O perfil postural do jovem futebolista Bruno Miguel Ferreira Maia Dias Porto, 2009 I II O perfil postural do jovem futebolista Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Alto Rendimento da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Orientador: Professor Doutor Júlio Garganta Co-Orientador: Dr. João Brito Bruno Miguel Ferreira Maia Dias Porto, 2009 I Referência: Dias, Bruno. M. F.M. (2009). O perfil postural do jovem futebolista. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. PALAVRAS-CHAVE: AVALIAÇÃO POSTURAL, DESVIOS POSTURAIS, FUTEBOL, LESÕES, JOVENS. II Agradecimentos É justo e sensato agradecer primariamente aqueles que directamente contribuíram para que este trabalho fosse concluído. Por isso, queria agradecer ao Prof. João Brito, pela atenção, disponibilidade e competência no auxílio extremamente precioso prestado para a elaboração deste trabalho. O meu muitíssimo obrigado João, sem ti não seria possível. Queria agradecer também ao Prof. Doutor Júlio Garganta pela sua disponibilidade para orientar esta minha dissertação. Agora gostava de agradecer com especial carinho, aqueles que indirectamente contribuíram para a realização deste trabalho, não com os seus conhecimentos científicos mas pela amizade profunda, que foi nutrida durante os cinco anos de curso. A proximidade, a cumplicidade e os vários momentos passados durante todos estes anos, fazem com que eu sinta que todos estes anos valeram realmente a pena. Sem citar nomes, porque são muitos, o meu muitíssimo obrigado para os “mesmo de sempre”, eles sabem quem são. III IV Índice Geral Agradecimentos .............................................................................................. III Índice Geral....................................................................................................... V Índices de Quadros .........................................................................................IX Índice de Gráficos ........................................................................................... XI Resumo .......................................................................................................... XIII Abstract...........................................................................................................XV 1. Introdução................................................................................................ - 1 - 2.2. Lesões no Futebol jovem ..................................................................- 9 - 2.2.2. Factores causais das anomalias estáticas ............................... - 14 - 2.3. Avaliação postural ........................................................................... - 15 - 2.3.1. Postura Padrão......................................................................... - 16 - 2.3.2. Desalinhamentos posturais mais comuns em futebolistas ....... - 17 2.3.2.1. Coluna Vertebral ................................................................... - 17 2.3.2.1.1. Cifose/Hiperlordose ...................................................... - 17 2.3.2.1.2. Escoliose ....................................................................... - 18 2.3.2.2. Pelve/Quadril ........................................................................ - 18 2.3.2.3. Joelho ................................................................................... - 18 2.3.2.3.1. Genu Valgus/Varus........................................................ - 18 2.3.2.3.2. Genu Recurvatum.......................................................... - 19 2.3.2.4. Tornozelo/Pé ........................................................................ - 20 2.3.2.4.1.Pé Cavus/Planus ............................................................ - 20 2.3.2.4.2. Pé Varum/Valgus........................................................... - 21 V 2.3.2.4.3. Hallux Valgus................................................................. - 21 2.3.2.5. Dismetrias nos membros inferiores....................................... - 22 2.3.3. Anomalias estáticas e o Futebol ............................................... - 22 - 2.3.4. A importância da avaliação postural como medida preventiva . - 26 - 3. Material e Métodos ...................................................... - 29 -_Toc245188375 3.1. Amostra........................................................................................... - 31 - 3.2. Procedimentos Metodológicos ........................................................ - 31 - 4. Apresentação de resultados ........................................ - 37 -_Toc245188379 4.1. Análise descritiva geral ................................................................... - 39 - 4.1.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 39 - 4.1.2. Membros Inferiores................................................................... - 41 4.1.2.1. Dismetrias............................................................................. - 42 4.2. Perfil Postural dos Atletas por escalão............................................ - 42 - 4.2.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 42 - 4.2.2. Membros Inferiores................................................................... - 44 4.2.2.1. Dismterias............................................................................. - 46 4.3. Perfil Postural dos Atletas por Anos de Prática............................... - 46 - 4.3.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 47 - 4.3.2. Membros Inferiores................................................................... - 48 4.3.2.1. Dismetrias............................................................................. - 50 4.4. Perfil Postural dos Atletas por Posições no Terreno ....................... - 50 - 4.4.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 51 - 4.4.2. Membro Inferiores..................................................................... - 52 4.4.2.1. Dismetrias............................................................................. - 54 4.5. Perfil Postural dos Atletas por Estádio Maturacional....................... - 54 - VI 4.5.1. Cabeça, Tronco e Quadril.........................................................- 55 - 4.5.2. Membros Inferiores................................................................... - 56 4.5.2.1. Dismetrias............................................................................. - 58 5. Discussão dos Resultados..................................................................... - 59 - Discussão dos Resultados ........................................................................... - 61 - 5.1. Coluna vertebral .............................................................................. - 62 - 5.2. Pelve/Quadril................................................................................... - 65 - 5.3. Joelho..............................................................................................- 66 - 5.4. Tornozelo/Pé ................................................................................... - 68 - 5.5. Dismetrias nos membros inferiores ................................................. - 70 - 6. Conclusões ............................................................................................ - 73 - 7. Sugestões.............................................................................................. - 77 - 8. Bibliografia ............................................................................................. - 81 - _Toc245188406 VII VIII Índices de Quadros Quadro 1: Caracterização da amostra ............................................................ 31 Quadro 2: Análise Descritiva dos Desvios Posturais na cabeça tronco e quadril da amostra Geral.............................................................................................. 40 Quadro 3: Análise das diferenças intra-variável, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril na amostra geral................................... 40 Quadro 4: Análise Descritiva dos Desvios Posturais nos membros inferiores da amostra Geral................................................................................................... 41 Quadro 5: Análise das diferenças intra-variável, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores na amostra geral......................................... 41 Gráfico 6: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante da amostra geral ....................... 42 Quadro 7: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão........................... 43 Quadro 8: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão........................... 44 Quadro 9: Análise das diferenças intra-escalão, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do escalão ................................ 45 Quadro 10: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do escalão ................................ 45 Quadro 11: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante em função do escalão ............... 46 Quadro 12: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos aos de prática............... 48 Quadro 13: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos anos prática.................. 48 Quadro 14: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função dos anos de prática................... 49 Quadro 15: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função dos anos de prática................... 50 IX Quadro 16: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante em função dos anos de prática . 50 Quadro 17: Análise das diferenças intra-posição no terreno, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno ............................................................................................................. 52 Quadro 18: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno ......... 52 Quadro 19: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios nos membros inferiores em função da posição no terreno ..................................... 53 Quadro 20: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função da posição no terreno ............... 53 Quadro 21: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante em função da posição no terreno54 Quadro 22: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional ...... 55 Quadro 23: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional ...... 56 Quadro 24: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do estádio maturacional............ 57 Quadro 25: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do estádio maturacional............ 57 Quadro 26: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante em função do estádio maturacional..................................................................................................... 58 X Índice de Gráficos Gráfico 1: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão ............................................................................................ 43 Gráfico 2: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores, em função do escalão ............................................................................................ 45 Gráfico 3: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos anos de prática .............................................................................. 47 Gráfico 4: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função dos anos de prática ................................................................................................49 Gráfico 5: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno ........................................................................... 51 Gráfico 6: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função da posição no terreno ........................................................................... 53 Gráfico 7: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional........................................................................ 55 Gráfico 8: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do estádio maturacional........................................................................ 57 XI xii Resumo A incidência de lesões associadas à prática desportiva tem aumentado nos últimos anos devido às grandes exigências físicas e psíquicas que a actividade pressupõe, como é o caso do futebol. A prevenção de lesões deve ser assim uma preocupação de todos os agentes ligados ao desporto. O objectivo principal deste trabalho era caracterizar o perfil postural de jovens jogadores de futebol, determinando a prevalência de desvios posturais, descrevendo os desvios mais comuns, enquadrá-los com as categorias estabelecidas e também salientar a importância da avaliação postural como uma medida preventiva para a identificação dessas mesmas anomalias. A amostra deste estudo foi constituída por 300 crianças e jovens futebolistas, com idades compreendidas entre os 8 e 18 anos (12,95 ± 2,19 anos; 3,41 ± 2,26 anos de prática; 1,56 ± 0,14 m de altura; 49,38 ± 14,10 kg de peso). Na avaliação dos atletas procedeu-se ao preenchimento de um questionário para obtenção de alguns dados pessoais. Posteriormente, realizou-se uma avaliação antropométrica, maturacional e postural. A avaliação postural foi realizada através de um “scan” visual, com os atletas na posição anatómica e em pé, e nos planos: frontal (anterior e posterior e sagital (esquerdo e direito). A avaliação teve por base a postura padrão descrita por Kendall (2007). No tratamento estatístico dos dados, para além da análise descritiva, utilizámos o teste não paramétrico qui-quadrado, para análise das diferenças intra-grupo e entre grupos em função das várias categorias e variáveis em estudo, e também a análise de variância (ANOVA), para analisar possíveis dismetrias em função da amostra geral e as várias categorias em estudo. A prática desportiva, nomeadamente o futebol, parece ter forte influência na prevalência de alguns desvios posturais aqui apresentados, nomeadamente, a escoliose, hiperlordose, joelho varo, joelho recurvado, pé varo, hallux valgus e dismetrias nos membros inferiores. Os desvios posturais mais prevalentes foram a assimetria de ombros (76,7%, p≤0,001), e a assimetria do quadril (51,7%, p=0,564). xiii Medidas preventivas devem ser tomadas para correcção de desvios posturais, que podem diminuir a prevalência e incidência de lesões nos jovens futebolistas, nomeadamente lesões de “overuse”. PALAVRAS-CHAVE: AVALIAÇÃO POSTURAL, DESVIOS POSTURAIS, FUTEBOL, LESÕES, JOVENS. xiv Abstract The incidence of sport injuries has increased in the recent years due to the great physical and mental demands that this activity requires, as in football. The injury prevention should be a concern as those involved with the sport. The main objective of this study was to characterize the postural profile of youth football players, determining the prevalence of postural deviations, describing the most common deviations, and fit them with the established categories, and also to point out the importance of postural assessment as a survey measure for the identification of those anomalies. The sample was constituted by 300 children and young footballers aged 8 and 18 years (12.95 ± 2.19 years, 3.41 ± 2.26 years of practice, 1.56 ± 0.14 m high; 49.38 ± 14.10 kg weight). In the evaluation, players filled in a questionnaire to obtain some personal data. Subsequently, there was anthropometric, maturity and postural evaluations. Postural assessment was performed using a visual scan, with the athletes in the anatomical standing position , in the planes: frontal (anterior and posterior sagittal (left and right). The assessment was based on the standard posture described by Kendall (2007). Statistical analysis considered descriptive analysis and the nonparametric chi-square test for analysis of differences within the group and between groups, according to several categories and variables under study, and also the analysis of variance (ANOVA) to analyze possible dysmetria on the basis of the overall sample and the various categories under study. Sports practice, particularly football, seems to have strong influence on the prevalence of certain postural deviations presented in our study, including scoliosis, hyerlordosis, knee varus, hyperextension of the knee, foot varus, hallux Valgus and dysmetria in the lower limbs. The most prevalent postural change was the asymmetry of the shoulders (76.7%, p ≤ 0.001), and the asymmetry of the hip (51.7%, p=0,564). xv Preventive measures must be taken to correct postural deviations, which can reduce the prevalence and incidence of injuries in young players, including overuse injuries. Key-Words: POSTURAL ASSESSMENT, FOOTBALL, INJURIES, YOUNG. xvi POSTURAL CHANGES, 1. 