relação entre cultura organizacional e estratégia competitiva A Concessionária Epsilon diferencia-se das demais por registrar as porcentagens de concordância mais elevados nas categorias analisadas. A equipe está altamente integrada e qualificada para implementar as estratégias da empresa, centrada basicamente no atendimento, segundo os funcionários. As vantagens competitivas são marcadas pela infraestrutura e tecnologia, o que significa dizer que há preocupação da empresa com o ambiente interno. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 34 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes Algumas peculiaridades merecem destaque, como, por exemplo, o fato de que a maioria conhece a missão da empresa, porém desconhece seus objetivos, conforme os funcionários responderam. Outro aspecto, a noção de que a concessionária está se renovando, sem discriminar as pessoas com mais experiência. Em comparação com as demais concessionárias estudadas, há evidências de que a Kapa está num extremo, fechada e reservada, orientada para o produto e venda e a Epsilon no outro, aberta e orientada para o mercado. Entre elas, a Sigma. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS É crescente a quantidade de autores que consideram a cultura como variável interveniente nas estratégias competitivas das organizações. O trabalho procura discutir junto às concessionárias de automóveis de Santa Maria (RS) algumas das dimensões desta relação. Para Mintzberg e Quinn (2001), a estratégia empresarial é um processo organizacional inseparável da estrutura, do comportamento e da cultura da companhia na qual é realizada. Outros autores destacam a existência de relação entre estratégia e cultura nas organizações, bem como, a estrutura e o comportamento, o que foi possível constatar também na realização desta pesquisa. É possível afirmar que das três estratégias genéricas de Porter (1986), as três concessionárias estudadas adotam estratégias pobres. Com relação às estratégias genéricas, verificou-se que não existe uma tendência explícita, segundo os dados coletados, que evidencie estratégia competitiva entre as concessionárias citadas. Apesar da Concessionária Epsilon demonstrar que tem apenas uma estratégia, isto não está muito claro, porque, estas condições são limitadas ao desconhecimento por parte dos entrevistados quanto às metas da empresa. Seguindo o modelo proposto por Srour (1998), as concessionárias também possuem um saber científico, mediante conhecimentos sobre a realidade natural, social e psicológica. Estes conhecimentos são adquiridos pelos indivíduos mediante treinamentos nos quais são explicadas razões de fazer isso ou aquilo na empresa, procedimentos corretos. Isto ocorre, a fim de que programas de qualidade total em andamento nas concessionárias por necessidade dos fabricantes possam ser operacionalizados evocando, assim, o saber técnico. O saber técnico refere-se a “saber fazer as coisas” e aplica conhecimentos científicos para realizar suas atividades. Foi constatado que em todas as concessionárias os funcionários participam de algum tipo de treinamento e não trabalham exclusivamente com o conhecimento empírico. Este fato é mais evidente nos departamentos de oficina mecânica, pois os mecânicos muitas vezes com primeiro grau incompleto e um deles semi-analfabeto, mesmo assim fez questão de responder a entrevista. Finalmente, um quarto campo de estudo está relacionado ao saber artístico englobando não somente as belas artes, mas também outras manifestações culturais de caráter lúdico como lazeres, esportes e entretenimento. Neste sentido apenas uma das concessionárias estimula lazer, entretenimento e criatividade. As atividades de lazer e entretenimento contribuem para a integração interna e qualidade do relacionamento entre os indivíduos. Portanto, a relação entre cultura organizacional e estratégia competitiva torna-se cada vez mais evidente com o presente estudo. Porém as concessionárias de automóveis como muitas outras organizações realizam administração de custos, atividades de produção, desenvolvimento de serviços, programas de qualidade, programas de incremento de vendas, entre outras práticas, com a finalidade de ganhos imediatos, os quais nem sempre ocorrem. Este fato torna-se evidente quando um dos diretores de concessionárias declara que “todas estão falidas”. As práticas citadas estão dissociadas de um planejamento estratégico com estratégias competitivas definidas e que possibilitem um entendimento adequado pelas Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 35 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes pessoas que participam de sua implementação. Isto de forma a demonstrar uma valorização efetiva das pessoas, a fim de ser construída uma cultura organizacional forte e consistente. São as pessoas que vão implementar as estratégias e, sem o comprometimento delas, às organizações deixam de existir e ter sentido. As concessionárias de automóveis de Santa Maria estão mergulhadas em si mesmas e querem ser líderes de mercado e as melhores. O detalhe é que são iguais em muitos aspectos conforme apresentado neste trabalho. O discurso ideológico é um, enquanto que as ações e procedimentos são outros. E, nesta competição, é importante que as concessionárias venham a inovar e construir um futuro melhor e adequado à nova realidade de mercado, aberto e global. Hamel e Prahalad (1999) mencionam que criar o futuro é um desafio maior do que acompanhá-lo, para o qual é preciso criar seu próprio mapa. Entendendo competitividade como a habilidade da organização em superar os limites impostos pela concorrência, segundo Machado-da-Silva e Fonseca (1999), pode-se dizer que as concessionárias de automóveis de Santa Maria(RS) têm um grande desafio pela frente, superar a si mesmas, para superar a concorrência. Isto é, modernizar-se e, para concorrer deixando de fazer a mesma coisa, desenvolvendo suas capacidades e talentos em suas diferentes áreas tecnológica, gerencial, financeira e comercial. Espera-se que este trabalho venha somar no sentido de mostrar a importância que a cultura organizacional e estratégias competitivas possuem no sucesso ou fracasso das organizações. 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BARBOSA, Francisco Vidal. Competitividade: conceitos gerais. In: RODRIGUES, Suzana Braga et alii. Competitividade, alianças estratégicas e gerência internacional. São Paulo, Atlas, 1999. Cap. 1 p.21-40; 2. BUCKLEI, P. J., PASS, C.L., e PRESCOTT, K. Measures of international competitiveness: A critical survey. Jornoul of Marketing Management, v.4, nº2, p.175200, 1988; 3. DAFT, Richard L Teoria e projeto das organizações. 6.ed., Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1999; 4. FLEURY, Maria Tereza Leme et al. Cultura e poder nas organizações. São Paulo: Atlas,1996; 5. HALL, Richard H. Organizações: estrutura e processos. Rio de Janeiro: Prentice-Hall Do Brasil, 1982; 6. HAMEL, G. e PRAHALAD, G. K. Competindo pelo futuro: estratégias para obter o Controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Rio de Janeiro, Campus, 1995; 7. LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia de Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1992. 8. MINTZBERG, Henry. Criando organizações eficazes: estruturas em cinco configurações. São Paulo: Atlas, 1995. 9. _____ et al. Safári de Estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000; 10. MINTZBERG, Henry; e QUINN, James Brian O processo da Estratégia 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001; 11. PORTER, Michael E. Estratégia competitiva. Rio de Janeira: Ed. Campus, 1986. 12. PORTER, Michael E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1992. 13. SCHERMERHORN, Jr. Jonh R et alii. Fundamentos de comportamento organizacional. Porto Alegre: Bookman, 1999; Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 36 João Antônio Gomes Pereira - Rogério da Silva Nunes 14. MACHADO-DA-SILVA, Clovis L.; e FONSECA, Valéria Silva da. Competitividade Organizacional: conciliando padrões concorrênciais e padrões institucionais. In: VIEIRA, Marcelo Milano Falcão et alii. Administração contemporânea: perspectiva estratégicas. São Paulo, Atlas, 1999. Cap.1, p.27-39; 15. SROUR, Robert H. