APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 1 C Nº 53 | ANO IX | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA | SETEMBRO/OUTUBRO 2008 | EDIÇÃO BIMESTRAL M 53 Y CM MY CY CMY K PORTO DA FIGUEIRA DA FOZ UMA PORTA QUE SE ABRE Composite Page 3 C M Y CM MY CY CMY K APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 3 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 ÍNDICE 03 05 06 ÍNDICE 08 10 12 14 COMO RESOLVER 16 FICHA TÉCNICA FICHA TÉCNICA EDITORIAL ANTÓNIO DIAS PRESIDENTE DA DIRECÇÃO NOTÍCIAS AVEIRO ACOLHE CENTRO IBÉRICO III SEM. PLATAFORMAS LOGÍSTICAS... CONGRESSO DA FIATA CONFLITOS LABORAIS POR 50 3 BRUNO MARTINS AMADORISMO AEROPORTUÁRIO J. MARTINS PEREIRA COUTINHO NOVA PORTARIA DO PORTO DE LEIXÕES M. URBANO GOMES O BECO JOÃO CARLOS QUARESMA DIAS INFORMATIZAÇÃO DAS DECLARAÇÕES SUMÁRIAS ANA PAULA CALIÇO RAPOSO 18 24 26 28 29 30 32 33 34 III JORNADAS TÉCNICAS DA APAT BILHETE DOS AÇORES GRILOS E COMPANHIA JOÃO CARVALHO BREVES NOTAS SOBRE O ACORDO GERAL JOSÉ RIJO CARTOON FORMAÇÃO PROFISSIONAL NOTÍCIAS REUNIÃO DE NETWORK MUNDIAL TERMINAL CONTENTORES DE ALCÂNTARA A IMPORTÂNCIA DA CARGA NA COMPETITIVIDADE DE AEROPORTOS PAULO PAIVA RELEMBRANDO PROCEDIMENTOS PARA COBRANÇA DE FACTURAS EM ATRASO AV NÃO PODE FAZER ESQUECER REDE CONVENCIONAL GLOBALIZAÇÃO DA CRISE OU A METAMORFOSE PARA UMA NOVA ECONOMIA? DANUTA KONDEK PROPRIEDADE E EDIÇÃO: APAT ASSOCIAÇÃO DOS TRANSITÁRIOS DE PORTUGAL | AVENIDA DUQUE DE ÁVILA, 9 7º | 1000-138 LISBOA | T 21 31 87 100 | F 21 31 87 109 | WWW.APAT.PT | DIRECTOR: DR. ALVES VIEIRA | CONSELHO EDITORIAL: ANTÓNIO CARMO, ANTÓNIO DIAS, DR. ALVES VIEIRA, ANTÓNIO VITORINO, DR. ARMANDO GUIMARÃES, PAULO PAIVA,, RODRIGO JOSÉ LEITE, TOMÉ NAMORA | COLABORADORES: DR. BRUNO MARTINS, DR.ª DANUTA KONDEK, JOÃO CARVALHO, PEREIRA COUTINHO, DR. JOSÉ RIJO, MANUEL SANTOS, PROF. QUARESMA DIAS | COORDENAÇÃO E REDACÇÃO: ANTÓNIO CARMO | SECRETÁRIA DE REDACÇÃO: OLGA MATOS | DIRECTOR ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO: TOMÉ NAMORA | DESIGN GRÁFICO LAYOUT | ESGRYMA | R. VILAR DO SENHOR | 493, 4455-213 LAVRA | MATOSINHOS | T 22 998 25 32 | F 22 998 25 39 | PRODUÇÃO GRÁFICA | GVP | DIRECÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE | AVENIDA MÁRIO BRITO, 4170 | EDIFÍCIO CDO SALA106 | 4455-491 PERAFITA | T 22 996 23 29 | F 22 996 42 41 | E [email protected] | CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA PUBLICAÇÃO | FORMATO AO CORTE · 210X297MM | NÚMERO DE PÁGINAS · 28 | IMPRESSÃO · QUADRICROMIA | CAPA (250GR) + MIOLO (170GR) · PAPEL COUCHÉ MATE | ACABAMENTO · PONTO DE ARAME | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA | DEPÓSITO LEGAL Nº 148260/00 | SÓCIO · AIND-ASS. PORTUGUESA DE IMPRENSA | PERIOCIDADE · BIMESTRAL | TIRAGEM · 2.000 EXEMPLARES | OS ARTIGOS ASSINADOS APENAS VINCULAM OS SEUS AUTORES. | REVISTA APAT · Nº 53 · SETEMBRO/OUTUBRO 2008 Composite APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 5 C M Y CM MY CY CMY K ANTÓNIO DIAS EDITORIAL CAROS ASSOCIADOS Nas nossas III Jornadas Técnicas realiza- das no passado dia 18 de Outubro, em Quiaios, senti com orgulho a relevância do papel da nossa associação empresarial. Com efeito, para além de uma presença significativa ¬- 103 participantes em representação de 53 empresas - foi manifesta a vontade de intervir e debater alguns dos problemas que mais preocupam no momento actual este sector de actividade. Muitas das dificuldades que nos têm acompanhado ao longo dos anos subsistem, mas a vontade de as superar é comum a todos. Composite A nossa classe deu provas de que não está disposta a abdicar dos seus direitos, que não cruza os braços perante as dificuldades agora agravadas com uma economia periclitante e que não deixará de apontar às Entidades Responsáveis as falhas se não mesmo, erros legislativos que impedem o normal funcionamento das nossas empresas e que, indirectamente, afectam a economia nacional. O novo Complexo de Carga do Aeroporto de Lisboa é, infelizmente, um exemplo desta situação, ao não considerar as questões específicas do mercado que afectam os agentes de carga aérea. De igual modo não foi tida em conta a especificidade da nossa actividade no que concerne ao licenciamento de veículos ligeiros de mercadorias no alvará do transitário. A problemática dos armazéns de exportação para a carga aérea tem de ser equacionada de modo frontal e directo pelas Alfândegas sob pena da continuação do regime de anarquia e total falta de controlo que se vive nos aeroportos de Lisboa e Porto Nestas Jornadas foi distribuído o Directório APAT 2009. É fruto de um esforço significativo que apresenta uma nova imagem constituindo também um instrumento de trabalho embora, como é óbvio, sendo um documento em suporte de papel, está condicionado pela validade temporal dos dados disponíveis no momento do fecho. APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 05 · presidente da direcção A Direcção da APAT, a que tenho a honra de presidir, sai de ânimo reforçado destas Jornadas Técnicas e com o propósito ainda mais firme de lutar pelos legítimos interesses da nossa classe. Ao IPTM o nosso agradecimento pela contribuição prestada e ao Sr. Comandante Joaquim Sottomayor o nosso muito obrigado pelo acolhimento e esclarecimentos que nos dispensou na visita guiada ao porto da Figueira da Foz. Uma palavra de apreço e abraço amigo a todos quantos nos acompanharam neste dia de trabalho. APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 6 C M Y CM MY CY CMY K NOTÍCIAS APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 06 CONGRESSO DA FIATA Realizou-se em Vancouver o Congresso Mundial da FIATA com o tema Infrastructure, Todays Challenge for Tomorrows Sustainable Transport onde estiveram presentes mais de 800 congressistas, representando 83 países. Foram admitidas como associadas mais 12 Associações nacionais elevando o número total de Associações representadas para um número recorde de 107. Como é hábito, foi deliberado que o Congresso Mundial de 2011 será realizado no Cairo, Egipto. Conforme previamente decidido, o Congresso Mundial de 2009 será realizado em Genéve. EM MEMÓRIA Perdemos mais um Colega. António Martins, da Cargalpha, em Lisboa, faleceu no passado mês de Setembro quando ainda não tinha completado 50 anos de idade. António Martins era um colega e amigo ligado à actividade desde 1981, tendo passado pela Star e Transorion e, desde 1996, na sua empresa, a Cargalpha. De todos os colegas que com ele se relacionavam recebeu a mais alta estima e consideração quer em termos pessoais quer profissionais. À família enlutada e aos colaboradores da empresa a Revista APAT apresenta sentidas condolências. AVEIRO ACOLHE CENTRO IBÉRICO DE EXCELÊNCIA MARÍTIMA Um encontro de transportadores e transitários ibéricos, em Dezembro, será a primeira iniciativa do novo Centro Ibérico de Excelência Marítima, anunciado para Aveiro. A decisão de avançar com a criação do Centro saiu de uma reunião havida entre dirigentes da administração portuária local, das agências de promoção do short sea shipping de Portugal e Espanha e da Escola Europeia de Short Sea Shipping. No encontro participaram também o Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração e o Instituto Marítimo Espanhol. A promoção do short sea shipping e de cursos superiores relacionados com a gestão portuária e o Direito marítimo, entre outros; a divulgação da intermodalidade como solução logística global; a criação de cursos superiores de estudos do mar e a realização de conferências/workshops/seminários relacionadas com o mar são alguns dos objectivos que presidem à criação do Centro de Excelência Marítima. Para além do encontro de transportadores e transitários, já agendado para 5 de Dezembro, em Aveiro, as iniciativas imediatas da nova estrutura incluem a concessão de bolsas a estudantes para a participação nos cursos da Escola Europeia de Short Sea Shipping, de Barcelona, e a realização, para o próximo ano, da segunda edição da pós-graduação em gestão portuária (iniciativa do ISCIA), contemplando então também a temática do SSS. III SEMINÁRIO PLATAFORMAS LOGÍSTICAS IBÉRICAS LOGÍSTICA SUSTENTÁVEL E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Este Seminário é organizado pela APSS, Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, S.A. e terá lugar a 20 de Novembro no Novotel, em Setúbal. O seminário terá como tema de fundo a necessidade das cadeias logísticas passarem cada vez mais a integrar modos de transporte de massa e meios poupadores de energia por tonelada/km transportada (ferrovia e marítimo), tendo em consideração as questões ambientais que cada vez mais se colocam ao planeta, o interesse comercial que cada vez mais passa pela venda dos conceitos de logística e produtos verdes e o momento de grande mudança na estrutura das fontes energéticas que atravessamos. PORTO DE LEIXÕES PROMOVEU EM 25 E 26 DE SETEMBRO O I ENCONTRO DE PORTOS DA CPLP A Administração dos Portos do Douro e Leixões promoveu, nos dias 25 e 26 de Setembro, o I Encontro de Portos da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Este evento, que contou com a presença de participantes de vários portos do espaço CPLP, e teve por objectivo estreitar relações comerciais e de cooperação e promover um espaço de reflexão comum através do estabelecimento de laços de conhecimento e amizade, de forma a potenciar uma aproximação, cooperação e parceria entre todos na discussão de questões de interesse mútuo e sob a égide da mesma língua. Este I Encontro permitiu ainda debater temas como a interligação portuária entre os três continentes (Europa, África e América do Composite Sul), a língua portuguesa como factor de desenvolvimento da cooperação entre os portos da CPLP e a dinamização de parcerias estratégicas entre os intervenientes. APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 8 C M Y CM MY CY CMY K BRUNO MARTINS APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 08 Composite COLUNA · licenciado em contabilidade e administração pelo ISCAL COMO RESOLVER CONFLITOS LABORAIS POR 50 1 E xiste uma forma justa e eficaz para resolver conflitos entre trabalhadores e empregadores que dá pelo nome de Sistema de Mediação Laboral (SML), e que é ainda desconhecida para a maior parte quer dos empregadores quer dos trabalhadores. Com este sistema podem ser resolvidos conflitos laborais sem recorrer aos tribunais, tendo este potencialidade para resolver vários litígios relativos a contratos individuais de trabalho. O SML foi criado através de um protocolo celebrado entre o Ministério da Justiça, as centrais sindicais (CGTP-IN e UGT) e as confederações patronais (CAP, CIP, CCP e CTP), no dia 5 de Maio de 2006 e entrou em funcionamento no dia 19 de Dezembro de 2006. No momento da sua criação, o SML funcionava apenas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Em 7 de