Revista de Políticas Públicas ISSN: 0104-8740 [email protected] Universidade Federal do Maranhão Brasil Lins Leal, Aluízio; Rocha de Sá, Maria Elvira; Fialho Nascimento, Nádia Socorro; de Sousa Cardoso, Welson PRODUÇÃO MINERAL NO ESTADO DO PARÁ E REFLEXOS NA (RE)PRODUÇÃO DA MISÉRIA: Barcarena, Marabá e Parauapebas Revista de Políticas Públicas, vol. 16, núm. 1, enero-junio, 2012, pp. 157-167 Universidade Federal do Maranhão São Luís, Maranhão, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321128742014 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto 352'8d20,1(5$/12(67$'2'23$5È(5()/(;261$5(352'8d2'$0,6e5,$%DUFDUHQD0DUDEiH Parauapebas PRODUÇÃO MINERAL NO ESTADO DO PARÁ E REFLEXOS NA (RE)PRODUÇÃO DA 0,6e5,$%DUFDUHQD0DUDEiH3DUDXDSHEDV Aluízio Lins Leal Universidade Federal do Pará (UFPA) Maria Elvira Rocha de Sá Universidade Federal do Pará (UFPA) Nádia Socorro Fialho Nascimento Universidade Federal do Pará (UFPA) Welson de Sousa Cardoso Universidade Federal do Pará (UFPA) 352'8d2 0,1(5$/ 12 (67$'2 '2 3$5È ( 5()/(;26 1$ 5(352'8d2 '$ 0,6e5,$ %DUFDUHQD Marabá e Parauapebas 5HVXPR2WUDEDOKRPRVWUDTXHQRFRQWH[WRGDFULVHFDSLWDOLVWDRFDSLWDOLQWHQVL¿FDVXDH[SORUDomRVREUHRVSDtVHVHUHJL}HV com abundantes recursos naturais, essenciais à acumulação capitalista. Aponta grandes projetos mínero-metalúrgicos FRPRLQVWUXPHQWRVSULYLOHJLDGRVGHVVDH[SORUDomRTXHSURGX]FXVWRVVRFLRDPELHQWDLVGHJUDQGHVSURSRUo}HV(QIDWL]D TXHHVSDoRVFRPRD$PD]{QLDEUDVLOHLUDHQHODFRPRFDVRHPEOHPiWLFRR(VWDGRGR3DUiGHVWDFDVHSHODSURGXomR PLQHUDOPDVWDPEpPSHODSURGXomRGHULTXH]DGHGHVLJXDOGDGHVVRFLDLVHSHODPiGLVWULEXLomRGHUHQGD'HVWDFD WUrV PXQLFtSLRV SDUDHQVHV RQGH D DSURSULDomR SULYDGD GDV ULTXH]DV SURGX]LGDV VRFLDOPHQWH VH HQFRQWUD QD UDL] GD SURGXomRHUHSURGXomRGHH[SUHVV}HVGD³TXHVWmRVRFLDO´QDUHJLmR 3DODYUDVFKDYH$PD]{QLDJUDQGHVSURMHWRVGHVLJXDOGDGHVVRFLDLV MINERAL PRODUCTION IN THE STATE OF THE PARÁ AND REFLEXES IN THE (CRIMINAL) PRODUCTION OF THE 0,6(5< 5 %DUFDUHQD0DUDEiDQG3DUDXDSHEDV $EVWUDFW,QWKHFRQWH[WRIWKHFDSLWDOLVWFULVLVWKHFDSLWDOLQWHQVL¿HVLWVH[SORLWDWLRQRIFRXQWULHVDQGUHJLRQVZLWKDEXQGDQW natural resources essential to the capitalist accumulation. It points out great Mining-metallurgical Projects as privileged LQVWUXPHQWVRIWKLVH[SORLWDWLRQZKLFKSURGXFHVVRFLRHQYLURQPHQWDOFRVWVRIJUHDWSURSRUWLRQV,WHPSKDVL]HVWKDWVSDFHV OLNHWKH%UD]LOLDQ$PD]RQUHJLRQDQGLQVLGHLWDVDQHPEOHPDWLFFDVHWKH6WDWHRI3DUiLVGLVWLQJXLVKHGIRUWKHSURGXFWLRQ RI ZHDOWK ± IRU PLQHUDO SURGXFWLRQ UHJDUGOHVV RI LWV VRFLDO XQHTXDOLWLHV DQG EDG GLVWULEXWLRQ RI LQFRPH 7KLV UHVHDUFK IRFXVHVWKUHHPXQLFLSDOLWLHVIURP3DUiLQZKLFKSULYDWHDSSURSULDWLRQRIWKHULFKHVSURGXFHGVRFLDOO\UHVLGHVLQWKHURRW RIWKHSURGXFWLRQDQGUHSURGXFWLRQRIH[SUHVVLRQVRIWKH³VRFLDOTXHVWLRQ´ .H\ZRUGV$PD]RQODUJHSURMHFWVVRFLDOLQHTXDOLWLHV Recebido em: 28.02.2012. Aprovado em: 09.04.2012. R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 157 158 Aluízio Lins Leal, Maria Elvira Rocha de Sá, Nádia Socorro Fialho Nascimento e Welson de Sousa Cardoso 1 INTRODUÇÃO A conjuntura econômica contemporânea, PDUFDGD SHOD DJXGL]DomR GD FULVH FDSLWDOLVWD QD primeira década deste século e pelo histórico privilegiamento do crescimento econômico, em detrimento de um “desenvolvimento social”, tem JHUDGR XP HPSREUHFLPHQWR JHQHUDOL]DGR TXH VH manifesta com maior intensidade nos países de capitalismo periférico. Apesar de relatórios das Nações Unidas indicarem uma redução de 85% nos tQGLFHVGHSREUH]DH[WUHPD1, em 2008, nos países GD $PpULFD /DWLQD ± FRP GHVWDTXH SDUD R %UDVLO &KLOHH3HUX±HVWXGRVFUtWLFRVVREUHDJOREDOL]DomR do capital têm apontado para o acirramento das desigualdades sociais. O crescimento do produto industrial bruto e o aumento da produtividade per FDSLWDGDVH[SRUWDo}HVRXGHTXDOTXHU outro indicador físico poderiam ser SRVLWLYRVVHPTXHLVVRFRUUHVSRQGHVVH a uma redução das desigualdades. Pelo contrário, em vários países do Sul R FUHVFLPHQWR GD ULTXH]D H[WUDtGD H gerada acarretou aumento da miséria e das diferenças sociais. (CATTANI, 2010, p. 6). Apesar dos avanços econômicos – centrados no desenvolvimento de um padrão industrial pósVHJXQGDJXHUUDPXQGLDO±TXHJDUDQWLUDPDR%UDVLO ID]HUSDUWHKRMHGHXPUHVWULWRJUXSRGHSDtVHVFRP grandes perspectivas de crescimento econômico2, p IDWR TXH RV JRYHUQRV QmR IRUDP H¿FD]HV QD implementação de mecanismos redistributivos. Os chamados programas de transferência de renda – GHQWUHRVTXDLVVHGHVWDFDR3URJUDPD%ROVD)DPtOLD 3%)3 –, têm sido pauta da agenda governamental de YiULRVSDtVHVHHPERUDLQVX¿FLHQWHVMiTXHVmRDOYR de inúmeras avaliações críticas, têm sido indicados FRPR UHVSRQViYHLV SHOD TXHGD GD GHVLJXDOGDGH brasileira ocorrida entre 1995 e 2004. (CATTANI, 2010, p. 62). A mensuração da desigualdade social – IRFDGDQDUHQGD±LQGLFDTXHR%UDVLOSRVVXL GHVXDSRSXODomRGHQWURGRVSDUkPHWURVGDSREUH]D HQTXDQWRpFRQVLGHUDGDLQGLJHQWH&20,662 ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E &$5,%( ,QVWUXPHQWRV GH PHQVXUDomR GDV GHVLJXDOGDGHVFRPRR&RH¿FLHQWHGH*LQL4 indicam TXHR%UDVLOQRSHUtRGRGHDGHFUHVFHX GH SDUD HQTXDQWR TXH HP WHUPRV GR Índice de Desenvolvimento Humano/IDH5 R %UDVLO VHHQFRQWUHKRMHQDSRVLomRGRUDQNLQJPXQGLDO sendo considerado assim um país com Índice de Desenvolvimento Humano alto. (PROGRAMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2010). (QWUHWDQWR R TXH VH REVHUYD p TXH DV Do}HV FKDPDGDV GH FRPEDWH j SREUH]D DSHVDU R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 GH VLJQL¿FDWLYDV QmR UHVXOWDP QD GLPLQXLomR GDV GHVLJXDOGDGHV VRFLDLV TXH LQFOXVLYH VH DFLUUDP HP GHWHUPLQDGRV SDtVHV PHVPR DTXHOHV considerados de economia avançada. (CATTANI, $R GHVFRQVLGHUDU