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998; 16. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 20-37, jul./ago./set. 2003 37 O IMPACTO DA PARCERIA ESTRATÉGICA COM DISTRIBUIDORES: UM ESTUDO DE CASO Nilza A Santos Siqueira* Prof. Dr. Mauro Neves Garcia** RESUMO A reformulação do conceito de logística propiciou uma nova visão a respeito dos canais de marketing ou distribuição, que passaram a ser visto como variável estratégica para as empresas. A escolha do canal de distribuição resulta da tomada de uma decisão estratégica, que é influenciada tanto pelo tipo de produto a ser distribuído como pelo publico alvo a ser atingido. O presente trabalho está voltado ao estudo dos canais de marketing como estratégia competitiva sustentável para a indústria alimentícia brasileira. Destacando-se os resultados obtidos através da mudança de canal de distribuição, com substituição da força de venda própria por distribuidores. A pesquisa foi de natureza exploratória, com revisão bibliográfica sobre canais de distribuição, vantagem competitiva e com base em um estudo de caso em uma empresa do ramo alimentício. Os dados conclusivos sobre o estudo de caso foram coletados em relatórios internos da organização e em entrevistas discursivas realizadas com funcionários que trabalharam na empresa pesquisada no período que ocorreram as alterações em seus canais de distribuição. * Mestre em Administração de Empresas pela FECAP. Rua Ângela Natale, 105 – Jd. Guaçã – São Paulo.E-mail: [email protected] ** Doutor em Administração pela EAESP /FGV Docente do Mês trado em Administração da FECAP [email protected] Verificou-se que no caso da empresa pesquisada a substituição da sua força de vendas própria por distribuidores resultou em aumento da distribuição numérica, com maior cobertura do mercado, aumento considerável do volume de vendas e geração de lucros na venda dos produtos, além de fortalecimento da marca e valorização da empresa. Palavras chaves: Canais de distribuição; estratégia; vantagem competitiva; intermediários. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia A Substituição da força de venda própria por distribuidores INTRODUÇÃO O conceito de logística que anteriormente era tido apenas como um conjunto de técnicas responsáveis pelo fluxo de materiais, diante de mercados cada vez mais globalizados e dinâmicos, de clientes mais exigentes e na busca da satisfação destes clientes, passou a ser considerado como fonte de vantagem competitiva para as empresas, através do conceito de logística integrada, que representa a integração interna de todas as atividades (FIGUEIREDO; ARKADER, 2000). No Brasil, em especial, durante a década de 90, ocorreram várias mudanças, tanto em relação a práticas empresariais, quanto da eficiência, qualidade e disponibilidade da infraestrutura de transportes e comunicações, que são elementos básicos para a existência de uma logística moderna. Fatores como a estabilização econômica e as privatizações da infraestrutura foram os que mais impulsionaram este processo (FLEURY, 2000). A reformulação do conceito de logística propiciou uma nova visão a respeito dos canais de marketing ou distribuição, que passaram a ser visto como variável estratégica para as empresas. O canal de distribuição, além de suprir produtos e serviços no lugar, na quantidade, com a qualidade e preços desejados, também passou a assumir o papel de agente estimulador de demanda (SILVA e ALCÂNTARA, 2001). Considerados os responsáveis por todo escoamento de produto e serviços que os consumidores adquirem em todas as partes, os canais de marketing são definidos como um conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de disponibilizar um produto ou serviços para uso ou consumo. Ao se refletir sobre a importância dos canais de marketing, pode-se associa-los ao um dos problemas encontrados pelas empresas, que é a tarefa de fazer com que o produto chegue ao consumidor final, a dificuldade do fabricante para distribuir seus produtos no varejo, tendo como agravante a extensão do país e as diferenças regionais e culturais encontradas. Por outro lado, fatores como custo de transporte e de uma estrutura de venda própria, cobertura de mercado, especialização do trabalho, fortalecimento da marca, entre outros, também podem dificultar o processo de distribuição. Além de que empresas que conseguem ampliar sua participação no pequeno varejo, através dos canais de distribuição utilizados, podem de certa forma, compensar a forte concentração das grandes redes de supermercados. A abertura de mercado ocorrida no início dos anos 90, também propiciou aumento da concorrência em vários setores industriais. Além disso, o avanço tecnológico, especialmente da tecnologia da informação, a variedade de produtos e a necessidade cada vez maior em se prestar melhores serviços aos consumidores, são fatores que levam a questões concernentes a escolha dos canais de distribuição, visto que esta escolha pode afetar outras decisões estratégicas das empresas. A escolha do canal de distribuição para colocação do produto no mercado de varejo resulta da tomada de uma decisão estratégica, considerando-se que o tipo de produto a ser distribuído bem como o publico alvo a ser atingido tem influência na estratégia adotada. O uso de intermediários pode aumentar a eficiência da distribuição do produto, tornando os bens amplamente disponíveis e acessíveis ao mercado, muitas vezes com custos menores. Paralelamente é interessante ressaltar que a parceria poderá proporcionar melhores resultados ao fabricante tanto em relação aos seus custos de distribuição do produto como em uma cobertura mais ampla do mercado varejista. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 39 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia No caso de venda de produtos alimentícios o canal, geralmente utilizado, é composto por lojas de varejo grandes ou pequenas, que também podem ser atendidas através de distribuidores e atacadistas ou diretamente pelo fabricante. Dentro deste contexto, objetiva-se neste artigo, destacar os resultados obtido através da mudança de canal de marketing com substituição da força de venda própria por distribuidores e da formação de alianças estratégicas firmadas entre a indústria de alimentos e seus intermediários, para a colocação do produto no mercado de varejo. Canais de Distribuição Os canais de distribuição, também chamados canais de marketing são as redes de distribuição através das quais o produto flui para o mercado de consumo. Pode-se dizer que os intermediários existentes entre fabricantes e consumidores finais realizam diversas funções, constituindo estes canais (KOTLER, 2000). Estes canais são formas de desenhar, desenvolver e manter relacionamentos entre os participantes do canal, objetivando vantagem competitiva tanto individual como coletiva, através do planejamento, organização e controle das alianças entre os diversos membros participantes do canal (STERN et. allii., 2002). Um sistema de distribuição é um recurso externo muito importante, construído em longo prazo e que não pode ser facilmente modificado. Estabelece um compromisso corporativo significativo com várias empresas independentes cujo negócio é a distribuição, e também com os mercados específicos que elas atendem, representando também um conjunto de relações de longo prazo (COREY, 1991 apud KOTLER, 2000: 510). Os canais de distribuição preenchem as lacunas de tempo, local e posse, as quais separam as mercadorias e os serviços daqueles que precisam ou desejam essas mercadorias ou serviços e, invariavelmente, usam recursos escassos. Geralmente, as funções do canal são melhor desempenhadas por meio de especialização, e podem ser trocadas entre os membros do canal. O fabricante ao transferir funções por ele desempenhadas para intermediários poderá reduzir o custo do produto, entretanto, esta diminuição do custo só causará impacto no preço