Obtenção de tecidos planos
Profa.. Mitiko Kodaira de Medeiros
Caracteriza-se pelo entrelaçamento de dois conjuntos de fios em ângulo de
90° (ou próximo a isso). Um desses conjuntos fica disposto no sentido longitudinal
do tecido e é conhecido por urdume, enquanto o outro fica disposto no sentido
transversal (perpendicular ao urdume, portanto) e é conhecido por trama.
Esse entrelaçamento é obtido em um equipamento apropriado conhecido
por tear.
Noções de padronagem
A maneira pela qual os fios de urdume entrelaçam-se com os de trama
determina o padrão ou ligamento do tecido e, em larga escala, o tipo de tecido
produzido.
Os padrões são desenvolvidos conforme a aparência, a finalidade e também
o grau de durabilidade desejado.
Uma construção simples necessita de apenas dois quadros de liços, uma
vez que a trama entrelaça-se com o urdume cruzando-o um fio por cima e um fio
por baixo, sucessivamente. Conforme o padrão torna-se mais complexo, aumenta
a quantidade de quadros de liços necessária.
As estruturas básicas
Existem três ligamentos (ou padrões) básicos, que são origem dos mais
complexos: a tela, a sarja e o cetim.
O ligamento tela:
É o ligamento de construção mais
simples existente e, por conseqüência, a que
utiliza menos quadros e os teares menores.
Também é conhecido por ligamento tafetá,
porém não se deve confundir o nome do
ligamento com o do tecido de seda ou de
acetato que, paradoxalmente, não tem
necessariamente a tela ou tafetá como base.
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
11
O fio de trama nesta construção, cruza-se com o urdume, um fio por cima e
um fio por baixo, sucessivamente. No retorno, o fio de urdume que estava por
cima passa a ficar por baixo e vice-versa. Se os fios tiverem espessura adequada
e estiverem próximos entre si, o tecido será firme e terá boas características para
vestuário.
A estrutura apresenta uma aparência plana. O desenho não sobressai, exceto
com uso de cores ou estruturas contrastantes.
Tem como propriedade a facilidade na produção. Portanto, é interessante na
produção em série e em grande escala. Tem relativa durabilidade, dependendo
dos fios utilizados e do balanceamento entre fios de urdume e de trama. É bastante
utilizado em artigos estampados ou outros processos de acabamento.
Podem-se produzir tecidos como: cretone, popeline, tricoline, percal, voil,
cambraia, tafetá etc.
É utilizado para uso em geral: vestuário, cama, mesa e também para uso
técnico.
O ligamento sarja:
É uma estrutura que possui repetição mínima
de três fios de urdume e trama e distingue-se por
sua diagonal bem definida. Uma inversão
espaçada dessa diagonal possibilita um aspecto
em ziguezague, conhecido por espinha-de-peixe.
Outros efeitos visuais podem ser obtidos por
variações da diagonal e/ou das cores dos fios,
formando um pied du poule, príncipe de Gales.
O entrelaçamento em diagonal possibilita maleabilidade e resiliência aos
tecidos. O tecido em ligamento sarja é freqüentemente mais firme do que o
tecido em ligamento tela, tendo menos tendência a se sujar, apesar de ser de
lavagem mais difícil.
Podem-se produzir tecidos como: brim, denim (para jeans), sarja, serge,
foulard, surah, tweed e gabardine.
É utilizado para vestuário em geral, do mais fino ao mais rústico, conforme o
material.
2
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
O ligamento cetim:
É similar à sarja, porém é geralmente
utilizado em repetições de cinco a doze fios
de urdume e de trama. A principal diferença
entre os dois ligamentos é que a diagonal não
é claramente visível no cetim. Ela é
intencionalmente interrompida a fim de
contribuir para uma superfície lisa e lustrosa.
O deslocamento dos pontos é maior do que
um na sua construção.
A textura não é tão visível do lado direito porque os fios que o compõem são,
geralmente, mais finos e em maior quantidade do que os que formam o avesso.
Pode-se ter efeito de urdume ou trama, dependendo do conjunto de fios
predominante no lado direito do tecido. Compacto, suave ao tato e liso.
