O perfil postural do jovem
futebolista
Bruno Miguel Ferreira Maia Dias
Porto, 2009
I
II
O perfil postural do jovem futebolista
Monografia realizada no âmbito da disciplina de
Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e
Educação Física, na área de Alto Rendimento da
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Orientador: Professor Doutor Júlio Garganta
Co-Orientador: Dr. João Brito
Bruno Miguel Ferreira Maia Dias
Porto, 2009
I
Referência:
Dias, Bruno. M. F.M. (2009). O perfil postural do jovem futebolista. Dissertação
de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto.
PALAVRAS-CHAVE: AVALIAÇÃO POSTURAL, DESVIOS POSTURAIS,
FUTEBOL, LESÕES, JOVENS.
II
Agradecimentos
É justo e sensato agradecer primariamente aqueles que directamente
contribuíram para que este trabalho fosse concluído.
Por isso, queria agradecer ao Prof. João Brito, pela atenção,
disponibilidade e competência no auxílio extremamente precioso prestado para
a elaboração deste trabalho. O meu muitíssimo obrigado João, sem ti não seria
possível.
Queria agradecer também ao Prof. Doutor Júlio Garganta pela sua
disponibilidade para orientar esta minha dissertação.
Agora gostava de agradecer com especial carinho, aqueles que
indirectamente contribuíram para a realização deste trabalho, não com os seus
conhecimentos científicos mas pela amizade profunda, que foi nutrida durante
os cinco anos de curso. A proximidade, a cumplicidade e os vários momentos
passados durante todos estes anos, fazem com que eu sinta que todos estes
anos valeram realmente a pena. Sem citar nomes, porque são muitos, o meu
muitíssimo obrigado para os “mesmo de sempre”, eles sabem quem são.
III
IV
Índice Geral
Agradecimentos .............................................................................................. III
Índice Geral....................................................................................................... V
Índices de Quadros .........................................................................................IX
Índice de Gráficos ........................................................................................... XI
Resumo .......................................................................................................... XIII
Abstract...........................................................................................................XV
1. Introdução................................................................................................ - 1 - 2.2. Lesões no Futebol jovem ..................................................................- 9 - 2.2.2. Factores causais das anomalias estáticas ............................... - 14 - 2.3. Avaliação postural ........................................................................... - 15 - 2.3.1. Postura Padrão......................................................................... - 16 - 2.3.2. Desalinhamentos posturais mais comuns em futebolistas ....... - 17 2.3.2.1. Coluna Vertebral ................................................................... - 17 2.3.2.1.1. Cifose/Hiperlordose ...................................................... - 17 2.3.2.1.2. Escoliose ....................................................................... - 18 2.3.2.2. Pelve/Quadril ........................................................................ - 18 2.3.2.3. Joelho ................................................................................... - 18 2.3.2.3.1. Genu Valgus/Varus........................................................ - 18 2.3.2.3.2. Genu Recurvatum.......................................................... - 19 2.3.2.4. Tornozelo/Pé ........................................................................ - 20 2.3.2.4.1.Pé Cavus/Planus ............................................................ - 20 2.3.2.4.2. Pé Varum/Valgus........................................................... - 21 V
2.3.2.4.3. Hallux Valgus................................................................. - 21 2.3.2.5. Dismetrias nos membros inferiores....................................... - 22 2.3.3. Anomalias estáticas e o Futebol ............................................... - 22 - 2.3.4. A importância da avaliação postural como medida preventiva . - 26 - 3. Material e Métodos ...................................................... - 29 -_Toc245188375 3.1. Amostra........................................................................................... - 31 - 3.2. Procedimentos Metodológicos ........................................................ - 31 - 4. Apresentação de resultados ........................................ - 37 -_Toc245188379 4.1. Análise descritiva geral ................................................................... - 39 - 4.1.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 39 - 4.1.2. Membros Inferiores................................................................... - 41 4.1.2.1. Dismetrias............................................................................. - 42 4.2. Perfil Postural dos Atletas por escalão............................................ - 42 - 4.2.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 42 - 4.2.2. Membros Inferiores................................................................... - 44 4.2.2.1. Dismterias............................................................................. - 46 4.3. Perfil Postural dos Atletas por Anos de Prática............................... - 46 - 4.3.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 47 - 4.3.2. Membros Inferiores................................................................... - 48 4.3.2.1. Dismetrias............................................................................. - 50 4.4. Perfil Postural dos Atletas por Posições no Terreno ....................... - 50 - 4.4.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 51 - 4.4.2. Membro Inferiores..................................................................... - 52 4.4.2.1. Dismetrias............................................................................. - 54 4.5. Perfil Postural dos Atletas por Estádio Maturacional....................... - 54 - VI
4.5.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 55 - 4.5.2. Membros Inferiores................................................................... - 56 4.5.2.1. Dismetrias............................................................................. - 58 5. Discussão dos Resultados..................................................................... - 59 - Discussão dos Resultados ........................................................................... - 61 - 5.1. Coluna vertebral .............................................................................. - 62 - 5.2. Pelve/Quadril................................................................................... - 65 - 5.3. Joelho..............................................................................................- 66 - 5.4. Tornozelo/Pé ................................................................................... - 68 - 5.5. Dismetrias nos membros inferiores ................................................. - 70 - 6. Conclusões ............................................................................................ - 73 - 7. Sugestões.............................................................................................. - 77 - 8. Bibliografia ............................................................................................. - 81 - _Toc245188406 VII
VIII
Índices de Quadros
Quadro 1: Caracterização da amostra ............................................................ 31
Quadro 2: Análise Descritiva dos Desvios Posturais na cabeça tronco e quadril
da amostra Geral.............................................................................................. 40
Quadro 3: Análise das diferenças intra-variável, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril na amostra geral................................... 40
Quadro 4: Análise Descritiva dos Desvios Posturais nos membros inferiores da
amostra Geral................................................................................................... 41
Quadro 5: Análise das diferenças intra-variável, da prevalência dos desvios
posturais nos membros inferiores na amostra geral......................................... 41
Gráfico 6: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior
dominante e membro inferior não dominante da amostra geral ....................... 42
Quadro 7: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão........................... 43
Quadro 8: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão........................... 44
Quadro 9: Análise das diferenças intra-escalão, da prevalência dos desvios
posturais nos membros inferiores em função do escalão ................................ 45
Quadro 10: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios
posturais nos membros inferiores em função do escalão ................................ 45
Quadro 11: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior
dominante e membro inferior não dominante em função do escalão ............... 46
Quadro 12: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos aos de prática............... 48
Quadro 13: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos anos prática.................. 48
Quadro 14: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios
posturais nos membros inferiores em função dos anos de prática................... 49
Quadro 15: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios
posturais nos membros inferiores em função dos anos de prática................... 50
IX
Quadro 16: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior
dominante e membro inferior não dominante em função dos anos de prática . 50
Quadro 17: Análise das diferenças intra-posição no terreno, da prevalência dos
desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no
terreno ............................................................................................................. 52
Quadro 18: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno ......... 52
Quadro 19: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios nos
membros inferiores em função da posição no terreno ..................................... 53
Quadro 20: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios
posturais nos membros inferiores em função da posição no terreno ............... 53
Quadro 21: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior
dominante e membro inferior não dominante em função da posição no terreno54
Quadro 22: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional ...... 55
Quadro 23: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional ...... 56
Quadro 24: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios
posturais nos membros inferiores em função do estádio maturacional............ 57
Quadro 25: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios
posturais nos membros inferiores em função do estádio maturacional............ 57
Quadro 26: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior
dominante e membro inferior não dominante em função do estádio
maturacional..................................................................................................... 58
X
Índice de Gráficos
Gráfico 1: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em
função do escalão ............................................................................................ 43
Gráfico 2: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores, em
função do escalão ............................................................................................ 45
Gráfico 3: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em
função dos anos de prática .............................................................................. 47
Gráfico 4: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em
função dos anos de prática ................................................................................................49
Gráfico 5: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em
função da posição no terreno ........................................................................... 51
Gráfico 6: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em
função da posição no terreno ........................................................................... 53
Gráfico 7: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em
função do estádio maturacional........................................................................ 55
Gráfico 8: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em
função do estádio maturacional........................................................................ 57
XI
xii
Resumo
A incidência de lesões associadas à prática desportiva tem aumentado
nos últimos anos devido às grandes exigências físicas e psíquicas que a
actividade pressupõe, como é o caso do futebol. A prevenção de lesões deve
ser assim uma preocupação de todos os agentes ligados ao desporto.
O objectivo principal deste trabalho era caracterizar o perfil postural de
jovens jogadores de futebol, determinando a prevalência de desvios posturais,
descrevendo os desvios mais comuns, enquadrá-los com as categorias
estabelecidas e também salientar a importância da avaliação postural como
uma medida preventiva para a identificação dessas mesmas anomalias.
A amostra deste estudo foi constituída por 300 crianças e jovens
futebolistas, com idades compreendidas entre os 8 e 18 anos (12,95 ± 2,19
anos; 3,41 ± 2,26 anos de prática; 1,56 ± 0,14 m de altura; 49,38 ± 14,10 kg de
peso).
Na avaliação dos atletas procedeu-se ao preenchimento de um
questionário para obtenção de alguns dados pessoais. Posteriormente,
realizou-se uma avaliação antropométrica, maturacional e postural.
A avaliação postural foi realizada através de um “scan” visual, com os
atletas na posição anatómica e em pé, e nos planos: frontal (anterior e posterior
e sagital (esquerdo e direito). A avaliação teve por base a postura padrão
descrita por Kendall (2007).
No tratamento estatístico dos dados, para além da análise descritiva,
utilizámos o teste não paramétrico qui-quadrado, para análise das diferenças
intra-grupo e entre grupos em função das várias categorias e variáveis em
estudo, e também a análise de variância (ANOVA), para analisar possíveis
dismetrias em função da amostra geral e as várias categorias em estudo.
A prática desportiva, nomeadamente o futebol, parece ter forte influência
na prevalência de alguns desvios posturais aqui apresentados, nomeadamente,
a escoliose, hiperlordose, joelho varo, joelho recurvado, pé varo, hallux valgus
e dismetrias nos membros inferiores. Os desvios posturais mais prevalentes
foram a assimetria de ombros (76,7%, p≤0,001), e a assimetria do quadril
(51,7%, p=0,564).
xiii
Medidas preventivas devem ser tomadas para correcção de desvios
posturais, que podem diminuir a prevalência e incidência de lesões nos jovens
futebolistas, nomeadamente lesões de “overuse”.
PALAVRAS-CHAVE: AVALIAÇÃO POSTURAL, DESVIOS POSTURAIS,
FUTEBOL, LESÕES, JOVENS.
xiv
Abstract
The incidence of sport injuries has increased in the recent years due to
the great physical and mental demands that this activity requires, as in football.
The injury prevention should be a concern as those involved with the sport.
The main objective of this study was to characterize the postural profile
of youth football players, determining the prevalence of postural deviations,
describing the most common deviations, and fit them with the established
categories, and also to point out the importance of postural assessment as a
survey measure for the identification of those anomalies.
The sample was constituted by 300 children and young footballers aged
8 and 18 years (12.95 ± 2.19 years, 3.41 ± 2.26 years of practice, 1.56 ± 0.14 m
high; 49.38 ± 14.10 kg weight).
In the evaluation, players filled in a questionnaire to obtain some
personal data. Subsequently, there was anthropometric, maturity and postural
evaluations.
Postural assessment was performed using a visual scan, with the
athletes in the anatomical standing position , in the planes: frontal (anterior and
posterior sagittal (left and right). The assessment was based on the standard
posture described by Kendall (2007).
Statistical
analysis
considered
descriptive
analysis
and
the
nonparametric chi-square test for analysis of differences within the group and
between groups, according to several categories and variables under study,
and also the analysis of variance (ANOVA) to analyze possible dysmetria on the
basis of the overall sample and the various categories under study.
Sports practice, particularly football, seems to have strong influence on
the prevalence of certain postural deviations presented in our study, including
scoliosis, hyerlordosis, knee varus, hyperextension of the knee, foot varus,
hallux Valgus and dysmetria in the lower limbs. The most prevalent postural
change was the asymmetry of the shoulders (76.7%, p ≤ 0.001), and the
asymmetry of the hip (51.7%, p=0,564).
xv
Preventive measures must be taken to correct postural deviations, which
can reduce the prevalence and incidence of injuries in young players, including
overuse injuries.
Key-Words:
POSTURAL
ASSESSMENT,
FOOTBALL, INJURIES, YOUNG.
xvi
POSTURAL
CHANGES,
1.
1
Introdução
-2-
Introdução
O Futebol é um jogo com uma estrutura cinemática acíclica, onde se
verificam grandes mudanças de direcção e velocidade, consubstanciadas num
conjunto de comportamentos técnico-tácticos que são específicos, executados
em situações de cooperação-oposição (Horta, 2000).
É sabido que a elevação do rendimento acarreta uma fragilização das
estruturas tecidulares pela potenciação dos mecanismos agressivos e cada vez
mais a prevenção da lesão exige uma estreita colaboração entre a equipa
médica, os treinadores e os atletas (Aires & Horta, 2000).
A incidência de lesões na actividade desportiva tem aumentado nos
últimos anos devido as grandes exigências físicas e psíquicas que essa
actividade pressupõe. Isto tem acontecido principalmente nos mais jovens,
onde o início da prática desportiva é cada vez mais precoce e o volume e
intensidade do treino na fase inicial são cada vez maiores. A prevenção de
lesões é assim um tema fundamental na formação de todos os técnicos ligados
ao fenómeno desportivo, assim como de todos os atletas (Horta, 2000).
O conhecimento dos factores de risco de lesão desportiva, a sua
detecção e a implementação de medidas que visem a sua correcção,
compensação ou controlo são fulcrais na intervenção diária de qualquer
treinador junto dos atletas e principalmente dos jovens atletas (Horta, 2000).
São vários os autores a referirem as anomalias estáticas como tendo um
papel preponderante na incidência das lesões desportivas (Aires & Horta, 2000;
Horta, 2000; Massada, 2000; Massada, 2001; Soares, 2005). Contudo, este
factor é muitas vezes negligenciado pelos vários agentes ligados ao desporto,
mas, de facto, esta deve ser preocupação fundamental daqueles que têm por
obrigação treinar e tratar dos atletas (Massada, 2000).
No Futebol, os segmentos anatómicos mais solicitados são o pé, o
tornozelo, o joelho, a cintura pélvica e a coluna (Aires & Horta, 2000).
O diagnóstico de alterações morfológicas do sistema osteoarticular ou
muscular, como por exemplo, dismetria dos membros inferiores, escolioses,
cifoses, joelhos e retropés valgos ou varos, pés cavos ou planos, é igualmente
-3-
importante pois estas situações, se não forem compensadas ou corrigidas,
podem predispor o atleta à lesão desportiva (Horta, 2000).