do produto ao consumidor final se o intermediário conseguir realizar as mesmas funções, com custo menor e de forma mais eficiente (KOTLER, 2000). O desenho da estrutura do canal de distribuição é resultado de um plano conjunto entre empresas que desejam participar do sistema de canal e, refere-se à organização e ao interrelacionamento das partes do sistema de distribuição (RANGAN et. allii., 1992), resultando também da negociação e da experiência acumulada em negócios passados (BOWERSOX e COOPER , 1992). Para que os canais de distribuição possam disponibilizar os produtos e serviços ao consumidor final, diversas funções precisam ser desempenhadas pelos participantes destes canais. As premissas básicas relacionadas a estas funções são que os participantes do canal podem ser substituídos ou eliminados do mesmo, entretanto, as funções desempenhadas por eles não podem ser eliminadas e devem ser repassadas para frente ou para trás no sistema de canal definido pelo fabricante e, assumidas por outros participantes (STERN et. allii., 1996). Sistemas de distribuição As funções e ações desempenhadas entre os fabricantes e seus intermediários compõem o sistema de distribuição. A determinação de sucesso ou não desse sistema está relacionada ao nível de integração e cooperação das partes envolvidas na distribuição do produto (DIAS, 1993). No sistema vertical de marketing, fabricantes, atacadistas e varejistas atuam como um sistema unificado, onde um dos membros do canal pode ser considerado como dono ou franqueador dos outros membros. Este modelo de canal surgiu como resultado da tentativa dos membros do canal em controlar o comportamento do canal e eliminar o conflito que ocorre quando cada um dos membros busca objetivo próprio (KOTLER, 2000). Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 40 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Neste tipo de sistema, o intermediário tem a função de um parceiro comercial que deve, junto com a empresa fabricante, buscar a satisfação do cliente. O fabricante monitora o trabalho do intermediário distribuidor, principalmente em relação aos aspectos-chave, tais como: planejamento de vendas, administração de estoques, treinamento da equipe de vendas, planos de propaganda e promoção ALMEIDA (1999). Apesar de apresentar vantagens e desvantagens, a integração vertical pode ser utilizada pela empresa como fonte de vantagem competitiva sustentável. Um desses benefícios pode ser a vantagem de custos que, segundo PORTER (1991), é uma das formas de obtenção de vantagem competitiva pela empresa. As empresas buscam o benefício de maior cobertura de mercado, redução de custos do canal e venda mais personalizada através da utilização do sistema de multicanal que consiste na utilização, por parte de uma única empresa, de dois ou mais canais de marketing para atingir um ou mais segmentos de mercado (KOTLER, 2000). O esquema de múltiplos canais ocorre quando o fabricante opta por desenvolver canais mais longos ou mais curtos, dependendo do cliente, sendo que este esquema pode proporcionar aos fabricantes maior cobertura geográfica, do que com a utilização de um único canal (SEMENIK e BAMOSSY, 1996). Entretanto, os benefícios gerados pela utilização do sistema de multicanal podem trazer problemas de conflito, controle e concorrência, pois os canais utilizados pela empresa podem concorrer entre si na busca dos mesmos clientes. A empresa pode utilizar diferentes canais de venda para clientes de portes diferenciados, utilizando venda direta para grandes clientes, os de médio porte poderiam ser atendidos por um sistema de telemarketing, enquanto que os pequenos poderiam ser atendidos por distribuidores, o que possibilitaria a empresa atender um maior número de clientes com custo adequado a cada um. Gerenciamento do Canal de Distribuição O gerenciamento do canal de distribuição pode ser definido como um conjunto de atividades destinadas a assegurar a cooperação dos membros do canal com vistas a atingir os objetivos de distribuição da empresa. Após a escolha do canal de distribuição e a seleção dos membros participantes, a cooperação dos membros do canal, pode ser obtida através da motivação. Como forma de apoio aos membros do canal estão os arranjos cooperativos onde os fabricantes e os outros participantes do canal desenvolvem atividades como propaganda cooperativa, concessões promocionais ou programas de incentivo. Outra forma de motivar os membros seria a realização de parcerias e alianças estratégicas que se baseiam em compromissos firmados entre fabricante e membros do canal, na busca de ajuda mútua para criar um esforço de equipe bem organizado para a distribuição dos produtos (ROSENBLOOM, 2002). Em termos de acordo fornecedor-distribuidor, KOTLER (2000) indica como mais avançado o programa de distribuição, que pode ser definido como a formação de um sistema de marketing vertical, planejado e gerenciado que busca consenso entre as necessidades do fabricante e do distribuidor. O fabricante adota uma estrutura interna com departamento, cuja função é identificar as necessidades dos distribuidores, de forma a ajudá-los a operar de forma mais eficiente, mostrando aos distribuidores que sua renda é resultante do processo de vendas e não do seu processo de compras. Os Intermediários O processo da escolha de canal deve ser formulado como uma parte integrante da estratégia competitiva geral da empresa. Inicia-se o processo pelo consumidor final, analisando-se suas necessidades e preferências, além das vantagens oferecidas a ele pela concorrência, buscando-se a melhor estrutura de distribuição para atender o consumidor satisfatoriamente, dando um enfoque diferenciado ao problema da distribuição (NOVAES, 2001). Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 41 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Independente do custo de distribuição, o fabricante deve enxergar o intermediário tanto como um cliente quanto como um parceiro, procurando compreender suas necessidades, objetivos e operação. Deve também oferecer apoio que desperte o entusiasmo e a fidelidade do intermediário, pois, enquanto os ganhos por parte dos mesmos forem relativamente bons, assim como o relacionamento entre ambos, os intermediários continuarão a vender e a promover os produtos do fabricante (KOTLER, 1999). Os intermediários podem ser considerados como empresas independentes que dão suporte aos produtores e fabricantes no desempenho de tarefas de distribuição do produto, participando da execução das funções de negociação, propriedade do produto e outras tarefas de distribuição, operando basicamente no atacado e no varejo (ROSENBLOOM, 2002). São chamados intermediários por estarem posicionados entre o produtor e o consumidor final (STERN et. allii., 1996). Os intermediários disponíveis, sua vontade de representar determinados fabricantes e os custos relativos ao uso desses intermediários podem estabelecer os canais de distribuição. Entretanto, a política de distribuição adotada pelo fabricante, a fixação de preços, o esforço promocional, entre outros, são fatores que também podem influenciar na decisão de se utilizar intermediários (CUNDIFF et. allii., 1977). A presença de intermediários para colocação do produto no mercado pode ser justificada pelo papel que os mesmos desempenham junto aos fabricantes e, a eficiência que proporcionam ao processo de distribuição. Os intermediários podem desempenhar as tarefas do canal de forma mais eficiente em função da sua especialização e economia de escala, e da redução de transações associadas à venda do produto (SEMENIK & BAMOSSY, 1996). Entretanto, o fabricante é quem decide se o intermediário desempenha as funções do canal com maior eficiência (KOTLER, 1999). KOTLER (2000) identifica como vantagem à utilização de intermediários o emprego de recursos financeiros de terceiros para comercialização de produtos próprios, a comercialização do produto com outros produtos de outros fabricantes e a disponibilização dos recursos do fabricante para investimento em seu negócio principal. Independente