1 Introdução -2- Introdução O Futebol é um jogo com uma estrutura cinemática acíclica, onde se verificam grandes mudanças de direcção e velocidade, consubstanciadas num conjunto de comportamentos técnico-tácticos que são específicos, executados em situações de cooperação-oposição (Horta, 2000). É sabido que a elevação do rendimento acarreta uma fragilização das estruturas tecidulares pela potenciação dos mecanismos agressivos e cada vez mais a prevenção da lesão exige uma estreita colaboração entre a equipa médica, os treinadores e os atletas (Aires & Horta, 2000). A incidência de lesões na actividade desportiva tem aumentado nos últimos anos devido as grandes exigências físicas e psíquicas que essa actividade pressupõe. Isto tem acontecido principalmente nos mais jovens, onde o início da prática desportiva é cada vez mais precoce e o volume e intensidade do treino na fase inicial são cada vez maiores. A prevenção de lesões é assim um tema fundamental na formação de todos os técnicos ligados ao fenómeno desportivo, assim como de todos os atletas (Horta, 2000). O conhecimento dos factores de risco de lesão desportiva, a sua detecção e a implementação de medidas que visem a sua correcção, compensação ou controlo são fulcrais na intervenção diária de qualquer treinador junto dos atletas e principalmente dos jovens atletas (Horta, 2000). São vários os autores a referirem as anomalias estáticas como tendo um papel preponderante na incidência das lesões desportivas (Aires & Horta, 2000; Horta, 2000; Massada, 2000; Massada, 2001; Soares, 2005). Contudo, este factor é muitas vezes negligenciado pelos vários agentes ligados ao desporto, mas, de facto, esta deve ser preocupação fundamental daqueles que têm por obrigação treinar e tratar dos atletas (Massada, 2000). No Futebol, os segmentos anatómicos mais solicitados são o pé, o tornozelo, o joelho, a cintura pélvica e a coluna (Aires & Horta, 2000). O diagnóstico de alterações morfológicas do sistema osteoarticular ou muscular, como por exemplo, dismetria dos membros inferiores, escolioses, cifoses, joelhos e retropés valgos ou varos, pés cavos ou planos, é igualmente -3- importante pois estas situações, se não forem compensadas ou corrigidas, podem predispor o atleta à lesão desportiva (Horta, 2000). A associação de uma anomalia anatómica a um desequilíbrio muscular pode predispor o jovem atleta à lesão se não forem tomadas medidas a nível do planeamento do treino (Horta, 2000). Aires (2000) acrescenta que a observação dos erros de alinhamento pode contribuir também para o estabelecimento de programas correctores, que visam contrariar os desequilíbrios musculares, resultantes ou geradores, cujo agravamento é também consequência da própria actividade desportiva. É então fundamental consciencializar todos os agentes ligados ao fenómeno desportivo, muito particularmente, os atletas, os treinadores e os dirigentes desportivos, para a importância do exame de avaliação médicodesportiva, principalmente em termos de prevenção de lesões (Horta, 2000). A avaliação postural é uma valiosa ferramenta que tem sido subvalorizada pelos agentes desportivos. No entanto, a avaliação postural pode ser uma mais-valia para estudar e acompanhar os atletas de alta competição, tendo em conta a melhoria da sua performance desportiva. -4- 2. Revisão Bibliográfica -5- -6- Revisão Bibliográfica 2.1. O Futebol: suas características e exigências. O Futebol, é um jogo de equipa, em que onze jogadores de cada equipa tentam pontuar tantas vezes quanto possível dentro do tempo e regras permitidas (Lees & Nolan, 1998). Pertence a um grupo de modalidades com características comuns, habitualmente designadas por jogos desportivos colectivos (Garganta & Pinto, 1998). Sem diminuir a importância das restantes características, é a relação de oposição entre os elementos das duas equipas em confronto e a relação de cooperação entre os elementos da mesma equipa, ocorridas num contexto aleatório, que traduzem a essência dos jogos desportivos colectivos (Garganta & Pinto, 1998). O rendimento no futebol depende de factores tácticos, técnicos, físicos e psicológicos/sociais. Um jogador de futebol necessita de uma grande capacidade física, compreender bem os aspectos tácticos do jogo, ter um elevado nível técnico, ser forte mentalmente e funcionar bem em termos sociais no seio da equipa de que faz parte (Bangsbo, 2002; Soares, 2007). Os factores técnicos incluem capacidades como passar, receber, driblar e defender. As categorias mentais normalmente incorporam aspectos como confiança, ansiedade, controlo, concentração e motivação. As qualidades físicas incluem força, resistência e flexibilidade. Aspectos tácticos são normalmente sub-representados, mas a antecipação, pressão, criação de espaços e de apoio devem ser mencionadas. Finalmente, na categoria social, encaixam a coesão, liderança, apoio do clube e acesso a instalações adequadas (Peseiro, 2008). Do ponto de vista fisiológico, o Futebol é um jogo extremamente complexo, com acções específicas que evidenciam uma tipologia de esforço de grande diversidade e que, em termos metabólicos, apelam a fontes energéticas claramente distintas (Santos & Soares, 2001). -7- Quando se observam as características que se exigem no Futebol, em termos de ritmo e duração das demandas energéticas, é evidente que um jogador de Futebol tem que possuir capacidades aeróbias e anaeróbicas bem desenvolvidas. As exigências energéticas ligadas a esforços repetidos de actividades bastante intensas e breves são fornecidas via processos anaeróbicos. O metabolismo aeróbio fornece reservas contínuas de energia que permitem ao jogador aguentar todo o jogo a um ritmo moderado (Smith et al., 1993). Durante o jogo, o atleta executa diferentes acções técnicas como correr, saltar, ganhar posse de bola, receber a bola, conduzir a bola, passar e rematar. Todas estas acções são efectuadas com ou sem a posse de bola em series continuas de acelerações e desacelerações de ritmo, de rápidos sprints e varias mudanças de direcção (Saggini et al. 1993). O Futebol, com quase 200 mil jogadores profissionais e 240 milhões de jogadores amadores, é o desporto mais popular no mundo (Junge & Dvorak, 2004). A maioria desses jogadores são jovens e adolescentes (Timpka, Risto & Bjormsjo, 2007). Na Europa, quase todas as crianças são expostas ao futebol na escola, e muitas destas acabam por ingressar na prática organizada de futebol nos seus tempos livres (Timpka, Risto & Bjormsjo, 2007). O Futebol é inequivocamente um fenómeno de elevada magnitude no quadro da cultura desportiva contemporânea, é uma actividade com enorme popularidade, facto que pode ser comprovado através do vasto número de praticantes e de espectadores que mobiliza (Garganta & Pinto, 1998). A “evolução” do Futebol, enquanto jogo desportivo colectivo, tem passado, cada vez mais, pelo estudo e sistematização de elementos relativos a duas realidades interdependentes: o jogo e o jogador. Contudo, os trabalhos efectuados circunscrevem-se, essencialmente, ao Futebol de alto nível e ao jogador sénior (Seabra, Maia & Garganta, 2001). No que concerne à criança e ao jovem jogador de Futebol importa salientar que as pesquisas são escassas. Tal facto não parece ser muito compreensível dado que o jovem atleta se encontra numa das primeiras etapas -8- da sua preparação e formação e que visam o alto rendimento desportivo (Seabra, Maia & Garganta, 2001). Torna-se imperioso conhecer e sistematizar a maior quantidade e diversidade de informação acerca dos jovens que são submetidos, desde muito cedo, a actividades físicas organizadas, altamente especializadas e sistemáticas, sobretudo no que à resposta ao treino e competição dizem respeito (Seabra, Maia & Garganta, 2001). Este desporto continua a propiciar a uma enorme quantidade de jovens, a oportunidade da prática de uma vida saudável (Anderson et al., 2000). No entanto, os jovens praticantes estão sujeitos a um elevado risco de lesões específicas para a sua idade (Timpka, Risto & Bjormsjo, 2007). Foi demonstrado, que o risco de lesão no jogador profissional de futebol é cerca de 1000 vezes maior que qualquer ocupação industrial denominada de alto risco (Ekstrand, 2008). A incidência das lesões desportivas em jovens praticantes tem aumentado nos últimos 20 anos. Este incremento da incidência de lesões desportivas nos jovens praticantes deve-se, entre outras razões, ao início da prática desportiva em idades cada vez mais precoces, ao incremento do volume e da intensidade, do treino na fase inicial da carreira desportiva (Horta, 2000). Não nos podemos esquecer também, que as características do próprio jogo são um factor determinante para o elevado incide de lesões (Merron et al., 2006). Neste contexto, é pertinente investigar mais sobre as lesões no futebol juvenil, a fim de adaptar e promover programas de prevenção de lesões (Timpka, Risto & Bjormsjo, 2007). 2.2. Lesões no Futebol jovem Ainda não existe um consenso em relação à definição de lesão; em geral, implica todos os tipos de danos ocorridos durante o treino e competição (Merron et al., 2006). -9- Como resultado desta indefinição, foi discutido no primeiro congresso Mundial de prevenção de lesão desportiva em Oslo (2005) um consenso para a definição de lesão. Segundo o centro de pesquisa e avaliação médica da FIFA, e como resultado deste mesmo congresso, uma lesão no Futebol pode ser definida como qualquer tipo de ocorrência sofrida por um jogador, em competição ou em treino, que o obriga a interromper a sua actividade e o impeça de participar em, pelo menos, um treino ou jogo (Fuller et al., 2006). Segundo vários estudos, a incidência de lesões no futebol jovem, esta estimada entre 0,5 e 16,1 lesões por 1000 horas de prática durante a época (Dvorak & Junge, 2000). Num estudo realizado com jovens Futebolistas durante uma época desportiva Futebol, verificou-se uma incidência de lesões de 4 lesões por 1000 horas de prática, sendo que a incidência foi maior durante os jogos (5,6 lesões/1000 horas de jogo) que nos treinos (3,3 lesões/1000 horas de treino). Em relação à região anatómica mais afectada, os membros inferiores foram claramente os mais lesados com 84% de prevalência. O estudo revela ainda que o joelho e o tornozelo foram as áreas mais afectadas, 29% e 36% respectivamente. As entorses (33%), as roturas (23%) e as contusões (21%), foram os tipos de lesão mais frequentes. De todas as lesões, 30% foram lesões menores, 32% moderadas e 32% maiores (Kakavelakis et al., 2003). Outro estudo, mas realizado durante duas épocas desportivas, demonstrou que a incidência de lesões nos jovens Futebolistas foi de 0,40 por cada época. 50,4% das lesões ocorreram durante os jogos. (Price et al., 2004). Em termos da tipologia das lesões, 66% das lesões foram classificadas como entorses, roturas e contusões. A maioria das lesões ocorreram no membro dominante e 90% das lesões afectaram o membro inferior, sendo a coxa, e as articulações do joelho e tornozelo as mais afectadas. Acrescentam ainda que actividades como corrida, mudanças de direcção e outras acções de não contacto foram as responsáveis pela maioria das lesões (34%). Num estudo epidemiológico mais abrangente, Junge & Dvorak (2004) demonstraram que, independentemente do sexo e escalão, as regiões anatómicas mais afectadas no Futebol, foram os membros inferiores, mais - 10 - concretamente a coxa, e as articulações do joelho e tornozelo. Tendo em conta a tipologia da lesão, as lesões agudas foram as mais frequentes, nomeadamente: contusões, entorses e roturas. As lesões de não contacto demonstraram ter percentagens maiores (entre 26% a 59%), em relação as lesões de contacto (entre 12% a 28%). O mesmos autores acrescentam que em termos de incidência de lesão, no Futebol mais jovem a incidência parece aumentar com a idade, sendo os jogadores na faixa etária dos 17 e 18 anos os mais afectados e que a incidência em jogos pode chegar a ser entre 4 a 6 vezes mais elevada que a incidência durantes os treinos. A elevada taxa de lesões observadas nos futebolistas merece grande preocupação por parte de todos os agentes ligados à modalidade, no sentido de se reduzir o numero de lesões, bem como atenuar as suas consequências (Soares, 2005), pelo que é necessário desenvolver estudos que avaliem os potenciais factores de risco antes da ocorrência de quadros patológicos (Murphy, Connolly & Beynnon, 2003). Apesar das lesões poderem parecer ser causadas por um evento isolado, elas resultam de uma complexa interacção entre factores internos e externos (Bahr & Krosshaug, 2005). A identificação dos factores de risco das lesões desportivas leva a que algumas situações traumáticas e potencialmente perigosas possam ser evitadas e contornadas (Carvalho, 2004) . 