Maio de 2007 foi alargado ao distrito de Braga. Posteriormente, a 19 de Dezembro de 2007, o SML foi alargado aos distritos de Viana do Castelo, Viseu, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém e Setúbal. A partir de 30 de Junho de 2008, o SML passou a abranger todo o território de Portugal continental. O SML abrange todos os litígios laborais, excepto os relativos a acidentes de trabalho ou direitos indisponíveis1. Por Exemplo, podem ser resolvidos litígios relativos à transferência de um trabalhador para outro local de trabalho; Marcação das datas para fruição de férias; Cessação do contrato de trabalho por mútuo acordo. O SML assenta na gestão de uma lista de mediadores em matéria laboral pelo Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios (GRAL) do Ministério da Justiça. O recurso a este sistema pode ser requerido quer pelo trabalhador quer pelo empregador. A formalização do pedido deve ser feito junto da Direcção-Geral da Administração Extrajudicial (DGAE). A utilização do Sistema de Mediação Laboral é bastante simples: O trabalhador ou o empregador deve requerer a nomeação de um mediador, à DGAE; Este requerimento pode ser feito inclusive por via telefónica. Em seguida, a DGAE contacta o empregador e o trabalhador para viabilizar a mediação e indica um mediador laboral constante da sua lista. Nesta lista, estão incluídos profissionais habilitados com curso adequado para mediação em matéria laboral reconhecido pelo Ministério da Justiça. Se empregador e trabalhador aceitarem a mediação, o mediador contacta as partes para se dar início à mediação. A mediação laboral pode realizar-se em espaços públicos ou privados onde existam salas disponíveis (espaços municipais, julgados de paz, centros de arbitragem, etc.). Se for obtido um acordo este é escrito e assinado por ambos, se não alcançarem nenhum acordo qualquer uma das partes pode recorrer aos tribunais. De realçar, que todos os acordos obtidos através do SML são livres, isto é, são as partes que acordam os seus termos e o seu conteúdo. Como tal foi necessário estabelecer um prazo limite para se chegar a um acordo entres as partes. A Mediação Laboral tem um limite temporal de 3 meses para se obter um acordo. O prazo pode ser prorrogado por acordo entre as partes e em todo o caso, qualquer parte pode, a qualquer momento, pôr fim à Mediação Laboral. Se por exemplo, uma empresa se comprometer, em sede de mediação, a proceder ao pagamento de determinada quantia ao trabalhador e não cumprir o acordado, o trabalhador poderá intentar uma acção executiva para o pagamento das quantias acordadas. Os custos a suportar pelas partes são fixos (50 por cada parte) independentemente da duração ou número de sessões de mediação. Os principais objectivos da mediação laboral passam pela resolução de conflitos de modo mais rápido, económico e simples, e pelo descongestionamento dos tribunais, visto existir a possibilidade de obter acordos sem intervenção destes. É um método, célere e pouco dispendioso que além de beneficiar directamente as partes envolvidas, contribui para atrair investimento e criar emprego. A facilidade de resolver conflitos laborais é um factor atractivo quer ao investimento quer à contratação. O flagelo dos falsos recibos verdes deve-se em grande parte ao receio por parte dos empresários de não conseguir resolver conflitos laborais. Contactos: Direcção-Geral da Administração Extrajudicial Rua de Alcolena n.º 1 1400-004 Lisboa Telefone 21 304 13 40 Fax 21 304 13 49 Mail [email protected] 1 Os direitos sobre o estado das pessoas são considerados direitos indisponíveis por serem direitos cujo exercício não depende apenas da própria pessoa e da sua vontade. APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 10 C M Y CM MY CY CMY K J. MARTINS PEREIRA COUTINHO AMADORISMO AEROPORTUÁRIO O sucesso de qualquer aeroporto internacional, não depende apenas da qualidade das suas infra-estruturas para processar com rapidez e eficiência o tráfego aéreo, mas também do profissionalismo e dos conhecimentos técnicos de aviação civil que os seus gestores e administradores possam possuir, para poderem desempenhar responsavelmente as suas funções aeroportuárias. De facto, um aeroporto não deve ser gerido por amadores oriundos de cargos políticos, mas por profissionais competentes e com experiência de aviação comercial. Além disso, é indispensável que os seus gestores tenham capacidade de liderança, para poderem ser respeitados e para que as suas decisões sejam cumpridas e escrupulosamente executadas. Ou seja, a gestão de um aeroporto não pode ser entregue a um qualquer indivíduo recrutado por um qualquer ministro, só porque essa pessoa é da sua confiança política, ou porque é um amigo pessoal ou está desempregado. Na Europa, não conhecemos nenhum aeroporto que seja gerido por alguém que não tenha uma longa experiência aeroportuária, ou profundos conhecimentos de aviação comercial. Na verdade, gerir um aeroporto não é a mesma coisa que gerir uma empresa familiar, onde é possível cometer erros e ficar tudo no segredo da família proprietária. Um aeroporto, por ser uma empresa pública, deve ter uma gestão transparente e sujeitar-se ao escrutínio e críticas da opinião pública e, especialmente, dos seus clientes e utilizadores do espaço aeroportuário. No entanto, em Portugal, devido às erradas decisões tomadas nalguns aeroportos, somos levados a pensar que a sua gestão não foi entregue a profissionais de elevada competência e credores do respeito da sua clientela, nomeadamente as companhias de aviação, agentes de carga aérea e outros agentes económicos, que sustentam a pesada máquina aeroportuária e os seus funcionários. No Aeroporto da Portela, por exemplo, não há a preocupação de servir e respeitar os seus clientes da indústria de carga aérea. Ao longo do tempo, estes clientes têm sido marginalizados pela entidade aeroportuária e direcções aeroportuárias. As razões deste inexplicável desprezo, talvez tenham a ver com o desinteresse profissional de alguns gestores aeroportuários. Se assim não fosse, talvez não se verificassem situações merecedoras de severas críticas da parte dos seus clientes. Composite foto: afonso lima | www.afonsolima.com APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 10 COLUNA · especialista de carga aérea · [email protected] Isto vem a propósito da situação criada com a construção do novo terminal de carga, no Aeroporto da Portela. Ao contrário do que se verifica noutros aeroportos europeus, tudo foi feito no maior segredo público. Os arrendatários privados - companhias de aviação e agentes de carga aérea - não tiveram conhecimento prévio do que estava a ser feito, nem acerca dos custos que terão de suportar. A Alfândega é que parece não pagar nada, pela ocupação de metade do edifício!... Seja como for, a actuação aeroportuária é criticada por cometer um acto consumado, que lesa a indústria de carga aérea. No mundo civilizado, um projecto de um novo terminal de carga aérea é discutido previamente com os seus futuros utilizadores, para receber sugestões e contribuir para melhorar o respectivo projecto. Em Portugal, não há essa cultura democrática, nem respeito pelo dinheiro dos contribuintes. Se houvesse, não se teria construído um edifício para apenas albergar os inquilinos da ANA dos edifícios 17 e 31, mas ter-se-ia construído um Hub Logístico Aeroportuário, para competir com outros hubs europeus. De facto, é lamentável que o novo terminal não tenha condições operacionais para ser competitivo, a nível europeu. Além do terminal não estar ligado ao aeroporto - a sua localização na Av. Santos e Castro dista cerca de 3kms da aerogare e demora quase 40 minutos a percorrer pelos tractores com a carga é limitado o espaço para manobras dos camiões que transportam as mercadorias. Também não há armazéns para os agentes de carga aérea receberem as mercadorias, de modo a entregá-las prontas para embarque às companhias de aviação. Estas e outras graves anomalias verificadas na construção deste novo terminal de carga, reflectem a falta de conhecimentos sobre a indústria de carga aérea e sobre a sua importância na economia nacional. Estes factos confirmam que alguns interlocutores da nossa entidade aeroportuária monopolista, pouco ou nada sabem de aviação comercial. Por isso, o amadorismo aeroportuário continua a lesar os interesses da indústria e do nosso País. APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 12 C M Y CM MY CY CMY K M. URBANO GOMES APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 12 NOVA PORTARIA DO PORTO DE LEIXÕES UM SALTO QUALITATIVO NO CAMINHO DO SUCESSO A quando da inauguração da nova Portaria Principal do Porto de Leixões (3PL) os órgãos de comunicação social noticiaram fundamentalmente a obra física que constituiu a nova ligação rodoviária ao Porto de Leixões. E convenhamos que para o grande público essa era a notícia relevante: o Porto de Leixões, condenado ao encerramento no já longínquo ano de 1996 por Bernardo DOrey, então Presidente da Associação Nacional dos Agentes de Navegação (em artigo publicado na revista Cargo de Maio de 1996), devido ao facto da sua conexão rodoviária com o exterior se fazer através da malha urbana da cidade de Matosinhos, transformou-se com a VILPL (Via Interna de Ligação ao Porto de Leixões) no porto português com melhor ligação à rede viária nacional. E de facto essa obra é fundamental para a sustentabilidade do porto de Leixões: por um lado, não seria possível continuar indefinidamente a despejar em Matosinhos os milhares de camiões que diariamente demandam este porto para entregar ou levantar mercadorias, condicionando quase permanentemente o acesso rodoviário dos cidadãos; e, por outro, ainda que porventura o fosse, os custos associados ao congestionamento do anterior acesso rodoviário corroíam a competitividade do porto de Leixões e a viabilidade dos transportadores rodoviários de mercadorias que a ele necessitavam de aceder. Contudo, a ênfase colocada nas notícias sobre o novo acesso rodoviário fez passar despercebida à generalidade das pessoas, até a muitas daquelas que desenvolvem a sua actividade profissional ligada ao Porto de Leixões, a importância do avançado sistema tecnológico que constitui o suporte do funcionamento da Portaria. Através de um novo Portal desenhado especificamente para o efeito, o sistema reúne os dados disponibilizados pelos equipamentos que o compõem (nomeadamente OCRs, LPRs e caixas de diálogo), pela aplicação PCom e pela aplicação de gestão operacional do Terminal de Contentores de Leixões para garantir o controle e tratamento on-line de toda a informação relativa à carga que entra ou sai do Porto de Leixões, nomeadamente os contentores. Assim, por exemplo, quando um contentor entra no porto de Leixões, o sistema identifica automaticamente o respectivo