do grau de facilidade ou dificuldade que os fabricantes encontrem para recrutar intermediários, eles devem, no mínimo, determinar as características dos melhores intermediários, avaliando o modo como trabalham, os produtos que vendem, a situação financeira e a reputação dos mesmos no mercado. Tais características devem ser avaliadas pois, quando o fabricante utiliza intermediários para a venda de seus produtos, são eles que estarão em contato com o consumidor final e que levarão a imagem do produto do fabricante a estes consumidores (KOTLER, 2000). Os intermediários, geralmente, atingem maior eficiência quando disponibilizam mercadorias em larga escala, tornando-as acessíveis aos mercados-alvo. Eles facilitam o fluxo de mercadorias e serviços, diminuem a distância entre a variedade de mercadorias e serviços oferecida pelo fabricante e a variedade necessária para atender à demanda do consumidor que deseja uma quantidade limitada de uma grande variedade de mercadorias, enquanto que os fabricantes, normalmente, produzem uma grande quantidade de uma variedade limitada de mercadorias (STERN et. allii., 1996). O trabalho do distribuidor, geralmente, é monitorado pelo fabricante, principalmente em aspectos-chave como: planejamento de vendas, administração de estoques, treinamento de vendedores e planos de propaganda e promoção, sendo que, neste caso, os intermediários podem ser vistos como parceiros comerciais (ALMEIDA,1999). Os intermediários podem ser considerados como atacadistas especializados, também chamados de atacadista mercante ou distribuidor, com base no grau de serviços que oferecem, e divididos em atacadistas que oferecem serviços completos e os que oferecem serviços limitados. Os atacadistas que oferecem serviços completos são considerados como atacadistas Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 42 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia distribuidores, que podem ser generalistas e são os que carregam grande variedade dos produtos requeridos por seus consumidores (BERMAN, 1996). Os atacadistas de serviço integral executam todas as funções de venda por atacado e mais algumas funções que seriam de responsabilidade do varejista. Visitam o cliente regularmente, sendo que nesta visita o vendedor também executa funções como controle de estoque, disposição adequada dos produtos e verificação dos preços marcados (BOWERSOX e CLOSS, 2001). Os atacadistas de funções limitadas, embora assumam a posse dos produtos, não realizam todas as tarefas de distribuição discutidas no quadro 1, como por exemplo os atacadistas que não têm equipe de vendas própria, atacadista de auto-atendimento como é o caso do Makro no Brasil (ROSENBLOOM, 2002). Quadro 1 - Tarefas de distribuição executadas para os fabricantes: Tarefa Motivos para a utilização de Benefícios da utilização de intermediários intermediários Cobertura de Clientes espalhados por Propicia maior cobertura do mercado grandes áreas geográficas mercado a um custo razoável Contato de vendas Custo de vendas externo Realizam os contatos com grande elevado. número de clientes. Custos e riscos da manutenção Estocam produtos dos fabricantes Manutenção de de estoques que representam, facilitando o estoque planejamento da produção e disponibilizando os produtos em pontos geográficos estratégicos. Processamento de Clientes que compram Processam pedidos com maior pedidos pequenas quantidades. eficiência, além de diluírem seus custos de processamento com produtos de outros fabricantes. Distância dos clientes. Estão mais próximos aos clientes e Informação de podem estabelecer contatos mais mercado freqüentes e aprenderem sobre as exigências dos clientes em relação a produtos e serviços. Suporte ao cliente Custos elevados para serviços Realizam troca de produtos, reparos de pós-venda aos clientes. ou assistência técnica. Fonte: elaborado pela autora com base em ROSENBLOOM (2002). Os intermediários de atacado prestam serviços aos fabricantes, mas também realizam serviços aos varejistas. No quadro 2, são destacadas as funções executadas pelo atacado para os clientes. Quadro 2 - Tarefas de distribuição executadas para os clientes Tarefa Descrição Disponibilidade dos Produtos Capacidade de pronta entrega devido à proximidade com os clientes e do conhecimento das necessidades dos mesmos. Serviço ao Cliente Prestam serviços de entrega, reparos ou revisões ligadas à garantia do produto. Crédito e Assistência Financeira Oferecem crédito e prazo de pagamento, reduzem os gastos com estoque que os clientes teriam, graças à sua logística de suprimentos. Conveniência de Sortimento Reúnem produtos de variados fabricantes, facilitando Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 43 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia a atividade de compras dos clientes. Compram grandes quantidades dos fabricantes e fracionam em lotes menores, permitindo ao cliente a compra da quantidade que necessita. Aviso e Suporte Técnico Informa qual a melhor forma de vender e /ou utilizar os produtos. Oferecem vários tipos de ajuda tais como: publicidade, arranjo de loja, etc. Fonte: elaborado pela autora com base em ROSENBLOOM (2002). Fragmentação de Volumes Já DIAS (1993), que considera o atacadista como o “comprador” dos varejistas, cujos objetivos estão voltados à identificação antecipada das necessidades dos varejistas, facilitando as tarefas de seleção e compra dos mesmos. Em relação ao atacado distribuidor, coloca que existem também os distribuidores que operam com linha de produtos reduzida, de forma mais especializada, porém, não os considera muito significativos individualmente. Por outro lado, os atacadistas “distribuidores”, considerados especializados ou exclusivos, além de operarem com linha reduzida de produtos, não trabalham com produtos concorrentes e têm exclusividade de marca em sua área de atuação. Segundo BRITO (1999), oferecem como vantagem a oferta de todos os itens do fabricante a preços competitivos; serviços de promoção e reposição dos produtos; entrega rápida e garantia de qualidade e troca. Um distribuidor pode oferecer uma infra-estrutura adequada para distribuição do produto, conhece o mercado e pode realizar as vendas com maior rapidez (BROWN e HERRING, 1995). No caso brasileiro, o canal de atacado está se ajustando para se transformar em parte estratégica da distribuição da indústria, sendo que os distribuidores especializados se apresentam como alternativa (TONIN, 1999). A caracterização do intermediário chamado de distribuidor é pouco citada na literatura pesquisada, observando-se que em outros países, o intermediário de atacado executa serviços tanto para o fabricante como para o varejista, de modo muito mais abrangente, aproximandose mais do que chamamos de distribuidor no Brasil. Entretanto, no caso brasileiro, as diferenças entre os dois tipos é considerável, principalmente em aspectos relativos à prestação de serviços. Em conversas com especialistas da área de distribuição, procurou-se traçar um perfil do intermediário chamado distribuidor, enfocando-se as principais características do mesmo e as diferenças básicas entre o distribuidor e o atacado tradicional (balcão, auto-atendimento e entrega). Em relação às principais características, pode-se destacar que o distribuidor tem equipe de vendas própria, atende clientes com freqüência determinada, faz entregas com frota própria ou de terceiros, trabalha com um número limitado de empresas por equipe de vendas, ou seja, pode dividir a equipe de vendas por segmento caso os números de fornecedores seja elevado, não trabalha com produtos concorrentes, tem exclusividade na área de atuação e oferece uma gama significativa de serviços aos seus clientes e fornecedores. As principais diferenças consideradas entre o distribuidor e o atacadista tradicional, seja o de balcão, auto-atendimento ou até mesmos os que realizam entregas, são destacados no quadro 3, elaborado com base em depoimentos de especialistas da área. Quadro 3 - Principais diferenças entre distribuidor e atacadistas. Distribuidor Atacadista Presta