Sumário
AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO DO
NÚCLEO REGIONAL DE UMUARAMA
Alexandre Florindo Alves1
Anderson André Bianchesi Bonugli2
RESUMO – O presente artigo analisa a evolução da produção de soja no Núcleo Regional de
Umuarama (Noroeste do Paraná), principalmente na segunda metade da década de 90. Neste
Núcleo houve crescimento mais que proporcional de área e produção de soja em relação ao
Paraná. As informações obtidas mostram que há evidência de fatores diferenciados, e não
somente resposta a variações nos preços da soja. Mostram ainda que se pode indicar duas
possíveis causas principais. Uma delas é um Programa de Arrendamento de Terras criado na
região no início de 1997. A outra, que pode estar associada e ser complementar à primeira, é a
disponibilidade de área em função da expressiva redução no cultivo do algodão.
Palavras-Chave: crescimento; agricultura; desenvolvimento local.
INTRODUÇÃO
Numa economia aberta ao comércio internacional, pode-se perguntar qual o papel dos
governos nacionais na promoção de crescimento e desenvolvimento econômico? É realmente
uma questão bastante complexa, incluindo aspectos econômicos, culturais, institucionais,
políticos etc. O que dizer então das expectativas de promoção de desenvolvimento local e
regional?
Em Alves (1996) e Alves & Peres (1999) aparecem várias referências à importância do
papel dos pequenos centros neste campo.
“...a questão do desenvolvimento local e sua relação com o desenvolvimento
rural persiste, mesmo em meio à globalização, crises financeiras, fiscais etc. A
pergunta que pode ser feita é: o local fica à mercê do “macroambiente”, ou há
perspectivas próprias? Acredita-se que existam tais perspectivas, e que
melhorias na qualidade de vida têm grande relação com o que acontece no
local” (Alves & Peres, 1999)
Ações que visem desenvolvimento local podem ser de fundamental importância
mesmo no atual estágio de abertura econômica. Misra & Sundaram3 , citados por Hinderink &
Titus (1988), aceitam que os efeitos de expansão do crescimento polarizado nas cidades de
médio porte terá um efeito estimulador nas pequenas cidades da região que serão
gradualmente transformadas em locais de crescimento em menor ordem, tornando-se
“instrumentos de modernização” em suas regiões adjacentes imediatas.
Ronca (1981) afirma que:
“no Brasil, são os municípios, como áreas político-administrativas autônomas,
que desejam ter indústrias, transformando-se em pólos de crescimento. Desta
maneira, com indústrias, eles obtêm benefícios, como os vinculados à maior
participação na arrecadação de impostos, especialmente do imposto sobre
circulação de mercadorias.... É sempre num município, em sua área urbana, ou
até em sua área rural, que deve ocorrer a implantação da indústria motriz que
1
Doutor em Economia Aplicada, Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Estadual de
Maringá, [email protected]
2
Economista , [email protected]
3
MISRA, R. P.; SUNDARAM, K. V. Growth foci as instruments of modernization in India. In: KUKLINSKI,
A. ed. Regional policies in Nigeria, India and Brazil. The Hague: Mouton, 1978. p. 98-113.
1-9
vai dinamizar a vida do município ou da região a que pertence.... Mas, ao
mesmo tempo, o município, encarado como um pólo de desenvolvimento,
depende de atividades do setor primário para o seu desenvolvimento.” ... “a
estratégia de pólos de crescimento, ainda que se fundamente no
desenvolvimento industrial e esteja ligada, em princípio, mas não
exclusivamente, a áreas urbanas, se apresenta interdependente e interligada ao
desenvolvimento das áreas rurais” (Ronca, 1981, p. 172).
