MOMENTOS DA VERDADE EM EXPERIÊNCIAS DE VISITAÇÃO NO MUSEU NACIONAL DO MAR – EMBARCAÇÕES BRASILEIRAS Autores : Susana Nunes Taulé PIÑOL, Tiago Germano PASSOS, Lediane Maria LUIS, Maira Gaspar Hufen de ABREU, Jonatas Rubens TAVARES Identificação autores: Orientadora IFC – Campus São Francisco do Sul; Discente Voluntário – IFC Campus São Francisco do Sul; Bolsista PIBIC – EM/CNPq, Bolsista PIBIC – EM/CNPq; Discente Voluntário – IFC Campus São Francisco do Sul Introdução O turismo cultural vem ganhando importância ao longo dos tempos. As abordagens mais antigas caracterizavam o turismo sem considerar as experiências dos turistas. As novas abordagens de análises do turismo têm colaborado para o reconhecimento do turista como um consumidor; contemplando a vivência afetiva, emocional, e a efetiva, comportamental. Independentemente da perspectiva educativa ou turística que proporciona momentos de conhecimento e aprendizado, o contexto de visitação sofre interferência nítida do comportamento do visitante. Neste trajeto pelo espaço museológico o visitante percebe o ambiente e a experiência como um todo, ao passo que internaliza uma comparação com sua expectativa pré-visitação. Conhecer este contexto é relevante porque permite que as etapas consideradas essenciais possam ser melhoradas aplicando-se a racionalização. Em São Francisco do Sul, Santa Catarina, está instalado o Museu Nacional do Mar Embarcações Brasileiras, eleito como objeto deste estudo. Com a crescente diversidade de demanda para o turismo cultural este estudo visa averiguar os momentos da verdade experienciados pelos diferentes visitantes do Museu Nacional do Mar durante o trajeto de visitação em suas salas temáticas a fim de propor melhorias. O ponto de partida no projeto de uma excelente experiência do usuário consiste em entender o que acontece no momento da visitação. Para tanto este estudo apresenta como objetivos específicos: a)Identificar os diferentes espaços destinados à visitação do Museu e seus respectivos propósitos; b) Observar o fluxo de visitantes e alguns aspectos dos momentos da verdade que se configuram ao longo do trajeto de visitação; c) Verificar os fatores que favorecem a experiência de visitação; d) Apurar os fatores que desfavorecem a experiência de visitação; e e) Propor melhorias considerando às informações apuradas. Material e Métodos Como metodologia este estudo segue a modalidade de pesquisa descritiva. De acordo com Piñol (2011), a pesquisa descritiva desenvolve-se, sobretudo nas Ciências Humanas e Sociais, buscando conhecer os fatos ou os fenômenos sem manipulá-los, ou seja, sem a interferência do pesquisador. Em um primeiro momento, este estudo identificou as salas temáticas do Museu Nacional do Mar - Embarcações Brasileiras, foco deste estudo, seus propósitos e seus recursos voltados à experiência de visitação, sendo que a descrição destas informações segue as orientações do método de estudo de caso, utilizando-se de análise de documentos do museu, registro fotográfico, construção e apresentação das salas no software Sweet Home 3D, entrevistas e observação do local. Segundo Mattar (1999, p. 84), o estudo de caso é um método de pesquisa que possibilita a ampliação dos conhecimentos sobre o problema em estudo. Os dados podem ser obtidos “a tal nível de profundidade que permitem caracterizar e explicar detalhadamente os aspectos singulares do caso em estudo”. Dentro da abordagem descritiva, estudo de caso, adota-se a forma de coleta observacional estruturada. Segundo Cooper e Schendler (2011, p. 194), a observação se qualifica como investigação científica quando “é conduzida especificamente para responder a uma questão de pesquisa, é sistematicamente planejada e executada, usa controles apropriados e fornece informações confiáveis e válidas sobre o que aconteceu”. A lista de verificação de observação foi elaborada segundo as instruções de Cooper e Schendler (2011, p. 203) contemplando elementos fatuais e inferenciais e considerando o objetivo específico observar os momentos da verdade que se configuram no processo de visitação. Após a coleta, os dados foram tabulados e processados. Associando-se estes dados aos objetivos de cada sala temática e os recursos de experienciação disponíveis, detectou-se que elementos contribuem para uma boa experiência de visitação e quais não contribuem a tal propósito sob a perspectiva do visitante. A identificação dos pontos de aglomeração e das zonas mortas colaborou para as proposições de redimensionamento de layout e para proposição de inserção de pontos de interação. Para análise crítica e proposição de melhorias nas salas temáticas envolvidas neste estudo, aprofundou-se estudos bibliográficos sobre o perfil dos públicos envolvidos no contexto museológico e em contextos de ensino aprendizagem, e procedeu-se a ferramenta de benchmarking externo. O propósito do benchmarking externo é buscar as melhores práticas que levarão ao desempenho superior da organização. Isto implica em encontrar as melhores práticas possíveis, seja dentro ou fora do setor. Resultados e discussão Ao longo do processo de pesquisa foi possível identificar áreas do museu ricas em informações, contudo não acessadas pelo público em função do layout atual. Foi possível também identificar, via benchmarking, possibilidades de melhorias considerando um melhor aproveitamento das zonas mortas e, bem como, possibilidades de desobstruir alguns pontos de aglomeração. Para cada uma das 15 salas