serviços de venda e pós-venda; Não presta serviços pós-venda; Não trabalha com produtos concorrentes; Não tem fidelidade; Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 44 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Respeita política de preços do fabricante; Não segue a política de preços do fabricante; Troca produtos vencidos; Não troca produtos; Vende toda linha de produtos do fabricante; Vende somente produtos já consagrados no mercado; Atua como parceiro. Busca vantagens pessoais. Fonte: Elaborado pela autora No caso do distribuidor, a questão da prestação de serviços é mais equilibrada, pois os distribuidores prestam serviços de venda e pós-venda. Vendem o produto, entregam, fazem serviços de reposição e promoção, acompanham a data de validade dos produtos no ponto de venda e realizam trocas dos produtos quando necessário. Com relação à marca do fabricante buscam ajudar no seu fortalecimento, já que vendem novos lançamentos de produtos, não trabalham com produtos concorrentes e respeitam a política de marketing e de preços do fabricante. O atacado por sua vez não presta serviços, só vende produtos consagrados e busca vantagens pessoais. BARRIZZELLI (1999) reforça esta posição, destacando que o atacado não presta serviços ao varejista ligados a troca de mercadorias e divulgação de lançamentos. Na verdade, a maior preocupação do atacado é mostrar que vende pelo menor preço, já que cresceu e se desenvolveu especulando estoques e concorrendo diretamente com a indústria, não se posicionando como uma variável estratégica. Entretanto, não se pode afirmar que o atacado tradicional, de certa forma, também não atue como um parceiro da indústria, pois, segundo dados de pesquisa da FIA/USP e AC Nielsen, o atacado no Brasil sempre desempenhou importante função como intermediário no canal de distribuição, principalmente pelo volume que movimenta e por aspectos relativos a cobertura de mercado. Por outro lado, acredita-se que, em função da abertura de mercado e com o avanço da tecnologia, o canal do atacado deva se ajustar às novas tendências, onde a prestação de serviços será o foco principal. Segundo BARRIZZELLI (1999), o caminho seria um atacado com outro formato, outra visão e uma outra cultura, onde o intermediário se posicione como uma variável estratégica da indústria. Vantagem Competitiva a alianças estratégicas O crescente acirramento do nível de concorrência nas últimas décadas, aliado ao avanço tecnológico, especialmente da tecnologia da informação, além da maior variedade de produtos em função da globalização de mercados, tem levado as empresas a buscarem estratégias que possam levar a vantagem competitiva (FLEURY et. allii., 1995). As decisões referentes à escolha dos canais de marketing para empresa que abrangem o relacionamento entre fabricantes, intermediários e consumidores finais, passaram a ser consideradas como decisões estratégicas. A vantagem competitiva de uma empresa tem origem nas várias atividades desenvolvidas pela empresa no projeto, na produção, no marketing, na entrega e no suporte de seus produtos e cada uma dessas atividades, além de contribuir para a posição dos custos relativos, pode também criar base para diferenciação. Uma empresa consegue obter vantagem competitiva à medida que executa atividades estrategicamente importantes, com redução de custo ou de forma mais eficiente que seus concorrentes. A análise sistemática de todas as atividades executadas por uma empresa e a forma como interagem, pode evidenciar as fontes de vantagem competitiva (PORTER, 1991). Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 45 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Segundo ROSENBLOOM (2002), os canais de marketing eram tratados há alguns anos atrás como sendo irrelevantes à estratégia da empresa, quando comparado ao produto, preço e promoção, os quais foram mais valorizadas pelas empresas por um longo período de tempo. Entretanto, NARUS e ANDERSON (1996) afirmam que, nos últimos anos as empresas mostraram maior interesse pela estratégia de canais de marketing, reconhecendo neles novas oportunidades para a busca de relacionamentos mais cooperativos. Para que se possa obter vantagem competitiva através da integração, as empresas devem romper os limites de propriedade e de estrutura organizacionais tradicionais para coordenarem totalmente a cadeia de suprimentos, à medida que o estoque se movimenta pelo processo de agregação de valor. A viabilização desta integração ocorre pela combinação de vínculos de informação e do compartilhamento de recursos humanos (BOWERSOX e CLOSS, 2001). A integração entre fornecedores de materiais e prestadores de serviços assume caráter importante para que as empresas possam alcançar vantagens plenas (BOWERSOX e CLOSS, 2001), pois, segundo CHRISTOPHER (1997), quando o relacionamento entre fornecedores e clientes for do tipo adversário e não cooperativo, certamente a empresa não conseguirá obter vantagem competitiva. Dentro de uma aliança estratégica as empresas cooperam entre si, em função das suas necessidades mútuas e, na busca de objetivos comuns, compartilham riscos. As alianças estratégicas podem propiciar às empresas a expansão da capacidade da empresa de criar produtos, incorporar novas tecnologias, adiantar-se aos concorrentes, alcançar escala necessária à sua sobrevivência em mercados mundiais, produzindo mais recursos para investir em suas competências básicas (LEWIS, 1992). A confiança entre empresas parceiras é composta por dois princípios distintos: o primeiro que se refere à capacidade do parceiro em executar determinada tarefa de modo eficiente e eficaz e, o segundo diz respeito à transparência de intenções entre as organizações, considerando-se a velocidade em que ocorrem as mudanças no ambiente externo (GANESAN, 1994). A alianças com terceiros que podem aumentar as receitas, reduzir custos, dividir riscos ou liberarem recursos internos para atividades mais críticas, devem ser consideradas nos planos das empresas (LEWIS, 1992). Dentro de uma visão tradicional, as parcerias entre fornecedores e distribuidores podem ser baseadas na relação preço, volume e desconto. Entretanto, as parcerias tidas como mais evoluídas estão voltadas ao nível de serviços que podem ser oferecidos, sendo que questões relativas a preço e prazo passaram a ser secundárias, incorporando-se à prestação de serviços (SILVA e ALCANTÂRA, 2001). Segundo LEWIS (1999: 84), “os distribuidores adicionam valor aos produtos de uma empresa e são uma fonte de informações oportunas sobre o mercado”, sendo que a formação de parcerias entre fabricantes e distribuidores pode trazer resultados favoráveis a ambos. As parceiras logísticas, que durante algum tempo eram desconhecidas, passaram a ser vistas como forma de diminuição de custos operacionais de distribuição e de estocagem (BOWERSOX, 1998). Para POIRIER e REITER (1997), as redes de fornecimento podem agregar valores extras à cadeia de abastecimento. Em um caso analisado por estes autores, uma associação de fabricantes, que transferia parte significativa de seus produtos através de distribuidores até o consumidor final, verificou-se que, neste caso, esta prática funcionava bem devido à grande parte dos fabricantes, nessa rede, serem de pequeno porte, além de produzirem produtos especializados, que seriam melhor manipulados através de distribuidores, os quais podiam juntar outros artigos, de outros fabricantes, para distribuição. A busca de parceria entre os elementos da rede da cadeia de abastecimento pode ser considerada como parte da solução na busca coletiva de economia e eficiência que possa Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 46 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia beneficiar todos os participantes da cadeia, sendo que o sucesso pode ser mensurado pelos aperfeiçoamentos desenvolvidos e pelas economias compartilhadas através desses relacionamentos (POIRIER e REITER, 1997). O bom desempenho em um relacionamento de aliança estratégica, baseia-se em confiança, segurança, responsabilidade e habilidades pessoais, e