O parágrafo acima merece algumas considerações. Aborda o município, incluindo
zonas urbana e rural, como elemento do desenvolvimento. Além disso, já é de amplo
conhecimento que o corte rural/urbano difere do agrícola/não-agrícola, sendo que a dimensão
não-agrícola normalmente está associada a atividades com maior adição de valor. No entanto,
é preciso lembrar que em vários locais/regiões o conceito de agronegócio tem destacada
aplicabilidade, pois as atividades não-agrícolas tendem a ter maior interrelação com as
agrícolas. Isso ajuda a explicar o associação positiva entre desenvolvimento de pequenas
cidades e indicadores de desenvolvimento rural na Índia citada por Gaile (1992) e até mesmo
o modelo de "virtuous circle" de associação entre desenvolvimento rural e o de pequenas
cidades citado por Evans (1992).
Vários autores citam que a agricultura tem um papel importante no desenvolvimento,
como Kuznets4 citado por Alves (2000), que classifica a contribuição da agricultura em três
tipos: em produto, em mercado e em fatores. A contribuição em produto representa o
crescimento do produto dentro do próprio setor que, obviamente, colabora para o crescimento
do produto nacional (no presente caso, o interesse maior é para a contribuição principalmente
para o produto local). No presente artigo será estudado o caso do Núcleo Regional de
Umuarama, no Noroeste do Estado do Paraná5 , um exemplo de aproveitamento da vocação
agrícola regional. Neste Núcleo, a partir do município sede, Umuarama, foi implantado em
1997 um Programa de Arrendamento de Terras – PATER, que será melhor detalhado adiante.
O período analisado situa-se entre as safras agrícolas de 1990 a 1999, sendo que procura-se
utilizar principalmente a evolução de área colhida e produção da soja. Especificamente, o
objetivo é verificar se há evidências de que o aumento na produção da soja na região possa ter
sofrido influência do PATER.
AGRICULTURA NO ESTADO DO PARANÁ
Com relação ao desenvolvimento da agricultura no Paraná, tem-se que até a década de
60, o café mantém sua posição de principal produto da agricultura paranaense. Mas a partir
desta década, a economia cafeeira inicia sua fase de decadência no estado. Alguns fatores
concorreram fortemente para o declínio da produção: secas e geadas; desestímulos de preços;
erradicação de cafezais, espontâneas ou estimuladas pelo governo. A partir de então observa-
4
KUZNETS, S. Economic growth and the contribution of agriculture: notes on measurement. In: EICHER, C.;
WITT, L. (Ed.) Agriculture in economic development. New York: McGraw-Hill, 1964. Chapter 5, p.10219.
5
A região Noroeste do Paraná possui 3,2 milhões de hectares, abrangendo 107 municípios, perfazendo 16% da
área territorial do Estado, sendo que 72% desta área territorial é formada por pastagens, comportando um
rebanho bovino próximo a 3,5 milhões de cabeças, o que representa quase 40% do plantel estadual. Os solos de
vários municípios que fazem parte do núcleo regional de Umuarama, originários do Arenito Caiuá, apresentam
textura média e arenosa, com alta suscetibilidade à erosão, podendo ser classificado como Latossolo Vermelho
Escuro eutrófico textura arenosa. Os teores de areia atingem 85% a 90% e possuem níveis críticos de fósforo,
potássio, cálcio, magnésio e, não raro baixos níveis de matéria orgânica, cerca de 1%, podendo, freqüentemente,
ocorrer deficiência de macro e micronutrientes nas culturas. Apesar das limitações citadas, os solos do Arenito
Caiuá apresentam-se predominantemente com características eutróficas, ou seja, sem alumínio livre prejudicial
ao desenvolvimento da maioria das culturas (Oliveira et al., 2000).
2-9
se, na região norte do Paraná, a introdução ou expansão de outras culturas, como a soja
(Assumpção et al., 1990).