D UDL] GD SURGXomR GD miséria, isto é, a própria acumulação capitalista, VH GHVYLD R IRFR SDUD DQiOLVHV TXH FHQWUDGDV HP DVSHFWRVHFRQ{PLFRVFRPGHVWDTXHSDUDDUHQGD LQFHQWLYDP DV FKDPDGDV SUiWLFDV ¿ODQWUySLFDV o desenvolvimento de capacidades individuais, empoderamento de pobres etc. A disseminação dessas ideias contribui para um obscurecimento GDV DQiOLVHV TXH GHPRQVWUDP R DFLUUDPHQWR GD desigualdade entre as classes e reforçam, assim, R LGHiULR UHIRUPLVWD GH FXQKR FRQVHUYDGRU TXH coloca única e exclusivamente no indivíduo, a culpa SHODVXDVLWXDomRGHSREUH]D $UDL]GRVHOHYDGRVtQGLFHVGHGHVLJXDOGDGHV sociais – especialmente em países periféricos FRPR R %UDVLO ± VH HQFRQWUD QD DSURSULDomR SULYDGD GDV ULTXH]DV SURGX]LGDV VRFLDOPHQWH H VH expressam através de inúmeras demandas por saúde, educação, trabalho, saneamento, habitação etc. A estreita relação entre essas demandas pode ser observada, por exemplo, nos dados da Síntese dos Indicadores Sociais 2010 (INSTITUTO %5$6,/(,52 '( *(2*5$),$ ( (67$7Ë67,&$ DTXHDSUHVHQWDPXPDDYDOLDomRGHDOJXPDV características e condições de moradia dos domicílios na base da distribuição de rendimentos (até ½ salário mínimo de rendimento domiciliar SHU FDSLWD 2 UHIHULGR HVWXGR LQGLFD TXH TXDQWR menor o rendimento médio, menor o número de GRPLFtOLRV TXH SRVVXHP FRQGLo}HV DGHTXDGDV GH VDQHDPHQWR H TXH LQGLFDP XPD PRUDGLD GLJQD $VVLP p TXH QD FODVVH GH UHQGLPHQWRV PpGLRV GH até ½ salário mínimo per capita, apenas 41,3% SRVVXL VHUYLoRV GH VDQHDPHQWR DGHTXDGRV HQTXDQWR QD FODVVH GH UHQGLPHQWRV DFLPD GH salários mínimos per capita, esse número sobe para 77,5% dos domicílios. Ainda segundo a mesma IRQWHQRTXHVHUHIHUHjGLVWULEXLomRGRVGRPLFtOLRV brasileiros por classe de rendimento médio mensal domiciliar per capita, segundo as Grandes Regiões, constatam-se as desigualdades sociais nas regiões menos desenvolvidas como Norte e Nordeste. Dos domicílios da região Norte, 30,7% possuem rendimento médio mensal domiciliar per capita de DWp ò VDOiULR PtQLPR HQTXDQWR TXH GRV domicílios possuem rendimento médio mensal domiciliar per capita de mais de 2 salários mínimos, isto em um universo de três milhões e 210 mil domicílios. Na região Sudeste, 12,2% dos domicílios possuem rendimento médio mensal domiciliar SHU FDSLWD GH DWp ò VDOiULR PtQLPR HQTXDQWR TXH 26,1% dos domicílios possuem rendimento médio mensal domiciliar per capita de mais de 2 salários PtQLPRV 2EVHUYDVH DTXL XPD GLIHUHQFLDomR HP UHODomR D GXDV UHJL}HV TXH KLVWRULFDPHQWH IRUDP 352'8d20,1(5$/12(67$'2'23$5È(5()/(;261$5(352'8d2'$0,6e5,$%DUFDUHQD0DUDEiH Parauapebas contempladas também de forma diferenciada em investimentos do governo federal, resultando num VLJQL¿FDWLYR Q~PHUR GH GRPLFtOLRV TXH SRVVXHP rendimento médio mensal de até ½ salário mínimo na região Norte. 7RPDQGRSRUEDVHHVVDVUHÀH[}HVGHFDUiWHU geral, esse estudo se propõe a demonstrar como D SURGXomR GH ULTXH]D H[SUHVVD QR FUHVFLPHQWR HFRQ{PLFR FHQWUDGR QR 3URGXWR ,QWHUQR %UXWR 3,%6QmRVLJQL¿FDXPDUHGXomRGDVGHVLJXDOGDGHV sociais, especialmente em países periféricos FRPR R %UDVLO H PXLWR HVSHFLDOPHQWH FRPR HVVD GHVSURSRUomR HQWUH ULTXH]D H PLVpULD VH H[SUHVVD QDUHJLmR1RUWHDEUDQJLGDHPVXDTXDVHWRWDOLGDGH SHOD$PD]{QLDEUDVLOHLUD 2 A AMAZÔNIA NO CONTEXTO DA $&808/$d2&$3,7$/,67$o caso do estado do Pará De acordo com Leal (1996), as estratégias de contenção da crise capitalista da década de 1970 impactaram de diferentes formas os países GH FDSLWDOLVPR FHQWUDO H DTXHOHV GH FDSLWDOLVPR SHULIpULFRFRPDWUDQVIHUrQFLDGRV{QXVGDTXHODQRV países centrais para os países retardatários. Isso LQWHQVL¿FD WDQWR D H[SORUDomR GD IRUoD GH WUDEDOKR ±GRTXHGHFRUUHRDJUDYDPHQWRGDVFRQGLo}HVGH vida da classe trabalhadora -, como a exploração GRV UHFXUVRV QDWXUDLV ± TXH YHP UHVXOWDQGR QD GHVWUXLomR GD QDWXUH]D HVSHFLDOPHQWH QRV SDtVHV e/ou regiões onde ela é mais rica e abundante. 1R¿QDOGDSULPHLUD GpFDGDGRVpFXOR;;,± em meio a mais uma crise da sociedade capitalista –, VXFHGHXXPDQRYDIDVHGHH[SDQVmRJHQHUDOL]DGD do capital rumo aos países e/ou regiões marcadas pela abundância de recursos naturais, como é o FDVR GR %UDVLO H QHOH GD$PD]{QLD EUDVLOHLUD 2V resultados históricos da presença do grande capital QD$PD]{QLDIRUDPDJUDYDGRVHPIXQomRGHQRYDV GLQkPLFDV SURGXWLYDV TXH LQYDGLUDP R HVSDoR DPD]{QLFR±FRPRpRFDVRGDFXOWXUDGDVRMD±DV TXDLV VH VRPDUDP jV GLQkPLFDV Mi VHGLPHQWDGDV especialmente a exploração mineral, pela via dos grandes projetos. O estado do Pará, como locus privilegiado da implantação de grandes projetos7 de exploração mineral, também tem sido alvo dessa nova atividade SURGXWLYD TXH p D VRMD FRP D RFXSDomR GD UHJLmR VXOGRHVWDGRTXHSURPHWHVHUDPDLVGHYDVWDGRUD especialmente em termos ambientais e humanos, de TXHVHWHPQRWtFLD0LOK}HVGHKHFWDUHVGHÀRUHVWD nativa já foram derrubados para dar lugar a essa monocultura, alterando inclusive a paisagem natural da região. No espaço onde essa cultura avança8 UHVLGHXPDVLJQL¿FDWLYDSDUFHODGHKDELWDQWHVTXHD ocupam há incontáveis gerações – grupos indígenas, SHTXHQRV WUDEDOKDGRUHV UXUDLV ULEHLULQKRV HWF ± TXHMiFRPHoDUDPDVHUH[SURSULDGRVSHORVVRMHLURV PDMRULWDULDPHQWH³ID]HQGHLURV´GR6XOH6XGHVWHGR país, atraídos pela facilidade no acesso à terra, pela facilidade em pressionar seus ocupantes locais e pelas facilidades generosamente oferecidas pelo Estado. (FIALHO NASCIMENTO, 2006). No caso da exploração mineral, o estado do Pará se destaca pelos intensos processos desencadeados sobre a região, a partir da implantação, na década de 1970, de grandes HPSUHHQGLPHQWRV ± S~EOLFRV H SULYDGRV ± TXH SURGX]LUDPSURIXQGDVDOWHUDo}HVHPVHXVDVSHFWRV