vai resultar da habilidade e vontade de cada membro participante em desempenhar seu papel e de buscar metas benéficas para todos (FITES, 1996), sendo que os canais de distribuição passaram a representar uma oportunidade não explorada para a busca de relacionamentos mais cooperativos (NARUS e ANDERSON, 1996). Segundo STERN et. allii. (2002) uma aliança estratégica se inicia quando o fabricante percebe que pode obter lucros com as muitas vantagens que um distribuidor pode oferecer, entre elas a de se atingir melhor cobertura a um custo mais baixo. Os fabricantes tendem a estabelecer uma aliança para motivar os distribuidores a representá-los melhor, nos mercados que já atuam ou em novos mercados e também no lançamento de novos produtos. Na busca de diferencial competitivo, os fabricantes podem se associar a empresas que se encarregam de distribuir o produto no mercado de varejo, contemplando com isso aspectos relativos à especialização e economia de escala, além de melhor integração ao longo da cadeia de suprimentos. METODOLOGIA O método escolhido para desenvolvimento da pesquisa, neste trabalho, é o método do estudo de caso que, segundo YIN (2001), representa um modo de se investigar um tópico empírico, através de um conjunto de procedimentos pré-especificados. A escolha pelo método do estudo baseia-se, também, no interesse na análise da unidadecaso escolhida, onde os resultados obtidos através da mudança de canais mostraram-se significativos para um melhor entendimento do tema proposto, além de se observar que outros estudos similares foram realizados através do estudo de caso. O estudo de caso desenvolvido neste artigo foi o de caso único e a unidade-caso escolhida é uma indústria alimentícia, sediada no Estado de São Paulo, cujo nome, por questões éticas, não foi revelado no decorrer deste trabalho, já que não se obteve permissão da empresa pesquisada para divulgação do seu nome. Assim, foi tratada no decorrer do estudo com o nome fictício de empresa “A”. O canal de distribuição utilizado pela empresa “A” para distribuição de seus produtos no mercado de varejo, era o canal de venda direta ao varejista, com filiais nas cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belém, Bauru e Recife, e através de intermediários do tipo atacadista. Entretanto, a empresa buscava novas formas de penetração no mercado interno, sendo que sua estrutura para atendimento do varejo nacional estava tornando-se inviável, dado baixo volume negociado. A estratégia utilizada pela empresa na mudança de canal de distribuição, com a substituição da força de venda própria pelo distribuidor, e a obtenção de vantagens competitivas sustentáveis pela empresa, através da alteração de seus canais e da formação de alianças estratégicas com seus distribuidores, foram os aspectos analisados no decorrer desta pesquisa. Para análise do caso foram coletados dados para interpretação. Na coleta dos dados primários foi utilizada a técnica da entrevista pessoal não estruturada, realizadas com funcionários responsáveis pela tomada de decisão no âmbito da mudança dos canais, e por outros responsáveis pelo desenvolvimento da operação na empresa. Como fonte de dados secundários, foi realizado o levantamento de documentos da empresa. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 47 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Após a coleta dos dados mencionados, numa segunda fase da pesquisa, foram realizadas entrevistas com pessoas selecionadas, procurando aprofundar os aspectos encontrados nas etapas anteriores. Os dados coletados através de relatórios e as contribuições levantadas nas entrevistas foram interpretados e avaliados de forma qualitativa, reunindo opiniões e listando fatores que propiciaram um melhor entendimento sobre canais de distribuição e as vantagens que foram obtidas através dos mesmos. A utilização desta metodologia possibilitou o estudo de como esta empresa conseguiu obter resultados favoráveis com a utilização de intermediários. Apresentação dos Resultados Com base nos dados coletados e em depoimentos colhidos com funcionários que faziam parte da empresa pesquisada no período analisado (1991 a 1997) apurou-se que a estrutura do canal de distribuição da empresa “A” era o de venda direta ao varejista e também para as lojas de atacado, através de seu escritório central (Matriz) na cidade de São Paulo e de 06 filiais que foram abertas no período entre 1976 a 1988 nas cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belém, Bauru e Recife. As filiais da empresa “A” eram administradas por um gerente, que contava com uma equipe de vendedores, promotores que realizavam as funções de reposição e arrumação das mercadorias nas gôndolas das lojas e frota própria para o transporte. Embora todas as filiais tivessem um gerente responsável por sua administração, o gerenciamento de todas as filiais da empresa era realizado por funcionários da matriz em São Paulo. Com base nas entrevistas e dados coletados, verificou-se que muitos eram os problemas enfrentados pela empresa “A”, para distribuição dos seus produto no mercado de varejo brasileiro. O departamento de venda a varejo era totalmente deficitário, desde a fundação da empresa no país. Ainda que a empresa “A” fosse conhecida, seus produtos não eram conhecidos no mercado, eram considerados produtos típicos de consumo da colônia japonesa no país, com venda restrita para poucas regiões. Buscando uma maior aceitação de seus produtos, a empresa adaptou seu produto principal – o produto 1 –, lançando o “produto 4” em 1985 e o “produto 5” em 1987, apostando em uma regionalização do mesmo, mais adequado ao gosto brasileiro. Cabe dizer que o “produto 5” era novo no mercado brasileiro, sem similar. Mesmo com o lançamento de novos produtos mais regionais, os mesmos permaneciam desconhecidos, a estrutura de vendas reduzida, a verba de propaganda muito aquém da necessária, o atacado não tinha o menor interesse nos produtos da empresa e vendia quantidades muito pequenas – e apenas do “produto 1” – e em algumas regiões do país. A cada tentativa de se melhorar a distribuição do produto, novas filiais eram abertas em regiões diferentes, porém sem resultados positivos. Ao final da década de 90, baseado no modelo distribuição de uma outra empresa do grupo, a empresa “A” resolveu utilizar, além das filiais e do atacado, alguns distribuidores para vender seu produtos no varejo. Contudo, a política de distribuição adotada para negociação junto a estes distribuidores se mostrou ineficaz. O chamado desconto de canal, que consistia no valor de desconto no preço de venda para o distribuidor, era considerado baixo para cobrir os custos que os distribuidores teriam para vender os produtos da empresa. Por outro lado, a verba de propaganda era pequena em função dos baixos volumes vendidos e dos prejuízos que a empresa tinha com a venda no mercado interno. Desta forma, sem uma política bem definida, um desconto de canal considerado baixo e sem propaganda do produto na mídia, a tentativa inicial com distribuidores também não foi satisfatória. Em 1991, o departamento comercial passou a ser gerenciado por outro funcionário, que suspendeu as ações de propaganda nos pontos de venda, durante um período de seis meses. Com a verba economizada, foi realizado um contrato com a rede de televisão SBT (Sistema Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 48 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Brasileiro de Televisão), para que a propaganda do produto fosse veiculada em nível nacional. Porém, a propaganda era nacional, mas a distribuição do produto continuava regional, sendo necessária alguma medida para solucionar tal impasse. Então, a empresa “A” baseada no modelo de distribuição adotado por outra empresa do grupo, conforme já mencionado, e levada por fatores como: baixo volume de vendas, necessidade de melhorar a distribuição numérica (aumentar o número de pontos de venda atendidos), desenvolver mercado para os produtos da empresa e gerar lucros, resolveu nomear distribuidores para realizar tarefas de