Do início da década (safra 1990/91) para cá, ocorre um expressivo aumento da área
plantada (45%) e da produção (102%), mostrando também aumento na produtividade (Tabela
1). Atualmente, a soja em grão participa com cerca de 20,0% no Valor Total da Produção
Agropecuária do Paraná e o complexo soja – grão, farelo e óleo – com a metade,
aproximadamente, do valor total arrecadado nas exportações (Bonugli, 2000)
O surgimento e expansão da agroindústria no estado do Paraná, segundo Assumpção
et al. (1990), estiveram sempre ligados à produção agrícola tendo se instalado em geral nas
regiões fornecedoras de matérias-primas. A soja no Paraná destaca-se como um produto
significativo para a indústria agrícola, pois em 10 anos, ocorreram aumentos significativos no
uso de "insumos modernos" na agropecuária paranaense. Houveram políticas incentivadoras
para sua expansão, tornando possível a "criação de um amplo mercado para as indústrias
situadas a montante do setor agropecuário" (Pereira, 1987, p. 191-2).
O processo de modernização agropecuária paranaense, de acordo com Zotarelli
(2000), resultou em ampliação de área colhida, uma vez que no período de 1970 a 1985,
observou-se o crescimento de áreas com lavouras de soja. Neste período o Paraná não
dispunha de novas fronteiras agrícolas. O crescimento verificado na área colhida com soja
aconteceu em função da busca de um melhor aproveitamento de áreas improdutivas e também
da redução de áreas até então ocupadas com as outras culturas, que cederam espaços deixando
clara a presença dos fatores motivacionais, principalmente o crédito rural e o preço
internacional da soja na década de setenta.
Um importante fator que tem relação fundamental com o presente estudo refere-se à
questão da tecnologia. Para Galvão (1999), a espetacular modernização do agribusiness é
atribuída ao salto tecnológico e de gestão que caracteriza agropecuária comercial desde a
década de 70. Nesse processo, teve contribuição decisiva a Empresa Brasileira de Pesquisas
Agropecuárias (Embrapa), que desenvolveu pesquisas nas áreas de solos, biotecnologia,
sistemas de produção, agroindústria, cadeias produtivas, melhoramento genético e outras. É
necessário destacar, para o caso do Paraná, a atuação do IAPAR.
Segundo Souza (1999), desde os anos 70, a tecnologia biológica utilizada no cultivo
da soja é totalmente nacional, havendo também crescido a participação das tecnologias físicoquímicas e mecânicas. A produção nacional de variedades adaptadas a diferentes condições
edafoclimáticas tem importância fundamental para a expansão da lavoura. O autor também
ressalta que além do estímulo do mercado internacional, algumas condições internas para a
expansão e modernização da lavoura da soja no País precisam ser lembradas, como: a
existência de variedades oriundas do Centro-Sul dos Estados Unidos que tiveram fácil
adaptação no sul do Brasil; a possibilidade da total mecanização na produção; a expansão da
agroindústria nacional; o papel intenso das cooperativas nos processos de produção,
comercialização industrialização do produto; a geração de tecnologias adaptadas às diferentes
regiões do País, possibilitando, ao mesmo tempo, o aumento da produtividade e a expansão da
produção.
Dentro do complexo agroindustrial da soja, Souza (1999) afirma que a pesquisa
científica e tecnológica tem assumido papel de grande destaque. Ela é efetuada tanto dentro
das grandes empresas privadas ligadas ao produto (indústria alimentícia, de esmagamento e a
produtora de insumos e máquinas e equipamentos), quanto pelo setor público. Este último tem
contribuído fortemente na produção das inovações biológicas, através de cultivares novas e
adaptadas às diferentes regiões da produção.
3-9
O CASO DA PRODUÇÃO DE SOJA NO NÚCLEO REGIONAL DE UMUARAMA
A Figura 1 mostra que boa parte dos municípios do Núcleo Regional de Umuarama
tem alta proporção de solos originados do Arenito Caiuá. As cidades que detêm uma alta
proporção de arenito em seu solo, não participavam tanto da produção no início da década
como participam no final, elevando assim a produção da região. Em um solo que alguns anos
atrás o que predominava era a pecuária, agora se obtém um rendimento de mais de 40
sacas/ha em média, ficando apenas um pouco atrás das médias das regiões tradicionais de
cultivo da soja como é o caso do núcleo regional de Maringá, onde o solo é praticamente todo
de terra roxa (Bonugli, 2000). Segundo dados do DERAL, 2615 kg/ha no Núcleo Regional de
Umuarama, 2787 kg/ha no Paraná para a safra 1998/99.