2.2.1. Anomalias estáticas como factor predisponente de lesões desportivas Muito pouco é sabido acerca das interacções relacionadas com as exigências do desporto e o corpo humano (Yaniv et al., 2006; Witvrouw et al., 2009). Negligenciado pela maioria dos atletas, e mesmo até pelos técnicos do desporto, o conhecimento dos factores predisponentes das lesões no desporto - 11 - é fundamental para se poder actuar com as medidas preventivas adequadas (Massada, 2000). São vários os autores a referirem as anomalias estáticas como tendo um papel preponderante na incidência das lesões desportivas (Aires & Horta, 2000; Horta, 2000; Massada, 2000; Massada, 2001; Soares, 2005), contudo este factor é muitas vezes negligenciado pelos vários agentes ligados ao desporto, e acrescenta que deve ser preocupação daqueles que têm por obrigação treinar e tratar dos atletas (Massada, 2000). O alinhamento da anca, joelho e tornozelo têm tido um interesse substancial como um potencial factor de risco de lesões no membro inferior (Murphy, Connolly & Beynnon, 2003). Na mesma linha de pensamento, Hollman et. al. (2006) referem que muitas das lesões no membro inferior, particularmente lesões de overuse, estão relacionadas a incorrecções biomecânicas que ocorrem entre a pélvis, coxa, perna e pé. Duas teorias têm sido apresentadas para explicar os efeitos das incorrecções biomecânicas nos membros inferiores (Hollman et al., 2006) . A primeira é uma teoria ground up, ou seja, incorrecções nas regiões distais têm implicações na biomecânica de todo o membro inferior. Por exemplo, a pronação excessiva do pé está associada a um aumento de valgismo tíbiofemoral durante a corrida. O desalinhamento do joelho associado a uma elevada pronação do pé está consequentemente associado a um aumento do ângulo Q. De forma antagónica, a teoria top down explica que factores proximais, como a fraqueza nos músculos da zona pélvica, particularmente nos planos frontal e transversal de movimento, contribuem para mecanismos anormais nos membros inferiores. Alguns autores especularam que a fraqueza pélvica tem um papel importante nos desalinhamentos do membro inferior e na etiologia das lesões de overuse nos membros inferiores, como síndroma patelo-femoral, síndrome da banda ílio-tibial e mesmo problemas no pé e tornozelo (Ireland et al.,2003; Fulkerson, & Arendt, 2000; Sommer, 1988, cit. Hollman, et al., 2006). - 12 - Massada (2000) acrescenta que determinados gestos corporais, se executados contra resistência, ao solicitarem em carga iterativamente sempre as mesmas estruturas anatómicas, poderão nelas condicionar determinadas adaptações que poderão atingir padrões anormais se não forem devidamente reconhecidos e devidamente compensados. Anomalias estáticas (Genu valgus e varum, dismetrias, alterações da coluna vertebral) e consequentemente os desvios posturais que desencadeiam, alterando os eixos e as linhas de força, produzem inicialmente tensões elevadas sobre as estruturas ligamentares e miotendinosas, culminando posteriormente, se não corrigidas, em alterações degenerativas articulares pela mecânica anormal do movimento. King (2007) refere que as alterações posturais podem aumentar a tensão de um grupo muscular, enquanto o grupo antagonista pode encurtar e diminuir a sua flexibilidade. Lesões de overuse podem ocorrer no músculo sujeito a maiores tensões. Pequenas alterações de alinhamento da postura limitam o movimento e resultam em tensão dos músculos e de outros tecidos moles. Os músculos que estão alongados desenvolvem com frequência a sua força máxima na posição distendida e são fracos na posição fisiológica normal (Palmer, 2000). Wojtys et al. (2000) acrescentam que, a longo prazo, as alterações posturais podem evoluir para processos crónicos que limitam o indivíduo para a prática de actividades físicas, sendo ainda que maiores tempos de prática desportiva estão associados a maiores ângulos de alterações posturais. Neto Junior, Pastre & Monteiro (2004) acrescentam que alterações posturais estão fortemente associadas com a biomecânica da prova do atleta, os desequilíbrios musculares retracionais, deficit de força muscular, variação do tónus e trofismo muscular, dominância lateral, entre outros factores, que a médio e longo prazo podem ocasionar lesões agudas ou crónicas que comprometem em demasia o rendimento do desportista. - 13 - 2.2.2. Factores causais das anomalias estáticas As anomalias estáticas podem ser causadas por vários factores, como factores congénitos, compensatórios, desequilíbrios musculares, entre outros (Palmer, 2000). Contudo, neste trabalho, incidimos apenas sobre os desequilíbrios musculares e compensatórios, pois identificando as alterações posturais, podemos actuar com programas de intervenção para minimizar, atenuar ou corrigir essas mesmas alterações. Muitos autores identificam a elevada exigência e característica do treino desportivo como um dos factores causais das alterações da postura (Wojtys et al., 2000). Em cada modalidade desportiva existem padrões de comportamento específicos. Consequentemente, a repetição excessiva destes comportamentos leva a que os atletas adoptem posturas prejudiciais para a estabilidade da relação entre as várias cadeias cinéticas, pois a elevada solicitação de um grupo muscular em detrimento de outros conduz a desequilíbrios musculares, levando a alterações posturais devido à criação de cadeias de compensação pelo organismo (dos Santos et al., 2007; Junior, Pastre & Monteiro, 2004). Assim, os desportos de alto nível caracterizam-se por determinados padrões corporais específicos à modalidade praticada, que extrapolam as barreiras geopolíticas, sociais e culturais (Júnior, Pastre & Monteiro, 2004). Corroborando esta afirmação, Massada (2006) fala-nos de uma tecnopatia morfológica. Diz-nos que, embora no indivíduo sedentário as assimetrias observadas sejam fundamentalmente devido a factores genéticos e epigenéticos, no desportista, e mais vincadamente no atleta de alta competição que iniciou precocemente a actividade atlética, os factores biomecânicos estarão de alguma forma correlacionados com o acentuar das mesmas, fundamentalmente ao nível das estruturas miotendinosas e osteoarticulares dominantes, condicionando-lhes o aparecimento de morfologias corporais típicas ao nível do esqueleto apendicular e axial. Ribeiro et al. (2003) referem que o treino intenso e repetitivo de uma modalidade desportiva proporciona a hipertrofia muscular e a diminuição da - 14 - flexibilidade, causando desequilíbrio entre a musculatura agonista e antagonista, favorecendo a instalação de alterações posturais. Na mesma linha de pensamento, Júnior et al. (2004) referem que a repetição de determinados tipos de actividade com posições e movimentos habituais e o período e sobrecarga de treino (overtraining/overuse) provocam um processo de adaptação orgânica que resulta em efeitos deletérios para a postura, com alto potencial de desequilíbrio muscular. Os mesmos autores acrescentam que grande parte dos problemas posturais pode ser atribuída à forma de organização das rotinas do treino desportivo, em que há a tendência em se concentrar, em demasia, o trabalho de sobrecarga nos grupos musculares mais solicitados (responsáveis pelos gestos atléticos), desconsiderando a acção destes sobre os músculos profundos que agem sobre a manutenção da postura. 2.3. Avaliação postural A realização do exame de avaliação médico-desportivo anual para que se possam detectar contra indicações absolutas para a prática desportiva ou relativas para a prática de uma determinada modalidade, bem como determinadas anomalias anatómicas que possam predispor o jovem atleta à lesão desportiva, é de extrema importância. A detecção dessas anomalias anatómicas (escolioses, cifoses, dismetrias dos membros inferiores, pés cavus ou planus, genu varum ou valgus, etc.) pode condicionar o atleta e deve levar a que sejam tomadas medidas para a correcção da compensação das mesmas (Horta, 2000). A monitorização postural tem sido uma preocupação da avaliação clínica, fornecendo informação quantitativa e qualitativa das características do ser humano. A apresentação postural do nosso corpo pode ser considerada um mapa de movimentos padronizados. Evidências de assimetrias mediais, laterais e/ou anteriores e posteriores, fornecem-nos pistas do modo como o nosso corpo se adapta para manter uma performance optimizada (King, 2007). - 15 - Contudo, esta valiosa ferramenta não tem sido aproveitada pelos vários agentes ligados à modalidade. No entanto, a avaliação postural pode ser uma mais-valia para estudar e acompanhar os atletas de alta competição, tendo em conta a melhoria da sua performance desportiva. Para verificar potenciais distúrbios na coluna, a inspecção da postura é fundamental. A avaliação postural deve observar uma possível cifose, lordose, ou escoliose. O alinhamento dos membros inferiores também é importante na avaliação de lesões de overuse. A inspecção pode revelar se os pés são planos ou cavos, se os quadris são rodados internamente ou externamente, se a tíbia é rodada internamente ou externamente, se os joelhos são varo ou valgo, e/ou se os joelhos estão em hiperextensão ou hiperflexão (Anderson, 2005). 2.3.1. Postura Padrão A academia americana de Ortopedia conceitua postura como o estado de equilíbrio dos músculos e ossos com capacidades para proteger as demais estruturas do corpo humano de traumatismos, seja na posição em pé, sentada ou deitada (Junior, Pastre, & Monteiro, 2004). Sobre estas condições os músculos trabalham de forma eficiente (Penha et al., 2005). Uma postura deficiente é caracterizada por uma defeituosa relação entre as várias regiões anatómicas, que produz uma maior tensão nas estruturas de suporte e onde ocorre uma menor eficiência no equilíbrio das mesmas (Penha et al., 2005). Para Kendall et al. (2007), a postura humana é a relação cinemática entre as posições dos complexos articulares do corpo num dado momento. Num alinhamento esquelético ideal, espera-se que os músculos, articulações e suas estruturas esqueléticas se encontrem em estado de equilíbrio dinâmico, gerando uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, conduzindo a uma eficiência óptima para o aparelho locomotor. Estes autores acrescentam ainda que é necessário descrever uma postura padrão para podermos observar e diagnosticar desvios posturais. - 16 - 2.3.2. Desalinhamentos posturais mais comuns em futebolistas No futebol, os segmentos anatómicos mais solicitados são o pé, o tornozelo, o joelho, a cintura pélvica e a coluna (Aires & Horta, 2000). O desporto apresenta características próprias que propiciam lesões tráumato-ortopédicas. Observamos na literatura que alterações posturais como genu varum ou valgum, curvas lordóticas ou escolióticas estruturadas, discrepâncias verdadeiras no comprimento dos membros, anca com anteroversão ou retroversão, exagerado genu recurvatum e tipo anormal do pé, estão associadas a lesões no Futebol (Aires & Horta, 2000; Gould, 1993) 2.3.2.1. Coluna Vertebral No futebol, a coluna vertebral é solicitada quer nos gestos dos membros inferiores, quer no acto de cabecear a bola, quer como alvo de solicitações desequilibrantes (Aires & Horta, 2000). Assim, não podemos dissociar desvios posturais localizados no trem superior com o trem inferior. 2.3.2.1.1. Cifose/Hiperlordose Cifose é uma curvatura posterior excessiva da espinha midotorácica superior. A espinha torácica superior apresenta normalmente um contorno arredondado, mas esta curva pode ser acentuada por factores congénitos, factores compensatórios, desequilíbrios musculares entre outros factores. Contrariamente à cifose, a hiperlordose é uma curvatura anterior excessiva da espinha lombar. Um aumento da curva lordótica pode ter causa congénita, mas também pode dever-se a desequilíbrios musculares, como fracos abdominais, fortes flexores da coxa e fortes extensores das costas, que favorecem a rotação anterior da zona pélvica (Palmer, 2000; Shultz, 2000). Ambas as anomalias poderão ser verificadas na vista lateral. - 17 - 2.3.2.1.2. Escoliose A escoliose é comummente observada na espinha torácica e lombar ou em ambas as áreas. Os processos espinhosos das vértebras ficam localizados lateralmente à linha média do tronco (Palmer, 2000) e podem ser identificadas como uma linha C ou linha S (Houglum, 2001). Uma linha C é identificada consoante a orientação da convexidade (esquerda ou direita). A linha S pode ser uma compensação da linha C. As escolioses podem ser causadas por deformações congénitas da espinha, dismetrias dos membros inferiores e hipersolicitação unilateral. As escolioses podem causar fadiga muscular e um aumento do stress ligamentar do lado convexo devido á sua fraqueza estrutural (Houglum, 2001). Poderemos verificar esta anomalia na vista posterior. 2.3.2.2. Pelve/Quadril Na inclinação pélvica lateral, a pélvis desvia-se no plano coronal para a esquerda ou direita, isto é, um lado da pélvis situa-se mais elevado que o outro (Palmer, 2000). Poderemos verificar esta anomalia tanto na vista anterior como posterior 2.3.2.3. Joelho 2.3.2.3.1. Genu Valgus/Varum Nos joelhos, articulações muito solicitadas, os desalinhamentos favorecem a patologia microtraumática como entesites dos ligamentos e músculos, tendinites e microlesões meniscais, facilitadoras de lesão de maior dimensão, obrigando muitas vezes a intervenção cirúrgica (Aires, 2000). - 18 - No genu varum, o segmento distal desvia-se na direcção da linha média em relação ao segmento proximal, e a articulação do joelho ocupa uma posição lateral no eixo mecânico do membro inferior (Palmer, 2000). É um aumento do normal ângulo valgus ou angulação medial da tíbia relativamente ao fémur. Genu varum pode estar relacionado com pé cavus, rotação interna da tíbia, abdução da anca ou excessiva rotação externa da anca (Shultz, 2000). O varismo origina sobrecarga cápsulo-menisco-ligamentar externa, facilita a hiperpressão interna da rótula e estreita o espaço femuro-tibial interno, o que pode condicionar lesões meniscais internas (Aires, 2000). O valgismo condiciona alterações inversas, ou seja, o valgismo caracteriza-se pelo desvio lateral do segmento distal em relação ao segmento proximal e deslocação medial do eixo articular. (Aires, 2000; Palmer, 2000; Shultz, 2000) . O valgismo pode ser causado por fraqueza dos quadricipites, pronação do pé, pé plano, estruturas mediais da articulação do joelho alongadas e retracção do trato iliotibial e das estruturas laterais da articulação do joelho. Um joelho varo predispõe a lesões cápsulo-ligamentares externas e a lesões meniscais, em termos macrotraumáticos e a síndrome de hiperpressão interna da articulação tíbio-femoral, síndrome da banda ílio-tibial, entre outras lesões microtráumaticas (Aires & Horta, 2000). Poderemos verificar ambas as anomalias na vista anterior. 