ambientais, econômicos, sociais e culturais. No caso dos empreendimentos mínero-metalúrgicos instalados no estado do Pará, eles são resultado da crise econômica de 19709 TXH IH] FRP TXH R FDSLWDOEXVFDVVHVDtGDVHVWUDWpJLFDVTXHLQFOXtUDP na esfera da produção, a busca de novas áreas para a instalação de novas indústrias, além da obtenção de recursos naturais e força de trabalho abundantes. ,VVRSRUTXHFRPRLQGLFDGRSRU0DU[S o sistema capitalista “só se detém diante dos limites LPSRVWRV SHOD PDWpULD SULPD´ ( 6ZH]]\ S UHIRUoD D¿UPDQGR TXH R EDUDWHDPHQWR GR FDSLWDO FRQVWDQWH PiTXLQDV H PDWpULD SULPD p IXQGDPHQWDOXPDYH]TXHD Proporção entre capital constante e trabalho é uma relação de valor e, à PHGLGD TXH D PiTXLQD H DV PDWpULDV SULPDVVHWRUQDPPDLVEDUDWDVDTXHGD da taxa de lucros é retardada. Além de sua extensão territorial, o estado do Pará se destaca por ser o segundo estado minerador GR%UDVLOHRSULPHLURHPFRQFHQWUDomRPLQHUDO10. Dos FHQWRHTXDUHQWDHWUrVPXQLFtSLRVSDUDHQVHV 23 (vinte e três) possuem minas em operação, tendo DXPHQWDGR GH WULQWD H TXDWUR HP SDUD TXDUHQWDHVHLVHPRQ~PHURGHPLQDV em atividade. A produção mineral paraense centraVH HP TXDWUR SULQFLSDLV PLQpULRV IHUUR FREUH EDX[LWD H PDQJDQrV TXH FRUUHVSRQGHP D GD produção mineral do estado. Em função da grande produção mineral – centrada no setor primário com GHVWDTXH SDUD D iUHD SULPiULRLQGXVWULDO ± R 3,% paraense é elevado e está centrado em apenas FLQFR PXQLFtSLRV SDUDHQVHV D VDEHU %HOpP capital Metropolitana, por sua vocação no setor da Construção Civil, de Comércio e Serviços; %DUFDUHQDRQGHHVWiORFDOL]DGRRSyORDOXPLQtIHUR 3DUDXDSHEDVTXHDEULJDRSRORPLQHUDOGH&DUDMiV Ananindeua, onde se encontram instaladas as LQG~VWULDV GD iUHD PHWURSROLWDQD GH %HOpP H Marabá, com o seu polo siderúrgico decorrente do aproveitamento de parte dos minérios de Carajás. ,167,7872 %5$6,/(,52 '( *(2*5$),$ ( ESTATÍSTICA, 2010a). Com uma população de mais de sete milhões de habitantes, o estado do Pará possui, só na Região 0HWURSROLWDQD GH %HOpP PDLV GH GRLV PLOK}HV R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 159 160 Aluízio Lins Leal, Maria Elvira Rocha de Sá, Nádia Socorro Fialho Nascimento e Welson de Sousa Cardoso VHQGRTXHDUHJLmR1RUWHSDUWLFLSDFRPLVWRp 5WUH]HELOK}HVVHLVFHQWRVHQRYH PLOK}HVWUH]HQWRVHQRYHQWDPLOWUH]HQWRVHVHVVHQWDH GRLVUHDLVGRVTXDLVRHVWDGRGR3DUiFRQWULEXLFRP ¿FDQGRDWUiVVRPHQWHGDUHJLmR6XGHVWHTXH participa com 51,01% ou R$ 26.728.081.242,00 (vinte e seis bilhões, setecentos e vinte oito milhões e oitenta H XP PLO GX]HQWRV H TXDUHQWD H GRLV UHDLV RQGH R estado de Minas Gerais detém 41,45%. de habitantes. Contraditoriamente, apenas 6,9% da população paraense têm acesso simultâneo a serviços públicos e bens duráveis e a maior parte dos domicílios ainda não dispõe de serviços públicos básicos, como esgoto sanitário, coleta de lixo e DEDVWHFLPHQWR GH iJXD 2 3DUi SRVVXL VR]LQKR mais da metade da População Economicamente $WLYD3($UHJLRQDOFRPTXDWURPLOK}HVRLWRFHQWRVH vinte dois mil habitantes, mas apenas metade desta 3($HQFRQWUDVHRFXSDGDRTXHFRUUHVSRQGHDXP milhão oitocentos e oitenta e sete mil trabalhadores. Como exportador de recursos naturais, especialmente minerais, a economia paraense é H[HPSOR DFDEDGR GD WHQGrQFLD GH UHSULPDUL]DomR na América Latina. Sua exportações destinam-se para a Ásia (38,23%), União Europeia (25,78%), Estados Unidos (8,56%), Associação Europeia de Livre Comércio (8,08%) e ALADI/Mercosul (6,95%). Dentre seus principais produtos destacamse minérios de ferro não aglomerados (45,69%), alumina calcinada (14,06%) e alumínio não ligado em forma bruta (8,54). (SECRETARIA DE ESTADO, DE DESENVOLVIMENTO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2010). No ano de 2008 a produção mineral paraense DOFDQoRX R YDORU GH ELOK}HV ³R TXH VLJQL¿FRX um aumento de 33% em relação ao ano anterior” (ZONEAMENTO ECONÔMICO ECOLÓGICO, 2010, S(PUD]mRGRGHVWDTXHGDGRSHORDXPHQWR GDH[WUDomRGHPLQpULRVQRHVWDGRR3,%SDUDHQVH passou do 14º lugar no ano de 1996, para o 11º lugar em 2003 e vem mantendo o 13° lugar desde ,167,7872 %5$6,/(,52 '( *(2*5$),$ E ESTATÍSTICA, 2011). $7DEHODDEDL[RPRVWUDDHYROXomRGR3,%GR estado do Pará entre 2005 e 2009 e a participação QR3,%EUDVLOHLUR $SHVDU GH XPD TXHGD GH QD LQG~VWULD extrativa, especialmente em função da diminuição na extração de minério de ferro, conforme análise GR UHODWyULR &RQWDV 5HJLRQDLV GR %UDVLO GR ,%*( ³R HIHLWR PDLV VHQVtYHO GD FULVH IRL VHQWLGR principalmente, com a redução da demanda internacional SRUFRPPRGLWLHVPLQHUDLV´,167,7872%5$6,/(,52 DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2011, p. 31). O valor GDSURGXomRPLQHUDOFRPHUFLDOL]DGDQR%UDVLOVHJXQGR R $QXiULR 0LQHUDO GR %UDVLO '(3$57$0(172 NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL, 2010), foi GH 5 FLQTXHQWD H GRLV ELOK}HV WUH]HQWRV H QRYHQWD H QRYH PLOK}HV TXDWURFHQWRV H RLWHQWD H VHLV PLO VHLVFHQWRV H YLQWH H TXDWUR UHDLV 3 PRODUÇÃO MINERAL E (RE)PRODUÇÃO DA 0,6e5,$%DUFDUHQD0DUDEiH3DUDXDSHEDV 'HQWUHRVFLQFRPXQLFtSLRVGHPDLRU3,% WRWDOHGHQWUHRVFLQFRPDLRUHV3,%VSHUFDSLWD11 do Pará, 03 (três) deles são municípios ligados à PLQHUDomR %DUFDUHQD 0DUDEi H 3DUDXDSHEDV Para efeito desse estudo, estes municípios foram tomados como referência para a análise da produção GHULTXH]DHPFRQWUDSRVLomRjSURGXomRGHPLVpULD no estado. Estes 03 (três) municípios paraenses passaram a sediar empreendimentos mínerometalúrgicos na década de 1980 e se destacam tanto pelo volume de investimentos, como pelos JUDYHV HIHLWRV VRFLRHFRQ{PLFRV H DPELHQWDLV TXH SURGX]LUDPQDVVXDViUHDVGHLQÀXrQFLD 1R