A associação de uma anomalia anatómica a um desequilíbrio muscular
pode predispor o jovem atleta à lesão se não forem tomadas medidas a nível
do planeamento do treino (Horta, 2000).
Aires (2000) acrescenta que a observação dos erros de alinhamento
pode contribuir também para o estabelecimento de programas correctores, que
visam contrariar os desequilíbrios musculares, resultantes ou geradores, cujo
agravamento é também consequência da própria actividade desportiva.
É então fundamental consciencializar todos os agentes ligados ao
fenómeno desportivo, muito particularmente, os atletas, os treinadores e os
dirigentes desportivos, para a importância do exame de avaliação médicodesportiva, principalmente em termos de prevenção de lesões (Horta, 2000).
A avaliação postural é uma valiosa ferramenta que tem sido
subvalorizada pelos agentes desportivos. No entanto, a avaliação postural
pode ser uma mais-valia para estudar e acompanhar os atletas de alta
competição, tendo em conta a melhoria da sua performance desportiva.
-4-
2. Revisão Bibliográfica
-5-
-6-
Revisão Bibliográfica
2.1.
O Futebol: suas características e exigências.
O Futebol, é um jogo de equipa, em que onze jogadores de cada equipa
tentam pontuar tantas vezes quanto possível dentro do tempo e regras
permitidas (Lees & Nolan, 1998). Pertence a um grupo de modalidades com
características comuns, habitualmente designadas por jogos desportivos
colectivos (Garganta & Pinto, 1998).
Sem diminuir a importância das restantes características, é a relação de
oposição entre os elementos das duas equipas em confronto e a relação de
cooperação entre os elementos da mesma equipa, ocorridas num contexto
aleatório, que traduzem a essência dos jogos desportivos colectivos (Garganta
& Pinto, 1998).
O rendimento no futebol depende de factores tácticos, técnicos, físicos e
psicológicos/sociais. Um jogador de futebol necessita de uma grande
capacidade física, compreender bem os aspectos tácticos do jogo, ter um
elevado nível técnico, ser forte mentalmente e funcionar bem em termos sociais
no seio da equipa de que faz parte (Bangsbo, 2002; Soares, 2007).
Os factores técnicos incluem capacidades como passar, receber, driblar
e defender. As categorias mentais normalmente incorporam aspectos como
confiança, ansiedade, controlo, concentração e motivação. As qualidades
físicas incluem força, resistência e flexibilidade. Aspectos tácticos são
normalmente sub-representados, mas a antecipação, pressão, criação de
espaços e de apoio devem ser mencionadas. Finalmente, na categoria social,
encaixam a coesão, liderança, apoio do clube e acesso a instalações
adequadas (Peseiro, 2008).
Do ponto de vista fisiológico, o Futebol é um jogo extremamente
complexo, com acções específicas que evidenciam uma tipologia de esforço de
grande diversidade e que, em termos metabólicos, apelam a fontes energéticas
claramente distintas (Santos & Soares, 2001).
-7-
Quando se observam as características que se exigem no Futebol, em
termos de ritmo e duração das demandas energéticas, é evidente que um
jogador de Futebol tem que possuir capacidades aeróbias e anaeróbicas bem
desenvolvidas. As exigências energéticas ligadas a esforços repetidos de
actividades bastante intensas e breves são fornecidas via processos
anaeróbicos. O metabolismo aeróbio fornece reservas contínuas de energia
que permitem ao jogador aguentar todo o jogo a um ritmo moderado (Smith et
al., 1993).
Durante o jogo, o atleta executa diferentes acções técnicas como correr,
saltar, ganhar posse de bola, receber a bola, conduzir a bola, passar e rematar.
Todas estas acções são efectuadas com ou sem a posse de bola em series
continuas de acelerações e desacelerações de ritmo, de rápidos sprints e
varias mudanças de direcção (Saggini et al. 1993).
O Futebol, com quase 200 mil jogadores profissionais e 240 milhões de
jogadores amadores, é o desporto mais popular no mundo (Junge & Dvorak,
2004). A maioria desses jogadores são jovens e adolescentes (Timpka, Risto &
Bjormsjo, 2007). Na Europa, quase todas as crianças são expostas ao futebol
na escola, e muitas destas acabam por ingressar na prática organizada de
futebol nos seus tempos livres (Timpka, Risto & Bjormsjo, 2007).
O Futebol é inequivocamente um fenómeno de elevada magnitude no
quadro da cultura desportiva contemporânea, é uma actividade com enorme
popularidade, facto que pode ser comprovado através do vasto número de
praticantes e de espectadores que mobiliza (Garganta & Pinto, 1998).
A “evolução” do Futebol, enquanto jogo desportivo colectivo, tem
passado, cada vez mais, pelo estudo e sistematização de elementos relativos a
duas realidades interdependentes: o jogo e o jogador. Contudo, os trabalhos
efectuados circunscrevem-se, essencialmente, ao Futebol de alto nível e ao
jogador sénior (Seabra, Maia & Garganta, 2001).
No que concerne à criança e ao jovem jogador de Futebol importa
salientar que as pesquisas são escassas. Tal facto não parece ser muito
compreensível dado que o jovem atleta se encontra numa das primeiras etapas
-8-
da sua preparação e formação e que visam o alto rendimento desportivo
(Seabra, Maia & Garganta, 2001).
Torna-se imperioso conhecer e sistematizar a maior quantidade e
diversidade de informação acerca dos jovens que são submetidos, desde muito
cedo,
a
actividades
físicas
organizadas,
altamente
especializadas
e
sistemáticas, sobretudo no que à resposta ao treino e competição dizem
respeito (Seabra, Maia & Garganta, 2001).
Este desporto continua a propiciar a uma enorme quantidade de jovens,
a oportunidade da prática de uma vida saudável (Anderson et al., 2000). No
entanto, os jovens praticantes estão sujeitos a um elevado risco de lesões
específicas para a sua idade (Timpka, Risto & Bjormsjo, 2007).
Foi demonstrado, que o risco de lesão no jogador profissional de futebol
é cerca de 1000 vezes maior que qualquer ocupação industrial denominada de
alto risco (Ekstrand, 2008).
A incidência das lesões desportivas em jovens praticantes tem
aumentado nos últimos 20 anos. Este incremento da incidência de lesões
desportivas nos jovens praticantes deve-se, entre outras razões, ao início da
prática desportiva em idades cada vez mais precoces, ao incremento do
volume e da intensidade, do treino na fase inicial da carreira desportiva (Horta,
2000). Não nos podemos esquecer também, que as características do próprio
jogo são um factor determinante para o elevado incide de lesões (Merron et al.,
2006).
Neste contexto, é pertinente investigar mais sobre as lesões no futebol
juvenil, a fim de adaptar e promover programas de prevenção de lesões
(Timpka, Risto & Bjormsjo, 2007).
2.2.
Lesões no Futebol jovem
Ainda não existe um consenso em relação à definição de lesão; em
geral, implica todos os tipos de danos ocorridos durante o treino e competição
(Merron et al., 2006).
-9-
Como resultado desta indefinição, foi discutido no primeiro congresso
Mundial de prevenção de lesão desportiva em Oslo (2005) um consenso para a
definição de lesão. Segundo o centro de pesquisa e avaliação médica da FIFA,
e como resultado deste mesmo congresso, uma lesão no Futebol pode ser
definida como qualquer tipo de ocorrência sofrida por um jogador, em
competição ou em treino, que o obriga a interromper a sua actividade e o
impeça de participar em, pelo menos, um treino ou jogo (Fuller et al., 2006).
Segundo vários estudos, a incidência de lesões no futebol jovem, esta
estimada entre 0,5 e 16,1 lesões por 1000 horas de prática durante a época
(Dvorak & Junge, 2000).
Num estudo realizado com jovens Futebolistas durante uma época
desportiva Futebol, verificou-se uma incidência de lesões de 4 lesões por 1000
horas de prática, sendo que a incidência foi maior durante os jogos (5,6
lesões/1000 horas de jogo) que nos treinos (3,3 lesões/1000 horas de treino).
Em relação à região anatómica mais afectada, os membros inferiores foram
claramente os mais lesados com 84% de prevalência. O estudo revela ainda
que o joelho e o tornozelo foram as áreas mais afectadas, 29% e 36%
respectivamente. As entorses (33%), as roturas (23%) e as contusões (21%),
foram os tipos de lesão mais frequentes. De todas as lesões, 30% foram lesões
menores, 32% moderadas e 32% maiores (Kakavelakis et al., 2003).
Outro estudo, mas realizado durante duas épocas desportivas,
demonstrou que a incidência de lesões nos jovens Futebolistas foi de 0,40 por
cada época. 50,4% das lesões ocorreram durante os jogos. (Price et al., 2004).
Em termos da tipologia das lesões, 66% das lesões foram classificadas como
entorses, roturas e contusões. A maioria das lesões ocorreram no membro
dominante e 90% das lesões afectaram o membro inferior, sendo a coxa, e as
articulações do joelho e tornozelo as mais afectadas. Acrescentam ainda que
actividades como corrida, mudanças de direcção e outras acções de não
contacto foram as responsáveis pela maioria das lesões (34%).
Num estudo epidemiológico mais abrangente, Junge & Dvorak (2004)
demonstraram que, independentemente do sexo e escalão, as regiões
anatómicas mais afectadas no Futebol, foram os membros inferiores, mais
- 10 -
concretamente a coxa, e as articulações do joelho e tornozelo. Tendo em conta
a tipologia da lesão, as lesões agudas foram as mais frequentes,
nomeadamente: contusões, entorses e roturas. As lesões de não contacto
demonstraram ter percentagens maiores (entre 26% a 59%), em relação as
lesões de contacto (entre 12% a 28%).
O mesmos autores acrescentam que em termos de incidência de lesão,
no Futebol mais jovem a incidência parece aumentar com a idade, sendo os
jogadores na faixa etária dos 17 e 18 anos os mais afectados e que a
incidência em jogos pode chegar a ser entre 4 a 6 vezes mais elevada que a
incidência durantes os treinos.
A elevada taxa de lesões observadas nos futebolistas merece grande
preocupação por parte de todos os agentes ligados à modalidade, no sentido
de se reduzir o numero de lesões, bem como atenuar as suas consequências
(Soares, 2005), pelo que é necessário desenvolver estudos que avaliem os
potenciais factores de risco antes da ocorrência de quadros patológicos
(Murphy, Connolly & Beynnon, 2003).
Apesar das lesões poderem parecer ser causadas por um evento
isolado, elas resultam de uma complexa interacção entre factores internos e
externos (Bahr & Krosshaug, 2005). A identificação dos factores de risco das
lesões desportivas leva a que algumas situações traumáticas e potencialmente
perigosas possam ser evitadas e contornadas (Carvalho, 2004) .
2.2.1. Anomalias estáticas como factor predisponente de lesões
desportivas
Muito pouco é sabido acerca das interacções relacionadas com as
exigências do desporto e o corpo humano (Yaniv et al., 2006; Witvrouw et al.,
2009).
Negligenciado pela maioria dos atletas, e mesmo até pelos técnicos do
desporto, o conhecimento dos factores predisponentes das lesões no desporto
- 11 -
é fundamental para se poder actuar com as medidas preventivas adequadas
(Massada, 2000).
São vários os autores a referirem as anomalias estáticas como tendo um
papel preponderante na incidência das lesões desportivas (Aires & Horta, 2000;
Horta, 2000; Massada, 2000; Massada, 2001; Soares, 2005), contudo este
factor é muitas vezes negligenciado pelos vários agentes ligados ao desporto,
e acrescenta que deve ser preocupação daqueles que têm por obrigação
treinar e tratar dos atletas (Massada, 2000).
O alinhamento da anca, joelho e tornozelo têm tido um interesse
substancial como um potencial factor de risco de lesões no membro inferior
(Murphy, Connolly & Beynnon, 2003).
Na mesma linha de pensamento, Hollman et. al. (2006) referem que
muitas das lesões no membro inferior, particularmente lesões de overuse,
estão relacionadas a incorrecções biomecânicas que ocorrem entre a pélvis,
coxa, perna e pé.
Duas teorias têm sido apresentadas para explicar os efeitos das
incorrecções biomecânicas nos membros inferiores (Hollman et al., 2006) . A
primeira é uma teoria ground up, ou seja, incorrecções nas regiões distais têm
implicações na biomecânica de todo o membro inferior.
Por
exemplo,
a
pronação excessiva do pé está associada a um aumento de valgismo tíbiofemoral durante a corrida. O desalinhamento do joelho associado a uma
elevada pronação do pé está consequentemente associado a um aumento do
ângulo Q.
De forma antagónica, a teoria top down explica que factores proximais,
como a fraqueza nos músculos da zona pélvica, particularmente nos planos
frontal e transversal de movimento, contribuem para mecanismos anormais nos
membros inferiores. Alguns autores especularam que a fraqueza pélvica tem
um papel importante nos desalinhamentos do membro inferior e na etiologia
das lesões de overuse nos membros inferiores, como síndroma patelo-femoral,
síndrome da banda ílio-tibial e mesmo problemas no pé e tornozelo (Ireland et
al.,2003; Fulkerson, & Arendt, 2000; Sommer, 1988, cit. Hollman, et al., 2006).
- 12 -
Massada (2000) acrescenta que determinados gestos corporais, se
executados contra resistência, ao solicitarem em carga iterativamente sempre
as mesmas estruturas anatómicas, poderão nelas condicionar determinadas
adaptações que poderão atingir padrões anormais se não forem devidamente
reconhecidos e devidamente compensados. Anomalias estáticas (Genu valgus
e varum, dismetrias, alterações da coluna vertebral) e consequentemente os
desvios posturais que desencadeiam, alterando os eixos e as linhas de força,
produzem inicialmente tensões elevadas sobre as estruturas ligamentares e
miotendinosas, culminando posteriormente, se não corrigidas, em alterações
degenerativas articulares pela mecânica anormal do movimento.
King (2007) refere que as alterações posturais podem aumentar a
tensão de um grupo muscular, enquanto o grupo antagonista pode encurtar e
diminuir a sua flexibilidade. Lesões de overuse podem ocorrer no músculo
sujeito a maiores tensões.
Pequenas alterações de alinhamento da postura limitam o movimento e
resultam em tensão dos músculos e de outros tecidos moles. Os músculos que
estão alongados desenvolvem com frequência a sua força máxima na posição
distendida e são fracos na posição fisiológica normal (Palmer, 2000).
Wojtys et al. (2000) acrescentam que, a longo prazo, as alterações
posturais podem evoluir para processos crónicos que limitam o indivíduo para a
prática de actividades físicas, sendo ainda que maiores tempos de prática
desportiva estão associados a maiores ângulos de alterações posturais.