número e a matrícula do veículo que o transporta e por interacção com a aplicação do TCL e com a PCom são associados a esse contentor Composite COLUNA · membro do ca de tcl - terminal de contentores de leixões, sa toda os dados com a informação relevante (navio a que se destina, porto de descarga, peso, país de destino final da mercadoria, etc.). São ainda associados ao processo a que a entrada da viatura dá lugar, por meios mais ou menos automatizados, outros dados como, por exemplo, a identificação do condutor do camião e o local exacto onde o contentor será posicionado em parque. Ao proceder-se à autorização de entrada da viatura, todos os dados são simultaneamente registados em todas as referidas aplicações e, também, disponibilizados automaticamente de imediato a outras entidades, nomeadamente a Alfândega e a linha de navegação que efectua o transporte do contentor. De igual modo se procede com os contentores que saem do porto de Leixões, com a particularidade de a introdução no sistema dos dados que permitirão o controlo automático de todo o processo da saída ser efectuada aquando da entrada da viatura no porto. Isto é, quando a viatura entra o seu motorista informa o operador da Portaria que contentor(es) pretende levantar e na saída tudo é feito automaticamente pelo sistema: se o condutor se apresenta com a viatura que conduzia e transporta o(s) contentor(es) que informou pretender levantar, o que o sistema identifica, recebe uma guia que automaticamente lhe é disponibilizada e tem a saída autorizada, sem necessidade de sair da viatura ou contactar quem quer que seja. É da maior justiça realçar-se a extrema importância do papel desempenhado pela Alfândega de Leixões em todo este processo, a qual, tendo deixado de estar fisicamente presente na Portaria, assegurou a transição para um ambiente de trabalho paperless em que todas as informações, autorizações e restrições fluem por via informática com enorme rapidez, garantindo simultaneamente a continuidade das suas funções inspectivas e de controle aduaneiro. Cabe ao TCL recolher e proceder ao registo dos documentos aduaneiros relativos à carga a exportar para países terceiros, os quais são seguidamente encaminhados para a Alfândega, bem como assegurar que todos os contentores sujeitos a qualquer restrição aduaneira não são autorizados a sair do espaço portuário. A necessidade de garantir o funcionamento pleno e ininterrupto do sistema da Portaria obrigou o Porto de Leixões e o TCL, bem como a Alfândega de Leixões, a desenvolverem diversas ferramentas informáticas tecnologicamente muito avançadas, que complemen- Page 13 C tarmente disponibilizam aos interessados informação on-line permanentemente actualizada, cada vez mais importante num mundo em que os negócios se fazem à velocidade da luz. Já anteriormente era disponibilizada aos interessados, através do site do Porto de Leixões na internet (https://www.apdl.pt/), informação sobre os contentores de importação, que permite saber se determinado contentor está ou não autorizado para ser levantado. Esta informação possibilita, por exemplo, que qualquer interessado (importador, despachante, transitário, transportador, etc.) evite fazer deslocar para o Porto de Leixões viaturas para levante de contentores cuja saída não se encontra ainda autorizada, obstando assim aos custos adicionais que decorreriam da respectiva imobilização, ou ainda que, perante a falta de autorização, possa tomar de imediato as providências que entender por convenientes. Para além dessa informação, o porto de Leixões passou a disponibilizar, no mesmo site, dados sobre os contentores destinados a embarque, quer sobre a existência do mero anúncio (condição inultrapassável para que o contentor possa entrar no porto), quer sobre a entrada e estadia do contentor, quer sobre a sua saída do porto de Leixões, normalmente por embarque no navio que o transportará para o seu destino. A disponibilização desta funcionalidade, cuja existência se desejaria que se encontrasse mais difundida junto dos potenciais interessados, corresponde a uma necessidade do mercado que servimos e que, num ambiente de negócios em que a rapidez do fluxo de informação é fulcral, carece de saber a cada momento a posição das suas mercadorias. Este conjunto de coisas intangíveis, que de alguma forma resultaram da entrada em funcionamento da nova Portaria Principal do Porto de Leixões, mas que não se resumem à mesma, e para cuja implementação com sucesso contribuiu toda a Comunidade Portuária de Leixões, constituem factor determinante de diferenciação dos serviços prestados pelo nosso porto e da sua competitividade. É fundamentalmente por eles que a nova Portaria constituiu um enorme salto qualitativo do Porto de Leixões na prossecução da missão definida no seu Plano Estratégico de Desenvolvimento "Fazer do Porto de Leixões uma referência para as cadeias logísticas da fachada atlântica da Península Ibérica", objectivo a prosseguir com a contínua melhoria dos processos e serviços, acrescentando novas mais-valias como a próxima entrada em funcionamento no TCL do estatuto aduaneiro de Armazém de Exportação. M Y CM MY CY CMY K NOTÍCIAS APSS COMEMORA DIA MUNDIAL DO MAR A APSS Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, SA organizou, no dia 23 de Setembro, no auditório do edifício sede da empresa, uma conferência sob o tema Profissões do Mar, no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Mar. O Sr. PCA da APSS, Eng. Carlos Gouveia Lopes, deu as boas vindas aos participantes, recordando a importância da Organização Marítima Internacional (IMO), agência da ONU que regula o transporte marítimo em toda a sua cadeia de actores, introdução que deu o mote às intervenções dos oradores. A Drª Patrícia Sobreira, da Safmarine, deu uma interessante visão sobre o papel do armador, a Cmdte Cristina Alves, da Portline, desvendou algumas das facetas da vida dura a bordo dos navios e, finalmente, o Cmdte Manuel Pedreiro, da APSS, falou sobre a importância dos serviços de pilotagem nos portos. DAVID JOSÉ DE PINHO, FILHOS, S.A. A empresa David José De Pinho, Lda, alterou recentemente o seu estatuto em Sociedade Anónima, com aumento do capital social para 500.000,00, sendo a nova designação social DAVID JOSÉ DE PINHO, FILHOS, S.A. O seu Conselho de Administração passou a ter a seguinte composição: Dr. David Manuel Basílio de Pinho Dr. Nuno Maria Cordeiro Dias de Pinho António José de Faria Martins Vitorino Composite APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 13 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 14 C M Y CM MY CY CMY K JOÃO CARLOS QUARESMA DIAS COLUNA APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 14 · doutor em gestão estratégica | · professor do isel · membro sénior e especialista da ordem dos engenheiros · presidente da secção de transportes da sociedade de geografia de lisboa (SGL) · presidente do conselho português de certificação logística (CPCL) · [email protected] O BECO A tremenda crise económica e financeira em que o país se tem afundado nos últimos dez ou doze anos, agravada pelas condições externas mundiais de ajustamento e mudança de paradigma económico e de desenvolvimento social que coloca em causa o modelo ocidental que também é o nosso, atirou-nos para um beco terrível. Supostamente, os becos não têm saída. Tal beco é fundamentalmente de ordem estratégica, o que não é pouco dado que não se antevêem saídas económicas, sociais, ou outras. Na verdade, sem opções estratégicas autónomas, estar num beco significa irmos na torrente sem saber onde se vai desaguar, nem ter bem a noção das tendências do amanhã próximo. Aqui, neste local, há milhares de anos que existem e sobrevivem seres humanos; parece seguro que nos próximos milhares também neste local vão continuar a existir e a sobreviver outras pessoas. É muito provável que os melhores descendentes dos actuais habitantes que aqui têm História vão continuar a emigrar, a ir embora como sempre aconteceu no passado. É também provável que vão remanescendo os descendentes dos fluxos imigrantes que vão chegando de outras partes insuportáveis do mundo de que fogem e, tal como no passado, emparedados pelo mar que, outrora, não foi a parede de um beco mas, antes, uma auto-estrada para a descoberta dos novos mundos do mundo. Num senso realizado no início da década de 80 do século XIX, a população portuguesa pouco passava dos 4 milhões de habitantes. Setenta ou oitenta anos depois, Portugal continental e as ilhas adjacentes chegavam aos dez milhões, quantidade que ainda hoje se vai mantendo. O crescimento da natalidade naquelas décadas foi extraordinário; mais que duplicou a população, apesar de ter suportado duas guerras em que participámos, a primeira guerra mundial que assegurou o ultramar e a segunda no próprio ultramar tendo suportado além disso, fluxos de emigração para as Américas do Sul e do Norte, para a Europa ocidental, África e outras partes do mundo. A seguir à revolução de Abril de 1974 assentou-se num modelo económico que nuns casos apontava rumo ao socialismo dos meios da produção e noutros para um capitalismo de matriz social-democrata. Daí que o modelo redistributivo de segurança social adoptado, o estado-providência de base estatal e que ainda hoje vigora, esteja assente em duas fontes de receita fundamentais. Uma fonte, constituída pelos impostos dos contribuintes individuais Composite e colectivos no pressuposto de estar assegurado para o futuro um crescimento económico permanente que, apesar de alguns ciclos de crise e de retoma se verificava sistematicamente no passado e, a outra, o crescimento saudável da população contribuinte com base num aumento permanente da natalidade que também vinha de trás e de que, para o caso português já se aludiu. Tal modelo de segurança social, conforme hoje se verifica também se encontra num verdadeiro beco. De facto, nem a nossa economia cresce ao ritmo a que foram atribuídas regalias, longe disso, nem aumentou a natalidade que, ao contrário, regrediu perigosamente para níveis que nos colocariam no prazo de mais oitenta anos, novamente, no patamar dos quatro milhões de habitantes ou menos, não fora o fluxo imigrante entretanto ocorrido e que tem minorado e disfarçado o problema. Mas tal situação não tem concorrido para o aumento da produtividade que só poderia advir de uma de duas vias: ou de um elevadíssimo crescimento económico para a mesma população ou se repentinamente, metade da população desaparecesse e os níveis de produção e de consumo continuassem tal como antes desse tão misterioso fenómeno. Com efeito, as empresas e organizações que se encontram localizadas em território nacional e nas quais assenta a economia portuguesa e que são a base contributiva das receitas do estado-providência (elas e os seus empregados), há excepção de meia