O FUTURO É ANALÓGICO: um comparativo entre Lomografia, Instagram e Moda Sandra Regina Rech1, Ana Karenina Francio2 Palavras-chave: Lomografia; Instagram; Comportamento. Este artigo objetiva estabelecer um comparativo entre a Lomografia (técnica de fotografia pautada na liberdade e no desprendimento de técnicas), o Instagram (rede social que imita os resultados do Instagram, sendo difusor de discursos sociais) e a Moda (pautada nas teorias pós-modernas e na propagação de diferentes “eus”, tanto na sociedade virtual quanto na real). O presente trabalho caracteriza-se como um texto de revisão bibliográfica. Introdução Atualmente, vive-se o acúmulo da representação e da afirmação por imagens, buscando entender como as imagens analógicas se embatem contra o mundo digital e como se assemelham no imaginário pósmoderno. Maffesoli (2001, p. 75-80) afirma que o imaginário é uma “força social de ordem espiritual, uma construção mental”, ligado à ideia de fazer parte de algo quando alimentado por tecnologia, “fator de estimulação imaginal”. Silva (2003, p. 20) assevera que, neste sentido, a tecnologia é uma ferramenta de “intervenção, formatação, interferência e construção de `bacias semânticas’ que determinarão a complexidade dos `trajetos antropológicos’ de indivíduos ou grupos”. Essa relação é como uma possibilidade de ação conjunta, de transformação recíproca, oportunizada pelos componentes de um meio que propicia tais características e que gera uma sensação de compartilhamento ligada à interatividade. Logo, pode-se afirmar que a lomografia é um estimulante do imaginário; um escape do caos digital; uma forma de fotografar livre, desprendida de discursos pensados pré-foto. Contudo, ao ser compartilhada nas redes sociais, torna-se uma imagem pós-moderna repleta de signos e significados. Já o aplicativo para celular criticado pelos lomógrafos, o Instagram, ao imitar os efeitos das câmeras lomográficas, mecaniza e vulgariza o processo da lomografia, não obstante também seja compartilhado entre redes sociais, possuindo seus significados. Finalizando, tem-se a moda que se une ao discurso do indivíduo, ao pós-moderno e à lomografia. Tanto quanto a lomografia, é um símbolo de status, sendo que imagens tornaram-se cotidianas e obrigatórias para a existência do “eu” no mundo real, quanto no mundo virtual. O presente artigo caracteriza-se como um texto de revisão bibliográfica. As relações entre a pósmodernidade e os tópicos do trabalho foram pautadas em teóricos como Deleuze (1990) e Lipovetsky (2005), enquanto o histórico sobre a fotografia e lomografia foi abordado através dos estudos de Barthes (1984), Kossoy (2007) e Borges (2011), além dos livros organizados pela Sociedade Lomográfica Internacional. Fotografia e Lomografia A história da lomografia iniciou-se após o surgimento da fotografia, na década de 1980, durante a Guerra Fria. Kornitzky, general da antiga União Soviética, uniu-se à fábrica russa LOMO (a qual já trabalhava com fotografia desde 1930) com a finalidade de criar um equipamento acessível que se tornasse objeto de consumo, difundido entre os jovens, para fotografar eventos do seu cotidiano, 1 Orientadora, Professora do Departamento de Moda, CEART, [email protected] Acadêmica do Bacharelado em Moda – Habilitação em Design de Moda, CEART, UDESC – bolsista de Iniciação Científica. 2 propagando, desta maneira, o “estilo de vida soviético” (LOMOGRAPHY SOCIETY, 2007). Apesar dos esforços do General para baratear o custo das câmeras, estas ainda custavam cerca de um quinto do salário dos soviéticos, resultando em status de luxo aos que a possuíssem. Com o colapso da URSS no final da década, e os altos custos produtivos, a LOMO fechou suas portas para a Lomografia, empresa que tornou-se pública em 1993. Mas, foi somente, em 1991, que a LOMO LC-A foi descoberta pelo Ocidente e atingiu os jovens consumidores, conforme era desejo de Kornitzky. Os responsáveis pelo redescobrimento da câmera, em uma viagem à República Tcheca, foram Wolfgang Stranzinger e Matthias Fiegl, os quais sem o menor conhecimento do funcionamento do equipamento começaram a tirar fotos com a maior liberdade possível, por vezes, sem nem olhar no visor da câmera. O resultado foi uma surpresa tão grande que resultou na primeira lomowall3 e na febre lomográfica. As