Permite que tenha bom caimento, as flutuações são destacáveis e com grande
possibilidade de esgarçamento.
Conhecido como tecido cetim e usado em roupas "habilleé", forro, decoração.
Panamá
É a estrutura com dois ou mais fios de urdume, entrelaçando simultaneamente
um ou mais fios de trama e resultando em uma estrutura balanceada.
Variação de tela, com boa aparência, é atrativa, podendo usar também fios de
cores contrastantes ou urdume de uma cor e trama de outra.
Tecido de baixo custo de produção e bom caimento. Razoavelmente, flexível e
resiliente. É menos durável do que a tela, devido aos pontos de atrito.
Podem-se produzir artigos como: panamá, canvas, oxford etc.
Maquinetado
Estrutura em pequenos desenhos geométricos, compostos por fios com
flutuações curtas criadas com auxílio de maquineta para quadros de liços. A
aparência é de um desenho decorativo com superfície decorada. Tecido atraente,
bem encorpado e de cores variadas ou não. Podem-se produzir tecidos como
piquê, granité, adamascados etc.
É amplamente utilizado no vestuário, decoração, em roupas de mesa e banho
e em artigos técnicos.
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
33
Crepe
A estrutura é uma combinação de ligamentos tela, sarja ou cetim. Caracterizase por ter uma superfície texturada, irregular e granulada. Tem um toque
característico. Pode ter boa resistência, resiliência e bom caimento, dependendo
de sua compactação, estrutura e torção da fibra e do fio.
Os principais artigos são crepe, granité e pode ser usado em vestuário:
camisaria, "lingerie" etc.
Tecido duplo
Estruturado a partir de entrelaçamentos independentes e unidos entre si por
ligamentos de amarração ou de reforço.
Tem duas faces diferentes, em cor ou estrutura, muitas vezes reversíveis.
Pode ser leve ou pesado, dependendo do material e fio utilizado, transformandoo, às vezes, em tecidos fortes, de boa proteção térmica ou tornando-o volumoso
(com enchimento).
Podem-se produzir cobertores, revestimentos de móveis etc.
Veludo
Formação de um tecido de pêlos cortados no lado direito. Podem ser por
urdume ou por trama.
Tem toque suave, aparência de escova (urdume = tecido liso) ou pode ter
colunas de pêlos cortados (trama= colunas), conhecido como cotelê.
Tecido macio, resiliente e de boa proteção térmica. Efeito de superfície
interessante.
Encontram-se tecidos como veludo e veludo cotelê. Utilizado em vestuário
fino, de proteção, decoração e alguns usos técnicos.
Felpudo
Estruturado com conjunto extra de fios de urdume que formam os elos na
superfície de um tecido base.
Tem efeito tridimensional formado pelos elos de felpa ancorados
perpendicularmente ao tecido base. Podem-se formar elos em ambas as faces,
sendo que cortados em uma delas, forma-se uma face aveludada.
Tecido macio, resiliente e de boa proteção térmica. Efeito de superfície
interessante e absorvente em graus variados, dependendo da compactação dos
elos e da torção dos fios de felpa.
Utilizado como toalhas e roupões de banho ou de praia.
4
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
Jacquard
Estruturado a partir da combinação de ligamentos e padrões variados, sendo
que cada fio de urdume pode ser controlado individualmente a cada passagem
da trama.
O efeito é de uma quantidade ilimitada de desenhos de diversos tipos de
fundo. Pode-se obter efeitos multicolores.
Tem a propriedade de ser atrativa com bom caimento, porém de durabilidade
sujeita à qualidade dos ligamentos e fios utilizados.
Obtêm-se tecidos como brocado, damasco e matelassê que podem ser
utilizados para decoração, vestuário, roupas de cama e mesa, etiquetas etc.
Giro Inglês ou Leno
Estruturado com fios de urdume trançados entre si a cada inserção de trama.
Tem aparência de malha aberta presa com segurança. Pode ser transparente
ou não e pouco durável devido à trama aberta.
Obtêm-se tecidos como grenadine e madras, que podem ser utilizados para
vestuário: blusas, camisas, decoração etc.