Neto Junior, Pastre & Monteiro (2004) acrescentam que alterações
posturais estão fortemente associadas com a biomecânica da prova do atleta,
os desequilíbrios musculares retracionais, deficit de força muscular, variação
do tónus e trofismo muscular, dominância lateral, entre outros factores, que a
médio e longo prazo podem ocasionar lesões agudas ou crónicas que
comprometem em demasia o rendimento do desportista.
- 13 -
2.2.2. Factores causais das anomalias estáticas
As anomalias estáticas podem ser causadas por vários factores, como
factores congénitos, compensatórios, desequilíbrios musculares, entre outros
(Palmer, 2000). Contudo, neste trabalho, incidimos apenas sobre os
desequilíbrios musculares e compensatórios, pois identificando as alterações
posturais, podemos actuar com programas de intervenção para minimizar,
atenuar ou corrigir essas mesmas alterações.
Muitos autores identificam a elevada exigência e característica do treino
desportivo como um dos factores causais das alterações da postura (Wojtys et
al., 2000). Em cada modalidade desportiva existem padrões de comportamento
específicos. Consequentemente, a repetição excessiva destes comportamentos
leva a que os atletas adoptem posturas prejudiciais para a estabilidade da
relação entre as várias cadeias cinéticas, pois a elevada solicitação de um
grupo muscular em detrimento de outros conduz a desequilíbrios musculares,
levando a alterações posturais devido à criação de cadeias de compensação
pelo organismo (dos Santos et al., 2007; Junior, Pastre & Monteiro, 2004).
Assim, os desportos de alto nível caracterizam-se por determinados
padrões corporais específicos à modalidade praticada, que extrapolam as
barreiras geopolíticas, sociais e culturais (Júnior, Pastre & Monteiro, 2004).
Corroborando esta afirmação, Massada (2006) fala-nos de uma
tecnopatia morfológica. Diz-nos que, embora no indivíduo sedentário as
assimetrias observadas sejam fundamentalmente devido a factores genéticos e
epigenéticos, no desportista, e mais vincadamente no atleta de alta competição
que iniciou precocemente a actividade atlética, os factores biomecânicos
estarão de alguma forma correlacionados com o acentuar das mesmas,
fundamentalmente ao nível das estruturas miotendinosas e osteoarticulares
dominantes, condicionando-lhes o aparecimento de morfologias corporais
típicas ao nível do esqueleto apendicular e axial.
Ribeiro et al. (2003) referem que o treino intenso e repetitivo de uma
modalidade desportiva proporciona a hipertrofia muscular e a diminuição da
- 14 -
flexibilidade,
causando
desequilíbrio
entre
a
musculatura
agonista
e
antagonista, favorecendo a instalação de alterações posturais.
Na mesma linha de pensamento, Júnior et al. (2004) referem que a
repetição de determinados tipos de actividade com posições e movimentos
habituais e o período e sobrecarga de treino (overtraining/overuse) provocam
um processo de adaptação orgânica que resulta em efeitos deletérios para a
postura, com alto potencial de desequilíbrio muscular.
Os mesmos autores acrescentam que grande parte dos problemas
posturais pode ser atribuída à forma de organização das rotinas do treino
desportivo, em que há a tendência em se concentrar, em demasia, o trabalho
de sobrecarga nos grupos musculares mais solicitados (responsáveis pelos
gestos atléticos), desconsiderando a acção destes sobre os músculos
profundos que agem sobre a manutenção da postura.
2.3.
Avaliação postural
A realização do exame de avaliação médico-desportivo anual para que
se possam detectar contra indicações absolutas para a prática desportiva ou
relativas para a prática de uma determinada modalidade, bem como
determinadas anomalias anatómicas que possam predispor o jovem atleta à
lesão desportiva, é de extrema importância. A detecção dessas anomalias
anatómicas (escolioses, cifoses, dismetrias dos membros inferiores, pés cavus
ou planus, genu varum ou valgus, etc.) pode condicionar o atleta e deve levar a
que sejam tomadas medidas para a correcção da compensação das mesmas
(Horta, 2000).
A monitorização postural tem sido uma preocupação da avaliação
clínica, fornecendo informação quantitativa e qualitativa das características do
ser humano. A apresentação postural do nosso corpo pode ser considerada um
mapa de movimentos padronizados. Evidências de assimetrias mediais,
laterais e/ou anteriores e posteriores, fornecem-nos pistas do modo como o
nosso corpo se adapta para manter uma performance optimizada (King, 2007).
- 15 -
Contudo, esta valiosa ferramenta não tem sido aproveitada pelos vários
agentes ligados à modalidade. No entanto, a avaliação postural pode ser uma
mais-valia para estudar e acompanhar os atletas de alta competição, tendo em
conta a melhoria da sua performance desportiva.
Para verificar potenciais distúrbios na coluna, a inspecção da postura
é fundamental. A avaliação postural deve observar uma possível cifose,
lordose, ou escoliose. O alinhamento dos membros inferiores também é
importante na avaliação de lesões de overuse. A inspecção pode revelar se os
pés são planos ou cavos, se os quadris são rodados internamente ou
externamente, se a tíbia é rodada internamente ou externamente, se os joelhos
são varo ou valgo, e/ou se os joelhos estão em hiperextensão ou hiperflexão
(Anderson, 2005).
2.3.1. Postura Padrão
A academia americana de Ortopedia conceitua postura como o estado
de equilíbrio dos músculos e ossos com capacidades para proteger as demais
estruturas do corpo humano de traumatismos, seja na posição em pé, sentada
ou deitada (Junior, Pastre, & Monteiro, 2004). Sobre estas condições os
músculos trabalham de forma eficiente (Penha et al., 2005).
Uma postura deficiente é caracterizada por uma defeituosa relação entre
as várias regiões anatómicas, que produz uma maior tensão nas estruturas de
suporte e onde ocorre uma menor eficiência no equilíbrio das mesmas (Penha
et al., 2005).
Para Kendall et al. (2007), a postura humana é a relação cinemática
entre as posições dos complexos articulares do corpo num dado momento.
Num alinhamento esquelético ideal, espera-se que os músculos, articulações e
suas estruturas esqueléticas se encontrem em estado de equilíbrio dinâmico,
gerando uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, conduzindo a uma
eficiência óptima para o aparelho locomotor.
Estes
autores
acrescentam
ainda que é necessário descrever uma postura padrão para podermos observar
e diagnosticar desvios posturais.
- 16 -
2.3.2. Desalinhamentos posturais mais comuns em futebolistas
No futebol, os segmentos anatómicos mais solicitados são o pé, o
tornozelo, o joelho, a cintura pélvica e a coluna (Aires & Horta, 2000).
O desporto apresenta características próprias que propiciam lesões
tráumato-ortopédicas. Observamos na literatura que alterações posturais como
genu varum ou valgum, curvas lordóticas ou escolióticas estruturadas,
discrepâncias
verdadeiras
no
comprimento
dos
membros,
anca
com
anteroversão ou retroversão, exagerado genu recurvatum e tipo anormal do pé,
estão associadas a lesões no Futebol (Aires & Horta, 2000; Gould, 1993)
2.3.2.1.
Coluna Vertebral
No futebol, a coluna vertebral é solicitada quer nos gestos dos membros
inferiores, quer no acto de cabecear a bola, quer como alvo de solicitações
desequilibrantes (Aires & Horta, 2000). Assim, não podemos dissociar desvios
posturais localizados no trem superior com o trem inferior.
2.3.2.1.1.
Cifose/Hiperlordose
Cifose é uma curvatura posterior excessiva da espinha midotorácica
superior. A espinha torácica superior apresenta normalmente um contorno
arredondado, mas esta curva pode ser acentuada por factores congénitos,
factores compensatórios, desequilíbrios musculares entre outros factores.
Contrariamente à cifose, a hiperlordose é uma curvatura anterior excessiva da
espinha lombar. Um aumento da curva lordótica pode ter causa congénita, mas
também pode dever-se a desequilíbrios musculares, como fracos abdominais,
fortes flexores da coxa e fortes extensores das costas, que favorecem a
rotação anterior da zona pélvica (Palmer, 2000; Shultz, 2000).
Ambas as anomalias poderão ser verificadas na vista lateral.
- 17 -
2.3.2.1.2.
Escoliose
A escoliose é comummente observada na espinha torácica e lombar ou
em ambas as áreas.
Os processos espinhosos das vértebras ficam localizados lateralmente à
linha média do tronco (Palmer, 2000) e podem ser identificadas como uma
linha C ou linha S (Houglum, 2001).
Uma linha C é identificada consoante a orientação da convexidade
(esquerda ou direita). A linha S pode ser uma compensação da linha C.
As escolioses podem ser causadas por deformações congénitas da
espinha, dismetrias dos membros inferiores e hipersolicitação unilateral.
As escolioses podem causar fadiga muscular e um aumento do stress
ligamentar do lado convexo devido á sua fraqueza estrutural (Houglum, 2001).
Poderemos verificar esta anomalia na vista posterior.
2.3.2.2.
Pelve/Quadril
Na inclinação pélvica lateral, a pélvis desvia-se no plano coronal para a
esquerda ou direita, isto é, um lado da pélvis situa-se mais elevado que o outro
(Palmer, 2000).
Poderemos verificar esta anomalia tanto na vista anterior como posterior
2.3.2.3.
Joelho
2.3.2.3.1.
Genu Valgus/Varum
Nos joelhos, articulações muito solicitadas, os desalinhamentos
favorecem a patologia microtraumática como entesites dos ligamentos e
músculos, tendinites e microlesões meniscais, facilitadoras de lesão de maior
dimensão, obrigando muitas vezes a intervenção cirúrgica (Aires, 2000).
- 18 -
No genu varum, o segmento distal desvia-se na direcção da linha média
em relação ao segmento proximal, e a articulação do joelho ocupa uma posição
lateral no eixo mecânico do membro inferior (Palmer, 2000). É um aumento do
normal ângulo valgus ou angulação medial da tíbia relativamente ao fémur.
Genu varum pode estar relacionado com pé cavus, rotação interna da tíbia,
abdução da anca ou excessiva rotação externa da anca (Shultz, 2000). O
varismo origina sobrecarga cápsulo-menisco-ligamentar externa, facilita a
hiperpressão interna da rótula e estreita o espaço femuro-tibial interno, o que
pode condicionar lesões meniscais internas (Aires, 2000).
O valgismo condiciona alterações inversas, ou seja, o valgismo
caracteriza-se pelo desvio lateral do segmento distal em relação ao segmento
proximal e deslocação medial do eixo articular. (Aires, 2000; Palmer, 2000;
Shultz, 2000) .
O valgismo pode ser causado por fraqueza dos quadricipites, pronação
do pé, pé plano, estruturas mediais da articulação do joelho alongadas e
retracção do trato iliotibial e das estruturas laterais da articulação do joelho.
Um joelho varo predispõe a lesões cápsulo-ligamentares externas e a
lesões meniscais, em termos macrotraumáticos e a síndrome de hiperpressão
interna da articulação tíbio-femoral, síndrome da banda ílio-tibial, entre outras
lesões microtráumaticas (Aires & Horta, 2000).
Poderemos verificar ambas as anomalias na vista anterior.
2.3.2.3.2.
Genu Recurvatum
No genu recurvatum, o joelho situa-se em hiperextensão e o stress
gravitacional incide muito adiante do eixo articular (Palmer, 2000). Pode estar
relacionado a uma excessiva rotação interna da anca com pes planus ou
rigidez do tornozelo ou do gastrocnemius, restringindo a dorsiflexão (Shultz,
2000).
O genu recurvatum, predispõe a lesões capsulares posteriores, a lesões
dos ligamentos cruzados, principalmente do cruzado posterior, a rotura dos
gémeos e isquiotibiais e a lesões meniscais, em termos de macrotraumáticas, e
- 19 -
a tendinites dos gémeos e isquiotibiais, em termos de lesões microtraumáticas
(Aires & Horta, 2000).
Esta anomalia poderá ser verificada na vista lateral.
2.3.2.4.
Tornozelo/Pé
Alterações funcionais e estruturais no pé podem alterar os arcos de
suporte, levando à diminuição da estabilidade e/ou capacidade de absorção
dos choques. Estas alterações podem ter uma forte influência no alinhamento e
mecânica do membro inferior, não só ao nível do pé, como das zonas lombar,
pélvica, joelho e tornozelo (Aires, 2000; Shultz, 2000).
Massada (2006) acrescenta que as alterações anatómicas que
aumentam ou diminuem as arcadas plantares, tal como se observa no pé
planus ou no pé cavus, afectam gravemente o apoio plantígrado, actuando
obrigatoriamente de forma nefasta na marcha, na corrida, e mesmo no simples
apoio unipodálico.
2.3.2.4.1.
Pés Cavus/Planus
O pé adquire, no futebolista, papel importante pois é o elemento
preferencial do contacto com a bola. A sua integridade arquitectónica é
necessária para a conjugação da elasticidade requerida para o amortecimento
das forças ascendentes e descendentes que nele actuam, com a rigidez
própria das alavancas ósseas (Aires & Horta, 2000).
Tanto um pé cavo muito rígido, como um pé plano demasiadamente laxo
e elástico prejudicam a biomecânica do pé e predispõem a lesão (Aires &
Horta, 2000).
O pé cavus é caracterizado por uma elevada rigidez e elevado arco
longitudinal, contractura das estruturas plantares, cabeças do metatarso
- 20 -
proeminente, elevação dos dedos e o osso navicular fica acima da linha de
Feiss (Palmer, 2000; Shultz, 2000).
O pé planus é caracterizado por um reduzido arco longitudinal medial. O
tendão de Aquiles é convexo medialmente e a tuberosidade do osso navicular
fica abaixo da linha de Feiss (Palmer, 2000). É causado por hipermobilidade,
resultado do aumento da laxidez e fraqueza muscular da superfície plantar
(Shultz, 2000).
2.3.2.4.2.
Pé Varum/Valgus
O valgismo e varismo condicionam desequilíbrios a nível da articulação
do tornozelo, facilitando o aparecimento de entorses.
O pé varum coloca o eixo do calcâneo e o eixo da perna sobre a mesma
linha longitudinal, facilitando o aparecimento de periostites e mesmo fracturas
de fadiga. O calcâneo varo, assim como o pé cavum, caracteriza-se por uma
verticalização da barra de torção, com rigidez articular, perda da função
amortecedora, que passa a ser desempenhada pelos músculos (Aires & Horta,
2000).
No valgismo e pé plano há horizontalizarão da barra de torção com
hipermobilidade, de que resulta um défice da rigidez necessária à propulsão e
sobrecarga muscular, em particular ao nível dos músculos próprios do 1º dedo
(Aires & Horta, 2000).
2.3.2.4.3.
Hallux Valgus
O hallux valgus é caracterizado pelo desvio lateral do primeiro dígito da
articulação metatarsofalangeana (Palmer, 2000).