dúzia, não controlam cadeias de valor internacionais e globais. Do que se conhece, a maioria destas empresas sobrevive num universo de fragilidade, instabilidade e incerteza dado que apenas participa ou colabora em fragmentos de redes de fornecimento regionais ou globais podendo ser facilmente descartáveis, quando convier ao nível do controlo da gestão da cadeia de valor global, e substituídas por outras localizadas em espaços geográficos mais competitivos. Isto significa que não há tecido produtivo que gere lucros interessantes e receitas cada vez maiores para o Estadoprovidência. Por outro lado os actuais índices de natalidade apontam para uma população activa cada vez menor no futuro, a quem não será possível cobrar cada vez mais impostos e uma população idosa que necessita cada vez mais do Estado para quem foi obrigada a descontar, no seu passado, largas quantias do dinheiro do seu trabalho. Com crescimento económico quase ao nível da estagnação e uma evolução com tendência para um forte decréscimo populacional, Page 15 C a prazo, o sistema de segurança social ficará insustentável. Para prolongar o seu tempo de vida, os sucessivos governos do Estado vão cortando nas pensões e reformas, na quantidade de hospitais, nos vencimentos dos funcionários públicos, nos médicos, nos professores e por aí adiante. Nestas condições o sistema tanto poderá morrer da doença endémica como dos remédios paliativos da cura. Mas onde os cortes que têm vindo a ser realizados são mais evidentes e de resultados mais imediatos é precisamente na hipoteca a prazo o valor da nossa própria independência; e isso ocorre visivelmente a dois níveis. Primeiramente ao nível das capacidades de defesa, nomeadamente no que concerne há existência de forças armadas úteis e eficazes; depois porque com uma dívida externa colossal nada pode ser considerado independente. Sem forças armadas capazes de fazer face às ameaças a que, inexoravelmente, ficaremos sujeitos no futuro passamos a estar expostos ao inimaginável. E se alguém pensa que na emergência de um novo conflito de proporções globais alguém nos vai proteger ou morrer por nós, estamos muito enganados. Portamos connosco genes egoístas e antes de outros estarão sempre os próprios. As actuais forças armadas, que subsistem, não se encontram adequadamente equipadas com meios aéreos, navais ou submarinos, nem possuem capacidade de integração em acções conjuntas de defesa significativa, com forças aliadas e, por si sós, muito menos serão capazes de fazer face a ameaças credíveis. Com a persistente situação económica referida não será possível investir adequadamente na Defesa nacional em geral e nas forças armadas em particular. Nestas condições, afastarnos-emos cada vez mais do ponto em que qualquer nação tem capacidade de sustentar um Estado independente. Também quem carrega o fardo de um passivo esmagador como aquele que levamos às costas, dificilmente pode ter espaço sobrante para quaisquer projectos e aventuras. Pensemos apenas por um instante que desde 1972 ou 1973, Portugal, só acumulou deficits anuais; ou seja, cerca de trinta e cinco anos a gastar mais do que se produziu e todos os anos pedindo dinheiro emprestado para compensar. Nem um único ano de equilíbrio; nem um único ano de super-avit. A dívida do Estado aos bancos nacionais, à banca estrangeira e aos poucos portugueses que ainda poupam e subscrevem certificados de aforro e títulos do tesouro é gigantesca. A dívida dos cidadãos portugueses à banca nacional é assustadora e a dívida da banca nacional à banca estrangeira é fantástica. Ficamos preocupados quando assistimos à crise financeira que se passa em todo o mundo e de uma forma mais aguda nos EUA e na Europa; sabemos do envolvimento, em termos de investimento nestas áreas geográficas ocidentais, tanto da China como da Rússia. Como iremos ficar quando dentro em pouco aqueles a quem tanto devemos vierem acertar contas connosco e pôr as respectivas contas em dia? Pode ser que nunca venham. Entalados neste beco haverá ainda lugar para a esperança? Os que sempre tiveram esperança no seu futuro melhor, como atrás se disse, foram os que inconformados com o sistema se foram embora para outras paragens e lá deixaram descendência. Realizaram a nossa diáspora. A esperança dos que sempre aqui ficaram foi a de que algum dia, isto há-de mudar. Não é por acaso que o sebastianismo a nostalgia e a melancolia são o nosso triste fado. Por mais auto-estradas que façam ou queiram fazer; por mais leis purificadoras que publiquem; por mais penalizações, multas e coimas que inventem; por mais promessas que os políticos venham Composite M Y CM MY CY CMY K impingir, propostas liberais ou socializantes com que nos queiram seduzir, não parece credível que as boas mudanças estejam no horizonte à nossa espera. Os mesmos que defendem o casamento para toda a vida entre empregador e empregado, são os mesmos que defendem que o casamento entre um homem e uma mulher seja descartável conforme o humor de cada um, em cada momento. É o tempo em que, no ocidente, os extremos se tocam. É normal tratar-se aqui, neste espaço editorial, de economia associada aos transportes, ao valor dos processos logísticos, produtivos e outros. É comum debater-se aqui o funcionamento das interfaces portuárias e das melhores políticas que os lubrifiquem adequadamente. Hoje como há quinze anos poderíamos reescrever aqui, este ou aquele artigo publicado num ou noutro jornal, ou nesta mesma revista, temas candentes tais como a intermodalidade ou as redes transeuropeias de transportes. Poderíamos rediscutir, historicamente, da bondade deste ou daquele livro branco marítimo-portuário, deste ou daquele livro verde, desta ou daquela directiva comunitária destinada à revitalização do transporte marítimo de curta distância. Poderíamos discutir tudo isso, e muito mais, tal como o fizemos no passado. Hoje, no entanto, estaríamos a discutir no molhado. Paradoxalmente, havemos de sair do beco, nem que seja cá ficando. APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 15 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 16 C M Y CM MY CY CMY K ANA PAULA CALIÇO RAPOSO APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 16 INFORMATIZAÇÃO DAS DECLARAÇÕES SUMÁRIAS: SDS -SISTEMA INTEGRADO DOS MEIOS DE TRANSPORTE E DA DECLARAÇÃO SUMÁRIA N um mundo globalizado, é factor determinante para o desenvolvimento económico criar as melhores condições de competitividade para as empresas. Portugal, face ao posicionamento no comércio internacional, desenvolve relações comerciais estreitas com alguns blocos comerciais, sendo o quadro comunitário um elemento de referência privilegiado. A Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo (DGAIEC) tem como uma das suas principais missões a gestão da fronteira externa comunitária, na vertente nacional. Significa esta missão que, as alfândegas portuguesas têm a responsabilidade de controlar/facilitar o comércio, bem como proteger a sociedade em geral, de mercadorias que ameaçam a segurança e a saúde públicas. Facilitar o comércio legítimo é um dos objectivos prioritários, isto é, criar fluidez às trocas comerciais que atravessam as nossas fronteiras e, simultaneamente, assegurar os interesses financeiros comunitários e nacionais, exercendo os melhores controlos para proteger a economia e a sociedade, quer de tráficos ilícitos, quer de mercadorias perigosas. Efectivamente, a segurança e a facilitação constituem uma dicotomia indissociável. No quadro internacional, vários instrumentos têm sido criados, quer na Organização Mundial das Alfândegas (de que Portugal é membro fundador), quer no cômputo da União Europeia. Efectivamente, no quadro comunitário a informatização das alfândegas é uma área chave para assegurar o relançar da Estratégia de Lisboa, na medida em que constitui um instrumento gerador de ganhos de competitividade para a economia comunitária, apelandose ao papel chave das alfândegas na gestão integrada da fronteira externa, pois que são a única instituição que tem o conhecimento global da cadeia logística internacional, desde a produção até ao destino final das mercadorias que atravessam as fronteiras externas. No domínio comunitário foi lançada a iniciativa e.customs destinada às alfândegas e ao comércio, logo em 2003, a Resolução do Conselho, de 5 de Dezembro de 2003 adoptou a Comunicação da Comissão relativa à criação de um quadro simples e sem papel para as alfândegas e o comércio, que convidava a Comissão a elaborar em estreita colaboração com os Estados-membros, um plano estratégico plurianual destinado a criar um ambiente electrónico europeu que seja coerente com os projectos operacionais e legislativos e com os avanços Composite COLUNA · subdirectora geral direcção geral das alfândegas e dos impostos especiais sobre o consumo programados ou em curso no domínio aduaneiro e de fiscalidade indirecta. Esta iniciativa culminou este ano com a publicação da Decisão 70/2008/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de Janeiro (Decisão e.customs). Neste domínio o Plano Estratégico Plurianual (MASP na sigla inglesa) que vai na sua 9ª revisão, enumera todos os projectos comunitários e respectivos cronogramas no horizonte temporal de 2013. No plano legislativo foi também publicado o Regulamento (CE) nº 450/2008, do Parlamento e do Conselho de 23 de Abril que estabelece o novo Código Aduaneiro Comunitário Modernizado com o objectivo de simplificar o processo legislativo e, sobretudo, adequar a legislação aduaneira aos novos desafios introduzidos pela simplificação dos procedimentos aduaneiros e ao recurso a técnicas de análise de risco mais eficazes, contribuindo deste modo, para uma economia mais competitiva e, simultaneamente, mais segura. Neste desiderato, a consumação das alfândegas electrónicas em todos os Estados-membros e respectiva interoperabilidade é um elemento crucial. A informatização das alfândegas portuguesas está, pois, inserida na estratégia comunitária, visando responder aos objectivos do programa do governo visando as iniciativas relativas à administração pública em linha e a promoção do desenvolvimento sustentado. De facto, a informatização dos procedimentos aduaneiros e, em particular, de todo o processo que concomitantemente concorre para o desalfandegamento célere de mercadorias, é inquestionavelmente indutora de ganhos e redutora de custos associados. Nesta convicção temos vindo gradualmente a implementar sistemas informáticos/electrónicos, disponibilizando aos operadores económicos o respectivo acesso, primando para que estes tenham idênticas condições de competitividade. Relembrando que o sistema de importação não sendo electrónico, é informatizado desde 1988, que o ambiente electrónico na importação constitui um objectivo próximo, que em 2003 foi disponibilizado o Novo Sistema de