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6 I feminino I Domingo, 11 de Fevereiro de 2007
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O ESTADO DE S. PAULO
O ESTADO DE S.PAULO
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Domingo, 11 de Fevereiro de 2007
I feminino I 7
Cyan Magenta Amarelo Preto
MARCELO BARABANI/AE
Paranãoperderoeixo
FOTOS MARCOS MENDES/AE
Ciça Vallerio
Por mais que as taxas de desemprego tentem sinalizar
umamelhora,oíndicebrasileiroainda permanecenum patamar elevado. Quem tem seu
emprego, portanto, tenta
agarrá-lo com unhas e dentes.
E encara jornadas de trabalho
cada vez mais puxadas. Atento a esse cenário, o instituto
de pesquisa Market Analysis
entrevistou homens e mulheres das grandes capitais do
País para identificar o impacto da vida profissional sobre a
pessoal. Descobriu que, curiosamente, as principais queixas são iguais entre os sexos.
Os 476 entrevistados listaram o que mais afeta o equilíbrio entre profissão e vida privada: não usufruir de feriados
ou dias de licença remunerada e não-remunerada, falta de
flexibilidade de horários e excesso de carga horária no trabalho. “A semelhança nas respostas, entre os dois sexos,
mostra como as mulheres estão bem preparadas para lidar com as várias funções da
vida”, observa Paloma Zimmer, analista de projetos da
Market Analysis. “Principalmente as casadas, que investem na carreira ao mesmo
tempo em que administram
seus papéis de esposa e mãe.”
É o caso da médica Mônica
Guerra, de 32 anos, que trabalha em três hospitais e precisa
rebolar para administrar sua
vida de casada e um filho de 10
meses. Pelo menos ela conta
com a ajuda de seus pais e dos
sogros – o que não a impede de
ficar no sufoco algumas vezes.
Nãoraramente,échamadapa-
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2%
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Pesquisa aponta quais
são os fatores que
podem contribuir para
o equilíbrio entre vidas
profissional e pessoal
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100%
COMPORTAMENTO
ra atender um paciente e acaba levando o filho ao hospital.
Já precisou também dos préstimos de uma amiga, para que
ficasse à noite com a criança
porque o marido estava no
curso de mestrado.
“Pensaremqualidadedevidanesse momento é complicado”,confessa Mônica.“Não tenho tempo para cuidar de
mim e toda a minha energia
volta-se para o trabalho e os
cuidados com o bebê. O máximo que consigo é ir ao salão de
beleza, a cada 15 dias, para fazer alguma coisa rápida. Não
dá para ficar lá mais de uma
hora, pois, se levo o meu filho,
ele não agüenta muito tempo.
Seodeixoem casa,precisovoltar logo. É uma correria.”
Filho até pode tumultuar o
dia-a-dia. A pesquisa, porém,
apontou como o grande vilão
do equilíbrio entre vidas profissional e pessoal o “não gostar do trabalho que se faz”,
item que foi citado por 78,8%
das mulheres e 71% dos homens.A publicitária e executiva de negócios Roberta Bozian,de 36anos,ébastanteempolgada com seu emprego, razão pela qual ela encara numa
boa sua rotina puxada de trabalho. É comum ela extrapolarseuexpedientee nãosedesligar das obrigações profissionais nem nos fins de semana.
Uma workaholic assumida:
– Quando trabalhamos
com o que gostamos, é difícil
desligar. Também ajuda o clima de harmonia que existe entre os meus colegas de trabalho. É tão prazeroso que acabo conectada por 24 horas,
mas de uma maneira saudável. Assim, tudo flui e prospera. Já trabalhei num ambiente de canibalismo e foi péssimo, me fez muito mal. Mas
não deixo de cuidar do meu
lado espiritual: medito e procuro neutralizar sentimentos negativos.
AgerentedemarketingCarolinaGomes, de 28 anos, tambémtrabalha muito.Assimcomo Roberta, ela se realizaprofissionalmente. Para completar, sua empresa, a Unilever,
aboliu o famigerado cartão de
ponto e oferece flexibilidade
de horários, com expedientes
que podem começar às 8, 9 ou
10horas. Quem chega maiscedo, também sai mais cedo. Isso ajuda a fugir do trânsito e a
organizar as pendências pessoais. Em outro programa, o
“friday free”, quem trabalha
uma hora a mais todos os dias
da semana fica liberado após
o almoço, na sexta-feira.
