Considerações metodológicas sobre o emprego de técnicas quantitativas para um estudo sobre Centralidade Urbana Vinicius Gadis Ribeiro Doutor em Ciência da Computação Faculdade de Informática - Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Júlio Celso Borello Vargas Mestre em Planejamento Urbano e Regional Faculdade de Arquitetura - Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Resumo: O presente trabalho apresenta considerações metodológicas quantitativas aplicáveis à área de Urbanismo, visando à obtenção de um modelo matemático que represente aspectos de dinâmica social, empregando recursos computacionais – no caso, modelagem empregando análise de dados de um software matemático – no caso, Maple V ®. Resultados parciais, no que tange ao fluxo de veículos, são apresentados. O trabalho continua em andamento, contando atualmente com dados de instituições externas. 1 Introdução A morfologia de determinada parte de uma cidade pode apresentar diferentes funcionalidades. Como os edifícios e outras construções não seguem o formato do lote ou do quarteirão, tendem a apresentar as mais diversas formas. Há, de fato, grande variedade, que envolve os formatos, ligações, espaços livres, etc. das construções. E tais fatores incorrem em diferentes efeitos nas pessoas. Procede, portanto, questionar ”que impacto teriam forma e usos das construções nas ações do ser humano”? Baseado nessa questão, o projeto em andamento busca a construção de um modelo matemático, cuja definição empregue técnicas computacionais, que relacionem ou meça o impacto da topologia de determinada centralidade na circulação de pessoas. Espera-se que tal modelo, futuramente, possa ser empregado como um indicador simples de dinâmica social – bem como de seus possíveis impactos. Para tanto, foram realizadas medições in loco em quatro avenidas em Porto Alegre, bem como o emprego de técnicas da literatura e outros programas de apoio – baseadas nos conceitos de trabalho anterior (Vargas e Ribeiro, 2006; Vargas, 2003), no qual fora definido um construto para relacionar os conceitos de dinâmica social e centralidade. Nesse trabalho, algumas variáveis – que fazem parte componente do construto proposto - receberam atenção especial: • • • Morfologia – dimensões e quantidades das vias e edificações Sistema de atividades – tipo e qualidade dos estabelecimentos terciários. Fluxos – movimento de pedestres e veículos. O presente trabalho se encontra estruturado da seguinte forma: a situaçãoproblema é brevemente apresentada na seção 2. Considerações metodológicas são levantadas na seção 3, sendo os resultados parciais já obtidos resgatados na seção 4. Por fim, a seção 5 apresenta as considerações finais e próximas atividades. O anexo apresenta a tabela contendo as variáveis, seus tipos, escalas, descrições e formas de medição. 2 Situação-problema O foco metodológico do projeto é a construção do modelo matemático a partir de suas variáveis. Em um primeiro momento, está sendo focada a técnica de ajuste de curvas – embora futuramente, considerando o conjunto de curvas obtidas pelas diversas centralidades da cidade de Porto Alegre, possam ser empregadas técnicas de equações diferenciais (como grupos de simetria de Lie, por exemplo). As técnicas de ajuste de curvas têm sido amplamente utilizadas na busca de definição de modelos matemáticos – recentemente, graças à disponibilização de grandes bases de dados em meio eletrônico como, por exemplo, dados estelares (Arlinghaus, 1994). Freqüentemente, as técnicas de ajuste de curvas empregam cálculos de diferenças relacionadas à 4ª potência, para a obtenção de coeficientes que melhor se adaptem à realidade retratada (Tikhonov, 1990). Destaca-se que coeficientes maiores do que a 4ª potência incorrem em situações de instabilidade, onde pequenas alterações nos dados de entrada incorrem em grandes diferenças nos dados de saída. Assim, a construção do modelo restringe-se às medições realizadas nos diferentes tipos de grupos de dados (permanência, destino e passagem), componentes do construto. O detalhamento dos grupos de dados, origem para a constituição do construto e outras informações são apresentadas na tabela no anexo. 