PXQLFtSLR GH %DUFDUHQD GLVWDQWH FHUFD GHNPGH%HOpPLQVWDORXVHRFRPSOH[R$OEUDV $OXQRUWHEHQH¿FLDPHQWRGHEDX[LWD(VWHPXQLFtSLR paraense desempenhava, até a década de 1970, um papel de polo de abastecimento de gêneros alimentícios de primeira necessidade no mercado FRQVXPLGRU GH %HOpP $ SDUWLU GD LPSODQWDomR do complexo metalúrgico da Albras/Alunorte, o município passou a apresentar sérias alterações em aspectos econômicos, sociais e ambientais, com GHVWDTXH SDUD D DOWHUDomR QD HVWUXWXUD IXQGLiULD GHPRJUi¿FDHVRFLDOGDVXDSRSXODomR'HDFRUGR com Cardoso (1986, p. 2-3), Ao considerar o processo histórico GH %DUFDUHQD FRQVWDWRXVH TXH D implantação desse projeto numa área de economia tradicional com traços caboclos fortemente impregnado de uma cultura indígena, trouxe impactos FRQVLGHUiYHLV LQLFLDOPHQWH QR TXH WDQJHjTXHVWmRIXQGLiULDH[SURSULDomR da terra, alterações na produção, SUROHWDUL]DomR HWF FRP VpULDV implicações sócio-econômicas-culturais 7DEHOD(YROXomRGR3,%QR3DUiHSDUWLFLSDomRQR3,%EUDVLOHLURD ANO PIB (milhões) Participação % no PIB nacional 2005 39,1 1,8 2006 44,3 1,9 2007 49,5 1,9 2008 58,5 1,9 2009 58,4 1,8 )RQWH(ODERUDomRSUySULDFRPEDVHQR,%*( R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 352'8d20,1(5$/12(67$'2'23$5È(5()/(;261$5(352'8d2'$0,6e5,$%DUFDUHQD0DUDEiH Parauapebas e políticas na população nativa, e também em relação aos centros populacionais, não somente alterando D VXD FRPSRVLomR GHPRJUi¿FD FRPR LQWURGX]LQGR FRQWUDGLo}HV WtSLFDV das médias e grandes cidades: alto tQGLFH GH SURVWLWXLomR GHOLQTrQFLD e tóxicos, crescimento acelerado das demandas de serviços públicos, sem o correspondente atendimento por parte do Estado; introdução de costumes µPRGHUQRV¶ HP WHUPRV GH GLYHUVmR (danceterias, jogos eletrônicos) e de VHUYLoRV VXSHUPHUFDGRV ERXWLTXHV VDO}HV GH EHOH]D UHVWDXUDQWH µHVFROD PDWHUQDO¶HRXWURVHGHQRPLQDo}HVGH HVWDEHOHFLPHQWRV FRPHUFLDLV 0DJQR¶V 7LDJR¶V +RWHO 3RS¶V /DQFKH 3XS\V %RXWLTXH $iUHDLQGXVWULDOGH%DUFDUHQDIRLFRQVROLGDGD a partir da instalação, na década de 1990 de outro grande projeto, o chamado projeto Caulim12. A LQIUDHVWUXWXUD H[LVWHQWH HP %DUFDUHQD IDFLOLWRX D escolha do município como local de instalação deste QRYRHPSUHHQGLPHQWRXPDYH]TXHRJUDQGHFDSLWDO já encontrava prontas as condições para ali se implantar. Estas condições favoráveis à implantação GH JUDQGHV SURMHWRV HP %DUFDUHQD IRUDP REUD GR (VWDGRTXHUHDOL]DUDRVLQYHVWLPHQWRVQHFHVViULRV à ação privada da acumulação capitalista. Ao situarse como ordenador das relações sociais a favor dos interesses da acumulação, o Estado inscreve sua ação nos marcos do Estado do Capitalismo Tardio, VXEVLGLDQGRRSURFHVVRGHLQGXVWULDOL]DomRDR³DWUDLU´ o capital estrangeiro com vistas a desenvolver o país. (MANDEL, 1985). Na área onde se instalou o Projeto Caulim, próximo às instalações do projeto Albras/Alunorte, existia toda uma complexa estrutura social composta de inúmeras comunidades rurais, ligadas por fortes laços de parentesco e religiosidade, praticantes da SHVFD FDoD H H[WUDWLYLVPR DOpP GH XPD SHTXHQD lavoura de subsistência. Além das carências comuns à região (ausência e/ou precariedade dos serviços/ HTXLSDPHQWRV GH VD~GH HGXFDomR WUDQVSRUWH saneamento básico, etc), as comunidades, como PXLWDVRXWUDVQRPXQLFtSLRGH%DUFDUHQDVRIUHUDP graves impactos socioambientais13 a partir da implantação do complexo industrial Albras/Alunorte. Uma das principais preocupações dos moradores “atingidos” pela implantação do projeto &DXOLP HUD D GH HYLWDU TXH VH UHSHWLVVH FRP HOHV R TXH DFRQWHFHX FRP FHUFD GH TXLQKHQWDV IDPtOLDV TXH UHVLGLDP QD iUHD RQGH VH LQVWDORX anteriormente a Albras/Alunorte. Estas famílias IRUDP H[SURSULDGDV YiULDV GHODV VHP LQGHQL]DomR HUHPDQHMDGDVVHPTXHIRVVHPFRQVXOWDGDVVREUH SDUDRQGHGHVHMDYDPLUHHPTXHFRQGLo}HV)RUDP SULYDGDVDVVLPGDSRVVLELOLGDGHGHVHUHSURGX]LUHP QDV PHVPDV FRQGLo}HV HP TXH R ID]LDP DQWHV GD FKHJDGD GDV HPSUHVDV R TXH FRQWULEXLX HQWUH outros fatores, para uma brutal alteração no seu modo de vida. Esse processo de apossamento dos UHFXUVRVQDWXUDLVVHDVVHPHOKDjTXHOHVTXHGHUDP origem à própria constituição do capitalismo. Isso SRUTXHVHJXQGR0DU[S RSURFHVVRTXHFULDRVLVWHPDFDSLWDOLVWD FRQVLVWHDSHQDVQRSURFHVVRTXHUHWLUD ao trabalhador a propriedade de seus PHLRV GH WUDEDOKR QXP SURFHVVR TXH transforma em capital os meios sociais de subsistência e os de produção e converte em assalariados os produtores diretos. As comunidades afetadas pela implantação do 3URMHWR&DXOLPPRELOL]DUDPVH14 e no longo processo GH QHJRFLDo}HV TXH VH VHJXLX GLIHUHQWHPHQWH GR TXH DFRQWHFHX FRP DV IDPtOLDV DIHWDGDV SHOR 3URMHWR $OEUiV$OXQRUWH DTXHODV QmR DFHLWDUDP negociar suas reivindicações de forma isolada com as empresas. Apesar das diferenças nos processos, repetiu-se com as famílias afetadas pelo Projeto &DXOLP HP TXH SHVH R SURFHVVR GLIHUHQFLDGR HP relação às famílias afetadas pelo Projeto Albrás/ Alunorte, o mesmo resultado sobre suas condições de vida: a expropriação, seguida de um processo de SDXSHUL]DomR Os 02 (dois) outros municípios fortemente afetados pela produção mineral no estado do Pará – Parauapebas e Marabá –, encontram-se na área GHLQÀXrQFLDGLUHWDGRTXHIRLGHQRPLQDGRQDpSRFD de Programa Grande Carajás/PGC15, instituído pelo Decreto-lei nº 1.813, de 24/11/1980, uma FRPSOH[D FRDOL]mR GH LQWHUHVVHV (empresas mineradoras, siderúrgicas, UHÀRUHVWDGRUDV IiEULFDV GH FLPHQWR madeireiras, carvoarias e indústrias de UH¿QRGHyOHRVYHJHWDLVHGHFHOXORVH EHQH¿FLiULD GH LQFHQWLYRV ¿VFDLV H creditícios, desenhando um mapa de HPSUHHQGLPHQWRVTXHWHPQDDWLYLGDGH H[WUDWLYDPLQHUDOHQDVVXDVUDPL¿FDo}HV o