Sumário AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO DO NÚCLEO REGIONAL DE UMUARAMA Alexandre Florindo Alves1 Anderson André Bianchesi Bonugli2 RESUMO – O presente artigo analisa a evolução da produção de soja no Núcleo Regional de Umuarama (Noroeste do Paraná), principalmente na segunda metade da década de 90. Neste Núcleo houve crescimento mais que proporcional de área e produção de soja em relação ao Paraná. As informações obtidas mostram que há evidência de fatores diferenciados, e não somente resposta a variações nos preços da soja. Mostram ainda que se pode indicar duas possíveis causas principais. Uma delas é um Programa de Arrendamento de Terras criado na região no início de 1997. A outra, que pode estar associada e ser complementar à primeira, é a disponibilidade de área em função da expressiva redução no cultivo do algodão. Palavras-Chave: crescimento; agricultura; desenvolvimento local. INTRODUÇÃO Numa economia aberta ao comércio internacional, pode-se perguntar qual o papel dos governos nacionais na promoção de crescimento e desenvolvimento econômico? É realmente uma questão bastante complexa, incluindo aspectos econômicos, culturais, institucionais, políticos etc. O que dizer então das expectativas de promoção de desenvolvimento local e regional? Em Alves (1996) e Alves & Peres (1999) aparecem várias referências à importância do papel dos pequenos centros neste campo. “...a questão do desenvolvimento local e sua relação com o desenvolvimento rural persiste, mesmo em meio à globalização, crises financeiras, fiscais etc. A pergunta que pode ser feita é: o local fica à mercê do “macroambiente”, ou há perspectivas próprias? Acredita-se que existam tais perspectivas, e que melhorias na qualidade de vida têm grande relação com o que acontece no local” (Alves & Peres, 1999) Ações que visem desenvolvimento local podem ser de fundamental importância mesmo no atual estágio de abertura econômica. Misra & Sundaram3 , citados por Hinderink & Titus (1988), aceitam que os efeitos de expansão do crescimento polarizado nas cidades de médio porte terá um efeito estimulador nas pequenas cidades da região que serão gradualmente transformadas em locais de crescimento em menor ordem, tornando-se “instrumentos de modernização” em suas regiões adjacentes imediatas. Ronca (1981) afirma que: “no Brasil, são os municípios, como áreas político-administrativas autônomas, que desejam ter indústrias, transformando-se em pólos de crescimento. Desta maneira, com indústrias, eles obtêm benefícios, como os vinculados à maior participação na arrecadação de impostos, especialmente do imposto sobre circulação de mercadorias.... É sempre num município, em sua área urbana, ou até em sua área rural, que deve ocorrer a implantação da indústria motriz que 1 Doutor em Economia Aplicada, Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá, [email protected] 2 Economista , [email protected] 3 MISRA, R. P.; SUNDARAM, K. V. Growth foci as instruments of modernization in India. In: KUKLINSKI, A. ed. Regional policies in Nigeria, India and Brazil. The Hague: Mouton, 1978. p. 98-113. 1-9 vai dinamizar a vida do município ou da região a que pertence.... Mas, ao mesmo tempo, o município, encarado como um pólo de desenvolvimento, depende de atividades do setor primário para o seu desenvolvimento.” ... “a estratégia de pólos de crescimento, ainda que se fundamente no desenvolvimento industrial e esteja ligada, em princípio, mas não exclusivamente, a áreas urbanas, se apresenta interdependente e interligada ao desenvolvimento das áreas rurais” (Ronca, 1981, p. 172). O parágrafo acima merece algumas considerações. Aborda o município, incluindo zonas urbana e rural, como elemento do desenvolvimento. Além disso, já é de amplo conhecimento que o corte rural/urbano difere do agrícola/não-agrícola, sendo que a dimensão não-agrícola normalmente está associada a atividades com maior adição de valor. No entanto, é preciso lembrar que em vários locais/regiões o conceito de agronegócio tem destacada aplicabilidade, pois as atividades não-agrícolas tendem a ter maior interrelação com as agrícolas. Isso ajuda a explicar o associação positiva entre desenvolvimento de pequenas cidades e indicadores de desenvolvimento rural na Índia citada