imagens, extremamente saturadas, com cores vivas e as bordas escurecidas, conhecidas como vinhetas, fizeram com que aquelas fotos fossem, oficialmente, as primeiras lomografias. O nome foi uma homenagem à marca da câmera e o estilo de lomografar emerge da surpresa, do inesperado, do desprendimento por técnicas, regras e, principalmente, pelo não pensar. “Don’t think, just shoot” (“não pense, apenas fotografe”) é uma das dez regras de ouro da lomografia, presentes no Manifesto Lomográfico (figura 1) escrito pela dupla austríaca. Figura 1. Manifesto Lomográfico Fonte: http://www.lomography.com.br/magazine/library/2011/01/17/capitulo-3-o-manifesto-lomografico 3 Parede ou muro coberto de lomografias através de colagens. Para tornar a lomografia um objeto possível de consumo, os jovens fizeram diversas investidas na LOMO, a fim de tornar a compra da LOMO LC-A acessível à todos. O resultado foi a LOMO LC-A+, fabricada na China, sob os mesmos moldes e “defeitos” da LOMO LC-A para criar os efeitos saturados da original. Entretanto, apesar de ser responsável pelo batismo da técnica, a LOMO LC-A não foi a primeira câmera utilizada para lomografar: inúmeras câmeras de baixo custo já haviam sido vendidas pelo mundo inteiro, como, por exemplo, a Diana (figura 2). Figura 2. Máquina Diana Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Diana_camera.jpg De acordo com a Lomography Society (2007), a Diana foi uma câmera que custava centavos, criada na China pela Great Wall Plastics Factory no começo da década de 1960. Porém, por usar filme de 120mm, perdeu espaço na década seguinte para as câmeras de 35mm, voltando à ativa apenas em 1980, quando jovens “redescobriam” essas câmeras nos porões de suas casas. Ela produzia efeitos semelhantes à LOMO LC-A e despertou o mesmo gosto pela lomografia, antes mesmo desta existir. Era a chamada fotografia Lo-Fi, popularizada pela Pop Art. Podem-se apontar as diferenças entre uma fotografia e uma lomografia por meio da baixa qualidade da imagem e dos “erros” como superexposição ou saturação. Entretanto, consoante Barthes (1980, p..172), “a sociedade procura tornar a fotografia sensata, temperar a loucura que ameaça constantemente explodir no rosto de quem a olha”, através de duas maneiras: (a) rotulando o status de arte; (b) a banalizando totalmente. Contudo, a grande diferença entre uma fotografia e uma lomografia é que a primeira deve possuir técnica, mesmo que seja amadora, deve ser perfeita. Já, a lomografia torna o “erro” uma surpresa, libertando-se da perfeição. É a liberdade do momento lomográfico que torna a lomografia um passatempo para jovens e fotógrafos que apreciam fugir da rotina, das amarras...o que faz com que ela volte à moda na atualidade. A Ascensão Digital e o Instagram Nas últimas décadas, a fotografia entrou em ameaça, enquanto arte, graças: (a) ao surgimento da digitalização e enfrenta constantes problemas como a perda de qualidade (atualmente, as câmeras digitais conseguem tirar fotos em alta resolução); (b) a facilidade do tratamento de imagens (que já existiam na época analógica, mas eram mais raros) modificando, por vezes, completamente o resultado da fotografia; (c) a falta de originalidade. Para ser conhecido, o fotógrafo deve estar constantemente aparecendo na internet, fazendo uso da exposição para existir. Contudo, essa “apresentação repetitiva” irá entorpecer o público, causando o desaparecimento do status de arte da imagem, tornando-a um clichê. Portanto, a constante individualização e renovação são necessárias na Era Digital, pois com tantas informações parecidas o “novo” torna-se difícil de ser visto e é, facilmente, questionado e copiado. Barthes (1980) revela que era muito impaciente e precisava ver imediatamente o que produziu. A fotografia digital trouxe benefícios como a economia em filmes, tempo, a possibilidade de editar completamente as imagens e acessibilidade à todos. Porém, essa acessibilidade banalizou ainda mais a fotografia, graças à internet e às redes sociais. Como exemplo, citam-se os fotologs4, nos quais quanto mais fotos e mais atualizado o blog fotográfico estivesse, melhor, não importando a qualidade ou a repetição das imagens nas fotos. O indivíduo construía um discurso de si, por vezes, acompanhado de amigos ou familiares, sempre demonstrando satisfação