31
29
27
25
23
21
19
17
15
13
11
9
7
5
3
1
100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
Figura 1. Proporção, em área, de solos originados do Arenito Caiuá nos municípios do
Núcleo Regional de Umuarama.
Fonte: SEAB/DERAL/Umuarama6
Nota: 1 – Altônia; 2 – Alto Piquiri; 3 – Brasilândia do Sul; 4 – Cafezal do Sul; 5 – Cianorte; 6 – Cidade Gaúcha;
7 – Cruzeiro do Oeste; 8 – Douradina; 9 – Esperança Nova; 10 – Francisco Alves; 11 – Guaporema; 12 –
Icaraíma; 13 – Indianópolis; 14 – Iporã; 15 – Ivaté; 16 – Japurá; 17 – Jussara; 18 – Maria Helena; 19 – Mariluz;
20 – Nova Olímpia; 21 – Perobal; 22 – Pérola; 23 – Rondon; 24 – São Jorge do Patrocínio; 25 – São Manoel do
Paraná; 26 – São Tomé; 27 – Tapejara; 28 – Tapira; 29 – Tuneiras do Oeste; 30 – Umuarama; 31 – Vila Alta; 32
– Xambrê. Valores zero somente para os municípios de Japurá, Jussara, São Manoel do Paraná e São Tomé; os
demais valores nulos representam dados não fornecidos pelo Deral.
Analisando a Tabela 1 e a Figura 2 pode-se observar que a área da cultura da soja no
Núcleo Regional de Umuarama vem aumentando gradativamente no decorrer da década, e
segundo Bastos7 os municípios que tinham sua área praticamente ocupada pela pecuária,
passam a diversificar sua produção, procurando novas fontes alternativas de sustento da
lavoura. Verifica-se expressivo aumento da área total cultivada da safra de 96/97 para frente8 .
6
Estes dados foram fornecidos diretamente pelo escritório da SEAB/DERAL/Umuarama, mas podem ser
encontrados no Acompanhamento da Situação Agropecuária do Paraná, vários números.
7
Edson de Assis Bastos, Secretário Municipal da Agricultura, Meio Ambiente e Turismo, comunicação pessoal.
8
Em Bonugli (2000) aparecem os valores de área e produção individualizados para os municípios do Núcleo
Regional de Umuarama.
4-9
Tabela 1. Evolução da área e produção da soja no Paraná e no Núcleo Regional de
Umuarama (NRU), nas safras 1990/91 a 1999/00.
Área
Produção
Safras
Paraná
Var.*
NRU
Var.*
Paraná
NRU
(mil ha)
(%)
(ha)
(%)
(mil ton.)
(ton.)
90/91
1.973
91/92
1.721
-12,75
92/93
2.000
16,21
93/94
2.100
5,00
94/95
2.133
1,55
95/96
2.329
9,23
96/97
2.493
7,03
97/98
2.829
13,48
98/99
2.778
-1,80
99/00
2.853
2,68
Fonte: SEAB/DERAL/Umuarama
25.060
22.360
23.796
24.860
26.308
25.900
27.646
48.192
53.132
60.770
-10,77
6,42
4,47
5,82
-1,55
6,74
74,32
10,25
14,38
3.531
3.323
4.750
5.264
5.602
6.367
6.551
7.281
7.743
7.131
42.765
31.538
50.685
64.938
61.825
72.245
72.286
111.047
138.937
138.204
* Variação em relação ao ano anterior.
ÁREA
98
/9
9
99
/2
00
0
97
/9
8
96
/9
7
95
/9
6
94
/9
5
93
/9
4
92
/9
3
91
/9
2
90
/9
1
160.000
140.000
120.000
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
-
PRODUÇÃO
Figura 2. Área plantada (ha) e produção (ton.) de soja no Núcleo Regional de Umuarama, no
período 1991/92 a 1998/99.