2.3.2.3.2. Genu Recurvatum No genu recurvatum, o joelho situa-se em hiperextensão e o stress gravitacional incide muito adiante do eixo articular (Palmer, 2000). Pode estar relacionado a uma excessiva rotação interna da anca com pes planus ou rigidez do tornozelo ou do gastrocnemius, restringindo a dorsiflexão (Shultz, 2000). O genu recurvatum, predispõe a lesões capsulares posteriores, a lesões dos ligamentos cruzados, principalmente do cruzado posterior, a rotura dos gémeos e isquiotibiais e a lesões meniscais, em termos de macrotraumáticas, e - 19 - a tendinites dos gémeos e isquiotibiais, em termos de lesões microtraumáticas (Aires & Horta, 2000). Esta anomalia poderá ser verificada na vista lateral. 2.3.2.4. Tornozelo/Pé Alterações funcionais e estruturais no pé podem alterar os arcos de suporte, levando à diminuição da estabilidade e/ou capacidade de absorção dos choques. Estas alterações podem ter uma forte influência no alinhamento e mecânica do membro inferior, não só ao nível do pé, como das zonas lombar, pélvica, joelho e tornozelo (Aires, 2000; Shultz, 2000). Massada (2006) acrescenta que as alterações anatómicas que aumentam ou diminuem as arcadas plantares, tal como se observa no pé planus ou no pé cavus, afectam gravemente o apoio plantígrado, actuando obrigatoriamente de forma nefasta na marcha, na corrida, e mesmo no simples apoio unipodálico. 2.3.2.4.1. Pés Cavus/Planus O pé adquire, no futebolista, papel importante pois é o elemento preferencial do contacto com a bola. A sua integridade arquitectónica é necessária para a conjugação da elasticidade requerida para o amortecimento das forças ascendentes e descendentes que nele actuam, com a rigidez própria das alavancas ósseas (Aires & Horta, 2000). Tanto um pé cavo muito rígido, como um pé plano demasiadamente laxo e elástico prejudicam a biomecânica do pé e predispõem a lesão (Aires & Horta, 2000). O pé cavus é caracterizado por uma elevada rigidez e elevado arco longitudinal, contractura das estruturas plantares, cabeças do metatarso - 20 - proeminente, elevação dos dedos e o osso navicular fica acima da linha de Feiss (Palmer, 2000; Shultz, 2000). O pé planus é caracterizado por um reduzido arco longitudinal medial. O tendão de Aquiles é convexo medialmente e a tuberosidade do osso navicular fica abaixo da linha de Feiss (Palmer, 2000). É causado por hipermobilidade, resultado do aumento da laxidez e fraqueza muscular da superfície plantar (Shultz, 2000). 2.3.2.4.2. Pé Varum/Valgus O valgismo e varismo condicionam desequilíbrios a nível da articulação do tornozelo, facilitando o aparecimento de entorses. O pé varum coloca o eixo do calcâneo e o eixo da perna sobre a mesma linha longitudinal, facilitando o aparecimento de periostites e mesmo fracturas de fadiga. O calcâneo varo, assim como o pé cavum, caracteriza-se por uma verticalização da barra de torção, com rigidez articular, perda da função amortecedora, que passa a ser desempenhada pelos músculos (Aires & Horta, 2000). No valgismo e pé plano há horizontalizarão da barra de torção com hipermobilidade, de que resulta um défice da rigidez necessária à propulsão e sobrecarga muscular, em particular ao nível dos músculos próprios do 1º dedo (Aires & Horta, 2000). 2.3.2.4.3. Hallux Valgus O hallux valgus é caracterizado pelo desvio lateral do primeiro dígito da articulação metatarsofalangeana (Palmer, 2000). Esta deformidade pode ser causada pelo crescimento excessivo da cabeça do primeiro metatarso, luxação articular, músculo abdutor do hallux alongado ou músculo adutor do hallux retraído (Houglum, 2001). - 21 - 2.3.2.5. Dismetrias nos membros inferiores A nível dos membros inferiores, a medição dos mesmos permite o despiste de dismetrias, condicionadoras de alterações da estática vertebral no plano frontal e sobrecarga a nível dos membros inferiores (Aires, 2000). A medição torna-se mais importante ainda quando a dismetria dos membros inferiores é significativa e afecta indivíduos que praticam desporto, onde a repetição gestual determina a solicitação cíclica e intensa das estruturas anatómicas dos membros inferiores (Massada, 2006). O mesmo autor acrescenta que essa alteração significativa do comprimento dos membros inferiores executa no membro mais curto uma série de compensações semelhantes às que se observam num pé plano. São característicos o aumento da rotação interna da tíbia, da pronação do retropé e a rotação interna da coxa, factos que hipersolicitam as articulações do joelho, tornozelo, subastragaliana, mediotársica e coxofemoral. O aumento dos esforços devidos à repetição gestual, associado às alterações mecânicas determinadas pela dismetria dos membros, poderá determinar em alguns desportistas o aparecimento de uma patologia de overuse chamada de short leg sindrome (Massada, 2006). Esta anomalia poderá ser verificada tanto na vista anterior como posterior. 2.3.3. Anomalias estáticas e o Futebol Leite & Neto (2003) observaram no seu estudo sobre lesões no Futebol feminino, que a entorse de tornozelo foi o trauma mais frequente e que as atletas lesionadas apresentavam alterações posturais como, genu varum ou valgu, anomalias do pé, aumento do ângulo Q e assimetria de membros inferiores. Desta forma, os autores acreditam que alterações posturais podem aumentar o risco de lesões tráumato-ortopédicas nesta prática desportiva. - 22 - Ribeiro et al. (2003) observaram que há relação entre alterações posturais e incidência de lesões em jogadores de futsal com idade entre 9 e 16 anos, principalmente no grupo que apresentava hiperlordose lombar. Acrescentam que as alterações posturais geram uma sobrecarga mecânica extra nas estruturas osteomioarticulares, podendo predispor os segmentos envolvidos à lesão. Watson (1995) verificou que 51,9% dos atletas de Futebol avaliados apresentavam aumento da lordose lombar. Relatou que 67% dos atletas com essa alteração postural sofreram lesão muscular, enquanto que no grupo sem alteração postural apenas 36% tiveram essa mesma lesão. Esse autor mostrou que há relação entre o aumento da lordose lombar e a incidência de lesão. Acrescenta ainda que indivíduos que sofreram roturas musculares apresentam uma incidência maior de hiperlordose e genu varum. Hennessy & Watson (1993) também associaram a hiperlordose a lesões nos isquiotibiais. Wodecki et al. (2002) acrescentam ainda que, nos jogadores de Futebol, verifica-se uma menor cifose torácica e um aumento no grau de lordose lombar. Em termos de atitude escoliótica, Massada (2006) refere que com a idade existe uma diminuição estatisticamente significativa do alinhamento normal da coluna vertebral e um aumento significativo das atitudes escolióticas dorsais e dorsolombares. Segundo Bienfait (1995, cit. da Silva et al. 2008), não há hiperlordose sem anteversão pélvica. De entre as causas que levam à hiperlordose lombar e anteversão da anca, estão a tensão dos flexores da anca, a contractura da musculatura lombar e fraqueza dos músculos abdominais e glúteos. Gabbe et al. (2005) verificaram que a diminuição da flexibilidade dos músculos flexores da anca e dos quadricípites estão identificados como factores de risco para as lesões nos isquiotibiais. De facto, parece ser possível relacionar o alto índice de hiperlordose lombar à prática desportiva, uma vez que, em comparação com indivíduos não atletas na faixa etária entre 8 e 18 anos, os atletas apresentaram alteração significativa na curvatura lombar (Hutchinson, 1999 cit. da Silva et al., 2008). - 23 - Em relação aos pés, Razo et al. (1994) investigaram o alinhamento postural de 48 crianças entre sete e 14 anos praticantes de Futebol e observaram que 31,2% delas apresentavam alterações nos arcos plantares. O pé cavo foi a postura mais observada em comparação com o pé plano. Os mesmos autores referem ainda que a incidência de pés cavos ou planos está associada a lesões crónicas ou a microtraumas em praticantes de modalidades desportivas, já que alterações no apoio plantar, em função dos movimentos desportivos, podem ser consideradas como factor de risco de lesão. Grabara (2008), num estudo sobre a prática de Futebol e alterações no membro inferior em jovens entre os 10 e os 14 anos, verificou que os futebolistas examinados, especialmente com aqueles com maior tempo de prática, apresentavam tendência para genu varum e halux valgus. No Futebol, a articulação do joelho sustem uma enormidade de cargas e picos de força, particularmente na alta competição (Witvrouw, et al., 2009). Chantrain (1985, cit. Witvrouw et al., 2009) refere a hipótese de que um elevado stress imposto na articulação do joelho durante o crescimento e adolescência, associado à prática desportiva, pode contribuir para um crescimento deformado. Os mesmos autores referem ainda que a experiência clínica indica que os jogadores de Futebol desenvolvem mais frequentemente genu varum comparados com pessoas que não praticam Futebol. No seu estudo sobre a incidência de genu varum em futebolistas jovens, demonstraram existir uma significativa diferença entre dois grupos distintos, um de não praticantes e outro de praticantes de Futebol. Observaram também que no final do crescimento nos rapazes, foi observada uma elevada taxa de genu varum no grupo dos jogadores de Futebol em relação ao grupo de controlo. Yaniv et al. (2006) demonstraram também que um grupo de jovens futebolistas, em comparação com um grupo de jovens tenistas, desenvolveu genu varum em maior percentagem, principalmente a partir dos 16 anos. Massada (2006) verificou também que os jogadores jovens de Futebol apresentam genu varum bilateral, acrescentando que nos futebolistas a torção tibial interna é nitidamente evidente nos dois membros inferiores. O genu - 24 - varum do futebolista resulta quer de um varismo do eixo tíbio-femoral, quer de uma característica torção tibial interna. A presença de genu varum altera as forças no joelho, de forma que as linhas de força se deslocam medialmente do centro, intensificando os compartimentos mediais de carga, e cria uma força de reacção medial do joelho que é aproximadamente três vezes e meia a força do compartimento lateral (Lewek, Rudolph & Snyder-Mackler, 2004). Para entender a associação entre o genu varum e o Futebol, é imperativo perceber as cargas externas provocadas sobre a articulação do joelho durante as diversas tarefas dentro de um jogo de Futebol (Witvrouw, et al., 2009). Olhando para o Futebol, as actividades mais frequentes durante um jogo de Futebol profissional e jovem são a corrida, trote, passe, mudanças de direcção, cortes defensivos e o pontapé (Capranica, et al., 2001). Besier et al. (2001) mediram as cargas externas sobre a articulação do joelho durante a corrida e mudanças de direcção, verificando que as tensões varo/valgo sobre a articulação do joelho aumentaram drasticamente durante as mudanças de direcção comparando com a corrida normal. Chantraine (1985, cit. Yaniv et. al., 2006) observou, num grupo de exjogadores de Futebol, uma incidência de 82% de genu varum em jogadores nunca operados, e destes, 40% apresentaram evidências radiológicas de osteoartrite. Isto vem reforçar a necessidade de que medidas profiláticas sejam introduzidas no treino do futebolista, para que os jogadores não sejam prejudicados, tanto na sua performance a curto prazo, como na sua qualidade de vida a longo prazo. Em relação a dismetrias nos membros inferiores, Massada (2006) refere, num estudo realizado sobre incidência desta anomalia nos jogadores de Futebol, que estes demonstraram uma prevalência de 41,2% de dismetrais nos membros inferiores, sendo que em 25,3% dos casos o membro inferior esquerdo era mais longo do que o direito e que em 15,9% a relação era contrária. Acrescenta que o maior número de dismetrais dos membros - 25 - inferiores surge aos 14 e 17 anos, com prevalências de 47,7% e 47% respectivamente. 