ou diversão. Sibília (2008, p. 31) relata que: “o eu que fala e se mostra incansavelmente na web costuma ser tríplice: é ao mesmo tempo autor, narrador e personagem”. Tal facilidade aparece a partir do momento em que o digital se firma. O analógico dificilmente permitiria que o fotógrafo (Operator) fosse o personagem fotografado (Spectator ) (BARTHES, 1980). Sobre a narrativa, Torraine (1997 apud Gohn ,2006, p. 7) afirma que: O sujeito é o ator que luta pela produção de si próprio, de sua história de vida individual, sua ação se traduz no esforço do indivíduo para transformar experiências vividas em construção de si mesmo, como ator. Ele busca a afirmação de sua própria liberdade contra as ordens sociais. É uma luta sua, baseada em seu trabalho pessoal e em sua cultura. A consciência que tem de si mesmo o ajuda a desprender-se das influências sofridas. O social aqui entra como o virtual, meio onde a socialização é cada vez mais presente. Os indivíduos mantêm a distância necessária dos “perigos” do século XXI, sem serem pessoas antissociais e, para provarem isto, criaram vários discursos com os atuais posts ou nas novas redes sociais como o tumblr5, o flickr6 e o Instagram. Busca-se a aceitação por meio dos likes7, e quanto mais likes, mais popular e social o indivíduo é, implicando em ser visto, em existir, como o “emito, logo existo” (TÜRCKE, 2010). Piza (2012) assevera que o Instagram foi lançado, para a plataforma iOS da Apple, em outubro de 2010, fruto do brasileiro Mike Krieger e do americano Kevin Systrom. A intenção era resgatar a nostalgia do instantâneo, das câmeras da marca Polaroid, as quais revelavam a foto instantaneamente 4 Blog de fotografia onde seus usuários publicam fotos conforme seus interesses, comumente, dos próprios usuários ou de seus ídolos, juntamente com um texto sobre a foto, por vezes, ignorado, permitindo seguir outros fotologs, e ser seguido por outras pessoas, as quais podem comentar as fotos com críticas, sugestões ou elogios. Extremamente popular na década passada, foi responsável pela criação de diversas celebridades instantâneas, na maioria, adolescentes. Atualmente, ainda existe, mas é pouco utilizado como rede social. 5 Uma categoria de blog que está entre o twitter (microblog) e blogs, como wordpress e blogger, onde os usuários podem seguir uns aos outros, compartilhar vídeos, imagens, textos, áudios, links, citações e até diálogos. Apesar da capacidade para grandes textos, a maioria dos comentários publicados na rede é pequena, sendo que os posts com imagens animadas (gifs) são os mais utilizados. Os usuários ainda são capazes de compartilhar os posts de outros usuários através do reblog. 6 Tal como o fotolog, o flickr é uma rede de compartilhamento de imagens utilizada por artistas e amadores de fotografia, ilustração, desenho e design. Tem um cunho profissional, apesar de ser também extremamente usada por adolescentes. Possibilita que os usuários organizem suas imagens por categorias, coloquem direitos autorais em suas fotos e divulguem seus trabalhos. Vídeos, igualmente, podem ser postados, não com tanta frequência se comparados às fotos. 7 Like ,“curtida”, é um botão usado em redes sociais como o facebook, o instagram, o weheartit, entre outras, a fim de permitir aos usuários deixarem sua aprovação, demonstrando o que gostou. Pode ser representado por um ícone em forma de coração (como no tumblr, no instagram e no weheartit), por um ícone com uma mão fazendo o sinal de positivo (como no facebook) ou ainda pela própria palavra “Like” ou “Curtir”. após o ato de fotografar, um reflexo da moda retrô atual, onde um objeto high tech possui aparência ou característica de um objeto ultrapassado, como as câmeras Polaroid. O fácil compartilhamento nas demais redes sociais, junto ao apelo cult do aplicativo, garantiram o sucesso tanto para o iOS quanto sua expansão para o sistema Android e a venda para o facebook. Figura 3. Filtro Nashville Fonte: http://www.flickr.com/photos/deadteddys/6131511574/ O aplicativo consiste em fotografar, selecionar (ou não) o efeito de lomografia desejado, e compartilhar o resultado na rede. As fotos documentam acontecimentos diários e são carregadas do discurso de qual “eu” está na rede. Registram, ainda, os lugares pelos quais a pessoa circula pela cidade e, apesar