I - Introdução
Características dos artigos de malha.
A estrutura e geometria dos artigos de malha diferenciam-se substancialmente
dos tecidos de tecelagem, em que os fios de trama e urdume entrelaçam-se
formando uma armação bastante rígida (figura1).
Na malha, ao contrário, um fio assume a forma de laçadas as quais passam
por dentro das laçadas de outro fio e assim sucessivamente.
tecido
malha
Figura.1 - Diferença entre os entrelaçamentos de tecido e malha.
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
55
Essas laçadas (ou malhas) de formato senoidal sustentam-se entre si e são
livres para moverem-se umas sobre as outras quando submetidas à tensão,
seja no sentido da largura ou no sentido do comprimento do artigo.
Essa propriedade caracteriza a “flexibilidade” ou a “capacidade de
modelagem” dos artigos de malha, os quais podem, dessa forma, abraçar as
mais complexas formas do corpo humano.
Além disso, os artigos de malha apresentam certa capacidade de
“recuperação elástica”, ou seja, uma vez retirada, a solicitação recupera o seu
formato inicial, total ou parcialmente. Entretanto, deve-se notar que, se de um
lado as características de flexibilidade e recuperação elástica são altamente
interessantes na aplicação em determinados artigos, trazem implicitamente uma
conseqüência bastante negativa em alguns casos que se reflete em “deformação”
e problemas de “estabilidade dimensional”, o que torna difícil a aplicação de
malhas em artigos em que a rigidez, a não-deformação, o bom caimento são
importantes (figura 2).
normal
esticado no comprimento
esticado na largura
Figura 2 - Deformações em malhas.
Outra característica importante dos artigos de malha é a “porosidade” que
está diretamente relacionada com conforto fisiológico térmico.
Em temperaturas elevadas, a transpiração é facilitada, permitindo ao suor o
evaporamento pelos espaços existentes no artigo.
Em temperaturas baixas, a porosidade, aliada ao aspecto volumoso com
que são constituídos os produtos de malha para inverno, permite formar dentro
do artigo um colchão de ar que atua como isolante térmico, dificultando a perda
de calor do corpo para o meio ambiente. No entanto, é evidente que todas as
características citadas podem variar bastante em intensidade em função de
alguns parâmetros de construção como:
• o tipo de fibra utilizada;
• o tipo de fio utilizado;
• o título do fio utilizado;
• o tipo de ligação (estrutura) utilizada;
• o tipo de máquina utilizada.
6
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
Tipos de malharia
A malharia é dividida em dois grupos básicos, a saber: malharia de trama e
malharia de urdume. O primeiro grupo abrange as máquinas retilíneas, circulares
(de grande diâmetro) e meias (circulares de pequeno diâmetro). O segundo
compreende as máquinas Kettenstuhl e Raschel.
A diferença fundamental entre os dois grupos consiste no fato de que na
malharia de trama a formação das malhas processa-se no sentido da largura do
tecido (sentido da trama), enquanto que na malharia de urdume as malhas se
formam no sentido do comprimento do tecido (sentido do urdume).
Além dessa diferença, que constitui a própria definição dos dois processos
(figura 3), existem outras características bem distintas, das quais destacamos:
• em malharia de trama, os artigos são sempre desmalháveis; enquanto que
em malharia de urdume os artigos são, na maioria das vezes, indesmalháveis;
• os artigos de malharia de urdume permitem, via de regra, construções com
melhor estabilidade dimensional que os de malharia de trama.
trama
urdume
Figura 3 - Diferença entre malha de trama e malha de urdume.
Em malharia de trama os tipos de máquinas subdividem-se em:
•
•
•
retilíneas;
circulares de grande diâmetro (circulares);
circulares de pequeno diâmetro (meias).
Retilínea
Circular
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
77
Já as máquinas de malharia de urdume subdividem-se em:
•
•
Kettenstuhl;
Raschel.
II. Malharia de trama
A. Princípios gerais de malharia de trama
1. Introdução:
Os tecidos de malha em malharia de trama são obtidos a partir de um único
fio que faz evoluções em diversas agulhas, formando uma carreira de sucessivas
laçadas que irão entrelaçar com as laçadas da carreira seguinte.