2.3.4. A importância da avaliação postural como medida preventiva Vários são os investigadores que descrevem os factores de risco das lesões do futebol e discutem possibilidades para a prevenção das mesmas, contudo somente alguns investigam a efectividade da intervenção profiláctica e propõem programas de intervenção (Junge & Dvorak, 2004). Os cuidados preventivos abarcam um conjunto de medidas que visam a promoção da saúde e a redução das possibilidades de ocorrência de acidentes ou lesões, com tratamento precoce e minimização de sequelas quando inevitáveis (Aires, 2000). É consensual que prevenir é sempre melhor do que curar, pelo que a identificação da predisposição de um futebolista face às lesões é o primeiro passo a dar no sentido da sua prevenção. Não obstante, o trabalho profiláctico é frequentemente negligenciado, mesmo no nível do Futebol de alto rendimento (Horta, 2000). O conhecimento dos factores de risco de lesão desportiva, a sua detecção e a implementação de medidas que visem a sua correcção, compensação ou controlo, são fulcrais na intervenção diária de qualquer treinador junto dos atletas e principalmente jovens atletas (Horta, 2000). A capacidade de se direccionar e melhorar programas de prevenção de lesões é limitada pela compreensão global da sua etiologia (Bahr & Krosshaug, 2005), pelo que a elaboração e implementação de medidas preventivas, requer antes de mais, que se investigue sobre os possíveis factores de risco, que podem contribuir para uma maior susceptibilidade do futebolista face as lesões (Bonci, 1999). A associação de uma anomalia anatómica a um desequilíbrio muscular pode predispor o jovem atleta à lesão se não forem tomadas medidas a nível do planeamento do treino (Horta, 2000). - 26 - Aires (2000) acrescenta que a observação dos erros de alinhamento pode contribuir também para o estabelecimento de programas correctores, que visam contrariar os desequilíbrios musculares, resultantes ou geradores, cujo agravamento é também consequência da própria actividade desportiva. A identificação de desalinhamentos posturais e a implementação de programas apropriados de correcção podem diminuir susceptíveis síndromes de overuse e lesões agudas, e podem simultaneamente melhorar a performance atlética (King, 2007). - 27 - - 28 - 3. Material e Métodos - 29 - - 30 - Material e Métodos 3.1. Amostra A amostra deste estudo foi constituída por 300 crianças e jovens futebolistas, com idades compreendidas entre os 8 e 18 anos (12,95 ± 2,19 anos; 3,41 ± 2,26 anos de prática; 1,56 ± 0,14 m de altura; 49,38 ± 14,10 kg de peso), inscritos na Associação de Futebol do Porto, competindo nos vários campeonatos correspondentes aos seus respectivos escalões: escolas (n=92, 30,7%), infantis (n=71, 23,7%), iniciados (n=93, 31%) e juvenis (n=44, 14,7%). Quadro 1: Caracterização da Amostra (Média±DP) Escalão (n) Escolas - 92 Infantis - 71 Iniciados - 93 Juvenis - 44 Idade 10.30±0.65 12.58±0.49 14.39±0.55 16.33±0.56 Massa Corporal (Kg) 36.73±8.14 45.44±9.51 56.54±9.33 67.06±10.51 Total 12.95±2.19 49.38±14.10 3.2. Altura (m) 1.40±0.07 1.53±0.08 1.67±0.07 1.72±0.06 Estádio Maturacional 1.52±0.74 2.54±0.73 3.73±0.59 3.93±0.64 IMC 18.44±2.83 19.05±2.53 20.07±2.50 22.49±3.14 Anos de Prática 2.27±1.34 2.69±1.75 4.04±2.20 5.74±2.60 1.56±0.14 2.79±1.20 19.68±3.01 3.41±2.26 Procedimentos Metodológicos Na avaliação dos atletas procedeu-se ao preenchimento de um questionário para obtenção de alguns dados pessoais, como escalão, a idade, posição, lateralidade, nível competitivo, anos de prática e número de horas e treinos semanais. Posteriormente, realizou-se avaliação antropométrica e postural. Na avaliação antropométrica, observámos o peso, a altura, o comprimento dos membros inferiores, o índice de massa corporal, e a percentagem de gordura. - 31 - O estádio maturacional foi determinado através de uma auto-avaliação dos caracteres secundários de acordo com os cinco estádios de desenvolvimento genital e da pilosidade púbica descritos por Tanner & Whitehouse (1982). Os avaliados, após uma explicação acerca das diferenças dos cinco estádios, assinalaram, num questionário individual, e num ambiente de tranquilidade e privacidade, qual deles caracterizava melhor o seu nível de desenvolvimento. Na avaliação postural, observámos vários desalinhamentos posturais em várias regiões do corpo, registando somente a presença ou ausência de desvios posturais, nomeadamente a projecção anterior da cabeça, a projecção lateral da cabeça, a cifose dorsal, a lordose lombar, o desalinhamento pélvico, valgismo/varismo no joelho, o joelho recurvado, a curvatura do pé, valgismo/varismo no pé e o hallux valgus. A avaliação postural foi realizada através de um “scan” visual, com os atletas na posição anatómica e em pé, e nos planos: frontal (anterior e posterior e sagital (esquerdo e direito). A avaliação teve por base a postura padrão descrita por Kendall (2007), que passamos a apresentar de seguida: Na postura padrão, em vista anterior e seguindo em direcção cranial, o hálux deve estar alinhado com o primeiro metatarso; o antepé deve estar alinhado com o centro do pé; os arcos do pé devem estar preservados; os tornozelos não devem estar inclinados, devem estar na mesma distância que a borda medial dos joelhos; as tíbias devem ser rectas, sem arqueamento; os joelhos não devem tocar-se e devem estar na mesma distância que os maléolos mediais da tíbia; as rótulas devem estar na mesma altura e devem apontar para a frente; a pelve deve estar em igual altura de ambos os lados, sendo isso medido pela altura das espinhas ilíacas ântero-superiores; o tronco deve estar recto, sem apresentar rotações ou inclinações. Na vista lateral, o alinhamento é baseado na representação de uma linha de referência que, na postura ideal, passa ligeiramente anterior ao maléolo lateral do perónio, ligeiramente anterior ao centro da articulação do joelho, levemente posterior à articulação do quadril; aproximadamente no meio do - 32 - tronco, através da articulação do ombro (desde que os braços pendam em alinhamento normal em relação ao tórax), através dos corpos das vértebras cervicais e através do lóbulo da orelha. É importante observar o paciente de ambas as vistas, direita e esquerda. O ângulo tíbiotársico deve estar aproximadamente a 90 graus; os joelhos devem ter de zero a cinco graus de flexão; a pélvis deve estar alinhada de tal forma que as espinhas ilíacas póstero-superiores e ântero-superiores estejam no mesmo plano horizontal; a coluna deve demonstrar as curvas ântero-posteriores normais de lordose lombar, cifose torácica e lordose cervical; os cotovelos não devem apresentar flexão ou extensão exagerada; os ombros não devem estar protraídos. Na vista posterior, a avaliação também se baseia numa linha imaginária que começa no entre os calcanhares, estende-se para cima entre os membros inferiores, passa pela linha média da pelve, coluna e cabeça. As metades direita e esquerda devem ser simétricas, tanto estruturalmente (estrutura esquelética) quanto superficialmente (estrutura muscular). O retropé deve ter o apoio simétrico, não apoiado muito medial ou lateralmente; o calcâneo deve estar em alinhamento vertical com o tendão de Aquiles; os maléolos mediais devem ser de igual altura em ambos os lados; as fossas poplíteas, assim como as pregas glúteas, devem ser de igual altura; a pelve deve ter igual altura em ambos os lados, com as espinhas ilíacas póstero-superiores niveladas no plano horizontal; a coluna deve ser recta, sem apresentar desvios laterais; os triângulos de Tales devem ser simétricos, de ambos os lados; as escápulas devem estar equidistantes a partir da coluna e achatadas contra a caixa torácica; o ângulo inferior das escápulas deve estar nivelado no plano horizontal; os ombros devem ter igual altura; a cabeça e o pescoço devem estar rectos, sem qualquer inclinação ou rotação lateral. Dada a definição da postura padrão, qualquer desvio relativamente à postura padrão descrita foi considerado como alteração postural. Para registo dos desvios posturais observados, optámos por atribuir um número consoante a presença ou ausência de desvio (0= Sem Desvio e 1= Com Desvio). - 33 - Para despiste de eventuais dismetrias, foi registado o comprimento real dos membros inferiores, onde se faz a comparação entre membro dominante e não dominante. No registo do comprimento real do membro inferior, a medição realizouse da espinha ilíaca antêro-superior até à protuberância do maléolo interno (Soares, 2005). A amostra foi dividida em quatro categorias: em função do escalão competitivo, dos anos de prática, da posição ocupada no terreno de jogo e do estádio de maturação. A categoria “escalão” foi estabelecida da seguinte forma: escolas (n=92, 10,3±0,7 anos de idade), infantis (n=71, 12,6±0,5 anos de idade), iniciados (n=93, 14,4±0,6 anos de idade) e juvenis (n=44, 16,3±0,6 anos de idade). A categoria “anos de prática” foi estabelecida da seguinte forma: um primeiro grupo onde se situam os jovens com menor tempo de prática, com 0 e 2 anos de prática (n=133, 12±1,9 anos de idade), um segundo grupo com 3 e 4 anos de prática (n=65, 12,6±1,9 anos de idade), um terceiro grupo com 5 e 6 anos de prática (n=60, 14,2±1,7 anos de idade), um quarto grupo com 7 e 8 anos de prática (n=23, 15±1,6 anos de idade), e por último o grupo mais experiente com 9 a 11 anos de prática (n= 8, 16,1±0,9 anos de idade). A categoria “posição no terreno de jogo” foi estabelecida da seguinte forma: Guarda-redes (n=28, 12,4±2,0 anos de idade), Defesa central (n=51, 13,0±2,1 anos de idade), Defesa lateral (n=54, 12,9±2,1 anos de idade), Médio (n=95, 13,1±2,3 anos de idade) e Avançado (n=69, 12,8±2,1 anos de idade). A categoria “estádio maturacional” foi estabelecida consoante os 5 estádios descritos por Tanner & Whitehouse (1982): estádio 1 (n=59, 10,3±0,8 anos de idade), estádio 2 (n=61, 11,8±1,4 anos de idade), estádio 3 (n=64, 13,3±1,6 anos de idade), estádio 4 (n=93, 14,7±1,2 anos de idade), estádio 5 (n=9, 15,8±0,9 anos de idade). No tratamento estatístico dos dados, para além da análise descritiva, utilizámos o teste não paramétrico qui-quadrado, para análise das diferenças intra-grupo e entre grupos em função das várias categorias e variáveis em estudo, e também a análise de variância (ANOVA), para analisar as diferenças - 34 - de comprimento entre o membro inferior dominante e o membro inferior não dominante, em função da amostra geral e as várias categorias em estudo. O nível de significância foi estabelecido em p<0.05. Para análise e tratamento dos dados utilizámos o SPSS 16.0. - 35 - - 36 - 4. Apresentação de resultados - 37 - - 38 - Apresentação de resultados Em seguida, apresentamos todos os resultados em função das várias categorias estabelecidas e os desvios posturais observados. Dada a extensão dos desvios posturais observados, optámos por agrupar a análise dos dados tendo em conta as regiões anatómicas. Assim sendo, utilizámos dois grupos distintos, um primeiro grupo onde se inserem as regiões da cabeça, tronco e quadril, e um segundo, onde se inserem os membros inferiores. Começamos por apresentar os dados observados tendo em conta a amostra geral e depois analisamos todas as categorias em análise no estudo: escalão, anos de prática, posição no terreno e estádio maturacional. 4.1. Nos Análise descritiva geral cinco quadros seguintes, através da análise descritiva, apresentamos a prevalência de desvios posturais e subsequente análise das diferenças intra-variável entre ausência e prevalência de desvios nas várias variáveis em estudo dentro da amostra geral. Através da análise de variância (ANOVA), analisamos as diferenças de comprimento entre o membro inferior dominante e o membro inferior não dominante, tendo em conta a amostra geral. 4.1.1. Cabeça, Tronco e Quadril Ao observarmos estes dados, podemos verificar que as regiões da cabeça, tronco e quadril apresentam valores de maior relevância no que diz respeito à prevalência de desvios posturais, onde três das sete variáveis apresentam valores de presença de desvio postural acima dos 50%, focando - 39 - principalmente a variável “assimetria de ombros”, que apresenta 76,7% de desvios posturais dentro da amostra. Quadro 2: Análise Descritiva dos Desvios Posturais na cabeça tronco e quadril da amostra Geral Desvios Posturais Projecção Anterior da Cabeça Projecção lateral Pescoço Assimetria de Ombros Cifose Dorsal Escoliose Lordose Lombar Assimetria do Quadril Frequência 190 83 149 151 70 230 211 59 249 51 155 115 145 155 Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Percentagem 69.6 30.4 49.7 50.3 23.3 76.7 78.2 21.8 83.0 17.0 57.4 42.6 48.3 51.7 Como foi dito anteriormente, no quadro seguinte podemos observar que somente duas variáveis não apresentam diferenças significativas entre ausência e prevalência de desvio postural, e de salientar principalmente que a variável “assimetria de ombros” diferenças significativas (p<0,001), onde a prevalência de desvio postural predomina. Quadro 3: Análise das diferenças intra-variável, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril na amostra geral X² P Projecção Anterior Cabeça Projecção Lateral Pescoço Assimetria Ombros Cifose Dorsal Escoliose Lordose Lombar Assimetria Quadril 41,94 0,000 0,01 0,908 85,33 0,000 85,57 0,000 130,68 0,000 5,93 0,015 0,33 0,564 - 40 - 4.1.2. Membros Inferiores Nos membros inferiores, também existem valores a ter em conta, como o pé varo e hallux valgus, que apresentam valores de presença de desvio acima dos 40%. Contudo, como podemos observar no quadro 5, a variável “pé varo” não apresenta diferenças significativas (p=0,106). Também temos que ter em consideração os valores de ausência de desvio, onde o joelho recurvado e o pé cavo apresentam valores acima de 90%, ou seja, a prevalência de desvio postural nestas variáveis é muito baixa. Quadro 4: Análise Descritiva dos Desvios Posturais nos membros inferiores da amostra Geral Desvios Posturais Genu Valgus Genu Varus Genu Recurvatum Pés Valgus Pés Varus Pés Cavus Pés Planus Hallux Valgus Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Sem Desvio Com Desvio Frequência 230 70 201 99 288 12 220 80 164 136 273 27 216 84 169 131 Percentagem 76.7 23.3 67.0 33.0 96.0 4.0 73.3 26.7 54.7 45.3 91.0 9.0 72.0 28.0 56.3 43.7 Quadro 5: Análise das diferenças intra-variável, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores na amostra geral X² P Joelho Varo Joelho Valgo Joelho Recurvado Pé Varo Pé Valgo Pé Plano Pé Cavo Hallux Valgus 34,68 0,000 85,33 0,000 253,92 0,000 2,61 0,106 65,33 0,000 58,08 0,000 201,72 0,000 4,81 0,028 - 41 - 4.1.2.1. Dismetrias No quadro 6 podemos constatar que não existem diferenças significativas no comprimento do membro dominante e não dominante. Contudo verificamos que as médias do comprimento diferem, apresentando o membro dominante valores superiores. Quadro 6: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante da amostra geral Membro Dominante Não Dominante 4.2. N Média ± DP P 291 291 83.082 ± 8.791 83.026 ± 8.733 0.185 Perfil Postural dos Atletas por escalão Nos próximos quadros podemos verificar a prevalência de desvios posturais, tendo em conta o escalão dos atletas, e subsequente análise das diferenças intra-grupo e entre grupos através do teste não paramétrico quiquadrado, e também a análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante, tendo em conta o escalão dos atletas, através da análise de variância (ANOVA). 