por Gaile (1992) e até mesmo o modelo de "virtuous circle" de associação entre desenvolvimento rural e o de pequenas cidades citado por Evans (1992). Vários autores citam que a agricultura tem um papel importante no desenvolvimento, como Kuznets4 citado por Alves (2000), que classifica a contribuição da agricultura em três tipos: em produto, em mercado e em fatores. A contribuição em produto representa o crescimento do produto dentro do próprio setor que, obviamente, colabora para o crescimento do produto nacional (no presente caso, o interesse maior é para a contribuição principalmente para o produto local). No presente artigo será estudado o caso do Núcleo Regional de Umuarama, no Noroeste do Estado do Paraná5 , um exemplo de aproveitamento da vocação agrícola regional. Neste Núcleo, a partir do município sede, Umuarama, foi implantado em 1997 um Programa de Arrendamento de Terras – PATER, que será melhor detalhado adiante. O período analisado situa-se entre as safras agrícolas de 1990 a 1999, sendo que procura-se utilizar principalmente a evolução de área colhida e produção da soja. Especificamente, o objetivo é verificar se há evidências de que o aumento na produção da soja na região possa ter sofrido influência do PATER. AGRICULTURA NO ESTADO DO PARANÁ Com relação ao desenvolvimento da agricultura no Paraná, tem-se que até a década de 60, o café mantém sua posição de principal produto da agricultura paranaense. Mas a partir desta década, a economia cafeeira inicia sua fase de decadência no estado. Alguns fatores concorreram fortemente para o declínio da produção: secas e geadas; desestímulos de preços; erradicação de cafezais, espontâneas ou estimuladas pelo governo. A partir de então observa- 4 KUZNETS, S. Economic growth and the contribution of agriculture: notes on measurement. In: EICHER, C.; WITT, L. (Ed.) Agriculture in economic development. New York: McGraw-Hill, 1964. Chapter 5, p.10219. 5 A região Noroeste do Paraná possui 3,2 milhões de hectares, abrangendo 107 municípios, perfazendo 16% da área territorial do Estado, sendo que 72% desta área territorial é formada por pastagens, comportando um rebanho bovino próximo a 3,5 milhões de cabeças, o que representa quase 40% do plantel estadual. Os solos de vários municípios que fazem parte do núcleo regional de Umuarama, originários do Arenito Caiuá, apresentam textura média e arenosa, com alta suscetibilidade à erosão, podendo ser classificado como Latossolo Vermelho Escuro eutrófico textura arenosa. Os teores de areia atingem 85% a 90% e possuem níveis críticos de fósforo, potássio, cálcio, magnésio e, não raro baixos níveis de matéria orgânica, cerca de 1%, podendo, freqüentemente, ocorrer deficiência de macro e micronutrientes nas culturas. Apesar das limitações citadas, os solos do Arenito Caiuá apresentam-se predominantemente com características eutróficas, ou seja, sem alumínio livre prejudicial ao desenvolvimento da maioria das culturas (Oliveira et al., 2000). 2-9 se, na região norte do Paraná, a introdução ou expansão de outras culturas, como a soja (Assumpção et al., 1990). Do início da década (safra 1990/91) para cá, ocorre um expressivo aumento da área plantada (45%) e da produção (102%), mostrando também aumento na produtividade (Tabela 1). Atualmente, a soja em grão participa com cerca de 20,0% no Valor Total da Produção Agropecuária do Paraná e o complexo soja – grão, farelo e óleo – com a metade, aproximadamente, do valor total arrecadado nas exportações (Bonugli, 2000) O surgimento e expansão da agroindústria no estado do Paraná, segundo Assumpção et al. (1990), estiveram sempre ligados à produção agrícola tendo se instalado em geral nas regiões fornecedoras de matérias-primas. A soja no Paraná destaca-se como um produto significativo para a indústria agrícola, pois em 10 anos, ocorreram aumentos significativos no uso de "insumos modernos" na agropecuária paranaense. Houveram políticas incentivadoras para sua expansão, tornando possível a "criação de um amplo mercado para as indústrias situadas a montante do setor agropecuário" (Pereira, 1987, p. 191-2). O processo de modernização agropecuária paranaense, de acordo com Zotarelli (2000), resultou em ampliação de área colhida, uma vez que no período de 1970 a 