Na construção do tecido, observamos dois elementos distintos:
•
Carreira de malha:
Refere-se a uma série de laçadas distribuídas horizontalmente no tecido ao
longo de toda sua largura. Todas as laçadas (malhas) de uma carreira são
formadas pelo mesmo fio (figura 4).
•
Colunas de malha:
Refere-se a uma série de laçadas distribuídas verticalmente no tecido, ao
longo de todo o seu comprimento.
Todas as malhas de uma mesma coluna são formadas numa mesma agulha
(figura 5).
Figura 4 - Carreira de malha
Figura 5 - Coluna de malha
Em tecidos de malha por trama, se puxarmos um fio da última carreira, as
laçadas irão se desfazer e o tecido poderá ser desmalhado com facilidade.
8
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
2. Noção de densidade da malha:
A densidade de um artigo de malha e, conseqüentemente, as propriedades
decorrentes, tais como gramatura (peso g/m2), estabilidade dimensional,
elasticidade etc. é função basicamente dos seguintes parâmetros:
• Tipo de estrutura (ligação);
• Tipo e título do fio;
• Finura da máquina;
• Regulagem de ponto.
Se considerarmos um artigo de estrutura determinada e considerando um
determinado fio, teremos:
•
•
Quanto mais grossa for a máquina, menos denso será o artigo;
Quanto mais aberto for o ponto, menos denso será o artigo.
Assim, a malha apresentará menor densidade se utilizarmos máquinas de
menor finura e/ou aumentarmos o ponto.
De fato, podemos considerar que a finura seja responsável pelo
distanciamento entre as colunas, enquanto o ponto é responsável pelo
distanciamento entre as carreiras.
Malhas menos densas (mais abertas) apresentam, via de regra, menor
gramatura, menor estabilidade dimensional, maior tendência à deformação, toque
mais macio, maior produção em metros (considerando constantes os parâmetros
de máquina, estrutura e fio).
3. Meia malha simples:
O artigo formado pelo processo descrito chama-se 1/2 malha simples e
apresenta dois lados tecnicamente distintos: direito e avesso.
No lado direito, destacam-se as pernas das malhas em forma de V. No tecido,
destacam-se linhas verticais. As malhas vistas desse lado são chamadas malhas
direitas (figura 6).
direito
avesso
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
99
No lado avesso, destacam-se as cabeças e os pés das malhas. No tecido,
destacam-se linhas horizontais. As malhas vistas desse lado são também
chamadas malhas esquerdas (figura 7).
III. Noções de malharia de urdume
As malhas de urdume são produzidas na máquina utilizando fios bobinados
em carretéis, ao contrário das de malharia de trama que são alimentadas por
fios em cones individuais (figura 8).
Figura 8 - Carretel de alimentação de malharia por urdume.
Essas máquinas utilizam uma série de barras onde são passados os fios
oriundos dos carretéis de urdume, as quais movimentam os fios de forma a
alimentar as agulhas e formar a estrutura desejada. Assim sendo, as ligações
são determinadas pelo movimento dessas barras (figura 9).
Figura 9 - Formação de malha por urdume.
Em máquina Kettenstuhl, os artigos são normalmente lisos e mais finos (as
finuras mais comuns no Brasil são 28 e 32).
Os artigos mais comuns são os jérseis (100% poliamida e poliamida/
elastano), cetins etc.
10
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
Figura 9 - Jérsei poliamida/elastano.
As máquinas Raschel caracterizam-se pela maior quantidade de barras,
permitindo a produção de artigos desenhados e geralmente mais pesados que
os de Kettenstuhl para aplicação em forma de rendas, cortinas, redes etc. (figura
10).
Máquinas Raschel para cortinas
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
1111
IV. Principais artigos, aplicações e fios utilizados em malharia
Quadro.I - Máquinas Kettenstuhl
Quadro II - Máquinas Raschel
Quadro III - Máquinas retilíneas
12
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
Quadro IV Máquinas circulares
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
1313
14
Obtenção de tecidos planos / Anhembi Morumbi
Download

Obtenção de tecidos planos - Universidade Anhembi Morumbi