Esta deformidade pode ser causada pelo crescimento excessivo da
cabeça do primeiro metatarso, luxação articular, músculo abdutor do hallux
alongado ou músculo adutor do hallux retraído (Houglum, 2001).
- 21 -
2.3.2.5.
Dismetrias nos membros inferiores
A nível dos membros inferiores, a medição dos mesmos permite o
despiste de dismetrias, condicionadoras de alterações da estática vertebral no
plano frontal e sobrecarga a nível dos membros inferiores (Aires, 2000).
A medição torna-se mais importante ainda quando a dismetria dos
membros inferiores é significativa e afecta indivíduos que praticam desporto,
onde a repetição gestual determina a solicitação cíclica e intensa das
estruturas anatómicas dos membros inferiores (Massada, 2006).
O mesmo autor acrescenta que essa alteração significativa do
comprimento dos membros inferiores executa no membro mais curto uma série
de compensações semelhantes às que se observam num pé plano. São
característicos o aumento da rotação interna da tíbia, da pronação do retropé e
a rotação interna da coxa, factos que hipersolicitam as articulações do joelho,
tornozelo, subastragaliana, mediotársica e coxofemoral.
O aumento dos esforços devidos à repetição gestual, associado às
alterações mecânicas determinadas pela dismetria dos membros, poderá
determinar em alguns desportistas o aparecimento de uma patologia de
overuse chamada de short leg sindrome (Massada, 2006).
Esta anomalia poderá ser verificada tanto na vista anterior como
posterior.
2.3.3. Anomalias estáticas e o Futebol
Leite & Neto (2003) observaram no seu estudo sobre lesões no Futebol
feminino, que a entorse de tornozelo foi o trauma mais frequente e que as
atletas lesionadas apresentavam alterações posturais como, genu varum ou
valgu, anomalias do pé, aumento do ângulo Q e assimetria de membros
inferiores. Desta forma, os autores acreditam que alterações posturais podem
aumentar o risco de lesões tráumato-ortopédicas nesta prática desportiva.
- 22 -
Ribeiro et al. (2003) observaram que há relação entre alterações
posturais e incidência de lesões em jogadores de futsal com idade entre 9 e 16
anos, principalmente no grupo que apresentava hiperlordose lombar.
Acrescentam que as alterações posturais geram uma sobrecarga mecânica
extra nas estruturas osteomioarticulares, podendo predispor os segmentos
envolvidos à lesão.
Watson (1995) verificou que 51,9% dos atletas de Futebol avaliados
apresentavam aumento da lordose lombar. Relatou que 67% dos atletas com
essa alteração postural sofreram lesão muscular, enquanto que no grupo sem
alteração postural apenas 36% tiveram essa mesma lesão. Esse autor mostrou
que há relação entre o aumento da lordose lombar e a incidência de lesão.
Acrescenta ainda que indivíduos que sofreram roturas musculares apresentam
uma incidência maior de hiperlordose e genu varum.
Hennessy & Watson (1993) também associaram a hiperlordose a lesões
nos isquiotibiais.
Wodecki et al. (2002) acrescentam ainda que, nos jogadores de Futebol,
verifica-se uma menor cifose torácica e um aumento no grau de lordose
lombar. Em termos de atitude escoliótica, Massada (2006) refere que com a
idade existe uma diminuição estatisticamente significativa do alinhamento
normal da coluna vertebral e um aumento significativo das atitudes escolióticas
dorsais e dorsolombares.
Segundo Bienfait (1995, cit. da Silva et al. 2008), não há hiperlordose
sem anteversão pélvica. De entre as causas que levam à hiperlordose lombar e
anteversão da anca, estão a tensão dos flexores da anca, a contractura da
musculatura lombar e fraqueza dos músculos abdominais e glúteos.
Gabbe et al. (2005) verificaram que a diminuição da flexibilidade dos
músculos flexores da anca e dos quadricípites estão identificados como
factores de risco para as lesões nos isquiotibiais.
De facto, parece ser possível relacionar o alto índice de hiperlordose
lombar à prática desportiva, uma vez que, em comparação com indivíduos não
atletas na faixa etária entre 8 e 18 anos, os atletas apresentaram alteração
significativa na curvatura lombar (Hutchinson, 1999 cit. da Silva et al., 2008).
- 23 -
Em relação aos pés, Razo et al. (1994) investigaram o alinhamento
postural de 48 crianças entre sete e 14 anos praticantes de Futebol e
observaram que 31,2% delas apresentavam alterações nos arcos plantares. O
pé cavo foi a postura mais observada em comparação com o pé plano. Os
mesmos autores referem ainda que a incidência de pés cavos ou planos está
associada a lesões crónicas ou a microtraumas em praticantes de modalidades
desportivas, já que alterações no apoio plantar, em função dos movimentos
desportivos, podem ser consideradas como factor de risco de lesão.
Grabara (2008), num estudo sobre a prática de Futebol e alterações no
membro inferior em jovens entre os 10 e os 14 anos, verificou que os
futebolistas examinados, especialmente com aqueles com maior tempo de
prática, apresentavam tendência para genu varum e halux valgus.
No Futebol, a articulação do joelho sustem uma enormidade de cargas e
picos de força, particularmente na alta competição (Witvrouw, et al., 2009).
Chantrain (1985, cit. Witvrouw et al., 2009) refere a hipótese de que um
elevado stress imposto na articulação do joelho durante o crescimento e
adolescência, associado à prática desportiva, pode contribuir para um
crescimento deformado.
Os mesmos autores referem ainda que a experiência clínica indica que
os jogadores de Futebol desenvolvem mais frequentemente genu varum
comparados com pessoas que não praticam Futebol. No seu estudo sobre a
incidência de genu varum em futebolistas jovens, demonstraram existir uma
significativa diferença entre dois grupos distintos, um de não praticantes e outro
de praticantes de Futebol. Observaram também que no final do crescimento
nos rapazes, foi observada uma elevada taxa de genu varum no grupo dos
jogadores de Futebol em relação ao grupo de controlo.
Yaniv et al. (2006) demonstraram também que um grupo de jovens
futebolistas, em comparação com um grupo de jovens tenistas, desenvolveu
genu varum em maior percentagem, principalmente a partir dos 16 anos.
Massada (2006) verificou também que os jogadores jovens de Futebol
apresentam genu varum bilateral, acrescentando que nos futebolistas a torção
tibial interna é nitidamente evidente nos dois membros inferiores. O genu
- 24 -
varum do futebolista resulta quer de um varismo do eixo tíbio-femoral, quer de
uma característica torção tibial interna.
A presença de genu varum altera as forças no joelho, de forma que as
linhas de força se deslocam medialmente do centro, intensificando os
compartimentos mediais de carga, e cria uma força de reacção medial do
joelho que é aproximadamente três vezes e meia a força do compartimento
lateral (Lewek, Rudolph & Snyder-Mackler, 2004).
Para entender a associação entre o genu varum e o Futebol, é
imperativo perceber as cargas externas provocadas sobre a articulação do
joelho durante as diversas tarefas dentro de um jogo de Futebol (Witvrouw, et
al., 2009).
Olhando para o Futebol, as actividades mais frequentes durante um jogo
de Futebol profissional e jovem são a corrida, trote, passe, mudanças de
direcção, cortes defensivos e o pontapé (Capranica, et al., 2001).
Besier et al. (2001) mediram as cargas externas sobre a articulação do
joelho durante a corrida e mudanças de direcção, verificando que as tensões
varo/valgo sobre a articulação do joelho aumentaram drasticamente durante as
mudanças de direcção comparando com a corrida normal.
Chantraine (1985, cit. Yaniv et. al., 2006) observou, num grupo de exjogadores de Futebol, uma incidência de 82% de genu varum em jogadores
nunca operados, e destes, 40% apresentaram evidências radiológicas de
osteoartrite. Isto vem reforçar a necessidade de que medidas profiláticas sejam
introduzidas no treino do futebolista, para que os jogadores não sejam
prejudicados, tanto na sua performance a curto prazo, como na sua qualidade
de vida a longo prazo.
Em relação a dismetrias nos membros inferiores, Massada (2006) refere,
num estudo realizado sobre incidência desta anomalia nos jogadores de
Futebol, que estes demonstraram uma prevalência de 41,2% de dismetrais nos
membros inferiores, sendo que em 25,3% dos casos o membro inferior
esquerdo era mais longo do que o direito e que em 15,9% a relação era
contrária. Acrescenta que o maior número de dismetrais dos membros
- 25 -
inferiores surge aos 14 e 17 anos, com prevalências de 47,7% e 47%
respectivamente.
2.3.4. A importância da avaliação postural como medida preventiva
Vários são os investigadores que descrevem os factores de risco das
lesões do futebol e discutem possibilidades para a prevenção das mesmas,
contudo somente alguns investigam a efectividade da intervenção profiláctica e
propõem programas de intervenção (Junge & Dvorak, 2004).
Os cuidados preventivos abarcam um conjunto de medidas que visam a
promoção da saúde e a redução das possibilidades de ocorrência de acidentes
ou lesões, com tratamento precoce e minimização de sequelas quando
inevitáveis (Aires, 2000).
É consensual que prevenir é sempre melhor do que curar, pelo que a
identificação da predisposição de um futebolista face às lesões é o primeiro
passo a dar no sentido da sua prevenção. Não obstante, o trabalho profiláctico
é frequentemente negligenciado, mesmo no nível do Futebol de alto
rendimento (Horta, 2000).
O conhecimento dos factores de risco de lesão desportiva, a sua
detecção e a implementação de medidas que visem a sua correcção,
compensação ou controlo, são fulcrais na intervenção diária de qualquer
treinador junto dos atletas e principalmente jovens atletas (Horta, 2000).
A capacidade de se direccionar e melhorar programas de prevenção de
lesões é limitada pela compreensão global da sua etiologia (Bahr & Krosshaug,
2005), pelo que a elaboração e implementação de medidas preventivas, requer
antes de mais, que se investigue sobre os possíveis factores de risco, que
podem contribuir para uma maior susceptibilidade do futebolista face as lesões
(Bonci, 1999).
A associação de uma anomalia anatómica a um desequilíbrio muscular
pode predispor o jovem atleta à lesão se não forem tomadas medidas a nível
do planeamento do treino (Horta, 2000).
- 26 -
Aires (2000) acrescenta que a observação dos erros de alinhamento
pode contribuir também para o estabelecimento de programas correctores, que
visam contrariar os desequilíbrios musculares, resultantes ou geradores, cujo
agravamento é também consequência da própria actividade desportiva.
A identificação de desalinhamentos posturais e a implementação de
programas apropriados de correcção podem diminuir susceptíveis síndromes
de overuse e lesões agudas, e podem simultaneamente melhorar a
performance atlética (King, 2007).
- 27 -
- 28 -
3. Material e Métodos
- 29 -
- 30 -
Material e Métodos
3.1.
Amostra
A amostra deste estudo foi constituída por 300 crianças e jovens
futebolistas, com idades compreendidas entre os 8 e 18 anos (12,95 ± 2,19
anos; 3,41 ± 2,26 anos de prática; 1,56 ± 0,14 m de altura; 49,38 ± 14,10 kg de
peso), inscritos na Associação de Futebol do Porto, competindo nos vários
campeonatos correspondentes aos seus respectivos escalões: escolas (n=92,
30,7%), infantis (n=71, 23,7%), iniciados (n=93, 31%) e juvenis (n=44, 14,7%).
Quadro 1: Caracterização da Amostra (Média±DP)
Escalão (n)
Escolas - 92
Infantis - 71
Iniciados - 93
Juvenis - 44
Idade
10.30±0.65
12.58±0.49
14.39±0.55
16.33±0.56
Massa
Corporal
(Kg)
36.73±8.14
45.44±9.51
56.54±9.33
67.06±10.51
Total
12.95±2.19
49.38±14.10
3.2.
Altura (m)
1.40±0.07
1.53±0.08
1.67±0.07
1.72±0.06
Estádio
Maturacional
1.52±0.74
2.54±0.73
3.73±0.59
3.93±0.64
IMC
18.44±2.83
19.05±2.53
20.07±2.50
22.49±3.14
Anos de
Prática
2.27±1.34
2.69±1.75
4.04±2.20
5.74±2.60
1.56±0.14
2.79±1.20
19.68±3.01
3.41±2.26
Procedimentos Metodológicos
Na avaliação dos atletas procedeu-se ao preenchimento de um
questionário para obtenção de alguns dados pessoais, como escalão, a idade,
posição, lateralidade, nível competitivo, anos de prática e número de horas e
treinos semanais. Posteriormente, realizou-se avaliação antropométrica e
postural.
Na avaliação antropométrica, observámos o peso, a altura, o
comprimento dos membros inferiores, o índice de massa corporal, e a
percentagem de gordura.
- 31 -
O estádio maturacional foi determinado através de uma auto-avaliação
dos
caracteres
secundários
de
acordo
com
os
cinco
estádios
de
desenvolvimento genital e da pilosidade púbica descritos por Tanner &
Whitehouse (1982). Os avaliados, após uma explicação acerca das diferenças
dos cinco estádios, assinalaram, num questionário individual, e num ambiente
de tranquilidade e privacidade, qual deles caracterizava melhor o seu nível de
desenvolvimento.
Na avaliação postural, observámos vários desalinhamentos posturais em
várias regiões do corpo, registando somente a presença ou ausência de
desvios posturais, nomeadamente a projecção anterior da cabeça, a projecção
lateral da cabeça, a cifose dorsal, a lordose lombar, o desalinhamento pélvico,
valgismo/varismo no joelho, o joelho recurvado, a curvatura do pé,
valgismo/varismo no pé e o hallux valgus.
A avaliação postural foi realizada através de um “scan” visual, com os
atletas na posição anatómica e em pé, e nos planos: frontal (anterior e posterior
e sagital (esquerdo e direito).
A avaliação teve por base a postura padrão descrita por Kendall (2007),
que passamos a apresentar de seguida:
Na postura padrão, em vista anterior e seguindo em direcção cranial, o
hálux deve estar alinhado com o primeiro metatarso; o antepé deve estar
alinhado com o centro do pé; os arcos do pé devem estar preservados; os
tornozelos não devem estar inclinados, devem estar na mesma distância que a
borda medial dos joelhos; as tíbias devem ser rectas, sem arqueamento; os
joelhos não devem tocar-se e devem estar na mesma distância que os
maléolos mediais da tíbia; as rótulas devem estar na mesma altura e devem
apontar para a frente; a pelve deve estar em igual altura de ambos os lados,
sendo isso medido pela altura das espinhas ilíacas ântero-superiores; o tronco
deve estar recto, sem apresentar rotações ou inclinações.