1985, observou-se o crescimento de áreas com lavouras de soja. Neste período o Paraná não dispunha de novas fronteiras agrícolas. O crescimento verificado na área colhida com soja aconteceu em função da busca de um melhor aproveitamento de áreas improdutivas e também da redução de áreas até então ocupadas com as outras culturas, que cederam espaços deixando clara a presença dos fatores motivacionais, principalmente o crédito rural e o preço internacional da soja na década de setenta. Um importante fator que tem relação fundamental com o presente estudo refere-se à questão da tecnologia. Para Galvão (1999), a espetacular modernização do agribusiness é atribuída ao salto tecnológico e de gestão que caracteriza agropecuária comercial desde a década de 70. Nesse processo, teve contribuição decisiva a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), que desenvolveu pesquisas nas áreas de solos, biotecnologia, sistemas de produção, agroindústria, cadeias produtivas, melhoramento genético e outras. É necessário destacar, para o caso do Paraná, a atuação do IAPAR. Segundo Souza (1999), desde os anos 70, a tecnologia biológica utilizada no cultivo da soja é totalmente nacional, havendo também crescido a participação das tecnologias físicoquímicas e mecânicas. A produção nacional de variedades adaptadas a diferentes condições edafoclimáticas tem importância fundamental para a expansão da lavoura. O autor também ressalta que além do estímulo do mercado internacional, algumas condições internas para a expansão e modernização da lavoura da soja no País precisam ser lembradas, como: a existência de variedades oriundas do Centro-Sul dos Estados Unidos que tiveram fácil adaptação no sul do Brasil; a possibilidade da total mecanização na produção; a expansão da agroindústria nacional; o papel intenso das cooperativas nos processos de produção, comercialização industrialização do produto; a geração de tecnologias adaptadas às diferentes regiões do País, possibilitando, ao mesmo tempo, o aumento da produtividade e a expansão da produção. Dentro do complexo agroindustrial da soja, Souza (1999) afirma que a pesquisa científica e tecnológica tem assumido papel de grande destaque. Ela é efetuada tanto dentro das grandes empresas privadas ligadas ao produto (indústria alimentícia, de esmagamento e a produtora de insumos e máquinas e equipamentos), quanto pelo setor público. Este último tem contribuído fortemente na produção das inovações biológicas, através de cultivares novas e adaptadas às diferentes regiões da produção. 3-9 O CASO DA PRODUÇÃO DE SOJA NO NÚCLEO REGIONAL DE UMUARAMA A Figura 1 mostra que boa parte dos municípios do Núcleo Regional de Umuarama tem alta proporção de solos originados do Arenito Caiuá. As cidades que detêm uma alta proporção de arenito em seu solo, não participavam tanto da produção no início da década como participam no final, elevando assim a produção da região. Em um solo que alguns anos atrás o que predominava era a pecuária, agora se obtém um rendimento de mais de 40 sacas/ha em média, ficando apenas um pouco atrás das médias das regiões tradicionais de cultivo da soja como é o caso do núcleo regional de Maringá, onde o solo é praticamente todo de terra roxa (Bonugli, 2000). Segundo dados do DERAL, 2615 kg/ha no Núcleo Regional de Umuarama, 2787 kg/ha no Paraná para a safra 1998/99. 31 29 27 25 23 21 19 17 15 13 11 9 7 5 3 1 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Figura 1. Proporção, em área, de solos originados do Arenito Caiuá nos municípios do Núcleo Regional de Umuarama. Fonte: SEAB/DERAL/Umuarama6 Nota: 1 – Altônia; 2 – Alto Piquiri; 3 – Brasilândia do Sul; 4 – Cafezal do Sul; 5 – Cianorte; 6 – Cidade Gaúcha; 7 – Cruzeiro do Oeste; 8 – Douradina; 9 – Esperança Nova; 10 – Francisco Alves; 11 – Guaporema; 12 – Icaraíma; 13 – Indianópolis; 14 – Iporã; 15 – Ivaté; 16 – Japurá; 17 – Jussara; 18 – Maria Helena; 19 – Mariluz; 20 – Nova Olímpia; 21 – Perobal; 22 – Pérola; 23 – Rondon; 24 – São Jorge do Patrocínio; 25 – São Manoel do Paraná; 26 – São Tomé; 27 – Tapejara; 28 – Tapira; 29 – Tuneiras do Oeste; 30 – Umuarama; 31 – Vila Alta; 32 – Xambrê. Valores zero somente para os municípios de Japurá, Jussara, São Manoel do Paraná e São Tomé; os demais valores nulos representam dados não fornecidos pelo Deral. Analisando a Tabela 1 e a Figura 2 pode-se observar que a área da cultura da soja no Núcleo Regional de Umuarama vem aumentando gradativamente no decorrer da década, e segundo Bastos7 os municípios que tinham sua área praticamente ocupada pela pecuária, passam a diversificar sua produção, procurando novas fontes alternativas de sustento da lavoura. Verifica-se expressivo aumento da área total cultivada da safra de 96/97 para frente8 . 