distribuição dos seus produtos em várias regiões do país. Assim, a idéia da contratação de intermediários que fariam o papel de parceiros comerciais, ganhou fôlego. Um funcionário foi designado a percorrer vários estados brasileiros, na busca de distribuidores para desempenharem esse papel. Todavia, sem uma política de distribuição bem definida, com um percentual de desconto de canal relativamente baixo, em determinadas regiões, os distribuidores classificados como ideais à empresa, não tiveram interesse em distribuir os produtos da empresa. Nessas regiões foram nomeados outros distribuidores, não tão conceituados, porém os resultados foram insatisfatórios. Casos como, por exemplo, Rio de Janeiro e Porto Alegre fracassaram. No Rio de Janeiro foi necessário à volta da equipe de vendas própria para atender o mercado, que só passou a atuar com distribuidores no ano de 95 e em Porto Alegre contrataram outro distribuidor. Para melhorar o processo de distribuição através de distribuidores, a empresa passou a estabelecer uma política de distribuição mais bem definida, oferecendo um desconto de canal maior e apoio promocional com propaganda do produto na televisão. Também adotou como medida, a unificação da tabela de preços em todo território nacional, cujas diferenças no preço do produto se davam apenas em função das diferentes alíquotas de ICMS (imposto de circulação de mercadorias) nas diferentes regiões do país. Resumindo, o sistema de distribuição adotado pela empresa, estabelece uma política de preços bastante uniforme, concede um percentual de desconto no preço de venda do produto para os distribuidores, considerado atraente pelos mesmos. Realiza também, várias ações de propaganda cooperativa fortalecendo a idéia de parceiro comercial. O conceito de intermediário, no caso do distribuidor difere do que se pode chamar de intermediário atacadista. Enquanto o distribuidor atua como parceiro do fabricante, o atacadista muitas vezes se torna concorrente da indústria. Dessa forma, a empresa “A” foi nomeando distribuidores e repassando para os mesmos, funções dos canais de distribuição tais como: negociação, posse, financiamento, logística, promoção informações de mercado e pós-venda. Com esta política e com a veiculação da propaganda em várias regiões do país, alguns intermediários que a princípio não quiseram distribuir o produto, passaram a procurar a empresa para tornarem-se distribuidores. A mudança dos canais de distribuição foi acontecendo gradativamente, passando da venda direta ao varejista, para a venda a um distribuidor que se encarregaria de fazer a distribuição do produto no varejo e no atacado e assim, as filiais foram sendo fechadas. Em 1996 a empresa “A” já tinha praticamente, nomeado distribuidores em todas as regiões do país, restando apenas a as cidades do grande ABCD composta pelas cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, regiões estas que foram passadas para distribuidor em 1997, e a capital paulista que passou para distribuidores em 2002. Diante das mudanças realizadas na empresa, o canal de distribuição adotado passou a ser o de venda através de distribuidores, com exceção da venda realizada para grandes lojas de varejo como, por exemplo, Carrefour, Pão de Açúcar, entre outras, cujas compras são centralizadas. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 49 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Com este sistema de canal, a empresa pesquisada adotou o sistema de múltiplos canais e realiza suas vendas através de distribuidores e da venda direta. Sua distribuição passou a ser intensiva, com maior cobertura de mercado, e maior exposição do produto. Os distribuidores vendem para o atacado e para o varejo, e em algumas situações, vendem para grandes lojas de varejo cujo setor de compras não é centralizado, ou em grandes lojas de varejo que atuam em uma única região como, por exemplo, a rede de varejo Coop (Cooperativa de Consumo) que possui aproximadamente 20 lojas na região do grande ABCD e, é atendida por distribuidor. Verifica-se através dos dados coletados, que o distribuidor atua como parceiro da indústria, realiza serviços de reposição e troca de mercadoria, entrega, acompanha validade do produto, tem fidelidade ao fabricante, trabalha para que lançamentos do fabricante sejam colocados no mercado e respeita política de marketing da empresa fabricante. O gerenciamento deste sistema de canal passou a ser realizado por uma equipe de supervisores da empresa “A”, que criou um departamento específico para acompanhar o trabalho dos distribuidores. Na criação deste departamento a empresa aproveitou funcionários das filiais e da equipe de vendas direta da matriz em São Paulo. Com esta forma de gerenciamento, a empresa continuou a ter, de modo ainda mais preciso, dados sobre o mercado, em outras palavras, passou a venda de seus produtos para intermediários e continuou a ter as informações necessárias para não perder o controle do mercado. Pôde-se observar através das entrevistas, que o custo para manutenção desta equipe é relativamente baixo, principalmente, pelo volume de produto que a empresa passou a negociar e considerando-se que a empresa apenas remanejou funcionários para funções diferentes. Por outro lado, a mudança de canal também propiciou a empresa “A” vantagem competitiva, já que o distribuidor pode ser visto como uma extensão da empresa e possibilita a chegada do produto nos pontos de venda antes da concorrência, além de ser mais eficiente para realização das tarefas de distribuição do produto no varejo. O distribuidor estabelece uma parceria com a indústria, atuando como uma extensão da mesma, estabelecendo uma aliança estratégica entre ambos na busca de objetivos comuns. Com a mudança de canal, a empresa obteve resultados positivos, como aumento significativo do volume de vendas conforme figura 1, melhorou significativamente sua distribuição numérica, fortaleceu sua marca e passou a gerar lucros no atendimento do mercado interno. Figura 12 – Evolução de vendas. V E N D AS E M T O N E L AD AS 1 8 .0 0 0 ,0 0 1 6 .0 0 0 ,0 0 1 4 .0 0 0 ,0 0 1 2 .0 0 0 ,0 0 1 0 .0 0 0 ,0 0 8 .0 0 0 ,0 0 6 .0 0 0 ,0 0 4 .0 0 0 ,0 0 2 .0 0 0 ,0 0 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 50 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Fonte: elaborado pela autora com base em relatórios da empresa “A”. Verifica-se através da figura 1, que o volume de vendas da empresa no período analisado cresceu significativamente. Constatou-se, com base nos dados coletados e nas entrevistas realizadas, que três foram os fatores que levaram empresa a atingir tal volume de vendas: o lançamento de um produto mais regional, uma campanha publicitária adequada e uma melhor distribuição do produto. O distribuidor foi considerado, por todos os entrevistados, peça fundamental no processo de mudança. Já que a empresa tinha o produto e a propaganda e só foi possível aumentar o volume de vendas quando a parceria com os distribuidores foi estabelecida, mediante uma política de distribuição definida. A empresa “A” além de conseguir conquistar mercado para seus produtos, também conseguiu gerar lucro com a operação de venda a varejo no mercado interno, conforme se verifica na figura 2. Figura 13 - Lucro Operacional. 15% 14% 12% 11% 12% 10% 7% 8% 5% 0% 1988 1989 1990 -5% -10% 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 -5% -9% -10% -14% -15% -20% Fonte: elaborado pela autora com base em relatórios da empresa “A”. Os resultados até aqui apresentados, demonstram que o distribuidor pode ser considerado como alternativa para obtenção de vantagem competitiva pelos fabricantes. A estratégia adotada pela empresa pesquisada, que optou pela utilização do distribuidor em substituição à força de venda própria, firmando parcerias com os mesmos para distribuição do produto no mercado de varejo foi bem sucedida, levando a mesma a uma posição de liderança no segmento de mercado em que atua. Conclusões Finais. O desenvolvimento da presente pesquisa demonstrou que, para a empresa “A”, a mudança de canal de distribuição com substituição da força de venda própria por distribuidores levou a empresa a obter vantagem competitiva, posicionando a mesma como líder de mercado no segmento em que atua. A constatação de que o distribuidor pode ser considerado como fonte de vantagem competitiva pela empresa fabricante corrobora com a pesquisa de BARRIZZELLI (1999), que indica o intermediário como uma variável estratégica da indústria e, com as afirmações de TONIN (1999), coloca o distribuidor como alternativa estratégica para distribuição do produto. