“A MATA”
Um roteiro
de
Fábio da Silva
22/05/2010 até 10/08/2012
Copyright © 2012 by Fábio da
Silva
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1.
“A MATA”
SURGE EM PRETO:
A Mata
Dentre as matas, tu és a mais bela.
Mata de folhas tenras e de frutos doces.
Mata de perigos e de prazeres.
Sei que dentro de ti escondes um lago de segredos.
Enfrentarei a onça e a serpente para encontrá-lo.
E quando a este lado chegar,
Nos teus cabelos negros, vou mergulhar.
Nos teus olhos castanhos, vou me banhar.
Na tua pele morena, vou me afogar.
Serei teu maior explorador.
Ó Mata!
Ó Mata!
Mata-me de amor!
Fábio da Silva
EXT. FAZENDA SANTA HELENA – DIA
Com a ESPINGARDA em punho, EDUARDO RIBEIRO – jovem alto e
branco, de cabelos castanhos, por volta dos trinta anos –
pula a cerca da propriedade e segue correndo velozmente
em direção ao CASARÃO, que está ao fundo.
INT. CASARÃO/SALA – DIA
EDUARDO ENTRA correndo. DALVA – mulher morena e forte,
por volta dos cinquenta anos - se assusta e deixa o
pequeno VASO DE PLANTAS, que segurava cair no chão.
Uma voz feminina GRITA. Um RUGIDO de onça ECOA.
Eduardo sobe a escada apressadamente até o...
2.
2º ANDAR, onde dá um ponta-pé na porta de um...
QUARTO, na qual ENTRA, mira e ATIRA. Eduardo abaixa a
espingarda e a solta no chão. Põe-se de joelhos e chora.
EDUARDO
Me perdoe! Me perdoe,
Marília! Me perdoe!
Poça de sangue aproximando-se de Eduardo.
EDUARDO (V.O.)
Eu, que sempre fui um homem
racional, arrisquei tudo por
causa dela, dela e da minha
vaidade. Isso foi há um ano,
mas tudo continua tão vivo em
minha mente como se tivesse
acontecido ontem.
EXT. AEROPORTO INTERNACIONAL DE CORUMBÁ – DIA
AVIÃO aterrissando.
INT. AEROPORTO INTERNACIONAL DE CORUMBÁ/DESEMBARQUE – DIA
Dentre os passageiros, surge EDUARDO RIBEIRO, que é
recebido por MARÍLIA GONÇALVES DE ALENCAR – jovem bela,
alta e branca, de longos cabelos negros, por volta dos
trinta anos. Ambos se abraçam e se beijam.
EDUARDO
Saudades, Marília?!
MARÍLIA
O que você acha, Edu?! Fez
boa viagem?
EDUARDO
Foi ótima! Mas a recepção
aqui em Corumbá foi bem
melhor.
3.
EXT. ESTRADA DE TERRA – DIA
Caminhonete #1 seguindo por propriedades rurais.
INT. CAMINHONETE #1 – DIA
MARÍLIA ao volante. EDUARDO no banco do carona.
MARÍLIA
E como você ficou essa
semana, Edu? Alguma evolução?
EDUARDO
Nada, Marília. Nada. Parece
que vou continuar no
atendimento ambulatorial por
um bom tempo.
MARÍLIA
Você fez o que pode, Edu. Nós
fizemos.
EDUARDO
Eu sei, Marília. Eu sei.
EXT. FAZENDA SANTA HELENA – DIA
Caminhonete #1 atravessando uma GRANDE PORTEIRA com PLACA
contendo a inscrição “FAZENDA SANTA HELENA, SEJA BEM
VINDO!”, segue propriedade adentro parando em frente ao
CASARÃO. MARÍLIA e EDUARDO descem do veículo, são
recebidos por FRANCISCO GONÇALVES DE ALENCAR – senhor de
estatura mediana, branco, forte, de bigode, por volta dos
sessenta anos –, ÂNGELA GONÇALVES DE ALENCAR – bela
senhora, alta e branca, por volta dos cinquenta – DALVA,
RITINHA – bela morena, de cabelos negros, por volta dos
vinte anos – e TONINHO – moreno, magro, por volta dos
trinta.