Na vista lateral, o alinhamento é baseado na representação de uma linha
de referência que, na postura ideal, passa ligeiramente anterior ao maléolo
lateral do perónio, ligeiramente anterior ao centro da articulação do joelho,
levemente posterior à articulação do quadril; aproximadamente no meio do
- 32 -
tronco, através da articulação do ombro (desde que os braços pendam em
alinhamento normal em relação ao tórax), através dos corpos das vértebras
cervicais e através do lóbulo da orelha. É importante observar o paciente de
ambas as vistas, direita e esquerda. O ângulo tíbiotársico deve estar
aproximadamente a 90 graus; os joelhos devem ter de zero a cinco graus de
flexão; a pélvis deve estar alinhada de tal forma que as espinhas ilíacas
póstero-superiores e ântero-superiores estejam no mesmo plano horizontal; a
coluna deve demonstrar as curvas ântero-posteriores normais de lordose
lombar, cifose torácica e lordose cervical; os cotovelos não devem apresentar
flexão ou extensão exagerada; os ombros não devem estar protraídos.
Na vista posterior, a avaliação também se baseia numa linha imaginária
que começa no entre os calcanhares, estende-se para cima entre os membros
inferiores, passa pela linha média da pelve, coluna e cabeça. As metades
direita e esquerda devem ser simétricas, tanto estruturalmente (estrutura
esquelética) quanto superficialmente (estrutura muscular). O retropé deve ter o
apoio simétrico, não apoiado muito medial ou lateralmente; o calcâneo deve
estar em alinhamento vertical com o tendão de Aquiles; os maléolos mediais
devem ser de igual altura em ambos os lados; as fossas poplíteas, assim como
as pregas glúteas, devem ser de igual altura; a pelve deve ter igual altura em
ambos os lados, com as espinhas ilíacas póstero-superiores niveladas no plano
horizontal; a coluna deve ser recta, sem apresentar desvios laterais; os
triângulos de Tales devem ser simétricos, de ambos os lados; as escápulas
devem estar equidistantes a partir da coluna e achatadas contra a caixa
torácica; o ângulo inferior das escápulas deve estar nivelado no plano
horizontal; os ombros devem ter igual altura; a cabeça e o pescoço devem
estar rectos, sem qualquer inclinação ou rotação lateral.
Dada a definição da postura padrão, qualquer desvio relativamente à
postura padrão descrita foi considerado como alteração postural.
Para registo dos desvios posturais observados, optámos por atribuir um
número consoante a presença ou ausência de desvio (0= Sem Desvio e 1=
Com Desvio).
- 33 -
Para despiste de eventuais dismetrias, foi registado o comprimento real
dos membros inferiores, onde se faz a comparação entre membro dominante e
não dominante.
No registo do comprimento real do membro inferior, a medição realizouse da espinha ilíaca antêro-superior até à protuberância do maléolo interno
(Soares, 2005).
A amostra foi dividida em quatro categorias: em função do escalão
competitivo, dos anos de prática, da posição ocupada no terreno de jogo e do
estádio de maturação.
A categoria “escalão” foi estabelecida da seguinte forma: escolas (n=92,
10,3±0,7 anos de idade), infantis (n=71, 12,6±0,5 anos de idade), iniciados
(n=93, 14,4±0,6 anos de idade) e juvenis (n=44, 16,3±0,6 anos de idade).
A categoria “anos de prática” foi estabelecida da seguinte forma: um
primeiro grupo onde se situam os jovens com menor tempo de prática, com 0 e
2 anos de prática (n=133, 12±1,9 anos de idade), um segundo grupo com 3 e 4
anos de prática (n=65, 12,6±1,9 anos de idade), um terceiro grupo com 5 e 6
anos de prática (n=60, 14,2±1,7 anos de idade), um quarto grupo com 7 e 8
anos de prática (n=23, 15±1,6 anos de idade), e por último o grupo mais
experiente com 9 a 11 anos de prática (n= 8, 16,1±0,9 anos de idade).
A categoria “posição no terreno de jogo” foi estabelecida da seguinte
forma: Guarda-redes (n=28, 12,4±2,0 anos de idade), Defesa central (n=51,
13,0±2,1 anos de idade), Defesa lateral (n=54, 12,9±2,1 anos de idade), Médio
(n=95, 13,1±2,3 anos de idade) e Avançado (n=69, 12,8±2,1 anos de idade).
A categoria “estádio maturacional” foi estabelecida consoante os 5
estádios descritos por Tanner & Whitehouse (1982): estádio 1 (n=59, 10,3±0,8
anos de idade), estádio 2 (n=61, 11,8±1,4 anos de idade), estádio 3 (n=64,
13,3±1,6 anos de idade), estádio 4 (n=93, 14,7±1,2 anos de idade), estádio 5
(n=9, 15,8±0,9 anos de idade).
No tratamento estatístico dos dados, para além da análise descritiva,
utilizámos o teste não paramétrico qui-quadrado, para análise das diferenças
intra-grupo e entre grupos em função das várias categorias e variáveis em
estudo, e também a análise de variância (ANOVA), para analisar as diferenças
- 34 -
de comprimento entre o membro inferior dominante e o membro inferior não
dominante, em função da amostra geral e as várias categorias em estudo.
O nível de significância foi estabelecido em p<0.05.
Para análise e tratamento dos dados utilizámos o SPSS 16.0.
- 35 -
- 36 -
4. Apresentação de resultados
- 37 -
- 38 -
Apresentação de resultados
Em seguida, apresentamos todos os resultados em função das várias
categorias estabelecidas e os desvios posturais observados.
Dada a extensão dos desvios posturais observados, optámos por
agrupar a análise dos dados tendo em conta as regiões anatómicas. Assim
sendo, utilizámos dois grupos distintos, um primeiro grupo onde se inserem as
regiões da cabeça, tronco e quadril, e um segundo, onde se inserem os
membros inferiores.
Começamos por apresentar os dados observados tendo em conta a
amostra geral e depois analisamos todas as categorias em análise no estudo:
escalão, anos de prática, posição no terreno e estádio maturacional.
4.1.
Nos
Análise descritiva geral
cinco
quadros
seguintes,
através
da
análise
descritiva,
apresentamos a prevalência de desvios posturais e subsequente análise das
diferenças intra-variável entre ausência e prevalência de desvios nas várias
variáveis em estudo dentro da amostra geral. Através da análise de variância
(ANOVA), analisamos as diferenças de comprimento entre o membro inferior
dominante e o membro inferior não dominante, tendo em conta a amostra
geral.
4.1.1. Cabeça, Tronco e Quadril
Ao observarmos estes dados, podemos verificar que as regiões da
cabeça, tronco e quadril apresentam valores de maior relevância no que diz
respeito à prevalência de desvios posturais, onde três das sete variáveis
apresentam valores de presença de desvio postural acima dos 50%, focando
- 39 -
principalmente a variável “assimetria de ombros”, que apresenta 76,7% de
desvios posturais dentro da amostra.
Quadro 2: Análise Descritiva dos Desvios Posturais na cabeça tronco e quadril da amostra
Geral
Desvios Posturais
Projecção Anterior da Cabeça
Projecção lateral Pescoço
Assimetria de Ombros
Cifose Dorsal
Escoliose
Lordose Lombar
Assimetria do Quadril
Frequência
190
83
149
151
70
230
211
59
249
51
155
115
145
155
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Percentagem
69.6
30.4
49.7
50.3
23.3
76.7
78.2
21.8
83.0
17.0
57.4
42.6
48.3
51.7
Como foi dito anteriormente, no quadro seguinte podemos observar que
somente duas variáveis não apresentam diferenças significativas entre
ausência e prevalência de desvio postural, e de salientar principalmente que a
variável “assimetria de ombros” diferenças significativas (p<0,001), onde a
prevalência de desvio postural predomina.
Quadro 3: Análise das diferenças intra-variável, da prevalência dos desvios posturais na
cabeça, tronco e quadril na amostra geral
X²
P
Projecção
Anterior
Cabeça
Projecção
Lateral
Pescoço
Assimetria
Ombros
Cifose
Dorsal
Escoliose
Lordose
Lombar
Assimetria
Quadril
41,94
0,000
0,01
0,908
85,33
0,000
85,57
0,000
130,68
0,000
5,93
0,015
0,33
0,564
- 40 -
4.1.2. Membros Inferiores
Nos membros inferiores, também existem valores a ter em conta, como
o pé varo e hallux valgus, que apresentam valores de presença de desvio
acima dos 40%. Contudo, como podemos observar no quadro 5, a variável “pé
varo” não apresenta diferenças significativas (p=0,106).
Também temos que ter em consideração os valores de ausência de
desvio, onde o joelho recurvado e o pé cavo apresentam valores acima de
90%, ou seja, a prevalência de desvio postural nestas variáveis é muito baixa.
Quadro 4: Análise Descritiva dos Desvios Posturais nos membros inferiores da amostra Geral
Desvios Posturais
Genu Valgus
Genu Varus
Genu Recurvatum
Pés Valgus
Pés Varus
Pés Cavus
Pés Planus
Hallux Valgus
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Sem Desvio
Com Desvio
Frequência
230
70
201
99
288
12
220
80
164
136
273
27
216
84
169
131
Percentagem
76.7
23.3
67.0
33.0
96.0
4.0
73.3
26.7
54.7
45.3
91.0
9.0
72.0
28.0
56.3
43.7
Quadro 5: Análise das diferenças intra-variável, da prevalência dos desvios posturais nos
membros inferiores na amostra geral
X²
P
Joelho
Varo
Joelho
Valgo
Joelho
Recurvado
Pé Varo
Pé
Valgo
Pé
Plano
Pé
Cavo
Hallux
Valgus
34,68
0,000
85,33
0,000
253,92
0,000
2,61
0,106
65,33
0,000
58,08
0,000
201,72
0,000
4,81
0,028
- 41 -
4.1.2.1.
Dismetrias
No quadro 6 podemos constatar que não existem diferenças
significativas no comprimento do membro dominante e não dominante.
Contudo verificamos que as médias do comprimento diferem, apresentando o
membro dominante valores superiores.
Quadro 6: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro
inferior não dominante da amostra geral
Membro
Dominante
Não Dominante
4.2.
N
Média ± DP
P
291
291
83.082 ± 8.791
83.026 ± 8.733
0.185
Perfil Postural dos Atletas por escalão
Nos próximos quadros podemos verificar a prevalência de desvios
posturais, tendo em conta o escalão dos atletas, e subsequente análise das
diferenças intra-grupo e entre grupos através do teste não paramétrico quiquadrado, e também a análise das diferenças de comprimento entre membro
inferior dominante e membro inferior não dominante, tendo em conta o escalão
dos atletas, através da análise de variância (ANOVA).
4.2.1. Cabeça, Tronco e Quadril
Podemos verificar que algumas variáveis demonstram alguma tendência
para diminuir a prevalência ao longo do tempo (idade cronológica) e outras a
aumentar. De notar que as duas variáveis com maior prevalência no primeiro
escalão (assimetria de ombros e lordose lombar), tendem a baixar os valores,
enquanto as variáveis que apresentam valores mais baixos (cifose e escoliose),
no primeiro escalão, tendem a elevar os valores, mesmo que ligeiramente.
No quadro 8, podemos verificar que a maioria das variáveis apresenta
diferenças estatisticamente significativas dentro dos seus grupos, sendo que a
- 42 -
não prevalência de desvios postural se sobrepõem à prevalência de desvio
postural.
No quadro 9, podemos verificar que somente duas variáveis, não
apresentam diferenças significativas entre os grupos (projecção anterior da
cabeça: p=0,224; cifose dorsal: p=0,157).
O escalão “iniciados” demonstra ser o escalão com maior prevalência de
desvios posturais.
Gráfico 1: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão
Quadro 7: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na cabeça,
tronco e quadril em função do escalão
Escalão
Juvenis
Iniciados
Infantis
Escolas
X²
P
X²
P
X²
P
X²
P
Projecção
Anterior
Cabeça
1.98
0.160
19.84
0.000
5.08
0.024
19.17
0.000
Projecção
Lateral
Pescoço
0.09
0.763
6.72
0.010
0.69
0.406
3.52
0.061
Assimetria
Ombros
0.82
0.366
42.68
0.000
19.28
0.000
31.70
0.000
- 43 -
Cifose
Dorsal
12.90
0.000
10.57
0.001
21.42
0.000
44.60
0.000
Escoliose
20.45
0.000
27.97
0.000
36.63
0.000
47.35
0.000
Lordose
Lombar
8.80
0.003
9.06
0.003
2.38
0.123
3.25
0.072
Assimetria
Quadril
4.45
0.035
16.35
0.000
1.14
0.285
0.39
0.532
Quadro 8: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na
cabeça, tronco e quadril em função do escalão
X²
P
Projecção
Anterior
Cabeça
Projecção
Lateral
Pescoço
Assimetria
Ombros
Cifose
Dorsal
Escoliose
Lordose
Lombar
Assimetria
Quadril
4,373
0,224
18,116
0,000
30,070
0,000
5,203
0,157
8,529
0,036
33,000
0,000
35,735
0,000
4.2.2. Membros Inferiores
Como verificamos nas regiões anatómicas anteriores, também nos
membros inferiores existem variáveis com a tendência para aumentar e outras
para diminuir durante o tempo. Interessante verificar que, tal como acontece na
cabeça, tronco e quadril, as variáveis que apresentam valores mais elevados
no primeiro escalão tendem a diminuir os valores durante o tempo.
No quadro 10, podemos verificar que a maioria das variáveis apresenta
diferenças estatisticamente significativas dentro dos seus grupos, sendo que a
não prevalência de desvios postural se sobrepõe à prevalência de desvio
postural.
No quadro 11, podemos observar que somente três variáveis, não
apresentam diferenças significativas entre os grupos (joelho recurvado:
p=0,112; pé cavo: p=0,535; hallux Valgus: p=0,183).
O escalão “juvenis” demonstra ser o escalão com maior prevalência de
desvios posturais.
- 44 -
Gráfico 2: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores, em função do escalão
Quadro 9: Análise das diferenças intra-escalão, da prevalência dos desvios posturais nos
membros inferiores em função do escalão
Escalão
Juvenis
Iniciados
Infantis
Escolas
X²
P
X²
P
X²
P
X²
P
Joelho
Varo
1.45
0.228
0.53
0.468
31.11
0.000
34.09
0.000
Joelho
Valgo
15.36
0.000
34.94
0.000
23.68
0.000
14.09
0.000
Joelho
Recurvado
40.09
0.000
70.55
0.000
67.06
0.000
76.70
0.000
Pé
Varo
4.45
0.035
2.42
0.120
4.07
0.044
17.39
0.000
Pé
Valgo
26.27
0.000
42.68
0.000
11.85
0.001
2.13
0.144
Pé
Plano
13.09
0.000
30.20
0.000
15.34
0.000
5.26
0.022
Pé
Cavo
23.27
0.000
60.48
0.000
55.90
0.000
62.78
0.000
Hallux
Valgus
0.09
0.763
1.82
0.178
0.01
0.906
8.52
0.004
Quadro 10: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos
membros inferiores em função do escalão
X²
P
Joelho
Varo
Joelho
Valgo
Joelho
Recurvado
Pé Varo
Pé
Valgo
Pé
Plano
Pé
Cavo
Hallux
Valgus
21,929
0,000
10,800
0,013
6,000
0,112
15,824
0,001
30,600
0,000
15,333
0,002
2,185
0,535
4,847
0,183
- 45 -
4.2.2.1.
