Além da Euforia: Riscos e Lacunas do
Modelo Brasileiro de Desenvolvimento
Armando Castelar Pinheiro
IBRE/FGV – IE/UFRJ
Florianópolis, 28 de setembro de 2012
• A euforia
• Os riscos:
– O que possibilitou a aceleração do crescimento na
segunda metade da última década?
– Quão sustentável é essa aceleração?
• As lacunas
Em 2011, Brasil tornou-se a sexta maior
economia do mundo
Fonte: FMI.
Avanço nos indicadores macroeconômicos:
Fiscal
Dívida - total - setor público - líquida
- (% PIB)
NFSP - setor público - primário –
(% PIB, 12M)
Avanço nos indicadores macroeconômicos:
Contas externas
Avanço nos indicadores macroeconômicos:
Taxa básica de juros
Crescimento do PIB e PIB per capita, 1948-2012
PIB
PIB per capita
1951-80
7,1%
4,3%
1981-94
1,9%
-0,1%
1995-2004
2,6%
1,0%
2005-10
4,2%
3,1%
2011-12
2,0%
1,1%
Fonte: IBGE e IPEADATA.
Fonte: IBGE e IPEADATA.
Principais características do boom de crescimento
em 2005-10
• Forte expansão do crédito, alimentada pela entrada de
capital externo, queda dos juros básicos, reformas
institucionais e forte alta no crédito público: em 2004-11,
o crédito às pessoas físicas subiu em média 21,8% ao ano
acima da inflação
• Ganho de renda com melhora nos termos de troca
• Demanda doméstica cresceu à frente do PIB, ampliando
a percepção de melhora de bem estar
PIB
Demanda doméstica
2001-05
2006-10
2,8%
1,6%
4,2%
5,6%
Forte expansão do crédito
(R$ constantes de junho de 2012, jan 2003=100)
Fontes: Banco Central e IBGE.
Como se compatibilizou a expansão da demanda
doméstica com o equilíbrio doméstico e externo?
• Maior utilização dos fatores de produção
• Maior recurso a importações para suprir mercado interno
– Apreciação do Real
– Déficit crescente em conta corrente
– Alta no preço das exportações
• Maior tolerância com a inflação
• Significativa recomposição setorial do crescimento
Total de pessoas desocupadas caiu 40% desde 2002
(MM 12 meses, fev 2003=100, regiões metropolitanas)
120
14.0%
3,8 milhões
100
12.0%
80
10.0%
8.0%
60
PEA
40
6.0%
Pop Des
20
Tx Des
2.0%
2003.02
2003.08
2004.02
2004.08
2005.02
2005.08
2006.02
2006.08
2007.02
2007.08
2008.02
2008.08
2009.02
2009.08
2010.02
2010.08
2011.02
2011.08
2012.02
0
4.0%
960 mil
20% do
aumento da
população
ocupada
Apreciação do Real ajudou no controle da inflação
e a viabilizar boom de importações
(1980/12 a 2012/5, MM 12 meses)
Taxa de câmbio - efetiva real
(2005=100)
Valorização
de 39%
Exportações e importações (variação em 12 meses)
Valorização cambial desacelera
exportações, ao mesmo tempo em que
estimula importações
Fonte: Funcex / IPEADATA.
Preços de exportações e importações e termos
de troca (em US$, 2006=100)
Saldo em conta corrente: valor efetivo e com
exportações e importações a preços de 2003.1
(US$ bilhões)
Maior tolerância com a inflação
Inflação anual de preços ao consumidor (IPCA)
Taxas de expansão do PIB setorial (% a.a.)
PIB
Agropecuária
Ext Mineral
Ind Transf
Construção
SIUP
Comércio
Transporte
Serv Informação
Interm Financeira
Ativ Imobiliárias
Adm, Saúde e Educação Pub.
Outrso Serv.
1998/2004
2005/2011
Difference
(p.p.)
2.3
4.8
4.3
1.7
-0.2
2.1
1.0
1.4
8.2
0.5
3.6
3.0
2.2
3.7
3.3
4.8
1.6
4.8
4.2
5.2
3.6
4.4
8.9
2.9
2.2
3.9
1.4
-1.5
0.5
-0.1
4.9
2.1
4.2
2.2
-3.7
8.5
-0.7
-0.9
1.7
20
03
20 T1
03
20 T3
04
20 T1
04
20 T3
05
20 T1
05
20 T3
06
T
20 1
06
20 T3
07
20 T1
07
20 T3
08
20 T1
08
20 T3
09
20 T1
09
20 T3
10
20 T1
10
20 T3
11
T
20 1
11
20 T3
12
T1
Alta no custo unitário do trabalho
reduz competitividade
500
450
400
350
Earnings /ERR
Labor Productivity
ULC
300
250
200
150
100
50
0
As lições erradas podem estar sendo extraídas
do bom desempenho de 2005-10
• O rápido crescimento do PIB em 2005-10 reflete os
bons fundamentos econômicos, mas também o cenário
externo favorável e fatores insustentáveis no médio
prazo
• Há o risco, porém, de que as lições erradas estejam
sendo tiradas:
– O papel da estabilidade macro e das reformas dos anos
1990 está sendo subestimado.