Fonte : SEAB/DERAL/Umuarama
5-9
A prefeitura do município de Umuarama juntamente com a Secretaria Municipal da
Agricultura e Meio Ambiente instituiu através do decreto nº 034/97 de 13 de março de 1997 o
Programa de Arrendamento de Terras - PATER, uma idéia originada em Uberaba e
Uberlândia, Minas Gerais. Foi determinado que o programa seria desenvolvido através de
uma bolsa de arrendamento e parcerias que tem um regulamento de organização e
funcionamento, onde os participantes fazem sua adesão às condições estabelecidas. Tem
como objetivo a utilização racional de áreas de terras destinadas à produção agrícola no
município, visando o aumento da produção e da produtividade rural, promovendo o maior
aproveitamento da potencialidade das terras e do homem do campo, bem como a sua fixação
no meio rural, a elevação dos níveis de emprego na região e a obtenção de maior rentabilidade
para os proprietários rurais e agricultores, buscando produzir mais alimentos, propiciar o
incremento à agroindústria e aumentar a capacidade de investimentos do município
(UMUARAMA, 1997). Cumpre destacar que o PATER não está associado exclusivamente à
produção de soja e nem somente ao município de Umuarama, pois abrange áreas de outros
municípios da região.
A Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente tem como função assessorar
os participantes deste programa, colocando à disposição dos mesmos, materiais e resultados
de estudo e pesquisas disponíveis, procurando, para esta finalidade, manter parcerias com
entidades públicas e privadas. Deve ainda atuar junto às instituições financeiras, no sentido de
viabilizar recursos para o financiamento da produção (UMUARAMA, 1997).
Ocorre que o lançamento do PATER se deu no ano seguinte ao da lei Kandir, que
desonerou as exportações de grãos in natura do ICMS9 (Favato, 2001). Com isso, fica a
dúvida se o aumento verificado na figura acima se deve ao PATER ou foi uma resposta a
preços. Uma das maneiras de verificar isso é através da evolução da área e produção no
Núcleo Regional de Umuarama comparadas com os dados para o estado do Paraná. Isso é
mostrado na Figura 3, onde é possível observar que os aumentos no primeiro caso foram
maiores que no segundo (por exemplo, entre as safras 96/97 e 97/98, as variações de área
foram, respectivamente, de 74% e 13%, e para a produção, 53% e 11%). Se o crescimento
fosse simplesmente reação a preços, seria de esperar que as variações fossem proporcionais.
Os dados indicam que pode ter ocorrido influências localizadas, por exemplo do PATER.
Outra possível explicação, não excludente, é a disponibilidade de área para cultivo em função
da redução da área plantada com algodão10 , ocorrida principalmente em função de problemas
climáticos e facilidade de importação – com financiamentos externos a juros baixos e prazo
dilatado (Bittencourt & Lopes, 2000). Além disso, estes autores destacam que, com a
estabilidade econômica, houve redução na influência dos preços relativos sobre o desempenho
da agricultura. Também é possível verificar a marcante disparidade entre os crescimentos de
área no Núcleo Regional de Umuarama nos dois últimos anos-safra analisados.
9
Que provocou crescimento na exportação de soja em grão em relação aos derivados processados (óleo e farelo).
Segundo dados do SEAB/DERAL/Umuarama, a área plantada com algodão no Núcleo sofreu redução de 75%
da safra 90/91 para a safra 96/97.
10
6-9
2,50
2,00
1,50
%
1,00
0,50
0,00
91/92
92/93
93/94
% da produção
94/95
95/96
96/97
97/98
98/99
% da área
Figura 3. Percentual de área plantada e da produção de soja no Núcleo Regional de
Umuarama em relação ao Paraná, no período 1991/92 a 1998/99.