Dismetrias
No quadro 13, podemos constatar que não existem diferenças
significativas entre o membro dominante e não dominante. Contudo,
verificamos que, na análise intra-grupo, as médias de comprimento dos
membros inferiores entre membro dominante e não dominante diferem, e que
somente no escalão “juvenis” o membro não dominante apresenta valores
superiores. Nos outros três escalões, o membro dominante apresenta valores
superiores ou iguais ao membro não dominante.
Quadro 11: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro
inferior não dominante em função do escalão
Escalão
Membro
N
Média ± DP
P
Juvenis
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
41
41
92
92
71
71
87
87
91.424 ± 4.0485
91.446 ± 4.0218
89.727 ± 4.7635
89.648 ± 4.6715
81.794 ± 5.4489
81.656 ± 5.2345
73.175 ± 4.8719
73.175 ± 4.8833
0.505
Iniciados
Infantis
Escolas
4.3.
0.122
0.367
1.000
Perfil Postural dos Atletas por Anos de Prática
Nos quadros seguintes podemos verificar a prevalência de desvios
posturais, tendo em conta o escalão dos atletas, e subsequente análise das
diferenças intra-grupo e entre grupos através do teste não paramétrico quiquadrado e, através da ANOVA, a análise das diferenças de comprimento entre
membro inferior dominante e membro inferior não dominante, tendo em conta
os anos de prática dos atletas.
- 46 -
4.3.1. Cabeça, Tronco e Quadril
No seguimento do que temos observado nos quadros anteriores,
verifica-se que algumas variáveis diferem nos valores consoante os anos de
prática. Apesar de, nesta categoria, os valores parecerem ser mais equilibrados
entre grupos, algumas variáveis como a “lordose lombar” e a “assimetria de
ombros” demonstram a tendência que temos vindo a verificar, que é a
diminuição dos valores ao longo do tempo. A projecção lateral do pescoço
demonstra tendência antagónica, mas também tendencial em relação ao
quadro 7.
No quadro 14, referente às diferenças intra-grupo, podemos verificar
o que já tínhamos verificado no quadro 8, uma vez que existem diferenças
significativas em grande parte das variáveis, sendo que ausência de desvios
posturais se sobrepõe à prevalência de desvio postural.
Nesta categoria, é mais difícil descortinar qual o grupo com maior
prevalência de desvios posturais, mas os dois últimos grupos (7-8 anos e 9-11
anos) são os que apresentam maior prevalência de desvios posturais.
No quadro 16, verificamos que existem diferenças significativas entre
os grupos em todas as variáveis.
Gráfico 3: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos anos
de prática em função dos anos prática
- 47 -
Quadro 12: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na
cabeça, tronco e quadril em função dos aos de prática
Projecção
Anterior
Cabeça
7,88
0,005
10,25
0,001
18,00
0,000
5,00
0,025
Projecção
Lateral
Anos
Pescoço
0-2
X²
2,35
anos
P
0,125
3-4
X²
0,55
anos
P
0,460
5-6
X²
0,27
anos
P
0,606
7-8
X²
1,50
anos
P
0,221
9-11
X²
0,50
*
anos
P
0,480
*Não existe amostra representativa
Assimetria
Ombros
46,38
0,000
21,88
0,000
13,07
0,000
8,17
0,004
0,00
1,000
Cifose
Dorsal
39,69
0,000
24,93
0,000
8,00
0,005
12,80
0,000
2,00
0,157
Escoliose
69,59
0,000
26,73
0,000
19,27
0,000
10,67
0,001
2,00
0,157
Lordose
Lombar
0,39
0,535
1,33
0,249
1,28
0,258
3,20
0,074
4,50
0,034
Assimetria
Quadril
0,26
0,610
2,97
0,085
0,27
0,606
0,17
0,683
0,00
1,000
Quadro 13: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na
cabeça, tronco e quadril em função dos anos prática
X²
P
Projecção
Anterior
Cabeça
Projecção
Lateral
Pescoço
Assimetria
Ombros
Cifose
Dorsal
Escoliose
Lordose
Lombar
Assimetria
Quadril
57,024
0,000
60,446
0,000
142,570
0,000
40,103
0,000
20,863
0,000
94,509
0,000
79,582
0,000
4.3.2. Membros Inferiores
Nos quadros 17 e 18, podemos verificar um elevado destaque do joelho
e pé varo em relação às outras variáveis, sendo que dentro das duas variáveis
o ultimo grupo (9-11 anos) aparece como sendo o grupo com maior prevalência
de desvio postural.
Nesta categoria, verificamos o mesmo padrão de variação que
observamos na última categoria, ou seja, as variáveis que aumentam a
prevalência ao longo do tempo são as mesmas (joelho varo e pé varo), assim
como as variáveis que diminuem a prevalência (pé valgo e joelho valgo). A
salientar o facto de aqui existir aumentos mais acentuadas.
- 48 -
Novamente, o pé cavo e o joelho recurvado não apresentam nenhum
grupo com valor expressivo e, como podemos verificar no quadro 19, o joelho
não apresentam diferenças significativas entre os grupos (p=0,343).
No quadro 18, verificamos a tendência que temos vindo a verificar nos
quadros homónimos.
O último grupo (9-11 anos) é o grupo com maior prevalência de desvios
posturais.
Gráfico 4: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função dos anos de
prática
Quadro 14: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais nos
membros inferiores em função dos anos de prática
Joelho Joelho
Varo
Valgo
0-2 anos
X²
35,51
26,09
P
0,000
0,000
3-4 anos
X²
17,52
21,88
P
0,000
0,000
5-6 anos
X²
1,07
24,07
P
0,302
0,000
7-8 anos
X²
4,17
16,67
P
0,041
0,000
9-11 anos
X²
2,00
4,50
P
0,157
0,034
*Não existe amostra representativa
Anos
Joelho
Recurvado
118,72
0,000
58,24
0,000
45,07
0,000
*
4,50
0,034
- 49 -
Pé
Varo
16,70
0,000
0,55
0,460
0,27
0,606
0,67
0414
4,50
0,034
Pé
Valgo
16,70
0,000
11,88
0,001
24,07
0,000
10,67
0,001
*
Pé
Plano
15,33
0,000
21,88
0,000
24,07
0,000
1,50
0,221
4,50
0,034
Pé
Cavo
90,90
0,000
47,52
0,000
38,40
0,000
16,67
0,000
4,50
0,034
Hallux
Valgus
12,78
0,000
0,97
0,325
1,67
0,197
1,50
0,221
0,00
1,000
Quadro 15: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos
membros inferiores em função dos anos de prática
Joelho
Varo
Joelho
Valgo
Joelho
Recurvado
Pé Varo
Pé
Valgo
Pé
Plano
Pé
Cavo
Hallux
Valgus
2,869
0,000
70,537
0,000
3,333
0,343
37,269
0,000
48,747
0,000
74,247
0,000
16,519
0,002
46,930
0,000
X²
P
4.3.2.1.
Dismetrias
No quadro 20, continuamos a constatar que não existem diferenças
significativas entre o membro dominante e não dominante, mas como
verificamos nas outras categorias, as médias de comprimento intra-grupo entre
membro dominante e não dominante diferem. Nos dois primeiros grupos, o
membro dominante apresenta valores superiores ao membro não dominante e,
com o passar dos anos, o membro não dominante apresenta valores
superiores relativamente ao membro dominante.
Quadro 16: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro
inferior não dominante em função dos anos de prática
Anos
Membro
N
Média ± DP
P
0-2 anos
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
135
135
65
65
59
59
23
23
8
8
79.996 ± 8.4938
79.853 ± 8.4293
82.649 ± 8.8597
82.643 ± 8.7377
87.386 ± 7.3222
87.432 ± 7.1359
89.404 ± 6.6823
89.435 ± 6.6503
89.050 ± 2.0438
89.062 ± 2.0619
0.086
3-4 anos
5-6 anos
7-8 anos
9-11 anos
4.4.
0.903
0.406
0.625
0.906
Perfil Postural dos Atletas por Posições no Terreno
Nos quadros 21 e 22, podemos verificar a prevalência de desvios
posturais tendo em conta as posições no terreno dos atletas e subsequente
análise das diferenças intra-grupo e entre grupos através do teste não
- 50 -
paramétrico qui-quadrado, e também a análise das diferenças de comprimento
entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante, através da
ANOVA.
4.4.1. Cabeça, Tronco e Quadril
Nesta categoria, existe um maior equilíbrio na prevalência entre os
grupos, no entanto, como verificamos no quadro 23, somente duas variáveis
não apresentam diferenças significativas entre os grupos (cifose dorsal:
p=0,119;escoliose: p=162).
O grupo com maior prevalência de desvios posturais é o “defesa
central”.
Gráfico 5: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição
no terreno
- 51 -
Quadro 17: Análise das diferenças intra-posição no terreno, da prevalência dos desvios
posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno
Posição
GuardaRedes
Defesa
Central
Defesa
Lateral
Médio
Avançado
X²
P
X²
P
X²
P
X²
P
X²
P
Projecção
Anterior
Cabeça
1,00
0,317
10,08
0,001
13,30
0,000
15,43
0,000
4,91
0,027
Projecção
Lateral
Pescoço
0,14
0,705
4,41
0,036
0,30
0,586
0,01
0,918
2,45
0118
Assimetria
Ombros
11,57
0,001
26,84
0,000
7,41
0,006
39,17
0,000
7,67
0,006
Cifose
Dorsal
4,84
0,028
15,51
0,000
20,45
0,000
31,34
0,000
14,78
0,000
Escoliose
11,57
0,001
8,65
0,003
16,67
0,000
53,06
0,000
43,84
0,000
Lordose
Lombar
1,00
0,317
2,57
0,109
1,04
0,307
0,01
0,913
3,46
0,063
Assimetria
Quadril
1,29
0,257
3,31
0,069
0,30
0,586
1,27
0,259
3,26
0,071
Quadro 18: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na
cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno
X²
P
Projecção
Anterior
Cabeça
12,024
0,017
Projecção
Lateral
Pescoço
19,691
0,001
Assimetria
Ombros
35,904
0,000
Cifose
Dorsal
7,345
0,119
Escoliose
6,549
0,162
Lordose
Lombar
24,696
0,000
Assimetria
Quadril
23,792
0,000
4.4.2. Membro Inferiores
Nos membros inferiores, observamos novamente um equilíbrio entre
os grupos, onde três variáveis não apresentam diferenças significativas entre
os grupos (joelho valgo: p=0,206: joelho recurvado: p=0,429;pé valgo:
p=0,240).
Nos membros inferiores, os defesas centrais perdem o seu destaque,
sendo os médios, o grupo que apresenta maior prevalência de desvios
posturais, principalmente nas variáveis pé varo e hallux valgus.
- 52 -
Gráfico 6: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função da posição no
terreno
Quadro 19: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios nos membros
inferiores em função da posição no terreno
Joelho
Posição
Varo
Joelho
Valgo
Joelho
Recurvado
Pé
Varo
Pé
Valgo
Pé
Plano
Pé
Cavo
Hallux
Valgus
GuardaRedes
Defesa
Central
Defesa
Lateral
X²
P
X²
P
X²
P
X²
P
X²
P
20,57
0,000
14,29
0,000
3,63
0,057
4,64
0,031
2,45
0,118
1,29
0,257
10,37
0,001
26,74
0,000
31,84
0,000
24,36
0,000
20,57
0,000
43,31
0,000
46,30
0,000
76,05
0,000
65,06
0,000
7,00
0,008
1,59
0,208
1,19
0,276
0,52
0,473
0,36
0,547
3,57
0,059
8,65
0,003
8,96
0,003
27,38
0,000
17,75
0,000
2,29
0,131
16,49
0,000
6,00
0,014
12,89
0,000
26,80
0,000
24,14
0,000
29,82
0,000
46,30
0,000
69,06
0,000
32,01
0,000
1,29
0,257
0,49
0,484
1,85
0,174
0,01
0,918
4,19
0,041
Médio
Avançado
Quadro 20: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos
membros inferiores em função da posição no terreno
X²
P
Joelho
Varo
37,414
0,000
Joelho
Valgo
5,910
0,206
Joelho
Recurvado
3,833
0,429
Pé Varo
39,284
0,000
- 53 -
Pé
Valgo
5,494
0,240
Pé
Plano
16,415
0,003
Pé
Cavo
12,074
0,017
Hallux
Valgus
28,231
0,000
4.4.2.1.
Dismetrias
No quadro 27, continuamos a constatar que não existem diferenças
significativas entre o membro dominante e não dominante, e também que as
médias de comprimentos intra-grupo entre membro dominante e não
dominante diferem, sendo que somente os avançados apresentam valores
superiores no membro não dominante relativamente ao membro dominante.
Quadro 21: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro
inferior não dominante em função da posição no terreno
Posição
Guarda-Redes
Defesa Central
Defesa Lateral
Médio
Avançado
4.5.
Membro
N
Média ± DP
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
28
28
50
50
54
54
93
93
66
66
84.357 ± 9.3402
84.264 ± 9.1567
85.092 ± 7.9198
85.058 ± 7.8558
81.452 ± 9.1568
81.246 ± 8.9707
83.395 ± 8.9253
83.373 ± 8.9564
81.912 ± 8.5225
81.930 ± 8.4811
P
0.462
0.300
0.615
0.703
0.287
Perfil Postural dos Atletas por Estádio Maturacional
Nos quadros 28, 29 e 30, podemos verificar a prevalência de desvios
posturais, tendo em conta os estádios maturacionais dos atletas, e
subsequente análise das diferenças intra-grupo e entre grupos através do teste
não paramétrico qui-quadrado, e também a análise das diferenças de
comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não
dominante, tendo em conta o escalão dos atletas, através da ANOVA.
- 54 -
4.5.1. Cabeça, Tronco e Quadril
O quadro 30 indica-nos que existem diferenças significativas entre os
grupos em todas as variáveis.
Os estádios 1 e 4 são os grupos onde existe maior prevalência de
desvios posturais.