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 51 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia Através das entrevistas realizadas, constatou-se que o distribuidor é fundamental para a obtenção desta vantagem competitiva, pois pode ser visto como uma extensão da empresa, possibilitando a chegada do produto nos pontos de venda antes da concorrência, uma vez que o distribuidor é mais eficiente para realização das tarefas de distribuição do produto no varejo que a empresa fabricante. A idéia de eficiência do distribuidor destacada pelos entrevistados vai ao encontro das afirmações de SEMENIK & BAMOSSY (1996), nas quais os intermediários são considerados mais eficientes para desempenharem as funções do canal de distribuição em razão de aspectos como especialização, economia de escala, e redução de custos das transações associadas à venda do produto. O estudo empírico realizado junto à empresa “A”, permitiu a visualização dos resultados que podem ser obtidos através da substituição da força de venda própria por distribuidores, e da formação de alianças estratégicas entre ambos. Apurou-se, com base na análise das entrevistas realizadas e em dados coletados, que a empresa pesquisada utilizava o canal de venda direta ao varejista e de venda para as lojas de atacado, através de seu escritório central (Matriz) na cidade de São Paulo e de suas filiais próprias. Levada por fatores como baixo volume de vendas, necessidade de melhorar a distribuição numérica, desenvolver mercado para os produtos da empresa e gerar lucros, a empresa “A” nomeou distribuidores para realizar tarefas de distribuição dos seus produtos em várias regiões do país. Além destes fatores, a empresa também se baseou no modelo de distribuição adotado por outra empresa do grupo. Outros fatores como a realização propaganda na mídia, lançamentos de novos produtos mais regionais e custo da estrutura de canal anterior, também foram considerados relevantes. Entretanto, observou-se através da pesquisa realizada que estes fatores não justificariam a substituição da força de venda própria por distribuidores. Entretanto, aspectos como a extensão territorial do país e as diferenças regionais e culturais, contribuíram de forma mais incisiva para a mudança de canal. Assim como o fato do distribuidor realizar as tarefas de distribuição do produto no varejo com maior eficiência, e do atacado não realizar as mesmas funções que os distribuidores. Na transição de canal, os critérios utilizados para contratação dos distribuidores foram: avaliação de crédito dos distribuidores, linha de produto com que trabalhavam, indicação de clientes, indicação de outros fabricantes, qualidade dos serviços prestados, a área de atuação e se tinham características de parceiros da indústria. Após a contratação dos distribuidores, foram repassadas para os mesmos as funções de negociação, posse, financiamento, logística, promoção informações de mercado e pós-venda. Com o repasse das funções de distribuição, para que a empresa “A” não perdesse o controle do mercado para gerenciamento do sistema de canal adotado, foi criada uma equipe própria de supervisores para acompanhamento do trabalho dos distribuidores. Verificou-se através da pesquisa realizada que, a utilização de distribuidores com esta forma de gerenciamento, permitiu à empresa “A” um maior controle sobre o mercado, com baixo custo operacional. Os principais resultados obtidos através da mudança de canal, verificados através da pesquisa, foram o aumento da distribuição numérica, com maior cobertura do mercado, aumento considerável do volume de vendas e a obtenção de lucros na venda dos produtos, além de fortalecimento da marca e valorização da empresa pesquisada. Através da parceria estabelecida com seus distribuidores, a empresa “A” conseguiu ser melhor representada no mercado em que já atuava, além de conquistar novos mercados para seus produtos. Resultados estes que se confirmam nas afirmações de STERN et. allii. (2002), onde um distribuidor pode oferecer melhor cobertura a um custo mais baixo, sendo que os fabricantes tendem a estabelecer uma aliança com distribuidores, para motivá-los na melhoria Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 52 Nilza A Santos Siqueira - Mauro Neves Garcia da representação nos mercados que já atuam ou em novos mercados, e também no lançamento de novos produtos. Embora outros estudos sobre os canais de distribuição apontem para os intermediários, que compõem o canal como sendo empresas independentes que buscam maximizar individualmente seus lucros (ALMEIDA, 1999), no caso da empresa "A", mesmo com os distribuidores sendo empresas independentes, a parceria estabelecida com os mesmos propiciou maior cobertura do mercado, com aumento significativo das vendas e redução de custo, além da empresa manter o controle de mercado, já que fabricante e distribuidor trabalham como parceiros. O presente estudo demonstrou que a decisão da empresa em substituir a força de vendas própria por distribuidores foi correta. Propiciando resultados satisfatórios e colocando a empresa em situação de destaque no mercado de temperos. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, A.M.P. Sistemas de Canais de Distribuição: Um estudo de Caso na Indústria Alimentícia Mineira. Caderno de Pesquisas em Administração. São Paulo, v.1, no. 8, 1o. trim./99. BERMAN, B. Marketing Channels. John Eilley & Son, 1996. BOWERSOX, D.J.; CLOSS, D.J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo, Atlas, 2001. BOWERSOX, D.J.; COOPER,M.B. Logistical management:the integrated suplly chain process. New York, McGraw-Hill, 1992. CUNDIF, D.; STILL, H; GOVONI, R. Marketing Básico. São Paulo: Atlas, 1992 DIAS, S.R. Estratégia e canais de distribuição. São Paulo, Atlas, 1993. FLEURY, P.F.SILVA, C.R.L. O estágio de desenvolvimento da organização logística em grandes empresas brasileiras. Revista Brasileira de Administração Contemporânea. João Pessoa, ANPAD, setembro 1995. HUNT, K. A. The relationship between channel conflict and information processig. Journal of Retailing, p417-436, 1995. KOTLER, P. Administração de Marketing. São Paulo, Prentice Hall, 2000. MCCALLEY, Russell W. Marketing channel management: people, products, programs, and markets. Wesport, CT:Praeger Publishers, 1996. MEHTA, R.; LARSEN, T.; ROSENBLOON. The influence of leadership style on cooperation in channel of distribution. International Journal of Physical Distribution &logistics Management 26, n6, p.32-59, 1996. MOHR, J.; NEVIN, J.R. Comunications strategies in marketing channels: a theoretical perspective. Journal of Marketing, p 36-51, 1990. MULLEER-HAGEDORN, L. The variety of Distributio Systems. Journal of Institutional and Theoretical Economics, v. 151, n.1, p187-202, 1995. NOVACK, R.A .; RINEHART, L.M.; WELLS, M.V. Rethinking concept foundations in logistics management. Journal of Business Logistics, v.13, n2, p.233-267, 1992. PORTER, M.E.Vantagem Competitiva. Rio de Janeiro, Campus, 1992. RANGAN, V.K.; MENEZES, M.A.J.; MAIER, E.P. Channel selection for new industrial products: a framework, method, and application. Journal of Marketing, v. 56, p.69-82, 1992. ROSENBLOON, B. Canais de marketing: Uma visão gerencial. São Paulo, Atlas, 2002. SEMENIK R.J.; BAMOSSY, G. J. Princípios de Marketing: uma perspectiva global. São Paulo: Makron Books, 1996. STERN, L.W. ;EL-ANSARY; A. I. COUGHLAN, A. T. Marketing Channel. 5ed. New Jersey: Prentice Hall , Inc., 1996. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 04, n. 03, p. 38-53, jul./ago./set. 2003 53