Trânsito Informatizado, que em 2007 entrou em produção o STADA-Exportação com a declaração aduaneira electrónica de exportação, conclui-se que o caminho encetado se revela já um inquestionável sucesso, traduzido actualmente em tempos médios de desalfandegamento de escassos minutos. Mais recentemente, durante este ano 2008, foi disponibilizado o SDS Sistema Integrado de Controlo dos Meios de Transporte e das Mercadorias que permite Page 17 C o cumprimento, via electrónica, dos procedimentos relativos à apresentação dos meios de transporte e das mercadorias nele transportados, na via marítima, nos 3 portos, de Sines, Lisboa e Douro e Leixões, cuja experiência tinha sido iniciada em 2007, quer no porto do Funchal, quer em testes no Continente. De facto, trata-se de um sistema ambicioso e complexo, tendo sido concebido para satisfazer as obrigações legais aduaneiras, foi aberto à ligação aos Sistemas da Plataforma Comum Portuária (PCom) dos 3 portos citados, garantindo-se a autonomia de cada sistema, de modo a que os operadores económicos com um único envio electrónico, satisfaçam os compromissos legais simultaneamente com as autoridades aduaneiras e as autoridades portuárias, aproveitando os ganhos de eficiência gerados pela implementação de sistemas únicos e visando estabelecer janelas únicas portuárias, constituindo uma importante mais valia no sector marítimo portuário e por conseguinte para a economia nacional. Efectivamente, esta parceria encontra sustentação no Protocolo celebrado em Julho de 2006, entre a DGAIEC e as Administrações Portuárias dos portos citados. Apenas para termos uma perspectiva do que está em causa, do ponto de vista aduaneiro, referir-se-á que no ano de 2007, 99% das mercadorias importadas de países terceiros, em Portugal, chegaram pela via marítima, tendo tocado os nossos portos mais de 15 000 navios, o que em termos do processo administrativo, corresponde aproximadamente a um total de 1 500 000 páginas papel que pretendemos eliminar com a implementação integral do SDS, traduzindo toda esta informação em mensagens, na concretização da desmaterialização desta parte inicial do circuito das mercadorias sujeitas ao controlo aduaneiro. As obrigações legais aduaneiras são, pois, consumadas no sistema aduaneiro SDS, cabendo às Administrações Portuárias garantir que os elementos recebidos dos operadores económicos serão reencaminhados atempadamente para o sistema das alfândegas, sem alteração de dados declarados e que as validações acordadas sejam implementadas, após certificarem-se que o operador económico se autenticou no portal das declarações electrónicas e apresentou uma credencial válida (endereço: www.e-financas.gov.pt/dgaiec). Neste âmbito e nos termos dos artºs 38º a 40º do Código Aduaneiro Comunitário, o transportador (a pessoa que introduziu as mercadorias no território aduaneiro da Comunidade) é responsável pela condução e apresentação da mercadoria à Alfândega. Nesta fase a responsabilidade continua a ser deste operador independentemente do contrato de transporte estar ou não a seu cargo, sem prejuízo de nos portos onde não está sedeado se fazer representar por um agente de navegação. Estes, bem como os transportadores quando agem directamente, poderão fazer-se representar por outros agentes económicos. Contudo, a cadeia de representantes está parametrizada no SDS, pelo que quando uma entidade diferente do transportador interage com o sistema tem que indicar em nome de quem irá actuar. Importará, ainda, referir que a legislação já publicada prevê alterações evolutivas significativas, com implicação nas obrigações dos operadores económicos. De facto, a publicação do designado pacote segurança (Regº (CE) nº 648/2005, do Conselho, de 13 de Abril e Regº (CE) nº 1875/2006, da Comissão, de 18 de Dezembro) que altera o Código Aduaneiro Comunitário, terá repercussões significativas no cumprimento legal dos procedimentos nesta vertente e consubstanciada no SDS. Efectivamente a partir de 1 de Julho de 2009: Os operadores económicos terão que declarar previamente às Composite M Y CM MY CY CMY K autoridades aduaneiras, todas as mercadorias que entram ou saem do território aduaneiro da Comunidade; Introduz-se o conceito de declaração sumária de saída; A declaração sumária passa a ser efectuada por meios electrónicos; O Anexo 30 A do Regº (CE) nº 1875/2006, é de aplicação obrigatória, exigindo os dados de segurança; Passa a ser aplicada a Gestão de Risco Comum à informação antecipada, obrigatoriamente tratada por meios informáticos. Finalmente, no quadro do novo Código Comunitário Modernizado, Regº (CE) nº450/2008, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Abril e as suas disposições de aplicação (em elaboração) serão introduzidas alterações substanciais no processo de desalfandegamento, tendo em vista uma maior simplificação no cumprimento das formalidades, nomeadamente a introdução de um portal único comunitário, a dissociação do local de apresentação das mercadorias e o local onde é apresentada a declaração aduaneira, quando aplicável, a interoperabilidade dos sistemas aduaneiros comunitários e o acesso rápido a informação estruturada na perspectiva de optimizar as técnicas de gestão de risco. Resulta, pois, evidente que a dinâmica instituída tem subjacente metas ambiciosas, às quais, quer a administração aduaneira, quer os operadores económicos, têm que ser capazes de dar consecução. Os desafios que se colocam são já meio de alavancagem de todo um processo de modernização em curso e ao qual todos temos ser capazes de dar resposta eficaz! APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 17 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 18 C APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 18 Composite III JORNADAS TÉCNICAS DA APAT M Y CM MY CY CMY K APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 19 M Y CM MY CY CMY K APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 19 C Composite APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 20 C APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 20 Composite M Y CM MY CY CMY K CONTINUAÇÃO III JORNADAS TÉCNICAS DA APAT APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 21 M Y CM MY CY CMY K APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 21 C Composite APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 22 C APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 22 Composite M Y CM MY CY CMY K CONTINUAÇÃO III JORNADAS TÉCNICAS DA APAT APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 24 C M Y CM MY CY CMY K JOÃO CARVALHO APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 24 COLUNA · [email protected] BILHETE DOS AÇORES GRILOS E COMPANHIA E stamos já em Outubro e (pasme-se!) ainda ouço grilos todas as noites. Mais ainda: na enorme garagem sob o prédio entrou um grilo há tempos e, na penumbra do espaço, ele faz-se ouvir dia e noite. De cada vez que entro ou saio, seja a que hora for, lá está ele a grilar. Em garoto, lembro-me perfeitamente de ouvir os grilos quando, depois da época de praia, íamos para a quinta dos avós. Empreendíamos caçadas aos grilos e todos nós tivemos aquelas casinhas-gaiolas coloridas onde os metíamos, empanturrando-os com comezainas de alface. Após aquelas semanas que constituíam a nossa época de caça aos grilos, aí pela segunda quinzena de Setembro, eles calavamse e desapareciam. Nunca percebi se ficavam enterrados para hibernar ou se partiam para as terras do Sul montados nos patos bravos, mas sei que se calavam e desapareciam nessa altura. Recordo-me de ouvir contar que havia povos antigos em paragens remotas que recorriam aos grilos como animais de guarda. Ao contrário dos cães de guarda, os grilos fazem barulho constante e só se calam quando sentem alguma presença próxima, despertando a atenção de quem descansa ao som daqueles bichos, pelo silêncio inesperado. Para nós, nesses tempos, era mais ou menos o mesmo todos os anos: quando os grilos se calavam de vez, era o Outono que chegava e tínhamos de despertar das férias grandes; aproximavam-se as aulas, em princípios de Outubro, e a curta quinzena que restava era já de uma certa nostalgia, uma espécie de balanço ao que tinham sido as férias e ao que podíamos ter feito mais e não fizéramos. Composite Depois, enquanto íamos crescendo, foram também crescendo as cidades mais a pressão do betão em volta delas e os grilos deixaram de aparecer. Pessoalmente, confesso que nunca me dei conta disso até agora, que passei a ouvi-los de novo. Ouço-os em plena cidade, em Ponta Delgada, onde o betão não parece bastante para afugentá-los. Em São Miguel, os grilos não só permanecem como nem sequer têm pressa. Como disse atrás, estamos já em Outubro e ainda os ouço diariamente. Não um ou outro, mas uma chusma deles. Este ano, no Verão que acabou, fui passar uns dias à Terceira. Em Angra do Heroísmo, fiquei instalado num chalet, no centro de um belo relvado torneado por uma sebe de ibiscos, numa zona residencial de vivendas ajardinadas. A tranquilidade do lugar durante o dia ganhava contornos de retiro espiritual durante a noite. Ficavam os grilos. Até ao nascer do sol, eram famílias e famílias de grilos em tertúlias comunitárias como já nem me lembro de ouvir. Invariavelmente, a fazer companhia aos grilos, surgiam os cães. Começava um a uivar e logo, acolá e além, juntavam-se mais uns quantos a ladrar. Aí por volta das 4 da madrugada acordava a passarada em cantoria pegada. Mesmo onde houvesse apenas uma árvore, havia concerto certo. O mais estranho, contudo, era o galo. O galo, senhores, cantava lá longe à meia-noite! Diariamente, sem falhar, dava a meia-noite e o galo punha-se a cantar! Que diabo! Nunca antes eu tinha ouvido um galo a cantar à meia-noite! Pus-me a cogitar naquilo e tirei as minhas conclusões. Em terra de tanta emigração, a coisa explica-se. O galo tinha sido trazido do Canadá ou dos Estados Unidos da América por algum emigrante torna-viagem. Só pode ser isso. Digam o que disserem, caros leitores, tenho cá para mim que é isso mesmo. Aquele galo ainda estava com problemas de jet-lag. O bicho desatava a cantar à meia-noite? Qual quê?! Meia-noite para nós, porque o raio do galo ainda andava baralhado com os fusos horários APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 26 C M Y CM MY CY CMY K JOSÉ RIJO COLUNA APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 26 · advogado · responsável pelos departamentos aduaneiro e de contencioso aduaneiro do grupo rangel · docente consultor de comércio internacional na escola de gestão do porto BREVES NOTAS SOBRE O ACORDO GERAL SOBRE PAUTAS ADUANEIRAS E COMÉRCIO (GATT DE 1947) C om o pós-guerra sentiu-se a necessidade de normalizar, regulamentar e regular o comércio internacional. Esta necessidade era particularmente reclamada pelas nações mais ricas, mais