6 Estes dados foram fornecidos diretamente pelo escritório da SEAB/DERAL/Umuarama, mas podem ser encontrados no Acompanhamento da Situação Agropecuária do Paraná, vários números. 7 Edson de Assis Bastos, Secretário Municipal da Agricultura, Meio Ambiente e Turismo, comunicação pessoal. 8 Em Bonugli (2000) aparecem os valores de área e produção individualizados para os municípios do Núcleo Regional de Umuarama. 4-9 Tabela 1. Evolução da área e produção da soja no Paraná e no Núcleo Regional de Umuarama (NRU), nas safras 1990/91 a 1999/00. Área Produção Safras Paraná Var.* NRU Var.* Paraná NRU (mil ha) (%) (ha) (%) (mil ton.) (ton.) 90/91 1.973 91/92 1.721 -12,75 92/93 2.000 16,21 93/94 2.100 5,00 94/95 2.133 1,55 95/96 2.329 9,23 96/97 2.493 7,03 97/98 2.829 13,48 98/99 2.778 -1,80 99/00 2.853 2,68 Fonte: SEAB/DERAL/Umuarama 25.060 22.360 23.796 24.860 26.308 25.900 27.646 48.192 53.132 60.770 -10,77 6,42 4,47 5,82 -1,55 6,74 74,32 10,25 14,38 3.531 3.323 4.750 5.264 5.602 6.367 6.551 7.281 7.743 7.131 42.765 31.538 50.685 64.938 61.825 72.245 72.286 111.047 138.937 138.204 * Variação em relação ao ano anterior. ÁREA 98 /9 9 99 /2 00 0 97 /9 8 96 /9 7 95 /9 6 94 /9 5 93 /9 4 92 /9 3 91 /9 2 90 /9 1 160.000 140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 - PRODUÇÃO Figura 2. Área plantada (ha) e produção (ton.) de soja no Núcleo Regional de Umuarama, no período 1991/92 a 1998/99. Fonte : SEAB/DERAL/Umuarama 5-9 A prefeitura do município de Umuarama juntamente com a Secretaria Municipal da Agricultura e Meio Ambiente instituiu através do decreto nº 034/97 de 13 de março de 1997 o Programa de Arrendamento de Terras - PATER, uma idéia originada em Uberaba e Uberlândia, Minas Gerais. Foi determinado que o programa seria desenvolvido através de uma bolsa de arrendamento e parcerias que tem um regulamento de organização e funcionamento, onde os participantes fazem sua adesão às condições estabelecidas. Tem como objetivo a utilização racional de áreas de terras destinadas à produção agrícola no município, visando o aumento da produção e da produtividade rural, promovendo o maior aproveitamento da potencialidade das terras e do homem do campo, bem como a sua fixação no meio rural, a elevação dos níveis de emprego na região e a obtenção de maior rentabilidade para os proprietários rurais e agricultores, buscando produzir mais alimentos, propiciar o incremento à agroindústria e aumentar a capacidade de investimentos do município (UMUARAMA, 1997). Cumpre destacar que o PATER não está associado exclusivamente à produção de soja e nem somente ao município de Umuarama, pois abrange áreas de outros municípios da região. A Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente tem como função assessorar os participantes deste programa, colocando à disposição dos mesmos, materiais e resultados de estudo e pesquisas disponíveis, procurando, para esta finalidade, manter parcerias com entidades públicas e privadas. Deve ainda atuar junto às instituições financeiras, no sentido de viabilizar recursos para o financiamento da produção (UMUARAMA, 1997). Ocorre que o lançamento do PATER se deu no ano seguinte ao da lei Kandir, que desonerou as exportações de grãos in natura do ICMS9 (Favato, 2001). Com isso, fica a dúvida se o aumento verificado na figura acima se deve ao PATER ou foi uma resposta a preços. Uma das maneiras de verificar isso é através da evolução da área e produção no Núcleo Regional de Umuarama comparadas com os dados para o estado do Paraná. Isso é mostrado na Figura 3, onde é possível observar que os aumentos no primeiro caso foram maiores que no segundo (por exemplo, entre as safras 96/97 e 97/98, as variações de área foram, respectivamente, de 74% e 13%, e para a produção, 53% e 11%). Se o crescimento fosse simplesmente