4.2.1. Cabeça, Tronco e Quadril Podemos verificar que algumas variáveis demonstram alguma tendência para diminuir a prevalência ao longo do tempo (idade cronológica) e outras a aumentar. De notar que as duas variáveis com maior prevalência no primeiro escalão (assimetria de ombros e lordose lombar), tendem a baixar os valores, enquanto as variáveis que apresentam valores mais baixos (cifose e escoliose), no primeiro escalão, tendem a elevar os valores, mesmo que ligeiramente. No quadro 8, podemos verificar que a maioria das variáveis apresenta diferenças estatisticamente significativas dentro dos seus grupos, sendo que a - 42 - não prevalência de desvios postural se sobrepõem à prevalência de desvio postural. No quadro 9, podemos verificar que somente duas variáveis, não apresentam diferenças significativas entre os grupos (projecção anterior da cabeça: p=0,224; cifose dorsal: p=0,157). O escalão “iniciados” demonstra ser o escalão com maior prevalência de desvios posturais. Gráfico 1: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão Quadro 7: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão Escalão Juvenis Iniciados Infantis Escolas X² P X² P X² P X² P Projecção Anterior Cabeça 1.98 0.160 19.84 0.000 5.08 0.024 19.17 0.000 Projecção Lateral Pescoço 0.09 0.763 6.72 0.010 0.69 0.406 3.52 0.061 Assimetria Ombros 0.82 0.366 42.68 0.000 19.28 0.000 31.70 0.000 - 43 - Cifose Dorsal 12.90 0.000 10.57 0.001 21.42 0.000 44.60 0.000 Escoliose 20.45 0.000 27.97 0.000 36.63 0.000 47.35 0.000 Lordose Lombar 8.80 0.003 9.06 0.003 2.38 0.123 3.25 0.072 Assimetria Quadril 4.45 0.035 16.35 0.000 1.14 0.285 0.39 0.532 Quadro 8: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do escalão X² P Projecção Anterior Cabeça Projecção Lateral Pescoço Assimetria Ombros Cifose Dorsal Escoliose Lordose Lombar Assimetria Quadril 4,373 0,224 18,116 0,000 30,070 0,000 5,203 0,157 8,529 0,036 33,000 0,000 35,735 0,000 4.2.2. Membros Inferiores Como verificamos nas regiões anatómicas anteriores, também nos membros inferiores existem variáveis com a tendência para aumentar e outras para diminuir durante o tempo. Interessante verificar que, tal como acontece na cabeça, tronco e quadril, as variáveis que apresentam valores mais elevados no primeiro escalão tendem a diminuir os valores durante o tempo. No quadro 10, podemos verificar que a maioria das variáveis apresenta diferenças estatisticamente significativas dentro dos seus grupos, sendo que a não prevalência de desvios postural se sobrepõe à prevalência de desvio postural. No quadro 11, podemos observar que somente três variáveis, não apresentam diferenças significativas entre os grupos (joelho recurvado: p=0,112; pé cavo: p=0,535; hallux Valgus: p=0,183). O escalão “juvenis” demonstra ser o escalão com maior prevalência de desvios posturais. - 44 - Gráfico 2: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores, em função do escalão Quadro 9: Análise das diferenças intra-escalão, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do escalão Escalão Juvenis Iniciados Infantis Escolas X² P X² P X² P X² P Joelho Varo 1.45 0.228 0.53 0.468 31.11 0.000 34.09 0.000 Joelho Valgo 15.36 0.000 34.94 0.000 23.68 0.000 14.09 0.000 Joelho Recurvado 40.09 0.000 70.55 0.000 67.06 0.000 76.70 0.000 Pé Varo 4.45 0.035 2.42 0.120 4.07 0.044 17.39 0.000 Pé Valgo 26.27 0.000 42.68 0.000 11.85 0.001 2.13 0.144 Pé Plano 13.09 0.000 30.20 0.000 15.34 0.000 5.26 0.022 Pé Cavo 23.27 0.000 60.48 0.000 55.90 0.000 62.78 0.000 Hallux Valgus 0.09 0.763 1.82 0.178 0.01 0.906 8.52 0.004 Quadro 10: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do escalão X² P Joelho Varo Joelho Valgo Joelho Recurvado Pé Varo Pé Valgo Pé Plano Pé Cavo Hallux Valgus 21,929 0,000 10,800 0,013 6,000 0,112 15,824 0,001 30,600 0,000 15,333 0,002 2,185 0,535 4,847 0,183 - 45 - 4.2.2.1. Dismetrias No quadro 13, podemos constatar que não existem diferenças significativas entre o membro dominante e não dominante. Contudo, verificamos que, na análise intra-grupo, as médias de comprimento dos membros inferiores entre membro dominante e não dominante diferem, e que somente no escalão “juvenis” o membro não dominante apresenta valores superiores. Nos outros três escalões, o membro dominante apresenta valores superiores ou iguais ao membro não dominante. Quadro 11: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante em função do escalão Escalão Membro N Média ± DP P Juvenis Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante 41 41 92 92 71 71 87 87 91.424 ± 4.0485 91.446 ± 4.0218 89.727 ± 4.7635 89.648 ± 4.6715 81.794 ± 5.4489 81.656 ± 5.2345 73.175 ± 4.8719 73.175 ± 4.8833 0.505 Iniciados Infantis Escolas 4.3. 0.122 0.367 1.000 Perfil Postural dos Atletas por Anos de Prática Nos quadros seguintes podemos verificar a prevalência de desvios posturais, tendo em conta o escalão dos atletas, e subsequente análise das diferenças intra-grupo e entre grupos através do teste não paramétrico quiquadrado e, através da ANOVA, a análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante, tendo em conta os anos de prática dos atletas. - 46 - 4.3.1. Cabeça, Tronco e Quadril No seguimento do que temos observado nos quadros anteriores, verifica-se que algumas variáveis diferem nos valores consoante os anos de prática. Apesar de, nesta categoria, os valores parecerem ser mais equilibrados entre grupos, algumas variáveis como a “lordose lombar” e a “assimetria de ombros” demonstram a tendência que temos vindo a verificar, que é a diminuição dos valores ao longo do tempo. A projecção lateral do pescoço demonstra tendência antagónica, mas também tendencial em relação ao quadro 7. No quadro 14, referente às diferenças intra-grupo, podemos verificar o que já tínhamos verificado no quadro 8, uma vez que existem diferenças significativas em grande parte das variáveis, sendo que ausência de desvios posturais se sobrepõe à prevalência de desvio postural. Nesta categoria, é mais difícil descortinar qual o grupo com maior prevalência de desvios posturais, mas os dois últimos grupos (7-8 anos e 9-11 anos) são os que apresentam maior prevalência de desvios posturais. No quadro 16, verificamos que existem diferenças significativas entre os grupos em todas as variáveis. Gráfico 3: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos anos de prática em função dos anos prática - 47 - Quadro 12: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos aos de prática Projecção Anterior Cabeça 7,88 0,005 10,25 0,001 18,00 0,000 5,00 0,025 Projecção Lateral Anos Pescoço 0-2 X² 2,35 anos P 0,125 3-4 X² 0,55 anos P 0,460 5-6 X² 0,27 anos P 0,606 7-8 X² 1,50 anos P 0,221 9-11 X² 0,50 * anos P 0,480 *Não existe amostra representativa Assimetria Ombros 46,38 0,000 21,88 0,000 13,07 0,000 8,17 0,004 0,00 1,000 Cifose Dorsal 39,69 0,000 24,93 0,000 8,00 0,005 12,80 0,000 2,00 0,157 Escoliose 69,59 0,000 26,73 0,000 19,27 0,000 10,67 0,001 2,00 0,157 Lordose Lombar 0,39 0,535 1,33 0,249 1,28 0,258 3,20 0,074 4,50 0,034 Assimetria Quadril 0,26 0,610 2,97 0,085 0,27 0,606 0,17 0,683 0,00 1,000 Quadro 13: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função dos anos prática X² P Projecção Anterior Cabeça Projecção Lateral Pescoço Assimetria Ombros Cifose Dorsal Escoliose Lordose Lombar Assimetria Quadril 57,024 0,000 60,446 0,000 142,570 0,000 40,103 0,000 20,863 0,000 94,509 0,000 79,582 0,000 4.3.2. Membros Inferiores Nos quadros 17 e 18, podemos verificar um elevado destaque do joelho e pé varo em relação às outras variáveis, sendo que dentro das duas variáveis o ultimo grupo (9-11 anos) aparece como sendo o grupo com maior prevalência de desvio postural. Nesta categoria, verificamos o mesmo padrão de variação que observamos na última categoria, ou seja, as variáveis que aumentam a prevalência ao longo do tempo são as mesmas (joelho varo e pé varo), assim como as variáveis que diminuem a prevalência (pé valgo e joelho valgo). A salientar o facto de aqui existir aumentos mais acentuadas. - 48 - Novamente, o pé cavo e o joelho recurvado não apresentam nenhum grupo com valor expressivo e, como podemos verificar no quadro 19, o joelho não apresentam diferenças significativas entre os grupos (p=0,343). No quadro 18, verificamos a tendência que temos vindo a verificar nos quadros homónimos. O último grupo (9-11 anos) é o grupo com maior prevalência de desvios posturais. Gráfico 4: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função dos anos de prática Quadro 14: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função dos anos de prática Joelho Joelho Varo Valgo 0-2 anos X² 35,51 26,09 P 0,000 0,000 3-4 anos X² 17,52 21,88 P 0,000 0,000 5-6 anos X² 1,07 24,07 P 0,302 0,000 7-8 anos X² 4,17 16,67 P 0,041 0,000 9-11 anos X² 2,00 4,50 P 0,157 0,034 *Não existe amostra representativa Anos Joelho Recurvado 118,72 0,000 58,24 0,000 45,07 0,000 * 4,50 0,034 - 49 - Pé Varo 16,70 0,000 0,55 0,460 0,27 0,606 0,67 0414 4,50 0,034 Pé Valgo 16,70 0,000 11,88 0,001 24,07 0,000 10,67 0,001 * Pé Plano 15,33 0,000 21,88 0,000 24,07 0,000 1,50 0,221 4,50 0,034 Pé Cavo 90,90 0,000 47,52 0,000 38,40 0,000 16,67 0,000 4,50 0,034 Hallux Valgus 12,78 0,000 0,97 0,325 1,67 0,197 1,50 0,221 0,00 1,000 Quadro 15: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função dos anos de prática Joelho Varo Joelho Valgo Joelho Recurvado Pé Varo Pé Valgo Pé Plano Pé Cavo Hallux Valgus 2,869 0,000 70,537 0,000 3,333 0,343 37,269 0,000 48,747 0,000 74,247 0,000 16,519 0,002 46,930 0,000 X² P 4.3.2.1. Dismetrias No quadro 20, continuamos a constatar que não existem diferenças significativas entre o membro dominante e não dominante, mas como verificamos nas outras categorias, as médias de comprimento intra-grupo entre membro dominante e não dominante diferem. Nos dois primeiros grupos, o membro dominante apresenta valores superiores ao membro não dominante e, com o passar dos anos, o membro não dominante apresenta valores superiores relativamente ao membro dominante. Quadro 16: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante em função dos anos de prática Anos Membro N Média ± DP P 0-2 anos Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante 135 135 65 65 59 59 23 23 8 8 79.996 ± 8.4938 79.853 ± 8.4293 82.649 ± 8.8597 82.643 ± 8.7377 87.386 ± 7.3222 87.432 ± 7.1359 89.404 ± 6.6823 89.435 ± 6.6503 89.050 ± 2.0438 89.062 ± 2.0619 0.086 3-4 anos 5-6 anos 7-8 anos 9-11 anos 4.4. 0.903 0.406 0.625 0.906 Perfil Postural dos Atletas por Posições no Terreno Nos quadros 21 e 22, podemos verificar a prevalência de desvios posturais tendo em conta as posições no terreno dos atletas e subsequente análise das diferenças intra-grupo e entre grupos através do teste não - 50 - paramétrico qui-quadrado, e também a análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante, através da ANOVA. 4.4.1. Cabeça, Tronco e Quadril Nesta categoria, existe um maior equilíbrio na prevalência entre os grupos, no entanto, como verificamos no quadro 23, somente duas variáveis não apresentam diferenças significativas entre os grupos (cifose dorsal: p=0,119;escoliose: p=162). O grupo com maior prevalência de desvios posturais é o “defesa central”. Gráfico 5: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno - 51 - Quadro 17: Análise das diferenças intra-posição no terreno, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno Posição GuardaRedes Defesa Central Defesa Lateral Médio Avançado X² P X² P X² P X² P X² P Projecção Anterior Cabeça 1,00 0,317 10,08 0,001 13,30 0,000 15,43 0,000 4,91 0,027 Projecção Lateral Pescoço 0,14 0,705 4,41 0,036 0,30 0,586 0,01 0,918 2,45 0118 Assimetria Ombros 11,57 0,001 26,84 0,000 7,41 0,006 39,17 0,000 7,67 0,006 Cifose Dorsal 4,84 0,028 15,51 0,000 20,45 0,000 31,34 0,000 14,78 0,000 Escoliose 11,57 0,001 8,65 0,003 16,67 0,000 53,06 0,000 43,84 0,000 Lordose Lombar 1,00 0,317 2,57 0,109 1,04 0,307 0,01 0,913 3,46 0,063 Assimetria Quadril 1,29 0,257 3,31 0,069 0,30 0,586 1,27 0,259 3,26 0,071 Quadro 18: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função da posição no terreno X² P Projecção Anterior Cabeça 12,024 0,017 Projecção Lateral Pescoço 19,691 0,001 Assimetria Ombros 35,904 0,000 Cifose Dorsal 7,345 0,119 Escoliose 6,549 0,162 Lordose Lombar 24,696 0,000 Assimetria Quadril 23,792 0,000 4.4.2. Membro Inferiores Nos membros inferiores, observamos novamente um equilíbrio entre os grupos, onde três variáveis não apresentam diferenças significativas entre os grupos (joelho valgo: p=0,206: joelho recurvado: p=0,429;pé valgo: p=0,240). Nos membros inferiores, os defesas centrais perdem o seu destaque, sendo os médios, o grupo que apresenta maior prevalência de desvios posturais, principalmente nas variáveis pé varo e hallux valgus. - 52 - Gráfico 6: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função da posição no terreno Quadro 19: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios nos membros inferiores em função da posição no terreno Joelho Posição Varo Joelho Valgo Joelho Recurvado Pé Varo Pé Valgo Pé Plano Pé Cavo Hallux Valgus GuardaRedes Defesa Central Defesa Lateral X² P X² P X² P X² P X² P 20,57 0,000 14,29 0,000 3,63 0,057 4,64 0,031 2,45 0,118 1,29 0,257 10,37 0,001 26,74 0,000 31,84 0,000 24,36 0,000 20,57 0,000 43,31 0,000 46,30 0,000 76,05 0,000 65,06 0,000 7,00 0,008 1,59 0,208 1,19 0,276 0,52 0,473 0,36 0,547 3,57 0,059 8,65 0,003 8,96 0,003 27,38 0,000 17,75 0,000 2,29 0,131 16,49 0,000 6,00 0,014 12,89 0,000 26,80 0,000 24,14 0,000 29,82 0,000 46,30 0,000 69,06 0,000 32,01 0,000 1,29 0,257 0,49 0,484 1,85 0,174 0,01 0,918 4,19 0,041 Médio Avançado Quadro 20: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função da posição no terreno X² P Joelho Varo 37,414 0,000 Joelho Valgo 5,910 0,206 Joelho Recurvado 3,833 0,429 Pé Varo 39,284 0,000 - 53 - Pé Valgo 5,494 0,240 Pé Plano 16,415 0,003 Pé Cavo 12,074 0,017 Hallux Valgus 28,231 0,000 4.4.2.1. Dismetrias No quadro 27, continuamos a constatar que não existem diferenças significativas entre o membro dominante e não dominante, e também que as médias de comprimentos intra-grupo entre membro dominante e não dominante diferem, sendo que somente os avançados apresentam valores superiores no membro não dominante relativamente ao membro dominante. Quadro 21: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante em função da posição no terreno Posição Guarda-Redes Defesa Central Defesa Lateral Médio Avançado 4.5. Membro N Média ± DP Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante 28 28 50 50 54 54 93 93 66 66 84.357 ± 9.3402 84.264 ± 9.1567 85.092 ± 7.9198 85.058 ± 7.8558 81.452 ± 9.1568 81.246 ± 8.9707 83.395 ± 8.9253 83.373 ± 8.9564 81.912 ± 8.5225 81.930 ± 8.4811 P 0.462 0.300 0.615 0.703 0.287 Perfil Postural dos Atletas por Estádio Maturacional Nos quadros 28, 29 e 30, podemos verificar a prevalência de desvios posturais, tendo em conta os estádios maturacionais dos atletas, e subsequente análise das diferenças intra-grupo e entre grupos através do teste não paramétrico qui-quadrado, e também a análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante, tendo em conta o escalão dos atletas, através da ANOVA. - 54 - 4.5.1. Cabeça, Tronco e Quadril O quadro 30 indica-nos que existem diferenças significativas entre os grupos em todas as variáveis. Os estádios 1 e 4 são os grupos onde existe maior prevalência de desvios posturais. Gráfico 7: Prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional Quadro 22: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional Estádios Estádio 1 Estádio 2 Estádio 3 Estádio 4 Estádio 5 X² P X² P X² P X² P X² P Projecção Anterior Cabeça 8,97 0,003 11,57 0,001 13,07 0,000 7,20 0,007 1,00 0,317 Projecção Lateral Pescoço 12,36 0,000 0,14 0,705 0,75 0,385 3,31 0,069 0,00 1,000 Assimetria Ombros 18,46 0,000 24,14 0,000 18,85 0,000 21,59 0,000 3,60 0,058 - 55 - Cifose Dorsal 29,49 0,000 28,45 0,000 11,27 0,001 16,20 0,000 2,78 0,096 Escoliose 