desenvolvidas e com maior necessidade de colocarem os seus produtos em novos mercados. Por isso, os objectivos fundamentais para o desenvolvimento do comércio internacional eram os de eliminar as barreiras à livre circulação de mercadorias e, muito particularmente, discutir a questão das pautas aduaneiras e das taxas aduaneiras. As primeiras reuniões ocorreram durante os anos de 1946 a 1948. Umas sob os auspícios da Nações Unidas e outras por iniciativa de vários Estados, onde se incluíam as potências vencedoras do pós-guerra e que procuravam exactamente a redução dos obstáculos que restringiam o comércio internacional. Em Março de 1948, cinquenta e três países assinaram a Carta de Havana. Para além de procurarem o desenvolvimento do comércio internacional visavam também criar condições para que se caminhasse no sentido da obtenção do pleno emprego. Ora este acordo de Havana, também assinado pelos representantes americanos, não foi ratificado pelo Congresso dos Estados Unidos. Sendo este país o que tinha maior peso no comércio internacional, este facto provocou um impasse na ratificação por parte dos restantes signatários, conduzindo à não entrada em vigor do acordo. Anteriormente, em Janeiro de 1948, cerca de vinte e três países já tinham acordado diminuir o valor das taxas e dos direitos aduaneiros sobre os produtos, que representavam aproximadamente 50% do comércio internacional. Os mesmos aprovaram o capítulo da Carta de Havana, referente à Política Comercial sob a designação de Acordo Geral sobre Tarifas Composite e Comércio, na versão inglesa General Agreement on Tariffs and Trade. Estava assim instituído o GATT e, simultaneamente, com a redução das taxas aduaneiras, fora dado o primeiro grande impulso ao comércio internacional, no período pós Segunda Guerra Mundial. Após a instituição do GATT, seguiu-se uma série de conferências com o objectivo de reduzir os direitos pautais. A prática metodológica era cada país negociar com o seu principal fornecedor, a redução dos direitos aduaneiros e procurar posteriormente generalizar esses acordos ao conjunto das partes contratantes. Deste conjunto de negociações com vista à obtenção de reduções tarifárias, destaca-se como mais importante o Dillon Round (Maio de 1961). Seguiu-se mais um conjunto de negociações, compreendendo os anos de 1963 a 1967, sob a denominação do Kennedy Round. O resultado desta ronda negocial foi muito mais proveitoso do que os anteriores. Os direitos aduaneiros sobre os produtos industriais foram reduzidos em media 35%. A Comunidade Europeia reduziu em cerca de 36% os seus direitos na pauta aduaneira comum e os EUA em media 42%. Em 1973, inicia-se outra ronda de negociações que só terminará em 1979. São as negociações de Tóquio (Tokyo Round). Nestas negociações, as questões pautais são ainda as mais importantes, mas surgem novas questões, nomeadamente, dumping, obstáculos técnicos às trocas comerciais, subvenções, restrições no acesso aos mercados públicos, concessão de licenças de importação e, muito especialmente, a existência de barreiras não pautais. Surgem novos acordos sobre estes domínios e também sobre nova redução pautal, na ordem dos 30%. Por esta altura tinham ocorrido mudanças significativas no comércio internacional. Os interesses das grandes potências e de algumas potências emergentes manifestavam-se intensamente. Como consequência, por iniciativa dos EUA, deu-se início em 1982 a reuniões preparatórias do encontro ministerial de Punta del Este, que decorreu em 1986. Neste encontro, foi fixado o plano de trabalho para as negociações e o prazo, findo o qual deveriam estar terminadas (finais de 1990). As questões sobre a mesa de negociações eram, fundamentalmente, as seguintes: questão dos serviços, propriedade intelectual, investimento, redução das taxas aduaneiras, questão das barreiras não pautais e medidas de efeito equivalente, abertura dos mercados públicos, dumping e as subvenções que enviesam a concorrência, restrições voluntárias às exportações, produtos tropicais, têxteis e vestuário. As negociações do Uruguay Round prosseguiram tendo-se chegado, por volta do ano de 1988, a acordos e consensos em alguns domínios e, simultaneamente, a algumas divergências. De entre estas, destacaram-se as que se referiam, por um lado aos têxteis, dada a imposição das nações em desenvolvimento que reclamavam maior e mais rápido acesso aos mercados da Europa e dos Estados Unidos e, por outro lado, à agricultura, onde emergiam posições de confronto entre os Estados Unidos e a Comunidade Europeia. O Uruguay Round arrastou-se por mais alguns anos com avanços e recuos. A existência de uma posição de princípio, que obriga a acordo global sobre todas as matérias, impede a rápida conclusão de soluções por dossier. O Uruguay Round só viria a ser concluído em 1994. A vigência do GATT caracterizou-se pela Page 27 C aplicação contínua de alguns princípios estruturantes, os quais se revelaram como indispensáveis à alavancagem da economia mundial depois da Segunda Grande Guerra. Desde logo em primeiro lugar, o princípio da não discriminação, cuja observação impedia que as partes contratantes utilizassem tratamentos distintos com diferentes países. Isto é, no caso de ser aplicado o estatuto de nação mais favorecida a uma das partes contratantes, as vantagens comerciais daí decorrentes seriam imediatamente alargadas a todas as outras partes contratantes. Por outro lado, as vantagens aduaneiras concedidas por uma parte contratante, sobre os produtos originários de outra, teriam de merecer, por parte desta última, tratamento equivalente relativamente à primeira. Este princípio de reciprocidade continha, porém, uma importante excepção resultante dos países integrados em zonas de comércio livre e uniões aduaneiras, como por exemplo a EFTA, a União Europeia, a NAFTA e a Mercosul, na medida em que os países que integram estes espaços poderiam usufruir, entre si, de amplas facilidades nas SÍNTESE LEGISLATIVA Lei n.º 40/2008: DR 105 SÉRIE I de 2008-08-11 Processo tributário: altera o regime jurídico da caducidade das garantias prestadas ao fisco alteração ao CPPT. Lei nº 44/2008: DR 100 SÉRIE I de 2008-08-27 Imposto sobre veículos: admissão temporária de veículos por trabalhadores transfronteiriços e condução por outrem de veículos de pessoas com deficiência alterações ao código. Despacho nº 20315/2008 IRN: DR 148 SÉRIE II de 2008-0801 Registo automóvel: novo modelo de requerimento para actos de registo modelo único automóvel (os impressos actualmente em uso só podem ser utilizados até 31.12.2008). Decl. Rectif. Nº 44-A/2008 de 2008-08-13 IVA: alterações do Código e ao RITI Rectificação ao DL nº 102/2008 de 2008-06-20 que alterou e republicou o CIVA. Despacho nº 23786/2008 INE. DR 184 SÉRIE II de 2008-09-23 Rendas: Fixa em 1,028 o coefeciente de actualização para todos os tipos de contratos de arrendamento urbano para vigorar em 2009. MOVIMENTO DE SÓCIOS ADMISSÃO : QST QUALITY SERVICES TRANSPORTES, LDA. - Oeiras Sócio n.º 700 : CV TRANS TRÂNSITOS E TRANSPORTES, LDA. - V N Gaia Sócio nº 702 : FAIALTRÁFEGO TRANSITÁRIOS E A. DE NAVEGAÇÃO, LDA. Horta Sócio nº 703 EXCLUÍDOS A PEDIDO : HOYER PORTUGAL, TRANSITÁRIOS, UNIPESSOAL, LDA. Sócio n.º 566 : PANTRANS TRANSITÁRIOS, SA. Sócio n.º 289 (por fusão com SCHENKER TRANSITÁRIOS, LDA.) Composite M Y CM MY CY CMY K trocas comerciais, sem ter de dar tratamento recíproco para países terceiros, isto é, países exteriores ao espaço integrado. Outro princípio consagrado foi o princípio da abolição das restrições quantitativas. De acordo com esta norma, as partes contratantes comprometiam-se a eliminar eventuais contingentes económicos que representassem obstáculos às trocas comerciais entre si estabelecidas; também este princípio, em casos excepcionais, admitia certas derrogações (exemplos: implementação de medidas tendentes à protecção de excedentes agrícolas). Por fim, o princípio da proibição do dumping. De acordo com o GATT, as partes contratantes comprometiam-se a não vender produtos para exportação a preços inferiores aos preços praticados no interior do próprio país de exportação; para evitar estas práticas e com vista à reposição da concorrência leal criaram-se os chamados direitos anti-dumping. APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 27 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 28 C M Y CM MY CY CMY K APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 28 FORMAÇÃO PROFISSIONAL ACREDITAÇÃO DA APAT PELA DGERT Composite A DGERT Direcção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho Direcção de Serviços de Qualidade e Acreditação renovou a acreditação da APAT pelo período de 3 anos nas áreas de Organização e Promoção das Intervenções ou actividades Formativas e de Desenvolvimento / execução de intervenções ou actividades formativas ficando assim como reconhecida a oferta formativa da Associação no domínio 840 Serviços de Transporte. DGR Lisboa 08SET08 DGR Perafita 6OUT08 DGR Lisboa 22SET08 DGR Perafita 13OUT08 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 29 C M Y CM MY CY CMY K LANÇAMENTO DO LIVRO TRANSPORTE AÉREO, EXPORTAÇÃO E AEROPORTOS TERMINAL DE CONTENTORES DE ALCÂNTARA Da autoria do nosso distinto colaborador J. Martins Pereira Coutinho, acaba de ser editado pela Cargo Edições Lda. o livro TRANSPORTE AÉREO, EXPORTAÇÃO E AEROPORTOS que poderá ser encomendado ao secretariado da APAT. O autor, conhecido especialista de transporte aéreo, foi Director de Vendas da KLM Carga em Portugal. Estudioso e crítico de tudo o que se tem passado no nosso país na área do transporte aéreo de mercadorias, nesta sua segunda obra faz-nos reflectir sobre os principais constrangimentos que têm existido no desenvolvimento da carga aérea em Portugal. O Terminal de Contentores de Alcântara, no Porto de Lisboa, recebeu no dia 4 de Outubro o Pucon, um dos maiores porta contentores do mundo, que assim inaugura uma nova linha regular, a ANE (Asia North Europe Service), que passa a ligar Lisboa a Xangai. Com 304 metros de comprimento, 40 metros de largura, 74 mil toneladas de tonelagem bruta e 14 metros de calado, o Pucon é um porta contentores de longo curso, com uma capacidade para 6539 Teu e o maior navio comercial de sempre a visitar a capital portuguesa. Esta ligação vai também oferecer aos clientes um tempo líder de mercado para Lisboa e Leixões a partir da Ásia, com médias de 21 dias. Lisboa é o primeiro porto tocado na Europa, antes do Havre, no norte de França. REUNIÃO DE NETWORK MUNDIAL DE TRANSITÁRIOS EM PORTUGAL REGULAMENTO DE TARIFAS DA APDL Teve lugar em Lisboa, de 6 a 10 de Outubro, a 9ª Conferência Anual da ATLAS INTERNATIONAL NETWORK LTD, com a participação de representantes de mais de 100 empresas transitárias Esta rede é representada em Portugal pela nossa associada MARMOD. Foi publicado o