“Issoémuitogostoso,agente pode viajar mais cedo e fugir do rush. São benefícios
que tornam a vida menos estressante,portanto,maisequilibrada, e muitas vezes valem
mais que um salário”, ressalta
Carolina. O seu marido também colabora. Apesar de ela
viajar a trabalho uma semana
Agrandemaioria
achaque“gostar
doquefaz”ajuda
aequilibraravida
CAROLINA GOMES – Conta com horários flexíveis no trabalho e com a compreensão do marido Rogério
por mês, ele não faz cobranças. “Adoro essas viagens,
poiséum jeitodeconhecerculturas de outros países, e ele
respeita isso.”
Segundo a pesquisa realizada pela Market Analysis, a
maioria dos entrevistados
tentou fazer alguma mudança na sua vida para melhorar
o equilíbrio no trabalho e fora
dele. A principal atitude tomada na vida privada foi “passar mais tempo com a família
e amigos”.
A consultora de empresas
Lie Tsuji (foto de capa), de 34
anos, seguiu esse caminho.
Num estalo, ela decidiu virar o
jogo após cinco anos sem férias. “Sempre havia projetos,
e achava que não poderia deixá-los para trás.” Deixou de lado seus expedientes alucinantes, que chegavam até a madrugada. Matriculou-se na
academia e,entre outras resoluções,começoua buscarequilíbrio pessoal. O mais efetivo,
porém, foi resgatar o convívio
com a família e amigos:
– Sou muito sociável, mas
percebi que estava me afastando de todos, ficando isolada, chata e amarga. Meus
pais moram no interior e não
aparecia lá porque nunca sobrava tempo, nem nos fins de
semana. Há três anos, fui mudando os hábitos gradativamente e, hoje, me sinto muito
melhor. No trabalho, estabeleci limites. Nos momentos
mais tensos, por exemplo, me
pergunto em alto: “Alguém
vai morrer?” Isso ajuda a desacelerar.
ROBERTA BOZIAN – Ela não
consegue se desligar das
obrigações profissionais
nem nos fins de semana,
mas não reclama
Receita para
uma gestão
de qualidade
VÁLVULAS DE ESCAPE
Ainda com relação à pesquisa, grande parte das mulheresentrevistadas(61,49%)respondeu “sim” para a seguinte
pergunta: “você diminuiu a
pressão psicológica indo a um
psicólogo, lendo um livro,
etc?” Cada um faz o que pode
para amenizar o estresse.
A arquiteta e designer Patrícia Ávila, de 29 anos, começou a fazerginástica, iogae natação. Mas nada melhorava
suas fortes crises de enxaqueca e insônia, resultado de seu
corre-corre diário, que invadia madrugadas e fins de semana. Só encontrou a solução
numa clínica especializada
em terapia indiana. Após passar por uma entrevista minuciosa,ela iniciouum tratamento específico, que a livrou dos
problemas.
“Na clínica, passei a fazer
a terapia shirodhara: fico deitada numa maca, em um local
de iluminação suave, enquanto a especialista vai vertendo
um fio de óleo essencial morno sobre o centro da testa”,
explica. “É o momento em
que consigo apagar, me desligar de tudo, e foi o que me
salvou das crises de estresse,
apesar de continuar com a
correria de sempre. Às vezes,
combino com uma massagem e saio renovada.”●
PATRÍCIA ÁVILA – Para
combater o estresse,
tentou ioga, ginástica e
natação, mas só a terapia
shirodhara deu resultado
MÔNICA GUERRA – Casada, mãe e médica em três hospitais
●● ● Segundo a consultora de
Recursos Humanos, Maria
Inês Felippe (www.mariainesfelippe.com.br), o tipo de gestão adotada em uma empresa
é o que vai realmente determinar a qualidade de vida de
seus funcionários. “Academia, massagens, etc, são apenas paliativos, afinal, ficamos
boa parte do dia no trabalho.
Atividades fora podem até
amenizar os efeitos de um
ambiente estressante e opressor, mas não resolvem.”
O expediente puxado, com
grande volume de trabalho,
não desgasta tanto quanto o
clima de pressão e assédio
moral. Junta-se a isso, conforme lembra Maria Inês, a
competitividade, que faz as
pessoas sentirem a necessidade de provar sua competência o tempo inteiro – maneira desgastante de garantir sua vaga. Para ela, esse é
outro item que colabora para o desequilíbrio entre vidas profissional e pessoal.
– É claro que existe o medo
de perder o emprego, mas há
empresas que estimulam a
competitividade. E não dá
para pensar em qualidade de
vida sem considerar a relação com o trabalho. Para obter equilíbrio, ele precisa ser
prazeroso. O prazer não pode
estar apenas fora da empresa. Por isso, as empresas devem oferecer condições de
trabalho melhores, preparar
mais seus líderes para serem
cobradores de resultados,
mas sem massacrar os subalternos.
NOSSACAPA
Produção: Tide Nasser
Agradecimento à Gramatura Pesos e Balanças (tel.: 3935-1012)
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