25,78 0,000 38,11 0,000 21,06 0,000 41,80 0,000 6,40 0,011 Lordose Lombar 2,12 0,145 0,06 0,799 5,40 0,020 8,45 0,004 5,44 0,020 Assimetria Quadril 1,37 0,241 0,02 0,900 0,75 0,385 2,00 0,157 0,40 0,527 Quadro 23: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais na cabeça, tronco e quadril em função do estádio maturacional X² P Projecção Anterior Cabeça 19,229 0,001 Projecção Lateral Pescoço 55,716 0,000 Assimetria Ombros 47,559 0,000 Cifose Dorsal 20,746 0,000 Escoliose 15,796 0,003 Lordose Lombar 29,788 0,000 Assimetria Quadril 46,487 0,000 4.5.2. Membros Inferiores Os membros inferiores parecem apresentar um padrão completamente distinto em relação às regiões da cabeça tronco e quadril. Contudo, verificamos, no quadro 33, que existem duas variáveis onde não existem diferenças significativas (joelho recurvado: p=0,572;pé cavo: p=0,050), contrariando esse facto, ou seja, existe um maior equilíbrio intra-variáveis. Em relação ao pé, existe um aumento nítido da prevalência de varismo e diminuição do valgismo com o aumento do estádio maturacional. Na mesma região anatómica, a prevalência de pé plano também diminui, não sendo contudo uma diminuição tão acentuada. O pé cavo mantém o equilíbrio entre os vários estádios. Não sendo tão nítido, o mesmo se verifica para o joelho, existindo um aumento do varismo e diminuição do valgismo. Nos membros inferiores, o estádio 5 é o grupo com maior prevalência de desvios posturais. - 56 - Gráfico 8: Prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do estádio maturacional Quadro 24: Análise das diferenças intra-grupo, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do estádio maturacional Joelho Joelho Varo Valgo X² 20,76 12,36 Estádio 1 P 0,000 0,000 X² 21,73 8,40 Estádio 2 P 0,000 0,004 X² 6,78 28,45 Estádio 3 P 0,009 0,000 X² 1,47 34,33 Estádio 4 P 0,225 0,000 X² 0,40 3,60 Estádio 5 P 0,527 0,058 *Não existe amostra representativa Estádios Joelho Recurvado 44,08 0,000 59,06 0,000 53,55 0,000 82,65 0,000 * Pé Varo 14,25 0,000 8,40 0,004 0,02 0,901 2,61 0,106 1,60 0,206 Pé Valgo 0,02 0,896 4,59 0,032 16,75 0,000 58,94 0,000 6,40 0,011 Pé Plano 4,90 0,027 8,40 0,004 9,62 0,002 32,00 0,000 6,40 0,011 Pé Cavo 40,69 0,000 44,59 0,000 46,54 0,000 58,94 0,000 6,40 0,011 Hallux Valgus 8,97 0,003 1,92 0,166 0,02 0,901 0,37 0,544 0,00 1,000 Quadro 25: Análise das diferenças entre grupos, da prevalência dos desvios posturais nos membros inferiores em função do estádio maturacional X² P Joelho Varo 43,688 0,000 Joelho Valgo 16,580 0,000 Joelho Recurvado 2,000 0,572 Pé Varo 57,848 0,000 - 57 - Pé Valgo 29,250 0,000 Pé Plano 18,386 0,001 Pé Cavo 9,481 0,050 Hallux Valgus 37,234 0,000 4.5.2.1. Dismetrias No quadro 34, continuamos a constatar que não existem diferenças significativas entre o membro dominante e não dominante nos vários grupos, e ao encontro das outras categorias, as médias de comprimentos intra-grupo entre membro dominante também diferem, onde curiosamente somente o primeiro e o último estádio maturacional apresentam valores superiores no membro não dominante relativamente ao membro dominante. Quadro 26: Análise das diferenças de comprimento entre membro inferior dominante e membro inferior não dominante em função do estádio maturacional Estádios Estádio 1 Estádio 2 Estádio 3 Estádio 4 Estádio 5 Membro Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante Dominante Não Dominante N 55 55 62 62 63 63 96 96 10 10 - 58 - Média ± DP 72.798 ± 5.1777 72.813 ± 5.1614 77.582 ± 5.4049 77.423 ± 5.1130 84.646 ± 6.8649 84.606 ± 6.7540 90.173 ± 4.8598 90.107 ± 4.8198 92.810 ± 3.9099 93.030 ± 3.8779 P 0.326 0.754 0.359 0.486 0.090 5. Discussão dos Resultados - 59 - - 60 - Discussão dos Resultados A dependência de resultados precoces e a forte mediatização de alguns desportos, nomeadamente o futebol, leva a que os jovens comecem a prática desportiva cada vez mais cedo. De acordo com Horta (2000), a incidência das lesões desportivas em jovens praticantes tem aumentado nos últimos 20 anos. Este incremento da incidência de lesões desportivas nos jovens praticantes deve-se, entre outras razões, ao início da prática desportiva em idades cada vez mais precoces, ao incremento do volume e da intensidade, do treino na fase inicial da carreira desportiva. Após leitura e reflexão da revisão bibliográfica, podemos perceber que a importância desta dissertação enquadra-se sobretudo no papel profilático que um trabalho organizado, metódico e sistemático poderá ter na prevenção da prevalência e incidência das lesões desportivas, nomeadamente no futebol. Sendo este um trabalho original que visava procurar interceptar algumas lacunas nas competências do papel do profissional do treinador de futebol, sabemos que iríamos entrar num campo muito pouco explorado pelos académicos dentro da área desportiva. Por isso, esta discussão baseia-se nos poucos trabalhos recentes realizados dentro desta matéria, sendo que existem muitos trabalhos sobre desvios posturais, mas muito pouco, ou mesmo quase inexistentes, trabalhos enquadrados no futebol. Tendo em conta a extensão do número de variáveis em estudo, discutimos os resultados separadamente por regiões anatómicas. O nosso objectivo principal era caracterizar o perfil postural dos jogadores da nossa amostra, calculando os valores de prevalência das lesões, descrevendo os desvios mais comuns, e enquadrá-los com as categorias estabelecidas. Podemos observar que duas das categorias estabelecidas vão de encontro à funcionalidade ou ambiente (anos de prática e posição no terreno), ou seja, da prática do futebol, e outras duas vão de encontro ao crescimento biológico dos atletas (escalão e estádio maturacional). - 61 - O objectivo secundário era tentar perceber que contributo pode ter cada uma das categorias para o aumento ou diminuição da prevalência dos desvios posturais nos jovens atletas. Assim, podemos perceber se existe um padrão postural no jogador jovem de futebol e contribuir para que medidas preventivas possam ser tomadas no sentido de minimizar a elevada prevalência de alguns desvios posturais. 5.1. Coluna vertebral Nesta região anatómica, os desvios apresentados são: Projecção anterior da cabeça, projecção lateral do pescoço, cifose dorsal, escoliose e hiperlordose. Em relação à variável projecção anterior da cabeça, a sua prevalência apresenta um valor baixo, com apenas 30,4% da amostra geral. No entanto, podemos verificar que na categoria anos de prática existe uma diminuição considerável da prevalência ao longo do tempo de prática. Já nas categorias escalão e estádio maturacional esse padrão não se encontra tão nítido. Em termos comparativos, o estudo de Rego & Scartoni (2008), onde foi realizada uma avaliação postural a crianças estudantes com média de idades de 13,2 anos, sem qualquer referência à prática metódica e sistemática de desporto, verificaram que a anteriorização da cabeça apresenta somente 24% de prevalência. Isto poderá indicar que a prática desportiva poderá influenciar a prevalência deste desvio postural, contudo a diminuição dos valores ao longo do tempo na categoria anos de prática contrária esse facto. Em relação à variável projecção lateral do pescoço, a sua prevalência dentro da amostra geral é considerável, com 50,3% dos casos. Em comparação com o estudo anteriormente referido (Rego & Scartoni, 2008), os autores encontraram uma prevalência de apenas 8,5 %, nesta variável. Estes valores podem significar que também esta variável poderá ser influenciada pela prática desportiva. Nesta região anatómica, a variável assimetria de ombros apresenta-se como a variável com valores mais consideráveis, com 76,7% de prevalência. - 62 - Nas várias categorias estabelecidas esta variável não apresenta um padrão de predominante descida ou subida dos valores. No estudo de Rego e Scartoni (2008), as crianças observadas apresentaram uma prevalência de 12,8%, o que não corrobora com os nossos dados. Contudo, como referimos anteriormente, estas crianças não foram referenciadas como possíveis atletas, o que nos leva a pensar que a prática desportiva pode influenciar fortemente esta variável. A variável cifose dorsal apresenta uma fraca expressão em termos de prevalência, com apenas 21,8%. Esta variável também não apresenta nenhum padrão de predominância de subida ou descida de prevalência ao longo do tempo. Em comparação com outros estudos, não conseguimos obter nenhum estudo ligado ao futebol, somente desportos distintos. No estudo de da Silva et al. (2008), as ginastas também apresentaram uma baixa prevalência de cifose dorsal, com 10,5%. Isto poderá indicar que, de facto, a prática desportiva, nomeadamente do futebol, não influencia o aumento ou diminuição da prevalência de desvio postural. A categoria anos de prática vem corroborar esta afirmação, onde não existe um padrão de predominância de aumento ou diminuição da prevalência ao longo do tempo. A variável escoliose apresenta uma fraca expressão em termos de prevalência, com apenas 17%. Contudo, Massada (2006) refere no seu estudo que os futebolistas, com 13,3% de prevalência, revelam, entre os desportistas estudados, ser os portadores da maior prevalência de escolioses. Sendo assim, a aparente fraca expressão de 17% apresentada no nosso estudo parece forte relevância. Apesar da fraca prevalência dentro da amostra e em comparação com outras variáveis, a escoliose parece ter forte influência da prática desportiva. Massada explica-nos a prevalência de escoliose e atitudes escolióticas nos futebolistas, da seguinte forma: “O futebol é uma modalidade desportiva que implica a execução iterativa de apoios monopodálicos. O acto de passar ou rematar implica obrigatoriamente a transferência do peso corporal para um dos membros inferiores. Durante o apoio monopodálico, a pélvis, pela acção do - 63 - musculo gluteus medius (médio nadegueiro) homolateral, determina uma elevação do membro inferior contralateral que, neste caso, bate a bola. A variação do posicionamento da bacia no plano frontal determina uma angulação da extremidade superior do tronco em direcção ao membro do apoio, desenhando uma curvatura dorsolombar, que necessariamente terá de ser compensada por uma segunda curvatura de localização proximal e de sentido oposto, na tentativa da manutenção do equilíbrio. A repetição incessante deste gesto corporal poderia justificar o elevado número de atitudes escolióticas dorsais detectada entre os futebolistas.” A variável lordose lombar apresenta uma prevalência considerável com 42,6%. No estudo de Ribeiro et al. (2003), a prevalência de lordose lombar também apresenta um valor muito considerável com 63%. Apesar de se tratar de futsal, este estudo vem de certo modo corroborar com os nossos dados, revelando a elevada prevalência deste desvio postural neste desporto. Este facto poderá significar que a prática de futebol tem forte influência na prevalência deste desvio. Mas contrariando este facto, as três categorias estabelecidas (escalão, anos de prática e estádio maturacional) apresentam um padrão de diminuição da prevalência ao longo do tempo. Comparando com um desporto completamente distinto (Ginástica), o estudo de da Silva et al. (2008) demonstra também uma prevalência muito elevada com 84,2%. Os autores identificam um dos factores causais com o encurtamento e hipersolicitação lombar, o que poderá ter relação com o futebol, visto que os jogadores são muito solicitados, nomeadamente nos cabeceamentos. Aires (1995) acrescenta que a hiperlordose lombar està associada a extensores da coluna fortes e encurtados, tendência agravada pelo acto de cabecear a bola, podendo conduzir a sobrecarga das apófises articulares posteriores e originando quadros dolorosos. Este quadro associa-se a uma anteversão pélvica, agravada por adutores e rectos anteriores das coxas, fortes e encurtados, condicionando micro-estiramentos ao nível das inserções dos retrovesores da bacia (abdminais e isquiotibiais). Um programa preventivo - 64 - deverá ser instituído visando a correcção postural e desenvolvimento da extensabilidade dos diferentes grupos musculares, fortalecimento muscular fundamento. A extensabilidade deverá ser promovida através de exercícios excêntricos de alongamento respeitando a regra não dor e de exercícios excêntricos. Noutro desporto completamente distinto, provas de potência muscular, Junior, Pastre & Monteiro (2004) demonstram que a prevalência de hiperlorose lombar também é muito elevada com 73% dos casos. Isto reforça a ideia que a hiperlordose poderá ter forte influência da prática desportiva. 