3 Metodologia O foco metodológico do projeto é a construção do modelo matemático a partir de suas variáveis. Em um primeiro momento, está sendo focada a técnica de ajuste de curvas. Uma série de passos deve ser realizada para o emprego dessa técnica. A seguir, são apresentados esses passos. Estabelecem-se quais variáveis têm correlação com o fenômeno em estudo. A partir dessa correlação, é possível identificar quais variáveis têm eixos ortogonais – o que possibilita a definição de fatores que afetam o fenômeno, e que pode fazer parte do modelo em questão. Assim, o construto é considerado uma combinação linear dos fatores que impactam no fenômeno estudado (Greenspan & Casulli,1988). Como há uma relação de proporcionalidade entre as variáveis envolvidas – por exemplo, passagem e fluxo -, há a necessidade de se injetar uma constante para cada relação de proporcionalidade, e então estabelecer a relação propriamente dita. O construto passa, então, a ser modelado através da seguinte relação – quando da posse das constantes: DS = k1* M + k2* T+ k3* CP-D + k4* CP-Ma + k5* CP-AL + k6* CP-SC + k7* CD-Ma + k8* CDTC + k9* CD-AGL + k10* Tr-DRN +k11* Tr-ACL + k12* Tr-AP + k13* Tr-SC + k14* V-AGLN + k15* V-PHVN + k16* V-PTC + k17* V-PVA Ou ainda, pode ser considerada em seu estado normalizado DS = (M + T) + CP(D + Ma + AL + SC) + CD(Ma + TC + AGL) + Tr(DRN + ACL + AP + SC) + V(AGLN + PHVN + PTC + PVA) , o que possibilita categorizar em cerca de 25 possíveis relações das variáveis Permanência/Destino/Passagem. Detalhamento dessas variáveis se encontra no anexo. De forma específica ao projeto em questão, pode-se considerar o seguinte algoritmo para elaboração do modelo matemático a partir dos dados 0 – seleção de conjuntos de variáveis presumidamente correlacionadas – por exemplo, fluxo, atividade, e morfologia com saúde, polícia ou fluxo de veículos; 1 – montagem da matriz de correlação entre as variáveis pesquisadas em cada grupo pré-selecionado; 2 – eliminação de variáveis presumidamente correlacionadas, que se revelaram independentes no passo anterior (ou seja, baixas correlações) 3 – criação de eixos fatoriais (criação de variável nova a partir das anteriores, para redução do número total de variáveis independentes) – formulação de novas variáveis a partir de combinações lineares das variáveis efetivamente correlacionadas (por exemplo, k1 * densidade de veículos em uma rua + k2 * fluxo de veículos) – usa-se técnica de ortogonalização de Gram-Smidt (Reich, 1991). 4 – ajuste de curvas entre os eixos fatoriais. Obtenção de funções relacionando dois ou mais eixos fatoriais, resultantes do emprego do critério dos mínimos quadrados. A seção seguinte apresenta alguns resultados parciais já obtidos. 4 Resultados parciais Nos primeiros levantamentos, foi encontrada pequena correlação em apenas uma situação - entre fluxo de veículos e integração global, conforme é apresentado na figura que se segue. Ao contrário do que se esperava a correlação entre integrações locais – Rn menores, como R3, R4, etc. Essa situação é ilustrada na figura 1, como se segue. 0,6 INTEGRAÇÃO GLOBAL 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 FLUXO DE VEÍCULOS 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 Figura 1: Relação entre Integração global e fluxo. Os dados obtidos permitem afirmar que há pequena correlação entre o fluxo de veículos e a chamada integração global – na realidade, praticamente tendendo para a reta constante. Pode-se afirmar que a integração global tem uma pequena relação com o fluxo geral de uma centralidade. Tal resultado parcial pode ter sido influenciado pela forma como dados que alimentaram o modelo foram considerados: média de veículos, não considerando diferentes horários – mas até a média de veículos por hora, além de serem dados referentes ao ano de 2003. Da mesma forma, foi observada pequena correlação entre a integração R3 e os residentes. Destaca-se, como se pode observar da figura que se segue, que a correlação dos residentes na mesma centralidade vai diminuindo à medida que se aumenta a integração, tendendo para valores cada vez menores na integração global. 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0 50 100 150 200 250 300 Figura 2: Histograma de correlação entre moradores e integração local R3. Esse resultado, embora apresente certa aderência com a realidade, não permite que se considerem tais variáveis para a construção do modelo – ou seja, essa combinação linear não seria considerada no modelo. 