de opcional, permite a marcação, via GPS, de onde o usuário está, podendo nomear o local como quiser. Por exemplo, em vez de intitular “casa”, o indivíduo poderá escrever um nome engraçado ou diferente. De acordo com Abreu e Souza (2012), o registro da situação, e sua posterior publicação, é o “carro-chefe” da rede social, sendo que a marcação georreferenciada avaliza um sentido espacial à imagem. A fotografia vem sofrendo pressões vindas de várias direções. São tensões provocadas por fenômenos como a liberação do polo emissor, a expansão da lógica de redes, a convergência, a potencialidade da inteligência coletiva, a revisão do estatuto de autor e mudança do comportamento dos consumidores de imagens, entre outros. Tais fenômenos não atingem apenas a fotografia, modificam a sociedade como um todo. Mas essas pressões causam uma espécie de transbordamento, como se apertássemos a fotografia por todos os lados e ela rompesse suas fronteiras, avançasse em novos espaços ou territórios (QUEIROGA, 2012, p. 115). Sendo assim, pode-se mapear a temática de se fotografar e postar no aplicativo, tal como a maneira de se portar no mundo. Pela busca da aceitação, os chamados likes e popularidade (refletida no aumento de seguidores, como é chamado o círculo social de cada usuário dentro da rede) causam certos comportamentos discriminados pelos puristas, ou primeiros usuários da rede social. A “sede” por postagens é intensa, que os usuários passaram a documentar tudo, incluindo suas refeições, o que já virou motivo de zombaria na internet. O excesso de hashtags 8, e o célebre comentário nas fotos de famosos “me segue que eu te sigo de volta”, são fortemente criticados. Referente à técnica, após dois anos no mercado, houve desenvolvimento de como fotografar com o aplicativo, sendo que há os que preferem postar fotos sem filtros (uma forma de negar os efeitos que imitam as lomografias) ou os amantes do filtro Nashville (figura 3), um dos mais utilizados no aplicativo. Há, além disso, os amantes extremistas da fotografia, que condenam o uso do Instagram e todo o comportamento da rede social, como se seus usuários, ao usarem filtros artificias com apenas um clique, se tornassem fotógrafos de verdade. Na percepção de muitos usuários isso, de fato, ocorre e, na visão dos profissionais, isto é um “crime”. Por conseguinte, as opiniões divergem quando o assunto são os lomógrafos: muitos consideram uma fraude, pois a graça da lomografia está na surpresa, enquanto, no aplicativo, você só posta a fotografia após estar satisfeito com o resultado alcançado. Não há espera, emoção, somente a mecanização do “eu”, do dia-a-dia do “eu”. Há, ainda, outras pessoas, não tão radicais, que apreciam a praticidade do aplicativo, compartilham algum momento, ao mesmo tempo em que lomografam, e sentem a emoção da espera, da surpresa do resultado e aprimoram suas técnicas como lomógrafos. Figura 5. Diana clone Meg Fonte: http://microsites.lomography.com/whitestripes/meg A Moda por trás de tudo... A moda se insere no Instagram não só pelo sucesso do aplicativo, ou pelo status que ele conferia na época que era exclusivo para o iOS, mas pelo comportamento inserido nele, pelo constante ensaio e compartilhamento do “eu”, do “hoje”... que é mecanizado, às vezes, falso. Constrói-se um discurso, na rede social, através de imagens e ações mecânicas, as quais acabam por robotizar os usuários. O mundo do Instagram é alegre, colorido, perfeito. Vive-se na era dos antidepressivos, a tristeza é abafada, o riso forçado. A sociedade vê a tristeza como descontrole, como caos. “Não há como não ver que a indiferença e a desmotivação de massa, a progressão do vazio existencial e a extinção progressiva do riso são fenômenos paralelos: por todo lado surge a mesma desvitalização e a mesma erradicação das espontaneidades pulsionais, a mesma neutralização das emoções, a mesma autoabsorção narcísica” (LIPOVETSKY, 2005, p. 121). Sobre a moda, Lipovetsky (2005, p. 127) completa que: “nada está mais na moda do que dar a impressão de não se preocupar com a moda. [...] Hoje em dia a moda é negligente, descontraída; o novo deve parecer usado, e o planejado, espontâneo.” Um reflexo do atual comportamento de consumo. 