FRANCISCO
Ora, ora! Até que em fim!
ÂNGELA
Pensávamos que não viria
mais, Eduardo.
4.
EDUARDO
Seu Francisco! Dona Ângela,
como estão?
Cumprimentam-se.
MARÍLIA
Ele não faria uma maldade
dessas comigo, mamãe.
FRANCISCO
Como foi de viagem, meu
rapaz? E como anda a cidade
maravilhosa
EDUARDO
Fui bem, Seu Francisco.
Obrigado. E o Rio continua
agitado como sempre.
FRANCISCO
Certo, certo. Sabe, Eduardo,
alguém aqui não se aguentava
mais de saudade.
EDUARDO
E quem seria essa pessoa?
Todos riem. Ângela aponta para Dalva, Ritinha e Toninho.
ÂNGELA
Eduardo, estas são Dalva e a
filha Ritinha, nossa
afilhada.
EDUARDO
Tudo bem?
DALVA
Seja bem vindo, Doutor!
ÂNGELA
E aquele é o Toninho.
FRANCISCO
Também conhecido como frouxo.
5.
ÂNGELA
Ô Chico!
Toninho sorri sem graça.
ÂNGELA (cont.)
Agora, vamos entrando que
você deve estar cansado e
faminto.
FRANCISCO
Pois bem! Eduardo, não se
preocupe com a bagagem. O
Toninho vai levar suas coisas
pro quarto de Marília.
Enquanto todos ENTRAM no CASARÃO, Toninho se dirige pra
caminhonete #1.
INT. CASA DE JORGE/COZINHA – NOITE
A construção é humilde e de mobília simples. MULHER #1 –
morena e jovem - lavando louça. JORGE – moreno, por volta
dos quarenta - ENTRA.
JORGE
Ué mulher! Já jantou sem mim?
MULHER #1
Cansei de te esperar, Jorge!
Todo dia é a mesma coisa!
JORGE
Aí, aí, mulher, não vai
começar com esse sermão de
novo.
Mulher #1 pega a colher de pau, que acaba de enxaguar, e
aponta para Jorge.
6.
MULHER #1
Você prefere ficar se
entupindo de cachaça com
aqueles seus amigos a estar
comigo. Vocês homens são
todos iguais.
Jorge agarra Mulher #1 pela cintura e tenta beijá-la.
JORGE
Vem cá, meu amor. Me dá um
beijinho.
Mulher #1 afasta Jorge de si.
MULHER #1
Me larga, homem! Em vez de
gastar dinheiro com cachaça,
devia comprar o leite das
crianças.
JORGE
Caramba, mulher! Você é uma
chata!
MULHER #1
Não grita, Jorge! Vai acordar
as crianças!
JORGE
Quer saber? Eu vou lá pra
fora fumar um cigarro.
MULHER #1
Com esse cheiro de cachaça
você vai acabar explodindo.
EXT. CASA DE JORGE/VARANDA – NOITE
JORGE recosta-se numa das colunas, que sustentam o
telhado. Acende um cigarro. Dá um trago, solta a fumaça
lentamente, tentando relaxar.
Grilhos CANTAM.
Jorge desce o pequeno lance de degraus e caminha pela...
7.
PROPRIEDADE, onde há vegetação por todos os lados e a
iluminação é precária. A vizinhança é composta por
algumas casas distantes.
Um galho ESTALA no meio do mato.
JORGE
Tem alguém aí?
Dá uma última tragada, joga o cigarro no chão e pisa
nele. Um RATO sai correndo do mato assustando Jorge.
JORGE (cont.)
Mas que diabo! Maldito rato!