temáticas observadas foram tecidas observações de melhorias, contudo alguns aspectos merecem relevância no âmbito geral entre eles é possível elencar: • O uso do website como veículo de contato e fornecimento de materiais relacionados à visitação para as escolas; • A inserção de pontos de apoio para descanso e pequenos desafios ao longo da visitação, incluindo mais bebedouros; • A disponibilização das salas interditadas ao acesso público, salvaguardadas as questões de segurança; • A necessidade de uma revisão completa da fiação elétricas considerando sobremaneira os pontos de contato com os visitantes de grupos escolares; • A associação do acervo com as ricas obras disponibilizadas na biblioteca; • A ampliação dos esquetes para o público que não é escolar, ainda que via recursos midiáticos; • A inserção de QR code e outros recursos que colaborem com a acessibilidade considerando não apenas os portadores de necessidades especiais, mas o público que necessita acesso a diferentes idiomas; • Ações que fortaleçam o desenvolvimento do Turismo Pedagógico buscando a integração do museu com outros atrativos da localidade com forte vínculo ao acervo: índios, pescadores, porto, projetos de preservação, entre outros; • Desenvolvimento de projetos de adoção de salas junto a organizações públicas e privadas, no sentido de buscar recursos para as mudanças necessárias. Outros aspectos a serem considerados é que o percurso e até mesmo as abordagens sofrem profundas interferências conforme o perfil e o comportamento dos visitantes. Como exemplo é possível citar: a presença ou ausência de esquetes; a afinidade do monitor/guia com o acervo, bem como sua interação com os grupos escolares. Embora, não sendo o foco de análise, é relevante considerar estes fatores e seus efeitos no tempo de percurso e nos pontos de parada para intervenções. O clima também é um fator de impacto, não somente em função das salas expostas ao tempo, mas em função do cansaço dada à extensa trajetória a ser percorrida em uma visitação a todas as salas acessíveis. Conclusão Este estudo permitiu uma vasta ampliação do conhecimento sobre as práticas de gestão e da compreensão do comportamento do consumidor em um espaço museológico e consolidou que as mesmas observações de fluxo passíveis de serem executadas no segmento varejista podem ser aplicadas na melhoria do fluxo de visitação em espaços museológicos segundo a perspectiva do visitante. Por fim conclui-se que os fatores que favorecem boas experiências de visitação no museu, de um modo geral, são: a riqueza do acervo; possibilidades de religação de conteúdos para públicos escolares; esquetes e monitores. E os fatores que desfavorecem estas experiências são: a estrutura física, no que tange a manutenção, em especial a instalação elétrica e a situação estrutural que afeta a integridade dos servidores, visitantes e acervo; a repetição excessiva do recurso painel e a falta de continuidade na manutenção dos mesmos; ausência de espaços para descanso e interação que atendam a extensão da trajetória de visitação; os professores das escolas que acompanham os alunos não relacionam o acervo com o conteúdo de suas aulas; os layout de algumas salas temáticas; salas interditadas e falta de padronização no atendimento aos grupos escolares. Como limitações a este estudo cita-se a amplitude das salas temáticas que demandaram um maior tempo para mensuração e mapeamento dos layouts e a interdição de algumas salas, sendo que apenas pode-se considerar aquelas com acesso aos visitantes durante o período de coleta. Mesmo durante o período, algumas salas sofreram reformas ou tiveram alguns móveis/acervos realocados provocando algum impacto no percurso produzido pelos visitantes. Compreende-se e respeitam-se as questões relacionadas à salvaguarda do acervo, mas ainda assim é jus observar o comportamento do visitante a fim de que este leve consigo a riqueza de informações presentes no espaço museológico, ainda que este público seja um adulto, uma criança ou um idoso, ou que apresente-se me grupos menores ou em grupos maiores. Destaca-se a parceria com o Museu que favoreceu o acesso às informações, o apoio do IFC nos projetos de pesquisa e de extensão, a participação de docentes e técnicos administrativos, bolsistas do CNPq, bolsistas do Campus São Francisco do Sul e alunos voluntários que engrandeceram esta pesquisa permitindo que ela superasse as expectativas iniciais. Os resultados deste estudo podem amparar projetos de adoção de salas, onde a sala temática pode ser utilizada como estratégia de marketing. Como relata Franco-Avellaneda (2013, p. 225), ações como estas ampliam o financiamento e a presença de marcas de empresas não é percebida como um problema, mas como um requisito normal. Não apenas, evidentemente, com este propósito, mas como cenário de sensibilização da cultura cidadã, como ferramenta e cenário de trabalho para estudiosos, como cenário de prova de tecnologias entre outras possibilidades. Referências COOPER,R.D.; SCHINDLER, P.S. 2011. Métodos de pesquisa em administração. Bookman, Porto Alegre. FRANCO-AVELLANEDA, M. Ensamblar museus de ciências e tecnologias: compreensões educativas a partir de três estudos de caso. 2013. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de pós graduação em educação, cientifica e tecnológica. UFSC. Florianópolis, 2013. MATTAR, F.N. 1996. Pesquisa de Marketing. São Paulo, Atlas. PINOL, S.T. 2011. Pesquisa Nota 10!. Rondonópolis, FAIR-UNIR, 126 p.