8 Palavras-chave que servem para marcar as fotos, permitindo que sejam vistas por qualquer pessoa no mundo que buscar pela hashtag digitada pelo usuário que postou a fotografia. Não muito longe do Instagram, no facebook, os usuários são ativistas sociais, compartilhando das tragédias do mundo e se inserindo no sofrimento alheio, escolhendo personas para serem no mundo virtual: ativistas, anarquistas, politizados... utilizando o consumo para legitimar estas personas. A moda sofre mudanças estruturais e representativas, as quais espelham o contexto social e histórico. Por exemplo, pode-se fazer com que a população pare de consumir determinada marca, se a sua produção não for sustentável, somente através da disseminação de abaixo-assinado, ou “tuítaços”9, pela internet. Por fim, o Instagram, ao imitar os efeitos lomográficos, atrai os jovens da geração digital para a prática lomográfica, que não só encontram produtos com apelo retrô e de moda, como bolsas, acessórios entre outros objetos que remetam à prática lomográfica, mas se enquadram no “estilo de vida analógico” ao utilizar destes produtos. Constantemente, são lançadas versões exclusivas das câmeras no site da Lomography, com poucas unidades produzidas, ou assinadas por designers, artistas, estilistas, como a Diana clone Meg, em homenagem à baterista da banda White Stripes Meg White (figura 5). Desta maneira, observa-se que os lomógrafos buscam se opor não à tecnologia como um todo (uma vez que se mostram interessados em diversos outros terrenos tecnológicos, como celulares e computadores), mas sim ao desenvolvimento de uma fotografia “baseada no novo, no mais caro, no mais bonito” (SOARES, 2012, p. 54). A lomografia volta à moda pelos anseios por liberdade, pela nostalgia do que não se viveu, visto que, em todas as épocas que esteve em voga, era praticada por jovens ou por mentes jovens. Graças ao espírito histórico de buscar no passado a solução para os anseios do futuro que estes jovens se pautam para afirmar que o “futuro é analógico”. Uma questão pós-moderna A lomografia, e todos seus significantes, manifestos, arte, liberdade, desprende-se do status de fotografia por seus (d)efeitos, contudo, não perde o caráter de registrabilidade de momentos, instantes. O Instagram aparece da mesma forma, e sendo digital, logo, mais barato e acessível é um registro diário da construção do indivíduo pós-moderno. Deleuze (apud Xerez, 2011) ratifica que, na pósmodernidade, tudo pode ser verdadeiro sem ser, necessariamente, verdadeiro, multiplicando as possibilidades de criação. A lomografia por mais que, enquanto signo, seja uma distorção do real, não o deixa de representá-lo, não encobre um significado verdadeiro para o lomógrafo. O digital, também, tem seu status de arte. “O pós-moderno trata de reinserir a arte no pensamento de seu tempo.[...] O novo padrão é a ausência de padrão” (XEREZ, 2011, p. 02). O Instagram não abandona seu glamour por ser uma imitação da lomografia, nem esta por ser uma fotografia que deu “errado”. Ambos são utilizados pela sociedade na construção de realidades, não importando se são verdadeiras ou falsas. O que importa é que o sujeito “exista” no virtual, seja através do Instagram e seu abusivo compartilhamento de imagens, no facebook, ou na comunidade online da Lomography Society pela digitalização dos negativos (ou lomografias). A lomografia, por fim, retorna, no século XXI, como uma reação ao turbilhão de imagens digitais na sociedade pós-moderna, reunindo adeptos, não somente para compartilhar as imagens feitas com as câmeras, mas pelo aprendizado, pela troca de experiências enquanto arte, experimentação. Entretanto, a partir do momento em que utiliza o meio digital para se disseminar imagens, desaba no mesmo perigo da fotografia digital: o de perder seu status de arte, o de passar despercebida pelo público. Destarte, Flusser (apud Calaça, 2010) sustenta que compete aos lomógrafos defender seu estilo de vida, aprimorando, cada vez mais seu olhar fotográfico, pontuando que o fotógrafo procura descobrir 9 Grandes mobilizações de protesto no twitter. visões jamais percebidas, e quer descobri-las no interior do aparelho, buscando sempre trazer situações inéditas. Referências Bibliográficas ABREU, E.; SOUZA, P. V. Marcar, Fotografar, Publicar: espaço urbano, redes e experiências de visibilidade. 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