Fonte: DERAL/DEB - SEAB/PR (1990 a 1999)
Além de ser uma fonte rentável para a agricultura em si, chega-se a afirmar que a soja
está sendo a principal alavanca propulsora do crescimento da região de Umuarama. Várias
matérias mostram este tipo de associação. Segundo empresários do ramo imobiliário, se a
agricultura vai mal, toda a economia acaba sendo prejudicada, mas se vai bem, vários setores
são beneficiados. No caso do município de Umuarama, a retomada da agricultura, aliada ao
crescimento do setor de educação superior, está fazendo com que os agricultores invistam
cada vez mais em imóveis, que são ocupados por jovens que vêm em busca de cursos
oferecidos pela Unipar (Universidade Paranaense). A construção civil é a mais beneficiada.
Além do mercado de imóveis, a cultura da soja também ajuda a aquecer setores de
restaurantes, hotéis, postos de combustíveis, insumos agrícolas e supermercados, além do
comércio em geral (SOJA revitaliza... 1999).
Tal informação deve ser tomada com certo cuidado, uma vez que, como é mostrado na
Tabela 2, não houve crescimento expressivo do valor adicionado total do município no
período analisado. No entanto, deve ser ressaltado a variação do valor adicionado do setor
primário entre os anos de 1996 e 97, de 14,8%, sendo que tal aumento não foi verificado para
os outros setores, ainda que, segundo PREÇOS (2001), os preços recebidos pelos produtores
de soja sofreram redução de 26% entre os mesmos anos. Além disso, houve queda no Valor
Adicionado do setor primário (e de sua participação no Valor Adicionado total do município)
nos dois últimos anos do período.
7-9
Tabela 2. Evolução do Valor Adicionado por setor, no município de Umuarama (R$ milhões
de 1999) de 1995 a 1999.
SETOR
1995
1996
1997
1998
1999
PRIMÁRIO
30,85
29,91
34,34
25,15
25,91
SECUNDÁRIO
37,60
40,82
36,96
37,50
38,91
COMÉRCIO
78,92
77,98
67,83
76,36
82,92
SERVIÇOS
24,06
25,94
27,66
29,71
29,58
TOTAL
171,44
174,66
166,79
168,73
177,32
Fonte: IPARDES (2000)
Deflator: IGP-DI
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações apresentadas no presente estudo permitem afirmar que houve
comportamento diferenciado no Núcleo Regional de Umuarama em relação ao Paraná. Um
primeiro ponto refere-se à tecnologia como condição necessária para que isso pudesse ocorrer.
Como já foi mostrado, a evolução da soja no Núcleo Regional de Umuarama, foi possível
com a ajuda de órgãos como IAPAR, Secretária da Agricultura, que através de projetos de
pesquisa como "Estudos de recuperação de áreas de pastagens degradadas no Noroeste do
Paraná" e o PATER, procuram apresentar resultados obtidos em suas pesquisas,
disponibilizando de forma mais ágil as informações para serem consultadas pelos
profissionais, produtores, lideranças, autoridades do setor rural e todos aqueles que possam
contribuir para o desenvolvimento da região do Arenito Caiuá (Oliveira et al., 2000).
O resultado é que na safra 91/92 a produção de soja no Núcleo Regional de Umuarama
não chegava a 1% da produção do Paraná, sendo que na safra de 98/99 quase chega aos 2%.
Esta participação relativamente pequena não significa que o objeto de estudo seja desprezível,
pois Choguill (1989) afirma que o desenvolvimento de pequenos centros pode ter impactos
pouco expressivos para o país, mas que pode ser importante no âmbito regional
A tecnologia foi condição necessária, mas não suficiente. O estudo mostra que o
padrão diferenciado pode ter sido decorrência do PATER, influenciando nas decisões de
plantio ao mostrar que se trata de um processo tecnologicamente viável, além da influência da
redução expressiva da área plantada com algodão. Esses produtores podem ter vislumbrado na
soja uma nova alternativa interessante de cultivo.
Por fim, e considerando a questão do PATER, tem-se que houve difusão do
crescimento da área plantada com soja para os municípios adjacentes, mostrando e
confirmando a importância das iniciativas locais para o desenvolvimento regional.