Gráfico 7: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio
maturacional
Quadro 22: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na
cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional
Estádios
Estádio 1
Estádio 2
Estádio 3
Estádio 4
Estádio 5
X²
P
X²
P
X²
P
X²
P
X²
P
Projecção
Anterior
Cabeça
8,97
0,003
11,57
0,001
13,07
0,000
7,20
0,007
1,00
0,317
Projecção
Lateral
Pescoço
12,36
0,000
0,14
0,705
0,75
0,385
3,31
0,069
0,00
1,000
Assimetria
Ombros
18,46
0,000
24,14
0,000
18,85
0,000
21,59
0,000
3,60
0,058
- 55 -
Cifose
Dorsal
29,49
0,000
28,45
0,000
11,27
0,001
16,20
0,000
2,78
0,096
Escoliose
25,78
0,000
38,11
0,000
21,06
0,000
41,80
0,000
6,40
0,011
Lordose
Lombar
2,12
0,145
0,06
0,799
5,40
0,020
8,45
0,004
5,44
0,020
Assimetria
Quadril
1,37
0,241
0,02
0,900
0,75
0,385
2,00
0,157
0,40
0,527
Quadro 23: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na
cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional
X²
P
Projecção
Anterior
Cabeça
19,229
0,001
Projecção
Lateral
Pescoço
55,716
0,000
Assimetria
Ombros
47,559
0,000
Cifose
Dorsal
20,746
0,000
Escoliose
15,796
0,003
Lordose
Lombar
29,788
0,000
Assimetria
Quadril
46,487
0,000
4.5.2. Membros Inferiores
Os membros inferiores parecem apresentar um padrão completamente
distinto em relação às regiões da cabeça tronco e quadril. Contudo,
verificamos, no quadro 33, que existem duas variáveis onde não existem
diferenças significativas (joelho recurvado: p=0,572;pé cavo: p=0,050),
contrariando esse facto, ou seja, existe um maior equilíbrio intra-variáveis.
Em relação ao pé, existe um aumento nítido da prevalência de varismo e
diminuição do valgismo com o aumento do estádio maturacional.
Na mesma região anatómica, a prevalência de pé plano também diminui,
não sendo contudo uma diminuição tão acentuada. O pé cavo mantém o
equilíbrio entre os vários estádios.
Não sendo tão nítido, o mesmo se verifica para o joelho, existindo um
aumento do varismo e diminuição do valgismo.
Nos membros inferiores, o estádio 5 é o grupo com maior prevalência de
desvios posturais.
- 56 -
Gráfico 8: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do estádio
maturacional
Quadro 24: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais nos
membros inferiores em função do estádio maturacional
Joelho Joelho
Varo
Valgo
X²
20,76
12,36
Estádio 1
P
0,000
0,000
X²
21,73
8,40
Estádio 2
P
0,000
0,004
X²
6,78
28,45
Estádio 3
P
0,009
0,000
X²
1,47
34,33
Estádio 4
P
0,225
0,000
X²
0,40
3,60
Estádio 5
P
0,527
0,058
*Não existe amostra representativa
Estádios
Joelho
Recurvado
44,08
0,000
59,06
0,000
53,55
0,000
82,65
0,000
*
Pé
Varo
14,25
0,000
8,40
0,004
0,02
0,901
2,61
0,106
1,60
0,206
Pé
Valgo
0,02
0,896
4,59
0,032
16,75
0,000
58,94
0,000
6,40
0,011
Pé
Plano
4,90
0,027
8,40
0,004
9,62
0,002
32,00
0,000
6,40
0,011
Pé
Cavo
40,69
0,000
44,59
0,000
46,54
0,000
58,94
0,000
6,40
0,011
Hallux
Valgus
8,97
0,003
1,92
0,166
0,02
0,901
0,37
0,544
0,00
1,000
Quadro 25: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos
membros inferiores em função do estádio maturacional
X²
P
Joelho
Varo
43,688
0,000
Joelho
Valgo
16,580
0,000
Joelho
Recurvado
2,000
0,572
Pé Varo
57,848
0,000
- 57 -
Pé
Valgo
29,250
0,000
Pé
Plano
18,386
0,001
Pé
Cavo
9,481
0,050
Hallux
Valgus
37,234
0,000
4.5.2.1.
Dismetrias
No quadro 34, continuamos a constatar que não existem diferenças
significativas entre o membro dominante e não dominante nos vários grupos, e
ao encontro das outras categorias, as médias de comprimentos intra-grupo
entre membro dominante também diferem, onde curiosamente somente o
primeiro e o último estádio maturacional apresentam valores superiores no
membro não dominante relativamente ao membro dominante.
Quadro 26: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro
inferior não dominante em função do estádio maturacional
Estádios
Estádio 1
Estádio 2
Estádio 3
Estádio 4
Estádio 5
Membro
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
Dominante
Não Dominante
N
55
55
62
62
63
63
96
96
10
10
- 58 -
Média ± DP
72.798 ± 5.1777
72.813 ± 5.1614
77.582 ± 5.4049
77.423 ± 5.1130
84.646 ± 6.8649
84.606 ± 6.7540
90.173 ± 4.8598
90.107 ± 4.8198
92.810 ± 3.9099
93.030 ± 3.8779
P
0.326
0.754
0.359
0.486
0.090
5. Discussão dos Resultados
- 59 -
- 60 -
Discussão dos Resultados
A dependência de resultados precoces e a forte mediatização de alguns
desportos, nomeadamente o futebol, leva a que os jovens comecem a prática
desportiva cada vez mais cedo.
De acordo com Horta (2000), a incidência das lesões desportivas em
jovens praticantes tem aumentado nos últimos 20 anos. Este incremento da
incidência de lesões desportivas nos jovens praticantes deve-se, entre outras
razões, ao início da prática desportiva em idades cada vez mais precoces, ao
incremento do volume e da intensidade, do treino na fase inicial da carreira
desportiva.
Após leitura e reflexão da revisão bibliográfica, podemos perceber que a
importância desta dissertação enquadra-se sobretudo no papel profilático que
um trabalho organizado, metódico e sistemático poderá ter na prevenção da
prevalência e incidência das lesões desportivas, nomeadamente no futebol.
Sendo este um trabalho original que visava procurar interceptar algumas
lacunas nas competências do papel do profissional do treinador de futebol,
sabemos que iríamos entrar num campo muito pouco explorado pelos
académicos dentro da área desportiva. Por isso, esta discussão baseia-se nos
poucos trabalhos recentes realizados dentro desta matéria, sendo que existem
muitos trabalhos sobre desvios posturais, mas muito pouco, ou mesmo quase
inexistentes, trabalhos enquadrados no futebol.
Tendo em conta a extensão do número de variáveis em estudo,
discutimos os resultados separadamente por regiões anatómicas.
O nosso objectivo principal era caracterizar o perfil postural dos
jogadores da nossa amostra, calculando os valores de prevalência das lesões,
descrevendo os desvios mais comuns, e enquadrá-los com as categorias
estabelecidas.
Podemos observar que duas das categorias estabelecidas vão de
encontro à funcionalidade ou ambiente (anos de prática e posição no terreno),
ou seja, da prática do futebol, e outras duas vão de encontro ao crescimento
biológico dos atletas (escalão e estádio maturacional).
- 61 -
O objectivo secundário era tentar perceber que contributo pode ter cada
uma das categorias para o aumento ou diminuição da prevalência dos desvios
posturais nos jovens atletas. Assim, podemos perceber se existe um padrão
postural no jogador jovem de futebol e contribuir para que medidas preventivas
possam ser tomadas no sentido de minimizar a elevada prevalência de alguns
desvios posturais.
5.1.
Coluna vertebral
Nesta região anatómica, os desvios apresentados são: Projecção
anterior da cabeça, projecção lateral do pescoço, cifose dorsal, escoliose e
hiperlordose. Em relação à variável projecção anterior da cabeça, a sua
prevalência apresenta um valor baixo, com apenas 30,4% da amostra geral. No
entanto, podemos verificar que na categoria anos de prática existe uma
diminuição considerável da prevalência ao longo do tempo de prática. Já nas
categorias escalão e estádio maturacional esse padrão não se encontra tão
nítido.
Em termos comparativos, o estudo de Rego & Scartoni (2008), onde foi
realizada uma avaliação postural a crianças estudantes com média de idades
de 13,2 anos, sem qualquer referência à prática metódica e sistemática de
desporto, verificaram que a anteriorização da cabeça apresenta somente 24%
de prevalência. Isto poderá indicar que a prática desportiva poderá influenciar a
prevalência deste desvio postural, contudo a diminuição dos valores ao longo
do tempo na categoria anos de prática contrária esse facto.
Em relação à variável projecção lateral do pescoço, a sua prevalência
dentro da amostra geral é considerável, com 50,3% dos casos. Em
comparação com o estudo anteriormente referido (Rego & Scartoni, 2008), os
autores encontraram uma prevalência de apenas 8,5 %, nesta variável. Estes
valores podem significar que também esta variável poderá ser influenciada pela
prática desportiva.
Nesta região anatómica, a variável assimetria de ombros apresenta-se
como a variável com valores mais consideráveis, com 76,7% de prevalência.
- 62 -
Nas várias categorias estabelecidas esta variável não apresenta um padrão de
predominante descida ou subida dos valores.
No estudo de Rego e Scartoni (2008), as crianças observadas
apresentaram uma prevalência de 12,8%, o que não corrobora com os nossos
dados. Contudo, como referimos anteriormente, estas crianças não foram
referenciadas como possíveis atletas, o que nos leva a pensar que a prática
desportiva pode influenciar fortemente esta variável.
A variável cifose dorsal apresenta uma fraca expressão em termos de
prevalência, com apenas 21,8%. Esta variável também não apresenta nenhum
padrão de predominância de subida ou descida de prevalência ao longo do
tempo. Em comparação com outros estudos, não conseguimos obter nenhum
estudo ligado ao futebol, somente desportos distintos.
No estudo de da Silva et al. (2008), as ginastas também apresentaram
uma baixa prevalência de cifose dorsal, com 10,5%. Isto poderá indicar que, de
facto, a prática desportiva, nomeadamente do futebol, não influencia o aumento
ou diminuição da prevalência de desvio postural.
A categoria anos de prática vem corroborar esta afirmação, onde não
existe um padrão de predominância de aumento ou diminuição da prevalência
ao longo do tempo.
A variável escoliose apresenta uma fraca expressão em termos de
prevalência, com apenas 17%. Contudo, Massada (2006) refere no seu estudo
que os futebolistas, com 13,3% de prevalência, revelam, entre os desportistas
estudados, ser os portadores da maior prevalência de escolioses.
Sendo assim, a aparente fraca expressão de 17% apresentada no nosso
estudo parece forte relevância. Apesar da fraca prevalência dentro da amostra
e em comparação com outras variáveis, a escoliose parece ter forte influência
da prática desportiva.
Massada explica-nos a prevalência de escoliose e atitudes escolióticas
nos futebolistas, da seguinte forma: “O futebol é uma modalidade desportiva
que implica a execução iterativa de apoios monopodálicos. O acto de passar ou
rematar implica obrigatoriamente a transferência do peso corporal para um dos
membros inferiores. Durante o apoio monopodálico, a pélvis, pela acção do
- 63 -
musculo gluteus medius (médio nadegueiro) homolateral, determina uma
elevação do membro inferior contralateral que, neste caso, bate a bola. A
variação do posicionamento da bacia no plano frontal determina uma
angulação da extremidade superior do tronco em direcção ao membro do
apoio, desenhando uma curvatura dorsolombar, que necessariamente terá de
ser compensada por uma segunda curvatura de localização proximal e de
sentido oposto, na tentativa da manutenção do equilíbrio. A repetição
incessante deste gesto corporal poderia justificar o elevado número de atitudes
escolióticas dorsais detectada entre os futebolistas.”
A variável lordose lombar apresenta uma prevalência considerável com
42,6%. No estudo de Ribeiro et al. (2003), a prevalência de lordose lombar
também apresenta um valor muito considerável com 63%. Apesar de se tratar
de futsal, este estudo vem de certo modo corroborar com os nossos dados,
revelando a elevada prevalência deste desvio postural neste desporto. Este
facto poderá significar que a prática de futebol tem forte influência na
prevalência deste desvio.
Mas contrariando este facto, as três categorias estabelecidas (escalão,
anos de prática e estádio maturacional) apresentam um padrão de diminuição
da prevalência ao longo do tempo.
Comparando com um desporto completamente distinto (Ginástica), o
estudo de da Silva et al. (2008) demonstra também uma prevalência muito
elevada com 84,2%. Os autores identificam um dos factores causais com o
encurtamento e hipersolicitação lombar, o que poderá ter relação com o
futebol, visto que os jogadores são muito solicitados, nomeadamente nos
cabeceamentos.
Aires (1995) acrescenta que a hiperlordose lombar està associada a
extensores da coluna fortes e encurtados, tendência agravada pelo acto de
cabecear a bola, podendo conduzir a sobrecarga das apófises articulares
posteriores e originando quadros dolorosos. Este quadro associa-se a uma
anteversão pélvica, agravada por adutores e rectos anteriores das coxas, fortes
e encurtados, condicionando micro-estiramentos ao nível das inserções dos
retrovesores da bacia (abdminais e isquiotibiais). Um programa preventivo
- 64 -
deverá ser instituído visando a correcção postural e desenvolvimento da
extensabilidade dos diferentes grupos musculares, fortalecimento muscular
fundamento. A extensabilidade deverá ser promovida através de exercícios
excêntricos de alongamento respeitando a regra não dor e de exercícios
excêntricos.
Noutro desporto completamente distinto, provas de potência muscular,
Junior, Pastre & Monteiro (2004) demonstram que a prevalência de hiperlorose
lombar também é muito elevada com 73% dos casos. Isto reforça a ideia que a
hiperlordose poderá ter forte influência da prática desportiva.
5.2.
Pelve/Quadril
Nesta categoria (inclinação pélvica lateral), a prevalência de desvio
postural mesmo não sendo estatisticamente significativa em relação à ausência
de desvio postural (p=0,564), apresenta um valor de prevalência maior em
relação à ausência de desvio, de 51,7%. No entanto, é interessante verificar
que em nenhuma das categorias existe um padrão claro de diminuição ou
aumento desta variável com o tempo, e um desequilíbrio forte entre os grupos
da variável posição no terreno. Sendo assim, devemos ter em conta esta
variável, apesar de não termos encontrado estudos que pudessem corroborar
os nossos dados.
Podemos associar esta variável às características do futebol, sendo este
acíclico e assimétrico, com dominância gestual de um membro em relação ao
outro. Assim, a mesma explicação que foi dada por Massada (2006), para os
possíveis factores causais das atitudes escolióticas, poderá ter fundamento
também aqui na inclinação pélvica. Poderemos até ir mais além e dizer que
estas duas variáveis poderão estar associadas, assim como a projecção lateral
do pescoço e as dismetrias dos membros inferiores.