eixo central. (ALMEIDA, 1995, p. 19). Na área do PGC se encontra a maior província mineral do planeta - cobre, estanho, ouro, alumínio, PDQJDQrV QtTXHO H IHUUR VHQGR TXH DV MD]LGDV GHVWH ~OWLPR ORFDOL]DGDV QD 6HUUD GRV &DUDMiV QR estado do Pará, foram estimadas entre 18 e 20 bilhões de toneladas. A VALE, anteriormente denominada &RPSDQKLD 9DOH GR 5LR 'RFH&95' SULYDWL]DGD em 1996, tem exclusividade na exploração das MD]LGDV GH IHUUR H VH FRQVWLWXL QD DWXDOLGDGH numa das maiores empresas multinacionais. À JUDQGLRVLGDGH GH &DUDMiV ± TXH SURGX]LX QR DQR de 2007, 92 bilhões de toneladas de minérios –, se junta a complexidade deste empreendimento e de seus vários subprojetos, correspondendo a um R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 161 162 Aluízio Lins Leal, Maria Elvira Rocha de Sá, Nádia Socorro Fialho Nascimento e Welson de Sousa Cardoso gigantesco e complexo conjunto de efeitos sociais, econômicos e ambientais sobre a região onde ele IRLGHFUHWDGR,VVRSRUTXHVHJXQGR/HDODV FRQGLo}HVJHUDLVTXHRULHQWDUDPRGHVHQYROYLPHQWR GRUDPRPLQHLURQD$PD]{QLDIRUDPPDUFDGDPHQWH PRQRSROL]DGDVHSURWHJLGDVSHODDomRGR(VWDGR Os efeitos socioeconômicos da política de GHVHQYROYLPHQWR SDUD D $PD]{QLD SHOD YLD GRV grandes projetos de exploração mineral, abrangem diferentes grupos humanos e diferentes áreas JHRJUi¿FDV GDt GHFRUUHQGR D VXD FRPSOH[LGDGH (QWUH RV PXLWRV HIHLWRV GHVWDFDPVH DTXHOHV TXH UHODFLRQDP GLDOHWLFDPHQWH iUHDV XUEDQDV H áreas rurais, ambas afetadas pelo movimento LQGXVWULDOL]DGRUTXHJHUD XPD XUEDQL]DomR IRUoDGD interpenetrando instalações industriais poluidoras, incluindo-se carvoarias e JX]HLUDV FRP DJORPHUDGRV XUEDQRV notadamente em Açailândia (MA) e Rondon do Pará (PA). Descrevem mais um capítulo da “guerra ecológica”, sublinhada por Yves Lacoste, ao GHWHULRUDUHPDTXDOLGDGHGHYLGDQHVWDV cidades, ao afetarem gravemente a saúde dos trabalhadores. Há uma percepção viva destes efeitos caóticos GDLQGXVWULDOL]DomRHPFXUVR$/0(,'$ 1995, p. 44). No campo fundiário tem-se o agravamento do FDRVDJUiULRHVSHFLDOPHQWHQDViUHDVGHLQÀXrQFLD do PGC, com todo tipo de violências e arbitrariedades TXHQmRUDURFXOPLQDPHPDVVDVVLQDWRVQRFDPSR HID]HPSDUWHGDUHDOLGDGHGDUHJLmR$PDLRUFKDFLQD FRQWUDWUDEDOKDGRUHVVHPWHUUDGHTXHVHWHPQRWtFLD VH YHUL¿FRX MXVWDPHQWH QXP GRV PXQLFtSLRV GH LQÀXrQFLD GR 3*& ± (OGRUDGR GH &DUDMiV ± RQGH trabalhadores rurais foram assassinados, em abril de 1996, pela polícia militar do estado do Pará. $OpP GRV FRQÀLWRV SHOD WHUUD UHVXOWDQWHV GD instalação de sub-empreendimentos na área do PGC ±FRPGHVWDTXHSDUDDTXHOHVSHUWHQFHQWHVj9$/( ± GHVWDFDPVH DLQGD RXWURV FRQÀLWRV HQYROYHQGR JUXSDPHQWRV KXPDQRV GLVWLQWRV TXH KDELWDP D região, como é o caso dos grupos indígenas, alvos de constantes violências, sejam elas físicas, psicológicas, culturais ou sociais. Segundo Almeida (1995, p. 93), assassinatos, agressões físicas, ameaças de morte, surtos de doenças e casos de intrusamento praticado por garimpeiros, empresas de mineração, empresas madeireiras, SURMHWRV DJURSHFXiULRV ³ID]HQGHLURV´ H SHTXHQRV SURGXWRUHV DJUtFRODV constituem as ocorrências registradas QDV WHUUDV LQGtJHQDV TXH HVWmR QRV limites do PGC. R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 O município de Marabá, juntamente com Parauapebas, são exemplos de uma miséria social sem precedentes. A população destas áreas, ao ser expulsa da terra, converteu-se numa SRSXODomR ÀXWXDQWH DR VDERU GDV FRQGLo}HV vigentes localmente. Uma parcela expressiva desse contingente humano vive no entorno de Marabá, VREUHYLYHQGRGHID]HUFDUYmRGHVWUXLQGRDVVLPQmR só a cobertura vegetal local, como, e principalmente, a saúde desta população. Esse carvão é vendido SDUD DV JXVHLUDV ± IiEULFDV TXH VXUJLUDP QD iUHD a partir da disponibilidade de ferro – transformando Marabá no maior produtor de ferro-gusa do país. O carvão é um insumo fundamental na FDGHLDSURGXWLYDGRDoR1D$PD]{QLD mais de 90% da produção vai para as indústrias instaladas no polo siderúrgico de Carajás. Lá, o carvão vegetal tem duas utilidades. O primeiro uso é como FRPEXVWtYHO SDUD ID]HU IXQFLRQDU RV autofornos. O segundo é como agente TXtPLFRSDUDUHWLUDURR[LJrQLRGXUDQWHR SURFHVVRTXDQGRRFDUYmRpPLVWXUDGR ao minério de ferro. No autoforno, carvão e minério de ferro resultam em IHUURJXVDTXHSRVWHULRUPHQWHpXQLGR a outras ligas e gera o aço. (INSTITUTO 2%6(59$7Ï5,262&,$/S Além dos problemas ambientais decorrentes GHVVH SURFHVVR TXH LQFOXL DLQGD D LOHJDOLGDGH QD retirada da madeira para produção do carvão e a prática do trabalho escravo na região, a implantação GH &DUDMiV SURGX]LX XPD LQ¿QGiYHO VXFHVVmR GH SUREOHPDV VRFLDLV TXH DIHWDP QmR VRPHQWH DV cidades do entorno dos projetos econômicos e infraestruturais, como também os grandes centros XUEDQRV,VVRSRGHVHUREVHUYDGRHP%HOpPFDSLWDO do estado do Pará, cidade marcada por processos GH RFXSDo}HV HVSRQWkQHDV GH WHUUDV TXH VmR WDPEpPUHÀH[RGDV GLVWRUo}HV QD HVWUXWXUD DJUiULD >TXH@ têm provocado deslocamentos de vários segmentos da população rural para as metrópoles regionais. No início GH D &RPLVVmR GRV %DLUURV GH %HOpP 3$ UHODFLRQRX PLO IDPtOLDV desprovidas de casa para morar. Foram FRQWDELOL]DGDV ³LQYDV}HV´ QD iUHD urbana. Este total supera os números levantados pelo “mapa da miséria EUDVLOHLUD´GR,%*(TXHHVWLPDHP R Q~PHUR GH IDYHODV HP %HOpP FRP 42.095 domicílios. Em São Luís (MA), os movimentos populares estimam em 200 mil as famílias residentes HP RFXSDo}HV TXH QmR GLVS}HP de nenhuma infraestrutura básica, principalmente de saneamento. Este WRWDO VXSODQWD DTXHOH GR OHYDQWDPHQWR GR,%*(TXHHVWLPDSDUDR0DUDQKmR 