5.2. Pelve/Quadril Nesta categoria (inclinação pélvica lateral), a prevalência de desvio postural mesmo não sendo estatisticamente significativa em relação à ausência de desvio postural (p=0,564), apresenta um valor de prevalência maior em relação à ausência de desvio, de 51,7%. No entanto, é interessante verificar que em nenhuma das categorias existe um padrão claro de diminuição ou aumento desta variável com o tempo, e um desequilíbrio forte entre os grupos da variável posição no terreno. Sendo assim, devemos ter em conta esta variável, apesar de não termos encontrado estudos que pudessem corroborar os nossos dados. Podemos associar esta variável às características do futebol, sendo este acíclico e assimétrico, com dominância gestual de um membro em relação ao outro. Assim, a mesma explicação que foi dada por Massada (2006), para os possíveis factores causais das atitudes escolióticas, poderá ter fundamento também aqui na inclinação pélvica. Poderemos até ir mais além e dizer que estas duas variáveis poderão estar associadas, assim como a projecção lateral do pescoço e as dismetrias dos membros inferiores. Todas estas variáveis poderão ser influenciadas pelas características assimétricas deste desporto, que leva a hipersolicitaçao de um membro em relação ao outro, desencadeando mecanismos de compensação para manutenção do equilíbrio. - 65 - 5.3. Joelho Em termos da articulação do joelho, os desvios posturais mais mencionados na literatura são: joelho varo, joelho valgo e joelho recurvado (Aires & Horta, 2000; Gould, 1993). No nosso estudo, em termos da amostra geral, o pé varo é a variável que apresenta maior prevalência com 45,3%, seguido do pé valgo com 26,7% e do joelho recurvado com apenas 4% de prevalência. Em relação ao joelho varo/valgo, existe um padrão idêntico em três das quatro categorias estabelecidas. Nas categorias escalão, anos de prática e estádio maturacional, com o passar do tempo existe um aumento na prevalência do joelho varo e diminuição da prevalência do joelho valgo, seja ele cronológico, de prática ou maturacional. Por isso, não conseguimos perceber se este padrão é provocado pela funcionalidade da prática, ou seja o futebol, ou pelo crescimento biológico. No entanto, é claro que o joelho varo predomina sobre o joelho valgo. Os estudos de Witvrouw et al. (2009) e Yaniv et al. (2006) corroboram estas afirmações. Nos seus respectivos estudos, estudaram a prevalência do joelho varo e valgo e respectivos ângulos em jogadores de futebol. Nestes dois estudos podemos verificar que apesar dos grupos mais jovens apresentarem um ângulo negativo (joelho valgo), com o passar da idade (cronológica) o ângulo aumenta consideravelmente (distância entra côndilos femorais internos). No estudo de Yaniv et al. (2006) verificou-se que, em comparação com tenistas, os futebolistas apresentam maior ângulo varo. Isto poderá significar que apesar de o joelho varo predominar em ambos os casos, a prática de futebol proporciona um aumento do ângulo varo do joelho com o passar dos anos. No estudo de Penha et al. (2005) verificou-se que em jovens escolhidos aleatoriamente e sem conexão directa à prática de desporto, o padrão parece ser distinto do apresentado até agora. O joelho varo diminuiu a sua prevalência com o passar da idade (cronológica), enquanto o joelho valgo aumentou a sua - 66 - prevalência. Isto poderá vir a reforçar a ideia de que a prática desportiva, nomeadamente o futebol, poderá aumentar a prevalência de joelho varo. Não sendo um estudo relacionado com o futebol de 11, o estudo de Ribeiro et al. (2003) vem corroborar estes dados. Verificou que em atletas de futsal, 55,5% dos atletas que sofreram lesões durante a sua época desportiva apresentam joelho varo. Em relação à categoria “posição no terreno”, demonstra que o avançado é o jogador que apresenta maior prevalência de joelho varo e o guarda-redes o jogador que apresenta maior prevalência de joelho valgo. Referindo novamente Besier et al. (2001), que no seu estudo mediram as cargas externas sobre a articulação do joelho durante a corrida e mudanças de direcção, verificou-se que as tensões varo/valgo sobre a articulação do joelho aumentaram drasticamente durante as mudanças de direcção comparando com a corrida normal. Isto poderá evidenciar que os avançados e também os outros jogadores de campo, devido à configuração do jogo, necessitam de realizar maior número de mudanças de direcção em relação nomeadamente aos guarda-redes. Isto poderá acarretar maiores tensões varo no joelho e levar a um incremento do ângulo varo nestes jogadores. Já nos guarda-redes, como necessitam de realizar menor número de mudanças de direcção, o aumento do ângulo varo é realizado mais lentamente. Em relação ao joelho recurvado, como verificamos no nosso estudo, teve pouca expressão dentro da amostra. No estudo de Ribeiro et al. (2003), a amostra estudada correspondente a jovens jogadores de futsal demonstra que o joelho recurvado apresenta somente 11% de prevalência entre os atletas lesionados. Da Silva et al. (2008) demonstrou no seu estudo sobre jovens ginastas que 63,1% das atletas apresentaram joelho recurvado, o que vem contrariar o nosso estudo. No entanto, estamos a falar modalidade e sexo distintos. Algumas das causas que os autores atribuem à elevada prevalência de joelho recurvado são factores compensatórios e excessivo comprimento dos isquiotibiais. Este último facto poderá explicar a elevada diferença entre os jogadores de futebol que normalmente apresentam isquiotibiais encurtados. - 67 - No estudo de Penha et al. (2005), que utilizou uma amostra escolhida aleatoriamente, os alunos apresentam elevada prevalência de joelho recurvado. No entanto, não é identificado que os jovens pratiquem uma modalidade metódica e sistemática. Isto poderá dizer que esta variável estará mais relacionada a factores ambientais que genéticos ou biológicos. 5.4. Tornozelo/Pé Os desvios posturais mais referenciados na literatura (Aires & Horta, 2000; Gould, 1993) relacionados com estas regiões anatómicas e com o futebol são: pé varo, pé valgo, pé plano, pé cavo e Hallux Valgus. Como se sucedeu na articulação do joelho, o pé varo predomina em relação ao pé valgo, 45,3% e 26,7% respectivamente. Em relação ao pé plano /cavo, o pé plano predomina sobre o pé cavo, com prevalências de 28% e 9%, respectivamente. Contudo, verificamos que ambas as percentagens não apresentam grande expressão. A variável hallux valgus apresenta uma prevalência considerável de 43,7%. O estudo de Ribeiro et al. (2003) vem de encontro aos resultados obtidos no nosso estudo, onde o pé plano predomina sobre o pé cavo, com prevalências de 55,5% e 7,4%, respectivamente. No entanto, podemos observar que o valor apresentado do pé plano neste estudo foi bastante superior ao nosso. Em comparação com estudos sobre desportos distintos, no estudo de Junior, Pastre & Monteiro (2004) verificou-se que em atletas de provas de potência muscular a prevalência de pé cavo foi muito superior ao pé plano, com prevalências de 53% contra 20%, respectivamente. No entanto, a amostra deste estudo tem uma média de idade muito superior ao nosso estudo. Se repararmos no nosso estudo nas duas categorias ligadas ao factor biológico, nota-se uma diminuição considerável do pé plano ao longo do tempo. Assim sendo, poderemos dizer que esta variável também poderá estar muito - 68 - ligada ao factor biológico. Já na variável anos de prática, esse padrão não se verifica, existindo um maior equilíbrio entre as variáveis. Em relação ao pé varo/valgo, verificamos a mesma tendência que no joelho, onde em três das quatro categorias estabelecidas, o pé varo aumenta a prevalência com o tempo e o pé valgo diminui a prevalência. No entanto, sentimos muita dificuldade em encontrar estudos onde a variável pé varo/valgo estivesse incluída, e ainda mais dificuldade sentimos quando procurámos com ligação ao futebol. No entanto, podemos reflectir que existe uma forte ligação entre o varismo/valgismo do joelho e o varismo/valgismo do pé, pois o padrão de prevalência em quase todas as categorias é idêntico. Tal como reflectimos sobre o joelho, o ângulo varo e valgo do pé poderá ser fortemente influenciado por factores ambientais, onde a prática desportiva nomeadamente do futebol pode ter influência no ângulo de varismo/valgismo do pé. Em relação ao Hallux Valgus, sentimos a mesma dificuldade em descobrir estudos em que esta variável tivesse incluída. No entanto, o estudo de Grabara (2008) vai de encontro aos resultados obtidos no nosso estudo. Grabara (2008), num estudo sobre a prática de Futebol e alterações no membro inferior em jovens entre os 10 e os 14 anos, verificou que os futebolistas examinados, especialmente aqueles com maior tempo de prática, apresentavam tendência para halux valgus. Além de no nosso estudo existir uma forte prevalência de Hallux Valgus, verifica-se que a variável anos de prática reforça as conclusões de Grabara (2008), que existe um aumento mesmo que ligeiro do Hallux Valgus ao longo do tempo de anos de prática. Pelo que foi reforçado aqui, podemos dizer que esta variável também poderá ser fortemente influenciada pela prática desportiva. - 69 - 5.5. Dismetrias nos membros inferiores Em relação às dismetrias dos membros inferiores, tanto na amostra geral como em todas as categorias estabelecidas, não existem diferenças significativas entre ambos os membros, dominante e não dominante. No entanto, parece haver uma tendência para que o membro dominante se apresente como sendo o membro de maior dimensão. Contudo, se verificarmos as categorias estabelecidas, principalmente a categoria anos de prática, com o passar dos anos de prática, o membro com média de comprimento maior é o não dominante. Já na categoria posição no terreno, podemos verificar que o único grupo onde o membro não dominante apresenta média de comprimento superior ao dominante é o dos avançados. Isto poderá indicar que as características funcionais do avançado dentro do jogo levem a que cargas exercidas sobre os membros inferiores possam ter influência sobre o comprimento do membro não dominante, nomeadamente na acção do remate e no salto/impulsão. Massada (2006) refere, num estudo realizado sobre incidência desta anomalia nos jogadores de Futebol, que estes demonstraram uma prevalência de 41,2% de dismetrias nos membros inferiores, sendo que em 25,3% dos casos o membro inferior esquerdo era mais longo do que o direito e que em 15,9% a relação era contrária. Estes dados não são suficientes para corroborar os nossos dados, pois registámos a média de comprimento do membro dominante e não dominante em toda a amostra e não o fizemos individualmente para despiste das dismetrias, pois o nosso propósito era encontrar um perfil postural. Contudo Massada (2006) acrescenta que no futebolista, com o passar da idade cronológica, o membro inferior esquerdo aumenta o seu comprimento em relação ao direito. Este facto já vai de encontro com os nossos dados. Quisemos dividir a amostra em membro dominante e não dominante, pois a literatura diz-nos que a prática pode ter influência sobre a diferença de comprimento dos membros inferiores. - 70 - Massada (2006) realça o factor funcional como importante na influência das dismetrias e acrescenta que, não devemos subalternizar as inúmeras variáveis implicadas no fenómeno do crescimento ósseo, que se afiguram de uma importância fundamental para o homem, realçando-se os factores genéticos, hormonais e nutricionais, torna-se por de mais evidente que também não poderão ser excluídos ou subalternizados os factores mecânicos. A análise dos factores mecânicos realça, por uma lado, a importância da sua acção para o crescimento fisiológico das estruturas esqueléticas, e por outro, as pequenas variações assimétricas que por eles poderão ser determinadas (Massada, 2006). Analisando o gesto desportivo no futebol, o membro inferior que suporta a maior concentração de esforços mecânicos revela-se ser o contralateral ao membro superior dominante (Massada, 2006). Por isso, achamos que dividir em dominante e não dominante era mais sensato, pois a perna dominante parece ser exposta a movimentos muito diferenciados em relação à não dominante. Entenda-se por membro dominante, o membro de preferência lateral e não, o membro de dominância biomecânica, como refere Massada (2006). No futebol, os gestos desportivos básicos incluem o passe e o remate, utilizando com maior intensidade o membro inferior dominante. O indivíduo direito apoia-se no membro inferior esquerdo quando passa a bola ou remata, suportando maiores concentrações de esforços mecânicos (Massada, 2006). A dominância biomecânica do membro inferior esquerdo na maioria dos gestos desportivos poderá ser o factor causal que determina o seu domínio em termos de comprimento sobre o membro inferior direito. Nas modalidades potencialmente assimétricas esse facto acentua-se, nomeadamente no futebol (Massada, 2006). Em conclusão, pensamos que deve existir uma forte influência dos factores ambientais nas dismetrias dos membros inferiores. - 71 - - 72 - 6. Conclusões - 73 - - 74 - Conclusões Esta dissertação ajudou-nos a perceber o importante papel da prevenção, nomeadamente o papel da avaliação postural, na diminuição da incidência e prevalência de algumas lesões. A avaliação postural ajuda-nos a identificar possíveis desvios posturais, que para além de afectarem directamente o atleta, podem levar indirectamente à formação de cadeias de compensação por parte do organismo que poderão ser ainda mais nefastas para a performance do atleta. Verificámos que os desvios posturais não são uma utopia, são uma realidade mesmo para jovens supostamente saudáveis que praticam desporto. Como referimos anteriormente, um desvio postural não pode ser considerado uma doença, mas poderá desencadear mecanismos lesivos quer micro ou macro traumáticos. Alguns dos valores expostos aqui nesta dissertação serão certamente alvo de reflexão, pois muitas das variáveis aqui apresentadas, que se referem a desvios posturais, apresentam valores consideráveis e demonstram que estes desvios podem não ter somente causa biológica ou genética mas também, e sobretudo, ambiental. Sabendo que muitos dos desvios posturais podem ser influenciados directamente pela prática desportiva (escoliose, hiperlordose, joelho varo, joelho recurvado, pé varo, hallux Valgus e dismetrias nos membros inferiores), onde o atleta está inserido, é importante a implementação de medidas profilácticas para que se possam diminuir alguns quadros patológicos que podem ser facilmente ultrapassados, com a adopção de um trabalho metódico e sistemático de correcção ou compensação dos mesmos. Claro que para isso é necessária a união de esforços de uma equipa multidisciplinar que possa estudar e aplicar as medidas necessárias. Como foi referido na revisão bibliográfica, prevenir é sempre melhor do que curar. Os cuidados preventivos abarcam um conjunto de medidas que - 75 - visam a promoção da saúde e a redução das possibilidades de ocorrência de acidentes ou lesões, com tratamento precoce e minimização de sequelas inevitáveis. Então para concluir, não podemos negligenciar o importante papel que a avaliação postural poderá ter na prevenção nomeadamente no futebol. - 76 - de lesões desportivas 7. Sugestões - 77 - - 78 - Realizar um estudo longitudinal incluindo as variáveis aqui em estudo. Realizar um estudo de associação entre a prevalência de desvio posturais e a incidência de lesões desportivas no futebol. Realizar um estudo de caso com um atleta que apresente desvios posturais e respectivo atleta de controlo. Realizar um estudo sobre uma metodologia de treino a aplicar em jovens futebolistas com desvios posturais. Realizar um estudo experimental de uma metodologia de treino e verificação dos seus efeitos. - 79 - - 80 - 8. Bibliografia - 81 - - 82 - Bibliografia Aires, L. (1995). Prevençao de lesões no Futebol. In L. Horta (Ed.), Prevenção de lesões no Desporto. (pp 333-345). Lisboa: Livros Horizonte. Aires, L. & Horta, L. (1995). Biomecanica segmentar na traumatologia do Futebol. (pp 67-83) In L. Horta (Ed.), Prevenção de lesões no Desporto. Lisboa: Livros Horizonte. Anderson, S., Griesemer, B., Johnson, M., Martin, T., McLain, L., Rowland, T., et al. (2000). Injuries in Youth Soccer: A subject review. Pediatrics, 105(3), 659660. Anderson, S. T. (2005). Sports Injuries. Curr Probl Pediatr Adolesc Health Care, 35, 110-164. Bahr, R., & Krosshaug, T. (2005). Understanding injury mechanisms: a key component of preventing injuries in sport. Br J Sports Med, 39(6), 324-329. 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