– A contribuição da intervenção estatal, via crédito público
e seleção de campeões nacionais, está sendo
superestimada
• A queda recente no crescimento não reflete só a crise
externa, mas também restrições de oferta
Influência do contexto externo
• O crescimento do PIB da America Latin subiu de 2.1% a.a.
em 1995-2002 para 4.1% a.a. em 2003-10, a mesma
aceleração que no Brasil.
• A taxa de desemprego também despencou em outros
países latino americanos, em alguns casos até mais do
que no Brasil: entre 2003 e 2010, ela caiu 10,1 p. p no
Uruguai, 9,5 p.p. na Argentina e Venezuela, e 7,2 p. p. no
Panamá.
• Em 2011 o Brasil apresentou o menor crescimento na
América do Sul, em 2012 deve ficar à frente apenas do
Paraguai.
Há algo de verde-amarelo na queda do crescimento
Taxas de crescimento do PIB (médias, % a. a.)
1995-2004
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Panamá
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
Média
2005-10
2011-12
1.4
3.1
2.5
4.8
2.3
2.8
2.6
4.4
1.4
3.5
0.5
7.2
4.8
4.3
4.3
4.6
4.0
2.0
8.2
5.2
7.2
6.0
6.5
5.0
2.0
5.1
5.3
6.1
3.8
9.1
1.2
6.2
4.6
1.3
2.6
4.9
5.2
4.5
5.0
Perspectivas e Riscos
• Fundamentos macroeconômicos são bons, mas ...
• Espaço para recorrer a trabalhadores desempregados,
apreciar o Real, elevar o déficit em conta corrente e manter o
ritmo de expansão do crédito está se estreitando
• Mesmo com baixo crescimento em 2012 (1,3%), inflação vai
ficar acima da meta (5,3%)
• Perspectivas podem se complicar com normalização do
cenário externo e redução da liquidez internacional: menos
crédito, mais desemprego, mais inadimplência, menos
crescimento
• No médio prazo, transição demográfica vai reduzir
contribuição do fator trabalho para o crescimento
Decomposição do crescimento do PIB (%)
PIB
PIB per capita
População
Emprego
PIB / trabalhador
Decomposição de
produtividade do
trabalho
Capital /
trabalhador
Capital humano
PTF
1951-80
7.1
4.3
2.8
3.0
4.1
1981-94
1.9
-0.1
2.0
2.1
-0.2
1995-2010
3.1
1.8
1.3
2.0
1.1
2005-10
4.2
3.1
1.1
1.9
2.2
2.6
0.5
0.2
0.4
0.1
1.4
0.8
-1.5
0.8
0.1
0.4
1.4
Fontes: IPEADATA, IBGE and Barro and Lee (2010).
Cenários para o PIB em 2011-20 (%)
Atual taxa de
investimento
Taxa de investimento
de 22,5%
PIB
3.5
5.0
PIB per capita
2.8
4.3
População
0.7
0.7
Emprego
1.0
1.0
PIB / trabalhador
2.5
4.0
Capital / trabalhador
1.0
2.5
Capital humano
0.8
0.8
PTF
0.7
0.7
Decomposição de
produtividade do trabalho
Taxa de investimento tem de subir
Taxa de investmento
(2005-11, % PIB)
Taxa de investimento e desembolsos do
BNDES (12 meses MM, % PIB)
Argentina
23.6
Bolívia
15.9
Brasil
18.7
Chile
22.5
Colômbia
22.7
Equador
25.4
México
25.2
Panamá
24.3
Paraguai
18.3
5%
Peru
22.8
0%
Uruguai
19.6
Média
21.7
30%
25%
Rate of Investment
BNDES/GDP
BNDES / Investment
20%
15%
1995 T4
1996 T4
1997 T4
1998 T4
1999 T4
2000 T4
2001 T4
2002 T4
2003 T4
2004 T4
2005 T4
2006 T4
2007 T4
2008 T4
2009 T4
2010 T4
2011 T4
10%
Observações finais
• Bom desempenho do Brasil em 2005-10 refletiu melhora
de fundamentos, mas também ventos externos
favoráveis e fatores não sustentáveis
• Olhando à frente, as restrições de oferta serão mais
críticas do que em 2005-10
• A volta de taxas elevadas de crescimento vai exigir
maiores taxas de investimento e aumento da
produtividade
• Não é claro que o governo vai adotar as políticas e
reformas necessárias:
– Fundamentos macro são relativamente bons, mas
– Grau de tolerância com inflação ainda não testado;
– Viés estatizante e de políticas setoriais fragmentadas não ajuda
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Armando Castelar Pinheiro IBRE/FGV – IE/UFRJ