Regulamento de Tarifas da APDL - Administração dos Portos do Douro e Leixões, SA, para 2009, que também se encontra disponível no site www.portodeleixoes.pt / SERVIÇOS / TARIFÁRIOS Composite APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 29 NOTÍCIAS APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 30 C M Y CM MY CY CMY K PAULO PAIVA APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 30 A IMPORTÂNCIA DA CARGA NA COMPETITIVIDADE DE UM AEROPORTO (HUB) N uma revista de imprensa especializada deparei com um artigo sobre os passos que um qualquer gestor aeroportuário deve adoptar e que decisões deve ponderar até à abertura de um terminal de carga no perímetro do aeroporto. Não sou tradutor, mas esse artigo menciona vários pontos importantes que tentarei passar a explicar. Na indústria de carga aérea existem dois tipos principais de aeroportos: hubs internacionais como Hong Kong, Los Angeles, Frankfurt, Londres, Paris; e , aeroportos exclusivos de carga, como Vitoria e Leipzig. Uns e outros apresentam características próprias que os definem residindo a principal diferença no facto de os primeiros combinarem passageiros e carga e os segundos, obviamente, estarem dedicados em exclusivo a carga. Concentra-se pois o artigo nos hubs internacionais, concluindo logo no principio (conclusão nº 1) que há interdependência entre a carga e os passageiros, havendo rotas que são justificadas apenas com a contribuição de ambos os vectores. Ou seja, determinada rota só se justificará se houver contributo da carga para suporte dos custos de toda a operação. Primeiro ponto importante: Marketing Nas decisões de novas rotas, a carga é cada vez mais, considerada de importância vital pelas companhias aéreas Neste mundo cada vez mais competitivo, na análise custobenefício, todos os proveitos são equacionados, e o proveito gerado pela carga representa, cada vez mais, a provável viabilização de uma nova rota. (Conclusão nº 2) - Para atrair e manter Companhias Aéreas, um aeroporto tem de providenciar um ambiente em que seja possível o sucesso nos dois negócios: passageiros e carga De todas as considerações no artigo que me parecem mais importantes são ainda mencionadas as condições competitivas (capacidade de fornecer serviço e respectivo custo) das companhias de handling, as quais deverão corresponder às expectativas das companhias aéreas. Segundo ponto importante: Infra-estrutura Para atrair e apoiar um negócio de carga o aeroporto tem de disponibilizar um handling e armazenagem de carga adequado ao mercado local. Terceiro ponto importante: Facilities Precisa o aeroporto de conhecer os seus clientes e sobretudo Composite COLUNA · vice-presidente da APAT as suas necessidades em termos de edifícios, parqueamentos, acessos, áreas de armazenagem, alfândega (funcionamento 24h), serviços de veterinário, security, etc. Os dois pontos anteriores deverão estar em consonância com a legislação aplicável e deverão ter sempre em conta as prováveis alterações por forma a manter sempre um elevado grau de eficiência nos processos e procedimentos relacionados com a carga. A palavra que se aplica é flexibilidade. Se, por exemplo, a legislação permitir que a carga seja carregada e descarregada fora do perímetro do aeroporto, mesmo antes de estar em livre circulação, significa que o Terminal funcionará mais como ponto de passagem de carga e não como ponto de armazenagem e consolidação/desconsolidação de carga, sendo por isso exigível um menor investimento quer em Infraestrutura quer em Facilities, havendo também uma maior flexibilidade e capacidade de adaptação às necessidades reais do mercado. Quarto ponto importante: Espaço Muitas vezes o espaço dentro do perímetro do aeroporto é limitado, restringindo sobremaneira as tomadas de decisão sobre a localização da zona da carga. O aeroporto deve trabalhar e motivar os stakeholders para que possa perceber as suas metodologias operacionais e validar as suas previsões de crescimento Não deve tomar decisões sem ouvir o mercado. Não é preciso ter habilitações especiais para perceber que numa decisão de investimento ou desinvestimento todas as partes potencialmente ou realmente interessadas devem ser ouvidas. Isto é SENSO COMUM. Quinto ponto importante: localização A decisão da localização da área de carga num aeroporto depende não só de onde existe espaço disponível, mas também (e sobretudo) depende das acessibilidades e do efeito que provoca nas outras actividades comerciais e operacionais relacionadas com a aviação Em Lisboa, o novo terminal foi empurrado para o local onde o mal seria menor. Não foram considerados alguns aspectos atrás referidos pelo que, por exemplo, a alfândega a funcionar fora de horas vai ficar no lado oposto ao Terminal de carga com todas as implicações e custos que isso significará para os transitários, companhias aéreas, handlers, para a própria alfândega e sobretudo para os nossos clientes, que verão um simples pormenor comprometer APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 31 C a competitividade das suas exportações e importações porque é mais caro utilizar o aeroporto de Lisboa do que o de Madrid, que apresenta custos mais baixos e maior variedade de soluções de transporte. De facto, o factor importante em tudo isto passa pela competitividade do aeroporto, pois qualquer pormenor considerado insignificante para uns, pode motivar a fuga de carga para outros aeroportos mais competitivos e com mais variedade de rotas e soluções mais adequadas às expectativas dos clientes. Se não temos um aeroporto que apresente soluções em vez de problemas, o nosso factor de atractividade de novos negócios e de manutenção dos actuais negócios é praticamente nulo. Sendo também por isso motivo de deslocalizações e de perdas irreparáveis nas decisões de novos investimentos no nosso país. (Conclusão final) - Para alguns gestores aeroportuários, o negócio da carga pode ser visto como a fonte de congestão e de uso pouco rentável de terreno do perímetro do aeroporto, com um retorno muito pouco significativo quando comparado com outras actividades bastante mais rentáveis por m2; no entanto, a carga é um apoio fundamental para conseguir atrair cada vez mais rotas e mais companhias aéreas e isso é um potencial de atractividade de novos investimentos e novas industrias que ultrapassa largamente qualquer subsídio ou subvenção ou tratamento tributário especial que se possa atribuir a este ou àquele potencial investidor. Nota: esta opinião baseou-se no artigo publicado na edição de Setembro de 2008 da revista Airline Cargo Management. Composite M Y CM MY CY CMY K APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 32 C M Y CM MY CY CMY K RELEMBRANDO APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 32 Composite PROCEDIMENTOS PARA COBRANÇA DE FACTURAS EM ATRASO: Juros de mora Injunção As dificuldades com que as empresas se debatem para recuperarem os seus créditos junto de clientes faltosos, não devem limitar o recurso aos procedimentos legais que estas têm ao seu dispor para minimizar as consequências desses atrasos, alguns dos quais relativamente fáceis de implementar. Comecemos pelos juros de mora: Numa situação de grande instabilidade como aquela em que os mercados vivem actualmente, a cobrança de juros justifica-se por si mesma. Ora, desde a entrada em vigor do Dec Lei 32/2003, de 17 de Fevereiro (este diploma veio estabelecer um regime especial relativo aos atrasos de pagamento em transacções comerciais, uniformizando a nossa legislação com a comunitária nesta matéria, diploma este que foi distribuído pelos associados com a circular APAT nº 5 de 26/02/2003), que está legalmente consagrada a possibilidade de o credor de uma dívida comercial cobrar juros, a partir da data do vencimento da factura se esta tiver mencionada uma data de vencimento estipulada, ou após decorridos 30 dias contados da data da emissão da factura, se esta não tiver essa data de vencimento pré estabelecida. Quando o valor da taxa de juros moratórios, para as dividas comercias, não for fixada por escrito, vigora a chamada taxa supletiva cujo valor é anunciado semestralmente por aviso da Direcção Geral do Tesouro (DGT) publicado na 2ª série do Diário da República nos primeiros dias dos meses de Janeiro e de Julho, para aplicar respectivamente às operações comerciais em atraso no primeiro ou no segundo semestre de cada ano. De acordo com este critério, a taxa supletiva de juros de mora comerciais, em vigor no 2º semestre de 2008, é de 11,07 % ao ano de acordo com o Aviso nº 19.995/2008 publicado na 2ª serie do DR de 14/07/2008, enquanto a taxa que vigorou no 1º semestre de 2008, de acordo com o Aviso nº 2151/2008 publicado na 2ª serie do DR de 28/01/2008, foi de 11,20 % ao ano. Um modo expedito de levar à pratica este procedimento pode ser o seguinte: 1 - Perante um atraso de pagamento, no final do mês que comporta o vencimento da factura (ou do mês onde se completaram os primeiros 30 dias no caso de não ter sido convencionado prazo de vencimento) emite-se uma nota de débito com o valor dos juros de mora, calculados ao dia relativamente à taxa em vigor no período, referentes ao espaço de tempo que decorreu entre o dia de vencimento e o último dia desse mês. 2 - Seguidamente, e por cada mês de calendário que ocorrer sem pagamento, será emitida nova nota de débito com o valor dos juros calculado ao duodécimo da taxa em vigor no período. 3 - Na data do pagamento, cobrar-se-á o valor dos juros devidos desde o primeiro dia desse mês e a data em que ocorre o pagamento. Vejamos agora a injunção: Por injunção entende-se a providência judicial que tem por fim conferir força executiva a requerimento destinado a exigir o cumprimento, entre outras, das obrigações emergentes de transacções comerciais. O regime da injunção vigente até à entrada em vigor do Dec. Lei 32/2003 acima referido, era algo restritivo uma vez que se aplicava apenas a dívidas até ao montante de 3.740,98. Por isso, no sentido de corresponder às necessidades dos operadores, este diploma veio, no seu artº 7º, conferir ao credor comercial o direito a recorrer à injunção para cobrança do seu crédito, independentemente do valor da dívida. Mais tarde, o Decreto-Lei n.