352'8d20,1(5$/12(67$'2'23$5È(5()/(;261$5(352'8d2'$0,6e5,$%DUFDUHQD0DUDEiH Parauapebas HPGH]HQRYHIDYHODVFRP domicílios. (ALMEIDA, 1995, p. 46). Os processos sociais, econômicos e ambientais desencadeados sobre o estado do Pará a partir da implantação, especialmente de grandes projetos mínero-metalúrgicos têm, assim, contribuído para deteriorar as condições de vida e trabalho das populações expropriadas dos seus meios de VREUHYLYrQFLD 2EVHUYDVH TXH HP VLQWRQLD FRP a lógica de exploração dos recursos das regiões ULFDV HP QDWXUH]D FRPR p R FDVR GR HVWDGR GR Pará, os indicadores econômicos e os indicadores sociais apresentam movimentos simultâneos em sentidos opostos. Quando comparados o volume da produção mineral dos municípios selecionados, HP JUDQGH PHGLGD UHVSRQViYHLV SHOR HOHYDGR 3,% do estado do Pará, com os dados de população e UHQGDREVHUYDPVHUHVXOWDGRVTXHGHPRQVWUDPDV reais condições de vida da sua população. Na Tabela 2, abaixo, são apresentados dados TXHUHYHODPRQtYHOGHULTXH]DJHUDGDSHODSURGXomR PLQHUDOGRVWUrVPXQLFtSLRVFRPGHVWDTXHSDUD D GLVWULEXLomR GHVVD ULTXH]D SRU PHLR GR 3,% SHU capita. 2EVHUYDVH TXH 3DUDXDSHEDV OLGHUD FRP R PDLRU 3,% FRP PDLV GH 5 ELOK}HV GH UHDLV HQTXDQWR VHX 3,% SHU FDSLWD p GH 5 (trinta e seis mil setecentos e setenta e dois reais e trinta e cinco centavos); em seguida temos %DUFDUHQDFRPXP3,%GH5ELOK}HVGHUHDLV TXHUHSUHVHQWDGR3,%GH3DUDXDSHEDV$SHVDU GH XP 3,% PDLRU D SRSXODomR GH 3DUDXDSHEDV p EHPPDLRUTXHDGH%DUFDUHQDRTXHFRQIHUHDHVWD ~OWLPD XP 3,% SHU FDSLWD GH 5 WULQWD H FLQFR PLO TXLQKHQWRV H GR]H UHDLV H VHVVHQWD H três centavos), bem próximo ao de Parauapebas, LVWR p UHSUHVHQWDQGR GR 3,% SHU FDSLWD GH Parauapebas. No caso do Município de Marabá, o 3,%pGH5ELOK}HVGHUHDLVFRPXPDSRSXODomR TXH XOWUDSDVVD %DUFDUHQD H 3DUDXDSHEDV H VH FRQVWLWXL QD TXDUWD PDLRU SRSXODomR GR HVWDGR GR 3DUi(PIXQomRGLVVRVHX3,%SHUFDSLWDpRPHQRU 5TXLQ]HPLOHVHVVHQWDHTXDWURUHDLV e oitenta e oito centavos); ainda assim, expressivo. 1mRREVWDQWHDWDEHODGHPRQVWUDUDULTXH]D dos municípios mineradores do estado do Pará H[SUHVVRVSHOR3,%HDGLVWULEXLomRGHVWDULTXH]DSHOR 3,%SHUFDSLWDDDQiOLVHGDGLVWULEXLomRGDSRSXODomR dos municípios mineradores selecionados, segundo as classes de renda individual mensal, permite umainterpretação mais próxima da realidade. A Tabela 3 – população segundo classes de renda individual nominal mensal – e a Tabela 4 – valor do rendimento médio e mediano mensal domiciliar SHU FDSLWD ± GHPRQVWUDP TXH HIHWLYDPHQWH D SRSXODomR QmR DXIHUH GD ULTXH]D JHUDGD QRV municípios em análise. 1D7DEHODREVHUYDVHTXHHQWUHH da população dos municípios selecionados recebem HQWUH ]HUR H GRLV VDOiULRV PtQLPRV 1R FDVR GH %DUFDUHQD GD SRSXODomR SRVVXHP UHQGD LQGLYLGXDO PHQVDO GH ]HUR D GRLV VDOiULRV PtQLPRV nesta mesma faixa de renda estão 83,5% da população do município de Parauapebas; e 88,4% da população de Marabá. A situação se agrava TXDQGRVHREVHUYDTXHPDLVGHGDSRSXODomR GH%DUFDUHQDH0DUDEiDXIHUHPUHQGDGHDWpPHLR salário mínimo – 58,4% e 52,1% respectivamente –, HQTXDQWRHVWHSHUFHQWXDOFKHJDDGDSRSXODomR de Parauapebas. 1D7DEHODVHID]XPLPSRUWDQWHFRQWUDSRQWR entre o rendimento médio mensal domiciliar e o 3,% SHU FDSLWD XPD YH] TXH HVWH ~OWLPR PHGH D GLVWULEXLomR GD ULTXH]D JHUDGD QR PXQLFtSLR SHOR número total a população, e o primeiro mede o valor médio da renda domiciliar auferida por cada morador do domicílio. 2V GDGRV LQGLFDP TXH %DUFDUHQD FRP XP 3,% SHU FDSLWD GH 5 WULQWD H FLQFR PLO TXLQKHQWRVHGR]HUHDLVHVHVVHQWDHWUrVFHQWDYRV possui um rendimento médio mensal domiciliar per FDSLWD GH 5 WUH]HQWRV H FLQTXHQWD H RLWR UHDLV3DUDXDSHEDVFRPXP3,%SHUFDSLWDGH5 36.772,35 (trinta e seis mil, setecentos e setenta e dois reais e trinta e cinco centavos), possui um rendimento médio mensal domiciliar per capita de R$ TXLQKHQWRV H WULQWD H WUrV UHDLV HQTXDQWR 0DUDEi FRP XP 3,% SHU FDSLWD GH 5 TXLQ]HPLOVHVVHQWDHTXDWURUHDLVHRLWHQWDHRLWR centavos), possui um rendimento médio mensal GRPLFLOLDU SHU FDSLWD GH 5 TXDWURFHQWRV H sessenta e três reais). Ao se analisar o rendimento mediano mensal domiciliar per capita das populações dos municípios HPHVWXGRUHYHODVHDDJXGH]DGDVGHVLJXDOGDGHV VRFLDLVQRTXHWDQJHjGLVWULEXLomRGHUHQGDQHVWHV PXQLFtSLRV ,VVR SRUTXH D PHGLDQD p XPD PHGLGD HVWDWtVWLFD TXH VHSDUD XPD SRSXODomR QD PHWDGH LVWRpFLQTXHQWDSRUFHQWRGRFRQMXQWR¿FDP abaixo da mediana e outros 50% acima desta, ORJR PHWDGH GD SRSXODomR GH %DUFDUHQD 0DUDEi e Parauapebas aufere renda inferior a R$ 222,00 GX]HQWRVHYLQWHHGRLVUHDLV5GX]HQWRV 7DEHOD0XQLFtSLRVPLQHUDGRUHVVHJXQGRSRSXODomR3,%H3,%SHUFDSLWD MUNICÍPIO POPULAÇÃO 3,%PLOUHDLV 3,%3HUFDSLWD %$5&$5(1$ 99.859 3.287.297 35.512,63 3$5$8$3(%$6 153.908 5.617.969 36.772,35 3.058.909 15.064,88 0$5$%È 233.669 )RQWH(ODERUDomRSUySULDFRPEDVHQR,%*(EH,'(63 R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 163 164 Aluízio Lins Leal, Maria Elvira Rocha de Sá, Nádia Socorro Fialho Nascimento e Welson de Sousa Cardoso Tabela 3 - População dos municípios mineradores selecionados, segundo as classes de renda individual nominal mensal Classes de renda %DUFDUHQD % Parauapebas % Marabá % Sem declaração 1 0,0 0 0,0 13 0,0 Sem rendimento 37.845 47,7 54.359 44,5 86.031 46,5 8.518 10,7 4.822 4,0 10.404 5,6 Mais de 1/2 a 1 salário mínimo 15.641 19,7 21.675 17,8 39.607 21,4 Mais de 1 a 2 salários mínimos 9.778 12,3 21.011 17,2 27.502 14,9 Mais de 2 a 5 salários mínimos 5.975 7,5 15.481 12,7 15.577 8,4 Mais de 5 a 10 salários mínimos 1.287 1,6 3.513 2,9 4.547 2,5 232 0,3 913 0,7 1.039 0,6 Até 1/2 salário mínimo Mais de 10 a 20 salários mínimos Mais de 20 salários mínimos Total 67 0,1 268 0,2 318 0,2 79344 100,0 122042 100,0 185038 100,0 )RQWH,%*(E Tabela 4 - Valor do Rendimento médio e mediano mensal domiciliar per capita Município Rendimento médio mensal %DUFDUHQD R$ Parauapebas Marabá Rendimento mediano mensal 358,00 R$ 222,00 R$ 533,00 R$ 325,00 R$ 463,00 R$ 255,00 )RQWH,%*(E HFLQTXHQWDHFLQFRUHDLVH5WUH]HQWRVH vinte e cinco reais), respectivamente. 