5 Considerações Finais e Trabalhos Futuros Os dados obtidos não permitem, por enquanto, obter-se um conjunto de combinações lineares que possibilite a definição do modelo matemático pretendido. Para tanto, faz-se necessário reavaliar os dados que alimentaram as tentativas anteriores – no caso do fluxo de veículos, a média, enquanto medida de tendência central, não aparenta ser útil. Assim, uma atividade em curso é a aquisição dos dados atualizados de fluxo de veículos, envolvendo o sentido das vias. A equipe de pesquisadores se encontra atualmente em contato com a Empresa Portoalegrense de Transportes e Circulação, para a obtenção de dados maios atualizados, bem como para a compreensão dos modelos empregados por essa organização. A atividade atual compreende ainda a contabilização dos atratores – isto é, das atividades econômicas que motivam o fluxo de pedestres, de pessoas que vem em veículos, etc. De posse desses dados, o estudo das constantes deverá ser atualizado, efetuando-se ponderações que possam revelar – dentro do poder atrator de cada tipo de atividade econômica, o que poderá influir nos valores de cada kn da combinação linear. Agradecimento Os autores agradecem o apoio prestado pela FAPERGS, pela concessão de Bolsas de Iniciação Cientifica e ao Centro Universitário Ritter dos Reis, pelo suporte a apoio financeiro. Referências ARLINGHAUS, S. L. Practical Handbook of Curve Fitting. Boca Raton, FL: CRC Press, 272 p.1994. GREENSPAN, D. & CASULLI, V. Numerical Methods for Applied Mathematics, Science and Engineering. Redwood: Addison-Wesley, 352 p.1988. REICH, J. G. Curve Fitting and Modeling for Scientists and Engineers. New York: MCGRAW-HILL TRADE, 1991. TIKHONOV, A. N. et al. Numerical Methods for the Solution of ill-posed Problems. Moscou: Nauka, 268 p. 1990. VARGAS, Júlio C. Centros Urbanos Vitais: Configuração, Dinâmica Funcional e Caráter das ruas comerciais de Porto Alegre. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, PROPUR/UFRGS, 2003 VARGAS, J. C. B. ; RIBEIRO, V. G. . Relação entre Centralidade e Dinâmica Social: uma proposta de construto. In: II Semana Científica do UniLaSalle, 2006, Canoas. Anais da II Semana Científica do UniLaSalle. Canoas : Salles, 2006. Variável Permanência Fator influência Morador de Ident. M Tipo de Origem variável Razão Censo Trabalhador T Razão Censo Cons. próximo CP-D Razão Censo CP-Ma Nominal A definir * CP-AL (IL-R3) Razão Space Syntax CP-SC Razão Space Syntax CD-Ma Nominal A definir * Destino Cons. distante Forma de processar o dado Obtenção de dados quantitativos Construção do histograma Separação pelos percentis (área sob o gráfico) Obtenção de dados quantitativos Construção do histograma Separação pelos percentis (área sob o gráfico) Obtenção de dados quantitativos Construção do histograma Separação pelos percentis (área sob o gráfico) Análise a partir da observação Análise Literária Prática Urbanística Definição do “Poder Atrator” A partir do Plano Emprego de SW de Apoio Análise visual do Plano Emprego de SW de apoio Análise a partir da observação Análise Literária Granularidade Resultado Economia Categorização em residencial por 100 escala nominal de 5 metros lineares níveis pelos percentis (20% da área) Economia comercial Categorização em por 100 metros escala nominal de 5 lineares níveis pelos percentis (20% da área) Habitante hectare por Categorização em escala nominal de 5 níveis pelos percentis (20% da área) N (=5) Categorias --- Categorização em escala nominal de 5 níveis por atribuição Categorização escala nominal em Por centro, % de Categorização sobreposição escala nominal em N (=5) Categorias Categorização em escala nominal de 5 níveis por atribuição Transeunte CD-TC Razão EPTC CD-AGL (RN) Razão Space Syntax Tr-DRN Razão Censo Tr-ACL Razão Tr-AP Razão Space Syntax EPTC Tr-SC Razão Space Syntax V-AGLN (RN) Razão Space Syntax V-PHVN Razão V-PTC Razão Plano Diretor EPTC Passagem Veículo(trânsito) Prática Urbanística Definição do “Poder Atrator” Contagem manual a Valor absoluto por Categorização em partir de dados da SMT unidade escala nominal de 5 níveis pelos percentis (20% da área) A partir do Plano --Categorização em Emprego de SW de escala nominal Apoio Obtenção de dados Economia Categorização em quantitativos residencial por escala nominal de 5 Construção do hectare níveis pelos histograma percentis (20% da Separação pelos área) percentis (área sob o gráfico) Emprego de SW de --Categorização em Apoio escala nominal Contagem manual a Valor absoluto por Categorização em partir de dados da SMT unidade escala nominal de 5 níveis pelos percentis (20% da área) Análise visual do Plano Por centro, % de Categorização em Emprego de SW de sobreposição escala nominal apoio A partir do Plano --Categorização em Emprego de SW de escala nominal Apoio Análise de Dados 5 níveis Categorização em Estatísticos de PoA escala nominal Contagem (trabalho de Valor absoluto por Categorização em campo) unidade escala nominal de 5 níveis pelos percentis (20% da área) V-PVA Razão EPTC Contagem (trabalho de Valor absoluto por Categorização em campo) unidade escala nominal de 5 níveis pelos percentis (20% da área)