º 107/2005, de 1 de Julho, veio de novo restringir a aplicabilidade do procedimento de injunção às dívidas resultantes de contratos cujo valor não excedam, agora, o valor da alçada dos Tribunais da Relação, ou seja, até 30.000,00 No procedimento de injunção, tudo o que o credor tem que fazer, preferivelmente através de mandatário advogado ou solicitador - é apresentar, pessoalmente ou por via electrónica, um Requerimento na secretaria judicial competente, mediante o preenchimento do formulário próprio para que, de imediato, a referida secretaria judicial notifique o devedor no sentido de este pagar voluntariamente a dívida vencida em questão. O credor requerente deve desde logo indicar, no seu formulário, se pretende que os autos lhe sejam devolvidos, no caso de não vir a ocorrer o pagamento ou se prefere que os mesmos sejam remetidos ao tribunal competente para se efectuarem outras diligências de citação do devedor. No caso de a dívida não ser liquidada no prazo fixado, nem ter havido oposição formal ao pedido deduzido nesse tal formulário requerimento, o devedor será confrontado com a existência de um título executivo que pode ser usado pelo credor para solicitar ao tribunal o pagamento coercivo da dívida, seguindo-se depois as diligências processuais habituais. Conclusão: 1 - Em caso de mora do devedor e não tendo havido pré-fixação da taxa de juros a aplicar, o credor de uma dívida comercial tem direito aos juros fixados supletivamente, cujo valor será o que está estabelecido para o respectivo período conforme Aviso da DGT publicado semestralmente no Diário da Republica. A partir do momento em que uma divida se encontra vencida, o credor pode recorrer ao procedimento de injunção para obter o respectivo pagamento. Não ocorrendo o referido pagamento, o credor fica na posse de um título executivo mediante o qual pode dar seguimento à execução do devedor. Page 33 C M Y CM MY CY CMY K AV NÃO PODE FAZER ESQUECER REDE CONVENCIONAL Amodernização da rede convencional é essencial ao desenvolvimento Uma solução de base ferroviária é a proposta do grupo Altri para a gestão do transporte ferroviário, e mesmo ao sucesso da futura rede de Alta Velocidade. dos fluxos inbound/outbound da sua unidade da Figueira da Foz, que dentro Importa, por isso, que o protagonismo desta não vote ao esquecimento aquela. de menos de um ano deverá aumentar substancialmente a produção e as O presente e o futuro da rede ferroviária convencional e as suas implicações exportações a partir do porto da Figueira. Hermano Sousa apresentou a solução, no transporte metropolitano e de mercadorias fizeram o mote do Seminário e não só, e deixou o repto ao IMTT, à Refer e à CP Carga para que façam a sua de Transporte Ferroviário que o TRANSPORTES & NEGÓCIOS organizou no Por- parte. to, no início de Outubro. A análise feita pelos vários oradores teve sempre como pano de fundo o advento da Alta Velocidade. Fazer a sua parte é o que a CP Carga tenta, mas a coisa torna-se difícil quando os constrangimentos são muitos e de vária ordem. Apesar de tudo, A secretária de Estado dos Transportes, presente no arranque do Seminário, Fonseca Mendes, membro da Comissão Executiva da (ainda) unidade de negó- chamou a atenção para o carácter histórico do dia, de apresentação das pro- cios da CP, deixou uma nota positiva sobre a evolução recente e as perspectivas postas para a primeira PPP da Alta Velocidade, um evento que marca, disse, futuras do negócio da carga ferroviária, em Portugal e na Península Ibérica (em o ponto de não retorno do projecto. conjugação com a Renfe). Ana Paula Vitorino defendeu e tratou de explicar, com sucessivos exemplos, Mais de uma centena de profissionais do sector participaram no Seminário a política definida pelo Governo para o transporte ferroviário, no que ao transporte de Transporte Ferroviário do TRANSPORTES & NEGÓCIOS, que contou com os de passageiros respeita, e para a interligação da ferrovia com os portos e com patrocínios do IMTT, Refer, Metro do Porto e Takargo e os apoios da Thales, as plataformas logísticas. Metro de Lisboa e Efacec. Como se esperava, a governante dedicou também boa parte da intervenção a justificar as opções apresentadas pelo Executivo para a segunda fase de expansão do Metro do Porto. Em oposição, Arménio Matias, o carismático presidente da Adfer, criticou de forma veemente o que está a ser feito ou projectado. Nomeadamente, acusou os responsáveis pela não utilização das travessas bi-bitola na modernização da rede convencional, e insistiu na vantagem de considerar a nova localização do Novo Aeroporto de Alcochete no desenho da rede ferroviária de Alta Velocidade (que deverá, por isso, ser feita de forma faseada, para dar tempo a definir o que falta decidir). Nélson Oliveira (Associação dos Amigos de Caminho-de-Ferro) subscreveu vários dos reparos de Arménio Matias e sobretudo realçou a importância da rede convencional para o serviço das populações locais e para a cobertura capilar do território, podendo servir até como alimentadora e distribuidora dos fluxos da AV. Do transporte metropolitano falaram Otília Sousa e Álvaro Seco.A responsável da CP Porto apresentou o caso de sucesso que representa aquela unidade de negócio, a viver um rápido crescimento de passageiros e de receitas. O presidente da Metro do Mondego fez o ponto da situação de um projecto que, sublinhou, pretende ter também um forte impacto ao nível do ordenamento do território, favorecendo a aproximação dos agregados populacionais ao canal do Metro. Aparício dos Reis, vice-presidente da Adfer, fez o lançamento do tema da integração da ferrovia nas cadeias logísticas, deixando, também ele, uma visão muito crítica sobre algumas das opções tomadas, e algumas das práticas seguidas, no domínio do transporte ferroviário, em Portugal. Martins Pereira (SPC Multiusos) mostrou o trabalho feito pela empresa na implantação e desenvolvimento de plataformas logísticas rodo-ferroviárias, prova de que o futuro do Portugal Logístico deve passar muito, ou sobretudo, pela iniciativa privada, para a qual o Poder deve olhar como olha para as iniciativas públicas. Composite APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 33 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 APAT_53_10.FH10 Tue Oct 28 11:20:56 2008 Page 34 C M Y CM MY CY CMY K DANUTA KONDEK DA CRISE OU A METAMORFOSE PARA UMA NOVA ECONOMIA? COLUNA APAT Nº 53 | SET·OUT 2008 | WWW.APAT.PT | 34 GLOBALIZAÇÃO A crise é o tema principal de todas as análises e conversas. Não existe um tema mais importante actualmente. Oscilamos entre a enorme vontade de acreditar nas afirmações que ouvimos e a angústia dos piores pressentimentos. de poder de compra para aquisição de bens De todos os lados chegam diversas informações, complicadas explicações dos de consumo. No nosso pensamento tradicional políticos e dos analistas que descrevem os mecanismos, diagnosticam o estado actual (nos mercados onde a cultura financeira é das economias e elaboram diversos prognósticos da evolução da situação actual. mais baixa) o investimento em propriedades A crise torna-se cada vez mais global e já não pode ser reduzida somente a imobiliárias representa um custo para a aqui- infelizes oscilações do mercado de créditos hipotecários (sub-prime). O mercado sição do imóvel, responsabilidades para o de sub-prime foi somente um espaço onde já há algum tempo persistia um fogo reembolso do crédito e o esforço para a manutenção do bem (propriedade/habitação). latente, que explodiu e originou o incêndio cujas proporções não somos capazes Houve nos EUA um tempo em que os juros baixos permitiam um fácil acesso ao ainda de avaliar. crédito da habitação. Por outro lado, e relacionado com o facto anterior, uma rápida Porque durante tanto tempo reinou o silêncio sobre esta matéria? Porque foi ultrapassado o nível da responsabilização por estas decisões? subida dos preços dos imóveis, criou uma possibilidade de acesso ao crédito ao consumo, com base nas hipotecas dos imóveis. Os créditos ao consumo foram tão Um olho profissional do analista imergindo nos pormenores, dados técnicos, elevados, que quando a bolha de imobiliário rebentou, e o valor das hipotecas foi estruturas e fenómenos, tece explicações difíceis de entender para um leitor, mesmo insuficiente para assegurar o seu pagamento, os devedores viram-se impossibilitados com alguma experiência e preparação na matéria. O mundo financeiro ganhou uma de os pagar. Logicamente, mais uma vez, esta situação não podia durar eternamente complexidade que, para a maioria de nós, está hermeticamente protegida pela teia das interligadas e interdependentes operações financeiras. Um importante papel nesta situação tem também o dólar americano. O dólar foi durante dezenas de anos um dos melhores produtos americanos, produto pra- Porém, quando o nosso olhar se afasta e começamos a pensar sobre esta crise ticamente ideal. Todos sabemos quais são as consequências de emissão do próprio com alguma distância, começam a ser visíveis alguns processos e alguns fenómenos papel-moeda e a sua introdução na economia sem a devida preocupação sobre a que só a distância nos permite observar. sua quantidade e simultaneamente sobre o seu valor. Os americanos sabiam que Os Estados Unidos já há anos vivem a crédito e realizam os seus objectivos à somente uma parte deste papel-moeda estava dentro dos EUA, o resto estava custa de sistemáticos défices orçamentais que todos os anos aumentam em cen- amealhado noutros bancos, nas contas de muitas empresas e debaixo de colchões tenas de milhares de milhões de dólares. Até ainda há pouco tempo a economia de muitas pessoas, como algo com um valor inquestionável. A falta de diligência americana atraía os capitais estrangeiros com base na confiança da sua economia, sobre este produto tão específico, causou a sua desvalorização. Facilmente podemos tendo assim meios para cobrir os seus défices, mas estes tempos já passaram. Em verificar qual era o valor do dólar há dois ou três anos e o que temos perdido com resultado disso os EUA são actualmente o país mais endividado do mundo. As futu- a redução do seu valor. ras consequências para o orçamento dos Estados Unidos resultantes das alterações A conclusão é fácil: a expedição de mais tropas americanas pode ser financiada demográficas traçam uma visão de uma séria ameaça das finanças públicas do país, por mais uma emissão de alguns milhares de milhões de papel-moeda (dólar), que que assombram automaticamente a estabilidade da sua economia. Pensando, ou serão pagos por todo o mundo, inclusivamente por estes contra quem marcharam melhor, simulando diversos cenários, com certeza é possível determinar o tempo as tropas americanas. quando se chegará à situação na qual as receitas serão insuficientes para fazer fren- Será que estamos a assistir ao fim do mundo unipolar? Estamos a ser testemunhas te ao endividamento. A lógica diz que é impossível realizar continuadamente uma de uma nova ordem geo-político-económica? Sim, um novo mundo está à porta e política assim e que mais cedo ou mais tarde tem de acabar mal os novos protagonistas estão a assumir as suas posições. O jogo vai começar com Há algum tempo atrás o mercado americano inventou um mecanismo suigeneris que permitia aproveitar as hipotecas dos imóveis para estimular o crescimento Composite · consultora, formadora · sócia gerente da funktor, consultoria, lda. · e-mail: [email protected] as novas regras .