Respirando ofegante, sorri aliviado, retomando sua
caminhada.
Novamente, grilos CANTAM. Outro galho ESTALA no mato.
Jorge volve na direção do barulho. Pega um pedaço de
madeira no chão. Segue até a vegetação.
JORGE (cont.)
Agora te pego, seu rato
safado.
ALGO pula da vegetação sobre Jorge, que começa a GRITAR.
MULHER #1 SURGE na VARANDA, vê o esposo sendo atacado.
MULHER #1
Jorge!!! Jorge!!! Aí, meu
Deus!!! Jorgeee!!!
Abaixa-se chorando, agarrando-se a uma das colunas, que
sustentam o telhado.
EXT. FAZENDA SANTA HELENA/ESTÁBULOS – DIA
EDUARDO, MARÍLIA, FRANCISCO e ÂNGELA caminham pela
propriedade, onde os peões realizam suas atividades.
EDUARDO
O senhor tem uma bela
fazenda, Seu Francisco.
8.
FRANCISCO
A sim, mas infelizmente a
pecuária não está mais em
alta como antigamente, mas
ainda sou um dos maiores
produtores da região.
MARÍLIA
O maior criador daqui é mesmo
o Senhor Andrade, da Fazenda
Paraíso.
FRANCISCO
Aquele mau-caráter.
ÂNGELA
Ô Chico!
Volve para Eduardo.
ÂNGELA (cont.)
Eduardo, você chegou em boa
hora. Agora em junho vai
acontecer a Festa de São
João. É a segunda maior festa
de Corumbá. Só perde para o
carnaval.
MARÍLIA
Sabe, Edu, existem muitas
festas por aqui. Bom, não são
grandes como as do Rio, mas
as maiores de todo o Mato
Grosso do Sul.
ROBERTO GONÇALVES DE ALENCAR – jovem alto e branco, com
chapéu de peão, aproxima-se montado a cavalo.
ROBERTO
Então você é o meu futuro
cunhado?
EDUARDO
Acho que sim.
Roberto volve para os pais e para a irmã.
9.
ROBERTO
Meu pai, minha mãe, sua
benção! Bom dia, Mari!
FRANCISCO
Deus te abençoe, meu filho!
ÂNGELA
Deus te abençoe e te de
juízo!
MARÍLIA
Bom dia, convencido!
Roberto desmonta, cumprimenta Eduardo com um aperto de
mão.
ROBERTO
Finalmente estou te
conhecendo, Eduardo. Pensei
que não viria mais.
EDUARDO
Sabe como é essa vida de
médico. Tire pela sua irmã.
ROBERTO
Bom, como dizem: antes tarde
do que nunca, não é mesmo?
EDUARDO
Pois é.
Roberto volve para Francisco.
ROBERTO
Pai, uma das cercas que faz
divisa com a Fazenda Paraíso
está quebrada.
FRANCISCO
Então é melhor consertar logo
antes que a gente perca
cabeças de gado pro Andrade.
10.
ROBERTO
Vou falar com o Toninho.
Roberto monta o cavalo.
ROBERTO (cont.)
Eduardo foi um prazer.
Gostaria de praticar um pouco
de tiro um dia desses?
EDUARDO
Eu não sei atirar.
Roberto já se afastando a galope.
ROBERTO
Não se preocupe. Eu te
ensino.
FRANCISCO
Roberto foi campeão nacional
de tiro por três vezes,
Eduardo.
ÂNGELA
Duas vezes, Chico.
MARÍLIA
Roberto é um exibido, mas
todos na cidade gostam dele.
FRANCISCO
Por falar em cidade, o que
acham de darmos um pulo por
lá antes do almoço?
EXT. RUA FREI MARIANO – DIA
Comércio típico de uma cidade do interior. Caminhonete #2
chegando, pára e dela descem FRANCISCO – que estava ao
volante -, ÂNGELA, MARÍLIA e EDUARDO.
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