reação a preços, seria de esperar que as variações fossem proporcionais. Os dados indicam que pode ter ocorrido influências localizadas, por exemplo do PATER. Outra possível explicação, não excludente, é a disponibilidade de área para cultivo em função da redução da área plantada com algodão10 , ocorrida principalmente em função de problemas climáticos e facilidade de importação – com financiamentos externos a juros baixos e prazo dilatado (Bittencourt & Lopes, 2000). Além disso, estes autores destacam que, com a estabilidade econômica, houve redução na influência dos preços relativos sobre o desempenho da agricultura. Também é possível verificar a marcante disparidade entre os crescimentos de área no Núcleo Regional de Umuarama nos dois últimos anos-safra analisados. 9 Que provocou crescimento na exportação de soja em grão em relação aos derivados processados (óleo e farelo). Segundo dados do SEAB/DERAL/Umuarama, a área plantada com algodão no Núcleo sofreu redução de 75% da safra 90/91 para a safra 96/97. 10 6-9 2,50 2,00 1,50 % 1,00 0,50 0,00 91/92 92/93 93/94 % da produção 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 % da área Figura 3. Percentual de área plantada e da produção de soja no Núcleo Regional de Umuarama em relação ao Paraná, no período 1991/92 a 1998/99. Fonte: DERAL/DEB - SEAB/PR (1990 a 1999) Além de ser uma fonte rentável para a agricultura em si, chega-se a afirmar que a soja está sendo a principal alavanca propulsora do crescimento da região de Umuarama. Várias matérias mostram este tipo de associação. Segundo empresários do ramo imobiliário, se a agricultura vai mal, toda a economia acaba sendo prejudicada, mas se vai bem, vários setores são beneficiados. No caso do município de Umuarama, a retomada da agricultura, aliada ao crescimento do setor de educação superior, está fazendo com que os agricultores invistam cada vez mais em imóveis, que são ocupados por jovens que vêm em busca de cursos oferecidos pela Unipar (Universidade Paranaense). A construção civil é a mais beneficiada. Além do mercado de imóveis, a cultura da soja também ajuda a aquecer setores de restaurantes, hotéis, postos de combustíveis, insumos agrícolas e supermercados, além do comércio em geral (SOJA revitaliza... 1999). Tal informação deve ser tomada com certo cuidado, uma vez que, como é mostrado na Tabela 2, não houve crescimento expressivo do valor adicionado total do município no período analisado. No entanto, deve ser ressaltado a variação do valor adicionado do setor primário entre os anos de 1996 e 97, de 14,8%, sendo que tal aumento não foi verificado para os outros setores, ainda que, segundo PREÇOS (2001), os preços recebidos pelos produtores de soja sofreram redução de 26% entre os mesmos anos. Além disso, houve queda no Valor Adicionado do setor primário (e de sua participação no Valor Adicionado total do município) nos dois últimos anos do período. 7-9 Tabela 2. Evolução do Valor Adicionado por setor, no município de Umuarama (R$ milhões de 1999) de 1995 a 1999. SETOR 1995 1996 1997 1998 1999 PRIMÁRIO 30,85 29,91 34,34 25,15 25,91 SECUNDÁRIO 37,60 40,82 36,96 37,50 38,91 COMÉRCIO 78,92 77,98 67,83 76,36 82,92 SERVIÇOS 24,06 25,94 27,66 29,71 29,58 TOTAL 171,44 174,66 166,79 168,73 177,32 Fonte: IPARDES (2000) Deflator: IGP-DI CONSIDERAÇÕES FINAIS As informações apresentadas no presente estudo permitem afirmar que houve comportamento diferenciado no Núcleo Regional de Umuarama em relação ao Paraná. Um primeiro ponto refere-se à tecnologia como condição necessária para que isso pudesse ocorrer. Como já foi mostrado, a evolução da soja no Núcleo Regional de Umuarama, foi possível com a ajuda de órgãos como IAPAR, Secretária da Agricultura, que através de projetos de pesquisa como "Estudos de recuperação de áreas de pastagens degradadas no Noroeste do Paraná" e o PATER, procuram apresentar resultados obtidos em suas pesquisas, disponibilizando de forma mais ágil as informações para serem consultadas pelos profissionais, produtores, lideranças, autoridades do setor rural e todos aqueles que possam contribuir para o desenvolvimento da região do Arenito Caiuá (Oliveira et al., 2000). O resultado é que na safra 91/92 a produção de soja no Núcleo Regional de Umuarama não chegava a 