Evidentemente o estabelecimento de causalidade inequívoca entre o PATER e o crescimento
na área plantada com soja (grãos) no Núcleo Regional de Umuarama só poderia ser feito com
pesquisa a campo e documental, que fogem aos objetivos do presente estudo, mas podem ser
levadas a cabo em pesquisas futuras.
8-9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, A.F. Contribuição da agricultura ao crescimento econômico: o excedente financeiro
de 1980 a 1998. Piracicaba, 2000. 127p. Tese (doutorado) - USP/ESALQ.
ASSUMPÇÃO, A.G; GALINA, L.A.; CONSONI, R. Mudanças no padrão de
desenvolvimento agro-industrial: o caso do norte do Paraná. Revista de Economia e
Sociologia Rural, v.28, n. 4, p. 132-142, out./dez. 1990.
BITTENCOURT, M.V.L.; LOPES, M.G.F.S. Evolução da agricultura no Paraná para o
período 1991 - 1998: uma análise comparativa. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 38. Anais. Rio de Janeiro, 2000. [CD-ROM]
BONUGLI, A.A.B. Evolução do cultivo da soja no Noroeste do Paraná na década de 90:
estudo de caso do Núcleo Regional de Umuarama. Maringá, 2000. 70p. Monografia
(Graduação) – Departamento de Economia/UEM.
CHOGUILL, C. L. Small towns and development: a tale from two countries. Urban
Studies, v.26, n.2, p. 267-74, 1989.
EVANS, H. E. A virtuous circle model of rural-urban development: evidence from a kenyan
small town and its hinterland. The Journal of Development Studies, v. 28, n. 4, p. 64067, jul. 1992.
FAVATO, G. ICMS – Incidência nas Atividades Agrícolas: O caso dos Produtos Soja, Café e
Milho. Maringá, 2001. 70p.
Monografia (Especialização) – Especialização em
Desenvolvimento Econômico – UEM.
GAILE, G. L.
Improving rural-urban linkages through small town market-based
development. Third World Planning Review, v. 14, n. 2, p. 131-48, 1992. /Resumo em
CAB Abstracts on CD-ROM, v. 4, 1993- jul. 1995/.
GALVÃO, L. E. Agribusiness: a cadeia que liberta. Rumos, Ago. 1999.
HINDERINK, J.; TITUS, M. J. Paradigms of regional development and the role of small
centres. Development and Change, v. 19, n. 3, p. 401-23, jul. 1988.
IPARDES. Base pública de Dados. Curitiba: IPARDES, 2000. (Acesso eletrônico)
OLIVEIRA, E. et al. Recuperação de pastagens no Noroeste do Paraná: bases para plantio
direto e integração lavoura e pecuária. Londrina: IAPAR, 2000. 96p.
PEREIRA, L. B. O Estado e as transformações recentes da agricultura paranaense. Recife,
1987. 343p. Tese (Doutorado) em Economia Rural, UFPe, Departamento de Economia.
PREÇOS médios... Acompanhamento da Situação Agropecuária no Paraná. Curitiba:
Secretaria de Estado da Agricultura/DERAL/CEPA/PR, p.53, jan./2001.
RONCA, J.L.C. Interação entre o urbano e o rural no Brasil: fator de desenvolvimento
nacional. São Paulo, 1981. 298p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo.
SOJA revitaliza a construção civil. Imóveis & Cia, Umuarama, 1999.
SOUZA, I.S.F. Condicionantes da Modernização da soja no Brasil. Revista de Economia e
Sociologia Rural, p.1-27, 1999
UMUARAMA. Programa de Arrendamento de Terras – PATER. Lei no 034/97, 13 Mar.
1997.
ZOTARELLI, A. A dinâmica recente do complexo agroindutrial da soja no Paraná:
Produtividade e competitividade em relação ao Centro-Oeste do Brasil. Maringá, 2000.
152p. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Economia/UEM.
9-9
Download

AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO DO