4 CONCLUSÃO 1D FRQWUDPmR GRV GDGRV VREUH D ULTXH]D extraída e exportada do estado do Pará, encontra-se uma população empobrecida, cujas demandas por saúde, educação, renda, saneamento, habitação HWF FKHJDP D GLYHUVRV SUR¿VVLRQDLV FRPR RV GH 6HUYLoR 6RFLDO QR VHX FRWLGLDQR SUR¿VVLRQDO Estas demandas demonstram o agravamento das H[SUHVV}HV GD ³TXHVWmR VRFLDO´ QXP FRQWH[WR marcado pela precariedade e/ou inexistência de SROtWLFDVS~EOLFDVTXHDWHQGDPDVQHFHVVLGDGHVGH reprodução da vida social. No estado do Pará, os processos decorrentes GD H[SORUDomR GH VXDV ULTXH]DV PLQHUDLV WrP contribuído, entre outros, para um processo de SDXSHUL]DomR GD SRSXODomR SDUDHQVH ,VVR VH Gi pela via da implantação de empresas multinacionais ± RV FKDPDGRV JUDQGHV SURMHWRV ± TXH RSHUDP FRPRHQFODYHVHTXHMXVWDPHQWHSRUHVVDFRQGLomR QmR ORJUDP GLVVHPLQDU HIHLWRV SRVLWLYRV TXH UHYHUWDP D FRQGLomR SUHYDOHQWH GH SDXSHUL]DomR e degradação das áreas/nações onde estes se instalam. Aliado a isso, têm-se as ações do Estado QHROLEHUDO TXH GHVWURHP HVWUXWXUDV GH SURWHomR VRFLDO Mi FRQTXLVWDGDV DR PHVPR WHPSR HP TXH HQVDLDSROtWLFDVS~EOLFDVTXHQmRUHYHUWHPRTXDGUR de desigualdades sociais presentes no país. &RQFOXtPRV SRU D¿UPDU TXH R FUHVFLPHQWR econômico, tal como entende a lógica capitalista R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 – centrado nos resultados de indicadores como o 3,% ± QmR WHP UHVXOWDGR QXP LJXDO FUHVFLPHQWR GRV LQYHVWLPHQWRV VRFLDLV R TXH SRGHULD UHYHUWHU na melhoria, nunca na plena satisfação das necessidades sociais da população do estado do 3DUi ( LVVR SRUTXH R 3DUi p H[HPSOR DFDEDGR GD GRPLQDomR FDSLWDOLVWD QR TXH VH FRQ¿UPD D Pi[LPDGHTXHjSURGXomRGDULTXH]D±QHVVHWLSR de sociedade –, corresponde uma igual produção da PLVpULD5HD¿UPDVHDVVLPWDPEpPDPi[LPDGH TXHDSOHQDHPDQFLSDomRGRKRPHPGDVFRQGLo}HV GHH[SORUDomRDVRFLDOL]DomRGRVEHQVSURGX]LGRV coletivamente e a satisfação das necessidades VRFLDLV GR KRPHP Vy SRGH VHU UHDOL]DGD SHOD extinção do fundamento ontológico da exploração do trabalho pelo capital. 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Repercussões sócio-ambientais do complexo industrial Albras/ $OXQRUWHHPiUHDGHLQÀXrQFLDLPHGLDWD%HOpP IDESP, 1991. SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA. 0LQHUDomR QD $PD]{QLD /HJDO LPSRUWkQFLDVyFLRHFRQ{PLFDHSHUVSHFWLYDV%HOpP SUDAM/UFPA/FADESP, 1997 (Versão Preliminar). ,167,7872 2%6(59$7Ï5,2 62&,$/ O aço da devastação: crimes ambientais e trabalhistas na cadeia produtiva da indústria siderúrgica instalada QD $PD]{QLD Revista do Observatório Social, São Paulo, ed. esp., jun. 2011. SWEEZY, Paul M. Teoria do desenvolvimento capitalista: princípios de economia política marxista. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS. Relatório de agências das Nações Unidas 'LVSRQtYHO HPKWWSZZZLSHDJRYEU! Acesso em: 8 out. 2010. 1. /($/$OXt]LR/LQV$LPSRUWkQFLDGD$PD]{QLDSDUD R $/&$ ,Q &$03$1+$ -8%,/(8 68/%5$6,/ Livre Comércio R TXH HVWi HP MRJR" 6mR 3DXOR Paulinas, 2004. (Coleção Mundo Possível). NOTAS De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada/IPEA, a pobreza absoluta se expressa pelo rendimento médio domiciliar per capita de até PHLR VDOiULR PtQLPR PHQVDO HQTXDQWR D SREUH]D extrema se expressa pelo rendimento médio domiciliar SHUFDSLWDGHDWpXPTXDUWRGHVDOiULRPtQLPRPHQVDO O estudo da Dimensão, evolução e projeção da pobreza por região e por estado no Brasil, evidencia TXH HQWUH H PLOK}HV GH SHVVRDV VDtUDP GD FRQGLomR GH SREUH]D DEVROXWD HQTXDQWR TXHDWD[DGHSREUH]DH[WUHPDLQGLFDXPFRQWLQJHQWH R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 165 166 Aluízio Lins Leal, Maria Elvira Rocha de Sá, Nádia Socorro Fialho Nascimento e Welson de Sousa Cardoso TXH R FUHVFLPHQWR GHVVD FXOWXUD HVWi UHODFLRQDGR à demanda por suprimentos alimentares para a produção de carne de frango, boi e porco, em regime GHFRQ¿QDPHQWRQRVSDtVHVGD(XURSDHQRV(VWDGRV Unidos. de 12,1 milhões de brasileiros. (INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS, 2010). (VWXGRV GR %DQFR $VLiWLFR GH 'HVHQYROYLPHQWR publicados no jornal Folha de São Paulo, colocam o %UDVLOHQWUHRVGH]SDtVHVHPHUJHQWHVFRPPDLRU capacidade de acelerar seu ritmo de crescimento e VHGHVHQYROYHU¿FDQGRDWUiVDSHQDVGD&KLQDËQGLD Polônia, Tailândia e México. (FRAGA, 2010). 2%ROVD)DPtOLDpXPSURJUDPDGRJRYHUQRIHGHUDOGH transferência direta de renda, com condicionalidades, TXH EHQH¿FLD IDPtOLDV HP VLWXDomR GH SREUH]D H GH H[WUHPD SREUH]D 6HX REMHWLYR R¿FLDO p R GH DVVHJXUDURGLUHLWRKXPDQRjDOLPHQWDomRDGHTXDGD promovendo a segurança alimentar e nutricional H FRQWULEXLQGR SDUD D FRQTXLVWD GD FLGDGDQLD SHOD população mais vulnerável à fome. 2 &RH¿FLHQWH GH *LQL FULDGR HP TXDQWL¿FD R grau de desigualdade da renda a partir da variação dentro de um intervalo de 0 a 1, sendo o 0 indicador da maior igualdade na distribuição da renda e 1 indicador da máxima desigualdade. ³2 ,'+ p XP LQGLFDGRU GH TXDOLGDGH GH YLGD proposto pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, mundialmente usado, sobretudo, a partir do início dos anos 90. O IDH é resultante da PpGLDGHWUrVRXWURVtQGLFHVR3,%SHUFDSLWDRQtYHO de escolaridade e a expectativa de vida ao nascer. O IDH pode variar de 0 a 1. (SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA, 1997, p. 10). 