1% da produção do Paraná, sendo que na safra de 98/99 quase chega aos 2%. Esta participação relativamente pequena não significa que o objeto de estudo seja desprezível, pois Choguill (1989) afirma que o desenvolvimento de pequenos centros pode ter impactos pouco expressivos para o país, mas que pode ser importante no âmbito regional A tecnologia foi condição necessária, mas não suficiente. O estudo mostra que o padrão diferenciado pode ter sido decorrência do PATER, influenciando nas decisões de plantio ao mostrar que se trata de um processo tecnologicamente viável, além da influência da redução expressiva da área plantada com algodão. Esses produtores podem ter vislumbrado na soja uma nova alternativa interessante de cultivo. Por fim, e considerando a questão do PATER, tem-se que houve difusão do crescimento da área plantada com soja para os municípios adjacentes, mostrando e confirmando a importância das iniciativas locais para o desenvolvimento regional. Evidentemente o estabelecimento de causalidade inequívoca entre o PATER e o crescimento na área plantada com soja (grãos) no Núcleo Regional de Umuarama só poderia ser feito com pesquisa a campo e documental, que fogem aos objetivos do presente estudo, mas podem ser levadas a cabo em pesquisas futuras. 8-9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, A.F. Contribuição da agricultura ao crescimento econômico: o excedente financeiro de 1980 a 1998. Piracicaba, 2000. 127p. Tese (doutorado) - USP/ESALQ. ASSUMPÇÃO, A.G; GALINA, L.A.; CONSONI, R. Mudanças no padrão de desenvolvimento agro-industrial: o caso do norte do Paraná. Revista de Economia e Sociologia Rural, v.28, n. 4, p. 132-142, out./dez. 1990. BITTENCOURT, M.V.L.; LOPES, M.G.F.S. Evolução da agricultura no Paraná para o período 1991 - 1998: uma análise comparativa. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 38. Anais. Rio de Janeiro, 2000. [CD-ROM] BONUGLI, A.A.B. Evolução do cultivo da soja no Noroeste do Paraná na década de 90: estudo de caso do Núcleo Regional de Umuarama. Maringá, 2000. 70p. Monografia (Graduação) – Departamento de Economia/UEM. CHOGUILL, C. L. Small towns and development: a tale from two countries. Urban Studies, v.26, n.2, p. 267-74, 1989. EVANS, H. E. A virtuous circle model of rural-urban development: evidence from a kenyan small town and its hinterland. The Journal of Development Studies, v. 28, n. 4, p. 64067, jul. 1992. FAVATO, G. ICMS – Incidência nas Atividades Agrícolas: O caso dos Produtos Soja, Café e Milho. Maringá, 2001. 70p. Monografia (Especialização) – Especialização em Desenvolvimento Econômico – UEM. GAILE, G. L. Improving rural-urban linkages through small town market-based development. Third World Planning Review, v. 14, n. 2, p. 131-48, 1992. /Resumo em CAB Abstracts on CD-ROM, v. 4, 1993- jul. 1995/. GALVÃO, L. E. Agribusiness: a cadeia que liberta. Rumos, Ago. 1999. HINDERINK, J.; TITUS, M. J. Paradigms of regional development and the role of small centres. Development and Change, v. 19, n. 3, p. 401-23, jul. 1988. IPARDES. Base pública de Dados. Curitiba: IPARDES, 2000. (Acesso eletrônico) OLIVEIRA, E. et al. Recuperação de pastagens no Noroeste do Paraná: bases para plantio direto e integração lavoura e pecuária. Londrina: IAPAR, 2000. 96p. PEREIRA, L. B. O Estado e as transformações recentes da agricultura paranaense. Recife, 1987. 343p. Tese (Doutorado) em Economia Rural, UFPe, Departamento de Economia. PREÇOS médios... Acompanhamento da Situação Agropecuária no Paraná. Curitiba: Secretaria de Estado da Agricultura/DERAL/CEPA/PR, p.53, jan./2001. RONCA, J.L.C. Interação entre o urbano e o rural no Brasil: fator de desenvolvimento nacional. São Paulo, 1981. 298p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. SOJA revitaliza a construção civil. Imóveis & Cia, Umuarama, 1999. SOUZA, I.S.F. Condicionantes da Modernização da soja no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, p.1-27, 1999 UMUARAMA. Programa de Arrendamento de Terras – PATER. Lei no 034/97, 13 Mar. 1997. ZOTARELLI, A. A dinâmica recente do complexo agroindutrial da soja no Paraná: Produtividade e competitividade em relação ao Centro-Oeste do Brasil. Maringá, 2000. 152p. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Economia/UEM. 9-9