Todas estas variáveis poderão ser influenciadas pelas características
assimétricas deste desporto, que leva a hipersolicitaçao de um membro em
relação ao outro, desencadeando mecanismos de compensação para
manutenção do equilíbrio.
- 65 -
5.3.
Joelho
Em termos da articulação do joelho, os desvios posturais mais
mencionados na literatura são: joelho varo, joelho valgo e joelho recurvado
(Aires & Horta, 2000; Gould, 1993).
No nosso estudo, em termos da amostra geral, o pé varo é a variável
que apresenta maior prevalência com 45,3%, seguido do pé valgo com 26,7%
e do joelho recurvado com apenas 4% de prevalência.
Em relação ao joelho varo/valgo, existe um padrão idêntico em três das
quatro categorias estabelecidas. Nas categorias escalão, anos de prática e
estádio maturacional, com o passar do tempo existe um aumento na
prevalência do joelho varo e diminuição da prevalência do joelho valgo, seja ele
cronológico, de prática ou maturacional. Por isso, não conseguimos perceber
se este padrão é provocado pela funcionalidade da prática, ou seja o futebol,
ou pelo crescimento biológico. No entanto, é claro que o joelho varo predomina
sobre o joelho valgo.
Os estudos de Witvrouw et al. (2009) e Yaniv et al. (2006) corroboram
estas afirmações. Nos seus respectivos estudos, estudaram a prevalência do
joelho varo e valgo e respectivos ângulos em jogadores de futebol.
Nestes dois estudos podemos verificar que apesar dos grupos mais
jovens apresentarem um ângulo negativo (joelho valgo), com o passar da idade
(cronológica) o ângulo aumenta consideravelmente (distância entra côndilos
femorais internos).
No estudo de Yaniv et al. (2006) verificou-se que, em comparação com
tenistas, os futebolistas apresentam maior ângulo varo. Isto poderá significar
que apesar de o joelho varo predominar em ambos os casos, a prática de
futebol proporciona um aumento do ângulo varo do joelho com o passar dos
anos. No estudo de Penha et al. (2005) verificou-se que em jovens escolhidos
aleatoriamente e sem conexão directa à prática de desporto, o padrão parece
ser distinto do apresentado até agora. O joelho varo diminuiu a sua prevalência
com o passar da idade (cronológica), enquanto o joelho valgo aumentou a sua
- 66 -
prevalência. Isto poderá vir a reforçar a ideia de que a prática desportiva,
nomeadamente o futebol, poderá aumentar a prevalência de joelho varo.
Não sendo um estudo relacionado com o futebol de 11, o estudo de
Ribeiro et al. (2003) vem corroborar estes dados. Verificou que em atletas de
futsal, 55,5% dos atletas que sofreram lesões durante a sua época desportiva
apresentam joelho varo.
Em relação à categoria “posição no terreno”,
demonstra que o avançado é o jogador que apresenta maior prevalência de
joelho varo e o guarda-redes o jogador que apresenta maior prevalência de
joelho valgo.
Referindo novamente Besier et al. (2001), que no seu estudo mediram
as cargas externas sobre a articulação do joelho durante a corrida e mudanças
de direcção, verificou-se que as tensões varo/valgo sobre a articulação do
joelho aumentaram drasticamente durante as mudanças de direcção
comparando com a corrida normal. Isto poderá evidenciar que os avançados e
também os outros jogadores de campo, devido à configuração do jogo,
necessitam de realizar maior número de mudanças de direcção em relação
nomeadamente aos guarda-redes. Isto poderá acarretar maiores tensões varo
no joelho e levar a um incremento do ângulo varo nestes jogadores. Já nos
guarda-redes, como necessitam de realizar menor número de mudanças de
direcção, o aumento do ângulo varo é realizado mais lentamente.
Em relação ao joelho recurvado, como verificamos no nosso estudo,
teve pouca expressão dentro da amostra.
No estudo de Ribeiro et al. (2003), a amostra estudada correspondente a
jovens jogadores de futsal demonstra que o joelho recurvado apresenta
somente 11% de prevalência entre os atletas lesionados. Da Silva et al. (2008)
demonstrou no seu estudo sobre jovens ginastas que 63,1% das atletas
apresentaram joelho recurvado, o que vem contrariar o nosso estudo. No
entanto, estamos a falar modalidade e sexo distintos. Algumas das causas que
os autores atribuem à elevada prevalência de joelho recurvado são factores
compensatórios e excessivo comprimento dos isquiotibiais. Este último facto
poderá explicar a elevada diferença entre os jogadores de futebol que
normalmente apresentam isquiotibiais encurtados.
- 67 -
No estudo de Penha et al. (2005), que utilizou uma amostra escolhida
aleatoriamente, os alunos apresentam elevada prevalência de joelho
recurvado. No entanto, não é identificado que os jovens pratiquem uma
modalidade metódica e sistemática. Isto poderá dizer que esta variável estará
mais relacionada a factores ambientais que genéticos ou biológicos.
5.4.
Tornozelo/Pé
Os desvios posturais mais referenciados na literatura (Aires & Horta, 2000;
Gould, 1993) relacionados com estas regiões anatómicas e com o futebol são:
pé varo, pé valgo, pé plano, pé cavo e Hallux Valgus. Como se sucedeu na
articulação do joelho, o pé varo predomina em relação ao pé valgo, 45,3% e
26,7% respectivamente. Em relação ao pé plano /cavo, o pé plano predomina
sobre o pé cavo, com prevalências de 28% e 9%, respectivamente. Contudo,
verificamos que ambas as percentagens não apresentam grande expressão. A
variável hallux valgus apresenta uma prevalência considerável de 43,7%.
O estudo de Ribeiro et al. (2003) vem de encontro aos resultados
obtidos no nosso estudo, onde o pé plano predomina sobre o pé cavo, com
prevalências de 55,5% e 7,4%, respectivamente. No entanto, podemos
observar que o valor apresentado do pé plano neste estudo foi bastante
superior ao nosso.
Em comparação com estudos sobre desportos distintos, no estudo de
Junior, Pastre & Monteiro (2004) verificou-se que em atletas de provas de
potência muscular a prevalência de pé cavo foi muito superior ao pé plano, com
prevalências de 53% contra 20%, respectivamente. No entanto, a amostra
deste estudo tem uma média de idade muito superior ao nosso estudo.
Se repararmos no nosso estudo nas duas categorias ligadas ao factor
biológico, nota-se uma diminuição considerável do pé plano ao longo do tempo.
Assim sendo, poderemos dizer que esta variável também poderá estar muito
- 68 -
ligada ao factor biológico. Já na variável anos de prática, esse padrão não se
verifica, existindo um maior equilíbrio entre as variáveis.
Em relação ao pé varo/valgo, verificamos a mesma tendência que no
joelho, onde em três das quatro categorias estabelecidas, o pé varo aumenta a
prevalência com o tempo e o pé valgo diminui a prevalência. No entanto,
sentimos muita dificuldade em encontrar estudos onde a variável pé varo/valgo
estivesse incluída, e ainda mais dificuldade sentimos quando procurámos com
ligação ao futebol.
No entanto, podemos reflectir que existe uma forte ligação entre o
varismo/valgismo do joelho e o varismo/valgismo do pé, pois o padrão de
prevalência em quase todas as categorias é idêntico.
Tal como reflectimos sobre o joelho, o ângulo varo e valgo do pé poderá
ser fortemente influenciado por factores ambientais, onde a prática desportiva
nomeadamente do futebol pode ter influência no ângulo de varismo/valgismo
do pé.
Em relação ao Hallux Valgus, sentimos a mesma dificuldade em
descobrir estudos em que esta variável tivesse incluída. No entanto, o estudo
de Grabara (2008) vai de encontro aos resultados obtidos no nosso estudo.
Grabara (2008), num estudo sobre a prática de Futebol e alterações no
membro inferior em jovens entre os 10 e os 14 anos, verificou que os
futebolistas examinados, especialmente aqueles com maior tempo de prática,
apresentavam tendência para halux valgus.
Além de no nosso estudo existir uma forte prevalência de Hallux Valgus,
verifica-se que a variável anos de prática reforça as conclusões de Grabara
(2008), que existe um aumento mesmo que ligeiro do Hallux Valgus ao longo
do tempo de anos de prática.
Pelo que foi reforçado aqui, podemos dizer que esta variável também
poderá ser fortemente influenciada pela prática desportiva.
- 69 -
5.5.
Dismetrias nos membros inferiores
Em relação às dismetrias dos membros inferiores, tanto na amostra
geral como em todas as categorias estabelecidas, não existem diferenças
significativas entre ambos os membros, dominante e não dominante. No
entanto, parece haver uma tendência para que o membro dominante se
apresente como sendo o membro de maior dimensão. Contudo, se verificarmos
as categorias estabelecidas, principalmente a categoria anos de prática, com o
passar dos anos de prática, o membro com média de comprimento maior é o
não dominante.
Já na categoria posição no terreno, podemos verificar que o único grupo
onde o membro não dominante apresenta média de comprimento superior ao
dominante é o dos avançados. Isto poderá indicar que as características
funcionais do avançado dentro do jogo levem a que cargas exercidas sobre os
membros inferiores possam ter influência sobre o comprimento do membro não
dominante, nomeadamente na acção do remate e no salto/impulsão.
Massada (2006) refere, num estudo realizado sobre incidência desta
anomalia nos jogadores de Futebol, que estes demonstraram uma prevalência
de 41,2% de dismetrias nos membros inferiores, sendo que em 25,3% dos
casos o membro inferior esquerdo era mais longo do que o direito e que em
15,9% a relação era contrária.
Estes dados não são suficientes para corroborar os nossos dados, pois
registámos a média de comprimento do membro dominante e não dominante
em toda a amostra e não o fizemos individualmente para despiste das
dismetrias, pois o nosso propósito era encontrar um perfil postural.
Contudo Massada (2006) acrescenta que no futebolista, com o passar
da idade cronológica, o membro inferior esquerdo aumenta o seu comprimento
em relação ao direito. Este facto já vai de encontro com os nossos dados.
Quisemos dividir a amostra em membro dominante e não dominante,
pois a literatura diz-nos que a prática pode ter influência sobre a diferença de
comprimento dos membros inferiores.
- 70 -
Massada (2006) realça o factor funcional como importante na influência
das dismetrias e acrescenta que, não devemos subalternizar as inúmeras
variáveis implicadas no fenómeno do crescimento ósseo, que se afiguram de
uma importância fundamental para o homem, realçando-se os factores
genéticos, hormonais e nutricionais, torna-se por de mais evidente que também
não poderão ser excluídos ou subalternizados os factores mecânicos.
A análise dos factores mecânicos realça, por uma lado, a importância da
sua acção para o crescimento fisiológico das estruturas esqueléticas, e por
outro, as pequenas variações assimétricas que por eles poderão ser
determinadas (Massada, 2006).
Analisando o gesto desportivo no futebol, o membro inferior que suporta
a maior concentração de esforços mecânicos revela-se ser o contralateral ao
membro superior dominante (Massada, 2006).
Por isso, achamos que dividir em dominante e não dominante era mais
sensato, pois a perna dominante parece ser exposta a movimentos muito
diferenciados em relação à não dominante.
Entenda-se por membro dominante, o membro de preferência lateral e
não, o membro de dominância biomecânica, como refere Massada (2006).
No futebol, os gestos desportivos básicos incluem o passe e o remate,
utilizando com maior intensidade o membro inferior dominante. O indivíduo
direito apoia-se no membro inferior esquerdo quando passa a bola ou remata,
suportando maiores concentrações de esforços mecânicos (Massada, 2006).
A dominância biomecânica do membro inferior esquerdo na maioria dos
gestos desportivos poderá ser o factor causal que determina o seu domínio em
termos de comprimento sobre o membro inferior direito. Nas modalidades
potencialmente assimétricas esse facto acentua-se, nomeadamente no futebol
(Massada, 2006).
Em conclusão, pensamos que deve existir uma forte influência dos
factores ambientais nas dismetrias dos membros inferiores.
- 71 -
- 72 -
6. Conclusões
- 73 -
- 74 -
Conclusões
Esta dissertação ajudou-nos a perceber o importante papel da
prevenção, nomeadamente o papel da avaliação postural, na diminuição da
incidência e prevalência de algumas lesões.
A avaliação postural ajuda-nos a identificar possíveis desvios posturais,
que para além de afectarem directamente o atleta, podem levar indirectamente
à formação de cadeias de compensação por parte do organismo que poderão
ser ainda mais nefastas para a performance do atleta.
Verificámos que os desvios posturais não são uma utopia, são uma
realidade mesmo para jovens supostamente saudáveis que praticam desporto.
Como referimos anteriormente, um desvio postural não pode ser considerado
uma doença, mas poderá desencadear mecanismos lesivos quer micro ou
macro traumáticos.
Alguns dos valores expostos aqui nesta dissertação serão certamente
alvo de reflexão, pois muitas das variáveis aqui apresentadas, que se referem a
desvios posturais, apresentam valores consideráveis e demonstram que estes
desvios podem não ter somente causa biológica ou genética mas também, e
sobretudo, ambiental.
Sabendo que muitos dos desvios posturais podem ser influenciados
directamente pela prática desportiva (escoliose, hiperlordose, joelho varo,
joelho recurvado, pé varo, hallux Valgus e dismetrias nos membros inferiores),
onde o atleta está inserido, é importante a implementação de medidas
profilácticas para que se possam diminuir alguns quadros patológicos que
podem ser facilmente ultrapassados, com a adopção de um trabalho metódico
e sistemático de correcção ou compensação dos mesmos.
Claro que para isso é necessária a união de esforços de uma equipa
multidisciplinar que possa estudar e aplicar as medidas necessárias.
Como foi referido na revisão bibliográfica, prevenir é sempre melhor do
que curar. Os cuidados preventivos abarcam um conjunto de medidas que
- 75 -
visam a promoção da saúde e a redução das possibilidades de ocorrência de
acidentes ou lesões, com tratamento precoce e minimização de sequelas
inevitáveis.
Então para concluir, não podemos negligenciar o importante papel que a
avaliação
postural
poderá
ter
na
prevenção
nomeadamente no futebol.
- 76 -
de
lesões
desportivas
7. Sugestões
- 77 -
- 78 -

Realizar um estudo longitudinal incluindo as variáveis aqui em estudo.

Realizar um estudo de associação entre a prevalência de desvio
posturais e a incidência de lesões desportivas no futebol.

Realizar um estudo de caso com um atleta que apresente desvios
posturais e respectivo atleta de controlo.

Realizar um estudo sobre uma metodologia de treino a aplicar em jovens
futebolistas com desvios posturais.

Realizar um estudo experimental de uma metodologia de treino e
verificação dos seus efeitos.
- 79 -
- 80 -
8. Bibliografia
- 81 -
- 82 -
Bibliografia
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O perfil postural do jovem futebolista