2 3URGXWR ,QWHUQR %UXWR3,% UHSUHVHQWD D VRPD GH WRGDV DV ULTXH]DV ¿QDLV SURGX]LGDV HP XP determinado país, região, cidade durante um período determinado. 7. Diversos autores enfocaram o caráter de enclave do grande projeto e Ribeiro (1990, p. 11-12) considera TXH HOHV HVSHFLDOPHQWH RV PtQHURPHWDO~UJLFRV tornam-se “enclaves na região, sem provocar maiores HIHLWRV EHQp¿FRV D QtYHO HFRQ{PLFR RX VRFLDO Mi TXH VmR HPSUHHQGLPHQWRV YROWDGRV H[FOXVLYDPHQWH para o mercado externo”. Para Leal (1996, p. 10), “o WHUPRJUDQGHSURMHWRVXUJLXQD$PD]{QLDGDGpFDGD de 1970 para designar os empreendimentos-enclaves TXH RSHUDP UHWLUDQGR UHFXUVRV QDWXUDLV HP JUDQGH TXDQWLGDGHPDQGDQGRRVSDUDIRUD´ 8. A partir das duas últimas décadas do século XX, GHVWDFRXVH R FUHVFLPHQWR VLJQL¿FDWLYR GH RXWUDV H[SUHVV}HV SURGXWLYDV QD UHJLmR DPD]{QLFD (VWH p RFDVRGRDJURQHJyFLRTXHHQJOREDDDJULFXOWXUDH DSHFXiULDHQRTXDOVHWrPGHVWDFDGRDVFXOWXUDV agrícolas de exportação, como é o caso da soja, DVVHQWDGD DR ODGR GDV YLDV GH FRPXQLFDomR TXH OLJDPD$PD]{QLDDRFHQWURVXODVURGRYLDV&XLDEi 3RUWR9HOKR%UHD&XLDEi6DQWDUpP%5 2 FXOWLYR GD VRMD QR %UDVLO WHYH LQtFLR QD 5HJLmR Sul, mais precisamente nos estados do Paraná e 5LR *UDQGH GR 6XO GH RQGH UXPRX SDUD D ]RQD GR cerrado, chegando até o Maranhão e, daí, seguindo pela rodovia Cuiabá-Santarém, penetrou na região GR %DL[R $PD]RQDV SDUDHQVH /HDO GHVWDFD R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 2V GRLV FKRTXHV QRV SUHoRV GR SHWUyOHR DWLQJLUDP duramente os países de capitalismo avançado, dentre HOHV R -DSmR (VWH SDtV TXH LQLFLDUD XP PRYLPHQWR de concorrência no mercado mundial com os Estados Unidos, teve afetada a sua capacidade produtiva, especialmente no ramo da indústria de alumínio primário. “O alumínio primário é um produto metálico FRPDPSODXWLOL]DomRGR>VLF@PXQGRPRGHUQR4XDQGR WUDQVIRUPDGR HP FKDSDV IROKDV H[WUXGDGRV ¿RV cabos, vergalhões, ligas e pastas, servem de insumo para diversos produtos industriais [...]. O processo de produção do alumínio primário dá-se a partir de duas fases básicas: a de transformação da bauxita em alumina e a desta em alumínio primário através da eletrólise”. (INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DO PARÁ, 1991, p. 11). ³&HUFDGHXPWHUoRGRRXURSURGX]LGRQR%UDVLOYHP do Pará. No subsolo paraense encontram-se ainda 76% das reservas brasileiras de bauxita, 73% de cobre, 46% do minério de ferro e 27% do manganês. Entre os minerais não-metálicos estão 62% da gipsita, GRTXDUW]RHGRFDXOLP$PDLRUSURYtQFLD mineral do planeta também está no Pará, na região GD6HUUDGRV&DUDMiV´(035(6$%5$6,/(,5$'( PESQUISA AGROPECUÁRIA, 1996, p. 5). (QTXDQWR R 3,% LQGLFD YDORUHV DEVROXWRV SDUD D ULTXH]D JHUDGD REWpPVH R 3,% SHU FDSLWD GLYLGLQGR R YDORU DEVROXWR SHOD SRSXODomR GR TXH UHVXOWD XP YDORUPpGLRTXHFRQVLGHUDXPDGLVWULEXLomRLJXDOLWiULD de renda. 12. Na década de 70 foram descobertos depósitos de caulim (uma espécie de argila com grandes aplicações LQGXVWULDLV DR ORQJR GR 5LR &DSLP DÀXHQWH GR 5LR *XDPi GLVWDQWH FHUFD GH NP HP OLQKD UHWD GH %HOpP 'H]HQDV GH iUYRUHV IUXWtIHUDV FRPR D SXSXQKHLUD R EDFXUL]HLUR D EDQDQHLUD H RXWUDV DSUHVHQWDUDP alterações em seu desenvolvimento (folhas com manchas, amarelando, caindo, frutos estragados e impróprios para consumo), sendo estas alterações atribuídas, de acordo com os moradores do local, aos gases poluentes emitidos pela Albras/Alunorte. De acordo com Leal (1982), a emissão de dióxido de enxofre no processo de funcionamento da Albras/ Alunorte, acrescida das características do clima HTXDWRULDO~PLGRHFKXYRVRSURYRFDULDQDWXUDOPHQWH D RFRUUrQFLD GH FKXYD iFLGD H VHXV FRQVHTHQWHV HIHLWRVVREUHDÀRUDHDIDXQD (VWD PRELOL]DomR FRQWRX FRP R DSRLR GH HQWLGDGHV como a Comissão Pastoral da Terra – CPT e, à época, GR3URMHWRGH([WHQVmR³$VVHVVRULDjV2UJDQL]Do}HV Sindicais e Comunitárias Rurais no município de %DUFDUHQD3D´ GR &XUVR GH 6HUYLoR 6RFLDO GD Universidade Federal do Pará – UFPA. 352'8d20,1(5$/12(67$'2'23$5È(5()/(;261$5(352'8d2'$0,6e5,$%DUFDUHQD0DUDEiH Parauapebas 15. “Consoante o art. 1º a área de abrangência do Programa Grande Carajás (PGC) inclui parcialmente os Estados [sic] do Maranhão, do Pará e do Tocantins FRUUHVSRQGHQGRDDSUR[LPDGDPHQWHNPLVWR p GR WHUULWyULR EUDVLOHLUR /RFDOL]DVH DR QRUWH GR SDUDOHOR H HQWUH RV ULRV $PD]RQDV ;LQJX H Parnaíba”. (ALMEIDA, 1995, p. 26). Aluízio Lins Leal Economista Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo - USP Professor da Faculdade de Ciências Econômicas (FACECOM) da Universidade Federal do Pará - UFPA E-mail: [email protected] Maria Elvira Rocha de Sá Assistente Social Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Professora Associada III da Faculdade de Serviço Social/ FASS/UFPA e do Programa de Pós Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal do Pará - UFPA E-mail: [email protected] [email protected] Nádia Socorro Fialho Nascimento Assistente Social Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Professora da Faculdade de Serviço Social/FASS/UFPA e do Programa de Pós Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal do Pará – UFPA (PDLO¿DOKR#XISDEUQDGLDV¿DOKR#JPDLOFRP Welson de Sousa Cardoso Estatístico Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Pará - UFPA Professor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará - UFPA (PDLOFDUGRVR#XISDEUFDUGRVRZ#JPDLOFRP Universidade Federal do Pará 5XD$XJXVWR&RUUrD*XDPi&(3%HOpP - Pará R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 157-167, jan./jun. 2012 167